extra pauta ed. 56

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Demissões no jornalismo Jornalistas desenvolvem trabalho solidário PÁGINA 9 Salário dos jornalistas é reajustado PÁGINA 3 Campanha salarial Núcleo de Ação Social O setor de mídia no Paraná e no Brasil está atravessando uma crise de dimensão ainda desconhecida. Só no Paraná foram demitidos mais de 80 profissionais nos últimos seis meses. O caso mais grave foi o fechamento da unidade regional da Gazeta Mercantil. PÁGINAS 4 a 8 J o r n al d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i on a i s d o P a r a n á - Nº 5 6 o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o d e 2 0 0 1 - ISSN 1517-0217 [email protected] - http://www.sindijorpr.org.br Sindicato promove manifestações pró-diploma PÁGINAS 10 e 11 Diploma Sangue Novo 7º Prêmio já aceita incrições PÁGINA 18 Terror nas redações Luiz Prestes Created by PDF Generator (http://www.alientools.com/), to remove this mark, please buy the software.

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Outubro/Novembro/Dezembro - 2001

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Page 1: Extra Pauta Ed. 56

Demissões no jornalismo

Jornalistas desenvolvemtrabalho solidário

PÁGINA 9

Salário dosjornalistas é

reajustadoPÁGINA 3

Campanha salarial

Núcleo de Ação Social

O setor de mídia no Paraná e no Brasil está atravessando uma crisede dimensão ainda desconhecida. Só no Paraná foram demitidos

mais de 80 profissionais nos últimos seis meses. O caso maisgrave foi o fechamento da unidade regional da Gazeta Mercantil.

PÁGINAS 4 a 8

J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i on a i s d o P a r a n á - Nº 5 6 o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o d e 2 0 0 1 - ISSN 1517-0217s i n d i j o r @ s i n d i j o r p r . o r g . b r - h t t p : / / w w w . s i n d i j o r p r . o r g . b r

Sindicato promovemanifestações pró-diploma

PÁGINAS 10 e 11

Diploma

Sangue Novo

7º Prêmio já aceitaincrições

PÁGINA 18

Terror nasredações

Luiz Prestes

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Page 2: Extra Pauta Ed. 56

2 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1

AOrdem dos Advogados (OAB), a CentralÚnica dos Trabalhadores (CUT) e os sindicatos

de trabalhadores estão fazendo um alerta para quemquer receber as diferenças do Fundo de Garantia doTempo de Serviço (FGTS) relativos aos anos de 1989e 1990. O Sindicato dos Jornalistas entroucoletivamente com um processo em 1992, mas elenão deu resultado. Por isso, a orientação que oSindicato está dando é que cada jornalista entre comação individual, como o Extra Pauta já recomendouhá três anos.

Quem ingressou com ação na Justiça não precisaassinar nenhum termo de adesão, pois seu direitojá está garantido. Segundo o advogado doSindicato, Sidnei Machado, quem assinar o termode adesão só terá prejuízo, pois estará concordandoem receber um valor que desconhece e pode serigual a nada. Além disso, irá pagar os honoráriosdo advogado e os honorários que a Caixa devepagar por ter perdido a ação na Justiça. Se um diareceber, será um valor menor que o devido,corrigido só até julho de 2001, mesmo que opagamento venha a ser feito em 2007.

Quem não ingressou com ação na Justiça tambémnão deve assinar o termo de adesão antes de saberexatamente o valor a que tem direito. Não é corretoexigir que alguém faça um acordo sobre um valorque desconhece. Se no futuro a Caixa disser que otrabalhador não tem direito algum, o que é bemprovável, pois a Caixa não dispõe dos extratos decontas que naquela época estavam em outros bancos,ele não poderá reclamar, ainda que tenha direito.

O dinheiro para o pagamento das diferenças,segundo a Lei Complementar 101/2001, deverá virdo aumento da multa de 40% para 50% sobre osdepósitos de quem for demitido e do aumento de 8%para 8,5% do FGTS a ser depositado sobre os saláriosdos atuais empregados. Todas as empresas que jáingressaram na Justiça conseguiram liminares paradeixar de pagar essas diferenças. Assim, o Governonão vem recolhendo os depósitos que imaginava, oque indica que o dinheiro prometido não virá.

Se você tem curiosidade de saber o valor de suasdiferenças, preencha o formulário branco, nos doisprimeiros campos, sem assinar, e protocole. A Leidiz que, até março de 2002, a Caixa deve enviarpara seu endereço o extrato com as diferenças. Sódepois de saber o valor de suas diferenças decida oque fazer.

fgts

Alerta sobre otermo de adesão

editorial

Extra Pauta é órgão de divulgação oficial da gestãoExtra Pauta, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do

Paraná. Endereço: Rua José Loureiro, 211, Curitiba/Paraná. CEP 80010-140. Fone/Fax (041) 224-9296.

E-mail: [email protected]

Jornalista ResponsávelMário Messagi Júnior

Reg. prof. 2963/11/101z

exped

ien

te RedaçãoCasemiro Eugênio Linarth

Colaboraram nesta ediçãoAlexandre Palmar, Alexandre Teixeira, Ari Ignácio de Lima, Liliana

Sobieray, Marcelo Lima, Rogério Galindo, Silvio Rauth Filho,Sulamita Mendes.

FotografiasJosé Suassuna, Luiz Prestes, Everson Bressan.

IlustraçõesSimon Taylor

Edição GráficaLeandro Taques

Tiragem3.000 exemplares

As matérias deste jornal podem serreproduzidas, desde que citada a fonte. Não são

de responsabilidade deste jornal os artigos deopinião e as opiniões emitidas em entrevistas,por não representarem, necessariamente, a

opinião de sua diretoria.

Aquele cujo rosto não se ilumina, jamais háde ser uma estrela”. W. Blake.No último dia 10 de dezembro, o Sindicato

realizou um debate com o deputado federal dr.Rosinha, do PT/PR, para discutir a entrada do capitalestrangeiro nos meios de comunicação. No diaseguinte, uma proposta de emenda constitucional -a PEC 203B/95 - foi aprovado na Câmara dosDeputados alterando o artigo 222 da Constituiçãopara permitir aos investidores internacionais apropriedade de até 30% de empresas decomunicação brasileiras.

O assunto é de fundamental importância epertinente. Afeta diretamente a vida dos jornalistastanto no aspecto profissional quanto na sua condiçãode trabalho no que diz respeito a renda, emprego ecarreira. No entanto, compareceram ao debateapenas umprofissional e um estudante de jornalismo,além dos diretores do Sindicato.

Poucos dias antes, as manifestações organizadaspelos sindicatos de jornalistas em todo Brasil emdefesa do diploma conseguiram pouca ou nenhumaadesão dos coleguinhas. A regulamentaçãoprofissional, ou o seu fim como quer o MinistérioPúblico paulista, traz conseqüências ainda maisóbvias para a categoria.

A cena se repete em campanhas salariais,movimentos políticos e qualquer forma de açãocoletiva. Há muitas explicações para o quadro, desdeuma evidente mudança na forma como as pessoasse inserem e exercem sua cidadania na sociedade,principalmente por causa do desenvolvimento

O silêncio é políticotecnológico, até uma nova ordem de discurso queisolou a política e os sindicatos a um gueto retórico.O discurso de defesa de interesses coletivos ou deinteresses da sociedade vai se tornando, dia a dia,cada vez mais anacrônico. O Sindicato écorporativo, na pior acepção da palavra.

Assim, o silêncio prospera como se fosse aposição política mais avançada. No entanto, éconstruído politicamente a cada dia. Não participardas atividades do Sindicato é fragilizá-lo. Ou, emoutros termos, é deixá-lo mudo. Isto não significaque todos devemos pegar bandeiras e megafones parasair às ruas. Mas é fundamental estar ativo nestasdiscussões e pronto para participar, da maneira quefor mais conveniente, seja enviando e-mails,conversando com os vizinhos, com os colegas oufazendo e distribuindo panfletos para a população,por que não?

O próximo ano parece ser confuso e incerto, comentrada de capital estrangeiro nos meios decomunicação, mudanças na CLT, redução dasredações e ataque à regulamentação. Nestesmomentos, a impressão é que não há nada a fazer. OSindicato parece frágil para responder a estasdemandas. Mas não é. Uma entidade sindicalexpressa a capacidade de organização e a força deuma categoria. Jornalistas, ao longo da história,sempre estiveram na linha de frente. Sempreinfluenciaram os rumos do país. Esta força estálatente. Mas, por ironia, somos descrentes demais.E nosso silêncio é a arma mais poderosa contra nósmesmos.

Frei Nelson vai a Roma

errata

Frei Nelson Rabelo, 61 anos, diretor daRede Celinauta de Pato Branco e jornalista formadopela PUC-RS, está viajando para Roma, onde vaidirigir a Rádio Vaticano para países de línguaportuguesa, durante três anos.

Depois que foi anunciada sua ida ao Vaticano,não parou de receber homenagens. Entre as tantas,foi agraciado com uma comenda da Associação dasEmissoras de Rádio e Televisão do Paraná, da qualfoi fundador como primeiro secretário. Nos próximosdias vai receber o título de cidadão honorário dePato Branco.

Quem demonstra todo o respeito e carinho domundo para o amigo de muitos trabalhos é o

Contrariamente ao que foi publicado na ediçãonúmero 55, a Tribuna do Bairro de São Braz temjornalista responsável.

jornalista Élson Faxina, coordenador deComunicação da Pastoral da Criança. Elestrabalharam de 1980 a 1985 no grupo quecoordenava a Pastoral da Comunicação da RegionalSul II da CNBB. “Ele tinha presença de espírito,alegria - sempre contava uma piada que tinha a vercom o tema em questão -, e uma preocupaçãoconstante com a criação de novas formas de fazerda comunicação uma atividade mais feliz”.

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E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1 - 3

convenção coletiva

ACampanha Salarial 2001/2002 terminou em20 de dezembro com a assinatura daConvenção Coletiva de Trabalho (CCT). A

única mudança em relação à última CCT é o reajuste,que será de 3% retroativo a outubro de 2001 e mais4,32% emoutubro de 2002. Com isso, fica recuperadaa perda para a inflação, que, segundo o INPC do IBGE,foi de 7,32% no período.

Para indenizar o parcelamento do reajuste, asempresas ficam obrigadas a depositar, mensalmente,valor equivalente a 5% do salário base do funcionárioem uma conta de previdência privada. As empresasque adotarem o reajuste de 7,32% já em outubro de2001 não precisarão pagar o “abono” da previdênciaprivada.

O lado negativo da Campanha é o parcelamentodo reajuste, que provoca perdas aos jornalistasempregados. O grande problema é que os 5%depositados em previdência privada incidem apenassobre o salário base, não tendo efeito sobre FGTS, 1/3de férias, 13o, anuênio, comissionamentos e horas-extras. Dessa forma, a perda é maior para quem temmais reflexos (remuneração que não fazparte do saláriobase). Para quem recebe apenas o piso, sem nenhumreflexo, a perda é de R$ 25,00 por ano. Parao jornalistaque ganha o piso e mais 10% na forma de reflexos, ovalor sobe para cerca de R$ 90,00 por ano.

O ponto positivo da CCT é que não houve perdapara as próximas negociações. “Isto é o maisimportante. Porque, se não zerássemos a inflação, aperda aumentaria a cada negociação”, afirma MárioMessagi Júnior, presidentedo Sindicato dos JornalistasProfissionais do Paraná.

Campanha salarial terminacom assinatura de acordo

Negociação truncadaA Campanha Salarial 2001/2002

começou em junho, com reuniões noslocais de trabalho, em que foramdiscutidas as principais reivindicações dosjornalistas, e só terminou em dezembro,com a assinatura da CCT. Durante todoesse tempo, o Sindicato fez a sua parte,colocando a campanha nas ruas, companfletagem, faixas e carro de som.Mesmo com o esforço do Sindicato emmotivar e mobilizar a categoria, faltoumaior participação dos jornalistas, o quepoderia ter trazido uma CCT melhor.Nunca é demais lembrar que é só quandoa categoria inteira se mobiliza, comomostramsempre os metalúrgicos doABCpaulista e muitos outros exemplos, queocorrem ganhosreais para os trabalhadores.

No meio da caminhada, em9 de outubro, os patrõessuspenderam as negociações, alegando um supostodesrespeito do Sindicato na condução da CampanhaSalarial 2001/2002, o que foi prontamente rebatido.As reuniões de discussão só foram retomadas no dia29 de outubro, após mesa-redonda realizada na Seçãode Relações do Trabalho da Delegacia Regional doTrabalho.

De 3a 5 de dezembro, foram realizadas assembléiasnas redações dos principais veículos de comunicação,e a maioria dos jornalistas votou pela assinatura daCCT. Em Curitiba, foram 117 votos a favor, 12 contrae 4 abstenções. Outra opção, além da assinatura doacordo, era ir para o dissídio, mas o Sindicato

De junho a agostoA Campanha Salarial 2001/2002 começa em junhocom reuniões nos locais de trabalho. A pauta dereivindicações é aprovada em assembléiasrealizadas em todo o Estado em julho e entregue em1o de agosto aos sindicatos patronais.

4 de setembroPrimeira rodada de negociações. Os representantesdos sindicatos patronais não apresentam propostas,apenas afirmam que pretendem cortar direitostrabalhistas.

2 de outubroSegunda rodada de negociações. Os representantesdas empresas oferecem 2% de reajuste, abono de6% do salário, criação do banco de horas, jornadade 7 horas e fim do anuênio.

5-8 de outubroAssembléias nas redações rejeitam a proposta

considerou que não seria a melhor saída. O processodemoraria pelo menos dois anos e a decisão da Justiçapoderia não ser favorável aos jornalistas.

patronal. O Sindicato promove manifestaçõespúblicas contra os patrões, com panfletagem, faixase carro de som.

9 de outubroO sindicato patronal suspende as negociações.

23 de outubroO sindicato patronal compromete-se a retomarnegociações, em mesa-redonda realizada naDelegacia Regional do Trabalho. A Folha do Paranáquer negociar em separado.

29 de outubroTerceira rodada de negociação. As empresaspropõem repor as perdas salariais, pelo índice doIBGE (7,41%), em setembro de 2002. Tambémpropõem a criação, em outubro de 2002, dajornada de 7 horas e a extinção do anuênio,substituído por um Plano de Lucros e Resultados ou

um Plano de Previdência Privada.

14 de novembroQuarta rodada de negociação. Os sindicatos dosjornalistas de Curitiba e Londrina fazem contrapostade reajuste de 4%, depósito mensal de 4,82% emconta de previdência privada e zeramento dainflação em setembro de 2002 (mais 3,4%,integralizando o índice do IBGE).

3 a 5 de dezembroAssembléias nas redações votam pela assinatura daCCT.

20 de dezembroOs sindicatos dos jornalistas e dos patrões assinama Convenção Coletiva do Trabalho. Pelo acordo, osjornalistas recebem 3% de reajuste retroativo aoutubro, 5% do salário base em previdência privadae 4,32% de reajuste em outubro de 2002.

Principais pontos do acordo

Com a assinatura do acordo, o piso, quehoje é de R$ 1.103,83, passa a R$

1.136,94 (3% de reajuste retroativo aoutubro de 2001). Em outubro de 2002,

irá para R$ 1.184,63, recompondo os7,32% do INPC/IBGE.

Cada mês, as empresas se comprometem adepositar 5% do salário base em conta deprevidência privada, que os jornalistas

podem sacar dois meses depois.

A n e g o c i a ç ã o p a s s o a p a s s o

Jornalistas discutem em assembléia aspropostas dos sindicatos patronais

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4 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1

OParaná perdeu no dia 7 de novembro um eseus veículos de comunicação de maior

credibilidade. A Gazeta Mercantilextinguiu 13 das 21 unidades regionais do jornal,entre elas a do Paraná, onde demitiu de formairregular 46 de seus 59 funcionários, 12 delesjornalistas. Para piorar, a empresa deu calote nosdemitidos, não pagando as rescisões. Também nãoentregou a guia do seguro desemprego e o termode rescisão de contrato, documentos necessáriospara sacar o FGTS.

A direção da Gazeta Mercantil comunicou quenão vai pagar e que o trabalhador terá que entrarna Justiça para garantir seus direitos. A decisãofoi tomada após reunião entre o diretor deredação, Roberto Müller, o diretor decoordenação geral, Aloísio Sotero, e opresidente da WorldInvest, Sergio ThompsonFlores.

Em vista disso, o Sindicato dos JornalistasProfissionais do Paraná entrou na Justiça econseguiu uma vitória importante contra aGazeta Mercantil. A juíza da 9a Vara doTrabalho de Curitiba, Nancy Mahra deOliveira, deferiu liminar bloqueando dinheiroque estava com agências de publicidade eseria usado para pagar anúncios no jornal. Adecisão refere-se a ação cautelar movida peloSindicato, com o objetivo de garantir opagamento de dívidas trabalhistas aosjornalistas demitidos pela empresa.

No Sul, haverá apenas uma ediçãoregional abrangendo os três Estados. Aunidade estadual do Paraná foi reduzida asucursal. Apenas quatro jornalistas forammantidos para produzir matérias para a ediçãoregional, que será fechada em Porto Alegre,e para a edição nacional, sediada em SãoPaulo. Hoje estão reduzidos a três, pois maisuma jornalista pediu desligamento emsolidariedade aos colegas demitidos.

Em quatro anos, a Gazeta MercantilParaná ganhou prêmios, angariou credibilidade ebateu todas as metas de faturamento. Em 99, noprimeiro ano de existência, ganhou o prêmio deVeículo do Ano. Foi eleita, também, o “MelhorJornal” pela Aberje/Sul - Associação Brasileira deEmpresas de Revistas e Jornais Empresariais daregião Sul, além de condecorações de órgãoslegislativos. A edição estadual apresentou, também,bons resultados financeiros. Até outubro de 2001,superou em 24% a meta de faturamento. Naregional Sul, era a unidade mais lucrativa. Mesmocom tudo isso, foi extinta, e o Paraná perdeu o seumais importante veículo de comunicação na áreaeconômica.

imprensa no paraná

Gazeta Mercantil fechaunidade no Paraná

Desfecho trágicoA decisão drástica da direção da empresa é o

desfecho de uma série de problemas pelos quais osempregados vinham passando. No dia 14 denovembro, a Gazeta Mercantil decidiu demitir,uma boa parte por justa causa, 143 jornalistas emSão Paulo. Em nota oficial, o Sindicato dosJornalistas de São Paulo denunciou que há maisde cinco anos a Gazeta Mercantil vinha atrasandoo pagamento de salários aos seus jornalistas. Quantoao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, algunsempregados não tinham seu depósito efetuado pelaempresa há sete anos.

A situação piorou de junho para cá. Os atrasos

nos pagamentos de salários aumentaram, chegandoa passar de um mês para outro. As férias, umdescanso merecido, viraram um tormento. Quemsaía de férias ficava até três meses sem receberabsolutamente nada. Segundo o Sindicato deJornalistas de São Paulo, “esta situação dedescalabro gerou um movimento legítimo dosjornalistas da Gazeta Mercantil em São Paulo que,desde o dia 10 de julho, declararam-se emassembléia permanente.”

No Paraná, os jornalistas da sucursal decidiramentrar em assembléia permanente em 18 de outubro.Também pediram à direção da empresa oestabelecimento de um cronograma para a

regularização dos depósitos do FGTS e opagamento das multas por atraso dos salários,estabelecido na Convenção Coletiva do Trabalho.

Durante três meses, o Sindicato de São Paulo eos representantes dos jornalistas da Gazeta tentaramabrir negociação com a empresa. Inutilmente. Nas14 conversas com a direção, entre 10 de julho e 11de outubro, conseguiram, no máximo, ouvirpromessas de que o dinheiro seria depositado emdeterminados dias, por faixa de salário. Promessasque eram sistematicamente descumpridas, semnenhum aviso prévio. Sem conseguir negociar opagamento de seus direitos, sabendo que a vendade parte da empresa estava sendo negociada, os

jornalistas da Gazeta Mercantil e da GazetaMercantil Informações Eletrônicas não tiveramoutra saída a não ser decretar o início da grevepara 15 de outubro, na tentativa de garantir orespeito aos seus direitos trabalhistas.

No mesmo dia, o Sindicato de São Pauloentrou com o pedido de dissídio de greve noTribunal Regional do Trabalho, em São Paulo.Passaram-se mais de três semanas para que oTRT reconhecesse a greve legal, concedesseo pagamento dos dias parados e a estabilidadeno emprego por 60 dias. Nesse meio tempo, adireção da empresa iniciou um processo dereestruturação, com a demissão de 400empregados - entre eles 100 jornalistas - emoutros Estados. Só não foram demitidos osjornalistas de São Paulo, por causa da decisãode estabilidade do TRT.

O ministro Almir Pazzianotto, ex-advogado dos Metalúrgicos de São Bernardodo Campo na época do regime militar, sabiaperfeitamente o que estava acontecendo. Masnão teve a menor consideração com osgrevistas: no dia 14 de novembro, “encontrouargumentos jurídicos esfarrapados parajustificar a suspensão do pagamento dos diasparados e da estabilidade no empregoconcedida pelo TRT aos grevistas”, denuncia

a nota do Sindicato de Jornalistas de São Paulo.“Na noite do mesmo dia, de forma terrorista

e ilegal, a empresa decidiu demit ir 143jornalistas, parte deles por ‘justa causa’, em SãoPaulo. O ministro, presidente de um Tribunal queé Superior e do Trabalho, rebaixou-se ao pontode servir aos interesses de uma empresa quedesrespeita de forma contumaz os direitos dostrabalhadores. O que esperar de tal figurapública? Como respeitar o presidente da maisalta corte da Justiça do Trabalho que favorece,de forma tão evidente , uma empresadescumpridora da Lei?” pergunta a diretoria doSindicato de Jornalistas de São Paulo.

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E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1 - 5

Uma medida drástica e extemporânea, dedesrespeito à comunidade do Paraná. Foi assim queos jornalistas demitidos pela Gazeta MercantilParaná avaliaram a decisão da empresa de fecharsua unidade regional, transformando-a em sucursal.Segundo eles, a empresa retirou do mercado umproduto em que a comunidade estava acreditandoe reduziu ainda mais o mercado de trabalho paraos profissionais da comunicação.

O anúncio da demissão de 12 de seus 16profissionais que trabalhavam no Paraná penalizaos setores econômico/financeiro, político e socialdo Estado, acostumados, há quase 20 anos, àpresença sóbria e equilibrada da Gazeta Mercantil,como preconizava a sua própria existência. Ademissão em massa de jornalistas demonstra odesrespeito do jornal ao mundo empresarial,econômico e social do Estado.

Há quatro anos, a mesma empresa anunciava aoEstado o alargamento de seu noticiário paranaense,paralelamente ao noticiário nacional, comconteúdo e credibilidade, ao lançar a GazetaMercantil Paraná, que passou a ser distribuídadiariamente, encartada na Gazeta Mercantil,envolvendo o trabalho de um número cada vezmaior de profissionais, norteados, sempre, pelabusca da isenção, do equilíbrio, da postura digna

imprensa no paraná

Sucesso editorial, administração amadorade jornalistas em respeito especialmente àcomunidade a quem se dirigiam.

Em seu primeiro ano de circulação, a GazetaMercantil Paraná teve a aprovação da comunidadee da mídia estadual, ao receber o Prêmio Colunistasdo Ano. Em sua curta existência, acumulou outrosprêmios, como o de “Melhor Jornal”, concedidopela Associação Brasileira de Empresas de Revistase Jornais Empresariais (Aberje/Sul), econdecorações de órgãos legislativos. O maisimportante prêmio, especialmente da comunidadeempresarial e política, de suas qualidadeseditoriais, respaldadas, sobretudo, no respeito àverdade e aos seus agentes - as pessoas queconstróem o Paraná.

Não bastasse o reconhecimento público, comoproduto a Gazeta Mercantil Paraná erasuperavitária. De acordo com os próprios diretoresda ex-Unidade Regional do Paraná, o jornal, emseus quatro anos de vida, colaborou, de formadecisiva, para os 21% que os 21 jornais regionaisentão existentes (e que passaram a ser oito, segundoas recentes medidas da empresa) representavam nofaturamento da Gazeta Mercantil. Em 2001, atéoutubro, a Gazeta Mercantil Paraná, apesar da criseda empresa à qual pertencia e da própria retraçãodo mercado publicitário, faturou 24% acima da meta

estabelecida pela direção, afastando, portanto,quaisquer argumentos de déficit do jornal. Nãohavia, portanto, motivos explícitos para que adireção optasse pela decisão inapelável.

A Gazeta Mercantil era a maior empregadoraentre os veículos de comunicação do país, com 700jornalistas. Suas unidades regionais, em geral,funcionavam bem, porque eram administradas porjornalistas, que conheciam o produto com o qualestavam trabalhando. O problema estava localizadoem sua direção central, por falta de umaadministração moderna. Do ponto de vistaeditorial, a Gazeta Mercantil sempre foi umsucesso. Mas, do ponto de vista administrativo, emseus 80 anos, foi acumulando dívidas, comoempresa amadora.

As dificuldades financeiras se avolumaramquando a Gazeta se abriu para áreas que nãodominava. Comprou a Rádio Gazeta e montou aInvest News, empregando mais de duzentas pessoas.Com isso, descuidou-se de seu principalpatrimônio, os jornalistas. Para piorar a situação,perdeu 150 mil assinantes neste ano. Os novosempreendimentos somados à perda das assinaturasresultaram numa dívida que se transformou em bolade neve, impossível de ser administrada. Oresultado foi a demissão de profissionais.

Ministério Público investiga Gazeta do Povo

A Gazeta do Povo não paga horas-extraspara seus jornalistas. Pior: para evitarque seus profissionais comprovem a

execução de trabalho extraordinário, a empresa nãopermite que os horários de entrada e saída sejamanotados em cartão-ponto. A prática da empresaincorre em várias violações de direitos trabalhistas,além de não possibilitar a remuneração das horas-extras. É obrigação da empresa, prevista no artigo74 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),manter cartão-ponto para registrar a hora de entradae saída dos empregados.

Os jornalistas da Gazeta do Povo reivindicam odireito ao cartão-ponto há mais de dois anos, mas aempresa sempre se mostrou reticente em atender aosapelos do Sindicato e dos jornalistas. Semalternativa, em janeiro de 2001 o Sindicato dosJornalistas formalizou denúncia das irregularidadesno Ministério Público do Trabalho. O Ministérioinstaurou procedimento investigatório na empresa,que atualmente está a cargo do procurador IrosLosso. Se a Gazeta do Povo não cumprir asobrigações legais, o Ministério Público deveráingressar com um processo contra a empresa.

A diretoria do Sindicato lamenta que umaempresa como a Gazeta do Povo, que afirmadefender os interesses do Paraná e ser um exemplopara outras empresas do Estado, não cumpra a lei,

ação sindical

atentando contra os direitos de seus empregados.“Este é um abuso contra os trabalhadores. Vamoslutar até o fim para que a Gazeta seja obrigada a

cumprir a lei e os jornalistas sejam ressarcidos”,afirma Mário Messagi Júnior, presidente doSindicato.

Uma luta de dois anosA discussão com a Gazeta sobre o cumprimento

da lei vem se arrastando desde o dia 6 de maio de1999. Naquela data, os jornalistas da Gazetasolicitaram à empresa, após assembléia, queimplantasse o cartão-ponto. Depois disso, o Sindicatorealizou diversas reuniões com a empresa, mas nãoobteve nenhum resultado. Em 1o de março do anopassado, a entidade encaminhou o pedido defiscalização à Delegacia Regional do Trabalho(DRT). Mas, no dia 29 de agosto, a direção da Gazetanão compareceu à reunião convocada pela Divisãode Relações do Trabalho daquela Delegacia paradiscutir a implantação do cartão-ponto na empresa.Além do Sindicato dos Jornalistas, também oSindicato dos Trabalhadores com Moto (Sintramotos)foi convocado.

A reunião na DRT foi uma tentativa para resolvero problema de forma negociada. A empresa, porém,ao não enviar representante, desrespeitou o Ministériodo Trabalho e as duas entidades de classe. A DRTlavrou uma ata negativa, registrando a ausência daGazeta, e encaminhou o processo para o setor defiscalização e para o Ministério Público do Trabalho.

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6 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1

imprensa no paraná

Oclima anda péssimo nas redações da Folhado Paraná, na sede e nas sucursais. Emapenas um mês e meio, o jornal demitiu 14

jornalistas, nove na regional de Curitiba e cinco emLondrina. Prosseguindo na política de demitirempregados para resolver seus problemas financeiros,a Folha despediu dia 29 de novembro mais cincojornalistas na regional de Curitiba: três repórteres edois repórteres fotográficos. Uma repórter deverá sertransferida para Londrina ou para a sucursal de Fozdo Iguaçu.

Para piorar o ambiente, a mulher de um dosrepórteres fotográficos está no sexto mês de gravideze a do outro precisa fazer uma cirurgia. Segundo a Leinº 9656, em vigor desde 3 de setembro de 1998, ostrabalhadores demitidos sem justa causa ouaposentados, ao se desligaremda empresa,não perdemautomaticamente o direito à assistência garantida porplano ou seguroà saúde. Esse direitodepende do tempoque eles trabalharam na empresa, e nunca pode serinferior a seis meses.

Embora a redação de Curitiba tenha sidocomunicada de que não haverá mais demissões nasucursal, a situação instável da Folha não permitegarantir isso. Walter Ogama, chefe de redação emLondrina, declarou ao portal “Comunique-se” que“a fase de reestruturação não acabou” e ele não podeprometer nada. Na redação de Londrina trabalham57 profissionais, entre editores, redatores e repórteres,e, segundo Ogama, ali não haverá redução de pessoal,mas substituições.

. Com os desligamentos do dia 29, a redação deCuritiba ficou com 21 profissionais. Como duasjornalistas entraram em licença maternidade e umaterceira viajou para a Austrália para fazer curso deaperfeiçoamento, a redação da sucursalcontaagora comapenas 18 profissionais trabalhando efetivamente.

As demissões começaram na segunda quinzenade outubro, quando a empresa demitiu oitojornalistas, três deles na sucursal de Curitiba: o editorde Cidades, um repórter e um diagramador. O editorde Cidades foi substituído pela editora de Economia,editoria que foi extinta. A expectativa é que outraseditorias também sejam desativadas na Capital. Elasseriam fechadas na sede, em Londrina.

Há quatro meses a empresa vem atrasando opagamento de seus empregados. Esse atraso motivoua dispensa de quatro motoristas, que se recusaram aprestar serviços enquanto não recebessem os salários.Foram substituídos por outros, com salários menores.Também foi demitida a responsável pelo setor deRecursos Humanos, função que está sendoacumulada pela secretária do diretor da sucursal.

As demissões e a extinção de editorias causaramestranheza na redação da Sucursal, já querecentemente a diretoria da Folha do Paraná sereuniu com os jornalistas de Curitiba, prometendovalorizar e ampliar as atividades da sucursal. Osúltimos acontecimentos mostram que é justamenteo contrário que está sendo posto em prática.

Folha do Paraná demite 14 jornalistas

A Folha de Londrina tinha o projeto de ser umjornal estadual. Mudou para Folha do Paraná,reforçou sua regional de Curitiba, quis se estabelecerna capital, contratou bons profissionais e planejouuma reforma gráfica que devia ser introduzida em10 de dezembro, dia do aniversário da cidade sede.Mas sua direção recuou. A partir de 23 de dezembro,o jornal volta a ser Folha de Londrina, pois a direçãoacredita que seu público encontra-se naquela cidade.Os dirigentes acham que perderam espaço na sedeao tentaremsair de lá. Além disso, estão preocupadoscom o crescimento na região do Jornal de Londrina,da Rede Paranaense de Comunicação, que acaboude inaugurar na cidade um dos mais modernosparques gráficos do país.

Os jornalistas que trabalham na sucursal deCuritiba sabem que a Folha está no vermelho háalguns anos. O próprio diretor superintendente, JoséEduardo Vieira, na reunião em que estranhamenteconvocou os Sindicatos dos Jornalistas de Londrinae de Curitiba na Delegacia Regional do Trabalhopara fazer uma proposta isolada de reajuste salarialna Campanha Salarial 2001/2002, reconheceu asdificuldades que a empresa vêm atravessando. Disseque a empresa fez todos os cortes possíveis e agoraestá demitindo jornalistas. Os desligamentosprovocaram surpresa na redação de Curitiba, quehavia contratado bons profissionais a muito custo.

Um projeto gráfico e editorial vinha sendoelaborado e seu lançamento estava previsto para 10de dezembro, mas sua implantação foi adiada paraum futuro incerto. Toda a redação estava mobilizadapara fazer as mudanças e os jornalistas das váriaseditorias contribuíam com sugestões.

O fato de o Departamento Comercial da empresavir recebendo do governo do Estado apenas apublicidade indispensável devido à sua posição

crítica e independente teve uma certa influência naqueda do orçamento, pois os jornais do Paraná nãoestão acostumados a buscar sua receita em outrasfontes. Mas um jornal que quer ser independentenão pode contar com verbas do governo.

Na Folha, os problemas de caixa ocorrem já háalgum tempo porque não existe um planejamentopara manter o jornal equilibrado financeiramente.De sua diretoria não fazem parte pessoas que saibamlidar com o produto jornal. Para piorar as coisas, hádois anos houve uma cisão na diretoria e algunsdiretores foram afastados. O pagamento deindenizações contribuiu para desequilibrar aindamais o orçamento.

Em meio aos desentendimentos internos, a Folhaacabou perdendo metade de seus 60 mil assinantes.Nos últimos dois anos, o jornal vinha tentandorecuperar os assinantes que havia perdido. Comaportes de dinheiro do diretor superintendente, JoséEduardo Vieira, e do dono do jornal, João Milanez,a Folha estava conseguindo se equilibrar. Obtevenovos assinantes e apresentava boa qualidadeeditorial.

Mas, de dois meses para cá, os planos mudaram.Não há uma diretriz clara que aponte um caminhopara o jornal. Não existem profissionais da área nocomando. O próprio José Eduardo Vieira, numareunião interna, confessou que não entendia nada dejornalismo. Foi então contratada a jornalista ReginaKracick, que apresentou um projeto, mas tudo estavavoltado para o curto prazo, para o imediato, e nãodeu muito certo.

Mesmo com as indecisões, a Folha estavaconquistando leitores em Curitiba e, em vendas deexemplares, só perdia para a Gazeta do Povo. Quandoo jornal estava decolando, a direção resolveu recuare concentrar seus esforços em Londrina.

Folha volta a ser de Londrina

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E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1 - 7

Nos últimos seis meses, os veículos decomunicação do Paraná extinguiram maisde 80 postos de trabalho em suas redações,

um recorde histórico. O Grupo Paulo Pimentel, queno final de agosto anunciou o fechamento de todas assucursais do SBT e de O Estado do Paraná e cortoupela metade a equipe que trabalhava na TV Iguaçu,Canal 4, dispensou cerca de 50 profissionais, e aunidade regional da Gazeta Mercantil, que passou afuncionar como sucursal, demitiu de forma irregular12 jornalistas e 46 funcionários. A Folha do Paranácontribuiu para a diminuição do mercado de trabalhocom 14 desligamentos e o Primeira Hora cortou pelomenos cinco vagas.

O fenômeno não se restringiu apenas ao Paraná.Em nível nacional, grandes grupos de comunicação eveículos de prestígio, como Estadão, Grupo Abril,Jornal do Brasil, O Globo, Correio Brasiliense, Lance,Agora São Paulo, Estado de Minas, AOL e UOL,desempregaram um grande número de profissionais,contabilizando uma extinção de mais de 800 postosde trabalho, que inclui jornais, revistas, televisões,rádios e Internet. O movimento de demissões nãochegou ao seu final. Ainda há vagas congeladas,demissões pulverizadas nos veículos menores, projetosadiados. Somando tudo, falar em 800 vagas fechadasé até conservador.

Os especialistas apontam a retração da publicidadecomo causa principal das demissões. Ela começou nosEstados Unidos no início do ano e aumentou depois

imprensa no paraná

Vendaval nas redações do Paranádos atentados de 11 de setembro, chegando à Europa.Institutos de consultoria europeus de prestígio, como oZenith Media, prevêem que o desaquecimento devedurar pelo menos até o segundo semestre de 2002. Ovendaval atingiu não só as agências de publicidade,com demissões em massa, mas também veículostradicionais como Le Figaro, Libération, France Soire L’Humanité, na França, o Financial Times, naInglaterra, e Câmbio 16, na Espanha, que fechou asportas.

No Brasil, o interessante é que, em sua edição 157,de abril deste ano, o Jornal ANJ, da AssociaçãoNacional de Jornais, festejava um crescimento de24,6% dos investimentos publicitários em 2000,considerado excepcional pelos próprios especialistasda mídia. Os investimentos já haviam aumentado em1999, segundo auditoria da empresa Price Waterhouse& Coopers,embora a circulação de jornais tivesse caído5% naquele ano. Mas, na edição 163, de outubro desteano, o Jornal ANJ apontava uma redução de 6,04%no volume de propaganda nos primeiros quatro mesesde 2001, em comparação com o mesmo período de2000, afetando todas as mídias.

Depois vieram as demissões, os cortes, asreestruturações. São muitos os sinais de que o setorde mídia no Brasil está atravessando uma crise dedimensões ainda desconhecidas. As OrganizaçõesGlobo não escapam ilesas da crise do setor. AfamíliaMarinho admitiu vender a Globo Cabo, empresaconsiderada deficitária e na qual foram investidos

milhões de dólares nos últimos anos. Na CPI daSegurança, no Rio Grande do Sul, foi revelado que ogrupo RBS teria uma dívida de 760 milhões de reaisem 31 de dezembro de 2000, segundo dados dosbalanços de suas principais empresas, publicados noDiário Oficial daquele Estado.

No meio da crise, duas notícias chamam aatenção. De um lado, uma juíza de São Pauloconcedeu uma liminar que suspende aobrigatoriedade do diploma para exercer aprofissão de jornalista. Tal desregulamentação emprincípio fere os direitos conquistados pelacategoria e favorece os patrões, embora apolêmica sobre a obrigatoriedade do diploma nãose restrinja a esta mera relação causal. De outrolado, a Câmara dos Deputados aprovou emendaconstitucional que permite a participaçãoestrangeira de 30% em empresas de comunicação.A modificação do artigo 222 da ConstituiçãoFederal contou com o patrocínio das OrganizaçõesGlobo, que em tempos passados foram contra aalteração, para não favorecer os concorrentes,sobretudo o SBT.

A crise na imprensa paranaense é reflexo da crisebrasileira e mundial. Mas cada uma das empresasque demitiu jornalistas enfrenta problemasespecíficos, como já foi analisado nas matérias sobrea Folha do Paraná e Gazeta Mercantil Peraná naspáginas anteriores e sobre o Grupo Paulo Pimentel, aseguir.

A decisão drástica, no final de agosto, de fecharas sucursais de O Estado do Paraná e da TV Iguaçu edemitir cerca de 50 jornalistas no interior do Estadonão foi unânime na direção das empresas do GrupoPaulo Pimentel. O principal responsável pela decisãofoi Ricardo Massaro, alegando contenção de despesas.O profissional veio de Minas Gerais e não teriaconhecimento da realidade da comunicação noParaná, segundo jornalistas que trabalham na empresa.

Massaro estaria ganhando um salário muito alto edemitiu jornalistas com até 25 anos de casa,demonstrando grande falta de sensibilidade, naopinião dos mesmos jornalistas. Segundo eles, asmedidas propostas por Massaro podem ter umaeficácia por algum tempo, mas não resolvem osproblemas da empresa. Com o fechamento dassucursais no interior, uma parcela significativa demunicípios ficou sem cobertura próxima de umveículo de comunicação mais importante e seusprefeitos não teriam motivação para anunciar no jornale na televisão.

Os problemas do Grupo Paulo Pimentel não sereduzem apenas à contenção de despesas. Falta àempresa uma visão estratégica e umconceito modernode administração, e a presença de profissionais maiscompetentes em cargos importantes dentro daestrutura administrativa. Além disso, não é segredo

Uma administração conservadorapara nenhum funcionário do grupoque vários diretores comerciaisforam dispensados por desvio dedinheiro.

Do ponto de vista dos mesmosjornalistas, falta aos administradoresdo Grupo Paulo Pimentel visão doque deve ser uma empresa decomunicação. A TV Iguaçu é asegunda maior televisão do Estado,afiliada ao SBT, e não sabeaproveitar a audiência que o sistemaconquistou no Paraná, ainda que à custa de umaprogramação apelativa. Investe em programaspoliciais, que com o tempo foram perdendo audiênciae se tornaram superados, em vez de concentraresforços em jornalismo.

A falta de gerenciamento moderno de uma empresade comunicação explica em boa parte os problemasque o Grupo Paulo Pimentel enfrenta. Em vez deconsultar os jornalistas da casa, ehá muitos profissionaiscompetentes na empresa, seus administradorespreferiram contratar um profissional de outro Estado,alheio à realidade do Paraná. Demitiram, por exemplo,o jornalista Mauri König, que ganhou este ano quatroprêmios importantes de imprensa no cenário nacional(ver matéria na página 9).

Normalmente, quando umaempresa de comunicaçãocomeça a enfrentardificuldades, a culpa écolocada na diminuição dasverbas publicitárias. Mas, naverdade, sua filosofia é que éconservadora. As empresas decomunicação são as que maisresistem a inovações, quando setrata de administração. Existemno Paraná empresas mais

modernas em outras áreas, nas quais os veículos decomunicação poderiam se espelhar.

Outro aspecto administrativo discutível dentrodo Grupo Paulo Pimentel é o tratamento desigualdado a profissionais de setores diferentes. Osprivilégios concedidos a alguns profissionais sãoabsurdos. Os que trabalham no DepartamentoComercial em pouco tempo conseguem uma situaçãoeconômica tranqüila, enquanto os profissionais daredação não têm nenhum incentivo. Isso estáprovocando uma concentração de renda dentro daempresa. Além disso, os jornalistas que pretendemse aperfeiçoar ou fazer pós-graduação, o que elevariao nível do seu quadro funcional, não recebemnenhuma ajuda por parte da empresa.

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8 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1

C inco jornalistas do Paraná, quereceberam prêmios e homenagensrecentemente, foram despedidos na onda de

demissões que se abateu sobre o jornalismo doEstado nos últimos meses. Os desligamentoscausaram estranheza nas próprias redações ecolocam em dúvida os critérios de dispensa adotadospelas empresas de comunicação.

Mauri König ganhou os prêmios Esso - RegionalSul, Embratel - Regional Sul, Wladimir Herzogde Anistia e Direitos Humanos e foi um dosconcorrentes finalistas ao prêmio Mídia da Paz(revista Imprensa-SP). Mauri recebeu esses prêmioscom reportagens publicadas no jornal O Estado doParaná, do Grupo Paulo Pimentel, que o demitiu aoextinguir todas as sucursais da empresa no interior.Ele trabalhava na sucursal de Foz do Iguaçu e faziainvestigações jornalísticas sobreirregularidades cometidas por policiaisparaguaios, quando foi preso e torturado.

O jornalista ganhou o PrêmioImprensa Embratel na categoria RegionalSul com a série de reportagens “DossiêParaguai” sobre trabalho escravo debrasileiros no Paraguai. Denunciou osmaus tratos a que os brasiguaios semdocumentação naquele país sãosubmetidos pela polícia paraguaia eapurou em suas investigações inclusivemortes de crianças. A entrega do prêmioocorreu no Copacabana Palace, no Riode Janeiro, em 20 de setembro, logodepois de sua demissão.

As mesmas reportagens venceram oPrêmio Wladimir Herzog de Anistia eDireitos Humanos na categoria reportagem emjornal, patrocinado pelo Sindicato dos JornalistasProfissionais do Estado de São Paulo. Elasdisputaram com outras 57 inscritas por jornais detodo o País. A entrega do prêmio ocorreu no Palatino- Memorial da América Latina, em São Paulo. Königrecebeu uma estatueta confeccionada pelo artistaElifas Andreatto.

Além de O Estado do Paraná, Mauri König játrabalhou na Folha do Paraná e no Caderno Paranáda Gazeta Mercantil. Atualmente é free lance de OEstado de S. Paulo em Foz do Iguaçu e faz assessoriaparlamentar. Foi ainda secretário de comunicaçãoda Prefeitura de Foz do Iguaçu.

Nilson Monteiro recebeu os títulos de cidadãohonorário de Londrina em 1999 e de cidadãohonorário de Curitiba em 2000. As homenagensforam prestadas quando era chefe de redação daGazeta Mercantil Paraná, devido aos serviços queo jornal prestou ao Estado. Nilson foi incluído nalista dos 12 jornalistas que a empresa demitiu emsua regional do Paraná, no dia 7 de novembro.

Em sua carreira de 30 anos como jornalista,Nilson ganhou vários prêmios, mas o que ele mais

imprensa no paraná

Demitidos ganham prêmios

gosta de destacar é o Prêmio Fiep de Jornalismo,concedido pela Federação das Indústrias do Paraná,por uma série de reportagens coletivas sobre aindustrialização no Estado, que foram realizadasjunto com Rosemeire Tardivo e Hudson José.

Outro prêmio importante em sua trajetóriaprofissional foi o de melhor cobertura da 8a Bienal

Internacional do Livro, em São Paulo,recebido em 1984, quando trabalhava naFolha de Londrina. No ano passado, seulivro “Itaipu - A luz” ganhou o PrêmioMemória Empresarial, de melhorComunicação Empresarial em 2000,concedido pela Associação Brasileira deComunicação Empresarial.

Valmir Denardin foi premiado trêsvezes nos últimos dois anos, mas isso nãofoi levado em conta pela Folha do Paraná,que o demitiu em outubro. Denardinvenceu no ano passado a segunda ediçãodo Prêmio Inepar de Jornalismo,promovido pelo Sindicato dos JornalistasProfissionais do Paraná e pela FundaçãoInepar, na categoria Paraná, com a

reportagem “Testemunhas em perigo”, que mostroua situação crítica em que vivem as testemunhas decrimes no Estado e denunciou a falta de proteção eas falhas do programa de proteção a testemunhas noParaná. O jornalista também foi finalista do EssoRegional Sul em 98 e em 99 ganhou um prêmio daPrefeitura de Foz do Iguaçu, na área de turismo.

“A justificativa foi salarial“, diz Denardin. “AFolha optou por cortar os salários mais altos, nãoolhando a qualificação de seus profissionais.Disseram que sou um bom profissional, masatualmente não faço parte dos planos da empresa.Acho lamentável essa atitude, não só em relação amim, mas também a outros bons profissionais que aFolha demitiu ultimamente. O jornal perdequalidade com isso”, avalia ele.

Maurício Armênio recebeu menção honrosa noMundial Juvenil de Karatê e no Brasileiro de 2001

da mesma modalidade esportiva,realizados em maio deste ano em SãoJosé dos Pinhais. O prêmio foi concedidopela Federação Paranaense de Karatê.Maurício trabalhava no jornal PrimeiraHora e foi despedido em julho. “Acreditoque tenha sido a primeira homenagemrecebida pelo Primeira Hora, fundadorecentemente. O prêmio é sinal de queum bom trabalho foi feito. Acho que oscritérios de demissão devem ser mais bemanalisados. A direção do jornal parecenão ter muita preocupação com isso”,queixa-se Armênio.

Clarissa Kowalsky, também doPrimeira Hora, foi demitida depois de serescolhida para receber o Prêmio

Jornalista Amiga da Criança, promovido anualmentepela Unicef e pela Andi (Agência de Notícias dosDireitos da Criança). Ela ganhou o prêmio quandoainda estava empregada. Mas não pôde comparecer,pois a empresa não pagou a passagem. “O prêmio éum reconhecimento e mostra que fiz um bomtrabalho”, analisa Clarissa.

Mauri König, (à esquerda) com Mário Messagi Júnior

Nilson Monteiro: Cidadão Honorário de Curitiba

Valmir Denardin: “atitude lamentável”

Everson Bressan

Arquivo Extra Pauta

Divulgação/Embratel

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E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1 - 9

Todas as semanas, às terças e quartas-feiras,Wagner de Alcântara Aragão, repórter daGazeta do Povo, dirige-se ao Novo Mundo

para dar aulas de alfabetização. A turma tem quatroalunos e se reúne num barracão construído pelaagente de saúde Arlete Salvador em frente à casadela. Quando Wagner começou, em maio deste ano,eram dez adultos, entre 50 e 60 anos, a maioriavindos da área rural do Norte do Paraná. Os queiam se alfabetizando deixaram de vir às aulas.

Wagner realiza um trabalho voluntário e achainteressante o que faz. “Muitas vezes o jornalistanão tem noção do que as pessoas estão enfrentando,de que não sabem ler o letreiro de um ônibus, porexemplo. Certa vez levei para a aula revistas doJornal do Brasil e os alunos não sabiam comoproceder com elas. Para nós é comum lidar comjornais e revistas. Para eles é uma novidade e sentemdificuldade.”

A sala de aula tem todos os equipamentosnecessários. Arlete Salvador já fazia um trabalhode reforço escolar para crianças com notas baixas eteve a idéia de estender as aulas também para adultosque não sabem ler e escrever. Na metade do anopassado, recebeu uma grande doação de materialescolar.

Wagner foi convidado a dar aulas por umajornalista, que depois não pôde continuar. Agora temcomo colega Rogério Galindo, que começou alecionar recentemente, nas segundas-feiras. Nasquintas e sextas-feiras é a própria Arlete que seencarrega de alfabetizar.

“A gente vai percebendo a evolução dos alunos”,diz Wagner. “É gratificante ver a satisfação deles àmedida que vão aprendendo. Ficam contentesquando conseguem ler o letreiro de um ônibus ou amarca de um produto que compram nosupermercado. O analfabetismo atrapalha toda a vidade uma pessoa. Cada um tem sua própria realidadee precisa ser trabalhado de maneira especial. Algunstêm vícios de linguagem e a gente procura ensinar aforma correta. É preciso ter jogo de cintura paraque o aluno não se sinta constrangido.”

As aulas terminaram dia 14 de dezembro e oretorno está marcado para depois do Carnaval.Wagner pretende continuar seu voluntariado e queraprofundar mais, dando textos para os alunos lerem.Fez convite a outros jornalistas para participarem ejá encontrou interessados. “Os alfabetizados tambémsentem-se satisfeitos com o trabalho dos voluntários,pois sabem que não estão ganhando nada com isso”,conclui Wagner.

Ensinando a comunicar-seAri Ignacio de Lima, repórter da TV Sudoeste,

de Pato Branco, também dedica várias horas detrabalho à ação social. Ele desenvolve com outrosjornalistas atividades voluntárias junto a líderescomunitários da Pastoral da Criança. “Procuramos

núcleo de ação social

Jornalistas voluntários

passar a esses líderes técnicas sobre como dar melhoruma entrevista e comunicar uma informação correta.Neste ano, as líderes comunitárias foram muitovisitadas por repórteres por causa da indicação damédica Hilda Arns para o Prêmio Nobel e foi precisoproduzir material para que elas se saíssem bem nasentrevistas”, comenta Ari Ignacio.

“Também divulgamos o que os líderescomunitários fazem, na Pastoral da Criança.Procuramos tornar visível o trabalho voluntário dasmulheres que atuam nos bolsões de pobreza. Masnosso trabalho não é só divulgar, como tambémmostrar à comunidade que essa atividade éimportante. Procuramos criar equipes decomunicação que construam no imaginário daspessoas a vontade de participar da Pastoral. Fizencontros seguidos em todas as microrregiões paraum intercâmbio de experiências. Nesses encontrosa gente troca as baterias”, conta Ari Ignacio.

O trabalho é desenvolvido nos finais de semanae é sempre voluntário. “Estamos popularizando acomunicação. Produzimos material para amobilização popular, para que as líderescomunitárias tenham acesso à comunicação.”

O voluntariado, um vícioKatia Regina Pichelli, assessora de comunicação

na Embrapa, é voluntária em duas redes: na Redede Comunicadores Solidários à Criança e na RedeBrasileira de Jovens Comunicadores. “Nessas duas

redes tenho oportunidade de ser voluntária emmeu próprio campo de atuação. Não precisoaprender a fazer outras coisas, é só usar o que jásei. Esse tipo de voluntariado também traz umcrescimento profissional muito grande, pois estousempre indo atrás de novas informações eparticipo de cursos de capacitação emcomunicação, dentro das próprias redes. Acaboparticipando de encontros diversas vezes ao ano,com gente do país inteiro. Imagine a troca deexperiência que existe aí”, comenta Katia.

A Rede de Comunicação Solidária à Criançaé formada por cerca de 500 comunicadores(jornalistas, rp’s, publicitários, atores,comunicadores populares, radialistas) de todo opaís que prestam serviço voluntário à Pastoral daCriança. O trabalho da rede consiste em mobilizara sociedade para a causa da Pastoral, que écombater a mortalidade e a desnutrição infantil.

Quem entra na rede ajuda a produzirprogramas locais de rádio ou atua na assessoriade comunicação e mobilização social, divulgandoo trabalho realizado pela Pastoral e capacitandooutros voluntários em comunicação. Tambémpode agir na área de comunicação pessoal egrupal. Os voluntários capacitam líderes daPastoral e outros voluntários sobre como falar empúblico, preparar uma reunião ou usar bonecosde pano e teatro com a comunidade. Katia faz

parte deste último grupo.A Rede Brasileira de Jovens Comunicadores é

um grupo de comunicadores ligados à UCB (UniãoCristã Brasileira de Comunicação Social), quepromove seminários e debates sobre a comunicaçãoe o papel do jornalista. “Atualmente estamosrealizando seminários em faculdades deComunicação sobre o papel do comunicadorsolidário. Mostramos aos estudantes que existe emComunicação muita coisa além das redações dejornal, TV e rádio. E, mesmo em uma redação, ojornalista pode ser um profissional diferenciado,propondo e realizando pautas sobre solidariedadeou experiências de sucesso em comunidadescarentes”, explica Katia.

Katia brinca muitas vezes que ser voluntária éuma cachacinha para ela. “Não consigo abandonaro vício. No corre-corre do dia-a-dia, nem sempre hámuito tempo para pensar em ações solidárias. Estaera uma grande frustração para mim, pois participeimuitos anos em grupo de jovens e grupo de teatro edepois da faculdade acabei me afastando destasações. O voluntariado veio suprir esta minhanecessidade.”

Às vezes a pessoa acaba se envolvendo tanto que,quando vê, já está quase se afogando. Katiarecomenda que é preciso, então, reavaliar se o fatode ser voluntário não está sendo mais um peso doque um prazer. O bom senso tem de prevalecer nestesmomentos.

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Beth Costa

Oprincipal argumento, entre os tantos que sepode levantar para a exigência do diplomade curso de graduação de nível superior para

o exercício profissional do jornalismo, é o de que asociedade precisa, tem direito à informação dequalidade, ética, democrática. Informação esta quedepende, também, de uma prática profissionaligualmente qualificada e baseada em preceitos éticose democráticos. E uma das formas de se preparar,de se formar jornalistas capazes e desenvolver talprática é através de um curso superior de graduaçãoem jornalismo.

Por isso, de todos os argumentos contrários a estaexigência, o que culpa a regulamentação profissionale o diploma em jornalismo pela falta de liberdadede expressão na mídia talvez seja o mais ingênuo, omais equivocado e, dependendo de quem o levante,talvez seja o mais distorcido, neste casopropositalmente.

Qualquer pessoa que conheça a profissão sabe quequalquer cidadão pode se expressar por qualquermídia, a qualquer momento, desde que ouvido. Quemimpede as fontes de se manifestar não é nem aexigência do diploma nem a regulamentação, porqueé da essência do jornalismo ouvir infinitos setoressociais, de qualquer campo de conhecimento,pensamento e ação, mediante critérios comorelevância social, interesse público e outros. Os limitessão impostos, na maior parte das vezes, por quemrestringe a expressão das fontes - seja pelo volume deinformações disponível, seja por horário, tamanho,edição (afinal, não cabe tudo), ou por interessesideológicos, mercadológicos e similares. O problemaestá, no caso, mais na própria lógica temporal dojornalismo e nos projetos político-editoriais.

Nunca é demais repetir, também, que qualquerpessoa pode expor seu conhecimento sobre a áreaem que é especializada. Por isso, existem tantosartigos, na mídia, assinados por médicos, advogados,engenheiros, sociólogos, historiadores. E há tantodebate sobre os problemas de tais áreas. Além disso,nos longínquos recantos do país existe a figura doprovisionado, até que surjam escolas próximas.Deve-se destacar, no entanto, que o número deescolas cobre, hoje, quase todo o território nacional.

Diante disso, é de se perguntar como e por queconfundir o cerceamento à liberdade de expressãoe a censura com o direito de os jornalistas teremuma regulamentação profissional que exija o mínimode qualificação? Por que favorecer o poderdesmedido dos proprietários das empresas decomunicação, os maiores beneficiários da não-exigência do diploma, os quais, a partir dela,transformam-se em donos absolutos e algozes dasconsciências dos jornalistas e, por conseqüência, das

diploma

Diploma em jornalismo: umaexigência que interessa à sociedade

consciências de todos os cidadãos?A defesa da regulamentação profissional e do

surgimento de escolas qualificadas remonta aoprimeiro congresso dos jornalistas, em 1918, e tevetrês marcos iniciais no século 20: a primeiraregulamentação, em 1938; a fundação da FaculdadeCásper Líbero, em 1947 (primeiro curso dejornalismo do Brasil); e o reconhecimento jurídicoda necessidade de formação superior, em 1969,aperfeiçoado pela legislação de 79. Foi o século(especialmente na segunda metade) que tambémreconheceu no jornalismo - seja no Brasil, nosEstados Unidos, em países europeus e muitos outros- um ethos profissional. Ou seja, validou socialmenteum modo de ser profissional, que tenta afastar apicaretagem e o amadorismo e vincular a atividadeao interesse público e plural, fazendo do jornalistauma pessoa que dedica sua vida a tal tarefa – e nãocomo um bico.

Com tal perspectiva, evoluíram e se consolidaramprincípios teóricos, técnicos, éticos e estéticosprofissionais, disseminados por diferentes suportestecnológicos, como televisão, rádio, jornal, revista,internet. E em diferenciadas funções, do pauteiro aorepórter, do editor ao planejador gráfico, do assessorde imprensa ao fotojornalista. Para isso, exige-seprofissionais multimídia que se relacionem com outrasáreas e com a realidade a partir da especificidadeprofissional; que façam cobertura da Ciência àEconomia, da Política aos Esportes, da Cultura àSaúde, da Educação às questões agrárias comqualificação ética e estética, incluindo concepçãoteórica e instrumental técnico a partir de sua área.Tais tarefas incluem responsabilidade social, escolhasmorais profissionais e domínio da linguagemespecializada, da simples notícia à grandereportagem.

A informação jornalística é um elementoestratégico das sociedades contemporâneas. Por issoé que o Programa de Qualidade de Ensino daFederação Nacional dos Jornalistas – debatido,aperfeiçoado e apoiado pelas principais entidadesda área acadêmica (como Intercom - SociedadeBrasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicação; Abecom - Associação Brasileira deEscolas de Comunicação; Enecos - ExecutivaNacional dos Estudantes de Comunicação; Compós- Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação; e Fórum deProfessores de Jornalismo) - defende a formaçãotanto teórica e cultural quanto técnica e ética. Talformação deve se expressar seja num programa deTV de grande audiência ou numa TV comunitária,num jornal diário de grande circulação ou numpequeno de bairro, num site na Internet ou numprograma de rádio, na imagem fotojornalística ouno planejamento gráfico.

É por isso que, num Curso de Jornalismo, épossível tratar de aspectos essenciais às sociedadescontemporâneas e com a complexidade tecnológicaque os envolve, incluindo procedimentos éticosespecíficos adequados - do método lícito para obterinformação à manipulação da imagem fotográfica,do sigilo da fonte ao conflito entre privacidade einteresse público, por exemplo. É na escola que hálaboratórios de telejornalismo, radiojornalismo,fotojornalismo, planejamento gráfico, jornal, revista,webjornalismo e outros. A escola pode formarprofissionais para atuar em jornalismo - e não parauma ou outra empresa. Pode formar profissionaiscapazes de atuar em quaisquer instituições, setoresou funções. É a formação que também permite odebate e novas experiências.

As escolas não são culpadas, certamente, pelofato de algumas empresas reduzirem a atividadeprofissional a aspectos simples ou simplórios.

Por isso, mesmo onde a obrigatoriedade dodiploma não existe, como em países europeus, cresceo número de escolas de jornalismo. É por isso que oConselho Europeu de Deontologia (dever-ser) doJornalismo, aprovado em 1993, estipulou, em seuartigo 31, que os jornalistas devem ter uma adequadaformação profissional. E que surgem, a cada ano,em muitos países, documentos reforçando anecessidade de formação na área.

Além de tudo, há uma discussão bastantereducionista, uma espécie de a favor ou contra. Ora,diploma é uma palavra. Trata-se, no entanto, depalavra que exprime outras duas: formaçãoprofissional, atestada por um documento que devevaler seu nome. Há um lugar, chamado escola, quesistematiza conhecimentos e os vincula a outras áreasa partir da sua. A regulamentação e a formação sãoo resultado disso, que se manifesta em exigênciascomo a do registro prévio para o exercício daprofissão. Por isso, a regulamentação brasileira parao exercício do jornalismo é um avanço, não umretrocesso.

O pensar e fazer jornalístico, resultados de umethos profissional - essencial à identidade decategoria e de profissão e socialmente relevante -não pode voltar atrás. A Fenaj defende a formaçãoprofissional em cursos de jornalismo de graduaçãocom quatro anos e, no mínimo, 2.700 horas-aula,como já apontavam as diretrizes curricularesaprovadas após inúmeros debates e congressos naárea. A formação em Jornalismo, que deve serconstante e aprimorada durante toda a vida, é a baseinicial para o exercício regulamentar da atividade.A tudo isso chamamos profissão Jornalismo. E nãonos parece pouco.

Beth Costa é presidente daFederação Nacional dos Jornalistas

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E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1 - 11

diploma

OSindicato dos Jornalistas Profissionais doParaná promoveu, no dia 28 de novembro,uma série de manifestações no centro da

cidade em defesa da obrigatoriedade do diplomapara o exercício da profissão de jornalista no país.Foram distribuídos panfletos nas ruas e redações doParaná com o objetivo de mostrar a importância daformação universitária na profissão.

Dirigentes do Sindicato também estiveram naCâmara Municipal de Curitiba, alertando opresidente João Cláudio Derosso sobre o risco depessoas despreparadas exercerem o jornalismo epedindo o seu apoio ao movimento da categoria.Também visitaram a Ordem dos Advogados doBrasil (OAB), o Conselho Regional de Economia(Corecon) e o Conselho Regional de Psicologia(CRP). O CRP e o Corecon já manifestaramsolidariedade ao movimento dos jornalistas,enquanto a OAB vai se pronunciar assim que ouvirseu conselho.

As manifestações fizeram parte do Dia Nacionalde Luta em Defesa do Jornalismo, organizado pelaFederação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), quereúne os 30 sindicatos da categoria no Brasil.Entidades de vários Estados organizarammanifestações durante o dia, para mobilizarestudantes e profissionais na defesa da profissão. Omovimento é uma reação aos constantes ataques àregulamentação profissional. O último ocorreu emoutubro, quando a juíza substituta Carla AbrantkoskiRister, da 16a Vara Federal de São Paulo, concedeuliminar extinguindo a obrigatoriedade do diplomapara fazer o registro profissional de jornalista.

A Fenaj, como parte interessada, entrou comrecurso pedindo a suspensão da liminar. Também aAdvocacia Geral da União interveio no processo,pois a ação do Ministério Público encaminhada à16a Vara Federal de São Paulo usou como argumentoque a liberdade de expressão definida pelaConstituição torna ilegal a necessidade do diplomapara o registro profissional no Ministério doTrabalho, exigida por um decreto presidencial de1969.

O Tribunal Regional Federal de São Paulomanteve a decisão em primeira instância da juízaCarla Rister. Os recursos apresentados pela Fenaj epela Advocacia Geral da União foram rejeitadospelo juiz federal Manoel Álvares e, agora, ojulgamento final ficará a cargo da 4a turma do TRF,não havendo previsão de data. A Fenaj estáestudando novas ações jurídicas e uma novaestratégia para reverter as decisões que os juízestomaram até agora.

O Sindicato já havia se posicionado em notaoficial no dia 31 de outubro (disponível nowww.sindijorpr.org.br), defendendo aregulamentação profissional dos jornalistas. Nanota, o Sindicato derruba os argumentosapresentados na justificativa da liminar concedida

Manifestações em Curitiba

pela juíza Carla Rister e defende a obrigatoriedadedo diploma para garantir o direito da população àinformação qualificada, ética, democrática ecidadã.

“A exigência do diploma não limita o direitode expressão, como a juíza raciocina. Qualquercidadão pode escrever, como colaborador, artigosde opinião e crônicas, entre outros gêneros textuais,sobre os quais a regulamentação profissional não éobrigatória”, explica Mário Messagi Júnior,

presidente do Sindicato. “Se alguns setores dasociedade não são ouvidos pelos jornais, não é pordecisão dos jornalistas”, ele diz.

“Ao defender a exigência do diploma, estamoslutando pela qualidade do ensino - um ensino dequalidade e com acesso a todos - e, portanto, porum melhor jornalismo no país. Um jornalismo queprecisa atender ao interesse público a que deveestar sujeita a comunicação e suas práticasprofissionais”, argumenta a nota do Sindicato.

Mário MessagiJúnior e o vereadorTadeu Veneri comJoão CláudioDerosso (à direita),presidente daCâmara Municipal deCuritiba

Frequentadoresda Boca deramapoio àmanifestaçãodo Sindicato

Sindicato fazmanifestação

pró-diploma nocentro da cidade

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12 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1

Adalberto Diniz

Asociedade contemporânea vive uma dasrevoluções mais importantes: a dacomunicação. A primeira ocorreu no século

XIV, quando Gutenberg inventou a impressão emtipos móveis, possibilitando muitas cópias dos livros,antes manuscritos e editados sob severa vigilânciado Estado e da Igreja. O invento possibilitou oaumento do volume das publicações, obrigando osgovernantes a criar o sistema denominado“privilégios”, autorização para a impressão de livrosconcedida através do Conselho do Rei, formado pormonarcas e religiosos.

A segunda revolução da comunicação estamosvivendo hoje, a chamada Era Digital. Ela possibilitaa transformação de obras intelectuais e de informaçõesem bits e sua rápida difusão através do ciberespaço.A diferença é que o impacto da primeira revoluçãofoi absorvido lentamente, o que permitiu ampliar aproteção legislativa às obras intelectuais, antes restritaa poucas criações. A segunda revolução temcaracterísticas muito diferentes e vem apoiada navelocidade do desenvolvimento tecnológico,alargando as possibilidades de captação, manutenção,tratamento e circulação de informações, virtualmente,sem limites de tempo e espaço.

A legislação não acompanha esse ritmo intensoe daí surgem problemas na área do Direito, em queos crimes são impossíveis de serem tipificados, antea sua intangibilidade - a tônica dos crimes na eradigital -, pois tudo é virtual. São lesões próprias daInternet contra o patrimônio, a honra, a economia eos direitos trabalhista, administrativo, internacional,tributário e autoral, entre outros.

Vamos nos fixar somente no Direito de Autor,direito que protege todos os autores de obrasintelectuais, entre eles os jornalistas, categoriaduramente atingida pelo desenvolvimentotecnológico. Esses trabalhadores vêm hoje suaprodução, sujeita a multiusos, ser comercializadade forma massiva, em forma de novos produtoscriados e oferecidos através das agências-da-casa.Essas agências, na luta pela hegemonia do mercado,comercializam gráficos, informações e imagens porpreços irrisórios. Antes só para jornais do interior,agora também para empresas dos mais distintosramos de negócio e governos estaduais e federal.

O objetivo do Direito de Autor é associar deforma eqüitativa o autor de uma criação intelectualcom a exploração econômica de sua obra. Assim,diante da importância e valor de sua principalmatéria-prima, todos os jornalistas deveriam fazero que estão fazendo os jornalistas norte-americanos.Lá eles lutam por uma remuneração suplementarquando suas matérias reaparecem na Internet ou emCD-Rom. O problema não é novo e desde 1993 aNational Writers Union (União Nacional deEscritores) tinha apresentado queixa contra grupos

direito autoral

A Internet e a legislação

de imprensa e bancos de dados. Criaram umasociedade arrecadadora para jornalistas, a PublishingAuthors and Publishers (PRC), organização que gereos direitos musicais nos Estados Unidos. O sindicatoestá orgulhoso de ter criado a “primeira agência decoleta de direitos cibernéticos”. Os repórteresfotográficos entraram com reivindicação semelhantee o grupo Time Inc. aceitou pagar 75 dólaressuplementares para colocar na rede fotografias jápublicadas em suas revistas.

Os “atacadistas da notícia” - as poucas famíliasque controlam a comunicação no Brasil - não negamo Direito de Autor. Entendem, erroneamente, que osalário pago já é contrapartida suficiente e, porprecaução, “inventam” contratos que os autoresassinam sob coação. Assim, garantem a ampliaçãode seus lucros, negociando a sobra residual de suaprópria produção através de suas agência, sem pagarnenhum percentual de comissão.

A Internet, enquanto mídia inigualável, provocouum impacto estonteante e atingiu as legislações.Resta aos jornalistas - autores de obras intelectuais- ficarem atentos, pois no Congresso Nacionaltramitam cerca de 40 projetos de leis visandoregulamentar a Internet. Pressões internacionaismostram a necessidade de criar lei específica,conforme modelos já existentes em vários países.Entre juristas e estudiosos, as opiniões se dividem.Uns entendem que a rede deve continuar livre,anárquica e sem dono, como foi criada. Outros, porcausa da pirataria de softwares, dos hackers, dapedofilia, das páginas com conteúdo de violência,das transferências ilegais de valores e das invasõesde bancos de dados, entendem que a liberdadevirtual plena está seriamente ameaçada.

O que se verifica nesta sociedade virtual é que

impera a noção de que a inexistência de lei específicatornou o espaço cibernético uma terra de ninguém.Mas não é bem assim. A Internet, vista sem fantasia,é uma nova mídia, sujeita às legislações existentesque protegem os autores de obras intelectuais. Nocaso, os jornalistas ampliarão sua proteção com afeitura de contratos, bem detalhados, prevendo todosos usos do conteúdo criado; prazos de pagamento ede usos; limites da licença; que direitos foramautorizados (se definitivamente ou por determinadotempo); créditos; tipos de veículos; garantias; etc.

Adalberto Diniz é diretor da FederaçãoNacional de Jornalistas (Fenaj)

Os jornalistas estarão protegidos, desde quetenham o cuidado de fazer contratos, estipulandoos usos de sua criação: textos e imagens sãomatérias sujeitas a multiusos. Isto antes deestarem disponíveis na rede. Depois de liberadosfica mais complicado, dá mais trabalho. É ochamado “correr atrás” e responsabilizar quemos utilizou sem autorização, mas não estáperdido.

O uso indiscriminado da Internet tem sidomotivo de preocupação de muitos. Diversossetores clamam por uma legislação específica.A Comissão de Educação delibera sobre projetode lei do senador Renan Calheiros (PMDB-AL),que tipifica 20 ilícitos na Internet e fixa para osinfratores penas de detenção, reclusão e multa.O relator da matéria, senador José Fogaça(PMDB-RS), apresentou parecer favorável àproposta.(A.D.)

Contrato

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E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1 - 13

Há seis meses, entrou no ar o site da Agênciade Notícias Cone Sul. O site cobreeconomia, cidades, esportes, mas

preferencialmente o setor político. Com viésnitidamente favorável ao governo do Estado,explorando sempre os pontos fracos dos partidose lideranças adversárias ao Palácio Iguaçu, o siteé conhecido nos bastidores dos círculos políticoscomo um “porta-voz” do secretá rio daComunicação Social, Rafael Greca (PFL), pré-candidato à sucessão do governador Jaime Lerner(PFL) em 2002.

Fontes ouvidas pelo Extra Pauta revelaramque a linha do site é ditada por Greca, um políticopragmático que, neste momento, busca ampliarseus espaços de mídia, encurtados pela escassez

internet

Cone Sul, um site“chapa branca”

Governista e procurando explorar os pontos fracosdos partidos da oposição é a impressão que passa osite da agência de Notícias Cone Sul, que há seismeses dá destaque a notícias sobretudo da áreapolítica e econômica, mas também cobre esportes eo noticiário geral. Para o jornalista Gilberto Larsen,chefe de redação da agência, esta é apenas umaimpressão. Segundo ele, a agência procura em seunoticiário valorizar e vender as coisas boas do Paranáe apresentar os fatos que estão acontecendo noEstado. “Procuramos não entrar na críticaexacerbada”, ele diz.

Gilberto afirma que o governo não está bancandoo site e que ele não tem nada a ver com o pré-candidato ao governo do Estado Rafael Greca deMacedo, segundo algumas versões que correm pelacidade. “A agência ainda está no começo e não trariamuita vantagem ao Rafael Greca”, observa o chefede redação. Segundo ele, é mais um veículo deinformação que abre um novo mercado para osprofissionais de comunicação. É a primeira agênciade notícias do Paraná na Internet e hoje conta comdez jornalistas contratados.

O site contabiliza em média de 800 a 1.000 visitas

de verbas do governo do Estado parainvestimentos em comunicação. O site, porexemplo, foi o único a antecipar, há algumassemanas, o lançamento da candidatura de Grecaao governo durante um churrasco na chácara dodeputado estadual Plauto Miró Guimarães Filho(PFL), em Ponta Grossa.

A notícia foi desmentida pelo deputado, maso site não deu o braço a torcer e divulgou emseguida que, além de Greca, o churrasco tambémfestejou o nome do tucano Beto Richa, vice-prefeito de Curitiba, como um dos nomes para asucessão estadual do próximo ano. Em outrasoportuniddes, o site exibe materias de “contraponto” a notícias desfavoráveis ao governopublicadas por outros veículos de comunicação.

A primeira agência virtual do Paranápor dia. Mas, no dia 19 de dezembro, com a coberturareal que deu ao assassinato do deputado estadualTiago de Amorim Novaes (PPB), assassinado emCascavel com sete tiros, quando o Extra Pauta estavasendo fechado, a agência esperava atingir o recordede 3 mil visitas. A agência também fazencaminhamento de notícias aos principais veículosdo interior e produz dois boletins de rádio.

A agência de notícias Cone Sul pertence ao ex-deputado estadual e ex-secretário do Trabalho JoniVarisco e ao empresário Alceu Preisner. Elestambém são donos do jornal “A Cidade”, deCascavel, e de quatro emissoras de rádio nascidades de Guaíra, Palotina, Toledo e Corbélia,município que fica próximo de Cascavel. GilbertoLarsen diz que o grupo já havia feito uma tentativade montar uma agência antes, mas ela não deucerto. Este ano resolveu repetir a experiência, poissentiu que havia um vácuo nesta área no mercado.

A página foi reestruturada recentemente pelodesigner Frederick van Amstel. “O site anteriornão estava bem organizado”, ele diz. “Agora, tudoo que está na página é produzido em tempo real,com uma mobilidade muito grande.”

violência

A Arfoc do Paraná convida todos os repórteresfotográficos do Estado a participar da 15a Mostrade Fotojornalismo do Paraná, que organizatradicionalmente todos os anos. A exposição seráinaugurada dia 10 de janeiro de 2002 no Museuda Fotografia, no Solar do Barão.

Arfoc promove15a Mostra deFotojornalismo

Mais de 100jornalistasassassinadosem 2001

Pelo menos 100 jornalistas e trabalhadores damídia foram mortos em todo o mundo este ano.O número fo i divulgado pela FederaçãoInternacional dos Jornalistas, reunida na Bélgica.O maior número de mortes aconteceu nos EstadosUnidos, em sua maioria em decorrência dosataques do dia 11 de setembro. Entre os mortosestão o editor de fotografia Robeert Stevens, querecebeu uma carta contaminada com antraz e umoperador de câmera que viajava no vôo daAmerican Airlines que atingiu uma das torres doWorld Trade Center. Segundo o USA Today,outros oito trabalhadores da mídia morreramdurante a cobertura da guerra no Afeganistão.Entre eles, quatro eram repórteres.

A Colômbia continua no topo da lista dejornalistas assassinados diretamente. /quatrocasos foram confirmados este ano e outros seisestão sob investigação. No Brasil, o jornalistaMario Coelho, do jornal “A Verdade”, foi mortona véspera do dia em que devia testemunhar umcaso de difamação.

exposição

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14 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1

Aprimeira vítima da guerra é averdade.” Esta observação vale hojecomo valia em 1917, quando osenador americano Hiram Johnsonpronunciou estas palavras famosas,

durante a Primeira Guerra Mundial. Mesmo que aderrota rápida dos talibãs tenha permitido que osjornalistas do Ocidente trabalhassem nas regiõesretomadas pela Aliança do Norte, o acesso às áreas decombate continuou muito limitado e perigoso e oPentágono reduziu ao mínimo as informações sobre osdetalhes militares.

Desde o dia 12 de setembro, um dia após osatentados terroristas nos Estados Unidos, o jornalfrancês Le Monde começou a fazer uma análise dacobertura da mídia internacional no dossiê “Atentadose mídia”, que depois passou a se denominar “Guerra emídia”, com reportagens de correspondentes de váriospaíses. Esta matéria do Extra Pauta se baseia nasreportagens publicadas ao longo do conflito pelo jornalfrancês.

Além das complicações logísticas, a guerra noAfeganistão apresentou uma diferença básica emrelação aos conflitos anteriores: foi provocada por umataque terrorista em solo americano. Na indignaçãorevanchista que sucedeu aos acontecimentos de 11 desetembro, os meios de comunicação americanos sedefrontaram com pressões vindas do governo, daopinião pública e de seus próprios reflexos patrióticos.Em conseqüência, a liberdade absoluta de imprensa,proclamada e garantida pela primeira emenda àConstituição americana, cedeu lugar ao sistema deinformação controlada e a uma certa autocensura.

Até a abertura de cidades como Cabul e Mazar-e-Charif, os jornalistas tinham basicamente duas fontesde informação: o Pentágono e os talibãs, estes cobertospela Al-Jazira, o único canal admitido no Afeganistão.Emsuasconferências de imprensa diáriasem Islamabad(antes de serem extintas há algumas semanas), oembaixador talibã recitava um catálogo poucoprovável de vítimas civis, americanos mortos ehelicópteros abatidos. Por seu lado, em Washington, oporta-voz da Casa Branca e o secretário da Defesa,Donald Rumsfeld, apresentavam uma versão bemdiferente dos acontecimentos dando poucos detalhes,o que, de tempos em tempos, disseminava erros eimprecisões.

Sentindo-se em desvantagem na guerra depropaganda, Washington estabeleceu centros decoalisão internacionalemLondres e emIslamabad pararesponder aos talibãs em tempo real. E, para vender a“marca” Estados Unidos a um mundo que lhe eraamplamente hostil, oDepartamento de Estado recorreua Charlotte Beers, ex-proprietária da agência depublicidade Ogilvy & Mather, conhecida sobretudopela promoção de xampus e pastas de dente.

Controle rigorosoNas áreas militares, o Pentágono exerceu um

controle rigoroso das imagens: na ausência de equipesindependentes no local, a mídia ocidental se limitou afotos e vídeos fornecidos pelo Departamentode Defesa.As autoridades americanas justificaram sua discriçãopela natureza da nova guerra contra o terrorismo e pelapreocupação legítima de proteger o segredo das

A coberturada guerra noAfeganistãooperações de forças especiais nas áreas de conflito.“Não é do interesse do nosso país divulgar a nossosadversários quando, comoouporquê lançamos algumasoperações”, declarou Rumsfeld.

Mas o governo foi bem mais longe no controle dainformação: coisa excepcional num país que defendetanto a liberdade de imprensa, a Casa Branca pediuaos dirigentes dos meios de comunicação que nãodifundissem por extenso as declarações de Osama BinLaden. Numa conferência telefônica, em 8 de outubro,com os donos dos seis grandes veículos americanos,Condoleezza Rice, consultora de segurança nacionaldo presidente Bush, “sugeriu” aos dirigentes queexaminassem eeditassemtodos os vídeos de BinLadenvindos da Al-Jazira antes de divulgá-los. Segundo umdos participantes, ela pediu que “fossem prudentes ecriteriosos no uso dos vídeos de Bin Laden, pois elepoderia usá-los para transmitir mensagens a terroristas”.

Depois dessa conversa, que durou cerca de 40minutos, os donos de meios de comunicaçãopermaneceram online para responder a esse pedido deautocensura. “Havia reservas”, lembra-se JohnMoody,da Fox News. “Alguns disseram quetínhamos o direitode fazer o que queríamos com os materiais que

recebíamos, que éramos todos patriotas mas tambémtínhamos o dever de apresentar os fatos de atualidade,que não podíamos nos sujeitar às pressões ou àsinstituições do governo.”

Alguns levantaram dúvidas sobre a realidade daameaça das mensagens codificadas. “Isso não temcabimento”, conta um produtor da CNN. “Todadeclaração de Bin Laden divulgada na América eraacompanhada por uma tradução simultânea em inglês,por isso suas palavras em árabe não seriam ouvidas.Disseramque ele podia enviar sinais por gestos ou pelacor do turbante, mas isso não era sério.” O efeitoconcreto da intervenção da Casa Branca foi que asimagens e as palavras de Bin Laden praticamentedesapareceram dos meios de comunicação norte-americanos.

A exemplo do Departamento de Estado americano,o governo deTony Blair tambémconvidou os dirigentesdos três grandes canais de televisão britânica, a BBC(pública), a ITN e a Sky News (privadas) para umareunião “útil e amigável”. O encontro foi presididopelo diretor de comunicação de Tony Blair, AlastairCampbell, e pretendia convencer os donos dos canaisa limitar a divulgação dos vídeos de Osama BinLaden.

mídia

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Page 15: Extra Pauta Ed. 56

E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1 - 15

Os representantes da mídia se recusaram a ter sua linhade conduta ditada pelo governo.

Num comunicado conjunto, os dirigentes dos trêsveículos de comunicação explicaram: “Como canaisdirigentes, levamos em conta questões de segurançanacional e internacional, e temos consciência doimpacto que reportagens podem ter sobre diferentescomunidades e culturas. Mas também acreditamosque a apresentação de informações independentes eimparciais é um aspecto fundamental de umasociedade livre e do processo democrático.Acreditamos que um diálogo com o governo éimportante durante o conflito. Mas manteremos odireito de exercer nosso próprio julgamento editorial,independente e imparcial.”

Indulgência e docilidadeMesmo antes do início dos bombardeios, houve

outros exemplos de manipulação da mídia, nosEstados Unidos. O comentarista de televisão BillMaher foi severamente repreendido pelo porta-vozda Casa Branca por ter observado que não seria umaação de muita coragem jogar mísseis sobre oAfeganistão. No final de setembro, o Departamentode Estado proibiu a rádio estatal Voz da América dedivulgar uma entrevista com o mulá Omar, líder dostalibãs. Ao saber que a revista Newsweek ia publicarmatéria sobre um avião abatido no Afeganistão, oPentágono pediu à direção que eliminasse essainformação porque seria “perigosa para a suaestratégia militar”.

Quando o USA Today falou da presença de forçasespeciais americanas no Afeganistão antes do iníciodos ataques, o jornal foi qualificado como “totalmenteirresponsável” e “antipatritótico” por um porta-voz do

governo. Essa atitude oficial se explica em parte pelaexperiência da guerra do Vietnã, em que a publicaçãodos documentos secretos do Pentágono e a livredivulgação de imagens chocantes contribuíram muitopara modificar a opinião americana contra essaoperação.

Em contraste com o Vietnã, a imprensaamericana deu mostras de muito mais indulgência,e até de docilidade, em relação ao governo. Algunsmostraram um zelo impressionante em seu apoio àlinha oficial. O novo dono da CNN, WalterIsaacson, decretou que cada imagem das vítimascivis nas áreas controladas pelos talibãs devia seracompanhada por um lembrete dizendo que “ostalibãs protegem terroristas responsáveis pela mortede 5 mil pessoas inocentes”. Quando a notíciavazou no Washington Post, Isaacson foi criticadopor alguns colegas. Mesmo na CNN, a iniciativade Isaacson não foi bem aceita.

Com os erros da guerra do Golfo e de Kosovo namemória, as televisões francesas trabalharam commuita cautela as imagens vindas do Afeganistão.Havia uma vontade de evitar o efeito CNN e asimagens enviadas pelas autoridades americanas. Elaspreferiam sempre as imagens transmitidas por seusenviados especiais e mantinham uma vigilânciaconstante em relação às fontes. Até a prisão dejornalistas franceses foi tratada com muita discrição.O jornal Le Monde publicou vários artigosquestionando o encaminhamento do conflito dadopelos Estados Unidos.

Patriotismo de rigorSegundo opinião de analistas, o patriotismode rigor

da campanha foi em larga medida reflexo da opinião

pública. Desde 12 de setembro, todos os meios decomunicação colocaram em cima de seus logotipos aimagem da bandeira americana. Fotos da bandeiraocupavam espaço amplo em todas as revistas. Muitosjornalistas, inclusive, exibiam o emblema americanoem sua roupa. Mas alguns observadores viram nessereflexo patriótico uma ameaça à independência daimprensa.

O público americano, do seu lado, parecia preferir,de longe, uma imprensa patriótica a jornalistas quefaziam críticas ouperguntas incômodas. Segundo umapesquisa do Los Angeles Times, 59% dos americanosaprovavam um controle estrito do Pentágono sobre acobertura do conflito pela mídia. E a maioria dosdirigentes dos veículos de comunicaçãocompartilhavam a opinião de que, se o governo tivessenecessidade de fornecer uma informação deficientede vez em quando, dariam a ele essa margem demanobra.

Se a guerra contra o Afeganistão impôs restriçõesà liberdade de imprensa, também serviu para reverteruma tendência da mídia americana: a pouca atençãoque ela dava aos assuntos internacionais antes de 11de setembro. A cobertura da atualidade internacionalpelos grandes veículos havia caído pela metade emdez anos. As revistas colocavam pessoas famosas nacapa. As matérias sobre as divergências entre osmuçulmanos eram consideradas chatas. De repente, oatentado às torres gêmeas fixou a atenção da mídiaamericana e ela investiu maciçamente na cobertura daguerra. Resta saber quanto tempo essa abertura para omundo externo vai durar. Pois, se o 11 de setembrodemonstrou alguma coisa é que uma superpotência queignora três quartos do planeta não faz isso sem correrriscos.

Durante o conflito no Afeganistão, o trabalho maisprejudicado foi o dos repórteres fotográficos ecinematográficos. Repórteres fotográficos que estavamcom as tropas da Aliança do Norte, no Paquistão oumesmo emCabule as agências fotográficas queixavam-se de que em nenhuma outra guerra houve tanta censuracomo nesta. Com exceção dos vídeos do canal Al-Jazira, com imagens abstratas de bombardeios à noite,as fotos publicadas na imprensa confirmavam o caráterinvisível do conflito, principalmente no primeiro mêsde combates.

A censura e a propaganda, tanto dos talibãs comodos norte-americanos, explicam a pobreza do que foimostrado: aviões F-18 deixando rastos de fumaça nocéu, disparos de foguetes, pacotes “humanitários”caindo de pára-quedas, nuvens de fumaça ao longecomo vestígios de um bombardeio, feridos numhospital, prédios destruídos, manifestações pró-talibãsno Paquistão, refugiados nas fronteiras. Os refugiados,a miséria e os talibãs comtrajes tradicionais não davama idéia de uma guerra que opunha os cinco países maisricos do mundo contra um dos países mais pobres. “Ocontrole era maior que na guerra do Golfo, tornandomuito difícil o acesso à informação”, afirmou VincentAmalvy, da Agência France-Presse.

Enquanto o redator, com a riqueza das palavras,

Entre a censura e a propagandapode desmanchar as armadilhas, o fotógrafo precisaestar presente ao acontecimento. Nas seis primeirassemanas de conflito, nenhum repórter fotográficoconseguiu ver nenhum soldado norte-americano noAfeganistão. Uma só imagemtelevisada, escura, tiradade um filme divulgado em 20 de outubro pelo exércitoamericano, mostrava soldados em solo afegão. “Purapropaganda”, diziam dirigentes de agênciasfotográficas.

As bases e osacampamentos das forças americanasnão foram mostrados. O acesso ao Uzbequistão, ondese encontravamconcentradasas forças especiais, estavabloqueado. Alguns fotógrafos foram autorizados aembarcar nos porta-aviões Theodore Roosevelt,Winston e Entreprise. Mas esclareciam em legendasque não tinham nenhum controle sobre as imagens,como fez Guy Kopelowicz, da Associated Press. Noentanto, não puderam embarcar no Kitty-Hawk, oporta-aviões mais estratégico, adaptado para funcionarcomo porta-helicópteros, de onde partiamas operaçõesespeciais. O Pentágono divulgou imagens do soloafegão captadas por satélites, mas muitas televisõesda Europa se recusaram a reproduzi-las por razõeséticas.

Três agências de notícias - AFP, Reuters e AP -contrataram repórteres fotográficos afegãos que

forneciam textos, fotos e até vídeos. Mas seu trabalhoera muito difícil. Com freqüência tinham que se limitarao que os talibãs permitiam: casas bombardeadas eferidos nos hospitais. “É terrivelmente frustrante“, disseAlbert Facelly, repórter fotográfico da agência Sipa.“A impressão é que as fotos se repetem de um conflitoa outro, sobretudo a dos refugiados.Somos umespelhodeformante, pois só fotografamos o que querem nosmostrar.”

Durante a cobertura da guerra no Afeganistãomorreram oito trabalhadores da mídia, quatro delesrepórteres, o maior número num conflito depois daguerra doVietnã. Os primeiros foramJohanne Sutton,Pierre Billaud e Volker Handloik, mortos numaemboscada talibã. Os outros foram vítimas desaqueadores fora das áreas de conflito. Os jornalistasacreditaram cedo demais que a saída dos talibãs doslugares afastava todos os riscos. As cidades e aldeaisficaram entregues ao caos, sem Estado e sem lei, e ostrabalhadores da mídia, facilmente reconhecíveis,tornaram-se presa fácil dos assaltantes. Muitosjornalistas também foram presos, como RenanAntunes de Oliveira, da Gazeta do Povo, que ficou31 dias detido, com guarda rigorosa, num hotel nacidade de Zahedan, na fronteira entre o Afeganistãoe o Paquistão.

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foz do iguaçu

Alexandre Palmar

Desde os atentados terroristas aosEstados Unidos, a comunidadeárabe da tríplice fronteira (Brasil,

Paraguai e Argentina) tem sido acusada pelaimprensa de esconder células criminosas. Asmatérias produzidas pela mídiainternacional, nacional, estadual e, numprimeiro momento, pela de Foz do Iguaçudespertaram na cidade uma discussão quechegou até Brasília.

O estopim desse debate foi o movimento“Paz sem fronteiras”, realizado em 11 denovembro. O ato inter-religioso e culturalreuniu quase 20 mil pessoas no Gramadãoda Itaipu, com o objetivo de mostrar que as60 nacionalidades abrigadas na região vivemem harmonia. Sem alcançar o sucessoesperado, o Município optou pelo caminhodo humor, realizando o 1o EncontroInternacional de Terroristas, no dia 14 dedezembro.

Em ambos os casos, a imprensa cobriu osfatos como uma pauta normal do seucotidiano, salvo exceção. Ela ignorou que osalvos dessas manifestações foramos própriosveículos de comunicação e seus profissionais.Os dois protestos frisaram que nenhuma dasacusações contra a colônia árabe foiconfirmada pelas polícias e pelo governobrasileiro.

Aqueixa principal foi contra a imaginaçãodos jornalistas que produzem notíciasabastecidascomindíciosfornecidos por fontesanônimas. Este denuncismo tem levado aouso excessivo de termos na condicional, como “teriafinanciado o Hezbollah”. Esse tratamento já é umacondenação contra quem faltam provas. Isso para dizero mínimo.

O fenômeno resgatou o chamado “jornalismocascateiro”. Vale tudo para emplacar a notícia:reproduzir textos de jornais e agências de outros países,forçar depoimentos de policiais, teorizar sobre listas deprocurados da Interpol, do FBI, invadir a privacidadeda comunidade árabe e, o mais preocupante, despertaro xenofobismo nos brasileiros.

Nesse momento, é oportuno resgatar análise dojornalista Luiz Garcia. “Nossa obrigação não ésimplesmente ouvir os dois lados, e sim apurar o quehá de verdade na história. Inclusive, se for o caso, paraconcluir que não há história. O repórter sério, bem-informado, que passou os quatro anos da faculdade‘cobrando e praticando’ qualidade de ensino, vai serrespeitado quando chegar para o pauteiro e disser:‘Apurei e não vou escrever porque isto não é notícia’.”

Como o ideal é ilusório, tem-se a impressão de queo jornalismo passou a ser tratado como literatura, em

“Terror” na tríplice fronteira

As notícias ligando a tríplice fronteira aorganismos terroristas têm um aspecto poucodiscutido. Os EUA propagaram essa suspeita para asagências internacionais de notícias e, indiretamente,as agências nacionais. Ao mesmo tempo, pediram“colaboração” do presidente Fernando HenriqueCardoso na perseguição aos terroristas. Leal aoimpério, FHC interpretou o pedido de auxílio comouma ordem.

Sofri pressão paraencontrar terroristasno País, diz Gregori

que a ética e o bom senso foram deixados de lado. Epensar que o jornalismo registra a história. Os teóricospoderiam aproveitar o momento e acrescentar: “...efaz história”. O resultado da cobertura sobre o caso,até o fechamento desta edição (14de dezembro): sobraboato e falta informação.

Nada surpreendente, afinal o ministroda Justiça, José Gregori, confessou, ementrevista ao Jornal do Commercio, deRecife (PE), que foi pressionado aencontrar terroristas no País. “Eu sofri nosmeus últimos dias no ministério a pressãode vários setores, internos e externos, quequeriam porque queriam que eu achasseum terrorista no Brasil”, disse ele, semexplicar de onde viriam as pressões. Adeclaração foi publicada na edição de 14de novembro.

A partir da revelação pública, poucodebatida pela mídia, é possível imaginar(já que as regras do jogo permitem) oGoverno Federal pedindo para os veículosde comunicação “auxiliarem” na buscade terroristas em Foz do Iguaçu e Ciudaddel Este. Prática comum na relação damídia com o governo brasileiro e destecom o império estadunidense.

Outros aspectosda cobertura

1 - As reclamações contra a mídiasão injustas quando acusam todas asmatérias veiculadas sobre a tríplicefronteira de serem fantasiosas. Algunsveículos de comunicação produziramreportagens relatando as investigaçõesda Polícia Nacional do Paraguai e daJustiça paraguaia sobre árabes acusadosde financiar o terrorismo. Resta saber ograu de confiabilidade das buscas.

2 - Hezbollah é um partido político legalizadono Líbano com histórico de atos de caridade eextremistas. Financiá-lo é quase uma obrigaçãoreligiosa para os árabes. Coincidência ou não, práticasemelhante é adotada por adeptos de outras religiões.Mas, para os EUA, a contribuição dos comerciantesde Ciudad del Este, grande parte com residênciaem Foz, é apontada como financiamento doterrorismo.

3 - A onda de notícias negativas sobre Foz eCiudad del Este (Paraguai) resultou na queda de30% do movimento de turistas justamente em épocade temporada. Aliás, o prejuízo econômico, aindaincalculável, foi o verdadeiro fator que motivou osorganizadores dos dois eventos a criticar a massmidia. Seria ingenuidade pensar que a defesa deseus idealizadores - a maioria ligada ao setorhoteleiro - se resume ao amor pela Terra dasCataratas.

Alexandre Palmar é vice-presidente do Sindicatodos Jornalistas Profissionais do Paraná

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dica para entrevista

Anne Nelson e Dr, Daniel Nelson

Os ataques terroristas contra os EstadosUnidos chamaram a atenção para como amídia trata as vítimas e pessoas que perderam

entes queridos. O “Columbia Journalism Review”, omais importante órgão de monitoramento de mídia dosEstados Unidos, publicouestas valiosas dicas intituladas“Sugestões práticas para jornalistascobrindocatástrofes”de Anne Nelson, da Faculdade deJornalismo de Columbia (ColumbiaGraduate School of Journalism) e Dr.Daniel Nelson, da Universidade deCincinnati (University of Cincinnati).

Entrevistandopessoas quepassamporumtraumaprimárioA expressão “trauma primário” se

aplica a indivíduos que tiveramexperiências diretas em uma catástrofe.Inclui aqueles que sobreviveram,testemunharam ou perderam alguémpróximo numa catástrofe.

Um jornalista, assim como ummédico, deve aplicar o princípio:“Primeiro, não causar dano.” O maiorfator determinante é se a pessoa afetadaestá pronta para falar e tem algumcontrole sobre a situação.

Você deve pedir permissão. Podeperguntaraopossívelentrevistado:“Vocêgostaria de falar sobre isso agora?” Seele disser não, você deve aceitar. Daráabertura para que ele fale com você maistarde. Uma pessoa que não está prontanão estará apta a contar sua história deforma coerente, a informação seráfragmentada.

Se a pessoa concordar falar, dê a elauma visão geral da entrevista e seusparâmetros. Isso inclui o tempo daentrevista. (“Eugostaria deconversarcomvocêporalgunsminutos”ou“Eugostariade lhefazeralgumasperguntas.”)Se você precisar seguir em frente pouco depois, isso vaiajudar a pessoa a aceitar a situação sem se sentirabandonada.

Seu tom de voz e sua linguagem corporal são degrande importância. Mostre empatia, não desligamento.Mas procure controlar suas próprias emoções. Empatianão quer dizer compartilhar as emoções de uma pessoa,mas entender e validar essas emoções.

Não espere nenhuma reação. Diferentes pessoasmanifestam o trauma de diferentes maneiras, variandodo estóico e insensível ao histérico. Não julgue acondição por uma reação.

Postura física

Como ser um jornalista sensível(ao estilo americano)

Adote uma postura que mostra empatia. Se aentrevista for longa, e ambos ficarem sentados, vocêpode sentar-se ao lado da pessoa. Algumas pessoasacham que é melhor não fazer contato visual, mas olharpara um ponto abstrato, no chão ou nas paredes, paraonde o entrevistado também está olhando. Para,literalmente, “ver os fatos da perspectiva doentrevistado”.

Inclinar-se levemente para frente expressa abertura.

Braços epernas cruzadas podemser interpretadas comofechamento ou hostilidade. Não se surpreenda se vocêse sentir estranho ou desconfortável. Isto é natural.

ChoroSe o entrevistado chora, isto não é necessariamente

uma coisa ruimoudanosa.Tenhasempre consigo lençosde papel e ofereça-os como um gesto solidário. Umarazão pela qual as pessoas se sentem mal por chorarem público é a coriza nasal, e oferecer lenços de papelpode ajudar. Um toque afável no braço também é bemrecebido.

Você pode tentar ajudá-lo, lembrando do propósitodaquele momento. Frases como: “Eu sei que este é ummomento realmente traumático para você, mas as

pessoas precisam saber sobre isso porque...” podemajudar o entrevistado, mas tenha um bom motivo peloqual as pessoas devem saber.

QuestõesEvite questões estúpidas. A primeira delasé “Como

você se sente?”. Psicólogos dizem que umaaproximação menos direta é melhor. “O que você querque as pessoas saibam sobre o que aconteceu?”. Seja

cuidadoso.Não se projete. Não diga: “Eu sei

como você se sente.” Você não sabe.Não diga: “Você deve ter sentido...”Você deve ajudar a pessoa a articularsua própria narrativa, seja ela o que for,e por escuta e reflexão, ajudá-la alegitimar essa narrativa. Evite respostasprontas como: “Poderia ter sido pior.”Ou “você teve sorte.”

Respeite o silêncioSe ele perguntar: “Por que isto

aconteceu?” não tente dar uma respostadireta. Uma resposta apropriada é umeco: “Sim, por que algo tão terrívelaconteceu?”

Se ele expressar negação, não oquestione. Negação é um estágiolegítimo e útil do processo derecuperação.

Terminando a entrevistaDê apoio. Quando possível, termine

a entrevista com um caloroso aperto demãos, com agradecimentos e palavrasreconfortantes, como:“Desejo-lhe tudode bom.” Se a entrevista for longa, oude grande importância, considere anecessidade de uma ligação telefônica,um certo tempo depois, para dizer algocomo: “Eusó liguei para ver como você

estava.”Algumas vezes as pessoas vão se sentir violadas ou

manifestarão raiva, mesmo que você não tenha feitonada errado. Isso não quer dizer que a reação foidesencadeada por você, mas pela experiência em si.Examine sua consciência. Se ela estiver limpa, sigaem frente.

Anne Nelson tem um currículo sobre direitoshumanos em Columbia. Dr. Nelson, seu irmão, é

psiquiatra infantil, e chefiou a Unidade deNotificação à Família no atentado da cidade de

Oklahoma.

(Tradução Hermann Rauth)

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18 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1

OPrêmio Sangue Novo no JornalismoParanaense está consolidado e valorizatrabalho do estudante. Os veículos de

comunicação ficam de olho nele e lhe oferecememprego com mais facilidade. A premiação é umincentivo à futura atividade profissional e, porisso, todos os estudantes devem participar.” Aavaliação é do jornalista e professor universitárioEmerson Castro Firmo, um dos criadores doPrêmio e seu coordenador até o ano passado.

Quando foi criado, em 1995, a intenção doPrêmio era proporcionar uma troca daUniversidade e dos estudantes com osprofissionais, intermediada pelo Sindicato.Depois de seis edições, ele se tornou umareferência, “pois não é fácil ganhar”, comoobserva Emerson. “Quem vence é porquerealmente tem qualidades”, ele diz.

Ninguém imaginava, no começo, que oconcurso poderia alcançar os resultados queobteve. Os alunos passaram a caprichar mais emseus trabalhos. Muitos estudantes de primeiroano, que ainda não haviam tido a matéria, forampremiados. Procuraram o professor da disciplina.Um professor comentou que um aluno foi até suacasa para verificar se o trabalho estava de acordocom as normas. O Prêmio Sangue Novo levou osalunos a terem maior interesse e forçou osprofessores a atenderem os estudantes, o quemuitas vezes não acontece na Faculdade.

Outro resultado foi a disputa entre Faculdades,permitindo comparar umas com as outras. OPrêmio avalia de certa forma que uma Faculdadeé melhor em determinado setor. Assim, aUniversidade Federal do Paraná (UFPR) ganhacom freqüência na área de imprensa, e nãoconsegue vencer no setor da eletrônica, no quala Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e aPontifícia Universidade Católica (PUC) se saemmelhor. AUniversidade Estadual de Ponta Grossa(UEPG) disputa na área impressa e em rádio. Nosdois últimos anos, a Universidade Estadual deLondrina (UEL) ganhou em rádio, porqueimprime uma qualidade maior a essa categoria.“É uma avaliação relativa, mas dá uma referênciapara quem se interessa por determinada área”,observa Emerson.

Também os professores foram valorizados, poistodos os trabalhos têm orientação docente. Alémdisso, o Prêmio Sangue Novo tornou-se um canalentre os professores e as redações. Muitas vezesuma Universidade se pergunta como fazer umareportagem de TV. É possível fazer uma reportagemde 30 minutos? Isso até pode acontecer numagrande reportagem, mas a matéria comum precisase adequar a uma lógica mínima. Uma reportagemna TV quase sempre leva 1 minuto ou, no máximo,2. Mas o Sangue Novo dá uma certa liberdade aoestudante.

prêmio sangue novo

Uma referência na profissão

As inscrições para o 7o Prêmio Sangue Novono Jornalismo Paranaense já estão abertas epodem ser feitas até o dia 31 de janeiro de 2002.Dele pode participar estudantes de Jornalismo deuniversidades e faculdades com sede no Paraná.O concurso é promovido pelo Sindicato dosJornalistas Profissionais do Paraná e neste anotem o patrocínio do HSBC. Seu regulamento foidiscutido e aprovado por representantes doSindicato e das escolas de comunicação.

O Prêmio é composto por onze categorias:quatro de Reportagem (impressa, para rádio, paratelevisão e fotográfica), cindo de Projetos (emtelejornalismo, jornalismo impresso, jornalísticopara internet e jornalístico livre), MelhorMonografia e Jornal Laboratório. Só serão aceitostrabalhos apresentados entre janeiro de 2001 e30 de janeiro de 2002, limitando-se ao máximode duas inscrições por autor ou equipe em cadacategoria. O mesmo trabalho não poderá serinscrito em mais de uma categoria.

O número máximo de alunos por trabalho élimitado. Os trabalhos de Projetos podem ter até20 alunos, com definição de funções por aluno.Em Reportagem para TV o número máximo é deseis alunos por trabalho. Em Reportagens paraRádio, Reportagem Impressa e Reportagem

Fotográfica o limite é de dois alunos. Em MelhorMonografia a inscrição é individual. Nenhumtrabalho poderá ter crédito que aponte aUniversidade de origem. Os vencedores serãopremiados em maio de 2002, em data a seramplamente divulgada na imprensa, nasuniversidades e individualmente.

Cada ano vem aumentando o número de trabalhosinscritos, de instituições e alunos participantes. Noano passado foram inscritos 000 trabalhos, deestudantes de 0 instituições. Alunos de primeiro anotambém podem participar. As inscrições para o 7o

Prêmio Sangue Novo podem ser feitas na Secretariado Sindicato, na Rua José Loureiro, 211, CEP80010-140, Curitiba.

O regulamento do Prêmio levou a trabalharmelhor as disciplinas. Começou a haver umadiscussão entre a Universidade e os profissionais.“Isto não significa que o ensino deva estar voltadopara o mercado, mas é preciso que esteja mais deacordo com o que ocorre na realidade”, comentaEmerson Castro.

Como ex-presidente do Sindicato, Emersonavalia que, para a entidade, o Prêmio Sangue Novoserviu como uma abertura para o relacionamentoentre estudantes e profissionais e vem cumprindomuito bem esse papel. “Não é comum um prêmiodurar tanto tempo. Talvez seja a ação maisconsistente na parte institucional. Todas as outrasatividades do Sindicato sofreram alterações, mas

o Sangue Novo não teve mudanças. Tevemelhorias, como o acréscimo de novascategorias. A monografia só foi introduzida no5o Prêmio. A Internet passou a fazer parte porexigência da Universidade“, observa Emerson.

Emerson Castro desligou-se do PrêmioSangue Novo e diz que agora pretende ganhá-lo várias vezes, orientando seus alunos. O novocoordenador é o jornalista Marcos AntônioAssef.

Abertas asinscrições

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imagem

À espera do flagranteAmaior satisfação de Roberto

Corradini não é participar deexposições, mas ter a foto publicada

no jornal no dia seguinte. “É isso que me lavaa alma.” É esta a autoanálise que ele faz deseus 18 anos de atividade como repórterfotográfico.

Corradini começou a fazer imagens naSecretaria da Indústria e Comércio, em 1980.Em 82 entrou no Jornal do Estado. Aomesmo tempo, trabalhou na Secretaria deEsporte e Cultura. Em 85, vendeu tudo e foipara o Rio. O primeiro veículo em quetrabalhou foi a Última Hora. Depois passoupela revista Visão e pelos jornais O Dia e OGlobo. “No Rio, os profissionais têm maisliberdade com as matérias e as fotos. Opessoal do aquário não pega tanto como emCuritiba.”

“As editorias de fotografia dos jornais doRio têm força”, diz Corradini. “O editor defotos decide realmente quais são as fotos quevão ser publicadas no jornal. Além disso, dáforça aos repórteres fotográficos. É umavanço profissional. Isso tem que chegar aosjornais de Curitiba.”

Em 1991, teve de voltar para Curitiba, porproblemas de saúde. Voltou ao Jornal doEstado em 93. Em 94 foi trabalhar naAssembléia Legislativa, e ali permaneceu atéa morte de Aníbal Kouri. Atuou comorepórter fotográfico nas duas últimascampanhas para governador. Atualmente estácobrindo as férias dos fotógrafos do Jornal doEstado..

Corradini tem uma predileção especial pelafoto política. Fica mosqueando o político atéuma hora, à espera do flagrante. O free jazztambém se encontra entre suas preferências,assim como os shows e o esporte.

Para ele, um dos grandes fotógrafos foiRichard Avedon, que fazia as capas da revistaVogue. Também Henri Cartier-Bresson, noplano internacional, está entre seus favoritos.No Rio, Oscar Cabral, que fotografou ItamarFranco no Sambódromo em pose poucopresidencial, e Alexandre Sazaki, da agênciaGamma, são na opinião dele os grandesrepórteres fotográficos cariocas.

RobertoCorradini

Collor lixo:embaixo dapropaganda docandidatoFernando Collorde Mello, no diadas eleições doprimeiro turno,em 1989

Saturnino Braga fazendo OK para Castor deAndrade, chefe do jogo do bicho no Rio de

Janeiro. Última Hora, 1987

A santa apontandopara a latinha de

esmolas da mendiga,na antiga entrada doCemitério Municipal

de Curitiba. Jornal doEstado, 1984

Folião à espera doCarnaval, naMarechal Deodoro.Retrato do Carnavalde Curitiba. Jornaldo Estado, 1984

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Diante de consumidores mais exigentes,legislações mais rigorosas, ambientecompetitivo mais acirrado e condições

econômicas nem sempre favoráveis, o marketing setorna vital. Quem diz isto é o professor LuizFernando Garcia, diretor nacional do curso deComunicação da Escola Superior de Propaganda eMarketing (ESPM), que dirigiu a terceira oficinade comunicação oferecida pelo Núcleo de Assessoriade Comunicação do Sindicato, falando sobreAdministração Estratégica em Comunicação.

Para Luiz Fernando, o marketing é uma formade pensar a empresa, orientando-a para produzir e

núcleo de assessoria de comunicação

Uma comunicação coerenteoferecer no mercado os bens que ele deseja, com ascaracterísticas adequadas, no preço apropriado, nolocal certo e com comunicação suficiente para queas pessoas saibam que esse bem existe e pode valera pena conhecê-lo.

Todos os esforços de comunicação de umaempresa devem estar alinhados com a imagem queela se propõe a criar, pois todos os pontos de contatodos consumidores e dos formadores de opinião domercado com a empresa são fundamentais. É muitocomum encontrar empresas que contam vários pontosde contato com os consumidores, porém cada umdesses pontos parece independente, sem ligação

nenhuma com o anterior ou o próximo.Segundo Luiz Fernando Garcia, esse

procedimento não ajuda em nada a formação daimagem empresarial, pois perde a chamada sinergiadas ações e ainda atrapalha muito para que issoocorra. Ao contrário, gera um efeito deesquizofrenia empresarial, pois a imagem começaa ser, a cada passo, uma expressão diferente. Opapel do jornalista, nesse contexto, comocomunicador, é zelar para que isso não aconteça.E principalmente alimentar os canais decomunicação com informes coerentes com essamissão, visão e valor empresarial.

A polít ica e a é tica foram temas daprimeira oficina de comunicação noencontro promovido pelo Núcleo de

Assessoria de Comunicação do Sindicato deJornalistas Profissionais do Paraná de 8 a 10de novembro, no Sebrae/PR. Clóvis de BarrosFilho falou sobre Marketing Político e relatouque nessa atividade falta profissionalismo,havendo uma lacuna no mercado. Em suaof ic ina e le c itou fa tos exemplif icando oamadorismo do setor e apresentou formas quepodem contribuir para melhorar o desempenhotanto do profissional que exerce a função de“marque te iro político” quanto do própr iopolítico.

Bar ros , que é graduado em Dire ito eJornalismo e fez doutorado na Espanha emCiências da Informação, disse que hoje oassessor de comunicação está tomando o lugardo “marquete iro polí tico” , pois tem umaatuação mais ampla. Acompanha o candidatomuito antes da campanha , faz par te doplanejamento estratég ico da candidatura eparticipa de propostas de ação que revertam emvotos futuros.

Profissional de Marketing e ComunicaçãoEmpresarial, jornalista, publicitária e relações-públicas formada pela Escola Superior dePropaganda e Marketing e pela Cásper Líbero,Izolda Cremonine destacou na segunda oficinaque cada vez mais, no universo da comunicaçãocom o mercado , que orbita em torno denegócios, empresas e entidades, praticamentenão há mais uma divisão tão c lara ent rejornalista, relações-públicas e publicitário.

Segundo e la , nos processos a tua is decomunicação integrada, todos devem dominaros conceitos fundamentais da formação emanutenção da imagem, tendo condições deadministrar os relacionamentos com todas asformas de públicos. Nessa perspectiva, e num

Oficinas de comunicaçãomomento que exige maior competitividadeempresarial, o prenúncio do futuro é promissor,com mais empresas abrindo espaços e sentindonecessidade de atuação de profissionais decomunicação.

As oficinas de comunicação foram umainic ia t iva do Nú c le o de As s es s o r ia d eComunicação do Sindicato, em parceria como Sebrae/PR, a Inepar e o Rochelle ParkHotel. Em setembro, em outra iniciativa donúcleo, quatro jornalistas participaram doE nc o nt r o N a cio na l de As s es s o r ia e mComunicação em Maceió, em setembro, sobreo jornalismo na era digital. O Núcleo surgiu

As oficinas foram muito produtivas, segundo os participantes

no Sindicato há seis anos, quando o Sindicatopercebeu que as ferramentas do assessor deimprensa eram diferentes das que o jornalistausa na redação.

Os participantes consideraram as oficinasmuito pr odut ivas e d ize m q ue devemcontinuar, como é o caso de Ariane Lopes, quetrabalha no Departamento de Comunicação daBrasil Telecom. Também para Valtemir SoaresJúnior, autônomo formado em Jornalismo eRelações Públicas, as oficinas foram muitoúte is. “Entendendo melhor a comunicaçãovoltada para o merca do , f ica mais fác ilassessorar o cliente”, ele avalia.

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liberdade de expressão

ATecBan Tecnologia Bancária,administradora do Banco24Horas e docheque eletrônico, enviou ao site InfoGuerra

uma notificação, por meio do cartório de títulos edocumentos, exigindo que a publicação retirasseimediatamente do ar matéria que tratava da invasãodo site Banco24Horas, publicada no dia 30 deoutubro. Na matéria, o site InfoGuerra haviainformado que um hacker disse ter entrado no sistemae roubado dados do site. A TecBan exigia que, emsubstituição, fosse publicada uma versão que osadvogados da empresa haviam produzido.

O jornalista Giordani Rodrigues, editor do site,se dispôs a retificar a matéria ou mesmo retirá-la doar, se ficasse comprovado que ela continhainformações erradas, mas para isso solicitava umaentrevista mais detalhada com a área técnica daempresa. A empresa se negou a dar a entrevista,apenas reescrevendo a versão

A matéria foi publicada também no site ConsultorJurídico (ConJur), que está no UOL, e no Relatório

TecBan tenta tirar notícia do arAlfa. Aldo Novak, editor doRelatório Alfa, igualmenterecebeu a notificação, mastambém não retirou a matéria doar. Pelo contrário, publicou umeditorial criticando a atitude daadministradora. O ConJur recebeuum e-mail com a versão do bancoe a publicou, mas também nãotirou a primeira matéria do ar.

Como foi citado nanotificação, o Relatório Alfa resolveu investigardiretamente o caso. “Como resultado, duas questõesforam levantadas imediatamente: primeiro, apreocupação da TecBan com a imagem de segurançado sistema (bastante compreensível) e, em seguida, apreocupação pública com a possível fragilidade dainterface e a segurança dos dados dos usuários(também compreensível)”, afirma o Relatório Alfaem comunicado oficial.

Segundo o comunicado, o editor do InfoGuerra

procurou a assessoria de imprensada TecBan e não obteve retorno.A IDGNow!, que publicou o textono Terra, também tentou obter aposição da TecBan sobre oincidente, mas eles se recusarama tratar do caso. “É curiosa aposição da TecBan. Primeiro elesnão queriam falar sobre o caso,nem com InfoGuerra, nem comIDGNow!Então,depois que todos

começaram a falar do caso, subitamente os advogadosda empresa tentaram apagar o incêndio da formaerrada: exigindo que as matérias fossem retiradas doar, e não corrigidas com suas posições oficiais. Oprovedor Terra, por exemplo, tirou a matéria do ar.”

No final, o Relatório Alfa sugere que “a equipede imprensa da TecBan tenha autorização pararesponder aos jornalistas sempre que necessário, jáque esse tipo de equívoco foi causado, desde o início,pela recusa da empresa em se posicionar”.

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Page 22: Extra Pauta Ed. 56

22 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1

Esta é, espero, a primeira de muitas matériasno jornal Extra Pauta sobre o Projetos deComunicação & Cidadania. Consideramos que

uma entidade deve prestar este trabalho para a categoriae a comunidade. Isto é, realizar e discutir eventos decidadania, culturais e de formação e também sobreMarketing e Comunicação. Não está sendo fácil estacaminhada. Por uma série de fatores. Mas...faz parte doshow. Então vamos lá.

Na primeira edição desta página, a matéria surgiubaseada num bate-papo com um dos clientes que visitei.Esse cliente levantou a questão. Julguei que seriainteressante começar a discutir. Pois as mudanças têminício quando você discute, troca idéias e começa a agir.Procurei ouvir todas as partes. Alguns entrevistados deCuritiba e São Paulo (jornalistas da área cultural) nãopuderam responder. Pelo tempo, ou melhor sua falta detempo. Ficará para uma próxima vez. Este espaçotambém está aberto para sugestões e críticas. Enviar e-mail para Cida Mondini. [email protected]

PATROCINADORES x IMPRENSAQuando acontece um evento, cultural e/ou de

cidadania, nas matérias publicadas sobre ele, é citado opromotor/realizador do evento. A marca dopatrocinador/apoiador é exibida/citada no material/campanha de divulgação. Queremos sua opinião: Porque, normalmente, não é citado nas matérias da imprensao nome/marca do patrocinador e/ou apoiador?

RESPOSTASA maioria dos patrocinadores está mais interessada

em descontos fiscais do que em verdadeiramente apoiara arte ou um evento cultural. Não há uma sapiência deque esses patrocínios são essenciais. É raro uma empresaque apóie alguma coisa com consciência de que estáproporcionando algo essencial para a sociedade. Quantoà imprensa, acho que nesse setor, mais do que emqualquer outro, os interesses se impõemdescaradamente. Só se divulga o que for do interessedo órgão em questão. É a política do toma lá dá cá quetem imperado em nossos meios há muito tempo.

Leo Lama / Dramaturgo e compositor

Toda empresa que apóia qualquer tipo de eventopretende ver seu nome e sua logomarca expostos nosmateriais publicitários e de divulgação, sejam elesoutdoors, banners, folders, comerciais de rádio,televisão, jornal, revista ou qualquer outra mídiaalternativa. Porém, o mesmo não acontece com ojornalismo, onde quem decide se o nome da empresaestará vinculado à matéria ou não é o próprio veículode comunicação. Se a imprensa colaborasse napublicação e/ou exibição dos patrocinadores, poderiaincentivar outras empresas a investirem no patrocíniode eventos, democratizando ainda mais a cultura.

Amílcar Marques / Vice-presidenteda Global Telecom

Realmente este fato acontece. Na realidade,quando o patrocinador “compra” o evento, oempreendedor considera esse item como benefício do

Projetos de Comunicação & Cidadaniaprojeto, mas sabemos que na verdade a mídia gratuitadificilmente acontece. Por esta razão avaliar umprojeto pela mídia espontânea que ela gera acaba sendoinválido. Tanto que as empresas têm procurado utilizar“marcas” de eventos culturais, com seus nomes (FreeJazz Festival, Carlton Arts, Circuito Cultural Bancodo Brasil) para garantir maior visibilidade para suasmarcas.

Heloísa Souza / ComunicaçãoCorporativa - HSBC

Estou acostumada a ler matérias sobre eventos eelas raramente citam os patrocinadores. Não concordocom essa prática, pois nós, que trabalhamos emagência de publicidade, bem sabemos o quanto é difícilconvencer os clientes a investir nesse tipo de ação.Acredito que com o apoio da imprensa, divulgandotambém o nome do patrocinador, os negócios fluiriammais facilmente. É bom lembrar que o evento sóacontece com a ajuda financeira do patrocinador e queele também faz parte do show, por isso merecedestaque.

Giovanna Leal Dalla Corte /Diretora de Mídia - Exclam Comunicação

É preciso que as empresas entendam que o maiorganho de imagem é junto ao público alvo do evento enão junto ao público geral. Por isso, é preciso escolhero evento que contará com a marca e o patrocínio daempresa com muito critério. É preciso saber o que falare em qual momento falar. É importante que as empresassejam sempre orientadas por suas assessorias deimprensa a não criar falsa expectativa em relação àdivulgação de seu nome ou marca. Os jornalistasentendem isso como informação comercial. Muitoembora patrocínios isolados não sejam notícia parajornal, a política de patrocínio de uma empresa podeser explorada jornalisticamente em vários momentos.Pode-se divulgar o início de inscrição de projetos, aetapa de seleção, o envolvimento da comunidadeartística local, o investimento da empresa e por aí vai.O importante é saber que uma coisa é uma coisa e outracoisa é outra coisa.

Sérgio Wesley/ Diretor da NQM Comunicação

Os diversos eventos que são patrocinados porempresas de médio a grande porte reúnem algunsfatores políticos, sociais e estruturais que podemtrazer diferenças/conseqüências no momento em queo nome da empresa é divulgado. Nas matérias em queo nome do promotor/realizador é citado e a empresafica “camuflada”, podemos ler que talvez ocorreu umacerto entre eles. Às vezes não compensa a empresadivulgar seu nome em tal evento, até mesmo quando oaproveitamento comercial não é adequado ou porquejá existe uma campanha no ar podendo modificar acomunicação ou por questões políticas. Vejo que seriaimportante o nome da empresa ser divulgado comopatrocinadora até porque ganha visibilidade ecredibilidade.

Priscila Leopoldino /Diretora de Mídia Loducca Sul

No momento em que o apoiador ou patrocinadorpassa a financiar um projeto cultural é porque acreditaque, por si só, ele lhe dará o devido retorno. Pagoupara ter seu nome ou sua logomarca no material dedivulgação do tal projeto e só. No entanto, se forrelevante para a matéria sobre esse projeto e as duascoisas, patrocinador e patrocinado, estiveremintrinsecamente ligadas, o patrocinador será citado.Ou seja, deixando de circunlóquios, se ele quer terseu nome no jornal, então que ligue suas atividadesdefinitivamente à cultura. Ou que pague um anúncio.E isso é lá com o Departamento Comercial. Não com aredação.

Alessandro Martins / Editor do Caderno deCultura (Espaço 2) - Jornal do Estado

A maior parte dos veículos de comunicação (jornaise TVs, principalmente) alega que se estaria fazendopropaganda gratuita. Mas, quando são publicadasnotícias que trazem alguma imagem negativa, os nomesdas empresas aparecem às vezes não uma, mas váriasvezes - isto também não é fazer propaganda? Então aquestão não é a de se estar ou não fazendo propaganda,mas se a propaganda agregada à notícia é positiva ounegativa. O público não teria o primeiro direito comrelação à informação? É lógico que, para a empresa,os patrocínios também são uma forma de divulgação,um meio de dizer ao público que estamos investindoem áreas que apresentam carências e que valem a penaser estimuladas. A empresa tem orgulho de aparecercomo parceira de um acontecimento que estácontribuindo para o crescimento da comunidade ecriando cabeças pensadoras, formadoras de opiniões.Ariane Herek de López / Jornalista, publicitária

e coordenadora de projetos culturais

A resposta é a falta de entendimento entre omercado promotor de evento e o mercado divulgadordos eventos. O nosso mercado (Paraná) ainda é carentede grandes eventos, com verbas disponíveis para umplano de comunicação que contemple todos ossegmentos, rádios, TVs, jornais e revistas. Existe umcerto desinteresse por parte dos meios de comunicaçãoem apoiar eventos, pois estes não trazem o montantede verbas que uma campanha publicitária atrai. Muitasempresas em outros estados já pensam diferente.Apoiando um bom evento, dando uma boa coberturacom a citação dos patrocinadores hoje, sem muitaverba, o evento é valorizado, os patrocinadores sentem-se valorizados, o promotor é valorizado. Então, para opróximo evento o promotor fará um plano dedivulgação melhor, com uma quota de verba maior paraa divulgação e assim por diante. Todos terão retorno,inclusive os canais de comunicação. No Rio e em SãoPaulo, muitos eventos de tamanho médio recebemamplo apoio da mídia, transformando-se em produtosvendáveis e rentáveis. Com uma boa estratégia decomunicação podemos ter grandes eventos, e assim termaiores patrocinadores que geram maiores eventos eassim por diante.

Guilherme Klopfleish /Diretor da Promoter Eventos

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Page 23: Extra Pauta Ed. 56

E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1 - 23

livro

Os amores difíceisMarcelo Lima

Nenhuma relação amorosa é simples - àexceção do que se vê numa letra depagode, em que tudo se resolve com

uma boa noitada e goles de Old Eight sem gelo.O par romântico, em geral, tem uma vidapenosa, tanto no cotidiano mais comezinhoquanto nas narrativas e nas cores sofisticadasdo que de melhor se produz em termos deliteratura e cinema.

Assim como a m orte , o am or é u maexperiência limítrofe dentro da representaçãoartística. O par amoroso de papel ou de saisde prata vive muito mais intensamente osdesastres conjugais do que um casal de carnee osso. De outra forma, a arte não teria amenor graça. Imagine a chatice de um Cyranode Bergerac que fosse obrigado a trabalhardas 7h30 às 22h, como boa parte dos mortais?Não teria tempo para desafiar os inimigos econquistar as mulheres com seus galanteios.Afinal, a personagem difere da pessoa porquesó se apresenta em experiências limítrofes enunca em atividades triviais, como o trabalhoe a reposição das energias.

Repare bem nos romances e nas novelas,mesmo as de televisão: se as personagensestão trabalhando, é para dar um mínimo deestofo à história e mostrar que o dinheiro vemde algum lugar; se estão à mesa, nuncadevoram uma lauta refeição, mas um repastomagro, preenchido por uma conversa infinita,sem a opulência de um almoço de domingo.

Isso porque todo ser que habita as páginasde um romance está ali para sofrer e viveruma história extraordinária, em que comer,beber e viver é pura trivialidade e perda detempo . Escreven do uma vez sobre alinguagem poética, João Cabral de Melo Netodisse ser a arte da escrita uma espécie de facaque tivesse apenas a lâmina: a literatura é,antes de tudo, um artifício que aproveita aomáximo o poder de significação de seussubstratos - no caso, as palavras e os silênciosdo papel.

Nessa onda de sofr imen to-pou co-é-bobagem, está a dupla mais problemática daliteratura brasileira: Diadorim e Riobaldo,saídos da cabeça do poliglota GuimarãesRosa. Diferente de tudo o que há nas letrasdo país, o escritor mineiro conta a saga deRiobaldo e sua amada, con stru indo umintrincado labirinto de significados.

Se fosse resumir o livro, diria que é uma

complicada h istór ia de amor: reúne umnarrador tentando passar a limpo o que viveue uma personagem que ora é homem, ora émulher, e se mostra como mistério para oleitor. É claro que “Grande Sertão: Veredas”pode ser muito mais do que isso. Trata dacomplexidade das relações en tre os sereshumanos e seus vários in ter locu tores: acultura, a religião, o esoterismo, a história, atradição, a sexualidade.

Apesar de haver possibilidades amplas deleitura do romance, o recorte da relaçãoamorosa é suficientemente importante parajustificar qualquer exegese. Aliás, não forampoucos os c r ít icos q ue tr i lha ram essecaminho. Eles falam principalmente do jogode desejo que existe na relação de Riobaldoe Diadorim, que se torna visível por meio dodiscurso.

Se me perguntassem qual é o elemento maisimportante e revelador do romance, diria queé a forma através da qual o discurso chega atéos olhos e ouvidos do leitor e revela/oculta ahistória de amor. Guimarães Rosa é um dosescr itores mais habilidosos da línguaportuguesa. Sua forma de criação - que misturapalavras arcaicas, outras línguas e a invençãode vocábu los - garan te ao texto aimpossibilidade de ser traduzido para outroidioma.

O que isso tem de revelador numa relaçãoam orosa? Tu do. Em primeiro lugar, oromance é narrado em primeira pessoa. Comose sabe, quem conta uma história a partirdesse ponto de vista pode revelar as marcasda subjetividade e do íntimo do indivíduo. Onarrador em terceira pessoa, invenção dapoesia épica, expressa mais a condição sociale coletiva, em que há espaço para amplaspaisagens e poucos detalhes subjetivos. Sefôssemos faze r uma com paração com afotografia, poderíamos dizer que a narrativaem primeira pessoa é uma foto fechada norosto do indivíduo, ignorando o seu entorno;quem conta uma história em terceira pessoafotografa imagens totalmente abertas, de queé possível depreender um contexto maisamplo, mas se perde a expressividade dosolhos.

Há um agravante no caso de Riobaldo. Eleconta sua história a um só interlocutor - umcerto Dou tor, a quem se refere desde ocomeço da narrativa. Não sei quanto tempodura essa conversa, e se ela tem intervalospara cafezinho, mas, pelo tempo que levei

para ler todo o livro, diria que são uns trêsdias . Es se Dou tor é u m in te r locu t orprivilegiado: uma pessoa cu lta , capaz deentender o caboclo letrado Riobaldo.

Ao con tar sua h istór ia para o Dou tor,podemos imaginar Riobaldo deitado numdivã, com o palavreado em surto. Chega-se aes sa imagem porqu e as relações en t re“Grande Sertão: Veredas” e a psicanálisepa recem ser direta s , embora não t ãoevidentes. O saber criado por Freud tem comoobjeto principal o discurso. É através daspalavras que são identificados os grandesproblemas da alma humana. E o monólogo donarrador quase se transforma num fluxo deconsciência - desses que simulam a dissoluçãodo significado ordinário, dando às palavrasuma certa autonomia em relação aos rumosda história.

A narrativa de Riobaldo nada mais é doque a tentativa de encointrar um caminho queo leve às principais respostas sobre sua vidasentimental e espiritual. É como se, ao contarseus desen r edos am orosos pa ra umin ter locu to r s ilencioso , poudesse e lepr óprio vislumbrar no discurso soluçõespara o que viveu.

Assim como Diadorim é uma neblina, seudiscurso é nebuloso, recortado de referênciasa mitos e personagens, revelando os estágioscontraditórios da vida do amador. Trata-se deuma leitura que não pode ser feita poor meiode olhos alheios.

Perguntaram-me certa vez se ler GuimarãesRosa é indispensável para um jornalista, já queseus livros utilizam uma outra língua e umaforma de comun icação que represen taexatamente o oposto da linguagem das massas.A minha resposta é af irmat iva. E ten tojustificá-la: se por um lado o texto jornalísticobusca um certo automatismo e uma norma quetêm seus limites, simplificando a própriaverdade, o texto de Rosa mostra que a vidanão é bolinha de sabão, e que procurar osignificado é muito perigoso, principalmentequando se fala de amor.

Se você est á-s e pr epa ran do par a ler“Grande Sertão: Ver edas”, aqu i vai umprecioso conselho de quem é filho de caçadorde codornas e de perdizes: compre uma boaespingarda e prepare-se para se perder nomeio do mato sem cachorro.

Marcelo Lima, 30 anos, é jornalistae professor universitário.

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24 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1

memória

Alexandre Teixeira

Eu tive o prazer de conviver com ajornalista Sonia Nassar. Foram 12anos em que trabalhamos juntos, mais

em lados diferentes, fazendo a cobertura dofutebol paranaense.

Sonia foi uma desbravadora do jornalismobrasileiro. Em uma época em que mulher nasredações era algo difícil, quase impossível, aSoninha lá estava marcando a sua presençacom uma inteligência e uma perspicácia forado normal.

Quando eu entrei na Escola deComunicação da Universidade Federal doParaná em 1984, Sonia Nassar já era umalegenda. Eu acompanhava os seus escritos eas suas opiniões, através da Tribuna e doEstado do Paraná, e das rádios por ondepassou. Acompanhava os jogos no final desemana e sempre fazia questão de observar assuas opiniões, não porque tínhamos a mesmapaixão pelo Clube Atlético Paranaense, masporque a Soninha era na época a jornalista maisbem informada sobre o futebol. Se você queriasaber alguma notícia quente, teria que ler ououvir Sonia Nassar.

Em 1988 passei a trabalhar na Editoria deEsportes da Gazeta do Povo. Tive comoprofessor o notável Aloar Odim Ribeiro. Foida sua boca que ouvi os maiores elogios sobrea nossa querida amiga jornalista e uma grandelição: “se você não quisr tomar um furo épreciso ficar atento a todas as notícias daSonia, porque ninguém conhece mais oAtlético do que ela.”

Meses depois de ouvir esta frase do amigoOdim Ribeiro, eu fui presenteado com amissão de ser o setorista do Clube AtléticoParanaense. A minha maior surpresa foi quando, aoinvés de encontrar uma jornalista concorrente,lutando por um furo ou por uma notícia exclusiva,

A desbravadora Sonia Nassar

encontrei uma amiga, uma grande amiga, que meajudou a andar pelos bastidores do clube, a conheceras fontes e os meandros do mundo da bola. Hojetenho certeza de que foi com a ajuda desta amiga

que anos mais tarde consegui o reconhecimentoestadual e nacional por meu trabalho na Gazetado Povo.

Não foram poucas as vezes que trocamosinformações sobre o dia-a-dia do Atlético. Umdia ela aplicava um furo na Gazeta do Povo, nooutro dia eu devolvia e saía com uma notíciaexclusiva. Essa concorrência amistosa e leal foisaudável para ambos e criou um laço de amizademuito forte.

Nos dois anos em que estive em Brasília,trabalhando no Ministério do Esporte e Turismocomo Diretor de Ciências Aplicadas ao Esporte,toda a vez que queria uma notícia “quente” sobreo Atlético, usava o pretexto de lhe telefonar atrásde informação apenas para matar a saudade.

A imagem da Soninha Nassar que está naminha memória é daquela mulher vitoriosa,inteligente, corajosa, a primeira do Brasil a entrarnum vestiário para entrevistar os jogadores apósuma partida de futebol. Ninguém poderásubstituí-la, talvez copiá-la.

Saudações rubro-negras, minha amiga Sonia.

Alexandre Teixeira é jornalista

Wilde MartiniMorreu no dia 9 de outubro, em Curitiba,

aos 79 anos, Wilde Martini, colunista socialdo Diário Popular. Era o profissional maisantigo em atividade neste setor no Brasil,segundo o colunista Charles, da Tribuna doPara ná . Wi lde comple tou 50 ano s deprofissão em março deste ano. Atuou emvários jornais do Paraná e no Jornal doComércio de Manaus. Além disso, comandoupor 14 anos um programa de rád io, nacidade de Guarapuava, onde nasceu, filhode um imigrante italiano.

Wilde Martini iniciou sua carreira como

colunista social em 1951, em Guarapuava.Naquele ano, começou a produzir um panfletocom a programação de filmes da cidade ecomentários sobre os casais que freqüentavamas salas de cinema, a elegância das mulheres,o ro te iro de festas , inaugurações. Com arepercussão das informações, foi convidado aeditar uma coluna social na Folha do Oeste,jo rna l local. Também apresentava “RondaSocial”, um programa noturno na emissora derádio da cidade.

Em 1964, foi transferido para Curitiba pelaempresa na qual trabalhava como contabilista.

Passou então a escrever no J orna l deCuritiba, do jornalista Roberto BarrozoFilho, e também no Diário da Tarde. Em1970, mudou-se para Manaus, onde foiconvidado a escrever no Jornal do Comérciosobre o dia-a -d ia dos paranaenses quemoravam na capita l do Amazonas. Em1976, voltou para Curitiba, onde retomousuas atividades no Diário da Tarde. Tambémescreveu no Diário do Paraná, de 1977 a1986. Com o fechamento deste jornal,passou a publicar sua coluna no DiárioPopular.

Sonia Nassar abriu caminho paragerações de mulheres jornalistas

Arquivo O Estado do Paraná

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Page 25: Extra Pauta Ed. 56

E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1 - 25

memória

OParaná perdeu no dia 7 de novembro umadas personagens mais importantes do inícioda história de sua televisão. Morreu Osni

Bermudes, o criador de ilusões, aos 68 anos.Segundo Jamur Júnior, que trabalhou com ele naépoca artesanal da televisão, os veículos decomunicação não lhe deram, em seu falecimento, odestaque que merecia. “Ele foi um dos maiorestalentos da TV do Paraná, quando ela era pobre emtecnologia e era preciso usar só competência ecriatividade. Fez coisas maravilhosas”, ele diz.

Osni Bermudes começou sua carreira nacomunicação como sonoplasta na antiga RádioMarumby, da qual foi diretor durante 17 anos.Quando ia a São Paulo participar das jornadasesportivas, sempre procurava visitar os estúdios daTV Tupi, nos primeiros anos da televisão. Em 1960,com a implantação das “Associadas” no Paraná, foicontratado como assistente, mas logo passoua diretorde TV e assessor da direção artística.

No intervalo entre os programas, enquanto ostécnicos trocavam o cenário, os telespectadores eramobrigados a assistir a um “slide” parado, monótono,com o prefixo da emissora e fundo musical. Naoficina de casa, Osni juntou alguns pedaços debrinquedos dos filhos, adaptou-os a um minúsculomotor de relógio e acrescentou alguns desenhosencomendados à cenografia. O invento ganhou onome de “traquitana” e estreou em 1961, logoobtendo sucesso, principalmente entre as crianças.

Em 1964, Osni assumiu a direção da TVParanaense, Canal 12, a emissora de televisão maisantiga do Estado. Em concurso foi escolhido oDozinho, figura símbolo do Canal, que cantava,tocava piano e, como o Zequinha das balas famosas,exercia a profissão que era homenageada no dia.Cada data histórica ou acontecimento importanteera motivo para Osni colocar seu boneco na tela. Astraquitanas tinham evoluído e apresentavammovimentos próprios.

Mas foi na TV Iguaçu, Canal 4, inaugurada em1967, que Osni viveu seus melhores momentos. Aemissora nasceu moderna, planejadaminuciosamente, com inovações, como os intervaloscomerciais gravados previamente. Transmitiu oprimeiro programa via satélite, ao vivo, unindoCuritiba e Porto Alegre. Produziu o “Show deJornal”, o maior noticiário da televisão do Paraná eum dos melhores já feitos na televisão brasileira,com mais de 90% de audiência. Era elaborado poruma equipe de primeira linha, comandada por Osnina mesa do suíte, cortando imagens e orientando opessoal. “Ele fazia enquadramento perfeito daimagem, cruzava duas câmaras e nunca errava”,relembra Jamur Júnior.

Em 1970, quando começou a funcionar o linkde microondas, os programas eram gerados em SãoPaulo e exibidos em Curitiba na mesma hora. Nointervalo comercial, às vezes sobrava meio minuto

Osni Bermudes, o criador de ilusões

Faleceu no dia 13 de maio, aos 45 anos,o jornalista Wilmar Cezar Klein, de câncerna garganta.

Wilmar foi colaborador nos jornais Folhado Paraná, Folha da Imprensa e revista TopMagazine. Foi fundador e coordenadoreditorial da Oficina das Letras com ajornalista Regina Kracik. Trabalhou comorevisor nas revistas Quem, Iconografias ePeteca e na Grafipar. Também exerceu afunção de ghost writter.

Deixou muitos escritos, matériaspublicadas em jornais e revistas e peças deteatro, que pretendia transformar em livro,mas morreu antes de concretizar o seuprojeto. Seu estilo era muito literário ecultural.

Deixou a esposa Lisandra e uma filha,Hadra Klein, de 2 anos e 5 meses.

e era preciso ocupar o espaço. Osni inventou entãoo clip “Enquanto você espera”. “Ele ilustrava amúsica com imagens que correspondiam à letra”,explica Jamur Júnior.

Osni Bermudes antecipou-se em muitos anosao Padre Marcelo Rossi, que hoje atrai multidõescom suas missas-espetáculo. Por iniciativa delepassou a ser rezada na TV Iguaçu a primeiramissa televisada do Brasil, na década de 70. Ocelebrante era o frei capuchinho Pio Bochenko,tendo a cidade de Curitiba como pano de fundo.

Nos momentos de folga, Osni foi montando emcasa um Museu da Comunicação. Ali podem servistos aparelhos de rádio da década de 20 emperfeito estado de conservação, uma emissora derádio dos anos 50, uma câmara do Canal 6 empreto e branco da década de 60, outra do Canal 4em cores dos anos 80, ilhas de edição e, comonão podia faltar, traquitanas.

Osni Bermudes sempre exerceu sua atividadecom muita competência e inventividade. Em 1989foi homenageado pela Câmara Municipal deCuritiba com o título de “Vulto Emérito” por seutrabalho nos meios de comunicação da cidade.Nos últimos anos de profissão, foi convocado paramontar e coordenar o sistema de TV em circuitofechado da Telepar, onde se aposentou em 1992.Deixou viúva Maria Helena, três filhos e um neto.

WilmarKlein

Osni Bermudes, um dos maiores talentos da história da televisão do Paraná

Museu da Comunicação

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26 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1

rádio corredorO jornalista Roberto Salomão foi eleito em 16 desetembro presidente do Diretório Municipal doPT, com 53% dos votos, concorrendo com outrosdois candidatos. O seu mandato terá três anos.

Patrícia Iunovich, ex-repórter da sucursal deO Estado do Paraná em Foz do Iguaçu,trabalha desde setembro na reportagem geraldo diário Gazeta do Iguaçu. E continualecionando Redação Jornalística naFaculdade de Jornalismo da União Dinâmicade Faculdades Cataratas, na mesma cidade.

Júlio Tarnowski Júnior, ex-editor de Esporte doPrimeira Hora, foi contratado para a editoria deEsporte do Jornal do Estado. Outra novidade nomesmo jornal é a volta de Mario Akira, comoeditor de Cidades.

Luciana Pombo e Mônica Kaseker entraramem licença-matenidade, na Folha do Paraná.Carmem Murara também entrou em licença eviajou para a Austrália, onde vai aperfeiçoaro seu inglês. Dimitri do Vale igualmente saiuda Folha, devido às incertezas da empresa.Está cobrindo férias de outros repórteres naTV Iguaçu, Canal 4.

Gilberto Larsen e Vânia Mara Wetter, daSecretaria de Estado da Comunicação Social,foram contratados pela agência de notícias ConeSul, criada há seis meses em Curitiba.

Magaléa Mazziotti é, desde 6 de novembro, anova jornalista responsável pela revistaCidades do Brasil, publicação mensalsegmentada com tiragem de 30 milexemplares direcionada a todas as prefeiturasdo Brasil. A revista é editada em Curitiba eestá no mercado há três anos.

O jornalista José Augusto Ribeiro lançou emCuritiba, no dia 9 de outubro, na Livraria Saraivado Shopping Crystal, o livro “A Era Vargas”,publicado pela Casa Jorge Editorial. Dividida emtrês volumes, a obra analisa toda a conjunturaque antecedeu o surgimento do presidenteGetúlio Vargas. Ribeiro iniciou sua carreira dejornalista aos 18 anos na capital paranaense e emmeados da década de 60 mudou-se para o Rio deJaneiro e, depois, para São Paulo.

Danielle Soares Brito, da Gazeta do Povo,Mônica Kaseker, da Folha do Paraná, eClarissa Kowalsky, ex-Primeira Hora,receberam em 2 de outubro o diploma deJornalista Amiga da Criança. O prêmio éconcedido pela Andi (Agência de Notícias doDireitos da Criança) aos profissionais daimprensa que priorizam os temas da infânciae da adolescência em suas pautas.

O jornalista Paulo Markun, da TV Cultura deSão Paulo, esteve em Curitiba dia 21 denovembro, onde lançou, na Livraria Curitiba doMegastore PolloShop Estação, o livro “1961 -

Que as Armas não Falem”, escrito em parceriacom Duda Hamilton e publicado pela EditoraSenac São Paulo. O volume contém 416 páginase relembra o período tenso vivido pelo paísentre a renúncia de Jânio Quadros e a posse deJoão Goulart.

Guta Stresser, atriz que faz sucesso noprograma A Grande Família, da Rede Globo,é filha do jornalista paranaense RonaldStresser. “Tudo o que ela está obtendo naprofissão é por méritos próprios, sem ajudaalguma”, comenta Ronald. “É uma posiçãomuito almejada por quem atua em teatro equer trabalhar na Globo. Com ela tudoaconteceu normalmente. Depois de cincoanos morando no Rio, foi chamada parafazer o teste pelo diretor Guel Arraes.” Gutatambém vai fazer cinema. Hector Babenco,que foi seu diretor em uma peça de teatro,está preparando um filme e espera contarcom ela. Há dois meses e meio, Guta tambémvem se apresentando na peça “Carícias”, comartistas da Globo, no Teatro do Jóquei Clube,no Rio.

Tatiana Escosteguy, que era repórter da TVCoroados, de Londrina, foi transferida paraCuritiba, onde exerce a mesma função na TVParanaense, Canal 12.

Dia 24 de novembro, foram lançados, naslivrarias Guignhone e Eleutério, os“Cadernos do Espanto”, com contos de trêsjornalistas: “Tensões, Pulsões, Aflições - ComGravames e Confusões a Contrapeso (À Mão-Tenente)” e “Uma Cólera é uma LoucuraBreve”, de Walmor Marcellino, “Pão eVinho“ e “O Fantasma de Eduardo Pymm”,de Nelson Padrella, e “Voltagens”, de JoséAlexandre Saraiva. Também há contos deescritores de outras áreas de atividade.

Os minicontos “Bárbara Dadivosa -Licenciosidade para um Cantinho Libidinoso”,do jornalista José Alexandre Saraiva, e “Eupor Outros Eus”, de Renato Essenfelder,estudante de Jornalismo da UniversidadeFederal do Paraná, podem ser lidos nacoletânea “Contos”, que reúne os premiados no1o Concurso Nacional de Minicontos,promovido pela Secretaria de Estado daCultura.

A Central Press, agência de comunicaçãocomandada pelos jornalistas ClaudioStringari e Lorena Nogaroli, recebeu, emPorto Alegre, dois prêmios da Aberje(Associação Brasileira de ComunicaçãoEmpresarial). Concorrendo com empresas doSul do Brasil, a Central Press foi classificadacomo melhor assessoria de imprensa, com adivulgação da pesquisa Fala Brasil, daagência de publicidade Propeg, e melhorinformativo externo, com o Corpo & Alma,da Clínica e Spa Estância do Lago.

Zeca Leite, da Folhado Paraná, ganhou nodia 13 de dezembro oprêmio Gralha Azul,oferecido pela TeatroGuaíra, como melhorautor teatralparanaense, com apeça “500 Vozes”.“Quando escrevi apeça não estavapensando no prêmio,mas na atriz SilvanahSantos, que iarepresentá-la. Foi aprimeira vez queescrevi para teatro. O

Gralha Azul foi uma surpresa para mim e com eleacabo de assumir responsabilidades novas”,comenta o jornalista.

O jornalista Marcelo Lima lançou dia 18 dedezembro o livro-reportagem “Nas trilhas deSaint-Hilaire”, no Hermes Bar. O livro, comtiragem de 1.000 exemplares, foi editado comrecursos da Lei Municipal de Incentivo àCultura, e tem como incentivadores asempresas Siemens e Opus & MúltiplaComunicações. Lima visitou, 181 anos depois,lugares onde esteve o francês, que, de 1816 a1822, percorreu 10 mil quilômetros emterritório brasileiro em busca de amostras deplantas, animais e minerais para o Museu deParis.

A Gazeta do Povo passou por uma série demudanças em outubro e novembro. A mexidacomeçou com Martha Feldens assumindo a ediçãode notícias locais. Ex-chefe de reportagem doIndústria & Comércio, Martha deixou a sucursalda Gazeta Mercantil em Salvador para voltar aCuritiba e assumir o posto. O antigo titular daeditoria, Célio Martins, é o novo editor de Brasil.

No caderno de Esportes, o novo editor éRenyere Trovão. Ele fica no lugar de AbonicoSmith, que reforça agora a equipe do portalTudo Paraná, do mesmo grupo. O portaltambém ganhou novo comando: CláudiaBelfort assumiu o posto de chefia, no lugar deMarleth Silva, que foi promovida acoordenadora de notícias locais da Gazeta.

O novo editor de fotografia da Gazeta do Povo éSílvio Ricardo Ribeiro, Ele veio de O Estado deSão Paulo, onde trabalhou por 21 anos.

Lorena Aubrift Klenk deixou a reportagemeconômica que fazia para a Gazeta Mercantilpara ser a nova pauteira da Gazeta do Povo.As matérias feitas a partir das idéias deLorena também são fechadas por outro novatona casa. O novo editor-assistente de primeirocaderno é Giovani Ferreira, ex-editor deCidades da Folha do Paraná. (ColaborouRogério Galindo)

Arquivo Extra Pauta

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Page 27: Extra Pauta Ed. 56

E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 5 6 - o u t u b r o / n o v e m b r o / d e z e m b r o 2 0 0 1 - 27

mensalidades

Para o próximo ano, o associado que nãodesconta a contribuição sindicaldiretamente em folha pode obter o

bloqueto para o pagamento das mensalidadesna página do Sindicato na Internet. Bastainformar o CPF e a matrícula para imprimir aguia. Esta é a novidade que o Sindicato estáoferecendo, neste ano, para facilitar a vida doassociado. Além disso, como faz todo ano,propõe quatro planos de pagamento, queproporcionam descontos de até 20% no valorda anuidade.

A anuidade de 2002 será de R$ 135,12. Maso associado que optar por uma parcela únicaobterá um desconto de 20% se pagá-la até 8 dejaneiro. O valor será de R$ 108,09 (com umdesconto de R$ 27,02). Quem quitar a anuidadeaté 8 de fevereiro, pagará R$ 114,85(economizando R$ 20,27, com desconto de15%). Até 8 de março, o valor será de R$ 121,60, com desconto de 10% (uma economia deR$ 13,52). Quem pagar até 9 de abril terá umdesconto de 5%, com o valor da anuidade fixado

Anuidade é facilitadaem R$ 128,36 (desembolsando menos R$6,76). A mensalidade do Sindicato é 1% dosalário base do jornalista e a anuidade écalculada com base em 1% do piso salarialda categoria, que corresponde a R$ 11,26.

Como foi feito no ano passado, parafacilitar ainda mais o pagamento da anuidade/2002, o Sindicato está oferecendo a opçãode parcelamento em três vezes, com descontode 10%. Esta modalidade é útil para quemnão quiser quitar de uma só vez nem pagarmensalmente. Para o jornalista que está emdébito com o Sindicato está sendo enviadatambém uma guia com desconto de até 15%.

Outras possibilidades de pagamento daanuidade são o débito em conta corrente ouemissão de carnê, para quem preferir pagara contribuição mês a mês. Quem quer pediro carnê ou obter maiores informações, deveentrar em contato com a Secretaria doSindicato pelo telefone 41 224-9296 ou pelocorreio eletrônico: [email protected].

Cosmo Santiago, funcionário do Sindicatodos Jornalistas do Paraná, acaba de receber otítulo de Mestre em Matemática Aplicada,pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).Cosmo abordou em sua dissertação assuntoscomplicados da Matemática moderna, comopor exemplo a resolução de problemas degrande porte que utilizam computadores. Essesproblemas geralmente surgem em modelosmatemáticos de várias áreas da ciência.

O novo mestre escolheu como idéiaprincipal verificar a eficiência numérica deum método que ajuda a resolver sistemas deequações lineares, recém-criado pelospesquisadores Jin Yuan, da UFPR, e Gene

ConvêniosO Sindicato de Jornalistas Profissionais do Paranácontinua com um leque amplo de convênios, queoferecem várias vantagens para os associadosem dia com as anuidades. Para desfrutar das

facilidades que as empresas conveniadasoferecem, consulte a página

http://www.sindijorpr.org.br

Cosmo é mestre em Matemáticapós-graduação

Golub, da Universidade de Stanford. Alémdos experimentos numéricos (inéditos, poiso método é novo e ainda não se conheciasua eficiência numérica), Cosmo tambémconseguiu fazer modificações no métodoproposto pelos pesquisadores e obteveresultados mais positivos. Cosmo trabalhano Sindicatos dos Jornalistas desde 1991,mesmo ano em que ingressou naUniversidade para fazer o curso deMatemática.

Cosmo Santiago não vai parar por aí.Está estudando a possibilidade de fazer odoutoramento em Matemática Aplicada,com ênfase na computação.

tabela de preçosSALÁRIOSDE INGRESSO OUT 2001a 2002Repórter, redator, revisor, ilustrador, diagramador,repórter fotográfico e repórter cinematográfico 1.184,63Editor 1.539,98Pauteiro 1.539,98Editor chefe 1.776,95Chefe de setor 1.776,95Chefe de reportagem 1.776,95

Estes são os menores salários que poderão ser pagos nas redações;Os valores da tabela são para jornada de trabalho de 5 horas.O piso salarial da categoria é definido em Acordo Coletivo de Trabalho,Convenção Coletiva e/ou Dissídio Coletivo.

FREE LANCERedaçãoLauda de 20 linhas (1.440 caracteres) 63,62Mais de duas fontes: 50% a maisEdição por páginaTablóide 82,40Standard 98,73Diagramação por páginaTablóide 41,20Standart 56,20Revista 30,63Tablita / Ofício / A4 20,93RevisãoLauda (1.440 caracteres) 16,58Tablóide 34,63Tablita 26,12Standard 72,41IlustraçãoCor 98,3P&B 65,46Reportagem fotográfica – ARFOCReportagem EditorialSaída cor ou P&B até 3 horas 149,65Saída cor ou P&B até 5 horas 280,95Saída cor ou P&B até 8 horas 314,65Adicional por foto solicitada 28,24Foto de arquivo para uso editorial 224,78Reportagem Comercial/InstitucionalSaída cor ou P&B até 3 horas 298,08Saída cor ou P&B até 5 horas 530,33Saída cor ou P&B até 8 horas 707,21Adicional por foto 56,20Reportagem CinematográficaEquipamento e estrutura funcional fornecida pelo contratanteSaída até 3 horas 81,97Saída até 5 horas 131,03Saída até 8 horas 215,35Adicional por hora 32,73Foto de arquivo para uso em:Anúncio de jornais 486,87Anúncio de Revista e TV 524,50Capa de Disco e Calendário 674,46Outdoor 1033,27Cartazes, Folhetos e Camisetas 337,22Audiovisual até 50 unidades 711,89Audiovisual acima de 50 unidades à combinarDiária em reportagem que inclui viagem 412,89Reportagem aérea internacional à combinarHora técnica 65,46

Observações importantes:A produção (filme, laboratório, hospedagem, transporte, seguro de vida,credenciamento, etc.) é por conta do contratante; Na republicação, serãocobrados 100% do valor da tabela; A foto editorial não pode terUtilização comercial.

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Page 28: Extra Pauta Ed. 56

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