expresso das ilhas, edição 752, de 27 de abril de 2016

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  • 8/17/2019 Expresso das Ilhas, Edição 752, de 27 de Abril de 2016

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    Preço: 100$00 //Quarta-feira, 27 de Abril, de 2016 //Número 752 //Director: António Monteiro //www.expressodasilhas.publ.cv

    O VI Governo da II República

    //3 - 4

             P       u         b  .

    Jogos Olímpicos

    GinastaElyane Boal

    convidadapara o

    Rio’2016

    //29 a 31

    //33

    8 militares e3 civis mortos em

    MONTE TCHOTA

    CABO VERDE DE LUTO

    //7 - 8

    Leão LopesChiquinho oromance ondehá mais de80 anos subjazum ideal político

    O Expresso das Ilhas distr ibui o

    livro Chiquinho  na próxima edição

    40 anos de Constituiçãoportuguesa e a influência na

    Magna Carta cabo-verdiana//14 a 18

    //30 - 31

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    Propriedade: Média Comunicações SA //Director:  António Monteiro //Redacção Praia: André Amaral, Dulcina Mendes, Jorge Montezinho e Sara Almeida.

    //Paginação: Jaime Garcia, Heder Soares //Colunistas: João Chantre, José Almada Dias, Paulo Monteiro Jr., Olavo Correia, Rosário da Luz.

    Contactos: PBX: 261 98 07 • Fax: 261 98 08/261 96 91 • Direcção: 261 98 05 • Comercial : 261 98 08/262 27 92 //E-mail: [email protected]; [email protected]

    Site: www.expressodasilhas.publ.cv • Sede: Avenida OUA, N.º 21, ASA, Praia – Cabo Verde • CP 666 • Tiragem: 3.000 exemplares • Impressão: Tipografa Santos

    Ficha Técnica:

    P

    ÁGINA 2 Nº 752 • 27 de Abril de 20162\\

    EDITORIAL

    No passado dia 22 de Abril o Pre-sidente da República, Jorge CarlosFonseca, deu posse ao que designoude VI Governo Constitucional daII República, um governo lideradopelo MpD, o partido vencedor daseleições de 20 de Março. Depois deum interregno de quinze anos de go- vernos liderados pelo PAICV, o MpDtem a oportunidade de pôr em prá-tica a sua visão de desenvolvimento

    do país. Propõe retomar a aposta naliberdade económica, no incentivo àiniciativa privada e na identicação eaproveitamento das oportunidadesoferecidas pelo mundo globalizado.Manifesta-se frontalmente contrapolíticas e práticas de governaçãoque aumentam a dependência, ali-mentam o conformismo e desenco-rajam o mérito.

     A massiva votação no MpD pro- vavelmente traduziu o sentimentogeral de que o país precisava de umaforte lufada de ar fresco. Paulatina-mente vinha caindo na consciênciadas pessoas que o anterior governonão conseguia dinamizar a economiae responder às expectativas em par-ticular dos jovens no tocante ao em-

    prego. Em vários sectores como, porexemplo, o sector marítimo e aéreoas falhas estavam a car mais do queevidentes. Na energia e água a escas-sez e a interrupção de fornecimento jánão se vericavam com a frequênciade outrora, mas em contrapartida apopulação e a economia eram pena-lizadas com tarifas das mais altas domundo. A forma pouco competentecomo foram geridas situações de cri-

    se designadamente a relocalização dapopulação da Chã das Caldeiras e oafundamento do navio Vicente mina-ram a conança das pessoas em comoa prazo o governo seria capaz de re-solver problemas quais sejam a segu-rança das pessoas, a gestão da TACVe a preocupação generalizada com ascrescentes assimetrias nas ilhas.

      As pessoas ao votarem uma al-ternativa estavam a clamar por umaoutra atitude na governação que nãose xasse tanto na questão de ima-gem e propaganda. Pelo contrário,propugnavam um governo que pu-sesse o futuro do país em alicercessólidos a partir dos quais cada cabo--verdiano poderia apoiar-se pararealizar os seus sonhos e ao mesmo

    tempo contribuir para a prosperida-de geral. Os últimos cinco anos decrescimento anémico a par com aacumulação extraordinária da dívi-da externa conrmaram, sem deixarquaisquer dúvidas, que o modelo dedesenvolvimento seguido até ago-ra, se por algum tempo alimenta ailusão de contínuos avanços econó-micos e sociais, a prazo mostra quenão garante sustentabilidade mesmo

    aos objectivos e metas já atingidos.Por isso, são patéticas as tentativasde convencer a sociedade a esperarainda mais um pouco por resultadosde há muito prometidos em termosde rendimento, bem-estar e realiza-ção de expectativas. Particularmentequando se percebe que o que se pre-tende é posicionar-se desde já paraexigir resultados logo na arrancadado novo governo.

    Num livro recente “Concrete Eco-nomics” Stephen S. Cohen e J. Bra-dford DeLong mostram a importân-cia de fazer convergir intervenção doEstado com empreendedorismo deprivados. Os governos com as suaspolíticas projectadas para a cria-ção de oportunidades devem poder

     valer-se da iniciativa de empresas,grupos e indivíduos no quadro deum ambiente regulado, de concor-rência e também de segurança jurí-dica para garantir contínua criaçãode riqueza, produtividade nacionale competitividade externa do país.Deixam bem claro no historial quefazem dos grandes momentos daeconomia americana que a acçãodo estado foi decisiva para se passar

    para um novo patamar na mobiliza-ção dos recursos materiais, humanose nanceiros, implantar indústrias eserviços do futuro e chegar a merca-dos mais alargados. Quando se vai àhistória económica de muitos paísesque se industrializaram tardiamentee conseguiram atingir níveis de de-senvolvimento invejáveis em poucotempo vê-se o papel central do Es-tado em tornar tudo isso possível. A experiência dos relativamente pe-quenos países do Sudeste asiático éelucidativa a esse respeito. No mes-mo sentido compreende-se muito dosucesso económico conseguido pelasIlhas Maurícias e pelas Seychelles.

    Para Cabo Verde, um país peque-no e insular, pode ser crucial para o

    seu desenvolvimento acelerado terum Estado “intervencionista” naperspectiva que vem sendo apresen-tada por Carlos Lopes, o secretárioexecutivo da Comissão Económicadas Nações Unidas para a África, deum estado necessário  para coorde-nar o desenvolvimento económico,estabelecer a regulação certa e faci-litar o acesso ao capital . A experiên-cia já conhecida dos últimos anos de-

    monstra o que acontece quando umgoverno xa-se na imagem exteriorque lhe permite continuar a mobili-zar ajuda externa e não se preocupasucientemente com resultados. Nãoespanta que na sequência vários sec-tores da vida nacional comecem adar sinais de ineciência e inecácia.É o que se tem visto com preocupan-te rapidez nos últimos tempos.

    É fundamental pôr um “stop” aessa ausência de orientação e de po-líticas sectoriais que deixam as pes-soas inseguras, minam a conança einibem iniciativas. Há que recuperara competência executiva que tran-quiliza, dá previsibilidade e garantecompensação pelo esforço e energiadespendidos.

    Por um governo “interventivo”

    CARTOON

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    PRIMEIRO PLANO   //3Nº 752 • 27 de Abril de 2016

    Tomada de posse do novo governo

    Economia e segurança são as prioridadesCoerência, reforço

    dos compromissos,fuga a desculpas. Esta

    é a interpretação doanalista João Alvarenga

    ao discurso de tomadade posse do Primeiro-

    Ministro Ulisses Correia eSilva. O Chefe do Governoapontou como prioridades

    a economia, a segurançae a regionalização.

    Jorge Montezinho

    Um Primeiro-Ministro quereitera as promessas de cam-panha, em termos de com-promissos para a governação,com metas e objectivos a se-rem cumpridos, especialmen-te nos sectores que elegeucomo prioritários: criação de

    riqueza, geração de empre-gos, redução da insegurançae criminalidade, justiça e di-minuição da pobreza. Esta é aleitura que o economista João

     Alvarenga fez para o Expressodas Ilhas do primeiro discursoocial de lisses orreia e il-

     va. reio que fa esses com-promissos com elevado opti-mismo de um ‘tecnocrata’ quedomina os instrumentos de

    gestão por resultados e acre-dita estar na posse dos recur-sos necessários para atingir ospropósitos preconizados”, diz

     Alvarenga.“Na minha opinião, aliados

    ao aspecto técnico-gerencialda governação por objectivos,há que ponderar os aspectoscircunstanciais e políticos, osimponderáveis, os aspectos

    externos e internacionais querepresentam importantesfactores de condicionamentoe até de determinação dosresultados, principalmente,num país pequeno e frágil

    como ao erde. o rea-rmar os compromissos emdiferentes momentos do dis-curso, sinaliza que no que fordepender dele, tudo fará paracumprir as promessas e queo que prometera nas campa-nhas tinha sido baseado emdados substantivamente sóli-dos e não com propósitos deludibriar o eleitorado e conse-

    guir votos e que não vai mu-dar de discurso em função dascircunstâncias políticas eleito-rais, com um discurso de ‘crí-ticas’ e ‘promessas’ antes daseleições e outro de ‘desrespon-sabilização’ e de ‘desculpas’no momento pós-eleitoral.

     Assim, tenta manter a integri-dade e coerência discursivasperante o seu principal cre-dor que é o eleitorado, de uma

    forma particular, e tambémperante os parceiros e coope-radores nacionais e interna-cionais, de uma forma geral”,refere ainda o economista.

    Ulisses Correia eSilva quer “país comcondições favoráveis

    à livre iniciativa”

    Num discurso com poucomais de 20 minutos, o Primei-ro-inistro lisses orreia eilva acaou por dar ênfaseaos compromissos assumidosdurante a campanha eleitoral,

    na passada sexta-feira, no jar-dim do Palácio do Plateau.

    Os objectivos imediatos?Melhorar o ambiente de ne-gócios, “através de um Esta-do parceiro na relação com asempresas e com os investido-res, serviços púlicos ecien-tes e de excelência”, disse.

    Mais, garantiu que quer umpas conável, que garante

    a transparência, a seguran-ça jurídica, a estabilidade ea previsibilidade económica,nanceira e scal. nossocompromisso é fazer com queao erde sea um pas comcondições favoráveis à livreiniciativa, à inovação, ao mé-rito e à tomada de riscos. Umpaís onde cada ilha se tornacapaz de libertar e aproveitartodo o seu potencial humano,

    natural, organizacional e eco-nómico, para criar riqueza,gerar rendimento e emprego”,sublinhou.

    E os caminhos assumidos,para que a economia cresça,passam pela atracção, xaçãoe expansão de investimentoexterno, exportação de bens,turismo e prestação de servi-ços internacionais.

    lisses orreia e ilva, ape-sar de admitir a difícil situa-ção econmica e nanceiraque o país atravessa, acreditaque é possível criar as condi-ções para aproveitar as opor-

    tunidades, “actuando sobreos factores endógenos e valo-rizando os recursos internos”.

     Ainda reconhecendo a im-portância da atracção do in-

     vestimento directo estrangei-ro, o hefe do overno adian-tou também as estratégias quepretende seguir em termosde política externa. Estas vãopassar pelo reequacionamen-

    to da rede diplomática cabo--verdiana, pelo reforço dasrelações bilaterais com os di-

     versos parceiros tradicionais -Portugal, Luxemburgo, Ango-la, França, Espanha e Brasil -,e pela aposta em relações comgigantes da economia mun-dial como os Estados Unidosda América – onde residea maior comunidade cabo--verdiana emigrada – e com a

    hina, que vem sendo há d-cadas um parceiro importantee relevante para ao erde.

    “Temos um programa degoverno com o objectivo defazer crescer a economia, criarempregos, reduzir a pobrezae assegurar a inclusão sociale económica”, disse Ulissesorreia e ilva.

     Além do emprego e do

    rendimento, a segurança eo desenvolvimento das ilhasestão no centro das priorida-des do novo governo. “Temosum programa para cada ilha”,reiterou o Primeiro-Ministro.

     Além disso, garantiu, o exe-cutivo vai reforçar a descen-tralização e ter uma atitudediferente no relacionamentocom as câmaras municipais. Ecou assegurado que avança-remos com a regionalização,cada ilha uma economia quese interliga no todo nacional,não só através dos transpor-tes, mas através do conheci-

    mento, do domínio das lín-guas e das tecnologias”. A segurança, que já tinha

    merecido amplo destaquedurante a campanha, foi ou-tro dos compromissos rear-mado. “Queremos tornar asnossas cidades e localidadesseguras. Tolerância zero paracom a criminalidade”. Ulis-ses orreia e ilva quer umareacção policial e penal mais

    eca e mais clere e para issopretende boas direcções, bonscomandos, agentes mais moti-

     vados e o reforço imediato dosmeios.

    Na análise de João Alvaren-ga, lisses orreia e ilva tra-çou metas, reconheceu ganhosalcançados e disponibilizou-sea perseguir oectivos. o-meça por reconhecer os feitos

    da governação anterior e posi-ciona-se como um governanteque vem para acrescentar, so-mar e não para excluir, dividir

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    e negar o passado. Reporta queao erde tem mais de anos de história e que muitoscabo-verdianos, aqui e na diás-

    pora, já deram o seu contributoe também enaltece o contributoprestado pela cooperaçãointernacional, especialmente,após a Independência. Noseu discurso enaltece asociedade civil, a diversidade,a homogeneidade cultural,a meritocracia, a eciência eevita estimular a confrontação,a contenda, o divisionismo,a partidarização. Apresenta-

    -se como um representante deum overno que ciente daresponsabilidade que assume,que depositário da conançade milhares de cabo-verdianosnão só pelos problemas queenfrentam mas sobretudo pelaesperança de que poderão en-contrar atravs deste overnouma nova condição de vidapara si e seus mais próximos”.

    No fundo, sublinha Alva-renga, “foi um bom discursoe sinaliza para uma boa di-recção mas só com o decorrerdos primeiros meses de suaefectividade governativa é que

    se poderá saber se, na verdade,será ou não uma nova forma deadministrar e de fazer políticaem ao erde”.

    Quem também gostou daspalavras do novo Primeiro--inistro foi o anterior hefedo overno do p, arlos

     eiga. m declaraçes tele- visão nacional reiterou que aspalavras de lisses orreia eilva, de querer governar paratodos os cabo-verdianos semdistinções políticas e sociais, éo que o ovimento para a e-mocracia sempre defendeu.

    ssa a doutrina do pe acredito que Ulisses vaiconrmá-la. ê-lo na cmaramunicipal, vai faer em ao

     erde e acredito que o pas vaiganhar”.

    Para o antigo dirigente de-mocrata, lisses orreia e il-

     va não fez promessas, assumiucompromissos. andidatou--se à câmara com compromis-sos e desaos e agora a mes-ma coisa, e não tenho dúvidaque vai cumprir. p umpartido forte e com valores eprincípios claros e eles vão serpostos em prática por Ulisses

    orreia e ilva. stou optimis-ta e conante que vai ser poss-

     vel cumprir esses compromis-sos. Alias, não foram compro-missos demagógicos, foramcompromissos bem estudados.Estou bastante optimista”.

    arlos eiga recordou a vi-tória no dia 20 de Março comoum momento “saboroso e me-recido” e que acabou por ser ocorolário de um trabalho quetem vindo a ser feito há muitotempo. “O partido demons-

    trou muita resiliência e encon-trou o líder certo, com as pala-

     vras certas, o programa certopara satisfazer os anseios doscabo-verdianos. Essa é a nos-sa obrigação e vamos cumprirmais uma vez”.

    Também entusiasmado dis-se estar ualerto do osário,que também foi Primeiro-Mi-nistro pelo p e que chegoua trabalhar na mesma equi-pa de lisses orreia e ilvaquando foi ministro da coo-peração económica (Ulissesorreia e ilva era secretáriode estado. onheço as suasqualidades pessoais e técni-cas, a sua inteligência, a serie-dade, é uma pessoa que diz a

     verdade, mas também acredi-to nas qualidades de trabalho:xa os seus oectivos, traa-

    lha por eles, dedica o tempo eo esforço que forem necessá-rios, cumpre a palavra, cum-pre os objectivos, portanto, eusei que aquilo que apresentoucomo plataforma eleitoral e odiscurso que fez são compro-missos e não promessas”.

    ualerto do osário su- blinhou que o país está numasituação difícil, com enormesproblemas estruturais para

    resolver, mas disse tambémacreditar que com união serápossvel ultrapassar as dicul-dades e retomar a dinâmicade crescimento económico deao erde. um nvel di-ferente, uma vez que precisa-mos de um pais a crescer, defacto, a dois dgitos. ptem um compromisso am-

     bicioso, de 7 por cento, mas

    o país, para ultrapassar osconstrangimentos, precisa decrescer durante muitos anos ataxas muito elevadas”.

    o discurso de lissesorreia e ilva destacou três

    momentos: o reconhecimen-to que a conjuntura interna-

    cional não é fácil, a assunçãoque o mundo globalizado éum mundo de oportunidadese a necessidade que o país temde fazer as reformas necessá-rias para minimizar os riscosda globalização e optimi-zar as oportunidades. “É umexercício que o p já fez nopassado, quando foi governo,e vai voltar a fazer, num novocontexto, disse ualerto do

    Rosário.

    Presidente daRepública destaca

    economia esegurança comodesafos do novo

    governo

    “A necessidade do cresci-mento económico é, sem dú-

     vida, o maior desao que ooverno enfrenta, sulinhouo Presidente da República nodiscurso de tomada de pos-se do executivo liderado porlisses orreia e ilva. stavalançado o repto ao novo go-

     verno do p.omo recordou orge ar-

    los Fonseca, os resultados in-sucientes dos últimos seteanos tiveram efeitos negativos

    no emprego e nos rendimen-tos das famílias, “o mesmoé dizer: na qualidade de vidados cabo-verdianos”.

    Uma tendência não podecontinuar por mais tempo,alertou o hefe de stado. orisso mesmo, segundo o Presi-dente da República, é aí que ogoverno deve centrar as aten-ções.

     Além disso, recordou, uma

    economia pequena como acabo-verdiana, terá que cres-cer a taxas elevadas, durantemuitos anos, “para alcançarum nível de desenvolvimen-to compatível com o de uma

     vida decente para todos, coma criação de emprego em nú-mero suciente, e que sea ca-paz de resistir aos choques ex-ternos que, inevitavelmente,

    atingem os países tão abertoscomo o nosso, num momentoou noutro do nosso percurso”.

    orge arlos onseca avi-sou que o tempo não joga a fa-

     vor de ao erde. concor-

    rência internacional é impie-dosa nas áreas em que o país

    é competitivo, como o turismode mar e sol. As reformas defundo na esfera económica,armou, assumem um caride urgência.

    E para que a economia cres-ça, segundo o hefe de stado,é preciso dar atenção ao inves-timento externo, mas tambémàs empresas nacionais, gran-des ou pequenas. “Acarinharnão signica proteger da con-

    corrência. ignica apenas nãodiscriminar”, disse.

    Por outro lado, referiu Jor-ge arlos onseca, a lierdade“não é compatível com ausên-cia de segurança, nem comum Estado fraco”, pelo queos cidadãos esperam mudan-ças visíveis nesta área da go-

     vernação. “Querem sentir-seprotegidos pelas instituiçõespúblicas responsáveis pela se-gurança das pessoas e bens”.

    “É preciso reavaliar asestratégias de segurançapública, reforçar as vertentesque se mostrem positivas,corrigir o que não temproduzido resultados, reforçarmeios, inovar onde houverespaço para tal, aprofundaralianças com parceirosexternos, tradicionais e novos,

    de modo a responder, numperíodo de tempo razoável, àsexpectativas dos cidadãos”.

    No entanto, recordou ohefe de stado, o comatepela redução da insegurançatem de ser levado a cabo res-peitando os valores e princí-pios de um estado de direito.

    omo salientou orge ar-los onseca, quase no naldo seu discurso proferido nos

     jardins do Palácio do Plateau,“as expectativas são enormes,as pressões vão ser muitas ecreio que muito dicilmente

     ossa xcelência poderá dis-frutar do tradicional períodode graça. s fasquias caramcolocadas bem altas”. Mas,sublinhou igualmente, é im-portante “que se faça tudo oque for possível fazer, se siga

    realizando tudo o que for ne-cessário fazer, e, quem sabe,se culmine em uma situaçãoem que se possa realizar atéo que não tinha sido acertadofazer agora”.

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    PRIMEIRO PLANONº 752 • 27 de Abril de 2016 //5

    Manuel de Pina acredita que,com o novo governo, os municí-pios terão mais apoio, menos con-itos e inclusive mais fundos paralevar a cabo as suas iniciativas eprojectos.

    Nas suas palavras: “Por certotodos os nossos projectos vão de-sencalhar e há todo um conjuntode stresses provocado pelo gover-no que agora não irá haver. E háinclusive um conjunto de recur-

    sos que foram ausivamente re-tidos pelo governo anterior e quepenso que não o serão agora”, ex-plicita.

    as, segundo defende, a prin-cipal questão nem tem a ver comesses recursos, pois muitos dosprojectos que a sua autarquia pre-tendeu levar avante, precisavamda parte do governo central, nãode dinheiro: apenas de “vontade”.

    Com o novo governo e o novo

    tipo de relacionamento e comple-mentaridade que este tem vindoa defender em relação aos muni-cípios, Manuel de Pina acreditaque Ribeira Grande de Santiago,em particular, mas também Cabo Verde, no geral, irão obter ganhosconsideráveis.

    “Em matéria de poder local opaís vai dar um grande passo comesse novo governo”, antevê, anali-

    sando que at o facto de ser o pr-prio Primeiro-ministro (UlissesCorreria e Silva) a tutelar as au-tarquias “demonstra a importân-cias dos municípios para o novogoverno”.

    “É tentador…”

    Salvaguardando sempre, aolongo da conversa, que aindanão tomou nenhuma posiçãodefinitiva quanto sua eventualrecandidatura, Manuel de Pinareconhece estar tentado a faê--lo.

    O contexto mudou e as expecta-tivas criadas são tentadoras.

    “Queríamos sair pela porta dafrente, com um desempenho al-tamente reconhecido” e agoraque acredita que poderá gover-nar com tranquilidade e realiaros projectos para Ribeira Grandede antiago, está de facto a pon-

    derar concorrer a um novo man-

    dato. Além disso, o apoio que temsentido da parte de políticos e dapopulação em geral houve in-clusive uma manifestação de ape-lo ao seu regresso político no pas-sado dia de ril tamm oestão a demover da sua anunciadadecisão de abandonar a vida polí-tica.

     vançando que nos prximostempos irá anunciar a sua deci-são, salvaguarda que esta é “com-plicada”.

    “Tínhamos dado a nossa pala- vra de que não nos iríamos candi-datar”, relembra (ver caixa).

    Ribeira Grande de Santiago

    Em novo contexto político, Manuelde Pina tentado a recandidatar-seQuando há alguns meses o actual presidente da Câmara Municipal de Ribeira Grande de Santiago

    (CMRGS) anunciou que se iria retirar da vida política, o cenário era outro. Com a mudança degoverno e a expectativa de melhores relações entre o poder central e o poder local, Manuel dePina reflecte agora sobre uma eventual recandidatura. A decisão, garante, ainda não está tomada,mas a esperança de um novo capítulo para os municípios é “tentadora”.

    Recordando anúnciode afastamento

    “Anuncio aqui, solenemente,que não sou candidato a nenhumcargo político, nomeadamente ode presidente da câmara municipalou de deputado nacional. (…) queme afasto, completamente, da vidaactiva partidária, nomeadamentede membro da direcção do meupartido[Movimento para a Demo-cracia - MpD]”, declarou Manuel dePina, a 28 de Outubro do ano passa-do, citado pela Inforpress.

    A decisão foi tomada em meio dapolémica sobre o fundo do ambien-te, cujas irregularidades de gestão oautarca, que é também presidenteda Associação Nacional de Muníci-pios de Cabo Verde (ANMCV), de-nunciou.

    Na altura, conforme justificouentão, a decisão foi tomada comoforma de contribuir e facilitar o tra-balho das autoridades judiciais, epara afastar qualquer suspeita de in-teresse político na sua denúncia. Nasequência, o autarca pediu a demis-são do ministro do Ambiente, Habi-tação e Ordenamento do Território,Antero Veiga, e do director nacionaldo Ambiente, Moisés Borges.

    Agora, meses passados e após a

    mudança preconizada pelos resulta-dos das legislativas, Manuel de Pinaobserva que o contexto é diferente.

    Em Outubro, “tivemos de fazeressa nossa demarcação para mos-trar que a situação era real, não erainvenção nossa e um dia a verdadeviria ao de cima. Penso que esse diahá-de chegar”. Comenta, referindo--se à gestão indevida do fundo eao “teatro” criado pelas entidadesgestores (Direcção Nacional do Am-biente e MAHOT).

    Pesando tudo, “muito brevemen-te tomarei uma posição”, garante aoExpresso das Ilhas.

    Sara Almeida

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    Nº 752 • 27 de Abril de 20166\\   PRIMEIRO PLANO

    faer. ueremos ser partedas soluçes e traalhar para

    levar mais felicidade s pes-soas, di. A jovem, de 33 anos, nas-

    cida em Caleijão (Ribeirarava, formada em adminis-tração portuária e que estáactualmente a terminar umalicenciatura em Gestão deEmpresas, está determinadanesta demanda mara, ten-do começado o traalho nessesentido em 2014.

      “Esta nossa disponibili-dade é pública desde 2014 eas pessoas conhecem-nos esabem o que nos move”, su-

     blinha. Assim, desde esse anoque o seu projecto autárqui-co está em curso e que CellyPaixão se tem deslocado portodas as onas do concelho,promovendo a sua candida-tura e moiliando vontades e

    apoios para a sua “causa”.“Do contacto, sentimos quetemos condiçes para ganharas sondagens e como tal lide-rar a candidatura do MpD”,di a pr-candidata, que em-presária no sector do turismo,desde 2007, e vive actualmen-te na ilha da Boa Vista.

    Famíliae educação

    Celly Paixão compromete--se, como referido, a levar acao uma realiação polticaque promova a melhoria dospadres da qualidade de vida.

    Na sua eclaração de inten-çes, a empresária, que mãede duas crianças, destaca a fa-mlia e a educação com áreasprioritárias. É que, como rei-tera em entrevista ao Expres-so das lhas, a famlia acélula base de uma sociedadee a educação indispensávelse queremos ter uma socie-dade saudável e competitiva.

    “Assim, é “necessário apostare investir forte soretudo nafamlia, para termos valores ereferências úteis sociedade.

    uanto educação deveser outra aposta forte da nos-sa futura gestão municipal equeremos garantir desde jáque iremos trabalhar com to-dos, nomeadamente, igrejas,associaçes e comunidades demodo a valoriar esta área,

    aponta, destacando que emsuma a acção poltica destapr-candidatura visa o forta-lecimento e a valoriação dapessoa humana”.

    Entre os compromissos apré-candidata destaca ain-da “a juventude e a cultura”,acreditando que com “umaagenda cultural dinmica e fo-caliado na diversidade cultu-

    ral da ilha teremos, partida,condiçes para gerar empregoe rendimentos e por esta vialevar a felicidade s pessoas.

    Questionada sobre os com-promissos para com o desen-

    cravamento, em termos detransportes, do seu município,ell aixão realça que esteé um tema que deve ser arti-culado com a outra autarquiada ilha, arrafal, para untosfaer uma forte acção unto dogoverno central”.

    oinhos não daremosrespostas a esse problemaporque esta é uma área daresponsabilidade do governo

    da repúlica, di, apontandoque com o novo governo, crêque haverá condiçes paraarticulaçes e um traalho vi-sando ultrapassar este proble-ma que é real”, aponta.

    Ribeira Bravamerece melhor

    Jovem, mas assumindo-se

    como uma pessoa determina-da, com capacidade e portado-ra de “uma nova mensagem demudança para alavancar o de-senvolvimento” da sua terra,Celly Paixão não poupa entre-

    Ribeira Brava (São Nicolau)

    Celly Paixão promete elevar aqualidade de vida do município

     A mais-valia que Celly Pai-xão poderia levar ,desde logo, segundo acreditaa prpria, uma nova formade estar na política”. A sua

     juventude e experiência deliderança e de gestão são fac-

    tores que acrescenta a essaauto-avaliação, no que toca a“alavancar o desenvolvimentodo município. “

    amos pr ao serviço daRibeira Brava o nosso saber

    Prometendo uma

    nova forma de estare fazer política, ajovem Celly Paixão

    está no terreno desde2014, a preparar umaeventual candidaturaà Câmara Municipal

    de Ribeira Brava(CMRB), que terácomo foco o bem

    estar das pessoas.Sem papas na língua,

    a pré-candidata doMpD não poupacríticas à forma

    como tem vindo aser feita a gestão

    camarária de RibeiraBrava, alegando atéque o que se passaé uma “vergonha” edemonstra a falta de

    interesse para comos munícipes.

    tanto crticas actual gestãocamarária do seu município.

     lm de negativa, di a pr--candidata do MpD, essa ges-tão não apresenta “qualquercenário de melhorias vista.

    “Temos uma câmara, comum presidente substituto por-que aquele que foi eleito, sim-plesmente abandonou o barcoa meio percurso, porque tinhainteresse outros que não o de-senvolvimento do município”,acusa.

    De acordo com a perspecti- va de Celly Paixão, o presiden-te eleito (Américo Nascimen-to terá aandonado a funçãodevido sua gestão, que foimuito “criticada devido a ale-gados casos de corrupção egestão danosa”.

    “Sabemos que há um casode desvio de dinheiro e ele em

     ve de estar disponvel para

    claricar a situação unto da ustiça prefere fugir para nãoprestar contas. É triste esta si-tuação. nome da nossa ilhafoi manchado com a sua go-

     vernação. uma vergonha. lm disso, o facto de, se-

    gundo di, a edilidade estara trabalhar sem um plano deactividades e sem orçamen-to municipal, é também umponto que leva sua avaliação

    negativa. t s eleiçes, aactual equipa fa uma gestãocorrente, mas é muito tempo agerir sem orçamento, apontaa pré-candidata.

    as crticas não se campor aí: “Temos uma câmarasem maioria na assembleiamunicipal muito por culpa deconitos internos no .Interesses individuais sobre-puseram-se aos do colectivo equem paga são as pessoas daRibeira Brava”.

    “Acho que a Ribeira Bra- va não merecia e não mereceisto, di.

    Sara Almeida

  • 8/17/2019 Expresso das Ilhas, Edição 752, de 27 de Abril de 2016

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    Nº 752 • 27 de Abril de 2016 //7

    O Presidente da Repúbli-ca, Jorge Carlos Fonseca,reagiu ontem, no Facebook,

    aos assassinatos em MonteTchota.Destacando que “em pri-

    meiro lugar” há que “lamen-tar as vítimas”, o Presidenteda República aproveitouigualmente para expressar“sentimentos de pesar e desolidariedade s autorida-des e comunidade espanho-las “através, neste momen-to, da senhora embaixadora

    acreditada em Cabo Verde”.Destacando que as “in-

     vestigaçes prosseguemem bom e positivo ritmo”,o Presidente da República,garante estar a acompa-nhar de perto a situação,nomeadamente através deinformaçes minuciosasque me têm sido transmiti-das pelo Governo, seja pelo

    senhor Primeiro Ministro,seja pelo senhor Ministro daefesa, com os quais maisos senhores Ministros da

     dministração nterna e daustiça me reuni, na resi-dência da República poucotempo depois das trágicasnotícias”.

     As vítimas

     o todo foram assassina-das one pessoas em onteTchota. Três civis, um cabo--verdiano e dois espanhis,e oito militares que faiam asegurança daquela infraes-trutura.

    urante o dia as infor-maçes foram sendo tor-nadas públicas. Dois car-ros foram apreendidos nacidade da Praia, um delescontendo nove espingar-das e muniçes que tinhamsido roubadas do local, con-forme anunciou o governo,ontem, ao nal da tarde.

    m declaraçes agên-cia Lusa, Francisco Gomes,comandante adjunto da es-quadra da Polícia Nacionalde São Domingos, a norteda cidade da Praia, os sol-dados foram encontrados

    mortos numa caserna mi-litar do posto de vigia deMonte Tchota.

    Portos e aeroportoem alerta

    Na sequência do ataqueem Monte Tchota o aero-porto da Praia aumentou oseu nvel de segurança e, se-gundo o que o Expresso das

    Ilhas apurou, os portos deSotavento aumentaram to-maram uma medida idên-tica. “Com este aumento donvel de segurança vai pas-sar a faer-se um controlomais apertado entrada esaída de navios, pessoas,

     bens, mercadorias aos por-tos de Sotavento”, explicou,ao Expresso das Ilhas, ocapitão dos portos de so-tavento, Manuel Claudino,que referiu ainda que estamedida poderá, se necessá-rio, ser alargada para nívelnacional”.

    Governo negarelação comnaofo

    O governo nega qualquerrelação entre o ataque deontem, em Monte Tchota,

    e o narcotráco. inistroda dministração nterna informou ao nal datarde desta terça-feira queo acto terá sido perpetradopor um efectivo das forçasarmadas.

     Através de um comuni-cado, lido por Paulo Rocha,o governante conrmouone mortes, oito militarese três civis. Dois dos civis

    eram de nacionalidade es-panhola, o terceiro, cabo--verdiano. Os três homensencontravam-se em Montechota onde funciona umcentro emissor e de comu-nicaçes, motivo pelo qualexiste no local um destaca-mento militar permanente em traalhos de manu-tenção de equipamentos.

    governo peremptrioao garantir que a tragédiaaconteceu por motivaçespessoais que excluem aideia de atentado contra oEstado de Cabo Verde”.

    Onze mortos em Monte TchotaO homicídio de onze pessoas em Monte Tchota, São Domingos, deixou Cabo Verde em estado dechoque. A autoria do homicídio ainda está por apurar, mas o governo já anunciou que um militaré o principal suspeito da sua autoria.

    Novos nomes

    entram na corridaEsta semana, novos nomes somaram-

    -se aos já avançados na edição passada,na corrida às autárquicas 2016. Até aomomento há 41 candidatos e pré-can-didatos, de três partidos: MpD, PAICV ePP (que concorre apenas em dois muni-cípios). A UCID já anunciou que irá con-correr em 10 municípios, mas que nãoindica os candidatos. Há também pelomenos um independente, em Mosteiros.

    Em alguns dos 22 municípios ainda nãofoi anunciado nenhum pretendente à pre-sidência da Câmara Municipal, enquantoem outros aparecem já vários nomes.Veja a lista:

    Ribeira Grande (Santo Antão ): OrlandoDelgado (recandidatura, MpD); ? (UCID)

    Paul: António Aleixo (recandidatura,MpD), ? (UCID)

    Porto Novo: Aníbal Fonseca (MpD); RosaRocha (recandidatura, PAICV); ? (UCID)

    São Vicente: Augusto Neves (recandi-

    datura, MpD); Alcides Graça (PAICV); ?(UCID)Tarrafal (São Nicolau): José Freitas Bri-

    to (recandidatura, MpD), António Soares(PAICV); ? (UCID)

    Ribeira Brava: Celly Paixão (MpD), Pe-dro Silva (MpD); ? (UCID)

    Sal: Júlio Lopes (MpD); Ildo Rocha(MpD), Démis Lobo Almeida (PAICV); ?(UCID)

    Boa Vista: José Pinto Almeida (recandi-datura, MpD)

    Maio: Miguel Rosa (MpD), AlexandrinoAnes (MpD)

    Tarrafal: José Pedro Soares (Recandi-datura, MpD); José dos Reis Varela (PAI-CV); ?(PP)

    Santa Catarina (Santiago): Félix Cardo-so (MpD), Austelino Correia (MpD); JoséAlves (MpD); Josão Baptista Freire (PAI-CV); ; ? (UCID)

    São Salvador do Mundo: Custódio Lo-pes (MpD), Ângelo Vaz (MpD); EuclidesSilva (MpD), Manuel Torres (PAICV)

    São Miguel: ?

    São Lourenço dos Orgãos: Benedito Va-rela (PAICV)Santa Cruz: Manuel da Luz Tavares

    (MpD); Lismano Correia (MpD); CarlosAlberto Silva (PAICV)

    São Domingos: Clemente Garcia (MpD),Filomeno Borges (MpD), Rosaria Almeida(MpD), Emanuel Jesus Lopes (MpD).

    Praia:  Óscar Santos (recandidatura,MpD), Agostinho Lopes (MpD), AlbertoMello (MpD), Rafael Fernandes (MpD);Amândio Barbosa Vicente (PP); ? (UCID)

    Ribeira Grande (Santiago):?

    Mosteiros: Pedro Centeio (Independente)Santa Catarina Fogo: Alberto Andrade

    Nunes (MpD)São Filipe: ?Brava: ? (UCID)

    PRIMEIRO PLANO

     As armas roubadas dodestacamento foram, entre-tanto, recuperadas, numa

     viatura alugada presumi- velmente pelos técnicos es-panhis na ona da ida-dela, cidade da Praia.

      reacção ocial aconte-ceu depois de uma reuniãodo gabinete de crise, quereuniu, além do Primeiro--Ministro e do MAI, os titu-lares das pastas da ustiça eefesa.

    Civil cabo-verdianomorava em São

     Vicente

    Danielson Monteiro, in-formático e professor daniversidade usfona, emSão Vicente, é o civil de na-cionalidade cabo-verdianamorto na sequência do ata-que em Monte Tchota.

    Dani, como era conhe-cido, residente em Chã de

     lecrim, estaria de licençada universidade, contratadopela empresa que realiavatrabalhos no Monte Tchotae qual estariam afectos asoutras duas vítimas civis.

    eixa mulher e dois -lhos.

  • 8/17/2019 Expresso das Ilhas, Edição 752, de 27 de Abril de 2016

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    Nº 752 • 27 de Abril de 20168\\   PRIMEIRO PLANO

      notcia foi lançada aonal da manhã de ontem.Três pessoas tinham sido en-contradas mortas em MonteTchota, pequena localidadeno município de São Domin-gos. Mas depressa o númerocresceu e o pior conrmou-se.

     Ao todo eram 11 mortos. Trêscivis e oito militares do desta-camento colocado em MonteTchota tinham sido mortos deforma violenta.

    urante o dia várias infor-maçes foram sendo avança-das pela comunicação sociale o tráco de droga chegou aser apontado por muitos comoestando por trás do crime.Tudo acabou por ser desmen-tido ao nal da tarde quando,em conferência de imprensa,Paulo Rocha, Ministro da Ad-ministração nterna, avançouaquelas que são as principaissuspeitas da autoria do crime.

    “É preciso esperar pelasinvestigaçes para saer oque realmente aconteceu emMonte Tchota”, analisou o co-

    mandante Adriano Pires ouvi-do pelo Expresso das Ilhas.cho que a prpria chea

    das orças rmadas de- via dier o que que aconte-ceu, porque ninguém melhorque os militares para explicaro que se passou em MonteTchota”, apontou este militarna reserva.

    Para Adriano Pires a ima-gem das orças rmadas ca

    “naturalmente beliscada”,aps o ataque aos militaresque estavam aquartelados emMonte Tchota. “Quer quei-ramos quer não, há a ideia

    Análise

    Mortes em Monte Tchota colocam a nuvulnerabilidades do sistema militarOnze pessoas, oito militares e três civis, foram encontradas mortas em Monte Tchota. O ataque deve ser, para Adriano Pires, militarna reserva, motivo para um debate sobre o tipo de Forças Armadas que existe em Cabo Verde e também para uma profunda reforma

    do sector.

    Motivações pessoais

    na origem do ataque s raes por trás da morte das pes-

    soas no Monte Tchota, em São Domingos,estão a ser investigadas pelas autoridadespoliciais nacionais.

    m conferência de imprensa, ontem,o inistro da dministração nterna,Paulo Rocha, anunciou que um “soldadoafecto ao prprio destacamento encon-

    tra-se desaparecido e há fortes indciosde que o mesmo esteja envolvido nosacontecimentos”. “Presume-se estaremna origem destes acontecimentos moti-

     vaçes pessoais, que excluem a ideia deatentado contra o Estado de Cabo Verde”,acrescentou ainda o Ministro da Admi-nistração nterna.

    O ministro aproveitou, igualmente,para esclarecer que não se vericaramtiroteios na cidade da Praia (...) e queos aeroportos estão a funcionar normal-

    mente, não tendo nunca sido fechados econcluiu garantindo que as “autoridadesestão a tomar todas as medidas” para oesclarecimento do caso.

    de uma grande vulnerabili-dade da instituição militar eque acaba por ter um grandeefeito negativo no sentimentodas pessoas: se os militares,que têm por tarefa proteger--nos, proteger o Estado con-tra agresses, estão sueitos

    a massacres deste tipo, istos pode contriuir para prem causa a prpria imagemdas forças armadas enquantoinstituição, apontou drianoPires.

    ste militar defende queum espaço sensvel comoMonte Tchota, centro nevrál-gico das comunicaçes nacio-nais, deve ser “naturalmente”alvo de uma vigilância aperta-da e feita por militares de car-reira. “É preciso ver quem sãoesses militares. É preciso verse são militares do erviço i-litar rigatrio ou se são mi-litares de carreira, avançouem entrevista telefnica como Expresso das Ilhas, subli-nhando: “Eu acho que servi-ços do tipo devem ser presta-dos por militares de carreira”.

     driano ires defende que“há muitos anos que é preci-sa uma profunda reforma das de ao erde por forma opaís ter as FA que necessita”,sendo igualmente necessário,na sua opinião “rever o con-ceito do serviço militar ori-gatrio.

    Na sequência do ataqueao aquartelamento militar deMonte Tchota, Adriano Pires

    mostra-se esperançado de quehaja um “debate nacional, ou anível do governo, questionan-do o tipo de orças rmadasque temos neste momento”.

  • 8/17/2019 Expresso das Ilhas, Edição 752, de 27 de Abril de 2016

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  • 8/17/2019 Expresso das Ilhas, Edição 752, de 27 de Abril de 2016

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    OPINIÃO Nº 752 • 27 de Abril de 201610\\

    O PAICV dos pequeninos! 

    O novo parlamento e o novo go- verno tomaram nalmente posseiniciando assim um novo ciclo po-ltico resultado da vontade popularlivremente expressa nas urnas a de arço. stamos a viver entãonovos tempos polticos que vão exi-gir de todos ns um esforço extrano sentido da reposição do caminhorumo ao desenvolvimento, algo quenos últimos anos, á estávamos in-

    felimente arredados. ara todos osactores polticos estão reservadosos seus papis, uns governando,outros na condição de situação ouoposição parlamentar. ae a cadaum dos sueitos, a partir de agora,assumir as suas responsailidadesneste novo quadro institucional.

    m aneiro de e ainda an-tes do ongresso do que ele-geu a nova liderança, escrevi nestemesmo semanário que o sucessoou não deste partido nos emateseleitorais de estava dependen-te da forma como a nova lder pu-

    desse unir o partido em sua volta.s resultados hoe estão á vista de-sarmada de todos a nova liderançaao invs de unir o partido dividiu-oprofundamente e todos os episdiosque rodearam a vida do partido nosúltimos tempos, nomeadamente,a gestão de todos os processos in-ternos, comprovaram esta tristerealidade. nova liderança impsao partido uma estratgia erradafomentando guerrilhas internas,afastando ou promovendo os mi-litantes de acordo com os apoios sua candidatura, e terminando comescolhas pessoais dos caeças delista, impondo valores clientelistasa procedimentos novos nunca dan-tes vistos.

    resultado o que saemos o teve uma derrota humilhan-te e em alguns aspectos mais humi-lhante que a derrota de , pois per-der a ilha do ogo e colocar o par-tido como terceira força em . i-cente não tem paralelo com outrosresultados at hoe conseguidos. liás uma reve análise mostra-nosque os piores resultados do

    foram conseguidos nos crculos queeram encaeçados pela lder e pelosseus ices mas desse facto não setirou nenhuma consequência sen-do que um deles acaou mesmo porreceer o prmio de ice-residenteda esa da N e tomar posse sendo

    ainda memro do governo. os-se o aicv hoe um partido coerentee srio e esta derrota de todos osseus vices-presidentes suscitaria umprocesso de re-legitimacao interna.

     A culpa(?) doGoverno de JMN

    empre defendi que numa socie-

    dade verdadeiramente democráti-ca os lderes partidários devem sersusequentes com os seus actos,mas infelimente esta prática nãoaunda aqui nestes de grãoinhosde terra. assim se entende que nanoite eleitoral tenha faltado á liderdo a coragem, a dignidade ea norea sucientes para analisara existência ou não de legitimidadepoltica para continuar frente dosdestinos do . o invs disso eposteriormente longe das cmarasda e em reunies partidárias earmaçes púlicas preferiu distri-

     uir então as responsailidades daderrota para todos e em particularpara o overno e o seu lder.

     liás s um raentolaou mesmo imaturo teria o desca-ramento para atriuir culpas destaderrota ao overno eam o para-doxo durante a campanha eleitoralos candidatos do nos dife-rentes palcos e por todo o as, maisnão eram do que propagandear osfeitos do overno durante anos arragens, aeroportos, ms de es-tradas, centros de saúde, etc. ascuriosamente á na noite da derrotae dias seguintes nenhuma dessasrealiaçes servia e a culpa da der-rota passou a ser exatamente dogoverno, do ex-rimeiro-inistro,do desgaste dos inistros e paraconrmar a aerração total at dosdirectores-gerais e s que nãoentraram na campanha, numa claraconfusão entre o artido e o stado.

    ste dos pequeninos pa-rece padecer de uma qualidade nataque consiste em tentar atriuir asresponsailidades, as culpas, os de-saires a outros, numa vã tentativa

    de esconder uma verdade cristalinaa população cao-verdiana disse umrotundo N a esta nova lideran-ça ao dier este N a populaçãomostra que não se revê nem naspráticas nem nos valores defendi-dos por este desta nova lder.

     ssumir a derrota um princpioessencial dos regimes democráticos. ao não colocar o cargo dispo-sição dos militantes, pelo caráctersimlico que uma decisão destasteria, a nova liderança ensaia umafuga para a frente e prova mais uma ve que atriutos como a humildadee a generosidade, desde as eleiçesinternas, deixaram de faer parte dodicionário deste novo .

     diante. enso, como muitoscaoverdeanos, que o que a novaliderança do vem faendocom N deveras inusto. ro-curar aqui e ali encontrar culpadosoutros e iliar-se da pesada respon-sailidade que viamente impendesore os seus omros, elegendo oex-rimeiro inistro como o res-ponsável pelo desastre eleitoral nominimo curioso e maquiavlico.

    esde o desastre eleitoral querápidamente a nova lder do e os seus seguidores puseram de pesta narrativa peregrina e saloia que

     visa acusar e incriminar o elemen-to que, at ao fecho da campanhaeleitoral, se diia ser o maior ativodo o overno de N. mparadoxo em toda a dimensão, poisao dier isso esquece-se a nova lderque pertenceu de corpo e alma du-rante oito longos anos ao anteriorgoverno.

    Incompetência eIrresponsabilidade

    á um velho ditado que di que,em regra, acaa mal, o que começamal. ortanto todos ns que assis-timos á forma como a campanhapara as eleiçes internas no foram queilentas, com trocas deacusaçes púlicas, nomeadamen-te sore a utiliação de recursos dostado, etc. não poderamos nestaseleiçes elevar a fasquia de formanenhuma.

    Nos episdios rocamolescosdas escolhas dos integrantes daslistas, e aos olhos do comum doscidadãos, cou claro que apesar da

    retrica sore o poder dos estatu-tos e dos rgãos, a lder disps dasfunçes como quis, cavalgou contraos oponentes e como corolário ela- orou a seu el-praer as listas doscandidatos para todo o as. re-sultado por isso não podia ser outro. 

      campanha foi aquilo que se viupore de discurso e sem estratgia. único elemento era a nsia de ga-nhar como se tal fosse possvel comtanta falta de senso. liás muitas vees camos com a sensação quepara alguma gente ser lder do - não era mais do que um meiopara se atingir um m há muito am- icionado ser rimeiro-inistro deao erde.

    ortanto o ps-eleiçes inter-nas, todo o ano de e o perodopr-eleitoral serviram apenas parademonstrar que estávamos peranteum novo , sem valores e semcausas, um de preendas esem maturidade para continuar a li-derar o processo de desenvolvimen-to deste as.

    , independentemente de pon-derosas raes explicativas destaderrota do e sem descuraro grande mrito do , designa-damente na forma como preparou erealiou a comunicação com os elei-

    tores, há um elemento que não podeser escondido a nova liderança do foi reeitada.

     

    Que PAICV naoposição?

    Nas sociedades democráticas umgoverno terá a sua performance me-lhorada quanto melhor fr tammo desempenho da oposição. aquireside a minha dúvida. lhandopara a ancada da oposição e saen-do da praxis poltica prpria destanova liderança duvido que nestanova legislatura o governo de lis-ses orreia tenha uma oposição á al-tura. isso, quer se queira quer não,não deixa de ser um mau presságiopara a nossa ovem democracia.

    s episdios que vão sendo co-nhecidos sore a gestão egocentricae quase ditatorial que a nova lder vem faendo dentro do seu parti-do fa antever um perodo dicilna vida do . prova está aa ideia miraolante em ser-se tam- m lider parlamentar em mais um

    episdio do quero, posso e mando,ideia essa que irá preudicar sore-maneira o desempenho da oposiçãoe do partido de uma forma geral. liás, sintomático que at hoe nãose viu nenhuma declaração de algumdeputado tamarina aprovando esta

    ideia, mesmo aqueles que são seusindefectveis apoiantes.

    as nada disso estranho. n-felimente desde a sua eleição queesta nova lder fe tudo como quere sempre de forma autoritáriaafastando compulsivamente todosaqueles que ousam pensar pelaprpria caeça e agora, amarga opão que amassou. não deixa deser de uma heresia incomensurável

    ouvir esta nova liderança citar m-lcar aral como fe recentementenuma entrevista elevisão, saen-do ela que este seu nuncaesteve tão distante da teoria e daprática do pensamento do fundadorda Nacionalidade.

    ue ningum tenha dúvidas daforma e magnitude com que o povodestas ilhas reeitou esta nova lide-rança, ou o regressa depressaaos valores que sempre nortearam asua prática, ou sea uma liderançaque possa despender esforços nosentido da construção da unidade e

    coesão, ou então assistiremos a umalonga travessia do deserto que nãosaeremos quantas legislaturas po-derá durar. , claro, agradece

    uanto ao novo overno ele aestá, pequeno conforme o prometi-do e com um programa econmicoamicioso, em consonncia com aesperança dos caoverdeanos e aasoluta necessidade que se tem detirar o as deste marasmo econ-mico. uer-se uma nova dinamicapara o sector privado e uma apos-ta segura no investimento directoestrangeiro como alicerces do cres-cimento econmico e do emprego.sso s possivel com traalho,muito traalho pelo que indepen-dentemente da fasquia ser elevada,entendo que as coranças a seremfeitas e para serem consistentes de- vem permitir tempo ao novo gover-no para implementar a sua agenda.Nesta hora di ai impossvel nãose sentir saudades de governantesque muito se empenharam nos seuspostos como a ara opes, eone-sa ortes ou ntnio orreia e il- va. stes são ons governantes em

    qualquer parte do mundo. as ostempos são outros e tenho tammfortes esperanças em como ani-ne lis, ernando lsio ou lavoorreia serão ons governantes queencherão os caoverdeanos de or-gulho

    Gil Évora

  • 8/17/2019 Expresso das Ilhas, Edição 752, de 27 de Abril de 2016

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    Nº 752 • 27 de Abril de 2016 //11OPINIÃO

     ps quase meses de uma au-

    sência não programada, as crnicasda Identidade Crioula regressaram.ntretanto, neste nterim, muitacoisa aconteceu no pas erço dacrioulidade, que elegeu novos go- vernantes.

    ouve quem tenha dado muitaênfase vitria do p no ogo emesmo em . ntão. oram vit-rias importantes, mas, para mim, oresultado em . icente o que memerece mais atenção.

    eleitorado desta ilha uranasempre foi unanimemente conside-rado pelos politlogos um arme-tro das tendências eleitorais no pas.arlos eiga, quando era primeiro--ministro, chegou a dier várias ve-es na comunicação social quandoão icente fala, o pas escuta.

    enão veamos desde sempre, ailha recusou-se a depositar o podernas mesmas mãos, seguindo a sae-doria popular de que não se deve co-locar todos os ovos no mesmo cestopara quem não sae, . icente hoe a ilha que aastece de ovos opas, passando de importadora paraexportadora a ilha sempre elegeu

    um presidente da mara com corpoltica diferente do poder centralfoi aqui que candidaturas verdadei-ramente independentes chegaram emantiveram-se no poder a ilha tevea primeira assemleia municipalcom cinco cores polticas diferen-tes, com quatro partidos e um gru-po independente elegeu a primeiramulher para dirigir um municpio,uma cidadã fundadora e presidenteda primeira ssociação de ulheresmpresárias e rossionais do pas.  nvel de movimentos cvicos, doamiente, de defesa dos consumi-

    dores, a lista de inovaçes desta ilha extensa e vem desde os primrdiosdo seu povoamento.

    as, mesmo tendo um eleitora-do esclarecido, . icente deixou-seenganar durante longos anos. otou entusiasticamente na mu-dança em , alinhada com opas, como á tinha acontecido anos antes. e seguida, deixou-seemalar pelos cantos de sereia derenarias, de um retorno anfioaos mares atravs do luster doar leia-se ressuscitar um efmero

    passado de grandea via porto en-quanto se anunciava repetidas veesum gigantesco porto de águas pro-fundas no orto rande, eram in- vestidos milhes de dlares no or-to da raia vindos de um decuo pacote a ilha não viu um dlar

    nquanto isso, fáricas que ti-

    nham sido traidas da longnqua sia para o parque industrial doaareto foram hostiliadas a pon-to de fecharem portas, lançando nodesemprego centenas de mães defamlia, cuas respectivas famliascaram sem sustento e sem revi-dência ocial, numa poltica de es-querda única no mundo um over-no a fechar fáricas e a aumentar,delieradamente, o desemprego.ara quem não se recorda, asta oexemplo da ape erde lothingompan, na altura, o maior em-pregador privado do pas.

    m anos, a ilha que se orgu-lhava de ter um porto que chegou aser o pulmão por onde o pas todorespirava, que á tinha sido o Eldo-rado do emprego, viu-se a si mesmatransformada na ilha com maiortaxa de desemprego do pas umafaçanha que cará na istria deao erde. o mesmo tempo quese propagava o discurso de que odesenvolvimento do pas passavapela sua infra-estruturação, para usticar uma insensata poltica de etão e alcatrão, a ilha mais infra-

    -estruturada do pas mergulhava nodesespero e na frustração mais emais desemprego, cada ve menosinvestimento púlico do governodo amor terra, em cuos orça-mentos a ilha não era considerada.Não tive tempo, mas ca para outraoportunidade traer as percenta-gens do orçamento de investimentoanual que coueram a ão icentedurante os últimos anos.

    uando os são-vicentinos acor-daram e foram uscar a sua conhe-cida capacidade de reivindicação,foram acusados de lamúrias e

    de serem pouco empreendedoresmagine-se, logo a ilha onde oscao-verdianos de todas as ilhastinham tido o primeiro contactocom o emprego formal, com a in-dústria e os serviços internacionais,incluindo o turismo, visto que foi aprimeira ilha a ter turismo, atravsdo centenário turismo de crueiroslogo a ilha onde os cao-verdianos vindos das ilhas se liertaram dasamarras do traalho agrcola noscampos e aprenderam a ter cadaum sê negoce. e dúvidas houvesse

    ainda de que se tratava de uma es-tratgia delierada, a perversidadedestas insinuaçes colocou a nu asreais intençes.

    xistem duas formas de manu-tenção no poder pela positiva, oupela negativa. ela positiva, temos

    o rilhante exemplo dos crioulosafricanos das echelles, que nãome canso de mencionar, cuos go- vernantes estão no poder há maisde dcadas, tendo passado por um

    sistema de partido único igual aoque tivemos, e depois mantendo-seno poder em plena democracia. scrioulos seychellois não têm raesnem motivação para mudar de go- vernantes pudera, o pas cresce a om ritmo, não existe desemprego,não há pores desde , são osafricanos mais ricos, com ndices deriquea e desenvolvimento melho-res do que muitos pases europeus.

    xiste, pelo contrário, uma for-ma perversa de manutenção nopoder manter as populaçes naporea, na ignorncia e, soretu-do, na dependência do stado. Não preciso faer uma licenciatura emiência oltica para saer isso. essa estratgia, que sempre deu econtinua a dar frutos por esse mun-do fora a frica e a mrica atinaque o digam, foi rilhantementeexecutada aqui neste pas. ue inte-ressam anos de porea extrema,quando o stado dá chupetas nas vsperas das eleiçes uando seinauguram pontes, estradas, arra-gens e casas sociais no último ano,renovando as esperanças do povo

    uando se mexe despudorada mashailmente nos traumas da cons-ciência colectiva de uma populaçãosofrida e aalada por dcadas defalta de chuva u quando se en-gana delieradamente as gentes de. icente prometendo que o ortorande vais encher-se de arcosnovamente, apenas porque se criouuma entidade administrativa pararessuscitar um cluster do mar querealmente existiu no passado, daforma que os clusters devem exis-tir, ou sea, sem a intervenção dostado, aseados na livre iniciativa,

    dando, na altura, origem a esta cida-de do Mindelo.

    as engana-se quem pensa queo oicote a ão icente foi de ndo-le airrista. ntes fosse omo tivea oportunidade de escrever no anopassado na crnica epúlica das ananas, quem assim pensa come-te um grosseiro erro de casting, ques favorece os perversos estrategaspor detrás do esquema. questãotem origens ideolgicas e visavatão-somente calar a sociedade civiltradicionalmente mais contestatá-

    ria do pas, uma estratgia coeren-te com a poltica de preservação dopoder atravs da dependência dapopulação do stado.

    ote de anê om á não tinhagemada para se alimentar, e o sonhode reviver o verso pa tude quês rua

    de orada era um data destrangermorreu com o delierado oicoteaos maiores proectos tursticos dopas, que tinham escolhido a ilhade esária vora para se instalar

    quem não se lemra do esáriaesort e de mais uma deena deresorts com marcas internacionais,que deveriam criar milhares e mi-lhares de postos de traalho na ilhauem acredita que tantos proectos,promovidos por empresários vindosde várias partes do mundo, do u- ai aos , passando por váriospases europeus, não aconteceramapenas por culpa dos respectivospromotores

    omo resultado de anos de votar nos mesmos governantes epolticas, . icente ganhou umsemi-aeroporto internacional cheiode limitaçes e uma estrada que ligao alhau aa das atas, e que nãoera prioridade para a ilha.

      ilha perceeu, então, que tinhasido enganada, duplamente enga-nada, em e em . prepa-rou a sua altiva resposta. ma veque a vingança se serve fria, esperoutranquilamente pelo dia de ar-ço, no mês do teatro e das mulheres., qual peça vicentina, levantou-se efoi votar, arrastando o pas.

    foi severamente casti-

    gado pelas gentes de . icente, queeram passar o partido no overnodirectamente da para a divisãoleia-se último lugar a humilha-ção s não foi maior, porque aindapesa na nossa democracia o facto dea extrema porea se deixar com-prar. ivesse a os meios deque dispem os dois maiores par-tidos, e a coisa teria sido em maisfeia para o lado da estrela negra.

    as ão icente tamm nãodeu a maioria asoluta ao p, edeixou claro que o futuro pode nãoser o ipartidarismo.

    ste povo á não o mesmo quese deixou iludir com promessas de  e cuos sonhos se alimenta- vam de morangos da terra. rata-se,a partir de agora, de um srio aviso navegação para todos os polticose dirigentes deste pas. uem nãocorresponder, pode não passar deum s mandato e ainda sair pelaporta dos fundos.

    as nem tudo responsailida-de do poder central. os cnicos atdirão que outras ilhas ainda estãopior, a perder população.

    pior a descrença instalada eo conformismo na ilha institui-çes que outrora rilharam como as voes das forças vivas da sociedadea nvel nacional, como a ssocia-ção omercial de arlavento, hoemara de omrcio, são pálidas

    herdeiras das suas antecessoras,chegando-se ao ponto de as e leiçespara os seus corpos dirigentes nemsequer suscitarem disputa, ori-gando quem lá está a continuar,

    numa organiação que devia ser umrgão de poder nacional. verdade que a ilha sofreu nos

    últimos anos uma drenagem decreros nunca antes vista, enfra-quecendo as suas elites e privando--a dos seus ovens mais rilhantes.

    as mesmo assim . icentecontinua a não ser apenas o ar-metro poltico do pas, , como sem-pre foi, o farol que indica o futuro daera moderna, apesar dos oicotes ede todas as diculdades que enfren-ta.

    Nesse sentido, convm que anova liderança do pas, que tem omeu apoio incondicional entendaisso ão icente não passou umcheque em ranco nova maioria,e pode ser que mais uma ve o pasouça o que ão icente disse, porisso todo o cuidado pouco. ilu-sionismo e a venda de anha da co- ra resultarão cada ve menos.

    speremos que ao erde reto-me os caminhos do desenvolvimen-to, desta ve em lierdade plena, ousea, pela positiva.

    edico esta crnica memria

    de altaar opes da ilva, um dospais fundadores desta que a pri-meira nação crioula do planeta, cuaidentidade ele compreendeu comoningum. No passado dia de ril, completou-se o aniver-sário deste que o cao-verdianomais ilustre que estas ilhas pariram.

    Numa crnica sore a ilha de ão icente, não posso não partilhar aminha exaltação por mais um ani- versário de ua aestade, a ainhasael de nglaterra, que comple-tou a onita idade de anos nopassado dia de ril. . icente

    deveria, por raes histricas, estara festear e untar as voes ao coromundial GOD SAVE THE QUEEN!

    rova de que ão icente preci-sa de acordar, a cidade do indelocontinua sem geminar-se com assuas irmãs de Necastle e ardi,de onde provinha o carvão que ali-mentou o desenvolvimento destacidade atlntica, cuos entrepostos ogaram um papel decisivo na na- vegação atlntica e na gloaliaçãomundial. indelo devia ser a-trimnio undial, e ua aestade

    iria certamente prestar o seu apoio.ara quando uma visita dos nossoseleitos municipais e forças vivas dailha a terras de ua aestade eráque temos que esperar pela autori-ação do overno central onve-nhamos

    São Vicente, a democracia e ofuturo (and God save the Queen)José Almada Dias

    Identidade crioula

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    OPINIÃO12\\

    Que herança públicadeixada à nação?

    Paulo Monteiro Júnior

    Depois de ouvir o Primei-ro - Ministro cessante Joséaria Neves armar, na en-trevista que deu no dia 19

    do corrente mês , que«deixava um país muito maisrico, reforcei a convicção que

     á tinha manifestado nestascolunas esta armação revelaa ligeireza – e a pouca trans-parência de informação - comque lidou, nos quine anos degovernação, com a contaili-dade e gestão do sector púli-co, cultivando um estado denegação sore as evidênciasmais singelas respeitantes aosactivos e passivos do sectorpúlico alargado .

    omo saemos, o arange o sector púlico ad-ministrativo , que osector púlico propriamentedito, e as empresas púlicas,ou sector empresarial do Esta-do . m geral, as empre-sas púlicas e as empresas não

    nanceiras com capitais púli-cos têm acarretado enormescustos explícitos e implícitospara economia e registadopreuos sistemáticos.  O go-

     verno cessante deu garantiase avales a dívidas de algumasdessas empresas púlicas oude capitais púlicos, saendoperfeitamente a incapacidadede algumas delas liquidarem

    a dvida, sequer garantir o pa-gamento de juros nem muitomenos as amortiaçes.

    aendo que não há expec-tativas de lucros nem, nalguns

    casos, de patrimnios vendá- veis, tornar-se-ia necessárioem termos de honestidade decontas, que fossem feitos os

    devidos «write os aati-mentos e esses montantesfossem assumidos claramentecomo dvida púlica.

    Os custos explícitos e implí-citos das empresas púlicas,em conugação com os d-ces  excessivos  e  persistentesdo e o stock» da dívidapúlica – muito acima de 120por cento do produto inter-no ruto - representamhoje o maior entrave a umaestratgia de dinamiação edesenvolvimento da economiacao-verdiana.

    ag etter e tefan olsterpulicaram, no erão passa-do, um livro importante inti-tulado The Public Wealth of

     Nations. etter olster ar-gumentam que é necessáriomelhorar a gestão dos activos

    púlicos. rmam tammque os activos púlicos po-tencialmente comerciais são

     vastos e o seu valor dependedo modo como são geridos.

     dicionalmente, os dois auto-res do livro argumentam queos governos são os maioresgestores de activo e que a ri-quea púlica existente pre-cisa de ser gerida de forma

    prossional, tendo em vista aotenção de um maior uxode rendimento. m aspectoseria a identicação e avalia-ção independente e prossio-

    nal dos programas de infra--estrutura do sector púlico,aumentando as taxas de retor-no. etter e olster armam

    que a convergência de um u-xo de retorno para uma somacapital s fa sentido se o seu

     valor para os consumidorescompradores exceder o dogoverno.

    omo vem no livro, numaanálise da herança deixada nação, os dois lados do alan-ço devem ser tidos em con-sideração na sua estimativa.

     dicionalmente, no lado dasdespesas é possível distinguiras despesas correntes, aque-las que proporcionam ene-fcios apenas no prprio pe-rodo, das despesas de capitalou de infra-estruturas es-trada, arragens, etc., aque-las que proporcionam enef-cios nos perodos futuros. Nolado das receitas , tamm,possível distinguir as receitas

    correntes impostos -, aque-las cua corança representauma diminuição, no sectorprivado, de enefcios queocorrem apenas no prprioperodo, das receitas de capi-tal, as que diminuem enef-cios futuros. ssim, quandoo Estado pede um emprésti-mo para nanciar um inves-timento púlico, otm uma

    receita de capital.e rero o estudo de etter

    e olster com especial desta-que porque ele aponta, cla-ramente, para a necessidade

    de uma leitura arangentedos dois lados do alanço.

     Invocar um sem invocar os

    outros é pouco rigoroso. s

    dados revelados nesse livroreforçam a convicção de que asolutamente necessáriomelhorar a contailiaçãoe a gestão dos activos, quernanceiros quer não nan-ceiros essencialmente asinfra-estruturas púlicos, edo passivo nanceiro as d-

     vidas.m valor nominal, a dvida

    púlica passou de cerca milmilhes de escudos em para mil milhes de escu-dos em provavelmentemuito mais. u sea mais dodoro. e realçar que a dvi-da externa isto , denomina-da exclusivamente em moedaestrangeira, euro e dlaratinge cerca de setenta e cincopor cento dessa valor.

    Mesmo que essa dívida

    púlica fosse destituda degravidade e não -, revelauma ameaça em termos decrediilidade do stado e do«rating»  da epúlica. a-laarismos como dier quea dvida foi feita em termosconcessionais uros aixos,período de carência dilatado –

     em como enumerar algumasdeenas de estradas asfalta-

    das, pequenas arragens, ae-roportos mal equipados, nanarrativa que o governo ces-sante tenha deixado «um paísmuito mais rico não resistem

    às regras da simples aritmé-tica asta faer a diferençaentre o valor estimado dos ac-tivos nanceiros os crditos

    e não nanceiros essencial-mente as infra-estruturas e o passivo nanceiro stock dadvida do . diferençaé claramente negativa: o valordo patrimnio inferior d-

     vida. um fardo para as gera-çes futuras.

    Ninguém pode acredi-tar na armação deixar umpas muito mais rico se, nomundo gloaliado em muta-ção, a herança for um icro--stado não competitivo, semuma plataforma logstica deexportação de serviços nemum parque empresarial de ne-gcios, com um rácio capitalpor traalhador aixssimo limitando a incorporação denovas tecnologias no processoprodutivo e comprometendoo crescimento vital das ex-

    portaçes de ens e serviços. Note-se, por último, que o nú-mero de patentes registadaspelo pas e a concentração decientistas internacionalmentereconhecidos nas suas áreasrevelam que a acumulação decapital humano e a investiga-ção desenvolvimento sãoincipientes.

    mais que não medido

    e que não conta.

     Mestre em ECONOMETRIA,

    ULB; antigo Economista Sénior

    do Banco de Portugal.

    Nº 752 • 27 de Abril de 2016

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    14\\   POLÍTICA Nº 752 • 27 de Abril de 2016

    40 anos de Constituição portuguesaSobre o 25 de Abril, Sophia de Mello Breyner escreveu: “esta é a madrugada que eu esperava/o dia inicial inteiro e limpo/ onde emergimos da noite e do silêncio/e livres habitamos a substância do tempo”. Sem 25 de Abril de 1974 não haverianova Constituição, dois anos depois, magna carta onde a própria Sophia de Mello Breyner participou, enquanto deputada.

    É um texto consideradoprogressista e inovador. Querompe com o obscurantis-mo da ditadura fascista e que

    consagra na lei fundamentaldireitos, liberdades e garan-tias conquistados pelo povoportuguês. Um texto que esta-

     beleceu os princípios do regi-me democrático. A Constitui-ção da República Portuguesaaprovada a 2 de Abril de 1976,e em vigor desde o dia 25 de

     Abril do mesmo ano, apon-tava mesmo como objectivo“abrir caminho para uma so-

    ciedade socialista”.Há 40 anos, 250 deputados

    preparavam-se então para darinício aos trabalhos da Assem-

     bleia Constituinte. Eleitos a 25de Abril de 1975, nas primeiraseleições livres e democráticas eque tiveram uma participaçãode 91,7% dos portugueses comdireito a voto, os deputados deseis forças políticas reuniram-

    -se pela primeira vez no dia 2de Junho, na primeira sessãode trabalho da AssembleiaConstituinte, presidida peloentão Presidente da República,Costa Gomes.

    “É tarefa de génios gizaruma Constituição revolucio-nária, tão avançada que nãoseja ultrapassada, tão adequa-

    da que não sea anqueada,tão inspirada que seja reden-tora, tão justa que seja dignados trabalhadores de Portu-gal”, disse o chefe de Estadoperante os deputados.

     A missão foi desempenhadapela Assembleia ao longo de10 meses, com sessões plená-rias às terças, quartas e quin-tas-feiras à tarde, das 15:00às 20:00, e às sextas-feiras de

    manhã, entre as 09:00 e as13:00. Às quartas e quintas--feiras de manhã reuniam-seas comissões.

    O antigo Presidente da Re-pública Mário Soares, o actualPresidente da República Mar-celo Rebelo de Sousa, o socia-lista Manuel Alegre, o consti-tucionalista Jorge Miranda, oex-presidente da Assembleia

    da República Barbosa de Meloe o ‘fundador’ do Serviço Na-cional de Saúde António Ar-naut foram alguns dos 311 de-putados que chegaram a exer-cer o seu mandato (apesar da

     Assembleia Constituinte terapenas 250 parlamentares,diversas substituições realiza-das ao longo dos seus 10 me-

    ses de funcionamento permi-tiram o exercício do mandatode mais de três centenas deparlamentares). Entre os elei-tos estavam apenas 27 mulhe-res, como a poetisa Sophia deMello Breyer e a histórica so-cialista Helena Roseta.

     A partir das propostas apre-sentadas pelos seis partidoscom representação na Consti-tuinte, a 4 de Julho a comissão

    de sistematização da Consti-tuição apresentou o seu pro-

     jecto que previa a existênciade um preâmbulo, uma partededicada aos princípios fun-damentais e depois três partesordenadas da seguinte forma:direitos e deveres constitucio-nais, organização económica eorganização do poder político.

     A 2 de Abril, o articulado

    da nova Constituição, com 312artigos, era nalmente levadoa votação nal gloal. uetenhamos sabido ser dignosde nós próprios, dotando anossa pátria com uma Cons-

    tituição que, na sua essência,saiba resistir à prova do tem-po”, foi o voto então formula-do pelo presidente da Assem-

     bleia Constituinte, Henriquede arros. ara trás cavam132 sessões plenárias e 327sessões das 13 comissões es-pecializadas constituídas.

     Votaram favoravelmente otexto, os 116 deputados do PS,liderado por Mário Soares, os81 deputados do PPD, lidera-do por Francisco Sá Carneiro,os 30 deputados do PCP, l ide-rado por Álvaro Cunhal, os 5

    deputados do MDP/CDE, li-derado por José Manuel Ten-garrinha, o deputado da UDP,João Pulido Valente, e o de-putado da ADIM, Diamanti-no de Oliveira Ferreira. Os 16deputados do CDS, lideradopor Diogo Freitas do Amaral,

     votaram contra. Ainda no mesmo dia, o Pre-

    sidente da República, general

    Francisco da Costa Gomes, as-sinou solenemente no hemici-clo o decreto de promulgaçãoda Constituição, na presençados deputados constituintes,dos conselheiros da Revolu-

    ção, do primeiro-ministro,Pinheiro de Azevedo, e res-tantes membros do GovernoProvisório, e das autoridades

     judiciais e militares.Foi com a Revolução de Abril, as suas conquistas e va-lores que foi possível consagrarno texto constitucional a igual-dade entre todos os cidadãos, ainviolabilidade da vida huma-na, a liberdade de expressãoe de associação, a garantia dedireitos sociais fundamentais,como o direito à greve, o prin-cípio “a trabalho igual salário

    igual”, a contratação colectiva,o direito ao trabalho com di-reitos, a liberdade e os direitossindicais, o direito à educação,o direito à saúde, o direito à cul-tura, os direitos da juventude,a protecção social, a protecçãodas crianças, dos idosos e daspessoas com deciência ou odireito à habitação.

    Desde esse dia 2 de Abril de

    1976 a Constituição já sofreusete revisões, três das quaissobre questões estruturais equatro mais curtas, relaciona-das com a adesão a tratadosinternacionais.

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    POLÍTICA16\\ Nº 752 • 27 de Abril de 2016

     A Constituição portuguesa sobreviv

    Mário Silva, professor

    no Instituto Superiorde Ciências Jurídicas

    e Sociais e Presidenteda Fundação Direito e

    Justiça, falou com oExpresso das Ilhas sobre

    o 40º aniversário daConstituição portuguesa. OMestre em Direito abordatambém a influência quea Magna Carta teve nasconstituições de outros

    países, como é o caso de

    Cabo Verde.

    Entrevistado por Jorge Montezinho

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    POLÍTICA   //17Nº 752 • 27 de Abril de 2016

    u ao tempo e cumpriu a sua funçãoEm 1976, quando se apro-

     vou a Constituição por-tuguesa, o objectivo era“abrir caminho para umasociedade socialista”, foi eeo dos eos

    que se viviam?Na verdade temos de situaro momento em que foi apro-

     vada a Constituição. A revo-lução, como se sabe, visava

     basicamente descolonizar, de-mocratizar e desenvolver, masposteriormente as coisas to-maram outro rumo e a própriademocracia portuguesa esteveem risco, uma vez que houveum momento em que certaesquerda queria apossar-sedo poder. A esquerda em Por-tugal sempre foi muito forteno pós 25 de Abril e as ideiasdo socialismo e do marxismoeram muito fortes quando aConstituição foi aprovada,razão pela qual ainda hoje aConstituição económica por-tuguesa é fonte de problemas,porque tem um conjunto de

    princípios inspirados no so-cialismo e que a partir do mo-mento em que Portugal entrana União Europeia – com aideia da liberalização, da cir-culação de capitais, defesa dapropriedade privada e todasas ideias liberais do mercadocomum – acabou por estabe-lecer uma tensão muito forteentre a Constituição e o futurode Portugal. Na verdade era

    inevitável. Muitos especialis-tas consideram, 40 anos de-pois, que ninguém tinha cora-gem de não falar de socialis-mo em 75/76, portanto, essecontexto marca a Constituiçãoportuguesa. Há um outro con-texto que as pessoas hoje jánão falam tanto que é o con-texto militar, porque a demo-cracia portuguesa, depois do25 de Abril, surgiu sob tutelamilitar, que desapareceu coma revisão de 82. Só depois daextinção do Conselho da Re-

     volução é que a Constituiçãoportuguesa acabou por conso-

    lidar a democracia. Mas, comoreferido, o facto de a Consti-tuição ter sido profundamen-te marcada pela ideologia so-cialista/marxista hoje é fontede problemas, uma das partesmais criticadas é mesmo essatensão entre a Constituição e a

    realidade constitucional por-tuguesa e europeia.

     Aliás, quando esses níveisde protecção dos meca-nismos promotores de

     justiça social foram ata-cados recentemente, porcausa da austeridade, orecurso para o TribunalConstitucional permitiuque várias medidas go-

     vernamentais tivessem decair ou ser substituídas.Muitas das críticas que o Tri-

     bunal Constitucional portu-guês tem sofrido nos últimos

    anos advém disso. Porque oriunal ca entre uma ons-tituição cuja parte económicae nanceira profundamentemarcada por ideias marxis-tas e socialistas e uma reali-dade que é profundamentemarcada pelas ideias vindas

    da União Europeia. Há quemdiga mesmo que fracassou noestabelecimento destes equilí-

     brios. De qualquer forma, sópoderemos perceber isso deum ponto de vista histórico:hoje questiona-se a própriaidentidade da Constituiçãoportuguesa. Será que a Cons-tituição é a mesma de 76? Seformos ver, fruto das váriasrevisões – sete – actualmen-te muita gente já consideraque a Constituição já não é amesma, que muito pouco -cou daquilo que era realidadeem 1976. Mesmo a organiza-

    ção do poder político sofreumuitas mutações, a partir domomento que desapareceu oConselho da Revolução, foinecessário re-arrumar os po-deres e esta não teve uma con-tinuidade no que diz respeitoao ideal de 1976.

    Quase que se pode ler naConstituição a evoluçãodas mentalidades no pró-prio país: na revisão de 82a ‘sociedade sem classes’passou a ser ‘sociedade li-

     vre, justa e solidária’; em1989, foi revogada a irre-

     versibilidade das nacio-nalizações e desconstitu-cionalizou-se o conceitode “reforma agrária”…Isso era inevitável, porqueo contexto não era apenas oportuguês, era mundial. Osconstitucionalistas mais co-

    nhecidos no plano interna-cional demonstram que aténais dos anos o constitu-cionalismo mais conhecido anível planetário era o sovié-tico. Não temos consciência

    disso, mas era. África, Amé-rica Latina, muitos países daEuropa. Lembre-se que aindanos anos 80 François Mit-terrand fez nacionalizaçõesem França. Portanto, era umcontexto global em que vin-gavam as ideias socialistas:a exploração do homem pelohomem, descolonização, so-ciedade sem classes, econo-mia planicada, estatiada edirigida eram ideias centrais.Naturalmente, a subida deMargaret Thatcher ao poder,a subida de Gorbachev ao po-der, a subida de Ronald Rea-gan ao poder, as novas ideiaseconómicas provenientes deMilton Friedman e a escolade Chicago transformaram omundo, que se consolida coma queda do Muro de Berlim.

    Emergem novas ideias, novasconsiderações sobre os direi-tos fundamentais, de maneiraque não podemos fazer umaleitura estática da Constitui-ção portuguesa sob pena denão percebermos todo estemovimento. E o curioso, mes-mo do ponto de vista técnico,é que muitas ideias, muitospreceitos que vêm de 76 sãohoje interpretados não à luz

    das ideias desses anos, mas àluz dos fenómenos actuais. Oque é normal. A Constituiçãonorte-americana, que é de1787, tem preceitos que foramsendo interpretados e reinter-pretados. Devemos entender aConstituição portuguesa nestaperspectiva histórica. Agora,também é verdade que temdemonstrado uma grande ca-pacidade de adaptação a todasestas realidades.

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    Como disse o Henrique deBarros, soube “resistir àprova do tempo”.Sobreviveu ao tempo e cum-priu uma função que hoje não

     valorizamos: como disse a de-mocracia portuguesa estavaem risco e a Constituição aca-

     ou por permitir que se esseuma transição da revolução,tutelada pelos militares, à su-

     bordinação do poder militar

    ao poder civil em termos con-siderados modelares. Porquê?Porque na América Latina ena Ásia os golpes de Estadoe as direcções militares nãoconseguiram transições pa-ccas. Não podemos deixarde notar que a Constituição ea transição política portugue-sa inuenciaram a transiçãopolítica espanhola, a grega,a brasileira, sem falar, maistarde, dos Países Africanosde ngua cial ortugue-sa. Apesar de posteriormentecada um ter seguido o seu ca-minho, os grandes princípiosestão lá. Num outro patamar,inuenciou tamm muitospaíses da Europa de Leste nopós 89. Porquê? Porque a re-

     volução portuguesa deu inícioà terceira vaga das democra-

    cias modernas e naturalmenteesta Constituição é simbólicapor ser exactamente a primei-ra de uma vaga democrática anível planetário. Por isso mes-mo inuenciou todos os casosanteriormente falados.

    E o caso cabo-verdiano?Do meu ponto de vista é omais expressivo de todos,salvaguardando o sistema do

    governo onde o nosso pendorparlamentar é de longe maisforte do que no caso portu-guês.

    Mas porquê esta inspira-ção na Constituição por-tuguesa aqui em Cabo

     Verde?É uma pergunta interessante,mas é o mais normal porrazões históricas. Os grandesprincípios da organização dasociedade já vêm do períodocolonial. Especialistas cabo-

     verdianos consideram queCabo Verde fez uma transição

    pacca e normal para aindependência e fez uma

    transição pacca e normalpara a democracia porquedesde a organização dospoderes na Cidade Velhaaté hoje sempre houveinstituições moldadas à ima-gem e semelhança das ins-tituições europeias, nomea-damente portuguesas. Não épor acaso que das instituiçõesmais antigas de Cabo Verdesão as Câmaras Municipais,

    que foram implantadas a par-tir do modelo dos Açores e daMadeira, e a igreja católica.Do ponto de vista histórico, asraízes são idênticas, por maisque queiramos negar. E issoestá demonstrado por histo-riadores cabo-verdianos, porhistoriadores portugueses epor historiadores de outrasnacionalidades. Segundo as-pecto, os quadros cabo-ver-dianos, na sua grande maio-ria, foram formados em Por-tugal no pós 25 de Abril. Os

     juristas e a alta administraçãoforam formados destes qua-

    dros e isso signica, que atra- vés do conhecimento, através

    do saber fazer, foram adopta-dos em Cabo Verde princípiosque os portugueses adopta-ram. No entanto, faço umareserva: estes princípios nãosão portugueses, vêm da revo-lução americana e da Consti-tuição americana, da revolu-ção francesa e da Constituiçãofrancesa, que os portuguesesadoptaram e através deleschegaram até nós. Mas, não

    chegaram hoje, chegaram des-de as revoluções liberais. Seestudarmos a história de Cabo

     Verde encontramos uma coi-sa interessantíssima, todas asrevoluções, revoltas e sobres-saltos económicos e sociaisportugueses tiveram reexosimediatos em Cabo Verde.Não podia ser de outro modocom a Constituição portugue-sa e é por isso que essa mesmaonstituição inuenciou to-das essas outras constituições.Sendo que a mais próxima éa cabo-verdiana. Não passoupela cabeça de ninguém adop-

    tar a Constituição americanaou a francesa. Mas, são da-

    dos da história e da cultura.Se for aos países francófonos vai encontrar o mesmo fenó-meno: no Senegal, no Mali, naosta do arm, porque sãofenómenos de séculos e nãose consegue cortar com umatesoura e depois adoptar umoutro modelo. Mesmo a revo-lução francesa que, se disse,fez um corte do outro mundocom o antigo regime, hoje to-

    dos os sociólogos, historiado-res, juristas, consideram queanal houve continuidades eum dos êxitos de Cabo Verdecomo país independente é quesoubemos manter as continui-dades, ou seja, soubemos fa-zer as rupturas dentro de umcerto equilíbrio.

    Um dos problemas ac-tuais reconhecidos naConstituição portuguesaé a necessidade de um es-paço político/cultural deidentidade lusófona. Con-sidera que é uma matéria

    que deve ser abordada ealargada a outros paíseslusófonos?Na verdade, aí a Constituiçãocabo-verdiana é modelar. Éa Constituição mais abertaà lusofonia. Mas, os contex-tos marcam as Constituições.Quando a Constituição foiaprovada, a ideia de lusofonianão existia, pelo contrário, oque existia era a ideia de se-

    parar, descolonizar. A ideia delusofonia surge mais tarde eno caso de Cabo Verde, quan-do emos a revisão de foi estabelecida uma série depreceitos que considera umagrande abertura à lusofonia.Novamente, as característicasde cada país acabam por ditarsoluções. Cabo Verde abriu--se à lusofonia porque tinhainteresses. Nós somos, querse queira quer não, o mais lu-sófono de todos os países. Emtodos os países de língua por-tuguesa sempre se encontra-ram cabo-verdianos, de Timora Goa. É evidente que quandodigo que somos o mais lusófo-no é numa perspectiva histó-rica, porque Portugal não temos interesses na lusofonia quenós temos. Muitos criticam

    que quando Portugal entrouna União Europeia, e eu nãoquero armar que certo ouerrado, praticamente deslei-xou um pouco a lusofonia.Cabo Verde não. Nós somos osprimeiros a dar direito de votoaos estrangeiros residentesem Cabo Verde e soluções es-peciais para cidadãos lusófo-nos. Somos o primeiro a ter oestatuto do cidadão lusófono.

    Mas, isto não cai do céu, tem a ver com os nossos interesses.Mas, estou convencido quese caminha para uma maiorabertura. As constituições sãoadaptáveis às realidades. Nocaso português a chamada so-ciedade civil é muito aberta àlusofonia e o facto de começara haver deputados de origemde países africanos de línguaocial portuguesa, o facto decomeçarem a haver ministrosde origem africana é um sinalde maior abertura do própriosistema político português àlusofonia.

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  • 8/17/2019 Expresso das Ilhas, Edição 752, de 27 de Abril de 2016

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    ENTREVISTA20\\

  • 8/17/2019 Expresso das Ilhas, Edição 752, de 27 de Abril de 2016

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    ENTREVISTA20\\ Nº 752 • 27 de Abril de 2016

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