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1 Aparecida, 20 de março de 2008 NOVA FASE - ANO NOVA FASE - ANO NOVA FASE - ANO NOVA FASE - ANO NOVA FASE - ANO 2 - Nº 1 - Nº 1 - Nº 1 - Nº 1 - Nº 15 - - - - - 20 20 20 20 20 de de de de de março março março março março de 200 de 200 de 200 de 200 de 2008 - APARECIDA-SP - APARECIDA-SP - APARECIDA-SP - APARECIDA-SP - APARECIDA-SP Fundado em 20 de outubro de 1969 DIRETOR FUNDADOR: Benedicto Lourenço Barbosa Tem o que le Tem o que le Tem o que le Tem o que le Tem o que ler ................................................................................................................................. ................................................................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................................................................... SITUADO NO CENTRO de Guaratin-guetá — precisamente à rua Dr. Moraes Filho, nº 41 — o Museu Histórico e Pedagógico Conselheiro Rodrigues Alves ocupa a mesma casa em que, décadas atrás, residiu o presidente, na companhia da mulher e dos filhos. Tombado e declarado "Monumento Nacional", o museu pertence ao Governo do Estado de São Paulo e mantém-se aberto à visitação gratuita. Na antiga residência, mobiliada à feição da época, o visitante encontrará objetos preciosos, documentos e livros raros, além de utensílios pessoais da família presidencial. Contudo, o prédio, que outrora fora palco de importantes decisões políticas, hoje parece estar abandonado à própria sorte, quiçá à espera de outras, não menos importantes, decisões políticas. O descaso é visível desde a fachada desrespeitada por vândalos até as paredes que esboroam por conta das infiltrações. A desculpa das autoridades locais face à semelhante desmazelo cultural fundamenta- se no argumento de que a manutenção e a preservação do museu são legalmente obrigações do governo estadual. Mas, então, seria o caso de perguntar se, ao menos, a administração municipal tem feito, frente ao governo do estado, cobranças Museu Conselheiro Rodrigues Alves é o retrato do abandono pelas autoridades públicas Exposição marca o início da Festa de São Benedito Retrato do descaso e reivindicações para reverter esse quadro de abandono histórico. Enquanto não temos respostas nem atitudes concretas, lancemos um pouco de luz sobre a trajetória do ilustre morador daquela casa que, certamente, já teve dias melhores. Francisco de Paula Rodrigues Alves nasceu em 07 de julho de 1838, na Fazenda do Pinheiro Velho, bairro do Machadinho. Menino, ainda, foi estudar no Rio de Janeiro e, mais tarde, na capital paulista, de onde retornou bacharelado em Letras pela Faculdade de Direito de São Paulo. Antes de estar à frente da nação, ocupou várias posições de destaque, tais como Promotor, Juiz Municipal e Juiz de Direito substituto, vereador e presidente da Câmara, deputado à Assembléia Provincial do Império, governador, por três vezes, da Província -- a qual, posteriormente, tornar-se-ia o Estado de São Paulo. O guaratinguetaense também foi Senador Federal por duas vezes e Ministro da Fazenda nos governos de Floriano Peixoto e Prudente Moraes. Por seus méritos políticos, recebeu da Princesa Isabel o título honorífico de Conselheiro. E, finalmente, culminou sua ascensão política, conquistando, por duas vezes, o máximo posto de Presidente da República. À memória de tão ilustre filho, Guaratinguetá deveria encher-se de orgulho e dar-lhe, em reconhecimento, um lugar de destaque em sua História. Para tanto, faz-se necessário, antes, preservá-la. Tal missão cabe, obviamente, a um museu. No caso presente, ao Museu Conselheiro Rodrigues Alves. Resta agora saber a quem caberá a nobre — e já esquecida — missão de preservá-lo. A organizadora Ana Alice e o artista Temístocles A EXPOSIÇÃO "Festa de São Be- nedito", aberta solenemente no dia 14 de março e que segue até o próximo dia 06 de abril, reúne, no Hall de Entrada do auditó- rio da Rádio e TV Aparecida, trinta e um quadros do premiado artista plástico Temístocles Alves, elaborados a partir de pesquisa de Ana Alice Braga Vieira. Visitá-la é um passear pelo universo de religiosidade e folclore contido nas ima- gens que o artista retrata, festivamente, atra- vés de multicoloridas composições. Os pe- quenos borrões deixados por pinceladas certeiras parecem uma multidão que se comprime nos contornos da tela, tal como os fiéis se achegam nos limites, cada vez menores, do interior da igrejinha e da pra- ça que a cerca. O santo, a irmandade, a novena, os bonecões, os doces, a procis- são, as congadas e os moçambiques, a ca- valaria, a alvorada, os shows, enfim, cada aspecto foi lembrado e interpretado pelo artista de maneira singela. Uma arte naif com muito sabor de festa popular. Membros das comissões da festa e con- vidados estiveram presentes na noite que também contou com o lançamento do li- vro "São Benedito". O livro reproduz to- dos os quadros de Temístocles e apresenta textos de Ana Alice. Um belíssimo traba- lho que deve estar na estante de todos nós. Conhecer a exposição é uma oportuni- dade de "leitura de mundo" agradável, educativa e, também, uma forma de valo- rizar a cultura e o artista. Vale a pena, e a entrada é franca.

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Page 1: Exposição marca o início da Festa de São Benedito · Para tanto, faz-se necessário, antes, preservá-la. Tal missão cabe, obviamente, a um museu. ... faz ilações, e sim porque

11111Aparecida, 20 de março de 2008

NOVA FASE - ANO NOVA FASE - ANO NOVA FASE - ANO NOVA FASE - ANO NOVA FASE - ANO 22222 - Nº 1 - Nº 1 - Nº 1 - Nº 1 - Nº 155555 - - - - - 2020202020 de de de de de marçomarçomarçomarçomarço de 200 de 200 de 200 de 200 de 20088888 - APARECIDA-SP - APARECIDA-SP - APARECIDA-SP - APARECIDA-SP - APARECIDA-SP

Fundado em 20 de outubro de 1969DIRETOR FUNDADOR: Benedicto Lourenço Barbosa

Tem o que leTem o que leTem o que leTem o que leTem o que lerrrrr.................................................................................................................................

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SITUADO NO CENTRO deGuaratin-guetá — precisamente à rua Dr.Moraes Filho, nº 41 — o Museu Histórico ePedagógico Conselheiro Rodrigues Alvesocupa a mesma casa em que, décadas atrás,residiu o presidente, na companhia da mulhere dos filhos. Tombado e declarado"Monumento Nacional", o museu pertenceao Governo do Estado de São Paulo emantém-se aberto à visitação gratuita.

Na antiga residência, mobiliada à feiçãoda época, o visitante encontrará objetospreciosos, documentos e livros raros, alémde utensílios pessoais da família presidencial.

Contudo, o prédio, que outrora fora palcode importantes decisões políticas, hojeparece estar abandonado à própria sorte,quiçá à espera de outras, não menosimportantes, decisões políticas.

O descaso é visível desde a fachadadesrespeitada por vândalos até as paredes queesboroam por conta das infiltrações.

A desculpa das autoridades locais face àsemelhante desmazelo cultural fundamenta-se no argumento de que a manutenção e apreservação do museu são legalmenteobrigações do governo estadual.

Mas, então, seria o caso de perguntar se,ao menos, a administração municipal temfeito, frente ao governo do estado, cobranças

Museu Conselheiro Rodrigues Alves é o retrato do abandono pelas autoridades públicas

Exposição marca o inícioda Festa de São Benedito

Retrato do descasoe reivindicações para reverter esse quadrode abandono histórico.

Enquanto não temos respostas nematitudes concretas, lancemos um pouco deluz sobre a trajetória do ilustre moradordaquela casa que, certamente, já teve diasmelhores.

Francisco de Paula Rodrigues Alves nasceuem 07 de julho de 1838, na Fazenda do PinheiroVelho, bairro do Machadinho.

Menino, ainda, foi estudar no Rio de Janeiro e,mais tarde, na capital paulista, de onde retornoubacharelado em Letras pela Faculdade de Direitode São Paulo.

Antes de estar à frente da nação, ocupou váriasposições de destaque, tais como Promotor, JuizMunicipal e Juiz de Direito substituto, vereador epresidente da Câmara, deputado à AssembléiaProvincial do Império, governador, por três vezes,da Província -- a qual, posteriormente, tornar-se-iao Estado de São Paulo. O guaratinguetaensetambém foi Senador Federal por duas vezes eMinistro da Fazenda nos governos de FlorianoPeixoto e Prudente Moraes. Por seus méritospolíticos, recebeu da Princesa Isabel o títulohonorífico de Conselheiro. E, finalmente,culminou sua ascensão política, conquistando, porduas vezes, o máximo posto de Presidente daRepública.

À memória de tão ilustre filho, Guaratinguetádeveria encher-se de orgulho e dar-lhe, emreconhecimento, um lugar de destaque em suaHistória.

Para tanto, faz-se necessário, antes, preservá-la.

Tal missão cabe, obviamente, a um museu.No caso presente, ao Museu ConselheiroRodrigues Alves.

Resta agora saber a quem caberá a nobre — e jáesquecida — missão de preservá-lo.

A organizadora Ana Alice e o artista Temístocles

A EXPOSIÇÃO "Festa de São Be-nedito", aberta solenemente no dia 14 demarço e que segue até o próximo dia 06 deabril, reúne, no Hall de Entrada do auditó-rio da Rádio e TV Aparecida, trinta e umquadros do premiado artista plásticoTemístocles Alves, elaborados a partir depesquisa de Ana Alice Braga Vieira.

Visitá-la é um passear pelo universo de

religiosidade e folclore contido nas ima-gens que o artista retrata, festivamente, atra-vés de multicoloridas composições. Os pe-quenos borrões deixados por pinceladascerteiras parecem uma multidão que secomprime nos contornos da tela, tal comoos fiéis se achegam nos limites, cada vezmenores, do interior da igrejinha e da pra-ça que a cerca. O santo, a irmandade, a

novena, os bonecões, os doces, a procis-são, as congadas e os moçambiques, a ca-valaria, a alvorada, os shows, enfim, cadaaspecto foi lembrado e interpretado peloartista de maneira singela. Uma arte naifcom muito sabor de festa popular.

Membros das comissões da festa e con-vidados estiveram presentes na noite quetambém contou com o lançamento do li-

vro "São Benedito". O livro reproduz to-dos os quadros de Temístocles e apresentatextos de Ana Alice. Um belíssimo traba-lho que deve estar na estante de todos nós.

Conhecer a exposição é uma oportuni-dade de "leitura de mundo" agradável,educativa e, também, uma forma de valo-rizar a cultura e o artista. Vale a pena, e aentrada é franca.

Page 2: Exposição marca o início da Festa de São Benedito · Para tanto, faz-se necessário, antes, preservá-la. Tal missão cabe, obviamente, a um museu. ... faz ilações, e sim porque

22222 Aparecida, 20 de março de 2008

PROJETO GRÁFICO: Marco Antônio Santos ReisREVISÃO: Heloísa Helena Arneiro Lourenço BarbosaJORNALISTA RESPONSÁVEL: Rita de Cássia Corrêa (MTB 26.190/SP)IMPRESSÃO: Gráfica e Editora SantuárioTIRAGEM: 3000 exemplares - Distribuição Gratuita

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade de seus autores.Registro no Oficial de Registro de Imóveis, Títulos e Documentos e Civil de Pessoa Jurídica - Comarca de Guaratinguetá - SP, sob nº 26, fls. 17 do livro B-1.

PROPRIETÁRIO:Alexandre Marcos Lourenço Barbosa

ENDEREÇO: Rua Alfredo Penido, 101Tel.: (12) 9138-5576 — [email protected]

O LANÇAMENTO do segundovolume da trilogia "Nossas Origens"recoloca em cena a discussão acerca da im-portância dos estudos genealógicos para aconstrução de nossas identidades a partirdas peripécias da história.

Fazer genealogia é retirar as máscarasrepresentadas pelas inamovíveis interpre-tações perpetuadas pela memória e que nosdefinem por um início áureo. É um perdera memória e um recusar a origem. É perce-ber que na raiz não estão "a verdade e o ser".

Pelo menos é o que faz ver Foucault aocrivar os estudos genealógicos nietzscheanose reconhecer neles a preocupação do filó-sofo e filólogo alemão com o uso discrimi-nado do termo origem. Para Nietzsche, aorigem vista como proveniência (Herkunft)ou emergência (Entestehung) remete, inva-riavelmente, a uma concepção supra-histó-rica de "significações ideais e teleologiasindefinidas" responsável por uma vontadede saber que obscurece, chegando a ocultara história autêntica marcada pela presençado acaso.

Autenticidade em parte construída pelapaciente meticulosidade da análisegenealógica e matizada pela consideraçãode que não há essências nem universalida-des; de que é um exagero metafísico crerque as coisas, na origem, se encontram emestado de perfeição; e de que a origem é olugar da verdade.

É assim que se permite, pela genealogia,despedaçar os reconhecimentos que con-solam e reintroduzir o descontínuo, destru-indo a história como um "paciente movi-mento contínuo" a cumprir mecanicamen-te o seu sentido (ver Foucault, Microfísicado Poder, pp. 15-37)

Mas assim, por anos, se contou erecontou uma história de Aparecida. Umahistória-antiquário, presa às reminiscênci-as e aos interesses das pequenas elites lo-cais. Uma história sem devir, ou melhor, naqual o devir torna-se reprodução de um sa-ber solidamente posto como a própria ma-nifestação da verdade. Não fossem certasverdades um conjunto de erros enrijecidos

EEEEE DITORIALDITORIALDITORIALDITORIALDITORIAL

Descontinuidadesgenealógicas

pelo longo cozimento histórico seria pos-sível não crer que a história de Aparecidase prestou a um projeto, ainda maior, deconstrução de uma identidade nacionalna qual o cristianismo católico tornar-se-ia elemento definidor da "natureza" reli-giosa do brasileiro.

Como uma saga às avessas, reduzida aepisódios apoiados fora do tempo e ten-tando se revestir com a capa da objetivi-dade, essa história encontrou solo fértilem nossa rudeza intelectual e cultural.Precocemente, os elementos múltiplos edistintos daquilo que poderia ser umaexpressão de diversidade foramdesconsiderados e a história de Aparecida(como outras tantas inumeráveis!) viu-sereduzida a um pequeno número de fatos epessoas simbolicamente ordenados e ci-tados com o propósito, senão ideológico-político ao menos pedagógico-didático,de fazer crer que somos apenas isso.

Remontar às origens significa tentarrefazer os percursos, recompor os nexos,reacender a memória, recolocar as inter-rogações. Significa, ainda, permitir que acriação impeça que a história seja o últi-mo refúgio daqueles que diante da ausên-cia de obra, obrigam-se à veneração.

Nesse sentido, "Nossas Origens" é umlivro escrito nas pautas da modéstia, masque tem algo de importante a oferecer.Mesmo não arrogando o direito às con-clusões, afinal há muitas informações alevantar e documentos a pesquisar, jamaisfoi um livro despretensioso. E nesse parti-cular, é um texto elucidativo não porquefaz ilações, e sim porque põe as cartas àmesa. Cartas que não pertenciam ao jogopor não estarem à mercê de todos os joga-dores. Mesmo que incompleto, o baralhofoi aberto. Doravante, dispomos de ou-tros elementos para a reconstrução de novodiscurso interpretativo. Resta-nos identi-ficar as cartas que ainda faltam e, semrapinagem, jogar com as peças que temos.

A história de Aparecida ainda está porser contada e nossos historiadores aindapor fazerem-se.

Alexandre Marcos Lourenço Barbosa

FFFFFATOSATOSATOSATOSATOS

"...as pessoas de bom temperamento vêm de linhagens meditativas e meticulosas, que tiveram a razão em alta conta -

se para fins louváveis ou ruins, não vem ao caso" (Nietzsche, Aurora, § 247)

ACEITAMOS ENCOMENDAS DE BOLOS EM 3 TAMANHOSRua Benedito Macedo, 301 - Ponte Alta - Aparecida-SP

Tel.: 3105-2058

Não é o maiormas é o melhor

Aberto de Segunda a Sábado das 6 às 21hDomingos e Feriados das 6 às 20h

Na noite de 21 de fevereiro, uma quinta-feira,mais de 150 pessoas estiveram presentes no Salão 2000do Umuarama Clube de Aparecida para o lançamentodo segundo volume da trilogia "Nossas Origens", deautoria do professor Benedicto Lourenço Barbosa, epara a exposição "Arte sem limites", individual do ar-tista plástico Guido Machado Braga.

O Prefeito Municipal José Luiz Rodrigues, o Arce-bispo Metropolitano Dom Raimundo Damasceno As-sis e o casal Tom e Tereza Maia compuseram a mesa deapresentação juntamente com o autor e o artista. Emuma cerimônia descontraída, os componentes da mesafizeram locuções breves, destacaram a importância deiniciativas como a daquela noite e parabenizaram oescritor e o artista.

José Luiz Rodrigues falou de quanto a sua admi-nistração tem feito pela cultura em nossa cidade, des-tacando o Coral Municipal Educanto, a Banda de Música Municipal e, mais recentemente, oprojeto que cria o Museu Histórico e o Arquivo Municipal.

Dom Raimundo Damasceno abordou os feitos da Arquidiocese voltados para a preservação dosbens culturais ligados à Igreja Católica, em especial, a grande reforma empreendida no SeminárioBom Jesus que já funciona com centro de cultura e pesquisa aberto à coletividade.

Tom Maia proferiu abalizada opinião de que Aparecida, hoje, em virtude de uma série demotivos, se iguala ou se coloca à frente da co-irmã terra de Frei Galvão quando o assunto éprodução cultural.

Os secretários municipais Dulcino Ferreira, da Integração, Carlos Alberto de Almeida, doPlanejamento, Dina Moreira da Silva, da Mulher, e ainda Maria Stela Marcondes de AndradePereira, esposa do ex-prefeito Sólon Pereira, o vereador Gentil Vian e inúmeros poetas, escritores,artistas plásticos, políticos, familiares e pessoas de cultura verdadeiramente ligadas a Aparecidaestiveram presentes. Um sucesso!

A "Comissão doJubileu" está cui-dando atentamente dospreparativos para os fes-tejos em comemoraçãoaos 50 anos de fundaçãoda Arquidiocese deAparecida. Em reuniãono Seminário Bom Je-sus, no último dia 13 demarço, os membros da

comissão começaram a acertar os últimos detalhes para o importante momento que acontecerá nodia 19 de abril, dia em que a Santa Sé, em 1958, criou a Arquidiocese de Aparecida. A data marca oinício dos eventos religiosos, culturais e educativos que acontecerão ao longo do ano, encerrando-seno mês de dezembro. Certo está que Dom Raimundo Da-masceno celebrará uma missa na manhãdeste dia. À noite, muito provavelmente e como parte da programação oficial, será lançado ovolume três da trilogia "Nossas Origens" seguido de uma apresentação teatral.

As famílias Toledo Pìza eLeite tem bons motivos parase encher de contentamento.Paulinho Piza e sua esposaLourdinha estão muito felizes(e não poderia ser de outramaneira) com os resultadosobtidos pelo filho Pedro Luísde Toledo Piza nos exames ves-tibulares da FUVEST 2008.Recém-egresso do ensino mé-dio do Colégio do Carmo foiaprovado para o curso de His-tória na Universidade de São

Paulo (USP) e já iniciou o primeiro semestre letivo com muita vontade. O Lince, um jornal que tem aHistória e a Memória como um de seus focos, não poderia deixar de parabenizá-lo pela conquista,desejando-lhe uma carreira de incontáveis realizações nos campos da docência e da pesquisa históricas.Que, brevemente, possamos contar com suas contribuições nas páginas deste periódico.

A imagem de São Benedito, pela primeira vezna história da festa e à semelhança do que já acontece háalguns anos por ocasião da Festa de Nossa SenhoraAparecida, peregrinou por todas as escolas de Aparecida. Ainiciativa foi do casal de reis de 2008 que fez questão deacompanhar o santo preto em sua visita a todos os bairrosde Aparecida. Em cada escola, uma mensagem de fé foitransmitida aos alunos e à equipe de direção e professores. Aimagem de São Benedito permaneceu por um dia inteiro emcada uma das escolas visitadas. Alunos, professores, pais,diretores e funcionários devotos puderam rezar e depositarseus pedidos aos pés daquele que é o padroeiro da maiorfesta dos aparecidenses.

Esq. para a dir.: Guido Braga, Benedicto Lourenço, José L. Rodrigues, D. Raymundo, Thereza e Tom Maia

O autor

São Benedito na Escola Pires do Rio

Pedro Luís e família Toledo Piza

Comissão do Jubileu

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33333Aparecida, 20 de março de 2008

Contato:Alberto Carlos Guimarães Castro Diniz

[email protected]

É BEM VERDADE que o passar dotempo turva a memória com a névoa doesquecimento salpicando-nos com algu-mas lembranças marcantes, embora nemsempre explicáveis. De uma delas bem melembro e refere-se a Alberto Diniz, umacriança de semblante tímido e inteligênciaaguda contidos num espírito extremamen-te generoso, fato raro para um rebento deadolescência, mesmo naquela época.

Ginasiando ainda, na tradicional Esco-la Chagas Pereira, em Aparecida, tive aoportunidade de conhecer o talento do jo-vem Alberto ao participar de um concursoescolar em homenagem ao "pai da aviaçãobrasileira". Era o pequeno Alberto falandodo grande Santos Dumont e demonstrandoque as coincidências não se encerravamnos nomes. Alberto, o Diniz, que tinha gran-de intimidade com a abstração matemáti-ca e facilidade para a redação, começava amostrar seus pendores para as engenhari-as. Seu empenho e seu engenho lhe vale-ram o prêmio e o reconhecimento de cole-gas e mestres.

Sempre nos umbrais da escola pública,Alberto rumou para uma das mais

RRRRRETRATOETRATOETRATOETRATOETRATO

Alberto DinizAlexandre Marcos Lourenço Barbosa

renomadas escolas técnicas do Vale doParaíba, a ETEP (Escola Técnica EverardoPassos), em São José dos Campos. Passoupor rigoroso exame de seleção, cursouMecânica e formou-se técnico, com distin-ção, em 1984. Estudante ardoroso, nãoencontrou dificuldades em abrir as portasda Universidade Federal de Itajubá paraali cursar Engenharia Mecânica e graduar-se em 1990. Das alterosas seguiu para oPlanalto Central e, na Universidade deBrasília (onde é professor desde 1992) ob-teve, em 1994, o título de Mestre na áreaem que se graduou. Mas sua ascensão aca-dêmica não parou por aí. Nos passos deDumont, seguiu para a França, como bol-sista da CAPES, e doutorou-se, no ano 2000,em Génie Mécanique pela Ecole Centralede Lyon, concentrando seus estudos em"Dinâmica de Estruturas" sob orientaçãode Louis Jézéquel

Ao retornar do exterior, atuou comoCoordenador de Graduação durante doisanos, uma "ótima experiência", segundoele, que o ajudou a entender melhor os pro-blemas e desafios do Ensino da Engenha-ria no Brasil. Hoje, Alberto atua como pro-fessor adjunto e pesquisador nas áreas deSíntese Modal, Elementos FinitosEstocátivos, Dinâmicas de Estruturas, Mé-todos Híbridos, Análise Modal e Subes-truturação.

Em virtude de seus trabalhos comcalibração de máquinas e equipamentos,participou do desenvolvimento de umasérie de métodos e técnicas dinâmicas decalibração, tornando-se Gerente de Quali-dade do Laboratório de Metrologia Dinâ-mica da UnB e um dos responsáveis peloatendimento das normas do INMETRO quequalificam o trabalho do laboratório.

Como docente, é responsável pelas ca-deiras de Desenho Mecânico Assistido por

Computador, Processos de Fabricação edisciplinas optativas na Área de Vibradores(sua "paixão em engenharia mecânicadesde o tempo de graduação", como elemesmo afirma).

Segundo Alberto, "a grande dificulda-de em Brasília é formar um engenheirogeneralista capaz de atender não só as de-mandas regionais mas também as do país,considerando o limitado campo industri-al da região. A maior parte dos nossos alu-nos vão para outros estados, muitos paraPetrobrás, Fiat, Embraer, GM e tantas em-presas pelo Brasil e mesmo no exterior".

Alberto Diniz é autor e co-autor de qua-renta trabalhos publicados em anais decongressos e de oito trabalhos técnicos. Foiorganizador do Congresso Brasileiro deEnsino de Engenharia, em 2004, e desdeaquele ano trabalha com experimentos desimulação de comportamento dehidrogeradores, um projeto de pesquisa emparceria com a EletroNorte. Também tra-balhou em projetos de parceria com oLaboratoire de Métrologie Dynamique deParis e no desenvolvimento demetodologias avançadas para a moderni-zação de turbinas hidráulicas para as Cen-trais Elétricas do Norte do Brasil S/A.

Residindo em Brasília, o aparecidense,filho de Seu Abel Diniz e de DonaTerezinha Guimarâes Castro Diniz, divi-de o seu tempo entre os afazeres profissi-onais de docência e pesquisa e a dedica-ção à esposa Auriana e aos filhos Marianae João Paulo, seus maiores tesouros, con-forme ele mesmo diz.

Pelo profissional e ser humano que é,Alberto Diniz é o exemplo de pessoa que,com afinco nos estudos, superou inú-meros obstáculos e edificou uma car-reira profissional sólida e uma vidapessoal inspirada em princípios éticosadmiráveis e, por isso, "O Lince" ren-de-lhe esta homenagem.

ÁÁÁÁÁGORAGORAGORAGORAGORA

Cuba, Miami, Cancun e HaitiGetúlio Martins

Acaba de ser lançado, nos Estados Unidos,um filme que mostra "638 maneiras de matarFidel Castro". É possível ainda que o autor nãotenha registrado algumas tentativas de assassi-nato consideradas leves, segundo especialistasno assunto.

Agora que Fidel Castro se afastou do gover-no de Cuba, há uma enxurrada de previsões so-bre o futuro da ilha. É preciso tomar cuidado comessas notícias. Não dá para ficar escutando tudosem procurar entender o que realmente está acon-tecendo por lá. Uma comparação de dados esta-tísticos entre Cuba, Miami, Cancun e Haiti podemostrar a realidade. Chama atenção, a proximi-dade geográfica e o distanciamento sócio-econô-mico entre esses lugares. Cuba está a 90 km doHaiti país mais pobre do mundo, a 153 km deMiami cidade de milionários, no país mais rico domundo, e a 196 km do balneário de Cancun,paraíso com hotéis dez estrelas construídos aolado de uma vila de mexicanos pobres de dar dó.

É impossível saber qual desses lugares temas praias mais lindas. Mas é perfeitamente possí-vel saber qual deles possui os melhores indicado-res sociais. Cuba é disparado o melhor, segundodados da Organização das Nações Unidas - ONU(http://www.un.org).

Um dos principais indicadores de saúde e

condições ambientais de uma região é a probabi-lidade de morte de crianças antes dos cinco anos.Nesse período da vida, é freqüente o contato como meio ambiente e a criança está sujeita a todos ostipos de contaminação por doenças infecciosas.Em Cuba, para cada mil crianças nascidas vi-vas, há probabilidade de sete óbitos antes dacriança completar cinco anos. Em Miami(EUA) é oito, no Haiti é 120 e em Cancun(México) 27. Praticamente todos os indica-dores sociais de Cuba são melhores do que osda maioria dos países do mundo.

Como explicar, então, que uma ilha que so-fre boicote econômico declarado do país mais ricodo mundo, há 50 anos, consiga essa proeza? Al-guma coisa de especial tem por lá que a genteacaba não sabendo pelo noticiário espalhado pe-las agências internacionais de notícias. História egeografia podem explicar alguns fatores como,por exemplo, a localização estratégica da ilha. Osveleiros, quando partem da Europa, são conduzi-dos para Cuba, por causa da corrente de ventosque liga esses dois pontos. A frota de Colombo,em 1492, aportou no Haiti bem pertinho de Cuba.Tudo passava por Cuba, que se transformou numverdadeiro pólo de desenvolvimento econômico.Lá se construíram armazéns, estaleiros para repa-ro de navios, hotéis para viajantes. A vida social

era intensa ediversificada.O bolero e asalsa cubanasão exem-plos de esti-los de músi-ca e dançaque resulta-ram do en-contro de di-versas cultu-ras na ilha.Toda regiãose beneficioudesse fator

estratégico. Exemplo disso é o Haiti, que foi opaís mais rico da América, nos séculos XVI eXVII, e hoje é o país mais atrasado do mundo.

Outro fator que faz diferença a favor de Cubaé o orgulho que aquela gente tem do país deles.Em 1512, Hatuey, chefe dos Taínos, habitantes dailha, foi queimado na fogueira pelos espanhóis porcausa da resistência à ocupação estrangeira. Essaluta contra invasores continua até hoje. Espanha,França, Inglaterra e Estados Unidos invadiram esubordinaram o povo cubano, em períodos dife-rentes, de diversas maneiras, até 1959.

A partir desse ano, com a revolução cubana,foi que os indicadores sociais do país começarama melhorar. Atualmente, não há analfabetos nailha, conforme dados da ONU. Antes, pratica-mente toda a população nativa era analfabeta.

Acompanhei as estatísticas de Cuba durantemuitos anos e, a cada novo relatório da ONU,pensava que os indicadores sociais iriam piorar,devido às dificuldades pelas quais passava a po-pulação da ilha, segundo as notícias dos jornais eda televisão. Isso não aconteceu.

Não dá mesmo para acreditar no que se falasobre Cuba nos noticiários. Portanto, quandover, ouvir ou ler alguma informação sobre Cuba,não vá acreditando em tudo logo de cara.

"Quintanares"CarretoAmar é mudar a alma de casa.

Mentira?A mentira é a verdade que se esque-ceu de acontecer.

O tempoO tempo é a insônia da eternidade.

O piorO pior dos problemas da gente é queninguém tem nada com isso.

VivênciaO bom das filas é nos convenceremde que afinal esta pobre vida não étão curta como dizem.

HorrorCom os seus OO de espanto, seusRR guturais, seu hirto H, HORROR éuma palavra de cabelos em pé, as-sustada da própria significação.

A esperançaNão, o provérbio não está bem certo.O raio é que, enquanto há esperan-ça, há vida. Jamais foi encontrado nobolso de um suicida um bilhete deloteria que estivesse para correr nodia seguinte.

EstivalFazia tanto calor que as sombras seocultavam debaixo da barriga dos ca-valos e da copa das árvores.

VerãoNo verão dá cupim na cabeça da gen-te. Cupim ou caruncho? Será a mes-ma coisa? Não sei. Nem vou saberagora. Verão é isso mesmo: preguiçade procurar palavras no dicionário.

Paisagem de após-chuvaA relva, os cavalos, as reses, asfolhas, tudo envernizadinho comono dia inolvidável da inauguraçãodo Paraíso...

EvoluçãoO que me impressiona, à vista deum macaco, não é que ele tenhasido nosso passado: é este pres-sentimento de que ele venha a ser onosso futuro.

Conto de horrorE um dia os homens descobriram queesses discos voadores estavam ob-servando apenas a vida dos insetos.

Da modéstiaA modéstia é a vaidade escondidaatrás da porta.

Da relativa igualdadeDemocracia? É dar, a todos, o mes-mo ponto de partida. Quanto aoponto de chegada, isso depende decada um.

Do bem e do malNo fundo, não há bons nem maus.Há apenas os que sentem prazer emfazer o bem e os que sentem prazerem fazer o mal. Tudo é volúpia...

Extraídos dos livros Sapato Floridoe Caderno H –– Mario Quintana

(1906-1994).

DDDDDROPSROPSROPSROPSROPS

Getúlio Martins é Doutor em SaúdePública pela Universidade de São Paulo

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44444 Aparecida, 20 de março de 2008

CERTA VEZ Bertold Brecht escreveu:"Há homens que lutam um dia. São Bons.Há aqueles que lutam muitos anos. Essessão melhores. Mas há aqueles que lutamuma vida inteira. Esses são imprescindí-veis".

Assim foi Karl Heins Hansen, nascidoem Hamburgo e que, após conhecer o Bra-sil, se apaixonou pela Bahia e a ela se entre-gou de Arte e Espírito, num casamento eter-no e então, o mestre passou a se chamarHansen Bahia.

Sua arte não seria mais a mesma, pois osencantos da Terra dos Orixás, as belas ne-gras, a história, o monumental casario comseus becos e vielas e a poesia de Castro Alvesserviriam de grande inspiração para suasexpressivas xilogravuras.

Começou sua arte na Alemanha, no anode 1948, quando, autodidaticamente, des-cobre técnicas expressionistas que empre-ga nas gravações (técnica onde o artista gra-va em baixo relevo sobre madeira, posteri-ormente imprimindo cópias em papel atra-vés de prensa manual) de suas xilogravuras.

Com muita bagagem, fixou temporadana Itália, Suécia e Inglaterra, onde realizousuas primeiras exposições, com elevadosucesso.

Em 1950, esse alemão que era marinhei-ro, desembarcou em São Paulo, onde passaa residir. Conheceu a Bahia em 1955, ondedesenhando, pintando e gravando, por lápermaneceu até 1958. Viaja novamente àEuropa e quando retorna, segue novamentepara a Bahia.

Foi professor da Escola de Belas Artesde Salvador, descobrindo talentos, dentre osquais, Calazans Neto, Noelice Costa Pintoe Hélio Oliveira.

A Bahia seria uma fase definitiva na vidadesse alemão e lá fincaria sua âncora, paranunca mais sair. Instalou seu atelier emItapoan, juntamente com sua companheiraIlse Hansen, que também era artista.

Estive lá algumas vezes e pude compro-var a genialidade desse grande artista. Logona fachada havia uma inscrição de Jorge

AAAAARTERTERTERTERTE

Amado dizendo: "Nesta casa encontrareis aalegria de viver e o humanismo, a paz e otrabalho criador, a doçura de Ilse e a forçade Hansen, o amor da Bahia".

Hansen realizou centenas de exposiçõespelo mundo todo. Os maiores museus dearte do universo abrigam suas obras ricaspor sua esplêndida interpretação. Dentre asgrandes exposições do artista, destaco a Iª ea VIª Bienais de São Paulo, 1951 e 1961, III eIV Salão Nacional de Arte Moderna, 1954 e1955, exposições individuais no Museu deArte de São Paulo, nos anos de 1950, 1953 e1966, Museu Nacional de Belas Artes, Rio,1952, Museu de Arte Moderna de São Paulo,em 1954 e 1956, nas Galerias Bonino,Buenos Aires, 1954 e 1955, Galeria Bonino,Rio, em 1964, Galeria Ambiente, São Paulo,em 1957, Galeria Antígona, Buenos Aires,1958, Galeria Torcoliere, Roma, em 1959,dentre outras centenas de exposições.

"Hansen Bahia também editou e lançouvários álbuns com suas xilogravuras, den-tre eles, os mais populares, "Drama doCalvário", 1952, ''Navio Negreiro", 1957,"Flor de São Miguel", 1958 e "DieNibelungen", de 1963. Nesse mesmo ano,viaja para a Etiópia, tornando - se professorde xilogravura da Escola de Belas Artes deAdis-Abeba. Nos meados de 1968, retornacom toda força criativa ao Brasil, lançandoo álbum "Portas e Janelas", onde juntamen-te com sua esposa Ilse, na Galeria A, em SãoPaulo, realiza mais uma de suas grandesexposições.

Numa carta enviada a Ilse, Jorge Amadodiz: "... Hansen voltou à cidade da Bahia edessa vez para sempre. Trouxe tudo quantoacumulara mundo afora, a sabedoria, a téc-nica, o artesanato e a grande arte de sua gra-vura. Trouxe, ademais, o sorriso de Ilse, suatranqüila certeza, sua doçura e também suaarte. Porque na casa recém-construída napraia - uma das mais belas casas da Bahia -Ilse retomou seu trabalho e hoje mostra pelaprimeira vez no Brasil, toda a alegria de suacriação, toda a graça, todo o maravilhosomundo (mágico como a África que ela vi-

Gilberto Gomes

Hansen Bahia (O Grande Mestre da Xilogravura)

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55555Aparecida, 20 de março de 2008

Gilberto GomesArtista Plástico, Professor e Crítico de Arte

www.bahiahoje.com.br/[email protected]

veu quase infantil em sua inocência) queextravasa de seu peito para a madeira e paraa gravura. Apóstolos, feras, meninos, impe-radores, cangaceiros, Europa, África, Brasil,tudo marcado pelo amor a vida, pelo amorao ser humano"...

Em 1976, através do casal de artistasNoelice e José Mário Peixoto Costa Pinto,conheci o gravador alemão Karl HeinsHansen Bahia, considerado o maior mestreda xilogravura do século vinte.

Hansen era formidável e simples. Era umartista por excelência e admirador de to-dos, não importando a questão social decada um.

Freqüentei diversas vezes seu atelier, ali-ás, desde os tempos de Itapoan em Salvadore depois na Fazenda Santa Bárbara em SãoFélix, onde o mestre viveu seus últimos tem-pos. Era simplesmente fantástica a sua figu-ra e, ao lado da esposa Ilse Hansen, ficavamaravilhado quando se encontrava com ar-tistas brasileiros. Aí a conversa se estendiaao longo das horas, regadas à cerveja Bols eaos charutos das tabacaleras da Bahia, osquais Hansen admirava muito.

Segundo José Mário Peixoto Costa Pin-to, "Conhecendo Hansen Bahia como co-nhecemos, podemos afirmar, sem a menordúvida, que faz parte do quadro dehumanistas de escol como Lorca, Neruda,Hussel, Siqueiros, João XXIII, Jorge Amado,Eremburg, Portinari e outros.

A obra de Hansen Bahia é uma das me-lhores deste século, o que o coloca entre osmais notáveis artistas da humanidade".

"Admirável artista cujas xilogravuras sãopensamento e sentimento expressos em li-nhas e volumes plásticos", disse Menotti DelPicchia, quando prefaciou o álbum de gra-vuras, "Drama do Calvário".

No livro "A Gravura Brasileira Contem-porânea", José Roberto Teixeira Leite, afir-ma que "... Hansen sentiu verdadeiramentea Bahia, deixou-se tomar de amor por seushabitantes, casas e ruelas mal freqüentadas.Marcou-o a tal ponto a Bahia que, ao regres-sar, em 1959, à Alemanha, passou a assinar

Hansen-Bahia, numa sentida homenagem àterra que o acolhera".

"Grandiosa e inspiradora é a obra deHansen, objetiva e nítida, tão marcada e tãoeloqüentemente vivida numa intensidade deritmos, num puro fascínio de emoções, devibrante calor humano contidas na sua agu-da sensibilidade poética e na extraordiná-ria força de sua plasticidade essencialmen-te gráfica", escreveu o grande crítico da artebaiana, Wilson Rocha.

Em 1977, Hansen recebe o Título deGrau de Cavaleiro da Ordem do Mérito daBahia.

A gravura desse mestre possui uma gran-de riqueza de detalhes, em que figuras bai-lam harmoniosamente num contexto per-feito, a arte tem, como tônica, a imensa ca-pacidade criativa de Hansen, que infelizmen-te nos deixou em 1978.

Hansen deixou seu maior legado para aCidade de Cachoeira: uma Fundação, ondeforam reunidas cerca de três mil matrizesde suas xilogravuras, além de sua bibliotecade arte, pinturas e esculturas de vários mes-tres da arte brasileira e mundial.

A Fundação Hansen Bahia é a vida dessegrande artista que, sem limites, se entregouà Bahia de corpo e alma, deixando pra elaum legado através do qual se pode vivenciartoda a obra desse "brasileiro nascido emHamburgo".

Assim, pois, Hansen não morreu, ape-nas passou do estágio terrestre ao "celeirodas almas criativas", e, aqui na terra, conti-nua sua obra fascinante em meio àquelesque um dia tiveram o privilégio de admirarde perto a sua arte que, para todo o sempre,aguçará os olhos e tocará profundamente ocoração de todos que tenham a oportunida-de de enxergar um HANSEN-BAHIA.

Hansen-Bahia

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66666 Aparecida, 20 de março de 2008Aparecida, 20 de novembro de 2007

O NOSSO "Era uma vez..."começacom um peixinho chamado Fred, que vi-via num aquário muito apertado (pelomenos, era assim que ele se via). Fred que-ria sair dali. Queria morar no mar, ter li-berdade. Sempre via, na TV de seu dono, omar, a praia e pensavaque tuuuuuuuuudo láera bom.

Numa noite, elesaiu e foi para aquelaságuas salgadas. Opeixinho não imagi-nava os perigos quehavia naquele lugardesconhecido: mo-réias, tubarões, polvos, peixes elétricos eoutros animais bem estranhos.

Foi, então, que nosso personagem co-nheceu um cardume bem bacana e que sa-bia muitos truques. Aliás, era o cardumemais bem informado dali. Essa turma oensinou a se defender.

Só que Frederico estava cansado de vi-

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Procurando um larSofia Helena Arneiro Lourenço Barbosa

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GorjeiosWilson Gorj

CANÁRIOS

Tudo se renova.Em nenhum jardim você encontraráas flores da primavera passada.

Criança extrai alegria de tudo.Para elas, até uma barra de chocolatecontém felicidade. Para nós, adultos,contém apenas calorias.

Ao sair para caminhar, sempre tenho aprecaução de retirar o relógio do pulso.Não que isso tenha a ver com o medo deser roubado. Não. A razão é outra.Quando caminho, gosto de me sentir li-vre. Pelo menos, nessa hora, não queroestar algemado ao tempo.

ARARAS

O bom vizinho é aquele que nunca deixao barulho, os odores e os problemas desua casa ultrapassarem os muros que acercam.

Há cinturas de mulher que nos lembram apista de Interlagos. Umas, por causa dascurvas. Outras, pelos pneus.

De muitas mulheres só notamos a presen-ça quando elas nos dão as costas.Toda sua personalidade está concentradaali, em sua região glútea.

ROUXINÓIS

O amor é um deus pagão -- não se conten-ta com adorações, quer sacrifícios.

O amor, por si só, já é uma poesia.Todo poema de amor é mera redun-dância.

Idade só é importante para os formulári-os. Entre um homem e uma mulher, o quevale não é a idade afim, e sim a afinidade.

CORUJAS

Toda vez que um bando de idiotas rir devocê, dê-se por satisfeito.O riso deles o exclui da categoria.

O espelho nos reflete a aparência tal comosomos.A sociedade é um espelho que devolve anossa imagem tal como a cremos.

Enquanto você não der a dimensão que suavida precisa, enquanto continuar limitan-do-a em um âmbito medíocre, seus olhossempre tenderão a bisbilhotar a vida alheia.A maledicência e os mexericos jamais par-tem dos que vivem grandemente.

CORVOS

A inveja, por ser feia demais, usa máscaras.Os invejosos sempre procuram motivossubstitutos para encobrir a verdadeira ra-zão de sua implicância.

Sistema Penitenciário. Os peixes miúdosestão condenados a viver em aquários aper-tados. Os tubarões, quando não gozam deplena liberdade, desfrutam a regalia dos ca-tiveiros suntuosos.

As pessoas não se contentam apenas com aexistência de um lugar, onde poderão gozar,para todo o sempre, as maravilhas conquista-das por sua boa conduta, aqui, na Terra. Alémdo Paraíso, elas querem o Inferno. A felicida-de suprema seria insuficiente, se não houves-se a danação eterna para os seus inimigos.

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Empilia de Andréa

Eu era...Dora Vilela

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SEXTA-FEIRA. A primeira do mês,mas a centésima ou milésima de toda a vidaerrante de busca. De bar em bar, de boateem boate, de cidade em cidade... E nada! Eninguém!

Só desencontrados encontros desinte-ressados e/ou interessantes!

Busca-se buscar, mas nada de se achar.Mas buscar o quê? A quem? Por quê? Paraquê? Talvez se queira realmente achar, tal-vez se saiba, ou mesmo se desconheça aresposta para tais indagações. Que parado-xo!!! Todos procuram, todos se aventuram,todos se frustram inúmeras vezes, e, ao rai-ar sol, os comentários vazios, o olhar apa-gado, o sorriso sem vontade disfarçando ateimosia, os corações em brasa, porém semchamas, os corpos e as emoções exauri-dos...

E, quando outra sexta-feira acorda, jáquase sem ânimo, todos voltam ao pontode partida: de novo a mesma velha buscaem novos ou velhos bares, boates e cida-des. E mais tentativas desperdiçadas e es-

.......................................................................................................................................Encontros desencontrados

Emília de Andréa

peranças lançadas de forma infundada...Quanto desencontro! Então melhor serianão continuar, parar, desistir, retroceder. Eesquecer tudo? E trancar-se no isolamen-to? Passar as chaves nas expectativas?

Não! Seguir... seguir... seguir... buscar...mais uma, duas, três, inúmeras vezes...

Sim, seguir até chegar o dia definitivo(que poderá ser uma segunda-feira ou ter-ça, sabe-se lá - de manhã ou à tarde prova-velmente) no qual, repentinamente, des-providos dos adereços e dos artifícios ilu-sionistas da mágica noite, atropelando arotina, almas distintas com vontades seme-lhantes esbarram-se na tão esperada, real ecerteira possibilidade de se deixar enlaçarpelos braços da felicidade compartilhada.E então, à frente, vislumbra-se o fim daescorregadia e pedregosa trilha de ener-gias desperdiçadas para, finalmente, abra-çarem-se, beijarem-se e fundirem-senum só os desejos afins, que darão à luzo amor. Ufa!!!

E a terra se fendeofendidae os vãos se unem em caminhossubterrâneos, subcutâneos,os pés rachados teimamse arrastam sobrevivendopelo afã que ainda é verdegotejantepelo anelo do peitoque não sucumbeque não é bicho aindae subjazcozido do barrodesta mesma terraque produz coraçõesna forma de torrõesde moldes vazadosmais rijosdo que a rijezadeste solo de sertão.

Persistência

Era namoradeirade gente e de fatosera contadeirade histórias e de logrosera curiosa deinícios de iníciosera atenciosa deacompanhar rastrosera sequiosa deheróis e milagresera uma caldeira de sensaçõese nem queria,nem temia,nem sabiaque seriaapenasuma ínfimaparideirade versosde tostões.

ver no mar, porque estava com saudadesdo seu dono. Estava com tantas saudadesque pôde perceber que, por mais humilde,apertado ou solitário que seja, não há lugarmelhor que nosso lar.

Nesse meio tempo, o dono dopeixinho comprouum aquário maior. Ànoite, o nosso ami-guinho voltou para oaquário novo que ti-nha mais três com-panheiros (novospeixinhos, se é quevocê me entende) euma estrela-do-mar.

Que surpresa agradável!Então, ele nunca mais se sentiu solitário

dentro de seu aquário.Será que nós não agimos como o

peixinho dessa história de vez em quando?

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77777Aparecida, 20 de março de 2008

JÁ SE PASSARAM tantos anos, e aslembranças, tão claras ainda em minhamente, deixam o coração pulsando de sau-dades daquela casinha de pau-a-pique, chãode terra batida, toda coberta de sapé, nobarranco alto na margem do rio Paraíba.

Lar da felicidade, onde havia um fogãode lenha e forno feito de cupim revestidode barro. No nosso quarto, camas todasfeitas de tronco de chorão com travessasde bambu, colchão e travesseiros de sacoenchidos com palha de milho. No fundodo nosso quintal, havia uma mina deáguas claras e uma bacia de lata que erao nosso tanque.

Nossa sala tinha uma mesa de madeira,tamboretes, pote e moringa de água. Tinhatambém um oratório com imagens de Nos-sa Senhora Aparecida, Cristo Crucificadoe São Benedito, duas lamparinas de quero-sene e, no meio do teto, um lampião queera aceso toda noite.

Tínhamos um barraco cercado debambu onde papai guardava as redes, ca-noa e todo material de pesca. Durante odia, o sol resplandecia no azul do céu,os pássaros cantavam e as borboletas,

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A minha taperaBenedito Cândido dos Santos (Didi da Light)

Benedito Cândido dos Santos

Pensando em não pensar, nes-sas tardes chuvosas que pas-sam como rolos fofos de fu-maça cinzenta, que matam tãosuavemente como se esvaem,olho pela janela a água quedesce, em ondas simétricas,como escamas móveis, ladei-ra abaixo.Tudo desce, escreveria o poe-ta, descendo a pena sobre otinteiro, nos descidos temposem que essas coisas haviam.

Marco Antônio Santos Reis

[email protected]

EU TINHA ACABADO de entrarcorrendo e soltava os bofes pela boca. Só Deus eeu sabíamos o sacrifício que fora fazer aqueletrajeto da casa de minha tia até a minha casa. Anoite naquele dia estava ainda mais escura, umverdadeiro breu.

Não sei por que ficávamos ao redor da fo-gueira, ouvindo histórias de assombração, sedepois tínhamos de ir embora no escuro commedo. Meus tios tinham o dom de contadoresde história e enredavam a todos em suas teiasnarrativas. Naquele tempo não havia televisãopara todo mundo. Ficávamos hipnotizados, fas-cinados principalmente pelo sobrenatural.

Ofegante, sentia ainda a pulsação em mi-nha garganta. A segurança era a porta fechadaatrás de mim.

— Nossa, menino, você está branco — fa-lou minha mãe, assustando-me. — Parece queviu assombração...

— Ah!, mãe. Não é nada não. Dorme comDeus que eu já tô indo.

Ela voltou para seu quarto meio zonza. Pelajanelinha que tinha na porta — o olho mágicoda época — pude olhar a frente da casa comalívio. O portão ficara aberto. É, eu nem pararapara fechá-lo. Entrara feito uma bala. Mas, quemhaveria de se importar com um portãozinhoqualquer de uma casa, aberto ou fechado, numanoite escura de inverno?!?! Afinal, ladrão queentra na casa de pobre só leva susto...

Naquele tempo não havia iluminação públi-ca nos bairros. As casas eram raras, gotas deorvalho que pingavam num oceano. Muitos cam-pos, matos e árvores tomavam conta da paisa-gem. Os bambuais adquiriam formas bizarrascom a luz da lua. A névoa, que cobria a rama-gem, dava um clima de mistério e terror queenvolvia a todos. Tudo ficava sinistro depois dasseis...

Mas eu estava a salvo naquele momento, eminha respiração voltara ao normal. Fechei ajanelinha, passei o trinco e coloquei a trava desegurança na porta. Fui lavar os pés para dormir.Quando estava na cozinha colocando água paraesquentar, escutei alguém bater na porta da sala.Parei para prestar atenção... A batida se repetiu,agora mais forte. Estranho... Quem seria àquelahora? Coloquei a chaleira no fogo e fui atenderao visitante que já parecia impaciente.

Abri a janelinha e fiquei surpreso. Não ha-via ninguém. O portão balançava lentamente,pra lá e pra cá. Teria alguém entrado ali, batido naporta e ido embora? Bem, minha água estava nofogo. Voltei para a cozinha para temperar meuescalda-pés.

Novamente, no meio do caminho, escuto abatida na porta. Agora estava mais firme e inter-mitente. Será que a pessoa me viu abrindo ajanelinha e voltou? Deixei bater novamente paraatender. Todos dormiam dentro de casa. Só euestava ali. A batida ficou mais forte e pude che-gar logo em seguida ao último toque. Abri ajanelinha de supetão e olhei firme, mas, de novo,não vi nada. Um frio, que nasceu na espinha,tomou conta de todo meu corpo, e minhas per-nas bambearam. Confesso que algumas históri-as que ouvira há pouco vieram a minha mente,abalando minhas convicções. Fechei rapidamen-te a janelinha e preparei para sair correndo, voan-do se possível. Mas, uma idéia assombrou aindamais minha mente. E se alguém estivesse brin-cando comigo, tentando me assustar? Se eu cor-resse ou pedisse ajuda para minha mãe, certa-mente serviria de chacota para todos no dia se-guinte. Resolvi tirar tudo a limpo. Então, nãome desgrudei da porta e esperei a batida parasurpreender o fanfarrão e colher dividendos comaquela brincadeira.

A chaleira já assoviava com a fervura da água.Eu estava de costas para a porta, bem encostado

AssombraçãoNuno Marques

LADEIRA ACIMA

nela. Minha respiração começava a ficar sôfrega, emeu coração batia que nem tambor. Foi como sealguém me cutucasse por trás. Pronto! A batidabalançou a porta e ecoou pela sala. Virei-me lenta-mente, coloquei a mão no trinco da janelinha eprendi a respiração esperando nova estocada. Nãose ouvia nada naquele momento. Quando a batidarecomeçou, abri a janelinha rapidamente e o quenão vi me deixou paralisado. Não havia nada àminha frente e o pior é que o barulho das batidascontinuava, mais intenso ainda, tilintando emminha cabeça. Só não corri porque meus pés fica-ram chumbados no chão. Meus cabelos se arrepi-aram. Tinha vontade de gritar, mas ficara mudo.

Firmei minha visão enquanto tremia. Nadapassava pela rua naquele instante. Acho que a águajá secara na chaleira, e eu estava ali petrificado.Todo aquele som parecia vir de baixo. Meus olhosficaram duros e sentia minha boca tremer. Eu ba-tia os dentes. Quase fiz xixi nas calças, mas, numúltimo ato de bravura e dignidade que me resta-vam, resolvi enfiar a cabeça naquela bendita jane-linha para enxergar melhor as coisas.

Qual não foi minha surpresa com a cena domeu cachorro sarnento, encostado na porta, bemembaixo da janelinha, na soleira, se coçando. Parameu alívio, pude perceber que ele, como se tocasseuma viola, batia na porta insistentemente, simu-lando um visitante.

— Passa, Tiolinho — ralhei com ele. — Vaiassustar sua mãe, vira-lata...

Ameacei com as mãos, e ele saiu ganindo commeu gesto brusco. Nisso, senti uma mão em meuombro e dei um pulo de susto.

— Calma, meu filho! Você tá brincando como cachorro a essa hora?!

— Claro que não, mãe.— Tá na hora de dormir, menino...— Já vou, mãe; já vou...Fui direto para o meu quarto. Minha mãe foi

lá fora fechar o portão. Quando voltou, pergun-tou-me da chaleira no fogo.

— Não é pra nada, não, mãe. Dorme comDeus...

Dizem que não presta dormir com os pés su-jos, pois as almas penadas vêm puxá-los depoisque dormimos. Mas eu não quis nem saber. Trateide fechar os olhos e começar a contar carneirinhos.

em bando, matizavam todo o espaçocom suas revoadas.

As águas límpidas do rio corriam va-garosamente entre as duas margens. Lem-bro-me de que todas as tardes, às seis ho-ras, quando soavam os sinos da Basílica,anunciando a Ave Maria, prostrávamo-nosde joelhos, mãos postas diante dooratório, com as lamparinas acesas, rezá-vamos o terço a Nossa Senhora MãeAparecida.

Hoje eu vejo. Havia tanto amor, tantafelicidade na nossa casinha de sapé.

Ao cair da noite, as estrelas brilha-vam, e a lua resplandecia no céu todoiluminado.

Tudo se acabou, mas ficaram o amor ea gratidão à senhora minha mãe e ao meupai por tudo que fizeram por mim e pelanossa vida em família, nos dando beloexemplo. Mamãe, papai, onde estiverem,me ajudem a ter a felicidade que eu tivecom vocês, até o dia em que nos encon-traremos novamente.

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Centro de Apoioaos RomeirosAsa Oeste - [email protected]

(12) 3104-1263e 3104-1264

Aquáriode Aparecida

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Santuario

Deu-se o ato microscópicoque agigantou o que reluziu presodentro do vazio solto do desconexo fato.Fez-se indigesto o sexto sentido estáticoque sucumbiu no descompasso métricoe fluiu insólito trazendo o inexato.Coube ao poético gestodecifrar o íntimo céticocaracterizando de castoo fúnebre lado proféticode acender velas à morta sombrado vulto esquelético.

Visões do fimLúcio Mauro Dias

À ESPERA

Texto polêmico e empoeirado.Adormecido no baúde um tempo guardado.Esperando do literário julgoque um paradigma seja quebrado.

Lúcio Mauro Dias

Deve ser a chegada do outono, com suasfolhas descendo, num cair bailado, aosom de um violino melancólico, comseus langores retirados das cordas rete-sadas que está a pôr-me, assim, tão ani-mado para o desânimo. Para meditarsobre as coisas-águas que descemindomadas, arrogantes, arrostando tudoà frente, deixando em seu caminho me-mórias do Templo de Jerusalém. Quan-do ele não era pedra sobre pedra.

Pensando em não pensar,nesses tempos apressados,onde o ser ficou com ver-gonha do ter, olho pela por-ta a água que desce escama-da, respingada por gotas fri-as e simétricas.Nada sobe, escreveria opoeta, subindo a pena car-regada de tinta e espalhan-do palavras sobre o papelque é a rua, como a águaque desce a ladeira, rumo

ao rio, rumo ao mar...Pensando em não pensar, lembrei-medas palavras dos homens, na força po-derosa que elas têm de apregoar espe-ranças que sempre descem em formade deslavados engodos...Um carro de som sobe a ladeira, sob achuva, em campanha eleitoral. Soltabesteiras que se espalham como enxur-rada, ladeira acima...

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88888 Aparecida, 20 de março de 2008

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O estrangulamento da várzea neste lo-cal do médio Vale do Paraíba teve extre-ma importância no decorrer da históriado povoamento do vale, fazendo com queGuaratinguetá constituísse um ponto es-tratégico no que diz respeito às comuni-cações entre a então Província de São Pau-lo e suas vizinhas do Rio de Janeiro e dasMinas Gerais.

O devassamento da área, iniciado a par-tir de São Paulo de Piratininga, no século XVII,avançou ao longo do Paraíba, seguindo o cor-redor natural entre a Mantiqueira e a Serrado Mar, em um processo histórico claramen-te condicionado pelo contexto geográfico(Müller, 1969). Cronologicamente, Guaratin-guetá surge na primeira etapa da ocupaçãohistórica, marcando com a sua localização oextremo NE alcançado pelos sertanistas atémeados do século XVII. Iniciada que foi aexploração da minas de ouro além daMantiqueira, mais se evidenciou a importân-cia do povoado, pela sua posição estratégicaentre o território mineiro e o litoral. Nesteperíodo, Guaratinguetá passou a ser o entron-camento principal entre a estrada de Minas eo caminho até a costa, através de Cunha eParati, onde começava a rota marítima parao Rio de Janeiro. No século passado, durantea época do café, o mau estado em que se en-contrava a estrada de Parati fez com queLorena entrasse em concorrência comGuaratinguetá, como segunda cidade emimportância na região, depois de Taubaté(Muller, 1969a).

Aparecida, por sua vez, desenvolveu-seem torno da Capela-Santuário que, em 1743,o vigário de Guaratinguetá começara a cons-truir para guardar a imagem milagrosa, acha-da no Porto Itaguaçu em 1717 (ou 1719). Onúcleo inicial foi levantado no Morro dosCoqueiros, no local onde, posteriormente,foi construída a antiga Basílica. Treze anosdepois, o vilarejo continuava a ter como prin-cipal construção a capela, localizada mais oumenos a uma légua da Matriz ( deGuaratinguetá), em um lugar alto, aprazívele alegre, segundo consta de um escrito daépoca (CPEU-FAU - USP, 1969).

Quando da passagem de Spix e Martiuspelo Vale, em direção a São Paulo, os viajan-tes não deixaram de se referir ao sítio de ro-marias, Nossa Senhora Aparecida, capela si-tuada num outeiro, cercada de algumas ca-sas, onde residia naquela época o Capitão-mor de Guaratinguetá, que acolheu aos visi-tantes estrangeiros com grandes mostras degentileza (Spix e Martius, 1817). Saint-Hilaire, em 1822, também referiu-se à cape-la que continuava a ser o centro da vida doarraial, construída no alto de uma colina, àextremidade de grande praça quadrada erodeada de casas.

O sítio da conurbaçãoGuaratinguetá-Aparecida

(1)

Profª Dra. Lylian Coltrinari

O desenvolvimento da urbanização ao longo do médio vale superior do Paraíba tem sidoobjeto de estudos globais, dentre os quais deve ser destacada a tese de Nice Lecoq Muller,publicada em 1969 pelo IBGE. Faltam, entretanto, estudos de detalhe relativos aos centrosregionais e sub-regionais, em especial os referidos à configuração morfológica dos respecti-vos sítios.O presente trabalho tem como objetivo fornecer dados relativos ao sítio de um desses cen-tros, isto é, a conurbação Guaratinguetá-Aparecida, visando, principalmente ao reconheci-mento das limitações que a morfologia impõe à futura expansão.

A antiga Basílica, começada em 1834, sófoi inaugurada em 1888, onze anos depois dachegada dos trilhos da Estrada de Ferro DomPedro II, hoje Central do Brasil, a Aparecida.Naquela época começou a esboçar-se a ten-dência à atual conurbação, já que o projetode construção de um carril urbano em dire-ção a Aparecida consta de uma ata da Câma-ra de Guaratinguetá, de 21 de abril de 1892(Muller, 1969b).

Assim, o curso da história encarregava-se de estreitar a união entre estas duas cida-des do médio Vale superior do Paraíba, de-senvolvidas ambas sobre sítios de caracterís-ticas bem diferenciadas com relação às ou-tras aglomerações da região, Com efeito, tantoGuaratinguetá quanto Aparecida foram le-vantadas sobre terrenos cristalinos,terraceados pelo Paraíba, nos quais o cresci-mento urbano viu-se entravado mais ou me-nos rapidamente, na medida em que o de-senvolvimento de ambos os núcleos forçava-os a extravasar os limites dos sítios originais.

No caso de Aparecida, a sucessiva ocupa-ção das colinas próximas deu-lhe o aspectode cidade em acrópole, característico dasáreas vizinhas ao Mediterrâneo europeu.Presumivelmente, foi a localização da estra-da de ferro nas áreas planas próximas aoParaíba o fator que provocou o crescimentoda cidade naquela direção. Contudo, a utili-zação dos setores vizinhos à várzea não foimaciça, e qualquer tentativa futura nessa di-reção deverá ser cuidadosamente planejada,pois são áreas de fácil inundação durante aépoca das chuvas, por causa do solo predo-minantemente argiloso que apresentam. Poroutra parte, as enchentes do Paraíba no localsão consideráveis e de vazão muito lenta,aumentando as dificuldades para o aprovei-tamento desse terrenos planos (CPEU - FAU/ USP, 1969).

Entretanto, providências deverão ser to-madas com relativa urgência, uma vez que aocupação do solo urbano tende a tornar-secada vez mais caótica, como resposta ao im-pacto causado ao elevado número de romei-ros que freqüentam a cidade e nos fins de se-mana chegam a até 60.000. O congestiona-mento das ruas, provocado pela aglomeraçãodas atividades do setor terciário ao longo deuma das poucas vias de circulação, vem se jun-tar aos problemas de equipamento, deinfraestrutura e sanitário. Por este motivo, osurbanistas têm sugerido a urgente atualizaçãoda rede viária, e a elaboração de estudos sobretransporte e trânsito (CODIVAP, 1972). Nesteponto, consideram que, o planejamento refe-rente a estes dois últimos aspectos, deverá serrealizado juntamente com a prefeitura deGuaratinguetá, uma vez que, na prática, ambasas cidades formam uma conurbação, e parti-cipam de problemas de circulação comuns,decorrentes das características físicas dos seussítios, entre outros motivos.

No que diz respeito a Guaratinguetá, acomplexidade do atual organismo urbano éuma conseqüência do crescimento sofrido,que levou a cidade a se estender em todos ossentidos, na procura de locais mais ou me-nos apropriados para o seu desenvolvimen-to. A problemática resulta, em certos aspec-tos, diferente daquela rapidamente exami-nada em Aparecida. Por esta causa e por inte-ressar mais diretamente a este trabalho, con-siderou-se útil analisá-la separadamente.

O SÍTIO E A PLANTA URBANADE GUARATINGUETÁ

A Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá,onde o capitão Dias Leme levantou opelourinho por ordem do capitão-morDionísio da Costa, datada de 13 de fevereirode 1651, representava em fins do século XVIIa ponta de lança da etapa inicial do povoa-mento e urbanização do Vale do Paraíba, con-forme já foi citado. Daquela época, em que aárea achava inculta e desprovida de meios decomunicação (Passim, in Muller, 1969), aténossos dias, têm-se multiplicado as dificul-dades que entravam o crescimento harmôni-co da cidade.

As limitações que o sítio apresentava sobo ponto de vista urbanístico, começaram a seevidenciar no momento em que a aglomera-ção inicial, formada em torno da Matriz deSanto Antônio, sobre o alongado terraço ro-deado por encostas íngremes, e separado dasterras vizinhas pelo Paraíba e seus afluentes,cresceu até necessitar ocupar as áreas que ocircundavam. O estreito patamar relativa-mente plano, orientado em direção sub-meridiana, apresentava condições favoráveis,tanto sob o ponto de vista defensivo, quantocomo ponto de ligação estrategicamente co-locado sobre as vias de comunicação entre ovale, as Minas Gerais e o litoral.

Não oferecia, porém, condições adequa-das para a instalação de uma cidade que viriaa sofrer, de maneira particularmente intensa,o impacto da urbanização que afetou o eixoSão Paulo-Rio na segunda metade deste sé-culo. Assim, até hoje, por exemplo, a plantaurbana de Guaratinguetá mostra subjugaçãoàs condições topográficas, com ruas estrei-tas, bastante inclinadas, irradiando a partirda Matriz; elas estão despreparadas para com-portar o intenso trânsito da sede de um mu-nicípio que, em 1970, apresentava um graude urbanização da população superior a 75%(CODIVAP, 1972).

A expansão inicial, no século XVIII, pare-ce ter tido lugar em direção a leste, sobre amargem direita do ribeirão São Gonçalo, ondese formou o bairro de Santa Luzia ou SantaRita, operando-se assim a ocupação de umnível de terraço localizado em altitude se-melhante àquela do baixo terraço situado noextremo N do espigão Motas-São Gonçalo(cf. fig. 1).

Em direção contrária, isto é, a oeste dosítio original, começou a se desenvolver ohoje chamado Bairro dos Motas. Ao mesmotempo, tinha-se iniciado já a expansão emdireção a Cunha, começando pela ocupaçãodas rampas que unem o terraço onde se im-plantou o núcleo inicial, com o nível superi-or localizado ao S e onde, posteriormente, seformaria o bairro das Almas. Com a constru-ção da Via Dutra, este setor da cidade passa-ria a ficar isolado do núcleo primitivo, man-

tendo-se a comunicação entre ambos atravésde uma passagem de nível inferior à citadarodovia (Muller, 1969b, fig. 1).

Em 1822, quando Saint-Hilaire conhe-ceu a cidade, descreveu-a como sendo estrei-ta e alongada, formada por casas de modestonível. Sua apreciação discorda parcialmentedas notícias dadas por Spix e Martius que,em 1817, tinham achado nela sinais de pro-gresso até então desconhecidos por estes via-jantes no interior da província de São Paulo.Elevada à categoria de cidade, em 1844, pas-saria, entre 1854 e 1866, a acompanhar orápido ritmo de crescimento operado no Valecomo conseqüência da passagem do café.Nesse último ano, conforme mencionaMilliet (1946), Guaratinguetá apresentou amaior produção cafeeira da região. A poste-rior decadência da cultura da rubiácea nãofreou o crescimento da cidade; assim, come-çou a procura de terrenos para a instalaçãode pequenas indústrias.

Prova disso parece ser a proposta da cria-ção do bairro de Pedregulho, segundo constade uma ata da Câmara de 26 de julho de 1894.Esta iniciativa significava o desdobramentodo sítio urbano, passando a ser ocupado onível de terraço médio, localizado a NE doângulo formado pela confluência doGuaratinguetá com o Paraíba. Entretanto, aárea plana localizada frente à cidade, tam-bém sobre a margem esquerda do Paraíba,mantinha-se vazia de ocupação ao ponto de,nas cartas do D.A.E.E. (1957), apareceremmapeadas apenas algumas construções iso-ladas. Entretanto, existia já um arruamentoindicando o início de utilização desse terra-ço com a finalidade de incorporá-lo às áreasurbanizadas existentes na época.

Enquanto isso, as colinas baixas locali-zadas a NE deste terraço de Nova Guarámostravam uma ocupação mais densa, queevoluiu até formar hoje o bairro operário deVila Paraíba. Ao que parece, o crescimentorápido deste último deve de estar ligado àfase de desenvolvimento das atividades in-dustriais na cidade, em especial noqüinqüênio 1940-45 (Muller, 1969b).

Hoje, o terraço antrópico antes mencio-nado aparece ocupado pelo bairro residencialdo qual emprestou-se a denominação queindividualiza aquele nível plano da margemesquerda do Paraíba. Ali, os quarteirões am-plos mostram casas de construção cuidada, amaioria delas rodeadas de jardins, traduzin-do uma ocupação do espaço urbano por se-tores de população de nível econômico su-perior àqueles de Pedregulho e Vila Paraíba(fig. 1). Com a criação de um bairroresidencial à margem oposta ao núcleo ori-ginal, ao qual continuam ligadas as funçõeseconômica e administrativa, Guaratinguetáreproduz uma das tendências da urbaniza-ção moderna, isto é, a de procurar, durante ashoras de descanso e lazer, áreas relativamen-te afastadas daquela onde se desenvolve otrabalho diário.

No que diz respeito ao já mencionadocentro da cidade, deve ser dito que se encon-tra hoje perante a necessidade de solucionaros problemas ligados à falta de espaço ade-quado para atender a crescente complexida-de e diversificação das funções citadas, e aoconseqüente aumento de circulação de veí-culos. Esta última deve enfrentar as compli-cações advindas de uma rede de vias estrei-tas, construídas em uma época na qual nin-guém sonhava com a possível existência de

CONDIÇÕES GEOMORFOLÓGICASDO BINÔMIO URBANO

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99999Aparecida, 20 de março de 2008

* Texto reproduzido com a autorizaçãoda autora e originalmente publicado

na Revista Geografia Urbana do Institutode Geografia - USP (São Paulo, 1974)

** Lylian Coltrinari é Livre Docenteem Geografia e professora do Programa

de Pós-Graduação em Geografiada Universidade de São Paulo.

automóveis que hoje percorrem-nas comgrande dificuldade.

Assim, ao longo das pesquisas realizadasna área, houve oportunidade de observar, emrepetidas ocasiões, mudanças de direção notrânsito da área em torno da praça principal,sem que, por isso, tenha-se percebido algu-ma melhoria na situação. Os engarrafamen-tos são problema corriqueiro, especialmen-te nas ruas que conduzem à ponte velha, atra-vés da qual continua a ser fazer, de maneirapreferencial, a ligação entre o núcleo antigoe os bairros da margem esquerda.

Esta ponte velha encontra-se localizadaimediatamente a jusante da foz do ribeirãodos Motas no Paraíba tendo sido construídapresumivelmente nos primórdios da ocupa-ção da margem oposta ao sítio original, quan-do Pedregulho constituía o único núcleo iso-lado de Guaratinguetá pelo coletor princi-pal. Com posterioridade a 1962 foiconstruída uma nova ponte, a jusante da fozdo São Gonçalo, com a evidente finalidadede facilitar as comunicações entre ambas asmargens. Entretanto, pode ser observado quea circulação através da ponte nova é ainda

pouco significativa, mostrando que se man-tém a preferência pela utilização da via tra-dicional, embora isto signifique para os ha-bitantes uma travessia mais complicada elenta por dentro da cidade.

O problema relativo ao crescimento docentro é uma conseqüência do dinamismocrescente das funções que lhe são próprias. Asolução tem sido procurada através da cons-trução de prédios de vários pavimentos, talcomo se observa nas vizinhanças da Matriz.Em geral, estes edifícios apresentam seusandares térreos ocupados por filiais de ban-cos e lojas de diversos tipos.

Com a ampliação da área ocupada especi-almente pelo setor terciário, produziu-se oadensamento das zonas residenciais em dire-ção a W, isto é, nas faixas ribeirinhas do Motas,reforçando assim a tendência à formação daconurbação Guaratinguetá-Aparecida. A inten-sidade das relações entre ambas as cidadesfica evidenciada pela existência das sete pon-tes construídas sobre o Motas, conforme podeser observado na fig. 1.

Ainda com relação à urbanização dos se-tores vizinhos ao núcleo inicial, deve de sermencionada a ocupação de setores aterradosde várzea, onde os riscos de enchente, apesarde potenciais, parecem ser menos graves.

A URBANIZAÇÃO REGIONAL:PROBLEMAS DE ORDEM FÍSICAE A MODIFICAÇÕES IMPOSTASÀ PAISAGEM

Conforme o que acaba de ser exposto,pode-se perceber que a urbanização atualparece estar se desenvolvendo de maneirapreferencial sobre as áreas de morfologiarelativamente menos complexa localizadasà margem esquerda do Paraíba, e nos setoresaterrados de várzea - por enquanto relativa-mente restritos - da margem direita.

Apesar das modificações observadas nocentro tradicional e que, de alguma maneira,respondem à necessidade de renovação liga-da ao crescimento apontado, observa-se atendência ao afastamento com relação aonúcleo inicial, que tão pouco espaço ofere-ceu à expansão da cidade. Contudo, as li-

mitações dizem respeito não somente à es-cassez de áreas planas utilizáveis; deve de serlembrado, aliás, que o sítio primitivo estevesempre ameaçado pelo risco potencial dasenchentes, oriundas tanto do Paraíba quantodos seus afluentes, os ribeirões dos Motas eSão Gonçalo.

Atualmente, esses riscos ainda subsistem,especialmente nas áreas de várzea sobre amargem direita do Paraíba, assim como nasfaixas que acompanham os cursos inferioresdos ribeirões supracitados. Nesta pesquisa,optou-se pela análise do comportamentohidrológico de ambos os tributários queflanqueiam o espigão de Guaratinguetá, porterem suas enchentes afetado de maneira maisdireta o núcleo central da cidade.

Na lembrança do povo, o nome do Motasestá ligado ainda às catástrofes produzidasdurante as enchentes de 1939 e 1961, quecausaram consideráveis prejuízos à cidade ebairros suburbanos, além de criar na popu-lação um certo temor perante a possível re-petição desses episódios.

As pesquisas prévias à regularização doMotas informavam que, até 1961, a freqüên-cia média de enchentes do Motas era inferiora dois anos, enquanto o São Gonçalo apre-sentava-as cada cinco. Levando em conside-ração a maior aproximação à época em queeste estudo foi realizado, e a série de infor-mações recolhidas, considerou-se interessan-te fazer referência à última das enchentesmencionadas.

Em 1961, durante os dias 4, 9 e 30 de ja-neiro, assim como em 23 e 27 de fevereiro, aságuas do Motas atingiram níveis críticos. Oefeito de remanso provocado pelas águas al-tas do Paraíba fez-se sentir em 4 e 9 de janeiro,e em 27 de fevereiro. Este efeito provocou oascenso do nível das águas do Motas, e refle-tiu-se no ribeirão até aproximadamente 1,2km a montante da foz. Em 30 de janeiro e 23de fevereiro, o efeito de remanso foi provoca-do pelos estrangulamentos representados pe-las pontes existentes sobre o ribeirão (fig. 1).

Vista aérea do sítio de conurbação Aparecida-Guaratinguetá - década de 1950

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1 01 01 01 01 0 Aparecida, 20 de março de 2008

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NÃO É MEU OBJETIVO, nes-sas curtas linhas, discorrer sob todos osaspectos contidos na grandiosidade da Fes-ta de São Benedito de Aparecida. Sobre ariqueza que a mesma manifesta tive aoportunidade de pesquisar largamente,amparado pela inestimável colaboraçãodo respeitado e estimado historiadorreden-torista, Padre Júlio Brustoloni,quando por ocasião do meu mestrado emHistória Social na USP, materializado nadissertação intitulada "Um caso de sobre-vivência: os redentoristas e a festa de SãoBenedito em Aparecida (1894-1922)". Re-cebendo o honroso convite d´O Lince, napessoa do querido Professor Alexandre,para compartilhar com todos minha mo-desta colaboração na história deAparecida, faço-o com alegria, haja vistaque a pesquisa realizada pertence muitomais ao aparecidense do que a mim. Bus-co, pois, nesse artigo, apresentar provasdocumentais sobre os primórdios da Fes-ta de São Benedito, afirmando que seu ca-ráter oficial se iniciou no ano de 1910.

Isnard de Albuquerque Câmara Netoé doutor em História Social

pela Universidade de São Pauloe professor da Universidade de Taubaté.

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Prof. Dr. Isnard de Albuquerque Câmara Neto

Assim como "Umgalo sozinho não teceuma manhã: ele pre-cisará sempre de ou-tros galos", no dizerde João Cabral deMelo Neto, entendera Festa de São Bene-dito em sua comple-xidade nos reporta,invariavelmente, aopassado. A Igreja Ca-tólica, a partir demeados do séculoXIX, atravessou umperíodo que se con-vencionou denomi-nar de Reforma Ul-tramontana. Em cur-tas palavras, o ul-tramontanismo bus-cava a ortodoxia docatolicismo romanoem todos os atos re-ligiosos, buscandoreprimir, ou mesmoeliminar, os "desvi-os" ocasionadospela fé simples, masnem por isso menosimportante, do

povo. É nessa configuração histórica queos redentoristas bávaros chegam ao Brasil,em 1894, com a missão de imprimir umcatolicismo de cunho europeu aos brasi-leiros, cabendo-lhes nesse contexto a ad-ministração do Santuário de Nossa Senho-ra Aparecida.

Aparecida teve em 1910 sua primeiracomemoração de São Benedito em caráteroficial, e provavelmente a totalidade dosaparecidenses credita ao ano acima o iní-cio das festividades, caso típico demetacronismo. Contudo, a CrônicaRedentorista de março de 1899 - a primei-ra a citar a Festa de São Benedito - nos éindicativa de que a festa em louvor ao san-to já era realizada pelo povo da região deAparecida e que também já era objeto decontrariedades para o clero, pois esse exer-cia apenas um caráter auxiliar referente àparte litúrgica, onde, obviamente, era es-sencial a sua participação: "A 17 ou 18 veioum festeiro de São Benedito, procurandoauxílio para a festa da irmandade. Pediu oP. Miguel como pregador e mais dois pa-

dres para diáconos da missa solene. Se o P.Miguel não fosse pregar, eles arranjariamoutro de fora. Foram concedidos pregadore levítico. Negociou ele tanto as despesasque o Pl. R.P. Superior se contentou com200$. A festa deve ser na segunda-feira dePáscoa. Depois que o capitão se retirou,soube o Pl. que ele havia encomendadofoguetes por 300$ e convidado a banda doSr. Catarina. Isso desgostou muito a nós eao Sr. Tesoureiro. É melhor assim, que ospadres, no futuro, não tomem parte nessafesta; ainda mais porque a festa é feita con-tra a vontade do Sr. Barbosa e, no fundo,não é festa religiosa. A festa religiosa é aces-sório." (os grifos são nossos)

Enfim, se a ameaça de não-participa-ção dos padres se cumpriu, não se podeafirmar até o presente momento. Mas o si-lêncio é total em relação à Festa nas crôni-cas dos anos compreendidos entre 1900 e1904 e no laconismo da de 1905: "Na se-gunda-feira de Páscoa, celebrou-se a festade São Benedito." Entretanto, é lícito afir-mar-se, por inferência, que a Festa não so-freu solução de continuidade, prosseguin-do sua realização pelos leigos, enquantoque os redentoristas bávaros, em virtudeda origem humilde da maioria de seusintegrantes e de suas experiências com opovo simples da Baviera, perceberão emAparecida a mesma essência da religio-sidade popular que estavam acostuma-dos quando de suas práticas no Santuá-rio de Altötting.

Ainda que ultramontanos, a aproxima-ção dos padres com a religiosidade popu-lar corria célere e, em 1906, confirma-sepelas Crônicas que religiosos redentoristasprestavam serviço espiritual em uma Festade São Benedito em Bonfim: "P. Clementeseguiu no mesmo dia para Bonfim, ondefará juntamente com o Ir. Carlos a SemanaSanta e, na segunda-feira de Páscoa, a festade S. Benedito."

Entre os anos de 1906 e 1909, omite-sea Festa em Aparecida, que somente seráobjeto de atenção na Crônica de 1910, ecomo São Benedito agora se encontra sobo manto de Nossa Senhora sua Festa é "so-lene", não sendo mais "acessória" a partereligiosa, como acusava a crônica de 1899:"Pela primeira vez se celebrou aqui a Festade São Benedito de modo solene... .Quejúbilo para grandes e pequenos... Umfoguetório assim não se ouvia há muito

tempo em Aparecida...." (os grifos sãonossos)

Note-se, portanto, que os foguetes,objeto das contrariedades em 1899, já sãoobjeto de louvores. Tal se deve, pela lei-tura das Crônicas e das correspondênci-as da Província Redentorista, ao fato dospioneiros alemães estarem desacostuma-dos a essa antiga forma brasileira de ex-primir alegria. À intimidade da Crônicase junta a publicidade no jornal "Santuá-rio de Aparecida": "No dia 27 de marçoás 4 horas da tarde, far-se-á a transladaçãodas imagens de São Benedito e Santa Ritade sua capela no Bairro dos Machados,havendo á tarde, no Largo da Basílica,uma importante cavalhada na qual toma-rão parte muitos membros da Irmanda-de do Glorioso Santo". De forma maissucinta, porém oficial, o pároco tambémlança, em 20 de março de 1910, no Livrodo Tombo da Paróquia de Nossa SenhoraConceição Aparecida as seguintes pala-vras: "Foi bem concorrida a Festa de SãoBenedito celebrada aqui pela primeiravez." (o grifo é nosso)

Verifica-se, a título de consideraçãofinal, que a Festa de São Bendito, de raízesreligiosas genuinamente populares, pas-sa a ser, a partir de 1910, oficializada emAparecida pelo clero redentorista com oobjetivo de enquadrá-la nos moldes daortodoxia católica oficial, gerando, as-sim, ao longo do tempo, os naturais con-flitos e acomodações entre redentoristas,festeiros e o próprio povo. Mas isso é umcapítulo à parte, fascinante por sinal,como, aliás, fascinantes são todos os as-pectos dessa comemoração que, diga-se de passagem, já extrapolou os limi-tes da cidade, tornando-se um eventoreligioso em que acorrem pessoas detodo o Vale do Paraíba. Por fim, saúdoa todos os aparecidenses, desejandoque 99ª Festa de São Benedito emAparecida seja plena de sucesso, mes-mo porque eu aí estarei, entre o povo,imerso na emotividade das congadas ena alegria das barraquinhas coloridas.E viva São Benedito!

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Anjo rosa, escultura de Francisco Ferreira (Chico Santeiro), décadade 1920, que estava na Igreja de São Benedito

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1 11 11 11 11 1Aparecida, 20 de março de 2008

Isnard de Albuquerque Câmara NetoDa Redação

EEEEENTREVISTANTREVISTANTREVISTANTREVISTANTREVISTA

O Lince - Como nasceu seu interessepelo estudo da Festa de São Benedito emAparecida?

Isnard - Por ocasião da busca por umprojeto de mestrado. Vivendo em Taubatédesde 1989 e formado em História pelaUniversidade de Taubaté, estabeleci mui-tas amizades com pessoas interessadas emcultura popular valeparaibana, que me "ini-ciaram" nessa festa desde 1991. Daí para apesquisa foi um passo.

O Lince - Em sua visão, qual a contribui-ção que os estudos locais sobre religiosi-dade popular podem oferecer para a cons-trução de um saber histórico?

Isnard - A religiosidade popular érevestida de um caráter eminentementeregional, e o entendimento dos conflitos eacomodações entre ela e o catolicismo ofi-cial só pode ser obtido mediante o estudopontual de sua manifestação na área geo-gráfica analisada. Em outras palavras, osproblemas decorrentes da religiosidadepopular inscritos em uma Festa do Círiode Nazaré são, por vezes, diferentes dosproblemas apresentados na Festa de SãoBenedito. É o estudo pontual realizado pe-los pesquisadores que perfaz o saber histó-rico global.

O Lince - Que referencial teórico-metodológico foi adotado em sua disserta-ção de mestrado para interpretar a Festade São Benedito de Aparecida em seusprimórdios?

Isnard - Julgo importante estabele-cermos, academicamente, a distinção en-tre o mestrado e o doutorado, em especialna Universidade de São Paulo, de onde souoriundo em termos de pós-graduaçãostrictu sensu. O mestrado exige que o can-didato comprove perante a banca exami-nadora que sabe fazer uma pesquisa, en-quanto que o doutorado exige, aí sim, umreferencial teórico-metodológico e uma

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idéia nova. Desse modo, não privilegiei umreferencial teórico-metodológico nomestrado, mas, sim, as obras dos tratadistasdo tema que me precederam, sem contar,evidentemente, as fontes primárias. Já nodoutorado segui Weber. Sou weberiano.

O Lince - Certamente, algumas dificul-dades tiveram que ser enfrentadas no de-senvolvimento do trabalho. Quais e de quenatureza?

Isnard - Na verdade não posso afir-mar que tenham havido dificuldades parao desenvolvimento da pesquisa tendo emvista o apoio incondicional do meu amigoPadre Júlio Brustoloni, que me facultoutoda a documentação necessária. O quehouve, sim, foi muito trabalho. Mas isso énatural.

O Lince - A construção da igreja deSão Benedito contou com projeto do PadreAntonio Fischhaber e a dedicação integraldo pároco, ambos redentoristas alemães.Não é um paradoxo dizer que osredentoristas resistiram à festa diante detamanho envolvimento?

Isnard - Essa pergunta, para ser bemrespondida, requer páginas e páginas deexplicação. Vamos tentar resumir apoian-do a resposta em dois pilares: em primeirolugar; os redentoristas bávaros possuemum grande entendimento em relação à re-ligiosidade popular, herança de suas ativi-dades no Santuário Mariano de Altotting.Esse entendimento e tolerância são muitomais amplos do que os demais setores daIgreja, máxime à época. Em segundo lugaré praxe da Igreja Católica tentar absorveros movimentos religiosos ditos popularespara, então, purificá-los em relação à suaortodoxia. Essa tem sido a tônica dosredentoristas e é justamente essa visão quefez com que, mesmo com idas e vindas,nunca tivesse ocorrido um rompimentoentre os padres e os representantes das fes-tividades. Em São Luiz do Paraitinga, por

exemplo, a Festado Divino foi sus-pensa durante mui-to tempo.

O Lince - Por queo senhor delimitou apesquisa no ano de1922? O que signifi-ca esta data para ahistória da festa?

Isnard - Essadata, limite longo dabaliza cronológica,foi estabelecida por-que foi em 1922 queuma congada, vindade Minas Gerais,participou da Festade São Benedito emAparecida. Isso émuito significativoporque, em primei-ro lugar, materializaa absorção da Festapelo clero reden-torista, sem que, porisso, ela perca suaidentidade culturaleminentemente ne-gra e popular. Esse éum dos encantosdessa festa.

O Lince - Como estudioso dessa grandefesta regional que acontece em Aparecida,que análise o senhor faria sobre esse acon-tecimento nos dias de hoje?

Isnard - A Festa de São Benedito per-deu alguns componentes que eu poderiadenominar de familiares. Um deles, porexemplo, são os doces. Em épocas pretéri-tas, os doces eram confeccionados emtachos pelas mulheres da própria localida-de. Hoje, como não poderia deixar de ser,são industrializados. Outro aspecto claroé que a Festa, por haver assumido a pro-porção que assumiu, terminou por ser apro-priada pela elite econômica e social da ci-dade. É uma festa negra com reis brancosque assumiu um caráter inimaginável emrelação às suas origens e hoje sua prepara-ção se configura como uma verdadeiraoperação logística. Seja como for, aprevalência da fé é um fato. Isso não mu-dou.

O Lince - Como poucas, em 2009, a fes-ta de São Benedito em Aparecida tornar-se-á centenária e sempre grande e suntuosa.Em sua ótica, isso se deve a que razões?

Isnard - Simples: São Benedito é osanto do aparecidense. Nossa Senhora deAparecida é a santa do brasileiro.

O Lince - O senhor gostaria de fazer al-gum comentário adicional?

Isnard - A Festa de Aparecida, até mes-mo pelos esforços comunitários ao longodas décadas, extrapolou seu caráterendógeno para se tornar um evento ondeacorrem pessoas das mais diversas cidadesvaleparaibanas. Isso é normal. A preserva-ção da cultura aparecidense e da religiosi-dade popular passa por não permitir, emnenhuma hipótese, que a Festa de São Be-nedito seja entendida, ou mesmo absorvi-da pelos governantes, como um evento docalendário turístico. Não é. É uma mani-festação de fé religiosa popular, com seusrituais característicos, e assim deve sermantida. O candomblé é, sim, uma reli-gião africana e, pela ação do turismo, éapresentado como uma manifestação fol-clórica. Isso deve ser evitado a qualquercusto. A propósito, por que não tombar aIgreja de São Benedito?

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O professor Isnard de Albuquerque Câmara Neto é doutor em História Social pela Universi-dade de São Paulo e, atualmente, diretor geral do Hospital Universitário da Universidade deTaubaté, onde também é professor. Por ocasião de seu mestrado, obtido no ano 2000, trans-formou a história da festa de São Benedito em seu objeto de estudo e dela extraiu umaalentada dissertação de mais de 340 páginas que permite compreender as relações, nemsempre amistosas, entre os recém-chegados redentoristas e a população local. "Um caso desobrevivência: os redentoristas e a Festa de São Benedito em Aparecida (1894-1922)" é otítulo da dissertação.

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Anjo azul, escultura de Francisco Ferreira (Chico Santeiro), décadade 1920, que estava na Igreja de São Benedito

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Page 12: Exposição marca o início da Festa de São Benedito · Para tanto, faz-se necessário, antes, preservá-la. Tal missão cabe, obviamente, a um museu. ... faz ilações, e sim porque

1 21 21 21 21 2 Aparecida, 20 de março de 2008

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São Benedito, rogai por nós! São Benedito, valei-nos!São Benedito, valei-nos!

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Ernesto Elache — [email protected]

São Benedito,protegei-nos!

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