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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ - CEAP RILTON RODRIGUES AMANAJAS RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS E REPARAÇÃO AMBIENTAL MACAPÁ 2008

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ - CEAP

RILTON RODRIGUES AMANAJAS

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS

E REPARAÇÃO AMBIENTAL

MACAPÁ

2008

RILTON RODRIGUES AMANAJAS

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS

E REPARAÇÃO AMBIENTAL

Monografia apresentada ao curso de

Direito do Centro de Ensino Superior do

Amapá, como requisito parcial para a

obtenção do grau de bacharel, sob a

orientação do Professor Paulo Sérgio

Abreu Mendes.

MACAPÁ

2008

RILTON RODRIGUES AMANAJAS

RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS

E REPARAÇÃO AMBIENTAL

Aprovada em: ___ / ___ / ___

______________________________

Prof.

______________________________

Prof.

______________________________

Prof.

DEDICATÓRIA

Aos meus filhos, Kethellen, Ingrid e Vinícius, meus tesouros. À minha esposa, torcedora das minhas conquistas.

AGRADECIMENTO

À Deus, o criador do Universo, o autor de minha vida; aos meus pais, exemplo de

vida, aos meus irmãos e irmãs, que sempre estão ao meu lado nesta caminhada; a

todos os professores pelos ensinamentos e a todos aqueles que na arquibancada

torcem por mim.

EPÍGRAFE

“A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento”.

(Platão)

RESUMO

Este trabalho tem como tema “Responsabilidade Civil por Danos Ambientais e

Reparação Ambiental”, um dos mais atraentes e fascinantes temas do direito, devido

os grandes problemas ambientais atuais, frente a evolução e complexidade das

relações sociais, notadamente no que concerne aos avanços tecnológicos e seus

reflexos nos campos das relações jurídicas. Traçamos como objetivo analisar a

responsabilidade civil por danos ambientais enfocando as formas de reparação civil

do dano ambiental, bem como a obrigação do meio ambiente degradado e a

obrigação de indenizar, onde consideramos os pressupostos iniciais da

responsabilidade civil, seu conceito, classificação e a inda os requisitos da

responsabilidade civil, tecendo considerações gerais sobre o meio ambiente,

discorrendo sobre o conceito de dano ambiental, suas espécies e características e a

evolução do ordenamento jurídico sobre a reparação do dano, ponderando sobre o

principio do poluidor-pagador, e a indenização por parte dos causadores do dano, e

ainda a difícil tarefa de valoração do dano ambiental.

Palavras-chave: Meio Ambiente, Dano Ambiental, Responsabilidade Civil,

Reparação.

ABSTRACT

This work has the theme "Civil Liability for Environmental Damage and repair, one

of the most attractive and fascinating subjects of law, because the major

environmental problems today, facing the evolution and complexity of social

relationships, especially when it comes to technological advances and their

reflections in the fields of legal relations. Traçamos how to analyze the liability for

environmental damage focusing on ways to repair the environmental damage

civilian as well as the obligation of the degraded environment and the obligation to

indemnify, where they believe the initial assumptions of liability, its concept,

classification and the requirements inda civil liability, creating general

considerations on the environment, talking about the concept of environmental

damage, species and their characteristics and evolution of the law on compensation

for damage, weighing on the polluter pays principle, and indemnification from

causing the damage, and also the difficult task of valuation of environmental

damage.

Keywords: Environment, Environmental Damage, Civil Liability, Repair.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 CAPITULO I 1 RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................................................. 14

1.1 Pressupostos Iniciais 1.2 Histórico ........................................................................................................... 14 1.3 Conceito ........................................................................................................... 16 1.4 Classificação .................................................................................................... 18 1.5 Requisitos da Responsabilidade Civil................................................................20

CAPITULO 2 2 MEIO AMBIENTE E O DANO AMBIENTAL ........................................................... 22

2.1 O meio ambiente - Considerações Gerais ....................................................... 22 2.2 Dano Ambiental – Evolução ............................................................................. 24 2.3 Dano ambiental – Conceito, Espécies e Características ................................. 28

CAPITULO 3 3 RESPONSABILIDADE CIVIL E DANO AMBIENTAL..............................................30

3.1 Pressupostos Conceituais................................................................................30 3.2. Reparação do Dano ao meio ambiente...........................................................32 3.3 Obrigação de Recuperação do Meio Ambiente...............................................37 3.4. Obrigação de Indenizar...................................................................................38 3.4.1 A Difícil Valoração do Dano Ambiental........................................................40

CONCLUSÃO.............................................................................................................42 REFERÊNCIAS……………………………………………………………………………44

INTRODUÇÃO

A responsabilidade civil é um dos mais atraentes e fascinantes temas do

direito, quer em razão de seu conceito, quer pela problemática que sempre a

envolveu, frente à evolução e complexidade das relações sociais, notadamente no

que concerne aos avanços tecnológicos e seus reflexos no campo das relações

jurídicas.

A cada impasse criado pelo mundo moderno, surge a questão acerca da

responsabilidade civil no âmbito contratual e extracontratual, com as implicações

inerentes ao tipo, forma, extensão, concausas, eximentes e reparabilidade.

O instituto da responsabilidade civil reveste-se de extrema importância por

se dirigir à restauração de um equilíbrio patrimonial ou moral desfeito e à

redistribuição da riqueza em conformidade com os ditames da justiça, tutelando a

pertinência de um bem, com todas as suas utilidades, presentes e futuras. Em sede

de responsabilidade civil pelo dano ambiental, o empreendedor que provocar um

acidente ecológico deve responder pelos danos causados.

A Constituição Federal contempla a proteção ao meio ambiente em suas

várias formas de manifestação e classificação, dedicando o legislador constituinte,

no Texto de 1988, o capítulo VI exclusivamente ao meio ambiente, representando

extremo avanço no constitucionalismo mundial.

Em um único artigo, a Constituição Federal trouxe significativas normas

para a proteção ao ambiente, com fundamento no direito humano ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, dizendo, in verbis:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

O constituinte consagrou direito difuso, no art. 225, pois a garantia do

meio ambiente ecologicamente equilibrado não instrumentaliza um direito subjetivo

típico, divisível, particularizável, usufruível particularmente. Mas, assegurou um

direito exigível a quem o dever jurídico de prestá-lo incube ao Poder Público. Nesse

prisma, esse ambiente tornou-se um bem, cujo proprietário não se encontra na

esfera particular nem na pública, daí, denominá-lo, bem ambiental, ou seja, bem

jurídico próprio.

Adentrando no tema proposto, a Constituição da República de 1988

aborda a responsabilidade civil dentre os direitos e garantias individuais em seu art.

5º, incs. V e X. O legislador constitucional demonstrou a importância da

responsabilidade civil no âmbito das relações modernas e a conseqüente resolução

dos conflitos sociais, especialmente em se tratando de uma sociedade de massa,

sendo este o grande desafio do mundo no limiar desse século.

Em regra, o problema da responsabilidade civil está voltado à reação ou

mesmo à conseqüência jurídica gerada por uma ação, omissão, risco considerado,

ilicitude, muitas vezes licitude do ato praticado, negativa de um direito assegurado,

fornecimento de algo inadequado, má ou insuficiente prestação de serviço, podendo

classificar-se de diversas formas.

A responsabilidade civil versa sobre infração a interesse privado e público,

no qual, referindo-se ao interesse privado, gera a obrigação de indenizar, e à

necessidade do agente ativo em responder pelo mal causado a terceiros (sujeito

passivo), seja intencional ou culposamente. Quanto à infração de interesse público

cabe ao Poder Público a função fiscalizatória, preventiva e repressiva de atividades

que possam promover danos ao meio ambiente.

Alves (2008) pondera que a responsabilidade pela proteção ambiental

cabe ao poder público e privado, sendo o Estado co-responsável pelos danos

ocorridos, pode ser convocado a arcar com os prejuízos individuais e coletivos. Ou

seja, mesmo que o dano causado seja de autoria particular, o Poder Público poderá

ser responsabilizado se for comprovado que o mesmo não cumpriu com seu papel

fiscalizatório.

A doutrina brasileira abrange duas teorias de responsabilidade civil, quais

sejam, subjetiva, adotada pelo Código Civil pátrio, e objetiva, expressa no Código

de Defesa do Consumidor e legislações ambientais.

A teoria subjetiva adotara a culpa ou o dolo como pressuposto da

responsabilidade civil, quando na falta da mesma não há que se falar em

responsabilidade. Enquanto a responsabilidade objetiva prescinde da culpa e se

satisfaz apenas com o dano e o nexo de causalidade, independendo, assim, de

culpa e conseqüentemente de se perfazer a sua prova. O referido postulado

defendido incide na indenização sobre todo dano.

Fundado no panorama da responsabilidade civil objetiva, advieram as

legislações ambientais, onde o animus da prática de determinada ação ou omissão

independe por completo.

Diante disso, pretende-se com o presente estudo analisar a responsabilidade

civil por danos ambientais, enfocando as formas de reparação civil do dano

ambiental, bem como a obrigação de recuperação do meio ambiente degradado e a

obrigação de indenizar.

Não podemos ignorar que a responsabilidade por dano ambiental é

encontrada sobre a matriz constitucional, e que a ótica do direito ambiental é

eminentemente preventiva, contando com o contínuo manejo de medidas protetivas

e inibitórias que têm por escopo evitar o dano. Em ocorrendo o evento, todavia,

sujeita-se o agente às sanções penais, administrativas e civil.

Nesse sentido, a questão que norteia o presente estudo é: como se dá a

responsabilização civil por danos provocados contra o meio ambiente e sua

reparação?

Pondera-se que o tema proposto é de grande relevância, pois a pesquisa

procurou investigar as formas de reparação civil do dano ambiental, uma vez que,

nos tempos atuais, tem sido constante a ocorrência dessa espécie de dano,

causando enormes prejuízos às gerações atuais e porvir.

A presente pesquisa teórica empregará o método bibliográfico, através da

pesquisa a artigos de revista e da Internet, bem como doutrinas, legislações e

jurisprudências pertinentes à temática abordada.

Para a melhor compreensão do objetivo da presente pesquisa,

aquilatando-se seu real foco, faz-se necessário a correta utilização do método. Após

a leitura e fichamento de textos especializados, proceder-se-á à análise,

interpretação e discussão dos mesmos, incluindo-se nesse rol, a comparação dos

dados levantados.

É notório que o estudo a cerca do tema precisa de maior discussão e

profundidade. No entanto dividimos a pesquisa em três capítulos:

O primeiro capítulo trata da Responsabilidade Civil, onde fizemos uma

abordagem histórica, mostrando seu conceito e classificação e os pressupostos da

responsabilidade civil.

No segundo capítulo, tratamos do meio ambiente e o dano ambiental,

discorrendo sobre uma breve consideração geral sobre o meio ambiente e fazendo

um histórico sucinto do dano ambiental, além de mostrarmos seus conceitos,

espécies e características.

No terceiro e último capitulo, adentramos na responsabilidade civil e o

dano ambiental, considerando a reparação do dano ao meio ambiente, com alusão

ao princípio do poluidor-pagador, bem como as formas de reparação e obrigação de

recuperação do meio ambiente e a obrigatoriedade de indenização.

CAPÍTULO 1

RESPONSABILIDADE CIVIL

1.1 Pressupostos Iniciais

Sem dúvida, a responsabilidade civil é um dos temas mais relevantes do

direito civil e, porque não dizer, da ciência do Direito. Isto porque, na vida cotidiana,

nos deparamos com as mais diversas situações que acabam por provocar

repercussão na órbita jurídica, no sentido de criarem a possibilidade da reparação

civil.

Na visão de Lima (1999, p. 16):

[...] tanto a densidade das populações quanto a própria intensidade da vida têm aproximado os homens de maneira a aumentar as relações de vizinhança, considerada a constante fonte da responsabilidade extracontratual.

Diniz (2003, p. 03), avalia que a problemática da responsabilidade civil

emerge a cada ação realizada contra alguém, seja com relação a sua pessoa ou aos

seus bens, tornando imprescindível a criação de soluções para a lesão sofrida. Estas

soluções, ou seja, a recomposição do status quo ante (estado inicial da pessoa ou

do bem) e a indenização do dano sofrido são a temática da responsabilidade civil.

A autora afirma que a responsabilidade civil é de grande relevância nos

dias atuais

[...] por se dirigir à restauração de um equilíbrio moral e patrimonial desfeito e à redistribuição da riqueza de conformidade com os ditames da justiça, tutelando a pertinência de um bem, com todas as suas utilidades, presentes e futuras, a um sujeito determinado (DINIZ, 2003, p. 05).

1.2 Histórico

Como o homem é um ser eminentemente social e precisa interagir com a

sociedade para alcançar sua realização plena, confirma-se a necessidade de

manutenção das leis que compreendem as obrigações e responsabilidades do

cidadão, para que possa existir um respeito mútuo em sociedade, de forma que o

interesse individual de uma pessoa não se traduza no detrimento dos interesses da

sociedade em geral.

Neste sentido, observa-se a importância da responsabilidade civil combinada

com a importância da aplicação das leis de forma justa e por parte daquele que têm

o direito de aplicá-la, ou seja, as instituições de Direito. A saber, a velha lei de

Talião, “olho por olho, dente por dente”, já não poderia mais ser usada com o

pretexto de assegurar a vida em sociedade, as leis devem sempre acompanhar a

evolução histórica da civilização.

De acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2003), a origem da

responsabilidade civil nas primeiras formas organizadas de sociedade, assim como

nas civilizações pré-romanas é calcada na concepção de vingança privada, não

havendo, porém, neste período, qualquer pressuposto teórico que abrangesse o

tema da responsabilidade civil.

Antes mesmo do Direito Romano, algumas civilizações antigas já

manifestavam uma alusão à reparação de dano, reparação esta que passar a existir

como um repúdio à lei da vingança privada, na reparação do mal pelo mal, como

ocorria na Lei de Talião, onde a vítima podia fazer justiça com as próprias mãos.

Após esse período da Lei de Talião, consolidou-se na Lei das Doze Tábuas o

direito do poder público interferir e deliberar sobre a pena da vitima. No decorrer do

tempo aconteceram diversas mudanças na aplicação destas leis, até chegar à

composição, de modo que não podia mais fazer justiça com as próprias mãos, pois

esse seria agora uma ação de caráter exclusivo das autoridades, as quais definiam

as penas que seriam adotadas, sendo atribuídas, posteriormente, penas de caráter

indenizatório.

De acordo com Guimaro Junior (2004), apesar do papel importante da Lei das

Doze Tábuas no que se refere ao nascimento do conceito de responsabilidade civil,

surge, entretanto um princípio fundamental destinado à reparação do dano,

encontrado na Lei de Aquília, que tinha como pressuposto a reparação do dano que

se apresentasse como um prejuízo material.

Em outras palavras, aquele que causasse um dano passaria a ter a

obrigatoriedade de repará-lo, princípio este que é a máxima do conceito de

responsabilidade civil.

Com a evolução da sociedade e a preocupação da justiça em acompanhar

esta evolução, muitas codificações empenharam-se em apresentar uma reparação

real ao dano, finalidade básica da responsabilidade civil, que neste período já se

encontrava desvinculada da responsabilidade penal, a exemplo do que ocorria nas

antigas sociedades romanas onde não eram feitas distinção entre as

responsabilidades civis e penais.

Guimaro Júnior (2004) considera que o Código Francês (1804) seria o

pioneiro na recepção do ideário desenvolvido pelos romanos, que, posteriormente,

seria traduzido como responsabilidade civil, fazendo, entretanto, algumas

modificações de grande contribuição, sobretudo no conceito de responsabilidade

civil que temos na atualidade, acrescentando a premissa de que o dano moral, assim

como o material, também deve ser ressarcido pelos seus causadores.

1.3 Conceito

Para iniciar o estudo do instituto da responsabilidade civil, relevante é a

assertiva abaixo, citada com o escopo de fixar sua idéia central para, em seguida,

abstrair-se seu conceito:

A noção de responsabilidade implica a idéia de resposta, termo que, por sua vez, deriva do vocábulo verbal latino respondere, com o sentido de responder, replicar. De fato, quando o Direito trata da responsabilidade, induz de imediato a circunstância de que alguém, o responsável, deve responder perante a ordem jurídica em virtude de algum fato precedente ( CARVALHO, 2005,p.485).

Dessa forma, pode-se observar que o cerne da responsabilidade civil é a

indenização a quem sofreu determinado prejuízo por aquele que o causou, em

regra, agindo com culpa lato sensu, ou seja, culpa em sentido amplo, cujo conceito

inclui as modalidades dolo, negligência, imprudência e imperícia. De maneira

simples, afirma-se que o dolo representa a vontade deliberada de causar o prejuízo.

Por outro lado, a culpa significa a assunção do risco de produzir o dano, apesar de

não querê-lo, de fato. Assumir o risco, nesse caso, seria, por exemplo, agir sem a

devida cautela (imprudência), sem a devida técnica (imperícia) ou sem o devido

cuidado (negligência), na prática de determinado ato, ou mesmo em sua omissão

quando se tem o dever de agir.

Para demonstrar o conceito de responsabilidade civil, serão utilizadas as

definições de doutrinadores brasileiros, em obras específicas sobre o tema, por

entender-se que isso é suficiente para seu entendimento no contexto desta análise.

Assim, Diniz (2003), define o instituto responsabilidade civil como:

[...] a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiro, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal (2003,p.36).

Por sua vez, Rodrigues (2002, p. 08), define o mesmo instituto como “a

obrigação que pode incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por

fato próprio, ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependam”.

Desses conceitos, podemos concluir que a responsabilidade civil é o dever

imposto ao causador do dano de indenizar a vítima que o sofreu.

O conceito legal de responsabilidade civil encontra-se no art. 186, do

Código Civil vigente: “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,

comete ato ilícito”.

Complementando esse dispositivo, o art. 927 do mesmo diploma legal

assim dispõe quanto ao dever de indenização decorrente da prática de ato ilícito:

“aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a

repará-lo”.

Analisando-se ambos os repositórios legais, percebe-se o rol dos

requisitos da responsabilidade civil: ação/omissão, dano patrimonial/moral, nexo de

causalidade, e dolo (ação ou omissão voluntária) ou culpa em sentido estrito

(negligência, imprudência e imperícia). Ressalta-se, desde já, entretanto, que o atual

conceito de responsabilidade civil representa um significativo avanço em sua

concepção. Se, na Antiguidade, predominava a idéia de vingança privada,

representada, por exemplo, na Lei de Talião, atualmente, a indenização se dá na

medida do dano efetivamente causado, perdendo, assim, seu caráter retribuitivo.

"Uma ligeira passagem pelas antigas civilizações demonstra que até

determinado período da história da humanidade predominava a vingança privada

com suas barbáricas nuanças" (Antonio, 2000, p.93).

Como dito, esse quadro evoluiu. Desse modo, tendo em vista que a

indenização é medida pelo dano real, ressalta-se, por oportuno, que a intenção em

seu provimento não é ser uma fonte de enriquecimento sem causa ou até mesmo

ilícito. Na verdade, a indenização representa uma tentativa de retorno ao status quo

ante, ou seja, a volta à situação enfrentada antes da ação/omissão que causou o

dano. Caso isso não seja possível, o dano da vítima será avaliado para que seja

ressarcido em sua medida exata.

1.4 Classificação

Quanto à classificação da responsabilidade civil, ela se divide em

responsabilidade contratual, pactuada e prevista pela avença ou negócio jurídico

realizado, e em responsabilidade extracontratual ou aquilliana, que é aquela

decorrente do preceito legal e dos princípios que abrangem sua caracterização.

Para Rodrigues (2002, p.308), a responsabilidade pode existir fora do

contrato, e , quando ocorre, nenhuma ligação de caráter convencional vincula o

causador à vítima do dano, pois aquele que infringiu uma norma legal por atuar com

dolo ou culpa, violou direito de outrem, ficando obrigado a indenizá-lo.

Neste sentir, pondera Coelho (2004), que:

[...] classifica-se como obrigação não negocial, porque sua constituição não deriva de negócio jurídico, isto é, de manifestação da vontade das partes (contrato) ou de uma delas (ato unilateral). Origina-se ao contrário, de ato ilícito ou de fato jurídico. [...] a classificação da responsabilidade civil como não negocial não significa que entre os sujeitos da relação obrigacional nunca exista negócio jurídico. Ele até pode existir, mas não será o fundamento da obrigação (2004, p.252).

A doutrina tradicional, representada pela Pena de Talião e pela Lei de

Aquília, divide a responsabilidade civil em contratual e extracontratual, sendo que,

no primeiro caso, há um contrato entre o devedor e o credor referente a obrigação a

ser indenizada, e, no segundo caso, não existe, sendo este, por exemplo, o caso

em que se promove a indenização por acidente de veículo.

Gonçalves (2002, p. 448), aceita a divisão da responsabilidade civil ao

entender que “uma pessoa pode causar prejuízo a outrem por descumprir uma

obrigação contratual [...] quando a responsabilidade não deriva de contrato, mas de

infração ao dever de conduta”.

Já segundo Monteiro (2003):

[...] extracontratual é a resultante da violação de dever fundado num princípio geral de direito, como o de respeito à pessoa e aos bens alheios. [...] Por outro lado, a contratual é a violação de determinado dever, inerente a um contrato. É o caso do mandatário que deixa de aplicar sua diligência habitual na execução do mandato (2003,p.450).

A regra do Código Civil, prevista no art. 186, constitui a fonte primária das

responsabilidades contratual e extracontratual, seguindo-se as demais modalidades

contidas em artigos do mesmo diploma civil e em leis esparsas.

Com relação à responsabilidade contratual, o dever de indenizar os

prejuízos decorre do descumprimento de uma obrigação contratualmente

prevista”(Sampaio, 2003, p.23).

Na responsabilidade extracontratual, por sua vez, Gonçalves (2002,

p.448), considera como responsabilidade não derivada de contrato, mas sim da

infração de um dever de conduta, ou dever legal, preceituado de forma genérica no

art. 927 do Código Civil.

Explorando-se um pouco mais a distinção entre os tipos de

responsabilidade, constatam-se outras diferenças entre a responsabilidade

contratual e extracontratual, a saber: na responsabilidade contratual, o

inadimplemento presume-se culposo e, na extracontratual, ao lesado incumbe o

ônus de provar a culpa ou o dolo do causador do dano.

Quadro 01: RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

DIFERENÇAS RESPONSABILIDADE

CONTRATUAL RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL

1- Fundamento Baseia-se na formação de um contrato e sua obrigatoriedade.

Baseia-se no dever de indenizar os danos causados decorrente da prática de um ato ilícito (ação humana positiva ou negativa de uma norma violadora do dever de cuidado)

2- Ônus da Prova

O contrato é a norma preestabelecida, e a conduta de qualquer das partes gera a responsabilidade civil de reparar o dano.

Exige a prova da existência de todos os elementos necessários para a responsabilização.

3- Agente Causador do Dano

Quando é infringida uma norma do contrato entre as partes.

Quando se infringe um dever legal.

Fonte: Elaboração própria.

Portanto, havendo previsão contratual se diz responsabilidade contratual,

onde a inadimplência deixa o devedor em culpa presumida, e, na responsabilidade

extracontratual, o dever de comprovar a culpa do agente é da vítima - diferença que

se destaca de forma essencial na busca da indenização.

1.5 Requisitos da Responsabilidade Civil

Podemos dividir os requisitos ou pressupostos da responsabilidade civil em

objetivos e subjetivos. Dessa forma, segundo art. 186 do Código Civil de 2002, a

Responsabilidade Civil tem como requisitos objetivos: “a) Ação ou omissão; b) Dano;

c) Nexo de causalidade entre os dois primeiros pressupostos”.

A ação segundo Diniz (2003):

[...] vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou de fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado (2003, p.39).

Desse modo, a ação pode ser entendida como a conduta do agente na

produção do dano, podendo ser esta por ação (conduta de fato) ou omissão, que

consiste em não atuar quando se tem a obrigação de fazê-lo.

Por sua vez, o dano ensejado por essa ação/omissão, segundo Diniz

(2003, p. 64), pode ser patrimonial ou moral. O dano patrimonial é a "lesão concreta,

que afeta um interesse relativo ao patrimônio da vítima", incluindo o dano emergente

(o que de fato se perdeu) e os lucros cessantes (o que se deixou de ganhar).

Por outro lado, segundo Diniz (2003, p. 84), o dano moral "é a lesão de

direitos não-patrimoniais de pessoa física ou jurídica".

Na prática, existe a problemática concernente à definição da extensão da

indenização em caso de dano moral. Como se contabilizar um prejuízo não-

material? Entretanto, tanto a doutrina quanto a jurisprudência têm o entendimento

pacífico acerca da possibilidade de reparação de dano moral.

A Constituição Federal vigente, em seu art. 5º, que trata sobre os direitos

e garantias fundamentais individuais, asseguram a indenização de dano moral em

dois incisos. No inciso V, é “assegurado o direito de resposta, proporcional ao

agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”; no inciso X.

está previsto que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem

das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral

decorrente de sua violação”.

Em seguida, tem-se o nexo de causalidade entre a ação/omissão e o dano

causado. "O vínculo entre o prejuízo e a ação designa-se 'nexo causal', de modo

que o fato lesivo deverá ser oriundo da ação, diretamente ou como sua

conseqüência previsível" (Diniz, 2003, p. 175).

Desse modo, o nexo de causalidade representa o liame entre os dois

pressupostos necessários, sendo relevante sua comprovação para fins de

ressarcimento de prejuízo.

Por sua vez, o requisito subjetivo desse instituto é a culpa, entendida em

seu sentido amplo. A culpa tem em si a noção de reprovabilidade da conduta do

agente causador do dano. Pode ser entendida em seu sentido amplo ou no sentido

estrito. A culpa em sentido amplo compreende o dolo e a culpa em sentido estrito.

O dolo pode ser conceituado como a deliberada intenção de causar

prejuízo a outrem. Em outras palavras, é vontade consciente do agente a produção

do dano. Por outro lado, a culpa em sentido estrito indica que o agente, mesmo não

querendo o resultado, assumiu o risco de produzi-lo com sua conduta. A culpa stricto

sensu, ou seja, a culpa em sentido estrito, abrange três modalidades: negligência,

imprudência e imperícia. Em síntese, a negligência é a falta de atenção na conduta

do agente, enquanto a imprudência significa a ausência de cuidado ou parcimônia

no mesmo momento. Por fim, a imperícia é a falta de técnica ou habilidade em sua

atuação. Desse modo, além de serem cumpridos os requisitos objetivos, deve-se

demonstrar, que o agente, em sua ação/omissão na produção do dano, ou quis que

o prejuízo fosse produzido, ou assumiu o risco de produzi-lo, agindo sem a atenção,

cuidado ou técnica devidos. Essa é a regra no que concerne à responsabilidade civil:

análise de aspectos objetivos e subjetivo. Entretanto, casos há expressos na lei, que

configuram exceção ao exposto. Esses são casos de aplicação da responsabilidade

objetiva. Neste caso, o ânimo da ação/omissão do agente, para fins indenização,

não será levado em consideração.

CAPÍTULO 2

MEIO AMBIENTE E DANO AMBIENTAL

2.1 O Meio Ambiente – Considerações Gerais

A palavra meio ambiente envolve o conceito de ecologia que, por sua vez,

nada mais é que o lugar onde se vive, originariamente derivada da palavra grega

oikos a qual significa "casa" ou habitat. Em um sentido literal, a ecologia é o estudo

dos organismos em seu local habitual. A ecologia, portanto, define-se usualmente

como o estudo das analogias dos organismos ou grupos de organismos e sua

interação com o ambiente, ou, a ciência das inter-relações que conectam os

organismos ao seu ambiente (Setti, et all, 2001).

A expressão ambiente envolve, assim, as belezas naturais, os centros

históricos, os parques naturais, as reservas, as florestas, a prevenção e repressão

das atividades que degradam o solo e polui o ar, as águas, o ambiente a que se faz

referência nas normas de estudos urbanísticos como tráfego, por exemplo.

De acordo com Mateo (apud Silva, 2007, p. 19) em Portugal e Itália,

utiliza-se apenas a palavra ambiente, com certa porção de razão, pois meio e

ambiente não deixam de ser uma redundância. Para os norte-americanos, meio

ambiente é chamado de environment; para os alemães, unwelt; para os franceses,

environnement; e para os espanhóis, entorno.

No Brasil, a expressão meio ambiente está consagrada há tempos. A

definição de meio ambiente é legal, ou seja, definida inicialmente pela Lei nº

6.938/81, em seu artigo 3°, inciso I, como "o conjunto de condições, leis, influências

e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida

em todas as suas formas". Tal Lei foi recepcionada quase em sua totalidade pela

atual Carta Magna, além de ter criado competências legislativas concorrentes -

previstas no artigo 30, incisos I e lI, do mesmo documento -, dando prosseguimento

à Política Nacional de Defesa Ambiental.

Antes de enfrentar o problema da tutela, vejamos os problemas derivados

principalmente da imprecisa univocidade do termo ambiente e aos equívocos que

surgem da referência à tutela ambiental em sentido lato.

De acordo com Giannini (apud Silva, 2007, p. 20) a palavra “ambiente”

corresponde a três noções: natureza, paisagem e urbanística, podendo ocasionar

uma dificuldade a nível instrumental para individualização da utilização dos diversos

meios legislativos previstos para a defesa do ambiente.

Como aponta Silva (2005, p. 01), a própria expressão meio ambiente é

redundante, pois a palavra ambiente engloba a de meio, uma vez que a palavra

“indica a esfera, o círculo, o âmbito que nos cerca, em que vivemos”. Por esta razão

que se utiliza a denominação Direito Ambiental e não Direito do Meio Ambiente.

Ou seja, o termo geral “meio ambiente”, esclarece Silva (2005, p. 02),

carece de precisão e necessita ser complementado por uma série de outros

vocábulos correntemente utilizados: natureza, ecologia, qualidade de vida,

patrimônio.

De acordo com Gomes (1993, p. 03), a questão ambiental se endereça à

proteção dos bens singulares e à recuperação da degradação global, destacando-

se: o ciclo natural da água; o ciclo climático natural; a camada de ozônio; a

termoregulação das florestas tropicais e dos grandes bosques; a diversidade

biológica; o patrimônio genético; a função de autodepuração dos mares e do solo; o

sistema de alimentação e reprodução do ecossistema marinho e zonas úmidas; a

composição da água; o equilíbrio térmico da atmosfera; o equilíbrio termogenético; e

o equilíbrio radioativo.

Os bens global commons (isto é, os bens ambientais triviais existentes)

não são comercializáveis, constituindo um rol primário e inalienável para a

salvaguarda dos países.

A política econômica se baseia cada vez mais em uma nova ótica. O fulcro de tudo roda em torno da tutela do ambiente considerada como tutela da saúde e da qualidade de vida em relação não só com o presente, mas também e sobretudo com as gerações futuras (GOMES, 1999, p. 03).

Neste sentido, segundo Gomes (1999), a tutela e salvaguarda do

ambiente devem constituir um objetivo estratégico primário para os países.

Para o correto entendimento do problema ambiental “é necessário passar

da individuação de um sistema objetivo de indagação à definição de seus vários

componentes” (Gomes, 1999, p. 04).

O Direito Ambiental apresenta peculiaridades especiais, visto “estar ligado

diretamente a profissionais de outras áreas do conhecimento científico, sendo,

assim, um novo ramo do Direito” (Gomes, 1999, p. 04). Corroborando com a tese,

temos que tal ramo está ligado, de certa forma, à biologia, engenharia florestal,

química, polícia florestal, arquitetura e urbanismo, ecologistas em geral, dentre

outros, para dar suporte técnico, teórico e legal à conduta do homem.

A definição de direito do ambiente enfrenta um problema relativo a seu

campo de aplicação e um problema de caráter ideológico do direito.

Pelo primeiro, manifesta-se a necessidade do juiz recorrer a especialistas para poder aplicar as normas, vinculando de certa forma o direito à técnica; pelo segundo, as inúmeras tendências políticas que se imperam, condicionadas por fatores sócio-econômicos, manifestadas pela manipulação da população através da mídia (GOMES, 1999, p. 05).

O Direito Ambiental, portanto, é uma ciência nova, porém bem

fundamentada. Sua base é assegurada através dos Princípios Diretores prescritos

na Constituição Federal, mais precisamente em seu artigo 225. Porém, tal tema

encontra-se disperso em todo o texto constitucional, inclusive no que tange aos

direitos fundamentais (art. 5o, LXXIII).

2.2 Dano Ambiental – Evolução

A degradação ao meio ambiente não é fato recente. Na história, o homem

desenvolveu diversas maneiras de se relacionar com o meio em que vive. Este

relacionamento homem-ambiente, no entanto, até por uma questão de preservação

da espécie humana, acabou por provocar intervenções no meio ambiente.

Estas intervenções, infelizmente, ocorreram baseadas numa visão

antropocêntrica do mundo, onde o homem está em primeiro plano e a natureza

reduzida a simples instrumental para a realização dos objetivos humanos, ou seja,

como mero objeto a ser conhecido, dominado e explorado.

Milaré (2007, p.54), fazendo uma reconstituição dos fatos ocorridos há

milhões de anos até os dias atuais, faz uma alusão aos períodos e evolução por qual

a terra passou até chegar às condições atuais, onde o autor se refere aos tempos

geológicos, biológicos e tempos históricos, fazendo um breve resumo sobre a

evolução do homem e do plante terra.

Sobre os tempos geológicos, Milaré (2007, p. 54) diz que foram primordiais,

porém, como estamos falando de um tempo que remota bilhões de anos, os

escassos registros disponíveis não permitem que se chegue a uma conclusão

definitiva sobre a origem e as etapas de formação do planeta terra.

No que se refere aos tempos biológicos, Milaré (2007) pondera que foi neste

período que a vida marcou a terra. “Os ecossistemas vieram se formando e

alterando, lenta e continuamente, à mercê das leis físicas. Espécies vivas, vegetais e

animais, apareceram e desapareceram sem que nos seja possível, ainda, explicar

como e por que” (Milaré, 2007, p. 54).

Em seguida, o autor faz uma análise dos tempos históricos, período que

começou a ser contabilizado a partir do aparecimento do homem nos ecossistemas

naturais, e, conseqüentemente, as transformações promovidas na natureza pela

ação humana ao longo dos tempos.

[...] os tempos históricos atestam a presença e as atividades do Homem, assim como a ocupação do espaço. Mas do que isso,testemunham as alterações por ele impostas ao ecossistema planetário: desta vez, não são apenas as causas físicas naturais; aparecem também as mudanças intencionais produzidas pelo homo sapiens (MILARÉ, 2007, p. 54).

De acordo com o autor, os tempos históricos manifestam a rapidez

progressiva da evolução por qual o planeta terra está passando:

Num prazo muito curto – e que se torna sempre mais curto – são dilapidados os patrimônios formados lentamente no decorrer dos tempos geológicos e biológicos, cujos processos não voltarão mais. Os recursos consumidos e esgotados não se recriarão. O desequilíbrio ecológico acentua-se a cada dia que passa (MILARÉ, 2007, p. 55).

Concluindo esta premissa, o autor diz: “E assim chegamos ao estado atual,

em que nossas ações chocam-se contra nossos deveres e direitos, comprometendo

nosso próprio destino” (Milaré, 2007, p. 55). Ou seja, estamos destruindo aquilo que

temos o dever de preservar, que é o nosso bem maior, o meio ambiente, o qual nos

dá os subsídios necessários para nossa sobrevivência. Destruindo o ambiente,

estamos comprometendo nossa própria existência, pois dependemos de um

ambiente saudável e preservado para mantermos nossa existência na terra.

A questão da destruição ambiental passa pela questão da educação, como

registrou o historiador H. G. Wells: “A historia humana é cada vez mais uma corrida

entre a educação e o desastre” (Wells apud Milaré, 2007, p. 55).

Segundo Milaré (2007, p. 55), este é o paradoxo existente nas relações

homem x natureza. A questão ambiental está diretamente vinculada no panorama da

humanidade, manifestando-se, segundo o autor, através das ações humanas e dos

seus efeitos aparentes, facilmente identificados; porém:

[...] se pretendemos acudir a Terra, não nos é possível ignorar o que se passa nos bastidores, nas ações ocultas e no jogo de interesses camuflados que não vêm à cena. A vigilância ambiental, inclusive a consciência jurídico-ecológica, deve estar atenta ao que é patente e ao que está latente, tanto aos riscos e delitos existentes e reais como aqueles potenciais e futuros (MILARÉ, 2007, p. 55).

Deste modo, observamos que a problemática ambiental está cada vez mais

presente no nosso cotidiano, pois, na corrida do ser humano em satisfazer suas

necessidades cada vez maiores, esvaem-se os bens naturais de maneira

desordenada e despreocupada,

Segundo Baracho Junior (1999, p. 174), na sociedade contemporânea,

notadamente com a industrialização e o avanço tecnológico, a partir da Segunda

Guerra Mundial, ocorreram significativas mudanças sociais e políticas. Ocorre que,

estas profundas transformações se deram num plano onde predominava a crença

quase absoluta de que o progresso da humanidade se daria a partir de grandes

avanços tecnológicos que garantiriam o total domínio da natureza.

A natureza, no entanto, reagiu e tem reagido às constantes agressões de

maneira diversa do que se pensava. Com o fim da própria Segunda Grande

Guerra, demonstrou-se que os efeitos de determinadas tecnologias não eram

conhecidos ou não podiam ser controlados.

Boff (2000, p. 15), afirmando que a Terra está doente, traz alguns dados

alarmantes sobre a ameaça às espécies de vida. “Estimativas dizem: entre

1500-1850 foi presumivelmente eliminada uma espécie a cada dez anos. Entre

1850-1950 uma espécie por ano. A partir de 1990 está desaparecendo uma

espécie a cada dia”.

Criticando a máquina produtivista, Boff (2000), cita outras conseqüências

do descaso com a natureza, como a desertificação (terras férteis, equivalentes à

superfície do estado do Rio de Janeiro, se tornam desérticas por ano); 42% das

florestas tropicais já foram destruídas; as chuvas ácidas e o aquecimento da Terra

podem dizimar a floresta boreal, que possui cerca de seis bilhões de hectares. Além

disso, por conta do processo de desenvolvimento dos países, que se realiza às

custas dos recursos naturais, a paisagem da Terra está cada vez mais ameaçada

pelas usinas nucleares, pelo lixo atômico, pelos dejetos orgânicos, pelas indústrias e

pelo lixo químico. Em decorrência disso, em todo mundo, “o lençol freático se

contamina, a água escasseia, a área florestal diminui, o clima sofre profundas

alterações, o ar se torna irrespirável, o patrimônio genético se degrada, abreviando

os anos que o homem tem para viver sobre o Planeta” (Milaré, 2001, p.34).

Explicando o fenômeno da degradação ambiental, Milaré (2001, p. 33),

com muita precisão, destaca: “os homens, para satisfação de suas novas e múltiplas

necessidades, que são ilimitadas, disputam os bens da natureza, por definição

limitados”.

Na primeira metade do século passado, foram criadas reservas florestais,

órgãos de defesa ambiental, bem como surgiram os primeiros códigos de proteção

aos recursos naturais, como o florestal e o de águas.

Medida extremamente importante ocorrida neste período foi a criação da

responsabilidade objetiva nos casos de danos nucleares, com o advento da Lei

6.453/77, que afrontou diretamente o Código Civil de 1916.

. Com a edição da Lei 6.938/81, a responsabilidade objetiva, até então

restrita aos danos nucleares, estendeu-se para qualquer forma de degradação

ambiental. Assim, o poluidor, por exemplo, passou a ficar obrigado a reparar o dano

causado ao meio ambiente, independente de culpa. O mesmo dispositivo concedeu

ao Ministério Público legitimidade para a propositura da ação civil e penal contra os

causadores de dano ao meio ambiente.

A mesma lei criou ainda outros instrumentos de política ambiental, como o

estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, a avaliação de impactos

ambientais, o zoneamento ambiental, o licenciamento e a revisão de atividades

potencialmente poluidoras.

2.3 Dano Ambiental – Conceito, Espécies e Características

As definições de degradação da qualidade ambiental e poluição podem

ser extraídas da Lei N.º 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio

Ambiente.

Em seu art. 3.º, inciso II, a lei conceitua a degradação da qualidade

ambiental como “a alteração adversa das características do meio ambiente”. No

inciso III, define poluição como sendo:

[...] a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (BRASIL, 1998, p. 698).

Assim, o conceito de dano ambiental é bastante abrangente, pois engloba

a degradação de todos os recursos naturais, tais como a água, o ar, o solo e o

subsolo, bem como a poluição por agrotóxicos nos alimentos, poluição por resíduos

e poluição sonora.

Lembrando que a moderna literatura jurídica tem encontrado dificuldades

em definir o dano ambiental, Milaré (2001, p. 421), afirma, para fins eminentemente

didáticos, que: “dano ambiental é a lesão aos recursos ambientais, com

conseqüente degradação – alteração adversa ou in pejus – do equilíbrio ecológico e

da qualidade de vida”.

Milaré (2001, p.421-423) divide o dano ambiental em duas espécies: “dano

ambiental coletivo ou dano ambiental propriamente dito e dano ambiental individual

ou dano ambiental pessoal”. O primeiro, causado ao meio ambiente globalmente

considerado, pode ensejar indenização destinada a um Fundo, cujos recursos serão

alocados à reconstituição dos bens lesados, como prevê a Constituição Federal, no

caput do art. 225. O dano individual, por sua vez, pode acarretar indenização

direcionada à recomposição do patrimônio pessoal das vítimas.

O dano ambiental se caracteriza pela pluralidade difusa de vítimas, pela

difícil reparação e pela difícil valoração. A Constituição Federal trata o bem

ambiental como bem comum do povo (Art. 225, caput); assim, o dano ambiental

sempre afeta uma pluralidade difusa de vítimas, até mesmo quando, em alguns

aspectos particulares, atinja individualmente alguns sujeitos.

Evidentemente, o dano ambiental é de difícil reparação; o reflorestamento

de uma região, por exemplo, pode demorar décadas, e a reparação pecuniária pela

extinção de uma espécie animal jamais terá utilidade efetiva.

Outra característica marcante do dano ambiental é sua difícil valoração.

“Quanto vale, em parâmetros econômicos, uma espécie que desapareceu? Qual o

montante necessário para a remediação de um sítio inquinado por

organoclorados1?” (Milaré, 2001, p. 424).

A questão da valoração se torna mais complexa tendo em vista o dano

moral ambiental, previsto na Lei 8.884/94, que alterou o art. 1.º da Lei da Ação Civil

Pública (Lei 7.347/85).

1 Organoclorados são compostos de carbono de cadeia acíclica contendo cloro. Esses compostos geralmente são

usados como inseticidas e agrotóxicos, causando grande impacto ao ecossistema, por ser altamente químico e

tóxico, proporcionando, ainda, grande risco à saúde humana, pois possui uma ação cancerígena.

CAPÍTULO 3

RESPONSABILIDADE CIVIL E DANO AMBIENTAL

3.1 Pressupostos Conceituais

Durante muito tempo o ato ilícito, fundado na culpa ou dolo, foi considerado o

único fato gerador da responsabilidade. Hoje, no entanto, existem casos onde o

dano deve ser reparado mesmo sem o fundamento da culpa, tomando-se por base

tão somente o risco objetivamente considerado. Nestas hipóteses, como acontece,

por exemplo, com os danos causados ao meio ambiente, mesmo que a atividade

seja lícita, o autor terá de indenizar os danos causados por sua ação.

A industrialização e o avanço da tecnologia, entre outros fatores, fizeram

com que aumentasse a degradação do meio ambiente e, conseqüentemente,

surgisse lesão à coletividade e às pessoas individualmente consideradas. O Direito

não poderia ficar silente frente a esta situação, daí o surgimento da responsabilidade

civil decorrente dos danos ambientais.

A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, no artigo 14, § 1.º,

estabelece a responsabilidade civil do poluidor independente da existência de culpa.

Assim, basta a conduta, o dano ecológico e o liame entre ambos para o nascimento

do dever de indenizar, prescindindo-se do elemento subjetivo.

Diante do exposto, a teoria da culpa, também chamada de

responsabilidade subjetiva, está descartada em se tratando de danos ecológicos.

Não há sequer a necessidade de se indagar se houve ou não a negligência,

imprudência ou imperícia do causador do dano. E, mesmo que o agente tenha

atuado sem culpa, deverá indenizar à luz do dispositivo acima.

No que se refere à teoria do risco, de acordo com Milaré (2005), podemos

classificá-la em: a) Teoria do Risco Integral: que proclama a reparação do dano

mesmo involuntário, onde o agente é responsável por todo o ato, independente de

qual fosse a causa material e; b) Teoria do Risco Criado: busca a identificação da

causa adequada que produziu o dano, empregando a teoria da causalidade

adequada, que procura identificar os antecedentes do dano que tem as maiores

possibilidades de tê-lo produzido.

Gonçalves (2005, p. 78), adepto da teoria do risco integral em matéria

ambiental, afirma ser irrelevante a demonstração do caso fortuito ou da força maior.

Mesmo nesses casos, há o dever de reparar o dano causado. O caso fortuito ou a

força maior não podem ser levantados como excludentes do dever de indenizar.

Para o autor “o poluidor deve assumir integralmente todos os riscos que advêm de

sua atividade”.

Não obstante, Milaré (2005), definindo a teoria do risco integral, afirma que

a existência da atividade é equiparada à causa do dano, empregando a teoria da

equivalência das condições para explicar o nexo causal (quando toda a condição

que converge para o resultado constitui uma causa), não admitindo excludente.

Justificando a teoria do risco integral como a mais adequada para a

questão, Athias (1993), proclama:

[...] da mesma forma que a apropriação do bônus decorrente da atividade potencialmente causadora de dano ambiental é feita por quem põe em jogo a atividade, também o ônus que dela venha a decorrer deve ser por ela arcado, sob a modalidade do risco integral (1993, p.245-246).

Na mesma esteira, Carvalho Filho (2003, p. 152), afirma que a

responsabilidade é fundada no risco integral, pois, “se fosse possível invocar o caso

fortuito ou a força maior como causas excludentes da responsabilidade civil por dano

ecológico, ficaria fora da incidência da Lei a maior parte dos casos de poluição

ambiental”.

Por outro lado, em seus “Pressupostos da Responsabilidade Civil

Objetiva”, Alonso (2000, p. 104), mostra-se inclinado para a teoria do risco criado,

dizendo que “a doutrina e a legislação, em matéria de responsabilidade ecológica,

caminharam para a teoria do risco criado, em relação às atividades poluidoras,

atribuindo-lhes a obrigação de reparação dos danos decorrentes de seu

funcionamento”.

A responsabilidade civil ambiental, utilizando-se dos argumentos

propostos nas considerações gerais sobre o instituto da responsabilidade civil,

representa o dever de indenizar imposto ao agente que, por conduta comissiva ou

omissiva, causou um dano. Entretanto, esse dano, para esse fim, deve representar

um prejuízo ao meio ambiente.

Pode-se afirmar que dano ambiental é "toda agressão contra o meio

ambiente causada por atividade econômica potencialmente poluidora ou por ato

comissivo ou omissivo praticado por qualquer pessoa" (Sirvinskas, 2003, p.101).

“É importante deixar claro que nem toda alteração ao meio ambiente

constitui dano ecológico, pois nem todas elas, obviamente, podem gerar prejuízos à

natureza” ( Trennepohl, 2007, p.108).

Nas normas transcritas, a responsabilidade civil ambiental é definida como

objetiva. Assim, basta que se comprovem a ação ou omissão do agente do Poder

Público, o dano ambiental e o nexo de causalidade, não tendo lugar

questionamentos sobre os aspectos subjetivos da conduta do agente.

"Abordar a questão da responsabilidade civil objetiva é logo de início ter

em mente que qualquer cidadão na ótica legislativa brasileira pode ser efetivamente

responsabilizado por danos que causar ao meio ambiente" (Antonio, 2000, p.94).

É o chamado “binômio dano/reparação”, o que significa dizer que “quem

danifica o meio ambiente tem o dever de repará-lo, independente da razão que o

motivou a tanto” (Trennepohl, 2007, p.111). Portanto, a responsabilidade civil

ambiental enseja o dever de reparação de dano ao meio ambiente, em todas as

suas formas.

3.2 Reparação do Dano ao Meio Ambiente

Com a evolução do ordenamento jurídico no sentido de proteger os bens

ambientais, a responsabilidade civil ambiental é prevista no art. 225, § 3º da

Constituição Federal, assim como nas Leis números 6.938, de 31 de agosto de

1981, e 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.

Dessa forma, iniciando esta análise pelo dispositivo constitucional, temos

que o art. 225, § 3º, dispõe que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao

meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções

penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos

causados”.

Por sua vez, o art. 14, § 1º, da Lei nº 6.938/81 assim prevê:

[...] sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Por fim, a disposição do art. 3º da Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998,

conhecida como a Lei de Crimes Ambientais, é a seguinte:

[...] as pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente, conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.

Desse modo, conclui-se que o ordenamento jurídico que se relaciona com a

responsabilidade ambiental no Brasil, está assentado no Princípio do Poluidor-

Pagador:

O princípio do poluidor-pagador é aquele que impõe ao poluidor o dever de arcar com as despesas de prevenção, reparação e repressão da poluição. Ou seja, estabelece que o causador da poluição e da degradação dos recursos naturais deve ser o responsável principal pelas conseqüências de sua ação (ou omissão) (BENJAMIN, 1993, p. 229).

Machado (2004, p. 53), sintetiza o princípio do poluidor-pagador como “aquele

que obriga o poluidor a pagar a poluição que pode ser causada ou que já foi

causada”.

O referido princípio é um dos mais importantes do Direito Ambiental. Benjamin

(1993) chega a afirmar que todo o Direito Ambiental gira em torno do princípio

poluidor-pagador, cujo escopo é o de imputar ao poluidor os custos sociais da

poluição por ele causada, de maneira a prevenir, ressarcir e reprimir os danos

ocorridos, não apenas a bens e pessoas, mas também à própria natureza.

A reparação do dano ambiental nada mais é que uma das manifestações

do princípio ora em estudo. A simplicidade do princípio é puramente aparente; não

se trata de um mero princípio de compensação dos danos causados pela poluição.

Seu alcance é muito mais amplo, pois incluem todos os custos de proteção

ambiental, quais sejam: os custos de prevenção, de reparação e de repressão do

dano ambiental.

O princípio não deve ser visto como um “direito de poluir”, desde que o

poluidor indenize pelos prejuízos que deu causa. Seu objetivo principal não é

apenas o de reparar ou reprimir o dano ambiental, mas, principalmente, o de

prevenção. “O dano ambiental não pode, em circunstância alguma, valer a pena

para o poluidor” (Benjamin, 1993, p. 236).

Nas palavras de Mateo (apud BENJAMIN, 1993, p. 236), “o princípio não

visa, por certo, tolerar a poluição mediante um preço, nem se limita apenas a

compensar os danos causados, mas sim, precisamente, procura evitar o dano

ambiental”.

Durante séculos, nossa sociedade, através de políticas governamentais equivocadas, foi obrigada a subvencionar os poluidores. É hora de dar um basta! Se não for para obrigar a reparação integral dos danos causados até agora, que seja, pelo menos, somente para impedir que nos tornemos todos, pela via da subvenção, partícipes – porque acionistas indiretos e forçados – da catástrofe ambiental que se avizinha (BENJAMIN, 1993, p. 236).

Depois de conceituar o dano ambiental, trazendo breve histórico sobre o

tema, abordar a responsabilidade civil decorrente desta espécie de dano, bem como

as teorias sobre a sua natureza jurídica, já nos é possível tratar da reparação do

dano ambiental.

A doutrina, embasada nas legislações constitucional e infraconstitucional,

estabelece duas formas de reparação do dano ambiental, quais sejam: a

restauração do meio ambiente degradado e a indenização. A Lei de Política

Nacional do Meio Ambiente, em seu artigo 4.º, inciso VII, impõe ao poluidor e ao

predador a obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados.

Verifica-se, portanto, da disposição expressa da lei, que deve o poluidor

restaurar o meio degradado e ainda indenizar pelos danos que deu causa. A

indenização, como única forma de reparação civil do dano, só deverá ocorrer nos

casos onde a recuperação do meio atingido seja impossível. O quantum levantado

como forma de indenização será destinado a Fundos responsáveis pela preservação

ambiental.

Na hipótese de um pequeno riacho que teve grande parte de seus peixes

mortos em virtude de lançamento de material poluente por uma fábrica instalada

próxima de suas margens, é fácil visualizar a recuperação que cuida a lei, no

dispositivo supracitado. Basta ao poluidor a purificação do ambiente agredido e a

reintrodução de peixes no riacho.

O problema, no entanto, dá-se quando a degradação é de grande monta,

sendo impossível a recuperação e muito difícil a valoração daquilo que se perdeu;

ou quando o dano ambiental é apenas a ponta do iceberg de uma degradação muito

maior que se dará com o passar dos anos.

Diferentemente das cartas anteriores, a Constituição Federal de 1988, em

capítulo próprio, trata do Meio Ambiente, inclusive sobre a tutela jurídico-civil. Aliás,

as constituições que precederam a atual nunca trouxeram a expressão “meio

ambiente”.

O referido capítulo está inserido no Título VIII da Carta Magna, que dispõe

sobre a “Ordem Social”. Prescreve o caput do artigo 225: “Todos têm direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à

sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de

defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

O § 3.º do mesmo artigo, expressamente, trata da reparação civil do dano

ambiental impondo aos infratores, sejam pessoas físicas ou jurídicas, a obrigação de

reparar, além das sanções penais e administrativas.

No § 2.º, que trata da exploração dos recursos minerais, a Constituição

impõe a obrigação de recuperar o meio ambiente degradado àquele que explorá-lo,

“de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da

lei”.

Os princípios da restauração e recuperação do meio ambiente estão

presentes no § 1.º, I, do mesmo artigo: “Para assegurar a efetividade desse direito,

incumbe ao Poder Público: preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais

e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas”.

A Lei 6.938/81 estabelece como sendo um dos objetivos da Política

Nacional do Meio Ambiente a “imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de

recuperar e/ou indenizar os danos causados”, de acordo com o artigo 4.º, inciso VII.

Atendendo aos princípios que regem a matéria, a reparação do dano ambiental

visará, sempre, à restauração do processo ecológico degradado, de forma

compatível com o desenvolvimento econômico-social (incisos I e IV).

O § 2.º do artigo 9.º da Lei 6.902, também de 1981, trata da obrigação de

reposição e reconstituição das chamadas “Áreas de Proteção Ambiental”. A Lei

7.347/85, que disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados

inclusive ao meio ambiente, no caput do artigo 13, trata da indenização, pois, mesmo

quando impossível restaurar diretamente o bem ou o valor atingido, é cabível a

condenação em pecúnia:

[...] havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados (LEITE, 2003, p.215).

No que se refere à reparação integral do dano ambiental, tanto a

Constituição Federal, no artigo 225, § 3.º, quanto a Lei de Política Nacional do Meio

Ambiente, no artigo 14, § 1.º, que dispõem sobre a responsabilidade civil decorrente

do dano ambiental, não restringiram a extensão da reparação.

Daí falar-se em reparabilidade integral do dano ambiental. Se isto não

acontecesse, isto é, não havendo a reparação integral do dano, estaríamos diante

de um sério caso de impunidade. Apesar da dificuldade de apuração do

ressarcimento do dano ambiental, em virtude das barreiras na avaliação econômica

do bem e de sua difícil reposição, o dano ambiental deve ser reparado integralmente

pela necessidade de uma compensação ampla da lesão sofrida.

Por outro lado, para que não haja um enriquecimento indevido da vítima,

seja o particular individualmente afetado pelo dano, ou a coletividade, o agente não

deve compensar além do dano que causou. Segundo Leite ( 2003, p.220), “verifica-

se que esta reparação não deve exceder ou exorbitar ao prejuízo sofrido e, sim,

ressarcir o dano produzido em conseqüência do fato danoso”.

Outro ponto levantado por Leite (2003, p. 220), diz respeito às condições

financeiras do degradador. Para o autor, a reparabilidade integral do dano ambiental

pode implicar em reparação superior à capacidade econômica do poluidor. “A

eventual aniquilação da capacidade econômica do agente não contradiz o princípio

da reparação integral, pois este assumiu o risco de sua atividade e todos os ônus

inerentes a esta”.

3.3 Obrigação de Recuperação do Meio Ambiente

Os jornais e telejornais nos trazem quase todos os dias, notícias sobre

alguma espécie de degradação ambiental: derramamento de petróleo no mar,

queimadas em grandes áreas florestais, péssima qualidade do ar nas grandes

cidades, extinção de espécies animais, desmatamentos, praias poluídas, etc.

Verifica-se, portanto, uma brutal ineficácia da implementação dos instrumentos

administrativos como a precaução e a prevenção de danos ambientais. Em virtude

disso, Morato Leite (2003, p. 215), adverte que “mister se faz contar de forma auxiliar

com um sistema de reparação e responsabilização civil revitalizado, com vistas a

inibir as ações e omissões nocivas ao meio ambiente”.

Atendendo aos princípios que regem a matéria, a reparação do dano

ambiental visará, sempre, à restauração do processo ecológico degradado. A

recuperação do ecossistema danificado, a fim de se obter a volta à situação anterior,

é a primeira e a principal forma de reparação, que deve ser buscada sempre, a todo

custo.

Recuperação é sinônimo de restauração, isto é, a reconstituição da

integridade e da funcionalidade de alguma coisa. A Constituição Federal utiliza-se

dos termos “restaurar”, “recuperar” e “reparar”; a legislação esparsa, por sua vez,

emprega as expressões “restauração” e “reconstituição”. Apesar das diferenças de

denominação, é certo que o objetivo do legislador é o de impor o procedimento que

deve ter as pessoas físicas ou jurídicas que degradarem o meio ambiente.

Constata-se a recuperação do meio degradado quando ocorre o retorno

ao status quo ante, ou seja, retornar ao estado em que se encontrava antes, isto é,

quando determinada área é reflorestada, quando o rio poluído volta a ser habitat de

peixes ou quando o ar de certa localidade volta a estar livre de substâncias tóxicas.

Milaré (2001, p. 425), coloca a reconstituição ou recuperação do meio

ambiente agredido como a modalidade ideal de reparação do dano ambiental,

cessando-se a atividade lesiva e revertendo-se a degradação ambiental. Para ele, “a

recuperação do meio ambiente deve ser tentada primeiramente, mesmo que mais

onerosa”.

O artigo 3.º da Lei da Ação Civil Pública (Lei N.º 7.347/85) prescreve que

“a ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de

obrigação de fazer ou não fazer”. Assim, na ação judicial que visa a recuperação do

bem ambiental degradado deve ser postulada a execução de uma prestação positiva

e outra negativa. A primeira, consistente no cumprimento de obrigação de fazer ao

responsável pelo dano, tem como escopo a restauração ou restituição do bem

lesado. Na prestação negativa, por sua vez, pleiteia-se uma abstenção ao

degradador, que deve cessar sua atividade danosa.

Colocando a prevenção do dano ecológico e a reintegração dos bens

ambientais lesados como a principal opção de responsabilidade civil, Morato Leite

(2003, p. 218), afirma parecer “imperioso que se busquem, primeiramente, todos os

meios possíveis para restauração do bem ambiental, como forma de ressarcimento

ao meio ambiente coletivo”.

3.4 Obrigação de Indenizar

Na impossibilidade da reparação natural deve ser utilizada a indenização

pecuniária, cuja finalidade é a da compensação ecológica. A indenização em

dinheiro surge, portanto, como a segunda forma de reparação civil do dano

ambiental, devendo ser buscada subsidiariamente, isto é, em casos de

impossibilidade tecnológica e científica de reparação ou reconstituição das áreas

degradadas. A reparação econômica apresenta-se como forma indireta de sanar a

lesão.

Na forma do artigo 14, § 1.º, da Lei 6.938/81, “sem obstar a aplicação das

penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independente da

existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a

terceiros afetados por sua atividade”. Assim, além da vítima individual determinada,

que tem a faculdade de pleitear a indenização por perdas e danos sofridos pela

degradação ambiental, a coletividade também tem o direito à indenização, uma vez

que se trata de direito difuso.

Neste segundo caso, de acordo com Machado (2004, p. 336), “é o

ecossistema que surge como vítima social, devendo a solução ser a mesma, isto é,

a indenização. O dinheiro oriundo da condenação em sede de ação civil pública

deverá ser utilizado para a reconstituição do bem vulnerado”.

No entanto, a indenização não consegue recompor o dano ambiental.

Segundo Milaré (2001):

O valor econômico não tem o condão – sequer por aproximação ou ficção – de substituir a existência e fruição do meio ambiente ecologicamente equilibrado. O trabalho do legislador, por conseguinte, visa a garantir essa possibilidade de fruição e, só excepcionalmente, o ressarcimento monetário da lesão (MILARÉ, 2001, p. 425).

Salles (apud MACHADO, 2004, p. 337), também adverte que uma medida

compensatória, como a substituição por equivalente em valor pecuniário, não

cumpre a função de reconstituir a característica do bem lesado:

Medidas desse teor transformam em dinheiro valores sociais de natureza diversa, que não encontram correspondência nos parâmetros de mercado. Para cumprir sua função nessa esfera, os mecanismos processuais devem ser compreendidos e aplicados de maneira a conduzir à adoção de soluções capazes de impor condutas, de maneira a evitar o dano ou a reconstituir o bem lesado.

Além da impossibilidade de recompor o dano ambiental, a indenização, se

não for adequadamente aplicada, pode servir como meio mais vantajoso para os

poluidores que alcançam lucros exorbitantes em suas transações em detrimento do

meio ambiente. Para evitar esse tipo de situação, Zarif (1999, p. 149), que é

Procurador da Justiça, esclarece que “sempre deve exigir-se a recuperação da área

degradada e, somente na impossibilidade de fazê-lo, pleitear a indenização como

substituição”.

Outra questão a ser levantada é a do objeto da reparação. Não é apenas

pela agressão à natureza que deve haver indenização, mas também pela privação,

imposta à coletividade, do equilíbrio ecológico, do bem-estar e da qualidade de vida

que aquele recurso ambiental degradado proporcionava.

[...] se a recomposição integral do equilíbrio ecológico, com a reposição da situação anterior ao dano, depender, pelas leis da natureza, de lapso de tempo prolongado, a coletividade tem direito subjetivo a ser indenizada pelo período que mediar entre a ocorrência do dano e a integral reposição da situação anterior (SAMPAIO apud MACHADO, 2004, p. 337).

No mesmo sentido, Marcondes e Bittencourt (1996) afirmam que a

indenização deve ser cominada em todos os casos porque não basta a cessação do

dano e a recuperação do bem ambiental para que o princípio do poluidor-pagador

seja efetivado; o poluidor-degradador deverá indenizar a coletividade pela utilização

perdida do bem. “A sociedade deverá ser ressarcida da impossibilidade de desfrutar,

durante o tempo em que se verificou a poluição e do necessário à sua completa

restauração, de um meio ambiente ecologicamente equilibrado e propício à sadia

qualidade de vida” (Marcondes; Bittencourt, 1996, p. 144).

O principal problema da reparação pecuniária é a impossibilidade de se

reaver o bem ambiental degradado. Com muita precisão, Machado (2004), afirma

ser

[...] imperioso que se analisem oportunamente as modalidades de reparação do dano ecológico, pois muitas vezes não basta indenizar, mas fazer cessar a causa do mal, pois um carrinho de dinheiro não substitui o sono recuperador, a saúde dos brônquios, ou a boa formação do feto (2004, p. 324).

Alguns autores, como Castro (2005, p. 116), entendem ser perfeitamente

possível a dupla condenação dos poluidores, ou seja, imposição em recompor o

meio ambiente e ainda em pagar indenização. Até porque a própria Lei de Política

Nacional do Meio Ambiente fala em reparar e/ou indenizar os danos causados. Se o

legislador tivesse inserido no texto somente a expressão “ou”, naturalmente seria

caso de uma ou de outra forma de reparação.

Com a expressão “e” fica claro o caráter cumulativo da reparação. Em

ambas as hipóteses de reparação do dano ambiental, seja a recuperação natural ou

a indenização em dinheiro, a finalidade do legislador é a de impor um ônus àquele

que causou o dano ambiental. Este ônus, segundo Milaré (2001, p. 425), tem o

objetivo de dar uma resposta econômica aos danos sofridos pela sociedade ou pelo

individuo determinado e ainda o de dissuadir comportamentos semelhantes do

poluidor ou mesmo de terceiros, intimidando-os.

3.4.1 A Difícil Valoração do Dano Ambiental

Como já foi visto anteriormente, a reparação em dinheiro é forma

subsidiária de ressarcimento do dano ambiental, tendo como o objetivo a

compensação ecológica. No entanto, apesar deste caráter secundário, o que se vê,

na prática, é a maior utilização desta forma de reparação, vez que, na maioria dos

casos, a reconstituição dos bens ambientais degradados aparece com tarefa

impossível de ser realizada.

Ocorre que as dificuldades concernentes à reparação pecuniária são

marcantes, pois, de acordo com Leite (2003, p. 226), a conversão monetária para

fins de cálculo indenizatório é quase sempre impossível. Algumas questões podem

ser levantadas, como: qual o preço do desmatamento de uma floresta? Quanto vale

uma espécie em extinção? Entretanto, apesar da difícil valoração do dano ambiental,

não pode haver lesão sem conseqüente indenização, devendo o Poder Judiciário

aplicar o direito nos casos concretos, valendo-se das técnicas metodológicas

aceitáveis, que resultem ao menos em grau elevado de certeza.

De acordo com Mirra (apud Leite, 2003, p. 227), em conformidade com o

artigo 13 da Lei da Ação Civil Pública, “o dinheiro da indenização deverá ser

depositado num fundo especial com o objetivo de pagar a reconstituição do bem

lesado ou compensar por substituição”.

Assim, no direito brasileiro, a reparação pecuniária do dano ambiental visa

à reposição do meio ambiente no estado anterior ao prejuízo ou no estado em que

estaria, se o prejuízo não tivesse ocorrido.

Na realidade, a Lei 7.347, de 1985, acabou por levar à desnaturação da reparação pecuniária, na medida em que a condenação em dinheiro passou a representar não mais a conversão do prejuízo em unidades monetárias, mas, em verdade, o custo da reparação in natura. Trata-se de uma indenização tendente a pagar uma reparação natural (MIRRA apud LEITE, 2003, p. 228).

Mirra (apud Leite 2003, p. 228), aponta que “a jurisprudência tem

caminhado no sentido de avaliar os custos totais das obras e trabalhos necessários

à recuperação do meio ambiente, condenando o responsável ao pagamento do valor

correspondente”. O dano ambiental, por si só, é inestimável; não se avalia o valor do

dano, mas, sim, o valor das obras de restauração do bem degradado.

Segundo Mirra (apud Leite 2003, p. 228), numa ação contra uma destilaria de

álcool do interior de São Paulo que despejou grande quantidade de poluentes num

curso d’água, causando mortandade de peixes, o juiz condenou a poluidora ao

pagamento de quantia em dinheiro suficiente para a recomposição da fauna fluvial.

CONCLUSÃO

Dano ambiental é a alteração adversa das características do meio

ambiente, englobando a degradação de todos os recursos naturais, tais como a

água, o ar, o solo e o subsolo, bem como a poluição por agrotóxicos nos alimentos,

poluição por resíduos e poluição sonora.

Apesar da degradação ambiental não ser fato recente, só em 1981, com a

edição da Lei N.º 6.938/81, o legislador brasileiro estabeleceu a responsabilização

objetiva para qualquer forma de dano ecológico. A partir de então, o poluidor passou

a ficar obrigado a reparar o dano causado ao meio ambiente, independente de

culpa; basta a conduta, o dano ecológico e o liame entre ambos para o nascimento

do dever de indenizar, prescindindo-se do elemento subjetivo.

De acordo com o § 1.º do Artigo 14 da lei supracitada, o direito brasileiro

adotou a teoria do risco criado como a mais adequada em sede de responsabilidade

civil decorrente do dano ao meio ambiente. O dispositivo impõe ao poluidor a

obrigação de indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a

terceiros afetados por sua atividade. Assim, o que traz a responsabilidade ao

poluidor é sua única e exclusiva atividade, e não a ação de terceiros, o caso fortuito

ou a força maior, que constituem, portanto, excludentes do dever de indenizar ou

reparar.

Duas são as formas de reparação do dano ambiental: a restauração do

meio ambiente degradado e a indenização. A recuperação do ecossistema

danificado, a fim de se obter a volta à situação anterior, é a primeira e a principal

forma de reparação, que deve ser buscada sempre, a todo custo.

A indenização em dinheiro surge como a segunda forma de reparação civil

do dano ambiental, devendo ser buscada subsidiariamente, isto é, em casos de

impossibilidade de reparação ou reconstituição das áreas degradadas. A reparação

econômica apresenta-se como uma maneira indireta de sanar a lesão.

Na maioria dos casos, há a presença de mais de um poluidor degradando

a mesma área. Nessas hipóteses, deve ser aplicada a regra do Código Civil,

segundo a qual, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão

solidariamente pela reparação. Conclui-se também que, além dos autores da

degradação, podem figurar, em tese, no pólo passivo da demanda judicial, a

administração pública e até mesmo os profissionais responsáveis pelos estudos de

impacto ambiental.

A proteção do meio ambiente pode ser efetivada por vários instrumentos à

disposição dos cidadãos e dos legitimados, como a Ação Popular Ambiental, Ação

Civil Pública, Mandado de Segurança Coletivo e, ainda, Mandado de Injunção. Além

disso, aquele que, individualmente, sofreu o prejuízo em virtude de ação ou omissão

causadora do dano ambiental é parte legítima para propositura de ação de

responsabilidade civil.

O direito ambiental, por ser de ordem pública e indisponível, é também

insuscetível de prescrição, pois, sendo a prescrição uma sanção contra o titular de

um direito, e sendo o titular do meio ambiente toda a sociedade, é desarrazoado

punir toda a sociedade em favorecimento do degradador.

Diante do exposto, observa-se que a legislação em matéria ambiental,

sobretudo no que tange à reparação do dano na esfera cível, é clara, avançada e

inovadora. A despeito disso, os jornais e telejornais nos trazem quase todos os dias,

notícias sobre alguma espécie de degradação ambiental. Urge, portanto, que as

autoridades competentes desempenhem com firmeza e rapidez seu papel ambiental,

punindo severamente, mas sempre à luz da Constituição Federal e legislação

vigente, os responsáveis, de maneira a restaurar o meio degradado e intimidar o

restante da sociedade a agir sempre de forma a preservar o meio ambiente.

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