exposição: dia mundial do teatro

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DIA MUNDIAL DO TEATRO O GRITO DA GARÇA Filomena Cabral (adaptado) Ano letivo: 2008-2009 PEDRO O feitiço das palavras, ainda que desatinadas, é um bálsamo. Escreveu esse enredado no mito — tantos o fizeram! Nunca acertam com a realidade que vivemos, mas sempre nos atribuem o Amor como primeira virtude das nossas almas. Pedro, o Cruel, chamaram-me, e assim me conheceram os vindouros. Depois que morreste, Inês... Quando deixaste a vida, todos os sentimentos bons me abandonaram. Os meus pesadelos tornavam-se realidade, o sangue — o teu sangue, Inês — molhou a minha veste, o colo de garça profanado. Escutava os choros lancinantes dos nossos filhos, lindos como as searas, as suas vozes tenras! Amei-te, depois de morta, beijei-te… Quando acordei só a vingança me dava ânimo para viver. Rebelei-me contra meu Pai, por ter consentido na tua morte. INÊS (tranquila) Contas-me tais mágoas, parece-me terem sucedido com outrem. De tudo o que disseste, recordo o grito a ressoar-me nos ouvidos, era um grito que lançado por mim parecia não pertencer-me: escutava o grito de morte de uma garça-real, desgarrado e rouco, a sombra das suas asas a impedir-me toda a claridade! Deixei de ver os nossos filhos... A garça, essa, gritava ainda, nas suas vozes...

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Page 1: Exposição: Dia Mundial do Teatro

DIA MUNDIAL DO TEATRO

O GRITO DA GARÇA

Filomena Cabral (adaptado)

Ano letivo: 2008-2009

PEDRO

O feitiço das palavras, ainda que desatinadas, é um bálsamo. Escreveu

esse enredado no mito — tantos o fizeram! Nunca acertam com a

realidade que vivemos, mas sempre nos atribuem o Amor como primeira

virtude das nossas almas. Pedro, o Cruel, chamaram-me, e assim me

conheceram os vindouros. Depois que morreste, Inês... Quando deixaste

a vida, todos os sentimentos bons me abandonaram. Os meus pesadelos

tornavam-se realidade, o sangue — o teu sangue, Inês — molhou a minha

veste, o colo de garça profanado.

Escutava os choros lancinantes dos nossos filhos, lindos como as searas, as suas vozes tenras! Amei-te, depois de morta, beijei-te…

Quando acordei só a vingança me dava ânimo para viver. Rebelei-me contra meu Pai, por ter consentido na tua morte.

INÊS (tranquila)

Contas-me tais mágoas, parece-me terem sucedido com outrem. De tudo o que disseste, recordo o grito a ressoar-me nos

ouvidos, era um grito que lançado por mim parecia não pertencer-me: escutava o grito de morte de uma garça-real, desgarrado e

rouco, a sombra das suas asas a impedir-me toda a claridade! Deixei de ver os nossos filhos... A garça, essa, gritava ainda, nas suas

vozes...

Page 2: Exposição: Dia Mundial do Teatro

DIA MUNDIAL DO TEATRO

POEMA DO ACTOR

Herberto Hélder

Ano letivo: 2009-2010

Ninguém ama tão desalmadamente como o actor.

O actor acende os pés e as mãos.

Fala devagar.

Parece que se difunde aos bocados.

Bocado estrela.

Bocado janela para fora.

Outro bocado gruta para dentro.

O actor toma as coisas para deitar fogo ao pequeno talento

humano.

O actor estala como sal queimado.

O que rutila, o que arde destacadamente na noite, é o actor,

Com uma voz pura monotonamente batida pela solidão

universal.

O espantoso actor que tira e coloca e retira o adjectivo da coisa,

a subtileza da forma, e precipita a verdade.

De um lado extrai a maçã com sua divagação de maçã.

Poema do actor

O actor acende a boca. Depois os cabelos.

Finge as suas caras nas poças interiores

O actor põe e tira a cabeça de búfalo

De veado

De rinoceronte.

Põe flores nos cornos.

Page 3: Exposição: Dia Mundial do Teatro

DIA MUNDIAL DO TEATRO

WORKSHOP DE TEATRO

Ano letivo: 2009-2010

Elinete Megda e Luís Puto

Page 4: Exposição: Dia Mundial do Teatro

DIA MUNDIAL DO TEATRO

O REI DA VELA

Oswald de Andrade (adaptada)

Ano letivo: 2010-2011

TEX – Teatro Experimental da Xico – encenadora: Elinete Megda

O REI DA VELA

CLIENTE

Meu nome é Manoel Pitanga de Moraes. Era proprietário de uma

fazenda quando fui pedir a Abelardo um empréstimo pela primeira vez.

A minha dívida, no início era de um conto de reis, e só de juros eu tinha

trazido à sua casa mais de dois contos e quinhentos de reis. Fui pontual

2 anos e meio e só por não pagar juros durante dois meses ele, me tinha

posto na gaveta, no dossier dos IMPONTUAIS. Aquele bandido! Eu até

lhe propus um acordo, mas só o pagamento é que lhe interessava.

Ele me acusou de cometer a maior falta contra a segurança e o sistema da casa. AHH... e quando lhe disse que me utilizaria da lei contra,

ameaçou que me mandava executar! Também lhe propus uma pequenina redução do capital, mas logo me chamou de maluco... é verdade que

fui eu que o procurei para que aceitasse o meu dinheiro, mas ele ao menos me poderia ter ajudado, mas não, em vez disso disse que chamaria a

policia se eu não saísse imediatamente da sua frente... Ele que tinha auxiliado tanta gente e era amigo de todo o mundo, só comigo é

que não queria fazer acordo. ELE ATE TINHA UMA JAULA onde colocava as mulheres dos devedores que não pagavam...

ENFIM É ABELARDO... E ELES SÃO TODOS IGUAIS...

Page 5: Exposição: Dia Mundial do Teatro

DIA MUNDIAL DO TEATRO

WORKSHOP DE TEATRO

Hélder Costa

Ano letivo: 2011-2012 Ano letivo: 2011-2012

Page 6: Exposição: Dia Mundial do Teatro

DIA MUNDIAL DO TEATRO

O VELHO DA HORTA

Gil Vicente (texto adaptado/encenação de Elinete Megda)

Ano letivo: 2011-2012

Tempos Cruzados – Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura

MOÇA:

VELHO:

MOÇA:

VELHO:

MOÇA:

VELHO:

MOÇA:

Page 7: Exposição: Dia Mundial do Teatro

DIA MUNDIAL DO TEATRO

Adaptação de três contos da obra: “CONTOS DO EFÉMERO”

Rui Sousa Basto

3ª personagem - Com este aparelho

revolucionário, meu caro, pode-se fantasiar

todos os seus desejos: a paixão de uma mulher

escultural, uma viagem inesquecível, ouro,

dinheiro…

1ª personagem - Tudo o que eu desejar…posso

obtê-lo carregando nesse botãozinho branco?

3ª personagem - Sim, a sua felicidade está aqui.

(aponta para o controlo)

1ª personagem - E não pago nada por isso tudo?

3ª personagem - Meu amigo, só paga suaves

prestações, que são por débito na sua conta.

Ano letivo: 2012-2013

Page 8: Exposição: Dia Mundial do Teatro

DIA MUNDIAL DO TEATRO

O CORVO E A RAPOSA

La Fontaine

Ano letivo: 2013-2014

Page 9: Exposição: Dia Mundial do Teatro

DIA MUNDIAL DO TEATRO

LENDA DE SANTA CATARINA

4ºano Pegada (encenadora: profª Paula Marinho)

Surge a valorosa pastorinha,

a pequena guardiã de cabras,

que nos montes dormia sozinha,

sem medo das noites pardas.

De dia pastoreava o rebanho,

à noite resguardava o burgo,

onde repousava a população

da cidade berço da nação.

O seu nome era Catarina,

morava na grande serra e,

mesmo sendo pequenina,

cuidava de toda esta terra.

Ano letivo: 20115-2016

Page 10: Exposição: Dia Mundial do Teatro

DIA MUNDIAL DO TEATRO

O MELRO BRANCO

Cândido Pazó (traduzido e adaptado. Encenadora: Elinete Megda)

MAMA MELRA. — Pppepeeeeee!

PAPA MELRO. - C o m o Pepe? Será golo!

MAMA MELRA. — GOOOOOOL... (Papa Merlo concorda)... go!!

PAPA MELRO. —Golfo? Pepe... golfo? Pepe golfo... Ah! Tens a

certeza que sou eu!

MAMA MELRA. —Pois claro!!!

PAPA MELRO. — (Firme.) Que queres? Ehhm (Mansinho.) Que

queres, meu passarinho lindo, meu amor emplumado, me... me...

me...

MAMA MELRA. — Menos parvoíces. Já estou há duas horas a chamar por ti. É o teu turno, e se pensas que vou aninhar sozinha, estás

bem enganado! O filho é dos dois, não? Pois temos que cuidar dele os dois. Então, é bom que vás subind o…

PAPA MELRO. — Quanta dureza e sacrifício para ser um pai responsável, colaborador e com prometido! Ainda bem que está a chegar

o dia. Amanhã receberei a recompensa por tantas e tantas horas aqui com o rabo achatado. Amanhã nascerá o nosso melrinho. De

certeza que vai sair a mim. Será a inveja de todos os melros desta fraga. Todo negro dos pés à cabeça...não, assim não é.. da cabeça

aos pés... corpo emplumado, tantas penas!... pescoço negro, patas negras, cabeça negra, peito negro e cauda negra... sim senhor,

como deve ser, um melro perfeito, como o pai...

Ano letivo: 2015-2016

Page 11: Exposição: Dia Mundial do Teatro

DIA MUNDIAL DO TEATRO

LIVRE COM UM LIVRO

Núcleo de Estudos 25 de Abril ( OS MEMORÁVEIS, Lídia Jorge/encenador: Paulo Calatré)

Plataforma das Artes- 2016

BEATRIZ

Umbela tinha sido um dos oito assaltantes do Rádio Clube, na noite de vinte e cinco, (…). Pensando em

Umbela, tínhamos passado os últimos dois dias de Fevereiro entretidos a reconstituir os

movimentos do Batalhão de Caçadores 5, ao longo das ruas de Lisboa na noite memorável. Era um

fim-de-semana e não o fizemos por menos. Fomos ao local, e aí nos demorámos longamente a trocar

impressões sobre as horas e os passos. Havia sido ali. (…) O antigo Batalhão de Caçadores 5, testa-

de-ferro do antigo regime, vigiado por todos os lados, numa hora nocturna de sonolência, havia

deixado escapar para a rua a mosca revolucionária.”

ANA LAURA

Margarida Lota permanecia no local, impressionada por determinadas revelações. Lamentava. Porque

eles só tinham seis granadas de bazuca para assaltarem aquele quartel e, naquele tempo,

encontravam-se de tal modo mal calçados e mal vestidos, que tinham andado por ali de mantas aos

ombros para combaterem o frio inesperado que fazia nesse mês de Abril, e mesmo assim,

desarmados, desmuniciados, tinham acreditado na sua própria força e haviam resistido. (…) Havia que

ser justo, pois tão esfarrapados estavam os assaltantes quanto os assaltados.

Nesse tempo, ao que parece, todos eram esfarrapados.”