experimento local com implicações globais: análise
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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN∕ 1808-8716 Autran. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017;4(gt1):1-16
Experimento local com implicações globais:
Análise antropológico do projeto Amazon-FACE
GT – 01 – Mudanças climáticas, ciência, tecnologia e Sociedade naAmérica Latina
Rodrigo Ramírez Autrán
VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN 1808-8716∕ Autran. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017;4(gt1):1-16
Contexto e justificativa
“O aquecimento do sistema climático é inequívoco, como evidenciado pelos aumentos
observados na temperatura média mundial do ar e do oceano, o descongelamento
generalizado da neve e do gelo e o aumento do nível mundial do mar.... As observações
em todos os continentes e na maioria dos oceanos mostram que muitos sistemas naturais
estão sendo afetados por mudanças no clima regional, particularmente por um aumento
de temperatura” (IPCC, 2007: 2).
Este foi o início do relatório de síntese Mudanças Climáticas 2007, emitido pelo Grupo
Intergovernamental de Expertos sobre Mudança Climática, pertencente à Organização
Meteorológica Mundial (OMM) e ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA).
Nos discursos controvérsias atuais, os impactos de uma anormal ou extrema mudança
no clima em diferentes lugares e setores do mundo são o que tem levado a sociedade,
incluindo cientistas e instituições governamentais, interessadas na questão das mudanças
climáticas durante várias décadas. Agendas nações desenvolvidas e em desenvolvimento
incluem uma componente dedicada à análise do potencial impacto de tais mudanças
climáticas, a vulnerabilidade das regiões em condições climáticas extremas e adoptar medidas
para tais mudanças.
No entanto, também sabemos que "para determinar as ações específicas a nível global,
regional ou local, é preciso primeiro entender o problema das alterações climáticas,
principalmente através da análise do alcance e limites do conhecimento científico que temos
até agora" (Matínez e Fernández, 2008: 18). Podemos dizer, então, que o aquecimento
prolongado, assim como as quantidades crescentes de CO2 produzidas pelo homem, são uns
dos problemas globais mais importantes da agenda internacional no debate ambiental.
No trabalho revelador e pouco convencional Waiting for a Gaia. Composing the
common world through arts and politics de Bruno Latour (2011) afirmou categoricamente que
a mudança climática não pode ser vista como uma controvérsia científica e que é um fato que
o processo chamado Antropoceno (a afetação geológica feita pela humanidade) está
acontecendo iminentemente:
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“There is no single institution able to cover, oversee, dominate, manage, handle, or simply
trace ecological issues of large shape and scope. Many issues are too intractable and too
enmeshed in contradictory interests. We have problems, but we do not have the publics that
go with them. How could we imagine agreements amid so many entangled interests?”
(Latour, 2011: 9).
Hoje em dia, o Acordo de Paris da Comissão Europeia1 marcou uma unificação sem
precedentes para combater a mudança climática em escala global. No entanto, a partida dos
Estados Unidos parece destinada a mudar novamente a influência do ambientalísmo
internacional e, sob o argumento político de que tais acordos "prejudicam Washington" e
deixam de aplicar "cargas econômicas e econômicas draconianas" o passado mês de junho, o
presidente dos EUA, Donald Trump tomou a decisão de não assinar tais acordos2.
Então, enfrentando esse cenário e sendo que, para algumas mudanças climáticas, é
uma realidade "cientificamente comprovada", podemos perguntar: como as decisões são
tomadas, como a mostrada pelos EUA e que tipo de especialistas sobre o assunto aconselham
as decisões políticas de tais alto nível? Se a mudança climática não é uma controvérsia
científica, então, por enquanto, podemos dizer que é uma controvérsia político-econômica? e
quais as implicações que isso tem ao nível da produção de conhecimento tecnológico em
mudanças climáticas?
Para juntar-se a esta e outras discussões sobre mudanças climáticas, decidi iniciar um
projeto de pesquisa de doutorado com o projeto intitulado "Experimento local com
implicações globais: o caso de Amazon-FACE"; a investigação será feita dentro da tradição
das etnografias no laboratório, por exemplo, analisando alguns dos discursos e práticas tanto
científicas como políticas, e como estas estão relacionadas à tomada de decisões a partir das
cúpulas mais altas sobre as contingências de uma grave deterioração ambiental.
Teoricamente na tradição de Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia, resgatou a
perspectiva de B. Latour sobre a importância da realização de pesquisa de tipo qualitativo e de
laboratório, já que estes são espaços sociais onde "o poder tende a concentrar-se, em centros
1 https://ec.europa.eu/clima/policies/international/negotiations/paris_es Acceso: 15/06/2017 2 http://www.wired.co.uk/article/what-is-paris-agreement-on-climate-change Acceso: 15/06/2017
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de computação" (Latour, 1990, 225, tradução própria), e onde existem “todos os tipos de
inscrições científicas" (Latour, 1987: 166 tradução própria), um dos interesses da análise será
a vulnerabilidade às alterações climáticas das regiões em condições extremas no clima, e as
medidas adotadas para tais mudanças. Segundo as próprias palavras do diretor técnico do
projeto na floresta amazónica:
“O Amazon-FACE não se limita a ser um simples experimento científico. É uma
plataforma de pesquisas sobre os impactos das mudanças climáticas na Amazônia,
favorecendo o planejamento da economia e o desenvolvimento regional sustentável. O
governo brasileiro, por intermédio do MCTI, considera que a nova parceria com o BID é
uma aposta na importância da ciência, da tecnologia e da inovação na preservação e uso
sustentável da maior floresta tropical do planeta e na melhoria das condições de vida das
populações amazônicas, com preservação da funcionalidade dos ecossistemas e da
biodiversidade” (Lapola & Norby: 2014: 6).
Porém, meu projeto de investigação atual pretende analisar, a partir de uma perspectiva
antropológica e qualitativa, um experimento a céu aberto, internacional e multidisciplinar na
floresta amazônica brasileira.
Projeto de pesquisa
O objetivo geral deste projeto é analisar a partir de uma perspectiva qualitativa e diacrônica a
produção social do conhecimento científico no contexto de um experimento de em
laboratório a céu aberto, dedicado à observação dos indicadores de CO2 na Amazônia
brasileira. Os objetivos específicos são:
A). Identificar e aprofundar nas relações sociais entre os atores e as instituições na
implementação do 2º estágio do experimento Amazon-FACE;
B). Examinar as relações inter e multidisciplinares que estão dentro do experimento,
considerando a ampla gama de atores, instituições e perfis dos envolvidos;
C). Compreender as diferentes formas e acordos na produção social do conhecimento
cientifico entre atores e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento;
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D). Pesquisar em que medida os novos conhecimentos científicos e sua aplicação,
podem mudar as visões e/ou discursos sobre controvérsias atuais, como as mudanças
climáticas.
Em quanto as primeira questões e métodos de pesquisa que procuram-se responder são: Como
é a compreensão de fenômenos globais como as mudanças climáticas e como são estas
localmente apropriado e internalizado pelo grupo de cientistas? Até que ponto iniciativas que
tem como objetivo compreender este fenómeno, contribui para normalizar ou complicam os
novos discursos e conhecimentos sobre a mudança climática?
De forma geral, as técnicas de pesquisa as quais propondo: a) revisão bibliográfica e
historiográfico, b) etnografia, c) observação participante, d) entrevistas semiestruturadas, e)
discussões em grupo e f) netnografía (etnografia digital)3.
Risco global e incerteza
Um dos trabalhos pioneiros sobre temas relacionados ao risco é o trabalho de Ulrich,
intitulado The Society of Risk, onde o autor sugere uma ruptura no processo histórico da
modernização através do acidente na central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia. Após esse
evento, a percepção sobre os riscos sofreu uma transformação notável. Grande parte da
experiência de Beck no trabalho de campo está ligada ao estudo da família. O autor entende
que os laços familiares estão mudando como produto da pós-modernidade. O desengajamento
pessoal está associado a um processo de individuação - que é irreversível - cujas
consequências são observadas na educação e no trabalho.
Basicamente, a preocupação de Beck está ligada à ética do meio ambiente e à
constante degradação do produto de resíduos tóxicos do capitalismo industrial. De acordo
com sua posição inicial, essa nova maneira de conceber a modernidade obriga as sociedades a
se unirem diante de um risco que a maioria das vezes excede as possibilidades individuais e se
apresenta como externo. Em sua própria dinâmica de desenvolvimento, eles democratizam os
3 Metodologia de pesquisa qualitativa baseada na realidade e na cultura, criada através dos usos sociais daInternet. Alguns autores primordiais são Kozinets (2010) & Hines (2000).
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perigos ao desfocar as fronteiras do Estado-nação, mas, ao mesmo tempo, coloca novas forças
em conflito e consenso:
"Começa a mudar a qualidade da comunidade. Esquemática, nestes dois tipos de
sociedades modernas, sistemas abertos e axiológicos completamente diferentes. As
sociedades de classe são referidas na sua dinâmica de desenvolvimento para o ideal de
igualdade [...] não é o mesmo com a sociedade de risco. Seu contra projeto normativo,
que é o núcleo e estimula, é segurança. Em vez do sistema axiológico da sociedade
desigual, então, aparece o sistema axiológico da sociedade insegura" (Beck, 1983: 69).
Este clima de crescente insegurança transforma o modo de conceber a reciprocidade na
comunidade; A hierarquização de classes implicava a ideia de alcançar um objetivo, enquanto
a sociedade de risco tendia a evitar o pior; em outras palavras, a ideia de participação é
substituída pela proteção, dando origem à comunidade de medo.
Também sabemos que, a partir de uma hipótese, um novo tempo geológico marcado
pelo homem está em processo. Tem sido chamado de Antropoceno e é uma hipótese
científica baseada no pressuposto de que, como clima, biodiversidade, mares, oceanos e terra,
a humanidade tornou-se um fator no sistema global da Terra. Uma hipótese que, se
comprovada, tem uma enorme variedade de implicações (Leinfelder, 2013). A tese central do
Antropoceno é que a humanidade afetou a natureza ao grau de ser responsável pelo novo
estrato no registro geológico. A periodização relacionada à sua origem tem sido a causa de
múltiplas discussões, relacionadas, em particular, com a identificação de seu início.
Considerou-se que tudo começou com a Revolução Industrial, há mais de 200 anos, e que sua
evolução foi ampliada após a Segunda Guerra Mundial, no que foi chamado de "a grande
aceleração".
Os impactos de uma mudança climática anômala ou extrema em vários lugares e
setores do mundo são o que levou a sociedade, incluindo cientistas e instituições
governamentais, a se interessar pelo tema das mudanças climáticas por várias décadas. As
agendas dos países desenvolvidos e em desenvolvimento incluem um componente dedicado à
análise do impacto potencial das mudanças climáticas, da vulnerabilidade das regiões às
condições climáticas extremas e das medidas para adotar tais mudanças.
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Floresta Amazônica
Segundo Malhado et al. (2014) a floresta amazônica da América do Sul é um microcosmos
fundamental para no debate sobre o papel, influência e obrigações de pesquisadores
estrangeiros nos estudos enfocados nos trópicos. A relevância global da Amazônia está entre
muitas outras coisas: "A Amazônia funciona como um regulador do clima a escala regional e
até mesmo global. É a maior floresta tropical do planeta e é distribuída por oito países. (...)
contém o maior reservatório de biodiversidade do planeta e também é a bacia com a maior
contribuição de água doce em todo o mundo" (Lapola & Norby: 2014: 6, tradução própria).
Assim, considero pertinente o que os autores apontam e faz sentido continuar com as
investigações científicas sobre as mudanças tem sofrido a floresta amazônica:
"A Amazônia continua a ser uma área fértil para a pesquisa, especialmente no contexto
das agendas ambientais dominantes das mudanças climáticas (por exemplo, Malhi et al.,
2008), a biodiversidade (por exemplo, Laurance et al., 2002) e as enormes implicações de
quase todos os aspectos do ecossistema florestal (Bush & Lovejoy 2007)" (em Malhado,
et al., 2014: 7, tradução própria).
Os mesmos autores encontraram uma forte evidência de que a ciência amazônica está cada
vez mais globalizada. No total, 68 instituições de países diversos contribuíram para o
conhecimento sobre a Amazônia nos três períodos da pesquisa conduzidos pole grupo de
pesquisa Malhado, por isso atualmente encontramos posições como esta:
“A narrativa da Amazônia como um elemento crucial do clima global tornou-se um
elemento central de como a região é entendida tanto dentro como fora da ciência, levando
os governos da região a adotar marcos legais sobre mudanças climáticas, e eles abordam
o desmatamento” (Monteiro, Da Cal Seixas e Vieira, 2014: 689).
O trabalho de Lahsen & Nobre (2007) analisou a adequação entre ciência e uma agenda de
sustentabilidade na Amazônia brasileira. Através de um estudo de caso da Experiência de
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Biosfera e Atmosfera de Grande Escala na Amazônia (LBA), eles identificaram as
estruturas socioculturais e políticas predominantes em ciência internacional que governam, e
às vezes inibem, a produção de "sustentabilidade". Os autores afirmam que uma avaliação das
realizações do LBA ilustra os problemas que podem surgir na realização de pesquisas
orientadas a nível mundial em um contexto local de países menos desenvolvidos e serve para
testar os pressupostos de que um projeto científico internacional orientado para a produção de
ciência internacional, simultaneamente pode melhorar a sustentabilidade ambiental:
“No nível local, a análise responde aos pedidos de maior compreensão dos ajustes e
desajustes entre o conhecimento dos sistemas e as agendas de sustentabilidade.
Aproveitando os programas internacionais de ciências ambientais, as agendas de
sustentabilidade locais são agora definidas por muitos como um dos principais desafios
do século XXI” (Cash & Moser, 2000, Clark & Dickson, 2003) (Lahsen & Noble 2007:
62).
Amazon-FACE
Aproximadamente a 60 km ao norte da cidade de Manaus, no norte do Brasil, o experimento
chamado Amazon-FACE está sendo implementado na Amazônia Central, na Estação
Experimental de Silvicultura Tropical. É um projeto de pesquisa científica financiado por
múltiplos atores (BID, FAPESP, Ministérios) entre outros. A meados de 2017, o projeto tinha
dois anos de antiguidade, e espera-se continuar a contar com os recursos materiais e
econômicos para os outros dez anos mais do que o projetado. É uma iniciativa brasileira como
o maior colaborador do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações. Tem 40
pesquisadores de três continentes diferentes:
"O principal resultado esperado deste projeto será uma melhoria de nosso conhecimento
científico sobre o destino da floresta amazônica no contexto atmosférico e mudanças
climáticas" (Lapola & Norby: 2014: 16, tradução própria).
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A fim de estudar as incertezas sobre o risco futuro dos ecossistemas amazônicos, o ponto de
partida para a realização do Free-Air Carbon Enhancement Experiment on the Amazon-
Amazon FACE: “com o objetivo principal de estudar e avaliar a existência e a magnitude do
efeito da "fertilização" por CO2 na selva amazônica" (Lapola e Norby: 2014: 6, tradução
própria). Aumentando um ambiente controlado, mas os cientistas do exterior buscam
aumentar os níveis de CO2 produzidos por árvores florestais. A iniciativa está teoricamente
fundamentada no que podemos chamar de Savanização da Amazônia, um processo em
debate, mas que aparentemente tem implicações ambientais extremamente graves:
"As teorias da savanização (savannization) ajudaram a enquadrar a importância do
desmatamento como parte de processos globais mais amplos de mudança climática, já
que o desmatamento começou a ser percebido como parte de fenômenos complexos de
grande escala que funcionam sinergicamente para influenciar os padrões climáticos
globais" (Monteiro, Da Cal Seixas e Vieira, 2014: 693).
Atualmente, os pesquisadores estão preparando a segunda fase do programa AmazonFACE,
que investiga até que ponto o aumento do dióxido de carbono pode contribuir para reduzir os
impactos das mudanças climáticas na floresta amazônica.
Abordagem teórico: A produção social de conhecimento científico
Um dos conceitos chaves da pesquisa é o conhecimento cientifico. Sabemos que as
realidades da experiência humana emergem como realizações conjuntas de empreendimentos
científicos, técnicos e sociais: ciência e sociedade, em uma palavra, são coproduzidos, cada
um subscrevendo a existência do outro. A noção de coprodução de diferentes atores,
diferentes ideias, diferentes instituições de como formar uma ideia, pode ser uma visão quase
consensual (herdada da perspectiva do sociólogo Durkeheim). Nesse sentido, a pesquisa atual
analisará a construção social do conhecimento, um conhecimento co-produzido entre
diferentes atores:
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"A pesquisa em estudos de ciência e tecnologia demonstrou de forma persuasiva como o
contexto social afeta a produção de conhecimento científico e técnico, revelando como as
interações de micro nível e as contingências de nível macro afetam o trabalho
interpretativo de cientistas e especialistas técnicos. As organizações formais são estruturas
sociais de nível meso que fornecem outra camada de contexto social que é influente na
produção de conhecimento em laboratórios, locais de campo e escritórios onde ciência e
tecnologia são feitas” (Vaugham, 1999: 913).
Epistemologicamente entenderei o conceito de mudança climática, como uma controvérsia
fechada pelos cientistas atuais, mais como se falou na justificativa, é possível falar de uma
controvérsia no sentido sociopolítico. Assim, a nova produção de conhecimento científico em
construção e que contribuem continuamente para encerrar a controvérsia. Em termos de
Jassanof (1990), uma das maneiras como eu analisar essa controvérsia será através das
negociações que são construções de conhecimento:
"Os estudos do construtivismo social voltaram a prestar atenção à importância epistêmica
das práticas e equipamentos laboratoriais, à omnipresença do conflito e à negociação na
configuração do resultado do trabalho científico, à formação na formação do resultado do
trabalho Científicos, a formação e dissolução de limites disciplinares e a permeabilidade
na prática e a demarcação do que é `interno´ à ciência" (Rouse, 1996: 1, tradução
própria).
Herança etnográfica: estudos em laboratório
O laboratório, de acordo com algumas abordagens sociológicas de autores como Woolgar e
Lynch, é o lugar privilegiado no estudo desta ação. Os anos 70 viram as primeiras etnografias
de laboratórios científicos pelos primeiros Estudos de Ciência e Tecnologia. Este conjunto de
trabalhos foi dedicado a demonstrar e analisar a construção local e social do conhecimento
científico. Por outro lado, para o próprio Latour, o laboratório é um microcosmo de maiores
agregações de poder. É nesse ambiente que os aspectos teóricos e epistemológicos das
disciplinas científicas se moldam mais, mas também:
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"... o conhecimento experimental rotineiro e tácito é incorporado nas novas gerações de
engenheiros, técnicos e cientistas através da aprendizagem formal, da experiência
linguística e da produção de uma narrativa sobre a realidade, através da correlação de
teorias, conceitos, hipóteses, gráficos e textos" (Premebida, Monteiro e Almeida, 2011: 12).
Como havendo-se falado anteriormente, o mesmo pode ser visto como espaços sociais onde
"o poder tende a se concentrar, nos centros de cálculo" (Latour, 1990) e onde existem todos os
tipos de "inscrições científicas" (Latour, 1987), aproveitando assim o potencial do
conhecimento Produzido, por exemplo, no experimento realizado em um laboratório ao ar
livre no território brasileiro:
"O papel das organizações formais na produção de conhecimento tecnocientífico no local
de trabalho. Este argumento baseia-se na longa tradição de pesquisa que examina a
ambiguidade e a contradição dos resultados dos testes, os cálculos e experimentos de
cientistas e tecnólogos, os processos de endurecimento e a conversão da desordem em
ordem no trabalho científico E técnico "(Vaugham, 1999: 914, tradução própria).
Knorr Cetina (1995) argumenta que o primeiro estudo de laboratório publicado foi o de Thrill
(1972), embora outros afirmem que o trabalho de campo de Lynch em 1974 foi o primeiro
verdadeiro para a tradição S & TS. Ela divide o início do trabalho da STS em: i) Bloor (1976),
Collins (1975) e Barnes (1977) estudos de controvérsia que analisaram como os cientistas
afirmam sua legitimidade por suas reivindicações de conhecimento durante disputas e ii) "o
estudo do conhecimento inacabado" que inspeciona a ciência em processo (Knorr Cetina,
1995: 140). Este segundo grupo, liderado por Knorr (1977), bem como por Latour e Woolgar,
que utilizaram a observação etnográfica detalhada do dia, para documentar como o
conhecimento científico normal é alcançado.
Diante disso, esses autores ainda adotam diferentes abordagens para seus estudos de
laboratório, com Latour e Woolgar empregando a perspectiva do "antropólogo da ciência"
(1986: 27) através da qual a prática científica mundial é tratada como uma cultura estrangeira
e Em contraste com o foco de Knorr (1977) na compreensão do trabalho científico como os
cientistas fazem.
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Hess (2001) descreve todos esses primeiros estudos de "primeira geração" da
etnografia STS, com foco em "como as preocupações com evidências e coerência foram
entrelaçadas com eventos situacionais contingentes, processos locais de tomada de decisão, ...
a flexibilidade interpretativa da evidência ... e outros fatores sociais ou não-técnicos" (Hess,
2001: 234). Isso contrasta com as etnografias do STS de segunda geração que foram
orientadas para problemas sociais, com uma gama mais ampla de sites de campo que vão
além dos espaços de cientistas para estudar, por exemplo, grupos leigos, movimentos sociais e
atividades políticas.
Premebida, Monteiro e Almeida (2011) afirmam que, no processo de construção e
nomeação de um artefato tecnológico, por exemplo, é geralmente baseado em testes
experimentais em laboratórios que, pouco a pouco, caracterizam as qualidades esperadas e
inesperadas de um produto, bem como seus atributos e sentidos sociais. Essas experiências
mobilizam um conjunto de respostas incluídas em um sistema de testes e considerações
metodológicas para a validação do artefato no campo científico ou, seguindo a matriz
conceitual da teoria ator-rede, nas redes sócio-técnicas:
"O produto ou objeto anteriormente inexistente está sendo desenvolvido através de um
sistema de representação que implica uma estreita relação entre equipes de laboratório,
teorias, conceitos, agendas de pesquisa, agências de desenvolvimento, disseminação
científica e discussão entre pares. A ciência e a tecnologia emergem de tais pesquisas, não
como provenientes de uma natureza ou realidade preexistentes, mas como uma realização
da prática humana, como um movimento incessante de confrontos e acomodações entre
os princípios teóricos dos atores e dados empíricos" (Premebida, Monteiro e Almeida,
2011: 29).
Estes focam a perspectiva microsocial, concentrando-se principalmente em estudos
laboratoriais e em controvérsias múltiplas e localizadas sobre a interpretação da realidade e a
produção de consenso (Collins, 1992; Latour e Woolgar, 1997). Esta é a relação da ESCT com
a teoria social contemporânea, que valoriza a ação prática na análise. A prática de laboratório,
o próprio processo de produção e estabilização de controvérsias de conhecimento científico
ou a formação de consenso sobre certos fatos e proposições cognitivas:
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"O que foi chamado de etnografia de laboratório denso procura enfatizar o que diferencia
a produção científica e tecnológica de outras formas de conhecimento, como agentes de
ciência manipulam objetos, realizam experiências e refletem sobre esta prática e, acima
de tudo, como o "Social" é inserido neste tipo de conhecimento que às vezes deseja
aparecer livre de qualquer contraparte ou influência social" (Premebida, Monteiro e
Almeida, 2011: 36).
Ideias futuras e prospecção
A investigação está atualmente na fase de fechamento do protocolo de pesquisa, o progresso
que tem vem de fontes eletrônicas procurar no Estado das coisas do projeto Amazon-FACE.
No entanto, no presente e como parte dos temas da Política de Ciência e Tecnologia de Pós-
Graduação e está conduzindo uma investigação em fontes bibliográficas sobre questões de
Meio Ambiente, Sociedade e Desenvolvimento, que eu acredito serem fundamental para
entender ainda mais o fenômeno da mudança climática.
Sabe-se que o cenário atual deve abordar desafios ambientais globais no próximo
século exigirá novas formas de cooperação diplomática internacional, novas formas de
estimular a inovação tecnológica e a inclusão de novos participantes a todos os níveis na
tomada de decisões. Haverá a necessidade de promover mais pesquisas interdisciplinares e
cientistas dedicados à objetividade e sensíveis às implicações éticas de suas descobertas.
Dadas as incertezas em ambos os riscos e custos, só podemos esperar que os políticos e os
cientistas possam olhar mais longe com base em desenvolvimentos científicos, tecnológicos e
econômicos.
Uma posição clara e unânime sobre o significado da controvérsia muitas vezes não é
um resultado simples, porque há muita disputa entre cientistas sobre formas de observar um
fenômeno e maneiras de interpretá-lo. Existe uma enorme complexidade de negociação entre
diferentes áreas, em termos de resultados práticos e divulgação de mídia, como as ciências das
mudanças climáticas, biotecnologias e nanotecnologias. Compreender como a evidência
científica é constituída é cada vez mais comum em linhas de pesquisa relacionadas às
abordagens dos Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia.
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Existe também uma grande dificuldade em esclarecer as negociações tecnológicas, já
que podem ser mesmo as que são geradas a partir dos laboratórios. Considero que,
pessoalmente, tenho agora mais conhecimentos e argumentos teóricos para afirmar que o uso
de tecnologias ou a produção de dados através de testes experimentais é fundamental para as
disputas sociotecnicas. A literatura mais contemporânea que eu comecei a analisar como o
trabalho de Premebida, Monteiro e Almeida (2011) por exemplo, apontou que, dependendo da
correlação das forças dos grupos envolvidos, há a geração de mecanismos para fechar
controvérsias e a orientação de uma certa tecnologia ou conhecimento científico para um nível
de verdade e funcionalidade.
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