expansÃo da fronteira agrÍcola e a constituiÇÃo … · centro-oeste do território brasileiro....

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1 EXPANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA E A CONSTITUIÇÃO DE COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO SUDOESTE DE GOIÁS Ângela Maria Martins Peixoto Universidade Federal de Goiás-UFG [email protected] Déborah Evellyn Irineu Pereira Universidade Federal de Goiás-UFG [email protected] Helena de Moraes Borges Universidade Federal de Goiás-UFG [email protected] Adriano Rodrigues de Oliveira Universidade Federal de Goiás-UFG Instituto de Estudos Socioambientais-IESA [email protected] Resumo O texto está fundamentado na análise do processo de expansão da fronteira agrícola na região Centro-Oeste e na compreensão da constituição e atuação dos Complexos Agroindustriais em Goiás, com ênfase a região Sudoeste deste estado. Constata-se que o avanço da fronteira e a consolidação das atividades dos Complexos Agroindustriais estão essencialmente vinculadas à forte atuação estatal que implementou diversos programas e políticas públicas visando incentivar a transformação das áreas de Cerrado no principal sustentáculo da produção de commodities para o mercado externo. Por fim, destaca-se a recente disputa territorial entre os complexos agroindustriais de grãos e carnes e o complexo agroindustrial vinculado ao setor sucroalcooleiro. Palavras-chave: Fronteira agrícola. Complexos agroindustriais. Programas de desenvolvimento. Políticas públicas. Disputa territorial. Introdução O presente trabalho está pautado na análise do processo de expansão da fronteira agrícola para a consolidação do processo de modernização da agricultura na região do Centro-Oeste do território brasileiro. Para tanto, busca-se compreender a constituição e atuação dos Complexos Agroindustriais na região do Sudoeste de Goiás, com destaque para o desenvolvimento do binômio Grãos e Carnes num primeiro momento e posteriormente a territorialização do Complexo Sucroalcooleiro.

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EXPANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA E A CONSTITUIÇÃO DE COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO SUDOESTE DE GOIÁS

Ângela Maria Martins Peixoto Universidade Federal de Goiás-UFG

[email protected]

Déborah Evellyn Irineu Pereira Universidade Federal de Goiás-UFG

[email protected]

Helena de Moraes Borges Universidade Federal de Goiás-UFG

[email protected]

Adriano Rodrigues de Oliveira Universidade Federal de Goiás-UFG

Instituto de Estudos Socioambientais-IESA [email protected]

Resumo O texto está fundamentado na análise do processo de expansão da fronteira agrícola na região Centro-Oeste e na compreensão da constituição e atuação dos Complexos Agroindustriais em Goiás, com ênfase a região Sudoeste deste estado. Constata-se que o avanço da fronteira e a consolidação das atividades dos Complexos Agroindustriais estão essencialmente vinculadas à forte atuação estatal que implementou diversos programas e políticas públicas visando incentivar a transformação das áreas de Cerrado no principal sustentáculo da produção de commodities para o mercado externo. Por fim, destaca-se a recente disputa territorial entre os complexos agroindustriais de grãos e carnes e o complexo agroindustrial vinculado ao setor sucroalcooleiro. Palavras-chave: Fronteira agrícola. Complexos agroindustriais. Programas de desenvolvimento. Políticas públicas. Disputa territorial. Introdução

O presente trabalho está pautado na análise do processo de expansão da fronteira

agrícola para a consolidação do processo de modernização da agricultura na região do

Centro-Oeste do território brasileiro. Para tanto, busca-se compreender a constituição e

atuação dos Complexos Agroindustriais na região do Sudoeste de Goiás, com destaque

para o desenvolvimento do binômio Grãos e Carnes num primeiro momento e

posteriormente a territorialização do Complexo Sucroalcooleiro.

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O texto está estruturado em duas partes, além das considerações finais. Na primeira

parte, apresentamos o processo de expansão da fronteira agrícola por meio da forte

atuação estatal que por meio dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND’s)

elaborou e implementou o POLOCENTRO e o PRODECER. Na segunda parte,

destacamos a constituição dos Complexos Agroindustriais no segmento produtor de

grãos e carnes e mais recentemente na produção sucroalcooleira.

A expansão da fronteira agrícola na região Centro-Oeste e os seus desdobramentos para o estado de Goiás A atual configuração produtiva do estado de Goiás, consubstanciada nas extensas

plantações de grãos com resultados que propiciaram grande representatividade nacional,

tem sua explicação no processo de consolidação da fronteira agrícola nesta região, uma

vez que “[...] a expansão da fronteira agrícola se converteu na principal fonte de

crescimento da produção agrícola brasileira” (MULLER, 1985 apud ALVES;

SALGADO, 2007).

O avanço da fronteira agrícola em uma determinada região, de acordo com

Alves;Salgado (2007) está consubstanciado na: [...] mudança significativa no padrão tecnológico, associada à modernização conservadora da agricultura e fortemente relacionada com o nível de investimento. Assim, no processo de integração econômica promovido no Brasil a fronteira agrícola é uma área onde acontecem significativas transformações sociais e espaciais, com a introdução de novas relações de produção e de novos padrões tecnológicos, mercantis e financeiros. (ALVES; SALGADO, 2007, p. 3-4).

Na região sudoeste de Goiás (figura 01), essas características podem ser notadas, entre

outros fatores, na intensa implantação dos Complexos Agroindustriais (CAIs), sobre os

quais discorreremos mais adiante.

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Figura 1: Mapa de Localização da região do Sudoeste de Goiás.

Org. Os autores, 2012.

Pensar o avanço da fronteira agrícola no Centro-Oeste e, mais especificamente no

estado de Goiás, requer uma análise detalhada de diversos elementos que foram

decisivos para a transformação estrutural dessa região no que se refere à produção,

amparada historicamente em diferentes incentivos para tal processo. Assim, devem ser

elencados fatores como: disponibilidade de áreas, a localização geográfica, as

características climáticas e as condições topográficas, as políticas governamentais,

dentre outros.

A importância dada à agricultura como uma das alavancas do desenvolvimento

econômico do país é resultado de um processo histórico, iniciado na política de Getúlio

Vargas, que incentivou a partir de 1930 a valorização do setor industrial devido a

instabilidade do país ter uma economia baseada na monocultura de exportação após

acontecer a crise de 1929. Dessa forma, as atividades ficaram concentradas na região

Sudeste do Brasil e atribui-se ao setor rural a tarefa de fornecer matéria-prima e mão-de-

obra, além do abastecimento de alimentos para o mercado interno, constituindo uma

“subordinação do campo ao setor urbano-industrial”, conforme enfatiza Fernandes

(2006, p. 67).

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Por conseguinte, o cenário nacional indicava que a produção agrícola serviria de

sustentação ao desenvolvimento econômico pautado no modelo urbano-industrial e,

assim Bezerra; Cleps Jr (2004) apontam que o desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste é intensificado a partir da década de 1930, com o objetivo de atender ao mercado consumidor de produtos agrícolas da região Sudeste, assim, o desenvolvimento agrícola do Centro-Oeste esteve diretamente ligado ao desenvolvimento industrial do país, que se iniciou na região Sudeste nesse período. (BEZERRA; CLEPS JR, 2004, p. 30-31).

Dessa forma, ainda segundo os autores supracitados, o estado de Goiás ao fornecer bens

primários para a consolidação do capital industrial passou a compor a nova dinâmica

capitalista do país.

Até a década de 1960, o estado de Goiás apresentava baixos níveis de produtividade

como resultado das práticas tradicionais utilizadas na agricultura, incluindo as técnicas

de cultivo inapropriadas aos solos do Cerrado. Somente a partir da década de 1970 que

o desenvolvimento agrícola de toda a região Centro-Oeste é intensificado, e diretamente

vinculado à concretização da fronteira agrícola, conforme assinalam Bezerra; Cleps Jr

(2004).

Inicialmente não se estabelece de forma efetiva a modernização da agricultura, a

principal ocorrência é a incorporação de novas áreas, por isso Graziano da Silva (1998,

p.17) afirma que: “o crescimento com base no aumento das áreas cultivadas perdurou

até o final da década de 60, aproveitando-se das fronteiras próximas aos pólos mais

urbanizados do Centro-Sul”. Mas, ainda conforme este autor, a partir do pós-guerra há

um processo de modernização da base técnica da agricultura, materializado na

importação de máquinas agrícolas e fertilizantes.

Para a efetivação de tal processo foi fundamental o desenvolvimento de programas

governamentais com o objetivo de incorporar no âmbito produtivo as áreas dessa região,

tendo como principal ferramenta a modernização das atividades. “Desde os anos 70, a

região passou a contar com iniciativas públicas e privadas que mudaram seu perfil, com

a introdução de tecnologias modernas de exploração do potencial agrícola,

destacadamente para a produção de grãos”. (PIRES, 2000, p.113).

Nessa perspectiva, é válido destacar dois programas que proporcionaram a incorporação

de terras à fronteira agrícola, são eles: o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados

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(POLOCENTRO) e o Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para Desenvolvimento

dos Cerrados (PRODECER).

O POLOCENTRO foi criado em 1975 no âmbito das ações definidas pelo II PND

(Plano Nacional de Desenvolvimento) durante o governo militar. De acordo com Pires

(2000, p. 120), o objetivo do programa era a difusão de tecnologias adequadas às

condições encontradas no cerrado, e assim visava “estimular os produtores rurais a

adotar inovações tecnológicas visando à otimização dos resultados econômicos de seus

empreendimentos”.

Mas esse programa não teve grande duração, e segundo Inocêncio; Calaça (2010, p.

286) foi desativado no início da década de 1980 devido ao baixo crescimento da

produção e da produtividade considerando os recursos investidos. No tocante aos

resultados, Inocêncio (2010, p.73) enfatiza as mudanças causadas pelo POLOCENTRO,

pois “sua vigência favoreceu um padrão de acumulação monopolista prevalecente no

setor urbano-industrial da economia brasileira e acelerou o processo de penetração

capitalista no campo e de transformação da estrutura produtiva no Cerrado”.

Posteriormente, foi desenvolvido o PRODECER, que acarretou transformações mais

significativas, visto que de acordo Inocêncio; Calaça (2010) “representou o programa de

maior abrangência e resultados, dentro do Cerrado”. Este programa é resultado da

integração dos governos brasileiro e japonês, numa parceria que perdura até a

atualidade.

O objetivo do programa era o desenvolvimento da fronteira agrícola na região do

Cerrado, assim buscou aumentar a oferta internacional de alimentos com a exportação

de produtos agrícolas e teve longa duração desenvolvendo estratégias de incorporação

do campo brasileiro ao circuito produtivo capitalista mundial (INOCÊNCIO; CALAÇA,

2010).

Inocêncio (2010) confirma o caráter decisivo do programa na concretização de práticas

agrícolas nas áreas de Cerrado: “Este programa foi, dentre todos os outros que visavam

a ocupação do Cerrado, o de maior abrangência, pois tornou tecnicamente viável a

inserção deste território ao circuito produtivo capitalista [...]” (p. 86).

Consequentemente houve um aumento das áreas plantadas, sendo esse um fator que se

consolidou com o passar do tempo, como pode ser visualizado na tabela 1, que

demonstra lavouras de grande representatividade no Estado:

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Tabela 1: Estado de Goiás – Área plantada em hectares

Lavoura/Ano 2006 2007 2008 2009 2010

Milho 697.357 831.804 905.710 906.25 862.841

Soja 2.494.060 2.169.241 2.180.571 2.315.888 2.445.600

Sorgo 223.274 229.150 310.160 304.165 245.308

Fonte:IBGE, Produção Agrícola Municipal – 2010. Org.: Os autores, 2012.

Posto isso, é possível afirmar tal como Silva; Miziara (2011) que “estas ações

pretendiam re-estruturar o território, com a inserção de infraestrutura econômica e

incentivo ao aumento da produção agropecuária” (p. 400).

De fato, no que tange ao aumento da produtividade nas áreas de Cerrado e a sua

inserção no cenário produtivo nacional, é indiscutível a participação do Estado e das

políticas de incentivo, tal como salienta Gonçales (2008, p. 53): “A partir do final da

década de 1960, Goiás, fronteira agrícola, tornou-se um importante lugar para a

produção de alimentos, e ainda mais atrativo para o fluxo migratório, ampliando-se a

integração do território à dinâmica econômica nacional”.

Ainda segundo este autor, também foi decisivo para a configuração dessa produção

agropecuária de Goiás a criação do Fundo de Participação e Fomento à industrialização

do Estado de Goiás (FOMENTAR) a partir da Lei Estadual n° 9.489, de 19 julho de

1984, que tinha como principal característica a isenção fiscal, “o Fundo nasceu com

objetivo de incrementar a implantação e a expansão das atividades industriais,

preferencialmente as do ramo da agroindústria que efetivamente contribuíssem

para o desenvolvimento econômico do Estado” (p. 64).

Gonçales (2008) destaca ainda a substituição do FOMENTAR pelo Programa de

Desenvolvimento Industrial de Goiás (PRODUZIR) a partir da Lei nº 13.591 em janeiro

de 2000. Assim, assinala que o objetivo era alavancar a produção através de incentivos

financeiros, mas sem oferecer isenção fiscal: O PRODUZIR visava amparar projetos industriais direcionados à implantação de novos empreendimentos; expansão e diversificação da capacidade produtiva; modernização tecnológica; gestão ambiental; aumento de competitividade; revitalização de unidade industrial paralisada. (GONÇALES, 2008, p. 78).

Portanto, a criação de todos os programas já citados possuem caráter decisivo para a

consolidação da transformação da agricultura no estado de Goiás, visto que

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representaram o grande estímulo a todas as mudanças ocorridas, tais como

modernização da base técnica e instalação de novas indústrias.

Mas, existem outros aspectos que também contribuíram para a efetivação da fronteira

agrícola nesta região, a exemplo, da criação em 1973 da Empresa Brasileira de

Pesquisas Agropecuárias – EMBRAPA, com o objetivo de “criar e difundir tecnologia,

visando ao aumento de produtividade no setor agrícola, aumentando os excedentes

exportáveis e nivelando as microrregiões no processo de desenvolvimento agrícola no

país”, destacado por Pires (2000, p.115), uma vez que novas áreas puderam ser

incorporadas ao processo produtivo.

Outro importante fator que deve ser ressaltado, e caracteriza um componente das

políticas públicas que favoreceram a ocupação das áreas de cerrado, é o crédito agrícola,

sendo ofertado “em função da necessidade de aumentar a demanda por máquinas e

insumos por parte dos empresários e fazendeiros rurais” como considera Alves; Salgado

(2007, p. 8). E para complementar, Pires (2000) argumenta de forma crítica o caráter

desse incentivo governamental: [...] as linhas de crédito implantadas pelo governo estavam atreladas à compra de insumos modernos, ampliando a dependência do setor produtivo agrícola ao setor produtor de insumos. O Estado fornecia incentivos e subsídios e, assim, criava demanda aos produtos do complexo agroindustrial, impulsionando os setores dinâmicos da economia, notadamente o da indústria. (PIRES, 2000, p. 116).

Ao chegar à região Centro-Oeste, a fronteira agrícola promoveu o desenvolvimento

agrícola de Goiás tendo em vista que há um incremento da base produtiva e,

consequentemente, a ampliação da produtividade. Assim, Pedroso; Silva (2005)

afirmam: Com a incorporação das áreas de cerrado na expansão da fronteira agrícola, e com o novo padrão tecnológico da Revolução Verde, culturas que até então não eram comuns nesta região, como é o caso da soja, foram introduzidas substituindo o antigo padrão praticado nas áreas de cerrado: pecuária extensiva e produção de alimentos básicos. (PEDROSO; SILVA, 2005, p. 24).

Assim, como é assinalado por Silva; Miziara (2011, p. 400-1), “o termo expansão de

fronteiras agrícolas, atualmente, refere-se às modificações na forma de uso, ocupação e

implementação de tecnologia na terra”, sendo importante ressaltar a contribuição das

condições climáticas e topográficas dessa região para a plena execução dessas novas

formas de produção.

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A partir da consolidação da fronteira agrícola no estado de Goiás é possível destacar

uma característica peculiar decorrente desse processo que se traduz no fato de ter

ocorrido paralelamente a afirmação do latifúndio enquanto modelo de propriedade

predominante, tendo em vista que apenas “[...] uma pequena parcela dos produtores

rurais foi beneficiada pelo Programa [POLOCENTRO], de modo geral, as linhas de

financiamento agrícola primaram pela seletividade, patrocinando prioritariamente os

grandes latifundiários integrados ao mercado.”conforme salientam Cavalcanti; Barreira

(2011, p.185, grifo nosso).

Neste sentido, um aspecto apresentado por Alves; Salgado (2007, p. 9) contribui para

corroborar tal afirmação, pois afirmam que as transformações técnico-produtivas e o

decorrente fluxo de empresários procedentes do Sul e Sudeste “ocasionou uma maior

concentração fundiária a partir de 1970, levando à valorização das terras”. Essa é uma

característica negativa desse processo que, portanto, não abarcou todos os tipos de

produtores agrícolas, como o pequeno produtor, por exemplo, e contribuiu para acentuar

as desigualdades do ponto de vista produtivo.

Outro importante resultado pode ser visto na dinâmica de produção que se instalou em

Goiás, uma vez que é possível a completa integração entre a indústria e a agricultura tal

como afirma Fernandes (2006): A partir da década de 1960, a integração indústria /agricultura assumiu uma nova configuração, a qual se consolida com os Complexos Agroindustriais, a junção entre agroindústrias (as quais compram produtos agropecuários para a industrialização, sub-setores da indústria), setor agropecuário e indústrias fornecedoras de insumos e equipamentos. (FERNANDES, 2006, p. 44).

Salientando o caráter de avanço e aprimoramento da produção agrícola no estado como

grandes conquistas desse processo pautado na realização de programas como o

POLOCENTRO, um fator deve ser ressaltado no tocante a incorporação quantitativa das

áreas de cerrado. A partir desse programa, constatou-se que essas são áreas viáveis

economicamente à agricultura comercial, e assim transformou-se o Planalto Central “em

um dos maiores celeiros mundiais” (CAVALCANTI; BARREIRA, 2011, p. 185).

Dessa forma, os índices de produtividade sofreram grandes alterações durante esse

processo tendo em vista que as políticas públicas representam o grande impulso para

essa nova realidade produtiva do estado de Goiás conforme aponta Gonçales (2008, p.

62), pois são “decisivas na aceleração do processo de diferenciação e de diversificação

da produção agrícola”. Assim, destacam-se produtos como cana-de-açúcar, algodão,

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soja, milho, sorgo, feijão, tomate, dentre outros, como pode ser visualizado a partir de

dados do IBGE (2010) na tabela 2 que indica os principais produtos agrícolas, sendo

que a produção de grãos do estado representa aproximadamente 10% da produtividade

nacional.

Tabela 2: Principais produtos agrícolas no estado de Goiás - 2010

Produto (em Toneladas) Quantidade Produzida Participação Goiás/Brasil

Cana-de-açucar 48.00.163 6,69%

Soja (em grão) 7.252.926 10,54%

Milho (em grão) 4.707.013 8,49%

Tomate 1.377.322 33,47%

Sorgo (em grão) 611.665 39,92%

Feijão (em grão) 288.816 9,14%

Algodão herbáceo (em caroço) 180.404 6,11%

Abacaxi* 52.213 3,55%

Alho 39.247 37,69%

Fonte: Produção Agrícola Municipal (PAM)/IBGE (2010). * Mil frutos. Org.: Os Autores.

Cabe realçar que todas as características que colaboraram para a expressiva

incorporação da região Centro-Oeste, e principalmente o estado de Goiás, ao processo

de modernização da produção agrícola foram determinantes para as diversas

transformações desencadeadas pelaconsolidação da fronteira agrícola. Assim,

intensificou-se o uso do solo nas áreas de Cerrado e diversificou-se a produção, sendo a

representativa participação no mercado nacional e, até mesmo a presença nas

comercializações internacionais, os resultados mais significativos em termos

econômicos para o estado.

A dinâmica de atuação dos Complexos Agroindustriais no Sudoeste de Goiás A expansão da fronteira agrícola, com a modernização do campo, proporcionou em

Goiás a instalação dos Complexos Agroindustriais (CAIs), que estão associados

também à industrialização do campo, pois, os CAIs ligam atividades agrárias aos

setores da agroindústria, e sua estrutura produtiva é intermediada pelos mercados

internos e externos “os quais influenciam na articulação e re-articulação dos setores do

complexo” (BORGES, 2006, p. 25).

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Sendo assim, a agricultura nessa região visa à exportação e a sustentação dos

Complexos Agroindustriais. Neste sentido, Borges (2006) destaca a Perdigão

Agroindustrial, que ao ser instalada torna-se um front para o CAI de carnes, e abre

espaço para a agroindustrialização. Para isso, o autor salienta a importância do projeto

Buriti, que foi instalado pela própria empresa, em Rio Verde, com o objetivo de

estabelecer os primeiros contatos e parcerias com alguns produtores rurais para a

produção de matrizes.

No município de Mineiros, a instalação da Perdigão se deu por vias do projeto

Araguaia: o projeto terá investimentos da ordem de 510 milhões, desse total a empresa arcará com cerca de 240 milhões, com o apoio do financiamento do Programa de Crédito Especial do Governo de Goiás e de recursos do BNDES. Os outros 270 milhões serão aplicados pelos produtores integrados na construção dos módulos, com recursos do FCO, como ocorreu com o "Projeto Buriti" em Rio Verde, e do FAT (Fundo de Aparo ao Trabalhador). (BORGES, 2006, p. 194).

Dessa forma, fica evidente a importância dos incentivos fiscais e recursos do Estado

como fatores que impulsionaram a expansão da fronteira agrícola e a instalação de

Complexos Agroindustriais, tomando com exemplo a empresa Perdigão, tanto no

município de Rio Verde quanto de Mineiros: Mais uma vez, pode-se perceber que os investimentos são fortemente custeados pelo Estado, tanto na esfera federal quanto nas estadual e municipal. A empresa irá aplicar um valor reduzido de recursos próprios, a exemplo do que ocorreu com a unidade de Rio Verde. (BORGES, 2006, p.194).

Ainda conforme a análise do autor supracitado, acerca do processo de instalação e

atuação da Perdigão Agroindustrial no município de Rio Verde, para se integrarem ao

sistema produtivo os agricultores adequam a produção às necessidades da empresa, e

assim, muitos têm que diversificar suas atividades. Além disso, o autor afirma que

aliado a esses fatores ocorre a inserção de um “conjunto de informações técnicas e de

mercado”.

Essas informações técnicas estão também relacionadas às políticas de desenvolvimento

econômico do Cerrado, como o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados

(POLOCENTRO) e o Programa de Cooperação Nipo-brasileira para o Desenvolvimento

dos Cerrados (PRODECER), que foram políticas públicas que visavam o

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desenvolvimento econômico da região, assim como os programas FOMENTAR e

PRODUZIR.

Como resultado da forte atuação estatal por meio destes programas especiais de

desenvolvimento do Cerrado e das políticas públicas o estado de Goiás se constitui

como um dos maiores produtores de grãos do país, tendo em vista que se destaca como

o quarto maior produtor de soja, com uma área de 2.445.600 hectares e uma produção

de 7,2 milhões de toneladas, conforme os dados do IBGE (2010). Tal rentabilidade tem

sido garantida pelas condições naturais favoráveis e pela incorporação do que há de

mais avançado em biotecnologia no mundo e disponível no Brasil.

Com relação ao POLOCENTRO, que tinha como um dos objetivos precípuos a

adequação do Cerrado à produção de grãos, a atuação da EMBRAPA no

desenvolvimento e na geração de novas tecnologias. (FERREIRA; MENDES, 2009).

Dada a relevância desse programa, Carmo et al.(2002) ressaltam que essas políticas de

desenvolvimento “consolidaram a cultura da soja na região, que se tornaria a base do

complexo agroindustrial de grãos/carnes que viria em seguida” (p.2).

Tanto os programas de desenvolvimento (como PRODECER e POLOCENTRO),

quanto os CAIs são motores do desenvolvimento tecnológico no campo que conforme

Borges (2006) e Ferreira; Mendes (2009) é algo bastante presente na região sudoeste de

Goiás, uma vez que se investe cada vez mais em pesquisa e tecnologia para a

modernização e aumento da produção agropecuária. Um exemplo disso é dado por

Carmo et al (2002): a Cooperativa Mista dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo) instalou um Centro Tecnológico em uma área de 114 hectares, aplicando em torno de R$ 500 mil em projetos de investigação científica e tecnológica nas culturas de milho, algodão, soja, trigo, sorgo e arroz (CARMO et al. 2002 p.4).

Ainda em relação à tecnificação da agricultura no sudoeste goiano, Borges (2006) faz

uma crítica a esse modelo de desenvolvimento que desfavorece e exclui o pequeno

produtor: “as políticas agrícolas quase sempre são setoriais e atingem parcelas de

produtos, ou são destinadas à tecnificação da produção, onde os pequenos produtores

ficam excluídos” (BORGES, 2006, p.5).

Os altos índices de produção de grãos e elevado nível de tecnificação são características

semelhantes entre os municípios de Rio Verde, Mineiros e Jataí, além da vegetação

predominante de Cerrado. Porém, é importante ressaltar que cada um desses municípios

possui suas especificidades.

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Carmo et al. (2002) apontam que Rio Verde é o mais desenvolvido dentre os três

municípios, e Mineiros o menos desenvolvido. Essa afirmação corrobora com Borges

(2006 p.14), que destaca Rio Verde como “o maior arrecadador de impostos sobre

produtos agrícolas, uma vez que é o maior produtor de grãos do estado de Goiás e

centro difusor de novas tecnologias no campo”.

O Produto Interno Bruto (PIB) de Rio Verde, arrecadado em 2007 foi responsável pelo

destaque do município em nível estadual, conforme o relatório elaborado pela Secretaria

do Estado de Gestão e Planejamento (SEPLAN): “Rio Verde gerou um Produto Interno

Bruto (PIB), em 2007, de R$ 3,083 bilhões, posicionando-se como o terceiro município

mais rico de Goiás” (SEPLAN, 2010.)

Em 2009, esse valor atingiu a cifra de R$ 4,260 bilhões. Nos mesmos períodos (2007 e

2009) o PIB do município de Jataí correspondeu a R$1,330 bilhões e R$ 1,930 bilhões,

em Mineiros os valores de 2007 e 2009 foram de R$ 0,622 bilhões e R$ 0,886 bilhões

respectivamente (SEPLAN, 2012).

Possivelmente devido ao crescimento econômico, a população de Rio Verde é

expressivamente maior: 176.424 habitantes (92,7% urbana e 7,3% rural), conforme os

dados do censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),

enquanto Jataí possui 88.006 habitantes (92,1% urbana e 8,0% rural), e Mineiros 52.935

habitantes (91,2% urbana e 8,8% rural). Essas comparações são válidas para

ressaltarmos as especificidades e diferenças dos municípios em questão, sobretudo

relacionado ao seu desenvolvimento socioeconômico.

O município de Jataí ocupa uma posição intermediária dentre esses três municípios, em

termos de infraestrutura. Assim, é destacado que embora não possua o dinamismo

econômico de Rio Verde, apresenta uma infraestrutura mais completa comparada ao

município de Mineiros.(CARMO et. al. 2002).

O município de Mineiros, embora figure entre os três municípios mais desenvolvidos da

região do Sudoeste de Goiás é considerado o menos dinâmico, pois “[...]é o mais carente

em termos de infraestrutura, tanto pública como privada (CARMO et al. 2002)”. Além

disso, segundo esses autores, possui características como: produtores mais ligados à

pecuária, e imigrantes sulistas produzem grãos empregando alta tecnologia, aproveitando

terras anteriormente inaptas ao cultivo. Carmo et al. (2002) também discorrem sobre as

dificuldades enfrentadas pelo pequeno produtor, sobretudo o de leite, devido aos baixos

preços pagos pelo produto. Porém de acordo com o relatório da SEPLAN (2010), com a

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instalação da Perdigão Agroindustrial,as estatísticas do município estão mudando,

ocorrendo um aumento na arrecadação de ICMS e crescimento do PIB.

A partir de um panorama geral desses três municípios é possível perceber que embora

tenham especificidades em termos de desenvolvimento, há semelhanças no que

concerne a estrutura produtiva que está pautada na atuação dos Complexos

Agroindustriais e no modelo exportador do agronegócio, tal como fica evidente nos

mapas da figura 02. Além disso, a modernização e industrialização, que não ocorrem de

maneira homogênea nestes municípios, são fatores importantes para a compreensão de

suas dinâmicas econômicas e produtivas.

Figura 2: Evolução espacial das principais atividades agrícolas na região do Sudoeste de Goiás

Org.: Os autores. Dessa maneira, embora os municípios da região do Sudoeste de Goiás se assemelhem

em termos de produção econômica, o desenvolvimento não se dá de maneira

homogênea, uma vez que fatores como a modernização, industrialização, políticas

públicas e incentivos fiscais (entre outros fatores), podem influenciar significativamente

no crescimento e desenvolvimento da região.

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A partir dos anos 2000, nota-se a territorialização do Complexo Agroindustrial

Sucroalcooleiro especialmente a partir de 2005, no estado de Goiás, embora o estado já

tenha se constituído em área de investimento do PROALCOOL na década de 1980.

No ano de 2011 a área ocupada com cultivo de cana-de-açúcar foi de 678.420 hectares e

produção de 48.032.100 toneladas, conforme os dados do CONAB (2012) o que indica

aumento considerável comparando-se com os dados referentes a à safra 2006/07 cujos

dados indicam área cultivada de 234.900 ha e produção de 18.723.400 toneladas de cana

de açúcar (CONAB, 2007).

O avanço da cana-de-açúcar nas áreas do Cerrado de uma maneira geral, e no estado de

Goiás ocorre nas áreas até então ocupadas pelo cultivo de grãos com destaque para a

soja, bem como nas áreas de pastagens conforme salientam CASTRO et. al. (2010).

Esse processo provoca aumento da população dos municípios onde se instalam as usinas

e o cultivo de cana de açúcar. A tendência é de aumento da população urbana, pois além

da imigração, em razão da geração de empregos verifica-se tambéma migração de

produtores e trabalhadores rurais para a cidade aumentando a população urbana. Os

dados referentes a população dos municípios de Rio Verde, Jataí e Mineiros

apresentados anteriormente, são elucidativos neste sentido.

Constata-se a existência de disputas territoriais entre os atores territoriais doComplexo

de Grãos e Carnes e àqueles do ComplexoSucroalcooleiro, em Goiás, com

envolvimento de toda sociedade local. Isto pode ser evidenciado, no caso do município

de Rio Verde onde foi promulgada lei municipal em 2006 (Lei nº 5.200/2006)

estabelecendo limitação para o cultivo de cana a 10% da área territorial do município.

No caso do município de Jataí, foi apresentado o Projeto de Lei nº 070/2010, com o

claro objetivo de regulamentar a expansão do Complexo Sucroalcooleiro no território

municipal, conforme destaca Silva (2011): Diante da possibilidade de que o cultivo de cana-de-açúcar avance sobre áreas de chapadões do município de Jataí, diversos sojicultores e algumas associações de classe pleitearam junto ao executivo municipal a criação de mecanismos para impedir que suas atividades fossem prejudicadas pelo avanço do setor sucroenergético. A resposta do executivo municipal foi dada através da proposição de um Projeto de Lei (PL) junto à Câmara Municipal, com a finalidade de criar mecanismos de ordenamento espacial que fossem capazes de impedir que o plantio de cana avançasse sobre as lavouras. (SILVA, 2011, p. 171).

A ação do poder público municipal tanto em Rio Verde, quanto em Jataí visa

claramente atender aos interesses do Complexo Agroindustrial de Grãos e Carnes,

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capitaneado pelo grupo Perdigão Agroindustrial, dentre outras empresas, que dependem

da produção de grãos e outros produtos agrícolas para o fornecimento de matéria-prima

para o processamento industrial.

Considerações finais Buscamos no presente trabalho, analisar a expansão da fronteira agrícola na região

Centro-Oeste e a consolidação dos Complexos Agroindustriais decorrente deste

processo em Goiás, com destaque para a região sudoeste deste estado.

Conforme se verificou a atuação estatal, tanto federal quanto estadual, foi fundamental

para a territorialização da fronteira agrícola não somente no estado de Goiás, mas em

todas as regiões que se configuram enquanto domínio do Cerrado.

Dentre os grupos econômicos beneficiados com a atuação estatal, tendo em vista que

usufruíram direta e/ou indiretamente dos incentivos propiciados pelos Programas Especiais

de incorporação do Cerrado à fronteira agrícola, estão os vinculados aos Complexos

Agroindustriais de Grãos e Carnes, e mais recentemente do Complexo Sucroalcooleiro.

O territorialização do Complexo Sucroalcooleiro na última década inaugurou uma era

de disputas territoriais tanto no âmbito do controle das áreas produtivas quanto na esfera

do acesso aos incentivos propiciados pelas políticas públicas e programas especiais

governamentais (federal, estadual e municipal).

A atuação dos governos municipais de Jataí e Rio Verde, no sudoeste goiano, é

elucidativa da pressão dos grupos econômicos vinculados ao Complexo Agroindustrial

de Grãos e Carnes, capitaneados pela Perdigão Agroindustrial. Conforme

demonstramos, ambos os municípios agiram na tentativa de ordenar o território

municipal para limitação da territorialização do Complexo Sucroalcooleiro em áreas

destinadas para a produção de grãos que se constituem como matérias-primas

fundamentais para o desenvolvimento do Complexo de Carnes.

Em que pese as disputas territoriais entre estes grupos sociais hegemônicos, nossa

preocupação está centrada no papel desenvolvido pela produção familiar na região do

sudoeste de Goiás, que via de regra, mesmo sendo desprovida do acesso direto aos

programas e políticas de desenvolvimento do Cerrado, possui um protagonismo singular

na produção de alimentos e no desenvolvimento de estratégias econômicas para a

manutenção de suas propriedades e o desenvolvimento sociocultural de suas famílias.

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