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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO EXMO(A). JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA ___ª V ARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE PERNAMBUCO. PEÇAS DE INFORMAÇÃO 1.26.000.002016/2009-31 AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL DENÚNCIA 0152/2010 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do procurador da República que esta subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, notadamente as conferidas ex vi do art. 129, inciso I, da Constituição Federal, e do art. 24 c/c art. 41 do Código de Processo Penal, vem, à presença de Vossa Excelência, oferecer a presente D E N Ú N C I A em desfavor de JOSÉ GUILHERME QUEIROZ FILHO, brasileiro, casado, empresário, inscrito no CPF sob o nº 448.659.534-34, portador do RG nº 2442104-SSP/PE, residente e domiciliado na Rua Padre Roma, nº 688, apto 902, Parnamirim, Recife/PE, CEP: 52.060-060, pela conduta delituosa que passa a expor: I – DOS FATOS No período compreendido entre 03/02/2009 a 13/02/2009, foi realizada 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO

EXMO(A). JUIZ(ÍZA) FEDERAL DA ___ª VARA FEDERAL CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO ESTADO DE

PERNAMBUCO.

PEÇAS DE INFORMAÇÃO Nº 1.26.000.002016/2009-31AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

DENÚNCIA Nº 0152/2010

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por intermédio do procurador da

República que esta subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, notadamente as

conferidas ex vi do art. 129, inciso I, da Constituição Federal, e do art. 24 c/c art. 41 do Código

de Processo Penal, vem, à presença de Vossa Excelência, oferecer a presente

D E N Ú N C I A

em desfavor de

JOSÉ GUILHERME QUEIROZ FILHO, brasileiro, casado, empresário, inscrito no CPF sob o

nº 448.659.534-34, portador do RG nº 2442104-SSP/PE, residente e domiciliado na Rua Padre

Roma, nº 688, apto 902, Parnamirim, Recife/PE, CEP: 52.060-060,

pela conduta delituosa que passa a expor:

I – DOS FATOS

No período compreendido entre 03/02/2009 a 13/02/2009, foi realizada

1

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fiscalização pelo GEFM – Grupo Especial de Fiscalização Móvel – Ministério do Trabalho e

Emprego – no Engenho Ribeiro Grande S/A, situado na zona rural do município de Aliança/PE,

pertencente à empresa Usina Cruangi S/A (CNPJ 11.809.134/0001-74), cuja responsabilidade

administrativa encontra-se sob os cuidados do empresário JOSÉ GUILHERME QUEIROZ

FILHO, tendo por objeto a exploração da agricultura para o comércio de cana- de- açúcar.

A citada operação foi desencadeada em razão do planejamento de ações

levado a efeito pela Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo - DETRAE, com

base em rastreamento elaborado por auditores-fiscais acerca do setor sucroalcooleiro.

Assim, foi realizada inspeção in loco, iniciada no dia 05/02/2009, ocasião

em que fora constatada flagrante situação de trabalho em condição degradante, conforme Relatório

de Inspeção anexado aos autos.

Na ocasião, foram verificadas diversas irregularidades em relação a 252

(duzentos e cinquenta e dois) trabalhadores, tendo sido reconhecida a incidência de trabalho

análogo ao de escravo na modalidade condições degradantes de trabalho. Impende ressaltar que 27

(vinte e sete) trabalhadores eram adolescentes, com idade inferior a 18 anos, sendo que destes, 06

(seis) tinham idade inferior a 16 anos (f. 11, do Anexo 1/4).

a) DO ENGENHO FISCALIZADO

O Engenho Ribeiro Grande está localizado na zona rural do município de

Aliança/PE e pertencente ao Grupo da Usina Cruangi S/A. Esta empresa, com sua planta industrial

instalada no município de Timbaúba/PE, tem como atividade econômica a produção de açúcar,

utilizando-se da cana-de-açúcar produzida em suas propriedades ou comprada de fornecedores da

região, para moagem (f. 08 do Anexo 1/4).

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Conforme cópia da Ata das Assembleias Gerais, ordinária e extraordinária,

da Usina Cruangi S/A (Anexo 1/6), fornecida pelo Cartório Único de Aliança/PE, a administração

da empresa e, portanto, dos engenhos a ela pertencentes, cabe ao diretor executivo JOSÉ

GUILHERME QUEIROZ FILHO.

Segundo acertado entre os gerentes da Usina Cruangi, e os intermediários

(“gatos”) José Ramos Gouveia da Silva (vulgo “Murici”), Rudmar Mendes Mariz e Antônio

Caetano de Freitas, o Engenho Ribeiro Grande deveria manter uma produção diária de 500t

(quinhentas toneladas) de cana cortada (Anexo 1/4). Para tanto, era utilizada a mão-de-obra de 252

(duzentos e cinquenta e dois) trabalhadores, dos quais 27 (vinte e sete) eram adolescentes, com

idade inferior a 18 anos, sendo que destes, 06 (seis) contavam com menos 16 anos. Trazemos à

colação o nome desses menores (ff. 19/20 do Anexo 1/6):

Nome do trabalhador menor Data de nascimento1. Adelmo Barbosa de Carvalho 21/01/1994 (15 anos)2. Álvaro Antônio de Freitas 18/02/1992 (16 anos)3. Antônio Caetano Barbosa 05/07/1991 (17 anos)4. Artur Vicente Ferreira 08/12/1991 (17 anos)5. Bruno José de Freitas 11/11/1991 (17 anos)6. Carlos Roberto de Souza 04/04/1991 (17 anos)7. Edson Correia de Oliveira 05/09/1992 (16 anos)8. Erbison Carlos Feliciano 04/03/1991 (17 anos)9. Felipe José Ferreira da Silva 01/10/1994 (14 anos)10. Gil Max Barbosa da Silva 12/12/1992 (16 anos)11. Itamar José Dias Gomes 22/11/1992 (16 anos)12. Izac da Silva Rodrigues 03/03/1992 (16 anos)13. Jeferson Francisco Gomes 10/03/1993 (15 anos)14. José Ailson da Silva 16/05/1991 (17 anos)15. José Breno da Silva 07/01/1993 (16 anos)

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16. José Leonardo Ferreira de Araújo 13/12/1991 (17 anos)17. José Paulo de Souza Bisneto 16/10/1992 (16 anos)18. Lucas Jorge da Silva 19/04/1994 (14 anos)19. Luciano Paulo da Silva Santos 17/12/1994 (14 anos)20. Luiz Carlos de Carvalho 28/04/1992 (16 anos)21. Rafael Antônio da Silva 23/12/1991 (17 anos)22. Romário da Silva Alves 16/12/1991 (17 anos)23. Tarcizio José da Silva 20/08/1991 (17 anos)

Todos os trabalhadores desempenhavam atividades essenciais ao

empreendimento da Usina e foram arregimentados por intermediários (“gatos”) nos municípios

próximos ao Engenho Ribeiro Grande. Além de não haver o competente registro na CTPS dos

empregados, também não havia qualquer controle, manual ou eletrônico, da jornada de trabalho

destes (entrada - saída - intervalo para refeição).

O controle da produção ficava a cargo dos gerentes do Engenho: Antônio

Pedro e José Firmino. Já o pagamento dos trabalhadores era realizado pelos intermediários, mas

tanto o dinheiro como a determinação dos serviços a serem executados, eram sempre repassados

àqueles pelo administrador da Usina Cruangi S/A, o denunciado JOSÉ GUILHERME QUEIROZ

FILHO.

b) DAS CONDIÇÕES DEGRADANTES DE TRABALHO CONSTATADAS

Em decorrência das irregularidades trabalhistas ali certificadas,

caracterizadoras de condições degradantes de trabalho, foram lavrados vinte e um autos de infração

no bojo da ação fiscalizadora (Anexo 4/4), dentre as quais destacam-se as seguintes faltas:

1 - os trabalhadores não auferiam 01(um) salário mínimo por mês, inexistindo, ainda, registro nas respectivas CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social), além de alguns empregados sequer possuírem tal documento;

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2 - manutenção em serviço de trabalhador com idade inferior a 16 (dezesseis) anos;3 - ausência de exame médico admissional, tampouco de exames periódicos anuais;4 – manutenção de empregado com idade inferior a 18 (dezoito) anos em atividade ou locais e serviços insalubres ou perigosos;5 - ausência de fornecimento de água potável, fresca e em abundância, para a hidratação necessária durante o trabalho. Os empregados improvisavam garrafas do tipo PET ou levavam suas próprias garrafas térmicas para acondicionar água, e ao longo da jornada de trabalho, quando a água acabava, ou pediam para outros colegas ou ficavam com sede; as vezes reabasteciam as garrafas em córregos próximos das frentes de trabalho, cuja qualidade da água, sem qualquer tratamento, apresenta-se extremamente duvidosa para o consumo humano;

Foto 1: garrafas onde alguns trabalhadores armazenavam água para beber

5 - inexistência de equipamentos mínimos de proteção individual, tais como, luvas, botas, touca árabe (entre outros), sendo que os próprios empregados compravam suas ferramentas (enxada, foice, facão, estrovenga) utilizadas na lida que, igualmente, não eram fornecidas pelo empregador;

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Foto 2 e 3: trabalhadores encontrados em atividade de corte de cana calçando sandálias

Foto 4: Detalhe das mãos do trabalhador em função da falta de uso de EPI.

6 - ausência no fornecimento de alimentação, ficando a cargo dos próprios trabalhadores trazerem sua marmita, além da inexistência de local adequado para acautelamento dos alimentos (marmitas térmicas, refrigeradores, etc), bem como para a realização das refeições, que eram efetuadas no chão, quando o alimento não azedava sob o sol quente.

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Saliente-se, ainda, a falta de água para higiene durante as refeições;7 - inexistência de material necessário à prestação de primeiros socorros, bem como de pessoa apta a prestá-los;8 - ausência de garantia da remoção do trabalhador acidentado, em caso de urgência;9 - falta de instalações sanitárias para necessidades fisiológicas, sendo os trabalhadores forçados a utilizarem o relento da plantação para efetivação da aludida finalidade, expondo-se a doenças, ataques de animais peçonhentos, além de problemas de saúde.

Aproveitando o ensejo, cabe tecer algumas considerações acerca das

condições a que eram submetidos os empregados na frente de trabalho. Conforme narra o relatório

de fiscalização (Anexo 1/4):

“Constatamos 252 empregados submetidos a condições de trabalho e de vida que aviltam a dignidade humana e caracterizavam condições de trabalho análogo a de escravo na modalidade condições degradante de trabalho, conforme capitulado no art. 149 do Código Penal. A situação em que encontramos os referidos trabalhadores está em evidente desacordo com os Tratados e Convenções Internacionais ratificados pelo Brasil, a saber: as Convenções da OIT nº 29 (Decreto nº 721/1957) e 105 (Decreto nº 58.822/1966), a Convenção sobre escravatura de 1926 (Decreto nº 58.563/1966) e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica – Decreto nº 678/1992), os quais tem força cogente própria das leis ordinárias, não se podendo afastar seu cumprimento na seara administrativa.(...)Os trabalhadores foram contratados via empreiteiros e ou “gatos” senhores de nomes: Rudmar Mendes Mariz; José Ramos Gouveia da Silva - “MURICI” e Antônio Caetano de Freitas e não tiveram seus contratos de trabalho formalizados e muito menos o registro junto às fichas de registro de empregados da Usina Cruangi S/A, todos sem exceção estavam sem registro, ou na linguagem dos empreiteiros “eram clandestinos”. Entre os 252 trabalhadores identificados pelo GEFM, 27 eram adolescentes com idade inferior a 18 anos, sendo que destes, 6 com idade inferior a 16 anos.A atividade de corte-de-cana é classificada pelo Decreto nº 6.481/2008, que regulamenta os artigos 3º, alínea “d”, e artigo 4º da Convenção 182 da OIT, como uma das piores formas de trabalho infantil e em hipótese nenhuma os menores poderiam estar trabalhando na referida atividade. (...)Entre os trabalhadores, 61 foram contratados sem possuir CTPS (…)Os trabalhadores encontrados na atividade de corte de cana foram

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contratados para receber por produção ao preço de R$ 5,00 a tonelada de cana cortada. Estes trabalhadores cortam em média, cerca de 3 (três) a 4 (quatro) toneladas de cana por dia e o pagamento era feito somente para o total de cana que cada trabalhador conseguia cortar, (...). Os dias em que não houve trabalho em razão de fatores climáticos como a chuva, que impediu a queima da cana, não houve o pagamento deste dia, transferindo para o trabalhador o risco da atividade econômica. O repouso remunerado também não fora assegurado, uma vez que o pagamento dava-se pela produção diária do trabalhador.Os trabalhadores e seus “gatos” nos informaram que na semana de 26.01.2009 a 30.01.2009, houve corte de cana somente em três dias, que nos outros dois dias, como não houve queima da cana, não houve corte, nesta semana os trabalhadores receberam somente os valores referente a produção dos três dias e que variava de R$ 15,00, R$ 45,00 e R$ 65,00, valores que não atingem o salário mínimo garantido pela Constituição Federal.Os trabalhadores estavam submetidos a jornadas diária que variava de 11 a 13 horas (computadas as horas in itinere), os trabalhadores informaram que em geral eram apanhados nos pontos de ônibus entre as 04:00 e 04:30 horas da manhã e retornam para suas casas entre as 17:00 e 18:00 horas. (...)O intervalo para alimentação também era irregular, variando de vinte minutos à uma hora, pois como o trabalho era remunerado por produção, o trabalhador em geral gastava o tempo mínimo necessário a sua alimentação.Inexistia qualquer controle de jornada. A contratação dos mesmos deu-se sem que fossem submetidos a exame admissional antes assumir suas atividades, bem como nenhuma avaliação clínica e/ou exames complementar que avaliassem a capacidade do empregado em razão do risco a que estava exposto;A empresa não fornecia aos trabalhadores água potável para beber, pois os trabalhadores declararam que traziam a água de casa (alguns em garrafas de refrigerante reutilizadas) outros em garrafas térmicas de sua propriedade, uma vez que a empresa não fornecia água, e que antes do meio dia a água costumava acabar ou ficar quente, tornando-a inadequada para o consumo humano.Segundo depoimento tomados a termo de trabalhadores, quando a água acabava, caso ainda existisse atividade, os mesmos a desenvolviam sem a devida reposição, o que deveria ser fornecida e reposta pela empresa. Não havia abrigos rústicos que pudessem proteger os trabalhadores dos rigores da irradiação solar, por ocasião das raras pausas e das refeições. As atividades são exercidas sobre sol escaldante com o agravante de exigirem movimentos constantes dos membros superiores e inferiores bem

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como do tronco, tal tipo de atividade é classificada como pesada, de acordo com o quadro nº 3 – taxa de metabolismo por tipo de atividade – da Norma Regulamentadora NR-15. Esta irregularidade, aliada ao calor excessivo, com temperatura elevadas, e a organização do trabalho estabelecida sobre parâmetros de produtividade, concorre para fadiga muscular crônica, desidratação com sérias repercussões para o organismo humano, especialmente para o sistema circulatório e urinário.(…) As refeições são realizadas nos próprios locais de trabalho, a céu aberto, feitas às pressas, em razão da dinâmica da produtividade, sem respeitar a pausa intra-jornada regulamentar, podendo, assim, provocar transtornos gastrointestinais e metabólicos. O armazenamento inadequado das “marmitas” que eram dispostas em mochilas junto ao canavial, sob o sol escaldante, concorre para a fermentação prematura da alimentação, tornando a comida inadequada para o consumo. Há relato de trabalhadores que ou “comiam a comida assim mesmo”, ou “chupavam cana para aguentar”. A ausência do fornecimento de água obrigava os trabalhadores a economizarem suas águas, e não raro, almoçavam sem lavas as mãos.As necessidades fisiológicas são realizadas sem nenhuma higiene e no meio do canavial, haja vista que nas frentes de trabalho fiscalizadas não eram disponibilizadas instalações sanitárias fixas ou móveis onde os mesmos pudessem utilizar, a ausência dessas instalações possibilitava a disseminação de doenças infecto contagiosas, bem como o risco de serem picados por animais peçonhentos, além de ser um total desrespeito a dignidade da pessoa humana.A empresa também não fornecia aos trabalhadores Equipamentos de Proteção Individual – EPI, tais como: mangotes, proteção para cabeça contra exposição do sol (boné tipo árabe), luvas, botas, óculos adequados para proteção dos olhos, perneiras, etc. E os poucos trabalhadores encontrados usando botas e luvas afirmaram terem comprado estes equipamentos com recursos próprios e/ou utilizavam sapatos velhos.(…)Para a atividade de corte de cana, há necessidade da utilização de facão e lima. O facão e a lima também não foram fornecidos pelo empregador. Cada trabalhador se arranjou como pode, ou comprou, ou pegou emprestado a fim de trabalhar.Todas as condições precárias de trabalho acima descritas, que retratam a ausência do cumprimento de qualquer norma de proteção ao trabalho, combinados com relevo acidentado da área, do piso que se apresenta escorregadio em função da palha acumulada, o tipo de cana popularmente classificada como embolada, e a exposição do trabalhador a chuva, vento e a irradiação dos raios solares, próprios da atividade realizada a céu aberto,

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desenham o cenário das condições de trabalho constatadas pela equipe fiscal.Após a verificação física e a inspeção nas frentes de serviço acima relatadas. Concluímos os 252 que ali laboravam na atividade de corte de cana para a Usina Cruangi S/A estavam submetidos a trabalho análogo a de escravo na modalidade condições degradantes de trabalho.” grifamos

No mesmo passo, os depoimentos prestados pelos trabalhadores confirmam

as inúmeras irregularidades:

“QUE iniciou o serviço na Usina no dia 26.01.2009; (…) QUE o ônibus o apanhava pela manhã em um ponto de ônibus em Cajueiro, as 4:00 horas, chegando no corte as 5:00 horas e iniciava o corte entre 5:30 e 6:00 horas, pois tinha um tempo para tomar café; QUE para o almoço tinha uma parada de aproximadamente uma hora; QUE o serviço terminava a tarde entre 16:00 e 16:30 horas; (…) QUE o Sr. Rudimar e ou a Usina não forneceram bota, perneira, luva, chapéu, facão a garrafa térmica etc; QUE usava calçado, luva e chapéu, facão e garrafa térmica de sua propriedade; QUE a comida que consumia no trabalho era trazida de casa, que a levava em um prato coberto com tampa que ficava dentro da sua sacola; QUE de vez em quando a comida azedava, por causa do calor, mas precisava comer "não tinha outra coisa pra comer", que não passou mal, "to acostumado já"; QUE a água levava de casa, em uma garrafa térmica com capacidade para 5 litros de sua propriedade, e esta água era insuficiente para o dia todo, e quando acaba "tem de pedir para outros", ou procurar em "cacimba perto"; QUE tomava o café e o almoço no próprio corte de cana , e como não tinha local para lavar as mãos utilizava a própria água da garrafa térmica que levou para beber; QUE almoçavam em baixo de uma pequena barraca que construíam com a palha da cana e ou em baixo de "um pé de pau" e quando era muita " ladeira", comiam no próprio sol e que o sol a "um forno" de quente; QUE nas frentes de trabalho não tinha instalações sanitárias. (...)” José Anderson da Silva – ff. 09/10

“QUE no dia 05.02.2009 (quinta feira) estava trabalhando no Engenho Ribeiro Grande, com o encarregado Rudimar, (…); QUE o ônibus o apanhava pela manha em um ponto de ônibus em Tracunhaém as 4:00 horas, chegando no corte as 6:00 e iniciava o corte as 6 :30 horas, pois tinha um tempo para tomar café e tinha que andar um pouco ate chegar no corte; QUE para o almoço tinha uma parada de aproximadamente

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meia hora; QUE o serviço terminava a tarde aproximadamente 16:30 horas e chegava em casa próximo das 18:00 horas; (…) QUE o Sr. Rudimar e ou a Usina não forneceram bota, perneira, luva, chapéu, facão e garrafa térmica etc; QUE comprou o facão para cortar cana, que pagou R$ 10,00; QUE a garrafa térmica já possuía ; usava uma "bota velha que tinha la em casa " e a luva tinha uma da mão esquerda, que ganhou do irmão, pois com a luva "livra de um corte na mão e ou de uma abelha morder"; QUE a comida que consumia no trabalho era trazida de casa, que a levava em uma "baciazinha" de plástico, que ficava dentro da sua sacola e protegia do sol com "um bucado de olho de cana em cima"; QUE de vez em quando a comida azedava, por causa do calor e ai tinha que jogar fora e só comer quando chegava em casa; QUE a água levava de casa, (…) QUE tomava o café e o almoço no próprio corte de cana, e como não tinha local para lavar as mãos utilizava a própria água da garrafa térmica que levou para beber; QUE almoçavam em baixo de uma casinha de cana; QUE nas frentes de trabalho não tinha instalações sanitárias. (...) QUE na frente de trabalho não tem conhecimento de ter material de primeiros socorros. QUE sua CTPS não foi anotada e que ninguém solicitou sua CTPS para anotar; QUE durante o dia não havia nenhum fornecimento de água; QUE não era fornecido nenhum tipo de soro de reposição hidrolítica (…).” Josias Alexandre da Silva – ff. 11/12

“QUE no dia 05.02.2009 (quinta-feira ) estava trabalhando no Engenho Ribeiro Grande, com encarregado Rudimar, (…); QUE o ônibus o apanhava pela manhã em um ponto de ônibus em Tracunhaém as 4:00 horas, chegando no corte entre 6:00 e 6:30 horas e iniciava o corte entre 7:00 horas, pois tinha um tempo para tomar café; QUE para o almoço tinha uma parada de aproximadamente uma hora; QUE o serviço terminava a tarde entre 14:30 e 15: 00 horas; (…) QUE o Sr. Rudimar e ou a Usina não forneceram bota, perneira, luva, chapéu, facão e garrafa térmica etc; QUE usava um "sapato velho que tinha lá em casa" e a luva arrumou emprestada com os amigos, pois com a luva"é melhor, pois protege mais a mão", o chapéu , o facão e garrafa térmica eram próprios; QUE a comida que consumia no trabalho era trazida de casa, que a levava em um "mantimento" uma "baciazinha" de plástico, que ficava dentro da sua sacola e ficava em uma sombra no meio do mato; QUE de vez em quando a comida azedava, por causa do calor e aí os colegas dividiam a deles; QUE a água levava de casa, em uma garrafa térmica com capacidade para 5 litros de sua propriedade, e esta água era insuficiente para o dia todo, aí tinha que apanhar em uma "cacimba perto"; QUE tomava o café e o almoço no próprio corte de cana, e como não tinha local para lavar as mãos utilizava a própria água da garrafa térmica

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que levou para beber; QUE almoçavam em baixo de uma casinha de cana; QUE nas frentes de trabalho não tinha instalações sanitárias; (…) QUE na frente de trabalho não tem conhecimento de ter material de primeiros socorros. QUE sua CTPS não foi anotada e que ninguém solicitou sua CTPS para anotar; QUE durante o dia não havia nenhum fornecimento de água; (...)” Luiz Antônio de Barros – ff. 15/16

Como visto, além de serem submetidos a uma jornada exaustiva, que tinha

início ainda de madrugada, bem antes de chegar às frentes de trabalho, de ficarem expostos a

elevadas temperaturas em decorrência não só do sol escaldante, mas também da prática da queima

da cana antes de seu corte, do esforço físico que a atividade exige, a maioria dos trabalhadores

tinham que enfrentar a escassez de água e de comida. Não é preciso muito esforço para imaginar o

impacto devastador que as péssimas condições de trabalho ao largo da extensa jornada, aliadas à

fome e a sede, à exposição à poeira e à fuligem da cana queimada, causavam no organismo desses

lavradores.

Acrescente-se que dos relatos coligidos na operação, foram ainda

constatadas outras violações, das quais destacamos o transporte em ônibus inapropriado, conduzido

por motorista inabilitado, que trafegava acima de sua capacidade de transporte, com trabalhadores

junto aos instrumentos cortantes, e a inexistência de qualquer assistência médica ou prestação de

socorro aos trabalhadores feridos acidentalmente ou acometidos de algum mal-estar durante a

jornada. A respeito da última irregularidade, é válido conferir os depoimentos de alguns menores

encontrados laborando para a Usina Cruangi S/A:

“Que chegou a se cortar amolando o facão , mas não parou o trabalho, amarrou um pano no dedo e continuou a cortar cana; Que não chegou a ver material de primeiros socorros no ônibus; (...)” Bruno José de Freitas – 17 anos (ff. 28/29 do Anexo 1/6)

“QUE na terça feira , dia 03 .02.09, o facão pegou em seu braço, mas não chegou a cortar, somente machucou, sendo que não trabalhou o resto do dia; QUE na frente de trabalho não ter conhecimento de ter material de primeiros socorros. (...)” Jeferson Francisco Gomes – 15 anos (ff. 43/44 do

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Anexo 1/6)

“Que as vezes se cortava na "canela" durante o corte da cana, Que chegou a presenciar outros trabalhadores se cortando e que estes tinham que esperar o ônibus para poder ir embora , Que não havia carro para socorrer os acidentados, Que não havia material de primeiros socorros, Que os trabalhadores rasgavam a camisa e enrolavam o dedo cortado. (...)” José Leonardo Ferreira – 17 anos (ff. 49/50 do Anexo 1/6)

“QUE um dia ficou tonto, no período da manhã, sendo que o declarante foi para o ônibus, não trabalhando mais naquele dia, e aguardou a turma terminar o trabalho para ir para casa, que comunicou ao Sr. Antônio e no outro dia trabalhou normalmente; QUE na frente de trabalho não tem conhecimento de ter material de primeiros socorros. (...)” Luciano Paulo da Silva Santos – 14 anos (ff. 55/56 do Anexo 1/6)

“Que já tinha se cortado na "canela" durante o corte da cana, Que neste dia do acidente, arrancou um pedaço da calça e amarrou em cima do machucado, Que ainda assim permaneceu trabalhando, (…) Que não havia carro para socorrer os acidentados, Que não havia material de primeiros socorros, (…) Rafael Antônio da Silva – 17 anos - ff. 59/60

Considerado um trabalho penoso1 por excelência, o corte da cana é tido

como uma das formas de trabalho mais agressivos para a criança e o adolescente, prejudicando

severamente seu desenvolvimento físico, psíquico e social e, por isso mesmo, vetado para menores

de 18 anos, nos termos do art. 7º, XXXIII, da Carta Política e do art. 405 da CLT.

Em verdade, o corte de cana-de-açúcar é um misto de trabalho penoso e

perigoso, posto que além de provocar estresse, danos físicos e prejuízos mentais, pode facilmente,

como visto acima, ocasionar acidentes ou danos à saúde da criança ou adolescente trabalhador.

Quase sempre os jovens encontrados nas frentes de trabalho sofrem de desnutrição e excesso de

cansaço físico. Muitos adquirem doenças cardíacas (hipertrofia) e artrose em razão da sobrecarga de

1 Aquele desgastante para a pessoa humana; é o tipo de trabalho que, por si ou pelas condições em que exercido, expõe o trabalhador a um esforço além do normal para as demais atividades e provoca desgaste acentuado no organismo humano. É o trabalho que, pela natureza das funções ou em razão de fatores ambientais, provoca uma sobrecarga física e/ou psíquica para o trabalhador.

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esforço sobre um organismo ainda em desenvolvimento, isso quando não sofrem de enfisema

pulmonar em razão da fumaça e da fuligem que respiram diariamente.

Conforme relatado no início desta exordial, foram encontrados 27 (vinte e

sete) adolescentes, com idade inferior a 18 anos, laborando no engenho fiscalizado, sendo que

destes, 06 (seis) tinham idade inferior a 16 anos. Pior que trabalhar em uma atividade que prejudica

seu desenvolvimento em todos os aspectos, vetada por lei a sua faixa etária, é laborar nesta

atividade sem qualquer respaldo, submetido às péssimas condições das frentes de trabalho

encontradas pela fiscalização. Por estas razões, ao tipificar, no art. 149 do CP, a conduta de reduzir

o trabalhador a condição análoga à de escravo, o legislador estabeleceu como causa especial de

aumento de pena (§2º, I, do art. 149, do CP) a utilização de mão-de-obra infanto-juvenil nessas

condições.

Para exemplificar o cotidiano desses jovens que deveriam estar

frequentando a escola, nada melhor que trechos extraídos dos seus termos de declarações:

“QUE ia trabalhar de ônibus saindo de casa as 04:30 horas e iniciando o serviço das 5:30 horas as 6:00 horas dependendo da distância do "Engenho"e que descansava para tomar cafe uns 20 minutos e de 30 a 40 minutos no almoço; QUE não tinha hora certa para terminar o serviço, normalmente as 17:00 horas mas diversas vezes ficou ate 19;00, 20:00 ou 21:00 horas; QUE nunca recebeu equipamento de proteção como bota, luva perneira, chapéu, facão, garrafa térmica etc; QUE usava calça comprida, boné, sandália; QUE o esmeril e o facão a de sua propriedade; QUE a comida que consumia era trazida de casa em uma bacia de plástico e que as vezes a comida azedava sendo colocada fora, consumindo cana para matar a fome; QUE "quando tinha sombra deixava na sombra" e as vezes somente na sombra da palha da cana que deixava a comida ; QUE somente lavava as mãos para fazer as refeições quando tinha alguma valeta ou cacimba próximo do trabalho; QUE a água era levada de casa em uma garrafa térmica de sua propriedade não existindo água para repor na frente de trabalho; QUE não tinha instalações sanitárias no local de trabalho; (...)” Adelmo Barbosa de Carvalho – 15 anos – ff. 20/21

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“QUE o ônibus o apanhava pela manhã em um ponto de ônibus na Vaquejada as 5:00 horas, chegando no corte as 6:00 e iniciava o corte as 6:40 horas, pois tinha um tempo para tomar cafe e tinha que andar um pouco até chegar no corte e deixava para pegar por último a sua quadra; QUE para o almoço tinha uma parada de aproximadamente uns vinte minutos; QUE o serviço terminava a tarde aproximadamente 15:00 horas e chegava em casa próximo das 17:00 horas; QUE era o Antônio Pedro quem media a cana, sendo que ao final do dia ele dizia quanto deu; QUE o Sr. Caetano, Murici ou a Usina não forneceram bota, perneira, luva, chapéu, facão e garrafa térmica etc; QUE a garrafa térmica, o facão, a bota, a luva, e o chapéu eram do declarante; QUE a comida que consumia no trabalho era trazida de casa, que a levava em uma "lancheira" que ficava dentro da sua sacola e protegia do sol em "baixo da palha"; QUE de vez em quando a comida azedava, por causa do calor e aí tinha que jogar fora e só comia quando chegava em casa; QUE a água levava de casa, em uma garrafa térmica com capacidade para 5 litros de sua propriedade, e esta água era insuficiente para o dia todo a ai ficava sem; QUE tomava o café e o almoço no próprio corte de cana, e que não lavava as mãos, pois não tinha água suficiente; QUE nas frentes de trabalho não tinha instalações sanitárias. (…) QUE sua CTPS não foi anotada e que ninguém solicitou sua CTPS para anotar, QUE durante o dia não havia nenhum fornecimento de água; (...) QUE ninguém lhe perguntou a idade e nem solicitaram documentos. (...)” - Josias Alexandre da Silva – 17 anos – ff. 24/25.

“QUE foi contratado pelo "CAETANO" para cortar cana, no engenho Ribeiro Grande, e que sabe que pertence a Usina Cruangi; (…) QUE o ônibus o apanhava pela manhã em um ponto de ônibus no Trigueiro, as 5:00 horas, e as vezes, quando era mais perto vinha a pé, aí saía de casa as 4:00 horas chegando no corte as 5:30 horas e iniciava o corte as 6:30 horas, pois tinha um tempo para tomar cafe e colocar a roupa, que trocava junto a própria cana; QUE não tinha tempo para almoçar, era almoçar e começar de novo; QUE o serviço terminava a tarde entre 15:30, e chegava em casa as 16:00 horas; QUE era o Antônio Pedro quem media a cana, sendo que ao final do dia ele dizia quanto deu; QUE o Sr. CAETANO e ou a Usina não forneceram bota, perneira, luva, chapéu, facão e garrafa térmica etc; QUE usava calçado, luva e chapéu, facão e garrafa térmica de sua propriedade; QUE a comida que consumia no trabalho era trazida de casa, que a levava em uma vazilha de plástico que ficava dentro da sua sacola, que deixava esta sacola, "quando tinha sombra deixava na sombra", caso contrário "ficava no sol", na própria cana; QUE as vezes a comida azedava e nestes casos não comia; QUE a

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água levava de casa; QUE tomava o café e o almoço no próprio corte de cana, no sol quente e não lavava as mãos pois não tinha água suficiente; QUE a água acabava próximo das 10 horas; QUE nas frentes de trabalho não tinha instalações sanitárias. (...)” Felipe José Ferreira da Silva – 14 anos – ff. 36/37

E não se diga que o denunciado desconhecia a contratação de menores para

o corte de cana em seus engenhos, posto haver diversos depoimentos de trabalhadores informando a

respeito das rondas realizadas nas frentes de corte pelos gerentes da Usina Cruangi, Antônio Pedro e

José Firmino, citados, inclusive, pelos jovens empregados, como cientes da existência de

adolescentes no canavial. É o que se infere dos depoimentos adiante transcritos:

“QUE começou o serviço no dia 26.01.2009 no Engenho que não lembra o nome sendo contratado pelo "SR ANTONIO" e sabia que o encarregado era o "SR RUDIMAR" para cortar cana; QUE tem experiência no corte de cana já trabalhando desde os 13 anos de idade; QUE sabe que o proprietário do Engenho é a Usina Cruangi; (…) QUE o "SR ANTONIO" sabia de sua idade e não solicitou seus documentos; (…) QUE as vezes passava uns segurança da Usina , que vigiava as canas, para cuidar do fogo ; (…)” - Adelmo Barbosa de Carvalho – 15 anos - ff. 20/21

“QUE pertencia a equipe de "Rudimar", no corte de cana; Que trabalhava no corte desde o dia 26/01/2009, como clandestino; Que "Seu Antonio" mandou um recado por um vizinho chamando pra trabalhar no corte da cana de açúcar; Que o mesmo não pediu nenhum documento seu; Que "Seu Antônio Pedro" chegou a perguntar se ele era "de menor", mas que mesmo sabendo que era mandou ele cortar cana ; Que cortava junto com seu irmão, José Breno da Silva , também de menor (…) Que de vez em quando passava um fiscal da empresa no corte; (…) Que somente sabia qual a produção diária e quanto ia ganhar juntamente com seu irmão no final do dia, quando "Seu Antonio Pedro" fazia a medição; Que o técnico de segurança da empresa nunca falou com ele ; (…) - Bruno José de Freitas – 17 anos – ff. 28/29

“QUE iniciou o serviço na Usina no dia 26.01.2009; QUE foi contratado pelo "ANTONIO PEDRO" encarregado do "RUDIMAR" para cortar cana, no engenho Ribeiro Grande, sendo que o Sr. Antônio Pedro informou ser o corte em áreas da usina Cruangi, e informou que pessoas menores de 18 anos não podiam trabalhar; QUE o declarante

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informou a idade ao Sr. ANTONIO PEDRO e este não recusou o serviço; (...)”. - Edson Correia de Oliveira – 16 anos – ff. 32/33.

“QUE foi contratado pelo "MURICI" para cortar cana , no engenho Ribeiro Grande, e que sabe que pertence a Usina Cruangi, e que sabe ser da Usina "par causa que o administrador passava lá", Sr. José Firmino, que conhece o José Firmino pois morou no Engenho Ribeiro Grande (…)”. Gil Max Barbosa da Silva – 16 anos – ff. 38/39

“QUE foi contratado para cortar cana pelo Sr . ANTONIO CAETANO, no engenho Ribeiro Grande, e que sabe ser da Cruangi, pois seu Antônio lhe falou ; (…) QUE o Sr. Antônio CAETANO sabia sua idade e não solicitou seus documentos; QUE durante o período que trabalhou no corte da cana no Engenho Ribeiro Grande sempre passava o fiscal da Cruangi, com uma moto, de cor verde na frente, e atribui ser da Cruangi; QUE o declarante não possuía CTPS, sendo confeccionada ontem pela equipe do Ministério do Trabalho; (…)”. Luciano Paulo da Silva Santos – 14 anos – ff. 55/56

Deste modo, desmascarada está a grande farsa de que a empresa Usina

Cruangi/SA determinava, por meio dos administradores de seus engenhos, que não houvesse a

contratação de trabalhadores menores de idade, visto que os mesmos gerentes que advertiam os

intermediários da proibição de convocar adolescentes, contratavam eles próprios, cientes das idades,

jovens menores de 18 e até mesmo de 16 anos. Por esse motivo a conduta do denunciado subsome-

se à causa especial de aumento de pena prevista no §2º, I, do art. 149, do CP.

Resta claro, até o presente momento, que os trabalhadores do engenho

vistoriado não eram registrados em carteira, não tinham direito aos benefícios legais, não receberam

qualquer tipo de equipamento de proteção individual, não gozavam de condições mínimas de

segurança e higiene nas frentes de trabalho, não possuíam assistência médica, nem salário definido.

Com relação ao salário, aliás, é preciso destacar que a cada tonelada de cana

cortada o trabalhador era remunerado com apenas R$ 5,00 (cinco reais) e como o pagamento era

exclusivamente por produção, os dias em que o empregado ficasse parado, seja em razão de

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acidente ou doença, seja por determinação da própria empresa, como nos casos em que chovia e a

cana não queimava, os trabalhadores não percebiam qualquer quantia.

No caso do engenho fiscalizado, os trabalhadores adultos afirmaram cortar

em média de três a quatro toneladas por dia, enquanto os adolescentes cortavam, no máximo, três

toneladas por jornada. Deste modo, a diária de um adulto variava entre R$ 15,00 e R$ 20,00, o que

resulta em um salário mensal de aproximadamente R$ 300,00 ou R$ 400,00, isso na hipótese de ter

havido trabalho em todos os dias úteis do mês, hipótese remota. Assim, constata-se que a quantia

percebida tanto pelos adultos, como pelos adolescentes, estava aquém do salário mínimo vigente no

país à época dos fatos2.

Não olvidar, que o art. 23 da Declaração Universal dos Direitos Humanos

prevê que "toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe

assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se

acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social".

Nesse passo, se degradante é o fato ou ato que despromove, que priva do

status ou do grau de cidadão; que nega direitos inerentes à cidadania; que despromove o trabalhador

tirando-o da condição de cidadão, rebaixando-o a uma condição semelhante à de escravo, embora

sem ser de fato um escravo, as condições encontradas no engenho fiscalizado sem dúvidas

configuram trabalho degradante, ou seja, aquele cuja relação jurídica não garante ao trabalhador os

direitos fundamentais da pessoa humana relacionados à prestação laboral.

II – DA CAPITULAÇÃO

DA REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO

2 O valor do salário mínimo no ano de 2009, em vigor a partir do dia 1º de fevereiro, era de R$ 465,00 (quatrocentos e sessenta e cinco reais). Fonte: www.guiatrabalhista.com.br/.../salario_minimo.htm

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A redação original do artigo 149 do Código Penal limitava-se a tipificar a

conduta de “reduzir alguém a condição análoga à de escravo”, cominando a pena de reclusão de

dois a oito anos.

O incremento internacional da repressão ao trabalho escravo, coincidente

com a assunção da responsabilidade dos países em erradicar tal prática, bem como com a

constatação da quase inexistência de condenações no território nacional, incentivaram diversas

propostas legislativas com o escopo de empreender contornos mais claros ao objeto de repulsa

social. Todos esses esforços culminaram na atual redação do art. 149 CP:

Art. 149 - Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Alterado pela L-010.803-2003)Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.§ 1º Nas mesmas penas incorre quem: (Acrescentado pela L-010.803-2003 )I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: (Acrescentado pela L-010.803-2003)I – contra criança ou adolescente;II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.(destaque nosso)

Vê-se que a alteração legislativa, embora não tenha modificado o núcleo da

conduta, listou uma série de atos usualmente verificados na relação de exploração dos

trabalhadores.

Proporcionar trabalho em condições decentes é forma de conferir ao homem

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os direitos que decorrem desse atributo que lhe é próprio: a dignidade. Este é o bem jurídico

tutelado pela norma incriminadora.

Segundo José Cláudio Monteiro de Brito Filho3, “é preciso enunciar mais

concretamente o trabalho em condições degradantes. Tomando por base sua caracterização, como

exposta por Luís Camargo, como aquele em que se pode identificar péssimas condições de

trabalho e de remuneração, pode-se dizer que trabalho em condições degradantes é aquele em

que há a falta de garantias mínimas de saúde e segurança, além da falta de condições mínimas

de trabalho, de moradia, de higiene, respeito e alimentação. Tudo devendo ser garantido – o que

deve ser esclarecido, embora pareça claro – em conjunto, ou seja, e em contrário, a falta de um

desses elementos impõe o reconhecimento do trabalho em condições degradantes.” destacamos

Nesse contexto, percebe-se que a violação ficou caracterizada não porque os

trabalhadores tinham sua liberdade suprimida, mas em razão das condições aviltantes das frentes de

labor e da supressão de inúmeros direitos trabalhistas.

Destaque-se que, somente após a diligência fiscalizadora, que contou com a

participação do Ministério do Trabalho, o responsável pela Usina concordou em efetuar o

pagamento das verbas trabalhistas, consoante demonstra a Ata de Reunião acostada ao final do

Anexo 1/6, bem assim em assinar o Termo de Ajustamento de Conduta, celebrado entre a Usina

Cruangi/SA e o Ministério Público do Estado de Pernambuco, visando a erradicação do trabalho

infantil.

Os excertos dos depoimentos transcritos acima expuseram, além do

completo desatendimento aos direitos trabalhistas mais básicos, os riscos que as condições precárias

de trabalho representavam à saúde e à integridade física dos cortadores. Essa foi inclusive a

3 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Trabalho com redução do homem à condição análoga à de escravo e dignidade da pessoa humana. Disponível em <http://www.oitbrasil.org.br/trabalho_forcado/brasil/documentos/dignidadetrabalhoescravo.pdf>

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conclusão do laudo técnico que ensejou a interdição das frentes de trabalho no Engenho Ribeiro

Grande (Anexo 1/6):

“Constatamos que as condições de trabalho encontradas eram bastante precárias expondo os trabalhadores, durante a jornada de trabalho a RISCOS GRAVES E IMINENTES, capazes de causar acidentes e doenças (…) Concluímos, portanto, que o conjunto das irregularidade acima expostas constitui Risco Grave a Iminente a segurança e a saúde dos trabalhadores o que nos leva a determinar a interdição da frente de serviço acima especificada.”

Por fim, repise-se que a omissão no registro das CTPS frustrou a incidência

dos encargos sociais, bem como o pagamento dos direitos trabalhistas mais singelos. Demais disso,

a remuneração efetuada exclusivamente por produção privou os empregados da percepção do

salário mínimo constitucionalmente assegurado, bem como da percepção do repouso semanal

remunerado.

III – DA AUTORIA E DA MATERIALIDADE

A materialidade resta comprovada pela farta documentação que acompanha

esta peça acusatória, em especial, pela cópia das anotações improvisadas onde eram registradas a

produção de cada trabalhador, pelas fotografias e pelos diversos depoimentos dos empregados, que

além de evidenciarem o total descumprimento dos direitos assegurados na legislação

trabalhista, revelaram a sujeição dos trabalhadores a condições degradantes.

A autoria, por sua vez, é extraída da condição do denunciado de responsável

pela gestão da Usina Cruangi/SA, a qual pertence o engenho fiscalizado, e pela tomada das decisões

no tocante à produção, dentre as quais, obviamente, o pagamento dos intermediários e, por

conseguinte, a remuneração dos cortadores e a oferta das condições nas frentes de trabalho,

praticando, assim, com vontade livre e consciente, o delito ora denunciado.

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O próprio JOSÉ GUILHERME QUEIROZ FILHO reconheceu o erro da

sua empresa na Ata da Reunião realizada para discutir a situação trabalhista dos cortadores de cana

do Engenho Ribeiro Grande (Anexo 1/6). No mesmo ato, quando expostas as irregularidades

constatadas na frente de trabalho que levaram o Grupo Especial de Fiscalização Móvel a concluir

pelas condições de trabalho degradantes e, por consequência, pela imediata ruptura dos contratos de

trabalho dos cortadores em razão da caracterização do trabalho análogo ao de escravo, o denunciado

prontamente assinou o compromisso de tomar todas as providências necessárias para o pagamento

das rescisões dos trabalhadores.

Acrescente-se, ainda, que o Termo de Ajustamento de Conduta, celebrado

entre o responsável pela Usina Cruangi/SA e o Ministério Público do Estado de Pernambuco, com a

finalidade de criar condições propícias para que os adolescentes estudem e não mais trabalhem em

atividade de corte-de-cana, de forma ilegal, e sobretudo em condições análogas as de escravo, faz

prova da responsabilidade acerca da utilização de trabalho infanto-juvenil em condições

degradantes.

Por outro lado é necessário destacar também que a contratação informal por

meio de intermediários não desnatura a relação de emprego com a Usina Cruangi/SA, afinal, os

trabalhadores se enquadravam na atividade fim do estabelecimento agroindustrial, sendo que a

execução dos serviços era fiscalizada por meio de empregados registrados pela Usina, quais sejam

os senhores Antônio Pedro e José Firmino. Além do mais é gritante o fato de que os intermediários

("gatos") não têm suporte econômico para arcar com o risco do empreendimento.

Também a Justiça do Trabalho tem decidido ser ilegal a contratação de

trabalhador rural com a utilização de "gatos":

"A contratação de trabalhador através de contrato de empreitada firmado com os conhecidos "gatos" ou "turneiros" (intermediadores de mão-de-obra no meio rural) é ilegal, levando a formação do vínculo empregatício

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diretamente com o beneficiário dos serviços prestados."4

Do exposto, não há como negar que, na realidade, a Usina Cruangi/SA é a

empregadora responsável por todos os trabalhadores encontrados no Engenho Ribeiro Grande em

atividades de corte de cana.

De igual modo, a responsabilidade do acusado também é confirmada pelos

depoimentos dos arregimentadores contratados pelo próprio JOSÉ GUILHERME QUEIROZ

FILHO:

“QUE o declarante é fornecedor de cana da Usina Cruangi, (..) QUE entrega para a usina para moer a cana, sendo que a Usina lhe paga pelo preço do açúcar; QUE a usina possui terras vizinhas ao engenho onde mora; QUE conversou com o Sr. José Guilherme Filho, administrador da Usina Cruangi , para cortar a cana do Engenho Ribeiro Grande, tendo recebido a orientação do Sr. José Filho de que poderia cortar com seu pessoal, (…); QUE combinou com o Sr. José Filho o valor de R$ 8,20 a tonelada de cana cortada, sendo que o declarante ficou com a responsabilidade de providenciar a mão-de-obra, transporte e o serviço do feitor; QUE o declarante pagava R$ 5,00 a tonelada ao trabalhador; (…) QUE iniciou o serviço no Engenho Pirauá, que pertence a Usina Cruangi no dia 26.01.09, havendo cortado na segunda, terra e sexta, e depois no Engenho Ribeiro Grande, de propriedade da Cruangi, segunda, terça e quinta; QUE nos outros dias não teve corte pois choveu e a cana não queimou; QUE o pagamento da Usina para o declarante era feito através da quantidade de cana pesada na balança da Usina, (…) QUE foi a primeira vez que realizou este tipo de serviço para a usina; QUE quando contratou com o Sr. José Filho já sabia que o trabalho seria realizado, por trabalhadores "clandestinos"; QUE em nenhum momento foi falado do registro dos trabalhadores a que pelo preço ajustado era para ser com trabalhadores "clandestinos'. "que para trabalhadores registrados é caro"; (…) QUE a área era fiscalizada pelo administrador da Usina em Pirauá era o Sr. Luiz a em Ribeiro Grande o Sr. José Firmino e o fiscal das duas áreas Sr. Jairo, Técnico agrícola; QUE as mesmos passavam na área para verificar o corte, "toco da cana", para reclamar se o cone estava bem feito, quantas pessoas tinha e quanto "corto", saber se tinha menor etc; (…) QUE o administrador e o fiscal da

4 TRT/MG, RO n ° 00273 2006-082-03-00-2, 2ª Turma, Relator Juiz Jales Valadão Cardoso.

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área nunca comentou com o declarante sobre a ausência de abrigo rústico, instalações sanitárias e as condições em geral das frentes de trabalho; (...)” Rudmar Mendes Mariz, ff. 01/02

“QUE para trabalhar com a Cruangi conversou com o Sr. José Guilherme Filho e os Gerentes Dr. Hugo e Dr. Pedro; QUE combinou para fazer o corte de cana no Engenho Ribeiro Grande; (…) QUE quando combinou os serviços com a Usina sua responsabilidade era de arrumar os trabalhadores, controlar a produção, transportar os trabalhadores diariamente; QUE não estava incluído o custo dos EPIs, sendo que estas questões não foram conversadas; (…) QUE é o administrador da área Sr. José Firmino quem verifica se o serviço está bem feito; QUE o Sr. José Firmino passa todos os dias de moto; QUE o Sr. José Firmino recebe do declarante o "ponto", que refere-se ao total de toneladas que foram apontadas na medição diária da produção total do seu grupo; QUE este controle é feito para que a Usina possa efetuar o pagamento ao declarante da sua produção, porém a Usina repassa o pagamento ao declarante pelo peso da balança; (…) QUE contratou os trabalhadores e não pediu as CTPS dos mesmos; QUE não anotou as CTPS dos trabalhadores; QUE sabe que a Usina também não fez o registro; QUE sempre que o trabalho está para terminar "a gente não faz o registro, (…) QUE a Usina Cruangi sabia que os trabalhadores estavam sem CTPS anotadas; QUE o preço acordado era para trabalhar desta forma, com trabalhador sem registro. (…)" José Ramos Gouveia da Silva, conhecido como “Murici” - ff. 04/06

“Que houve uma reunião na sede da Usina Cruangi, no dia 15/01/2009, com o Gerente da Usina, "Dr. Hugo", na qual o mesmo informou que precisava de trabalhadores para cortar um total de 500 toneladas de cana por dia e que para isso seria pago aos intermediadores a importância de R$8,20 (oito reais e vinte centavos) por tonelada, Que os representantes da Usina tinham ciência que esse pessoal seria "clandestino" e por isso mesmo seria fornecida uma relação dos trabalhadores que prestaram serviço em cada semana, com as respectivas produções realizadas, porque se algum empregado "colocasse a Usina na Justiça", eles saberiam dizer se ele teria trabalhado de verdade ou não, Que o serviço a ser realizado era só o corte da cana, sendo o carregamento e o "lambaio" de responsabilidade da Usina, Que correria por conta dos empreiteiros o pagamento do ônibus para transportar os trabalhadores até as frentes de trabalho, o salário do feitor, o aluguel do veiculo necessário para deslocamento do mesmo até a frente e outras despesas, tais como: fornecimento de facão para um ou outro trabalhador, (…) Que o pagamento era realizado todas as

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sextas feiras na sede da Usina Cruangi, pelo setor financeiro, Que o pagamento era realizado em espécie e não era feito nenhum desconto ou retenção a título de contribuição previdenciária ou imposto de renda, Que não foi solicitado a emitir Nota Fiscal de Prestação de Serviços ,(...) Que a água, equipamentos de proteção e alimentação era de responsabilidade de cada empregado levar, Que na frente de trabalho não tinha banheiro, (…) Que não havia material de primeiros socorros no local, Que o Administrador do Engenho Ribeiro Grande, Sr. José Firmino, estava presente na frente de trabalho o tempo todo e quando não ia ligava para o seu celular perguntando como estava o andamento dos trabalhos, Que todo dia de manhã recebia orientações do Fiscal de área da Usina Cruangi sobre o local a ser cortado e quantos trabalhadores era para colocar em cada lote, Que a queima era feita pelo pessoal da Usina; (…) - Antônio Caetano de Freitas – ff. 17/18

Perceba-se que, segundo os arregimentadores, que tratavam diretamente

com o denunciado acerca da contratação de trabalhadores para o corte, este estivera sempre ciente

da situação “clandestina” dos empregados, deixando a cargo destes a responsabilidade pelos seus

instrumentos de trabalho, equipamentos de proteção individual, alimentação e água.

Tal atitude afrontou reiteradamente diversos dispositivos da Convenção

Coletiva de Trabalho5 assinada pelos Sindicatos da Indústria do Açúcar e do Álcool e dos

Cultivadores de cana-de-açúcar, do Estado de Pernambuco, em vigor quando da ação fiscalizadora,

a qual trata dos direitos daqueles que laboram no corte da cana. Dentre os mais protetórios merecem

destaque:

CLÁUSULA NONA: SALÁRIO-FAMÍLIAO trabalhador rural fará jus ao salário-família, nos termos do artigo da Lei nº 8.213/91 e às atualizações das cotas, de acordo com as Portarias Ministeriais.Parágrafo único: Fica facultada aos sindicatos de trabalhadores rurais e aos empregadores a celebração de acordos coletivos de trabalho especial

5 Cláusula Primeira: Salário Unificado – A partir de 08.10.2008, os empregados rurais, representados pelos órgãos sindicais convenentes, farão jus ao salário unificado de R$ 442,00 (quatrocentos e quarenta e dois reais), por mês, o que corresponde a uma diária de R$ 14,73 (quatorze reais e setenta e três centavos).§1º Fica assegurado aos empregados rurais, durante a vigência desta Convenção Coletiva, um salário não inferior ao salário mínimo, acrescido de R$ 10,00 (dez reais). (...) negrejamos

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visando ao pagamento integral do salário-família e do PIS aos trabalhadores rurais que percebam mais de dois salários mínimos.

CLÁUSULA DÉCIMA: SALÁRIO NA DOENÇAÉ devido o pagamento do salário pelo empregador durante os primeiros 15 (quinze) dias de afastamento do trabalhador rural por motivo de doença comprovada mediante atestado médico fornecido por médico da Instituição da Previdência Social a que estiver filiado o empregado e, na falta deste, e sucessivamente, por qualquer dos médicos referidos no §2º, do art. 6º, da Lei nº 605/49, contendo indicação de diagnóstico codificado.§1º – Na hipótese de o trabalhador ser acometido da mesma doença que originou o pagamento previsto nesta cláusula, dentro do período de 60 (sessenta) dias a contar do término da licença, o auxílio doença será mantido na conformidade do §3º, art. 75, do Decreto nº 3.048/99. (...)

CLÁUSULA DÉCIMA PRIMEIRA: JORNADA SEMANAL DE TRABALHOA carga semanal de trabalho será de 44 (quarenta e quatro) horas.

CLÁUSULA DÉCIMA SEXTA: FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃOOs empregadores se obrigam a fornecer aos seus empregados as ferramentas necessárias à execução das tarefas a eles atribuídas, inclusive os equipamentos de proteção individual de trabalho, sempre mediante recibo de entrega. (...)

CLÁUSULA VIGÉSIMA-SEXTA: ASSINATURA DA CTPSFicam os empregadores rurais obrigados, no ato da admissão dos empregados, a assinar as suas CTPS's, nos termos do art. 29 da CLT, a receber mediante recibo entregue aos trabalhadores e a devolvê-las no prazo de 15 (quinze) dias.§1º – O empregador deverá proporcionar meios e condições para que o trabalhador obtenha a sua CTPS. (...)

CLÁUSULA VIGÉSIMA-OITAVA: REPOUSO SEMANAL COM BASE NA PRODUÇÃOFica ajustado que, quando o trabalhador for remunerado no regime de produção, o repouso semanal será calculado com base na produção obtida em cada semana, assegurado o mínimo da categoria.

CLÁUSULA TRIGÉSIMA: SEGURANÇA DE TRANSPORTE PARA OS TRABALHADORES

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O transporte de trabalhadores deverá ser feito em ônibus ou caminhão adaptado com destinação específica para tanto, devendo satisfazer as condições técnicas de segurança, conforme definidas na legislação específica, §2º do art. 87 do Regulamento do Código Nacional de Trânsito: banco fixo, cobertura e local separado para o transporte de ferramentas, observando-se ainda, as novas disposições específicas de segurança previstas na Lei nº 9.503/97, em vigor a partir de 23.01.98, observadas as determinações da NR – 31 – Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho da Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura, aprovada pela Portaria nº 86, de 03.03.2005 do Ministério do Trabalho e Emprego. (...)

CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA-SÉTIMA: FÉRIASO pagamento das férias será procedido no prazo previsto no art. 142 da CLT, com acréscimo de 1/3 (um terço) de que trata o inciso XVII, do art. 7º da Constituição Federal.Parágrafo único: Será considerado, para efeito de cálculo, o total dos rendimentos obtidos no mês com base na produção, durante o período aquisitivo, garantindo-se o mínimo da categoria e observando-se a proporcionalidade legal por faltas.

CLÁUSULA QUINQUAGÉSIMA: PRIMEIROS SOCORROSO empregador manterá nos locais de trabalho caixas de medicamentos para aplicação dos primeiros socorros de acidentes e doenças, com pessoa com noções elementares de primeiros socorros, observadas as determinações da NR – 31 – Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho da Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura, aprovada pela Portaria nº 86, de 03.03.2005 do Ministério do Trabalho e Emprego.Parágrafo único: As empresas representadas pelo sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool, no estado de Pernambuco, devem disponibilizar um veículo para atender, prioritariamente, ao transporte de trabalhadores nas hipóteses previstas no caput desta cláusula, informando aos sindicatos de sua base quando esse veículo, bem como as formas de acioná-lo nos casos de urgência e comprometer-se, quando não houver carro disponível no momento do acidente, a possibilitar, de imediato o transporte do acidentado.

CLÁUSULA QUINQUAGÉSIMA-TERCEIRA: ÁGUA POTÁVEL NO LOCAL DE TRABALHOO empregador proporcionará água potável própria e adequada ao consumo humano, nos locais de trabalho para os seus empregados, observadas as

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determinações da NR – 31 – Norma Regulamentadora de Segurança e Saúde no Trabalho da Agricultura, Pecuária, Silvicultura, Exploração Florestal e Aquicultura, aprovada pela Portaria nº 86, de 03.03.2005 do Ministério do Trabalho e Emprego.§1º – Para possibilitar uma melhor condição de saúde para os trabalhadores e por opção escrita deles, o empregador poderá fornecer, a preço de custo, garrafa térmica, mediante recibo, sendo o custo da referida garrafa térmica descontado dos salários dos trabalhadores, de forma parcelada, em, no mínimo, 6 (seis) parcelas, ficando ainda autorizado o desconto por ocasião da rescisão do contrato de trabalho dos referidos trabalhadores, caso a rescisão ocorra antes do término do parcelamento. §2º – Na safra atual (2008/2009), para os empregados aos quais não foi fornecida garrafa térmica, será concedida a referida garrafa de forma gratuita, obrigando o empregado, no final da safra, a devolvê-la, excetuados os fornecedores de cana-de-açúcar, cuja safra não ultrapasse a 10 (dez) mil toneladas de cana. (...)

CLÁUSULA SEPTUAGÉSIMA-SÉTIMA: 13º SALÁRIO DO SAFRISTANo caso do trabalhador rural safrista, o 13º salário será pago também em dezembro, proporcional aos dias trabalhados e o restante no final do contrato de trabalho, com base na sua média de produção, descontada a antecipação da primeira parcela prevista no caput desta cláusula.

Nesse passo, estando a mencionada Convenção Coletiva assinada pelos

representantes dos Sindicatos da Indústria do Açúcar e do Álcool e dos Cultivadores de cana-de-

açúcar, do Estado de Pernambuco, não encontra respaldo a velha justificativa de que no campo as

condições de trabalho são mais precárias e que são iguais em todos os empreendimentos. Se os

direitos existem, têm que ser respeitados. Apontar o dedo para outros faltosos nunca eximiu

responsabilidades.

Assim, resta patente que o ora denunciado, de forma consciente e

voluntária, estreme de dúvidas, infringiu o tipo penal previsto no artigo 149, acrescido do aumento

previsto no §2º, c/c art .70, ambos do Código Penal Brasileiro, ao ter submetido os 252 (duzentos e

cinquenta e dois) trabalhadores, dentre eles 27 (vinte e sete) menores, sob sua responsabilidade a

condições degradantes de trabalho, impossibilitado que tivessem acesso à dignidade mínima cabível

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no meio ambiente laboral.

IV – DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

Por fim, cumpre tecer algumas considerações acerca da competência para o

julgamento do delito em tela.

A esse respeito, preceitua nossa Magna Carta:

Art. 109 - Aos juízes federais compete processar e julgar:(...)VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

Ao argumento de que em razão de o crime retratado no art. 149 do CP

(redução a condição análoga à de escravo) não se encontrar inserido no capítulo que dispõe sobre os

crimes contra a organização do trabalho, mas no capítulo relacionado aos delitos praticados em

desfavor da liberdade individual, muitos processos, equivocadamente, escaparam ao julgamento na

esfera federal.

A discussão suscitou alguns conflitos de competência e apenas foi aplacada

quando da publicação do julgamento do Recurso Extraordinário nº 398041/PA, pelo guardião-mor

da Constituição da República. Como consta do Informativo STF 450:

“em conclusão de julgamento, o Tribunal, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário para anular acórdão do TRF da 1ª Região, fixando a competência da justiça federal para processar e julgar crime de redução a condição análoga à de escravo (CP, art. 149) - vide Informativo 378. Entendeu-se que quaisquer condutas que violem não só o sistema de órgãos e instituições que preservam, coletivamente, os direitos e deveres dos trabalhadores, mas também o homem trabalhador, atingindo-o nas esferas em que a Constituição lhe confere proteção máxima, enquadram-se na categoria dos crimes contra a organização do

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trabalho, se praticadas no contexto de relações de trabalho. Concluiu-se que, nesse contexto, o qual sofre influxo do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, informador de todo o sistema jurídico-constitucional, a prática do crime em questão caracteriza-se como crime contra a organização do trabalho, de competência da justiça federal (CF, art. 109, VI).Vencidos, quanto aos fundamentos, parcialmente, os Ministros Gilmar Mendes e Eros Grau, que davam provimento ao recurso extraordinário, considerando que a competência da justiça federal para processar e julgar o crime de redução a condição análoga à de escravo configura-se apenas nas hipóteses em que esteja presente a ofensa aos princípios que regem a organização do trabalho, a qual reputaram ocorrida no caso concreto. Vencidos, também, os Ministros Cezar Peluso, Carlos Velloso e Marco Aurélio que negavam provimento ao recurso”. (grifamos)

Com efeito, o Supremo Tribunal Federal chamou a atenção para o

verdadeiro objeto de proteção da norma incriminadora. É preciso ter em mente que o tipo penal,

embora esteja inserido no capítulo que dispõe sobre os crimes contra a liberdade individual, tutela o

status dignitatis, ou seja, não protege somente o “trabalho livre”, mas o “trabalho digno”.

Válido, ainda, fazer menção ao voto do Min. Ilmar Galvão, no RE 156527-

6, relatado pelo Min. Moreira Alves, segundo o qual “o que justifica a atribuição da competência da

Justiça Federal é o interesse geral na manutenção dos princípios básicos sobre os quais se estrutura

o trabalho em todo o país, ou na defesa da ordem pública ou do trabalho coletivo”, concluindo que

esta “é a razão pela qual o Min. Joaquim Barbosa, na Sessão do Pleno ocorrida em 03.03.2005, ao

relatar o RE 398041/PA, afirmou ser o componente humano elemento indissociável da organização

do trabalho. Isto porque o contexto das relações de trabalho sofre o influxo do princípio

constitucional da dignidade da pessoa humana, o qual, importante repetir, consubstancia vetor

axiológico inafastável do sistema de órgãos e instituições de proteção ao trabalhador.”6

A base do conceito de trabalho análogo ao de escravo, fundamentado no

trabalho degradante, como no presente feito, tem como premissa o respeito ao princípio da

dignidade da pessoa humana nas suas mais diversificadas relações sociais, como um dos

6 Informativo STF 378.

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fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 1º, III, CF/88).

Nesse sentido, apesar de inserto no capítulo relativo aos crimes contra a

liberdade individual, é inegável que o delito tipificado no art. 149 do CP, configura verdadeira

afronta à organização do trabalho como um todo, donde se infere que a impropriedade técnica de

disposição no âmbito do Codex Criminal não tem o condão de afastar a competência da Justiça

Federal para processar e julgar os feitos relacionados ao delito em comento.

Os recentes julgados do Superior Tribunal de Justiça não deixam margem

para dúvidas:

“PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ARTS. 149 E 203 DO CÓDIGO PENAL. CONFIGURAÇÃO DE INTERESSE ESPECÍFICO DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.O delito de redução à condição análoga de escravo consistente em subjugar alguém, ainda que praticado contra determinado grupo de trabalhadores se enquadra na categoria dos crimes contra a organização do trabalho de competência da Justiça Federal (art. 109, inciso VI, da CF). (Precedente desta Corte e Informativo nº 378 do Pretório Excelso).Habeas corpus denegado.”(STJ, HC 43381/PA, Rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, DJ 29.08.2005, p. 388).

“PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO TEMPORÁRIA. FUNDAMENTAÇÃO SUFICIENTE. COMPETÊNCIA FEDERAL. CRIMES DOS ARTIGOS 149, 203 E 207 E 337-A, TODOS DO CÓDIGO PENAL. CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E CONTRA A PREVIDÊNCIA SOCIAL. CONFIGURAÇÃO DE INTERESSE ESPECÍFICO DA UNIÃO. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.1. O decreto de prisão temporária está devidamente fundamentado, devendo ser mantido.2. Não se justifica o reconhecimento sumário da incompetência federal quando os fatos estão sob investigação criminal.3. O trabalho prestado em condições subumanas, análogas às de escravo, sem observância das leis trabalhistas e previdenciárias, configura crime federal, pois vai além da liberdade individual."

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Ordem denegada.”(STJ, HC 26832/TO, Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, 5ª Turma, DJ 21.02.2005, p. 195).

“RECURSO ESPECIAL. ART. 149 DO CÓDIGO PENAL. DELITO CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO. ART. 109, INCISO VI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL COMPROVADA.1. O acórdão recorrido diverge do atual posicionamento do Superior Tribunal de Justiça que se firmou no sentido de que o crime de redução a condição análoga à de escravo por se enquadrar na categoria de delitos contra a organização do trabalho é de competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, inciso VI, da Constituição Federal.2. Recurso especial conhecido e provido.”(STJ, Resp 909.340, Rel. Min. Laurita Vaz, 5ª Turma, DJ 05/11/2007).

“CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. ART. 149 DO CP. DELITO CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO. ART. 109, INCISO VI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.1. Na esteira do atual entendimento do Supremo Tribunal Federal e desta Corte, o crime de redução a condição análoga à de escravo, ainda que praticado contra determinados grupos de trabalhadores, por se enquadrar na categoria de delitos contra a organização do trabalho, é de competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, inciso VI, da Constituição Federal. 2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal, o suscitante.”(STJ, 3ª Seção, j. 27/06/2007, DJ 06/08/2007, p. 464)

“PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME DE REDUÇÃO DE PESSOA A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO E SUPRESSÃO DE DIREITO ASSEGURADO POR LEI TRABALHISTA. CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO. CONFIGURAÇÃO DE INTERESSE ESPECÍFICO DA UNIÃO. DELITOS CONEXOS DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. SÚMULA 122 DESTA CORTE. INCIDÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.1. A imputação de fatos que atentam contra a liberdade no exercício do patronato implica ofensa à organização do trabalho, nos termos constitucionais.2. A frustração de direito trabalhista em circunstâncias que degradam o homem ofende princípios democráticos e atentam contra a própria ordem constitucional de proteção ao trabalho, suas instituições e órgãos, pois

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revelam a existência e imposição de um regime totalitário em âmbito regional, inadmissível em um Estado de Direito.3. "Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal" (Súm. 122/STJ).4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 5ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Mato Grosso, encaminhando-se os autos ao Juízo suscitado.”(STJ, 3ª Seção, j. 27/06/2007, DJ 03/09/2007, p. 118).

Assim, considerado os precedentes acima, bem como a redação do art. 109,

inc. VI, da Constituição da República, não resta dúvida quanto à competência da Justiça Federal

para processar e julgar o presente feito.

V - CONCLUSÃO

Diante de tais considerações, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

requer a instauração de ação penal em desfavor de JOSÉ GUILHERME QUEIROZ FILHO,

em virtude de ter incidido na sanção do artigo 149, caput e inciso I, do §2º, do CPB, requerendo a

citação do denunciado para apresentação de resposta preliminar, com posterior designação de

audiência de instrução e julgamento, a fim de que, ao final, comprovada sua culpabilidade, seja

devidamente condenado às penas da lei, devendo ser inquiridas as testemunhas apresentadas no rol

abaixo.

Recife, 07 de junho de 2010.

Paulo Roberto Olegário de Sousa

Procurador da República

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ROL DE TESTEMUNHAS:

1- Benedito de Lima Silva e Filho Auditor Fiscal do Trabalho – CIF 30469-7, f. 04 do Anexo 1/4;2- Luize Surkamp Neves, Auditora-Fiscal do Trabalho - AFT-CIF 02291-8, f. 04 do Anexo 1/4;3- Gilberto Monte Braga, AFT, CIF 02396-5; (04 do Anexo 1/4);4- Rudmar Mendes Mariz, RG 1.808.341 - SSP/PE, filiação: Ricarte Cavalcante Mariz e Inez Mendes Mariz, natural de Aliança/PE, nascido em 18.06.1960, residente no Engenho Mata Limpa, Aliança/PE, telefones: 81.9981.8674 e 9732.6731;5- José Ramos Gouveia da Silva, vulgo “Murici”, RG 4.602.992, residente a Rua primeiro de maio S/N, Caveiras, Aliança/PE, fone 81.96305088;6- José Anderson da Silva, RG 8.604.094 SSP/PE, natural de Nazaré da Mata/PE, filho de Manoel Braz da Silva e Lindinalva Guedes da Silva, nascido em 16.09.1990, residente no Loteamento Liberdade Rua 01, 81 – Tracunhaém/PE;7- Josias Alexandre da Silva, filho de Severino Alexandre da Silva e Júlia Severina da Silva, nascido em 11.08.1958, residente no Loteamento Liberdade, Rua dois, 151- Tracunhaém/PE;8- João Manoel de Souza Filho, RG 4.290.786 SSP/PE, filho de João Manoel de Souza e Nair Severina da Conceição, natural de Timbaúba/PE, nascido em 14.04.1970, residente na Rua Vinícius de Moraes, 40 – Alto Cruzeiro - Timbaúba/PE;

Volume Principal

Anexos 1 a 4

Anexo 01: Relatório de Fiscalização:INDICEEquipe 41. DO RELATÓRIOA. DA IDENTIFICAÇÃO DO EMPREGADOR 5B. DOS DADOS GERAIS DA OPERAÇÃO 5C. RELAÇÃO DE AUTOS DE INFRAÇÃO LAVRADOS 6D. DA DENÚNCIA 7E. LOCALIZAÇÃO DA PROPRIEDADE 7F. INFORMAÇÕES SOBRE A ATIVIDADE ECONÔMICA 7G. DA TERCEIRIZAÇÃO INFORMAL 7H. RESUMO DAS CONDIÇÕES ENCONTRADAS 9

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1. DA NEGOCIAÇÃO 20J. DAS IRREGULARIDADES TRABALHISTAS 25A. Da falta de registro dos trabalhadores 251.2. Das condições contrárias as disposições de proteção ao trabalho 251.3. Da admissão sem CTPS 261.4 Do trabalho de menores abaixo de 16 anos 261.5. Do trabalho de menor em de 18 anos em locais constantes de quadro aprovado pelo Ministério do Trabalho e Emprego 271.6. Da falta de controle de jornada 271.7 Da falta de prestação de esclarecimento 27K. DAS CONDIÇÕES DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHOJ.1. Da falta de instalações sanitárias e de alojamentos 27J.2. Da falta de transporte adaptado 27J.3. Da falta de manutenção das ferramentas afiadas 28J.4. Da falta de local adequado para conservação de alimentos 28J.5. Da não realização de exames médicos admissionais 28J.6. Da falta de remoção trabalhador acidentado 29J.7. Da falta de materiais de primeiros socorros 29J.8. Da falta de orientação condições climáticas 29J.9. Da falta de abrigo rústico 29J.10.Da falta de fornecimento de água potável 29J.11 Do transporte de trabalhadores em pé 30J.12 Da ferramenta sem proteção 30J.13 Da falta de fornecimento de ferramentas gratuitamente 30J.14 Da falta de substituição de ferramentas 31L. DAS PROVIDÊNCIAS ADOTADAS PELO GRUPO MÓVEL 31M.CONCLUSÃO2. CARTÃO CNPJ3. ATA DE ASSEMBLEIA4. CERTIDÃO5. VERIFICAÇÃO FÍSICA6. CADERNO DE ANOTAÇÕES APREENDIDAS7. TERMOS DE DECLARAÇÃO DE "GATOS” E TRABALHADORES8. TERMO DE DECLARAÇÃO DE MENORES9. FICHAS DE VERIFICAÇÃO FÍSICA DOS MENORES10. ATA DE REUNIÃO COM REPRESENTANTES DA USINA CRUANGI11. MEMORANDO AO MP DO ESTADO DE PERNAMBUCO12. TERMO DE AJUSTE DE CONDUTA13. PLANILHA DE CÁLCULO DE VERBAS RESCISÓRIAS14. PLANILHA DE FGTS A DEPOSITAR15. RELAÇÃO DE CTPS EMITIDAS16. LAUDO TÉCNICO DE INTERDIÇÃO17. PORTARIA DE INTERDIÇÃO18. TERMOS DE APREENSAO A GUARDIA

Anexo 021. Termos de Rescisão de menores2. Termos de Rescisão dos trabalhadores

Anexo 031. Seguro Desemprego do trabalhador resgatado (menores)

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2. Seguro Desemprego do trabalhador resgatado

Anexo 041. Autos de infrações

- Convenção Coletiva de Trabalho assinada pelos Sindicatos da Indústria do Açúcar e do Álcool e dos Cultivadores de cana-de-açúcar, do Estado de Pernambuco, 2008.

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