Excluso educacional e aes afirmativasZelinda BarrosDoutoranda em Estudos tnicos e Africanos (POSAFRO/UFBA)

O que so afirmativas?...um conjunto de polticas pblicas e privadas de carter compulsrio, facultativo ou voluntrio, concebidas com vistas ao combate discriminao racial, de gnero, por deficincia fsica e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os efeitos presentes da discriminao praticada no passado, tendo por objetivo a concretizao do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a educao e o emprego (Gomes, 2003: 27).

Pases que adotaram AA: ndia (1948 - Reservas ou Representao Seletiva, apenas no setor pblico)Gana (1957) e Guin (1958 Nativizao ou Indigenizao)EUA (1961 no setor pblico e privado)Malsia (1971)frica do Sul (ps-apartheid)

As aes afirmativas so uma inveno estadunidense?

A expresso aes afirmativas surgiu nos EUA (affirmative actions, no Executive Order 10.925, por John Kennedy, em 1961), mas a proposta de corrigir desigualdades promovendo grupos em desvantagem surgiu na ndia, na dcada de 30.

Bhimrao Ramji Ambedkar jurista indiano, foi o mentor de um sistema de cotas para as castas. A reserva de vagas nas assemblias legislativas, na administrao pblica e na rede de ensino , foi aplicada aos intocveis (dalits), minorias religiosas, tribos e castas que estavam entre os intocveis e os adivasis, na Constituio de 1948. Bhimrao Ramji Ambedkar

Decreto n. 19.482, de 12 de dezembro de 1930, sancionado por Getlio Vargas obrigava as empresas a empregarem dois brasileiros em cada grupo de trs trabalhadores admitidos, numa poca em que imigrantes predominavam em alguns setores do mercado de trabalho. chamado de Lei dos Dois TerosEm 3 de julho de 1968, o Congresso institua cotas nas universidades e no ensino mdio agrcola, por meio da chamada Lei do Boi, Lei n. 5.465, que reservava 50% das vagas dos estabelecimentos de ensino mdio agrcola e as escolas superiores de Agricultura e Veterinria, anualmente, a candidatos agricultores ou filhos destes, proprietrios ou no de terras, que residam com suas famlias na zona rural e 30% a agricultores ou filhos destes, proprietrios ou no de terras, que residissem em cidades ou vilas que no possussem estabelecimentos de ensino mdio.A Constituio de 1988 asseguraTratamento preferencial a portadores de deficincia (Art. 37, Inciso VIII)Lei n. 9.504, de 1997 - obriga os partidos polticos nas eleies municipais de 1996 a inscreverem no mnimo 30% de mulheres nas suas chapas proporcionais - Pargrafo 3 do Artigo 11.

Por que polticas de aes afirmativas na Educao?

Apesar de ter praticado um crime contra a humanidade, mesmo aps a abolio da escravido, o Estado no promoveu aes em prol da populao negra.

De 1549 at 1759, quando houve a expulso dos jesutas, o carter do ensino era eminentemente religioso e a educao dos negros sequer era considerada.

Em 1837, foi sancionada lei no Rio de Janeiro que se destina a regular os direitos a instruo publica primria, proibindo escravos, pretos africanos (escravizados ou libertos) e portadores de molstias contagiosas de frequentarem escolas pblicas.

Reforma de Couto Ferraz (Decreto n 1.331, de 17/02/1854) proibia a admisso de escravizados nas escolas pblicas do pas e que a previso de instruo para adultos dependia da disponibilidade do professor.Instituiu a obrigatoriedade da educao primria para crianas a partir de sete anos e a gratuidade das escolas pblicas, mas exclua a populao negra.

Decreto n 7.031-A, de 06/09/1878 - estabelecia que, no municpio da Corte, os adultos negros analfabetos deveriam frequentar os cursos noturnos.

O modelo educacional brasileiro at recentemente ignorava a histria e as contribuies culturais dos distintos grupos.

Viso dos africanos como estrangeiros, sem relao cultural com os brasileiros.Persistncia da inferioridade cultural atribuda aos africanos.Livros didticos reproduzindo esteretipos sobre a populao negra e africana.1978 na Universidade Federal de So Carlos, forma-se o primeiro grupo de estudos sobre Negro e Educao.1 artigo cientfico sobre negro e educao publicado na Revista de Educao da Fundao Carlos Chagas, em 1979.LDB de 4.024, de 1961 - ...a condenao a qualquer tratamento desigual por motivo de convico filosfica, poltica ou religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou de raa. (Ttulo I Dos fins da educao, inciso g).Racismo institucional expresso criada em 1967, especifica a forma de racismo que se estabelece nas estruturas de organizao da sociedade e nas instituies, atravs de processos, atitudes ou comportamentos que denotam discriminao resultante de preconceito inconsciente, ignorncia, falta de ateno ou de esteretipos racistas que colocam minorias tnicas em desvantagem.

1) Escolarizao atravs da criao de escolas prprias (Colgio Perseverana ou Cesarino, em Campinas, 1860; Colgio So Benedito, Campinas, 1902; Irmandade de So Benedito, at 1821, em So Lus do Maranho, Escola Primria do Clube Negro Flor de Maio, de So Carlos, Escola de Ferroviriosde Santa Maria, no Rio Grande do Sul; escola do Quilombo da Fazenda Lagoa Amarela, em Chapadinha, no Maranho, entre 1831 e 1842) 2) instruo por pessoas escolarizadas; 3) asilos de rfos e escolas particulares (bolsistas);4) organizaes negras (irmandades religiosas, Frente Negra Brasileira, 1931-1937, Teatro Experimental do Negro)Alternativas excluso educacional

Impulsionadores da discusso de raa na LDB de 1996:

- Centenrio da Abolio, em 1988300 anos da morte de Zumbi dos Palmares, em 1995: foi produzido o documento Zumbi: tricentenrio da morte de Zumbi dos Palmares por algumas universidades propondo aes afirmativas e realizada a Marcha Zumbi dos Palmares: contra o racismo, pela cidadania e a vida, em Braslia.Luta por aes afirmativas na Educao aps a democratizao:

3 Conferncia Mundial Contra o Racismo, Discriminao Racial, Xenofobia e Intolerncia (2001) Durban, frica do SulLei n. 10.639 promulgada em 09 de janeiro de 2003.Diretrizes da Lei n. 10.639 aprovadas em 10 de maro de 2004.Secretaria Especial de Promoo de Polticas da Igualdade Racial criada em 21 de maro de 2003.A partir de 2004 realizao de fruns estaduais para implementao da Lei n. 10.639/03 (mais de 20 foram realizados)1 Conferncia Nacional pela Igualdade Racial 2005.Estatuto da Igualdade Racial - projeto de Lei n 6.264, de 2005.

Formas de implementao das aes afirmativas:

Acesso e permanncia ao ensino superior (aumento do nmero de professores/as negros/as)Incluso de Histria e Cultura Afro-brasileira e Indgenas nos currculos escolares (LDB de 1996 e Leis 10.639/03 e 11.645/08)Publicao de livros didticos com novas abordagens sobre frica, africanos e afrodescendentesCursos de Formao de Professores (presenciais e distncia)Realizao de cursos preparatrios ao vestibular para negrosFinanciamento dos estudos universitrios (ProUni)

Aes do governo brasileiro:Ministrio da Educao, atravs das Secretaria de Educao Superior e de Educao Continuada, Alfabetizao e Diversidade (SECAD)* Programa Universidade para Todos (ProUni), desde 2004 - concesso de bolsas parciais ou integrais em instituies privadas de educao superior estudantes de baixa renda, egressos do ensino mdio da rede pblica. * Programa Conexes de Saberes, desde 2004 visa estimular maior articulao entre a instituio universitria e as comunidades populares, com a devida troca de saberes, experincias e demandas * Programa de Aes Afirmativas para a Populao Negra nas Instituies de Educao Superior (UNIAFRO), desde 2005 - visa fomentar aes voltadas para a formao inicial e continuada de professores da educao bsica e para a elaborao de material didtico especfico * Programa de Formao Superior e Licenciaturas Indgena (Prolind), desde 2008 - programa de apoio formao superior de professores que atuam em escolas indgenas de educao bsica * Rede de Educao para a Diversidade, desde 2008 - disseminar e desenvolver metodologias educacionais para a insero dos temas da diversidade no cotidiano das salas de aula (cursos de educao e relaes tnico-raciais, gnero e diversidade, formao de tutores, jovens e adultos, educao do campo, educao integral e integrada, ambiental e diversidade e cidadania).

Em 17 de maio de 2004, a UFBA aprovou um Programa de Aes Afirmativas, cuja origem foi uma proposta apresentada pelo Centro de Estudos Afro-Orientais, atravs do Programa Educao e Profissionalizao para a Igualdade de Gnero (CEAFRO), implementada no Concurso Vestibular 2005.

O Programa da UFBA envolve uma srie de aes, estruturadas em quatro eixos:EIXO I Aes voltadas para a preparao dos candidatos ao Concurso VestibularEIXO II Aes voltadas especificamente para a realizao do Concurso VestibularEIXO III Aes voltadas para o favorecimento da permanncia dos aprovadosEIXO IV Aes voltadas para o acompanhamento e avaliao das polticas adotadas.

Aes afirmativas implementadas no Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO/UFBA)

Projeto de Incentivo Permanncia de Estudantes Cotistas - Programa UNIAFRO (SECAD/MEC), em 2006- Frum Interinstitucional em Defesa das Aes Afirmativas, em 2008 e 2009

Curso de Formao de Professores para o Ensino de Histria e Cultura Afro-brasileiras (presencial)- Programa UNIAFRO (SECAD/MEC), em 2006- Cursos e Oficinas de Formao de Professores (Programa CEAFRO)

Curso a Distncia de Formao de Professores para o Ensino de Histria e Cultura Afro-brasileiras - Programa UNIAFRO (SECAD/MEC), em 2006- Universidade Aberta do Brasil/SECAD-MEC, em 2009

Zelinda Barros

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