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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO EXCLUDENTE DA ILICITUDE: A TESE DE LEGÍTIMA DEFESA NO TRIBUNAL DO JÚRI RODRIGO NICOLODI DUTRA Biguaçu (SC), julho de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

EXCLUDENTE DA ILICITUDE: A TESE DE LEGÍTIMA DEFESA NO TRIBUNAL DO JÚRI

RODRIGO NICOLODI DUTRA

Biguaçu (SC), julho de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO - BIGUAÇU

EXCLUDENTE DA ILICITUDE: A TESE DE LEGÍTIMA DEFESA NO TRIBUNAL DO JÚRI

RODRIGO NICOLODI DUTRA

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale de Itajaí – UNIVALI.

Orientador: Prof. MSc. Luiz César Silva Ferreira

Biguaçu (SC), julho de 2008.

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AGRADECIMENTO

Primeiramente às pessoas da minha família:

Minha mãe Maria Cristina Nicolodi Dutra, meu

pai Valci Dutra e minha irmã Graziela, que

sempre me incentivaram e me deram todo apoio e

amor necessário nas horas em que precisei;

Minha tia Rosane e minha avó Zeni, principais

responsáveis pela minha formação intelectual,

sempre dedicadas e muito atenciosas;

Minha namorada Aline Corrêa da Costa, que a

cada dia amo mais, e que soube sempre entender

os momentos em que eu não podia encontrar-me

com ela, para poder dar atenção exclusiva a

monografia;

Em segundo, mas de maneira alguma menos

importantes, foram meus professores, os quais,

profissionais do mais alto gabarito; em especial na

pessoa do Dr. MSc Luiz César Silva Ferreira,

advogado militante a nível nacional, o qual

depositou grande confiança neste acadêmico;

A professora Helena Paschoal Pitsíca, pois quando

precisei dela, esteve sempre disposta a ajudar, com

seu jeito amigo e atencioso com que ela trata o

próximo

Por fim, aos meus colegas de turma, sem os quais

jamais estaria onde me encontro, fiéis e

merecedores do meu respeito, jamais deixarão a

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minha memória; em especial nas pessoas do

Leonardo Zapelini, Genaro Belani e Itiberê

Cornelius Ewerling.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro para todos os fins de Direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a

Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer

responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, maio de 2008.

Rodrigo Nicolodi Dutra

Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão de Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí

– UNIVALI, elaborada pelo graduando Rodrigo Nicolodi Dutra, sob o título de Exclusão

da Ilicitude: Legítima Defesa, foi submetida em 17 de julho de 2008 à banca examinadora

composta pelos seguintes professores: Luiz César Silva Ferreira(Orientador e Presidente);

Marilene do Espírito Santo (Membro); Eunice Anisete de Souza Trajano (Membro), e

aprovada com a nota ____, __________________________.

Área de Concentração: Direito Público

Biguaçu/SC, 17 de julho de 2008

Luiz César Silva Ferreira Orientador e Presidente da Banca

Helena Nastassya Paschoal Pitsíca Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

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SUMÁRIO

RESUMO

ASTRATTO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1

1 DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA ........................................................... 2

1.1 HOMICÍDIO........................................................................................................ 2

1.1.2 INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO.......................... 14

1.1.3 INFANTICÍDIO ................................................................................................... 17

1.1.4 ABORTO............................................................................................................... 19

1.1.4.1 Auto-aborto e aborto consentido........................................................................ 20

1.1.4.2 Aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante................. 21

1.1.4.3 Aborto provocado por terceiro, com o consentimento da gestante................. 22

1.1.4.4 Forma qualificada do crime de aborto............................................................... 23

1.1.4.5 Aborto legal; causas de exclusão da ilicitude..................................................... 25

1.2 HISTÓRICO DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA......................... 27

1.2.1 HOMICÍDIO.......................................................................................................... 27

1.2.2 SUICÍDIO.............................................................................................................. 28

1.2.3 INFANTICÍDIO..................................................................................................... 29

1.2.4 ABORTO............................................................................................................... 30

2 DOS PROCEDIMENTOS RELATIVOS AOS CRIMES CONTRA A

VIDA.....................................................................................................................

32

2.1 PRIMEIRA FASE DO RITO DO JÚRI............................................................ 32

2.2 SEGUNDA FASE DO RITO DO JÚRI............................................................. 41

2.3 PLENÁRIO DO JÚRI......................................................................................... 43

2.4 QUESITOS........................................................................................................... 47

2.5 SENTENÇA.......................................................................................................... 50

2.6 RECURSOS CABÍVEIS NO TRIBUNAL DO JÚRI....................................... 52

2.6.1 RECURSO DE OFÍCIO......................................................................................... 52

2.6.2 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO................................................................... 53

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2.6.3 RECURSO DE APELAÇÃO................................................................................. 55555555

2.6.4 PROTESTOPORNOVOJÚRI................................................................................ 56777756

3 DA LEGÍTIMA DEFESA................................................................................... 59

3.1 HISTÓRICO......................................................................................................... 59

3.2 EXCLUDENTES DE ANTIJURIDICIDADE................................................... 61

3.3 APLICAÇÃO NO DEBATE AO JÚRI.............................................................. 72

3.4 IN DUBIO PRO REO........................................................................................... 75

3.5 OFENDÍCULOS................................................................................................... 77 3.6 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL...................................................................... 79

CONCLUSÃO..................................................................................................................... 84

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................. 86

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RESUMO

O presente estudo teve como objetivo analisar as mais variadas opiniões dos mais

renomados penalistas do direito, acerca da legítima defesa. Entende-se em legítima defesa

quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele agressão injusta, atual ou

iminente, a direito seu ou de terceiro. Algumas teorias foram criadas para explicar os

fundamentos da legítima defesa. Como a teoria subjetiva, que considera a legítima defesa

como causa excludente da culpabilidade, se baseia na perturbação de ânimo do indivíduo

agredido ou nos motivos determinantes do agente, que torna lícito o ato de quem se defende

etc. Já a teoria objetiva, considera a legítima defesa como causa excludente da

antijuridicidade, se baseia na existência de um direito primitivo do ser humano de defender-

se, na retomada pelo homem da faculdade de defesa que cedeu ao estado, na delegação de

defesa pelo estado, na colisão de bens onde aquele que é mais valioso deve sobreviver, na

permissão para ressalvar o interesse do agredido, no respeito à ordem jurídica,

indispensável à convivência ou na falta da antijuridicidade da ação agressiva. São requisitos

para a existência da legítima defesa: a reação a uma agressão injusta, atual ou que está na

iminência de acontecer; a defesa de um direito próprio ou de terceiro; a moderação na

utilização dos meios necessários à repulsa; e o elemento subjetivo.

Palavras Chave: excludente da ilicitude, legítima defesa.

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ASTRATTO

Questo lavoro ha come obiettivo le pìu variatte oppinione degli renomatti juridicci,

sulla leggitima difesa. Si può capire sulla leggitima difesa, la utilizzazzione dei miei

neccessari, per repelire l´agrecione injusta, atuale e iminente, a suoi diritto a anche a diritto

della terza persona. Possiamo trovare varie teorie aquali parlano sulla leggitima difesa. La

teorie subietiva, a quale ha considerato come la causa escludente dellla culpabilità, è

baseata nella necessidade causatte per la agressione, anche negli motivi determinante dello

agente, toranndo licito l´ato della persona che se difende etc. La teoria obietiva, che hanno

consideratto la leggitima difesa come cause escludente della antijuridicità, si é stata nella

essancia dello diritto primitivo dello uomini di defenderci, nel ritorno dello uomini della

faculta di difesa a qualle è cedido allo Stato, nella delegazzione di difesa dello Stato, nella

colizzione dei benni di quelle che è píu valioso dovrá sopravivere, nell resguardo dello

interesse della vitima, sulla ordine juridici, indispensábille allo convivio anche na

mancanzza della antijuridicità della azzione agresiva. Sonno necessarie per configurare alla

leggitima difesa: la reazzione di uma agrezzione injusta, atuale o na iminencia de

sucedercci, la difesa di uno diritto proprio ou diritto della terza persona; la moderazzione

nella utilizzazione dei miei necessarie alla difesa; anche allo elemento subietivo.

Parola-chiave: escludente della antijuridicità, leggitima difesa.

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INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como objeto uma análise da legítima

defesa, fazendo uma síntese dos pontos que são mais relevantes e que também são os mais

discutidos pelos doutrinadores penalistas, sobre esta excludente da antijuridicidade.

Para tanto, no Capítulo 1, tratar-se-á dos crimes dolosos contra a vida.

Assim, inicialmente será abordado os conceitos e todos os aspectos mais relevantes que são

discutidos amplamente na doutrina e jurisprudência. Por fim, será feito um histórico bem

detalhado de todos os crimes dolosos contra a vida.

No Capítulo 2, trata-se do procedimento relativo aos crimes dolosos

contra a vida, inicialmente será explanado a primeira fase do rito do Tribunal do Júri. Em

seguida, busca-se explicar a segunda fase do rito do Tribunal Popular, apontar os assuntos

mais importantes destacados pelos doutrinadores. Outros itens a serem explicados neste

segundo capítulo da monografia, será o funcionamento do plenário do Júri, como é elaborado

os quesitos pelo magistrado que preside o Júri, o seu conceito e também sobre a sentença que

é prolatada nesta fase processual. E ainda, será tema de estudo do presente capítulo, os

recursos que poderão ser interpostos no Tribunal do Júri.

No Capítulo 3, trata-se da legítima defesa. Assim, inicialmente

realiza-se um breve histórico acerca desta causa de justificação, passando-se a explanar sobre

as excludentes de antijuridicidade. Em seguida, faz-se uma explicação de como se deve

utilizar esta excludente da ilicitude perante o Egrégio Tribunal do Júri e também sobre o

princípio do in dubio pro reo. Ainda realiza-se estudo acerca dos ofendículos , e como é

tratada esta matéria pelos estudiosos do direito penal, e por derradeiro, será realizada uma

análise jurisprudencial sobre a legítima defesa.

A presente monografia se encerra com a conclusão, onde serão

apresentados os pontos mais destacados e controvertidos desta excludente, e da sua

fundamental importância para a evolução do ordenamento jurídico e também para a

sociedade.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que foi utilizado o

Método Dedutivo, partindo-se de argumentos gerais, buscando-se resultados particulares .

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1 DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA

Neste capítulo tratar-se-á dos crimes dolosos contra a vida que estão

descritos na parte especial do Código Penal brasileiro, conceituando estes crimes de forma

clara e objetiva. Será também tema de estudo deste capítulo, um breve relato histórico de

todos os crimes dolosos contra a vida.

1.1 HOMICÍDIO

O homicídio é um crime que se caracteriza pela morte de um ser

humano provocado por outro ser humano, é o fim da vida humana. Impallomeni dizia que,

“todos os direitos partem do direito de viver, pelo que, numa ordem lógica, o primeiro dos

bens é o bem vida”.1

Este crime se consuma com a morte da vítima, sendo que deverá ser

constatada a morte cerebral, clínica e biológica, que serão comprovadas através do laudo de

exame de corpo de delito (laudo necroscópico).2

Neste norte, extrai-se da doutrina: “o homicídio consiste na destruição

da vida humana alheia por outrem. O bem jurídico tutelado é a vida humana independente. A

proteção de tão relevante bem jurídico é imperativo de ordem constitucional”. Trata-se de um

dos mais graves crimes que um ser humano pode cometer, como bem podemos vislumbrar

através da pena que o legislador impõe a pessoa que comete este delito, podendo variar de 6 a

30 anos de prisão.3

Guilherme de Souza Nucci classifica o crime de homicídio:

Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito ativo qualificado ou especial); material (delito que exige resultado naturalístico, consistente na morte da vítima); de forma livre (podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente); comissivo (“matar” implica em ação) e, excepcionalmente,comissivo por omissão (omissivo impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13,§ 2º, do Código Penal); instantâneo (cujo resultado “morte” se dáde maneira instantânea, não se prolongando no tempo); de dano (consuma-se apenas com efetiva lesão a um bem jurídico tutelado); unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); progressivo (trata-se de um tipo penal que contém, implicitamente, outro, no caso a lesão corporal);

1 Impallomeni Apud CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.7.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. v.2. p.3. 2 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.5.ed. São Paulo: Atlas S.A, 2005. p. 909. 3 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial. SP: Revista dos Tribunais, 2000. v.2. p. 35.

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plurissubsistente (via de regra, vários atos integram a conduta de matar); admite tentativa.4

Deve-se lembrar também que o crime de homicídio pode ser de ação

moral, ou seja, assustar alguém que sofre de problemas cardíacos ou está fragilizada física ou

mentalmente visando a mortes deste.5

Dando continuidade ao tema, importante conceituar o homicídio por

omissão, também denominado de omissivo comissivo. Ocorre quando uma pessoa que têm o

dever de impedir o resultado final, se omite, consumando assim o crime de homicídio por

omissão, que está previsto no art. 13, § 2º do Código penal. Assim a mãe que não amamenta o

seu filho visando a sua morte ou o salva-vidas que ao observar um afogamento, nada faz para

impedir,causando a morte da vítima,estão sujeitos as penas cominadas no Código Penal

brasileiro.6

Interessante trazer neste momento, o pensamento de Guilherme de

Souza Nucci:

Para caracterizar o momento da morte, a fim de se detectar a consumação do delito de homicídio, que é crime material, sempre se considerou, conforme lição de Almeida Júnior e Costa Júnior, a cessação das funções vitais do ser humano (coração, pulmão e cérebro), de modo que ele não possa mais sobreviver, por suas próprias energias, terminado os recursos médicos validados pela medicina contemporânea, experimentados por um tempo suficiente, o qual somente os médicos poderão estipular para cada caso isoladamente.7

No tocante a tentativa de homicídio, importante salientar que,

“iniciada a execução com o ataque ao bem jurídico vida humana, não se verifica a ocorrência

da morte, servindo o elemento subjetivo do crime para diferenciá-lo das lesões corporais

quando o evento não ocorre. Ocorre a chamada tentativa branca quando o agente dispara

contra a vítima, mas não a atinge”.8

É necessário no que tange a tentativa de homicídio que se conheça o

elemento subjetivo, para que se defina a conduta punível. Pois a vontade consciente do agente

pode não ser um resultado de dano, mas um resultado de perigo, assim sendo, em vez de o

crime ser de homicídio, este por sua vez assumirá outra conotação.9

4 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 7.ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.537. 5 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2006. p.12. 6 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial. p.12. 7 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.538. 8 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.909. 9 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial. São Paulo: Saraiva, 2001. vol. 2. p. 50.

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Como bem ensina Fernando Capez:

São circunstâncias externas e que auxiliam nesse esclarecimento a sede de lesão ou a violências dos golpes, o instrumento utilizado, pois quem, por exemplo, desfere inúmeras e violentas pauladas no crânio de um indivíduo, com certeza, não age com ânimo de lesioná-lo, mas de matá-lo. Como sustentava Hungria, “o fim do agente se traduz, de regra, no seu ato. O sentido da ação (ou omissão) é, na grande maioria dos casos, inequívoca. Quando o evento “morte” está em íntima conexão com os meios empregados, de modo que ao espírito do agente não podia deixar de apresentar-se como resultado necessário, ou ordinário, da ação criminosa, seria inútil”. Esta distinção é importante na medida em qua, firmada a culpa consciente, o agente responderá pela modalidade culposa em vez da dolosa do homicídio. Para isso faz-se necessário analisar os elementos e as circunstâncias do fato externo.10

No mesmo diapasão, segue jurisprudência abaixo:

Tentativa de homicídio e não crime impossível – TJSP: Crime impossível – Inocorrência – Homicídio – Agente que aciona várias vezes sua arma, invadindo a casa da vítima, apontando o revólver em direção a regiões nobres e vitais do corpo – Conduta que evidência o “animus necandi”, pois só não conseguiu seu intento em razão de a arma encontrar-se descarregada – Hipótese de Tentativa (...). O agente que aciona várias vezes sua arma, invade a casa onde a vítima se encontra, aponta o revólver em direção nobres e vitais do corpo e tenta dispará-lo por várias vezes, só não conseguindo por encontrar-se a arma descarregada, age com animus necandi, não havendo, por tais razões, falar em crime impossível, mas sim em tentativa de homicídio. (RT 780/594)11

As figuras típicas deste tipo penal, quanto a sua forma objetiva, podem

ser: simples, privilegiada e qualificada. A forma simples deste crime, é a que está prevista no

art. 121, caput, do Código Penal: “matar alguém”. Já a sua forma privilegiada encontra-se no

§ 1º, do art. 121 do mesmo diploma legal citado acima. E ainda temos o crime de homicídio

na sua forma qualificada, que estão descritas no § 2º do mesmo artigo ora citado, do Código

Penal.

Analisando este delito sob a forma subjetiva, o crime de homicídio

pode ser doloso ou culposo. Sendo que os tipos dolosos estão definidos no art. 121, caput, § 1º

e 2º do Código Penal. Enquanto que no tipo culposo, este tipo penal terá duas formas, são

elas: a forma simples, definida no § 3º, do art. 121 e a qualificada que está prevista no § 4º do

mesmo artigo, ambos do Código Penal.12

10 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.14. 11 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.907. 12 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte especial.28ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. v.2. p.65.

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O crime de homicídio prevê ainda no § 5º, do art. 121, o perdão

judicial, que é quando, “o juiz poderá deixar de aplicar a pena se as conseqüências da infração

atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária”.13

A forma privilegiada ou causas de diminuição de pena, ocorre quando

o agente pratica o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou ainda sob

o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, podendo o

magistrado diminuir a pena de um sexto a um terço. Quando o agente age impelido por

motivo de relevante valor social, segundo o ilustre doutrinador Cezar Roberto Bitencourt, que

afirma que esta tipificação penal “tem motivação e interesse coletivos, ou seja, a motivação

fundamenta-se no interesse de todos os cidadãos de determinada coletividade; relevante é o

importante ou considerável valor social, isto é, do interesse de todos em geral, ao contrário do

valor moral, que, de regra, encerra interesse individual”.14

Ainda no pensamento do nobre doutrinador citado acima, “age

impelido por motivo de relevante valor social quem mata sob pressão de sentimentos nobres

segundo a concepção da moral social, como por exemplo, por amor à pátria, por amor paterno

ou filial etc”.15

Já no homicídio privilegiado por motivo de relevante valor moral, este

tem à sua motivação em um valor de características morais. Valores esses que são

particulares, individuais, do próprio agente praticador desta infração. Um exemplo disto é a

eutanásia, considerada por boa parte da doutrina como um homicídio privilegiado por motivo

de relevante valor moral. Nelson Hungria fala sobre o tema, “homicídio eutanásico é aquele

praticado para abreviar piedosamente o irremediável sofrimento da vítima, e a pedido ou com

o assentimento desta”.16

Oportuno citar neste momento, de um caso de eutanásia que ocorreu

na França, vejamos:

Uma menina de cinco anos, filha de um médico adoeceu gravemente. Atacada por difteria, doença muito grave na época do fato, onde os casos de mortalidade chegavam a 99%. O pai utilizou-se de todos os recursos cabíveis, porém nada pode fazer, vendo apoderar-se de sua filha os sintomas letais da grave moléstia. Não agüentando ver o sofrimento da filha, ele injeta uma dose forte de ópio que, em poucos segundos, produziu o seu efeito. Com o enterro já realizado, voltando do cemitério com profundo sentimento de dor e saudade, depara-se com um telegrama

13 JESUS, Damásio E. de. direito penal: parte especial.v.2. p.66. 14 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.56. 15 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.56. 16 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial.p.14.

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dirigido a ele, cujo o texto dizia: “Roux acaba de descobrir o soro antidiftérico, aplicando-o com êxito. Aguarde remessa...”17

Por fim, é também privilegiado o crime de homicídio praticado sob o

domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima. Mirabete afirma

que o homicídio emocional exige, portanto: “a) existência de uma emoção absorvente; b) a

provocação injusta do ofendido; c) a reação imediata do agente”.18

Nesse norte, segue a jurisprudência:

Necessidade de emoção violenta e provocação injusta – TJSP: A emoção que autoriza a diminuição da pena do homicídio é unicamente a emoção violenta. Quem se perturba com a provocação sofrida e reage quase com frieza, sob o domínio do estado emotivo não provocado, não pode invocar a minoração especial da pena do art. 121, § 1º, do CP. Este só condescende com a emoção derivada de uma injustiça (RT 620/280). TJSP: A simples existência de emoção por parte do acusado igualmente não basta o seu reconhecimento, pois não se pode outorgar privilégios aos irascíveis ou as pessoas que facilmente se deixam dominar pela cólera. (RT 572/325)19

Interessante comentar que o agente que medita cuidadosamente a

prática de um crime, não poderá em hipótese alguma alegar que, estava violentamente

emocionado, pois a lei exige que o distúrbio emocional tenha sido instigado devido a uma

injusta e imediata provocação da vítima. Estamos portanto de uma situação incabível, até

porque o agente tem tempo suficiente para planejar o ataque.20

Há de se observar também que se o agente diante da provocação

injusta, tiver que se utilizar de meios legais para a sua defesa, ele pode até estar inserido em

uma hipótese de exclusão de ilicitude, não sendo assim culpado de crime algum. Não havendo

a provocação do ofendido, não há em que se falar deste privilégio que a lei garante. Como

bem leciona Fernando Capez, “o texto legal exige que o impulso emocional e o ato dele

resultante sigam-se imediatamente entre a provocação injusta e a conduta do sujeito.

Estabelecendo o que significa a expressão “logo em seguida”, prevista na lei, uma vez que a

experiência de grande lapso temporal entre a provocação e o crime poderá afastar a incidência

do privilégio”.21

17 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.543. 18 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.912. 19 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.913 20 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.546. 21 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.38.

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Quanto ao homicídio qualificado que encontra-se previsto no art. 121,

§ 2º do Código Penal, trata-se obviamente de um causa especial de aumento de pena. Este tipo

penal admite várias hipóteses que podem tornar a infração com características de qualificada,

estão elas descritas nos incisos 1 a 5 do referido artigo.

Segundo Luiz Régis Prado, o homicídio qualificado é aquele que é

praticado com:

O recurso a determinados meios que denotem crueldade, insídia ou perigo comum ou de forma de dificultar ou tornar impossível a defesa da vítima; ou, por fim, se perpetrado com o escopo de atingir fins especialmente reprováveis (execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime). 22

Se este crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa,

ou por outro motivo torpe, trata-se de uma qualificadora subjetiva, pois diz respeito aos

motivos que levaram o agente à prática do ilícito. Motivo torpe é aquele que é reprovável,

desprezível, que demonstra a depravação espiritual do indivíduo e suscita a aversão ou

repugnância total.23

Para Ney Moura Teles são torpes, “todos os motivos que, à

semelhança do fim do lucro, ou da contratação de alguém para destruir uma vida humana,

impelirem o sujeito a matar alguém. São os motivos indignos, que contrastam com os valores

morais” 24 . Nos dizeres de Nelson Hungria a torpeza “revela um grau particular de

perversidade”. 25

Em casos de homicídio deste gênero, não é necessário que o agente

receba a recompensa para caracterizar a qualificadora do homicídio, bastando apenas que

tenha havido uma promessa. Responderá pelo crime aquele que realizou a conduta e também

aquele que pagou ou prometeu a recompensa.26

No delito de homicídio praticado por motivo fútil, que é aquele que é

cometido por motivo ínfimo, sem importância, insignificante, enfim, é o motivo banal, como

bem explica Mirabete, entende-se que “futilidade da motivação deva ser aferida de forma

objetiva e não de acordo com o ponto de vista do réu, mas é de se ponderar que, tratando-se de

22 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial.v.2. p.44 23 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.44 24 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial.p.23. 25 Nelson Hungria Apud TELES, Ney Moura. Direito penal: parte especial.p.23. 26 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal: parte especial.v.2. p.64.

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elemento subjetivo, sob esse caráter é que deve ser analisado o motivo que levou o agente à

prática do ilícito”.27

Nesse contexto, mata-se alguém futilmente quando o motivo que leva

o agente à prática deste crime, é insignificante, sem qualquer apoio social ou moral, altamente

condenável.

Guilherme de Souza Nucci ensina que: “a reação humana, movida

pelo ciúme, forte emoção que por vezes verga o equilíbrio do agente, não é suficiente para

determinar a qualificadora do motivo fútil. Aliás, da mesma forma, agir por ciúme não serve

para isentar a responsabilidade (art. 28, I, Código Penal)”.28

Todavia, não se confunde o motivo fútil com o motivo injusto, que

embora aparentemente desprezível, inútil, pode ser satisfatório para a justificativa do ato

homicida.29

Quando o crime de homicídio for praticado mediante emprego de

veneno, fogo, explosivo, enfim, todos que estão inseridos no inciso III do art. 121, § 2º do

Código Penal, que também são circunstâncias agravantes previstas no art. 61, II, d do referido

diploma legal, estaremos tratando de uma qualificadora de natureza mista30.

Como caracteriza de forma brilhante doutrinador Luiz Régis Prado:

Esta influi diretamente na medida do injusto e da culpabilidade, já que é maior o desvalor da ação-pelo modo ou forma de sua realização e pela acentuada probabilidade de produção do resultado delitivo–e também maior gravidade da culpabilidade, pois implica a disposição de ânimo cruel ou insidioso.31

Destarte, Capez ensina que este tipo de qualificadora é objetiva, pois

fala a respeito dos meios de execução deste ilícito, a qual demonstram uma certa perversidade.

Assim teremos uma forma genérica (que seria ou outro meio insidioso ou cruel,...), logo

depois um casuísmo (emprego de veneno, fogo,...).Os modos que qualificam este crime,

devem possuir natureza idêntica do conteúdo presente na parte exemplificativa.32

27 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.920. 28NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.549. 29 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.9.ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: DPJ editora, 2007. p. 362. 30 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial.v.2. p.46. 31 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial.v.2. p.46. 32 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.48.

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Conceitua o Tribunal de Justiça gaúcho, que o meio cruel, “é aquele

que sujeita a vítima a graves e inúteis vexames ou sofrimentos físicos ou morais, que causa

padecimento mais grave do que o necessário para produzir a morte”(RJTTJERGS 192/137).33

Importante trazer à colação o ensinamento de Nucci:

A lei penal valeu-se, mais uma vez, da interpretação analógica. Forneceu exemplos – veneno, fogo, explosivo, asfixia e tortura – para depois generalizar dizendo “ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. Temos, então, três famílias: o meio insidioso (pérfido, enganoso, que constitui uma cilada para a vítima), o meio cruel (que exagera, propositadamente, o sofrimento impingido à vítima) e o meio que traz perigo comum (aquele que provoca dano à vítima, mas também faz outras pessoas correrem risco)”. 34

Vale salientar que a tortura, tanto pode constituir a qualificadora no

crime de homicídio, como também na ausência desse ilícito, pode caracterizar-se crime

autônomo (Lei nº 9455, de 7-4-1997).

De acordo com o ensinamento de Roberto Lyra, “o código exemplifica

o meio insidioso (veneno) o meio cruel (asfixia, tortura) e o meio extensivamente perigoso

(fogo,explosivo), mas qualquer outro meio insidioso, cruel ou extensivamente perigoso, isto é,

de que possa resultar perigo comum, encerra a circunstância”.35

Se diante de um caso concreto, ficar constatado o crime de perigo

comum, o agente irá responder por dois crimes em concurso formal: homicídio qualificado e

crime de perigo comum.36

A qualificadora prevista no inciso IV do art. 121, § 2º do Código

Penal, o legislador mais uma vez faz uma interpretação analógica da lei. Usando uma fórmula

casuística, e outra fórmula mais genérica. Na fórmula casuística estão à traição, emboscada e a

dissimulação. Enquanto que na genérica, o legislador faz menção a, emprego de outro recurso

que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido.37

Ney Moura Teles descreve em sua obra que, as qualificadoras

previstas no inciso IV do art.121, § 2º do Código Penal, dizem respeito “às formas ou modo

de execução do homicídio, todas elas insidiosas, traiçoeiras, ardilosas, dissimuladas, nas quais

a vítima vê dificultada ou impossibilitada sua capacidade defensiva. Só por isso impõe-se a

reprimenda mais severa, por isso que há homicídio qualificado”.38

33 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado. p.926. 34 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.549. 35Roberto Lyra Apud BITENCOURT, Cezar Roberto.Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.67. 36 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.67. 37 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte especial.v.2. p.69. 38 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial.p.31.

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A jurisprudência caracteriza com clareza, o que é meio e modo

insidioso, vejamos:

Caracteriza meio insidioso, como qualificadora do homicídio, espancar-se pessoa indefesa com reiterados golpes de facão. Nos casos indicados no inciso IV do art. 121, § 2º do Código Penal, o que qualifica o homicídio não é o meio escolhido ou usado para a prática do crime, e, sim, o modo insidioso com que o agente o executa, empregando, para isso, recurso que dificulte ou torne impossível a defesa.39

Importante enfatizar que, será afastada a qualificadora sempre que o

agente não conseguir esconder o seu plano criminoso com sucesso, de modo que, não deixe a

vítima tomar conhecimento da sua pretensão pela morte desta.40

Para Nelson Hungria, que define o homicídio à traição como aquele

“cometido mediante ataque súbito e sorrateiro, atingida a vítima, descuidada ou confiante,

antes de perceber o gesto criminoso”.41

Nesse diapasão, E. Magalhães Noronha a traição “deve ser informada

antes pela quebra de fidelidade, ou confiança, depositada no sujeito ativo..., do que pelo

ataque brusco ou de inopino”.42 A traição é também uma ação inesperada, que está fora do

pensamento da vítima, sendo que esta não tinha nenhuma possibilidade de perceber ao ataque

homicida.43

Por exemplo, matar uma pessoa pelas costas, constitui traição, quando

obviamente, a vítima desatenta, não pode presumir o ataque fatal.

Na emboscada, “o agente espera a vítima descuidada, oculto, no local

por onde ela irá passar, para colhê-la de surpresa. É a tocaia de nosso caboclo, o guet-apens

dos franceses, o agguato dos italianos”. O agente espera a passagem ou chegada da vítima

desatenta, para iniciar o seu gesto homicida.44

Existe dissimulação quando o “criminoso age com falsas mostras de

amizade. A qualificadora pode ser material ou moral. Na material, o agente se disfarça para

matar a vítima; na moral, o agente dá mostras falsas de amizade para melhor executar o

fato”.45

Nessa esteira, Luiz Régis Prado aduz:

39 FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui. Código penal e sua interpretação jurisprudencial. 7.ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais. v.2. p.2.135 40 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.7º ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 2. p. 55. 41 Nelson Hungria Apud CAPEZ, Fernando.Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.55. 42 NORONHA, E. Magalhães. Direito penal. parte especial. São Paulo: Saraiva, 1.995. v.2. p.24. 43 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial.p.32. 44 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.363. 45 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte especial.v.2. p.69.

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A traição, a emboscada e a dissimulação são recursos que podem dificultar ou tornar impossível a defesa do ofendido, justificando a exasperação da pena por influírem diretamente na magnitude do injusto. O fundamento dessa qualificadora reside na idéia de garantir a execução do delito, afastando eventual defesa da vítima, o que demonstra maior gravidade do desvalor da ação.46

A qualificadora que encontra-se prevista no art. 121, § 2º, inciso V,

nos dizeres de Mirabete, “configurariam, em tese, homicídio qualificado por motivo torpe,

mas receberam atenção especial do legislador, como casos de conexão teleológica ou

conseqüencial”47. Ainda no pensamento do nobre doutrinador, “conexão teleológica é quando

o homicídio é meio para executar outro crime, finalidade última do agente, já a conexão

conseqüencial é quando praticado para ocultar prática de outro ilícito ou para assegurar a

impunidade ou vantagem do produto, preço ou proveito dele”48.

Interessante frisar que, para a configuração desta qualificadora se faz

necessário a prova da prática do crime e da sua autoria.

No mesmo norte, extrai-se da jurisprudência:

Configura-se a agravante do homicídio cometido para assegurar a ocultação, impunidade ou vantagem de outros crimes, se o acusado, para forrar-se à confrontação com a autoridade pública a qual, pelos seu antecedentes criminais em investigação, sabia ser-lhe desvantajosa, resiste e atira mortalmente no policial que o detinha. Foi visando à impunidade de seus crimes que resistiu e atirou. A conexão conseqüencial, no plano psicológico do agente é perfeita. Ensina Aníbal Bruno (Direito Penal, IV/78) que “o que vale é a representação do fato na consciência do agente, como motivo determinante da sua vontade e da sua ação. Isso basta pra compor a maior reprovabilidade ético-social da conduta” (TJSP – Rec. – Rel. Acácio Rebouças – RT 446/387).49

Fernando Capez leciona com notada maestria acerca da matéria, no

que segue:

Em tese, essas qualificadoras deveriam ser enquadradas no inciso relativo ao motivo torpe, contudo o legislador preferiu enquadrá-las como conexão teleológica ou conseqüencial. Teleológica ocorre, quando o homicídio é cometido a fim de “assegurar a execução” de outro crime, por exemplo, matar o marido para estuprar a mulher. O que agrava a pena, na realidade, é o especial fim de assegurar a prática de outro crime. Desse modo, a desistência da prática do outro crime, no caso o estupro, não impede a qualificação do crime de homicídio. Se, contudo, por exemplo, o agente pratica o homicídio e o estupro, responderá por ambos os delitos em concurso material. Enquanto que conexão conseqüencial, dá-se quando o homicídio é praticado com a finalidade de: 1) assegurar a “ocultação do crime” – 2) assegurar “a impunidade” do crime – 3) assegurar “a vantagem” de outro crime.50

46 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial.v.2. p.48. 47 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.936. 48 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.936. 49 FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui. Código penal e sua interpretação jurisprudencial.v.2. p.2.137. 50 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.59.

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Por fim, a conexão ocasional que não configura qualificadora de

homicídio, ocorre quando o ilícito é realizado por ocasião da prática de um outro ilícito. Por

exemplo, o agente está furtando e resolve cessar a vida da vítima por vingança. Diante disso, o

agente responderá pelo crime de furto em concurso material com o crime de homicídio

qualificado pela vingança. 51

Quando for culposo o homicídio, o julgador terá de fazer um trabalho

de adequação, em que deverá avaliar se, no caso concreto o agente não observou o dever

objetivo de cuidado que lhe cabia. Para a caracterização do homicídio culposo é

imprescindível verificar se a conduta do agente produziu alguma conseqüência. Contudo, se o

agente não tomou o devido cuidado que lhe era devido, e se desse descuido não acontecer

qualquer resultado lesivo, não há, portanto, a configuração do delito culposo.52

Outra característica fundamental do homicídio culposo, nos dizeres de

Rogério Greco, “é a aferição da previsibilidade do agente. Se o fato escapar totalmente à sua

previsibilidade, o resultado não lhe pode ser atribuído, mas sim ao caso fortuito ou à força

maior”.53

Nesse sentido, Nelson Hungria define que “existe previsibilidade

quando o agente, nas circunstâncias em que se encontrou, podia, segundo a experiência geral,

ter-se representado, como possíveis, as conseqüências do seu ato”.54

Guilherme de Souza Nucci define o homicídio culposo:

Trata-se da figura típica do caput (“matar alguém”), embora com outro elemento subjetivo: culpa. É um tipo aberto, que depende, pois, da interpretação do juiz para pode ser aplicado. A culpa, conforme o art. 18, II, do Código Penal, é constituída de “imprudência, negligência ou imperícia”. Portanto, matar alguém por imprudência, negligência ou imperícia concretiza o tipo penal incriminador do homicídio culposo.55

Ao lado da “culpa inconsciente”, que são a imprudência, negligência

ou imperícia, costuma-se falar em “culpa consciente ou com previsão”, na qual o agente prevê

o resultado mas acredita, sinceramente, que ele não ocorrerá. Importante salientar que a culpa

consciente se aproxima muito do dolo eventual, todavia, eles não se confundem, pois, na

culpa consciente mesmo prevendo o resultado, o agente acredita que ele não ocorrerá;

51 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.61. 52 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte especial.v 2. p.176. 53 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.177. 54 Nelson Hungria Apud GRECO, Rogério.Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.177. 55 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.554.

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contudo, no dolo eventual o agente prevê o resultado, porém, não se importa se o resultado

venha ou não a ocorrer. 56

O homicídio culposo agravado ou qualificado, que está previsto no §

4º, do art. 121, do Código Penal, pode ser resultado da não observação de regra técnica da

profissão, ofício ou arte. Exemplo disto, o engenheiro que constrói uma casa, porém não

observa as regras de cálculo, que ele conhece. Assim como também, qualifica este delito

culposo, o agente que não prestar socorro a vítima de sua ação culposa, uma obrigação

prevista em lei.57

Pode o juiz aumentar a pena no homicídio culposo qualificado, se o

agente foge para não ser preso em flagrante pelo delito cometido. Entretanto, em alguns casos,

não se tem reconhecido a qualificadora se comprovadas séria ameaças de represálias por

terceiros ou se a vítima foi socorrida de imediato por outrem58.

Nesse contexto, traz-se a discussão interessantes decisões de vários

tribunais do nosso país, veja-se:

Não prevalece, se no local havia outras pessoas que socorreriam a vítima (TACrSP, Julgados 74/296, 71/313, 67/387; TAMG, RT 591/391). Só incide a qualificadora de omissão de socorro, quando o agente sabe que, pelas condições do local, a vítima poderá não ser acudida a tempo (TACrSP, Julgados 84/215). Contra: É irrelevante que terceiros tenham prestado à vítima os socorros negados pelo agente (TACrSP, Julgados 90/357; TAPR, JTAPR 2/278). Incide a qualificadora, se o agente fugiu sem saber se a vítima ia ou não ser socorrida (TACrSP, Julgados 66/301). Configura-se a qualificadora se o agente, mesmo sem correr risco pessoal, não prestou socorro imediato (TJAL, RT 707/328). É excluída a qualificadora se o agente corria risco concreto para prestar socorro (TACrSP, RT 584/378), ou se ficou ferido e foi buscar ajuda para si (TACrSP, RT 412/290). A qualificadora não se configura se a vítima morreu instantaneamente (TACrSP, Julgados 70/386). Se absolvido da imputação de homicídio culposo, o agente responde pela omissão de socorro (art. 135 do Código Penal), (TJSC, JC 68/411). Observação: deve haver acusação expressa na inicial.59

Por derradeiro, o crime de homicídio em seu § 5º admite o “perdão

judicial”, que “é o instituto pelo qual o juiz, não obstante a prática por um sujeito culpado, não

lhe aplica a pena, levando em consideração determinadas circunstâncias”60. Por exemplo, o

pai que atropela culposamente o seu filho, causando-lhe a morte. Impor-lhe uma pena

criminal, com certeza não seria reprovação maior do que a já sofrida com a perda do ente

querido.

56 CAMPOS, Pedro Franco de. Direito penal aplicado/ Pedro Franco de Campos e outros. São Paulo: Saraiva, 2008. p.11. 57 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.954. 58 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.954. 59 DELMANTO, Celso. Código penal comentado.7.ed. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. p.365. 60 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte especial.v.2. p.85.

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Diante disto, o Código Penal, em seu art.121, § 5º, faculta ao

magistrado, em hipóteses de homicídio culposo, não entrando nesta seara o homicídio

praticado dolosamente, deixar de aplicar a sanção penal cominada na legislação.

Em seguida, passa-se ao estudo do crime previsto no art. 122, do

Código Penal (induzimento, instigação ou auxílio a suicídio).

1.1.2 INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO

Inicialmente, importante conceituar segundo Durkheim, que o suicídio

“resulta, direta ou indiretamente, de um ato positivo ou negativo, realizado pela própria

vítima, a qual sabia dever produzir este resultado”.61

Guilherme de Souza Nucci afirma que, induzimento é quando o agente

“sugere ao suicida que dê fim à sua vida”. Seguindo no pensamento do ilustre doutrinador,

ocorre a instigação quando “o agente estimula a idéia suicida que alguém anda manifestando”.

Vale ressaltar que, instigar é estimular uma idéia já existente. O auxílio a suicídio trata-se,

segundo Nucci, “na forma mais concreta e ativa de agir, pois significa dar apoio material ao

ato suicida”. Exemplo: o agente entrega para o suicida, a arma que este irá utilizar para se

matar.62

Nos dizeres de Fernando Capez, “a participação em suicídio pode ser

moral, mediante induzimento ou instigação, ou material, que é realizada por meio de

auxílio”.63

Um tema muito controvertido na doutrina e jurisprudência, é o auxílio

por omissão, ocorre quando o agente tem o dever de impedir o resultado, porém a sua omissão

acaba dando causa para o resultado final do evento, a morte. Dessa forma, é possível o auxílio

a suicídio acontecer através de uma conduta omissiva. Segue o exemplo: diretor de uma

penitenciária, que intencionalmente não evita que o preso morra devido à greve de fome.64

Em contrapartida, vejamos a seguinte jurisprudência: “Crime

Comissivo: o crime do art. 122 do Código Penal, não pode ser omissivo, só comissivo (TJSP,

RT 491/285)”.65

61 Durkheim Apud NUCCI, Guilherme de Souza.Código penal comentado. p.561. 62 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.561. 63 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.88. 64 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.89. 65 DELMANTO, Celso. Código penal comentado.p.370.

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Na visão de Mirabete “é possível a prática do crime por omissão, que

ocorre quando a pessoa tem o dever jurídico de impedir o resultado (art. 12, § 2º, do Código

Penal)”.66

Entretanto, existem doutrinadores que discordam desse

posicionamento, como Damásio, que entende que não existe auxílio por omissão no crime do

art. 122 do Código Penal. O nobre doutrinador assevera que, “a expressão empregada pelo

Código Penal, prestar auxílio para o suicídio, é indicativa de conduta de franca atividade.

Assim, não cremos que possa existir participação em suicídio praticada por intermédio de

comportamento negativo”.67

Pode ser sujeito ativo deste tipo penal, qualquer pessoa (crime

comum) com capacidade de induzir, instigar ou auxiliar alguém, de maneira eficiente e

consciente, a se matar. Também poderão figurar como sujeito passivo deste delito, qualquer

pessoa, mas que possua capacidade de resistência e discernimento. Em casos onde a vítima é

louca, ou é criança, o agente será incurso no art. 121 do Código Penal, crime de homicídio,

pois a vítima, em virtude da ausência de capacidade penal, serviu como um instrumento para

que o agente obtivesse sucesso em seu plano criminoso, que era de eliminar a vida do

inimputável. Exemplo disto, é entregar uma arma a um louco e determinar que este atire

contra si próprio68.

Para que se concretize o crime previsto no art. 122 do Código Penal, é

necessário o resultado morte ou, no mínimo, lesão corporal de natureza grave. Não ocorrendo

nenhuma dessas duas hipóteses, não há que se falar do crime de induzimento, instigação ou

auxílio a suicídio.69

Na definição de Nelson Hungria, “embora o crime se apresente

consumado com o simples induzimento, instigação ou, prestação de auxílio, a punição está

condicionada à superveniente consumação do suicídio ou, no caso de mera tentativa, à

produção de lesão corporal de natureza grave na pessoa do frustrado desertor da vida”. 70

Interessante trazer à colação o ensinamento de Paulo José da Costa Jr.,

acerca do tema:

Resta saber se os eventos lesão grave ou morte configuram uma condição objetiva de punibilidade, ou se integram o tipo. Se tais condições são exteriores ao tipo, não necessitando ser abrangidas pelo dolo, a resposta será positiva. O resultado morte ou

66 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado. p.961. 67 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte especial.v.2. p.98. 68 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.90. 69 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.116. 70 Nelson Hungria Apud BITENCOURT, Cezar Roberto.Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.116.

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lesão grave está contido no dolo do instigador, ainda que de forma eventual. Logo, tais eventos integram o tipo, não constituindo condições objetivas de punibilidade. Uma vez que dita condição subordina a incriminação à verificação do suicídio ou da lesão grave, impossível será a tentativa. Ou sobrevêm resultados e o crime se consuma, ou não sobrevêm, e a conduta não disporá de relevo penal.71

Este tipo penal só poderá ser punível, se o agente age com dolo, pois a

conduta que é praticada de forma culposa não está prevista em lei. No § único do art. 122 do

Código Penal, o legislador inseriu duas causas que poderão aumentar a sanção penal, são elas:

“1) se o crime é praticado por motivo egoístico; 2) contra vítima menor ou com capacidade de

resistência diminuída”. 72

Por motivo egoístico entende-se na concepção de Rogério Greco, tudo

aquilo que é “mesquinho, torpe, que cause uma certa repugnância, a exemplo da hipótese em

que o agente induz seu irmão a cometer o suicídio a fim de herdar, sozinho, o patrimônio

deixado pelos seus pais”.73

Quando o suicídio ocorre em vítima que possua menos de 14 anos, o

fato será considerado homicídio, devido a incapacidade de consentir da vítima. O menor à que

se refere a lei, é aquele entre 14 e 18 anos.74

No que diz respeito à participação de suicídio em vítima que tenha

diminuída sua capacidade de resistência, há que se notar, que a lei fala em diminuição da

capacidade de resistência e não em sua anulação. Portanto, se a vítima não houver qualquer

capacidade de resistência, o agente estará incurso no delito de homicídio, assim podemos

concluir que, só haverá participação em suicídio com pena duplicada, quando a vítima possuir

a sua capacidade de resistência diminuída, pois se nula for, não há que se cogitar em

suicídio.75

Por fim, Guilherme de Souza Nucci diz que:

A resistência diminuída configura-se por fases críticas de doenças graves (físicas ou mentais), abalos psicológicos, senilidade, infantilidade ou ainda pela ingestão de álcool ou substâncias de efeitos análogos. Tem essa pessoa menor condição de resistir à idéia do suicídio que lhe foi passada, diante de particular condição que experimente ou da situação que está vivenciando76.

71 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.372. 72 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.562. 73 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte especial.v.2.p.210. 74 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial.p.120. 75 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial.p.120. 76 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.562.

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1.1.3 INFANTICÍDIO

Ocorre este ilícito penal quando a mãe em estado puerperal mata o

nascituro, durante ou logo após o parto. Se observarmos bem, pode-se dizer que o infanticídio

não deixa de ser uma espécie de homicídio doloso privilegiado. O privilégio – tratamento

penal moderado – decorre do estado puerperal da mulher.77

A vida humana, tanto do nascente (quem está nascendo) como do

neonato (recém-nascido), é o bem jurídico protegido neste tipo penal, que se encontra descrito

no art. 123 do Código Penal78. Trata-se de um crime próprio, o sujeito ativo deste crime é a

mãe, sendo sujeito passivo o ser humano nascente. Admite-se qualquer meio de execução

capaz de produzir a morte do nascituro. A morte poderá ocorrer através de uma conduta

comissiva (asfixia, estrangulamento, dentre outras) ou omissiva (falta de costura cirúrgica no

cordão umbilical, inanição, etc).79

Cezar Roberto Bitencourt leciona acerca da matéria:

O estado puerperal pode determinar, embora nem sempre determine, a alteração do psiquismo da mulher dita normal. Em outros termos, esse estado existe sempre, durante ou logo após o parto, mas nem sempre produz as perturbações emocionais que podem levar a mãe a matar o seu próprio filho. Nosso Código Penal, que adota o critério fisiológico, considera fundamental a perturbação psíquica que o estado puerperal pode provocar na parturiente. Se não se verificar que a mãe tirou a vida do filho nascituro, sob a influência do estado puerperal, a morte praticada se enquadrará na figura típica do homicídio. Enfim, é indispensável uma relação de causalidade entre o estado puerperal e a ação delituosa praticada.80

Nesse diapasão, Frederico Marques ensina: “durante ou depois do

parto, pouco importa, sempre é necessário que a morte resulte da influência do estado

puerperal”81. Convém ressaltar que a influência do estado puerperal, é elemento normativo do

tipo, devendo se unir, com outro elemento normativo, este de característica temporal, qual

seja, durante ou logo após o parto. Sendo insuficiente para a tipificação do delito de

infanticídio, se qualquer desses dois elementos normativos aparecerem de forma isolada.82

A lei exige que o delito de infanticídio seja cometido “durante o parto

ou logo após”, estando à mãe sob influência do estado puerperal. Para Fernando Capez, “a

77 CAMPOS, Pedro Franco de. Direito penal aplicado/ Pedro Franco de Campos e outros.p.16. 78 DELMANTO, Celso. Código penal comentado.p.370. 79 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial.v.2. p.77. 80 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.140. 81 Frederico Marques Apud BITENCOURT, Cezar Roberto.Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.141. 82 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.141.

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melhor orientação é aquela que leva em consideração a duração do estado puerperal,

exigindo-se uma análise concreta de cada caso”.83

Assim o crime do art. 123 do Código Penal, deve ser praticado durante

o momento em que durar o estado puerperal, pouco importando avaliar o número de horas ou

dias após o nascimento, e, se aquele não mais subsistir, não se poderá pensar em infanticídio,

mas sim em crime de homicídio.84

Nesse norte, distingui-se o infanticídio do aborto, porque este só pode

ocorrer antes de ser iniciado o parto. Todavia, se a mãe estiver sob a influência do estado

puerperal ou não ocorrendo o fato logo após o nascimento, o crime que se configura é o de

homicídio. Consuma-se o delito do art. 123 do Código Penal com a morte da vítima, sendo

perfeitamente possível neste ilícito a hipótese de tentativa.85

O elemento subjetivo no infanticídio é o dolo, ou seja, a vontade de

causar a morte do filho nascente ou recém-nascido, ou ainda assumir o risco desse resultado,

não existindo no referido tipo penal a modalidade culposa. Entretanto, se houver culpa da

mãe, deverá ela responder por homicídio86. Para Capez, o infanticídio “pode ser praticado

pelo agente a título de dolo direto ou eventual”87.

Havendo concurso de pessoas, co-autores e partícipes respondem de

forma igualitária , assim, tanto a mãe que mate o filho sob a influência do estado puerperal,

quanto o partícipe que a ajuda. O mesmo se dá, se a mãe ajuda, nesse estado, um terceiro que

elimina a vida do seu filho, ou ainda, se os dois matam o nascituro.88

Esse tema é muito controvertido na doutrina, pois, questiona-se, co-

autor e partícipe responderão pelo crime de infanticídio ou homicídio? Uma vez que o delito

de infanticídio contém, como elemento subjetivo personalíssimo, a influência do estado

puerperal, que só pode afetar, obviamente, a mãe. Heleno Fragoso asseverava que:

Entendemos que deve ser adotada a lição de Hungria, fundada no direito suíço, segundo o qual o concurso de agentes é inadmissível. O privilégio se funda numa diminuição da imputabilidade, que não é possível estender aos partícipes. Na hipótese de co-autoria (realização de atos de execução por parte do terceiro), parece-nos evidente que o crime deste será o de homicídio. 89

83 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.103. 84 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.103. 85 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.967. 86 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.967. 87 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.105. 88 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.566. 89 Heleno Fragoso Apud TELES, Ney Moura.Direito penal. parte especial.p.126.

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Contudo, há que se ressaltar o caput do art. 29, do Código Penal, veja-

se: “quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas”. Este

tema é muito discutido na doutrina, vários doutrinadores renomados afirmam que o co-autor e

o partícipe deste ilícito, deveriam responder por homicídio, já outros, dizem que co-autores e

partícipes deveriam ser incursos no art. 123 do Código Penal.90

No prosseguimento deste trabalho acadêmico, iremos adentrar na

seara do crime de aborto, previsto no art. 124 do Código Penal brasileiro.

1.1.4 ABORTO

É a interrupção da gravidez, com a destruição do embrião em

formação. É a morte do ovo (até 3 semanas de gravidez), embrião (de 3 semanas a 3 meses de

gestação) ou feto (depois de 3 meses de gravidez), trata-se de crime material.91

Para configurar-se o crime de aborto, não há necessidade de:

O produto da concepção morto ser expelido das entranhas da mulher. Isso porque podem acontecer dois fenômenos: a) dissolução e reabsorção do ovo ou embrião pelo organismo feminino; b) mumificação do feto que permanece dentro do útero. A objetividade jurídica neste ilícito, é a vida humana em formação e a integridade física da gestante.92

O sujeito ativo deste tipo penal poderá ser, no crime de auto-aborto,

logicamente, haverá de ser a mãe (crime próprio). Nas outras modalidades, o sujeito agente

haverá de ser qualquer pessoa. Serão sujeito passivo do referido tipo, o produto da concepção,

como também poderá ser a gestante, quando for cometido o crime sem o seu consentimento.

Por fim, o Estado poderá figurar também no pólo passivo do crime de aborto.93

Neste delito, o agente age com dolo, ainda que eventual, inexiste o

crime de aborto na sua modalidade culposa. Contudo, o aborto qualificado que está inserido

no art. 127, caput, do Código Penal, é um crime preterdoloso, pois há dolo no antecedente

(aborto) e culpa no conseqüente (lesão grave ou morte).94

O momento em que se consuma o aborto é quando ocorre o resultado

morte do feto, em conseqüência da interrupção da gravidez. Porém, se o feto já se encontrava

morto quando da provocação, há crime impossível por absoluta inadequação do objeto, o

90 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte especial.v.2. p.110. 91 CAMPOS, Pedro Franco de. Direito penal aplicado/ Pedro Franco de Campos e outros.p.18. 92 CAMPOS, Pedro Franco de. Direito penal aplicado/ Pedro Franco de Campos e outros.p.19. 93 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.380. 94 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.972.

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mesmo ocorre quando não existe a gravidez. Pouco importa que a morte ocorra no ventre

materno ou após prematura expulsão provocada. Admite-se neste tipo penal a tentativa,

quando provocada a interrupção da gestação, o feto não morre devido a circunstâncias alheias

à vontade do agente.95

1.1.4.1 Auto-aborto e aborto consentido

A primeira parte do art. 124 do Código Penal, prevê o denominado

auto-aborto: “praticar aborto em si mesma”. Trata-se de crime próprio, isto é, o sujeito agente

é somente a mulher grávida. Enquanto que a segunda parte do citado dispositivo penal,

disciplina o aborto consentido, que acontecerá quando a gestante consentir que outra pessoa

provoque o aborto em si própria. Aliás, nesta última hipótese a gestante não pratica o aborto

em si mesma, mas consente que o agente o faça, este por sua vez, responderá pelo delito

inserido no art. 126 do Código Penal.96

Importante neste momento, a colação de Luiz Régis Prado, que

leciona acerca do tema:

É indispensável a validade do consentimento da mulher grávida para a configuração do crime de aborto consentido (art. 124, 2ª parte do Código Penal). A co-autoria não é, portanto, admissível no auto-aborto. O terceiro que realiza o aborto consentido pela gestante é autor do delito previsto no art. 126, do Código Penal. Não obstante, a participação é perfeitamente possível. Faz-se oportuno consignar a seguinte distinção: se o partícipe induz, instiga ou auxilia a própria gestante a realizar o aborto em si mesma ou a consentir que outrem o faça, responde pela participação no delito do art. 124 do Código Penal; porém, se concorre de qualquer modo para a provocação do aborto por terceira pessoa, responderá como partícipe do crime do art. 126 do Código Penal.97

Vejamos o que diz a respeito o nobre doutrinador Ney Moura Teles:

A gestante simplesmente concorda, anui, autoriza, presta seu consentimento para que outra pessoa realize, em si, algum método interruptivo da gravidez, com o fim da morte do ser humano em formação. Essa conduta não é puramente omissiva, porque nela a gestante contribui, colabora, facilita as práticas abortivas. Ela não é partícipe do crime do art. 126, que é o tipo que incide sobre o agente que realiza o procedimento típico de provocar o aborto. É autora do crime de consentir na realização do aborto em si mesma98.

95 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte especial.v.2. p.123. 96 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial.p.96. 97 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial.p.97. 98 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial.p.134.

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Desse modo, o terceiro que induz ou instiga a gestante a provocar o

auto-aborto ou se colabora de modo secundário sem interferir na execução do procedimento

típico, sem ter, poder de decisão, será partícipe desse ilícito penal. Contudo, se este contribuir

de forma material para a realização deste crime, praticando atos ou tendo poder de decidir na

consumação do fato, estará incurso como autor do crime previsto no art. 126 do Código

Penal.99

1.1.4.2 Aborto provocado por terceiro, sem o consentimento da gestante

Trata-se da forma mais gravosa do crime de aborto, o agente pode ser

punido com pena de reclusão de 3 a 10 anos. Neste tipo penal não é preciso que haja uma

discordância expressa da gestante, basta que o terceiro se utilize de meios abortivos sem o

conhecimento da gestante; por exemplo: colocar doses de substância abortiva na refeição da

gestante.100

Guilherme de Souza Nucci fala acerca desta matéria, vejamos:

É um crime comum (que pode ser praticado por qualquer pessoa); instantâneo (cuja consumação não se prolonga no tempo); comissivo (provocar = ação) ou omissivo (quando houver o dever jurídico de impedir o resultado; Exemplo: o médico que, contratado para acompanhar uma gestação problemática, não o faz deliberadamente); material (exige resultado naturalístico para sua configuração); de dano (deve haver efetiva lesão ao bem jurídico protegido, no caso, a vida do feto ou embrião e a integridade física da mãe); unissubjetivo (admite a existência de um só agente); plurissubsistente (configura-se por vários atos), de forma livre (a lei não exige conduta específica para o cometimento do aborto), admite tentativa.101

A discordância pode ser real (violência ou grave ameaça e fraude) ou

presumida, quando a gestante for menor de quatorze anos de idade, alienada ou débil

mental.102

Por fim, Mirabete diferencia com clareza o crime do art. 125 do

Código Penal, dos delitos de homicídio e de lesão corporal, no que segue:

Distingue-se a provocação do aborto sem o consentimento da gestante do homicídio, que ocorre quando a conduta de matar do agente é posterior ao início do parto. Distingue-se do crime de lesões corporais seguida de aborto pelo elemento subjetivo: havendo dolo direto ou eventual quanto à interrupção da gravidez, há

99 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial.p.133. 100 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.119. 101 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.568. 102 CAMPOS, Pedro Franco de. Direito penal aplicado/ Pedro Franco de Campos e outros.p.20.

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aborto em concurso material com lesão corporal; havendo culpa, apenas o crime de lesão corporal.103

1.1.4.3 Aborto provocado por terceiro, com o consentimento da gestante

Como bem leciona Delmanto, “o caput do artigo 126 do Código Penal

pressupõe a capacidade da gestante em consentir (caso contrário, a figura é a do parágrafo

único). O erro quanto ao consentimento é erro de tipo (Código Penal, art. 20)”104. A pena para

o agente que pratica este crime é de reclusão, variando de 1 a 4 anos.

Poderá ser sujeito agente deste ilícito, qualquer pessoa, quanto ao

sujeito passivo, entende Rogério Greco que, somente o fruto da concepção (óvulo fecundado,

embrião ou feto) poderá figurar nesse pólo. Contudo, se a gestante permitir que sejam

praticadas manobras abortivas em si própria, e se porventura sofrer lesões de natureza grave

ou a morte, esta também figurará no pólo passivo da questão. Se a gestante sofresse lesões

leves, não poderia assumir o status de sujeito passivo, pois que, só se esta sofresse lesões de

natureza grave ou até mesmo a morte.105

Mirabete se posiciona de maneira diferente acerca deste tema, diz o

nobre doutrinador que, o sujeito ativo deste delito poderá ser qualquer pessoa. Porém, nada

obsta a co-autoria ou a participação de terceiros que atuarem em consonância com o agente. Já

a gestante, e os que lhe ajudaram a cometer a prática criminosa, responderão pelo crime do

art. 124 do Código Penal. No que tange ao sujeito passivo, afirma Mirabete que o Estado é

quem figurará neste pólo, e não o feto106.

Pois o Estado é o verdadeiro interessado no nascimento, e não o feto,

que não é titular de bens jurídicos, mesmo que a lei civil resguarde os direitos do nascituro

(art. 2º do Código Civil).107

Já para outros especialistas do Direito Penal, o sujeito passivo do

crime previsto no art. 126 do Código Penal, é o feto ou embrião. Secundariamente, é a

sociedade, que tem interesse em proteger a vida do ser em formação no útero materno.108

Guilherme de Souza Nucci faz uma análise do tipo:

103 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.976. 104 DELMANTO, Celso. Código penal comentado.p.374. 105 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.244. 106 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.977. 107 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.977. 108 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.569.

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Trata-se de uma exceção à teria monística (todos os co-autores e partícipes respondem pelo mesmo crime quando contribuírem para o mesmo resultado típico). Se existisse somente a figura do art. 124, o terceiro que colaborasse com a gestante para a prática do aborto incidiria naquele tipo penal. Entretanto, o legislador, para punir mais severamente o terceiro que provoca o aborto, criou o art. 126, aplicando a teoria dualista do concurso de pessoas.109

O aborto provocado com o consentimento da gestante, incide em duas

figuras típicas, uma para a consciente (Código Penal, art. 124, 2ª parte) e outra para o

provocador (Código Penal, art. 126). Ou seja, a gestante sempre será incursa no art. 124, do

Código Penal, 2ª parte, a não ser que seja inimputável. Enquanto que, o terceiro ou quem o

auxiliou neste delito, responderá pelo art. 126 do Código Penal.110

Por fim, para ser válido o consentimento da gestante, esta por sua vez,

terá que ter capacidade para consentir, não se tratando de capacidade civil. Nesta área, o

Direito Penal é menos formal e mais realístico, não se empregando as leis do Direito Privado.

Leva-se em conta a vontade real da gestante, desde que juridicamente relevante. Enquanto que

o aborto praticado contra mulher grávida que emitiu consentimento inválido caracteriza a

figura típica do art. 125 do Código Penal.111

Esse dito consentimento inválido acontece quando, a gestante não é

maior de 14 anos ou é alienada ou débil mental, ou ainda, quando o agente usa a violência,

ameaça a vítima ou mesmo por fraude, é natural supor que extraiu o consentimento da vítima

à força. Assim, nessas duas hipóteses o agente responderá pelo crime do art. 125 do Código

Penal.112

1.1.4.4 Forma qualificada do crime de aborto

As formas qualificadas deste delito são aplicáveis única e

exclusivamente aos delitos descritos nos arts. 125 e 126 do Código Penal, pois não se pune a

autolesão no direito brasileiro. É um crime qualificado pelo resultado, de característica

preterdolosa ou preterintencional. Assim, pune-se o primeiro delito a título de dolo (aborto); o

resultado qualificador, que poderá ser morte ou lesão corporal grave, a título de culpa (art. 19

do Código Penal).113

109 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.569. 110 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.120. 111 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.121. 112 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.121. 113 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte especial.v.2. p.127.

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Na concepção de Ney Moura Teles, “são todas modalidades de crimes

preterdolosos, nos quais o agente age com dolo de provocar o aborto, tão- somente o aborto,

mas, por negligência, imprudência ou imperícia, acaba produzindo resultado mais grave”114.

Há uma questão muito controvertida a respeito deste tema, pois, tem-

se entendido que, se não ocorrer a morte do nascituro, mas se a gestante vier a sofrer lesão

grave ou morrer, o agente responderá por tentativa de aborto qualificado. Contudo, existem

decisões dizendo que o agente deste delito poderá ser incurso nos crimes de homicídio

culposo ou lesão culposa em concurso formal com tentativa de aborto.115

Se a lesão corporal sofrida pela gestante for de natureza leve, não há a

configuração da qualificadora prevista no art. 127 do Código Penal, pois, é indispensável que

ocorra o resultado morte ou lesão grave, ao menos, por culpa.

Guilherme de Souza Nucci assevera que é possível ocorrer a tentativa

neste tipo penal, por exemplo: “o agente tenta praticar o aborto, não consegue, mas termina

causando à gestante lesões graves. É uma tentativa de aborto com lesões graves para a

mãe”116.

Interessante neste momento, a colação do ensinamento de Fernando

Capez, no que segue:

Morte da gestante e aborto tentado; trata-se de interessante hipótese de delito preterdoloso (aborto qualificado pela morte culposa da gestante), no qual morre acidentalmente a gestante, mas o feto sobrevive por circunstâncias alheias à vontade do aborteiro. Haveria tentativa de aborto qualificado? Em caso afirmativo, seria uma exceção à regra de que não cabe tentativa em crime preterdoloso. Entendemos que, nessa hipótese, deve o sujeito responder por aborto qualificado consumado, pouco importando que o abortamento não se tenha efetivado, aliá como acontece no latrocínio, o qual se reputa consumado com a morte da vítima, independentemente de o roubo consumar-se. Não cabe mesmo falar em tentativa de crime preterdoloso, pois neste o resultado agravador não é querido, sendo impossível ao agente tentar produzir algo que não quis: ou o crime é preterdoloso consumado ou não é preterdoloso.117

Por fim, existem ainda as causas de exclusão da ilicitude, ou seja, o

aborto legal, que encontra-se previsto no art. 128 do Código Penal, o qual será abordado no

item seguinte.

114 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial.p.137. 115 CAMPOS, Pedro Franco de. Direito penal aplicado/ Pedro Franco de Campos e outros.p.21. 116 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.570. 117 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.123.

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1.1.4.5 Aborto legal; causas de exclusão da ilicitude

O art. 128 do Código Penal determina que: “não se pune o aborto

cometido por médico: I- se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II- se a gravidez

resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de

seu representante legal”118.

Para Cezar Roberto Bitencourt, “é uma forma diferente e especial de o

legislador excluir a ilicitude de uma infração penal sem dizer que “não há crime”, como faz no

art. 23 do mesmo diploma legal”119. Em outras palavras, quando o Código Penal diz que “não

se pune o aborto”, está asseverando que o aborto é legal naquelas duas situações descritas no

dispositivo em exame.120

No primeiro caso, que é o aborto necessário (ou terapêutico) que,

segundo a doutrina, caracteriza-se como espécie do estado de necessidade, pois, busca-se dar

fim a vida fetal em benefício da vida da gestante. Havendo risco para a vida da gestante, o

aborto deverá ser autorizado, se por um acaso, o aborto for praticado por quem não é

habilitado legalmente, pode-se invocar o estado de necessidade (art. 24 do Código Penal).121

Nesse contexto, traz-se à discussão o pensamento de Rogério Greco,

veja-se:

Não há como deixar de lado o raciocínio relativo ao estado de necessidade no chamado aborto necessário. Isso porque, segundo se dessume da redação do inciso I do art. 128 do Código Penal, entre a vida da gestante e a vida do feto, a lei optou por aquela. No caso, ambos os bens (vida da gestante e a vida do feto) são juridicamentes protegidos. Um deve perecer para que o outro subsista. A lei penal, portanto, escolheu a vida da gestante ao invés da vida do feto. Quando estamos diante do confronto de bens protegidos pela lei penal, estamos também, como regra, diante da situação do estado de necessidade, desde que presente todos os seus requisitos, elencados no art. 24 do Código Penal.122

Contudo, se o médico provocou o aborto sem que estivesse presente o

pressuposto fático da causa de justificação, que é o perigo que representa a gravidez para a

gestante, ou, mesmo ainda se existindo o risco, não fosse inevitável sacrificar a vida do

118 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado. 2ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. p.302. 119 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.167. 120 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.167. 121 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.981. 122 GRECO, Rogério. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.252.

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nascituro, não caberá a excludente de ilicitude. Assim, o fato torna-se ilegal quando inexistir o

risco ou não sendo o aborto o único modo para salvar a vida da gestante.123

O segundo caso previsto no Código Penal que trata sobre o aborto

legal, que é o denominado aborto sentimental ou humanitário, ocorre quando a gravidez é

resultante de estupro. Todavia, o aborto só é permitido em face de prévio consentimento da

gestante, sendo esta incapaz (menor, débil mental etc), deverá estar acompanhada de seu

representante legal, que é quem decidirá se o aborto deverá ou não ser realizado.124

O médico para obter a comprovação do estupro ou atentado violento

ao pudor, deverá ter meios à sua disposição (inquérito policial, processo criminal, peças de

informação etc). Se não houver esses meios à sua disposição, caberá ao médico certificar-se

da existência ou não do crime sexual. O consentimento da gestante ou de seu representante

legal só é exigido nos casos de aborto sentimental. Em se tratando de aborto necessário, é

perfeitamente dispensável.125

Não é necessário que exista um processo contra o agente do crime

sexual, muito menos, que haja sentença condenatória, até porque, com a morosidade do

judiciário, a criança já teria nascido. Dessa forma, é dever do médico certificar-se da

veracidade da alegação feita pela gestante ou seu representante legal. Para que se isente de

qualquer responsabilidade, o médico poderá sugerir que o consentimento da gestante ou de

seu representante legal, sejam feitos por escrito ou na presença de duas testemunhas

idôneas.126

Se não tiver ocorrido o delito de estupro, o médico não responde pelo

ilícito, em razão do erro sobre ilicitude do fato (art. 21, do Código Penal). Entretanto, a

gestante, responderá pelo crime previsto no art. 124, segunda parte do Código Penal. 127

Por derradeiro, interessante trazer á discussão o ensinamento de Paulo

José da Costa Jr.:

Se o processo criminal, relativo ao estupro, estiver em curso, é aconselhável ouvir o juiz e o promotor. Não pode o médico contentar-se com a mera alegação da gestante, de que foi estuprada. Seria leviano se procedesse ao aborto, com a mera alegação.128

123 TELES, Ney Moura. Direito penal. parte especial.p.141. 124 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte especial.v.2. p.129. 125 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte especial.v.2. p.129. 126 DELMANTO, Celso. Código penal comentado.p.375. 127 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.383. 128 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.383.

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Apresentados os conceitos de todos os crimes dolosos contra a vida,

passa-se a discorrer no item seguinte, um breve relato histórico dos referidos crimes.

1.2 HISTÓRICO DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA

1.2.1 HOMICÍDIO

A incriminação do homicídio faz parte da história da humanidade. A

lei das XII Tábuas estabeleceu juízes especiais para os crimes de homicídio. No direito

romano, a lex cornelia de sicariis et veneficiis transmitiu poderes, para o conhecimento e a

punição dos crimes, às questiones, uma espécie de júri, comandado por magistrados.129

Na era dos tempos bíblicos, o delito de homicídio era punido com a

pena de morte. Já em Atenas, a punição não tinha o mesmo tratamento, era concedido ao

homicida o direito de exilar-se. Justiniano restabeleceu a aplicação da pena capital para todos

considerados homicidas, sem nenhuma distinção. O homicídio consumado tinha quase o

mesmo peso da tentativa.130

No direito germânico, à punição para o sujeito que praticasse o crime

de homicídio, era ser ele (agente) entregue à família da vítima, que poderia vingar-se ou

compor-se (compositio). Depois a composição se transformou em uma espécie de multa,

cabendo parte dela ao Estado, como “preço de paz”, e parte aos parentes da vítima. Os

italianos costumavam diferenciar o homicidium qualificatum ou deliberatum, que era punido

de maneira mais severa.131

O Código Penal brasileiro de 1.890 adotou a terminologia homicídio

para determinar o crime de matar alguém, não seguindo a orientação de outros códigos

estrangeiros. Nosso Código Penal de 1.940 adotou o mesmo exemplo do primeiro Código

Penal brasileiro, utilizando a expressão homicídio como nomen iuris do delito que elimina a

vida de outrem, independentemente das condições em que esse crime é cometido.

Diferenciando, no entanto, três modalidades: homicídio simples (art.121, caput), homicídio

privilegiado (art.121, § 1º) e homicídio qualificado (art.121, § 2º).132

129 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.354. 130 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.354. 131 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.354. 132 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.26.

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O Código brasileiro atual não criou figuras especiais, tais como

parricído, matricídio ou fraticídio, rejeitando, enfim, a comprida catalogação que o Código

antigo prescrevia (art.294,§ 1º, do Código Penal de 1.890). As circunstâncias e as

características concretas é que deverão determinar a gravidade do fato e a sua correta

tipificação em uma das três modalidades de homicídio que regulariza o nosso diploma legal –

simples, privilegiado ou qualificado. 133

1.2.2 SUICÍDIO

No antigo império romano, punia-se o suicídio do soldado, pelo

prejuízo que causava a sua morte para o Estado, ou o suicídio do réu, para escapar da punição.

Ou ainda, o suicídio do escravo, pelo dano patrimonial causado ao senhor. A sanção se

consubstanciava na mutilação do morto.134

Em Atenas, pelo negativismo que invadia o espírito grego, o suicídio

não era punido, mas por vezes até aconselhado: “para o homem o melhor seria não ter jamais

nascido”.135

As legislações estrangeiras, na antiguidade, em sua maioria,

consideravam crime o suicídio. Na Inglaterra, cuja common law previa punição contra o

cadáver e seus parentes, tais como privação de honras fúnebres, exposição do morto

atravessado com um pau, era enterrado em rodovias públicas, os bens eram confiscados.136

O Direito Canônico igualou o homicídio ao suicídio a ponto de, sob as

Ordenações de São Luís, ser instaurado processo contra cadáver do suicida, sendo confiscados

os seus bens. Em alguma metrópoles, o morto, segundo os estatutos, devia ser suspenso pelos

pés e arrastado pelas vias públicas, com a face voltada para o chão.137

Raros os países que punem hoje em dia o delito de suicídio, como a

Bolívia, Inglaterra, alguns Estados norte americanos, como Nova Iorque por exemplo. A

sanção consiste na privação de sepultura, em bastonadas aplicadas ao cadáver, em penas

desonrosas aplicadas aos descendentes do suicida, no confisco de bens etc.138

133 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.26. 134 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.370. 135 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.370. 136 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.86. 137 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.86. 138 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.370.

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Por fim, embora o nosso atual diploma legal não incrimine a ato de

destruir a própria vida, é considerado crime toda e qualquer conduta tendente a destruir a vida

alheia (instigar, auxiliar a prática suicida).139

1.2.3 INFANTICÍDIO

Na velha Roma, a morte do nascituro, praticada pela mãe, era igualada

ao parricídio. A mesma morte praticada pelo pai não constituía crime algum. A Lei da XII

Tábuas, bem como as leis da Idade Média, permitiam a morte do neonato disforme ou

monstruoso.140

Em razão dos motivos determinantes, o crime de infanticídio era

punido, nas legislações antigas, como homicídio privilegiado. O primeiro Código a adotar

essa orientação foi o austríaco, de 1.803. Este sistema ainda existe em diversas legislações

penais atuais, como a italiana, a argentina, a alemã, a espanhola etc. 141

Somente no século XVIII a pena do infanticídio passou a ser

abrandada sob o influxo das idéias dos filósofos adeptos do Direito Natural. No Brasil o

primeiro Código que passou a abrandar a pena de infanticídio, foi o Código Penal de 1.830.142

O Código Criminal brasileiro de 1.830 tipificava o delito de

infanticídio, nos seguintes termos: “Se a própria mãe matar o filho recém-nascido para ocultar

sua desonra: pena – de prisão com trabalho por 1 a 3 anos” (art.198). No Código Penal de

1.890 o legislador, equivocadamente cominou para o infanticídio a mesma pena do crime de

homicídio. Nesse caso, se tornou injustificável a distinção dos dois tipos de crimes. Exceto

quando o delito fosse cometido pela gestante e por motivo de honra o diploma penal de 1.890

previa abrandamento da sanção ( 3 a 9 anos).143

Por último, o atual Código Penal de 1.940 consagrou a seguinte

previsão: “Matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho, durante ou logo após o

parto”, seguindo o modelo que estabelecia o Código suíço de 1.916.144

139 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.87. 140 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.374. 141 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.374. 142 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.100. 143 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.137. 144 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.138.

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1.2.4 ABORTO

Na Grécia antiga, apesar do juramento de Hipócrates (“a nenhuma

mulher darei substância abortiva”), o uso do aborto se espalhava por todas as camadas da

sociedade. Em Roma, nem as Leis das XII Tábuas nem as da República cuidaram do aborto,

por que entendiam que o feto fazia parte do corpo da mãe, que dele podia dispor

livremente.145

Foi com o Cristianismo que o aborto passou a ser punido. Santo

Agostinho, baseado na doutrina aristotélica, considerava criminoso o aborto quando o feto

fosse dotado de alma, o que acontecia nos quarenta ou oitenta dias depois da concepção. Só a

partir daí é que o feto se denominava animado.146

Nas legislações atuais, há três tendências. Uma bastante restritiva,

com se faz notar no atual diploma penal brasileiro. Outra mais permissiva, que consente a

prática abortiva num maior número de casos (idade avançada da mulher, mulher não casada,

possível deformação do feto etc). Um terceiro grupo de leis, por sinal bastante liberais,

confiam a decisão à mulher e permitem que o médico decida quanto ao aborto. Esse critério é

adotado por países como o Japão, a Hungria, a Rússia, a Suécia, onde o índice de natalidade é

baixo e as taxas de abortos legais são enormes.147

A prática abortiva nem sempre foi objeto de incriminação, sendo

muito comum a sua realização entre os povos hebreus e gregos. No Brasil, o Código Criminal

de 1.830 não previa o crime de aborto cometido pela própria gestante, apenas criminalizava a

conduta de terceiro que realizava o aborto com ou sem o consentimento da gestante.148

O Código Penal de 1.890, diferenciava o delito de aborto caso

houvesse ou não a expulsão do feto, agravando-se se ocorresse a morte da gestante. Neste

Código já criminalizava o crime de aborto cometido pela gestante. Todavia, se o delito tivesse

a finalidade de ocultar desonra própria a sanção era atenuada.149

Finalmente, o Código Penal de 1.940 tipificou as figuras do aborto

provocado (art.124 do Código Penal – a gestante assume o risco pela prática abortiva), aborto

sofrido (art.125 do Código Penal – o aborto é praticado por terceiro sem o consentimento da

145 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.378. 146 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.378. 147 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.378. 148 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.110. 149 BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de direito penal. parte especial.v.2. p.156.

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gestante) e aborto consentido (art.126 do Código Penal – o aborto é realizado também por

terceiro, porém, com o consentimento da gestante).150

Esgotados os principais temas atinentes aos crimes dolosos contra a

vida, partir-se-á, no segundo capítulo, para o estudo dos procedimentos relativos a estes

crimes.

150 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte especial.v.2. p.111.

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2 DOS PROCEDIMENTOS RELATIVOS AOS CRIMES CONTRA A VIDA

No decorrer deste capítulo, será abordado o procedimento relativo ao

Tribunal do Júri, explicando desde a 1ª fase do rito do Júri até os recursos que são cabíveis

neste tipo de procedimento do processo penal brasileiro.

2.1 PRIMEIRA FASE DO RITO DO JÚRI

A primeira fase do rito do Tribunal Popular termina com a sentença de

pronúncia. Nesta primeira etapa, a acusação quer demonstrar que houve o delito doloso contra

a vida, tentado ou consumado, e que o réu foi o seu autor. Assim sendo, a sentença de

pronúncia, irá se limitar a julgar procedente o jus accusationis do Estado. A sentença de

pronúncia é uma espécie de “sinal verde” para a acusação continuar com os atos

persecutórios.151

O procedimento do Tribunal do Júri apresenta uma certa semelhança

com o procedimento comum, na fase de formação da culpa, que começa com o oferecimento

da denúncia, passa pelo seu recebimento e designação de data para que seja interrogado o réu,

apresentação da defesa prévia, audiência para ouvida das testemunhas de acusação e, por fim,

audiência para ouvir as testemunhas de defesa. A partir daí, não há mais nenhuma semelhança

com o procedimento comum.152

Em seguida, como bem afirma Guilherme de Souza Nucci, “o juiz fará

o julgamento da admissibilidade da acusação e o processo terá um rumo repleto de situações

específicas, o que lhe confere a nítida natureza de procedimento especial”153.

Realizada a instrução nos termos dos arts. 394 a 405 do Código de

Processo Penal, as partes devem oferecer as alegações no processo dos crimes de competência

do Tribunal do Júri, dentro do prazo de cinco dias, segundo ordem estabelecida no art. 406 do

Código de Processo Penal.

O prazo para oferecimento das alegações, com exceção do Ministério

Público, segundo a lei, corre em cartório, ou seja, independe de intimação das demais partes.

Todavia, os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório obrigam à

intimação dos advogados das demais partes envolvidas no processo. Havendo vários

151 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal.24.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2002. p.65. 152 NUCCI, Guilherme de Souza.Código de processo penal comentado.6.ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p.681. 153 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado. p.681.

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defensores o prazo de cinco dias é único, já que corre em cartório e não pode beneficiar um

acusado em detrimento de outro.154

Na existência de querelante, ou seja, quando a vítima ajuizar ação

penal subsidiária da pública (art. 29 do Código de Processo Penal), deve o querelante se

manifestar em primeiro lugar. Em seguida, o Ministério Público apresentará as suas alegações,

este por sua vez irá observar a evolução da instrução criminal, podendo voltar ao pólo ativo,

em caso de abandono do querelante.155

Nesta fase processual não será admitida a juntada de qualquer

documento. A proibição reside no interesse da celeridade processual. Também não se permite

nessa fase do procedimento do Júri, requerimento referente à produção de provas.156

Acerca deste tema, Heráclito Antônio Mossin assevera que:

Por expressa disposição legal, nenhum documento se juntará aos autos nesta fase do processo. Portanto, iniciada a contagem do prazo para essas alegações escritas, não há como juntar-se documento nos autos. A jurisprudência tem dado elastério aquele preceito, entendendo ser inadmissível a formulação de qualquer requerimento objetivando a produção de prova pericial ou testemunhal. Não existe a menor dúvida de que o legislador somente fez restrição à produção de prova documental. Se sua intenção fosse obstacular qualquer geração de prova, aquela norma processual penal seria expressa a respeito. Não foi feita a restrição uma vez que o art. 407 do CPP permite ao magistrado realizar diligências, inclusive para ouvir testemunhas. Diante disso, nada impede ao interessado que requeira a produção de prova oral ou pericial, ficando ao critério do magistrado determinar ou não sua efetivação.157

Seguindo no pensamento do ilustre doutrinador, “o juiz pode

determinar de ofício diligência de cunho probatório, nada impede que a parte faça

requerimento a respeito, mesmo entendendo-se que no fundo há somente mera sugestão”158.

Em se tratando de documento essencial para as partes, que possa

implicar diretamente no julgamento da admissibilidade da acusação, é evidente que a parte

possa apresentá-lo ao magistrado, mesmo que provoque um retardamento no rito processual.

Devendo sempre prevalecer o princípio da verdade real ou da ampla defesa.159

Esgotados os prazos para as alegações das partes, serão os autos

enviados, no prazo de 48 horas, ao magistrado competente. Com a chegada dos autos ao

154 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.11.ed. São Paulo: Atlas S.A, 2003. p. 1077. 155 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.683. 156 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1080. 157 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência. Barueri, SP: Manole, 2005. p.776. 158 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.776. 159 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.683.

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Presidente do Tribunal do Júri, poderá este ordenar que se realizem as diligências que julgar

necessárias para melhor esclarecimento dos fatos, e em seguida proferirá a sentença. O

magistrado ao ter de sentenciar, poderá decretar as seguintes decisões: a) de pronúncia (art.

408); b) de impronúncia (art. 409); c) de desclassificação (art. 410); d) de absolvição sumária

(art. 411).160

Na sentença de pronúncia, o juiz julga somente a admissibilidade do

jus accusationis. É uma decisão de natureza processual, não há que falar-se em coisa julgada,

podendo o Tribunal Popular sentenciar contra aquilo que ficou ajustado na decisão de

pronúncia. Proferida a sentença de pronúncia e esgotados todos os caminhos de impugnação,

não poderá ela ser alterada, a menos que se verifique circunstância superveniente que altere a

classificação do crime.161

Importante destacar neste momento o ensinamento de E. Magalhães

Noronha:

Pronunciado o acusado, o juiz mencionará o dispositivo legal em que aquele se acha incurso, especificando as circunstâncias qualificadoras do delito. É indeclinável que a sentença de pronúncia o faça, pois elas mudam o dispositivo legal: pronunciar um réu no art. 121 não é a mesma coisa que fazê-lo no art. 121, § 2º, I, do Código Penal. Mesmo na dúvida sobre elas, deve a sentença acolhê-las para não retirar do júri a possibilidade de apreciá-las, já que se as omitir, é vedado ao libelo articulá-las.162

É vedado ao juiz, na sentença de pronúncia fazer qualquer

consideração sobre os elementos referentes à dosagem da pena (RT 516/358). Portanto, não

pode o magistrado reconhecer as causas de diminuição da pena, como a do privilégio do

homicídio (RT 516/391) ou a da semi-responsabilidade do parágrafo único do art. 26 do

Código Penal (STF, RTJ 101/1.288).163

Conforme ensina Mirabete, “como juízo de admissibilidade, não é

necessário à pronúncia que exista a certeza sobre a autoria que se exige para a condenação.

Daí que não vige o princípio do in dúbio pro reo, mas se resolvem em favor da sociedade as

eventuais incertezas propiciadas pela prova (in dúbio pro societate)”164.

160 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.2.ed. Campinas, SP: Millennium, 2000.v.III.p.217. 161 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal.p.71. 162 NORONHA, E. Magalhães. Curso de direito processual penal. 23.ed. atual. por Adalberto José Q. T. de Camargo Aranha. São Paulo: Saraiva, 1995. p.252. 163 JESUS, Damásio E. de. Código de processo penal anotado. 22.ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2005. p.338. 164 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1084.

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Assim segue a jurisprudência: “Para a pronúncia não há necessidade,

absolutamente, nem de confissão, nem de testemunhas visuais do crime. Basta a prova de sua

materialidade e indícios suficientes de autoria” (TJSP-RT 549/317-8)165.

Em se tratando de casos de crimes conexos, se o magistrado

pronunciar o réu em relação ao crime doloso contra a vida, não poderá o juiz se manifestar

sobre a admissibilidade dos delitos conexos, preservando, portanto, a competência do

Tribunal do Júri para decidir a causa por inteiro.166

Pronunciado o réu, será este recolhido ao cárcere, ou recomendado na

prisão em que se encontrar, exceto se for primário e de bons antecedentes, situação em que

poderá continuar em liberdade. No atual sistema Penal brasileiro, não mais vigora o princípio

da prisão obrigatória por conseqüência da sentença de pronúncia, mas a revogação da prisão

preventiva não é direito subjetivo do réu (art. 408, § 2º).167

Uma vez efetivada a sentença de pronúncia, que é o juízo de

admissibilidade da acusação, eventual excesso de prazo que possa acontecer para que se

instaure o fim da instrução criminal, fica superado nesta fase processual do rito do júri. Como

bem menciona a Súmula 21 do STJ: “Pronunciado o réu, fica superada a alegação de

constrangimento ilegal da prisão por excesso de prazo na instrução”.168

Porém, hoje em dia vem prevalecendo o entendimento de que toda a

prisão cautelar, até aquela que advém da pronúncia, tem que respeitar o princípio da

razoabilidade. Conforme jurisprudência do STF:

Por entender ocorrente excesso de prazo no julgamento, a Turma deferiu hábeas corpus a pronunciado pela prática de homicídio duplamente qualificado. Considerou-se, não obstante a superveniente sentença de pronúncia, o fato de o acusado estar preso cautelarmente por mais de dois anos, aguardando, ainda, o julgamento de recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público (HC 86.980-SP, 2ª T., relator: Eros Grau, 15.08.2006, Informativo 436).169

Por fim, interessante trazer à colação o ensinamento de Vicente Greco

Filho acerca da sentença de pronúncia:

A função do juiz togado na fase de pronúncia é a de evitar que alguém que não mereça ser condenado possa sê-lo em virtude do julgamento soberano, em decisão,

165 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1086. 166 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal. 2.ed. rev. aum. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 467. 167 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.467. 168 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.692. 169 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.693.

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quiçá, de vingança pessoal ou social. Ou seja, cabe ao juiz na fase de pronúncia excluir do julgamento popular aquele que não deva sofrer a repressão penal. Usando expressões populares, pode-se dizer que compete ao juiz evitar que um inocente seja jogado “às feras”, correndo o risco de ser condenado, ou que o júri pode fazer uma injustiça absolvendo, não podendo fazer uma injustiça ao condenar.170

No que tange a impronúncia, podemos compreender facilmente que

esta é o contrário da sentença de pronúncia, uma vez que tem ela fundamento na negatividade

do corpus delicti ou da prova de vestígios quanto ao autor do crime, circunstâncias subjetivas

e objetivas que não autorizam a admissibilidade da acusação perante o Tribunal Popular. Para

que ocorra a impronúncia, no que diz respeito à autoria do delito, essa negativa deve ser

incontestável.171

A impronúncia para José Frederico Marques, “consiste em verdadeira

absolutio ab instantia, e, por essa razão, não tranca definitivamente o processo no que tange

ao julgamento de meritis”172. Tendo em vista a regra do art. 409, § único, do Código de

Processo Penal, que diz: “Enquanto não extinta a punibilidade, poderá, em qualquer tempo,

ser instaurado processo contra o réu, se houver novas provas”173.

Não cabe ao juiz togado, proferir sentença com relação aos crimes

conexos, no caso de impronúncia em relação ao crime de competência originária do júri,

deverá o magistrado remeter os autos ao juízo competente, exceto se for ele próprio,

providenciando-se como determina o art. 410, por analogia.174

No que diz respeito à reiteração da ação penal, Mirabete afirma que:

“não será possível, porém, nova ação penal quando o juiz, na sentença, reconhecer “estar

provada a inexistência do fato” (art. 386, I) ou “não constituir o fato infração penal” (art. 386,

III) pois, nessas situações, a decisão é, por substância, uma sentença absolutória”175.

Há que se ressaltar, que nesta fase processual podemos ter a decisão

de “despronúncia”, que ocorre quando da sentença do magistrado que, em recurso em sentido

estrito, se retrata, impronunciando o acusado, ou ainda, a sentença proferida pelo Tribunal ao

reformar a decisão anterior de pronúncia, transformando-a em impronúncia.176

170 FILHO, Vicente Greco. Tribunal do júri: estudo sobre a mais democrática instituição jurídica brasileira / coordenação Rogério Lauria Tucci. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p.119. 171 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.795. 172 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v.III.p.221. 173 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v.III.p.221. 174 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1114. 175 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1115. 176 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.469.

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Damásio E. de Jesus conceitua de maneira simplificada a decisão de

despronúncia, “é a impronúncia proferida pelo Tribunal”177.

Com relação à desclassificação, Guilherme de Souza Nucci assevera

que: “é a decisão interlocutória, modificadora da competência do juízo, não adentrando o

mérito, nem tampouco fazendo cessar o processo”178. O magistrado somente desclassificará o

delito penal, cuja denúncia, foi acolhida como crime doloso contra a vida, em caso de absoluta

certeza quanto à ocorrência de crime diverso daqueles que estão descritos no art. 74, § 1º do

Código de Processo Penal.179

Seguindo no pensamento do nobre doutrinador, “outra solução não

pode haver, sob pena de se ferir dois princípios constitucionais: a soberania dos veredictos e a

competência do júri para apreciar os delitos dolosos contra a vida”180.

Se o magistrado percebendo que a infração penal não se trata de delito

da competência do Tribunal do Júri, não poderá ele julgar de imediato a infração, mesmo

tendo competência para julgar o delito, assim, caberá ao juiz proceder conforme o que dispõe

o art. 410 do Código de Processo Penal.181

Acerca da desclassificação e crime conexo, Fauzi Hassan Choukr

afirma que:

Na estrutura do Código de Processo Penal uma vez operada a desclassificação do crime doloso contra a vida afasta-se também a competência para o crime conexo, se houver. Por outro lado, deve-se reconhecer acertadamente que “o juiz competente para processar os crimes da competência do júri, na fase do judicio accusationis, não pode pronunciar o réu pelo crime doloso contra a vida e, no mesmo contexto processual, condená-lo ou absolvê-lo da imputação de crime que seria da competência do juiz singular, reunido, na mesma denúncia em virtude de conexão”. 182

Portanto, para que haja desclassificação, a prova contida nos autos tem

que ser plena e absoluta. Sendo o conjunto probatório constituído por provas no sentido de ser

a infração de competência do Tribunal do Júri e do juiz monocrático, deve o juiz pronunciar,

salvo, se for caso de absolvição sumária. Isso porque, na seara do processo penal, a dúvida

177 JESUS, Damásio E. de. Código de processo penal anotado.p.341. 178 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.698. 179 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.698. 180 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.698. 181 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.470. 182 CHOUKR, Fauzi Hassan. Código de processo penal: comentários consolidados e crítica jurisprudencial. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2005. p. 610.

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milita sempre em favor do Tribunal Popular – in dúbio pro societate e jamais em favor do réu

– in dúbio pro reo. 183

Importante esclarecer que “transitada em julgado a sentença de

desclassificação, torna-se matéria preclusa a classificação original contida na denúncia ou

queixa. Não é mais restaurável aquela classificação”184.

Porém, conforme entendimento do STF, “se o juiz a quem é remetido

os autos discorda da desclassificação, suscitando o conflito de competência, julgado

procedente pelo Tribunal, restaura-se a classificação do crime de competência do Tribunal

Popular”. Tendo em vista que a decisão de pronúncia é mero juízo de admissibilidade e não

julgamento do mérito da ação.185

O magistrado poderá ainda, nesta fase processual do rito do Júri,

proferir sentença absolutória, de acordo com o art. 411 do Código de Processo Penal, caso

verificar que no ato realizado pelo acusado não estiver presente à culpabilidade, ou não foi

antijurídico. Deverá assim absolvê-lo sumariamente, desde que, no particular, as provas sejam

estremes de dúvidas.186

José Frederico Marques leciona:

Se, ao ter de proferir a sentença que encerra a fase de instrução preliminar, ou de formulação da culpa, entender o juiz que não há fato típico comprovado, ou corpus delicti, ele impronunciará o réu. Se suceder, porém, que, apesar de provado o fato típico, demonstrado também ficar que não há crime a punir por inexistência de antijuridicidade, então o direito de acusar será também inadmissível. E se o fato típico, embora ilícito, não for punível, por ocorrência de causa excludente de punibilidade (Código Penal, arts. 20, 22, 26 e 28, § 1º), convincentemente, clara e irretorquível, ainda aí o jus accusationis se apresenta como inadmissível.187

Ainda no pensamento do nobre doutrinador citado acima, “o

legislador, em se tratando de causa excludente da antijuridicidade, ou de causa excludente da

culpabilidade, não fala em impronúncia, e sim em absolvição sumária, segundo o que dispõe o

art. 411 do Código de Processo Penal”188.

Nessa esteira segue a jurisprudência:

183 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.799. 184 Hermínio Alberto Marques Porto Apud MIRABETE, Júlio Fabbrini.Código de processo penal interpretado. p.1120. 185 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1120. 186 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal.p.67. 187 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v.III.p.225. 188 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v.III.p.225.

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Penal. Processual Penal. Homicídio. Ofendículo. Legítima defesa. Inexistência de prova plena. [...]. O Tribunal do Júri é o juiz natural dos crimes dolosos contra a vida, só podendo ter o seu julgamento subtraído pelo juiz singular quando as dirimentes expressas no art. 411 do Código de Processo Penal restarem plenamente provadas.189

O juiz ao absolver sumariamente o acusado, deverá desde já recorrer

de ofício de sua decisão, como prevê o art. 411 caput do Código de Processo Penal. A

absolvição sumária é uma decisão de mérito, que verifica a prova e declara-se inocente o réu.

Desse modo, para que não haja ofensa ao princípio da soberania dos veredictos, esta somente

poderá ser proferida em caráter excepcional, quando a prova for nítida. Todavia, se houver

dúvida a respeito da causa excludente, deve o magistrado pronunciar o acusado.190

Importante ressaltar que absolvido sumariamente o réu, não pode o

magistrado se manifestar acerca dos crimes conexos, cabendo ao magistrado apenas enviar o

processo ao juiz competente para julgá-los.191

Damásio E. de Jesus explana o art. 412 do Código de Processo Penal,

veja-se:

Em alguns Estados, cabe a uma vara o processamento do feito até a sentença de pronúncia. Após, os autos são remetidos ao Presidente do Tribunal do Júri para a continuação da ação penal. Quando a pronúncia cabe ao próprio Presidente do Tribunal do Júri, a ele competirá dar continuidade ao processo. Como dizia Adriano Marrey, “nas comarcas do interior, com mais de uma vara de competência comum e cumulativa, os processos por crimes da competência do Júri são distribuídos,indistintamente, entre elas, passando, depois da pronúncia, para aquela que tenha o anexo do serviço do Júri”... “Só após a pronúncia é que a competência dos crimes contra a vida se desloca nas comarcas com mais de uma vara, para a que tenha os serviços anexos do Tribunal do Júri”.192

Sobre o tema, Guilherme de Souza Nucci aduz:

Há comarcas que não possuem vara privativa do Júri, razão pela qual todos os magistrados podem conduzir a primeira fase do procedimento, ou seja, o juízo de formação da culpa (judicium accusationis). Após a pronúncia, no entanto, encaminham os autos ao juiz presidente do Tribunal do Júri, normalmente considerado um anexo de uma das varas da comarca. Quando, no entanto, o Estado cria vara exclusiva do Júri, como há na Capital do Estado de São Paulo, nenhum juiz de vara criminal comum preside a instrução inicial de procedimentos dos crimes dolosos contra a vida.193

189 VILAS BOAS, Alberto. Código de processo penal anotado e interpretado. Belo Horizonte: Del Rey, 1999. p. 361. 190 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 13.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p.647. 191 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.648. 192 JESUS, Damásio E. de. Código de processo penal anotado.p.344. 193 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.703.

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Caso o réu não seja encontrado para ser intimado pessoalmente da

sentença de pronúncia (art. 414 do Código de Processo Penal), o processo ficará estacionado

até que se realize essa intimação, até porque, os atos posteriores só poderão ser efetivados

depois que se analisar a preclusão. Se a decisão de pronúncia ainda comporta recurso, não há

nenhuma possibilidade de se dar prosseguimento ao feito.194

Embora da pronúncia parcial, “caiba recurso em sentido estrito da

acusação, ficará ele sobrestado enquanto o réu não for intimado da decisão. Não se podendo

dar prosseguimento ao feito, ocorre o que se denomina crise de instância”195.

Contudo, o recurso deve ser interposto dentro do prazo estabelecido na

lei, embora predomine o entendimento de que o prazo para sua interposição fica suspenso.

Existindo co-réus, e sendo o delito afiançável ou não, somente com relação ao que foi

intimado se dará andamento ao processo.196

Acerca da intimação da sentença de pronúncia, nos casos de crime

inafiançável (art. 414 do Código de Processo Penal), Nucci assevera:

Exige a ampla defesa que, além do réu, intimado pessoalmente, seja ainda intimado da decisão de pronúncia o seu defensor. Se for constituído, admite-se a intimação pela imprensa. Caso seja dativo ou defensor público, pessoalmente. Note-se, ainda, que o réu revel não será intimado pessoalmente, mas, em compensação, o juiz decretará a prisão, tendo em vista que o processo não prossegue enquanto não for localizado.197

Nesse sentido, segue a Súmula 31 do Tribunal de Justiça de Minas

Gerais: “Se o réu não é encontrado para intimação pessoal da sentença de pronúncia ou para

recebimento da cópia do libelo, cabível sua prisão preventiva como único meio para assegurar

o julgamento e a aplicação da lei penal”198.

Em se tratando de crime afiançável (arts. 122, 123, 124 e 126 do

Código Penal), “o rigorismo daquele ato de comunicação é mais ameno, conforme pode ser

verificado dos incisos I ao VI, do art. 415 do Código de Processo Penal”199. Porém em

qualquer que seja a circunstância, deverá sempre ser intimado o advogado de defesa do

acusado, para que possa ser a sua ampla defesa exercida com pleno vigor.200

194 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1128. 195 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1128. 196 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1128. 197 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.705. 198 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.705. 199 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.812. 200 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.813.

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Percebe-se, que as situações processuais estabelecidas nos incisos I a

VI do art. 415 do Código de Processo Penal, são bastante nítidas e não tem havido com

relação a eles problemas de interpretação, quer em nível doutrinário, quer jurisprudencial.

Contudo, a única exigência, tanto da jurisprudência, quanto da doutrina, é que, toda vez que a

decisão provocar sucumbência ao acusado, também deve ser intimado o seu defensor, em

consideração ao que está previsto na Constituição Federal de 1.988, que é o direito a ampla

defesa e ao contraditório.201

Isso é plenamente justificável, uma vez que, se, por um lado, o

acusado tem interesse na conservação de sua liberdade física, por outro lado, cabe ao seu

defensor analisar tecnicamente a decisão e quantificar a necessidade de instigação do duplo

grau de jurisdição, o que, em derradeira análise, concorre para o amparo do ius libertatis

daquele que sofreu o impacto do gravame.202

Nos termos do art. 416 do Código de Processo Penal, transitada em

julgado a decisão de pronúncia, o escrivão instantaneamente dará vista dos autos ao parquet,

que dentro do prazo de cinco dias, deverá apresentar o libelo acusatório. Acontecendo a

denominada preclusão pro judicato, e não existindo recurso cabível ao caso ou terminadas

todas as vias de impugnação, o representante do Ministério Público será solicitado a

apresentar o libelo. Assim, temos o começo da segunda fase do Tribunal do Júri, que é voltado

para o julgamento da lide.203

Em seguida serão abordados os aspectos mais relevantes acerca da

segunda fase do procedimento do Tribunal do Júri.

2.2 SEGUNDA FASE DO RITO DO JÚRI

O libelo é a peça processual que dá início ao judicium causae, assim

como a denúncia ou queixa no judicium accusationis. Caso o magistrado, na sentença de

pronúncia, declarar com firmeza que o Estado terá que exercer o jus accusationis, o libelo

torna-se peça fundamental e não poderá divergir da decisão de pronúncia.204

Para Fernando da Costa Tourinho Filho: “Se é na pronúncia que se

classifica o crime com todas as suas circunstâncias qualificadoras, não pode o libelo, sob pena

201 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.813. 202 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.813. 203 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.472. 204 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal.p.74.

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de nulidade, afastar-se daquela, a não ser na especificação de circunstâncias que sirvam,

apenas, para dosar a pena”205.

O libelo crime-acusatório, “é justamente a peça formal da acusação,

que visa a exposição do fato criminoso, agora filtrado pela pronúncia, ao Tribunal Popular,

constituindo a pretensão punitiva do Estado e pretendendo um julgamento de mérito”206.

Nesse norte, Guilherme de Souza Nucci ensina:

Existente o libelo em nosso ordenamento jurídico torna-se indispensável especifique ele exatamente qual deve ser a acusação a ser sustentada em plenário, evitando-se colher a defesa de surpresa. Na eventualidade de ser a peça eliminada, torna-se indispensável que a pronúncia seja o mais específica possível nesse sentido, sob pena de se violar o princípio constitucional da plenitude de defesa.207

Estando o libelo crime-acusatório em ordem, o magistrado o receberá;

não estando este de acordo com as ordens legais inerentes a ele, caberá, portanto, ao juiz

devolver o libelo ao Ministério Público para que apresente outro, no prazo de 48 horas.208

Oportuno destacar o ensinamento de José Frederico Marques sobre a

matéria em estudo:

Recebido que seja o libelo, o escrivão, dentro de três dias, entregará ao réu, mediante recibo de seu punho ou de alguém a seu rogo, a respectiva cópia, com o rol de testemunhas, notificado o defensor para que, no prazo de cinco dias, ofereça a contrariedade (art. 421). E o art. 422 acrescenta: “Se, ao ser recebido o libelo, não houver advogado constituído nos autos para a defesa, o juiz dará defensor ao réu, que poderá em qualquer tempo constituir advogado para substituir o defensor dativo”. Quando o réu tiver defensor e estiver afiançado, preceitua o art. 421 que dê a cópia do libelo ao defensor, “exigindo recibo, que se juntará nos autos”. 209

O defensor do réu poderá apresentar a contrariedade do libelo crime-

acusatório dentro de um prazo de cinco dias, contados a partir de sua notificação, porém, a sua

falta não provoca nulidade no processo, por ser mera opção da defesa, que, por vezes, não terá

interesse algum em adiantar a sua estratégia de defesa.210

Importante ressaltar que, apenas não haverá nulidade no processo, se o

defensor tiver recebido a intimação com a correspondente concessão do prazo para

205 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal.p.74. 206 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.707. 207 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.708. 208 JESUS, Damásio E. de. Código de processo penal anotado.p.352. 209 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v.III.p.237. 210 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1142.

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manifestar-se acerca do libelo,caso contrário, a falta de intimação ao defensor para

oferecimento da contrariedade do libelo, acarreta nulidade no processo. 211

Poderá ocorrer ainda nesta fase processual o desaforamento, que é

quando ocorre o deslocamento da competência, previsto somente nos processos do Júri.

Havendo o desaforamento, o réu será subordinado a julgamento em outra comarca daquela

que foi imposta pela regra da competência territorial.212

Assim poderá ocorrer o desaforamento nas situações de: interesse da

ordem pública; se houver dúvida a respeito da imparcialidade do Júri; se houver dúvida sobre

a segurança do acusado; ou se o julgamento não se proceder no prazo de um ano, contado do

recebimento do libelo crime-acusatório, sendo que, o réu ou a defesa, não tenham concorrido

para esse atraso no processo. 213

Vale destacar neste momento, o entendimento da Súmula 712 do STF,

que diz que “é nula a decisão que determina o desaforamento de processo de competência do

Júri sem audiência da defesa”214.

A norma legal não prevê efeito suspensivo para o pedido de

desaforamento. Tourinho Filho entende que, não deverá ocorrer o julgamento enquanto não

for julgado o pedido de desaforamento.215

Por fim, com a apresentação da contrariedade do libelo crime-

acusatório, fica concluída a fase postulatória do judicium causae. Os autos vão conclusos ao

magistrado presidente do Júri, para que este envie o processo devidamente preparado para a

apresentação no plenário do Tribunal do Júri. 216

2.3 PLENÁRIO DO JÚRI

O magistrado ao ingressar no plenário juntamente com o representante

do Ministério Público, onde já se encontram o acusado e seu defensor, deve, como primeira

medida a ser realizada, recolher de dentro da urna as cédulas, contendo os nomes dos jurados

presentes no dia. Devem ser recolhidas vinte e uma cédulas, contudo, o número mínimo para

211 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1142. 212 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.475. 213 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.475. 214 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.476. 215 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal.p.77. 216 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v.III.p.238.

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o começo dos trabalhos, seja quinze. Caso não preenchido o número mínimo de jurados, o

juiz-presidente do Júri convocará nova sessão para o dia útil imediato.217

Destaca-se que o importante, é que, dentre os jurados titulares e

suplentes,haja o número mínimo de quinze. Se tiverem comparecido pelo menos quinze

jurados, o magistrado decretará aberta a sessão, anunciando o processo que será submetido a

julgamento, e ordenará ao oficial de justiça ou ao porteiro que anuncie as partes e as

testemunhas.218

Fernando Capez assevera que, “após o anúncio do julgamento e do

pregão é que devem ser alegadas as nulidades relativas posteriores à pronúncia, sob pena de se

considerarem sanadas”219.

Em caso de não comparecimento no plenário por parte do Ministério

Público, por motivo de força maior, o juiz-presidente do Tribunal do Júri adiará o julgamento

para o primeiro dia desimpedido da mesma sessão periódica. É o que está normatizado no

regramento legal esquadrinhado.220

Ensina Antonio Luis da Camara Leal, que:

O promotor público tem o dever de estar presente aos atos em que deve intervir no exercício de suas funções. Por isso, somente em virtude de força maior, se admite o seu não comparecimento à sessão do júri, na qual, além da fiscalização geral que lhe compete, tem que promover os atos de acusação, tomando parte na forma do conselho de sentença. O seu não comparecimento, sem qualquer justificativa, constitui, portanto, transgressão de dever profissional.221

Ocorrendo faltas justificadas do representante do Ministério Público, o

juiz presidente do Júri adiará o julgamento para a próxima sessão; ocorrendo com o assistente

do Ministério Público o julgamento será realizado; faltas justificadas do defensor, o júri será

adiado; enquanto, que das testemunhas só será adiado o julgamento se foram arroladas em

caráter de imprescindibilidade.222

Se houver faltas injustificadas do representante do parquet, ocorrerá

adiamento do julgamento para a próxima sessão e ofício ao procurador-geral, para que

designe outro promotor de justiça; faltas injustificadas do assistente do Ministério Público,

não ocorrerá adiamento do Júri; do defensor, haverá adiamento do julgamento, e será 217 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.735. 218 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.653. 219 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.653. 220 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.862. 221 Antônio Luis da Camara Leal Apud MOSSIN, Heráclito Antônio.Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.862. 222 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.653.

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nomeado um defensor dativo, ressalvado logicamente, o direito do acusado de comparecer

com defensor constituído; em caso de faltas injustificadas do réu, se o crime for afiançável,

não se adia o julgamento, se inafiançável não poderá ser realizado, sendo adequado à

decretação da prisão preventiva do réu; enquanto, que as testemunhas só será adiado o

julgamento se, foram arroladas em caráter de imprescindibilidade.223

Presentes o réu, seu defensor, o membro do Ministério Público, os

jurados no mínimo legal, e as testemunhas, o magistrado presidente do Júri advertirá os

jurados dos impedimentos ou incompatibilidades, descritos no art. 462 do Código de Processo

Penal. Aplicam-se, também, os impedimentos em casos de suspeição dos juízes (art. 252 e

254), não sendo permitido,também, atuar jurado que participou diretamente do conselho de

sentença em julgamento anterior no mesmo processo. 224

É função também do juiz, advertir os jurados no sentido de que, uma

vez sorteados, não será permitido a eles se comunicarem, nem tampouco, manifestar sua

opinião sobre o processo, sob pena de serem excluídos do conselho e multa.225

Verificado que a urna possui todas as cédulas pertinentes aos jurados

que compareceram, e depois de serem realizadas todas as advertências aos jurados, o juiz

presidente do Júri passará a proceder ao sorteio dos sete jurados que formarão o conselho de

sentença. 226

Entretanto, a medida em que os nomes dos jurados forem sendo

sorteados e lidos em voz alta, a defesa e, após dela, a acusação, poderão recusar três jurados

(três cada um), sem dar a motivação da recusa. São as denominadas recusas peremptórias.

Nada proíbe que, além dessas recusas imotivadas, as partes, qualquer que seja, suscite a

exceção de suspeição ou impedimento de qualquer jurado. Podendo até, se for o caso, suscitar

a exceção de suspeição ou impedimento de todos os jurados.227

Sorteados os sete jurados e composto o conselho de sentença, o

magistrado presidente do Tribunal do Júri, de pé, aliás, todos devem ficar de pé, diante da

seguinte exortação do juiz presidente do Júri, veja-se: “Em nome da lei concito-vos a

examinar com imparcialidade esta causa e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa

223 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.653. 224 FILHO, Vicente Greco. Manual de processo penal. 5.ed. São Paulo: Saraiva, 1998. p.425. 225 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal. 9.ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p.694. 226 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal.p.695. 227 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal.p.695.

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consciência e os ditames da Justiça”. Em seguida, chamados um a um, pelo nome, os jurados

deverão responder: “Assim o prometo”.228

Realizado o juramento solene nos termos do art. 464 do Código de

Processo Penal, o juiz presidente interrogará o réu. Poderão os jurados também, ter a

oportunidade de fazer perguntas ao réu. Feito isto, o magistrado que preside o Júri fará o

relatório do processo e exporá os fatos, as provas e as conclusões das partes.229

Após este relatório elaborado pelo juiz acerca do processo, este lerá ou

mandará ler as peças cuja leitura tiver sido requerida pelas partes ou por qualquer um dos

jurados. Se for possível, poderá o magistrado distribuir aos jurados, cópia das peças que

entender necessárias ao esclarecimento da verdade, contudo, esta prática é pouco utilizada

pelos juízes, segundo Vicente Greco Filho.230

Terminados o relatório e a leitura de peças, serão inquiridas as

testemunhas de acusação. A ordem de inquirição será a seguinte: juiz, acusador, assistente,

defensor do réu e por derradeiro os jurados que o desejarem (art. 467 do Código de Processo

Penal). A seguir, serão ouvidas as testemunhas de defesa, pelo magistrado, pelo defensor do

réu, pelo acusador particular, pelo Ministério Público na pessoa do promotor de justiça, pelo

assistente e pelos jurados(art. 468 do Código de Processo Penal).231

Havendo divergência sobre os pontos fundamentais do processo,

proceder-se-á à acareação das testemunhas cujos depoimentos sejam conflitantes.232

Encerrada a fase de ouvida das testemunhas, o julgamento passa para

a fase dos debates, que são formados obrigatoriamente de acusação e defesa e,

facultativamente, de réplica e tréplica. Manifesta-se em primeiro lugar o Ministério Público,

“o promotor lerá o libelo e os dispositivos da lei em que o réu achar-se incurso, e produzirá a

acusação” (art. 471 do Código de Processo Penal). A omissão desse procedimento segundo

Mirabete é mera irregularidade, não acarretando a nulidade do julgamento. 233

Lido o libelo, o Ministério Público desenvolverá a acusação, ou seja,

irá expor oralmente a pretensão punitiva concluída no libelo e os argumentos que a sustentam.

Todavia, o promotor não está obrigado a pedir a prisão do réu, até porque este atua como um

228 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de processo penal.p.695. 229 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.480. 230 FILHO, Vicente Greco. Manual de processo penal.p.427. 231 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.480. 232 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.480. 233 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1206.

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fiscal da Lei e não como um acusador. Podendo inclusive pedir pela absolvição do réu, caso

perceba que é o acusado inocente.234

Porém, nada proíbe que o assistente, peça a condenação do réu. Em

qualquer situação, o pedido de absolvição não dispensa que sejam submetidos à votação dos

jurados, os quesitos provenientes do libelo crime-acusatório.235

Enquanto perdurar os debates, podem ser reinquiridas testemunhas

que já foram ouvidas, a pedido da acusação ou defesa. Também poderão ser ouvidas as

testemunhas que não foram arroladas, a pedido dos jurados, se estiver presente.236

Não será permitida a produção ou leitura de qualquer documento que

não tiver sido comunicado à parte contrária, durante o julgamento em plenário, com

antecedência de pelo menos três dias. É vedado à leitura de jornais ou qualquer escrito que

contenha matéria de fato constante no processo. Sem sombra de dúvida, o documento a que se

refere o art. 475 do Código de Processo Penal, é aquele que não está presente nos autos, ou

seja, documento novo, inteiramente estranho ao conjunto de provas elaborado na fase do

sumário da culpa.237

Entende Margarino Torres que:

O objetivo da lei foi, evidentemente, evitar a confusão, deslealmente infligida a uma das partes pela exibição de documento novo em plenário, que poderia ser falsa atestação de alguém em escrito particular ou ilusórias declarações ou opiniões publicadas, sem autenticidade, no próprio dia do plenário.238

Em seguida, serão explanados os temas atinentes à formulação dos

quesitos no Tribunal do Júri.

2.4 QUESITOS

Do latim quaesitum (pergunta), “entende-se justamente a interrogação

formulada pelo juiz presidente do Tribunal do Júri para que seja respondida pelo conselho de

sentença. Seu conjunto é denominado de questionário”239.

234 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1207. 235 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1207. 236 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.656. 237 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.904. 238 Margarino Torres Apud MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.905. 239 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.914.

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As regras para a formulação dos quesitos estão previstos no art. 484

do Código de Processo Penal, sendo que, se por ventura, deixar o juiz presidente de inserir

quesito obrigatório, haverá nulidade do julgamento, conforme Súmula 156 do STF, “é

absoluta a nulidade do julgamento pelo Júri por falta de quesito obrigatório”.240

No que diz respeito à correlação entre o libelo e os quesitos,

Guilherme de Souza Nucci afirma que:

Não é somente o primeiro quesito que deve guardar correspondência com o libelo, mas todos eles, ao menos no que pertine à acusação (as teses de defesa podem ser expostas diretamente em plenário e não são, naturalmente, incluídas em peça, que é exclusiva da acusação). Assim, o juiz, encarregado de fixar o conteúdo da acusação ao prolatar a decisão de pronúncia, recebe o libelo, que nada mais é do que a exposição articulada da imputação feita ao réu. Por isso, constituindo esta peça o limite acusatório para o plenário, prepara-se a defesa para contrariar o que nele está articulado, motivo pelo qual nada pode ser mudado de surpresa, prejudicando o princípio constitucional da plenitude de defesa. Evidentemente, há questões que pode ficar fora do libelo, tais como as circunstâncias genéricas envolvendo o delito (agravantes e atenuantes). Se o Promotor quiser, poderá sustentá-las diretamente aos jurados, por ocasião dos debates. Tal se dá porque não fazem parte do fato típico, como é o caso das qualificadoras, envolvendo somente a aplicação da pena. As referidas qualificadoras, por outro lado, necessitam constar da pronúncia e, posteriormente, do libelo. A correspondência entre a peça acusatória articulada – que é libelo – e o sustentado pelo órgão acusatório no plenário é fundamental.241

O conjunto dos quesitos, que é o questionário, deverá conter fato ou

circunstância alegado pelo acusado, em sua defesa, durante o interrogatório, sob sanção de se

tornar nulo, mesmo que não tenha sido analisado pelo seu advogado por ocasião dos debates.

Privilegiando portanto, o duplo formato da ampla defesa: a autodefesa e a defesa técnica.242

Obrigatoriamente, os quesitos, serão de linguagem simples, pois se

direcionam aos jurados. “Não podem abrigar ambigüidades, nem ser apresentados na forma de

perguntas negativas, exceto se versarem sobre a responsabilidade penal. O juiz, ao ler os

quesitos, explicará o significado legal destes e indagará às partes se têm reclamações a

fazer”243.

A ordem de formulação dos quesitos é a seguinte:

1º) Concernente ao fato principal (materialidade e à autoria do fato cometido pelo réu); 2º) letalidade (se for caso); 3º) da defesa; 4º) circunstâncias qualificadoras; 5º) eventuais causas de aumento ou de diminuição da pena (se alegadas) e agravantes genéricas (contidas no libelo ou articuladas pelo Promotor de Justiça nos debates);

240 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.775. 241 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.775. 242 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.482. 243 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.482.

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6º) circunstâncias atenuantes. Observação: cuidando-se de crime tentado, o segundo quesito deve ser substituído pelo da tentativa (animus necandi).244

Importante neste momento, destacar o conteúdo da Súmula 162 do

STF, “é absoluta a nulidade do julgamento pelo Júri quando os quesitos de defesa não

precedem os das circunstâncias agravantes”. Mirabete afirma que, “a expressão

“circunstâncias agravantes” corresponde a “circunstâncias qualificadoras”, que não podem

anteceder aos quesitos de defesa”245.

Acerca deste assunto, Guilherme de Souza Nucci leciona:

Portanto, havendo alegação da existência de causa de diminuição (como no caso do homicídio privilegiado) e também de causa de aumento (incluindo-se, neste contexto, para o fim de determinar a ordem de preferência, as qualificadoras), deve a diminuição ser colocada antes das qualificadoras e dos aumentos.246

Nos crimes de competência do Júri que são praticados por dois ou

mais réus, e que são julgados na mesma sessão, deve o magistrado fazer questionários

diversos para cada um deles. Por conseguinte, dividindo os quesitos em séries, colocará o fato

principal e todas as demais causas, para cada acusado, em sua respectiva série. Exemplo:

havendo três acusados, o magistrado fará três séries completas. Haverá um questionário para

cada réu, e uma série de quesitos para cada crime.247

Fernando Capez explica que, no delito de infanticídio, “o estado

puerperal deve constar de quesito próprio (primeiro vem o quesito da autoria; segundo, o

quesito relativo ao nexo causal ou ao animus necandi, conforme seja crime consumado ou

tentado, e o terceiro, sobre a influência do estado puerperal)”248.

Não é proibido ao Conselho de Sentença (jurados) pedirem

esclarecimentos sobre o questionário, devendo mesmo fazê-lo, pois não é justo que decidam

da sorte de um ser humano e de interesses sociais relevantes, sem saberem o que estão

fazendo. Ao explicar os quesitos para o Conselho de Sentença, deve o magistrado que preside

o Tribunal do Júri cuidar para não manifestar sua opinião sobre a decisão da causa, pois quem

decide o conflito judicial penal nestes casos são os jurados, que se poderiam deixar influenciar

pelo modo de ver do juiz presidente do Júri. 249

244 Adriano Marrey Apud JESUS, Damásio E. de. Código de processo penal anotado.p.384. 245 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1230. 246 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.780. 247 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.781. 248 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.658. 249 NORONHA, E. Magalhães. Curso de direito processual penal. 28.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p.366.

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O Superior Tribunal de Justiça permite a formulação de quesito que

trate sobre causa supralegal (que não está previsto em lei) de exclusão da culpabilidade,

admitindo, por conseguinte, que a inexigibilidade de conduta diversa possa originar-se de

qualquer causa, prevista em lei ou não, e não apenas da coação moral irresistível e da

obediência hierárquica.250

Sobre a matéria, Heráclito Antonio Mossin explica que, “a

inexigibilidade de conduta diversa funciona como causa de exclusão da culpabilidade, nos

fatos culposos e dolosos, subsistindo a ilicitude. Assim, embora sendo a conduta antijurídica

não é ela culpável”251.

Em casos de legítima defesa, o ilustre doutrinador Fernando Capez

ensina que:

Negada a necessidade dos meios ou a moderação, deverá ser indagado aos jurados a respeito do excesso doloso, e somente no caso de este não ser acolhido é que se procederá, logo em seguida, à votação do quesito referente ao excesso culposo (Código de Processo Penal, art. 484, III, com a redação dada pela Lei nº 9.113, de 16-10-1995).252

Assim, no que tange à legítima defesa, é obrigatório que se indique

separadamente “sobre a existência de agressão da vítima, sobre sua injustiça, sobre sua

atualidade, sobre sua iminência, sobre o emprego dos meios necessários a repulsa, e sobre a

moderação na utilização desses meios”253.

Na definição de Capez, existem duas espécies de desclassificação: “a

própria, quando o Júri não diz qual é o crime que passou à competência do juiz-presidente, e a

imprópria, quando desclassifica dizendo qual é o crime”254.

2.5 SENTENÇA

Encerrada a votação e assinado o respectivo termo, o juiz-presidente

do Tribunal do Júri preparará a sentença, que deverá ser fundamentada, exceto quanto às

250 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.658. 251 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.919. 252 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.658. 253 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1234. 254 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.659.

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conclusões que resultarem das respostas aos quesitos. O juiz-presidente irá ler a sentença, em

público, antes do fim da sessão de julgamento.255

No que tange à lavratura da sentença, o legislador determina que o

juiz-presidente analise as circunstâncias atenuantes ou agravantes identificadas pelo Conselho

de Sentença; devendo atender, quanto ao mais, o que está previsto nos incisos II a VI do art.

387 do Código de Processo Penal. Por ser matéria de direito, a lavratura da sentença, será de

responsabilidade do juiz-presidente do Tribunal do Júri.256

A sentença não pode ir contra a decisão do Conselho de Sentença,

Edílson Mougenot Bonfim analisa mais amiúde este assunto, vejamos:

Se for reconhecida a existência de causa que faculte a diminuição da pena, pela resposta a quesito formulado aos jurados, deverá o juiz adotá-la quando da fixação da pena. Na realização de segundo julgamento originado de provimento dado a recurso exclusivo do réu, não pode o juiz-presidente aplicar pena mais grave do que aquela que resultou da primeira decisão, desde que estejam presentes os mesmos fatos e circunstâncias, reconhecidamente pelo novo Júri – inteligência do art. 617 do Código de Processo Penal.257

Guilherme de Souza Nucci afirma que é obrigação do magistrado que

preside o Júri e não mera faculdade:

O reconhecimento, pelos jurados, de qualquer causa de diminuição da pena, obriga o magistrado a adotá-la, optando pelo limite a ser aplicado, quando for possível. Assim, reconhecendo, por exemplo, o relevante valor social, o juiz deve diminuir a pena de um sexto a um terço, escolhendo ele o montante, variável nessa situação. A soberania dos veredictos, princípio constitucional, além do direito subjetivo do réu a receber benefício que lhe foi expressamente reconhecido por quem tem competência para fazê-lo, impõe tal medida.258

A decisão do magistrado presidente do Júri é de formação complexa,

que resume-se em dois atos decisórios: o veredicto dos jurados e o pronunciamento do juiz

togado. Acerca do tema, José Frederico Marques afirma:

Os jurados decidem sobre o crime e respectiva autoria, bem como sobre as agravantes existentes, e sobre as atenuantes legais, enquanto que o juiz, tendo em vista o que dispõe o art. 42 do Código Penal, decidirá sobre a pena a ser imposta, bem como a respeito das demais sanções penais cabíveis, tendo sempre em vista as respostas dadas pelo conselho de sentença ao questionário ou quesitos que lhe foram formulados.259

255 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.486. 256 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.928. 257 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.486. 258 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.791. 259 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v.III.p.273.

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Se for absolutória a sentença, o magistrado deve, na parte dispositiva

da sentença, realizar as seguintes providências: mandar por o acusado em liberdade, se o

delito for afiançável, ou então que tenha acontecido a situação descrita no art. 318, mesmo

que inafiançável; mandar cessar as interdições de direitos que tiverem sido provisoriamente

impostas; e se cabível, empregar medida de segurança (art. 492, II, letras a,b e c).260

Por fim, quando houver a desclassificação, a competência para

apreciar o delito desclassificado e também o crime conexo, passa para o juiz que preside o

Tribunal do Júri. Feita a desclassificação, e caso o magistrado perceber tratar-se de crime

beneficiado pela suspensão condicional do processo, deverá realizar uma classificação jurídica

do fato, sem aplicar pena, devendo esperar o trânsito em julgado da sentença e, em seguida,

enviar os autos ao Juizado Especial, para empregar o benefício.261

2.6 RECURSOS CABÍVEIS NO TRIBUNAL DO JÚRI

São quatro os tipos de recursos que pode ser interposto no Tribunal do

Júri, são eles: 1) Recurso de ofício; 2) Recurso em sentido estrito; 3) Apelação e 4) Protesto

por novo Júri.

2.6.1 RECURSO DE OFÍCIO

Como todo recurso visa à reforma de uma sentença, deverá este ficar

na dependência da parte que foi prejudicada pela decisão. Ao princípio geral da

voluntariedade do recurso, a norma abre exceções, prevendo o chamado recurso de ofício

(recurso obrigatório, necessário), como providência obrigatória por lei no sentido de reexame

de sentenças pelos órgãos judiciários superiores, quando tratar-se de certas matérias.262

A respeito do assunto, diz a Súmula nº 423 do STF: “Não transita em

julgado a sentença por haver omitido o recurso ex officio, que se considera interposto ex lege”.

O juiz presidente do Júri, ao determinar o processamento de um recurso de ofício nada mais é

do que impor a causa, ao duplo grau de jurisdição obrigatório. O magistrado porém, não está

questionando sua decisão, mas está apenas obedecendo à norma legal.263

260 MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal.v.III.p.274. 261 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.659. 262 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1413. 263 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.888.

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Buscando preservar a soberania dos veredictos e a competência do

Júri, a lei obriga que a decisão do magistrado que preside o Tribunal Popular, absolvendo

sumariamente o acusado, nas causas de competência do Tribunal do Júri, seja reexaminada

pela instância superior. Até porque, se o foro competente para julgar os crimes dolosos contra

a vida é o Tribunal Popular, somente em casos extraordinários o magistrado poderá afastar o

conhecimento do caso ao Conselho de Sentença.. Por isso, há duplo controle da

admissibilidade da acusação.264

Júlio Fabbrini Mirabete assevera que: “tratando-se de recurso de

ofício, desnecessário é que seja ele fundamentado, ou seja, o juiz não deve dizer as razões que

o levaram a recorrer. Também não se deve notificar as partes para arrazoarem tal recurso”265.

Importante ressaltar, que este recurso têm efeito suspensivo, não se

dando prosseguimento ao feito, enquanto não for feito o julgamento no Juízo superior. O

recurso de ofício não proíbe que a acusação interponha o recurso em sentido estrito, art. 581,

VI, do Código de processo Penal, porém, o assistente do promotor de justiça, não poderá

recorrer nessa hipótese, enquanto que, a defesa poderá interpor recurso voluntário apenas em

casos de inimputabilidade decorrente de doença mental, diante da imposição de medida de

segurança.266

2.6.2 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

Conforme doutrina exposta por Borges da Rosa, “o recurso em sentido

estrito tem cabimento nos casos taxativamentes indicados no Código, no art. 581. A

enumeração de casos de recurso dá logo a entender ser ela taxativa e não exemplificativa”267.

Segundo Heráclito Antonio Mossin, a jurisprudência tem reconhecido

que a sentença que desclassifica o delito, inicialmente de competência do Júri para o juízo

singular, também é passível de ser recorrido, em sentido estrito, pois equivale-se a

impronúncia.268

Sobre o tema Júlio Fabbrini Mirabete, leciona:

264 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.889. 265 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1416. 266 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1126. 267 Borges da Rosa Apud MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.1130. 268 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.1144.

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Cabe também o recurso nos processos a serem submetidos a julgamento pelo Júri, da Sentença que pronunciar ou impronunciar o réu. É cabível a impugnação pela defesa quando o acusado foi pronunciado pelo crime capitulado na denúncia, como em qualquer outra e, nesta hipótese, também pode recorrer a acusação. Cabe recurso da acusação quando o réu é impronunciado e também da decisão em que se desclassifica o crime para outro de competência do juiz singular, decisão equivalente à impronúncia pois, como esta, subtrai a causa à apreciação do Júri. Nesta hipótese é incabível o recurso da defesa, por falta de interesse. Também é cabível o recurso da defesa da decisão que pronuncia ou impronuncia o réu, não aceitando a alegação de que no caso deverá ser ele absolvido sumariamente (art. 411).269

Fernando da Costa Tourinho Filho explana a respeito da matéria,

vejamos:

Há quem entenda que a decisão do Juiz, desclassificando o crime da alçada do Júri para a do Juiz Singular, nos termos do art. 410 CPP, não comporta o recurso em sentido estrito previsto no inciso II do art. 581 do CPP, por envolver decisão de mérito. O Juiz nesse caso limita-se dizer que o crime não é da competência do Júri. Decisão eminentemente processual, igual ou quase igual àquela em que ele se abstém de receber a denúncia, declinando da sua competência, por entender que o crime não é da sua competência, mas da alçada da Justiça Militar, por exemplo.270

Nos casos de absolvição sumária, junto com o recurso de ofício,

também é cabível o recurso em sentido estrito da decisão que absolver o acusado, nos termos

do art. 411 do Código de Processo Penal. Ao se falar de absolvição sumária, com imposição

de medida de segurança, além da acusação também o réu tem interesse em impugnar a

decisão, por via de recurso em sentido estrito e não recurso de apelação.271

Importante esclarecer que, fazendo referência categórica ao art. 411 do

Código de Processo Penal, a norma permite que seja interposto recurso somente na hipótese

de casos que são da competência do Tribunal Popular e não do magistrado singular. Da

sentença do Juiz singular, pela absolvição, é cabível o recurso de apelação por parte do

promotor de justiça.272

Por derradeiro, da decisão que incluir ou excluir jurado na lista geral,

o renomado doutrinador Fernando Capez explana:

Anualmente será organizada uma lista geral de jurados pelo juiz-presidente, da qual serão sorteados vinte e um jurados para comparecerem à sessão periódica (CPP, art. 439, caput). Essa lista será publicada pela imprensa, onde houver, e afixada na porta do edifício do fórum, no mês de novembro de cada ano, para conhecimento geral da coletividade (CPP, arts. 439, parágrafo único, e 440). A partir da publicação, qualquer pessoa poderá interpor recurso em sentido estrito dentro do prazo de vinte

269 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1445. 270 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Processo penal.p.340. 271 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1448. 272 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. p.1448.

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dias, endereçando-o ao juiz-presidente, a fim de incluir ou excluir jurado na lista (CPP, art. 586, parágrafo único).273

2.6.3 RECURSO DE APELAÇÃO

Esta espécie de recurso, segundo Nucci, serve para atacar decisões

definitivas, que julgam extinto o processo, analisando o mérito da causa ou não, devolvendo a

instância superior vasto conhecimento sobre a matéria.274

Para Giovanni Leone, “a apelação é o meio de impugnação pelo qual

uma das partes pede ao juiz de segundo grau uma nova decisão substitutiva de uma decisão

prejudicial do juiz de primeiro grau”275.

O legislador ao redigir o art, 593 do Código de Processo Penal,

delimitou, de forma específica, no inciso III, as situações em que pode ser interposto o recurso

de apelação, em que se tratando do procedimento relativo ao Tribunal do Júri.

Ao recorrer da sentença proferida pelo Tribunal do Povo, devem

qualquer um das partes envolvidas no processo, apresentar, logo na petição de interposição,

qual é o motivo que está o levando a apelar, deixando claro a alínea que foi escolhida do

inciso III do art. 593 do Código de Processo Penal.276

Sobre a matéria em estudo, Heráclito Antonio Mossin leciona:

Se, eventualmente, o apelante não deixar expresso em sua petição de interposição recursal, ou no termo próprio para essa finalidade, voltada ao duplo grau de jurisdição, a alínea em que assenta sua impugnação, desde que em suas razões recursais faça ele menção ao conteúdo de seu inconformismo, à evidência, estará sanada aquela ausência. Não se pode, em prol da própria administração da justiça e do interesse social que a envolve, não se conhecer do recurso quando o sucumbente na motivação pertinente expuser, com clareza, a razão de sua irresignação. Ainda, como reforço de argumento, a apelação pode ser interposta pelo próprio réu. Ora, não se pode exigir do condenado, que não tenha formação acadêmica ou profissional de advocacia, indicar com presteza o inciso em que, se baseia para apelar no processo penal do júri.277

Vale ressaltar que as decisões emanadas do Tribunal Popular são

soberanas (art. 5º, XXXVIII), cabendo ao juiz de segundo grau, apenas, corrigir os atos do

273 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.485. 274 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.920. 275 Giovanni Leone Apud MOSSIN, Heráclito Antôni. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.1174. 276 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.924. 277 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.1181.

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magistrado presidente do Júri ou então marcar um novo julgamento, mas em hipótese alguma

poderá o tribunal ad quem decidir sobre o mérito da causa.278

2.6.4 PROTESTO POR NOVO JÚRI

O protesto por novo Júri é um recurso privativo da defesa, e só poderá

ser interposto se a sentença condenatória, proferida em primeira instância, for igual ou

superior a vinte anos de reclusão, sendo vedado a sua realização por mais de uma vez.279

Fernando Capez explica que, “consiste no pedido de realização de

novo Júri, sempre que, em razão de um único crime, tiver sido imposta pena de reclusão igual

ou superior a vinte anos”280.

Interessante neste momento, trazer a colação do comentário de Borges

da Rosa acerca do tema:

O protesto por novo júri é um recurso sem nenhuma consistência teórica, e o Código só o consagra, por não ter o legislador querido se libertar das penas de morte e das galés perpétuas, únicas que, por sua suma gravidade, pareciam justificar tão esquisita espécie de recurso, que atualmente representa uma complicação desnecessária.281

Vicente Greco Filho leciona a respeito da matéria, veja-se:

No caso de haver um crime que comporta protesto e um que não comporta, poderá haver o pedido de protesto concomitante com a apelação. Esta aguardará o novo julgamento do júri para ser processada. Todavia, não se admitirá protesto e apelação pelo mesmo crime, porque o protesto invalida outro recurso interposto. O protesto é feito perante o juiz-presidente, no prazo de cinco dias. No novo julgamento, estão impedidos os jurados que funcionaram no julgamento anterior.282

Segundo Júlio Fabbrini Mirabete, “não admitido o protesto por novo

júri pelo juiz, cabe carta testemunhável, com fundamento no art. 639, I”283.

No que tange a Reformatio in pejus indireta, diz à jurisprudência que:

TJSP: Não se pode admitir que o segundo julgamento, em decorrência de protesto por novo Júri – favor dispensado à liberdade - tenha resultado mais gravoso para o acusado, a quem o recurso, privativo da defesa, visa a beneficiar. (RT 575/365)284

278 BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de processo penal.p.625. 279 FILHO, Vicente Greco. Manual de processo penal.p.378. 280 CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.493. 281 Borges da Rosa Apud CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal.p.493. 282 FILHO, Vicente Greco. Manual de processo penal.p.378. 283 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1567. 284 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1568.

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OBS: ALTERAÇÕES DO PROCESSO E DO JULGAMENTO DOS CRIMES DA

COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI (obs: Todo este item foi retirado do site da

internet http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11380)

A nova Lei n.º 11.689, publicada no Diário Oficial do dia 10 de junho

de 2008, manteve a tradicional divisão do rito do júri em duas fases distintas, judicium

acusationis e judicium causae,correndo a primeira perante um juiz "comum" e a segunda

perante o magistrado presidente do júri.

No que tange à segunda fase, judicium causae, as alterações

proporcionadas pela Lei n.º 11.689 foram o desaparecimento do libelo crime acusatório e de

sua contrariedade, da possibilidade das partes inquirirem diretamente testemunhas e acusados,

da alteração dos quesitos a serem apresentados ao conselho de sentença, e da eliminação do

recurso de protesto por novo júri.

O antigo judicium causae tinha início com a apresentação do libelo

por parte do Ministério Público. Nesta peça, o órgão de execução do Ministério Público, ou o

querelante (no caso de ação penal privada subsidiária da pública), deveria expor,

articuladamente, o fato criminoso e as circunstâncias agravantes, sendo, também, o momento

para arrolar testemunhas para serem ouvidas em plenário, bem como para juntar documentos

e requerer diligências. Depois, era conferida à defesa a oportunidade para contrariar o libelo,

bem como arrolar suas testemunhas, juntar documentos e requerer outras diligências.

Atualmente, com a nova redação do artigo 422 do CPP, desaparece o

libelo crime acusatório e sua contrariedade, devendo o juiz presidente do Tribunal do Júri

intimar o órgão do Ministério Público ou o querelante, no caso de queixa, e o defensor para,

no prazo de cinco dias, apresentarem rol das testemunhas que irão depor em plenário, até o

máximo de cinco, oportunidade em que também poderão juntar documentos e requerer

diligência.

Com isto, o novo diploma legal acaba por revogar tacitamente o

disposto na alínea "f" do inciso III do artigo 564, do CPP, no que se refere a verificação de

nulidade pela falta de apresentação do libelo.

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E não é só. Como visto, durante a confecção do libelo o órgão de

acusação deveria listar as circunstâncias agravantes que entendesse aplicáveis na espécie, sob

pena de preclusão. Agora, conforme podemos notar pela redação do artigo 476 e do parágrafo

único do artigo 482 do CPP, as agravantes, mesmo as de conhecimento anterior ao plenário,

poderão nele serem sustentadas, devendo o magistrado confeccionar quesito pertinente e

submetê-lo à apreciação do conselho de decisão.

Outra alteração promovida no antigo ordenamento decorrente do

desaparecimento do libelo crime acusatório é a contagem do prazo para requerer o

desaforamento. O diploma normativo anterior previa a possibilidade de se pleitear o

desaforamento quando o julgamento pelo conselho de decisão não se efetivasse durante o

lapso temporal de um ano contado do recebimento do libelo por parte do magistrado.

Atualmente, por força do disposto no artigo 428 do CPP, o prazo para requerer o

desaforamento será contado a partir do trânsito em julgado da decisão de pronúncia.

Esgotados os aspectos mais relevantes acerca do procedimento dos

crimes contra a vida, o capítulo seguinte encerrará o estudo, expondo os pontos mais

importantes sobre a Legítima Defesa.

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3 DA LEGÍTIMA DEFESA

Neste capítulo tratar-se-á da legítima defesa, que é uma das causas de

exclusão da ilicitude prevista no art. 23 do Código Penal. Abordando os pontos mais

relevantes e também como se deve aplicar esta excludente perante o Tribunal do Júri. Por fim,

será feita uma análise jurisprudencial sobre esta excludente de antijuridicidade.

3.1 HISTÓRICO

O direito romano decretava ser legal rebater a força pela força. A

teologia da época, completava os ensinamentos do direito romano com os do direito canônico,

decretou: “É lícito repelir a força pela força, mas com a moderação de uma justa defesa”. Até

porque, o Estado nem sempre está pronto para proteger o cidadão, em virtude desta omissão

do Estado, cada cidadão poderá assumir por conta própria a função de um soldado.285

Reconhecida pelos antigos Códigos da Grécia, Índia e Roma, onde era

liberado o exercício do direito de proteger a vida e também a honra, a ofensa legítima tomou

entre a sociedade germânica uma peculiaridade privada derivada do direito de vingança e da

privação da paz do injusto agressor. 286

Depois o direito canônico subtraiu da legítima defesa à característica

de direito, “convertendo-a em necessidade escusável, submetida a penitências religiosas e à

exigência de fuga do agredido, embora estatuindo o dever de defender a terceiro”287.

Esse espírito persistiu no direito francês até que pela revolução,

restaurando a tradição da sociedade romana, decidiu-se pelo art. 5º do Código Penal de 1791

que no caso de homicídio legítimo, ou seja, aquele que é praticado em legítima defesa, não

existia delito ou pena. Esse pensamento se difundiu para os Códigos do mundo inteiro.288

Zaffaroni e Pierangeli fazem comentários sobre o assunto, veja-se:

Historicamente, a legítima defesa surgiu unida aos delitos de homicídio e lesões, e assim permanece nos códigos antigos, mas em todas as legislações contemporâneas é aceita a possibilidade de justificar a defesa de qualquer bem jurídico, mesmo que ainda não se encontre penalmente tutelado.289

285 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.99. 286 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral. 28.ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v.1. p.384. 287 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral.v.1. p.384. 288 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral.v.1. p.384. 289 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral. 2ª ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 580.

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De todas as causas que excluem a ilicitude de um fato típico, a

legítima defesa é a mais antiga e a que mais facilmente é entendida, isto é, a hipótese do

homem que reage, empregando moderadamente os meios necessários, na preservação de um

bem jurídico, seja ele próprio ou de terceiro, contra agressão injusta atual ou que está prestes a

acontecer. Os filósofos da Antigüidade descreviam a legítima defesa como um direito sacro,

asseverando em textos romanos que é lícito por todas as normas rebater a violência pela

violência. Os juristas da antiga civilização romana assim a aceitavam, aplicando a legítima

defesa para proteger todo bem jurídico.290

E nos dizeres de Damásio E. de Jesus:

Alguns doutrinadores, como Geib, mencionado por Luis Carlos Pérez, sustentam que o instituto da legítima defesa não possui história. O que Geib propõe é a idéia de que a impunidade do agente que pratica o fato em legítima defesa foi reconhecida em todos os tempos, inclusive entre os bárbaros. É opinião fundamentada na antiga tradição grega explicada por Cícero, para quem o instituto constitui parte importante do Direito natural. Sob o Cristianismo, tal idéia, baseada no Direito natural, foi substituída pela noção de que a resistência legítima contra a ofensa injusta constituía falta de dever de caridade. No antigo Direito francês, inspirado nessa noção, quem se defendia legitimamente devia solicitar cartas de graça para não ser condenado. É inútil buscar entre os povos primitivos vestígios da legítima defesa. Encontraríamos entre eles formas primordiais de reação ao ataque, mas sem caráter algum de direito. Um homicídio ou lesão, segundo as circunstâncias do caso, eram considerados como ofensa ou vingança, como pena ou delito, mas sem a conceituação jurídica de hoje. 291

O Código Criminal do Império de 1.830 registrava a legítima defesa

de maneira expressa, como bem destaca o ilustre doutrinador Luiz Régis Prado, veja-se:

Art. 14. Será o crime justificável, e não terá lugar a punição delle: § 1. (...) § 2. Quando for feito em defesa da própria pessoa ou de seus direitos. § 3. Quando for feito em defesa da família do delinqüente. § 4. Quando for feito na defesa da pessoa de terceiro. § 5. Quando for feito em resistência à execução de ordens illegaes; não se excedendo os meios necessários para impedi-la.292

Importante ressaltar que o Código Penal brasileiro de 1.940, “que

continha definição satisfatória do instituto, foi reproduzido por inteiro no Anteprojeto de

290 BRUNO, Aníbal. Direito penal: parte geral. 5.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005. tomo I. p.232. 291 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral.v.1. p.383. 292 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral. 7.ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.v.1. p.402.

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1.981 e na reforma penal de 1.984. De seus termos, podem ser deduzidos os requisitos

necessários à agressão e à repulsa”293.

Por fim, é interessante explicar que a doutrina da legítima defesa

estava vinculada ao delito de homicídio. Porém, o direito contemporâneo a livrou desta

dependência, passando ela para a parte geral dos códigos. Assim, veio a alcançar a construção

técnica conclusiva que apresenta na atualidade. 294

3.2 EXCLUDENTES DE ANTIJURIDICIDADE

A antijuridicidade se constitui na conexão da contrariedade que se cria

entre o fato tipificado materialmente e o direito, ou seja, existe antijuridicidade no fato

praticado sem o apoio de qualquer causa justificante (legítima defesa) e que, por isso mesmo,

está em incompatibilidade com todo o ordenamento jurídico. Portanto, é antijurídico o fato

formal e materialmente tipificado que não encontra apoio em nenhuma causa justificante. A

excludente de antijuridicidade torna lícito o que é ilícito.295

De acordo com a doutrina majoritária as expressões antijuridicidade e

ilicitude, são sinônimas. Antigamente também se usava a expressão injuridicidade. Porém,

todas elas significam a contrariedade do fato materialmente típico com o ordenamento

jurisdicional. Isto quer dizer que, o fato materialmente típico não foi efetuado dentro de um

contexto legítimo, isto é, o ataque não foi concretizado em estado de necessidade ou de

legítima defesa por exemplo.296

Júlio Fabbrini Mirabete afirma que:

Sendo o crime um fato típico e antijurídico, é necessário para a existência do ilícito penal que a conduta seja antijurídica, isto é, na denominação legal, ilícita. A ilicitude decorre da contradição entre uma conduta e o ordenamento jurídico. Nesse sentido formal, o fato típico, em princípio, é antijurídico, dizendo-se, assim, que a tipicidade é o indício ou índice da antijuridicidade. Pode ocorrer, porém, que o agente pratique a ação típica em uma das situações em que a lei a considera como lícita, excluindo-se a ilicitude e, portanto, a criminalidade da conduta. Assim, a antijuridicidade, como elemento da análise conceitual do crime, assume o significado de “ausência da causas excludentes de ilicitude”. Em distinção doutrinária se afirma que a contradição entre a conduta e a norma é a antijuridicidade e que a conduta ilícita em si mesma, a ação valorada como antijurídica, é o injusto.297

293 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.100. 294 BRUNO, Aníbal. Direito penal: parte geral.tomo I. p.233. 295 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: parte geral: teoria constitucionalista do delito. 2ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. v. 3. p. 231. 296 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: parte geral: teoria constitucionalista do delito.v.3. p.231. 297 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.224.

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O Código Penal brasileiro em seu art. 23, diz que “não há crime”

quando o agente realiza o fato em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito

cumprimento do dever legal e no exercício regular de direito. Se preenchidos os requisitos de

uma causa excludente da ilicitude, ao agente não se pode atribuir a prática do delito.

Entretanto, a doutrina se divide, no que diz respeito à necessidade ou não de estar presente em

casos reais, além dos requisitos objetivos descritos na lei, o componente subjetivo que tem

correlação com a absolvição do crime (descriminante). 298

Para Cezar Roberto Bitencourt, “não basta que estejam presentes os

pressupostos objetivos de uma causa de justificação, sendo necessário que o agente tenha

consciência de agir acobertado por uma excludente, isto é, com vontade de evitar um dano

pessoal ou alheio”299.

O agente que pratica o crime movido pelo sentimento de vingança,

não estará protegido pela legítima defesa, mesmo que se comprove, em seguida, que a vítima

estava na iminência de sacar sua arma para matá-lo. Desse modo, só age em legítima defesa

quem o pratica com animus defendendi.300

Segundo ensinamento de Flávio Augusto Monteiro de Barros, admite-

se a existência das denominadas justificativas supralegais, que também são causas excludentes

de ilicitude, porém não estão previstas expressamente na lei. São causas supralegais de

antijuridicidade: princípio da insignificância; ação socialmente adequada; princípio do

balanço dos bens; consentimento do ofendido em relação aos bens disponíveis.301

Como já visto, são quatro as causas de excludente da antijuridicidade,

que estão previstas no art. 23 do Código Penal. O estado de necessidade por exemplo, consiste

no sacrifício de um interesse que é amparado pelo ordenamento jurídico, para escapar de

perigo atual e inevitável ao direito do próprio agente o de terceiro, sendo que outro

comportamento, nas circunstâncias em que se encontrava, não era razoavelmente exigível.302

Nos dizeres de Ricardo Antonio Andreucci, o estado de necessidade

consiste em: “uma situação de perigo atual de interesses legítimos e protegidos pelo direito,

em que o agente, para afastá-la e salvar um bem próprio ou de terceiro, não tem outro meio

senão o de lesar o interesse de outrem, igualmente legítimo”303.

298 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.225. 299 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado.3.ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p.86. 300 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado.p.86. 301 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral.6.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. v.1. p.311. 302 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.232. 303 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado.p.72.

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Como exemplos desta excludente da ilicitude, podemos citar o agente

que, em ocasião de naufrágio, de posse de apenas um colete salva-vidas, deixa que as outras

pessoas que ali se encontravam se afoguem no mar, para obviamente salvar a sua vida. Ou

agente que, na intenção de salvar uma pessoa gravemente ferida, furta um automóvel para

poder levá-la ao hospital.304

Importante frisar que o agente que deu causa para o perigo não pode

recorrer a excludente visando a sua própria proteção, visto que seria injusto e inoportuno. Ao

tratar-se de bens amparados juridicamente e lícitos que entram em conflito em decorrência de

um perigo, é necessário que a situação de perigo advenha do infortúnio. 305

Nesse diapasão, Flávio Augusto Monteiro de Barros ensina:

No estado de necessidade, distinguem-se dois conceitos: situação de estado de necessidade e fato cometido em estado de necessidade; mais sinteticamente, situação de necessidade e fato necessitado. Os requisitos da situação de necessidade são: perigo atual; ameaça a direito próprio ou alheio; perigo não provocado voluntariamente pelo agente; inexistência do dever legal de enfrentar o perigo. Presentes esses requisitos, o agente pode realizar o fato necessitado, desde que: a) haja impossibilidade de evitar por outro modo o perigo; b) haja proporção entre o fato e o perigo. O fato necessitado é a conduta lesiva, revestida de tipicidade, cuja antijuridicidade fica excluída, diante da verificação dos pressupostos acima mencionados.306

Outras duas hipóteses em que pode ocorrer a excludente de

antijuridicidade, é quando o agente age no estrito cumprimento do dever legal ou no exercício

regular de direito, que estão descritos no inciso III do art. 23 do Código Penal. Acontece o

estrito cumprimento do dever legal quando a lei, em algumas situações, impõe ao agente um

comportamento. Nessas ocasiões, embora típica a conduta, não é esta ilícita. 307

Exemplos de estrito cumprimento de dever legal, amplamente

divulgados na doutrina, são o do policial que viola residência onde está sendo cometido um

delito, ou utiliza força necessária em ocasiões de resistência ou de tentativa de fuga do

condenado (art. 284 do Código de Processo Penal), o do soldado que tira a vida do inimigo no

caso de guerra, ou ainda do oficial de justiça que viola residência para executar ordem de

despejo, dentre outros.308

É necessário que o dever imposto pelo direito seja legal, ou seja,

proceda de lei, não o caracterizando obrigações de natureza moral, social ou religiosa. A lei da

304 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado.p.73. 305 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.240. 306 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral. v.1. p.318. 307 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado.p.70. 308 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado.p.70.

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qual origina o dever tem de ser jurídica, e de caráter geral, seja penal ou extrapenal, decreto,

regulamento, etc. Contudo, não é permitido aos agentes do Estado, matar ou ferir alguém

simplesmente porque são marginais ou estão se comportando de modo anti-social ou ainda

porque estão sendo perseguidos legitimamente.309

Entretanto, se houver resistência ilegítima a atos de autoridades, e

sendo esta composta de violência ou de grave ameaça à atividade legal exercida pelos agentes

do Estado, configura-se uma hipótese de legítima defesa, tornando-se possível assim à reação

dessas autoridades públicas, todavia, terão eles que reagir de forma moderada e aplicar os

meios necessários para cessar tal agressão. 310

Outra causa que exclui a ilicitude e que também está prevista no inciso

III do art. 23 do Código Penal, ocorre quando o agente age no exercício regular de direito. A

conduta, nessas situações, apesar de ser típica, não será antijurídica. Exemplos desta conduta,

que é também amplamente divulgada pela doutrina são o desforço imediato no esbulho

possessório, o direito de manter em seu poder as benfeitorias previsto no Código Civil, a

correção dos filhos pelos pais etc. Todavia, o agente deve respeitar rigorosamente, aos limites

do direito exercido, sob pena de responder o agente pelos excessos dolosos ou culposos por

ele praticados. 311

Nessas situações, como bem leciona Damásio E. de Jesus, a palavra

direito é “empregada em sentido amplo, abrangendo todas as espécies de direito subjetivo

(penal ou extrapenal). Desde que a conduta se enquadre no exercício de um direito, embora

típica, não apresenta o caráter de antijurídica”312.

Sobre o tema Cezar Roberto Bitencourt, explana:

O exercício de um direito, desde que regular, não pode ser, ao mesmo tempo, proibido pelo direito. Regular será o exercício que se contiver nos limites objetivos e subjetivos, formais e materiais impostos pelos próprios fins do direito. Fora desses limites, haverá o abuso de direito e estará, portanto, excluída esta causa de justificação. O exercício regular de um direito jamais poderá ser antijurídico.313

Júlio Fabbrini Mirabete assevera que:

Parte da doutrina inclui também como forma de exercício regular de direito os ofendículos, aparelhos predispostos para a defesa da propriedade (arame farpado,

309 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado.p.88. 310 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado.p.88. 311 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado.p.71. 312 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral.v.1. p.400. 313 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado.p.89.

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cacos de vidro em muros, animais) visíveis, a que são equiparados os meios mecânicos ocultos (eletrificação de fios e cercas, de maçanetas de portas, etc). Outros doutrinadores consideram os offendicula como hipótese de legítima defesa preordenada. Qualquer que seja o entendimento, porém, é necessário que não haja excesso nos meios empregados para a defesa da propriedade.314

Dessa forma, exclui-se a antijuridicidade da conduta típica nas

situações em que o agente está autorizado para a prática dessa conduta. Estão inseridos na

excludente as eventuais ofensas à integridade corporal na prática esportiva, nas intervenções

médicas ou cirúrgicas, dentre outras.315

Por último, temos ainda como excludente de antijuridicidade de um

fato típico no ordenamento jurídico penal brasileiro a legítima defesa, que é a hipótese em que

o agente rechaça injusta agressão atual ou iminente, a direito próprio ou de terceiro, usando

moderadamente dos meios necessários, visto que, o direito não pode ceder perante o ilícito. A

legítima defesa é a causa de justificação mais destacada e antiga que modifica uma ação típica

em lícita, protegida pela ordem jurisdicional.316

É essencial destacar que os pressupostos da legítima defesa devem ser

analisados a partir de uma determinada hipótese de legítima defesa, que, ocorrendo,

proporciona ao ofendido a prática de uma ação defensiva, que é o exercício do direito de

legítima defesa. 317

Não existi nesta excludente de antijuridicidade, “uma situação de

perigo pondo em conflito dois ou mais bens, na qual um deles deverá ser sacrificado. Ao

contrário, ocorre um efetivo ataque ilícito contra o agente ou terceiro, legitimado a

repulsa”318.

A legítima defesa fundamenta-se na ideologia de que o Estado não

tem suporte suficiente para dar amparo à sociedade em todos o lugares e momentos, sendo

assim, autoriza que os cidadãos se defendam quando não existir outro modo.319

Damásio E. de Jesus explica com notável sabedoria, à natureza

jurídica desta excludente da ilicitude:

Entendemos que a legítima defesa constitui um direito e causa de exclusão da antijuridicidade. Não é certo afirmar que exclui a culpabilidade. Como dizia Bettiol,

314 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.230. 315 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.229. 316 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral.v.1. p.402. 317 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral.v.1. p.404. 318 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120). 11.ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. v.1. p.281. 319 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.281.

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afirmar que constitui uma causa de isenção de culpabilidade supõe desconhecer o que há de mais característico na luta em que se vê o bem injustamente agredido. Não pode ser considerada ilícita a afirmação do próprio direito contra a agressão que é contrária às exigências do ordenamento jurídico. É uma causa de justificação porque não atua contra o direito quem comete a reação para proteger um direito próprio ou alheio ao qual o Estado, em face das circunstâncias, não pode oferecer a tutela mínima. É a orientação seguida pelo nosso CP, ao afirmar que não há crime quando o agente pratica o fato em legítima defesa (art. 23, II).320

A existência da legítima defesa está condicionada aos seguintes

requisitos, são eles: “existência de agressão injusta, atual ou iminente, agressão a direito

próprio ou de terceiro, utilização dos meios necessários à repulsa, utilização moderada dos

meios necessários e conhecimento da situação de fato justificante”321.

A agressão é caracterizada como todo ato humano que causa lesão ou

põe em risco um bem jurídico tutelado. É injusta aquela agressão que não estiver amparada

pela lei, ou seja, não é permitida pelo ordenamento jurídico. A agressão não pode ser

confundida com a provocação, devendo-se levar em conta a sua intensidade para poder

apreciá-la de forma correta. Quando a agressão é legítima, a reação a ela torna-se injusta, não

caracterizando com isso a legítima defesa. 322

Ricardo Antonio Andreucci ensina que: “agressão atual é aquela que

está ocorrendo. Agressão iminente é aquela que está prestes a ocorrer”323.

Importante frisar que a reação deve ser imediata à agressão, visto que,

a demora do agente para repelir a agressão não caracteriza mais a descriminante da legítima

defesa. Quando a ação é praticada depois de cessado o perigo é caracterizado como vingança,

que é punida pelo direito penal brasileiro. Assim como o perigo futuro, que possibilita a

utilização de outros meios, inclusive a busca de ajuda das autoridades estatais. 324

Celso Delmanto conceitua a legítima defesa própria ou de terceiro: “a

legítima defesa pode ser própria ou de terceiro, dependendo do bem ameaçado ser do próprio

autor da repulsa ou de terceiro”325.

Qualquer direito poderá ser legitimamente protegido, seja o direito a

vida, liberdade sexual, liberdade individual, a honra, o patrimônio, dentre outros. Todavia, não

age em legítima defesa aquele que mata o cônjuge adúltero no exato momento do adultério ou

320 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral.v.1.p.385. 321 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado.p.76. 322 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado.p.99. 323 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado.p.76. 324 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado.p.99. 325 DELMANTO, Celso. Código penal comentado.p.97.

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ainda por causa do adultério. Esta situação é impossível no ordenamento jurídico, em virtude

da total desproporcionalidade da reação.326

Para a defesa ser legítima precisa haver proporcionalidade entre o

ataque e a reação, como bem ensina o ilustre doutrinador Luiz Flávio Gomes, veja-se:

Nosso CP não usa a palavra proporcionalidade no art. 25 (“Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”), mas aponta duas indicações nessa direção: (a) repulsa com os “meios necessários” e (b) moderação na repulsa. Se o sujeito ataca a socos, por exemplo, em princípio, a reação não pode ser armada (não é preciso arma para se defender de ataque a mãos limpas). Mas tudo isso é muito relativo. Depende de quem é a pessoa que ataca e de quem se defende. Ataque a socos de um lutador de boxe lógico que vai permitir à vítima (inferiorizada corporalmente) reação armada (proporcional). Ainda que tenha havido escolha de um meio “desnecessário”, mesmo assim, fundamental, de qualquer modo, é sempre verificar a moderação. “A”, desnecessariamente, escolhe como meio de defesa o uso de uma arma de fogo, porém, efetua um disparo de advertência para o alto. O meio é desnecessário, mas houve moderação no seu uso. O equilíbrio na legítima defesa reside, destarte, na moderação da repulsa. O excesso decorre da imoderação.327

Nesse diapasão, Zaffaroni e Pierangeli lecionam sobre a moderação da

defesa:

Não é suficiente que a defesa seja necessária, porque no caso do paralítico o disparo era a conduta necessária para evitar a afetação de seu bem jurídico propriedade. Nosso CP elimina as dúvidas a este respeito porque exige a moderação: a defesa não pode ser condicionada de modo que afete mais a co-existência do que a agressão em si. Não pode haver uma desproporção muito grande entre a conduta defensiva e a do agressor, de maneira que a primeira cause um mal imensamente superior ao que teria produzido a agressão. Há um certo limite, isto é, um corretivo, que exclui a moderação, e, portanto, a defesa, em casos como o do paralítico.328

No que tange ao conhecimento da situação de fato justificante, ainda

que ocorra agressão injusta, atual ou iminente, a legítima defesa estará definitivamente

afastada se o agente não conhecia essa situação. Se, em sua consciência, queria o agente

praticar um crime e não se proteger, ainda que, por coincidência, o seu ataque torna-se uma

defesa, será o fato ilícito. 329

Sobre este elemento subjetivo da legítima defesa, que é o

conhecimento da agressão e a vontade de defesa, deve o agente ser portador do elemento

326 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: parte geral: teoria constitucionalista do delito.v.3. p.244. 327 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: parte geral: teoria constitucionalista do delito.v.3. p.245. 328 ZAFFARONI, Eugênio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito penal brasileiro: parte geral.p.584. 329 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.287.

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subjetivo, e coerente na ciência da agressão e na vontade (animus defendi) de agir em defesa

de direito próprio ou de terceiro.330

Acerca da inevitabilidade da agressão e “commodus discessus”, a

legítima defesa somente se configuraria se a agressão fosse inevitável, isto é, se não tem a

possibilidade de o agente impedir a agressão ou se afastar dela. O “commodus discessus” é a

retirada cômoda daquele que está sofrendo ameaça, contudo, na legítima defesa é

indispensável a inevitabilidade da agressão, já que se decidir por enfrentar o seu ofensor,

poderá fazê-lo, repulsando com violência a violência. Visto que, a lei brasileira, não exige a

obrigatoriedade de se evitar a agressão (commodus discessus) em situações de legítima

defesa. 331

Porém essa regra não é absoluta, como bem explica Júlio Fabbrini

Mirabete:

Tratando-se de crianças, doentes mentais, pessoa que atuam em estado de erro etc., as agressões devem ser evitadas, desviadas pelo agente, a não ser que seja a reação pessoal a única forma de defesa de seus interesses legítimos. Embora não se exija do agente a fuga, recomenda-se, no caso, o prudente afastamento do local, evitando-se o confronto. Na jurisprudência, predomina a posição da desnecessidade do elemento subjetivo, ou seja, de que o agente deva sempre saber que atua em legítima defesa. Por isso, em regra, não se tem negado a justificativa em caso de defesa perpetrada por doente mental ou de pessoa embriagada.332

Aduz a jurisprudência que, “pode haver legítima defesa na reação a

investida de alienado mental” (TACrSP, RT 544/382)333.

No que diz respeito à legítima defesa defensiva, esta ocorre quando a

reação não produz um fato típico, exemplo: “A” reage contra ataque ilegítimo, apenas

imobilizando os braços do agressor; enquanto que, na legítima defesa ofensiva à reação

constitui um fato típico, exemplo: pessoa que reage e provoca lesão corporal no agressor. Na

legítima defesa ofensiva que atinge o agressor, não é permitido indenização civil. 334

Porém, se o agente, em legítima defesa real, erra na execução e tira a

vida de um inocente (legítima defesa real com aberratio ictus) não responderá penalmente

pelo delito praticado, todavia, ficará ele obrigado a indenizar os danos civis. Caberá

indenização civil também quando “A” é agredido e, para se proteger, põe na linha de tiro uma

330 PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral.v.1. p.405. 331 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.287. 332 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.251. 333 DELMANTO, Celso. Código penal comentado.p.98. 334 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: parte geral: teoria constitucionalista do delito.v.3. p.245.

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pessoa inocente, irá ele responder pelos danos civis praticado, sendo que penalmente não

sofrerá nenhuma punição.335

Na legítima defesa putativa o agente incorre em erro de tipo ou de

proibição absolutamente justificável pelas circunstâncias, supõe deparar-se em face de injusta

agressão (arts. 20, § 1º, primeira parte, e 21 do Código Penal), ou seja, o agente supõe a

existência de uma injusta agressão, mas que na verdade não existe. 336

Enquanto que na legítima defesa subjetiva o agente age em excesso

por erro de tipo escusável, isto é, que exclui o dolo e a culpa. O agente se excede na legítima

defesa, porém, qualquer ser humano na mesma situação faria exatamente a mesma coisa.

Exemplo: local deserto, à noite, o agente é atacado por uma pessoa desconhecida, desferindo

vários tiros contra o “vulto” matando assim o agressor, porém verifica-se posteriormente que

era uma criança que apenas queria assustar-lhe.337

Este excesso escusável, que provém de medo, susto ou de nítida má

valoração da situação, livra o agente de pena, exclui a culpabilidade, seja pela extinção do

erro de tipo permissível (art. 20, § 1º, primeira parte do Código Penal), seja pela

inexigibilidade de comportamento diverso como motivo supralegal de exclusão da

culpabilidade. 338

Damásio E. de Jesus explana sobre a legítima defesa sucessiva: “é a

repulsa contra o excesso. Ex.: A, defendendo-se de agressão injusta praticada por B, comete

excesso. Então, de defendente passa a agressor injusto, permitindo a defesa legítima de B”339.

Há doutrinadores que lecionam sobre a legítima defesa recíproca, o

ilustre Flávio Augusto Monteiro de Barros assevera que:

Não há legítima defesa real recíproca porque o pressuposto da legítima defesa é a existência de uma agressão injusta. Se a agressão de um dos contendores é injusta, significa que a do outro é justa; logo, apenas este último estará em legítima defesa. Às vezes, porém não se logra apurar quem deu início à agressão. Nesse caso, aplica-se o brocardo “melhor absolver um culpado a condenar um inocente”, absolvendo-se os dois por insuficiência de provas, e não por legítima defesa recíproca. Tal solução evita que aquele que estava em legítima defesa seja condenado injustamente. Admite-se, entretanto, a legítima defesa putativa recíproca. Exemplo: dois inimigos, ao se avistarem, na falsa suposição de que um vai agredir o outro, ferem-se mutuamente, trocando tiros de revólver.340

335 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: parte geral: teoria constitucionalista do delito.v.3. p.246. 336 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral.v.1. p.396. 337 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: parte geral: teoria constitucionalista do delito.v.3. p.246. 338 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: parte geral: teoria constitucionalista do delito.v.3. p.246. 339 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral.v.1. p.396. 340 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral.v.1. p.340.

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Ainda discorrendo sobre a legítima defesa recíproca, é inaceitável

legítima defesa versus legítima defesa, perante a possibilidade de defesa lícita em relação aos

dois contendores, como na hipótese típica de duelo. Apenas poderá acontecer a legítima

defesa recíproca quando um dos contendores, pelo menos, incidir em erro, caracterizando a

legítima defesa putativa. 341

A legítima defesa recíproca ocorre quando não existe uma injusta

agressão a ser repulsada, pois a conduta principiante do agente é ilícita. É o caso de legítima

defesa versus legítima defesa, que não é permitido no direito penal brasileiro. Se o agente age

amparado por esta excludente de antijuridicidade, é porque existi injustiça na agressão. O

injusto ofensor não pode afirmar que agiu em legítima defesa se repulsou o ataque legítimo do

agente. Exemplo ordinário disto é, o agente que, desejando matar injustamente seu inimigo, e

à vista da legítima reação deste, atira no seu inimigo sob alegação de proteger a sua vida.342

Importante neste momento trazer a colação do ensinamento de Luiz

Flávio Gomes sobre as diferenças entre a legítima defesa e o estado de necessidade:

Legítima defesa e estado de necessidade: ambas são causas de exclusão de antijuridicidade, porém, inconfundíveis: (a) na primeira há ameaça ou ataque a um bem jurídico; na segunda há um conflito entre vários bens jurídicos diante de uma situação de perigo; (b) a primeira exige agressão humana; na segunda o perigo pode decorrer de fato humano ou acontecimento natural (tempestade, v.g.).343

Sobre as diferenças entre a legítima defesa e o estado de necessidade,

Damásio E. de Jesus ensina que:

a) no estado de necessidade há conflito entre bens jurídicos; na legítima defesa há ataque ou ameaça de lesão a um bem jurídico; b) no estado de necessidade o bem jurídico é exposto a perigo (atual ou iminente); na legítima defesa o interesse sofre uma agressão; c) no estado de necessidade o perigo pode advir de conduta humana, força da natureza ou de ataque de irracional; só há legítima defesa contra agressão humana; d) no estado de necessidade o necessitado pode dirigir sua conduta contra terceiro alheio ao fato; na legítima defesa o agredido deve dirigir seu comportamento contra o agressor; e) na legítima defesa a agressão deve ser injusta; no estado de necessidade pode ocorrer a hipótese de duas pessoas, titulares de bens juridicamente protegidos, causarem lesões recíprocas. Ex.: no caso dos dois náufragos que se agridem pela posse da tábua de salvação, os bens jurídicos em litígio são juridicamente protegidos. O perigo não está na conduta de A contra B, e vice-versa; está na iminência da morte por afogamento. Para fugir à morte, admite-se que A mate B, e vice-versa. As duas agressões são lícitas, tratando-se de estado de necessidade contra estado de necessidade, ao contrário do que acontece na legítima defesa em que é exigida a agressão injusta. Daí afirmar José Frederico Marques que “o ataque lícito a um bem jurídico somente dará lugar à reação que se

341 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado.p.101. 342 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado.p.78. 343 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: parte geral: teoria constitucionalista do delito.v.3. p.246.

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configure como prática de fato necessitado. Se o agente pratica o fato necessitado e o titular do bem jurídico repele a ação lesiva, a reação deste último não se enquadra na legítima defesa porquanto o fato necessitado não constitui agressão injusta, e sim, ato lícito”.344

Fernando Capez discorre a respeito da coexistência entre o estado de

necessidade e a legítima defesa: “é possível. Exemplo: “A”, para defender-se legitimamente

de “B”, pega a arma de “C” sem a sua autorização”. Assim, existirá legítima defesa contra

“B” e estado de necessidade contra “C”345.

Não se concretizará a excludente de antijuridicidade da legítima

defesa, se o agente cometer excessos, seja doloso ou culposo. É afastada a legitimidade da

defesa quando não estiverem presentes todos os requisitos determinados por lei, pois a lei

ordena que o agente faça uso dos meios necessários e que utilize-os de forma moderada.

Dessa forma, a legítima defesa não se configurará quando o dano ao bem jurídico do agressor

for desproporcional ou desnecessário à defesa do beneficiário.346

Acerca do tema aduz a jurisprudência, veja-se:

Excesso por imoderação no uso dos meios – TJCE: “Tratando-se da prática de homicídio, o excessivo número de tiros desferidos contra a vítima, sendo um, inclusive, pelas costas, bem como a perseguição empreendida pelo agente ao seu suposto agressor, afastam a configuração da descriminante punitiva da legítima defesa, pois inocorrente o uso moderado dos meios necessários para repelir injusta, atual ou iminente agressão a direito próprio ou de outrem” (RT 773/622). TJSP: “Responder a um tapa com facada mortal é agir imoderadamente. É ultrapassar o emprego dos meios necessários para repelir agressão que provocou” (RT 549/316). TJSP: “Não se configura a legítima defesa se a agressão do ofendido foi a mãos limpas, não correndo perigo a vida do réu, de molde a justificar sua violenta reação, aquele eliminado com uma facada” (RT 548/308). TACRSP: “Transborda os limites da legítima defesa própria quem, derribado o adversário com um primeiro disparo, torna a feri-lo com novos tiros” (JTACRIM 59/171).347

Ocorre excesso doloso, quando o agente, ao se proteger de uma

ilegítima agressão, utiliza-se de meio que sabe ser desnecessário ou, mesmo tendo a lucidez

de sua desproporcionalidade, age sem moderação alguma. Já no excesso culposo, o agente,

perante o temor, susto ou abalo provocado pela injusta agressão, sai da posição de defesa e

passa a atacar o injusto agressor, mesmo depois de ter dominado este. Contudo, não existiu

uma intensificação intencional na reação, tendo em vista que o sujeito ainda pensava estar

344 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral.v.1. p.396. 345 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.291. 346 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado. p.253. 347 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado. p.254.

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sendo atacado pelo injusto agressor, dessa forma o excesso cometido decorreu de um engano

na avaliação da realidade.348

Caracterizando assim o excesso, tanto doloso quanto culposo, os

requisitos da legítima defesa desaparecem, devendo o agente ser responsabilizado pelas

desnecessárias lesões cometidas ao bem jurídico agredido. 349

3.3 APLICAÇÃO NO DEBATE AO JÚRI

Determina a lei, que o juiz tem o dever de elaborar os quesitos

referentes ao excesso doloso ou culposo, quando for identificada qualquer causa de excludente

da antijuridicidade. Tratando-se de legítima defesa, quando os jurados votarem negativamente

ao quesito do uso dos meios necessários e da moderação desses meios, não bastando a

identificação de um deles apenas para passar direto à votação do excesso. 350

Realizados os dois primeiros quesitos fundamentais, referentes à

autoria e materialidade (1º) e ao nexo causal, denominado também como letalidade (2º), sendo

esses dois quesitos respondidos afirmativamente pelos jurados, passa-se à quesitação da

legítima defesa, que será desenvolvida em tantos quesitos quantos forem os seus pressupostos

legais. Se não for reconhecida a injustiça, a atualidade ou iminência da agressão, não há que

se falar em legítima defesa, respondendo o agente pelo delito cometido. Todavia, se

reconhecido esses requisitos pelos jurados e se eles negarem a necessariedade dos meios ou a

moderação, passa-se aos quesitos relativos ao excesso doloso e culposo.351

Desse modo, aparecendo à tese da legítima defesa no Tribunal do Júri,

o juiz formulará os seguintes quesitos:

1) O réu, João da Silva, no dia 12 de agosto de 1.998, no interior do prédio n. 21 da rua Barros de Andrade, nesta cidade, desfechou tiros de revólver contra a vítima Pedro de Almeida, produzindo-lhe os ferimentos descritos no laudo de fls. 10? 2) Essas lesões provocaram a morte da vítima? 3) O réu, João da Silva, praticou o fato em defesa de sua própria pessoa? 4) Defendeu-se o réu de uma agressão atual? 5) Defendeu-se o réu de uma agressão iminente? 6) Defendeu-se o réu de uma agressão injusta? 7) Os meios empregados na repulsa eram necessários? 8) O réu usou moderadamente desses meios? 9) O réu excedeu, dolosamente, os limites da legítima defesa?

348 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.288. 349 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.287. 350 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.778. 351 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.289.

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10) O réu excedeu, culposamente, os limites da legítima defesa?352

Se o primeiro quesito for negado pelo Conselho de Sentença, referente

à autoria do crime, será o réu absolvido, entretanto, se for negado o segundo quesito, que é

relativo à materialidade do delito, somente retira-se da competência do Tribunal do Júri tal

infração, passando a competência para o juízo singular. Sendo afirmativos esses dois quesitos,

será votado em seguida os quesitos restantes, fazendo a restrição de que o quinto quesito só é

votado se o quarto quesito for negado. 353

Respondendo os jurados negativamente aos quesitos terceiro, quarto e

quinto conjuntamente ou ao quesito sexto, será excluída a tese da legítima defesa, e o réu

passa assim a responder pelo crime cometido.354

Importante ressaltar, que o quesito relativo ao excesso somente entra

em pauta se o júri asseverar os seis primeiros quesitos. Negando um deles, principalmente

entre o terceiro e o sexto, elimina-se a legítima defesa e nem se questiona do excesso. 355

Um dos grandes problemas que se enfrenta no Tribunal do Júri, é

acerca da explicação dos quesitos da legítima defesa, como bem ensina José Luiz Filó:

Somente à guisa de exemplo: quantas vezes os jurados começam a absolver a partir do 3º quesito. Chegam a reconhecer que o réu agiu em legítima defesa. Porém, no 7º, isto é, quando se questiona se os meios eram necessários, respondem não por maioria de votos. Cai integralmente a legítima defesa. Toda a estrutura dessa excludente desmorona-se. O réu passa então a ser julgado por homicídio (culposo ou doloso). É preciso esclarecer muito bem aos jurados, que a quesitação da legítima defesa é como um bloco. Para que a tese seja aceita e para que a vontade do Conselho de Sentença seja obedecida, torna-se necessário responder sim a todos os quesitos dessa excludente criminal, mesmo que os jurados não concordem integralmente com alguns deles. Ou seja, os jurados devem responder afirmativamente aos seis primeiros quesitos, que dizem respeito à autoria, materialidade, letalidade, e os quatro requisitos componentes da Legítima Defesa. Se negados qualquer um dos três primeiros, o réu estará condenado. 356

O réu também será condenado, se os jurados negarem os quesitos

referentes aos meios necessários e também se o réu utilizou moderadamente desses meios. 357

Segundo Capez, a resposta negativa ao quesito que diz respeito aos

meios necessários, não elimina a tese da legítima defesa, porém torna prejudicado o quesito

seguinte, passando-se assim, diretamente para o quesito relativo aos excessos. Como também

352 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral.v.1. p.351. 353 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral.v.1. p.352. 354 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.289. 355 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral. v.1. p.352. 356 FILÓ, José Luiz. A defesa na prática: o tribunal do júri. Campinas,SP: Bookseller, 1999. p.308. 357 FILÓ, José Luiz. A defesa na prática: o tribunal do júri.p.308.

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não exclui a legítima defesa a resposta negativa dos jurados referente a moderação dos meios

utilizados pelo agente.358

Interessante neste momento, a colação de Flávio Augusto Monteiro de

Barros, que leciona sobre o tema:

Afirmando os seis primeiros quesitos, lembrando que o 5º só é votado se o júri negar o 4º, passa-se à votação do 7º e do 8º, atinentes ao meio necessário e à moderação. Para a teoria do excesso intensivo, resultando afirmativos o 7º e o 8º quesitos, não se indaga sobre o excesso, absolvendo-se o réu, com base na legítima defesa, ficando prejudicada a votação do 9º e do 10º quesitos. De fato, não se pode deixar de reconhecer a falta de lógica que seria questionar o excesso depois de o júri ter reconhecido a legítima defesa. Já para a teoria do excesso extensivo, após a afirmação do 7º e do 8º quesitos, passa-se à votação do excesso, absolvendo-se o réu apenas na hipótese de o júri negar os dois quesitos seguintes, referentes ao excesso. Em contrapartida, para a teoria do excesso intensivo, negado o 7º ou 8º, ou ambos os quesitos, daí, sim, vota-se o excesso, pois este reside justamente no emprego de meio desnecessário ou imoderado. Já para a teoria do excesso extensivo, em tal hipótese, não se vota o excesso, condenando-se diretamente o réu.359

Importante para maior esclarecimento do assunto em estudo, fazer a

distinção entre excesso intensivo e excesso extensivo. No excesso intensivo, existe agressão

injusta, atual ou iminente, contra um direito próprio ou de terceiro, porém o agente repulsa tal

agressão utilizando-se de meios desnecessários ou usa esses meios de maneira imoderada. Já

no excesso extensivo, existe também agressão injusta, atual ou iminente, contra direito próprio

ou de terceiro, o agente usa os meios necessários para repelir tal agressão e utiliza esses meios

de forma moderada, contudo, em seguida, logo após esgotada a excludente da legítima defesa

com todos os seus requisitos, depois de impedir a agressão, o agente agride a vítima sem

necessidade, sem qualquer justificativa. 360

Sobre o quesito que diz respeito ao excesso doloso, se a resposta for

afirmativa, surge o denominado excesso doloso, respondendo o agente pelo delito cometido, a

título de dolo, eliminando assim a excludente da legítima defesa; se negativa for a resposta, o

magistrado irá indagar os jurados sobre o quesito seguinte, que é referente ao excesso culposo.

Neste quesito, se afirmativa a resposta, o agente responde pelo delito que praticou, a título de

culpa; porém, se negativa for a resposta, significa que automaticamente o excesso é acidental,

que este não originou nem de dolo nem de culpa, surgindo assim a denominada legítima

358 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.289. 359 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral.v.1. p.352. 360 TORRES, José Henrique Rodrigues. Tribunal do júri: estudo sobre a mais democrática instituição jurídica brasileira / coordenação Rogério Lauria Tucci. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. p. 248.

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defesa subjetiva ou excesso exculpante, onde não há um fato típico, perante a exclusão de

dolo e culpa. 361

Como bem explica Fernando Capez, o excesso exculpante não origina

nem de dolo nem de culpa, mas de um erro completamente legítimo pelas circunstâncias

(legítima defesa subjetiva). O excesso na reação defensiva procede de uma atitude emocional

do agredido, cujo estado emocional deste interferiu na sua reação defensiva, impedindo que o

agredido possuísse totais condições de balancear perfeitamente a sua repulsa em virtude do

ataque sofrido, não podendo desse modo determinar que a sua conduta seja de acordo com a

lei. 362

Por derradeiro, vale destacar que, é obrigatória a inclusão dos quesitos

referente ao excesso, toda vez que o réu sustentar a tese da legítima defesa ou de outra causa

de excludente da antijuridicidade, independentemente de solicitação do defensor do réu.363

3.4 IN DUBIO PRO REO

Este princípio é cabível quando existir dúvidas acerca da existência de

uma causa excludente de antijuridicidade ou até mesmo de culpabilidade alegadas e que, não

sendo confirmadas, a absolvição do acusado é medida que se impõe. Isto acontece muito em

casos de lesões recíprocas, onde os dois agressores dizem ter agido em legítima defesa, porém

não é possível provar qual deles deu início a agressão.364

Júlio Fabbrini Mirabete afirma que o princípio in dúbio pro reo é

aplicado também, aos incisos II e IV do art. 386 do Código de Processo Penal. A absolvição

pela ausência de provas não causa, como é óbvio, qualquer índice de culpabilidade do réu,

ocasionando os mesmos efeitos penais da sentença absolutória apoiada nos demais incisos e

nenhum daqueles instituídos para a condenação.365

A dúvida sobre a existência da tese de legítima defesa leva

obrigatoriamente à absolvição do réu, tendo em vista que, para a condenação do acusado, é

fundamental ter certeza acerca da inexistência da excludente da ilicitude. Todavia, o ato

absolutório, deverá ser fundamentado nos alicerces do inciso VI ao invés do inciso V do

Código de Processo Penal. Assim ensina a jurisprudência, veja-se: “RJTJRGS 131/191 - A

361 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.290. 362 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.288. 363 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral.v.1. p.353. 364 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1004. 365 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado.p.1004.

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dúvida sobre a legítima defesa, sendo uma dúvida sobre a ilicitude da ação, importa em

dúvida sobre o próprio crime, ensejando a absolvição no art. 386, inc. VI, do CPP”. 366

Sobre o assunto, leciona com notada sabedoria o nobre doutrinador

Heráclito Antonio Mossin, veja-se:

Se a prova couber à defesa e esta não demonstrar à sociedade a ocorrência da causa que conduz ao acolhimento da pretensão absolutória, não há como se aplicar o favor rei. Há aqui verdadeira inversão, uma vez que deve ser aplicado o princípio do in dúbio pro societate. Se a defesa alega que houve a ocorrência de qualquer causa excludente da antijuridicidade, da culpabilidade ou da punibilidade, deve demonstrar em juízo sua ocorrência de forma firme. Se não tiver tal demonstração ou se esta não for sobeja e consistente não há como aplicar-se o princípio dissertado. Enfim, fica excluído do campo de incidência do princípio do in dúbio pro reo o inciso V, do art. 386, do Código de Processo Penal.367

Quando o processo não permite ao julgador aceitar plenamente uma

causa excludente da antijuridicidade ou ilicitude do fato, não só pela falta de prova escorreita

da legítima defesa pelo acusado, mas também devido a acusação não ter conseguido afastá-la,

desse modo, como tese defensiva, a dúvida sobre a ilicitude estará estabelecida, e, por todos

os efeitos, o órgão julgador não saberá ao certo de que o sujeito sobre o qual deva lançar o

juízo de culpabilidade cometeu um fato antijurídico, sendo que não é concebível, na vigência

de um Estado Democrático de Direito, sob o prisma do princípio da culpabilidade, a

publicação de uma sentença condenatória sustentada apenas na literalidade da norma da

bipartição do encargo instituído pelo art. 156 do Código de Processo Penal.368

Assim, alegada a excludente, porém não conseguindo a prova

estabelecer a certeza quanto aos seus elementos fáticos, o julgamento deve ser “pro reo”,

como se a legítima defesa tivesse realmente sido comprovada. Tendo em vista que, para

condenar é determinado prova incontroversa da responsabilidade criminal e uma justificativa

que não foi devidamente eliminada pela prova é o suficiente para contestar a responsabilidade

criminal. 369

O renomado penalista lusitano Américo Taipa de Carvalho diz que:

Condenar alguém, havendo dúvida razoável sobre a verificação de um elemento constitutivo de uma causa de justificação (tipo justificador), é, humana e jurídico-penalmente, tão inadmissível e injusto como considerar e dar como provada (e, assim, condenar) a prática do fato típico (tipo legal em sentido estrito), apesar de

366 Jus2.uol.com.br/Doutrina?Texto.asp?id=1096 367 MOSSIN, Heráclito Antônio. Comentários ao código de processo penal: à luz da doutrina e da jurisprudência.p.741. 368 Jus2.uol.com.br/Doutrina?Texto.asp?id=1096 369 Jus2.uol.com.br/Doutrina?Texto.asp?id=1096

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existir e permanecer dúvida razoável sobre a verificação de um elemento do respectivo tipo legal. Por outras palavras: é tão injusto condenar alguém, havendo dúvida razoável sobre a justificação do fato típico como condenar alguém, havendo dúvida razoável sobre a tipicidade da conduta. Tal como no primeiro caso, também, no segundo, há dúvida sobre a ilicitude do fato; donde que a solução não pode deixar de ser senão a imposta pelo princípio in dúbio pro reo.370

Guilherme de Souza Nucci ensina que, “se o juiz não possui provas

sólidas para a formação do seu convencimento, sem poder indicá-las na fundamentação da sua

sentença, o melhor caminho é a absolvição”371.

Por fim, Figueiredo Dias explica que:

O princípio in dúbio pro reo aplica-se sem qualquer limitação, e portanto não apenas aos elementos fundamentadores e agravantes da incriminação, mas também às causas de exclusão da ilicitude (legítima defesa). A persistência da dúvida razoável após a produção da prova tem de atuar em sentido favorável ao argüido e, por conseguinte, conduzir à conseqüência imposta no caso de se ter logrado a prova completa da circunstância favorável ao argüido.372

3.5 OFENDÍCULOS

São chamados de ofendículos todos os impedimentos, barreiras ou

obstáculos que servem para proteger bens jurídicos. Os ofendículos são os recursos utilizados

para obstruir a agressão a qualquer bem jurídico, seja por meio de auxílio de animais, seja de

aparelhos ou artefatos produzidos pelo homem, como por exemplo: arame farpado, cacos de

vidro sobre o muro, cerca eletrificada, dentre outros.373

É muito discutido na doutrina, a natureza jurídica dos ofendículos, uns

dizem que quem se utiliza desse método para proteger qualquer bem jurídico, está agindo no

exercício regular de direito, sob o ponto de vista de que estes impedimentos instalados na

propriedade constituem o uso legal de um direito. Se evidência com isso, o momento da

instalação do ofendículo e não de seu funcionamento, que será sempre futuro.374

Sob essa ótica, explana Marcello Jardim Linhares, veja-se:

Quando a armadilha entra em ação, não mais está funcionando o homem, motivo pelo qual não se pode admitir esteja ocorrendo um situação de legítima defesa, mas sim de exercício de direito. E mesmo quando atinja um inocente, como uma criança que se fira em pontas de lança de um muro, atua o exercício de direito, pois não se pode considerar uma reação contra quem não está agredindo.375

370 Jus2.uol.com.br/Doutrina?Texto.asp?id=1096 371 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de processo penal comentado.p.656. 372 Jus2.uol.com.br/Doutrina?Texto.asp?id=1096 373 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado.p.79. 374 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.245. 375 Marcelo Jardim Linhares Apud NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.246.

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Fernando Capez entende que os ofendículos, trata-se de exercício

regular do direito de defesa da propriedade, visto que a legislação autoriza desforço físico

instantâneo para a manutenção da posse e, portanto, de quem estiver no imóvel (Código Civil,

art. 1.210, § 1º). A pessoa, ao instalar os equipamentos, nada mais faz do que praticar um

direito seu, previsto em lei. 376

Nesse sentido, Aníbal Bruno aduz:

Não nos parece que a hipótese possa ser resolvida como legítima defesa... embora o aparelho só se destine a funcionar no momento do ataque, a verdadeira ação do sujeito é anterior: no momento da agressão, quando cabia a reação individual, ele, com o seu gesto e a sua vontade de defesa, está ausente. Além disso, a atuação do aparelho é automática e uniforme, não pode ser graduada segundo a realidade e a importância do ataque... Por tudo isso, esse proceder fica distante dos termos precisos da legítima defesa, que supõe sempre um sujeito atuando, com o seu gesto e o seu ânimo de defender-se, no momento mesmo e com a medida justa e oportuna contra a agressão atual ou iminente.377

Os ofendículos constituem exercício regular de direito sob o ponto de

vista de sua colocação ou instalação, pois o possuidor do bem tem o direito de se proteger.

Contudo, quando os ofendículos entram em ação em face de um ataque, estaremos assim,

diante da hipótese de legítima defesa preordenada.378

Para o nobre doutrinador Damásio E. de Jesus, quando os ofendículos

funcionam em virtude de um ataque, a situação será de legítima defesa preordenada, “desde

que a ação do mecanismo não tenha início até que tenha lugar o ataque e que a gravidade de

seus efeitos não ultrapasse os limites da excludente da ilicitude”379.

A injusta agressão acontece, quando o ladrão por exemplo tenta

arrombar a fechadura da porta interna da casa do agredido. Entretanto, usada a teoria da

imputação objetiva, a preparação do ofendículo é atípica, não causando prejuízo para a

identificação da legítima defesa preordenada em caso de agressão.380

Contudo, para que se caracterize a legítima defesa, exigi-se que o

ofendículo só entre em ação perante uma injusta agressão, atual ou que está prestes a

acontecer. Estando presentes esses requisitos, elimina-se a ilicitude, porém, o ofendículo tem

376 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.295. 377 Aníbal Bruno Apud CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.296. 378 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado.p.80. 379 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral.v.1. p.398. 380 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral.v.1. p.398.

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que ser utilizado de forma moderada. Em casos de imoderação, o agente será responsabilizado

pelo excesso causado, excluindo assim, a legítima defesa.381

Flávio Augusto Monteiro de Barros, diz que a questão do ofendículo

se encaixa melhor na situação de legítima defesa, visto que, “só funciona em face de uma

agressão atual ou iminente, traduzindo-se a sua reação numa longa manus do titular da

propriedade agredida. Trata-se de um instrumento de defesa com efeitos similares à utilização

do revólver por ocasião de um assalto”382.

Interessante acrescentar o ensinamento de Damásio E. de Jesus sobre

o assunto:

A solução de várias hipóteses depende do caso concreto. Assim, se o proprietário eletrifica a maçaneta da porta da rua, responde pelo resultado produzido em terceiro que a toque (a título de culpa ou dolo). Se eletrifica a maçaneta de uma porta interna contra ataque de ladrão, encontra-se em legítima defesa. Se o dono de uma fazenda eletrifica a cerca de local onde passam crianças, responde pelo resultado causado em algumas delas. Se, satisfeitos os requisitos da justificativa, há ferimento em terceiro inocente, trata-se de legítima defesa putativa.383

Por derradeiro, Nucci preceitua que, aquele que tem a intenção de

invadir uma propriedade, onde possui um portão que no alto tem pontas de lanças, mesmo que

venha a óbito, caracteriza clara situação de legítima defesa preordenada, necessária e

moderada. Pois, a vítima, mesmo sabendo do perigo que corria ao ultrapassar o obstáculo,

decidiu por enfrentá-lo, tendo a plena convicção de que ia evitar a lesão.384

3.6 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL

Neste item da presente monografia, será realizado um breve estudo

jurisprudencial, sobres os pontos mais relevantes e polêmicos, tratados pelos mais renomados

doutrinadores penalistas, acerca da legítima defesa.

Vejamos este julgado do Tribunal de Justiça gaúcho:

A ausência de qualquer um dos requisitos da legítima defesa afasta esta excludente. Existindo a materialidade e os indícios da autoria, e havendo dúvida quanto ao requisito da atualidade na alegada legítima defesa, deve o réu ser submetido a

381 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral. v.1. p.347. 382 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral.v. 1. p.346. 383 JESUS, Damásio E. de. Direito penal. parte geral.v.1. p.398. 384 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.247.

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julgamento pelo Tribunal do Júri. (TJRS, RC 70000951863, Rel. Silvestre Jasson Ayres Torres, j. 31-5-2000).385

Exigi-se para que a defesa seja legítima, a presença de todos os

requisitos desta excludente da antijuridicidade, que são: agressão injusta, atual ou iminente;

direito próprio ou de terceiro, atacado ou posto em perigo de ser agredido; utilização dos

meios necessários; e por último o uso moderado desses meios. Pois, a falta de qualquer um

deles, implica na descaracterização da legítima defesa, como bem explanado na jurisprudência

acima. Tendo em vista que, no rito especial do Tribunal do Júri, vigora sempre o princípio do

in dúbio pro societate. 386

Extrai-se do Tribunal do Estado do Paraná, a seguinte jurisprudência:

A honra é atributo personalíssimo, não podendo ser maculada pela conduta desonrosa de outrem. Assim, qualquer injúria à mulher pode atingir a sua própria honra, não a do marido, assim como não se pode considerar em legítima defesa o marido que perpetra violência contra mulher adúltera e seu cúmplice (TJPR, AC, Rel. Edson Malachini, RT, 681:373)387

Vale ressaltar que a honra que é realmente atingida nos casos de

adultério, é a do cônjuge adúltero e não do cônjuge inocente, pois a honra é individual, cada

um com a sua. Assim, a honra do infiel é que foi realmente atingida, pois foi ele quem violou

as regras do casamento. Há que se considerar ainda, que não existiria mais atualidade na

agressão, pois com o começo do relacionamento adúltero, o fato já se caracterizaria como

consumado.388

O homicídio, se algum dia for acolhido pelo ordenamento jurídico

como uma solução para restabelecer a honra que foi manchada pelo adultério, será a prova

mais clara de involução, a volta dos costumes mais perversos, um passo que é inadmissível

em um povo que zela, cada vez mais, por uma sociedade que saiba respeitar os valores e

direitos básicos de cada um.389

Na legítima defesa à agressão deve ser imediata, como bem explica a

seguinte jurisprudência:

Não pode invocar a legítima defesa aquele que, depois de encerrada a agressão, arma-se e parte para a desforra contra o desafeto – Para caracterizar a excludente, a reação deve ser imediata, sob de ser considerada apenas ato de vingança, além de

385 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado.p.102. 386 BARROS, Flávio Augusto Monteiro de. Direito penal: parte geral.v.1. p.332. 387 BITENCOURT, Cezar Roberto. Código penal comentado.p.103. 388 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.251. 389 NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado.p.253.

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não poder ser excessiva, fruto de agressão sugerida pelo agente, que atua como provocador (TJSC – JCAT 96/555).390

Nesse sentido, Júlio Fabbrini Mirabete assevera que, a legítima defesa

só se configura contra agressão atual ou iminente. Não é cabível a excludente da legítima

defesa contra agressão presente em futuro remoto, ou que já tenha terminada. 391

No que tange ao excesso punível na legítima defesa, destaca-se o

seguinte julgado:

Excesso punível: Legítima defesa – Agente que revida agressão da vítima de forma excessiva, desferindo-lhe chutes – Exclusão da ilicitude – Impossibilidade – Inteligência – Art. 23, parágrafo único, do Código Penal. É impossível a exclusão da ilicitude, por legítima defesa, na conduta de agente que revida agressão da vítima de forma excessiva, desferindo-lhe chutes, uma vez que resta caracterizado o excesso doloso punível. Ementa oficial – Legítima defesa. Caracterização na prova que, sem embargo, também indica a ocorrência de excesso doloso punível na ação do acusado. Condenação pertinente (TACrim, 11ª Câm., Ap. 1.253.865/6, Rel. Juiz Ricardo Dip, j. 16-04-2001, RJTACrim 54/122).392

O excesso doloso acontece quando o agente, ao se defender de uma

agressão injusta, utiliza-se conscientemente de meios desnecessários, atuando com

imoderação. No excesso doloso o agente tem plena consciência de que está agindo de forma

desnecessária, impondo ao agressor um dano mais gravoso do que se determina, instigado por

motivos que se encontram fora da legítima defesa (vingança, hostilidade intensa,

perversidade, etc.).393

No que se refere à legítima defesa de terceiro, interessante a

transcrição de trecho da jurisprudência do Tribunal paulista e paranaense sobre o tema, veja-

se:

Legítima defesa de terceiro: Age em legítima defesa quem, vendo conhecido seu na iminência de ser atingido por uma pessoa, ainda que seu conhecido houvesse dado início à contenda, agride o portador da arma moderadamente (TAPR, RT 638/330). Igualmente, o segurança particular que reage a ataque injusto à pessoa do patrão ou do patrimônio deste (TJSP, RT 786/632).394

A legítima defesa de terceiro ocorre quando o agente defende o direito

de uma terceira pessoa, pode ser qualquer direito, são eles: o direito a vida, liberdade

individual, patrimônio, liberdade sexual, dentre outros. A defesa legítima do direito alheio, é

390 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.249. 391 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.246. 392 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.103. 393 CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal: parte geral (art. 1º a 120).v.1. p.288. 394 DELMANTO, Celso. Código penal comentado.p.99.

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um dos requisitos básicos da legítima defesa, e está descrito no caput do art. 25 do Código

Penal brasileiro. 395

Um tema bastante controvertido na jurisprudência, é a legítima defesa

e aberratio ictus, como observaremos em seguida:

Legítima defesa e aberratio ictus – TJAL: Reagindo contra injusta agressão, pelo único meio que viu indispensável para repelir agressão atual, exercita o agente o direito de defesa, sendo sua ação penalmente inócua, mesmo que, atingindo fatalmente seu agressor, também tenha alvejado e ferido outra pessoa que ocasionalmente passava pelo local (RT 741/652). TJSP: A legítima defesa é perfeitamente admissível quando terceiro vem a ser atingido, em hipótese de aberratio ictus, pelo acusado (RT 600/321). No mesmo sentido, TJSP: RT 393/129. CONTRA – TACRSP: No ato de defesa pode ser atingida pessoa diversa da do agressor, ou por aberratio ictus, ou por error in persona. Em qualquer dos casos não se pode reconhecer a legítima defesa, pois esta inexiste fora de suas condições objetivas, entre as quais a de que a repulsa seja exercida contra o injusto agressor (RT 569/315).396

Segundo entendimento de Luiz Flávio Gomes sobre a legítima defesa

e aberratio ictus, o agente agindo em legítima defesa real, erra na execução e acaba tirando à

vida de um inocente, estará ele absolvido na esfera penal, todavia, responderá na esfera cível,

sendo indenizado por danos civis. 397

Paulo José da Costa Jr., afirma que poderá o ofendido, “por erro nos

meios de execução (aberratio ictus), atingir terceiro que não o agrediu. Será igualmente

beneficiado da excludente de ilicitude, pois se considera o fato como se fosse praticado contra

a pessoa à qual fora endereçado”398.

Por fim, vale destacar um trecho da jurisprudência do Tribunal de

Minas Gerais extraída da obra de Celso Delmanto, acerca dos ofendículos: “Armadilhas de

defesa (offendicula): Caracteriza-se legítima defesa se instalou cerca eletrificada no interior

de propriedade rural, causando a morte de ladrão (TAMG, Ap. 16.190, j. 28.6.88)”.399

A questão do ofendículo é bastante discutida na doutrina, uns dizem

que é legítima defesa preordenada, outros sustentam a tese de que as ofendículas são hipóteses

de exercício regular de direito.

Ricardo Antonio Andreucci explana a respeito da matéria:

395 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: parte geral: teoria constitucionalista do delito.v.3. p.242. 396 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código penal interpretado.p.252. 397 GOMES, Luiz Flávio. Direito penal: parte geral: teoria constitucionalista do delito.v.3. p.246. 398 COSTA JR., Paulo José da. Código penal comentado.p.102. 399 DELMANTO, Celso. Código penal comentado.p.99.

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Constituem as ofendículas exercício regular de direito quanto ao aspecto de sua instalação ou colocação, tendo o titular do bem ou interesse o direito de autoproteger-se. Quando operam as ofendículas, entretanto, constituem hipóteses de legítima defesa preordenada.400

Contudo, o mais correto é analisar cada caso concreto separadamente,

respeitando sempre os requisitos descritos no art. 25 do Código Penal, correndo por conta de

quem utiliza-se desses meios, os riscos que apresentam.

400 ANDREUCCI, Ricardo Antonio. Mini código penal anotado.p.80.

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CONCLUSÃO

A excludente da legítima defesa, é dita por vários estudiosos do direito

como uma das causas de justificação mais antiga, presentes nas legislações penais mais

remotas.

A legítima defesa que está prevista no art. 23 do Diploma Penal é um

causa de exclusão da ilicitude ou de antijuridicidade, desse modo, quem atua em legítima

defesa, não pratica delito algum. É uma defesa indispensável, contra uma agressão injusta,

atual ou iminente, que fere direito próprio ou alheio, onde sempre deverá ser observado pelo

órgão julgador o meio necessário que foi utilizado pelo agente na repulsa, e também se usou

este meio de forma moderada e proporcional.

Podemos afirmar que a pessoa que age em legítima defesa, está por

sua vez substituindo o Estado, pois é impossível nos dias de hoje, o Estado atuar em todos os

lugares e ao mesmo tempo. Assim, quem paga mais com isso é a sociedade, que paga uma

enormidade de impostos, e o que se vê na verdade é a falência completa dos órgãos de

segurança pública. A defesa quando legítima, é uma maneira lícita que permite ao particular

garantir a ordem jurídica.

Se o indivíduo atuar em legítima defesa, e cometer um ilícito, se a

situação dos fatos comprovarem que este realmente agiu em legítima defesa, a excludente não

desaparecerá. Mesmo tendo ele a certeza de que agiu de forma equivocada, nada obsta a

proteção de fato de um direito que é a legítima defesa.

É importante distinguir que, se o agente se defende opondo-se ao

ilícito, estará ele atuando em harmonia com o direito. Aquele que comete homicídio agindo

em situação de legítima defesa, exerce a conduta tipificada no art. 121 do Diploma Penal

brasileiro, todavia, ele não comete o ilícito, pois agiu acobertado por uma excludente da

ilicitude.

A legítima defesa tem que ser uma tutela moderada e proporcional,

podendo ir desde uma simples defesa até um ataque violento, contudo, isso irá depender da

intensidade da agressão. Entre a repulsa e o perigo provocado pelo ataque injusto, sempre

deverá existir um equilíbrio.

Importante destacar a diferença entre a legítima defesa e o estado de

necessidade, neste, não existe uma agressão, pois cada indivíduo defende um direito próprio,

enquanto que, a legítima defesa só existi contra uma ação humana, e o estado de necessidade

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poderá proceder da força da natureza. Explicando de modo mais simples, podemos afirmar

que o estado de necessidade requer ação, já a legítima defesa requer uma reação.

Por fim, a legítima defesa, à medida em que se constitui num instituto

de tutela ao direito injustamente atacado, apresenta-se para a sociedade como sendo um

instituto muito necessário, aliás, é da natureza do ser humano defender-se das agressões

injustas. É certo que os instintos naturais também estão sujeitos as leis da evolução, todavia, o

direito deve estar em harmonia com a época a qual se encontra, visto que, a máxima

evangélica de oferecer a outra face ao agressor, que de certo modo não permite a reação à

agressão, não tem encontrado muito respaldo na vida social.

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