excerto literatura e sociedade

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    É verdade que a barbárie continua até crescendo, mas não se vê mais o seu elogio, comose todos soubessem que ela é algo a ser ocultado e não proclamado. Sob este aspecto, ostribunais de Nuremberg foram um sinal dos tempos novos, mostrando que já não éadmissível a um general vitorioso mandar faer inscri!"es diendo que construiu uma

     pir#mide com as cabe!as dos inimigos mortos, ou que mandou cobrir as mural$as de

     Nínive com as suas peles escorc$adas. %aem&se coisas parecidas e até piores, mas elasnão constituem motivo de celebra!ão. 'ara emitir uma nota positiva no fundo do $orror,ac$o que isso é um sinal favorável, pois se o mal é praticado, mas não

     proclamado, quer dier que o $omem não o ac$a mais tão natural. No mesmo sentido eu interpretaria certas mudan!as no comportamento quotidiano e nafraseologia das classes dominantes. (oje não se afirma com a mesma tranq)ilidade domeu tempode menino que $aver pobres é a vontade de *eus, que eles não têm as mesmasnecessidades dosabastados, que os empregados domésticos não precisam descansar, que s+ morre defome quem for 

    vadio , e coisas assim. -iste em rela!ão ao pobre uma nova atitude, que vai dosentimento deculpa até o medo. Nas caricaturas dos jornais e das revistas, o esfarrapado e o negro nãosão maistema predileto das piadas, porque a sociedade sentiu que eles podem ser um fator derompimento deestado de coisas, e o temor é um dos camin$os para a compreensão.

    É claro que ninguém seempen$a para que de fato isto aconte!a, mais tais atitudes e pronunciamentos parecemmostrar queagora a imagem da injusti!a social constrange, e que a insensibilidade em face damiséria deve ser 

     pelo menos disfar!ada, porque pode comprometer a imagem dos dirigentes. -sta$ipocrisiageneraliada, tributo que a iniq)idade paga / injusti!a, é um modo de mostrar que osofrimento jánão deia tão indiferente / média da opinião.

    *e um #ngulo otimista, tudo isso poderia ser encarado como manifesta!ão infusa daconsciência cada ve mais generaliada de que a desigualdade é insuportável e pode ser

    atenuadaconsideravelmente no estágio atual dos recursos técnicos e de organia!ão. Nessesentido, talve se

     possa falar de um progresso no sentimento do pr+imo, mesmo sem a disposi!ãocorrespondente deagir em conson#ncia. - aí entra o problema dos que lutam para que isso aconte!a, ouseja0 entra o

     problema dos direitos $umanos.'or quê1 'orque pensar em direitos $umanos tem um pressuposto0 recon$ecer queaquiloque consideramos indispensável para n+s é também indispensável para o pr+imo. -sta

    me parece a

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    essência do problema, inclusive no plano estritamente individual, pois é necessário umgrandeesfor!o de educa!ão e auto&educa!ão a fim de recon$ecermos sinceramente este

     postulado. Naverdade, a tendência mais funda é ac$ar que os nossos direitos são mais urgentes que os

    do pr+imo.

     Nesse ponto, as pessoas são freq)entemente vítimas de uma curiosa obnubila!ão. -lasafirmam que o pr+imo tem direito, sem d2vida, a certos bens fundamentais, como casa,comida,instru!ão, sa2de , coisas que ninguém bem formado admite $oje em dia que sejam

     privilégio de minorias, como são no 3rasil. 4as será que pensam que seu semel$ante pobre teria direito a ler *ostoievs5i ou ouvir os quartetos de 3eet$oven1 6pesar das boas inten!"es no outrosetor, talve

    isto não l$es passe pela cabe!a. - não por mal, mas somente porque quando arrolam osseus direitosnão estendem todos eles ao semel$ante. 7ra, o esfor!o para incluir o semel$ante nomesmo elencode bens que reivindicamos está na base da refleão sobre os direitos $umanos.

    'or isso, a luta pelos direitos $umanos pressup"e a considera!ão de tais problemas, ec$egando mais perto do tema eu lembraria que são bens incompressíveis não apenas osqueassegurem sobrevivência física em níveis decentes, mas os que garantem a integridadeespiritual.São incompressíveis certamente a alimenta!ão, a moradia, o vestuário, a instru!ão, asa2de, aliberdade individual, o amparo da justi!a p2blica, a resistência / opressão etc.8 etambém o direito /cren!a, / opinião, ao laer e, por que não, / arte e / literatura.

    9iteratura0

    :$amarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as cria!"es de toque poético,ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos decultura, desde oque c$amamos de folclore, lenda, c$iste, até as formas mais compleas e difíceis da

     produ!ãoescrita das grandes civilia!"es.

    6 presen!a do princípio literário no cotidiano0

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    ;ista deste modo, a literatura aparece claramente como manifesta!ão universal de todosos$omens em todos os tempos. Não $á povo e não $á $omem que possa viver sem ela, istoé, sem a

     possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabula!ão. 6ssim como todos

    son$amtodas as noites, ninguém é capa de passar as vinte e quatro $oras do dia sem algunsmomentos deentrega ao universo fabulado. 7 son$o assegura durante o sono a presen!a indispensáveldeste<universo, independente da nossa vontade. - durante a vigília, a cria!ão ficcional ou

     poética, que é amola da literatura em todos os seus níveis e modalidades, está presente em cada um den+s,analfabeto ou erudito como anedota, causo, $ist+ria em quadrin$os, noticiário policial,

    can!ão popular, moda de viola, samba carnavalesco. -la se manifesta desde o devaneioamoroso ouecon=mico no =nibus até a aten!ão fiada na novela de televisão ou na leitura seguidade umromance.7ra, se ninguém pode passar vinte e quatro $oras sem mergul$ar no universo da fic!ão eda

     poesia, a literatura concebida no sentido amplo a que me referi parece corresponder aumanecessidade universal, que precisa ser satisfeita e cuja satisfa!ão constitui um direito.

    6 literatura como algo essencial ao $omem0

    6lterando o conceito de 7tto >an5e sobre o mito, podemos dier que a literatura é oson$oacordado das civilia!"es. 'ortanto, assim como não é possível $aver equilíbrio

     psíquico sem oson$o durante o sono, talve não $aja equilíbrio social sem a literatura. *este modo, elaé fator 

    indispensável de $umania!ão e, sendo assim, confirma o $omem na sua $umanidade,inclusive porque atua em grande parte no subconsciente e no inconsciente. Neste sentido, ela pode ter import#ncia equivalente / das formas conscientes de inculcamento intencional, como aeduca!ãofamiliar, grupal ou escolar. :ada sociedade cria as suas manifesta!"es ficcionais,

     poéticas edramáticas de acordo com os seus impulsos, as suas cren!as, os seus sentimentos, assuas normas, afim de fortalecer em cada um a presen!a e atua!ão deles.

    'or isso é que em nossas sociedades a literatura tem sido um instrumento poderoso de

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    instru!ão e educa!ão, entrando nos currículos, sendo proposta a cada um comoequipamentointelectual e afetivo. 7s valores que a sociedade preconia, ou os que considera

     prejudiciais, estão presentes nas diversas manifesta!"es da fic!ão, da poesia e da a!ão dramática. A

    literatura confirmae nega, propõe e denuncia, apóia e combate, fornecendo a possibilidade devivermos dialeticamenteos problemas. Por isso é indispensável tanto a literatura sancionada quanto aliteratura proscrita; aque os poderes sugerem e a que nasce dos movimentos de negação do estado decoisaspredominante.

    Ambivalncia da literatura! edificação e questionamento!

     Numa palestra feita $á mais de quine anos em reunião da Sociedade 3rasileira para o'rogresso da :iência sobre o papel da literatura na forma!ão do $omem, c$amei aaten!ão entreoutras coisas para os aspectos paradoais desse papel, na medida em que os educadoresao mesmotempo preconiam e temem o efeito dos tetos literários. *e fato ?diia eu@, $á Aconflitoentre aidéia convencional de uma literatura que eleva e edifica ?segundo os padr"es oficiais@ ea sua

     poderosa for!a indiscriminada de inicia!ão na vida, com uma variada compleidadenem sempredesejada pelos educadores. -la não corrompe nem edifica, portanto8 mas traendolivremente em sio que c$amamos o bem e o que c$amamos o mal, $umania em sentido profundo,

     porque faviverB.

    6s faces da literatura0

    6 fun!ão da literatura está ligada / compleidade da sua naturea, que eplica inclusiveo

     papel contradit+rio, mas $umaniador ?talve $umaniador porque [email protected]&a, podemos distinguir pelo menos três faces0 ?C@ ela é uma constru!ão de objetosaut=nomos comoestrutura e significado8 ?D@ ela é uma forma de epressão, isto é, manifesta emo!"es e avisão domundo dos indivíduos e dos grupos8 ?E@ ela é uma forma de con$ecimento, inclusivecomoincorpora!ão difusa e inconsciente.

    -m geral pensamos que a literatura atua sobre n+s devido ao terceiro aspecto, isto é, porque

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    transmite uma espécie de con$ecimento, que resulta em aprendiado, como se ela fosseum tipo deinstru!ão. 4as não é assim. 7 efeito das produ!"es literárias é devido / atua!ãosimult#nea dos trêsaspectos, embora costumemos pensar menos no primeiro, que corresponde / maneira

     pela qual amensagem é construída8 mas esta maneira é o aspecto, senão mais importante, comcertea crucial,

     porque é o que decide se uma comunica!ão é literária ou não. :omecemos por ele.

    A literatura modelo e coerncia diante da e"perincia difusa!

    *e fato, quando elaboram uma estrutura, o poeta ou o narrador nos prop"e um modelodecoerência, gerado pela for!a da palavra organiada. Se fosse possível abstrair o sentidoe pensar nas

     palavras como tijolos de uma constru!ão, eu diria que esses tijolos representam ummodo deorganiar a matéria, e que enquanto organia!ão eles eercem papel ordenador sobre anossa mente.Fuer percebamos claramente ou não, o caráter de coisa organiada da obra literáriatorna&se umfator que nos deia mais capaes de ordenar a nossa pr+pria mente e sentimentos8 e, emconseq)ência, mais capaes de organiar a visão que temos do mundo.

    Por isso, um poema #ermético, de entendimento dif$cil, sem nen#uma alusãotang$vel %realidade do esp$rito ou do mundo, pode funcionar neste sentido, pelo fato de serum tipo de ordem,sugerindo um modelo de superação do caos. A produção literária tira as palavrasdo nada e asdispõe como um todo articulado. &ste é o primeiro n$vel #umani'ador, ao contráriodo quegeralmente se pensa. A organi'ação da palavra comunica(se ao nosso esp$rito e oleva, primeiro, ase organi'ar; em seguida, a organi'ar o mundo. )sto ocorre desde as formas maissimples, como a

    quadrin#a, o provérbio, a #istória de bic#os, que sinteti'am a e"perincia e aredu'em a sugestão,norma, consel#o ou simples espetáculo mental.

    -mpalavras usuais! o conte*do só atua por causa da forma, e a forma tra' em si,virtualmente, umacapacidade de #umani'ar devido % coerncia mental que pressupõe e que sugere.

    +umani'ação!

    -ntendo aqui por $umania!ão ?já que ten$o falado tanto nela@ o processo que confirmano

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    $omem aqueles tra!os que reputamos essenciais, como o eercício da refleão, aaquisi!ão dosaber, a boa disposi!ão para com o pr+imo, o afinamento das emo!"es, a capacidade de

     penetrar nos problemas da vida, o senso da belea, a percep!ão da compleidade do mundo e dos

    seres, ocultivo do $umor. 6 literatura desenvolve em n+s a quota de $umanidade na medida emque nostorna mais compreensivos e abertos para a naturea, a sociedade, o semel$ante.

    9iteratura empen$ada, riscos0

    %alemos, portanto, alguma coisa a respeito das produ!"es literárias nas quais o autordesejaepressamente assumir posi!ão em face dos problemas. *isso resulta uma literaturaempen$ada,

    que parte de posi!"es éticas, políticas, religiosas ou simplesmente $umanísticas. Sãocasos em que oautor tem convic!"es e deseja eprimi&las8 ou parte de certa visão da realidade e amanifesta comtonalidade crítica. *aí pode surgir um perigo0 afirmar que a literatura s+ alcan!a averdadeirafun!ão quando é deste tipo.?...@operária. São posi!"es fal$as e prejudiciais / verdadeira produ!ãoliterária, porque têm como pressuposto que ela se justifica por meio de finalidadesal$eias ao planoestético, que é o decisivo. e fato, sabemos que em literatura uma mensagem ética,pol$tica,religiosa ou mais geralmente social só tem eficincia quando for redu'ida aestrutura literária, aforma ordenadora. -ais mensagens são válidas como quaisquer outras, e nãopodem ser proscritas;mas a sua validade depende da forma que l#es dá e"istncia como um certo tipo deobeto.

    6nimado pelos mesmos sentimentos Gde :astro 6lvesH e dotado de temperamento

    igualmente generoso foi 3ernardo Iuimarães, que escreveu o romance 6 escrava Jsauratambémcomo libelo. No entanto, visto que s+ a inten!ão e o assunto não bastam, esta é umaobra de máqualidade e não satisfa os requisitos que asseguram a eficiência real do teto. 6 paiãoabolicionista estava presente na obra de ambos os autores, mas um deles foi capa decriar aorgania!ão literária adequada e o outro não. 6 eficácia $umana é fun!ão da eficáciaestética e,

     portanto, o que na literatura age como for!a $umaniadora é a pr+pria literatura, ou seja,a

    capacidade de criar formas pertinentes.

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    7 pobre entra na literatura0 literatura social e base rom#ntica0

    6ssim, o pobre entra de fato e de ve na literatura como tema importante, tratado com

    dignidade, não mais como delinq)ente, personagem c=mico ou pitoresco. -nquanto deum lado ooperário come!ava a se organiar para a grande luta secular na defesa dos seus direitosao mínimonecessário, de outro lado os escritores come!avam a perceber a realidade dessesdireitos, iniciando

     pela narrativa da sua vida, suas quedas, seus triunfos, sua realidade descon$ecida pelasclasses bemaquin$oadas. -ste fen=meno é em grande parte ligado ao >omantismo, que, se teveaspectosfrancamente tradicionalistas e conservadores, teve também outros messi#nicos e

    $umanitários degrande generosidade, bastando lembrar que o socialismo, que se configurou naquelemomento, ésob muitos aspectos um movimento de influência rom#ntica.

    4uito da literatura messi#nica e $umanitária daquele tempo ?não estou incluindo*ostoievs5i, que é outro setor@ nos parece $oje declamat+ria e por vees c=mica. 4as écurioso queo seu travo amargo resiste no meio do que já envel$eceu de ve, mostrando que a

     preocupa!ão como que $oje c$amamos direitos $umanos pode dar / literatura uma for!a insuspeitada. -reciprocamente, que a literatura pode incutir em cada um de n+s o sentimento deurgência de tais

     problemas. 'or isso, creio que a entrada do pobre no temário do romance, no tempo do>omantismo, e o fato de ser tratado nele com a devida dignidade, é um momentorelevante nocapítulo dos direitos $umanos através da literatura.

    Síntese0

    6cabei de focaliar a rela!ão da literatura com os direitos $umanos de dois #ngulos

    diferentes. 'rimeiro, verifiquei que a literatura corresponde a uma necessidade universalque deveser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aossentimentos e /visão do mundo ela nos organia, nos liberta do caos e, portanto, nos $umania. Negar afrui!ão daliteratura é mutilar a nossa $umanidade. -m segundo lugar, a literatura pode ser uminstrumentoconsciente de desmascaramento, pelo fato de focaliar as situa!"es de restri!ão dosdireitos, ou denega!ão deles, como a miséria, a servidão, a mutila!ão espiritual. Kanto num nível

    quanto no outroela tem muito a ver com a luta pelos direitos $umanos.

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    Sobre o acesso / literatura0

    6 organia!ão da sociedade pode restringir ou ampliar a frui!ão deste bem$umaniador. 7

    que $á de grave numa sociedade como a brasileira é que ela mantém com a maiordurea aestratifica!ão das possibilidades, tratando como se fossem compressíveis muitos bensmateriais eespirituais que são incompressíveis. -m nossa sociedade $á frui!ão segundo as classesna medidaem que um $omem do povo está praticamente privado da possibilidade de con$ecer eaproveitar aleitura de 4ac$ado de 6ssis ou 4ário de 6ndrade. 'ara ele, ficam a literatura de massa,o folclore,a sabedoria espont#nea, a can!ão popular, o provérbio. -stas modalidades são

    importantes e nobres,mas é grave considerá&las como suficientes para a grande maioria que, devido / pobreae /ignor#ncia, é impedida de c$egar /s obras eruditas.

    6o mesmo tempo, 4ário de 6ndrade incrementou a pesquisa folcl+rica e etnográfica,valoriando as culturas populares, no pressuposto de que todos os níveis são dignos eque aocorrência deles é fun!ão da din#mica das sociedades. -le entendia a princípio que ascria!"es

     populares eram fontes das eruditas, e que de modo geral a arte vin$a do povo. 4aistarde, inclusivedevido a uma troca de idéias com >oger 3astide, sentiu que na verdade $á uma correnteem doissentidos, e que a esfera erudita e a popular trocam influências de maneira incessante,faendo dacria!ão literária e artística um fen=meno de vasta intercomunica!ão.

    Jsto fa lembrar que, envolvendo o problema da desigualdade social e econ=mica, está o problema da intercomunica!ão dos níveis culturais. Nas sociedades que procuram

    estabelecer regimes igualitários, o pressuposto é que todos devem ter a possibilidade de passar dosníveis

     populares para os níveis eruditos como conseq)ência normal da transforma!ão deestrutura,

     prevendo&se a eleva!ão sensível da capacidade de cada um gra!as / aquisi!ão cada vemaior decon$ecimentos e eperiências. Nas sociedades que mantêm a desigualdade como norma,e é o casoda nossa, podem ocorrer movimentos e medidas, de caráter p2blico ou privado, paradiminuir o

    abismo entre os níveis e faer c$egar ao povo os produtos eruditos. 4as, repito, tantonum caso

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    quanto no outro está implícita como questão maior a correla!ão dos níveis. - aí aeperiênciamostra que o principal obstáculo pode ser a falta de oportunidade, não a incapacidade.

    Jnteressante0 eemplo0

    A partir de /012 e do famoso 3ongresso de &scritores de 4ar5ov, generali'ou(se aquestãoda 6literatura proletária7, que vin#a sendo debatida desde a vitória da 8evolução8ussa, #avendouma espécie de convocação universal em prol da produção socialmenteempen#ada. 9ma dasalegações era a necessidade de dar ao povo um tipo de literatura que o interessasserealmente,porque versava os seus problemas espec$ficos de um :ngulo progressista. estaocasião, um escritor

    francs bastante empen#ado, mas não sectário,

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    iniq)idade, pois como é sabido temos de um lado os mais altos níveis de instru!ão e deculturaerudita, e de outro a massa numericamente predominante de espoliados, sem acesso aos

     bens desta,e aliás aos pr+prios bens materiais necessários / sobrevivência.

    :7N:9SM70

    'ortanto, a luta pelos direitos $umanos abrange a luta por um estado de coisas em quetodos possam ter acesso aos diferentes níveis de cultura. 6 distin!ão entre cultura

     popular e cultura erudita não deve servir para justificar e manter uma separa!ão iníqua,como se do ponto de vistacultural a sociedade fosse dividida em esferas incomunicáveis, dando lugar a dois tiposincomunicáveis de fruidores. ma sociedade justa pressup"e o respeito dos direitos$umanos, e afrui!ão da arte e da literatura em todas as modalidades e em todos os níveis é um direito

    inalienável.?COPP@

    :6N*J*7, 6ntonio. ;ários escritos. EQ ed. revista e ampliada. São 'aulo0 *uas:idades, COOR.@