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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, pela Defensora Pública que esta subscreve, com endereço profissional para intimação pessoal, conforme determina o artigo 128, inciso I da Lei Complementar 80/94, na Av. Santos Dumont, 1535, Ferraz de Vasconcelos/SP, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 5º, incisos LXVIII e LXXVII, da Constituição da República e artigos 647 e seguintes do Código de Processo Penal, impetrar a presente ordem de HABEAS CORPUS com PEDIDO LIMINAR em favor de DANIEL MARCOLINO DA SILVA, brasileiro, solteiro, RG nº 57.389.208-8, nos autos do processo n.º 0007700-51.2014.8.26.0191, indicando como Av. Santos Dumont, 1535 - Ferraz de Vasconcelos/SP – CEP: 08531- 100 – Tel.: (11) 4678-3076. 1

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO COLENDO SUPERIOR

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, pela

Defensora Pública que esta subscreve, com endereço profissional para intimação

pessoal, conforme determina o artigo 128, inciso I da Lei Complementar 80/94, na Av.

Santos Dumont, 1535, Ferraz de Vasconcelos/SP, vem, respeitosamente, à presença de

Vossa Excelência, com fulcro no artigo 5º, incisos LXVIII e LXXVII, da Constituição da

República e artigos 647 e seguintes do Código de Processo Penal, impetrar a presente

ordem de

HABEAS CORPUS com PEDIDO LIMINAR

em favor de DANIEL MARCOLINO DA SILVA, brasileiro, solteiro,

RG nº 57.389.208-8, nos autos do processo n.º 0007700-51.2014.8.26.0191, indicando

como autoridade coatora o E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o que faz

lastreado nos motivos de fato e de direito doravante delineados.

I – DOS FATOS

Av. Santos Dumont, 1535 - Ferraz de Vasconcelos/SP – CEP: 08531-100 – Tel.: (11) 4678-3076.1

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O Paciente foi representado e processado pela suposta prática

de atos infracionais correspondentes aos crimes previstos nos artigos 129, 329 e 331,

todos do Código Penal, porque no dia 18 de agosto de 2014, por volta das 19h50min,

no local descrito na representação, teria ofendido a integridade física de Alex Sandro

Vascom dos Santos, desacatado os guardas civis Edivaldo Oliveira e Rosângela

Nascimento, assim como, supostamente, resistiu à execução de ato legal.

Em audiência de apresentação, explicou que a vítima se

recusou a entregar-lhe suco, lhe empurrou para fora da cozinha, e, por isso, jogou a

jarra na cabeça da vítima. Negou ter xingado as supostas vítimas.

Na audiência de instrução foram ouvidas as supostas vítimas e

as testemunhas e, declarada encerrada a instrução, o Ministério Público, em

memoriais, manifestou-se pela procedência da representação e aplicação de

liberdade assistida. No mesmo sentido, a Defensoria Pública pugnou pela parcial

procedência e aplicação de medida protetiva, consistente em acompanhamento

psicológico por tempo indeterminado, e, subsidiariamente, pela aplicação exclusiva

de liberdade assistida.

Contudo, a despeito do pedido formulado pelo órgão

acusatório, o Magistrado a quo responsabilizou o adolescente, imputando-lhe medida

de internação por prazo adequado, com sugestão de reavaliação em quatro meses,

acompanhada de avaliação e sessões psicoterápicas (fls. 160/166).

Diante do evidente constrangimento ilegal sofrido pelo

Paciente, impetrou-se ordem de Habeas Corpus perante o E. Tribunal de Justiça.

Todavia, o Ilmo. Desembargador Relator Eros Piceli, entendendo pela falta de interesse

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de agir julgou extinto o aludido remédio constitucional.

Desta feita, alternativa não há se não a impetração de nova

ordem perante esta Colenda Corte Superior.

Eis a síntese dos fatos.

II – DO DIREITO

II.1 – DA SUPERAÇÃO DA SÚMULA 691 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA

CONHECIMENTO DESTE WRIT

A despeito do teor da Súmula 691 do STF, que prevê não

competir àquele Tribunal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do

Relator que, em habeas corpus requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar, no

caso sob análise, principalmente por se tratar de decisão terminativa, que, portanto,

inviabiliza a adoção de qualquer medida perante àquela instância, há evidente

ilegalidade ocasionada por decisão teratológica, tanto do MM. Juiz da Vara da

Infância e Juventude de Ferraz de Vasconcelos, como a proferida pelo Ilmo.

Desembargador, restando devidamente justificado o manejo da presente ação

constitucional.

O Exmo. Desembargador Relator do HC apresentado indeferiu

liminarmente o pleito por considerar inexistir interesse de agir da defesa do manejo

da ordem constitucional, pela inadequação da via eleita. Respeitosamente, não há

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falar-se em inadequação da via eleita, tendo em vista que em outubro de 2014 foi

proposto Recurso de Apelação, que, segundo andamento fornecido pelo sítio

eletrônico do próprio Tribunal, apenas em janeiro de 2015 foi encaminhada àquela

Corte para julgamento. Desta feita, ainda que pudesse se cogitar da inadequação da

via eleita, há EVIDENTE incompatibilidade entre o objeto da Apelação e a delonga

(superior a 3 meses) apenas para o envio dos autos ao Tribunal ad quem.

Contudo, também não há falar-se em inadequação da via

eleita diante do OBJETO do presente remédio, que visa sanar constrangimento ilegal

à liberdade de locomoção do Paciente, que encontra-se privado de sua liberdade em

razão de decisão do Juízo a quo que, além de evidentemente desproporcional, não

observou requisitos legais expressos. A teratologia das citadas decisões é marcante.

Assim, como é cediço, em casos de grave ilegalidade, abuso e

teratologia, como o presente, tanto o STJ como o STF têm superado o disposto na

súmula para conhecer do writ. Nesse sentido:

“HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.

ATO INFRACIONAL EQUIPARADO A TRÁFICO ILÍCITO DE

ENTORPECENTES. INTERNAÇÃO POR PRAZO INDETERMINADO.

ROL TAXATIVO DO ART. 122 DO ECA. AUSÊNCIA DE VIOLÊNCIA

OU GRAVE AMEAÇA. IMPETRAÇÃO CONTRA DECISÃO QUE

NEGOU O PEDIDO DE TUTELA LIMINAR. SÚMULA 691/STF.

FLAGRANTE ILEGALIDADE. PARECER DO MPF PELO NÃO

CONHECIMENTO E PELA CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO.

ORDEM NÃO CONHECIDA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO DE

OFÍCIO, APENAS PARA ANULAR A SENTENÇA DE PRIMEIRO

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GRAU, TÃO-SOMENTE NO TOCANTE À MEDIDA DE

INTERNAÇÃO, A FIM DE QUE OUTRO DECISUM SEJA

PROLATADO.

1. Não se admite a impetração de Habeas Corpus neste STJ

contra decisão monocrática denegatória de liminar em writ

anterior, sob pena de indevida supressão de instância, a teor da

Súmula 691 do colendo STF.

2. Todavia, é assente, a possibilidade de mitigação desse

enunciado, em hipóteses excepcionais, como no caso em que

emergir dos autos situação de flagrante ilegalidade ou de

abuso de poder.

3. Esta Corte já pacificou a orientação de que a gravidade do

ato infracional equiparado ao tráfico de entorpecentes, por si

só, não autoriza a aplicação da medida sócio-educativa de

internação.

4. No caso em apreço, verifica-se que a decisão combatida

padece de flagrante ilegalidade, uma vez que diverge da

orientação já pacificada nesta Corte Superior, ensejando, no

caso, a mitigação do enunciado 691/STF.

5. Parecer do Ministério Público Federal pelo não

conhecimento e pela concessão da ordem de ofício.

6. Ordem não conhecida. Habeas Corpus concedido de ofício,

para anular a sentença de primeiro grau, tão-somente no

tocante à medida de internação, a fim de que outro decisum

seja prolatado, devendo, enquanto isso, permanecer o menor

em liberdade assistida, se por outro motivo não estiver

internado.” (STJ, HC 133864/SP, Quinta Turma, Rel. Min.

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Napoleão Nunes Maia Filho, j. 08.09.2009) (g.n.)1.

Ademais, há de se considerar que, ainda que esta Corte

pudesse entender pela supressão de instância, mesmo que um novo Habeas Corpus no

Tribunal de Justiça fosse conhece, pelo tempo que se levaria em aguardar toda sua

tramitação, o remédio, ao tempo do julgamento, já terá perdido o objeto. Ou seja,

levando-se em consideração o tempo de julgamento de um habeas corpus, há notório

conflito de interesses entre a observância do posicionamento desta Suprema Corte e

a grave violação de direitos já suportada pelo Paciente. Neste sentido:

“DECISÃO: vistos, etc.

Trata-se de habeas corpus, aparelhado com pedido de medida

liminar, impetrado contra decisão de ministro do Superior

Tribunal de Justiça (relator do HC 245.560). Decisão que

indeferiu liminarmente o habeas corpus ali requestado, à falta

de seus pressupostos. 2. Pois bem, alega o impetrante que o

paciente responde pela suposta prática de ato infracional

equiparado ao delito tipificado no art. 33 da Lei 11.343/2006.

Afirma que a representação contra o menor foi julgada

procedente, sendo-lhe aplicada medida socioeducativa de

liberdade assistida. Contra essa decisão, manejou-se recurso de

apelação, provido para determinar a imposição ao paciente de

medida socioeducativa de internação. Aduz, por fim,

constrangimento ilegal suportado pelo paciente e requer “... o

conhecimento do presente Habeas Corpus, a concessão da

ordem em liminar, para determinar a revogação imediata da

1 No mesmo sentido, STJ, HC 178191 / SP, Sexta Turma, Rel. Min, Maria Thereza de Assis Moura, j. 02.06.2011.

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internação, com a consequente expedição de mandado de

desinternação e, ao final, requer seja confirmada a ordem,

cassando a decisão da autoridade coatora, expedindo o

competente alvará de soltura”. Donde o pleito de superação da

Súmula 691/STF. 3. Feito esse aligeirado relato da causa,

decido. Fazendo-o, pontuo, de saída, que o poder de cautela

dos magistrados é exercido num juízo prefacial em que se

mesclam num mesmo tom a urgência da decisão e a

impossibilidade de aprofundamento analítico do caso. Se se

prefere, impõe-se aos magistrados condicionar seus

provimentos acautelatórios à presença, nos autos, dos

requisitos da plausibilidade do direito (fumus boni juris) e do

perigo da demora da prestação jurisdicional (periculum in

mora), perceptíveis de plano. Requisitos a ser aferidos primo

oculi, portanto. Não sendo de se exigir do julgador uma

aprofundada incursão no mérito do pedido ou na dissecação

dos fatos que lhe dão suporte, sob pena de antecipação do

próprio conteúdo da decisão definitiva. 4. No caso, tenho por

configurados os requisitos necessários à concessão do

provimento cautelar requestado, apesar do óbice da Súmula

691 deste Supremo Tribunal Federal. 5. Com efeito, é firme a

jurisprudência deste STF no sentido da inadmissibilidade de

impetração sucessiva de habeas corpus , sem o julgamento de

mérito do HC anteriormente impetrado (cf. HC 79.776, Rel.

Min. Moreira Alves; HC 76.347-QO, Rel. Min. Moreira Alves; HC

79.238, Rel. Min. Moreira Alves; HC 79.748, Rel. Min. Celso de

Mello; e HC 79.775, Rel. Min. Maurício Corrêa). Jurisprudência,

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essa, que deu origem à Súmula 691/STF, segundo a qual não

compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas

corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas

corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar . 6.

Sucede que esse entendimento jurisprudencial sumular

comporta abrandamento, quando de logo avulta que o

cerceio à liberdade de locomoção do paciente decorre de

ilegalidade ou de abuso de poder (inciso LXVIII do art. 5º da

CF/88). O que me parece ser o caso dos autos. Caso em que

identifico a plausibilidade jurídica do pedido veiculado na

impetração. 7. De saída, consigno, que a Constituição assegura

o mais amplo acesso aos direitos de prestação positiva e um

particular conjunto normativo-tutelar (arts. 227 e 228 da

Constituição Federal) aos indivíduos em desenvolvimento.

Conjunto, esse, do qual pinço o seguinte aspecto: “§ 3º O

direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos: V-

obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e

respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,

quando da aplicação de qualquer medida privativa de

liberdade”. (...) 15. Esse o quadro, não obstante o óbice da

Súmula 691/STF, defiro a medida cautelar requestada. O que

faço para suspender os efeitos do acórdão que reformou a

decisão de primeiro grau. 16. Comunique-se, com a máxima

urgência.” (Supremo Tribunal Federal; Medida Cautelar no

Habeas Corpus 114450, Min. Presidente Ayres Brito, 23 de

julho de 2012)

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“DECISÃO HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DO RECURSO

ORDINÁRIO CONSTITUCIONAL – INADEQUAÇÃO. INTERNAÇÃO

– AUSÊNCIA DE ENQUADRAMENTO NO ARTIGO 122 DA LEI Nº

8.069/90 – IMPLEMENTO DE LIMINAR DE OFÍCIO. 1. O Gabinete

prestou as seguintes informações: O paciente, recolhido em 2

de março de 2013, foi denunciado pela suposta prática de ato

infracional correspondente ao delito definido no artigo 33 da

Lei nº 11.343/2006 (tráfico ilícito de entorpecentes). O Juízo da

Seção da Infância e Juventude da Comarca de Bauru/SP

determinou a internação provisória. Entendeu ser medida

“imperiosa” à garantia da ordem pública. Consignou haver o

adolescente cometido “crime grave”. Asseverou tratar-se de

“pessoa perigosa, com hábitos antissociais e que está inapta

para a vida em sociedade”, razão pela qual, “em liberdade, com

certeza, voltará a delinqüir”. Contra essa decisão, a Defensoria

Pública do Estado de São Paulo/SP impetrou habeas corpus no

Tribunal de Justiça do Estado, buscando a concessão de

liberdade. O relator, desembargador Antônio Carlos Tristão

Ribeiro, indeferiu a liminar. Destacou a ausência de

constrangimento ilegal. Argumentou que os pontos suscitados

demandavam amplo exame das circunstâncias do caso,

situação inviável ante os limites da cognição sumária. No

Superior Tribunal de Justiça – Habeas Corpus nº 268.971/SP –, a

defesa sustentou a ilegalidade da medida socioeducativa de

internação. O relator, ministro Campos Marques,

desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,

convocado, indeferiu, liminarmente, o pedido de habeas.

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Entendeu cabível e apropriada a sanção imposta. Apontou

inexistir decisão de mérito capaz de inaugurar a competência

do Superior Tribunal de Justiça, fazendo incidir à espécie o

Verbete nº 691 da Súmula do Supremo. Neste habeas, a

impetrante procura demonstrar a inadequação do

pronunciamento formalizado pelo Juízo, ressaltando a falta de

enquadramento do caso no artigo 122 da Lei nº 8.069/90.

Articula com o Verbete nº 492 da Súmula do Supremo, segundo

o qual “o ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só,

não conduz obrigatoriamente à imposição de medida

socioeducativa de internação do adolescente”. Sustenta não

haver ocorrido a prática de violência. Salienta existir evidente

constrangimento a justificar o afastamento do Verbete nº 691

da Súmula do Supremo. Requer, liminarmente, seja

determinada a liberação do paciente e a entrega à família. No

mérito, pretende a confirmação da providência, bem como a

imposição de medida socioeducativa diversa da internação. O

processo encontra-se instruído para exame do pedido de

concessão de liminar. 2. Este habeas ganha contornos de

substitutivo do recurso ordinário constitucional. Mostra-se,

assim, inadequado. O quadro retratado, no entanto, autoriza o

implemento de liminar de ofício. Conforme decorre do artigo

12 do Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/90

–, a internação é providência excepcional. Apenas surge

cabível quando se cuidar de ato infracional cometido

mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ocorrer

reiteração no cometimento de infrações graves ou houver o

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descumprimento reiterado e injustificável de medida

anteriormente imposta. Nota-se que, na decisão proferida no

Processo nº 161/13, o Juízo da Seção Infância e Juventude da

Justiça de São Paulo não aludiu a uma dessas premissas.

Apontou que o adolescente teria praticado crime grave e que

estaria em jogo a saúde pública. Partiu, então, para a

presunção do extravagante, ou seja, que, em liberdade, voltaria

a delinquir, ressaltando, com base na imputação, tratar-se de

pessoa perigosa. 3. Defiro a liminar, de ofício, para afastar a

internação. O menor, com o acompanhamento da Defensoria

Pública do Estado de São Paulo, deverá ser entregue à família.

4. Colham o parecer da Procuradoria Geral da República. 5.

Publiquem. Brasília – residência –, 30 de maio de 2013, às

18h25. Ministro MARCO AURÉLIO Relator”. (Supremo Tribunal

Federal; Medida Cautelar no Habeas Corpus 117633, Min.

Relator Marco Aurélio, 30 de maio de 2013).

Por todo o exposto, deve ser superado o óbice expresso na

Súmula 691, a fim de que as ilegalidades já perpetradas contra o Paciente não lhe

causem danos ainda mais graves.

II.2 – DA ILEGALIDADE DA MEDIDA IMPOSTA

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Considerando as normas expressas na Constituição Federal e

no Estatuto da Criança e do Adolescente, a aplicação de medida socioeducativa de

internação é completamente inadequada.

A despeito do fato de o tipo imputado envolver,

abstratamente, violência contra a pessoa, a conduta do adolescente não demonstra

gravidade em concreto, nos termos do art. 122, do ECA. Conforme reconhecido pelo

próprio órgão ministerial a liberdade assistida se mostra adequada para a continuidade

dos atendimentos e acompanhamento do jovem. Ainda nos termos consignados pelo

órgão constitucionalmente competente para promover a acusação, toda confusão

começou em situação cotidiana que poderia ter sido facilmente contornada com maior

perspicácia do educador, “o que parece ter faltado, desde o momento em que

amassou o copo do adolescente”. Aduz a acusação também que “a despeito de

reprovável a conduta do adolescente, os educadores da entidade não souberam

adequadamente lidar com questão disciplinar. Veja-se que toda problemática

eclodiu em razão de um copo de suco” (fls. 142).

Ainda que se considere estar provada a autoria e materialidade

delitiva de todos os atos imputados ao paciente, o que se faz apenas a título de

retórica, a aplicação de uma medida em meio aberto, eventualmente cumulada com

medida protetiva consistente em acompanhamento psicossocial, seria suficiente para

a responsabilização do Paciente.

Nesse sentido, é evidente que a medida aplicada ao paciente

foi desarrazoada. Ademais, o incidente não teria tomado a proporção que tomou se,

a suposta vítima, tivesse agido de forma adequada, com o profissionalismo que se

espera de um educador, que trabalha diariamente com crianças e adolescentes. Com

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efeito, não pode se negar que o adolescente está sendo responsabilizado, com uma

medida de tamanha gravidade, pela total falta de profissionalismo do educador do

lar.

Ademais, há de se considerar também que um adulto, em

situação semelhante, jamais seria condenado a uma pena privativa de liberdade,

razão pela qual há evidente constrangimento ilegal do paciente na manutenção da

internação. Logo, a sentença proferida pelo Magistrado a quo não violou apenas

norma infraconstitucional, que determina observância obrigatória da Legalidade nos

procedimentos afetos à Infância e Juventude, mas infringiu também dispositivo

constitucional que, à luz da doutrina da proteção integral, adotou em seu artigo 227,

§ 3º, inciso V, os princípios da necessidade, excepcionalidade e brevidade 2 ,

postulados de observância obrigatória quando da restrição da liberdade de crianças

e adolescentes.

Em razão dos citados princípios, que fundamentam e norteiam

a aplicação da medida de internação, o Estatuto da Criança e do Adolescente dispôs

em seu artigo 122 as hipóteses taxativas de aplicação da medida de internação3 e,

mais, no parágrafo 2º, deste mesmo artigo, esclareceu que “em nenhuma hipótese

será aplicada a internação, havendo outra medida adequada”.

2 CF - Art. 227. (...) § 3.º O direito da proteção especial abrange os seguintes aspectos:(...)V – obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade (...).

3 Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.

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Dessa forma, deve representar fundamento essencial da

sentença que decreta a privação da liberdade a real necessidade de intervenção

socioeducativa na vida do adolescente, bem como a demonstração da impossibilidade

de aplicação de medida menos drástica. Ademais, deve o Magistrado ponderar os três

requisitos dispostos no §1°, do artigo 112, do ECA: “A medida aplicada ao adolescente

levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da

infração”, a fim de se aplicar a medida que mais se adeque ao adolescente.

Contudo, não foi o que se viu nos autos.

Além do fato narrado na representação configurar mais uma

‘ confusão generalizada’ do que um ato típico que deve ser ferozmente reprimido

pelo poder punitivo estatal, não pode se ignorar também, como já mencionado, que

a situação só tomou tal proporção por total falta de habilidade do educador, cuja

profissão seria justamente evitar o agravamento de situações de indisciplina.

Contudo, mesmo desconsiderando todas essas alegações, percebe-se que a conduta

do paciente, a despeito do tipo penal imputado, não apresente gravidade concreta.

Dessa forma, nada obstante a presente ordem não ter como

objeto reavaliar a prova produzida, cabe apenas destaca-la, sucintamente.

A própria vítima Alex afirmou que Daniel reagiu apenas

quando tirei ele da cozinha. Ele jogou a jarra de suco, que pegou na minha cabeça.

Minha cabeça ficou vermelha, mas não cortou. Quando os guardas foram apreendê-lo,

ele apenas se debateu e foram os demais meninos partiram para cima. Foi uma

confusão generalizada. Ele não xingou os guardas.

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No mesmo sentido, a testemunha Silvia relatou que logo após

o ocorrido conversou com Daniel, ele não estava tão tenso, a namorada sim. Os

demais adolescentes, quando viram os guardas na porta do Lar, ficaram com os ânimos

exaltados e por isso eles adentraram. O Daniel, antes da guarda chegar, estava

tranquilo. O tumulto generalizado começou quando a Tauani xingou os guardas. Os

outros adolescentes estavam excitados e xingando. Não ouvi ameaças. São comuns

episódios de indisciplina entre os jovens.

Conforme já expôs o ilustre Defensor Público Flávio Américo

Frasseto:

“Por diversas vezes, também, lembrou-nos o STJ que a

gravidade do ato infracional, como indicador isolado, não

justifica a adoção da medida mais severa. Trata-se de condição

necessária, mas não suficiente para a internação. Tampouco

basta agregar-se à gravidade do ato infracional menções

genéricas a passagens anteriores, maus antecedentes, vida

ociosa, falta de respaldo familiar como se tais circunstâncias

reclamassem, de forma natural, a segregação como estratégia

ressocializadora. A caracterização da excepcionalidade

motivadora da internação requer do magistrado um juízo mais

profundo e considerações mais amplas sobre múltiplos

aspectos do caso, que vá além dos habituais automatismos

lógicos-dedutivos utilizados nas sentenças”. (Ato Infracional,

Medida Socioeducativa e Processo: a Nova Jurisprudência do

Superior Tribunal de Justiça. Disponível no site:

http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?

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idPagina=3066, São Paulo, 2002, p. 15, visualizado em

04/07/2013 – sem grifo no original).

Este Superior Tribunal de Justiça, indubitavelmente, não

desconhece que a realidade da internação em muito foge da finalidade educativa

erigida pelo ECA, e, considerando as circunstâncias pessoais de Daniel,

institucionalizado desde os 5, não deve restar dúvida que a manutenção da medida

socioeducativa de internação somente agravará o processo de estigmatização do

jovem, que, desde a infância encontra-se privado do convívio familiar, e agora será

privado também do regular convívio com todas as pessoas que mantém com ele laço

de afeto e amizade.

Diante do exposto, nos termos dos artigos 121 e 122, §2º,

tendo em vista que não estão presentes os requisitos para aplicação da internação,

e, em razão dos citados postulados constitucionais, requer-se a imediata colocação

do jovem em medida em meio aberto, nos termos pleiteados pelo Ministério Público

em sede de memoriais.

III – DA CONCESSÃO LIMINAR DA ORDEM

Considerando todo o conteúdo exposto, estão presentes

os requisitos que autorizam a concessão, em caráter liminar, da ordem de habeas

corpus, com o fim de relaxar a internação provisória da paciente. Senão vejamos.

A matéria é exclusivamente de direito. A fumaça do bom

direito reside, além dos documentos já acostados (Cópia integral dos autos), em todas

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as alegações expendidas. Trata-se de simples subsunção do fato à lei, que impõe que

toda internação provisória seja devidamente fundamentada. Exceções não podem

ser admitidas no que tange ao respeito aos direitos e garantias de crianças e

adolescentes submetidos a processo socioeducativo, sob pena de violação, não só do

devido processo legal, como ao próprio Estado Democrático de Direito.

Ademais, em caso de dúvida desse Ilustre Julgador,

considerando o delito em tese praticado e os direitos fundamentais em conflito, há de

se ponderar e optar, no caso concreto, pela situação mais favorável ao paciente, qual

seja, sua imediata liberação.

Tendo em vista que o processo socioeducativo (e todos os

outros) possui como fundamento de existência a necessidade de cumprir alguma

finalidade que, nesse caso, seria a responsabilização do jovem, conforme

demonstrado, pelas circunstâncias concretas, tratando-se de ato que não envolve

violência ou grave ameaça, e considerando que o jovem não é reiterante na prática de

atos graves, como ao final restaria ilegal a imposição de medida de internação, o

decreto de internação provisória mostra-se desproporcional.

Por sua vez, o perigo na demora também é evidente, pois,

como mencionado, o paciente encontra-se custodiado desde 09/09/2014, em razão de

ato legal que não cumpriu as finalidades expressas no ECA e na Constituição Federal,

ensejando grave constrangimento ilegal, que só se perpetuará caso não concedida a

presente ordem.

IV – DOS PEDIDOS

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Diante do exposto, requer:

a) a concessão, em caráter liminar, da ordem de habeas

corpus para determinar a imediata colocação do paciente em liberdade assistida,

conforme pleiteado pelo Ministério Público e Defensoria Pública;

b) a intimação do I. representante do Ministério Público

para intervir no feito;

c) a concessão, ao final, do pedido formulado, a fim de

tornar a liminar definitiva, reconhecendo-se a total inadequação da medida ao caso

concreto;

d) com fundamento no art. 128, I da LC nº 80/94, seja

esta Defensora Pública intimada pessoalmente de todos os atos e decisões praticados

no feito, mesmo que tal se dê mediante carta, com aviso de recebimento, a ser

enviada em seu nome na sede da Defensoria Pública em Ferraz de Vasconcelos.

Termos em que,

Pede deferimento.

Ferraz de Vasconcelos, 12 fevereiro de 2015.

RAFAELA SOARES MOURÃO SOUSA

1a Defensoria Pública de Ferraz de Vasconcelos

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