excelentÍssimo senhor doutor juiz federal da ......anual da funasa10, a secretaria-executiva da cgu...
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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERALPROCURADORIA DA REPÚBLICA NO DISTRITO FEDERAL
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ___ VARA DA
SEÇÃO JUDICIÁRIA DO DISTRITO FEDERAL.
O Ministério Público Federal, pela Procuradora da
República que esta subscreve, no exercício de suas funções constitucionais e legais, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no artigo 129, inciso
III, da Constituição Federal, na Lei n.º 7.347/85 e na Lei n.º 8.429/92, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA PELA PRÁTICA DE ATOS DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA
em face de
1. MAURO RICARDO MACHADO COSTA, ex
Presidente da FUNASA, brasileiro,
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2. VALDI CAMARCIO BEZERRA, ex Presidente da
FUNASA,
3. PAULO DE TARSO LUSTOSA DA COSTA,,
brasileiro, ex Presidente da FUNASA,
4. WAGNER DE BARROS CAMPOS, brasileiro, ex
Diretor do Departamento de Administração da
FUNASA,
5. PAULO ROBERTO ALBUQUERQUE GARCIA
COELHO, brasileiro, ex Coordenador-Geral de
Recursos Logísticos da FUNASA,
6. BRASFORT ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS
LTDA, pessoa jurídica de direito privado,
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7. ROBÉRIO BANDEIRA DE NEGREIROS, brasileiro,
pelos fundamentos de fato e de direito a seguir expostos:
I – OBJETO DA AÇÃO DE IMPROBIDADE
A ação ora ajuizada tem por finalidade a aplicação, aos agentes
públicos e terceiros arrolados no pólo passivo, das sanções da Lei nº 8.429/92, em virtude
da prática de inúmeras infrações à Constituição Federal e à Lei nº 8.666/93, visto terem
desrespeitado os princípios constitucionais e legais que regem a atuação do agente público
probo e causado, de forma consciente e voluntária, vultosa lesão aos cofres públicos, no
valor histórico de R$ 56.630.323,39.
O objeto da pretensão ministerial é a declaração de nulidade do
Contrato 074/021 e Aditivos, firmado entre a Fundação Nacional de Saúde – FUNASA e a
empresa BRASFORT ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇOS LTDA, instrumento jurídico
utilizado pelos dirigentes da FUNASA, réus da presente ação, para inúmeros desvios e
práticas ilícitas que beneficiaram a esses dirigentes e a terceiros, inclusive, a própria
empresa contratada.
Nos termos caracterizados, os serviços prestados pela “contratada”
referem-se a atividades que deveriam ser exercidas por servidores da própria Funasa e
serviram de pretexto para contratação de parentes e pessoas indicadas pela alta
administração desse órgão, além da total ausência de controle quanto à efetiva execução 1Contrato às fls. 357/366 do Volume II.
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do serviço contratado, situação que ensejou o desvio de vultosas quantias dos cofres
públicos.
II – LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA FEDERAL.
A legitimidade do Ministério Público Federal para o ajuizamento da
presente ação de improbidade administrativa advém basicamente do artigo 129, inciso III
c/c artigo 37, § 4º, ambos da Constituição Federal.
Outrossim, a Lei nº 8.429/92, que prevê as hipóteses e as sanções
decorrentes da prática de ato que configure improbidade administrativa, dispõe em seu
artigo 17:
“Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será
proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica
interessada, dentro de trinta dias da efetivação da medida
cautelar.
(...)
§ 4.- O Ministério Público, se não intervier no processo como
parte, atuará obrigatoriamente, como fiscal, sob pena de
nulidade.”
A competência da Justiça Federal decorre essencialmente do fato de
que os atos de improbidade foram praticados por dirigentes FUNASA – autarquia
executiva vinculada ao Ministério da Saúde.
Nesse sentido dispõe o art. 109, inciso I, da Constituição da
República, que estabelece a competência da Justiça Federal para "processar e julgar as
causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem
interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opoentes (...)."
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Quanto à competência do Foro Federal do Distrito Federal para
processamento e julgamento desta ação, necessário observar que a contratação espúria ora
questionada foi determinada e executada pela alta administração da FUNASA, lotada
nesta capital federal, em conluio com dirigentes da empresa BRASFORT, também sediado
nesta capital federal.
Ademais, o contrato cuja nulidade ora se requer foi firmado em
Brasília, sendo certa, portanto, a competência do foro federal de Brasília.2
III – DOS FATOS
III.1 –FUNASA – DEFICIÊNCIA NA GESTÃO ADMINISTRATIVA E DE
RECURSOS HUMANOS – FRAGILIDADE NOS CONTROLES.
O Procedimento Administrativo nº 1.16.000.002409/2007-20 foi
instaurado como desdobramento das investigações realizadas no Inquérito Civil Público nº
1.16.000.001939/2006-703, em razão de evidências de ilicitudes na execução do contrato
firmado entre FUNASA e a empresa BRASFORT.
Dentre outras situações que serão devidamente narradas, apurou-se o
envolvimento de servidores dessa fundação em esquema de favorecimento ilícito de
particulares, mediante contratações estabelecidas com desvio de finalidade para
2 CLÁUSULA XV- DO FORO“As partes firmam este instrumento obrigando-se, por si e seus sucessores, ao fiel cumprimento do que ora ficou ajustado, sendo competente para dirimir quaisquer questões deste Contrato o foro da Justiça Federal – Seção Judiciária do Distrito Federal, conforme determina o inciso I do art. 109 da Constituição Federal”.3 Procedimento que instruiu apuração de ilegalidades praticadas no âmbito do Convênio nº 1520/06, firmado no dia 26/06/2006 entre FUNASA e o IRB, objeto da ação civil pública por ato de improbidade administrativa, Processo nº 2008.34.00.009162-0.
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beneficiamento de dirigentes desse órgão e de terceiros, sendo o contrato 074/02 o
instrumento eficaz para inúmeras práticas ilícitas.
As irregularidades no contrato BRASFORT e FUNASA também
foram objeto de representação pela Associação Ética dos Funcionários da Funasa, juntada
às fls. 74/75, a qual relata: “ Os contratos firmados com a empresa BRASFORT
Administração de Serviços Ltda. tem em seu contrato orçamentado no valor de R$
800.00,00 mensais e a Funasa está pagando por mês a quantia de R$ 2.241.229,00 por
mês, servindo como cabide de emprego para os afilhados e parentes dos Diretores, com
salários médio entre R$ 3.500,00 e R$ 5.000,00 e, para se fazer frente ao aumento ilegal,
retira-se verbas de outros setores para cobrir a diferença.”
Iniciadas as apurações neste e em outros Procedimentos em
tramitação conjunta nesta Procuradoria da República4, o parquet federal se deparou com
um vultoso esquema de terceirização da atividade-fim e outras graves ilegalidades
praticadas no âmbito da FUNASA, sob o falso argumento da carência de pessoal5.
Sob essa fundamentação, ou seja, carência de pessoal, há um total
desrespeito à Constituição Federal e à Lei de Licitações, consubstanciado na contratação
de parentes e de pessoas indicadas por dirigentes e servidores do órgão; contratações
espúrias por vício de origem (direcionamento; desvio de finalidade, fraudes, etc);
superfaturamento de preços e inexecução contratual6.
4 Em razão da gravidade dos fatos envolvendo inúmeros contratos celebrados ou mesmo aditados na gestão do ex Presidente Paulo Lustosa, foi constituído um Grupo de Trabalho no âmbito da PRDF para atuar nessas situações com grande potencialidade lesiva ao interesse moral e patrimonial dessa Fundação.5 A carência de pessoal foi informada no Despacho da FUNASA de fls. 77/82 para justificar a contratação da BRASFORT. Informações proferidas em resposta ao Ofício MPF/PRDF/AA nº 078/2007. 6 A partir de apurações desenvolvidas em Procedimentos Administrativos destinados à verificação de irregularidades contratuais, o parquet federal se deparou com um vultoso esquema de fraudes e outras práticas ilícitas que perpassam as gestões dessa FUNDAÇÃO, extremamente frágil no aspecto de controles e que é vista com grande anseio por aqueles que desejam promover, sem maiores problemas, o desvio de recursos públicos para atendimento de interesses privados. Essa situação ensejou a constituição de um Grupo de Trabalho no âmbito da PRDF, com atribuição cível e criminal para atuar nas situações mais graves.
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As atribuições da FUNASA, segundo estabelece o Decreto nº 4.727,
de 09 de junho de 2003, Anexo I, são as seguintes:
“Art. 1º A Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, fundação
pública vinculada ao Ministério da Saúde, instituída com base no
disposto no art. 14 da Lei nº 8.029, de 12 de abril de 1990, tem sede
e foro em Brasília – DF e prazo de duração indeterminado.
“Art. 2 À FUNASA, entidade de promoção e proteção à saúde,
compete:
I – prevenir e controlar doenças e outros agravos à saúde;
II – assegurar a saúde dos povos indígenas;
III – fomentar soluções de saneamento para prevenção e controle
de doenças.”
Verifica-se, assim, que as três áreas de atuação da FUNASA são:
prevenção e controle de doenças; saúde dos povos indígenas e soluções de saneamento
para prevenção de doenças.
Para a execução dessas tarefas institucionais a FUNASA conta com
um orçamento anual de cinco bilhões de reais7 e gasta praticamente 80% desse
volume de recursos com pagamento de pessoal ativo e inativo. Ou seja, os programas
finalísticos correspondem a apenas 15% do total do orçamento anual previsto para a
sua execução direta8.
7Não estão computadas nesse montante as vultosas quantias do PAC.8Vide fl. 652 do PA anexo.
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A execução descentralizada dos programas finalísticos possuiu, em
2007, uma verba de R$1,7 bilhões, repassada através de transferências diretas ou por
intermédio de Convênios a Estados, Municípios e ONG(s) Organizações Não
Governamentais9.
Os dados acima expostos, bem como uma descrição detalhada do
total de recursos repassados à FUNASA no ano de 2007; da sua estrutura administrativa,
principais atribuições e programas federais executados, dentre outras informações,
constam do documento produzido pela Secretaria-Executiva da CGU em resposta à
solicitação do parquet federal, juntado a partir de fls. 648/665 dos autos do PA em anexo.
A leitura desse documento e de outras informações já produzidas
tanto pela CGU quanto pelo TCU revela que os gestores da FUNASA têm utilizado o
mecanismo de contratação de pessoal através de empresas locadoras de mão-de-obra para
a execução de atividade-fim do órgão em razão da total deficiência e deliberada má
gestão, que proporciona um ambiente adequado para fraudes e desvios de toda a ordem,
sob a falsa justificativa de carência de pessoal.
Ao responder a questionamento deste parquet federal sobre a
quantidade de servidores ativos, cujo pagamento absorve a maior parte do orçamento
anual da FUNASA10, a Secretaria-Executiva da CGU esclareceu o seguinte:
“A FUNASA tem quadro de pessoal (aproximadamente 40.000
servidores) com configuração funcional complexa.
9 Fonte de desvios de recursos públicos pela ausência de transparência e regularidade na escolha da entidade pública ou privada beneficiária do recursos e pela total ineficiência do órgão no acompanhamento da aplicação do dinheiro na finalidade contratual prevista. 10 Na maioria dos processos sob investigação do MPF e outros órgãos de controle há terceirização ilícita de atividade-fim ou mesmo uma total ausência de estrutura na gestão dos contratos e convênios, inclusive com a alocação de empregados terceirizados em atividade privativa de servidor público, sempre sob a falsa justificativa de ausência de pessoal.
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Para um melhor entendimento serão apresentadas as informações
em um formato gráfico com o objetivo de permitir uma melhor
visualização dos recursos humanos vinculados àquela Fundação.
(...)
Comentários:
a) 70% do pessoal ativo da FUNASA encontra-se cedido a estados e
municípios;
b) Dos 7.500 servidores que atuam na FUNASA, quase 1.000 são
comissionados. Desse subgrupo, 350 são DAS e 650 são FG.
c) Além dos R$500 milhões destinados ao pagamento da folha de
servidores que atuam na FUNASA, há ainda o pagamento de cerca
de R$170 milhões a título de indenização de trabalho de campo
para servidores que executam atividades de vigilância
epidemiológica”.
A leitura integral do referido documento evidencia que a FUNASA
tem pessoal próprio para execução de sua atividade-fim; não exerce um controle de gestão
sobre esse pessoal, pois há um volume imenso de cessões a Estados e Municípios,
permanecendo apenas a folha de pagamento sob o seu encargo; não exerce controles para
vincular a efetiva atuação dos cedidos na sua área finalística (prevenção de doenças).
Apesar desse lamentável quadro de cessões e outras medidas que,
apesar de terem inflado o quadro de pessoal da FUNASA, não atendem a uma gestão
administrativa eficiente, ainda subsiste um contingente de 5.000 funcionários com
concentração na área administrativa. No entanto, a terceirização da atividade-fim é uma
regra tanto da administração central quanto nas chamadas regionais.
Uma evidência concreta da deficiente estrutura administrativa de
gestão de pessoal da FUNASA é a recente crise no sistema de saúde no Estado do Rio de
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Janeiro, decorrente da epidemia de dengue, doença relacionada à atividade-fim da
FUNASA, que se mostrou totalmente incapaz de prevenir, em conjunto às ações do Estado
e Município, esse recente e grave surto, não obstante contar com um contingente de 5.314
empregados públicos lotados no Rio de Janeiro exercendo o cargo de “agente de
Combate a Endemias”, além dos cedidos e de outros quadros relacionados à essa
área de atuação específica, localizados nessa unidade da federação11.
Caracteriza-se, assim, como um órgão extremamente frágil sobre o
aspecto de controles, inclusive em razão da sua própria finalidade, que envolve a
transferência de vultosos recursos a Estados, Municípios e outras entidades para
cumprimento de finalidades tais como saneamento básico, prevenção de doenças e
assistência à saúde indígenas. Todas as apurações já realizadas por este parquet federal
evidenciaram que a FUNASA restringe sua atuação ao repasse de recursos públicos
federais sem qualquer controle da eficácia dessas ações, no caso de indígenas, por
exemplo, integralmente transferidas às chamadas organizações não governamentais.
O que se apurou é que esse órgão tem sido alvo de administrações
totalmente descompromissadas com o interesse público, que utilizam os recursos
orçamentários e extra orçamentários para fins políticos eleitoreiros12 e também para o
desvio de dinheiro, o que tem causado um incalculável prejuízo à própria entidade,
totalmente despreparada para desenvolver, através do seu próprio corpo funcional, a sua
missão institucional e à sociedade, que não se beneficia da aplicação desse expressivo
volume de recursos públicos em ações de saneamento básico e prevenção de doenças,
como a dengue, por exemplo.
11 Nos termos caracterizados no Ofício nº 2.513/DSSAUD/DS/SFC/CGU/-PR, a FUNASA mantém no Estado do Rio de Janeiro, além dos 5.314 agentes de combate à endemia que integram o seu próprio corpo funcional, mais 2.190 funcionários da área de saúde, estes cedidos ao referido Estado.12 Conforme já mencionado, a FUNASA, não obstante o consumo de praticamente 80% do seu orçamento no seu quadro de pessoal ativo e inativo, ainda é um órgão bastante atrativo em razão do seu orçamento para aplicação nas chamadas “transferências voluntárias” a Estados, Municípios e entidades não governamentais, permitindo, dentro da sistemática fisiologista de determinados setores da administração pública, o direcionamento de vultosos recursos para determinadas localidades, como vem ocorrendo com alguns Estados, como o do Ceará, por exemplo, em detrimento de outros.
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As ilegalidades envolvendo a administração da FUNASA tornaram-
se de conhecimento público em razão de divergências internas envolvendo “lobistas” e
políticos que detém o comando para a indicação da nomeação dos dirigentes dessa
Fundação13, tendo eclodido um escândalo envolvendo o ex Presidente do órgão, Paulo de
Tarso Lustosa da Costa e seu braço operacional, Paulo Roberto de Albuquerque Garcia
Coelho.
Segundo divulgado pela mídia e, posteriormente apurado no âmbito
administrativo-disciplinar, os dirigentes da FUNASA acima nominados, a partir de sua
nomeação, ou seja, em meados de 2005, utilizaram o contrato firmado entre esse órgão e a
empresa Brasfort14 para a prática de todo o tipo de ilicitudes, notadamente a contratação de
pessoas relacionadas a estes dirigentes, pagas com os maiores salários previstos nesse
contrato, alguns dos quais sequer compareciam ao trabalho.
A partir desse momento, como sói acontecer, olhares mais atentos se
voltaram para uma apuração mais detida das contratações, convênios e outros mecanismos
de desvio de dinheiro público que reiteradamente vêm ocorrendo no âmbito dessa
Fundação.
A Brasfort, empresa já conhecida deste Ministério Público Federal e
da própria Justiça Federal por envolvimento com atos de pagamento de propina, desvio de
recursos públicos, superfaturamento, nomeação de pessoas indicadas para postos de
trabalho nos órgãos público, dentre outros mecanismos fraudulentos15, possuía contratos 13 A FUNASA, dentro da negociação política de apoio ao Governo, foi destinado ao PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) a quem cabe indicar, prioritariamente, seus dirigentes 14O contrato ora questionado, 074/2002, foi firmado no final do ano de 2002 e contém vício de origem, haja vista a ilicitude do seu objeto. No entanto, a partir da gestão de Paulo Lustosa esse contrato foi utilizado como um eficaz instrumento de fraudes e desvio de dinheiro público, observando-se, por exemplo, aumento desmesurado no quantitativo de terceirizados a partir dessa gestão, na ordem de 218%, destes, 81% no ano de 2005 em relação ao ano de 2004.15A Empresa BRASFORT e seus dirigentes são réus nas ações civis públicas c/c improbidade administrativas, Processos n (s) 2007.34.00.032048-2; 2007.34.00.031576-1 e 2007.34.00.032561-1, conforme cópia das iniciais juntadas, respectivamente, às fls. 109/127; 128/153 e 154/188 .e também, no
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com a FUNASA para a terceirização de mão-de-obra, na área-fim, como é o caso do
Contrato 074/02, objeto da presente ação e na área-meio, do contrato 32/2006, fls.
278/289.
III.2 – CONTRATO 074/2002 – ILEGALIDADE DO OBJETO
– DESVIO DE FINALIDADE NA CONTRATAÇÃO. DESVIO DE RECURSOS
PÚBLICOS NA EXECUÇÃO.
Conforme salientado, as graves ilegalidades envolvendo a
contratação da empresa Brasfort pela FUNASA vieram à tona a partir da eclosão de
escândalo noticiando ligação espúria de parlamentares, lobistas e dirigentes desse órgão16.
No entanto, logrou-se apurar que, não obstante as práticas ilícitas ocorridas na gestão de
Paulo Lustosa, que se utilizou dessa contratação em benefício próprio e de terceiros,
referido contrato é nulo de pleno direito desde a sua origem, em razão da ilegalidade
do seu objeto.
Assim, a presente ação se destina a abordar essas duas etapas, que
abrangem tanto a ilegalidade da contratação da empresa Brasfort, quanto as práticas
ilícitas ocorridas na execução do contrato, notadamente quando este passou à
responsabilidade direta de Paulo Garcia Coelho17, situações que ensejam a declaração de
nulidade da contratação e, diante da evidente má-fé do dirigente da empresa, a restituição
integral do montante pago.
A empresa BRASFORT foi contratada por meio do Pregão nº
35/200218 para prestação de serviços de apoio administrativo e atividades auxiliares, no
período de 18/12/2002 a 18/12/2007, no valor anual estimado de R$ 23.376.376,08.
caso dos dirigentes, encontram-se estes envolvidos em apurações criminais relativas à chamada “Operação Sentinela”.16Vide, dentre outros, documentos de fls. 627/643.17 Paulo Garcia Coelho ocupou, a partir de 26/08/2005, a Coordenadoria-Geral de Recursos Logísticos da FUNASA.18Edital de licitação às fls. 292/356 do Volume II do PA.
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O referido contrato sofreu alteração por intermédio dos seguintes
Termos Aditivos: a) 1º Termo Aditivo19 de 16/09/2003 – Alteração de Preço; b) 2º Termo
Aditivo20 de 05/12/2003 – Prorrogação da vigência do contrato e alteração de preço e
garantia; c) 3º Termo Aditivo21 de 17/12/2004 – Prorrogação Contratual; d) 4º Termo
Aditivo22 de 15/12/2005 – Prorrogação contratual com acréscimo de 25% ao objeto do
contrato cláusulas de garantia e modificação de cláusula que trata das obrigações da
contratada; e) 5º Termo Aditivo23 de 15/12/2006 – Prorrogação contratual, com alteração
nas cláusulas do preço e garantia.
O contrato 074/02, objeto da presente ação de improbidade
administrativa, foi firmado no dia 18/12/2002, na gestão do então Presidente Mauro
Ricardo Machado Costa24., constando, em sua cláusula I, a seguinte descrição de objeto
(fls. 357/368):
“ Este Contrato tem por objeto a prestação dos serviços de apoio
administrativo e atividade auxiliares, a serem executados de forma
contínua, nas dependências da FUNASA.
Subcláusula Segunda – Estima-se para esta contratação, uma
demanda horária semanal de até 22.200 (vinte e dois mil e
duzentos) horas, porém a FUNASA não está obrigada a realizá-la
totalmente, devendo ser considerado que segue: 1.200 horas para
classe I; 16.000 horas para classe II; 4.400 horas para a classe III
e 600 horas para a classe IV. Esta demanda poderá ser suprida de
acordo com as necessidades da FUNASA”.
19Fls. 374/375 do Volume II do PA.20Fls. 377/378 do Volume II do PA.21Fls. 380/381 do Volume II do PA.22Fls. 368/370do Volume II do PA.23 Fls. 371/372 do Volume II do PA.24 Nomeado em 26/04/1999 e exonerado em 14/01/2003, conforme fl. 383.
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A ilegalidade do objeto contratual acima transcrito decorre de
inúmeras situações, dentre as quais, a contratação para execução de atividade-fim do
órgão, que viola frontalmente o artigo 37, II da Constituição Federal; a inexistência de um
projeto básico ou termo de referência que estabeleça, de forma objetiva, os chamados
“postos de trabalho” com a delimitação da atribuição desses terceirizados; a criação de um
um ilícito sistema de banco de horas semanal; a criação de um plano de cargos e salários
“paralelo”, com critérios de ascensão funcional e remunerações bem maiores do que o
legalmente vigente no órgão, vindo a ocorrer inclusive a prática de cessão de terceirizados
para unidades situadas em outros estados.
Assim, nos termos já mencionados, com a eclosão do escândalo
envolvendo políticos, lobistas, dirigentes da FUNASA, empresa do ramo de terceirização
de mão-de-obra já envolvida em outras práticas semelhantes e, sobretudo, com o
afastamento dos dirigentes diretamente envolvidos com tais práticas ilícitas, réus da
presente ação, a Controladoria-Geral da União apontou uma série de ilegalidades na
contratação em análise, compelindo, assim, o próprio órgão a utilizar seus mecanismos de
apuração, quais sejam, auditoria; sindicância e processo administrativo disciplinar.
As ilegalidades apuradas apontam para situações que caracterizam a
nulidade do contrato em razão da ilicitude do seu objeto; bem como outras inúmeras
ilicitudes relacionadas à sua execução, praticadas, de forma destemida, na gestão de Paulo
Lustosa, que evidenciam o desvio de recursos públicos em benefício da própria contratada
e de terceiros.
Em relação às apurações administrativas (auditoria CGU, Sindicância
e PAD), que instruem a presente ação de improbidade administrativa, todo esse acervo de
documentos constitui o Processo Administrativo 25100.016.262/2007-73, formado por 22
volumes.
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Para melhor instrumentalizar a atuação deste parquet nas
apurações e das partes na tramitação processual da ação, foi determinada a
digitalização integral desses volumes, devidamente indexados25 por páginas, por
volumes e por palavras-chaves26, nos termos do DVD juntado à fl. 685/686. Ademais,
conforme Ofício juntado à fl.. 684, foi determinado o acautelamento do PAD, que
ainda se encontra na fase de julgamento na FUNASA, permanecendo o mesmo à
disposição da Justiça.
Na linha de atuação dos órgãos de controle e, em relação ao primeiro
aspecto supra destacado, ou seja, desvio de finalidade da contratação da empresa Brasfort,
a Auditoria da CGU, em trabalho de inspeção, produziu o relatório nº 17566027 e
recomendou a instauração de Processo Administrativo Disciplinar para apurar as seguintes
irregularidades,28 referentes ao Contrato nº 074/2002:
● ausência de estudo da área de Recursos Humanos para demonstrar o
quantitativo de pessoas a serem contratadas e se inexistiam as
categorias no Plano de Cargos e Salários do Órgão;
● ausência de estudo que demonstre que os salários a serem pagos eram
compatíveis com os salários pagos no mercado e na Administração
Pública Federal;
● consta no edital do pregão, apenas o quantitativo semanal de 22.200
horas, sendo 1.200 para Classe C-I, 16.000 para Classe C-II, 4.400 para
Classe C-III e 600 para Classe C-IV;
25 Conforme o índice produzido pela própria Comissão Processante do PAD.26 Vide instruções de acesso e consulta na capa do CD.27 A íntegra do Relatório 175660 encontra-se juntado às fls. 17/40 dos autos do PAD, Processo nº 25100.016.262/2007-73, devidamente indexado e gravado, na íntegra, no CD que instrui a presente ação.28 Irregularidades apontadas no Relatório da Comissão do PAD às fls. 491/493 do Volume III.
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● ausência de demonstração quanto às atividades contratadas e se
guardam ou não correlação com as desenvolvidas pelos servidores
ocupantes de cargos efetivos da FUNASA;
● processo licitatório incluindo divisão dos serviços em 4 Classes ( I a
IV), divididas em 5 níveis (I a V), criando um Plano de Cargos e
Salários paralelo, em alguns casos mais atrativos em termos salariais
ao existente na Fundação;
● descrição das atividades a serem desenvolvidas, de forma genérica,
dificultando a avaliação se estas são inerentes às categorias funcionais
abrangidas pelo plano de cargos da FUNASA;
● incoerência nos valores salariais a serem pagos, citando: um
terceirizado com a exigência de escolaridade de 1º grau, Classe III,
Nível V, recebe mais que um outro com a escolaridade de 2º grau,
Classe II, Nível I, escolaridade de 2º grau e, um contratado na Classe
II, Nível V, receber mais que um com nível superior, na Classe I, Nível
I;29
● primeiro termo aditivo: conceder aumento do valor anual custo/hora
antes de decorrido um ano da assinatura do contrato, retroagindo a
período em que ainda não estava em vigor o aumento de passagens30;
29 A ilegalidades listadas até o presente item decorreram da atuação do ex Presidente Mauro Ricardo Machado Costa e do ex Coordenador-Geral de Logística Francisco Sérgio Abucater, réus da presente ação.30 As irregularidades desse Aditivo relacionam-se à atuação do ex Diretor do Departamento de Administração da FUNASA Wilmar Alves Martins e foi celebrado pelos próprios fiscais do contrato, com a anuência do Coordenador-Geral de Recursos Logísticos Haroiso Ferreira de Oliveira.
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● segundo termo aditivo: aumento do valor do serviço contratado em
aproximadamente 40,34% sem uma efetiva análise da ocorrência das
causas ensejadoras do reajuste31;
A Sindicância nº 25100.071.014/2006-12 ratificou as constatações
da CGU e apontou as seguintes ilegalidades (fls. 2846/2856 do PAD, DVD anexo)32:
● contratação de pessoal de nível superior, em contrato cujo objeto é a
prestação de serviços de apoio administrativo e atividade auxiliar;
● objeto de contratação não especificado, pactuando-se um total de
serviços fixado em quantidade de horas, sem limitar quantidade de
terceirizados, com risco de contratação desenfreada, onerando os
pagamentos efetuados;
na celebração do contrato 074/02 todo o pessoal do PNUD (que
já trabalhavam na FUNASA) foi absorvido juntamente com os
contratados da empresa CONCRETA, cujo contrato foi rescindido pela
FUNASA;
a contratação de pessoal por meio do contrato 074/02
desrespeitou o Decreto 2.271/97, pois trata-se se atividade-fim. No
entanto a contratação da BRASFORT foi aceita pela PGF33. Ressalte-
se que houve contratação de pessoal de nível superior para prestação
de serviços de apoio administrativo e atividades auxiliares;
31As irregularidades desse aditivo também se relacionam à gestão do do ex Diretor do Departamento de Administração da FUNASA Wilmar Alves Martins, sendo celebrado, inclusive, pelo próprio Wilmar. 32 Comissão de Sindicância Administrativa instaurada na FUNASA por meio da Portaria nº 124 de 29/08/2006.33Parecer nº 67/PROJU/PGF/AGU
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o objeto do contrato não foi bem especificado, pois prevê
serviços fixados em 22.200 horas semanais sem limitar a quantidade de
terceirizados que poderiam ser contratados à BRASFORT;
a comissão sindicante teve dificuldades para obter informações
nas investigações, pois não houve colaboração da Coordenação-Geral de
Recursos Logísticos e nem da BRASFORT para apresentarem os
documentos solicitados, dentre eles: contratos de trabalho (para verificar
parentesco entre terceirizados e as chefias da FUNASA) e folha de
freqüência dos terceirizados (para verificar pagamento de salário sem a
devida contraprestação);
Não havia folha de freqüência dos terceirizados nos anos de
2003/2004/2005 e 2006. Os maiores problemas encontrados foram nos
anos de 2005 e 2006;
O Relatório Final do PAD, fls. 482/59934 analisa e caracteriza, de
forma detalhada, todas as ilegalidades acima indicadas, cuja leitura enseja a seguinte
conclusão em relação à referida contratação35:
– desvio de finalidade na contratação original, ou seja, contratação
de pessoal para execução de atividade-fim do órgão;
– inexistência de projeto básico, termo de referência ou qualquer
outro documento apto a indicar, caso possível a contratação, a efetiva necessidade do
órgão;
– concessão de repactuações de preço sem a efetiva caracterização
da necessidade do reequilíbrio econômico-financeiro;
34 Volume III do PP anexo.35Ao final, no âmbito do PAD, a Comissão inocentou IVAN GOUVEIA DOS SANTOS e aplicou a pena de destituição do cargo comissionado a: MARLON D'ANGELO FERREIRA DE OLIVEIRA, PAULO ROBERTO DE ALBUQUERQUE GARCIA COELHO e WAGNER DE BARROS CAMPOS.
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– total ausência de controle na gestão do contrato, não havia e não
há o adequado acompanhamento da freqüência dos contratados dentre outras situações
permissivas do pagamento de serviços não executados, que constitui um canal para o
desvio de dinheiro público.
A contratação da BRASFORT também é objeto de avaliação no
âmbito da Corte de Contas – TC 021.300/2006-8 (contas da FUNASA, referente ao ano de
2005) conforme Despacho TCU às fls. 101/102 do volume principal.
III.2.1 – ATIVIDADES FINALÍSTICAS DA FUNASA – TERCEIRIZADOS –
VIOLAÇÃO ARTIGO 37, II DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E DECRETO
2.271/97.
Nos termos apurados, o contrato 074/2002 é originário de um
certame instruído de forma totalmente deficiente que, logicamente, resultou numa
contratação que representa, além da violação dos princípios que regem a administração
pública e o processo licitatório, flagrante prejuízo econômico e moral à contratante.
Assim, conforme já mencionado, fazendo-se tábula rasa das
determinações da Lei de Licitações, os dirigentes da FUNASA responsáveis pelo Edital do
Pregão 035/200236, não providenciaram:
– estudo da área de Recursos Humanos apto a demonstrar o efetivo
quantitativo de pessoas necessárias a suprir as necessidades de atividades acessórias e
não finalísticas do órgão;
– estudos, levantamento de preços e outras pesquisas que
demonstrem a compatibilidade e adequação em relação ao mercado do salário pago
aos terceirizados, considerando-se, sobretudo, as atribuições que efetivamente
poderiam ser desempenhadas por essa mão-de-obra;36Certame que resultou na celebração do contrato 074/02.
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– análise quanto à sobreposição de atribuições dos servidores
públicos ocupantes de cargos efetivos e os terceirizados contratados à Brasfort, até
mesmo porque, de forma deliberada, as atividades dos terceirizados foram descritas
genericamente, dificultando a verificação sobre o enquadramento nas atividades das
categorias funcionais abrangidas pelo plano de cargos da Funasa37.
Assim, ex Presidente da Funasa Mauro Ricardo viabilizou uma
contratação nula, fundamentada num plano de cargos e salários “paralelo”, mediante a
previsão de um quantitativo semanal de horas, distribuída por classes de atividades (I a
IV) que, por sua vez, se subdividem em níveis (I a IV) caracterizando o efetivo desvio de
finalidade nessas contratações, efetivadas com salários mais atrativos do que aqueles
pagos aos servidores públicos.
A análise dos tópicos acima destacados indica que, não obstante a
tentativa inicial de se mascarar o fato de que a contratação de pessoal destinava-se à
execução de atividade finalística da FUNASA, sob a falsa justificativa de que as
atividades contratadas não se encontravam abrangidas nas atividades finalísticas do órgão,
as apurações evidenciaram justamente o contrário, ou seja, que, no início de forma menos
intensa e, após setembro de 2005, na gestão de Paulo Lustosa, de forma totalmente
desproporcional, os terceirizados contratados pela Brasfort executavam todo o tipo de
trabalho administrativo no órgão, especialmente aqueles destinados à sua área fim.
Basta uma simples conferência entre o Termo de Referência que
constitui o Anexo I do Edital do Pregão 035/2002 e que especifica as atribuições dos
contratados e o objeto indicado nesse Edital para fins de contratação, para que se verifique
que, na realidade, a contratação destinava-se à área finalística da FUNASA e não às suas
atividades acessórias, tanto é que durante a execução do contrato, esses empregados
37 Essas irregularidades relacionam-se à gestão do ex Presidente Mauro Ricardo Machado Costa e foram implementadas pelo ex Coordenador-Geral de Recursos Logísticos Francisco Sérgio Abucater.
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terceirizados atuaram em todas as áreas e setores da administração central, inclusive
integrando comissões de licitação.
Nesse sentido, segundo o Termo de Referência citado38, a mão-de-
obra contratada pelo Pregão 035/02 se dividia em classes com as seguintes atribuições:
“Classe I
Perfil: Nível Superior
Atribuições: Assistir e apoiar a execução especializada de
atividades de:
a) Desenvolvimento e manutenção de sistemas administrativos;
b) Controle, acompanhamento e processo de trabalho;
c) Análise organizacional e normatização de procedimentos;
d) Execução de outras tarefas complexas, de acordo com a
necessidade de cada Setor.
Classe II
Perfil: Nível mínimo exigido: 2º grau completo
Atribuições: Desenvolver e dar suporte às atividades operacionais
nas áreas de:
a) operações do sistema administrativo;
b) extração de indicadores e organização de informações;
c) recebimento, classificação, catalogação, distribuição e
arquivamento de documentos e processos;
d) execução de outras tarefas de natureza técnico-administrativos,
de acordo com as necessidades de cada setor.”
Classe III
Perfil: Nível mínimo exigido: 1º grau completo38Vide fls. 747/810 do Processo Administrativo digitalizado no DVD de fl. 685/686.
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Atribuições: Executar atividades operacionais e de suporte nas
áreas de:
a) expedição: reprografia, recepção e distribuição de documentos,
processos e malotes;
b) execução de outras tarefas de acordo com as necessidades de
cada setor.
Classe IV
Perfil: Nível mínimo exigido: 1º grau completo
Atribuições: Executar atividades específicas para as quais seja
exigida jornada de trabalho especial, tais como:
a) executar, dar suporte e auxiliar nas atividades operacionais de
comunicação administrativa e atendimento ao público, e
operacionalizar e executar atendimento em unidades de call
centers e/ou similares.”
Veja-se que as únicas atividades que, em tese, enquadrariam nos
requisitos legais de terceirização, ou seja, as chamadas classes III e IV, são as que menos
foram demandadas pelos gestores, nos termos caracterizados nesta petição. Importante
observar que os parentes e outros contratados por indicação ocuparam os postos mais
elevados, ou seja, Classes I e II, usufruindo, portanto, dos salários mais altos.
E o que é pior, além da execução de atividade finalística da
FUNASA, os terceirizados ainda eram regidos por uma espécie de plano de cargos e
salários “paralelo”, com remunerações superiores ao servidores ingressos por concurso
público.
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Outra evidência concreta desse desvio de finalidade da contratação é
o fato de se exigir, para execução das atividades contratadas, que seriam meramente
auxiliares e sem qualquer grau de complexidade, terceirizados com nível superior, que,
aliás, eram alçados, dentro desse plano “paralelo” de um nível funcional e salarial para
outro melhor, conforme o tipo de atividade desempenhada ou mesmo da “indicação” de
algum dirigente da FUNASA.
A prestação de serviços acessórios de apoio administrativo e
atividades auxiliares não demanda, de forma alguma, uma subdivisão dos contratados por
categorias e níveis de atribuição, escolaridade e salário e, muito menos, a exigência de
nível superior para determinadas atividades.
A absurda situação de contratação por uma quantidade máxima de
horas de trabalho semanal39, que não possui qualquer amparo legal pois foge,
completamente, às regras estabelecidas pela Lei 8.666/93 para contratação de serviços,
notadamente mão-de-obra auxiliar à administração pública, permitiu que, de fato, fosse
criado um sistema de gerenciamento de pessoal totalmente paralelo às regras aplicadas ao
servidor público ingresso nesse órgão por meio de concurso público40.
Em relação à sistemática de contratação fundamentada num limite
semanal de horas, in casu, 22.200, releva destacar as seguintes constatações da Comissão
Processante do PAD (fls. 499/501):
“Nos anexos do PBS nº 74/2002, constam que a unidade de medida
do contrato seria em hora trabalhada...medida que gerou dificuldades também para 39A previsão de 22.200 horas semanais, subcláusula segunda do contrato 074/03, fl. 358 do PA, possibilita a contratação de até 550 terceirizados pela FUNASA o que representa um contingente de pessoal terceirizado totalmente desproporcional em relação ao número de servidores públicos que atuam na área administrativa da sede do órgão, em Brasília, local da contratação. Nesse sentido, vide quadro de fl. 657, que apresenta o quantitativo de servidores ocupantes de cargos administrativos relevantes e outros cargos administrativos, no DF, que perfaz um total de 341 servidores.40No que se refere à sua remuneração, os servidores da FUNASA são regidos pela Lei 11.355 de outubro de 2006.
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apresentação de propostas pelas empresas interessadas em participar do certame41,
perdurando ainda quando da elaboração do Contrato propriamente dito, desde que na
homologação não constou o valor total do contrato, foi emitida pelo Serviço de Compras
e Contratos (SERCO) Nota Técnica concluindo pela necessidade de ajustes, que
efetivamente ocorreu (fls. 656/658 e 956-968 do PAD).
Com o ingresso dos contratados no Órgão, as dificuldades tornaram-
se mais evidentes, em especial para os serviços designados pelo acompanhamento ao
referido contrato no que diz respeito ao controle de freqüência dos mesmos, deparando-
se com a incerteza quanto às horas lançadas nas faturas da contratada, como fiscais,
atuavam mesmo na base da presunção, sem eficácia na supervisão e controle detalhado
para se chegar a real certeza de que o constante nas folhas de presenças dos
terceirizados e a fatura da empresa...”42.
Assim, por haver a referida contratação valido apenas de cargas
totais mensais como fator de parametrização de cálculo, não levando em conta o valor
absoluto que deveria ser atribuído para cada 'posto de serviço', dificilmente está
ocorrendo supervisão necessária ao controle eficaz da carga horária estabelecida e
certeza das horas efetivamente trabalhadas.
O fato de não haver sido limitada a quantidade de horas
necessárias para atividades a serem exercidas, conseqüentemente proporcionou a
contratação desenfreada de terceirizados, inclusive com percepção de salários com
valores superiores aos que estão sendo pagos pela FUNASA, aos servidores, sem
sombra de dúvida resultando em onerosidade nos pagamentos efetuados à contratada.”
Destacamos.
Nesse mesmo Relatório a Comissão do PAD verificou que a
sistemática de contratação por limite de horas trabalhadas, além de proporcionar todas as
41 Situação que caracteriza restrição ao caráter competitivo do certame.42 As apurações demonstraram que não havia qualquer controle quanto à execução dos serviços prestados pela empresa Brasfort. Na realidade, competia a essa empresa manter, sob sua guarda, todos os registros e apenas apresentava a fatura para ateste e pagamento. Vide, dentre outros, depoimentos de fls. 205 a 209.
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fragilidades de controle já citadas, também é um eficaz instrumento para o desvio de
dinheiro em favor da contratada, senão vejamos (fls. 591/592):
“A contratação das atividades auxiliares e apoio administrativos,
pela FUNASA, por horas, ao invés de Postos de Trabalho é sui-generis, embora os
responsáveis pela elaboração dos procedimentos antecessores da contratação afirmem
que se seguiu o modelo do Ministério da Saúde, é sabido que a terceirização naquele
Ministério não se deu dessa maneira. A requisição foi pensada supondo-se que
contratariam cooperativas, sendo estas impedidas de participar...
Sabendo-se que as 03 (três) primeiras classes, juntas suportam
86.400 (oitenta e seis mil e quatrocentas) horas mensais, sendo a remuneração paga, de
44 horas semanais, perfazendo 176 horas mensais para cada terceirizado, e ainda que a
classe IV contempla 2.400 (duas mil e quatrocentas) horas mensais, com remuneração a
ser paga, de 33 horas semanais, o que perfaz 132 horas mensais por terceirizado, chega-
se a um quantitativo de contratação para o equivalente a 508 (quinhentos e oito)
terceirizados.
(...)
Pela falta de cautela e comprometimento da parte do responsável
pelo Gerenciamento do Contrato nº 74/2002, no caso o Coordenador-Geral da CGLOG,
o mesmo tornou-se vulnerável, repercutindo na rotina administrativa, com necessidade
da presença do Órgão de Controle, com a constatação de diversas irregularidades, que
restaram comprovadas neste apuratório, proporcionando constrangimentos, com notícias
na imprensa e, por ser mal gerenciado, ocasionou prejuízos ao erário”.
Sobre os aspectos ora enfrentados, releva observar que todos os
elementos de prova colhidos tanto a Comissão de Sindicância, quanto a Comissão
processante do PAD demonstraram o desvio de finalidade do contrato, sendo simulada a
contratação para atividades acessórias e, de fato, executadas atividades finalísticas.
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Nesse sentido, as seguintes constatações lançadas no Relatório Final
da Comissão de Sindicância43:
“Esta comissão analisou o processo 25100,032,659/2002-06 (Pregão
035/02) no sentido de verificar impropriedades/ilegalidades durante a
condução do processo licitatório. Nesse sentido, faz alguns comentários:
1) Contratação de pessoal de nível superior em um contrato cujo objeto é
a prestação de serviços de apoio administrativos e atividades auxiliares -
A Comissão entende tratar-se de atividades fim, portanto, não abrangidas
pelo Decreto n. 2.271/97 que regula a contratação desses serviços no
âmbito da Administração Federal...
2) Quanto ao objeto da contratação - A comissão entende que o objeto
contratado não está
bem especificado. A FUNASA pactuou um total de serviços fixado na
quantidade de horas 22.200 horas semanais (que correspondem a 88.800
horas mensais) sem limitar a quantidade de terceirizados que podem ser
contratados pela empresa BRA8FORT. Neste caso, existe um risco muito
grande de contratações desenfreadas onerando sobremaneira os
pagamentos efetuados. Cabe destacar que a primeira fatura para fevereiro
de 2003, foi emitida no valor de R$ 170.983,66 ao passo que em setembro
de 2006 o valor da futura já corresponde a R$2.039.586,68, fis. 2381. Esta
comissão entende que a FUNASA deve munir-se de informações pertinentes
a este tipo de contratação como subsidio para rever o objeto do contrato
074/02, a fim de evitar abusos na contratação de empresa para prestação
de serviços de apoio administrativo e atividades auxiliares.'
E do PAD, fls. 561/562 do PA:
“- Terceirizado exercer atividade finalística, representando
Coordenador Regional e Presidente da FUNASA; (CGU)
43Vide fls. 2846/2856 do PAD, digitalizadas no CD.
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- Terceirizados ocupando cargos estratégicos dos setores da
FUNASA, inclusive operando sistema de trâmite de convênio. (SIND)
Sendo o objeto do contrato nº 74/2002, celebrado com a empresa
BRASFORT, a contratação de pessoa jurídica para prestação de
serviços de apoio administrativo e atividades auxiliares, caberia aos
dirigentes e chefias imediatas de cada terceirizado a delegação de
atribuições que tivessem essa característica, face a celebração de
contrato para atividade meio, devendo permanecer as atividades
ligadas à missão maior do Órgão ao encargo de servidores do
quadro, ocupantes de cargos efetivos, bem como outras funções com
poder de decisão. Plano de Trabalho e Termo de Referência definem
as especificações para a Classe -I, cujo perfil requer maior exigência
quanto ao nível de escolaridade e complexidade (fls. 654-664):
Atribuições: Assistir e apoiar a execução especializada de
desenvolvimento e manutenção dos sistemas administrativos;
Controle, acompanhamento e processo de trabalho; Análise
organizacional e normatização de procedimentos; Execução de
outras tarefas complexas, de acordo com as necessidades de cada
setor.
As atribuições informadas pelos setores nas Planilhas de atribuições
dos Funcionários da Brasfort, quando instados pela Comissão,
condizem com os perfis dos terceirizado44s. Contudo, as situações a
seguir, confirmam as notícias de alguns exercerem atividades
finalísticas, ocupando cargos estratégicos (fls. 3761-3836)...
44A constatação da suposta “compatibilidade” das atribuições advém da análise de planilhas fornecidas pelos próprios investigados, notadamente o ex Coordenador-Geral de Logística, Paulo César Coelho. Assim, trata-se de informação não confiável. Na medida em que houve um aprofundamento das apurações, transpondo a simples análise da informação documentação para a pesquisa de campo, com a verificação das efetivas atribuições desses terceirizados, constatou-se o desvio de finalidade.
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Assim, ao proceder à análise das atribuições efetivamente
desempenhadas pelos terceirizados vinculados à empresa Brasfort, constatou-se que estes,
de fato, exerciam todo o tipo de atividade no órgão, notadamente a sua atividade
finalística, o que resta efetivamente evidenciado, dentre outras situações, pelas seguintes
constatações (fls. 562/565 do PA):
– designação do terceirizado MAURÍCIO DE ALMEIDA ABREU
(fls. 347/348 do PAD) como responsável pelo ordenamento e elaboração do Plano
Nacional de Saúde Indígena, na função de Gerente de projetos Estratégicos45;
– o terceirizado MÁRCIO GODOY GARCIA COELHO, primo do
ex Coordenador-Geral de Logística Paulo Garcia46, desempenhava função estratégica
45Este empregado terceirizado, como gerente de projetos estratégicos, realizou diversas viagens pagas pela FUNASA, recebendo diárias, para participar de “reunião de repactuação de convênios”, fls. 3507-3515 e 3609-3628 do PAD.46 Relevante o destaque para o perfil dos terceirizados escolhidos pelos dirigentes Paulo Lustosa, Paulo Coelho e outros. No caso de MÁRCIO GODOY, primo de Paulo Garcia que exerceu atividades de gestão da FUNASA, conforme acima relatado, trata-se de conhecido “lobbista” envolvido com a “máfia” de desvio de dinheiro da saúde revelada pela “Operação Vampiro”. Nesses termos, o seguinte trecho extraído de denúncia formulada nesse contexto de fraudes e desvio de dinheiro público da “máfia dos vampiros, Ação Penal 2004.34.00.020907-2:
“ANDRÉ FERREIRA MURGEL atuava favorecendo a organização no
Ministério da Saúde, tarefa facilitada por sua participação na Comissão
de Licitação. Note-se que era o responsável pela chave do cofre, dos
quais foram extraídos os envelopes da Concorrência n.º 11/02, violados
conforme laudos da Polícia Federal.
Cabe acrescentar que ele é genro de ARMANDO GARCIA COELHO,
sócio de LOURENÇO PEIXOTO, um dos líderes da quadrilha.
ANDRÉ vive na casa do sogro, ou seja, tem proveito direto de seu
patrimônio, adquirido com as vantagens ilícitas obtidas nas licitações.
Lembre-se, também, que ANDRÉ omitiu em seu depoimento o seu real
patrimônio imobiliário, ao não revelar a propriedade de imóvel na
cidade de Cabo Frio/RJ, para onde rotineiramente viaja.
Uma seqüência de conversações telefônicas interceptadas mostra que
ANDRÉ presta serviços de consultoria para UBIRAJARA,
representante da empresa TROPICAL TRADING, que participa de
licitações promovidas pelo Ministério da Saúde, contando, para tanto,
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nessa Coordenação, com diversas deliberações, na qualidade de Assessor da CGLOG.
Também realizou diversas viagens sob a rubrica “serviços” no percurso Brasília/Rio
de Janeiro, com o recebimento de diárias, para suposta participação em “reunião na
CORE/RJ”, fls. 3507-3515, 3593-3605 e 4342 do PAD;
– o terceirizado RENATO ANTÔNIO COUTINHO BERNARDES,
indicado por Paulo Garcia, se deslocou, com o recebimento de diárias e passagens
aéreas pagas pela FUNASA, por 17 (dezessete) vezes no trajeto Brasília-Fortaleza
sob o fundamento “reunião com Coordenadores Regionais” e também viajou
acompanhando o ex-Coordenador da CGLOG Paulo Garcia Coelho e outras
oportunidades, fls. 3507-3515 e 3690-3710 do PAD;
– o terceirizado SÁVIO LEÃO COELHO realizou 13 (treze)
viagens sob a rubrica “reunião nas Cores” ou “com gestores da região”, para diversas
Coordenações Regionais, notadamente o Estado do Ceará, tendo as passagens aéreas e
diárias pagas pela FUNASA,
– o terceirizado DANIEL ACIOLI DE MEDEIROS CUNHA
aparece como beneficiário de pagamento de diárias e passagens aéreas pela FUNASA,
para viagens realizadas da cidade do Rio de Janeiro a Brasília, nos meses de abril de
2006 e maio de 2006, para “Participar de Reunião com o Coordenador-Geral de
com a ajuda de MARTA CRISTINE PERES BARROS, que recebe
uma comissão que varia entre 2,5% a 5% do valor do objeto do
contrato, e de RICARDO ALVES DE MATTOS. [...]
As conversas entre ANDRÉ e UBIRAJARA, bem como com MÁRCIO
GARCIA COELHO, tratam de pagamentos, a forma de sua efetivação,
e dos percentuais que servem de base de cálculo dos valores do serviço
de “consultoria”, bem assim de detalhes de depósitos a esse título,
inclusive com o apoio de MARTA, que recebia comissão para tanto, a
qual, “honestamente”, afirma em uma conversação que recebeu a mais
do que o combinado a título de comissão e que restituiria o restante a
ANDRÉ, fato confirmado no depoimento prestado à Polícia Federal”.
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Recursos Logísticos”. No entanto, as apurações do PAD revelaram que esse
“terceirizado” sequer trabalhava na referida Regional, ou seja, Rio de Janeiro47.
Não é sequer necessário conceituar a expressão “serviços auxiliares”
ou “acessórios” para que se verifique que as atividades desempenhadas por esses
terceirizados, contratados pela Brasfort por indicação dos dirigentes da FUNASA, réus da
presente ação, adentra-se em atribuições inerentes à atividade finalística do órgão e que
deveriam ser exercidas por servidores públicos48.
E o que é pior, não é conhecido o efetivo motivo dessas constantes
viagens realizadas por esses terceirizados, que assessoravam diretamente o grupo liderado
pelo ex Presidente Paulo Lustosa, observando-se, outrossim, que os deslocamentos mais
freqüentes eram para os Estados do Rio de Janeiro e Ceará, base de atuação política desse
grupo.
Aliás, a própria Procuradoria-Geral da FUNASA, no Parecer nº
234/PGF/FUNASA/2003, datado de 19 de maio de 2003, já havia consignado esse
entendimento, conforme trecho abaixo transcrito, fls. 1123-1124 e 1130-1133 do
PAD/CD:
“II. FUNDAMENTAÇÃO
9. A atividade exercida pelos prestadores de serviço da BRASFORT
é do tipo prestação dos serviços de apoio administrativo e
atividades auxiliares, a serem executadas de forma contínua, nas
47Vide, dentre outras as constatações de fls. 561 a 561 do PA – Relatório Final doPAD.48Na realidade, os servidores da FUNASA atuantes na área administrativa recebiam salários inferiores aos terceirizados; eram dirigidos por esses terceirizados indicados em razão de conexões político-familiares e ainda não tinham condições de assumir postos mais relevantes nos órgãos, inclusive com percepção de diárias em razão de viagens, pois essas atribuições foram destinadas unicamente a esses mesmos terceirizados, o que representa, além de uma flagrante ilegalidade, um desrespeito àqueles que ingressaram no serviço público mediante concurso e permanecem vinculado à Fundação independentemente do dirigente da ocasião.
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dependências da FUNASA, de modo que não constituem atividades
que exijam que o servidor viaje para a realização do serviço.
III – CONCLUSÃO
18. Ante o exposto, manifestamo-nos no sentido de impossibilidade
da FUNASA, arcar como custeio de passagens e diárias dos
prestadores de serviço, inviabilidade do custeio do plano de
saúde.”
Segundo constatado pela Comissão Processante do PAD, até o
período em que Paulo Lustosa e Paulo Garcia Coelho assumiram a administração da
FUNASA, o parecer acima era observado No entanto, a partir dessa gestão específica, ou
seja, julho/setembro de 2005, foram concedidas Diárias e emitidas Passagens em favor de
33 (trinta e três) terceirizados, em especial, a partir da gestão dos indiciados, quando
tiveram maior incidência, conforme Espelhos de PCDs concedidas e Comprovações de
pagamentos (fls. 180-204, 213-346, 2516-2528, 2959, 3507-3733 do PAD)49.
Conclui-se, portanto, que a ilegalidade da contratação é patente.
Decorre essencialmente, da ilicitude do objeto contratado que proporcionou todos os
desvios de finalidade e ilegalidades praticadas durante a execução em decorrência da falsa
motivação, pois o efetivo móvel desses administradores, réus da presente ação, era o
atendimento dos seus interesses particulares e de terceiros e não a eficiente gestão da
FUNASA.
Há duas premissas que devem ser consideradas quando da análise
da ilegalidade dos atos praticados pelos dirigentes da FUNASA, arrolados no pólo passivo
desta ação: a inconstitucionalidade da contratação de pessoal terceirizado para execução
de atividade-fim, em razão do disposto no artigo 37, inciso II da Constituição Federal e
49 Ás fls. 564/566 do PA consta a indicação discriminada da quantidade de diárias e passagens aéreas concedidas por Departamento, bem como os terceirizados que usufruíram dessa prerrogativa funcional de servidores públicos.
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a ilegalidade da contratação de pessoal terceirizado, ainda que para atividades
consideradas “acessórias”, quando existente força de trabalho suficiente no referido órgão,
que é o caso da FUNASA.
A realização de concurso público para o provimento de cargos é
regra cogente, da qual não pode se afastar a Administração, salvo em casos excepcionais,
dentre os quais não se inclui a presente situação. As disposições constitucionais sobre o
tema são cristalinas:
“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
(...)II - a investidura em cargo ou emprego público depende de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de
provas e títulos (grifo acrescido), de acordo com a natureza
e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista
em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão
declarado em lei de livre nomeação e exoneração;
(...)
IX – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo
determinado para atender a necessidade temporária de
excepcional interesse público;
(...)”
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Ao permitir a contratação da Brasfort na forma acima narrada, o ex
Presidente da Funasa Mauro Ricardo violou princípios basilares da Administração
Pública, assim definidos na lição do Prof. José dos Santos Carvalho Filho50, infra51:
“Baseia-se o concurso em três postulados fundamentais. O
primeiro é o princípio da igualdade, pelo qual se permite
que todos os interessados em ingressar no serviço público
disputem a vaga em condições idênticas para todos.
Depois, o princípio da moralidade administrativa,
indicativo de que o concurso veda favorecimentos e
perseguições pessoais, bem como situações de nepotismo,
em ordem a demonstrar que o real escopo da
Administração é o de selecionar os melhores candidatos.
Por fim, o princípio da competição, que significa que os
candidatos participam de um certame, procurando alçar-se
a classificação que os coloque em condições de ingressar
no serviço público.”
Acerca do tema, esclarecedora é a doutrina de Marçal Justen Filho,
para quem a contratação de serviços terceirizados é medida excepcional, somente
permitida quando não correspondente a atribuição de cargo ou emprego público. Nas
palavras do doutrinador:
“Não cabe, ao contrário do que o texto literal induz, a
aplicação do regime da Lei nº 8.666/93 à contratação de
todos os “serviços” de terceiros. Somente quando se tratar
de serviços esporádicos ou temporários, desenvolvidos por
50In Manual de Direito Administrativo, 16 ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p.526.51 Nesse aspecto, relevante o destaque do teor da informação de fls. 641/665, que revela que a FUNASA possui, cedido a outros órgãos e a Estados, um quantitativo de pessoal mais do que suficiente para o cumprimento da sua missão.
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exceção, incidirá tal regime. Quando o serviço
corresponder a cargo ou emprego público, aplicam-se os
dispositivos constitucionais acerca dos servidores públicos,
empregados públicos ou prestadores de serviço temporário
(CF, art. 37 e seus incisos). Em tais hipóteses, não caberá
licitação, mas concurso público (ressalvada a hipótese de
cargos em comissão).”52
A terceirização no serviço público, a partir da promulgação da
Constituição Federal de 1988, encontra-se disciplinada no âmbito do Decreto 2271, de
1997. Nessa situação, a direção e o comando da atividade terceirizada encontra-se a cargo
da empresa contratada e o tomador do serviço, no caso a FUNASA, não dá ordens diretas
aos empregados. Essa é única forma de execução indireta permitida pelo Decreto 2.271,
de 1997, até mesmo porque, abrange ou deveria abranger apenas atividades que não são
inerentes à função institucional do órgão, tais como limpeza, conservação, telefonia,
fotocópias, etc.
Conclui-se, portanto, que a terceirização operada encontra óbice no
Decreto nº 2271/1997, que trata da contratação de serviços pela Administração Pública
Federal direta, autárquica e fundacional. A norma em comento veda a execução indireta de
atividades de atribuição de categorias funcionais insertas em plano de cargos do órgão ou
entidades. Veja-se:
“Art . 1º No âmbito da Administração Pública Federal
direta, autárquica e fundacional poderão ser objeto de
execução indireta as atividades materiais acessórias,
instrumentais ou complementares aos assuntos que
52JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 11ª ed. Dialética: São Paulo, 2005. p. 32.
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constituem área de competência legal do órgão ou
entidade.
§ 1º As atividades de conservação, limpeza, segurança,
vigilância, transportes, informática, copeiragem, recepção,
reprografia, telecomunicações e manutenção de prédios,
equipamentos e instalações serão, de preferência, objeto de
execução indireta.
§ 2º Não poderão ser objeto de execução indireta as
atividades inerentes às categorias funcionais abrangidas
pelo plano de cargos do órgão ou entidade, salvo expressa
disposição legal em contrário ou quando se tratar de cargo
extinto, total ou parcialmente, no âmbito do quadro geral
de pessoal.
Não obstante a expressa vedação do Texto Constitucional e do
Decreto nº 2271/97, a análise dos fatos acima narrados revela ter agido o dirigente da
FUNASA, responsável pela contratação original, na contramão da legislação atinente à
matéria. Pretendeu-se, de fato, a substituição considerável da execução das atividades
inerentes às atribuições finalísticas do órgão pelo serviço terceirizado, relegando aos
servidores e setores competentes papel coadjuvante, secundário, não obstante a existência
de quantitativo de servidores suficiente para suprir essa demanda, ingressos pelo legítimo
processo do concurso público.
III.2.2– REPACTUAÇÃO DO VALOR CONTRATADO – AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DA NECESSIDADE DE REEQUILÍBRIO ECONÔMICO –
FINANCEIRO.
Restou comprovado que o contrato 074/02 é nulo de pleno direito
em razão de inúmeros vícios ocorridos desde o processo licitatório, notadamente quanto à
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forma de contratação e outros aspectos que apenas beneficiaram a contratada e aqueles
que atuaram com desvio de finalidade para benefício desta e de seus próprios interesses,
réus da presente ação.
Assim, uma vez constatado que o contrato acima mencionado foi
eficiente instrumento de desvio de dinheiro público, é fato que todos os envolvidos nesse
esquema atuaram para otimizar os resultados auferidos dessa contratação, caracterizando-
se, a repactuação de preços, como um eficaz mecanismo de enriquecimento da empresa
contratada e de outros que atuaram em conluio.
O Contrato 074/2002 foi assinado no dia 26/12/2002, como
resultado de um processo licitatório na modalidade pregão. Ocorre que, já no início da sua
execução, a contratada solicitou e teve deferida repactuação de preços, sem qualquer
estudo adequado das justificativas desse aumento.
Segundo apurado, fls. 501/502 do PA, a empresa requereu aumento
do valor contratual no início de janeiro53 e, posteriormente, aditou esse requerimento para
incluir uma repactuação decorrente de aumento de preços de tarifas de ônibus urbanos. A
Procuradoria-Geral da FUNASA manifestou-se favorável apenas à repactuação decorrente
do aumento das tarifas e manteve esse entendimento em novo pronunciamento em
resposta a questionamentos da empresa.
No entanto, conforme apurado no PAD:
“Não obstante, contrariamente aos Pareceres Jurídicos, que
expressamente vedaram a prática, aquele contrato foi reajustado em seu valor total,
sendo oportuno lembrar que consoante o art. 9º do Decreto nº 23.557, de 03 de fevereiro
de 2003, publicado na página 3, do Diário Oficial do Distrito Federal nº 25, que fixou a
53 Observando-se que o contrato foi firmado em dezembro do ano anterior e a empresa foi contratada porque apresentou o menor preço.
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tarifa do Serviço Convencional do Sistema de Transporte Público Coletivo do Distrito
Federal-STPC/DF, somente a partir do dia 04 de fevereiro de 2003, é que passaram a
viger os novos preços das tarifas. Logo, a concessão do aumento retroagiu à data em que
não vigorava tal aumento de passagens (16 de janeiro de 2003) (fls. 1002-1008).”
O procedimento acima também configura burla ao processo
licitatório, uma vez que a empresa, que se sagrou vencedora por ofertar o menor preço,
assim que assinado o contrato já solicitou reajuste/aumento do valor contratual e
repactuação em razão de aumento de preço de passagens de ônibus e teve deferido ambos
os pedidos, quando apenas o segundo seria aceitável e, mesmo assim, a partir da vigência
do aumento e não retroativamente.
Ora, as demais concorrentes desse certame, que não tinham a
informação quanto a possibilidade de reajustamento do valor contratado logo após a
assinatura do contrato foram prejudicadas, pois, em se tratando de uma contratação
fundamentada no menor preço, os dirigentes da Brasfort diminuíram o valor da proposta
apresentada, cientes de que, em breve, obteriam um substanciosos reajuste, como de fato
ocorreu.
Esse reajuste ilícito foi possibilitado pelo então Presidente da
FUNASA Valdi Camarcio Bezerra, única autoridade que, naquele momento, detinha
competência para deferir a prática desse ato, não obstante o inusitado e estranho fato de o
Termo Aditivo que possibilitou esse ilegal aumento do valor contratado ter sido assinado
apenas pelos fiscais do contrato, Dorceni de Jesus Gomes Maia, agente de portaria e pelo
administrativo Marcos Antônio da Silva Pádua no dia 31 de janeiro de 2003, e o que é
pior, logo após a assinatura do contrato que ocorreu em 18 de dezembro de 2002.
Já o segundo aditivo, que também contou com a autorização do ex
Presidente Valdi Camarcio, representou mais uma escandalosa e imoral benesse à empresa
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contratada, pois, assinado em 05/12/2003, além de prorrogar a vigência do contrato por
mais um ano, ainda permitiu um reajuste da ordem de 40,34% , referente, segundo
consignado no Relatório Final do PAD, à previsão de dissídio incerto e futuro e valor do
COFINS com alíquota majorada antes de entrar em vigor a nova alíquota (fls.
1354-1357). Destaquei
Após a troca de diversas correspondências entre a empresa Brasfort
e a Funasa e manifestações contrárias da Procuradoria-Geral do órgão, nos termos
retratados às fls. 504/505, resta evidenciada a fraude e o conluio com dirigentes da
FUNASA no sentido de se beneficiar economicamente a contratada.
Assim, eis que no aspecto formal, houve o registro de que seriam
realizadas pesquisas de mercado, nos termos pontuados pela Procuradoria-Geral do órgão.
No entanto, no dia seguinte a essa manifestação, obviamente sem qualquer tempo hábil
para a realização das pesquisas, foi assinado o Termo Aditivo que possibilitou o abusivo e
injustificado aumento de preços.
Nesse sentido:
“O Parecer nº 728/PGF/PF/FUNASA/2003, de 27 de novembro de
2003, concluiu pela imperiosa necessidade de realização de nova pesquisa de mercado e,
estas, embora tenham datas constando que foram providenciadas, no período de 02 a 04
de dezembro de 2003, já no dia seguinte foi o Termo Aditivo de nº 62/2003 assinado,
com as alterações propostas pela contratada (fls. 1317-1321 e 1326-1352).” Destacamos.
É fato que ao vencer o certame por determinado preço, a contratada
tem a obrigação legal e contratual de manter o valor apresentado, exceto situações
excepcionais e efetivamente comprovadas. Na hipótese em análise, resta evidenciado o
conluio para beneficiar a contratada e, inclusive, prejudicar terceiras empresas que
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participaram do certame e ofereceram preços um pouco acima do valor objeto da
contratação, que não tinham conhecimento que, tão-logo assinado o contrato, poderiam se
valer de artifícios escusos para elevar o preço do contrato.
Esse segundo aditivo, que concedeu um ilegal e não justificado
aumento à empresa contratada, foi firmado em 31/12/2003, sendo assinado pelo então
Coordenador-Geral de Recursos Logísticos Haroíso Ferreira de Oliveira, recém ingresso
naquele órgão.
Não restam quaisquer dúvidas no sentido de que o vencedor de
uma licitação pelo menor preço devem cumprir a proposta apresentada que, em última
análise, foi a causa ensejadora da celebração do contrato.
O procedimento adotado pela FUNASA para concessão dos dois
reajustes pactuados pelo Primeiro e Segundo Termos Aditivos é totalmente ilegal,
primeiramente porque viola a Lei 8.666/93, uma vez que o primeiro reajuste foi concedido
um mês após a assinatura do contrato, caracterizando fraude à licitação. Em segundo
lugar, não houve qualquer comprovação técnica, seja por parte da requerente, Brasfort,
seja pelos dirigentes da FUNASA responsáveis pelo aumento, apta a fundamentar,
também nos termos da lei de licitação, esse injustificável aumento54.
Ao discorrer sobre o tema, Marçal Justen Filho traz as seguintes
considerações, totalmente aplicáveis à hipótese em análise, em ampla análise que faz
sobre o tema às fls. 500/506 de sua renomada obra55:
“O estabelecimento da equação econômico-financeira depende da
concretização de um evento posterior à formulação da proposta,
54A forma peculiar de tramitação do requerimento de ajuste até a sua concessão, nos termos narrados, já caracteriza o conluio entre os dirigentes da FUNASA responsáveis pela autorização e os proprietários da Brasfort.55Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 9ª Edição. Dialética. São Paulo, 2002.
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identificável como causa do agravamento da posição do particular.
Não basta a simples insuficiência de remuneração. Não se
caracteriza rompimento do equilíbrio econômico-financeiro quando
a proposta do particular era inexeqüível. A tutela à equação
econômico-financeira não visa a que o particular formule proposta
exageradamente baixa e, após vitorioso, pleiteie elevação da
remuneração.
Esclarecedor sobre o tema o entendimento do TFF- 5ª Região,
consubstanciado no r. Acórdão abaixo transcrito:
ADMINISTRATIVO. TOMADA DE PREÇOS. CONTRATO
ADMINISTRATIVO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE LIMPEZA E
CONSERVAÇÃO. CONVENÇÃO COLETIVA DE TRABALHO.
MAJORAÇÃO DO PISO SALARIAL DA CATEGORIA PROFISSIONAL.
EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO. LEI Nº 8.666, de 21.06.1993.
TEORIA DA IMPREVISÃO. INAPLICABILIDADE.1. Recorrente que
postula seja julgado improcedente o pedido de revisão de contrato de
prestação de serviço de limpeza e conservação, com fundamento na
necessidade de restauração do equilíbrio econômico-financeiro, em vista
da emergência de convenção coletiva do trabalho, que alterou o piso
salarial da categoria envolvida no negócio jurídico.2. O edital da tomada
de preços, que ensejou o contrato em análise, data de 22.12.2000. A
proposta, com validade de 60 (sessenta) dias a contar da abertura
envelopes, está datada de 08.01.2001, do que decorre que sua vigência
estava prorrogada até 08.03.2001. O contrato
foi firmado em 01.03.2001. Esses dados levam à destruição da
argumentação da autora. Isso porque procedeu, livremente, à contratação,
quando do chamamento para tanto, embora já vigorante a convenção
coletiva de trabalho (datada de 05.02.2001). Não tem qualquer
razoabilidade ou lógica a idéia de que a empresa tenha se obrigado
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consciente de que não poderia fazer frente às responsabilidades inerentes
ao seu comprometimento. Cogitar essa possibilidade
seria admitir que a empresa contratou simplesmente para quedar
inadimplente em relação às suas obrigações contratuais.
3. A aplicação da teoria da imprevisão dá-se lugar quando fatos novos,
imprevistos ou imprevisíveis, ou ainda previsíveis, mas de conseqüências
incalculáveis, estranhos à vontade das partes, causam desequilíbrio do
contrato e refletem na economia e na execução do mesmo, importando em
sua alteração a fim de restabelecer a relação que as partes pactuaram
inicialmente. 4. Somente se cogitará em se restabelecer o equilíbrio
econômico-financeiro do contrato quando presentes os pressupostos
fáticos previstos em lei, isto é, fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de
conseqüências incalculáveis, retardadores ou impeditivos da execução do
ajustado, ou ainda, em caso de força maior, caso fortuito ou fato do
príncipe, configurando álea econômica extraordinária e extracontratual.5.
No caso em apreço não se vislumbram os citados pressupostos, eis que não
ocorreu evento extraordinário e imprevisível a justificar a alteração do
contrato ou mesmo fato previsível de conseqüências incalculáveis. 6. Não
se olvide que as convenções coletivas de trabalho têm prazo certo ou
mesmo data provável a se realizarem, sendo, portanto, do pleno
conhecimento da autora contratada o possível reajuste da categoria
profissional, a refletir no preço ofertado. Ademais, era manifestamente
previsível o aumento do piso salarial da categoria, em vista do expresso
prazo de validade inserto na norma coletiva. O aumento do piso salarial
da categoria é fato previsível e de conseqüências calculáveis, razão pela
qual não se aplica o art. 65,II, da Lei nº 8.666/93. Conseguintemente, não
se verifica o rompimento do equilíbrio econômico-financeiro do contrato,
eis que caberia à autora formular proposta, tendo em conta as
circunstâncias previsíveis, não se podendo imputar à Administração o
ônus de arcar com possíveis prejuízos causados pela omissão da própria
contratada. No caso concreto, a Convenção Coletiva de Trabalho - 2000
dispunha que "os sindicatos convenentes, representantes das respectivas
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categorias econômica e profissional, fixam o prazo de validade da
presente Convenção Coletiva até 31 de dezembro de 2000, mantendo-se a
data-base da Categoria Profissional para 1o de Janeiro". A convenção
coletiva deveria, pois, vigorar de 1o de janeiro à 31 de dezembro de 2000.
A autora demonstrou, como não poderia ser diferente face ao ramo de
atuação, conhecimento quanto à data-base da categoria (janeiro). 7.
Consoante se apreende do art. 3O, da Lei nº 8.666/93, "a licitação destina-
se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e a
selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será
processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos
da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da
publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento
convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos". Por
conseqüência, não se pode admitir a seleção e contratação de licitante,
oferecedor de preços fictícios, para, após o aperfeiçoamento do vínculo
com a Administração Pública, proceder-se a reajustamento dos preços.
Esse procedimento implicaria em burla à regra constitucional da
licitação e à própria base principiológica do Direito Administrativo. Se o
contratante apresenta e ratifica valores, para sagrar-se vencedor em
licitação do tipo menor preço - como no caso -, presume-se que eles são
os ideais e pretendidos pelo licitante, suficientes à satisfação das
obrigações a serem ajustadas.
8. Pelo provimento da remessa oficial e da apelação.” (Apelação Cível
34172. 2ª Turma. DJ 01/12/2004, pg. 720. Relator: Desembargador Federal
Francisco Cavalcanti). Destaquei.
III.2.3 – FRAGILIDADE DOS MECANISMOS DE CONTROLE E
FISCALIZAÇÃO DA EXECUÇÃO DO CONTRATO.
Na forma já narrada nesta petição, a sistemática de contratação por
um limite de horas de trabalho semanal, além de representar um mecanismo de burla à lei
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de licitações, fragiliza a fiscalização da execução do contrato, pois não há uma definição
do horário, natureza das atividades; quantidade pré-definida de prestadores de serviço, etc.
Esse mecanismo possibilitou que, conforme a suposta necessidade
de trabalho, as diversas áreas e setores da FUNASA e, posteriormente, exclusivamente o
CGLOG pudessem demandar ao fiscal do contrato novos empregados terceirizados,
fornecidos pela BRASFORT. Os gestores do contrato não detinham o controle de
freqüência desse pessoal; do horário de trabalho dos mesmos; dos locais de lotação
destes; das atividades desempenhadas, etc. Ou seja, limitavam-se a atestar a fatura
apresentada mensalmente pela BRASFORT.
A origem desse problema também remonta à época da contratação
dessa empresa. Não obstante o grande número de servidores públicos vinculados à
FUNASA, inclusive com capacitação técnica e nível de escolaridade que lhe permitem
acompanhar, de forma segura e com conhecimento, a execução do contrato, a direção do
órgão, novamente em claro benefício à contratada, nomeou justamente uma servidora que
não detém qualquer formação técnica necessária para o desempenho dessa relevante
função, não obstante o seu empenho pessoal.
No caso do contrato 074/02 assim como em diversos outros, foi
nomeada fiscal a Sra. DORCENI DE JESUS GOMES MAIA a qual, não obstante ter o
nível de escolaridade de segundo grau e o cargo de AGENTE DE PORTARIA, foi
supostamente a responsável pela elaboração do Projeto Básico (Termo de Referência) e
também, pelo acompanhamento da execução do contrato no período de 12/2002 a 05/2005
e de 06/2005 a 01/2006.
Em depoimento prestado nesta Procuradoria da República, que será
objeto de análise no tópico seguinte, a Sra. DORCENI demonstrou que tentava,
bravamente e sem qualquer mecanismo de auxílio, resistir às inúmeras investidas de
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fraudes e outros desvios no contrato em referência mas que, na realidade, não tinha muito
êxito, pois não havia um controle eficaz do quantitativo de mão-de-obra fornecido e
número de horas trabalhadas, muito menos dos critérios de seleção dos terceirizados56.
Ao se indispor com o então nomeado Coordenador-Geral de
Logística, Paulo Garcia, que pretendia e de fato conseguiu, com a maior urgência possível,
aditar o contrato tendo como parâmetro, exclusivamente, o limite de horas dos cargos de
nível superior e, portanto, mais bem remunerados, a Sra. Dorceni foi substituída pela
Agente Administrativa LUÍSA MACIEL DA SILVA, que atuou apenas formalmente
como fiscal contrato, pois, PAULO GARCIA mantinha em sua sala todo o controle dessas
nomeações, indicações, pagamentos, etc, e a compelia a assinar os documentos
necessários à liberação dos pagamentos57.
Quanto à ausência de controle na execução do contrato 074/02, que
ensejou o pagamento à Brasfort de serviços não executados, relevante o teor do
documento encaminhado pela Sra. Helena Masahé Tutida,
Administradora/COMAP/CGLOG, à sua Chefia, na data de 23/06/2005, retratando
inúmeras fragilidades na gestão do contrato, que deixavam os chamados “fiscais” sem
qualquer controle da eficaz execução dos serviços pagos à Brasfort.
Nesse documento, são expostas várias fragilidades de controle,
tais como a omissão da Brasfort na indicação do chamado “preposto” que deveria exercer
um controle de freqüência e das atividades dos terceirizados, dentre outras irregularidades
que evidenciam que a Funasa pagava por serviços ou horas não trabalhadas58 e por horas
extras não contratadas; proporcionava viagens dos terceirizados; indicava nomes para
56Vide, dentre outros, depoimento de fls. 208/209.57Vide, dentre outros, depoimento de fls. 205/207.58Relatório juntado às fls. 363/396 do PAD- ora digitalizado no CD de fl.
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contratação pela Brasfort; mantinha vínculos funcionais diretos com os terceirizados,
dentre outras ilicitudes posteriormente ratificadas pelos órgãos de controle59.
Obviamente a ausência de um controle eficaz da quantidade e
qualidade dos serviços disponibilizados pela contratada, empresa Brasfort, permitiu que
essa empresa pudesse faturar serviços que não foram efetivamente executados, situação
que foi constatada pelas auditorias e que poderia ter sido apurada, de forma eficiente,
pelos fiscais do contrato caso, efetivamente, essa atividade fosse desempenhada nos
termos legais.
Ademais, a partir da gestão de Paulo Lustosa, o CGLOG Paulo
Coelho assumiu o controle integral dessa contratação e apresentava aos chamados fiscais
apenas as faturas para ateste e outros documentos para conformação legal.
Sobre esse tema, relevantes os comentários de Marçal Justen Filho,
verbis:
“O regime de direito administrativo atribui à Administração o
poder-dever de fiscalizar a execução do contrato (art. 58, III).
Compete à Administração designar um agente seu para acompanhar
diretamente a atividade do outro contratante. O dispositivo deve ser
interpretado no sentido de que a fiscalização pela Administração
não é mera faculdade assegurada a ela. Trata-se de um dever a ser
59Sobre esse assunto, vide o relato da Comissão Processante do PAD, fls. 105/106 do PA, com destaque para o seguinte trecho: “Situação de risco para a sua condição de fiscal; incerteza quanto ao pagamento das horas pagas à contratada, se efetivamente correspondiam às horas trabalhadas pelos terceirizados; descumprimento pela Contratada às letras 'i' e 'n', da cláusula-II, do contrato, pela não apresentação de relatório quinzenal e ausência de representante (preposto) sem ônus para a FUNASA; falhas na Licitação; falhas nos termos aditivos; subordinação direta dos contratados ao pessoal da contratante; acordos verbais entre fiscais e dirigentes da contratada; pagamento de salário aos funcionários da BRASFORT que substituíam os terceirizados lotados na instituição; falhas nas cargas horárias/glosas; dúvida quanto à regularidade do recolhimento, pela Empresa, dos encargos trabalhistas e das verbas rescisórias para os que foram demitidos; identificação de documentos da contratada, com a logomarca da FUNASA, indicando que o documento foi elaborado pela contratante; fixação de jornada de trabalho de 08 horas diárias, 'posto de trabalho', quando o edita determina prestação de serviço medida por quantitativo pré-determinado de horas; pagamento de horas extras e outras.”
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exercitado para melhor realizar o interesse público. Parte-se do
pressuposto, inclusive, de que a fiscalização induz o contratado a
executar de modo mais perfeito os deveres a ele impostos60.
As situações retratadas na presente petição caracterizam a total,
absoluta e deliberada ausência de controle da execução do contrato, situação que permitiu,
conforme apurado pelas auditorias, o pagamento de serviços que sequer foram executados;
de salário de indicados que não compareciam à Funasa; de contratações irregulares, etc, o
que enseja a devolução do volume de recursos pagos à Brasfort.
III.2.4) FRAUDES E OUTRAS ILICITUDES PRATICADAS NA GESTÃO DO EX
PRESIDENTE PAULO DE TARSO LUSTOSA DA COSTA.
Nos termos já salientados, todas as irregularidades concernentes à
gestão de pessoal e também de inúmeros outras contratações da FUNASA e a deficiência
desse órgão na execução da sua função institucional apenas vieram à tona, de forma
sistemática, com as disputas internas que determinaram a exoneração de Paulo Lustosa e
de parte da sua equipe, notadamente do Coordenador-Geral de Logística Paulo Garcia
Coelho.
A leitura de todos os documentos que instruem o processo de
contratação e execução do contrato firmado com a Brasfort, bem como as auditorias,
sindicâncias e PADs evidenciam que a situação de ilegalidade se agravou, intensamente,
quando PAULO DE TARSO LUSTOSA DA COSTA assumiu a Presidência desse órgão,
o que ocorreu em 21/07/2005.
Na área que se refere especificamente à execução do contrato
firmado com a empresa Brasfort, PAULO LUSTOSA era diretamente assessorado pelo
Diretor do Departamento de Administração, WAGNER DE BARROS CAMPOS e pelo 60Op cit, pg. 510.
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Coordenador-Geral de Recursos Logísticos, PAULO GARCIA COELHO, o primeiro
nomeado por Paulo Lustosa em 23/08/2005 e, o segundo, em 26/08/2008.
A implementação das providências ilegais relativamente à
contratação em tela foi operacionalizada, nos termos abaixo caracterizados, diretamente
por Paulo Coelho. No entanto, Paulo Coelho estava diretamente subordinado a Wagner e a
Paulo Lustosa.
Assim que assumiu o cargo de CGLOG, Paulo Coelho adotou, com
o pleno apoio de seus superiores, medidas para propiciar um pagamento mais substancioso
à empresa Brasfort, implementadas, inicialmente, pelo aditamento do contrato, bem como
a alocação de pessoas da sua confiança e da sua relação de parentesco e de outros
dirigentes da FUNASA, inclusive a filha do próprio WAGNER, para postos estratégicos
nessa Fundação.
A atuação de Paulo Garcia Coelho foi ostensiva. Ou seja, ele
assumiu o cargo e atuou, incontinente, para possibilitar um relevante aumento do valor do
contrato firmado com a Brasfort, mediante o aditamento de 25% do montante global,
calculado, segundo sua determinação, pelos salários mais altos e também passou a
controlar todas as medidas relativas a esse contrato, permanecendo o processo de
execução sob sua responsabilidade direta, na sua sala. Paulo Coelho apenas determinava à
gestora do contrato a assinatura dos documentos que ele mesmo produzia, fazendo com
que a atuação dessa fiscal, Sra. Luíza Maciel, ocorresse apenas no campo formal.
A grave situação acima encontra-se devidamente descrita, no
relatório final do PAD e nos depoimentos das “fiscais” do contrato, ouvidas por este
parquet federal, conforme fls. 208/209 e 205/207, dos quais se destacam os seguintes
trechos:
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“ Que, até o mês de outubro de 2005 a gestão desse contrato era
bastante tranqüila, pois as contratações eram realizadas mediante
prévias solicitações dos diversos setores da FUNASA de acordo com a
demanda de trabalho; Que, mesmo, a depoente e o outro fiscal de nome
Antônio Marcos de Pádua ainda diligenciavam nesses setores a fim de
aferir a efetiva necessidade; Que, após essa solicitação, os fiscais do
contrato conversavam com o Diretor do DEADM- Departamento de
Administração, informando da necessidade e apenas o Diretor
encaminhava o Ofício solicitando o preenchimento desses postos
específicos; Que, esse contrato firmado com a empresa Brasfort não
abrangia a área de limpeza e conservação (074/2002), mas sim de
serviços diversos auxiliares às atividades da FUNASA; Que, no entanto,
a FUNASA mantém outros dois contratos com a empresa Brasfort, um
de vigilância e outro de serviços gerais (copeira, carregador, motorista,
etc), todos decorrentes de licitação; Que, indagada informou que na sua
época de gestão do contrato nunca teve conhecimento da indicação, por
parte da Direção da Funasa, de nomes de pessoas para serem
contratadas pela Brasfort; Que, no entanto, após a sua substituição,
testemunhou a aflição de sua colega Luísa, que chegou a chorar de
preocupação, quando recebia cópia dos ofícios do Coordenador-Geral
de Recursos Logísticos, Sr. Paulo Garcia, solicitando à Brasfort a
contratação das pessoas pelo mesmo indicadas; Que, havia um
conhecimento por parte dos funcionários da FUNASA de que essas
pessoas eram contratadas a partir de pedidos de políticos ou mesmo
tinham relacionamento familiar ou de amizade com o Sr. Paulo
Garcia; Que, salvo engano, o Sr. Paulo Garcia assumiu a CGLOG no
mês de outubro de 2005; Que, a partir de então, o controle das
contratações passou da Diretoria do Departamento de Administração
para a CGLOG, ou seja, diretamente para o Sr. Paulo Garcia; Que, o
Sr. Paulo Lustosa, ex Presidente da FUNASA, assumiu esse cargo
pouco antes do Sr. Paulo Garcia; Que, na gestão do Sr. Paulo Garcia,
houve um grande aumento no número de contratos que, salvo engano,
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chegou quase a triplicar; Que, a depoente deixou a fiscalização desse
contrato, sendo substituída pelo Sr. Paulo Garcia, porque não
concordou com a determinação desse coordenador que pretendia o
aditamento do contrato no limite de 25% pelo seu valor global, sendo
que a depoente entendia que o aditamento apenas seria possível em
relação aos postos específicos de trabalho...61”. Destaquei
“Que, a depoente foi informada pessoalmente pelo Sr. Paulo
Garcia, que já se encontrava na posse da respectiva Portaria de
designação, situação que causou surpresa à depoente, que sequer
havia sido consultada; Que, a depoente também entendeu que,
pela sua função, de análise formal de todas as contratações
efetivadas pela FUNASA, não teria condições de exercer
adequadamente a fiscalização desse contrato específico; Que, no
entanto, como foi ordem superior, a depoente teve que acatar essa
determinação; Que, a depoente recebeu algumas caixas contendo
documentos referentes a essas contratações, mas, indagada,
informou que não localizou qualquer controle físico ou
informatizado sobre o acompanhamento da execução desse
contrato; Que, quando a depoente questionou esse fato ao
Coordenador Sr. Paulo Garcia, ele determinou que enviasse toda
essa documentação para a sua sala, vez que estaria diretamente
acompanhando a execução do contrato no que se refere à
análise de currículos, contratação, lotação, alteração de salário e
demissões; Que, a depoente acatou a determinação; Que, a
depoente, diante da orientação do seu superior, ficou
encarregada pela conferência das faturas e cobertura de postos,
ou seja, a solicitação à empresa de substituição temporária de
61Depoimento prestado pela Sra. Dorceni de Jesus Gomes Maia, que exerceu a função de fiscal do contrato 074/2002 no período de janeiro de 2003 a outubro de 2005, fls. 208/209.
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empregados que se encontram afastados do trabalho em razão de
férias ou licença-médica; Que, a conferência das faturas era
feita com base em relação encaminhada pela própria empresa
contendo nome, salário, data de admissão, alteração de salário e
cópia de folha de freqüência; Que, com base nessa relação
fornecida pela empresa, a secretária do Coordenador Paulo
encaminhava à depoente relação escrita, ou seja, uma listagem de
nome de empregados , cargos e salários para comparação; Que, a
ficha de ponto era encaminhada apenas pela empresa no final do
mês ou início do subseqüente; Que, após realizar essa
conferência, a depoente tinha orientação do seu superior, Sr.
Paulo Garcia, para devolução imediata dessas relações porque
ele não queria nenhum dado dessa contratação fora de sua sala;
Que, apenas nos meses de julho de 2006 e fevereiro de 2007 é que
a depoente recebeu listagem informatizada, via e-mail,
encaminhadas pela secretária do Sr. Paulo; Que, essa situação
decorreu, no mês de julho, da urgência da CGLOG de ter
conferida essa documentação pela fiscal do contrato, a depoente,
que sairia de férias, sendo que a sua substituta informou que não
estava apta a realizar essa conferência em muito menos em curto
lapso de tempo e, no mês de fevereiro de 2007, em razão de
requisição de algum órgão de controle; Que, em algumas
conferências da relação fornecida pela empresa e da outra,
fornecida pelo Sr. Paulo Garcia, a depoente se deparava com
nomes de empregados que constavam em uma e não constavam
da outra; Que, quando questionava a empresa sobre essa
situação, era informada que havia ocorrido um erro, já que esses
funcionários seriam de outros órgãos e, quando questionava o
seu Coordenador, Sr. Paulo Garcia, esse informava que havia a
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folha de ponto, que ele mesmo, em determinado período
(aproximadamente de quatro a cinco meses no ano de 2006, com
início a partir de agosto), recolhia em seu gabinete; Que, nesse
período, o Sr. Paulo permanecia com a folhas de ponto durante o
dia e, no final do expediente, encaminhava à portaria do prédio,
para assinatura dos empregados; Que, em regra, quem lhe
fornecia e lhe fornece, até a presente ocasião, cópias das folhas
de ponto é a própria empresa , não mantendo a FUNASA um
controle específico sobre esse assunto, que se encontra a cargo
do preposto da empresa; Que, a depoente não tinha e não tem
qualquer ingerência sobre a contratação de pessoal que
permanece exclusivamente sob atribuição da CGLOG... Que, a
depoente e demais funcionários da FUNASA tinham conhecimento
que o Sr. Paulo designou parentes e conhecidos (não sabe o grau
de parentesco) para os cargos a serem providos pela Brasfort, vez
que ele próprio informou que não demitiria ninguém, mas na
realidade demitiu, mas que indicaria as pessoas a serem
contratadas que comporiam a sua equipe; Que, indagada
informou que na gestão do Sr. Paulo houve um significativo
aumento de contratados da empresa Brasfort, chegando a dobrar
o número que se mantinha desde o início do contrato que era em
torno de 200 para aproximadamente 470”. Destaquei
III.2.4.1 – QUARTO ADITIVO – AUMENTO DE 25% - ILEGALIDADE –
AUMENTO DESPROPORCIONAL DA QUANTIDADE DE TERCEIRIZADOS.
Assim, na forma já narrada, Paulo Garcia Coelho, pessoa de
confiança do recém nomeado Paulo Lustosa, já assumiu a CGLOG plenamente ciente da
existência do contrato 074/2002 e das possibilidades de lotar na FUNASA, não apenas na
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Direção-Geral, mas também em regionais, pessoas da sua confiança, da confiança do
então Presidente e de Diretores que compunham essa gestão.
Desta forma, atuou para aditar o contrato, otimizando a
possibilidade de contratação de pessoal terceirizado, obviamente pelos maiores salários
permitidos, que sofreram, em razão do aditamento, significativo aumento. No dia
15/12/2005, independentemente de qualquer parecer jurídico, foi celebrado o 4º Termo
Aditivo, assinado pelo Diretor do Departamento de Administração, WAGNER DE
BARROS CAMPOS e pelo Sócio-Gerente da empresa, ROBÉRIO BANDEIRA DE
NEGREIROS, que prorrogou o prazo contratual; elevou o valor no limite dos 25%
previstos na legislação, sem qualquer justificativa técnica da necessidade e também da
adequação dos preços praticados62.
Na realidade, sob a falsa justificativa de aditamento, ocorreu o
aumento ilegal do valor do preço praticado naquela contratação, pois os 25% serviram
apenas para reajustar o valor dos salários já que, em quantitativos, o contrato original já
era suficiente, diante da esdrúxula situação de contratação por limite de horas semanais.
Como conseqüência lógica desse imotivado aumento do valor
contratado, Paulo Lustosa, Wagner de Barros e Paulo Garcia aumentaram, de forma
desproporcional, o número das contratações efetivadas por intermédio da Brasfort,
valendo-se de seu cargo, com plena anuência dos dirigentes da contratada, para indicação
de pessoas de sua confiança, que assumiram, ainda que de forma não ostensiva, atividades
estratégicas na sua gestão, como também parentes e outros indicados, que exerciam, nas
situações em que compareciam ao trabalho, atividades próprias de servidores públicos.
Assim, sobre o aumento do quantitativo de terceirizados, na gestão
de Paulo Lustosa, relevante o destaque das constatações do PAD abaixo transcritas:
62Vide o teor do contrato, fls. 1607/1610 do PAD – CD anexo.
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“Com a celebração do contrato ocorrida em 18 de dezembro de
2002, a contratada passou a enviar os seus funcionários para
exercício de atividades na Contratante, a partir do ano de 2003,
quando se teve uma média de 126 (cento e vinte e seis)
contratados com atuação na FUNASA. Com um aumento médio
de aproximadamente 04 (quatro) funcionários a cada mês (fls.
4393/4394 e 4400).
No ano de 2004, com um aumento médio de 05 (cinco)
contratados a cada mês, passou a média para cerca de 186
(cento e oitenta e seis) contratados atuando na FUNASA (fls.
4395 e 4401).
No ano de 2005, a média de funcionários da contratada atuando
na FUNASA, passou a ser em torno de 206 (duzentos e seis),
com aumento de cerca de 1 (um) a cada mês, situação que assim
se manteve até o mês de agosto, porém a partir do mês de
setembro o número dos contratados sofreu aumento em torno de
42 (quarenta e dois) contratados a cada mês, pulando para 321
(trezentos e vinte e um) a média dos contratados na instituição
(fls. 4396 e 4402).
Ressalte-se que os Senhores PAULO DE TARSO LUSTOSA
DA COSTA (ex Presidente) e PAULO ROBERTO DE
ALBUQUERQUE GARCIA COELHO (ex Coordenador-Geral
da CGLOG), passaram atuar neste Órgão, respectivamente, nas
datas de 21 de julho de 2005 e 26 de agosto de 2005, quando
designados pelas Portarias nº 535, publicada no DOU nº 140 e
166 (fls. 3234 e 3160).
Durante o ano de 2006, os contratados que ingressavam na
FUNASA continuaram aumentando em número, ficando em
torno de 16 (dezesseis) novas contratações a cada mês, até o
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mês de julho, passando a média deles na instituição em torno
de 443 (quatrocentos e quarenta e três) (fls. 4397-4398 e 4403).
No mês de julho/2006, o número de contratados se manteve
estabilizado e, a partir do mês de agosto passou a diminuir
mensalmente, assim se mantendo até o final do ano. Ocorrendo
esse feito, sem sombra de dúvida, em conseqüência da
constatação dessa irregularidade, na auditagem procedida pela
CGU, apontada em Relatório apresentado (fls. 3420-3444).
No ano de 2007, o número de contratados permaneceu sem
alterações significativas até o mês de abril. Pelo Ofício nº
211/CGLOG/DEADM, de 24 de abril de 200637, destinado à
empresa BRASFORT, a FUNASA comunicou que não mais
necessitava dos serviços de 114 (cento e quatorze) terceirizados,
quando a média dos mesmos passou a ser em torno de 305
(trezentos e cinco) até o mês de julho....
Não resta dúvida para este colegiado que o ex-presidente da
FUNASA, Senhor PAULO DE TARSO LUSTOSA DA COSTA
e o ex Coordenador-Geral da CGLOG, Senhor PAULO
ROBERTO DE ALBUQUERQUE GARCIA COELHO, ao
utilizarem integralmente das horas disponíveis no contrato, em
especial das Classes com ofertas de salários mais
remunerados, nos casos as Classes I e II, fizeram dessa
instituição um 'Cabide de Emprego'.” Destaquei
Os trechos supra transcritos dispensam qualquer comentário
adicional, restando evidente que, de forma deliberada e pré estabelecida, de comum
acordo com o dirigente da empresa BRASFORT, PAULO LUSTOSA, PAULO GARCIA
e o Diretor responsável por essa área, WAGNER BARROS, utilizaram-se do contrato em
vigor para implementar o desvio sucessivo de recursos públicos por meio de contratações 63O ex Presidente PAULO LUSTOSA foi exonerado, a pedido, em 28/03/2007.
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ilegais, com violação do artigo 37,II da Constituição Federal e também do princípio da
impessoalidade, utilizando referido contrato em benefício próprio e dos dirigentes da
FUNASA, já que se formou uma administração “paralela” nessa instituição, pautada pelo
nepotismo, favoritismo e ausência de transparência da gestão.
III.2.4.2 – INDICAÇÃO DE CONTRATADOS POR CRITÉRIOS ESCUSOS –
VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA IMPESSOALIDADE.
O levantamento formal dessa situação específica ocorreu no
âmbito do Relatório do Processo de Sindicância, fls. 57/67, nos seguintes termos:
“Esta comissão centrou o foco das investigações no sentido de
comprovar a existência de Nepotismo, bem como a existência de
uma possível 'ramificação, na FUNASA, da Máfia dos
terceirizados, envolvendo a empresa BRASFORT', como
noticiado no Jornal Nacional, duas semanas após a instauração
desta Sindicância Administrativa.
Ao adotar esta linha de investigação, a comissão reafirma as
dificuldades encontradas para obter as informações necessárias
ao bom andamento das investigações. Registre-se, primeiramente,
a resistência da Coordenação-Geral de Recursos Logísticos –
CGLOG 64em atender o Memorando nº 05/CS, fl. 46.
Pessoalmente, uma servidora informou à comissão que as
informações ali solicitadas também poderiam ser encontradas na
BRASFORT e que 'seria difícil' a CGLOG levantar as
informações solicitadas pela Comissão.
64A CGLOG era dirigida, por ocasião dessas apurações, justamente pelo requerido PAULO CÉSAR ALBUQUERQUE GARCIA, que criou todo o tipo de dificuldades às apurações.
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Então, a comissão decidiu diligenciar a BRASFORT para colher
as informações necessárias, fl. 96. Esta diligência teve como
prioridade, consultar, por amostragem, alguns contratos
individuais de trabalho (para constatar qualquer indício de
parentesco entre os terceirizados e as Chefias do alto escalão da
FUNASA) e verificar as folhas de freqüência dos terceirizados
(para constatar os pagamentos de salário, sem a devida
contraprestação) haja vista a CGLOG também não atendeu a
solicitação formulada pelo Memorando nº 004/CS que solicitou
as folhas de freqüência, dentre outras solicitações, fls. 48/49.
Em atenção a esse Memorando, a CGLOG apenas enviou 03
pastas poliondas, fl. 51, contendo envelopes pardos vazios, alguns
curriculuns e algumas fichas de solicitação de emprego65.
Na BRASFORT, a comissão também não obteve as folhas de
freqüência dos terceirizados sob a alegação de que cópias são
enviadas à FUNASA juntamente com as faturas para pagamento.
Ocorre que a comissão solicitou os processos de pagamento
referentes aos exercícios 2003/2004/2005/2006 e não encontrou
quaisquer folhas de freqüência dos terceirizados (a não ser
aquelas onde se solicitou glosa por dias não trabalhados) para
balizar o atesto das faturas emitidas pela BRASFORT (...)”
Na gestão de Paulo Garcia, conforme relatado, agravou-se a
situação de precariedade de controles em relação à execução do Contrato 074, pois não
65 Por óbvio, em se tratando de um serviço contratado e pago pela FUNASA, esse órgão deveria possuir documentação idônea para comprovar a prestação dos serviços, bem como a qualificação dos empregados terceirizados lotados nas mais diversas áreas, inclusive em Regionais. No enanto, a ausência de controle sempre foi uma situação presente nessa contratação. A partir da gestão de Paulo Garcia, este concentrou em sua sala toda a documentação referente à execução do contrato, ou seja, as indicações dos terceirizados; as folhas de freqüência, os locais de lotação, etc e não disponibilizou esse acervo à comissão processante, com a finalidade de evitar a caracterização da sua gestão ímproba. Por outro lado, a Brasfort também não disponibilizou esses documentos e informações, seja à Comissão Sindicante, seja ao próprio parquet federal, conforme fls. 218/220; 223/228.
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havia folha de freqüência dos terceirizados, por exemplo. Segundo levantamentos das
apurações administrativas disciplinares, notadamente o PAD, os maiores problemas
encontrados foram nos anos de 2005 e 2006;
A análise dos poucos documentos disponibilizados à Comissão
Sindicante e à Comissão processante do PAD ainda possibilitou a identificação da
contratação de parentes de dirigentes da FUNASA, nos termos da tabela abaixo transcrita:
Terceirizado Admissão Demissão Classe/Nível Salário Parentesco/Filiação
Daniele Lúcia dos Passos Lima Dias - CODER/CGERH
12/09/2005 Permanece em atividade
Classe I/ Nível IV
R$ 3.300,00 Esposa de Marcelo dias (gerente Adm/RH da BRASFORT)
Elisângela de Barros Campos – CORE-RJ
30/10/2005 16/09/2006 Classe I/ Nível V
R$ 4.000,00 Filha de Wagner Campos ( Diretor/DEADM)
Fátima Rita Bruno – CORE-RJ
15/03/2006 Permanece em atividade66
Classe I/ Nível V
R$ 4.000,00 Não identificado
Frederico José S. M. Filho
12/09/2005 Permanece em atividade
Classe II/ Nível V
R$ 2.200,00 Frederico José S. Monteiro (Diretor DESAI – Substituto DAS)
Márcio Godoy Garcia Coelho - CGOFI/DEADM
01/09/2005 Permanece em atividade
Classe I/ Nível V
R$ 4.000,00 Filho de Armando Garcia Coelho e Jacira Uiara G. Coelho (parentesco com Paulo Garcia)
66 Pelo Ofício nº 848 de 20/09/2006, o Coordenador do CGLOG, Sr. Paulo Garcia, informa que esta terceirizada foi demitida. Porém em 25/09/2006 a BRASFORT informa à comissão sindicante que ela encontra-se em exercício.
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Maria Edivaní A TorquatoCORE-CE
01/02/2006 24/07/2006 Classe I/ Nível IV
R$ 2.200,00 Esposa de Antônio Torquato Araújo DAS CORE-CE
Mariana Monteiro Lopes - CORE-RJ
19/12/2005 30/06/2006 Classe I/ Nível V
R$ 2.200,00 Mário Sérgio Monteiro Lopes (Coordenador RJ/DAS)
Vera Lúcia Andrade Moreira UGP/VIGISUS
01/06/2005 Permanece em atividade
Classe I/ Nível IV
R$ 1.800,00 Nelson Fernandes Moreira e Delza Andrade Moreira
Além da definição da relação de parentesco que determinou a
contratação das pessoas relacionadas no quadro supra transcrito, a Comissão de
Sindicância também conseguiu evidenciar a alocação, pelo Presidente, Diretor de
Administração e Coordenador de Recursos Logísticos da FUNASA desses
terceirizados em funções estratégicas no quadro de administração desse órgão,
conforme tabela abaixo transcrita.
TERCEIRIZADO
ADMISSÃO DEMISSÃO CLASSE/NÍVEL
SALÁRIO PARENTESCO/FILIAÇÃO
Alexandre Oprea de CarvalhoASPAR/PRESI
01/12/2005 permanece Classe I/ Nível V
R$ 4.000,00
Aloysio Faria de Carvalho e Maria Eugênia Oprea de Carvalho (parentesco não identificado)
André Ricardo de Oliveira Monteiro (exonerado do MMA-matrícula 1300778; fl353/355) ASTEC/PRESI
15/03/2006 permanece Classe/ Nível V R$ 2.200,00
Elmo Monteiro da Silva Júnior e Auristela de Oliveira Monteiro parentesco não identificado)
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Daniel Acioli de M Cunha (CORE-RJ)
20/03/2006 24/07/2006 Nível V R$ 2.200,00
Sinval Dias Cunha e Roselane Agile de M Cunha
Francisco José Pinto de França (CORE-RJ)
01/12/2005 permanece Classe I/ Nível V
R$ 4.000,00
Francisco José Pinto de França e Evangelina Carneiro de França parentesco não identificado) Freq/fev/06 em branco fl. 435
Luis Fernando S. De Lacerda (CORE-RJ)
21/03/2006 30/04/2006 Classe/ Nível V R$ 2.200,00
Ellen Slavaterra Loreiro de Lacerda e Maria Cléo S de Lacerda
LyliaMaria Bezerra N. DiógenesASCOM/PRESI
29/08/2005 permanece Classe I/ Nível IV
R$ 3.200,00
Geraldo Nogueira Diógenes e Tamar Maria Bezerra Diógenes
Marisa Luana Aparecida MaiaSEPAS/CGLOG
28/11/2005 permanece Classe II/ Nível V
R$ 2.200,00
Lúcio Antônio Maia e Sônia Barra Ferreira parentesco não identificado)
Maurício de Almeida AbreuCGEPAS/DESAI
26/09/2006 permanece Classe I/ Nível V
R$ 4.000,00
Aristóteles Abreu e Rute de Almeida Abreu. Gerencia projetos estratégicos, poderia estar com esta função se é terceirizado? fl. 340/341 parentesco não identificado)
Rafael Drumond 01/12/2005 24/07/2006 Classe/ Nível R$ Alci Sebastião
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Perez (CORE-CE) IV 1.800,00 Sperandio Perez e Maria Cristina Garcia Drumond Freq/fev/06 em branco, fl. 438. Seria parente do CGLOG Paulo Garcia?
Raimundo Trindade de Souza Cantanhede - PGF
16/11/2005 permanece Classe I/ Nível V
R$ 4.000,00
Paulo Souza e Romana Catanhede de Souza parentesco não identificado)
Sérgio Roberto Pereira Seixas (CORE-RJ)
21/11/2005 permanece Classe II/ Nível V
R$ 2.200,00
Ilídio dos Santos Seixas e Maria da Glória Pereira Seixas. Freq/fev/06 em branco; fl. 439. Em 27/09/06 parentesco não identificado)
Sirlene de Melo Calixto - DESAI
14/11/2005 permanece Classe II/ Nível V
R$ 2.200,00
Reinaldo Calixto e Josenade de Melo Calixto. Opera o sistema de trâmite de convênios no CGEPAS/DESAI; fl. 342/352.
Vera Lúcia Andrade Moreira – passou a chamar-se Vera Lúcia Moreira Garcia, fl. 549/561 e 479 - UGP/VIGISUS
01/06/2005 permanece Classe/ Nível IV
R$ 1.800,00
Nelson Fernandes Moreira e Delza Andrade Moreira.
As admissões das tabelas acima ocorreram logo após a
posse do Presidente da FUNASA, Sr. Paulo de Tarso Lustosa da Costa
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(21/07/2005) e do Coordenador da CGLOG, Sr. Paulo Roberto de
Albuquerque Garcia Coelho que assina como Paulo Garcia na FUNASA;
Em relação aos terceirizados relacionados na segunda
tabela acima, é fato que embora não tenham as apurações sido eficientes para
determinar o grau de relacionamento com os dirigentes da FUNASA que
determinou a sua contratação, é certo que essa seleção foi útil para evidenciar
que todos os servidores contratados após a nomeação de Paulo Garcia ocupam
cargo estratégicos nos setores da FUNASA. Como, por exemplo, cite-se a
Senhora Sirlene de Melo Calixto que opera o Sistema de trâmite de Convênios
no CGEPAS/DESAI, fls. 342/352, conforme evidenciado à fl. 62 do PA -
Relatório de Sindicância.
Ou seja, apesar de todas as dificuldades opostas pela direção da
FUNASA e da Brasfort para impossibilitar a caracterização das ilicitudes praticadas, a
Comissão Processante da Sindicância ainda logrou êxito em apurar as contratações
espúrias acima relacionadas, determinadas para privilegiar, mediante o pagamento dos
mais altos salários previstos no contrato, os parentes dos dirigentes da FUNASA,
principalmente dos requeridos PAULO LUSTOSA, PAULO GARCIA COELHO E
WAGNER DE BARROS.
Digno de menção que até mesmo o Gerente de Administração da
Brasfort, MARCELO DIAS, beneficiou-se desses esquema deflagrado por Paulo Lustosa
e seus comparsas, tanto é que indicou a sua esposa, DANIELE LÚCIA DOS PASSOS
LIMAS DIAS para a execução de atividades na CODER/CGERH, mediante o
recebimento do salário mensal de R$3.300,00 (fl. 60-PA)67.
67Infelizmente, os salários praticados em relação aos indicados por critérios impessoais e escusos para ocupar os níveis mais altos do plano de cargos e salários “paralelo” são substancialmente maiores do que os salários dos servidores da FUNASA, ingressos por concurso público.
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Não se pode deixar de mencionar, por oportuno, que as
ilegalidades apuradas pela Comissão Sindicante ou pela própria Comissão do PAD são
apenas uma pequena parcela de todo o contexto de ilicitudes praticado na gestão de Paulo
Lustosa, pois além da ausência de efetivo controle da prestação dos serviços pagos pala
FUNASA à BRASFORT, ainda houve a clara sonegação de documentos e informações
pelos dirigentes desse órgão envolvidos nas ilicitudes e pelos dirigentes da BRASFORT
beneficiários diretos desse desvio de recursos.
Nesse sentido, segundo a Comissão, fl. 62:
“Outra solicitação não atendida diz respeito aos Memorandos
emitidos pela comissão a todos os setores da FUNASA, solicitando
nomes e atribuições que cada terceirizado realiza nos seus
respectivos locais de trabalho.
(...)
Um dado interessante a mencionar foi o fato do Coordenador-Geral
da CGLOG, Sr. Paulo Garcia, ter assumido a responsabilidade de
responder o Memorando nº 013, encaminhado aos fiscais do
contrato 074/02, informando que as atividades exercidas por cada
terceirizado estavam relacionadas no Termo de Referência que
licitou os serviços. Anteriormente, o Gabinete da Presidência
prestou essa mesma informação, fls. 146/147. Nesse sentido, as
respostas apresentadas não contribuíram para o bom desempenho
dos trabalhos confiados a esta Comissão.
(...)
Consciente de que não mais receberia quaisquer outras respostas da
CGLOG (por ser a guardiã do contrato 074/02), a Comissão
decidiu buscar outras formas de continuar com a investigação.
Assim, conseguiu conhecer o CPF de alguns terceirizados. Em
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consulta ao SIAFI foram constatadas algumas ordens bancárias, fls.
177/339. Vale destacar o pagamento em duplicidade feito em favor
de Maurício de Almeida Abreu, fls. 249.”
Apesar de todas as dificuldades descritas, a Comissão ainda logrou
êxito em constatar inúmeras ilegalidades praticadas em relação à contratação desses
terceirizados “indicados” pela alta gestão da FUNASA, conforme relatado às fls. 63 e
seguintes do PA, observando-se:
– pagamento em duplicidade;
– concessão de diárias e passagens a esses terceirizados;
– ausência de controle do comparecimento dos terceirizados ao trabalho;
– freqüências de terceirizados em branco, dentre as quais a da filha do Coordenador da
Regional Rio de Janeiro, Mariana Monteiro Lopes (residindo no Rio, não teria como
se deslocar diariamente ao trabalho em Brasília);
– indicação de terceirizados para trabalho em regionais, contrariando o próprio contrato
074/02, que se refere à administração da FUNASA em Brasília. Nessa situação, ao
apurar a razão do não preenchimento da folha de presença do terceirizado FRANCISO
JOSÉ PINTO DE FRANÇA, supostamente lotado no DEPIN-Brasília, a Comissão
Sindicante apurou que, de fato, esse terceirizado exerceria suas atividades na CORE-
RJ;
– divergências, em desfavor da FUNASA, entre o demostrativo de faturamento
elaborado pela BRASFORT e a documentação existente na FUNDAÇÃO;
Os terceirizados indicados por Paulo Lustosa e seu grupo atuavam,
justamente, para prover esses dirigentes de todos os expedientes de que necessitavam para
gerir a FUNDAÇÃO como se fosse uma empresa familiar e o que é pior, deficitária, pois
não apenas na gestão do contrato 074/02, objeto desta ação, mas de inúmeras outras
contratações, houve uma intensa dilapidação do patrimônio público por esse grupo.
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Criou-se, inclusive, um código entre Paulo Garcia e os dirigentes
da BRASFORT, para a implementação da contratação de terceirizados segundo a
indicação do CGLOG. Assim, a Brasfort encaminhava um documento com alguns nomes
e a FUNASA, na pessoa de Paulo Garcia, escolhia os primeiros.
Sobre esse tema, a Comissão do PAD informou o seguinte:
“Comprovado o que foi apontado no Relatório nº 175660, da CGU,
após análise nos ofícios da FUNASA, solicitando os perfis para
serem contratados, a contratada os enviava no dobro da quantidade
solicitada e, 'coincidentemente', a escolha recaia sempre nos
primeiros relacionados no Ofício da Contratada. Sem que o setor
onde o terceirizado ficaria lotado procedesse uma análise nos
currículos dos candidatos (fls. 4059-4117).
Ainda que, na maioria dessas situações tratam-se de parentes dos
lotados nas cores, obviamente indicados por dirigentes da FUNASA,
conforme as situações a seguir transcritas:
- Os contratados Patrícia Aita Bittencourt Garcia Coelho; Marcio
Godoy Garcia Coelho, Rosana Célia Lopes Bezerra, Maria Vitória
da Silva Furtado, Iraquitan Oliveira da Silva, Ana Paula Cunha,
Rochelle de Lucca Lima, Fabiana Marra Domingues, Elisângela de
Barros Bezerra, Michelle Almeida Souza e Leandro Ribeiro dos
Santos, selecionados por meio do Ofício nº 537/CGLOG,31 de
agosto de 2005, são os primeiros relacionados no ofício
DP/ADM/FUNASA nº 12/2005, de 31 de agosto de 2005, o qual
estava atendendo a solicitação da FUNASA feita no dia anterior,
pelo Ofício nº 529/CGLOG, de 30 de agosto de 2005, solicitando 12
(doze) funcionários (fls. 4059-4062).
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(...)68
Sem sombra de dúvida, funcionários foram contratados pela
empresa BRASFORT com a finalidade específica para atuarem nas
dependências da FUNASA, a partir da indicação de seus
dirigentes, nas diversas situações já explanadas nos itens:
PARENTESCO ENTRE DIRIGENTES DA CONTRATANTE E
CONTRATADA e ESCOLHA DOS PRIMEIROS
RELACIONADOS NO OFÍCIO DA BRASFORT.
(...)”.
Assim, os terceirizados selecionados atuavam em atividades
próprias de servidores públicos e ainda sob orientação de Paulo Lustosa e Paulo Garcia
para blindar o grupo em relação às apurações administrativas então deflagradas.
Nesse sentido, o seguinte trecho extraído do Relatório da Comissão
de Sindicância, fl. 64 do PA:
“Foi com imensa dificuldade que a Comissão conseguiu as
informações sobre o pagamento de diárias a terceirizados e sobre as
freqüências em branco. A Comissão relata que constatou um certo
temor/terror no semblante dos servidores quando questionados pela
Comissão. Na CGOFI/DEADM, um servidor chegou a mencionar
que todas as informações, antes de serem divulgadas, devem ser
apresentadas ao terceirizado Sr. Márcio Godoy Garcia Coelho. Por
conta disso, aliado ao fato da CGLOG não atender de forma
concreta as solicitações formuladas, a Comissão concluiu pela
inexistência de condições objetivas para prosseguir com as
investigações...”.
68Nesse sentido, todas as contratações relatadas pela Comissão do PAD às fls. 549/553).
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Do depoimento69 da Sra. Rosani Maria de Novaes Regis,
funcionária da FUNASA desde 1976, que exerceu a Presidência da Comissão de
Sindicância, restam confirmados todos os fatos acima salientados, inclusive a ausência de
controle de freqüência dos terceirizados, contratação de parentes e a extrema dificuldade
de obter informações em razão da atuação de Paulo Garcia e dos dirigentes da
BRASFORT:
“Que, atualmente exerce suas funções na Corregedoria/Auditoria Interna,
sempre no cargo de administradora; Que, na Corregedoria/Auditoria Interna,
a depoente trabalha com processos disciplinares e sindicâncias; Que em
relação à Sindicância 25100.071.014/2006-12, a depoente informa que a
mesma foi instaurada por Portaria do Presidente da FUNASA em
atendimento à Controladoria Geral da União que apontou falhas no
processo de contratação e execução do contrato com a empresa Brasfort;
Que, desta forma, foi constituída uma Comissão pela Portaria 124, de
29/08/2006, integrada pela depoente, presidente, e por outra servidora
chamada Ana Maria da Silva; Que, a Comissão de Sindicância se baseou
especificamente no que foi apontado pela CGU, cuja auditoria detectou
situação de terceirizados (oito) contratados pela empresa Brasfort que não
estavam prestando os serviços em Brasília, mas em algumas regionais; Que,
o contrato da empresa Brasfort teve por objeto o atendimento da
necessidade da Presidência da FUNASA em Brasília para serviços de apoio
administrativo e atividades auxiliares; Que iniciados os trabalhos, a
depoente e sua colega solicitaram a documentação de todas as contratações
relativas ao Contrato 74/2002 à Coordenação de Logística, onde se encontra
lotada, inclusive, a fiscal do contrato; Que a comissão solicitou além da
relação de todos os terceirizados contratados da Brasfort, também as folhas
de freqüência a fim de direcionar as apurações; (...) Que algumas áreas não
encaminharam respostas aos memorandos acima mencionados, sobretudo 69 Fls. 199/200 Volume Principal do PA
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aquelas que contavam com maior número de contratados, ou seja, o
Departamento de Administração e Departamento de Engenharia de Saúde
Pública; Que, sem o devido apoio do órgão no fornecimento das
informações que a Comissão considerou imprescindíveis para apuração dos
fatos, tornou-se inviável o aprofundamento das apurações; Que mesmo
assim, a Comissão decidiu realizar uma diligência na Brasfort para obtenção,
por amostragem, de cópia dos contratos de trabalho desses terceirizados, a
partir de uma relação anteriormente preparada com base em informações que
foram encaminhadas posteriormente pela Coordenação Geral de Logística;
Que indagada, a depoente informa que pelo que apurou, a Coordenação de
Logística não possuía, de imediato, uma relação de todos os contratados que
estariam prestando serviços na FUNASA, (...) Que a CGLOG também não
possuía, de forma devidamente organizada as relações de freqüência desses
contratados, observando a Comissão que algumas folhas de freqüência
estavam até mesmo sem preenchimento ou sem assinatura; (...) Que, já de
início, verificaram que a contratada Daniele Lúcia dos Passos Dias, que
possuía salário no patamar mais alto daqueles pagos pela empresa, era
esposa do Sr. Marcelo Dias, Gerente Administrativo de Recursos Humanos
da Brasfort; (...) Que todas as relações de parentesco que foram apuradas
nessa diligência realizada pela comissão constam da “Tabela 1”70 do
Relatório Final da Comissão, com observação de que se trata apenas de
uma análise por amostragem, já que não possuíam toda documentação para
análise de todos os contratos; (...) Que, indagada, informou que ao que se
recorda, o contrato firmado com a Brasfort não estabelecia o quantitativo de
pessoal, mas sim um limite de horas semanais que girava em torno de 22.200
(...)”
70 Tabela que se encontra descrita acima, quando da enumeração dos fatos e irregularidades constatados pela Comissão Sindicante.
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A fiscal do contrato entre FUNASA e BRASFORT, Sra. Luísa
Maciel da Silva, prestou depoimento71 nos Autos do Procedimento Administrativo nº
1.16.000.002409/2007-20 e relatou que não tinha habilidade para fiscalização do contrato,
mas obedeceu à ordem de PAULO GARCIA, o qual substituiu a fiscal do contrato, Sra.
Dorceni, pela depoente. Inclusive relata que PAULO GARCIA usava de seu poder de
direção para compelir a depoente a atuar na forma pelo mesmo determinada.
Da análise dos depoimentos acima e da planilha de pagamento à
empresa BRASFORT nos anos de 2003 a 2007, constata-se que a partir de 2005, ou seja,
quando Paulo Garcia assumiu a CGLOG, houve um aumento significativo nos
pagamentos à BRASFORT. A título de exemplo, em agosto de 2003, o faturamento dessa
empresa na FUNASA foi de R$ 260.340,94; em agosto de 2005, a FUNASA pagou a
importância de R$ 565.256,13 e em agosto de 2006, a quantia de R$ 2.039.586,6872.
Contextualizando a forma destemida de atuação do grupo liderado
por Paulo Lustosa, destaca-se o teor do Ofício nº 242/PGF/PF/FUNASA/GAB/2008 que,
em resposta a questionamento deste parquet federal, apresentou a seguinte informação
sobre os gastos contratuais com a Empresa Brasfort Administração de Serviços Ltda.,
referente ao contrato 74/2002:
– Exercício 2003 R$2.975.352,92
– Exercício 2004 R$6.101.637,46
– Exercício 2005 R$9.164.232,88
– Exercício 2006 R$20.913.911,01
– Exercício 2007 R$17.475.189,12
71 Fls. 206/207 Volume Principal do PA72Ressalte-se que Paulo Lustosa e Paulo Garcia permaneceram na direção da FUNASA no período de julho/agosto de 2005 a março de 2007.
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Basta uma simples análise nos valores pagos a partir da gestão de
Paulo Lustosa, em meados de 2005, para que se observe que o Contrato 074/02 foi
priorizado pelo grupo representado por esse Presidente como um mecanismo de
contratação pelos níveis salariais mais altos e para atividades próprias de servidores
públicos; para contratação de parentes e “apadrinhados” e indicados para atividades
específicas, como a atuação na área de licitação e contratos, por exemplo.
Note-se que os serviços terceirizados advindos do Contrato nº
074/02 deveriam ser executados em Brasília, conforme item IV73 do Anexo II do Edital e
item 1.274 do Edital de Licitação. Contudo, verificou-se que terceirizados exerciam suas
funções nas Regionais da FUNASA nos Estados do Ceará75, Paraíba e Rio de Janeiro.
Os atos praticados pelos dirigentes e servidores da FUNASA no
que se refere à celebração e execução do Contrato são nulos de pleno direito diante do
desvio de finalidade e de flagrante violação dos princípios constitucionais da legalidade,
moralidade, impessoalidade e eficiência.
Especificamente no que se refere à gestão de Paulo Lustosa, este
parquet federal colheu depoimento da Sra. LUÍZA EMÍLIA MELO, que exerceu a função
de Chefe da Assessoria de Comunicação e Educação em Saúde dessa Fundação no período
de setembro de 2005 a junho de 2007, sendo fornecidas relevantes informações sobre a
73 IV – Prestação de Serviços: “ Os serviços objeto da presente contratação serão prestados na Sede da Presidência da Fundação Nacional de Saúde e demais dependências em Brasília...” grifo nosso74 Item 1.2 – Do Objeto1.2.1 – Prestação de serviços de apoio administrativo e atividades auxiliares na Fundação Nacional de Saúde em Brasília, conforme especificações e modelos constantes nos anexos, partes integrantes e indissociáveis deste Edital. grifo nosso75Relevante observar que o Estado do Ceará demandou uma atenção específica de Paulo Lustosa, pois esse dirigente da FUNASA, no mesmo período em que exercia a Presidência desse órgão, viabilizou a campanha político-eleitoral de seu filho Paulo Henrique Ellery Lustosa da Costa, eleito Deputado Federal por esse Estado. Por coincidência ou não, fato a ser apurado em procedimento próprio, os municípios nos quais o então candidato Paulo Henrique Lustosa teve a incrível marca da maioria dos votos válidos, foram, no mesmo período de 2005/2006, ou seja, período pré-eleitoral, beneficiados com um significativo volume de repasse de verbas públicas através de transferências voluntárias da Funada, implementadas por intermédio de Convênios. Nesse sentido, os documentos de fls. 687/701.
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atuação dessa gestão da FUNASA, por parte de uma pessoa que, embora não participasse
de forma direta desse comando, teve atuação significativa em vários episódios.
Assim, segundo os depoimentos prestados pela Sra. Luíza nos dias
06, 07 e 12 de maio deste ano, a FUNASA, não obstante o seu histórico de fragilidades de
controles e ausência de implementação direta de sua função institucional, esteve
comandada, nesse período, por um grupo que se alinhou aos dirigentes da Brasfort e se
utilizou desse órgão para a prática de diversas ilicitudes, nos termos dos trechos abaixo
transcritos, extraídos da íntegra dos depoimentos juntados às fls. 703/714 do PA anexo:
“Que, a depoente permaneceu na FUNASA até o mês de junho de 2007;
Que, teve conhecimento de graves fatos envolvendo a gestão da FUNASA,
tanto no período do Sr. Paulo Lustosa como do atual Presidente Danilo
Forte e, inclusive por constatar que pessoas inocentes estão sendo
envolvidas em PADs e Processos de Sindicância, já relatou fatos
gravíssimos tanto ao TCU, à CGU, como ao próprio Ministério Público;
Que, nunca solicitou segurança em razão das informações prestadas a
esses órgãos.
(...)
Que, a Sra. Valquíria ameaçou a depoente de perda do emprego caso
continuasse relatando fatos e se envolvendo com as apurações das
irregularidades que vinham ocorrendo.
(...)
(...)
Que, no entanto, no dia seguinte, o Diretor Wagner ligou para a
depoente e pediu que ficasse “quietinha”; Que, ao que sabe, RENATO
foi indicado pelo CGLOG Paulo Garcia para contratação pela Brasfort;
Que, a depoente realizou o evento e depois procurou o próprio
Presidente da FUNASA, acreditando que se tratava de uma pessoa séria,
para informar que RENATO teria atuado irregularmente nesse caso,
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inflando artificialmente os preços e quantitativos do contrato; Que, o
Presidente Paulo Lustosa se mostrou surpreso e chegou a encenar
indignação com a situação e chamou o Coordenador de Logística Paulo
Garcia na mesma hora em sua sala; Que, solicitou que a depoente se
retirasse da sala pois seria uma cena que depoente não deveria
presenciar; Que, no dia seguinte, o terceirizado RENATO retirou seus
pertences do setor da depoente, o que foi até comemorado; Que, no
entanto, posteriormente a depoente verificou que RENATO se encontrava
lotado na CPL (Comissão Permanente de Licitações), não sabendo
precisar a sua atribuição nesse setor;.
(...)”76
“ QUE Renato, acredita a depoente, após o pedido de adesão, foi
negociar diretamente com a empresa; QUE Renato depois passou a
exigir o recebimento de cópia das planilhas contendo as especificações;
Questionada acerca do envolvimento de outras pessoas relativamente a
esse fato, informou a depoente que Wagner tinha conhecimento de todas
as operações realizadas por Renato;
(...)
Que a depoente, em algumas ocasiões, solicitava a impressão de um
determinado quantitativo, sendo que Wagner acrescentava uma
quantidade muito superior, como, exemplo, para a impressão de um
“Manual de Saneamento”; Que a depoente recebeu uma ameaça de
Wagner após informar que não iria assinar solicitação para impressão
de materiais gráficos, num total de quase 5 milhões de exemplares, entre
os meses de outubro e novembro de 2006.
(...)
Que Paulo Lustosa estabeleceu como meta eleger seu filho Deputado
Federal, passando a ficar cada vez mais distante da FUNASA, sendo que
Danilo passou a exercer, de fato, a função de Presidente nesse período.
(...)
76Depoimento prestado pela Sra. Luíza Emília Mello no dia 06/05/2008, fls.
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Que, o Diretor de Administração Wagner já comentou com a depoente,
sendo ele da região serrana do Rio de Janeiro, próximo a Teresópolis,
que os prefeitos daquela região estariam reclamando pois Alessandro,
que controlava todo o setor (lobby na Funasa) estava atuando de forma
muito agressiva.
(...)
Que, após a eleição ocorrida no ano de 2006, quando o filho de Paulo
de Lustosa foi eleito Deputado Federal e este voltou a atuar mais
assiduamente na Funasa, eclodiu uma disputa entre Paulo Lustosa e
Danilo;Que, a depoente presenciou uma discussão entre Danilo e Paulo
Lustosa relativa a um suposto evento ocorrido no Ceará, denominado
“Encontro de Prefeitos Cearenses Ações Estratégicas para Saneamento
Ambiental e Saúde Indígena”, com anúncio pago no jornal “O Povo”, o
que não era permitido, que consumiu recursos da ordem de R$850 mil e
houve reclamação dos indígenas, inclusive publicada na imprensa, de
que não teve comparecimento dos prefeitos.
(...)
Que, no entanto, informou ao Diretor Wagner que não aporia o atesto
na nota relativa ao evento do Ceará com os Prefeitos, dizendo a Wagner
que não tinha qualquer documentação que comprovasse essa
ocorrência; Que, inclusive, a depoente gostaria de informar que no
âmbito da Funasa e também outros órgãos públicos, nas designações
para atuação como fiscais e executores de contrato sequer há a prévia
consulta ao servidor ou mesmo algum esclarecimento sobre a relevância
da atribuição e procedimentos correlatos; Que, o servidor acaba tendo
conhecimento pela Portaria já publicada; Que, em muitas vezes o
servidor designado como fiscal ou executar não detém, de fato, qualquer
conhecimento ou poder decisório na execução do mesmo; Que, Wagner
insistiu para que a depoente assinasse e esta, simplesmente, em sinal d
protesto, fez um rabisco no documento e Wagner, mesmo assim, liberou
os pagamentos.
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(...)77”.
Especificamente sobre o contrato objeto da presente ação de
improbidade administrativa, destacam-se as seguintes informações prestada pela Sra.
Luíza:
“Que, a empresa BRASFORT era a forma utilizada pela FUNASA para
fins de terceirização de mão-de-obra, sendo que todos os empregados
eram de indicação política de vários partidos e várias correntes,
podendo citar como exemplos José Sarney, Renan Calheiros, Henrique
Eduardo Alves, líderes de partidos, etc., até para fins de pagamento de
favores a políticos, inclusive os responsáveis pela nomeação de Paulo
Lustosa;
(...)
Que havia em contratada que era esposa do Subsecretário de Direitos
Humanos Paulo Vanucci, Maria Clara de Freitas Guimarães; Que
existiam vários parentes de Paulo Lustosa e Paulo Garcia; Que na área
de recursos humanos existiam pessoas indicadas pela esposa de Paulo
Lustosa; Que, na área da depoente, existiam empregados indicados por
dirigentes e políticos, como Maria Vitória da Silva Furtado, indicada
por um amigo de Danilo Forte, que era Chefe do Escritório do
Ministério da Agricultura no Rio de Janeiro, cujo primeiro é Pedro;
Que a referida empregada não tinha nenhuma qualificação profissional
para a área, fazendo apenas “Teatro”; Que a depoente por diversas
vezes argumentou com diversas pessoas que a mesma não poderia
ajudar em nada, nem secretariá-la, se limitando a montar algumas
peças de teatro; Que, posteriormente, Danilo disse que Maria Vitória
iria para o Rio de Janeiro; Que a empregada em questão somente
comparecia quando tinha teatro; Que a maioria dos indicados não ia
sequer trabalhar; Que após a remoção para o Rio de Janeiro a
depoente recebeu a folha de pagamento para assinar, tendo a depoente
77Depoimento prestado pela Sra. Luíza Emília Melo no dia 07.05.2008.
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comentado com Danilo que só iria assinar o primeiro mês, se
recusando a assinar os seguintes, por haver apurado que ela não
comparecia ao trabalho no Rio, lá estando apenas para fazer um curso
de teatro na Globo; Que chegou a ser procurada por Pedro, lhe
pedindo que assinasse a folha de pagamento, dizendo que não iria
assinar; Que dentro da Funasa havia um coordenador da BRASFORT,
cujo nome a depoente, se não se engana, era Raimundo; Que a
depoente tinha problemas com uma empregada de nome Carolina,
estudante de Direito e sobrinha de Paulo Garcia, a qual não ia
trabalhar; Que os currículos dos indicados pela Brasfort eram
recebidos por Emival, que era responsável por alocar as pessoas nas
áreas específicas, sendo o subchefe do RH; Que no departamento da
depoente sequer havia espaço para acomodação de outros empregados;
Que a depoente procurou Raimundo por várias vezes, para tratar da
situação de um empregado conhecido mo Chico Dias, que era um
jornalista contratado pela Brasfort e que não trabalhava; Que a
depoente passou a não mais assinar as colhas de presença do mesmo,
encaminhado-as para que fossem assinadas por Leandro Amaral, chefe
de gabinete de Paulo Lustosa, o qual fora responsável por sua
indicação; Que o referido empregado, atualmente, continua na
FUNASA, ocupando um cargo DAS-3; Que Chico nem mesmo assinava
a folha de freqüência; Que Gabriela, enteada do Delegado da Polícia
Federal Ivo, também foi contratada pela BRASFORT, indicada por
Walquíria dos Reis Moraes, assessora técnica da Presidência; Que as
pessoas indicadas por políticos só iam trabalhar quando queriam; Que
o excesso de empregados levou a se adotar um rodízio de
computadores; Que na área da depoente chegaram a trabalhar 68
pessoas; Que o empregado Renato Antônio Bernardes Coutinho
também foi contratado pela BRASFORT, recebendo R$ 4.000,00
(quatro mil reais); QUE Renato sempre recebeu como se tivesse cargo
de nível superior, apesar de só após haver colado grau em Direito; Que
Renato continuou na sua área, a qual tinha um número excessivo de
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pessoas; Que quando foi aberto processo de auditoria, em razão do
qual cada departamento teve que fazer seus próprios cortes, a
depoente, juntamente com um conselho de funcionários da
Comunicação, incluindo a Coordenadora, Gláucia Olivera, a
Coordenadora de Museus, Raquel Machado dos Santos, e o
Coordenador de Educação e Saúde Honivaldo Ferreira Coutinho, que
integravam um colegiado, fizeram uma lista dos empregados que
deveriam ser cortados, tendo a depoente incluído os nomes de Chico
Dias, Renato, Gabriela, Carolina, Vitória, entre outros que não tinham
valia para a área, sendo tais nomes encaminhados para a assessoria
técnica, que era encarregada de fazer esses cortes; Que começaram a
cortar, ao contrário, os servidores mais antigos, sem apadrinhados
políticos, que de fato trabalhavam e exerciam suas funções; Que os
servidores indicados para corte só foram excluídos com a saída de
Paulo Lustosa; Que a depoente várias vezes argumentou acerca da
contratação de parentes, sendo que as decisões sobre a Brasfort eram
tomadas por Walquíria, Leandro e posteriormente Danilo, que tirava e
mantinha quem bem entendesse; Que só depois de aberta sindicância é
que a depoente tomou conhecimento que havia pessoas lotadas em sua
área trabalhando em outros estados, como um sobrinho de Paulo
Lustosa, Rafael Ellery, trabalhando no Ceará; Que no Rio de Janeiro
também existiam várias pessoas contratadas pela Brasfort, inclusive a
filha de Wagner de Barros Campos; Que só após esse fato é que tomou
conhecimento que a licitação somente previa a alocação de
empregados para Brasília; Que não existia qualquer seleção de
pessoas, e que Paulo Garcia mantinha total controle sobre o contratos
nas mãos, sendo o principal negociador; Que chegou a ouvir do pai de
Paulo Garcia, Sr. Paulo Coelho, que só eles tinham 20 pessoas
colocadas na Funasa pela Brasfort; Que Paulo Garcia tinha
parentesco com o representante da Brasfort, sendo que quando maior o
valor do contrato, maior o valor recebido pelos beneficiários,
notadamente por Paulo Garcia; Que Paulo Garcia sempre teve um
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padrão de vida alto, sendo proprietário de vários carros, inclusive
importados, vivendo em rodas de uísque, tendo grande amizade com
Paulo Lustosa; Que todos os servidores sabiam desses fatos, em
especial os que integravam o Colegiado de Coordenadores da área de
Comunicação;
(...)
Que absolutamente todas as contratações, tanto em Brasília quanto nas
regionais, são feitas por cartas marcadas, sendo uma forma de
contratar indicados políticos, acabando por enganar os cidadãos que
acreditam na existência de um processo seletivo, sendo que as
publicações são fictícias e mentirosas;
(...)
Que também tinham carro a Procuradora Geral e Paulo Garcia, cujo
carro era mais utilizado por Márcio Garcia; Que todo mundo tinha
conhecimento desses fatos, uma vez que os carros da ÁGIL ocupavam
o espaço inteiro do estacionamento”.
O contexto probatório que instrui a presente ação civil c/c
improbidade administrativa caracteriza, de forma explícita, o dolo, o conluio e a má-fé dos
dirigentes da FUNASA ora requeridos e dos administradores da empresa Brasfort,
notadamente a partir de julho/2005, ocasião em que, aproveitando-se de todas as
fragilidades do contrato 074/2008, a gestão do ex Presidente Paulo Lustosa praticou uma
série de ilegalidade que, em última análise, beneficiaram diretamente a contratada
Brasfort, os terceirizados indicados e os próprios dirigentes dessa Fundação que devem ser
pessoalmente responsabilizados pela sua conduta ímproba.
IV – DA RESPONSABILIDADE DOS AGENTES PÚBLICOS E TERCEIROS
ARROLADOS NO PÓLO PASSIVO.
Os fatos retratados nesta petição evidenciam que todos os réus da
presente ação violaram, de forma deliberada e consciente, o texto constitucional,
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sobretudo as disposições relativas aos princípios que disciplinam a atuação de agente
público probo; que determinam a lisura do procedimento licitatório e estabelecem que a
atividade finalística de cada órgão público apenas serão desempenhadas por servidores
ingressos mediante concurso público, salvo as exceções previstas na própria Constituição
Federal.
Segundo precisa lição de Celso Antônio Bandeira de Mello, o
princípio da legalidade é específico do Estado Democrático de Direito, conferindo-lhe
identidade própria como princípio basilar do regime jurídico-administrativo, já que o
Direito Administrativo nasce com o Estado de Direito. Delimitando o real conteúdo deste
princípio, o mencionado jurista leciona:
“Para avaliar corretamente o princípio da legalidade e
captar-lhe o sentido profundo cumpre atentar para o fato
de que ele é a tradução jurídica de um propósito político: o
de submeter os exercentes do poder em concreto – o
administrativo – a um quadro normativo que embargue
favoritismos, perseguições ou desmandos. Pretende-se
através da norma geral, abstrata e por isso mesmo
impessoal, a lei, editada, pois, pelo Poder Legislativo – que
é o colégio representativo de todas as tendências (inclusive
minoritárias) do corpo social -, garantir que a atuação do
Executivo nada mais seja senão a concretização desta
vontade geral.
O princípio da legalidade contrapõe-se, portanto, e
visceralmente, a quaisquer tendências de exacerbação
personalista dos governantes. Opõe-se a todas as formas de
poder autoritário, desde o absolutista, contra o qual
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irrompeu, até as manifestações caudilhescas ou
messiânicas típicas dos países subdesenvolvidos.”
A moralidade administrativa é princípio informador de toda a ação
administrativa, sendo defeso ao administrador o agir dissociado dos conceitos comuns,
ordinários, válidos atualmente e desde sempre, respeitadas as diferenças históricas, do que
seja honesto, brioso, justo. Hely Lopes Meirelles78, sintetizando as lições de Maurice
Hauriou, o principal sistematizador da teoria da moralidade administrativa, assim se
manifesta:
“A moralidade administrativa constitui hoje em dia,
pressuposto da validade de todo ato da Administração
Pública (Const. Rep., art. 37, caput). Não se trata – diz
Hauriou, o sistematizador de tal conceito – da moral
comum, mas sim de uma moral jurídica, entendida como
“o conjunto de regras de conduta tiradas da disciplina
interior da Administração”. Desenvolvendo a sua doutrina,
explica o mesmo autor que o agente administrativo, como
ser humano dotado da capacidade de atuar, deve,
necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o honesto do
desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o elemento
ético de sua conduta. Assim, não terá que decidir somente
entre o legal e o ilegal, o justo e o injusto, o conveniente e
o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas também
entre o honesto e o desonesto. Por considerações de direito
e de moral, o ato administrativo não terá que obedecer
somente à lei jurídica, mas também à lei ética da própria
instituição, porque nem tudo que é legal é honesto,
conforme já proclamavam os romanos – non omne quod 78Direito Administrativo Brasileiro. 24ª ed. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 79-80.
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licet honestum est. A moral comum, remata Hauriou, é
imposta ao homem para sua conduta externa; a moral
administrativa é imposta ao agente público para a sua
conduta interna, segundo as exigências da instituição a
que serve, e a finalidade de sua ação: o bem comum.
O certo é que a moralidade do ato administrativo,
juntamente com a sua legalidade e finalidade, constituem
pressupostos de validade, sem os quais toda atividade
pública será ilegítima.”
Registre-se, por relevante, que o art. 11 da Lei nº 8.429/92 veda a
prática de qualquer ato que atente contra os princípios da administração pública, além de
qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade,
e lealdade às instituições, justamente a situação ora retratada, diante do desvio de
finalidade e malversação dos recursos públicos.
O princípio da impessoalidade exige que toda a atuação do
administrador público ou daquele que desempenhe qualquer função de interesse público
se faça em benefício do interesse público, devendo ser reconhecida sua supremacia, com
prejuízo de interesses privados.
Leciona a doutrina que “por outro lado, para que haja verdadeira
impessoalidade, deve a Administração voltar-se exclusivamente para o interesse
público, e não para o privado, vedando-se, em conseqüência, sejam favorecidos alguns
indivíduos em detrimento de outros e prejudicados alguns para favorecimento de
outros79”. Destacamos
Além dos princípios da legalidade, moralidade e impessoalidade,
restou violado outro princípio de inegável importância, ou seja, o princípio da finalidade, 79CARVALHO Filho, José dos Santos. Op cit., p. 17.
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79
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que impõe que a Administração atue com rigorosa obediência à finalidade pública do ato
praticado. Isto é, cumpre-lhe cingir-se não apenas à finalidade própria de todas as leis, que
é o interesse público, mas também à finalidade específica abrigada na lei a que esteja
dando execução, agindo de forma estritamente impessoal.
Sendo a finalidade um dos elementos de validade dos atos
administrativos, tem-se que, o desvio de finalidade do Contrato 074/02, e também o
desvio da finalidade pública por ocasião da execução desse ajuste, firmado entre a
FUNASA e a empresa BRASFORT, enseja a declaração de sua nulidade.
Nesse sentido, leciona a doutrina que “no elemento finalidade, o
vício consiste na prática de ato direcionado a interesses privados, e não ao interesse
público, como seria o correto (desvio de finalidade)80”.
Desnecessário até mesmo se afirmar a violação ao princípio da
eficiência. Ora, se os ajustes estabelecidos não foram sequer adequadamente executados,
não há que se questionar se, sob o aspecto da eficiência, atenderam ao interesse público.
Segundo a doutrina:
“No tocante ao princípio da eficiência (art. 37 da CF) ou da
economicidade (art. 70 da CF) e da otimização da ação estatal,
impende rememorar que o administrador público está obrigado a
trabalhar tendo como parâmetro a busca da melhor atuação
(fundamentável como tal). Em outro dizer, tem o compromisso
indeclinável de encontrar a solução mais adequada
economicamente ao gerir a coisa pública. A violação manifesta
do princípio dá-se quando se constata vício de escolha dos meios
do dos parâmetros voltados para a obtenção de determinados fins 80CARVALHO Filho, José dos Santos. Op. cit., p. 132.
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administrativos. Não aparece, no controle à luz da
economicidade, nenhum traço de invasão do espaço da
discricionariedade, pois se é certo que esta precisa ser preservada,
não menos certo que qualquer discricionariedade legítima
somente o será se guardar vinculação com os imperativos da
sensatez, incompatível com qualquer desperdício. Com base nisso,
não se está a pedir, em especial ao Poder Judiciário, o controle de
juízos de conveniência em si mesmos, mas o controle das
motivações obrigatórias, ou seja, a vigilância quanto a aspectos
que dizem respeito não ao merecimento em si, mas à
compatibilidade plena do ato administrativo com a eficiência, já
que inexistem atos exclusivamente políticos e se vincula o
administrador aos motivos que ofertar. Como se infere da
conceituação formulada, trata-se de princípio vinculado ao da
proporcionalidade, com a vantagem de ter sido encampado
expressamente na Constituição Federal. Sem dúvida, o princípio
da economicidade merece tratamento autônomo e prudente para
que seja melhor contemplado, não apenas em sede de controle
externo ou interno, mas no âmbito do controle a ser efetuado pelo
Poder Judiciário e, ainda, na esfera do controle social.
É que nosso país insiste em praticar, em todas as searas,
desperdícios ignominiosos dos escassos recursos públicos. Não
raro, prioridades não são cumpridas. Outras tantas vezes, obras
restam inconclusas, enquanto se principiam outras altamente
questionáveis. Traçados de estradas são feitos em desacordo com
técnicas básicas de engenharia. Decisões de obras são tomadas
em rompantes conducentes a erros amazônicos. Mais: escolas
são abandonadas e, ao lado, inauguram-se novas. Hospitais são
sucateados, enquanto se iniciam outros. Materiais são
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desperdiçados acintosamente. Obras apresentam projetos básicos
que discrepam completamente dos custos finais, em face de erros
elementares. Dá-se prioridade a contratos para objetivos de curto
prazo sem se converter, quando possível, o contratado em
parceiro, de longo prazo, do Poder Público. Realizam-se
contratos com cláusulas que impedem a amortização dos
investimentos, acarretando dever indenizatório do Poder Público.
Cogita-se de desapropriação imotivada, com altos custos para o
erário. Vendem-se e compram-se ações de sociedades de
economia mista nem sempre com o devido cuidado. Por tudo,
torna-se conveniente frisar que tal princípio constitucional está a
vedar, terminantemente, todo e qualquer desperdício dos
recursos públicos ou aquelas escolhas que não possam ser
catalogadas como verdadeiramente comprometidas com a busca
da otimização ou do melhor”. (FREITAS, Juarez. O controle dos
atos administrativos e os princípios fundamentais, p. 73/5)
A proteção do interesse público é de tal forma relevante que,
mesmo quando decorrente de culpa, há a obrigação legal de se efetivar o ressarcimento.
Com muito mais razão quando os danos causados decorrem de artifícios e ardis dos
dirigentes do órgão público e da empresa subscritora do Contrato e Aditivos.
Assim, em relação à individualização da atuação dos réus da
presente ação, relevante destacar que, na estrutura administrativa e hierárquica da
FUNASA, o contrato ora impugnado situa-se, especificamente, na atuação operacional do
Coordenador-Geral de Recursos Logísticos, sob o comando direto do Diretor de
Administração e do Presidente do órgão.
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No entanto, em relação às ilegalidade concernentes à
contratação original e ao Primeiro, Segundo e Terceiro Termos Aditivos, este órgão
ministerial pautou-se, não apenas pela responsabilidade intrínseca a cada uma das
funções acima, mas também verificou, no conjunto de documentos que formalizam
esses atos reputados ilegais, a participação direta de cada um desses dirigentes81.
Outrossim, relevante destacar que ao Presidente da FUNASA cabe
também a gestão dos recursos humanos desse órgão (art. 14, XI), de forma que lhe
compete verificar a necessidade de recursos humanos para o exercício das atividades
finalísticas, devendo promover os remanejamentos necessários, antes mesmo da
determinação de contratação de pessoal terceirizado.
De fato, compete ao Presidente, segundo o Decreto 4.727, de 2003,
art. 14, I, IV e V, representar a FUNASA e firmar contratos, bem como praticar todos os
atos referentes à administração orçamentária e financeira dessa Fundação.
Feitas as considerações acima, tem-se que:
– MAURO RICARDO MACHADO COSTA, ex Presidente da FUNASA no período
de 26/03/1999 a 14/01/2003. Foi o responsável pela contratação original da empresa
Brasfort e pela celebração do Contrato 074/2002, eivado de todas as ilegalidades já
narradas no tópico II.2 e seguintes desta petição, inerentes à sua atribuição de
dirigente máximo desse órgão, a quem compete zelar pela observação da estrita
81Nessa perspectiva, o parquet federal não incluiu, no pólo passivo desta ação, o ex CGLOG Francisco Sérgio Abucater Lima, eis que embora tenha assinado o contrato 074/2002,, fl. 366, permaneceu no órgão apenas no curto período de 07/10/2002 a 01/10/2003, sendo que por ocasião do seu ingresso, o Edital e Termo de Referência já se encontravam, inclusive, disponibilizados, vez que o certame ocorreu em 09.10.2002, fl. 292. Nessa situação também se insere o ex Diretor do Departamento de Administrração da FUNASA, Wilmar de Barros Campos, que permaneceu nesse órgão no período de 02/01/2004 a 24/08/2005, sendo responsável pela assinatura do Terceiro Aditivo que apenas prorrogou o período contratual por mais 12 meses.
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legalidade em todas contratações e demais atos de gestão praticados, sejam ou não
assinados diretamente pelo Presidente82;
-VALDI CAMARCIO BEZERRA, ex Presidente da FUNASA no
período14/01/2003 a 22/07/2005. Foi o responsável, embora não tenha assinado
diretamente esses documentos, permitindo, inclusive, a sua assinatura por pessoas que
não possuem atribuição para tal, os fiscais do contrato, pela celebração do Primeiro,
Segundo e Terceiro Aditivos, que causaram vultosos prejuízos econômicos à
FUNASA, nos termos retratados no tópico III.2.2, que trata da repactuação do valor
contratado;
– PAULO DE TARSO LUSTOSA DA COSTA, ex Presidente da FUNASA no
período de 22/07/2005 a 28/03/2007. Foi o responsável direto por todas as
ilegalidades descritas no tópico III.2.4.2 e seguintes, que tratam da indicação de
contratados por critérios escusos, desvio de recursos e outras ilegalidades
concernentes à celebração do Quarto Aditivo e execução do contrato 074/2002;
– WAGNER DE BARROS CAMPOS, ex Diretor do Departamento de Administração
da FUNASA no período de 24/08/2005 a 20/06/2007. Na gestão administração do
órgão, foi co-responsável por todas as ilicitudes descritas no tópico III.2.4.2, acima
referido, valendo-se, inclusive, de atos praticados com abuso de poder e desvio de
finalidade para indicar a sua filha, contratada pela BRASFORT, para atividades na
Regional do Rio de Janeiro, local que sequer estava abrangido pelo contrato 074/2002.
Atuou em conluio com o Presidente Paulo Lustosa e com o CGLOG Paulo Garcia
para a celebração do quarto aditivo, que significou o extraordinário aumento da
remuneração mensal da empresa e da quantidade de terceirizados.
82 Em se tratando de ação civil pública c/c improbidade administrativa, ainda que configurada eventual prescrição da pretensão relativa às sanções previstas na Lei 8.429/92, ainda subsiste a obrigação de ressarcimento, disciplinada tanto na Lei da ação civil pública quanto na Lei de Improbidade administrativa, imprescritível por determinação constitucional -artigo 37, parágrafo 5º da CF. Ademais, há que se observar que, caracterizando-se ilícito penal, o prazo prescricional se rege pelo estabelecido no Código Penal.
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- PAULO ROBERTO DE ALBUQUERQUE GARCIA COELHO. Ex
Coordenador-Regional de Recursos Logísticos da FUNASA no período de 26/08/2005
a 30/03/2007, responsável pela execução e operacionalização de todas as ilegalidades
descritas no tópico II.2.4.2 e seguintes desta petição e nas apurações da Auditoria
CGU; Sindicância e PAD. Atuou de forma destemida para beneficiar a contratada
Brasfort, que aumentou significativamente e de forma ilícita a sua lucratividade na
gestão de Paulo Lustosa, nomeando terceirizados para favorecer interesses pessoais e
políticos dos dirigentes desse órgão que atuaram em conluio, além de dificultar, ao
máximo, todas as apurações deflagradas para verificação dos desmandos de sua
gestão. Intimidou funcionários, nomeou terceirizados que sequer compareciam ao
trabalho; designou terceirizados para atividades próprias de servidores públicos, ou
seja, desconsiderou todos os princípios e normas que pautam os atos dos gestores
públicos e fez da FUNASA uma empresa de gestão familiar.
Da análise fática, conclui-se que os requeridos da presente ação
atuaram de forma deliberada e com plena consciência dos seus atos, ao privilegiarem,
parentes e pessoas indicadas por políticos e pelo alto escalão da FUNASA na
terceirização de serviços por intermédio da BRASFORT.
Os fatos narrados nesta petição demonstram que os
requeridos, agentes públicos e terceiros, de forma deliberada e, com plena
consciência dos seus atos, praticaram os atos de improbidade administrativa
capitulados no artigo 10, caput e incisos VIII e e XI artigo 11, caput e incisos I e V.
A origem de todas as ilegalidades narradas é a assinatura do
próprio Contrato com desvio de finalidade, para execução de atividade-fim do órgão
mediante terceirização dos serviços que, posteriormente, permitiu a contratação de
parentes e “apadrinhados”, sem que houvesse controle da freqüência dos terceirizados.
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A Lei de Improbidade, em seu artigo 3º, estende a sua aplicação
àquele que, mesmo não sendo servidor público, induz ou concorre materialmente para
prática do ato ímprobo ou se beneficia deste. Nesses termos, a empresa BRASFORT e seu
dirigente, diretamente envolvido nas ilicitudes narradas, estão sujeitos às sanções da Lei
n.º 8.429/92, a teor do que dispõe o seu art. 3º, verbis:
“Art. 3º As disposições desta Lei são aplicáveis, no que
couber, àquele que, mesmo não sendo agente público,
induza ou concorra para a prática do ato de improbidade ou
dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta.”
Diante do cenário totalmente fraudulento, que contou com a
participação direta dos dirigentes da empresa Brasfort, visando, dentre outros aspectos, a
aumentar significativamente o lucro dessa empresa, é fato que os dirigentes dessa empresa
atuaram de forma deliberada e com pleno conhecimento das ilicitudes de seus atos.
Nesse aspecto, observa-se que tanto o contrato original, quanto
todos os Aditivos foram pessoalmente assinados pelo sócio-gerente e administrador da
Brasfort, ROBÉRIO BANDEIRA DE NEGREIROS que, inclusive, já responde, na forma
do dispositivo legal acima citado, às ações de improbidade administrativa juntadas às fls.
109/189 do Procedimento anexo.
Segundo a respeitada doutrina de Emerson Garcia e Rogério
Pacheco Alves83, a participação de terceiro nos atos de improbidade ocorre em três
ocasiões, enquadrando-se, a hipótese em análise, na segunda situação abaixo transcrita:
83 GARCIA, Emerson e ALVES, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa. Rio de Janeiro: LumenJuris, 2002. P. 178.
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“2º O terceiro concorre para a prática do ato de improbidade, participação esta que pode consistir na divisão de tarefas com o agente público ou na mera prestação de auxílio material, o que importa em atividade secundária que visa a facilitar o atingimento do fim visado pelo agente...
Quanto à participação de pessoas jurídicas, assim lecionam os
festejados doutrinadores84:
“Também as pessoas jurídicas poderão figurar como terceiros na prática dos atos de improbidade, o que será normalmente verificado com a incorporação ao seu patrimônio dos bens públicos desviados pelo ímprobo. Contrariamente ao que ocorre com o agente público, o qual e sujeito ativo dos atos de improbidade e é necessariamente uma pessoa física, o art. 3º da Lei e Improbidade não faz qualquer distinção em relação aos terceiros, tendo previsto que ‘as disposições desta Lei são aplicáveis, no que couber, àquele que, mesmo não sendo agente público ...’, o que permite concluir que as pessoas jurídicas também estão incluídas sob tal epígrafe.”
Não se pode olvidar que o recebimento de qualquer vantagem
decorrente de atuação ilícita de servidor já credencia o terceiro, pessoa física e a pessoa
jurídica a este relacionada, a responderem, no regime de solidariedade, aos termos da Lei
nº 8.429/92.
Por todo o exposto, não restam dúvidas quanto à necessidade de
efetiva punição dos atos ilícitos praticados de forma consciente e voluntária pelos sujeitos
passivos desta ação que atuaram em conluio, infringindo os princípios disciplinadores da
Administração Pública.
Por oportuno, releva observar que, de acordo com a narrativa dos
fatos ilícitos e contexto probatório que instrui a presente ação de improbidade
administrativa, as sanções do artigo 12, incisos II e III serão aplicadas aos sujeitos
84 GARCIA, Emerson e ALVES, Rogério Pacheco. Obra citada, pág. 179.
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passivos de acordo com a participação de cada um no evento ilícito narrado e conforme as
conseqüências nefastas ao interesse público dos atos ímprobos praticados.
V – DO PEDIDO
Diante do exposto, requer o Ministério Público Federal:
a) a autuação da inicial, juntamente com os documentos que
a instruem;
b) a notificação dos requeridos para manifestação em 15
dias, nos termos do § 7º, art. 17, da Lei n.º 8.429/92, bem assim o seu recebimento em 30
dias, após exaurido o prazo para a manifestação prévia (§ 8º do referido artigo);
c) a citação dos réus no endereço constante da exordial, para
responderem aos termos da presente ação, sob pena de revelia e confissão quanto à
matéria de fato;
d) a intimação da FUNASA, na pessoa de seu representante
legal, para os fins do disposto no art. 17, Parágrafo 3º, da Lei de Improbidade c.c. o
Parágrafo 3º, do Art. 6º, da Lei n.º 4.717/65 (na redação dada pela Lei n.º 9.366/96);
e) a procedência do pedido para:
e.1) a declaração de nulidade do Contrato nº 074/2002 e seus
Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Aditivos;
e.2) a condenação dos agentes públicos e terceiros arrolados
no pólo passivo desta ação nas sanções civis e políticas do art. 12, incisos II e III da Lei nº
8.429/92, e no ressarcimento da integralidade dos recursos financeiros repassados pela
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FUNASA à empresa BRASFORT, no montante histórico de R$ 56.630.323,3985,
devidamente corrigido, de acordo com a participação de cada um nos atos ilícitos
retratados nesta peça;
f) condenação dos réus nos ônus da sucumbência.
Protesta o Ministério Público Federal por todos os meios de
prova permitidos pelo Direito, inclusive pelo depoimento pessoal dos réus, oitiva de
testemunhas, além de eventuais perícias e juntada de documentos.
Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para efeitos
fiscais.
Termos em que
Pede e espera deferimento.
Brasília-DF, 11 de junho de 2008.
RAQUEL BRANQUINHO P. MAMEDE NASCIMENTO
Procuradora da República
85 Vide fls. 748/752.
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