excelentÍssimo(a) senhor(a) juiz(a) federal da … psm mario pinotti - belem... · ordem...

51
EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA __ VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARÁ Inquérito Civil nº 1.23.000.001983/2011-11 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pela Procuradora da República que assina ao final, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com fulcro no disposto no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988; no artigo 6º, inciso VII, alínea d, da Lei Complementar n.º 75/1993; e, ainda, nos artigos 1º, IV, e 5º, I, da Lei nº 7.347/85, vem, à ilustre presença de Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA em face do MUNICÍPIO DE BELÉM, pessoa jurídica de direito público interno, com sede no palácio Antônio Lemos – Praça D. Pedro II, s/n., Cidade Velha, CEP 66.020- 240, Belém/PA, fazendo-o pelos fatos e fundamentos a seguir expostos: I – DO OBJETIVO DA DEMANDA Visa-se com a presente Ação Civil Pública a prestação de tutela jurisdicional efetiva que garanta aos USUÁRIOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS, no Município de Belém, a prestação regular de serviços por parte do HOSPITAL DE PRONTO SOCORRO MUNICIPAL MÁRIO PINOTTI, mediante a regularização das deficiências constatadas pela extensa apuração realizada por este órgão 91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.br Tv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 1

Upload: dangtu

Post on 28-Jan-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA __ VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DO PARÁ

Inquérito Civil nº 1.23.000.001983/2011-11

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pela Procuradora da República que

assina ao final, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com fulcro no

disposto no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988; no artigo 6º,

inciso VII, alínea d, da Lei Complementar n.º 75/1993; e, ainda, nos artigos 1º, IV, e

5º, I, da Lei nº 7.347/85, vem, à ilustre presença de Vossa Excelência, propor a

presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA,

COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

em face do MUNICÍPIO DE BELÉM, pessoa jurídica de direito público interno, com

sede no palácio Antônio Lemos – Praça D. Pedro II, s/n., Cidade Velha, CEP 66.020-

240, Belém/PA, fazendo-o pelos fatos e fundamentos a seguir expostos:

I – DO OBJETIVO DA DEMANDA

Visa-se com a presente Ação Civil Pública a prestação de tutela

jurisdicional efetiva que garanta aos USUÁRIOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE –

SUS, no Município de Belém, a prestação regular de serviços por parte do HOSPITAL

DE PRONTO SOCORRO MUNICIPAL MÁRIO PINOTTI, mediante a regularização das

deficiências constatadas pela extensa apuração realizada por este órgão

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 1

ministerial.

II – DA EXPOSIÇÃO FÁTICA

1) Das considerações iniciais sobre os serviços de saúde prestados pelo HPSM

Mário Pinotti no Município de Belém.

No ano de 2005, foi instaurado nesta Procuradoria o inquérito civil

público n. 1.23.000.000253/2005-46, com fins de apurar as condições de

funcionamento e da efetiva prestação dos serviços de saúde pelo Hospital de

Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti (PSM 14 de Março), eis que, desde aquele

momento, verificava-se precária situação encontrada nas unidades de urgência da

14 de março e do Guamá.

Desde o princípio, várias inspeções, auditorias e visitas técnicas foram

realizadas por diversos órgãos (CRM, SEAUD/DENASUS, MPF, ANVISA), sendo

constatadas inúmeras deficiências no PSM 14 de março.

O Ministério Público Federal, cobrou, reiteradamente, das autoridades

responsáveis, ações no sentido de prover o Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti

de estrutura física e humana adequada para o atendimento satisfatório da

população. Nesse sentido, expediu a Recomendação nº 05/2008, destinada à

Prefeitura de Belém, visando a regularização dos seguintes pontos: a) do reparo

dos alarmes localizados nos postos de enfermagem; b) do conserto e fixação da

janela prestes a cair; c) da adequação das instalações sanitárias do hospital; d)

da correção e adaptação das escadas proporcionando segurança aos usuários; e)

da adequação dos extintores de incêndio e desobstrução dos acessos aos

mesmos; f) do reparo do elevador quebrado; g) da disponibilização de EPI's aos

servidores; h) da eliminação dos pontos de prováveis focos de larvas e

mosquitos.

Já naquela época, era possível perceber que as irregularidades no dito

nosocômio estavam em evidência e prejudicavam, deveras, a prestação da

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 2

atividade fim à população.

Entretanto, não obstante a isso, outros fatos de intensa gravidade

ocorreram, posteriormente, na instituição, tal como o desabamento de parte de

uma sala do hospital onde se encontravam pacientes internados.

Vale dizer que, no decorrer da instrução do citado feito, foram

adotadas inúmeras providências visando à regularização das falhas apontadas.

Dentre elas, pode-se citar a realização de inspeção no Pronto Socorro em tela, bem

como tentativa de assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta com o

Município de Belém, com vistas a estabelecer prazos para a adequação de

irregularidades identificadas nos relatórios de auditoria e inspeção

supramencionados.

Contudo, o Município de Belém se comprometeu a sanar as falhas

apontadas independentemente de assinatura de TAC.

Na época, considerando-se o lapso temporal já decorrido e, ainda, a

auditoria do DENASUS, realizada no início do ano de 2010, a qual, por sua vez,

atestou as condições a que ainda estavam submetidos os pacientes e servidores do

Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, o Exmº Procurador da República oficiante

decidiu pelo arquivamento do inquérito civil em curso e pela imediata instauração

de novo procedimento administrativo, com vistas a dar continuidade à apuração

das condições dos serviços de saúde prestados pelo mencionado hospital.

Assim, foi aberto o Inquérito Civil n. 1.23.000.001983/2011-11

(anexo), o qual serve de prova clara e inequívoca das condições desumanas

ofertadas pelo Hospital de Pronto Socorro Mário Pinotti, em direta ofensa aos

direitos à vida e à dignidade da pessoa humana.

Ainda nas primícias do novo apuratório, é possível observar o relatório

de auditoria nº 8924, da lavra do Departamento de Auditoria do SUS, em que são

descritos diversos pontos de não conformidade apresentados pelo hospital, tanto de

ordem estrutural, quanto de ordem técnica.

Já no ano de 2011, fora elaborado, pelo Engenheiro Paulo Brígido (fls.

137/143, na marcação deste MPF), relatório técnico de consultoria estrutural sobre

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 3

as condições do prédio anexo do Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, quando

ficou comprovada a necessidade de recuperação da estrutura do nosocômio.

Em 2012, entre os dias 14 e 17 de agosto, foi realizada, pelo DENASUS,

a visita técnica nº 3839, com fins de verificar a correção das irregularidades

identificadas pela auditoria nº 8924. De acordo com o relatório expedido (fls.

170/199, na marcação deste MPF), “as recomendações feitas pelo SEAUD/PA no

Relatório de Auditoria Nº 8924 a Secretaria Municipal de Saúde não foram

atendidas integralmente...”, eis que, nos termos do apurado, diversas

deficiências ainda persistiam no hospital, tais como, estrutura física inadequada,

insuficiência de equipamentos e materiais médicos, falta de medicamentos,

precário saneamento do ambiente hospitalar, inexistência do Programa de Controle

de Infecção Hospitalar (atividades da Comissão não demonstradas), péssimo estado

de conservação das instalações, incompatibilidade da realidade apresentada com o

informado ao CNES, defeitos no funcionamento do tomógrafo, inexistência de

rotinas no processamento da roupa, falta de profissionais médicos nas escalas de

plantão, controle ineficiente de medicamentos pela Farmácia do hospital, dentre

outros.

A Sociedade Paraense de Neurocirurgia, em 10/06/2013, denunciou

uma série de irregularidades no nosocômio em voga, como carência de leitos,

tomógrafo inoperante, insuficiência de medicamentos e etc.

A partir deste ponto, é possível observar nos autos acostados do

Inquérito Civil conduzido por este órgão ministerial, a existência de elementos

probatórios concretos que demonstram a existência, na atualidade, de problemas

graves no Hospital Mário Pinotti. São denúncias feitas pelo SINDMEPA e pela

Associação dos Servidores de Saúde no Município de Belém – ASSEMUB, além de

diversos pareceres técnicos elaborados por várias entidades, dentre elas, o

Conselho Regional de Enfermagem do Pará – COREN/PA, Conselho Regional de

Farmácia do Pará – CRF/PA, Conselho Regional de Nutricionistas – 7ª Região e

Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Pará.

Ademais, é necessário ressaltar que esta Procuradoria da República

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 4

atestou, in loco, as deficiências anunciadas, eis que realizou, em mais de uma

oportunidade, inspeções no prédio sede do HPSM Mário Pinotti, tendo, ainda,

promovido uma série de reuniões com todos os personagens envolvidos no afã de se

chegar a uma solução extrajudicial em relação aos problemas detectados, porém

sem o esperado êxito.

Para tanto, saliente-se que, a exemplo do que fora feito no ano de

2008, foi expedida a RECOMENDAÇÃO PRDC/PR/PA nº 58/2013, pela qual se

propôs à Secretaria Municipal de Saúde de Belém que fossem adotadas inúmeras

providências, tais quais: A) Recuperação e acolchoamento dos leitos do hospital;

B) Realização de limpeza contínua e eficiente de todo o ambiente hospitalar, de

modo a garantir a higiene e a salubridade em todos os espaços; C) O fornecimento

de rouparia (roupa de paciente, capotes, lençóis e etc) em quantitativo

proporcional à demanda do Hospital e realização da correta desinfecção de todo o

indumentário utilizado; D) Providências para a realização dos reparos

emergenciais no Prédio que abriga o Hospital, notadamente, no tocante à pintura

e ao mofo das paredes, ao forro do teto; E) Providências para início de

recuperação de elevadores do prédio, para que passem a operar com o mínimo de

segurança e regularidade; F) Providências para início de reparação e providências

para manutenção dos aparelhos, como os de eletrocardiograma, ultrassonografia,

tomografia e Raio-X, para funcionamento e atendimento aos usuários; G)

Providências para a manutenção e limpeza de aparelhos condicionadores de ar do

prédio; H) Tomar providências para manutenção do estoque e controle de

contratos para o abastecimento regular e continuado de insumos e medicamentos

básicos, como, por exemplo, seringas 20ml, bolsas coletoras para urina, gaze,

luvas, esparadrapos, fio de sutura, máscaras, gorros, jelco, xilocaína, pomada de

colagenase, dipirona, buscopan, voltaren, hidrocortisona, hidantal, diazepan,

captopril, solução fisiológica e glicosada, complexo B, dentre outros; I) Limpeza

regulares dos banheiros do Hospital, de modo a dar condições salubres e dignas de

uso aos pacientes e acompanhantes; J) Reparação emergencial da rede de

iluminação e da fiação elétrica dos espaços do Hospital, considerando os riscos a

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 5

pacientes e usuários, advindos de ambientes mal iluminados e com fiação exposta;

K) Correta administração do material sujo e contaminado, de modo a respeitar

normas técnicas sobre o assunto; L) Aquisição de instrumentos (secadoras e

pistolas de ar comprimido) e soluções (Ácido Peracético e Hipoclorito) para a

correta desinfecção, compreendidas as de nível alto e baixo, de produtos e

materiais hospitalares; M) Fiscalização efetiva, pela Administração do PSM Mário

Pinotti, dos contratos firmados com empresas terceirizadas, principalmente,

quanto aos serviços de limpeza e lavanderia, de modo que sejam rigorosamente

cumpridos e não haja prejuízos aos, servidores, pacientes e acompanhantes.

Infelizmente, como se pode observar nas ocorrências posteriores à

medida mencionada alhures, pouca coisa fora feita pela Direção do Hospital, sendo

que nada de relevante à melhoria dos serviços prestados, não tendo sido assim

acatada, nem mesmo em parte, a referida recomendação.

Destaque-se que, recentemente, em 11/04/2014, fora realizada, na

sede desta Procuradoria da República, reunião na qual estiveram presentes a

Procuradora signatária, o Diretor do HPSM Mário Pinotti, Dr. Sérgio Amorim, e o

Diretor Técnico do nosocômio, Dr. Raimundo Almada. No evento, os representantes

do órgão municipal deixaram claro que estaria prevista uma reforma significativa

para o Pronto Socorro Mário Pinotti, tendo, inclusive, comprometido-se a remeter a

este Ministério Público Federal o projeto a ser praticado, bem como os prazos a

serem adotados. Aduziu, ainda, que a conclusão das obras ocorreria dentro de um

período de 2 a 3 meses.

Pois bem, como é possível observar nos autos, este Parquet

remeteu ofício à Direção do nosocômio (OFÍCIO PRDC/PR/PA/Nº 2481/2014-SC, à

f. 672, na marcação deste MPF) solicitando as informações prometidas no

encontro ocorrido, porém o lapso temporal concedido, que foi extenso (30

dias), diga-se, transcorreu in albis , caracterizando a omissão do Poder Público

em sanar os problemas existentes.

Ainda, frise-se a divulgação, por redes de televisão locais diversas, de

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 6

matérias jornalísticas1, no mês de maio do ano corrente, as quais retratam e

atestam várias das irregularidades descritas nesta exordial, tais quais: falta de

climatização dos ambientes do hospital; falta de material para esterilização dos

instrumentos cirúrgicos; Falta de água para os pacientes e acompanhantes

beberem; aparelho de Raio-X quebrado; Fiação exposta; Paredes com infiltrações;

Elevadores quebrados; Pacientes transportados em macas pelas escadarias do

nosocômio; Falta de limpeza e higienização do ambiente hospitalar; Falta de

material para correta higienização das mãos pelos médicos; Ambiente insalubre;

Tomógrafo inoperante, dentre outros.

Assim, observa-se que a problemática tange pontos basilares, o que,

incontinenti, representa afronta clara ao direito à vida com dignidade da

população afetada. São situações inconcebíveis e pasmosas, mas que ocorrem

frequentemente no hospital, como a falta de materiais simples, tais quais, gaze,

esparadrapo e fios de sutura, e de medicamentos comuns, como a dipirona,

complexo B e solução fisiológica. Chegou-se, nesse rumo, a uma situação de

calamidade, inadmissível às vistas de qualquer pessoa.

Em março do ano de 2012, o Ministério da Saúde publicou o Índice de

Desempenho do SUS (IDSUS 2012), ferramenta, esta, que avalia o acesso e a

qualidade dos serviços de saúde no país.

O apontado índice avaliou, entre 2008 e 2010, os diferentes níveis de

atenção (básica, especializada ambulatorial e hospitalar e de urgência e

emergência), verificando como está a infraestrutura de saúde para atender às

pessoas; e se os serviços ofertados têm capacidade de dar as melhores respostas

aos problemas de saúde da população.

Certo, porém, é que diante das flagrantes irregularidades observadas

na documentação que subsidia a presente exordial, somadas às diversas falhas

identificadas nos inúmeros feitos extrajudiciais e judiciais de autoria deste

Ministério Público Federal, que apuram deficiências na execução do sistema de

1 Vide Mídias anexadas às fls. 686 e 688, na marcação deste MPF, além do conteúdo contido no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=QpEnWJMMD6M

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 7

saúde no Município de Belém e no Estado do Pará, não surpreendeu o resultado do

IDSUS 2012, o qual apontou a cidade de Belém como a segunda Capital de pior

avaliação e o Estado do Pará como o pior avaliado entre os estados brasileiros.

Tais informações podem ser mais detalhadas na notícia e nos índices

abaixo, que são de análise e parâmetros nacionais, avaliados pelo Ministério da

Saúde:

http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/noticia/4390/162/ministerio-avalia-e-monitora-acesso-e-qualidade-dos-servicos-de-saude.html

Ministério avalia qualidade dos serviços de saúde

Ministro Alexandre Padilha lançou, nesta quinta-feira (1/03), o Índice de Desempenho do SUS (IDSUS 2012); ferramenta vai avaliar 24 indicadores e ajudar governo federal, estados e municípios a qualificarem atendimento de saúde.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, lançou, nesta quinta-feira (1/03), em Brasília, o Índice de Desempenho do SUS (IDSUS 2012), ferramenta que avalia o acesso e a qualidade dos serviços de saúde no país. Criado pelo Ministério da Saúde, o índice avaliou entre 2008 e 2010 os diferentes níveis de atenção (básica, especializada ambulatorial e hospitalar e de urgência e emergência), verificando como está a infraestrutura de saúde para atender as pessoas e se os serviços ofertados têm capacidade de dar as melhores respostas aos problemas de saúde da população.

“Além de dar maior transparência ao quadro geral da oferta e da situação dos serviços de saúde, o IDSUS 2012 servirá como instrumento de monitoramento e avaliação para que os dirigentes dos três níveis - federal, estadual e municipal - tomem decisões em favor do aprimoramento das ações de saúde pública no país”, explica Padilha. “O SUS não pode temer processo de avaliação do sistema e deve dar publicidade às informações, pois se trata de uma ferramenta para aprimorar a gestão”. O IDSUS 2012 está disponível para consulta de toda a sociedade pelo endereço www.saude.gov.br/idsus.

AVALIAÇÃO – O índice avalia com pontuação de 0 a 10 a municípios, regiões, estados e ao país com base em informações de acesso, que mostram como está a oferta de ações e serviços de saúde, e de efetividade, que medem o desempenho do sistema, ou seja, o grau com que os serviços e ações de saúde estão atingindo os resultados esperados.

O IDSUS é formado por seis grupos homogêneos e leva em consideração a análise concomitante de três índices: de Desenvolvimento Socioeconômico (IDSE), de Condições de Saúde (ICS) e de Estrutura do Sistema de Saúde do Município (IESSM). Basicamente, os grupos 1 e 2 são formados por municípios que apresentam melhor infraestrutura e condições de atendimento à população; os grupos 3 e 4 têm pouca estrutura de média e alta

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 8

complexidade, enquanto que os grupos 5 e 6 não têm estrutura para atendimentos especializados. A proposta é unificar em grupos cidades com características similares.

SITUAÇÃO – De acordo com o índice, o Brasil possui IDSUS equivalente a 5,47. A região Sul teve pontuação de 6,12, seguida do Sudeste (5,56), Nordeste (5,28), Centro-Oeste (5,26) e Norte (4,67). Entre os estados (ver tabela no fim do texto), possuem índices mais altos os da região Sul - Santa Catarina (6,29), Paraná (6,23) e Rio Grande do Sul (5,90). Na sequência, vêm Minas Gerais (5,87) e Espírito Santo (5,79). As menores pontuações são do Pará (4,17), de Rondônia (4,49) e Rio de Janeiro (4,58). (grifo nosso)

De acordo com o IDSUS 2012, as maiores notas por Grupo Homogêneo foram: 7,08 para Vitória (ES), no grupo 1, e 8,22 para Barueri (SP), no grupo 2. Na sequência, nos grupos 3 e 4, vêm 8,18 para Rosana (SP) e 7,31 para Turmalina (MG). Nos grupos 5 e 6 os destaques foram Arco-Íris (SP) e Fernandes Pinheiro (PR), com IDSUS de 8,38 e 7,76, respectivamente.

MODELO –O IDSUS 2012 é resultado do cruzamento de 24 indicadores, sendo 14 que avaliam o acesso e outros 10 para medir a efetividade dos serviços. No quesito acesso, é avaliada a capacidade do sistema de saúde em garantir o cuidado necessário à população em tempo oportuno e com recursos adequados. Entre esses indicadores estão a cobertura estimada de equipes de saúde; a proporção de nascidos vivos de mães com sete ou mais consultas pré-natal; e a realização de exames preventivos de cânceres de mama, em mulheres entre 50 e 69 anos, e de colo do útero, na faixa de 25 a 59 anos.

Já na avaliação de efetividade, ou seja, se o serviço foi prestado adequadamente, encontram-se itens como a cura de casos novos de tuberculose e hanseníase; a proporção de partos normais; o número de óbitos em menores de 15 anos que foram internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI); e o número de óbitos durante internações por infarto agudo do miocárdio.

O levantamento de dados para divulgação do IDUS 2012 será realizado a cada três anos. Desde a idealização até a fase de finalização, o índice foi construído com a participação de vários segmentos do governo, técnicos, acadêmicos e com a participação e aprovação do Conselho Nacional de Saúde.”

TABELA 1 – ÍNDICES DOS ESTADOS

Unidades Federativas IDSUS

Acre 5,44

Alagoas 5,43

Amapá 5,05

Amazonas 5,03

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 9

Bahia 5,39

Ceará 5,14

Distrito Federal 5,09

Goiás 5,26

Espírito Santo 5,79

Maranhão 5,20

Mato Grosso 5,08

Mato Grosso do Sul 5,64

Minas Gerais 5,87

Pará 4,17

Paraíba 5,00

Paraná 6,23

Pernambuco 5,29

Piauí 5,34

Rio de Janeiro 4,58

Rio Grande do Norte 5,42

Rio Grande do Sul 5,90

Rondônia 4,49

Roraima 5,62

São Paulo 5,77

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 10

Santa Catarina 6,29

Sergipe 5,36

Tocantins 5,78

Brasil 5,47

TABELA 2 – ÍNDICES DAS CAPITAIS POR GRUPO HOMOGÊNEO

Capitais IDSUS 2012 Grupo Homogêneo

Belém 4,57 1

Belo Horizonte 6,40 1

Brasília 5,09 1

Campo Grande 6,00 1

Cuiabá 5,55 1

Curitiba 6,96 1

Florianópolis 6,67 1

Fortaleza 5,18 1

Goiânia 6,48 1

João Pessoa 5,33 1

Maceió 5,04 1

Manaus 5,58 1

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 11

Natal 5,90 1

Porto Alegre 6,51 1

Recife 5,91 1

Rio de janeiro 4,33 1

Salvador 5,87 1

São Luís 5,94 1

Teresina 5,62 1

Vitória 7,08 1

CAPITAIS DO GRUPO HOMEGÊNEO 2

Aracaju 5,55 2

Boa Vista 5,76 2

Macapá 5,10 2

Palmas 5,31 2

Porto Velho 5,51 2

Rio Branco 5,56 2

Em outras palavras, o índice mencionado, que avalia com base em

informações de acesso, as quais mostram como está a oferta de ações e serviços de

saúde, e de efetividade, medindo o desempenho do sistema, ou seja, o grau com

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 12

que os serviços e ações de saúde estão atingindo os resultados esperados, só

confirmou o que os relatórios do DENASUS e pareceres técnicos – os quais dão

lastro à presente Ação Civil Pública - evidenciam: a prestação do serviço de

saúde no Município de Belém e no Estado do Pará encontra-se agonizando.

Não por outra razão, traz, este Órgão Ministerial, as irregularidades

alhures descritas ao conhecimento do Poder Judiciário, eis que é imperiosa a

necessidade de imediata adoção de providências pela Administração Municipal com

vistas a corrigi-las.

Desta feita, destina-se, a presente Ação Civil Pública, a obter tutela

deste MM. Juízo bastante à obrigar o ente municipal componente do polo passivo a

regularizar as deficiências críticas do Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário

Pinotti, possibilitando a prestação de serviço que garanta o exercício, pela

população usuária, de seu direito à saúde de modo pleno e impedindo que o dito

nosocômio se torne mero estágio de pacientes para a morte.

2) Das constatações presentes nos relatórios apresentados pelo

SEAUD/DENASUS, nas inspeções feitas pelo Ministério Público Federal e nos

relatórios de visitação de diversos órgãos de fiscalização:

Ao longo do apuratório, como dito, foram produzidos vários

expedientes, da lavra de órgãos de fiscalização, que atestam a presença de

irregularidades no Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, nos termos

do indicado abaixo. Este Parquet elencou todas aquelas que tratam de pontos

críticos, sendo, portanto, merecedoras de especial atenção por parte do Poder

Público.

A) Serviço de UTI com estrutura física inadequada e

insuficiência de equipamentos e materiais: Constatações nº

64536, 64537, 64533 e 64539 do relatório da Visita Técnica nº

3839 (fls. 175/177, na marcação deste MPF).

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 13

B) Divergências no tocante às informações prestadas ao

Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES):

Constatações nº 64528 e 64544 do relatório da Visita Técnica

nº 3839 (f. 176 e f. 181, na marcação deste MPF) e RELATÓRIO

DE INSPEÇÃO do COREN/PA (f. 212, na marcação deste MPF);

C) Irregularidades na composição da Comissão de Controle

de Infecção Hospitalar e falta de atuação da mesma:

Constatações nº 64266, nº 64269, nº 66004 e nº 64724 do

relatório da Visita Técnica nº 3839 (fls. 184/186, na marcação

deste MPF);

D) Falta de equipamentos para a prestação de serviços em

Neurocirurgia, apesar do Hospital estar devidamente

habilitado no CNES para tal: Constatação nº 64549 do

relatório da Visita Técnica nº 3839 (fls. 181/182, na marcação

deste MPF);

E) Falta de profissionais médicos nas escalas de plantão:

Constatações nº 64585 e nº 64546 do relatório da Visita

Técnica nº 3839 (fls. 189/190, na marcação deste MPF);

F) Leitos do hospital sem o acolchoamento devido ou com

colchões danificados: nos termos do RELATÓRIO DE INSPEÇÃO

do COREN/PA (f. 211, na marcação deste MPF) e observados,

in loco, pelo MPF/PA (fls. 303, 309 e 511, na marcação deste

MPF), “a Unidade Hospitalar tem cadastrado no

CNES/DATASUS/MS 198 (cento e noventa e oito) leitos, no

entanto, verificamos muitos deles sem colchão, danificados,

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 14

isto é, indisponível para uso...”;

G) Ambiente hospitalar em péssimas condições de higiene e

salubridade: nos termos do RELATÓRIO DE INSPEÇÃO do

COREN/PA (f. 212, na marcação deste MPF), e como observado

pelo MPF (fls. 300, 302, 304 e 306, na marcação deste MPF),

“com relação ao serviços de limpeza, a insatisfação é geral

entre os servidores e usuários, pois o ambiente é sujo, o odor

desagradável, pois segundo informações a equipe é reduzida

da terceirizada da limpeza, bem como, não há supervisão

eficiente da equipe...”;

H) O fornecimento de rouparia (roupa de paciente, capotes,

lençóis e etc) em quantitativo incompatível à demanda do

Hospital, além da existência de deficiências no controle,

organização e infraestrutura do respectivo setor:

RELATÓRIO DE INSPEÇÃO do COREN/PA (f. 3, na marcação

deste MPF) e Constatações nº 63397 e nº 63392 do relatório da

Visita Técnica nº 3839 (fls. 187/188, na marcação deste MPF);

I) Deficiências estruturais em todos os setores do Hospital

(mofo nas paredes, forro do teto quebrado, ausência de

bate-maca nos andares, falta de visores nas portas,

alagamentos no hospital, banheiros deteriorados e etc):

RELATÓRIO DE INSPEÇÃO do COREN/PA (f. 220, na marcação

deste MPF), de acordo com inspeção realizada por este MPF

(fls. 291, 292 , 293 e 296, na marcação deste MPF) e conforme

Constatações nº 64553 e nº 64543 do relatório da Visita

Técnica nº 3839 (f. 178 e f. 181, na marcação deste MPF);

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 15

J) Elevadores do prédio paralisados ou operando sem o

mínimo de segurança e regularidade: nos termos do

RELATÓRIO DE INSPEÇÃO do COREN/PA (f. 220, na marcação

deste MPF) e verificado na inspeção de 11/10/2013, feita pelo

MPF (f. 295, na marcação deste MPF), “...o elevador não

funciona há aproximadamente 08 (oito) meses, fazendo com

que os maqueiros transportem (carreguem nos braços) os

pacientes em uma prancha, fixando o usuário com faixas de

ataduras, ressalta-se que há alguns meses não havia a

prancha. O transporte se dá pelas escadas dos pavimentos,

em uma forma sub-humana, tanto para paciente, quanto

para o trabalhador”. Inclusive, há que se ressaltar a notícia,

afirmada pela Associação dos Servidores da Saúde do Município

de Belém – ASSEMUB, de que o elevador do prédio anexo teria

despencado com funcionários dentro. Ademais, ainda

esclareceu, a referida Associação, que o elevador instalado no

prédio antigo estaria em péssimas condições de manutenção

(f. 551, na marcação deste MPF).

K) Não funcionamento dos aparelhos de eletrocardiograma,

ultrassonografia, tomografia e Raio-X: RELATÓRIO DE

INSPEÇÃO do COREN/PA (f. 222, na marcação deste MPF) e

Constatações nº 64572 e nº 64566 do relatório da Visita

Técnica nº 3839 (f. 184 e f. 186, na marcação deste MPF);

L) Deficiente sistema de arejamento do Hospital (não

funcionamento dos aparelhos condicionadores de ar do

prédio): RELATÓRIO DE INSPEÇÃO do COREN/PA (f. 222, na

marcação deste MPF), Inspeção do MPF (f. 299, na marcação

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 16

deste MPF), RELATÓRIO de inspeção CRF/PA (f. 562, na

marcação deste MPF); e Relatório de inspeção Conselho

Regional dos Nutricionistas (f. 633, na marcação deste MPF);

M) Abastecimento irregular e descontinuado de insumos,

medicamentos (alguns básicos, como, p. ex., seringas 20ml,

bolsas coletoras para urina, gaze, luvas, esparadrapos, fio

de sutura, máscaras, gorros, jelco, xilocaína, pomada de

colagenase, dipirona, buscopan, voltaren, hidrocortisona,

hidantal, diazepan, captopril, solução fisiológica e

glicosada, complexo B, dentre outros) e instrumentos

(secadoras e pistolas de ar comprimido): nos termos do

RELATÓRIO DE INSPEÇÃO do COREN/PA (f. 222, na marcação

deste MPF), “quanto a materiais e insumos, foram

constatados ausência de bolsas coletoras para urina, tendo

que ser improvisado com recipiente para drenagem toráxica

(foto anexo2), seringas de 20ml, fazendo com que o

profissional tenha que dividir em seringas de 10ml,

promovendo gasto desnecessário de energia, insumos, tempo,

dinheiro (público), pelo gasto excessivo de seringas e também

de dreno toráxico (mais oneroso). Falta sonda de demora,

xilocaína e pomada de colagenase, esta última não tem há 03

(meses) e serve para acelerar processo de cicatrização de

feridas/lesões”. Ainda, segundo o mesmo documento (f. 229,

na marcação deste MPF), “só estão realizando desinfecção de

baixo nível com uso de hipoclorito a 2% que não é

recomendado para instrumentais, borrachas de artigos

críticos com lúmen. Serve somente para inaladores, ou seja,

estão tentando substituir soluções de forma inadequada”. Por

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 17

fim, a falta de medicamentos e materiais também foi atestada

pelo Conselho Regional de Farmácia – CRF/PA, segundo o qual

o déficit de medicamentos gira em torno de 40% e o déficit de

materiais hospitalares (agulha de raqui, tubo traqueal, fita

micropore e etc) gira em torno de 35% (f. 570, na marcação

deste MPF).

N) Ausência de rastreabilidade de medicamentos e insumos

(Sist. de distribuição coletivo), falta de controle de lote e de

validade dos fármacos e sistema de distribuição de remédios

ineficaz: Identificados por inspeção feita pelo CRF/PA (f. 564,

na marcação deste MPF), tais fatores estão dentre as principais

causas da descontinuidade do abastecimento e gasto

desordenado das verbas públicas aplicadas, eis que o Hospital

adquire medicamentos e insumos sem saber a real necessidade,

fazendo uma distribuição ineficiente, a qual não comprova se

os fármacos e materiais chegaram, de fato, aos pacientes,

favorecendo desvios e má prestação do serviço. A solução,

certamente, seria a informatização, para controle dos

estoques, incluindo-se, aí, a distribuição e a qualidade, no

entanto, até o presente momento, nenhuma evolução fora

anotada.

O) Banheiros do Hospital em péssimo estado de higiene e

saneamento: nos termos do RELATÓRIO DE INSPEÇÃO do

COREN/PA (f. 225, na marcação deste MPF) e também por

verificação in loco (fls. 300 e 304, na marcação deste MPF), de

alguns dos pontos, pelo Procurador da República, à época,

atuante, “o banheiro que fica à entrada da sala de pequena

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 18

cirurgia (…) funciona precariamente e não atende mais este

fim, pois parece um depósito de material de limpeza, chuveiro

vazando e sem ponteira, sem lâmpada, alagado e com aspecto

sujo, totalmente precário”. Tal problema favorece a

disseminação de infecções hospitalares e contaminação dos

pacientes e, também, de acompanhantes.

P) Condições precárias da rede de iluminação e da fiação

elétrica dos espaços do Hospital, o que gera riscos a

pacientes e usuários, advindos de ambientes mal iluminados

e com fios velhos e expostos: nos termos do RELATÓRIO DE

INSPEÇÃO do COREN/PA (f. 220), “o prédio anexo é

relativamente novo, possui em torno de 03 (três) anos de

funcionamento, no entanto, há muitas falhas relacionadas à

iluminação, pois faltam lâmpadas nas luminárias, há fiação

elétrica exposta por quase todo prédio, irradiação solar direta

nas enfermarias que não possuem qualquer barreira, tornando

a acomodação perturbadora do paciente, fazendo com que se

locomova para ambiente que não incida a luz (claridade

intensa e quentura), causando transtorno a toda enfermaria”.

O problema também foi identificado pelo MPF, em inspeção in

loco (f. 515). Tal situação ocasiona riscos reais de incêndio, o

que, caso ocorra, certamente causaria uma tragédia sem

precedentes, eis que o nosocômio não dispõe, como abaixo

será colocado, de brigada de incêndio e de extintores em

vários pontos do prédio.

Q) Má administração do material sujo e contaminado, em

desrespeito a normas técnicas sobre o assunto: nos termos do

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 19

RELATÓRIO DE INSPEÇÃO do COREN/PA (f. 230, na marcação

deste MPF), “...verificamos que por este local passam roupas

limpas que chegam da lavanderia, para serem preparadas para

esterilização e outras para guarda e distribuição, pois a sala

que era para recepção de roupa limpa, foi transformada em

copa pelos funcionários. Esta situação contraria as normas

sanitárias vigentes e põem em risco todo o processo, pois ,

banheiro não é local que deva ter acesso roupas e materiais

limpos”. Ademais, a problemática foi flagrada pelo MPF, em

inspeção in loco realizada (f. 306, na marcação deste MPF). Tal

situação favorece a proliferação de infecções hospitalares e

patologias entre pacientes, funcionários e acompanhantes,

contrariando todas as regras aplicáveis ao caso.

R) Mobiliário da área fim do hospital em péssimo estado de

conservação e higiene: atestado por este MPF, em inspeção in

loco (fls. 298, 301 e 513, na marcação deste), e pelo CRF/PA (f.

566, na marcação deste MPF). Tal situação também aumenta

os riscos de contaminação dos pacientes, pois, em muitos

casos, a limpeza dos móveis já não surte efeitos no tocante à

desinfecção.

S) Irregularidades do setor de Farmácia do Hospital

(Estabelecimento farmacêutico do HPSM sem licença de

funcionamento da Vigilância Sanitária do Município e registro

no CRF/PA; Quadro de farmacêuticos insuficiente – déficit de

18 farmacêuticos e de 30 profissionais de nível médio;

Estrutura física deficitária da Divisão de Assistência

Farmacêutica - tamanho insatisfatório, fiações e

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 20

infiltrações aparentes, rachaduras, climatização precária,

ausência de polos satélites com apenas uma farmácia para

todo o nosocômio; Carência de equipamentos - inexistência

de maquinário que aumente a segurança da chegada do

produto ao paciente de forma correta; Aparelhos de ar-

condicionado da farmácia em estado precário; Refrigeradores

– armazenamento de fármacos - e computadores em

péssimo estado de conservação; Mobiliário deteriorado; Uso

de pallets de madeira - proibido pela Vig. Sanitária;

Ausência de higrômetros - controle de temperatura e

umidade nas áreas técnicas da farmácia; Ausência de sistema

de informação eficaz no hospital para controle de

medicamentos; Abastecimento mensal/semanal não condiz

com as demandas apresentadas - demandas traçadas sem

dados reais de consumo): RELATÓRIO DE FISCALIZAÇÃO DO

CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA (fls. 559/574, na marcação

deste MPF);

T) Irregularidades no setor de nutrição do hospital (Piso de

cerâmica desgastado; Teto com goteiras e umidade; Portas e

Janelas sem proteção contra insetos; Lampadas sem

proteção contra explosão e quedas; Ar-condicionado sem

funcionar e uso de ventilador na área; Mesa para distribuição

dos líquidos para suplementação de dietas bem em frente à

porta de acesso ao vestiário; Lixeiras destampadas;

Recipientes com comida transportados em hot box sem o uso

de pallets, sendo depositados na calçada e arrastadas até a

área de recebimento; Horários de entrega das refeições não

vem sendo cumprido pela empresa responsável; Apenas um

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 21

nutricionista no quadro, sendo que o correto seria a

existência de dois, pelo menos): RELATÓRIO DE INSPEÇÃO DO

CONSELHO REGIONAL DE NUTRICIONISTAS DA 7ª REGIÃO (fls.

632/651, na marcação deste MPF);

U) Irregularidades quanto à segurança do prédio (Portas

corta-fogo da escada de emergência com molas desgastadas e

sem vedação das mesmas, Corrimão da escada de

emergência apresentando descontinuidade, Escada do setor

ambulatório não apresenta corrimão, Hospital não possui

brigada de incêndio, Não há iluminação de emergência, Não

há sinalização de orientação e salvamento suficiente para o

caso de pânico, Ausência de extintor de incêndio no 2º

pavimento do setor de internação e na área de subestação

de energia, Extintor de incêndio na área de barrilete em

contato direto com o solo, Fiação elétrica do sistema de

bomba de incêndio carbonizada após curto-circuito, Caixas

de hidrantes sem mangueiras de incêndio e sem esguicho,

Não foi localizado hidrante de passeio no prédio): PARECER

DE VISTORIA TÉCNICA Nº 002/2014 – DST, da lavra do Corpo de

Bombeiros Militar do Estado do Pará (fls. 657/664, na marcação

deste MPF).

3) Da gravidade das constatações constantes dos relatórios e pareceres

acostados e a necessidade de adoção de providências judiciais urgentes.

Por tudo o que foi exposto, salta aos olhos a gravidade da situação do

Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti em Belém, o qual demonstra

falhas significativas, evidenciadas por meio de todo o lastro probatório anexado a

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 22

esta peça vestibular.

Certo, porém, é que não é possível ao Ministério Público Federal

permanecer inerte diante das graves irregularidades constatadas e da omissão

do Município de Belém em adotar as providências cabíveis para regularizar sua

estrutura de saúde.

Tal conduta constitui total descaso para com a população, sobretudo

com relação àquela carente de recursos, a qual, não podendo arcar com os custos

dos serviços de saúde e/ou de medicamentos, fica obrigada a se submeter a

tratamento desumano e precário, pois sem outras opções de amparo, situação,

esta, que acarreta forte ofensa ao princípio fundamental da dignidade da pessoa

humana.

Muitos dos problemas identificados possuem soluções simples e que

dependeriam, puramente, do empenho da gestão Municipal.

Frise-se que esta Procuradoria da República levou em consideração a

mudança de gestão ocorrida, em janeiro de 2013, no município, tendo fornecido

prazo para que atitudes drásticas fossem tomadas e a situação fosse, ao menos,

amenizada, o que, infelizmente, não aconteceu. O que se observa, desse modo, é

que situações como a falta de medicamentos e insumos, além da falta de

acolchoamento de leitos, que são problemas de resolução simples, não dão, sequer,

pequenos sinais de melhora, chegando, neste MPF, corriqueiramente, reclamações

e notícias sobre irregularidades do nosocômio em voga.

Comprovando a cautela adotada por este Parquet, constata-se, nos

autos acostados do inquérito civil conduzido por esta Procuradoria, que o canal de

diálogo com a Administração do nosocômio sempre esteve aberto, tendo sido

realizadas diversas reuniões, nas quais, por sua vez, foram dados incontáveis prazos

para resolução dos problemas encontrados, que, em verdade, foram, em sua

grande maioria, descumpridos e, quando cumpridos, feitos mediante soluções

provisórias e de qualidade duvidosa (a exemplo dos elevadores, que foram

anunciados, pela Administração do Hospital, como operantes, no entanto, ainda

persistem parados).

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 23

Outros pontos, tais quais, a deficiente estrutura do prédio do Hospital

e a existência de fiação elétrica velha e exposta, são deveras preocupantes, visto

que possuem potencial suficiente para causar grave tragédia. Há, nos documentos

acostados, várias ilustrações demonstrando a rede elétrica precária do nosocômio e

constantes alagamentos que ocorrem nas enfermarias a cada chuva ocorrida na

cidade. Isso é tão absurdo, quanto grave.

A situação, como bem se observa, estando insustentável, forçou este

Parquet a apelar à força do mandamus judicial, no afã de que seja garantido, pelo

menos, o direito à vida dos munícipes usuários do Sistema Único de Saúde em

Belém, eis que, do modo como está, muitas vidas, certamente, continuarão sendo

perdidas, mais por conta da ineficiência do serviço ofertado e menos pelas

patologias apresentadas.

Deve, portanto, com urgência, ser, o Município de Belém, compelido

judicialmente a regularizar as constatações alhures descritas, pautadas nas

normatizações que regulam o SUS, por se tratar de medida imprescindível ao bom

atendimento dos pacientes que necessitam de amparo em sua rede de saúde.

III – DO DIREITO

1) DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

A competência da Justiça Federal vem disciplinada no artigo 109 da

Constituição Federal de 1988, nos seguintes termos:

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I – as causas em que a União, entidade ou empresa pública

federal forem interessadas na condição de autoras, rés,

assistentes ou opoentes, exceto as de falência, as de

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 24

acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à

Justiça do Trabalho;

(...)

§ 2°. As causas intentadas contra a União poderão ser aforadas

na seção judiciária em que for domiciliado o autor, naquela

onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda

ou onde esteja situada a coisa, ou, ainda, no Distrito Federal”.

(Grifou-se)

Por sua vez, o financiamento da saúde é de responsabilidade da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Por este motivo, a

União já é interessada na demanda, pois, além do dever de zelar, tem interesse

na correta aplicação do recurso. Neste sentido, confira-se o teor do art. 198 da

CF/88:

“Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma

rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema

único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de

governo;

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades

preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais;

III - participação da comunidade.

Parágrafo único. O sistema único de saúde será financiado,

nos termos do art. 195, com recursos do orçamento da

seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal

e dos Municípios, além de outras fontes.” - Grifou-se.

A Lei n.º 8.080/90 estabeleceu, também, que:

“Art. 9o - A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única,

de acordo com o inciso I do artigo 198 da Constituição Federal,

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 25

sendo exercida em cada esfera de governo pelos seguintes

órgãos:

I - no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde;

II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela

respectiva Secretaria de Saúde ou órgão equivalente; e

III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de

Saúde ou órgão equivalente.”

Por conseguinte, a União, em cumprimento ao seu dever de participar

do financiamento do SUS, repassa, mensalmente, ao Município, responsável pela

gestão da saúde local, recursos para a garantia da prestação de serviços de saúde

da assistência da atenção básica, assistência de média e alta complexidade, bem

como da assistência farmacêutica, dentre outros serviços de saúde.

Ante o exposto, podendo a União figurar no polo ativo da demanda,

justificada está, nos termos do artigo 109, I, da CF/88, a competência da Justiça

Federal para o processamento e julgamento da presente demanda.

Outrossim, ainda que se entendesse que a União não pode figurar

como parte autora, a competência é da Justiça Federal, porque grande parte do

financiamento da atenção básica, assistência de média e alta complexidade , bem

como assistência farmacêutica compete à União, que transfere os recursos ao

município, para que execute os serviços de saúde, bem como adquira os

medicamentos.

Assim, a competência da Justiça Federal e a atribuição do

Ministério Público Federal é firmada tendo em vista a origem federal dos recursos

envolvidos. Tal entendimento decorre, além do art. 109, I da Constituição Federal

e dos enunciados legais citados, do disposto na Lei Complementar n° 141/12. que

ao tratar das normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 26

nas 3 (três) esferas de governo , estabelece em seu art. 39, §5º que:

art.39 - (…)

§5º - O Ministério da Saúde, sempre que verificar o

descumprimento das disposições previstas nesta Lei

Complementar, dará ciência à direção local do SUS e ao

respectivo Conselho de Saúde, bem como aos órgãos de

auditoria do SUS, ao Ministério Público e aos órgãos de

controle interno e externo do respectivo ente da Federação,

observada a origem do recurso para a adoção das medidas

cabíveis.(grifo nosso)

Logo, uma vez que comprovada a origem federal do recurso, cabe

ao Ministério Público Federal tomar as medidas cabíveis. Neste caso, o próprio

órgão integrante da Administração Pública federal (DENASUS) fiscalizou a

situação em voga, evidenciando o interesse da União in casu e,

consequentemente, tornando a Justiça Federal competente para o

processamento e julgamento da lide decorrente.

2) DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

A atribuição da legitimidade do Parquet Federal está respaldada no

artigo 129, II e III, da Constituição da República Federativa do Brasil no artigo 5o, V,

“a”, da Lei Orgânica do Ministério Público da União - Lei Complementar n.° 75, de

20/05/93.

De fato, trata-se de demanda que visa proteger o direito à saúde dos

cidadãos de Belém, pois estão a mercê dos gestores municipais que não estão

cumprindo com suas atribuições legais referentes à atenção de média e alta

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 27

complexidade.

Ressalte-se que boa parte dos recursos da atenção de alta e média

complexidade e assistência farmacêutica são financiados pela União, que,

inequivocamente, aplica recursos, por meio do SUS, para o financiamento dos

serviços de urgência e emergência, aquisição dos medicamentos, dentre outros.

Compete, pois, à Administração Pública Municipal prestar serviços e

ações de promoção e manutenção da saúde de sua população da forma mais

efetiva, gerindo com eficiência os recursos federais, estaduais e municipais

destinados à manutenção deste mister.

Havendo, dessa forma, indícios de que os recursos federais do SUS

não estão tendo aplicação efetiva, não há que se discutir a atribuição do

Ministério Público Federal para, também, propor a demanda.

3) DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO RÉU

A competência quanto aos cuidados da saúde é comum entre os entes

federativos, a teor do disposto no artigo 23, inciso II, da Constituição Federal:

“Art. 23: É competência comum da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios:

(...)

II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e

garantia das pessoas portadoras de deficiências;”

Pois bem. Embora a competência para cuidar dos serviços de saúde

seja comum aos três entes da federação, a gerência do Sistema Único de Saúde,

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 28

nesta capital, incumbe ao Município de Belém, que recebe dos governos Federal

e Estadual recursos financeiros para isso, devendo, ainda, complementar o

financiamento com contrapartida própria.

E, ao ser negligente na obrigação de fornecer serviços de saúde

adequados àqueles que deles necessitam, expondo a perigo, por vezes, a vida da

população, o Município incorre em conduta ilícita, violando todo o ordenamento

relativo ao direito à saúde.

Imprescindível mencionar, mais uma vez, o artigo 37, caput e § 6º,

da Constituição Federal:

"Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”

Logo, não há que se falar em discricionariedade, visto que o Município

está descumprindo a lei ao disponibilizar ações e serviços de saúde inadequados e

descontínuos para os usuários do sistema público que deles necessitam.

A obrigação do município de Belém de gerir, sob comando único, a

atenção de média e alta complexidade advém do fato de estar na condição de

GESTÃO PLENA DO SISTEMA MUNICIPAL, conforme determina a Portaria nº 1453/GM2,

2 O Ministro de Estado da Saúde, no uso de suas atribuições e considerando o preconizado na Norma Operacional da Assistência à Saúde do Sistema Único de Saúde 01/20021 – NOAS

SUS 01/02; a avaliação do Plano Diretor de Regionalização, do Plano Diretor de Investimentos, da Programação

Pactuada e Integrada e do processo de avaliação dos municípios habilitados na gestão plena do sistema municipal conforme a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde – NOB SUS 01/96;

a decisão da Comissão Intergestores Bipartite do Pará; a decisão da Comissão Intergestores Tripartite - CIT, em reunião ordinária de 25 de julho de 2002, resolve: Art. 1º Habilitar o município de Belém, do Estado do Pará, constante no anexo desta Portaria, na

Gestão Plena do Sistema Municipal, nos termos da NOAS SUS 01/2002.

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 29

de 13 de agosto de 2002, pelo que tem o dever de assumir, no âmbito de seu

território, a prestação de serviços desta estirpe, tal qual é a atenção às urgências e

emergências, nos termos previstos pelos itens 25 e 25.13 da NORMA OPERACIONAL

DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE / SUS - NOAS-SUS 01/02.

Além disso, em seu art. 2º, a PORTARIA Nº 1863/GM, de 29 de setembro

de 2003, que institui a Política Nacional de Atenção às Urgências, a ser implantada

em todas as unidades federadas, estabelece o seguinte:

Art. 2° Estabelecer que a Política Nacional de Atenção às Urgências composta pelos sistemas de atenção às urgências estaduais, regionais e municipais, deve ser organizada de forma que permita:

1 - garantir a universalidade, eqüidade e a integralidade no atendimento às urgências clínicas, cirúrgicas, gineco-obstétricas, psiquiátricas, pediátricas e as relacionadas às causas externas (traumatismos não-intencionais, violências e suicídios);

2 - consubstanciar as diretrizes de regionalização da atenção às

Parágrafo único. O município fará jus à parcela mensal correspondente a 1/12 (um doze avos) do valor final a ser transferido ao Fundo Municipal de Saúde, previsto no anexo desta Portaria.

Art 2º Manter a qualificação do referido município para receber o recurso relativo ao incentivo às Ações Básicas de Vigilância Sanitária, no valor de R$ 0,25 (vinte e cinco centavos) por habitante ao ano.

Parágrafo único. O município fará jus à parcela mensal correspondente a 1/12 (um doze avos) do valor descrito no caput deste artigo.

Art. 3º O Fundo Nacional de Saúde adotará as medidas necessárias para a transferência, regular e automática, do valor mensal para o Fundo Municipal de Saúde correspondente.

Art. 4º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação, com efeitos financeiros vigentes a partir de 1º de agosto de 2002.

3 25 - Os municípios que tiverem em seu território serviços de alta complexidade/custo, quando habilitados em Gestão Plena do Sistema Municipal, deverão desempenhar as funções referentes à organização dos serviços de alta complexidade em seu território, visando assegurar o comando único sobre os prestadores, destacando-se:

a - a programação das metas físicas e financeiras dos prestadores de serviços, garantindo a possibilidade de acesso para a sua população e para a população referenciada conforme o acordado na PPI e no Termo de Garantia de Acesso assinado com o estado;

b - realização de vistorias no que lhe couber, de acordo com as normas do Ministério da Saúde;

c - condução do processo de contratação;

d - autorização para realização dos procedimentos e a efetivação dos pagamentos (créditos bancários);

e - definição de fluxos e rotinas intramunicipais compatíveis com as estaduais;

f - controle, avaliação e auditoria de serviços.

25.1 A regulação dos serviços de alta complexidade será de responsabilidade do gestor municipal, quando o município encontrar-se na condição de gestão plena do sistema municipal, e de responsabilidade do gestor estadual, nas demais situações.

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 30

urgências, mediante a adequação criteriosa da distribuição dos recursos assistenciais, conferindo concretude ao dimensionamento e implantação de sistemas estaduais, regionais e municipais e suas respectivas redes de atenção;

3 - desenvolver estratégias promocionais da qualidade de vida e saúde capazes de prevenir agravos, proteger a vida, educar para a defesa da saúde e recuperar a saúde, protegendo e desenvolvendo a autonomia e a eqüidade de indivíduos e coletividades;

4 - fomentar, coordenar e executar projetos estratégicos de atendimento às necessidades coletivas em saúde, de caráter urgente e transitório, decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidades públicas e de acidentes com múltiplas vítimas, a partir da construção de mapas de risco regionais e locais e da adoção de protocolos de prevenção, atenção e mitigação dos eventos;

5 - contribuir para o desenvolvimento de processos e métodos de coleta, análise e organização dos resultados das ações e serviços de urgência, permitindo que a partir de seu desempenho seja possível uma visão dinâmica do estado de saúde da população e do desempenho do Sistema Único de Saúde em seus três níveis de gestão;

6 - integrar o complexo regulador do Sistema Único de Saúde, promover intercâmbio com outros subsistemas de informações setoriais, implementando e aperfeiçoando permanentemente a produção de dados e democratização das informações com a perspectiva de usá-las para alimentar estratégias promocionais;

7 - qualificar a assistência e promover a capacitação continuada das equipes de saúde do Sistema Único de Saúde na Atenção às Urgências, em acordo com os princípios da integralidade e humanização.

Desse modo, resta manifesta a responsabilidade do Município de

Belém em executar medidas aptas a correção das irregularidades apontadas acima,

razão pela qual detém legitimidade para figurar como requerido na presente

demanda.

4) DO DIREITO CONSTITUCIONAL À SAÚDE

A saúde é direito público subjetivo, amplamente garantido pela

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 31

Constituição da República Federativa do Brasil, e é dever do Estado tomar todas as

medidas no sentido de o assegurar, a teor do disposto no art. 196 da Lei Maior:

“Art. 196. A Saúde é direito de todos e dever do Estado,

garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à

redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso

universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,

proteção e recuperação. (Sem grifo no original).

O acesso universal à saúde, garantido pela Constituição Federal, há

que ser entendido como sendo o direito de todos a um tratamento eficaz, nos

termos do que determina a Lei nº 8.080/90:

“Art. 2°. A saúde é um direito fundamental do ser humano,

devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao

seu pleno exercício.

§ 1°. O dever do Estado de garantir a saúde consiste na

formulação e execução de políticas econômicas e sociais que

visem à redução de riscos de doença e de outros agravos e no

estabelecimento de condições que assegurem acesso

universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua

promoção, proteção e recuperação.”

O direito à saúde, tal como consagrado na Constituição de 1988,

representa direito fundamental de segunda geração, o qual exige prestações

positivas do Estado para a sua efetivação. Estas obrigações, em caso de omissão

estatal, conferem a possibilidade de se exigir prestações do ente público e

abarcam a saúde, moradia, educação, trabalho, tudo isso tendo em vista a

preservação de um princípio regente da República Federativa do Brasil que é o da

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, insculpido no artigo 1º, inciso III, da Constituição

Federal.

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 32

A transmudação do Estado Liberal para o Estado Social exige do poder

público mais do que abstenções para a preservação de direitos. Faz-se necessária

uma atuação concreta para a efetivação e concretização dos direitos

constitucionalmente garantidos, sob pena de se inviabilizar a aplicabilidade dos

postulados e princípios da Constituição Federal.

A omissão do Poder Público em conferir completa eficácia aos

comandos constitucionais desprestigia a Constituição, configurando-se em

comportamento inconstitucional que deve ser repelido pelo Poder Judiciário.

Neste mesmo sentido, já se manifestou o Supremo Tribunal Federal,

quando do julgamento da ADI 1.458/MC-DF:

“DESRESPEITO À CONSTITUIÇÃO - MODALIDADES DE

COMPORTAMENTOS INCONSTITUCIONAIS DO PODER PÚBLICO - O

desrespeito à Constituição tanto pode ocorrer mediante ação

estatal quanto mediante inércia governamental. A situação de

inconstitucionalidade pode derivar de um comportamento

ativo do Poder Público, que age ou edita normas em desacordo

com o que dispõe a Constituição, ofendendo-lhe, assim, os

preceitos e os princípios que nela se acham consignados. Essa

conduta estatal, que importa em um facere (atuação

positiva), gera a inconstitucionalidade por ação. - Se o Estado

deixar de adotar as medidas necessárias à realização

concreta dos preceitos da Constituição, em ordem a torná-

los efetivos, operantes e exeqüíveis, abstendo-se, em

conseqüência, de cumprir o dever de prestação que a

Constituição lhe impôs, incidirá em violação negativa do

texto constitucional. Desse non facere ou non praestare,

resultará a inconstitucionalidade por omissão, que pode ser

total, quando é nenhuma a providência adotada, ou parcial,

quando é insuficiente a medida efetivada pelo Poder

Público.” (RTJ 162/877-879, Rel. Min. CELSO DE MELLO)

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 33

Tem-se, portanto, como inarredável o direito dos cidadãos a uma

regular prestação de serviços de saúde, bem como dispensação de medicamentos,

por tratar-se de instrumentos voltados à consecução do direito constitucional à

saúde.

5) DO FINANCIAMENTO DO SUS

As ações e serviços de saúde, implementados pelos Estados,

Municípios e Distrito Federal, são financiados com recursos da União, próprios e

de outras fontes suplementares de financiamento, todos devidamente

contemplados no Orçamento da Seguridade Social.

Os recursos são repassados por meio de transferências regulares e

automáticas, remuneração por serviços produzidos, convênios, contratos de

repasses e instrumentos similares, nos seguintes termos:

TRANSFERÊNCIA REGULAR E AUTOMÁTICA - É realizada por repasses

fundo a fundo e pagamento direto a prestadores de serviços e a beneficiários

cadastrados de acordo com o estabelecido em portarias.

A transferência fundo a fundo caracteriza-se pelo repasse dos

recursos, diretamente do Fundo Nacional de Saúde para os Fundos Estaduais e

Municipais de Saúde, observadas as condições de gestão, a qualificação e a

certificação aos programas e incentivos do Ministério da Saúde e os respectivos

tetos financeiros.

São transferidos, também, nessa modalidade, recursos destinados a

outras ações realizadas por Estados e Municípios, ainda que não habilitados em

qualquer condição de gestão.

No Município de Belém, os recursos transferidos fundo a fundo

financiam as ações e serviços de saúde da atenção básica e de média e alta

complexidade realizada.

Vale dizer que, nos termos do relatório do DENASUS, e demais

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 34

documentos, não foram identificadas falhas no repasse de recursos por parte da

União e do Estado do Pará.

Em outros termos, o Município de Belém vem recebendo os recursos

necessários à consecução de serviços de saúde, cuja execução é de sua exclusiva

responsabilidade, sem, no entanto, prestá-los dentro do mínimo esperado, razão

pela qual figura como requerido na presente demanda.

6) DA ASSISTÊNCIA À ATENÇÃO DE MÉDIA E ALTA COMPLEXIDADE

Tem-se por Atenção de Alta e Média complexidade o conjunto de

ações e serviços que visam a atender aos principais problemas e agravos de saúde

da população, cuja complexidade da assistência na prática clínica demande a

disponibilidade de profissionais especializados e a utilização de recursos

tecnológicos, para o apoio diagnóstico e tratamento, nos termos de definição do

próprio Ministério da Saúde.

Dentro desse conceito, enquadra-se a Política Nacional de Atenção às

Urgências, pela qual, conforme a Portaria n.º 2048/GM, de 5 de novembro de 2002,

a qual aprova o regulamento técnico dos sistemas estaduais de urgência e

emergência, os “...Municípios Pólo Microrregional, que realizam procedimentos

médios da média complexidade(M2): devem contar, além das estruturas já

mencionadas acima, com Unidades Hospitalares Gerais de Tipo II, conforme

especificações do Capítulo V – item I-A-b...”.

Trata-se, como inicialmente afirmado, do contato especializado dos

usuários com o sistema de saúde e se orienta pelos princípios da a universalidade,

equidade, integralidade e humanização.

Certo, porém, é que, como já dito, nos termos da NORMA

OPERACIONAL DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE / SUS - NOAS-SUS 01/02, os municípios

habilitados em gestão plena do sistema municipal, como gestores dos sistemas

locais de saúde, são responsáveis pelo cumprimento dos princípios da Atenção

de média e alta complexidade e pela organização e execução das ações em seu

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 35

território, eis que recebem verbas oriundas dos erários estadual e federal para

este mister.

Vale dizer que o financiamento da Atenção de média e alta

complexidade ocorre em composição tripartite. Tal financiamento se dá de forma

diferenciada, observando-se critérios estipulados pela PORTARIA Nº 204, DE 29 DE

JANEIRO DE 2007, ocorrendo por meio do Componente Limite Financeiro da Média

e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar – MAC e Componente Fundo de

Ações Estratégicas e Compensação – FAEC. O primeiro é destinado ao

financiamento de ações de média e alta complexidade em saúde e de incentivos

transferidos mensalmente. Já o segundo, destina-se, especificamente, ao

financiamento de: I - procedimentos regulados pela Central Nacional de Regulação

da Alta Complexidade – CNRAC; II - transplantes e procedimentos vinculados; III -

ações estratégicas ou emergenciais, de caráter temporário, e implementadas com

prazo pré-definido; e IV - novos procedimentos, não relacionados aos constantes da

tabela vigente ou que não possuam parâmetros para permitir a definição de limite

de financiamento, por um período de seis meses, com vistas a permitir a formação

de série histórica necessária à sua agregação ao Componente Limite Financeiro da

Atenção de Média e Alta Complexidade Ambulatorial e Hospitalar – MAC.

Lembre-se que a transferência de recursos fundo a fundo destinados à

execução de ações e serviços de saúde depende da habilitação de estados e

municípios a uma das condições estabelecidas pelas Normas Operacionais (NOB e

NOAS), como de sua adesão ao Pacto Pela Saúde, modelo mais recente adotado no

âmbito do SUS para estabelecer obrigações de cada Ente Federativo na execução

de serviços de saúde.

Logo, considerando tal sistematização, certo é que o Município de

Belém deverá ofertar, com suficiência e qualidade, os procedimentos aplicáveis

da Rede de atenção às urgências, constantes da Portaria n.º 2.048/GM, de 5 de

novembro de 2002.

Ressalte-se, inclusive, que o Fundo Municipal de Saúde já recebeu,

a título de repasse, desde janeiro/2014 até maio/2014, o valor de R$

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 36

86.391.832,14 (Oitenta e seis milhões, trezentos e noventa e um mil,

oitocentos e trinta e dois reais e quatorze centavos), oriundo do bloco

financeiro MAC para custeio da média e alta complexidade ambulatorial e

hospitalar, segundo dados anunciados pelo próprio FUNDO NACIONAL DE SAÚDE

(http://www.fns2.saude.gov.br/base/).

Desse modo, resta clara a obrigação, por parte do réu, de corrigir

todas as irregularidades descritas, tanto no relatório de visita técnica do DENASUS,

quanto nos demais documentos acostados, relacionadas aos serviços prestados pelo

Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, de modo que sejam melhor

dispensados à população.

A partir da presente Ação Civil Pública, objetiva-se compelir o

requerido, com urgência, a regularizar as irregularidades identificadas para a

prestação de tais serviços, nos termos das constatações alhures descritas,

relacionadas à Atenção de Urgência no Município.

7) DA ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Preconiza a Lei nº 8.080/1990, que rege o Sistema Único de Saúde, em

seu art. 6º:

“Art. 6°. Estão incluídas ainda no campo de atuação do

Sistema Único de Saúde - SUS:

I - a execução de ações:

(...)

d) de assistência terapêutica integral, inclusive

farmacêutica.”

“Art. 7°. As ações e serviços públicos de saúde e os serviços

privados contratados ou conveniados que integram o Sistema

Único de Saúde - SUS são desenvolvidos de acordo com as

diretrizes previstas no artigo 198 da Constituição Federal,

obedecendo ainda aos seguintes princípios:

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 37

I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em

todos os níveis de assistência;

II - integralidade de assistência, entendida como um

conjunto articulado e contínuo das ações e serviços

preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos

para cada caso em todos os níveis de complexidade do

sistema.”

“Art. 43. A gratuidade das ações e serviços de saúde fica

preservada nos serviços públicos e privados contratados,

ressalvando-se as cláusulas ou convênios estabelecidos com as

entidades privadas.” (grifos nossos).

Outrossim, os municípios paraenses assumiram formalmente a

execução da assistência farmacêutica em seu território, consoante se infere do

artigo 3º da Resolução da CIB de n.º 07/2010. Veja-se:

Art. 3º- Definir que as Secretarias Municipais de Saúde

assumirão a Gestão da Assistência Farmacêutica na Atenção

Básica, nos 143 (cento e quarenta e três) municípios, aderindo à

forma de repasse dos recursos das contrapartidas estadual e

federal, do Componente Básico da Assistência Farmacêutica, fundo

a fundo aos municípios; portanto, a execução deste Componente é

descentralizada sendo a aquisição e dispensação de medicamentos e

insumos para pacientes diabéticos de responsabilidade dos

municípios.

§ 1º - O Recurso do Componente Básico da Assistência Farmacêutica

deverá ser destinado à aquisição de medicamentos e insumos da

Assistência Farmacêutica na atenção básica em saúde e àqueles

relacionados aos agravos de maior prevalência, programas de saúde

específico tais como Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 38

Infância - AIDPI, saúde mental, hipertensão, diabetes, asma, rinite,

doenças sexualmente transmissíveis, dentre outras no âmbito da

Atenção Básica.

§ 2º - O recurso da contrapartida federal deverá ser destinado

ao custeio de medicamento do elenco de referencia anexo I,

incluindo fitoterápicos e homeopáticos, aquisição de medicamentos

para atendimento da linha de cuidado do componente especializado

da Assistência Farmacêutica, conforme critério estabelecido nos

Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas - PCDT/MS e do

Programa Nacional de Suplementação de Ferro e custeio de

medicamentos inseridos no elenco de referencia municipal, mesmo

que não contemplados no elenco de referencia estadual, desde que

presentes na RENAME vigente, e de uso na Atenção básica, e não

financiados nos demais recursos componentes da Assistência

Farmacêutica.

§ 3º - O recurso da contrapartida estadual e municipal poderá

ser utilizado para custeio de todos os medicamentos passiveis

de comprar com recurso federal e as Secretarias Municipais de

Saúde, anualmente, poderão utilizar um percentual de até 15%

(quinze por cento) da soma dos valores dos recursos financeiros

estadual e municipais definidos no art. 2º desta Resolução, para

atividades destinadas a adequação de espaço físico das Farmácias

do SUS relacionadas à Atenção Básica, à aquisição de equipamentos

e mobiliário destinados ao suporte das ações de Assistência

Farmacêutica, e à realização de atividades vinculadas à educação

continuada voltada à qualificação dos recursos humanos da

Assistência Farmacêutica na Atenção Básica, sendo vedada a

utilização dos recursos federais para esta finalidade. (Grifou-se).

Desse modo, sendo a saúde um direito público

subjetivo do cidadão e dever do Estado, garantido expressamente

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 39

em diversos diplomas legais, sua efetivação constitui interesse

estatal primário, devendo ser ele satisfeito de modo integral,

resolutivo e gratuito, nos exatos termos dos artigos 198, inciso II, da

Constituição Federal; artigos 7º, inc. XII e 43, ambos da Lei Orgânica

da Saúde - LOA, inclusive com a adequada assistência

farmacêutica, nos termos do artigo 6º, inciso I, alínea ‘d’, da

mesma LOA.

O direito dos usuários à obtenção de medicamentos das mãos do Poder

Público não é apenas uma contraprestação devida pelo Estado, mas também um

direito fundamental do ser humano, que encontra, inclusive, respaldo na Lei

Orgânica da Seguridade Social (Lei nº 8.212/1991):

“Art. 2º. A saúde é direito de todos e dever do Estado,

garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem

à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso

universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,

proteção e recuperação.

Parágrafo único. As atividades de saúde são de relevância

pública e sua organização obedecerá aos seguintes princípios

e diretrizes:

(...)

d) atendimento integral, com prioridade para as atividades

preventivas;”

Bem assim, também como corolário do direito à saúde, a medicação

pactuada deve ser ofertada com regularidade, pois, muitas vezes a continuidade na

administração da medicação é condição indispensável para o sucesso do tratamento

e manutenção da vida dos pacientes.

Desse modo, resta clara a necessidade de se compelir judicialmente o

Município de Belém a regularizar o fornecimento de medicamentos por parte do

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 40

Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, cuja dispensação encontra-se

irregular, nos termos da documentação que subsidia a presente exordial.

8) CONSIDERAÇÕES FINAIS

Restou demonstrado, ao longo da exposição fática e jurídica, que o

Município de Belém, a despeito do regular repasse fundo a fundo de recursos

financeiros, não tem cumprido o seu dever de prestar, com dignidade, assistência à

saúde por meio do Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti.

Imperioso, portanto, seja, o ente demandado, compelido, por meio do

Poder Judiciário, a sanar as irregularidades descritas no relatório da visita técnica

nº 3839 e nos demais documentos acostados, de modo que sejam cumpridos os

normativos do SUS.

IV – DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

Com fundamento nos artigos 273 do CPC e 12 da Lei n.° 7.347/85,

pede-se medida liminar, vez que demonstrado o perigo da demora na

imprescindível e urgente necessidade de regularização dos serviços de saúde

prestados através do Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, ante os

graves danos já sofridos pela população em razão das irregularidades existentes,

conforme documentação em anexo.

De outra parte, a relevância dos fundamentos jurídicos é

demonstrada pela farta legislação acima transcrita, bem como pela omissão da

Administração Pública Municipal em cumprir seu dever constitucional de garantir a

saúde, vez que os problemas apontados no dito nosocômio de urgência são

notórios, estando, o ente federativo, ofendendo o direito fundamental à vida com

dignidade dos usuários do SUS nesta capital.

Ainda, há que se ressaltar a necessidade de fixação de astreintes caso

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 41

haja o descumprimento do mandamus judicial a ser exarado, em consideração à

urgência e à essencialidade do direto ora tratado, tal qual é o direito

constitucional à saúde. Nesse sentido está a jurisprudência pátria atual, senão

vejamos:

DIREITO À SAÚDE. INTERNAÇÃO EM UTI. OBRIGAÇÃO DE FAZER.

ASTREINTES. FAZENDA PÚBLICA. 1 - EMBORA DE NATUREZA

PROGRAMÁTICA, A NORMA DO ART. 196 DA CF NÃO PODE MERECER

INTERPRETAÇÃO QUE - ESVAZIANDO SEU CONTEÚDO E NÃO LHE

CONFERINDO O MÍNIMO DE EFETIVIDADE - AFASTE O DEVER DO

ESTADO DE GARANTIR ASSISTÊNCIA MÉDICA, INCLUINDO A

INTERNAÇÃO DE PACIENTE EM UNIDADE DE TRATAMENTO INTENSIVO

QUANDO O PODER PÚBLICO NÃO DISPÕE DE LEITOS VAGOS. 2 -

POSSÍVEL A FIXAÇÃO DE MULTA DIÁRIA COMINATÓRIA (ASTREINTES)

CONTRA A FAZENDA PÚBLICA, EM CASO DE DESCUMPRIMENTO DE

OBRIGAÇÃO DE FAZER. 3 - AGRAVO NÃO PROVIDO. (TJ-DF. AG

13171820108070000 DF 0001317-18.2010.807.0000; Relator(a): JAIR

SOARES Julgamento: 10/05/2010; 6ª Turma Cível;

Publicação:13/05/2010, DJ-e Pág. 116) grifo nosso

Por fim, cabível também o é, em nome da eficácia do decisum e da

relevância do tema discutido, a fixação de multa pessoal ao Prefeito de Belém, à

Secretária Municipal de Saúde de Belém e ao Diretor do Hospital de Pronto

Socorro Municipal Mário Pinotti, Agentes públicos responsáveis pela condução

da administração do referido hospital, eis que, se o serviço não vem funcionando

como deveria, os mesmos possuem parcela de culpa e devem ser responsabilizados

em caso de inércia frente ao mandamento deste MM. Juízo.

Desse modo entendeu esta própria MM. Seção Judiciária do Pará,

consoante é possível observar no trecho retirado da decisão do Exmº Juiz Federal

Arthur Pinheiro Chaves, exarada nos autos do processo n. 2008.39.00.006479-9, o

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 42

qual, por sua vez, tramita perante à 1ª Vara Federal da Capital:

“(...) Ante o exposto, presentes os requisitos, DEFIRO O PEDIDO DE

ANTECIPAÇÃO DE TUTELA para determinar que a União, o Estado

do Pará e o Município de Belém, no prazo de 15 (quinze) dias,

garantam, aos menores JARDEL LEÃO FEITOSA e JOSÉ HENRIQUE

RODRIGUES DE LIMA, o fornecimento ininterrupto, até o final

decisão, dos medicamentos denominados Insulina Glargina e Insulina

Lispro ou Aspart, as agulhas descartáveis da caneta e fitas reagentes

de glicosímetro, nas quantidades prescritas pelos médicos, bem

como, a TODOS que deles necessitarem, o fornecimento

ininterrupto, até final decisão, de TODOS OS MEDICAMENTOS E

MATERIAIS destinados ao adequado e eficiente tratamento de

pacientes diabéticos, em quantidade e qualidade necessários, de

acordo com a respectiva prescrição médica.

Estabeleço multa diária no valor de R$10.000,00 (dez mil reais), a

ser revertido em favor dos doentes de diabetes na rede pública de

saúde do Estado do Pará, na forma do art. 461, §5º do CPC

(astreintes), bem como multa pessoal aos Srs. Secretário de Saúde

do Estado do Pará e Secretário de Saúde do Município de Belém,

em caso de descumprimento da presente decisão, no prazo de 15

(quinze dias), no valor de 20% (vinte por cento) sobre o valor da

causa (art. 14, V e parágrafo único do CPC). (...)” GRIFO

PARCIALMENTE NOSSO

No mesmo sentido, decisão da Exmª Juíza Federal Hind G. Kayath,

exarada nos autos da ação nº 24627-86.2013.4.01.3900, verbis:

"(...) Ante o exposto, defiro, em parte, o pedido de tutela

antecipada para determinar que: (1) a União forneça, de forma

solidária, ao Hospital Universitário João de Barros Barreto, todos os

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 43

medicamentos e alimentos necessários ao tratamento dos pacientes

de fibrose cística no Estdo do Pará, bem como disponibilize os

exames de rotina necessários ao acompanhamento clínico da

patologia e todas as consultas médicas; 2) Estado do Pará e

Município de Belém, de forma solidária, disponibilizem aos

pacientes portadores de fibrose císticas da rede estadual e

municipal conveniadas ao SUS os exames de rotina necessários ao

acompanhamento clínico da patologia.

Fixo multa diária, com base no artigo 461, par. 4º. Do CPC, no

valor de R$-5.000,00 (cinco mil reais) ao Estado do Pará,

Município de Belém e à União, em caso de descumprimento da

obrigação.

Intime-se, por mandado, o Secretário de Saúde Pública do Estado

do Pará e o Secretário Municipal de Saúde a dar cumprimento

integral à tutela de urgência sob pena de multa pessoal (artigo 14

do CPC)."

Como se vê, todos os requisitos legalmente exigidos para o

deferimento da antecipação do provimento jurisdicional encontram-se presentes.

V – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL vem requerer:

1) a concessão de MEDIDA LIMINAR que, antecipando a tutela

pretendida, determine que o Município de Belém promova a

imediata correção das irregularidades atestadas no Hospital de

Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, por meio do

cumprimento das seguintes medidas:

A) Regularização das desconformidades do serviço de UTI do

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 44

Hospital, para que a prestação se dê nos moldes do previsto

na Portaria MS/GM nº 1.071, de 04/07/2005, a qual trata da

Política Nacional de Atenção ao Paciente Crítico;

B) Atualização das informações prestadas ao Cadastro

Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES);

C) Regularização da composição da Comissão de Controle de

Infecção Hospitalar e comprovação de sua efetiva atuação,

de acordo com os termos da Portaria MS/GM nº 2.616/98, a

qual institui diretrizes e normas para prevenção e o

controle das infecções hospitalares;

D) Compra de equipamentos necessários à prestação de

serviços em Neurocirurgia;

E) Garantir a presença de profissionais médicos nas escalas

de plantão em quantitativo mínimo necessário, conforme

aprovado no subitem 2.2.3.2.1, capítulo V, da Portaria

GM/MS nº 2.048, de 05/11/2002;

F) Munir TODOS os leitos do hospital com COLCHÕES EM

PERFEITO ESTADO DE CONSERVAÇÃO;

G) Realizar a limpeza contínua e eficiente de todo o

ambiente hospitalar, de modo a garantir a higiene e a

salubridade mínimas em todos os espaços;

H) Fornecer rouparia (roupa de paciente, capotes, lençóis e

etc) em quantitativo compatível à demanda do Hospital e

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 45

estabelecer rotinas e mecanismos eficientes de controle da

roupa limpa e limpeza e transporte das vestes sujas;

I) Corrigir as deficiências estruturais emergenciais em todos

os setores do Hospital (mofo nas paredes, forro do teto

quebrado, ausência de bate-maca nos andares, falta de

visores nas portas, alagamentos no hospital, banheiros

deteriorados e etc);

J) Conserto dos elevadores do prédio, para que operem com

o mínimo de segurança e regularidade, eis que servem ao

trânsito humanizado de pacientes entre os pavimentos;

K) Correção das deficiências apresentadas pelos aparelhos

de eletrocardiograma, ultrassonografia, tomografia e Raio-X,

com fins de que passem a operar de modo contínuo e

satisfatório;

L) Correção das deficiências apontadas no sistema de

arejamento do Hospital, mediante a correta climatização de

todos os setores onde é prestada a atividade fim, inclusive,

do setor de farmácia e pediatria.

M) Abastecimento regular e continuado de insumos,

medicamentos e instrumentos (secadoras e pistolas de ar

comprimido);

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 46

N) Realização de rastreabilidade de medicamentos e

insumos, controle de lote e de validade dos fármacos e

execução eficaz do sistema de distribuição de remédios,

mediante a implantação de sistema de informação de gestão

hospitalar, nos termos da constatação feita pelo Conselho

Regional de Farmácia – Pará;

O) Promoção da correta e eficiente higienização e limpeza

dos banheiros do Hospital;

P) Reforma da rede elétrica do Hospital, com a substituição

da fiação antiga e realização da correta iluminação de todos

os setores, mediante a colocação de lâmpadas em bom

estado, de modo a extirpar os riscos aos pacientes,

funcionários e acompanhantes;

Q) Correta administração do material sujo e contaminado,

em atendimento ao que dispõem a RDC ANVISA nº 306/04 e a

RESOLUÇÃO CONAMA nº 358/2005, que tratam do

gerenciamento de resíduos oriundos dos serviços de saúde;

R) Substituição de todo o mobiliário da área fim do hospital

em péssimo estado de conservação e higiene, inclusive, dos

setores de farmácia e nutrição;

S) Correção das irregularidades do setor de Farmácia do

Hospital, conforme o constatado pelo Conselho Regional de

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 47

Farmácia - Pará (Estabelecimento farmacêutico do HPSM sem

licença de funcionamento da Vigilância Sanitária do

Município e registro no CRF/PA; Quadro de farmacêuticos

insuficiente – déficit de 18 farmacêuticos e de 30

profissionais de nível médio; Estrutura física deficitária da

Divisão de Assistência Farmacêutica - tamanho

insatisfatório, fiações e infiltrações aparentes, rachaduras,

climatização precária, ausência de polos satélites com

apenas uma farmácia para todo o nosocômio; Carência de

equipamentos - inexistência de maquinário que aumente a

segurança da chegada do produto ao paciente de forma

correta; Aparelhos de ar-condicionado da farmácia em

estado precário; Refrigeradores – armazenamento de

fármacos - e computadores em péssimo estado de

conservação; Mobiliário deteriorado; Uso de pallets de

madeira - proibido pela Vig. Sanitária; Ausência de

higrômetros - controle de temperatura e umidade nas áreas

técnicas da farmácia; Ausência de sistema de informação

eficaz no hospital para controle de medicamentos;

Abastecimento mensal/semanal não condiz com as demandas

apresentadas - demandas traçadas sem dados reais de

consumo);

T) Correção das irregularidades do setor de nutrição do

hospital, conforme o constatado pelo Conselho Regional de

Nutricionistas – 7ª Região (Piso de cerâmica desgastado; Teto

com goteiras e umidade; Portas e Janelas sem proteção

contra insetos; Lampadas sem proteção contra explosão e

quedas; Ar-condicionado sem funcionar e uso de ventilador

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 48

na área; Mesa para distribuição dos líquidos para

suplementação de dietas bem em frente à porta de acesso ao

vestiário; Lixeiras destampadas; Recipientes com comida

transportados em hot box sem o uso de pallets, sendo

depositados na calçada e arrastadas até a área de

recebimento; Horários de entrega das refeições não vem

sendo cumprido pela empresa responsável; Apenas um

nutricionista no quadro, sendo que o correto seria a

existência de dois, pelo menos);

U) Correção das irregularidades quanto à segurança do

prédio, nos termos do que fora constatado pelo Corpo de

Bombeiros Militar do Estado do Pará (Portas corta-fogo da

escada de emergência com molas desgastadas e sem vedação

das mesmas, Corrimão da escada de emergência

apresentando descontinuidade, Escada do setor ambulatório

não apresenta corrimão, Hospital não possui brigada de

incêndio, Não há iluminação de emergência, Não há

sinalização de orientação e salvamento suficiente para o caso

de pânico, Ausência de extintor de incêndio no 2º pavimento

do setor de internação e na área de subestação de energia,

Extintor de incêndio na área de barrilete em contato direto

com o solo, Fiação elétrica do sistema de bomba de incêndio

carbonizada após curto-circuito, Caixas de hidrantes sem

mangueiras de incêndio e sem esguicho, Não foi localizado

hidrante de passeio no prédio);

2) Ao final, mediante sentença, a confirmação da liminar

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 49

deferida, com a condenação do Município de Belém à

promoção da regularização dos serviços de saúde prestados

por meio do Hospital de Pronto Socorro Municipal Mário

Pinotti;

3) seja ordenada, para cumprimento da decisão, a intimação

pessoal do Prefeito Municipal de Belém, e da Secretária

Municipal de Saúde, já que gestores do Fundo Municipal de

Saúde e responsáveis pela aplicação dos recursos públicos na

área da saúde, e do Diretor do Hospital de Pronto Socorro

Municipal Mário Pinotti, com fim de viabilizar a imposição de

multa pessoal pelo descumprimento das obrigações

decorrentes desta decisão.

VI – DOS REQUERIMENTOS

Por fim, requer:

a) a intimação do MUNICÍPIO DE BELÉM para que se manifeste previamente, em

setenta e duas horas, sobre o pedido de liminar, nos termos do artigo 2º da Lei n.º

8.437/1992;

b) indicar desde já que, caso deferida a liminar, o MP F r eq uer seja determinado

ao DENASUS, ao Conselho Regional de Enfermagem/PA, ao Conselho Regional de

Farmácia/PA, ao Conselho Regional de Nutricionistas – 7ª Região e ao Corpo de

Bombeiros Militar do Estado do Pará, que realizem nova inspeção no Hospital de

Pronto Socorro Municipal Mário Pinotti, com fins de atestar o cumprimento

integral da decisão, dentro de prazo razoável que permita a Administração

comprovar as mudanças;

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 50

c) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, especialmente a

juntada posterior de novos documentos, a realização de perícias e inspeções

judiciais e a oitiva de testemunhas;

d) a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos, conforme o

artigo 18 da Lei 7.347/85;

e) a condenação do réu no pagamento de honorários periciais e despesas

processuais decorrentes da sucumbência;

f) a aplicação dos benefícios previstos no artigo 172, § 2º, do Código de Processo

Civil;

g) a juntada dos autos do Inquérito Civil nº 1.23.000.001983/2011-11, acostado à

exordial.

Atribui-se à causa, para efeitos processuais e fiscais, o valor de R$ 1.000.000,00

(um milhão de reais).

Belém, 29 de maio de 2014.

MELINA ALVES TOSTESMELINA ALVES TOSTESPROCURADORA DA REPÚBLICA

ALAN ROGÉRIO MANSUR SILVAPROCURADOR DA REPÚBLICAPROCURADOR DA REPÚBLICA

91 3299 0100 - www.prpa.mpf.gov.brTv. Dom Romualdo de Seixas, 1476, 1º Andar, Umarizal - CEP 66055-200 – Belém/PA 51