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ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DA SAÚDE DOS FUMANTES Fundada a 10/02/95
Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. EXCELENTÍSSIMO SR. DR. JUIZ DE DIREITO TITULAR DA 19ª VARA DO FÓRUM CENTRAL DA CIDADE DE S.PAULO.
Processo no. 583.00.1995.523167-5
A ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DA SAÚDE DO FUMANTE -
ADESF, entidade fundada em 1.995, já devidamente qualificada nestes autos, com
sede à Av. Santo Antonio, 490, MOGI-MIRIM, Estado de São Paulo, neste ato
representada por seus procuradores, vem, com a devida vênia, manifestar-se sobre os
laudos periciais médico e de publicidade elaborados pelos peritos judiciais.
Requer-se, desde já, a juntada dos pareceres técnicos dos assistentes
técnicos da requerente com o objetivo de complementar a excelente prova pericial
produzida nestes autos.
I – OBJETO DA AÇÃO
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ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DA SAÚDE DOS FUMANTES Fundada a 10/02/95
Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99.
1. É muito simples o que se pretende na presente ação:
O CIGARRO CAUSA DEPENDÊNCIA; SUA PUBLICIDADE ABUSIVA E
ENGANOSA, INCLUSIVE POR OMISSÃO; O PRODUTO NUNCA
TROUXE EM SUA EMBALAGEM E PUBLICIDADE AS INFORMAÇÕES
EXIGIDAS PELO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E PELO
PRINCÍPIO DA BOA FÉ OBJETIVA, FUNDAMENTAIS PARA O
CONSUMIDOR QUE O ADQUIRE.
ESSES FATOS CAUSAM DANOS AO CONSUMIDOR, MORAIS E
MATERIAIS, QUE DEVEM SER REPARADOS. DEVEM AINDA, OS
FABRICANTES, SEREM COMPELIDOS A DAR AS INFORMAÇÕES
NECESSÁRIAS SOBRE SEU PRODUTO, SEM PREJUÍZO DAQUELAS
DETERMINADAS PELO PODER PÚBLICO.
2. A discussão travada nesses autos, e que as co-rés vêm
tentando confundir com suas inúmeras estratégias, recursos e quesitos aos peritos, é a
seguinte, agora confirmada pelos excelentes trabalhos técnicos apresentados através
dos laudos periciais:
(i) O cigarro causa dependência e impõe riscos à saúde, conforme reconhecido
amplamente pelo laudo pericial médico;
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ASSOCIAÇÃO DE DEFESA DA SAÚDE DOS FUMANTES Fundada a 10/02/95
Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. (ii) Tais fatos são conhecidos há tempos pela área médica1 e pelas próprias
empresas co-rés2, multinacionais detentoras juntas de cerca de 77% do mercado
total de cigarros no Brasil3 (fls. 9295 – resposta ao quesito 10.1.6);
(iii) Já os consumidores não têm o mesmo acesso e nível de informação das áreas
especializadas (medicina) ou das empresas, conforme demonstrado também no
laudo pericial de publicidade;
(iv) As empresas, contudo, NUNCA informaram sobre os riscos que esse produto
causa às pessoas (vide resposta 10.1.10, fls. 9302);
(v) E ERA PRECISO – COMO AINDA É – INFORMAR! Seja por força do
princípio geral de direito da boa-fé objetiva, seja por determinação do Código
de Defesa do Consumidor que coloca o direito à informação como um dos mais
fundamentais;
(vi) A publicidade, portanto, é enganosa por omissão, por não dar informações, mas
também enganosa por ação além de abusiva, conforme se verá.
3. Não se está discutindo, na presente ação, se todo câncer
ou doença que acomete fumantes é causada pelo tabagismo, nem se a publicidade é o
fator único de indução ao consumo, não obstante as peças técnicas venham confirmar
a lesividade do cigarro como fator causal para várias doenças, como câncer de
pulmão e tromboangeíte obliterante (TAO) (fls. 7459), e fator de risco para outras
como a doença coronariana e a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) (fls.
1 Conforme amplamente demonstrado em todo o corpo da perícia médica.2 Conforme amplamente demonstrado nas perícias médicas e de publicidade, nesta última, em especial, faz-se referência à resposta ao quesito 10.2.2., fls. 9319/9320, que demonstra não só terem as empresas pesquisa e informação sobre dependência e malefício de seus produtos, mas também suas estratégias para dissuadir opinião pública.3 Excluindo-se o mercado ilegal sua participação conjunta é ainda maior.
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. 7460), bem como a publicidade como importante fator indutor do consumo
(inúmeras passagens do laudo de publicidade).
4. Mas não se pode negar que a publicidade é sim um fator
de indução ao consumo, que os riscos e danos existiam e existem, e que as empresas
co-rés nunca informaram sobre esses fatos, não obstante disto soubesse.
5. É importante situar esta ação judicial no tempo para dar-
lhe o realce necessário. Trata-se de ação coletiva proposta em 1995, cinco anos após
a promulgação do Código de Defesa do Consumidor, em que se demonstrou a total
infringência, pelas co-rés, das normas consumeristas no que tange à publicidade de
seu produto e ao direito à informação dos consumidores.
6. Frise-se, ademais, que os princípios gerais de direito,
dentre os quais o da boa-fé objetiva, também foram infringidos independentemente
das violações ao CDC.
7. Por outro lado, as informações HOJE constantes dos
maços de cigarros são determinadas pelo Poder Público, e contestadas
judicialmente pelas empresas, conforme tratado em item próprio adiante.
8. A informação sobre a dependência causada pela
nicotina, por exemplo, somente passou a constar nas embalagens e publicidades de
cigarros a partir de 19964, através da frase: A nicotina é droga e causa dependência.
4 Ver em: http://www.inca.gov.br/tabagismo/publicacoes/brasil_advertencias_sanitarias_nos_produtos_de_tabaco2009b.pdf
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. Porém, somente com a edição da Medida Provisória 2190-34 de 2001, que alterou a
lei 9294/1996, é que imagens de advertência com esta e outras informações
passaram a constar dos maços.
9. Fatos, portanto, posteriores ao Código de Defesa do
Consumidor, ao reconhecimento e aplicação do Princípio da Boa-fé Objetiva em
nosso sistema jurídico e à data de propositura dessa ação.
10. Vale frisar, conforme demonstrado pelos laudos
periciais5, que há muitos outros males continuamente descobertos causados pelo
tabagismo, e que não constam das advertências exigidas pelo governo, mas que
deveriam ser informados pelas co-rés em razão das normas antes citadas. Conforme o
laudo médico (fls. 7422):
“Neste contexto, deve-se ressaltar que não é possível
prever, antecipadamente, quem irá desenvolverr câncer antes de iniciar o consumo
de cigarros, o que, por si só, justificaria ampla conscientização dos riscos do
tabagismo.” (grifamos)
11. As co-rés, ao não informarem tudo o que sabem sobre os
riscos impostos por seus produtos até hoje, sempre aguardando as determinações do
poder público que acabam por contestar judicialmente, continuam infringindo o
Código de Defesa do Consumidor, deixando de informar e fazendo propaganda
enganosa, inclusive por omissão, e abusiva. Faz-se aqui referência também ao
5 Laudo medico, fls. 7421: “Em 2000, foi publicado estudo sobre os possíveis mecanismos relacionados ao fato de determiandos fumantes desenvolverem câncer de pulmão, equanto outros não apresentavam a mesma evolução.”
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. Princípio da Precaução, muito utilizado na defesa do meio ambiente, mas que se
aplica ao caso em tela.
II – DA PERÍCIA MÉDICA
12. A excelente perícia médica traz histórico da evolução
das pesquisas científicas com relação à dependência ao fumo e à nicotina, bem como
com relação ao tabagismo como fator causal ou de risco para várias doenças. Trata-se
de trabalho de fôlego que merece ser lido e divulgado.
13. Ponto importante para a presente ação está nas fls. 7389,
que trata da metodologia. O perito judicial esclarece: “Merece comentário o fato da
grande maioria da literatura médica disponbilizada ser redigida em língua inglesa.
As publicações médicas mais respaldadas e confiáveis pertencem a revistas e
periódicos internacionais, europeus e norteamericanos, sendo a língua inglesa o
idioma universal.” (grifamos)
14. Essa assertiva é suficiente para demonstrar que os males
do tabagismo são do conhecimento da área médica, que também assessora empresas
como as co-rés. Mas não são de acesso do grande público e, portanto, dos
consumidores, como os brasileiros que, em sua grande maioria, não dominam a
língua inglesa e menos ainda têm acesso aos periódicos em que as pesquisas são
publicadas. E mesmo as informações em português estão longe de ser compreensíveis
ao público leigo. Como exemplo da dificuldade de acesso e compreensão das
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. informações cita-se os termos utilizados no próprio laudo pericial às fls. 74356, 74367
e 74418, entre outras.
15. É evidente que essas pessoas, as principais vítimas do
produto, devem, e deveriam ter sido sempre informadas dos riscos dos produtos que
consumiam. E não o foram. Nem o são completamente nos dias de hoje.
16. Os consensos científicos foram sendo estabelecidos na
literatura médica ao longo dos anos (fls. 73909), ou seja, o conhecimento foi sendo
obtido e acumulado, não podendo se dizer que “sempre se soube que fumar faz mal à
saúde”, ou que tais informações são inerentes ao senso comum.
17. Com relação à dependência causada pelo cigarro, o
laudo demonstra, em diversas passagens, que a literatura médica tem conhecimento
há pelo menos 30 anos de que o tabagismo impõe risco de dependência aos usuários
(vide, em especial, fls. 7399 a 7402). Aos consumidores é excusável que não
6 “Diversos mecanismos têm sido propostos como responsáveis pela arteriosclerose induzida pelo tabagismo. O consumo de cigarros amplifica a liberação de catecolaminas e a tensão na parede do miocárido, a velocidade de contração, o débito cardíaco e, portanto, aumenta o trabalho do coração e a demanda por oxigênio e nutrientes. A formação de carboxihemoglobina derivada do monóxido de carbono inalado diminui a disponibilidade de oxigênio para o miocárdio ...”7 “(…) Agudamente, havia risco aumentado de isquemia miocárdica por aumento da demanda de oxigênio ou redução da oferta, via espasmo coronário e/ou aumento da adesão e agregação plaquetária. Além disso, o consumo de cigarros poderia reduzir o limiar para arritmias, especialmente fibrilação ventricular, podendo levar à morte súbita...”8 “(…) Nos fumantes, macrófagos e neutrófilos acumulam-se na região centroacinar, liberando uma série de proteases, entre elas a elastase e metlaoproteinases, as quais promovem dano tecidual...”9 “Desta forma, os diversos temas abordados na presente perícia médica, com freqüência polêmicos, foram avaliados com base no consenso estabelecido na literatura médica ao longo dos anos.”
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. tivessem conhecimento completo e claro desse fato. Às empresas, não. Como visto, o
governo passou a obrigar o fornecimento dessa informação em 1996, posteriormente
à propositura da presente ação. As empresas, que disto sabiam ou deveriam saber,
nunca informaram.
18. As taxas de dependência são altíssimas e informação
sobre elas já estavam disponíveis na década de 90: até 50% dos que experimentam
um único cigarro tornam-se dependentes, taxa que sobe para até 90% dos
consumidores regulares (fls. 7405).
19. Conforme o laudo pericial, desde 1980 já se sabia que
um dos compenentes do cigarro, a nicotina, é responsável pela dependência. Mas
desde a década de 1950 já haviam estudos sobre o tema. Às fls. 7407 o laudo resume
a evolução científica sobre o assunto:
“Diante de todo o exposto, verifica-se que a literatura
médica disponibiliza amplo histórico de pesquisas científicas sobre a dependência do
tabaco, mais especificamente da nicotina. Apesar dos primeiros estudos terem sido
disponbilizados na década de 1950, somente a partir do final da década de 1970 e
início da década de 1980 é que o conjunto de informações disponbilizadas permitiu
condições para que o tabaco e, posteriormente, a nicotina fosse enquadrada como
substância indutora de dependência. Nos anos que se seguiram, o avanço das
pesquisas moleculares permitiram esclarecimento dos mecanismos envolvidos na
dependência da nicotina, possibilitando o desenvolvimento de estratégias
terapêuticas auxiliares.
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99.
Portanto, argumentos apresentados no passado, abordando
o cigarro como hábito, assim como o livre arbítrio para interrupção do consumo,
não merecem prosperar (...)”
20. As empresas co-rés, evidentemente, sabiam disso,
motivo pelo qual não havia, desde aquele momento, espaço para negá-lo. Conforme o
laudo pericial (fls. 7455):
“Desta forma, as evidências apresentadas no início da
década de 1980 eram suficientemente sólidas para que os Réus tivessem
conhecimento de que o tabaco poderia provocar dependência, não podendo ser
enquadrado simplesmente como hábito.” (grifamos)
21. A Philip Morris, contudo, passou a reconhecê-lo
somente em 1999 em sua página eletrônica internacional10. A Souza Cruz, porém, até
hoje não o reconhece. Em sua página eletrônica se lê:
http://www.souzacruz.com.br/group/sites/SOU_7UVF24.nsf/vwPagesWebLive/DO7V9MGN?opendocument&SKN=1
A pergunta “Por que as pessoas fumam?” tem suscitado diversas respostas ao longo do tempo. Uma resposta óbvia e simples seria a de que as pessoas fumam devido à nicotina. Porém, muitos acreditam que a questão é um pouco mais complexa.
Os riscos à saúde associados ao consumo de cigarros, inclusive o fato de que pode ser difícil parar de
fumar, são de amplo conhecimento público e vêm sendo reforçados nos meios de comunicação de massa
10 Cláudia Lima Marques, Violação do dever de boa-fé de informar corretamente, atos negociais omissivos afetando o direito/liberdade de escolha. Nexo causal entre a falha/defeito de informação e defeito de qualidade nos produtos de tabaco e o dano final morte. Responsabilidade do fabricante do produto, direito à ressarcimento dos danos materiais e morais, sejam preventivos, reparatórios ou satisfatórios, RTFasc. Civ., vl. 835, maio 2005, 75-133, p. 89.
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. em todo o mundo e, notadamente, na sociedade brasileira, pelo menos desde o século XIX, sendo razoável
indagar-se “por que as pessoas fumam?”.
Vários profissionais ligados à saúde pública sugerem que as pessoas fumam somente por
serem "viciadas" em nicotina. É fato que muitos fumantes podem encontrar dificuldades
para parar de fumar, mas tanto a decisão de parar, como a decisão de começar a fumar e
continuar fumando, dependem das particularidades de cada indivíduo e de motivação
pessoal.
O efeito farmacológico da nicotina – que apresenta um efeito estimulante, não muito diferente da cafeína, e
também um efeito relaxante – é uma parte importante da experiência de fumar, pelo que cigarros sem
nicotina têm mostrado pequena aceitação pelos fumantes. Contudo, a sensação proporcionada pelo ato de
fumar não se restringe aos efeitos da nicotina.
(realçamos)
22. Nem mesmo os quesitos elaborados de forma a induzir o
perito a respostas que lhes fossem favoráveis conseguiram retirar do laudo toda
evidência necessária para demonstrar a dependência à nicotina e o conhecimento das
co-rés. Vide, como exemplo, respostas aos quesitos 8 (fls. 7481), 11 (fls. 7482), 5
(fls. 9147), das co-rés.
23. Ressalte-se, ainda sobre a dependência, que uma das
causas de reincidência entre aqueles que tentam parar de fumar, apontadas pelo bem
fundamentado laudo pericial, são “situações que estimulassem o consumo” (fls.
7401). Ora, a publicidade é, sem sombra de dúvidas, situação que estimula o
consumo, conforme se colhe da perícia de publicidade.
24. Com relação aos males do tabagismo e aos riscos que
seu consumo impõe, novamente o laudo comprova que há mais de 30 anos se tem
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. notícia desses riscos. Reitere-se que são os médicos e as empresas co-ré, fabricantes
do produto, que têm notícia sobre tais riscos, não o público leigo que, ainda hoje e em
muitos casos, continua desinformado.
25. Alguns exemplos: às fls. 7433 do laudo médico lê-se: “
Diante do exposto, verifica-se que há pelo menos 30 anos, eram conhecidos os
efeitos deletérios do consumo de cigarros sobre as diversas etapas da gravidez...”; às
fls. 7436 lê-se: “Diante de todo o exposto, verifica-se que a literatura médica
disponibilizava informação detalhada sobre a participação dos derivados do tabaco
na doença coronariana, tanto por meio de evidências epidemiológicas acumuladas
nos últimos 50 anos, quanto por estudos moleculares que elucidaram parte dos
mecanismos pelos quais os derivados dos cigarros produzem arteriosclerose e
doença coronariana. Portanto, há várias décadas sabe-se sobre os efeitos deletérios
do cigarro ao sistema cardiovascular.”; às fls. 7443 tem-se: “Portanto, as
publicações que se seguiram àquelas da década de 1960 apenas ratificaram e
acrescentaram detalhes epidemiológicos e moleculares sobre os mecanismos que
levam o tabagismo a ser o principal fator relacionado ao desenvolvimento de
progressão da DPOC”, ou ainda, às fls. 7461: “Diante de todo exposto, o tabagismo
impõe risco de dependência e de aumento da incidência para várias doenças aos
seus consumidores, o que é conhecido pela literatura médica há pelo menos 30
anos.” (grifos adicionados)
26. E quando não é fator causal (câncer de pulmão, TAO)
ou de risco (DPOC), “o consumo de cigarros produz potencialização destes riscos”
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. (fls. 7436), como é o caso para doença coronariana, o que não pode ser negligenciado
e deve ser informado ao consumidor.
27. Vale ainda ressaltar a seguinte conclusão do laudo
pericial: “Atualmente, o conhecimento de que o tabaco e seus derivados estão
relacionados com diversas doenças que assolam a humanidade é claro. Todavia, a
caracterização cronológica com que as pesquisas médicas elucidam tais correlações
é fundamental, funcionando como subsídio inicial para avaliação do
comportamento dos Réus diante das evidências dos riscos do consumo do produto
por eles produzido e comercializado.” (fls. 7456) (grifamos)
III – DA PERÍCIA DE PUBLICIDADE
28. Com relação à perícia de publicidade, também trabalho
de fôlego que traz elementos importantíssimos a contribuir com essa e com muitas
outras ações hoje em trâmite no judiciário nacional, ressalta-se a resposta ao quesito
da autora às fls. 9302:
“10.1.10. Considerando que as imagens de advertência
constantes em embalagens e peças publicitárias são determinadas por normas
governamentais, queira o Sr. Perito informar se, excluídas tais advertências
obrigatórias por lei, as empresas co-rés informaram, durante todo o período
abarcado pela perícia até hoje, sobre os malefícios do cigarro e sobre o poder de
causar dependência da nicotina.
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Não. Essa perícia não encontrou nenhuma advertência
sobre os malefícios do cigarro e sobre o poder de causar dependência da nicotina
que não tivesse sido determinada por lei.”
29. Esse é exatamente o ponto crucial da presente
ação e que une ambas perícias. Está demonstrado que havia
conhecimento qualificado sobre dependência e males do tabagismo,
conhecimento esse acessível à área médica e às empresas co-rés, mas
não ao público leigo e aos consumidores11. As empresas, por
fornecerem um produto extremamente danoso, deveriam, seja pelo
princípio da boa-fé objetiva, seja pelo dever de informar previsto no
Código de Defesa do Consumidor, ter informado sobre tais riscos, o
que NUNCA fizeram, e não o fazem até hoje, restringindo-se a
reproduzir o que o governo lhes determina, não sem contestá-lo
judicialmente.
30. Os fatos apurados na perícia médica e sua cronologia,
confirmando que há muito se sabe sobre a dependência à nicotina e continuamente se
tem avançado no que toca ao tabagismo como fator causal ou de risco para doenças
não significa, como já reiterado, que TODOS tenham conhecimento adequado e
amplo desses fatos.
11 Vide, em adição, pareceres técnicos anexados a essa manifestação.Av. Santo Antônio, 490 – Mogi Mirim – SP
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31. As informações sobre o tabagismo a que os
consumidores têm acesso são recentes e não são completas, até porque, a cada dia
novas doenças são relacionadas ao tabagismo, como se viu da perícia médica e de
publicidade (fls. 9324, resposta ao quesito 10.2.15).
32. Não se pode dizer, singelamente, que todos sabem que
fumar faz mal à saúde. Essa informação é o mesmo que informação nenhuma, pois
não traz os alertas necessários relativos à gravidade das doenças que o ato de fumar
pode causar. O laudo pericial de publicidade corrobora essa afirmação:
Fls. 9249: “(...) Mas a natureza do consenso se transformou
com o tempo. Por exemplo, por volta dos anos 50 havia um consenso de que o ato de
fumar era provavelmente perigoso. Atualmente, há um consenso de que fumar é
definitivamente perigoso. O consenso sobre a magnitude dos riscos continua a mudar
através dos tempos.”
33. Segundo estudo levado a cabo por pesquisadores
australianos12, quatro são os níveis de informação dos indivíduos sobre os riscos do
tabagismo:
• Nível 1: informações elementares, o indivíduo já ouviu falar que fumar
aumenta os riscos à saúde, mas não identifica que riscos são esses.
12 S Chapman and J Liberman, Ensuring smokers are adequately informed: reflections on consumer rights, manufacturer responsibilities, and policy implications, Tobacco Control 2005; 14; ii8-ii13.
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• Nível 2: o indivíduo é capaz de identificar algumas doenças causadas pelo
tabagismo, como câncer de pulmão e enfisema pulmonar, mas não identifica as
conseqüências de ser acometido por essa doença.
• Nível 3: o indivíduo tem conhecimento da doença, sintomas e conseqüências,
chances de sobrevida, e risco relativo de contraí-la quando comparado ao risco
de contrair outras doenças.
• Nível 4: o indivíduo concorda que fumar aumenta os seus próprios riscos de ter
uma das doenças causadas pelo tabagismo. Não obstante as pessoas saibam que
o tabagismo faz mal, consideram os outros como possíveis vítimas, excluindo a
si próprio, inclusive através de crenças que contribuem para manter-se
fumando, como a ideia de que “tudo causa câncer hoje em dia”
34. Somente aqueles que estão nos níveis 3 e 4 podem ser
considerados como adequadamente informados. Aliás, o laudo pericial confirma a
constante necessidade de se manter o público informado sobre os riscos do
tabagismo. Para ilustrar, transcreve-se parte da resposta ao quesito 10.2.2 de uma das
co-rés:
“Em relação à informação sobre o produto, há uma
diferença entre o assunto ser de conhecimento da sociedade e ser de conhecimento
do indivíduo. A sociedade tem mecanismos que lhe permitem passar e multiplicar o
conhecimento através das gerações. Assim, a herança de Newton não se perdeu e
pudemos construir com base no que ele nos deixou. O indivíduo, no entanto, é
tabula rasa ao chegar ao mundo, e precisa ser ensinado desde criança. A
comunicação feita pelos produtos de tabaco são ricos em imagens mas pobres em Av. Santo Antônio, 490 – Mogi Mirim – SP
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. informação, o que contribui para que seu apelo seja a sedução e não o raciocínio.
Finalmente, a indústria de cigarros até muito recentemente não tinha o hábito de
informar claramente as características de seus produtos ou a consequência de seu
uso.” (grifamos)
35. Os males do tabagismo são tais que “mais do que
informar, mister alertar e esclarecer, pois um é expert/profissional e detêm a
informação, o outro é leigo/consumidor e não possuía a informação por inteiro.”13
(grifamos)
36. A alegação de que “todos sabem que fumar faz mal à
saúde” não pode excluir, e não exclui, a responsabilidade das empresas, pois essa não
é informação adequada, clara, precisa e suficiente, que atenda ao direito do
consumidor à informação (CDC, art. 31).
37. O laudo pericial de publicidade destaca em vários
momentos o papel das próprias empresas – multinacionais do setor – em dissuadir a
opinião pública. O Capítulo 7. A INFORMAÇÃO AO CONSUMIDOR (a partir das
fls. 9249) merece leitura atenta. De forma a resumir todas as passagens sobre o tema
transcrevemos apenas a resposta ao quesito 10.2.15, de uma das co-rés (fls. 9324/5):
13 Cláudia Lima Marques, Violação do dever de boa-fé de informar corretamente, atos negociais omissivos afetando o direito/liberdade de escolha. Nexo causal entre a falha/defeito de informação e defeito de qualidade nos produtos de tabaco e o dano final morte. Responsabilidade do fabricante do produto, direito à ressarcimento dos danos materiais e morais, sejam preventivos, reparatórios ou satisfatórios, RTFasc. Civ., vl. 835, maio 2005, 75-133, p. 84.
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99.
“Os riscos à saúde associados ao consumo de cigarros,
incluindo o fato de que pode ser difícil parar de fumar vem sendo mundialmente
disputados ou minimizados de forma sistemática pela indústria de cigarros há
muito tempo, de forma que a informação que chegou à sociedade brasileira não foi
unívoca. Além do mais, mesmo os consumidores de países desenvolvidos só
recentemente passaram a conhecer melhor as consequências do uso do cigarro e as
dificuldades em parar de fumar. A época de estudo da perícia é uma época de pouca
informação. Atualmente, no Brasil, a maioria da população está ciente dos
principais riscos associados ao uso do cigarro.” (grifamos)
38. Um ponto que merece esclarecimento com relação à
perícia de publicidade é que ela se refere a uma suposta proibição à propaganda de
cigarros quando, em verdade, o que houve com a edição da lei 10.167/2000 que
alterou a lei 9294/1996 foi a RESTRIÇÃO da publicidade de produtos derivados do
tabaco à parte interna dos pontos de venda, como, aliás, evidenciado pela própria
perícia:
“Depois da proibição (rectius: restrição) da publicidade de
cigarros, houve uma grande mudança na forma de fazer propaganda no Brasil. Saem
a mídia tradicional e os patrocínios a eventos esportivos e cultura e entram o ponto
de venda e a embalagem (muitas colecionáveis)” (fls. 9201).
39. Corrobora esse fato o expressivo aumento no
investimento da Souza Cruz em marketing que “Em 2007, foi de R$ 641 milhões, um
salto de 85%.”, contra R$ 347 milhões antes das restrições legais (fls. 9199). A
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. publicidade, aliás, continua de vento em popa conforme se comprova das imagens
anexas à presente manifestação.
40. Assim, merece reparo a informação de que o aumento
do faturamento da empresa co-ré se deve somente ao crescimento da populaçào e à
inclusão de classes menos favorecidas no mercado. O investimento em publicidade é,
sim, um dos fatores que contribuíram para tal resultado e é por isso que se justifica
seu incremento em 85%.
41. Pelo laudo pericial de publidade, ademais, é possível
confirmar que a propaganda de cigarros não é apenas enganosa por omissão, mas sua
enganosidade é também ativa em razão dos temas utilizados que em nada coincidem
com as consequências do consumo, confundindo o consumidor sobre o produto,
vejamos:
Fls. 9222: “Diante desse cenário, a publicidade de cigarros
deve fazer frente à exigência de renovação, posicionando-o como um acessório
alegre, lúdico, cambiante, assim como a tantos outros objetos submetidos ao
imperativo da estética industrial, em que o sucesso de um produto depende em
grande parte de seu design, apresentação, embalagem e acondicionamento.”
Fls 9228: “(...) Esses mitos industrializados produzidos por
técnicas publicitárias roubam as expressões emergentes na sociedade e as devolvem
na forma de imagens que convidam à identificação: ‘eu sou este que deseja o cigarro
x’. O mito, na atualidade, se apropria das formações do inconsciente e as devolve à
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. sociedade na forma de imagens/mercadorias. Por se identificar tão proximamente
com o público consumidor, seu apelo é mito forte.”
Fls. 9229: “Uma imagem publicitária eficaz deve apelar ao
desejo inconsciente, ao mesmo tempo em que se oferece como objeto de satisfação.
Ela determina quais serão os objetos imaginários de satisfação do desejo, e assim faz
o inconsciente trabalhar para o capital.
Não é a toa que as companhas contra o consumo de drogas,
dirigidas a adolescentes e jovens, tenham resultados tão inexpressivos: a publicidade
oferece delírios e alucinações de prazer associados ao consumo de um chocolate ou
de um refrigerante; com isto, convoca seu público a gozar sempre muito e sempre
mais; como pode de repente abrir uma exceção e pedir ao jovem que renuncie ao
prazer fácil que a droga proporciona?”.
Fls. 9325: “(...) A publicidade contorna essa rejeição ao
não abordar a polêmica do cigarro em si, mas, ao posicioná-lo como coadjuvante de
situações que tem grande prestígio junto ao seu público alvo, colabora para
melhorar a sua imagem.”
Fls. 9326: “(...) Pesquisas feitas com as propagandas de
jornais comerciais mostram que, por exemplo, os publicitários e os diretores de
cinema estavam cientes de que fumar cigarros era um símbolo da emancipação
feminina e usavam esta associação em suas propagandas e filmes. Cigarros eram
oferecidos como símbolo de liberdade – e assim construiu-se um novo mercado para
as indústrias tabagistas.”
42. Importante destacar o público alvo da propaganda de
cigarros, conforme restou demonstrado em inúmeras passagens do laudo pericial: os
jovens (fls. 9242, 9267, 9298; 9275; 9286).
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43. Essa estratégia das empresas co-rés não é sem razão
(vide peças publicitárias em anexo). Como também demonstrado no laudo pericial, a
maioria esmagadora dos fumantes (entre 80% e 90%) iniciam-se antes dos 19 anos de
idades (fls. 9288). São crianças e adolescentes ainda em desenvolvimento e
formação, cujo dever de proteção é reconhecido pela Constituição (art. 227) e pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente. Esse público é facilmente influenciado pela
propaganda (fls. 9289):
10.1.2. Queira o Sr. Perito informar se a influência da
publicidade em adolescentes e jovens difere daquela em adultos?
Sim. Por não terem a personalidade completamente
formada, adolescentes e jovens são mais suscetíveis a apelos relacionados à moda do
que adultos. Em busca de uma identidade própria, eles são mais propensos a usar as
imagens prontas fornecidas pela indústria para se afirmar e identificar.”
44. A perícia de publicidade comprova, em complemento à
perícia técnica, que a propaganda das empresas é enganosa, por ação e omissão, e
abusiva por incitar os jovens a comportarem-se de forma prejudicial à sua saúde.
IV - AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE CONTROLE DO TABAGISMO
45. Ponto relevante para a presente ação refere-se à atuação
das co-rés no que tange às políticas públicas de controle do tabagismo adotadas pelos
Brasil.
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46. Como se sabe, o Brasil é signatário da Convenção
Quadro para o Controle do Tabaco, primeiro tratado internacional de saúde pública
da história da humanidade, já ratificado por 171 países, entre eles o Brasil (decreto
5658/2006) e que prevê uma série de medidas para redução da epidemia tabagística,
bem como determina às partes que impeçam a interferência das empresas de cigarros
(artigo 5.3) e adotem medidas de responsabilização (artigo 19).
47. Mesmo antes da celebração do tratado o Brasil já havia
adotado algumas medidas importantes. O Brasil começa a adotar medidas
administrativas de controle do tabagismo em fins da década de 1980, juntamente
com edição da Constituição de 1988, mas é a partir de 1996 que adota medidas
legislativas mais efetivas. Num primeiro momento, timidamente, com restrição à
publicidade de cigarros nos meios de comunicação em massa em determinados
horários e com advertências sanitárias escritas, discretas, nas embalagens de
cigarros.
48. Somente a partir de 2001 é que houve a restrição total
da publicidade de cigarros nos meios de comunicação de massa, não obstante a
publicidade ainda hoje seja permitida de outras formas, como nos pontos de venda, e
que imagens de advertência passaram a constar das embalagens e publicidade,
atingindo também o público mais vulnerável: crianças, adolescentes, população com
menos instrução, inclusive analfabetos que não podiam ler as frases de advertência
mas podem compreender as imagens.
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49. Como confirmado pelo laudo de publicidade, a maioria
das pessoas começa fumar antes dos 19 anos14.
50. É evidente que esse público, ainda que acesse alguma
informação, não tem condições de fazer escolhas conscientes, tanto que não está
habilitado a praticar atos da vida civil.
51. A prevalência também é maior nos grupos de menor
renda e instrução, e que, portanto, têm menos acesso à informação.
52. Vale frisar que todas as políticas de saúde pública
adotadas pelo Brasil com o objetivo de reduzir a prevalência têm sido contestadas
judicialmente pelas empresas fabricantes de cigarros e/ou por seus aliados, o que
é um indicador de efetividade dessas medidas. Essa postura das co-rés demonstra que
elas continuam não querendo informar e, portanto, cumprir com seus deveres legais e
com o princípio da boa-fé objetiva.
53. As advertências sanitárias, por exemplo, são objeto da
Ação Direta de Inconstitucionalidade no. 3311, de relatoria do Ministro Joaquim
Barbosa, promovida pela Confederação Nacional da Indústria, bem como de ações
14 Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer – INCA. Coordenação de Prevenção e Vigilância (CONPREV). Abordagem e Tratametno do Fumante – Consenso 2001. Rio de Janeiro: INCA, 2001
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. judiciais movidas pelo Sindicato da Indústria do Fundo do Rio Grande do Sul –
SINDITABACO15 e pela própria Souza Cruz16.
54. A restrição à publicidade nos meios de comunicação em
massa é objeto da mesma ADI 3311.
55. Não é por outro motivo que a Convenção Quadro
reconhece, em seu preâmbulo, “a necessidade de manter a vigilância ante qualquer
tentativa da indústria do tabaco de minar ou desvirtuar as atividades de controle do
tabaco, bem como a necessidade de manterem-se informadas sobre as atuações da
indústria do tabaco que afetem negativamente às atividades de controle do tabaco.”
56. Também não é sem razão que o artigo 5.3 da Convenção
Quadro dispõe:
Ao estabelecer e implementar suas políticas de saúde
pública relativas ao controle do tabaco, as Partes agirão para proteger essas
políticas dos interesses comerciais ou outros interesses garantidos para a indústria
do tabaco, em conformidade com a legislação nacional.
57. Esses dados não podem ser ignorados pelo Poder
Judiciário na análise da presente ação, já que aqui se discute justamente o
descumprimento, pelas co-rés, de seu dever de informar previsto no CDC e no
princípio geral de direito da boa-fé objetiva.
15 Processo no. 2008.71.00.026898-0/RS,Juíza Paula Beck Bohn, 2ª Vara Federal de Porto Alegre.16Processo nº 2008.51.01.023632-3, Juíza Maria Amelia Almeida Senos de Carvalho, 23ª Vara Federal do Rio de Janeiro.
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V – DO PEDIDO
58. Por todo o exposto, confirma-se, com os excelentes
laudos periciais produzidos por determinação deste D. Juízo, que as empresas co-rés
tinham informações sobre dependência e riscos do tabagismo, contudo nunca
informaram seus consumidores como é seu dever legal. Restringem-se, ainda hoje, a
cumprir normas específicas com informações obtidas e determinadas pelo governo, e
isso a partir de 1996, não sem contestá-las judicialmente. Mantêm-se omissas com
relação a outras ou novas pesquisas e informações que possuam.
59. Requer-se, portanto, após esses longos anos de trâmite
da presente ação, que com as contundentes provas periciais produzidas, se confirme a
procedência do pedido para condenar as empresas a indenizar os consumidores pelos
danos sofridos em razão de sua atuação.
Na certeza do acolhimento de nossa pretensão,
São Paulo, 18 de outubro de 2010
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Declarada de Utilidade Pública Municipal pela Lei 3.247/99. p.p. Mário Albanese p.p. Luiz Carlos Martins Mônaco OAB/SP – 11.159 OAB/SP – 99.076
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