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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MOSSÂMEDES 15/06/2004 ACP Bancos Ação Civil Pública - bancos - agência única no município - fechamento - serviços essenciais à comunidade - manutenção - LIMINAR - DECISÃO TJ ACP Banco EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO, EM EXERCÍCIO, NA COMARCA DE MOSSÂMEDES, GO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seu órgão de execução nesta comarca, valendo-se da legitimidade que lhe atribui o art. 82, I, da lei n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), propõe neste ato AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A TUTELA DE INTERESSES DIFUSOS DOS CONSUMIDORES DO MUNICÍPIO DE MOSSÂMEDES em face do BANCO BEG S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n. 01.540.541/0001-00, sediada em Goiânia, na praça do Bandeirante, 546, Centro, com apoio nos seguintes fundamentos de fato e de direito. 1. Do objeto

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSPROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE MOSSÂMEDES

15/06/2004ACP Bancos

Ação Civil Pública - bancos - agência única no município - fechamento - serviços essenciais à comunidade - manutenção - LIMINAR - DECISÃO TJACP Banco

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO, EM EXERCÍCIO, NA COMARCA DE MOSSÂMEDES, GO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por seu órgão de execução nesta comarca, valendo-se da legitimidade que lhe atribui o art. 82, I, da lei n. 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), propõe neste ato

AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A TUTELA DE INTERESSES DIFUSOS DOS CONSUMIDORES DO MUNICÍPIO DE

MOSSÂMEDES

em face do BANCO BEG S.A., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n. 01.540.541/0001-00, sediada em Goiânia, na praça do Bandeirante, 546, Centro, com apoio nos seguintes fundamentos de fato e de direito.

1. Do objeto

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Visa a postulação a, diante do anúncio da iminente paralisação das atividades empreendidas pelo réu neste Município, assegurar aos usuários locais a prestação dos serviços até que outra instituição financeira venha a aqui instalar uma unidade operacional com características funcionais similares.

2. Da legitimidade ativa ad causam do Ministério Público

Os direitos que se pretendem resguardados na espécie são caracterizados por sua natureza difusa, como adiante se fará ver.

Firma-se com isso a legitimidade do Ministério Público para a dedução em juízo da pretensão, à vista da circunstância de estar a respectiva atuação instituição, segundo o que prevêem o art. 129, III, da Constituição da República, o art. 5º da lei n. 7.347/85 e o art. 82, I, da lei n. 8.078/90, consagrada à defesa coletiva desses interesses.

3. Da natureza difusa dos interesses e do cabimento da ação civil pública

O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 81, parágrafo único, I, define como direitos ou interesses difusos aqueles de natureza transindividual e indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas entre si por circunstâncias de fato.

Na espécie, busca-se a preservação do direito indistintamente reconhecido em benefício do conjunto de consumidores deste Município de ter garantido, em caráter permanente, o acesso aos serviços bancários, dada a imprescindibilidade da prestação para o atendimento de necessidades inadiáveis da comunidade.

Vê-se, com isso, que o direito subjetivo em pauta perfaz todos os pressupostos reclamados à conformação de sua natureza difusa.

É certo, com efeito, que ele transcede a esfera jurídica dos consumidores, considerados em sua individualidade, para incorporar o interesse da coletividade de usuários.

Noutro passo, é senhor desse direito um número indefinido de pessoas, devendo ser levados em conta, a propósito, não apenas a clientela formalmente aceita pelo réu, mas todos os que, sem terem contraído com ele qualquer tipo de avença, acorrem ainda que episodicamente às dependências físicas da respectiva agência bancária

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para a satisfação dos mais variados interesses, tais como, entre outros, o pagamento de contas e o recebimento de aposentadorias e benefícios de assistência social.

Nota-se, em igual medida, que não há a possibilidade de ser quantificada a fruição pessoal dessas comodidades, do que delui a sua natureza indivisível.

Finalmente, deve-se realçar a circunstância de que tais direitos, considerados em seu aspecto difuso, decorrem de uma mesma situação de fato, qual seja, a contingência de serem os usuários dos serviços prestados pelo réu domiciliados no Município de Mossâmedes, onde estão concentrados os seus negócios jurídicos e as suas ocupações habituais.

Patenteada a índole difusa dos interesses de que cuida a espécie, nenhuma dúvida pode persistir quanto à possibilidade de ser o pleito formulado por meio de ação civil pública, dada a literalidade da disposição contida no art. 1º, II, da lei n. 7.347/85.

4. Da competência do juízo desta comarca para o conhecimento do feito.

Segundo o que dispõem o art. 2º da lei n. 7.347/85 e o art. 93, I, da lei n. 8.078/90, devem as pretensões do gênero ser deduzidas perante o juízo do local onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, ao qual se atribui competência de natureza funcional - e, portanto, absoluta - para o processo e julgamento da causa.

No caso, estando circunscrita aos lindes territoriais deste Município a repercussão do dano a ser causado ela ação noticiada pelo réu, assenta-se a competência do juízo desta comarca para o conhecimento do pleito.

5. Do tratamento constitucional.

O artigo 192 da Constituição Federal, inserida dentro do mesmo título do princípio da livre iniciativa, preceitua:

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“Art. 192. O Sistema Financeiro Nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir o interesse da coletividade, será regulado em lei complementar, que disporá, inclusive, sobre:

I – a autorização para o funcionamento das instituições financeiras .... ”

Comentando este dispositivo constitucional, preleciona JOSÉ AFONSO DA SILVA, verbis:

“Mas são importantes o sentido e os objetivos que a Constituição imputou ao sistema financeiro nacional, ao estabelecer que ele será estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir os interesses da coletividade, de sorte que as instituições financeiras privadas ficam assim também e de modo muito preciso vinculadas ao cumprimento da função social bem caracterizada” (grifo no original, in Curso de Direito Constitucional Positivo, 21ª ed., pg.800, Malheiros Editores).

Ora, a atitude do réu em fechar unilateralmente e sem qualquer discussão pública uma agência que servia a comunidade há vários anos representa total afronta ao princípio constitucional elencado. Assim agindo, o réu, que se locupleta da atividade de captação de poupança pública, estritamente controlada pelo Estado em razão do caráter social que carrega, serviu tão somente o seu próprio interesse, e não o da coletividade, conforme é mandamento constitucional.

Ademais, a livre iniciativa prevista nos artigos 1º, IV, e 170 da Constituição Federal não pode ser interpretada isoladamente, ainda mais em atividade econômica controlada pelo Estado.

A livre iniciativa deve levar necessariamente em conta os seus próprios valores sociais (CF, art. 1º, IV, in totum), bem como todos os demais princípios norteadores da ordem econômica e social, dentre as quais: (i) defesa do consumidor; (ii) redução das desigualdades regionais e sociais; (iii) busca do pleno emprego e (iv) valorização do trabalho humano (CF, art 170, caput, e incisos V, VII e VIII).

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Novamente citando a maestria de JOSÉ AFONSO DA SILVA, verbis:

“ Assim, a liberdade de iniciativa econômica privada, num contexto de uma Constituição preocupada com a realização da justiça social (o fim condiciona os meios), não pode significar mais do que ‘liberdade de desenvolvimento da empresa no quadro estabelecido pelo poder público, e, portanto, possibilidade de gozar das facilidades e necessidade de submeter-se às limitações postas pelo mesmo’. É legítima, enquanto exercida no interesse da justiça social. Será ilegítima, quando exercida com objetivo de puro lucro e realização pessoal do empresário. Daí por que a iniciativa econômica pública, embora sujeita a outros tantos condicionamentos constitucionais, se torna legítima, por mais ampla que seja, quando destinada a assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social. (grifo nosso, in Curso de Direito Constitucional Positivo, 21ª ed., pg.770, Malheiros Editores).

A justiça social de que fala o reconhecido jurista deve necessariamente nortear o alcance do princípio da livre iniciativa, afastando a tese de que ela é um fim em si mesma. Há que se buscar os demais fundamentos da ordem econômica.

Em sentido exatamente contrário ao preconizado pela Constituição Federal, o requerido, buscando tão somente a otimização dos seus lucros, vem a desequilibrar todo um município, causando pobreza, desemprego e violação aos direitos dos consumidores, não somente aqui no Estado de Goiás, mas em todos os lugares em que exerce as suas atividades.

Veja-se a respeito a situação causada no Estado de Minas Gerais, onde o grupo ITAÚ, controlador do Banco BEG no Estado de Goiás, também não mede atos egoístas para aumentar os seus lucros, destruindo toda uma economia local, verbis:

“ 300 mil pessoas vão ficar sem atendimento bancário em suas cidades

Depois de fechar 25 agências pioneiras do antigo Bemge em pequenas cidades do interior do Estado, o banco Itaú ainda pretende fechar outras 43 unidades de atendimento, deixando 300 mil pessoas sem acesso a serviços bancários em suas cidades. O alerta foi feito pelo presidente do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte e Região, Fernando Ferraz Neiva,

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que participou de reunião conjunta das comissões de Fiscalização Financeira e Orçamentária e de Assuntos Municipais e Regionalização da Assembléia Legislativa nesta terça-feira (11/5/04). A reunião foi solicitada pelos deputados Mauro Lobo (PSB), Antônio Júlio (PMDB), Chico Simões (PT) e Paulo Cesar (PFL).

A decisão de fechar essas agências revolta os moradores e preocupa os prefeitos das cidades afetadas. Segundo o consultor da Associação Mineira de Municípios (AMM), Tadeu José de Mendonça, em muitas pequenas cidades essas agências são a única opção para pagamentos de tributos e recebimento de salários, aposentadorias e pensões. Ele reclamou também que a decisão de encerrar as atividades dessas unidades foi unilateral, sem levar em conta os apelos dos prefeitos. Segundo Tadeu, algumas prefeituras inclusive arcavam com as despesas de manutenção das agências, como limpeza, aluguel de imóveis e até transporte de valores.

O Sindicato dos Bancários se preocupa ainda com as demissões decorrentes da redução da rede Bemge. Segundo o presidente do sindicato, cerca de 180 bancários vão perder seus empregos com o encerramento das agências pioneiras. Desde 1998, ano da aquisição do banco pelo Itaú, 8 mil postos de trabalho foram cortados, ainda de acordo com o sindicato. Fernando Neiva criticou também o argumento do banco de que as agências que estão sendo fechadas são deficitárias. Só a agência de São Roque de Minas, segundo ele, é responsável pelo pagamento de 560 aposentados e 263 servidores municipais. "O banco não tem prejuízo, não há argumentos para justificar o fechamento dessas agências", condenou. No ano passado, o lucro do Itaú foi de R$ 3,152 bilhões, segundo o sindicato.” (FONTE: NOTÍCIAS DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS, site do órgão, 11 de maio de 2.002).

É desta forma, causando pobreza, desemprego e tornando a vida das pessoas indignas, que o requerido cumpre a sua função social, conforme preconizado na Constituição Federal ?

É assim que o requerido retribui a possibilidade de atuar em atividade estritamente controlada pelo Estado, privilegiada pela captação de poupança pública e rentável por natureza ?

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Qual é o desenvolvimento equilibrado e o interesse da coletividade pretendidos por atos desta estirpe (CF, art. 192, caput) ?

Na verdade, o que se verifica é que o requerido se agarra injustamente no princípio da livre iniciativa para gerar lucros incalculáveis, utilizando-o (repita-se!) como fim em si mesmo, em detrimento dos demais princípios constitucionais.

Veja-se a respeito algumas manchetes de jornais:

“ITAÚ TEM LUCRO DE R$ 876, 152 MI NO 1º TRIMESTRE E SUPERA O DO BRADESCO” (Folha de São Paulo on line, 04/05/2004)

“ITAÚ REGISTRA EM 2003 MAIO LUCRO DA HISTÓRIA DE BANCOS NO BRASIL” (Folha de São Paulo on line, 17/-2/2004).

“ LUCRO DO ITAÚ CRESCE 22,68%, PARA 876,152 MILHÕES” (Estado de São Paulo on line, 04/05/2004).

A decisão de primeiro grau deve afrontar, com clareza e coragem, um fato odioso e explícito na leitura das referidas manchetes: A que custo social estes constantes recordes de lucros estão sendo batidos ?

Definitivamente a conduta do requerido é inconstitucional, por violar a harmonização dos princípios norteadores da ordem econômica e social. O princípio da livre iniciativa não pode ser interpretado isoladamente de modo a fundamentar a busca desenfreada por lucros financeiros. A própria Constituição Federal abomina o abuso do poder econômico que vise o aumento arbitrário dos lucros (CF, art. 173, § 4º). Há que contrapô-lo aos demais princípios econômicos.

Neste sentido, a Jurisprudência dos nosso tribunais, verbis:

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EMENTA: - Ação direta de inconstitucionalidade. Lei 8.039, de 30 de maio de 1990, que dispõe sobre critérios de reajuste das mensalidades escolares e dá outras providências. Em face da atual Constituição, para conciliar o fundamento da livre iniciativa e do principio da livre concorrência com os da defesa do consumidor e da redução das desigualdades sociais, em conformidade com os ditames da justiça social, pode o Estado, por via legislativa, regular a política de preços de bens e de serviços, abusivo que e o poder econômico que visa ao aumento arbitrário dos lucros.

ADI 319 QO - DF - DISTRITO FEDERALQUESTÃO DE ORDEM NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADERelator(a): Min. MOREIRA ALVES Julgamento: 03/03/1993 Órgão Julgador: TRIBUNAL PLENO Publicação: DJ DATA-30-04-93 PP-07563 EMENT VOL-01701-01 PP-00036

Vale a pena transcrever trecho do voto do relator, Ministro MOREIRA ALVES, verbis:

“Portanto, embora um dos fundamentos da ordem econômica seja a livre iniciativa, visa aquela a assegurar a todos a existência digna, em conformidade com os ditames da justiça social, observando-se os princípios enumerados nos sete incisos desse artigo.

Ora, sendo a justiça social a justiça distributiva – e por isso mesmo é que se chega à finalidade da ordem econômica (assegurar a todos existência digna) por meio dos ditames dela -, e havendo a possibilidade de incompatibilidade entre alguns dos princípios constantes dos incisos desse artigo 170, se tomados em sentido absoluto, mister se faz, evidentemente, que se lhes dê sentido relativo para que se possibilite a sua conciliação a fim de que, em conformidade com os ditames da justiça distributiva, se assegure a todos – e, portanto, aos elementos de produção e distribuição de bens e serviço e aos elementos de consumo deles – existência digna.

Embora a atual Constituição tenha, ..., dado maior ênfase à livre iniciativa ...., não é menos certo menos certo que tenha dado maior ênfase às suas limitações em favor da justiça social, tanto assim que, no artigo 1º, ao declarar que a República Federativa do Brasil se constitui em Estado Democrático de Direito, coloca entre os fundamentos deste, no inciso IV, não a livre iniciativa da economia liberal clássica, mas os valores sociais da livre iniciativa; ademais, entre os novos princípios que estabelece para serem observados

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pela ordem econômica, coloca o da defesa do consumidor (que ainda tem como direito fundamental, no artigo 5º, inciso XXXII) e o da redução das desigualdades sociais.

Para se alcançar o equilíbrio da relatividade desses princípios – que, se tomados em sentido absoluto, como já salientei, são inconciliáveis – e, portanto, para se atender aos ditames da justiça social que pressupõe esse equilíbrio, é mister que se admita que a intervenção indireta do Estado na ordem econômica não se faça apenas a posteriori, com o estabelecimento de sanções às transgressões já ocorridas, mas também a priori, até porque a eficácia da defesa do consumidor ficará sensivelmente reduzida pela intervenção somente a posteriori, que, às mais das vezes, impossibilita ou dificulta a recomposição do dano sofrido. Aliás, já sob o império da Constituição de 1946, esta Corte admitia, com base no artigo 148 que dispunha que a lei reprimiria toda e qualquer forma do abuso de poder econômico que tivesse por fim, inclusive, ‘aumentar arbitrariamente os lucros’ , não só a constitucionalidade de controle de preços, mas também a delegação desse poder ao Executivo” (g.o.)

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo também já mitigou o princípio da livre iniciativa, na sua vertente direito de contratação, em razão da sua contraposição a valor social bem superior – a garantia constitucional de defesa do consumidor, verbis:

Ementa: LIMINAR – Empresa que exige projeções cinematográficas – Exclusividade de consumo de produtos vendidos pela autora em suas dependências – Hipótese que fere a liberdade de escolha do consumidor, que se sobrepõe ao direito de contratação da agravante – Inteligência dos artigos 5º, XXXII, CF c.c. 6º, II, CDC – Hipótese em que o prejuízo engloba os consumidores e demais empresas alimentícias próximas ao estabelecimento – Dano presente e irreparável, dada a multiplicidade dos consumidores lesados – Liminar mantida – Agravo improvido. (TJSP, Ag. Inst. Nº 195.256.4/1-00, Rel. Des. RIBEIRO DOS SANTOS).

Extrai-se do voto do relator, verbis:

“ A norma constitucional em estudo, reiteradamente citada, sobrepõe-se ao aventado direito de contrato da empresa privada, vale dizer, estabelecendo-se ela no comércio e na prestação de serviços, submete-se também ao respeito dos direitos daqueles que se servem de seus serviços” (g.n.).

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Concluindo, torna-se imperioso reconhecer que a conduta praticada pelo requerido representa um abuso de seu poder econômico, gerando pobreza, desemprego e indignação social, em busca tão somente de lucros cada vez mais monstruosos, numa total violação aos princípios constitucionais que regem a atividade econômica com a qual se locupleta de forma desenfreada e inconstitucional.

Entender contrariamente é condenar a nossa Carta Magna ao eterno plano formal, passando por cima de princípios tão justos e igualitários que somente aos ambiciosos pelo poder e pela riqueza interessa o seu esquecimento. Somente com decisões firmes e contundentes, como a proferida pelo i. juiz de direito de primeiro grau, é que a nossa Constituição finalmente vai passar a ser efetivamente CIDADÃ, como naquele histórico dia em que foi promulgada.

6. Da essencialidade dos serviços prestados pelo réu

Segundo o que expressamente prevê o caput do art. 192 da Constituição da República, a ação dos órgãos e instituições que compõem o sistema financeiro nacional deve estar voltada à promoção do desenvolvimento econômico, com ênfase para o interesse da coletividade.

Sob essa perspectiva, assume destacado relevo a atividade empreendida pelos bancos privados, responsáveis pela captação de significativa parcela da poupança nacional, cuja atuação do mercado financeiro depende de expressa autorização do poder público, representado, no caso, pelo Banco Central do Brasil, que também se encarrega de fiscalizar o setor.

Incumbidas constitucionalmente do desempenho de importantes tarefas no contexto da ordem econômica, as instituições financeiras tarefas no contexto da ordem econômica, as instituições financeiras, tanto privadas como públicas, cumprem um relevante papel social, seja como agentes propulsores da geração de emprego e renda, seja na condição de instrumentos de implementação da política de crédito governamental, necessária ao fomento das variadas atividades de produção.

Além desses encargos de ordem macro-econômica, os bancos ainda prestam à população uma gama diversificada de serviços de utilidade pública, tais como o recebimento de contas e tributos, o resgate de benefícios previdenciários e de assistência social e a intermediação do pagamento de salários e vencimentos, sem prejuízo

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da sua clássica função de acolhedores, em depósito, dos recursos que compõem a poupança popular.

O destacado papel assumido pelas instituições financeiras no cenário socioeconômico fez com que as atividades bancárias progressivamente ganhassem foros de cidadania, passando a integrar, de modo indissociável, o cotidiano das pessoas, que não mais podem prescindir de tais utilidades para a satisfação de importantes interesses.

Hoje, o adequado suprimento de um número de necessidades inadiáveis da população, muitas delas ligadas ao próprio bem-estar da coletividade de usuários, depende do concurso de estabelecimentos bancários, o que é suficiente para evidenciar o traço de essencialidade que caracteriza tais prestações 1.

Essa fisionomia foi realçada pela lei n. 7.783/89, que, ao disciplinar o exercício do direito de greve assegurado aos trabalhadores em geral, definiu como essencial, em seu art. 10, XI, a atividade de compensação bancária, embargando, com isso, as eventuais tentativas de se proceder à interrupção do serviço.

No mesmo passo, a lei n. 8.078/90, ao instituir o sistema de proteção do consumidor, previu no respectivo art. 22 que os serviços públicos, tanto os fornecidos pelo próprio Estado como os confiados à atuação supletiva das empresas privadas que operam na ordem econômica mediante delegação do poder público, deveriam obedecer a padrões de adequação, eficiência e segurança, impondo-se, quanto aos essenciais, a obrigatoriedade de sua prestação continuada.

É certo que as atividades desenvolvidas pelos bancos comerciais não se enquadram perfeitamente no conceito estrito de serviços públicos, já que submetidas às regras próprias da economia de mercado.

Todavia, é também induvidoso que tais entes, dadas as sujeições de ordem pública que singularizam a sua ação empresarial, estão adstritos a um regime jurídico híbrido, que os estremam dos demais empreendimentos da iniciativa privada.1 Tal aspecto não passou despercebido do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que, em recente julgado, assim se pronunciou a respeito: “Além disso, na sociedade moderna, os bancos não são só um serviço essencial, são na verdade um componente inevitável na vida das pessoas, que não conseguem se livrar dos bancos, seja para receber pagamentos, seja para efetuar pagamentos, seja para obter financiamento para aquisição de casa própria, como no caso dos autos. A tecnologia e a informatização retiram da mão do cidadão a moeda comum e colocam o mesmo cidadão sob o jugo da moeda eletrônica e digital, obrigando a que estes, imperativa e inevitavelmente, tenham de recorrer aos estabelecimentos bancários - mesmo que isso não desejem - pois todo o pagamento ou recebimento de dinheiro só se faz por esse meio. Talvez os bancos nem sejam essenciais, mas certamente são inevitáveis, como uma espécie de mal necessário do qual ninguém pode se livrar, a não ser os excluídos da sociedade, que não dispõem do mínimo para sobrevivência e dignidade humana, mas não é disso que se trata, porque essa é a anormalidade e a teratologia da vida social”. (TJRS, AC 70005057674/2003, relator: des. Adão Sérgio do Nascimento Cassiano, data julgamento: 18/02/04).

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Tudo isso autoriza uma certa elasticidade da noção de serviço público contida no art. 22 do CDC, cujo espectro de abrangência compreende, inegavelmente, as prestações havidas como de utilidade pública, de que são exemplos as atividades financeiras.

O pretexto, de qualquer forma, é esgrimido apenas como reforço e argumentação, uma vez que, para se aferir a necessidade de se manter permanentemente ativa uma determinada ocupação, é indiferente que esteja ela, ou não, encartada na categoria de serviços públicos.

De fato, se o desempenho do encargo estiver tributado ao provimento de anseios impostergáveis da comunidade, não deve ele, salvo em hipótese taxativamente previstas em lei, sofrer solução de continuidade, sob pena de se relegar o grupo social que dele depende a uma injustificável situação de desamparo.

É precisamente essa a consequência que advirá do anunciado fechamento da agência bancária do réu que serve à população local, hoje estimada em cerca de 7.000 (sete mil) habitantes.

A medida, motivada por considerações de cunho exclusivamente patrimonial, privará os munícipes de comodidades que os têm beneficiado há décadas, lançando-os em uma conjuntura que se prenuncia francamente desvantajosa aos seus interesses.

Com efeito, são intuitivamente aferíveis os percalços a que, em decorrência, estará sujeita a coletividade de usuários, sobretudo a parcela mais carente da população, que não reunirá condições de, com seus parcos haveres, cobrir os custos advindos da necessidade de locomoção a comunidades vizinhas para que importantes misteres sejam satisfeitos, tais como o pagamento de contas, o recebimento de benefícios previdenciários, a efetuação de depósitos em contas de poupança, a compensação de cheques e a realização de transferências de valores por via bancária, entre outros.

Sofrerão prejuízos, em igual medida, as atividades produtivas locais, ressentidas da falta de circulação de capital que defluirá da cessação das atividades do réu no Município, como a inevitável transferência desses recursos, tão essenciais à sustentação do comércio, para localidades circunvizinhas.

Não se concebe que interesses de tamanho alcance social sejam sacrificados em prol da satisfação da ânsia de ganho de uma empresa que integra um dos maiores conglomerados financeiros do País, no caso, o grupo societário liderado pelo Banco Itaú S.A., cujo segmento tem exibido os melhores índices de lucratividade de toda a atividade econômica.

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Como se sabe, uma das notas mais características do regime jurídico publicístico, a que estão parcialmente subordinadas as instituições financeiras, é traduzida pela imposição de sujeição do interesse privado ao interesse público.

Além disso, a exploração de atividades de cunho social deve submeter o empreendedor, que se apropria das vantagens daí advindas, aos ônus decorrentes da assunção de eventuais prestações deficitárias, não se mostrando lícita a pretensão de restringir a respectiva atuação à parte que lhe for favorável.

A adoção da tese contrária implicaria a admissão, como legítimo, de um esdrúxulo sistema produtivo, em que o risco estaria suprimido, com a certeza, aprioristicamente assegurada, do êxito das expectativas de obtenção de lucro.

Um modo de produção com essas características estaria, como facilmente se infere, em claro descompasso com a orientação vetorial que deve presidir a ordem econômica. Deveras, a Constituição da República, ao fazer, no art. 170, a sua profissão de fé capitalista, votou a atividade empresarial ao cumprimento da respectiva função social, aí compreendidas a garantia de existência digna a todos e a observância dos ditames de eqüidade.

Diante desse quadro, é categórica a conclusão de que o réu deve ser judicialmente compelido a manter a sua agência local em atividade, até que outra empresa venha a instalar neste Município um estabelecimento congênere.

7. Da prática pelo réu de conduta vedada pelas normas de proteção ao consumidor

As atividades bancárias, por expressa disposição do art. 3º, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor, submetem-se ao regime tutelar ali instituído.

Por conseguinte, estão os bancos proibidos de adotar, nas relações sustentadas com seus clientes, práticas tidas como abusivas2, assim entendidas, por definição, aquelas que submetam o consumidor a situações de exagerada desvantagem.

No caso, em razão do fechamento da agência bancária do réu neste Município, os depósitos e investimentos ali mantidos serão incorporados pela unidade operacional do Banco Itaú S.A. de Sanclerlândia, município situado a cerca de 15 (quinze) quilômetros desta cidade3.

Sem embargo das facilidades que hoje são oferecidas aos usuários dos serviços bancários, cada vez mais afeiçoados aos avanços da cibernética, o 2 O CDC veda, em seu art. 39, as práticas abusivas nas relações de consumo, listando, em rol exemplificativo, algumas condutas consideradas hábeis a esse propósito.3 Cf., á respeito, o teor da correspondência encaminhada pelo réu aos seus clientes, cuja cópia instrui esta petição inicial.

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certo é que a grande maioria de consumidores ver-se-á na súbita contingência de ter que cumprir um prolongado percurso para tratar adequadamente dos seus interesses.

Haverá, com isso, um substancial agravamento das condições de execução dos contratos firmados entre o réu e seus clientes, em decorrências de uma atitude tomada unilateralmente pelo fornecedor dos serviços, o que colide frontalmente com as normas que informam o sistema de proteção ao consumidor, que o põe a salvo de práticas exorbitantes da boa-fé objetiva.

Também por esse motivo impõe-se preservada a atividade empreendida pelo réu neste Município.

8. Da necessidade de concessão de ordem liminar

Sabe-se que a tutela de urgência, aí compreendidas as providências cautelares e as medidas de antecipação dos efeitos do provimento de mérito, reclama a presença de dois requisitos, consubstanciados nos aforismos latinos fumus boni juris e periculum in mora.

O primeiro deles, consistente na plausibilidade dos fundamentos jurídicos aduzidos para o amparo da pretensão, está inegavelmente caracterizado na espécie, à vista da pujança dos argumentos sustentados ao longo desta petição inicial.

O segundo dos mencionados pressupostos rende tributo à noção de necessidade de salvaguarda imediata do interesse, que, de outra forma, estaria sujeito ao risco de perecimento ou de lesão grave e de improvável reparação.

No caso, a premência do provimento da situação de fato que constitui o objeto da postulação está evidenciada pelo manifesto caráter nocivo da interrupção dos serviços prestados pelo réu, dada a essencialidade que lhes é peculiar.

Com isso, caso não se oponha óbice à pretensão a propósito manifestada, inúmeros prejuízos serão causados à população local, que, como se disse, depende dessa atividade para o provimento de importantes anseios. São evidentes, pois, os embaraços que seguramente advirão aos munícipes da anunciada paralisação dos serviços a cargo do réu, impondo-se a concessão de medida liminar para compeli-lo a manter ativa a respectiva agência local, até que uma outra empresa do ramo venha a se instalar no Município, o que deverá ocorrer em breve, tendo-se em conta que gestões nesse sentido já estão sendo empreendidas pela administração pública municipal junto a uma instituição financeira oficial4.

4 Cf., nesse sentido, o termo de declarações firmado por Hélios José da Cunha Júnior, prefeito municipal, em anexo.

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9. Dos pedidos

Do exposto, requer-se:

1. que, liminarmente e sem audiência da parte contrária, seja ordenada ao réu que se abstenha de proceder à interrupção das atividades por ele desempenhadas junto à respectiva agência local, até que outro empreendimento venha a prestar serviços congêneres no território deste Município;

2. que seja fixada multa em valor correspondente a 100 (cem) salários mínimos por dia de descumprimento da ordem a que se reporta o item 1 desta enumeração, devendo-se reverter o respectivo montante em proveito do fundo previsto no art. 13 da lei n. 7.347/85;

3. que seja o réu intimado, preferencialmente por meio do gerente de sua agência local, para que dê cumprimento à medida liminarmente ordenada por esse juízo;

4. que seja o réu citado, no endereço mencionado no preâmbulo desta petição inicial, por intermédio de seu diretor-presidente, Roberto Egydio Setúbal, ou de outro dirigente com poderes para tanto, para que lhe seja dado ciência do ajuizamento da causa, facultando-lhe o exercício, a seu critério, do respectivo direito de defesa;

5. que seja o Banco Central do Brasil, autarquia federal sediada em Brasília, DF, notificado da medida liminar a ser outorgada no feito;

6. que seja, ao final da instrução, julgado procedente o pedido, confirmando-se a providência deferida initio litis, a pretexto de impor-se ao réu obrigação de fazer consistente na prestação continuada e ininterrupta dos serviços a cargo de sua agência local, até que outro estabelecimento da mesma natureza seja instalado neste Município.

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Protesta-se, para provar o alegado, pela produção de todos os meios de prova juridicamente admitidos, os quais serão oportunamente especificados.

A esse propósito, requer-se desde já que seja requisitado ao Banco Central do Brasil uma cópia do contrato pelo qual se procedeu à transferência do controle acionário do réu ao Banco Itaú S.A., a fim de que seja aferida a eventual existência de cláusula impeditiva do fechamento de agências do banco a esse propósito alienado.

Atribui-se à causa o valor de R$ 100,00 (cem reais).

Pede deferimento.

Mossâmedes, 10 de maio de 2004.

Edilberto Martins de Oliveira

Promotor de Justiça

ANEXOS:

1. cópia da correspondência-padrão encaminhada pelo réu aos seus clientes, a pretexto de

comunicar-lhes a paralisação das atividades a cargo de sua unidade operacional neste

Município, em observância às diretrizes do chamado “programa de integração e

reposicionamento de agências”;

2. cópia de correspondência endereçada, com a mesma finalidade, à administração pública

municipal;

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3. termo de declarações do prefeito municipal, Hélios José da Cunha Júnior; e

cópia do abaixo-assinado firmado por cerca de 700 (setecentas) pessoas residentes neste Município, no qual é reivindicada a permanência da atividade sob ameaça de paralisação.

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Comarca de MossâmedesEscrivania da Infância e JuventudeAutos: 338/2004Ação Civil Pública

DECISÃO PRELIMINAR

Versa o presente procedimento sobre Ação Civil Pública com

pedido de liminar em que figura como requerente MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO

DE GOIÁS, em face do Banco BEG S.A., pessoa jurídica de direito privado, com sede em

Goiânia-GO.

Alega o parquet em sua peça inaugural de fls. 02/17, que:

1º) que o Ministério Público possui legitimidade para propor a

presente ação;

2º) que o requerido possui uma agência bancária na Cidade de

Mossâmedes, agência que se constitui em um serviço essencial a comunidade, e que serve a

uma comunidade de aproximadamente sete mil pessoas;

3º) que o Banco requerido decidiu por encerrar suas atividades

na cidade, fechando a agência ali existente, e fazendo com que os munícipes sejam

obrigados a se descolar a cidade de Sanclerlândia , distante 15 Km da sede da Comarca;

4º) que a atitude do Banco é abusiva e contrária o Código de

Defesa do Consumidor;

5º) requereu liminarmente que fosse determinada ao réu que se

abstivesse em interromper os serviços por ele prestados;

6º) juntou documentos de fls. 18/30.

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É o relatório. D E C I D O.

Perlustrando o caderno processual é a minha convicção em

deferir liminarmente presente medida inaudita altera pars, isto porque nos seguintes artigos

de convicção que se seguem:

1º) primeiramente, cabe-se ressaltar que o Ministério Público

Estadual é parte legítima para intentar a presente ação, pois como instituição permanente e

essencial à função jurisdicional do Estado, incumbe0-lhe “a defesa da ordem jurídica, do

regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”, ex vi do disposto

no artigo 1º, da Lei nº 8.625/93. A atuação do Ministério Público com relação ao

ajuizamento da ação civil pública ficou bem delimitada pela Constituição Federal e as

demais leis ordinárias que versam sobre o tema;

2º) a Lei Magna estabelece em seu artigo 127 que o Ministério

Público “é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado,

incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais

e individuais indisponíveis”. Mais adiante, a Constituição da República, ao definir as

funções inconstitucionais do Parquet, dispõe que, na parte pertinente à espécie, a este cabe

“promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público

social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos” (Artigo 129, Inciso III).

Em harmonia com tais preceitos é que devem ser interpretados os dispositivos da Lei nº

7.347/85, disciplinadora da ação civil pública, bem como os preceitos da Lei Orgânica do

Ministério Público (Lei nº 8.625, de12.02.93);

3º) neste diapasão cito o julgado do Egrégio Tribunal de Justiça

de Goiás, in verbis:

ORIGEM: TJGO Segunda Câmara CívelFONTE: DJ n 12920 de 30/10/1988 p 12LIVRO: 60

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EMENTA: “AÇÃO CAUTELAR PROPOSTA POR PROMOTOR DE JUSTIÇA OBJETIVANDO OBSTAR DEMOLIÇÃO DE PRÉDIO PÚBLICO TOMBADO PELO MUNICÍPIO, LIMINAR CONCEDIDA, AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO, PRETENDIDA ILEGITIMIDADE DO ÓRGÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROPOR A AÇÃO E DO MUNICÍPIO PARA LEGISLAR SOBRE O TOMBAMENTO AGRAVO DESPROVIDO I - Dentre as atribuições institucionais do Ministério Público, figura-se a de promover a defesa dos direitos sociais indisponíveis, valendo-se, para tanto, das ações próprias, II - O Município, na condição de entidade estatal, tem ilegitimidade para depor sobre o tombamento de bens situados em seu território. Agravo conhecido mas desprovido”.ACÓRDÃO: 10/03/1998 03/10/1998RELATOR: Des Jales Ferreira da CostaDECISÃO: Conhecido e improvido, por maioria.RECURSO: Agravo de instrumento n 12917-6/180COMARCA: GoiâniaPARTES: Agravante Estado de GoiásAgravado: Ministério Público

4º) a Ação Civil Pública é o remédio jurisdicional para a tutela

dos direitos coletivos, sendo estes entendidos como “o que abrange categoria determinada

ou pelo menos determinável de indivíduos, como os dos associados de uma entidade de

classe. Assim, como ocorre com o interesse individual indisponível, também o interesse

coletivo, se indispensável, está inserido naquela noção mais abrangente de interesse

público”. (in Revista Jurídica 157/17);

5º) DA COMPETÊNCIA. A competência desta Comarca é

bafejada pelo artigo 2º, da Lei nº 7.347/85 e o artigo 93, I, da Lei nº 8.078/90, os quais

consagram a competência pelo lugar onde ocorrerá o dano, ou seja, o dano pelo fechamento

da agência é em Mossâmedes e é aqui a competência de natureza funcional. Neste sentido,

cito alguns julgados verbis:

STJ-125976) AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROMOVIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL. DANOS AO MEIO AMBIENTE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.Não havendo intervenção da União ou de órgãos da administração federal, nem notícia da repercussão de possível dano ambiental no território ou em outro Estado da Federação, somando-se ao fato de que a ação civil pública partiu do Ministério Público Estadual, verifica-se a falta de interesse da União, exsurgindo a competência da Justiça Estadual.Conflito positivo conhecido, declarando-se a competência da Justiça Estadual.

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Decisão:Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decido a Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do conflito e declarar competente o Tribunal de Alçada do Estado do Paraná, o suscitante, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Os Srs. Ministros FRANCIULLI NETTO, LAURITA VAZ, PAULO MEDINA, GARCIA VIEIRA, FRANCISCO PEÇANHA MARTINS, HUMBERTO GOMES DE BARROS e ELIANA CALMON votaram com o Sr. Ministro Relator.(Conflito de Competência nº 26367/PR (1999/0055725-5), 1ª Seção do STJ, Rel. Min. Francisco Falcão. 22.08.2001, Pubi. DJ 18.02.2002 p.222)

6º) DA JUSTIÇA DA LIMINAR. A liminar é justa, justíssima,

uma vez que o Banco veio, empresariou, por décadas, a população composta por pequenos

comerciantes, donas de casa, funcionários públicos e outros acostumaram com a casa

bancária, e esta agora, alegando unilateralmente agência deficitária, quer deixar a todos a

Deus-dará, abruptamente, sem maiores delongas, perlongas e justificações; exsurge

outrossim, o periculum in mora e o fumus boni juris;

7º) CONCEITO DE EMPRESA SOCIAL. A empresa

moderna é social, ou seja, visa lucro mas almeja o bem estar do povo. Pergunto: se o Itaú,

com lucro de bilhões, ou seja, milhares de agências com ganhos roliços e reluzentes não

poderia manter algumas agências deficitárias? A resposta seria sim. Após a entrada em

vigor do novo Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor ganha força o conceito

de empresa social, e o ato perpetrado pelo Banco rompe com este conceito e traz grandes

prejuízos à comunidade mossamedina. No sentido da responsabilidade social da instituição

bancária, cito trecho do livro Direito Civil, vol. 04, do douto Professor Sílvio de Salvo

Venosa, verbis:

“...A responsabilidade dos bancos e instituições financeiras é outro ramo importante da responsabilidade civil. Os bancos prestam, atualmente, uma multiplicidade de serviços a população que não mais se restringe a suas origens, ligada ao fornecimento do crédito. A sofisticação dos serviços por meio da informática amplia os problemas e exige soluções jurídicas.As atividades bancárias caracterizam-se por contratos de massa, contratos de adesão, na grande maioria. Os bancos praticam, como apontamos, atividades essenciais e específicas do ramo financeiro, como depósitos, empréstimos, descontos, etc. e atividades secundárias que modernamente complementam seus serviços, tendo em vista o mercado e a concorrência, como fornecimento

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de informações, recebimento de contas, serviços de caixas eletrônicos, comunicação por correio eletrônico etc.(...) toda atividade dos bancos e das instituições financeiras é atingida pelos princípios do Código de Defesa do Consumidor, se mais não fora pelos princípios gerais desta lei, por disposição expressa (art. 3º, § 2º)...”

8º) CONSUMIDORES CONSUMIDOS. Os Bancos

privatizados não podem abandonar as comunidades carentes abruptamente, sem maiores

explicações, transferindo as operações bancárias dos correntistas para outras agências

próximas da Comarca. Quem abriu conta em Mossâmedes não que se deslocar para

Itaberaí, Sanclerlândia ou Goiás;

9º) DA DÚVIDA. Outra dúvida pungente: será que a agência é

deficitária ou os lucros não são satisfatórios?

10º) por último, é de bom alvitre, parabenizar o Ministério

Público local pela iniciativa difusa na bela peça jurídica inicial.

Ex positis, defiro a medida liminar inaudita altera pars, nos

termos do artigo 12 da Lei nº 7.347/85, pelas razões e fatos expostos e por estarem

presentes o fumus boni juris e o periculum in mora necessários para a concessão da

presente medida liminar, uma vez que hoje é Terça-feira e a agência fechará na Sexta-feira,

ou seja, em três dias, e determino que o Banco continue prestando os serviços, fixando

astreinte no valor de 100 (cem) salários mínimos para cada dia de descumprimento, a qual

reverterá para o Fundo previsto no artigo 13, da Lei nº 7.347/85.

Expeça Mandado. Assine-o o Escrivão. Cite como requerido, às

fls. 15, na pessoa do Gerente local. Notifique o Banco Central na forma requerida.

Intimem-se.

Da cidade de Goiás para Mossâmedes, 18 de Maio de 2004.

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SILVANO D. DE ALVARENGA

JUIZ DE DIREITO

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 38954-5/180 (200401010796)COMARCA: MOSSÂMEDES3ª CÂMARA CÍVELAGRAVANTE: BANCO BEG S/AAGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁSRELATORA: Desembargadora NELMA BRANCO FERREIRA PERILO

DECISÃO TJ-GO

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BANCO BEG S/A, instituição financeira privada, regularmente

representado, interpõe Agravo de Instrumento, com pedido de liminar, contra decisão

proferida pelo Juiz de Direito da Comarca de Mossâmedes, nos autos da Ação Civil Pública

para Tutela de Interesses Difusos dos Consumidores do Município de Mossâmedes, movida

pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, que deferiu a medida liminar

inaudita altera pars, nos termos do artigo 12 da Lei 7.347/85, obstaculizando o fechamento

da agência bancária estabelecida naquele município, que estava prevista para Sexta-feira

(21/05/2004), determinando que o Banco continue prestando os serviços, fixando pena

pecuniária no valor de 100 (cem) salários mínimos para cada dia de descumprimento, a

qual reverterá para o fundo previsto no artigo 13, da referida Lei.

Nas razões recursais, sustenta o recorrente que foi ajuizada ação

civil pública contra a referida instituição financeira, visando impedi-lo de fechar a agência

que possui na cidade de Mossâmedes, até que outro banco venha a estabelecer-se naquele

município, ante a sua característica de indispensabilidade que o serviço bancário detém.

Esclarece que a decisão recorrida, defiritória da medida liminar, não

possui fundamentos jurídicos a sustentá-la, porquanto foi baseada em subjetivismos,

ignorando a realidade dos fatos, aduzindo que a decisão de fechar ou não uma de suas

agências bancárias está adstrita ao exercício pleno da garantia constitucional de “livre

iniciativa” do agravante, já que tal procedimento não funda-se em serviço essencial.

Assevera que a proposição levantada pelo Ministério Público, ora

agravado, de que a atividade dos bancos e os serviços essenciais estão protegidos pelo

Código de Defesa do Consumidor, é tese natimorta, tendo em vista que a comunidade

mossamedina não será privada de serviço indispensável à manutenção da vida, nem

tampouco impedida de utilizá-lo haja vista que as contas daquele município foram

transferidas para a cidade de Sanclerlândia que fica “apenas” a 15 Km (quinze quilômetros)

de distância de Mossâmedes.

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Alega que a decisão atacada ofende frontalmente direitos

irrenunciáveis do recorrente, contrariando os dispositivos contidos nos artigos 1º, inciso IV;

5º, incisos II e XXII; 170, caput, incisos II, IV e parágrafo único, todos da Constituição

Federal, bem como entendimento externado pela Corte Suprema quanto ao princípio da

livre iniciativa.

Pondera, ainda, que foram empenhados preparativos que

produziram elevados gastos financeiros e de tempo para o encerramento da agência e

transferência das contas dos clientes, inclusive com a transição do sistema informatizado,

mostrando-se ser a decisão recorrida de dificílimo cumprimento.

Colaciona vários entendimentos doutrinários e jurisprudências e

justificar sua tese, alegando que a decisão atacada deve ser revogada, vez que proferida em

desacordo com a legislação vigente e os fatos constantes dos autos. Finalmente, pugna pelo

processamento do agravo, para dar-lhe posterior provimento com a cassação do decisum

agravado, antes concedendo-lhe o efeito suspensivo, até o pronunciamento definitivo do

presente recurso.

Com a inicial, foram juntados os documentos de fs. 22/72.

Preparo regular à f. 73.

É o breve relato. Decido.

Cediço é que, para concessão de efeito suspensivo em agravo de

instrumento, exige-se a presença dos requisitos de relevância da fundamentação e do risco

de dano irreparável ou de difícil reparação para a parte agravante, segundo a exegese do

artigo 558 do Código de Processo Civil.

A questão dos autos, de alcance, inclusive, social, sob quaisquer dos

aspectos, reclama profícuo debate sobre o tema para saber, não só da legalidade extrínseca,

como intrínseca do fechamento de uma agência bancária, bem como se a decisão guerreada

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afrontou o texto constitucional, quanto ao princípio da livre iniciativa, tolhendo direitos do

agravante.

Com efeito, em sede de Agravo de Instrumento, tais peculiaridades

sobreexcedem e reclamam, portanto, redobrada atenção e de tudo resulta e impede, neste

exame perfunctório, censura prévia ao decisum guerreado do que veio precedido à luz das

peças processuais concernentes, nos autos principais, e de argumentação fático-jurídica que

reclama melhor estudo desta Relatoria.

Desta forma, observando detidamente os autos, tenho que o efeito

suspensivo perseguido não merece ser deferido, porquanto ausente a relevância da

fundamentação, qual seja, o fumus boni iuris. Isto porque não se vislumbra, “prima facie”, a

suposta plausibilidade do direito invocado, já que o assunto terá, na oportunidade adequada,

a necessária definição da matéria.

Apesar de cuidarem as questões debatidas nos autos, simplesmente,

de direito, não retiram, por isso, o buscar, pelo intérprete e julgador, do exato alcance da

pretensão resistida no caso concreto; pois depende do sereno e aprofundado exame das

proposições, sem se olvidar do interesse da comunidade, sendo, portanto, uma precaução

importantíssima, adotada pelo juiz “a quo”.

Sendo assim, por não antever o “fumus boni iuris”, requisito

indispensável à concessão do efeito suspensivo, indefiro esse pedido.

Intime-se o agravado, na forma prevista no artigo 236, § 2º, do

Código de Processo Civil, para, querendo, apresentar resposta no prazo legal.

Defiro o pedido do agravante para, nos termos do art. 37 do CPC,

juntar aos autos os originais da procuração outorgada a seus patronos, bem como da

documentação societária correlata.

Goiânia, 21 de maio de 2004.

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Desembargadora NELMA BRANCO FERREIRA PERILORelatora