excelentÍssimo senhor juiz de direito da vara...

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE XAMBIOÁ-TO GABINETE DO PROMOTOR DE JUSTIÇA EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE XAMBIOÁ. PROCESSO: 2006.0007.1296-5/0 Requerente: MPE Requeridos: RICHARD SANTIAGO PEREIRA E OUTRO Natureza: Memoriais – Ação de Improbidade Administrativa. MM. JUIZ. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINS ajuizou a presente Ação Civil Pública por ato de Improbidade Administrativa em desfavor de RICHARD SANTIAGO PEREIRA e IRMÃOS SILVA LTDA, alegando que o requerido Richard Santiago Pereira, Prefeito Municipal de Xambioá/TO, editou decretos ilegais, afastando servidores públicos municipais concursados, além de outros atos ilegais, o que per si caracteriza ato de improbidade administrativa. Sustentamos que após a edição dos referidos decretos o Chefe do Executivo Municipal celebrou dois contratos com a requerida Irmãos Silva Ltda, dispensando o procedimento licitatório. Afirmamos que o edil contratou funcionários de forma irregular, sem concurso público. Asseveramos que houve Rua Presidente Vargas, 47, Centro, Xambioá-TO. CEP 77880-000. Fone: (63) 3473 1485. 1

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PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE XAMBIOÁ-TOGABINETE DO PROMOTOR DE JUSTIÇA

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA

DE XAMBIOÁ.

PROCESSO: 2006.0007.1296-5/0

Requerente: MPE

Requeridos: RICHARD SANTIAGO PEREIRA E OUTRO

Natureza: Memoriais – Ação de Improbidade Administrativa.

MM. JUIZ.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINS ajuizou a

presente Ação Civil Pública por ato de Improbidade Administrativa em

desfavor de RICHARD SANTIAGO PEREIRA e IRMÃOS SILVA LTDA, alegando

que o requerido Richard Santiago Pereira, Prefeito Municipal de Xambioá/TO,

editou decretos ilegais, afastando servidores públicos municipais concursados,

além de outros atos ilegais, o que per si caracteriza ato de improbidade

administrativa.

Sustentamos que após a edição dos referidos decretos o Chefe do

Executivo Municipal celebrou dois contratos com a requerida Irmãos Silva Ltda,

dispensando o procedimento licitatório. Afirmamos que o edil contratou

funcionários de forma irregular, sem concurso público. Asseveramos que houve

Rua Presidente Vargas, 47, Centro, Xambioá-TO. CEP 77880-000. Fone: (63) 3473 1485.

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inclusive a contratação de pessoas sem habilitação específica para atuar na área

de educação, em substituição a professoras concursadas que foram afastadas.

Aduzimos e comprovamos que a inobservância das normas de conduta

fere os princípios da impessoalidade, igualdade, publicidade, probidade,

legalidade e moralidade.

A inicial foi instruída com o inquérito civil n.º 001/2005 (fls. 18/210).

Os requeridos foram notificados, conforme certidão de fl. 213. O

requerido Richard Santiago apresentou defesa preliminar, alegando a

incompetência do juízo singular em razão da pessoa. Aduz que a petição inicial é

inepta no tocante ao pedido de condenação do réu Richard ao pagamento de

multa por ato de improbidade, portanto, deve ser declarada a carência da ação e

extinto o processo, nos termos do disposto no artigo 267, I do CPC.

Argumenta que ausente qualquer conduta delituosa e inexistente o

dolo, sendo legal o ato administrativo que decretou o Recesso Administrativo, pois

ocorreram várias irregularidades nos certames realizados pelo Município de

Xambioá nos anos de 2002 e 2003. Aduz que desnecessário o procedimento

licitatório para contratação do serviço de coleta de lixo, pois o prefeito anterior

deixou de proceder à coleta de lixo, três meses antes do término do seu mandato,

caracterizando-se uma situação de emergência, ante a possibilidade de

enchentes.

Menciona que inexiste ilicitude na contratação de empresa de limpeza

urbana e contratação de funcionários. Requer a improcedência da ação e a

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inadequação da via eleita. Por fim, assevera que houve abuso do direito de

acionar por parte do Ministério Público (fls. 215/216). Junto à sua defesa os

documentos de fls. 258/374.

Irmãos Silva Ltda apresentou defesa preliminar às fls. 376/382,

aduzindo que ausente conduta delituosa e inexistente qualquer dolo no tocante

aos contratos firmados com a municipalidade. Informa que não possui débitos

fiscais, previdenciários ou trabalhistas. Juntou aos autos os documentos de fls.

375/439.

Às fls. 441/442, o juízo monocrático declinou da competência para

processar e julgar a presente ação.

Os autos subiram ao Egrégio Tribunal de Justiça e o Desembargador

Relator declarou que o juízo da Comarca de Xambioá é o competente para julgar

a ação, acolhendo parecer ministerial acerca da inconstitucionalidade da Lei

10.628/2002 (fls. 454).

Em decisão de fls. 464/466, a juíza monocrática determinou o

recebimento da inicial.

Em extensa contestação de fls. 471/511 e fls. 627/658, Richard

Santiago Pereira e Irmãos Silva Ltda alegaram em síntese: carência da ação,

inexistência de dolo, desnecessidade de procedimento licitatório, inexistência de

ilicitude na contratação de empresa urbana de limpeza, a inexistência de atos de

improbidade e ao final a improcedência da ação.

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O MPE impugnou a contestação às fls. 1010/1021, refutando os

argumentos aduzidos e reforçando o pleito exordial.

Foi produzida prova pericial e acostada aos autos.

Audiência de Instrução e julgamento realizada às fls. 1499/1511.

Após vieram os autos para manifestação. É o relatório pertinente.

Passo a tecer as minhas razões motivadoras pelo provimento do pleito

exordial.

1. DA INOBSERVÂNCIA DO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO.

É certo que o administrador tem o poder discricionário para a edição de

alguns atos administrativos, sendo-lhe permitido decidir sobre a oportunidade e

conveniência na sua adoção, não sendo lícito ao Poder Judiciário analisar o

mérito destes atos.

Porém, mesmo os atos discricionários são pautados pelos princípios

que regem a Administração Pública, dentre eles o da legalidade.

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Neste momento, mister se faz uma breve alusão a algumas

particularidades deste princípio no âmbito da administração pública, na medida

em que se diferencia diametralmente do princípio homônimo que rege os

particulares, previsto no inciso II, art. 5º, do Texto Constitucional.

Embora os entes públicos e os particulares devam obediência à lei,

esse princípio se apresenta com perfil diferenciado para ambos, por força dos

interesses representados.

Nesta esteira, tem-se que aos particulares é permitido fazer tudo aquilo

que a lei não proíba, enquanto na seara do administrador, em função do interesse

público que defende, somente lhe é autorizado fazer aquilo que a lei

expressamente autorizar. É o que se chama de legalidade estrita.

Com isso, o particular não deve contrariar a lei, enquanto que o Poder

Público subordina-se a ela. Esse entendimento foi oportunamente demonstrado

por Seabra Fagundes que assevera: “Administrar é aplicar a lei de

ofício” (Controle dos atos administrativos pelo Poder Judiciário, 5a Edição,

Forense, 1979, p. 45).

Conforme se extrai dos autos, a edição dos decretos taxados de

ilegais foi feita ao completo arrepio da lei, pois, sob a justificativa de adequar os

gastos municipais aos ditames da Lei de Responsabilidade Fiscal, o Prefeito

ignorou as formas que a legislação lhe oferece para isso, adotando à medida que

lhe parecia mais conveniente.

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Resta salientar que o Prefeito editou o Decreto n.º 016/2005 datado de

03 de janeiro de 2005, através do qual afastou vários funcionários concursados,

dentre eles, diversos servidores que exerciam as funções de gari, e, portanto,

responsáveis pela limpeza do Município.

Neste mesmo dia, vários garis, não se sabe o motivo, em conjunto, resolveram pedir exoneração de seus cargos, deixando para trás emprego,

estabilidade e o sustento de seus familiares (fls. 134/142).

Como se sabe é de praxe de alguns administradores pressionarem

pessoas mais humildes, a fim de que as mesmas abdiquem de seus direitos e

abram espaço para as fraudes e favorecimentos tão recorrentes no âmbito

municipal brasileiro.

Ora, MM. Juiz é no mínimo estranho, que na mesma data da edição do

Decreto, vários servidores concursados peçam exoneração, abrindo caminho para

que o administrador realize o contrato com uma empresa privada de limpeza,

camuflando a ilegalidade que há por trás deste procedimento.

Veja-se ainda, Excelência que todo o procedimento estava

engatilhando, pois no mesmo dia, ainda, o referido contrato foi celebrado com a

empresa Irmãos Silva Ltda (fls. 116/117).

Ou seja, no dia 03/01/2005, o Prefeito editou o Decreto n.º 016/05

afastando servidores concursados, recebeu o pedido de exoneração de vários

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garis, editou outro Decreto (024/2005) declarando a urgência na contratação de

servidores de limpeza (fls. 118) e celebrou o referido contrato.

É evidente que todo este procedimento ardiloso realizado pelo atual

Prefeito tinha o único e exclusivo fim de fraudar o procedimento licitatório e

favorecer particulares.

Como se não bastasse a Prefeitura Municipal de Xambioá celebrou

outro contrato com a mesma empresa, agora, comprometendo-se a pagar R$

210.000,00 (duzentos e dez mil reais) pelos mesmos serviços acima referidos, a

serem pagos em 05 (cinco) parcelas mensais, pelo período de 01/02/2005 a

30/06/2005.

Neste ato o fundamento para burlar o procedimento licitatório desta

vez, foi o inciso I, artigo 25, da Lei 8.666/93, que inexige licitação nos casos de

aquisição de serviços de limpeza, não se podendo prescindir do procedimento

licitatório como base no motivo sustentado no Decreto n.º 023/2005 (fl. 128).

Por outro lado, para que haja a inexigibilidade da licitação em casos de

contratação de serviços é necessário, primeiramente, que estes se apresentem

como técnicos, nos termos do que preconiza o artigo 13 desta mesma Legislação.

Observando-se o dispositivo em comento, percebe-se que o serviço contratado

pela Prefeitura Municipal não se adéqua às exigências legais, segundo se

depreende do inciso II do artigo 25 da mesma Lei.

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Além disso, a natureza singular e a notória especialização também não

estão presentes, a ponto de permitir a celebração do referido contrato; a uma

porque qualquer pessoa, em seu normal estado de saúde poderia realizar este

tipo de serviço, ainda mais quando a Prefeitura possuía nos seus quadros

funcionários concursados para este mister; a duas porque, para se considerar de

notória especialização, é necessário que estejam presentes os requisitos do § 1º

do artigo 25 da Lei 8.666/93.

O único motivo da modificação do fundamento para se dispensar

indevidamente a licitação, em relação a este segundo contrato, foi o fato de que,

pelo artigo 24, inciso I, da Lei de Licitações e Contratos, o prazo para a conclusão

dos serviços é de 180 (cento e oitenta dias) consecutivos e ininterruptos,

contados da ocorrência da emergência ou calamidade, vedada a prorrogação dos

respectivos contratos.

Ou seja, se a urgência havia cessado em 31/01/2005, conforme

período acordado no primeiro contrato, não havia como se prorrogar o mesmo

contrato sob o mesmo fundamento. Além disso, levando-se em conta o período

compreendido entre 03/01/2005 a 30/06/2005, o prazo de 180 (cento e oitenta

dias) já teria extrapolado.

Sendo assim, para novamente favorecer a mesma empresa só havia

um caminho, celebrar-se outro contrato, prescindindo-se, novamente, da licitação,

porém sob outro argumento.

Dessa forma, percebe-se mais uma vez que a intenção na celebração

do presente contrato visava não só burlar o procedimento licitatório, bem como a

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exigência da realização de concursos públicos para a ocupação dos cargos de

funcionários aptos a realizar os serviços de limpeza urbana.

A par de elucidação, colacionamos alguns trechos das provas

testemunhais colhidas no bojo da audiência de inquirição de testemunhas.

O Sr. Isaildo Rimualdo Silva, afirmou às fls. 1501, in verbis:

“Que é servidor público municipal concursado, porém está afastado de suas

funções em razão da retirada do prefeito municipal, desde o início da gestão atual, que

não quantas, mas tem várias pessoas afastadas, que o trabalho que hoje é feito por

empresa terceirizada, que não sabe informar sobre a coleta de lixo, que durante a gestão

atual não trabalhou nenhum dia, pois logo no início o prefeito deu recesso de 45 dias,

findo os quais renovou por mais 45 situação que perdura até hoje, que durante este

afastamento não recebeu qualquer remuneração, que nem antes nem depois do

afastamento houve qualquer procedimento administrativo relativamente à testemunha

(...)”

A materialidade e autoria são latentes e estão consubstanciadas pelos decretos acostados aos autos e bem como pelas dezenas de sentenças proferidas pelo Juiz de Direito desta comarca, juntada aos autos às fls. 1208/1468, todas pelo deferimento de ações de cobranças movidas por ex-funcionários demitidos irregularmente.

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2. DA CONTRATAÇÃO IRREGULAR DE FUNCIONÁRIOS SEM CONCURSO PÚBLICO.

Apesar de o Prefeito informar à fl. 69 do Inquérito Civil n.º 001/2005

que não há contratação irregular de novos servidores, colocando em destaque

esta assertiva, pode-se perceber que a realidade é bem diferente, como foi

demonstrada no bojo da instrução processual.

O afastamento de servidores não apenas caracterizou um ato de

improbidade administrativa, como também deu causa a outras condutas da

mesma natureza, pois o Prefeito, sob a alegação de urgência que havia sido

provocada pela edição de Decretos irregulares, afastando servidores, que

exerciam a função de garis, celebrou contratos sem licitação com empresa

privada e contratou funcionários sem regular concurso público em substituição

aos foram afastados.

Ao proceder à oitiva de algumas pessoas que supostamente estariam

trabalhando na Administração Pública Municipal, em substituição aos servidores

afastados, foi constatado por este Órgão o completo descaso com a coisa pública

por parte da atual gestão.

As pessoas ouvidas às fls. 179/186 foram unânimes em ratificar que

foram chamadas para trabalhar na Prefeitura, após a eleição do atual Prefeito, e

creditaram este fato ao apoio fornecido ao mesmo durante a última campanha

eleitoral.

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A situação é tão caótica que, em substituição a professoras

concursadas e, portanto, aptas a exercer o magistério até que se prove o

contrário, foram contratadas pessoas que sequer têm formação que as habilite a

atuar na área de educação, principalmente como professoras. É o que se extrai

das declarações prestadas perante este Órgão às fls. 179 e 180.

O princípio da eficiência tão ressaltado pelo Chefe do Executivo parece

ter sido deixado de lado pelo mesmo, ao tentar proteger os seus eleitores, pois

este princípio está intimamente ligado à realização de concursos públicos, eis que

através destes há uma seleção entre os candidatos, a fim de se efetivar apenas

aqueles aptos a assumir um cargo público.

Introduzido de forma expressa em nossa Constituição, através da

Emenda n.º 19/98, esse princípio impõe ao Poder Público a busca pelo

aperfeiçoamento na prestação dos seus serviços, como forma de chegar à

preservação dos interesses que representa, até mesmo porque o administrador

não está gerindo bens próprios, devendo visar sempre o interesse público,

buscando sempre o melhor para a coletividade.

Alíás, o Ilustre Professor, Celso Spitzcovsky, em Direito

Administrativo, 5a Edição, Editora Damásio de Jesus, 2003, p. 296, ao comentar a

exigência de concurso público prevista no inciso II do art. 37, ensina com

maestria:

“A diretriz não é gratuita, ao revés, decorre do princípio da

eficiência, relacionado no caput do art. 37, e deve prevalecer de forma a

evitar que o preenchimento de cargos ou empregos para aqueles que estão

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dentro da estrutura da Administração seja realizado de forma aleatória, por

meios de critérios subjetivos, permitindo a desigualdade de condições para

os que manifestarem interesse.

“A exigência pela realização do concurso público, também nessas

situações, revela-se necessária, de forma a dificultar favoritismos ou

perseguições incompatíveis com o interesse público”. (grifo nosso).

Ademais, não parece nada razoável, para um administrador que está

tão preocupado com a adequação das finanças da Prefeitura aos preceitos

impostos pela Lei Complementar n.º 101/00, o afastamento de servidores

concursados na área de limpeza e a conseqüente contratação de uma empresa

privada para realização deste serviço sem a observância de licitação,

comprometendo-se a pagar à mesma um total de R$ 250.000,00 (duzentos e

cinqüenta mil reais); o afastamento de funcionários concursados na área de

educação e a contratação de outros, que sequer têm formação para exercer as

funções de magistério, sem concurso público, que apenas oneram a folha de

pagamento, desprestigiando completamente a qualidade e otimização do serviço

público.

A materialidade e autoria são latentes e estão consubstanciadas pelos decretos acostados aos autos e bem como pelas dezenas de sentenças proferidas pelo Juiz de Direito desta comarca juntadas aos autos às fls. 1208/1468, todas pelo deferimento de ações de cobranças movidas por ex-funcionários demitidos irregularmente.

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3. DA NÍTIDA OFENSA AOS ARTIGOS 10 E 11 DA Lei 8.429/92 CONSUBSTANCIADA NA CONDUTA DOLOSA E O NÍTIDO PREJUÍZO AO ERÁRIO.

É recorrente no âmbito do Poder Público a prática de atos de

improbidade administrativa e, ao ser indagado o administrador sobre estas, aduzir

em sua defesa a ausência de qualquer prejuízo ao patrimônio público.

Contudo, este entendimento é completamente descabido e desprovido

de sustentação jurídica, pois, muitas vezes, a legislação presume o prejuízo

decorrente das práticas ilegais dos administradores, sem que seja necessária a

demonstração efetiva do prejuízo, em face da obviedade em sua caracterização.

É o que ocorre nas contratações ilegais de servidores e na dispensa

indevida de licitações. Não se trata simplesmente de presumir a ocorrência do

prejuízo; não raro existe de forma efetiva, pois estas práticas visam favorecer

apadrinhados políticos e impor valores sem correspondência no mercado de

trabalho. Além disso, estas práticas eliminam ou restringem o direito de todos de

concorrerem em igualdade de condições, dentro de critérios impessoais, e, ainda,

permitem que se degrade a qualidade das obras ou serviços contratados.

Nobre Julgador restaram demonstrados à violação aos princípios administrativos e o evidente prejuízo ao erário com a demissão irregular de servidores, contratação sem licitação da empresa de limpeza urbana e como se não bastassem tantos atos ímprobos, conlcluí-se as dezenas de ações de cobranças julgadas procedentes em desfavor do município.

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Neste diapasão, é bom lembrar a exegese das regras insertas no artigo

11 da Lei 8.429, de 2 de junho de 1992, considerada a gravidade das sanções e

restrições impostas ao agente público. A má-fé, consoante cediço, é premissa do

ato ilegal e ímprobo e a ilegalidade só adquire o status de improbidade quando a

conduta antijurídica fere os princípios constitucionais da Administração Pública

coadjuvados pela má-intensão do administrador, como ora nitidamente

demonstrado.

À luz de abalizada doutrina: "A probidade administrativa é uma forma

de moralidade administrativa que mereceu consideração especial da

Constituição, que pune o ímprobo com a suspensão de direitos políticos (art. 34,

§ 4º). A probidade administrativa consiste no dever de o "funcionário servir a

Administração com honestidade, procedendo no exercício das suas funções, sem

aproveitar os poderes ou facilidades delas decorrentes em proveito pessoal ou de

outrem a quem queira favorecer". O desrespeito a esse dever é que caracteriza a

improbidade administrativa.

Cuida-se de uma imoralidade administrativa qualificada. A improbidade

administrativa é uma imoralidade qualificada pelo dano ao erário e

correspondente vantagem ao ímprobo ou a outrem (“...).” (in José Afonso da Silva,

Curso de Direito Constitucional Positivo, 24.ª ed., São Paulo, Malheiros Editores,

2005, pág. 669).

Neste sentido é o atual entendimento pacífico do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

Rua Presidente Vargas, 47, Centro, Xambioá-TO. CEP 77880-000. Fone: (63) 3473 1485.

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ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATO DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. EX-PREFEITO QUE, NO EXERCÍCIO DO

MANDATO, VINCULOU SUA IMAGEM A REPASSE DE VERBA PÚBLICA COMO SE

FOSSE DOAÇÃO PESSOAL. ACÓRDÃO QUE RECONHECEU QUE A CONDUTA DO

AGENTE SE ENQUADROU NO ART. 11, I, DA LEI 8.429/92, FUNDAMENTANDO-SE

EM PRECEITOS CONSTITUCIONAL (ART. 37, § 1º) E INFRACONSTITUCIONAL (ART.

11, I, LEI 8.429/92). AUSÊNCIA DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO.

SÚMULA 126/STJ. APLICAÇÃO DA PENA (ART. 12, III, LEI 8.429/92). SUSPENSÃO DE

DIREITOS POLÍTICOS POR TRÊS ANOS. PROPORCIONALIDADE E

RAZOABILIDADE. MANUTENÇÃO. DESNECESSIDADE DE LESÃO PATRIMONIAL AO

ERÁRIO. PRECEDENTES.

1. Tratam os autos de ação civil pública por ato de improbidade administrativa

proposta pelo Ministério Público do Estado do Paraná em face de Jocelito Canto, ex-

prefeito do Município de Ponta Grossa/PR, acusado de aproveitar-se de acidente

ocorrido na Santa Casa de Misericórdia para divulgar na imprensa que fez uma doação

ao nosocômio no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), omitindo-se de dizer que a

verba era pública e já se encontrava consignada no orçamento municipal, conforme

previsão da Lei 6.102/98 e do Decreto 204/99. A sentença julgou procedente o pedido,

condenando o réu à suspensão de seus direitos políticos por três anos e ao pagamento

das custas processuais. Em sede de apelação, o TJPR confirmou a decisão singular.

Recurso especial do réu fundamentado na alínea "a" apontando violação dos arts. 11, I, e

12, III, da Lei 8.429/92.

Defende que inexiste fato no processo que demonstre ter agido com a

vontade livre e consciente (dolo) de tirar proveito próprio da situação, o que

descaracteriza a tipificação do art. 11, I; a fixação de penalização foi muito grave, com

ausência de análise dos critérios da proporcionalidade e razoabilidade, eis que não

houve prejuízo ao erário. Parecer do MPF pelo não-conhecimento do apelo em razão do

teor da Súmula 7/STJ. Ausência de recurso extraordinário.

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2. A conclusão adotada pelo aresto de segundo grau de que ficou

configurado o ato de improbidade administrativa, enquadrando-se no disposto no art. 11,

I, da Lei 8.429/92, decorreu da constatação de que o ex-prefeito objetivou, aproveitando-

se do incêndio ocorrido no hospital, vincular a sua imagem ao ato de repasse da verba

para obter projeção perante os administrados. O Tribunal exprimiu esse pensamento

após detida análise do art. 37, § 1º, da CF/88. O deslinde da questão, portanto, com

análise do elemento volitivo (dolo) do agente, não pode ser dissociado do exame do

dispositivo posto na Lei Maior, hipótese absolutamente inviável em sede de recurso

especial. Como o recorrente não manejou recurso extraordinário, sobejou fundamento de

natureza constitucional inatacado suficiente para manter a conclusão adotada. Súmula

126/STJ.

3. Não se vislumbra nenhuma ilegalidade no fato de o recorrente receber

sanção de direito de natureza pessoal, como a suspensão dos direitos políticos pelo

período de três anos (pena mínima), medida que o artigo 12, III, da Lei 8.429/92, com

clareza, autoriza, após o reconhecimento de que a conduta do agente se amoldou à

hipótese do art. 11, I, da Lei 8.429/92. A penalidade, portanto, sugerida em primeiro grau

no mínimo legal, e ratificada pelo Tribunal a quo, deve ser mantida pelos seus próprios

fundamentos, não havendo que se falar em desproporcionalidade ou ausência de

razoabilidade.

4. Não se visualiza hipótese de rigor extremado e excessivo na eleição da

sanção imposta, pelo contrário. Tanto a sentença quanto o aresto recorrido ponderaram

o fato de que não foi consumado dano ao erário nem a conduta foi motivada por eventual

proveito econômico, sendo adequado e razoável deixar-se de impor as penalidades de

proibição de contratar ou receber benefícios ou incentivos fiscais do Poder Público.

5. A jurisprudência desta Corte vem-se alinhando no entendimento de que,

quanto ao art. 11 da Lei 8.429/92, por tratar-se de violação a princípios administrativos, a

lei não exige prova da lesão ao erário público. Nesse ponto, basta a simples ilicitude ou

imoralidade administrativa para restar configurado o ato de improbidade. Caso reste

demonstrada a lesão, o inciso III, do art. 12, da mesma lei, autoriza seja o agente público

condenado a ressarcir o erário. Se não houver dano ou se este não restar demonstrado,

o agente poderá ser condenado às demais sanções previstas no dispositivo como a

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perda da função pública, a suspensão dos direitos políticos, a impossibilidade de

contratar com a administração pública por determinado período de tempo, dentre outras

(Resp 621.415/MG, voto-vista do Min. Castro Meira, DJ 30/05/06). Precedentes: Resp

650.674/MG, Rel. Min. Castro Meira, DJ 01/08/06; Resp 604.151/RS, Rel. p/ ac. Min.

Teori Albino Zavascki, DJ 08/06/06; Resp 717.375/PR, Rel. Min. Castro Meira, DJ

08/05/06; Resp 711.732/SP, Rel. Min. Luiz Fux, DJ 10/04/06.

6. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, não-provido.

(REsp 884.083/PR, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 18/10/2007, DJe 16/04/2008)

A inobservância destas normas de conduta do administrador fere

princípios como a impessoalidade, igualdade, publicidade, probidade, legalidade e

moralidade, nos termos do que dispõe o caput do art. 37 da Lei Maior.

4- DA POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA NA SENTENÇA DE MÉRITO E APLICAÇÃO DO § ÚNICO DO ARTIGO 20 DA LEI 8.437/92 (LIA).

Em primeiro lugar, é necessário afastar a idéia segundo a qual a

antecipação da tutela concedida na sentença não prosperaria, uma vez que tal

decisão não se trataria de verdadeira "antecipação".

Sabe-se, entretanto, que a sentença não entrega, efetivamente, a

tutela jurisdicional, mas apenas a apresenta. No momento em que profere a

sentença, o magistrado apresenta a tutela jurisidicional a ser prestada àquele que,

de acordo com o seu convencimento, detém a razão no plano do direito material.

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É intuitivo que a entrega da tutela jurisdicional, a outorga, ao vencedor,

da proteção postulada a um bem da vida, só ocorrerá com a formação da coisa

julgada, quando o processo se dá finalmente por encerrado.

A antecipação aqui tratada, portanto, refere-se à entrega da verdadeira

proteção jurídica, e não da sentença, uma vez que esta, conforme estudado, não

tem o condão, por si só, de oferecer ao demandante a tutela jurisdicional.

Ressalte-se que esta situação é ainda mais evidente nos casos em que a

exeqüibilidade da decisão jurisdicional não é imediata como no caso do Artigo 20

da Lei Federal n.º 8.429/92 (LIA), in verbis:

‘Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória.

Parágrafo único. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual’.

É cediço que a antecipação da tutela e a sentença não constituem

noções contrapostas ou excludentes, porquanto a sentença, por sua natureza

imediatamente ineficaz nos casos de improbidade administrativa, como ora

demonstrados – a sentença meramente apresenta a tutela jurisdicional, não a

entrega – e vez que é sujeita a um recurso munido de efeito suspensivo e que

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não possui exeqüibilidade imediata, não possui aquilo que a tutela antecipada

possui e pode lhe dar, a saber, a eficácia imediata da medida.

Desta maneira, observa-se a utilidade prática do pedido e da

concessão da tutela antecipada no momento da prolação da sentença.

Uma vez convencido o juiz da probabilidade de existência do direito, e

já podendo este proferir decisão capaz de produzir seus efeitos, trata-se de

decorrência lógica que este mesmo magistrado, tendo já formado um juízo de

certeza seja, da mesma forma, capaz de proferir decisão imediatamente eficaz.

Esta decorrência é lógica e intuitiva; e, por outro lado, trata-se de "nada mais que

a aplicação do vetusto princípio segundo o qual, quem pode o mais, pode o

menos´"

Neste sentido o afamado doutrinador Athos Gusmão Carneiro em sua

obra de Direito Processual Civil alude a julgamento da 4ª. Turma do Superior

Tribunal de Justiça, que acordou pelo cabimento da tutela antecipada "inclusive

nos Embargos de Declaração", ocasião na qual o Min. Sálvio de Figueiredo

explicitou seu ponto de vista no sentido de que a admissibilidade da antecipação

da tutela por ocasião da própria sentença é o mais razoável, porque "se possível

ante uma cognição incompleta, justifica-se muito mais depois da instrução

plena, por ocasião da sentença".

Esta também é a opinião de Luiz Rodrigues Wambier e Teresa Arruda

Alvim Wambier, que consideram integralmente descabida a objeção à concessão

da tutela antecipada na sentença; ao contrário, "evidentissimamente, se pode ser

concedida liminarmente, razão de espécie alguma existe para que não se possa

ser concedida na sentença, decisão proferida em momento em que o juiz já tem

cognição plena e exauriente dos fatos da causa".

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José Roberto dos Santos Bedaque, em obra que procura sistematizar

os institutos da tutela antecipada e da tutela cautelar, chega à conclusão de que,

se presentes os requisitos para a medida excepcional no momento do julgamento,

o juiz deverá acolher definitivamente a pretensão e proferir decisão que antecipa

os efeitos do provimento. Afirma ele que, muito mais do que verossimilhança,

como já demonstramos, existe, no momento da certeza, juízo de certeza, fundado

em cognição plena. Demonstrados pelo autor o risco de dano ou o

comportamento inadequado do réu, ou seja, os demais requisitos autorizativos da

concessão da tutela antecipada, o modelo legal "encontra-se concretamente

reproduzido e deve incidir".

O magistrado paranaense Fernando César Zeni afirma que "se o

próprio tribunal pode, após exaurir-se a prestação jurisdicional monocrática,

deferir a tutela antecipatória, (...) não há razão de não deferir-se no bojo da

sentença definitiva a tutela antecipada, sempre obedecendo seus requisitos

autorizadores e com vistas a reparar danos que eventualmente surgirão com sua

negativa (ZENI, Fernando, Deferimento do Pedido de Tutela Antecipatória na

Sentença, artigo in Revista de Processo, vol. 94, São Paulo: RT, abr.-jun. 1999, p.

75-80 )".

Este humilde representante do parquet defende a tese de que é

possível determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual no bojo da sentença por expressa observância do § 7º do artigo 273.

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Em sendo assim, nobre magistrado é incontroversa a possibilidade da

antecipação da tutela por ocasião da sentença em ação civil pública por ato de

improbidade de administrativa.

4.1 DAS RAZÕES QUE ENSEJAM O IMEDIATO AFASTAMENTO DO RÉU RICHARD SANTIAGO PEREIRA.

O afastamento na sentença do Exercício da Função Pública em

Relação ao Réu Richard Santiago Pereira é urgente, pois foi reeleito Prefeito

Municipal desta cidade, tomou posse mediante liminar proferida por uma

digníssima magistrada do TRE/TO e ademais está sendo questionado o seu

mandado em Recurso Contra a Diplomação manejado por este subscritor que em

tese traz a seguinte fundamentação, ao qual peço vênia para transcrição de

alguns trechos:

(...)Temos que atentar para a norma do § 1º do art.41, que é relevantíssima e

que reproduz o § 4º do art. 22 da Lei nº 9.504/97, com a redação introduzida pela Lei nº

11.300/2006: “Desaprovadas as contas, o juízo eleitoral remeterá cópia de todo o processo ao Ministério Público Eleitoral para os fins previstos no art. 22 da Lei Complementar nº 64/90″.

Ou seja, a desaprovação das contas não enseja, por si, a inelegibilidade

cominada do candidato; necessário que ela configure abuso de poder econômico, com

potencialidade para desequilibrar o resultado do pleito.

Dois pressupostos, portanto, para ensejar a inelegibilidade do candidato com

as contas desaprovadas: a) configuração de abuso de poder econômico é dizer, a

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demonstração de excesso de gasto eleitoral em desacordo com a legislação; e b) a potencialidade para desequilibrar o pleito, ou seja, a comprovação de que aquele abuso cometido com o excesso de gastos ou a realização de gastos não autorizados por lei geraria desequilíbrio na disputa em favor do candidato, eleito ou não.

A novidade, nada obstante, foi introduzida pelo § 3º do art.41 da Instrução nº

118/2008:

Art.41. (…)

§ 3º. Sem prejuízo do disposto no § 1º, a decisão que desaprovar as contas de candidato implicará o impedimento de obter a certidão de quitação

eleitoral durante o curso do mandato ao qual concorreu. (grifei)

Neste diapasão, o abuso de poder econômico e a captação de sufrágio ‘supostamente’ promovidas pelos recorridos, estão sendo questionados no bojo da AIJES de n.º 485/2008 e 487/2008, já em fase de memoriais.

Há muito alerto para as conseqüências práticas da teoria clássica da

inelegibilidade, que mistura de modo raso conceitos como inelegibilidade, elegibilidade,

incompatibilidade e mais recentemente cassação de registro de candidatura. A mixórdia

conceptual grassa, possibilitando as mais inusitadas construções jurisprudenciais, que

dobram os institutos jurídicos até a sua desfiguração. Assim, como estudioso do direito

eleitoral, não se pode, a pretexto de salvar a constitucionalidade do art.41-A da Lei nº

9.504/97, diferençar a inelegibilidade da cassação do registro de candidatura, como se

fossem coisas distintas, para excluir da incidência do § 9º do art.14 da CF/88 a criação

desta sanção por lei complementar.

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Pois bem. Agora, por meio de resolução, o Tribunal Superior Eleitoral cria

uma nova inelegibilidade cominada potenciada, com duração de quatro anos (”durante o

curso do mandato”, prescreve a norma sob comento), decorrente da desaprovação das contas e independentemente da (a) prática de abuso de poder econômico com (b) potencialidade para desequilibrar o pleito. Noutras falas, basta que haja desaprovação das contas para imediatamente dimanar o efeito da inelegibilidade por quatro anos, configurada no impedimento de obter a certidão de quitação eleitoral.

É imperioso ressaltar que as AJES mencionadas anteriormente e outros

procedimentos em curso, ainda não permitem o sustentáculo jurídico a este peticionário.

Eis que estão em fase de memórias finais. Entretanto, de forma subsidiária mostram o

descaso com as contas públicas.

Mormente ao exposto, saliento que recebemos nesta promotoria o Ofício 661/2008 expedido pela Conselheira Doris Miranda Coutinho – Presidenta do Tribunal de Contas do Estado do Tocantins e expediente interno datado de 20/11/2008, firmado pela então Procuradora Geral de Justiça – Leila Costa Vilela Magalhães encaminhando cópia do Acórdão n.º 177/2008, bem como do Relatório de Auditoria n.º 016/2006, referentes aos autos n.º 5976/2006, para análise e providências no tocante as irregularidades verificadas na Prestação de Contas do Município de Xambioá, alusivas ao exercício de 2006.

Peço vênia para transcrever a ementa:

‘EMENTA: PRESTAÇÃO DE CONTAS DE ORDENADOR. Poder Executivo

Municipal. Falhas e Irregularidades de natureza grave. Falta de estruturação do Controle Interno. Ausência de cadastro das empresas contribuintes do ISS, bem

como não possui cadastros atualizados para a cobrança de IPTU, falta de controle

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de emissão de cheques registrado em Dívida Ativa dos Contribuintes inadimplentes com a Fazenda Municipal e não estão sendo agilizadas e ajuizadas

as ações para cobrança dos débitos, contrariando o Art. 39, da Lei Federal n.º 4320/64 e artigo 13 da LRF, não foi estabelecida a programação financeira e o

cronograma de execução mensal de desembolso, contrariando o disposto no artigo 8º da LRF; os membros da comissão de licitação somente um pertence ao

quadro efetivo do município, contrariando o artigo 51; o quadro de servidores da entidade é contemplado com várias contratações temporárias, sendo que existem

diversos afastados dos cargos, os quais questionam na justiça para assumirem novamente seus cargos; O Conselho não está apreciando as prestações de contas

mensais, contrariando as determinações da Lei n.º 9.424/96; a Lei n.º 298/1994, Cria o Fundo Municipal de Saúde, porém não foi implantado; O Conselho não está se

reunindo para apreciação das prestações de contas, contrariando as determinações da Lei n.º 001/97, parte dos bens móveis não estão emplaquetados

e não possui controle de quilometragem, peças e serviços dos veículos, não possui almoxarifado e não existe controle de entrada, saída e estoque dos

produtos adquiridos, irregularidades nos procedimentos licitatórios; contratação de serviços através de inexigibilidade de licitação sem amparo legal, realização de

despesa adversa a sua finalidade; falta de controle de Dívida Ativa descumprindo a legislação pertinente (Art. 39 da Lei Federal n.º 4.320/64 e artigo 13 da LRF),

ausência de justificativas para itens diligenciados, implicando em julgamento pela irregularidade’.

Neste diapasão, é cediço ressaltar que como se não bastasse em

desfavor do réu a presente ação civil pública por ato de improbidade

administrativa ainda temos em tramitação as AIJES de n.º 485/2008 e 487/2008, que questionam abuso do poder econômico e captação de sufrágio. Corroborando a gravidade da situação ainda temos a desaprovação das contas pelo TCE/TO no ano de 2006, além do Recurso Contra a Diplomação, que deve ser julgado em breve.

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Com todas estas demonstrações de malservação de dinheiro público,

não há como esperar pelo trânsito em julgado para decretar a imediata perda da

função pública e a suspensão dos direitos políticos do indigitado réu.

Exercendo cargo que represente poder, especialmente em se tratando

de um município de pequenas proporções, como é o caso de Xambioá, o réu

poderá influir na produção das provas necessárias à instrução do feito.

Requeiro, pois, o afastamento temporário de do réu, de qualquer cargo público que por acaso ocupe, com arrimo no parágrafo único do artigo 20 da lei que reprime a improbidade administrativa.

Para tanto, observo que, apesar de constar do Capítulo VI da Lei

8.429/1992 a locução “Das Disposições Penais”, ela na verdade tem conotação

verossimilhante à da chamada cláusula penal (artigos 916 e seguintes do CCB).

Esta última, embora sugira igualmente referência a procedimento penal, tem o

seu campo de incidência no Direito Civil.

A citada Lei 8.429/1992 não comina penas próprias do Direito Penal

(salvo no caso do seu artigo 19), mas apenas cria tipos exemplificativos a

evidenciarem os chamados atos de improbidade administrativa, a fim de que o

assunto possa ter um tratamento jurídico peculiar, mas sem se perderem de vista

as sanções oriundas do Direito Civil, Penal e Disciplinar (artigo 12 da Lei

8.429/1992).

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Com efeito, quis o legislador que a citada locução (Das Disposições

Penais) tivesse afinidade ontológica com aquela cláusula do direito civil, em que o

afastamento temporário represente uma espécie de sanção prefixada e adicional

(do ponto de vista moral, sobretudo), em face das evidências de descumprimento

do dever de lealdade do agente para com a Administração. E, pela sua

peculiaridade aqui, preferiu-se a denominação acima mencionada à denominação

“da cláusula penal”, conquanto aquela sanção tenha sede distinta: Direito

Administrativo, e esta o Direito Civil.

A jurisprudência relativa referenda a necessidade da medida ora

requerida:

‘AGRAVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA VISANDO APURAR ATOS DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – DEFERIMENTO DE LIMINAR AFASTANDO O

PREFEITO MUNICIPAL – COMPETÊNCIA DO JUIZ DE PRIMEIRA INSTÂNCIA –

PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS – DECISÃO CONFIRMADA - I – O Prefeito

Municipal só tem foro privilegiado para processos criminais. Tratando-se de ação civil

pública que visa apurar improbidade administrativa, a competência continua na Justiça

Comum de primeiro grau. II – Presentes os requisitos legais é possível decretar o

afastamento do administrador durante a instrução do processo, evitando com isso que

haja influência nas provas a serem colhidas, pois o interesse público prevalece sobre o

particular. (TJMS – AG 66.673-5 – Classe B – XII – Ivinhema – 1ª T.Cív. – Rel. Des.

Josué de Oliveira – J. 24.08.1999).

AGRAVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – PREFEITO MUNICIPAL –

AFASTAMENTO DO CARGO – POSSIBILIDADE ANTE A EVIDÊNCIA DO

COMETIMENTO DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – NECESSIDADE DA

MEDIDA PARA NÃO PREJUDICAR A INSTRUÇÃO PROCESSUAL – DECISÃO

MANTIDA – Presentes os requisitos legais, pode o juiz, que preside a ação civil pública

movida contra Prefeito Municipal, afastar o titular do cargo, havendo evidências do

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cometimento de atos de improbidade administrativa, assim como pressão sobre outros

agentes públicos, no sentido de prejudicar a instrução do processo. (TJMS – AG

2000.001935-6 – 1ª T.Cív. – Rel. Des. Josué de Oliveira – J. 28.11.2000)

AFASTAMENTO DE PREFEITO MUNICIPAL – AGRAVO DE

INSTRUMENTO – NEGATIVA DE EFEITO SUSPENSIVO – AGRAVO REGIMENTAL

INDEFERIDO – A concessão de efeito suspensivo ao agravo depende da presença da

relevância do direito do agravante e da possibilidade de dano irreparável. A Lei de

Improbidade Administrativa autoriza o afastamento preventivo do agente público, durante

a instrução processual, devendo ser fundamentada a decisão e por prazo certo. Estando

a decisão fundamentada em duas ações civis públicas, com base em declarações do

Prefeito Municipal, indicadoras de que poderá prejudicar a instrução processual, caso

permaneça no exercício do cargo, não há razão para se conceder efeito suspensivo ao

agravo por falta de um dos requisitos ensejadores a sua concessão, ou seja, a relevância

do direito. (TJRO – AgRg-AI 00.003528-9 – C.Esp. – Rel. Des. Eurico Montenegro – J.

06.12.2000)

PROCESSO CIVIL – AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA

– IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – LEIS 7.347/85 E 8.429/92 – MEDIDA CAUTELAR

IN LIMINE – AFASTAMENTO DE PREFEITO – ALEGAÇÃO DE OFENSA AOS INCISOS

LIV, LV E LVII DA CF – DESCABIMENTO – AGRAVO IMPROVIDO – I – Na ação civil

pública por ato de improbidade administrativa, fulcrada na Lei 7.347/86 c/c Lei 8.429/92,

é correta a concessão de medida cautelar proferida in limine, determinando as

providências necessárias a garantir a efetividade da prestação jurisdicional principal. II –

Mostra-se imperioso o afastamento liminar do prefeito de suas funções, ante ao risco de

ser embaraçada ou frustrada a instrução probatória, nos termos do art. 20 da Lei

8.429/92 III – É descabida a alegação de ofensa aos incisos LIV, LV e LVII da CF em se

tratando de medida liminar, que não tem caráter definitivo, e que visa resguardar

interesses de grande relevância, também protegidos pela Magna Carta, pois os princípios

que emergem dos referidos dispositivos não são absolutos, devendo ser interpretados

conjuntamente com outros preceitos constitucionais, bem como infraconstitucionais. IV –

Agravo improvido. (TJMA – AI 05161-2000 – (32.537/2000) – 3ª C.Cív. – Rel. Des.

Cleones Carvalho Cunha – J. 05.10.2000).

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AGRAVO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA VISANDO APURAR ATOS DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – DEFERIMENTO DE LIMINAR AFASTANDO O

PREFEITO E SERVIDORES DO PRIMEIRO ESCALÃO ADMINISTRATIVO DA

PREFEITURA – COMPETÊNCIA DO JUIZ DE PRIMEIRA INSTÂNCIA – DECRETAÇÃO

DA INDISPONIBILIDADE DOS BENS E QUEBRA DOS SIGILOS BANCÁRIO E FISCAL

DOS ENVOLVIDOS – PRESENÇA DOS REQUISITOS LEGAIS – DECISÃO MANTIDA -

I – Compete ao juiz de primeira instância apreciar e julgar ação civil pública movida

contra Prefeito e Servidores do primeiro escalão da Prefeitura, visando apurar atos de

improbidade administrativa. II – Presentes os requisitos legais é possível decretar o

afastamento temporário dos servidores, dos respectivos cargos ou funções, para evitar

que haja influência deles nas provas a serem colhidas, já que o interesse público

sobrepõe-se ao particular. III – Existindo risco de lesão a interesse público, que prevalece

sobre o interesse privado e individual, permite-se, na forma da lei, a quebra do sigilo

bancário e fiscal de agentes públicos envolvidos em atos de improbidade administrativa,

como forma de garantir a efetividade e a utilidade do processo instaurado para sua

averiguação. (TJMS – AG 67.156-3 – Classe B – XII – Ivinhema – 1ª T.Cív Rel. Des.

Josué de Oliveira – J. 14.09.1999).

COMO SE NÃO BASTASSE A PACÍFICA E REMANSOSA JURISPRUDÊNCIA NO SENTIDO DA VIABILIDADE DO NOSSO PEDIDO. O EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EM DECISÕES DO ANO DE 2008, POR SUA CORTE ESPECIAL, MANIFESTOU-SE EM CASO SEMELHANTE AO PLEITO ORA QUESTIONADO. POIS SIM. COLACIONAMOS ABAIXO:

DA PERDA DO MANDATO DO PREFEITO:

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Administrativo: Improbidade Administrativa: Prefeito de Santa Fé de

Goiás vai continuar afastado de cargo

3/1/2008

A. M. C., prefeito de Santa Fé de Goiás (GO), vai continuar afastado

do cargo. A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por

unanimidade, não acolheu o recurso de Carvalho para que pudesse permanecer

no cargo sob o argumento de que o seu afastamento implica insegurança

jurídica.

No caso, o juiz de Direito da Comarca de Jussara (GO) julgou procedente a

ação civil pública por ato de improbidade administrativa movida pelo Ministério

Público de Goiás contra Carvalho e Miguel Damas da Silva, suspendendo os

direitos políticos do primeiro por dez anos, por desvio de verbas e incorporação

de bens públicos.

Promovida a execução após o trânsito em julgado da sentença, o juiz

determinou, entre outras providências, a intimação de Carvalho para “deixar a

administração pública imediatamente”, oficiando-se ao vice-prefeito e à Câmara

Municipal de Santa Fé o seu afastamento.

Intimada, a Câmara Municipal de Santa Fé reuniu-se extraordinariamente no dia

3 de abril de 2007 e, nos termos do artigo 36, inciso IX, da Lei Orgânica

Municipal, decretou a perda do mandato do prefeito em decorrência da

suspensão dos seus direitos políticos e empossou o vice-prefeito para completar

o mandato, que findará em 31/12/2008.

Inconformado com a decisão que determinou seu afastamento, A. M. C. interpôs

agravo de instrumento (tipo de recurso) com pedido de antecipação de tutela,

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alegando que não houve condenação à perda do cargo público e que se

encontra em exercício de mandato diverso daquele exercido à época da

tramitação da ação civil pública. Foi concedido o efeito suspensivo ao pedido,

suspendendo os efeitos da decisão na parte que determinou o seu afastamento.

Pedido no STJ

A Câmara Municipal de Santa Fé de Goiás apresentou no STJ um pedido de

suspensão da decisão, sustentando risco de grave lesão à ordem pública. O

presidente do Tribunal, ministro Raphael de Barros Monteiro Filho, atendeu ao

pedido ao vislumbrar “risco de grave lesão à ordem pública administrativa,

consubstanciada na manutenção no cargo de agente político – condenado por

improbidade administrativa – que teve seus direitos políticos suspensos por

decisão transitada em julgado”.

Irresignado, Carvalho recorreu da decisão suscitando a preliminar de

ilegitimidade de parte ativa da Câmara Municipal, uma vez que não é ela parte

no processo de execução, tampouco no agravo de instrumento. Alegou,

também, que a suspensão dos direitos políticos só pode ocorrer após a

instauração do procedimento previsto no artigo 77 do Código Eleitoral. No

tocante ao mérito, afirmou que a permanência no cargo para o qual foi eleito não

acarreta prejuízo algum à ordem pública; o seu afastamento é que implica

insegurança jurídica.

Ao decidir, o ministro Barros Monteiro destacou que a jurisprudência do

Supremo Tribunal Federal (STF) é firme no sentido de reconhecer a legitimidade

ativa de órgãos não-personificados, como as câmaras municipais, inclusive para

requerer medida de contracautela, quando a decisão impugnada constitua

obstáculo ao exercício de seus poderes ou prerrogativas.

Quanto ao mérito, o ministro ressaltou que o artigo 77 do Código Eleitoral diz

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respeito à forma pela qual se efetiva a exclusão da inscrição eleitoral, de sorte

que nenhuma pertinência possui no caso em debate.

“Ainda que a condenação referente à suspensão dos direitos políticos tenha sido

anterior ao início do novo mandato para o qual foi eleito, é inequívoco que, ante

o reconhecimento da improbidade administrativa, não possui ele nenhuma

condição de exercê-lo, inclusive porque ausente no caso tributo essencial ao

exercício do múnus público – o pleno gozo dos direitos políticos”, afirmou o

presidente do STJ.

AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CONDENAÇÃO DE

SUSPENSÃO DE DIREITOS POLÍTICOS IMPUGNADA MEDIANTE RECURSO

ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO IMPROVIDOS. EXECUÇÃO DA SENTENÇA.

POSSIBILIDADE.

MEDIDA CAUTELAR. CONJUGAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS.

INEXISTÊNCIA. AUSÊNCIA DA DECISÃO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO

ESPECIAL. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 634 E 635 DO STF.

I - Não se encontrando presente a decisão de admissibilidade do recurso

especial, tem-se de rigor a aplicação das súmulas 634 e 635 do STF.

II - Entendendo o STF que os sucessivos recursos apresentados pelo

requerente, buscando evitar a execução da sentença proferida na ação de improbidade

administrativa, tinham caráter procrastinatório, com imposição de multa, tem-se afastada

a plausibilidade do direito alegado.

III - Medida cautelar improcedente.

(MC 14.170/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 04/11/2008, DJe 20/11/2008)

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5. CONCLUSÃO:

Ante o exposto, o Ministério Público do Estado do Tocantins, por

seu Promotor de Justiça Substituto subscritor, requer a Vossa Excelência o acolhimento integral do pleito exordial e bem como a antecipação de tutela ora requerida, a ser concedida por ocasião da sentença , para ao final também

determinar as seguintes e imediatas providências:

a) que seja decretada em antecipação de tutela (risco de grave lesão a ordem pública) e imediatamente executada a perda da função pública, a suspensão dos direitos políticos por 10 (dez) anos e, por conseguinte a imediata perda do mandato do atual Prefeito Municipal reeleito (Richard Santiago Pereira);

b) que seja intimado o réu Richard Santiago Pereira para ‘deixar a administração pública imediatamente’;

c) e, enquanto não houver o trânsito em julgado das AIJES de n.º 485/2008 e 487/2008 e bem como o Recurso contra a diplomação interposto em desfavor do Réu RICHARD SANTIAGO PEREIRA e sua Vice CLEOMAR ALENCAR BARROS e sua COLIGAÇÃO TRABALHO, ÉTICA E DESENVOLVIMENTO (PMDB, o PTN e o PRTB) em tramitação na 12ª Zona Eleitoral. Por se tratar de uma situação transitória, excepcionalmente, nos ditames da legislação eleitoral, seja oficiado ao Presidente da Câmara Municipal de Xambioá, nos termos da Lei Orgânica Municipal, para em sessão extraordinária a ser realizada no prazo impreterível de 24 (vinte e quatro) horas, a fim de decretar a perda do mandato do prefeito reeleito

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RICHARD SANTIAGO PEREIRA, e, em decorrência da suspensão dos seus direitos políticos, empossarem em caráter provisório, a vice-prefeita CLEOMAR ALENCAR BARROS para completar o mandato;

d) seja, o réu Richard Santiago, proibido de contratar com o Poder

Público, bem como de receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios,

direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja

sócio majoritário, pelo prazo de dez anos; e bem como seja condenado ao

pagamento de multa civil no valor de cem vezes o valor de sua remuneração, nos

termos do que determina o artigo 12, inciso III, da Lei de Improbidade;

e) que seja declarada a nulidade dos contratos firmados entre a

Prefeitura Municipal e a empresa privada Irmãos Silva Ltda., em face da ostensiva

burla ao procedimento licitatório, e do evidente desrespeito às normas

constitucionais e de probidade administrativa acima mencionadas, sendo flagrante

sua ilegalidade;

f) que seja condenada a empresa Irmãos Silva Ltda. a ressarcir

integralmente os valores recebidos pela Prefeitura Municipal de Xambioá, ou seja,

R$ 40.000,00 (quarenta mil reais) referentes ao primeiro contrato e R$ 168.000,00

(cento e sessenta e oito mil reais) referentes às quatro primeiras parcelas do

segundo contrato, num total de R$ 208.000,00 (duzentos e oito mil reais) valor

que deve ser corrigido e atualizado de acordo com índices oficiais;

g) Que seja decretada a proibição da empresa Irmãos Silva Ltda. de

contratar com o Poder Público pelo prazo de cinco anos, conforme art. 12, inciso

II, da Lei n.º 8.429/92.

E. Deferimento.

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Xambioá, 08 de janeiro de 2009.

PAULO ALEXANDRE RODRIGUES DE SIQUEIRA

Promotor de Justiça Substituto

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