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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINS Promotoria da Infância e Juventude de Araguaína/TO Promotoria de Justiça de Goiatins/TO EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA DE REGISTROS E FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE ARAGUAÍNA - ESTADO DO TOCANTINS. Procedimento Preparatório nº 001/08. CONCLUSÃO IMEDIATA – PEDIDO DE TUTELA DE URGËNCIA – TUTELA DE INTERESSE DIFUSO – PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINS , por intermédio de seu Promotor de Justiça infra-assinado, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, vem, perante Vossa Excelência, com fundamento nos termos do art. 129, III da Constituição Federal e art. 1º, IV da Lei nº 7.347/85, bem como dos demais dispositivos legais aplicáveis à espécie, para propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA C/C PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAS COM REQUERIMENTO DE TUTELA ANTECIPADA DE SUSPENSÃO DE CONCURSO PÚBLICO em face de 1. PREFEITURA MUNICIPAL DE ARAGOMINAS , pessoa jurídica de direito publico, inscrita no CNPJ sob o nº 25.063.884/0001-54, com sede na Av. Marinópolis, nº. 44, CEP : 77.845-000, ARAGOMINAS – TO, representada pelo Prefeito Municipal Divino Pereira da Silva, 2. DIVINO PEREIRA DA SILVA , brasileiro, Prefeito Municipal de Aragominas, inscrito no CPF/MF sob o nº. 263.738.901-04, portador da Cédula de Identidade RG nº 685.426 SSP/GO, podendo ser encontrado na sede da Prefeitura Municipal de Aragominas, sito na Av. Marinópolis, nº. 44, CEP : 77.845-000, ARAGOMINAS – TO, 3. ADAIR ROSA CAIXETA , qualificação ignorada, podendo ser encontrado na sede da Prefeitura Municipal de Aragominas, sito na Av. Marinópolis, nº. 44, CEP : 77.845-000, ARAGOMINAS – TO, Rua Zico Monteiro, nº. 200, Centro, Araguaína/TO CEP 77950-000 – Fone/Fax: (63) 3414-4641 1

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINSPromotoria da Infância e Juventude de Araguaína/TO

Promotoria de Justiça de Goiatins/TO

EXCELENTÍSSIMO DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA DE REGISTROS E

FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE ARAGUAÍNA - ESTADO DO TOCANTINS.

Procedimento Preparatório nº 001/08.

CONCLUSÃO IMEDIATA – PEDIDO DE TUTELA DE URGËNCIA – TUTELA DE

INTERESSE DIFUSO – PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINS , por

intermédio de seu Promotor de Just iça infra-assinado, no exercício de suas a tr ibuições

consti tucionais e legais , vem, perante Vossa Excelência , com fundamento nos termos do

art . 129, III da Consti tuição Federal e ar t . 1º , IV da Lei nº 7 .347/85, bem como dos

demais disposit ivos legais aplicáveis à espécie , para propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE

ADMINISTRATIVA C/C PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS E MATERIAS COM REQUERIMENTO DE TUTELA

ANTECIPADA DE SUSPENSÃO DE CONCURSO PÚBLICO

em face de

1. PREFEITURA MUNICIPAL DE ARAGOMINAS , pessoa jurídica

de direi to publico, inscri ta no CNPJ sob o nº 25.063.884/0001-54,

com sede na Av. Marinópolis , nº . 44, CEP : 77.845-000,

ARAGOMINAS – TO, representada pelo Prefei to Municipal Divino

Pereira da Silva,

2. DIVINO PEREIRA DA SILVA , brasi le iro , Prefei to Municipal de

Aragominas, inscri to no CPF/MF sob o nº . 263.738.901-04, portador

da Cédula de Identidade RG nº 685.426 SSP/GO, podendo ser

encontrado na sede da Prefei tura Municipal de Aragominas, s i to na

Av. Marinópolis , nº . 44, CEP : 77.845-000, ARAGOMINAS – TO,

3. ADAIR ROSA CAIXETA , qualif icação ignorada, podendo ser

encontrado na sede da Prefei tura Municipal de Aragominas, s i to na

Av. Marinópolis , nº . 44, CEP : 77.845-000, ARAGOMINAS – TO,

Rua Zico Monteiro, nº. 200, Centro, Araguaína/TOCEP 77950-000 – Fone/Fax: (63) 3414-4641

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINSPromotoria da Infância e Juventude de Araguaína/TO

Promotoria de Justiça de Goiatins/TO

4. MARIA APARECIDO DE CARVALHO , qualif icação ignorada,

podendo ser encontrada na sede da Prefei tura Municipal de

Aragominas, s i to na Av. Marinópolis , nº . 44, CEP : 77.845-000,

ARAGOMINAS – TO,

5. ANA ZILDA RODRIGUES DA SILVA , qualif icação ignorada,

podendo ser encontrada na sede da Prefei tura Municipal de

Aragominas, s i to na Av. Marinópolis , nº . 44, CEP : 77.845-000,

ARAGOMINAS – TO,

6. MARINÓLIA DIAS DOS REIS, qualif icação ignorada, advogada

inscri ta na OAB/TO, sob o nº 1597, podendo ser encontrada na

ACNE 01 Rua NE 01 CONJ. LT. 17, SALA 15, CEP 77000-000,

PALMAS – TO,

7. GILBERTO ADRIANO MOURA DE OLIVEIRA , qualif icação

ignorada, advogado inscri ta na OAB/TO, sob o nº 2121, Portador do

CPF/MF sob o nº 827.285.771-53, podendo ser encontrado na Rua

208 sul , Alameda 13, Lote 63 em PALMAS/TO,

8. MUNICÍPIO ASSESSORIA E CONSULTORIA S/C LTDA , pessoa

jurídica de direi to privado, inscri ta no CNPJ sob o nº .

06.539.875/0001-42, com sede na Av. LO-03, Quadra 208 Sul, Lote

10, CEP. 77.020.542, Centro, Palmas/TO, representado por suas

sócias-proprietár ias ADRIANA AB-JAUDI BRANDÃO DE ASSIS ,

portadora do CPF/MF sob o nº 821.729.861-00, advogada inscri ta na

OAB/TO sob o nº1998, residente na 208 Sul, Alameda 01, Lote 12,

centro, PALMAS/TO e LILIAN ABI-JAUDI BRANDÃO LANG ,

portadora do CPF/MF sob o nº663.198.701-68, advogada inscri ta na

OAB/TO sobº 1824, residente na 108 Norte , Alameda 16, Lote21,

centro, PALMAS/TO.

pelas razões de fato e de direi to adiante aduzidas:

I .DOS FATOS

Tendente a proceder à contratação de servidores para provimento das vagas

existentes junto à Prefei tura Municipal de Aragominas, houve a real ização do

procedimento l ic i ta tório , registrado sob o nº 013/2008, na modalidade carta-convite ,

para escolha e contratação de uma empresa responsável pela real ização de concurso

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Promotoria de Justiça de Goiatins/TO

público, tendo sido escolhida e, posteriormente contratada, a empresa Ré Município

Assessoria e Consultoria S/C Ltda .

Ocorre que, em face da real ização do aludido concurso público, chegou ao

conhecimento desta Promotoria de Just iça que haveria fraude no certame, razão pela qual

foi instaurado o Procedimento Preparatório nº . 01/2008 e , em análise ao Regulamento do

Concurso Púbico nº . 01/2008, constatou-se a existência de uma disposição que chamou a

a tenção desta Promotoria :

“Art . 17 Todos os servidores contratados temporariamente

para atender necessidade excepcional interesse público

deverão se inscrever para participarem do Concurso

Público .”

Ainda, quando da análise do edita l nº . 02/2008 foi constatado a existência

de diversas irregularidades que comprometeriam a acessibi l idade, l isura e imparcial idade

do certame, razão pela qual foi expedida a Recomendação Administrativa nº . 03/2008

com o desiderato de adequar o edita l às normas legais vigentes, bem como se cert if icar

acerca da legalidade da empresa responsável pelo concurso.

Múlt ipla é a causa de pedir capaz de just if icar a pretensão de controle

judicial do ato da administração pública mediante pedido de imediata suspensão e

posterior anulação do certame que, para todos os f ins legais , pelo alcance e

universal idade, e próprio objet ivo que just if ica a existência , equivale a natureza e

espécie do gênero concurso público.

As irregularidades e i legalidades do agir administra t ivo no âmbito

procedimental assumem natureza tanto formal como materia l .

Basicamente, por provimento jurisdicional l iminar, merece ser suspensa a

real ização do mencionado concurso público, seguida de ordem judicial f inal

determinante da sua anulação, pelos seguintes motivos:

Segue abaixo a re lação das irregularidades encontradas no Edita l do

Concurso pelo Parquet :

AUSÊNCIA DE PUBLICIDADE

• Ausência de publicação da íntegra do edita l do concurso no Diário Oficial do

Estado do Tocantins, bem como em outros veículos de comunicação de nível

estadual;

• Ausência de informações no Edita l sobre os componentes integrantes da

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Comissão do Concurso;

• Ausência da necessária public idade da divulgação dos locais de provas, re lação

dos aprovados, oportunidade para interposição de recursos e demais avisos do

concurso, e is que previsto apenas sua publicação no placar da Prefei tura .

ILEGALIDADES NAS INSCRIÇÕES

• Condicionamento das inscrições à comprovação da idade mínima de 18 anos;

• Exigência de que as inscrições e seu pagamento sejam realizadas, única e

exclusivamente, na sede da Prefei tura Municipal , sem, contudo, ser

oportunizado aos candidatos outros meios de inscrição e pagamento, ainda mais

que não constou no edita l sobre o horário de expediente da Prefei tura;

• Não aceitação de inscrições de pessoas demitidas do serviço público, quando ta l

constatação ter ia de ser fe i ta quando do ato da posse;

• Ausência de previsão da isenção do pagamento de taxas para pessoas

hipossufic ientes econômica e f inanceiramente;

ILEGALIDADES QUANDO DA REALIZAÇÃO DO CERTAME

• Previsão de inexistência de folha de respostas (gabari to) para as provas

re la t ivas aos cargos de nível fundamental , servindo o próprio caderno de provas

para correção;

• Ausência de previsão de data e dia para entrega das provas aos candidatos que

desejarem acesso às mesmas, ou mesmo vistas à folha de respostas;

• Ausência da previsão da possibi l idade de interposição de recurso por

intermédio de procurador ou pelos correios;

OMISSÕES NO EDITAL

• Inexistência de disposição acerca do local aonde deverão ser colocados e

acondicionados os pertences pessoais dos candidatos durante a real ização das

provas;

• Inexistência da re lação de documentos que serão considerados como prova de

identidade, bem como da excepcional hipótese de aceitação de Bolet im de

Ocorrência quando de recente extravio de documento;

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• Inexistência das hipóteses que configurariam recusa da posse do candidato

demitido anteriormente “a bem do serviço público”;

• Inexistência da discriminação do quanti ta t ivo, por cargo, de vagas dest inadas a

portadores de defic iência;

• Inexistência da declinação da escolaridade exigida, ta l como quais cursos serão

aceitos para os cargos de “Operador de Sistemas”, “Técnico em Laboratório” e

“Auxil iar Técnico de Odontologia”;

• Inexistência no edita l da especif icação do tempo mínimo exigido e que t ipo de

provas serão aceitas para comprovação de experiência exigida para os cargos de

“pedreiro” e de “eletr ic is ta”;

• Inexistência no edita l da especif icação em qual categoria o candidato deve estar

habil i tado, para direção de veículos automotores, para o cargo de “operador de

máquinas”;

DEMAIS ILEGALIDADES

• Existência de inúmeros erros ortográficos no Edita l ;

• Existência no edita l de referências à anexos inexistentes;

• Ausência de modelos de recursos;

• Primeiro cr i tér io de desempate dos candidatos que obtiverem a mesma

pontuação seria o de maior idade, em detr imento da pontuação obtida em

discipl inas específ icas;

• Após a homologação do concurso as provas dos candidatos serão incineradas.

Em resposta à a ludida recomendação, a Prefei tura Ré, por intermédio da

Empresa Ré, ofereceu resposta , juntando aos autos administra t ivos cópia do

procedimento l ic i ta tório e pugnando pela manutenção das disposições edita l íc ias

apontadas como i legais pelo Ministér io Público, estando a realização das provas, nos

termos do Edital nº . 02/2008, assim, marcadas para 04/05/2008, próximo domingo .

Ocorre que restou constatado através da documentação rela t iva à l ic itação,

na modalidade carta-convite , que a mesma foi fraudada, uma vez que dentre os três

convites expedidos, dois foram endereçados à pessoas f ís icas, e apenas um foi

endereçado à uma pessoa jurídica, do ramo de concursos públicos , quando todos os

convites deveriam ter s ido endereçados à empresas especial is tas na real ização de

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concursos, ou seja , deveriam ter s ido convidadas apenas pessoas jurídicas pertencentes

ao ramo relat ivo ao objeto da l ic i tação (concursos públicos) .

A primeira pessoa convidada, pela Administração Pública Municipal , para

part ic ipar da l ic i tação foi o advogado Réu Gilberto Adriano Moura de Oliveira ,

pessoa f ís ica , que apresentou apenas cópia da cédula de identif icação profissional ,

vencida desde 18/02/2007, entretanto, sequer se preocupou em comprovar sua

habil itação e qualif icação técnica, apresentado uma proposta no valor de R

$18.000,00 (dezoito mil reais) .

A segunda l ic itante convidada, também pessoa f ís ica, a advogada Ré

Marinólia Dias dos Reis apresentou apenas cópia da cédula de identif icação

profissional, igualmente, não comprovando sua habil itação e qualif icação técnica,

apresentado uma proposta no valor de R$25.000,00 (vinte e c inco mil reais) .

A terceira l ic i tante Ré - Município Assessoria e Consultoria S/C Ltda, por

sua vez, não t inha como não ter s ido a escolhida, tendo em vista que foi a única empresa

convidada pela Administração Pública Municipal do ramo de concursos públicos, ramo

este pert inente ao objeto da l ic i tação, a qual, coincidentemente, apresentou a

necessária documentação e a menor proposta: R$15.000,00 (quinze mil reais) .

Oportuno esclarecer que todos os três l ic itantes, não por coincidência,

possuem escritório prof issional na Comarca de Palmas.

Portanto, resta evidente a ocorrência de fraude, consubstanciada na

s imulação da l ic i tação na modalidade carta-convite , tendo em vista que, antes mesmo da

real ização da l ic i tação, a empresa Ré Município Assessoria e Consultoria S/C Ltda. já

havia s ido escolhida para a real ização do concurso, sendo a part ic ipação dos outros dois

l ic i tantes (pessoas f ís icas f lagrantemente impossibil i tadas da realização do objeto da

l ic i tação ) ato meramente formal, convidados apenas para atenderem ao quantitativo

exigido em lei e não para competirem.

A empresa Ré certamente foi escolhida para part ic ipar da l ic i tação por

estar mancomunada com o Prefei to Réu, com a f inalidade de fraudar o concurso público.

Tanto é assim que, antes mesmo do procedimento l ic i ta tório , no próprio Decreto nº

077/2008 o Prefei to Réu determinou a real ização de l ic i tação e , em ato contínuo, e logiou

o trabalho desenvolvido pela Empresa Ré em anterior concurso público real izado na

Prefei tura Ré, ocorrido na vigência de seu mandato.

Tal fraude foi prat icada, em unidade de desígnio, a pedido do Prefei to Réu

pelos Membros da Comissão de Lici tação, quais sejam, os Réus Adair Rosas Caixeta,

Maria Aparecido de Carvalho e Ana Zilda Rodrigues da Silva, juntamente com os

l ic itantes, ao s imularem uma l ic itação fraudulenta .

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Isso porque, consti tuem fartos indícios do alegado, o fa to de que, dentre os

07 (sete) integrantes da Comissão Permanente de Licitação, dentre membros e

suplentes, 05 (cinco) se inscreveram para o concurso, não obstante estarem

impedidos de participar no certame . São eles:

NOME CARGO INSCRITO

Ana Zilda Rodrigues da Silva Aux. Adm. da Zona Urbana

Antonio Marcos Marques dos Santos Fiscal de Tributos

Romilson Borges da Silva Operador de Sistema

José Edílson Ferreira Ribeiro Professor Magistér io da Zona Urbana

Adair Rosa Caixeta Fiscal Sanitár io

Assim, os Réus Adair Rosas Caixeta e Ana Zilda Rodrigues da Silva ,

a lém de part ic iparem ativamente do procedimento l ic i ta tório fraudulento, tentaram obter

vantagem il íc i ta para s i , provavelmente a t í tulo de “pagamento” pelos serviços

prestados.

Ademais, não obstante ter a Empresa Ré sido contratada para a real ização

do concurso público, ou seja , mesmo tendo sido o serviço terceir izado, houve a

designação de servidores públicos municipais , pelo Prefei to Réu, para efetuarem as

inscrições e recolherem as respectivas taxas, os quais , também, encontram-se inscri tos

para o certame:

NOME CARGO INSCRITO

Ana Zilda Rodrigues da Silva Aux. Administra t ivo da zona urbana

Claudene Ferreira da Silva Conrrado Aux. Administra t ivo da zona urbana

Lucimar Alves Moreira Aux. Administra t ivo da zona urbana

Assim, tem-se que a Ré Ana Zilda Rodrigues da Silva , a lém de part ic ipar

da escolha da empresa que real izaria o concurso e ter real izado as inscrições dos

candidatos, está inscri ta para as provas do certame, assim como os demais agentes

públicos responsáveis pelas inscrições, o que se traduz em fundados indícios de fraude.

Por outro lado, restou constatado que o Prefei to Réu decidiu modificar ,

unila teralmente e sem o devido processo legisla t ivo, o quanti ta t ivo das vagas e os cargos

a serem providos, cr iando no concurso, à revelia legisla t iva, a lguns cargos inexistentes

no Projeto de Lei nº. 26/2007, aprovado pelo Legisla t ivo Municipal , que f ixou os cargos

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a serem providos mediante concurso público e seu respectivo quanti ta t ivo, sendo estes

divididos entre as diversas Secretarias Municipais existentes .

Ocorre que constam no edita l cargos que sequer foram autorizados e

cr iados ta is como Eletric is ta , Pedreiro, Motoris ta , Operador de Máquinas, Fiscal de

Edif icação de Posturas, Fiscal de Tributos e Fiscal Sanitário , os quais constam no

Edita l do Concurso Público nº . 02/2008.

Evidente , assim, que o Prefei to Réu adequou o quanti ta t ivo e CRIOU

CARGOS DIVERSOS, conforme seu interesse pessoal , tão somente para beneficiar

seus apadrinhados, tal como o Presidente da Comissão de Licitação, envolvido na

fraude, que se inscreveu para o cargo de Fiscal Sanitário .

Se não bastasse , restou apurado que o período das inscrições, segundo o

edita l , deveria iniciar-se em 13/03/2008 e terminar em 04/04/2008, entretanto, as

inscrições somente foram iniciadas em 24/03/2008 e f indaram em 04/04/2008, sem que

fosse o prazo prorrogado, por ocasião do atraso, ou mesmo tenha sido dada public idade a

ta l fa to , o que, consequentemente, ref le t iu-se no baixo número de inscrições para a lguns

cargos, como os de Fiscal de Tributos ( três inscri tos) e Fiscal Sanitário (quatro

inscri tos) , Pedreiro (um inscri to) , Operador de Máquinas (um inscri to)

Ademais, o Prefei to determinou aos servidores responsáveis pela

real ização do concurso que fossem até o Assentamento Reunidas para efet ivação da

inscrição de pessoas que quisessem part ic ipar do concurso, ou seja , houve a real ização

de inscrições em local diverso daquele constante no edita l , u t i l izando-se de agentes

públicos para real ização de um serviço que foi terceir izado, o que, igualmente , configura

a to de improbidade administra t iva.

Desta forma, esgotados todos os meios administra t ivos aptos a resolver a

presente s i tuação, não restou outra a l ternativa ao Ministér io Público, senão a propositura

da presente ação, com o afã de obter a suspensão e anulação do procedimento

l ic i tatório, a punição dos ímprobos, bem como o ressarcimento do erário moral e

materialmente .

I .DO MÉRITO

I.a.Da Nulidade da Licitação

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Promotoria de Justiça de Goiatins/TO

Como é sabido, a modalidade denominada carta-convite é um chamamento

direto à l ic i tação no qual a Administração Pública convida empresas, pert inentes ao

ramo e at ividade do objeto do procedimento l ic i ta tório , que estejam previamente

cadastradas no banco de dados do órgão l ic i tante , em vistas a selecionar a proposta mais

vantajosa para a Administração.

Neste sentido, estabelece o ar t . 22 da Lei 8 .666/93:

“Art. 22 . São modalidades de l ic i tação: ( . . . )

III – convite ; ( . . . )

§ 3º Convite é a modalidade de l ic itação entre interessados

do ramo pertinente ao seu objeto , cadastrados ou não,

escolhidos e convidados em número mínimo de 3 ( três) pela

unidade administra t iva, a qual af ixará , em local apropriado,

cópia do instrumento convocatório e o estenderá aos demais

cadastrados na correspondente especialidade que

manifestarem seu interesse com antecedência de até 24 (vinte

e quatro) horas da apresentação das propostas . ( . . . )”

No caso dos autos, verif ica-se que a Administração Pública Municipal

convidou três l ic i tantes para part ic iparem do procedimento l ic i ta tório , sendo dois

advogados (pessoas f ís icas) e uma empresa (pessoa jurídica) .

Pressupõe-se que todos os l ic i tantes , em razão de terem sido convidados,

sejam qualif icados técnica e prof issionalmente, além de serem dotados tanto de

logíst ica, quanto de pessoal qualif icado e treinado para realizar um concurso

público de tal porte (provimento de 95 cargos de diferentes especialidades ) , desde sua

fase inicial até o seu término (recebimento das inscrições, locação do local de provas,

contratação de f iscais e de seguranças, aplicação das provas, correção dos gabaritos,

divulgação dos resultados, julgamento dos recursos, divulgação do resultado f inal e

defesa judicial em eventuais ações interpostas pelos candidatos) .

Verif ica-se , portanto, que a real ização de um concurso público é

extremamente complexa, não sendo plausível que ambos os advogados convidados à sua

real ização conseguir iam executar o objeto sem mesmo serem especial is tas na área.

Estranho o fato de terem sido os mesmos convidados, af inal , a lguém

convidaria um estranho para trabalhar em sua casa? Alguém convidaria um advogado ou

um médico para reformar o seu te lhado? Parece pouco provável .

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO TOCANTINSPromotoria da Infância e Juventude de Araguaína/TO

Promotoria de Justiça de Goiatins/TO

Assim, resta evidente que, nos termos do art . 37, XXI, da Consti tuição

Federal , que estabelece as exigências de comprovação de qualif icação técnica e

econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações, os advogados

l ic i tantes encontram-se impossibil i tados de executar o objeto l ic i ta tório .

A verdade é que ambos os advogados l ic itantes concorreram para a

fraude, com a f inalidade de propiciar certa aparência de legalidade ao procedimento

l ic itatório , tendo em vista que, desde o início da l ic i tação, já sabiam que t inham entrado

para perder , a té porque, caso apresentassem o menor preço, seriam sumariamente

desqualif icados, ante a impossibil idade materia l de execução do objeto l ic i tado.

Ressalte-se que não está aqui se discutindo se tem ou não a empresa

contratada condições de real izar ou não o objeto l ic i tado, mas s im da f inalidade escusa

com que foi contratada , pois há far tos elementos de prova nos autos de que a mesma

ir ia fraudar o certame, tais como a inscrição de membros da comissão de l ic itação no

concurso , o que é vedado, nos termos do art . 9º , I II , § 4º da Lei 8.666/93 1 , publicação

do edital do concurso por prazo inferior a 30 dias , em vistas a l imitar sua public idade,

e inscrição realizada em local diverso daquele constante no edital (Termo de

Declaração de f ls .) , além de serem os responsáveis pelas inscrições, agentes públicos

municipais inscritos no certame, bem como a criação de cargos e a modificação do

quantitativo sem a necessária autorização legislativa .

Ademais, percebe-se que, antes mesmo do procedimento l ic i ta tório , no

próprio Decreto nº 077/2008, no qual o Prefei to Réu determinou a real ização de l ic i tação

este elogiou o trabalho desenvolvido pela Empresa Ré em anterior concurso público

realizado na Prefeitura Ré, ocorrido na vigência de seu mandato, o que comprova o

direcionamento da l ic itação .

Com efei to , dentre as opções de t ipo de l ic i tação descri tas no art igo 45 da

Lei 8 .666/93 (menor preço, melhor técnica, de técnica e preço e a de maior lance ) , em

se tratando de contratação de empresa especializada para realizar concurso público,

não se admite i l imitada discricionariedade administrativa na escolha do t ipo de

l ic itação , af inal de contas, como bem adverte a doutr ina de MARÇAL JUSTEN FILHO

“a natureza do objeto e as exigências previstas pela Administração condicionam o

procedimento l ic i tatório e definem o t ipo de l ic i tação”.

1 “Art. 9º Não poderá participar, direta ou indiretamente, da licitação ou da execução de obra ou serviço e do fornecimento de bens a eles necessários: (...) III - servidor ou dirigente de órgão ou entidade contratante ou responsável pela licitação. (...) § 3º Considera-se participação indireta, para fins do disposto neste artigo, a existência de qualquer vínculo de natureza técnica, comercial, econômica, financeira ou trabalhista entre o autor do projeto, pessoa física ou jurídica, e o licitante ou responsável pelos serviços, fornecimentos e obras, incluindo-se os fornecimentos de bens e serviços a estes necessários. § 4º O disposto no parágrafo anterior aplica-se aos membros da comissão de licitação.”

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Certamente porque a real ização de um concurso público sério e idôneo não

passa s implesmente pela verif icação de um cri tér io econômico do que aparenta ser menos

custo. Não se prescinde de um procedimento no qual a idoneidade, a habil i tação, a

experiência e o corpo técnico da empresa contratada seja objet iva e fundamentadamente

avaliados e valorados, aspectos totalmente desconsiderados e ignorados no presente caso

concreto. Somente havendo cautela da Administração no tocante a esses aspectos é que

se terá garantia de execução correta e idônea do objeto de contrato sem risco de fraudes

ou nulidades capazes de corromper a moralidade, l isura , legalidade e transparência que

deve permear todo e qualquer processo selet ivo público.

Nesse diapasão, bem adverte MARÇAL JUSTEN FILHO: “A lic i tação

busca selecionar o contratante que apresente as melhores condições para atender a

reclamos do interesse colet ivo, tendo em vista todas as circunstâncias previsíveis

(preço, capacidade técnica, qualidade e tc . [ . . .] . A vantagem não se relaciona apenas e

exclusivamente com a questão f inanceira. O Estado necessi ta fazer prestações

satis fatórias, de qualidade adequada. De nada servir ia ao Estado pagar valor irr isório

para receber objeto imprestável . Muitas vezes, a vantagem técnica apresenta relevância

tamanha que o Estado tem de deixar a preocupação f inanceira em segundo plano. Como

regra, a vantagem da contratação se traduz em benefíc ios f inanceiros ou técnicos. Por

isso, os cri térios de julgamento das l ic i tações obedecem basicamente, a cri tério de

valor econômico e de qualidade técnica ” – grifou-se [in “Comentários à Lei de

Lici tações e Contratos Administra t ivos”, Ed. Dialét ica , 11ª edição, págs.45/46].

Em se tra tando de apuração de dano ao patr imônio público, o horizonte

deve evitar frustrar a escorrei ta e necessária consecução do interesse público genuíno

que, no caso, passa pela seleção cri ter iosa de empresa idônea e de comprovada e notória

especial idade e experiência no desempenho da at ividade.

Transportando esse ensinamento para o caso concreto, verif ica-se que suas

premissas foram desatendidas. Isso porque a aproximação informal e extraofic ia l seguida

da escolha da empresa requerida, se deu por cr i tér ios desconhecidos e puramente

subjet ivos, para dizer o mínimo.

Na definição desta escolha, inexist iu qualquer preocupação e cuidado do

Município em comprovar e avaliar , objet ivamente, por cr i tér io de técnica ou cumulativo

de preço e técnica, ou seja , em momento algum do procedimento houve precisa

verif icação das reais condições e possibi l idades materia is da empresa contratada real izar

certame dentro dos padrões técnicos de segurança exigíveis e sat isfatórios. Agiram as

autoridades da Municipalidade com a lógica da inicia t iva privada, como se part iculares

fossem e pudessem contratar “quem” desejassem, “quando” e “como” pretendessem.

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Sustenta-se, assim, que a l ic itação deve ser pelo t ipo de melhor técnica,

ou técnica e preço, nos termos dos incisos II e III , do parágrafo primeiro, do artigo

45 da Lei de Licitações, justamente porque tais critérios objetivos são previstos para

situações especiais e diferenciadas, próprias de procedimento l ic itatório destinado

“exclusivamente para serviços de natureza predominantemente intelectual ”, também

classif icável como trabalho técnico profissional , tudo nos termos do art igo 46 e 6º , I I ,

da Lei 8 .666/93.

Ademais, na escolha da técnica e preço, por exemplo, f ixado o l imite

máximo do preço no edital em que será escolhida a proposta tecnicamente mais

vantajosa, é plenamente possível concil iar a permanente busca da racionalização de

recursos, compatibil izando a opção de atender o princípio da ef ic iência (produzir

mais gastando o menos possível) com a verif icação dos l ic i tantes classif icados e

comprovadamente aptos e habil i tados tecnicamente para bem executar o objeto

pretendido pela Administração, segurança que em nenhum momento foi permitida pela

forma como o Município de Aragominas-TO conduziu o mencionado certame.

Nesse contexto, como adiante será trabalho, não se admite também que o

Município, sem qualquer planejamento, estudo prévio ou est imativa de orçamento de

preço justo-l imite , sem projeção de qualquer outro t ipo de despesa ou ônus f inanceiro de

maior vulto (haja vis ta que o concurso teve auxíl io e part ic ipação de funcionários

públicos) , tenha simplesmente resolvido contratar diretamente a elaboração, aplicação e

correção de provas em concurso público por valor inferior ao arrecadado nas próprias

inscrições.

Demonstrando o acerto do raciocínio exposto, oportuno trazer à colação a

valiosa doutr ina de RITA TOURINHO 2 :

“Ora, envolvendo o concurso público ativ idade predominantemente

intelectual , se ja na elaboração do edital , se ja na criação das questões das provas, seja

na correção das provas ou, ainda, no julgamento dos recursos, é inegável a necessidade

de um corpo técnico especializado na realização do certame. Conseqüentemente , pode-

se af irmar que o t ipo de l ic i tação adequada para contratação da empresa voltada à

realização de concurso será o de melhor técnica ou técnica e preço. Acrescente-se que

esses t ipos de l ic i tação são cabíveis mesmo na modalidade convite (. . . ) A uti l ização de

l ic i tação do t ipo menor preço, para o cão em análise , pode acarretar efe i to negativo,

consubstanciado na adoção de parâmetros insufic iente , imperfei to e inadequado para

satis fazer a necessidade estatal . Daí a Administração desembolsará o menor preço, mas

receberá prestação dest i tuída de aptidão para satis fazer às necessidades colet ivas” –

gri fou-se.2 in Da A o Civil P blica no Controle da Contrata o de empresa para realiza o de Concurso P blico. XVII Congresso Nacional do“ ” “ çã ú çã çã ú ” Minist rio P blico. é ú

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Segundo doutr ina de DIÓGENES GASPARINI, “o concurso de ingresso

no serviço público pode ser anulado quando padecer de i legalidade insanável”, de

modo que a anulação do certame, “tanto cabe à Administração Pública responsável

pelo procedimento viciado, como ao Judiciário se provocado por algum dos

candidatos prejudicados com o seu desfazimento ou pelo Ministério Público

competente”.

Nesse sentido, inclusive, di ta a melhor jurisprudência:

(STJ – Quinta Turma; AgRg no REsp 696.987/DF, Relator Ministro

GILSON DIPP, julgado em 22.02.2005, DJ 14.03.2005 p. 423) “Segundo estatui o

brocardo jurídico: "o edital é a le i do concurso" . Desta forma, estabelece-se um vínculo

entre a Administração e os candidatos, igualmente ao descri to na Lei de Lici tações

Públicas, já que o escopo principal do certame é propiciar a toda colet iv idade

igualdade de condições no ingresso ao serviço público. Pactuam-se, assim, normas

preexistentes entre os dois sujei tos da relação edital íc ia . De um lado, a Administração.

De outro, os candidatos. Com isso, é defeso a qualquer candidato vindicar direi to

alusivo à quebra das condutas l ineares, universais e imparciais adotadas no certame.

(. . . ) . Consoante já manifestou esta Corte , em se tratando de interpretação das normas

edital íc ias de concurso público, a competência do Poder Judiciário se l imita ao exame

da legalidade do edital . Em sendo assim, o Administrador tem todo o direi to de se valer

do seu poder discricionário, desde que o mesmo não afronte comandos legais .

Como bem expõe a melhor doutr ina, a discric ionariedade que se outorga à

Administração pública não permite a ampliação da autonomia do agente para formulação

de representações mentais e verdadeiros “achismos” dest i tuídas de base científ ica e

conteúdo descri t ivo-documental , de modo que a decisão discric ionária legít ima precisa

ser resultado logo de um conjunto de fatos e motivos just if icados e ar t iculados

racionalmente , sob pena de produção decisória inconsciente just if icar a necessidade do

reconhecimento de invalidade das discrições discric ionárias . Nesse sentido, a l ição de

MARÇAL JUSTEN FILHO (“in” Curso de Direi to Administra t ivo, Editora Saraiva, 2005.

f ls . 262-263: “Há o r isco de ocorrer um processo decisório irracional, em que a decisão

seja puramente intui t iva. Isso se passa quando o agente chega a uma conclusão sem

adotar um processo mental controlado pela razão e pela lógica. A escolha é resultado

do impulso, ao sabor dos inst intos. Nesse caso, é di f íc i l ao próprio agente identi f icar o

motivo de sua escolha. Não cabe ao direi to administrativo realizar uma atuação de

psicanálise do agente estatal , tentando reconstruir suas decisões e seus motivos. Se o

agente decidiu por impulso e não consegue just i f icar racionalmente sua escola, o ato

administrativo deve ser reputado inválido. A função administrativa não é atr ibuída a um

sujei to para que atue impulsiva e irracionalmente . A natureza funcional da competência

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administrativa exige a ponderação das diversas al ternativas e a seleção daquela que se

af igura, segundo conhecimento, racional, como a melhor”.

No caso concreto, como visto , sequer houve comprovada e ofic ia l

ponderação de diversas a l ternativas, mas s im escolha e contratação “direta” de empresa

por motivos não esclarecidos e não just if icados (s imulação), sem o necessário e

antecedente procedimento l ic i ta tório válido e, a inda assim, como visto , em

circunstâncias totalmente irregularidades e i legais , inclusive sob o ponto de vis ta de

edita l e a tos subseqüentes viciados.

Desta forma, em face de ter s ido o procedimento l ic i tatório forjado pelos

Réus, tendo em vista a afronta ao princípio da competi t ividade, sendo os demais

l ic i tantes convidados , com o escopo de conferir aparência de legit imidade a anterior

contratação direta (a inda que não documentada), infere-se que houve f lagrante

s imulação , sendo por isso causa de nulidade de pleno iure , consoante arts . 167, 168 e

169 do Código Civil , razão pela qual pugna o P arquet pela declaração de nulidade da

contratação realizada e dos efeitos jurídicos dela advindos .

I .a .Dos Atos de Improbidade Administrativa

Da Fraude à Licitação

Os Réus uniram-se com a f inalidade de fraudar o procedimento l ic i ta tório .

Conforme infere-se nos autos, o procedimento l ic i tatório foi forjado pelos

c i tados réus, com a pretensão exclusiva de tornar legal a escolha e contratação espúria

da empresa Ré MUNICÍPIO ASSESSORIA E CONSULTORIA S/C LTDA , em vistas a

fraudar o concurso público, efet ivando no serviço público quem bem o Prefei to Réu

entendesse. É patente , pois , o prejuízo ao patr imônio público daí resultante .

O processo l ic i ta tório foi , como se vê, inte iramente fraudado, afrontando

os princípios da legalidade (à vis ta de toda a legislação apresentada), da moralidade –

porquanto foram relegados os preceitos é t icos que devem nortear a Administração –, da

impessoalidade , v is to como, em face do direcionamento da l ic i tação, não observou a

necessária f inalidade pública a que deve estar voltada a Administração, nem tampouco

respeitou a isonomia entre os administrados – possíveis interessados em disputar o

certame l ic i ta tório promovido pelo Município Réu, que desse modo selecionaria a

proposta que ref le t isse as melhores condições ao interesse público, e durante sua

execução, selecionaria os melhores candidatos ao serviço público.

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Patente é o desperdício de dinheiro e recursos públicos em face do

tempo e trabalho despendidos em todas as fases percorridas, desde a l ic itação à

celebração do contrato administrativo, além dos servidores públicos chamados

indevidamente a atuar no procedimento e na execução dos serviços l ic itados, ainda

mais se considerarmos os custos que serão despendidos ante a necessidade de

realização de um novo procedimento l ic itatório .

O Prefei to Réu, motivado em fraudar o concurso público a ser real izado,

mediante prévio ajuste coma Empresa Ré, ordenou o direcionamento da l ic i tação e cr iou

todas as condições necessárias à sua contratação.

Os membros da Comissão de Lici tação, os Réus ADAIR ROSA CAIXETA ,

MARIA APARECIDO DE CARVALHO e ANA ZILDA RODRIGUES DA SILVA,

agentes públ icos investidos na função de zelar pela l isura e legalidade do

procedimento l ic itatório, procederam dolosamente durante o processo

administrativo direcionando-o em vistas de concretizar a escolha da Empresa Ré de

forma i legal .

Já os advogados l ic itantes concorreram ativa e dolosamente para a

execução da fraude:

• o advogado Réu Gilberto Adriano Moura de Oliveira , mesmo

estando impossibil i tado da execução do objeto l ic i tado, apresentou

apenas cópia da cédula de identif icação profissional , sem, contudo,

comprovar sua habil i tação e qualif icação técnica, apresentado uma

proposta no valor de R$18.000,00 (dezoito mil reais) ;

• a advogada Ré Marinólia Dias dos Reis , também impossibil i tada da

execução do objeto l ic i tado, apresentou apenas cópia da cédula de

identif icação profissional , igualmente , não comprovando sua

habil i tação e qualif icação técnica, apresentado uma proposta no

valor de R$25.000,00 (vinte e c inco mil reais) ;

Assim, tendo em vista o idêntico procedimento adotado por ambos os

advogados l ic i tantes , evidente o animus simulandi cometido no curso do procedimento

l ic i ta tório .

Desta forma, comprovada a part ic ipação dos Réus em frustrar a l ic i tude da

l ic i tação, resta evidente à subsunção da conduta dos mesmos à conduta t ipif icada no art.

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10, inciso VIII da Lei nº . 8.429/92 3 , caracterizando, assim, ato de improbidade

administrativa .

Assim sendo, considerando que os réus, notadamente o Prefei to Réu e a

Empresa Ré, es tavam mancomunados entre s i , e que a Empresa Ré concorreu

dolosamente para a prát ica do ato ímprobo, a tuando na fabricação da farsa para

benefic iar-se , provocando destarte a nulidade da l ic i tação e do respectivo contrato

administra t ivo, é intui t ivo que nada poderá auferir (em termos de indenização) dessa sua

conduta , vis to que agiu por sua conta e r isco, conforme intel igência do art . 59 da Lei

8 .666/1993 4 .

Vejamos o seguinte julgado do STJ, em caso análogo ao posto em juízo:

CONTRATAÇÃO SEM CONCURSO PÚBLICO . Em ação civi l pública

ajuizada pelo MP, discute-se se consti tui ato de improbidade

administrativa a contratação de servidores para trabalhar em banco

estatal , sem concurso público, mediante manutenção de vários contratos

de fornecimento de mão-de-obra, v ia terceirização de serviços . Expõe o

Min. Relator que foi amplamente provado, nas instâncias ordinárias, que

a conduta dos agentes públicos (gerente e v ice-gerente) não resultou em

lesão ao erário, uma vez que os contratados prestaram serviço, nem

configurou o enriquecimento i l íc i to daqueles, portanto não se aplicam os

arts . 9º e 10 da Lei n . 8.429/1992 (Le i de Improbidade). Mas o ato de

improbidade, no caso, amolda-se à conduta prevista no art . 11 da ci tada

le i , são atos que atentam contra os princípios da Administração Pública,

os quais compreendem os princípios da impessoalidade e da moralidade

administrativa, tendo em vista que houve a contratação de funcionários

sem concurso público, com inobservância do art . 37 da CF/1988 e

mediante a manutenção dos contratos como terceirização. Isso posto, a

Turma, ao prosseguir o julgamento, deu parcial provimento ao recurso do

MP para, com fulcro no art . 12, III , da Lei de Improbidade, impor aos

recorridos a proibição de contratar com o poder público pelo prazo de

3 “Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: (...)

VIII - frustrar a licitude de processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente;

4 “Art. 59. A declaração de nulidade do contrato administrativo opera retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos.

Parágrafo único. A nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu causa”

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três anos, uma vez que as sanções dessa le i não são acumulativas. REsp

772.241-MG, Rel . Min. Luiz Fux, julgado em 15/4/2008.

Assim, tendo a Empresa Ré agido de má-fé , benefic iando-se da i legalidade

do negócio celebrado, imperativo se faz que o eventual pagamento já efetuado seja

devolvido integralmente aos cofres municipais , a inda mais se considerarmos que, além

da elaboração de um edita l cheio de vícios e e ivado de i legalidades, nenhuma outra

contraprestação prat icou a Empresa Ré à Administração Pública Municipal , já que todo o

serviço rela t ivo às inscrições (que a empresa foi paga para fazer) foi desempenhado por

servidores públicos.

Portanto, a teor do que dispõe o ar t . 12, inciso II , Lei nº . 8 .429/92 5 ,

imprescindível se faz a CONDENAÇÃO da Empresa Ré à devolução ao erário da

importância de R$15.000,00 (quinze mil reais) , caso já tenha recebido, bem como a

condenação dos Réus DIVINO PEREIRA DA SILVA , ADAIR ROSA CAIXETA ,

MARIA APARECIDO DE CARVALHO , ANA ZILDA RODRIGUES DA SILVA ,

MARINÓLIA DIAS DOS REIS, GILBERTO ADRIANO MOURA DE OLIVEIRA e

MUNICÍPIO ASSESSORIA E CONSULTORIA S/C LTDA solidariamente ao

ressarcimento integral do dano e ao pagamento de multa civ i l no importe de duas vezes

o seu valor , a ser apurado em sede de l iquidação de sentença, bem como à perda da

função pública , suspensão dos direi tos polí t icos pelo período de oi to anos, e proibição

de contratar com o Poder Público ou receber benefíc ios ou incentivos f iscais ou

credit íc ios, dire ta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual

seja sócio majori tár io , pelo prazo de cinco anos.

Do Uso de Servidores Públicos para execução de serviço particular

No contrato administra t ivo celebrado entre a empresa vencedora do certame, a Ré “Município Assessoria e Consultoria Ltda.” , e o Município Réu, conta o objeto do contrato como sendo:

“ (. . . ) e laboração de concurso público para preenchimento de vagas no Quadro Pessoal Efet ivo, incluindo aviso e edital; elaboração de programas concernentes a cada cargo

5 Art. 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas, previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações: (...)

II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos;

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e f icha de inscrição; elaboração, aplicação e correções das provas; possíveis defesas administrativas e /ou judiciais decorrentes do certame contratado.”

Infere-se que não há qualquer ressalva no sentido de que as inscrições e o

recolhimento das respectivas taxas seriam executadas diretamente pelo Município Réu,

ao contrário consta explic i tamente que a CONTRATADA seria responsável pela

inscrição dos candidatos no certame.

Ocorre que o Prefei to Réu consti tuiu comissão executiva nomeando as

pessoas de Lucimar Alves Moreira, Claudene Ferreira da Silva Conrado e Ana Zilda

Rodrigues da Silva para cumprirem as determinações do Regulamento do Concurso

Público estabelecido pelo Edita l 002/2008, no sentido de executar os serviços de

inscrição do concurso público municipal , o que configura a to de improbidade

administra t iva, tendo em vista que a empresa que foi vencedora da l ic i tação incluiu no

preço este serviço, a teor do contrato administra t ivo celebrado.

É oportuno esclarecer que o concurso foi terceir izado para empresa que

far ia tudo is to , inclusive como consta que o edita l foi fe i to pela mesma. Ademais, a Lei

de l ic itação veda a em seu art . 9º a partic ipação na execução do serviço l ic itado de

servidores pertencentes ao órgão responsável pela l ic itação, ainda mais se

considerarmos que a servidora Ana Zilda Rodrigues da Silva integrou a comissão de

l ic itação .

Assim, o Prefei to Réu não deveria part ic ipar de atos de execução para a

real ização do concurso, senão nomear comissão para escolha da empresa em processo

l ic i ta tório .

Se não bastasse , o Prefei to Réu determinou aos servidores responsáveis

pela real ização do concurso que fossem até o Assentamento Reunidas para efet ivação da

inscrição de pessoas que quisessem part ic ipar do concurso, o que, a lém de

f lagrantemente violar as regras do edita l , configura a to de improbidade administra t iva ao

se designar servidores para servirem a interesses part iculares da Empresa Ré, contratada

para a real ização do concurso, e conseqüentemente, para efet ivação das inscrições.

Confrontando-se a re lação dos inscri tos com os Componentes da Comissão

de Lici tação, infere-se que, entre os 07 (sete) integrantes da Comissão Permanente de

Licitação, dentre membros e suplentes, 05 (cinco) se inscreveram para o concurso,

não obstante estarem impedidos de participar no certame. São eles :

NOME CARGO

Ana Zilda Rodrigues da Silva Aux. Adm. da Zona Urbana

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Promotoria de Justiça de Goiatins/TO

Antonio Marcos Marques dos Santos Fiscal de Tributos

Romilson Borges da Silva Operador de Sistema

José Edílson Ferreira Ribeiro Professor Magistér io da Zona Urbana

Adair Rosa Caixeta Fiscal Sanitár io

Assim, quest iona-se qual a capacidade técnica e idoneidade moral dos

mesmos para julgarem as propostas da empresa que real izaria o concurso se os mesmos

iram part ic ipar como candidatos?

Também, vê-se a part ic ipação no concurso de Ana Zilda Rodrigues da

Silva , que além de ser membro da comissão de l ic i tação, foi a responsável pela

real ização das inscrições no certame, conforme a declaração anexa, no sentido de que as

inscrições eram realizadas no inter ior do prédio da prefei tura por funcionários desta e ,

pior , em afronta a proposta apresentada pela empresa a qual foi contratada para

prestação de ta l serviço.

Assim, tem-se que Réus Adair Rosas Caixeta e Ana Zilda Rodrigues da

Silva , a lém de part ic iparem ativamente do procedimento l ic i ta tório fraudulento, tentaram

obter vantagem il íc i ta para s i , provavelmente a t í tulo de “pagamento” pelos serviços

prestados.

Ademais, não obstante ter a Empresa Ré sido contratada para a real ização

do concurso público, ou seja , mesmo tendo sido o serviço terceir izado, houve a

designação de servidores públicos municipais , pelo Prefei to Réu, para efetuarem as

inscrições e recolherem as respectivas taxas, os quais , também, encontram-se inscri tos

para o certame:

NOME CARGO INSCRITO

Ana Zilda Rodrigues da Silva Aux. Administra t ivo da zona urbana

Claudene Ferreira da Silva Conrrado Aux. Administra t ivo da zona urbana

Lucimar Alves Moreira; Aux. Administra t ivo da zona urbana

Portanto, a Ré Ana Zilda Rodrigues da Silva, a lém de part ic ipar da escolha

da empresa que real izaria o concurso e ter real izado as inscrições dos candidatos, está

inscri ta para as provas do certame, assim como os demais agentes públicos responsáveis

pelas inscrições, o que, a lém de violar os princípios da impessoalidade, ef ic iência e

moralidade administra t ivas, se traduz em fundados indícios de fraude.

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O concurso, portanto, está viciado com diversas nulidades insanáveis ,

tendo havido ofensa aos princípios consti tucionais da legalidade, impessoalidade e

ef ic iência .

Desta forma, evidente a prát ica pelo Prefei to Réu de atos de improbidade

administra t iva consubstanciada em uti l izar o trabalho de servidores públicos na

execução de serviço part icular , conforme art . 10º , inciso II , da Lei nº 8429/92 6 .

II .DOS DANOS MORAIS COLETIVOS

Consti tui fa to notório que a ocorrência de fraude em l ic i tações e concursos

públicos provoca efei tos devastadores e extremamente lesivos à sociedade, sobretudo

porque configuram fator de desest ímulo aos candidatos e à população em geral ,

notadamente para possíveis l ic i tantes , o que se traduz em descrédito do órgão público

encarregado de promover o concurso ou a l ic i tação.

Toda a vez que houver a notíc ia da abertura de l ic i tação ou de um concurso

a população e os eventuais fornecedores se lembrarão que já houve fraude anterior em

concorrências públicas, que somente os apadrinhados são aprovados ou conseguem

contratos, o que gera descrédito da Administração Pública , tendo em vista o resultado

que se pode esperar de um concurso/l ic i tação fraudulento ou dir igido sem respeito ao

princípio da impessoalidade e , conseqüentemente, ocasiona frustração àqueles que se

prepararam para o certame,

Assim sendo, o Município de Aragominas , tendo em vista a conduta

ímproba de seus administradores, agentes públicos municipais e do part icular com quem

contratou, teve f lagrantemente sua honra objet iva abalada, uma vez que não é mais

dotada da mesma credibil idade e respeitabil idade que seu bom nome e reputação traduzia

junto ao meio comercial e à população em geral .

Desta forma, é direito da Prefeitura Municipal de Aragominas a

proteção dos direitos de sua personalidade , os quais são expressamente protegidos

consti tucional e legalmente nos incisos V e X, do art igo 5º, da Consti tuição Federal , e

aplicação subsidiária dos ar t igos 52 e 11 e ss . do Código Civil , cujo entendimento já

6 Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: (...)

II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

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restou pacif icado com a edição da Súmula 227 do STJ 7 , sobretudo quando conf igurada

a prática de atos de improbidade administrativa .

Quanto à possibi l idade de reparação moral da pessoa jurídica de direi to

público é a mais moderna e recente jurisprudência do Superior Tribunal de Just iça:

“ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. DANO AO ERÁRIO. ( . . . ) DANO MORAL. POSSIBILIDADE. PRESCRIÇÃO . ( . . . ) 3 . Não há vedação legal ao entendimento de que cabem danos morais em ações que discutam improbidade administra t iva seja pela frustração trazida pelo ato ímprobo na comunidade, seja pelo desprest ígio efet ivo causado à entidade pública que dif iculte a ação esta ta l . 4. A aferição de ta l dano deve ser fe i ta no caso concreto com base em análise detida das provas dos autos que comprovem efet ivo dano à colet ividade, os quais ul trapassam a mera insat isfação com a at ividade administra t iva.( . . . ) 6 . Recurso especial conhecido em parte e provido também em parte .” (STJ - REsp 960926 / MG – Segunda Turma – Relator: Min. Ministro Castro Meira – Publicação: 01/04/2008).

Assim consta no corpo do ci tado acórdão:

“Esta Corte de Just iça pacif icou a sua jurisprudência, reconhecendo a possibi l idade de dano moral contra a pessoa jurídica, nos termos da Súmula 227, que assim preconiza:

"A pessoa jurídica pode sofrer dano moral."

Nada just if ica a exclusão da pessoa jurídica de direi to público, já que um ato ímprobo pode gerar um descrédito , um desprest ígio que pode acarretar o desânimo dos agentes públicos e a descrença da população que, inclusive, prejudique a consecução dos diversos f ins da ativ idade da Administração Pública, com repercussões na esfera econômica e f inanceira.”

Desta forma, resta evidente que os a tos de improbidade administra t iva são

geradores de danos imateria is , v is to que ta is a tos at ingem a moralidade da administração

pública , requisi to e lencado na Consti tuição Federal como princípio da administração

pública .

Como a lesão at inge um número indeterminado de pessoas, comporta o

caso a condenação de todos os requeridos (exceto a vít ima – Prefeitura Municipal ) ao

pagamento de quantia a t í tulo de indenização por danos morais difusos, ou seja , sofr idos

indist intamente por um número indeterminado de pessoas.

7 A pessoa jurdica pode sofrer dano moral.í

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O dano moral difuso define-se como aquele de natureza não

patr imonial , decorrente da violação de direi tos , interesses ou valores jurídicos inerentes

a toda colet ividade, de forma indivisível .

Os danos morais servem no presente caso não apenas para re tr ibuir

os danos causados aos jurisdicionados frustrados com a quantidade exorbitante de

fraudes em concursos públicos e que se viram furtados do respeito a um direi to seu, mas

também à própria sociedade que presenciou uma decisão sua, inserida na Consti tuição

Federal , ser desrespeitada e ignorada.

Em outros termos, a imposição dos danos morais tem por função

forta lecer a própria autoridade do Direi to , que não pode deixar de ser seguido sem

maiores conseqüências, sob pena de se estabelecer o caos social .

Destarte , está caracterizada a ocorrência de danos morais de fundo

metaindividual . E não apenas pela humilhação daqueles diretamente lesados, que

buscavam exercer um direi to legít imo, mas, acima de tudo, pela exigência da sociedade

em que se faça respeitado o Direi to , s is tema de poder dela advindo.

Registre-se que a própria Lei da Ação Civil Pública prevê a

indenização ora pretendida, nos seguintes termos:

“Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei , sem prejuízo da ação

popular, as ações de responsabil idade por danos morais e patrimoniais causados:

IV – a qualquer outro interesse difuso ou colet ivo;”

Tem-se, pelas palavras de Hugo Nigro Mazzil l i , que a “Lei n . 8 .884/94

introduziu uma al teração na LACP, segundo a qual passou a f icar expresso que a ação

civi l pública objetiva a responsabil idade por danos morais e patrimoniais causados a

quaisquer dos valores transindividuais de que cuida a le i .

A propósito , em caso deveras muito mais s imples, onde se discutia o

descumprimento do direi to a “meia entrada” para estudantes, o respeitado Tribunal de

Just iça do Estado do Rio de Janeiro assim entendeu:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA DO M.P. local , em prol da meia entrada para

estudantes. Violação grave da le i municipal e termo de autorização. Além da

condenação de cumprir obrigação de fazer, se já v iolado o preceito , cabe, em obséquio

ao desrespeito à comunidade, aos estudantes e à le i , dano moral colet ivo , perseguido

legit imamente pelo M.P., com tutela transindividual de interesses di fusos, colet ivos e

homogêneos. Apelo parcialmente provido, arbitrado dano moral colet ivo, com

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razoabil idade em R$ 12.000,00 (50 salários mínimos na data da r . sentença), dest inado

ao Fundo do art . 13, Lei Federal n. 7 .347/85 .” (TJRJ, Apelação Cível n . 283/2004, Rel .

Des. Severiano Aragão, 17ª Câm. Cível , j . 31/03/04).

Ora, Excelência , é fáci l notar que se há dever de indenizar por dano moral

difuso quando não se vê respeitado direi to s imples, perfei tamente renunciável e de

menor expressão, como a garantia da “meia entrada” prevista em lei municipal , com

muito mais razão e em quantia maior há dever dos requeridos de indenizar o dano moral

difuso por terem se mancomunado para a prát ica de fraudes em concurso público,

lesando o direi to de centenas, quiça de milhares de inscri tos em concurso público que,

se espera , não real izarão as provas neste domingo.

Posto isso, perfei tamente demonstrada está a ocorrência do dano moral

difuso, bem como o dever dos sete requeridos de indenizar (exceto a ví t ima Prefei tura) .

Outrossim, uti l izando-se o critério de razoabil idade, tal qual o critério

do julgado acima aludido , considerando-se a frustrada expectat iva causada aos lesados

inscri tos no aludido concurso público, que, muitas vezes, adquirem aposti las e l ivros

para estudar, deixam de real izar outras at ividades do dia para se dedicarem ao estudo, os

inúmeros direi tos solapados, as i legalidades baratas confeccionadas, a s imulação

maquiada, há que se condenar os sete requeridos ao pagamento de no mínimo R$

20.750,00 (vinte mil , setecentos e c inquenta reais) a t ítulo de danos morais difusos, o

que equivale a 50 (cinquenta) salários mínimos .

É um montante justo, razoável , que servirá não somente para compensar os

danos já causados, mas também para pedagogicamente desest imular estas invest idas

contra a moralidade pública .

Portanto, configurado a ocorrência de efet ivo dano à colet ividade, os quais

ul trapassam a mera insat isfação com a at ividade administra t iva, imperativo à condenação

dos Réus ímprobos ao pagamento de indenização por danos morais , em face da prát ica de

atos lesivos à colet ividade que ocasionaram descrédito e desrespeito junto ao poder

Publico Municipal , em vistas a reparar o dano e punir os seus causadores, servindo,

inclusive, como palia t ivo à desencorajar a prát ica de outros atos i legais , devendo ser

revert ido na forma do art . 13 da Lei 7.347/85.

III .DA TUTELA ANTECIPADA

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Conforme estabelece o ar t . 273 do Código de Processo Civil 8 , o juiz poderá, a requerimento da parte , antecipar , tota l ou parcialmente , os efei tos da tutela pretendida no pedido inicia l , desde que, exist indo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e haja fundado receio de dano irreparável ou de dif íc i l reparação.

Com efei to , as diversas s i tuações de i l ic i tude apontadas, por óbvio, repercutem negativamente na disponibil idade e qualidade da natureza e serviço a ser prestado, comprometendo o bom cumprimento do comando consti tucional do art igo 37, II , da CR, o respeito aos princípios inscri tos no “caput” do mesmo disposit ivo, propiciando e oportunizando a ocorrência de fraude em certame capaz de macular a a moralidade e todo o arcabouço normativo pert inente à seleção de servidores públicos que integraram o aparato da Administração Pública Municipal .

Da mesma forma que o Ministér io Público está a tuando preventivamente para cumprir com o seu papel de f iscal da sociedade, espera-se do Poder Judiciário sensibil idade e acurado senso social no trato da questão, sob pena de inércia e co-responsabil idade por dano difuso de natureza prejuízos irreversíveis à l isura nas contratações do Poder Público.

Nesses termos, oportuna e necessária a imediata concessão de tutela de urgência para , diante dos fa tos expostos, primeiro de tudo, determinar a suspensão do mencionado concurso público, com previsão de provas a serem realizadas na manhã do próximo dia 04 de maio de 2008 (Domingo) .

A suspensão postulada como tutela de urgência não só está revest ida de todos os requisi tos legais exigíveis , como, por outro lado, é medida de cautela necessária para evitar , a í s im, irreversibi l idade fát ica de permitir a real ização de concurso público deflagrado e encaminhamento de modo absolutamente i legal e irregular , f rustrando esforços e defraudando expectat ivas legít imas de candidatos e potenciais interessados que nada tem a ver com os equívocos havidos na real ização do certame.

Muito antes suspender a real ização de concurso público em relação ao qual se postula anulação por todos os argumentos de direi to apresentados do que, propriamente, permitir e corroborar a sua temerária real ização ao total arrepio da legislação vigente , o que potencial izará e dif icultará a inda mais a reversão do seu resultado em prol da correção e legalidade que deve nortear o agir administra t ivo, conseqüências que precisam ser sopesadas pelo Poder Judiciár io .

8 “Art. 273 - O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; (...)”

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Os documentos juntados e os fundamentos jurídicos a legados, ao nosso ver , fazem prova inequívoca das a legações af irmadas, demonstrando sua verossimilhança, ta l como exige o ar t igo 273 do CPC, especialmente porque, permitir a real ização do mencionado concurso com todas as irregularidades é permitir que o fundado receito de dano irreparável ou de dif íc i l reparação, descri to no inciso I do mencionado disposit ivo, seja devida e prat icamente consumado.

Longe de residir na concessão da tutela de urgência pretendida, o verdadeiro e único perigo de irreversibi l idade aqui existente (ar t igo 273, §2º , do CPC) é permitir a real ização deste concurso público que, como provado, foi deflagrado de modo absolutamente i legal , p leno de vícios formais , materia is e diversas outras irregularidades, envolvendo e abrangendo tanto a fraude na l ic i tação como, propriamente, contemplando edita l contendo inúmeros e mult ifacetados vícios sujei tos a toda e qualquer sorte de impugnação.

Diante da diversif icada e ampla causa de pedir , sobram a vicejam motivos para que este Juízo indique, com precisão, as razões do seu convencimento (ar t igo 273, §1º , do CPC), deferindo a tutela de urgência mandamental de cunho suspensivo ta l como requerido pelo Ministér io Público.

As i l ic i tudes e irregularidades apontadas são graves e vulneram os mais e lementares principais que norteiam a acessibi l idade a cargos públicos.

A mera alegação da necessidade de real izar concurso público para provimento dos cargos por conduta administra t iva irregular e desenvolvida de modo absolutamente desorganizado e descontínua pelo Município certamente não pode se sobrepor à exigência de legalidade, l isura e transparência no certame.

Lembre-se que o Judiciár io é dotado consti tucionalmente de poderes para f iscal izar o exercício de at ividades administra t ivas, cabendo-lhe desempenhar a t ividade de f iscal ização propriamente jurídica, na acepção de que se tra ta de verif icar a compatibi l idade dos atos administra t ivos com as normas jurídicas de hierarquia mais e levada1.

Esta a l ição da melhor jurisprudência:

“ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. PRINCÍPIOS ATINENTES À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. INOBSERVÂNCIA. SUSPENSÃO DO CERTAME. POSSIBILIDADE . 1 . O Ministério Público é parte legít ima, nos termos dos arts . 129, III , da CF/88 e 1° da Lei 7 .347/85, para ajuizar ação civi l pública visando a anulação de concurso público realizado sem a observância dos princípios consti tucionais que regem a ativ idade administrativa. Precedentes do STJ. A exis tência de indícios sufic ientes de violação aos princípios da igualdade e da moralidade administrativa na realização de concurso público autoriza a concessão de provimento determinando sua

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suspensão até f inal trâmite da ação civi l pública. 2 . AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO”.

(TJ-RS – Quarta Câmara Cível; Agravo de Instrumento Nº 70017225467, Relator Desembargador Araken de Assis , ju lgado em 06/12/2006)

E ainda:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONCURSO PÚBLICO. INOBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA LEGALIDADE, DA AMPLA ACESSIBILIDADE E DA MORALIDADE. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO. DEFESA DE INTERESSE COLETIVO. PRECEDENTES.

1. Tanto o art igo 129, inciso III , da Consti tuição da República, quanto a legislação infraconsti tucional, i lustrativamente o inciso IV do art igo 1º da Lei nº 7 .347/85, acrescentado pela Lei nº 8.078/90, conferem legit imidade ao Ministério Público para atuar na defesa de candidatos em concurso pú blico, que é espécie ou modalidade de interesse colet ivo.

2. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Just iça af irmou já a legit imidade do Ministério Público para ajuizar ação civi l pública visando à declaração da nulidade de concurso público realizado sem a observância dos princípios consti tucionais da legalidade, da ampla acessibi l idade e da moralidade, nada importando que a alegada nulidade decorra de regras classi f icatórias correspondentes a e tapa específ ica do certame.

3. "Propugnando-se, na ação civi l pública, a anulação de concurso público ante a inobservância de princípios at inentes à administração pública, o interesse em tutela é metaindividual di fuso."

4 . Agravo regimental improvido.

(STJ - AgRg no REsp. 681624-MG, Relator Ministro HAMILTON CARVALHIDO, 27.09.05, DJU 28.11.05, p . 347):

No mesmo sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCURSO PÚBLICO. CÂMARA DE VEREADORES DE GUAÍBA . Mostra-se correta a decisão que determinou a suspensão da nomeação de cargo, a té decisão f inal de ação que visa apurar eventual i rregularidade na prova do certame correspondente . AGRAVO DESPROVIDO.

(TJ-RS – Terceira Câmara Cível; Agravo de Instrumento Nº 70013933601, Relator Desembargador Rogerio Gesta Leal , ju lgado em 16/03/2006)

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A prova carreada à inicia l , consubstanciada na existência de s imulação do procedimento l ic i ta tório , constatada faci lmente em análise à documentação colacionada à exordial , corroborada pela ocorrência de graves vícios procedimentais e materia is , a lém de diversas disposições manifestamente i legais no edita l do concurso, são hábeis à comprovar de forma inequívoca e sufic ientemente robusta a verossimilhança das a legações do Autor.

Assim sendo, é imperativo que haja a imediata suspensão do concurso público, com previsão de provas a serem realizadas em 04/05/2008, ou seja, no próximo domingo, em vistas a evitar irreversibil idade fática de permitir , de forma temerária, a realização do certame deflagrado com diversas s ituações de i l ic itude apontadas tanto no procedimento l ic itatório, quanto em disposições editalíc ias, o que viria a frustrar esforço e defraudando expectativas legít imas dos eventuais candidatos, o que acarretaria prejuízos de dif íc i l ou incerta reparação .

Desta forma, presentes os requisi tos autorizadores à concessão da tutela antecipada , materia l izados na prova inequívoca que evidencia a verossimilhança das a legações, concil iada com o fundado receio de dano irreparável ou de dif íc i l reparação, possível se mostra a concessão do provimento de urgência .

Assim sendo, com base na robusta prova documental carreada aos autos e a indiscutível necessidade de celeridade no provimento jurisdicional requerido, em vistas a evitar a deflagração de um concurso temerário , no qual as i legalidades apontadas são tão graves que vulneram os mais e lementares princípios que norteiam a acessibi l idade aos cargos públicos, é a presente para requerer a antecipação de tutela , com fundamento nos termos do art . 273 do Código de Processo Civil , no sentido de que seja determinada a IMEDIATA SUSPENSÃO DO CONCURSO PÚBLICO, até provimento jurisdicional f inal , sob pena de aplicação de MULTA DIÁRIA , a ser est ipulada desde já por este Juízo, especialmente nas pessoas do Prefei to Réu e Presidente da Comissão de Concurso, para o caso de desobediência .

DA CUMULAÇÃO DE PEDIDOS

Verif ica-se que, por economia processual , preferimos a cumulaçãode pedidos na mesma demanda. Ora, decorre dos fa tos duas consequências jurídicas dis t intas: uma é a suspensão e consequente anulação do concurso público. Outra é a evidente fraude prat icada pelo Prefei to , juntamente com os outros requeridos.

Com efei to , a par de oferecer a notif icação prévia a que faz jus os demandados quando em juízo processados sob o r i to da Lei 8.429/92, não há outras diferenças substanciais que impeçam o cúmulo de pedidos aqui pretendido.

Nesse sentido:

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PROCESSO CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS. POSSIBILIDADE. DISPENSA DE LICITAÇÃO . CASO DE EMERGÊNCIA. CARACTERIZAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL. SÚMULA 7.

1. O Ministério Público é parte legít ima para ajuizar ação civi l pública que vise aplicar as sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativa.

2. A ação civi l pública é meio processual adequado para buscar a responsabil ização do agente público nos termos da Lei de Improbidade Administrativa, sendo também possível a cumulação de pedidos.

3. O recurso especial interposto antes do julgamento dos embargos infr ingentes é intempestivo.

4. Em sede de recurso especial é inadmissível o reexame da matéria fát ica dos autos para identi f icar a exis tência ou não de s i tuação emergencial que just i f ique a contratação de pessoal sem concurso público, com base no art . 24, IV, da Lei 8 .666/93.

5. Recurso especial do Parquet não conhecido e recurso especial de Nei Eduardo Serra conhecido em parte e não provido.

(REsp 944.295/SP, Rel . Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 04.09.2007, DJ 18.09.2007 p. 291)

No mesmo sentido:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO PÚBLICO. DANO AO ERÁRIO. CABIMENTO. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS. POSSIBILIDADE . ARTS. 292 DO CPC. 19 DA LEI Nº 7.347/85 E 83 DA LEI Nº 8.078/90.

1. A Consti tuição Federal , no art . 129, inciso III , considerou o patrimônio público como um interesse di fuso. A Lei da Ação Civi l Pública, ao tutelar outros interesses di fusos e colet ivos aí inclui o patrimônio público. Precedentes.

2 . A Lei nº 7 .347/85 -LACP- prevê a ut i l ização subsidiária do Estatuto de Ritos, autorizando vários t ipos de provimentos jurisdicionais para a defesa dos

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in teresses di fusos e colet ivos, que devem ser estendidos às s i tuações descri tas no art . 3º da LACP.

3. Admite-se a cumulação de pedidos em ação civi l pública, desde que observadas as regras para a cumulação previstas no art . 292 do CPC.

O art . 21 da Lei nº 7 .347/85 remete-se à regra do art . 83 do CDC que autoriza a obtenção de provimento jurisdicional de qualquer natureza: condenatório, mandamental , declaratório ou consti tut ivo.

4. A análise de violação ao art . 4º da Medida Provisória nº 2 .225-45, de 04.09.01, é meramente potencial . A aplicação da norma ao caso dos autos dependeria do resultado do julgamento deste apelo extremo. Tal pretensão não se coaduna aos estrei tos l imites do recurso especial .

5 . Recurso especial improvido.

(REsp 547.780/SC, Rel . Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 02.02.2006, DJ 20.02.2006 p. 271)

E ainda:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

1. A probidade administrativa é consectário da moralidade administrativa, anseio popular e , a fort iori , di fuso.

2. A caracterís t ica da ação civi l pública está, exatamente, no seu objeto di fuso, que viabil iza muti fária legit imação , dentre outras, a do Ministério Público como o mais adequado órgão de tutela, intermediário entre o Estado e o c idadão.

3. A Lei de Improbidade Administrativa, em essência, não é le i de r i tos senão substancial , ao enumerar condutas contra legem, sua exegese e sanções correspondentes.

4 . Considerando o cânone de que a todo direi to corresponde um ação que o assegura, é l íc i to que o interesse di fuso à probidade administrativa seja veiculado por meio da ação civi l pública máxime porque a conduta do Prefei to interessa à toda a comunidade local mercê de a e f icácia erga omnes da decisão aproveitar aos demais munícipes, poupando-lhes de noveis demandas.

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5. As conseqüências da ação civi l pública quanto aos provimento jurisdicional não inibe a e f icácia da sentença que pode obedecer à c lassi f icação quinária ou tr inária das sentenças 6. A fort iori , a ação civi l pública pode gerar comando condenatório, declaratório, consti tut ivo, auto-executável ou mandamental .

7 . Axiologicamente, é a causa petendi que caracteriza a ação difusa e não o pedido formulado, muito embora o objeto mediato daquele também influa na categorização da demanda.

8. A le i de improbidade administrativa, juntamente com a le i da ação civi l pública, da ação popular, do mandado de segurança colet ivo, do Código de Defesa do Consumidor e do Estatuto da Criança e do Adolescente e do Idoso, compõem um microssis tema de tutela dos interesses transindividuais e sob esse enfoque interdiscipl inar, interpenetram-se e subsidiam-se.

9. A doutrina do tema referenda o entendimento de que "A ação civi l pública é o instrumento processual adequado conferido ao Ministério Público para o exercício do controle popular sobre os atos dos poderes públicos, exigindo tanto a reparação do dano causado ao patrimônio por ato de improbidade quanto à aplicação das sanções do art . 37, § 4º , da Consti tuição Federal , previstas ao agente público, em decorrência de sua conduta irregular.

(. . . ) Torna-se, pois , indiscutível a adequação dos pedidos de aplicação das sanções previstas para ato de improbidade à ação civi l pública, que se consti tui nada mais do que uma mera denominação de ações colet ivas, às quais por igual tendem à defesa de interesses meta-individuais .

Assim, não se pode negar que a Ação Civi l Pública se trata da via processual adequada para a proteção do patrimônio público, dos princípios consti tucionais da administração pública e para a repressão de atos de improbidade administrativa, ou s implesmente atos lesivos, i legais ou imorais , conforme expressa previsão do art . 12 da Lei 8.429/92 (de acordo com o art . 37, § 4º , da Consti tuição Federal e art . 3º da Lei n .º 7 .347/85)" (Alexandre de Moraes in "Direi to Consti tucional" , 9ª ed. , p . 333-334) 10. Recurso especial desprovido.

(REsp 510.150/MA, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 17.02.2004, DJ 29.03.2004 p. 173)

IV.DOS PEDIDOS

Para bem tutelar o patrimônio público e moral da Administração Pública como verdadeiro interesse difuso , buscando anular e

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desconstituir atos administrativos praticados de modo i legal e irregular resultantes na s imulação de l ic i tação para real ização de concurso público, negócio jurídico que, como descri to , viola regras e princípios consagrados no ordenamento jurídico, a pretensão do Ministério Público, cumprindo com o seu dever junto à sociedade, repassando e comparti lhando a responsabil idade junto com o próprio Poder Judiciário é:

a) A autuação da presente petição inicia l e dos documentos do respectivo Procedimento Preparatório n . 01/2008 que a instrui , bem como o seu recebimento e processamento segundo o r i to estabelecido na Lei n . 8 .429/92 ( por ser mais abrangente o r i to , enaltece o princípio do contraditório e da ampla defesa ) , observada prioridade de tramitação no expediente por se tratar de tutela coletiva envolvendo interesse difuso de Defesa do Patrimônio Público (artigo 5º , LXXVIIII, da CRFB), com a devida anotação na capa e rosto dos autos ;

b) A DECLARAÇÃO da nulidade de todos os a tos administra t ivos referentes ao Concurso Público em tela , incluindo os edita is publicados e demais a tos pert inentes e subseqüentes, além dos próprios termos do contrato administra t ivo e demais a tos equivalentes , com todos os ref lexos e conseqüências necessários para o re torno ao status quo ante ;

c) a CONDENAÇÃO do Município Réu à obrigação de fazer , consistente na real ização de novo concurso público, de modo a ser observado, desta vez, as regras do procedimento l ic i ta tório desta espécie;

d) a CONDENAÇÃO do Réu “Município Assessoria e Consultoria” à devolução da importância de R$15.000,00 (quinze mil reais) , quantia esta acrescida de juros legais e correção monetária a contar de seu pagamento, conforme Súmulas 43 e 54 do Superior Tribunal de Just iça , caso a mesma já o tenha recebido;

e) a CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA dos Réus (1) DIVINO PEREIRA DA SILVA, (2) ADAIR ROSA CAIXETA, (3) MARIA APARECIDO DE CARVALHO, (4) ANA ZILDA RODRIGUES DA SILVA, (5) MARINÓLIA DIAS DOS REIS, (6) GILBERTO ADRIANO MOURA DE OLIVEIRA , (7) MUNICÍPIO ASSESSORIA E CONSULTORIA S/C LTDA , es te na pessoa de suas sócias ADRIANA AB-JAUDI BRANDÃO DE ASSIS e LILIAN ABI-JAUDI BRANDÃO LANG , ao ressarcimento integral do dano moral difuso no valor de R$ 20.750,00 (vinte mil , setecentos e cinquenta reais) a t ítulo de danos morais difusos, o que equivale a 50 (cinquenta) salários mínimos .e ao pagamento de multa civi l no importe de duas vezes o seu valor , bem como à perda da função pública , suspensão dos direi tos polí t icos pelo período de oi to anos, e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefíc ios ou incentivos f iscais ou credit íc ios, dire ta ou indiretamente, a inda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majori tár io , pelo prazo de cinco anos,

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tendo em vista os a tos de improbidade administra t iva prat icados, consoante ar t . 12, inciso II , Lei nº . 8 .429/92.

f) a CONDENAÇÃO dos Réus ao pagamento dos ônus sucumbenciais .

V.DOS REQUERIMENTOS

Para tanto, requer:

a) a NOTIFICAÇÃO dos réus, nos termos do art . §7º , do art . 17, da Lei 8 .429/92 e , em seguida, com o recebimento da inicia l , a CITAÇÃO DOS RÉUS, via postal com AR., para , querendo, contestarem a presente demanda, sob pena de serem considerados verdadeiros os fa tos alegados;

b) independente do r i to traçado pela Lei 8.429/92 (notif icação prévia) , com o f i to de viabil izar a tutela jurisdicional de urgência , que deve sempre ser adequada e conforme a Consti tuição da República , sob pena de inviabil izar o próprio direi to posto em juízo, requer-se a CONCESSÃO DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA inaudita al tera parte , nos moldes do pedido no i tem III supra, devendo ser est ipulada, desde já, MULTA DIÁRIA por este Juízo, nas pessoas do Prefeito Réu e do Presidente da Comissão do Concurso , para o caso de desobediência da ordem judicial , é dizer , ante a presença dos requisi tos legais , postula-se a apreciação IMEDIATA seguida do deferimento de TUTELA DE URGÊNCIA para determinar a imediata SUSPENSÃO do mencionado PROCESSO SELETIVO PÚBLICO até ul ter ior deliberação do Juízo e/ou trânsi to em julgado da presente ação civi l pública , adotando-se todas as providências e di l igências para comunicação do Município réu e efet ivação da ordem, sob pena de f ixação de astre inte (ar t igo 461 do CPC), especialmente na pessoa do Prefei to Municipal e Presidente da Comissão de Concurso , adotadas as cautelas necessárias para esclarecimento da sociedade e população do teor da decisão proferida, tendo em vista a fumaça do bom direi to que deriva das múltiplas i legalidades e irregularidades apontadas , e , sobretudo, considerando que o perigo da demora do provimento jurisdicional está evidenciado pela proximidade e prejuízo que a eventual permissividade da real ização do concurso público pode acarretar para o caso concreto, incluindo a perspectiva de ingresso i legal de serviços nos quadros do funcionalismo público e as conseqüências de certa irreversibi l idade no prejuízo derivado de ta l medida.

c) O Ministério Público pretende provar os fa tos a legados através de todos os meios de prova em direi to admitidos. Após a devida angularização da relação jurídico-processual , concret izando comando do art igo 125, IV,

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do CPC, por se tra tar de matéria eminentemente de direi to , cuja eventual necessidade de di lação probatória é eminentemente documental (ar t igo 330, I , do CPC), desde já requer este Órgão Minister ia l que o Juízo proceda ao julgamento antecipado da l ide , sendo absolutamente desnecessária instrução do fei to;

d) Ademais, pelos fundamentos jurídicos expostos, nos termos postulados, presente s i tuação de múlt ipla i l ic i tude, seja julgado integralmente procedente a pretensão embutido na presente demanda de natureza e carga eficacial predominamente constitutivo-negativa , a resultar na declaração de NULIDADE de todos os atos administrativos referentes ao REGULAMENTO DE CONCURSO PÚBLICO N. 01-2008 , incluindo o EDITAL n. 002-2008 e demais a tos pert inentes e subseqüentes, a lém dos próprios termos do CONTRATO ADMINISTRATIVO e demais a tos equivalentes , com todos os ref lexos e conseqüências necessários para o re torno à s i tuação de origem;

e) Não obstante a l ide abordar questão exclusivamente de direi to , versando exclusivamente sobre prova documental , admitindo julgamento conforme estado do processo, como requerido, na hipótese de sobrevir fa to superveniente diverso deste entendimento, requer e protesta o Ministér io Público pelo direi to de produzir todo e qualquer t ipo de prova em direi to admitido;

f) a observância do art . 18 da Lei 7.347/85 e do art . 27 do Código de Processo Civil quanto aos a tos processuais requeridos pelo Ministér io Público;

g) a int imação pessoal do Ministér io Público para acompanhar todos os a tos prat icados no processo civi l ora instaurado.

Dá-se à causa o valor de alçada, posto que inest imável o bem jurídico difuso tutelado (patr imônio público municipal) .

ARAGUAÍNA, 29 DE ABRIL DE 2008.

SIDNEY FIORI JUNIORPROMOTOR DE JUSTIÇA

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