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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS 2ª Promotoria de Justiça de Trindade Curadoria do Meio Ambiente EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE TRINDADE - GO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de Justiça infra-assinado, no uso de suas atribuições, com fundamento nos artigos 37, caput e § 4º, 129, incisos II e III, 182, caput, 225, caput e § 1º, todos da Constituição Federal, artigos 1º a 3º, 11, caput e incisos I e II, 12, inciso III e 17 da Lei Federal nº 8429/1992, artigo 54 da Lei 12305/2010 e demais dispositivos legais, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL em desfavor de JÂNIO CARLOS ALVES FREIRE , brasileiro, atual Prefeito Municipal de Trindade – GO, C.P.F nº 12422924115, RG nº 459912 – SSP/GO, encontradiço na sede da Prefeitura Municipal de Trindade, localizada na Praça Constantino Xavier, nº 330, centro, nesta cidade, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos. I – INTRODUÇÃO

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Page 1: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA · 2015-11-24 · definida quanto ao gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, ... 1 Acostados aos autos nº 200402047634 e 200701298957

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2ª Promotoria de Justiça de TrindadeCuradoria do Meio Ambiente

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE TRINDADE - GO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, pelo Promotor de Justiça infra-assinado, no uso de suas atribuições, com fundamento nos artigos 37, caput e § 4º, 129, incisos II e III, 182, caput, 225, caput e § 1º, todos da Constituição Federal, artigos 1º a 3º, 11, caput e incisos I e II, 12, inciso III e 17 da Lei Federal nº 8429/1992, artigo 54 da Lei nº 12305/2010 e demais dispositivos legais, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL em desfavor de JÂNIO CARLOS ALVES FREIRE, brasileiro, atual Prefeito Municipal de Trindade – GO, C.P.F nº 12422924115, RG nº 459912 – SSP/GO, encontradiço na sede da Prefeitura Municipal de Trindade, localizada na Praça Constantino Xavier, nº 330, centro, nesta cidade, pelos fatos e fundamentos a seguir expostos.

I – INTRODUÇÃO

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A presente Ação Civil Pública encontra-se fundada na documentação acostada em procedimento extrajudicial, cuja temática refere-se à apuração de fatos indicadores de que a Prefeitura Municipal de Trindade não possui, ainda, uma política definida quanto ao gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, o que ocasiona, de forma permanente, sérios danos ao meio ambiente e a própria saúde pública de toda a população.

Importante destacar a existência de 02 (dois) títulos executivos judiciais1 - fls. 04/38, relacionados a questão ambiental em destaque, que estão sendo devidamente executados perante o juízo competente. Ocorre que, sem justificativa plausível, as referidas ordens judiciais, atinentes ao regular gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos, nunca foram cumpridas, de forma integral, pela municipalidade de Trindade, situação que se perdura até a presente data.

Depreende-se da documentação acostada ao Inquérito Civil Público, publicidade oficial intitulada TRINDADE EM AÇÃO, 'Jornal de Prestação de Contas da Prefeitura de Trindade' – Fevereiro/Março de 2014, ADM: 2013-2016, Ano II, nº 3, onde se alardeia, de forma intencional, livre e consciente, com alcance de ludibriar a população, que “Trindade livra-se do lixão” (fl. 03, da referida publicação) (fls. 39/52).

1 Acostados aos autos nº 200402047634 e 200701298957

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Fato inverídico pois, após ser instada pelo Parquet, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos confeccionou o Relatório de Fiscalização Pós - Licenciamento nº 294/2014 (SFI-GIA), mediante vistoria in loco datada de 01 de abril de 2014, constando, dentre outras situações irregulares que, o “(...) 1.1 aterro sanitário de Trindade está com a licença vencida desde 26/10/2009, licença nº 612/2008 processo 14032/2011 (...)”.

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Como forma de sedimentar a conduta dolosa do requerido Jânio Carlos Alves Freire, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (atual SECIMA) confeccionou novo Relatório de Fiscalização nº 1061/2015 (GFMAA – DAA), destacando a perduração de várias situações irregulares:

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Dando sequência, o Ministério Público encaminhou o ofício nº 154/2015, com o escopo de firmar a responsabilidade ambiental do atual governante municipal, destacando a presença do elemento subjetivo:

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Entretanto, o requerido apresentou resposta teratológica – fls. 73/75, redigida pelo atual Procurador Geral do Município de Trindade-GO, não se atentando para o cumprimento dos princípios basilares da administração pública, quais sejam a prevenção e a precaução, cuja base empírica é justamente a constatação de que o tempo não é um aliado, e sim um inimigo da restauração e da recuperação ambiental. Ademais, note-se, vez mais, que os referidos princípios foram amplamente incorporados pelo ordenamento jurídico vigente, ainda que de modo implícito, como deixam crer os artigos 225 da Constituição da República e 4º e 9º (notadamente o inc. III) da Lei n. 6.938/85, entre outros, passando a incorporar o princípio da legalidade ambiental2.

A Lei Federal nº 11.445/07 estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico.

“Art. 3º- Para os efeitos desta Lei, considera-se:(...)

c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: conjunto de atividades, infra-estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final do lixo doméstico e do lixo originários da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas”.

Por sua vez, a Lei Estadual nº 14.248/02, trata especificamente dos resíduos sólidos gerados no Estado de Goiás, dispondo:

2 STJ – REsp 1116964/PI, 2ª Turma, Dje 02/05/2011, Relator Ministro Mauro Campbell Marques

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De outra banda, destaco que se encontra em plena vigência a Lei nº 12305/2010, publicada no Diário Oficial da União no dia 03.08.2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, estabelecendo em seu artigo 54 que “a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, observado o disposto no § 1º do art. 9º, deverá ser implantada em até 4 (quatro) anos após a data de publicação desta Lei”.

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Por oportuno, transcrevo, ainda, o disposto nos artigos 9º e 47 da Política Nacional de Resíduos Sólidos:

Artigo 9º: “Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”.

“Art. 47. São proibidas as seguintes formas de destinação ou disposição final de resíduos sólidos ou rejeitos:

(...)

II - lançamento in natura a céu aberto, excetuados os resíduos de mineração;

III - queima a céu aberto ou em recipientes, instalações e equipamentos não licenciados para essa finalidade (...)”.

Cumpre assinalar que a problemática do lixo, no meio urbano, abrange aspectos relacionados à sua origem e produção, assim como o conceito de inesgotabilidade e os reflexos de comprometimento do meio ambiente, principalmente a poluição do solo, do ar e dos recursos hídricos.

O lixo, disposto inadequadamente, sem qualquer tratamento, polui o solo, alterando suas características físicas, químicas e biológicas, constituindo-se em um problema de ordem estética e, mais ainda, numa séria ameaça à saúde pública.

Diante de toda a problemática decorrente da inadequação da disposição final do lixo urbano, imposição

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esta decorrente de lei, houve a configuração de ato ímprobo por parte do requerido, uma vez que o mesmo sempre esteve a par dos seus deveres como chefe do executivo, em zelar pela proteção do meio ambiente e da saúde de sua comunidade, e não adotou as providências que lhe cabia. Configurou-se, portanto, a conduta prevista no artigo 11 da Lei de Improbidade Administrativa.

II – DA AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA AMBIENTAL POR OMISSÃO DO REPRESENTANTE DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL:

É por demais sabido que a Administração Pública, no exercício de suas funções, tem o dever de buscar sempre o interesse público, como meio de propiciar o bem-estar social.

No exercício da atividade urbanística o agente público não tem qualquer margem de atuação com base em critérios de conveniência e oportunidade. Nessa esteira são as palavras de Hely Lopes Meirelles3: “o agente público fica inteiramente preso ao enunciado da lei, em todas as suas especificações”.

De tal sorte, a omissão de qualquer representante do Poder Público — quando versar acerca de matéria ambiental — requer sua punição imediata por intermédio da ação civil de improbidade administrativa ambiental, denominação utilizada atualmente pela melhor doutrina.

Isto porque, as questões ambientais são marcadas de intensa atividade administrativa, concernentes em atos 3 In Direito Administrativo Brasileiro, Malheiros, 19ª ed.

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autorizadores ou licenciadores do Poder Público e de fiscalização das práticas potencialmente danosas ao meio ambiente, além do implemento de programas voltados à proteção ambiental dos diversos recursos disponíveis.

Eventual omissão, que não tem por antecedente o exercício da discricionariedade, significa descaso com a coisa pública.4

A Lei de Improbidade Administrativa deve ser aplicada de maneira correlacionada com as leis ambientais, de forma a observar e obedecer aos princípios que regem o Direito Ambiental, insculpidos pela Constituição Federal.

Ora, se, por um lado, o Estado é o promotor por excelência da defesa do meio ambiente na sociedade quando elabora e executa políticas públicas ambientais e quando exerce o controle e a fiscalização das atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente, por outro lado, ele aparece, também, em muitas circunstâncias, como responsável direto e indireto pela degradação da qualidade ambiental, quando elabora e executa outras políticas públicas – como, por exemplo, as relacionadas ao desenvolvimento econômico e social – e quando se omite no dever que tem de fiscalizar as atividades que causam danos ao meio ambiente e de adotar medidas administrativas necessárias à preservação da qualidade ambiental.5

Em decorrência de norma constitucional, coube ao legislador especificar os atos de improbidade administrativa. A

4Marcos Vinicius Monteiro dos Santos. A Improbidade Administrativa decorrente da Omissão na Atuação dos Agentes Públicos. Manual Prático da Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo. São Paulo: Imprensa Oficial, MP/SP, 2005.5 Álvaro Luiz Valery Mirra. Proteção do Meio Ambiente: a omissão do Poder Público e o papel do Judiciário no controle da Administração Pública. Revista de Direito Ambiental Ano 8, nº 30. São Paulo: RT, 2003.

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improbidade administrativa ambiental deve ser vista pelo ângulo da ofensa aos princípios administrativos, conforme dispõe o art. 11 da Lei nº 8429/92, in verbis:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública, qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente :I – Praticar ato visando fim proibido em Lei ou regulamento ou diverso daquele previsto em regra de competência;II – Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;(...)”.

O dispositivo citado não cogita do enriquecimento ilícito do agente ou de prejuízo para o erário, contemplados nos atos descritos nos artigos 9º e 10º. Tem a finalidade de fazer prevalecer os deveres do agente público, salientados no artigo 4º da Lei de Improbidade Administrativa, que lhes impõe a obrigação de velar pela estrita observância dos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos. Constitui regra que garante a observância dos princípios estipulados no artigo 37 da Constituição Federal.6

Comentando o inciso I, do artigo 11 da Lei de Improbidade, MARCELO FIGUEIREDO7 explicita:

6 SOBRANE, Sério Turra. Improbidade Administrativa em Matéria Ambiental. Manual Prático da Promotoria de Justiça de Meio Ambiente. São Paulo: Imprensa Oficial, Ministério Público do Estado de São Paulo, 2005.7 In Probidade Administrativa – Comentários à Lei nº 8429/92 e legislação complementar, Malheiros Editores, p. 61.

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“O princípio da legalidade é, sem dúvida, um dos pilares do Estado Democrático de Direito. Ao lado dele convive o princípio da supremacia do interesse público ou princípio da fidelidade pública. De fato, a administração pública, ao cumprir seus deveres constitucionais e legais, busca incessantemente o interesse público, verdadeira síntese dos poderes a ela atribuídos pelo sistema jurídico positivo, desequilibrando forçosamente a relação administração-administrado. Ausentes os poderes administrativos, não seria possível realizar uma série de competências e deveres institucionais (os sacrifícios a direitos, as intervenções, desapropriações, autorizações, concessões, poder de polícia, serviços públicos, etc.). Contudo, forçoso reconhecer que a atividade administrativa não é senhora dos interesses públicos, no sentido de poder dispor dos mesmos a seu talante e alvedrio. Age de acordo com a ‘finalidade da lei’, com os princípios vetores do ordenamento, expressos e implícitos. A administração atua, age, como instrumento de realização do ideário constitucional, norma jurídica superior do sistema jurídico brasileiro.

(...)A norma em foco autoriza a pesquisa do ato administrativo a fim de revelar se o mesmo está íntegro ou, ao contrário, apenas aparentemente atende à lei, se os motivos e seu objeto têm relação com o interesse público, se houve algum uso ou abuso do administrado, se a finalidade foi atendida de acordo com o sistema jurídico; e assim por diante”. (grifo nosso)

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SÉRIO TURRA SOBRANE8 afirma que o inciso II, do art. 11 da Lei nº 8.429/92 pune a prevaricação do agente, que retarda ou omite a prática de ato de ofício que era de sua obrigação realizar. Esta modalidade de improbidade pode ser aplicada com freqüência em matéria ambiental. É comum o retardamento de atos pelas autoridades ambientais que, sem justificativa plausível, atrasam a conclusão de procedimentos ou realização de diligências.

O objetivo esculpido no inciso II, do art. 11 da Lei de Improbidade é punir o agente público omisso que retarda ou se abstém de praticar um ato de sua competência, em absoluta violação à norma legal, regulamentar aos princípios que regem a Administração Pública.

No caso em tela, houve omissão na adoção das providências administrativas determinadas por lei, necessárias à preservação e restauração de bens e recursos ambientais.

Descumpriu-se, consequentemente, tanto as normas

infraconstitucionais, quanto as constitucionais, que impõem ao Administrador Público determinadas condutas e atividades que visam a proteção a bens e recursos naturais.

E diante dessas omissões do Poder Público é importante o controle jurisdicional da Administração, no sentido de vencer a inércia administrativa na adoção de medidas de preservação da qualidade ambiental.9

8 Improbidade Administrativa em Matéria Ambiental. Manual Prático da Promotoria de Justiça de Meio Ambiente. São Paulo: Imprensa Oficial, Ministério Público do Estado de São Paulo, 2005. 9 Proteção do Meio Ambiente: a omissão do Poder Público e o papel do Judiciário no controle da Administração Pública . Revista de Direito Ambiental Ano 8, nº 30. São Paulo: RT, 2003, p. 36.

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MARINO PAZZAGLINI FILHO10, com extrema pertinência, leciona:

“Os órgãos e entidades públicas têm o poder-dever de atuar na tutela ambiental para ‘assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado’ (art. 225, § 1º da CF). Essa atuação obrigatória e prioritária decorre da norma constitucional, em especial do princípio da prevenção e precaução, que é impositivo, vinculante e coercitivo. (...)O dispositivo constitucional utiliza a expressão ‘assegurar a efetividade desse direito’, o que realça, na área do meio ambiente, o princípio constitucional da eficiência (art. 37 da CF), que deve ser observado pela Administração Pública em geral e sempre nortear a conduta dos agentes públicos encarregados do controle ambiental.Portanto, na defesa e preservação do meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações, não basta aos organismos e aos agentes públicos comportamentos ativos e omissivos neutros, insuficientes para reparar, prevenir e precaver os danos ambientais.É mister que organismos e agentes públicos executem as tarefas de sua responsabilidade, direcionadas sempre à reparação ou à proteção mais adequada, mais eficaz possível, dos recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar

10 Princípios Constitucionais Reguladores da Administração Pública. São Paulo, Atlas, 2000, páginas 55/56.

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territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora (inciso V da Lei nº 6.938, de 31-8-81, com a redação dada pela Lei nº 7.804 de 18-7-89).Por conseguinte, os agentes públicos, no exercício da tutela do meio ambiente, em face do comando específico das normas ambientais de prevenção, precaução e efetividade (art. 205, caput e § 1º, da CF) e do princípio universal da eficiência (art. 37, caput da CF), têm o dever jurídico de adotar e executar as medidas mais eficazes e produtivas para a satisfação do meio ambiente ecologicamente equilibrado.Enfim, o dever jurídico de boa gestão ambiental deve imperar sempre na atuação dos agentes públicos, não lhes cabendo, nesse aspecto, qualquer margem de discricionariedade. A violação desse dever constitucional, além de implicar a reparação do dano ecológico causado, a responsabilidade civil do Estado perante os particulares lesados e a responsabilidade administrativa e, por vezes, penal do agente público responsável pela má gestão ambiental (Lei nº 9.605 de 12-2-1998), pode ensejar a aplicação de sanções estabelecidas na Lei de Improbidade Administrativa”. (grifo nosso)

Viola-se os princípios da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência, o agente público, in casu o requerido, quando não elabora o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, e concomitantemente não o executa, ensejando consequências ambientais danosas e irreversíveis.

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Trata-se de imposição a que o ordenamento jurídico submete a Administração Pública (particularmente em razão da extrema importância que a Constituição Federal atribui às conjunturas ambientais e urbanísticas, fruto do pensamento de nossa época), e, por via de consequência, os agentes que a corporificam quando no exercício de suas funções.

Com efeito, diz o artigo 37, caput, e parágrafo 4º, da Constituição Federal:

“Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)§ 4º. Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e graduação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.

Na lição de WALLACE PAIVA MARTINS JÚNIOR,

“A proteção aos princípios da Administração Pública instituída na Lei Federal no 8.429/92 enfatiza com força e vigor a tutela sistemática da moralidade administrativa e dos demais princípios explícitos ou implícitos da Administração Pública. A tutela específica do art. 11 é dirigida às bases

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axiológicas e éticas da Administração, realçando o aspecto da proteção de valores imateriais integrantes de seu acervo (...)” (“Probidade Administrativa”, São Paulo, Saraiva, 2001, páginas 224/225).

Ressalte-se que o papel do Poder Judiciário, quando o assunto é a punição dos administradores públicos por omissão, é crucial para se atender o interesse da coletividade.

Nesse diapasão são os ensinamentos de ÁLVARO LUIZ VALERY MIRRA:

“Nesses termos, quando se fala hoje em dia em controle sobre as ações e omissões do Poder Público na esfera ambiental, está se referindo ao controle social, ao controle da sociedade, sob a ótica da democracia participativa, como regime constitucionalmente instituído no País a partir de 1988, controle esse, portanto, legítimo, inclusive quando se manifesta por intermédio do Poder Judiciário, que é um dos mecanismos, um dos meios, de que se vale a sociedade para participar na proteção do meio ambiente.E aqui surge um outro ponto importante. Quando se fala em controle judicial sobre a omissão da Administração Pública na proteção do meio ambiente, está se referindo ao controle da sociedade por intermédio do Poder Judiciário”.

Dito de outra maneira, não é o juiz propriamente, não é o Judiciário a rigor, que efetua o controle sobre a Administração Pública nesse caso, mas sim a sociedade, representada em juízo pelos cidadãos ou por entes

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representativos dos seus interesses na defesa do meio ambiente. O Judiciário, na verdade, é apenas a via de que se vale a sociedade para o controle da Administração Pública na área ambiental.

Cito novamente o doutrinador ÁLVARO LUIZ VALERY MIRRA:

“É perfeitamente possível, no âmbito da responsabilidade civil ambiental, obter a supressão das omissões estatais lesivas ao meio ambiente, providência que poderá levar até, em determinadas hipóteses, à implementação de políticas públicas, consequência essa que nos parece inevitável em muitas circunstâncias nessa matéria – basta lembrar aqui os casos de tratamento de lixo e de tratamento de efluentes e esgotos, que exigem para sua efetivação uma série de ações e programas, inseridos no contexto de políticas públicas ambientais”.

A eficiência administrativa foi erigida nos dias atuais à categoria de princípio constitucional. LUIZ ALBERTO DAVID ARAÚJO e VIDAL SERRANO NUNES11 acentuam que “o princípio da eficiência tem partes como as normas de boa administração, indicando que a Administração Pública, em todos os seus setores, deve concretizar atividade administrativa predisposta à extração do maior número possível de efeitos positivos ao administrado. Deve sopesar relação de custo-benefício, buscar otimização de recursos, em suma, tem por obrigação dotar de maior eficácia possível todas as ações do Estado”.

11 Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva, 1998.

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Isso significa que o agente público deve adotar sempre a melhor postura, objetivando o interesse público. Se não age eficazmente, se age sem razoabilidade, diante daquilo que dele poderia ser exigido, em suma, se sua omissão for indevida, ele deverá responder por improbidade administrativa.

O egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais se pronunciou, de maneira firme, em relação ao cometimento de improbidade ambiental pelo agente público:

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - PREFEITO - CONDUTAS QUE OCASIONARAM DANOS AMBIENTAIS - INOBSERVÂNCIA DO ARTIGO 225 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - CARACTERIZAÇÃO DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - APLICAÇÃO DA LEI 8.429/92 / APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0107.06.999989-7/001 - COMARCA DE CAMBUQUIRA - APELANTE(S): RUBENS BARROS SANTOS EX-PREFEITO(A) MUNICIPAL DE CAMBUQUIRA - APELADO(A)(S): MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADO MINAS GERAIS / Belo Horizonte, 05 de outubro de 2006.

Extraem-se do voto do relator do recurso ut supra:

“A noção de patrimônio público não se subsume ao conjunto de bens de natureza econômico-financeira, que designa o erário, abrangendo, portanto, o meio ambiente. Nesse sentido, escreve Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves in Improbidade Administrativa, 2ª edição, Ed. Lumen Juris, p. 281:

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"Patrimônio público, por sua vez, é o conjunto de bens e interesses de natureza moral, econômica, estética, artística, histórica, ambiental e turística pertencentes ao Poder Público, conceito este extraído do art. 1º da Lei 4.717/65 e da dogmática contemporânea".

O administrador deve agir segundo o princípio da supremacia do interesse público. Ele deve observar, assim, a finalidade pública adstrita a todas as suas condutas, o que faz com que o interesse da coletividade se sobreponha ao do indivíduo. No entanto, esse princípio é mitigado pela atenção às diretrizes apontadas pelo Direito Ambiental, na busca do desenvolvimento sustentável e consequente defesa e conservação do meio ambiente.

O meio ambiente foi, por força do artigo 225 da Constituição Federal, considerado bem público de uso comum do povo, conforme ensina MARIA SYLVIA ZANELLA DI PIETRO, in Curso de Direito Administrativo, 19ª edição, Ed. Atlas, p. 639:

"Consideram-se bens de uso comum do povo aqueles que, por determinação legal ou por sua própria natureza, podem ser utilizados por todos em igualdade de condições, sem necessidade de consentimento individualizado por parte da Administração".

Por essa natureza, o administrador não pode se furtar da proteção ambiental. Patente, pois, a prática de ato de improbidade administrativa, nos termos do artigo 11, incisos I e II, da Lei 8429/92.

IV – DOS PEDIDOS

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Ao exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO requer:

I) seja a presente ação recebida, autuada e processada, na forma e no rito apregoado no artigo 17 e respectivos parágrafos da Lei n.º 8429/1992;

II) seja o requerido JÂNIO CARLOS ALVES FREIRE, acima qualificado, citado pessoalmente, via mandado, para responder aos termos desta ação no prazo legal, sob pena de ser decretada a revelia, permitindo-se ao Oficial de Justiça utilizar-se da exceção prevista no artigo 172, § 2º do Código de Processo Civil, sem prejuízo da observação do artigo 17, § 7º, e seguintes da Lei nº 8429/1992;

III) seja julgado procedente o pedido constante da

presente ação, com aplicação das sanções devidas ao requerido JÂNIO CARLOS ALVES FREIRE, discriminadas no artigo 12, inciso III12, pela prática das infrações descritas nos artigos 11, caput e incisos I e II da Lei nº 8429/1992;

IV) seja o réu condenado ao pagamento das custas processuais;

V) seja o Município de Trindade cientificado da presente ação, para que, caso queira, integre o polo ativo da demanda (art. 17, § 3º, da Lei n.º 8.429/92);

VI) A produção de todas as provas admitidas em direito, requerendo, desde logo, o depoimento pessoal do requerido, sob pena de confissão, a oitiva de testemunhas, cujo rol segue abaixo, sem prejuízo de complementação posterior, juntada de

12 Notadamente a perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 3 (três) a 5 (cinco) anos, pagamento de multa civil de até 100 (cem) vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de 3 (três) anos.

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novos documentos, perícia técnica, etc., tudo conforme exigir o contraditório.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00, para fins fiscais.

Trindade, 23 de novembro de 2015.

Delson Leone Júnior

Promotor de Justiça Curador do Meio Ambiente

ROL DE TESTEMUNHAS:

1) Hilton José de Miranda, servidor da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Trindade, podendo ser localizado na rua Lucas Carvalho Filho, quadra 07, lote 32, setor Cristina II, Trindade – GO;

2) Osmar Mendes Ferreira, servidor da SECIMA, extinta Secretaria Estadual do Meio Ambiente, podendo ser localizado no endereço profissional: rua 82, Palácio Pedro Ludovico Teixeira - SECIMA, setor Central, Goiânia–GO (Telefone: 3201-5150 / 5188) ou no endereço residencial: rua 03, quadra 11, lote 16, setor Morais, Goiânia-GO;

3) Marcela P. P. de Oliveira, servidora da SECIMA, extinta Secretaria Estadual do Meio Ambiente, podendo ser localizada no endereço profissional: 11ª avenida, nº 1272, setor Universitário, telefone 3265-1300;

4) Ivanice Lima Ferreira, servidora da SECIMA, extinta Secretaria Estadual do Meio Ambiente, podendo ser localizada no endereço profissional: 11ª avenida, nº 1272, setor Universitário, telefone 3265-1300.