exames clínicos dos pares cranianos - monografia

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS Exames Clínicos dos Pares Cranianos Janduy Souza Juliana A. Chile Jurraine Herculano Kim Costa Barros Luciano Reciputti Nathalia Vétere Turma 1

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Anatomia + Exame clínico dos pares cranianos

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Page 1: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

Exames Clínicos dos Pares Cranianos

Janduy Souza

Juliana A. Chile

Jurraine Herculano

Kim Costa Barros

Luciano Reciputti

Nathalia Vétere

Turma 1

RIO DE JANEIRO

2010

Page 2: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

EXAMES CLÍNICOS DOS PARES

CRANIANOS

Monografia apresentada junto ao Curso de

Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,

Departamento de Anatomia, como requisito

parcial à aprovação na disciplina do

referido departamento.

Orientadora: Danielle Martins

RIO DE JANEIRO

2010

2

Page 3: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

EXAME CLÍNICO DOS PARES

CRANIANOS

Monografia apresentada junto ao Curso de

Medicina da Universidade Estadual do Rio de Janeiro,

Departamento de Anatomia, como requisito

parcial à aprovação na disciplina do

referido departamento.

AVALIADORES

________________________________

Professor Geraldo de Oliveira Júnior e Professor Luciano A. Favorito

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, 16 de setembro de 2010.

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Page 4: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

RESUMO

Esse trabalho tem por objetivo descrever os principais exames clínicos

realizados no cotidiano médico para avaliar os nervos cranianos, com especial

destaque para a anatomia dos mesmos. Espera-se assim demonstrar a importância

do conhecimento anatômico a cerca dessas estruturas para realizar um diagnóstico

clínico mais preciso e consciente.

Além disso, é relevante reforçar a importância de uma boa prática clínica para

evitar a utilização desnecessária e custosa de recursos tecnológicos.

Para tanto, utilizou-se a literatura médica e publicações do meio acadêmico

como meio de pesquisa e aquisição de conhecimento. Espera-se, dessa forma, que

o tema seja plenamente explanado e que suas questões sejam bem esclarecidas até

o final desse trabalho.

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Page 5: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

ABSTRACT

This study aims to describe the main clinical exams realized in the medical

daily routine to evaluate the cranial nerves, with special focus on their anatomy. It is

hoped to demonstrate the importance of the anatomical knowledge concerning this

structures to give a precise and conscious diagnoses.

Besides, it is relevante to emphasize the importance of a good clinical practice

to avoid unnecessary and expensive use of technological resources.

For this, we used the medical literature and as a mean of research and

knowledge acquisition. It is hoped, therefore, that the topic is fully explained and that

their issues are very clear by the end of this paper.

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Page 6: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

SUMÁRIO

1. Introdução..............................................................................................................08

2. Desenvolvimento....................................................................................................09

2.1 Os nervos cranianos..................................................................................09

2.2 Componentes funcionais dos nervos cranianos........................................10

2.3. Anatomia e trajeto dos nervos cranianos.................................................11

2.3.1 Nervo Olfatório (NC I).....................................................................11

2.3.2 Nervo Óptico (NC II).......................................................................12

2.3.3 Nervo Oculomotor (NC III)..............................................................17

2.3.4 Nervo Troclear (NC IV)...................................................................18

2.3.5 Nervo Trigêmeo (NC V)..................................................................19

2.3.6 Nervo Abducente (NC VI)...............................................................22

2.3.7 Nervo Facial (NC VII.......................................................................22

2.3.8 Nervo Vestibulococlear (NC VIII)....................................................24

2.3.9 Nervo Glossofaríngeo (NC IX)........................................................27

2.3.10 Nervo Vago (NC X).......................................................................29

2.3.11 Nervo Acessório (NC XI)..............................................................34

2.3.12 Nervo Hipoglosso (NC XII)...........................................................35

3. Exames clínicos dos nervos cranianos..................................................................36

3.1 Nervo Olfatório (NC I)........................................................................36

3.2 Nervo Óptico (NC II) .........................................................................36

3.3 Nervos Oculomotor (NC III), Troclear (NC IV) e Abducente (NC

VI)............................................................................................................49

3.4 Nervo Trigêmeo (NC V) ....................................................................50

3.5 Nervo Facial (NC VII) .......................................................................52

3.6 Nervo Vestibulococlear (NC VIII) .....................................................56

3.7 Nervos Glossofaríngeo (NC IX) e Vago (NC X) ...............................59

3.8 Nervo Acessório (NC XI) ..................................................................60

3.9 Nervo Hipoglosso (NC XII) ...............................................................61

4. Principais lesões e síndromes dos nervos cranianos............................................63

4.1 Nervo Olfatório (NC I) ......................................................................63

4.2 Nervo Óptico (NC II) ........................................................................63

6

Page 7: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

4.3 Nervo Oculomotor (NC III) .............................................................75.

4.4 Nervo Troclear (NC IV) ..................................................................77

4.5 Nervo Trigêmeo (NC V) .................................................................79

4.6 Nervo Abducente (NC VI) ..............................................................80

4.7 Nervo Facial (NC VII) .....................................................................82

4.8 Nervo Vestibulococlear (NC VIII) ...................................................82

4.9 Nervo Glossofaríngeo (NC IX) .......................................................83

4.10 Nervo Vago (NC X) ......................................................................83

4.11 Nervo Acessório (NC XI) ..............................................................84

4.12 Nervo Hipoglosso (NC XII) ...........................................................85

3. Conclusão...........................................................................................................87

4. Bibliografia...........................................................................................................88

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Page 8: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

1. INTRODUÇÃO

Para que o exame clínico seja realizado é necessário que o paciente

disponha de um ambiente apropriado, o que inclui uma luz aconchegante que não

cause desconforto, um ambiente calmo que possibilite a tranquilidade e a

concentração de ambas as partes na hora do exame. É essencial uma boa dinâmica

técnica para a execução dos exames clínicos dos pares de nervos cranianos.

Na anamnese são obtidas informações importantes para a identificação do

paciente, dados específicos para que o diagnóstico seja o mais preciso possível. É

nessa fase que o médico monta sua gama de possibilidades para diagnóstico,

prognóstico e tratamento, bem como a avaliação de quais exames são os mais

adequados no caso daquele paciente específico. Algumas das questões mais

importantes para a avaliação do caso são as relacionadas à freqüência dos sintomas

e ao tempo de instalação ou recorrência do quadro. São pontos que não devem ser

esquecidos, fazendo com que a anamnese se torne mais completa possível.

Instrumentos simples são utilizados para o exame clínico dos pares de nervos

cranianos. Hoje existem outros métodos até mais caros que dispõem de ferramentas

dotadas de tecnologia avançada, porém nos casos estudados esses instrumentos,

apesar de mais simples, são bastante eficazes para o exame e detecção de lesões e

síndromes. A utilização dos instrumentos é abordada mais profundamente em cada

par de nervos cranianos.

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Page 9: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

2. Desenvolvimento

2.1 Generalidades

O sistema nervoso periférico inclui todos os neurônios exceto os restritos ao

encéfalo e à medula espinhal, ou seja, exceto os neurônios do sistema nervoso

central. As vias de fibras nervosas entre o sistema nervoso central e as diversas

estruturas espalhadas pelo corpo constituem o sistema nervoso periférico e estão

em trinta e um pares de nervos espinais e doze pares de nervos cranianos, sendo

três sensoriais, quatro mistos e cinco motores.

Os nervos cranianos são nervos recobertos por bainhas tubulares derivadas

das meninges da parte craniana, emergem através de forames e fissuras e fazem

conexão com o encéfalo. As fibras dos nervos cranianos se ligam centralmente aos

núcleos destes nervos. Os núcleos, por sua vez, consistem de grupos de neurônios

nos quais as fibras sensitivas ou aferentes terminam e a partir dos quais as fibras

motoras ou eferentes se originam e estão localizados no tronco encefálico em sua

maioria, pois o nervo óptico se liga ao diencéfalo e o nervo olfatório se liga ao

telencéfalo.

Os nervos cranianos são numerados na sequência crânio-caudal, de acordo

com que deixam o encéfalo. Exceto o nervo vago os nervos cranianos em geral se

destinam a estruturas da cabeça e do pescoço. O nervo acessório se difere dos

demais por apresentar uma raiz bulbar ou craniana e outra espinal. Nos nervos

espinais as origens são sempre as mesmas, variando apenas o nível em que ocorre

a conexão com a medula, já nos nervos cranianos as origens aparentes e reais são

diferentes para cada um dos nervos.

2.2 Componentes funcionais dos nervos cranianos

A divisão dos componentes funcionais se apóia na direção de transmissão

dos impulsos que passam pelas fibras nervosas, nos destinos da inervação e na

evolução e embriologia das estruturas menos ou mais complexas.

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Page 10: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

As fibras aferentes conduzem impulsos do corpo e das vísceras ao sistema

nervoso central. Os corpos celulares desses neurônios sensitivos se encontram nos

gânglios que estão fora do sistema nervoso central, assim como nos nervos

espinhais, e se dividem em somáticos e viscerais. A evolução dos mamíferos

proporcionou órgãos de sentido mais complexo como visão, audição, gustação e

olfação, por isso os receptores desses órgãos são classificados como especiais. Os

outros tipos de receptores são encontrados nas demais partes do corpo e por isso

são considerados gerais. As fibras sensitivas somáticas gerais se originam de

proprioceptores e exteroceptores e conduzem impulsos de temperatura dor,

pressão, tato e propriocepção. As somáticas especiais originam-se na retina e no

ouvido interno e relacionam-se à visão, audição e equilíbrio. Fibras somáticas

viscerais gerais têm sua origem em visceroceptores e estão relacionadas à dor

visceral. As especiais se originam em receptores gustativos e olfatórios,

considerados receptores viscerais por se localizarem em sistemas viscerais como o

sistema respiratório e o digestivo.

Os neurônios eferentes levam o impulso nervoso do sistema nervoso central

às demais partes do corpo. Apoiando-se no desenvolvimento embriológico a maioria

dos músculos são derivados dos miótomos dos somitos, portanto os neurônios

motores somáticos fazem a inervação dos músculos estriados esqueléticos

miotômicos e não possuem a subdivisão entre gerais e especiais. As fibras eferentes

viscerais especiais também encontram na embriologia a razão de sua classificação,

na extremidade cefálica do embrião não se formam somitos, exceto os pré-ópticos

que são pequenos somitos existentes diante dos olhos. O mesoderma dessa região

da extremidade cefálica é fragmentado por fendas branquiais que delimitam os arcos

branquiais e bem cedo no desenvolvimento cada arco recebe um nervo craniano

que inerva a estrutura que ali se formará. Os músculos miotômicos e branquiais são

semelhantes estruturalmente, porém os músculos que tem sua origem nos arcos

branquiais são considerados viscerais enquanto os miotômicos são classificados

como somáticos. Os neurônios eferentes viscerais se subdividem em especiais e

gerais, os especiais são os que inervam os músculos branquiométricos e os gerais

inervam os outros músculos considerados viscerais como músculos lisos, cardíaco e

glândulas. Estes gerais pertencem ainda à divisão parassimpática do sistema

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Page 11: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

nervoso autônomo, terminam em gânglios viscerais e destes são levados os

impulsos até as estruturas viscerais. Fibras motoras viscerais gerais são, portanto,

pré-ganglionares e fazem a inervação pré-ganglionar das estruturas viscerais

2.3. Anatomia e trajeto dos nervos cranianos

2.3.1 Nervo Olfatório (NC I)

O nervo olfatório, dotado de fibras aferentes viscerais especiais, é

exclusivamente sensitivo, estando ligado apenas a condução do impulso olfatório.

Origina-se na região olfatória das fossas nasais (origem real), ou seja, os corpos

celulares dos neurônios de onde partem as fibras que o formam, estão localizados

no epitélio olfativo (localizado em uma pequena região da concha nasal superior, do

teto da cavidade nasal e na porção superior do septo nasal).

As fibras nervosas periféricas desses neurônios (axônios) têm superfície

ciliada sensível às partículas odoríferas, que se unem a elas e disparam excitação e

possibilitam a ativação do sistema mensageiro que gera a propagação do impulso.

As fibras centrais dos neurônios olfativos formam cerca de vinte filamentos do nervo

olfatório, e essas ramificações constituem os nervos olfatórios de ambos os lados.

Os nervos olfatórios, por sua vez, atravessam os forames da lâmina crivosa do osso

etmóide (origem aparente no crânio) e entram no bulbo olfatório (origem aparente no

encéfalo).

Os bulbos olfatórios localizam-se na fossa anterior do crânio, e mantêm íntima

relação com as superfícies inferiores dos lobos frontais dos hemisférios cerebrais. É

no bulbo olfatório que as fibras aferentes dos nervos olfatórios formam sinapses com

as células mitrais e em tufo, e assim forma-se o trato olfatório que se localiza nos

sulcos olfatórios abaixo dos lobos frontais, no assoalho da fossa anterior do crânio, e

compreende os axônios desses neurônios de segunda ordem.

Os tratos olfatórios dividem-se em duas faixas de fibras diferentes, as estrias

olfatórias lateral e medial. A primeira penetra no lobo temporal, terminando na sua

região anterior, o córtex piriforme. Já a segunda, através da comissura anterior,

dirige-se às estruturas olfatórias contralaterais. Logo é possível perceber que o NC I

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Page 12: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

não se liga ao tronco encefálico como os demais nervos cranianos, ele é o único a

entrar diretamente no telencéfalo.

2.3.2 Nervo Óptico (NC II)

Embora sejam oficialmente nervos por convenção, os nervos ópticos (NC II)

desenvolvem-se de forma completamente diferente dos outros nervos cranianos. As

estruturas envolvidas na recepção e transmissão de estímulos ópticos (as fibras

ópticas e a retina neural, juntamente com o epitélio pigmentado do bulbo do olho)

desenvolvem-se como evaginações do diencéfalo (Moore e Persaud, 2003). Os

nervos ópticos são extensões anteriores pares do prosencéfalo (diencéfalo) e,

portanto, são realmente tratos de fibras do SNC formados por axônios de células

ganglionares retinianas. Em outras palavras, são neurônios de terceira ordem, com

seus corpos celulares localizados na retina.

A função do nervo óptico é sensitiva especial (aferente somático especial) – isto é, o

sentido especial da visão. Os receptores periféricos, bastonetes e cones da retina,

são estimulados por raios luminosos que passam através da córnea, do cristalino e

do humor vítreo. A camada fotorreceptora é a camada mais profunda da retina; ela

se situa adjacente a coróide, e a luz tem de passar pelas camadas mais superficiais

para chegar ate ela. Mais numerosos que os cones, os bastonetes encontram-se

espalhados difusamente por toda a retina, porém estão ausentes na mácula. Eles

respondem a estimulação de baixa intensidade e medeiam a visão noturna, a visão

periférica e a percepção de movimento. Eles não conseguem perceber cores. Cones

também estão presentes em toda retina, mas se concentram na mácula lútea. A

mácula consiste inteiramente em cones; ela é o ponto de fixação central e o local de

maior acuidade visual e de percepção de cores. A mácula é uma pequena

depressão rasa da retina que se situa temporalmente ao disco. Ela tem uma cor

ligeiramente diferente da retina circunvizinha que pode ser vista com o

oftalmoscópio. A fóvea central é uma diminuta depressão que se situa no centro da

mácula. A fovéola é uma depressão ainda menor no centro da fóvea. Ela é o ponto

de visão mais aguda, porque as camadas sobrejacentes da retina são impelidas

para os lados e a luz incide diretamente nos receptores; a fovéola é o centro óptico

do olho. O disco óptico, ou papila, é a extremidade visível ao oftalmoscópio da parte

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Page 13: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

intra-ocular do nervo óptico. A cabeça do nervo é uma elipse vertical de 1,5 mm por

1,8 mm e aparece como um disco rosa a branco amarelado. Ela não contém células

receptoras, não responde a estímulos visuais e é responsável pelo ponto cego

fisiológico. É na mácula e não no disco que constitui o coentro da retina, e o ponto

de fixação macular é o centro do campo visual clínico (CV).

Temos então, o trajeto do impulso visual (nervo óptico):

Neurônio I. Os prolongamentos periféricos das células visuais da retina são

diferenciados em cones e bastonetes e constituem os receptores dos

estímulos luminosos. Os impulsos nervosos por eles deflagrados seguem

centripetamente pelos prolongamentos centrais dessas mesmas células e

atingem os prolongamentos periféricos das células bipolares.

Neurônio II. Pelos prolongamentos centrais bipolares, cujos corpos celulares

se dispõem em grupos, esses impulsos prosseguem e, através de conexões

sinápticas, são transmitidos aos prolongamentos periféricos das células

ganglionares. Os axônios das células ganglionares da retina formam a

camada de fibras nervosas da retina (CFN) ao passarem através do disco

para sair pela lâmina crivosa, a sustentação colagenosa do disco.

Neurônio III. Pelos prolongamentos centrais das células ganglionares, os

impulsos visuais alcançam o corpo geniculado lateral, o colículo superior e a

região pré-tectal. Os prolongamentos centrais das células ganglionares

constituem, na sua porção inicial, o estrato óptico, camada mais interna da

retina; em seguida convergem para o determinado “ponto cego” e, agrupados,

emergem do bulbo ocular, pelo lado nasal, próximo ao pólo posterior, como

nervo óptico. Este penetra na cavidade craniana pelo canal óptico e une-se

ao correspondente do lado oposto formando o quiasma óptico, no qual há

decussação parcial de fibras. As provenientes dos quadrantes retinianos

temporais permanecem do mesmo lado. As fibras, logo após essa

decussação, agrupadas novamente, constituem de cada lado, o trato óptico,

que, após contornar parcialmente o pedúnculo cerebral, termina no corpo

geniculado lateral, no colículo superior e não região pré-tectal homolateral.

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Page 14: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Neurônio IV. Pelos axônios das células do corpo geniculado lateral, os

impulsos visuais seguem pela radiação óptica através da porção

sublentiforme da cápsula interna, e pelos lobos temporal e occipital, até o

centro receptor visual, situado nas margens do sulco calcarino e adjacências.

Tornam-se assim conscientes. Atualmente sabe-se que existem outros

centros que completam o processamento da informação visual. O córtex

estriado é o córtex visual sensorial. Ele recebe aferentes pela tira mielinizada

da Gennari, que dá a esta área sua aparência e seu nome característicos.

Circundando o córtex estriado estão as áreas associativas visuais. A área 18,

o córtex paraestriado ou pararreceptivo, recebe e interpreta impulsos da área

17. A área 19, o córtex periestriado ou perirreceptivo, tem conexões com as

áreas 17 e 18 e com outras partes do córtex. Ela funciona em casos mais

complexos de reconhecimento visual, discriminação de tamanho e forma,

visão de cores e orientação espacial.

A mielina no nervo óptico é a mielina do SNC, formada pela oligodendróglia.

Os axônios são não-mielinizados na retina e na superfície papilar, mas se toram

mielinizados na extremidade posterior da cabeça do nervo óptico ao passarem por

um dos 200 a 300 orifícios na lâmina crivosa.

Os axônios do nervo óptico levam principalmente impulsos visuais, mas

também transmitem os impulsos que medeiam respostas reflexas e de acomodação

à luz e a outros estímulos. As fibras do trato óptico que terminam no colículo

superior interferem em reflexos óptico-somáticos, como, por exemplo, nos

movimentos na cabeça e dos olhos em resposta a estímulos visuais, acústicos e

exteroceptivos. As fibras do trato óptico que terminam na região pré-tectal interferem

apenas no reflexo pupilar à luz. Os aferentes visuais fazem sinapse no geniculado

em neurônios de segunda ordem, que dão origem a via geniculocalcarina (radiações

ópticas). Então as fibras que medeiam o reflexo pupilar à luz e outros reflexos

ópticos passam pelas vias pré-geniculadas da mesma forma que as fibras medeiam

a visão, mas saem do trato óptico imediatamente antes dele chegar ao CGL.

A visão macular é uma função essencial, e a projeção da mácula para o nervo

óptico é maciça. Há aproximadamente 1,2 milhão de fibras em cada nervo óptico;

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Page 15: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

cerca de 90% se originam da mácula. Devido a essa preponderância de fibras

maculares, os primeiros sinais de acometimento do nervo óptico refletem a função

macular: comprometimento da visão de cores, comprometimento da acuidade e

escotoma central. Todos os axônios da mácula se reúnem no feixe papilomacular

(FPM) quando ele entra no nervo óptico. As fibras do FPM são muito vulneráveis a

toxinas, isquemia a pressão.

A organização do sistema aferente visual não é ao acaso. Uma estreita

correlação retinotópica prevalece em todo o sistema; cada ponto na retina tem uma

representação especifica do nervo óptico, no quiasma, no trato, nas radiações e no

córtex. O FPM, que constitui o grosso dos axônios do nervo óptico, passa como um

feixe discreto dentro no nervo óptico. O CV mantém sua forma e estrutura básica em

todo o sistema, embora sua orientação nas vias visuais se altere. Fibras da

hemirretina temporal estão localizadas na metade temporal do nervo óptico,

enquanto fibras da hemirretina nasal estão localizadas medialmente. As fibras da

parte superior da retina estão localizadas superiormente e as fibras da parte inferior

da retina inferiormente no nervo óptico; essa relação é preservada exceto no trato

óptico e no corpo geniculado lateral (CGL).

O nervo óptico estende-se da retina até o quiasma óptico; ele tem cerca de 5

cm de comprimento. É convencionalmente divido em 4 partes: intra-ocular (1 mm; o

disco), intra-orbital (cerca de 25 mm), intracanalicular (cerca de 9 mm) e

intracraniana (12 – 16 mm). O nervo é organizado em 400 a 600 fascículos

separados por septos de tecido conectivo. A parte intra-orbital é circulada por tecido

adiposo.

A dura intracraniana é continua com os revestimentos do nervo óptico; na

parte posterior do globo ocular, a dura funde-se com a cápsula de Tenon e no

forame óptico ela adere ao periósteo. A pia e a aracnóide também continuam a partir

do cérebro e envolvem o nervo óptico. Elas se fundem com a esclerótica no ponto

em que o nervo termina. As meninges intracranianas estendem-se para diante ao

longo do nervo óptico por uma distância variável, formando as bainhas vaginais.

Através dessas bainhas, o espaço subaracnóideo intracraniano continua ao longo

dos nervos. O espaço intervaginal situa-se entra a dura e a pia, dividido pela

15

Page 16: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

aracnóide num pequeno espaço subdural e num espaço subaracnóideo maior. O

nervo óptico orbital é sinuoso, com cerca de 8 mm de comprimento redundante para

acomodar os movimentos oculares. Esse comprimento excessivo propicia cerca de 9

mm de proptose antes do nervo começas a fixar.

A parte intracanalicular do ervo óptico inicia-se quando ele atravessa o forame

óptico no ápice orbital. A abertura orbital do canal é uma elipse vertical; a

extremidade intracraniana é uma elipse horizontal. A parte intracanalicular esta

rigidamente fixada no interior do canal óptico, com pouco espaço para movimento;

lesões intracanaliculares podem comprimir o nervo óptico enquanto ainda estão

pequenas e de difícil visualização em estudos de imagens (o meningioma

impossível).

Depois de atravessar a orbita e o canal óptico, os dois nervos ópticos saem

dos canais ópticos e sobem num ângulo de cerca de 45 graus para se unir no

quiasma óptico. A superfície orbital dos lobos frontais situa-se imediatamente acima

dos nervos ópticos intracranianos. O quiasma situa-se tipicamente cerca de 10 mm

acima da glândula hipófise, separado pela cisterna supre-selar. Fibras da retina

temporal continuam diretamente para trás para se unir ao trato óptico ipsilateral. As

fibras de retina nasal decussam e entram no trato óptico oposto. A posição do

quiasma em relação à sela e à glândula hipófise (propensa a neoplasias) pode variar

em algumas pessoas, influenciando o quadro clinico inicial de massas tumorais

nessa região.

Os seios cavernosos e os sifões carotídeos situam-se imediatamente laterais

ao quiasma de casa lado. As artérias cerebral anterior e comunicante anterior estão

em frente e acima e o terceiro ventrículo e o hipotálamo estão atrás e acima. A sela

turca e o seio esfenóide estão abaixo. O círculo de Willis situa-se acima, enviando

numerosos vasos perfurantes pequenos para suprir o quiasma.

Posteriormente ao quiasma óptico, as fibras não cruzadas da hemirretina

temporal ipsilateral e as fibras cruzadas da hemirretina nasal contralateral formam o

trato óptico. Cerca de 55% dos axônios do trato óptico se originam da retina nasal

contralateral e 45% da retina temporal ipsilateral, o que corresponde de modo

16

Page 17: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

aproximado à proporção entre a área do campo temporal e do nasal. Os tratos

contém aproximadamente 80% de aferentes visuais e 20% de aferentes pupilares.

Os tratos estendem-se do quiasma ao CGL, onde termina a maioria das fibras. A

organização retinotópica nos tratos ópticos não é tão precisa como em outros locais,

o que pode contribuir para a incongruência dos defeitos do CV que são

característicos de lesões do trato óptico.

A artéria coroidal anterior, proveniente da carótida interna, e as

talamoperfuradoras provenientes da cerebral posterior suprem o trato óptico. O

geniculado é perfundido pelos ramos coroidal anterior e talamogeniculado da

cerebral posterior. Talvez devido a este suprimento sanguíneo redundante, as

doenças vasculares só raramente afetam o trato óptico ou o geniculado lateral.

2.3.3 Nervo Oculomotor (NC III)

O nervo oculomotor origina-se do complexo nuclear oculomotor no

mesencéfalo e leva fibras motoras aos músculos extra-oculares, alem de fibras

parassimpáticas à pupila e ao corpo ciliado. Esses centros nucleares estão situados

na substancia cinzenta periaquedutal anterior ao aqueduto de Sylvius. Cada núcleo

oculomotor consiste em múltiplos subnúcleos adjacentes que inervam músculos

oculares específicos. Os neurônios são motores somáticos. Os núcleos laterais

pareados são os maiores e estão situados anterior e lateralmente aos outros; suas

partes mediais fundem-se numa massa não pareada. O III nervo craniano tem uma

divisão superior e uma inferior. A divisão superior supre os músculos levantador da

pálpebra superior e reto superior. A divisão inferior supre os retos medial e inferior, o

obliquo inferior e a pupila. O subnúcleo lateral inerva o obliquo inferior e os retos

medial e inferior; seus axônios constituem a divisão inferior do III NC. O músculo reto

superior é inervado pelo subnúcleo medial contralateral. Devido a sua inervação

cruzada, uma indicação importante da paralisia nuclear do terceiro nervo é a

fraqueza do reto superior do olho oposto.

Fibras do subnúcleo lateral ipsilateral, do subnúcleo medial contralateral e

tanto do núcleo caudal central como o núcleo de EW se unem para formar os

filamentos do III nervo craniano, que se dirige anteriormente pelo mesencéfalo,

atravessando a parte medial do núcleo rubro e da substancia negra. O nervo sai da

17

Page 18: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

fossa interpeduncular na superfície anterior do mesencéfalo logo acima da ponte.

Ele se dirige anteriormente e passa entre as artérias cerebelar superior e cerebral

posterior. E segue para diante paralelamente a artéria comunicante posterior.

Paralisia do terceiro nervo é um sinal clássico e importante de aneurisma

comunicante posterior. Em seu trajeto em direção ao seio cavernoso, ele se situa

sobre a borda livre do tentório cerebelar medialmente ao lobo temporal. Aí ele se

encontra em risco de compressão por herniação do unco. Devido ao trajeto

subaracnóideo do nervo, as fibras parasimpáticas situam-se superficialmente sobre

a superfície dorso medial. A localização dessas fibras influencia a probabilidade de

uma paralisia do terceiro nervo envolver ou não a pupila, um aspecto importante do

diagnostico diferencial. O terceiro nervo craniano penetra a dura imediatamente

lateral e anterior aos processos clinóides posteriores e entra no seio cavernoso,

onde se situa na face superior, próximo a parede lateral. No seio cavernoso, o

terceiro nervo craniano tem relações importantes com a artéria carótida, com fibras

simpáticas perecarotídeas ascendentes e com o IV, V, e VI nervo craniano. O

terceiro nervo craniano separa-se na suas divisões superior e inferior no seio

cavernoso anterior, penetrando então na orbita pela fissura orbital superior e

atravessando o anel de Zinn. Ele envia uma raiz curta até o glânglio ciliar para suprir

o músculo ciliar e o esfíncter da pupila. O esfíncter pupilar causa constricção da

pupila. Contração do músculo ciliar causa relaxamento da zônula ciliar, diminuindo a

tensão na capsula da lente e permitindo que ela se torne mais convexa para

acomodar a visão de perto. Constricçao, convergência e acomodação pupilar fazem

parte todas do reflexo de proximidade.

2.3.4 Nervo Troclear (NC IV)

O Nervo Troclear é o mais fino nervo craniano, o único dos nervos cranianos

que emerge dorsalmente ao tronco encefálico.

O núcleo do nervo troclear está localizado na substância cinzenta central,

acima da ponte e imediatamente caudal ao núcleo do nervo oculomotor no nível do

colículo inferior.

O nervo IV emerge da face dorsal do mesencéfalo, circunda o tronco

encefálico (percorrendo o trajeto intrancraniano mais longo de todos os nervos

18

Page 19: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

cranianos), perfura a duramáter e passa anteriormente na parede lateral do seio

cavernoso nas proximidades do III NC, acima dos ramos trigêmeos, continua após o

seio para passar na fissura orbital superior, entra na órbita e cruza sobre o III nervo

craniano onde supre o músculo oblíquo superior do lado oposto ao núcleo de

origem. Ele não passa pelo anel de Zinn.

Origem aparente no encéfalo: véu medular superior. Origem aparente no

crânio: fissura orbital superior.

Juntamente com os nervos oculomotor e abducente inervam a musculatura

que movimenta o globo ocular.

O Nervo troclear pussui funções de somático motor para o músculo oblíquo

superior e proprioceptivo para ele. Movimento do olho para baixo e para dentro.

2.3.5 Nervo Trigêmeo (NC V)

Nervo sensitivo geral (aferente somático geral) e motor branquial (eferente

visceral especial) para músculos derivados do 1° arco faríngeo. Existem quatro

núcleos trigêmeos – um motor e três sensitivos.

O nervo trigêmeo (NC V) é o maior nervo craniano (se for excluído o nervo

óptico atípico). Emerge da face lateral da ponte por uma grande raiz sensitiva e uma

pequena raiz motora. As raízes do NC V são comparáveis às raízes posteriores e

anteriores dos nervos espinais. O NC V é o principal nervo sensitivo geral para a

cabeça(face, dentes, boca, cavidade nasal e dura-máter da cavidade craniana). A

grande raiz sensitiva do NC V é formada principalmente pelos processos centrais

dos neurônios pseudo-unipolares que formam o gânglio trigeminal. O gânglio

trigeminal é achatado e tem formato de crescente (daí seu nome não oficial, gânglio

semilunar), e é abrigado em um recesso de dura-máter (cavidade trigeminal) lateral

ao seio cavernoso. Os processos periféricos dos neurônios ganglionares formam

três nervos ou divisões: o nervo oftálmico (NC V1), o nervo maxilar (NC V2) e o

componente sensitivo do nervo mandibular (NC V3). Os mapas das zonas de

inervação cutânea pelas três divisões assemelham-se aos mapas de dermátomos

para inervação cutânea por nervos espinais. Entretanto, ao contrário dos

19

Page 20: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

dermátomos, há pequena superposição na inervação pelas divisões; as lesões de

um único nervo resultam em área de dormência bem dermacadas.

As fibras da raiz motora do NC V passam inferiormente ao gânglio trigeminal

ao longo do assoalho da cavidade trigeminal, desviando-se do gânglio assim como

as raízes anteriores dos nervos espinais desviam-se dos gânglios sensitivos

espinais. São distribuídas exclusivamente através do nervo mandibular (NC V3),

fundindo-se com as fibras sensitivas à medida que o nervo atravessa o forame oval

no crânio; os ramos que entram seguem até os músculos da mastigação, o milo-

hióide, ventre anterior do digástrico, tensor do véu palatino e tensor do tímpano, que

são derivados do 1° arco faríngeo.

Embora o NC V não conduza fibras parassimpáticas pré-sinápticas (eferentes

viscerais) do SNC, todos os quatro gânglios parassimpáticos estão associados a

divisões do NC V. As fibras parassimpáticas pós-sináticas dos gânglios unem-se aos

ramos do NC V e são conduzidas até seus destinos justamente com as fibras

sensitivas e motoras do NC V.

Nervo oftálmico (NC V1): Ao contrário das duas divisões do NC V, o NC V1

não é um nervo “branquial” (isto é, não supre derivados do arco faríngeo). Serve a

estruturas derivadas do mesoderma paraxial do processo frontonasal embrionário. A

associação do nervo oftálmico com as outras divisões do NC V é uma ocorrência

secundária. As fibras sensitivas (aferentes somáticas) do NC V1 são distribuídas

para pele e mucosas e conjuntiva da parte anterior da cabeça e nariz.

Nervo maxilar (NC V2): O NC V2 inerva derivados da proeminência maxilar do

1°arco faríngeo. Saindo da cavidade craniana através do forame redondo, suas

fibras sensitivas (aferentes somáticas) geralmente são distribuídas para a pele e as

mucosas associadas à maxila. O gânglio pterigopalatino (parassimpático) está

associado a esta divisão do NC V, envolvida na inervação das glândulas lacrimais e

mucosas.

Nervo mandibular: O NC V3 inerva derivados da proeminência mandibular do

1° arco faríngeo. O NC V3 é a única divisão do NC V a conduzir fibras motoras

(eferentes branquiais), distribuídas para o músculo estriado derivado do mesoderma

da proeminência mandibular, basicamente os músculos da mastigação. Dois

20

Page 21: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

gânglios parassimpáticos, o ótico e o submandibular, estão associados a esta

divisão do NC V; ambos estão relacionados à inervação das glândulas salivares.

Quadro 1.1 As divisões do nervo trigêmeo, os forames pelos quais elas passam, seus ramos terminais e seus campos de inervação cutâneaDIVISÃO FORAME

CRANIANO

RAMOS

TERMINAIS

INERVAÇÃO CUTÂNEA DA

DIVISÃO

Oftálmica Fissura

orbital

superior

Frontal

Lacrimal

Nasociliar

Meníngeo

Canal e lateral do nariz,

pálpebra superior, fronte,

couro cabeludo

posteriormente até o vértice,

globo ocular, glândula

lacrimal, septo nasal, parede

lateral da cavidade nasal,

seio etmoidal, tentório

cerebelar

Maxilar Forame

redondo

Infra-orbital

Zigomático

Alveolar superior

Pterigopalatino

Meníngeo

Bochecha, lateral da fronte,

lateral do nariz, lábio

superior, dentes e gengivas

superiores, palato,

nasofaringe, cavidade nasal

posterior, meninges da fossa

craniana anterior e média

Mandibular Forame

oval

Bucal

Lingual

Alveolar inferior

Auriculotemporal

Meníngeo

Parte interna da bochecha,

têmpora, lateral do couro

cabeludo, meato auditivo

externo, membrana

timpânica, articulação

temporomandibular,

mandíbula, dentes e

gengivas inferiores, dois

terços anteriores da língua,

21

Page 22: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

lábio inferior, queixo,

meninges da fossa craniana

anterior e média

2.3.6 Nervo Abducente (NC VI)

O núcleo do abducente situa-se na ponte média a inferior, na substância

cinzenta do tegumento pontínuo dorsal no assoalho do quarto ventrículo,

circundando pelas fibras do nervo facial, que descrevem um circulo aí. O núcleo é

constituído de neurônios motores somáticos. O nervo sai anteriormente na junção

pontobulbar, cruza a artéria auditiva interna e sobre então pelo clivus na cisterna

pré-pontina. Ele passa próximo ao glânglio gasseriano, faz uma curva aguda sobre

o ápice petroso, perfura a dura no dorso da sela turca e atravessa o canal de Dorello

entre o processo clinóide posterior e o ápice petroso. O ligamento petroclinóide

forma o teto do canal. O nervo penetra no seio cavernoso em companhia do III e IV

nervo craniano, onde se situa inferior e medialmente ao terceiro nervo craniano e

imediatamente lateral à artéria carótida interna. O sexto nervo craniano é o único

nervo que fica livre na luz do seio; os outros passam pela parede. Ele entra na órbita

pela fissura orbital superior e pelo anel de Zinn para inervar o reto lateral.

O movimento dos olhos envolve a contração coordenada dos músculos

extrínsecos de ambos os olhos. Essa coordenação por sua vez requer um

sincronismo dos impulsos nervosos transportados pelos nervos óculo motor, troclear

e abducente.

2.3.7 Nervo Facial (NC VII)

Nervo sensitivo (aferente visceral especial e aferente somático geral), motor

(motor branquial ou eferente visceral especial) e parassimpático (eferente visceral

geral). Também conduz fibras proprioceptivas dos músculos que inerva.

Núcleos: O núcleo motor do nervo facial é um núcleo branquiomotor na parte

ventrolateral da ponte. Os corpos celulares dos neurônios sensitivos primários estão

situados no gânglio geniculado. Os processos centrais daqueles relacionados com o

paladar terminam nos núcleos do trato solitário no bulbo. Os processos daqueles

relacionados com a sensibilidade geral (dor, tato e temperatura) da região ao redor

da orelha externa terminam no núcleo espinal do nervo trigêmeo.

22

Page 23: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

O nervo facial (NC VII) emerge da junção da ponte e do bulbo como duas

divisões, a raiz motora e o nervo intermédio. A raiz motora maior (nervo facial

propriamente dito) inerva os músculos da expressão facial, e o nervo intermédio,

menor, conduz fibras do paladar, parassimpáticas e sensitivas somáticas. Durante

seu trajeto, o NC VII atravessa a fossa posterior do crânio, o meato acústico interno,

o canal facial, o forame estilomastóideo do osso temporal e a glândula parótida.

Após atravessar o meato acústico interno, o nervo prossegue por uma curta

distância anteriormente no osso temporal e depois faz uma volta abrupta

posteriormente para seguir ao longo da parede medial da cavidade timpânica. A

curva aguda é o joelho do nervo facial, algumas vezes denominado joelho externo

do NC VII, o local do gânglio geniculado (gânglio sensitivo do NC VII). Enquanto

atravessa o osso temporal dentro do canal facial, o NC VII dá origem ao:

Nervo petroso maior.

Nervo para o músculo estapédio.

Nervo corda do tímpano.

Em seguida, após percorrer o mais longo trajeto intra-ósseo de qualquer

nervo craniano, o NC VII emerge do crânio através do forame estilomastóideo, dá

origem ao ramo auricular posterior, entra na glândula parótida e forma o plexo

intraparotídeo, que dá origem aos seguintes cinco ramos motores terminais:

temporal, zigomático, bucal, marginal da mandíbula e cervical.

Motor Branquial: Como o nervo do 2° arco faríngeo, o nervo facial supre

músculos estriados derivados do seu mesoderma, principalmente os músculos da

expressão facial e os músculos da orelha. Também supre os ventres posteriores dos

músculos digástrico, estilo-hióideo e estapédio.

Parassimpático Pré-sináptico: O NC VII envia fibras parassimpáticas pré-

sinápticas ao gânglio pterigopalatino para inervação das glândulas mucosas

lacrimais e ao gânglio submandibular para inervação das glândulas salivares

sublinguais e submandibulares. O gânglio pterigopalatino está associado ao nervo

maxilar (NC V2), que distribui suas fibras pós-sinápticas, enquanto o gânglio

submandibular está associado ao nervo mandibular (NC V3). As fibras

parassimpáticas fazem sinapse nesses gânglios, enquanto as fibras simpáticas e

outras os atravessam.

23

Page 24: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Sensitivo Geral: Algumas fibras do gânglio geniculado suprem uma pequena

área da pele da concha da orelha, perto do meato acústico externo.

Paladar (sensitivo especial): As fibras conduzidas pelo nervo corda do

tímpano se unem ao nervo lingual para conduzir a sensibilidade gustativa dos dois

terços anteriores da língua e do palato mole.

2.3.8 Nervo Vestibulococlear (NC VIII)

É um nervo essencialmente sensorial, e possui 2 ramos: vestibular e coclear,

a primeira relacionada diretamente com o equilíbrio corporal (percepção postural

originária do labirinto) e a outra, com a percepção auditiva.

O ramo vestibular é formado por fibras que originam-se dos neurônios

sensitivos do gânglio vestibular, e conduzem estímulos nervosos relacionados com o

equilíbrio, originados de receptores da porção vestibular do ouvido interno. O ramo

coclear é formado por fibras que se originam dos neurônios sensitivos do gânglio

espiral,localizado na cóclea.

Origem real: quatro núcleos vestibulares (localizados na junção da ponte com

o bulbo, na parte lateral do assoalho do 4º ventrículo- lateral, medial, superior e

inferior) e dois cocleares (localizados no bulbo ventral e no dorsal). Origem aparente

no encéfalo: Sulco bulbo-pontino (lateralmente ao NC VII). Origem aparente no

crânio: penetra no osso temporal pelo meato acústico interno, mas não sai do crânio.

Anatomia e fisiologia do ramo coclear: as ondas sonoras convergem sobre a

membrana timpânica e são transmitidas pelos ossículos auditivos (martelo, bigorna,

e estribo) ao ouvido interno, ou labirinto. O labirinto é um conjunto de cavidades,

túneis, ductos e canais interligados que se situa na parte petrosa do osso temporal.

O vestíbulo, a cóclea e os canais semicirculares formam o labirinto ósseo, que está

cheio de perilinfa. O labirinto membranoso é um arranjo de sacos e ductos que se

situa dentro do labirinto ósseo, geralmente acompanha seu contorno e está cheio de

endolinfa. Este possui dois componentes principais: o aparelho coclear e o ducto

vestibular. Os ossículos cobrem a cavidade do ouvido médio e transmitem as

oscilações da membrana timpânica à base do estribo, que se situa na janela oval.

Os ossículos são como amplificadores e ajudam a compensar a perda de energia

24

Page 25: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

quando ondas sonoras são transmitidas do ar para a perilinfa atrás da janela oval. A

janela oval abre-se no vestíbulo do ouvido interno, que se liga de um lado À cóclea e

do outro aos canais semicirculares. A base da cóclea está voltada para o meato

acústico interno e contém miríades de fenestrações que admitem os filamentos do

nervo coclear.

A membrana basilar do ducto coclear, ou rampa média do labirinto

membranoso, projeta-se da lâmina espiral do modíolo à parede externa da cóclea. O

gânglio espiral do nervo coclear situa-se no canal espiral do modíolo. O órgão de

Corti repousa sobre a membrana basilar e contem células ciliadas internas e

externas, as células internas são os receptores, ou órgãos terminais do nervo

coclear. As ondas sonoras induzem vibrações na cóclea, o que causa movimento

das membranas basilar e tectorial, esse movimento flexiona os estereocílios, que

ativa a célula ciliada, causando impulsos no gânglio espiral.

O ramo coclear atravessa o canal auditivo interno, onde se situa lateral e

inferiormente ao nervo facial. Ele atravessa o ângulo cerebelopontino, passa em

volta do pedúnculo cerebelar inferior e penetra ma parte superior da medula oblonga

em sua junção com a ponte, próximo ao recesso lateral do quarto ventrículo, onde

as fibras se bifurcam e fazem sinapses tanto no núcleo coclear anterior quanto no

posterior.

Anatomia e fisiologia do ramo vestibular: o vestíbulo do labirinto liga-se a

cinco estruturas que estão envolvidas na função vestibular: o utrículo, o sáculo e os

três canais semicirculares. Cada um desses componentes se situa no labirinto

membranoso, está banhado em endolinfa e contém um neuroepitélio sensorial. O

epitélio sensorial consiste em células portadoras de microvilosidades, que são

designadas como células ciliadas. As células ciliadas são os receptores periféricos

do aparelho vestibular. Cada célula ciliada possui um único cinocílio longo e uma

gama de estereocílios menores. Os cílios localizam-se nas máculas do utrículo e do

sáculo e nas cúpulas dos canais semicirculares. A movimentação da mácula ou da

cúpula inclina os cílios e a endolinfa circula por toda a extensão do labirinto. As

células ciliadas funcionam como transdutores, convertendo a deformação mecânica

de seus cílios em potenciais do receptor.

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Page 26: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Os canais semicirculares são o labirinto cinético que visam detectar

aceleração angular ou rotação, sua orientação em três planos perpendiculares e sua

estrutura oval garantem que será detectado movimentos da cabeça em qualquer

direção. Os três canais são: horizontal (localiza-se horizontalmente), anterior e

posterior (situam-se verticalmente).

O canal horizontal é o que melhor detecta movimentos de rotação da cabeça

de um lado para o outro, o canal posterior detecta melhor movimentos no plano

antero-posterior, e o canal anterior detecta inclinações laterais.

As células ciliadas tanto das máculas como das cristas produzem uma

descarga tônica no nervo vestibular. A freqüência de descarga aumenta e diminui

em resposta à inclinação das células ciliadas. O fluxo de endolinfa em direção ao

utrículo é excitatório. Normalmente os dois labirintos estão em equilíbrio, com

atividade simétrica nos dois nervos vestibulares e alterações recíprocas induzidas

por movimento da cabeça.

Os impulsos aferentes das células ciliadas seguem centralmente pelos

processos periféricos de neurônios bipolares no gânglio vestibular.os processos

centrais das células do gânglio vestibular formam o nervo vestibular, que possui três

divisões periféricas.Essas divisões se originam de partes diferentes do labirinto, e se

unem para formar o nervo vestibular propriamente dito. O ramo vestibular do NC VIII

se une ao componente coclear em uma bainha comum; sendo o vestibular o maior

dos dois. O nervo passa pelo canal auditivo interno em companhia do nervo facial e

do nervo intermédio. Ele cruza o ângulo cerebelopontino e passa ao tronco cerebral

entre o pedúnculo cerebelar inferior e a oliva.As fibras vestibulares que

entram,passam entre o pedúnculocerebelar inferior e o trato espinhal do NC V.Elas

se dividem em ramos ascendente e descendente que terminam principalmente nos

quatro núcleos vestibulares:lateral,medial,superior e inferior.

Imediatamente após sua entrada no tronco cerebral, as fibras nervosas

dividem-se e vão fazer sinapse com várias estruturas internas na ponte (núcleos

cocleares) e dessas, partirão fibras que realizam posteriormente, uma série de

26

Page 27: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

sinapses, até finalmente chegar ao córtex cerebral no giro temporal transverso

anterior (área auditiva primária).

Dificilmente ocorre anacusia, perda completa da audição, em uma lesão o sistema

nervoso central, devido à essa quantidade enorme de sinapses centrais. Já as

lesões periféricas podem levar tanto à hipoacusia (diminuição da audição) quanto à

anacusia, além de se apresentar vertigens (por lesão da porção vestibular do NC

VIII).

2.3.9 Nervo Glossofaríngeo (NC IX)

O nervo glossofaríngeo é um nervo misto, ou seja, possui fibras sensitivas

(aferentes) e motoras (eferentes), exercendo assim diversas funções. O NC IX

apresenta cinco tipos de componentes funcionais: fibras aferentes viscerais

especiais (AVE), aferentes viscerais gerais (AVG), aferentes somáticas gerais

(ASG), eferentes viscerais gerais (EVG)1 e eferentes viscerais especiais (EVE). Os

núcleos2 das fibras do nervo glossofaríngeo se encontram no tronco encefálico, mais

especificamente no bulbo (medula oblonga), organizados em colunas longitudinais

de acordo com sua correspondência funcional. As fibras do NC IX possuem quatro

núcleos, dois motores e dois sensitivos.

Na coluna eferente visceral geral3 está o núcleo salivatório inferior (núcleo das

fibras eferentes viscerais gerais) localizado na porção cranial do bulbo, dele saem

fibras pré-ganglionares que atravessam o nervo glossofaríngeo e atingem o gânglio

ótico (pelos nervos timpânico e petroso menor). Do gânglio ótico partem as fibras

pós-ganglionares que inervam a glândula parótida (através do nervo aurículo-

temporal, ramo do nervo mandibular).

Na coluna eferente visceral especial está o núcleo ambíguo, localizado

profundamente no bulbo, de onde partem as fibras viscerais eferentes especiais que

inervam os músculos da laringe e da faringe (de origem embriológica

1 Fazem parte da divisão parassimpática do Sistema Nervoso Autônomo.

2 “Os núcleos dos nervos cranianos nos quais terminam as fibras sensitivas ou aferentes e dos quais se originam fibras motoras ou eferentes” (MOORE, 2007).

3 “Nos núcleos desta coluna estão os neurônios pré-ganglionares do parassimpático craniano. As fibras que saem destes núcleos (fibras pré-ganglionares), antes de atingir as vísceras, fazem sinapse em um gânglio” (MACHADO, 2006).

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Page 28: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

branquiomérica), que saem pelos nervos glossofaríngeo, vago e pela raiz craniana

do nervo acessório. Pelo nervo glossofaríngeo saem as fibras que inervam os

músculos constrictor superior da faringe e estilofaríngeo.

A coluna aferente somática geral abriga núcleos onde terminam fibras que

trazem parte da sensibilidade somática da cabeça, entre elas um pequeno grupo de

fibras aferentes somáticas gerais do NC IX (o ramo sensitivo do NC IX que mantêm

contato com esse núcleo é o timpânico). Essas fibras respondem pela sensibilidade

geral de parte do pavilhão auditivo e do meato acústico externo.

O núcleo do tracto solitário forma a coluna aferente visceral, localizada no

bulbo. Esse núcleo é comum às fibras aferentes viscerais gerais (os ramos

sensitivos do IX NC que mantêm contato com esse núcleo são: o nervo do seio

carotídeo, os nervos faríngeos, tonsilar e lingual. Sendo responsáveis pela

sensibilidade visceral do terço posterior da língua, da faringe, úvula, tonsila, tuba

auditiva, e seio e corpo carotídeos) e especiais (envolvidas com a gustação) que

chegam pelos nervos facial, glossofaríngeo e vago. “Essa fibras são os

prolongamentos centrais dos nervos sensitivos situados nos gânglios geniculado

(nervo facial), inferior do vago e inferior do glossofaríngeo” (Machado, 2006).

O NC IX emerge do sulco lateral posterior do bulbo (origem aparente no

encéfalo) e segue antero-lateralmente para o exterior do crânio atravessando o

forame jugular (origem aparente no crânio). É no forame jugular que se localizam os

gânglios4 superior e inferior contendo os corpos celulares dos neurônios sensitivos

que originam as fibras aferentes do nervo. Ao terminar seu trajeto pelo forame

jugular e sair do crânio, o nervo glossofaríngeo segue descendente passando pelo

músculo estilofaríngeo e pelos músculos constrictores superior e médio da faringe,

ramificando-se na raiz da língua e na faringe (daí seu nome).

É importante ressaltar a íntima relação, e semelhança, que o nervo

glossofaríngeo mantém com o nervo vago. Ambos são nervos mistos que

apresentam os mesmos componentes funcionais (ou seja, os mesmo tipos de fibras:

AVE, AVG, ASG, EVG e EVE), compartilhando três núcleos no bulbo, além de

compartilharem parte de seus trajetos (ambos saem juntos do crânio pelo forame

jugular, percorrem o mesmo trajeto no pescoço e inervam algumas estruturas

4 Os gânglios superior e inferior também podem ser chamados de jugular e petroso, respectivamente (MACHADO, 2006).

28

Page 29: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

comuns). Por isso, esses dois nervos participam simultaneamente de algumas

patologias, sendo muitas vezes difícil distinguir as atuações individuais dos mesmos

nesses quadros mórbidos.

2.3.10 Nervo Vago (NC X)

O nervo vago (NC X), que possui o trajeto mais longo e a distribuição mais

extensa de todos os nervos cranianos. O NC X foi assim denominado devido à sua

extensa distribuição. O termo vago é derivado do latim vagari, que significa 'errante'.

O NC X compartilha quatro núcleos (dois motores e dois sensitivos), com o

NC IX e NC XI: núcleo ambíguo, fibras motoras para o músculo da laringe e faringe;

núcleo do trato solitário, fibras sensitiva dos órgãos torácicos e abdominais; núcleo

posterior do nervo vago, fibras motoras que suprem a inervação autônoma para o

coração, pulmões, esôfago e estômago; e núcleo principal do nervo trigêmeo, fibras

sensitivas da parte oral, da faringe e trato gastro-intestinal superior. Esses núcleos

representam origem real do NC X. A origem aparente no encéfalo do NC X se

localiza no sulco lateral posterior do bulbo, caudalmente ao NC IX. A origem

aparente no crânio emerge do Forame jugular, percorrendo o pescoço e tórax,

terminando no abdome.

Em seu percurso anatômico, o NC X desce pelo pescoço na bainha carotídea,

localizando-se entre a artéria carótida e a veia jugular interna, até a borda superior

da cartilagem da tireóide e depois entre a veia e a carótida comum até a base do

pescoço. Nesse longo trajeto o nervo vago dá origem a diversos ramos que inervam

a laringe e a faringe, entrando na formação dos plexos viscerais que promovem a

inervação autônoma das vísceras torácicas e abdominais.

O NC X tem dois gânglios sensoriais. O gânglio vagal superior (jugular), na

fossa jugular do osso temporal, que está particularmente relacionado com

componente sensitivo geral do nervo e o gânglio inferior (nodoso), localizado

imediatamente distal ao forame jugular, relacionado com os componentes sensitivos

viscerais do nervo.

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Page 30: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Há dez grandes ramos terminais que se originam em diferentes níveis:

meníngeo, auricular, faríngeo, carotídeo, laríngeo superior, laríngeo recorrente,

cardíaco, esofágico, pulmonar e gastro-intestinal.

Ramos Terminais do Nervo Vago:

Ramo meníngeo: Origina-se do gânglio jugular; trajeto recorrente para

cima através do forame jugular; supre a dura da fossa posterior

Ramo auricular: Origina-se do gânglio vagal superior; recebe

filamentos do gânglio inferior do IX NC; supre fibras ASG para parte

posterior da membrana timpânica, o meato acústico exterior e a pela

da aurícula posterior; comunica-se com o ramo auricular posterior do

VII NC

Ramo faríngeo: Origina-se do gânglio vagal inferior, cruza a artéria

carótida interna até a borda superior do constritor médio da faringe;

divide-se em numerosos filamentos que se unem a ramos do IX NC,

nervos laríngeos superiores e nervos simpáticos e formam o plexo

faríngeo. Inervação motora para todos os músculos do palato mole e

da faringe exceto o estilofaríngeo e o tensor do véu palatino; inervação

sensorial para as membranas mucosas da faringe

Ramos do corpo carotídeo: Originam-se do gânglio vagal inferior;

levam impulsos de baro- e quimioreceptores ao terço médio do núcleo

do trato solitário; formam plexo com ramos IX NC

Ramo laríngeo superior: Origina-se do gânglio vagal inferior; divide-se

em ramos interno e externo. Ramo externo menor inerva músculo

cricotireóideo e envia ramos ao plexo faríngeo. Ramo interno fornece

inervação sensorial às superfícies internas da laringe até as pregas

vocais

Nervos laríngeos recorrentes: Originam-se no tórax e sobem de volta

até a laringe; à direita, voltam-se para trás em torna da artéria

subclávia; à esquerda circundam o arco aórtico; ambos sobem entre o

30

Page 31: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

esôfago e a traquéia, atrás da artéria carótida comum e da glândula

tireóide até a laringe; distribuem-se para todos os músculos da laringe,

exceto o cricotireóide; suprem sensação às membranas mucosas da

laringe abaixo das pregas vocais

Ramos cardíacos: Ramos superior e inferior; superior origina-se do

vago; inferior origina-se do tronco do vago e do laríngeo recorrente à

direita, à esquerda apenas do laríngeo recorrente; comunica-se com os

ramos cardíacos do sistema nervoso simpático e forma o plexo

cardíaco

Ramos pulmonares: originam-se no tórax; comunicam-se com os

filamentos da divisão simpática para formar o plexo pulmonar

Ramos esofágicos: originam-se no tórax; unem-se a filamentos dos

nervos esplâncnicos e ramos simpáticos torácicos para formar o plexo

esofágico

Ramos gastrointestinais: originam-se no abdome; formam plexos

gástrico, celíaco e hepático

- Parte Motora

O centro cortical que regula a função do vago situa-se na parte inferior do giro

pré-central; a inervação supranuclear é bilateral, mas basicamente cruzada. As

fibras descem pelos tratos corticobulbares e fazem sinapse no núcleo ambíguo. As

fibras branquiomotoras vagais seguem o mesmo trajeto circular intramedular das

fibras do IX NC . Há três ramos branquiomotores principais: faríngeo, laríngeo

superior e laríngeo recorrente.

Os nervos laríngeos superior originam-se distalmente ao ramo faríngeo e se

dividem em um ramo interno e um externo. O ramo interno é basicamente sensorial.

O ramo externo supre o cricotireóideo. Todos os outros músculos intrínsecos da

laringe são supridos pelos nervos recorrentes, exceto o aritenóideo, que pode

receber algumas fibras do ramo interno do laríngeo superior. Os nervos laríngeos

recorrentes descem ambos profundamente pelo tórax e depois fazem um círculo em

31

Page 32: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

torno da artéria subclávia e à esquerda em torno do arco aórtico. Cada nervo emite

ramos cardíaco, traqueal e esofágico, terminando de cada lado como o nervo

laríngeo inferior, que supre os músculos intrínsecos da laringe.

- Parte Parassimpática

O componente parassimpático do X NC origina-se do NMDX (núcleo motor

dorsal do X NC), uma longa coluna de células imediatamente dorsolateral ao núcleo

hipoglosso que se estende do pólo superior da oliva inferior à parte inferior da

medula oblonga. As fibras autonômicas saem da medula oblonga como fibras pré-

ganglionares da divisão craniossacra do sistema nervoso autônomo. Elas terminam

em gânglios próximos das vísceras por elas supridas e enviam curtas fibras pós-

ganglionares diretamente às estruturas musculares que inervam. O vago é o mais

longo nervo parassimpático do corpo e media muitas ações importantes . Em suma,

uma descarga vagal causa braquicardia, hipotensão, broncoconstrição, broncorréia,

aumento do peristaltismo, aumento da secreção gástrica e inibição da função supra-

renal.

Em seu trajeto através do tórax, o nervo vago direito emite ramos pulmonares

e esofágicos, passa pela abertura esofágica do diafragma posteriormente ao

esôfago e se divide então em ramos gástricos e celíaco. O vago esquerdo também

emite ramos pulmonares e esofágicos e passa então ao abdome anteriormente ao

esôfago se dividindo em vários ramos gástricos.

- Parte sensorial

O gânglio vagal superior está localizado na parte superior do forame jugular.

Ele se comunica por vários ramos delicados com a parte craniana do IX NC e com o

gânglio petroso do IX NC, com o VII NC e com o gânglio cervical superior. O gânglio

vagal inferior situa-se imediatamente abaixo do forame jugular. A raiz craniana do IX

NC passa por ele para se unir ao X NC. O gânglio inferior também se comunica com

o XII NC, com o gânglio cervical superior e com a alça entre C1 e C2. Ambos os

gânglios vagais são sensoriais, contendo neurônios unipolares que medeiam

aferentes somáticos gerais, viscerais especiais e viscerais gerais. Os axônios

braquiomotores e parassimpáticos passam pelos gânglios sem fazer sinapse. O

32

Page 33: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

gânglio superior transmite principalmente sensações somáticas, e a maior parte de

sua comunicação é com o nervo auricular. O gânglio inferior retransmite sensações

viscerais gerais e sensações gustativas.

A parte sensorial somática do vago leva sensações de dor, temperatura e tato

da faringe, da laringe, do canal auditivo, da superfície externa da membrana

timpânica e das meninges da fossa posterior. Na laringe as fibras ASG da região

acima das pregas vocais seguem pelo ramo laríngeo interno do nervo laríngeo

superior; fibras da região inferior às cordas vocais seguem junto com o nervo

laríngeo recorrente. As aferentes viscerais seguem as mesmas vias. As fibras

sensoriais gerais da região do ouvido, do canal auditivo e da membrana timpânica

seguem pelo ramo auricular (nervo de Arnold). Estimulação do nervo auricular, como

fazendo-se cócegas no canal auditivo, pode produzir ativação reflexa do NMDX, com

tosse, vômitos e até mesmo síncope. As fibras ASG no X NC fazem sinapse no

núcleo do trato espinhal do V NC e são retransmitidas ao tálamo e ao córtex

sensorial.

As fibras que levam aferentes viscerais gerais da faringe, da laringe, de

vísceras com inervação vagal e de barorepectores e quimioreceptores na aorta

passam sobre os processos periféricos de neurônios no gânglio vagal inferior. Os

processos centrais terminam na parte caudal do trato solitário. Ramos colaterais à

formação reticular ao NMDX e aos núcleos de outros nervos cranianos medeiam

importantes reflexos viscerais e estão envolvidos na regulação da função

cardiovascular, respiratória e gastrointestinal. Há algumas fibras gustativas da região

da epiglote e dos aritenóides, que seguem junto com as fibras gustativas do IX NC e

terminam no trato solitário rostral.

2.3.11 Nervo Acessório (NC XI)

33

Page 34: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

O nervo acessório é essencialmente motor e possui duas raízes5, uma

craniana (bulbar) e uma espinhal. A raiz espinhal se origina de filamentos radiculares

que surgem da face lateral dos primeiros cinco ou seis segmentos cervicais da

medula espinhal e formam um tronco único que acessa o crânio através do forame

magno. Já a raiz craniana tem origem no sulco lateral posterior do bulbo. As raízes

craniana e espinhal se unem formando um tronco comum que atravessa o forame

jugular ao lado do nervo glossofaríngeo e do nervo vago. Após passar pelo forame

jugular o tronco comum se divide em dois ramos um interno e outro externo.

O ramo interno possui as fibras da raiz craniana, e se une ao nervo vago

(atravessando o gânglio nodoso do vago) prosseguindo trajeto com ele. Há dois

tipos de fibras oriundas da raiz craniana: EVE (fibras vindas do núcleo ambíguo no

bulbo, na coluna eferente visceral especial), que inervam músculos da laringe pelo

nervo laríngeo recorrente, e EVG (fibras vindas do núcleo dorsal do vago, situado no

bulbo, na coluna eferente visceral geral), que inervam vísceras torácicas assim como

as fibras do nervo vago.

Já o ramo externo contém as fibras da raiz espinhal, que são EVE e inervam

os músculos trapézio e esternocleidomastóideo (ECM)6. Ao sair do crânio póstero-

medialmente ao processo estilóide, o ramo esterno desce pelo pescoço próximo à

veia jugular interna, passa atrás dos músculos digástrico e estilo-hióideo, e entra

profundamente no músculo ECM, ele emite ramos nesse músculo e sai do mesmo

pela sua borda posterior, passando pelo nervo grande auricular. Após passar pelo

ECM o IX nervo segue obliquamente até o triângulo posterior do pescoço,

superficialmente sobre o músculo levantador da escápula em íntimo contato com os

linfonodos do triângulo cervical posterior. Ele então, aproximadamente três dedos

acima da clavícula, ele adentra a profundamente o músculo trapézio a partir de sua

borda anterior.

2.3.12 Nervo Hipoglosso (NC XII)

5 Alguns autores afirmam que, na verdade, o que existe são dois nervos diferentes que por uma curta distância

correm em um mesmo feixe, ou seja, a raiz craniana é na verdade um componente eferente visceral especial

(EVE) acessório do nervo vago, e a raiz espinhal é o nervo espinhal acessório (EA). 6 Os músculos trapézio e esternocleidomastóideo, assim como os músculos da laringe, têm origem embrionária branquiomérica, por isso são inervados por fibras EVE (MACHADO, 2006)

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Page 35: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

O nervo hipoglosso é exclusivamente motor, sua origem real é na coluna

eferente somática, onde está o núcleo do hipoglosso. O núcleo do hipoglosso se

localiza no bulbo imediatamente sob o assoalho do quarto ventrículo, próximo á linha

média, sob a face medial do trígono hipoglosso.

É do núcleo hipoglosso que partem as fibras radiculares que emergem do

sulco lateral anterior do bulbo (origem aparente no encéfalo do XII nervo) e formam

o tronco do nervo. O tronco do nervo hipoglosso por sua vez deixa o crânio pelo

canal do hipoglosso (origem aparente no crânio do XII nervo), segue trajeto

descendente, medial ao ângulo da mandíbula, até se curvar anteriormente

distribuindo-se aos músculos da língua. Nesse trajeto o nervo passa sob a artéria

carótida interna e próximo ao nervo vago.

As fibras que partem do nervo hipoglosso são eferentes somáticas, e

promovem a inervação dos músculos intrínsecos e extrínsecos (exceto o

palatoglosso) da língua (estiloglosso, hioglosso e genioglosso). Os músculos

intrínsecos promovem a alteração do comprimento, da largura e da superfície dorsal

da língua, além de virarem sua ponta não protrusa de um lado para o outro. Já os

músculos extrínsecos protraem e retraem a língua, além de moverem sua raiz para

cima e para baixo.

3. Exames clínicos dos nervos cranianos

35

Page 36: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

3.1 Nervo Olfatório (NC I)

O exame clínico dos nervos olfatórios visa identificar déficits olfativos

relacionados a problemas sensorineurais ou neurogênicos. Antes de iniciar o teste

do olfato é necessário avaliar ao historio médico do paciente buscando por recentes

infecções no trato respiratório superior, lesões craniocefálicas prévias, tabagismo,

doenças sistêmicas e exposição a drogas ilícitas, medicamentos ou toxinas. Outra

medida importante é certificar-se de que as vias áreas estejam desobstruídas,

descartando-se assim hiposmias7 ou anosmias8 devido a déficits condutivos por

obstruções das passagens nasais, o que impede o contato das partículas odoríferas

com o epitélio olfativo.

Feito isto, testa-se o olfato pedindo para que o paciente feche os olhos, então

uma das narinas é ocluída, e aproxima-se na narina livre a substância teste (é

importante que essa substância tenha odor característico e não irritativo), o paciente

então deve inspirar e informar se está sentido o cheiro de alguma coisa e, em caso

afirmativo, identificar o odor. Cada narina deve ser testada individualmente. Sendo

distúrbios unilaterais de olfato mais preocupantes do que distúrbios bilaterais, já que

estes são mais comuns devido à obstrução condutiva.

Vale ressaltar que a percepção do odor é mais significativa do que a

identificação do mesmo, uma vez que a percepção do odor por si própria já descarta

a anosmia demonstrando a continuidade das vias olfativas. Já problemas na

identificação do cheiro indicam problemas na atividade do córtex olfativo.

3.2 Nervo Óptico (NC II)

A função do nervo óptico é testada examinando-se as diversas modalidades

de visão: a acuidade visual, os CV e componentes da visão, como a visão de cores

e a visão diurna e noturna. O nervo óptico é o único nervo craniano que pode ser

visualizado diretamente, e nenhum exame físico neurológico, ou mesmo geral, esta

completo sem uma inspeção oftalmoscópica do disco óptico e da retina.

7 Hioposmia é a diminuição do sentido do olfato (CAMPBELL, 2007)

8 Anosmia é a ausência de olfato (CAMPBELL, 2007)

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Page 37: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

É ideal que os olhos sejam examinados individualmente. Ao testar a acuidade

visual e a visão de cores, é importante ocluir o olho que não esta sendo testado.

Antes de realizar o exame do nervo óptico, procure anormalidades oculares focais

como cataratas, irritação conjuntival, cicatrizes ou opacidades da córnea, irite,

corpos estranhos, fotofobia, arco senil, glaucoma ou uma prótese ocular.

Acuidade Visual:

Acuidade visual é uma medida da capacidade do olho de resolver detalhes;

ela depende de varias funções. O limiar de intensidade reflete a sensibilidade da

retina à luz; visibilidade mínima é a menor área que pode ser percebida e

separabilidade mínima é a capacidade de reconhecer a separação de dois pontos ou

linhas próximos. Os gráficos de acuidade visual, o gráfico Snellen para a distância e

o cartão para perto consistem em letras, números ou figuras que ficam

progressivamente menores e podem ser lidos a distancias de 3 m a 60 m por

indivíduos normais. A acuidade é sempre medida usando-se a correção costumeira

do paciente.

Como poucas clínicas neurológicas, consultórios ou salas de hospital têm

passagens oculares de 6 m, o teste é comumente feito a uma distancia menor. Os

neurologistas freqüentemente avaliam a visão com um cartão para perto. Embora o

exame da visão a distancia seja preferível, os instrumentos necessários geralmente

não estão disponíveis. A visão de perto é testada com um cartão para perto, como o

cartão portátil para avaliação da visão de Rosenbaum, mantido num ponto próximo

(35,5 cm). É essencial que haja boa iluminação. Quando o paciente tem

comprometimento da visão, deve-se fazer uma tentativa de excluir erros de refração

por quaisquer meios disponíveis. Se o paciente tiver lentes corretivas, elas devem

ser usadas, por exemplo.

O termo ambliopia designa comprometimento da visão decorrente de um

processo orgânico na ausência de uma lesão demonstrável. Amaurose significa

cegueira de qualquer tipo, mas no uso geral isto significa cegueira sem doença

primária do olho ou perda de visão secundária a uma doença do nervo óptico ou do

olho.

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Page 38: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Em lactentes e crianças, a acuidade pode ser estimada por piscar a ameaça

ou a luz forte, por acompanhamento de movimentos e pelas reações pupilares. A

acuidade aumenta gradualmente, atingindo níveis normais na idade de

aproximadamente 5 anos.

Visão de cores, visão diurna e noturna

Cegueira para cores (acromatopsia) é uma condição ligada ao sexo presente

em cerca de 3% a 4% dos indivíduos masculinos. Distúrbios da visão de cores

também podem ocorrer em condições neurológicas. Perda da visão de cores pode

preceder outros déficits visuais. Os déficits de cores podem ser parciais ou totais.

Painéis em cores ou painéis pseudo-isocromaticos avaliam formal e

quantitativamente a visão de cores. Fazer o paciente identificar as cores num tecido,

como uma gravata ou um vestido, pode proporcionar uma estimativa grosseira.

Em doenças neurológicas, a percepção do vermelho geralmente é perdida

primeiro. A dessaturação do vermelho, ou perda do vermelho, descreve um tom

acinzentado ou perda de intensidade do vermelho. A tampa de cor vermelho-vivo de

um frasco de gostas mediáticas é um objeto teste comum. O paciente compara o

brilho ou a vermelhidão nos hemicampos direito versus esquerdo, nos hemicampos

temporal versus nasal ou nos campos central versus periférico. Normalmente não há

nenhuma dessaturação direita/esquerda ou temporal/nasal para o vermelho. O

vermelho normalmente parece mais vivo o centro do campo visual do que fora dele;

a reversão desse padrão sugere um distúrbio da visão central. Os pacientes também

podem comparar o brilho ou a intensidade de uma luz de exame num dos olhos

versus o outro. Uma diminuição do brilho de um lado sugere disfunção do nervo

óptico; isto é por vezes designado como defeito pupilar aferente (DPA) subjetivo,

defeito pupilar aferente relativo ou pupila de Marcus-Gunn. Sua significância é a

mesma da dessaturação do vermelho.

Cegueira diurna (hemeralopia) é uma condição em que a visão é melhor em

iluminação fraca do que na claridade. Ela ocorre em diversas condições que causam

um escotoma central no inicio de cataratas; é um defeito colateral raro da

trimetadiona. A cegueira noturna (nictalopia) é uma visão muito pior em condições

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Page 39: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

de iluminação mais fraca do que ocorre normalmente. É comum na retinite

pigmentosa e pode ocorrer em casos de alcoolismo crônico, neuropatia óptica

hereditária de Leber (NOHL) e xeroftalmia por deficiência de vitamina A.

Os campos visuais

O exame dos CV é um componente muito importante. O CV é o limite da

visão periférica, a área em que um objeto pode ser visto enquanto o olho permanece

fixado. A visão macular é nítida. As imagens periféricas não são tão nítidas, e os

objetos são mais visíveis caso estejam se movendo. O CV normal estende-se de 90°

a 100° temporalmente, cerca de 60° nasalmente, 50° a 60° superiormente e 60° a

75° inferiormente. O campo é mais amplo nos quadrantes inferior e temporal do que

nos quadrantes superior e nasal. Há variações individuais no campo de visão,

dependendo ate certo ponto da configuração facial, da forma da orbita, da posição

do olho na orbita, da largura da fissura palpebral e do grau de projeção da

sobrancelha ou do tamanho do nariz. No entanto, essas alterações raramente são

significativas do ponto de visa clinico. Com a visão binocular, os CV dos dois olhos

se superpõem, exceto pelo crescente temporal não pareado que se estende de 60°

a 90° no meridiano horizontal, que é visto por apenas um dos olhos. O crescente

temporal monocular existe devido a anatomia da retina. A retina nasal estende-se

mais para diante, mais perifericamente, que a temporal. Esta é a verdadeira razão

pela qual o CV temporal é mais expansivo, e não porque o nariz esta bloqueando o

campo visual.

Os resultados do exame do campo visual são mais precisos num individuo

que esteja lúcido e cooperativo e mantenha a fixação. Um olho que vagueie

prejudica a avaliação. Uma avaliação grosseira é possível mesmo em pacientes não

cooperativos se o alvo for interessante o suficiente (por ex., alimento ou papel

moeda). Fadiga e fraqueza podem aumentar a letencia entre a percepcao do objeto

teste e a resposta e ele, dando uma falsa impressão de déficit do CV. Cooperação

estreita, boa fixação e iluminação adequada são essenciais para mapeamento do

ponto cego e delineamento de escotomas.

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Page 40: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Os clínicos usam vários métodos diferentes para a avaliação do campo visual.

O tempo e a energia gastos no teste de confronto junto ao leito dependem da

historia do paciente e das instalações disponíveis para o teste formal de campo com

tela tangente (central, 30°) ou perimetria (campo inteiro). Mesmo um teste de

confronto sofisticado não pode aproximar-se da precisão dos campos formais.

O exame de confronto do campo visual pode ser ajustado as circunstancias e

realizado tão superficialmente ou tão completamente quanto a situação exija.

Técnicas sofisticadas junto ao leito podem explorar os CV com detalhes se as

circunstancias assim indicarem. Se o paciente não tiver uma queixa visual especifica

e se outros aspectos da historia e do exame não sugerirem que um defeito de

campo é provável, um exame de avaliação é então apropriado. Isto pode ser feito

rapidamente e com maior sensibilidade usando-se movimentos de pequena

amplitude dos dedos na periferia do CV. Lembre-se de que os CV se estendem

temporalmente a 90°+. Estendendo cotovelo e dedos indicadores, o examinador

deve posicionar os dedos quase diretamente laterais ao canto lateral do olho a uma

distancia de cerca de meio metro. Superficialmente, este parece ser um exame

binocular, mas quando corretamente posicionados os dedos alvos estão de fato na

parte crescente temporal não pareada do CV. Com os alvos posicionados, faça um

movimento de flexão de pequena amplitude com a extremidade de um dedo

indicador, talvez de 2 cm de amplitude. Faça o paciente apontar para o dedo que se

move. Essa linguagem é mais eficiente do que tentar uma descrição verbal direito-

esquerda quando a direita e a esquerda do paciente e do examinador estão

invertidas. Estímulos devem ser aplicados em cada quadrante individualmente,

depois ambos juntos e depois de modo semelhante para os quadrantes inferiores. A

inclusão de estimulação bilateral simultânea é necessária para detecção de defeitos

sutis, que podem manifestar-se unicamente por extinção de um estimulo mediante

estimulação dupla simultânea. Essa técnica de pequenos movimentos dos dedos na

periferia distante tanto nos quadrantes superiores como nos inferiores é uma

avaliação excelente; quando corretamente executada, mesmo binocularmente, esta

técnica deixa passar despercebidos poucos defeitos do CV. Lembre-se sempre de

que os transtornos oftalmológicos primários, como glaucoma, retinopatia diabética e

deslocamento da retina, também podem alterar os CV.

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Page 41: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

No caso de qualquer indicação de uma anormalidade, ou caso o paciente

tenha um problema visual ou se espere que ele o tenha, testes de nível superior

estão indicados. As técnicas de exame monocular incluem fazer o paciente avaliar o

brilho e a nitidez das mãos do examinador mantidas nos hemicampos direito e

esquerdo, nos quadrantes superiores e inferiores ou fazer o paciente contar dedos

fugazmente apresentados em diversas partes do campo.

Técnicas mais precisas comparam dimensões do campo do paciente com o

do examinador, usando alvos diversos – dedos imóveis ou moveis, a extremidade de

um cotonete, cabeças de alfinete coloridas ou objetos semelhantes. Posicionando-se

o paciente e o examinador no mesmo nível ocular e fazendo-os olhar olho no olho a

uma distancia de ate meio metro, alvos induzidos a meio caminho entre eles e

trazidos ao CV segundo meridianos diversos devem aparecer para as duas pessoas

simultaneamente em todas as partes do campo exceto temporalmente, parte em que

o examinador tem simplesmente de desenvolver uma impressa do extensão de um

campo normal.

Em pacientes mentalmente confusos, não cooperativos ou afásicos, o papel

moeda (quanto maior o valor melhor) constitui um alvo atraente. Ainda que tenha

apenas uma nota de R$1, o examinador deve sugerir ao paciente que podem ser

R$100. O paciente que puder enxergar ira olhar para o objeto ou tentar pegá-lo.

Crianças respondem a chaves (sem sacudidas), doces ou outros objetos

visualmente interessantes. Lactentes podem virar a cabeça em direção a uma luz

difusa dentro de alguns dias do nascimento. Levar a luz de uma lanterna ao CV e

notar quando o paciente piscar por vezes é útil. A verificação do piscar em resposta

a ameaça – o reflexo da ameaça – é um método pouco refinado que pode ser usado

como último recurso. A mão ou os dedos do examinador são trazidos rapidamente

do lado, como se para dar um tapa no paciente ou golpeá-lo no olho. O paciente

pode tremer, recuar ou piscar. O movimento ameaçador suficientemente deliberado

para evitar estimular a córnea por uma corrente de ar.

O teste dos campos centrais pode incluir fazer o paciente olhar para a face

dos examinados e relatar quaisquer defeitos, como um nariz faltando ou

obscurecido. Fazer o paciente olhar para um papel quadriculado (grade de Amsler,

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Page 42: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

papel gráfico ou uma versão domestica preparada rapidamente) enquanto fica um

ponto central é um método sensível para detectar escotomas. A sondagem do

campo central com um pequeno objeto branco ou vermelho pode revelar escotomas

moderados ou grandes. No caso de um paciente cooperativo, pode-se estimar o

tamanho do ponto cego.

Quando os testes de confronto não forem adequados às circunstancias

clinicas, são feitos testes formais dos campos. Estes podem incluir tela tangente,

perimetria cinética ou perimetria estática automatizada computadorizada.

Anormalidades dos campos visuais, para fins neurológicos, ser divididas em

escotomas, hemianopsias, defeitos da altitude e constrição concêntrica dos campos.

Devido à anatomia e à organização do sistema visual, transtornos neurológicos

tendem a produzir efeitos de bordas retas que respeitam o meridiano horizontal ou o

vertical ou têm uma forma característica por causa do arranjo de camada de fibras

nervosas. Respeito ao meridiano horizontal pode ocorrer devido a rafe temporal

horizontal e à passagem em arco dos axônios do CFN acima e abaixo da macula.

Esse padrão é característico de lesões do nervo óptico, do disco óptico e da CFN. O

suprimento vascular da retina consiste em ramos superior e inferior da artéria central

da retina, que suprem respectivamente a retina superior e inferior. As doenças

vasculares causam caracteristicamente defeitos da altitude do campo que são

nitidamente demarcados no plano horizontal. O córtex calcarino esta organizado

numa margem superior e outra inferior, e lesões envolvendo apenas umas das

margens podem produzir defeitos do CV que respeitam o meridiano horizontal. O

meridiano vertical é respeitado devido a divisão em hemirretinas nasal e temporal

que ocorre na decussação do quiasma e é mantida por toda a extensão das vias

visuais retroquiasmáticas.

a) Escotomas

Um escotoma (do grego “escuridão”) é uma área de visão comprometida no

campo, com visão circundante normal. Num escotoma absoluto, não há nenhuma

função visual no escotoma em teste com objetos de todos os tamanhos e todas as

cores. Num escotoma relativo, a função visual esta diminuída mas não ausente;

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Page 43: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

objetos menores e objetos coloridos têm maior probabilidade de detectar a

anormalidade. Um escotoma positivo causa escuridão ou uma impressão de

bloqueio da visão, como se houvesse um objeto interposto; ele sugere uma doença

da retina, especialmente da macula ou da coróide. Escotomas positivos se devem

freqüentemente a exudato ou hemorragia envolvendo a retina ou a opacidade nos

meios oculares. Um escotoma negativo é uma ausência de visão, um ponto em

branco como se parte do campo tivesse sido apagada; ele sugere doença do nervo

óptico, mas pode ocorrer em lesões mais posteriores. Num escotoma negativo, o

defeito pode não ser percebido até que seja feito um exame do CV.

Um escotoma muitas vezes pode ser demonstrado em teste de confronto do

CV com o uso de objetos pequenos e a exploração cuidadosa dos campos centrais,

mas o meio mais apropriado de demonstrá-los é pelo uso da tela tangente. O ponto

cego fisiológico (ponto de Mariotte) é um escotoma que corresponde à cabeça do

nervo óptico, que não contem bastonetes nem cones e é cega a todas as

impressões visuais. O ponto cego fisiológico esta situado 15° lateralmente ao centro

de fixação e imediatamente abaixo dele, porque o disco se situa nasalmente à

mácula e o ponto cego se projeta no campo temporal. De forma elíptica, ele tem em

media 7° a 7 ½° verticalmente e 5° a 5 ½° horizontalmente e se estende 2° a 5°

abaixo do meridiano horizontal. Numa tela tangente com o paciente a 1 m de

distancia e usando um objeto branco de 1 mm, as medidas medias do ponto cego

são de 9 a 12 cm horizontalmente e de 15 a 18 cm verticalmente. O ponto cego esta

aumentado em casos de papiledema e neurite óptica.

O escotomas são descritos por sua localização ou sua forma. Um escotoma

central envolve o ponto de fixação e é visto em doenças da mácula ou do nervo

óptico. Ele é típico de neurite óptica, mas pode ocorrer em lesões vasculares e

compressivas. Um escotoma paracentral envolve as áreas adjacentes ao ponto de

fixação e tem as mesmas implicações que um escotoma central. Um escotoma

cecocentral estende-se do ponto cego ao de fixação. Ele é geralmente

acompanhado de perda de toda a visão central, com preservação de pequena parte

da visão periférica e sugere fortemente uma visão do nervo óptico. Centrais,

paracentrais e cecocentrais são todos sugestivos de um processo envolvendo o

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Page 44: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

feixe papilomacular. Qualquer escotoma que envolva o ponto cego indica uma

neuropatia óptica.

Um escotoma arqueado é um defeit em crescente descrevendo um arco para

fora do ponto cego, devido geralmente a uma neuropatia óptica com o grosso dos

danos recaindo sobre as fibras que formam as arcadas das camadas de fibras

nervosas superiores e inferiores. Um defeito nasal em degrau é um escotoma que

envolve a parte nasal do CV em direção oposta ao ponto de fixação, respeitando em

geral o meridiano horizontal, que se deve a uma neuropatia óptica e evolui

frequentemente para se tornar um escotoma arqueado largo. Defeitos nasais em

degrau são comuns, especialmente na neuropatia óptica devida a um glaucoma. Um

escotoma juncional é um defeito do nervo óptico em um dos olhos (escotoma

central, paracentral ou cecocentral) e um defeito temporal superior no olho oposto.

Ele se deve a uma lesão (geralmente uma massa tumoral) que envolve o nervo

óptico próximo do quiasma, que lesa as fibras nasais inferiores do olho oposto

(joelho de Wilbrand) quando elas descrevem um circulo para diante até o nervo

óptico proximal do lado da visão. O defeito do CV temporal no olho contralateral

pode ser sutil e passar despercebido facilmente. As evidencias anatômicas que

apóiam a existência do joelho de Wilbrand foram questionadas, mas casos clínicos

continuam a sugerir sua existência.

Embora decorram mais comumente de uma doença de retina ou do nervo

óptico, os escotomas também podem ser causados por lesões cerebrais. Lesões do

pólo occipital que afetam principalmente a mácula podem produzir escotomas

hemianópsicos homônimos contralaterais. Como o maior volume das fibras no

quiasma provém da mácula, uma compressão inicial pode afetar de maneira

preferencialmente a visão central, produzindo escotomas paracentrais heterôminos

bitemporais; com a progressão da lesão, aparecerá uma franca hemianopsia

bitemporal. Lesões do nervo óptico, como gliomas e drusas (excrescências hialinas

que podem estar alojadas no nervo ou na superfície deste). O aumento do ponto

cego fisiológico é designado como escotoma peripapilar.

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Page 45: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Outros tipos de escotomas ocorrem em conseqüência de uma doença

primária, como retinite, coriorretinite e glaucoma, que não estão diretamente

relacionados a uma doença do sistema nervoso.

Os escotomas subjetivos não podem ser delineados por exame do campo. Os

escotomas subjetivos incluem os escotomas cintilantes, ou teicopsias, da enxaqueca

e os incômodos, porem inofensivos, flutuadores do vítreo que muitos indivíduos

normais apresentam.

b) Hemianopsia

Hemianopsia é a visão comprometida em metade do campo visual de cada

olho; os defeitos hemianópsicos não atravessam o meridiano vertical. Aas

hemianopsias podem ser homônimas ou heterônimas. Uma hemianopsia homônima

causa comprometimento da visão nas metades correspondentes de cada olho (por

ex., uma hemianopsia homônima diretia é um defeito na metade direita de cada

olho). As hemianopsias homônimas são causadas por lesões posteriores ao

quiasma óptico, com interrupção das fibras da metade temporal de retina ipsilateral e

a metade nasal da retina contralateral. A visão é perdida no campo nasal ipsilateral e

no campo temporal contralateral. Uma hemianopsia heterônima é a visão

comprometida nas metades opostas de cada olho (por ex., metade direita em um

olho e a metade esquerda do outro). Hemianopsias homônimas unilaterias, mesmo

aquelas com divisão da mácula, não afetam a acuidade visual. Os pacientes

conseguem ler normalmente com a metade preservada da mácula, mas aqueles

com hemianopsias esquerdas podem ter dificuldade em encontrar a linha a ser lida.

Ocasionalmente, pacientes com hemianopsia homônima lerão apenas a metade da

linha do cartão de acuidade.

Uma hemianopsia homônima pode ser completa ou incompleta. Quando

incompleta, ela pode ser congruente. Uma hemianopsia congruente exibe defeitos

de forma semelhante em cada olho. Quanto mais as radiações ópticas se

aproximam do lobo occipital, mais próximas se encontram as fibras visuais

correspondentes dos dois olhos. Quanto mais congruente for o defeito do campo,

mais posteriormente pode ser a lesão. Uma hemianopsia incongruente consiste em

45

Page 46: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

defeitos de forma diferente nos dois olhos. Quanto mais incongruente for o defeito,

mais anterior é a lesão. As hemianopsias mais incongruentes ocorrem em lesões do

trato óptico e do geniculado lateral. Numa hemianopsia completa, não se consegue

avaliar a congruência; a única localização possível é a identificação da lesão como

contralateral e retoquiasmática. Uma quadranpsia superior indica uma lesão do lobo

temporal que afeta a alça de Meyer (fibras inferiores da retina): “torta no céu”. Uma

quadranpsia inferior indica uma lesão do lobo parietal que afeta fibras superiores da

retina. Uma hemianopsia que poupa a mácula é aquela que poupa uma área

imediatamente em torno da fixação; ela indica uma lesão do lobo occipital.

Explicação para a mácula poupada ainda não foi estabelecida. Houve conjeturas em

relação a uma dupla representação da mácula em cada pólo occipital, mas isto

nunca foi confirmado anatomicamente. O mais provável é que o suprimento

sanguíneo colateral da artéria cerebral anterior ou cerebral media projeta região

macular de isquemia. Ou pode ser simplesmente que a extensa representação

cortical da mácula tanto no pólo occipital como anteriormente nas profundezes da

fissura calcarina torne difícil que uma única lesão afete toda a função macular. Um

pequeno grau de ocorrência da mácula poupada pode dever-se a desvios de fixação

durante teste.

Defeitos homônimos incompleto do CV são comuns. Eles incluem defeitos

parciais ou irregulares num dos hemicampos ou em ambos, perda relativa e não

absoluta da visão, incapacidade de localização de estímulos visuais e hemianopsia

somente para objetos de determinada cor (hemiacromatopsia). Extinção

(desatenção visual) é a supressão hemianópsica do estimulo visual no hemicampo

envolvido ao serem aplicados estímulos bilaterais simultâneos. Extinção visual é ais

característica de lesões que envolvem o lobo parietal não dominante.

As hemianopsias heterônimas são geralmente bitemporais; só raramente elas

são binasais. Uma hemianopsia bitemporal se deve geralmente a uma doença do

quiasma, como um tumor hipofisário que se expande a partir da sela turca e

pressiona a face inferior do quiasma. Os defeitos bitemporais do campo podem ser

detectados mais precocemente por demonstração de uma dessaturação bitemporal

ao vermelho. Devido à posição anterior inferior das fibras nasais inferiores

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Page 47: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

decussantes, lesões que comprimam de baixo para cima produzem defeitos do

campo temporal superior, que evoluem para uma hemianopsia bitemporal. Lesões

que comprimem de cima para baixo tendem a causar inicialmente defeitos temporais

inferiores. O defeito será observado primeiro e pior nos quadrantes superiores no

caso de massas infraquiasmáticas (por ex., adenoma hipofisário) e se evidenciará

primeiro e pior nos quadrantes inferiores com massas supraquiasmáticas (por ex.,

craniofaringioma). Pacientes com quiasmas pós-fixados e tumores hipofisários

podem apresentar-se com defeitos do nervo óptico e aqueles com quiasmas pré-

fixados podem ter defeitos do trato óptico.

A causa mais comum de hemianopsia bitemporal é um adenoma hipofisário;

ocasionalmente, ele decorre de outras lesões parasselares ou supra-selares como

meningiomas e craniofaringiomas, assim como de gliomas do nervo óptico,

aneurismas, traumatismos e hidrocefalia. Outros defeitos do CV que podem simular

hemianopsia bitemporal incluem discos ópticos inclinados, escotomas cecocentrais

bilaterais e pontos cegos bilateralmente aumentados. Hemianopsias binasais podem

ocorrer devido a doenças que comprimem a face lateral do quiasma bilateralmente

(por ex., aneurismas carotídeos intracavernosos bilatérias), mas tendem mais a se

dever a uma neuropatia óptica bilateral.

c) Defeitos da altitude

Um defeito altitudinal do campo visual é auqele que envolve a metade

superior ou inferior da visão, geralmente num dos olhos, e se deve comumente a

uma doença vascular da retina (oclusão da artéria central da retina ou de um ramo

desta ou neuropatia óptica isquêmica anterior). Um defeito altitudinal parcial pode

aproximar-se de uma quadranpsia. Os defeitos altitudinais não cruzam o meridiano

horizontal.

d) Constrição concêntrica dos campos

A constrição do CV caracteriza-se por um estreitamento do alcance da visão,

que pode afetar uma das partes da periferia ou todas elas. A constrição pode ser

regular ou irregular, concêntrica ou ecentrica, temporal ou nasal e superior ou

inferior. A constrição concêntrica simétrica é a mais freqüente e se caracteriza por

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Page 48: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

uma redução prograssiva, mais ou menos uniforme, no diâmetro do campo em todos

os meridianos. Constrição concêntricas dos CV pode ocorrer na atrofia óptica,

especialmente quando secundaria a papiledema ou a glaucoma avançado, ou em

doenças da retina, especialmente retinite pigmentosa. Estreitamente dos campos

devido a fadiga, atenção deficiente ou iluminação inadequada deve ser afastado, o

mesmo ocorrendo com a constrição espúria decorrente de diminuição da acuidade

visual ou retardo do tempo de reação. Constrição ligeira do CV pode ocorrer quando

há um erro de refração significativo. Depressão difusa é o equivalente perimétrico

estático de constrição na perimetria cinética.

Constrição concêntrica do campos é vista ocasionamente na histeria. Um

achado suspeito é quando os campos não aumentam conforme o esperado em teste

a uma distancia crescente (campos tubulares). Normalmente o campo de visão

amplia-se progressivamente à medida que os objetos teste são segurados mais

longe do olho. Todavia, na não-organicidade essa ampliação normal não é

observada e o diâmetro integral do campo é tão grande a 30 cm do olho como a 60

cm, 1.5 m, 2.5 m ou 4.5 m. O CV normal é um funil; o CV não orgânico é um túnel. O

campo tubular pode ser demonstrado testando-se a extensão do CV a distancias

variáveis em relação ao paciente ou pode ser mostrado pelo emprego de objetos

testes de diferentes tamanhos a uma distancia constante. Contração expiral é um

estreitamento progressivo do CV durante o processo de teste. Este pode ser um

sinal de não-organicidade, mas é provavelmente mais sugestivo de fadiga. Um

campo de padrão semelhante é o CV em forma estrelada, no qual há uma

irregularidade do contorno. Isto pode ser visto não-organicidade, fadiga ou atenção

deficiente.

O exame oftalmoscópico

O medico usando um oftalmoscópio direto é como um esquimó caolho

olhando para dentro de um iglu a partir da entrada com uma lanterna. É visível

somente por um estreito setor do pólo posterior, e não há estereopsia. A dilatação

das pupilas aumenta significativamente o campo de visão. O oftalmoscópio indireto,

usado pelos oftalmologistas, pode visualizar estereoscopicamente quase toda a área

do fundo. Os novos oftalmoscópios diretos PanOptic proporcionam a vantagem de

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Page 49: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

visão mais ampla, mas ainda revelam apenas o pólo posterior. É importante

familiarizar-se com elas praticando oftalmoscopia direta em todos os pacientes, pois

o exame é inevitavelmente mais difícil do ponto de vista técnico em situações em

que o exame do fundo do olho é mais critico.

3.3 Nervos Oculomotor (NC III), Troclear (NC IV) e Abducente (NC VI)

Esses três nervos são examinados em conjunto pois inervam os vários

músculos que tem por função a motilidade dos globos oculares. Tais músculos

compreendem o reto medial, o reto superior, o reto inferior, o obliquo inferior, o

obliquo superior e o reto lateral. A investigação semiológica desses nervos podem

ser assim sistematizados:

a) Motilidade extrínseca. A posição do globo ocular é dada pelo funcionamento

harmônico dos vários músculos. Havendo predomínio de um deles ocorre o

que se chama estrabismo, que pode ser horizontal ou vertical, na

dependência do desvio ser numa ou noutra direção. Na presença de

estrabismo, pelo menos na fase inicial o paciente reclama de diplopia. O

exame se faz em cada olho separadamente, e depois simultaneamente da

seguinte maneira: estando o paciente com a cabeça imóvel, o examinador

solicita a ele que desloque os olhos no sentido horizontal e vertical. No

exame simultâneo acrescenta-se a prova da convergência ocular, que se faz

aproximando gradativamente um objeto dos olhos do paciente.

b) Motilidade intrínseca. O exame da pupila é feito em seguida ao estudo da

motilidade extrínseca dos globos oculares. O diâmetro pupilar é o resultado

do funcionamento equilibrado entre os dois sistemas autonômicos – simpático

ou parasimpatico.

A irregularidade do contorno pupilar é chamada discoria; quando o diâmetro

se acha aumentado, fala-se em midríase; o contrário, miose; a igualdade de

diâmetro denomina-se isocoria; e a desigualdade anisocoria.

Dinamicamente, a pupila é examinada por meio de um feixe luminoso e pela

convergência ocular. Em ambiente de pouca luminosidade o paciente deve olhar

para um pouco mais distante. O examinador incide o feixe de luz numa pupila e

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Page 50: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

observa a resposta nos dois lados. Chama-se reflexo fotomotor direto a contração

da pupila na qual se fez o estimulo, e de reflexo fotomotor consensual a contração

da pupila oposta. Em seguida, aproxima-se dos olhos um objeto e as pupilas se

contrairão normalmente (é o reflexo da acomodação).

Os reflexos podem estar normais, diminuídos ou abolidos. A abolição pode

abranger todos os reflexos ou ser dissociada. Assim, na lesão unilateral do

oculomotor, a pupila entra em midríase homolateral e não responde a estimulo

algum (é chamada midríase paralitica). A pupila oposta permanece normal. Na lesão

bilateral da via aferente, os reflexos fotomotor direto ou consensual estão abolidos,

enquanto o reflexo de acomodação está preservado. Outro exemplo é representado

pela lesão da via aferente do lado direito: aplicando-se o estimulo a direita, os

reflexos direto e consensual estarão abolidos; se o estimulo for aplicado a esquerda

ambos os reflexos estarão normais, o reflexo de acomodação está preservado.

Existem duas alterações pupilares, classicamente conhecidas, que são o sinal

de Argyll – Robertison que consiste basicamente em miose bilateral, abolição dos

reflexos fotomotor e a presença do reflexo de acomodação (a lesão responsável por

esse sinal situa-se na região periarquedutal no mesencéfalo) e a Sindrome de

Claude Bernard-Horner que é caracterizada por miose, enoftalmia e diminuição da

fenda palpebral. Decorre de lesão do simpático cervical.

3.4 Nervo Trigêmeo

O trigêmeo é nervo misto, constituído de várias raízes:

a) Raiz motora, representada pelo nervo mastigador, que inerva os músculos

destinados à mastigação (temporal, masseter e pterigóideos).

Avalia-se a lesão unilateral da raiz motora pela observação dos seguintes

elementos:

1º ) atrofia das regiões temporais e masseterianas;

2º ) a abertura da boca promove desvio da mandíbula para o lado da lesão;

3º ) ao trincar os dentes, nota-se debilidade do lado paralisado;

4º ) há dificuldade do movimento de lateralização da mandíbula.

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Page 51: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Não há nenhum método confiável ou realista para exame dos outros

músculos supridos pelo NC V. Devido a inervação bilateral, lesões unilaterais do

neurônio motor superior raramente causam comprometimento significativo da função

motora trigêmea. Pode haver fraqueza unilateral discreta e transitória. O grau de

envolvimento depende da extensão da decussação. Em lesões supra-nucleares

bilaterais, pode haver paresia acentuada.

b) Raízes sensitivas que compreendem os nervos oftálmico, maxilar e

mandibular.

As raízes sensitivas responsabilizam-se pela sensibilidade superficial (ver

Quadro 1.0), cabendo apenas acrescentar a pesquisa da sensibilidade corneana,

feita com uma mecha de algodão que toca suavemente entre a esclerótica e a

córnea. O paciente deve estar com os olhos virados para o lado oposto, a fim de

perceber o menos possível a prova. Resposta normal é a contração do orbicular das

pálpebras. Daí a denominação de reflexo córneo-palpebral.

Numa lesão trigêmea unilateral, tanto a resposta direta como a consensual

podem estar ausentes; nenhum dos olhos pisca. A estimulação do outro olho produz

respostas direta e consensual normais. Numa lesão unilateral do NC VII, a resposta

direta pode estar comprometida, mas o reflexo consensual deve estar normal. A

estimulação do lado oposto produz uma resposta direta normal mas uma resposta

consensual comprometida.

A mucosa nasal pode também ser estimulada por substâncias irritantes

inaladas; este é um reflexo nasal que não deve ser confundido com o olfato.

Considerações necessárias para a realização deste exame clínico em

crianças: Deve-se utilizar uma espátula de madeira para realizar o teste de

sensibilidade da face (agulha não deve ser utilizada porquê fere a pele do bebê).

Quadro 1.2 Sensibilidade superficial

SENSIBILIDADE SUPERFICIAL: Para a sensibilidade tátil, utiliza-se o

pedaço de algodão ou o pequeno pincel macio, os quais são roçados de leve

em várias partes do corpo.

A sensibilidade térmica requer dois tubos de ensaio, um com água

gelada e outro com água quente, com que se tocam pontos diversos do corpo,

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Page 52: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

alternando-se os tubos.

A sensibilidade dolorosa é pesquisada com estilete rombo, capaz de

provocar dor sem ferir o paciente. A agulha hipodérmica é inadequada,

sobretudo em mãos inábeis.

A diminuição da sensibilidade tátil recebe o nome de hipo-estesia; sua

abolição, anestesia; e seu aumento, hiperestesia. Estas alterações estão na

dependência da lesão das várias modalidades sensitivas.

O resultado do exame se for normal deve ser registrado literalmente,

discriminando-se cada tipo de sensibilidade; havendo alterações, o registro

será feito em esquemas que mostram a distribuição sensitiva corporal ou,

então, discriminativamente, como exemplificado a seguir:

a) diminuição da sensibilidade tátil;

b) abolição da sensibilidade vibratória;

c) aumento da sensibilidade superficial dolorosa.

É fundamental acrescentar a esses exemplos o grau e a localização das

alterações.

3.5 Nervo Facial (VII)

Do ponto de vista semiológico, interessa a parte motora do nervo facial, que

se divide anátomo-clinicamente em dois ramos – temporofacial e cervicofacial –, os

quais se distribuem para a musculatura da mímica facial.

Para fazer o exame do nervo facial, solicita-se ao paciente enrugar a testa,

franzir os supercílios, fechar as pálpebras, mostrar os dentes, abrir a boca, assobiar,

inflar a boca e contrair o platisma ou músculo cutilar do pescoço.

Note o tônus dos músculos da expressão facial e procure atrofia e

fasciculações. Note a posição em repouso da face e se há alguma contração

muscular anormal. Observe o padrão de piscar espontâneo em relação a freqüência

e simetria.

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Page 53: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Na parilisia unilateral, observam-se lagoftalmia (o olho permanece sempre

aberto), ausência do ato de piscar, epífora (lacrimejamento), desvio da boca para o

lado normal, sobretudo quando se pede ao paciente mostrar os dentes ou abrir

amplamente a boca, incapacidade para contrair o platisma, para assobiar e para

manter a boca inflada.

A paralisia da face se chama prosoplegia e, quando bilateral, fala-se em

diplegia facial.

Tem importância prática a distinção entre paralisia por lesão do nervo facial

(paralisia infranuclear ou periférica) e a por lesão da via corticonuclear ou feixe

geniculado (paralisia central ou supranuclear). No tipo periférico, toda a hemiface

homolateral é atingida, enquanto na central somente a metade inferior da face

contralateral se mostra alterada. Este último tipo ocorre com freqüência nos

acidentes vasculares e nas neoplasias cerebrais.

Observe as pregas nasolabiais quanto a profundidade e simetria e note se há

alguma assimetria nas rugas da testa ou na largura das fissuras palpebrais com a

face em repouso. Uma prega nasolabial achatada com rugas da fronte simétricas

sugere uma paralisia facial central (neurônio motor superior); uma prega nasolabial

achatada com rugas da fronte lisas do mesmo lado sugere uma paralisia facial

periférica (neurônio motor inferior).

Localização da paralisia periférica do nervo facial: paralisia facial periférica

(PFP) pode ocorrer por uma lesão envolvendo o núcleo do nervo facial na ponte ou

em qualquer ponto ao longo do segmento infranuclear. A fraqueza dos músculos da

expressão facial é a mesma em lesões de qualquer ponto ao longo do trajeto do

nervo. A localização diagnóstica depende dos achados associados, como

hiperacusia, diminuição da lacrimação, comprometimento do paladar e envolvimento

de estruturas neurais além do NC VII. A causa mais comum da PFP é sem dúvida a

paralisia de Bell (paralisia facial idiopática sobrevém frequentemente após uma

infecção virótica ou uma vacinação).

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Page 54: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Os sintomas que mais comumente acompanham a paralisia de Bell são

lacrimação aumentada, dor no ouvido e em torno dele e anormalidades do paladar.

Disgeusia ocorre em cerca de sessenta porcento dos pacientes e ageusia em cerca

de dez porcento deles. Pode haver baba e dificuldade de falar devido aos músculos

faciais flácidos. Os pacientes frequentemente são incapazes de fechar o olho;

líquidos e saliva podem escorrer pelo canto da boca afetado elágrimas podem correr

pela bochecha abaixo.

Regeneração aberrante é comum após paralisia de Bell e após lesões

traumáticas do nervo. Os axônios destinados a um músculo crescem novamente e

inervam um outro músculo, de modo que há contrações anormais da face fora da

área do movimento pretendido. Ao piscar, o canto da boca pode contrair-se. Ao

sorrir, o olho pode fechar-se.

Fraqueza facial de origem central (PFC): Numa paralisia facial supranuclear,

do neurônio motor superior ou central, há fraqueza da região inferior da face, sendo

a região superior da face relativamente poupada(pode haver fraqueza sutil do

orbicular do olho, a fissura palpebral pode estar ligeiramente mais larga do lado

envolvido e pode haver diminuição nas vibrações palpebrais.

Mesmo quando há algum grau de envolvimento da região facial superior

numa PFC, o paciente sempre é capaz de fechar o olho, o fenômeno de Bell está

ausente, o reflexo corneano está presente e o reflexo do orbicular do olho pode estar

exagerado. Na PFC, a região inferior da face está fraca, a prega nasolabial é

superficial e a mobilidade facial está diminuída. Entretanto, a fraqueza da região

inferior da face nunca é tão grave quanto na PFP, o que sugere poder haver alguma

inervação cortical direta tanto para a região superior da face como para a inferior.

Raramente é difícil distinguir PFC de PFP.

Há duas variações da PFC: (a) volitiva, ou involuntária; e (b) emocional, ou

mimética. Movimentos espontâneos e movimentos volitivos deliberados podem

evidenciar graus diferentes de fraqueza. Quando a assimetria é mais evidente num

tipo de movimento que no outro, diz-se que a fraqueza facial é dissociada.

Assimetria facial mais evidente com expressão espontânea, como ao rir, é

designada como paralisia facial mimética, emotiva ou emocional (PFE). Fraqueza

mais acentuada mediante contração voluntária, quando o paciente é solicitado a

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Page 55: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

sorrir ou a mostrar os dentes, é designada como paralisia facial volitiva (PFV). PFV

pode ocorrer de uma lesão envolvendo o centro cortical no terço inferior do giro pré-

central que controla os movimentos faciais ou o trato corticobulbar. A lesão pode ser

portanto no córtex ou nas vias corticobulbares subcorticais em sua passagem pela

cápsula interna, pelo pedúnculo cerebral ou pela ponte acima do núcleo facial. A

dissociação pode dever-se a inervação supranuclear bilateral para movimentos

emocionais espontâneos da região inferior da face não presente para os

movimentos volitivos. Na PFE, a fraqueza é mais acentuada com movimentos faciais

espontâneos, e o paciente consegue contrair os músculos faciais inferiores sob

comando sem dificuldade. A explicação anatômica para a PFE não foi esclarecida.

Fraqueza facial vista apenas com movimentos emocionais decorre mais comumente

de lesões talâmicas ou estriadocapsulares, geralmente infartos, e em raras ocasiões

com lesões do tronco cerebral.

Investigando as funções secretoras: O reflexo lacrimal consiste em

lacrimação, geralmente bilateral, causada por estimulação da córnea. O reflexo

nasolacrimal é evocado por estimulação mecânica da mucosa nasal. As

anormalidades da salivação são geralmente sugeridas pela história.

Otorrinolaringologistas e cirurgiões orais podem usar técnicas especiais para

quantificar o fluxo salivar.

Resta fazer algumas considerações sobre o nervo intermédio ou nervo

intermédio de Wrisberg, que tem curto trajeto junto ao nervo facial. Por um de seus

ramos principais (corda do tímpano), o nervo intermédio recolhe as impressões

gustativas dos dois terços anteriores da língua.

Às vezes, na vigência de paralisia facial periférica, é possível caracterizar

alguma anormalidade da gustação, seja por informação do paciente, seja mediante

exame deste sensório. Para isto, empregam-se soluções saturadas com os sabores

doce, amargo, salgado e ácido, colocadas na língua para serem identificados pelo

paciente. Não se esquecer de que, entre uma e outra prova, a boca deve ser lavada

convenientemente.

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Page 56: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Como o VII nervo craniano medeia apenas o paladar nos dois terços

anteriores da língua, quando a língua é retraída para dentro da boca, há dispersão

rápida da substância teste para fora da área de interesse. A língua deve pois

permanecer protusa durante o teste inteiro de determinada substância. Caso se vá

testar o amargo, deve-se fazê-lo por último, porque seu gosto permanece por mais

tempo.

A situação que mais comumente exige uma avaliação do paladar é a

avaliação de paralisia do nervo facial. Se um paciente com um padrão periférico de

fraqueza facial tiver o paladar comprometido, a lesão é proximal à junção com a

corda timpânica. Uma lesão no forame estilomastóideo ou distalmente a ele (p.ex.,

na glândula parótida) não afeta o paladar.

Considerações necessárias para a realização deste exame clínico em

crianças: Pode-se observar a expressão facial do bebê quando este chora ou sorri,

reforçando o sulco nasogeniano; quando acompanha um objeto com os olhos,

elevando os supercílios e, também, durante o piscamento. Observando-se o bebê

dormindo, o fechamento incompleto das pálpebras (uni ou bilateralmente) pode ser

sinal de comprometimento periférico do nervo facial. A função gustativa pode ser

avaliada com gotas de limão, sal ou açúcar.

3.6 Nervo Vestíbulococlear (VIII)

Teste de audição: antes de testar a audição, deve-se proceder a um exame

ostoscópico para assegurar que a membrana timpânica está intacta e afastar a

presença de cera, pus,sangue,corpos estranhos exudatos.

Os dois tipos de distúrbios da audição (condutivo ou neurossensorial) são

diferenciados pelos testes de weber e teste de Rinne, e ambos utilizam-se de um

diapasão para realização dos testes.

Teste de Rinne: esse teste compara a condutividade aérea e óssea do

paciente, como o som é amplificado pelos ouvidos externo e médio, os sons

conduzidos por via aérea são normalmente percebidos como mais altos que

aqueles conduzidos por via óssea.

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Page 57: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

O teste consiste em colocar um diapasão ativado, primeiro no processo

mastóide e depois imediatamente atrasa do ouvido, perguntando-se ao paciente

qual foi o som mais alto; o som deve ser sempre mais alto junto ao ouvido.

O método mais tradicional consiste em colocar o diapasão sobre o mastóide e

quando ele não for mais perceptível, colocá-lo junto ao ouvido, onde ele ainda

deve ser audível. O diapasão deve ser ouvido pela condução aérea o dobro de

tempo que pela condução óssea (rinne positivo).

Na perda auditiva condutiva, a condução óssea é melhor do que a condução

aérea e o teste de Rinne é apontado como negativo. O som não é conduzido

normalmente pelo canal ou pela membrana timpânica À cóclea através da

cadeia ossicular, mas os mecanismos sensoriais estão intactos, (Condução

aérea comprometida e Condução óssea preservada).

Na surdez neurosensorial, tanto a condução aérea como a condução óssea

estão comprometidas, conservando ao mesmo tempo sua relação normal de

condução aérea melhor que condução óssea.

Teste de Weber: um diapasão em vibração é colocado na linha média do

vértice craniano. Ele pode ser colocado em qualquer ponto da linha média,

sobre o corpo do nariz, maxilar ou a fronte, mas funciona melhor sobre o

vértice. Normalmente, a vibração é percebida com a mesma intensidade nos

dois lados. Na perda auditiva condutiva, o som é lateralizado (mais

perceptível) do lado envolvido; na surdez neurosensorial,o som é mais

perceptível no ouvido normal.

Teste da função vestibular:

Teste de Romberg- como o sistema sensitivo proprioceptivo é suprido pela

visão para o paciente manter-se em equilíbrio estático, ao pedirmos a ele que

feche os olhos, estando em posição ereta e com os pés juntos, há queda para

um sentido preferencial após um período de latência, o sentido preferencial

da queda se dá para o lado do labirinto lesado (devido ao fato de o SNC

interpretar a falta de informações como um deslocamento para o lado oposto

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Page 58: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

e tenta corrigir, levando ao desequilíbrio para o lado lesado (Romberg

vestibular).

Teste da passada de Fukuda- pede-se ao paciente que feche os olhos e

“marche no mesmo lugar”. Pessoas com lesão vestibular tende a se desviar

sempre para o lado lesado.

Marcha em estrela de Babinski-Weill- o paciente, com os olhos fechados, dá

vários passos adiante e depois para trás, repetidas vezes. Um indivíduo

normal começará e terminará aproximadamente ao longo da mesma linha.

Um paciente com vestibulopatia continuará a se desviar durante a fase de

andar para trás, resultando em um trajeto com um padrão de estrela.

Teste dos braços estendidos: pede-se ao paciente que, de olhos fechados,

estenda os braços, ficando nesta posição por alguns segundos. Em pessoas

com lesões observa-se uma queda para o lado lesionado.

Nistagmo e seus testes: nistagmo são oscilações repetidas e involuntárias

rítmicas de um ou ambos os olhos em algumas ou todas as posições de mirada.

Pode ser de origem central (lesão cerebelar ou do tronco cerebral) ou periférica

(doença do labirinto ou do NC VIII). Em lesões periféricas o nistagmo é unidirecional,

com vertigens subjetivas e intensas, tinidos e surdez também estão presentes.

Já em lesões centrais o nistagmo pode ser uni ou bidirecional, com nistagmo

vertical, vertigens objetivas e leves, e ausência de tinidos/surdez.

Nistagmo Espontâneo: a fase lenta do nistagmo vestibular espontâneo é

geralmente na direção da lesão,com a fase rápida em direção oposta, pois

geralmente a lesão vestibular causa hipoatividade do labirinto;

Nistagmo posicional: quando não está presente espontaneamente, o

nistagmo pode ser provocado colocando-se a cabeça do paciente em uma posição

especial.(manobra de Dix- hallpike).

Manobra Dix- Hallpike: o paciente é passado de uma posição sentada para

uma posição em decúbito dorsal, com a cabeça estendida em 45º e virada 45º para

um lado de modo que um ouvido fique pedente.

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Page 59: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Teste do NC VIII em recém-nascidos: A audição deve ser testada desde o dia

do nascimento, pois é condição necessária para o desenvolvimento da linguagem.

Ao ouvir o som de uma campainha, ou de um chocalho, o bebê modifica o padrão

respiratório, fica “alerta”, ou modifica o movimento de seu corpo, denunciando ter

recebido o som. Até o final do 1º mês, os bebês se voltam em direção ao som. Até o

6º mês, localiza o som à altura e abaixo dos ouvidos, estando sentados, e até o 13º

mês, acima da cabeça. A porção vestibular é testada nas provas de equilíbrio R. De

“olhos de boneca”: ao se desviar a cabeça para um dos lados, há desvio conjugado

dos olhos para o lado oposto. Este é um reflexo normal no indivíduo, indicando

integridade das vias vestíbulo-oculares. Porém, estando o indivíduo em vigília, o

mesmo é substituído ou inibido pelo sinergismo óculo-cefálico, isto é, aos se desviar

a cabeça os olhos acompanham o movimento, fixando os objetos à sua frente.

3.7 Nervos Glossofaríngeo (NC IX) e Vago (NC X)

O exame clínico do nervo glossofaríngeo isoladamente é difícil devido à duas

razões básicas: o fato de a maioria de suas funções serem compartilhadas com

outros nervos e pela dificuldade de acesso das regiões inervadas por ele. Assim, o

exame clínico dos nervos glossofaríngeo e vago é realizado em conjunto devido à

íntima relação mantida pelos mesmos, como exposto anteriormente (no item 2.1.9).

Como os nervos glossofaríngeo e vago realizam a inervação sensitiva e

motora da orofaringe e da laringe, os principais sintomas decorrentes de lesão

nestes nervos são a disfagia (dificuldade na deglutição) e as alterações na voz.

O exame motor: não é possível isolar as funções motoras do NC IX e co NC

X, assim o exame clínico do X nervo inclui o ramo interno (motor) do NC IX, eles

suprem o palato mole, a faringe e a laringe. Para analisar possível lesão unilateral

do IX e do X nervos pede-se para que o paciente abra bem a boca e pronuncie as

vogais “a” e “e”, observa-se então o arco palatino e a movimentação do palato mole

durante a pronúncia, se a úvula subir centralizada não há lesão dos nervos IX e X.

Se houver lesão de um dos lados, o palato mole e a úvula sobem com desvio para o

lado normal. A lesão unilateral do nervo vago promove fraqueza do músculo

levantador do véu palatino e do músculo da úvula, o que causa queda do palato e

achatamento do arco palatino, e a fraqueza unilateral do músculo constrictor

59

Page 60: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

superior da faringe (que recebe inervação do glossofaríngeo) pode provocar um

movimento característico da faringe durante a pronúncia das vogais ou durante o

reflexo da ânsia, o “sinal da cortina”, no qual a parede posterior da faringe desloca-

se para o lado normal.

O exame sensitivo: consiste no reflexo da ânsia, que é causado ao tocar-se a

faringe ou o palato. Para tal usa-se um abaixador de língua, ou objeto semelhante

para tocar a lateral da orofaringe, um lado do palato mole, a base da língua ou a

úvula. O IX nervo media a porção aferente (sensitiva) do reflexo e o X nervo media a

alça eferente (motora), sendo no bulbo, o centro reflexo. A reação motora ocorre por

constrição e elevação da orofaringe, o que promove elevação da rafe da linha média

do palato e da úvula, além da contração dos músculos constrictores da faringe. A

atividade dos dois lados deve ser comparada. Se o reflexo do vômito não ocorrer há

algum tipo de lesão do IX e/ou X nervos.

3.8 Nervo Acessório (NC XI)

O exame clínico do nervo acessório concentra-se essencialmente em sua raiz

espinhal, já que as funções da sua raiz craniana não podem ser distinguidas das

funções do nervo vago. Como exposto anteriormente (no item 2.1.11), a raiz

espinhal do nervo acessório promove a inervação dos músculos trapézio e ECM.

A ação isolada de um ECM promove a rotação da cabeça para o lado oposto

ou sua inclinação para o mesmo lado. Já a ação conjunta dos dois ECM flexiona o

pescoço e projeta a cabeça para frente.

O trapézio é um dos músculos responsáveis por estabilizar a escápula e

promover alguns de seus movimentos como: retraí-la (juntamente com o rombóide)

e rotacioná-la (juntamente com músculo serrátil quando o braço está em abdução).

Ele cria uma plataforma para o movimento do úmero e, além disso, a contração do

trapézio superior permite que a abdução do braço até diretamente acima da cabeça,

mesmo quando os limites dos movimentos glenoumeral e acromioclavicular são

atingidos.

Assim, durante os exames clínicos ambos os músculos devem ser avaliados e

palpados, quanto ao seu tônus e volume. Pra avaliar o ECM pede-se para o paciente

virar a cabeça para um dos lados e resistir à tentativa do médico de reposicionar a

60

Page 61: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

cabeça na linha média, ou pedir que o paciente resista à tentativa do avaliador de

rotacionar sua cabeça para o lado (os testes devem ser feitos dos dois lados). Essas

ações fazem os ECM se destacar bem, permitindo a avaliação bilateral de sua

contração. Outra opção é testar os músculos ECM simultaneamente pedindo para

que o paciente flexione a cabeça para frente contra a resistência do avaliador.

A atrofia unilateral do ECM não causa alteração da posição da cabeça em

repouso, mas causa a não contração do mesmo quando se tenta rotacionar a

cabeça contralateralmente ou flexionar o pescoço contra resistência. A atrofia de

ambos os ECM dificulta a flexão do pescoço anteriormente, e pode fazer com que a

cabeça assuma uma posição estendida.

O teste do músculo trapézio pode ser feito de duas formas, pode-se pedir

para o paciente erguer os ombros contra a resistência, ou pedir que o paciente

aproxime a região occipital do acrômio sob resistência.

A atrofia unilateral do músculo trapézio altera o contorno do pescoço, pois o

ombro se deprime com o deslocamento da escápula para baixo e para o lado, e o

braço pende. Além disso, a abdução do braço é comprometida (fraqueza do trapézio

médio leva à síndrome da escápula alada, bem verificada na abdução lateral do

braço). Já a atrofia bilateral do trapézio gera fraqueza na extensão do pescoço,

incapacidade de levantar o queixo, tendência de queda da cabeça para frente

(síndrome da cabeça caída) e ombros com aparência caída.

3.9 Nervo Hipoglosso (NC XII)

O objetivo principal do exame clínico do nervo hipoglosso é avaliar a força, o

volume, a destreza, e a consistência da língua, atentando-se sempre para sinais de

atrofia, movimentação anormal (como fasciculações9) e dificuldade para a realização

de movimentos rápidos.

Primeiramente deve-se observar a língua em repouso sobre o assoalho da

boca e procurar principalmente por fasciculações. Feito isso é pedido para que o

paciente realize diversos movimentos com sua língua (colocá-la para fora e para

dentro, movê-la de um lado para o outro, e de cima para baixo) de forma lenta e

9 Fasciculações são contrações espasmódicas musculares resultantes de pequenas contrações musculares locais ou a contração espasmódica de um único grupo muscular servido por uma única fibra ou filamento nervoso motor.

61

Page 62: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

depois rapidamente. Um dos principais testes é o da protrusão da língua, pois a

partir desse teste pode-se diagnosticar casos de lesões unilaterais do hipoglosso.

Para testar-se a força motora pede-se para o paciente pressionar a ponta da

língua contra a bochecha e mantê-la mesmo contra a resistência do dedo do

examinador tentando movê-la. Na ausência de patologias a língua consegue se

manter no lugar. Pode-se também realizar outro teste, esse mais exato, para avaliar

a força da contração muscular da língua: com a mesma protraída pressiona-se um

abaixador de língua contra os seus lados e compara-se a força de resistência dos

dois lados.

É importante avaliar também a consistência da língua palpando-a para avaliar

o tônus muscular e possíveis fasciculações.

4. Principais lesões e síndromes neurológicas dos nervos cranianos

62

Page 63: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

4.1 Nervo Olfatório (NC I)

Transtornos da função olfativa podem ter as mais diversas causas, mas os

provocados por razões neurológicas não são os mais comuns. A anosmia tem

quatro causas principais: infecções do trato respiratório superior (IRS), idiopatias10,

traumatismos e doenças nasais e dos seios paranasais.

As principais causas neurológicas para anosmias são: lesões da superfície

orbital do cérebro (levam a anosmia unilateral), meningiomais11 (meningiomas da

crista esfenoidal levam à anosmia ipsilateral, e do sulco olfativo ou da área da placa

crivosa causam inicialmente anosmia unilateral, que evolui para bilateral), tumores

do lobo frontal e lesões parasselares e da hipófise.

A síndrome de Foster Kennedy, causada por tumores extensos na região

orbitofrontal (como meningiomas do sulco olfativo), que se caracterizada pela

anosmia ipsilateral unilateral e papiledema contralateral.

Há ainda, alterações olfativas decorrentes de lesões corticais como: a

parosmia (que é a perversão ou distorção do olfato), alucinações olfativas (nas

psicopatias) ou cacosmia (sensação de odor desagradável na ausência de qualquer

substância produtora do mau cheiro).

4.2 Nervo Óptico (NC II)

Os transtornos do sistema visual aferente podem ser divididos em pré-

quiasmáticos, quiasmáticos e retroquiasmáticos. Uma doença em cada uma dessas

localizações tem características típicas que possibilitam sua localização. Os

processos etiológicos que afetam esses diferentes segmentos do sistema visual

aferente são bem diferentes. Como generalização, lesões pré-quiasmáticas causam

perda visual monocular; comprometimento da percepção de cores; um defeito

central, paracentral ou cecocentral do CV; e um DPA. O disco pode ou não parecer

anormal dependendo da localização exata da lesão. Lesões do quiasma causam

10 Idiopatia é toda doença que surge espontâneamente por causa obscura ou desconhecida.

11 Meningiomas são tumores das meninges, envoltórios de tecido conjuntivo que revestem os órgãos do sistema nervoso central.

63

Page 64: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

defeitos heterônimos bitemporal, com preservação da acuidade visual e da

percepção de cores e um disco óptico de aparência normal. Lesões

retroquiasmáticas causam uma hemianopsia homônima contralateral e não tem

nenhum efeito sobre a acuidade ou a aparência do disco. Em geral não há nenhum

efeito sobre a visão de cores, mas algumas lesões centrais podem causar

acromatopsia.

Lesões pré-quiasmáticas

Os transtornos pré-quiasmáticos afetam o nervos óptico. Os transtornos

podem ser divididos naqueles que afetam o disco (papilopatias) e aqueles que

afetam o segmento retrobulbar entre o globo e o quiasma. A mácula dá origem à

maioria das fibras no nervo óptico e uma doença da mácula propriamente dita pode

ocasionar um quadro clinico que por vezes é difícil de ser distinguido de neuropatia

óptica. Causas comuns de maculopatias incluem degeneração macular relacionada

à idade e retinopatia serosa central. As doenças maculares causam

comprometimento grave da acuidade central e da visão de cores. Pode haver um

escotoma central. Um escotoma central nítido com campo normal entre o defeito

central e o ponto cego é mais comum em doenças maculares do que naquelas do

nervo óptico. Doenças maculares causam freqüentemente metamorfopsia, uma

distorção das imagens visuais. Quando graves, as maculopatias podem causar um

DPA. O prolongamento do tempo para recuperação da visão após estimulação

luminosa intensa e direta (teste do fotoestresse) pode ajudar por vezes a distinguir

doença macular daquela do nervo óptico.

Uma estrela macular é um padrão radial de exsudatos na retina perimacular. Elas

são comuns na hipertensão, no papiledema e em outras condições. Neurorretinite

designa a associação de neurite óptica a uma estrela macular e tem comumente

origem virótica. Coriorretinite é uma inflamação que envolve a coróide e a retina,

mais freqüentemente provocada por infecções como tuberculose, sífilis,

toxoplasmose, citomegalovirus e HIV. A coriorretinite deixa freqüentemente

cicatrizes brancas circundadas por aglomerados de pigmento. Coriorretinite por

citomegalovirus é comum na AIDS.

64

Page 65: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

- Transtornos do disco óptico

A cor e aparência do disco podem alterar-se em varias circunstancias. O

disco pode mudar de cor – para anormalmente pálido na atrofia óptica ou

anormalmente vermelho no edema do disco. As margens podem ficar obscurecidas

devido a edema de disco ou à presença de anormalidades. O edema do disco é

inespecífico. Ele pode refletir pressão intracraniana aumentada ou pode ocorrer por

causa de inflamação do nervo óptico, isquemia, ou outros processos locais. Por

convenção, edema do disco por aumento de pressão intracraniana é designado

como papiledema; em todas as outras circunstancias, dá-se preferência aos termos

não comprometedores edema ou inchaço do disco. A função visual proporciona uma

indicação crítica quanto a natureza de anormalidades do disco. Pacientes com

papiledema agudo e aqueles com anomalias do disco têm acuidade visual, campos

visuais e percepção de cores normais. Comprometimento dessas funções ocorre via

de regra em pacientes com neuropatias ópticas de qualquer etiologia. O primeiro

passo na avaliação cuidadosa da visão.

- Papiledema

A hipertensão intracraniana exerce pressão sobre os nervos ópticos, o que

compromete o fluxo axoplásmico e produz edema axônico e um volume aumentado

do axoplasma no disco. Os axônios inchados prejudicam o retorno venoso da retina,

ingurgitando primeiro os capilares na superfície do disco, depois as veias da retina e

finalmente causando hemorragias em forma de estilhaço e de chama assim como

exsudatos em lã de algodão na camada de fibras nervosas da retina. A inchação

adicional dos axônios acaba por resultar em elevação do disco acima da superfície

da retina. Obscurecimentos visuais transitórios, turvamento ou escurecimento

momentâneo da visão, frequentemente precipitados por mudanças de postura, são

sintomas clássicos do papiledema, especialmente no pseudotumor cerebral. Os

obscurecimentos podem dever-se a comprometimento microvascular na cabeça do

nervo.

Os quatro estágios de papiledema são inicial, plenamente desenvolvido,

crônico e atrófico. Papiledema plenamente desenvolvido é evidente, com elevação

65

Page 66: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

da superfície do disco, formação de uma saliência por parte dos vasos que cruzam a

margem do disco, obliteração das margens do disco, hemorragias peripapilares,

exsudatos em lã de algodão, veias retinianas ingurgitadas e tortuosas e hiperemia

acentuada do disco. O reconhecimento de papiledema inicial é muito mais

problemático. Ocasionalmente, o único meio de se resolver papiledema inicial é por

observação seriada. A primeira alteração é perda das pulsações venosas

espontâneas (PVE) anteriormente observadas. Pulsações venosas são mais bem

vistas no ponto em que as grandes veias mergulham no disco centralmente. O

movimento é uma oscilação rítmica para diante e para trás da extremidade da

coluna sanguínea, que se assemelha a uma língua de cobra projetando-se

lentamente. É muito mais difícil ver a expansão de uma veia de um lado para outro.

A presença de PVE indica pressão intracraniana abaixo de aproximadamente 200

mm H2O. No entanto, como elas estão ausentes em 10% a 20% dos indivíduos

normais, somente o desaparecimento de PVE anteriormente observadas é

claramente patológica.

Com o desenvolvimento do papiledema, a pressão venosa retrógrada

aumentada dilata os capilares na superfície do disco, transformando sua cor rosa

amarelado normal num vermelho vivo. Turvação das margens superiores e inferiores

evidencia-se logo depois. Entretanto, como essas margens são normalmente as

áreas menos nítidas do disco, margens turvas isoladamente não são suficientes

para o diagnóstico de papiledema. Não há nenhuma alteração do cálice fisiológico

em papiledema inicial. Com a evolução adicional, o paciente com papiledema inicial

desenvolverá edema difuso do disco, obscurecimento do cálice, hemorragias,

exsudatos e ingurgitação venosa. Elevação franca do disco sobrevém então quando

o fundo matura em um papiledema plenamente desenvolvido. No papiledema

crônico, as hemorragias e os exsudatos resolvem-se e deixam um disco em “rolha

de champanhe” acentuadamente edemaciado, fazendo saliência do plano da retina.

Quando não aliviado, o fluxo axoplásmico comprometido acaba por ocasionar mote

dos axônios e distúrbios visuais, que evoluem para o estagio de papiledema atrófico,

ou atrofia óptica secundaria. O papiledema evolui normalmente em dias ou

semanas. Em casos de aumento agudo de pressão intracraniana devido a

hemorragia subaracnóidea ou intracraniana, ele pode desenvolver-se em algumas

66

Page 67: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

horas. A medida das dioptrias de elevação do disco por meio de oftalmoscópio tem

pouca utilidade.

Papiledema agudo não causa nenhum comprometimento na acuidade visual

ou na visão de cores. O paciente típico não tem nenhum sintoma relacionado a sua

presença exceto obscurecimentos. O ponto cego pode estar aumentando de

tamanho, mas o teste dos CV fora isso está normal. Em pacientes que desenvolvem

atrofia óptica após papiledema, a morbidade visual pode ser grave e pode incluir

cegueira.

- Outras Causas de Edema do Disco

Alterações oftalmoscopicamente indistinguíveis de papiledema ocorrem

quando condições que afetam principalmente a papila do nervo óptico causam

edema do disco. O papiledema geralmente é bilateral; outras causas de edema do

disco são frequentemente unilaterais. As neuropatias ópticas geralmente causam

distúrbio visual acentuado, incluindo perda de acuidade, escotoma central ou

cecocentral, perda de percepção de cores e um DPA. O acometimento da cabeça do

nervo óptico se deve geralmente a desmielinização, isquemia, inflamação ou

compressão. Neurite óptica e neuropatia óptica isquêmica anterior (NOIA) são duas

condições comuns que causam comprometimento da visão e edema do disco.

Ambas são geralmente unilaterais. Lesões compressivas do nervo óptico na órbita

podem causar edema do disco, mas compressão intracanalicular e intracraniana não

exerce esse efeito. Neurite óptica com edema do disco é por vezes designada como

papilite. Papilite pode ocorrer como uma anormalidade isolada, como uma

manifestação de esclerose múltipla (EM) ou como complicação de algumas doenças

sistêmicas. Neuropatias ópticas desmielinizantes causando papilopatias são uma

característica comum de EM, mas também podem ocorrer como um processo

mórbido independente ou complicar outros transtornos, como encefalomielite

disseminada aguda (EMDA) e neuromielite óptica (doença de Devic). Há muitas

causas de neuropatia óptica.

- Neurite óptica

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Page 68: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Inflamação ou desmielinização do nervo óptico pode ocorrer em varias

condições, incluindo EM, síndromes pós-viróticas, sarcoidose, doenças vasculares

do colágeno, neurosífilis e outras. Muitos casos são idiopáticos. A maioria dos

pacientes é constituída de mulheres. Neurite óptica (NO) ocorre em 70% dos

pacientes em algum momento durante a evolução de EM e é característica inicial em

25% deles. Cerca de 50% a 70% dos pacientes com neurite óptica acabam por

desenvolver outras evidencias de EM. os fatores que aumentam a probabilidade de

EM subjacente em pacientes com NO incluem a presença do fenômeno de Uhthoff

(sintomas aumentados com elevação da temperatura corporal ou após exercícios),

positividade ao HLA-DR2 e um episodio recorrente. Diminuição da acuidade,

comprometimento da percepção de cores, escotomas centrais ou cecocentrais,

edema do disco e um DPA são os achados típicos. Perda visual na neurite óptica

ocorre subitamente e tende a evoluir em 1 a 2 semanas, com recuperação

substancial em 4 a 6 semanas. Perda visual grave aguda não implica

necessariamente em recuperação inadequada. Dor ocular esta presente em 90%

dos pacientes, e muitos deles têm fenômenos visuais positivos com cores ou luzes

piscando (fotopsias, fosfenos). Em cerca de 65% dos casos, o disco parece normal.

Pode ocorrer dor quer haja ou não edema do disco.

- Neuropatia óptica isquêmica anterior

Neuropatia óptica isquêmica anterior (NOIA) é a síndrome mais comum de

isquemia do nervo óptico. Na NOIA, microangiopatia produz oclusão das artérias

ciliares posteriores curtas e infarto de todo o disco ou parte dele. A perda visual é

súbita, indolor, não progressiva e geralmente não melhora. Diminuição da acuidade,

comprometimento da percepção de cores, um defeito altitudinal do campo, em geral

inferior, e edema do disco são os achados típicos da forma aguda; eles evoluem

subseqüentemente para atrofia óptica. A NOIA é dividida em duas formas: arterítica

e não arterítica. NOIA arterítica complica mais comumente a arterite de células

gigantes. Envolvimento do outro olho mesmo a anos depois é comum. Embora

nenhum tratamento afete a evolução final do olho não envolvido, o reconhecimento e

o tratamento da vasculite subjacente podem impedir um ataque futuro no outro olho.

NOIA não arterítica é causada mais comumente por uma microvasculopatia

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Page 69: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

relacionada a hipertensão sistêmica, diabete, arterioclerose ou aterosclerose. Alguns

casos se devem a um comprometimento da perfusão microvascular relacionada a

uma hipotensão sistêmica ou a um aumento da pressão intra-ocular. Há uma

síndrome de neuropatia óptica isquêmica posterior, mas ela é rara e não tão bem

definida quanto as síndromes isquêmicas anteriores. Pode ser difícil distinguir NO de

neuropatia óptica isquêmica.

- Outras neuropatias ópticas

Inúmeras outras condições podem afetar a cabeça do nervo óptico, causando

perda visual e anormalidades do disco (por ex., glaucoma; NOHL e outras atrofias

ópticas hereditárias; toxinas e drogas; tumores primários e metastáticos; desnutrição

e estados de deficiência; transtornos neurodegenerativos; leucodistrofias; e

anomalias congênitas).

- Pseudopapiledema

Algumas condições que afetam a cabeça do nervo óptico causam alterações

de borramento do disco de pouca ou nenhuma importância clinica. Esta

circunstancia ocorre freqüentemente quando a oftalmoscopia de rotina revela um

disco de aparência anormal num paciente com enxaqueca ou alguma queixa

neurológica aparentemente benigna. Tais pacientes têm geralmente visão normal e

não tem nenhuma queixa visual. Causas comuns de psedopapiledema incluem

drusas do nervo óptico e fibras nervosas mielinizadas.

Drusas, ou corpos hialóides, do nervo óptico são depósitos hialinos acelulares

calcificados no nervo óptico que podem elevar e distorcer o disco. Drusas ocorrem

em cerca de 2% da população e são bilaterais em 70% dos casos. Elas são

familiares, transmitidas hereditariamente como um traço dominante irregular com

penetrância incompleta e ocorrem quase que exclusivamente em caucasianos. Na

superfície do disco, as drusas têm aparência de alta refração, de torrões de açúcar.

Quando alojadas por sob a superfície, porém, as drusas podem produzir apenas

elevação do disco e margens turvas, causando confusão com o papiledema. As

drusas do nervo óptico não devem ser confundidas com as drusas da retina, que são

uma anormalidade relacionada à idade, consistindo em manchas arredondadas

69

Page 70: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

branco-amareladas de tamanho variável concentradas no pólo posterior. Fibras

nervosas mielinizadas estendem-se ocasionalmente além da margem do disco até a

retina, o que causa uma imagem do disco muito notável mas não significa nada.

Outras causas de psedopapiledema incluem remanescentes da artéria hialóide

primitiva (papila de Bergmeister), discos inclinados e hiperopia extrema.

Pode ser difícil distinguir pseudopapiledema de um edema do disco adquirido.

Características que pode ser uteis incluem as seguintes: no papiledema, o disco

mostra-se geralmente hiperêmico; a turvação das margens do disco é nos pólos

superior e inferior no inicio do processo; os vasos sanguíneos parecem normais,

exceto a presença de plenitude das veias; e a CFN está amortecida com os vasos

sanguíneos retinianos obscurecidos devido a edema da retina. No

pseudopapiledema a cor do disco permanece normal; a turvação das margens do

disco pode ser irregular, e o disco pode ter aparência cheia de caroços; os vasos

sanguíneos no disco freqüentemente parecem anômalos; e a CFN está clara.

Quando em duvida, consulte um oftalmologista.

- Atrofia óptica

Na atrofia óptica, um disco mostra-se mais pálido do que o normal e mais

nitidamente demarcado em relação à retina circunvizinha tendo por vezes aparência

escavada. As margens do disco destacam-se nitidamente; o cálice fisiológico pode

estar anormalmente proeminente e se estender até as margens do disco. A perda de

axônios mielinizados e seus capilares de sustentação, com substituição por

cicatrizes glióticas, produz a ausência de cor, que pode variar de um cinza-sujo a

uma cor branco-azulada ou um branco-gelo. Depósitos coroidais escuros de

pigmento podem estar presentes em torno das margens do disco. A profundidade da

cor da coróide influenciará a percepção do grau de contraste entre o disco e a retina.

Um disco atrofiado pode parecer perspectivamente menor. Palidez da parte temporal

do disco – um achado clássico na EM – pode preceder atrofia definitiva, mas palidez

temporal fisiológica normal torna esse achado freqüentemente duvidoso.

Atrofia óptica pode sobrevir após alguma outra condição (NO, NOIA ou

papiledema) e é então designado como atrofia óptica secundaria ou consecutiva.

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Page 71: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Atrofia óptica primaria aparecendo de novo, ocorre como uma condição

heredofamiliar (por ex., neuropatia óptica hereditária de Leber [NOHL]) ou outra

lesão toxica, metabólica, nutricional, compressiva ou glaucomatosa do nervo. O

termo atrofia óptica cavernosa, ou pseudoglaucomatosa, é usado quando há

recessão acentuada do disco. Glaucoma é uma causa comum de atrofia óptica; ele

produz tanto aumento na profundidade do cálice fisiológico como atrofia do nervo. A

NOHL é uma condição rara que afeta apenas indivíduos masculinos; ela pode

ocasionar a aparência de edema do disco agudamente, mas evolui para atrofia

óptica. Telangiectasias peripapilares características estão freqüentemente

presentes, mesmo no olho não envolvido. O termo atrofia óptica em gravata

borboleta ou em faixa designa palidez do disco que pode ocorrer num olho mediante

perda do CV temporal após uma lesão do quiasma ou do trato óptico.

Um paciente pode ter edema do disco num dos olhos e atrofia óptica no outro

olho. A síndrome de Foster Kennedy se deve a um meningioma do sulco olfativo,

com atrofia óptica decorrente de compressão direta ipsilateralmente à neoplasia e

papiledema contralateral tardiamente. Atrofia óptica num dos olhos com edema de

disco no outro é atualmente vista em freqüência muito maior na NOIA (psedo-

síndrome de Foster Kennedy), quando a doença acomete o olho oposto semanas a

meses depois de um episodio inicial tornar atrofiado o disco originalmente afetado.

- Neuropatia óptica retrobulbar

A parte retrobulbar do nervo pode ser afetada pela maioria das doenças que

afetam o disco óptico. O quadro clínico é semelhante exceto por não haver nenhum

edema do disco agudamente, mas atrofia óptica pode sobrevir posteriormente.

Quando neurite óptica acomete a parte retrobulbar do nervo há comprometimento

visual acentuado, mas a aparência do disco permanece normal, pois a patologia é

posterior à papila. As papilopatias ópticas resultam portanto em comprometimento

da visão e em um disco anormal; a neuropatia óptica retrobulbar resulta em

comprometimento da visão e em um disco normal; e o papiledema resulta em um

disco anormal mas não afeta agudamente a visão. Um ditado antigo descreve

adequadamente essas diferenças: quando o paciente vê (tem visão normal) e o

medico vê (observa anormalidades no disco), trata-se de papiledema; quando o

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Page 72: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

paciente não vê (comprometimento da visão) e o medico vê (observa anormalidades

do disco), trata-se de papilite; quando o paciente não vê (tem visão comprometida) e

o medico não vê (não observa nenhuma anormalidade no disco), trata-se de neurite

retrobulbar.

Uma diferença importante entre neuropatia retrobulbar e papilopatia é a

incidência aumentada de compressão como etiologia na primeira. Massas tumorais

de muitos tipos, especialmente neoplasias, podem afetar o nervo óptico retrobulbar.

Causas comuns incluem meningiomas da bainha do nervo óptico ou da asa do

esfenóide, tumores hipofisários e aneurismas distais da carótida. A possibilidade de

compressão sempre figura de modo proeminente no diagnostico diferencial de

pacientes com neuropatia óptica. É típico haver perda visual produzindo diminuição

da acuidade; comprometimento da percepção de cores; e escotomas centrais,

cecocentrais ou arqueados. Veias grandes de aparência anormal na superfície do

disco devido a drenagem venosa colateral entre os sistemas venosos da retina e

ciliar (vasos de derivação optociliares) podem fornecer uma indicação reveladora de

uma lesão compressiva. Neuropatias compressivas podem evoluir mais agudamente

em pacientes com lesões metastáticas, especialmente linfomas. A neuropatia óptica

no glaucoma de baixa pressão pode simular o quadro de compressão.

- Neuropatia óptica distal (pré-quiasmática)

Os transtornos que afetam a parte distal do nervo óptico próximo a sua junção

com o quiasma são semelhantes a outras neuropatias ópticas retrobulbares, exceto

pelo falto de que o envolvimento das fibras do joelho de Wilbrand pode produzir um

escotoma juncional, que é muito localizante. Por esta razão, é particularmente

importante prestar atenção especial no campo temporal o olho oposto ao examinar

um paciente com neuropatia óptica. A causa mais comum é um tumor hipofisário.

- Lesões do quiasma

Tumores hipofisários, craniofaringiomas, meningiomas, gliomas e aneurismas

da carótida são as lesões que envolvem comumente o quiasma. Causas raras

incluem desmielinização, isquemia e radionecrose. Como o quiasma se situa cerca

de 1 cm acima do diafragma selar, o envolvimento do sistema visual indica extensão

72

Page 73: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

supre-selar de um tumor hipofisário e é uma manifestação tardia não inicial do efeito

expansivo sobre o quiasma. O envolvimento de fibras maculares pode produzir

escotomas bitemporais. Lesões do quiasma raramente produzem hemianopsias

bitemporais do tipo figura de livro. Há com freqüência uma combinação de defeitos

do quiasma e do nervo óptico ou do trato óptico dependendo de estar o quiasma

pré-fixado, pós-fixado ou na posição normal e dos atributos específicos da massa e

seus valores de forca. Em geral, os defeitos são binoculares e geralmente

heterônimos. Acuidade, visão de cores e função pupilar não são afetadas, a não ser

que haja envolvimento do nervo óptico. Embora possam ocorrer hemianopsias

binasais por doenças do quiasma, neuropatia óptica, glaucoma e anomalias

congênitas são causas mais comuns.

- Lesões retroquiasmaticas

As lesões retroquiasmaticas produzem defeitos do CV contralaterais que

respeitam o meridiano vertical. Exceto as lesões do trato óptico, elas não causam

nenhuma alteração na acuidade visual, na percepção de cores, nas reações

pupilares ou na aparência do disco.

Lesões do trato óptico e do CGL ocorrem raramente, talvez devido ao

generoso suprimento sanguíneo colateral; elas se caracterizam por hemianopsias

homônimas incongruentes. As lesões do trato óptico podem acompanhar-se de um

leve DPA no olho contralateral, porque a ligeira preponderância das fibras cruzadas

da hemirretina nasal contralateral cria uma assimetria no numero de fibras

pupilomotoras. As lesões do trato também podem acarretar palidez do disco num

padrão de gravata-borboleta no olho contralateral.

Lesões do corpo geniculado lateral são raras e se devem geralmente a

doenças vasculares. Elas causam uma hemianopsia homônima contralateral que é

algo incongruente, ocasionalmente com um padrão em forma de cunha ao longo do

meridiano horizontal apontando para o ponto de fixação (sectoranopsia ou defeito

em buraco de fechadura). O padrão incomum se deve à organização do CGL e a

seu duplo suprimento sanguíneo.

73

Page 74: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Em lesões da via geniculocalcarina (radiação óptica), patologia do lobo

temporal produz tipicamente quadranpsias superiores, ou hemianopsias homônimas,

contralaterais piores nos quadrantes superiores e processos do lobo parietal

produzem quadranpsias inferiores ou hemianopsias homônimas, contralaterais

piores nos quadrantes inferiores. Quanto mais posterior for a lesão, mais congruente

será o defeito. Lesões parietais estão associadas a respostas assimétricas do

nistagmo optocinético.

No lobo occipital, as fibras superiores da retina (CV inferior) fazem sinapse na

margem inferior e as fibras inferiores da retina fazem sinapse na margem inferior do

córtex calcarino, que é separado pela fissura calcarina. A representação macular é

maciça, tomando o pólo occipital e cerca de 40% a 50% do córtex contíguo. Lesões

do lobo occipital causam, hemianopsias homônimas contralaterais que são muito

congruentes, tendem a poupar a macula e não afetam as respostas NOC. O fato da

mácula ser poupada é considerado como decorrente em parte de ramos colaterais

da artéria cerebral media que ajudam a preservar a função macular apesar de um

infarto no território da artéria cerebral posterior. Reciprocamente, o pólo occipital é

uma área de perfusão em zona marginal entre as artérias cerebrais media e

posterior, e infartos hipotensivos em linha divisória podem causar escotomas

paracentrais homônimos contralaterais, devido a uma isquemia limitada do córtex

macular. Lesões bilatérias do lobo occipital causando hemianopsias bilaterais podem

causar diminuição da acuidade visual. Infartos occipitais bilaterais com a mácula

poupada podem deixar apenas túneis estreitos de visão central, como se olhando

através de canos. Embora a acuidade possa estar normal, o distúrbio visual

funcional é extremo devido à constrição da visão periférica, de modo análogo a

retinite pigmentosa em estágio terminal. Lesões do lobo occipital podem poupar o

crescente temporal monocular se os danos não envolverem a parte anterior do

córtex. Reciprocamente, pequenas lesões situadas bem anteriormente podem afetar

apenas o crescente temporal no olho contralateral (síndrome da meia-lua).

Lesões occipitais bilaterais podem também causar alguns efeitos dramáticos

da função cortical alem da perda visual. A síndrome de Anton é a cegueira cortical

74

Page 75: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

devida a hemianopsias homônimas bilaterais, com um distúrbio visual extremo em

que o paciente não percebe o defeito e nega sua existência.

A maioria das lesões occipitais são vasculares. Muitas lesões do lobo

temporal anterior são neoplásicas. As lesões parietais podem ser de um ou outro

tipo. Traumatismos, malformações vasculares, abscessos, doenças

desmielinizantes, metástases e outros processos patológicos podem ocorrer em

qualquer localização.

4.3 Nervo Oculomotor (NC III)

Paralisia do III nervo craniano pode ocorrer devido a lesões em qualquer

ponto do seu trajeto do núcleo oculomotor do mesencéfalo à órbita. Lesões do

mesencéfalo são geralmente acompanhadas por sinais de regiões adjacentes que

possibilitam a localização. Processos que envolvem o núcleo do terceiro nervo

podem causar padrões característicos de fraqueza não vistos em caso de lesões em

outros locais. Em razão da inervação contralateral do reto superior, uma lesão

nuclear pode causar fraqueza do reto superior contralateral. Envolvimento do

subnúcleo central caudal pode causar ptose bilateral em associação a paralisia do

terceiro nervo craniano fora isso unilateral ou ptose bilateral isolada.

Reciprocamente, pacientes com acometimento do mesencéfalo podem ter uma

paralisia do terceiro nervo poupando a pupila se o núcleo central caudal não for

afetado. Lesões incompletas envolvendo os fascículos do terceiro nervo no

mesencéfalo podem causar paralisias parciais do terceiro nervo craniano. O padrão

de envolvimento pode imitar paralisia divisional e sugerir acometimento do seio

cavernoso ou da órbita (pseudoparalisia divisional).

Processos que envolvem o trajeto subaracnóideo do nervo geralmente

produzem uma paralisia unilateral isolada do terceiro nervo craniano com poucos

achados associados para ajudar na localização. Pode ocorrer envolvimento

incompleto imitando paralisia divisional. A consideração diagnóstica mais premente

numa paralisia isolada do terceiro nervo é um aneurisma da artéria comunicante

posterior ou da artéria basilar. Paralisias aneurísmicas do terceiro nervo são

tipicamente agudas, dolorosas e envolvem a pupila.

75

Page 76: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

As paralisias isoladas do terceiro nervo se devem mais comumente a

microvasculopatia relacionada a diabete e hipertensão, mas elas podem ser uma

característica de vasculites, especialmente arterite de células gigantes. Pacientes

com paralisias esquêmicas são tipicamentes mais idosos que aqueles com

aneurismas. Paralisias microvasculares do terceiro nervo têm inicio súbito, são

dolorosas, geralmente poupam a pupila, começa a se resolver em torno de dois

meses e não causam regeneração aberrante.

Paralisia traumática do terceiro nervo craniano ocorre geralmente apenas em

associação a grandes lesões cranioencefálicas, de gravidade suficiente para causar

perda de consciência ou fratura do crânio. Aumento da pressão intracraniana com

herniação do unco, comprime mais comumente o nervo ipsilateral; o primeiro sinal é

geralmente uma pupila anormal. Com pressão do pedúnculo cerebral contralateral

causando uma hemiparesia falsamente localizante ipsilateralmente à lesão não é

rara. Ocasionalmente o terceiro nervo contralateral é esmagado contra a borda

aguda do lado oposto do tentório, e a paralisia do terceiro nervo se dá ao lado

oposto ao tentório. Uma hemiparesia falsamente localizante é muito mais comum

que uma paralisia do terceiro nervo falsamente localizante. O terceiro nervo craniano

pode ser afetado bilateralmente por lesões na região do mesencéfalo rostral, como

herniaçao transtentorial central nas hemorragias de Duret, Síndrome esquêmica do

topo da basilar e aneurisma da extremidade da basilar.

O acometimento do seio cavernoso geralmente afeta outras estruturas alem

do terceiro nervo craniano, mas pode ocorrer mononeuropatia. É importante na

avaliação de uma paralisia completa do terceiro nervo certificar-se de que o quarto

nervo craniano está intacto, fazendo o paciente olhar para baixo e medialmente;

procure um ligeiro movimento de torção interna. Se a paralisia do terceiro nervo for

acompanhada de envolvimento do quarto nervo, a probabilidade de patologia do

seio cavernoso é alta. Apoplexia hipofisária pode causar uma paralisia isolada do

terceiro nervo que é tipicamente dolorosa, e de inicio súbito. Lesões do seio

cavernoso anterior ou da órbita podem envolver seletivamente uma das divisões.

Uma paralisia da divisão superior do terceiro nervo causa pitose e comprometimento

do olhar pra cima. Uma paralisia da divisão inferior causa fraqueza do reto medial e

76

Page 77: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

do reto inferior e disfunção pupilar, porem sem pitose ou fraqueza do reto superior

associada. Lesões envolvendo o terceiro nervo craniano no ápice da órbita muitas

vezes acometem também o segundo nervo craniano e podem causar propitose.

Outras causas de paralisia isolada do terceiro nervo incluem tumores da bainha

nervosa, doenças de Lyme, sarcoidose, artérias basilares dolicoectásicas,

enxaqueca oftamoplégica, mal formações artério venosas durais, síndromes pós

infecciosas, sinusite ou mucocele esfenoidal, carcinoma nasofaringia, herpes zoster,

inflamação ou infiltração meníngea. Em pacientes pediátricos, paralisia congênita do

terceiro nervo craniano é comum. Paralisia oculomotora cíclica é uma condição

curiosa, vista geralmente em crianças em que a paralisia vem e vai, alternando-se

com espasmos, e a periodicidade varia de um paciente para o outro.

4.4 Nervo Troclear (NC IV)

O nervo troclear raramente é paralisado sozinho. As lesões desse nervo ou

do seu núcleo causam paralisia do M. Obliquo superior e prejuízo da habilidade de

girar o olho afetado ínfero-lateralmente. Numa lesão nuclear do quarto nervo, o

músculo oblíquo superior contralateral enfraquece; numa lesão extramedular ao

longo do trageto do nervo, o músculo ipsilateral é envolvido. O NC IV pode ser

lacerado em várias injúrias da cabeça devido ao seu grande trajeto intracraniano. O

sinal característico da lesão do nervo troclear é a diplopia quando se olha para

baixo. A diplopia ocorre porque o músculo reto inferior normalmente auxilia o oblíquo

inferior no movimento do bulbo do olho para baixo, especialmente quando ele está

em uma posição medial; assim, a direção do olhar é diferente para os dois olhos

quando uma tentativa é feita para olhar nesta direção. A pessoa pode compensar a

diplopia inclinado a cabeça anterirmente e para o lado do olho normal.

A etiologia mais cumum de paralisias do quarto nervo é traumatismo crânio

encefálico; não é raro envolvimento bilateral. Os casos não traumáticos são

geralmente microvasculares, idiopáticos ou congênitos. Um paciente com paralisia

congênita do quarto nervo pode descompensar quando adulto e apresentar uma

condição de início aparentemente recente. Outras causas de paralisia do quarto

nervo incluem meningioma, síndrome do seio cavernoso, herpes zoster, doença de

77

Page 78: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Lyme, enxaqueca oftalmoplégica, sarcoidose, síndrome de Guillain-Barré, doenças

meníngeas e síndrome de Tolosa-Hunt.

Pacientes com paralisia do quarto nervo podem não se queixar de diplopia

mas sim de vista turva ou alguns problemas vagos ao olhar para baixo (como ao ler

um livro ou ao descer escadas). A diplopia é vertical ou diagonal e máxima no olhar

para baixo. Os pacientes podem inclinar a cabeça para o lado oposto com objetivo

de eliminar a diplopia, encostando o queixo no peito para que o olho afetado possa

voltar-se para cima e em torção externa, fora do campo de ação do oblíquo superior

fraco. Algumas paralisias do quarto nervo, especialmente em crianças manifestam-

se por inclinação da cabeça, e não por diplopia. Por ocasião do exame, a torção

externa e comprometimento da depressão do olho em adulção. O olho envolvido

apresenta hipertropia ou hiperforia incomitante; com o paciente olhando para baixo e

para dentro, o teste da cobertura alternada mostra refixações descendentes

corretivas indicando um desvio ascendente do olho afetado sob a cobertura. O teste

de inclinação da cabeça de Bielschowsky consiste em inclinar a cabeça para cada

lado, localizando-se a paralisia do quarto nervo pelas alterações na diplopia

decorrentes. Se a diplopia melhorar com a inclinação da cabeça para a esquerda e

piorar com a inclinação para direita, o paciente tem uma paralisia do quarto nervo

direito. Forçar o olho afetado a uma torção interna piora a diplopia.

À exceção de que uma lesão nuclear causa paralisia do quarto nervo do lado

contralateral, lesões no nível nuclear e fascicular no mesencéfalo causam a mesma

aparência clinica de lesões que envolvem o próprio nervo no espaço subaracnóideo,

no seio cavernoso ou na órbita. O III e o IV nervos cranianos podem ser envolvidos

conjuntamente em processos que afetam o mesencéfalo ou os seios cavernosos.

Mioquimia do obliquo superior é uma contração espasmódica intermitente do

músculo obliquo superior que pode causar diplopia vertical transitória ou oscilopsia

monocular. A etiologia não é conhecida mas está provavelmente relacionada a

outras condições que causam mioquimia focal. Em raros casos, os pacientes podem

vir a desenvolver fraqueza do obliquo superior.

4.5 Nervo Trigêmeo (V)

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Page 79: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Fraqueza unilateral de músculos inervados pelo NC V indica em geral uma

lesão envolvendo o tronco cerebral, o gânglio gasseriano ou a raiz motora do NC V

na base do crânio. Fraqueza bilateral grave dos músculos da mastigação com

incapacidade de fechar a boca (queixo caído) sugere doença do neurônio motor, um

transtorno da transmissão neuromuscular ou uma miopatia. No caso de atrofia

significativa de um masseter, pode-se evidenciar um achatamento da mandíbula do

lado afetado. Na atrofia temporal, pode haver uma têmpora oca. Em raras ocasiões

ocorrem fasciculações ou outros movimentos involuntários anormais.

Transtornos da função: Lesões do nervo trigêmeo podem causar fraqueza,

movimentos involuntários anormais, perda sensorial ou outras anormalidades

sensoriais, dores faciais, anormalidades tróficas, disfunção autonômica ou

anormalidades dos reflexos mediados pelo nervo trigêmeo. As condições mais

comumente vistas são dores faciais, especialmente nevralgia do trigêmeo e

dormência facial.

Localização das lesões do nervo trigêmeo: Em revisões da patologia regional

do nervo trigêmeo por uma perspectiva de aquisição de imagens, as lesões comuns

do tronco cerebral foram neoplasias, doenças vasculares e processos

desmielinizantes. As causas mais comuns no segmento do tronco cerebral à base

do crânio – incluindo os segmentos cisternal, da caverna de Meckel e do seio

cavernoso – forma compressão neurovascular, seguida de schwanoma acústico ou

trigêmeo, meningioma, linfoma, adenoma hipofisário, metástases e aneurismas. As

anormalidades da base do crânio incluíam cordomas, condrosarcomas, metástases,

displasias ósseas e doença de Paget. As divisões periféricas do nervo trigêmeo

eram comumente afetadas por doença inflamatória adjacente nos seios paranasais,

disseminação perineural de condições de condições malignas e schwanoma.

Alterações no trigêmeo podem também ser conseqüência de herpes zoster,

traumatismo e neoplasias.

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Page 80: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

O herpes zoster (HZ) agudo do nervo trigêmeo é extremamente doloroso. Ele

é visto em geral em pacientes idosos ou imunocomprometidos e afeta mais

comumente NC V1, causando dor e a formação de vesículas sobre a fronte, as

pálpebras e a córnea(herpes zoster oftálmico). A inflamação causa perda neuronal

no gânglio acometido e redução tanto de axônios como de mielina no nervo afetado.

É comum a formação de cicatrizes cutâneas. Envolvimento oftálmico pode causar

ceratite, ulcerações da córnea, cicatrizes da córnea residuais e por vezes cegueira.

O zoster pode afetar qualquer uma das divisões do trigêmeo, e pode haver

envolvimento motor. Em raras ocasiões, o HZ trigêmeo pode ser complicado por

encefalite ou uma síndrome de hemiparesia contralateral tardia decorrente de

arterite.

Comprometida a raiz sensitiva, o paciente vai referir dor, limitada à área

correspondente à sua atribuição. Em tais casos, usa-se a designação de neuralgia

do trigêmeo ou de trigeminalgia. Cumpre diferenciar a trigeminalgia secundária da

trigeminalgia essencial ou idiopática. Entre as características que as diferenciam,

sobressai o fato de que, na essencial, não se encontram alterações objetivas

deficitárias de sensibilidade da face, enquanto na secundária tais alterações estão

presentes

4.6 Nervo Abducente (NC VI)

Paralisias do sexto nervos são comuns e muitas remitem sem nenhuma

explicação. Numa paralisia completa do sexto nervo craniano o olho não consegue

efetuar abdução e frequentemente repousa numa posição de adulção. Paralisias

incompletas são comuns. Os pacientes apresentam-se com diplopia horizontal pior a

distância. Pode haver esotropia na posição primária. O exame mostra estrabismo

paralítico (não comitante), pior na direção de ação do músculo envolvido. Uma

fraqueza discreta pode mostrar apenas esoforia no teste da cobertura alternada

quando o paciente olha para o lado do músculo envolvido. Neoplasias, traumatismos

e neuropatias microvasculares são as etiologias mais comuns. Até 25% dos casos

permanecem sem explicação. Sinais de regiões vizinhas geralmente permitem

localização quando o nervo está envolvido ao tronco cerebral, no seio cavernoso ou

na órbita.

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Page 81: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Lesões do tronco cerebral não produzem necessariamente outros sinais e

podem ser uma causa de paralisia aparentemente isolada do sexto nervo. O núcleo

do VI nervo craniano contém tanto neurônios motores do reto lateral como

interneurônios que se projetam para o fascículo longitudinal medial, de modo que

uma lesão envolvendo o núcleo causa uma paralisia do olhar ipsilateral e não uma

paralisia do sexto nervo.

Paralisias do sexto nervo ocorrem em caso de aumento da pressão

intracraniana após lesões craniencefálicas, em doenças estruturais na fossa média

ou posterior, em tumores nasofaringios e por numerosas outras razões. A elevação

da pressão intracraniana produz frequentemente disfunção do sexto nervo craniano

devido a distensão do nervo sobre a extremidade petrosa quando a pressão

aumentada força as fixações do tronco cerebral inferiormente. Paralisia do sexto

nervo é comum no pseudotumor cerebral. Paralisias do sexto nervo craniano são os

mais comuns e clássicos de todos os sinais falsamente localizantes; elas são

inespecíficas e não tem uma relação anatômica obrigatória com a patologia do

sistema nervoso central que as produz. A síndrome de Gradenigo consiste em

paralisia do sexto nervo, do facial, e perda sensorial V1 devido as lesões no ápice

petroso. Qualquer processo no seio cavernoso pode envolver o sexto nervo

craniano, geralmente junto com outras estruturas. Paralisia atrogênica do sexto

nervo craniano pode ocorrer após funções lombares, mielografias e certos

procedimentos neurocirúrgicos. Outras etiologias para paralisia do sexto nervo

craniano incluem síndrome de Mobius, herpes zoster, enxaqueca oftalmoplégica,

infecção viródica e síndromes pós-viródicas. Paralisias bilaterais do sexto nervo não

são raras. Elas podem ocorrer devido a tumores ao longo do clivos, em que os dois

nervos estão bem próximos em processos menigios e por aumento da pressão

intracraniana.

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Page 82: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

4.7 Nervo Facial (NC VII)

A maior parte das lesões do nervo facial leva à paralisia facial, e cerca de

oitenta porcento destas paralisias são chamadas a frigore e têm caráter benigno.

Admite-se, atualmente, que as paralisias a frigore sejam provocadas por infecções

virais que se acompanham de reação edematosa do nervo. Outras causas incluem o

diabetes mellitus , as neoplasias, a otite média, os traumatismos, o herpes zoster e a

hanseníase. Na hanseníase, a paralisia pode ser incompleta do tipo ramuscular, isto

é, apenas ramos terminais são lesados.

Mais sobre os tipo de paralisai facial foi anteriormente exposta no tópico 3.5.

4.8 Nervo Vestíbulococlear (NC VIII)

As lesões do VIII NC podem causar deficiências na audição, caso haja

comprometimento da porção coclear do nervo, ou podem causar alterações do

equilíbrio, vertigens, ou enjôos, por comprometimento da parte vestibular.

A perda auditiva neurossensorial esta associada à lesões de células ciliadas

no órgão espiral (de CORTI), de núcleos cocleares na ponte ou de vias acústicas

centrais.

As lesões das vias acústicas centrais (lemnisco lateral, corpo geniculado

medial, córtex acústico) provocam diminuição da audição bilateralmente, mais

evidente do lado oposto da lesão. Em distúrbios de células ciliadas, núcleos

cocleares e nervo coclear, a perda auditiva é ipsilateral à lesão. As doenças da

cóclea possuem sinais precoces, como: zumbido, som sibilante ou tinido (de papel

amassado).

A perda auditiva também pode ser condutiva, que está associada à processos

que interferem na condução de ondas sonoras nas orelhas média e

externa,impossibilitando que as ondas sonoras cheguem ao ouvido interno.

Os distúrbios do sistema vestibular podem ser causados por infecções,

tumores, etc. Podem ser afetados vários locais como os núcleos vestibulares, vias

vestibulares centrais, nervo vestibular.

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Page 83: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Esses distúrbios podem se manifestar por desequilíbrio corporal (ataxia de

tronco), vertigem (sensação ilusória de movimento) e movimentos oculares

involuntários oscilatórios (nistagmo).

4.9 Nervo Glossofaríngeo (NC IX)

São raras as lesões ou síndromes isoladas do IX nervo ou de seus núcleos,

normalmente aparece envolvido em lesões ou síndromes envolvendo também outros

nervos cranianos (especialmente o X). Lesões nesse nervo geralmente causam

perda da gustação no terço posterior da língua e do reflexo do vômito na área lateral

à lesão.

As principais causas de lesão do glossofaríngeo são as neoplasias, infecções,

abscesso retrofaríngeo, isquemia do tronco cerebral e outras, normalmente

acompanhadas por sinais de lesões nos nervos adjacentes a ele, no caso o X e o XI,

que também atravessam o forame jugular12.

Das lesões do nervo glossofaríngeo a mais importante é a nevralgia

glossofaríngea (ou vagoglossofaríngea), também chamada “tic douloureus do

glossofaríngeo”. Essa afecção é rara e de causa desconhecida, caracteriza-se por

quadros de dores súbitas e muito agudas, que começam em um dos lados da

garganta ou das tonsilas e irradia ao longo da tuba auditiva (trompa de Eustáquio)

até a membrana timpânica e o canal auditivo externo. As crises normalmente se

iniciam devido ao estímulo das áreas deflagradoras (ou zonas de gatilho),

normalmente presentes na base da língua, nas fauces, nas regiões tonsilares ou nas

paredes da faringe, principalmente durante a deglutição, a fala, a protrusão da

língua, tosse ou toque nas tonsilas palatinas.

4.10 Nervo Vago (NC X)

Uma lesão unilateral do vago causa fraqueza do palato mole, da faringe e da

laringe. Lesões agudas podem produzir dificuldades na deglutição tanto de líquidos

quanto de sólidos e rouquidão ou uma qualidade nasalada da voz. A única alteração

sensorial bem definida é anestesia da laringe por envolvimento do nervo laríngeo

superior. Raramente é possível demonstrar perda de sensação atrás da aurícula e

12 Tumores na região do forame jugular “causam múltiplas fraturas nos nervos cranianos, denominadas síndrome do forame jugular” (MOORE, 2007).

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Page 84: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

no canal auditivo externo, devido à suplência do nervo glossofaríngeo. O reflexo do

vômito está ausente de um lado. Os reflexos autonômicos (vômito, tosse, espirro)

geralmente não são afetados. Podem ocorrer taquicardia e perda do reflexo

oculocardíaco envolvido, mas comumente não há sintomas cardíacos. Distúrbios

gastrointestinais não são evidentes.

A paralisia bilateral completa do nervo vago é incompatível com a vida. Ela

causa paralisia completa do palato, da faringe e da laringe, com disfagia e disartria

(incapacidade de articular as palavras de maneira correta) acentuadas; taquicardia;

respiração lenta e irregular; vômitos; e atonia gastrointestinal.

Lesões de ramos vagais individuais são raras, exceto envolvimento do nervo

laríngeo recorrente. A lesão do nervo laríngeo recorrente causa rouquidão e disfonia

devido à paralisia das pregas (cordas) vocais. A paralisia de ambos os nervos

laríngeos recorrentes causa afonia e um ruído respiratório rude e agudo.

4.11 Nervo Acessório (NC XI)

As conseqüências de lesões unilaterais e bilaterais dos músculos trapézio e

ECM foram expostas no item 3.8. Essas lesões são causadas, principalmente, por

traumatismo cranioencefálico (TCE), tumores, ferimento por arma de fogo (FAF),

ferimento por arma branca (FAB), doenças desmielinizantes e acidentes

cardiovasculares (AVC). Lesões do tronco cerebral inferior ou da medula espinhal

podem levar à fraqueza nesses músculos.

As lesões dos músculos inervados pelo nervo acessório podem ser

supranucleares, nucleares ou infranucleares (ou periféricas). Lesões supranucleares

são menos graves, causando na pior das hipóteses perda moderada da função

desses músculos (em caso de serem irritativas as lesões supranucleares, podem

fazer com que a cabeça se vire na direção oposta ao hemisfério que emite as

descargas).

Nas lesões nucleares (ou seja, que envolvem os núcleos da raiz espinhal do

IX nervo) outros males além da fraqueza muscular podem surgir, exemplos são a

atrofia e fasciculações. Esse tipo de lesão pode ser causado por doenças do

neurônio motor, siringobulbia e siringomielia.

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Page 85: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

Já as lesões periféricas (que ocorrem fora da medula, mas dentro do crânio,

no forame jugular ou no pescoço) são as principais causas de dano à função da raiz

espinhal do nervo acessório. São causadas por meningites, neoplasias

extramedulares dentro do crânio, fraturas na base do crânio ou processos no forame

jugular.

Vale ressaltar que é no triângulo posterior do pescoço que a raiz espinhal do

IX nervo está mais exposta, a sua localização superficial protegida apenas pela pele

e tecido subcutâneo torna-a suscetível a lesões por traumatismo, principalmente.

São comuns traumas iatrogênicos nessa região durante biopsia de linfonodos,

canulação da vaie jugular interna, endarterectomia da carótida e outras.

A distonia13 cervical frequentemente acomete os músculos ECM e trapézio

causando torcicolo espasmódico, anterocolo ou retrocolo. Esses músculos são

afetados por muitos transtornos neuromusculares como miastenia grave14,

poliomiosite,dermatomiosite, doenças da células do corno anterior, entre outras. A

distrofia miotônica causa atrofia e fraqueza dos dois ECM. A síndrome da cabeça

caída é causada por diminuição de força nos músculos extensores do pescoço

sendo encontrada em diversas doenças neuromusculares.

4.12 Nervo Hipoglosso (NC XII)

Como o nervo hipoglosso é exclusivamente motor, lesões e síndromes que

comprometam esse nervo ou suas conexões centrais geram fraqueza da língua,

afetando apenas a motricidade da mesma e não sua atividade sensorial.

Lesões unilaterais do nervo XII geram atrofia e fasciculação da metade

comprometida da língua. Após algum tempo, desenvolve-se atrofia total, fazendo a

língua parecer retraída e enrugada. Esse tipo de lesão é bem identificada durante a

protrusão da língua, pois seu ápice desvia-se em direção ao lado paralisado já que

não ocorre oposição á ação do músculo genioglosso no lado normal da língua, ou

13 Distonia é uma doença do sistema nervoso, que causa o congelamento dos movimentos durante uma ação, devido a contrações musculares involuntárias, lentas e repetitivas. Pode conduzir a posições anormais e movimentos de torção de todo o corpo ou de algumas partes.

14 A miastenia grave é uma doença neuromuscular auot-imune que causa fraqueza e fadiga dos músculos voluntários.

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Page 86: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

seja, a ação da musculatura do lado normal não é contrabalançada pela metade

paralisada.

Lesões bilatérias são mais graves e dificultam a maior parte das atividades da

língua. Elas geram atrofia, impedem a protrusão e a lateralização linguais, além de

dificultar a articulação das palavras, a mastigação e a deglutição.

As causas das lesões do XII nervo são as mais variadas incluindo: processos

envolvendo a base do crânio (fraturas da base do crânio, impressão basilar,

platibasia, entre outras), meningites, neoplasias, hemorragias subaracnóideas,

traumas na região do côndilo occipital (síndrome do côndilo occipital, que causa

paralisia isolada do hipoglosso), aneurismas da carótida, tumores ou infecções no

espaço retroparotídeo ou retrofaríngeo, adenopatia cervical profunda. O nervo XII,

juntamente com outros nervos cranianos inferiores e ramos simpáticos cervicais,

também pode ser envolvido em lesões no espaço retroparotídeo (síndromes de

Collet-Sincard ou de Villaret). Esse nervo também pode ser afetado uni ou

bilateralmente pela síndrome de Guillain-Barré e em polineurites.

3. CONCLUSÃO

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Page 87: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

No exame clínico dos pares de nervos cranianos a anatomia é de suma

importância, pois ao tomar conhecimento de todas as lesões que acometem esses

nervos percebe-se que saber o trajeto e as respectivas estruturas inervadas é

fundamental para interpretar sinais e sintomas, e desta forma escolher os exames

clínicos adequados. Assim é possível diagnosticar as possíveis patologias e indicar

o tratamento mais adequado possível ao paciente.

Além disso, vale destacar que esses exames clínicos são rápidos, precisos e

de fácil avaliação, uma vez que podem ser realizados próximo ao leito do paciente

ou em consultórios médicos. Outro beneficio é o baixo custo destes, já que não

necessitam de demasiado aparato tecnológico.

IMPORTANCIA DA ANATOMIA PARA OS PARES CRANIANOS

4. BIBLIOGRAFIA

87

Page 88: Exames clínicos dos pares cranianos - Monografia

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