evolução das despesas federais · 2016-08-01 · gráfico 2 – evolução de despesas por...
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RS
FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E ECONOMIA
SINDICATO DAS EMPRESAS DE SERVIÇOS CONTÁBEIS DO RS
Convênio FACE/PUCRS e SESCON-RS
Relatório 3
Evolução das Despesas Federais
Pedro Tonon Zuanazzi
Gustavo Inácio de Moraes
Milton Andre Stella
Junho de 2014
Nota técnica
Os dados apresentados neste relatório tem como fonte principal o Tesouro Nacional.
Nele, serão abordados duas óticas para as despesas do governo federal: uma por funções de
despesas, outra por categorias de despesas. Neste último caso, a partir do ano de 2000 as funções
adquirem homogeneidade, de modo que qualquer comparação anterior torna-se incorreta.
1) Despesas Federais por Função e Categoria
O governo federal reposicionou sua política de despesas nos últimos anos. Talvez a política fiscal
seja o tema no qual a política econômica tenha se diferenciado marcadamente na comparação entre os
governos desde 1994. Na tabela 1 são apresentados os números em valores de 2013 para as principais
funções do governo federal. Destaca-se o item Encargos Especiais, responsável por transferências e,
sobretudo, encargos financeiros da dívida pública. Em especial, a evolução desse item tem se mostrado
bastante irregular. Os itens de 2014 estão expostos até o mês de maio.
Os demais itens apresentam evolução em valores reais constante. A Previdência Social ainda é o
item mais importante no orçamento federal, tendo os gastos atingido o patamar de R$ 446 bilhões em 2013.
Entretanto, destaca-se a importância dessa despesa no atendimento da população, pois diferente dos
regimes estaduais, trata-se de uma previdência universal.
Nos demais itens, aparece a importância de setores como saúde, educação, trabalho e assistência
social no atendimento de demandas da população. Em especial destaca-se o fato do orçamento de
educação mais que triplicar no período. O item Assistência Social dobra de valor no período considerado,
evidenciando o aumento dos programas sociais do governo federal.
Tabela 1 - Despesas por Funções – Governo Federal – Em R$ Milhões de 2013
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014*
Encargos Especiais 613.665 555.345 606.998 710.530 556.225 517.561 745.350 528.549 236.769
Previdência Social 324.624 339.992 337.290 372.968 396.281 403.020 422.354 446.135 188.264
Saúde 60.706 65.315 64.311 73.292 73.732 79.500 84.367 85.304 33.048
Educação 26.485 31.252 32.761 42.471 53.593 59.355 76.618 82.252 27.635
Trabalho 25.081 28.488 29.442 37.367 37.993 40.638 44.869 66.150 29.231
Assistência Social 32.924 35.920 37.687 42.789 47.562 51.114 59.788 64.647 26.287
Defesa Nacional 25.415 28.088 28.986 33.094 38.727 35.789 39.036 37.796 10.799
Judiciária 19.554 20.455 21.563 23.018 24.041 22.280 25.739 25.741 10.063
Administração 15.337 18.365 17.131 19.483 21.553 19.000 23.382 21.966 7.184
Transporte 10.553 17.677 17.020 21.036 24.908 21.333 23.662 20.903 2.194
Agricultura 15.174 16.212 12.383 18.208 17.215 17.053 17.391 20.492 2.455
Outros 49.346 61.828 60.908 65.380 65.066 56.686 64.052 71.435 14.114
Total 1.218.864 1.218.938 1.266.481 1.459.635 1.356.896 1.323.330 1.626.608 1.471.370 588.042
Fonte: Elaborado a partir de Tesouro Nacional.
* Dados de 2014 até o mês de maio.
No gráfico 1 ilustra-se a participação de cada um dos itens no orçamento federal. A
participação da previdência é semelhante aos gastos com a previdência social no estado do Rio
Grande do Sul (em torno de 30%), porém esta última é restrita aos servidores públicos, ao passo
que no regime Federal a previdência é Universal.
Os gastos com Encargos Especiais foram desmembrados em Transferências, Serviços da
Dívida e Outros Encargos Especiais. Destaca-se o item Serviço da Dívida, que representa 18% de
todas as despesas do governo federal e trata-se de um custo que permanecerá para as gerações
futuras. Somando somente os gastos com a dívida e com a previdência social se obtém 48% de
toda a despesa do Governo Federal
Gráfico 1 – Percentual de Despesas por Função – Governo Federal - 2013
30%
18%
15%
3%
6%
6%
4%
4%
3%2%
1% 1% 1%
5%
Previdência Social
Serviços da Dívida
Transferências
Outros Encargos Especiais
Saúde
Educação
Trabalho
Assistência Social
Defesa Nacional
Judiciária
Administração
Transporte
Agricultura
Outros
Fonte: Elaborado a partir de Tesouro Nacional.
A Tabela 2 apresenta os itens que na tabela 1 estavam discriminados como “outros”. São
itens de menor importância dentro do orçamento federal, porém com grandes impactos setoriais. Nestes,
em geral, temos estabilidade do orçamento ao longo do período, indicando a perda relativa da participação.
Os itens Ciência e Tecnologia e Segurança Pública tem aumentos, principalmente o primeiro, refletindo
nesse caso uma estratégia semelhante ao item Educação. No caso da Segurança Pública, o
estabelecimento da Guarda Nacional e a compra de equipamentos justificaram o aumento.
Um item polêmico no Orçamento é a função Legislativa, que desde 2006 mantém estabilidade de
valores em torno de R$ 6 bilhões anuais, destinados as duas casas legislativas. Em termos per capita é
como se cada brasileiro pagasse aproximadamente R$ 33 por ano (ou R$ 2,75 mensais) para a
manutenção das atividades, somente no plano federal. No caso do Judiciário, presente na Tabela 1, são R$
128 anuais per capita (ou R$ 11 mensais). Pode-se dizer que se trata do dispêndio com as instituições que
garantem a democracia. No anexo desse relatório constam as tabelas 4 e 5, com os dados per capita de
cada função de despesa.
Tabela 2 - Despesas por Funções – Outros - Governo Federal – Em R$ Milhões de 2013
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014*
Ciência e Tecnologia 5.658 6.121 6.626 7.688 8.910 7.605 8.246 10.740 1.943
Segurança Pública 5.270 6.913 7.812 9.355 10.955 7.797 9.129 9.109 2.625
Organização Agrária 6.400 6.951 5.808 6.112 5.089 4.657 6.161 7.559 886
Gestão Ambiental 2.288 4.573 4.756 4.560 4.318 4.010 5.838 6.595 850
Legislativa 6.404 6.342 6.125 5.801 6.054 5.943 6.391 6.580 2.407
Comércio e Serviços 4.262 4.177 4.405 5.175 4.667 4.151 4.182 4.995 224
Urbanismo 3.235 6.372 5.617 5.981 5.840 4.703 4.985 4.832 369
Essencial à Justiça 4.048 4.713 5.155 5.511 5.730 5.621 4.244 4.648 1.934
Saneamento 86 2.261 2.328 3.876 2.123 1.854 2.802 2.953 33
Cultura 843 1.057 1.126 1.383 1.629 1.526 2.011 2.408 271
Desporto e Lazer 1.124 2.053 1.256 1.257 1.255 1.289 1.327 2.317 139
Relações Exteriores 2.052 2.054 2.407 1.874 2.178 2.016 2.443 2.258 780
Indústria 3.084 4.010 2.903 1.947 2.076 1.927 2.296 2.241 760
Direitos da Cidadania 1.458 1.325 1.917 1.945 2.148 1.494 1.404 1.533 240
Comunicações 698 1.280 648 631 1.115 884 1.157 1.434 339
Energia 653 753 653 984 763 639 840 1.027 313
Habitação 1.783 873 1.365 1.298 213 570 596 207 -
Fonte: Elaborado a partir de Tesouro Nacional.
* Dados de 2014 até o mês de maio.
O gráfico 2 compara o crescimento no período entre 2006 e 2013 para os itens de despesa
na tabela 1. São nítidas as funções para as quais se destinaram os maiores recursos no período.
O item Educação, contudo, pode estar sendo beneficiado pelos investimentos em construção de
salas de aula e ampliações de universidades no período. O item Trabalho teve sua evolução,
sobretudo, justificada por um crescimento entre 2013 e 2012.
Gráfico 2 – Evolução de Despesas por Função – Governo Federal, 2006 -2013 – Valores Reais
-13,9%
37,4% 40,5%
210,6%
163,7%
96,4%
48,7%
31,6%43,2%
98,1%
35,0%44,8%
Fonte: Elaborado a partir de Tesouro Nacional.
Na tabela 3 são apresentados os gastos por categoria, onde se destaca a evolução dos gastos com
pessoal e encargos sociais, além de despesas com custeio e capital. Há também evolução significativa com
os benefícios previdenciários, em parte associados à política de salário mínimo. Em uma abertura mais
detalhada, percebe-se que a previdência rural cresceu proporcionalmente mais que a previdência urbana.
Entretanto, os maiores crescimentos no período entre 2006 e 2013 referem-se às despesas com o
trabalhador (FAT), benefícios assistenciais e custeio e capital.
Tabela 3 - Despesas por Categorias - Governo Central – Em R$ Milhões de 2013
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014*
Pessoal e Encargos Sociais 161.678 169.721 171.539 195.343 203.121 201.550 197.416 202.744 83.087
Custeio e Capital 196.871 220.906 215.078 246.803 335.155 289.804 314.224 348.144 154.755
Despesa do FAT 23.666 27.196 27.569 35.336 36.980 38.966 41.722 44.688 14.923
Subsídios e Subvenções Econômicas 14.684 14.615 7.841 6.685 9.808 11.824 11.957 10.212 4.191
Benefícios Assistenciais 17.837 20.698 21.026 24.404 27.127 27.999 30.984 33.523 14.572
Benefícios Previdenciários 253.767 270.238 261.659 289.661 310.939 316.404 335.845 357.003 143.004
Benefícios Previdenciários - Urbano 204.290 216.891 209.330 226.488 242.507 247.336 260.383 276.649 111.180
Benefícios Previdenciários - Rural 49.477 53.347 52.329 63.174 68.431 69.067 75.462 80.355 31.825
Despesas do Banco Central 2.667 2.864 3.188 3.699 3.694 4.237 3.983 4.113 1.227
Juros Nominais 192.835 173.620 126.133 192.964 151.906 202.985 156.224 185.846
Fonte: Elaborado a partir de Tesouro Nacional.
* Dados de 2014 até o mês de maio.
Nota: Para todos os anos foram excluídas as despesas com transferências
Gráfico 3 – Evolução de Despesas por Categoria – Governo Central, 2006 -2013 – Valores Reais
25,40%
76,84%88,83% 87,94%
40,68%35,42%
62,41%
-3,62%
Fonte: Elaborado a partir de Tesouro Nacional.
2) Evolução das Necessidades de Financiamento do Setor Público – NFSP
Esta análise será segmentada em duas subseções. A primeira analisará a evolução das NFSP do
governo federal e do banco central, que pode ser tratado, sem maiores prejuízos, como uma aproximação dos
resultados fiscais do Governo Federal, já que o Banco Central tem participação proporcionalmente pequena
neste total. A segunda subseção apresentará os resultados relativos ao Setor Público como um todo. Esta
classificação inclui, além do Governo Federal, o Banco Central, o INSS, os Estados, Municípios e as Empresas
Estatais. Trata-se do maior nível de agregação possível dos diferentes entes que constituem o que chamados
de “governo”.
2.1) Governo Federal e Banco Central
O gráfico abaixo apresenta a evolução da NFSP – conceito primário1 - do Governo Federal e do Banco
Central desde janeiro de 2004 até maio de 2014. Os dados são acumulados em 12 meses (em cada ponto no
tempo temos uma noção do resultado anualizado) e apresentados como percentual do PIB, conforme
abordagem amplamente presente na literatura.
Gráfico 4 – NFSP (Conceito Primário) – Governo Federal e BACEN – Acumulado 12 meses (% PIB)
Fonte: Ipeadata
Em 2004, o Governo Federal apresentou um superávit primário equivalente a 2,28% do PIB2. Os
superávits primários se mantiveram oscilando entre 2% e 3% do PIB até 2009, pico da crise financeira
1 Conceito Primário – Computa a diferença entre as receitas e as despesas, desconsiderando as despesas
com juros sobre a dívida e correção monetária sobre a dívida. Trata-se do esforço corrente de poupança
do governo.
2 Valores negativos significam superávit.
internacional. Neste período, NFSP – conceito primário decresceu a praticamente 0% do PIB. Nos anos
seguintes, o Governo retoma uma trajetória superávits primários crescentes até o final de 2011.
Observa-se, entretanto, uma tendência clara de deterioração dos resultados primários do Governo
Federal, desde 2011, alcançando em maio de 2014 seu pior resultado, 1,22% do PIB.
Os superávits primários têm como finalidade principal o acumulo de poupança corrente para o
pagamento dos juros sobre a dívida pública, contribuindo para que esta não entre em uma trajetória explosiva.
Na sequência o gráfico xx apresenta a NFSP – conceito nominal. Este é o conceito mais amplo de
necessidade de financiamento do setor público, já que computa a diferença entre todas as receitas e todas as
despesas do governo, incluindo o pagamento de juros e correção monetária sobre a dívida pública.
Gráfico 5 – NFSP (Conceito Nominal) – Governo Federal e BACEN - Acumulado em 12 meses (% PIB)
Fonte: Ipeadata
A NFSP – conceito nomial parte de um déficit3 de 3,37% em 2004, oscilando com reduções destas
necessidades até 2005, crescendo até 4% do PIB em 2006 e, a apartir deste ponto reduzindo os déficits a
zero em 2008. Com a crise financeira internacional e a adoçãp de políticas contracíclicas para evitar uma
queda acentuada da atividade econômica, esta NFSP volta a 4,5% do PIB em 2009. Desde 2011 a trajetória
3 Números positivos representam déficits.
da NFSP – conceito nominal voltou a apresetar um deterioração acentuada, passando de algo em torno de
1% para 2,25% do PIB.
2.2) Setor Público
Quando a análise amplia a abrangencia dos níveis de governo no cálculo das NFSP, incluindo o
INSS, Governos Estaduais, Municipais e as empresas públicas, o cenários apresentados não são mais
animadores.
O resultado primário, em 2004, registrava superávit de 3,38% do PIB e se manteve oscilando neste
patamar até 2009. A crise, referida ao longo do texto, reduz o superávit para algo próximo a 1% do PIB, que
gradativamente retorna para o nível de 3% do PIB até 2011. Desde então os dados vêm apresentando uma
deterioração sistemática deste resultado. Em maio de 2014, o setor público teve o segundo pior resultado
do período analisado, 1,52% do PIB (1,42% em outubro de 2013).
Gráfico 6 – NFSP – Conceito Primário – Setor Público – Acumulado 12 meses – (% PIB)
Fonte: Ipeadata
A série dos resultados das NFSP – conceito nominal registra ciclos de redução e aumentos dos
déficits, assim como os demais dados apresentados anteriormente. Em 2004, a NFSP era de
aproximadamente 4,5% do PIB e reduz a 1,5% do PIB até o final de 2008, quando no episódio da crise
financeira, retorna para o nível 4,5% do PIB.
O patamar de NFSP volta a cair para próximo de 2% do PIB em meados de 2011 e a partir de então
entram numa trajetória de deterioração, aumentando o nível do déficit, alcançando em maio de 2014 3,5%
do PIB.
Gráfico 7 – NFSP – Conceito Nominal – Setor Público – Acumulado 12 meses – (% PIB)
Fonte: Ipeadata
A comparação dos dados das duas subseções acima indica que a maior parte dos
resultados está relacionada ao Governo Federal. Aproximadamente 1% do PIB é adicionado ao
déficit nominal quando comparamos os dados do setor público agregado ao do Governo Federal e
do Banco Central. O mesmo resultado é observado para os superávits primários. Quando
comparamos os dados do Setor Público ao do Governo Federal e do Banco Central, adiciona-se
1% do PIB ao superávit ao longo da série.
Apêndices
Tabela 4 - Despesas per Capita por Funções – Governo Federal – Em R$ de 2013
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Encargos Especiais 3.276 2.931 3.169 3.671 2.845 2.622 3.741 2.629
Previdência Social 1.733 1.795 1.761 1.927 2.027 2.042 2.120 2.219
Saúde 324 345 336 379 377 403 423 424
Educação 141 165 171 219 274 301 385 409
Trabalho 134 150 154 193 194 206 225 329
Assistência Social 176 190 197 221 243 259 300 322
Defesa Nacional 136 148 151 171 198 181 196 188
Judiciária 104 108 113 119 123 113 129 128
Administração 82 97 89 101 110 96 117 109
Transporte 56 93 89 109 127 108 119 104
Agricultura 81 86 65 94 88 86 87 102
Outros 263 326 318 338 333 287 321 355
Total 6.506 6.434 6.612 7.542 6.941 6.704 8.164 7.319
Fonte: Elaborado a partir de Tesouro Nacional.
Tabela 5 - Despesas per Capita por Funções – Outros - Governo Federal – Em R$ de 2013
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Ciência e Tecnologia 30 32 35 40 46 39 41 53
Segurança Pública 28 36 41 48 56 40 46 45
Organização Agrária 34 37 30 32 26 24 31 38
Gestão Ambiental 12 24 25 24 22 20 29 33
Legislativa 34 33 32 30 31 30 32 33
Comércio e Serviços 23 22 23 27 24 21 21 25
Urbanismo 17 34 29 31 30 24 25 24
Essencial à Justiça 22 25 27 28 29 28 21 23
Saneamento 0 12 12 20 11 9 14 15
Cultura 5 6 6 7 8 8 10 12
Desporto e Lazer 6 11 7 6 6 7 7 12
Relações Exteriores 11 11 13 10 11 10 12 11
Indústria 16 21 15 10 11 10 12 11
Direitos da Cidadania 8 7 10 10 11 8 7 8
Comunicações 4 7 3 3 6 4 6 7
Energia 3 4 3 5 4 3 4 5
Habitação 10 5 7 7 1 3 3 1
Fonte: Elaborado a partir de Tesouro Nacional.