EVOLUÇÃO GEOMORFOLÓGICA DO FRONT NORTE DA SERRA DA IBIAPABA, CEARÁ, E PROCESSO DE USO E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO.

LIRA, Maria Valdete Universidade Federal do Ceará - valdete.lira@hotmail.com

Eixo Temático: DINÂMICA DA OCUPAÇÃO, USOS E REPERCUSSÕES NOS DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS BRASILEIRO.

RESUMO A área de estudo, situada no setor noroeste do Estado do Ceará, é uma região onde se encontra um mosaico geológico e geomorfológico com características complexas. Trata-se de um setor montanhoso (altitudes de 750m), apresentando ocorrência de relevos em rochas sedimentares (Serra da Ibiapaba) e rochas cristalinas, seccionadas por corredores deprimidos, onde dominam características climáticas úmidas. Quanto à geologia, as principais estruturas são a bacia sedimentar paleozóica do Parnaíba e o Grupo Martinópole, este representando um sistema de dobramentos pré-cambriano extremamente erodido, aflorando imediatamente ao norte do front da Serra da Ibiapaba. Os compartimentos geomorfológicos identificados correspondem ao front da Serra da Ibiapaba, cuja escarpa apresenta-se na forma de glint, serras cristalinas e depressões periféricas, que se estendem em direção ao litoral, a norte. Essas características tornam a área muito acidentada do ponto de vista geomorfológico. Os objetivos da pesquisa são reconstruir a evolução deste setor do território cearense e analisar o processo de uso e ocupação da área. A metodologia aplicada é o “Princípio do Uniformitarismo”, formulado por James Hutton, que afirma que o “presente é a chave do passado”, e que mudanças ocorridas ao longo da escala geológica foram realizadas de modo lento e gradual, e o ‘Geossistema’, no tocante à análise ambiental. As etapas de trabalho incluíram a revisão bibliográfica, a elaboração de mapas e levantamentos de campo. Do ponto de vista geomorfológico, salienta-se que a evolução das formas de relevo resulta de complexa interação entre condições geológicas, fatores climáticos e fatores hidrológicos, em ação particularmente a partir do Cretáceo. Do ponto de vista socioambiental, salienta-se que a presença de vertentes íngremes nas serras cristalinas, inibiu, até hoje, uma ocupação social mais intensa na área, que se apresenta como grande vazio demográfico. Verifica-se, portanto que na área de estudo, a apropriação do relevo, seja como suporte ou como recurso, vincula-se ao comportamento da morfologia da região. Palavra Chave: Evolução geomorfológica, Serra da Ibiapaba; Natureza e Sociedade.

ABSTRACT

The study area, located in the northwest sector of the State of Ceará, is an area with a wide geological mosaic and geomorphologic complex features. It is a mountainous area (altitude of 750m), showing occurrence of relief in sedimentary rocks (Serra da Ibiapaba) and crystalline rocks, sectioned by depressed corridors, where wet weather features dominate. In geology terms, the main structures are the Paleozoic sedimentary basin of Parnaiba and the Martinópole Group, this last representing a system of pre-Cambrian folded rocks extremely eroded, emerging immediately north of the front of the Plateau of Ibiapaba. The identified geomorphologic compartments correspond to the front of Plateau of Ibiapaba, crystalline mountais and planation surfaces. The slope of the Plateau of Ibiapaba is modeled as a glint, having in front of it hills and depressions extending toward the coast, to the north. These characteristics make the area very ondulated, in a geomorphological point of view. This research objective is to reconstruct the natural evolution of this sector of the territory Ceará and review the process of social use and occupation of the area. The methodology applied is the "Principle of Uniformitarismo", formulated by James Hutton, who said that "the present is the key to the past" and the Geossystem, for the environmental analysis. The stages of work included the bibliographical review, the preparation of maps and field works. From the geomorphological point of view, it is stressed that the evolution of the relief resulted from complex interaction between geological conditions, hydrological factors and climatic factors, particularly in action from Cretaceous time. In the social point of view, it is stressed that the presence of steep slopes inhibited, until today, a more intense social occupation of the area, barely populated.

Key words: geomorphological evolution, Ibiapaba Plateau; nature and society.

INTRODUÇÃO

O relevo é um componente do meio natural e apresenta uma diversidade de formas (ROSS,

2005), as quais se originaram por ação de uma variedade de processos que vem ocorrendo ao longo do

geológico. POR ISSO, o relevo expressa a organização da paisagem, ao mesmo tempo em que

determina o seu potencial de exploração, pois, o potencial de exploração de um determinado local

depende das formas ali presente, tal é o que ocorre na área de estudo.

A área de estudo esta localizada no setor noroeste do estado do Ceará, próximo à divisa

com o estado do Piauí. Ali é encontrado um grupo de serras cristalinas que foram influenciadas, na sua

origem e evolução, por eventos tectônicos e climáticos – são elas as serras da Ubatuba, Timbaúba, São

Joaquim e Dom Simão, objeto do nosso estudo. Esses relevos montanhosos, do ponto de vista

climático, representam área propícia à ocupação social, pois apresentam índices pluviométricos

elevados em relação às condições de semi-aridez que caracterizam a parcela mais significativa do

território do ceará. Com efeito, a relação da sociedade com o meio físico é parcialmente determinada

pelas características naturais da área, já que existe uma tolerância do homem em se adequar ao

ambiente.

O objetivo deste trabalho é, portanto, realizar uma reconstrução da evolução geomorfológica do

setor delimitado para o estudo, na perspectiva de apreender a relação existente entre o processo de uso

e ocupação social da área e as suas características naturais.

MATERIAL E MÉTODOS

O procedimento metodológico adotado no presente trabalho é oriundo da perspectiva do

“Princípio do Uniformitarismo”, que foi elaborado por James Hutton no final do século XVIII e

aperfeiçoado por Charles Lyell em 1802. tal princípio define a existência de uma uniformidade

temporal dos processos geológicos e suas causas com a afirmação “presente é chave do passado”.

Muitos pesquisadores buscam desvendar e esclarecer os passos da evolução dos grandes elementos que

compõem as paisagens naturais (CLAUDINO-SALES, 2004). No entanto, o Uniformitarismo esta

atuando junto a outros métodos, como o Geossistema, já que é preciso uma gama de fatores na

definição dos sistemas ambientais.

Os limites do relevo e as feições do modelado são mais facilmente identificados e passíveis de

uma delimitação mais rigorosa e precisa. Deve-se conhecer a compartimentação geomorfológica e

associá-la à geologia, à drenagem superficial, aos tipos de solos, aos fatores climáticos e, na sequência,

aos processos de uso e ocupação pelo homem (SOUZA, 2005).

Primeiramente, foi realizada uma vasta pesquisa bibliográfica sobre as produções científicas

associado ao relevo e à geologia no noroeste do estado do Ceará, visando entender a estruturação

natural e assim, melhor associar o relevo com o processo de ocupação. As principais fontes foram

artigos de revistas em meio digital e publicações impressas, incluindo livros tanto de autores do estado

quanto de outros estados. Na etapa de laboratório, foi realizada uma intensa análise de mapas

temáticos, como o mapa de uso e ocupação, o geomorfológico e o geomorfológico, estes oriundos do

Projeto Radambrasil, com escala de 1:1. 000.000 (1981), na folhas Fortaleza, além dos mapas da

SUDENE nas folhas Viçosa do Ceará, Flecheirinha, Granja e Chaval, na escala de 1:100.000. Foram

também analisados o mapas geológico de escala 1:500.000 da CPRM (2003), imagens de satélite

Landsat (EMBRAPA, 2000), imagens disponível no Google Earth, imagens CBERS e imagem SRTM

disponível no Global Mapper. O objetivo dessa análise cartográfica teve o intuito de elaborar mapas

temáticos para esse setor, já que praticamente não existem registros dessa natureza sobre a área.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

1. As condições naturais

A área de estudo esta situada a noroeste do estado do Ceará, setor no qual ocorre o front da

Serra da Ibiapaba, com características de glint. Tal definição deriva do fato de que, ao sopé dessa

elevação, aflora, na depressão periférica, terrenos cristalinos. Recortando a depressão, ocorre o

conjunto de serras, serrotes e morros esculpidos em rochas cristalinas, objeto do nosso estudo. As de

maior destaque são a Serra da Ubatuba, Serra da Timbaúba, Serra de Umari, Serra de São Joaquim e

Serra Dom Simão.

A evolução do relevo no estado do Ceará resulta de vários ciclos naturais, que comportaram

eventos tectônicos e variações climáticas (MEIRELES, 2005). Seguindo essa lógica, verifica-se que

relevos foram formados e arrasados, para serem novamente rejuvenescidos. O primeiro momento do

processo evolutivo para essa área corresponde à separação dos continentes sul-americano e sul-

africano. Essa grande deformação tectônica deu também início ao processo de recuo da Bacia

Sedimentar do Parnaíba; sua vertente começou a ser atacada pelos processos externos e

conseqüentemente, resultando em recuo, o que acabou revelando outras forma ali existente e que se

originaram antes mesmo da própria bacia sedimentar. As razões básicas dessa ação tectônica devem-se

ao rifting intracratônico que iniciou o processo de divisão continental, seguido de abertura

transformante do Atläntico setentrional e da flexura marginal a partir do Cretáceo Superior

(CLAUDINO-SALES, 2007).

Geologicamente, a área de estudo está situada dentro da Província Borborema, uma área de

diversas litologias que vem sendo trabalhada desde a colagem Paleoproterozóica (BRITO NEVES,

1999). Apresenta uma diversidade de terrenos que se originou no Arqueano, cuja evolução deu-se

durante o Ciclo Brasiliano, no Proterozóico Superior ao Cambro-Ordoviciano (CARNEIRO; HAMZA;

ALMEIDA, 1989). Esta província é composta e separada por maciços de diferentes características

estruturais e evolutivas (BRITO NEVES, SCHMUS e FETTER, 2001). Ela se extende por todo NE,

adentrando a Bacia Sedimentar do Parnaíba. Desta província, ocorrem também resquícios no

continente africano. Durante a sua formação, passou por vários eventos tectônicos, gerando vários

domínios geológicos (MABESSONE, 2002) em todo o Nordeste.

No Ceará, estes domínios são Ceará Central e NW do Ceará ou Médio Coreaú. Este último é o

domínio no que está localizada a área de estudo. É um local com importantes falhamentos, como o

lineamento Sobral - Pedro II (SANTOS e BRITO NEVES, 1984) e o lineamento Itacolomi. Apresenta

uma diversidade geológica como o Grupo Martinópole, onde se situam blocos do tipo grabens e horsts

(RADAM 1981). Neste grupo são encontrados as formações Santa Teresinha, Covão, São Joaquim e

Goiabeira (CPRM, 2003). Dentro deste embasamento, vamos encontrar o Maciço de Granja com uma

área de afloramentos de granitos que passaram por processo de reativação das falhas em alguns pontos,

e acabaram sendo exposto.

Imagem 1:Imagens CBERs (Adaptada Bezerra,2009).

O estado do Ceará é dominado pelo clima semi-árido, caracterizado por duas estações

climáticas, uma chuvosa e a outra seca. As taxas de evaporação são altas, assim como as temperaturas.

Estas sao da ordem de 24 graus a 26 graus no setor rebaixado, e no setor mais elevado, de 22 a 24

graus. Os principais tipos climáticos são o Clima Tropical Quente Semi-árido Brando nas áreas mais

rebaixadas e, nas serras, partes mais elevadas, do tipo Clima Tropical Quente Subsumido (SILVA e

CAVALCANTE, 2000). As médias anuais variam de acordo com a hipsometria. A compartimentacao

topográfica coloca a nossa área de estudo fora do semi-árido nas partes mais elevadas, enquanto nas

partes mais rebaixadas, existe uma clima semi-árido. Nos setores mais elevados, sobretudo os mais

prõximos do litora, o teor de umidade é maior que outras regiões do estado, com precipitações em

torno de 1 000 a 1 350 mm ao ano. Esse é um fator muito importante para a elaboração dos relevos, já

que a água é elemento fundamental na elaboração de relevos.

Os tipos de solos variam de Argissolos Vermelho Amarelo no setor mais elevado (Serra da

Ibiapaba) e úmido. Os Neossolos Litólicos ocorrem no setor mais rebaixado, sendo originado de

diversas formações geológicas (PEREIRA e SILVA, 2005). Na depressao periférica, os solos sao

rasos, dificultando o processo de ocupação social, pois o homem se fixa em áreas que eles possam tirar

o sustento da própria terra.

Imagem 2: Mapa geológico da Região Noroeste do Ceará. Modificado de Abreu et al. 1988

Inicialmente, para entender a geomorfologia desta área, é preciso entender o processo que

originou o arcabouço geológico local. É uma região complexa geologicamente, com a presença do

Grupo Granja e uma variada forma de relevo, ocorrendo, por exemplo, na depressão periférica, relevos

de pequeno porte. As camadas sedimentares da bacia paleozóica silurio-devoniano do Parnaíba

estiveram encobrindo essa superfície em um dado momento da história geológica. Assim é que, nas

encostas, são encontradas diversas serras constituídas por dobras paralelas, com escarpas avivadas por

falhas (OLIVEIRA; LEONARDOS, 1978).

As grandes unidades geomorfológicas da região noroeste do Estado do Ceará estão

individualizadas com base na homogeneidade das formas de relevo e no posicionamento altimétrico

relativo. Como critérios secundários, utilizamos as características da geologia, da vegetação e dos

solos. A região foi assim dividida em três unidades, denominadas formalmente de Depressão

Periférica, Planalto da Ibiapaba e Maciços Residuais ou Serras.

Vertentes com morfologias variadas caracterizam todos esses domínios. Elas são as formas

geomorfológicas em questão neste trabalho, pois é a partir de ciclos erosivos que elas evoluem,

definindo espaços nos quais ocorreram, posteriormente, processos de uso e ocupação social. Segundo

Bigarella (1965), o mecanismo da evolução das vertentes consiste essencialmente em uma sutil

interação entre profundas mudanças climáticas, variações dos níveis de base locais e deslocamentos

crustais. Conforme ocorrem o intemperismo, o transporte e a deposição em outro local, a que

denominamos erosão, a forma ou geometria das vertentes, e também de toda a superfície terrestre, e

moldada nas paisagens que observamos. As encostas fornecem o poder original para estes processos

que moldam as paisagens por permitir que a gravidade, que em geral atua verticalmente, atue com um

componente lateral.

No dominio Planalto da Ibiapaba, o relevo é caracterizado pelo front norte da Ibiapaba,

mostrando-se como um bom exemplo do processo de erosão diferencial, já que lá é encontrada uma

grande diversidade de matérias. Para ocorrer este tipo de erosão, são necessários os seguintes fatores: a

consistência da rocha; estado de fraturamento da rocha; sistema de diaclasamento e o grau de

permeabilidade da rocha. As áreas intensamente fraturadas, quando situadas nas imediações de corpos

rochosos não fraturados, respondem, em geral, como áreas deprimidas. O intenso fraturamento

colabora para que haja uma maior infiltração das águas e, conseqüentemente, uma maior

intemperização química dos materiais rochosos. Esses materiais, assim alterados, tornam-se presa fácil

para os processos erosivos subseqüentes (SOUZA, 1981).

A partir de Tianguá para Viçosa do Ceará, percebe-se um adelgamento da cornija e, em alguns

pontos, a exumação de rochas do embasamento cristalino. O relevo é dissecado em lombadas, cristas e

colinas rasas. Esta escarpa perde altura na parte norte, o que deixa um front dissimulado (SOUZA e

MORAES, 2000). Notadamente na escarpa onde está localizado o município de Viçosa do Ceará,

ocorre uma irregularidade na escarpa, com numerosas reentrâncias e anfiteatros de erosão (DNPM,

1979). Tal fato é condicionado por diferentes litológicas, que produziu diferença nos processos

erosivos.

Imagem 3: Depressão Periférica, (Lira, 2007)

Imagem 4: Serra de São Joaquim esq.(Lira,2007)

No tocante ao domínio Macicos cristalinos, coloca-se que as principais serras são a Timbaúba,

Ubatuba, São Joaquim, Umari e Dom Simão. Estas são as de maiores expressões, existindo ainda

alguns morros e serrotes, como o Serrote do Pitimbu, do Pilão, Tamboril, do Socorro, Serra do

Serrano, São Vicente, Serra do Gado Brabo, da Gameleira, do Eufrazio e Serra do Bico Fino, e alguns

morros como o Morro de Santana, do Angelim e Araçás. As serras de São Joaquim e Ubatuba

apresentam em seu topo uma superfície plana e ser uma superfície de erosão que apresenta as mesmas

características das partes mais elevadas do município de Viçosa do Ceará. As serras estão separadas da

Serra da Ibiapaba por vales.

No sopé dessas elevacoes, tanto cristalinas quanot sedimentares, ocorre o terceiro domínio, a

depressao periférica, identificada localmente como depressao sertaneja. Estas foram originadas por

processos erosivos, o qual teve maior avanço depois do soerguimento da bacia seguido de erosao,

acabando por revelar as superfícies cristalinas sotopostas. A topografia é bastante acidentada, com as

altitudes mais elevadas da ordem de 700 a 900 m, diminuindo ainda de 500 a 700 m e para 500 a 200

m. Na depressão periférica, varia de 0 a 200m.

Quanto aos recursos hídricos toda a área de estudo este inserido dentro da Bacia Hidrográfica

do Coreaú com várias nascentes na serra da Ibiapaba e que contribuíram para a elaboração deste

relevo. Estas nascentes deixam o relevo mais trabalhado, já que as serras são separadas de ma das

outras por um rio.São encontrados espelhos d’água de pequenas dimensões. Os principais rios são a

Ubatuba que nasce na Serra da Ibiapaba e o Rio Timonha, dentre outros.

Imagem 5: Imagem SRTM da área de pesquisa(Global Mapper).

Imagem 6: Perfil Topografico Global Mapper, sentido E-W saindo da Serra da Ibiapaba em direção a Serra de São

Joaquim.

Imagem 7: Perfil Topográfico Global Mapper, sentido S-N, saindo da Serra da Ibiapaba em direção a Serra da Ubatuba.

Imagem 8: Vista da Serra de Umari ao fundo, (Lira, 2007).

Imagem 9: Vale Fluvial entre as serras do Front Norte da Ibiapaba, (Lira, 2007)

Imagem 10:Serra da Ibiapaba ao fundo, (Lira, 2007).

2. Usos e ocupações das paisagens naturais

A Serra da Ibiapaba sempre foi ocupada por indigenas, que exploravam a natureza de maneira

mais cuidadosa no que ocorre no presente contexto social. A ocupacao sofreu grande crescimento com

a chegada do homem branco, que veio seguindo os rios. Hoje, o principal processo de uso e ocupação

social da área ocorre no topo do planalto sedimentar e na depressão periférica, mas ainda e, sobretudo

bordejando os rios.

Na atualidade, as vertentes são utilizadas em alguns pontos para a agricultura de subsistência,

mas segundo o uso de técnicas rudimentares como a coiçara, que é o processo de queima da vegetação

para o plantio. Nos períodos secos, o fogo se espalha, prejudicando as áreas em torno. Nas áreas

rebaixadas, é comum o extrativismo vegetal, a pecuária e a agricultura.

A existência de relevo movimentado e as condições climáticas, áridas ou semi-áridas,

dificultam o povoamento de grandes áreas (ANDRADE, 1987). É o que acontece nesta região, de

grande extensão - o fator relevo elevado é limitante quanto ao uso e ocupação social, por apresentar

relevo bastante acidentado com cotas altimétricas que ultrapassam os 600m, e vertentes bastante

íngremes. Na depressao periférica, a falta de água é o problema.

CONCLUSÃO

A análise da organizacao e estruturacao atual da paisagem na área de estudo permite considerar o

quanto as formas de relevo exercem influência no processo de uso e ocupacao social do solo, talvez

mais do que todos os demais processos e elementos naturais, como clima e vegetação. O mesmo

condiciona a utilização que se faz do solo. Assim, verifica-se que a geologia e geomorfologia

possuem um importante papel em estudos ambientais, uma vez que determinam, de certa forma, e em

larga escala, a aptidão dos terrenos para os vários usos e atividades humanas – evidentemene, nao

desprezamos aqui a dimensao social, economica e política condicionadora da ocupacao social de uma

dada área, mas também, nao as colocamos como únicos fatores determinantes.

Na atualidade, há que se considerar que a própria atividade social e humana também traz

condicionantes complementares, uma vez que processos ativos limitam a ocupação continuada, pois

ocasionam modificações no ambiente, muitas vezes indesejáveis.

Por fim, pode-se afirmar que a paisagem das serras no front da Ibiapaba, no que se refere,

principalmente, ao seu meio físico, é bastante diversificada, contendo uma gama de variados recursos

naturais. Os aspectos sócio-econômicos mantêm uma relação estreita com suas características

geoambientais, ao condicionarem o uso, a ocupação e a expansão territorial na área, desde tempos

antigos até a atualidade.

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