evasÃo no curso de engenharia de … de produção oferecido no interior do estado de goiás....
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EVASÃO NO CURSO DE ENGENHARIA DE
PRODUÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE
GOIÁS - REGIONAL CATALÃO
Nicolas Victor Martins dos Santos (UFG)
Muris Lage Junior (UFSCar)
Monica Luiz de Lima Ribeiro (UFG)
A evasão é um dos graves problemas que afetam a educação, em especial, a
de nível superior, sendo uma fonte de ociosidade de professores,
funcionários, equipamentos e espaço físico. Na Universidade Federal de
Goiás (UFG) ainda há poucos trabalhos direcionados para o estudo da evasão
em seus cursos, sobretudo nos seus cursos mais novos. O presente trabalho
tem como objetivo analisar o fenômeno da evasão no recém-criado curso de
Engenharia de Produção da UFG - Regional Catalão e apontar direções para a
redução do seu índice. O período de abrangência da pesquisa foi de 2008 a
2013 e como ferramentas de pesquisa foram utilizadas a análise de banco de
dados e a aplicação de questionário para alunos evadidos do curso. Os
participantes apontaram como principais fatores de evasão no curso a
“Insuficiente estrutura de apoio ao ensino de graduação: laboratórios de
ensino, equipamentos e outros” e a “Exigência de dedicação exclusiva ao
curso, incompatível com necessidades pessoais, familiares e profissionais”.
Foram propostas ações de orientação na escolha profissional, monitorias,
condensação dos horários das aulas, melhoria da didática e mais assistência
estudantil. Espera-se que as contribuições desta pesquisa levem a ações
efetivas, melhorando a qualidade do curso e reduzindo o índice de evasão.
Palavras-chave: Evasão; Educação; Engenharia de Produção
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
A evasão é um dos graves problemas que afetam a educação, em especial, a de nível
superior, o que consequentemente atinge a sociedade no seu campo social, acadêmico,
econômico e político, seja a instituição pública ou privada. No setor público, conforme
Silva Filho et al. (2007, p. 642), “[...] são recursos públicos investidos sem o devido
retorno. No setor privado, é uma importante perda de receitas. Em ambos os casos, a
evasão é uma fonte de ociosidade de professores, funcionários, equipamentos e espaço
físico”.
A evasão pode ser definida “[...] como a saída definitiva do aluno de seu curso de origem,
sem concluí-lo.” (ANDIFES, 1996, p. 25). O índice desse fenômeno no Ensino Superior
brasileiro em 2009, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) chegou a 20,9%. O
pesquisador Oscar Hipólito, do Instituto Lobo para Desenvolvimento da Educação, da
Ciência e da Tecnologia calculou que até este mesmo ano de 2009 o país chegou a cerca de
R$ 9 bilhões em perdas financeiras com a evasão no ensino superior (NOGUEIRA, 2011).
Na Universidade Federal de Goiás (UFG), ainda há poucos trabalhos direcionados para o
estudo da evasão em seus cursos, sobretudo nos seus cursos mais novos como o da
Engenharia de Produção na Regional Catalão. Tal curso iniciou suas atividades em 2008,
com a formação da primeira turma em 2012. Sua criação é devida ao programa de
expansão de vagas do governo federal, e até o início de 2015 era o único curso público de
Engenharia de Produção oferecido no interior do estado de Goiás.
Diante desse contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar o fenômeno da
evasão em um curso de Engenharia de Produção recém-criado. Com os resultados obtidos,
espera-se, primeiramente oferecer um panorama a respeito das ofertas e preenchimento de
vagas no interior do Brasil, em especial resultante do programa de expansão do governo
federal; em segundo lugar, pretende-se apontar direções para a redução da evasão no curso
analisado.
O restante deste artigo tem a seguinte estrutura: a seção 2 contém os aspectos
metodológicos do trabalho; a seção 3 apresenta os resultados e discussões em torno da
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evasão no curso; a sessão 4 é referente as medidas contra evasão e por fim, na sessão 5, é
apresentada a conclusão deste estudo.
2. Aspectos metodológicos
2.1 O curso de engenharia de produção da UFG – Regional Catalão
O curso de Engenharia de Produção da UFG – Regional Catalão é de modalidade
presencial e de período integral, com cinco anos de duração ou dez semestres letivos e o
ingresso de alunos é realizado uma vez ao ano com a disponibilidade de 50 vagas. A
infraestrutura conta com laboratórios de informática, ergonomia, tecnologia de informação,
metrologia, fabricação mecânica, automação industrial e uma mini fábrica de reciclagem
de papéis.
2.2 Período de abrangência
O período de abrangência da pesquisa foi de 2008 a 2013, portanto foi estudada a evasão
da primeira à sexta turma do curso.
2.3 Ferramentas da pesquisa
Para este estudo foi utilizada a análise de banco de dados e a aplicação de questionário para
alunos evadidos do curso.
O questionário, e este estudo como um todo, seguiu algumas as ideias de trabalhos de
Cunha, Tunes e Silva (2001), quanto aos temas das questões relacionadas à escolha de
curso e a experiências do aluno durante o curso; Pereira (2003) quanto à utilização de
variáveis utilizando a escala Likert; Bardagi e Hutz (2009) na escolha dos macros
contextos do questionário, que são: a escolha do curso, a vivência acadêmica e possíveis
intervenções e a classificação realizada pela Comissão Especial de Estudos sobre Evasão
nas Universidades Públicas Brasileiras (ANDIFES, 1996) sobre as naturezas das causas de
evasão, que são aquelas que se relacionam ao próprio aluno, as relacionadas ao curso e à
instituição e os fatores socioculturais e econômicos externos.
No questionário havia questões referentes a aptidões, anseios, repercussão da evasão no
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aluno e possíveis intervenções no curso; para essas questões foi dada a oportunidade aos
participantes de dissertassem sobre o assunto. Havia também as questões de escolha e
evasão do curso, onde foi utilizada escala Likert, uma ferramenta que possibilita
quantificação de fatores, muito utilizada em pesquisas de opinião. Os participantes a
empregaram conferindo um grau de importância aos fatores apresentados sendo 1 - fator
pouquíssimo relevante, 2 – fator pouco relevante, 3 – fator de média relevância, 4 – fator
muito relevante e 5 – fator muitíssimo relevante.
2.4 Os alunos evadidos do curso
A relação de modalidades de saída do curso dos 55 alunos evadidos até o final do ano de
2013 é a seguinte:
Desligamento voluntário (assinatura de desistência): 14 alunos (25%);
Transferência para outra IES (Instituição de Ensino Superior): 2 alunos (4,0%);
Desligamento por abandono (não efetuação de matrícula a cada semestre/reprovação
em todas as disciplinas cursadas dois semestres letivos consecutivos/reprovações em todas
as disciplinas no semestre de ingresso): 32 alunos (58%);
Desligamento por não cumprimento de condições (reprovação por falta 3 vezes na
mesma disciplina/reprovação por média 3 vezes na mesma disciplina/débito de
documentação): 7 alunos (13%).
Atualmente a UFG não considera mais como critério de exclusão de aluno a reprovação
por média 3 vezes em uma disciplina.
Alguns alunos se desligaram do curso voluntariamente antes mesmo do término do
primeiro semestre, frequentando poucas semanas ou até dias, pois logo após o inicio das
aulas no curso eles passaram também em outro processo seletivo de um curso superior que
tinham predileção e então assinaram a desistência para realizar a nova matrícula.
Para responder o questionário foram contatados todos os alunos evadidos do curso (55),
exceto o grupo de alunos que já têm o motivo da saída do curso justificado. Com isso, foi
solicitada a participação na pesquisa a 43 alunos, no entanto responderam o questionário
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apenas 8 deles, 19% da população.
3. Evasão
3.1 Caracterização da amostra
A amostra é composta por 8 (oito) participantes, sendo 4 (quatro) homes e 4 (quatro)
mulheres. Metade desses alunos se considera branco, 38% se consideram pardos e os
outros 12% se consideram pretos. Quanto ao tipo de escola no ensino médio, 50% da
amostra é oriunda de escolhas particulares, 38% de escolas públicas e 12% alternaram
entre escolas públicas e particulares. No tocante a faixa de renda familiar, 25% dos alunos
declara renda familiar até R$ 2172,00, 50% até R$ 4344,00, 12,5% até R$ 10875,00 e
outros 12,5% declararam receber acima R$ 10875,00.
3.2 Escolha do curso
A tabela 1, a seguir, mostra os fatores de escolha do curso utilizados neste estudo e suas
respectivas médias. Os fatores estão dispostos em ordem decrescente.
Tabela 1 – Fatores de escolha de curso
Fatores Média
Gosto pela engenharia de produção 4,25
Facilidade e bom desempenho nas disciplinas de exatas cursadas durante o ensino médio 4,12
Gosto pela estrutura curricular do curso (matriz curricular, carga horária, ementário) 3,62
Amplo mercado de trabalho do profissional de engenharia de produção 3,50
Retorno financeiro que a profissão de engenheiro de produção poderia lhe proporcionar 3,50
Isenção de mensalidade 3,36
Status da UFG e da Universidade Federal 2,75
Possibilidade de trabalhar como engenheiro de produção na cidade (ou nas proximidades
desta) em que moro ou desejo morar
2,75
Desejo de corresponder expectativas dos pais, familiares, professores e amigos 2,25
Status da profissão de engenharia de produção 2,25
Proximidade entre a minha residência e a Regional (Campus) 2,00
Imposição na escolha do curso por pais, familiares, professores e amigos 1,75
Localização e infraestrutura da Regional Catalão da UFG 1,62
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Fonte: Dados da pesquisa
O fator mais relevante para a escolha do curso feita pelos alunos evadidos, apontado pelos
participantes (Tabela 1), foi o “Gosto pela engenharia de produção” seguida da “Facilidade
e bom desempenho nas disciplinas de exatas cursadas durante o ensino médio” e pelo
“Gosto pela estrutura curricular do curso (matriz curricular, carga horária, ementário)”. Ou
seja, segundo os próprios alunos evadidos, eles escolheram o curso motivados
principalmente pelo gosto e a vocação e fizeram essa escolha com liberdade e autonomia,
pelo que indica a baixa pontuação do fator “Imposição na escolha do curso por pais,
familiares, professores e amigos”.
3.3 Análise geral da evasão
A seguir, na figura 1, está a representação do número de evasões de cada turma do curso
em relação ao número total de alunos evadidos.
Figura 1 – Evasão por turmas do curso
Fonte: Dados da pesquisa
Os alunos que mais evadiram do curso foram os ingressantes de 2009 e 2010. Somados, os
ingressantes desses dois anos totalizam quase metade do número de evadidos de todo o
período estudado.
Na figura 2, a seguir, são mostrados os números de evasões no curso de 2008 a 2013.
Figura 2 – Número de evasões no curso por ano
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Fonte: Dados da pesquisa
O gráfico da figura 2 mostra um aumento do número de evasões ano a ano, exceto de 2009
para 2010, onde o número se manteve. Isso reforça a necessidade deste e outros estudos
direcionados à melhor compreensão do fenômeno da evasão no curso e a redução de seus
índices.
O próximo gráfico (figura 3), mostra a relação de evasão e tempo de curso ou os anos de
graduação em que ocorreram o maior número de evasões.
Figura 3 – Relação da evasão e tempo de curso
Fonte: Dados da pesquisa
O maior número de evasões em um curso superior ocorre nos primeiros anos da graduação,
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este é um comportamento homogêneo do fenômeno da evasão em cursos de graduação em
todo o mundo (SILVA FILHO et al., 2007). E verifica-se esse comportamento também
neste estudo (figura 3), onde praticamente 50% dos alunos evadidos saíram do curso no
primeiro ano da graduação.
3.4 Fatores de evasão relacionados ao próprio estudante
Na tabela 2, a seguir, estão dispostos os fatores de evasão relacionados ao próprio
estudante utilizados nesta pesquisa e suas respectivas médias de pontuação. Os fatores
estão dispostos por ordem decrescente de pontuação.
Tabela 2 – Médias dos fatores de evasão relacionadas ao próprio aluno
Fatores Média
Falta de identificação com o curso 2,88
Insegurança diante as primeiras reprovações nas disciplinas 2,50
Dificuldade de acompanhar o curso, por considerá-lo difícil 2,25
Por não ser a primeira opção de curso 2,13
Desconhecimento da realidade e natureza do curso/Choque ou decepção com o curso 2,13
Dificuldade de obter bom desempenho acadêmico devido a uma formação
"deficiente" no ensino médio
2,13
Despreparo para lidar com diferença entre o Ensino Médio e o Curso Superior 2,00
Reprovações constantes nas disciplinas 1,50
Fonte: Dados da pesquisa
O fator de evasão relacionado ao próprio aluno mais pontuado (tabela 2) foi a “Falta de
identificação com curso”, o que é incongruente com os principais fatores de escolha de
curso identificados, referentes a gosto e aptidão pela engenharia de produção e pela
estrutura do curso (tabela 1).
Os alunos acreditavam estar bem informados a respeito da engenharia de produção e do
curso, contudo os fatos demonstram que as informações que tinham estavam erradas ou
eram insuficientes para uma escolha segura da carreira profissional. Este resultado
concorda com as conclusões de Bardagi e Hutz (2012), que propuseram que talvez a
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fragilidade da escolha profissional inicial seja a maior responsável pelos elevados índices
de evasão no país.
É interessante notar que o segundo fator mais relevante na escolha do curso (tabela 1),
seria a vocação na área de exatas, embasada no desempenho nas disciplinas de exatas no
ensino médio. Entretanto o segundo e o terceiro fatores do próprio aluno mais relevantes
para a evasão (tabela 2) foi a “Insegurança diante as primeiras reprovações nas disciplinas”
e a “Dificuldade de acompanhar o curso por considerá-lo difícil”.
Muitos alunos relataram nos questionários que ao se depararem com a alta complexidade
das disciplinas do curso (sobretudo nas de exatas), sentiram dificuldade e obtiveram um
baixo desempenho acadêmico. A frustação e desgaste resultante desta experiência teve
forte impacto na decisão de evadirem do curso.
Para Cunha, Martins e Gomes (2011, p.4), “a grande causa de evasão nas universidades
públicas está nas escolas de ensino médio, onde os alunos se deparam com estruturas
precárias, professores despreparados e aulas de qualidade duvidosa”. Um participante da
pesquisa reforçou esta constatação ao dizer que: “...o aluno deve ter um melhor preparo
desde o ensino médio para as disciplinas de exatas, principalmente com professores que
ensinem melhor, que o ajudem a descobrir suas vocações e o orientem na sua escolha
profissional”.
3.5 Fatores de evasão relacionados à instituição
Na tabela 3, a seguir, são exibidos os fatores de evasão relacionados à instituição utilizados
nesta pesquisa e suas respectivas médias de pontuação.
Tabelas 3 – Médias dos fatores de evasão relacionadas ao curso e a instituição
Fatores Média
Insuficiente estrutura de apoio ao ensino de graduação: laboratórios de ensino, equipamentos
e outros
3,38
Falta de formação didática ou desinteresse dos professores 3,13
Rotina cansativa e estressante/Alta exigência de dedicação ao curso 3,00
Pequeno número de programas institucionais para o aluno (ou baixo número de vagas) como
Iniciação Científica e Monitoria
2,88
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Complexidade dos materiais didáticos 2,50
Dificuldade de acesso ao professor e/ou monitor para tirar dúvidas 2,38
Critérios impróprios de avaliação 2,13
Baixa oferta de disciplinas onde há altos índices de reprovação 2,00
Ergonomia das salas de aula 1,75
Rígida cadeia de pré-requisitos no currículo do curso 1,75
Fonte: Dados da pesquisa
Neste grupo de fatores, destaca-se a “Insuficiente estrutura de apoio ao ensino de
graduação...”. Este fator não é só o mais pontuado do seu grupo como também entre todos
os fatores de evasão. Os participantes declararam muita insatisfação com as antiga
estrutura curso, considerando-a insuficiente e inapropriada.
A infraestrutura adequada para o curso só veio com a recente inauguração do Prédio das
Engenharias no final do ano de 2014 e o esperado é que, a partir disso, tal fator tenha
redução na motivação de futuras evasões.
A “Falta de formação didática ou desinteresse dos professores” foi o segundo fator mais
pontuado deste grupo. As reclamações a respeito de alguns professores são: má didática,
falta de domínio dos conteúdos ministrados, critérios de avaliação impróprios ou ineficazes
e a falta de experiência dos professores com a indústria.
A principal queixa quanto aos professores é a “negligência no papel de extrair do aluno o
encanto pelo curso, o interesse, na tentativa de convencê-lo a não mudar de curso”
conforme sintetizou um participante da pesquisa. Os participantes disseram que ao
manifestarem sua vontade de sair do curso para os professores, eles desejavam ser
contestados por eles, esperaram que os professores se preocupassem e os auxiliasse nos
problemas que os levaram a essa decisão, no entanto isso não aconteceu.
O terceiro fator deste grupo é a “Rotina cansativa e estressante/Alta exigência de dedicação
ao curso”. Os participantes citaram como fatores de estresse no curso: alta exigência de
tempo e estudo para as disciplinas, complexas em sua maioria; alta carga horária e
principalmente o horário das aulas e os intervalos entre elas, as chamadas “janelas”.
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Embora os alunos entrem no curso conscientes que a sua modalidade é integral, os
participantes reclamaram da falta de padrão e de condensação das aulas em um período do
dia. As aulas e as “janelas” têm horários diferentes todo dia da semana e podem ser do
início da manha até o final da noite. Dessa forma os alunos são impedidos de trabalhar ou
exercer outras atividades, como as de estudo e de lazer, de maneira satisfatória.
3.6 Fatores de evasão socioculturais e econômicos externos
A Tabela 4, a seguir, mostra os fatores de evasão externos utilizados nesta pesquisa e suas
respectivas médias de pontuação.
Tabela 4 – Média dos fatores externos de evasão
Fatores Média
Exigência de dedicação exclusiva ao curso, incompatível com necessidades pessoais,
familiares e profissionais
3,25
Superficialidade ou conflitos nos contatos entre aluno-aluno e/ou servidor-aluno 2,75
Necessidade de realizar outras atividades, remuneradas, para auxiliar no próprio
sustento ou da família
2,38
Problemas de saúde 2,25
Dificuldade de custear as despesas da vida universitária 2,25
Diferença de poder aquisitivo entre você com os colegas gerando sentimento de não
pertencer ao grupo
2,13
Dificuldade de transporte e/ou moradia 1,63
Baixo reconhecimento social do profissional de engenharia de produção 1,63
Desistência estimulada pelos colegas de curso, amigos e/ou familiares 1,63
Saudades da família e amigos 1,50
Fonte: Dados da pesquisa
O fator “Exigência de dedicação exclusiva ao curso, incompatível com necessidades
pessoais, familiares e profissionais” (tabela 4), recebeu a média mais alta do grupo de
fatores externos e a segunda mais alta dentre todos os fatores. Segundo os participantes,
essa exigência os privava de tempo para a vida familiar e social e também da possibilidade
de trabalhar regularmente para se manter nos estudos, no caso dos participantes com renda
familiar mais baixa.
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A “Superficialidade ou conflitos nos contatos entre aluno-aluno e/ou servidor aluno” foi
apontado como o segundo fator mais relevante para a evasão dos alunos no grupo dos
fatores externos. Alguns participantes revelaram não se sentirem integrados à turma por
falta de acolhimento e amistosidade dos colegas e professores e descreveram essas
relações como superficiais.
3.7 Repercussão da evasão no aluno
Quanto à situação acadêmica atual, 12% dos respondentes já finalizaram outro curso
superior, 62% estão cursando outro curso superior e 25% ainda não decidiu se retorna à
universidade.
Os participantes tiveram diferentes percepções sobre a evasão. Embora a maioria esteja
cursando outro curso superior ou até já tenha se graduado, apenas 25% dos participantes
julgaram a evasão como positiva, oferecendo mais tempo para eles, para a família e
trabalho ou maiores possibilidades profissionais e acadêmicas em outro curso ou em um
emprego.
Os demais participantes se dividiram meio a meio; 37,5% deles considerou a repercussão
da evasão como neutra, julgam que a evasão do curso não fez diferença em suas vidas de
maneira positiva ou negativa. E os outros 37,5% revelaram que a evasão repercutiu de
maneira negativa em suas vidas, trazendo sensações de arrependimento, fracasso e
decepção, consigo e com o curso.
4. Medidas contra evasão
A identificação de alguns dos principais fatores de evasão no curso mais as sugestões dos
participantes da pesquisa levou a proposição das seguintes ações visando à redução da
evasão no curso.
4.1 Orientação na escolha profissional
O curso de Engenharia de Produção poderia desenvolver projetos de extensão nas escolas
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locais de ensino médio com o intuito de se apresentar aos potenciais ingressantes do ensino
superior e apresentar o perfil profissional do Engenheiro de Produção, além das
possibilidades de atuação.
O curso e a UFG pode, também, melhorar os seus canais de comunicação, dispondo mais
informações sobre seus cursos e até fazer um trabalho de orientação profissional e testes
vocacionais em seus websites e que esses conteúdos sejam fáceis de serem acessados e
dispostos de maneira mais atrativa. E principalmente que a comunidade externa saiba por
forte divulgação que existe este serviço.
4.2 Orientação psicológica
O aluno que está passando por problemas pessoais, crises emocionais e outros problemas
deve ter a disposição um serviço de auxílio. A UFG oferece serviço psicológico gratuito,
mas a maioria dos alunos não tem conhecimento disso.
E se o aluno deseja de fato sair do curso, o serviço de orientação psicológica pode ajudá-lo
no processo de desligamento e a reorienta-lo para a sua nova vida.
4.3 Monitorias
Para tentar compensar o despreparo dos alunos devido o ensino médio deficitário e as
dificuldades nas disciplinas do curso, as monitorias poderiam ajudar. Mais do que isso,
como os alunos ingressam com dificuldades para acompanhar as disciplinas básicas como
cálculo, física e química, monitorias voltadas para o auxílio em questões relacionadas às
dúvidas trazidas desde o ensino médio poderiam auxiliar.
4.4 Horário das aulas
O horário das aulas poderia ser melhorado com uma condensação das aulas em algum
período do dia, preferencialmente no matutino.
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4.5 Professores
Para a melhoria de didática dos professores poderiam ser propostos programas com cursos
de aperfeiçoamento, métodos didáticos mais atrativos para os alunos e meios mais
interessantes e eficazes de ensino-aprendizagem. Poderiam também ser realizadas
discussões sobre critérios de avaliação nas disciplinas.
4.6 Assistência estudantil
É fundamental para os alunos de baixa renda do curso, para continuarem em seus estudos,
os programas de assistência estudantil, como auxílio moradia, auxílio alimentação e ajuda
financeira com transporte, material didático, serviços médicos, entre outros.
Essas assistências estudantis já são fornecidas pela UFG, porém é necessário que mais
alunos sejam contemplados com essas assistências e que se aumente os valores dos
auxílios, que são insuficientes para atender as necessidades a que se propõem.
5. Conclusões
Buscou-se nesta pesquisa iniciar os esforços para a compreensão e combate da evasão no
curso de Engenharia de Produção da UFG – Regional Catalão, fenômeno que vem
aumentando ano a ano desde o primeiro ano do curso em 2008.
Identificou-se como um fator importante para a escolha do curso o gosto pela Engenharia
de Produção e pela estrutura do curso. Porém, como a falta de identificação com o curso
foi apontada como um dos fatores mais importantes de evasão, verifica-se entre os alunos
evadidos a falta de informação e orientação na escolha profissional.
Os fatores institucionais de evasão foram apontados como os mais relevantes para a
evasão, principalmente a falta de estrutura de apoio à graduação como os laboratórios, a
má didática e desinteresse dos professores e a rotina cansativa e estressante do curso.
Espera-se, entretanto, que com a nova estrutura do curso, o peso que tais fatores exercem
na evasão seja diminuído.
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Entre os fatores externos, obteve alta relevância para os participantes da pesquisa a elevada
exigência de dedicação ao curso; incompatível com outras necessidades do aluno, como a
de trabalhar para se manter.
As ações corretivas propostas com base nos fatores de evasão identificados e nas sugestões
dos participantes são: orientação na escolha profissional, informação para os alunos quanto
à disponibilidade de serviços de orientação psicológica, mais monitorias, condensação das
aulas em um período do dia, melhoria da didática dos professores e mais assistência
estudantil.
Espera-se que as contribuições desta pesquisa levem a ações efetivas, melhorando a
qualidade do curso e reduzindo o índice de evasão.
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