evangelho de mateus

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Evangelho de Mateus1 Introduo: No Projeto de Evangelizao Rumo ao Novo Milnio, o ano de 1999 dedicado a So Mateus. Veremos neste breve estudo alguns dos principais aspectos do primeiro evangelho. Mateus o evangelista mais citado nas cartas de So Clemente de Alexandria e de Incio de Antioquia. Antes da reforma litrgica do CONCLIO Vaticano II, Mateus ocupava lugar privilegiado. Muitas vezes, no nos damos conta da importncia de termos quatro Evangelhos na Bblia, quatro maneiras diferentes de contar a Boa Nova. Todos sabemos que h muitas maneiras verdadeiras de contar uma mesma histria, mas quando isso se aplica aos Evangelhos, parece que no conseguimos tirar as conseqncias deste fato. Alguns cristos, s vezes, se sentem confusos com as diferenas entre os quatro Evangelhos e chegam a preferir que houvesse um s. Mas, quem se aprofunda na leitura, no estudo, na orao e na contemplao dos Evangelhos acaba descobrindo porque o Esprito Santo permitiu que fossem registradas quatro histrias de Jesus. "O Esprito Santo nos ajuda a entender que h sempre mais de uma forma de ver as coisas, principalmente se tratamos de Jesus. Ele a Palavra de Deus que pode ser vista por muitos lados, para responder os inmeros problemas de vida e das diferentes pessoas. Afinal, ningum conseguiria mesmo escrever uma "vida de Jesus" que desse conta de tudo o que ele significa. Por isso, cada um escolheu um modo de falar dele, destacando o que lhe parecia mais importante"(Therezinha da Cruz). 2 A poca em que o Evangelho foi escrito Desde o ano de 63 (aC) a Palestina tornou-se colnia do Imprio Romano. Os judeus tinham certa autonomia no campo religioso. A palestina era dividida em vrios territrios, com reis e governadores nomeados por Roma. O templo era o centro da vida social, econmica e religiosa dos judeus. A lei dominava todos os setores da vida, especialmente a Lei do Sbado. Havia vrios partidos com idias diferentes: saduceus (sacerdotes e ancios comerciantes e grandes proprietrios) aliados ao imprio romano; fariseus (rivais dos saduceus, leigos observantes da lei); escribas (alguns eram membros do sindrio). No ano 66 depois de Cristo, Roma interferiu nas atividades do Templo, principalmente financeira. Foi o incio da Guerra Judaica que durou mais de dez anos e que culminou com a destruio do Templo de Jerusalm em 74. Por causa disso, os cristos se afastaram do templo e comearam a se reunir nas casas. Saram de Jerusalm e se espalharam para alm do Jordo, norte da Galilia e Sria. 3 Quem era Mateus Todos os evangelhos chegaram at ns sem a identificao do autor. A tradio da Igreja que atribuiu o nome. Existem trs teorias sobre Mateus:

a)

A tradio da Igreja diz que o autor do evangelho o apstolo Mateus. Apstolo ,evangelista e publicano. Alguns acham que Mateus fosse um levita por isso diz: Mateus, filho de Levi. Outros acham que o nome era Levi e Jesus mudou o nome para Mateus que significa dom de Deus ou doado por Deus. A Segunda hiptese diz que o autor era um rabino convertido ao cristianismo. Mateus um profundo conhecedor da Sagrada Escritura. Usa de uma tcnica chamada midrache que a interpretao livre da Palavra de Deus.

b)

c) A terceira hiptese afirma que Mateus era um judeu helenista (de cultura grega). Mateus escreve em grego e tem uma viso aberta: Jesus o Salvador do mundo.4 Data e local

Mateus escreveu seu evangelho entre os anos de 80 e 90. Uma primeira leitura do Evangelho de Mateus pode nos induzir a um erro na busca do seu contexto fundante. A gente se depara com Jesus falando e agindo na Palestina de sua poca.

Porm, pela distncia que h entre a atuao de Jesus e o relato de Mateus, j percebemos que o ambiente do Evangelho no o mesmo em que Jesus viveu e atuou. Mateus nos revela vivncias de comunidades crists bem adiantadas (cf. Mt 18), o que no seria possvel no tempo de Jesus. A realidade que ele descreve leva quase todos os estudiosos de Mateus a afirmarem que este Evangelho foi escrito entre os anos 80-90 d.C. Levando esta hiptese a srio, j temos um caminho andado. Sabemos que Jerusalm foi destruda em 70 d.C. e que sua destruio acelerou um processo (chamado de dispora) j existente de grande disperso dos judeus-cristos, que viviam em torno da comunidade liderada por Tiago. Este discpulo, Tiago, tambm j havia sido martirizado pelos anos 60 d.C., quando da primeira guerra judaica. Mateus copiou 90% do evangelho de Marcos (600 versculos). Mateus escreveu seu evangelho depois da destruio de Jerusalm. O evangelho foi escrito para uma comunidade de judeus convertidos ao cristianismo, talvez pode ser Antioquia da Sria. No captulo 4,24 Mateus fala que a fama de Jesus se espalhou at a Sria. Em Mateus Jesus ocupa o lugar de Moiss, era o mestre, o que ensina e no aquele que faz milagres.

5 - Caractersticas das comunidades de MateusPodemos, sem dvida, afirmar que as comunidades de onde brotaram o Evangelho de Mateus eram muito ativas e conflitivas. Para elas que o Evangelho de Mateus tenta dar uma resposta de f, com a finalidade de ajud-las a viverem e testemunharem sua f naquele que Senhor de todas as comunidades. Mateus tambm nos revela conflitos nas comunidades, que so prprios da Igreja da dispora, no final do primeiro sculo cristo. Na misso que Jesus confiou aos seus discpulos, o vemos mandando evangelizar somente aos judeus (10,6) e o prprio Jesus dizendo que foi mandado somente para as ovelhas perdidas da casa de Israel (15,24). Porm, desde o princpio, os primeiros a aceitarem Jesus como Salvador so pessoas fora do ambiente judaico (2,1ss). E Jesus mesmo d a ordem para que a evangelizao se estenda a todos os povos e no somente aos judeus (28,18-20). Afinal, algum poderia perguntar: "Jesus veio s para os judeus ou para todos?" Este era um conflito presente nas comunidades formadas pelos judeus-cristos que se dispersaram para cidade do outro lado do rio Jordo, para a Sria (4,24) ou para a Antioquia, onde os discpulos foram chamados pela primeira vez de cristos (At 11,26). Entendendo melhor as comunidades que servem de moldura para o Evangelho de Mateus, a gente pode aprofundar a espiritualidade do seguimento de Jesus. Sobre Antioquia, temos uma fonte preciosa nos Atos dos Apstolos (At 15) e na carta de Paulo aos Glatas (Gal 2, 1-10). Lendo, com cuidado, podemos perceber que a conviviam grupos que pensavam bem diferentes. Havia um grupo de judeus-cristos que no aceitavam a misso entre os gentios (At 15,15); outros que aceitavam a misso, mas com restries (At 15, 20.29); outros que aceitavam a misso com total abertura (At 15, 6-12 e Gal 2,1-10); por fim, havia a tambm os cristos-gentios, que era o grupo que mais crescia.

Em Sntese: 5.1 Igreja mista: as comunidades eram formadas de judeus cristos, observantes da lei, judeus de cultura grega no apegados lei e no- judeus; 5.2 Conflitos em torno da lei: duas tendncias na comunidade: uma mais apegada lei, outra mais aberta. Isso provocou conflitos internos e externos com o judasmo formativo. Ler o captulo 23.

5.3 A vinda do Senhor: alguns achavam que a vinda de Jesus era para j. Como no aconteceu, muita gente esfriou, desanimou e desistiu. O juzo passa pelo amor. Ler Mt 25,31-46.6 - Chaves de leitura do evangelho de Mateus 6.1 - o evangelho nasceu no cho das comunidades;

6.2 6.3 6.4 6.5 6.6 6.7

- o conflito com o judasmo formativo apegado lei era muito forte; - em Mateus, Jesus o nico e verdadeiro messias; - Jesus revela o rosto misericordioso do Pai; - Jesus o verdadeiro intrprete da lei; - o Reino se baseia na justia e na misericrdia; - a Igreja o novo povo de Deus e apesar dos seus limites prepara e antecipa a vinda do Reino; 6.8 - a Igreja comunidade de irmos, filhos do mesmo Pai; 6.9 - a organizao da comunidade, com suas regras e normas necessria at para favorecer a fraternidade; 6.10 - a base sacramental da Igreja (batismo, eucaristia, reconciliao, matrimnio) encontra-se em Mateus; 6.11 - as comunidades devem ser missionrias e abertas s diversas culturas; 6.12 - a lei suprema o mandamento do amor a Deus e ao prximo.7 - O tema central de Mateus Mateus escreve seu evangelho para judeus e a eles apresenta Jesus, que deve ser reconhecido como o Messias que eles esperavam mas o rejeitaram e assim se colocam fora do Reino Messinico. Um texto que mostra a rejeio clara dos judeus o de Mt 27,24ss. O cumprimento da lei, o tema central do Evangelho de Mateus e Jesus apresentado como aquele que cumpre a lei em sua ntegra o tema da justia constante em seu evangelho a justia como superao de todo empecilho a fim de que o homem seja plenamente feliz. O Reino de deus apresentado no Evangelho de Mateus como uma realidade presente (Mt 3,2; 4,17.23; 9,35), mas tambm uma realidade futura (Mt 5,3.10.19; 7,21; 8,11). que se apresenta e se identifica com a vida eterna. O Reino de Deus apresentado como sendo a Igreja (Mt 16,18; 18,17) enquanto comunidade hierrquica, da qual os discpulos constituem a existente realidade presente e o futuro corpo dirigente. 8 - Caractersticas literrias Vejamos algumas caractersticas literrias do Evangelho de Mateus: 8.1. Expresses hebraicas e aramaicas: Mateus usa expresses sem explic-las. Usa a expresso Reino dos cus para no citar a palavra Deus, Jav, que eram proibidas de ser citadas. Outras expresses so usadas: carne e sangue para representar a pessoa humana; entrar e sair para designar a liberdade; ligar e desligar para dizer que a pessoa tem poder; geena, depsito de lixo para definir o inferno. Mateus traduziu apenas essas expresses: Emannuel Deus Conosco; Glgota, lugar do crnio e a expresso Eli, Eli, que significa meu Deus, meu Deus. 8.2. Uso de costumes hebraicos: Mateus tece algumas criticas a costumes hebraicos. Critica os mantos com as franjas rituais; as frequentes ablues, lavar as mos; a guarda do dia do Sbado, os sacerdotes no santificavam o Sbado. 8.3. Agrupamentos numricos: Mateus costuma fazer suas citaes em agrupamentos de nmeros. A genealogia de Jesus se divide em trs partes de quatorze geraes (7x2). No captulo 13 temos sete parbolas sobre o Reino dos Cus. (7 o nmero perfeito sempre a soma de 4 mais 3. Quatro o nmero da nossa realidade e trs o nmero da insistncia: Santo, Santo, Santo). Na orao do

Pai-nosso esto presentes sete invocaes. Na multiplicao dos pes Jesus usa sete peixes, sobram sete cestos. Sobre o perdo: setenta vezes sete....

8.4. Citaes do Antigo Testamento: Mateus procura afirmar que Jesus veio para cumprir as sagradas escrituras. No seu evangelho existem setenta citaes do AT, quarenta e trs so literais. 8.5. Grandes discursos: Mateus apresenta-nos cinco grandes discursos: - Mt 1-2 evangelho da infncia; Mt 3-7 o programa do Reino; Mt 8-10 o anncio do Reino; Mt 11-13,52 o mistrio do Reino; Mt 13,53-18 a organizao do Reino. 8.6. A presena de Pedro: So Pedro ocupa lugar privilegiado na eclesiologia de Mateus. Jesus muda o nome para Pedro; entrega-lhes as chaves; caminha sobre as guas. Pedro torna-se um modelo, professa a f: Tu s o Cristo; torna-se a pedra e, tambm, o nosso modelo de falta de f.

9 Estrutura do EvangelhoO Evangelho de Mateus foi muito bem aborado. Com um pouco de ateno, d para perceber que "h nele cinco livrinhos que se sucedem, compostos cada um de um discurso introduzido por fatos habilmente escolhidos para preparlos; o que, junto com os relatos da infncia e da paixo-ressurreio, constituem um conjunto harmonioso de sete partes" (cf. introduo aos Evangelhos Sinticos da Bblia de Jerusalm). Cada livro tem, assim, uma parte narrativa e um discurso que rene palavras atribudas ao prprio Jesus. Vejamos: 1 parte: relatos da infncia - Mt 1-2; 2 parte (primeiro livro): Justia do Reino de Deus - Mt 3-7 Narra o incio da misso de Jesus na Galilia, a chegada do Reino. Consta do Sermo da Montanha e das condies para particcipar do Reino. 3 parte (segundo livro): Uma justia que liberta os pobres - Mt 8-10 Narra sobre chamado de Jesus, os primeiros vocacionados do Reino e o discurso missionrio de Jesus. 4 parte (terceiro livro): Uma justia que provoca conflitos Mt 11,1-13,52 Este terceiro livro nos apresenta os segredos e os conflitos do Reino, a aceitao e a rejeio. Narra as maravilhosas parbolas de Jesus. 5 parte (quarto livro): O novo povo de Deus Mt 13,53-18,35 Este livro trata da organizao do Reino: o novo Povo de Deus. Fala da preparao dos discpulos e trs o discurso sobre a Igreja: comunidade dos seguidores que vivem a proposta do Reino. 6 parte (quinto livro): A vinda definitiva do Reino Mt 19-25 Narra a consumao do Reino, Jesus em Jerusalm e o confronto com os judeus. 7 parte: relatos da paixo-ressurreio - 26-28.10 - O Pai no Evangelho de Mateus

Mais de 35 vezes Jesus fala do Pai. Alguns exegetas dizem que Ele s chamava a Deus de ABBA = paizinho. Expresso de ternura, de filho confiante, que expressa o amor de Jesus com Deus Pai. Isso era ousado demais para aqueles tempos (e para estes!?). E, mais uma ousadia, Jesus ensina os "pecadores" a tratar a Deus de abba, a ter essas mesmas atitudes: confiana (em lugar de medo - Mt 10,26; 17,7); certeza de que so escutados (e no como os fariseus que querem impor a Deus o que tem que fazer - Mt 6,7); certeza do seu perdo, e no rigorismo para cumprir como um escravo... Em contraposio a Joo Batista, que fala muito de castigo, de penitncia, de julgamento iminente (Mt 3, 1-10), Jesus diz que o que est iminente uma Boa Notcia de Deus, a chegada do seu Reino. Jesus, o enviado de Deus, mais forte que o demnio e suas obras (Mt 12, 22-30). Ele no julga nem condena. Ele perdoa. Fala sempre do amor, do perdo, do projeto de esperana de Deus. Deus misericordioso! A misericrdia de Deus mais poderosa que o pecado. O perdo de graa. Deus maior e mais forte que o pecado. Jesus no fica falando do pecado, do inferno, do demnio e do mal. Precisamos retomar a pregao de Jesus. Jesus exige que seja feita a vontade do Pai (Mt 7,21; 12,50). A vontade do Pai um projeto de vida e esperana para os seus filhos e filhas. Se os pais humanos sabem fazer coisas boas e no enganam a seus filhos, quanto mais o Pai dos cus (Mt 7,11). Ele providencia o necessrio at para os passarinhos (Mt 10,29). Tenham confiana. Fazer a vontade do Pai no resignao ou submisso a uma vontade absurda e irracional, que ningum sabe nem entende. Deus quer que sejamos como Ele na generosidade e na entrega. Deus tem uma predileo pelos mais necessitados: sero benditos e entraro no gozo definitivo aqueles que se usaram de misericrdia para com os mais necessitados (Mt 25,34). No nosso batismo, fomos submergidos (batizados), solenemente introduzidos na intimidade de Deus, Pai, Filho e Esprito Santo; consagrados solenemente na comunidade trinitria (Mt 28,19). Participamos da sua vida e somos capacitados a ser seus filhos e filhas.11 - Maria no Evangelho de Mateus

O Evangelista Mateus, nos poucos trechos que dedica diretamente a Maria, sempre se refere sua maternidade. Inicia pela genealogia, onde se comprova a identidade de Maria: ela tem uma origem, uma descendncia, pertence a uma raa, a uma famlia: "... Jac gerou Jos, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que chamado o Cristo" (Mt 1,16). Pertencer a uma famlia era caracterstica importante na cultura judaica. Nesta mesma cultura o homem era considerado o responsvel pela descendncia; cabendo s mulheres a funo de auxiliares na gerao dos filhos.

Com Maria rompe-se esta estrutura patriarcal; o prprio texto bblico muda o modo de falar: "... Maria, da qual nasceu Jesus". Nada menciona a respeito do pai. Maria o sujeito desta ao, a escolhida para ser a me do Salvador. O que dela vai nascer fruto do Esprito Santo. Mateus sublinha o poder e a atividade do Esprito Santo no nascimento de Jesus, que algo bem mais importante que a ausncia de um pai humano ou a cooperao da me virgem. Por sua me, Jesus nasceu como pessoa humana, por fora da ao criativa do Esprito. O seu nascimento inaugura uma nova humanidade e ponto de partida de uma nova raa. a entrada do Deus infinito na sua criao, ou melhor, um novo e indescritvel ato da criao. Vejamos outros trechos nos quais Mateus se refere a Maria: "Maria sua me, compromissada com Jos ...; Ela dar luz um filho ...; Jos a escolheu como esposa ...(Mt 1,18. 21. 24). "Os magos .viram o menino com Maria, sua me...; levanta-te, pega o menino e sua me..." (Mt 2,11. 13). "L fora esto tua me e teus irmos..."(Mt 12, 46-50). Como podemos perceber, todos apresentam Maria na sua funo e atitude de me; tudo gira em torno de sua maternidade e seu relacionamento: " ... me e irmos de Jesus. A maternidade de Maria uma maternidade bem humana, porque ela gerou uma natureza humana singular, uma pessoa - Jesus de Nazar. A esse ser humano, desde o primeiro instante de sua concepo, estava unido, substancialmente, o Verbo, a natureza divina de Deus; por isso Maria a Me de Deus. Entretanto, esta unio hiposttica, no obra de Maria, obra de Deus, mas depende do consentimento livre e responsvel de Maria, depende do "faa-se" da anunciao. Maria aceita, consente em gerar a Deus, feito homem. Ao exclamar: "Bendito o fruto do teu ventre", Isabel estava bendizendo o Deus feito homem no seio de Maria. De Maria aprendemos a atitude de escuta da Palavra de Deus sob a ao do Esprito Santo. Esta atitude necessria para fazer nascer e crescer Jesus em todo cristo.12 - A Reconciliao em Mateus

A misericrdia e a justia, segundo Mateus, devem pautar todo o relacionamento humano. O cuidado com os pequenos, com os que sofrem, com os que so perseguidos condio para ser discpulo de Jesus (25, 36-41). Porm, Mateus tem conscincia das dificuldades encontradas para uma autntica vivncia no seguimento de Jesus. Ressalta a importncia do processo da converso (18, 1-5); sublinha tambm a necessidade da constante vigilncia (18, 6-9); destaca que preciso evitar que algum se afaste da comunidade e, se isso acontecer, urgente ir atrs de um s que seja (18, 10-14). Converso, vigilncia e ateno aos

pequeninos fazem parte de um processo que precisa ser sempre dinamizado na vida crist. E se for o irmo o culpado pelo erro? Mateus relata uma prtica da comunidade. Nesta, est presente a inteno maior: fazer tudo para que o irmo se reconcilie consigo mesmo, com a comunidade, com Deus. Sempre h aqueles que acham que este processo no d em nada. Havia naquele tempo e h ainda hoje pessoas que no acreditam na possibilidade da converso, da reconciliao plena. Isto est presente nas vrias hipteses que Mateus aponta. Conversa primeiro a ss com o irmo, depois procura algumas testemunhas e, por fim, apela comunidade (18, 15-18). Isso nos lembra aquela estria do amigo da ona. Um amigo diz para o outro: "O que voc faria se uma ona sasse correndo atrs de voc?". O outro responde: "Correria mais que ela". O amigo insiste: "Mas se ela corresse mais rpido que voc?". "Subiria numa rvore", responde o outro. O amigo faz outra considerao: "E se no tivesse rvore?". Neste exato momento, o outro, j irritado, pergunta ao amigo: "Afinal, voc meu amigo ou da ona?" Esta situao se repete cada vez que algum vem perguntar a gente: "Se o meu irmo pecar, o que devo fazer?" Depois das diversas sugestes como as apresentadas por Mateus, a impresso que se tem que a pessoa quer logo chegar ao fim: expulsa da comunidade. Para evitar esta interpretao to drstica, que praticamente fecha a possibilidade da reconciliao, Mateus relata a outra prtica da comunidade atravs do dilogo de Pedro com Jesus (18, 21-22). "Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmo pecar contra mim? At sete vezes? " A resposta de Jesus nos aponta para um processo permanente de converso e reconciliao: No lhe digo que at sete vezes, mas at setenta vezes sete" E Jesus conclui sua resposta a Pedro, contando-lhe uma parbola que d os fundamentos para uma vida reconciliada. Todos j fomos perdoados por Deus, atravs do sangue de seu Filho, derramado na cruz, e, portanto, no podemos negar o perdo a ningum. Viver no amor e na misericrdia, compartilhando o perdo, condio para quem quer ser chamado de cristo. Reconciliao sempre, esse deve ser o nosso lema, a fim de refazermos a unidade perdida pelas nossas faltas. sempre bom lembrar que Jesus colocou a unidade, a realidade reconciliada, como condio para que o mundo creia! (Jo 17, 21).

13 - Os Pobres no Evangelho de MateusEm Mateus, "pobres em esprito" no significam ricos bonzinhos, mas sim pobres que, alm de sua pobreza material, so abertos ao da graa do Pai. Eram os pobre os que mais esperavam o Messias, que viria libert-los de toda injustia. Mas ser que Jesus o Messias esperado pelo pobres? A resposta a esta indagao no dada s por palavras, porque o messianismo no apenas uma idia, uma pessoa concreta, que vem trazer a libertao aos pobres e oprimidos: "os cegos recuperam a vista, os paralticos andam, os leprosos so purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres anunciada a Boa Notcia" (Mt 11,5). Para entrar no Reino de Deus, portanto, o caminho a opo evanglica pelos pobres, vivida com eles na construo de um mundo mais justo e fraterno, isto , parecido com o rosto de Deus.

Em Mt 5, 21-48, recolhemos uma lio que nos ajuda a viver o nosso compromisso com os pobres e como a lei na perspectiva bblica deve ser entendida. A lei nos mostra como devemos tratar o nosso irmos: em tudo respeitado e amado como filho de Deus. indispensvel concluir esta reflexo chamado ateno para um ponto de fundamental importncia. O texto de Mt 25,31-46 mostra de fato como Jesus entendia o pobre: aquele que passa fome, frio, tem sede, est preso e doente. Seremos julgados pelo amor que dedicamos a esses pobres. Amor que nos leva a criar novos relacionamentos com Deus, com as Pessoas e com a Natureza. Mas onde est este Jesus? Bem! Jesus est "escondido" nos pobres, oprimidos e marginalizados, nos impedidos de participar de nossa convivncia social. isso mesmo! Seremos julgados pela prtica libertadora que tivermos no caminho da libertao de todos os que foram oprimidos. por isso que Jesus, em toda a sua caminhada, nos convida para: "cumprir toda a justia" (Mt 3,15).Pe. Carlos Alberto Chiquim adminA fora do chamado na vida dos Profetas A experincia do ser chamado algo totalmente pessoal. Deus atinge a pessoa e ela no pode ficar calada (Jer 20, 7-18). Sua palavra cria situaes novas s pessoas tocadas por ela. to profunda a ruptura que realizamos profecias com sua vida anterior, que nenhuma das vinculaes sociais precedentes passa sua nova existncia. Eu era Pastor e cultivador de figos..., mas o Senhor me agarrou (Am 7,14). Trata-se de algo mais que nova profisso; trata-se de nova situao vital. O eleito e chamado arrancado da sociedade e de suas seguranas econmicas e sociais e introduzido numa situao de dependncia do Senhor, privada de toda segurana: nunca me sentei em companhia de gente alegre para me divertir. Por causa de tua mo, assentei-me sozinho, pois tu me encheste de indignao... (Crise vocacional de Jeremias- Jer 15, 10-21). Os profetas, homens de carne e osso, sentem-se sob um poder irresistvel, que os violenta e fora: Tu me reduziste Senhor, e eu me deixei seduzir, sobrepujastes e me venceste (Jer 20,7). Esses profetas so agarrados por Deus e da sacudidos em suas bases: Rugindo o Leo, quem no temer? Falando o Senhor, quem no profetizar (Am 3,8). a) - O Senhor me agarrou. Ams era pastor e cultivador de figos (7,14). Vivia folgadamente no campo e Deus se interps em sua vida. O Senhor me agarrou de trs do rebanho e me disse: Vai profetize a meu povo Israel (Am 7,15). No se fica onde se quer, fica-se onde ordenado ou onde se enviado. A vocao descobrir e reconhecer que o Senhor quer dispor da vida do homem para seus projetos. Assim, o chamado no vai onde quer e sim onde o Senhor envia. O chamado obediente e enviado: no um bomio e interessado que se filia a um Modus Vivendi. Ams foi a uma comunidade dividida entre uma classe alta, alegre e confiada, e outra explorada e humilhada. Denunciar a injustia, defender os oprimidos, anunciar a converso o ministrio de Ams.

b) - Vi o Senhor, ouvi Sua voz. Isaas foi homem e a quem Deus chamou do ambiente urbano, Jerusalm, e da familiaridade com o culto desde pequeno. O Senhor procurou-o e o encontrou no Templo. Foi uma viso, que se transforma em audio e que culmina em converso (Os 6, 15). Na raiz foi uma experincia ou vivncia religiosa. O Senhor se apresenta em sua glria e majestade, presente em toda terra com seu esplendor. Isaas atingido e toma conscincia de si mesmo: Ai de mim, estou perdido, eu homem de lbios impuros... contemplei a face de Deus. A santidade de Deus faz o homem sentir sua impureza. Ser purificado e perdoado. Eu ouvi a voz do Senhor, que dizia: quem enviarei?... e respondi: Eis-me aqui envia-me a mim. Abriu-se um dilogo. O homem pode apresentar-se e oferecer-se, mostrar-se disposto a quem pode unicamente envi-lo. O chamado deixar-se tomar e deixar-se enviar. c) - Testemunha da ternura de Deus. Deus chama Osias, originrio do Reino do Norte, para profetizar antes da queda da Somaria e lhe diz: Vai e toma por mulher uma prostituta e gera filhos em prostituio, porque o pas se prostituiu completamente, afastando-se do Senhor (Os 1, 2b). Osias testemunha o caminho maravilhoso que vai desde a misria da Meretriz at s suas Bodas. No chamado de Osias h uma histria de ternura. A Palavra de Deus intervm na histria humana para mud-la. Deus fala primeiro a Osias e depois mediante Osias (Os 1, 1-2). Isto quer dizer que ningum pode falar em nome de Deus sem antes ouvir a Palavra de Deus. Todos aqueles que apresentam como Palavra de Deus aquilo que sonharam, pensaram ou imaginaram, a Bblia os chama de falsos profetas. S aqueles que escutam a Deus, podem dizer dele a outros alguma coisa que mude o sentido e a direo da histria. Osias no foi chamado a viver nenhuma situao honrosa: casar-se com uma prostituta. Seu patrimnio, significaria o pecado - a prostituio - do povo; o esquecimento de Deus. Corria atrs de seus amantes e esquecia-se de mim (Os 2,15). Atrs da figura do amante esconde-se hoje muitas outras formas de esquecimento.

d) - Senhor, no sei falar, sou jovem. Jeremias foi chamado de uma aldeia prxima de Jerusalm. A idade e a natureza pacfica faziam com que ele resistisse proposta de Deus. O Senhor convida-o a no temer. A causa da sua objeo no era a idade, mas a angustia de ser mensageiro de Deus. Ser boca de Deus e proclamar sua palavra. Deus conserva aquele que chama em atitude de espera do acontecimento de sua palavra. a palavra que dispe do Profeta. Deus no nos fala para nos dar razo, mas para que voltemos a ele com confiana humilde. Quando o corao e a palavra humana recusam a Palavra de Deus j se entrou no atesmo prtico. Os profetas

tornam-se como vento, e a locuo divina no existe neles. Jeremias tornou-se Palavra de Jav. Quando foram descobertas tuas palavras devorei-as, e tuas palavras foram para mim gozo e alegria do meu corao, pois teu nome foi invocado sobre mim (Jer 15, 16). O CHAMADO DE CRISTO H uma s vocao, que vem de Cristo, convocado e convocante. A vocao especifica-se, em vrios graus correspondentes aos diversos momentos existenciais da experincia crist. E estas experincias tem em Cristo sua fonte, seu sentido, sua referncia e unidade. A pessoa convidada a escutar, e receber, colaborar com docilidade. Iniciar-se em Cristo descobri-lo, deixar que ele nos encontre, receb-lo. Deve haver uma converso que deixar-se alcanar, agarrar, incondicionalmente pessoa, como ovelha extraviada, como uma dracma perdida, com um filho fugido (Lc 15). como um deixar-se encontrar qual tesouro no campo, qual prola preciosa. A pessoa vende tudo, renuncia sua vida e recebe um novo ser. Descentrar-se de si mesmo, distanciar-se daquilo que at agora era segurana, o bem estar, o poder, o consumo e, ao mesmo tempo, entregar-se total e incondicionalmente a Cristo, nisso consiste a negao de si mesmo. Jesus convida a segui-lo, cada um da prpria situao em que se encontra. Vinde comigo (Mc 1,17). Pede confiana nele (Mc 2,14). Confiana plena em sua pessoa e no a uma causa. A resposta obediente deve ser vivida no abandono do ligar do trabalho, do status, da casa, da famlia. No se trata de adeso interna, mas de unir-se a ele em seu projeto de vida. Chama Doze para estarem com ele e para envi-los a pregar. O centro da eleio para que estivessem com ele. No pura adeso intelectual, mas adeso ao seu modo de viver. Os discpulos prolongam a presena e a obra de Jesus. Estar com Jesus to decisivo que somente assim possvel identificar-se com seu modo de viver, de atuar, de ser. Estas testemunhas devem ser pessoas livres, disponveis, sem preocupao pela segurana material e pela proteo humana (Mc 6, 8-9). Disponibilidade. A Vocao , pois, o modo insubstituvel de viver a f no Deus vivo, que nos ama.