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1 Modos Valor Tempos (simples/compostos) Valor Indicativo Expressa uma realidade, um facto de cuja realização não se duvida Presente Eu danço Exprime uma acção actual, contínua ou uma verdade universal. Pode ainda ter um sentido de passado (presente narrativo ou histórico) ou de futuro próximo. Pretérito perfeito Eu dancei Eu tenho dançado Refere uma acção completamente realizada. O tempo simples produz um efeito de pontualidade. O tempo composto exprime, geralmente, a repetição ou a continuidade de uma acção. Pretérito imperfeito Eu dançava Indica o aspeto durativo ou a frequência de uma acção. É uma forma de expressão de cortesia. Pretérito mais-que- perfeito Eu dançara Eu tinha dançado Assinala uma acção anterior a outra também passada. Futuro Eu dançarei Eu terei dançado Relata uma acção que se situa num tempo posterior ao ato de fala. Condicional Expressa um facto dependente de uma hipótese, de uma condição ou a atenuação de uma intencionalidade comunicativa Eu dançaria Eu teria dançado Conjuntivo Expressa uma dúvida, um desejo, uma incerteza Presente Eu dance Utilizado em frases simples, pode exprimir uma proibição, uma ordem, um desejo, raiva ou irritação. Em orações subordinadas, exprime a ordem e o desejo. Imperfeito Eu dançasse Coloca uma hipótese, indica uma dúvida. Pretérito-mais-que- perfeito (só existe enquanto tempo composto) Eu tivesse dançado Pretérito perfeito (só existe enquanto tempo composto) Eu tenha dançado Futuro dançar tiver dançado Imperativo 1 Expressa uma ordem, um conselho, um pedido, uma súplica ou exortação Dança Dançai 1 O modo imperativo tem um carácter defetivo, visto só apresentar um tempo (o presente) e uma pessoa (a segunda pessoas gramatical). Para expressar os valores associados ao imperativo em frases com sujeito gramatical diferente da segunda pessoa (frases com o sujeito você/vocês, que é formalmente uma terceira pessoa) ou para expressar frases imperativas negativas, usa-se o conjuntivo. Ex: Traga-me já o contrato!; Não venhas tarde!

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Modos Valor Tempos (simples/compostos)

Valor

Indicativo Expressa uma realidade, um facto de cuja realização não se duvida

Presente Eu danço

Exprime uma acção actual, contínua ou uma verdade universal. Pode ainda ter um sentido de passado (presente narrativo ou histórico) ou de futuro próximo.

Pretérito perfeito Eu dancei Eu tenho dançado

Refere uma acção completamente realizada. O tempo simples produz um efeito de pontualidade. O tempo composto exprime, geralmente, a repetição ou a continuidade de uma acção.

Pretérito imperfeito Eu dançava

Indica o aspeto durativo ou a frequência de uma acção. É uma forma de expressão de cortesia.

Pretérito mais-que-perfeito Eu dançara Eu tinha dançado

Assinala uma acção anterior a outra também passada.

Futuro Eu dançarei Eu terei dançado

Relata uma acção que se situa num tempo posterior ao ato de fala.

Condicional Expressa um facto dependente de uma hipótese, de uma condição ou a atenuação de uma intencionalidade comunicativa

Eu dançaria Eu teria dançado

Conjuntivo Expressa uma dúvida, um desejo, uma incerteza

Presente Eu dance

Utilizado em frases simples, pode exprimir uma proibição, uma ordem, um desejo, raiva ou irritação. Em orações subordinadas, exprime a ordem e o desejo.

Imperfeito Eu dançasse

Coloca uma hipótese, indica uma dúvida.

Pretérito-mais-que-perfeito (só existe enquanto tempo composto) Eu tivesse dançado

Pretérito perfeito (só existe enquanto tempo composto) Eu tenha dançado

Futuro dançar tiver dançado

Imperativo1 Expressa uma ordem, um

conselho, um pedido, uma súplica ou exortação

Dança Dançai

1 O modo imperativo tem um carácter defetivo, visto só apresentar um tempo (o presente) e uma pessoa (a segunda

pessoas gramatical). Para expressar os valores associados ao imperativo em frases com sujeito gramatical diferente da segunda pessoa (frases com o sujeito você/vocês, que é formalmente uma terceira pessoa) ou para expressar frases imperativas negativas, usa-se o conjuntivo. Ex: Traga-me já o contrato!; Não venhas tarde!

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As formas verbais não finitas As formas verbais não finitas são o infinitivo (pessoal e impessoal), o gerúndio e o particípio. Estas formas ocorrem normalmente associadas a outras formas verbais e não variam em tempo. Infinitivo impessoal O infinitivo impessoal é uma forma que pode ocorrer em orações subordinadas substantivas com função de sujeito (1), de complemento do verbo (2) e de complemento do nome (3), em orações subordinadas adverbiais temporais (4) e em orações subordinadas adverbiais causais (5):

(1) Fumar mata. (2) O Pedro quer ir ao cinema. (3) A ideia de ir à praia agrada-me. (4) Eles encontraram o João ao sair de casa. (5) Eles caíram por escorregar no óleo.

Este tempo tem uma forma simples (ex: andar) e uma forma composta (ex: ter andado). Infinitivo pessoal O português possui uma forma de infinitivo pessoal ou flexionado, além do infinitivo impessoal. Esta forma, que tem flexão de pessoa e de número (por exemplo, ler, leres, ler, lermos, lerdes, lerem), ocorre em certas orações subordinadas, como as finais:

Vim chamar-te para ires ao telefone.

Gerúndio O gerúndio é uma das formas não finitas do verbo. Este tempo verbal tem uma forma simples, constituída pela junção do sufixo –ndo ao tema verbal (andando, lendo, saindo), e uma forma composta, que associa o gerúndio do verbo auxiliar ter ao particípio do verbo principal (tendo andado, tendo lido, tendo saído). O gerúndio expressa um valor durativo e não acabado, indicando a simultaneidade das acções expressas pelo verbo no gerúndio e por um verbo numa forma finita (1) ou a anterioridade da acção expressa pelo verbo no gerúndio em relação à acção expressa pela forma verbal finita (2).

(1) Ela ouvia-o sorrindo. (2) Dizendo isto, saiu da sala.

As construções que têm como núcleo um gerúndio têm um valor adverbial.

Dizendo isto, saiu da sala = Assim que disse isto, saiu da sala.

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Particípio O particípio é uma forma verbal não finita que entra na formação dos tempos compostos e das construções passivas. Nos tempos compostos, ocorre como forma invariável:

Ela tinha ido à rua. Os rapazes tinham jantado fora.

Em construções passivas, o particípio é uma forma que flexiona em género e em número:

Estes carros foram reparados ontem.

Existem verbos que apresentam duas formas do particípio passado: uma regular (forma fraca), habitualmente usada na formação dos tempos compostos com os auxiliares ter e haver, e outra irregular (forma forte), geralmente utilizada com os auxiliares ser e estar. O particípio regular é formado pela afixação do sufixo –do ao tema verbal: ama + do amado.

Tipologia verbal Verbos regulares Os verbos regulares mantêm o mesmo radical em todas as suas formas e os sufixos a ele associados seguem o paradigma da respectiva conjugação. A maioria dos verbos da primeira conjugação são regulares. Verbos irregulares Os verbos irregulares apresentam um conjunto de sufixos flexionais que não seguem o exemplo da conjugação a que pertencem. Em alguns casos, a irregularidade destes verbos pode afetar igualmente o radical. O verbo ser, por exemplo, apresenta mais do que um radical na sua flexão: sou, és, fui, etc. Verbos defetivos Os verbos defectivos são aqueles que apenas ocorrem em certas combinações de pessoa e de número e de tempo, modo e aspeto. A sua conjugação é, por isso, incompleta. Isto pode acontecer por razões semânticas, como no caso dos verbos impessoais, que só ocorrem na terceira pessoa (nevar, suceder, acontecer, …). Também os verbos que designam vozes de animais (ladrar, miar, zurrar, …) são considerados defectivos no seu uso normal embora possam ocorrer em qualquer pessoa num contexto adequado. Um verbo como falir só é usado por razões de eufonia, na primeira e na segunda pessoas do plural do presente do indicativo (falimos, falis), e na segunda pessoa do plural do imperativo (fali). Outros verbos defetivos do mesmo tipo são abolir, banir, colorir, demolir, punir, etc.

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Verbos impessoais Os verbos impessoais apenas ocorrem na terceira pessoa do singular: é o caso de haver na aceção de existir, do verbo fazer quando indica tempo decorrido, do verbo tratar quando conjugado pronominalmente e dos verbos que indicam fenómenos meteorológicos – nevar, chover, trovejar, anoitecer, amanhecer, etc. As frases com estes verbos não têm sujeito expresso:

Há muitos problemas nesta cidade. Faz cinco anos que ele emigrou. Nevou ontem à noite. Ontem choveu torrencialmente. Trata-se de um projeto interessante.

Verbos unipessoais Os verbos ditos unipessoais apenas flexionam na terceira pessoa do singular e do plural. Esta restrição tem origem na semântica dos próprios verbos, que seleccionam sujeitos não humanos. É o caso dos verbos que designam vozes ou comportamentos de animais:

Os cavalos relincharam. O cão ladrou. Os lobos uivaram toda a noite. Os pássaros chilreavam alegremente. O cavalo galopou velozmente.

Classes abertas de palavras

Verbos Os verbos são os elementos centrais da estrutura das orações e constituem o núcleo dos grupos verbais. Do ponto de vista semântico, os verbos expressam acções, estados, qualidades, processos ou eventos. Numa língua como o português, que admite sujeitos nulos, o verbo pode ser a única palavra a ocorrer numa oração: Cheguei!

Verbos principais Os verbos principais seleccionam constituintes em posições que recebem uma função sintática: sujeito, complemento direto, complemento indirecto, etc.

O Pedro cumprimentou a professora de Português. Sujeito Verbo Complemento direto

A categoria e a interpretação desses constituintes é determinada pelo verbo principal. Em função do número de complementos que seleccionam, da natureza categorial desses complementos e da possibilidade de ocorrerem com um predicativo, os verbos principais podem subclassificar-se em:

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verbos transitivos;

verbos transitivos diretos;

verbos transitivos indirectos;

verbos transitivos diretos e indirectos;

verbos transitivos-predicativos. Dependendo do contexto em que ocorre, o mesmo verbo pode pertencer a mais do que uma subclasse.

A Maria aspirou a casa. (verbo transitivo direto) Muitos aspiram à perfeição. (verbo transitivo indirecto) O João fuma. (verbo intransitivo) O João fuma cinco cigarros por dia. (verbo transitivo direto)

Verbos intransitivos Os verbos intransitivos não seleccionam nenhum complemento:

O rapaz sorriu. A Ana tropeçou. O Marco adoeceu.

O grupo verbal em que estes verbos ocorrem pode ser constituído apenas pelo verbo, como nos exemplos acima, ou pelo verbo e por um modificador:

O rapaz sorriu naturalmente. A Ana tropeçou no degrau. O Marco adoeceu ontem.

Alguns verbos intransitivos admitem, excepcionalmente, construções com predicativo do sujeito (1 e 2) ou com um complemento (3).

(1) A Rita chegou esfomeada. (2) O dia amanheceu nublado. (3) Eles dormiram a sesta.

Verbos transitivos diretos Os verbos transitivos diretos seleccionam um complemento com a função de complemento direto:

A Maria comprou um livro.

O complemento seleccionado por estes verbos pode ser um grupo nominal ou uma oração:

O Miguel adora motas. GN V GN

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O Diogo disse que ia ao cinema. GN V O

Verbos transitivos indiretos Os verbos transitivos indiretos seleccionam um complemento preposicionado, que pode desempenhar a função de complemento indirecto ou de complemento oblíquo:

O Ricardo ligou à mãe. Sujeito V Complemento indireto

A Maria gosta de doces. Sujeito V Complemento oblíquo

Verbos transitivos diretos e indiretos Os verbos transitivos diretos e indiretos seleccionam um complemento direto e um complemento preposicionado, com a função de complemento indireto ou de complemento oblíquo:

O João ofereceu uma rosa à Cristina. Suj. V C. direto c. indirecto A Rita avisou o João de que não faria o jantar. Suj. V C. direto c. oblíquo

Verbos transitivos-predicativos2 Os verbos transitivos-predicativos seleccionam um complemento direto e um predicativo do complemento direto, que pode aparecer sob a forma de grupo adjectival, grupo nominal ou grupo preposicional:

O júri considerou a apresentação satisfatória. Suj. V C. direto predicativo do c. direto Eles acharam as férias uma maravilha. Suj. V C. direto predicativo do c. direto

2 Exemplos de verbos transitivos-predicativos: considerar, achar, nomear, eleger, apelidar, denominar, proclamar,

declarar, reputar, sagrar, aceitar por, dar por, ter por, haver por, tomar por.

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Corte o bolo em fatias. V C. direto predicativo do c. direto

Verbos auxiliares Os verbos auxiliares precedem os verbos principais numa mesma oração, mas, ao contrário dos últimos, não seleccionam nem sujeito nem complementos. Os verbos auxiliares mais frequentes são ser, ter e haver. Ter e haver auxiliam a formação dos tempos compostos.

O João tinha/havia feito o jantar.

Todavia, neste contexto, o verbo haver é hoje pouco utilizado, reservando-se o seu uso às situações em que ocorre como verbo principal, sinónimo de existir (conjugado unicamente na terceira pessoa do singular. O verbo ser é usado como auxiliar da passiva.

O jantar foi feito pelo João.

Regra geral, os verbos auxiliares não têm significado lexical, sendo apenas portadores de informação gramatical (de tempo, modo e aspeto, e de pessoa e número). Por exemplo, o verbo ter não conserva o seu sentido de posse na frase Tenho de ir ao correio hoje. Além de ter, haver e ser, outros verbos auxiliares são: estar, andar, ir, ficar, vir, dever, acabar, costumar, começar e continuar. Os verbos auxiliares podem ter um valor aspectual quando se combinam com o infinitivo ou o gerúndio de um verbo principal para indicar diferentes formas de perspectivar uma situação:

pontual: Começou a chover.

progressiva: Ando a ler um romance.

habitual: As gaivotas continuam a fazer o ninho junto do mar.

perfectiva: Acabei de ler Os Maias.

Verbos auxiliares aspectuais: começar a, estar a, andar a, continuar a, deixar de, parar de, acabar de, e similares.

Os verbos auxiliares podem ter um valor modal, pois, precedendo o verbo principal no infinitivo, formam um complexo verbal para expressar modalidade – valores de desejo, probabilidade, dever, possibilidade, necessidade, certeza, dúvida, etc:

dever/obrigação: Os cidadãos têm de pagar os impostos.

probabilidade: Ele já deve ter saído de casa.

permissão: Podem sair.

Verbos copulativos Os verbos copulativos ocorrem associados a um predicativo do sujeito:

A Ana é simpática.

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Suj. V predicativo do sujeito

Estes verbos, apesar de serem sintaticamente proeminentes, não são o elemento central da oração do ponto de vista semântico, veiculando sobretudo valores gramaticais – tempo, modo, aspeto, pessoa e número. Nas construções em que os verbos copulativos ocorrem, é o predicativo do sujeito que atribui propriedades ao sujeito da oração. São copulativos verbos como ser, estar, ficar, parecer, permanecer ou continuar:

A Rita está cansada. Eu fiquei desapontada. O João parece triste. Ela permanece doente. A máquina continua avariada.

Aspeto verbal Aspeto é a categoria gramatical que exprime a forma como a situação presente num enunciado é perspectivada pelo locutor no que respeita ao seu desenvolvimento temporal. Os valores aspectuais podem ser expressos lexicalmente, através da escolha dos itens lexicais (sobretudo verbos, mas também perífrases verbais ou locuções adverbiais), ou gramaticalmente, através dos tempos verbais, verbos auxiliares, quantificadores ou modificadores. O valor aspectual de um enunciado, por norma, não depende do seu valor temporal. Observem-se os exemplos seguintes:

(1) O Rui conversou com a Sandra. (2) O Rui estava a conversar com a Sandra quando lhe liguei. (3) Dantes, o Rui conversava muito com a Sandra.

Todas as situações apresentadas acima podem ser localizadas temporalmente como anteriores ao momento da enunciação. No entanto, apresentam diferentes valores aspectuais: em (1), sabe-se que a conversa acabou (aspeto perfetivo); em (2), não é dada informação sobre o momento em que a conversa terminou (aspeto imperfetivo); e, em (3), existe uma situação que corresponde a um hábito (aspeto habitual).

Aspeto lexical O aspeto lexical é um valor que resulta das propriedades (semânticas) inerentes aos itens lexicais, tipicamente aos verbos. É este valor que permite distinguir situações estativas3 de situações dinâmicas:

A Ana conhece o João. (situação estativa) A Ana cumprimentou o João. (situação dinâmica)

A distinção entre eventos pontuais e eventos durativos é também estabelecida com recurso ao aspeto lexical. Por exemplo, verbos como nascer ou morrer indicam um estado de

3 Exemplos de verbos estativos (que exprimem estados): haver, existir, residir, morar, viver, ter, pertencer, saber,

conhecer, ver, gostar, amar, ser, estar, ficar, etc.

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coisas pontual4 ou não durativo (por isso, pode dizer-se O João nasceu às três horas, mas não O João nasceu durante três horas), enquanto verbos como viajar ou dormir têm um valor durativo5:

O João nasceu às três horas. (valor pontual) A Luísa dormiu durante quatro horas. (valor durativo)

Aspeto gramatical O aspeto gramatical combina as informações dadas pelo aspeto lexical com as fornecidas pelos diferentes tempos verbais, verbos auxiliares, quantificadores6 ou modificadores. O aspeto gramatical permite, assim, distinguir diferentes situações: perfetivas (ou acabadas), imperfectivas (ou inacabadas), habituais, genéricas e iterativas. Os valores aspectuais perfectivo e imperfectivo estão associados aos sufixos flexionais. Os tempos verbais expressam esses valores através da oposição entre formas do perfeito e do imperfeito.

Quando um estado de coisas é apresentado como terminado, usam-se tempos verbais perfectivos:

Eça de Queirós nasceu no séc. XIX.

As formas do pretérito perfeito e os tempos compostos têm, geralmente, um valor perfectivo.

Quando um estado de coisas é apresentado como não acabado, usam-se tempos verbais imperfectivos, como é o caso do pretérito imperfeito do indicativo:

Dantes, passava as férias em casa da minha avó.

Um enunciado tem valor aspectual habitual quando descreve uma acção ou um estado de coisas que decorre num período de tempo ilimitado. O presente e o pretérito imperfeito do indicativo traduzem frequentemente este valor aspectual:

Saio do trabalho sempre às 18 horas. Costumo ir àquele restaurante.

4 Exemplos de verbos que expressam eventos pontuais (ou não durativos): nascer, morrer, chegar, entrar, sair,

encontrar, ruir, estatelar-se, chocar, comprar, desmaiar, espirrar, cair, etc.; nomes que, pelo seu significado intrínseco, exprimem valor aspectual pontual (ou não durativo): partida, chegada, nascimento, queda, desmaio, etc. 5 Exemplos de verbos que, pelo seu significado intrínseco, exprimem valor aspectual durativo: conversar, jogar,

correr, estudar, discursar; nomes que, pelo seu significado intrínseco, exprimem valor aspectual durativo: sesta, almoço, viagem, corrida, conversa. 6 Palavras que especificam ou quantificam um conjunto. Podem remeter para a totalidade dos elementos de um

conjunto (quantificadores universais) ou expressar a quantidade de forma não precisa (quantificadores existenciais) ou de forma exacta (quantificadores numerais). Exemplos: Todos, qualquer, nenhum, ambos, cada, tudo (universais); algum, muito, pouco, bastante, tanto, vários (existenciais); dois, mil (numerais cardinais); dois quintos, um décimo, doze avos (numerais fracionários); dobro, triplo (numerais multiplicativos). Considera-se ainda a existência de quantificadores interrogativos (quanto, quantas) e quantificadores relativos (quanto – Fiz tudo quanto podia para o ajudar.)

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O aspeto genérico encontra-se em enunciados que referem uma pluralidade de situações consideradas atemporais e verdadeiras em qualquer situação discursiva. Nestes enunciados, o verbo ocorre geralmente no presente do indicativo ou no infinitivo impessoal:

Os cavalos têm crina. A Terra gira à volta do Sol. Ser descontente é ser homem.

Diz-se que um enunciado tem um valor aspectual iterativo quando uma acção ou um estado de coisas se repete com frequência. O pretérito perfeito composto exprime, regra geral, o valor iterativo:

A Maria tem ido à praia. A Maria vai à praia todos os fins de semana.

Modalidade7 Ao falar, o locutor evidencia a sua atitude perante a realidade que descreve: um dado estado de coisas pode ser apresentado como certo, possível, obrigatório, desejável, incerto, etc. A modalidade é a categoria linguística que veicula essa informação. A modalidade pode ser expressa por advérbios (provavelmente, talvez, possivelmente, necessariamente, …), adjectivos (possível, provável, capaz, …) ou auxiliares modais (dever, poder, ter de, saber, crer, permitir, obrigar, precisar de, necessitar de…), por meio da entoação ou pelo modo verbal.

O indicativo expressa a convicção no carácter factual da descrição:

Lisboa é a capital de Portugal.

O conjuntivo indica que o estado de coisas é considerado como possível, desejável ou incerto:

Talvez leia este livro.

O imperativo expressa um estado de coisas concebido como resultado de uma ordem:

Vai-te embora!

O condicional expressa uma probabilidade que é afirmada sob uma condição:

Se não te tivesses atrasado, já estaríamos a jantar.

Existem diferentes tipos de modalidade:

7 Ver, a propósito de aspecto verbal e de modalidade, Plural 11º, pp. 306-307 e Caderno de Actividades, fichas 12 e

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Modalidade epistémica8 – está relacionada com o domínio da (in)certeza, da probabilidade ou da possibilidade/dúvida; o falante expressa a sua atitude sobre a verdade ou falsidade do conteúdo proposicional do seu enunciado:

O José leu o romance. Talvez o José tenha lido o romance. O José pode não ter lido o romance. O José deve ter lido o romance. O João é capaz de se atrasar.

Modalidade deôntica9 – está relacionada com o domínio da obrigação/proibição e da permissão; o enunciador procura agir sobre o seu interlocutor, impondo, proibindo ou autorizando, a situação referida no seu enunciado:

Tens de ir ao médico. É proibido fumar. Nas férias, podes acampar com os teus amigos. José, pode sair.

Modalidade apreciativa – está relacionada com a expressão de uma opinião (positiva ou negativa) em relação ao conteúdo de um enunciado:

Ainda bem que amanhã é sábado. Que belo romance! Lamento que tivessem assaltado o teu carro. Discordo desse projecto.

Exercícios 1. Identifica o valor aspectual das situações apresentadas.

a) Ele acabou de redigir a ata da reunião. b) A Tânia anda a ler muita banda desenhada. c) Vou ao cinema todos os sábados. d) Nem todas as bandas de rock são famosas. e) Ela andava tão feliz. f) O Rafael gritou quando ouviu um estrondo. g) O exercício faz bem à saúde. h) Chegas sistematicamente atrasado!

2. Refere o tipo de modalidade expresso em cada um dos enunciados que se

seguem. a) Provavelmente o João não chega a horas.

8 Epistémico = relativo ao conhecimento e à crença.

9 Deontologia, termo relacionado com a noção de dever.

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b) Que vestido maravilhoso! c) Termina essa tarefa! d) Podes terminar o trabalho na próxima aula. e) Podes ter escrito isso, mas eu não vi a tua mensagem. f) Eles devem chegar amanhã. g) Felizmente tenho férias para a semana. h) Podes ir para o teu quarto. i) Amanhã tenho mesmo de ir às aulas. j) Ainda se ele fosse capaz de andar sozinho… k) Se o deixasse sozinho era logo atropelado. l) Ser velho é muito complicado.

2.1. Identifica o valor associado a cada uma das frases anteriores.

3. Algumas destas afirmações sobre a modalidade são falsas. Identifica-as e procede à sua correcção.

A- A modalidade deôntica está relacionada com o domínio da obrigação e da

permissão. B- A modalidade apreciativa está directamente ligada à incerteza. C- A modalidade nunca pode estar associada ao uso de adjectivos.

4. Completa o quadro.

Verbo no infinitivo

Pessoa Número Tempo Modo Forma verbal

andar andei

desenhar 3ª plural condicional simples

condicional

viver viverão

partir 2ª singular presente indicativo

pôr 1ª singular pretérito-mais-que-perfeito

indicativo

fazer tivesse feito

ferir 2ª singular pretérito perfeito

conjuntivo

comer teria comido

acabar teremos acabado

dar 3ª plural pretérito imperfeito

conjuntivo

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5. Completa o crucigrama seguindo as indicações abaixo.

6. Em cada uma das seguintes alíneas encontra-se uma frase incompleta. Escolhe a opção

que a completa correctamente.

a) Na frase “Ele sabia que eu já tinha ido a Moscovo.”, a forma verbal destacada

encontra-se no:

1. presente do conjuntivo.

2. pretérito perfeito do conjuntivo.

3. pretérito perfeito composto do indicativo.

4. pretérito-mais-que-perfeito composto do indicativo.

b) Na frase “Eu já terei embarcado quando o avião descolar.”, a forma verbal destacada

encontra-se no

1. futuro composto do conjuntivo.

2. futuro perfeito composto do indicativo.

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3. pretérito perfeito do conjuntivo.

4. condicional composto.

c) Na frase “Eu lavo os dentes todas as manhãs.”, o valor aspectual do verbo é

1. genérico.

2. durativo.

3. perfectivo.

4. habitual.

d) Na frase “A mãe da Ana lá disse que a filha podia ir à festa.”, a perífrase (ou complexo)

verbal tem um valor modal de

1. possibilidade.

2. permissão.

3. probabilidade.

4. certeza.

e) A perífrase (ou complexo) verbal da frase “Tu ainda podes passar de ano.” tem um

valor modal de

1. possibilidade.

2. obrigação.

3. permissão.

4. dúvida.

7. Analisa as formas verbais destacadas e preenche o quadro.

Tempo Valor aspetual

a. O chá faz bem à saúde.

b. Eu tenho sonhado contigo.

c. Compraste pouca fruta.

d. Ela estuda Medicina.

e. Dos fracos não reza a história.

8. Com as palavras comer, maçã e Miguel, constrói três enunciados com os valores modais a

seguir indicados:

a) Valor de obrigação _______________________________________________________

b) Valor de permissão ______________________________________________________

c) Valor de probabilidade ___________________________________________________

9. Associa cada um dos enunciados da primeira coluna com o respectivo valor modal:

a. Pode levar-se o cavalo até à água, mas não se pode obrigá-lo a bebê-la.

b. É bom ser o que se quer parecer. c. Tem que se viver com o que se tem. d. Não podes circular em contramão. e. Em rio quedo não metas o dedo. f. Não é boa a fala que ninguém compreende. g. Podes convidar os teus amigos.

1. Apreciação 2. Possibilidade/impossibilidade. 3. Proibição 4. Permissão 5. Imposição/obrigação