etnografias no facebook - sallas

Upload: luizgustavopsc

Post on 02-Nov-2015

216 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Etnografia no ciberespaço, suas potencialidades e limitações

TRANSCRIPT

  • 1

    Etnografias no FACEBOOK: estudo comparativo sobre culturas juvenis no Brasil e

    Mxico, seus limites e possibilidades 1

    Autora: Dra. Ana Luisa Fayet Sallas

    Vnculo Institucional: Professora DE Associada III UFPR PPGSOCIO

    RESUMO: Este trabalho pretende apresentar o contexto de produo de uma pesquisa

    realizada no FACEBOOK no ano de 2012, tendo por tema culturas juvenis no Brasil e Mxico

    no marco de um estudo comparativo. Do avano da pesquisa de campo, foi realizado um

    experimento etnogrfico envolvendo questes sobre o cotidiano, o tempo e espao de

    sociabilidade de jovens nos dois pases. A pesquisa foi formulada em portugus e espanhol,

    com o retorno de 350 questionrios respondidos entre os meses de agosto a novembro daquele

    ano. O objetivo deste trabalho de um lado, apresentar os resultados gerais da pesquisa e de

    outro levantar as questes metodolgicas, tericas e ticas associadas ao uso deste recurso

    mediado de produo do conhecimento e das formas de interao a ele associados

    PALAVRAS-CHAVE: Culturas Juvenis, FACEBOOK, Brasil-Mxico

    Neste trabalho apresento os resultados parciais de uma pesquisa iniciada em 2011, no

    marco de um estudo comparativo sobre culturas juvenis no Brasil e Mxico. A pesquisa

    desenvolvida foi associada ao projeto de dois pesquisadores do Colgio do Mxico do Centro

    de Estudos Sociolgicos do Colgio do Mxico: Dra. Orlandina de Oliveira e Dr. Minor Mora

    Sales. O projeto deles referia-se ao processo de transio para a vida adulta de jovens

    mexicanos e suas estratgias de vida, marcadas pela questo da desigualdade social,

    precariedade de capitais culturais, educacionais e econmicos. Teve incio em 2009 e realizou-

    se em trs cidades do Mxico: Monterey, Cidade do Mxico e Oaxaca. Foi organizada em

    torno de diferentes recursos metodolgicos: estudos etnogrficos, trajetrias de vida,

    questionrios cotejado com outros estudos de base quantitativa, gerando um banco de dados

    muito rico. 1 Trabalho apresentado na 29a Reunio Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e 06 de agosto de 2014, Natal/RN.

  • 2

    Conforme observam OLIVEIRA y MORA SALAS (2008:267) o processo de transio

    para a vida adulta representa emancipao individual, atravs do qual as pessoas adquirem

    maior autonomia e tem maior controle sobre suas vidas, que se expressa entre outras coisa,

    pelas possibilidades de escolher e atuar de acordo com critrios definidos pelo prprio

    indivduo. O processo crescente de individuao implica tambm em assumir novas

    responsabilidades e novas formas de participao social junto a famlia, a comunidade e ao

    conjunto das instituies. No caso do Mxico, verifica-se um processo heterogneo de

    transio, tanto do ponto de vista dos itinerrios (trajetrias), como em relao a temporalidade

    (calendrio), seqencia (ordem) e intensidade (probabilidade de ocorrncia), bem como as

    vivncias e significados conferido ao alcance de uma maior autonomia e participao social

    que caracterizam esta transio.

    Esta heterogeneidad se encuentra, en la actualidad, fuertemente influida por las estructuras de desigualdad social existentes, las cuales marcan diferencias sustantivas en el punto de partida, las rutas de transicin y los resultados alcanzados en materia de autonoma, responsabilidades y participacin social, as como en lo concerniente al logro de mejores condiciones de vida y el ejercicio de los derechos ciudadanos fundamentales.(OLIVEIRA, MORA SALAS, 2009: 277)

    Com relao ao meu objeto, ele foi construdo em torno do tema das culturas juvenis

    vinculados a este processo de transio para a vida adulta. Nesse sentido, envolvia pensar os

    tempos, espaos e as formas de sociabilidade praticadas por jovens de diferentes setores sociais

    de ambas sociedades. Nesse sentido, o trabalho aqui exposto representa o primeiro esforo de

    sistematizao de experincias convertidas num conjunto de dados (observaes etnogrficas,

    vivncias, entrevistas, questionrios) em associao com leituras intensivas sobre a realidade

    histrica, social e cultural do Mxico.

    Em primeiro lugar, cabe explicitar os sentidos desta experincia compartida com

    jovens que nos abriram suas vidas e a oportunidade de troca estabelecida atravs do contato

    intenso e direto com o seu cotidiano, com aquilo que lhes era prprio em seu tempo e em seu

    espao. Primeiro, me aventuro a situar essa experincia no estatuto que a definia Benjamin

    (1982) como uma Erfahrung uma experincia profunda e compartida, capaz de efetivamente

    criar espaos de comunicao com jovens e adultos mexicanos que nos acolheram e levaram

    em conta nossas indagaes, dvidas, curiosidades, ignorncias sobre a realidade que viviam e

  • 3

    as estratgias e tticas que desenvolviam para expressar-se e viver a vida cotidiana (De

    Certeau, 1994).

    De incio um processo bsico: o tema e questo da pesquisa nos levam para as ruas.

    Andar pelas cidades, observar como os espaos so ocupados durante a semana, lanar-se no

    fluxo destes movimentos, acompanhar sua dinmica e deixar-se levar pelo campo. Trata-se de

    uma dimenso da experincia do caminhar, muitas vezes sem um destino definido, atento mais

    ao processo (que nos situam, no tempo e no espao em movimentos e pausas). Deslocar-se

    (dvida semntica: nos des-locamos para nos situar num outro ponto de vista ou, e ainda nos

    des-locar para sair da loucura?).

    Assim comeou o processo da pesquisa: dois dias aps chegar na Cidade do Mxico, e

    j instados em nossa casa em Coyoacn, uma caminhada at a praa central do bairro e um

    passeio pelo Centro Cultural da praa. Comeamos (eu e meu companheiro Angelo Jos da

    Silva) a ver com curiosidade uma exposio de graffitis que estava ocorrendo naquele espao.

    Surpresa: tratava-se de Paulo Auma, graffiteiro de Curitiba, que estava passando uma pequena

    temporada no Mxico. Na lista de presena da exposio, vemos a assinatura de um casal de

    amigos que vivem h muitos anos na cidade. Surpresa nmero dois: falo com minha amiga e

    menciono a coincidncia e ela me diz: O Paulo Auma companheiro da minha irm e eles

    esto aqui em casa!. Contato feito com ele, encontro marcado. Centro Histrico da Cidade

    Mezones com Izabel la Catlica loja da IlegalSquad, especializada na venda de sprays de

    graffitis, adesivos, camisetas, skates, pinceis e uma infinidade de outros objetos. Nesse lugar

    tivemos ento a nossa entrada no campo conduzidos pelas mos de um graffiteiro brasileiro

    Paulo Auma e um mexicano e sua familia da IlegalSquad. Deste primeiro encontro se

    sucederam outros tantos que nos permitiu conhecer muitos jovens ligados ao movimento do

    graffitis no Mxico (na Cidade do Mxico, Oaxaca, Puebla, San Cristobal de las Casas,

    Guadalajara, Tijuana, Vale de Bravo) alm de jovens vinculados dana, bboying e bbgirls e

    poetas raperos entre outros, todos eles expressando aquilo que tomamos como elemento

    norteador de nosso trabalho: culturas juvenis, tanto pela adeso a determinados estilos vida

    como pela possibilidade que encontraram ao associar seus estilos de vida com meios de viver a

    vida.

    Falar em culturas juvenis, significa em grande medida entrar em contato com uma

    ampla bibliografia produzida nos ltimos vinte anos, pelo menos, que tem a particularidade de

  • 4

    expressar ao mesmo tempo, perspectivas tericas que passam pelos Estudos Culturais

    britnicos, e sua vertente latino-americana, de forma especial nos chamamos Estudos Socio-

    Culturais Latinoamericanos (conhecida tambm como uma vertente terica Ibero-americana).

    Jos Machado Pais (Portugal) ir justamente integrar a vertente terica identificada como a

    Escola Ibrio-americana de estudo das culturas juvenis. Autores como Carles Feixa (1998) do

    Espanha, Maritza Urteaga (1998), Rossana Reguilo (2000), Jos Manuel Valenzuela (1997),

    Jos Antonio Prez Isla (1996), no Mxico so autores de referncia fundamental e so os

    autores com os quais pude estabelecer um dilogo mais fecundo.

    Carles Feixa define as culturas juvenis como um espao onde as experincias sociais dos

    jovens so expressas coletivamente mediante a construo de estilos de vida distintivos. Se

    estabelecem a partir do tempo livre e no espao de cio, e possuem graus variados de

    autonomia em relao as instituies adultas. Rossana Reguillo as define como um conjunto

    heterogneo de expresses e prticas socioculturais juvenis. Tratam-se de trabalhos de

    investigao que procuram dar conta das prticas juvenis como processos em movimento,

    originando duas vertentes de estudos: uma dominada por anlises inter-grupais ou de grupos

    especficos e outra pela anlise contextual-relacional, que procura entrecruz-los aos elementos

    polticos, econmicos, culturais, sociais e com a memria histrica.

    Trata-se tambm de tomar o tema da juventude de uma forma distinta, posto que

    pretende distanciar-se de uma produo volumosa que a representa partir de questes ligadas

    violncia, a marginalidade e a delinqncia. Partimos da idia da juventude como um elemento

    constitutivo de diferentes figuraes com sua pluralidade de relaes e de significados, dentro

    daquele modelo terico elaborado por Norbert Elias (2000), contemplando relaes e processos

    dinmicos. Relaes como formas de mediao entre diferentes grupos de idade, geracionais,

    de gnero, estratos sociais, tnicos e locais (bairro, comunidades, coletivos etc.).

    As diferentes mediaes, que produzem em relao cultura, ao poltico e a prpria

    poltica adquirem sentidos inovadores. O que leva os grupos juvenis a combaterem as

    assimetrias geracionais, de gnero, classe, etnia e de territrios, atravs de formas ativas no uso

    da comunicao e do conhecimento e das novas tecnologias (REGUILLO, 2000, BARBERO,

    2005, WINOCUR, 2009). Nesse sentido, podemos avanar tambm na compreenso da relao

    entre as culturas juvenis e os elementos de ancoragem que as constituem, naquilo que de forma

    pioneira identificou Margareth Mead (1970), quando nos apresenta da classificao dos trs

  • 5

    tipos de cultura: a ps-figurativa (culturas fundadas na tradio com forte referncia ao passado

    os mais velhos ensinam as novas geraes), a co-figurativa (cultura das sociedades modernas,

    do presente em que adultos e jovens aprendem juntos) e a pr-figurativa (cultura do futuro,

    que representa o momento em que as novas geraes ensinam os adultos e velhos).

    Esse modelo das trs culturas elaborado por Mead revela algumas intuies da

    antroploga, que alerta que a identificao destas trs culturas no significa a passagem linear

    de uma forma para outra, pois na sociedade contempornea, e em especial na Amrica Latina,

    existe justamente essa mistura de tempos, espaos e formas de sociabilidades, que se

    constroem e reconstroem de forma permanente e constante. notvel observar um autor como

    Baricco (2008) que assinala a emergncia dos novos brbaros do sculo XXI, que se movem

    com rapidez atravs do que ele ir designar como trajetrias de links, idia que retomada

    por Rossana Reguillo (2012) justamente quando reflete sobre as culturas juvenis e assinala a

    necessidade de articular nas anlises as dimenses da subjetividade juvenil, marcada pelo

    desejo de experincias (nesse caso, sobre as formas de escuta musical na web). Para

    Reguillo, a perspectiva sociocultural permite trabalhar a experincia como momento

    constitutivo da subjetividade que esto se modificando justamente na interface entre

    dispositivos tecnolgicos e consumos culturais: elas convertem os usurios (no caso os jovens,

    em autores e propiciam o uso ativo dos dispositivos e contedos).

    Carecemos an de los instrumentos necesarios para cartografiar y entender estas nuevas gramticas en la produccin de sentido y por ello el desafio es a la manera prefigurativa en la triada de Mead (en la que los adultos se instruyen de los ms jvenes), aprender de manera nomdica los rastros que el brbaro deja en sus trayectorias. (2012:141)

    Pensar numa cultura juvenil significa levar em conta, de imediato, a multiplicidade de

    formas de sociabilidade existentes para a vida cotidiana dos jovens, marcada por relaes

    grupais na escola, igreja, famlia para mencionar aqui aquelas instituies socializadoras

    tradicionais e outros agrupamentos como dos jovens de torcidas organizadas, grupos de punks,

    darks, nerdes, hip-hop, emos, rockers, floggers, graffitis, bboyings e assim por diante. Entendo

    que a cultura refere-se a organizao social de sentido, interiorizada pelos sujeitos em forma de

    esquemas e de representaes compartilhadas e objetivadas em formas simblicas (habitus),

    em contextos historicamente especficos e socialmente estruturados.

  • 6

    possvel encontrar grupos de graffiteiros, darks, punks, hip-hop, gticos, skatistas,

    surfistas, skinheads, mods, floggers, emos, e assim por diante em vrios lugares do mundo,

    como decorrentes do processo de globalizao e de formas mais velozes e diretas de

    comunicao. No entanto, nossa hiptese que seus sentidos de pertena e os significados de

    suas expresses so profundamente diferentes entre si, por mais que expressem prticas

    culturais parecidas, elas se ancoram necessariamente em contextos sociais e culturais

    distintos e se inscrevem na vida cotidiana dos jovens tambm de forma diferenciada.

    Como primeiro passo, realizei um mapeamento sobre diferentes grupos juvenis que

    apresentam-se numa esfera de representao atravs do youtube.com, orkut, facebook2.

    Nesse espao virtual identificamos as diferentes modalidades, estilos e formas de expresso de

    jovens na Amrica Latina, aqui os situamos especialmente atravs de suas marcas identitrias

    como jovens punks, hip hop, emos, anarquistas, roqueiros, surfistas, skatistas, grafiteiros,

    integrantes de coletivos juvenis, filiados a grupos religiosos e/ou partidos polticos, floggers, e

    assim por diante. Partindo dessa primeira abordagem, procurei compreender como os jovens,

    atravs destas expresses identitrias e culturais, procuravam organizar suas experincias,

    ancoradas numa multiplicidade de referncias e inter-conectividades promovidas pelo contexto

    da globalizao e das profundas mudanas sociais, cultural e tecnolgicas.

    Esse primeira investida na pesquisa no campo virtual (atravs do youtube.com) j trouxe

    algumas questes sobre a forma de construir esse conhecimento lanando sempre desafios

    tericos e metodolgicos importantes. De uma forma mais geral, e talvez at aqui pouco

    precisa, a definio de etnografia virtual j se colocava, nos termos de construo de uma

    etnografia atravs ou por meio do ambiente virtual como o que realizara naquele momento. Na

    realidade sem ter ainda uma compreenso precisa do que se trata-se conceitualmente o que

    estava realizando. Como identificar a princpio o que estava procurando em termos de

    culturas juvenis? Era tomar por referncia os tags (palavras-chave) que me levariam a esse

    universo. De incio preciso notar que precisamos conhecer minimamente as formas e

    expresses correntes destes agrupamentos, coletivos, movimentos, estilos de vida, msicas, 2 Os primeiros trabalhos que realizei sobre a temtica das Culturas Juvenis formam construdos a partir da pequisa no youtube (2008-2010) nos termos dos Imaginrios Juvenis (SALLAS, 2008). interessante notar que naquele momento o FACEBOOK ainda no tinha a dominncia que tem mais recentemente.

  • 7

    religies etc...que configuram os universos juvenis. Nesse momento, o trabalho etnogrfico foi

    construdo mais no sentido de identificar as expresses mltiplas que ali se faziam representar

    (youtube) descrevendo os componentes simblicos presentes, em especial que construo do

    que definia como sendo a expresso dos imaginrios juvenis. Trata-se naquele momento de

    tentar interpretar aquelas mltiplas expresses de jovens no Brasil, Argentina, Chile, Mxico.

    Teoricamente me apoiava na perspectiva apresentada por Miguel Rojas Mix (2006) no seu

    estudo sobre os Imaginrios Latino Americanos, construindo tambm um referencial

    importante para anlise destes artefatos culturais e de suas imagens. No entanto, o que realizara

    nesse primeiro momento ainda no era o que propriamente foi definido como uma etnografia

    virtual.

    O estudo de Christine Hine (2000) j referncia reconhecida, pois nele explica que uma

    etnografia virtual o mesmo que a etnografia clssica, mas com novo objeto de estudo: a

    internet. Para ela, a internet se apresenta como cultura e artefato, em especial para aqueles

    pesquisadores que enfocaram seus primeiros trabalhos sobre a relao entre novas tecnologias

    e as formas de interao comunicacional. Hine faz uma crtica aos estudos iniciais por

    adotarem uma viso de futuro revolucionrio da rede em lugar de investigar efetivamente o seu

    uso e a forma como ela se incorporou a vida cotidiana das pessoas. O objetivo do seu estudo

    foi "desarrollar un estudio de la perspectiva y mostrar las interacciones mediadas a travs de un

    ejemplo concreto procesos, problemas y beneficios implicados en esta perspectiva", es decir, la

    etnografa virtual (Hine, 2004:22). A autora sustenta que o agente de mudana no a

    tecnologia em si mesmo, mas seus usos e a construo de sentido que esta a ela vinculada.

    Desta forma, a etnografia se converte em uma metodologia ideal para o estudo das inter-

    relaes complexas na internet, o que leva o investigador a entrar nesse universo por um

    perodo de tempo, apropriando-se das relaes, atividades e significados que ter lugar entre os

    usurios da internet que participam das redes sociais.

    Podemos considerar que todas as exigncias que nos levam ao campo na construo de

    um conhecimento etnogrfico tambm se colocam no ambiente virtual com alguns outros

    problemas que no encontraremos propriamente no ambiente de uma interao face a face no

    termos j assinalados por Goffman (2011) mas que podem ser recolocados justamente quando

    tambm levamos em conta os elementos extra-quadros da experincia social (Goffman, 2012).

    Embora a nossa coleta de dados ocorra num ambiente virtual, existe sempre a exigncia de

  • 8

    se entrar no campo em sites da internet, em foruns de discusso, atravs de bloggs e nas

    prprias redes sociais (no caso o FACEBOOK).

    De fato, a sociedade contempornea e globalizada tem promovido o aparecimento de

    novos sistemas comunicativos: pela multiplicao cotidiana das TICS, que se fazem mais

    visveis entre os jovens, promovendo novas formas cognitivas e expressivas, novos modos de

    perceber o espao e o tempo, a velocidade, o prximo e o distante. So referencias espaciais e

    temporais que se alteram nesse novo cenrio, que nos fornecem uma hiptese para a

    compreenso do significado destes novos processos culturais e identitrios. Tratamos aqui

    tambm da compreenso deste processo como um novo perceptum e sensorium, com novos

    modos de perceber e de sentir, de ouvir e de ver, que se choca em alguns aspectos com o dos

    adultos. (BARBERO, 2005)

    Para Carles Feixa possvel estabelecer comparaes trans-culturais em relao as

    culturas juvenis quando se comparam objetos formalmente idnticos (o estilo punk em

    Barcelona e na Cidade do Mxico) como estruturalmente semelhantes (juventude urbano-

    popular) e tambm porque remetem a processos de circulao cultural vigente em escala

    planetria. Nesse contexto, as culturas juvenis aparecem como uma resposta sincrtica (porque

    mistura influencias do rural e urbano, do popular e do massivo, do local e do internacional) e

    multifacetada (porque tem diversas faces e se adapta a diversos contextos ecolgicos e sociais

    dos jovens frente as suas condies de vida.

    desse conjunto de reflexes que me permitiram avanar com a investigao das

    culturas juvenis em processos de transio para a vida adulta no conhecimento da realidade dos

    jovens no Brasil e no Mxico. Isso significou abordar elementos estruturais constitutivos das

    identidades sociais de um lado, e de outro, o campo prprio dos imaginrios sociais, como

    expresso das imagens culturais que marcam os diferentes estilos de vida juvenis.

    No caso de nossa experincia de pesquisa no Mxico, a opo em realizar como parte do

    trabalho uma pesquisa no FACEBOOK, foi construda em funo do prprio papel que est

    rede social na expresso das sociabilidades juvenis. Ao primeiro contato as jovens e jovens

    mexicanos j me pediam meu nome no FACEBOOK e pelo seu celular j me adicionavam

    imediatamente. Diante desta realidade, observada no prprio campo, fui construindo um

    instrumento de pesquisa que trouxesse a possibilidade de uma aproximao maior entre as

    realidades do Mxico e do Brasil. Ou seja, esse instrumento foi elaborado no processo de

  • 9

    interao face a face com jovens da Cidade do Mxico. Alm disso, estabeleceu-se a partir de

    uma perspectiva etnogrfica, permitindo conhecer as disposies e representaes nativas no

    espao tambm do FACEBOOK, suas formas de expresso e intercmbios atravs de um

    melhor conhecimento da linguagem do grupo. A minha implicao como pesquisadora,

    compartilhando seus interesses e suas adeses, permitiu que eu pudesse fazer parte destas

    comunidades imaginrias, reconhecendo assim os elementos que lhes so prprio. Vale

    observar que o prprio aqui no se reduz a um grupo somente, mas te mltiplas expresses e

    configuraes.

    Destas primeiras notas, j em processo de trabalho etnogrfico em andamento na Cidade

    do Mxico, tive a oportunidade de entrar em contato com um grupo de jovens grafiteiros que

    atuam na cidade h pelo menos 7 anos em mdia. Esse grupo composto por Rex Banthon,

    Dr.Befa Animal Bandido, Osley, Tysa Paulina entre outros, que tem entre 22 a 27 anos de

    idade. Um elemento que tem se colocado como de pronto eles perguntam se tenho

    FACEBOOK, pedindo o meu nome ou deixando os seus. Outro aspecto que ao ser amiga de

    um deles, os outros j me incluram em suas listas, me convidando para eventos que estavam

    organizando, de exposies a suas atividades de graffite. De comum entre eles est tambm o

    fato de terem passado pelo Universidade ou por estudos ligados a arte, mas nenhum deles

    chegou a concluir seu curso de graduao. Nas palavras de Tysa Paulina, tudo que sabe, tudo

    que conheceu de bom e de ruim esta ligado ao graffite, mas no pensa hoje em entrar para a

    Universidade. Cr que pura perda de tempo, e diz que no tem tempo a perder. Tomo a

    liberdade aqui de colocar suas prprias palavras sobre essa experincia:

    Dios bendiga a los bandidos,para que sigan estando en el filo.

    cuando empece a pintar..

    Dejar de extraar,dejar de dudar,dejar de perder el puto tiempo.

    Salve los recuerdos. Tengo 23 aos y me siento mas cuerda.

    Ideas que invaden,personajes que curan mis heridas.

    Un rollaso para convencer a mis padres,de que no acabara en el tribunal,aunque acabe

  • 10

    muchas veces.

    Somos poco a poco reyes de nada.

    La corona que esta arriba de nuestras cabezas me lo recuerda.

    Noches largas,luces internas

    con la boca destapando una vlvula.

    Con las piernas tratando de no perder el equilibrio.

    Con la mente tratando de que el miedo no me gobernara.

    Saltando las reglas,poniendo las mias.

    Abriendo los ojos,cerrando las bocas.

    Sintiendo el vertigo.

    Sintiendo el fango

    Sintiendo el ritmo.

    Ah afuera hay de dos.

    Nosotros, siempre fuertes,y no hay prioridad alguna mas que caminar con la sonrrisa cara en

    alto.

    Parece que vives en el recreo,dice mi jefe.

    Jjajaja,y si,parece.

    Hasta la fecha,estoy contenta.

    Porque he podido ser,quien yo quiero.

    Gracias a los que acompaan,a los que cuidan a los que COMPARTEN Los amo y ustedes

    saben quienes son :)

    De: Tysa Paulina

    12/04/2012 (post Facebook)

    O interessante das observaes desta jovem de 22 anos que a possibilidade de

    desenvolver uma atividade fora do espao da universidade e dos estudos acadmicos era de

    fato uma realidade. Esse tipo de observao expresso por ela e tambm por outros jovens me

    ajudou na formulao de um instrumento de pesquisa no FACEBOOK que de fato pudesse

    permitir o conhecimento dos valores destes jovens e de suas estratgias de ao no mundo

    contemporneo.

  • 11

    O questionrio foi construdo em torno de valores sobre a juventude, sobre suas relaes

    de sociabilidade, uso do tempo, preferncias musicais, de leituras e de filmes e contemplei o

    uso que fazem do internet e onde tem acesso a ela. Para completar, procurei identificar a

    condio social deles atravs da identificao da escolaridade e ocupao do pai e da me, sua

    condio de estudante, trabalhador ou ambas. Tambm procurei tratar dos valores ligados ao

    trabalho e suas expectativas de futuro. Finalmente foi incorporado dados socio-demogrficos

    (idade, sexo, local de nascimento e moradia). Durante o processo de elaborao deste

    instrumento, foram realizados pr-testes no sentido de uma melhor adequao do mesmo em

    seu formato, pois esse tipo de pesquisa no pode contemplar um nmero muito grande de

    questes e envolve um cuidado com a linguagem, no sentido de adequar termos e situaes a

    realidades distintas, j que o questionrio foi elaborado em portugus e espanhol.

    Como resultado obtive 340 respostas vlidas. Do ponto de vista metodolgico h que se

    considerar dois aspectos desse tipo de instrumento: primeiro, trata-se de uma sondagem de

    valores, impresses e sentimentos que devem ser confrontados com outros recursos da

    pesquisa, como a observao etnogrfica, entrevistas e tambm outras pesquisas de maior

    amplitude (Pesquisa sobre Juventude no Brasil 2008 e as Encuestas sobre Juventude no

    Mxico 2005 e 2010) que freqentemente contemplam as mesmas questes aqui trabalhadas.

    O segundo aspecto refere-se ao prprio instrumento, posto que foi apresentado no

    FACEBOOK (no perodo de agosto a dezembro de 2012). Essa base de dados foi construda no

    googledocs, e ao final, foi possvel ter um relatrio com aspectos mais descritivos do retorno

    das respostas. Posteriormente, essa base foi transposta para o Excel e finalmente para o SPSS,

    onde finalmente foi possvel elaborar cruzamentos de diferentes variveis. Com isso, esse

    instrumento permite anlise mais aprofundadas, de carter mais analtico que descritivo. No

    quadro abaixo temos os dados gerais referente a populao e ao uso da internet no Mxico e no

    Brasil.

    MXICO BRASIL

    112.33.538 190.732.694

    Homens 54.855.231 48,8%

    Mulheres 57.481.308 51,2%

    Homens 93.390.532 49%

    Mulheres 97.342.162 51%

    Populao de Jovens 12 a 29 anos Populao de Jovens 15 a 29 anos

  • 12

    36.2 milhes 51.2 milhes

    Embora as diferenas demogrficas entre o Mxico e o Brasil sejam grandes,

    proporcionalmente elas so minimizadas. Por outro lado, cabe destacar as prprias

    caractersticas que marcam a formao histrica e social destes dois pases como estados pluri-

    tnicos. Os elementos existentes de desigualdade social nos dois pases tambm so muito

    fortes, embora no caso brasileiro essa questo tenha contornos muito mais fortes devido a

    concentrao de renda num pequeno grupo. Quanto a questo do uso da internet cabe observar

    que a utilizao dela em dispositivos mveis muito maior que no Brasil.

    Mxico Brasil

    40.6 milhes 83.3 milhes

    DISPOSITIVOS UTILIZADOS

    PC 64%

    LAPTOP 61%

    SMARTPHONE 58%

    DISPOSITIVOS E LUGARES

    PC 70% (trabalho/casa)

    LANHOUSE 31%

    CELULARES 17%

    253 MILHES DE CELULARES

    Fonte: Asociacin Mexicana de Internet

    (AMIPCI), COFETEL, INEGE/HBITOS

    DE LOS USUARIOS DE INTERNET EN

    MXICO (Mayo de 2012)

    Fonte: IBOPE NETRATINGS, ANATEL,

    (Setembro de 2012)

    No caso no Mxico, para a pesquisa promovida pela AMIPCI 2014 os dados revelam um

    crescimento de 13% no nmero de internautas em relao ao perodo anterior, aumentando

    para 51.200.000 milhes de internautas. Quanto aos dispositivos utilizados, houve uma

    alterao da relao entre PCS (59%), LAPTOP (57%) e SMARTPHONE (49%). Observe-se

    que nesse estudo 5 em cada 10 internautas utilizam SMARTPHONES. Os principais locais de

    acesso so as casas e locais de trabalho e os usos principais so o envio e recebimento de

    emails e o acesso a redes sociais (FACEBOOK principalmente), suplantando a busca de

    informaes. Observa-se tambm que 8 entre cada 10 crianas de pais internautas, utilizam a

  • 13

    internet a partir dos 10 anos de idade em mdia, para estudos e entretenimento. Entre os

    internautas 9 entre 10 usam as redes sociais com freqncia.

    No site da Tobeguarany3, encontramos alguns dados referentes ao Brasil. Segundo o

    Ibope Media, somos atualmente 105 milhes de internautas, sendo o Brasil o 5 pas mais

    conectado. De acordo com a Fecomrcio-RJ/Ipsos, o percentual de brasileiros conectados

    internet aumentou de 27% para 48%, entre 2007 e 2011. O principal local de acesso a lan

    house (31%), seguido da prpria casa (27%) e da casa de parente de amigos, com 25%. O

    Brasil o 5 pas com o maior nmero de conexes Internet. So 57,2 milhes de usurios

    que acessam regularmente a Internet. Assim, 87% dos internautas brasileiros entram na

    internet pelo menos uma vez por semana. Segundo Alexandre Sanches Magalhes, gerente de

    anlise do Ibope/NetRatings, o ritmo de crescimento da internet brasileira intenso. A

    entrada da classe C para o clube dos internautas deve continuar a manter esse mesmo

    compasso forte de aumento no nmero de usurios residenciais

    A desigualdade social, infelizmente, tambm tem vez no mundo digital: entre os 10%

    mais pobres, apenas 0,6% tem acesso Internet; entre os 10% mais ricos esse nmero de

    56,3%. Somente 13,3% dos negros usam a Internet, mais de duas vezes menos que os de raa

    branca (28,3%). Os ndices de acesso Internet das Regies Sul (25,6%) e Sudeste (26,6%)

    constrastam com os das Regies Norte (12%) e Nordeste (11,9%).

    A exposio destes dados revelam as condies objetivas de acesso a tecnologia da

    internet, seja atravs de computadores at aos aparelhos celulares e smartphones, que vem

    alterando profundamente as formas de uso e tambm as formas de sociabilidade implicadas

    com as utilizao destes aparatos tecnolgicos. Um elemento que me parece notvel, que

    face as condies de desigualdade social existente no Brasil e no Mxico, podemos notar que

    no caso do Brasil, as desigualdades de acesso so mais duras, em especial se comparamos o

    uso destas tecnologias para o conjunto da populao. Como expus acima, a opo por realizar a pesquisa tambm atravs do FACEBOOK teve de incio um propsito experimental ou seja pensar e formular um instrumento de pesquisa que pudesse funcionar como um experincia, para medir questes de validade e alcance do estudo pretendido. Tambm porque, a partir desse 3 http://tobeguarany.com/internet-no-brasil/ acesso em 03/06/2014

  • 14

    estudo foi possvel formular algumas hipteses de pesquisa, marcando as diferenas e semelhanas entre jovens no Brasil e no Mxico. No se trata de pretender formular qualquer tipo de idia mais geral, j que esse estudo no pode ser considerado representativo da populao jovem brasileira ou mexicana. Na pesquisa realizada no FACEBOOK, dos 340 jovens que a responderam tive o seguinte quadro:

    Masculino 233 68,5 Feminino 107 31,5

    Total 340 100,0

    Deste total, houve um maior nmero de homens no Mxico e de mulheres no Brasil

    respondendo ao questionrio. A faixa etria destes jovens era de 15 a 30 anos. A seguir

    apresentamos os dados referentes a valores, destacando os elementos de maior freqncia:

    1. O melhor de ser jovem Ter sonhos e objetivos

    No aplica 135 39,7 39,7 Aplica 205 60,3 60,3 Total 340 100,0 100,0

    2. O pior de ser jovem - Dependncia/No ser capaz de se sustentar

    Masculino Feminino No aplica 117 52 169 Dependencia/No ser

    capaz de se sustentar Aplica 116 55 171 Total 233 107 340

    3. O que mais preocupa os jovens hoje? - Incertidumbre/Ter incerteza sobre o futuro

    Masculino Feminino No aplica 117 52 169 Incertidumbre/Ter

    incerteza sobre o futuro Aplica 116 55 171 Total 233 107 340

    4. O que melhor expresso os valores da juventude de hoje?

    a ) Valoracin de la individualidad/Valorizao da individualidade

    Masculino Feminino Valoracin de la

    individualidad/Valorizao da individualidade

    No aplica 161 71 232

  • 15

    Aplica 72 36 108 Total 233 107 340

    Valoracin de la individualidad/Valorizao da individualidade * Idioma/linguagem

    Idioma/linguagem Espaol Portugus Total No aplica 140 92 232 Valoracin de la

    individualidad/Valorizao da individualidade

    Aplica 31 77 108

    Total 171 169 340

    Esse quadro revela um componente interessante sobre os valores da juventude

    mexicana e brasileira. De um lado, temos aqui em primeiro lugar a valorizao da

    individualidade para jovens brasileiros em sua grande maioria homens. No quadro seguinte,

    temos a questo da competitividade como um segundo valor expresso pelos jovens dos dois

    pases.

    b ) Competitividad/Competitividade

    Espaol Portugus No aplica 111 101 212 Competitividad/Competi

    tividade Aplica 60 68 128 Total 171 169 340

    Competitividad/Competitividade

    Masculino Feminino Total No aplica 148 64 212 Competitividad/Competi

    tividade Aplica 85 43 128 Total 233 107 340

    interessante notar, no entanto, que para os jovens mexicanos, o que apareceu como

    primeiro valor da juventude foi a rebeldia, conforme observamos no quadro abaixo:

    c) Rebelda/Rebeldia

    Sexo Masculino Femenino Total No aplica 166 78 244 Rebelda/Rebeldia

    Aplica 67 29 96 Total 233 107 340

  • 16

    Idioma/linguagem Espaol Portugus Total No aplica 103 141 244 Rebelda/Rebeldia

    Aplica 68 28 96 Total 171 169 340

    De um lado, possvel pensar que para os jovens mexicanos, que estavam vivendo

    naquele momento, posterior as eleies presidenciais (que ocorreu em julho de 2012) ainda os

    efeitos das fortes mobilizaes que eclodiram no pas em maio daquele ano, com a emergncia

    do movimento Yo soy 132, que levou as ruas das principais cidades milhares de

    manifestantes em oposio ao candidato do PRI, vencedor das eleies presidenciais. De

    qualquer forma, penso que mais que um valor conjuntural, esse componente de rebeldia dos

    jovens mexicanos pode ser expresso de um aspecto cultural mais profundo e que tem

    suscitado para os jovens dos estratos sociais baixos e mdios a procura tambm de outras

    formas de vida, de sentidos de pertena que passam a constituir-se por formas de maior

    mobilizao, cooperao e solidariedade.

    Por outro lado, no caso dos jovens brasileiros, existe um componente que vem sendo

    reforado h muitos anos de um forte acento individualista (o que j foi identificado em outras

    pesquisas, inclusive a que realizamos em 1998 SALLAS, 2009), delegando ao indivduo o

    seu sucesso ou fracasso em sua vida social. Com isso, individualismo/competitividade so

    valores hoje muito mais fortes que aqueles que poderiam forjar ideais de solidariedade e de

    cooperao. No entanto, no Brasil tambm tem se construdo, nos ltimos anos uma srie de

    experincias sociais novas, com a criao de uma multiplicidade de coletivos juvenis e a

    reinveno de modos de vida alternativos. Essas formas ainda so incipientes, mas podem,

    apontar para um futuro menos violento e bruto de nossas sociedades. Esse aspecto de formas

    de associao dos jovens incipiente quando confrontada com o que observamos tambm na

    pesquisa:

    5. Participao - No participo en nada/No faz parte de nenhum grupo

    Masculino Femenino No aplica 166 71 237 No participo en

    nada/No faz parte de nenhum grupo

    Aplica 67 36 103

    Total 233 107 340

  • 17

    No participo en nada/No faz parte de nenhum grupo Idioma/linguagem Espaol Portugus Total

    No aplica 147 90 237 No participo en nada/No faz parte de

    nenhum grupo Aplica 24 79 103

    Total 171 169 340

    Nesse item identificamos esse aspecto de uma menor participao em grupos de jovens

    brasileiros, face a uma maior de jovens do Mxico. No entanto, possvel observar que face

    aos ltimos acontecimentos de forte mobilizao popular e juvenil iniciada no ms de junho

    deste ano de 2013, esse quadro talvez aponte para outros formas de participao.

    Crew/Uma galera, uma tribo, crew, clica Masculino Femenino

    No aplica 179 94 273 Crew/Uma galera, uma tribo, crew, clica Aplica 54 13 67

    Total 233 107 340

    Crew/Uma galera, uma tribo, crew, clica Idioma/linguagem Espaol Portugus Total

    No aplica 122 151 273 Crew/Uma galera, uma tribo, crew, clica Aplica 49 18 67

    Total 171 169 340

    J no caso da participao em crews, galeras, tribos e clicas, temos uma maior

    participao de jovens mexicanos e uma participao feminina mais acentuada, embora a

    participao masculina seja preponderante.

    Arte urbano/Arte urbano * Idioma/linguagem Espaol Portugus

    No aplica

    105 167 272 Arte urbano/Arte urbano

    Aplica 66 2 68 Total 171 169 340

    Arte urbano/Arte urbano

    Sexo Masculino Femenino Total Arte urbano/Arte

    urbano No aplica 173 99 272

  • 18

    Aplica 60 8 68 Total 233 107 340

    Finalmente, a participao em grupos de artistas urbanos notvel. Por jovens homens

    mexicanos. No entanto, esse dado revela mais, no meu ponto de vista, a capacidade de

    comunicao no interior das prprias redes sociais, em que circulou essa pesquisa. Existem

    muitos jovens fazendo graffiti na Cidade do Mxico, e ademais, tem uma forma muito prpria

    de configurar-se. Desta forma, podemos ler esse dado como expresso de um duplo

    movimento: da capacidade que tivemos na entrada junto a esses grupos e do retorno obtido em

    suas respostas.

    Existem muitos outros aspectos que j identifiquei na pesquisa de campo, mas que

    extrapolam os limites deste trabalho. Se de um lado, os jovens vivem intensamente um

    processo de incerteza diante do futuro (algo que seria talvez prprio da juventude, quando nos

    recordamos de Simmel em seu ensaio sobre a Aventura); existe tambm a criao de relaes

    que promovem certamente sentidos de pertena em grupos, em redes de solidariedade e de

    confiana que assinalam para um vir a ser de esperana diante de tantas incertezas.

    Gostaria de concluir esse ensaio destacando alguns pontos que creio importantes para

    avanarmos na compreenso destas novas modalidades de produo de conhecimento e

    tambm de experincia que nos implica a todos nos novos mapas de expresso de participao.

    A realizao de um breve balano deste experimento etnogrfico no FACEBOOK me permitiu

    cotejar as prticas sociais dos jovens no Mxico e no Brasil nessa dimenso do online/offline.

    Me parece que o offline nos leva sempre ao campo, ao encontro nas ruas e nas interaes face a

    face. Tambm vale notar que a prpria internet um artefato cultural e no apenas um meio

    tcnico (Turkle, 1997. Hamman, 1998, Hine, 2000). Outro elemento a se destacar que as

    possibilidades que encontrei na pesquisa no FACEBOOK foi resultado de minha imerso no

    campo, me familiarizando com essa nova realidade, seus termos, sua linguagem, seus hbitos

    e prticas cotidianos. Ou seja, se a internet um artefato cultural, tambm mediadora das

    relaes que se realizam atravs dela. Nela foi possvel seguir minhas novas amigas e amigos,

    suas atividades de rotina (pinturas em locais pblicos e privados, festas, festivais de msica e

    dana, produo e venda de camisetas, cartazes etc...).

    Para alm da pesquisa atravs de questionrio no FACEBOOK, foi possvel integrar

    essa rede de jovens e reconhecer os elementos que constituem seus capitais sociais, pela

  • 19

    adeso, reconhecimento, aprovao/reprovao de apoios, peties ou ainda do compartilhar

    suas postagens cotidianas. De fato o FACEBOOK permite a formao de vnculos e redes de

    redes.

    Lidar em um novo espao de produo do conhecimento requer algumas precaues,

    pois um processo que requer tempo e seus parmetros cientficos no so muito claros. No

    entanto, a questo que me parece mais sensvel diz respeito mesmo a validade do que

    produzido, difundido e expressado atravs desse meio. Uma das minhas primeiras descobertas

    com meus novos amigos no Mxico, foi a de que as redes sociais estimulam e promovem os

    avatares a expresso de mltiplos eusque se mascaram em outros elaborando perfis os

    mais distintos possveis. Para enfrentar essa questo, creio que fundamental que esse

    componente distintivo e prprio destas novas formas de comunicao e de interao. Quando

    me coloquei em campo, a indicao do FACEBOOK foi a minha identidade como pessoa

    fsica, com nome e sobrenome deixando de lado aqui qualquer inclinao a jogar com o meio

    e com tudo aquilo que ele permite. Isso nos leva a um outro aspecto: qual o realidade

    representada por tudo aquilo que expresso por aqueles sujeitos, seus companheiros de

    pesquisa? Do meu ponto de vista, as redes sociais hoje atuam como comunidades

    imaginrias, porque elas instituem o seu prprio sentido de verdade marcado por aqueles que

    as integram, que dela participam e que nela atuam.

    Outro aspecto est ligado tambm a tica da pesquisa, da necessidade de se apresentar

    e informar de seus propsitos de pesquisa, tendo por base o consentimento dos participantes

    em interagir com voc, e acompanhar a difuso posterior dos resultados da pesquisa. Para Hine

    (2004), o etngrafo em certo sentido um participante ao compartilhar algumas das

    inquietudes, emoes e compromissos das pessoas entrevistadas. O envolvimento na pesquisa

    nos leva tambm a esse sentido de proximidade e familiaridade com nossos amigos virtuais

    que para alm de toda virtualidade esto l, em algum lugar em carne e osso.

    Bibliografia de Referncia:

    ABRAMO, H. W. Cenas juvenis - punks e darks no espetculo urbano. So Paulo:

    Scritta/Anpocs, 1994.

    ABRAMOVAY, Mirian et al. Gangues, galeras, chegados e rappers. Juventude, violncia e

    cidadania nas cidades da periferia de Braslia. Rio de Janeiro: Garamond, 1.999

  • 20

    Asociacin Mexicana de Internet - AMIPCI Hbitos de los usurios de internet en Mxico,

    2012

    Asociacin Mexicana de Internet AMIPCI Hbitos de los usurios de internet en Mxico,

    2014.

    BARREIRA, Csar et al. Ligado na galera. Juventude, violncia e cidadania na cidade de

    Fortaleza. Braslia: UNESCO, 1.999.

    BOURDIEU, P. O poder Simblico. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 1998.

    CACCIA-BAVA, Augusto, FEIXA, Carles, CANGAS, Yanko (org.). Jovens na Amrica

    Latina. So Paulo : Escrituras Editora, 2004, pp. 183:255.

    ELIAS, Norbert SCOTSON J. Os Estabelecidos e os Outsiders. Jorge Zahar Editores, Rio

    de Janeiro 2000.

    HINE, Christine. Etnografia Virtual. Barcelona, Editorial UOC, 2004.

    MARTIN-BARBERO, J. Jvenes: comunicacin y identidad. In: Pensar Iberoamrica

    Reflexiones, Revista Digital de Cultura da OIE, n. 0, 2005.

    MINAYO, Maria Ceclia de Souza et al. Fala galera. Juventude, Violncia e cidadania na

    cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garamond, 1999.

    MORIN, Edgar. Cultura de massas no sculo XX. Rio de Janeiro, Forense, 1986.

    REGUILLO, Rossana. Emergncia de culturas juveniles: Estratgias del desencanto.

    Enciclopdia Latinoamericana de Sociocultura y comunicacin, Grupo Editorial Norma, 2006.

    REGUILLO, Rossana. Navegaciones errantes. De msica, jvenes y redes: de Facebook a

    Youtube y vicversa. Nueva poca, nm. 18, julio-diciembre, 2012, pp. 135-171.

    SALLAS, Ana Luisa Fayet et al. Os jovens de Curitiba; esperanas e desencantos. Juventude,

    violncia e cidadania. Braslia: UNESCO, 1999. (Edies UNESCO).

    SALLAS, Ana Luisa, BEGA, Maria Tarcisa. Apresentao Segunda Edio. Os jovens de

    Curitiba; esperanas e desencantos. Juventude, violncia e cidadania. Curitiba : Ed.

    Universidade Federal do Paran, 2008, pp 19-36.

    SOUZA, J. ELZE, B.(org.) Simmel e a Modernidade. Editora UnB: Braslia, 2005.

    FEIXA, Carles. De Jvenes, bandas y tribus. Antropologa de la juventud. Barcelona, Editorial

    Ariael, S.A, 1999.

  • 21

    MAGNANI, Jos Guilherme, SOUZA, Bruna Mantese. (org.) Jovens na Metrpole

    Etnografias de circuitos de lazer, encontro e sociabilidade. So Paulo : Editora Terceiro Nome,

    2007.

    MEAD, Margaret. Culture and Commitment a study of the generation gap. EUA : Ladder

    Edition, 1970.

    OLIVEIRA, Orlandina, SALAS, Minor Mora. Los jvenes en el inicio de la vida adulta.

    ESTUDIOS SOCIOLGICOS XXVII: 79, 2009

    NOVAES, Regina, SANTORO, Maurcio. Ser jovem na Amrica do Sul: um eplogo. In: Ser

    joven en Sudamrica: dilogos para la construcin de la democracia regional. In: IBASE,

    PLIS y Ediciones CIDPA, 2008.

    URTEAGA, Mariza, PRES-ISLAS, Jos Antonio. Imagens Juvenis do Mxico Moderno. In:

    http://www.adriamaral.com/

    http://etnografianovirtual.blogspot.br