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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE JUIZ DE FORA / CES LEVI RIBEIRO PENICHE DE MIRANDA FICHAMENTO DO LIVRO “SOBRE ÉTICA E IMPRENSA” Juiz de Fora 2010

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Page 1: ética

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE JUIZ DE FORA / CES LEVI RIBEIRO PENICHE DE MIRANDA

FICHAMENTO DO LIVRO

“SOBRE ÉTICA E IMPRENSA”

Juiz de Fora

2010

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BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

Eugênio Bucci levanta uma questão de necessidade humana ao tentar iniciar uma reflexão sobre a ética na mídia. Aborda questões éticas da imprensa de acordo com cada veículo e aponta os erros mais graves nas redações, assim como as formas de resolvê-los. O autor inicia sua obra com a pergunta “Faz sentido falar de ética na imprensa?” e, apesar de não encontrar uma definitiva resposta, deixa claro que, se discutir ética é per-da de tempo, os profissionais de comunicação estão deixando para segundo plano o compromisso com o público.

O livro revela fatos que acontecem todos os dias, onde os interesses, a pressa e a falta de debate se conflitam com a ética, sendo assim pertinente a abertura de uma dis-cussão sobre o assunto.

“A ética jornalística não se resume a uma normatização do comportamento de repórteres e editores; encarna valores que só fazem sentido se forem seguidos tento por empregados da mídia como por empregadores – e se tiverem como seus vigilantes os cidadãos no público. A liberdade de imprensa é um princípio inegociável, ele existe para beneficiar a sociedade democrática em sua dimensão civil e pública, não com prer-rogativa de negócios sem limites na área da mídia e das telecomunicações, em dimen-sões nacionais e transnacionais.” (p. 12)

“A ética jornalística não é apenas um atributo intrínseco do profissional ou da redação, mas é, acima disso, um pacto de confiança entre a instituição do jornalismo e o público, num ambiente em que as instituições democráticas sejam sólidas. A ética inter-na das redações e a ética pessoal dos jornalistas devem ser cultivadas, aprimoradas e exigidas, mas elas só são plenamente eficazes quando as premissas da liberdade de im-prensa são asseguradas.” (p. 25)

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Capítulo I – Faz sentido falar de ética na imprensa?

“A discussão ética só produz resultados quando acontece sobre uma base de compro-misso. Se uma empresa de comunicação não se submete na prática às exigências de busca da verdade e do equilíbrio, o esforço de diálogo vira proselitismo vazio. È inútil. No máximo, um colóquio de etiqueta. Aliás, é assim que acontece com freqüência. De-batem-se as boas maneiras dos repórteres, se eles tratam bem o entrevistado, se se apre-sentam corretamente como jornalistas, se ouvem os dois lados ou mais lados do tema que estão cobrindo, se invadem a privacidade da atriz que depois decide processar a revista – que por sua vez só vive de explorar detalhes da intimidade de pessoas famosas - e assim por diante. Tudo isso é importante, claro, mas é pouco diante das faltas éticas que vitimam a sociedade brasileira. Essas até contam com a colaboração ativa de jorna-listas que tomam parte na confecção das imposturas, mas em geral são cometidas por empresas e não por redatores; são faltas institucionais e não desvios pessoais” – (p. 31-32)

“Discutir ética na imprensa só faz sentido se significar pôr em questão os padrões de convivência entre as pessoas, individualmente, e de toda a sociedade no que se refere ao trato como a informação de interesse público e com a notícia. A isso precisam se subor-dinar não apenas os jornalistas, mas também seus patrões e as corporações em que fun-cionam os veículos de comunicação. Essa discussão só tem um interessado: o cidadão.” – (p.32)

“A desinformação não se deve apenas a maus profissionais, mas também a atitudes em-presariais que revelam falta de compromisso com o direito à informação, que se articu-lam para excluir o cidadão das decisões que em seu nome são tomadas.” –(p. 36)

Capítulo II – A Síndrome da Auto-suficiência Ética

“A má vontade que a cultura das redações reserva para a discussão ética parece um traço atávico. É como se abrir-se ao debate fosse perda de tempo ou um sinal de frouxi-dão e, portanto um pecado mortal. Mas esse traço atávico pode ser entendido com a ajuda de um rápido retrospecto histórico e a lembrança de uma razão prática. (...)

“A atitude automática, ato reflexo, de torcer o nariz para o tema é, antes de tudo, coe-rente com a tradição da cultura política brasileira. Esta não prima por valores universais nem cultiva critérios impessoais e objetivos na vida profissional e na vida política. Entre nós, os direitos humanos ainda são novidade, o clientelismo ainda é corriqueiro, e a palavra ética, quando aparece, surge mais na condição de adjetivo do que em sua dimensão substantiva. No cotidiano, quando alguém pronuncia essa palavra, quase sempre está se referindo à qualidade de honesto de um certo fulano, ou a um atributo

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moral de uma prática; raramente o termo vem designar um sistema de valores coletiva-mente compartilhados que sirvam de parâmetro para as ações humanas.” –(p.38-39)

“Pode-se dizer que a arrogância jornalística não é outra coisa senão a afirmação de uma auto-suficiência ética. É como se a imprensa proclamasse: minha função é informar o público, mas os meus valores não estão em discussão, os meus métodos não são da con-ta de ninguém – eles são bons, corretos e justos por definição.” (p. 39)

“Olhando para o passado recente do Brasil, nota-se que, sem a casca grossa desenvolvi-da pelas redações para se proteger da prepotência estatal e do tráfico de influência dos corruptos, é provável que a democracia brasileira estivesse hoje mais atrasada do que está. Pelo menos, com arrogância ou não, os jornalistas se protegeram para fazer jorna-lismo. Fizeram-no sem ter de falar de ética. Em lugar de falar, agiram eticamente ao realizar boas reportagens e dar notícias relevantes. Além de informar o público, garanti-ram com seu trabalho a construção da democracia contemporânea e a liberdade de im-prensa. Não fossem as reportagens que expuseram a prática da tortura, as mordomias e a corrupção, entre tantas outras, o regime militar talvez durasse um pouco mais que du-rou.” –(p.41)

“A democracia atual no Brasil deve muito ao jornalismo. Eticamente, isso fala mais alto que a ausência de seminários periódicos sobre o assunto. Fazer bom jornalismo já foi uma atitude ética. E aqui chegamos à razão prática da auto-suficiência ética que caracte-riza as redações. O fazer jornalístico pressupõe uma ética, mas não depende de discorrer sobre ela. É como se fazer jornalismo bem-feito, vale dizer, eticamente bem-feito, não dependesse de pensar sobre essa ética nem de discuti-la. Isso é parte verdadeiro e preci-sa ser compreendido.” –(p.41)

“Em suma, toda decisão jornalística é uma decisão que gera efeitos éticos. Mas se, para ser tomada, ela precisasse de seminários e colóquios, o jornalismo seria uma quimera. Seria impossível. Por isso, há razões práticas no fazer jornalístico que vivem adiando os debates éticos, muito embora a responsabilidade ética dos que chefiam as redações seja enorme. No dia-a-dia de uma redação, os motivos que embasam cada mudança de curso precisam ser sólidos e fundamentados, mas dificilmente podem ser debatidos no calor das deliberações – não há tempo. Serão então sólidos, fundamentados e... silenciosos. Assim, para que uma redação funcione bem, os chefiados precisam confiar nos chefes – e sentir que aprendem com eles.” –(p.44)

“Como é sabido, cabe à imprensa o dever de formar, de esclarecer e de abrir para o pú-blico o acesso não apenas à informação, mas do mesmo modo à educação e os caminhos do conhecimento, guardando também em relação ao senso comum uma distância crítica. O jornalismo só faz sentido na democracia, na observância dos direitos humanos, numa sociedade que cultive a pluralidade e as diferenças de opinião. Na defesa desses temas é bom frisar, o jornalista nunca é isento, neutro e equânime, mas sempre é um militante. O jornalista é um democrata por definição – pelos próprios pressupostos institucionais que alicerçam o ofício.” –(p.49)

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“No fundo da ética jornalística dorme um problema do tamanho do mundo. A verdade dos fatos existe? Existe um relato perfeitamente neutro e isento? A objetividade perfeita é possível? Não, não e não. A verdade dos fatos é sempre uma versão dos fatos. O rela-to, qualquer que seja ele, é um discurso e, como tal, é inevitavelmente ideológico: mes-mo quando sincera e declaradamente não opinativo, o relato jornalístico é encadeado segundo valores que obrigatoriamente definem aquilo que se escreve. A objetividade perfeita nunca é mais que uma tentativa bem-intencionada.” – (p.51)

“Se não pode oferecer “a” verdade, o que a imprensa pode então proporcionar? Ela pode proporcionar a confiabilidade. Por isso, como já foi dito, a imprensa é a materialização de uma relação de confiança, e não simplesmente um serviço de fornecimento de produ-tos informativos para o consumo. O relato jornalístico precisa guardar um mínimo de confiabilidade – um mínimo sem o qual a autoridade da imprensa estará perdida.” – (p.52)

Capítulo III – Independência e Conflito de Interesses

“Independência editorial, portanto significa manter a autonomia para apurar, investigar, editar e difundir toda informação que seja de interesse do público, o interesse do cida-dão, e não permitir que nenhum outro interesse prejudique essa missão.” – p.56

“Pense-se num jornal: às vezes, a missão de dizer a verdade ao leitor significa pôr em apuros um anunciante. E aí? Como ordenar a convivência entra a missão de informar e a dedicação ao cliente-anunciante? Como abrigar os dois lados na mesma empresa? A melhor solução inventada até hoje é uma solução elementar: pondo cada lado para o seu lado. Outra seria retirar inteiramente o jornalismo do universo dos negócios capitalistas, proibindo a existência de empresas privadas dedicadas ao negócio de informar o cida-dão, idéia que nunca deu bons resultados para o público.” – (p.61)

Capítulo IV – O Vício e a Virtude

“Paul Johnson (...) propõe uma grade de análise para os erros mais freqüentes do jorna-lismo: listou sete pecados capitais e, como antídoto, dez mandamentos. Trata-se antes de uma forma de abordagem; é um modo de classificar os erros em categorias claras, de grande utilidade para a organização do debate.” – (p. 129) “Agora, os sete pecados capitais listados por Johnson. (...) São os seguintes: 1. Distorção, deliberada ou inadvertida. 2. Culto das falsas imagens. 3. Invasão da privacidade.

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4. Assassinato de reputação. 5. Superexploração do sexo. 6. Envenenamento da mente das crianças. 7. Abuso de poder.” – (p.131) “Uma outra tábua de pecados da imprensa aparece no livro do professor Ciro Marcon-des Filho (...), A saga dos cães perdidos. São ao todo doze deslizes. (...) A lista de Mar-condes Filho reúne vícios que são vistos por quem está fora das redações. (...) Pode-se ler a sua compilação como uma seqüencia das queixas mais comuns da sociedade. È bom conhecê-las:

1. Apresentar um suspeito como culpado. 2. Vasculhar a vida privada das pessoas, publicar detalhes insignificantes de perso-

nalidades e de autoridades para desacreditá-las. 3. Construir uma história falsa, seja em apoio a versões oficiais, seja para justificar

uma suspeita. 4. Publicar o provisório e não-confirmado para obter o furo. Transformar rumor em

notícia. 5. Filmar ou transmitir suicídio ao vivo. 6. Expor pessoas para provar um flagrante. 7. Aceitar a chantagem de terroristas. 8. Incitar “rachas” [discórdias, cizânias, buscar a polêmica pela polêmica, jogar uns

contra os outros]. 9. “Maquiar” uma entrevista coletiva ou exclusiva. (...) 10. Comprar ou roubar documentos. 11. Gravar algo à revelia, instalar microfones escondidos. 12. Omitir que se é jornalista para obter confidenciais.” – (p.134-135) “Contra as mazelas e as falhas, Paul Johnson propõe dez mandamentos que devem nortear o trabalho dos jornalistas. Devem também orientar o público, pois cabe ao público exigir que lhe seja dada informação de qualidade. São eles: 1. Desejo dominante de descobrir a verdade. 2. Pensar nas conseqüências do que se publica. (...) 3. Contar a verdade não é o bastante. Pode ser perigoso sem julgamento informado.

(...) 4. Possuir impulso de educar. 5. Distinguir opinião pública de opinião popular. 6. Disposição de liderar. 7. Mostrar coragem. (...) 8. Disposição de admitir o próprio erro. 9. Equidade geral. 10. Respeitar e honrar as palavras.” – (p.165-166)

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Capítulo V – O Espetáculo Não Pode Parar

“Além da indústria cinematográfica, a indústria dos vídeo games, a da música e o pró-prio mercado de livros funcionam nas mesmas bases. Por meio de suas assessorias de imprensa, que já se organizam como novas indústrias à parte, essas indústrias pré-configuram o universo de dados que será depois trabalhado pelos jornalistas. Assim também operam as divulgações dos campeonatos esportivos. É hábito, hoje, que emis-soras de televisão se associem a campeonatos de futebol e de Fórmula 1, entre outros, e se tornem co-promotoras desses eventos. Elas não fazem mais a cobertura dos fatos, mas, comprando a exclusividade de transmissão, transformam seus locutores em anima-dores de eventos. A indústria do turismo, com seus circuitos, seus cruzeiros, suas redes de hotéis, restaurantes e casas noturnas, opera do mesmo modo. Tudo isso redimensio-nou (reduzindo, em termos relativos) o lugar ocupado pela imprensa na confecção de conteúdos informativos que serão postos depois ao acesso do público.” – (p.191)

“O reexame dessa postura é urgente. O jornalismo pode ter perdido parte de sua hege-monia no espaço público, mas não perdeu sua essencialidade. Para valorizá-la e reforçá-la, a formação crítica permanente nunca foi tão decisiva. Tanto para os órgãos de im-prensa, como para os profissionais e para o publico. A formação crítica permanente não é outra coisa senão a formação ética. Mas formação ética, atualmente, precisa contem-plar não apenas os preceitos clássicos – como o da busca da verdade, o do respeito à privacidade, o da independência em relação aos governos e aos anunciantes –, mas tam-bém os temas incômodos, como o do entretenimento, o dos conglomerados da mídia e do espetáculo.” – (p.200)

“(...) a ética lida com as escolhas individuais que são feitas para atender o direito à in-formação. Sobre cada escolha, entretanto, os indivíduos e as empresas devem assumir a plena responsabilidade. Por certo, ética e direito são temas imbricados: há demandas éticas que, ao longo do tempo, acabam se transformando em lei. Assim foi com a aboli-ção da escravatura, o voto feminino, as garantias trabalhistas. Mas, como se viu ao lon-go deste livro, o dilema ético por excelência não é aquele que opõe o lícito ao ilícito: é aquele que abre uma escolha entre o certo e o certo, isto é, entre dois valores que se a-presentam como igualmente justos e bons. Por isso, também, a ética está presente em toda decisão que busque qualidade de informação.” – (p.211)

Ética em Comunicação Prof. Lúcia Schmidt de Araújo

Aluno: Levi Peniche