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11 Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.1, p. 11-30, jan./abr. 2004 Estudos quantitativos em educação Bernardete A. Gatti Fundação Carlos Chagas Resumo O artigo trata de estudos em educação, realizados no Brasil nas últimas três décadas, utilizando abordagens quantitativas. Para a seleção dos trabalhos a serem tratados fez-se um levantamento em todos os números publicados de 1970 para cá dos seguintes periódicos: Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (Inep/ MEC), Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), Educa- ção e Realidade (UFRS), Educação e Sociedade (Cedes/Unicamp), Revista Brasileira de Educação (ANPEd), Estudos em Avaliação Educacional (Fundação Carlos Chagas), Ensaio (Fundação Cesgranrio). Algumas fontes bibliográficas foram consultadas na busca de outros estudos. Ressalta-se a importância de perspec- tivas teóricas para o delineamento e desenvolvimento dos estu- dos, que devem ser colocados no contexto de uma reflexão edu- cacional e de problematização, bem como, assinala a necessidade de adequação das escolhas dos tipos de análise a serem empre- gados. Discute a pouca tradição de realização de trabalhos em educação com as metodologias quantitativas no Brasil e o pos- sível papel da quantificação na pesquisa educacional. Mostra al- gumas contribuições desses trabalhos à reflexão no campo da Educação, bem como para a fundamentação de algumas pers- pectivas críticas. Essas contribuições foram tratadas por temas, a saber: analfabetismo, percurso escolar e fracasso escolar; fluxo escolar/análise de coortes; letramento; políticas e educação bá- sica; financiamento da educação/municipalização; fatores sociais e educação; jovens e educação; avaliação educacional; temas variados. Palavras Chave Pesquisa educacional — Métodos quantitativos — Estatísticas — Demografia. Correspondencia: Bernardete A. Gatti Av. Prof. Francisco Morato, 1565 05513-900 - São Paulo - SP e-mail: [email protected]

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11Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.1, p. 11-30, jan./abr. 2004

Estudos quantitativos em educação

Bernardete A. GattiFundação Carlos Chagas

Resumo

O artigo trata de estudos em educação, realizados no Brasil nasúltimas três décadas, utilizando abordagens quantitativas. Para aseleção dos trabalhos a serem tratados fez-se um levantamentoem todos os números publicados de 1970 para cá dos seguintesperiódicos: Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (Inep/MEC), Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas), Educa-ção e Realidade (UFRS), Educação e Sociedade (Cedes/Unicamp),Revista Brasileira de Educação (ANPEd), Estudos em AvaliaçãoEducacional (Fundação Carlos Chagas), Ensaio (FundaçãoCesgranrio). Algumas fontes bibliográficas foram consultadas nabusca de outros estudos. Ressalta-se a importância de perspec-tivas teóricas para o delineamento e desenvolvimento dos estu-dos, que devem ser colocados no contexto de uma reflexão edu-cacional e de problematização, bem como, assinala a necessidadede adequação das escolhas dos tipos de análise a serem empre-gados. Discute a pouca tradição de realização de trabalhos emeducação com as metodologias quantitativas no Brasil e o pos-sível papel da quantificação na pesquisa educacional. Mostra al-gumas contribuições desses trabalhos à reflexão no campo daEducação, bem como para a fundamentação de algumas pers-pectivas críticas. Essas contribuições foram tratadas por temas, asaber: analfabetismo, percurso escolar e fracasso escolar; fluxoescolar/análise de coortes; letramento; políticas e educação bá-sica; financiamento da educação/municipalização; fatores sociaise educação; jovens e educação; avaliação educacional; temasvariados.

Palavras Chave

Pesquisa educacional — Métodos quantitativos — Estatísticas —Demografia.

Correspondencia:Bernardete A. GattiAv. Prof. Francisco Morato, 156505513-900 - São Paulo - SPe-mail: [email protected]

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Quantitative studies in education

Bernardete A. GattiFundação Carlos Chagas

Abstract

The article refers to studies in education carried out in Brazilduring the last three decades using quantitative approaches. Theselection of the works to be examined was based on a survey ofall issues published since 1970 by the following journals: RevistaBrasileira de Estudos Pedagógicos (Inep/MEC), Cadernos de Pes-quisa (Fundação Carlos Chagas), Educação e Realidade (UFRS),Educação e Sociedade (Cedes/Unicamp), Revista Brasileira deEducação (ANPEd), Estudos em Avaliação Educacional (Funda-ção Carlos Chagas), and Ensaio (Fundação Cesgranrio). Somebibliographical sources were consulted in the search for otherstudies. The text highlights the importance of theoreticalperspectives for the outlining and development of the studies,which should be put in the context of a reflection on educationand of problematization. It also points to the need for adjustingthe choices of types of analyses used. The work discusses theweak Brazilian tradition of carrying out quantitative studies ineducation, and the possible role of quantification in educationalresearch. It shows some contributions from quantitative studiesto the reflection in the field of education, and also for the basisof some critical perspectives. Those contributions were treatedaccording to some themes, namely: illiteracy, schooling path andschool failure; school flux/cutoff analysis; literacy; policies andbasic education; financing of education/municipalization; socialfactors and education; youth and education; educational evaluation;assorted themes.

Keywords

Educational research — Quantitative methods — Statistics —Demography.

Contact:Bernardete A. GattiAv. Prof. Francisco Morato, 156505513-900 - São Paulo - SPe-mail: [email protected]

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Atualmente, na área da pesquisa edu-cacional, excluindo análises de dados de ava-liações de rendimento escolar realizadas emalguns sistemas educacionais no Brasil, poucosestudos empregam metodologias quantitativas.Há mais de duas décadas que na formação deeducadores e de mestres e doutores em educa-ção não se contemplam estudos disciplinaressobre esses métodos. No entanto, há problemaseducacionais que para sua contextualização ecompreensão necessitam ser qualificados atra-vés de dados quantitativos. Por exemplo, comocompreender a questão do analfabetismo noBrasil, e discutir políticas em relação a esseproblema, sem ter dados sobre seu volume e asua distribuição segundo algumas variáveis,como gênero, idade, condição socioeconômica,região geográfica, cidade-meio rural, etc. Osnúmeros aqui se tornam muito importantes esuas relações também. No entanto, o uso dasbases de dados existentes sobre educação émuito pequeno pela dificuldade dos educado-res em lidar com dados demográficos e commedidas de um modo geral. Estudos que utili-zam mensurações também são poucos. Essadificuldade no uso de dados numéricos napesquisa educacional rebate de outro lado nadificuldade de leitura crítica, consciente, dostrabalhos que os utilizam, o que gera na áreaeducacional dois comportamentos típicos: ouse acredita piamente em qualquer dado citado(muitas vezes dependendo de quem cita — ar-gumento de autoridade), ou se rejeita qualquerdado traduzido em número por razões ideoló-gicas reificadas, a priori.

No emprego dos métodos quantitativosprecisamos considerar dois aspectos, comoponto de partida: primeiro, que os números,freqüências, medidas, têm algumas proprieda-des que delimitam as operações que se podemfazer com eles, e que deixam claro seu alcan-ce; segundo, que as boas análises dependem deboas perguntas que o pesquisador venha afazer, ou seja, da qualidade teórica e da pers-pectiva epistêmica na abordagem do problema,as quais guiam as análises e as interpretações.

Sem considerar estas condições como ponto departida, de um lado, corre-se o risco de usarcertos tratamentos estatísticos indevidamente, e,de outro, de não se obter interpretações qua-litativamente significativas a partir das análisesnuméricas. Em si, tabelas, indicadores, testes designificância, etc., nada dizem. O significadodos resultados é dado pelo pesquisador emfunção de seu estofo teórico.

Os métodos de análise de dados que setraduzem por números podem ser muito úteisna compreensão de diversos problemas educa-cionais. Mais ainda, a combinação deste tipo dedados com dados oriundos de metodologiasqualitativas, podem vir a enriquecer a compre-ensão de eventos, fatos, processos. As duasabordagens demandam, no entanto, o esforçode reflexão do pesquisador para dar sentido aomaterial levantado e analisado.

Sem tradição sólida

Comum é encontrarmos a afirmação deque até meados do século passado predomina-vam no Brasil os estudos de natureza quantita-tiva, batizados de tecnicistas ou, mais inadequa-damente, positivistas. No entanto, estudos publi-cados nos inícios dos anos 1970 (Gouveia,1980;Di Dio,1974) nos mostram, primeiro, que a pes-quisa em educação era muito escassa e mesmoincipiente até então; e, segundo, que além dis-so, dos estudos levantados pelos autores citados,71% não eram estudos que utilizavam dadosquantitativos e, dentre os que os utilizavam, amaioria empregava apenas análise descritiva detabelas de freqüências, alguns poucos correla-ções e raríssimos estudos empregavam análisemultidimensional. Di Dio (1974, p. 520) assim seexpressa:

1. A esmagadora maioria das investigaçõessão históricas ou estudos descritivos, levanta-mentos e outros enfoques não-experimentais. 2. O instrumento de medida preferido é oquestionário. 3. Quando são empregadas técnicas estatís-

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ticas, trata-se usualmente de percentagens ecoeficientes de correlação.

O uso de dados quantitativos na pes-quisa educacional no Brasil nunca teve, pois,uma tradição sólida, ou uma utilização maisampla. Isto dificultou, e dificulta, o uso dessesinstrumentais analíticos de modo mais consis-tente, bem como dificulta a construção de umaperspectiva mais fundamentada e crítica sobreo que eles podem ou não podem nos oferecer;dificulta ainda a construção de uma perspectivaconsistente face aos limites desses métodos,limites que também existem nas metodologiasditas qualitativas os quais, em geral, não têmsido também considerados. De outro lado, di-ficulta a leitura crítica e contextuada quandodados quantitativos são trazidos à discussão,seja nos âmbitos acadêmicos, seja em âmbitopúblico.

Devemos considerar também que, mui-tos dos estudos quantitativos em educação,especialmente os que se utilizam de técnicas deanálise mais sofisticadas, mais flexíveis e maisrobustas, não são realizados por educadoresmas por pesquisadores de outras áreas que sedebruçam sobre o objeto educação (economis-tas, físicos, estatísticos, sociólogos, psicólogos,etc.). Com isto, interpretações e teorizaçõesnem sempre incorporam as discussões em pautano campo das reflexões sobre a educação.

A abordagem quantitativa:significado e condições

As colocações de Falcão e Régnier(2000, p. 232) podem pautar nossa compreen-são do papel da quantificação na pesquisaeducacional. Esses autores postulam que a aná-lise de dados quantitativos constitui-se em umtrabalho que propicia que “a informação quenão pode ser diretamente visualizada a partir deuma massa de dados poderá sê-lo se tais dadossofrerem algum tipo de transformação quepermita uma observação de um outro ponto devista”. Complementam que “a quantificação

abrange um conjunto de procedimentos, técni-cas e algoritmos destinados a auxiliar o pesqui-sador a extrair de seus dados subsídios pararesponder à(s) pergunta(s) que o mesmo esta-beleceu como objetivo(s) de seu trabalho”. Ogrifo dessas duas palavras pelos autores cita-dos é muito importantes porque nos lembramque os métodos quantitativos de análise sãorecursos para o pesquisador, o qual deve saberlidar com eles em seu contexto de reflexão(num certo sentido deve dominá-los) e, não,submeter-se cegamente a eles, entendendo queo tratamento desses dados por meio de indica-dores, testes de inferência, etc. oferecem indí-cios sobre as questões tratadas, não verdades;que fazem aflorar semelhanças, proximidadesou plausibilidades, não certezas.

O domínio de que falamos demandaconhecimento dos pressupostos que sustentamcada técnica de análise quantitativa emprega-da e de seus conseqüentes. Pressupõe um co-nhecimento do contexto em que os dados fo-ram produzidos e de sua forma de medida e decoleta. Pressupõe um conhecimento amplo eaprofundado da área em que os problemasestudados se situam. Pressupõe, pois, o domí-nio de teorizações e o conhecimento de seuscontornos epistêmicos. Este domínio permiteescapar ao uso mecânico de técnicas de aná-lise quantitativa, permite ainda detectar osmaus usos dessas técnicas e as distorções deanálises.

Há diversas formas de se obter quanti-ficações, dependendo da natureza do objeto,dos objetivos do investigador e do instrumen-to de coleta. Podemos, grosso modo, distinguirtrês tipos de dados: categóricos, ordenados emétricos. Para cada um deles há possibilidadesde tratamentos específicos. Os dados categoriaissão aqueles que apenas podemos colocar emclassificações (classes) e verificar sua freqüêncianas classes. Exemplo simples deste tipo de dadoé a contagem de pessoas conforme seu sexo nascategorias masculino e feminino; a leitura pre-ferida escolhida: livros ou revistas ou jornal ounenhum; o último nível escolar freqüentado:

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nenhum/ fundamen ta l /méd io / supe r i o r.Categorizações permitem agrupamento segun-do alguma característica, discriminando umagrupamento do outro. Podem-se cruzar cate-gorizações obtendo maior detalhamento da in-formação: sexo x último nível escolar freqüen-tado; ou sexo x último nível escolar freqüenta-do x leitura preferida. Os dados são chamadosde ordenados quando estão numa forma quemostra sua posição relativa segundo alguma ca-racterística, mas que não há associação de umvalor numérico para essa característica, nemum intervalo regular entre uma posição e ou-tra. Um exemplo é a ordem de chegada decarros em uma corrida: primeiro, segundo, ter-ceiro, etc., ou a ordenação de alunos por umprofessor apenas de acordo com a sua opiniãosobre seu desempenho, do melhor ao pior: oprimeiro colocado, o segundo, o terceiro, etc.O terceiro tipo de dado — métrico — consiste deobservações relativas a características que po-dem ser mensuradas e expressas numa escalanumérica: os graus da temperatura; notas emuma escala definida. Cada tipo de dado impli-ca tipos diferentes de tratamento estatísticopossíveis. Lembramos que todas as medidas sãoarbitradas, criadas, inventadas, e não podem sertomadas como sendo a própria natureza dascoisas; isto também se aplica às categorias dosestudos de análise de conteúdo e outras aná-lises dos modelos qualitativos. O que se procu-ra ao criar uma tradução numérica ou catego-rial de fatos, eventos, fenômenos, é que estatradução tenha algum grau de validade racio-nal, teórica, no confronto com a dinâmicaobservável dos fenômenos.

Visitando alguns trabalhos

Procuramos trazer para comentar nes-te artigo alguns trabalhos realizados com abor-dagens quantitativas, representativos na discus-são educacional nos últimos trinta anos, bemcomo representativos de formas de análisediversificadas. Tentaremos mostrar como dadosse compõem com teoria e interpretações qua-

litativas e que determinadas questões deman-dam dados numéricos e suas técnicas de aná-lise. Para a seleção dos trabalhos fizemos umlevantamento exaustivo em todos os númerospublicados de 1970 para cá dos seguintesperiódicos: Revista Brasileira de Estudos Peda-gógicos (Inep/MEC); Cadernos de Pesquisa(Fundação Carlos Chagas); Educação e Realida-de (UFRS); Educação e Sociedade (Cedes/Unicamp); Revista Brasileira de Educação(ANPEd); Estudos em Avaliação Educacional(Fundação Carlos Chagas); Ensaio (FundaçãoCesgranrio). Procedemos a um levantamento defontes bibliográficas indexadas para detectarlivros ou relatórios contendo esse tipo de abor-dagem. Não nos debruçamos sobre dissertaçõesde mestrado ou teses. Entre os trabalhos en-contrados selecionamos os que mais aparecemreferenciados em determinado tema, ou que seconstituíram em foco de debate. Certamentealgumas pesquisas importantes ficarão fora dapresente exposição, mas uma escolha se feznecessária. Apresentaremos os trabalhos porsub-conjuntos temáticos.

Analfabetismo, percurso escolar e fracasso

escolar

Muitos dos estudos sobre os problemasde fluxo escolar, analfabetismo, fracasso esco-lar são de natureza demográfica, ou seja, tra-balham com massas de dados populacionais, desistemas educacionais ou sub-sistemas. Essesestudos permitem: 1. análises do estado, dasituação geral, ou associada a determinadosfatores, em relação a problemas sociais/educa-cionais, pelo agrupamento de dados, pelo cál-culo de taxas ou indicadores simples ou maiscomplexos; 2. análises de movimento, que pro-piciam perspectivas sobre ocorrências ao longode um certo período de tempo (um ano, vári-os anos, décadas, etc.) evidenciando a dinâmicados eventos.

Nos estudos demográficos em educaçãohá tempos se destacam os trabalhos de AlceuR. Ferrari, não só pelos tratamentos que reali-

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zou e realiza com dados censitários abordandoproblemas do analfabetismo, dos fluxos esco-lares, como pelas suas preocupações metodo-lógicas e de teoria educacional. Ferrari (1979,p. 253-266) em artigo publicado pela revistaEducação e Realidade da Faculdade de Educa-ção da Universidade Federal do Rio Grande doSul, em que trata dos usos de estatísticas edu-cacionais dos censos e dos registros escolares,deixa clara sua preocupação em mostrar asdiversas possibilidades de utilização das estatís-ticas educacionais tanto descritiva como expli-cativamente, seu alcance e seus limites, consi-derando a “importância de se evitar oempirismo, o maior risco, sem dúvida, na utili-zação de fontes estatísticas”, como tambémconsiderando que a “mediação teórica é indis-pensável para se passar do dado para o indica-dor. Não bastam dados, uma calculadora e umoperador”. Citando Solari (1963, p. 61) lembra:“Todo indicador supõe um ou mais dados ela-borados de maneira refinada ou tosca, porémeles não bastam para se construir um indicador,já que se requer sua inserção em uma teoria”.Selecionamos três trabalhos de Ferrari (1985;1988; 2002) realizados em momentos diferen-tes de nossa história educacional, que trouxe-ram dados e análises que são fontes seguras deinspiração tanto para a reflexão crítica sobre ossistemas educacionais como para a proposiçãode ações educacionais. No artigo “Analfabetis-mo no Brasil: tendência secular e avanços re-centes” (Ferrari, 1985, p. 35-49) confrontadados das PNADs 1977 e 1982 (Pesquisa Do-miciliar por Amostragem de Domicílios) e doCenso Demográfico de 1980 com as experiên-cias do Mobral relativamente ao declínio dosíndices de analfabetismo no Brasil na décadade 1970. Analisa a tendência secular (1872 a1980) dos índices de analfabetismo para oBrasil e algumas regiões, levantando a questãodas origens históricas das desigualdades educa-cionais regionais. Com base em comparação dedados de diversas naturezas e indicadores pro-cura lançar luz sobre o processo de produçãodo analfabetismo e sobre as relações entre

analfabetismo e ensino fundamental. Concluiquestionando as políticas oficiais em suas con-tradições, mostrando ainda como a escola pro-duz o analfabetismo por meio do processo deexclusão, processo este que engloba tantoaqueles que são excluídos sem sequer chegar aser admitidos a ela na idade de escolarizaçãoobrigatória, como os que, tendo sido admiti-dos, são depois excluídos no próprio processode ensino pela reprovação e a repetência.

A exclusão praticada no processo de alfabetiza-ção, através da reprovação e repetência, ali-menta, no momento seguinte, através do queeufemísticamente se denomina de evasão escolar,o contingente dos já excluídos do processo(Ferrari, 1985, p. 49)

No texto de 1988 (p. 55-74) publicadopela RBEP Alceu Ferrari estuda a evolução damatrícula e dos índices de atendimento pré-escolar no Brasil, entre 1968 e 1986, confron-tando a participação do setor público e doprivado nessa evolução. Usando dadoscensitários brutos, taxas de escolarização, taxasde incremento e dados de renda familiar, discu-te a relação público/privado, as políticas doConselho Federal de Educação no setor, ques-tões de renda e pré-escola e a questão da qua-lidade do atendimento pré-escolar. Nas conclu-sões ressalta que os resultados “casam muitobem com o próprio projeto social do períododa ditadura militar — projeto autoritário, sele-tivo, excludente. Não há nada nas análises fei-tas que indique uma diminuição das desigual-dades escolares e sociais através da educaçãopré-escolar oferecida pelos poderes públicos”.Os índices e as relações encontradas mostramuma realidade que fica muito distante “das in-tenções ou propósitos enunciados pelosformuladores da política educacional”. (Ferrari,1988, p. 72) O artigo de Ferrari (2002, p. 21-47) publicado pela revista Educação e Socie-dade, trata do analfabetismo e dos níveis deletramento no Brasil. Faz uma grande síntesehistórica de dados, a partir da discussão da

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emergência do analfabetismo como problemapolítico no final do período imperial e dasmudanças conceituais quanto à caracterizaçãodo analfabetismo, o que gera problemas decomparabilidade. A partir disso, estuda as ten-dências de longo prazo, desde o primeiro censode 1872 até o censo de 2000, e, com baseneste censo, classifica a população em diferen-tes níveis de letramento. Por um lado, os dadostrabalhados mostram a persistência do analfa-betismo no país. Verifica-se pelas tabelas egráficos que, se houve queda progressiva dataxa de analfabetismo no Brasil, por outro ve-rifica-se o aumento continuado do número ab-soluto de analfabetos até 1980 com queda nes-se número até o ano 2000, porém, restandoainda muitos milhões de brasileiros “marcadoscom o estigma do analfabetismo, essa formaextrema de exclusão educacional, geralmentesecundada por outras formas de exclusão soci-al”. Quanto aos níveis de letramento mostra quedois terços da população de 15 anos ou mais(71 milhões) estão entre a categoria “sem ins-trução e menos de um ano de estudo” e “até 7anos de estudo”, ou seja, sem terminar o ensi-no fundamental. Isto dá uma dimensão do “ta-manho do desafio posto à educação nos pró-ximos anos (ou décadas?)”. Assim, pensandopolítica educacional, “os resultados do estudoobrigam a questionar fortemente o princípio ea prática de, a título de priorização da educa-ção fundamental na ‘idade própria’, relegar-sea segundo plano a educação de jovens e adul-tos e a educação infantil”. Lembra então que, “onão acesso de muitas crianças ainda à educa-ção infantil está constituindo-se rapidamenteem fator de diferenciação e discriminação noprocesso de escolarização” (Ferrari, 2000, p. 44).

Ainda podemos destacar estudo sobreos indicadores de analfabetismo de Pinto et al.(2000, p. 511-524), publicado na RBEP/Inep,analisando fatores associados ao analfabetismo,a partir do Censo de 2000, detalhando o anal-fabetismo por município, gênero, idade e ren-da, tendo como contexto de análise as políti-cas e programas de erradicação do analfabetis-

mo e a questão dos alfabetizadores. Em funçãodo grande número de programas para supera-ção do analfabetismo, e sua descontinuidade, épreciso pensar em otimizar recursos e qualificarmelhor os alfabetizadores. Concluem:

De qualquer forma, uma coisa é certa: sem-pre há e sempre houve disposição da popula-ção para se engajar nos programas de alfabe-tização; o que faltou muitas vezes foram pro-gramas de qualidade, claramente delineadospara seus diferentes perfis, e com o nível deprofissionalização que se espera de qualqueratividade. Nesta área, improvisação geral-mente redunda em fracasso[...] (Pinto et al.,2000, p. 523)

Fluxo escolar/análise de coortes: outra

metodologia

Em 1993 Sérgio C. Ribeiro publica ar-tigo confrontando as análises quantitativas doMEC com as feitas por um modelo alternativo— Profluxo (Fletcher; Ribeiro, 1989) — com oqual elabora um novo cenário do fluxo de alu-nos no ensino fundamental no Brasil. Suasanálises mostram com clareza os problemas darepetência no âmbito escolar: “Os graduadoslevam (no ensino fundamental) em média 11,4anos freqüentando a escola de 1ºgrau, o quecorresponde a um acúmulo de mais de trêsrepetências por graduado” (Ribeiro, 1993, p.67). As curvas de fluxo “além de mostrar aineficiência do sistema, reforçam também ainterpretação sobre a persistência de nossosalunos em sua determinação de se educar”.Analisa as diversas formas de repetência prati-cadas no cotidiano do sistema e suas conse-qüências (em dados), estuda essa questão se-gundo índices de renda e grupos populacionaisdiferentes, complementando suas análises comcomparação de dados do desempenho de alu-nos de 13 anos de idade em matemática, como produto nacional bruto (PNB) per capita egastos com educação. Isso o leva a tratar docusto aluno/ano no sistema público de ensino

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fundamental. Avança no texto algumas conclu-sões, como: “A idéia de que a repetência é boapara o aluno e sinal de bom ensino na escolaestá baseada num dos muitos mitos equivoca-dos. Observa-se que a probabilidade de umaluno repetente ser aprovado é quase a meta-de da probabilidade de aprovação de um alu-no novo na série...”. Com este dado afirma que“a repetência é, em si mesma, uma das princi-pais causas da repetência”, completando:

É claro que nessa nossa “pedagogia da repe-tência”, a ameaça de reprovação constitui oprincipal mecanismo de pressão ou ‘motivação’para que os alunos estudem. Esse mecanismorevela a cultura autoritária e repressiva de nossasociedade, e é difícil de ser substituído por ou-tros tipos de motivação, de natureza positiva.(Ribeiro, 1993, p. 72)

Ribeiro encerra seu texto discutindo umnovo modelo de gestão e financiamento daescola pública e o papel do Estado. Este traba-lho, sem dúvida, causou impacto na discussãodo problema da repetência nos sistemas deensino.

A questão do letramento: uma discussão

recente

Do ponto de vista de análises que uti-lizam dados quantificados, destacamos aqui ostrabalhos realizados por pesquisadoras da ONGAção Educativa. Ribeiro (1998, 2003) estudan-do analfabetismo funcional no âmbito de umprojeto internacional comparado, coordenadopela OREALC/Unesco, aplicou em São Paulo, auma amostra representativa de mil jovens eadultos, da população de 15 a 54 anos deidade, um teste de leitura e um questionário, e,com uma sub-amostra de 26 casos, realizaram-se entrevistas em profundidade, propondo-setambém tarefas simuladas de leitura e escritapara serem realizadas em interação com asentrevistadoras. O delineamento da pesquisa, osinstrumentos e as análises fundamentaram-se

em discussões teóricas sobre o conceito dealfabetismo/analfabetismo funcional e seu pa-pel social, havendo um cuidadoso tratamentodo estado do campo teórico. Isto conduziu aalgumas definições metodológicas que nor-tearam o trabalho de campo e as análises.

Considerando que toda a população pesquisadaparticipa de uma sociedade caracterizada peloalfabetismo, ou seja, pela ampla utilização dalinguagem escrita em várias esferas do sistemasocial, passam a interessar as diferentes atitu-des em relação a esses contextos e a essa tradi-ção cultural que possam estar associadas a di-ferentes graus e tipos de habilidade e uso dalinguagem escrita. (Ribeiro, 1998, p. 7)

O estudo abordou ainda as relações doalfabetismo com a escolarização. O conjunto daamostra foi caracterizado segundo níveis dehabilidades evidenciados no teste, cruzando-seestes níveis com alguns fatores explicativos. Asanálises ainda levaram à distinção de quatrodomínios relacionados ao alfabetismo: atitudescom relação à expressão da subjetividade; ati-tudes com relação à informação; atitudes comrelação ao planejamento e controle de proce-dimentos; atitudes com relação à aprendiza-gem. Feitas as análises estatísticas, entre elasanálises multivariadas, e discutidos os resulta-dos à luz do referencial adotado, Ribeiro fazuma reflexão crítica detalhada sobre as impli-cações político-pedagógicas em função do queesse conjunto de dados evidenciou. Contesta aimagem da alfabetização “como uma vacina”que erradicaria para sempre o analfabetismo; oscontextos de vida podem complementar/extin-guir essas habilidade. Processos fugazes nãoresolvem o problema.

As políticas de intervenção nesse campo devemfundar-se numa visão integrada dos processosde aquisição, manutenção e desenvolvimentodas habilidades de leitura e escrita entre crian-ças, jovens e adultos, no trabalho, na escola, nafamília, nas organizações da coletividade, esta-

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belecendo nexos entre a educação básica e aeducação continuada. (Ribeiro, 1998, p. 11)

É importante garantir um patamar co-mum de habilidades e atitudes com relação àlinguagem escrita, pois isto é

um fator fundamental de coesão nas sociedadescomplexas, de igualdade de oportunidades e deampliação de possibilidades comunicativas, gra-ças às quais cada pessoa se apropria e se enri-quece com a diversidade que é própria da cul-tura. (Ribeiro, p. 14)

Uma pesquisa extensiva ao Brasil, nes-ta mesma direção, foi realizada em 2001 epublicada sob o título “Letramento no Brasil:alguns resultados do indicador nacional dealfabetismo funcional (Ribeiro; Vóvio; Moura,2002, p. 49-70). A amostra representativa na-cional abrangeu pessoas de 15 a 64 anos, e osdados foram analisados levando em conta ní-veis obtidos em habilidade de leitura e escrita,por anos de estudo, regiões, sub-grupos dapopulação, renda, sexo, idade, gosto por ler. Osdados da pesquisa sobre letramento no Brasilmostrou com clareza nichos bem problemáticosquanto ao uso da leitura e escrita. Pelos núme-ros e tratamentos multivariados vê-se que

um contingente significativo utiliza as habilida-des de leitura e escrita em contextos restritos e,conseqüentemente, demonstra habilidades res-tritas no teste de leitura... A pesquisa revelacomo os déficits educacionais se traduzem emdesigualdades quanto ao acesso a vários bensculturais, oportunidades de trabalho e desenvol-vimento pessoal que caracterizam as sociedadesletradas. (Ribeiro, 1998, p. 68)

Políticas de educação básica

Um dos estudos que causou impactonas análises de políticas educacionais para oensino fundamental (à época, ensino de 1º e 2ºgraus), nos anos 1980, foi o realizado por

Barretto et al. (1979, p. 21-40). A pesquisa foirealizada nos anos finais da ditadura militar,numa perspectiva crítica, discutindo e contra-pondo dados do sistema de ensino aos objeti-vos colocados nos documentos oficiais. Além deanalisar taxas de escolarização no ensino fun-damental, sob as condições de vários fatores,trazem dados da dinâmica evolutiva da pirâmi-de educacional, agregando dados sobre a pré-escola, o ensino supletivo e a orientação cur-ricular vigente então. A perspectiva em que asautoras se colocam, e que orientou o tratamen-to dos dados, assim se traduzia:

A análise da política educacional não podeprescindir do confronto do que é declarado nospressupostos e metas que as orientam, com osdados a respeito dos resultados alcançados. [...]Desse modo, a dimensão do declarado — ex-pressa pelos planos, programas e projetos deação — passa a ser entendida em seu caráterpolítico, isto é, como produtos da negociaçãoentre interesses diferentes ou até mesmo anta-gônicos, tendo em vista obter certo grau deconsenso acerca dos fins e dos meios da educa-ção, consenso este que, mesmo que provisório, énecessário como apoio à ação político-educa-cional. (Ribeiro, 1998, p. 21).

A alocação de recursos tem papel impor-tante aqui, visto que pensar a democratização doensino não basta, é preciso que as ações efetiva-mente realizadas sejam democratizadoras. Asanálises, os contrapontos de dados efetivados, aperspectiva de fundo que orientou as autoraslevam-nas a afirmar que “a escola é muito maisdeterminada do que determinante em suas re-lações com o meio social.” (Ribeiro, p. 36) Mas,isto não pode ser um álibi cômodo para osgestores e componentes do sistema. Se por umlado as autoras põem em questão “o pedago-gismo ingênuo que supõe ser a educação oprincipal elemento propulsor da superação dapobreza”, por outro colocam a tarefa inadiável,nessa tomada de consciência, de “encontrar eviabilizar alternativas de ação que permitam à

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escola ocupar esse espaço que lhe é próprio [...]Nesse caminho passar-se-á pelo pedagógico”.Não esquecendo que “mudanças qualitativas eprioridades quantitativas são integrantes deuma mesma unidade [...]” e que “uma escolaque se modifica para ir de [sic] encontro às ne-cessidades da maioria, deverá necessariamenteexpandir-se quantitativamente no mesmo sen-tido” (Ribeiro, 1998, p. 36). Esse trabalho ge-rou vários outros e teve penetração não apenasnos âmbitos acadêmicos, mas nos âmbitos daadministração pública da educação, gerandoem ambos os meios novas formas de tratar aquestão da democratização do ensino.

Na linha das análises de inspiraçãodemográfica, indispensáveis para uma visãomacro das situações educacionais, com dadosque permitiram panoramas sobre o atendimentode crianças de 0 a 6 anos, encontramos ostrabalhos de Rosemberg (1989; 1991; 1992;1996; 1999; 2001). Situa seus dados face aidéias difundidas e políticas implementadas.Seus trabalhos tiveram ressonância seja em Co-missões Parlamentares, seja em órgãos execu-tivos da área da Educação, seja em órgãos dasociedade civil, não só no Brasil como em ní-vel internacional. Entre seus trabalhos destaca-mos o artigo “Educação infantil, classe, raça egênero (Rosemberg, 1996, p. 58-65). Usa, nestetexto, tabulações especiais de PNAD’s para si-tuar seu problema no complexo de variáveisque o compõem, analisando também, através devárias outras fontes, dados sobre a escolarida-de de trabalhadores(as) de educação infantil,em diversas modalidades de estabelecimento epelas suas várias denominações profissionais.Com base nos achados numéricos e agregandovários estudos à sua discussão, inclusive sobreas tendências de políticas de educação infantilno Brasil e em outros países, mostra que nestespaíses havia um movimento de requalificação daeducação infantil, após um processo de expan-são, o que não se verifica no Brasil.

A expansão desordenada, caótica e, principal-mente, a permanência de trajetórias duplas, tri-

plas ou quádruplas em educação infantil — cre-ches públicas, creches conveniadas, pré-escolaspúblicas e conveniadas —, geralmente abrempossibilidades ao oferecimento simultâneo deserviços com qualidade extremamente desigual.É esta desigualdade no custeio/qualidade quepenaliza crianças pobres e negras de diferentesformas, inclusive esta que denominei de morteeducacional anunciada [...] O caminho que nosparece mais adequado neste momento para su-perar este intrincado jogo de subordinação declasse, raça, gênero e idade que vem prejudi-cando as crianças através da educação infantilseria o da formação e qualificação da traba-lhadora que lida diretamente com a criança.(Rosemberg, 1996, p. 64)

Continuando essa discussão, Rosembergpublica em 1999 um novo estudo sobre a ex-pansão da educação infantil e os processos deexclusão. Trabalhando com diferentes indica-dores construídos para várias décadas — taxasde escolarização, IDH, etc. — considerandoidade, cor, rendimento familiar, sexo, situaçãourbana ou rural, região. Parte de dados doIBGE, PNAD’s, SEEC/MEC, PNUD/IPEA, faz aná-lises de movimento da população inserida/nãoinserida na educação infantil, delineia perfisdas crianças, calcula correlações entre indica-dores sociorraciais, faz testes de significância.Mostra com clareza como complexas relaçõesde elementos socioeconômicos, culturais epolíticos constroem a exclusão de camadaspopulacionais que ficam à margem do proces-so de mobilidade social:

as análises apontam que houve um exacerba-mento desse processo no bojo da implantação deuma política educacional para todos, baseada noargumento da equalização de oportunidades:para os pobres (compensação de carência), e,para as mulheres (a educação infantil como al-ternativa de guarda do filho, permitindo o tra-balho materno). E, o paradoxal é que, em todosos estados que implantaram esse modelo de edu-cação infantil a baixo investimento, as constitui-

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ções estaduais estampam pronunciamentos anti-racistas e anti-sexistas no capítulo da educa-ção.” (Rosemberg, 1999, p. 34)

Quanto ao ensino médio as referênciase estudos são em menor número do que osrelativos ao ensino fundamental e à educaçãoinfantil. Trabalho recente de Franco; Zibas(1999) traz uma detalhada análise de indicado-res para o final do século XX. Dissecam a ques-tão analisando a evolução das matrículas nes-se nível com comparações populacionais, osmunicípios ofertantes/não ofertantes, por re-gião, funções docentes e formação, dependên-cia administrativa, turno escolar, faixa etária,distorção série/idade, sexo, aprovação/reprova-ção, habilitações. Ao longo do texto discutemos dados à luz de discussões de políticas emeducação, da legislação proposta. Partem daidéia de que,

Nesse cenário de grandes inovações, é neces-sário, mais do que nunca, manter sempreatualizados os indicadores quantitativos, sub-metendo-os constantemente a análises quetracem o panorama evolutivo do Ensino Mé-dio, construindo diagnósticos e prognósticosque orientem novas ações dos órgãos centrais,seja para reforçar diretrizes já traçadas, sejapara corrigir efeitos não desejados. (Franco;Zibas, 1999, p. 3)

Ao finalizarem seu texto, pontuam:

As análises realizadas permitem concluir queo aumento considerável das matrículas noEnsino Médio, principalmente nas redes esta-duais, está exigindo o aprimoramento de es-tudos projetivos para que se possa aquilatar oritmo de crescimento da demanda. A urgênciade maior investimento — financeiro e técnico— nas redes estaduais é o imperativo maiscontundente que se deduz a partir das estatís-ticas detalhadas neste trabalho. Além disso,a predominância de cursos noturnos, quedeve, infelizmente, permanecer por muito

tempo ainda, indica a necessidade de que oEnsino Médio se reestruture para o atendi-mento das peculiaridades do trabalhador-es-tudante. (op cit., p. 65).

Financiamento da Educação/

Municipalização

Ao analisarmos os estudos sobre finan-ciamento da educação verificamos que teorica-mente se acham associados às discussões depolíticas. Estes estudos dependem de examedetalhado de dados quantitativos, com domínioda contabilidade pública e sua legislação. Es-ses dados não prescindem de tratamentos ade-quados pois, em bruto, pouco informam. Nes-sa área, infelizmente, poucos estudos analíticossão feitos. Podemos citar, como referência, al-guns trabalhos clássicos, outros mais recentes.O texto de Melchior (1980), sobre financiamen-to da educação no Brasil numa perspectivademocrática, foi marcante. Melchior analisouaspectos do financiamento da educação, comdados reprocessados e reorganizados para umaanálise mais consistente da questão, em geraldiscutida sem grandes apoios em dados fidedig-nos. Trabalhou com uma visão integrada deaspectos políticos, econômicos e sociais, che-gando a propor sugestões a curto, médio elongo prazos. Em 1982, Paro publica estudodos custos diretos do aluno do ensino públicodo estado de São Paulo. Pesquisando, por umsistema amostral nas escolas, e com a discus-são de alguns conceitos relativos aos tipos dedados a serem colhidos, expõe a metodologiade cálculo a que chegou. Com isso estuda ocusto/aluno/ano segundo os tipos de escola, asregiões, as classes de renda per capita, os ní-veis de carência, os níveis de hierarquia funci-onal, o número de alunos e número de turnos,levantando questões relevantes para a discus-são do financiamento da escola. Gomes Netto(1993) estudou a relação entre investimentosem educação — livro escolar, material didático,condições físicas da escola — e melhoria daeficiência, constatando impacto positivo na

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trajetória escolar, associado a esses investimen-tos. Jacques Velloso (1985; 1987a-b; 2000) eVelloso et al. (1992) desenvolveram vários tra-balhos no tema, sendo referência na área, tra-tando de aspectos diversos dos recursos para oensino e as políticas educacionais. A RevistaBrasileira de Estudos Pedagógicos em seusnúmeros 200/201/202 (v. 82) de 2001 publicouo relatório do Grupo de Trabalho criado peloministro Cristóvam Buarque (a data da revistanão corresponde à data de sua real publicaçãoque foi em 2003) sobre financiamento da edu-cação. Analisam-se os gastos feitos pelos dife-rentes níveis de governo, como também pelasfamílias, discutindo-se os custos estimados deuma escola de qualidade e o impacto do Fun-do (a criar) de Manutenção e Desenvolvimen-to da Educação Básica e da implementação dasmetas estabelecidas no Plano Nacional de Edu-cação (PNE). Com a análise dos dados e os cál-culos estimados conclui-se que os gastos pú-blicos com educação, para atingir os patama-res propostos, deveriam atingir em dez anos 8%do PIB. Nesse mesmo número está um artigo deIvan C. Almeida (2001) trabalhando indicadoresde gasto com educação no período de 1994 a1999, em série histórica, por nível de ensino epor dependência administrativa, trabalhadoscom metodologia desenvolvida pelo Ipea. Emoutra direção, cabe citar o artigo de Oliveira(2001) que desenvolveu estudo para avaliar oscustos e benefícios de programas para regula-rização do fluxo escolar no ensino fundamen-tal, trabalhando dados diversos, inclusive dosprogramas de aceleração, levantando as impli-cações para as políticas públicas.

A questão da responsabilidade dos mu-nicípios em relação à educação vem ocupandoespaço nos trabalhos recentes, sobretudo comanálises financeiras e de eficácia do Fundef, oque exige tratamento de dados quantitativos devariadas naturezas. Podemos citar aqui os traba-lhos de Monlevade; Ferreira (1997); Guimarães(1999; 2000); Verhine (1999; 2000); Castro(1998); Pinto (2002). Ampliando o escopo des-sas discussões, recentemente Martins; Perez

(2002) finalizaram trabalho sobre o processo demunicipalização no estado de São Paulo, estu-dando, além de questões do Fundo, mudançasinstitucionais e os atores escolares, tentandoverificar “se o novo desenho institucional con-figurado pelo processo de municipalização emcurso democratizou a gestão da rede de esco-las, tornando mais equânime a cobertura dosserviços educacionais, ou não” (Martins; Perez,2002, p. 3); o trabalho de campo combinoudados quantitativos com coletas qualitativas,intercruzando inferências. Trabalharam comdistribuição de matrículas numa seqüência deseis anos, analisando a municipalização por ano,porte do município, por regiões administrativas,pelo partido do prefeito, forma de municipalização,forma de contribuição para o Fundef. Constata-seuma heterogeneidade muito grande segundosubconjuntos de fatores intervenientes no processode implementação dos sistemas municipais, e, comos estudos de caso realizados, mostram que de umlado

a mudança de lócus de negociação — da esferaestadual para a esfera municipal — atingiu asreivindicações e/ou expectativas dos docentes,acentuando ou (re)normatizando os conflitosentre os pares e entre estes e o novo centro dopoder: a Secretaria Municipal de Educação. Deoutra parte, permitiu que os professores reali-zassem uma (re)leitura do próprio conjuntonormativo-legal, possibilitando a construção deuma aprendizagem mais do que pedagógica,política, pois estes se viram na contingência denegociar em bases diferenciadas daquelas prati-cadas até então, possibilitadas pela proximida-de do centro de poder. No entanto, nem todasas escolas municipalizadas encontraram cami-nhos de construção de seus próprios projetos,tendo em vista que os problemas provocadospelo convênio no que tange à situação funcio-nal, atingiram a própria possibilidade de exer-cício da profissão. A emergência e consolidaçãode formas mais plausíveis de gestão descentra-lizada da escola pública dependerão do grau dematuridade política das instâncias e dos atores

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envolvidos nesse processo que será tanto maior,quanto maiores forem as chances de se exerci-tar a democracia como prática e não comoconceito. (Martins; Perez, 2002, p. 109-110)

Fatores sociais e educação

As preocupações com as questões so-ciais e suas relações com a educação tornam-se mais explícitas no final da década de 1970e inícios de 1980. Gouveia (1980, p. 3-30) pu-blica então amplo estudo sobre origem social,escolaridade e ocupação. Seu pano de fundoteórico é a determinação social da extensão daescolaridade, considerando ocupação do pai,sexo, idade, região (Nordeste/São Paulo), posi-ções associadas a diferentes graus de escolari-dade, participação na PEA (População Econo-micamente Ativa). Utilizando-se de indicadorese de testes de significância (qui-quadrado) vaientretecendo um panorama relativamente deta-lhado sobre as relações entre estes fatores e aescolaridade. Em conclusão afirma que,

se por um lado, a origem familiar condiciona aextensão da escolaridade do indivíduo, de ou-tro, esta pode modificar o destino ocupacionalcomumente associado àquela mesma origem. Avantagem da escolaridade depende, porém, decertas circunstâncias, relacionadas em partecom transformações históricas que a todos osindivíduos de alguma forma atingem... Assim, o“efeito” de um curso “não se faz sentir da mes-ma maneira entre pessoas que provenham deorigens diversas.

Não só este trabalho mas, vários outrosde Joly Gouveia, influenciaram as reflexões eoutras pesquisas de toda uma geração de pes-quisadores na sociologia da educação.

Estudo de Lia Rosenberg publicadocomo livro (1984), sob o título Educação edesigualdade social, procurou analisar as rela-ções entre origem social e rendimento escolarna rede pública de ensino fundamental, levan-do em conta algumas características das esco-

las onde os alunos estudavam. Preocupa-setambém com os fatores intra-escolares, aindapouco estudados. A pesquisa foi amostral, porestratificação proporcional, integralizando 7.111alunos. Coletou dados sobre idade, sexo, natu-ralidade, repetência anterior, inserção no mer-cado de trabalho, série, turno, rendimento es-colar dos alunos. Utilizou dados para caracte-rização socioeconômica das famílias desses alu-nos compreendendo renda familiar mensal, ren-da per capita mensal, escolaridade do chefe defamília e classificação na escala Azzi-Marchi.Trabalhou com tabelas cruzadas e fez testes designificância estatística. Mostrou que, quantomais baixa a origem social do aluno, mais bai-xas as notas obtidas e mais altas as porcenta-gens de repetência, especialmente nas sériesiniciais; que existe uma associação entrerepetência anterior e uma nova repetência;mantida constante a origem social, mostra quea duração da jornada e outras condições daescola mantêm forte relação positiva com orendimento; e, que a influência dos fatoresintra-escolares na determinação do rendimen-to escolar é maior para os alunos de origemsocial mais baixa. Levanta a questão de que sefatores sociais externos interferem no desempe-nho escolar, este também é fortemente determi-nado por fatores intra-escolares. Há um proces-so de seletividade social em curso no interiordas escolas. Mas considera que “o conflito e ascontradições tanto no interior da escola comona sua relação com o social constituem o ter-reno para semear a inovação”. Esse trabalhocom amostra ampla criou condições para a dis-cussão do papel dos fatores intra-escolares naaprendizagem dos alunos, ampliando as pers-pectivas dos estudos de caso, muito situados edelimitados a uma sala de aula, a uma escola.O estudo de Lia Rosenberg, com ampla amos-tra, deu base para uma discussão em nível desistema e da cultura educacional mais geral.

Velloso (1984) estudou a questão darelação distribuição de renda x educação xpolíticas de Estado com base em hipótesessugeridas por estudos econômicos e sociológi-

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cos. Trabalhou com um modelo de regressãomúltipla, aplicado a dados de uma amostra detrabalhadores do sexo masculino, no setor ur-bano, que perceberam algum rendimento (afonte foi o Censo Demográfico do Brasil). Es-tudou com esses dados as variações quanto àdesigualdade de renda em função da alteraçãoda distribuição de educação de 1960 a 1980,e quanto às taxas de retorno da educação. Osresultados levam à conclusão de que “contra-pondo-se à crença na suficiência do papelredistributivo da educação está a evidênciarelativa aos efeitos da política econômica doEstado no aumento da desigualdade social”(Velloso, 1984, p. 281). Ou seja, a desigualda-de de renda não diminui necessariamente commudanças na distribuição da educação ou como crescimento econômico nas nações subdesen-volvidas.

Os jovens e a educação

Em meados da década de 1980-90 des-pontam com maior força discussões sobre asquestões ligadas aos jovens na dinâmica sociale educacional. Madeira (1986) publica à épo-ca, estudo sobre os jovens e as mudanças es-truturais, a partir de indicadores de váriostipos que tratam da inserção no trabalho dejovens, segundo sexo, setor da economia, tipode ocupação, rendimento mensal, horas traba-lhadas, situação domiciliar, situação econômicada família, cruzando com escolaridade (nível eanos de estudo). Algumas interpretações queavança dão conta da incompatibilidade do nívelde crescimento e modernização de setores bási-cos da economia e o “descalabro” da situaçãoeducacional da população jovem brasileira, den-tre outras constatações, por exemplo que na dé-cada anterior ao estudo, o que aumentou em rit-mo mais acelerado foi a escolaridade da popu-lação jovem trabalhadora, a parcela que combi-na cotidianamente escola e trabalho.

Em outros termos, o que os dados estão eviden-ciando é que ao longo da década a escolaridade

tornou-se uma credencial da maior importância,já que há uma clara tendência a que os níveisde escolaridade de adolescentes e jovens na PEA(população economicamente ativa) sejam maiselevados quando comparados com aqueles queestão fora da PEA. (Madeira, 1986, p. 26)

Em trabalho mais recente, Bercovich,Madeira; Torres pesquisaram “quantitativa eespacialmente as informações recentes relativasà situação demográfica, de trabalho e escolari-dade dos adolescentes (1997)”. Mostram ondeestão, quantos são e quantos serão (estimati-vas), sua situação no trabalho por ramos de ati-vidade — a partir do dado da PNAD em 1995segundo o qual 56,6% dos adolescentes erameconômicamente ativos —, sua situação escolare a relação escola/trabalho/família. O panoramatraçado sobre os adolescentes no Brasil só foipossível por contar-se com dados numéricos epor uma escolha criteriosa de metodologiacomparativa e multivariada que permitiu umquadro síntese provocativo. De um lado vê-seque não há como desconsiderar as diferençasregionais, e de outro observa-se que dinamica-mente avançam apenas um pouco os níveiseducacionais de adolescentes, mas diminui suataxa de atividade, o que leva a constatar que “adificuldade de inserção no mercado de traba-lho tem produzido muito mais, como vimos, aperigosa inatividade total dos jovens do quefacilidades para o avanço na escolaridade”.

Avaliação Educacional

É no campo dos estudos de avaliaçãoeducacional, mais especialmente nos estudosde rendimento escolar em nível de sistemas ousub-sistemas, que se encontra a maioria dosestudos de cunho quantitativo nos últimos dezanos. É também nessa área que modelos deanálise mais complexos vêm sendo utilizados:modelos da “teoria da reposta ao item”, mode-los de análise hierárquica, estudos de relaçõesmultivariadas, uso da teoria dos valores agrega-dos, testes de componentes de variância diver-

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sos, entre outros. Algumas referências são osestudos de Vianna (1989) analisando o desem-penho de alunos de escolas públicas em cida-des de grande porte; Ribeiro (1991) sobre “Apedagogia da repetência”; Fletcher (1991) es-tudando o perfil cognitivo da população bra-sileira; Vianna (1991) trabalhando com dadosde rendimento escolar de alunos do último anodo ensino médio; Neubauer, Davis; Espósito(1996) apresentando análises sobre o proces-so de inovações no ciclo básico e seus impac-tos sobre a situação de ensino, com análise lon-gitudinal; Taurino (1997) pesquisando os con-ceitos de norma e critério de desempenhocomo parâmetros para avaliação de programas;Costa (1999) avaliando os impactos sociais deuma política educacional democrática; Valle(2000) apresentando a Teoria da Resposta aoitem e aplicações em estudos avaliativos, so-bretudo sobre comparações longitunais; Barbo-sa; Fernandes (2000) trabalhando modelomultinível aplicado a dados variados de avali-ação educacional, Davis; Espósito; Nunes(2000) trabalhando o modelo de avaliação doSaresp e seus resultados, com estudo de signi-ficação de fatores intervenientes; Soares; Alves;Oliveira (2001) pesquisando o efeito de esco-las de nível médio no vestibular da UFMGnuma seqüência de anos; Fernandes; Natenzon(2003) estudando a evolução recente do ren-dimento escolar das crianças brasileiras atravésde uma reavaliação dos dados do Saeb; Klein(2003) discutindo o emprego da Teoria daResposta ao Item no Saeb; Sztajn, Bonamino;Franco (2003) analisando a formação docen-te a partir dos levantamentos sucessivos doSaeb, com constructos elaborados especifica-mente para esta análise.

Cada um desses estudos traz informa-ções e interpretações relevantes sobre aspectosdiversificados e críticos da situação educacio-nal, social e de aprendizagem de grandes ca-madas da população brasileira, levantandoquestões tanto sobre políticas como sobreensino-aprendizagem, além de visões sobreaspectos de impacto social da educação.

Temas variados/estudos amostrais

menores

Neste tópico lembramos de trabalhoscom foco mais restrito, alguns de naturezaquase-experimental, que utilizaram escalas demedida de diversas naturezas e/ou modelos deanálise mais sofisticados, para além de médias eporcentagens, buscando modelos inferenciais,com testes de significância, análises de variância,análises de regressão múltipla, análises fatoriais,etc. Foram mais freqüentes nos anos 1970 atémeados de 1980, sendo raríssimos na década de1990. Citamos, entre vários, o clássico estudo dePoppovic; Espósito; Cruz (1973) criando umametodologia para estudo de marginalizaçãocultural, chegando a um complexo índice dereferência, estudando-se, então, característicaspsicológicas de adolescentes culturalmentemarginalizados. Os dados analisados mostraramque “assim como o aluno culturalmente margi-nalizado não está preparado para a escola exis-tente, também a escola não está preparada paraatender a esse aluno” (p. 43), completandoque, o fator “escola” completaria a direção aser dada às pesquisas sobre margi-nalizaçãocultural, as quais deveriam conter três aspectosfundamentais — os fatores ambientais atuantes,o aluno com suas características e a escola.

Para se ter uma idéia do leque de temastratados, com as técnicas de análise destacadasacima, citamos como exemplo, os estudos de:Gatti; Goldberg (1974) analisando impacto deuma modalidade didática no desenvolvimentodo comportamento científico em adolescentes;Barroso; Mello; Faria (1978) quanto à influên-cia de características do aluno na avaliação doseu desempenho; Medeiros, Santarosa; Lewin(1979) estudando o papel do rádio no treina-mento de professores; Silva (1980) analisandoa questão da responsabilidade pelo sucesso efracasso escolar em crianças; Alencar; Rodrigues(1980) buscando compreender as causas de sa-tisfação e insatisfação entre professores do en-sino de primeiro grau; Victoria; Martines (1982)estudando numa amostra de 500 crianças de 1ª

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série de 1º grau a relação entre fatores socioeco-nômicos, estado nutricional e rendimento esco-lar; Carraher; Rego (1984) sobre desenvolvi-mento cognitivo e alfabetização; Freitag (2000)com um estudo sobre os efeitos de diferentesmétodos de alfabetização sobre a psicogêneseinfantil e sobre o rendimento escolar; e Leite(1993) com um estudo sobre a passagem paraa 5ª série. Nesse trabalho o autor teve porobjetivo avaliar o repertório de alunos da 4ªsérie, introduzir programas de revisão e propora continuidade do trabalho na 5ª série, tendomostrado, a partir da análise dos resultados, quehouve progressos relevantes no desempenhoacadêmico dos alunos, discutindo-se as dificul-dades específicas intra-escolares encontradas.

Conclusão

Estas análises, a partir de dados quantifi-cados, contextualizadas por perspectivas teóricas,com escolhas metodológicas cuidadosas, trazemsubsídios concretos para a compreensão de fenôme-nos educacionais indo além dos casuísmos e con-tribuindo para a produção/enfrentamento de polí-ticas educacionais, para planejamento, administra-ção/gestão da educação, podendo ainda orientarações pedagógicas de cunho mais geral ou especí-fico. Permitem ainda desmistificar representações,preconceitos, “achômetros”, sobre fenômenos edu-cacionais, construídos apenas a partir do senso co-mum do cotidiano, ou do marketing.

Lembramos que muito se discute sobre aqualidade dos dados estatísticos, das grandes bases,como os Censos e outros, sendo esta questão muitoantiga. Não há como deixar de lado o problema daqualidade dos dados dessas bases, sendo que vári-os autores se debruçaram sobre o assunto apresen-tando os limites e possibilidades das mesmas. Po-rém, é inegável que essa qualidade melhorou, emuito, a partir das discussões e sugestões propos-tas por vários pesquisadores e demógrafos. Tambémé inegável que sem dados de natureza quantitativamuitas questões sociais/educacionais não poderiamser dimensionadas, equacionadas e compreendidas,algumas não seriam mesmo levantadas. Cabe estar

atentos, também, ao fato de que os processos ne-cessários à quantificação (criação de medidas, decategorias, imposições formais, etc.) podem levar amistificações do fenômeno, pelo que não se podedeixar de ter domínio sobre estes condicionantes elevá-los em conta, como ainda não se pode deixarde trabalhar com apoio de sólido referencial teóri-co transcendendo a essas modelagens, permitindoa visão clara dos limites desses estudos.

Mesmo concordando com a afirmação dePopkewitz (2001) de que as “estatísticas participamda lógica sedutora da ciência numa idade de racio-nalidade e razão” (p. 114), lembramos que asmetodologias qualitativas também são empregadasdentro dessa racionalidade. Cabem, então, distin-ções de foro filosófico ou teórico-interpretativo naatribuição de significação a números e tratamentos,sejam estes quantitativos ou qualitativos. Muito já selembrou a afirmação de Karl Marx no Prefácio à pri-meira edição de O Capital em que critica fortemen-te a consistência das estatísticas sociais da Alema-nha e do resto do continente europeu ocidental, emrelação com o que vira na Inglaterra, à época, maisde século atrás. Mesmo com a pertinente crítica, nãodeixou de utilizar essas estatísticas afirmando: “Aindaassim, levanta o véu o bastante para deixar entre-ver atrás do mesmo uma cabeça de Medusa” (Marx,1983, v.1, p. 12-13).

Quanto aos diferentes registros de es-colarização, Ferrari (2002, p. 44) comenta que

a área de educação poderia dar mais atenção àspotencialidades, aos limites e aos métodos rela-cionados com o uso de dados originados de fontescomo os censos, as PNADs e os registros escolares.Temo que, com o argumento de livrar-se doquantitativismo e dos problemas relacionados coma utilização das estatísticas educacionais, tenha-seacabado por jogar fora a criança junto com aágua do banho. Se assim foi, talvez se possa aindarecuperá-la.”

O mesmo comentário pode ser aplica-do quanto ao emprego de quantificação emtrabalhos de escopo mais específico, em estu-dos de dimensão menor.

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Recebido em 04.03.04Aprovado em 03.05.04

Bernadete A. Gatti é doutora em Psicologia (Educação) pela Universidade de Paris VII, pós-doutorados nas universidadesde Montreal (Canadá) e da Pensilvânia (USA). Coordenadora do Departamento de Pesquisas Educacionais da FundaçãoCarlos Chagas e docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Educação da PUC-SP.