estudos de aplicaÇÃo de corantes naturais (norbixina, curcumina e clorofilina cÚprica) para...
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ESTUDOS DE APLICAÇÃO DE CORANTES NATURAIS (NORBIXINA, CURCUMINA E CLOROFILINA CÚPRICA) PARA PRODUÇÃO DE PAPÉISTRANSCRIPT
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EDUARDA DE MAGALHES DIAS FRINHANI
ESTUDOS DE APLICAO DE CORANTES NATURAIS
(NORBIXINA, CURCUMINA E CLOROFILINA CPRICA)
PARA PRODUO DE PAPIS
Tese apresentada Universidade Federal de Viosa, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Cincia Florestal, para obteno do ttulo de Doctor Scientiae.
VIOSA
MINAS GERAIS BRASIL
2003
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EDUARDA DE MAGALHES DIAS FRINHANI
ESTUDOS DE APLICAO DE CORANTES NATURAIS
(NORBIXINA, CURCUMINA E CLOROFILINA CPRICA)
PARA PRODUO DE PAPIS
Tese apresentada Universidade Federal de Viosa, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Cincia Florestal, para obteno do ttulo de Doctor Scientiae.
APROVADA: 28 de julho de 2003. _____________________________ ______________________________ Prof. Cludio Mudado Silva Prof. Jorge Luiz Colodette (Conselheiro) (Conselheiro)
______________________________ ______________________________ Prof. Luis Henrique Mendes da Silva Pesq. Ana Mrcia M. L. Carvalho
___________________________________ Prof. Rubens Chaves de Oliveira
(Orientador)
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INTRODUO
A cor do papel representa o primeiro contato do consumidor com o
produto final, sendo, fator determinante da aceitao deste produto pelo mercado.
Papis coloridos so usados em publicidade, embalagens, identificao,
correspondncia comercial. A esses meios, geralmente, se procura dar uma
apresentao esttica esmerada, pois, alm de constiturem formas de
comunicao efetivas, representam o prestgio da empresa enfatizando seu
conceito junto ao consumidor.
A indstria papeleira adota, na maioria das vezes, corantes artificiais para
colorao de papis, devido a sua maior estabilidade, pureza, disponibilidade,
poder tintorial e menor custo. O uso indiscriminado destes corantes, associado
sua toxicidade, tem sido questionado por certos segmentos da populao,
preocupados com uma melhor qualidade de vida, o que levou vrios corantes
sintticos a serem proibidos em muitos pases da Europa.
Os corantes naturais, de origem vegetal, tm um grande potencial como
substitutos dos corantes artificiais, em alimentos, cosmticos e tecidos. A
indstria papeleira no incentivou o uso de corantes naturais aps a ascenso do
corante sinttico por motivos tecnolgicos e econmicos. Porm, nos ltimos
anos ocorreram grandes melhorias nas tcnicas de extrao e processamento dos
corantes naturais, o que os tornou mais competitivos. Corantes naturais podero
ser utilizados em papis absorventes (guardanapo, papel toalha, lenos, papel
higinico), embalagens para alimentos e medicamentos, papis especiais para
impresso e escrita, alm da aplicao em papis artesanais, o que j uma
realidade. Atendendo, assim, a parcela do mercado que opta pela compra de
produtos naturais, oriundos de fontes renovveis, que agridam menos a natureza
mesmo pagando mais caro por isso.
O uso de corantes naturais pela indstria papeleira requer o estudo das
interaes fsico-qumicas que ocorrem entre as molculas corantes e a fibra
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celulsica, das interaes dos corantes com os outros aditivos, de seu
comportamento no processo de fabricao do papel, de sua influncia nas
propriedades do produto final e das caractersticas do efluente gerado. Os
corantes naturais para colorao de papis devem possuir estrutura qumica e
grupos funcionais que favoream sua ligao com o substrato e apresentem
solubilidade e estabilidade compatveis com o meio de preparo da massa.
Neste trabalho foram estudados os extratos corantes de norbixina,
curcumina e clorofilina cprica. A norbixina constitui a frao hidrossolvel
extrada das sementes de urucum, com tonalidade alaranjada. Os corantes de
urucum representam mais de 80% do mercado de corantes naturais. A curcumina
o principal cromforo da Curcuma longa L, confere colorao amarelo ouro
aos substratos por ela coloridos. o segundo corante natural mais
comercializado. A clorofilina cprica obtida a partir de extratos de clorofila
extrado de vegetais secos ou in natura, pela substituio do magnsio por um
tomo de cobre, com o intuito de se obter produtos mais estveis. Confere
colorao verde ao substrato.
O aumento da diversificao das aplicaes de papis e seus produtos
tm requerido constante conhecimento sobre suas propriedades, em vrios
aspectos, desde a fabricao at sua utilizao no mercado. Portanto, realizamos
este estudo, em razo da tendncia mundial de utilizao de produtos naturais e
com o objetivo de gerar informaes tcnico-cientficas que podero contribuir
para o desempenho da indstria nacional, ampliar e sustentar sua participao,
com qualidade exigida, inclusive pelo mercado exterior.
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REVISO BIBLIOGRFICA
1. Histrico e potencialidade dos corantes naturais
A arte de colorir acompanha o homem desde a mais remota antiguidade.
Dados arqueolgicos afirmam que desde 40.000 a 10.000 a.C. eram encontradas
peas de vesturios e utenslios coloridos (WEINTZ, 1993). Em 5.000 a.C., os
corantes para colorir cosmticos j eram utilizados, e substncias naturais como
crcuma, pprica e aafro so usados para colorir alimentos desde 1.500 a.C.
(Borzelleca e Hallagan 1992, citado por MASCARENHAS, 1998).
At o sculo XIX, o nmero de corantes e pigmentos conhecidos era
muito reduzido. Eram extrados de plantas, animais e alguns minerais e com
elevado custo (FARINA, 1975).
Em 1856 o qumico ingls, William Henry Perkin (1838 1907),
patenteou o processo de sntese da malva (tambm chamado de malvena ou
mauvena), baseado na oxidao da anilina com dicromato de potssio. Em 1857,
o mesmo Willian implementou na Inglaterra uma indstria dedicada fabricao
do produto. O fato da anilina (amino benzeno) ter sido a matria-prima do
primeiro corante sinttico fez com que a palavra anilina passasse a designar, na
linguagem popular, qualquer corante.
A malva de Perkin teve um grande sucesso comercial. Com isso,
disparou a procura por outros corantes sintticos. A fundao das grandes
empresas qumicas alems ocorreu por essa poca: 1863 a Bayer, a Hoechst e a
AGFA e em 1865 a BASF (WEINTZ, 1993).
Os corantes sintticos tornaram-se largamente preferidos pelas indstrias, pois,
geralmente possuem maior estabilidade luz, temperatura, pH e agentes redox, alm do
maior poder tintorial e menor custo que os corantes naturais. A toxicidade de vrios
corantes artificiais utilizados por um grande perodo pela indstria de alimentos foi
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generalizada a todos os corantes artificiais, fazendo destes pigmentos uma espcie de
aditivo indesejvel ao consumidor (GENNARO, et al., 1994; CARVALHO, 1992).
Em 1987, dos treze corantes sintticos at ento permitidos para o uso em
alimentos, remdios e cosmticos, apenas oito sobreviveram. Cinco foram proscritos,
por portaria especfica da Dinal Diviso Nacional de Vigilncia Sanitria dos
Alimentos, seguindo uma tendncia mundial (ARUJO, 1998; DAMASCENO, 1988).
Apesar das vantagens de custos e outras j discutidas anteriormente, os
corantes artificiais so derrotados no principal aspecto de avaliao, que o aspecto
mercadolgico. A nova era, conhecida como Verde ou Ecolgica, traa um novo
perfil de consumidor, para o qual qualidade de vida mais que uma prioridade, uma
necessidade (MASCARENHAS, 1998; CARVALHO, 1992).
Com a necessidade de substituir vrios corantes artificiais, algumas
indstrias recorreram a uma srie de corantes orgnicos naturais, que vo desde
partes comestveis e sucos de vegetais, animais e insetos, at substncias naturais
extradas e purificadas e substncias sintticas idnticas aos corantes naturais.
Uma pesquisa realizada por MASCARENHAS et al. (1999), apontou que
existem 35 indstrias produtoras de corantes no Brasil. Foi constatado que, do
total das 22 indstrias pesquisadas, 54,17% so produtoras de corantes naturais e
12,50% produtoras de corantes sintticos.
Segundo SATO et al. (1992) e DAMASCENO (1988), a tecnologia
disponvel nas empresas de corantes naturais brasileiras nem sempre
competitiva em qualidade e preos com a tecnologia existente na Europa, Japo e
EUA. O desenvolvimento de tecnologia nacional que barateasse os custos de
extrao de corantes naturais e elevasse os padres de qualidade constitui um
fator fundamental para que o Brasil tenha condies de ampliar seu mercado.
Para o Pas, no interessante ser fornecedor de matria-prima, mas exportar
produtos corantes com maior valor agregado.
Os avanos tecnolgicos necessrios para uma efetiva implantao dos
corantes naturais esto relacionados com a matria-prima, aos processos de
produo e formulao dos corantes e sobre a sua composio e caractersticas.
Procuram-se variedades mais produtivas e resistentes a pragas, com maior
contedo de pigmentos. Atualmente o mercado tem exigido um teor mnimo de
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2,5% de bixina na semente de urucum. A biotecnologia pode permitir uma
eficiente produo de plantas corantes em massa. Cultura de tecidos e clulas de
plantas, fermentao microbiolgica e tecnologia de manipulao gentica tem
sido investigada com respeito a produo de pigmentos (WISSGOTT e
BORTLIK, 1996).
Novas tecnologias tm sido estudadas, procurando conseguir j no
processo extrativo, corantes com elevadas concentraes de pigmentos. Entre
estas tcnicas destaca-se a extrao com fludos supercrticos, que tem como
vantagens: menor efeito de degradao trmica, alta qualidade dos produtos
recuperados, baixo requerimento de energia na recuperao do solvente e alta
seletividade no processo de separao (CARVALHO, 1999; CHAO et al., 1991).
POPOOLA (2000a), professor da Federal University of Technology, em
Akure, Nigria, alega que, exceto para aplicaes especiais, o uso de corantes
naturais foi extinto em muitos pases. Entretanto, esta situao no a mesma nas
naes subdesenvolvidas, onde o custo de importao de corantes proibitivo e a
sntese a partir de petroqumicos est em baixa. Conseqentemente, em muitos
pases uma quantidade inumervel de corantes e pigmentos naturais est em uso
nas indstrias domsticas.
A preferncia pelos corantes naturais mundial, como indicado pelo
nmero de patentes registradas entre 1979 e 1984: 356 para corantes naturais e
71 para os corantes sintticos. As patentes foram registradas por 14 pases
incluindo Japo, USA, Frana, Reino Unido e URSS (FRANCIS, 1992).
A indstria alimentcia foi a pioneira na retomada da utilizao dos
corantes naturais e atualmente sua principal consumidora. A indstria txtil tem
apresentado grande interesse na colorao de fibras naturais e sintticas com
corantes naturais de origem vegetal, devido qualidade obtida com os corantes
naturais bem como a compatibilidade ambiental destes (GUPTA et al. 2001; LEE
et al. 2001; POPOOLA, 2000a,b; BELTRAME et al., 1998; TSATSARONI e
LIAKOPULOU-KYRIAKIDES, 1995; KISSA et al. 1991).
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2. Colorao de papis
2.1. Processos de colorao
Os processos mais comuns para colorao de papis so: colorao na
massa, colorao por imerso e aplicao superficial, que engloba a colorao na
Size-press e em revestidores de tinta Couch. A colorao na massa usando
sistema contnuo e a Size-press esto se tornando cada vez mais importantes, por
razes econmicas e ecolgicas.
Na colorao na massa, a soluo de corante dosada com massa em
suspenso, preferencialmente em um ponto onde se tenha uma boa
homogeneizao (por exemplo, antes de uma bomba ou no refinador).
Teoricamente, o corante pode ser adicionado em qualquer ponto onde a
circulao da massa seja constante, como por exemplo, no tanque de mistura ou
na caixa de entrada. A fim de manter a mquina limpa, o ponto de adio deve
estar o mais prximo possvel da caixa de entrada, porm com tempo suficiente
para a adsoro pelas fibras.
Quando se utiliza a colorao na massa com adio contnua, garante-se
a uniformidade da cor durante a produo, evitando diferenas de tonalidades
decorrentes das variaes de consistncia de massa ou tempo de contato entre o
corante e as fibras. Tambm se atinge rapidamente a tonalidade (5 a 10 minutos),
diminuindo a quantidade de aparas e tempo no produtivo da mquina,
permitindo tambm a implementao do controle de cor automatizado. Com a
menor manipulao manual dos corantes, melhora-se a higiene industrial e tem-
se um meio ambiente mais limpo (Clariant, 2002).
Para a aplicao do corante aps a formao do papel existem duas
opes: adicion-lo suspenso de amido que aplicado na prensa de colagem,
ou coloc-los nas caixas de lquidos das calandras, e da transferi-lo superfcie
da folha quando esta passa entre os rolos. Este mtodo usado principalmente
para colorao de papeles e papis pesados (PIRES, et al.; 1988; ETLIS, 1973;
CASEY, 1961).
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A colorao superficial no proporciona o mesmo grau de equalizao da
cor como a colorao na massa. No entanto, este problema pode ser superado,
atravs de uma combinao de colorao na massa e colorao superficial. A
solidez da colorao a mido na Size-press tendem a ser mais baixa do que a da
colorao na massa. Mas obtm-se uma economia considervel de corantes,
especialmente em papis de alta gramatura e cartes. Alm do que, no h perdas
de corantes na gua de reciclagem (Clariant, 2002).
2.2. Substncias corantes
A estrutura qumica de substncias corantes orgnicas geralmente um
sistema de ligaes duplas conjugadas, que diretamente responsvel pela cor, e
grupos substituintes que afetam a tonalidade, a intensidade da cor, bem como a
solubilidade do corante (CASEY, 1961).
As ligaes insaturadas, que participam das duplas conjugadas, possuem
alm da ligao sigma (), uma ou duas ligaes pi (), onde os eltrons tm um
grau de liberdade espectral maior que nas ligaes , podendo ser levados mais
facilmente para um nvel de maior energia pela ao de luz incidente. O corante
absorve certa parte do espectro (por exemplo, raios violetas e azuis) e a cor
complementar refletida, produzindo uma sensao de cor aos olhos (se os raios
absorvidos so violetas ou azuis, a cor ser amarela). A poro do espectro que
absorvida depende do comprimento do sistema de ligaes conjugadas e da
liberdade dos eltrons (HOLMBERG, 1999).
Os grupos de tomos que promovem o movimento dos eltrons ou
aumentam a oscilao do sistema so chamados cromforos, isto , carregadores
de cores e alguns deles esto representados na Figura 1 (PONTE et al., 1999;
Sandoz SA., 1992; SHREVE, 1980; KRSEMANN, 1971).
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Figura 1 Principais grupos cromforos presentes nas molculas corantes
Nem sempre as molculas corantes possuem as afinidades qumicas
necessrias para aderirem s fibras. So necessrios grupos auxiliares,
auxcromos, que so em geral formadores de sal, escurecem as cores e
promovem a deposio dos corantes nas fibras tais como NH2, - OH, - SO3H e -
COOH (SHREVE, 1980; KRSEMANN, 1971).
Vrios corantes naturais so fixados nas fibras com a ajuda de
mordentes. Mordentes so usualmente sais de elementos inorgnicos, tais como,
cromo, ferro, cobre e alumnio, ou orgnicos como o tanino, que tm a
capacidade de formar complexos com a matria corante, abrindo a estrutura da
fibra e permitindo a difuso do corante dentro dela (LEE et al, 2001; POPOOLA,
2000b; TSATSARONI e LIAKOPULOU-KYRIAKIDES, 1995).
A estabilidade do ncleo colorido determina a estabilidade do corante
luz, ao calor, aos agentes oxidantes ou redutores. As radiaes ultravioleta e
gama induzem a gerao de radicais livres nos compostos orgnicos,
predominantemente nas ligaes , um ponto fraco na estrutura da molcula.
Aps a excitao da molcula por qualquer fonte de energia (luz, calor, etc.) as
ligaes absorvem essa energia, que ao atingir um determinado valor, rompem
a ligao. Com o rompimento, formam-se compostos de degradao, que podem
ou no ser coloridos. Assim h um desbotamento da cor ou at seu completo
desaparecimento. Estas ligaes aparecem em grande nmero nos carotenos e
;;
Carbono-nitrognio Carbono-enxofre
S CC SSC
N HC
C C
C N H
Azo Azico N itro N itroso Carboni la Et i leno
C O
ON
O
N O
O
N
NN
N
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clorofilas, com 11 e 13 ligaes duplas, respectivamente (PONTE et al., 1999;
RAMIREZ-NIO et al., 1998)
De acordo com SOUZA (1998) e SHREVE (1980), os corantes para
papel devem ter afinidade pelas fibras de celulose, de forma que a cor seja
resistente a tratamentos midos (solidez ao sangramento), apresentem solidez
luz, cidos e lcalis, agentes oxidantes e redutores (no mudem a cor ou
desbotem), sendo solveis no meio de aplicao (gua).
A British Society of Dyes and Colorists juntamente com a American
Association of Textile Chemists and Colorists publicam o Colour Index (C.I), em
que cada corante identificado por meio de nmeros contendo cinco algarismos
de acordo com a sua aplicao (HOLMBERG, 1999; ARAJO, 1998). Na
Europa, os corantes naturais so licenciados pelo Council of the European Union
e so denominados pela letra E, seguida de um nmero com trs algarismos
(WISSCOTT e BORTLIK, 1996).
2.2.1. Corantes Orgnicos Sintticos
O grupo de corantes orgnicos sintticos, tambm conhecido como
corante de anilina ou de alcatro, atualmente o maior e o mais importante para a
colorao de papis. A grande maioria dos corantes orgnicos sintticos obtida
em quantidades industriais, mediante processos de sntese orgnica, a partir de
produtos como: benzeno, naftaleno, antraceno, tolueno, parafinas e xileno,
derivados do petrleo e compostos inorgnicos como cidos, lcalis, sais e
outros: cloro, bromo, iodo, hidrognio, etanol, metanol, acetileno, halogenetos
alcalinos, ferro, enxofre (SHREVE, 1980). As substncias corantes mais
utilizadas para colorao de papis so: corantes cidos, bsicos, diretos e
pigmentos (HOLMBERG, 1999; SOUZA, 1998; SCOTT, 1996; PIRES, et al.,
1988; SHREVE, 1980).
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2.2.1.1. Corantes cidos
Os corantes cidos so obtidos com a introduo de grupos
auxocrmicos cidos tais como: hidroxila (OH); nitro (-NO2), sulfnico(-SO3H)
e carboxila (-COOH) na molcula, e geralmente esto na forma de sais de sdio,
potssio ou amnio. A estrutura qumica fundamental pode ser de um complexo
azo, do triarilmetano ou da antraquinona. Os corantes cidos possuem um grande
nmero de grupos solubilizantes que impedem uma boa ligao entre a molcula
corante e a superfcie da fibra.
So compostos levemente aninicos e devido a este fato possuem pouca
afinidade pela polpa branqueada e polpa contendo lignina. Para boa reteno da
cor no papel, necessrio o uso do sulfato de alumnio ou outro agente de
reteno catinico. Corantes cidos fornecem ao papel cores brilhantes, porm
com baixa estabilidade luz (HOLMBERG, 1999; SCOTT, 1996; Sandoz SA.,
1992; SHREVE, 1980; CASEY, 1961).
2.2.1.2. Corantes bsicos
Os corantes bsicos so, na sua maioria, derivados amino (NH2),
freqentemente da classe do triarilmetano ou xanteno e so aplicados, sobretudo
ao papel. Estes produtos so apresentados no comrcio na forma de cloretos,
sulfatos ou oxalatos.
Os corantes bsicos so catinicos e, formam precipitado insolvel com
certas substncias aninicas. Na colorao de papis com corantes bsicos,
ocorre a combinao qumica entre os grupos bsicos do corante com os grupos
cidos (carboxila, cido sulfnico ou hidroxila fenlica) dos constituintes da
fibra, especialmente polpas no branqueadas e de alto rendimento. Na reao de
colorao, o radical orgnico colorido retido, ficando o radical cido em
soluo. A reao reversvel, e quando o equilbrio alcanado, nenhum outro
corante retido pela fibra. A colorao ocorre rapidamente, e o corante se liga
quantitativamente s fibras sem a necessidade de agentes fixadores. O sulfato de
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alumnio ou algum outro composto cido interferem na reao de colorao
(HOLMBERG, 1999; SOUZA, 1998; SCOTT, 1996; SHREVE, 1980; CASEY,
1961).
As polpas celulsicas altamente branqueadas e, portanto, com baixos
teores de no-celulsicos, no retm facilmente os corantes bsicos, sendo
necessrio o uso de fixadores. Estes corantes so geralmente puros, apresentam o
maior poder tintorial entre os corantes sintticos, apresentam boa solidez gua e
vapor, geram guas residuais limpas. Sua estabilidade luz, entretanto, to
pobre que na maioria das vezes so usados somente em papis de embalagem e
papis de mdia qualidade (HOLMBERG, 1999; SOUZA, 1998;
KRSEMANN, 1971).
Os corantes bsicos polimerizados contendo vrias cargas catinicas na
molcula apresentam melhor propriedade de fixao comparada com o corante
bsico convencional, e alguns podem ser usados em polpa qumica branqueada
(HOLMBERG, 1999).
2.2.1.3. Corantes diretos ou substantivos
Os corantes diretos, tambm chamados de corantes substantivos, so
obtidos a partir de corantes que possuem radicais aminas. No tratamento, formam
grupos diazo e combinam com outras aminas aromticas e fenis para produzir
molculas lineares, longas, com configurao coplanar (achatadas). Para conferir
solubilidade em meio aquoso, introduz-se o grupo sulfnico. Neste particular, os
corantes diretos assemelham-se aos corantes cidos, mas diferem destes pela sua
maior afinidade celulose. Os corantes diretos apresentam tima resistncia
luz, boa estabilidade a tratamentos midos (solidez ao sangramento), grande
poder tintorial e geram guas residuais claras, mas a cor menos definida que a
dos correspondentes tipos cido e bsico (HOLMBERG, 1999; SOUZA, 1998;
PIRES, et al., 1988; SHREVE, 1980).
Os corantes diretos tm uma afinidade natural por fibras celulsicas
devido a sua baixa solubilidade. O uso de agentes de reteno, como compostos
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de alumnio, no necessrio em muitos casos, mas pode ser vantajoso,
especialmente quando corantes aninicos so usados. Estes corantes tm uma
baixa afinidade por polpa qumica no-branqueada e polpa mecnica
(HOLMBERG, 1999; CROUSE, 1975).
Os corantes diretos tambm se ligam as fibras celulsicas atravs de
ligaes de hidrognio entre os grupos hidroxilcos da celulose e os grupos OH
e NH2 do corante. Em adio, fora de Van der Walls tem uma funo
significativa na ligao das molculas corantes na superfcie das fibras (SCOTT,
1996).
De acordo com SOUZA (1998) e WILKE (1992) os corantes mais
modernos so os corantes catinicos diretos, planares, molculas grandes e os
polmeros catinicos, no planares, molculas muito grandes. Os corantes
catinicos diretos tm uma forte carga catinica que pode interagir diretamente
com os stios de carga negativa das fibras (SCOTT, 1996). Uma desvantagem
dos corantes catinicos diretos que eles podem formar precipitados insolveis
com alguns nions que ocorrem normalmente no meio, tais como, carbonato,
silicato e sulfato. Adicionalmente, os corantes catinicos so mais caros que os
aninicos (HOLMBERG, 1999).
2.2.1.4. Pigmentos
Os pigmentos so slidos finamente divididos, insolveis em gua,
obtidos a partir de minerais ou a partir da sntese de compostos orgnicos ou
inorgnicos. No apresentam afinidade pelas fibras, sendo fixados sobre estes
elementos atravs de ligaes eletrostticas, produzidas pela presena na massa
de uma forte carga positiva, fornecida geralmente pelo sulfato de alumnio ou por
um agente de reteno catinico.
Os pigmentos foram os primeiros produtos usados para colorir o papel e,
ainda hoje, apresentam algumas vantagens sobre os corantes, sendo a mais
importante sua estabilidade frente ao da luz e altas temperaturas e de certos
agentes destrutivos. Possuindo um poder tintorial mais fraco que os corantes o
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seu emprego necessita de porcentagens mais elevadas, sendo tambm uma
desvantagem o seu alto preo.
De um modo geral, os pigmentos coloridos no conferem colorao igual
s duas faces do papel, ocorrendo maior concentrao de pigmento no lado do
feltro. Esta falta de uniformidade deve ser atribuda s fracas ligaes
estabelecidas entre as partculas do pigmento e as fibras, fenmeno ainda mais
acentuado em mquinas de papel de alta velocidade (HELMBORG, 1999;
KRSEMAN, 1971).
2.2.2. Corantes orgnicos naturais
O Code of Federal Regulations (CFR) classifica os materiais coloridos em duas
classes: sujeitos certificao e isentos de certificao, sendo os corantes naturais
isentos de certificao. Os aditivos certificados so compostos de estrutura conhecida
que so produzidos por sntese qumica, conforme especificaes de alta pureza
estabelecidas pelo Food Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos.
Os corantes isentos de certificao incluem: corantes naturais obtidos por uso
direto de pigmentos vegetais ou frutas, corantes naturais obtidos por extrao e
concentrao de derivados de plantas aprovadas (incluem neste grupo os extratos de
urucum e crcuma), corantes naturais obtidos por extrao e concentrao de corantes
derivados de fonte animal, corantes sintetizados com estrutura qumica idntica aos
corantes naturais encontrados na natureza. Os corantes isentos de certificao so
algumas vezes referidos como corantes naturais, mas o FDA no reconhece a
descrio natural para estes corantes (MEGGOS, 1994; LAURO, 1991; FREUND,
1985).
2.2.2.1. Extrato corante de norbixina
O urucum (Bixa orellana L.) uma planta nativa das florestas tropicais
das Amricas e tem seu cultivo em diversas regies do mundo, notadamente no
Brasil, Peru e Qunia. Do pericarpo das sementes do urucum podem se obter
corantes com grande variao de tons, que vo desde o amarelo-alaranjado ao
castanho-avermelhado (CARVALHO, 1999; VILARES et al., 1992).
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Este corante destaca-se como o corante natural mais utilizado pelas
indstrias de alimentos de todo o mundo, sendo usado desde a antiguidade como
corante para alimentos, cosmticos e tecidos, representando mais de 80% do
mercado de corantes naturais (STRINGHETA et al, 1999; BOBBIO e BOBBIO,
1992; ENGELHARDT et al., 1988). Tambm relatada a utilizao do extrato
de sementes de urucum como: condimento (colorau), protetor-solar, repelente de
insetos e produto medicinal (FERREIRA et al., 1999; CARVALHO e HEIN,
1989). O corante extrado do urucum resistente ao crescimento microbiolgico
(BARA e VANETTI, 1992; LAURO, 1991).
O Brasil apresenta-se como o principal produtor (40% da produo
mundial) e exportador dos pigmentos extrados do urucum, atravs da semente in
natura e, cada vez mais, na forma de corantes semiprocessados, sendo o Estado
de So Paulo e da Paraba os principais produtores da semente (CARVALHO,
1999; SATO et al, 1993).
As formulaes de urucum esto geralmente disponveis como leo ou
solues solveis em gua, suspenses, emulses, produtos encapsulados e p
obtido em spray-dried (SCOTTER et al., 1998).
O pigmento que est presente em maior concentrao na semente de
urucum a 9-cis-bixina, alcanando mais de 80% dos carotenides totais e seu
teor e tonalidade se alteram com a variedade da cultura, clima, solo, condies de
extrao e armazenamento, podendo ser encontradas sementes com menos de 1%
de bixina at sementes com mais de 4% desse pigmento. A 9-cis-bixina o ster
monoetlico de um cido dicarboxlico denominado 9-cis- norbixina, que esto
apresentados na Figura 2 (CARVALHO,1999; PONTE et al., 1999; SCOTTER,
1995; SATO et al, 1993; CARVALHO e HEIN, 1989).
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17
HOOC
COOCH3
COOK
KOOC
HOOC
COOH
H+
Norbixina
Norbixinato de potssio
Bixina
OH-
OH-
Figura 2 Reaes para obteno dos corantes de urucum (PIMENTEL e
STRINGHETA, 1999b).
O extrato de urucum obtido mecanicamente, por abraso do pericarpo
submerso em leo vegetal aquecido a temperaturas entre 70 e 130oC, sob vcuo
ou no. O aquecimento utilizado na extrao isomeriza a cis-bixina em trans-
bixina, mais solvel em leo e obtm-se um produto com 0,2 a 0,5% de pigmento
compreendendo uma mistura de trans-bixina e 9-cis-bixina em propores
variveis, dependendo da temperatura e durao do processo de extrao
(LANCASTER e LAWRENCE, 1996; ARAJO, 1995; SCOTTER, 1995).
De forma alternativa, o pigmento pode ser extrado com solventes
adequados, como acetona e metanol, e, aps sua remoo, a forma em p
preparada e posteriormente, ressuspendida em leo, em concentraes variando
de 3,5 a 5,2% de bixina (SCOTTER et al., 1998; ARAJO, 1995).
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A forma solvel em gua obtida pela abraso do pericarpo em soluo
alcalina a 70C (saponificao), e o produto resultante o sal de norbixina (cis e
trans), de colorao alaranjada, produto de hidrlise da bixina, cuja reao foi
apresentada na Figura 2 (PIMENTEL e STRINGHETA, 1999b; ARAJO,
1995;). O extrato de urucum hidrossolvel apresenta de 1,25 a 4,2% de norbixina
e quando diludos em gua, apresentam absorbncia mxima a 453 e 483nm
(FERREIRA et al., 1999; FREUND, 1985).
O Council of the European Union nomeia o extrato de urucum, bixina e
norbixina como: EEC E160b. O registro da norbixina no Colour Index C.I.
(1975) 75120 (WISSGOTT e BORTLIK, 1996, TAKAHASHI, 1987).
Produtos de degradao e isomerizao dos corantes do urucum so
formados no processo de extrao, quando se utilizam altas temperaturas. Os
principais produtos de degradao do urucum so conhecidos como ismeros
amarelos e produtos da hidrlise do ster trans-monoetil do cido 4,8-
dimetiltetradecahexaenedioico (C17). Os compostos de degradao apresentam
diferentes tonalidades e solubilidades, so carotenides de menores pesos
moleculares, mais estveis luz. Constituem 40% dos produtos de urucum
solveis em leo, possuindo importncia comercial. Controlando o grau de
degradao, o balano das cores amarelo, laranja e vermelho pode ser controlado
na formulao (CARVALHO, 1999; SCOTTER, 1995; SCOTTER et al., 1998;
CARVALHO e HEIN, 1989).
De acordo com LAURO (1991), a obteno de um corante igualmente
solvel em leo e gua requer o ajuste do contedo de bixina e norbixina. A
solubilidade dos carotenides varia com a presena e nmero de grupos
oxigenados como hidroxilas, carboxilas e neste caso a solubilidade em solventes
apolares diminuda (BOBBIO e BOBBIO, 1992).
A estrutura molecular da bixina e da norbixina, formada por uma srie de
duplas ligaes conjugadas, as tornam altamente reativas e instveis a fatores
como luz, temperatura e dixido de enxofre (SCOTTER et al., 1998). Loureno
Neto (1991), citado por PIMENTEL e STRINGHETA (1999a), afirma que o
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principal problema verificado durante a estocagem de extratos de urucum a
oxidao do corante.
A bixina sensvel ao pH, mudando de amarela-alaranjado para rosa
claro em pH cido. No entanto, o pH no tem efeito na estabilidade da cor. A
estabilidade trmica boa abaixo de 100o C, mas diminui acima de 125o C. A
estabilidade luz pode ser problemtica, como ocorre com os carotenides de
forma geral. Na ausncia de luz, a bixina muito estvel (LAURO, 1991;
ENGELHARDT et al., 1988).
A norbixina apresenta estabilidade luz, calor e variao de pH,
superiores a bixina (PONTE et al., 1999). Reage com protenas, alterando
ligeiramente sua colorao para vermelho-apessegado. A ligao com protenas
importante na colorao de produtos, pois, evita a migrao da cor para o meio.
A norbixina precipita em presena de ons de clcio (LAURO, 1991).
A norbixina apresenta a caracterstica de permanecer solvel em gua
somente quando um pH alcalino mantido. Quando adicionado em um meio
cido ou neutro o pigmento rapidamente dispersado e insolubilizado devido a
reduo do pH, sendo absorvido por protenas e/ou amido presentes no meio.
Assim, evita-se a lixiviao do corante e obtm-se um produto uniformemente
colorido (FREUND, 1985).
PIMENTEL e STRINGHETA (1999a) avaliaram a estabilidade de
extratos de norbixinato de potssio luz fluorescente de 40w, correspondente
luz do dia, e ao escuro, medindo-se a absorbncia a 453nm. Num tempo de
exposio de 240h, os valores de absorbncia reduziram 72% e 85% sob luz
fluorescente, em ambiente de nitrognio e oxignio respectivamente. Ao abrigo
da luz, os extratos sofreram reduo de 56% e 63%, em ambiente com nitrognio
e oxignio, respectivamente, aps um perodo de 34 dias. ENGELHARDT et al.
(1988) e NAJAR et al. (1988) defendem a adio de antioxidantes e baixos nveis
de oxignio para aumentar a resistncia da cor sob forte iluminao.
De acordo com MERCADANTE (1999) uma srie de cuidados devem
ser tomados durante a extrao, purificao, conservao e manuseio dos
carotenides, como: uso de uma atmosfera inerte, trocando-se o ar por vcuo ou
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gs inerte (N2 ou Ar), evitar altas temperaturas, estocagem a baixas temperaturas
e ao abrigo da luz. Todas as operaes devem ser feitas sob luz difusa,
equipamentos e vidrarias devem ser cobertos por tecido preto ou papel alumnio
e as operaes devem ser realizadas no menor tempo possvel.
2.2.2.2. Extrato corante de curcumina
A crcuma, tambm conhecida por turmeric e aafro-da-ndia,
cientificamente denominada Curcuma longa L. e pertence famlia do gengibre,
a Zingibercea. uma planta nativa do sudeste da sia, sul da ndia e das Ilhas
Caribenhas, do Leste Andino e da Amrica do Sul (HISERODT et al., 1996;
LAURO, 1995; MILN, 1992; FREUND, 1985).
o principal ingrediente do p de curry, tambm utilizada como corante
de alimentos, drogas e cosmticos (batons e xampus). Mdicos tradicionais na
ndia e China usam crcuma h muito tempo como remdio para hepatite e
diversas outras doenas. Curcumina conhecida por suas propriedades
antioxidante, antiinflamatria, antimicrobiana, antimutagnica, anticncer,
hipocolesteremica e por estimular a secreo de blis (JAYAPRAKASHA et al.,
2002; HE et al., 1998; HISERODT et al., 1996; BARA e VANETTI, 1992;
KHURANA e HO, 1988).
O extrato da Curcuma longa contm trs diferentes diarilheptanoides,:
seu principal cromforo, a curcumina (diferuloilmetano) representa 77% dos
curcuminides; alm de seus derivados desmetoxilados: a demetoxi-curcumina
(p-hidroxicinamoil) e a bis-desmetoxi-curcumina (di-p-hidroxicinamoilmetano),
que so apresentados na Figura 3. Os trs componentes tm espectro de absoro
mxima na faixa de 420 a 425nm, o que justifica a prtica usual de se expressar a
cor total como curcumina (JAYAPRAKASHA et al., 2002; MNDZ e FARIA,
1999; HE et al., 1998; RUSIG e MARTINS, 1992; TAKAHASHI, 1987).
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OOH
OCH3CH3O
HO OHCurcumina
OHHO
OCH3
HOO
Demetoxicurcumina
OHHO
HOO
Bisdemetoxicurcumina Figura 3 Estruturas dos curcuminides da Curcuma longa (HISERODT et al.,
1996).
Estes curcuminides existem em um tautomerismo ceto-enlico, com o
equilbrio favorecendo fortemente a forma enol, que fornece estabilidade a
estrutura de ressonncia, dando um pseudocarter aromtico. Isto capacita a
curcumina a formar ligaes de hidrognio inter e intramoleculares e complexos
com metais. Estudo da estrutura cristalina tem mostrado que o hidrognio enol
pode estar em qualquer dos dois oxignios e mudar livremente entre os dois
(HISERODT et al., 1996).
Os produtos industrializados provenientes da coco e secagem dos
rizomas da Curcuma longa so: crcuma em p, oleorresina de crcuma e
curcumina purificada.
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A crcuma em p o rizoma da Curcuma longa dessecado e
pulverizado, tendo como princpio ativo principal a curcumina, com teores entre
1 e 5%. O p cristalino, amarelo-alaranjado, inodor, insolvel em gua e ter e
solvel em etanol, cido actico glacial, leo e gorduras. Em razo de sua alta
intensidade de cor, pequenas quantidades so suficientes para colorir o produto
(ABREU et al., 1992; TAKAHASHI, 1987).
Os extratos de crcuma so obtidos pela extrao com solventes, sendo
mais comumente usados o lcool e a acetona. A curcumina tambm solvel em
metanol, ter de petrleo e diclorometano, os quais so removidos
posteriormente por destilao a vcuo. Esta oleoresina contm normalmente
entre 30 e 50% de curcumina, e consiste num produto viscoso, laranja-
amarronzado. A oleoresina de boa qualidade praticamente isenta de outros
corantes, os quais esto presentes no extrato bruto. A oleoresina de aafro pode
ser utilizada em sistema aquoso quando associada a emulsificantes, como
propilenoglicol e, ou, polissorbato 80, contendo de 5 a 15% de curcumina. A
forma solvel em gua confere colorao variando de amarelo-esverdeado a
ouro-pardo. A tonalidade de cor obtida dependente da concentrao, mas
tambm afetada pelo nvel de pureza (ARAJO, 1995; LAURO, 1995; MILN,
1992; TAKAHASHI, 1987).
Para obter a curcumina em p, concentrada, o extrato purificado por
cristalizao. O produto consiste essencialmente de no mnimo 90% de
curcumina e seus dois derivados desmetoxilados em propores variveis.
Podem estar presentes pequenas quantidades de leos e resinas naturalmente
presentes na crcuma (TAKAHASHI, 1987).
O Council of the European Union nomeia o extrato de curcumina como:
EEC E100. O registro da curcumina no Colour Index C.I. (1973) 75300
(WISSGOTT e BORTLIK, 1996, TAKAHASHI, 1987).
De acordo com ARAJO (1995) a principal limitao deste corante a
sua baixa estabilidade luz. A presena de ligaes duplas conjugadas confere
sensibilidade ao oxignio, especialmente quando exposto luz. A oleoresina
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possui boa estabilidade trmica e no afetada pelo pH at que se atinja a
alcalinidade, quando muda a cor para marrom-avermelhado.
Em estudos realizados por ABREU et al. (1992), para a oleoresina de
crcuma, o efeito combinado da luz (lmpada de 15W, com luminosidade de
1200 lux) e do ar foi similar ao efeito da luz e do nitrognio. Aps 30 dias,
46,94% de curcumina foram perdidos em razo do efeito da luz, enquanto na
ausncia da luz houve uma perda de apenas de 3,60%, no mesmo perodo.
Os produtos de degradao encontrados quando extratos de Curcuma
longa L. foram submetidos luz do dia por 12h foram: vanilina, p-
hidroxibenzaldedo, aldedo ferlico, cido p-hidrobenzico, cido vanlico e
cido ferlico (KHURANA e HO, 1988).
A ordem de estabilidade dos pigmentos em metanol descolorao na
presena de luz em nitrognio ou oxignio foi curcumina, demetoxicurcumina e
bisdemetoxicurcumina (PRICE e BUESCHER, 1996).
De acordo com RUSIG e MARTINS (1992), no ocorreram perdas
significativas no teor de curcumina quando solues de oleoresina de crcuma
foram submetidas a temperaturas de 50, 75 e 100o C por um perodo de 180
minutos. Na temperatura de 125o C, o efeito trmico tornou-se mais destrutivo,
com perda de aproximadamente 15% dos teores iniciais da curcumina para
oleoresina e cristais de curcumina, em tratamentos durante 180 minutos.
Ainda de acordo com RUSIG e MARTINS (1992), para a oleoresina de
crcuma, a 7oC, a maior estabilidade encontra-se com o pH na faixa de 4,0 a 7,0,
com perdas de 8,0 a 9,0% dos teores iniciais do pigmento, aps 120h. A maior
estabilidade da curcumina, a 37oC, encontra-se na faixa de 4 a 5 (perdas em torno
de 9,0%). Um aumento na velocidade de degradao foi observado com pH 6,0 e
7,0 (perdas de 11,69 e 16,69%, respectivamente). Com pH 7,7 a velocidade de
degradao tornou-se aproximadamente trs vezes mais rpida que na faixa mais
estvel, com perda de 23,14% do teor inicial. O efeito da temperatura e do pH
combinados foi mais destrutivo do que quando as solues foram mantidas em
baixas temperaturas.
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Ao se avaliar a estabilidade da curcumina, observou-se que sua
degradao, em todas as condies investigadas, seguiu cintica de primeira
ordem pela linearidade obtida na relao logaritmo das concentraes e o tempo
de armazenamento (PRICE e BUESCHER, 1996; ABREU et al., 1992).
Uma variedade de mtodos para a quantificao de curcuminides tem
sido reportada. Muitos destes so mtodos espectrofotomtricos, que expressam
o contedo total de cor da amostra. Entretanto, no possvel quantificar
curcuminides individuais por estes mtodos (JAYAPRAKASHA et al., 2002).
2.2.2.3. Extrato corante de clorofilina cprica
O pigmento verde das plantas formado por dois componentes
principais: clorofila a e clorofila b, na proporo aproximada de 1:3 em peso. A
diferena existente nas duas frmulas qumicas a presena de um grupo
metlico (CH3) na clorofila a, enquanto que a clorofila b possui um grupo formila
(HCO) na mesma posio. Ambas possuem a estrutura bsica tetrapirrlica,
formando o anel de porfina, ao qual se ligam nos carbonos 1,2,3,4,5,6,7 e 8
respectivamente, os seguintes grupos: metila, vinila, metila ou formila, etila,
metila, carbonila (ester metlico e -cetoester), propionila esterificado com lcool
fitlico (C20H40O).
O teor de clorofila nas plantas pode atingir 0,4% da matria seca, mas o
teor mais freqente est em torno de 0,2%. Esses valores no so alterados
significativamente por variaes de insolao ou poca da colheita da planta.
Devido a sua baixa solubilidade em gua ou mesmo pela sua mudana de
cor com pH, a clorofila no comumente usada como pigmento.Com o objetivo
de se obter produtos mais estveis, so produzidos os sais complexos de
clorofilina, obtidos a partir de extratos de clorofila extrada de vegetais secos ou
in natura, principalmente espinafre e alfafa (RAMIREZ-NIO et al, 1998;
WISSGOTT e BORTILIK, 1996).
A clorofila pode ser extrada com etanol, acetona, clorofrmio. O teor de
gua da matria prima bruta deve ser levado em conta para evitar formao de
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emulses de difcil tratamento. Os extratos podem ser obtidos por macerao ou
percolao a quente ou ainda extrao em extrator tipo Sohxlet. Os extratos
devero ser purificados por partio com outros solventes como gua ou hexano.
No extrato purificado, por acidificao chega-se a feofitina ou
feoforbideo, atravs da perda do magnsio. Da feofitina por tratamento com sais
de cobre em meio alcolico prepara-se a clorofila cprica lipossolvel. Desta, por
hidrlise com hidrxido de sdio, potssio ou amnia chega-se a clorofilina
cprica aquossolvel, com a remoo dos grupos steres metila e fitila (BOBBIO
e BOBBIO, 1992 e 1985; TAKAHASHI, 1987).
Os sais complexos de clorofilina cprica de sdio e/ou potssio provm
de ambas as clorofilas, podendo ser representados como indicado na Figura 4
(TAKAHASHI, 1987).
NN
X
N NCu
COO-M+ COO-M+
X = CH3 (clorofilina a)X = CHO (clorofilina b)M = sdio e/ou potssio
Figura 4 Estrutura da clorofilina cprica a e b (TAKAHASHI, 1987).
Ao contrrio das clorofilas nativas, contendo Mg+2, as clorofilas cpricas
em que se substitui o Mg+2 por Cu+2 so produtos resistentes s condies de
processamento e armazenamento. A facilidade de preparao das clorofilas
cpricas e das clorofilinas solveis em gua a pH acima de 6,5 fazem desses
pigmentos bons substitutos de corantes artificiais verdes, apesar de seu menor
poder corante.
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A maior estabilidade da ligao Cu-N pirrlico em relao ligao Mg-
N pirrlico pode ser atribuda presena dos orbitais 3d no Cu+2 que aumentaro
o carter covalente da ligao entre os nitrognios ligantes e o Cu+2 receptor de
eltrons (BOBBIO e BOBBIO, 1992).
ISHII et al. (1995) prepararam complexos de fibra-clorofila e irradiaram
com luz visvel (lmpada incandescente de 60W) e com luz ultravioleta em
254nm e observaram que o corante natural associado com as fibras de seda foi
mais estvel que a soluo de clorofila livre. A foto-estabilidade da clorofila a
marcantemente aumentada pela adsoro dentro da fibra de seda, aparentemente
porque agem como substitutos fibrosos para protena que naturalmente estabiliza
estes materiais in vivo.
TSATSARONI e LIAKOPOULOU-KYRIAKIDES (1995) estudaram os
efeitos dos mordentes: sulfato ferroso, sulfato de alumnio e tartarato de sdio e
potssio na estabilidade luz de tecidos de l e algodo tingidos com cido
dicarboxlico de clorofila (CI Natural Green 5). Os autores observaram que a
estabilidade luz teve aumento quando se utilizou sulfato de ferro. Em todos os
casos, os mordentes escureceram ou enfraqueceram as cores.
A clorofilina pode se apresentar em forma de p cristalino, preto-azulado
ou verde-escuro, solvel em gua e insolvel em etanol. As solues de
clorofilina tm cor verde com tonalidade variando com o solvente usado. Os sais
complexos de clorofilina cprica usualmente contm entre 4 e 6% de cobre total
e no menos que 95% de clorofilina cprica na amostra dessecada a 100oC por
uma hora (TAKAHASHI, 1987).
A Monografia de Corantes Naturais para fins Alimentcios
(TAKAHASHI, 1987) classifica o complexo de clorofilina cprica como sendo
corante idntico aos naturais e possuem os seguintes registros no Colour Index e
Council European Union, respectivamente: C.I. (1975) 75.810, EEC E 141.
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3. Interao corante-fibra
A difuso e adsoro de corantes em fibras dependem da natureza
qumica do corante, do tamanho dos poros dos capilares e da natureza e
polaridade da superfcie das fibras. As caractersticas essenciais que tornam a
celulose capaz de ser colorida so: sua estrutura molecular (cadeia longa), sua
poro amorfa e os grupos hidroxilas livres das unidades de glicose. Somente a
regio amorfa do polmero acessvel aos corantes. A lignina causa um efeito
significativo na colorao, adsoro e outras propriedades das fibras, devido aos
seus grupos fenlicos que tem caractersticas de cido fraco.
O mecanismo exato de reteno do corante no papel no conhecido.
Ele diferente para corantes bsicos, cidos, diretos e para os corantes naturais.
Na interao entre a molcula corante e as fibras celulsicas que compem o
papel, fenmenos fsicos, reaes qumicas e diferentes foras podem estar
envolvidas. As principais interaes so citadas a seguir (TIMOFEI, et al., 2000;
LEWIS, 1996; WILKE, 1992; KRSEMANN, 1971; CASEY, 1961).
3.1. Penetrao do corante nas fibras
A acessibilidade dos corantes s superfcies internas das fibras ocorrem
nos espaos vazios entre as micro e macrofibrilas elementares, desde que o
tamanho das molculas corantes no seja superior aos dos espaos acessveis.
A dimenso, o formato e a rea superficial das partculas do material
fibroso e das molculas corantes, assim como, a estereoqumica destes
compostos facilitaro ou no a penetrao dos corantes nos capilares e
reentrncias dentro das fibras. Certos tipos de corantes so suficientemente
dispersos para penetrar dentro da estrutura submicroscpica dos poros das fibras,
em especial, os corantes bsicos e cidos. No entanto, muitos dos corantes diretos
apresentam-se em forma de agregados, o que invibializam sua penetrao pelos
poros das fibras, a menos que sejam devidamente aquecidos para facilitar esta
desagregao.
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28
Se a molcula corante apresentar uma natureza qumica que facilita ser
fortemente atrada pela celulose ou outros constituintes da fibra, esta tender
aderir-se parede celular. Caso contrrio, se soltar e eventualmente se difundir
pelas reentrncias da parede das fibras. Devido ao fato de ocorrerem mais pontos
de atrao no interior das fibras, os corantes que penetram nas fibras sero mais
efetivos e produziro uma colorao mais estvel ao papel.
3.2. Atrao eletrosttica
um fato conhecido que em um sistema de slidos dispersos em gua
desenvolve-se cargas eletrostticas na interface do slido com a gua. No sistema
de fabricao de papel, estas cargas podem ser originadas da dissociao das
carboxilas superficiais e dos grupos cidos sulfnicos da polpa. Assim como, da
adsoro de substncias, tais como hemiceluloses, lignina dissolvida, agentes de
reteno e amido catinico presentes no meio (SCOTT, 1996).
As fibras celulsicas normalmente geram cargas eletrostticas negativas
quando em suspenso aquosa e elas tendem a atrair e reter as partculas de
corantes que so carregadas positivamente. Por outro lado, se as fibras adquirem
uma carga positiva (por exemplo: pela adio de sulfato de alumnio), podero
atrair e reter partculas de corantes carregadas negativamente. Quando aditivos de
cargas diferentes so usados na produo de papel, importante que no entrem
em contato com o corante antes de serem misturados no sistema, para evitar
reaes catinicas-aninicas indesejveis (HOLMBERG, 1999; MARTON,
1980).
3.3. Interaes hidrofbicas
Consiste em interaes intermoleculares que levam a agregao do
soluto (molculas corantes), diminuindo a rea e a energia de contato na
superfcie com as molculas de gua, objetivando assim o aumento do grau de
liberdade da gua e conseqente aumento da entropia do sistema.
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29
Na colorao da polpa em meio aquoso, a camada de hidratao na
superfcie das fibras desenvolve foras de disperso bem fracas e os corantes de
carter tensoativo podem se concentrar nas interfaces fibra-gua e se agregar
fortemente na fase superficial do meio. Como a estrutura da gua afetada pela
presena de stios inicos e hidrofbicos, a posio dos stios inicos e
hidrofbicos das molculas corantes sero importantes para a colorao
(TIMOFEI et al, 2000, SCOTT, 1996).
Moryganov et al (1957), citado por TIMOFEI et al (2000), consideram
que a introduo de ncleos aromticos adicionais na estrutura de alguns corantes
diretos e azos aumenta sua afinidade pela fibra por aumentar a superfcie de
separao hidrocarboneto-gua. Estes fenmenos tm sido atribudos ao aumento
da superfcie hidrofbica das molculas corantes. O maior nmero de sistemas de
ligaes duplas conjugadas das molculas corantes aumentam a superfcie
hidrofbica destes corantes.
De acordo com TSATSARONI e LIAKOPULOU-KYRIAKIDES
(1995), na colorao da polpa de algodo, interaes hidrofbicas entre o corante
clorofila e os grupos hidroxilas da celulose contribuem para a estabilidade do
corante, assim como as ligaes de hidrognio e as fracas foras de Van der
Waals.
3.4. Foras de Van der Waals
As foras de Van der Waals causam atrao de molculas no carregadas
eletrostaticamente e s so efetivas quando prximas s fibras. So essenciais
nos processos de adsoro, sendo assim, importantes na fabricao de papel. A
afinidade do corante pela celulose por meio desta atrao favorecida por uma
estrutura larga e plana da molcula corante. Sua energia de ligao muito fraca,
sendo menor que 8KJ.mol-1 (OJALA, 1999, LEWIS, 1996).
Em geral, a qumica da fabricao do papel considerada uma qumica
coloidal devido as interaes serem superficiais e envolvendo grandes superfcies
especificas. Por isso, muitas das interaes que ocorrem entre estas partculas
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30
envolvem energias de ligaes secundrias como as de Van der Waals e ligaes
de hidrognio (SCOTT, 1996).
3.5. Ligaes de hidrognio
Ligaes de hidrognio so foras de natureza dipolo-dipolo, inica e
covalente em que o hidrognio est ligado a um elemento altamente
eletronegativo, como, nitrognio, oxignio ou flor. As ligaes de hidrognio
apresentam-se mais fortes que as ligaes dipolo-dipolo comuns, mas so mais
fracas que as ligaes covalentes e inicas (OJALA, 1999).
A celulose tem uma multiplicidade de grupos hidroxilas que so capazes
de participar de ligaes de hidrognio com o oxignio ou nitrognio de outros
radicais polares presentes nas molculas corantes (SCOTT, 1996). A
disponibilidade do par de eltrons destes tomos em grupos tais como: amino,
azo, carbonila e amida influenciam a afinidade destes corantes pela celulose.
Os valores de energia de ligao que definem os diferentes tipos de
interao entre as molculas no apresentam consenso entre diversos autores. De
acordo com SCOTT (1996), para separar uma ligao de hidrognio uma energia
de 12-21KJ.mol-1 requerida. OJALA (1999) estabelece a energia das ligaes
de hidrognio entre 5 e 45 KJ.mol-1. KRSEMANN (1971) cita que para separar
uma ligao de hidrognio necessrio uma energia de 12,5 a 41,8KJ.mol-1.
Badilescu et al. (1981), citado por TIMOFEI et al. (2000) consideram
que os grupos hidroxilas livres da celulose no podem participar das ligaes de
hidrognio com os corantes j que esto envolvidos nas ligaes de hidrognio
intra ou inter-molecular nas regies amorfas e cristalinas das fibras. Ao contrrio,
KRSEMANN (1971) acredita que uma forte ligao pode ser formada entre o
corante e a celulose por meio de vrias ligaes de hidrognio.
-
31
3.6. Ligaes qumicas covalentes
Segundo KRSEMANN (1971), sob as condies normais de colorao
do papel, os grupos hidroxilas da celulose no podem ser combinados com o
corante por reaes qumicas tais como, formao de sais ou esterificao.
Ligaes qumicas covalentes so possveis entre fibras celulsicas e os
chamados corantes reativos, utilizados pelas indstrias txteis. Um corante
reativo, em contraste com outros tipos de corantes, tem no mnimo um grupo
funcional que pode se ligar covalentemente com o grupo hidroxila da celulose de
algodo. Alguns exemplos de grupos funcionais reativos presentes nas molculas
de corantes para tecidos so: triazinas heterocclicas com nitrognio mono-fluoro
substituda, vinil sulfona e amino.
O meio alcalino necessrio para dissociar os grupos hidroxilas,
formando a quantidade de nions nucleoflicos favorvel a reaes. A
desvantagem uma reao de hidrlise que compete com a formao de ster. O
corante hidrolisado incapaz de reagir com a celulose, o que diminui a
quantidade de corante ligado celulose (PANSWAD e LUANGDILOK, 2000;
GORENSEK, 1999; BROADBENT et al., 1998; KOKOT et al., 1997a e
KOKOT et al, 1997b; WEINTZ, 1993; SHREVE, 1980).
O rompimento de uma ligao covalente usualmente requer uma energia
entre 420-840KJ.mol-1 (SCOTT, 1996).
TIMOFEI et al. (2000) e LEWIS (1996) citam tambm a ocorrncia de
foras de induo e estabilizao por transferncia de carga na colorao das
fibras.
4. Parmetros termodinmicos
Em um sistema de fabricao de papel contendo partculas dispersas
(fibras, finos, cargas minerais, agentes de colagem, etc) e substncias dissolvidas
(molculas de amidos, agentes de reteno, resinas de resistncia a mido,
corantes, etc) existem sempre movimentos das partculas e molculas causadas
pelo movimento randmico. Estes movimentos levam a coliso de partculas-
-
32
partculas e partculas-molculas. Se as partculas e as molculas possuem cargas
opostas, a fora de atrao desenvolvida promove adsoro das molculas na
superfcie das partculas. Aps o contato outras foras podero atuar na ligao
das molculas com a superfcie das fibras (ligaes de hidrognio e foras de
Van der Waals).
A adsoro das molculas corantes com a polpa celulsica depende das
caractersticas das molculas corantes e das fibras. Dependem tambm das
condies qumicas do meio, como pH, condutividade, substncias interferentes
e polmeros aninicos. Assim como das condies fsicas de operao:
turbulncia, temperatura, consistncia da massa e ordem de adio (POPOOLA,
2000b; SCOTT, 1996; KRSEMANN, 1971).
O equilbrio termodinmico envolve o equilbrio material e o reacional. No
equilbrio termodinmico material no ocorre processo de transformao
molecular, ou seja, no ocorre reaes qumicas. O que ocorre a transferncia
de molculas de uma fase para a outra. O equilbrio termodinmico alcanado
quando o potencial qumico (Energia de Gibbs molar) do corante na fibra igual
ao potencial qumico do corante na soluo. Neste estado de mnima energia, o
potencial qumico () do extrato corante pode ser calculado de acordo com a
equao (1):
i = o + RTlnai (1)
Na equao (1), i o potencial qumico, io o potencial qumico padro, R
a constante dos gases, T a temperatura em graus Kelvin e ai a atividade do
componente i.
No equilbrio, como j comentado acima, o potencial qumico () do
componente que esta sendo transferido fica igual nas duas fases de contato, o que
nos possibilita igualar a equao (1) para as duas fases, obtendo a equao (2):
o + RTnai(interface) = o + RTlnai (na soluo) (2) onde ai(interface) = atividade do componente i na interface,
ai(soluo) = atividade do componente i na soluo.
Rearranjando a equao (2) obtemos a equao (3):
-
33
o (interface) - o (soluo) = - RT lnai(interface) ai(soluo) (3)
Go= - RTln ai(interface)
ai(soluo) (4)
Substituindo a atividade (ai) por concentrao (conci) na equao (4),
obtemos a equao (5). Esta aproximao possvel quando o soluto est muito
diludo.
Go = - RTln Conci (interface) Conci (soluo) (5)
Neste caso a energia livre de Gibbs (G) do sistema se encontra
minimizada e no ocorrer mais variao de G. Neste estgio, associa-se ao
equilbrio atingido o parmetro denominado constante de equilbrio (K).
Go = - RTlnK (6) onde, K = Conci (interface) Conci (soluo) (7)
A constante de equilbrio (K), representada na Equao (7), expressa a
quantidade de componente que foi adsorvido pela interface em relao
quantidade de componente restante na soluo (sem ser adsorvido).
A Equao (6) mostra que a variao da energia livre de Gibbs padro,
G0, depende apenas da temperatura, pois a temperatura que afeta a constante
de equilbrio (K) e tambm a relao RT. A dependncia da variao da energia
de Gibbs padro (G0) com a temperatura (T) dada pela Equao (3).
dTGd
RTRTG
dTKd )(1ln
0
2
0
= (3)
Considerando uma das relaes de Maxwell, Equao (4),
o
SdT
Gd=
)(0
(4)
e substituindo (4) em (3) obtemos:
)(1ln 20
o
SRTRT
GdT
Kd
= (5)
-
34
22
0
lnRT
STRT
GdT
Kdo
+
= (6)
Considerando que G = H - TS e substituindo esta Equao em (6)
obtemos a Equao de vant Hoff:
2
0
lnRT
HdT
Kd = (7)
A integrao da Equao (7), considerando o H independente da
temperatura, gerar a equao (8):
)11()()(ln
211
2
0
TTRH
TKTK
= (8)
A Equao (8) conhecida como equao de vant Hoff, mostra que a
relao grfica de lnK vs 1/T, denominada de Diagrama de vant Hoff, nos
fornecer uma reta cuja inclinao igual a (- H/R).
A entalpia estimada para reaes qumicas e bioqumicas
freqentemente determinada indiretamente atravs da equao de vant Hoff, que
indica a variao da constante de equilbrio em funo da temperatura (LIU e
STURTEVANT, 1997; CHAIRES, 1997).
LIU e STURTEVANT (1997) compararam os valores de entalpia
estimados a partir da equao de vant Hoff com a entalpia obtida atravs de
mtodos calorimtricos. Avaliaram na comparao a interao do cido n-
heptanico com n-heptilamina em soluo de dodecano e do heptanoato de sdio
com ciclodextrina em soluo aquosa sem adio de tampo. Utilizaram na
determinao experimental um instrumento para titulao calorimtrica
isotrmica (ITC), que fornece valores exatos de constantes de equilbrio e
entalpia.
Com o mesmo objetivo que os autores citados acima, CHAIRES (1997)
utilizando a tcnica de simulao de Monte Carlo, concluiu que aparentes
discrepncias entre a entalpia estimada de vant Hoff e a determinada
calorimetricamente so insignificantes quando ocorrem pequenas mudanas na
capacidade calorfica do sistema em estudo.
-
35
GUPTA et al. (2001) estabeleceram o mecanismo de colorao de fibras
sintticas (nylon) com o corante purpurina extrado das razes da Indian madder
(Rubia cordifolia). O estudo termodinmico compreendeu a obteno de
isotermas de adsoro e a determinao de parmetros termodinmicos utilizando
a isoterma de Nerst, cujos valores para 90oC foram: Energia livre (-) =
18,38KJ.mol-1, entalpia (H) = 5,19KJ.mol-1 e entropia (S) = 64,88J.mol-1.K-1.
Os resultados mostraram que a afinidade do corante pelo nylon comparvel a
alguns corantes dispersos sintticos. As isotermas lineares obtidas indicam que o
processo de colorao do nylon com a purpurina corresponde a um mecanismo
de partio.
A quantificao de corantes naturais ou sintticos retidos em fibras
normalmente realizada de maneira indireta por meio de mtodos
espectrofotomtricos, medindo-se a absorbncia no comprimento de onda
mximo e utilizando-se curvas de calibrao ou valores de absortividade molar
() dos corantes para a quantificao.
A absorbncia da soluo corante pode ser determinada antes e depois de
atingido o tempo de equilbrio, determinando-se a quantidade de corante fixada a
fibra por diferena, como realizado por GORENSEK (1999) que determinou a
estabilidade das ligaes de corante reativos com a fibra de algodo. POPOOLA
(2000b) e BROADBENT et al. (1998) optaram por extrair o corante fixado ao
substrato por meio de solventes apropriados e posteriormente medir a
absorbncia da soluo. GUPTA et al.(2001) dissolveram as fibras de nylon
coloridas com o corante purpurina em cido frmico e mediram a absorbncia.
5. Grupos funcionais da celulose: carboxilas, hidroxilas e carbonilas
Apesar dos carboidratos apresentarem grupos carbonilas e hidroxilas, as
carbonilas existem fundamentalmente como hemiacetais e/ou acetais. Os
polissacardeos, como a celulose, s apresentam cerca de 0,5% de suas cadeias na
forma aberta. Esta pequena porcentagem representada pelo grupo terminal
-
36
redutor (GTR) das cadeias de celulose e hemicelulose. A forma aberta mais
reativa podendo ser oxidada ou reduzida.
Quando a celulose oxidada durante os processos de polpao e
branqueamento, principalmente em seqncias que usam compostos derivados do
oxignio, ou quando em contato com energia radiante durante a estocagem, pode
ocorrer oxidao dos tomos de carbono 1, 2, 3 ou 6, nas unidades de
anidroglicose, como mostra a Figura 5.
Figura 5 - Estruturas de unidades de anidroglicose oxidadas.
Grupos cetonas podem ser produzidos nos tomos de carbono 2 ou 3, ou
ambos (b,c,d). Grupos aldedos podem ser formados nos tomos de carbono 6 (e)
ou sob os tomos dos carbonos 2 e 3 pela ruptura das ligaes entre eles (f). Os
tomos de carbono 1, 2, 3 e 6 podem ser oxidados para grupos carboxlicos
(g,h,i). Uma certa quantidade de grupos carboxlicos est associada com as
C O
CC C
CO
CH2OH
O
OH
OH
(a)
O
OH
O
H2OHC
OC
CCC
OC
(b)
C O
CC C
CO
CH2OH
O
O OH
(c)
(d)
OO
H2OHC
OC
CCC
OC
O
(e)
OH
OH
O
C
OC
CCC
OC
O
H
(f)
OO
O
H2OHC
OC
CCC
OC
C O
CC C
CO
C
O
OH
OH
(g)
H2OH
H
OH
C O
CC C
CO
CH2OH
O O
(h)
O
OH OH
C O
CC C
CO
O
OH
OH
(i)
OH
OC
-
37
hemiceluloses. Vrias combinaes destes grupos podem ser formadas nas
mesmas unidades ao longo da molcula de celulose (MAMBRIM FILHO e
MAINIERI, 2001, SILVA et al., 1997, McDONOUGH, 1996; RAPSON e
HAKIM, 1957).
Os grupos carboxlicos representam os grupos funcionais ionizveis que
ocorrem nas fibras da madeira e so importantes na qumica de preparo da massa
pela sua influncia na carga de superfcie das fibras. Em pH prximo de 2,8 o
equilbrio se desloca inteiramente para a formao de carboxilas protonadas e a
carga nas fibras e finos torna-se essencialmente zero. O pH de dissociao dos
grupos carboxlicos 4,5. Aumentando-se o pH para a faixa de 7-8, muitos dos
grupos carboxlicos so neutralizados e a carga de superfcie das fibras torna-se
mais negativa.
No processo de produo de papel os grupos carboxilas contribuem para
a ligao das fibras, formao do papel e reteno dos agentes de colagem,
afetando a resistncia da folha e qualidade da impresso, dentre outras.
De acordo com ISOGAI et al. (1997), embora na polpa ocorram mais
grupos hidroxlicos que carboxlicos, os carboxlicos podem governar as cargas
aninicas nas superfcies das fibras e dos finos, participando como stios de
reteno de aditivos catinicos. Em razo da grande quantidade de grupos
hidroxlicos, eles tambm participam na reteno dos corantes, com seus stios
aninicos, embora apresentem baixo grau de dissociao.
Os grupos funcionais hidroxlicos podem participar da reteno dos
corantes naturais, porm com menos expressividade que os grupos carboxlicos.
Esta menor participao est associada ao fato do pH de dissociao dos grupos
hidroxlicos ser maior que 12,0. O pH de preparo da massa oscila entre 6-8 e
neste pH, apenas uma frao muito pequena dos grupos hidroxlicos estar
dissociada (SCOTT, 1996).
-
38
6. Interpretao de espectros usando mtodos quimiomtricos
KOKOT et al. (1997a) investigaram uma srie de tecidos de algodo
tratados com corantes reativos bifuncionais de estrutura qumica e composies
desconhecidas, em diferentes formas: no-fixados e fixados quimicamente. De
acordo com os autores, as bandas da celulose do algodo dominam todo o
espectro de DRIFTS (Espectroscopia no infravermelho de reflectncia difusa
com transformada de Fourier) das amostras de tecidos tingidos, o que dificulta a
discriminao e comparao de cada espectro. Entretanto, demonstrado que
uma distino qualitativa alcanada pelo uso da anlise das componentes
principais (PCA).
Em outro trabalho, KOKOT et al (1997b) utilizaram as mesmas amostras
citadas acima, mas analisaram por espectroscopia Raman. Neste caso os espetros
foram dominados pelos corantes, mas os diferentes estados dos corantes no
foram claramente diferenciados. Aplicao de PCA permitiu que cada grupo de
espectros com os corantes em quatro estados diferentes fossem comparados entre
si e com o do algodo no colorido.
A anlise das componentes principais (PCA, do ingls Principal
Component Analysis) uma ferramenta quimiomtrica utilizada na reduo de
dados e visualizao de amostras. Comumente empregada, para identificao
de grupos distintos e seleo de amostras na construo de modelos para
calibrao multivariada. Os principais objetivos dessa tcnica so os de encontrar
relaes entre objetos e de agrup-los de acordo com suas similaridades.
Associado a isso possvel tambm detectar amostras anmalas, cujo
comportamento no pertence a nenhuma das categorias conhecidas (FIDNCIO,
1998, 2001).
PCA uma manipulao matemtica da matriz de dados originais, onde
o objetivo a representao da varincia presente nas muitas variveis usando
um pequeno nmero de "fatores". A anlise de PCA baseada na correlao
entre as variveis. A PCA mapeia as amostras atravs de seus valores e as
variveis pelos respectivos pesos em um novo espao definido pela componente
-
39
principal. As componentes principais so simples combinaes lineares das
variveis originais. O grfico de valores ("scores") das amostras permite
identific-las, checando se so similares ou no, tpicas ou atpicas. As variveis
mais importantes so identificadas pelos maiores pesos ("loadings"). Um ponto
importante que o mximo de varincia em um conjunto de dados pode ser
explicado por um reduzido nmero de variveis. A componente principal
definida na direo de mxima varincia no conjunto de dados e descreve o
espalhamento mximo dos pontos de dados, e as variveis subseqentes so
ortogonais, ou seja, no correlacionadas uma com a outra, e maximizam a
varincia restante. A extenso com que cada varivel medida contribui para a PC
(principal componente) depende de sua orientao relativa no espao da PC e do
eixo das variveis. A contribuio de cada eixo para a PC o cosseno do ngulo
entre o eixo das variveis e o eixo da PC, estes valores variam de 1 a 1 e so
denominados de "loadings". Assim, uma vez removida a redundncia, apenas os
primeiros componentes principais so requeridos para descrever a maioria das
informaes contidas no conjunto de dados original (CARDOSO et al, 2003;
7. Fatores que afetam a colorao de papis
O processo de fabricao do papel inclui um grande nmero de variveis.
Em adio ao tipo de corante e escolha do processo de colorao, o resultado da
colorao determinado pelo tipo de polpa, grau de refino, secagem e
acabamento, qualidade da gua, caractersticas da mquina, tempo de contato
corante/fibra, consistncia da massa, aditivos utilizados e ordem de adio destes
(HOLMBERG, 1999; Sandoz, 1992; CASEY, 1961).
7.1. Grau de refino
De maneira geral, foi observado que as polpas mais hidratadas ou
refinadas produzem papis mais intensamente coloridos (PIRES, et al., 1988). De
acordo com HOLMBERG (1999) e CASEY (1961), o refino no aumenta
apreciavelmente a adsorso dos corantes solveis, e o aumento na intensidade da
-
40
cor obtido nas polpas altamente refinadas devido caracterstica mais densa e
compacta da folha, e no a uma diferena na adsorso do corante. O efeito pode
ser explicado pelo fato do refino diminuir o nmero de interfaces ar-celulose na
folha, e em conseqncia, diminuir a quantidade de luz refletida e aumentar a
quantidade de luz transmitida. Quando a quantidade de luz transmitida
aumentada, existe uma maior oportunidade do corante na folha absorver luz de
comprimento de onda especfico e ento aumentar a proporo de luz colorida.
A calandragem tem o mesmo efeito, mas em menor extenso, e pode
aumentar a intensidade de cor, quando muito, de 10 para 15% (HOLMBERG,
1999; PIRES, et al; 1988; CASEY, 1961).
7.2. Secagem
Sob condies de secagem em temperaturas elevadas, alguns corantes
podem ser carregados com a gua para a superfcie da folha de papel, resultando
em um papel colorido desigualmente. Esse fenmeno ocorre para corantes cidos
(HOLMBERG, 1999). Alguns corantes sintticos so sensveis a variao de
temperatura, e a maioria dos corantes naturais so instveis altas temperaturas,
como visto no item 2.2.2 e seus subitens.
7.3. Qualidade da gua
A estabilidade do corante, sua tonalidade, saturao e reteno dependem
da qualidade da gua, isto , do pH, da dureza, da turbidez e da cor
(HOLMBERG, 1999; PIRES, et al.; 1988). Para a dissoluo ou diluio dos
corantes deve-se empregar gua livre de lcalis, almen, cloro, cido hmico,
sais de metais pesados (ferro, cobre, mangans), leos e agentes de dureza.
Alguns autores reforam a importncia do controle do pH na colorao,
outros consideram mais importante manter o pH timo para reteno das cargas e
colas do que manter o pH timo para a colorao. Contudo, de vital
importncia manter o pH do refino e da gua de reciclagem dentro de certos
-
41
limites, desde que certas variaes no pH, resultaro em uma variao na
tonalidade e saturao da cor. A estabilidade do corante luz geralmente
melhor quando o pH do papel esta perto da neutralidade (CASEY, 1961).
Os corantes diretos so usualmente bem retidos na faixa de pH de 4,5 a
8,0 e so aplicveis na fabricao de papel cido, neutro e alcalino. A classe de
corantes substantivos aninicos diretos especialmente recomendada para
colagem alcalina devido a sua afinidade natural pelas fibras. Entretanto, existem
algumas excees. Por exemplo, o Amarelo direto 4, um popular corante, age
semelhante a um indicador e no deve ser usado sob condies alcalinas porque a
colorao ir mudar gradualmente para uma tonalidade esverdeada
(HOLMBERG, 1999).
Sais de clcio que podem estar presentes na gua dura so prejudiciais a
certos corantes, particularmente os cidos e a norbixina do urucum, que podem
ser precipitados na soluo. Em alguns casos, uma pequena quantidade de sulfato
de alumnio pode ser adicionada no refino antes da adio do corante de forma a
reduzir a dureza (CASEY, 1961). HOLMBERG (1999) defende que o aumento
da dureza da gua geralmente tem um efeito positivo no resultado da colorao
quando corantes diretos so usados.
Um rigoroso controle do pH e dureza da gua so necessrios quando se
utiliza corante natural para a colorao de papis, devido aos fatores relatados
anteriormente no item 2.2.2.
7.4. Aditivos
Muitos tipos de papis contm aditivos no celulsicos (amido catinico,
sulfato de alumnio, carga mineral, agente de colagem alcalina e antiespumante)
adicionados com a finalidade de melhorar as propriedades finais do produto,
eliminar ou minimizar certos problemas de operao. O corante tem diferentes
afinidades por estes aditivos no sistema. Variaes na reteno iro resultar em
mudanas na composio do sistema, e conseqentemente tambm em diferenas
de colorao na folha de papel.
-
42
A reteno dos corantes est relacionada reteno de finos e cargas, j
que tendem a ser adsorvidos por estes componentes, devido as suas grandes reas
superficiais. Conseqentemente, os finos tendem a adsorver maiores quantidades
de aditivos por unidade de peso que as fibras. Os aditivos so freqentemente
menos eficientes quando esto localizados na superfcie das cargas do que nas
superfcies das fibras. A ordem e ponto de adio de corantes e outros produtos
qumicos no sistema de grande importncia para garantir a maior reteno e
eficincia dos aditivos e uniformidade do papel produzido (HOLMBERG, 1999;
SCOTT, 1996).
7.4.1. Amido catinico
Depois das fibras e cargas, o amido cozido o terceiro principal produto
utilizado na manufatura dos papis. Em geral, objetiva-se com seu uso o
desenvolvimento de propriedades de resistncia mecnica, de reteno de finos e de
cargas, de desaguamento durante a produo de papis e melhora da textura superficial
do papel. Tambm pode ser utilizado como agente de colagem externa, como ligante
para revestimento do papel e como colide protetor nas disperses das colas AKD e
ASA (KETOLA E ANDERSSON, 1999; HEDBORG, 1993; MAHER, 1983). O amido
catinico tambm fornece carga positiva para o corante, gerando um potencial para
melhor reteno (SCOTT, 1996).
Se o amido catinico pr-gelatinizado for adicionado massa prximo a
caixa de entrada, garantir uma melhor reteno de finos e cargas. O mecanismo
de ao similar ao dos polmeros catinicos de cadeia longa, tais como a
poliacrilamida, tambm utilizada na fabricao de papis. Se a adio for feita na
bomba de mistura, em um tanque, ou no retorno da gua de reciclagem
favorecem o desenvolvimento de resistncia da folha (KETOLA e
ANDERSSON, 1999; RANDRUP, 1991).
WALKDEN (1996) relata que os tipos de amidos empregados nas
indstrias de papel so variados. O grau de substituio pode ser classificado em
baixo, mdio e alto, sendo esta classificao realizada atravs de quantificao do
nmero de moles de nitrognio presente na molcula de amido. No processo de
-
43
cationizao, o sal quaternrio de amnio gera no amido um mol de nitrognio
em sua estrutura. O amido com alto grau de substituio de nitrognio (0,028
0,035) o que mais preserva seu carter catinico em condies de pH neutro,
tendo se mostrado como o mais eficiente na reteno e fixao de produtos
qumicos sobre a fibra.
O amido catinico um polmero com alto peso molecular e devido a
sua grande molcula, quando em solues diludas no penetra nos pequenos
capilares da fibra (MARTON, 1980). As propriedades do amido esto
relacionadas abundncia de grupos hidroxilas que ele contem, que so capazes
de formar ligaes de hidrognio com a gua, quando em soluo. As molculas
de gua se dissipam no processo de secagem e ligaes de hidrognio so
formadas entre o amido, a fibra e outros componentes usados no processo de
fabricao do papel, como os corantes (KETOLA e ANDERSSON, 1999).
7.4.2. Agente de colagem alcalina - Dmero de alquenil ceteno
O agente de colagem AKD (dmero de alquenil ceteno) uma graxa
slida, com ponto de fuso de 55oC. Usualmente, comercializada na forma de
emulso, com contedo de slidos de aproximadamente 5 a 15%, e a frao ativa
do agente de colagem compreende cerca de 30 - 50% do teor de slidos (BOBU e
CIMPOESU, 1993). Seu processo de produo constitui basicamente na
dimerizao de cidos alifticos clorados, que tem como principal componente o
cido esterico comercial, com 18 tomos de carbono. Existe uma variedade de
outros cidos graxos que se apresentam como impurezas, com cadeias de
comprimento que variam de 14 a 20 carbonos (SITHOL et al., 1995).
A cola AKD apresenta um carter no-inico, apresentando dificuldade
para ser aderida superfcie das fibras, as quais apresentam caractersticas
aninicas. A introduo de amido catinico ao meio, no processo de
emulsificao da cola, envolve as partculas de AKD tornando-as eletropositivas,
permitindo sua reteno s fibras no preparo da massa e na formao da folha de
-
44
papel. O produto usado na colagem alcalina, preparado sob a forma de emulso,
geralmente contm resinas catinicas, como estabilizante.
Ao longo do processo de fabricao do papel, na drenagem e prensagem
da folha, ocorre a redistribuio da cola na superfcie das fibras, que auxiliado
pela secagem a temperaturas elevadas gera condies do agente AKD de reagir
com os grupos reativos dos carboidratos da polpa (hidroxilas e carboxilas)
formando ligaes covalentes. Nas indstrias de papis para impresso e escrita
um dos principais produtos empregados, devido sua maior estabilidade qumica
(PRINZ et al. 1996).
O AKD pode ser utilizado na colagem de papis produzidos com ndice
de acidez entre 6,5 - 8,5. Contudo, apresenta maior eficincia na faixa alcalina,
acima de 7,5. Evans 1989, citado por CROUSE (1991), sugere que o aumento da
reatividade se d devido ao inchamento da fibra, o qual fornece uma superfcie
mais reativa.
ISOGAI et al. (1997) relataram que a adio de sulfato de alumnio
prejudicial na colagem com AKD em condies de preparo de massa com pH
6,0. O efeito do sulfato de alumnio depende da ordem da adio e da dosagem,
as quais afetam a reteno do agente de colagem AKD na parte mida da
mquina de papel. De acordo com Cates 1989, citado por CROUSE (1991), em
um pH elevado, improvvel que o alumnio seja til, mas com uma alcalinidade
relativamente baixa em pH em torno de 7,0, algumas fbricas obtiveram
melhorias.
Em papis cidos, o uso de corantes geralmente no um problema, j
que o almen assegura que o corante seja apropriadamente fixado s fibras. Na
colagem neutra, o uso de almen nem sempre possvel e a adeso do corante ao
meio pode ser incompleta. Este problema pode ser resolvido com o uso de
corantes catinicos diretos (HOLMBERG, 1999).
O carter no inico e hidrofbico das colas alcalinas no interfere na
colorao com os corantes diretos. Alguns emulsificantes usados para aproximar
as colas e as fibras (polmeros catinicos ou amido catinico) so
-
45
suficientemente catinicos para ajudar na fixao dos corantes diretos, quando
em quantidade suficiente.
Normalmente os sistemas alcalinos de colagem contm menos eletrlitos
solveis que os sistemas cidos, isto representa uma vantagem na produo do
papel, mas o efeito negativo na afinidade de corantes diretos aninicos.
recomendvel a adio de sais de clcio e magnsio (WILKE, 1992).
7.4.3. Compostos de alumnio
7.4.3.1. Sulfato de alumnio
Tradicionalmente na indstria de papel o sulfato de alumnio referido
como almen. Isto compreensvel porque o seu efeito similar ao verdadeiro
almen, sulfato duplo de potssio e alumnio. O almen extrado da bauxita
num processo industrial e aps secado constitui o sulfato de alumnio [Al2(SO4)3]
com 14 a 18 molculas de gua de cristalizao (SCOTT, 1996).
O sulfato de alumnio utilizado na fabricao de papel como: agente de
reteno (corantes, cargas, ltex, fibras e finos), auxiliar de drenagem e
formao, neutralizador da carga do lixo aninico, agente controlador de pH,
coagulante purificador de gua, agente de controle de pitch, limpador de
contaminantes de colagem alcalina, agente de colagem cida, catalisador cido
para a cura da resina de resistncia a mido. A grande utilizao do sulfato de
alumnio na fabricao de papel decorrente de suas propriedades qumicas: alta
densidade de carga positiva, pequeno raio inico e capacidade de adsoro dentro
das fibras e finos (ARNSON, 1982).
O sulfato de alumnio slido (cristalino) facilmente ionizado e os
ctions alumnio nos vrtices do cristal so separados dos nions sulfatos at uma
distncia fixa, permitindo a entrada de seis molculas de gua por ction, com o
oxignio da gua coordenado em uma estrutura octadrica. O restante das
molculas de gua de hidratao est localizado ao acaso, ao redor dos nions
sulfato. Em soluo aquosa, o sulfato de alumnio primeiramente se dissocia em
nion sulfato e ction de coordenao Al+3 hexaidratado. Entretanto, estes ctions
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s existem completamente em condies cidas (pH < 4). A forte carga positiva
do on alumnio trivalente polariza cada molcula de gua e, com o aumento do
pH, o prton eventualmente libertado para formar um complexo mononuclear
divalente pentaidratado. Esta hidrlise envolve substituies da gua ligante por
grupos hidroxilas, processo que ocorre de acordo com o equilbrio abaixo:
[Al(H2O)6]+3 + xH2O [Al(H2O)6-x(OH)x](3-x)+ + xH3O+
Os ons de alumnio apresentam tendncia a se agregar, formando
polmeros. As espcies mononucleares representadas acima so capazes de
complexar com elas mesmas via um processo chamado olao, que leva a
formao de complexos contendo mais que um alumnio, como por exemplo,
Al13O4(OH)21+7 e Al8(OH)20+4. Este processo muito importante, estando grande
parte do alumnio ligada nos tais complexos na faixa de pH 4-5. A exata
composio destes complexos incerta porque esta formao influenciada pelo
tempo, temperatura, concentrao e outras variveis do sistema (HOLMBERG,
1999; SCOTT, 1996).
A natureza cida das solues de sulfato de alumnio uma das suas
caractersticas mais conhecidas. As reaes qumicas que produzem este pH
cido so devidas as reaes de hidrlise. A Figura 6 mostra a distribuio inica
das espcies de alumnio em relao ao pH do meio.
Observa-se que a formao de espcies polinucleares ocorre nas
condies de pH freqentemente empregadas na fabricao de papel. Encontra-se
hidrxido de alumnio Al(OH)3, um precipitado gelatinoso, predominando at
pH8. A formao do nion aluminato Al(OH)4- comea em pH8, com o completo
desaparecimento do Al(OH)3 em pH 10. O Al+3 a espcie predominante em pH
maiores que 4,6, quando sua concentrao comea a declinar e comea-se a
formar o complexo polinuclear.
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Figura 6 Equilbrio das diferentes quantidades de espcies de alumnio em funo do pH do meio (SCOTT, 1996).
Na regio do ction trivalente, a adsoro baixa e independente da
concentrao. Isto devido a adsoro do Al+3 ser dependente da quantidade de
on carboxila que est presente em quantidade limitada. As espcies
polinucleares apresentam forte adsoro pr