estudos científicos aplicados a novas tecnologias - coletânia da i secfar

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Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas 978-85-61890-22-3 Olavo dos Santos Pereira Júnior Greiciane Gaburro Paneto Heberth de Paula Renata Dalmaschio Daltoé Wagner Miranda Barbosa Pedro Alves Bezerra Morais Francisco de Paula Careta Mariana Drummond Costa Ignacchiti Leonardo Oliveira Trivilin Adilson Vidal Costa Anderson Barros Archanjo Tiago de Paula Marcelino (ORGANIZADORES) ESTUDOS CIENTÍFICOS APLICADOS A NOVAS TECNOLOGIAS Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas - Curso de Farmácia Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo Alegre (ES) CAUFES 2012 ISBN: 978-85-61890-22-3

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Estudos Científicos Aplicados a Novas Tecnologias

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Page 1: Estudos Científicos Aplicados a Novas Tecnologias - Coletânia da I Secfar

Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas

978-85-61890-22-3

Olavo dos Santos Pereira Júnior

Greiciane Gaburro Paneto

Heberth de Paula

Renata Dalmaschio Daltoé

Wagner Miranda Barbosa

Pedro Alves Bezerra Morais

Francisco de Paula Careta

Mariana Drummond Costa Ignacchiti

Leonardo Oliveira Trivilin

Adilson Vidal Costa

Anderson Barros Archanjo

Tiago de Paula Marcelino

(ORGANIZADORES)

ESTUDOS CIENTÍFICOS APLICADOS A NOVAS TECNOLOGIAS

Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas - Curso de Farmácia

Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo

Alegre (ES)

CAUFES

2012

ISBN: 978-85-61890-22-3

Page 2: Estudos Científicos Aplicados a Novas Tecnologias - Coletânia da I Secfar

Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas

ESTUDOS CIENTÍFICOS APLICADOS A NOVAS TECNOLOGIAS

COLETÂNEA DA 1ª SEMANA DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Page 3: Estudos Científicos Aplicados a Novas Tecnologias - Coletânia da I Secfar

Coletânea da 1ª semana de Ciências Farmacêuticas

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)

Reitor: Reinaldo Centoducatte Vice-Reitora: Maria Aparecida Santos Corrêa Barreto

Centro de Ciências Agrárias (CCA)

Diretor: Julião Soares de Souza Lima Vice-Diretor: Geraldo Regis Mauri Responsável pela Biblioteca Setorial de Ciências Agrárias: Maria Candida Resende Regis Mauri Departamento de Farmácia e Nutrição Chefe: Taís Cristina Bastos Soares Subchefe: Greiciane Gaburro Paneto Secretário: Wisley Braga Curty Colegiado do Curso de Farmácia Coordenador: Heberth de Paula Subcoordenadora: Renata Dalmaschio Daltoé 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas Comissão organizadora: Olavo dos Santos Pereira Júnior, Greiciane Gaburro Paneto, Heberth de Paula, Renata Dalmaschio Daltoé, Wagner Miranda Barbosa, Pedro Alves Bezerra Morais, Francisco de Paula Careta, Mariana Drummond Costa Ignacchiti, Leonardo Oliveira Trivilin, Adilson Vidal Costa, Anderson Barros Archanjo, Tiago de Paula Marcelino

APOIO

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Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas

Olavo dos Santos Pereira Júnior

Greiciane Gaburro Paneto

Heberth de Paula

Renata Dalmaschio Daltoé

Wagner Miranda Barbosa

Pedro Alves Bezerra Morais

Francisco de Paula Careta

Mariana Drummond Costa Ignacchiti

Leonardo Oliveira Trivilin

Adilson Vidal Costa

Anderson Barros Archanjo

Tiago de Paula Marcelino

(ORGANIZADORES)

ESTUDOS CIENTÍFICOS APLICADOS A NOVAS TECNOLOGIAS COLETÂNEA DA 1ª SEMANA DE CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

Alegre (ES), de 29 de agosto a 1º de setembro de 2012

Alegre (ES)

CAUFES

2012

Page 5: Estudos Científicos Aplicados a Novas Tecnologias - Coletânia da I Secfar

Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas

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© Copyright by Centro de Ciências Agrárias/Ufes, Alegre (ES), 2012.

Direitos desta edição reservado ao Centro de Ciências Agrárias/ UFES. Fica autorizada a reprodução parcial ou integral, a citação e o compartilhamento sem fins comerciais, desde que citada à fonte, nos termos da Lei 9.610/98. Direitos reservados aos autores dos textos, em futuras publicações, nos termos da Lei 9.610/98. O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade dos autores e dos organizadores.

Projeto gráfico e editoração eletrônica: Comissão Organizadora

Revisão de texto: Comissão Organizadora

Capa: Comissão Organizadora

Assessoria técnica editorial (com exceção de sumário e conteúdo): Ana Maria de Matos Mariani

(CRB 6ª/ES, nº 425), Projeto de Extensão Assessoria em Organização, Padronização e Normalização

de Publicações Técnico-Científicas (UFES) (registro SIEX BRASIL nº70595): Lucileide Andrade de

Lima do Nascimento (CRB 6ª/ES, nº 309).

Catalogação e ISBN: Ana Maria de Matos Mariani (CRB 6ª/ES, nº 425).

Editora: CAUFES.

Contato: Alto Universitário, s/nº, Guararema, Alegre, ES, CEP 29500-000, (28) 3552-8673. E-mail:

[email protected]. Site: www.secfar.com.

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Setorial de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito Santo, ES,

Brasil)

E82 Estudos científicos aplicados a novas tecnologias [recurso eletrônico] :

coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas : Alegre (ES), de 29 de agosto a 1º de setembro de 2012 / Olavo dos Santos Pereira Júnior et al., organizadores. – Alegre, ES : CAUFES, 2012.

ISBN 978-85-61890-22-3

1. Semana de estudos. 2. Curso de Farmácia - Resumos I. Pereira Júnior,

Olavo dos Santos. II. Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências Agrárias. III. Semana de Ciências Farmacêuticas (1. : 2012 : Alegre, ES).

CDU: 615.1

Obra editada com recursos do Governo do Estado do Espírito Santo

VENDA PROIBIDA

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Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 ANÁLISE DE ALGUNS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DE QUALIDADE DE COMPOSTOS DE MEL

Vergna JTNB, et al..................................................................................................................................................09

CAPÍTULO 2 AVALIAÇÃO DE TRÊS MÉTODOS DE EXTRAÇÃO DE DNA DE MUCOSA ORAL HUMANA Júlia Carvalhais Bonfim, et al................................................................................................................................13

CAPÍTULO 3 EFEITO MOLUSCICIDA DO ÓLEO ESSENCIAL DE Cymbopogon winterianus CONTRA Biomphalaria tenagophila.

Lara Vezula, et al.....................................................................................................................................................17

CAPÍTULO 4 PREVALÊNCIA DO USO DE DROGAS PELOS UNIVERSITÁRIOS DO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO

Amanda Trigo Motta, et al......................................................................................................................................21

CAPÍTULO 5 USO DE DROGAS ENTRE UNIVERSITÁRIOS DO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DA UFES ESTRATIFICADOS POR CURSO Soraya Dias Saleme, et al......................................................................................................................................25

CAPÍTULO 6 AVALIAÇÃO DA BIOATIVIDAE DO ÓLEO ESSENCIAL DE Chenopodium ambrosioides L. EM Biomphalaria glabrata. Henrique Oliveira Frank, et al................................................................................................................................29

CAPÍTULO 7 AVALIAÇÃO DE TRÊS TÉCNICAS NÃO INVASIVAS E BARCODE PARA IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE AVES PELA CASCA DO OVO

Angélica Hollunder Klippel, et al...........................................................................................................................33

CAPÍTULO 8

INDICADORES DE SAÚDE MATERNO-INFANTIL NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS – ES, NO PERÍODO DE 2000 A 2010.

Caroline Cosme Pereira, et al................................................................................................................................37

CAPÍTULO 9 USO DE ANSIOLÍTICOS ENTRE AUXILIARES E TÉCNICOS DE ENFERMAGEM EM HOSPITAL DO MUNICÍPIO DE ALEGRE-ES

Talita Scaramussa Gualandi Gardioli,et al...........................................................................................................40

CAPÍTULO 10 USUÁRIOS DA MEDICINA ALTERNATIVA ENTRE OS MORADORES DO MUNICÍPIO DE ALEGRE-ES

Cléber Ferreira Garcia, et al...................................................................................................................................43

CAPÍTULO 11 AVALIAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL DE RATOS EXPOSTOS CRONICAMENTE À BAIXA DOSE DE ACETATO DE CHUMBO: EFEITO DO TRATAMENTO ANTI-HIPERTENSIVO COM HIDRALAZINA Delfim R. M, et al………….......................................................................................................................................46

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CAPÍTULO 12 CONDIÇÕES HIGIENICOSSANITÁRIAS DO PEROÁ (Balistes capriscus) COMERCIALIZADO NO MERCADO MUNICIPAL DE GUARAPARI-ES

Silva, A. S,et al…………........................................................................................................................................50

CAPÍTULO 13 PARASITOSES INTESTINAIS EM CORTADORES DE CANA-DE-AÇÚCAR EM CONCEIÇÃO DA BARRA, ESPÍRITO SANTO, BRASIL

Renan Florindo Amorim,et al………………...........................................................................................................54

CAPÍTULO 14 AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DO EXTRATO BRUTO E FRAÇÕES DAS FOLHAS DE PIPER ANGUSTIFOLIUM FRENTE AO TESTE DE ARTEMIA SALINA

Philipe Dias De Avila Lima, et al………….............................................................................................................58

CAPÍTULO 15 PESQUISA MICROBIOLÓGICA DE SUPERFÍCIES EM AMBIENTE DOMÉSTICO

Danielle Ferreira Vieira, et al.............…………......................................................................................................62

CAPÍTULO 16 USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS, TABACO E OUTRAS DROGAS ENTRE ALUNOS DE QUATRO CURSOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

Karolinni Bianchi Britto, et al…………..................................................................................................................65

CAPÍTULO 17 AIDS NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS, NO PERÍODO DE 2000 A 2009: NÚMERO DE CASOS, PERFIL SÓCIODEMOGRÁFICO E MORTALIDADE. Caroline Cosme Pereira, et al…………..................................................................................................................69

CAPÍTULO 18 AVALIAÇÃO EM HUMANOS DA EXPRESSÃO DA PROTEÍNA HIF1- α EM CARCINOMA EPIDERMÓIDE DE BOCA: ANÁLISE DA SOBREVIDA E CARACTERÍSTICAS TUMORAIS.

Assis, A. L. E. M, et al……..…………....................................................................................................................72

CAPÍTULO 19 EXPRESSÃO DE INOS NO INFILTRADO INFLAMATÓRIO DE PACIENTES COM CARCINOMA EPIDERMÓIDE DE CAVIDADE ORAL E RELAÇÃO COM SOBREVIDA

Damasceno. S, et al.........………….........................................................................................................................76

CAPÍTULO 20 TÉCNICAS DE HOFFMAN E FOREYT (2005) MODIFICADAS PARA DETECÇÃO DE ESTRUTURAS LEVES E PESADAS EM PARASITOS EM AREIA DE ALEGRE - ES

Paola Fernandes Pansini, et al.....…………...........................................................................................................80

CAPÍTULO 21 O USO DE ESTERÓIDES ANABÓLICOS ANDROGÊNICOS EM PROFISSIONAIS E ESTUDANTES DA ÁREA DE SAÚDE, PRATICANTES DE EXERCÍCIO FÍSICO.

Nathâny F.Tavares, et al.........................................................................................................................................83

CAPÍTULO 22 ANALISE SENSORIAL DE BISCOITOS AMANTEIGADOS ELABORADOS COM FARINHAS SUBSTITUTIVAS AO TRIGO, EM DIFERENTES PROPORÇÕES. Tamires dos Santos VIEIRA, et al.…………..........................................................................................................86

CAPÍTULO 23 EDUCAÇÃO SANITÁRIA: ESTUDOS PARASITOLÓGICOS NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS, (ES) Janaina dos Santos Maciel, et al.…………...........................................................................................................90

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Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas

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CAPÍTULO 24 FARMACOTERAPIA PARA CRISES DOLOROSAS EM PACIENTES COM ANEMIA FALCIFORME INTERNADAS NO HOSPITAL GERAL DO NORTE DO ES

Nascimento, Tamiris Dias, et al.………….............................................................................................................94

CAPÍTULO 25 USO DE COSMÉTICOS ANTI-ESTRIAS POR GESTANTES DO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES E OS RISCOS ASSOCIADOS AO FETO

Victor Hugo Nicácio Alves, et al.…………............................................................................................................96

CAPÍTULO 26 AUTOMEDICAÇÃO RELATADA POR ESTUDANTES ADOLESCENTES NO DISTRITO DE CELINA, MUNICÍPIO DE ALEGRE, ESPÍRITO SANTO

Monique Vargas de Gouvêa, et al.…………..........................................................................................................99

CAPÍTULO 27 ESTUDO DA FLUORESCÊNCIA DE HIDROGÉIS MICELARES DE POLOXAMERO 407 PARA USO NO TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR

Ferreira, L. A, et al............…………......................................................................................................................103

CAPÍTULO 28 INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA ENVOLVENDO CIPROFLOXACINO E CEFTRIAXONA

Ana Caroline Diniz Zampirolli, et al.………….....................................................................................................107

CAPÍTULO 29 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS PRESCRIÇÕES MÉDICAS AVIADAS NA UNIDADE DA FARMÁCIA DE MINAS DE PEDRA BONITA/MG NO 1º BIMESTRE DE 2012 Nilza Lorena Vitor Queiroz, et al.…………..........................................................................................................111

CAPÍTULO 30 EXPRESSÃO DE HIF-1α EM LINFÓCITOS NA MARGEM CIRÚRGICA DE CARCINOMA EPIDERMÓIDE DE CABEÇA E PESCOÇO E SUA RELAÇÃO COM A RECIDIVA TUMORAL

Mendes, S. O, et al.………….................................................................................................................................115

CAPÍTULO 31 AVALIAÇÃO DA IMPLEMENTAÇAO DO SNGPC EM FARMÁCIAS E DROGARIAS DO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ

Elias Rocha dos Santos Junior, et al.…………..................................................................................................119

CAPÍTULO 32 PROSPECÇÃO FITOQUÍMICA E AVALIAÇÃO in vitro DE Melia azedarach L. SOBRE Rhipicephalus (Boophilus) microplus EM ALEGRE, ESPÍRITO SANTO, BRASIL. Anderson Barros Archanjo, et al.………….........................................................................................................122

CAPITULO 33 RELATO DE CASO CLINICO: INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA ENTRE CETOCONAZOL E MIDAZOLAN Filipe Firme de Souza, et al.................................................................................................................................127

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Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas

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CAPÍTULO 1

ANÁLISE DE ALGUNS PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS DE QUALIDADE DE

COMPOSTOS DE MEL

Vergna JTNB1, Batista DKA1, Fortunato FS1.

1 - Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória ES / Departamento: Farmácia, Av. Nossa Senhora da Penha nº2190, Santa luíza, Vitória, Espirito Santo. [email protected] Resumos - Neste trabalho foram analisadas sete amostras adquiridas em hipermercados de Vitória ES, sendo uma amostra de mel puro, duas amostras de compostos de mel e extrato de própolis sabor alho e guaco, dois compostos de mel e extrato de própolis sabor eucalipto, alho, guaco, agrião e malva e dois compostos de mel e extrato de própolis. Com estes méis foram realizadas análises de umidade, açúcares redutores e sacarose aparente, acidez, teor de fenóis, sólidos insolúveis em agua, cinzas, cor de mel, teste de Fiehe, teste de Lund e reação de Lugol. Apenas as amostras A, B e C apresentam todos os parâmetros analisados em conformidade com a legislação vigente. A não conformidade das amostras C, D, E e F sugere uma possível fraude, manejo ou armazenamento inadequado. Palavras-chave: Composto de Mel, Parâmetros físico-químicos, Boas práticas de manipulação. Área do Conhecimento: Alimentos Introdução

No Brasil compostos de mel e mel puro são amplamente consumidos com a finalidade terapêutica, grande parte das vezes para tratar problemas relacionados às vias respiratórias, como tosses, gripes e resfriados. Entre estes compostos destaca-se a própolis, que é uma substância resinosa coletada pelas abelhas a partir de exsudatos de brotos e botões florais de diversas plantas e que apresenta alta atividade antioxidante, anti-inflamatória e antibacteriana (CABRAL, et. al. 2009). A atividade anti-inflamatória observada na própolis parece ser devido à presença de flavonóides, especialmente galangina. Este flavonóide apresenta atividade inibitória contra a cicloxigenase (COX) e lipoxigenase. Tem sido relatado também que o ácido feniléster caféico (CAPE), possui atividade anti-inflamatória por inibir a liberação de ácido araquidônico da membrana, suprimindo as atividades das enzimas COX-1 e COX-2. A própolis tem demonstrado ação anti-inflamatória também por inibir a síntese das prostaglandinas, ativar a glândula timo, auxiliando o sistema imune pela promoção da atividade fagocítica e estimulando a imunidade celular (LUSTOSA, 2008). O mel constantemente é alvo de fraudes, abuso nas rotulagens, e não conformidade com as boas práticas de fabricação (ALVES, 2009) podendo sofrer alterações naturais ou provocadas, as alterações provocadas podem ser por desconhecimento dos produtores, naturais, ou por adulteração proposital. As alterações naturais podem ser aquelas decorrentes do excesso de umidade, calor ou envelhecimento. As alterações provocadas são realizadas por meio de adulterações que são feitas com a utilização de iodo e iodeto de potássio (lugol), ou xaropes e glicose comercial (NUNES, 2005). Este trabalho buscou analisar alguns parâmetros físico-químicos de qualidade do composto de mel, verificando se a adição de compostos como extrato de própolis, alho, guaco, agrião, e malva mesmo em pequenas quantidades, com intuito de conferir aroma e sabor ao produto final, poderiam provocar alterações físico-químicas ao produto final, composto de mel. Material e Método Foram analisadas sete amostras de mel sendo uma amostra de mel puro, duas amostras de compostos de mel e extrato de própolis sabor alho e guaco, dois compostos de mel e extrato de própolis sabor eucalipto, alho, guaco, agrião e malva e dois compostos de mel e extrato de própolis As amostras foram adquiridas em hipermercados do município de Vitória-ES, sendo uma amostra de mel puro (amostra A) e seis amostras de compostos de mel (B, C, D, E, F e G). Foram utilizados os parâmetros de mel puro para análise das amostras de compostos de mel. As análises realizadas foram: Umidade, Açúcares Redutores e Sacarose Aparente através do Método de Lane-Eynon, Teor de Acidez em mEq/Kg, Teor de Fenóis por meio do reagente Folin-Ciocalteu, Cor através do Método

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Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas

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de Bianchi, Cinzas, Sólidos Insolúveis em água pelo Método Gravimétrico, Teste de Fiehe, Teste de Lund e Reação de Lugol. Foram utilizados os métodos físico-químicos para análise de alimentos do

Instituto Adolfo Lutz, exceto para a determinação da umidade que foi usado o método gravimétrico, cada amostra foi analisada em triplicata e em seguida foi feita a média de seus resultados. Resultados e Discussão Dentre as diversas operações que compõem o sistema de produção do mel, algumas oferecem riscos à saúde do consumidor e à qualidade do produto, seja pela contaminação com resíduos quimicos de agrotóxicos, pela presença de micro-organismos nocivos ou substâncias deteriorantes do mel. Embora o mel e o compostos de mel possuam uma resistência considerável à deterioração e ação de micro-organismos, um parâmetro que precisou ser investigado foi o teor de umidade, visto que em valores superiores a 20%, poderia ocorrer a proliferação de leveduras osmofilíticas, com consequente fermentação do produto apícola. As amostras A, B, C, D, E, e G demonstraram valores de umidade dentro dos limites permitidos pela legislação somente a amostra F (25, 50 % ± 0,66) demonstrou valor superior ao permitido. Nos valores de acidez obtidos somente a amostra D (46,56±0,01) apresentou valor de Acidez acima do permitido (MERCOSUL, 1999), demonstrando que a amostra sofreu fermentação, que pode ocorrer por uma contaminação ou armazenamento inadequado (ALMEIDA, 2007). Em relação à Sacarose Aparente todas amostras apresentaram valores dentro do limite estabelecido pela legislação. Já em Açucares Redutores as amostras A, B e G, apresentaram valores dentro dos limites estabelecidos pela legislação, porém as amostras C (59,30 % ±0,28), D (60,10 % ±0,01), E (58,28% ±0,20) e F (50,94% ±0,20), apresentaram valores abaixo do permitido (TABELA 1). Utilizando a legislação do mel como referência para compostos de mel verificou-se que as amostras A, B e G se encontram em conformidade com a legislação vigente (MERCOSUL, 1999). TABELA 1: Dados obtidos nas análises de Umidade, Açucares Redutores e Sacarose Aparente, Acidez, Teor de Fenóis Sólidos Insolúveis, e Cinzas.

Mel Umidade (% p/p)

Açúcares redutores (% p/p)

Sacarose aparente (% p/p)

Acidez (mEq/Kg)

Teor de fenóis (A/g)

Sólidos insolúveis em água (% p/p)

Cinzas (%p/p)

A 16,07±0,37 67,00±0,06 1,48±0,02

31,22±0,02 11,38±0,05 0,0098±0,0008 0,17±0,02

B 20,95±0.90 70,00±0,33 4,39±0,02

34,58±0,02 30,82±0,02 0,0381±0,0012 0,51±0,02

C 18,61±0,27 59,30±0,28

6,27±0,03

30,44±0,01 22,06±0,02 0,0159±0,0019 0,03±0,003

D 24,86±0,39 60,10±0,01 1,81±0,01 46,56±0,01 31,64±0,04 0,0960±0,0029 0,29±0,04

E 18,52±0,23 58,28±0,2 11,10±0,01 30,73±0,01 21,79±0,01 0,0229±0,0039 0,21±0,01

F 25,50±0,66 50,94±0,2 8,70±0,02 30,02±0,02 22,76±0,01 0,0230±0,0021 0,65±0,02

G 19,46±0,47 69,63±0,36 7,59±0,01 35,56±0,008 14,12±0,01 0,0055±0,0006 0,49±0,04

O teor de fenóis foi expresso em unidades de absorbância/ g de mel, sendo o teor na amostra A(11,38 A/g ±0,05 ), na amostra B (30,82 A/g±0,02 ), na amostra C ( 22,06 A/g ±0,02), na amostra D (31,64 A/g ±0,04), na amostra E (21,79 A/g ±0,01), na amostra F (21,87 A/g), e na amostra G (14,12 A/g ±0,01). Na analise de sólidos insolúveis em água foram encontrados na amostra A (0,0098% 0,0008); na amostra B ( 0,0381% ±0,0012); na amostra C ( 0,0159% ±0,0019); na amostra D (0,0960% ±0,0029); na amostra E (0,0229% ±0,0039), na amostra F (0,0230% ±0,0021) e na amostra G (0,0055% ±0,0006). Na análise de Cinzas obteve-se os seguintes resultados, amostra A (0,17% ±0,02) de resíduo inorgânico, amostra B (0,51% ±0,02), amostra C (0,03% ±0,03), amostra D (0,29% ±0,04), amostra E ( 0,21% ±0,01), amostra F (0,65% ±0,02) e na amostra G (0,49%±0,04). Os dados descritos acima estão demonstrados na TABELA 1.

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Podemos verificar a influência dos parâmetros Teor de Fenóis, Sólidos Insolúveis e Cinzas na coloração das amostras analisadas. O mel A e o composto de mel C foram classificados quanto a sua Cor como âmbar claro que corresponde a absorbância de 0,238 à 0,333, as amostras B, D, ,E F e G foram classificadas como âmbar escuro, o que corresponde a absorbância de 0,411 ou mais a 635nm (TABELA 2). Os testes de Fiehe e Lund foram negativos para todas as amostras, sendo a reação de Lugol positiva para amostra F sugerindo uma possível fraude pela adição de amido e/ou dextrina (TABELA 2). TABELA 2 - teste de Fiehe, teste de lund e reação de Lugol e Cor de Mel.

Conclusão O parâmetro Açúcares Redutores forneceu resultados em desconformidade com a legislação para as amostras C, D, E e F sugerindo uma possível fraude. A amostra F demonstrou valor de Umidade fora dos limites pela legislação que caracteriza manejo ou armazenamento inadequado. . O teste de Lugol positivo para amostra F sugere uma possível fraude pela adição de amido e/ou dextrina. Portanto, das sete amostras analisadas, sendo a amostra A mel puro e as amostras B, C, D, E, F e G compostos de mel, quatro amostras de compostos de mel C, D E e F apresentaram pelo menos um parâmetro analisado em não conformidade com a legislação vigente. Os demais resultados encontrados durante as analises estão dentro do padrão exigido pelo Regulamento Técnico Mercosul "Identidade e Qualidade do Mel" (MERCOSUL, 1999)). Com os resultados obtidos podemos perceber uma correlação entre a cor e resíduo mineral fixo, ou seja quanto maior a intensidade da coloração dos méis maior a quantidade de cinzas, que são os resíduos minerais presentes nas amostras. O teor de fenóis livres totais se explica porque as amostras analisadas são compostos de mel, ou seja, contém própolis, agrião, guaco entre outros que apresentam compostos fenólicos em sua constituição. Tais compostos fenólicos são utilizados nas misturas, compostos de mel, como agentes antioxidantes e antimicrobianos. Outro ponto importante foi a quantidade de sólidos insolúveis que se mantem dentro dos padrões exigidos mesmo nos compostos de mel, o que nos mostra que esta havendo uma preocupação com as Boas Praticas de Fabricação no que diz respeito a higiene na hora da colheita do mel evitando assim a presença de sujidades. Entretanto, é possível que a produção de mel composto, altere suas características físico-químicas reduzindo, assim, seu tempo de prateleira e sua aceitabilidade pela alteração da cor, além de aumentar o risco de contaminação pelo parâmetro umidade, colocando em risco a saúde do consumidor. Referências ALMEIDA, D. Recursos alimentares, desenvolvimento das colônias e características físico químicas, microbiologia e polínicas de mel e cargas de pólen de meliponeos, do município de piracicaba, estado de São Paulo. 2007. 134 f. Tese (Doutorado de Ciências)- Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura “Luiz De Queiroz” de São Paulo, 2007. ALVES, E. M. Presença de coliformes, bolores e leveduras em amostras de mel orgânico de abelhas africanizadas das ilhas do alto rio Paraná. Ciência Rural, v.39, n.7, out. 2009. ANVISA. Agencia nacional de vigilância sanitária. Resolução - CNNPA nº 12, de 1978. Disponível em : <http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/12_78_mel.htm> acesso em 16 fev.2012.

Mel Teste de Fiehe Teste de Lund Reação de Lugol Cor

A Negativo Negativo Negativo Âmbar claro

B Negativo Negativo Negativo Âmbar escuro

C Negativo Negativo Negativo Âmbar claro

D Negativo Negativo Negativo Âmbar escuro

F Negativo Negativo Positivo Âmbar escuro

E Negativo Negativo Negativo Âmbar escuro

G Negativo Negativo Negativo Âmbar escuro

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BARBOSA, M.H. Ação terapêutica da própolis em lesões cutâneas. Acta paulista de enfermagem, São Paulo, vol.22 n.3, maio/jun. 2009. BERA, A.; ALMEIDA-MURADIAN, L.B. Propriedades físico-químicas de amostras comerciais de mel com própolis do estado de São Paulo. Ciênc. Tecnol. Aliment, São Paulo, jan./mar. 2007. CABRAL, I.S.R. et.al. Composição fenólica, atividade antibacteriana e antioxidante da própolis vermelha brasileira. Química Nova. São Paulo, v.32 n.6, jul. 2009 INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos Físico-Químicos para Análise de Alimentos 4a ed. São Paulo, 2005. LUSTOSA, S.R. et. al. Própolis: Atualizações sobre a química e a farmacologia. Revista Brasileira de Farmacognosia, Set. 2008. MERCOSUL. Regulamento técnico mercosul identidade e qualidade do mel. Disponível em: < http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/mercosul/alimentos/89_99.htm# >. Acesso em: 08 ago

2012. NUNES, T. B. A. Adulteração e influência do manejo na qualidade do mel. Disponível em: <http://www.conhecer.org.br/enciclop/2005/20057a.pdf>.Acesso em: 17 fev. 2012. TAVAREZ, J. P. et. al. Estudo de toxicologia clínica de um fitoterápico a base de associações de plantas, mel e própolis. Revista Brasileira de Farmacognosia, jul./set. 2006.

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CAPÍTULO 2

AVALIAÇÃO DE TRÊS MÉTODOS DE EXTRAÇÃO DE DNA DE MUCOSA ORAL HUMANA

Júlia Carvalhais Bonfim1, Angélica Hollunder Klippel1, Danielle Ferreira Vieira1,

Francisco de Paula Careta1, Greiciane Gaburro Paneto1. 1 - Universidade Federal do Espírito Santo – CCA Alegre/Departamento de Farmácia e Nutrição, Alto Universitário, s/n, Campus UFES, Alegre, ES. CEP: 29.500-000. [email protected] Resumo - O DNA está presente em todas as células e, portanto, presente em todas as partes do corpo humano e em amostras biológicas. Este pode ser isolado e analisado com sucesso a partir de uma grande variedade de materiais biológicos, incluindo sangue, saliva, sêmen, cabelo, ossos, músculos, dentre outros. Assim, diferentes protocolos para a extração e amplificação do DNA por técnicas de biologia molecular foram desenvolvidos para os mais variados materias biológicos. O objetivo deste trabalho foi avaliar e comparar três protocolos de extração de DNA (salting out, resina Chelex100® e kit GFX PCR DNA and gel band purification) de mucosa bucal humana quanto à qualidade e quantidade de DNA extraído, custo e tempo necessário para cada extração. A técnica com resina chelex foi a que extraiu maior concentração de DNA em menor tempo. A extração com o kit foi a que obteve melhor qualidade de DNA extraído mas mostrou ter o maior custo para realização. A extração com salting out foi a mais econômica dentre as técnicas comparadas. Assim, concluímos que cada uma das técnicas apresenta vantagens e desvantagens, cabendo ao laboratorista escolher aquela que melhor vai atendê-lo. Palavras-chave: Extração de DNA , Chelex; Salting out, Colunas. Área do Conhecimento: DNA Forense

Introdução

O DNA (ácido desoxirribonucléico) é o material genético da célula sendo este o responsável por transmitir as informações que serão transmitidas na reprodução celular e na formação de novos indivíduos. Nos seres humanos o DNA que carrega o código genético ocorre em todas as células que possuem núcleo, portanto em todas as partes do corpo humano, inclusive nos glóbulos brancos, nos espermatozoides, em células que envolvem raízes capilares e em células encontradas nas salivas (DUARTE, 2001). A partir dessa grande variedade de materiais biológicos o DNA pode ser isolado e analisado com sucesso. No entanto, estas amostras biológicas contêm uma série de substâncias, além de DNA. Moléculas de DNA devem ser separadas do restante do material celular para que possam ser examinadas. Proteínas celulares que protegem o DNA no ambiente da célula podem inibir a capacidade de analisá-lo, por exemplo. Para resolver este problema, métodos de extração de DNA têm sido desenvolvidos para separar as proteínas e outros materiais celulares das moléculas de DNA (BUTLER, 2005). Assim, diferentes protocolos para a extração e amplificação do DNA por técnicas de biologia molecular foram desenvolvidos para os mais variados materias biológicos.

De modo geral, o que se busca na extração é retirar o DNA do núcleo das células e purificá-lo. O método químico utilizado para isto vai depender do tipo e da forma de apresentação da amostra a ser analisada. São várias as metodologias empregadas em laboratórios para extração de DNA, entre elas podemos elencar as seguintes: método orgânico (fenol-clorofórmio) ou chelex para a extração de DNA em manchas, swabs, ossos e pêlos e cabelos com bulbos; e iodeto de sódio, chelex e salting-out para sangue, além de reagentes purificantes como DNA-IQ.(BONACCORSO,2009)

Os métodos de isolamento e purificação dos ácidos nucléicos consistem basicamente de três etapas: (1) lise das células e solubilização do DNA; (2) método enzimático ou químico para remover as proteínas contaminantes e outras macromoléculas; e (3) precipitação alcoólica para isolamento do DNA (SAMBROOK; RUSSELL, 2001).

O presente trabalho teve como objetivo avaliar e comparar três métodos de extração de DNA (salting out, resina Chelex 100® e kit GFX PCR DNA and gel bandpurification) a partir de amostras da mucosa bucal ,quanto à quantidade e qualidade de DNA extraído, custo e tempo necessário para cada extração.

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Material e Métodos

Foram utilizadas seis amostras de células epiteliais da mucosa bucal obtidas a partir do esfregaço, com auxílio de swabs estéreis. Após a coleta das células bucais pelo doador, a haste do swab foi descartada e a parte coletora foi acondicionada em tubos tipo Eppendorf de 1,5 mL, onde se sucederam os testes de extração de DNA.

Extração com Chelex 100: O protocolo para extração de DNA com Chelex 100 foi baseado no método descrito por Coombs et al. (1999). Em cada tubo foram adicionados 500 µl de Chelex 100 a 5% (diluído em solução de Tris 10 mM e EDTA 1 mM). Em seguida foram adicionados 10 µl de proteinase K (20 mg/ml), sendo as amostras vortexadas e posteriormente incubadas em banho-maria a 55°C, durante 40 minutos.Novamente as amostras foram vortexadas por 10 segundos e incubadas em banho-maria a 100 ºC por 8 minutos.Seguiu-se a centrifugação a 15.000 G durante 3 minutos. Os tubos foram armazenados a -4°C.

Extração com Salting out: Para a extraçao de DNA com o método Salting out baseou-se no protocolo descrito por por Sambrook et al. (1989): Adicionou-se 400 µl de água autoclavada e 10 µl de proteinase K (20 mg/ml) em cada tudo contendo as amostras e em seguida vortexou-se por 10 segundos cada tubo. Logo após as amostras foram colocadas em banho-maria a 56 ºC por uma hora. Com auxílio de uma pinça retirou-se o swab de dentro de cada tubo e adicionou-se 100 µl de acetato de amônia 4M; Foram adicionados 1000 µl de álcool isopropílico. Em seguida os tubos foram invertidos três vezes. Seguiu-se a centrifugação a 19.940 G por 15 minutos e descartou-se o sobrenadante. Foram adicionar 1000 µl de álcool a 70% , misturando o mesmo invertendo o tubo duas vezes. Descartou-se o sobrenadante. Deixou-se o tubo invertido sobre o papel toalha secando por 1 hora. Após o processo de secagem do tubo adicionou-se 50 µl de tampão de eluição (1,25M NaCl; 50mM Tris.Cl pH 8,5; 15% isopropanol (v/v)). Os tubos foram armazenados a -20 ºC.

Extração com kit GFX PCR DNA and gel Band purification: Para a extração de DNA com o kit foram adicionados 400 µl de água autoclavada e 10 µl de proteinase K (20 mg/ml) em cada tubo. Com auxílio do vórtex agitou-se por 10 segundos cada tubo. Em seguida as amostras foram incubadas em banho-maria a 56 ºC por uma hora. Com auxílio de uma pinça retirou-se o swab de dentro de cada tubo. As amostras foram purificadas com o kit GFX PCR DNA and gel Band purification conforme recomendações do fabricante.

Quantificação e amplificação do DNA: A quantidade e a pureza do DNA foram determinadas por densidade óptica em espectrofotômetro (NanoDropR ND-1000 UV-Vis). O DNA foi amplificado por PCR. O sucesso da amplificação do DNA foi verificado por eletroforese em gel de agarose a 1,5%, corado em brometo de etídio, visualizado sob luz ultravioleta e documentado com auxilio do sistema Kodak Digital Science 1D. Resultados e Discussão

Os dados da tabela 1 apresentam o resultado da comparação das concentrações de DNA obtidas pelas várias técnicas empregadas, e a qualidade do material extraído.

Tabela 1 - Quantificação e Pureza do DNA obtido com 3 técnicas de extração (Chelex 100®, Salting out e kit

GFX PCR DNA and gel Band purification - Colunas de Purificação)

Amostra ng/µl 260/280 Amostra ng/µl 260/280 Amostra ng/µl 260/280

Chelex 01 59,2 1 Salting out 01 35 2,07 Coluna 01 137,5 1,84

Chelex 02 128,8 0,98 Salting out 02 181,5 1,94 Coluna 02 23,6 2,03

Chelex 03 95,2 1 Salting out 03 101,1 2 Coluna 03 27,4 1,85

Chelex 04 134,3 1,04 Salting out 04 68,6 2,61 Coluna 04 21,2 1,98

Chelex 05 125,5 1,88 Salting out 05 17,9 1,86 Coluna 05 8,7 2,32

Chelex 06 131,6 1,44 Salting out 06 216,8 3,01 Coluna 06 15 2,04

Média 112,4 1,22 Média 103,4 2,25 Média 38,9 2,01

Houve diferenças significativas de qualidade e quantidade de DNA extraído nos diferentes tipos de

técnicas de extração utilizadas. A utilização da resina Chelex 100® (Bio-RadLaboratories, Hercules, CA) como método de

extração de DNA foi introduzida na prática forense em 1991. A resina é composta por copolímeros de estireno-divinilbenzeno contendo grupamentos que atuam como grupos quelantes de metais polivalentes, como o magnésio, por exemplo. Removendo os íons magnésio da reação as enzimas nucleases, que são dependentes deste íon para atuar, são inativadas, protegendo assim o DNA de degradação. É um método relativamente rápido quando comparado a outros protocolos e por isso

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muito utilizado na rotina forense (BUTLER, 2005). De acordo com a Tabela 1 pode-se perceber que a técnica de extração com Resina Chelex 100® mostrou-se a mais eficiente uma vez que foi o tratamento que obteve maior concentração de DNA extraído, em média 112,4 ng/µl quando comparada as outras técnicas utilizadas. Já a extração de DNA feita com o kit GFX PCR DNA and gel Band purification foi a técnica que obteve menor concentração de DNA extraído, quando comparado as outras técnicas em média de 38,9 ng/µl.

A razão entre 260/280 nm é utilizada para estimar a pureza das amostras de DNA e também de RNA. Uma amostra de DNA considerada pura apresenta razão entre 1.8 e 2.0. Se esta razão for menor do que estes valores possivelmente há contaminação com proteínas, fenol ou outros contaminantes que absorvem fortemente em 280 nm (LEHNINGER et al., 2004). A técnica de extração que obteve maior grau de pureza das amostras de DNA foi a que utilizou o kit GFX PCR DNA and gel Band purification (colunas de purificação) obtendo uma média da razão 260/280 de 2,01 o que demonstra ser a técnica que possui menor nível de contaminação com proteínas e outros contaminantes. Este kit permite a purificação de ácidos nucléicos, removendo possíveis contaminantes e inibidores da reação de amplificação de DNA por reação em cadeia pela polimerase (PCR). O tratamento das amostras com a técnica de salting out foi a que apresentou menor grau de pureza uma vez que a média obtida da razão 260/280 foi de 2,25 indicando possível contaminação

Tabela 2- Referente ao tempo gasto para cada técnica de extração de DNA

Técnica de Extração de DNA Tempo em minutos

Chelex 60 minutos

Salting out 270 minutos

Colunas de Purificação 90 minutos

De acordo com a Tabela 2 pode-se perceber que a extração com a resina Chelex 100 foi a que

extraiu DNA em menor tempo (60 minutos), já a técnica de salting out mostrou-se dentre as técnicas comparadas a mais demorada uma vez que levou 270 minutos para extração de DNA das amostras.

Tabela 3- Referente ao custo de cada técnica de extração de DNA

Técnica de extração de DNA Custo*

Chelex $7,52

Salting out $6,07

Coluna de purificação $37,92

Nota: * em reais

Como mostra a Tabela 3 apresentada acima a técnica que apresentou menor custo para

realização foi a de salting out, sendo este de apenas seis reais e sete centavos. O protocolo de salting out é um método alternativo à extração orgânica que não utiliza fenol-clorofórmio para a precipitação de proteínas, ao invés disso, são utilizadas soluções salinas saturadas. Este método além de necessitar de menos passos laboratoriais, não apresenta tanta toxicidade quando comparada a protocolos que utilizam fenol-clorofórmio. A técnica de extração que apresentou preço mais elevado foi a que se utilizou do kit GFX PCR DNA and gel Band purification custando trinta e sete reais e noventa e dois centavos. Conclusão

De acordo com os resultados obtidos com este trabalho pode-se concluir que, dentre as técnicas de extração de DNA estudadas, a que se mostrou mais eficiente ou, seja que, conseguiu extrair maior concentração de DNA foi que se utilizou da resina Chelex 100, porém a qualidade do DNA extraída pela mesma não foi o melhor dos resultados obtidos. Esta técnica também foi a mais rápida em questão de tempo para realização da extração. A técnica que obteve melhor grau de pureza, melhor qualidade do DNA extraído foi a que utilizou o kit GFX PCR DNA and gel Band purification, sendo esta a que apresentou maior custo para realização. Já a técnica mais econômica, dentre as estudadas, foi a de salting out, mas é a técnica que necessita de maior tempo para realização. Assim, concluímos que cada uma das técnicas apresenta vantagens e desvantagens, cabendo ao laboratorista escolher aquela que melhor vai atendê-lo. Agradecimento

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À FAPES – Fundação de Amparo a Pesquisa do Espírito Santo - pela concessão de bolsa de estudo e auxílio financeiro ao projeto. Referências ALBERTS B et al. Fundamentos da biologia celular: uma introdução à biologia molecular da célula. Porto Alegre: Artmed; 2001. BUTLER, J.M. Forensic DNA typing: 2nd edition, London: Elsevier Academic Press, 2005. COOMBS, N.J.; GOUGH, A.C.; PRIMROSE, J.N. Optimization of DNA and RNA extraction from archival formalin-fixedtissue. Nucleic Acids Res, v. 27, n. 16, p. e12, 1999. DUARTE, F. A. M. CONSELHO NACIONAL DE PESQUISA,Comitê sobre A Avaliação do DNA como Prova Forense. Fumpec RP, 2001. LEHNINGER, L. Lehninger Principles of Biochemistry. W. H. Freeman & Co, 4 ed., pp. 1100, 2004. NORMA BONACCORSO. O DNA na elucidação de crimes. 2009. Disponível em: < www.epm.sp.gov.br >. Acesso em : 10 jul 2012. SAMBROOK J.; RUSSELL D.W. Molecular cloning: a laboratorial manual, 3rd ed. New York: Cold Spring Harbor Laboratory Press; 3 v., 2001. SAMBROOK, J.; FRITSCH, E. F.; MANIATIS, T. Molecular Cloning - Laboratory Manual, 2 ed., New York, Cold Spring Habour Laboratory Press,1989.

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CAPÍTULO 3

EFEITO MOLUSCICIDA DO ÓLEO ESSENCIAL DE Cymbopogon winterianus CONTRA Biomphalaria tenagophila.

Lara Vezula1, kamila Brison Crico1, Bethânia Ribeiro de Almeida1, Adilson Vidal

Costa1, Mariana Drummond Costa Ignacchiti1, Olavo dos Santos Pereira Júnior1, Patrícia Fontes Pinheiro1, Daniel Rinaldo1.

1 - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias, Alto Universitário, s/n, caixa postal 16, Guararema, Cep. 29500-000 - Alegre - ES, E-mail: [email protected]

Resumo – Esse estudo teve como principal objetivo avaliar o efeito de óleo essencial de Cymbopogon winterianus, como agente moluscicida frente à espécies de moluscos Biomphalaria tenagophila, hospedeiros intermediários para o parasita Schistossoma mansoni. O óleo essencial foi obtido por hidrodestilação em laboratório, sendo devidamente acondicionado, para os testes de ação moluscicida e ovicida, como preconizado pela Organização Mundial de Saúde .O óleo se mostrou efetivo contra a espécie de molusco avaliada, onde foi observada DL100 na concentração de 80 µg/ml e DL50 a concentração de 60 µg/ml. Esses resultados estão em concordância com as indicações preconizadas pela OMS, em relação ao efeito dose/resposta, para um extrato ser considerado em potencial como agente moluscicida

Palavras-chave: Cymbopogon winterianus, capim-citronela, moluscicida, esquistossomose. Área do Conhecimento: Saúde Pública

Introdução

Considerada uma das mais antigas doenças humanas, a esquistossomose mansônica é uma parasitose cuja distribuição geográfica está diretamente relacionada com a presença do agente etiológico, Schistosoma mansoni, e do hospedeiro intermediário, moluscos do gênero Biomphalaria (LUDWIG et al., 1999). Estima-se que cerca de 250 milhões de indivíduos distribuídos em 76 países da África, Ásia e América estejam parasitados. Atualmente a esquistossomose é endêmica em vários Estados do Brasil, com estimativas de que existam 30 milhões de pessoas vivendo em áreas expostas ao risco de infecção e cerca de 6 a 7 milhões de pessoas infectadas pelo parasita

(ENGELS

et al., 2002). A ocorrência da esquistossomose está intimamente relacionada a precárias condições sócio-

ambientais e apresenta-se com maior prevalência em humanos na região Nordeste (CALDEIRA et al.,

2009), tendo como área endêmica a região que se estende do Maranhão ao Espírito Santo e o estado

de Minas Gerais. Com relação ao hospedeiro intermediário, dentro do gênero Biomphalaria, três espécies são caracterizadas como de importância médica: B. glabrata, B. tenagophila e B. straminea, todos encontrados em território brasileiro. De acordo com Coura e Amaral (2004),

o conhecimento

sobre a distribuição geográfica destas Moluscos daespécies de Biomphalaria é importante para o controle e vigilância epidemiológica da doença.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1993) o moluscicida sintético niclosamida (N-(2'-cloro-4'nitrofenil) - 5 clorosalicilanilida) é a única substância recomendada para combater caramujos vetores de doenças (PINHEIRO et al., 2003). Os problemas decorrentes do uso desta substância, como a toxicidade para outras espécies, devido à sua baixa seletividade, a contaminação do meio ambiente e resistência de caramujos da espécie B. glabrata motivam a busca por novos métodos de controle, como por exemplo, o uso de compostos de origem vegetal como óleos essenciais extraídos de plantas (GASPAROTTO JR. et al, 2005). O óleo essencial de Cymbopogon winterianus J., conhecido popularmente no Brasil como capim-citronela, tem efeito repelente contra mosquitos e borrachudos, apresenta também potencial atividade acaricicida, antimicrobiana e antimicótica (MARCO et al., 2007).

Diante das várias propriedades atribuídas a esse óleo, o presente trabalho teve como objetivo avaliar seu uso como agente moluscicida e ovicida frente a moluscos B. tenagophila, hospedeiros intermediários para o parasita S.mansoni

Material e Métodos

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Coleta do material vegetal As partes aéreas de C. winterianus foram coletadas no período matutino em fevereiro de 2012, a

partir de plantas cultivadas em casa de vegetação, localizada no município de Alegre, Estado do Espírito Santo, nas coordenadas de 20º 44’ 49’’ de latitude S, 41º 27’ 58’’ de longitude W e altitude de 127 m. A exsicata (n

o 21.537) encontra-se depositada no herbário da Universidade Federal do

Espírito Santo-(VIES)-Subcuradoria Campus de Alegre. Extração do óleo essencial O óleo essencial foi obtido por hidrodestilação em laboratório. Folhas da planta fresca (cerca de

100 g) foram transferidas para um balão, que foi acoplado a aparelho clevenger e este ao condensador. A hidrodestilação foi mantida após ebulição da água, por 3 h. Após obtenção de aproximadamente 500 mL de hidrolato, foi realizada extração líquido-líquido, utilizando o pentano como solvente. Foram realizadas cinco extrações com 40 mL de pentano, recolhendo a fase orgânica. Nesta, foi adicionado sulfato de sódio anidro para retirada de água da amostra, procedendo a sua filtração. O filtrado foi concentrado em evaporador rotativo sob pressão reduzida para obtenção do óleo essencial.

Obtenção dos caramujos Os caramujos da espécie B. tenagophila, utilizados nos ensaios foram coletados em baias de

alimentação de animais e presentes em fazendas localizadas no município de Alegre, Espírito Santo, e em reservatórios de água destinada á irrigação localizadas no município de Guaçuí, Espírito Santo. Os caramujos coletados foram mantidos no Laboratório de Malacologia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo – CCA/UFES.

Ensaios moluscicidas Para os testes, 6 moluscos com aproximadamente o mesmo tamanho (aproximadamente 17 mm

de diâmetro) foram acondicionados individualmente em recipiente de plástico, contendo 2,0 mL de água potável declorada, acrescido do óleo essencial de C.winterianus, diluído em 10% de

dimetilsulfóxido (DMSO), nas concentrações finais de 20, 25, 50 e 100 g/mL. Em seguida, foram monitoradas a motilidade e a viabilidade dos moluscos, no período de 30 minutos, duas, seis, doze e vinte e quatro horas, conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS, 1993). Após 24 horas em solução, os moluscos que se mostraram viáveis, foram acondicionados individualmente em recipiente de plástico, contendo 2,0 mL de água potável declorada, onde permaneceram por mais 24 horas. Para cada experimento foi feito um controle negativo, constando de 6 moluscos imersos em solução contendo DMSO, nas concentrações acima citadas. O experimento foi realizado em duplicata em três repetições independentes

Avaliação da oviposição dos moluscos Para a avaliação da atividade na oviposição, cinco moluscos, apresentando tamanhos similares

(17 mm de diâmetro) foram acondicionados individualmente em recipiente plástico, contendo 2,0 mL de água potável declorada, acrescido do óleo essencial de C.winterianus, separadamente, diluídos

em DMSO, para as concentrações finais de 30 g/mL. Os moluscos foram mantidos nestas soluções por um período de 24 horas, sendo em seguida

transferidos para recipientes de vidro (aquários com capacidade para um litro), contendo aproximadamente 500mL de água declorada, para monitoramento da ovoposição, conforme recomendações da OMS (1993). Os moluscos foram mantidos a temperatura ambiente, sob aeração de 12 horas por dia, sendo alimentados com frações diárias de alface desidratada. Foram adicionados aos aquários substratos de isopor, para estimular a ocorrência de oviposição. Os animais permaneceram no aquário sob tais condições pelo período de 15 dias. No 7º e 15

o dias foi realizada a

contagem de ovos presentes nos substratos de isopor. O mesmo procedimento foi realizado com o controle. Resultados e Discussão

Com relação a atividade moluscicida, os moluscos B. tenagophila foram sensíveis ao óleo

essencial de C. winterianus, nas de 100 a 30 g/ml, em diferentes tempos de exposição, como pode

ser observado na tabela 1. De acordo com diretrizes da OMS (1993), para extratos aquosos ou

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oleosos, concentrações iguais ou inferiores a 100 g mL-1

para DL100 ou DL50 são considerados potenciais agentes moluscicidas.

Tabela 1. Avaliação da mortalidade dos moluscos L. columella e B. tenagophila expostos ao óleo

essencial de Cymbopogum winterianus

Moluscos

Conc.

(g.ml-1

de OEC)

Tempo de exposição (horas) - taxa de mortalidade - % -*

Taxa de Mortalidade**

30` 2h 6h 12h 24h

Biomphalaria tenagophila

100 100 100 80 50 100 100 60 25 50 50 40 25 25 30 25 25 20 0

= (não observado)

*=24hs de imersão em solução

**= mais 24hs de imersão em água potável

Assim, obtivemos DL100 na concentração de 80 µg/ml e DL50 a concentração de 60 µg/ml (Tabela 1). De acordo com Olivo et al. (2008) o óleo essencial de citronela, contendo metabólitos secundários, quando submetidos a teste de atividade inseticida e larvicida, tem apresentado elevada atividade de repelência. Além disto, ao avaliar efeitos larvicidas do composto monoterpênico de citronela, Braum e Barros (2008), comprovaram a ação larvicida in vitro sobre Contracaecum sp.

Em relação à oviposição, pode-se observar que os moluscos, após exposição ao óleo purificado de citronela apresentaram interferência em sua reprodução após o 7

º e o 15

º dia (Tabela 2), onde não

foram observadas desovas. Tabela 2. Avaliação da oviposição de moluscos da espécie Biomphalaeria tenagophila expostos

ao óleo essencial de Cymbopogum winterianus diluído em Dimetil Sulfoxido (DMSO)

Moluscos Soluções Conc.

(g/ml)

Tempo de exposição/taxa de

ovoposição (%)

24h 7dias 15 dias

Biomphalaria tenagophila

Óleo de Citronela + DMSO 30 g.mL-1

Niclosamida 30 g.mL-1

Água + DMSO 30 g.mL-1

60 10

= (não observado)

* = % referente a média da ovoposição de 36 moluscos.

Conclusão

O óleo essencial de C.winterianus apresentou potencial atividade frente aos moluscos B.

tenagophila, hospedeiros intermediários para o parasito S. mansoni, dentro dos parâmetros estabelecidos pela OMS (1993), evidenciando o potencial uso desse extrato como agente moluscicida, além de demonstrar ser eficaz no controle da oviposição. Referências LUDWIG, K.M.; FREI, F.; FILHO, F.A. Correlation between sanitation conditions and enteroparasitoses in the population of Assis, São Paulo State, Brazil. Rev Soc Bras Med. v. 32, p. 547-555, 1999. ENGELS, D.; CHITSULO, L.; MONTRESOR, A.; SAVIOLI, L. The global epidemiological situation of schistosomiasis and new approaches to control and research. Acta Trop. V. 82, p.139-146, 2002. CALDEIRA, R.L.; JANNOTTI-PASSOS,L.K.; CARVALHO,O.S. Molecular epidemiology of Brazilian Biomphalaria: A review of the identification of species and the detection of infected snails. Acta Trop. v. 3, p. 1–6. 2009.

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COURA, J.R.; AMARAL, R.S. Epidemiological and control aspects of schistosomiases in Brazilian endemic areas. Mem Inst Oswaldo Cruz. v. 99, p. 13-19, 2004. WHO-WORLD HEALTH ORGANIZATION. The control of Shistosomiasis.Report of a WHO Expert Committee. Geneva. WHO Technical Report Series. 1993. PINHEIRO, L.; CORTEZ, D.A.G.; VIDOTTI, G.J.; Maria Claudia M. YOUNG, M.C.A.; FERREIRA, A.G. Estudo fitoquímico e avaliação da atividade moluscicida DA Kielmeyera variabilis Mart (Clusiaceae). Química Nova, v. 26, p. 157-160, 2003. GASPAROTTO, J.R.A.; BRENZAN, M.A.; PILOTO, I.C.; CORTEZ, D.A.C.; NAKAMURA, C.V.; FILHO, B.P.D.; FILHO, E.R.; FERREIRA, A.G. Estudo fitoquímico e avaliação da atividade moluscicida do calophyllum brasiliense camb (clusiaceae). Química Nova. v. 28, p. 575-578, 2005. SOARES, C.G., LEMOS, R.N.S.; CARDOSO, S.R.S;. MEDEIROS, F.R.; ARAUJO, J.R.D. Efeito de óleos e extratos aquosos de Azadirachta indica A. Juss e Cymbopogon winterianus Jowitt sobre Nasutitermes corniger Motschuls (Isoptera: Termitidae). Rev. ciênc. agrár. v. 50, p. 107-116, 2008. OLIVO, C. J. Óleo de citronela no controle do carrapato de bovinos. Ciência Rural. v. 38, p. 406-410, 2008. BRAUM, D.T.; BARROS, L.A. Avaliação in vitro da resistência de larvas nematóides com potencial zoonótico ao extrato de citronela. In: XVI Seminário de Iniciação Científica da Universidade Federal de Mato Grosso, Anais... Cuiabá. Caderno de Resumos, p. 32. 2008.

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Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas

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CAPÍTULO 4

PREVALÊNCIA DO USO DE DROGAS PELOS UNIVERSITÁRIOS DO CENTRO

DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO

Amanda Trigo Motta1, Soraya Dias Saleme1, Heberth de Paula1

1 - Universidade Federal do Espírito Santo; Departamento de Farmácia e Nutrição; Alto Universitário, 29.500-000, Alegre - E.S., Brasil, [email protected]

Resumo - O ingresso na universidade, ainda que traga sentimentos positivos e de alcance de uma meta programada por estudantes do ensino médio, por vezes pode se tornar um período crítico, de maior vulnerabilidade para o início e a manutenção do uso de álcool e outras drogas. Com isso ocorreu um estudo epidemiológico transversal no Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo sobre o consumo de substâncias psicoativas entre os alunos, utilizando o método de abordagem por entrevista direta. O álcool foi a droga lícita mais citada pelos entrevistados com alta frequência de uso, seguido pelo tabaco. Entre as drogas ilícitas destacou-se a maconha e inalantes. O perfil dos estudantes é semelhante ao de outros universitários, portanto deve-se acompanhar a prevalência destas drogas nestes locais a fim de promover métodos que controlem esta alta incidência de uso das mesmas. Palavras-chave: Drogas, universitários, bebida alcoólica, maconha. Área do Conhecimento: Saúde Pública. Introdução

As substâncias psicoativas foram e ainda são consumidas em diversas épocas e culturas com

finalidades terapêuticas, religiosas e lúdicas e ainda para obtenção do prazer. De certa maneira, a história da humanidade está atrelada ao hedonismo e a utilização de certas substâncias psicoativas pode facilitar o acesso ao prazer. Na Antigüidade a droga era incentivada por suas múltiplas funções: econômica, religiosa, social e medicinal, atendendo ao contexto cultural da época (COUTINHO, ARAÚJO e GONTIÉS, 2004).

A prevalência mundial do consumo de substâncias psicoativas está aumentando. O abuso e a dependência de drogas ameaçam os valores políticos, econômicos e sociais (SILVA et al., 2006). A avaliação de atitudes e comportamentos ligados ao uso de álcool e outras drogas fornece informações valiosas quanto ao entendimento do comportamento desse grupo de indivíduos. Com esse objetivo, levantamentos estatísticos quanto ao uso de drogas, tanto em universidades internacionais como também nas universidades brasileiras têm sido realizados (WAGNER e ANDRADE, 2008). Desse modo, o presente estudo teve como objetivo averiguar o uso de drogas entre os alunos do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Material e Métodos

Esse trabalho epidemiológico transversal foi realizado no Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Foi calculada uma amostra estatística referente ao total de alunos matriculados, estratificada por sexo e por curso. Assim, a amostra obtida foi de um total de 822 alunos, sendo 411 mulheres e 411 homens. Foi feito um sorteio aleatório usando a ferramenta disponível no site <www.random.org/lists/> (RANDOM, 2012). A essas amostras foram acrescidas um valor de 20% de pessoas entrevistadas em caso de recusa de participação na pesquisa.

O método de abordagem foi de entrevista direta, em que o entrevistador fazia as perguntas oralmente em um questionário padronizado e com questões de múltipla escolha. As entrevistas foram realizadas no campus de tal Universidade de acordo com a disponibilidade dos alunos, sem identificação destes. Quando o participante recusava-se a responder as perguntas era substituído por outro constante da lista do sorteio.

O questionário utilizado para as entrevistas foi um questionário padronizado conforme visto em outros trabalhos (HENRIQUE et al., 2004). Foi realizado teste de associação entre as variáveis utilizando o método do qui-quadrado (P≤ 0,05).

Resultados e Discussão

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Coletânea da 1ª Semana de Ciências Farmacêuticas

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Os dados da Tabela 1 mostram que o uso na vida das substancias analisadas é maior entre as substancias lícitas. Assim, o uso na vida de bebidas alcoólicas correspondeu a 83,3% enquanto o de derivados do tabaco correspondeu a 31,5%. Entre as drogas ilícitas de maior uso na vida, encontram-se a maconha com 20,6% e os inalantes com 11,2%%. Quanto ao uso no ano, as drogas lícitas foram as mais utilizadas (derivados do tabaco e bebidas alcoólicas, com 30,65% e 28,2% respectivamente), e entre as ilícitas, os alucinógenos (40,25%), a maconha (31,1%), os inalantes (26,25%) e os hipnóticos e sedativos (21,1%) foram as drogas com maiores prevalências. Quanto ao uso no mês, nota-se maior uso de bebidas alcoólicas (18,45%), maconha (15%), derivados do tabaco (10,65%) e hipnóticos ou sedativos (10%), sendo estes os que tiveram as maiores prevalências. No uso frequente as maiores prevalências foram de bebidas alcoólicas com 38,9%, derivados do tabaco com 10,8%, seguidos da maconha com 9,85%. No uso pesado os derivados do tabaco tiveram o maior percentual (24,6%), depois a maconha (7,15%), seguido do uso de hipnóticos ou sedativos (6,9%).

Tabela 1. Distribuição dos estudantes do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA-UFES), segundo a frequência do uso das substâncias psicoativas.

Substâncias Psicoativas Uso na Vida Uso no Ano Uso no Mês

Uso Frequente

Uso Pesado

N % N % N % N % N %

Derivados do tabaco 259 31,50 82 9,97 29 3,48 32 3,84 37 4,44 Bebidas alcoólicas 685 83,30 193 23,16 126 15,12 268 32,16 24 2,88

Maconha 169 20,60 57 6,84 26 3,20 17 2,04 15 1,80 Cocaina ou crack 30 3,65 6 0,72 0 0,00 1 0,12 0 0,00

Anfetaminas/ Ecstasy 44 5,35 10 1,20 0 0,00 0 0,00 0 0,00 Inalantes 92 11,20 26 3,20 0 0,00 2 0,24 2 0,24

Hipnóticos/sedativos 25 3,10 6 0,72 3 0,36 0 0,00 2 0,24 Alucinógenos 41 5,00 19 2,28 0 0,00 1 0,12 1 0,12

Opióides 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00

(N) numero de pessoas; (%) porcentagem referente ao número de pessoas entrevistadas, em relação ao total de entrevistados.

De acordo com o estudo realizado, pode-se observar que as substancias lícitas são as mais

consumidas entre os estudantes do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo. Dentre os entrevistados 31,50% e 83,30% afirmaram já terem usado alguma vez na vida derivados do tabaco e bebidas alcoólicas, respectivamente. Segundo o I Levantamento Domiciliar do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), 41,1% da população brasileira já usou tabaco alguma vez na vida e 68,7% álcool. Esses dados mostraram-se acima do encontrado nesta pesquisa para o uso de tabaco e abaixo para o uso de álcool.

De acordo com a Tabela 2 é possível observar que as drogas lícitas são as mais consumidas entre os estudantes entrevistados de todas as faixas etárias. Sendo os estudantes com idade entre 23-25 anos de idade os que mais consomem essas drogas, com um percentual de 58% para derivados do tabaco e de 93,8% para bebidas alcoólicas. Seguidos dos estudantes na faixa etária de 17-19 anos, constatando-se um percentual de 23,7% para o uso de derivados do tabaco e de 75,5% para bebidas alcoólicas. Dentre as drogas ilícitas a maconha é a mais consumida em todas as idades, sendo os entrevistados entre 23-25 anos os que mais consomem essa droga, com um percentual de 35,7%. O uso de inalantes também mostrou-se elevado em todas as faixas etárias, sendo mais consumida também pelos estudantes entre 23-25 anos, visto que 20,5% dos entrevistados dessa faixa etária afirmaram já terem consumido essa droga, seguidos dos de 26-28 anos, sendo consumido por 17,6% dos entrevistados.

Quando comparados o uso de drogas com a idade é notável a relação do aumento do uso das substancias com o passar dos anos, principalmente para bebidas alcoólicas. Para as outras drogas há uma certa variação, mas no geral também seguem esse padrão. Estudos de coorte realizados nos Estados Unidos e Nova Zelândia, identificaram como fator de predisposição para o abuso e dependência do álcool na vida adulta o consumo de álcool por jovens de faixa etária entre 14-16 anos (CLAPPER et al., 1995; FERGUSSON, HORWOOD e LYNSKEY, 1995). A adolescência é uma etapa na qual frequentemente ocorre a experimentação de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas. Embora na maioria das vezes esse uso seja apenas experimental, é possível notar padrões que refletem comportamentos observados na vida adulta (SILVA et al., 2006). Podendo ser estes motivos que expliquem a relação entre o aumento da idade e aumento do consumo de drogas.

Tabela 2. Distribuição dos estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo, segundo uso de drogas na vida relacionado a idade.

SUBSTÂNCIAS 17 – 19 anos 20 – 22 anos 23 – 25 anos 26 – 28 anos 29 ou mais

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PSICOATIVAS N % N % N % N % N %

Derivados do tabaco 66 23,7 121 29,9 65 58 2 11,8 5 50 Bebidas alcoólicas 210 75,5 348 85,9 105 93,8 12 70,6 10 100

Maconha 41 14,7 82 20,2 40 35,7 3 17,6 3 30 Cocaína ou crack 9 3,2 12 3 7 6,3 1 5,9 1 10

Anfetamina ou Ecstasy 6 2,2 23 5.7 11 9,8 2 11,8 2 20 Inalantes 24 8,6 40 9,9 23 20,5 3 17,6 2 20

Hipnóticos/Sedativos 8 2,9 7 1,7 5 4,5 2 11,8 3 30 Alucinógenos 14 5 16 4 8 7,1 2 11,8 1 10

Opióides 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

(N) numero de pessoas; (%) porcentagem referente ao número de pessoas entrevistadas, em relação a idade dos entrevistados.

A Tabela 3 mostra os estudantes que utilizaram drogas mais de uma vez no mês anterior a

entrevista. Pode-se observar que as drogas ilícitas são as mais frequentes em ambos os sexos, sendo o álcool a mais utilizada, com 40,8% para os homens e 29,7% para as mulheres. Já o uso de drogas ilícitas destaca-se a maconha, em que 5,7% dos homens e 1,9% das mulheres relataram terem usado. Ao realizar análise estatística desses dados constatou-se que para as outras drogas praticamente não existe diferença entre os sexos.

Tabela 3. Distribuição dos estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo, demonstrando o uso frequente (mais de uma vez no mês anterior ao da entrevista) de drogas relacionadas ao sexo dos entrevistados.

Substâncias Psicoativas Feminino Masculino

P N % N %

Derivados do tabaco 14 3,4 55 13,2 < 0,05 Bebidas alcoólicas 124 29,7 170 40,8 < 0,05

Maconha 8 1,9 24 5,7 < 0,05 Cocaína ou crack 0 0 1 0,2 > 0,05

Inalantes 1 0,2 3 0,7 > 0,05 Hipnóticos/sedativos 1 0,2 1 0,2 > 0,05

Alucinógenos 0 0 2 0,5 > 0,05

(N) numero de pessoas; (%) porcentagem referente ao número de pessoas entrevistadas, em relação ao sexo; (P) quando P< 0,05 existe diferença estatística no teste de qui-quadrado para o uso de substâncias psicoativas, em relação ao sexo.

Os dados da PENSE (Pesquisa Nacional de Saúde Escolar) mostraram que 71,4% dos escolares

já experimentaram bebida alcoólica alguma vez. O percentual na universidade se mostrou maiores sendo 83,30%. O consumo atual de bebida alcoólica entre os escolares foi de 27,3% para o conjunto dos 26 municípios das capitais e o Distrito Federal, enquanto na Universidade 35,25% (PENSE, 2012). Um dos motivos para os valores serem maiores pode ser pela maior idade, já que o álcool é vendido liberadamente para maiores de 18 anos, onde a grande maioria dos universitários são maiores de idade e os escolares possuem idade menos de 18 anos. Portanto, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas constitui em um grave problema de saúde pública da sociedade moderna, uma vez que seus efeitos repercutem tanto na saúde física quanto na saúde mental da população em geral.

A maconha teve destaque no presente estudo devido a sua grande aceitação pelos universitários. Arnaud (1996) argumenta que talvez os principais atrativos da maconha sejam a curiosidade, a coragem e o prazer que ela proporciona (COUTINHO, ARAÚJO e GONTIÉS, 2004). Outros estudos também demonstram que dentre as drogas ilícitas a maconha é a mais utilizada (SILVA et al., 2006; CLAPPER et al., 1995; FERGUSSON, HORWOOD e LYNSKEY, 1995; COUTINHO, ARAÚJO e GONTIÉS, 2004). A faixa etária que mais consome é entre 23-25 anos, com 35,7% dos entrevistados. Dentre os estudantes que fazem uso frequente dessa droga os homens apresentaram um consumo superior ao das mulheres. Segundo o Cebrid, em 1997 o consumo dessa droga no Brasil era de 7,6%, estando acima do encontrado no presente estudo (CEBRID, 2012). Porém no último PENSE a capital Vitória foi uma das menores taxas de frequência do consumo de tabaco, representando 3,9% dos escolares (PENSE, 2012). Nos Estados Unidos 34,2% das pessoas já consumiram maconha, nesse estudo 20,6% dos entrevistados já usaram alguma vez na vida essa droga. Mostrando um percentual muito abaixo do encontrado no país norte-americano

(CEBRID,

2012). Não houve diferenças estatísticas entre os sexos no uso frequente das outras drogas. Conclusão

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O presente estudo mostrou que os estudantes dos cursos CCA-UFES, apresentam perfis semelhantes a outros universitários mostrados em outros estudos. Observa-se ainda, o alto índice principalmente do uso de bebidas alcoólicas e tabaco, que são substâncias muito aceitas na sociedade. Com isso percebe-se um fato preocupante, pois as drogas geram danos não só ao organismo do estudante, mas também podem trazer prejuízos a sua própria vida. Portanto deve-se acompanhar a prevalência destas drogas nestes locais a fim de promover métodos que controlem e desestimule esta alta incidência de uso das mesmas e com isso zelar pela integridade dos estudantes e sua formação acadêmica. Referências Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) Disponível em: <http://www.cebrid.epm.br/index.php> Acessado em: 29 de Junho, 2012. CLAPPER RL, BUKA SL, GOLDFIELD EC, LIPSITT LP, TSUANG MT. Adolescent problem behaviors as predictors of adult alcohol diagnoses. Int J Addict 1995. v.30. p.507-23. COUTINHO, M. P. L.; ARAÚJO, L. F.; GONTIÉS, B. Uso da maconha e suas representações sociais: estudo comparativo entre universitários. Psicologia em Estudo, Maringá. 2004.v. 9, n. 3, p. 469-477. FERGUSSON, D. M., HORWOOD, L. J., CAMPBELL, N. S. "Cannabis use and psychosocial adjustment in adolescence and young adulthood."2002. HENRIQUE, I.F.S.; MICHELI, D.; LACERDA, R.B.; LACERDA, L. A.; FORMIGONI, M.L.O.S.; Validação da Versão Brasileira do Teste de Triagem do Envolvimento com Álcool, Cigarro e Outras Substâncias (ASSIST). Trabalho realizado no Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),São Paulo, SP, e Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR. Rev da Associ Médic Bra. 2004.p.199-206 Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PENSE) Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/pense/default.shtm> Acessado em: 01 de Julho, 2012 Rondom.org, List Randomizer. Disponível em: http://www.random.org/lists/ Acesso em: Outubro, 2012. SILVA, E.F.; PAVANI, Rafael A. B.; MORAES, M.S.; CHIARAVALLOTI,F.N. Prevalência do uso de drogas entre escolares do ensino médio do Município de São José do Rio Preto, São Paulo, Brasil. Cad. Saúde Pública.2006. v.22. p. 1151-1158. WAGNER, G.A.; ANDRADE, A.G.. Uso de álcool, tabaco e outras drogas entre estudantes universitários brasileiros. Rev Psiqui Clínica.São Paulo, 2008.

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CAPÍTULO 5

USO DE DROGAS ENTRE UNIVERSITÁRIOS DO CENTRO DE CIÊNCIAS

AGRÁRIAS DA UFES ESTRATIFICADOS POR CURSO

Soraya Dias Saleme1, Amanda Trigo Motta1, Heberth de Paula1

1 - Universidade Federal do Espírito Santo; Departamento de Farmácia e Nutrição; Alto Universitário, 29.500-000, Alegre - E.S., Brasil, [email protected].

Resumo: O consumo de substâncias psicoativas tem gerado em todas as partes do mundo problemas sociais e de saúde de grande importância. Esse trabalho epidemiológico transversal foi realizado no Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), sendo o método de abordagem de entrevista direta. Pode-se perceber que as drogas mais utilizadas são as lícitas, seguidos do uso de maconha, contudo o uso de praticamente todas as drogas se mostram presentes na vida acadêmica. Quanto aos problemas sociais, legais ou financeiros que as drogas podem causar observa-se que não há diferença entre os sexos no uso de bebidas alcoólicas e de todas as outras drogas ilícitas exceto a maconha. Conforme observado, é de grande importância o acompanhamento da prevalência de drogas nas universidades a fim de promover métodos de controle e prevenção do uso das mesmas. Palavras-chave: Drogas, universitários, bebida alcoólica, derivados do tabaco, maconha. Área do Conhecimento: Saúde Pública Introdução

A prevalência mundial do consumo de substâncias psicoativas está aumentando (SILVA et al.,

2006). O consumo de substâncias psicoativas tem gerado em todas as partes do mundo problemas sociais e de saúde de grande importância, especialmente devido à sua crescente prevalência. A amplitude e a gravidade desses problemas vêm exigindo dos órgãos governamentais de todos os países políticas e estratégias que possam diminuir o uso de drogas pela população em geral, bem como evitar as conseqüências do abuso dessas substâncias (QUEIROZ et al., 2001).

Em nosso país, esses problemas também são preocupantes: estima-se que 39% das ocorrências policiais a cada ano estejam relacionadas ao uso de álcool e que 50% das internações psiquiátricas estão relacionadas a complicações decorrentes do abuso de álcool e de drogas. Daí pode-se deduzir que tais problemas geram grandes despesas aos cofres públicos e, em especial, aos serviços de saúde, pois as manifestações clínicas, neurológicas e psiquiátricas requerem um grande número de consultas ambulatoriais e internações de curta e média duração (QUEIROZ et al., 2001).

Desse modo, o presente estudo teve como objetivo averiguar o uso de drogas entre os alunos do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Materiais e Métodos

Esse trabalho epidemiológico transversal foi realizado no Centro de Ciências Agrárias (CCA) da

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Foi calculada uma amostra estatística referente ao total de alunos matriculados, estratificada por sexo e por curso. Assim, a amostra obtida foi de um total de 822 alunos, sendo 411 mulheres e 411 homens. Foi feito um sorteio aleatório usando a ferramenta disponível no site <www.random.org/lists/> (RANDOM, 2012). A essas amostras foram acrescidas um valor de 20% de pessoas entrevistadas em caso de recusa de participação na pesquisa.

O método de abordagem foi de entrevista direta, em que o entrevistador fazia as perguntas oralmente em um questionário padronizado e com questões de múltipla escolha. As entrevistas foram realizadas no campus de tal Universidade de acordo com a disponibilidade dos alunos, sem identificação destes. Quando o participante recusava-se a responder as perguntas era substituído por outro constante da lista do sorteio.

O questionário utilizado para as entrevistas foi um questionário padronizado conforme visto em outros trabalhos (HENRIQUE et al., 2004). Foi realizado teste de associação entre as variáveis utilizando o método do qui-quadrado (P≤ 0,05).

Resultados e Discussão

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A busca pela facilitação da interação social é a principal expectativa do universitário ao consumir bebida alcoólica, seguida pela expectativa de redução da tensão psicológica (BORDIN et al., 1993). Este pode ser um dos maiores motivos que explicam o alto consumo de bebidas alcoólicas pelos entrevistados.

Os dados da Tabela 1 demonstram as substâncias psicoativas que já foram experimentadas pelos entrevistados diferenciando-os por curso. Pode-se perceber que as drogas mais utilizadas são as lícitas. Destaca-se o curso de Geologia em que todos os entrevistados já experimentaram álcool e 66,7% derivados do tabaco. Seguida de médias altas para essas drogas ainda se destacam os cursos de Engenharia Industrial Madeireira e Engenharia Florestal, com índice de álcool 97,4% e de 51% para o uso de maconha, respectivamente.

Entre as drogas ilícitas o curso de Geologia novamente se destaca no uso de maconha, inalantes e alucinógenos, em que 51%, 35,3% e 19,6%, respectivamente, disseram já ter experimentado alguma vez na vida. O uso de cocaína ou crack encontra-se mais alto pelo curso de Ciências Biológicas Bacharelado, representando 11,6%. Anfetaminas ou ecstasy é notável ao curso de Engenharia Floresta, onde 17,6% dos entrevistados afirmaram já ter usado. A utilização de hipnóticos ou sedativos foi maior no curso de Engenharia Química: 7,3% dos entrevistados. Analisando o uso de pelo menos alguma vez na vida das drogas mais utilizadas entre os estudantes por curso, como exposto na Tabela 1, o uso de praticamente todas as drogas se mostram presentes na vida acadêmica.

A análise de 68 pesquisas sobre o consumo de álcool entre estudantes universitários revela uma taxa lentamente crescente da prevalência de consumo desde a Segunda Guerra Mundial que continua até o presente. Além do álcool, relata-se o uso de tabaco, cannabis sativa, estimulantes, cocaína, inalantes, sedativos, alucinógenos e opióides (CLAPPER et al.,1995)

Os uso destas drogas acabam apresentando consequências, e de um modo geral elas afetam o físico, o emocional, o espiritual, como também a família, amigos, social, financeiro e profissional (ALMEIDA et al., 2008), como alguns entrevistados afirmaram, podendo ser visto na Tabela 2. Ainda interfere na capacidade de abstração, formação de conceitos, e flexibilidade mental de estudantes (SILVA, 1972). A interferência nestas habilidades resulta em consequências negativas no aprendizado e na convivência em casas universitárias, podendo trazer prejuízos a vida acadêmica. É necessário considerar que algumas formas de anfetamina também são muito utilizadas pelo seu efeito estimulante sobre a atividade do sistema nervoso central, deixando os usuários mais "acesos", "ligados", reduzindo o sono (CEBRID, 2012), o que também poderia explicar, em parte, o consumo de mais da metade dos cursos, em que os estudantes usam este medicamente para “virar noites” estudando.

Quando perguntados se já haviam sofrido algum problema social, legal ou financeiro devido o uso de alguma das drogas analisadas, 5,7% dos homens entrevistados e 2,4% das mulheres alegaram já terem sofrido algum problema pelo uso de derivados do tabaco. Após a análise estatística dos dados, constatou-se que não há diferença entre os sexos no uso de bebidas alcoólicas e de todas as outras drogas ilícitas exceto a maconha, que apresentou um percentual de 21,3 para os homens e 16,8% para as mulheres.

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Tabela 1. Distribuição dos estudantes do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA-UFES), divididos por curso demonstrando o uso na vida das substancias psicotrópicas.

Substâncias Psicoativas Agronomia

Ciência da Computação

Ciências Biológicas(B)

Ciências Biológicas(L)

Eng. de Alimentos

Eng. Ind. Madeireira

Eng. Florestal Eng. Química Farmácia

N % N % N % N % N % N % N % N % N %

DERIVADOS DO TABACO 21 35,6 14 34,1 29 42 9 19,1 16 34,8 18 47,4 26 51 10 24,4 9 21,4 BEBIDAS ALCOÓLICAS 49 83,1 34 82,9 63 91,3 41 87,2 43 93,5 36 97,4 45 88,2 33 80,5 32 76,2

MACONHA 18 30,5 6 14,6 27 39,1 3 6,4 8 17,4 13 34,2 14 27,5 5 12,2 5 11,9 COCAINA OU CRACK 2 3,4 1 2,4 8 11,6 1 2,1 1 2,1 3 7,9 2 3,9 2 4,9 0 0

ANFETAMINAS/ EXTASE 4 6,8 0 0 9 13 1 2,1 2 4,3 3 7,9 9 17,6 0 0 2 4,8 INALANTES 3 5,1 2 4,9 20 29 1 2,1 4 8,7 11 28,9 3 5,9 4 9,8 0 0

HIPINÓTICOS-SEDATIVOS 0 0 0 0 3 4,3 1 2,1 3 6,5 1 2,6 0 0 3 7,3 1 2,4 ALUCINÓGENOS 0 0 1 2,4 9 13 1 2,1 3 6,5 4 10,5 2 3,9 0 0 0 0

OPIÓIDES 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Substâncias Psicoativas Física (L) Geologia Matemática (L)

Medicina Veterinária

Nutrição Química (L) Sistema de Informação

Zootecnia

N % N % N % N % N % N % N % N %

DERIVADOS DO TABACO 7 17,9 34 66,7 2 4,9 22 39,3 12 22,2 12 24 16 28,1 2 5 BEBIDAS ALCOÓLICAS 26 66,7 51 100 27 65,8 48 85,7 41 75,9 41 82 45 78,9 30 75

MACONHA 6 15,4 26 51 2 4,9 9 16,1 9 16,1 9 18 11 19,3 0 0 COCAINA OU CRACK 1 2,6 4 7,8 2 4,9 0 0 0 0 1 2 2 3,5 0 0

ANFETAMINA OU EXTASE 0 0 7 13,7 0 0 0 0 0 0 3 6 4 7 0 0 INALANTES 2 5,1 18 35,3 0 0 2 3,6 7 13 5 10 6 10,5 4 10

HIPINÓTICOS/SEDATIVOS 1 2,6 2 3,9 0 0 0 0 0 0 6 12 4 7 0 0 ALUCINÓGENOS 1 2,6 10 19,6 0 0 0 0 2 3,7 1 2 6 10,5 1 2,6

OPIÓIDES 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

(B) Bacharelado; (L) Licenciatura; (N) número de pessoas; (%) porcentagem referente ao numero de pessoas entrevistadas, em relação ao curso; (Eng) engenharia; (Ind) industrial.

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Tabela 2. Distribuição dos estudantes do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo, que relatam ter sofrido algum problema social, legal ou financeiro por conta do uso da droga em relação ao sexo dos entrevistados.

Substâncias Psicoativas Feminino Masculino

P N % N %

DERIVADOS DO TABACO 10 2,4 24 5,7 < 0,05 BEBIDAS ALCOÓLICAS 70 16,8 89 21,3 > 0,05

MACONHA 3 0,7 16 3,8 < 0,05 COCAINA OU CRACK 1 0,2 3 0,7 > 0,05

INALANTES 1 0,2 4 1 > 0,05 HIPINÓTICOS/SEDATIVOS 2 0,5 1 0,2 > 0,05

ALUCINÓGENOS 0 0 3 0,7 > 0,05 OUTROS 0 0 0 0 -

(N) numero de pessoas; (%) porcentagem referente ao número de pessoas entrevistadas, em relação ao sexo; (P) quando P< 0,05 existe diferença estatística no teste de qui-quadrado para o uso de substâncias psicoativas, em relação ao sexo.

Quando perguntado aos estudantes se eles já deixaram de fazer alguma coisa que normalmente

era esperada por eles devido ao uso de alguma droga, destaca-se o uso de bebida alcoólica, com percentual de 19,2% dos homens e -14,4% das mulheres e também o uso de maconha, com percentual de 3,2% dos homens e 1% das mulheres, tendo estes relatados já terem sofrido este problema.

Conclusão

O presente estudo mostrou que os estudantes dos cursos CCA-UFES, apresentam perfis semelhantes a outros universitários, tendo em vista a importância de tal tema. Observa-se ainda, o alto índice principalmente do uso de bebidas alcoólicas e tabaco, que são substâncias muito aceitas na sociedade. Com isso percebe-se um fato preocupante, pois as drogas geram danos não só ao organismo do estudante, mas também podem trazer prejuízos a sua vida acadêmica.

Referências ALMEIDA, P. P., NOVAES, M. A. F. P., BRESSAN, R. A., LACERDA, A. L. T. Revisão: funcionamento executivo e uso de maconha. Rev. Bras. Psiquiatr. v.30.2008. BORDIN, R.; NIPPER, V. B.; SILVA, O. J.; BORTOLOMIOL, L. Prevalência de Tabagismo entre Escolares em Município de Área Metropolitana da Região Sul, Brasil, 1991. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro. p.185-189.1993. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) Disponível em: <http://www.cebrid.epm.br/index.php> Acessado em: 29 de Junho, 2012. CLAPPER RL, BUKA SL, GOLDFIELD EC, LIPSITT LP, TSUANG MT. Adolescent problem behaviors as predictors of adult alcohol diagnoses. Int J Addict 1995. v.30. p.507-23. QUEIROZ, S.; SCIVOLETTO, S.; SILVA, M.M.S.; ANDRADE, A.G.; GATTAZ, W.F. Revista de Psiquiatria Clínica. Uso de drogas entre estudantes de uma escola pública de São Paulo. São Paulo, 2001. SILVA, A. C. P. Fumo: veneno ignorado. Medicina, janeiro 1972; v.22, n.1,p.12-3. SILVA, L.V.E.R.; MALBERGIER, A.; STEMPLIUK, V.A. ANDRADE, A.G. Revista de Saúde Pública. Fatores associados ao consumo de álcool e drogas entre estudantes universitários. São Paulo, 2006.

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CAPÍTULO 6

AVALIAÇÃO DA BIOATIVIDAE DO ÓLEO ESSENCIAL DE Chenopodium ambrosioides L. EM Biomphalaria glabrata.

Henrique Oliveira Frank1, Adilson Vidal Costa2, Mariana Drummond Costa Ignacchiti2, Vagner Tebaldi de Queiroz2, Olavo dos Santos Pereira Júnior2.

1-Faculdad de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo/FMRP/USP 2 - Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias, Departamento de Química e Física, Alto Universitário, s/n, caixa postal 16, Guararema, Cep. 29500-000 - Alegre - ES, E-mail: [email protected]

Resumo – Chenopodium ambrosioides L., planta nativa da América tropical, originária, provavelmente, do México, encontra-se vastamente distribuída no Brasil, com ocorrência em quase todo o território. Esta espécie apresenta um alto poder alelopático, atividade antioxidante, antiinflamatória, anti-séptica, antifúngica e antibacteriana. Considerando a vasta aplicação terapêutica do óleo essencial dessa espécie, o presente trabalho teve como objetivo o isolamento e avaliação do potencial moluscicida do óleo essencial extraído da parte aérea da erva-de-santa-maria (Chenopodium ambrosioides L.). As etapas de execução do trabalho envolveram a determinação do teor do óleo essencial das folhas e avaliação da atividade moluscicida sobre o molusco do gênero Biomphalaria. O óleo essencial, obtido por hidrodestilação (rendimento de 0,3%), avaliado conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou atividade moluscicida contra caramujos do gênero Biomphalaria com valores de CL50 2,40 e CL90 8,75 µg/mL, nunca relatados. Estes resultados demonstram que o óleo essencial pode constituir uma alternativa no controle da população do caramujo e na redução da esquistossomose. Palavras-chave: óleos voláteis, moluscos, composição química, erva de santa maria Área do Conhecimento: Saúde Pública

Introdução

A esquistossomose é a segunda doença parasitária de maior prevalência no mundo sendo

causada pelo parasita trematóide Schistosoma mansoni. No Brasil, a doença que afeta cerca de seis milhões de pessoas e encontra-se distribuída em 19 estados (RODRIGUES et al., 2010). O parasita responsável por essa doença necessita da participação de um hospedeiro intermediário para completar seu ciclo de vida, sendo no Brasil, representado por caramujos pertencentes ao gênero Biomphalaria (Planorbidae). Das três espécies brasileiras hospedeiras intermediárias (B. glabata, B. tenagophila e B. straminea) do S. mansoni, a B. glabata é a mais importante, em decorrência de sua extensa distribuição geográfica, altos índices de infecção e eficiência na transmissão da esquistossomose. Além disso, sua distribuição quase sempre está associada à ocorrência da esquistossomose (ALVES et al., 2000).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza como estratégicas principais para a erradicação dessa doença o tratamento dos infectados e o uso de moluscicidas nas áreas de ocorrência dos hospedeiros intermediários. Apenas a substância sintética chamada niclosamida é recomendada pela OMS como moluscicida. No entanto, seu alto custo, a baixa seletividade, resistência dos caramujos a essa substância, facilidade de decomposição sob ação da luz solar e possibilidade de contaminação do meio ambiente vem limitando seu uso nos locais de ocorrência (DELGADO et al., 2002; GIOVANELLI et al., 2002). Desta forma, a busca por moluscicidas naturais e/ou sintéticos ganhou um novo destaque, visando à obtenção de um produto alternativo mais barato, biodegradável, seguro e disponível localmente para controle das populações de caramujos (VASCONCELLOS et al., 2005).

A erva-de-santa-maria, Chenopodium ambrosioides L., é uma espécie nativa da América tropical, originária, provavelmente, do México. Atualmente, a planta encontra-se vastamente distribuída em regiões de clima tropical, subtropical e temperado. No Brasil é extensa a sua distribuição, com ocorrência em quase todo o território. É uma planta anual ou perene, que se reproduz por sementes. A espécie prefere solos de textura média, com boa fertilidade e suprimento moderado de água, tolerando solos salinos. O desenvolvimento vegetativo é favorecido por boa iluminação e as plantas se tornam mais competitivas em regiões e em épocas de dias longos, sendo o florescimento estimulado por dias curtos (KISSMANN, 1991).

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Extratos e outros derivados da planta são usualmente utilizados contra sífilis, sarampo e doenças intestinais (NOUMI, 2001). O óleo essencial apresenta propriedade antifúngica, antibacteriana e antiinflamatória (CASTANEDA et al., 2001; MISHRA et al., 2002; KISHORE e DUBEY, 2002).

Considerando a importância da descoberta de novas substâncias que apresentam potencial atividade moluscicida, a esquistossomose como problema de saúde pública e a vasta utilização terapêutica da espécie C. ambrosioides, este trabalho teve por objetivo avaliar o potencial da atividade moluscicida do óleo essencial de C. ambrosioides sobre moluscos do gênero Biomphalaria, ainda não relatado na literatura. Material e Métodos Coleta do material vegetal

As partes aéreas de C. ambrosioides foram coletadas no período matutino em maio de 2011, a partir de plantas cultivadas em casa de vegetação, localizada no município de Alegre, Estado do Espírito Santo, nas coordenadas de 20º 44’ 49’’ de latitude S, 41º 27’ 58’’ de longitude W e altitude de 250 m. A exsicata (n

o 21536) encontra-se depositada no herbário da Universidade Federal do

Espírito Santo-(VIES)-Subcuradoria Campus de Alegre. Extração do óleo essencial

O óleo essencial foi obtido por hidrodestilação em laboratório. Folhas da planta fresca (100 g) foram transferidas para um balão, acoplado ao aparelho do tipo Clevenger e este ao condensador. A hidrodestilação foi mantida após ebulição da água, por 3 h. Após obtenção de aproximadamente 500 mL de hidrolato, foi realizada extração, utilizando o pentano como solvente. Foram realizadas cinco extrações com 40 mL de pentano, recolhendo a fase orgânica. Nesta, foi vertida uma quantidade em excesso de sulfato de sódio anidro para retirada de água da amostra, procedendo a sua filtração. O filtrado foi levado ao evaporador rotativo para obtenção do óleo essencial por remoção do solvente.

Bioensaios

Caramujos do gênero Biomphalaria foram coletados no Distrito de Araraí, Município de Alegre, região Sul do Estado do Espírito Santo, e mantidos em aquários, com água declorada, no Laboratório de Malacologia do CCA-UFES.

O teste foi conduzido utilizando dez caramujos para cada concentração, de tamanho aproximado (diâmetro da concha 8 a 12 mm). Cada grupo foi colocado em um recipiente plástico juntamente com determinado volume de óleo essencial e certo volume de água para completar o volume de 2 mL. A solução padrão do óleo essencial foi preparada na concentração de 10.000 ppm usando como solvente dimetil-sulfóxido (DMSO) e, posteriormente diluída com água para que alcançassem as concentrações iniciais para triagem (10, 20, 40, 60, 80 e 100 ppm), conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde (WHO, 1983) e adaptações (MAGALHÃES et al. 2003). As concentrações finais para o óleo foram de 0,5, 1,0, 2,0, 4,0, 6,0 e 8,0 ppm. Para o ensaio foi elaborado um controle negativo na concentração de 8 ppm de DMSO em água. O teste foi realizado em triplicata, sendo feitas observações após 24 h, à temperatura ambiente, para avaliar a possível mortalidade dos moluscos, baseado no extravasamento de hemolinfa ou retração do corpo do animal para dentro da concha (MACCULLOUGH, 1980). A análise de Probit por meio do software Polo-PC (LEORA SOFTWARW, 1987), estimou os valores de CL50 e CL90. Resultados e Discussão

O rendimento do óleo essencial das folhas de C.ambrosioides, calculado em relação à massa seca, foi de 0,3% (m/m). A extração do óleo essencial de C. ambrosioides de Ruanda, por destilação em aparelho do tipo Clevenger, apresentou um rendimento de 0,3% (MUHAYIMANA et al., 1998), de planta originada da Nigéria exibiu rendimento de 0,06% (ONOCHA et al., 1999) e, na Índia, 0,25% de rendimento foi encontrado (GUPTA et al., 2002). A quantidade e a composição química do óleo essencial produzida por uma planta de mesma espécie pode variar em uma função das condições ambientais, das interações entre planta/planta, planta/microrganismos, plantas/insetos e de outros fatores, como idade, estágio de desenvolvimento, fatores abióticos como luminosidade, temperatura, pluviosidade, nutrição, época e horário de coleta (MORAIS, 2009).

A utilização do óleo essencial de C. ambrosioides como possível agente moluscicida, se mostrou ativa nos testes realizados in vitro sobre o caramujo do gênero Biomphalaria, com valores de CL50

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2,40 e CL90 8,75 µg/mL (Tabela 1). Estes resultados evidenciaram que o óleo essencial pode constituir uma alternativa frente aos moluscicidas sintéticos, visto que, a Organização Mundial da Saúde (1983) considera ativo o extrato que apresentar 90% de mortalidade na concentração máxima de 100 µg/mL. Tabela 1. Inclinação da curva de concentração-resposta e concentração letal (CL50 e CL90) do óleo essencial de santa maria, sobre caramujos do gênero Biomphalaria

N(1)

Inclinação + EP(2)

CL50 (IC a 95%)(3)

(µg/mL) CL90 (IC a 95%)(3)

(µg/mL) GL(4)

2(5)

180 2,28 + 0,29 2,40 (1,90-2,99) 8,75 (6,39-14,12) 4 1,33 (1)

Número de moluscos usados no teste. (2)

Erro-padrão. (3)

Intervalo de confiança das CL50 e CL90 a 95% de probabilidade.

(4)Número de graus de liberdade.

(5)Teste qui-quadrado.

Segundo Mccullough et al. (1980), o envenenamento por moluscicida pode provocar a ruptura do

equilíbrio osmótico do molusco, que está sob controle neuro-hormonal. Consequentemente pode ser observada a retração da massa cefalopodal para dentro da concha com a liberação de hemolinfa ou a projeção anormal dessa massa, para fora da concha. Em conformidade com o autor, a maioria dos moluscos analisados, após exposição ao óleo essencial, sofreu retração corporal, o que evidencia a possível ruptura do equilíbrio osmótico.

A literatura registra algumas atividades biológicas tais como efeito antiinflamatório, anti-séptico, antifúngico e antibacteriano, atribuídos à ação dos compostos presentes no óleo essencial de erva de santa maria. Sendo assim, estes compostos podem agir como o princípio ativo responsável pela atividade frente ao caramujo. Dados que estabeleçam o composto responsável pela atividade moluscicida de C. ambrosioides não são reportados na literatura. No entanto, estudos revelam a toxicidade de óleos voláteis de C. ambrosioides, atribuindo-a ao constituinte majoritário ascaridol (POLLACK et al., 1990).

Conclusão

Ensaios biológicos, in vitro, apontaram uma exímia atividade moluscicida do óleo essencial de C. ambrosioides sobre moluscos do gênero Biomphalaria, com valores de CL50 2,40 e CL90 8,75 µg/mL, nunca descrito na literatura. Referências ALVES, T.M.D.; SILVA, A.F.; BRANDÃO, M.; GRANDI, T.S.M.; SMÂNIA, E.F.A.; SMÂNIA, A.; ZANI, C.L. Biological screening of Brazilian medicinal plants. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 95, p. 367-373, 2000. DELGADO, V.S.; SUAREZ D.P.; CESARI, I.M.; INCANI, R.N. Experimental chemotherapy of Schistossoma mansoni with praziquantel and oxamnique: differential effect of single or combined formulations of drugs on various strains and both sexes of the parasite. Parasitol. Res., v.78, p. 648-654, 2002.

GIOVANELLI, A.; SILVA, C.L.P.A.C.; MEDEIROS, L.; VASCONCELOS, M.C. The molluscicidal activity of niclosamide (Bayluscide WP70®) on Melanoides tuberculata (Thiaridae), a snail associated with habits of Biomphalaria glabrata (Planorbidae). Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v. 97, p. 743-745, 2002. RODRIGUES, K.A.F.; DIAS, C.N.; FLORÊNCIO, J.C.; VILANOVA, C.M.; GONÇALVES, J.R.S.; COUTINHO-MORAES, D.F. Prospecção Fitoquímica e Atividade moluscicida de folhas de Momordica charantia L. Cad. Pesq. São Luís, v.17, n.2, p.69-76, 2010. VASCONCELLOS, M.L.A.A.; SILVA, T.M.S.; CAMARA, C.A.; MARTINS, R.M.; LACERDA, K.L.; CRESPO, L.T.C.; LOPES, H.M. Baylis-Hillman adducts with molluscicidal activity against Biomphalaria glabrata. Pest. Manag. Sci. v.3, p.288-292, 2005. KISSMANN, K.G. Plantas infestantes e nocivas. São Paulo: BASF. 1991, 608 f. NOUMI, E.; YOMI, A. Medicinal plants used for intestinal diseases in Mbalmayo Region, Central Province, Cameroon. Fitoterapia, v.72, p.246-254, 2001.

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CASTANEDA, G.R.; TELLEZ, M.A.M.; COHEN, S.V.; MANILLA, G.A.; ARISPURO, I.C.V.; SANZ, P.M.; YUFERA, E.P. In vitro inhibition of mycelial growth of Tilletia indica by extracts of native plants from Sonora, Mexico. Revista Mexicana de Fitopatologia, v.19, n.2, p.214-217, 2001. MISHRA, A.; DUBEY, N.K.; SINGH, S.; CHATURVEDI, C.M. Biological activities of essential oil of Chenopodium ambrosioides against storage pests and its effect on puberty attainment in Japanese quail. National Academy Science Letters, v.25, n.5, p.174-177, 2002. KISHORE, N.; DUBEY, N.K. Fungitoxic potency of some essential oils in management of damping-off diseases in soil infested with Pythium aphanidermatum and P. debaryanum. Indian Journal of Forestry, v.25, n.3, p.463-468, 2002. WHO-WORLD HEALTH ORGANIZATION. Reports Of The Scientific Working Group On Plant Molluscicides. Bulletin of the World Health Organization, v. 61, n. 6, p.927-929, 1983. MAGALHÃES, A.F.; TOZZI, A.M.G.A.; SANTOS, C.C.; SERRANO, D.R.; ZANOTTI-MAGALHÃES, E.M.; Saponins from Swartzia langsdorffi. In: Biological activities. Mem. Inst. Oswaldo Cruz, v.98, p.713-718, 2003. MCCULLOUGH, F.S.; GAYRAL, P.; DUNCAN, J.; CHRISTIE, J.D. Molluscicides in schistosomiasis control. Bulletin of the World Health Organization, v. 58, p. 681-689, 1980. MUHAYIMANA, A.; CHALCHAT, J.C.; GARRY, R.P. Chemical composition of essential oils of Chenopodium ambrosioides L. from Rwanda. Journal of Essential Oil Research, v.10, n.6, p.690-692, 1998. ONOCHA, P.A.; EKUNDAYO, O.; ERAMO, T.; LAAKSO, I. Essential oil constituents of Chenopodium ambrosioides L. leaves from Nigeria. Journal of Essential Oil Research, v.11, n.2, p.220-222, 1999. GUPTA, D.; CHARLES, R., MEHTA, V. K.; GARG, S. N.; KUMAR, S. Chemical examination of the essential oil of Chenopodium ambrosioides L. from the southern hills of India. Journal of Essential Oil Research, v.14, n.2, p.93- 94, 2002. POLLACK, Y.; SEGAL, R.; GOLENSER, J. The effect of ascaridole on the in vitro development of Plasmodium falciparum. Parasitology Research, v.76, p.570-572, 1990.

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CAPÍTULO 7

AVALIAÇÃO DE TRÊS TÉCNICAS NÃO INVASIVAS E BARCODE PARA

IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES DE AVES PELA CASCA DO OVO

Angélica Hollunder Klippel1, Greiciane Gaburro Paneto1 1- Universidade Federal do Espírito Santo – CCA Alegre/Departamento de Farmácia e Nutrição, Alto

Universitário, s/n, Campus UFES, Alegre, ES. CEP: 29.500-000. [email protected]

Resumo - O Brasil está entre os países com a fauna mais rica do mundo, ocupando a primeira posição em número de espécies. Esta diversidade estimula diversos crimes contra a fauna, sendo que o comércio ilegal de animais fatura bilhões no mundo, estando o tráfico de ovos de aves silvestres incluído neste montante. Um problema enfrentado atualmente é que mesmo após a captura dos ovos traficados, muitos não são passíveis de identificação morfológica, dificultando a punição dos envolvidos. Neste contexto, objetivou-se com este trabalho padronizar uma metodologia para identificar espécies pelo DNA presente na superfície dos ovos de aves (galinha e codorna) utilizando o Código de Barras de DNA. Para isto, foram testados três métodos de extração de DNA (Chelex, Salting Out e Orgânico), sendo a subunidade I do gene COI do DNA mitocondrial amplificada por PCR, seguido pelo sequenciamento deste fragmento e confrontamento das sequências obtidas com o banco de dados Barcode of Life Data Systems para identificação das espécies. Foi obtido resultado positivo somente em 17% das tentativas de extração com Chelex para ovos de galinha, sedo que o confrontamento das sequências com o banco de dados confirmou a identificação desta espécie. Palavras-chave: Genética forense, Tráfico, Animais silvestres, Ovos, Barcode Área do Conhecimento: DNA Forense

Introdução

O Brasil está entre os países com maior riqueza em fauna do mundo, ocupando a primeira posição em número total de espécies e a terceira em relação a aves, apresentando cerca de 1677 espécies desta classe. Essa diversidade impulsiona uma intensa busca por animais e plantas exóticas para os mais diversos fins no Brasil e no exterior, sendo que o comércio ilegal de animais selvagens fatura bilhões no mundo, só perdendo para o comércio ilegal de drogas e de armas (RENCTAS, 2001).

De acordo com o Relatório Nacional sobre Tráfico de Fauna Silvestre, 83% das espécies envolvidas no tráfico correspondem a aves (RENCTAS, 2001). Esta preferência ocorre pela riqueza da avifauna brasileira e por estas serem os animais favoritos dos comerciantes. Seus ovos também são alvo do tráfico por serem mais fáceis de transportar que os animais adultos. Ainda que protegidas pela legislação, muitas vezes as aves apreendidas não são facilmente identificáveis, principalmente os animais jovens e ovos. Quanto aos ovos, em muitos casos, não é possível realizar a identificação morfológica da espécie apenas pela análise de sua casca, sendo estes chocados em chocadeiras para posterior identificação. Assim, muitas vezes, não é possível aplicar as penalidades corretas aos traficantes por falta de provas (ALACS & GEORGES, 2008).

Com o desenvolvimento de tecnologias para identificação de espécies por meio do DNA este desafio pode ser solucionado. Recentemente, um esforço internacional tem sido realizado para desenvolver um sistema universal para identificação de todos os seres eucarióticos: o “Projeto Código de Barras da Vida” (The Barcode of Life Project), o qual utiliza iniciadores universais para amplificar uma região específica do DNA mitocondrial. Para a identificação de animais, é empregada uma região de 648 pb do gene COI do DNA mitocondrial (citocromo c oxigenase subunidade I – posições nucleotídicas de 58 a 705, tendo como referência o genoma mitocondrial de Mus musculus Linnaeus, 1758). Esse marcador foi designado código de barras de DNA (DNA barcode), pelo fato desta sequência funcionar como um código de barras exclusivo para cada espécie, tendo como premissa que a variação interespecífica é bem mais elevada que a intraespecífica (de até 3%) (HEBERT et al.,2003a).

Neste projeto está sendo criado um banco de dados mundial Barcode of Life Data Systems (BOLD) que contém sequências de diversas espécies, sendo que a partir deste banco será possível identificar qualquer espécie apenas comparando sua sequência de DNA com as sequências já depositadas no mesmo. O banco já dispõe de mais de um milhão de amostras de mais de 100 mil espécies, destas espécies 3500 são aves (RATNASINGHAM & HEBERT, 2007). Neste contexto

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e, tendo em vista: a possibilidade de coleta do DNA materno na superfície do ovo e o esforço mundial em utilizar uma metodologia padronizada para a identificação de espécies, este trabalho teve como objetivo testar três metodologias para identificar espécies pelo DNA presente na superfície de ovos de galinha e codorna pelo Código de Barras de DNA.

Material e Métodos

Foram coletados 18 ovos de cada espécie em estudo (galinha e codorna) em criadouros na região. A técnica de extração de DNA foi padronizada utilizando-se um swab embebido em água estéril para a captura do material biológico presente na superfície dos ovos, sendo testados três métodos para a extração de DNA: Protocolo Chelex 100

®, Salting Out e Método Orgânico. Para cada

método foram empregados 6 ovos de cada ave. Três amostras de carne de cada ave também foram analisadas para controle, sendo o DNA extraído com o Kit Wizard Genomic DNA purification (Promega), conforme as recomendações do fabricante.

A extração de DNA com Chelex 100® foi baseada no método descrito por Singer-Sam et al.

(1989), modificado conforme o protocolo DNA Analyst training: Laboratory training manual, do National Forensic Science Technology Center (s.d), sendo realizada uma digestão com proteinase K, na presença de solução chelex 5% e purificação do sobrenadante com colunas GFX PCR DNA and gel band purification kit (GE Healthcare) conforme instruções do fabricante, obtendo-se um volume final de 10 µL.

A extração pelo Método Salting Out foi baseada no método descrito por Sambrook et al. (1989): foi realizada a digestão da amostra com proteinase K, seguida da precipitação do DNA (acetato de amônio 4 M e álcool isopropílico) e lavagem com etanol 70%, sendo o DNA ressuspendido com 15 µL de água estéril.

A extração pelo Método Orgânico foi baseada no método descrito por Köchl et al. (2005): foi realizada a digestão da amostra com proteinase K e posterior purificação com Fenol: Clorofórmio: Álcool Isoamílico (25:24:1). O produto deste processo foi ainda purificado com colunas GFX PCR DNA and gel band purification kit (GE Healthcare) conforme recomendações do fabricante, obtendo-se um volume de 10 µL.

Após a extração, o DNA foi amplificado por PCR especificamente na região COI do DNA mitocondrial utilizando os primers recomendados para aves pelo Consortium for the Barcoding of Life. Para testar a sensibilidade da PCR, foi feita uma série de diluições a partir de uma amostra de DNA extraída da carne de galinha cujo DNA foi quantificado em Nanodrop.

O sucesso da amplificação do DNA foi verificado por eletroforese em gel de agarose 1,5% por 40 minutos a 80 volts, utilizando-se 4 μL do produto da PCR e coloração com Brometo de Etídio. Para confirmar a amplificação do fragmento desejado foi utilizado um marcador (Low DNA Mass Ladder - Invitrogen). Após esse processo, os produtos da PCR foram visualizados e fotografados em transiluminador de luz ultravioleta, acoplado a um analisador de imagens.

As reações de sequenciamento foram realizadas utilizando BigDye Terminator v 3.1 em sequenciador automático ABI 310, conforme recomendações do fabricante, sendo que os produtos de PCR foram purificados ( com colunas de purificação) antes da realização da reação de sequenciamento. A análise dos resultados do sequenciamento foi feita utilizando o programa BioEdit (HALL, 1999), sendo estes resultados posteriormente confrontados com o banco de dados BOLD para confirmação da identificação das espécies.

Resultados e Discussão

Das três metodologias testadas para extração de DNA dos ovos, só a extração com resina Chelex apresentou resultados positivos, obtidos em 17% das tentativas (uma amostra) em ovos de galinha. Esta resina foi escolhida por quelar íons metálicos inibidores da PCR (incluindo o cálcio da casca do ovo) e por ser empregada na extração de DNA em amostras com poucas células (SIMONATO et al., 2007). Outra vantagem deste método é não empregar solventes orgânicos tóxicos (fenol e clorofórmio) (RIVERO et al., 2006). Como este método apresentou baixo rendimento, foi testado outro método, o Salting Out, que possui poucas etapas e menor toxidade que o método orgânico (RIVERO et al., 2006), porém sem sucesso. Então, devido a relatos de autores (BAREA, 2001; RIVERO et al., 2006) de terem obtido bons resultados na extração pelo método orgânico em amostras com pouco DNA, este foi empregado, também sem sucesso.

O teste de sensibilidade da PCR demonstrou que a mesma funcionava quando havia no mínimo 1 ng de DNA total (mitocondrial e nuclear) presente na reação e que o fragmento amplificado era o de interesse (COI; 648 bp), pois este estava próximo da banda de 600 pb do ladder.

Os principais fatores que contribuem para o insucesso da PCR são: ausência de DNA alvo nas amostras; baixa sensibilidade da reação e presença de inibidores (CAO et al., 2003). Como foram tomadas medidas contra a presença de inibidores (purificação com colunas) e não havia problemas

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quanto à sensibilidade da reação (funcionava quando havia pelo menos 1 ng de DNA total) provavelmente, o motivo do insucesso nas tentativas de extração de DNA e, consequentemente na PCR foi a ausência de DNA alvo detectável nas amostras.

A fonte do DNA na superfície de ovos são as células do trato reprodutivo da ave e sangue que adere nos ovos durante a postura. Mas, nem sempre o DNA é transferido pelo contato entre duas superfícies, sendo que a pressão e o atrito contribuem para uma maior transferência de DNA (RYAN, 2012). Sendo assim, a superfície lisa do ovo pode dificultar a transferência de DNA da ave para o mesmo. Vale destacar que, como o ovo de codorna possui uma área superficial menor que o ovo de galinha, o primeiro tem a tendência de apresentar uma quantidade menor de DNA em sua superfície que o segundo (MARTÍN-GÁLVEZ et al., 2011). Isto explicaria a ausência de resultados positivos para a codorna.

Quanto ao sequenciamento do DNA da amostra extraída da superfície do ovo de galinha, após o confrontamento da sua sequência com o banco de dados BOLD, foi determinado que esta apresentava uma similaridade de 100% (Figura 1) com a sequência de Gallus gallus (galinha doméstica), comprovando a identificação da espécie, pois para aves, a sequência investigada deve ter similaridade maior do que 98% com alguma sequência depositada no BOLD para confirmar a identificação (HEBERT et al., 2003b).

Figura 1- Confrontamento da sequência do DNA extraído da superfície do ovo de galinha com o BOLD

No Brasil, Gonçalves (2009) realizou a identificação de aves a partir de ovos apreendidos utilizando DNA mitocondrial extraído de embriões mortos. Neste caso, a identificação das espécies foi útil, pois auxiliou a definir a punição dos envolvidos. Porém, nos casos em que os ovos continuam viáveis após a apreensão é necessário o emprego de técnicas não invasivas de identificação para não causar danos ao embrião.

Martín-Gálvez et al. (2011) identificaram 23 espécies de aves na Espanha pelo DNA genômico presente na superfície de ovos, sendo este extraído e amplificado em 88% dos casos. Porém, não foi utilizado um swab para cada ovo, mas sim um para cada ninho, elevando a quantidade de DNA capturado. Apesar dos bons resultados, passar o swab em mais de um ovo não funcionaria para a identificação de espécies traficadas, pois os ovos de algumas espécies são muito parecidos, podendo acarretar na passagem do mesmo swab em ovos de espécies diferentes, prejudicando a correta identificação das mesmas que é essencial, pois a punição dos culpados depende de quão ameaçada a espécie traficada é (ALACS & GEORGES, 2008).

Conclusão

Foi possível realizar a extração de DNA da superfície da casca de ovos de galinha utilizando a resina Chelex, entretanto, o baixo rendimento (17 %) inviabiliza o uso da técnica na rotina.

Agradecimento

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), através do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da UFES, pela concessão de bolsa de estudo. Referências

ALACS, E.; GEORGES, A. Wildlife across our borders: a review of the illegal trade in Australia. Australian Journal of Forensic Sciences,40:2,147 — 160, 2008.

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BAREA, J.A. Extração de DNA de Materiais de Arquivo e Fontes Escassas para a Utilização em Reação de Polimerização em Cadeia (PCR). 2001. Botucatu, 125p. Dissertação de Mestrado em Fisiopatologia em clínica Médica - Faculdade de Medicina, Universidade Estadual Paulista, 2001.

CAO, W. et al. Comparison of methods for DNA extraction from paraffin-embedded tissues and buccal cells. Cancer Detect Prev. 2003;27(5):397-404.

GONÇALVES P. F. M. O potencial do DNA Barcode na identificação de espécies de aves neotropicais. 2009. 97 p. Dissertação de Mestrado em Ciências – Universidade Estadual de São Paulo, São Paulo, 2009.

HALL, T.A. BioEdit: a user-friendly biological sequence alignment editor and analysis program for Windows 95/98/NT. Nucleic Acids Symposium Series, v. 41, p. 95-98, 1999.

HEBERT, P.D. N.; RATNASINGHAM, S.; Dewaard, J.R. Barcoding animal life: cytochrome c oxidase subunit 1 divergences among closely related species. Proc Biol Sci., v. 7, p. S96-9, 2003a.

HEBERT, P. D. N. et al. Biological identifications through DNA barcodes. Proc. R. Soc. London B., 270, 313–321. 2003b.

KÖCHL S.; NIEDERSTÄTTER H.; PARSON W. DNA Extraction and Quantitation of Forensic Samples

Using the Phenol-Chloroform Method and Real-Time PCR. In: Forensic DNA Typing Protocols.Vol. 297, 2005

MARTÍN-GÁLVEZ, D. et al. DNA sampling from eggshell swabbing is widely applicable in wild bird populations as demonstrated in 23 species. Mol Ecol Resour. May;11(3):481-93, 2011.

NATIONAL FORENSIC SCIENCE TECHNOLOGY CENTER. DNA Analyst Training: Laboratory Training Manual. Flórida. 5 p. Disponível em: <http://static.dna.gov/lab-manual/Linked%20Documents/Protocols /pdi_lab_pro_3.05.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2012.

RATNASINGHAM, S.; HEBERT, P. D. N. BOLD: The Barcode of Life Data System (www.barcodinglife.org). Molecular Ecology Notes, v. 7, p.355-364, 2007.

RENCTAS - Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres. 1º Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre. 2001. Disponível em:< http://www.renctas.org.br/files/REL_RENCTAS pt_final.pdf>. Acesso em: 20 jul. 2012.

RIVERO, E. R. C. et al. Simple salting-out method for DNA extraction from formalin-fixed paraffin-embedded tissues. Pathology- Research and Practice 2006; 202: 523-529.

RYAN, S. R. Touch DNA. What is it? Where is it? How much can be found? And, how can it impact my case? – Califórnia – EUA, 2012. Disponível em: < http://www.ryanforensicdna.com/yahoo_site_admin /assets/docs/Touch_DNA_article.59101908.pdf>. Acesso em 20 jul. 2012.

SAMBROOK, J.; FRITSCH, E. F.; MANIATIS, T.Molecular Cloning - ALaboratory Manual, 2 ed., New York, Cold Spring Habour Laboratory Press,1989.

SIMONATO, L. E. et al. Avaliação de Dois Métodos de Extração de DNA de Material Parafinado para Amplificação em PCR. J Bras Patol Med Lab, v. 43 n. 2, p. 121-127, abril 2007.

SINGER-SAM, J.; TANGUAY, R.; RIGGS, A.D. Use of chelex to improve the PCR signal from a small number of cells. Amplifications: A Forum for PCR Users, v. 3, p. 11, 1989.

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CAPÍTULO 8

INDICADORES DE SAÚDE MATERNO-INFANTIL NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS – ES, NO PERÍODO DE 2000 A 2010.

Caroline Cosme Pereira1; Elias Pereira da Vitória2; Franciéle Marabotti Costa

Leite3 1Universidade Federal do Espírito Santo – CEUNES/UFES, Curso de Farmácia, Rod. BR101 Norte,

Km 60 – Bairro Litorâneo –São Mateus-ES CEP 29932 – 540. E-mail: [email protected] 2Prefeitura Municipal de São Mateus-ES – Secretaria Municipal de Saúde de São Mateus – SEMUS –

Vigilância Ambiental.E-mail: [email protected] 3Universidade Federal do Espírito Santo, Professora MSc do Curso de Enfermagem, Av. Fernando

Ferrari, 514 – Bairro Goiabeiras – Vitória - ES CEP 29075 – 910. E-mail: [email protected]

Resumo: Estudos envolvendo a análise dos indicadores de saúde materno-infantil no município de São Mateus - ES eram, até então, desconhecidos. Então, através do Projeto de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET Saúde/Vigilância), mantido pelo Ministério de Saúde e que conta com parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, foram coletados dados referentes aos óbitos maternos e infantis de bancos de dados nacionais de domínio público disponíveis via internet, como o DATASUS, e de livros de registros mantidos pela Secretaria. Bem como os agravos à saúde detectados após o nascimento, como afecções no período perinatal e nascidos vivos de baixo peso, que irão ser muito relevantes no desenvolvimento do individuo. Palavras – Chave: Mortalidade, afecções, período perinatal, nascidos vivos Área do Conhecimento: Saúde Pública Introdução

As taxas de mortalidade materna e por afecções originadas no período perinatal, bem como a

proporção de nascidos vivos de baixo peso, são indicadores que se encontram relacionados, pois dependem de um bom acompanhamento materno-infantil durante todo o período gestacional e também nos primeiros dias de vida.

A taxa de mortalidade materna é representada por “mortes de mulheres durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, independentemente da duração ou da localização da gravidez, devida a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por medidas em relação a ela, porém não devida às causas acidentais ou incidentais” (OMS, 1997).

O período perinatal inicia-se quando o feto atinge 1000g de peso, o que ocorre por volta da 28ª semana de gestação, até o final completo do 7° dia de vida. Entre as principais afecções originadas neste período estão o traumatismo de parto, infecções específicas, transtornos digestivos, respiratórios e cardiovasculares. Já a taxa de mortalidade materna refere-se ao número de óbitos devido às complicações da gestação, parto e/ou do puerpério, ou seja, até 42 dias após o fim da gestação (DATASUS, 2002). Esse é um indicador de saúde da população feminina, sendo também indicador de iniqüidade. A proporção de nascidos vivos de baixo peso mede a ocorrência de nascidos vivos com peso inferior a 2,5 Kg em relação ao número total de nascidos vivos. Esse indicador deve ser alvo de grande atenção, pois expressa retardo do crescimento intra-uterino, sendo grande fator de risco para a morbimortalidade neonatal e infantil (IBGE, 2001).

Portanto, o objetivo desse trabalho é conhecer os indicadores de saúde materno infantil do município de São Mateus-ES, no período de 2000 a 2010, no que se refere à taxa de mortalidade materna, taxa de mortalidade por afecções originadas no período perinatal e proporção de nascidos vivos de baixo peso ao nascer. Material e Métodos

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, realizado no município de São Mateus-ES. Os dados foram coletados no banco de dados do DATASUS, e livros de registros do Setor de Vigilância epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde do referido município. A população do estudo foi constituída do número de nascidos vivos de baixo peso ao nascerem, todos os óbitos por afecções originadas no período perinatal de menores de 1 ano e do número de óbitos de mulheres devido a complicações da gestação, do parto e/ou do puerpério residentes do município de São Mateus. O

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tratamento estatístico foi realizado através do Excel considerando os casos entre os anos de 2000 e 2010 que ocorreram no município.

A taxa de mortalidade materna é referente ao número de óbitos de mulheres devido às complicações da gravidez, parto e/ou puerpério, observados durante o período em análise, referido ao número de nascidos vivos ou nascimentos totais desse mesmo período. É habitualmente expressa em número de óbitos de mulheres nessas condições por 100 mil nascidos totais ou de crianças vivas, considerando gestantes e mulheres até 42 dias após o término da gestação. Essa taxa é calculada da seguinte maneira: (Número de óbitos de mulheres por complicações da gravidez, parto e puerpério) dividido pelo (Número de nascidos vivos nesse mesmo local e período estudado), cujo resultado deve ser multiplicado por 10.000. Resultados e Discussão

Observa-se no período de 2000 a 2010, oscilações nas taxas de mortalidade por afecções

originadas no período perinatal. No entanto, quando calculada a taxa neste período, evidencia-se 13,6 óbitos a cada 1000 nascimentos.

A taxa de mortalidade materna do município neste mesmo período de 11 anos foi de 50 a cada 100.000 nascimentos, apresentando-se também com oscilações, valor inferior ao indicador do Brasil que é de 75 mortes a cada 100.0000 nascidos vivos no ano de 2007 (Ministério da Saúde, 2010). Esse dado foi obtido através da soma das taxas encontradas em cada ano (558), seguida pela divisão pelo número total de anos (11), levando à obtenção da taxa de mortalidade materna no período estudado, conforme mostrado na Tabela 1.

Tabela 1- Taxa de mortalidade materna por ano no município de São Mateus/ES no período de 2000 a 2010

Ano do Óbito

Número de óbitos maternos Taxa de Mortalidade

2000 2 114,41

2001 1 58,14

2002 2 105,49

2003 1 53,73

2004 1 58,17

2005 1 52,08

2006 2 114,5

2007 0 0

2008 1 56,15

2009 0 0

2010 0 0

Fonte: DATASUS

Nesse mesmo período, foram contabilizados 18.675 nascidos vivos, dos quais 1.426 nasceram com baixo peso, o que representa cerca de 7,7% do total, número inferior aos estados do Rio de Janeiro (10,1%) (MELO & KNUPP, 2008) e de São Paulo (8,9%), quando comparados (CIARI & ALMEIDA, 2002).

Conclusão Observa-se, que apesar dos indicadores estudados apresentarem-se menores que o do Brasil, a

saúde da gestante merece mais atenção, para que essas taxas possam ser reduzidas, propiciando a saúde e qualidade de vida da mulher e criança ao longo da vida. Devem, ainda, ser incentivadas iniciativas de intervenção nutricional e avaliação das condições das gestantes, bem como a prevenção e conscientização dos fatores de risco, como o tabagismo e o alcoolismo. Além disso, projetos de planejamento, gestão, avaliação e ações de saúde voltadas para essa área, como atenção pré-natal, parto e proteção da saúde infantil, devem ser subsidiadas. Referências CIARI, C.; ALMEIDA, P.A.M. Análise do Coeficiente de Mortalidade Materna no Município de Osasco, São Paulo. Rev. Saúde Públ., v.6, p.237-244, 2002.

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DATASUS. Informações de Saúde. Estatísticas Vitais. Nascimento por residência da mãe por ano do nascimento segundo Município no Município de São Mateus de 2000 a 2009. Brasília: MS. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sinasc/cnv/nves.def>. Acesso em 15 jan. 2012. DATASUS. Indicadores demográficos. Taxa de Fecundidade Total – Ficha de Qualificação. Rede Interagencial de Informações para a Saúde. Brasília: MS. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2000/fqa05.htm>. Acesso 05 fev. 2012. DATASUS. Internações segundo capítulo do CID-10 no município por ano. Disponível em < http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sih/cnv/mres.def>. Acesso em 05 fev. 2012. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher: Fecundidade e Intenções Reprodutivas das Mulheres [dados da internet] Rio de Janeiro, 2001. Disponível em <http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/pesquisas/fecundidade.html>. Acesso em 29 fev. 2012. MELO, E.C.P.; KNUPP, V.M.A.O. Mortalidade Materna no Município do Rio de Janeiro: Magnitude e Distribuição. Esc. Anna Nery Enferm., v.12, n.4, p.773-779, 2008. MNISTÉRIO DA SAÚDE. Mortalidade Materna por complicações na gravidez, parto e puerpério cai 56%. Disponível em < http://portal.saude.gov.br/portal/aplicacoes/noticias/default.cfm?pg=dspDetalheNoticia&id_area=124&CO_NOTICIA=12003>. Acesso 05 març. 2012. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. CID-10: Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 2a edição. São Paulo: Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para classificação de Doenças em Português. EDUSP. 1997.

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CAPÍTULO 9

USO DE ANSIOLÍTICOS ENTRE AUXILIARES E TÉCNICOS DE ENFERMAGEM

EM HOSPITAL DO MUNICÍPIO DE ALEGRE-ES

Talita Scaramussa Gualandi Gardioli1, Fabiana Maria do Amaral Bravo de Paula2, Janete Aparecida da Silva3, Olavo dos Santos Pereira Junior4

1UFES/Mestranda em Ciências Veterinárias, [email protected]

2UFES/ Mestranda em Ciências Veterinárias, [email protected]

3Enfermeira da Casa de Caridade São José

4UFES/Professor orientador do mestrado em Ciências Veterinárias, [email protected]

Resumo – Foi realizado um estudo para verificar o uso de medicamentos ansiolíticos em especial a classe dos benzodiazepínicos, drogas depressoras do sistema nervoso central, por profissionais da área de saúde do hospital do município de Alegre, ES. Foram avaliados 15 profissionais, sendo estes auxiliares e técnicos de enfermagem, aos quais foram aplicados questionários com perguntas referentes ao uso de ansiolíticos, tempo de trabalho, frequência do uso desses medicamentos entre outras. Verificou-se que os profissionais que utilizam recursos para dormir são aqueles que trabalham no turno da noite. O ansiolítico utilizado foi o clonazepam e os profissionais passaram a utilizá-lo depois que começaram a trabalhar no horário noturno. Porém, o uso de ansiolíticos não foi acentuada, pois a maioria dos entrevistados trabalham em horário diurno. Palavras-chave: Ansiedade, Enfermagem, Ansiolíticos.

Área do Conhecimento: Medicamentos.

Introdução

A ansiedade não é caracterizada como uma doença, sendo uma emoção básica, necessária ao desempenho adequado do homem. Porém, pode atingir graus patológicos prejudicais ao ser humano, sendo necessária a intervenção terapêutica em alguns casos. Pode ser conceituada como tensão, apreensão, desconforto originado de perigo interno ou externo, podendo ser em resposta a estresse ou a estímulo ambiental (DUTRA; BARBOSA, 2009). Dentre os transtornos mentais, a ansiedade é a questão mais frequente encontrada na população e em atendimento médico primário. Sendo os episódios maiores na população ativa, interferindo na vida profissional e pessoal (SILVEIRA, 2002).

Profissionais da área da saúde tendem a apresentar níveis altos de ansiedade, pois lidam diretamente com o sofrimento humano, com o processo de morte do paciente, e também por lidarem com questões de divisão social do trabalho, como nas relações hierarquizadas, e pelas grandes jornadas de trabalho, existindo correlação entre as condições organizacionais e ambientais de trabalho e os níveis de ansiedade (BARROS et al., 2003). Além disso, esses profissionais trabalham por sistemas de turnos, o que acarreta, em muitos casos, uma redução da duração do sono e da qualidade do mesmo (FISCHER et al., 2002).

Os fármacos encontrados no mercado terapêutico não são curativos, eles apenas diminuem o quadro de desequilíbrio do paciente (SILVEIRA, 2002). Dentre os medicamentos usados para a ansiedade, os benzodiazepínicos (BZD) são o grupo de medicamentos mais utilizados, geralmente prescritos para serem administrados antes de dormir (RANGEL et al., 2011). Além da ação ansiolítica, são também sedativos, anticonvulsivantes e miorrelaxantes, utilizados no tratamento do medo, ansiedade, entre outros (OLIVEIRA; ALEIXO; RODRIGUES, 2010).

Os ansiolíticos são drogas psicotrópicas e podem causar dependência física e psicológica. Portanto, profissionais da área da saúde sob uso dessas substâncias, podem ter suas habilidades neurológicas, motoras e de humor prejudicadas, podendo elevar os riscos de acidentes de trabalho. Dessa forma, esse estudo teve como objetivo verificar o uso desses medicamentos pelos profissionais auxiliares e técnicos da área de enfermagem do hospital de Alegre, ES. Material e Métodos

A pesquisa foi realizada no Hospital Casa de Caridade São José no município de Alegre, ES, no período de 15 a 20 de julho de 2012, estudando o uso de ansiolíticos entre auxiliares e técnicos de enfermagem. Para o estudo, foi elaborado um termo de consentimento livre e esclarecido assinado antes da aplicação do questionário. Este apresentava perguntas sobre o local de trabalho; sexo;

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função desempenhada; horário que inicia o trabalho; tempo de trabalho no hospital; como é o sono em casa; o que precisa fazer para ter uma boa noite de sono em casa; qual ansiolítico que utilizam (se for o caso); qual a frequência do uso e desde quando utilizam essa medicação (se for o caso).

Resultados e Discussão

Dos 15 entrevistados, 1 (6,7%) é auxiliar de enfermagem e 14 (93,3%) são técnicos de enfermagem, sendo 13 (87%) do sexo feminino e 2 (13%) do sexo masculino. Sobre o horário que iniciam o trabalho, 6 (40%) são do turno noturno e 9 (60%) são do turno diurno. Com relação ao tempo de trabalho, no hospital, 5 (33,3%) tem no máximo quatro anos, enquanto que 8 (53,3%) tem até dez anos e 2 (13,3%) tem no máximo quinze anos de serviço.

Quanto à qualidade do sono em casa, 5 (33,3%) tem um sono excelente, 8 (53,3%) acordam uma vez a noite e 2 (13,3%) acordam mais de uma vez a noite, o que demonstra que esses profissionais não possuem um sono totalmente adequado. Para uma boa noite de sono, 11 (73,3%) dos entrevistados não precisam fazer nada, dormem fácil, 2 (13,3%) fazem uso de suco de maracujá, e 2 (13,3%) usam medicação para dormir melhor. Os profissionais que necessitam de algo para dormir são aqueles que trabalham no período da noite, e segundo Martino (2002), os indivíduos que trabalham a noite podem ter perturbações no seu ritmo biológico endógeno em função do tempo entre relógio biológico e esquema social imposto externamente. Quando questionados sobre qual ansiolítico de uso, os dois profissionais indicaram o uso do medicamento Rivotril (Clonazepam), sendo este um medicamento para a ansiedade, pertencente à classe dos BZD, que também é um relaxante muscular (FIRMINO et al., 2012).

Em relação a frequência de uso de ansiolíticos, um dos profissionais usa uma vez ao mês, e o outro usa uma vez por semana. Os dois profissionais passaram utilizar esta medicação depois que começaram a trabalhar no horário noturno, o que sugere a relação horária de trabalho e utilização do medicamento, para esses casos. Conclusão

Com base no estudo, observou-se que o uso de ansiolíticos, em especial o clonazepam, foi realizado por profissionais do turno noturno, mostrando haver uma alteração do sono, provavelmente ocasionada pela disfunção do ritmo do relógio biológico. Todos os entrevistados que utilizam ansiolíticos, fazem uso do medicamento clonazepam e passaram a utilizá-lo depois que começaram o trabalhar no horário noturno.

Embora o número de entrevistados que utilizam ansiolíticos não tenha sido muito acentuada, uma vez que a maioria dos entrevistados trabalham no horário diurno, vale ressaltar que o uso de ansiolíticos por profissionais da área da saúde podem trazer riscos de acidentes, já que esses medicamentos podem causar alterações neurológicas, motoras e de humor.

Referências BARROS, A.L.B.L. et al. Situações Geradoras de Ansiedade e estratégias para seu Controle entre Enfermeiras: Estudo Preliminar. Revista Latino Americana de Enfermagem. Ribeirão Preto, v. 11, n. 5, 2003. DUTRA, R.A.; BARBOSA, E. Uso de Medicamentos Ansiolíticos em Policiais Militares. REBESP. Goiânia, v.1, n. 2, p. 2-7, 2009. FIRMINO, K.F. et al. Utilização de Benzodiazepínicos no Serviço Municipal de Saúde de Coronel Fabriciano, Minas Gerais. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 17, n. 1, p. 157-166, 2012. FISCHER, F.M. et al. Percepção de Sono: duração, qualidade e alerta em profissionais da área de enfermagem. Caderno de Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 18, n. 5, p. 1261-1269, 2002. MARTINO, M.M.F. Estudo Camparativo de Padrões de Sono em Trabalhadores de Enfermagem dos Turnos Diurno e Noturno. Revista Panamericana de Salud Publica. Washigton, v.12, n.2, 2002. OLIVEIRA, M.C.; ALEIXO, R.Q.; RODRIGUES, M.T.V. Uso de Benzodiazepínicos em Cirurgia bucomaxilofacial. Saber Científico Odontológico. Porto Velho, v. 1, n. 1, p. 53-67, 2010. RANGEL, R.M.R. et al. Os Fármacos na Etiologia e Tratamento do Bruxismo. Revista Brasileira de Ciências da Saúde. Niterói, v.14, n. 4, p. 91-96, 2011.

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SILVEIRA, M.A.B. Ansiolíticos. In: SILVA, P. Farmacologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 319-322, 2002.

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CAPÍTULO 10

USUÁRIOS DA MEDICINA ALTERNATIVA ENTRE OS MORADORES DO MUNICÍPIO DE ALEGRE-ES

Cléber Ferreira Garcia¹, Izabel Soares André², Carlos Eduardo Faria Ferreira³

1Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre/Departamento de Farmácia, Rua Belo Amorin, n.

100, [email protected] 2Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre/Departamento de Farmácia, Rua Belo Amorin, n.

100, [email protected] 3Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre/Departamento de Farmácia, Rua Belo Amorin, n.

100, farmá[email protected] Resumo - O uso de medicamentos tem possibilitado a sociedade contemporânea um ganho em sua qualidade de vida, uma vez que atualmente existem diferentes alternativas quanto a métodos de tratamento, que podem se sustentar em uma medicina alternativa ou convencional. Este trabalho teve como objetivo descrever o perfil dos usuários da medicina alternativa entre os moradores do Município de Alegre-ES. Para isto foram entrevistados 100 habitantes do município durante o período de 20 a 25 de julho de 2012. Concluiu-se com este trabalho que 74% dos habitantes do município de Alegre preferem a medicina convencional a alternativa quanto ao tratamento médico, sendo a fitoterapia, com 78,58% o principal tipo de medicina alternativa utilizado. Palavras-chave: Medicina. Alopatia. Alternativa. Perfil. Alegre. Fitoterápico.

Área do Conhecimento: Saúde Pública.

Introdução

A busca por soluções médicas às enfermidades enfrentadas por homens e mulheres tem sido desenvolvida a milhares de anos atrás. A referência mais antiga que se tem conhecimento é o uso de plantas como tratamento fitoterápico, datado de mais de sessenta mil anos (REZENDO; COCCO, 2002).

Após a revolução industrial, o aprimoramento técnico da medicina destacou-se positivamente, principalmente através do surgimento de novos tratamentos, usando-se diferentes tipos medicamentos, favorecendo o combate às epidemias, a realização de diversas cirurgias, os transplantes, os exames de alcance avançado, entre outros recursos, contribuindo para melhorar a saúde de uma forma geral. Com o êxito obtido, a medicina convencional tem levado muitos médicos a prescreverem medicamentos com variados princípios ativos e diferentes graus de eficácia (LORENZI; MATTOS, 2002).

O uso de fitoterápicos tem crescido nos últimos anos, numa busca por parte dos pacientes, por medicamentos menos agressivos ao organismo humano. A ideia de que os fitoterápicos não agridem o corpo é antiga, utilizada principalmente pelos moradores de áreas interioranas que, não possuindo acesso de qualidade a médicos e remédios, retiravam da natureza sua medicação. Esta ideia também era compactuada pelos indígenas (FERREIRA, 1998).

O Município de Alegre está situado na região sul do Espírito Santo, na microrregião Caparaó, e possui localização geográfica de 20º45’48” de latitude Sul e 41º31’57” de longitude oeste, com altitude de 150 metros. Sua população é de 30.768 habitantes (IBGE, 2007). O objetivo deste artigo foi o de descrever os usuários da medicina alternativa entre os moradores do Município de Alegre-ES. Material e Métodos

Para estabelecer o perfil dos usuários da medicina alternativa em Alegre-ES, este estudo utilizou a pesquisa de campo, que de acordo com Vergara (2005) é investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-los.

Os sujeitos da pesquisa foram os moradores residentes na sede do município, obtendo-se os dados através de entrevista, sendo a coleta estabelecida através de um questionário do tipo estruturado, com perguntas fechadas e de múltipla escolha. Os dados foram coletados entre os dias 20 e 25 de julho de 2012 e foram entrevistadas 100 pessoas, que foram escolhidas aleatoriamente

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quanto ao sexo, idade, escolaridade e condição social. Os dados foram tabulados manualmente e os gráficos gerados através do software Excel. Resultados e Discussão

De acordo com a Figura 1 pode-se observar que dentre os moradores residentes em Alegre-ES, 74% destes fizeram uso da medicina convencional associada a medicina alternativa ou complementar. O valor observado é próximo do descrito por Brasil (2006) para a população mundial, que era de 80%.

Figura 1 – Preferencia sobre o tipo de medicina utilizada no tratamento médico.

Dentre os entrevistados, observa-se pela Figura 2 que 66% dos entrevistados avaliam-se

com nível de conhecimento suficiente para a escolha dos métodos convencional e alternativa quanto à forma de medicina utilizada. De acordo com Brasil (2006) a necessidade de aumentar o nível de conhecimento da população brasileira quanto ao tipo de medicina usado motivou o Ministério da Saúde a publicar o documento Política Nacional de Medicina Tradicional e Regulamentação de Medicamentos Fitoterápicos no ano de 2005.

Figura 2 – Nível de conhecimento quanto ao tipo de medicina utilizada no tratamento médico.

A Figura 3 mostra que, dentre as terapias existentes na medicina alternativa, a fitoterapia é a mais utilizada pela população alegrense (78,58%). De acordo com Guerra e Nodari (2003), desde a última década do século passado, o faturamento da indústria farmacêutica tem crescido enormemente com os medicamentos derivados de plantas.

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Figura 3 – Preferencia sobre o tipo de medicina alternativa utilizada no tratamento médico.

Conclusão

A presente pesquisa constatou que 74% dos habitantes pesquisados do município de Alegre tem preferencia à medicina convencional a alternativa quanto ao tratamento médico, sendo a fitoterapia, com 78,58% o principal tipo de medicina alternativa utilizado. As conclusões obtidas com este trabalho são de importância crucial no entendimento do uso de fitoterápicos, uma vez que norteia a assistência farmacêutica quanto ao perfil dos usuários destes produtos, podendo assim agir preventivamente quanto aos problemas que os mesmos podem causar.

Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. A fitoterapia no SUS e o Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais da Central de Medicamentos / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica. Brasília : Ministério da Saúde, 2006. FERREIRA, S. H. (Org.). Medicamentos a partir de plantas medicinais no Brasil. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 1998, 131 p GUERRA, P. M.; NODARI, O. R. Biodiversidade: aspectos biológicos, geográficos, legais e éticos. In: SIMÕES, C. M. O. (Org.) et al. Farmacognosia: da planta ao medicamento. 5. ed. rev. ampl. Porto Alegre: Editora da UFRGS; Florianópolis: Editora da UFSC, 2003. LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa-SP: Instituto Plantarum, 2002. 544 p. REZENDE, Helena Aparecida de; COCCO, Maria Inês Monteiro. A utilização de fitoterapia no cotidiano de uma população rural. Revista da Escola de Enfermagem da USP, n. 36, v.3, p.:282-8., 2002. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2005.

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CAPÍTULO 11

AVALIAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL DE RATOS EXPOSTOS

CRONICAMENTE À BAIXA DOSE DE ACETATO DE CHUMBO: EFEITO DO TRATAMENTO ANTI-HIPERTENSIVO COM HIDRALAZINA

Delfim RM 1, Pereira M 2, Siman FDM 3, Stefanon I 2,3,4, Vassallo DV 1,2,3,4, Silveira

EA3 1 Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia - EMESCAM, Vitória – ES

2 Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória – ES

3 Programa de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas, Universidade Federal do Espírito Santo

4 Departamento de Ciências Fisiológicas da Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória – ES

[email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected].

Resumo – Estudos prévios do nosso laboratório demonstraram que a exposição crônica à baixa dose de acetato de chumbo promove elevação da pressão arterial de ratos. No presente trabalho ratos wistar foram divididos em 4 grupos: Controle (Ct: salina im); Chumbo (Pb

2+; 1ª dose de acetato de

chumbo de 4 µg/100g e doses subsequentes de 0,55 µg/100g im por 30 dias); Hidralazina; Hidralazina + Pb

2+. A avaliação foi feita utilizando dois métodos, a pletismografia de cauda e a

cateterização da artéria carótida, para avaliar a pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD), pressão arterial média (PAM) e frequencia cardiaca (FC). Os dados encontrados mostram que a PAS se eleva a partir do 7° dia de exposição e ao fim dos 30 dias os parametros hemodinâmicos (PAS, PAD, PAM e FC) também se encontram alterados. O vasodilatador diminui o efeito hipertensor do chumbo, porem não o abole completamente, o que sugere uma via além dos efeitos diretos do metal para o desenvolvimento da hipertensão. Palavras-chave: Chumbo, Hipertensão, Hidralazina. Área do Conhecimento: Farmacologia e toxicologia

Introdução A hipertensão arterial (HA) representa um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renais, sendo que essas doenças atualmente são responsáveis por percentual significante de morbi-mortalidade em países industrializados (V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial). São vários os fatores que contribuem para a gênese e/ou manutenção da HA essencial dos quais se destacam as alterações nos parâmetros hemodinâmicos com modificações no débito cardíaco e resistência vascular periférica; alterações funcionais como aumento da atividade simpática e do sistema renina-angiotensina; resistência à insulina; a hereditariedade e a raça (Freis et al, 1973; Folkow, 1982; Harrap, 1994). Também se inclui a obesidade, o tabagismo, o sedentarismo e o alto consumo de sal (Bakris & Mensah, 2002). Vários fatores ambientais também têm papel importante na HA, dentre estes fatores destaca-se a exposição a metais pesados como o chumbo. Existem diversos estudos que indicam que a exposição ambiental a esse metal pode promover aumento na pressão arterial (Sharp, et al., 1987; Pocock, et al., 1984; Pirkle, et.al., 1985), alterações diretas na excitabilidade e na contratilidade cardíaca (Kopp, et al, 1988; Kopp & Báváry, 1980; Prentice & Kopp, 1985; Vassallo et al., 2008) e prejuízos vasculares, os quais refletem sobre a complacência e contratilidade do músculo liso vascular (Rosemblum, 1965; Piccinini, et al., 1977; Webb, et al., 1981; Tomera & Harakal, 1986; Marques et al., 2001; Courtois, et al., 2003; Silveira, et al., 2010; Fiorim et al., 2011) e ainda, comprometem o sistema nervoso central, alterando a regulação da pressão arterial (Stöfen, 1974; Hejtmancik & Williams, 1981). Achados recentemente publicados demonstram que a exposição ao chumbo resulta em alterações vasculares e na contratilidade miocárdica e promove aumento na pressão arterial de ratos (Vassallo et al., 2008; Silveira et al., 2010; Fiorim et al., 2011). Assim, investigamos se o co-tratamento com um anti-hipertensivo, hidralazina, é capaz de abolir o efeito hipertensor induzido pela exposição crônica ao acetato de chumbo.

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Material e Métodos

Ratos normotensos da linhagem wistar (Rattus novergicus albinus ), machos, com idade aproximada de 12 semanas, pesando entre 200-250 g foram divididos em quatro grupos: Controle (Ct: salina im); Chumbo (Pb

2+; 1ª dose de acetato de chumbo de 4 µg/100g e doses subsequentes de

0,55 µg/100g im por 30 dias); Hidralazina; Hidralazina + Pb2+

. A via de administração do chumbo e da salina foi intramuscular e a hidralazina foi diluída na água de beber. A pressão arterial sistólica (PAS) foi avaliada por meio da pletismografia caudal antes e durante o período de exposição. Após os trinta dias de exposição os ratos foram submetidos ao procedimento de cateterização da artéria carótida para medida direta dos parâmetros hemodinâmicos: pressão arterial sistólica (PAS); pressão arterial diastólica (PAD); pressão arterial média (PAM) e frequência cardíaca (FC). A medida desses parâmetros foi realizada 24 horas após o procedimento cirúrgico com os animais acordados. Resultados e Discussão A PAS no grupo Pb

2+ aumentou a partir do 7º dia de exposição mantendo-se elevada até o 28º (7º

dia: Pb2+

131 ± 4 mmHg vs Ct 109 ± 3 mmHg; 28ºdia: Pb2+

133 ± 4 mmHg vs Ct 112 ± 2 mmHg; Tabela 1.). A PAS no grupo Pb

2+Hidralazina apresentou-se reduzida a partir do 7º dia de exposição

mantendo-se reduzida até o 28º (7º dia: Pb2+

Hidralazina: 113 ± 2 mmHg vs Pb2+

133 ± 4 mmHg; 28ºdia: Pb

2+Hidralazina: 119 ± 4 mmHg vs Pb

2+133 ± 4 mmHg; Tabela 1). Nenhuma diferença foi

observada na PAS entre os grupos Hidralazina e Controle e nem entre os grupos Hidralazina e Pb

2+Hidralazina (Tabela 1). Os resultados relacionados aos parâmetros hemodinâmicos

apresentaram-se elevados no grupo Pb2+

quando comparado com o grupo controle (Tabela 2). Optou-se em não apresentar os dados hemodinâmicos relacionados aos grupos Hidralazina e Pb

2+Hidralazina pois ainda não há dados suficientes para análise estatística.

Figura 1 não existe

Tabela 1. Avaliação da Pressão Arterial Sistólica (PAS) dos grupos Controle, Pb2+

e

Pb2+

Hidralazina antes (tempo 0) e durante a exposição ao acetato de chumbo

PAS (mmHg)

Tempo (dias) Controle (n=6) Pb2+

(n=8) Pb2+

Hidralazina (n=6)

0 109,1 ± 3,3 118,9 ± 2,9 106,2 ± 2,0

7 109,0 ± 3,3 131,3 ± 4,6* 113,3 ± 2,1#

14 113,2 ± 3,0 126,1 ± 2,8 115,9 ± 2,9

21 111,4 ± 3,6 125,0 ± 3,6* 116,5 ± 4,4

28 111,9 ± 2,1 132,7 ± 4,0* 118,5 ± 4,4#

Valores da pressão arterial sistólica (PAS) obtidos por meio da pletismografia de cauda em ratos dos grupos Controle, Pb

2+ e Pb

2+Hidralazina durante quatro semanas. Os resultados estão expressos

como média ± EPM. ANOVA (duas vias): *P < 0,05 Controle vs Pb2+

; < 0, 05; # P < 0,05 Pb2+

vs Pb

2+ Hidralazina.

Tabela 2. Parâmetros basais da pressão arterial sistólica (PAS), pressão arterial diastólica (PAD) e da frequência cardíaca (FC) nos grupos Controle e Chumbo com ratos acordados.

Controle (n= 06) Chumbo (n= 06)

PAS (mmHg) 114 ± 1.30 120 ± 2.35*

PAD (mmHg) 82 ± 2.79 89,50 ± 1.52*

FC (bpm) 321 ± 11 391 ± 17*

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Parâmetros hemodinâmicos avaliados com os ratos acordados. Os resultados estão expressos em média ± EPM. Teste t não pareado: *P < 0,05 Controle vs Chumbo. Os resultados demonstraram que a exposição ao chumbo promove elevação arterial, corroborando com outros estudos (Vassallo et al., 2008; Silveira et al., 2010; Fiorim et al., 2011). Como já era de se esperar, o co-tratamento com a hidralazina, um vasodilatador, promoveu redução na PAS. Essa análise possibilitará investigar se os efeitos deletérios do chumbo observados na reatividade vascular e na contratilidade cardíaca podem ser atribuídos a um efeito direto do chumbo ou se são devido a elevação da pressão arterial. A análise dos parâmetros hemodinâmicos revelou pequena elevação desses parâmetros no grupo chumbo em relação ao grupo controle. Conclusão Este estudo demonstrou que a exposição crônica à baixa dose chumbo aumentou a PAS a partir do 7° dia de exposição e se manteve elevada até o final da exposição.. Entretanto, o efeito do chumbo em elevar a PAS foi reduzido no grupo Pb

2+hidralazina. Também foi observado aumento nos

parâmetros hemodinâmicos (PAS, PAD e FC) analisados com os animais acordados. A elevação da FC indica, provavelmente, a participação do sistema nervoso autonômico simpático nos efeitos provacados pelo chumbo em ratos expostos a esse metal. Agradecimentos Ao CNPq e à Bolsa PIBIC-EMESCAM que apoiaram o financiamento da pesquisa. Referências Bakris, GL; Mensah, GA. (2002). Pathogenesis and clinical physiology of hypertension. Cardiol Clin.; 20 (2): 195-206. Courtois, E; Marques, M; Barrientos, A; Casado, S; López-Farré , A. Lead-Induced Downregulation of Soluble Guanylate Cyclase in Isolated Rat Aortic Segments Mediated by Reactive Oxygen Species and Cyclooxygenase-2. Journal Americam Society Nephrology. 2003; 14: 1464 - 1470. Fiorim J, Ribeiro Junior RF, Silveira EA, Padilha AS, Vescovi MV, Jesus HC, Vassallo DV. Low-Level Lead Exposure Increases Systolic Arterial Pressure and Endothelium-Derived Vasodilator Factors in Rat Aortas. PLoS ONE. 2011; 6(2): e17117. doi:10.1371/journal.pone.0017117. Folkow, B. Physiological aspects of primary hypertension. (1982). Physiol Rev.; 62: 347-504.

Freis, ED. Age, race and sex and other indices of risk in hypertension. (1973). Am J Med.; 55: 275-280.

Harrap, SB. Hypertension: genes versus environment. (1994). Lancet; 344 (8916): 169-171. Hejtmancik, MR & Williams, BJ. Effects of chronic lead exposure on the direct and indirect components of the cardiac response to norepinephrine. Toxicol Appl Pharmacol. 1979; 51: 239 - 245. Kopp, JS; Barron, JT; Tow, JP. Cardiovascular Actions of Lead and Relationshiip to Hypertension: A Review. Environmental Health Perspectives.1988; 78: 91 - 99. Kopp, SJ & Báváry, M. Influence of isoproterenol and calcium on cadimium or lead-induced negative inotropy related to cardiac myofibrillar protein phosphorylations in perfused rat heart. Toxicol Appl Pharmacol. 1980; 55: 8 - 17. Marques, M; Millás, I; Jiménez, A; García-Colis, E; Rodriguez-Feo, J; Velasco, S; Barrientos, A; Casado, S; López-Farré, A. Alteration of the Soluble Guanylate Cyclase System in the Vascular Wall of Lead-Induced Hypertension in Rats. Journal Americam Society Nephrology. 2001; 12: 2594 - 2600.

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Piccinini, F; Favalli, L; Chiari, MC. Experimental investigations on the contraction induced by lead in arterial smooth muscle. Toxicology. 1977; 8: 43 - 51. Pirkle, JL; Schwartz, J; Landis, JR; Harlan, WR. The relationship between blood lead levels and blood pressure and its cardiovascular risk implications. Americam Journal Epidemiology. 1985; 121: 246 - 258. Pocock, SJ; Shaper, AG; Ashby, D; Delves, T; Whitehead, TP. Blood lead concentration, blood pressure and renal function. Br Med J. 1984; 289: 872 – 874. Prentice, RC & Koop, SJ. Cardiotoxicity of lead at variouns perfusale calcium concentrations: Functional and metabolic responses of the perfused rat heart. Toxicol. Appl. Pharmacol. 1985; 81: 491 - 501. Rosenblum, WI. Effects of lead and other cations on pial arteries of the mouse. Acta Neuropathol.1965; (5): 54 - 60. Sharp, DS; Becker, CE; Smith, AH. Chronic low-level lead exposure. Its role in the pathogenesis of hypertension. Med Toxicol.1987; 2: 210 - 232.

Silveira, EA; Lizardo, JH; Souza, LP; Stefanon, I; Vassallo, DV. Acute lead-induced vasoconstriction in the vascular beds of isolated perfused rat tails is endothelium dependent. Braz J Med Biol Res. 2010; 43(5): 492 - 499.

Stöfen, D. Environmental lead and the heart. J Mol Cell Cardiol. 1974; 6: 285 -290. Tomera, JF & Harakal, C. Mercury and lead-induced contraction of aortic smooth muscle in vitro. Arch. Int. Pharmacodyn. Ther. 1986; 283: 295 - 302. Vassallo, DV; Lebarch, EC; Moreira, CM; Wiggers, GA; Stefanon,I. Lead reduces tension development and the myosin ATPase activity of the rat right ventricular myocardium. Braz J Med Biol Res. 2008; 41 (x). Webb, RC; Winquist, RJ; Victery, W; Vander, AJ. In vivo and in vitro effects of lead on vascular reactivity in rats. American Journal Physiology. 1981; 241: H211 - H216.

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CAPÍTULO 12

CONDIÇÕES HIGIENICOSSANITÁRIAS DO PEROÁ (Balistes capriscus)

COMERCIALIZADO NO MERCADO MUNICIPAL DE GUARAPARI-ES

SILVA, A. S.¹; CAMPOS, I. F.²; PAULA, A. H.³

Graduanda em Nutrição – Universidade Federal do Espírito Santo, Campus Alegre, E-mail: [email protected].

Graduanda em Nutrição – Universidade Federal do Espírito Santo, Campus Alegre, E-mail: [email protected].

Professora do Curso de Nutrição da Universidade Federal do Espírito Santo, Campus Alegre, Departamento de Farmácia e Nutrição, E-mail: [email protected]. Resumo: Nos últimos anos tem crescido o interesse do público em relação à segurança alimentar por vários motivos, inclusive devido ao aumento do número de doenças transmitidas por alimentos. Este estudo avaliou as condições higienicossanitárias da comercialização do Peroá (Balistes capriscus) no Mercado Municipal de Guarapari-ES, através da aplicação de uma lista de verificação, com base na RDC nº 275 de 2002 e RDC n°216 de 2004, da ANVISA. Verificou-se que o Mercado apresentou 29% dos itens adequados, sendo classificado como de baixa adequação. O Mercado Municipal de Pescado avaliado apresentou várias irregularidades, logo este precisa se adequar aos aspectos analisados para que estes erros possam ser corrigidos, gerando um alimento com padrões satisfatórios à saúde do consumidor. Palavras chave: Pescado, Lista de Verificação, Alimentos. Áreas de Conhecimento: Alimentos. Introdução

Os mercados públicos são estabelecimentos abertos, que reúnem um grande número de pessoas que consomem diversos alimentos e preparações. Muitas vezes, as condições higienicossanitárias desses mercados se distanciam do padrão ideal para a comercialização de alimentos. Devido às técnicas de higiene inadequadas realizadas no processo de manipulação, os alimentos podem se tornar uma ameaça à saúde do consumidor (SOUZA, 2006).

Por serem altamente perecíveis, os pescados exigem cuidados especiais desde a captura até a comercialização, pois as deficientes práticas de manuseio nas etapas da cadeia produtiva desse gênero podem vir a causar consequências graves à saúde das pessoas que irão consumir tais produtos (TOMITA et al., 2006).

O peixe Balistes capriscus é bastante comum nas costas do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, onde a pesca nestes locais é mais intensa (BERNARDES, 1988; CASTRO, 1998; CASTRO, 2000; CASTRO et al., 2005).Este peixe de água salgada é muito comercializado, principalmente nas regiões praieiras, devido ao apreciado sabor de sua carne e o seu preço acessível.

Por fim, essa pesquisa proporcionou à população de Guarapari conhecer as condições higiênicossanitárias, por meio de uma lista de verificação, com base na RDC nº 275 de 2002 e RDC n°216 de 2004, da ANVISA, em que se encontrava o Peroá no Mercado Municipal da cidade. A Vigilância Sanitária foi informada da situação que se encontra o pescado, já que este é um órgão de fiscalização.

Material e Métodos

A pesquisa foi conduzida no Mercado Municipal de Pescados, situado na cidade de Guarapari, ES. A avaliação foi feita em 12 pontos de venda, ou bancas, de comercialização de Peroá (Balistes capriscus), onde foram acompanhados desde o local em que este é armazenado após a captura, até o balcão onde será comercializado no Mercado Municipal de

Guarapari. No mês de junho de 2012 foi realizada a coleta de dados, precisamente nos dias 13

(quarta feira) e 23 de junho (sábado). O trabalho consistiu na aplicação de uma Lista de Verificação, que consta 52 perguntas adaptada

conforme as Resoluções da Diretoria Colegiada (RDC) n° 216 de 2004 e n° 275 (2002) para a

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avaliação das condições higienicossanitárias do local. Esse material foi elaborado contemplando três grupos de observação quanto às condições higienicossanitárias do Mercado Municipal de Guarapari, onde foram analisadas: Identificação da Empresa (local), Higiene Pessoal; Higiene do Ambiente e Área Física (Área externa e interna); Equipamentos, Móveis e Utensílios; Higiene, manipulação e armazenamento dos alimentos e classificação do estabelecimento.

As opções de resposta da lista de verificação foram: “Conforme”, quando a banca atender o recomendado pelas legislações e “Não Conforme”, quando a banca não atender o recomendado pelas legislações. Foi utilizada a seguinte equação para classificação do estabelecimento quanto ao atendimento às boas práticas: Índice de Atendimento (%)= Total de Conforme/Total de Itens x 100

Para a classificação das bancas do Mercado Público de Guarapari, ES, foram utilizados três intervalos: BOM: de 76 a 100% de atendimento dos quesitos; REGULAR: de 51 a 75 % de atendimento dos quesitos e RUIM: de 0 a 50% de atendimento dos quesitos (BRASIL, 2002).

O presente estudo só teve início após a autorização expressa do (a) responsável de cada banca que irá participar da pesquisa. Foram excluídos do estudo os participantes que não concordaram em assinar o termo de autorização.

Resultados e Discussão

A Figura 1 fornece a média da Distribuição do percentual de adequação e inadequação das 12

bancas, verificadas através da lista de verificação no Mercado Municipal de Guarapari/ES-2012. De acordo com a Resolução RDC nº 275 de 2002, foi classificado como de baixa adequação, pois possui porcentagem inferior a 50 % de atendimento dos itens avaliados.

Sobre a Higiene Pessoal pôde-se constatar que ao decorrer da pesquisa foram observados que os manipuladores de alimentos fumavam, espirravam, tossiam enquanto estes manipulavam o pescado. É indispensável ter-se uma higiene adequada por parte dos manipuladores, considerando que, segundo a Organização Mundial da Saúde, 70% das doenças veiculadas por alimentos, são causadas por manipulação inadequada dos mesmos (GALVÃO, 2010).

Já no item Higiene do Ambiente e Área Física, notou-se uma série de inadequações dentre elas o estado de conservação das paredes. Os azulejos que revestiam as paredes se encontravam bastante danificados, dificultando a higiene e a limpeza do local, o que provavelmente iria favorecer o acúmulo de sujidades e servirem de abrigo para algumas pragas urbanas. Todos esses fatores citados agravam a possibilidade de contaminantes entrarem emcontato com o alimento. Segundo Pistore e Gelinskib (2006), a adequação da área física e das condições de trabalho dos manipuladores constitui importante requisito para a realização das boas práticas e, consequentemente, obtenção de qualidade higienicossanitária aos alimentos a serem servidos. Quanto ao abastecimento de água, todas as bancas encontravam-se em conformidade com a RDC nº. 216, haja vista que ela determina que todos os estabelecimentos devessem ser abastecidos com água corrente (BRASIL, 2004).

Em relação ao grupo Equipamentos, Móveis e Utensílios avaliados, houve prevalência de Não conformidades, isso se deve principalmente ao mau estado de conservação que os equipamentos se apresentavam. Segundo CHESCA e col. (2003), as falhas nos procedimentos de higienização de equipamentos e utensílios permitem que os resíduos aderidos aos equipamentos e superfícies se transformem em potencial fonte de contaminação cruzada. Neste item os resultados demonstraram que apesar das superfícies dos equipamentos serem de fácil higienização, estes se encontravam em inadequado estado de conservação, porém a higienização destes é feita diariamente conforme o que foi dito pelos manipuladores.

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Referente ao item Higiene, Manipulação e armazenamento do Pescado, este grupo demonstrava-se alguns itens fora dos padrões recomendados pela legislação, pois o mesmo se encontrava em caixas de isopor e empilhados uns sobre os outros. Quando expostos, estes eram mantidos sob uma fina camada de gelo. Para ROCHA e SANTANA (2007), os pescados devem ser comercializados em local limpo, em balcões com condições ideais de temperatura,

sem interrupção da cadeia de frio, as características apresentadas pelos autores não corroboram com as situações apresentadas na pesquisa. Conclusão

O Mercado Municipal de Pescado avaliado apresentou várias irregularidades, logo este precisa se adequar aos aspectos analisados para que estes erros possam ser corrigidos, gerando um alimento com padrões satisfatórios à saúde do consumidor. É evidente a necessidade da realização de treinamentos periódicos, visando à segurança alimentar, com a aplicação das Boas Práticas de Manipulação, com intuito de promover alimentos inócuos, conscientizando os manipuladores de seu papel na prevenção de Doenças Transmitidas por Alimentos. Agradecimentos

Agradecimento especial à orientadora Adriana Hocayen de Paula, pela dedicação durante a

concretização deste trabalho, pela sua amizade, paciência, orientação, pela oportunidade de conhecimento e crescimento profissional e a todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram para a realização dessa pesquisa.

Referências BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Resolução RDC n° 216 de 15 de setembro de 2004. CASTRO, L.A.B. 1998.Aplicação do Modelo “bean 4” à pesca de parelhas no Sudeste do Brasil (23º S a 29ºS). São Paulo. 115p. (Tese de Doutorado, Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo). CASTRO, P.M.G. de 2000 Estrutura e dinâmica da frota de parelhas do Estado de São Paulo e aspectos biológicos dos principais recursos pesqueiros demersais costeiros da região sudeste/sul do Brasil (23º - 29ºS). São Paulo. 261p. (Tese de Doutorado, Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo) CASTRO, P.M.G. de; BERNADES, R.A.; CARNEIRO, M.H.; SERVO, G.J. de M. 2005 Balistes capriscus. In: CERGOLE, M.C; ÁVILADA-SILVA, A.O.; ROSSIWONGTSCHOWSKI, C.L.D.B. 2005: Análise das principais pescarias comerciais da região Sudeste-Sul do Brasil: dinâmica populacional das espécies em explotação. São Paulo:Instituto Oceanográfico-USP (Série documentos Revizee; Score Sul). CHESCA, A. C.; MOREIRA, P. A.; ANDRADE, S. C. B. J.de; MARTINELLI, T. M. Equipamentos e utensílios de unidades de alimentação e nutrição: um risco constante de contaminação das refeições. Revista Higiene Alimentar, v.17, nº 114/115, p.20-23, nov/dez 2003. GALVÂO, J. A. Boas Práticas de Fabricação. Da despesca ao beneficiamento do pescado. Disponível em ftp://ftp.sp.gov.br/ftppesca/IIsimcope//.pdf Acesso em maio de 2012. PISTORE, A. R.; GELINSKIB, J. M. L. N. Avaliação dos conhecimentos higiênico sanitários dos manipuladores de merenda escolar: fundamento para treinamento contínuo e adequado. Revista Higiene Alimentar, São Paulo. v. 20, n. 146, p. 17-20, 2006. RICHARDS, N. S. P. S. Segurança Alimentar: como prevenir contaminações na indústria. Revista Food Ingradients, nº 18,p.16-30, mai/jun 2002. ROCHA, F. M. P. da; SANTANA, A. P.Verificação e caracterização da distribuição e comercialização do pescado no Distrito Federal. Curso de especialização e, Tecnologia dos Alimentos, Universidade de Brasília, 2007.

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CAPÍTULO 13

PARASITOSES INTESTINAIS EM CORTADORES DE CANA-DE-AÇÚCAR EM CONCEIÇÃO DA BARRA, ESPÍRITO SANTO, BRASIL

Renan Florindo Amorim1, Janaina dos Santos Maciel1, Fabiana Mendonça

Ambrozim1, Clarissa Pereira de Almeida1, Guilherme Pinho do Prado1, Vanessa Ghidetti Alvarenga Telles1, Aparecida Rios Soares1, Marco Antônio Andrade de

Souza1

1 - CEUNES/UFES/Departamento de Ciências da Saúde, São Mateus, Espírito Santo, Brasil, e-mail:

[email protected], [email protected] Resumo – A ocupação profissional de um indivíduo pode aumentar sua exposição aos agentes patogênicos, principalmente quando há desconhecimento dos princípios básicos de higiene e intenso contato com o solo, tal como ocorre rotineiramente com os cortadores de cana-de-açúcar. Esta pesquisa objetivou conhecer o padrão epidemiológico, por meio de um inquérito coproparasitológico, dos trabalhadores que migram do nordeste país para Conceição da Barra, Norte do Espírito Santo. Para a determinação dos parasitos intestinais foram utilizadas as técnicas de Sedimentação Espontânea (HPJ) e Kato-katz. Dos 287 indivíduos analisados, 209 (72,82%) estavam contaminados. Os protozoários mais frequentes foram Entamoeba coli (41,11%), Entamoeba histolytica/ E. dispar (29,62%) e Giardia lamblia (6,62%). Em relação aos helmintos, os mais frequentes foram Schistosoma mansoni (15,68%), Ancilostomídeo (15,33%) e Ascaris lumbricoides (7,32%). Diante desses resultados, recomenda-se a implementação de medidas de controle e profilaxia, tais como a melhoria das condições de saneamento básico, o fornecimento de educação em saúde e tratamento dos doentes. Palavras-chave: Protozoários. Geo-helmintos. Cana-de-açúcar. Migração. Espírito Santo. Área do Conhecimento: Análises Clínicas.

Introdução

As doenças parasitárias causadas por helmintos e protozoários são as principais causas de enfermidade e miséria humana na maioria dos países tropicais (WHO, 2012). Deste modo, o índice de infecções por parasitos e/ou comensais intestinais são importantes indicadores das condições de saneamento de uma dada comunidade (COSTA-MACEDO et al., 1998).

Deve-se considerar que aspectos como responsabilidade social e cuidados com o ambiente peridomiciliar (GOMES et al., 2010), aliados ao conhecimento sobre a cultura e o comportamento humano são essenciais no estudo e controle das doenças infecciosas, notadamente as parasitoses intestinais (PATZ et al., 2000).

Neste contexto, a ocupação profissional de um indivíduo pode aumentar sua exposição aos agentes patogênicos, principalmente quando há desconhecimento dos princípios básicos de higiene e o intenso contato com o solo (BENCKE et al., 2006), tal como ocorre rotineiramente com os cortadores de cana-de-açúcar.

Diante do exposto, analisando a realidade desses trabalhadores que migram da região nordeste do Brasil para Conceição da Barra, Norte do Espírito Santo, esta pesquisa propôs um inquérito coproparasitológico a fim de se obter um diagnóstico sobre o padrão epidemiológico dessa população migrante. Material e Métodos

O estudo descritivo foi realizado em trabalhadores de uma usina de álcool de Conceição da Barra, Norte do Espírito Santo no segundo semestre de 2011.

Inicialmente, foi realizada uma reunião com o médico e enfermeiro geral da Usina para exposição do projeto. Uma vez delineado o estudo, planejaram-se as coletas: os recipientes coletores foram entregues no início de cada semana e as amostras recolhidas pelos trabalhadores foram encaminhadas à chefia dos alojamentos sempre às quintas-feiras.

Foram analisadas amostras de fezes de 287 cortadores de cana-de-açúcar no norte do Espírito Santo, através dos métodos de Sedimentação Espontânea (HOFFMANN et al., 1939) e de Kato-katz

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(KATZ et al., 1972). As amostras coletadas foram encaminhadas ao Laboratório de Análises Clínicas do Centro Universitário Norte do Espírito Santo (CEUNES/UFES), em caixa de isopor, e conservadas até seu processamento. Ressalta-se que todos os trabalhadores do estudo eram homens, com idade mínima de 18 e máxima de 59 anos e provenientes no nordeste brasileiro. Portanto, migram para Conceição da Barra durante a safra da cana-de-açúcar. Resultados e Discussão

De um total de 287 amostras analisadas, 209 (72,82%) estavam positivas por pelo menos um enteroparasito (Figura 1). Este resultado é semelhante aos encontrados no nordeste do Brasil, como os descritos em Neópolis-SE, Natal-RN e Salvador-BA (85% e 84,9% e 94,0%, respectivamente)(PEREIRA; SANTOS, 2005; SATURNINO et al., 2005; SEIXAS et al., 2011;).

Figura 1 – Ocorrência de enteroparasitos em trabalhadores do corte de cana-de-açúcar. Conceição da Barra,

ES.

Entre os protozoários, os mais frequentes foram Entamoeba coli, Entamoeba histolytica/ E. dispar e Giardia lamblia, com 41,11%, 29,62% e 6,62% de incidência, respectivamente (Tabela 1). Tabela 1 – Frequência de protozoários em cortadores de cana-de-açúcar em Conceição da Barra, Espírito Santo, Brasil.

Protozoários Frequência n(%)

Entamoeba coli 118 (41,11)

Entamoeba histolytica/ E. dispar 85 (29,62)

Giardia lamblia 19 (6,62)

Iodamoeba butschlii 8 (2,79)

Endolimax nana 6 (2,09)

A elevada frequência de indivíduos infectados por E. histolytica/ E. dispar é preocupante, haja vista que o diagnóstico diferencial entre essas duas amebas é difícil e a amebíase extra-intestinal, provocada pela E. histolytica, pode causar sérios problemas à saúde do indivíduo parasitado. De forma semelhante Seixas et al. (2011) encontraram resultados similares em estudos realizados em Salvador-BA. Quanto a G. lamblia, sua baixa prevalência também foi verificada por Santos et al. (2007). Isto pode ser explicado pela resistência imune adquirida através de contatos sucessivos com o protozoário (MACHADO et al., 1999). Contudo, deve-se ressaltar que o índice de infecção por G. lamblia pode estar subestimado, uma vez que a eliminação de cistos nas fezes é intermitente (GOMES, 2010), e só foi possível examinar uma amostra de fezes de cada trabalhador.

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Em relação aos helmintos, verificou-se que os mais frequentes foram Schistosoma mansoni (15,68%), Ancilostomídeo (15,33%), seguidos de Ascaris lumbricoides (7,32%)(Tabela 2).

Tabela 2 – Frequência de helmintos em cortadores de cana-de-açúcar em Conceição da Barra, Espírito Santo, Brasil.

Helmintos Frequência n(%)

Schistosoma mansoni 45(15,68)

Ancilostomídeo 44(15,33)

Ascaris lumbricoides 21(7,32)

Trichuris trichiura 9(3,14)

Hymenolepis nana 8(2,79)

Enterobius vermicularis 3(1,04)

No Brasil são comuns, principalmente nas zonas rurais pobres, condições favoráveis às

coinfecções entre S. mansoni e nematóides intestinais, tais como o Ancilostomídeo (ROLLEMBERG et al., 2011). Além disso, a alta taxa de esquistossomose pode ser relacionada ao fato de que a maioria dos trabalhadores do presente estudo eram provenientes de Alagoas, estado, que de acordo com dados do Programa de Controle da Esquistossomose nos últimos 12 anos, apresentou 10,13% da população albergando o parasito S. mansoni (BRASIL, 2012). Isto demonstra a importância da migração de centenas de indivíduos dessa região, em busca de trabalho no estado do Espírito Santo, como um fator para a formação de focos de infecção do parasito. Conclusão

As análises das amostras evidenciaram que as infecções parasitárias refletem a condição de vida precária a que estão sujeitos os cortadores de cana-de-açúcar. Nesse sentido, o inquérito parasitológico proposto torna-se uma ferramenta fundamental para a avaliação epidemiológica dessa população migrante. Assim sendo, é necessário que se destinem recursos financeiros, pelos órgãos governamentais, no intuito de reduzir as desigualdades no acesso à saúde. Diante disto, recomenda-se a implementação de medidas de controle e profilaxia, direcionadas tanto à população de Conceição da Barra, como aos trabalhadores em seu local de origem, tais como a melhoria das condições de saneamento básico, o fornecimento de educação em saúde e tratamento dos doentes. Referências BENCKE, A.; ARTUSO, G. L.; REIS, R. S.; BARBIERI, N. L.; ROTT, M. B. Enteroparasitoses em escolares residentes na periferia de Porto Alegre, RS, Brasil. Rev. Pat. Trop., v.35, n.1, p.31-36, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de Controle da Esquistossomose. Disponível em: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinan/pce/cnv/pce.def.>. Acesso em: 11 mar. 2012. COSTA-MACEDO, L. M.; MACHADO-SILVA, J. R.; SILVA, R. R.; OLIVEIRA, L. M.; VIANA, M. S. R. Enteroparasitoses em pré-escolares de comunidades favelizadas da cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Púb., v.14, n.4, p.109-113, 1998. GOMES, P. D. M. F.; NUNES, V. L. B.; KNECHTEL, D. S.; BRILHANTE, A. F. Enteroparasitos em escolares do Distrito Águas Miranda, município de Bonito, Mato Grosso do Sul. Rev. Pat. Trop., v.39, n.4, p.299-307, 2010. HOFFMANN, W. A.; PONS, J. A.; JANER, J. L. The sedimentation concentration method. In Schistosoma mansoni. Jour. Pub. Health Trop. Med., v.9, p. 281-298, 1939. KATZ, N.; CHAVES, A.; PELLEGRINO, J. A simple device for quantitative stool thick-smear technique in shistosomiasis control. Rev. Inst. Med. Trop. de São Paulo, v.14, n.6, p.397-402, 1972.

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CAPÍTULO 14

AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE DO EXTRATO BRUTO E FRAÇÕES DAS FOLHAS DE PIPER ANGUSTIFOLIUM FRENTE AO TESTE DE ARTEMIA SALINA

Philipe Dias De Avila Lima 1, Juliana Pereira Lage da Silveira 2, Ivanildes

Vaconcelos Rodrigues3, Dênia Antunes Saúde Guimarães4, Gustavo Henrique Bianco de Souza5

1 Universidade Federal de Ouro Preto/Escola de Farmácia-DEFAR, [email protected]

2 Universidade Federal de Ouro Preto/Escola de Farmácia-DEFAR, [email protected]

3 Universidade Federal de Ouro Preto/Escola de Farmácia-DEFAR, [email protected]

4 Universidade Federal de Ouro Preto/Escola de Farmácia-DEFAR, saú[email protected]

5 Universidade Federal de Ouro Preto/Escola de Farmácia-DEFAR, [email protected]

Resumo - A família Piperaceae compreende cinco gêneros e cerca de 1400 espécies e destacam por apresentarem várias atividades biológicas. A espécie Piper angustifolium Lam, conhecida popularmente de matico ou falso-jaborandi, é umas das espécies bastante utilizadas na medicina popular. O teste biológico com Artemia salina é amplamente conhecido como indicador de toxicidade em bioensaio que utiliza a DL50 (Dose Letal para 50 % dos indivíduos expressa em µg.mL

-1) como

parâmetro de avaliação da atividade biológica, apresentando uma correlação com ensaios de citotoxidade. Neste sentido, este projeto propôs avaliar a toxicidade de P. angustifolium frente ao teste com A. salina. As amostra e as artemias foram colocadas em um béquer, sob iluminação, e as larvas mortas foram contadas após 24 horas. Observou-se que o EMB (Extrato metanólico bruto) e a fração AcOEt apresentaram boa atividade, com DL50 igual a 98,2361 e 151,9146 µg.mL

-1,

respectivamente. As frações DCM e HEX foram ativos nas concentrações testadas, matando todas as artemias presentes. Já a fração MeOH foi inativa em todas as concentrações testadas.O EMB e as demais frações testadas possuem alto potencial citotóxico. Palavras-chave: Piper angustifolium; Citotoxicidade; Artemia salina; Área do Conhecimento: Toxicologia Introdução

A espécie P. angustifolium Lam, conhecida popularmente de matico ou falso-jaborandi, possui diversas atividades farmacológicas descritas na literatura. O uso tradicional de preparações de folhas dessa espécie é freqüente na Guatemala para o tratamento de doenças sexualmente transmissíveis, como a gonorréia, causada pela Neisseria gonorrhoeae (Cáceres et. al., 1995).

Além disso, pesquisas realizadas mostraram que cromonas isoladas de P. angustifolium Lam. possuem potente atividade anti-câncer. A atividade antifúngica também foi avaliada, e atribuída à essa espécie que apresentou atividade moderada contra Candida albicans, tendo grande importância no tratamento alternativo de doenças oportunistas recorrentes na AIDS (Baldoqui et al, 1998; Braga, 2006). Existem ainda muitas outras atividades atribuídas a esta espécie tais como, diurético, tripanossomicida, leishmanicida, tratamento da diarréia, disenteria, dermatoses, queimaduras homeostase, adstringente e como anti-séptico no processo de cicatrização de feridas. (Braga et. al., 2006; Kloucek et. al., 2005; Dévéhat et. al., 2002).

O teste biológico com Artemia salina é amplamente conhecido como indicador de toxicidade em bioensaio que utiliza a DL50 (dose letal para 50% dos indivíduos) como parâmetro de avaliação da atividade biológica. Este bioensaio detecta um amplo espectro de atividades biológicas e apresenta uma correlação com ensaios de citotoxidade e atividade antitumoral. Este teste vem crescendo consideravelmente como método alternativo para o uso de animais de laboratório tendo um custo da implantação e manutenção da cultura de A. salina muito baixa.

Diante de seu frequente uso popular resultou a proposta de se avaliar a toxicidade da espécie P. angustifolium Lam., utilizando-se o teste com o microcrustáceo, A. salina. Material e Métodos

O material vegetal utilizado (folhas) foi coletado na cidade de Ouro Preto-MG, nas dependências da Escola de Farmácia – UFOP. As exsicatas foram confeccionadas e depositadas no Herbário Professor José Baldini no Laboratório de Botânica – ICEB/UFOP (voucher 9.528).

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As folhas foram secas em estufa de ar circulante, com temperatura controlada e não superior a 45 ºC. Depois de secas elas foram trituradas em moinho de facas, até o estado de pó fino.

A droga vegetal obtida foi dividida em duas porções. A primeira porção foi extraída exaustivamente com metanol em aparelho de Soxhlet (extrato metanólico bruto-EMB). A segunda porção também, utilizando-se o Soxhlet, foi extraída sequencialmente com solventes de grau crescente de polaridade[hexano (HEX), diclorometano (DCM), acetato de etila (AcOEt) e metanol (MeOH)], com a finalidade de separar substâncias de diferentes características polares. Esse procedimento foi realizado até quase esgotamento total da droga vegetal, ou seja, até observar a claridade do solvente extrator (baixa concentração de extrativos).

Após a etapa de extração, os solventes foram eliminados em evaporador rotativo sob pressão reduzida a temperatura não superior a 55 ºC. Na sequencia, os extratos obtidos foram submetidos ao teste de toxicidade em Artemia salina.

As etapas de extração são apresentadas na figura abaixo (figura 1):

Figura 1. Etapas do desenvolvimento da obtenção dos extratos. O teste de toxicidade em Artemia salina foi realizado da seguinte forma:

Os ovos de Artemia salina foram colocados para eclodir em solução salina, por 48 horas, com aeração constante e exposição à luz artificial (lâmpada incandescente de 60 W). Os extratos e frações foram dissolvidos em 5% (v/v) de DMSO. Foram preparadas cinco diferentes soluções nas concentrações finais de 100, 250, 375, 500 e 600 µg.mL

-1. A seguir, foram adicionadas 10 larvas de

Artemia salina em cada béquer e o volume foi completado para 5 mL com solução salina. Foram preparadas soluções do controle positivo, lapachol, nas concentrações de 10, 25, 50, 100 e 150 µg.mL

-1, que foram submetidas às mesmas condições das amostras ensaiadas. Foram também

preparadas soluções de controle negativo em béquers contendo apenas solução salina, 5% (v/v) DMSO e larvas de Artemia salina, nas mesmas condições. Os béquers, com a amostra e as artemias, foram mantidos sob iluminação e, as larvas mortas foram contadas após 24 horas. Todas as concentrações foram preparadas em triplicata. Resultados e Discussão

O cálculo da DL50 foi realizado utilizando-se o programa PROBITOS e obtiveram-se os seguintes resultados:

- O extrato metanólico bruto (EMB) apresentou boa atividade e DL50 = 98,2361 µg.mL-1

- O extrato AcOEt foi ativo apresentando DL50 = 151,9146 µg.mL

-1.

- Os extratos DCM e HEX foram ativos em todas as concentrações testadas (menor concentração testada = 100 µg.mL

-1. Todas as artemias usadas nos testes com estes extratos morreram,

mostrando a alta citotoxicidade destes extratos. - A fração metanólica (MeOH) foi inativo em todas as concentrações testadas.

Tabela 1. Toxicidade dos extratos de Piper angustifolium Lam. e Lapachol frente à Artemia salina

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a Dose Letal para metade da população avaliada

Frações de caráter apolar de extratos brutos vegetais são constituídas de metabólitos secundários como terpenos, fenilpropanóides e seus derivados, dentre outros. Alguns metabólitos secundários dessas classes apresentam alta capacidade de interação com receptores de membrana de organismos, nos quais podem alterar mecanismos fisiológicos, podendo levar esse organismo à morte. Caracterizando assim aquela fração, extrato ou planta frente à atividade biológica em investigação.

Paralelamente a isso, essas moléculas altamente de caráter mais apolar podem se apresentar nas formas ionizadas e não ionizadas, dependendo da variação e mudanças no pH do meio e do compartimento do organismo em que se encontram; com isso podem ser melhor absorvidas e assim, exercerem mudanças fisiológicas no organismo.

Diversas pesquisas tentam correlacionar resultados do teste de toxicidade sobre Artemia salina com atividades biológicas como citotóxica, antifúngica, antimicrobiana, tripanossomicida (Siqueira et. al., 1998), entre outras. McLaughlin e colaboradores (1993) têm utilizado sistematicamente este bioensaio como indicador na avaliação prévia de extratos de plantas conhecidas como antitumorais.

Segundo Dolabela 1997, podemos utilizar os critérios de classificação de toxicidade dos extratos frente a Artemia salina da seguinte forma: amostras altamente tóxicas são quando DL50 < 80, moderadamente tóxicas quando 80 < DL50 < 250 e de baixa toxidade quando DL50 > 250.

Desta forma, o extrato bruto e as frações Hex, DCM e AcOEt exibem toxicidade moderada, e a fração metanólica não apresenta toxicidade. Sendo assim, a fração AcOEt tem toxicidade menor que as frações DCM e HEX e estas, por sua vez, são menos tóxicas que EMB, mas todas essas frações possuem grande poder de citotoxicidade.

Em levantamento realizado na literatura, espécies vegetais do gênero Piper apresentam em sua constituição química substâncias das classes como lignanas, terpenos e fenilpropanóides em suas frações apolares. Neste sentido, as frações apolares de P. angustifolium, podem apresentar constiuíntes químicos semelhantes aos citados anteriormente, podem ser considerados marcadores químicos desse gênero. Conclusão

Baseado nestes resultados observa-se citotoxicidade na maioria das frações, menos na fração metanólica (MeOH). O que indica que as substâncias com esta atividade estão presentes em frações de polaridade baixa até média alta. Em conjunto com dados da literatura, esses resultados mostram grande potencial de uso terapêutico dessa espécie vegetal, sem, no entanto, descartar possibilidade de efeitos indesejáveis em casos de uso indevido ou superdosagemSubmeta seu artigo respeitando a data limite para tal, que será rigorosamente respeitada. Referências Baldoqui, D. C.; Kato, M. J.; Cavaleiro, A. J.; Bolzani, V. S.; Young, M. C.; Furlan, M. A chromene and prenylated benzoic acid from Piper aduncum. Phytochemistry.51. 899-902.1999. Bastos, J.K.; Albuquerque, S. & Andrade E Silva, M.L. Evaluation of the Trupanocidal activity of lignans isolated from the leaves of Zanthoxylum naranjillo Planta Medica, Stuttgart, Germany, v. 65, p. 1-4,1999.

Extrato DL50 a µg.mL

-1

EMB 98,2361

HEX 108,4931

DCM 115,8572

AcOEt 151,9146

MeOH Sem atividade

Lapachol 52,4785

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1993, p. 112-137 Parra, A. L.; Yhebra, R. S.; Sardiñas, I. G.; Buela L. I. Comparative study of the assay of Artemia salina L.and the estimate of the medium lethal dose (LD50 value) in mice, to determine oral acute toxicity of plant extracts. Phytomedicine. 8(5), 395–400, 2001. Silva, J. K. R.; Silva, N. N. S.; Andrade, E. H. A.; Maia, J. G. S. Óleos essenciais e extratos de espécies de Piper da Serra de Carajás (PA) e sua toxidade frente às larvas de Artemia salina Leach. 32ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química - SBQ. Faculdade de Engenharia Química, Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil, 2009. Simões, C. M. O.; Schenkel, E. P.; Gosmann, G.; Mello, J. C. P.; Mentz, L. A. & Petrovick, P. R. Lignanas, neo-lignanas e seus análogos. IN: Farmacognosia: da planta ao medicamento. Cap.22 p. 471. Florianópolis/Porto Alegre: São Carlos, Brasil, Ed.Universidade/UFSC/Ed. da UFSC, 1999. Siqueira, J. M., Bomm, M. D., Pereira, N. F. G. Garcez, W. S., Boaventura, M. A. D. Estudo fitoquímico de Unonopsis lindmanii - Annonaceae, biomonitorado pelo ensaio de toxicidade sobre a Artemia salina leach. Química. Nova v.21 n.5 São Paulo,1998.

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CAPÍTULO 15

PESQUISA MICROBIOLÓGICA DE SUPERFÍCIES EM AMBIENTE DOMÉSTICO

Danielle Ferreira Vieira, Júlia Carvalhais Bonfim, Damielle Leite Figueiredo,

Luciana Barbosa Coitinho, Heberth de Paula

1 - Universidade Federal do Espírito Santo – CCA Alegre/Departamento de Farmácia e Nutrição, Alto Universitário, s/n, Campus UFES, Alegre, ES. CEP: 29.500-000. [email protected]

Resumo - Vários estudos mostram que microrganismos viáveis estão distribuídos na natureza e são amplamente encontrados no ambiente. Dentre os microrganismos, as bactérias do grupo coliformes podem ser consideradas como indicadoras de contaminação fecal. Estudos apontam que a contaminação de superfícies em ambientes domésticos estão relacionados com a higiene do local. Diante desse contexto, o objetivo deste trabalho foi promover a avaliação qualitativa da contaminação de coliformes totais e termotolerantes de superfícies de mesa do quarto e parede do banheiro das casas de cinco estudantes da rede pública do município de Alegre/ES. Os resultados do experimento que foi conduzido no Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal do Espírito Santo evidenciaram a presença de coliformes totais em três das cinco mesas analisadas sendo que duas também indicaram a presença de coliformes termotolerantes e das cinco paredes do banheiro apenas duas apresentaram positividade para coliformes totais e termotolerantes. Palavras-chave: Coliformes totais, coliformes termotolerantes, contaminação. Área do Conhecimento: Saúde Pública

Introdução

Os microrganismos estão amplamente distribuídos na natureza e são encontrados em todos os ambientes. As bactérias patogênicas são continuamente introduzidas nas casas, através de pessoas, alimentos, superfícies, animais, insetos, da água e do ar (GORMAM et al., 2002). Geralmente, são causadoras de diversas patologias graves em uma ampla gama de infecções. Entretanto, alguns deles contribuem para a boa manutenção do organismo, vivendo em harmonia com o homem, sendo, portanto, constituintes da microbiota normal dos seres humanos (BLACK, 2002; TORTORA et al., 2005).

Dentre as bactérias, o grupo dos coliformes é considerado o principal indicador de contaminação fecal, formado por um número de bactérias que inclui os gêneros Escherichia, Enterobacter, Klebsiella e Citrobacter. São definidos como bastonetes Gram-negativos aeróbios ou anaeróbios facultativos, não formadores de endósporos, que fermentam lactose com produção de gás em 48 horas de incubação em caldo lactosado a 35

oC (RAY, 1996). Para indicar contaminação fecal

recente utilizam-se como indicadores de contaminação os coliformes termotolerantes, que possuem como habitat exclusivo o intestino de animais homeotérmicos, e cujo representante mais importante é a Escherichia coli. Os coliformes termotolerantes são aqueles que fermentam a lactose com produção de gás quando incubados a 44,5 – 45

oC por 24 a 48 horas. No entanto, ressalta-se que, em

condições normais, os coliformes não são por si patogênicos, embora algumas linhagens possam causar diarreias e infecções urinárias oportunistas (TORTORA et al., 2005).

Um estudo sobre contaminação de superfícies em ambiente doméstico demonstrou que todos os ambientes estão suscetíveis à contaminação de microrganismos em fômites, estando relacionados com a higiene do local. Sendo assim, objetos que estão em contato com várias pessoas podem possibilitar a contaminação de superfície e causar infecções em organismos debilitados. Alguns estudos sugerem uma ligação entre infecções e superfícies contaminadas (LARSON, 1999); outros pesquisadores sugerem ainda que as mãos contaminadas sejam um possível veículo de processos infecciosos (BONATO et al., 2007). Roberts (1982) relatou que de 1000 casos de intoxicação alimentar 20% tinha como fonte de infecção o alimento preparado na própria casa das famílias. Assim, a residência é uma importante fonte de infecções (HILTON e AUSTIN, 2000).

Neste contexto o presente trabalho teve como objetivo promover a avaliação qualitativa da contaminação por coliformes totais e termotolerantes de superfícies de mesa do quarto e parede do banheiro das casas de cinco estudantes da rede pública do município de Alegre/ES. Material e Métodos

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A coleta das amostras da mesa do quarto e parede do banheiro da residência de cada um dos cinco estudantes foram realizadas pela técnica de swab esterilizado. Para a amostragem de superfícies, foi utilizado o swab embebido em água peptonada tamponada 1%, aplicado a um ângulo de 30º de contato com a superfície, percorrendo cinco áreas de aproximadamente 50cm

2, por três

vezes consecutivas. Após a coleta do material, cada swab foi introduzido, agitado e retirado de um tubo de ensaio com

caldo Lauril Sulfato Triptose (LST) contendo tubo de Durhan invertido. Os tubos de ensaio foram imediatamente transportados até o Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal do Espírito Santo para realização das análises microbiológicas. As amostras das mesas dos quartos foram identificadas como M1, M2, M3, M4 e M5 e as amostras das paredes dos banheiros como P1, P2, P3, P4 e P5. Para análise presuntiva os tubos de ensaio foram incubados a 35±2°C por 48 horas. A produção de gás indicou a positividade do teste. Os tubos positivos foram repicados com auxílio de alça bacteriológica para caldo Bile Verde Brilhante 2% (VB) e incubados a 35±2°C por 48 horas para o teste confirmatório. A formação de gás confirmou a presença de coliformes totais. Para a identificação de coliformes termotolerantes utilizou-se o caldo Escherichia coli (EC) oriundos dos tubos positivos para coliformes totais, sendo mantidas em banho a 45±0,2°C durante 24 a 48 horas. Resultados e Discussão

A Tabela 1 apresenta os resultados das análises realizadas em amostras de superfícies de mesas dos quartos e paredes dos banheiros das residências de cinco estudantes.

Tabela 1 – Identificação Qualitativa de Coliformes Totais e Fecais em superfícies de mesas dos quartos e paredes dos banheiros das residências de cinco estudantes

Amostra Caldo LST Caldo VB Caldo

EC Amostra Caldo LST Caldo VB

Caldo EC

M1 +* + + P1 + - SI

M2 + + + P2 - SI SI

M3 + -* SI* P3 + + +

M4 + - SI P4 - SI SI

M5 + + - P5 + + +

* + = houve crescimento bacteriano * - = não houve crescimento bacteriano *SI = não houve incubação

Observando os dados da Tabela 1, pode-se inferir que do total de cinco superfícies de mesas

analisadas três indicaram a presença de coliformes totais (M1, M2 e M5) perfazendo um percentual de contaminação de 60% e dessas três, duas indicaram a presença de coliformes termotolerantes (M1 e M2) o que equivale a 40%. Das amostras de paredes dos banheiros, duas apresentaram positividade para coliformes totais e termotolerantes (P3 e P5) correspondendo a 40% o nível de contaminação. Diferente do esperado pelos estudantes, a mesa do quarto teve maior índice de contaminação para coliformes totais quando comparado com a parede do banheiro. Esta constatação pode ser explicada através da contaminação cruzada que geralmente tem como veículo as mãos, apresentando uma importante via de transferência de microrganismos patogênicos ou não de importância clínica (ASHIBE et. al., 2008). Nas atividades diárias, as mãos humanas estão constantemente em intenso contato com o ambiente ao redor e esta forma de transmissão fica evidente (MEDEIROS et. al., 2012).

Em contrapartida o nível de contaminação por coliformes termotolerantes foi o mesmo para as duas áreas analisadas indicando que não há distinção de microbiota entre elas. Esses dados corroboram o trabalho de Zanon (1999) a qual concluiu que a inobservância e a negligência na realização da técnica de higienização do ambiente doméstico propicia a veiculação destes patógenos.

Conclusão

A partir das análises microbiológicas foi possível constatar a presença de colônias de coliformes termotolerantes em 40% das mesas e paredes de banheiros, sendo que para coliformes totais a análise das mesas registrou 60% de contaminação. Sendo assim, esses dados são importantes para subsidiar medidas de saúde pública na população e detectar problemas de higiene nas residências, direcionando recomendações para o público, assim como mapear a transmissão cruzada de microrganismos patogênicos, que ocorre devido à falta de procedimentos de higiene pessoal.

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Agradecimento

À Fundação de Amparo a Pesquisa do Espírito Santo pela concessão de bolsa de estudo e apoio financeiro para desenvolvimento do projeto de pesquisa. Referências

ASHIBE, W.O; OLIVEIRA, M.C.T.; BELO, R.A.S.; SIQUEIRA, F.S.; BERNARDES, R.C.; KHOURI, S. Controle da contaminação microbiológica veiculada pelas mãos de manipuladores de alimentos ambulantes. In: XII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e VIII Encontro Latino Americano de Pós-Graduação- Universidade do Vale do Paraíba, 2008. BLACK, J.G. Capítulo 11 – Microorganismos eucariontes e Parasitas. In: Black Jg. Microbiologia: fundamentos e perspectivas. 4ª ed. Rio de Janeiro: editora Guanabara koogan; 267-294, 2002.

BONATO, B. S.; CASTRO, F. F.; C., T. C.; HELENA, R. P. G.. Oculares de microscópios podem ser veículos de contaminação? 81. Ed. NewsLab, 2007. CAVALCANTI, M., MARTINS, W., FARIAS, N., VIEIRA, D., ARAÚJO, A. Pesquisa de Coliformes em superfícies de bancadas e utensílios na elaboração de alimentos servidos em escolas. CADERNO VERDE DE AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, América do Norte, 1, mar. 2012. GORMAN, R.; BLOOMFIELD, S.; ADLEY, C.C. A study of cross-contamination of food borne pathogensin the domestic kitchen in the Reúblic of Ireland. International Food Microbiology, v. 76, pag.143-150, 2002. HILTON, A.C.; AUSTIN, E. The kitchen dishcloth as a source of and vehicle for foodborne pathogens in a domestic setting. International Journal of Environmental Health Research, 10:257-261, 2000. MEDEIROS Jr. M.C.; SILVEIRA, G.S; PEREIRA, J.B.B.; CHAVASCO, J.M.; CHAVASCO, J.K. Verificação de contaminantes de natureza fecal na superfície de torneiras de banheiros públicos. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 10, n. 1, p. 297-303, 2012. RAY, B. Fundamental food microbiology. Boca Ratton: CRC Press, 1996. 516p. ROBERTS, D. Factors contributing to outbreaks of food poisoning in England and Wales 1970- 1979. J Hyg (Lond) , 89:491-498, 1982. TORTORA, G.J.; FUNKE, B.R.; CASE C.l. Microbiologia. 8ª ed. São Paulo: editora artmed; 2005. ZANON, C. A. Avaliação dos procedimentos de higienização de equipamento, utensílios, mobiliários e mãos de funcionários pertencentes a uma unidade de refeição coletiva. Universidade de São Paulo, Dissertação de Mestrado, 107 p, 1999.

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CAPÍTULO 16

USO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS, TABACO E OUTRAS DROGAS ENTRE ALUNOS DE QUATRO CURSOS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO

SANTO

Karolinni Bianchi Britto1; Angélica Hollunder Klippel1; Anderson Barros de Archanjo1; Tiago de Paula Marcelino1; Mayara Alves Dutra1; Heberth de Paula1

1 - Universidade Federal do Espírito Santo – CCA Alegre/Departamento de Farmácia e Nutrição, Alto Universitário, s/n, Campus UFES, Alegre, ES. CEP: 29.500-000. [email protected]

Resumo – O uso de drogas e suas consequências é um tema de relevante preocupação nacional e mundial, dado o número de usuários existentes e seu impacto sobre os indivíduos e a sociedade, principalmente entre os universitários. Então, com o objetivo de determinar a prevalência do uso de drogas lícitas e ilícitas dos cursos de Engenharia Química, Física Licenciatura, Medicina Veterinária e Química Licenciatura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo, foi realizado um estudo epidemiológico transversal, com os alunos dos cursos mencionados durante o período entre 17 de outubro e 07 de dezembro de 2011, utilizando-se questionários para coleta de dados. Dos alunos entrevistados 49,0% encontravam-se na faixa etária de 20 – 24 anos e 32,3% recebiam auxílio do Serviço de Assistência da Universidade (SAUNI). O álcool foi a substância mais utilizada pelos alunos (79,6%), seguido do tabaco (27,4%) e maconha (15,6%), inalantes (7,0%) e cocaína/crack (2,2%), além disso, foi observado também que os homens consomem mais cocaína/crack e maconha do que as mulheres. Por meio deste trabalho pode-se concluir que o uso de substâncias psicoativas entre a população estudada encontra-se abaixo da média nacional para estudantes universitários.

Palavras-chave: Universitários, drogas, tabaco, álcool, jovens. Área do Conhecimento: Saúde Pública

Introdução O uso de drogas é um evento bastante antigo na história da humanidade e corresponde a um

grave problema de saúde pública, com sérias consequências pessoais e sociais para o futuro dos jovens e de toda a sociedade (MARQUES & CRUZ, 2000).

Um período de marcada experimentação e exploração de uma série de comportamentos de risco, entre eles o uso de substâncias psicoativas, ocorre frequentemente no final da adolescência e o início da idade adulta (WINDLE, 2003). Sendo assim, é importante destacar que o ingresso na universidade, ainda que traga sentimentos positivos e de alcance de uma meta programada por estudantes do ensino médio, inicia um período de maior autonomia, possibilitando novas experiências, mas também, para muitos, se constitui em um momento de maior vulnerabilidade, tornando-os mais suscetíveis ao uso de drogas e suas consequências (PEUKER et. al., 2006).

Devido ao fato de que os estudantes universitários compreendem uma importante parcela desse universo de usuários de drogas, uma vez que geralmente apresentam um consumo mais intenso e frequente do que outras parcelas da população em geral, tem-se a necessidade de um maior conhecimento desse fenômeno para o desenvolvimento de ações de prevenção e elaboração de políticas específicas dirigidas para esse segmento (ANDRADE et. al., 2010).

Nesse contexto, o objetivo deste trabalho foi determinar a prevalência do uso de drogas lícitas e ilícitas dos alunos dos cursos de Engenharia Química, Física Licenciatura, Medicina Veterinária e Química Licenciatura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre – ES, Brasil. Material e Métodos

Foi realizado um estudo epidemiológico transversal, no qual permitiu-se estratificar os alunos por curso; características socioeconômicas; sexo, faixa etária e, recebimento ou não de Serviço de Assistência da Universidade (SAUNI), para os quais o interesse é analisar as diferenças na prevalência do uso de drogas.

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A população-alvo foi definida como os universitários matriculados no segundo semestre letivo de 2011, dos cursos de Engenharia Química, Física Licenciatura, Medicina Veterinária e Química Licenciatura do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA-UFES), Alegre – ES.

Após a amostra ser obtida, ao todo 186 estudantes, realizou-se através do programa RANDON.ORG (www.random.org) o sorteio das mesmas a serem entrevistadas.

Como substâncias lícitas foram avaliadas o uso de derivados do tabaco, bebidas alcoólicas, hipnóticos/sedativos e anfetaminas; como substâncias ilícitas o uso de maconha, cocaína/crack, inalantes, alucinógenos e opióides. Dando também espaços para respostas do uso de outros tipos de substâncias não descritas acima.

Foi informado aos entrevistados o motivo do estudo e que seria mantido o sigilo das entrevistas. Para análise das entrevistas, foram transcritos os questionários para o programa Epi Info, versão 3.5.1 (2008).

Os dados obtidos foram analisados por meio do programa Epi Info e a análise estatística realizada pelos testes de Fisher e Qui-quadrado, com um nível de confiança de 95% (p < 0,05). Resultados e Discussão

Foram entrevistados 186 alunos que apresentaram o seguinte perfil: estudavam no curso de

Engenharia Química (22,0%), Física Licenciatura (21,0%), Medicina Veterinária (30,1%) e Química Licenciatura (26,9%); eram do sexo feminino (54,8%) e masculino (45,2%); com idade entre 17 e 34 anos, sendo que a maior porcentagem dos alunos se encontrava na faixa etária de 20 – 24 anos (49,0%) e 32,3% recebiam auxílio do SAUNI.

O álcool foi a substância mais utilizada pelos alunos (79,6%), seguido do tabaco (27,4%) e maconha (15,6%). Entre os entrevistados, as drogas ilícitas mais utilizadas pelos alunos foram maconha (15,6%); inalantes (7,0%) e cocaína/crack (2,2%) (Tabela 1). Tabela 1 - Uso de substâncias entre os alunos entrevistados relacionados por curso. Alegre, Brasil, 2011. (N = 186)

Foi observada maior prevalência no uso de maconha (p = 0,046) e de cocaína/crack (p = 0,039)

pelo sexo masculino em relação ao feminino. Andrade et. al. (2010) em seus estudos também detectaram que os homens tendem a fazer maior uso de substâncias ilícitas.

Constatou-se que há uma diferença estatisticamente significativa (p = 0,009) entre o uso de hipnóticos/sedativos e os cursos de Medicina Veterinária e Química Licenciatura. Também houve uma correlação entre o uso de tabaco entre os cursos de Medicina Veterinária e Física Licenciatura (p = 0,026).

O uso de bebidas alcoólicas está relacionado ao uso de tabaco (p = 0,00002) e maconha (p = 0,002). E há uma correlação entre o uso de maconha com o tabaco e maconha com cocaína/crack (p = 0,012).

Dentre os usuários de bebidas alcoólicas, 69,7% já tomaram 5 ou mais doses de uma vez; 21,0% não conseguiram realizar alguma atividade devido ao uso de bebidas nos últimos 12 meses; 39,6% sentiram remorso após ter bebido nos últimos 12 meses; 53,0% relataram ser incapazes de lembrar o que aconteceu na noite anterior como consequência da bebida e 23,5% causaram ferimentos ou prejuízos por ter bebido.

Substância Uso por curso (%) Uso geral(%)

Engenharia Química

Física Licenciatura

Medicina Veterinária

Química Licenciatura

Derivados do tabaco 24,4 17,9 39,3 24,0 27,4

Bebidas alcoólicas 80,5 66,7 85,7 82,0 79,6

Maconha 12,2 15,4 16,1 18,0 15,6

Cocaína, crack 4,9 2,6 0,0 2,0 2,2

Anfetaminas ou êxtase 0,0 0,0 0,0 6,0 1,6

Inalantes 9,8 5,1 3,6 10,0 7,0

Hipnóticos/sedativos 7,3 2,6 0,0 12,0 5,4

Alucinógenos 0,0 2,6 0,0 2,0 1,1

Opióides 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

Outras, especificar 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

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Comparando as prevalências do uso de drogas encontradas neste estudo com as encontradas na população universitária brasileira (ANDRADE et. al., 2010), observa-se que no presente estudo o uso geral de drogas apresentou uma menor prevalência (Tabela 2).

Tabela 2 - Comparação das prevalências do uso de drogas encontradas no presente estudo com as prevalências encontradas na população universitária brasileira (ANDRADE et. al., 2010).

Em relação ao uso de drogas estratificado por curso, observou-se semelhança entre o uso de

bebidas alcoólicas no curso de Medicina Veterinária (85,7%) e o uso de hipnóticos/sedativos no curso de Química Licenciatura (12,4%) com a média nacional dos universitários (ANDRADE et. al., 2010). Para as demais drogas a prevalência encontrada foi inferior à média nacional.

As drogas mais utilizadas foram bebidas alcoólicas (79,6%) e tabaco (27,4%). Resultados semelhantes foram encontrados nos estudos de Wagner (2011) e Silva et. al. (2006), ambos realizados na USP. Isso se deve ao fato dessas drogas serem legalizadas facilitando seu uso (FIORINI & ALVES, 1999).

Dentre as drogas ilícitas, as mais utilizadas pelos alunos foram maconha (15,6%) e inalantes (7,0%), sendo que este resultado está de acordo com o estudo de Wagner (2011). O maior uso dessas substâncias ocorre devido a maior facilidade de acesso as mesmas (ANDRADE et. al., 2010).

Quanto ao recebimento do SAUNI, a probabilidade de encontrar um aluno usuário de tabaco ou inalantes é menor entre os que recebem esse auxílio.

Também foi encontrada uma relação muito forte entre o uso de tabaco e maconha, sendo que a probabilidade de um usuário de maconha também ser fumante foi alta (75% dos usuários de maconha também fumam). O consumo do tabaco também já foi relacionado à maior probabilidade de ocorrência de dependência de maconha, sendo que quanto mais jovens os indivíduos têm contato com o cigarro, maior a probabilidade do uso de drogas ilícitas (BRESLAU, 1995). Com isso, políticas governamentais antitabagistas podem ter um reflexo no consumo de maconha, reduzindo o mesmo.

A prática do consumo de álcool nos últimos 12 meses provocou em 21,0% dos entrevistados uma incapacidade de realizar alguma atividade que era esperada para os mesmos. Resultado parecido foi encontrado no estudo de Peuker et. al. (2006), realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde 25,4% dos usuários de bebida alcoólica deixaram de fazer o que era esperado devido ao consumo de álcool. Este resultado demostra que o uso da bebida alcoólica pode interferir na vida das pessoas, tornando-as incapazes de realizar suas atividades rotineiras. Conclusão

A presente pesquisa revelou que a prevalência do uso de drogas entre os alunos pesquisados foi

menor que a prevalência do consumo médio dos universitários brasileiros. Dentre as substâncias lícitas o álcool foi o mais utilizado, sendo que das substâncias ilícitas a maconha foi a mais utilizada, tanto no uso geral como por curso. Houve uma relação entre o uso de tabaco e o consumo de bebidas alcoólicas, sendo que todos os usuários desta droga bebiam. Ao término deste, faz-se necessário mais estudos sobre o assunto devido a relevância desse tema para a sociedade.

Referências

ANDRADE, L. H. S. G.; SILVEIRA, C. M.; SIU, E. R.; ANDREUCCETTI G; OLIVEIRA, L. G.; ANDRADE, A. G. Padrões de consumo do álcool entre universitários. I Levantamento nacional sobre o uso de álcool, tabaco e outras drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras Brasília, DF, Brasil: SENAD - Secretaria Nacional de políticas sobre Drogas, p.83-100, 2010. Disponível em:

Substâncias Uso geral (%)

Presente estudo Andrade et. al., 2010

Derivados do tabaco 27,4 46,7

Bebidas alcoólicas 79,6 86,2

Maconha 15,6 26,1

Cocaína, crack 2,2 7,7

Anfetaminas ou êxtase 1,6 7,5

Hipnóticos/sedativos 5,4 12,4

Alucinógenos 1,1 7,6

Opióides 0,0 5,5

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CAPÍTULO 17

AIDS NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS, NO PERÍODO DE 2000 A 2009: NÚMERO DE CASOS, PERFIL SÓCIODEMOGRÁFICO E MORTALIDADE.

Caroline Cosme Pereira1; Janaina dos Santos Maciel1; Naizillah de Oliveira

Albuquerque1; Renan Florindo Amorim1; Elias Pereira da Vitória2; Franciéle Marabotti Costa Leite3

1Universidade Federal do Espírito Santo – CEUNES/UFES, Curso de Farmácia, Rod. BR101 Norte,

Km 60 – Bairro Litorâneo – São Mateus-ES CEP 29932 – 540. E-mail: [email protected] 2Prefeitura Municipal de São Mateus-ES – Secretaria Municipal de Saúde de São Mateus – SEMUS –

Vigilância Ambiental.E-mail: [email protected] 3Universidade Federal do Espírito Santo, Professora MSc do Curso de Enfermagem, Av. Fernando

Ferrari, 514 – Bairro Goiabeiras – Vitória - ES CEP 29075 – 910. E-mail: [email protected]

Resumo: Estudos envolvendo a análise de casos diagnosticados de AIDS no município de São Mateus - ES no período de 2000 a 2009, bem como a incidência e mortalidade pela mesma causa, foram possíveis através do Projeto de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET Saúde/Vigilância) da Universidade Federal do Espírito Santo, campus São Mateus, mantido pelo Ministério de Saúde e que conta com parceria com a Secretaria Municipal de Saúde. Foram coletados dados referentes aos casos diagnosticados, através dos quais é possível chegar à incidência de AIDS no município, além dos óbitos ocorridos devido à síndrome ou por afecções oportunistas que acometem o paciente devido à queda de imunidade causada pela mesma. Para a obtenção dos números, foram utilizados bancos de dados nacionais de domínio público disponíveis via internet, como o DATASUS e o IBGE, além de livros de registros mantidos pela Secretaria. Palavras – Chave: Mortalidade, AIDS, Incidência, Óbitos. Área do Conhecimento: Saúde Pública Introdução

A AIDS é a sigla em inglês da síndrome da imunodeficiência adquirida. É causada pelo HIV, vírus que ataca as células de defesa do nosso corpo. Com o sistema imunológico comprometido, o organismo fica mais vulnerável a diversas doenças, um simples resfriado ou infecções mais graves como tuberculose e câncer (ASSOCIAÇÃO DE AMPARO AOS PACIENTES COM TUBERCULOSE, 2010).

A mortalidade por AIDS no Brasil é um relevante problema de Saúde Pública que atinge, de forma heterogênea, diferentes segmentos da população. Desde o surgimento da doença na década de 1980, são evidentes os esforços para o enfrentamento da epidemia, cuja participação é crescente entre as principais causas de morte, particularmente de adultos jovens e pessoas em situação de pobreza. Observa-se, entretanto, uma desaceleração desse decréscimo nos últimos anos, apontando a necessidade de uma nova aproximação para melhor compreender esse fenômeno (REIS, SANTOS & CRUZ, 2007).

Sabe-se que a AIDS se trata de uma doença que, nos primeiros anos, não manifesta sintomas no paciente. Porém, quando os sintomas passam a surgir, certamente a enfermidade já se encontra em um estado avançado e preocupante.

Portanto, o diagnóstico prévio da AIDS é um grande determinante da sobrevida do paciente após o conhecimento da doença, pois ao iniciar o tratamento tardiamente há um risco 49 vezes maior de morrer do que outra que começa o acompanhamento no período adequado.

Assim, o objetivo principal desse trabalho é conhecer o número de casos e o perfil sócio-demográfico dos diagnósticos de AIDS no município de São Mateus/ES no período de 2000 a 2007, bem como descrever a mortalidade por esta síndrome. Material e Métodos

Trata-se de um estudo descritivo, exploratório, realizado no município de São Mateus-ES. Os dados foram coletados no banco de dados do DATASUS, e livros de registros do Setor de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde do município. A população do estudo foi constituída

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pelos dados referentes à ocorrência de casos diagnosticados de AIDS entre os anos de 2000 e 2009, e os casos de óbito causados no mesmo período.

Através desse estudo, obteve-se o número de casos diagnosticados nesse período, bem como o número de óbitos com a mesma causa, o que possibilita o estudo de possíveis causas e medidas a serem tomadas pelas autoridades incumbidas.

A incidência (ou taxa de incidência) expressa o número de casos novos de uma determinada doença durante um período definido. É calculada da seguinte maneira: [(número de casos novos ocorridos na população mateense na década analisada) dividido pelo (número de pessoas sob risco de desenvolver a doença nesse mesmo período)] multiplicado por 1000. Os valores obtidos são mostrados no gráfico 1.

Gráfico 1- Incidência de AIDS no Município de São Mateus/ES no Período de 2000 a 2009 Já a prevalência mede a proporção de pessoas numa dada população que apresentam a doença,

nesse mesmo período de tempo. Torna-se muito útil para medir a frequência e a magnitude de problemas crônicos, ao passo que a incidência é mais aplicada na mensuração de frequência de doenças de curta duração. É calculada da seguinte maneira: [(número de casos conhecidos da doença no período de tempo) dividido pela (população nesse mesmo período)] multiplicado por 100 mil (MIRANDA, 2009). A prevalência da síndrome no município é mostrada no gráfico 2.

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Gráfico 2- Prevalência de AIDS no Município de São Mateus /ES no período de 2000 a 2009 Resultados e Discussão

Verifica-se que o maior número de casos diagnosticados de AIDS no município de São Mateus/ES, ocorre entre jovens na faixa etária de 20 a 34 anos, do sexo masculino e com escolaridade de até 7 anos.

Nesse mesmo período, foram diagnosticados 113 novos casos da doença no município, além de 22 óbitos com a mesma causa.

Fazendo uma comparação do número de casos com o número de óbitos, tem-se uma taxa de aproximadamente 19,5%, como mostrado no gráfico 3.

Gráfico 3- AIDS no Município de São Mateus/ES, no período de 2000 a 2009: Número de casos

diagnosticados e óbitos Conclusão

Através da análise dos dados referentes ao município de São Mateus, nota-se que o número de óbitos por ano nesse período é muito alto em relação ao número de novos casos diagnosticados nos mesmo ano. Com isso, é possível levantar hipóteses em torno desse dado alarmante, que poderia estar sendo explicado pela pequena acessibilidade dos pacientes aos medicamentos oferecidos de forma gratuita para o tratamento da AIDS, uma vez que o município já possui um triste histórico de precariedade na distribuição desses medicamentos, bem como para outras enfermidades com tratamento de alto custo. Ou a ineficácia em diagnóstico prévio da enfermidade, pois o mesmo realizado de forma tardia, segundo estudos, influencia em até 40% a mortalidade por AIDS.

Além disso, deve-se ressaltar a importância da melhoria do acesso de forma gratuita de acompanhamento dos pacientes por profissionais, para que a AIDS possa ser diagnosticada previamente e devidamente tratada, para que o índice de mortalidade possa decrescer ainda mais. Referências ASSOCIAÇÃO DE AMPARO AOS PACIENTES COM TUBERCULOSE. AIDS, 2010. Disponível em <http://amparoaospacientescomtuberculoseaptu.blogspot.com.br/>. Acesso em 15 abr. 2012. MINISTÉRIO DA SAÚDE. DEPARTAMENTO DE DST, AIDS E HEPATITES VIRAIS. 2010. Disponível em <http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMISBF548766PTBRIE.htm>. Acesso em 02 mai. 2012. REIS, A.C.; SANTOS, E.M.; CRUZ, M.M. A Mortalidade por AIDS: um estudo exploratório de sua evolução temporal. Epidemiol. Serv. Saúde, v.16, n.3, p 2007. Disponível em: MIRANDA, F.S. Epidemiologia, 2009. Disponível em < http://www.slideshare.net/flavioes/incidencia-e-epidemiologia>. Acesso 10 mai. 2012.

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CAPÍTULO 18

AVALIAÇÃO EM HUMANOS DA EXPRESSÃO DA PROTEÍNA HIF1- α EM

CARCINOMA EPIDERMÓIDE DE BOCA: ANÁLISE DA SOBREVIDA E CARACTERÍSTICAS TUMORAIS.

Assis, A. L. E. M.1, Mendes, S. O.2, , Damasceno, S.1 , Santos, M.2 , Silva, A. M.

A.1 , Trivilin, L. O.1

CCA-UFES /Laboratório de Patologia, arí[email protected] 2- UFES/ Ciências Biológicas, [email protected] 1- CCA-UFES/ Ciências Biológicas, [email protected] 2- UFES/ Ciências Biológicas, [email protected] 1- CCA-UFES/ Ciências Biológicas, [email protected] 1- CCA-UFES/ Medicina Veterinária, [email protected]

Resumo - Os tumores de cabeça e pescoço são geralmente hipóxicos, o que compromete a resposta ao tratamento. O principal mecanismo de resposta à condição de hipóxia é a ativação do sistema HIF, que resulta em aumento expressão de genes importantes na progressão tumoral. Assim, objetivou-se avaliar a expressão da proteína HIF1-α em pacientes com carcinoma epidermóide e correlacioná-la à características histopatológicas, sobrevida e progressão tumoral, utilizando como metodologia a análise da expressão da proteína HIF1-α por meio de observação microscópica da lâmina de tissue microarray imunomarcada com anticorpo específico. A expressão da proteína HIF1-α foi categorizada em fraca e forte. Ocorreu expressão da proteína em todas as amostras analisadas. A expressão fraca foi associada com a característica histopatológica de desmoplasia (p=0,0089). Não houve relação entre a expressão da HIF1-α com a recidiva (p=0,6855) e status de sobrevida (p=0,2911), resposta ao tratamento cirúrgico (p=0,1944) ou dos casos operados e irradiados (p= 0, 5212). Conclui-se o pior prognóstico da doença esta na relação entre desmoplasia e a expressão fraca da proteína. Palavras-chave: carcinoma epidermóide, expressão, HIF1-1 α, cabeça e pescoço.

Área do Conhecimento: Análises Clínicas.

Introdução

De acordo com Instituto Nacional do Câncer (INCA) o carcinoma de células escamosas (CCE) da boca, afeta lábios e o interior da cavidade oral e sua incidência no Brasil é considerada uma das mais altas do mundo. Histologicamente tem inicio na camada epitelial superficial com o surgimento de células epiteliais malignas diferenciadas das células escamosas do epitélio normal com comportamento invasivo em direção ao tecido conjuntivo subjacente (NEVILLE, 2002). Estudos comprovam que a etiologia dessa neoplasia é multifatorial e que tumores de cabeça e pescoço são geralmente hipóxicos o que compromete a resposta ao tratamento (NEVILLE, 1995).

A hipóxia é encontrada na maioria dos tumores sólidos devido às alterações estruturais e quantitativas nos vasos, levando a diminuição das concentrações de oxigênio (BRIZEL, DODGE, CLOUGH, 1999). O principal mecanismo de regulação para a homeostase do oxigênio celular e sistêmico é complexo transcricional Hypoxia-inducible factor- 1 (HIF1) (STIEHL, WIRTHNER, KODITZ, 2006). Esse sistema ativa as vias de angiogênese e sobrevivência levando o tumor ao escape da morte por hipóxia. No carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço, a presença de áreas tumorais hipóxicas está relacionada com o pior prognóstico e à resistência da doença à quimioterapia e radioterapia com consequente diminuição das taxas de sobrevida (BRIZEL, DODGE, CLOUGH, 1999; HARRIS, 2004).

Por meio da avaliaçao imunoistoquimica da proteina HIF1-α alguns autores associam a expressão fraca com a pior sobrevida (FILLIES, WERKMEISTER, DIEST, 2005) contrapondo –se a outros estudos que relacionam à expressão forte a pior sobrevida (LIN, YU, WANG, 2008).

Portanto, objetivou-se avaliar a expressão da proteína HIF1-α em pacientes com carcinoma epidermóide e correlacioná-la à características histopatológicas, sobrevida e progressão tumoral. Material e Métodos

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Foram estudados 41 pacientes com carcinoma epidermóide de andar inferior da boca, tratados cirurgicamente no Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Heliópolis, São Paulo, dentre o período de janeiro de 2002 a dezembro de 2005. Do ponto de vista epidemiológico, 87% dos casos foram do sexo masculino, com a proporção de sete homens para cada mulher com variação de idade entre 35 a 79 anos.

Os casos possuem confirmação histopatológica do diagnóstico e o seguimento mínimo de 24 meses a partir do tratamento inicial, realizado de acordo com a rotina estabelecida pelo serviço do Hospital de Heliópolis, foram revisados e reclassificados por uma patologista do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Heliópolis (AMCM), segundo os critérios de classificação de Broders103. Para isso utilizou-se lâminas convencionais coradas com hematoxilina eosina (HE).

Apos a confirmação dos casos montou-se o tissue microarray em seguida realizou-se a as reações de imunoistoquimica pela técnica de complexo estreptavidina-biotina-peroxidase (StreptABC, DAKO®). Foi realizado um controle positivo e três controles negativos, sendo o primeiro sem anticorpo primário, o segundo sem anticorpo secundário e o terceiro sem revelação, em todos foram utilizados amostras com a expressão da HIF1-α

As lâminas foram analisadas em microscópio ótico de luz (Olimpus®) em objetiva de 40x nos spots dispostos no tissue.

Foi realizada análise semi quantitativa por meio da observação de 5 campos aleatórios para cada paciente, nos quais foram contadas as células imuno marcadas fortemente, moderadamente e fracamente.

Foram atribuídos escores numéricos às marcações, sendo a marcação fraca considerada com escore 1, a marcação moderada com escore 2 e a marcação forte com escore 3 – com a finalidade de relativizar a intensidade da marcação em relação ao número de células. A fórmula exata do calculo foi: (MF/TC) X 1 + (MM/TC) X 2 +(MFt/TC) X 3, onde MF = marcação fraca, MM = marcação moderada, MFt = marcação forte e TC= total de células marcadas.

A partir dos dados obtidos a análise estatística foi realizada com a utilização do programas matemáticos Epi Info® versão 3.4.3,2007 e o Statsoft Statistica v7.0.61.0.

Para os testes de associação foram utilizados o teste exato de Fisher. Para a análise da sobrevida foi calculado o intervalo de tempo (em meses) entre as datas de cirurgia e óbito de cada paciente, ou do último retorno nos casos sobreviventes. Entretanto, o intervalo de tempo para as análises de sobrevidas livre de doença local e livre de doença regional foi calculado utilizando como ponto final as datas de recidiva local e recidiva regional, respectivamente, ou a data do último retorno nos casos assintomáticos. As curvas de sobrevidas foram avaliadas segundo o modelo Kaplan-Meier e o valor de p de Wilcoxon.

Resultados e Discussão

A relação entre achados histopatológicos e expressão da proteína HIF1-α verificada nesse estudo não revelou diferença significativa entre a relação da proteína e tamanho do tumor, linfonodo acometido, embolização linfática, invasão perineural, necrose e intensidade do infiltrado inflamatório peritumoral. Contudo, verificou- se a associação positiva entre a expressão fraca da proteína HIF1-α com a variável desmoplasia (p=0,0089).

No crescimento neoplásico, pode ocorrer um aumento na deposição de colágeno, principalmente dos tipos I e III, o que caracteriza a reação desmoplástica do estroma (BARSKY, GROTENDORST, LIOTTA, 1982).Essa reação, juntamente com a resposta imune e a angiogênese, constituem as principais respostas do indivíduo em relação à presença de células neoplásicas, em carcinomas epidermóides de mama, ovários e trato gastrointestinal, a análise do colágeno no estroma tumoral fornece um valioso instrumento no prognóstico dessas lesões (OHTANI ET AL., 1992).

Lehn e Abrahão (2006) em seu estudo com 42 pacientes relacionaram características clínico-patológicas ao prognóstico de carcinoma epidermóide avançado de cabeça e pescoço, associando a desmoplasia ao pior prognóstico da doença. Desta forma, pela análise desses dados, podemos inferir que é possível que a expressão fraca da HIF1-α esteja relacionada a um pior prognóstico.

Em relação à expressão de HIF1-α, esta esteve presente em todas as amostras avaliadas, sendo que 73% (30/41) das amostras apresentaram expressão fraca e 27% (11/41) tiveram expressão forte.

O aumento da expressão de HIF1-α foi relatado em 13 tumores, como os de pulmão, próstata, mama e carcinoma de cólon (HUANG, BUNN, 2003). Em muitos estudos com câncer humano a super expressão é caracterizada por estar relacionada à metástases regionais e a distância. Isso é resultado de adaptações das células tumorais à condição de hipóxia (THEODOROPOULOS, LAZARIS, SOFRAS, 2004). No carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço, alguns autores observaram a expressão elevada da proteína HIF1-α associada com o pior prognóstico de pacientes

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operados, representado principalmente pela redução no tempo de vida (BEASLEY, LEEK, ALAM, 2002).

Os resultados obtidos neste estudo mostraram que a intensidade de expressão da proteína HIF1-α, categorizada em fraca e forte, não estiveram associadas à recidiva local da doença (p=0,6855). Entretanto, Santos (2010) observou, por meio da análise multivariada, que a expressão fraca da proteína HIF1-α estava associada à presença de recidiva local da doença além de poder aumentar em mais de sete vezes o risco de ocorrência do evento (OR 7,59) quando comparados aos indivíduos com expressão forte. Também,, a expressão fraca está associada com maior ocorrência de recidiva local, óbito e à pior sobrevida da doença específica e livre de doença local, nos casos submetidos à radioterapia pós-operatória. Essa expressão fraca da proteína HIF1-α pode estar associada com a menor diferenciação celular do tumor. Por outro lado, nos casos tratados apenas com a cirurgia, a expressão fraca está associada somente com a ocorrência de recidiva local.

Na análise das curvas de sobrevida livre de doença local dos casos operados irradiados (p=0.1944) e operados e não irradiados (p=0. 5212) não mostrou relação entre a intensidade de expressão fraca ou forte da proteína HIF1-α com a recidiva da doença.

Fillies, Werkmeister e Diest (2005), estudando pacientes tratados com radioterapia, encontraram a expressão forte da proteína HIF1-α associada com o melhor prognóstico em pacientes com carcinoma epidermóide de soalho da boca, porém esses achados não são unanimidade, pois a maioria dos autores relacionam a expressão forte ao pior prognóstico. Esses resultados controversos sugerem que pode haver maior complexidade na via de sinalização de hipóxia e que a habilidade de hiperexpressar as proteínas da via de sinalização pode afetar a radiosensibilidade, por mecanismos independentes do tradicional conceito de oxigenação.

A ativação da HIF1-α leva a uma maior vascularização tecidual por ativação transcricional do VEGF e maior oxigenação (CLOTTES, 2005). A reoxigenação dos tecidos causada pela ação da proteína HIF1-α poderia alterar o nível de radiosensibilidade do tumor, tornando o sucesso da aplicação radioterápica plausível, refletindo no melhor controle da doença local e aumento de vida dos pacientes.

Os achados desse trabalho e os da literatura apontam para a via HIF1-α como promissora para o entendimento dos processos de tumorigênese, tratamento e prognóstico da doença, por isso torna importante que novos estudos sejam feitos, com maior casuística e diferentes tipos de tratamento.

Conclusão

De acordo com nossos resultados chegamos às seguintes conclusões:

Houve expressão da proteína HIF1- α em todos os participantes do estudo.

A expressão fraca da proteína HIF1-α foi mais frequente em relação à forte.

Quanto às características histopatológicas não houve relação entre a expressão da proteína e as variáveis linfonodo acometido, tamanho do tumor, invasão perineural, infiltrado inflamatório e necrose.

Houve relação entre a desmoplasia e a expressão fraca da proteína HIF1-α. Referências

BARSKY, S.H.; GROTENDORST, G.R.; LIOTTA, L.A. Increased content of type V collagen in desmoplasia of human breast carcinoma. Am J Pathol., v. 10, p. 276-83, 1982. BRIZEL, D.M.; DODGE, R.K.; CLOUGH, R.W. Oxygenation of head and neck cancer: changes during radiotherapy and impact on treatment outcome. Radiother Oncol., v. 53, p. 113-117, 1999. CLOTTES, É.. Hypoxia-inducible factor 1: regulation, involvement in carcinogenesis and target for anticancer therapy. Bull Cancer, v.92, n .2, p. 119-27, 2005. FILLIES, T.; WERKMEISTER, R.; DIEST, P.J.V. HIF1-alpha over expression indicates a good prognosis in early stage squamous cell carcinomas of the oral floor. BMC Cancer, v. 5, p. 84, 2005.

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HARRIS, A.L. Hypoxia: a key regulatory factor in tumor growth. Nat Rev Cancer., v. 2, p. 38-47, 2004.

INCA. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer - INCA, Estimativas da incidência e mortalidade por câncer. Rio de Janeiro: INCA; 2010.

LEHN, N. C.; ABRAHÃO, M. Características clínico -patológicas relacionadas ao prognóstico de carcinoma espinocelular avançado da cabeça e pescoço. Rer. Bras. Cir. Cabeça e pescoço., v. 35, nº 4, p.221 – 225, 2003. LIN, P.Y.; YU, C.H.; WANG, J.T. Expression of hypoxia-inducible factor-1 alpha is significantly associated with the progression and prognosis of oral squamous cell carcinomas in Taiwan. J Oral Pathol Med., v.7, p. 18-2, 2008.

NEVILLE, B.W.; DAY, T.A. Oral cancer and precancerous lesions. CA Cancer J Clin., v. 52, p. 195-215, 2002.

NEVILLE,B.W. Patologia oral e maxilofacial. Philadelphia: Saunders Company; 1995.

OHTANI, H., KUROIWA, A., OBINATA, M., OOSHIMA, A., NAGURA, H. Identification of type I collagen-producing cells in human gastrointestinal carcinomas by non-radioactive in situ hybridization and immunoelectron microscopy. J Histoch Cytoch., v. 40, p. 1139-46, 1992.

SANTOS, S. Expressão da proteína HIF1-α e sua relação com o prognóstico em pacientes com carcinoma em pacientes com carcinoma epidermóide de andar inferior da boca. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, 2010.

STIEHL, D.P.; WIRTHNER, R.; KÖDITZ, J. Increased prolyl 4-hydroxylase domain proteins compensate for decreased oxygen levels: evidence for an autoregulatory oxygen-sensing system. J Biol Chem., v. 281, n. 33, p. 23482-91, 2006.

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CAPÍTULO 19

EXPRESSÃO DE INOS NO INFILTRADO INFLAMATÓRIO DE PACIENTES COM

CARCINOMA EPIDERMÓIDE DE CAVIDADE ORAL E RELAÇÃO COM SOBREVIDA

Damasceno,S.1, Oliveira, S.M.1, ASSIS, A.L.E. M.1, Santos, M.1, Silva, A.M.A.1,

Trivilin, L.O.1 1UFES/Departamento de Biologia, [email protected]

Resumo: O carcinoma epidermóide é uma neoplasia maligna que se origina do epitélio de revestimento e representa o tipo histológico predominante entre os tumores bucais humanos. Seu diagnóstico precoce é bastante dificultado e os índices de sobrevida são geralmente baixos. iNOS, proteína cuja expressão é induzida por citocinas inflamatórias, é capaz de produzir grandes quantidades de óxido nítrico que exercem uma complexidade de efeitos sobre os tumores. O objetivo do presente trabalho foi analisar a expressão da proteína iNOS em células inflamatórias de tumores de cavidade oral e verificar sua relação com a sobrevida dos pacientes. A imunopositividade de iNOS foi observada em 78,18% dos pacientes. A presença de expressão de iNOS apresentou relação significativa com a sobrevida dos pacientes (p=0,0003). Pacientes que expressam iNOS possuem maior probabilidade de sobrevivência e essa proteína pode ser usada como marcador prognóstico para a sobrevida de pacientes com carcinoma epidermóide de cavidade oral. Palavras-chave: carcinoma epidermóide, sobrevida, iNOS. Área do Conhecimento: Análises Clínicas

Introdução

O carcinoma epidermóide, também conhecido como carcinoma de células escamosas, é uma neoplasia maligna que se origina do epitélio de revestimento (BRENNER et al., 2007) e representa o tipo histológico predominante entre os tumores bucais humanos (WARNAKULASURIYA, 2009). Os indices de sobrevivência dos pacientes com esse tipo de neoplasia são geralmente baixos, desafiando os métodos de avaliação de prognóstico disponíveis e incentivando a busca de novos e melhores marcadores que possam se relacionar de forma abrangente com alterações da progressão tumoral (ZYGOGIANNI et al., 2011).

Muitos biomarcadores para carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço foram identificados e estão disponíveis. Porém, apresentam um interesse limitado para o clínico, pois não são capazes de fornecer conclusões afirmativas sobre o seu valor na triagem e como fatores prognósticos e preditivos (LOTHAIRE, et al., 2006). Diante disso, há necessidade de novos indicadores de prognóstico, os quais poderiam ser usados para selecionar os métodos de tratamento mais eficazes (ZYGOGIANNI et al., 2011). Sappayatosok et al. (2009) evidenciaram uma ligação entre a inflamação crônica e o câncer oral, indicando que biomarcadores inflamatórios, entre ele a óxido nítrico sintase induzível (iNOS), também podem ser utilizados para monitorar a progressão da doença.

A iNOS é uma proteína cuja expressão é induzida por citocinas inflamatórias ou polissacarídeos de bactérias (STUEHR et al., 1991). A expressão de iNOS já foi observada em macrófagos, linfócitos, neutrófilos e células endoteliais (DUSSE et al., 2003), podendo gerar grandes quantidades de óxido nítrico (NO) por longos períodos de tempo (KNOWLES E MONCADA, 1994). Em tumores, o NO exerce uma complexidade de efeitos ora auxiliando na progressão do tumor, ora atuando como agente anticâncer (COSTA et al., 2003). Em geral tem sido relatado que os efeitos do NO em concentrações modestas podem promover a malignidade do tumor devido ao seu envolvimento com a angiogênese e invasão do tecido (CONNELLY et al., 2005), enquanto que as concentrações muito elevadas atuam como agente tumoricida, promovendo a apoptose e inibição da angiogênese (SINGH e GUPTA, 2011).

Objetivou-se com o presente trabalho, analisar a expressão da proteína iNOS em células inflamatórias de tumores de cavidade oral e verificar sua relação com a sobrevida dos pacientes. Material e Métodos

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Casuítica: O material analisado consistiu de 55 amostras de tecido tumoral proveniente de

pacientes com carcinoma epidermóide de cavidade oral, tratados cirurgicamente no Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Heliópolis, São Paulo, no período de 2002 a 2005. Todos os pacientes selecionados tiveram um acompanhamento mínimo de 24 meses a partir do tratamento inicial. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Heliópolis em 13 de Setembro de 2011.

Tissue microarray (TMA): A montagem do tissue microarray (TMA) foi disponibilizada pelo Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Heliópolis juntamente com o Hospital AC Camargo de São Paulo. Blocos contendo o tecido tumoral dos pacientes selecionados serviram como doadores para a montagem do TMA. Fragmentos cilíndricos de 1 mm de diâmetro foram retirados dos blocos doadores e adicionados, em duplicata, em um bloco receptor. Posteriormente, o bloco receptor foi seccionado e os cortes dispostos em lâminas, que em seguida foram processadas e submetidas às reações de imunoistoquímica.

Imunoistoquímica: A técnica imunoistoquímica foi performada, realizando-se reações para o anticorpo anti-iNOS diluído em 1/150 (BD Bioscience

®, código 610431). As reações de

imunoistoquímica foram realizadas pela técnica de complexo estreptavidina-biotina-peroxidase (StreptABC, DAKO

®). Em todas as reações foram utilizadas amostras com a expressão do iNOS

previamente conhecidas em tecidos inflamatórios não tumorais. A revelação empregou o cromógeno 3,3'-diaminobenzidina e foi contra-corado com hematoxilina de Mayer (DAB, Sigma

®). Ao final de todo

processo, foi fixada a lamínula utilizando resina. Análise de expressão: As lâminas foram observadas por meio de microscopia de luz com objetiva

de 40x. O infiltrado inflamatório intratumoral de cada spots foi analisado e os pacientes classificados como imunopositivos e imunonegativos para iNOS.

Análise estatística: A análise estatística foi realizada com a utilização do programa matemático Epi Info® versão 3.4.3 (2007). Para a análise de associação foi utilizado o teste exato de Fisher. Para a análise de sobrevida foi calculado o intervalo de tempo (em meses) entre as datas de cirurgia e óbito de cada paciente ou do último retorno dos sobreviventes. As curvas de sobrevida foram avaliadas segundo o modelo Kaplan-Meier e o valor de p de Wilcoxon. Para ambos a margem de erro foi estipulada em menor que 5%. Resultados e Discussão

A análise microscópica revelou que 78,18% (43/55) dos pacientes apresentaram expressão positiva de iNOS no infiltrado inflamatório e 21,81% (12/55) não apresentaram expressão desta proteína. A positividade da proteína iNOS pode ser explicada pela ocorrência de algumas citocinas pró-inflamatórias (IL-1, TNF-α, IFN-γ)) ou lipopolissacarídeos (LPS) que são capazes de induzir a sua expressão. A ausência de expressão da proteína pode ser explicada pela possível presença de citocinas anti-inflamatórias (TGF-β, IL-4, IL-10) ou corticóides que podem inibir a indução da iNOS, impedindo sua expressão (NATHAN, 1992). A expressão de iNOS envolve também outros aspectos complexos como os controles trancricionais e pós-transcricionais. Considerando que os pacientes amostrados tinham condições físicas e ambientais distintas, esses fatores juntos ou separadamente podem ter influenciado na ocorrência da expressão da proteína.A análise de associação da imunopositividade de iNOS, no infiltrado inflamatório de carcinomas orais, com a sobrevida dos pacientes apresentou relação significativa (p=0,0003), revelando que a ausência de expressão de iNOS está relacionada com o maior número de óbitos (Tabela 1).

Tabela 1. Associação da imunopositividade da expressão de iNOS no infiltrado inflamatório de carcinomas orais com a sobrevida dos pacientes atendidos no Hospital Heliópolis, São Paulo, entre 2002 e 2005.

Status de sobrevida

Expressão de iNOS p valor

Negativo Positivo

No. (%) No. (%)

Vivo 1 (1,81) 29 (52,72) 0,0003

Morto 11 (20,0) 14 (25,45)

A análise das curvas de sobrevida segundo a imunopositividade da expressão de iNOS não teve

associação significativa (p=0,120), porém mostrou que a probabilidade de sobrevivência dos pacientes que apresentaram expressão positiva de iNOS é maior do que aqueles pacientes que não

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apresentaram expressão. Ao fixar um período tempo (36 meses) a probabilidade de sobrevivência dos pacientes que apresentaram expressão positiva de iNOS é cerca de 72% enquanto que para os pacientes que não apresentaram expressão esse percentual reduz para cerca de 36%. (Figura 1).

Figura 1. Curva de sobrevida da doença específica segundo a imunopositividade da expressão de iNOS nas células do infiltrado inflamatório de carcinomas orais em pacientes humanos, (p=0,120).

Kong et al. (2001) relataram que a expressão da proteína iNOS não se correlacionou com a sobrevida de pacientes com câncer pancreático (KONG et al., 2001). Outros pesquisadores, relataram que a expressão da iNOS está correlacionada com a pior sobrevida dos pacientes com melanomas (EKMEKCIOGLU et al., 2000) e câncer de colo uterino (CHEN et al., 2005).

No entanto, nesse trabalho verificou-se que a expressão de iNOS esta relacionada com a maior sobrevivência dos pacientes. Além disso, pode-se observar uma tendência das curvas de sobrevida, em que a ausência de expressão da proteína relaciona-se com a morte precoce dos pacientes. Sendo assim, sugere-se que a presença de iNOS possibilita que o seu produto (NO) exerça efeito tumoricida, controlando a progressão tumoral. A não significância da análise das curvas possivelmente ocorreu devido ao baixo número de pacientes amostrados.

Por fim, os dados obtidos nesse trabalho são base para novas pesquisas, uma vez que não há relatos de associação da expressão de iNOS com a sobrevida de pacientes com carcinoma epidermóide de cavidade oral. Conclusão

A proteína iNOS foi expressa em células inflamatórias intratumorais de pacientes humanos com carcinoma de células escamosas de cavidade oral. Os dados revelaram que pacientes com expressão de iNOS possuem maior probabilidade de sobrevivência. Assim, a proteína iNOS pode ser usada como marcador prognóstico para a sobrevida de pacientes humanos com carcinoma epidermóide de cavidade oral. Referências BRENER, S.; JEUNON, F.A.; BARBOSA, A.A.; GRANDINETTI, H.A.M. Carcinoma de células escamosas bucal: uma revisão de literatura entre o perfil do paciente, estadiamento clínico e tratamento proposto. Revista Brasileira de Cancerologia, v.53, n.1, p.63-69, 2007. CHEN, H.H.W.; SU, W.C.; CHOU, C.Y.; GUO, H.R.; HO, S.Y.; QUE, J.; LEE, W.Y. Increased expression of nitric oxide synthase and cyclooxygenase-2 is associated with poor survival in cervical cancer treated with radiotherapy. Int. J. Radiation Oncology Biol. Phys., v.63, n.4, p.1093-1100, 2005.

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CONNELLY, S.T.; MACABEO-ONG, M.; DEKKER, N.; JORDAN, R.C.K.; SCHMIDT, B.L. Increased nitric oxide levels and INOS over-expression in oral squamous cell carcinoma. Oral Oncology, v.41, p.261–267, 2005. COSTA, M.T.; FABENI, R.C.; APTEKMANN, K. P.; MACHADO, R. R. Diferentes papéis do óxido nítrico com ênfase nas neoplasias. o nítrico com ênfase nas neoplasias. Ciência Rural, v.33, n.5, p.967-974, 2003. DUSSE, L.M.S.; VIEIRA, L.M.; CARVALHO, M.G. Revisão sobre óxido nítrico. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, v.39, n.4, 2003. EKMEKCIOGLU, S.; ELLERHORST, J.; SMID, C.M.; PRIETO, V.G.; MUNSELL, M.; BUZAID, A.C.; GRIMM, E.A. Inducible Nitric Oxide Synthase and Nitrotyrosine in Human Metastatic Melanoma Tumors Correlate with Poor Survival. Clinical Cancer Research, v.6, p.4768-4775, 2000. KNOWLES, R.G.; MONCADA, S. Nitric oxide synthases in mammals. Biochem. J., v.298, p.249-258, 1994. KONG, G.; KIM, E.K.; KIM, W.S.; LEE, Y.W.; LEE, J.K..; PAIK, S.W.; RHEE, J.C.; CHOI, K.W.; LEE, K.T. Inducible nitric oxide synthase (iNOS) immunoreactivity and its relationship to cell proliferation, apoptosis, angiogenesis, clinicopathologic characteristics, and patient survival in pancreatic cancer. Int. J. Pancreatoly, v.29, p.133-140, 2001. LOTHAIRE, P.; AZAMBUJA, E.; DEQUANTER, D.; LALAMI, Y.; SOTIRIOU, C.; ANDRY, G.; CASTRO, G.; AWADA, A. Molecular markers of head and neck squamous cel carcinoma: Promising signs in need of prospective evaluation. Wiley Periodicals, Inc. Head & Neck, v.28, p. 256-269, 2006. NATHAN, C. Nitric oxide as a secretory product of mammalian cells. The Faseb Journal, v.6, 1992. SAPPAYATOSOK, K.; MANEERAT, Y.; SWASDISON, S.; VIRIYAVEJAKUL, P.; DHANUTHAI, K.; ZWANG, J.; CHAISRI, U. Expression of pro-inflammatory protein, iNOS, VEGF and COX-2 in Oral Squamous Cell Carcinoma (OSCC), relationship with angiogenesis and their clinico-pathological correlation. Med Oral Patol Oral Cir Bucal, v.14, p.319-324, 2009. SINGH, S.; GUPTA, A.K. Nitric oxide: role in tumour biology and iNOS/NO-based anticancer therapies. Cancer Chemother Pharmacol, v.67, p.1211–1224, 2011. STUEHR, D.J.; CHO, H.J.; KWON, N.S.; WEISE, M.F.; NATHAN, C.F. Purification and characterization of the cytokine-inducedmacrophage nitric oxide synthase: An FAD- and FMN-containing flavoprotein. Proc. Nadl. Acad. Sci. USA, v.88, p.7773-7777, 1991. ZYGOGIANNI, A.G.; KYRGIAS, G.; KARAKITSOS, P.; PSYRRI, A.; KOUVARIS, J.; KELEKIS, N.; KOULOULIAS, V. Oral squamous cell cancer: early detection and the role of alcohol and smoking. Head & Neck Oncology, 3:2, 2011. Disponível em: http://www.headandneckoncology.org/content/3/1/2 Acesso em: 11/04/2012. WARNAKULASURIYA, S. Global epidemiology of oral and oropharyngeal câncer. Oral Oncology, v.45, p.309–316, 2009.

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CAPÍTULO 20

TÉCNICAS DE HOFFMAN E FOREYT (2005) MODIFICADAS PARA DETECÇÃO

DE ESTRUTURAS LEVES E PESADAS EM PARASITOS EM AREIA DE ALEGRE - ES

Paola Fernandes Pansini1 , Aline Almeida Mascarenhas2, Amanda Machado

Corrêa3, Deivid França Freitas4, Joaquim Gasparini dos Santos5, MarcelleTemporim Novaes6, Thabata Coeli Dias Damasceno7

1Universidade Federal do Espírito Santo/ Laboratório de parasitologia, Alegre- ES

[email protected] Resumo - Este trabalho teve como objetivo acoplar as técnicas de sedimentação espontânea e Foreyt a fim de viabilizar melhor identificação e reconhecimento de estruturas leves e pesadas de parasitos encontrados em areias de áreas de lazer. As infecções parasitárias transmitidas pelo solo são freqüentes e estão relacionadas à deficiência das condições de saneamento básico e dos hábitos de higiene.Para a preparação das amostras, foi elaborado um protocolo que foi submetido a técnica de Hoffman,Pons & Janer (1934), com sedimentação dos grãos de areia no fundo do cálice. Posteriormente, estes foram submetidos a mais 4 filtragens por meio da técnica de sedimentação proposta por Foreyt (2005) ocorrendo, então, a identificação dos ovos. Analisou-se, após o descarte do sobrenadante, o sedimento em microscópio. Foi possível observar além de ovo de Strongylus sp., larva de Ancilostomasp.e a presença de uma espécie de Ciliata.Com a customização desta técnica de Hoffman e Foreyt (2005), observou-se uma eficácia e aplicabilidade para diversas análises, mostrando-se eficaz para este experimento, pois pôde-se detectar diferentes estruturas parasitárias anteriormente não previstas. Palavras-chave: Hoffman, Foreyt , Areia, Ovos, Larvas. Área do Conhecimento: Saúde pública

Introdução

Segundo Araújo et al. (2008) as infecções parasitárias transmitidas pelo solo são frequentes e

estão relacionadas à deficiência das condições de saneamento básico e dos hábitos de higiene. Animais de estimação chegam a eliminar até 15.000 ovos de parasitos por grama de fezes por dia. Desse modo, contaminam o solo e expõem os humanos o risco de adquirir diferentes tipos de doenças parasitárias,visto que estes ovos permanecem viáveis por um longo período de tempo (OLIVEIRA et al., 2008).

Araújo e Fernández (2005) afirmaram que diversas patogenias parasitárias são decorrentes de uma elevada prevalência de enteroparasitos, porém muitas vezes são confundidas com outras doenças e, dessa forma, os indivíduos permanecem acometidos pela doença devido à falta de diagnóstico e tratamento específico.

Ultimamente diversos estudos têm demonstrado que houve uma elevação, no Brasil, do risco de infecção de pessoas por parasitos intestinais, principalmente crianças, dado o crescente número de cães domiciliados, peridomiciliados e errantes de um modo geral, associado ao seu fácil acesso aos locais de lazer (ARAÚJO et al., 2000; NUNES et al., 2000; GUIMARÃES et al., 2005). Assim, buscou-se com este breve experimento obter um protocolo modificado que melhor se ajustasse no processo de identificação e reconhecimento de estruturas parasitárias presentes em areias de recreação para que políticas e ações de saúde públicas possam ser melhor direcionadas, principalmente em locais onde pessoas e humanos dividem o mesmo espaço em atividades recreativas. Material e Métodos

A coleta da areia foi realizada em uma área recreativa que possui ausência de manutenção, na localidade do bairro Campo de Aviação, no município de Alegre, Espírito Santo.

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Para tal, delimitaram-se quadrantes nas extremidades e no meio do local a fim de determinar pontos para coleta da areia, sendo um total de 5 (cinco). Cada quadrante contou com um tubo específico, para evitar a transferência do material.

Após a retirada da areia, esta foi transferida para sacos plásticos, previamente higienizados e numerados, segundo a área que representavam.

O material foi encaminhado para o laboratório de parasitologia da Universidade Federal do Espírito Santo, campus Alegre, para processamento e análise das amostras.

Para a preparação das amostras, foi elaborado um protocolo que seguiu com a pesagem de 50g do material, logo após este foi submetido a técnica de Hoffman, Pons & Janer (1934). Após a sedimentação dos graõs de areia no fundo do cálice, estes foram submetidos a mais 4 filtragens por meio da técnica de sedimentação proposta por Foreyt (2005). Das amostras anteriormente submetidas à sedimentação espontânea, foram retiradas e misturadas a 200mL de água e, após serem passadas em tamis, sofreram uma nova sedimentação durante 10 minutos. Após decantação, descartou-se aproximadamente 70% do sobrenadante, repetindo-se este passo por 3 ou 4 vezes até que o material estivesse límpido para melhor identificação dos ovos. Analisou-se, após o descarte do sobrenadante, o sedimento em microscópio óptico. Resultados e Discussão

Os resultados foram obtidos através da modificação e fusão das técnicas de Hoffman e Foreyt, uma vez que os experimentos apresentaram uma mesma característica analítica, ou seja, de sedimentação e qualitativa. Enquanto o método Hoffman abordou a observação de estruturas presentes no sedimento através de escassa filtragem, a técnica de Foreyt objetivou o reconhecimento destas estruturas nas soluções translúcidas por meio de sucessivas filtragens. Porém, a técnica de Foreyt (2005) até o presente estudo, nunca havia sido adotada com a finalidade de observação de estruturas parasitárias em animais de companhia, apenas em animais de produção, conforme demonstrado por Martins et al. (2008). Os resultados demonstraram presença de estruturas com ovos de Strongylus sp., larvas de Ancilostoma sp., além da presença de uma espécie de Ciliata. O método de Hoffman é comumente utilizado para o estudo destas espécies em questão (Strongylus sp. e Ancilostoma sp.) como descrito por Oliveira Filho et al. (2011), onde foram feitas análises em areias das praias da Paraíba. Assim como Cavalcante (2011) que avaliou a prevalência de enteroparasitas em areia de praia no município de São Vicente – SP. Perante as condições do terreno, a falta de isolamento, a acessibilidade de cães errantes e de moradores, o aparecimento de estruturas parasitárias prejudiciais à saúde pública foram mais incidentes. Com a utilização dessas técnicas notou-se que esta foi representativa na visualização das estruturas parasitárias que estavam presentes nas amostras de areia. Conclusão

Com a modificação das técnicas Hoffman, Pons e Janer (1934) e Foreyt (2005), observou-se uma eficácia e aplicabilidade para diversas análises, embora seja dispendioso em relação ao tempo de preparação dos exames, este se mostrou eficaz para este experimento, pois pôde-se detectar diferentes estruturas parasitárias anteriormente não prevista. É conveniente salientar que esta modificação nas técnicas concomitantes para uma completa visualização de outras estruturas parasitárias, principalmente cistos e oocistos de protozoários. Referências ARAÚJO, F. R.; ARAÚJO, C. P.; WERNECK, M. R.; GÓRSKI, A. Larva migrans cutânea em crianças de uma escola em área do Centro-Oeste do Brasil,Revista de Saúde Pública, Campo Grande, Brasil, v. 34, n. 1, p. 84-85, 2000.

ARAÚJO, N. S.; RODRIGUES, C. T.; CURY, M. C. Helmintos em caixas de areia em creches da

cidade de Uberlândia, Minas Gerais, Revista Saúde Pública, Minas Gerais, Brasil, v. 42, n. 1, p. 150-

153, 2008.

BLAZIUS, R. D.; SILVA, O. S.; KAULING, A. L.; RODRIGUES, D. F. P.; LIMA, M. C. Contaminação da areia do Balneário de Laguna, SC, por Ancylostoma spp., e Toxocara spp. Em amostras fecais de cães e gatos. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 35, n. 3, p. 55-58, 2006.

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CAVALCANTE, S. A. Estudo da prevalência de enteroparasitas em areia de praia no município de São Vicente- SP–Brasil. Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, São Paulo, Brasil, v. 8, n. 15, jul./dez. 2011. FIGUEIREDO, M. I. O.; WENDT, E. W.; SANTOS, H. T.; MOREIRA, C. M. Levantamento sazonal de parasitos em caixas de areia nas escolas municipais de educação infantil em Uruguaiana, RS, Revista de Patologia Tropical, Rio Grande do Sul, Brasil, v. 41, n. 1, p. 36-46, 2012. GONZÁLEZ, A. P. S.; CÁCERES, F. A. G.; CAZORLA, I. M.; CARVALHO, S. M. S. Contaminação do Solo por Helmintos de Importância Médica na Praia do Sul (Milionários), Ihéus- BA. News Lab, Bahia, Ed. 67, 2004. MARTINS, I. V. F.; BERNARDO, C. C.; AVELAR, B. R.; ARAÚJO, I. B. B. A.; DONATELE, D. M.; NUNES, L. C. Sensibilidade e reprodutibilidade da técnica de sedimentação (Foreyt, 2005) para diagnóstico de Fasciola hepática. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, Supl. 1, p. 110-112, 2008. OLIVEIRA, C. B.; MONTEIRO, A. S. S.; MONTEIRO, S. G. Ocorrência de parasitas em solos de praças infantis nas creches municipais de Santa Maria.Revista da FZVA, Rio Grande do Sul, v. 14, n. 1, p. 174-179, 2007. OLIVEIRA FILHO, A. A.; FERNANDES H. M. B.; ALCÂNTARA, N. D. F.; ASSIS, T. J. C.F.; FREITAS, F. I. S. Freqüência de enteroparasitas nas areias das praias da Paraíba. Revista de Biologia e Farmácia. v.6, n.2, 2011. RODRIGUES, M. M.; ARAÚJO, A.; MACHADO D.; FONSECA, F. A. R.; JÚNIOR, M. A. R. A Importância das Condições de Higiene em Áreas de Recreação Infantil. Belo Horizonte, 2004. Disponível em:< http://www.ufmg.br/congrext/Saude/Saude4.pdf>. Acesso em: 18 de Junho de 2012. SANTOS, E. S.; SOUZA H. Pesquisa de helmintos e protozoários em areia de praias e praças na cidade de Palmas, Tocantins.Palmas, 2010. Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/pesquisa-de-helmintos-e-protozoarios-em-areia-de-praias-e-pracas-na-cidade-de-palmas-tocantins/31950/>. Acesso em: 29 de Maio de 2012. SANTOS, N. M.; SILVA, V. M. G.; THÉ, T. S.; SANTOS, A. B.; SOUZA, T. P. Contaminação das praias por caninos de importância zoonótica na orla da parte alta da cidade de Salvador-BA. Revista de Ciências Médicas e Biológicas., Salvador, v. 5, n. 1, p. 40-47, jan./abr. 2006. SOUZA, V. R.; ALMEIDA, A. F.; CANDIDO, A. C.; BARROS, L. A. Ovos e larvas de helmintos em caixas de areia de creches, escolas municipais e praças públicas de Cuiabá, MT. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 11, n. 2, p. 390-395, abr./jun. 2010.

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CAPÍTULO 21

O USO DE ESTERÓIDES ANABÓLICOS ANDROGÊNICOS EM PROFISSIONAIS E ESTUDANTES DA ÁREA DE SAÚDE, PRATICANTES DE EXERCÍCIO FÍSICO.

Nathâny F.Tavares1,Virginia F.Rodrigues1,Patrício S.Magalhães2,Fabrício

F.A.Fernandes1.

1Universidade Estácio de Sá – Campos dos Goytacazes/ Av.28 de março,423 – Centro. Campos dos

Goytacazes/RJ-Brasil, CEP:28020 – 740, [email protected] 2Universidade Gama Filho – Rio de janeiro/ Rua Manoel Vitorino, 553 - Piedade Rio de Janeiro - RJ,

CEP: 20740-900, [email protected]

Resumo - Os Esteróides Anabólicos Androgênicos (EAA) são substâncias sintéticas ou naturais, que são utilizadas farmacologicamente para os tratamentos de algumas doenças tais como: hipogonadismos,anemias, osteoporose, entre outras. Porém tem se tornado um problema de saúde publica e um assunto importante para área toxicológica, devido ao seu uso abusivo por praticantes do treinamento resistido, pois tais substâncias têm a capacidade de promover o aumento da força e da massa magra. Esse uso abusivo torna os usuários susceptíveis ao desenvolvimento de distúrbios relacionados a imagem corporal e a alimentação, também podem promover o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Esse trabalho teve como objetivo levantar dados sobre o consumo de EAA em profissionais e estudantes da área de saúde, praticantes de exercício físico. Dos que responderam o questionário, 28% confirmaram já terem feito ou ainda fazem o uso de EAA, mesmo todos terem alegado saberem dos efeitos provocados pelo seu uso. Com esses dados foi possível concluir, que mesmo sendo profissionais de saúde e tendo conhecimento dos efeitos colaterais eles utilizam EAA por uma estética melhor. Palavras-chave: Esteróides, testosterona e doping. Área do conhecimento: Toxicológica. Introdução

A utilização indiscriminada de Esteróide Anabólico Androgênico (EAA), não é um assunto atual. Na Grécia o povo grego e os gladiadores que lutavam no coliseu, já faziam uso de substâncias como estimulantes naturais com o objetivo de mascarar a dor causada pela fadiga muscular e pelos machucados (SANTOS, 2007).

Os EAA são compostos de origem natural ou sintética, que possuem a testosterona como grupo farmacológico, eles são sintetizados a partir da mesma e seus derivados que podem estar na sua forma de éster (PARDI, 2010), propionato, anantato, undecanoato ou cipionato, que comumente são utilizados pela via parenteral (KATZUNG, 2010), ou na sua forma alcalina que são utilizados pela via oral (PARDI, 2010). A testosterona é um hormônio endógeno que possui características androgênicas e anabólicas. Sua produção ocorre nas glândulas supra-renais e nas células intersticiais, porém é produzida em maior quantidade nas células intersticiais, que se dá através da estimulação do hormônio luteinizante (LH) (KATZUNG, 2010). O fígado é o principal órgão de biotransformação da testosterona nos seres humanos, onde ocorrem as reações de redução dos compostos alfa,beta insaturados e redução da cetona, ambas ocorrem no anel A. Tais reações levam a produção de substâncias inativas (GROSSELLI, 2009). Devido a essa degradação imediata que ocorre, é necessário fazer uma modificação na molécula alterando suas propriedades de forma a atrasar a biotransformação ou aumentar o efeito androgênico de cada substrato (GOODMAN E GILMAN, 2011).

O EAA tem como indicação terapêutica o tratamento de sarcopenias, hipogonadismos, osteoporose e déficits no crescimento corporal (MENDONÇA et al., 2006), porém pelos seu efeitos anabólicos de aumentar a massa magra, eles se tornaram uma das substâncias de uso abusivo mais utilizados no meio do esporte, que atualmente não é limitado aos atletas de alto rendimento, que usavam para melhorar sua performance. Nos dias de hoje os EAA tornaram-se populares entre os praticantes de esportes recreativos, com o objetivo de melhorar sua estética corporal (GARCIA, 2011). Tal ato exercido na busca pelo corpo perfeito tornou-se uma preocupação, pois praticantes de esportes recreativos apresentam uma visão distorcida quanto a sua imagem corporal. Apesar da

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grande hipertrofia eles se veem magros (fato conhecido como vigorexia), o que torna essas pessoas mais susceptíveis a fazerem o uso de forma abusiva dos EAA (AMSTTERDAM, APPERHUIZEN E HARTGENS, 2010). Um dos perigos causados pelo uso indiscriminado dos EAA são os efeitos que eles provocam em longo prazo, como o infarto do miocárdio, embolia pulmonar e tromboses (EBENBICHLER et al., 2000).

Esta pesquisa teve como objetivo principal, levantar dados sobre o consumo de EAA em profissionais e estudantes da área de saúde, praticantes de exercício físico, em Campos dos Goytacazes. O uso dos EAA tem sido cada vez maior e com isso vem sendo foco de grandes preocupações, pois os usuários fazem seu uso e forma irracional, com o intuito de melhorar sua estética e sua performance nos desporto, geralmente em dosagens muito elevadas em comparação a sua indicação e associados a outros tipos de EAA, o que pode ocasionar patologias reversíveis ou irreversíveis.

Materiais e Métodos

Foi realizado um estudo de natureza quantitativa, com a utilização de questionários possuindo perguntas objetivas, fechadas e abertas, esse questionário foi aplicado em profissionais e estudantes da área de saúde, praticantes de exercício físico de Campos dos Goytacazes.

O trabalho de campo foi desenvolvido num período de 3 semanas do mês de maio de 2012, durante os quais foram realizados 53 de entrevistas com o auxílio dos instrutores de academias, profissionais e estudantes da área de saúde que indicavam as pessoas para serem entrevistadas.

As entrevistas duraram em média de 5-10 minutos, onde foram escritas/marcadas pelo próprio entrevistado ou pelo entrevistador, ficando de escolha do entrevistado a forma em que ele mais se sentisse mais a vontade.

Para se obter a análise dos resultados, foi utilizado o programa Microsoft Excel 2010 onde os dados foram trabalhados sendo possível a extraí-los na forma de gráficos e tabelas.

Resultados e Discussão

A população da pesquisa foi constituída em um espaço amostral de 53 entrevistados, onde 15 representando 28% dos pesquisados confirmaram já terem utilizado ou ainda utilizarem EAA, contra 72% que alegaram nunca terem feito uso. Desses 28%, 9,43% alegaram ainda fazerem uso de EAA.

Os EAA mais utilizados foram a durateston® que alcançou a média de 53,3% e a deca-durabolin® com 40%. É importante ressaltar que 66,66% dos usuários fazem combinação de EAA, sendo a combinação mais utilizada é a da deca-durabolin® com durateston®.

Os efeitos colaterais mais comuns relatados foram, acnes com 75%, engrossamento da voz, pêlo e stress 50%, 35% relataram terem apresentado alterações na menstruação e agressividade e 12,5% apresentaram perda/aumento do libido, insônia e hipertensão. Com uma ressalva que 4 dos 8 que relataram ter algum efeito colateral apresentaram mais de dois tipos de efeito colateral.

A área de saúde que apresentou maior prevalência no uso de EAA, foi a área de farmácia com 40% dos resultados entre estudantes e profissionais já formados, o que revelou uma surpresa, pois esperava que o maior resultado viesse da área de educação física, pelo fato desses profissionais trabalharem com a aparência. No entanto foi a área que apresentou a menor prevalência sendo de 13,33%. A enfermagem obteve a segunda maior prevalência com 27% e as áreas de nutrição, psicologia e fisioterapia apresentaram 20%.

A partir desses resultados pode-se se discutir a questão do acesso a esse tipo de substância, as áreas de farmácia e enfermagem são as que mais têm acesso ao EAA.

Foi possível notar que 80% fazem uso por indicação de amigos e 20% tem a indicação do nutricionista ou do médico.

Conclusão

Com os resultados dessa pesquisa podemos constatar, que por mais que sejam profissionais e estudantes da área de saúde e tenham conhecimentos sobre os efeitos colaterais que o uso de EAA pode causar, foi revelado que existem profissionais que usam de forma recreativa, pensando somente no lado estético.

Conclui-se também que os educadores físicos por mais que sua imagem corporal possa fazer com que tenham mais alunos, eles se parecem estar mais preocupados com a saúde, já que representam a maioria dos profissionais que responderam o questionário e a minoria que faz uso.

O acesso aos EAA facilita o seu uso, isso pode ser notado pela alta prevalência do uso nas áreas de farmácia e enfermagem.

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Referências AMSTERDAM,J.V,OPPERHUIZEN,A.E HARTAGENS,F. Adverse health effects of anabolic androgenic steroids. Regulatory toxicology and pharmacology, vol.57,p.117-118, 2012. EBENCICHLER,C.F,KASER,S,BODNER,J,GRANDER,R,LECHLEITNER,M,HEROLD,M,PATSCH,J.R. Hyperhomocysteinemia in bodybuilders taking anabolic steroid. European Journal of Internal Medicine,vol.12,p.01,2000. GARCIA,F. Implicaciones andrológicas del abuso de esteroides androgênicos anabolizantes. Revista Internacional de Andrologia, vol.9,p.161, 2011. GOODMAN & GILMAN. As bases farmacológicas da terapêutica,Ed.McGraw Hill, Dallas,11ª edição, 2011. Capítulo 58.Androgênios. GROSSELLI,M. Esteróide anabolizantes e os efeitos adversos sobre o sistema cardiovascular: Uma revisão bibliográfica. Centro de Ciências da Saúde e do Esporte,p.02,2009. KATZUNG,B. Farmacologia Básica e Clínica,Ed.AMGH,São Paulo, 10ª edição,2010. Capítulo 33. Agentes usados em anemias:fatores de crescimento hematopoiéticos;Capítulo 37. Hormônios hipotalâmicos e hipifisários;Capítulo 40.Hormônio e inibidores gonadais. MENDONÇA,P.M.H,SANTOS,L.A,SILVA,N.F,TAVARES,J.K.L,SANTOS,A.F. Anabolizantes: Conceitos segundo praticantes de musculação em Aracajú (SE). Psicologia em Estudo, vol.11,p.372, 2006. PARDI,A.C.R. Ação da nandrolona no padrão energético do músculo esquelético imobilizado: Estudos em ratos.2010.13. Dissertação (mestrado em fisioterapia) – Instituto Educacional Piracicabano, Universidade Metodista de Piracicaba, 2010. SANTOS,A.M. O mundo anabólico, 2ªedição,Ed Manole, Baurueri-SP,2007. Capítulo1: Como surgiram os esteroides anabólicos;Capítulo 3: Os esteroides anabólicos; Capítulo 4: Efeitos do uso de esteroides; Capítulo 5: Como são utilizados os esteroides anabólicos.

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CAPÍTULO 22

ANALISE SENSORIAL DE BISCOITOS AMANTEIGADOS ELABORADOS COM

FARINHAS SUBSTITUTIVAS AO TRIGO, EM DIFERENTES PROPORÇÕES.

Tamires dos Santos VIEIRA, Erika Madeira Moreira da SILVA, Flávia Vitorino FREITAS.

Universidade da Federal do Espírito Santo - Centro de Ciências Agrárias / Departamento de Farmácia e Nutrição – Av. Alto Universitário, s/ nº, 29500-000 Alegre, Espírito Santo, Brasil [email protected] Resumo – Os biscoitos podem representar boas opções para a adição de farinhas mistas sem glúten, devido à capacidade de incorporar ingredientes sem prejudicar as características tecnológicas e sensoriais. O objetivo deste estudo foi avaliar sensorialmente biscoitos amanteigados, elaborados com farinhas substitutivas ao trigo, em diferentes proporções. A partir de testes preliminares, foram padronizadas três formulações: F1 (100% farinha de trigo); F2 (30% amaranto, 10% quinoa, 40% soja, 20% polvilho); F3 (35% amaranto, 10% quinoa, 30% soja, 25% polvilho). Foram avaliados os atributos sensoriais numa escalda de 1 a 9 pontos, além da intenção de compra. Os dados foram agrupados e submetidos à ANOVA e as médias comparadas pelo Teste de Tukey Para o parâmetro intenção de compra, foi realizado o teste Qui-quadrado. Adotou-se um nível de significância de 5%. De acordo com os resultados, F1 foi superior às duas formulações testadas quanto aos atributos sensoriais, bem como quanto à intenção de compra. Porém, a formulação F2, no parâmetro aparência, não diferiu estatisticamente de F1 e F3. Contudo, foi possível verificar que todas as formulações de biscoitos amanteigados foram bem aceitas pelos julgadores. Palavras-chave: análise sensorial, biscoitos amanteigados, farinhas substitutivas. Área do Conhecimento: Alimentos.

Introdução

O que determina a qualidade das massas à base de farinhas de trigo é a capacidade que estas possuem de absorver água, ter boa tolerância ao amassamento, e possuírem glúten de força média a forte e alta porcentagem de proteína (CAZETTA et al., 2008).

Alguns indivíduos geneticamente predispostos (NOBRE et al., 2007) e imunologicamente sensíveis, apresentam reações relacionadas ao trato gastrintestinal e má absorção crônica de nutrientes (MACHADO et al., 2006) quando ingerem alimentos que contenham o glúten. O nome dado a essa patologia é enteropatia sensível ao glúten ou Doença Celíaca e a única terapêutica eficaz é a restrição dietética (NOBRE et al., 2007). Porém, a adesão à dieta é dificultada devido à dificuldade em encontrar produtos isentos de glúten que sejam sensorialmente apropriados (ARAUJO et al., 2010).

A obtenção de produtos isentos de glúten tem sido tecnologicamente difícil, sendo necessária a introdução e combinações de diversas farinhas substitutivas, além da mudança nas técnicas tradicionais de preparo (CAPRILLES & ARÊAS, 2011). Entretanto, segundo Mareti et al. (2010), os biscoitos apresentam a capacidade de incorporar grande variedade de ingredientes e formulações sem prejudicar as características tecnológicas e sensoriais, podendo representar boas opções para a adição de farinhas mistas.

Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar sensorialmente biscoitos amanteigados elaborados com farinhas substitutivas ao trigo: farinhas de amaranto, quinoa, soja e fécula de mandioca, em diferentes proporções. Material e Métodos

Foram desenvolvidas 3 formulações de biscoitos amanteigados, sendo a Formulação 1 (F1) à base de farinha de trigo e as Formulações 2 e 3 (F2 e F3) à base de farinhas substitutivas: quinoa, amaranto, soja e polvilho, em diferentes proporções.

As farinhas de quinoa, soja e polvilho foram adquiridas, assim como os demais ingredientes, no comércio local da cidade de Alegre e o amaranto no comercio de Cachoeiro de Itapemirim, ES. A

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formulação dos biscoitos amanteigados foi obtida a partir de testes preliminares e a padronização dos ingredientes pode ser visualizada na Tabela 1. Tabela 1: Ingredientes das formulações de biscoitos amanteigados

Ingrediente Composição dos Biscoitos

F1* F2* F3*

Farinha de trigo (g) 155,1 - - Farinha de Amaranto (g) - 46,53 54,28 Farinha de Quinoa (g) - 15,51 15,51 Farinha de Soja (g) - 62,04 46,53 Polvilho Doce (g) - 31,02 38,77 Margarina (g) 90 90 90 Açúcar refinado (g) 70 70 70 Essência de Baunilha (ml) 2,5 2,5 2,5

*F1: Formulação 1 (100% farinha de trigo); F2: Formulação 2 (30% amaranto, 10% quinoa, 40% soja, 20% polvilho); F3: Formulação 3 (35% amaranto, 10% quinoa, 30% soja, 25% polvilho).

Fizeram parte do teste de aceitabilidade estudantes e funcionários do Centro de Ciências Agrárias

da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA/UFES), sendo recrutados de forma aleatória, compondo uma amostra de 60 julgadores, que representou uma parcela significativa, segundo Reis e Minim (2006).

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Espírito Santo (CEP/CCS/UFES), sob parecer nº 15528. Os julgadores assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme Resolução CNS nº 196/96.

O teste de aceitabilidade foi realizado no Laboratório de Análise Sensorial no Prédio de Alimentos e Nutrição do CCA/UFES. As amostras de biscoitos amanteigados (F1, F2 e F3) foram oferecidas aos julgadores de maneira monádica e aleatória. Cada participante recebeu por vez uma amostra numerada com três dígitos seguida de um copo de água para limpar o paladar.

Para a avaliação da aceitabilidade quanto aos atributos sensoriais: sabor, cor, textura e aceitação global, foi utilizada a escala hedônica de nove pontos, em que 1 correspondeu à “desgostei muitíssimo” e 9 à “gostei muitíssimo”. A intenção de compra também foi avaliada.

Os dados foram referentes aos atributos sensoriais foram agrupados em planilha do Microsoft Excel®, versão 2007, e submetidos à Análise de Variância (ANOVA). As médias foram comparadas pelo teste de Tukey, a um nível de 5% de significância. Quanto à intenção de compra, foi realizado o teste Qui-quadrado, a 5% de significância.

Resultados e Discussão

Na Tabela 2 é possível observar as médias de sabor, textura, aparência e aceitação global,

resultantes da analise sensorial das três formulações de biscoitos amanteigados. Tabela 2: Médias dos atributos sensoriais das formulações de biscoitos amanteigados

Atributos Sensoriais F1* F2* F3*

Sabor 8,03a

6,20b

6,48b

Aparência 7,58a

7,02ab

6,87b

Textura 7,83a

6,42b

6,37b

Aceitação global 7,75a

6,37b

6,26b

*F1: Formulação 1 (100% farinha de trigo); F2: Formulação 2 (30% amaranto, 10% quinoa, 40% soja, 20% polvilho); F3: Formulação 3 (35% amaranto, 10% quinoa, 30% soja, 25% polvilho). Letras iguais em uma mesma linha não diferem entre si pelo Teste de Tukey, a 5% de significância.

A média das notas atribuídas à F1 com relação ao sabor foi significativamente maior (p<0,05)

quando comparada à F2 e F3, as quais não diferiram significativamente entre si (p>0,05). Os julgadores comentaram que as formulações F2 e F3 apresentavam um sabor residual que não

souberam classificar, além de apresentar um sabor de gordura mais acentuado. Entretanto, a quantidade de margarina adicionada foi padronizada para as três formulações. O sabor residual pode ser justificado pela presença da farinha de soja, responsável pelo beany flavor, sabor característico de soja (GUILHERME; JOKL, 2005; BANUREKA; MAHENDRAN, 2009).

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Quanto à aparência, F2 e F3 não diferiram estatisticamente entre si (p>0,05), F1 superou e diferiu de F3 (p<0,05), mas não diferiu de F2 (p>0,05). Vieira et al. (2010), ao elaborarem biscoitos doces com polvilho, observaram que a adição de 15% possibilitou a cor mais clara aos produtos. Desta forma, a aceitação da aparência dos biscoitos testados no presente estudo pode ser justificada pela utilização de porcentagens superiores a 15% de polvilho. Na Figura 1 é possível visualizar as três formulações de biscoitos amanteigados.

Figura 1 – Biscoitos amanteigados elaborados.

Em relação à textura, F2 e F3 foram avaliadas com médias proximas de 6, ou seja, “gostei

ligeiramente” e estatisticamente semelhantes entre si (p>0,05). F1 superou e diferiu estatisticamente as demais (p<0,05), com média de 7,83. Segundo comentários dos julgadores, F1 apresentou a textura mais crocante, enquanto F2 e F3 apresentaram textura mais “esfarelenta”. No estudo de Marcilio et al. (2005), em que foi utilizada somente a farinha integral de amaranto, também foi observada rejeição por parte dos julgadores, obtendo melhora com o acréscimo de diferentes proporções de farinhas refinadas e farinhas integrais. Com base no atributo aceitação global, os biscoitos F2 e F3, representados por escores médios 6,37 e 6,26, respectivamente, não diferiram significativamente entre si (p>0,05). Entretanto F1, com escore médio foi de 7,75 (Tabela 2), superou e diferiu estatisticamente de F2 e F3 (p<0,05). Este resultado foi semelhante ao encontrado por Ferreira et al. (2009), ao elaborarem biscoitos tipo cookie com farinha de sorgo. Na Figura 2 estão apresentados os dados referentes à intenção de compra dos julgadores e, como pode ser visualizado, F1 obteve o maior percentual (88%) e diferiu significativamente de F2 e F3 n(p<0,05), cujos percentuais foram de 53%.

Figura 2 – Intenção de compra dos julgadores em relação aos biscoitos amanteigados. *Teste qui-quadrado a 5% de significância.

Conclusão

A formulação à base de trigo (F1) apresentou melhores escores quanto aos atributos sensoriais, bem como quanto à intenção de compra. Somente quanto ao atributo aparência, F2 foi semelhante à F1.

Entretanto, com o teste sensorial foi possível verificar que todas as formulações de biscoitos amanteigados tiveram boa aceitação pelos julgadores.

Referências

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ARAÚJO, H.M. C; ARAÚJO, W.M.C; BOTELHO, R,B,A; ZANDONADI, R.P. Doença celíaca, hábitos e práticas alimentares e qualidade de vida. Revista de Nutrição. Campinas, v. 23, n. 3, 2010, p. 467-474. BANUREKA, V.D; MAHENDRAN, T. Formulation of wheat - soybean biscuits and their quality characteristics. Tropical Agricultural Research & Extension. V.12, n.2,2009. CAPRILES, V.D; ARÊAS, J.A.G. Avanços na produção de pães sem glúten: Aspectos tecnológicos e nutricionais. Boletim do Centro de Pesquisa de Processamento de Alimentos, Curitiba, v. 29, n.1, 2011. CAZETTA, D. A; FILHO, D.F; ARF, O; GERMANI, R. Qualidade Industrial de cultivares de trigo e Triticale submetidos à adubação nitrogenada no sistema de plantio direto. Bragantia, Campinas, v.67, n.3, 2008, p.741-750.

FERREIRA, A.M.R; LUPARELLI, P.C.M, SCHIEFERDECKEM, M.E.M; VILELA, R.M. Cookies sem glúten a partir da farinha de sorgo Archivos Latinoamericanos de Nutricion Organo: Oficial de la Sociedad Latinoamericana de Nutrición.Paraná, v. 59, n.4, 2009, p.433-440.

GUILHERME, F. F. P; JOKL, L. Emprego de fubá de melhor qualidade proteica em farinhas mistas para produção de biscoitos. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, v.25, n.1, 2005, p.63-71. MACHADO, A, S; TEIXEIRA, A.V; CARDOSO, H; CRUZ, D; PAIVA, M.E; VELOSO-TAVARELA; F.Doença celíaca no adulto: A Propósito de um caso clínico. Jornal Português de Gastrenterologia. Lisboa, v.13, 2006. MARCÍLIO, R; AMAYA-FARFAN,J; SILVA, M. A.A.P; SPEHAR, C.R. Avaliação da farinha de amaranto na elaboração de biscoito sem glúten do tipo cookie. Brazilian Journal of Food in Technology., v.8, n.2, 2005, p. 175-181. MARETI, M.C; GROSSMANN, M.V.E; BENASSI, M.T. Características físicas e sensoriais de biscoitos com farinha de soja e farelo de aveia. Ciência e Tecnologia de Alimentos. Campinas, v. 30, n.4, 2010, p. 878-883.

NOBRE, S.R; T. SILVA, CABRAL, J.E.P. Doença celíaca revisitadas. Jornal Português de Gastrenterologia. Lisboa, v.14, n.4, 2007, p. 184-193. REIS, R. C.; MINIM, V. P. R. Analise Sensorial: Estudos com consumidores. Ed. UFV. Viçosa, 2006. 225 p. VIEIRA, J.C; MONTENEGRO, F.M; LOPES, A.S; PENA, R.S. Qualidade física e sensorial de biscoitos doces com fécula de mandioca. Ciência Rural. Santa Maria, v.40, n.12, 2010, p.2574-2579.

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CAPÍTULO 23

EDUCAÇÃO SANITÁRIA: ESTUDOS PARASITOLÓGICOS NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS, (ES)

Janaina dos Santos Maciel1, Caroline Cosme Pereira1, Renan Florindo

Amorim1, Marco Antônio Andrade de Souza1

1 Universidade Federal do Espírito Santo/Departamento de Ciências da Saúde (DCS) - Curso de

Farmácia, São Mateus - ES, CEP 29.932 - 540, E-mail: [email protected], [email protected]

Resumo - As enteroparasitoses constituem um sério problema de saúde pública apresentando maior prevalência em populações de nível socioeconômico mais baixo e condições precárias de saneamento básico. Além do custo financeiro das medidas técnicas, a falta de projetos educativos, com a participação da comunidade, dificulta a implementação das ações de controle a essas parasitoses. Nesse aspecto, a implementação de Programas de Iniciação Científica Júnior (PIBIC Jr.), tais como os desenvolvidos pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Espírito Santo, contribui para a participação de estudantes de ensino médio e fundamental em projetos de pesquisa, trazendo aos interessados conhecimentos específicos e informações sobre temas científicos. Assim, no presente estudo, os alunos envolvidos passaram por treinamento teórico e prático cujo resultado final propiciou o aprendizado sobre técnicas e métodos científicos, bem como o estímulo, através do conhecimento teórico em parasitologia, a manterem bons hábitos de higiene pessoal e educação sanitária. Palavras-chave: Enteroparasitos, PIBIC Jr., Saúde Pública, Dinheiro. Área do Conhecimento: Saúde Pública.

Introdução

No Brasil, região de clima tropical e subtropical, o aparecimento de parasitoses intestinais é favorecido, uma vez que as temperaturas elevadas e tempo úmido criam condições ideais para que o ciclo de vida dos parasitos se complete.

As enteroparasitoses constituem um sério problema de saúde pública, apresentando maior prevalência em populações de nível socioeconômico mais baixo e condições precárias de higiene e saneamento básico. Resultam em altos índices de morbidade e associam-se, freqüentemente, a quadros de diarréia crônica e desnutrição, comprometendo, como conseqüência, o desenvolvimento físico e intelectual, particularmente das faixas etárias mais jovens da população (ROQUE et al., 2005). Levando-se em consideração a alta prevalência de enteroparasitos na população, esse trabalho busca a intervenção educativa por meio da participação de alunos do ensino médio e fundamental. Nesse aspecto, o Programa de Iniciação Científica Júnior (PIBIC Jr.), desenvolvido pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Espírito Santo, torna-se um importante instrumento de apoio, permitindo a inserção desses estudantes no universo da pesquisa despertando, assim, sua vocação científica (CNPq, 2012). Material e Métodos

Selecionou-se, para a execução do projeto, estudantes da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Santo Antônio, situada na periferia da cidade de São Mateus, cujo público frequentador é de baixa renda, se comparado a outras escolas estaduais do município. Os alunos foram selecionados mediante prova teórica de conhecimentos gerais, análise de histórico escolar e entrevistas, aplicados pelo Professor orientador. Uma vez selecionados, os bosistas comparecem, semanalmente, ao Laboratório de Análises Clínicas do Centro Universitário Norte do Espírito Santo, da Universidade Federal do Espírito Santo, situado no Bairro Litorâneo, onde são incentivados de forma individual e coletiva a descobrirem suas habilidades. Ressalta-se que o projeto compreenderá os períodos de novembro de 2011 a novembro de 2012.

Os alunos realizam atividades teóricas e práticas referentes ao projeto de pesquisa sobre Prevalência de Parasitos Intestinais em Cédulas de Dinheiro Circulantes no Comércio do Município de São Mateus, (ES), no qual são responsáveis pela coleta e preparo das amostras (Figura 1).

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Roteiros contendo a descrição dos parasitos (morfologia, ciclo biológico, patogenia e profilaxia) são utilizados como ferramenta de auxílio ao aprendizado.

Figura 1- Atividades desenvolvidas pelos estudantes. Laboratório de Análises Clínicas. CEUNES/UFES.

As coletas de cédulas circulantes no comércio de São Mateus (R$ 2,00; 5,00; 10,00 e 20,00), cuja

preferência são os setores nos quais a rotatividade do dinheiro é elevada (LEVAI et al., 1986), foram iniciadas em abril de 2012. Após recolhidas em embalagens plásticas, de primeiro uso, as cédulas são encaminhadas ao Laboratório de Análises Clínicas do CEUNES/UFES e distribuídas em recipientes plásticos, previamente ambientados, com 100 ml de água destilada. Os recipientes são agitados manualmente por 10 minutos e, em seguida, as amostras permanecem em repouso por mais 10 minutos. Após esse tempo, as cédulas são levemente raspadas com uma lâmina de vidro, a fim da retirada da maior quantidade de material (Figura 2). Por fim, as cédulas são retiradas do recipiente plásticos e colocadas para secagem em estufa. O material proveniente da lavagem e raspagem é igualmente distribuído em tubos cônicos de plástico e centrifugado a 4.000 rpm durante 5 minutos. A fração do sedimento da centrifugação é analisada em microscópio de luz para pesquisa de parasitos.

Figura 2- Procedimento de lavagem e raspagem de cédulas. Laboratório de Análises Clínicas.

CEUNES/UFES. Resultados e Discussão

As análises realizadas em amostras de dinheiro circulantes no município de São Mateus permitiram identificar ovos de Ancilostomídeo (Tabela 1), um importante parasito, cuja transmissão ocorre pelo contato humano, através da pele, com suas formas larvares. Trata-se de um parasita hematófago capaz de causar anemia ferropriva, hipoproteinemia, edemas e, em alguns casos, atrofia da mucosa intestinal, com redução e achatamento das vilosidades com conseqüente diminuição da capacidade de absorção intestinal, a intensidade dos sintomas variam de acordo com a carga parasitária do indivíduo infectado. O caráter crônico, a evolução lenta e progressiva da doença, assim

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como na grande maioria dos casos de intensidade média ou leve contribuem para um estado permanente de má saúde podendo comprometer o desenvolvimento físico, mental ou cultural dos jovens (REY, 2001). No presente estudo, os quiosques e transportes coletivos representaram os locais onde houve a presença de formas parasitárias infectantes, em cédulas de dinheiro circulantes. Ressalta-se que nestes locais é grande a circulação humana e de dinheiro, contribuindo assim para a disseminação de agentes infecciosos. Tabela 1- Enteroparasitos presentes em cédulas de dinheiro do Comércio de São Mateus, ES.

Conclusão

As enteroparasitoses constituem um relevante problema de saúde pública no Brasil e no mundo. A possibilidade de contaminação por enteroparasitos, através de objetos, como por exemplo, o

dinheiro, se mostra um meio bastante eficaz, uma vez que este possui enorme rotatividade, principalmente as cédulas de menor valor (PICOLLO, L.; GAGLIANE, 2008).

Fica evidente que a possibilidade de contaminação revela velhos hábitos culturais do ser humano que não evoluíram com o passar do tempo. Nesse aspecto destaca-se a falta de higiene pessoal, o que acarreta a contaminação por mãos sujas.

O projeto oportuniza a participação de estudantes de ensino médio e fundamental que atuarão, em um futuro próximo, como multiplicadores dos conhecimentos adquiridos. Nesse caso, em saúde pública.

O projeto possibilitará a aplicação de medidas políticas intersetoriais que garantam o acesso universal aos serviços de saúde e a promoção de projetos de educação sanitária e ambiental (ANDRADE et al., 2010), uma vez que apresenta parcerias com os órgãos municipais de saúde. Agradecimentos

Aos estudantes da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Santo Antônio, Adryelle Brommenshenkel Miotto, Bianca Bis Bastos do Carmo, Caio Preato Malacarne, Herbert Lisboa Martins, Julio Cesar Carvalho Mendes, Katellen dos Santos Silva, Marina Freitas Fonseca, Patrick Morais de Almeida, Simone Segantini dos Santos e Valquíria de Edios Sirqueira, pela participação e enorme interesse no aprendizado científico. Apoio Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo. Referências ANDRADE, E. C.; LEITE I. C. G.; RODRIGUES V. O.; CESCA, M. G. Parasitoses intestinais: uma revisão sobre seus aspectos sociais, epidemiológicos, clínicos e terapêuticos. Revista APS, v.13, n.2, p.231-240, 2010. CNPq. Centro Nacional desenvolvimento Cientifico e Tecnológico. Disponível em : <http://www.cnpq.br/web/guest/ic-jr/faps>. Acesso em: 22 de julho de 2012. LEVAI, E. V.; NETO, V. A.; CAMPOS R.; PINTO P. L. S.; MOREIRA A. A. B.; SANT'ANA E. J.; PADILHA L. A. A. Pesquisa de ovos de helmintos e de cistos de protozoários em dinheiro. Revista de Saúde pública, v. 20, n.1, p.33-36, 1986.

Locais Valor (R$) da cédula Quantidade de cédulas Resultado

Quiosques 2,00 5 2 Ovos de Ancilostomídeo

Loja de utilidades 5,00 1 Negativo

Bar 2,00 1 Negativo

Transportes coletivos 2,00 8 1 Ovo de Ancilostomídeo

Costureira 2,00 1 Negativo

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PICOLLO, L. & GAGLIANE, L. H. Estudo da prevalência de helmintos e protozoários em notas de dinheiro (Papel moeda) em circulação na Baixada Santista. Revista UNILUS Ensino e Pesquisa, v.5, n.9, p.13-20, 2008. REY, L. Um século de experiência no controle da ancilostomíase. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v .34, n.1, p.61-67, 2001. ROQUE, F. C.; BORGES, F. K,; SIGNORI, L.; G. H.; CHAZAN, M.; PIGATTO, T.; COSER, T. A.; MEZZARI, A.; WIEBBELLING A. M. P. Parasitos Intestinais: Prevalência em Escolas da Periferia de Porto Alegre – RS. NewsLab, v.69, p.152-162, 2005.

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CAPÍTULO 24

FARMACOTERAPIA PARA CRISES DOLOROSAS EM PACIENTES COM ANEMIA FALCIFORME INTERNADAS NO HOSPITAL GERAL DO NORTE DO ES

Nascimento, Tamiris Dias ¹, Sabino, Mayara Ferreira 1, Nascimento, Luciana de Cássia Nunes 2

¹CEUNES-UFES- Universidade Federal do Espírito Santo /Departamento de Ciências da Saúde; Rodovia BR 101 Norte, Km. 60, Bairro Litoraneo, CEP 29932-540, São Mateus-ES; http://www.ceunes.ufes.br/. 2UFES-Universidade Federal do Espírito Santo / Departamento de Ciências da Saúde; Av. Fernando

Ferrari, 514, Goiaberas, CEP 29075910, Vitória-ES; www.ufes.br.

Resumo- A anemia falciforme é uma doença de origem hereditária que pode ser caracterizada como sendo uma alteração genética na hemoglobina, é uma doença que possui diversas manifestações clínicas que podem ser desde a crise dolorosa, infecções até mesmo ao acidente vascular cerebral. Entretanto, a crise dolorosa é a manifestação mais comum e o principal motivo que leva o paciente a procurar por atendimento médico e ambulatorial. Além disso, o índice de pessoas com anemia falciforme no Brasil tem aumentado o que torna a doença um problema de saúde pública no país. Sendo assim esta pesquisa torna-se fundamental para analise dos fármacos utilizados na terapia de doentes falciforme. Foi realizada análise de prontuários de crianças e adolescentes com anemia falciforme internadas no Hospital Geral do Norte do Espírito Santo no período de Julho de 2011 a Fevereiro de 2012 e posteriormente a análise da farmacoterapia adotada. Palavras-chave: Anemia falciforme, medicamento, dor, crianças Área do Conhecimento: Medicamentos Introdução A anemia falciforme é considerada um problema de saúde pública no Brasil, uma vez que se estima o nascimento de 700 a 1000 casos novos/ano (SERAFIM ESS, et al, 2011). A doença falciforme é decorrente de alterações na hemoglobina, o que pode desencadear as manifestações clínicas, principalmente a crise vaso-oclusiva, que leva o paciente a busca de atendimento e maior freqüência de internação (TOSTES, et al, 2008). Além disso, a subjetividade da dor é um fator que dificulta o tratamento principalmente para as crianças que possuem menor capacidade cognitiva, não conseguem se expressar de forma correta e possuem vocabulário reduzido (TOSTES, 2009). Sendo assim, este trabalho teve como objetivo caracterizar crianças e adolescentes portadores de anemia falciforme quanto aos fármacos utilizados durante a internaçãoem um hospital geral do norte do Espírito Santo, entre outras variáveis, e relacioná-las entre si. Material e Métodos Foi realizada análise de prontuários de crianças e adolescentes internados, e a população foi composta por 09 prontuários de crianças e adolescentes internados no setor da pediatria com diagnóstico de anemia falciforme, no período de Julho de 2011 a Fevereiro de 2012. Dos prontuários foram coletadas as seguintes informações: idade, sexo, tempo de internação, raça, resultados laboratoriais, complicações, medicamentos utilizados e se houve ou não crise dolorosa e sua intensidade. Resultados e Discussão A partir da análise dos dados foi possível constatar que dos 09 pacientes, 06 apresentaram crise dolorosa intensa no momento da internação; 02 relataram crise moderada e 01 não apresentou dor no ato ou durante a internação. Quanto aos medicamentos utilizados para a crise dolorosa, foi observado que todos os pacientes utilizaram dipirona, e além deste fármaco, 04 usaram paracetamol, 05 ibuprofeno, 02 tramadol e 01 procaína. Tabela 1- Fármacos utilizados para o controle da dor.

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Medicamento Quantidade de prontuários

Dipirona 09

Paracetamol 04

Ibuprofeno 05

Tramadol 02

Procaína 01

Quanto à administração de analgésicos não opióides, estes dados estão de acordo com a literatura, visto que os analgésicos não opióides podem ser utilizados em criança independente da intensidade da crise, respeitando as doses diárias. Entretanto, o uso de tramadol não é recomendado, pois é um opióide, podendo proporcionar efeitos colaterais semelhantes aos sintomas clínicos da doença, como náuseas e vômitos. O ideal seria iniciar a tentativa de controle da dor com os analgésicos não opióides (como dipirona) e somente depois de identificada a persistência da dor, iniciar administração de analgésicos opióides (SILVA, MARQUES; I.R, 2007). O mesmo é indicado para casos de dor moderada sem resposta aos não opioides e dor severa, como prescrito para 03 pacientes internados. Conclusão Neste contexto, conclui-se que os dados coletados neste estudo foram compatíveis com os achados na literatura em todos os casos, exceto nos casos que foram utilizados tramadol, confirmando que a crise álgica é o principal fator para a busca por atendimento hospitalar e ambulatorial. Referências DA SILVA, DG; MARQUES; I.R. Intervenções de enfermagem durante crises álgicas em portadores de anemia falciforme. Rev. Bras. Enferm., v. 60, n. 3, p.327-330, 2007. SERAFIM, E.S.S et al. Capacitação de profissionais de saúde para o manejo da dor em adolescentes portadores de doença falciforme na atenção primária. Rev. Adoles e Saú., v.8, n. 4, p 55-58, 2011. TOSTES, et al. Abordagem da crise dolorosa em crianças portadoras de doença falciforme. Rev. Ciênc. Méd., v. 18, n.1, p. 47-55, 2009. TOSTES, et al. Avaliação da dor em crianças portadoras de doença falciforme. Rev. Ciênc. Méd., v. 17, n. 3-6, p. 141-147, 2008. Número de registro no Comitê de Ética em Pesquisa - CEP -HINSG/SESA: 98/2010

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CAPÍTULO 25

USO DE COSMÉTICOS ANTI-ESTRIAS POR GESTANTES DO MUNICÍPIO DE

CAMPOS DOS GOYTACAZES E OS RISCOS ASSOCIADOS AO FETO

Victor Hugo Nicácio Alves, Fabrício Ferreira de Albuquerque Fernandes.

Universidade Estácio de Sá – Campos dos Goytacazes/Avenida 28 de março, nº. 423 – Centro. Campos dos Goytacazes/RJ-Brasil, CEP: 28020 – 740

Resumo - Na gravidez ocorrem mudanças na pela e pode ocorrer o aparecimento de estrias em até 70% das gestantes. As estrias não possuem tratamento eficaz e que seja, ao mesmo tempo, seguro para o feto. A maioria dos tratamentos não tem embasamento teórico e a falta de informação técnica pode gerar um risco para o feto. Este trabalho teve por objetivo avaliar o grau de conhecimento das gestantes que fazem uso de cosméticos anti-estrias no município de Campos dos Goytacazes/RJ. O estudo foi realizado por meio de pesquisa descritiva de campo, no mês de novembro de 2010, com 40 gestantes do município de Campos dos Goytacazes/RJ. Um questionário foi aplicado às gestantes do município. Observou-se que a deficiência de conhecimentos sobre o risco do tratamento não ocorreu por causa do nível de escolaridade ou por classe social, e que mesmo a orientação especializada não foi eficiente para alertar sobre o risco de possíveis efeitos teratogênicos oriundos da exposição prolongada ao cosmético utilizado para tratar estrias. Pode-se apontar a necessidade de pesquisas nesta área para maior esclarecimento dos profissionais prescritores e das usuárias. Palavras-chave: Gestante. Estrias. Cosméticos. Feto. Teratogênico. Área do Conhecimento: Toxicologia. Introdução

Na gravidez ocorre um processo de alterações na pele devido às mudanças no corpo. Estas podem ser fisiológicas ou patológicas. A partir da 25ª semana de gravidez, diante de fatores genéticos, ambientais, endócrinos e do estiramento mecânico da pele pode ocorrer o aparecimento de estrias em até 70% das gestantes. As estrias da gravidez afetam tipicamente mulheres jovens sadias e ativas e embora não signifiquem risco à saúde, podem ocasionar a busca de tratamentos corretivos que podem expor o feto a algum tipo de risco (MAIA et al., 2009). O uso de cosméticos anti-estrias durante a gravidez pode ser necessário, sendo que este requer uma série de cuidados e precauções, pois existem riscos de efeitos tóxicos para o embrião e para o feto (CAVALLI et al., 2006).

Atualmente as indústrias de cosméticos já disponibilizam produtos diversos para o cuidado da pele da gestante. Os produtos utilizados por gestantes para o tratamento estético da pele deixam de ser cosméticos e passam a ser medicamentos quando apresentam princípios ativos que tratam e evitam o aparecimento de estrias e afecções indesejadas. De acordo com o mecanismo de ação patogênico destes princípios, relação dose-efeito, genótipo materno-fetal e idade fetal eles podem, com o uso contínuo e prolongado, influenciar diretamente o feto, levando, em alguns casos, à malformação, aborto, retardo do crescimento intra-uterino e deficiência mental (TORALLES et al., 2009).

Estudos que visam avaliar a segurança do uso de cosméticos durante a gravidez ainda são escassos. Isto aumenta o risco da utilização de cosméticos anti-estrias por gestantes (LAMOUNIER et al., 2006). O cosmético anti-estria também é um instrumento terapêutico e deve-se fazer presente a constante orientação às gestantes sobre as condutas e cosméticos potencialmente danosos que devem ser evitados durante esse período. Essa informação ajuda a gestante a não adotar comportamento de risco e evita os problemas que acometem grande parte dos casos de malformação (KOFFMAN et al., 2005).

O objetivo deste trabalho foi avaliar o grau de conhecimento das gestantes que fazem uso de cosméticos anti-estrias no município de Campos dos Goytacazes/RJ. Material e Métodos

O estudo foi de natureza quantitativa, realizado por meio de pesquisa descritiva de campo no mês de novembro de 2010, com gestantes do município de Campos dos Goytacazes/RJ.

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Foram selecionadas, aleatoriamente, 40 gestantes do município de Campos dos Goytacazes/RJ sem restrição de cor, idade, grau de instrução e nível sócio-econômico. Foi elaborado questionário contendo 14 perguntas objetivas. Através deste questionário foram coletadas as seguintes informações: condição socio-econômica; tempo de gestação, tempo de uso de cosméticos e nível de informação sobre os riscos do tratamento anti-estrias associados ao feto. Foram respeitados os requisitos quanto à confidencialidade e sigilo das informações coletadas, de acordo com as determinações da legislação vigente. A partir dos resultados encontrados foram gerados gráficos e planilhas no programa Microsoft® Excel 2007. Para a realização do embasamento teórico, foram utilizados artigos científicos nacionais, livros e sites oficiais. A pesquisa foi realizada no período de agosto a novembro de 2010. Resultados e Discussão

Foram entrevistadas 40 gestantes do município de Campos dos Goytacazes/RJ. Deste total 27 disseram que utilizam cosméticos anti-estrias, o que representa 67% do total das entrevistadas, logo, as 13 que disseram não fazer uso de cosméticos anti-estrias correspondem a 33% das entrevistadas.

Quando observado o grau de escolaridade em relação ao conhecimento sobre o risco do tratamento com cosméticos anti-estrias notou-se que apenas 3 gestantes, 2 com ensino superior incompleto e 1 com ensino superior completo, sabiam dos riscos, isto mostra que o fator nível de formação acadêmica, neste caso, não determina conhecimento sobe o risco do tratamento, o que é algo incomum, baseando-se no fato de que, na maioria das vezes, quanto maior a escolaridade maior o grau de informação.

Independente do rendimento mensal, a maioria das gestantes não sabia do risco para o feto ao fazer tratamento com cosméticos anti-estrias. Este fato denota que a classe social, neste estudo, não demonstra interferência no acesso à informação.

Na hora de adquirir o produto 12 disseram que compram em drogarias, 4 compram em farmácias de manipulação e 11 compram com revendedoras de cosméticos. Observou-se que 20 gestantes não receberam nenhum tipo de orientação médica ou farmacêutica para a utilização dos cosméticos adquiridos, as outras 7 declararam ter recebido algum tipo de orientação médica/farmacêutica.

Foi observado na pesquisa que 24 gestantes não sabem de nenhum risco para o feto ao utilizar cosméticos anti-estrias e apenas 3 gestantes sabem que existe e descreveram algum possível risco que o tratamento com cosméticos anti-estrias pode trazer para a saúde do feto. Pode-se sugerir que a deficiência de informações, por parte das gestantes, sobre o risco que o feto corre está relacionada à falta de orientação por um profissional especializado. Conclusão

Através deste trabalho conclui-se que o município de Campos dos Goytacazes/RJ possui um número significativo de gestantes que fazem uso indevido e/ou incorreto de cosméticos para o tratamento de estrias oriundas da gravidez. Esta situação acontece por falta de pesquisas na área que apontem para a segurança do produto e por falta de orientação médica/farmacêutica.

Observou-se que a deficiência de conhecimentos sobre o risco do tratamento não está relacionada ao nível de escolaridade ou à classe social, e que mesmo a orientação especializada não foi eficiente para alertar sobre o risco de possíveis efeitos teratogênicos oriundos da exposição prolongada ao cosmético utilizado para tratar estrias.

Pode-se apontar a necessidade de pesquisas nesta área para maior esclarecimento dos profissionais prescritores e das usuárias.

Todas as drogas são potencialmente teratogênicas. Portanto nenhuma droga deve ser prescrita a mulheres grávidas a menos que haja necessidade evidente da utilização da droga. Referências CAVALLI, Ricardo de Carvalho; BARALDI, Claudia de Oliveira; CUNHA, Sergio Pereira da. Transferência placentária de drogas. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 2006; 28(9): 557-64.

KOFFMAN, M.D.; BONADIO, I.C. Avaliação da atenção pré-natal em uma instituição filantrópica da cidade de São Paulo. Ver. Bras. Saúde Matern. Infant. 2005; 5:23-32.17. Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.

LAMOUNIER, Joel; CHAVES, Roberto G; Uso de medicamentos durante a lactação. Jornal de Pediatria, Minas Gerais, v.80, n.05, p. S189-S198.

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MAIA, M.; MARÇON, C.R.; RODRIGUES, S.B. Estrias de distensão na gravidez: fatores de risco em primíparas. An Bras Dermatol. 2009; 84(6):599-605. TORALLES, Maria B.; TRINDADE, B.M.C.; FADUL, Luiza C.; JUNIOR, Clóvis F.P.; SANTANA, Marco A.C.C.; ALVES, Crésio. A importância do Serviço de Informações sobre Agentes Teratogênicos, Bahia, Brasil, na prevenção de malformações congênitas: análise dos quatro primeiros anos de funcionamento. Cad Saúde Pública 25(1): 105-110, 2009.

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CAPÍTULO 26

AUTOMEDICAÇÃO RELATADA POR ESTUDANTES ADOLESCENTES NO

DISTRITO DE CELINA, MUNICÍPIO DE ALEGRE, ESPÍRITO SANTO

Monique Vargas de Gouvêa, Greiciane Gaburro Paneto Universidade Federal do Espírito Santo, Campus de Alegre/Departamento de Farmácia e Nutrição, Alegre, Espírito Santo, Brasil, [email protected]

Resumo - O uso irracional de medicamentos e, principalmente, sem supervisão de um médico, acarreta riscos diretos e indiretos à população, tornando-se um relevante problema de saúde pública. Estudos sobre o padrão de uso de medicamentos na infância e na adolescência ainda são escassos, sobretudo nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil. O conhecimento do padrão de uso de medicamentos contribui para ações educativas com a finalidade de diminuir riscos e danos à saúde da sociedade. O objetivo deste estudo foi relatar a automedicação por adolescentes do Ensino Médio em Celina, município de Alegre, Espírito Santo, observando o nível de conhecimento destes sobre os riscos da automedicação. Estudo de natureza transversal com amostra constituída de 67 alunos. Verificou-se que 31,34% dos adolescentes fizeram automedicação e não consultaram nos últimos seis meses. A influência familiar mostrou ser um fator de contribuição relevante na automedicação. O presente estudo confirma a hipótese da ingênua e excessiva crença da sociedade atual no poder dos medicamentos. Palavras-chave: Automedicação. Adolescentes. Medicamentos. Saúde Pública.

Área do Conhecimento: Saúde Pública.

Introdução

A automedicação é uma prática muito comum, vivenciada por civilizações de todos os tempos, caracterizada pela iniciativa do doente ou de seu responsável em obter ou produzir e usar um produto que acredita que lhe trará benefícios no tratamento de doenças ou no alívio dos sintomas (PAULO; ZANINI, apud BARROS E SÁ; BARROS; SÁ, 2007). Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a automedicação consiste em selecionar e utilizar medicamentos isentos de prescrição para tratar doenças autolimitadas ou seus sintomas, estando inclusa no processo de autocuidado (BECKHAUSER

et al., 2010).

Os medicamentos têm forte valor simbólico, transcendendo a sua função terapêutica, o que contribui para o uso indiscriminado destes (LEFÉVRE, apud SILVA et al., 2011). O consumo de medicamentos atinge níveis altos em países desenvolvidos e em desenvolvimento (SIMÕES; FARACHE FILHO, 1985). Seu uso irracional e, principalmente, sem supervisão de um médico, acarreta riscos diretos e indiretos à população, tornando-se um relevante problema de saúde pública (SILVA; GIUGLIANI, 2004). O uso de medicamentos pode ser considerado como um indicador indireto de qualidade dos serviços de saúde, sendo que as crianças e os adolescentes representam um grupo fortemente predisposto ao uso irracional de medicamentos com e sem controle médico (PEREIRA et al., 2007). Os medicamentos têm grande importância, ao lado de fatores como nutrição, moradia e outros, na mudança dos indicadores de saúde. Entretanto, transformaram-se em tema controvertido em razão de prática abusiva, uma vez que, à sua atividade terapêutica, agregam-se funções sociais e econômicas, necessariamente, não relacionadas com saúde e doença (GANDOLFI; ANDRADE, 2006). Daí que a utilização de medicamentos não sujeitos a receita médica obrigatória deva constituir uma responsabilidade partilhada entre as autoridades, os doentes, os profissionais de saúde e a indústria farmacêutica (Despacho n.

o 8637/2002).

Adolescência é um período que se situa entre a infância e a maturidade, com profundas mudanças fisiológicas, psicológicas, sociais e de outros aspectos importantes que se distinguem de outros períodos da vida humana. Fase de novas sensações e experiências, considerada de risco em relação ao uso de substâncias psicoativas e prejuízos associados a este consumo (BOCHNER, 2006). Essa faixa etária é caracterizada pelo desenvolvimento de capacidades e julgamentos cognitivos individuais, os quais podem influenciar, de maneira independente, os resultados de alguns estudos, e também é alvo com grande frequência de campanhas de publicidade, por seu alto poder de consumo, inclusive no âmbito das propagandas de medicamentos (SILVA; GIUGLIANI, 2004). Estudos sobre o padrão do uso de medicamentos na infância e adolescência ainda são escassos,

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sobretudo nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil (PEREIRA et al., 2007). Outra consideração relevante é o fato de que o adolescente possui uma experiência de vida e se encontra elaborando socialmente seu ponto de vista sobre determinados assuntos, podendo este levar o conhecimento sobre o uso racional de medicamentos na família, com os amigos e na sociedade. Neste contexto, considera-se pertinente a realização de um estudo que tem como temática o autoconsumo de medicamentos por adolescentes no Brasil.

O presente estudo teve por objetivo relatar a prática da automedicação por estudantes adolescentes no distrito de Celina, município de Alegre, ES, Brasil, observando o nível de conhecimento dos alunos sobre os riscos da automedicação, buscando, assim, aumentar a informação e a compreensão sobre o assunto. Material e Métodos

Estudo de natureza transversal, em que foram entrevistados 67 alunos de turmas dos 1º, 2º e 3º anos do Ensino Médio, matriculados na Escola E. E. F. M. “Sirena Rezende Fonseca”, Celina, Alegre, ES, no período de novembro de 2011. Para a coleta dos dados, usou-se o questionário adaptado (VITOR, R. S. et al., 2008), com perguntas que visavam investigar as condições sociodemográficas e psicossociais dos entrevistados. Após o consentimento dos alunos e dos representantes legais da escola, 67 alunos de 6 turmas, na faixa etária de 14 a 19 anos, responderam o questionário de forma individual e anônima, dentro da sala de aula. Foi realizada a análise da frequência através do programa Epi-Info (versão 3.5.3). Resultados e Discussão

O número inicial de alunos previstos foi de 147, dos quais estavam ausentes 32 no dia da aplicação do questionário. Dos restantes 115, 48 foram excluídos por terem idade superior a faixa etária pré-estabelecida (14-19 anos) e/ou por não preencherem o questionário corretamente, totalizando uma amostra final de 67 alunos. Observou-se um predomínio (55,22%) de estudantes do sexo masculino. Verificou-se entre os entrevistados, que a escolaridade predominante (43,28%) foi do 1º ano do Ensino Médio.

Na Tabela 1, são apresentadas as características psicossociais dos entrevistados.

Tabela 1 – Variáveis psicossociais dos alunos entrevistados

Variável n %

Ocasião mais comum em que se automedica

Dor de cabeça 48 71,64

Febre 2 2,98

Gripe 10 14,92

Outros 7 10,45

Utiliza ou utilizou receitas antigas para automedicação

Sim 10 14,92

Não 57 85,07

Influência dos meios de comunicação na compra de fármacos

Sim

Não

25

42

37,31

62,69

Influência para comprar fármacos sem receita

Amigos 11 16,42

Pais e familiares 41 61,19

Farmacêuticos 14 20,90

Terapeutas alternativos 1 1,49

Estudos realizados em países desenvolvidos e em países não desenvolvidos (VILARINO et

al.,1998; VITOR et al., 2008) têm mostrado que o hábito da automedicação está associado à presença de sinais e sintomas menores de características agudas (dor e febre, por exemplo), o que pode ser verificado também no presente estudo, no qual a dor de cabeça é a ocasião mais comum (71,64%).

Em um estudo realizado em Porto Alegre-RS (VITOR et al., 2008), o qual relatou o consumo de medicamentos sem prescrição médica, foi observado que a maioria (76,28%) dos entrevistados não se baseiam nos meios de comunicação para se automedicar e nem nas receitas antigas (70,75%).

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No presente estudo pode-se verificar que a minoria (37,31%) se baseia nos meios de comunicação para se automedicar, e apenas 14,92 % reutilizam receitas antigas para tal.

Verificou-se que apenas 1,49% dos adolescentes são influenciados por terapeutas alternativos para aquisição de fármacos, sendo que a maior parte (61,19%) é influenciada por pais e familiares.

Neste contexto o papel do farmacêutico é fundamental e, portanto deve assumir uma postura consciente para a promoção da utilização de forma racional de medicamentos, produzindo informações isentas e com evidências científicas, que possam contribuir para prescrição racional e uso seguro dos medicamentos pela população.

Na Tabela 2, são mostradas as variáveis psicossociais dos adolescentes entrevistados.

Tabela 2 – Características psicossociais dos alunos

Variável n %

Motivo que levou a automedicação

Já tinha experiência com o medicamento 32 47,76

Fármaco foi indicado por alguém 14 20,90

Todos usam o medicamento 9 13,43

O medicamento estava ao alcance imediato 5 7,46

Outros 7 10,45

Autodefinição de saúde

Muito boa 23 34,33

Boa 32 47,76

Razoável 11 16,42

Ruim

Consultas médicas nos últimos doze meses

1

1,49

Nenhuma 21 31,34

Uma 15 22,39

Duas 17 25,37

Três ou mais 14 20,90

Idas à farmácia nos últimos quatro meses

Nenhuma 26 38,80

Uma 11 16,42

Duas 14 20,90

Três ou mais 16 23,88

No estudo realizado por Vitor et al. (2008) em relação ao motivo que leva à automedicação, a

maior parte dos entrevistados (57,14%) relatou que já tinha experiência com o medicamento utilizado nesta automedicação. Na presente amostra, pode-se comprovar este achado, sendo que 47,76% dos entrevistados têm como motivo para a automedicação a experiência prévia com o medicamento.

Verificou-se que 31,34% dos entrevistados fizeram automedicação e não consultaram nos últimos 12 meses. Já no estudo realizado por Vitor et al. (2008) foi verificado que a maioria dos entrevistados consultou duas vezes com o médico nos últimos 12 meses. No que diz respeito as idas à farmácia para a compra de fármacos nos últimos quatro meses, a maioria (38,80%) não foi à farmácia. Pode-se notar que a minoria (1,49%) da amostra considera a sua saúde como ruim.

Os resultados do presente estudo confirmam, à semelhança de outros, que a prevalência da automedicação em adolescentes é uma prática real e frequente, o que representa um risco para a sociedade (LOYOLA FILHO, 2002; PEREIRA et al., 2007). Conclusão

A automedicação é um problema sério que precisa ser visto pelos órgãos de saúde pública como um desafio permanente. Estratégias educativas no âmbito familiar são fundamentais, uma vez que a influência da família mostrou ser um fator de contribuição relevante na automedicação. Contudo, a escola, os profissionais e os gestores da saúde também têm responsabilidades sobre esse contexto. O profissional farmacêutico desempenha um papel importante, quanto à prestação de informações seguras e esclarecimentos à população. É imprescindível o papel de todos esses grupos para a implementação de ações que possam sanar esse problema de saúde pública.

Os resultados apresentados apontam a relevância do estudo da automedicação e apoiam a hipótese da ingênua e excessiva crença da sociedade atual no poder dos medicamentos, o que contribui para a crescente demanda de produtos farmacêuticos para qualquer tipo de transtorno, por

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mais banal e autolimitado que seja. Tais resultados reforçam a relevância de uma política pública para a definição de intervenções e estratégias de promoção da saúde, visando à prevenção da automedicação e consequentemente o uso correto e responsável de medicamentos. Referências BARROS E SÁ, M.; BARROS, J. A. C. de; SÁ, M. P. B. de O. Automedicação em idosos na cidade de Salgueiro-PE. Rev. bras. epidemiol., v. 10, n. 1, 2007. BECKHAUSER, G. C. et al.

Utilização de medicamentos na Pediatria: a prática de automedicação em

crianças por seus responsáveis. Rev. paul. de pediatr., v. 28, n. 3, 2010. BOCHNER, R. Perfil das intoxicações em adolescentes no Brasil no período de 1999 a 2001. Cad. Saúde Pública, 2006. Despacho n.

o 8637 de 20 de Março de 2002 (DR, 2.

a série, n.

o 99, de 29 de Abril de 2002) (Revogado

pelo Despacho n.o 2245 de 16 de Janeiro de 2003).

GANDOLFI, E.; ANDRADE, M. G. G. Eventos toxicológicos relacionados a medicamentos no Estado de São Paulo. Rev. Saúde Pública, 2006. LOYOLA FILHO et al. Prevalência e fatores associados à automedicação: resultados do projeto de Bambuí, Rev. Saúde Pública, 2002. PEREIRA, F. S. V. T. et al. Automedicação em crianças e adolescentes. J. Pediatr., v. 83, n. 5, 2007. SILVA, C. H. da; GIUGLIANI, E. R. J. Consumo de medicamentos em adolescentes escolares: uma preocupação. J. Pediatr., v. 80, n. 4, 2004. SILVA, I. M. et al. Automedicação na adolescência: um desafio para a educação em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, 2011. SIMÕES, M. J. S.; FARACHE FILHO, A. Consumo de medicamentos em região do Estado de São Paulo (Brasil). Rev. Saúde Pública, v. 22, n. 6, 1988. VILARINO, J. F. et al. Perfil da automedicação em município do Sul do Brasil. Rev. Saúde Pública, v. 32, n. 1, 1998. VITOR, R. S. et al. Padrão de consumo de medicamentos sem prescrição médica na cidade de Porto Alegre, RS. Ciência & Saúde Coletiva, v. 13, 2008.

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CAPÍTULO 27

ESTUDO DA FLUORESCÊNCIA DE HIDROGÉIS MICELARES DE POLOXAMERO

407 PARA USO NO TRATAMENTO DA LEISHMANIOSE TEGUMENTAR

FERREIRA, Lucas A. ª; CERTO, T. S. ª ; BORGES, Gabriel S. M.ª; SANTOS, Gabriela O. ª; BARICHELLO, José M. ª

Universidade Federal de Ouro Preto/Laboratório de Desenvolvimento Galênico e Nanobiotecnologia, CiPharma, Campus Universitário, [email protected]

Resumo - A leishmaniose (tegumentar e visceral) afeta 12 milhões de pessoas espalhadas em 88 países de quatro continentes, e foi responsável por quase 59.000 mortes em 2003 (WHO, 2002). O arsenal terapêutico é restrito, e baseado em fármacos muito tóxicos, sendo as formulações disponíveis administradas por via parenteral. Na leishmaniose tegumentar, o desenvolvimento de formulações tópicas destes fármacos minimizará os efeitos adversos da administração parenteral, reduzirá a concentração do fármaco na circulação sistêmica, aumentará a concentração de fármaco no local das lesões, e facilitará a adesão do paciente ao tratamento. Neste trabalho nós avaliamos diferentes soluções de P407 contendo anfotericina B por espectrofluorímetria com o intuito de investigar o que ocorre na estrutura micelar com a alteração da composição das formulações. Os resultados demonstram que a composição da formulação altera o microambiente micelar, possivelmente alterando o modo com que a molécula do fármaco se distribui na estrutura do gel e é liberado. Palavras-chave: Poloxamero 407, Hidrogel, Fluorescência, Aditivo Farmacêutico, Micelas Área do Conhecimento: Medicamentos

Introdução

O desenvolvimento de novas formulações de baixo custo de anfotericina B (AnB) para combate da Leishmaniose Tegumentar é um grande desafio. A Leishmaniose é uma doença de grande prevalência e incidência em países subdesenvolvidos e em populações pobres, a qual é causada por protozoários flagelados do gênero Leishmania.

Além de se tratar de uma formulação de baixa toxicidade para os pacientes, hidrogéis de poloxamero 407 (P407), que são estruturas micelares formadas a partir da organização da molécula tribloco (polietileno-polipropileno-polietileno), promovem o controle de liberação de um fármaco como a AnB sobre o ferimento (ALEXANDRIDIS, 1995).

A espectrofluorimetria é uma técnica analítica, que permite a realização de determinações com grande sensibilidade (limites de detecção na faixa de ng mL-1) e seletividade, sendo muito usada quantitativamente e qualitativamente em diversas áreas do conhecimento (BERNARDES, 2009). O pireno é uma sonda fluorescente frequentemente usada para avaliar alterações no microambiente de sistemas micelares (PERRY et al, 2011). Na produção de hidrogéis micelares, é de extrema importância avaliar a formação e a estrutura das micelas, que definirão o perfil de liberação do fármaco a partir da forma farmacêutica (PERRY et al, 2011).

Nesse contexto, neste trabalho nós avaliamos diferentes soluções de P407 contendo AnB por espectrofluorímetro com o intuito de investigar o que ocorre na estrutura micelar com a alteração da composição das formulações. Material e Métodos

As soluções de P407 foram preparadas pelo método de dispersão à frio (BARICHELLO et al., 1999), com conseqüente adição dos outros constituintes da formulação. A AnB foi solubilizada em NaOH 0,5N e adicionada às soluções, seguido de neutralização com HCl 0,5N em volume correspondente. A solução estoque de pireno a 0,1% em metanol foi usada numa concentração final de 0,6 µM. As amostras avaliadas tinham as seguintes composições: 1) Solução 2% de P407; 2) Solução 2% de P407 + AnB; 3) Solução de P407 + AF 0,1%; 4) Solução 2% de P407 + AF 0,1% + AnB; 5) Solução 2% de P407 + Pireno 0,6µM; 6) Solução 2% de P407 + Pireno 0,6µM + AnB ; 7) Solução 2% de P407 + AF 0,1% + Pireno 0,6µM; 8) Solução de P407 + AF 0,1% + AnB + Pireno 0,6µM.

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As análises no Espectrofluorímetro foram realizadas em cubetas de quartzo com capacidade para 3 ml, sendo que os espectros de emissão foram tomados entre os comprimentos de onda: 350 a 900 nm e a excitação fixada em 335 nm, a uma temperatura de 25 ± 1ºC. Para viabilidade da leitura dos espectros e pela sensibilidade do equipamento, o tamanho do feixe de luz foi fixado no valor 15 para a excitação e 5 para a emissão. Resultados e Discussão

Na Fig. 1 é apresentado o espectro de emissão de fluorescência de soluções de P407 de diferentes composições. A partir da análise espectrofluorimétrica das amostras foi possível determinar o perfi de emissão de fluorescência de soluções de P407 na presença e ausência de pireno.

B

A

B

A

Figura 1 – Espectro de emissão de fuorescência de soluções de P407 a 2%.

Analisando-se a Fig. 1 é observado que o espectro de emissão da solução de P407 é

caracterizado por um pico entre 640 e 700 nm, característico da presença de micelas. Com a adição de AnB, ocorre um aumento na intensidade de emissão entre 420 e 570; e o surgimento de três elevações sutis e uma pequena redução da intensidade de emissão do pico entre 640 e 700 nm. Com a adição de AF, a intensidade de emissão do pico entre 640 e 700 nm aumentou cerca de 9x e surge um pico bem definido entre 355 a 450 nm, quando comparado ao espectro de emissão da solução de P407. Curiosamente, quando AF e AnB são adicionadas a solução de P407 e comparadas aos espectros de suas soluções sozinhas, o pico entre 355 e 450 se divide em dois picos; a intensidade de emissão entre 420 e 570 se eleva entorno de 4x com três elevações sutis e uma redução apreciável da intensidade de emissão do pico entre 640 e 700 nm.

Na Fig. 2 é apresentado o espectro de emissão de fluorescência de soluções de P407 de

diferentes composições em presença de pireno. Se observa na Figura 2 que o espectro de emissão da solução de P407 contendo pireno é

caracterizado pela presença de três picos com alta intensidade entre 370 e 450 nm e um pico de mesma intensidade da solução de P407 entre 640 e 700 nm. A adição de AnB a solução de P407 contendo pireno, reduz cerca de 4x a intensidade dos três picos existentes entre 370 e 450 nm sem que ocorra alteração da intensidade do pico entre 640 e 700 nm. Já a adição de AF, reduz entorno de

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4x a intensidade de emissão entre 370 e 450 nm com o surgimento de um pico único e aumenta 6x a intensidade de emissão do pico existente entre 640 e 700 nm. Por outro lado, quando AF e AnB são adicionadas a solução de P407 contendo pireno, a intensidade de emissão dos picos 370 e 450 nm é reduzida entorno de 40x enquanto a intensidade de emissão do pico localizado entre 640 e 700 nm é reduzida entorno de 2,5x.

Figura 2 – Espectro de emissão de fluorescência de soluções de P407 a 2% na presença de pireno

Comparando os dois gráficos percebemos que a alteração da composição das soluções micelares

de P407 causa alterações significativas nos espectros de emissão de fluorescência, independente da presença ou não do pireno. Isto se deve, em parte, à característica micelar da sua estrutura, a qual permite que as moléculas se distribuam entre o compartimento hidrofílico e hidrofóbico existentes na solução. Neste sentido, acredita-se que AF, devido ao seu caráter hidrofóbico, tende a se localizar na parte mais central das micelas, formada pelos grupos propileno, enquanto a AnB, por se tratar de uma molécula anfifílica, ficaria dispersa no microambiente interfacial da micela, onde suas características hidrofílica/hidrofóbica podem ser acomodadas. Esta distribuição das moléculas pode, por fim, alterar as características físico-químicas da micela, alterando a maneira com que o fármaco se distribui e é liberado.

Ainda é necessário avaliar o tamanho das micelas destas formulações para se obter informações mais detalhadas dessas estruturas. A nossa expectativa é de que, a partir destes resultados de variação da intensidade de emissão de fluorescência, a estrutura das micelas sejam diferentes, aprisionando o fármaco (AnB) de maneira diferente, de forma que a liberação deste no local da ferida, possa ser modulada de modo a se alcançar diferentes perfis de distribuição para o organismo.

Conclusão

Para o tratamento das Leishmanioses, a veiculação de AnB em hidrogéis de P407 é uma alternativa farmacotécnica vantajosa, já que possui baixo custo na sua produção quando comparado às formulações tradicionais. Além disso, acredita-se que a formação das micelas, bem como suas características físico-químicas sejam consideravelmente alteradas com modificações na composição das fomulações, como demonstrado nas análises espectrofluorimétricas. Estudos posteriores poderão confirmar se a alteração do sistema micelar pode influenciar nos mecanismos de liberação do fármaco e na sua eficácia, podendo-se com isso criar novas estratégias de controle de liberação e produção de medicamento alvo-dirigido. Referências

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BARICHELLO, J.M.; MORISHITA, M.; TAKAYAMA, K.; NAGAI, T. Absorption of insulin from Pluronic F127 gels following subcutaneous administration in rats. International Journal of Pharmaceutics, 184, p.189-198, 1999. BERNARDES C. D. Determinação Direta de trans-Resveratrol em Plasma Humano usando Espectrofluorimetria e Adição-Padrão de Segunda Ordem. 2009. 72 f. dissertação ( Mestrado em Ciências Moleculares ) - Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, Universidade Estadual de Goiás, Goiânia, 2009. PERRY, Christopher C. et al. Fluorescence of commercial Pluronic F127 samples: Temperature-dependent micellization. Journal of Colloid and Interface Science 354 ( 2011 ) 662-669, disponível em www.elsevier.com/locate/jcis. ALEXANDRIDIS, P. ; Hatton, T. A. Poly(ethylene oxide)-poly(propylene oxide)- poly(ethylene oxide) block-copolymer 'surfactants in aqueous solutions and interfaces - thermodynamics, structure, dynamics, and modeling. Coloids Surf; v. 96, p. 1-46, 1995. Khaul, S.M., Sharma, R.S., Dey, K.P., Rai, R.N., Verghese, T., 1994. Impact of DDT indoor residual spraying on Phlebotomus argentipes in a kala-azar endemic village in eastern Uttar Pradesh. Bull. WHO. 72, 79-81.

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CAPÍTULO 28

INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA ENVOLVENDO CIPROFLOXACINO E

CEFTRIAXONA

Ana Caroline Diniz Zampirolli1, Bethania Almeida2, Marcos Vinicius Lacerda de Oliveira3, Renato Almeida Brambati4

Universidade Federal do Espírito Santo/Departamento de Farmácia e Nutrição, Alto Universitário, s/n Guararema, Alegre, E.S. CEP 29500-000. 1: [email protected] 2:[email protected] 3: [email protected] 4:[email protected]

Resumo

A Infecção Urinaria é a presença de micro-organismos em alguma parte do trato urinário. A grande maioria das Infecções Urinaria são causadas por bactérias, porem há também infecções causadas por virus. A bactéria Escherichia coli, representa 80-95% dos invasores infectantes do trato urinário. Paciente E.M.C., 60 anos, altura 1,68 m, peso 78 Kg, sexo feminino, teve a situação analisada no hospital do município de Alegre - Espírito Santo. A prescrição médica pode ter sido equivocada em prescrever um antibiótico endovenoso e um oral, podendo ocorrer sobrecarga medicamentosa. As dores abdominais, náuseas e vômito foram gerados por intolerância ao ciprofloxacino.

Palavras-chave: Infecção Urinaria, Interação medicamentosa, Sobrecarga Medicamentosa. Área do Conhecimento: Farmacologia.

Introdução

A Infecção Urinaria é a presença de micro-organismos em alguma parte do trato urinário. Quando surge no rim, chama-se pielonefrite; na bexiga, cistite; na próstata, prostatite e na uretra, uretrite.

A grande maioria das Infecções Urinaria são causadas por bactérias, mas também podem ser provocados por vírus, fungos e outros micro-organismos. A maioria das infecções urinárias ocorre pela invasão de alguma bactéria da flora bacteriana intestinal no trato urinário. A bactéria Escherichia coli, representa 80-95% dos invasores infectantes do trato urinário.

Às vezes, o paciente apresenta sintomas semelhantes aos da Infecção Urinaria, como dor, ardência, urgência para urinar e aumento da frequência, mas os exames culturais não mostram bactérias na urina. Estes casos são chamados de síndrome uretral aguda, que pode ter outras causas não infecciosas, mas de origem inflamatória, como químicas, tóxicas, hormonais e irradiação.

O acesso dos microorganismos ao trato urinário se dá por via ascendente, ou seja, pela uretra, podendo se instalar na própria uretra e próstata, avançando para a bexiga e, com mais dificuldade, para o rim. Dificilmente, as bactérias podem penetrar no trato urinário pela via sangüínea. Isto ocorre apenas quando existe infecção generalizada (septicemia) ou em indivíduos sem defesas imunitárias como aidéticos e transplantados. A intensidade da Infecção depende das defesas do paciente, da virulência do microorganismo e da capacidade de aderir à parede do trato urinário. Os principais sintomas são: dor, ardência, dificuldade pra urinar e urina com mal cheiro

1. Este trabalho teve como

objetivo avaliar a situação de uma paciente internada com suspeita de Infecção urinaria, assim como possíveis interações medicamentosas em sua receita. Material e Métodos

Foi realizado o acompanhamento de uma paciente com suspeita de infecção urinaria, notificado no pronto socorro do Município de Alegre, Espírito Santo. Para o acompanhamento da paciente foi necessária à liberação do enfermeiro chefe do hospital e o acompanhamento da Professora Bethania Almeida, orientadora desta pesquisa. Resultados e Discussão

Paciente E.M.C., 60 anos, altura 1,68 m, peso 78 Kg, sexo feminino, não diabética e não hipertensa, viúva, moradora da zona rural. Deu entrada no Pronto Socorro e no Hospital de Alegre no

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dia 13 de novembro de 2011. A paciente apresentava piócitos incontáveis (excesso de secreção purulenta na urina) e leucograma acima do padrão (16300) (em pacientes normais o valor do leucograma varia entre 5000 e 9000), a partir desses dados o médico obteve-se o diagnóstico de infecção urinária.

Após o diagnóstico de infecção, a paciente foi internada no Hospital com funções fisiológicas presentes, alimentando-se normalmente, pressão arterial 90x60 mmHg, temperatura de 37°C. Foram prescritos para o tratamento da infecção dois antibióticos: ceftriaxona dois gramas endovenoso, uma vez ao dia e ciprofloxacino 500 mg, via oral de 12/12 horas. Além disso, seguindo orientação médica, a paciente poderia se alimentar normalmente, fazendo ingestão de líquidos à vontade.

A paciente apresentou intolerância ao ciprofloxacino, com dores abdominais, náuseas e vômitos. Para contornar essa situação foi administrado omeprazol 20 mg pela manha e os sinais vitais passaram a ser medidos de 6 em 6 horas. Foi prescrito também dipirona, um comprimido de 500 mg em caso de febre.

A tabela 1 mostra as funções fisiológicas da paciente nos dias em que esteve internada. Tabela 1: Funções fisiológicas da Paciente

Dias Pressão arterial (mmHg)

Temperatura (°C) Geral

15/11/2011 100x60 36,4 Sem queixas

16/11/2011 120x60 36,7 Diurese/ Sem queixas

17/11/2011 130x60 36,5 Alta hospitalar/ Sem queixas

A prescrição médica pode ter sido equivocada em prescrever um antibiótico endovenoso e um oral, podendo ocorrer sobrecarga medicamentosa. Talvez o médico tenha prescrito o antibiótico endovenoso na tentativa de amenizar a infecção que já havia atingido corrente sanguínea, mas o ciprofloxacino via oral também atinge corrente sanguínea, combatendo a infecção, mas em maior período de tempo. As dores abdominais, náuseas e vômito foram gerados por intolerância ao ciprofloxacino (reações adversas), neste caso o omeprazol foi prescrito para revestimento gástrico, eliminando assim as dores, náusea e vômito. Informações Adicionais:

Tabela 2: Informações Farmacológicas do Ciprofloxacino.

Absorção Após a administração oral este é absorvido rápida e amplamente principalmente através do intestino delgado, atingindo as concentrações séricas máximas 1 a 2 horas depois.A biodisponibilidade absoluta é de aproximadamente 70 – 80%.

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Distribuição A ligação protéica do ciprofloxacino é baixa (20 – 30%) e a substância no plasma encontra-se fundamentalmente sob a forma não ionizada.

Metabolismo Foram relatadas pequenas concentrações de 4 metabólitos, identificados como desetilenociprofloxacino (M1), sulfociprofloxacino (M2), oxociprofloxacino (M3) e formilciprofloxacino (M4).

Eliminação O ciprofloxacino é amplamente excretado sob forma inalterada pelos rins e, em menor extensão, por via extra-renal.

Reações adversas Náusea e diarreia; vômito, dores gastrintestinais e abdominais, dispepsia e flatulência; pancreatite.

Tabela 3: Informações Farmacológicas da Ceftriaxona.

Absorção A ceftriaxona caracteriza-se por uma meia-vida de eliminação extraordinariamente longa de aproximadamente 8 horas, em adultos sadios. a biodisponibilidade da ceftriaxona após administração EV é de 100%.

Distribuição O volume de distribuição da ceftriaxona é de 7 a 12 litros. Assim, para uma concentração plasmática < 100 mcg/ml, a ligação proteica é de 95%, enquanto para uma concentração de 300 mcg/ml, a ligação é de 85%.

Metabolismo A ceftriaxona não é metabolizada sistemicamente, mas convertida a metabólitos microbiologicamente inativos pela flora intestinal.

Eliminação O clearance total do plasma é 10-20 ml/min. O clearance renal é 5-12 ml/min. Em adultos cerca de 50 - 60% de ceftriaxona é excretada sob a forma inalterada na urina, enquanto 40- 50% são excretados sob a forma inalterada na bile. A meia-vida de eliminação em adultos sadios é de aproximadamente 8 horas.

Reações adversas Distúrbios gastrintestinais: fezes moles ou diarréia, náusea, vômito, estomatite e glossite.

Conclusão

Neste caso, o médico deveria ter solicitado a cultura da urina, para saber qual bactéria estava causando a infecção e assim prescrever o antibiótico mais eficaz. Não tendo feito isso o médico prescreveu dois antibióticos que tem amplo espectro bactericida, aumentando assim a probabilidade destes antibióticos surtirem o efeito desejado. Porem, a paciente não aceitou bem os medicamentos propostos e foi internada. Os sintomas apresentados pela paciente não foi devido a uma interação entre os antibióticos, mas sim uma reação adversa ao ciprofloxacino. Referências http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?258 Bulário Digital- http://www.pdamed.com.br/bulanv/pdamed_0001_00093_01900.php Bulário Eletrônico da ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária - http://bulario.bvs.br/index.php

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Ceftriaxona- http://www.portaleducacao.com.br/farmacia/artigos/8468/ceftriaxona Bula médica ANVISA- http://www4.anvisa.gov.br/base/visadoc/BM/BM%5B25357-1-0%5D.PDF

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CAPÍTULO 29

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DAS PRESCRIÇÕES MÉDICAS AVIADAS NA

UNIDADE DA FARMÁCIA DE MINAS DE PEDRA BONITA/MG NO 1º BIMESTRE DE 2012

Nilza Lorena Vitor Queiroz, Dayse Moreira Rosa, Gleiciely Santos Silveira Faculdade Vértice – Univértix / Farmácia, Rua Bernardo Torres n. 180, Bairro do Retiro, Matipó/MG. [email protected], [email protected], [email protected] Resumo – Através de um estudo quantitativo descritivo analisou-se a qualidade das prescrições médicas aviadas no 1º bimestre de 2012 em uma unidade da Farmácia de Minas do município de Pedra Bonita/MG. As prescrições foram avaliadas segundo o cumprimento dos dispositivos legais para receituários de medicamentos. Das 1515 prescrições aviadas, 15 foram consideradas ilegíveis e 1489 apresentavam algum outro tipo de erro. As inadequações mais frequentes entre as prescrições avaliadas foram: uso de abreviaturas da forma farmacêutica (99,3% das prescrições), uso de abreviaturas para via de administração (29,9%), ausência de concentração de medicamento (44,1%) e de duração do tratamento (38,9%), além de ausência de nomenclatura dos medicamentos segundo a Denominação Comum Brasileira (20,7%). Como a ilegibilidade e a ausência de informações nas prescrições podem levar ao uso irracional e a erros de medicação, surge a preocupação com as informações obtidas através deste estudo. Faz-se necessária, então a implementação de estratégias que reforcem os benefícios de uma prescrição adequada aos emitentes destas. Palavras-chave: Prescrições médicas, uso racional de medicamentos, erros de medicação. Área do Conhecimento: Saúde Pública Introdução

A prescrição médica é uma ordem escrita dirigida ao farmacêutico e ao paciente, constituindo o

principal elo de comunicação entre eles. Através dela o médico deve determinar os medicamentos que devem ser dispensados e as condições de utilização (EV, GUIMARÃES & CASTRO, 2008).

Seguindo a ideia do Uso Racional de Medicamentos (URM), sabe-se que a prescrição e a dispensação apropriadas são componentes importantes para a utilização adequada do medicamento (ARAÚJO & UCHÔA, 2011).

Assim, prescrições que não contém as informações necessárias para uma boa dispensação, podem induzir a erros de medicação gerando custos diretos (relacionados a consultas e execução de exames adicionais devido ao aumento da morbimortalidade associada) e indiretos (que representam fatores como a perda de produtividade, redução da expectativa de vida e prejuízos à qualidade de vida dos usuários) que recaem sobre a sociedade. Adicionalmente, os erros provenientes de uma prescrição geram nos pacientes a perda de credibilidade no sistema de saúde (EV, GUIMARÃES & CASTRO, 2008; CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA, 2009).

Devido aos malefícios causados pela prescrição inadequada torna-se justificada a importância de um estudo da qualidade das prescrições médicas. Portanto, o objetivo deste trabalho foi analisar as principais características das prescrições médicas, bem como a ausência de informações nas mesmas, aviadas na Farmácia de Minas do município de Pedra Bonita/ MG, que é única farmácia comunitária do município em questão. Material e Métodos

Foi realizada uma pesquisa exploratória com abordagem descritiva quantitativa. O objeto de estudo desta pesquisa foram as receitas médicas classificadas como simples, aviadas

na Farmácia de Minas do município de Pedra Bonita/MG, no primeiro bimestre de 2012, totalizando 1515 prescrições.

Como o desenho do estudo é retrospectivo, os responsáveis pela revisão das prescrições assinaram um Termo de Compromisso de Utilização dos Dados, no qual se comprometeram a preservar a privacidade dos pacientes cujas prescrições foram objeto do estudo e a utilizar os dados

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obtidos somente para a execução do projeto, de acordo com o que recomenda a Resolução nº 196/96 (BRASIL, 1996).

Para facilitar a coleta dos dados, foi elaborado um formulário para avaliar a presença de informações indispensáveis para uma prescrição de qualidade de acordo com as legislações federais 5.991/73 e 9.787/99 e a Resolução 357/01 do Conselho Federal de Farmácia.

As informações coletadas no formulário utilizado referiam-se a legibilidade da prescrição e a presença dos seguintes itens: identificação do paciente e do prescritor, descrição do medicamento segundo a DCB ou DCI, forma farmacêutica, via de administração, posologia, quantidade de medicamento prescrito, duração do tratamento, abreviaturas e data da prescrição.

Após coleta dos dados, esses foram tabulados através da estatística descritiva no Microsoft Excel, versão 2010. Resultados e Discussão

As prescrições foram analisadas para detecção dos principais tipos de erros e/ou inadequação de

requisitos fundamentais para dispensação correta de medicamentos. O que é importante, já que as deficiências nas informações nas prescrições são responsáveis por grande parte dos erros de medicação (MASTROIANNI, 2009).

Das 1515 prescrições aviadas no período em questão, 1% destas (15) foram consideradas ilegíveis pelos pesquisadores e portanto, destas 15 nenhuma informação adicional para o estudo foi retirada. Das 1500 prescrições efetivamente analisadas, 99,26% (1489) apresentavam algum tipo de erro.

As prescrições também foram analisadas quanto à presença de abreviaturas, vide Figura 1, as quais são utilizadas com objetivo de simplificar e agilizar o processo de prescrição, mas isso pode acarretar interpretações equivocadas devido ao desconhecimento destas pelos outros profissionais envolvidos com a dispensação e administração dos medicamentos prescritos, ou por uma mesma abreviatura poder apresentar mais de um significado, ou porque quando mal escritas, estas podem ser confundidas com outras abreviaturas (CARVALHO et al., 1999). O presente estudo demonstrou que cerca de 99,3% das prescrições avaliadas apresentavam abreviaturas relacionadas a forma farmacêutica e 29,9% relacionadas a via de administração a ser utilizada.

Figura 1- Porcentagem das prescrições analisadas que apresentam problemas relacionados à legibilidade, a presença de abreviaturas e a ausência da data da prescrição, da identificação do prescritor e do paciente.

Outras inadequações verificadas são apresentadas nas Figuras 1 e 2. Quando os procedimentos legais ligados às prescrições não são adequadamente cumpridos, uma

série de implicações podem ser observadas como será discutido a seguir. A ausência de identificação do paciente (0,26%) pode levar a administração de medicamentos ao

paciente errado. A identificação do médico, assinatura e carimbo, é imprescindível caso se faça necessário contactar o prescritor para confirmar dados relacionados a prescrição durante a dispensação pelo farmacêutico ou no momento da administração, em 1,93% das prescrições analisadas a identificação do prescritor não estava completa. Já a data de emissão que é considerada por alguns como dispensável, possibilita a verificação da validade da prescrição, estava ausente em 0,33% das prescrições analisadas.

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A presença de medicamentos descritos segundo a Denominação Comum Brasileira (DCB) e na impossibilidade pela Denominação Comum Internacional (DCI) foi um dos critérios observados (Figura 2), sendo que 20,74% das prescrições apresentavam pelo menos um medicamento prescrito que não estava designado por elas. O uso da DCB e ou DCI, além de obrigatório no âmbito do SUS, reduz as confusões entre nomes de medicamentos.

Figura 2- Porcentagem das prescrições analisadas que não apresentam parâmetros relacionados à caracterização do medicamento e do tratamento prescrito.

A ausência da posologia é preocupante, pois se um paciente usar posologia inadequada de um medicamento corretamente prescrito pode não alcançar as metas farmacoterapêuticas estabelecidas e, em consequência, abandonar o tratamento.

A ausência da via de administração, 5,34%das prescrições, pode implicar em via e/ ou técnica de aplicação do medicamento incorreta.

A ausência da concentração do medicamento (44,14% das prescrições analisadas) pode acarretar a administração de doses erradas, já a ausência da quantidade de medicamento prescrito e da duração do tratamento pode levar ao uso de medicamentos por período de tempo inadequado (Figura 2).

Os dados apresentados são preocupantes no que se refere aos agravos que podem ser acarretados à saúde da população, visto que o uso incorreto de um medicamento pode levar o paciente à morte ou ao desenvolvimento de morbidades, além de gerar reflexos sobre os custos que recaem sobre os recursos governamentais destinados à saúde, bem como à própria sociedade (GUZATTO & BUENO, 2007). Conclusão

Através deste estudo constatou-se que os procedimentos legais ligados às prescrições não são adequadamente cumpridos na localidade em questão, ressaltando a necessidade da implementação de estratégias que reforcem os benefícios de uma prescrição adequada aos emitentes destas e verificação da viabilidade de compra e utilização de softwares para elaboração de prescrição eletrônica que amenizam problemas relacionados a legibilidade e a emissão de prescrições com ausência de dados. Referências ARAÚJO, P.T.B.; UCHÔA, S.A.C. Avaliação da qualidade da prescrição de medicamentos de um hospital de ensino. Ciência & Saúde Coletiva, v.16, supl.1, p. 1107-1114, 2011. BRASIL. Resolução nº 196 de 10 de outubro de 1996. Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos. Disponível em: <http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/reso_96.htm>. Acesso em: 12 mar. 2012 CARVALHO, V.T.; CASSIANI, S.H.B.; CHIERICATO, C.; MIASSO, A.I. Erros mais comuns e fatores de risco na administração de medicamentos em unidades básicas de saúde. Rev Latinoam Enferm., v.7, p. 67-75, 1999.

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CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. A Assistência Farmacêutica no SUS. Brasília. 2009. Disponível em:

<http://www.sbrafh.org.br/biblioteca/Manual%20Ass%20Farm%20no%20SUS%20CFF%20CRF%20P

R.pd> Acesso em: 25 abr. 2012. EV, L. S.; GUIMARÃES, A.G. & CASTRO, V.S. Avaliação das prescrições dispensadas em uma Unidade Básica de Saúde do Município de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil. Latin American Journal of Pharmacy, v.27, n.4, p.543-547, 2008. GUZATTO, P.; BUENO, D. Análise de prescrições medicamentosas dispensadas na farmácia de uma unidade básica de saúde de Porto Alegre – RS. Rev HCPA, v. 27, n. 3, p.20-26, 2007. MASTROIANNI, P.C. Análise dos aspectos legais das prescrições de medicamentos. Rev Ciênc Farm Básica Apl., v. 30, n. 2, p.173-176, 2009.

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CAPÍTULO 30

EXPRESSÃO DE HIF-1α EM LINFÓCITOS NA MARGEM CIRÚRGICA DE

CARCINOMA EPIDERMÓIDE DE CABEÇA E PESCOÇO E SUA RELAÇÃO COM A RECIDIVA TUMORAL

Mendes, S. O.1, Assis, A. L. E. M.2, Damasceno, S.3, Santos, M.4, Silva, A. M. A.5,

Trivilin, L. O.6 1 Universidade Federal do Espírito Santo/Pós Graduação em Biotecnologia, Centro de Ciências da

Saúde, Campus Maruípe, Vitória-ES, [email protected] 2 Universidade Federal do Espírito Santo/Laboratório de Patologia – HOVET, Centro de Ciências

Agrárias, Alegre-ES, [email protected] 3 Universidade Federal do Espírito Santo/Ciências Biológicas, Centro de Ciências Agrárias, Alegre –

ES, [email protected] 4 Universidade Federal do Espírito Santo/Pós Graduação em Biotecnologia, Centro de Ciências da

Saúde, Campus Maruípe, Vitória-ES,[email protected] 5 Universidade Federal do Espírito Santo/Departamento de Ciências Biológicas, Centro de Ciências

Agrárias, Alegre – ES, [email protected] 6 Universidade Federal do Espírito Santo/Departamento de Medicina Veterinária, Centro de Ciências

Agrárias, Alegre – ES, [email protected]

Resumo – Carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço é uma neoplasia maligna, frequentemente encontrada em indivíduos que possuem hábitos tabagistas e etilistas. O sucesso da eliminação das células neoplásicas demanda do metabolismo das células imunológicas em todos os microambientes do tecido e requer uma adaptação destas. HIF-1α é uma proteína com importantes funções no tumor, normalmente expressa em ambientes hipóxicos. Objetivou-se, com este estudo, analisar a expressão de HIF-1α em linfócitos presentes na margem cirúrgica de pacientes com carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço, relacionando com a recidiva tumoral. Utilizou-se 44 amostras de margem cirúrgica de pacientes com carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço que foram submetidas à técnica de imunoistoquímica para a HIF-1α. As lâminas foram analisadas de acordo com a intensidade de expressão nos linfócitos peritumorais e os dados foram relacionados à recidiva tumoral total. Notou-se que a expressão de HIF-1α a influencia significativamente (p<0.0001), de modo que a intensidade forte possui maior probabilidade de influir na recidiva do tumor. Palavras-chave: HIF-1α, carcinoma epidermóide, neoplasia, hipóxia, inflamação Área do Conhecimento: Análises Clínicas

Introdução

No mundo, aproximadamente 200 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço são diagnosticados por ano (WALKER, BOEY, e MCDONALD, 2003). O carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço representa 10% dos tumores malignos a nível mundial e abrange aproximadamente 540.000 portadores, gerando em torno de 271.000 mortes anualmente com uma taxa de mortalidade de 50% (PEREZ ORDEÑES et al., 2008), e constituindo a sexta causa de morte por câncer (ALVARENGA et al., 2008).

Desde a década de 1950 imagina-se que há uma função fisiológica do sistema imunológico adaptativo de evitar o crescimento de células transformadas ou destruir estas células antes que elas se tornem tumores, de modo que tumores malignos podem ser reconhecidos de diversas formas, pois expressam diferentes tipos de antígenos tumorais, os quais induzem as respostas tumorais (ABBAS, LICHTMAN e PILLAI, 2007).

O sucesso da eliminação das células neoplásicas demanda do metabolismo das células imunológicas em todos os microambientes do tecido e requer uma adaptação de células imunológicas em reduzida disponibilidade de oxigênio (DEHNE e BRUNE, 2009; SEMENZA, 2003). Neste contexto, células de mamíferos desenvolveram uma maquinaria molecular para determinar se as células irão tentar sobreviver ou entrar em apoptose sob condições de hipóxia (BRUICK, 2003; EPSTEIN et al., 2001). Então, para manter a homeostase do oxigênio, muitos organismos eucariotos adaptaram um mecanismo especializado para reforçar a distribuição do mesmo. Desta forma, uma

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via responsiva dependente de oxigênio foi conservada e está presente nas células de mamíferos (BRUICK, 2003; STIEHL, 2006). A formação do Complexo HIF-1 (Fator Induzível por Hipóxia-1) – heterodímero formado pela conjugação entre as proteínas HIF-1α e HIF-1β – agirá como fator de transcrição para diversos genes essenciais para a sobrevivência de células em hipóxia ( HUANG e BUNN, 2003; SEMENZA, 2003).

Objetiva-se com este estudo, avaliar a expressão de HIF-1α em linfócitos na margem peritumoral de carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço em humanos, e avaliar a dependência da recidiva tumoral com esta expressão. Material e Métodos

O material utilizado neste estudo constitui de 44 amostras de tecido de margem cirúrgica provenientes de pacientes operados com carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço, de diferentes etnias e idade variável entre 34 e 81 anos.

Os tecidos então selecionados para o estudo sofreram cortes histológicos para seguinte montagem das lâminas. Tais lâminas foram submetidas a reações de imunoistoquímica pela técnica de complexo estreptavidina-biotina-peroxidase (StreptABC, DAKO®).

Foram realizados controles positivo e negativo utilizando amostras com a expressão da HIF-1α previamente conhecida em tumor de mama da seguinte maneira: um controle positivo, e três negativos, sendo o primeiro sem anticorpo primário, o segundo sem anticorpo secundário e o terceiro sem a reação de revelação.

As lâminas foram observadas por meio de microscopia de luz, objetiva de 40x, onde foram selecionados 10 campos aleatórios peritumorais para a contagem de linfócitos imunorreativos. Tais células foram classificadas de forma semiquantitativa quanto à intensidade de marcação em fraca, moderada e fortemente marcadas. Realizou-se o somatório da contagem das células imunorreativas nos campos selecionados em cada amostra de margem de tumor para que os dados pudessem ser comparados e foram atribuídos escores de acordo com a taxa de incidência da proteína (baixa = +, moderada = ++, alta= +++). Os dados obtidos foram dispostos em tabela e conferidos valores aos escores encontrados, sendo 0 para ausência; 1 para baixa; 2 para moderada e 3 para alta.

Para a realização das análises estatísticas, realizou-se um somatório das células imunomarcadas com cada intensidade de expressão, e estes valores foram agrupados de acordo com a categoria recidiva tumoral.

Com o intuito de averiguar se a expressão da HIF-1α interferiu na recidiva total do tumor, foi realizada uma Análise de Prova de Tendência Linear.

Os cálculos estatísticos foram realizados no BioEstat 5.0 e no GrahPadPrism 5.0.

Resultados e Discussão

A análise revelou que dos 44 pacientes analisados, 40 (90.9%) apresentaram expressão positiva de HIF-1α em linfócitos, dentre qualquer um dos três tipos de intensidade de marcação, sendo que a maior porcentagem de células imunomarcadas foi de intensidade moderada (69,1%), seguida de intensidade fraca (27,8%), enquanto a intensidade forte teve uma baixa taxa de ocorrência (3,1%).

As intensidades de marcação nos dão um panorama de como o metabolismo celular se procede, é de se esperar que uma maior “upregulation” de HIF-1α resulte numa marcação mais intensa, enquanto uma “downregulation” resulta em pouca ou nenhuma marcação de HIF-1α. Estas regulações diferem de acordo com a célula em que se encontra como células normais, tumorais, células mieloides e linfoides (DEHNE e BRUNE, 2009; SEMENZA, 2003; THIEL et al., 2007). Em linfócitos, a HIF-1α pode sofrer “upregulation” em microambientes hipóxicos e inflamatórios, pela presença de substâncias oxidantes e também por citocinas. Esta proteína também pode sofrer “downregulation” em condições de normóxia, ou seja, em condições ideais de oxigênio no tecido. Neste caso a HIF-1α será degradada pela função de outras proteínas, como por exemplo a PHD3(SEMENZA, 2003; THIEL et al., 2007).

Assim, como o microambiente avaliado era, além de hipóxico, inflamatório, havia uma baixa taxa de oxigênio, e elevada taxa de citocinas, o que possivelmente promoveu uma maior expressão da HIF-1α nestes tecidos.

Quando comparada com a recidiva tumoral, pôde-se notar que a expressão de HIF-1α a influencia significativamente (p<0.0001), de modo que a intensidade forte possui maior probabilidade de influir na recidiva do tumor, após o tratamento específico.

A Tabela 1 demonstra a relação da expressão da HIF-1α com a recidiva do tumor nos pacientes, relacionando o somatório das células originárias de cada intensidade de marcação para a recidiva tumoral.

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Tabela 1: Relação da recidiva tumoral, de acordo com o número de linfócitos nas respectivas intensidades de marcação da expressão da HIF-1α

Expressão de HIF-1α

Recidiva Fracamente Moderadamente Fortemente p valor

Não 1242 2496 172 <0.0001

Sim 3311 8813 335

Ao se comparar a expressão de HIF-1α com a recidiva tumoral, notou-se que os indivíduos que a

apresentavam, possuíam células com elevada expressão da proteína, enquanto que indivíduos que não apreventasam recidiva, mostraram menores índices de expressão da mesma.

Uma elevada expressão de HIF-1α em linfócitos Tregs pode resultar na transcrição de mais proteínas anti-inflamatórias, e consequentemente, um decréscimo do combate ao tumor. Por outro lado, pouca expressão de HIF-1α nestas células livra o indivíduo de ações anti-inflamatórias, não prejudicando o combate contra esta neoplasia (SAKAGUCHI et al., 2008; THIEL et al., 2007). Isto ocorre porque a HIF-1α induz vias de secreção de citocinas anti-inflamatórias pelas Tregs, e então as atividades antitumorais dos linfócitos TCD8

+ são reduzidas (SCHARTE et al., 2003), desta forma, o

tumor ganha uma capacidade maior de desenvolvimento e recidiva. Thiel et al. (2007), estudaram que a deficiência de HIF-1α em células T resultava no aumento da

resposta antibacteriana, ou seja, quando a HIF-1α está sendo expressa nas Tregs, essa induz as vias anti-inflamatórias dos linfócitos, enquanto a não expressividade da HIF-1α nas células T resulta num aumento da resposta imune contra os invasores, isto também pode ser aplicado no caso de neoplasias.

Desse modo, a expressão da HIF-1α apresenta relação com o prognóstico do paciente, visto que o estudo demonstrou que a recidiva tumoral é dependente da expressão da mesma, de forma que quanto maior for a expressão desta proteína, pior o prognóstico do paciente, e o contrário também verdadeiro. O estudo da expressão da HIF-1α em linfócitos na margem de carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço em humanos, além de indicar o prognóstico do paciente, pode também auxiliar na conduta terapêutica e no controle da doença. Conclusão

A proteína HIF-1α esteve presente nos linfócitos da margem cirúrgica de pacientes com carcinoma epidermóide de cabeça e pescoço, mostrando relação com a recidiva tumoral e sugerindo que esta proteína seja um marcador molecular de prognóstico nestas situações. Referências ABBAS, A.K., LICHTMAN, A.H. PILLAI, S. Imunologia Celular e Molecular. 6ª edição, São Paulo, Elsevier Editora Ltda. 2007. ALVARENGA, L. M., RUIZ, M. T., BERTELLI, E. C. P., RUBACK, M. J. C. MANIGLIA, J. V., BERTOLLO, E. M. G. Avaliação epidemiológica de pacientes com cancer de cabeça e pesco;co em um hospital universitário do noroeste do estado de São Paulo. Rev Bras Otorrinolaringol. 2008; 74(1): 68-73. BRUICK RK. Oxygen sensing in the hypoxic response pathway: regulation of the hypoxia-inducible transcription factor. Genes Dev. 2003; 17(21):2614-23 DEHNE, N., BRUNE, B. HIF-1 in the inflammatory microenviroment. Cell. 2009; 315:1791-1797. EPSTEIN AC, GLEADLE JM, MCNEILL LA, et al. C. elegans EGL-9 and mammalian homologs define a family of dioxygenases that regulate HIF by prolyl hydroxylation. Cell. 2001; 107:43-54. 55 HUANG LE, BUNN HF. Hypoxia-inducible factor and its biomedical relevance. J Biol Chem. 2003; 278(22):19575-8.

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PEREZ-ORDEÑEZ B, BEAUCHEMIN M, JORDAN RCK. Molecular biology of squamous cell carcinoma of the head and neck. J Clin Pathol. 2008; 59:445-453. SAKAGUCHI, S., YAMAGUCHI, T., NOMURA, T., ONO, M. Regulatory T Cells and Immune Tolerance. Cell. 2008; 775-789. SEMENZA GL. Targeting HIF-1 for cancer therapy. Nat Rev Cancer. 2003; 3(10):721-32. SITKOVSKY M.V., LUKASHEV D, APASOV S, KOJIMA H, KOSHIBA M, et al. Physiological Control of Immune Response and Inflammatory Tissue Damageby Hypoxia-Inducible Factors and Adenosine A2A Receptors. Annu Rev Immunol 2004; 22: 657–82. STIEHL DP, WIRTHNER R, KÖDITZ J, et al.. Increased prolyl 4-hydroxylase domain proteins compensate for decreased oxygen levels: evidence for an autoregulatory oxygen-sensing system. J Biol Chem. 2006; 281(33):23482-91. THIEL M, CALDWELL CC, KRETH S, KUBOKI S, CHEN P, et al.Targeted Deletion of HIF-1a Gene in T Cells Prevents their Inhibition in Hypoxic Inflamed Tissues and Improves Septic Mice Survival. PLoS ONE. 2007; 2(9): e853. doi:10.1371 WALKER DM., BOEY G, MCDONALD LA. The pathology of oral cancer. Pathology 2003; 35:376-83.

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CAPÍTULO 31

AVALIAÇÃO DA IMPLEMENTAÇAO DO SNGPC EM FARMÁCIAS E DROGARIAS DO MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES/RJ

Elias Rocha dos Santos Junior, Victor Hugo Nicácio Alves, Alexandre Farias

Sereno

Universidade Estácio de Sá – Campos dos Goytacazes/Avenida 28 de março, nº. 423 – Centro. Campos dos Goytacazes/RJ-Brasil, CEP: 28020 – 740, [email protected]

Resumo - Acredita-se que cerca de 25% dos medicamentos utilizados no Brasil são contrafeitos ou de qualidade ruim. A necessidade de informação confiável fez com que a ANVISA desenvolvesse em 2007 o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados – SNGPC -, que veio aperfeiçoar o controle sobre substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial. Neste trabalho busca-se mostrar a implementação do SNGPC nos estabelecimentos farmacêuticos que dispensam produtos sujeitos a controle especial no município de Campos dos Goytacazes/RJ. O estudo foi realizado por meio de pesquisa nos bancos de dados da VISA, ANVISA e CRF-RJ. Sabe-se que nenhum sistema é cem por cento eficaz e baseado nos resultados encontrados neste trabalho, conclui-se que a fiscalização e controle de produtos controlados e estabelecimentos farmacêuticos não tem sido eficaz, a implementação do sistema que gerencia controlados não está acontecendo e o mais grave: diante destas falhas a saúde da população, de modo geral, pode estar em risco. Palavras-chave: SNGPC, Psicotrópicos, Medicamentos, ANVISA. Área do Conhecimento: Saúde Pública. Introdução

O consumo de remédios falsificados, contrabandeados ou sem registro de órgãos reguladores cresceu em todo o mundo. Acredita-se que cerca de 25% dos medicamentos utilizados no Brasil são contrafeitos ou de qualidade ruim (OMS, 2005). Uma estimativa aponta que, em 2010, mais de 16% das comercializações de medicamentos foram de produtos ilícitos e que os remédios falsificados já atingem 7% do mercado mundial, dentre estes encontram-se os medicamentos sujeitos à controle especial (CARVALHO, 2005).

A necessidade de informação confiável que permitisse a intervenção sobre o consumo abusivo de medicamentos controlados e entorpecentes fez com que a ANVISA desenvolvesse no ano de 2007, com a publicação da Resolução RDC nº. 27/2007, o Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados - SNGPC - (ANVISA, 2009). O SNGPC tem como objetivo aperfeiçoar o controle de substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial, obter informações detalhadas do comércio de substâncias e medicamentos sujeitos a controle especial e promover o uso racional de medicamentos, (ANVISA, 2007).

O consumo indevido de psicotrópicos representa um problema de saúde pública e os medicamentos sujeitos à prescrição somente podem ser dispensados mediante apresentação da respectiva receita (ANVISA, 2009).

Neste trabalho busca-se mostrar a implementação do SNGPC nos estabelecimentos farmacêuticos que dispensam produtos sujeitos a controle especial e que devem estar regularizados junto à Vigilância Sanitária do município de Campos dos Goytacazes/RJ - VISA -, à ANVISA e ao Conselho Regional de Farmácia do estado do Rio de Janeiro - CRF/RJ -. Material e Métodos

O estudo foi realizado por meio de pesquisa nos bancos de dados da VISA, ANVISA e CRF-RJ

disponíveis em seus sítios eletrônicos até fevereiro de 2011 e acessado pelo professor e orientador deste trabalho. Foram verificados estabelecimentos farmacêuticos em relação à atividade que exercem, situação junto à ANVISA e ao CRF-RJ.

Foram escolhidas farmácias sem manipulação, drogarias e farmácias com manipulação, devido ao fato de que estas são as atividades farmacêuticas que dispensam medicamentos sujeitos a controle especial e que devem aderir, teoricamente, ao SNGPC.

A partir dos resultados encontrados foram gerados planilhas e gráficos no programa Microsoft® Excel 2007.

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Para a realização do embasamento teórico, foram utilizados artigos científicos nacionais, livros e sites oficiais. A pesquisa foi realizada no período de fevereiro a maio de 2011. Resultados e Discussão

Observou-se que o município possui duzentos e trinta estabelecimentos farmacêuticos que dispensam produtos sujeitos a controle especial. Deste total, 92,61% são farmácias sem manipulação ou drogarias, e 7,39% são farmácias com manipulação. Destes estabelecimentos que aparecem no cadastro da VISA, apenas 75,59% das farmácias sem manipulação e drogarias constam no banco de dados da ANVISA no tocante à implementação do SNGPC. Em relação ao CRF-RJ, apenas 43,19% das farmácias sem manipulação e drogarias que aparecem nas tabelas da VISA estão regulares. Também se observa que somente 52,94% das farmácias com manipulação descritas nas tabelas da VISA estão regulares junto ao CRF-RJ. Em se tratando de CRF-RJ e SNGPC a diferença do número de estabelecimentos em relação aos dados da VISA são extremamente discrepantes.

Este fato denota que existe alguma falha na transmissão de dados entre o sistema da VISA, da ANVISA e do CRF-RJ. Se existe na vigilância sanitária municipal duzentos e trinta estabelecimentos farmacêuticos que dispensam produtos sujeitos a controle especial, deveria existir também na ANVISA e no CRF-RJ o mesmo número de estabelecimentos com o SNGPC regularizado. Apenas 32,39% das farmácias sem manipulação ou drogarias estão credenciadas junto à ANVISA, 29,11% estão cadastradas, 14,08% estão com processo em andamento e 24,41% dos estabelecimentos que aparecem nos registros da VISA, e que deveriam ter o SNGPC funcionando, simplesmente não constam nos dados da ANVISA em se tratando do sistema de gerenciamento (Figura 1).

Figura 1: Situação de estabelecimentos farmacêuticos na ANVISA em relação ao SNGPC.

As farmácias com manipulação apresentam uma situação regular. Todos os registros que aparecem nos dados da VISA aparecem nos registros da ANVISA, estando credenciadas, cadastradas ou com processo em andamento. Ou seja, todas elas implementaram o SNGPC.

O fato do número de farmácias sem manipulação e drogarias cadastradas na VISA não aparecer nos cadastros da ANVISA levanta a discussão sobre a eficácia do SNGPC e aponta uma possível falha na fiscalização. A falha pode ser do próprio sistema ou dos fiscais e funcionários da VISA, ANVISA E CRF-RJ. Conclusão

Sabe-se que nenhum sistema é cem por cento eficaz. Assim como o controle feito pelo livro não era totalmente eficaz, o controle feito através do SNGPC também tem suas limitações.

Tendo o SNGPC como um meio de promover e proteger a saúde da população, como um meio de fiscalizar e controlar a venda de produtos sujeitos a controle especial e também os estabelecimentos farmacêuticos que dispensam estes produtos, e ainda baseado nos resultados encontrados neste trabalho, conclui-se que a fiscalização e controle de produtos controlados e estabelecimentos farmacêuticos não tem sido eficaz, a implementação do sistema que gerencia controlados não está

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acontecendo e o mais grave: diante destas falhas a saúde da população, de modo geral, pode estar em risco.

Referências BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº. 27, DE 30 DE MARÇO DE 2007. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC Nº 44, DE 17 DE AGOSTO DE 2009. CARVALHO, A. C. O impacto negativo da pirataria no cenário mercadológico e as dificuldades no combate a falsificação. Revista do IBRAC, p.47-84. 2005. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) - Departamento de Medicamentos Essenciais e Outros Medicamentos - Medicamentos falsificados: diretrizes para o desenvolvimento de medidas de combate a medicamentos falsificados - Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2005.

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CAPÍTULO 32

PROSPECÇÃO FITOQUÍMICA E AVALIAÇÃO in vitro DE Melia azedarach L.

SOBRE Rhipicephalus (Boophilus) microplus EM ALEGRE, ESPÍRITO SANTO, BRASIL.

Anderson Barros Archanjo1, Adilson Vidal Costa2, Priscila Nascimento

Pozzatti3, Gabriela Porfirio Passos3, Lenir Cardoso Porfirio3.

1Universidade Federal do Espírito Santo. Departamento de Farmácia e Nutrição. Alto Universitário,

s/n, Campus UFES, Alegre, ES. CEP: 29.500-000. [email protected] 2Universidade Federal do Espírito Santo. Departamento de Química e Física. Alto Universitário, s/n,

Campus UFES, Alegre, ES. CEP: 29.500-000. [email protected] 3Universidade Federal do Espírito Santo. Departamento de Medicina Veterinária. Alto Universitário,

s/n, Campus UFES, Alegre, ES. CEP: 29.500-000. [email protected]

Resumo - Os compostos orgânicos naturais de origem vegetal, produto de metabolismo primário e/ou secundário, são biologicamente ativos quando apresentam ação anticoncepcional, antimicrobiana, antiviral, fungicida, inseticida, etc. A Melia azedarach L., membro da família Meliaceae, conhecida como, cinamomo, apresenta princípios ativos usados frequentemente como medicinais. Este trabalho objetivou verificar os metabólitos secundários presentes na M. azedarach através de prospecção fitoquímica e avaliar a eficácia in vitro de diferentes tipos de extratos da planta com finalidade antiparasitária de carrapatos R. (B.) microplus de bovinos. Foi feita a coleta e identificação botânica da Melia azedarach L., assim como sua secagem, moagem e armazenamento. Foram preparados os diferentes extratos utilizando a planta, juntamente com a prospecção fitoquímica. Com os extratos executou-se o teste in vitro sobre carrapatos bovinos. As partes aéreas de M. azedarach apresentaram grande variedade de classes químicas, dentre elas destacam-se os flavonóides, compostos fenólicos, taninos, saponinas e antraquinonas. Os extratos aquoso, hexânico e etanólico apresentaram eficiência de 57,29 %, 90,8 % e 99,5 %, respectivamente.

Palavras-chave: cinamomo, carrapato, fitoterapia, bovino.

Área do Conhecimento: Medicamentos.

Introdução

Na atualidade o controle do carrapato em bovinos, envolve o uso de produtos químicos, que na maioria deixam resíduos tóxicos na carne e leite, sendo ainda nocivos ao animal e ao ambiente (Vivan, 2005). O combate destes ectoparasitos se dá pelo uso de acaricidas de contatos, sendo estes facilmente adquiridos pelos produtores. Porém o uso indiscriminado e incorreto desses ativos induz o surgimento da resistência dos carrapatos aos ectoparasiticidas (Melo et al, 2010).

A busca por novas metodologias de combate e controle a este parasita é crescente entre os pesquisadores, uma delas é o emprego de extratos vegetais, que possuam eficácia aceitável e não causam prejuízo aos animais e ao meio ambiente. Segundo Alves (2001) os metabólitos secundários produzidos pelos vegetais são formados por vários caminhos biossintéticos que produzem moléculas com diversidade de esqueletos e grupamentos funcionais, como ácidos graxos (gorduras) e seus ésteres, hidrocarbonetos, álcoois, aldeídos e cetonas, compostos acetilênicos, alcalóides, compostos fenólicos e cumarinas.

A Melia azedarach L., membro da família Meliaceae, conhecida por lírio, lilás da Índia ou cinamomo, que tem sido cultivada há muitos anos, apresenta princípios ativos usados frequentemente como medicinal (Guha e Neji, 1965; Srivastava & Gupta, 1985).

Este trabalho objetivou verificar os metabólitos secundários presentes na M. azedarach através de prospecção fitoquímica e avaliar a eficácia in vitro de diferentes tipos de extratos da planta com finalidade antiparasitária de carrapatos R. (B.) microplus de bovinos, Material e Métodos

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Coleta e identificação de folhas frescas de M. azedarach L.

As amostras de folhas frescas de M. azedarach L. foram obtidas na área experimental do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCA-UFES), localizadas no município de Alegre – ES. A exata posição das arvores foram obtidas com auxilio de um aparelho de GPS (Global Positioning System) e as coordenadas foram E: 618m, S: 20°45.095' e W: 041°29.210'.

Coletou-se 1000 g de folhas da planta, que foram lavadas e colocadas em estufa com circulação forçada de ar a 40 °C por 72 horas. Após secas as folhas foram novamente pesadas e calculado a proporção de água na planta. Em seguida as folhas secas foram trituradas em moinho de facas e o pó armazenado em frasco âmbar sob-refrigeração. Esta etapa foi realizada no Laboratório de Bromatologia do CCA-UFES. Amostras de folhas e frutos foram coletadas e as exsicatas estão depositadas no Herbário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul sob o número CGMS - 32.494 - MELIACEAE - Melia azedarach.

Preparo e prospecção fitoquímica dos extratos No Laboratório de Química do CCA-UFES foram feitos três tipos diferentes de extratos utilizando

os seguintes solventes: etanol (EtOH), hexano e água (H2O). Para obtenção do extrato de EtOH e hexano pesou-se 60 g da planta em pó que foram adicionadas a 200 mL de cada solvente, acondicionadas em erlenmeyer cobertos com papel alumínio e macerado por sete dias em geladeira. O extrato aquoso foi obtido ao adicionar 400 mL de água em 60 g da planta seca e pulverizada, sendo armazenada como os extratos anteriores. Após o período de maceração os extratos foram filtrados em papel de filtro e armazenados em frasco âmbar sob refrigeração para testes posteriores. As concentrações finais dos extratos de EtOH e hexano foram de 0,3 g/mL e o aquoso concentração de 0,15 g/mL.

Os extratos foram submetidos às análises fitoquímicas para determinação das principais classes químicas de metabólitos especiais, de acordo com o protocolo descrito por Matos (1997).

Teste in vitro Para a avaliação da eficácia dos diferentes extratos de cinamomo sobre carrapatos de bovino foi

feito o teste de biocarrapaticidograma. As fêmeas de carrapatos ingurgitatas, com comprimento igual ou superior a 04 mm foram coletadas manualmente em bovinos de diversas raças, naturalmente parasitados da área experimental do CCA-UFES localizada no município de São José dos Calçados, ES. Os bovinos estavam a pelo menos 35 dias sem receber algum tipo de tratamento parasiticida, para que não houvesse interferência nos resultados. As teleóginas coletadas foram mantidas em recipientes plásticos, limpos, areados e identificados, para o transporte até o Laboratório de Parasitologia do Hospital Veterinário do CCA-UFES.

A metodologia aplicada no ensaio foi a descrita por Campos Júnior & Oliveira (2005.). As fêmeas ingurgitadas de R. (B.) microplus, com tamanho igual ou superior a quatro milímetros, foram coletadas de bovinos infestados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Minas Gerais. Esses animais são mantidos com carrapatos sem uso de carrapaticida para testes de biocarrapaticidograma. As teleóginas coletadas foram acondicionadas em vasilhames plásticos, identificados, limpos e com a tampa perfurada permitindo a ventilação. Foram lavadas com água destilada, secas em papel absorvente e usadas imediatamente no teste de imersão.

Foram constituídos 06 grupos homogêneos com 10 teleóginas cada, pesados em balança analítica (BG 440 Gehaka, com escala de 0,001 g), e colocadas por cinco minutos em becker de vidro com capacidade de 50 mL, contendo 20 mL de cada um extratos. Cada grupo foi imerso separadamente e durante o banho, a cada 30 segundos agitava-se suavemente. Em seguida, foram colocadas separadamente em placas de Petri (100 mm de diâmetro e 15 mm de altura), previamente identificadas. As placas foram incubadas em estufa com temperatura de 27±1ºC e umidade relativa do ar (URA) de 80±5%.

Após 15 dias, contou-se o número de fêmeas que fizeram oviposição e estes foram coletados, pesados e observados. Em seguida foram colocados em seringas vedadas apenas com algodão, incubadas em estufa BOD e após 21 dias, foram contados 100 larvas e identificada vivas e mortas para estimar a percentagem de eclosão.

As variáveis foram mortalidade das teleóginas, peso das posturas, percentual de eclodibilidade, eficiência do produto (EP) e eficiência reprodutiva (ER), foram avaliadas segundo Campos Júnior e Oliveira (2005).

Resultados e Discussão

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Os resultados referentes à prospecção fitoquímica estão demonstrados na tabela 1. As partes aéreas de M. azedarach apresentaram grande variedade de classes químicas, dentre elas destacam-se os flavonóides, compostos fenólicos, taninos, saponinas e antraquinonas.

TABELA 1 – Prospecção fitoquímica das partes aéreas de Melia azedarach L.

Classes Químicas Planta

Flavonóides - Antocianinas e Antocianidinas - Flavononas, flavonóis e xantonas. + Chalconas e auronas - Flavonóis + Leucoantocianidina - Flavanonas + Catequinas – Taninos catéquicos - Compostos Fenólicos + Taninos + Cumarinas - Núcleo estereoidal + Lactonas alfa-beta insaturadas + 2-Desoxiacúcares - Saponinas + Alcalóides - Antraquinonas +

Os sinais gráficos (+) e (-) representam presença e ausência, respectivamente, da classe química.

Os resultados pertinentes ao ensaio biológico estão descritos na tabela 2. Os extratos aquoso,

hexânico e etanólico apresentaram eficiência de 57,29 %, 90,8 % e 99,5 %, respectivamente.

TABELA 2 – Ação do extrato de Melia azedarach L em diferentes condições sobre Rhipicephalus

(Boophilus) microplus.

Tratamento Percentual de eclodibilidade (%)

Eficiência reprodutiva Eficiência do produto / extrato (%)

G1 62,50 216.187,5 57,29 G2 56 46.480 90,8 G3 2 2.520 99,5 G4 97,50 506.220 - G5 23 52.624 - G6 0 0 -

G1: Extrato aquoso das partes aéreas 0,15 g/mL; G2: Extrato hexânico das partes aéreas 0,3 g/mL; G3: Extrato etanólico das partes aéreas 0,3 g/mL; G4: Controle água; G5: Controle hexano; G6: Controle etanol.

Os taninos compreendem um grande grupo de substâncias complexas muito disseminadas no

reino vegetal, em quase todas as famílias botânicas há espécies que contêm taninos. Quando ocorrem em grandes quantidades, geralmente se localizam em determinados órgãos da planta como as folhas, os frutos, o córtex ou o caule. Costumam ser divididos em duas classes químicas, com base na identidade dos núcleos fenólicos existentes e na maneira como se unem. Como ésteres são facilmente hidrolisados, produzindo ácidos fenólicos e açúcar, são conhecidos como taninos hidrolisáveis. Os taninos condensados compõem a segunda classe. Os taninos precipitam proteínas e podem combinar-se a elas, tornando-as resistentes às enzimas proteolíticas (Robbers et al., 1997). Maciel et al. (2006), analisando a atividade larvicida e ovicida da M. azedarach no Haemonchus contortus Rudolphi, verificaram após análise fitoquímica a presença de taninos condensados, triterpenos e alcalóides.

De acordo com Dantas et al. (2000), o decocto de folhas de M. azedarach tem sido utilizado como carrapaticida, já estando comprovada a existência de princípio ativo, presente nesta planta, sobre Rhipicephalus (Boophilus) microplus Canestrini. Plantas da família Meliaceae são conhecidas por conter uma variedade de compostos descritos como inseticidas antialimentar e regulador do crescimento (Nakatani et al., 2004). Atualmente, alguns produtos disponíveis no mercado como inseticidas contêm azadiractina como componente principal. Esta substância tem sido isolada de várias plantas da família Meliaceae tais como A. indica e M. azedarach (Viegas-Júnior, 2003). A

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azadiractina interfere no funcionamento das glândulas endócrinas que controlam a metamorfose em insetos, impedindo o desenvolvimento da ecdise, apresentando, ainda, atividade fagoinibidora, além de antialimentar, repelente e inseticida (Simões et al., 2007), mas esses resultados oscilam na sua eficácia conforme o diluente, sendo o extrato utilizando etanol o mais eficiente frente a cepas de R. (B.) microplus. Conclusão

Os extratos de M. azedarach testados apresentam ação acaricida in vitro nas concentrações de 0,15 g/mL e 0,3 g/mL. A atividade acaricida é devida as diferentes classes fitoquímicas encontradas nas partes aéreas da planta. Referências ALVES, H.M. Plantas como fonte de fitofármacos. Cadernos Temáticos de Química Nova na Escola, n. 3, 2001. CAMPOS JÚNIOR, D.A; OLIVEIRA, P.R. Avaliação in vitro da eficácia de acaricidas sobre Boophilus microplus (Canestrini, 1887) (Acari: Ixodidae) de bovinos no município de Ilhéus, Bahia, Brasil. Ciência Rural, Santa Maria, v.35, n.6, p.1386-1392, 2005. DANTAS, D.A.; MAGANHA, M.; BERETTA, T.E.; NOZU, P.; PEREIRA, G.S.; MATIAS, R.; SOLON, S.; RESENDE, U.; KOLLER, W.W.; GOMES, A. Estudo fitoquímico dos frutos de Melia azedarach L. (Cinamomo, Meliaceae). In: ENCONTRO DE PESQUISA E INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UNIDERP, 2., 2000, Campo Grande, MS. Resumos. Campo Grande: 2000, p.119-120. GUHA, S.R.D.; NEJI, J.S. Writing and printing paper from Melia azedarach Linn (Persian lilac). Indian Forest, India, v.91, p.867-869, 1965. MACIEL, M.V.; MORAIS, S.M.; BEVILAQUA, C.M.L.; CAMURÇA-VASCONCELOS, A.L.F., COSTA, C.T.C.; CASTRO, C.M.S. Ovicidal and larvicidal activity of Melia azedarach extracts on Haemonchus contortus. Veterinary Parasitology, v.140, p.98-104, 2006. MATOS, F. J. A. Introdução a fitoquímica experimental. 2.ed. Fortaleza: Edições UFC, 1997. 141 p. McGRAW, L.J.; JÄGER, A.K.; van STADEN, J. Antibacterial, anthelmintic and antiamoebic activity in South African medicinal plants. Journal of Ethnopharmacology, v.72, p.247-263, 2000. MELO, K.D; NASCIMENTO, R. M. S ; SANTIAGO, G. B.; MACEDO A.T.M., RAMOS, R.A.N.; ALVES, L.C.; FAUSTINO, M.A.G. TESTE in vitro DA EFICÁCIA DE AMITRAZ E CIPERMETRINA SOBRE CARRAPATOS DA ESPÉCIE Rhipicephalus (Boophilus) microplus. X JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO, UFRPE: Recife, 2010. NAKATANI, M. Limonoids from Melia azedarach. Phytochemistry, v.43, n.3, p.581-583, 1996. ROBBERS, J. E.; SPEEDIE, M.K.; TYLER V.E. Farmacognosia e farmacobiotecnologia. São Paulo: Editorial Premier, 1997. SIMÕES, C.M.O.; SCHENKEL, E.P.; GOSMANN, G.; MELLO, J.C.P.; MENTZ, L.A.; PETROVICK, P.R. Farmacognosia, da planta ao medicamento. Porto Alegre: editora UFRGS, 2007. 1104p. SOUZA, A P. Carrapato dos bovinos (Can. 1887). In: Beck, A. A. H, coord. Manual de parasitoses dos animais por A.A.H. Beck, E.C.T. Garcia e P.C.C. Borges. Florianópolis, Secretária da Agricultura e do Abastecimento, p.65-80, 247p, 1985. SRIVASTAVA, S.K.; GUPTA, H.O. New limonoids from the roots of Melia azedarach Linn. Indian Journal of Chemistry, New Delhi, v.24B, p.166-170, 1985. VIEGAS-JÚNIOR, C. Terpenos com atividade inseticida: uma alternativa para o controle químico de insetos. Química Nova, v.26, p.390-400, 2003. VIVAN, P.M. Uso do cinamomo (Melia azedarach) como alternativa aos agroquímicos no controle do carrapato bovino (Boophilus microplus). 2005. 72p. Florianópolis, Dissertação

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(Mestrado em Agroecossistemas) – Curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Catarina.

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CAPÍTULO 33

RELATO DE CASO CLINICO: INTERAÇÃO MEDICAMENTOSA ENTRE

CETOCONAZOL E MIDAZOLAN Filipe Firme de Souza1, Gláucio Monteiro Ferreira2.

1Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias, [email protected]

2Universidade Federal do Espírito Santo, Centro de Ciências Agrárias, [email protected]

Resumo – As interações medicamentosas constituem um dos temas mais importantes da farmacologia, para a prática clínica dos profissionais da saúde. O uso concomitante de vários medicamentos e o crescente número destes fármacos no mercado são fatores contribuintes para o aumento de interações medicamentosas. O artigo se propõe a relatar um caso clinico onde ocorreu interação medicamentosa entre os fármacos Cetoconazol, fármaco antifúngico utilizado no tratamento de uma série de micoses superficiais e profundas, e o fármaco Midazolan, fármaco benzodiazepínico indicado na prática clínica em adultos e crianças para sedação consciente. Palavras-chave: Interação medicamentosa, Farmacologia, Caso clinico, Cetoconazol, Midazolan. Introdução

Apesar de alguns problemas relacionados aos medicamentos serem imprevisíveis, muitos estão associados à ação farmacológica e, algumas vezes, podem ser esperados. Entretanto, na prática clínica, esta informação prévia pode não ser suficiente, pois, muitas vezes, os pacientes utilizam vários medicamentos, fazendo com que a previsão da magnitude e da especificidade da ação de qualquer fármaco diminua (HUSSAR, 2000). Muitos dos problemas relacionados aos medicamentos são causados por interações medicamentosas. O termo interações medicamentosas se refere à interferência de um fármaco na ação de outro ou de um alimento ou nutriente na ação de medicamentos (LISBOA, 2000). É importante lembrar que existem interações medicamentosas benéficas ou desejáveis, que têm por objetivo tratar doenças concomitantes, reduzir efeitos adversos, prolongar a duração do efeito, impedir, ou retardar o surgimento de resistência bacteriana, aumentar a adesão ao tratamento, incrementar a eficácia ou permitir a redução de dose. As interações indesejáveis são as que determinam redução do efeito ou resultado contrário ao esperado, aumento na incidência e na gama de efeitos adversos e no custo da terapia, sem incremento no benefício terapêutico. As interações que resultam em redução da atividade do medicamento e conseqüentemente na perda da eficácia são difíceis de detectar e podem ser responsáveis pelo fracasso da terapia ou progressão da doença. Alguns fatores relacionados à utilização de medicamentos, como efeito farmacológico múltiplo, prescrições múltiplas, não compreensão do paciente em relação ao tratamento farmacológico, uso abusivo de medicamentos, desinformação dos prescritores e dispensadores e uso de medicamentos por automedicação, contribuem para a ocorrência de interações medicamentosas (GODMAN & GILMAN,2001). No presente artigo, objetivou-se identificar as interações medicamentosas entre os fármacos Cetocanazol e Midazolan. Relato de caso Paciente R F S, 6 anos, masculino, 1,16m e 21,3kg, morador de Bom Jesus do Itabapoana – RJ , fazia uso de Cetoconazol, 1/2 comprimido 100 mg uma vez ao dia, para o tratamento de micose, chega ao Hospital São Vicente de Paula apresentando sonolência, dor de cabeça, tontura, fraqueza muscular e falta de coordenação dos movimentos. O medico Dr. A.M pergunta para sua mãe sobre o uso de medicamentos e ela diz sobre o cetoconazol e diz que deu ao seu filho um medicamento que ela toma para dormir, relatando ela uma necessidade que a criança dormisse. O medicamento era o indutor de sono Midazolam, que foi administrado na dose única de 15mg, que ela deu a criança um dia antes e a criança apresentava os sintomas já descritos. O paciente teve alta no dia seguinte à sua chegada, com suspensão da medicação. Dados sobre os medicamentos O cetoconazol é um importante fármaco antifúngico de natureza imidazólica, utilizado no tratamento de uma série de micoses superficiais e profundas. Sua natureza imidazólica lhe confere

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caráter básico, sendo, portanto, solúvel em meio ácido. Esta característica é importante no processo de absorção do cetoconazol, já que ele é pouco solúvel no meio biológico, em sua forma neutra. Quando administrado por via oral, assim que chega no estômago (pH 1), o cetoconazol é protonado, resultando daí sua solubilização. Obviamente, a absorção neste ponto é desprezível, já que o fármaco encontra-se em sua forma ionizada (RICARDO JOSÉ, 2006). Entre as suas propriedades Farmacocinéticas, na fase de absorção ele requer acidez para dissolução e absorção. Na fase de distribuição, a ligação às proteínas plasmáticas, principalmente à fração albumina, é de aproximadamente 99%. O cetoconazol é amplamente distribuído em todos os tecidos, entretanto, apenas uma proporção insignificante atinge o fluido cerebroespinhal. Na fase de metabolismo, após a absorção no trato gastrintestinal, o cetoconazol é convertido em diversos metabólitos inativos. Na fase de eliminação aproximadamente 13% da dose é excretada na urina, das quais 2 a 4% é o fármaco inalterado. A principal via de excreção é através da bile49 no intestino. O midazolan (MDZ) pertence a uma nova classe de benzodiazepínicos chamada imidazobenzodiazepínico hidrossolúvel introduzido na prática clínica em 1982, com características farmacocinéticas e farmacodinâmicas bem conhecidas. Esta classe também inclui um receptor antagonista flumazenil. É indicado na prática clínica em adultos e crianças para sedação consciente antes e durante procedimentos diagnósticos ou terapêuticos com ou sem anestesia local, como pré medicação antes da indução anestésica, sedação em unidades de cuidados intensivos como também no tratamento de estados de mal epiléptico. O MDZ difere de outros agentes por apresentar efeitos clínicos rápidos e com curta duração de ação (DR. SUELI RIZZUTTI,2004). Entre as suas propriedades Farmacocinéticas, na fase de absorção o midazolan é absorvido rápida e completamente após administração oral. Alimentos prolongam em uma hora o tempo para a concentração máxima, indicando redução na velocidade de absorção do midazolan. Na fase de distribuição, após administração oral, a distribuição tecidual do midazolan é muito rápida e, na maioria dos casos, uma fase de distribuição não é evidente ou é essencialmente terminada 1 a 2 horas após a administração. De 84 a 98% do midazolan é ligado às proteínas plasmáticas, principalmente a albumina. Existe uma passagem lenta e insignificante do midazolan para o fluido cérebro-espinhal. O midazolan tem mostrado cruzar a placenta lentamente e entrar na circulação fetal. Pequenas quantidades de midazolan são encontradas no leite materno. Já na fase de biotransformação, o midazolan é quase completamente eliminado por biotransformação. Menos de 1% da dose é recuperado intacto na urina. O midazolan é hidroxilado pela fração 3A4 do citocromo P450, sendo o a-hidroximidazolam o principal metabólito urinário e plasmático. Sessenta a 80% da dose administrada são excretados na urina como conjugado glicuronado. As concentrações plasmáticas do a-hidroximidazolam correspondem a 30%-50% das concentrações do fármaco original. Após administração oral, ocorre substancial eliminação pré-sistêmica de 30% a 60%. A meia-vida de eliminação do metabólito é 1 hora mais curta. O a-hidroximidazolam é farmacologicamente ativo e contribui significantemente (cerca de 34%) para os efeitos do midazolan oral. Não há evidência de polimorfismo genético no metabolismo oxidativo do midazolan. Na fase de eliminação, quando administrado por via oral, em dose única diária, o midazolan não se acumula. A administração repetida de midazolam não produz indução de enzimas de biotransformação. Resultados e Discussão As interações observadas foram identificadas como do tipo farmacocinética, nas fases de distribuição, uma vez que os dois medicamentos necessitam de ligações com a proteína plasmática (albumina) para a sua distribuição sendo o midazolan deslocado nesse transporte pelo cetoconazol que possui mais afinidade por essa proteína plasmática. Foi relatada também uma interação na fase de metabolismo, pois inibidores do sistema citocromo P450 como o cetoconazol podem reduzir o seu metabolismo diminuindo sua eliminação (Rissutti et al,2004). Com a ocorrência dessas interações, o efeito depressor do MDZ foi aumentado. Como sugestão de conduta em relação a essa ocorrência de interação medicamentosa seria utilizar uma dose menor de Benzodiazepínico ou trocar por um benzodiazepínico como Lorazepam e Temazepam que não sofrem este tipo de interação, monitorar o paciente em relação aos efeitos sedativos aumentados e prolongados e em casos de elevada toxicidade poderia ser usado o antagonista Flumazenil, um antagonista competitivo que inibe a ação do midazolan. Conclusão As interações medicamentosas podem ser evitadas pelo uso racional de medicamentos, evitando a automedicação, seguir corretamente as instruções de uso e adesão a terapia respeitando os horários e doses recomendadas.

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Vale ressaltar que informações sobre o assunto podem ser acessadas através de compêndios disponíveis em Centros de Informação sobre Medicamentos (CIMs), bibliotecas especializadas, programas de computador, como os já existentes no mercado nacional, ou por meio de farmacêuticos clínicos. Referências Bibliográficas Bula do Neo Cetoconazol. Disponível em: <http://www.internationalvitamins.com.br/index.php?b=bula_do_cetoconazol_200_mg_caixa_10_comprimidos>. Acesso em 22 de Nov de 2011. Bulário de Medicamentos. Disponível em: <http://www.bulas.med.br/bula/6323/midazolam.htm>. acesso em 22 de Nov de 2011. TEIXEIRA, C.C.; WANNMACHER, L. Interações Medicamentosas.In: FUCHS, F.D; WANNMACHER, L. Farmacologia Clínica:fundamentos da terapêutica racional. 2 ed. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 1998. P.48-50. HUSSAR, D.A Drug Interactions. In: GENNARO, A.R. Remington:the science and pratice of pharmacy. 20ed., Baltimore: Lippincott Willians & Wilkins, 2000. p.1746-61. LISBOA, S.M.L. Interações e Incompatibilidades Medicamentosas.In: GOMES, M.J.V.M.; REIS, A.M.M. Ciências Farmacêuticas:uma abordagem em farmácia hospitalar. São Paulo: Editora Atheneu, 2000. p. 147-63. NIES, A.S.; SPIELBERG, S.P. Princípios da Terapêutica. In:HARDMAN, J.G.; LIMBIRD, L.E. Goodman & Gilman. As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 10 ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill, 2001. p. 31-44. Rizzutti, S; Prado, L.B.F; Prado, G.F. Midazolam nasal no tratamento de crises convulsivas. REVISTA NEUROCIÊNCIAS V12 N3 - JUL/SET, 2004

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Realização

Universidade Federal do Espirito Santo - Centro de Ciências Agrárias – CCA/UFES

Apoio

ISBN: 978-85-61890-22-3