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Universidade Federal de Juiz de Fora
Faculdade de Engenharia
Bacharelado em Engenharia Civil
ESTUDO NUMERICO-EXPERIMENTALDE PROPRIEDADES MECANICAS
HOMOGENEIZADAS DO CONCRETO
JOAO MARCOS GUIMARAES RABELO
JUIZ DE FORA
NOVEMBRO, 2012
ESTUDO NUMERICO-EXPERIMENTALDE PROPRIEDADES MECANICAS
HOMOGENEIZADAS DO CONCRETO
JOAO MARCOS GUIMARAES RABELO
Universidade Federal de Juiz de Fora
Faculdade de Engenharia
Mecanica Aplicada e Computacional
Bacharelado em Engenharia Civil
Orientadora: Michele Cristina Resende Farage
Co-orientador: Pedro Kopschitz Xavier Bastos
JUIZ DE FORA
NOVEMBRO, 2012
A todos os professores, famılia, funcionarios
e pessoas que contribuıram para
a minha formacao.
Resumo
Os materiais compositos sao hoje empregados nos mais diversos campos da Enge-nharia — como na industria aeronautica, automotiva e equipamentos esportivos — devidoa apresentarem uma relacao custo-benefıcio atraente e atenderem a requisitos tanto desolicitacoes mecanicas como aos princıpios de sustentabilidade.
Na Engenharia Civil, algumas formulacoes do concreto sao ja consideradas con-vencionais. Sabe-se que em materiais multifasicos as caracterısticas de cada componenteafetam o comportamento global do meio.
Neste Trabalho Final de Curso, tecnicas numericas de homogeneizacao serao em-pregadas para estimar as propriedades mecanicas do concreto. Tais propriedades seraomedidas em laboratorio, por ensaios nao destrutivos em corpos de prova de concreto comdiferentes fracoes volumetricas de agregados, de modo a identificar a influencia do volumede agregado graudo sobre as propriedades mecanicas do material. Serao comparadosresultados de analises numericas com valores experimentais medidos.
Ao longo do trabalho serao abordadas as principais caracterısticas do concreto,a tecnica da Homogeneizacao por Expansao Assintotica utilizada para a determinacaodas propriedades efetivas deste material, a determinacao do Modulo de Elasticidade pelometodo Dinamico e o processo de geracao de malhas de Elementos Finitos para as analisescomputacionais.
Palavras-chave: Concreto, Homogeneizacao por Expansao Assintotica, Modulo de Elas-ticidade.
Agradecimentos
Agradeco a Deus pelos dons que me foram dados, pelas oportunidades colocadas
em meu caminho, pelas vitorias conquistadas e pelas batalhas que ainda virao.
Agradeco aos meus pais e a minha irma pelo carinho, amor e apoio incondicionais.
Famılia e tudo.
Agradeco a professora Michele por toda paciencia, conhecimento e incalculaveis
contribuicoes a mim concedidos durante estes anos de iniciacao cientıfica e durante a
producao deste trabalho. Com certeza aprendi muito gracas a este grande exemplo que
voce foi e sempre sera.
Agradeco ao professor Pedro pela contribuicao, ajuda e ensinamento a mim de-
dicados no decorrer da producao deste Trabalho.
A todos os professores que contribuıram para a minha formacao transmitindo
conhecimento, sendo sempre dedicados e atenciosos durante esses anos de faculdade. Voces
sao meus herois.
A todos os funcionarios que de alguma forma contribuıram para o meu bem estar
e conforto neste ambiente tao especial que e a Universidade.
Aos meus colegas de faculdade, que alem de amigos foram a famılia que aqui
construı. Em especial aos amigos Renan, Rodrigo, Tayan e Walter .
Agradeco aos orgaos de fomento que financiaram artigos produzidos que deram
origem a este Trabalho, FAPEMIG, CNPq e tambem a contribuicao da Empresa Pedra
Sul Mineracao Ltda.
A Universidade Federal de Juiz de Fora pela grande oportunidade de estar con-
cluindo uma excelente graduacao em Engenharia Civil.
“ Seja voce quem for, seja qual for a
posicao social que voce tenha na vida, a
mais alta ou a mais baixa, tenha sem-
pre como meta muita forca, muita deter-
minacao e sempre faca tudo com muito
amor e com muita fe em Deus, que um
dia voce chega la. De alguma maneira
voce chega la ”.
Ayrton Senna da Silva
Sumario
Lista de Figuras 7
Lista de Tabelas 9
Lista de Abreviacoes 10
1 Introducao 111.1 Motivacao e objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131.2 Organizacao do Trabalho e Escopo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2 O Concreto 152.1 Microestrutura do Concreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1.1 Interface . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182.1.2 Argamassa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192.1.3 Agregados Graudos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2 Resistencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202.3 Durabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212.4 Dosagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 222.5 Estabilidade Dimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.5.1 Metodos para obtencao do Modulo de Elasticidade . . . . . . . . . 232.5.1.1 Estaticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 232.5.1.2 Dinamico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 252.5.1.3 Fatores que afetam o Modulo de Elasticidade . . . . . . . 25
2.6 Consideracoes sobre as propriedades em estudo . . . . . . . . . . . . . . . 25
3 A Homogeneizacao por Expansao Assintotica 273.1 Descricao Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 273.2 A Homogeneizacao Aplicada a Elasticidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 293.3 Condicoes de Contorno Periodicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 303.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA . . . . . . . . . . . . . . . . 313.5 Consideracoes sobre a aplicacao da HEA ao Concreto . . . . . . . . . . . . 42
4 Programa Experimental 434.1 Descricao Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 434.2 Metodo nao destrutivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.2.1 Determinacao do Modulo Elasticidade pelo Metodo Ultrassonico . . 454.3 Determinacao da Massa Especıfica dos Materiais . . . . . . . . . . . . . . . 464.4 Resultados Experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
5 Programa Numerico 495.1 O programa HEA2D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.1.1 Entrada de dados do programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 495.1.2 Etapas do Programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
5.2 O programa HEA3D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 515.2.1 Organizacao e divisao do programa . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
5.2.1.1 Imposicao das Condicoes de Contorno Periodicas . . . . . 535.2.1.2 Resolucao do Sistema de Equacoes . . . . . . . . . . . . . 54
5.2.2 Calculo do Tensor de Propriedades Homogeneizadas . . . . . . . . . 545.3 Geracao de Malhas de Elementos Finitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
5.3.1 Descricao do Programa Gmsh R© . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 565.3.1.1 Criacao da Geometria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 575.3.1.2 Criacao da Malha de Elementos Finitos . . . . . . . . . . 585.3.1.3 Refinamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
5.4 Analises Computacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 605.4.1 Resultados Numericos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5.5 Resultados e Discussoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
6 Consideracoes Finais 66
Referencias Bibliograficas 67
Lista de Figuras
1.1 Edifıcio Burj Dubai, Emirados Arabes Unidos (a), Hidreletrica Tres Gar-gantas, China (b) e Ponte Juscelino Kubitschek, Brasil (c), (Jonathan K,2008; Traveling Point, 2012). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2 Alvenaria de tijolos macicos apresentando estrutura periodica ou repetitiva. 13
2.1 Alto de Santa Rita no Rio Grande do Norte, a maior estatua religiosa domundo feita em concreto com 56 metros de altura (Itambe, 2012). . . . . . 15
2.2 Grafico tensao-deformacao do concreto em funcao do tempo de carrega-mento (Mehta e Monteiro, 2012). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.3 Diferentes tipos de modulos de elasticidade determinados a partir do graficotensao-deformacao do concreto (Mehta e Monteiro, 2012). . . . . . . . . . . 24
2.4 Diversos parametros que influenciam no modulo de elasticidade do concreto(Mehta e Monteiro, 2012). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.1 Representacao de um meio heterogeneo com microestrutura periodica. . . . 283.2 Variacao do parametro ε quando o numero de celulas tende a infinito. . . . 283.3 Periodicidade no Volume Elementar Representativo . . . . . . . . . . . . . 313.4 Aplicacoes de elementos finitos: (a) construcao; (b) carro; (c) trator; (d)
onibus escolar; (e) fuselagem de aviao (Fish e Belytschko, 2009). . . . . . . 323.5 O elemento tetraedro linear e seus graus de liberdade (Vaz, 2012). . . . . . 35
4.1 Corpos de prova de concreto estudados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 444.2 Determinacao do Modulo de Elasticidade Ultrassonico de um CP e de uma
amostra da mesma rocha da brita usada na producao dos concretos. . . . . 464.3 Determinacao da massa especıfica de uma amostra de rocha segundo a
norma brasileira NBR 12766:1992, (ABNT, 1992). . . . . . . . . . . . . . . 47
5.1 Representacao do elemento triangular de 6 nos e seus respectivos desloca-mentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
5.2 Representacao da imposicao das condicoes de contorno periodicas (Quin-tela, 2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
5.3 Representacao esquematica da estrutura do programa HEA3D (Quintela,2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
5.4 Esquema da associacao dos nos periodicos nas fronteiras do volume ele-mentar representativo (Quintela, 2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
5.5 Aspecto de uma malha de elementos finitos empregada na simulacao de ummodelo de esmalte dentario (Cunha et al, 2012). . . . . . . . . . . . . . . . 56
5.6 Criacao da Geometria de uma malha de Elementos Finitos representativade um meio com inclusao cilındrica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
5.7 Arquivos de saıda do programa Gmsh R©, extensoes .geo e .msh. . . . . . . 585.8 Geracao das malhas a partir da geometria definida na secao 5.3.1.1. . . . . 585.9 Representacao da Periodicidade de uma Malha. . . . . . . . . . . . . . . . 595.10 Geometria e malha de Elementos Finitos bidimensional representativa de
inclusao circular. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 605.11 Malha de Elementos Finitos representativa de inclusao esferica. . . . . . . . 61
5.12 Malha de Elementos Finitos criada a partir de uma geometria com inclusaocubica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5.13 Grafico da convergencia do resultado de Eh de acordo com o grau de refi-namento da malha. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.14 Grafico da convergencia do resultado de Eh em maior destaque para repre-sentar que o valores de Eh podem ser mais otimizados. . . . . . . . . . . . 64
Lista de Tabelas
4.1 Resultados das medicoes experimentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 484.2 Resultados medios adotados para as medicoes experimentais . . . . . . . . 48
5.1 Resultados das analises numericas e experimentais . . . . . . . . . . . . . . 64
Lista de Abreviacoes
CP Corpo de Prova
HEA Homogeneizacao por Expansao Assintotica
MEF Metodo dos Elementos Finitos
MPCG Metodo dos Gradientes Conjugados Pre-Condicionado
VER Volume Elementar Representativo
11
1 Introducao
As estruturas de concreto em geral e as construcoes de grande porte, como pon-
tes, edifıcios e barragens, sao objeto de pesquisa e de atencao de diversos profissionais,
visando principalmente as questoes de seguranca, economicas e de durabilidade, (Figura
1.1). Diante disso, o sucesso de qualquer empreendimento esta intimamente ligado aos
estudos das propriedades mecanicas dos materiais, da viabilidade economica e no acom-
panhamento do projeto e da execucao. Tal cuidado se deve aplicar de forma a garantir
um controle de qualidade do concreto e dos outros materiais da obra, atendendo sempre
aos requisitos visados pelo projeto.
Figura 1.1: Edifıcio Burj Dubai, Emirados Arabes Unidos (a), Hidreletrica Tres Gargan-tas, China (b) e Ponte Juscelino Kubitschek, Brasil (c), (Jonathan K, 2008; TravelingPoint, 2012).
O concreto, por ser o material mais empregado nas obras de construcao civil, e sem
1 Introducao 12
duvida, o material composito de maior interesse e o qual demanda maiores estudos sobre as
suas propriedades mecanicas e sobre o modo como estas influenciam o seu comportamento.
Formado basicamente por duas fases — argamassa e agregado graudo — o concreto pode
ser considerado de maneira aproximada como um material composito bifasico e cujas pro-
priedades mecanicas estruturais sao altamente influenciadas pela relacao existente entre
estas fases.
Para materiais compositos como o concreto, o comportamento macroestrutural
pode ser afetado por caracterısticas microestruturais, nesses casos, e conveniente consi-
derar as caracterısticas da microescala para simular os efeitos da macroescala na mo-
delagem desses materiais, (Quintela, 2011). Entretanto, simular corretamente os efeitos
da microescala em materiais heterogeneos nem sempre e uma tarefa simples e em al-
guns casos torna-se um problema complexo e de grande demanda computacional. Uma
alternativa e o emprego de tecnicas de homogeneizacao cujo objetivo e determinar pro-
priedades efetivas homogeneizadas capazes de representar um material heterogeneo, ou
seja, conhecendo-se de antemao as propriedades mecanicas e a relacao volumetrica de
cada componente, determinam-se as propriedades mecanicas homogeneizadas do produto
resultante da misturas desses componentes.
Dentre as tecnicas de homogeneizacao existentes na literatura, cita-se neste tra-
balho a tecnica da homogeneizacao por expansao assintotica (HEA), que e aplicada a
meios que possuam estrutura periodica ou repetitiva, conforme a Figura 1.2. Nestes e
em outros casos semelhantes e possıvel aproximar o meio heterogeneo por um meio ho-
mogeneo equivalente baseado na obtencao de propriedades homogeneizadas calculadas
a partir de celulas elementares representativas do meio heterogeneo. Desta forma, as
analises em ambito macroscopico podem ser realizadas considerando o meio equivalente
homogeneizado, o que reduz consideravelmente a dimensao do problema (Quintela, 2011).
O detalhamento da tecnica assim como as consideracoes a serem feitas em seu emprego,
alem da aplicacao do metodo dos elementos finitos no calculo das propriedades efetivas
serao abordados mais adiante neste trabalho.
1.1 Motivacao e objetivos 13
Figura 1.2: Alvenaria de tijolos macicos apresentando estrutura periodica ou repetitiva.
1.1 Motivacao e objetivos
A confeccao de compositos, assim como a do concreto, objetiva sempre atender
a uma determinada condicao de uso ou de contorno. O que se quer na verdade e pro-
duzir um material com uma determinada propriedade mecanica capaz de satisfazer o seu
emprego no menor custo possıvel, alem do produto final resistir a acoes previstas pelo
meio ambiente em que este esta inserido. Para tanto, geralmente se dispoem de dois ou
mais materiais distintos que, unidos segundo uma fracao volumetrica, atingem as carac-
terısticas necessarias e ideais para o seu uso. Tais caracterısticas podem ser, por exemplo,
resistencia mecanica, resistencia a abrasao, isolamento acustico e termico, ausencia de
condutividade eletrica e termica, rigidez ou flexibilidade, dureza, criacao de materiais
inertes quimicamente, dentre outras.
Diante disso, pode-se empregar a HEA para estimar a fracao volumetrica de cada
componente, uma vez conhecida as propriedades de cada componente e a propriedade final
que se deseja obter (pode-se fazer aqui, uma analogia ao estudo da dosagem realizado no
concreto), ou ainda, obter a propriedade final de um composito uma vez conhecida a
fracao volumetrica e a propriedade de cada componente.
Este trabalho consiste no emprego de metodos computacionais para estimar as
propriedades mecanicas do concreto. Foram empregados programas de Elementos Finitos
em que a tecnica da Homogeneizacao por Expansao Assintotica foi implementada para
analisar problemas 2D e 3D. Para validar os resultados obtidos, foi tambem realizado um
1.2 Organizacao do Trabalho e Escopo 14
programa experimental.
1.2 Organizacao do Trabalho e Escopo
Este trabalho final de curso sera organizado da seguinte forma:
O Capıtulo 2 apresenta uma breve revisao bibliografica sobre as principais pro-
priedades e caracterısticas do concreto.
O Capıtulo 3 apresenta a formulacao da HEA aplicada a problemas de Elasti-
cidade, alem de descrever a implementacao da HEA via metodo dos elementos finitos
(MEF).
O Capıtulo 4 descreve o programa experimental realizado para a validacao da
tecnica da HEA, assim como os resultados medidos experimentalmente.
O Capıtulo 5 descreve os programas utilizados e as analises computacionais rea-
lizadas e apresenta os resultados numericos e discussoes .
Por fim, o Capıtulo 6 traz a conclusao com as consideracoes finais sobre o trabalho.
15
2 O Concreto
O concreto e um material composito formado basicamente pela mistura de agre-
gados com o cimento Portland (aglomerante), agua e, eventualmente, aditivos e adicoes.
Sendo um dos materiais mais empregados na construcao civil, o concreto possui como prin-
cipal vantagem a capacidade de ser moldado nas mais diversas concepcoes arquitetonicas
e de resistir as varias solicitacoes que lhe sao impostas.
Nas ultimas decadas o consumo de concreto aumentou exponencialmente devido
ao fato do ser humano estar cada vez mais investindo em obras de infraestrutura. Outro
grande fator e que embora o concreto convencional nao seja tao resistente quanto o aco,
ele possui propriedades que lhe conferem um uso muito abrangente, como por exemplo, a
grande capacidade de enfrentar a agua sem grande deterioracao, a facilidade com a qual
elementos estruturais de concreto podem ser obtidos atraves de uma variedade de formas
e tamanhos, o baixo custo relativo somado a grande disponibilidade do material para uma
obra e a melhor resistencia a exposicao ao fogo.
Figura 2.1: Alto de Santa Rita no Rio Grande do Norte, a maior estatua religiosa domundo feita em concreto com 56 metros de altura (Itambe, 2012).
2 O Concreto 16
Conforme a Figura 2.1, pode-se ver, que o concreto e um material que apresenta
como vantagem a capacidade de se adaptar a geometrias as mais variadas.
As principais fracoes/componentes do concreto sao (Mehta e Monteiro, 2012):
a. o agregado graudo; material granular usado como meio cimentıcio;
b. argamassa; mistura de areia, cimento e agua;
c. cimento; material seco que por si so nao e um aglomerante, mas desenvolve essa
propriedade como resultado do processo de hidratacao, isto e, de reacoes quımicas
entre o cimento e a agua;
d. aditivos e adicoes; elementos adicionados a mistura para modifica-la ou adicionar
nela outras caracterısticas.
Algumas consideracoes que favorecem a escolha do concreto quando comparado
a outros materiais da construcao civil dizem respeito, segundo Mehta e Monteiro (2012),
a manutencao, a resistencia ao fogo e a resistencia ao carregamento cıclico.
Na escolha de um material de construcao outro quesito importante e a capaci-
dade do material de suportar uma devida forca aplicada, propriedade esta denominada
resistencia. A resistencia dos materiais, segundo Hibbeler (2012), e um ramo da mecanica
que estuda as relacoes entre as cargas externas aplicadas a um corpo deformavel e a in-
tensidade das forcas internas que agem no interior do corpo. Uma vez que a resistencia
do concreto e funcao do processo de hidratacao do cimento, os ensaios para a resistencia
do concreto se baseiam em corpos-de-provas (CPs) curados sob condicoes padroes de
temperatura e umidade. Na maioria das vezes, a resistencia a tracao e a flexao equiva-
lem a 10% e 15%, respectivamente, da resistencia a compressao. Isso pode ser atribuıdo
a heterogeneidade e a complexidade da microestrutura do concreto (Mehta e Monteiro,
2012).
O concreto e um material composito. Todavia, a grande maioria das suas pro-
priedades nao seguem a regra das misturas (Mehta e Monteiro, 2012), a qual fornece
dois limites, um inferior e outro superior para a variacao de propriedades, de acordo com
a composicao da mistura (Jones, 1999). Por exemplo, sob tensoes de compressao a re-
sistencia da argamassa e do agregado graudo testados separadamente, podem ser, tanto
2 O Concreto 17
uma como a outra, maiores que a resistencia do concreto (Mehta e Monteiro, 2012). Esta
anomalia no comportamento estrutural deste composito pode ser explicada pelo estudo
da sua microestrutura, que sera abordada na secao 2.1 deste capıtulo.
Para alguns materiais, a relacao tensao-deformacao independe do tempo de car-
regamento, entretanto no caso do concreto o carregamento exerce grande influencia sobre
a curva de resistencia caracterıstica, (Figura 2.2, secao 2.2). Por exemplo, uma viga de
concreto armado mantida sob um longo perıodo em sua vida util a um carregamento
constante apresentara deformacao plastica, que e o fenomeno do aumento gradativo de
deformacoes com carregamento constante, tambem conhecido como fluencia. Em casos
onde a fluencia e restringida, havera um decrescimo da tensao com o tempo, fenomeno da
relaxacao (Mehta e Monteiro, 2012).
Outro fator muito importante na avaliacao do concreto como material de cons-
trucao esta intimamente ligado a sua durabilidade, definida como a expectativa de vida
do material sob determinadas condicoes ambientais e de carregamento.
O concreto ainda apresenta como dificuldade a determinacao precisa de suas
propriedades mecanicas, pois e um material heterogeneo cujas caracterısticas macroes-
truturais sao fortemente influenciadas pela composicao microestrutural. Sua resistencia
e durabilidade estao associadas a permeabilidade e a porosidade do material. Isto se da
pelo estudo da dosagem dos materiais constituintes na mistura e controle do preparo da
mesma, alem destas propriedades sofrerem com a influencia dos ciclos de temperaturas e
umidades ambientais.
Sua estrutura por ser porosa esta sujeita a ser comprometida pela atuacao de
agentes agressivos que podem, por exemplo, penetrar em seus poros e reagir com ıons
livres na mistura formando patologias como a reacao alcali-agregado. Nessas e outras
condicoes, como exposicao prolongada ao fogo, as dificuldades para descrever e prever o
comportamento sao grandes pelo fato do concreto ser resultado de reacoes quımicas que
se encontram em constante evolucao (Barbosa, 2011).
2.1 Microestrutura do Concreto 18
2.1 Microestrutura do Concreto
Segundo Mehta e Monteiro (2012), entende-se por microestrutura o tipo, o ta-
manho, a forma e a distribuicao das partıculas e das fases em um solido, sendo estes
elementos passıveis de serem visualizados somente com o uso de um microscopico. O
estudo sobre elementos da microestrutura e necessario para se analisar o comportamento
mecanico destes materiais.
Em um ambito macroscopico, pode-se distinguir duas fases distintas no concreto
— a da argamassa, aqui denominada matriz, composta da mistura de agua, cimento e
areia (agregado miudo) — e a do agregado graudo (inclusao), que sao as partıculas maiores
dispersas na argamassa. Porem, em um ambito microscopico, esta distribuicao se torna
muito mais complexa, sendo que o meio considerado anteriormente como bifasico ja nao
e mais capaz representar a estrutura. Alem disso, a estrutura do concreto torna-se ainda
mais heterogenea uma vez que em algumas regioes a pasta de cimento hidratada esta mais
concentrada, enquanto que em outras, a mesma esta mais porosa.
Como se ve, esta natureza altamente heterogenea do concreto exige um estudo
mais aprofundado sobre os modelos teoricos de relacao microestrutura-propriedade. Logo,
um conhecimento mais aprofundado das 3 fases citadas a seguir — argamassa, agregado
e interface — e recomendado para se compreender e controlar as propriedades mecanicas
deste material.
2.1.1 Interface
Fazendo uma analogia ao elo mais fraco da corrente, a zona de transicao entre
agregado e matriz (interface) e, em muitos casos, a fase limitante da resistencia do concreto
segundo Mehta e Monteiro (2012), onde em alguns casos a ruptura do concreto se da em
um nıvel de tensao consideravelmente mais baixo do que a resistencia de qualquer um
dos componentes principais quando testados separadamente. Em nıveis altos de tensao,
acima de 70% da carga de ruptura do material sob esforcos de compressao, as fissuras na
matriz se espalham gradualmente ate se juntarem as fissuras pre-existentes na interface.
Quando estas fissuras se unem em um nıvel contınuo ocorre a ruptura fragil do material.
Uma alta quantidade de energia e demandada para a formacao e extensao de fissuras sob
2.1 Microestrutura do Concreto 19
esforcos de compressao, enquanto que, sob esforcos de tracao, as fissuras se propagam
muito rapidamente e em um nıvel de tensao bem menor, o que explica a ruptura fragil no
concreto sob esforcos de tracao e a ruptura ligeiramente ductil sob esforcos de compressao
(Mehta e Monteiro, 2012).
Essa zona de transicao e determinada pela aderencia existente entre a matriz
argamassa e a fase agregado que, segundo Wu (1982), e o estado no qual duas fases
mantem-se unidas por contato interfacial, de forma que forcas mecanicas ou trabalho
possam ser transferidos atraves da interface. Este contato interfacial e regido pelas forcas
de Van der Waals, ligacoes quımicas e ou atracao eletrostatica.
2.1.2 Argamassa
A argamassa e resultante do processo de hidratacao do Cimento Portland mis-
turado com o agregado miudo, e a fase responsavel por formar o meio aglomerante da
mistura sofrendo alta influencia em sua estrutura pela relacao agua/cimento, que e a
principal responsavel na determinacao da propriedade de resistencia. O volume de vazios
capilares na pasta de cimento hidratada fica, entao, em funcao do grau de hidratacao
da mistura e da quantidade de agua presente, influenciando desta forma a resistencia do
meio. Alem disso, a pasta de cimento hidratada possui ıons livres em sua composicao, o
que merece destaque em estudos sobre a interacao do material com meios agressivos no
ambiente em que se insere o mesmo.
Dadas estas condicoes a impermeabilidade ou estanqueidade torna-se um fator
preponderante no que diz respeito a durabilidade deste material, o que pode-se observar
que resistencia e permeabilidade sao duas propriedades influenciadas por esta porosidade
capilar ou volume de vazios (Mehta e Monteiro, 2012).
2.1.3 Agregados Graudos
Os agregados graudos podem-se tornar os principais responsaveis pelas carac-
terısticas estruturais do concreto de acordo com suas propriedades fısico-quımicas, influ-
enciando diretamente na estabilidade dimensional e no modulo de elasticidade.
Sua forma variando desde alongada a um formato cubico influencia na formacao
2.2 Resistencia 20
de um filme de agua junto a superfıcie, criando desta forma uma zona de transicao enfra-
quecida na interface agregado-matriz (Mehta e Monteiro, 2012). Em geral, quanto maior
a area de superfıcie do agregado, maior a zona de interface e, portanto, menor a resistencia
do material.
2.2 Resistencia
A resistencia a compressao do concreto e a propriedade mais importante deste
material, pois e a mais utilizada nos calculos estruturais de projetistas e engenheiros. E
definida como a capacidade de um material resistir a determinado valor de tensao sem
sofrer falhas. E inversamente proporcional a porosidade do material e sofre influencias de
caracterısticas como a relacao agua/cimento e da zona de transicao na interface, ambas
ja citadas, o formato e condicoes mineralogicas do agregado, as condicoes de cura e de
adensamento do concreto, as condicoes de umidade, velocidade do carregamento, entre
outras, (Mehta e Monteiro, 2012).
Os principais fatores responsaveis na avaliacao desta propriedade sao (Mehta e
Monteiro, 2012):
a. Caracterısticas e proporcoes dos materiais
b. Parametros de ensaio
c. Condicoes de cura.
Um estudo fundamental na determinacao da resistencia e o estudo da dosagem,
primordial na determinacao e na avaliacao da resistencia do material, pois determina a
relacao agua/cimento, na porosidade do material e principalmente na zona de interface.
Fatores que envolvem os processos de hidratacao do cimento como o tempo, tem-
peratura e umidade imediatamente e apos o lancamento do concreto na estrutura, tambem
merecem destaque na avaliacao desta propriedade. Alem de parametros de ensaio como
tamanho e geometria do corpo-de-prova, condicoes de umidade e de carregamento tambem
afetam o valor estimado caracterıstico de resistencia.
2.3 Durabilidade 21
A Figura 2.2 a seguir mostra o efeito da velocidade do carregamento na avaliacao
da resistencia do concreto.
Figura 2.2: Grafico tensao-deformacao do concreto em funcao do tempo de carregamento(Mehta e Monteiro, 2012).
2.3 Durabilidade
De acordo com o ACI Committee 201 (Mehta e Monteiro, 2012), a durabilidade
do concreto e definida como a sua capacidade de resistir a acao de intemperies, ataque
quımico, abrasao, ou qualquer outro processo de deterioracao. Conforme afirmado por
Mehta e Monteiro (2012) nenhum material e propriamente duravel, ou seja, devido aos
processos de interacoes ambientais ou exposicao a agentes agressivos, suas propriedades
mudam com o tempo. O estudo da durabilidade assume vital importancia devido as im-
plicacoes socios-economicas, pois os custos de reformas e de substituicoes de componentes
geram um quantitativo no orcamento que merece destaque no mercado de construcao civil
atual.
A agua e um dos principais fatores para a maioria dos problemas de durabilidade
do concreto. Este, por ser um material extremamente alcalino, sofre com a exposicao a
aguas acidas. A permeabilidade do concreto a agua depende principalmente da relacao
agua/cimento e da dimensao dos agregados que influenciam as microfissuras na regiao
2.4 Dosagem 22
da interface. A agua, por ser um ingrediente necessario para as reacoes de hidratacao
do cimento, e atuante como agente facilitador na trabalhabilidade do concreto, ela esta
intimadamente ligada a composicao quımica deste material e dependendo das condicoes
ambientais exerce influencia sobre a permeabilidade do concreto devido a evaporacao da
mesma. Este fato e de extrema relevancia e merece cuidado, pois o que se procura evitar,
e uma grande perda desta agua por evaporacao, evitando assim a presenca de fissuras e
o aumento dos vazios na mistura (Mehta e Monteiro, 2012).
Outras principais causas da deterioracao do concreto sao: o desgaste superficial
devido a abrasao e acao de intemperies e a fissuracao devido a exposicao a variacoes de
temperatura e umidade, a exposicao a temperaturas extremas como congelamento e fogo,
e a carregamentos estruturais.
2.4 Dosagem
Para se obter um concreto capaz de atender a determinadas caracterısticas, sejam
elas de resistencia ou de durabilidade, um dos primeiros passos e o estudo da dosagem dos
materiais que irao compor o produto final. Segundo Mehta e Monteiro (2012) a dosagem
do concreto e a combinacao correta de cimento, agregados, agua, aditivos e adicoes, para
produzir o concreto de acordo com as especificacoes.
Os requisitos mais importantes a serem levados em conta sao a trabalhabilidade
do concreto no estado fresco, a durabilidade e a sua resistencia no estado endurecido em
uma idade especıfica. Estes requisitos estao relacionados a facilidade com que o concreto e
lancado e adensado e a sua capacidade de receber as solicitacoes para que o produto (obra)
e designado. Em alguns casos, sobre condicoes severas de carregamento e de exposicao
este estudo deve receber um atencao especial (Mehta e Monteiro, 2012).
Um outro objetivo do estudo de dosagem e obter uma combinacao que gere o
menor custo possıvel satisfazendo os requisitos, envolvendo a selecao e a composicao dos
materiais. Estes materiais devem ser tecnicamente aceitaveis e devem apresentar custos
atrativos. A dosagem se complica pelo fato de que certas propriedades desejaveis podem
ser afetadas pela alteracao de uma variavel especıfica, isso envolve casos como, por exem-
plo, a adicao de agua a uma mistura de concreto acarreta uma melhor fluidez do mesmo,
2.5 Estabilidade Dimensional 23
no entanto, isto reduz a sua resistencia quando no estado endurecido. Sendo assim, o pro-
cesso de dosagem e o responsavel por equilibrar os diversos requisitos no uso do concreto
(Mehta e Monteiro, 2012).
2.5 Estabilidade Dimensional
As deformacoes ocorrentes no concreto que comumente levam a fissuracao sao
resultantes da reacao do material as diversas solicitacoes do ambiente e de carregamentos
externos. Estas deformacoes podem ser de natureza elastica no inıcio do carregamento e
inelastica durante a fase final de carregamento.
Apesar do comportamento nao-linear do concreto, e necessario estimar o modulo
de Elasticidade deste material para se determinar as tensoes induzidas pelas deformacoes
originadas por fatores ambientais e para se calcularem as tensoes de projeto sob carga em
elementos estruturais (Mehta e Monteiro, 2012).
Materiais compositos complexos como o concreto possuem propriedades que nao
sao iguais a soma das propriedades de seus constituintes. Fato este que comprova a
nao-linearidade do grafico tensao-deformacao deste material, Figura 2.2, secao 2.2.
2.5.1 Metodos para obtencao do Modulo de Elasticidade
O modulo de elasticidade de um material e a propriedade que relaciona a variacao
de deformacoes ao longo do acrescimo de tensoes geradas pelo carregamento, em outras
palavras, e uma das propriedades que determinam os valores do tensor de rigidez do
material. Pode ser afetado pela fracao volumetrica, pela densidade e pelas caracterısticas
da zona de transicao na interface entres os materiais distintos.
2.5.1.1 Estaticos
Para o concreto, existem tres metodos que determinam o modulo de elasticidade
estatico devido ao fato do material nao obedecer a rigor a lei de Hooke. O que se faz,
portanto, e considerar uma aproximacao da curva σ − ε obtida em ensaio por uma reta,
segundo o metodo estatico adotado.
2.5 Estabilidade Dimensional 24
Sao eles: o modulo tangente, o modulo secante e o modulo cordal. Informacoes
mais detalhadas sobre a avaliacao destes metodos podem ser encontradas na referencia
Mehta e Monteiro (2012).
A Figura 2.3 a seguir ilustra os tipos de metodos na avaliacao do modulo elastico
deste material.
Figura 2.3: Diferentes tipos de modulos de elasticidade determinados a partir do graficotensao-deformacao do concreto (Mehta e Monteiro, 2012).
Onde (Mehta e Monteiro, 2012)
a. Modulo Secante - Determinado pela declividade da linha correspondente a tensao
S0.
b. Modulo Cordal - Determinado pela declividade da linha correspondente a tensao
SC.
c. Modulo Tangente - Determinado pela declividade da linha TT’ tracada de forma
tangente a qualquer ponto da curva σ − ε.
d. Modulo Dinamico — correspondente ao Modulo Tangente Inicial - Decli-
vidade da linha OD da origem, ver proximo item 2.5.1.2.
2.6 Consideracoes sobre as propriedades em estudo 25
2.5.1.2 Dinamico
O modulo dinamico corresponde a uma deformacao instantanea muito pequena,
que e aproximadamente aquela calculada pelo metodo do modulo tangente inicial, isto e,
a tangente para uma linha tracada na origem (Mehta e Monteiro, 2012). Muito utilizado
na avaliacao de estruturas submetidas a carga de impacto ou terremotos.
Ao longo deste trabalho sera dada uma maior enfase nesta analise, que foi a
adotada nos ensaios experimentais.
2.5.1.3 Fatores que afetam o Modulo de Elasticidade
Em materiais heterogeneos como o concreto, a relacao direta entre densidade
e modulo de elasticidade que e mantida em materiais homogeneos nao e determinante,
sendo necessario considerar outras propriedades como a fracao volumetrica, a densidade,
as caracterısticas da zona de transicao na interface e o modulo dos principais componentes.
Agregados densos que possuem um alto modulo de elasticidade, como a pedra brita,
influenciam no aumento do modulo de elasticidade do concreto. Para a matriz da pasta
de cimento o modulo de elasticidade e determinado por sua porosidade.
Parametros de ensaio, como condicoes de umidade e de cura, velocidade do
carregamento, tempo de exposicao a cargas, dimensoes do corpo-de-prova tambem sao
responsaveis por influenciarem os valores experimentais na determinacao do modulo de
Elasticidade. A Figura 2.4, extraıda da referencia Mehta e Monteiro (2012), fornece um
resumo dos fatores que afetam o modulo de elasticidade do concreto.
2.6 Consideracoes sobre as propriedades em estudo
Cabe notar que, devido a heterogeneidade do material, em muitos casos e conve-
niente que se disponha de formas realistas para previsao das propriedades mecanicas de
um concreto a ser confeccionado. Para este fim, alem de experimentos em laboratorio,
podem ser empregadas expressoes analıticas — como a regra das misturas — assim como
tecnicas de homogeneizacao numericas.
Neste trabalho, e empregada para este fim a tecnica numerica da HEA, da qual
2.6 Consideracoes sobre as propriedades em estudo 26
Figura 2.4: Diversos parametros que influenciam no modulo de elasticidade do concreto(Mehta e Monteiro, 2012).
trata o Capıtulo 3.
27
3 A Homogeneizacao por Expansao
Assintotica
A Homogeneizacao por Expansao Assintotica (HEA) e uma tecnica que permite
determinar propriedades efetivas de um meio heterogeneo a partir das informacoes relati-
vas a cada um de seus componentes. Trata-se de uma metodologia que modela fenomenos
fısicos em meios que possuem microestrutura periodica ou repetitiva (Oliveira et al, 2009).
O objetivo desta metodologia de modelagem multiescala e a transferencia de
informacoes obtidas a partir de uma escala pequena representativa de um meio local,
para uma escala grande que representa um meio global — esta transferencia de escala
(upscaling) permite uma descricao do problema com informacoes refinadas numa escala
micro, para simular os efeitos numa escala macro, empregando malhas de elementos finitos
menores e mais grosseiras (Quintela, 2011).
3.1 Descricao Geral
A homogeneizacao por expansao assintotica (HEA) e uma tecnica numerica fun-
damentada na aproximacao de um corpo global, que apresente estrutura periodica ou
repetitiva em sua composicao, por um corpo local, denominado volume elementar repre-
sentativo (VER) ou celula periodica, que seja capaz de representar o meio heterogeneo
em questao. A Figura 3.1 ilustra o pressuposto.
O principal objetivo desta tecnica e, dada uma celula periodica que represente um
material heterogeneo, conhecendo-se as propriedades mecanicas de cada fase, determinar
as propriedades homogeneizadas capazes de representar o corpo multifasico. Tal tecnica
se baseia na resolucao de equacoes diferenciais parciais homogeneizadas que descrevem
processos fısicos que ocorrem em meios heterogeneos (Quintela, 2011).
As premissas basicas da HEA sao:
1. Relacao entre as escalas.
3.1 Descricao Geral 28
Figura 3.1: Representacao de um meio heterogeneo com microestrutura periodica.
Admite-se aqui a existencia de duas escalas distintas, visto que em alguns casos
mais especıficos e necessaria a adotacao de mais escalas, representativas de um meio
global e de um meio local derivado deste meio global. Conforme a Figura 3.1, o meio
global e representando por uma escala X enquanto que, o meio local e representado
por uma escala Y. A relacao entre os sistemas de coordenadas global e local e
representado por um parametro de escala definido ε, onde ε =x
y. Assume-se entao,
que para que a homogeneizacao seja valida, o parametro ε tende a zero e dessa forma
as propriedades do meio local homogeneizado tendem para as propriedades do meio
global heterogeneo (Sanches-Palencia, 1980). A Figura 3.2 ilustra a relacao entre as
escalas quando o numero de celulas tende a infinito.
Figura 3.2: Variacao do parametro ε quando o numero de celulas tende a infinito.
2. Expansao assintotica.
3.2 A Homogeneizacao Aplicada a Elasticidade 29
A segunda premissa da HEA e a expansao assintotica da variavel central do problema
em torno de ε. No nosso caso, em que temos pequenas deformacoes no regime linear
elastico, a variavel de campo e o deslocamento. Que pode ser expressa como:
uεi(xε) = u
(0)i (x, y) + εu
(1)i (x, y) + ε2u
(2)i (x, y) + ε3u
(3)i (x, y) + ..... (3.1)
onde ε e o parametro de escala, u e o deslocamento, (.)(0) e a escala macroscopica e
(.)(1), (.)(2), (.)(3), ... sao as escalas microscopicas.
3.2 A Homogeneizacao Aplicada a Elasticidade
De acordo com Chung et al (2001), considerando um material heterogeneo que
apresente uma estrutura repetitiva em sua composicao, as propriedades periodicas do
material serao definidas pela seguinte relacao entre as escalas:
Dεijkl = Dijkl
(xε
)(3.2)
onde Dεijkl representa a estrutura heterogenea e a funcao Dijkl reproduz as variacoes
de propriedades do material na microestrutura. Isto significa dizer que o volume esta
representado no sistema de coordenadas xεi e as variacoes que ocorrem na microestrutura
sao modeladas por Dεijkl (Quintela, 2011).
O problema elastico-linear aqui tratado e modelado com um conjunto de equacoes
visto a seguir. Onde 3.3 e a Equacao de equilıbrio, as equacoes 3.4 e 3.5 sao as condicoes
de contorno, e as equacoes 3.6 e 3.7 sao a relacao deformacao-deslocamento e relacao
constitutiva respectivamente:
3.3 Condicoes de Contorno Periodicas 30
∂σεij∂xεj
+ f = 0 em Ω; (3.3)
uεi = 0 em ∂1Ω; (3.4)
σεijnj = Fi em ∂2Ω; (3.5)
εij(uε) =
1
2
(∂uεi∂xεj
+∂uεj∂xεi
); (3.6)
σεij = Dεijklεkl(u
ε) (3.7)
em que o parametro de escala ε identifica os valores relacionados ao comportamento do
material heterogeneo original; σεij e o termo ij do tensor de tensoes internas e fi e a forca
de volume no domınio Ω; uεi e o deslocamento na direcao i; nj e o vetor normal ao contorno
∂2Ω; Fi e a forca por unidade de area no contorno ∂2Ω e εij e o termo ij do tensor de
deformacoes.
Neste contexto, a resolucao do problema de elasticidade consiste na determinacao
do campo de deslocamento correspondendo a resolucao da variavel u pertencente ao
domınio Ω do problema. Empregando a regra da cadeia 3.8:
∂
∂xεi=
∂
∂xi+
1
ε
∂
∂yi(3.8)
A equacao diferencial que e resolvida atraves do MEF, na forma fraca e:
∫V ER
viDijkl∂u
(1)k
∂yldy = −∂u
(0)k
∂xl
∫V ER
vi∂Dijkl
∂yjdy (3.9)
maiores informacoes sobre a formulacao da HEA podem ser encontradas nas referencias
Chung et al (2001); Sanches-Palencia (1980); Oliveira et al (2009).
3.3 Condicoes de Contorno Periodicas
Para a resolucao dessas equacoes, uma hipotese importante deve ser levada em
conta na resolucao do problema de homogeneizacao que e a suposicao de que a variavel de
campo, ou seja, o deslocamento e periodico ao longo das fronteiras do VER. Isto significa
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA 31
dizer que o meio e periodico. Portanto, uma vez que existem tres componentes (x,y,z)
para o vetor de deslocamento, cada coordenada nodal em um no localizado em uma das
fronteiras do VER deve ser correspondente a mesma coordenada na fronteira oposta,
(Sanches-Palencia, 1980). Isto e ilustrado na Figura 3.3.
Figura 3.3: Periodicidade no Volume Elementar Representativo
Ou em outras palavras, sendo ~u = ( ~u1, ~u2, ~u3);
~u(x1 = 0, y1, z1) = ~u(x1 = 1, y1, z1); u e periodico na direcao x.
~u(x1, y1 = 0, z1) = ~u(x1, y1 = 1, z1); u e periodico na direcao y.
~u(x1, y1, z1 = 0) = ~u(x1, y1, z1 = 1); u e periodico na direcao z. (3.10)
Para a obtencao de propriedades homogeneizadas emprega-se a tecnica da HEA
atraves de uma formulacao em Elementos Finitos, vista na secao 3.4 a seguir.
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA
Muitos problemas em engenharia podem ser descritos por meios de equacoes
diferenciais, o que torna a solucao destes problemas praticamente impossıvel por meio
de solucoes analıticas. O metodos dos elementos finitos (MEF) e um metodo numerico
empregado na aproximacao de equacoes diferenciais. Sendo assim, o MEF e um metodo
para resolver problemas por simulacoes de computador sejam eles analise de tensoes,
transferencia de calor, escoamento de fluidos, eletro-magnetismo, etc (Fish e Belytschko,
2009).
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA 32
A ideia basica do MEF e dividir um corpo em partes menores denominadas ele-
mentos finitos e obter um domınio discretizado como mostra a Figura 3.4. Na verdade,
o que se quer e dividir uma geometria que represente um corpo em pequenas partes, pro-
cesso denominado como discretizacao. Posteriormente, a este domınio serao aplicadas as
condicoes de contorno e as solicitacoes, para a resolucao do problema.
Figura 3.4: Aplicacoes de elementos finitos: (a) construcao; (b) carro; (c) trator; (d)onibus escolar; (e) fuselagem de aviao (Fish e Belytschko, 2009).
Para a formulacao de elementos finitos da HEA o primeiro passo e obter a equacao
3.11:
∫V ER
viDijkl∂u
(1)k
∂yldy = −∂u
(0)k
∂xl
∫V ER
vi∂Dijkl
∂yjdy (3.11)
Aplicando o teorema da divergencia de Gauss, tem-se:
∫V ER
∂vi∂yj
Dijkl∂u
(1)k
∂yldy = −∂u
(0)k
∂xl
∫V ER
∂vi∂yj
Dijkl
∂yjdy (3.12)
Usando a simetria da lei de Hooke, nos podemos reescrever a equacao anterior
em termos de uma deformacao virtual eij, onde eij = ∂vi∂yj
:
∫V ER
eijDijkl∂u
(1)k
∂yldy = −∂u
(0)k
∂xl
∫V ER
eijDijkl
∂yjdy (3.13)
Reescrevendo a equacao anterior na forma matricial:
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA 33
∫V ER
e1 e2 e3 e4 e5 e6
[D]
ε11
ε12
ε13
ε14
ε15
ε16
= −∫V ER
e1 e2 e3 e4 e5 e6
[D]
ε01
ε02
ε03
ε04
ε05
ε06
onde:
[D] =
D11 D12 D13 D14 D15 D16
D22 D23 D24 D25 D26
D33 D34 D35 D36
D44 D45 D46
D55 D56
D66
(3.14)
Cabe destacar que embora a ε0i seja desconhecida, esta e constante ao longo do
VER (BME, 2012; Sanches-Palencia, 1980).
Agora, pode-se escrever o vetor global de deformacao ε0i como uma combinacao
linear com seis vetores unitarios. Isto equivale a multiplicar o vetor ε0i pela matriz iden-
tidade (BME, 2012).
ε01
ε02
ε03
ε04
ε05
ε06
=
1 0 0 0 0 0
0 1 0 0 0 0
0 0 1 0 0 0
0 0 0 1 0 0
0 0 0 0 1 0
0 0 0 0 0 1
ε01
ε02
ε03
ε04
ε05
ε06
(3.15)
Uma vez reescrita a matriz global sequencialmente por seis vetores unitarios obter-
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA 34
se-a seis deformacoes caracterısticas ε∗. Estas deformacoes podem ser comparadas com
ensaios experimentais na determinacao das propriedades efetivas. Por exemplo, nestes
ensaios aplica-se uma deformacao uniforme prescrita em um corpo de prova e mede-se a
forca resultante. Atraves da aplicacao de 6 deformacoes uniformes, constroi-se a matriz
de rigidez caracterıstica do material. Usando o princıpio da superposicao linear, tem-se
uma analogia numerica a estes testes experimentais. Neste caso em que ha seis equacoes,
havera uma para cada coluna do tensor de tensoes. Abaixo, como exemplo, a primeira
equacao e descrita (BME, 2012):
∫V ER
e1 e2 e3 e4 e5 e6
[D]
ε∗1
ε∗2
ε∗3
ε∗4
ε∗5
ε∗6
dVV ER =
−∫V ER
e1 e2 e3 e4 e5 e6
[D]
1
0
0
0
0
0
dVV ER (3.16)
Nota-se aqui que o lado direito da equacao e igual a primeira coluna da matriz
de rigidez do material.
Para representar implementacao em elementos finitos da equacao 3.16, utiliza-se
aqui o elemento tetraedro linear de 4 nos que pode ser visualizado na Figura 3.5:
Os deslocamentos no interior do elemento sao descritos por polinomios lineares
em x, y e z, ou seja (Vaz, 2012):
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA 35
Figura 3.5: O elemento tetraedro linear e seus graus de liberdade (Vaz, 2012).
u(x, y, z) = a1 + a2x+ a3y + a4z;
v(x, y, z) = a5 + a6x+ a7y + a8z;
w(x, y, z) = a9 + a10x+ a11y + a12z; (3.17)
passando para a forma matricial,
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA 36
u(x, y, z)
v(x, y, z)
w(x, y, z)
=
1 x y z 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 1 x y z 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 1 x y z
a1
a2
a3
a4
a5
a6
a7
a8
a9
a10
a11
a12
(3.18)
que pode ser reescrita da seguinte forma compacta:
u(x, y, z) = [G(x, y, z)]a; (3.19)
A adocao de polinomios lineares de 4 termos com 12 coeficientes incognitos ai
pode ser justificada pelas 12 condicoes de contorno seguintes (Vaz, 2012):
u(xn, yn, zn) = un
v(xn, yn, zn) = vn
w(xn, yn, zn) = wn (3.20)
onde n e o numero do no e n = 1, 2, 3 e 4.
Que podem ser reescritas utilizando a expressao 3.17 como:
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA 37
u1
v1
w1
u2
v2
w2
u3
v3
w3
u4
v4
w4
=
1 x1 y1 z1 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 1 x1 y1 z1 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 1 x1 y1 z1
1 x2 y2 z2 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 1 x2 y2 z2 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 1 x2 y2 z2
1 x3 y3 z3 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 1 x3 y3 z3 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 1 x3 y3 z3
1 x4 y4 z4 0 0 0 0 0 0 0 0
0 0 0 0 1 x4 y4 z4 0 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0 0 1 x4 y4 z4
a1
a2
a3
a4
a5
a6
a7
a8
a9
a10
a11
a12
(3.21)
ou, de maneira simplificada:
d = [A]a; (3.22)
ou ainda,
a = [A−1]d; (3.23)
onde d e o vetor de deslocamentos nodais. Substituindo a expressao obtida 3.23 em 3.19,
tem-se:
u(x, y, z) = [G(x, y, z)][A−1]d; (3.24)
Fazendo [N(x, y, z)] = [G(x, y, z)][A−1] obtem-se:
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA 38
u(x, y, z) = [N(x, y, z)]d; (3.25)
Onde a matriz [N(x,y,z)] assume a seguinte forma:
[N(x, y, z)] =
N1 0 0 N2 0 0 N3 0 0 N4 0 0
0 N1 0 0 N2 0 0 N3 0 0 N4 0
0 0 N1 0 0 N2 0 0 N3 0 0 N4
(3.26)
Lembrando que [Nn] = [Nn(x, y, z)] e n=1,2,3 e 4.
Pela definicao, a expressao geral para a matriz de rigidez de um elemento finito
para este problema e dada pela expressao:
[K] =
∫v
[B]T [D][B]dv (3.27)
Onde [B] e a matriz de compatibilidade cinematica ou matriz deslocamento-
deformacao, que transforma deslocamentos nodais em deformacoes no interior do ele-
mento (ε = [B]d) e [D] e a matriz constitutiva que relaciona tensoes σ com suas
respectivas deformacoes ε para materiais de comportamento elastico (Vaz, 2012).
Em problemas tridimensionais, as componentes de deformacao εi sao relacionadas
com os respectivos deslocamentos dados pela expressao 3.28 abaixo:
ε6x1 = L6x3u3x1; (3.28)
onde a matriz [L] e a matriz operadora de derivacao (Vaz, 2012). Substituindo-se 3.25
em 3.28 chega-se a:
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA 39
ε6x1 = L6x3N3x12d12x1 (3.29)
Como ε = [B]d, isso permite concluir que:
B6x12 = L6x3N3x12; (3.30)
Que e a forma da matriz [B]. Substituindo [B] na expressao 3.27 e expandindo a
integral, tem-se a expressao 3.31, onde ja se adota o sistema de coordenadas naturais do
elemento:
[Ke] =
∫ 1
−1
∫ 1
−1
∫ 1
−1
[B]T12x6[D]6x6[B]6x12|J |ds1ds2ds3 (3.31)
onde [Ke] e a matriz de rigidez de um elemento tetraedrico linear e |J | e a matriz jacobiana.
Voltando ao lado direito da forma fraca, nota-se que ha uma deformacao virtual
vezes uma tensao constante. Atraves da interpolacao da deformacao utilizando a matriz
[B], pode-se reescrever o lado direito da equacao como:
f e =
∫ 1
−1
∫ 1
−1
∫ 1
−1
[B]T12x6D6x1|J |ds1ds2ds3 (3.32)
A implementacao em elementos finitos da equacao do equilıbrio microscopico
homogeneizada local fica:
[Ke]uk = f e; k = 1, 2, 3, 4, 5 e 6. (3.33)
Uma vez resolvida a equacao 3.33, pode-se calcular a deformacao total, utilizando
o vetor de deformacao hierarquico:
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA 40
eεij ≈ e0ij + e1ij = e06x1 − [e∗1e∗2e∗3e∗4e∗5e∗6]u06x1 (3.34)
Atraves da definicao de uma matriz de estrutura local [M] dada por:
[M ]6x6 = [I]6x6 − [e∗1e∗2e∗3e∗4e∗5e∗6] (3.35)
onde [I] e a matriz de identidade, pode-se escrever a deformacao total como:
eε6x1 = [M ]6x6e06x1 (3.36)
Para o problema de equilıbrio global, a forma fraca e escrita como:
∫G
e1 e2 e3 e4 e5 e6
1
VV RE
∫VV RE
[D]
e01
e02
e03
e04
e05
e06
+
e11
e12
e13
e14
e15
e16
dVV ERdVG =
∫G
v1 v1 v1
f1
f2
f3
dVG +
∫Sg
v1 v1 v1
t1
t2
t3
dVSg (3.37)
Examinando o lado esquerdo da equacao, nota-se que o vetor e0i + e1i e o vetor de
deformacao total no ambito microestrutural. Pode-se assim substituı-lo com a definicao do
vetor de deformacao total ja visto anteriormente. Alem disso, uma vez que a deformacao
e0i e constante ao longo do VER podemos retira-la da integral, isso nos deixa com a
equacao da seguinte forma:
3.4 Formulacao de Elementos Finitos para a HEA 41
[Deff ] =1
|VV ER|
∫VV RE
[D][M ]dVV ER (3.38)
onde [M ] assume a seguinte forma:
[M ] =
M11 M12 M13 M14 M15 M16
M21 M22 M23 M24 M25 M26
M31 M32 M33 M34 M35 M36
M41 M42 M43 M44 M45 M46
M51 M52 M53 M54 M55 M56
M61 M62 M63 M64 M65 M66
(3.39)
Pode-se ver aqui que Deff representa uma rigidez efetiva. Deste modo, a equacao
acima fornece uma relacao matematica funcao-estrutura. Observa-se ainda que e possıvel
separar a integral sobre o VER em integrais sobre os volumes dos materiais locais e depois
somar estas integrais. Fazendo isto a rigidez microestrutural local e entao constante ao
longo da integral local e pode-se escrever que:
[Deff ] =nmat∑i=1
[D]n1
|VV ER|
∫V nV RE
[M ]dV nV ER (3.40)
Introduzindo as propriedades efetivas no problema de equilıbrio global, chega-se
a mesma forma da equacao de elasticidade no regime de pequenas deformacoes:
[K(Deff )]u = f(3.41)
onde a matriz de rigidez e o vetor de cargas dependem de uma malha de elementos
finitos criada a partir da estrutura global e da rigidez efetiva derivada das analises locais
realizadas no VER.
3.5 Consideracoes sobre a aplicacao da HEA ao Concreto 42
3.5 Consideracoes sobre a aplicacao da HEA ao Con-
creto
Neste trabalho, de cunho academico, a HEA foi empregada para estimar o tensor
de rigidez efetiva (Deff ) de concretos com diferentes composicoes. Os resultados foram
comparados a medidas experimentais, que sao o tema do Capıtulo 4.
43
4 Programa Experimental
O programa experimental realizado objetivou validar atraves de ensaios expe-
rimentais os resultados numericos obtidos com as analises realizadas pelos programas
HEA2D e HEA3D, secao 5.1 e 5.2. Para tanto, variou-se em 2 fracoes o volume total de
pedra britada, de modo que se teve dois concretos com tracos diferentes e com diferentes
modulos de elasticidade. Foram produzidos 15 corpos de prova (CPs) com idades iguais e
que foram submetidos a determinacao do modulo de elasticidade pelo metodo ultrassonico,
secao 4.2. Alem disso, determinou-se tambem, utilizando o mesmo princıpio, o modulo
de elasticidade da rocha gnaisse utilizada na forma britada para confeccao dos CPs.
4.1 Descricao Geral
Foram confeccionados corpos de prova cilındricos, com 10 cm de diametro e 20
cm de altura, feitos com 3 tipos de material classificados, de acordo com o volume de
agregados graudos empregados, em:
a. - argamassa: 0% de agregado graudo, traco em volume igual a 1:3:0:0.73;
b. - concreto com 16,3% de agregado graudo em relacao ao volume total da amos-
tra, correspondendo a 25% do volume total de agregados, traco em volume igual a
1:3:1:0.73, e;
c. - concreto com 36,9% de agregado graudo em relacao ao volume total da amos-
tra, correspondendo a 50% do volume total de agregados, traco em volume igual a
1:3:3:0.73.
Os experimentos tiveram por objetivos:
a. obter as propriedades mecanicas da argamassa e da rocha empregadas que serviram
como entrada de dados para as analises numericas descritas nas secoes 5.1.1 e 5.2 .
4.2 Metodo nao destrutivo 44
b. comparar os resultados do Modulo de Elasticidade obtidos experimentalmente para
os dois tipos de concreto estudados com o Modulo de Elasticidade Homogeneizado
obtido numericamente.
Na composicao dos corpos de prova, utilizou-se brita 1, cimento CP IV-32 e areia
de britagem. Ao todo foram moldados 15 corpos de prova, sendo 5 de argamassa, 5 de
concreto com 16,3% de inclusao e 5 com 36,9%. As propriedades da rocha foram extraıdas
de 5 amostras com dimensoes semelhantes as de um corpo de prova de concreto. A Figura
4.1 mostra os corpos de prova estudados.
Figura 4.1: Corpos de prova de concreto estudados.
4.2 Metodo nao destrutivo
Devido ao grande impacto economico previsto na recuperacao de muitas estrutu-
ras na engenharia, tem-se evoluıdo para o uso de ensaios nao destrutivos e aperfeicoados
os metodos existentes para suas analises. Motivo pelo qual tais ensaios podem ser realiza-
dos em condicoes in situ, nao necessitando a retirada de testemunhos e nem a confeccao
de CPs. Segundo Mehta e Monteiro (2012), o modo como uma onda se reflete e refrata
atraves de um material solido pode fornecer informacoes vitais sobre a heterogeneidade
interna deste material. Alem de possibilitar a determinacao de camadas com modulos de
elasticidade diferentes dentro do material, essas ondas podem fornecer informacoes sobre
resultados de ma fabricacao do material ou sobre a exposicao a agentes agressivos.
4.2 Metodo nao destrutivo 45
4.2.1 Determinacao do Modulo Elasticidade pelo Metodo Ul-
trassonico
Um dos metodos existentes na literatura e estudados neste trabalho, foi o metodo
da propagacao da velocidade do pulso ultra-sonico. O qual consiste em medir o tempo
(em microssegundos) de percurso que uma onda longitudinal de pulso ultra-sonica leva
para atravessar um corpo. Estas ondas longitudinais que normalmente sao usadas possuem
frequencias que variam de 20kHz a 150Hz (Mehta e Monteiro, 2012). O tempo de percurso
por sua vez e computado pelo aparelho. Uma vez fornecido ao aparelho a distancia entre
os transdutores, com a diferenca de tempo, calcula-se a velocidade media da onda de
propagacao que atravessou o corpo de prova.
Os transdutores devem ser bem acoplados as superfıcies dos corpos de prova de
modo a garantir medidas confiaveis, podem ser colocados em faces opostas (como o caso
em questao) originando uma medicao direta, ou na mesma face originando uma medicao
indireta (Mehta e Monteiro, 2012).
O Modulo de Elasticidade dos materiais foi obtido atraves do ensaio descrito pela
norma brasileira NBR 15630:2008 (versao corrigida 2009), (ABNT, 2009). Trata-se de
um metodo nao destrutivo, em que o modulo de elasticidade e obtido por meio de pulsos
ultrassonicos, segundo a expressao:
Ed =ρV 2(1 + ν)(1− 2ν)
(1− ν)(4.1)
onde :
Ed - modulo de elasticidade dinamico (GPa);
ρ - massa especıfica do corpo-de-prova (Kg/m3);
V - velocidade de pulso (Km/s);
ν - coeficiente de Poisson.
Para tanto, foi utilizado o equipamento de ultrassom da marca TICO (PROCEQ,
1998). A Figura 4.2 mostra o esquema dos ensaios para medicao nos CPs de concreto e
nas amostras de rocha gnaisse.
4.3 Determinacao da Massa Especıfica dos Materiais 46
Figura 4.2: Determinacao do Modulo de Elasticidade Ultrassonico de um CP e de umaamostra da mesma rocha da brita usada na producao dos concretos.
4.3 Determinacao da Massa Especıfica dos Materiais
Para o calculo da massa especıfica dos 15 corpos de prova de concreto realizou-
se a medicao de massa dos mesmos mediante a utilizacao de uma balanca com precisao
de decigrama, sendo o volume calculado para uma forma com diametro de 10 cm na
base e altura de 20 cm. Para a determinacao do volume da amostra da rocha gnaisse,
utilizou-se uma balanca hidrostatica segundo o princıpio de Arquimedes, o qual pode
ser enunciado: — “Todo corpo mergulhado total ou parcialmente em um fluido sofre uma
impulsao vertical, dirigida de baixo para cima, igual ao peso do volume do fluido deslocado,
e aplicado no centro de impulsao” (Pierre, 2012). Diante disso, realizou-se a pesagem da
amostra de rocha com a superfıcie seca, e posteriormente pesou-se a amostra imersa em
agua. A diferenca entre as massas, uma vez conhecida a massa especıfica da agua, fornece
o volume da amostra (Mazali, 2012). A Figura 4.3 a seguir ilustra o ensaio.
Conhecidos entao a massa e o volume da amostra seca, determinou-se o valor da
massa especıfica da rocha.
4.4 Resultados Experimentais
A Tabela 4.1 a seguir traz os valores experimentais obtidos para Ed nos ensaios
dos CPs utilizando o equipamento da Figura 4.2.
Para fins de comparacao dos resultados com os valores obtidos numericamente,
4.4 Resultados Experimentais 47
Figura 4.3: Determinacao da massa especıfica de uma amostra de rocha segundo a normabrasileira NBR 12766:1992, (ABNT, 1992).
foi empregada a media aritmetica para cada material. Para tanto, foram descartados,
em todos os casos, o maior e o menor valores medidos. A Tabela 4.2 a seguir traz os
valores calculados e considerados nas analises numericas na comparacao dos resultados
experimentais e numericos.
4.4 Resultados Experimentais 48
Tabela 4.1: Resultados das medicoes experimentaisCP Peso L t ρ v ν Ed
(kg) (m) (ms) (kN/m3) (km/s) (GPa)
Argamassa1 3,4429 0,195 48,0 21,50 4,1 0,3 76,4322 3,4133 0,195 48,2 21,32 4,0 0,3 75,1473 3,4206 0,195 46,9 21,36 4,2 0,3 79,5414 3,4087 0,195 47,0 21,29 4,1 0,3 78,9275 3,4262 0,195 49,0 21,40 4,0 0,3 72,988
16,3% de inclusao1 3,5634 0,195 46,9 22,25 4,2 0,3 82,8612 3,5549 0,195 45,6 22,20 4,3 0,3 87,4443 3,5513 0,195 46,5 22,18 4,2 0,3 84,0074 3,5741 0,195 43,9 22,32 4,4 0,3 94,8575 3,5701 0,195 45,1 22,30 4,3 0,3 89,776
36,9% de inclusao1 3,6631 0,195 43,8 22,88 4,5 0,3 97,6642 3,6634 0,195 43,9 22,88 4,4 0,3 97,2273 3,6778 0,195 43,2 22,97 4,5 0,3 100,7984 3,6820 0,195 44,2 22,99 4,4 0,3 96,3995 3,6630 0,195 43,3 22,88 4,5 0,3 99,930
Pedra Gnaisse1 2,7508 0,153 27,6 27,03 5,5 0,3 178,8792 2,7508 0,203 30,5 27,03 6,7 0,3 257,8623 2,7508 0,196 28,5 27,03 6,9 0,3 275,3074 2,7508 0,188 27,5 27,03 6,8 0,3 272,0485 2,7508 0,206 35,7 27,03 5,8 0,3 193,817
Tabela 4.2: Resultados medios adotados para as medicoes experimentaisComposito/Material Ed (GPa)
Argamassa 76,84Concreto com 16,3% de inclusao 87,08Concreto com 36,9% de inclusao 98,27
Rocha Gnaisse 241,24
49
5 Programa Numerico
As analises computacionais aqui apresentadas foram realizadas a partir de duas
versoes numericas disponıveis da HEA: — uma versao bidimensional criada no ambiente de
processamento algebrico Matlab R© (Mathworks, 2012) e outra desenvolvida em linguagem
Fortran R©, ambas as versoes objetivam o calculo de propriedades homogeneizadas a partir
de celulas periodicas criadas com o software Gmsh R©, (secao 5.3).
As aplicacoes computacionais visaram o calculo de propriedades homogeneizadas
do concreto para posterior comparacao com resultados experimentais obtidos em CPs, no
Capıtulo 4.
5.1 O programa HEA2D
O objetivo do programa HEA2D e a determinacao de propriedades efetivas ho-
mogeneizadas a partir de celulas periodicas planas utilizando elementos triangulares de 6
nos, Figura 5.1. Como entrada de dados no programa, deve-se fornecer as propriedades
mecanicas dos materiais utilizados na analise e as caracterısticas da celula periodica como
o numero de nos e as coordenadas nodais dos elementos finitos, numero de elementos e os
nos que compoem estes elementos. As malhas de elementos finitos utilizadas devem ser
capazes de aceitar a imposicao de condicoes de contorno periodicas nos nos localizados nas
arestas, conforme abordado na secao 5.1.2 , e possuırem domınio retangular (Quintela,
2011).
5.1.1 Entrada de dados do programa
Devem ser informados como entrada:
a. - Nome do arquivo de saıda do Gmsh R©, de extensao .msh que contem os dados da
malha de elementos finitos.
b. - Numero do grupo fısico definido no Gmsh R© para o material correspondente a
5.1 O programa HEA2D 50
Figura 5.1: Representacao do elemento triangular de 6 nos e seus respectivos deslocamen-tos.
inclusao.
c. - Propriedades mecanicas das fases que compoe a celula periodica, E e ν, conside-
rando aqui que os materiais assumem comportamento isotropico.
5.1.2 Etapas do Programa
1. Montagem da matriz de rigidez
A partir da equacao 3.32 da secao 3.4, a matriz de rigidez do sistema e
determinada como:
[K] =nelm∑i=1
[B]T [D][B]|J | (5.1)
onde nelm e o numero de elementos da malha que discretiza a celula periodica, [B]
e o operador diferencial ou matriz de compatibilidade cinematica, [D] e o tensor de
propriedades elasticas do elemento e |J | e o determinante da matriz jacobiana que
relaciona o sistema de coordenadas com a representacao parametrica da geometria.
2. Imposicao das Condicoes de Contorno Periodicas
A imposicao das condicoes de contorno periodicas e feita a partir da es-
trategia da reducao da ordem do sistema de equacoes a ser resolvido. Primeira-
mente, os nos do contorno sao associados atraves da numeracao das equacoes globais
5.2 O programa HEA3D 51
e entao, os graus de liberdade (GLs) dos nos correspondentes em arestas opostas
recebem a mesma numeracao, para maiores informacoes ver a referencia Quintela
(2011). Veja a Figura 5.2 a seguir:
Figura 5.2: Representacao da imposicao das condicoes de contorno periodicas (Quintela,2011).
3. Solucao do Sistema de Equacoes
Nesta etapa e realizado o calculo do sistema de equacoes definido na secao
3.2, onde sao resolvidas as equacoes algebricas lineares e e realizada a montagem da
matriz de rigidez global do sistema.
4. Calculo do Tensor de Propriedades Homogeneizadas
A partir da resolucao do sistema de equacoes, o tensor de propriedades
homogeneizadas Deff e calculado pela equacao 3.40.
5.2 O programa HEA3D
O programa HEA3D foi desenvolvido no programa de Pos-Graduacao em Mo-
delagem Computacional da Universidade Federal de Juiz de Fora por Quintela (2011) e
objetivou a implementacao da tecnica da HEA no espaco tridimensional, alem de realizar
o calculo de propriedades efetivas homogeneizadas. Para tanto, os dados de entrada toma-
dos foram celulas periodicas esfericas utilizando elementos tetraedricos de 4 nos, Figura
3.5. Como entrada de dados no programa, deve-se fornecer as propriedades mecanicas dos
materiais utilizados na analise e as caracterısticas da malha de elementos finitos periodica
criada a partir do VER. Utilizando o programa Gmsh R© para esta funcao. Para isto
criou-se um algoritmo em Matlab R© cuja funcao era transcrever o arquivo de saıda .msh
5.2 O programa HEA3D 52
do Gmsh R© para um arquivo de entrada .dat no formato necessario para ser utilizado
como dado de entrada no HEA3D. Assim como a versao em 2D, foi necessario para a uti-
lizacao desta versao a criacao de malhas periodicas, mantendo neste caso a periodicidade
ao longo das faces do volume elementar representativo, veja a secao 5.3.
A seguir uma parte do algoritmo criado para modificar o formato para a entrada
de dados no HEA3D:
1 %DADOS DE ENTRADA
2 Einclusao =241.242;
3 Poisson_inclusao =0.2;
4 Ematriz =76.835;
5 Poisson_matriz =0.2;
6 prop_inclusao =53; %numero do physical groups correspondente a
inclusao
7 ...
8 fid=fopen(’cubica.msh’); %abre o arquivo de saida do Gmesh
9 saida=fopen(’cubica.dat’,’w’); %cria o arquivo de saida ".dat"
10 % PROGRAMA %
11 for i=1:5
12 nnos = fgetl(fid); %recebe o numero de nos
13 end
14 ...
15 for i=1: nnos %monta a matriz de coordenadas nodais
16 nnoscarac = fgetl(fid);
17 aux = str2num(nnoscarac);
18 coord_nos(i,1) = i;
19 coord_nos(i,2:4) = aux (2:4);
20 end
21 for i=1:3
22 nel = fgetl(fid); %recebe o numero de elementos
23 end
24 ...
25 for i=1:nel %monta a matriz de elementos
26 elmcarac = fgetl(fid);
27 carac(i,:) = str2num(elmcarac);
28 nos_el(i,1) = i;
29 nos_el(i ,2:5) = carac(i ,6:9);
30 i f carac(i,4)== prop_inclusao
31 nos_el1(cont ,1:5) = nos_el(i ,1:5);
32 cont=cont +1;
33 e l se34 nos_el2(cont1 ,1:5) = nos_el(i ,1:5);
35 cont1=cont1 +1;
36 end
37 end
38 prop_mat=zeros(nel ,2);
39 for i=1:nel % associa cada elemento ao seu respectivo material
40 i f carac(i,4)== prop_inclusao
41 prop_mat(i,1)=Einclusao;
5.2 O programa HEA3D 53
42 prop_mat(i,2)=Poisson_inclusao;
43 e l se44 prop_mat(i,1)=Ematriz;
45 prop_mat(i,2)=Poisson_matriz;
46 end
47 end
48 fprintf(saida ,’%s\n’,’Exemplo ’);
49 fprintf(saida ,’ %d %d %d %d’,nnos ,length(nos_el1),nel ,2);
50 ...
51 fprintf(saida ,’ %d %E %E %E\n’,coord_nos ’);
52 ...
53 fprintf(saida ,’ %d %d %d %d %d\n’,nos_el1 ’);
54 ...
55 fprintf(saida ,’ %d %d %d %d %d\n’,nos_el2 ’);
5.2.1 Organizacao e divisao do programa
O programa HEA3D foi dividido em rotinas organizadas segundo as caracterısticas
da tecnica da HEA. A Figura 5.3 a seguir foi extraıda da referencia Quintela (2011) e mos-
tra as rotinas do programa e em asterisco as de maior relevancia.
Na rotina “IOMNGR”e fornecido o nome do arquivo de entrada, ou seja, a saıda
do algoritmo desenvolvido em Matlab R© e o nome do arquivo de saıda do programa
HEA3D com o resultado da analise computacional em formato .lis, aonde constam os
deslocamentos nodais e a matriz de rigidez elastica homogeneizada.
5.2.1.1 Imposicao das Condicoes de Contorno Periodicas
As condicoes de contorno periodicas foram impostas segundo uma estrategica na
qual a partir das coordenadas dos nos das faces, estes sao associados de forma que um
deles e escolhido como “mestre”e o no correspondente na face oposta e definido como
“escravo”. A Figura 5.4 mostra a associacao dos nos periodicos de forma esquematica.
Para os vertices (Figura 5.4(a)), define-se um como “mestre”e os outros 7 como seus
respectivos “escravos”. Para os nos localizados nas arestas, a associacao e feita definindo
um no como mestre e os outros 3 como “escravos”, Figura 5.4(b). Para os demais nos,
cada no definido como “mestre”possuira um no na face oposta “escravo”, Figura 5.4(c)
(Quintela, 2011).
5.2 O programa HEA3D 54
Figura 5.3: Representacao esquematica da estrutura do programa HEA3D (Quintela,2011).
5.2.1.2 Resolucao do Sistema de Equacoes
A resolucao do sistema de equacoes lineares utiliza o metodo dos Gradientes
Conjugados Pre-Condicionado (MPCG) implementado segundo uma estrategia elemento
por elemento, o que dispensa a montagem e a fatoracao da matriz de rigidez global. A
rotina responsavel por este processo e a “PCGDIAG”que utiliza o MPCG e considera as
condicoes periodicas nos calculos, alem dos calculos sobre as matrizes serem realizados
por blocos, o que permite a execucao paralela do algoritmo (Quintela, 2011).
5.2.2 Calculo do Tensor de Propriedades Homogeneizadas
O calculo do tensor de propriedades homogeneizadas dado pela equacao 3.40 e
feito pela rotina “MEDIA HEA”que realiza a operacao de media utilizando os veto-
res resultantes da resolucao do sistema pela rotina “PCCDIAG”, para maiores detalhes
5.3 Geracao de Malhas de Elementos Finitos 55
Figura 5.4: Esquema da associacao dos nos periodicos nas fronteiras do volume elementarrepresentativo (Quintela, 2011).
Consultar a referencia Quintela (2011).
5.3 Geracao de Malhas de Elementos Finitos
Diversos problemas em engenharia sao descritos por meio de equacoes diferen-
ciais que possuem solucao analıtica complexa e de difıcil resolucao. Devido a este fato,
empregam-se ferramentas de modelagem computacional que visam encontrar um solucao
aproximada capaz de satisfazer o resultado esperado com um grande ganho de tempo e
apresentando uma margem de erro aceitavel. Para o uso destas ferramentas de modela-
gem, uma das formas mais consagradas implementadas e o Metodo dos Elementos Finitos
(MEF) ja descrito na secao 3.4. Para o emprego deste metodo, necessita-se do emprego
de malhas de elementos finitos responsaveis por discretizar o domınio no qual se dara a
resolucao do problema.
O processo de geracao de malhas consiste em decompor um domınio geometrico
qualquer em partes menores de domınio finito e, portanto, denominadas elementos finitos
(Rocha et al, 2008). Ou seja, uma malha de elementos finitos consiste em um mosaico
de um dado subconjunto do espaco tridimensional formado por elementos geometricos de
varios formatos e com suas respectivas geometrias (barras, triangulos, quadrados, tetrae-
dros, prismas, hexaedros, etc.), dispostos de tal maneira que, se dois ou mais se cruzam,
eles possuirao uma regiao no espaco em comum, seja esta uma aresta, um no ou uma
5.3 Geracao de Malhas de Elementos Finitos 56
face (Geuzaine e Remacle, 2012). Tal tarefa nem sempre e de simples resolucao devido
as caracterısticas geometricas e fısicas do domınio que se esta trabalhando, alem da pre-
cisao que se deseja obter com o resultado. A Figura 5.5 a seguir, ilustra uma malha que
representa um modelo de esmalte prismatico, o qual possui uma geometria complexa e
cuja geracao de uma malha de elementos finitos representativa nao e tao simples.
Figura 5.5: Aspecto de uma malha de elementos finitos empregada na simulacao de ummodelo de esmalte dentario (Cunha et al, 2012).
Neste trabalho, para a criacao de malhas de elementos finitos foi utilizado o
Gmsh R© disponıvel na referencia Geuzaine e Remacle (2012), dirigido para aplicacoes em
analises de pre e pos-processamento utilizando malhas de elementos finitos criadas a partir
de sua interface.
5.3.1 Descricao do Programa Gmsh R©
O Gmsh R© e um gerador de malhas de elementos finitos dirigido para aplicacoes
de cunho academico cuja distribuicao e livre. Sua principal aplicacao e a criacao de
malhas de elementos finitos de modo simples. Com o auxılio deste software, e possıvel
definir domınios geometricos a partir de pontos, linhas, superfıcies e volumes, alem de
caracteriza-los em diversos grupos fısicos.
De um modo geral, o Gmsh R© consiste em quatro modulos: geometria, malha,
solver e pos-processamento que sao modulados de modo iterativo, atraves da interface de
usuario grafica (GUI) ou atraves de arquivos de dados ACII (Rocha et al, 2008).
5.3 Geracao de Malhas de Elementos Finitos 57
As malhas de elementos finitos produzidas com o Gmsh R© sao consideradas como
“nao estruturadas”, mesmo se elas forem geradas de forma “estruturada”(por exemplo,
por extrusao). Isto implica que os elementos geometricos sao definidos apenas por uma
lista ordenada de seus nos, mas que nenhuma relacao de ordem predefinida e assumida
entre quaisquer dois elementos (Geuzaine e Remacle, 2012).
5.3.1.1 Criacao da Geometria
A geometria do espaco onde se dara o problema de Elementos Finitos analisado
e criada a partir da insercao de pontos que posteriormente serao conectados por curvas
e, em seguida, atraves do agrupamento das devidas curvas serao criadas as superfıcies
(problemas bidimensionais) e/ou, se necessario, posteriormente, os volumes (problemas
tridimensionais) pelo agrupamento das superfıcies. Feito isso, o proximo passo e a carac-
terizacao dos diversos volumes ou superfıcies em grupos fısicos que serao agrupados na
resposta do programa como elementos de mesmo material. A Figura 5.6 a seguir mostra
uma das geometrias criadas para as analises empregadas neste trabalho.
Figura 5.6: Criacao da Geometria de uma malha de Elementos Finitos representativa deum meio com inclusao cilındrica.
Dentre os arquivos de saıda do Gmsh R© dois arquivos sao de grande interesse para
este trabalho, um arquivo com extensao .geo correspondente a geometria representativa
com o processo de criacao ja descrito anteriormente e um arquivo com extensao .msh que
corresponde aos valores referentes a malha de elementos finitos. A Figura 5.7 ilustra os
arquivos de saıda citados.
5.3 Geracao de Malhas de Elementos Finitos 58
Figura 5.7: Arquivos de saıda do programa Gmsh R©, extensoes .geo e .msh.
5.3.1.2 Criacao da Malha de Elementos Finitos
Uma vez criada a geometria e agrupada as regioes de mesmo material, procede-se
a criacao da malha de elementos finitos. A malha de elementos finitos e gerada a partir
da divisao da geometria em sub volumes que obedecem a seguinte regra — primeiramente
sao criados os elementos unidimensionais; posteriormente, os bidimensionais e finalmente
os tridimensionais — feito isso e gerado o arquivo de saıda (arquivo .msh), Figura 5.8.
Figura 5.8: Geracao das malhas a partir da geometria definida na secao 5.3.1.1.
Para este trabalho, devido a tecnica utilizada descrita no capıtulo 3, as malhas
geradas necessitam de apresentar estrutura periodica, ou seja, conforme explıcito no item
3.3, as coordenadas nodais em um plano correspondente a uma face da geometria tem
que ser obrigatoriamente iguais as coordenadas nodais no plano da face oposta do mesmo
5.3 Geracao de Malhas de Elementos Finitos 59
volume, de tal maneira que, quando sobrepostas estas faces, todos os nos possuirao as
mesmas coordenadas no plano. A Figura 5.9 ilustra o pressuposto.
Figura 5.9: Representacao da Periodicidade de uma Malha.
Essa periodicidade e realizada no programa atraves do controle da distribuicao
dos elementos ao longo das faces da geometria. Tal controle e garantido usando comandos
especıficos do programa.
5.3.1.3 Refinamento
Conforme ja comentado, sabe-se que a qualidade de precisao em uma analise via
o MEF e dependente do grau de refinamento do domınio, ou seja, ao grau de refinamento
da malha. Em alguns problemas, como o da Figura 5.5, pode ser necessario um maior
grau de refinamento da malha para atender a um bom resultado. Outros casos, como no
estudo da interface entre dois materiais, pode ser necessario o refinamento de uma regiao
especıfica e nao de toda a geometria. Alem disso, o tipo de elemento adotado tambem
deve ser levado em conta, pois este e funcao do numero de graus de liberdade da malha e,
por sua vez, e funcao do resultado na analise numerica. Conforme demonstrado na Figura
3.5, o tipo de elemento adotado foi o tetraedro linear de 4 nos para o caso tridimensional
e o elemento triangular de 6 nos para o caso bidimensional, Figura 5.1.
5.4 Analises Computacionais 60
5.4 Analises Computacionais
Para a analise numerica foi empregado o programa HEA2D descrito no item 5.1
e o programa HEA3D descrito no item 5.2. Conforme descrito nestes itens, ambos os
programa fazem uso como arquivo de entrada de malhas de elementos finitos criadas pelo
programa Gmsh R©, secao 5.3. A Figura 5.10 a seguir ilustra o aspecto tıpico da geometria
e das malhas de elementos finitos empregadas no modelo em 2D para representar o que
seria o comportamento do concreto em um estado plano de deformacoes. Este aspecto
tıpico foi modelado de acordo com a inclusao adotada, onde a relacao existente entre a area
do cırculo e a do quadrado correspondem a fracao volumetrica da inclusao. A geometria
adotada para a celula periodica caracteriza materiais de comportamento isotropico.
Figura 5.10: Geometria e malha de Elementos Finitos bidimensional representativa deinclusao circular.
Para o caso tridimensional a Figura 5.11 ilustra o aspecto da malha de elementos
finitos em perspectiva e em corte, onde a relacao entre o volume da esferica e do cubo
representa a porcentagem de inclusao empregada nas analises, neste caso a esfera busca
representar o que seria a inclusao da brita no concreto.
Para fins de comparacao e buscando obter melhores resultados, foi analisada
tambem uma malha de geometria com inclusao cubica no caso tridimensional conforme
a Figura 5.12 a seguir. A partir desta malha realizou-se um estudo da convergencia do
modulo de elasticidade segundo o grau de refinamento, Figura 5.13.
Como dados de entrada para ambos os programas utilizou-se os dados da Ta-
bela 4.2, adotando 76,84 GPa para a argamassa (matriz) e 241,42 GPa para a rocha
5.4 Analises Computacionais 61
Figura 5.11: Malha de Elementos Finitos representativa de inclusao esferica.
Figura 5.12: Malha de Elementos Finitos criada a partir de uma geometria com inclusaocubica.
gnaisse(inclusao). Adotou-se para as duas fases o coeficiente de Poisson (ν) igual a 0,30,
uma vez que, segundo Kliszczewicz e Ajdukiewicz (2003), esta propriedade nao exerce in-
fluencia importante sobre o modulo de Elasticidade efetivo e, em geral, os valores medidos
e empregados na literatura para concretos com diversas composicoes variam entre 0,20
a 0,30 (Kliszczewicz e Ajdukiewicz, 2003; Nadeau, 2003). Porem, cabe ressaltar que a
tecnica numerica adotada permite obter o valor de ν homogeneizado quando de interesse.
5.4.1 Resultados Numericos
A determinacao do modulo de elasticidade homogeneizado (Eh) foi calculada pela
equacao 5.2 abaixo:
5.4 Analises Computacionais 62
Eh =1
Sh(i, i)(5.2)
onde Sh(i, i) e a inversa da matriz Dh e (i, i) e o termo no qual se deseja calcular o modulo
de elasticidade de acordo com o eixo referencial, ressaltando que neste caso se trata de um
material isotropico e, portanto, o modulo de elasticidade e igual em todas as direcoes. O
resultado da analise realizada em 2D para o concreto com inclusao de 16,3% e dado pelo
tensor abaixo. Para tanto, utilizou-se uma malha de elementos finitos com 9184 elementos
e 18513 nos, semelhante a da Figura 5.10.
Dh =
98.2668 29.1775 0.0000
29.1775 98.26684 0.0000
−0.0000 0.0000 33.9271
(5.3)
Para a analise em 3D, utilizando uma malha equivalente a da Figura 5.11, con-
siderando a inclusao de 16,3%, o resultado obtido com um VER que possuıa 3613 nos e
20981 elementos foi:
Dh =
102.0582 24.8752 24.8773 0.0024 0.0001 0.0000
24.8752 102.0632 24.8780 0.0002 0.0005 0.0028
24.8773 24.8773 102.0658 −0.0005 0.0024 0.0024
0.0024 0.0002 −0.0005 37.7325 0.0018 −0.0013
−0.0001 0.0005 −0.0015 0.0018 37.7327 −0.0013
0.0000 0.0028 0.0014 −0.0013 −0.0013 37.7326
(5.4)
Os tensores obtidos para a inclusao de 36,9% apresentam o mesmo aspecto e os
valores calculados para o modulo de Elasticidade sao apresentados na proxima secao 5.5,
na Tabela 5.1.
Em uma analise numerica realizada utilizando a malha de inclusao cubica da
Figura 5.12 e o programa HEA3D, tracou-se um grafico que mostra a convergencia do
resultado do modulo de elasticidade homogeneizado de acordo com o grau de refinamento
5.4 Analises Computacionais 63
da malha, foram geradas malhas com 5 graus de refinamento distintos e plotou-se os
resultados de acordo com o grafico a seguir, Figura 5.13 e 5.14:
Figura 5.13: Grafico da convergencia do resultado de Eh de acordo com o grau de refina-mento da malha.
onde a Figura 5.14, em maior destaque, mostra que o resultado ainda nao atingiu a
estabilidade e pode ser melhorado atraves do refinamento da malha. Entretanto, devido
a limitacoes computacionais o resultado nao pode ser melhorado.
5.5 Resultados e Discussoes 64
Figura 5.14: Grafico da convergencia do resultado de Eh em maior destaque para repre-sentar que o valores de Eh podem ser mais otimizados.
5.5 Resultados e Discussoes
A Tabela 5.1 a seguir mostra a sıntese dos resultados analisados e obtidos neste
trabalho. Os resultados foram obtidos pelas analises descritas na secoes 4.4 e 4.2.
Tabela 5.1: Resultados das analises numericas e experimentais
Resultados 2D
(%) de inclusao Ed(GPa) Eh(GPa) Elementos Variacao (%)16,3 87,08 89,60 9184 2,8936,9 98,27 111,60 17952 13,50
Resultados 3D
(%) de inclusao Ed(GPa) Eh(GPa) Elementos Variacao (%)16,3 87,08 92,31 20981 6,0036,9 98,27 118.59 15992 20,68
onde a variacao foi calculada pela equacao 5.5:
V ariacao(%) =
(Eh− Ed
Ed
)· 100 (5.5)
Observa-se que para os casos analisados nao ha vantagem em se empregar a versao
5.5 Resultados e Discussoes 65
espacial do programa, uma vez que os resultados obtidos com o HEA2D aproximaram-se
mais dos valores experimentais. Isso se da pelo fato de que o modelo em 2D demanda um
menor grau de refinamento da malha de elementos finitos do que o modelo em 3D, para
que se tenha um bom resultado. A versao HEA3D, portanto, deve ser empregada para
casos em que a representacao do problema em estado plano nao seja possıvel — como em
compositos com geometrias e propriedades mais complexas do que as aqui adotadas.
Outro aspecto importante e que o valor calculado de Eh para o concreto com
16,3% de inclusao apresenta um diferenca relativamente pequena, o que indica uma otima
concordancia. Porem, para o concreto com 36,9% de inclusao a diferenca foi consideravel.
Este fato pode denotar a necessidade de se aprimorar o modelo da celula periodica. Outro
fato que pode ter gerado uma maior discrepancia foi que, para o concreto com maior
inclusao de agregados, a regiao de interface entre os dois materiais e maior, e uma vez que
a mesma nao foi discretizada na analise numerica, isso pode ter acarretado o aumento do
erro percentual. Segundo Mehta e Monteiro (2012), para o caso em que ha maior volume
de agregados, a zona de transicao da interface tem uma influencia significativa sobre o
comportamento mecanico deste material.
Observa-se que para os casos analisados nao ha vantagem em se empregar a versao
espacial do programa, uma vez que os resultados obtidos com o HEA2D aproximam-se
mais dos valores experimentais.
A versao HEA3D, portanto, deve ser empregada para casos em que a repre-
sentacao do problema em estado plano nao seja possıvel — como em compositos com
geometrias e propriedades mais complexas do que as aqui adotadas.
66
6 Consideracoes Finais
O concreto e um material composito de caracterısticas peculiares, o que acaba
demandando um estudo mais aprofundado sobre o seu comportamento, tanto em nıvel
macroestrutural como em nıvel microestrutural. Na modelagem de materiais deste tipo,
e fundamental a consideracao dos efeitos em uma microescala, para entao posteriormente
serem analisados os efeitos na macroescala.
Neste trabalho, a tecnica implementada em elementos finitos da HEA foi em-
pregada para estimar o modulo de elasticidade homogeneizado de dois concretos dis-
tintos e posterior comparacao com os resultados experimentais, realizados pelo metodo
ultrassonico. A comparacao entre os resultados numericos e experimentais mostrou uma
otima concordancia entre os resultados para o concreto com a porcentagem menor de
inclusao. Todavia, para o concreto com uma maior porcentagem de inclusao essa con-
cordancia nao foi boa, o que pode denotar uma necessidade de se aprimorar o modelo da
celula periodica considerando os efeitos da zona da interface entre o agregado graudo e a
argamassa.
Cabe ressaltar o carater preliminar das analises aqui apresentadas: — os re-
sultados obtidos, principalmente aqueles relativos ao concreto com 16,3% de agregados,
encorajam o desenvolvimento de novas aplicacoes, adotando-se modelos mais sofisticados
para representar o material. Alem disso, mostrou-se o ganho de resultados quando se
trabalha com malhas mais refinadas, o que confirma a eficiencia do programa Gmsh R© no
trabalho realizado da criacao de malhas.
Pretende-se realizar novos experimentos numericos empregando celulas trifasicas,
onde seja representada a zona de transicao da interface argamassa-agregados.
67
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