estudo de impacto ambiental de produtos polliana moura

56
FACULDADE INTEGRADA DO RECIFE CURSO DE DIREITO POLLIANA CHAGAS MOURA O CONTROLE DO IMPACTO AMBIENTAL E DA SUSTENTABILIDADE NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS PARA O CONSUMO Recife 2008

Upload: ricardo-souza

Post on 15-Jun-2015

349 views

Category:

Education


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

0

FACULDADE INTEGRADA DO RECIFE

CURSO DE DIREITO

POLLIANA CHAGAS MOURA

O CONTROLE DO IMPACTO AMBIENTAL E DA

SUSTENTABILIDADE NO DESENVOLVIMENTO DE

PRODUTOS PARA O CONSUMO

Recife

2008

Page 2: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

1

POLLIANA CHAGAS MOURA

O CONTROLE DO IMPACTO AMBIENTAL E DA

SUSTENTABILIDADE NO DESENVOLVIMENTO DE

PRODUTOS PARA O CONSUMO

Monografia apresentada como um dos

requisitos para obtenção do Grau de

Bacharel em Direito pela Faculdade

Integrada do Recife. Área de

Concentração: Direito Ambiental.

PROFESSOR ORIENTADOR: RICARDO SOUZA

Recife

2008

Page 3: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

2

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por estar sempre

presente em todas as minhas

conquistas. Ao meu orientador

pelos constantes incentivos e

orientações ao longo deste trabalho,

bem como, a minha família e aos

meus amigos a quem serei

eternamente grata por toda ajuda e

compreensão.

Page 4: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

3

RESUMO

Este trabalho tem como escopo apresentar uma alternativa inovadora voltada à

preservação ambiental em harmonia com a defesa do consumidor e com o

desenvolvimento ambiental. Observando que a norma constitucional prevê como

princípios gerais da atividade econômica, a defesa do meio ambiente e do consumidor,

estes deverão ser efetivamente associados para fins de cumprimento, pelo qual, o

mecanismo de avaliação do impacto ambiental de um produto consagrará a harmonia do

consumo de produtos com instrumentos que possam garantir a proteção ao meio

ambiente, repercutindo no desenvolvimento sustentável. O artigo 225, da Constituição

Federal, dispõe que o meio ambiente é um bem de uso comum do povo, impondo ao

Poder Público e à sociedade o dever de defendê-lo e preservá-lo, tornam-se, ambos,

sujeitos responsáveis pela proteção ao meio ambiente. No foco da sociedade podemos

consagrar os consumidores e as empresas produtoras/fornecedores que na área de sua

atuação específica deverão caucar a proteção ambiental como uma das formas de

estratégia de mercado, diferenciando-os em relação a outras empresas concorrentes. Aos

consumidores passarão a dotar de consciência ambiental na escolha dos produtos

avançados ambientalmente, em busca da sadia qualidade de vida. Os princípios da

precaução e da prevenção, específicos da defesa do meio ambiente servirão, também,

como pressupostos para interpretação do instrumento de avaliação do impacto ambiental

dos produtos, resguardando a sua necessidade como forma de ação antecipatória, seja na

incerteza ou certeza do dano ambiental. Identificando a extrema relevância da avaliação

do impacto ambiental voltada ao mercado consumidor, e diante da ausência de

regulamentação jurídica que implique na obrigatoriedade da realização de um Estudo

Prévio do Impacto Ambiental –EPIA sobre produtos, consagramos uma nova proposta

vinculada à criação de uma nova Resolução do CONAMA que implique na

regulamentação do EPIA de produtos, norteando como objetivo principal tratar a

responsabilidade empresarial voltada ao uso de tecnologias limpas a fim de

produzir/fabricar produtos ambientalmente sustentáveis.

Palavras-chave: Direito Ambiental. Consumo Sustentável. Gestão Ambiental

Empresarial.

Page 5: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

4

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................06

CAPÍTULO 1: A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS

FUNDAMENTAIS E O PAPEL DA SOCIEDADE ..................................................08

1.1 Análise histórica dos direitos humanos fundamentais e suas gerações ....................08

1.2 O crescimento do papel da sociedade na concretização dos direitos fundamentais, a

partir dos direitos de solidariedade .................................................................................11

1.3 O papel da sociedade na seara ambiental .................................................................12

CAPÍTULO 2: A TENDÊNCIA AO CONTROLE DO IMPACTO AMBIENTAL

COMO GARANTIA A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E DO

CONSUMIDOR ............................................................................................................15

2.1 Princípios constitucionais norteadores .....................................................................15

2.1.1 Princípio da defesa ao meio ambiente ...................................................................16

2.1.2 Princípio da defesa do consumidor ........................................................................17

2.1.3 Princípio da Precaução ..........................................................................................18

2.1.4 Princípio da Prevenção ..........................................................................................20

2.2 Instrumentos do controle estatal sobre o impacto ambiental ....................................21

2.2.1 Estudo Prévio do Impacto Ambiental – EPIA .......................................................22

2.2.2. Licenciamento ambiental ......................................................................................26

2.3. Outros instrumentos de controle sobre o impacto ambiental: Auditoria e

Financiamento ambiental ................................................................................................28

CAPÍTULO 3: O CONTROLE DO IMPACTO AMBIENTAL NO

DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS PARA O CONSUMO ...........................31

3.1 A importância do consumo e a mudança de perspectiva empresarial no controle do

impacto ambiental ...........................................................................................................31

Page 6: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

5

3.2. O papel do Estado: Proporcionar o estímulo à prevenção .......................................35

3.2.1. Gestão ambiental empresarial ...............................................................................35

3.2.2. Incentivos voltados à melhoria da qualidade ambiental .......................................37

3.2.3. Incentivos Fiscais .................................................................................................38

3.2.4. Projeto de lei de cunho ambiental .........................................................................41

3.2.4.1. Projeto de Lei 7.554/06 .....................................................................................42

3.3. Uma nova proposta: EPIA – Produtos .....................................................................43

CONCLUSÃO ...............................................................................................................46

REFERÊNCIAS ............................................................................................................48

ANEXO ..........................................................................................................................51

Page 7: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

6

INTRODUÇÃO

O presente trabalho consagra uma tendência inovadora sobre a necessidade de

regulamentar o controle do impacto ambiental voltada ao desenvolvimento de produtos

prestes a serem disponibilizados ao mercado consumidor. Atualmente a preocupação em

preservar e defender o meio ambiente encontra-se presente perante a sociedade e ao

Estado. Neste sentido, buscar alternativas vinculadas a qualquer atividade poluidora, é

um fortalecimento protetivo e de grande valia à esfera ambiental.

A atuação da sociedade na esfera ambiental surge com a evolução dos direitos

humanos, que na sua terceira geração consagra os direitos de solidariedade, entre eles, o

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. A solidariedade resguarda a

participação da sociedade na efetividade dos direitos humanos fundamentais, ou seja, o

Estado deixa de ser o principal ator na implementação desses direitos, passando a

admitir a necessidade de atuação conjunta com a sociedade.

A partir dos direitos de solidariedade, a sociedade passa a ser detentora de uma

participação efetiva na implementação de políticas públicas em conjunto com o Estado,

visto que este de forma isolada é insuficiente para garantir o alcance de justiça social,

devendo a sociedade como beneficiária desses direitos uma participação ativa. Na seara

ambiental podemos definir a sociedade atuando como consumidores ou como empresas

produtoras/fornecedoras, porém ambos dotados de responsabilidade sócio-ambiental

perante o direito solidário do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Abordamos

no primeiro capítulo o consumo consciente como uma prática adotada pelo consumidor

preocupado com a proteção ambiental. E no que tange as empresas retratamos diversos

exemplos sob a finalidade de demonstrar que atualmente empresas estrangeiras e

empreendedores brasileiros já têm adotado estratégias sustentáveis voltadas à

preservação do meio ambiente.

A Constituição Federal prever em seu artigo 170, V e VI, os princípios da defesa

do meio ambiente e do consumidor. Em busca do efetivo cumprimento destes princípios

surge a tendência do controle do impacto ambiental sobre produtos, quando o

desenvolvimento sustentável de um produto repercutirá na proteção ao meio ambiente e

ao próprio consumidor, em benefício a sua melhor qualidade de vida. Os princípios da

Page 8: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

7

precaução e da prevenção também ganham relevância no presente estudo, posto que,

norteiam em esfera constitucional, a necessidade de uma ação antecipatória, como a

avaliação prévia de impacto ambiental de produtos, de forma a impedir danos

ambientais, seja na sua certeza ou incerteza.

Atualmente, o Estado implementa alguns instrumentos de controle sobre o

impacto ambiental, entre eles, o Estudo Prévio do Impacto Ambiental – EPIA, o

Licenciamento Ambiental, a Auditoria e o Financiamento Ambiental, atuando também

em ações voltadas a proteção ambiental, como a gestão ambiental empresarial, políticas

públicas de melhoria de qualidade de vida, proporcionando ainda estímulos de

incentivos fiscais às empresas como forma de garantir a adoção de mecanismos voltadas

à proteção e preservação do meio ambiente.

Entretanto, apesar da existência desses instrumentos de controle estatal sobre o

impacto ambiental, não há previsão normativa tendente à implementação do controle de

impacto ambiental no desenvolvimento de produtos ambientalmente sustentáveis. Existe

diversos projetos de lei de cunho ambiental ainda em trâmite na Câmara de Deputados e

no Senado, bem como o projeto de lei nº 7.554/06 voltado à criação de um selo de

qualidade ambiental concedido às empresas que desenvolvem suas atividades em prol a

defesa do meio ambiente, de forma a incentivá-las nestas ações.

Neste sentido, após abordar a estrutura relevante da necessidade de harmonizar o

consumo de produtos com instrumentos que possam garantir a proteção ao meio

ambiente, e perante a ausência de um instrumento específico de controle sobre o

impacto ambiental causado pelos produtos, repercutiu a idéia inovadora de criar uma

nova Resolução do CONAMA que tenha por objetivo regulamentar a obrigatoriedade

do Estudo Prévio do Impacto Ambiental – EPIA dos produtos, alcançando os processos

de fabricação e produção.

Page 9: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

8

CAPITULO 1 - A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS

FUNDAMENTAIS E O PAPEL DA SOCIEDADE

1.1 ANÁLISE HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS E

SUAS GERAÇÕES

O direito ao meio ambiente é um direito fundamental e somente foi consagrado

pela Constituição Federal em 1988, em seu artigo 225. No entanto, a categoria dos

direitos humanos é mais genérica e tem origens mais remotas. As primeiras referências

aos direitos humanos fundamentais surgem no antigo Egito e Mesopotâmia, no terceiro

milênio a.C., haja vista a previsão de alguns mecanismos para proteção individual em

relação ao Estado.1

Em 1960 a .C., o Código de Hammurabi é apresentado como a primeira

codificação a consagrar um rol de direitos comuns a todos os homens, como a vida, a

propriedade, a honra, a dignidade. Posteriormente, surgem, na Grécia, os primeiros

estudos sobre a necessidade de liberdade e igualdade do homem, definido pelos

pensamentos dos sofistas e estóicos. No Direito Romano, inicia-se a intenção de tutelar

os direitos individuais, surgindo a Lei das doze tábuas.

Entretanto, os mais importante antecedentes históricos que consagraram as

declarações dos direitos humanos fundamentais somente serão encontrados na

Inglaterra, merecendo destaque a Magna Charta Libertatum, outorgada em 1215 por

João Sem-Terra, que previa, dentre outras garantias, a liberdade da igreja na Inglaterra,

restrições tributárias, proporcionalidade entre delito e sanção, previsão do devido

processo legal, livre acesso à Justiça, liberdade de locomoção e livre entrada e saída do

país.2 Assim podemos observar que a idéia de proteção aos direitos humanos é bastante

antiga, muito mais antiga que o surgimento do constitucionalismo. É por tal razão que

as garantias externas a estes direitos foram esculpidas em documentos escritos.

1 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 1º a

5º da Constituição da república Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 8º ed. São Paulo:

Atlas, 2007, p. 6 2 Op.cit., p. 7

Page 10: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

9

No Brasil, a previsão dos direitos humanos surge primeiramente na Constituição

de 1824, o qual elenca em seu título VII – das disposições gerais e garantias dos direitos

civis e políticos dos cidadãos brasileiros, além do artigo 179, em seus 35 incisos

consagrando direitos e garantias individuais.3 A partir daí, as Constituições que foram

surgindo posteriormente trouxeram ampliações ao rol desses direitos, sempre

produzindo profundas alterações em prol a dignidade do homem. Os direitos humanos

fundamentais foram evoluindo de gerações em gerações, sendo atualmente classificados

em três gerações, conforme ordem cronológica que foram reconhecidos

constitucionalmente.

Com o liberalismo, surgem os direitos de primeira geração que representavam os

direitos de liberdade. Norberto Bobbio define como sendo direitos que consagram aos

indivíduos uma esfera de liberdade pública em relação ao Estado.4 Esta liberdade

pública caracteriza-se pelo reconhecimento a todos os seres humanos (entes públicos ou

privados / nacionais ou estrangeiros) de direitos protegidos pela ordem jurídica. São

direitos-liberdades que ganham proteção do Estado.5

Com o Estado Social, tem-se a segunda geração dos direitos humanos,

assegurando os direitos sociais e econômicos através da intervenção estatal.6 Essa

geração fotografou a luta da classe operária por melhores condições, iniciando-se nos

países capitalista e alastrando-se pelos vários ordenamentos jurídicos mundiais. Os

direitos sociais são poderes de exigir, ou seja, corresponde ao poder de exigir do Estado

uma prestação social efetiva.7

Com a terceira geração, percebe-se o avanço da consciência da sociedade em

busca de melhor qualidade de vida, ultrapassando o individualismo e avançando para os

3 MORAES, Alexandre de. op.cit. p. 13

4 BOBBIO, Noberto. A era dos direitos; tradução de Carlos Nelson Coutinho; apresentação de Celso

Lafer – Nova ed. Rio de janeiro, Elsevier, 2004. 5 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos Humanos fundamentais. 8º ed. São Paulo. Saraiva,

2006. p. 28-31 6 ANDRADE, Fernando Gomes de.Direitos Sociais e Concretização Judicial: Limites e

Possibilidades. 1º ed. Recife. Nossa Livraria, 2008.p.51 7 FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. op.cit, p. 49-50

Page 11: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

10

chamados direitos de solidariedade,. Estes de extrema importância para o presente

trabalho. Os titulares dos direitos de solidariedade são indeterminados, atingindo todos

os seres humanos existentes e ainda as futuras gerações.8

Os principais direitos de solidariedade são o direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, a uma saudável qualidade de vida, ao progresso, à paz, à

autodeterminação dos povos e outros direitos difusos.9 A solidariedade surge com a

participação da sociedade na efetividade dos direitos humanos fundamentais, ou seja, o

Estado deixa de ser o principal ator na implementação desses direitos, passando a

admitir a necessidade de atuação conjunta com a sociedade.

Observando o papel da sociedade na concretização dos direitos fundamentais,

Ricardo Souza observa que, com a virada do século XX para o século XXI, ocorreu uma

“mudança substancial” na responsabilização das organizações e das pessoas. Ressalta

que, até então, predominava entre os particulares “o dever de omissão para os respeito

dos direitos humanos”, como é o caso do direito à vida e à propriedade, ao que conclui

que o surgimento dos direitos de terceira geração fizeram com que os particulares

passaram a ter “papel comissivo” para a concretização dos direitos fundamentais.10.

Sendo assim, modernamente, a importância do Estado na promoção dos direitos

humanos fundamentais é mitigada, cabendo também à sociedade uma parcela de

atuação determinante na concretização desses direitos. Pode-se assim exemplificar o

fato de que a proteção ambiental está à mercê do exercício de solidariedade e alteridade

da sociedade na construção de uma consciência ambiental e conseqüentemente de uma

maior responsabilidade pela sua preservação.

Existem discussões doutrinárias mais recentes que apontam a existência de

direitos humanos de quarta e quinta geração. A quarta geração encontra-se ligado ao

direito de informação e na quinta geração se discute a estruturação de direitos

relacionados à genética e ao pluralismo.11

8 ANDRADE, Fernando Gomes de. op. cit. p. 54

9 MORAES, Alexandre de. op.cit. p. 26

10 SOUZA, Ricardo. Anotações de direitos humanos. Disponível em:

<www.ricardosouza.com.br/41501/index.html> Acesso em 16 ago. 2008. 11

FELICIANO, Guilherme Guimarães. Tutela Processual dos direitos humanos. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7810. Acesso em 09 nov. 2008.

Page 12: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

11

1.2 O CRESCIMENTO DO PAPEL DA SOCIEDADE NA CONCRETIZAÇÃO DOS

DIREITOS FUNDAMENTAIS, A PARTIR DOS DIREITOS DE SOLIDARIEDADE

Com o avanço dos direitos humanos fundamentais através das três gerações,

verifica-se que o papel do Estado na promoção desses direitos se torna cada vez mais

brando, em detrimento do crescimento do papel da sociedade como parte autora na

efetivação da proteção aos direitos humanos. Assim, o Estado e a sociedade

compartilham a responsabilidade na garantia dos direitos fundamentais.

Enquanto, na primeira e segunda geração, vislumbra-se o Estado praticamente

isolado como sujeito passivo dos direitos humanos fundamentais, na terceira geração

com os direitos de solidariedade à sociedade assume parcela de atuação em conjunto

com o Estado na efetividade dos direitos humanos.

Os direitos de solidariedade destacam-se pelo fato de sua titularidade ser coletiva

ou difusa, abrangendo a todos os seres humanos inclusive as futuras gerações.12

No

tocante ao sujeito passivo, conforme já elencado acima, em igual medida há a

multiplicidade de atores, com o Estado compartilhando sua responsabilidade com a

sociedade.

Neste sentido, os direitos de solidariedade protegem a participação efetiva da

sociedade na implementação de políticas públicas em conjunto com o Estado e na

concretização dos direitos fundamentais, visto que o Estado isolado é insuficiente para

garantir o alcance de justiça social, devendo a sociedade como beneficiária desses

direitos uma participação ativa.

Observa-se que o próprio constituinte consagra a previsão da união entre o

Estado e a sociedade na concretização dos direitos humanos fundamentais, quando

assim declara, por exemplo, em seu artigo 225:

12

ANDRADE, Fernando Gomes de. op.cit. p. 54-55

Page 13: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

12

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida,

impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e

preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”13

Sendo assim, a vinculação entre o Estado e a sociedade atuando em conjunto

para o alcance da concretização efetiva dos direitos humanos fundamentais encontra-se

imposta pela própria Constituição Federal, tornando-se garantia fundamental a ser

cumprida como parâmetro de alcance da justiça social.

1.3 O PAPEL DA SOCIEDADE NA SEARA AMBIENTAL

A Constituição Federal, em seu artigo 225, caput, estabelece como dever do

Poder Público e da coletividade a defesa e preservação do meio ambiente, garantindo-

lhe o acesso às presentes e futuras gerações. Sendo possível constatar a importância da

construção da consciência ambiental e de responsabilidade pela preservação ao meio

ambiente a todos que compõe a sociedade.

Portanto, a proteção do direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado acaba tornando-se dependente de uma construção social, econômica e

cultural da sociedade, como forma de conscientização da justiça ambiental, está

intrinsecamente ligada à proteção e defesa ao meio ambiente. Nesse contexto, estando

consciente do dever de preservação do meio ambiente, caberá a todos os cidadãos

atuarem com solidariedade na plena integração da natureza, de forma a protegê-la.

Quando tratamos do dever da sociedade atrelado a proteção ao meio ambiente,

podemos identificar o consumo sustentável como uma forma prática de inserir a

sociedade no papel de consumidor e fornecedor/produtor como partes integrantes e

responsáveis pela concretização na defesa ao meio ambiente.

A responsabilidade socioambiental é dirigida ao consumidor quando

preocupados com a proteção ao meio ambiente, passam a adotar a prática do consumo

13

MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. São Paulo:

Atlas, 2004. P. 2062/2063

Page 14: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

13

consciente através da aquisição de produtos menos agressivos ao meio ambiente, e

conseqüentemente em prol de melhor qualidade de vida para toda a sociedade.

Ao definir consumo consciente o Instituto Akatu declara como sendo aquele que

busca o equilíbrio da satisfação pessoal e a sustentabilidade, maximizando as

conseqüências positivas deste ato não só para o consumidor, mas também para as

relações sociais, a economia e a natureza. 14

Ademais, retrata ainda que :

“Todo consumo causa impacto (positivo ou negativo) na economia, nas

relações sociais, na natureza e em você mesmo. Ao ter consciência desses

impactos na hora de escolher o que comprar, de quem comprar e definir a

maneira de usar e como descartar o que não serve mais, o consumidor pode

buscar maximizar os impactos positivos e minimizar os negativos, desta

forma contribuindo com seu poder de consumo para construir um mundo

melhor. Isso é Consumo Consciente.”

Portanto, o consumidor como sujeito ativo na proteção ao meio ambiente, acaba

detendo um auto-poder, vez que a sua escolha no consumo é passível de causar impacto

caracterizador nas condições de vida da sociedade, pois ao consumir, as pessoas tem a

livre escolha de decidir por produtos que maximizem ou minimizem impactos negativos

ao meio ambiente, refletindo diretamente na qualidade de vida da sociedade.

Sendo assim, o consumo consciente defendido pelo Instituto Akatu é um

exemplo de que o consumidor deve perceber o impacto de suas ações e valorizar

empresas que minimizem possíveis danos ao meio-ambiente, no exercício de

solidariedade e alteridade.15

Esse contexto ideal, acaba pressionando uma adequação das empresas

fornecedoras e produtoras de forma a adotar práticas de proteção ao meio ambiente,

como o controle do impacto ambiental dos produtos prestes a serem disponíveis no

mercado, através de uma mediação do desenvolvimento econômico com o interesse da

proteção ambiental.

14

Instituto Akatu. Consumo Consciente. Disponível em: <http:// www.akatu.org.br/consumo

consciente/oque>. Acesso em: 03 out. 2008. 15

ZAVALA, Rodrigo. Consumo Consciente em foco. Disponível em: <http://

www.akatu.org.br/consumo consciente/oque>. Acesso em: 03 out. 2008.

Page 15: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

14

Portanto, verifica-se que ambos os sujeitos (consumidor e fornecedor/produtor)

estarão atuando em benefício da proteção ao meio ambiente, independente da ação do

Estado. E é neste sentido que podemos vislumbrar a ação da sociedade na proteção ao

meio ambiente, como um direito de solidariedade.

Em março de 2008 na, Revista Exame,16

fora publicada uma matéria sobre a

Wal-Mart, a maior rede varejista do mundo, que estaria adotando estratégia sustentável

para ganhar mercado. Como exemplo destas estratégias, retrata que em dezembro de

2007 teria instalado em uma de suas lojas em Curitiba placas que dão mais visibilidade

a produtos de fornecedores considerados avançados ambientalmente.

Outro exemplo citado é o arroz Pilecco Nobre, fabricado pela Protec & Gamble

no Rio Grande do Sul, que começará a gerar energia da casca do arroz. E assim, o

resíduo não só deixará de ir para aterros como dará a empresa à oportunidade de vender

créditos de carbono por meio do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do

Protocolo de Kyoto.

Ainda segundo a revista, a Wal-Mart paralelamente a atuação dos fornecedores,

vem tocando outras iniciativas. Uma das mais visíveis é a loja que obedece a estratégia

lixo zero. A unidade gera cerca de 70 toneladas de resíduos por mês e tudo é destinado

para reciclagem, ou, no caso lixo orgânico, para uma usina de compostagem, que o

transforma em adubo.

Deste modo, a tendência em harmonizar o consumo de produtos com

instrumentos ou mecanismos que possam garantir a proteção ao meio ambiente é um

magnífico exemplo da participação ativa da sociedade, em busca do desenvolvimento

sustentável que consagre a toda coletividade melhores condições de vida.

16

HERSOG, Ana Luiza. A reação do gigante. Revista Exame. Edição 914, Ano 45, Nº 5, 26/03/2008, p.

57-58

Page 16: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

15

CAPITULO 2 - A TENDÊNCIA AO CONTROLE DO IMPACTO AMBIENTAL

COMO GARANTIA A PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE E DO

CONSUMIDOR

2.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS NORTEADORES

A reflexão sobre o controle do impacto ambiental e a sustentabilidade no

desenvolvimento de um produto, constrói e fortalece uma tendência de relação de

consumo ambientalmente sustentável, repercutindo a importância do desenvolvimento

econômico atrelado à proteção do meio ambiente e do consumidor.

A Constituição da República Federativa do Brasil elenca como princípios gerais

da atividade econômica, dentre outros, a defesa do consumidor e do meio ambiente (Art.

170,V e VI). Senão vejamos:

“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano

e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,

conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:

V - defesa do consumidor;

VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado

conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos

de elaboração e prestação.”17

Se analisarmos atentamente estes dois princípios, observamos uma associação

explícita entre eles, no que tange as relações sociedade-meio ambiente, voltadas

principalmente aos processos de produção e consumo. Em busca do efetivo

cumprimento destes princípios que surge o instrumento do controle do impacto

ambiental.

Resta destaque ainda os princípios da precaução e da prevenção, que possuem o

objetivo de exteriorizar o dever jurídico e a obrigação de evitar ou reparar os danos

causados ao meio ambiente.18

17

MORAES, Alexandre. op.cit. p. 1871 18

SILVA, Vicente Gomes da. Legislação ambiental comentada. Belo Horizonte: Fórum ,2004. p. 27

Page 17: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

16

Desta forma, os princípios da defesa do meio ambiente, do consumidor, da

precaução e da prevenção ganham extrema relevância a serem tratados no presente

trabalho, posto que norteiam, em esfera constitucional, a tendência do controle do

impacto ambiental, conforme será melhor explanado a seguir.

2.1.1 Princípio da Defesa do Meio Ambiente

As disposições sobre a defesa do meio ambiente encontram-se inseridas na

Constituição Federal, em dois artigos principais, quais sejam, o artigo 225, que versa

sobre o desenvolvimento sustentável e o artigo 170, VI, que consagra a proteção ao

meio ambiente à condição de principio da ordem econômica.

Inicialmente, versando sobre o artigo 225 da Constituição Federal, este dispõe

que o meio ambiente é um bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de

vida, suscitando diversas questões à efetividade de sua proteção. A idéia contida neste

trabalho, visa consagrar, mesmo que implicitamente, o que encontra-se previsto neste

artigo, ou seja, a preservação do meio ambiente para as presentes e futuras gerações,

repercutindo a importância do desenvolvimento sustentável de produtos disponíveis ao

mercado de consumo, garantindo assim o meio ambiente ecologicamente equilibrado,

sem maiores danos futuros.

Posteriormente, tratando-se do princípio da defesa do meio ambiente, estando

contido no artigo 170, VI da CF, como um dos princípios da ordem econômica,

podemos relacionar o desenvolvimento econômico e a defesa do meio ambiente de

forma que eles estejam sempre conciliados. Ou seja, este artigo versa sobre a

necessidade de conciliação entre o desenvolvimento econômico e as práticas de

preservação do meio ambiente.

Assim considera-se que a expansão do desenvolvimento econômico deverá ter

como limite a defesa do meio ambiente, conforme preceitua Tavares, “nem o

desenvolvimento há de ser impedido pela proteção ambiental, nem o meio ambiente

Page 18: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

17

poderá ser desconsiderado pelo desenvolvimento econômico.”19

E é por esta razão que a

defesa do meio ambiente está inserida como princípio constitucional econômico, pois

possibilita ao Poder Público interferir, se necessário, nas atividades econômicas quando

estas não assegurarem o desenvolvimento sustentável, ou seja, a manutenção do meio

ambiente ecologicamente equilibrado.

Sobre este aspecto, a prática da verificação do impacto ambiental dos produtos

prestes a serem disponíveis no mercado, consagra uma mediação do desenvolvimento

econômico com o interesse da proteção ambiental, já consagrado na Constituição

Federal. Todavia, na prática não repercute maiores execução, encontrando-se como uma

tendência inovadora a ser adotada pelas empresas produtoras e fornecedoras, que nada

mais, vão atuar em cumprimento aos preceitos constitucionais.

Assim sendo, a prática no desenvolvimento de produtos para o consumo terão

como limite a preservação do meio ambiente, que exterioriza por meio do controle do

impacto ambiental destes produtos, impedindo, em casos negativos, maiores danos

ambientais.

2.1.2. Princípio da Defesa do Consumidor

A defesa do consumidor está prevista no artigo 5º, XXXII da Constituição

Federal e no artigo 170, V do mesmo diploma, como mais um dos princípios gerais da

ordem econômica. Desta forma, observa-se à preocupação do legislador constituinte

com as relações de consumo, bem como, com a necessidade de proteção ao

economicamente hipossuficiente.20

O princípio da defesa do consumidor resguardado no artigo 170, V da CF,

demonstra a obrigação da ordem econômica constitucional brasileira preservar os

direitos do consumidor, adotando medidas voltadas ao amparo deste.21

19

TAVARES, André Ramos. Direito Constitucional Econômico. São Paulo: Método, 2003. p. 196 20

MORAES, Alexandre. op.cit. p. 1872 21

TAVARES, André Ramos. op.cit. p. 196

Page 19: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

18

A circulação de mercadoria é impulsionada pela figura do consumidor, sendo

este o responsável pela aquisição dos produtos, ocasionando o desenvolvimento do

capital. Neste sentido, o consumidor é o personagem principal da responsabilidade de

aquisição de produtos agressivos ao meio ambiente, e por esta razão que, a sua

conscientização pela preservação ambiental cumpre papel fundamental.

A prática tendente ao controle do impacto ambiental dos produtos beneficiará o

meio ambiente e será vista ainda como um instrumento eficaz de proteção ao

consumidor, impedindo que produtos agressivos ao meio ambiente não possam ser

inseridos no mercado de consumo, e caso já estejam inseridos, não sejam adquiridos

pelos os consumidores.

Entretanto, mesmo com o exercício do controle do impacto ambiental, a

conscientização do consumidor continua sendo imprescindível, posto que, o serviço de

produção econômica não poderá infringir a liberdade individual do consumidor. Desta

forma, estando eles informados e mais conscientes da importância de proteção ao meio

ambiente passariam naturalmente a adotar a prática do consumo consciente, adquirindo

produtos de empreendimentos sócio e ambientalmente responsáveis.

Portanto, a idéia do controle do impacto ambiental e do desenvolvimento

sustentável dos produtos para o consumo, deve andar em conjunto de modo a perpetuar

implementações de políticas de defesa ao meio ambiente, garantindo a conscientização

do consumidor, e conseqüentemente, a sua própria proteção.

2.1.3. Princípio da Precaução

O princípio da precaução encontra-se previsto no princípio 15, da Declaração do

Rio de Janeiro de 1992, a qual retrata: “De modo a proteger o meio ambiente, o

princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com

suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de

Page 20: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

19

absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas

eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.”22

Este princípio resguarda a necessidade de ações antecipadas à concretização do

dano ambiental, de forma acauteladora. Ou seja, a máxima popular de que é melhor

prevenir do que remediar, deve ser concretizada.

Mesmo com a incerteza do dano ambiental, deve-se agir com prudência,

repercutindo a obrigação de evitar o surgimento do dano ambiental. Neste sentido, Gerd

Winter diferencia perigo ambiental de risco ambiental, citado por Machado:

“Se os perigos são geralmente proibidos, o mesmo não acontece com os

riscos. Os riscos não podem ser excluídos, porque sempre permanece a

probabilidade de um dano menor. Os riscos podem ser minimizados. Se a

legislação proíbe ações perigosas, mas possibilita a mitigação dos riscos,

aplica-se o princípio da precaução, o qual requer a redução da extensão, da

freqüência ou da incerteza do dano”23

Assim sendo, o princípio da precaução tem por finalidade reduzir os riscos

ambientais, mesmo na ausência da certeza científica do dano, objetivando a busca da

sadia qualidade de vida das gerações humanas e ainda da continuidade dos recursos

naturais existentes no planeta.

Este princípio fundamenta a tendência inovadora da formalização do

desenvolvimento sustentável inserido na realização do controle do impacto ambiental de

um produto disponível no mercado. Isto porque, a verificação prévia do impacto

negativo de um produto fabricado, impede a sua aprovação e, em conseqüência, a sua

disposição no mercado consumidor, evitando que os consumidores venham a adquiri-los

e conseqüentemente acarretar maiores danos ao meio ambiente.

É por esta razão que surge a idéia de compartilhar a responsabilidade sócio-

ambiental com empresas produtoras e fornecedores dos produtos, de forma a estimular a

efetividade de ações antecipatórias, prevenindo o dano ambiental. Uma das formas de

22

SILVA, Vicente Gomes da. op.cit. p. 26 23

WINTER GERD. European Environmental Law – A comperative perspective. Aldershot, Dartmouth

Publishing Co., 1996 apud MACHADO, Paulo Leme. Direito Ambiental Brasileiro. Malheiros

Editores, 2005. p. 62

Page 21: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

20

ações preventivas, seria exatamente a verificação do impacto ambiental dos produtos

antes de serem expostos no mercado consumidor.

Sendo assim, o princípio da precaução estaria sendo preservado e concretizado

de forma eficiente, de modo a alcançar um meio ambiente ecologicamente equilibrado e

melhores condições de qualidade de vida para toda a sociedade.

2.1.4 Princípio da Prevenção

Distintamente do princípio da precaução, o qual prega pela ação antecipada em

caso de incerteza do dano. O princípio da prevenção resguarda, como o próprio nome

diz, a prevenção de danos ambientais já identificados, ou seja, em caso de certeza do

dano.

Segundo Vicente Gomes da Silva e Paulo Leme Machado, o princípio da

prevenção está previsto em várias convenções, entre elas, a Convenção de Basiléia

sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu

Depósito, assinada em 1989, e ainda na Convenção da Diversidade Biológica,

negociada em 1992, Rio de Janeiro. Em todas estas e outras convenções, o que se

preconiza é a exteriorização do dever jurídico de evitar a consumação de danos ao meio

ambiente.

Os princípios da prevenção e da precaução estão intrinsecamente ligados, posto

que, ambos são aplicados com o mesmo objetivo, qual seja, impedir a degradação ao

meio ambiente. Enquanto a precaução tem a finalidade de impedir o surgimento de um

dano ambiental, evitando os riscos ambientais, a prevenção visa evitar a consumação do

dano ambiental já existente, agindo de forma prévia para que as ações humanas não

acarretem a concretização do respectivo dano.

Neste sentido, Machado relata brilhantemente:

“A precaução age no presente para não se ter que chorar e lastimar no

futuro. A precaução não só deve estar presente para impedir o prejuízo

Page 22: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

21

ambiental, mesmo incerto, que possa resultar das ações ou omissões

humanas, como deve atuar para a prevenção oportuna desse prejuízo.

Evita-se o dano ambiental, através da prevenção no tempo certo”24

Desta forma, a preocupação com o meio ambiente deverá estar caracterizada

tanto no presente como no futuro, de forma a garantir o uso racional dos recursos

ambientais às gerações futuras, conforme prever o princípio do desenvolvimento

sustentável previsto no artigo 225 da Constituição Federal.

Na realização do controle do impacto ambiental dos produtos a serem

disponíveis no mercado consumidor, é possível resguardar tanto o princípio da

precaução, como já exposto, como o princípio da prevenção. De modo que, não apenas

verifica-se como uma ação antecipada, evitando a disposição do produto no mercado

quando constatado o impacto negativo, mas também como uma forma preventiva de

danos ambientais e prejuízos aos consumidores em sua qualidade de vida.

Neste sentido, verifica-se a relevância da tendência inovadora do controle do

impacto ambiental como necessidade de respeitar e permitir à humanidade a

concretização destes princípios, seja por meio de normas ou conscientização, posto que

estes princípios devem ser particularizados em detrimento as empresas, devendo estas

resguardá-los como normas orientadoras de qualidade de produção através da prática do

controle do impacto ambiental, e também caberá a sociedade agir com conscientização

da defesa do meio ambiente na prática do consumo sustentável

2.2 INSTRUMENTOS DO CONTROLE ESTATAL SOBRE O IMPACTO

AMBIENTAL

O Poder Público assume uma parcela de atuação imprescindível na

concretização do desenvolvimento sustentável com a preservação do meio ambiente,

utilizando instrumentos cuja finalidade está associada ao controle do impacto ambiental,

24

MACHADO, Paulo Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 2005. p. 75

Page 23: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

22

quais sejam, o Estudo Prévio do Impacto Ambiental – EPIA, licenciamento ambiental,

auditoria ambiental e financiamento ambiental.

Entretanto, conforme já explanado, a partir dos direitos de solidariedade a

sociedade, e mais precisamente os agentes econômicos, também serão caucados de

responsabilidade perante o equilíbrio ecológico, refletindo atualmente uma tendência

inovadora de avaliação de impactos ambientais a serem utilizados como padrão de

qualidade aos produtos disponíveis no mercado consumidor.

Estes instrumentos exercidos pelo poder público, os quais iremos retratar a

seguir, refletem em incentivos à absorção de tecnologias voltadas ao controle do

impacto ambiental a serem aplicadas pelas empresas particulares, como por exemplo, a

Empresa Protec & Gamble que produz com exclusividade o detergente em pó Ariel

Oxiazul Ecomax, que faz menos espuma e reduz o número de enxágües necessários na

máquina de lavar, economizando água e energia.25

Observa-se assim, a conscientização

ambiental da referida empresa, atuando conforme mecanismos de produção voltados

para a melhoria da qualidade ambiental.

Sendo assim, consagra-se a importância da concretização da proteção ambiental,

seja através dos instrumentos do Poder Público, seja pelos agentes econômicos e pela

coletividade, sempre em busca do desenvolvimento sustentável em proteção ao meio

ambiente e ao consumidor.

2.2.1 Estudo Prévio do Impacto Ambiental - EPIA

O Estudo prévio do impacto ambiental - EPIA constitui um dos mais

importantes instrumentos de proteção ao meio ambiente, advindo do controle estatal. A

Constituição Federal do Brasil preceitua em seu artigo 225, §1º, IV que ao Poder

Público é incumbido à exigência do estudo prévio do impacto ambiental para instalação

de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação ao meio

25

HERSOG, Ana Luiza. A reação do gigante. Revista Exame. Edição 914, Ano 45, Nº 5, 26/03/2008, p.

57-58

Page 24: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

23

ambiente.26

Desta forma, ao Poder Público é atribuído constitucionalmente à

competência de exigir a efetividade da proteção ao meio ambiente, ou ainda, da

proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, através do EPIA em

determinados empreendimentos.

Paulo de Bessa Antunes compreende que a concretização do EPIA, emana do

poder de polícia do Estado27

, quando de forma preventiva assume a responsabilidade de

avaliar as alterações que determinados empreendimentos possivelmente poderão causar

ao meio ambiente, evidenciando assim a participação ativa do Estado em resguardar o

princípio da prevenção do dano ambiental.

O estudo do impacto ambiental no Brasil tem sua história legislativa iniciada

com o Decreto-lei nº 1.413, de 14 de agosto de 1975, o qual inseriu em nosso direito o

zoneamento das áreas críticas de poluição. Este decreto alterou profundamente uma

série de concepções jurídicas vigentes até aquela época, de forma que consagrou a

obrigação das empresas adotarem equipamentos capazes de diminuir a poluição

produzida por suas atividades.28

Em 02 de junho de 1980, foi editada a Lei 6.803, consagrando um momento de

grande importância e evolução legislativa. Foi através dela que se estabeleceu a

necessidade precisa da avaliação do impacto ambiental dos empreendimentos

industriais. Posteriormente, surge a Lei 6.938/81, outra mudança legislativa e qualitativa

para o sistema de proteção ao meio ambiente, também conhecida como a Lei da Política

Nacional do Meio Ambiente – PNMA. Através desta lei, foi criada a Resolução do

Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA.29

Com a Resolução nº 1 de 23 de janeiro de 1986, a avaliação do impacto

ambiental passou a ser efetivada através do Estudo Prévio do Impacto Ambiental. E

posteriormente, em 1988 acabou sendo consagrada no texto da Constituição Federal, em

seu artigo 225, §1º, IV, conforme já elencado.

26

MORAES, Alexandre. op.cit. p. 2062/2062. 27

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris, 2001, p.217. 28

Ibiden, p. 213 29

Ibiden, p. 216

Page 25: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

24

Após tratarmos da evolução histórica da avaliação do impacto ambiental, resta

consagrar neste trabalho, mais precisamente, o mecanismo do EPIA. É um instrumento

de qualidade ambiental e tem a finalidade de avaliar o grau do impacto ambiental

causado pela ação humana. Todavia, cumpre destacar que este impacto poderá ser

positivo ou negativo ao meio ambiente.

O cerne da preocupação e discussão está exatamente no impacto negativo ao

meio ambiente, que pode ser definido como sendo uma modificação brusca do meio

ambiente. José Afonso da Silva define como sendo “choque da ação sobre o meio, que

pode abalar sua estrutura, sua qualidade, é pois, qualquer degradação do meio

ambiente.”30

A Resolução nº 1/86, do Congresso Nacional do Meio Ambiente –

CONAMA consagra em seu artigo 1º o conceito jurídico de impacto ambiental. Senão

Vejamos:

“Impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas,

químicas e biológicas do meio ambiente, causados por qualquer forma de

matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou

indiretamente, afetam:

I – a saúde, a segurança e o bem estar da população;

II – as atividades sociais e econômicas;

III – a biota;

IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V – a qualidade dos recursos ambientais.”31

É possível perceber através da leitura deste artigo que o conceito adotado é

bastante amplo, podendo alcançar toda e qualquer alteração desfavorável ao meio

ambiente que possa influenciar na qualidade de vida, seja esta animal ou humana.

Assim, a intenção pela preservação ao meio ambiente encontra-se caucada na

concretização do EPIA, posto que, é tido como um mecanismo possível de alcançar uma

minimização dos danos ambientais.

O EPIA é realizado mediante um procedimento de Direito Público, cuja

finalidade é atender as diretrizes traçadas pela legislação vigente. José Afonso da Silva

declara que o procedimento compreende elementos objetivos e subjetivos,32

já Paulo de

30

SILVA, José Afonso da. Direto Ambiental Constitucional. São Paulo: Editora Malheiros, 2004, p.

286. 31

Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html.Acesso em: 10 set. 2008 32

SILVA, José Afonso da. op.cit. p. 286.

Page 26: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

25

Bessa Antunes afirma como sendo um procedimento formal e material.33

Estas

caracterizações possuem uma concepção distinta, porém importantes.

Enquanto José Afonso da Silva consagra uma questão mais técnica, prática,

compreendendo como subjetivo o proponente do projeto, a autoridade competente e a

equipe multidisciplinar de profissionais qualificados para a realização do EPIA e como

objetivo o Relatório de Impacto Ambiental – RIMA e a avaliação do órgão

competente.34

Paulo de Bessa Antunes, diferentemente, consagra uma questão de

regulamentação, declarando o procedimento como formal em razão de não poder deixar

de realizar nenhum dos procedimentos determinados nas normas regulamentadoras, e

material, pois a implementação das regras deve ser feita com a utilização de todos os

recursos técnicos disponíveis.35

Em ambas as concepções, é possível verificar o objetivo fundamental do EPIA,

inserido como um mecanismo importante, de forma a concretizar a proteção ao meio

ambiente, através da exigência do comando legal em prática com o Poder Público.

De forma singela, trazemos a baila, os elementos subjetivos e objetivos do

procedimento do EPIA. Como primeiro elemento subjetivo, o proponente do projeto é

considerado como o titular da obra ou atividade para cuja licença se exige a realização

do EPIA.36

A equipe multidisciplinar é composta por uma equipe técnica especializada,

formada por profissionais de diferentes áreas, e serão os responsáveis pela a avaliação

dos impactos positivos e negativos do empreendimento. Ainda como elemento

subjetivo, a autoridade competente está vinculada ao órgão competente para legislar e

exigir o EPIA.37

O Relatório do Impacto ambiental – RIMA tida como elemento

objetivo, refletirá as conclusões do EPIA, através dele a equipe multidisciplinar

oferecerá seu parecer sobre a viabilidade do projeto, seu impacto no ambiente, bem

como, as alternativas passíveis e convenientes aquele empreendimento.38

33

ANTUNES, Paulo de Bessa. op.cit. p. 227 34

SILVA, José Afonso da. op cit. p. 286. 35

ANTUNES, Paulo de Bessa. op. cit. p.227 36

SILVA, José Afonso da. op.cit. p. 290 37

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva,

2005, p. 88 38

SILVA, José Afonso da. op. cit. p.296

Page 27: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

26

Ao término do procedimento do EPIA, a Constituição Federal exige em seu

artigo 225, §1º, IV, que seja dada publicidade ao mesmo, de forma a resguardar o

princípio democrático do Direito Ambiental, bem como, o princípio da publicidade dos

atos administrativos. Como sabemos, a publicidade tem por objetivo assegurar o

conhecimento do referido estudo pela população. E neste sentido, Paulo de Bessa

Antunes assim preceitua: “Em realidade, o Estudo de impacto ambiental é,

concomitantemente, um instrumento de controle e participação dos cidadãos na

Administração Pública e instrumento administrativo de análise técnica de

empreendimentos utilizadores de recursos naturais.”39

Desta forma, tratando-se o meio ambiente como um bem de uso comum do

povo, conforme prever o artigo 225 da Constituição Federal, nada mais justo do que a

participação popular na avaliação do impacto ambiental, inserida na conscientização da

preservação, melhoria e recuperação do meio ambiente. Assim, apesar de ser um

instrumento de controle estatal no exercício do poder de polícia em prol a defesa do

meio ambiente, a sociedade também é conferida uma parcela importante de atuação no

EPIA, utilizando adequadamente os recursos naturais, a fim de preservar os danos

ambientais.

2.2.2. Licenciamento Ambiental

O licenciamento ambiental previsto no Decreto nº 99.274 de 06 de junho de

199040

é tido como controle preventivo de atividades de particulares no exercício de

seus direitos, quando visando perpetuar um determinado empreendimento encontra-se

condicionado à obtenção de uma licença ambiental.

A Administração Pública, no exercício de suas funções, estabelecerá condições e

limites para o exercício desta atividade, e é através do licenciamento que será

fiscalizado a regularidade deste empreendimento, se o mesmo encontra-se em

conformidade ao que previamente foi estabelecido pelo Poder Público, bem como, em

consonância aos normas de direito ambiental.

39

ANTUNES, Paulo de Bessa. op.cit.,p. 228. 40

Ibiden, p. 104

Page 28: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

27

Conforme preceitua Paulo de Bessa Antunes, todas as atividades humanas que

interfiram nas condições ambientais deverão ser submetidas ao controle do Estado

através do licenciamento41

, portanto apenas as práticas cujos impactos ambientais

estejam compreendidos dentro dos padrões fixados, ou que estes sejam de pequena

monta, poderão ser permitidas por meio da concessão da licença ambiental.

O procedimento de licenciamento ambiental compreende a concessão de três

tipos de licenças, conforme dispõe o artigo 19 do Decreto 99.274 de 1990. Duas

licenças preliminares e a licença final que o encerra. A licença prévia (LP) é concedida

na fase preliminar do planejamento da atividade, a qual irá estabelecer requisitos

básicos a serem atendidos nas fases subseqüentes de sua implementação, como

localização, instalação e operação, observando os planos municipais, estaduais e

federais do uso do solo. A licença de instalação (LI) autorizará a implementação do

empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes no projeto

aprovado, incluindo as medidas de controle ambiental. E por fim, a licença de operação

(LO), a qual, possibilitará a operação do início da atividade licenciada e o

funcionamento dos seus equipamentos de controle ambiental, conforme previsto nas

licenças preliminares.42

Desta forma, regularmente licenciado o empreendimento, este atuará de forma a

preservar o meio ambiente, consagrando melhores condições de vida as presentes e

futuras gerações, sempre em cumprimento as normas de direito ambiental.

Por fim, resta destacar que através da singela análise dos dois principais

instrumentos, ou seja, o EPIA e o licenciamento, observa-se a extrema importância do

controle prévio nas atividades a serem executadas, de forma a prevenir a ocorrência de

danos ambientais. E é exatamente a partir desta idéia, que retratamos ao longo deste

trabalho sobre a necessidade de estender este controle prévio ao mercado consumidor,

imputando maiores responsabilidades às empresas produtoras e fornecedores de

produtos, de forma a absorver a tendência do controle prévio do impacto ambiental

antes de inserir determinados produtos no mercado de consumo, apesar da existência de

41

ANTUNES, Paulo de Bessa op.cit. p.100. 42

SILVA, José Afonso da. op. cit. p. 284; 285

Page 29: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

28

algumas empresas, conforme já elencado nos exemplos do tópico 1.3, que atualmente

adotam estratégias sustentáveis, disponibilizando no mercado consumidor produtos

avançados ambientalmente, no exercício de seu auto controle, sem qualquer norma que

a obrigue, apenas dotados de preocupação com a questão ambiental, visando proteger o

meio ambiente.

2.3. OUTROS INSTRUMENTOS DE CONTROLE SOBRE O IMPACTO

AMBIENTAL: AUDITORIA E FINANCIAMENTO AMBIENTAL

Além dos dois principais instrumentos do controle estatal sobre o impacto

ambiental, é possível vislumbrar ainda a auditoria ambiental e o financiamento

ambiental, estes também de grande valia ao tema, ora aqui em discussão.

A auditoria ambiental corresponde a uma avaliação periódica do comportamento

de uma empresa em relação ao meio ambiente, podendo ser pública ou privada, ou seja,

realizada pelo Poder público ou pela própria empresa. A auditoria ambiental privada é

impulsionada pela tomada de consciência ecológica das empresas em prol de vantagens

na concorrência.43

Pois bem, a auditoria ambiental resguarda o cumprimento das normas ambientais

através da fiscalização de atividades adotadas pelas empresas particulares, as quais

devem atuar em prol da defesa do meio ambiente. E esta fiscalização ora pode ser

exercida pelo poder público, ora por outras empresas que no plano da estratégia da

concorrência confere mais valia aquelas ambientalmente avançadas.

No tocante à abrangência da auditoria ambiental, atualmente são regulamentadas

no Estado do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, através da Lei 1.898/91 e 4.802/93,

respectivamente.44

43

MACHADO, Paulo Leme. op.cit. p. 278/279. 44

Ibiden. p. 281

Page 30: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

29

Cumpre mencionar que entre a auditoria ambiental e o EIA existem semelhanças

e diferenças. Enquanto o EIA é prévio à instalação de atividade ou obra, a auditoria é

posterior, avaliando se as orientações contidas no estudo estão sendo observadas e se os

métodos de controle ambiental estão sendo eficazes. No tocante as semelhanças, ambas

são realizadas às expensas da empresa e/ou empreendedor.

Desta forma, a auditoria ambiental é tida como mais um instrumento eficaz do

controle do impacto ambiental, visando assegurar a proteção do meio ambiente e a

saúde humana em uma determinada atividade empresarial.

O financiamento é mais uma forma de controle do impacto ambiental quando o

órgão financiador é dotado de responsabilidade perante a moralidade e legalidade

daquela produção financiada, não podendo financiar poluição e degradação da natureza.

Paulo Afonso Leme Machado retrata que o papel desempenhado pelo Estado, na

área ambiental não corresponde apenas a função de regulamentar e fiscalizar, mas sim a

função de promover e garantir o desenvolvimento sustentável. Neste sentido, as

instituições financeiras devem adotar diretrizes na concretização de uma política de

crédito que viabilize o desenvolvimento sustentável, a partir daí surge à

responsabilidade do setor financeiro perante a preservação do meio ambiente

ecológico.45

O artigo 12, caput da Lei 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente)

dispõe que:

“as entidades e órgãos de financiamento e incentivos governamentais

condicionarão a aprovação de projetos habilitados a esses benefícios ao

licenciamento, na forma desta lei, e ao cumprimento das normas, dos

critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA – Conselho Nacional do

Meio Ambiente.”46

Esta disposição legislativa consagra a responsabilidade das instituições

financeiras pelo cumprimento da legislação ambiental na alocação dos recursos para as

atividades financiadas, realizando o controle ambiental do ente financiado.

45

MACHADO, Paulo Leme. op. cit. p.310 46

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm. Acesso em: 03 nov. 2008

Page 31: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

30

Portanto, as instituições financeiras em cumprimento às legislações ambientais,

não poderão prosseguir na alocação de recursos financeiros, quando o ente financiado

deixar de cumprir as normas destinadas à melhoria da qualidade do meio ambiente.

Por fim, cumpre mencionar que, conforme estudado ao longo deste capítulo, os

princípios do direito ambiental encontram-se articulados, mesmo que implicitamente em

todas as formas de controle de impacto ambiental, e como tais merecem respaldo na

implementação da tendência inovadora estendida ao mercado consumidor, visto como

mais um instrumento de controle de impacto ambiental em prol a preservação e defesa

do meio ambiente, além de uma melhor qualidade de vida para toda a sociedade.

Page 32: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

31

CAPITULO 3 - O CONTROLE DO IMPACTO AMBIENTAL E DA

SUSTENTABILIDADE NO DESENVOLVIMENTO DE PRODUTOS PARA O

CONSUMO

3.1. A IMPORTÂNCIA DO CONSUMO E A MUDANÇA DE PERSPECTIVA

EMPRESARIAL NO CONTROLE DO IMPACTO AMBIENTAL

Para prestigiar a defesa do meio ambiente, propõem que sejam imputadas

obrigações e responsabilidades aos sujeitos da relação de consumo, ou seja, os

consumidores e as empresas, tornando-se partes integralmente responsáveis pela

preservação e defesa ambiental, pautando a oferta e demanda dos produtos em

condições que possibilitem a sadia qualidade de vida e a manutenção do equilíbrio

ecológico.

Neste sentido, existe uma necessidade de tratar as questões ambientais sob a

perspectiva econômica e especialmente sob a perspectiva das relações de consumo,

observando a possibilidade de risco ambiental que os produtos oferecidos e/ou

consumidos poderão causar, de acordo com o impacto ambiental no processo de

elaboração.

Ao tratarmos da importância do consumo em prol da defesa do meio ambiente,

vislumbramos a responsabilidade do consumidor condizente com uma mudança de

perspectiva oriunda da conscientização socioambiental, a ser praticada no momento de

escolha dos produtos avançados ecologicamente.

Preceitua Inês Virgínia Prado Soares:

“Existe, decerto, uma tendência inerente ao ser humano de associar o

desenvolvimento a obras, bens ou atividades que venham lhe proporcionar

bem estar e conforto, sem avaliar as conseqüências de tais obras ou

atividades para o meio ambiente tanto no momento atual como no futuro.

Porém, a Constituição, ao prever que o meio ambiente deve ser preservado

Page 33: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

32

e defendido também para as gerações futuras, conduz a uma mudança de

perspectiva do consumidor e da sociedade como um todo.” 47

Ora, os consumidores desprovidos de conscientização de responsabilidade

socioambiental, acabam focando sua relação de consumo em outros ângulos, como por

exemplo, em busca de benefícios financeiros ou tecnológicos, sem ao menos se

preocupar em perceber a peculiaridade essencial do controle do impacto ambiental

sobre aquele produto, como meio preventivo a danos irreversíveis ao meio ambiente.

Neste sentido, questiona-se: “Será que o consumidor é legítimo atribuir a

responsabilidade da proteção ao meio ambiente?” Em concordância ao autor Édis

Milaré48

, entende-se que sim, ele declara em sua obra que a participação pessoal do

consumidor no coro das exigências ambientais decorre do exercício de cidadania

ambiental.

Outrossim, os consumidores deverão ser dotados de deveres éticos, e estes

repercutiram na esfera ambiental. Desta forma, estando caucados de consciência da

dimensão ecológica do processo de consumo em geral e de seu comportamento

individual que poderão causar ao meio ambiente, deverão assim, no exercício de

cidadania, buscar limitar a sua escolha de produtos em prol a preservação do meio

ambiente, trazendo benéficos a si mesmo e as futuras gerações, respeitando o princípio

do desenvolvimento sustentável. Desta forma, vislumbra-se a importância do consumo

“consciente” de forma a salvaguardar a proteção ambiental.

No que tange às empresas, não restam dúvidas que estas assumem

responsabilidades para com o meio ambiente. O aumento em proporção mundial dos

danos ambientais, acabaram estimulando uma conscientização pela necessidade de se

encontrar barreiras às ações agressivas ao meio ambiente, surgindo a preocupação de se

tentar diminuir o impacto ambiental direto produzido pelos frutos do desenvolvimento

econômico, que são os seus produtos. Conseqüentemente as empresas foram forçadas

47 SOARES, Inês Virgínia Prado. Meio ambiente e relação de consumo sustentável. [S.l.: s.n.],

[2007?], p.

10.Disponívelem:<www.prsp.mpf.gov.br/cidadania/deconSocCulult/meio%20ambiente%20e%20rela%E

7ao%20consumo%20sustentavel.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2008. 48

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. São Paulo:Revista dos Tribunais, 2007. p. 84.

Page 34: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

33

por esta nova conscientização a adaptarem-se a uma nova realidade, mais condizente

com os anseios de preservação ambiental, sob pena de perda de competitividade.

Assim esclarece José Rubens Morato Leite e Ney de Barros Mello Filho:

“O agravamento dos problemas ambientais econômicos que ameaçam a

humanidade em escala global, como o efeito estufa e a erosão da

biodiversidade, associado à dificuldade do aparelho estatal em dar

respostas conscientes para esse quadro de policrise, exigem uma

reavaliação dos atuais instrumentos de política ambiental e sobretudo a

investigação de novos mecanismos das atividades econômicas com o direito

ao meio ambiente equilibrado.”49

Sendo assim, as empresas passam a adotar estratégias ambientais de forma a

integrar o desenvolvimento econômico com a variável ambiental, conservando os

recursos naturais e desestimulando as atividades nocivas ao meio ambiente. Apesar de

que no panorama brasileiro a visão ambiental no mundo das empresas é ainda muito

peculiar, porém torna-se de grande relevância expor as boas experiências que já vem

sendo adotadas por empresas internacionais.

Além dos produtos da Wal-Mart publicado na Revista Exame50

e já disposto no

tópico 1.3, tem-se ainda no mesmo diploma o exemplo da General Electric que acabou

determinando que todas as áreas da empresa deveriam engajar na criação de produtos

ambientalmente corretos. A lista de equipamentos e serviços que fazem parte do

programa verde da empresa, batizado de Ecomagination, passou de 17 para 60. Eles vão

de turbinas que emitem menos gases de efeito estufa a sistemas de automoção para

casas que visam reduzir o consumo de água e energia.

O israelense Shai Agassi fundou a Project Better Place, empresa que ele

pretende transformar na primeira distribuidora de energia elétrica para carros no mundo,

na intenção de criar o carro elétrico, algo mais conveniente e acessível, de forma a

causar menos impacto ambiental.

49

LEITE, José Rubens Morato; FILHO, Ney Barros Bello. Direito ambiental contemporâneo. Barueri,

SP: Manole, 2007. p. 51/52 50

DWECK, Denise; BARROS, Fernando Valeika de. Estratégia. Revista Exame. Edição 914, Ano 45,

Nº 5, 26/03/2008, p. 28

Page 35: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

34

Como exemplo de empreendimentos brasileiros, tem-se as empresas TerpenOil

que fabrica produtos de limpeza orgânicos e biodegradáveis à base de terpeno,

substância natural extraída de árvores como o pinus e de frutas cítricas, como laranja e o

limão; a fábrica Wisewood, empresa criada à menos de uma ano para transformar o lixo

em dormentes para trilhos de trem e cruzetas para postes de luz; a Superbac que

desenvolve e seleciona bactérias que podem ser usadas para eliminar os mais diferentes

tipos de resíduos; a Nemus especialista no plantio de teca e do eucalipto para a indústria

moveleira; a Floresta, empresa de cosméticos orgânicos à base de espécies brasileiras,

como açaí e andiroba; e por fim, a CBPAK que tem por objetivo fabricar embalagens

como uma fonte renovável, qual seja, o amido de mandioca.

Ainda como exemplo de grande avanço na mudança de estrutura empresarial em

âmbito de estratégia verde, tem-se a empresa Nokia, a maior fabricante de celulares no

mundo que vem adotando o mecanismo de reciclagem de aparelhos, de forma a reduzir

o impacto ambiental causado pelos mesmos.

Cumpre mencionar ainda o artigo da Revista Aquecimento Global51

que dispõe

sobre cinco soluções propostas pelos membros da Union of Concerned Scientists, como

forma de resolver o problema da mudança climática, quais sejam, construir carros e

veículos mais eficientes e econômicos, movidos a biocombustíveis e a célula de

hidrogênio que contribuem para diminuir drasticamente o nível de emissão de CO2 na

atmosfera, minimizando assim o efeito estufa; modernizar o sistema de produção de

energia elétrica, estimulando o uso e o desenvolvimento de fontes de energia limpa,

como eólica, solar, célula a combustível de hidrogênio, etc; Aumentar a eficiência

energética das casas, escritórios, hospitais e edifícios públicos, por meio de uso de

lâmpadas e eletrodomésticos, que consumam menos energia elétrica; Proteger as

florestas ameaçadas; Apoiar a capacidade inventiva, em outras palavras, consumir e

aplicar tecnologia limpas que será desenvolvida e aplicada, como no caso do Brasil, a

tecnologia de biocombustíveis, que está disponível para consumo.

51

BLANC, Claudio. Soluções, por favor! Entre as muitas discussões, veja o que é realmente possível

e eficaz em termos de medids par salvar o planeta. Revista Aquecimento Global. Ano I, nº 2, Editora

On Line, janeiro/2008, p. 48/53

Page 36: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

35

Através destas medidas, podemos constatar a relação, direta ou indiretamente,

que o uso de bens, produtos e serviços podem causar ao meio ambiente, tornando-se

assim plenamente relevante o uso de padrões sustentáveis seja na produção, seja no

consumo. É neste sentido, que a idéia contida neste trabalho ganha relevância

socioambiental, na perpetuação da existência de um controle prévio de impacto

ambiental como mecanismo de produção sustentável, visando proteger o meio

ambiente, bem como as presentes e futuras gerações.

3.2. O PAPEL DO ESTADO: PROPORCIONAR O ESTÍMULO À PREVENÇÃO

Apesar da atribuição de responsabilidade solidária entre o Estado e a sociedade

na consecução de atividades de proteção ao meio ambiente, cabe ao Poder Público uma

função de extrema importância na definição e execução de políticas econômicas que

estejam em harmonia com a proteção do meio ambiente.

Sendo assim, caberá ao Estado através da execução de incentivos econômicos,

estimular as empresas a adotarem políticas de qualidade ambiental, contribuindo para o

equilíbrio de forças existente entre o desenvolvimento econômico e a proteção do meio

ambiente. Cumpre assim explanar formas de incentivos do Poder Público para execução

de medidas de proteção e preservação ambiental, abaixo relacionadas.

3.2.1. Gestão Ambiental Empresarial

A gestão ambiental empresarial ou também conhecida como gestão empresarial

ambiental trata-se de uma ação compartilhada entre as empresas e o Poder Público de

forma a garantir o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia

qualidade de vida, para usufruto das presentes e futuras gerações.

Page 37: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

36

Édis Milaré52

prefere a denominação de gestão ambiental empresarial, posto que

consagra um caráter constitucional de responsabilidade compartilhada, pairando acima

de interesses econômicos das empresas. Em contrapartida, retrata que a forma gestão

empresarial ambiental denota-se um caráter mais econômico.

Na esfera privada, as empresas e outras entidades já possuem normas específicas

que presidem a estruturação e o seu funcionamento, como por exemplo, as normas ISO

14.000 e ISO 9.000, que resguardam, sob o aspecto ambiental, não apenas os produtivos

e seus insumos, mas também os processos produtivos.53

Assim sendo, em cumprimento às exigências normativas, as empresas passam a

adotar tecnologias favoráveis ao meio ambiente no setor de produção, de forma a

compatibilizar o desenvolvimento econômico com a proteção ambiental, monitorando

preventivamente os riscos ambientais.

Atualmente, há alguns exemplos de gestão ambiental empresarial que visam

favorecer simultaneamente o meio ambiente e a atividade empresarial, quais sejam, o

Sistema de Gestão Ambiental – SGA que pressupõe ou inclui a Política Ambiental da

organização, pelo qual a entidade se posiciona perante as necessidades ambientais,

indicando suas prioridades e programas; consagrando critérios de avaliações no impacto

ambiental do projeto sobre a flora e a fauna, exigência de compensações financeiras

para as populações afetadas pelo projeto, entre outros.54

Cumpre mencionar que, atualmente, vinte e sete instituições financeiras já

aderiram ao princípio do equador como forma de gestão ambiental empresarial, dentre

elas, três são de grupos brasileiros: o Unibanco, o Itaú e o Bradesco. Édis Milaré55

esclarece que o mais importante objetivo deste forma de gestão ambiental é o benefício

para o meio ambiente, de modo a assegurar a sustentabilidade do empreendimento

através do rigoroso processo de avaliação ambiental.

52

MILARÉ, Edis. op. cit. p. 305. 53

Ibiden. p. 299 54

Ibiden. p. 301/302 55

Ibiden. p. 303

Page 38: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

37

Ainda como forma de gestão ambiental empresarial, tem-se o Índice de

Sustentabilidade Empresarial – ISE, a responsabilidade social e ambiental e a gestão

participativa do patrimônio florestal. O ISE trata-se de um indicativo de ações

empresariais com os melhores desempenhos em todas as dimensões que medem a

sustentabilidade empresarial, considerando os preços dos últimos negócios efetuados

pela BOVESPA.56

A responsabilidade social e ambiental é vista como um retorno de

natureza ético-moral àquela determinada organização empresarial, repercutindo em uma

imagem positiva perante o público consumidor.

Por fim, a gestão participativa do patrimônio florestal encontra-se regida pela

Lei 11.284/2006, esta conhecida como a Lei da Mata Atlântica.57

Esta forma de gestão

proporciona uma oportunidade das empresas, através de incentivos econômicos,

participarem na proteção ambiental deste Bioma nacional.

Sendo assim, percebe-se que o mundo empresarial vem despertando a

consciência ambiental para as suas responsabilidades, equilibrando os crescimentos

econômicos, tecnológicos e financeiros com o movimento de preservação e proteção

ambiental.

3.2.2. Incentivos voltados à melhoria da qualidade ambiental

O artigo 5º, V da Lei 6.938/81 prever o incentivo na produção e na instalação de

equipamentos não poluentes, bem como, na criação ou absorção de tecnologias voltadas

para a melhoria da qualidade ambiental. Neste contexto, algumas ações passaram a ser

promovidas, adotando a denominação de “produção mais limpa” e prevenção à

poluição”58

, cada uma desta norteiam diferentes estratégias ambientais.

A produção mais limpa busca conservar as matérias-primas e eliminar ou reduzir

os resíduos tóxicos, poluentes. Mais precisamente, no que tange aos produtos, visa

reduzir os impactos negativos causados desde a extração da matéria-prima até a sua

56

MILARÉ, Edis. op.cit.p.303 57

Ibiden. p. 303/304 58

Ibiden. p. 437/439.

Page 39: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

38

disposição final no mercado consumidor. Já a prevenção à poluição implica na prática

de qualquer tecnologia com a finalidade de reduzir ou eliminar substâncias poluentes,

seja na modificação de equipamentos, na reformulação de produtos, na substituição de

matéria-prima, no gerenciamento administrativo ambiental, entre outros.59

Como exemplo de programas federais voltados para a melhoria da qualidade de

vida, tem-se o PROCONVE, visando a controlar a poluição atmosfera causada por

veículos, e o Silêncio, visando a controlar a poluição sonora urbana. Como programas

estaduais, retratamos o exemplo da Companhia de Tecnologia de Saneamento

Ambiental – CETESB no Estado de São Paulo e a Auto-Avaliação para Licenciamento

Ambiental – ALA, instituía no Estado da Bahia.

Por fim, resta mencionar sobre os projetos ecológicos ou também denominados

de Ecologia Industrial60

, vistos como mais uma forma de incentivo a preservação

ambiental e melhoria da qualidade de vida, objetivando principalmente o

reaproveitamento dos resíduos de forma a não devolvê-los a natureza.

3.2.3. Incentivos fiscais

A Constituição Federal prever exaustivamente o rol de tributos que compõe o

sistema tributário nacional, todavia não institui qualquer imposto direto de natureza

ambiental, restando assim o exame de outros instrumentos de política fiscal que poderá

atuar no alcance do desenvolvimento econômico sustentável.61

Sendo assim, na

ausência de previsão constitucional, a utilização de impostos na proteção ambiental

poderá ser realizado por meio de concessão de incentivos fiscais.

Clecio Santos Nunes62

leciona que o mecanismo ideal não é a instituição de

novos tributos que conseguirá proteger e preservar o meio ambiente, e sim abrindo mão

de parte da carga tributária, através do incentivo fiscal que se conscientizará o poluidor

da questão ambiental.

59

MILARÉ, Edis. op.cit. p. 437/438. 60

Ibiden. p. 442. 61

NUNES, Cleucio Santos. Direito Tributário e Meio Ambiente. São Paulo. Dialética, 2005. p. 145/161 62

Ibiden. p. 161

Page 40: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

39

Diante da economia brasileira que já detém de uma elevada carga tributária,

torna-se ineficiente a idéia de criação de novos tributos para preservação do meio

ambiente, haja vista que a única vítima será a própria sociedade que suportará as

conseqüências da majoração desses tributos, como por exemplo, no aumento do preço

final dos produtos disponíveis no mercado consumidor. É neste sentido, que adoção de

incentivos fiscais trará resultados mais eficientes, visto que estimulará o empreendedor

a aderir novas técnicas de preservação.

O incentivo fiscal é possível em qualquer modalidade de tributos, seja nos

impostos sobre consumo e produção (ICMS, ISS e IPI), impostos sobre a propriedade

(IPVA, IPTU e ITR) e imposto sobre a renda (IR).63

Apenas para ilustrar a forma como se dá o incentivo fiscal perante os impostos

federais, estaduais e municipais, cumpre trazer a baila algumas exemplificações. Em

relação ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o Decreto-Lei 755/93 institui

incentivos fiscais, estabelecendo diferentes alíquotas sobre veículos movidos a álcool,

como conseqüência de aumentar o consumo de combustível limpo e menos poluente. O

Imposto sobre a propriedade territorial rural (ITR) é isento de pagamento para as áreas

com florestas sob regime de preservação permanente e áreas com florestas plantadas

para fins de exploração madeireira.64

Sabe-se que a isenção é uma forma de incentivo

fiscal, pelo qual o contribuinte é dispensado do pagamento total de um determinado

tributo.

O Imposto de Renda (IR) concede incentivos fiscais a pessoas jurídicas e físicas

que apóiem ou se dediquem a projetos de proteção ao meio ambiente sem fins

lucrativos. Como exemplo de impostos estaduais, tem-se o Imposto sobre circulação de

mercadorias e prestação de serviços de comunicação e transporte intermunicipal e

interestadual (ICMS) e o Imposto sobre produtos industrializados (IPI), os quais,

possuem incentivos fiscais no que tange ao princípio da seletividade das mercadorias e

serviços que respeitem as normas de proteção ambiental. Já o Imposto sobre a

63

AMARAL, Paulo Henrique do. Direito Tributário Ambiental. São Paulo. Editora Revista dos

Tribunais, 2007. p. 193. 64

Ibiden. p. 196/197

Page 41: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

40

propriedade de veículos automotores (IPVA) consagra incentivos fiscais quando da

aquisição de veículos movidos a combustível limpo. No que tange aos impostos

municipais, retrata-se o Imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS/ISSQN) que

poderá incentivar ou isentar serviços destinados a proteção e preservação ambiental. O

Imposto sobre propriedade predial e territorial urbana (IPTU) é dotado de incentivos

fiscais quando o proprietário cumpre a função social da propriedade, no exercício da

preservação do meio ambiente.65

Cumpre mencionar que a maioria dessas exemplificações encontra-se em fase

de proposta de lei, portanto ainda não são efetivamente executadas apenas norteiam

idéias a serem aprovados como forma de incentivos fiscais em prol a defesa do meio

ambiente.

Paulo Henrique do Amaral66

destaca a ocorrência atual de incentivo financeiro

no Brasil, quando os Estados aumentam seu repasse da receita tributária do ICMS para

os Municípios (Artigo 58, IV da Constituição Federal), quando estes desenvolvem

projetos e programas voltados à tutela do meio ambiente, acarretando assim o aumento

no orçamento desses Municípios que cumprem tais exigências.

Desta forma, podemos constatar a participação do Poder Público em prol a

defesa do meio ambiente, seja na gestão ambiental empresarial em paralelo a atuação

das empresas, seja através de incentivos fiscais, visando alcançar um meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem como, o desenvolvimento sustentável na melhoria da

qualidade de vida para toda a sociedade, em respeito ao princípio da defesa do meio

ambiente.

Por fim, cumpre mencionar que apesar da existência de instrumentos oficiais e

compulsórios de controle ambiental, como a avaliação de impacto ambiental, o

licenciamento de atividades potencialmente poluidoras, o financiamento e auditoria

ambiental, outros mecanismos econômicos, de caráter voluntário, deverão surgir de

forma a incentivar o setor produtivo no desenvolvimento sustentável, ao invés de

reprimirem a má conduta ambiental.

65

AMARAL, Paulo Henrique do. op.cit. p. 198/201 66

Ibiden. p. 201/202

Page 42: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

41

3.2.4 Projeto de Lei de cunho ambiental

A título de informação atual sobre os projetos de lei, menciona-se a matéria

publicada na Revista Exame67

titulada de “A pressão chega a Brasília”, declarando que

atualmente cerca de oitenta projetos de lei de cunho ambiental tramitam na Câmara dos

Deputados e no Senado. Um dos principais debates refere-se à Política Nacional de

Resíduos Sólidos, proposta pelo Ministério do Meio Ambiente, que consagra a criação

de mecanismos voltados a reciclar produtos depois de consumido, e reintroduzir na

cadeia produtiva.

O Ministério de Minas e Energia coordena uma nova proposta de adotar

incentiva a população de baixa renda para descartar suas geladeiras antigas e adquirir

novas que consomem menos energia, mais econômicas, estimulando assim a produção

de eletrodomésticos e a economia energética. Inspirado também pelo princípio da

eficiência energética, o deputado Arnon Bezerra criou um projeto de lei para proibir a

fabricação, a venda e uso de lâmpadas incandescentes no país a partir de 2010.

Por fim, mais um projeto que compõe as principais discussões no Congresso é o

relativo ao programa de fomento às energias renováveis, estimulando a fabricação,

utilização e comercialização de equipamentos para a produção de biomassa e energia

eólica e solar por meio de um fundo financiado com royalties cobrados da indústria

petrolífera.

Através dessas informações, pode-se vislumbrar a preocupação em promover o

avanço das leis ambientais brasileiras à frente de questões ambientais urbanas

causadoras de impacto negativo, e que, portanto precisam ser combatidas através de

inúmeros mecanismos, os quais encontram-se idealizados nos respectivos projetos de

lei.

67

PIMENTA, Ângela. A pressão chega a Brasília. Revista Exame. Edição 914, Ano 45, Nº 5,

26/03/2008, p. 43/45

Page 43: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

42

3.4.1 Projeto de Lei 7.554/06

De grande valia ao tema aqui proposto, trazemos a baila o Projeto de Lei

7.554/0668

, em tramitação na Câmara dos Deputados, de autoria do Deputado Bernardo

Ariston (PMDB-RJ). Este projeto de lei versa sobre a criação do Selo de Qualidade

Ambiental (SQA), cabendo ao Ministério do Meio Ambiente assumir a função de

concedê-lo às empresas que desenvolvem suas atividades em prol a defesa do meio

ambiente, bem como, estabelecer os padrões e critérios para sua concessão.

O projeto de Lei 7.554/06 foi apensado ao projeto de Lei 707/03, do deputado

Luiz Bittencourt (PMDB-GO), que institui o Selo Verde para atestar a qualidade dos

produtos e suas origens, bem como, os cuidados com a proteção ao meio ambiente.

Ambos encontram-se em fase de conclusão e serão analisadas pelas comissões de

Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; de Meio Ambiente e

Desenvolvimento Sustentável; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e

de Cidadania.

O Deputado Bernardo Ariston sustenta a necessidade de outros mecanismos

econômicos, de caráter voluntário, que podem incentivar o setor produtivo a praticar e

promover o desenvolvimento sustentável, retratando como exemplo, o Prêmio Ford de

Conservação Ambiental, Prêmio Expressão Ecologia, Prêmio Melhores Práticas

Ambientais do Nordeste, e o Prêmio Super Ecologia, promovido pela Revista

Superinteressante, entre outros. Consagrando ainda que alguns Estados Brasileiros

editaram leis instituindo o Selo Verde como certificado de qualidade ambiental, como o

Rio de Janeiro (Lei 1844/91), Paraná (11450/96), Amapá (363/97), Pará (6251/99),

Mato Grosso (7851/02), Ceará (13304/03) e São Paulo (11878/05).

Qualquer instrumento que tenha por objetivo principal a preservação e proteção

do bem ambiental fortalece a essência do direito fundamental ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, a valorização da dignidade humana no exercício de

solidariedade em busca da sadia qualidade de vida, bem como, no alcance da justiça

68

RESENDE, Adriana. Proposta institui selo de qualidade ambiental. Disponível em:

http://www2.camara.gov.br/internet/homeagencia/materias.html?pk=97455. Acesso em 03 nov. 2008.

Page 44: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

43

ambiental. Neste sentido, todas as formas de implementações são dotadas de extrema

valia, podendo ser aplicadas solidariamente com o mesmo objetivo sócio-ambiental.

3.3 UMA NOVA PROPOSTA: EPIA – PRODUTOS

Diante da ausência de regulamentação jurídica tendente à implementação do

controle de impacto ambiental no desenvolvimento de produtos ambientalmente

sustentáveis, surge a proposta concebida de maneira implícita no decorrer deste trabalho

de instituição do Estudo Prévio do Impacto Ambiental – EPIA, voltado ao mercado

consumidor e adstrito aos processos de fabricação e produção de mercadorias.

Esta prática inovadora repercutiria na esfera empresarial como forma

compulsória de implementar o instrumento de avaliação de impacto ambiental no

desenvolvimento de produtos prestes a serem disponibilizados ao mercado consumidor,

repercutindo a harmonização do consumo de produtos e a garantia da proteção

ambiental.

Conforme tratado ao longo do trabalho, a prática do EPIA de produtos permitirá

o efetivo cumprimento dos preceitos constitucionais resguardados perante os princípios

da defesa do meio ambiente, do consumidor, da precaução e da prevenção, quando o

desenvolvimento de produtos passarem a ter como limite a preservação do meio

ambiente, exteriorizado por meio do controle do impacto ambiental exercido sobre esses

produtos, impedindo, em casos de impactos negativos, maiores danos.

Em princípio o controle do impacto ambiental seria uma prática recomendável a

todos e quaisquer produtos. No entanto, tornar essa prática obrigatória de forma geral

poderia implicar em sérios problemas de ordem financeira e prática, como ônus

insuportáveis aos fabricantes e consumidores, dificuldade de fiscalização, mudanças

abruptas de padrões de qualidade, equipamentos de implementação de tecnologia limpa,

entre outros.

Ademais, outro problema a ser considerado é a manutenção da competitividade

dos produtos, cabendo lembrar que o princípio do equilíbrio não pressupõe a

Page 45: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

44

prevalência do interesse ambiental sobre o interesse econômico, mas a compatibilização

desses dois pólos.

Não sendo possível estabelecer esses requisitos a todos os produtos,

precisaríamos, portanto, de um critério técnico e objetivo para eleger quais os produtos

sobre os quais impor esse requisito. O critério mais apropriado parece ser do

enfrentamento ao processo de aquecimento global, maior preocupação ambiental dos

países e organismos internacionais na atualidade.Neste sentido, invoquemos o estudo da

Union of Concerned Scientists, já mencionado no tópico 3.1, que aposta em soluções

práticas corporativas investindo no desenvolvimento de produtos menos agressivo ao

clima do planeta, além de tratar da necessidade de mudança de comportamentos

individuais, ou seja, hábitos de consumidores.

A Lei 6.938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente) instituiu o

Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA como órgão consultivo e

deliberativo, impondo em seu artigo 8º, I, a competência de estabelecer normas e

critérios para o licenciamento, como também, padrões de controle do meio ambiente.

Neste sentido, o CONAMA é o órgão competente para determinar a realização do

Estudo do Impacto Ambiental, assim como procedeu mediante a expedição da

Resolução 001, de 23 de janeiro de 1986, a qual consagra a implementações da

avaliação do impacto ambiental aos empreendimentos públicos e privados.69

Desta forma, a proposta de regulamentar o Estudo Prévio do Impacto Ambiental

dos produtos, alcançando os processos de fabricação e produção, alcançará eficácia

jurídica mediante a criação de uma nova resolução a ser expedida pelo CONAMA, a

qual terá como objetivo principal tratar a responsabilidade empresarial voltada ao uso de

tecnologias limpas a fim de produzir/fabricar produtos ambientalmente sustentáveis.

A preocupação atual em preservar o meio ambiente encontra-se respaldada nas

esferas jurídica, econômica e social, as quais acabam repercutindo em atuações

individuais e coletivas, porém nem sempre regulamentadas pelo nosso ordenamento

jurídico, e que por tal razão acaba não sendo obrigatoriamente executadas. Sendo assim,

69

MACHADO, Paulo Leme. op.cit. p. 201/202

Page 46: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

45

a ausência desta regulamentação, propicia resultados positivos em grande lapso

temporal, haja vista que parte da sociedade conscientemente atuará em benefício do

meio ambiente, e outra parte não, tornando-se, verdadeiramente, contra-postas.

Acredita-se ainda que toda e qualquer atividade que exerça a sua responsabilidade

perante o meio ambiente ecologicamente equilibrado será vista com enorme

importância, haja vista tratar-se de um bem de uso comum do povo e de

imprescindibilidade a sadia qualidade de vida.

Por tais razões que a idéia exposta no decorrer deste trabalho ganha aprovação

ética perante a criação de uma nova Resolução do CONAMA que venha regulamentar o

EPIA destinada aos produtos integrantes ao mercado consumidor, conforme se pode

vislumbrar no projeto formatado constante no anexo.

Page 47: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

46

COSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento sustentável é um desafio do mundo atual e a valorização

desse conceito fica expressa no fato de o constituinte haver estabelecido como um dos

princípios jurídicos do direito ambiental, previsto no artigo 225 da Constituição Federal,

pelo qual prever ao Poder Público e a sociedade o dever de defender e preservar o meio

ambiente para as presentes e futuras gerações, norteando as ações efetuadas pelo Estado

e em igual medida pelos entes privados.

Por tal razão, o presente trabalho tem como cerne a responsabilidade sócio-

ambiental das empresas na perpetuação do desenvolvimento sustentável, utilizando

como instrumento de concretização a avaliação prévia do impacto ambiental dos

produtos prestes a serem disponibilizados ao mercado consumidor. Conforme exposto

ao longo do trabalho, a expansão do desenvolvimento econômico não poderá estar

caucada apenas em benefícios concorrenciais ou financeiros, visando egoisticamente

ganhar mercado. O desenvolvimento econômico tem como limite a defesa do meio

ambiente, proporcionando ao Poder Público interferir, se necessário, nas atividades

econômicas quando estas não assegurarem o desenvolvimento sustentável, ou seja, a

manutenção do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Partindo desta premissa, a tendência inovadora da prática do controle do impacto

ambiental e do desenvolvimento sustentável de produtos para o consumo consagra uma

mediação do desenvolvimento econômico com o interesse voltado a proteção e

preservação ambiental, em estrito cumprimento aos preceitos constitucionais.

Cumpre trazer a baila que a atuação em esfera privada repercute ainda aos

consumidores, por serem os personagens principais responsáveis pela aquisição de

produtos agressivos ao meio ambiente, e por tal razão a sua conscientização sócio-

ambiental torna-se fundamental para o resultado efetivo, devendo ser praticada no

momento de escolha dos produtos avançados ecologicamente, desprovidos de interesses

financeiros e tecnológicos. Os consumidores, portanto, no exercício de cidadania e

solidariedade devem buscar limitar a sua escolha de produtos em prol a preservação do

Page 48: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

47

meio ambiente, trazendo benéficos a si mesmo e as futuras gerações, de forma a

respeitar o princípio do desenvolvimento sustentável.

Portanto, diante do desafio e preocupação mundial do desenvolvimento

sustentável, o mercado consumidor deve ser interpretado sempre em favor da proteção

ambiental, propiciando reflexos imediatos e favoráveis à saúde, segurança e um patamar

mínimo de qualidade de vida para toda a sociedade.

Ocorre que, na ausência de regulamentação jurídica que implique na obrigação

empresarial de adotar estratégias sustentáveis no desenvolvimento de produtos para o

consumo, as empresas poluidoras se tornam impunes, e aquelas que atuam em respeito

ao meio ambiente são a elas equiparadas, e desta forma, tornam-se completamente

desestimuladas a adotar tais mecanismos protetivos. Sendo assim, a necessidade de

regulamentar o exercício obrigatório de condutas favoráveis ao meio ambiente, torna-se

imprescindível, haja vista que sem “lei” não há obrigação.

Sendo assim, o trabalho conclui com a idealização de uma nova proposta de

regulamentação do Estudo Prévio do Impacto Ambiental – EPIA voltada ao mercado

consumidor. Os produtos ficaram submetidos à avaliação de impacto ambiental, sujeitos

a aprovação ou reprovação, em conformidade ao grau de impacto negativo ocasionado

ao meio ambiente. Tratando-se de competência do Conselho Nacional do Meio

Ambiente – CONAMA, a proposta do estabelecimento do EPIA alcançará eficácia

jurídica perante a criação de uma nova resolução expedida pelo CONAMA, atribuindo à

necessidade obrigatória da realização do EPIA de determinados produtos atrelados ao

gravame do aquecimento global.

A intenção é estritamente buscar alternativas em prol a defesa do meio ambiente,

visto que a opção pelo respeito aos valores ambientais e a utilização responsável dos

recursos por toda a cadeia de produção garante sempre o desenvolvimento de relações

de consumo ambientalmente sustentáveis, para as presentes e futuras gerações.

Page 49: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

48

REFERÊNCIAS

Livros:

AMARAL, Paulo Henrique do. Direito Tributário Ambiental. São Paulo. Editora

Revista dos Tribunais, 2007.

ANDRADE, Fernando Gomes de.Direitos Sociais e Concretização Judicial: Limites e

Possibilidades. 1º ed. Recife. Nossa Livraria, 2008.

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Júris,

2001.

BOBBIO, Noberto. A era dos direitos; tradução de Carlos Nelson Coutinho;

apresentação de Celso Lafer – Nova ed. Rio de janeiro, Elsevier, 2004.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos Humanos fundamentais. 8º ed. São

Paulo. Saraiva, 2006.

FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo:

Saraiva, 2005.

LEITE, José Rubens Morato; FILHO, Ney Barros Bello. Direito ambiental

contemporâneo. Barueri, SP: Manole, 2007.

MACHADO, Paulo Leme. Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores,

2005.

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: teoria geral, comentários aos

arts. 1º a 5º da Constituição da república Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência.

8º ed. São Paulo: Atlas, 2007.

NUNES, Cleucio Santos. Direito Tributário e Meio Ambiente. São Paulo. Dialética,

2005.

Page 50: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

49

SILVA, José Afonso da. Direto Ambiental Constitucional. São Paulo: Editora

Malheiros, 2004.

SILVA, Vicente Gomes da. Legislação ambiental comentada. Belo Horizonte: Fórum,

2004.

TAVARES, André Ramos. Direito Constitucional Econômico. São Paulo: Método,

2003.

Periódicos:

BLANC, Claudio. Soluções, por favor! Entre as muitas discussões, veja o que é

realmente possível e eficaz em termos de medidas par salvar o planeta. Revista

Aquecimento Global. Ano I, nº 2, Editora On Line, janeiro/2008.

DWECK, Denise; BARROS, Fernando Valeika de. Estratégia. Revista Exame. Edição

914, Ano 45, Nº 5, 26/03/2008.

HERSOG, Ana Luiza. A reação do gigante. Revista Exame. Edição 914, Ano 45, Nº 5,

26/03/2008.

PIMENTA, Ângela. A pressão chega a Brasília. Revista Exame. Edição 914, Ano 45,

Nº 5, 26/03/2008.

Sites:

FELICIANO, Guilherme Guimarães. Tutela Processual dos direitos humanos.

Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7810. Acesso em 09 nov.

2008.

Instituto Akatu. Consumo Consciente. Disponível em: <http:// www.akatu.org.br/consumo

consciente/oque>. Acesso em: 03 out. 2008.

SOARES, Inês Virgínia Prado. Meio ambiente e relação de consumo sustentável. [S.l.:

s.n.],[2007?],p.10.Disponívelem:<www.prsp.mpf.gov.br/cidadania/deconSocCulult/mei

Page 51: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

50

o%20ambiente%20e%20rela%E7ao%20consumo%20sustentavel.pdf>. Acesso em: 20

mar. 2008.

SOUZA, Ricardo. Anotações de direitos humanos. Disponível em:

<www.ricardosouza.com.br/41501/index.html> Acesso em 16 ago. 2008.

Page 52: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

51

ANEXO

Page 53: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

52

RESOLUÇÃO CONAMA Nº

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - IBAMA, no uso das atribuições

que lhe confere o artigo 8º, I da Lei 6.938/81, para efetivo exercício das

responsabilidades que lhe são atribuídas, e considerando a necessidade de se

estabelecerem as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes

gerais para uso e implementação do Estudo Prévio de Impacto Ambiental, como um dos

instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, RESOLVE:

Artigo 1º - Realizar-se-á estudo prévio de impacto ambiental para o desenvolvimento de

produtos dispostos nessa Portaria, aplicando-se, subsidiariamente, a Resolução

CONAMA n.º 001, de 23 de janeiro de 1986.

Parágrafo único – para os fins desta lei, aplicam-se os conceitos dispostos no artigo 1º

da Resolução CONAMA n.º 001, de 23 de janeiro de 1986.

Artigo 2º - Dependerá obrigatoriamente de elaboração de estudo de impacto ambiental

com a emissão do seu respectivo relatório de impacto ambiental – RIMA, a serem

submetidos à aprovação do órgão estadual competente e do IBAMA, em caráter

supletivo, o licenciamento dos processos de fabricação e produção dos seguintes

produtos nacionais e importados:

I – Carros e Veículos;

II – Lâmpadas;

III – Eletrodomésticos;

IV – Biocombustíveis;

V - Produtos de limpeza;

VI – Embalagens;

Parágrafo único – Caberá as empresas, no uso de suas atribuições, aplicar aos processos

de fabricação/produção dos produtos identificados, tecnologias sustentáveis de forma a

Page 54: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

53

dirimir os problemas ambientais de mudança climática, bem como, prevenir danos ao

meio ambiente e à sociedade.

Artigo 3º - O estudo de impacto ambiental dos produtos, além de atender à legislação,

em especial os princípios e objetivos expressos na Lei n.º 6.938, de 31 de agosto de

1981 – Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes

gerais:

I – Avaliar sistematicamente os impactos ambientais provenientes dos produtos

identificados no artigo 2º;

II – Identificar qual estratégia sustentável adotada pela empresa, bem como, quais as

alternativas tecnológicas utilizadas durante a fabricação e/ou produção do respectivo

produto;

III - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação no

mercado consumidor, e sua compatibilidade.

Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental o órgão

estadual competente, ou o IBAMA ou, quando couber, o Município, fixará as diretrizes

adicionais que, pelas peculiaridades do processo de fabricação e/ou produção, as

conseqüências ambientais, inclusive os prazos para adaptação da empresa na utilização

de estratégias sustentáveis.

Artigo 4º - O estudo de impacto ambiental dos produtos desenvolverá, no mínimo, as

seguintes atividades técnicas:

I - Diagnóstico ambiental da produção/fabricação de um determinado produto prestes a

serem disponíveis no mercado consumidor;

II - Análise dos impactos ambientais do produto, discriminando: os impactos positivos e

negativos (benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a médio e longo

prazos, temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade; a distribuição dos ônus

e benefícios sociais.

III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, avaliando a eficiência

de cada uma delas.

Page 55: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

54

IV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos

positivos e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados).

Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental será realizado por equipe multidisciplinar

habilitada, independentemente da modalidade do produto e da empresa, e que será

responsável tecnicamente pelos resultados apresentados.

Artigo 6º - Correrão por conta do responsável pela empresa todas as despesas e custos

referentes á realização do estudo de impacto ambiental.

Artigo 7º - O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá as conclusões do estudo

de impacto ambiental e conterá, no mínimo:

I - Os objetivos do processo de fabricação de um determinado produto, suas

características e quais as adaptações tecnológicas ambientais adotadas pela empresa;

II – O resultado da avaliação dos impactos ambientais provenientes do específico

produto em análise;

III - A descrição dos prováveis impactos ambientais na sua disponibilização ao mercado

consumidor, prestes a serem largamente adquiridos pela sociedade;

IV - A caracterização da qualidade ambiental futura para toda a sociedade proveniente

do estudo prévio do impacto ambiental, tratando-se de uma medida preventiva ao meio

ambiente;

V - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos

impactos negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de

alteração esperado;

VI - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;

VII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de

ordem geral).

Artigo 8º- O estudo prévio do impacto ambiental sobre produtos terá como finalidade

principal o alcance da minimização de impactos negativos ao meio ambiente, voltados

Page 56: Estudo de impacto ambiental de produtos   Polliana Moura

55

ao gravame do aquecimento global, buscando aprovar apenas produtos saudáveis ao

consumidor e ao meio ambiente, bem como, obrigando as empresas

produtoras/fornecedoras a se adaptarem as regras adstritas nesta Resolução.

Artigo 9º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.