estudo de caso crianca com baixo rendimento escolar psicopedagogia

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ESTUDO DE CASO – CRIANÇA COM BAIXO

RENDIMENTO ESCOLAR

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................03

2. ENCAMINHAMENTO.........................................................................................05

3. ENTREVISTA INICIAL COM O PROFESSOR...................................................08

4. ANAMNESE........................................................................................................12

5. EOCA..................................................................................................................19

6. TÉCNICAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS...........................................25

7. ANÁLISE DO MATERIAL ESCOLAR.................................................................43

8. ANÁLISE DA LECTO-ESCRITA.........................................................................45

9. PROVAS DO DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO...................................................48

10. HIPÓTESE E SÍNTESE DIAGNÓSTICA..........................................................76

11. PLANO DE INTERVENÇÃO.............................................................................78

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12. ENTREVISTA DEVOLUTIVA...........................................................................79

13. CONCLUSÃO...................................................................................................82

14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................85

ANEXOS

1. INTRODUÇÃO

O Diagnóstico Psicopedagógico é o processo pelo qual é analisada a

situação do aluno com dificuldades dentro do contexto escola e de sala de aula,

com a finalidade de proporcionar aos professores orientações e instrumentos que

permitem modificar o conflito manifestado.

Fernandez (1990) afirma que o diagnóstico, para o terapeuta, deve ter a

mesma função que a rede para um equilibrista. É ele, portanto, a base que dará

suporte ao psicopedagogo para que este faça o encaminhamento necessário.

É um processo que permite ao profissional investigar, levantar hipóteses

provisórias que serão ou não confirmadas ao longo do processo recorrendo,

para isso, conhecimentos práticos e teóricos. Esta investigação permanece

durante todo o trabalho diagnóstico através de intervenções e da "[...] escuta

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psicopedagógica [...]", para que "[...] se possa decifrar os processos que dão

sentido ao observado e norteiam a intervenção" (BOSSA, 2000, p. 24).

Na Epistemologia Convergente todo o processo diagnóstico é estruturado

para que se possa observar a dinâmica de interação entre o cognitivo e o afetivo

de onde resulta o funcionamento do sujeito (BOSSA, 1995, p.80). Conforme

Weiss, “o objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios

e os obstáculos básicos no Modelo de Aprendizagem do sujeito que o impedem

de crescer na aprendizagem dentro do esperado pelo meio social” (2003, p. 32).

O diagnóstico possui uma grande relevância tanto quanto o tratamento. Ele

mexe de tal forma com o paciente e sua família que, por muitas vezes, chegam a

acreditar que o sujeito teve uma melhora ou tornou-se agressivo e agitado no

decorrer do trabalho diagnóstico. Por isso devemos fazer o diagnóstico com

cuidado observando o comportamento e mudanças que podem ocorrer no sujeito.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 – Objetivo Geral

• Mostrar a importância do diagnóstico psicopedagógico no fracasso escolar.

1.1.2 – Objetivos Específicos

• Revisar a literatura pertinente aos distúrbios de aprendizagem.

• Intervir em um caso de dificuldade de aprendizagem.

• Apresentar planos de intervenção nas dificuldades de aprendizagem

diagnosticadas.

1.2 JUSTIFICATIVA

A Psicopedagogia é uma área de conhecimento e de atuação dirigida pelo

e para o processo de aprendizagem humana. Seu objeto de estudo é o ser, que

aprende da realidade, e constrói o seu conhecimento, aprendendo. Visto que o

conhecimento é construído natural e continuamente pelo sujeito, no seu viver, não

sendo exclusividade do ambiente escolar, já que ocorre simultaneamente com o

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processo de vida, a Psicopedagogia pode auxiliar várias áreas da atividade

humana.

Segue a seguir, o diagnóstico psicopedagógico realizado com a paciente

JSC. Fruto de atendimentos individuais, pesquisas e muitas observações.

É mais um exemplo, que justifica positivamente que todo fracasso escolar

deve ser investigado, trabalhando assim a prevenção de maiores dificuldades

posteriores.

1.3 METODOLOGIA

O Diagnóstico Psicopedagógico vem sendo desenvolvido em situações

onde a demanda provém do professor, na maioria das vezes, ou da própria

família.

O Diagnóstico é dinâmico e flexível. È situacional.

De acordo com a Queixa recebida pela professora utilizou-se a seguinte

metodologia para trabalhar o diagnóstico de J.S.C: encaminhamento; entrevista

Inicial com o Professor; anamnese com a mãe; EOCA; Técnicas Projetivas

Psicopedagógicas; análise do material escolar; observação no ambiente escolar;

avaliação da lecto-escrita; provas operatórias; hipótese e síntese diagnóstica e

plano de intervenção.

2. ENCAMINHAMENTO

Segundo Ellis (1995, p.56) “a constituição de uma intervenção

psicopedagógica segue orientações específicas, porém, não há modelos rígidos

para tal.” Importante ter em mente as finalidades traçadas ao processo, bem

como uma visão bem exercitada. O processo, uma vez iniciado pela apresentação

de uma proposta de inclusão em educação, seguiu uma trajetória de grupo

operativo e construção de um projeto político pedagógico. O presente trabalho

toma este processo como exemplo, denotando o papel do psicopedagogo frente

às demandas educacionais futuras. Para a implementação da proposta de

trabalho, a articulação com a metodologia de pesquisa-ação confiou maior

produtividade ao mesmo; apontando a intervenção cotidiana como a mais eficaz.

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Page 6: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Algumas vezes é possível, à própria escola, avaliar e dar o atendimento

necessário a uma criança que vem apresentando problemas de aprendizagem.

Quando este é o caso estamos diante de uma situação privilegiada que evita uma

sobrecarga ao aluno e oferece possibilidades de que os resultados obtidos se

mantenham, porque o problema foi trabalhado na situação em que eles ocorrem.

Entretanto, na maioria das vezes, isto não acontece, porque nem sempre a

escola dispõe dos recursos necessários para a avaliação e o tratamento do

problema da criança, tornando-se necessário o encaminhamento às clínicas

especializadas.

A decisão a ser tomada dependerá das características do caso e das

informações que a escola dispõe.

Assim:

a) Se a avaliação feita pela escola for capaz de descartar a hipótese de

existência de distúrbios de aprendizagem, pois o problema parece se

caracterizar como exclusivamente orgânico (deficiência auditiva ou visual,

por exemplo) ou de ordem emocional, o encaminhamento deve ser feito

para um profissional ou instituição competente para resolver cada um

destes tipos de problema.

b) Se, por outro lado, a avaliação da escola não for conclusiva ou se existir

forte suspeita de distúrbios de aprendizagem, o encaminhamento ideal

seria para uma psicopedagoga. Se, por algum motivo, o atendimento da

criança por este tipo de clínica for impossível, uma segunda possibilidade

seria encaminhar a criança para o profissional da área que parece mais

comprometida.

Em qualquer um dos encaminhamentos acima referidos, as informações

fornecidas pela escola são de valor inestimável para a compreensão do problema

da criança. Neste contexto destaca-se o papel do professor, que graças ao

conhecimento técnico que possui aliado ao conhecimento da criança que está

sendo encaminhada, é insubstituível na obtenção de informações essenciais.

Todos os demais profissionais da escola - professor de educação física, de artes,

de computação etc. - que tenham contato com essa criança, devem ser

estimulados a falar sobre ela.

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As informações dadas pela escola permitem, não somente um

conhecimento mais aprofundado da criança, mas, também, a inserção de seu

problema num contexto que envolve o método empregado pela escola, a classe

em que a criança está, as atividades e expectativas da escola para os alunos.

A consulta aos pais também é fundamental porque eles podem fornecer

dois tipos de informações:

a) Histórico da vida da criança: condições da gestação e do nascimento,

episódios relevantes de sua vida, doenças que teve etc.

b) Informações sobre a vida atual, mudanças de comportamento percebidas,

amizades que tem e como são essas relações etc.

A ênfase, muitas vezes, colocada no desempenho da criança pode dar a

impressão de que seu progresso ou o seu fracasso depende exclusivamente dela.

Entretanto, isso não é verdade. O problema pode estar na relação entre suas

características e o método empregado pela escola, nas características da

professora, nos seus colegas de classe, e muitos outros. Portanto, uma criança

que apresente problemas de aprendizagem não exime o professor da busca de

condições adequadas ao seu repertório. Pelo contrário, as crianças que

apresentam problemas de aprendizagem geralmente são capazes de aprender se

as condições forem favoráveis.

Finalmente, vale lembrar que, embora o componente emocional possa não

ter provocado o problema que a criança apresenta, ele contribui para o

agravamento dos distúrbios. Portanto, o tipo de relacionamento estabelecido entre

professores e alunos e entre os alunos da classe poderá criar boas condições

para o aprendizado da mesma forma que, também, pode dificultá-lo

JCS, apresentava um rendimento escolar muito baixo, preocupada com a

situação a professora RMJ encaminhou -a para uma avaliação psicopedagógica.

3. ENTREVISTA INICIAL COM O PROFESSOR

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Serve para ver a princípio a queixa do professor em relação ao

desenvolvimento do aluno. Um questionário é montado de acordo com a queixa,

com a finalidade de levantar as primeiras hipóteses do problema em evidência.

A entrevista inicial é exatamente aquela que busca razões, investiga o

percurso do saber e quando necessário, faz os encaminhamentos dos casos com

base na conclusão de avaliação.

Nessa entrevista inicial geralmente, se reúnem o psicopedagogo e a

criança, tendo como objetivos a compreensão da queixa, a captação das relações

e expectativas centradas na aprendizagem escolar, a expectativa em relação à

atuação do psicopedagogo, a aceitação e o engajamento da criança no processo

diagnóstico e o esclarecimento do que é um diagnóstico psicopedagógico.

No entanto, como em qualquer entrevista, é necessário criar um clima de

confiança para que haja a livre circulação de sentimentos e informações a fim de

que se possam fazer observações que possibilitaram alcançar os objetivos

esperados.

No início, apresentamo-nos como estagiários em um serviço

psicopedagógico. Explicamos o tipo de trabalho que realizamos e comunicamos

os dias em que estaremos na escola, para nos encontrarmos. Esclarecemos o

motivo que nos levou a solicitar a sua presença e o “problema” que está

ocorrendo na escola. Comunicamos que estamos presentes para colaborar na

tentativa da solução ou melhora da dificuldade apresentada.

Para desenvolvimento da entrevista inicial, após essa apresentação

solicitamos ajuda para entender melhor e, tentar encontrar soluções para suas

dificuldades. Em um segundo momento, solicitamos explicações sobre a situação

e composição da família. Estes dados são importantes para conhecer a família, o

seu funcionamento e o tipo de convivência, tentando deduzir qual é o papel da

criança dentro dessa família, expectativas geradas por ela, exigências que lhe são

feitas, tipos de relações que se estabelecem, etc.

Como terceiro momento, fixamos a nossa atenção nos dados da criança,

sua escolaridade, atividades extra-classes, ocupações, etc.

Os objetivos que propomos nesta entrevista inicial, geralmente são:

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- informar que, como estagiários psicopedagogos, estamos tentando

colaborar com o professor em determinados aspectos que o

preocupam.

- obter informação e dados sobre a situação familiar, ver o tipo de

relações que se estabelecem e o papel da criança dentro dessas

instituições.

- Informar e explicar qual a situação da criança na escola, tanto

sobre aspectos de rendimento escolar como sobre aspectos de

relacionamento e comportamento.

- solicitar a colaboração, da criança e da família, para poder

compreender melhor a dificuldade apresentada.

Segundo Bassedas (1996, p. 87)

[...] cabe destacar que a configuração e o tratamento da entrevista variam muito, tanto em função da idade da criança como do motivo pelo qual ela nos foi encaminhada. Em geral, os alunos maiores entendem melhor a problemática que vivem e são mais capazes de comunicar as suas vivências ao psicopedagogo, ao mesmo tempo que se mostram mais receptivos no momento em que é feita alguma indicação.

O registro fiel dessa entrevista é muito importante porque ela se presta a

muitas distorções. Ao longo do processo diagnóstico, às vezes, os dados vão se

modificando, bem como as hipóteses e conclusões do psicopedagogo. Quando se

constrói uma boa relação, é comum que, em outra oportunidade, sejam revelados

dados esquecidos nesse primeiro momento. Os dados colhidos devem ser

comparados e relacionados com o material obtido através da anamnese, testes,

provas, outras entrevistas, outros instrumentos. O fundamental é que, ao final

dessa entrevista, a criança saia mais tranqüila e menos ansiosa, sem perder de

vista a necessidade de continuidade do diagnóstico.

3.1 Entrevista com o professor

Data: Outubro de 2004

A - Desde que série o aluno freqüenta esta escola?

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P - Desde a 1ª série.

A - já repetiu? S ( ) N( x )

A - Quais suas preocupações em relação a este aluno?

P - JSC . tem apresentado um baixo rendimento escolar e se distrai com

facilidade. E é muito briguenta.

A - Como é o relacionamento da criança? Com o professor?

P - Demonstra medo com facilidade. Não gosta de ser cobrada mas demonstra

apatia pela minha pessoa.

A - Com os colegas?

P - Relacionamento com dificuldade, brigas, ciúmes, insegurança em especial não

gosta de sua cor.

A - Com os outros adultos da escola?

P - Relacionamento bom. Às vezes, quer ajudar naquilo que não foi chamada.

A - Participa de grupos?

P - Sim. Mesmo que seja para ser oposta a equipe.

A - Como é a participação nas atividades extra-classe?

P - Desiste fácil, não gosta de desafio, quando a atividade exige mais. Chega a

ficar deprimida, revoltada, auto-estima baixo.

A - como você percebe este aluno na sala de aula?

(M)distração (F organização (R) expressão oral (R) escrita (I) pontualidade nas

tarefas ( F ) raciocínio.

A - O que você espera deste trabalho psicopedagógico?

P - Uma ajuda para a aluna JSC.

Legenda:

A - aplicador

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P - professor

Análise - Entrevista Inicial

Aluno: Será uma criança na listagem de déficit de atenção?

Escola: como ajudar este professor a vencer esta etapa em seu trabalho?

4. ANAMNESE

“Na anamnese verifica-se com os pais como se deu essa construção e as

distorções havidas no percurso” (WEISS, 2003, P.106).

A anamnese é uma das peças fundamentais deste quebra-cabeça que é o

diagnóstico. Através dela nos serão reveladas informações do passado e

presente do sujeito juntamente com as variáveis existentes em seu meio.

Observaremos a visão da família sobre a história da criança, seus preconceitos,

expectativas, afetos, conhecimentos e tudo aquilo que é depositado sobre o

sujeito.

[...] toda anamnese já é, em si, uma intervenção na dinâmica familiar em relação à "aprendizagem de vida". No mínimo se processa uma reflexão dos pais, um mergulho no passado, buscando o início da vida do paciente, o que inclui espontaneamente uma volta à própria vida da família como um todo (WEISS., 2003, p. 63).

Segundo Weiss (2003, p.61), o objetivo da anamnese é "colher dados

significativos sobre a história devida do paciente”. Consiste em entrevistar o pai

e/ou a mãe, ou responsável para, a partir disso, extrair o máximo de informações

possíveis sobre o sujeito, realizando uma posterior análise e levantamento do 3º

sistema de hipóteses.

Para isto é preciso que seja muito bem conduzida e registrada.

O psicopedagogo deverá deixá-los à vontade "... para que todos se sintam com

liberdade de expor seus pensamentos e sentimentos sobre a criança para que

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possam compreender os pontos nevrálgicos ligados à aprendizagem" (WEISS,

2003, p.62).

Deixá-los falar espontaneamente permite ao psicopedagogo avaliar o que

eles recordam para falar, qual a seqüência e a importância dos fatos. O

psicopedagogo deverá complementar ou aprofundar.

Conforme Weiss (2003, p.64):

[...] em alguns casos deixa-se a família falar livremente. Em outros, a depender das características da família, faz-se necessário recorrer a perguntas sempre que necessário. Os objetivos deverão estar bem definidos, e a entrevista deverá ter um caráter semidiretivo.

A história vital nos permitirá "[...] detectar o grau de individualização que a

criança tem com relação à mãe e a conservação de sua história nela" (PAIN,

1992, p. 42).

É importante iniciar a entrevista falando sobre a gravidez, pré-natal,

concepção. Weiss nos informa que, "A história do paciente tem início no momento

da concepção. Os estudos de Verny (1989 apud WEISS, 2003, p.64) sobre a

Psicologia pré-natal e perinatal vêm reforçar a importância desses momentos na

vida do indivíduo e, de algum modo, nos aspectos inconscientes de

aprendizagem.

Algumas circunstâncias do parto como falta de dilatação, circular de

cordão, emprego de fórceps, adiamento de intervenção de cesárea, "costumam

ser causa da destruição de células nervosas que não se reproduzem e também

de posteriores transtornos, especialmente no nível de adequação perceptivo-

motriz" (PAÍN, 1992, p. 43).

É interessante perguntar se foi uma gravidez desejada ou não, se foi aceito

pela família ou rejeitado. Estes pontos poderão determinar aspectos afetivos dos

pais em relação ao filho.

Posteriormente é importante saber sobre as primeiras aprendizagens não

escolares ou informais, tais como: como aprendeu a usar a mamadeira, o copo, a

colher, como e quando aprendeu a engatinhar, a andar, a andar de velocípede, a

controlar os esfíncteres, etc. A intenção é descobrir "em que medida a família

possibilita o desenvolvimento cognitivo da criança - facilitando a construção de

esquemas e deixando desenvolver o equilíbrio entre assimilação e acomodação

[...]" (WEISS, 2003, p.66).

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É interessante saber sobre a evolução geral da criança, como ocorreram

seus controles, aquisição de hábitos, aquisição da fala, alimentação, sono etc., se

ocorreram na faixa normal de desenvolvimento ou se houve defasagens.

Se a mãe não permite que a criança faça as coisas por si só, não permite

também que haja o equilíbrio entre assimilação e acomodação. Alguns pais

retardam este desenvolvimento privando a criança de, por exemplo, comer

sozinha para não se lambuzar, tirar as fraldas para não se sujar e não urinar na

casa, é o chamado de hipoassimilação (PAÍN, 1992), ou seja, os esquemas de

objeto permanecem empobrecidos, bem como a capacidade de coordená-los.

Por outro lado há casos de internalização prematura dos esquemas, é o chamado

de hiperassimilação (PAÍN, 1992), pais que forçam a criança a fazer determinadas

coisas das quais ela ainda não está preparada para assimilar, pois seu organismo

ainda está imaturo, o que acaba desrealizando negativamente o pensamento da

criança.

Sobre o que acabamos de mencionar Sara Paín nos diz que é

interessante saber se as aquisições foram feitas pela criança no momento

esperado ou se foram retardadas ou precoces. "Isto nos permite estabelecer um

quociente aproximado de desenvolvimento, que se comparará com o atual, para

determinar o deterioramento ou incremento no processo de evolução" (1992, p,

45.)

A mesma autora aconselha insistirmos "[...[ nas modalidades para a

educação do controle dos esfíncteres quando apareçam perturbações na

acomodação [...]" (PAIN, 1992, p. 42).

Weiss nos orienta também saber sobre a história clínica, quais doenças,

como foram tratadas, suas conseqüências, diferentes laudos, seqüelas.

A história escolar é muito importante, quando começou a freqüentar a

escola, sua adaptação, primeiro dia de aula, possíveis rejeições, entusiasmo,

porque escolheram aquela escola, trocas de escola, enfim, os aspectos positivos

e negativos e as conseqüências na aprendizagem.

Todas estas as informações essenciais da anamnese devem ser

registradas para que se possa fazer um bom diagnóstico.

Encerrada a anamnese, o psicopedagogo levantará o 3º sistema de

hipóteses. A anamnese deverá ser confrontada com todo o trabalho do

diagnóstico para se fazer a devolução e o encaminhamento.

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Page 14: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

4.1 Anamnese com a mãe

Nome da criança: J.S.C.

Idata de nascimento: 12/09/93

Grau de parentesco: Mãe

1 - Genetograma

Nome do pai: EM Idade: 43 anos

Nome da mãe: JC Idade: 30anos

Filhos e idades

( N ) abortos (N) Filhos mortos

2 - Composição atual/ Quem vive hoje na mesma:

Pai - Mãe - JSC e Irmão

3 - Dados sócio-econômicos

3.1 - casa própria ( X ) alugada ( ) cedida ( )

3.2 - Trabalho - A família tem um comércio em casa.

4 - Desenvolvimento da criança

4.1 - Passado

A . Concepção ocorreu tudo bem?

M. Não. Houve muito problema. Não foi planejado. O pai não assumiu o bebê.

A . A Gestação teve algum problema que merece destaque?

M. Sim. A mãe teve depressão e anemia na gravidez. Sinal de aborto no quinto

mês.

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Page 15: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

A . O Parto foi normal ou cesariana?

M. Normal

A. Como foi a saúde da criança desde o nascimento até os dias de hoje?

M. O bebê nasceu com problema cardíaco. Saiu do hospital sem detectar o

problema. Após 20 dias a criança teve diarréia, foi encaminhada para o hospital e

descoberto o problema cardíaco.

Aos seis meses o bebê passou por um cateterismo que ajudou controlar a

respiração.

Aos dois anos de idade fez-se uma cirurgia cardíaca (a mãe não soube

explicar).

Aos dez anos a criança passou por outra cirurgia cardíaca e recebeu uma

válvula no coração.

A. Como era o sono do bebê?

M. Muito agitado. Chorava muito a noite. Tinha insônia

A. Ela Dormia bem durante a noite?

M. Não. Acordava com muita fome.

A. Como foi a alimentação no início?

M. Foi amamentado pela mãe até aos 3 anos e meio. Iniciou-se com a papinha

aos cinco meses. JSC tinha facilidade para se alimentar.

A .Linguagem:

M. Antes de um ano já falava algumas palavras.

• Aspecto Psicomotores:

A Criança engatinhou ? Sim ( X ) Não ( )

Caiu muito ? Sim( X ) Não ( ). Chorava muito.

A. Faz tratamento? Utiliza algum medicamento?

M . Tratamento cardíaco. Não faz uso de medicamento.

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Page 16: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

A. Comparação com os demais filhos.

M. Em relação ao irmão, JSC é mais agitada, tem uma saúde mais delicada,

chora fácil e demonstra muito ciúmes.

4.2 - ATUAL

1. Relacionamento com parentes e coleguinhas -

M. É líder dos mais novos. Rejeita liderar os colegas e primos mais velhos.

2. Vida escolar

M. Iniciou-se aos 6 anos, estudando na FUVAE de Varginha. Lá se sentia amada,

mas quando chegava em casa, resolvia imitar as limitações de algumas crianças.

Por iniciativa própria, tirei e resolvi transferir a criança para uma escola normal. A

adaptação foi excelente, aos oito anos a criança ingressou-se na 1ª série onde foi

alfabetizada, teve um bom êxito. Aos nove cursou a 2ª série. Aos dez anos devido

as diversas dificuldades de aprendizagem JSC foi reprovada. Sua maior

dificuldade se encontra na matemática.

A .Como é o seu estado emocional em casa?

M. JSC chora por motivos pequenos, demonstra ciúmes do irmão e do pai. È

muito indecisa, insegura e se sente rejeitada por todos e tudo. Gosta muito de

animais e tem muito medo do escuro.

Às vezes, parece estar de bem com todos. Quer ser solidária com os

vizinhos, pai, mãe, familiares em geral. Fica muito meiga e trabalhadeira.

Depois que tomou conhecimento de minha gravidez, se tornou rebelde,

chorando atoa e se isolando por qualquer motivo.

Quando fica nervosa, tem dificuldade para respiração e fica às vezes

roxinha.

• Vida Familiar:

A. Maiores dificuldades da família no momento.

M. O pai de JSC não tem comunicação com a mesma. Às vezes, o mesmo faz

uso de bebida alcóolica. A criança reclama a ausência do pai para a mãe.

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Page 17: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Entre os filhos e mãe já existe um relacionamento normal.

Finalizando:

A. Descreva resumidamente como está o quadro da criança hoje. Seu

comportamento, seus anseios, suas necessidades.

M . Insegura, ciumenta, deprimida.

3. O que a mãe gosta na criança?

M .Tudo.

4. O que a mãe não gosta na criança?

M. Da teimosia que ela tem.

5. Habilidades da Criança

M. Gosta muito de desenhar e cantar.

6. Expectativa em relação à criança. O que a mãe espera da criança?

M. Vê-la feliz na Escola, em casa enfim na vida.

7. Na opinião da mãe, quem pode ajudar esta criança?

M. A família, a medicina e a escola.

Análise

• Percepção do entrevistador:

a . Atividades da mãe durante a entrevista - Segura - calma.

b . Perguntas que teve dificuldade em responder - Sobre a concepção da filha.

c . Percepção que a mesma parece ter em relação à dificuldade do filho.

Culpa. Quer salvar a situação o mais rápido possível. Não percebe que

existem problemas patológicos definidos.

d . Aspectos que devem ser investigados ou aprofundados junto ao aluno: estado

emocional, neurológico e cognitivo.

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Page 18: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

5. EOCA

A realização da EOCA tem a intenção de investigar o modelo de aprendizagem do sujeito sendo sua prática baseada na psicologia social de Pichón Rivière, nos postulados da psicanálise e método clínico da Escola de Genebra (BOSSA, 2000, p. 44).

Para Visca, a EOCA deverá ser um instrumento simples, porém rico em

seus resultados. Consiste em solicitar ao sujeito que mostre ao entrevistador o

que ele sabe fazer, o que lhe ensinaram a fazer e o que aprendeu a fazer,

utilizando-se de materiais dispostos sobre a mesa, após a seguinte observação

do entrevistador: "este material é para que você o use se precisar para mostrar-

me o que te falei que queria saber de você" (VISCA, 1987, p. 72).

O entrevistador poderá apresentar vários materiais tais como: folhas de

ofício tamanho A4, borracha, caneta, tesoura, régua, livros ou revistas, barbantes,

cola, lápis, massa de modelar, lápis de cor, lápis de cera, quebra-cabeça ou ainda

outros materiais que julgar necessários.

O entrevistado tende a comportar-se de diferentes maneiras após ouvir a

consigna. Alguns imediatamente, pegam o material e começam a desenhar ou

escrever etc. Outros começam a falar, outros pedem que lhe digam o que fazer, e

outros simplesmente ficam paralisados. Neste último caso, Visca (1987, p.73) nos

propõe “empregar o que ele chamou de modelo de alternativa múltipla”, cuja

intenção é desencadear respostas por parte do sujeito. Visca (1987, p.73) nos dá

um exemplo de como devemos conduzir esta situação: "você pode desenhar,

escrever, fazer alguma coisa de matemática ou qualquer coisa que lhe venha à

cabeça [...]" .

No outro extremo encontramos a criança que não toma qualquer contato

com os objetos. Às vezes se trata de uma evitação fóbica que pode ceder ao

estímulo. Outras vezes se trata de um desligamento da realidade, uma indiferença

sem ansiedade, na qual o sujeito se dobra às vezes sobre seu próprio corpo e

outras vezes permanece numa atividade quase catatônica. .

Piaget, em Psicologia de la Inteligência, coloca que:

O indivíduo não atua senão quando experimenta a necessidade; ou seja; quando o equilíbrio se acha momentaneamente quebrado entre o

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meio e o organismo, a ação tende a reestabelecer este equilíbrio, quer dizer, precisamente, a readaptar o organismo... (PIAGET apud VISCA, 1991, p. 41).

De acordo com Visca, o que nos interessa observar na EOCA são "[...]seus

conhecimentos, atitudes, destrezas, mecanismos de defesa, ansiedades, áreas

de expressão da conduta, níveis de operatividade, mobilidade horizontal e vertical

etc.” (1987, p. 73).

É importante também observar três aspectos que fornecerão um sistema

de hipóteses a serem verificados em outros momentos do diagnóstico:

A temática - é tudo aquilo que o sujeito diz, tendo sempre um aspecto manifesto e outro latente.A dinâmica - é tudo aquilo que o sujeito faz, ou seja, gestos, tons de voz, postura corporal, etc). A forma de pegar os materiais, de sentar-se são tão ou mais reveladores do que os comentários e o produto.O produto - é tudo aquilo que o sujeito deixa no papel (VISCA, 1987, p. 74).

Visca (1987) observa que o que obtemos nesta primeira entrevista é um

conjunto de observações que deverão ser submetidas a uma verificação mais

rigorosa, constituindo o próximo passo para o processo diagnóstico.

É da EOCA que o psicopedagogo extrairá o 1º Sistema de hipóteses e

definirá sua linha de pesquisa.

5.1 - Inquérito

J, aqui estão estes materiais, tais como: Uma folha sulfite, uma folha com

linhas, uma régua, uma caneta, um lápis, um tubo de cola, um apontador, um

pedaço de folha de papel presente, uma revista e um marcador. Quero que você

me mostre o que você sabe fazer com estes materias. Pode criar do seu jeito.

5.2 Análise da EOCA

Logo que passei as regras para JCS, a mesma tomou contato com o

material e pouco se falou. Demonstrou maior interesse pelas figuras de bebês

encontrada. Onde faço ligação com a situação da gravidez de sua mãe. Gastou

19

Page 20: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

se 45% de seu tempo folheando a revista, abandonando os demais objetos

expostos para o uso.

Às vezes, me olhava assustada em especial quando resolveu cortar a

gravura de uma mulher grávida, retirando apenas o bebê. Tentava esconder o ato

de minha visão.

Observava bastante as páginas com gravuras de bebês e quando

encontrava demonstrava insatisfação em seu rosto. Concentrava-se pouco em

suas atividades. Quando deixava de olhar para as gravuras de bebês, sempre me

perguntava o que era para fazer mesmo?

Depois do recorte demonstrou-se cansada, desanimada. Sua coordenação

motora foi com muita dificuldade.

De repente, se levantou e disse que já havia terminado e foi logo se

retirando para o banheiro para lavar as mãos. Não fez uso dos demais materiais.

Perguntei se não ia usar outros materiais a mesma balançou a cabeça com

desprezo recusando os demais materiais.

Em seguida, pegou a caneta e resolveu subscritar uma das folhas,

colocando a data e o nome da cidade, repetindo uma atividade rotineira que

percebo acontecer em seu dia escolar.

Ao fazer a colagem colou primeiramente as gravuras de bebês, deixando o

centro da folha em branco, e finalmente descobriu que podia ainda colar outra

gravura de bebê e assim o fez.

Quando percebeu que não havia mais espaço na folha sem pauta,

resolveu colar na folha pautada a gravura de uma moça mas fez destaque que ao

lado tinha uma gravura de um bebezinho. Outras gravuras destacadas foram as

caixinha de guarda tudo de bebê disse ela.

De repente resolveu fazer um desenho

Usou os seguintes materiais: revistas, tesoura, cola, folha sulfite, folha com

pauta e a caneta.

Sugeri que me contasse uma história.

J, começou com pouca vontade, dizendo, era uma vez uma boneca que

morava em um cesto, ela era muito triste porque não tinha ninguém para

conversar, vivia solitária. Não tinha amigos, nem irmã . Ela vivia muito triste num

cesto.

20

Page 21: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Um dia, ela encontrou uma cobra muito feia, achou uma casinha que tinha

uma menina muito linda que parecia uma irmã. Achou um bebê num cesto

chorando , depois apareceu outro bebê dentro da barriga da mãe. Ela morava

numa casa mal assombrada. FIM! (disse ela)

5.3 Roteiro para a análise do comportamento

Aproximação Bom - logo teve iniciativa

Dubitativa

(pegar e largar o

material sem

planejamento

Não houve - a criança se concentrou mais em um

único material

Organização não houve

Material X Nível de

desenvolvimento

Não montou estratégia.

Plasticidade Demonstrou através das gravuras de bebês a

insegurança de receber o irmão.Rigidez Sim. Foi pouco criativa

Estereotipia Sim. Atividade repetitiva. Não buscou outras gravuras

para o recorte, repetindo então a gravura bebê.

MOTRICIDADE

Adequação fraca

Deslocamento

Geográfico

A criança permaneceu sentada

Preensão e manejo Segurou os objetos com dificuldade

21

Page 22: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Coordenação -

Mãos

Realiza atividades com as duas mãos, porém

lentamente.

Lateralidade normal

Movimentos

Involuntários

Às vezes, com a cabeça baixa, que poderá ser a falta

do uso do óculos que não teve.

Movimentos

bizarros

(Gentil)

Não percebido

Ritmo do

movimento

Lento para recorte e ao folhear a revista, rápido para

escrever e desenhar.Hipercinesia Não houve Hipocinesia Foi percebido no momento do recorteDuctibilidade normal

Criatividade Pouca

Tolerância à frustração Pouca ( X) Mundo Interno ( ) Mundo ExternoReação Demonstrava cansada, inquieta, insatisfeita com o

resultado.

ADEQUAÇÃO à REALIDADEJCS não atua de acordo com sua idade cronológica. Quanto a aceitação das Instruções houve dificuldades de interpretação entender com facilidade, mas houve aceitação dentro do seu limite de entendimento.

5.4 Análise da Verbalização da Criança

Síntese:

JCS, já iniciou a atividade com decisões definidas: Ex:" Vou recortar estes

bebês", embora um pouco insegura, onde sempre dizia que não ia conseguir,

houve algumas declarações negativas como: " sabia que eu nunca ganho"? Só

meu irmão ganha presentes. Os meninos sempre me põem apelido.

22

Page 23: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Análise:

Relacionando a parte cognitiva percebe-se que não houve criatividade,

repetiu situação escolar, demonstrou uma certa rejeição aos objetos da

aprendizagem (régua, caneta, lápis, apontador), selecionou apenas materiais

figurativos que ligava ao seu conflito interno. Não explorou os materiais

restantes.

Afetivo percebe-se que houve um desligamento da realidade quando JSC

encontrou aquilo que lhe encomodava internamente, a figura do bebê.

JSC demonstra viver conflitos internos, não está resolvido a situação perda

para a mesma.

Seu aspecto é de alguém com preguiça. Desiste fácil das coisas. Precisa

de estímulo constante

6. TÉCNICAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS

O diagnóstico psicopedagógico usa técnicas que trabalham com situações

relativamente pouco estruturadas, usando estímulos com grandes amplitude, até

mesmo ambíguos. As tarefas propostas, permitem uma diversidade de resposta

havendo, portanto, o livre jogo da imaginação, da fantasia, dos desejos. O

principio básico é de que a maneira do sujeito perceber, interpretar e estruturar o

material ou situação reflete os aspectos fundamentais do seu psiquismo. É

possível, desse modo, buscar relações com a apreensão do conhecimento como

procurar, evitar, distorcer, omitir, esquecer, algo que lhe é apresentado. Pode-se

detectar, assim, obstáculos afetivos existentes nesse processo de aprendizagem

de nível geral e especificamente escolar.

Como coloca Anastasi (1967), espera-se que os materiais do teste sirvam

como uma espécie de “tela” na qual o sujeito “proteja” suas agressões, seus

conflitos, seus medos, seus esforços, suas idéias características. Assim, os

aspectos do processo simbólico aparecem, nas produções gráficas, nos relatos

de história criadas, no uso do gesto e do próprio corpo nas dramatizações.

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Page 24: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Segundo Weiss (2001, p. 117):

O diagnóstico psicopedagógico usa técnicas projetivas que trabalham com situações relativamente pouco estruturadas, usando-se estímulos com grande amplitude, até mesmo ambíguos. As tarefas propostas permitem uma diversidade de respostas, havendo, portanto, o livre jogo da imaginação, da fantasia, dos desejos. O princípio básico é de que a maneira do sujeito perceber, interpretar e estruturar o material ou situação reflete os aspectos fundamentais do seu psiquismo. É possível, desse modo, buscar relações com a apreensão do conhecimento como procurar, evitar, distorcer, omitir, esquecer algo que lhe é apresentado. Podem-se detectar, assim, obstáculos afetivos existentes nesse processo de aprendizagem de nível geral e especificamente escolar.

O que se busca é descobrir como o sujeito usa seus próprios recursos

cognitivos a serviço da expressão de suas emoções, ante os estímulos

apresentados pelo psicopedagogo. O fundamental é a “leitura psicopedagógica”

dessas situações e produtos, para assim detectar o que está empobrecendo a

aprendizagem ou a produção escolar. Encontramos escolas que cometem o

terrível engano de considerar deficientes mentais alunos com graves problemas

emocionais.

Segundo Fernández (1990, p.220),

Ainda que as técnicas projetivas, que por vezes utilizamos tenham sido desenhadas com objetivos diferentes dos nossos, e a partir, inclusive, de fundamentos teóricos que não compartilhamos, cremos que mediante um uso mais heterodoxo e uma interpretação de acordo com nossa modalidade, podem trazer-nos com relativa rapidez dados sobre a articulação entre a elaboração objetivamente e a subjetivante.Para o diagnóstico dos problemas de aprendizagem, não levamos particularmente em conta os conteúdos expressos pela criança. Interessa-nos observar a modalidade com que a inteligência trata o objeto, reconhece-o, discrimina-o em sua própria legalidade, conecta-o à sua experiência e o utiliza adequadamente.

Detemo-nos em: analisar como os recursos cognitivos possibilitam a

organização da projeção, a expressão da dramática do sujeito e a comunicação

de suas angústias; observar o tipo de leitura da realidade.

Assim como dissemos anteriormente que não levamos em conta o

conteúdo da projeção, tampouco o fazemos com o tipo de objetos omitidos ou

evasivos em si. A omissão ou evasão de uma parte da realidade, pode dever-se a

um momento defensivo ante um objeto sentido como perigoso, sem indicar

necessariamente problema de aprendizagem.

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Page 25: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Pelo contrário, o sujeito que apresenta problema de aprendizagem,

costuma guardar sistematicamente um número restrito de objetos.

Por tal razão pretende-se buscar a significação da operação aplicada,

mais que a significação de cada objeto alterado.

De acordo com Pain in Fernández (1990, p.221),

Os problemas de aprendizagem caracterizam-se pelo mau serviço que lhe presta o pensamento na elaboração da situação e, reciprocamente, a perturbação que provoca no pensamento a quantidade de ansiedade que a prova desencadeia. Assim, encontramos omissão e confusão de objetos ou instâncias relevantes na situação apresentada.

Para registro do diagnóstico foi realizado vários momentos de técnicas

projetivas, como: desenho da figura humana, desenho da família, desenho da

dupla educativa, o dia do meu aniversário e imagine por que.

6.1 Desenho da figura humana

O desenho da figura humana, o sujeito projeta a sua imagem ou

esquema corporal, seus impulsos, suas ansiedades, seus conflitos enfim sua

personalidade e sua interação com o meio ambiente.

Conforme a orientação original de Karen Machover (1949), utiliza-se uma

folha de tamanho ofício, mais lápis preto nº 2 e uma borracha. As instruções para

que o sujeito desenhe uma pessoa são dadas oralmente.

a) inquérito:

1) É um homem, uma mulher, um menino, ou uma menina?

J. Uma menina.

2) Quantos anos têm?

J. 10 anos.

3) Quem é?

J. Tassiele ( amiga)

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Page 26: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

4) O que está fazendo?

J. Penteando o cabelo

5) Onde está?

J. Na casa dela.

6) Em que está pensando?

J. Está pensando no aniversário da professora.

7) Em que série está?

J. 3ª série.

8) O que ele(a) quer ser?

J. Quer ser advogada.

9) Está alegre ou triste? Por quê?

J. Alegre. Porque hoje é o dia mais feliz da vida dela, é o aniversário da

professora.

10) O que a preocupa mais?

J. O aniversário da professora, porque ela queria fazer um bolo para a professora.

11) Quando ela se irrita?

J. Quando os meninos que estudam com ela, pois eles chamam ela de dentuda.

12) O que as pessoas dizem dela?

J. Que ela é bonita, inteligente, esperta, cheirosa, trabalhadeira, ajuda a mãe,

gosta de passear na praia, ela mora no Rio de Janeiro e gosta da mãe, do pai, da

irmaozinho e da irmanzinha que vai nascer.

13) O que ela mais gosta de fazer?

J. Brincar de boneca, nadar com as amigas, jogar vôlei, gosta de estudar e

desenhar.

14) O que o(a) deixa mais triste?

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Page 27: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

J. Quando os meninos brigam com ela. Batem nela, corta o cabelo dela e põe

apelido nela de dentuça. E na casa dela o que deixa ela mais triste é quando o

irmaozinho dela ganha brinquedo e ela não.

15) O que o(a) deixa mais alegre?

J. A Escola dela, porque ela gosta muito da professora dela, da diretora e dos

colegas.

16) O que ele(a) mais quer da vida?

J. Ser feliz. Brincar, ser amiga de todos. Ela quer ir para a 4ª série, mas com a

mesma professora.

17) Quem ele(a) lhe lembra?

J. A mãe. Porque a mãe é muito carinhosa.

18) Você gostaria de ser como ele(a)? Por quê?

J. Sim. Porque ela é muito bonita.

História da Pessoa desenhada

Um dia triste

Uma vez, uma menina muito triste, andava na rua cansada, trabalhando

pajeando o neném seu irmão. Ela gostava de passear nas calçadas e de repente

apareceu um ladrão muito feroz e matou ela.

De repente chegou a polícia, levou o ladrão para a cadeia e a menina foi

para o hospital. Quando a mãe dela viu, ficou muito brava, porque ela saiu na rua

muito triste. FIM!

Análise:

Na representação da figura humana, JCS, projeta situações imaginárias no

meio em que convive, servindo como uma válvula de escape para os seus

conflitos internos e refletindo na somatização do seu quadro clínico. Este meio

(no real) por sua vez se apresenta frustrante e inadequado para sua mudança.

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Page 28: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

6.2 Desenho da família

O uso do desenho em um diagnóstico psicopedagógico aproveita uma

forma da criança expressar-se espontaneamente, satisfazendo seus desejos de

atividade lúdica.

O desenho torna-se um meio útil para a criança exprimir-se livremente. O

desenho da família, particularmente, permitirá que ela projete as tendências e seu

inconsciente e, assim, poderá nos revelar os verdadeiros sentimentos que nutre

pelos seus.

O desenho da família realizando alguma atividade também revela as

relações da criança no núcleo familiar, as dificuldades na separação, no

crescimento. É uma técnica que permite a projeção da personalidade global,

consciente e inconsciente, e, por outro lado, é bastante estruturado para permitir a

análise da personalidade por comparação com resultados experimentais

fornecidos por outros sujeitos. Nos permite em tempo breve, observar como cada

um se localiza dentro do grupo; alguns omitem a si mesmos ou um irmão ou os

pais ou um deles; colocam-se muitas vezes maiores ou menores do que

realmente são em relação aos outros, chegando até mesmo a colocar duas

famílias. A análise conjunta desses “retratos”, geralmente na primeira sessão nos

fornece dados diagnósticos, dinâmicos, de impacto, etc.

Procedimento:

Entregar uma folha de sulfite, lápis preto e borracha

1) Desenhe para mim uma família.

2) Desenhe para mim uma família em que apareça alguém que não esteja bem.

3) Desenhe para mim uma família que você gostaria de Ter.

4) Desenhe para mim a sua família

Inquérito Desenho da Família :

1ª Proposta

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1) Desenhe para mim uma família.

Para o 1º desenho J. se demonstrou insegura, inibida. Embora passei com

clareza a proposta inicia, l pouco J. assimilou meu pedido.

A aluna não tem noção de família, questão confirmada nos demais

desenhos.

No término do desenho "1" teve dúvida quanto ao último personagem,

nomeando-o como primeiro. È interessante ressaltar que J. se dedicou bastante

no primeiro personagem o qual foi nomeado como sendo a própria, já para último

personagem desta etapa registrou menor, não coloriu, não colocou mãos mas

quando perguntei quem era aquele personagem, entrou em contradição e me

respondeu, ser ela.

Quando questionei o fato, a mesma demonstrou insegurança e falou que

havia errado nos nomes, justificando que o primeiro personagem fosse sua

madrinha.

Não fiz correção do fato, somente perguntei quem era sua madrinha e J.

me respondeu não conhecê-la, é madrinha de batizado. Não soube me explicar o

nome da madrinha e justificou o caso dizendo que a mesma morava na roça.

Personagens desenhados:

1) era ela própria. No final fazia contorno forte neste personagem.

2) Irmão de seis anos.

3) Prima que mora na roça.

4) A tia mãe da prima.

5) A mãe grávida. ( mencionou que o bebê era uma menina.)

6) O pai

7) Ela própria outra vez ( Quando percebeu que entrara em contradição, resolveu

nomeá-la como a madrinha).

Análise:

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Page 30: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

J. demonstrou insegurança, imaturidade, é uma criança deprimida,

cansada, tensa, medrosa não tem noção de família. Conflito interno, imaturidade

emocional, insegurança, medo de perder o seu espaço, o qual não descobriu

ainda.

2ª Proposta

Desenhe para mim uma família em que apareça alguém que não esteja bem.

Usando a estratégia anterior "JCS" sempre desenhava iniciando pela

cabeça indo até os pés e depois voltava aos detalhes.

"JCS" desenhou três personagens, sendo três mulheres nomeando-as

como Amanda, Camila e Ana.

Quem é está família?

R. A família de Amanda, respondeu "JCS" . É a Amanda , a Camila e a Ana.

Em seguida pedi que me falasse um pouquinho mais sobre está família, e"

JCS" continuou dizendo que a mãe é a Patrícia, e ela é brava, agitada e não tem

marido, suas filhas são Amanda e a Camila que está na barriga. A mãe está

grávida do namorado. Ele vai ser o padrasto das meninas.

Propus que circulasse a pessoa que estava sofrendo mais naquela família.

"JCS" circulou a personagem Ana. Perguntei porque Ana estava sofrendo mais, e

"JCS" me respondeu que era porque seu pai havia morrido. Perguntei qual era a

idade de Ana e "JCS" respondeu que era doze anos. Continuei indagando o que

lhe deixava mais triste, e ela respondeu que era não ter um pai.

O que precisa acontecer para que Ana fique feliz? "JCS" respondeu que

era ganhar uma boneca, pois assim ela vai esquecer tudo disse "JCS" e ela não

vai emprestar a boneca para ninguém.

Análise:

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Page 31: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Sem noção de família, insegura, tensa JCS retratando sua insatisfação

com o seu mundo real. Seu conflito interno demonstrado mais uma vez, contribui

para que JCS apenas sonha com um viver menos conflitante.

3 ª Proposta

Desenhe para mim a família que você gostaria de ter.

Ao iniciar o desenho usando a mesma técnica, olhou para o desenho da

cabeça e logo se queixou e apagou tudo. Depois, Iniciou o desenho como de

costume, iniciava-se na cabeça e descia até os pés, logo voltava para os detalhes

do rosto.

História do desenho

1º) Natália (irmã)

2º) Diogo (Pai)

3º) Sabrina (irmã)

Assim que JCS terminou sua explicação sobre os personagens, intervi

perguntando se esta família não tinha mãe, JCS sem demonstrar nenhuma

mudança me explicou que sim, a mãe naquela família estava trabalhando em sua

terra natal. Perguntei-lhe o que era terra natal e JCS me respondeu que é uma

cidade. Perguntei-lhe como era a mãe desta família, JCS me respondeu que era

loira, bonita, boazinha, ela viajou para longe porque lá tinha emprego. Novamente

intervi perguntando-lhe se sua presença não fazia falta para aquelas crianças e

JSC me respondeu que elas já estavam acostumada, e elas eram grandes

demais para ficarem triste.

Análise:

JSC não tem referência de família. Apresenta oscilação de

comportamento, conflito interno.

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Page 32: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

4ª Proposta

Desenhe para mim a sua família.

JCS, suspirou como cansada olhou para mim e me perguntou se

realmente tinha que ser a família dela. Respondi que sim, e de repente, com o

seu semblante mudado começou novamente a tarefa. Disse que desta vez, ia

desenhar mais rápido pois eu até já conhecia a família dela mesmo, então podia

ser breve.

1º Jéssica

2º Pai ( Sem as mãos)

3º mãe (sem o nariz)

4º Ederson (irmão de 6 anos)

5º Tia Sinéia

Quando terminou olhou para mim e disseque já estava pronto. Perguntei

sobre os personagens e JCS explicou como a ordem já descrita acima. Fiz uma

intervenção perguntando porque não apareceu o bebê na barriga da mãe, JCS

me respondeu que o bebê estava dormindo ele já havia nascido.

Terminado os desenhos perguntei a J. o que ela mostrou no desenho.

1. Elogiei discretamente o desenho. Está bom.

2. Conte-me a história dessa família.

Era uma vez, uma família muito feliz. Morava na cidade e ficava a noite

inteira estudando.

De repente, apareceu um monte de bichos estranhos que era muito feio.

Aí, os pesquizadores também apareceram e mataram os bichos. Eles todos

morreram. FIM.

A Onde eles estão?

J. Em casa.

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Page 33: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

A . O que estão fazendo?

J. Pensando na escola.

A . Diga-me quem é esta primeira pessoa que você desenhou, o que ela é nesta

família, sua idade.

J. Sou eu. Uma filha de 10 anos de Idade.

• Para saber as preferências afetivas:

A. Qual é o mais bonzinho nesta família?

J. Eu

A. Qual é o menos bonzinho nesta família?

J. Meu irmão

A. Qual é o mais feliz?

J. Meu irmão porque ele ganha presente

A. Qual o menos feliz?

J. Eu. Porque não ganho brinquedo.

A. E você nesta família, quem você prefere?

J. Minha mãe.

A. Suponha que você faça parte dessa família, quem você seria?

J. Eu mesma. Eu faço parte.

A. Suponha que esta família vai fazer um passeio de carro. No carro só há lugar

para três pessoas e na família há 4 pessoas. Quem ficará de fora?

J. Meu irmão. Porque ele é chato.

Análise Geral:

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Page 34: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

JCS, não tem seqüência lógica de pensamento, imatura, conflituante.

JCS, não tem noção de família, não descobriu seu papel no contexto

familiar, sente-se rejeitada, insegura, carente, medo de perder o seu espaço para

alguém. O ambiente familiar é conflituante, contribuindo para a sua instabilidade

emocional. Por não ser o centro desatenções (estudo egocêntrico) JCS se

vitimiza diante das situações cotidiana.

6.3 Desenho da dupla educativa

“Durante a realização de qualquer desenho, é fundamental se observar o

processo de produção: a postura corporal, a motricidade fina, o ritmo como

trabalha, a forma de elaborar as figuras e a cena” (WEISS, 2001, p.121).

Somente a “paixão de ensinar” demonstrada pelo professor pode conduzir

o aluno à “paixão de aprender” na sala de aula.

“Esta relação professor-aluno está, ao nosso ver, especificada num

contexto psicopedagógico chamando a atenção para a relação ensinante-

aprendente” (PAIN, 1986 e FERNANDEZ, 1990).

No desenho da dupla educativa solicitamos que a criança desenhe uma

pessoa que ensina e uma que aprende. Após é feito algumas perguntas e,

sugerido que ela formule uma história envolvendo esses dois personagens, sendo

oral ou escrita. É possível interpretar relações ensinante-aprendente, o papel

vivido na escola, em sala de aula, as rejeições às situações escolares, ameaça

da figura do professor, relacionamento com os colegas, etc.

Para Drouet (1995, p.12) “Na escola o professor deve estar sempre atento

às etapas do desenvolvimento do aluno, colocando-se na posição de facilitador da

aprendizagem e calcando seu trabalho no respeito mútuo, na confiança e no

afeto.”

Objetivo: Interpretar relações ensinante-aprendente, o papel vivido na escola, na

turma, as rejeições às situações escolares, a ameaça da figura do professor.

Material: folha sulfite, lápis preto e borracha.

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Page 35: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Instruções: Pedir a criança que desenhe na folha uma pessoa que ensina e outra

que aprende.

Procedimento:

Logo que recebeu as instruções dadas por mim, JCS me perguntou se

podia desenhar a professora e o quadro da sala, respondi que poderia fazer do

jeito que achasse melhor.

Logo foi procurando uma régua e então sugeri que fizesse sem régua.

Em seguida desenhou um quadro e neste alguns exemplos de cálculos

matemáticos.

Seu semblante tenso demonstrava a preocupação e o medo pela atividade.

Fiquei surpresa percebendo que a direita do quadro JSC separou um

espaço com a escrita "Nomes". Simbolizando seu dia a dia, uma vez que é

comum registrar todos os dias os nomes dos indisciplinados no período de aula.

Desenhou a professora com uma vareta em mãos, mostrando o quadro.

Outro retrato de autoritarismo numa aula com pouco espaço para construir.

Ao finalizar a tarefa proposta, comecei o inquérito.

Inquérito:

1. O que está acontecendo aí?

J. A professora ensinando tabuada

2. Quem são essas pessoas?

J. A professora Regina e eu.

3. Qual a idade de cada uma?

J. Eu tenho 11 anos e a professora Regina 40 anos.

4. Onde estão?

J. Na escola

5. O que significa a palavra "nomes" no cantinho do quadro?

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Page 36: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

J. Castigo, sem recreio. Para quem faz bagunça e briga.

6. Já foi anotado o seu nome? Perguntei.

J. Sim.

7. Por que? O que aconteceu? Não soube responder. Rejeitou a resposta.

Conte-me uma história sobre esse desenho

Era uma vez, uma professora boazinha, ela trabalhava como professora

numa escola, dava aula para a 3ª série, (pensou, pensou triste)era tão bom

estudar lá, mas ela só gostava de estudar português, matemática não. FIM!

Observação do desempenho:

S(X) N( ) demonstrou compreensão da instrução?

S(X) N( ) mostrou independência na execução da tarefa?

S( ) N(X) solicitou ajuda ou fez perguntas durante a execução?

S( ) N(X) demonstrou tranqüilidade ao realizar a tarefa?

Análise do aplicador:

A figura do Professor para a criança está como o dono do saber, e alguém

autoritário. JCS demonstra conflito nesta relação aprendente - ensinante, não há

vínculo de amizade. O mesmo não é referência afetiva para JCS.

Na história do desenho "Dupla Educativa" , JCS deixa claro seu mundo

imaginário, não o real quando ressalta a afetividade com professora.

Apresenta oscilação no comportamento e imaturidade emocional.

6.4 Imagine o porquê

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Page 37: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Esta técnica projetiva, é uma forma de sondagem da criança através de um

relato verbal. Onde estaremos percebendo sua relação com a escola, com o

professor, suas expectativas junto aos pais, deveres, medos, desejos e o

significado do aprender.

No entanto, como depende da relação da criança com um processo de

aprendizagem, esta técnica é realizada com crianças na idade escolar, ou seja, a

partir de sete anos.

No inquérito é necessário fazer um joguinho da imaginação com a criança,

como se ela imaginasse uma pessoa e imaginasse o que essa pessoa irá fazer.

Portanto, para registro do relato o psicopedagogo deve ter em mãos a folha

com as perguntas e, um papel e uma caneta para anotação das respostas.

Objetivo: sondar através de relato verbal da criança, sua percepção em relação à

escola, ao professor, expectativas dos pais, deveres, medos, desejos e

significado do aprender.

Material: Folha com as perguntas para o inquérito, folha sulfite para anotação das

respostas, canetas.

Inquérito:

Agora nós vamos fazer um joguinho de imaginação. Vamos fazer de conta

que você conhece uma menina que se chama Roberta. Roberta faz uma porção

de coisas e você vai imaginar porque ela faz essas coisas, tá?

Eu vou anotar e quando o joguinho terminar, se você quiser a gente pode

ler tudo o que você inventou."

1. Roberta não tem tempo de ver televisão. Por que?

J. Porque ela estuda muito.

2. R não brinca com as outras meninas. Por que?

J. Porque as meninas batem nela. Porque ela implica com as colegas.

3. A professora disse a Roberta que queria falar com ela depois da aula. Por que?

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Page 38: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

J. Porque ela mexeu com os meninos. A professora ficava brava com ela, mas é

que os meninos mexia com ela primeiro.

4. Quando o pai de Roberta chegou em casa o que aconteceu?

J. Nada. Por que sim.

Obs: não quis complementar

5. Roberta não fez a lição de casa. Por que?

J. Porque ela ficava na rua brincando e não dava mais tempo.

6. Roberta dormiu e teve um sonho. Com que ela sonhou?

J. Com Deus. Que Deus fez milagres e ela acertou todo nas provas.

7. Roberta trouxe ontem suas provas. O que aconteceu?

J. Ela tirou A e B e passou de ano.

8. Roberta chegou em casa chorando. Por que?

J. De alegria porque ela passou de ano. E também triste porque alguns colegas

não passaram também.

9. Roberta ficou com raiva de sua mãe. Por que?

J. Porque gosta mais do irmão que já nasceu, ele já tem um mês. Ele é bebê. Ela

acha ele chato, porque a mãe dele dá tudo o que ele quer.

Ele é bonito, moreno e quase não chora.

10. Roberta está com medo. De que?

J. Do escuro.

11. A mãe de Roberta está preocupada com alguma coisa. Por que?

J. Com a cabeça, ela fica nervosa. O pai briga com a mãe.

12. Ontem aconteceu alguma coisa ruim. O que foi?

J. Os meninos quebraram o braço de Roberta.

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Page 39: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

13. O pai de Roberta faz alguma coisa que ela não gosta. O que é?

J. Macarrão para ela comer.

14. às vezes Roberta pensa que seus pais não gostam dela. Por que?

J. Porque eles se preocupam só com o neném que nasceu.

15. Roberta outro dia não quis ir à escola. Por que?

J. Não fez o dever.

16. Roberta ficou com raiva de seu pai. Por que?

J. Ele só gosta do neném.

17. O que Roberta acha de sua professora?

J. Chata. Porque ela não deixa Roberta buscar água para ela.

18. Às vezes Roberta fica nervosa na escola. Por que?

J. Os meninos mexem com ela.

19. Às vezes. Roberta não faz o que sua mãe manda. Por que?

J. Porque ela odeia arrumar cozinha para a mãe.

20. Às vezes Roberta briga com seu irmão. Por que?

J. Ele rasgou a prova dela.

21. Um dia Roberta e sua mãe brigaram. Por que?

J. Roberta bateu em seu irmãozinho de dois meses.

22. Roberta uma vez quis fugir de casa. Por que?

J. Ela não gostava da casa dela e queria morar na casa da avó.

23. Às vezes Roberta fica triste. Por que?

J. Por causado irmão que já nasceu.

39

Page 40: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

24. Roberta não gosta de ser chamado em classe. Porque?

J. Ela odeia o nome dela que é muito feio.

25. Quantos anos você pensa que Roberta tem?

J. 11 anos.

26. Se Roberta fosse grande, o que ela gostaria de fazer?

J. Estudar no Colégio Marista.

27. Roberta às vezes não gosta de conversar. Por que?

J. Está fazendo matéria.

28. Roberta gosta muito de brincar. Do que?

J. Boneca.

29. Tem pessoa que Roberta gosta de conversar. Por que? Quem são?

J. Os amigos. A Natália, Camila, Talita porque elas são gente boa.

30. O que Roberta faz no recreio?

J. Brinca de corda com as amigas.

31. O que Roberta mais gosta da escola?

J. A professora que é boa, bonita boazinha, só as vezes brava.

32. O que Roberta menos gosta na escola?

J. Comida. É um pouco ruim.

33. O que a professora acha de Roberta?

J. Boa, inteligente.

34. O que você acha que Roberta vai poder fazer quando souber ler , escrever e

matemática?

J. Passar de ano.

40

Page 41: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Análise da Atividade Imagine Por que

Em relação a si: Insegurança, medo, auto-estima baixo, desequilíbrio emocional,

desajuste de afetividade, conflito interno, insatisfação.

Em relação a família: Insatisfação, sentimento de inadequação no contexto

familiar.

Em relação a Escola: Imaturidade cognitiva, medo do novo, auto estima baixo,

oscilação de comportamento.

Em relação ao social: Oscilação de humor, narcísica (egocentrismo não

superado), baixa tolerância a frustação.

7. ANÁLISE DO MATERIAL ESCOLAR

Analisando o material escolar, o psicopedagogo poderá constatar as

relações da criança com a escola, a professora e a aprendizagem. Observando

suas dificuldades nas tarefas apresentadas no caderno, no livro, etc., e ainda, a

atuação da professora.

Objetivo: Fazer interferências sobre a natureza da relação do aluno com a escola

com a professora e o aprender, obter indício das dificuldades apresentadas pela

criança na realização de suas tarefas escolares, fornecer pistas sobre a atuação

da professora, suas estratégias de ensino, os conteúdos e atividades priorizados,

recursos para reforço e correção e atitudes frentes ao aluno.

Tópicos a serem analisados:

41

Page 42: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

a) apresentação do caderno: capa, folhas em branco, "orelhas", tarefas

incompletas ou nem mesmo iniciadas, rasuras, estado de conservação, etc.

b) dificuldade apresentadas: observação da utilização e organização do espaço

da página, coordenação motora evidenciada pela escrita, erros ortográficos,

emprego das convenções da escrita, etc.

c) atuação da professora, conteúdos ministradas, atividades de língua

portuguesa e matemática. Adequação do conteúdo ao nível da série e ao nível

do aluno; correções, anotações, elogios, críticas, bilhetes escritos pela

professora no caderno, etc.

Analisando os tópicos:

1) O estado de conservação do caderno é razoável, foram observadas tarefas

sem correções em atividades feita em sala de aula. Quando questionei JSC

como isto acontecia, a mesma se justificou dizendo que não dava tempo de

resolver tudo em sala. Folhas escritas pela metade, não ia até o final da

página, "Orelhas" em alguns cadernos, em especial os mais usados.

2) Escritas feitas com lápis de ponta grossa, vários erros ortográficos onde

alguns foram corrigidos pela professora com caneta azul sobre a escrita

errada.

3) As atividades eram monótonas, pouca criatividade em especial na área da

língua portuguesa, em relação a matemática percebe-se muita cópia e

pouquíssimo trabalho concreto dentro do lógico matemático. Alguns elogios

foram vistos, embora raramente isto ocorria. JSC demonstra usar muito a

borracha.

Análise:

Aula com pouca criatividade. Monótona.

42

Page 43: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

8. ANÁLISE DA LECTO-ESCRITA

Ao estudar o desenvolvimento da linguagem escrita pela criança, Vygotsky

(1991), caracteriza essa linguagem como um simbolismo de segunda ordem.

"Isso significa que a linguagem escrita é constituída por um sistema de signos que

designam os sons e as palavras da linguagem falada, os quais, por sua vez, são

signos das relações e entidades reais " (VYGOTSKY, 1991, p. 120).

Para Vygotsky a relação do indivíduo com o mundo é mediada pelos

signos e instrumentos. Os instrumentos são ferramentas utilizadas pelo homem

para produzir, modificando o meio. Os signos são instrumentos internos,

socialmente construídos, através dos quais o homem modifica o seu meio e, ao

mesmo tempo, modifica-se internamente. Ambos, instrumentos e signos, exercem

uma função mediadora entre o homem e o seu meio social.

Entre todos os signos utilizados pelo homem, Vygotsky destaca a

linguagem como aquele através do qual as funções mentais elementares se

transformam em funções superiores . Mais do que expressão do pensamento, as

palavras são a própria fonte do pensamento, sendo que é a partir das primeiras

que o segundo passa a existir.

Desse modo, a construção da linguagem escrita pela criança caracteriza-

se por ser um processo que ocorre a partir das interações sociais vivenciadas

pela mesma, que vão dando-lhe não apenas o sentido de sua própria escrita,

como também contribuindo para a formação de sua subjetividade.

Vygotsky (1991), critica o ensino da linguagem escrita como um processo

artificial, imposto às crianças pelo professor, condenando o ensino da linguagem

escrita como uma linguagem morta, estática e defendendo o ensino da linguagem

escrita viva, dinâmica, vinculada às necessidades e interesses reais da criança.

Ele defende a importância de que a escrita seja percebida pela criança como uma

necessidade.

Na perspectiva da psicologia sócio-histórica de Vygotsky, compreender a

relação de crianças e adolescentes com a leitura e a escrita representa a

compreensão do contexto social e histórico no qual essas crianças e

43

Page 44: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

adolescentes estão inseridos. Compreender como se dão leitura e escrita na sala

de aula significa compreender as relações sociais que caracterizam esse contexto

e como elas contribuem (ou não) para a formação de leitores e escritores. É

necessário considerarmos o aluno real, que habita as salas de aula da atualidade,

buscando compreender suas necessidades reais e suas capacidades.

Assim como Vygotsky, Bakhtin é outro autor que aborda a questão da

linguagem como um fenômeno que só pode ser compreendido a partir do

contexto sócio-histórico no qual ocorre. Rompendo com a lingüística tradicional,

que reduz a linguagem a um sistema abstrato de formas (Saussure) ou à

enunciação monológica isolada (Humboldt), Bakhtin resgata o caráter dialógico da

linguagem, estabelecendo a relação indissociável entre linguagem e vida.

Barros (1997), ao citar os estudos de Bakhtin sobre o texto, esclarece que

o dialogismo, tal como concebido por Bakhtin (relações do discurso com a

enunciação, com o contexto sócio-histórico ou com o "outro") define o texto como

um "tecido de muitas vozes, ou de muitos textos ou discursos, que se polemizam

entre si no interior do texto." (BARROS, 1997, p.34)

Essa concepção de Bakhtin acerca do texto traz uma nova perspectiva

para a leitura, pois confere ao leitor um estatuto de co-autor do texto lido,

trazendo-lhe um caráter interativo.

Dessa forma, o leitor coloca-se diante do texto como um interlocutor, e não

apenas como receptor passivo do discurso do autor. Ao colocar-se diante do texto

o leitor traz consigo sua experiência pessoal, sua história, sua ideologia,

construídas socialmente em interação com outros textos e outros discursos, ao

mesmo tempo que as confronta com as experiências do autor.

Análise da lecto-escrita

JSC lê com muita dificuldade, não tem entonação, não respeita pontuação

e às vezes nem percebe o fato.

Tem muita dificuldade de interpretar aquilo que se lê. A insegurança lhe

traz conseqüência como gaguejar, troca as palavras, omite som.

Obs: Em uma das análise de leitura percebi que JSC não estava enxergando

normalmente. Orientei a família que procurasse um especialista na área, e como

44

Page 45: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

resultado foi detectado uma deficiência visual num tempo curto, resultando o uso

de lente de contato (Óculos).

Ainda na Língua Portuguesa, JSC tem dificuldade de organizar seu

pensamento numa produção de texto, quando lhe solicitei que construísse o texto

oralmente se recusou, e quando insisti a mesma não teve seqüência lógica de

pensamento.

Para a àrea de matemática, percebe-se uma grande dificuldade de

interpretar problemas, resolver desafios e em cálculos. Não tem noção básica de

alguns valores.

9. PROVAS DO DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO

Visca reuniu em seu livro: El diagnostico operatório em la practica

Psicopedagogia, as provas operatórias aplicadas no método clínico da Escola de

Genebra por Piaget, no qual expõe sucintamente os passos em que usou com

grupos de estudo e cursos para o ensino do diagnóstico psicopedagógico,

comentando o porque de cada passo.

O autor nos alerta que as provas "[...] no siempre han sido adecuadamente

entendidas y utilizadas de acuerdo com todas las posibilidades que las mismas

poseen" (VISCA, 1995, p. 11). Isto se deve, talvez, a uma certa dificuldade de sua

correta aplicação, evolução e extração das conclusões úteis para entender a

aprendizagem.

As provas operatórias têm como objetivo principal determinar o grau de

aquisição de algumas noções-chave do desenvolvimento cognitivo, detectando o

nível de pensamento alcançado pela criança, ou seja, o nível de estrutura

cognoscitiva com que opera .

Visca nos alerta que não se deve aplicar várias provas de conservação

em uma mesma sessão, para se evitar a contaminação da forma de resposta.

Observa que o psicopedagogo deverá fazer registros detalhados dos

procedimentos da criança, observando e anotando suas falas, atitude, soluções

45

Page 46: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

que dá às questões, seus argumentos e juízos, como arruma o material. Isto será

fundamental para a interpretação das condutas.

Para a avaliação as respostas são divididas em três níveis:

• Nível 1: Não há conservação, o sujeito não atinge o nível operatório nesse

domínio.

• Nível 2 ou intermediário: As respostas apresentam oscilações,

instabilidade ou não são completas. Em um momento conservam, em

outro não.

• Nível 3: As respostas demonstram aquisição da noção sem vacilação.

Muito interessante o que Weiss nos diz sobre as diferentes condutas em

provas distintas:

[...] pode ocorrer que o paciente não obtenha êxito em apenas uma prova, quando todo o conjunto sugere a sua possibilidade de êxito. Pode-se ver se há um significado particular para a ação dessa prova que sofra uma interferência emocional: encontramos várias vezes crianças, filhos de pais separados e com novos casamentos dos pais, que só não obtinham êxito na prova de intersecção de classes. Podemos ainda citar crianças muito dependentes dos adultos que ficam intimidadas com a contra-argumentação do terapeuta, e passam a concordar com o que ele fala, deixando de lado a operação que já são capazes de fazer (WEISS, 2003, p. 111).

Em relação a crianças com alguma deficiência mental ela nos diz que:

No caso de suspeita de deficiência mental, os estudos de B. Inhelder (1944) em

El diagnóstico del razonamiento en los débiles mentales mostram que os

oligofrênicos (QI 0-50) não chegam a nenhuma noção de conservação; os débeis

mentais (QI 50-70) chegam a ter êxito na prova de conservação de substância; os

fronteiriços (QI 70-80) podem chegar a ter sucesso na prova de conservação de

peso; os chamados de inteligência normal "obtusa" ou "baixa", podem obter êxito

em provas de conservação de volume, e às vezes, quando bem trabalhados,

podem atingir o início do pensamento formal (2003, p.111-112).

Visca também reuniu em um outro livro: Técnicas proJetivas

psicopedagogicas, as provas projetivas, cuja aplicação tem como objetivo

investigar os vínculos que o sujeito pode estabelecer em três grandes domínios: o

escolar, o familiar e consigo mesmo, através dos quais é possível reconhecer três

46

Page 47: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

níveis em relação ao grau de consciência dos distintos aspectos que constituem o

vínculo de aprendizagem.

Sobre as provas projetivas Weiss observa que:

O princípio básico é de que a maneira do sujeito perceber, interpretar e estruturar o material ou situação reflete os aspectos fundamentais do seu psiquismo. É possível, desse modo, buscar relações com a apreensão do conhecimento como procurar, evitar, distorcer, omitir, esquecer algo que lhe é apresentado. Pode-se detectar, assim, obstáculos afetivos existentes nesse processo de aprendizagem de nível geral e especificamente escolar (WEISS, 2003, p. 117).

Para Sara Paín, o que podemos avaliar através do desenho ou relato é a

capacidade do pensamento para construir uma organização coerente e

harmoniosa e elaborar a emoção. Também permitirá avaliar a deteriorização que

se produz no próprio pensamento.

1. PROVA DA CONSERVAÇÃO DE QUANTIDADES DISCRETAS

• MATERIAL:

10 fichas vermelhas

10 fichas azuis

• PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO:

1. Conversar sobre as fichas e pedir que a criança escolha uma

cor. Dispor sobre a mesa 6 fichas, por exemplo as azuis,

alinhando-as, e pedir à criança que faça outra igual com as

fichas vermelhas, dizendo: “ Ponha o mesmo tanto(a mesma

quantidade) de suas fichas, como eu fiz com as azuis, nem

mais nem menos” , ou “Faça com suas fichas uma fileira igual

a minha, com o mesmo tanto nem mais nem menos”.

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Page 48: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Anotar o desempenho da criança e se necessário ajuda-la dispor as fichas

azuis e vermelhas em correspondência termo a termo, para garantir a

equivalência inicial. Depois apresentar as seguintes questões:

- “Você tem certeza que estas duas fileiras tem o mesmo tanto de fichas?” ou “Há

o mesmo tanto (ou a mesma quantidade) de fichas vermelhas e azuis?”

- “Se eu fizer uma pilha com as fichas azuis e você fizer uma pilha com as fichas

vermelhas qual das duas ficará mais alta?

- Por que?

- Como você sabe disso?

Se a criança errar a resposta, fazer uma demonstração concreta e depois

tornar a fazer as mesmas perguntas.

2. Fazer uma modificação na disposição das fichas de uma das fileiras,

espaçando-as de modo que uma fique mais comprida do que a outra.

A seguir perguntar:

- “Tem o mesmo tanto de fichas azuis e vermelhas ou não?” (no caso da resposta

negativa) – “Aonde tem mais? “- “ Como você sabe?”

Usar uma contra-argumentação: O examinador provocará uma reação da

criança, afirmando sempre o contrário de sua resposta.

Se a criança der respostas de conservação chamar sua atenção para a

configuração espacial das fileiras, com uma pergunta do tipo: - “Olha como esta

fileira é comprida, será que aqui não tem mais fichas?

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Page 49: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Se a criança der respostas de não conservação, lembrar a equivalência

inicial dizendo: - “Você se lembra que antes a gente tinha posto uma ficha

vermelha diante de uma azul?” ou “ Outro dia um (a) menino(a) como você me

disse que nessas duas fileiras tinha a mesma quantidade de fichas; o que você

acha disso?”

3. Repetir o mesmo procedimento do item 1, ou seja, voltar as fichas para a

situação de igualdade.

Perguntar: “E agora o que você acha? Tem o mesmo tanto?” Colocar as fichas de

acordo com o modelo (abaixo) e repetir o procedimento do item 2.

Usar os mesmos argumentos adotados no item 2 para respostas de

conservação ou respostas de não conservação da criança (contra-

argumentação).

4. Fazer um círculo com as fichas azuis e pedir que a criança faça a mesma coisa

com as fichas vermelhas não colocando nem mais nem menos.

Anotar o desempenho da criança e depois perguntar: “Você tem certeza de

que estão iguais? “ “– Há o mesmo tanto de fichas vermelhas e azuis?”. (certificar-

se da noção de igualdade da criança)

49

Page 50: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Juntar as fichas de um dos círculos;

Perguntar: “- Há o mesmo tanto de fichas azuis e vermelhas? “ – “Como

você sabe disso?”

Usar os mesmos argumentos adotados para o item 2 para respostas de

conservação e de não conservação da criança.

Observação:

• Nesta prova podem ser usadas fichas de outras cores, desde que sejam

apenas duas cores.

• A prova deve ser aplicada mais de uma vez nos seguintes casos:

a) a criança erra na primeira aplicação.

b) a criança mostra dúvidas nas suas respostas (fase de transição).

c) não fica claro ao examinador se a criança tem ou não a noção de conservação

de quantidades discretas.

• Ao dar as instruções ou fazer as perguntas o examinador deve estar certo

de que a criança as compreendeu.

APLICAÇÃO: PROVA DA CONSERVAÇÃO DE QUANTIDADES DISCRETAS

• MATERIAL:

50

Page 51: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

- 10 fichas vermelhas

- 10 fichas azuis

d) PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO

1. Conversei sobre as fichas e pedi que J.S.C escolhesse uma

cor. Dispus sobre a mesa 6 fichas, azuis, alinhando-as, e pedi

à criança que fizesse outra igual com as fichas vermelhas,

disse: “ Ponha o mesmo tanto(a mesma quantidade) de suas

fichas, como eu fiz com as azuis, nem mais nem menos” , ou

“Faça com suas fichas uma fileira igual a minha, com o mesmo

tanto nem mais nem menos”.

J. fez com êxito.

A . “Você tem certeza que estas duas fileiras tem o mesmo tanto de fichas?” ou

“Há o mesmo tanto (ou a mesma quantidade) de fichas vermelhas e azuis?”

J. Sim! Porque sim!

A. “Se eu fizer uma pilha com as fichas azuis e você fizer uma pilha com as

fichas vermelhas qual das duas ficará mais alta? - Por que?

J. As duas.

A .Como você sabe disso?

J. Porque sim, foi a resposta.

Fiz uma modificação na disposição das fichas de uma das fileiras, (A -B)

espaçando-as de modo que a fileira A ficou mais comprida do que a B.

51

Page 52: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

A “Tem o mesmo tanto de fichas azuis e vermelhas ou não?”

J. – Não

A. “Aonde tem mais? “

J. Aqui. ( Mostrou nas vermelhas)

A - “ Como você sabe?”

J. Porque sim. Ficou grande.

(mostrando as fichas vermelhas)

A - “Você se lembra que antes a gente tinha posto uma ficha vermelha diante de

uma azul?” ou “ Outro dia um (a) menino(a) como você me disse que nessas duas

fileiras tinha a mesma quantidade de fichas; o que você acha disso?”

J. Antes estava tudo junto. Agora não.

Repeti o mesmo procedimento do item 1, voltando as fichas para a situação de

igualdade.

A “E agora o que você acha? Tem o mesmo tanto?

J. Agora sim, porque estão juntas.

A “Foram colocadas as fichas de acordo com o modelo (abaixo) e repetido o

procedimento do item 2.

A . E agora o que você acha? Tem o mesmo tanto?”

J. (Tentou contar e ficou em dúvida e respondeu)

-Não, aqui tem mais. (Mostrando para as vermelhas)

52

Page 53: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

A. Fiz um círculo com as fichas azuis e pedi que J. fizesse a mesma coisa com

as fichas vermelhas não colocando nem mais nem menos.

Em seguida perguntar: “Você tem certeza de que estão iguais? “ “– Há o esmo

tanto de fichas vermelhas e azuis?”.

J.(Teve dúvida, pensou, pensou e respondeu que sim, porque era o mesmo

desenho.

A . Como você sabe disso?”

J. Porque sim. ( Não teve argumentação)

Análise:

J. não tem noção de conservação discreta.

2. PROVA DA CONSERVAÇÃO DAS QUANTIDADES DE LÍQUIDO

• MATERIAL:

- Dois copos idênticos.

- Um copo estreito e mais alto.

- Um copo mais largo e mais baixo.

- Um jarro de plástico.

• PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO

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Page 54: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

A . Conversei com a criança e a convidei-a fazer uma experiência com água. o

examinador pergunta para a criança se ela já fez este tipo de experiência.

Estando a criança interessada na brincadeira o examinador diz: - “Vou colocar

água nestes dois copos (copos iguais) quando eles estiverem com a mesma

quantidade (ou o mesmo tanto) de água você me avisa? Olhe bem!”

1. Colocar a água até mais ou menos a metade do copo e perguntar:

A A’

- “Estão iguais? Tem a mesma quantidade de água nos dois copos?”

- “Você tem certeza?” -“ Por que?”

É necessário garantir a noção de igualdade da criança.

-“Se você tomar toda a água deste copo (A) e eu tomar toda a água deste (A’)

qual de nós tomará mais água? Por que?

Transvasar a água de A para B (copo mais estreito e alto) e depois perguntar:

-

“ E agora onde tem mais água?”

- “Por que? “

- “Como você sabe disso? “- “Se eu beber a água de B e você a de A. Quem vai

beber mais?

- Usar a Contra – Argumentação:

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Page 55: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

a. Se a criança demonstrar que não possui a noção de conservação de líquido

dizer: Outro dia eu estava brincando com um(a) menino(a) que tem sua idade e

ela me disse que nesses dois copos tem a mesma quantidade de água porque a

gente não pôs nem tirou. Você acha que aquela criança estava certa ou errada?

Porque?

b. Se a criança demonstrar que possui a noção de conservação dizer: - Outro

dia fiz esta brincadeira com um(a) menino(a) do seu tamanho e ele me disse que

neste copo (B) havia mais água, por que nele a água estava mais alta! O que

você acha da resposta desta criança? Ela está certa ou errada?

Por que?

2. Transvasar a água de B para A novamente, mostrar à criança os dois copos A

e A’ e perguntar:

-“E agora onde tem mais água?

- “ Se eu beber esta água (A) e você esta (B), quem bebe mais eu ou você? “

- Por que ?”

Garantir a noção de igualdade.

3. Transvasar a água de A para C (mais largo e mais curto) e depois perguntar:

- “E agora onde tem mais água? “

-“ Por que? Como você sabe disso? “

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Page 56: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Usar a Contra – Argumentação igual do item 2.

Observação:

• As perguntas podem ser modificadas quando se constatar que não foram

compreendidas pela criança.

• A prova deve ser aplicada mais de uma vez nos seguintes casos:

a) a criança erra na primeira aplicação.

b) a criança mostra dúvidas nas suas respostas (fase de transição).

c) não fica claro ao examinador se a criança tem ou não a noção de

conservação de quantidades líquidas.

APLICAÇÃO: PROVA DA CONSERVAÇÃO DAS QUANTIDADES DE LÍQUIDO

• MATERIAL:

- Dois copos idênticos

- Um copo estreito e mais alto

- Um copo mais largo e mais baixo

- Um jarro de plástico

• PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO

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Page 57: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

A. Conversei com a criança e a convidei-a fazer uma experiência com água.

“Vou colocar água nestes dois copos (copos iguais) quando eles estiverem com a

mesma quantidade (ou o mesmo tanto) de água você me avisa? Olhe bem!”

1. Coloquei a água até mais ou menos a metade do copo e perguntei:

A A’

- “Estão iguais? Tem a mesma quantidade de água nos dois

copos?” - “Você tem certeza?” -“ Por que?”

J. Sim. Porque sim.

A “Se você tomar toda a água deste copo (A) e eu tomar toda a água deste (A’)

qual de nós tomará mais água? Por que?

J. As duas vão tomar o mesmo tanto.

Atividade 2

A. Transvasei a água de A para B (copo mais estreito e alto) e depois perguntei:

A “E agora onde tem mais água?”

J. Mostrou que era no copo B.

A “Por que? “Como você sabe disso? “

J. Porque sim. Ele tem mais.

A . “Se eu beber a água de B e você a de A. Quem vai beber mais?

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Page 58: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

J . Você. Porque você tem mais.

Usei a Contra – Argumentação:

A Outro dia eu estava brincando com uma menina que tem sua idade e ela me

disse que nesses dois copos tem a mesma quantidade de água porque a gente

não pôs nem tirou. Você acha que aquela menina estava certa ou errada?

J . Errada.

A . Por que?

J. Porque ela não prestou atenção e não viu que você tem mais.

Atividade 3.

A . Transvasar a água de B para A novamente, mostrei à criança os dois copos A

e A’ e perguntar:

-“E agora onde tem mais água?

J. Agora nós duas.

A . “ Se eu beber esta água (A) e você esta (B), quem bebe mais eu ou você? “

- Por que ?”

J. (Pensou, pensou) Nós duas.

Atividade 4.

A . Transvasei a água de A para C (mais largo e mais curto) e depois perguntei:

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Page 59: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

- “E agora onde tem mais água? “

J. Este. (Mostrou o copo A)

A “ Por que? Como você sabe disso? “

J . Porque sim. Aqui tem pouquinho. (Mostrou o copo "C")

Usei a Contra – Argumentação:

A . Outro dia eu estava brincando com uma menina que tem sua idade e ela me

disse que nesses dois copos tem a mesma quantidade de água porque a gente

não pôs nem tirou. Você acha que aquela menina estava certa ou errada?

J. Não. Ela errou, aqui tem mais. (Mostrou para o copo "A")

Análise:

Não houve conservação de Líquido.

3. PROVA DA CONSERVAÇÃO DA MASSA

• MATERIAL

- Massa de modelar colorida

• PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO

1- Convidar a criança para brincar com massa de modelar. Pegar uma quantidade

de massa que dê para fazer uma bolinha de 2 ou 3 centímetros de diâmetro e

oferecer outro pedaço igual para a criança. Fazer a sua bolinha e pedir que a

criança faça o mesmo com a massa dela. Depois perguntar: "Estas duas bolinhas

estão iguais?" - "Elas têm a mesma quantidade (ou o mesmo tanto) de massa?"

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Page 60: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

"Você tem certeza?

Se a criança não aceitar a igualdade ajude-a, colocando ou tirando massa

até que as bolas fiquem iguais e a criança aceite a igualdade.

Perguntar: - "E agora você tem certeza de que estão Iguais?

-"Se eu der esta bolinha para você e ficar com esta para mim, qual de nós

ganha a boça que tem mais massa?"

-"Porque?"

2. Transformar uma das bolinhas em rolinhos ou salsicha, dizendo:

-"Com esta eu vou fazer uma salsicha". Colocando-a horizontalmente na mesa e

perguntar: -"E agora onde tem mais massa?

-"Por que?

-"Como você sabe disso?

Usar a Contra-Argumentação:

1. Se a criança der respostas não conversativas dizer. -"Mas será que está aqui

(indicar a massa com forma de salsicha) tem mais massa mesmo, ela esta tão

fininha?" ou -"Um(a) menino(a) me disse que nas duas tem a mesma quantidade

de massa porque não tirou nem pôs! O que você acha, ele(a) esta certo ou não?"

2. Se a criança der resposta conservativa, contra argumentar com afirmações de

não conservação do tipo: -"Mas parece que esta está mais comprida, será que

não tem mais massa?" ou -"Uma menina me disse que nesta mais comprida tem

mais massa! O que você acha disso?"

60

Page 61: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

3. Transformar a salsicha em bolinha novamente.Perguntar a criança se agora

estão iguais novamente

Garantir novamente a noção de igualdade da criança.

4. Transformar uma bolinha em salsicha novamente,. Colocando a salsicha

verticalmente sobre a mesa e perguntar:

-"E agora onde tem mais massa-"Por Que? -"Como você sabe disso?"

Usar a Contra-Argumentação.

5. Transformar o rolinho ou salsicha em bolinha novamente, e perguntar a criança

se as bolinhas estão iguais

6. Dividir uma das bolinhas em quatro ou cinco pedacinhos iguais dizendo:

-"Desta vez eu vou fazer cinco bolinhas menores. Olhe o que eu fiz!"

-"Perguntar. -"E agora onde tem mais massa, nesta bola grande ou em todas

estas juntas?

-"Por Que?"

-"Como você sabe disso?"

Usar a Contra-Argumentação, adaptada para esta situação. Ex: se a

criança demonstrar Ter noção de conservação de quantidade de massa dizer:

-"Mas aqui não tem mais pedacinhos que aqui?" ou Utilizar o argumento que outra

criança falou que tinha mais porque tem mais pedaços. Quando a criança

61

Page 62: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

demonstra não Ter esta noção dizer: -"Você se lembra, antes as duas bolas

estavam iguais, tinha a mesma quantidade. O que você acha disso?"

Observações:

1. As perguntas podem ser modificadas quando se constatar que não foram

compreendidas pela criança.

2. A prova deve ser aplicada mais de uma vez nos seguintes casos:

a) a criança erra na primeira aplicação;

b) a criança mostra dúvidas nas suas respostas (fase de transição);

c) a criança não deixa claro ao examinador se tem ou não a noção de

conservação da massa.

APLICAÇÃO: PROVA DA CONSERVAÇÃO DA MASSA

• MATERIAL:

- Massa de modelar colorida

• PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO:

A . Convidei a criança para brincar com massa de modelar. Peguei uma

quantidade de massa que deu para fazer uma bolinha de 2 ou 3 centímetros de

diâmetro e ofereci outro pedaço igual para a criança. Fiz uma bolinha e pedi que

a criança fizesse o mesmo com a massa dela. Depois perguntei:

"Estas duas bolinhas estão iguais?" - "Elas têm a mesma quantidade (ou o

mesmo tanto) de massa?"

J . (Observou bastante e respondeu que sim)

62

Page 63: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

A . Você tem certeza?

J . ( Observou bastante e respondeu que sim.)

"Porque? " Porque sim. (Falta iniciativa para resposta, sempre responde que

"sim".

2. Transformei uma das bolinhas em rolinhos, dizendo:

-"Com esta eu vou fazer uma salsicha". Coloquei-a horizontalmente na mesa e

perguntei: -"E agora onde tem mais massa?

J. Esta. (Mostrando a bolinha de salsicha)

A . "Por que?

J. Porque ficou grande.

A . Como você sabe disso?

J. Porque você deixou ela grande.

Usei a Contra-Argumentação:

- Mas será que está aqui (indiquei a massa com forma de salsicha) tem mais

massa mesmo, ela esta tão fininha?" O que você acha?

J. Acho que está é maior sim. (Mostrando na massinha com a forma de salsicha)

A. Contra argumentei dizendo:

-"Uma menina me disse que nesta mais comprida tem menos massa! O que você

acha disso?

J. Ela esta errada outra vez, porque esta (mostrando na massinha em forma de

salsicha) tem mais.

63

Page 64: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

3. Transformei a salsicha em bolinha novamente.

Perguntei a "J" se agora estão iguais novamente:

J. Respondeu que sim.

4. Transformei uma bolinha em salsicha novamente. Coloquei a salsicha

verticalmente sobre a mesa e perguntei:

-"E agora onde tem mais massa? Por que?

J. ficou assustada, demonstrando insegurança e respondeu: esta! (Mostrando na

bolinha transformada em salsicha)

A . "Como você sabe disso?

J. Porque ficou grande. Olha. (apontou na massinha em forma de salsicha)

Usei a Contra-Argumentação :

5. Transformei a salsicha em bolinha novamente, e perguntei se as bolinhas

estavam iguais.

J. Agora estão sim.

6. Dividi uma das bolinhas em cinco pedacinhos iguais e disse:

-"Desta vez eu vou fazer cinco bolinhas menores. Olhe o que eu fiz!"

-"Perguntei. -"E agora onde tem mais massa, nesta bola grande ou em todas

estas juntas -" Por Que?

J. Nestas bolinhas aqui, porque tem cinco.

-"Como você sabe disso?"

Pode contar , (e contou) um, dois, três, quatro e cinco.

64

Page 65: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

A . -"Você se lembra, antes as duas bolas estavam iguais, tinha a mesma

quantidade. O que você acha disso?"

J. Não, mas agora não tem mais. Aqui tem mais massinha (mostrou nos

pedacinhos separados) .

Análise

J não tem noção de conservação massa.

4- PROVA DE CLASSES - MUDANÇA DE CRITÉRIO OU DICOTOMIA

• MATERIAL:

Fichas de figuras geométricas recortadas em papelão colorido ou fichas de

plástico tipo feito para jogos:

- 6 Círculos de diâmetro de 25 mm (pequenos) vermelhos e 6 azuis;

- 6 Círculos de diâmetro de 50mm (grandes) vermelhos e 6 azuis;

- 6 quadrados de diâmetro de 25 mm (pequenos) vermelhos e 6 Azuis;

- 6 quadrados de diâmetro de 50 m (grandes) vermelhos e azuis;

- 1 papelão (tampa de caixa) dividido em 2 partes ou 2 caixas baixas iguais.

• PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO:

1. O examinador coloca as fichas em desordem sobre a mesa, deixa a criança

manipulá-las e depois pede que as descreva: -"Você pode me dizer o que esta

vendo?"

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Page 66: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

2. Classificação Espontânea: Você pode por juntas todas as fichas que

combinam?"... Ponha juntas todas as que são iguais." "Ponha juntas as que tem

alguma coisa igual... as que se parecem muito".

Após a criança terminar dizer: -"Você pode me dizer por que colocou assim?"

3a. Dicotomia -"Agora gostaria que você fizesse apenas 2 grupos (ou 2 montinhos

ou 2 famílias) e os colocasse nessas duas caixas (ou tampa dividida)"

Após o termino dizer:

-"Por que você colocou todas essa fichas juntas? E aquelas?

-"Como a gente poderia chamar esse monte aqui?"

-"E aquele outro?

3b. Primeira Mudança de Critério -"Será que você poderia arrumar em 2 grupos

(montes) diferentes?" Se a criança repetir o primeiro critério dizer: -"Você já

separou desse modo. Você poderia descobrir um outro jeito para separar em 2

grupos?" Se for necessário, o experimentador inicia, ele mesmo, a nova

classificação e pede para a criança continuar. Anotar o desempenho da criança.

3c. Segunda Mudança de Critério: -"Será que você ainda poderia separar de um

outro modo diferente fazendo dois novos grupos?" Procede-se em seguida como

no item 3a. e 3b.

OBS:

1- As perguntas podem ser modificadas quando se constatar que não foram

compreendidas pela criança.

2- A prova deve ser aplicada mais de uma vez nos seguintes casos:

a) a criança erra na primeira aplicação;

b) a criança mostra dúvidas nas suas respostas (fase de transição)

c) a criança não deixa claro para o examinador se tem ou não a noção de

classes.

APLICAÇÃO: PROVA DE CLASSES - MUDANÇA DE CRITÉRIO OU

DICOTOMIA

66

Page 67: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

• MATERIAL:

Fichas de figuras geométricas recortadas em papelão colorido ou fichas de

plástico tipo feito para jogos:

- 6 Círculos de diâmetro de 25 mm (pequenos) vermelhos e 6 azuis;

- 6 Círculos de diâmetro de 50mm (grandes) vermelhos e 6 azuis;

- 6 quadrados de diâmetro de 25 mm (pequenos) vermelhos e 6 Azuis;

- 6 quadrados de diâmetro de 50 m (grandes) vermelhos e azuis;

- 1 papelão (tampa de caixa) dividido em 2 partes.

• PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO:

A . Coloquei as fichas em desordem sobre a mesa, deixei a criança manipulá-las

e depois pedi que as descrevesse: -"Você pode me dizer o que esta vendo?

J. Umas bolinhas e quadradinhos também.

2. Classificação Espontânea:

A . Você pode por juntas todas as fichas que combinam?"... Ponha juntas todas

as que são iguais." "Ponha juntas as que tem alguma coisa igual... as que se

parecem muito".

J. Classificou primeiramente por cores.

Após a criança terminar dizer: -"Você pode me dizer por que colocou assim?"

J. Separei por cores. Eu gosto.

3a. Dicotomia -

"Agora gostaria que você fizesse apenas 2 grupos (ou 2 montinhos ou 2 famílias)

e os colocasse nessas duas caixas (ou tampa dividida)"

67

Page 68: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

J. Outra vez. E separou por tamanho.

Após o termino dizer: -"Por que você colocou todas essa fichas juntas? E

aquelas?

J. Porque aqui deixei as pequenas e aqui as grandes, pode ser?

A -"Como a gente poderia chamar esse monte aqui?"

J . Pode ser de pequeno e outro de grande.

3b. Primeira Mudança de Critério

A -"Será que você poderia arrumar em 2 grupos (montes) diferentes?"

J - Tudo bem! Mas, vou colocar assim:

(Colocou círculos em uma parte e quadrado em outra parte)

3c. Segunda Mudança de Critério: -"Será que você ainda poderia separar de um

outro modo diferente fazendo dois novos grupos.

J. Fez como a primeira vez, (separou por cores), e me disse que não sabia outro

jeito não.

Análise:

J. tem noção de classe.

5 - PROVA DE INCLUSÃO DE CLASSE (FRUTAS)

• MATERIAL:

- 7 Frutas de plástico ou natural sendo 5 maças e 2 bananas.

• PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO :

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Page 69: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

1- Depois de uma conversa inicial com a criança a fim de deixá-la à vontade,

apresentar-lhe as 7 frutas perguntando. -"Você conhece estas frutas?". "Quais

são suas frutas preferidas?"

2- Se a criança não souber, dizer: -"Isto são frutas. Estas são maças e estas são

bananas". "Você conhece outras frutas?" -"Quais?" -"De qual você gosta mais?"

Depois pegar uma fruta de cada vez e perguntar a criança: "O que é isto?"

Se a criança responder "é uma maça" ou "é uma banana", perguntar "O que a

maça (ou banana) é? Se a criança não souber o examinador pode dizer: -"A

banana é uma fruta", "a maça é uma fruta".

3- Colocar as maças e as bananas sobre a mesa de modo que fiquem em

seguida 5 maças e 2 bananas.

Apontar para as frutas e perguntar:

-"Aqui na mesa tem mais maças ou tem mais frutas?"

-"Porque?"

-"Como você sabe disso?"

Usar a Contra - Argumentação para um diagnóstico mais preciso.

Se a criança demonstrar que não possui a noção de inclusão de classe

operatória, o examinador poderá dizer, por exemplo: Um coleguinha seu me disse

que há mais frutas porque todas são frutas. -"O que você acha disso?". "ele está

certo ou errado?"

• PROCEDIMENTOS AVALIATIVOS:

1- Ausência de quantificação inclusiva (até aproximadamente 5-6 anos) - Nível 1

A criança faz sistematicamente a comparação das duas subclasses e responde

então que há mais maçãs do que frutas. Costuma errar sobre a subtração de

subclasse (perguntas 3a e 3b).

2- Condutas intermediárias - Nível 2

Observa-se hesitação na resposta à pergunta 1. Às vezes responder: "É a mesma

coisa". Nesse nível as perguntas 3a e 3b são respondidas corretamente.

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Page 70: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

3- Existência da quantificação inclusiva (aproximadamente a partir 7-8 anos) -

Nível 3

A criança responde corretamente a toda às perguntas.

APLICAÇÃO: PROVA DE INCLUSÃO DE CLASSE (FRUTAS)

• MATERIAL:

- 7 Frutas de plástico ou natural sendo 5 maças e 2 bananas.

• PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO:

Depois de uma conversa inicial com a criança a fim de deixá-la à vontade,

apresentei-lhe as 7 frutas perguntando:

-"Você conhece estas frutas?"

- "Quais são as suas frutas preferidas?"

J. Conheço. São maçãs e bananas. Minhas preferidas são as maçãs.

Em seguida, peguei uma fruta de cada vez e perguntei a criança os nomes

e a mesma soube nomeá-las todas. Então, apresentei que era da família das

frutas. Coloquei as maças e as bananas sobre a mesa de modo que ficaram em

seguida 5 maças e 2 bananas.

Apontei para as frutas e perguntei:

-"Aqui na mesa tem mais maças ou tem mais frutas?" -"Porque?" _

J. respondeu que era mais maçãs. Porque tinha mais maçãs do que bananas.

-"Como você sabe disso?" Usei a Contra - Argumentação para um diagnóstico

mais preciso:

É só contar veja, respondeu J.

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Page 71: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

- Um coleguinha seu me disse que há mais frutas porque todas são frutas. -"O

que você acha disso?". "ele está certo ou errado?"

J. Ele está errado, ele não contou certo.

• PROCEDIMENTOS AVALIATIVOS:

Ausência de quantificação inclusiva (até aproximadamente 5-6 anos) -

Nível 1

A criança faz sistematicamente a comparação das duas subclasses e

responde então que há mais maçãs do que frutas. Costuma errar sobre a

subtração de subclasse (perguntas 3a e 3b.)

Análise

Não possui a noção de inclusão de classe operatória.

6 - PROVA DE SERIAÇÃO DE BASTONETES

• MATERIAL:

- 10 Bastonetes de 10 a 16cm de comprimento com a diferença de um para

o outro de 0.6;

- um anteparo de papelão;

• PROCEDIMENTO DE APLICAÇÃO:

1- Seriação ou construção da série

Convidei a criança para fazer uma brincadeira. Apresentei-lhe os

bastonetes dizendo: -"estes pauzinhos chamam-se bastonetes". Deixei a criança

manusear os bastonetes, depois disse: -"Você vai fazer uma escadinha com todos

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Page 72: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

esses bastonetes (pauzinhos), colocando-os em ordem do menor para o maior

um ao lado do outro".

J. Foi logo, pegando os pauzinhos sem mesmo aguardar o momento ara o

início, percebi uma ansiedade para acabar logo, conversamos mais sobre o

assunto e o trabalho conduziu melhor.

J. fez um bonito trabalho, com muita dificuldade. mas conseguiu montar a

escadinha.

Perguntei-lhe: -"Como você fez para escolher os bastonetes?" Fui

escolhendo devagar disse J. A criança teve êxito sistemático em sua construção.

Apontei para o primeiro bastonete da série construída pela criança e

perguntei: -"Porque você colocou este bastonete aqui?

J, respondeu que era para deixar a escadinha certinha.

Apontei para o último e perguntei: "E este porque você colocou aqui ?"

A resposta foi a mesma.

2- Série por Intercalação

Inseri os bastonetes em um prancha, previamente furada de forma que os

bastonetes fiquem em série com uma numeração para cada um. Dei a criança um

a um os bastonetes, na seguinte ordem: 3,9,1,8,6,5,4,7,2 (1 é o maior e 9 o

menor) dizendo: -"Onde você deve colocar este bastonete para que ele fique bem

arranjado como uma escada?"

J, teve muita dificuldade de achar o local, chegou a dizer que não sabia.

Orientei e J, resolveu persistir depois do estímulo que passei para ela.

Finalmente achou. J teve êxito parcial.

Análise:

A criança oscila muito em suas respostas, uma criança imatura, sua parte

cognitiva não condiz com sua idade cronológica.

72

Page 73: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

10. HIPÓTESE E SÍNTESE DIAGNÓSTICA

Segundo Weiss (2001, p.140) “Ao final do diagnóstico psicopedagógico, o

psicopedagogo já deve ter formado uma visão global do paciente e sua

contextualização na família, na escola e no meio social em que vive.”

É necessário se relatar a queixa na visão da família e da escola.

Caraterizar o encaminhamento feito para um diagnóstico psicopedagógico pela

escola, pediatra, neurologista, psicólogo, e outros.

A síntese diagnóstica é a resposta mais direta à questão inicial levantada

pela queixa. Faz-se uma síntese do que foi analisado na área pedagógica,

cognitiva, afetivo-social e corporal, estabelecendo-se a relação entre as diferentes

áreas em função do motivo da avaliação. É uma reelaboração dos dados e suas

interligações, de modo a se ter uma visão global da criança ante a questão da

aprendizagem e/ou da produção escolar e assim formular a hipótese diagnóstica

final.

No prognóstico, relata-se a hipótese final sobre o estado futuro da criança

em relação ao momento do diagnóstico. É uma visão condicional, baseada no que

poderá acontecer a partir das recomendações e indicações.

Se necessário, pode-se fazer referência a indicadores, como, por exemplo,

atitude altamente colaborada, riqueza de expressão simbólica, bom nível

intelectual, pedido de ajuda expressa nos testes projetivos, etc.

Nas recomendações, se sintetiza as orientações dadas aos pais e à escola:

troca de turma ou de escola, forma de posicionar a criança em sala de aula, modo

de lidar com ele em casa e na escola, reformulação de exigências, atribuição de

responsabilidade, revelação de fatos, etc.

Conforme observado no estágio apresenta-se agora a conclusão da

síntese diagnóstica: a síntese, o prognóstico e as orientações, referentes à

criança diagnosticada.

Após os dados colhidos, percebe-se que J.S.C tem um Comportamento,

pensamento e discurso amplamente desorganizados, vocabulário regressivo e

73

Page 74: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

sem coerência, oscilação de humor, sentimento de menos valia, baixa tolerância a

frustração disfunção e imaturidade cognitiva.

J.S.C demonstra conflito interno, que resulta na dificuldade de

concentração como no relacionamento ensinante e aprendente.

Sua idade cronológica não é coerente com sua idade mental. Percebe-se

que a mesma não se encontra pronta para aprender dentro da realidade de

ensino que lhe é apresentada.

Em relação a si: Insegurança, medo, auto-estima baixo, desequilíbrio emocional,

desajuste de afetividade, conflito interno, insatisfação.

Em relação a família: Insatisfação, sentimento de inadequação no contexto

familiar.

Em relação a Escola: Imaturidade cognitiva, medo do novo, auto estima baixo,

oscilação de comportamento.

Em relação ao social: Oscilação de humor, narcísica (egocentrismo não

superado), baixa tolerância a frustração.

11. PLANO DE INTERVENÇÃO

Percebe-se que J.S.C é uma criança com necessidade de atendimento

interdisciplinar . Faz-se necessário uma avaliação psicológica e neuropediatra

para um maior êxito do trabalho relacionado às suas necessidades.

12. ENTREVISTA DEVOLUTIVA

Devolução no dicionário “é o ato de devolver, de dar de volta” (ROCHA,

1996, p. 208). No sentido da clínica psicopedagógica a devolução é uma

74

Page 75: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

comunicação verbal, feita aos pais e ao paciente, dos resultados obtidos através

de uma investigação que se utilizou do diagnóstico para obter resultados.

"[...] talvez o momento mais importante desta aprendizagem seja a

entrevista dedicada à devolução do diagnóstico, entrevista que se realiza

primeiramente com o sujeito e depois com os pais (quando se trata de uma

criança, é claro)" (PAÍN, 1992, p. 72).

Segundo Weiss, no caso da criança, “é preciso fazer a devolução

utilizando-se de uma linguagem adequada e compreensível para sua idade para

que não fique parecendo que há segredos entre o terapeuta e os pais, ou que o

terapeuta os traiu” (1992, p. 130).

É perfeitamente normal que, neste momento, exista muita ansiedade

para todos os envolvidos no processo, seja o psicopedagogo, o paciente e os

pais. Muitas vezes algumas suspeitas observadas ao longo do diagnóstico

tendem a se revelar no momento da devolução, "ficam evidentes nestas falas as

fantasias que chegam ao momento da devolução, e que estiveram presentes

durante todo o processo diagnóstico" (WEISS, 2003, p. 130).

Alguns pais chegam à devolução sem terem consciência ou camuflam o

que sabem sobre seu filho. É preciso tomar consciência da situação e

providenciar suas transformações, caso contrário, não será possível realizar um

contrato de tratamento.

Weiss orienta organizar os dados sobre o paciente em três áreas:

pedagógica, cognitiva e afetivo-social, e posteriormente rearrumar a seqüência

dos assuntos a serem abordados, a que ponto dará mais ênfase. É necessário

haver um roteiro para que o psicopedagogo não se perca e os pais não fiquem

confusos. Tudo deve ser feito com muito afeto e seriedade, passando segurança.

Os pais, assim, muitas vezes acabam revelando algo neste momento que

surpreende e acaba complementando o diagnóstico.

É importante que se toque inicialmente nos aspectos mais positivos do

paciente para que o mesmo se sinta valorizado. Muitas vezes a criança já se

encontra com sua auto-estima tão baixa que a revelação apenas dos aspectos

negativos acabam perturbando-o ainda mais, o que acaba por inviabilizar a

possibilidade para novas conquistas.

Depois deverão ser mencionados os pontos causadores dos problemas de

aprendizagem.

75

Page 76: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Posterior a esta conduta deverá ser mencionada as recomendações

como troca de escola ou de turma, amenizar a super-proteção dos pais, estimular

a leitura em casa etc, e as indicações que são os atendimentos que se julgue

necessário como psicopedagogo, fonoaudiólogo, psicólogo, neurologista etc.

Em casos de quadros psicóticos, neuroses graves ou outras patologias, é necessário um tratamento psicoterápico inicial, até que o paciente atinja um ponto tal que tenha condições de perceber a sua própria necessidade de aprender e crescer no que respeita à escolaridade; é preciso que se instale nele o desejo de aprender (WEISS, 2003, p. 136).

Muitas vezes faz-se necessário o encaminhamento para mais de um

profissional. E isto complica quando a família pertence a um baixo nível

socioeconômico. É importante que no momento da devolução o psicopedagogo

tenha algumas indicações de instituições particulares e públicas que ofereçam

serviços gratuitos ou com diferentes formas pagamento. Isto evita que o problema

levantado pelo diagnóstico não fique sem uma posterior solução.

O informe é um laudo do que foi diagnosticado. Ele é solicitado muitas

vezes pela escola, outros profissionais etc. Quaisquer que sejam os solicitantes é

importante não redigir o mesmo laudo, pois existem informações que devem ser

resguardadas, ou seja, para cada solicitante deve-se redigir informações

convenientes.

Entrevista Devolutiva

Aos Pais

A princípio os pais serão concientizados o quanto J.S.C cresceu neste

período de diagnóstico. Como o momento de atenção individual foi e é importante

para a criança.

Em seguida, os mesmos serão conscientizado da necessidade de um

acompanhamento psicológico, psicopedagógico e neuropediatra para J.S.C.

Será esclarecido dentro do nível de linguagem da família a imaturidade

cognitiva encontrada.

76

Page 77: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

Serão orientados para desenvolver hábito de estudo em casa, e um

acompanhamento mais próximo de suas necessidades pedagógicas.

Escola

Será orientada que J.S.C está sendo encaminhada para outros

profissionais como psicólogo e neuropediatra.

Para maior êxito no tratamento de J.S.C a Escola precisará mudar em

alguns aspectos com J.S.C, tais como:

- Um atendimento individual mais próximo, respeitando os limites da criança.

- Colocá-la mais próxima possível da professora.

- Promover atividades onde J.S.C perceba seu espaço e seu valor para os

colegas de sala, contribuindo assim para melhora de sua auto estima.

- Conhecer mais sobre a situação atual da criança.

13. CONCLUSÃO

Ao longo deste trabalho, tentamos explicar como entendemos e realizamos

o diagnóstico de um aluno com distúrbios de aprendizagem.

Estudamos o indivíduo que aprende, no seu aspecto normal e patológico,

considerando os diferentes sujeitos e sistemas que estão envolvidos no

diagnóstico do mesmo.

Para realização do diagnóstico psicopedagógico, usamos de vários

instrumentos de trabalho, bem como, entrevistas, jogos, observações, etc.,

procurando aplica-los com base nos conceitos e teorias vinculados à prática.

De acordo com o diagnóstico realizado, pudemos conhecer, constatar e

caminhar para um resultado feliz, o qual dá oportunidade de um encaminhamento

77

Page 78: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

à especialistas capazes de tratar e solucionar os distúrbios constatados, sejam

eles de aprendizagem, psicológico, social ou físico.

A realização desse processo diagnóstico, floresceu um trabalho

fundamentado em caminhos de reflexões e estudos destinados a uma prática de

assessoramento e orientação, capaz de despertar a garantia de uma possível

cura.

Segundo essa paixão, para Paín in Fernández (1990, p.35)

Se no transcurso do diagnóstico ou do tratamento não conseguimos apaixonar-nos por essa vida, nem pensá-la como um drama onde se está jogando este tipo de coisas que a mitologia põe em um relevo especial, mas que estão em todos os seres humanos, estaremos banalizando o sujeito. Não podemos curá-lo nem entendê-lo. Justamente a possibilidade de curá-lo, ou seja, de fazê-lo surgir como diferente, é facilitar seu trabalho de recriar-se como pessoa interessante. Que sinta que sua personalidade se diferencia das outras e tem um caminho próprio que é capaz de construir, que vislumbre uma possível escolha, certo grau de liberdade, ainda que seja no conhecimento.

Desta forma, a autora afirma que o psicopedagogo deve ser aquele

apaixonado pela vida, pelos seres humanos, pela diferença de personalidade,

pelo conhecimento de cada ser.

A questão do objeto da Psicopedagogia se relaciona com a maneira como

entende-se o conhecimento e a própria escrita: se como dádivas divinas a serem

compartilhadas com os aprendentes, se como resultado de um processo

produtivo. No primeiro caso, o objeto de estudo da Psicopedagogia se resumiria

àquilo que a autora nos diz ter sido sua primeira abordagem: uma terapia para

superar as dificuldades de aquisição do conhecimento.

No início, seu objeto são os sintomas das dificuldades de aprendizagem —

desatenção, desinteresse, lentidão, astenia etc. e, assim, seu objetivo é remediar

esse sintomas. A dificuldade de aprendizagem seria apenas um mau

desempenho, um produto a ser tratado.

Entretanto, se entendermos o conhecimento como um processo contínuo,

tal como tende a fazê-lo hoje a filosofia da ciência, não se pode esperar que a

Piscopedagogia seja uma terapia para as dificuldades de aquisição do domínio

dos códigos ou linguagens que permitem a produção do conhecimento, mas é

necessário situá-la num patamar mais alto, obtendo-se assim um visão mais

ampla. Nesse caso, entende-se a Psicopedagogia como a área de estudo

78

Page 79: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

interdisciplinar, abrangendo diferentes áreas do conhecimento, e cujo campo de

atuação seria identificado pelo processo ensino/aprendizagem , e que tem por

objeto de estudo o ser cognoscente.

Diante de todo o exposto nos capítulos de revisão de literatura,

metodologia e resultados, podem ser estabelecidas algumas sínteses para

considerações finais de todo o curso de psicopedagogia, não estando as mesmas

presas ou em teorias ou práticas e sim em ambas.

O uso de jogos ajuda a criar na sala de aula uma atmosfera de motivação

que permite ao aluno, seja ele criança ou adulto, participar ativamente do

processo ensino-aprendizagem natural do ser humano. Ao brincar e jogar, o

indivíduo fica tão envolvido com o que está fazendo que coloca na ação seu

sentimento e emoção. O jogo, assim como a atividade artística, é um elo

integrador dos aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais. É brincando e

jogando que a criança ordena o mundo à sua volta, assimilando experiências e

informações e, sobretudo, incorporando atitudes e valores. É por intermédio do

jogo e do brinquedo que ela reproduz e recria o meio circulante.

A técnica da dramatização facilita a aprendizagem quanto à assimilação de

conhecimentos e à aquisição de conceitos e princípios gerais a partir de um

referencial concreto. Além disso, desenvolve a habilidade de analisar e identificar

os elementos de uma situação problemática, para melhor compreendê-la e buscar

possíveis alternativas de solução.

Do ponto de vista didático, o trabalho em grupo, além de promover a

aquisição de conhecimentos e possibilitar o diálogo e a troca de tarefas, é um

precioso recurso empregado para formar hábitos de estudo e atitudes de convívio

social. Convém que o professor estabeleça e defina, em conjunto com os alunos,

normas de conduta e padrões de comportamento necessários para o bom

desempenho dos membros dentro do grupo.

O estudo de caso é uma variação da técnica de solução de problemas e

consiste em apresentar aos alunos uma situação real, dentro do conteúdo

abordado, para que analisem e, se for necessário, proponham alternativas de

solução, aplicando os conhecimentos teóricos aprendidos a situações práticas. O

que caracteriza basicamente o estudo de casos e o diferencia da técnica de

solução de problemas é o fato das situações propostas serem reais ou baseadas

na realidade.

79

Page 80: Estudo de Caso Crianca Com Baixo Rendimento Escolar Psicopedagogia

O estudo do meio é uma técnica que permite ao aluno estudar de forma

direta o meio natural e social que o circunda e do qual ele participa. É um prática

educativa que se utiliza de entrevistas, excursões e visitas como forma de

observar e pesquisar diretamente a realidade, coletando dados e informações

para posterior análise e interpretação.

O professor tem sua personalidade orientada por valores e princípios de

vida e consciente ou inconscientemente, explícita ou implicitante, ele veicula

esses valores em sala de aula, manifestando-os a seus alunos. Assim, ao

interagir com cada aluno em particular e se relacionar com a classe como um

todo, o professor não apenas transmite conhecimentos, em forma de informações,

conceitos e idéias (aspecto cognitivo), mas também facilita a veiculação de ideais,

valores e princípios de vida (elementos do domínio afetivo), ajudando a formar a

personalidade do educando. Por isso, o professor deve ter bem claro que, antes

de ser um professor, ele é um educador.

Na relação professor-aluno, o diálogo é fundamental. A atitude dialógica no

processo ensino-aprendizagem é aquela que parte de uma questão

problematizadora para desencadear o diálogo, no qual o professor transmite o

que sabe, aproveitando os conhecimentos prévios e as experiências anteriores do

aluno. Assim, ambos chegam a uma síntese que elucida, explica ou resolve a

situação-problema que desencadeou a discussão.

13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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