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C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 1, p. 131-151, jul./jdez. 2013 131 Gino Giacomini Filho Publicitário, doutor e livre-do- cente em publicidade e propa- ganda pela Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. É líder do grupo de pesquisa Novas Res- ponsabilidades Soci-ais da Co- municação e é pesquisador dos grupos: Estudos das Tecnologias da Informa-ção e Comunicação e Transformações da mídia na sociedade contemporânea, pela USCS. Docente do Programa de pós graduação em Comunica- ção pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul, São Caetano do Sul, SP e em Comu- nicação Social da Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Email: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes. cnpq.br/4716383899113030. br/4716383899113030. Rosângela Gisoldi Orlandi Gestora de marketing, Mestre em Comunicação pela Universi- dade Municipal de São Caetano do Sul. Participa do grupo de pesquisa Novas Responsabilida- des Sociais da Comunicação, na Universidade de São Caetano do Sul. Gestora do Núcleo ANS da U-nimed do ABC, Santo André, SP, Brasil. Email: [email protected]. br. Currículo Lattes: http://lattes. cnpq.br/4696069864235385. Publicidade de moda e a tipologia adultizada da criança Fashion advertising and the adultized typology of children La publicidad de moda y la tipología adultizada del niño

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C&S – São Bernardo do Campo, v. 35, n. 1, p. 131-151, jul./jdez. 2013 131

Gino Giacomini FilhoPublicitário, doutor e livre-do-cente em publicidade e propa-ganda pela Universidade de São Paulo, São Paulo, SP. É líder do grupo de pesquisa Novas Res-ponsabilidades Soci-ais da Co-municação e é pesquisador dos grupos: Estudos das Tecnologias da Informa-ção e Comunicação e Transformações da mídia na sociedade contemporânea, pela USCS. Docente do Programa de pós graduação em Comunica-ção pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul, São Caetano do Sul, SP e em Comu-nicação Social da Universidade de São Paulo, SP, Brasil. Email: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4716383899113030.br/4716383899113030.

Rosângela Gisoldi Orlandi Gestora de marketing, Mestre em Comunicação pela Universi-dade Municipal de São Caetano do Sul. Participa do grupo de pesquisa Novas Responsabilida-des Sociais da Comunicação, na Universidade de São Caetano do Sul. Gestora do Núcleo ANS da U-nimed do ABC, Santo André, SP, Brasil. Email: [email protected]. Currículo Lattes: http://lattes.

cnpq.br/4696069864235385.

Publicidade de moda e a tipologia

adultizada da criança

Fashion advertising and the adultized

typology of children

La publicidad de moda y la tipología adultizada del niño

RESUMOA atuação das crianças no seio familiar transformou-se profundamente ao longo dos anos. Atualmente, inserem-se na sociedade como atores expressivos, inclusive no consumo precoce. No contexto da moda, a criança tem preferência por mod-elos, cores e marcas, o que inspira organizações a investir na produção de roupas infantis e em sua comunicação. Como protagonista de anúncios de moda, a criança é representada socialmente de diversas formas, caso da tipologia adultizada. Este viés mostrou-se predominante nos anúncios de moda veiculados na revista Vogue kids Brasil, suporte midiático especializado em moda infantil.Palavras-chave: Publicidade. Representação social. Criança. Moda. Revista Vogue Kids Brasil.

ABSTRACTChildren’s action within the family has changed deeply over the years. Currently, they fit in society as expressive actors, including in their early consumption. In the context of fashion, children have their own tastes for models, colors, and brands, which inspire organizations to invest in the production of clothes for children and their communication. As the protagonist of fashion ads, the child is socially repre-sented in different ways, which is the case of the adultized typology. This bias was shown to be prevalent in fashion ads aired in Vogue Brazil kids, a media specialized in children’s fashion.Keywords: Advertising. Social Representation. Child. Fashion. Vogue Brazil Kids Magazine.

RESUMENEl papel de los niños en la familia ha cambiado radicalmente en los últimos años. En la actualidad, pertenecen a la sociedad como actores de expresión, incluso en el consumo temprano. En el contexto de la moda, el niño tiene una preferencia por modelos, colores y marcas, lo que inspira a las organizaciones a invertir en la producción de ropa para niños, y en su comunicación. Como el protagonista de los anuncios de la moda, el niño se representa socialmente de manera diferente, como en el caso de la tipología adultizada. Esta tendencia se mostró predomi-nante en los anuncios de moda presentes en la Vogue kids Brasil, un medio de comunicación especializado en moda infantil.Palabras clave: Publicidad. Representación Social. Niños. Moda. Revista Vogue Kids Brasil.

Submetido em: 15.7.2012 Aceito em: 25.10.2012

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IntroduçãoO mercado de moda, especificamente o da

moda infantil, adota comportamento publicitário peculiar, não sendo raras as oportunidades em que crianças são representadas de forma discrepante de valores éticos e o do bom senso social.

Fatores diversos, inclusive os ligados ao consu-mo, marketing e comunicação, convidam o público infantil a uma (indesejável) emancipação precoce ou adultização.

Diferentes instituições mundiais e brasileiras mos-tram-se preocupadas com o papel da publicidade dirigida e protagonizada pelas crianças; o próprio Conselho Nacional de Regulamentação Publicitária (Conar), a mais representativa instância ética da pu-blicidade brasileira, prevê no seu código procedimen-tos para coibir tais abusos.

Este artigo aborda a representação social da criança em anúncios de moda veiculados na revista Vogue kids Brasil. Trata-se de um suporte midiático que oferece aspectos singulares como fonte para esta pesquisa, objetivando verificar a ocorrência do fenômeno da adultização das crianças nas represen-tações sociais retratadas pela publicidade ao ofere-cer produtos de moda infantil.

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O objeto deste estudo é a comunicação publici-tária sobre moda infantil e tem como recorte comuni-cacional a representação social da criança retratada nos anúncios de moda a partir de perfis tipológicos.

Esta pesquisa é do tipo teórico-aplicada, em nível exploratório. Envolve revisão bibliográfica e pesquisa documental realizada por meio da técnica de análise de conteúdo aplicada em 63 anúncios veiculados nas edições da revista Vogue kids Brasil que circularam no mercado brasileiro no ano de 2011.

A criança contemporânea e sua relação com a moda

Ariès (1978) afirma que a família transformou--se profundamente na medida em que modificou suas relações internas com a criança. Essas altera-ções sociais que envolvem a criança no seio familiar contribuíram, em parte, para que valores do mundo adulto fossem incorporados, gradativamente, pelo universo infantil. Para Postman (1999) isso ocorreu de forma contínua, o que resultou no “desaparecimen-to” da infância na contemporaneidade. Para este autor, um dos fatores que diferenciam a infância da idade adulta é o conhecimento; mas, com o acesso cada vez maior à informação e ao conhecimento, observa-se uma redução da distância entre as crian-ças e o “mundo adulto”.

Sarmento (2004) observa que há na atualidade um movimento bastante característico com relação às trocas de papéis no núcleo familiar. Enquanto os adultos sofrem com o desemprego e passam a atu-ar por meio de trabalho remoto em seus escritórios domiciliares, as crianças ocupam-se, cada vez mais, de atividades em instituições fora de casa; além das

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O QUE É INFÂNCIA?? CITAR BUCKGHAM
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NÃO SÓ ALTERAÇÕES SOCIAIS NO SEIO DA FAMÍLIA, MAS NA SOCIEDADE
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E ESSE ACESSO MAIOR A INFORMAÇÃO E AO CONHECIMENTO NÃO É BOM? SERÁ QUE O QUE FALTA NÃO SÃO LIMTES NA EDUCAÇÃO DESSAS CRIANÇAS PARA REERGUER UMAS FRONTEIRAS E DERRUBAR OUTRRAS
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POSTMAN TEM UMA LINHA DE PESNAMENTO CONTRÁRIA A MINHA
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ESSAS MÚLTIPLAS ATIVIDADES FORA DE CASA PERMITE INTERAÇÕES SOCIAIS DIVERSAS QUE ACABAM CONTRIBUINDO PARA A FORMAÇAO DESSE SUJEITO, POIS OCORREM TROCAS NESSAS RELÇÕES QUE VÃO ALÉM DA INFLUÊNCIA DA COMUNICAÇÃO PUBLICITÁRIA. POR OUTRO LADO ESSAS ATIVIDADES EXTRA ESCOLARES ATUAM PARA AMPLIAR A GAMA DE INFORMAÇOES E O CONHECIMENTO QUE COLOCA ESSE SUJEITO EM UM NOVO STATUS SOCIAL NO NÚCLEO FAMILIAR: ORIENTAÇÃO PARA O CONSUMO E OUTROS ASPECTOS. EX: MINHA FILHA MUITAS VEZES ME ATUALIZA DOS ACONTECIMENTOS PQ TEM ASSISTE O JN, PQ SOUBE NA ESCOLA, SOUBE NOS GRUPOS...

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Publicidade de moda e a tiPologia adultizada da criança

atividades escolares, fazem cursos de inglês, informá-tica, praticam esportes etc.

A criança é indivíduo social, mas que não possui autonomia econômica nem tem capacidade jurídica de decisão; deve aguardar idade emancipadora para protagonizar boa parte de seu papel social. Contudo, Karsaklian (2008) ressalta que, embora as possibilidades de consumo das crianças sejam bastante limitadas e que cabe aos pais o poder decisório nos aspectos envolvendo seus direitos e deveres, tal restrição não traz prejuízo ao universo infantil, nem as impede de apreender valores a partir da interatividade, quer com o grupo familiar, quer com as instituições sociais que frequentam. À medida que as crianças crescem, há uma ampliação consideravelmente rápida na esfera do consumo, o que, segundo Sarmento (2004), contri-bui para a formação de sua identidade.

Nesse processo de constante transformação, o mundo contemporâneo registra um crescente prota-gonismo infantil, que implica novas responsabilidades da criança na sociedade que, muitas vezes, chega a atuar em aspectos sociais até então inerentes aos adultos. Alguns autores defendem a tese de que é ne-cessário investir nesta autonomia infantil, “o que não significa incentivar o surgimento de pequenos tiranos, nem a submissão dos adultos à vontade das crianças” (PIRES; BRANCO, 2007, p. 317), mas, sim, de abrir os espaços que o controle social restringiu a elas. Sobre as responsabilidades, esses pesquisadores concebem que a criança e o adulto participam com diferentes possibilidades ante as práticas sociais; contudo, os critérios adotados atualmente para separar o mundo da criança e do adulto não são adequados para que se configurem suas responsabilidades e compromissos,

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RELAÇÃO CONSUMO X IDENTIDADE
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QUAIS NOVAS RESPONSABILIDADES? QUAIS ASPECTOS? HJ, ASSIM COMO NO PASSADO, ALGUMAS CRIANÇAS JÁ ATUAVAM NO ASPECTO ECONÔMICO, TRABALHANDO PARA AJUDAR NA RENDA FAMILIAR. HJ POSSUEM CARTÃO DE CRÉDITO, NO PASSADO ALGUMAS TINHAM MESADAS
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UMA LINHA DE PENSAMENTO MAIS ALINHADA A MINHA
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PQ SEPARAR O MUNDO? A CONFIGURAÇÃO DESSAS RESPONSABILIDADE E COMPROMETIMENTO DEVE PERPASSAR A EDUCAÇÃO. É A EDUCAÇÃO QUE IRÁ DISTRIBUIR ESSES PAPEIS SOCIAIS

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o que faz com que a criança seja concebida como um objeto da ação dos adultos.

A antiga concepção social da criança como um adulto em miniatura, expressão util izada por Ariès (1978), encontra respaldo na atualidade, cuja concepção justifica-se pelos valores oferecidos pela sociedade do consumo. O consumo, como prática social, interfere, não apenas na educação e com-portamento, mas também na forma como a crian-ça vê o mundo e relaciona-se, por exemplo, com a propaganda.

A sociedade moderna depara-se com uma crian-ça que é formada a partir de interações que não se restringem ao espaço-tempo. Ela é fruto de uma geração que se utiliza de ferramentas tecnológicas, dominadas antes que passem por todas as etapas relativas ao período de aprendizagem. Com isso,

hoje convivemos com uma criança mais independen-te, ativa e, definitivamente, detentora da utilização de códigos específicos, no entanto, paradoxalmente, composta por indivíduos ainda em formação. (ALCÂN-TARA; CARVALHO; GUEDES, 2010, p. 4).

As crianças modernas têm participação efetiva na decisão de compra da família. Tais crianças seriam as pertencentes à “sociedade da informação” (CAS-TELLS, 2003) e à “sociedade de consumo” (LIPOVETSKY, 2009), com amplo acesso a informações, novas tec-nologias da comunicação e engajadas no consumo como forma de expressão e estilo de vida. Muitas, providas de uma remuneração mensal que recebe o nome popular de “mesada”, o que as permite reali-zar suas próprias aquisições e, assim, escolher cores, marcas e modelos daquilo que consomem.

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EU NAI ENTEDI ESSA PARTE: ELA ACUSA OS PAIS?
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APENAS PELA SOCIEDADE DE CONSUMO?
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VISÃO NEGATIVA DO CONSUMO
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O MUNDO EVOULUIU E EVOLUI CONSTANTEMENTE, VIVEMOS NUM MUNDO TECNOLÓGICO E NÃO PODEMOS MAIS PENSAR NUMA EXCLUSÃO TECNOLÓGICA E NEM ASSOCIAR A RELAÇÃO COM A TECNOLOGIA COMO UM DOMINIO SOB O SUJEITO. EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA - USO DA TECNOLOGIA EM SALA DE AULA
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Bee (1996) relata que as crianças passam por eta-pas de desenvolvimento que Jean Piaget classifica como estágios assim definidos: sensório-motor, de 0 a 24 meses de idade; pré-operacional, de 24 meses a 6 anos; operacional-concreto, de 6 a 12 anos; e operacional-formal, a partir dos 12 anos de idade. Se-gundo essa autora, cada novo estágio complementa o anterior. Conteúdos produzidos pela propaganda, muitas vezes, são protagonizados por crianças, ali re-presentadas para reproduzir comportamentos que po-dem gerar identificação por parte de outras crianças. Essa identificação tem a ver com os diferentes estágios concebidos por Piaget, seja por meio do reconheci-mento, da associação, ou simplesmente por chamar a atenção. De forma correlata, a propaganda também se utiliza estrategicamente da imagem da criança, de modo a conquistar seu público-alvo. A criança sensibiliza, seduz e leva o consumidor à compra.

Feghali e Dwyer (2006) destacam que não é fá-cil agradar os exigentes consumidores infantis. Para acertar no gosto deles, algumas empresas criam uma equipe especial que faz pesquisas de mercado.

O segmento de moda infantil mostra-se promissor diante das transformações ocorridas no comporta-mento dos consumidores de moda e inspiram muitas organizações, o que leva o mercado de moda infantil a um patamar positivo diante das perspectivas de lu-cro, encorajando grandes marcas a produzir eventos dedicados às crianças.

Schor (2009) descreve os resultados de uma pes-quisa realizada nos Estados Unidos, em que mostra que a geração atual das crianças e adolescentes é a mais orientada ao consumo em toda a história nacional: 75% delas querem ser ricas e 61%, famosas.

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MAS EXISTEM AUTORES QUE DISCORDAM DESSA DIVISÃO DE FASE COMO UM PROCESSO GENERALIZADO. EX CLEVINHO E GUILHERME
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NÃO PODEMOS ESQUECER QUE A PROPAGANDA REFLETE E REFRATA A REALIDADE
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O QUE É NATURAL
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OK
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PRÁTICA NORMAL INDEPENDENTE DE SE TRATAR PUBLICO INFANTIL
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As crianças tornaram-se mais interessadas pela moda e têm preferências por marcas, o que leva empre-sas a investirem grande soma na publicidade com o objetivo de conquistar a fidelidade dos pequenos consumidores. Elas acreditam que as roupas e marcas que vestem mostram quem são e seu status social. Segundo Schor (2009), na preferência dessas crianças por estilos modernos, houve uma corrida das marcas para reproduzir peças de vestuário de adultos em suas linhas infantis.

Cardoso, Araújo e Coquet (2005, p. 15) argumen-tam que as crianças possuem consciência da moda e valorizam as marcas. Em seu estudo, as crianças analisadas expressaram que a representação ideal é a que mais aproxima a criança do mundo dos adul-tos: “Tal fato pode indiciar o desejo da criança de ser adulto (‘grande’)”.

As crianças atribuem grande importância à sua aparência. Cardoso (2006) observa que o vestuário torna-se um meio de comunicação, uma fonte de experiências agradáveis e um importante domínio para experimentar sua identidade social, cultural e psicológica.

A criança é hoje um ator social fundamental na sociedade do consumo; é um público-alvo cobiçado pelas empresas de confecção e de mídia, sendo tam-bém o motor que alimenta o “fenômeno da moda” (HELLMANN, 2009); são traços marcantes: a mudan-ça constante, o gosto pelas novidades, a busca, ora de distinção ora de identificação social, tendo como engrenagem importante a publicidade.

Na sociedade de consumo, todos são potenciais consumidores, inclusive as crianças, e, para isso, pre-cisam ser iniciadas desde cedo na prática do consu-

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DESDE MUITO PEQUENOS AS CRIANCAS JA DECIDEM A ROUPA QUE QUER OU NAO USAR. MEU NETO DE 2 ANOS JÁ ESCOLHE A ROUPA E SAPATO, NAO TEM DISCERNIMENTO. ENTREI COM ELE NA LOJA HAVAINAS.
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mo a fim de assegurar a continuidade desse modelo, independentemente da idade, gênero e sem qual-quer treinamento prévio. “Tão logo aprendem a ler, ou talvez bem antes, a ‘dependência das compras’ se estabelece nas crianças” (BAUMAN, 2008, p. 73).

Juliet Schor (2009) afirma que as crianças inse-ridas na prática do consumo tornaram-se extrema-mente materialistas, ansiosas e desejam rapidamente aquilo que atrai e apresenta-se fácil e possível.

Os suportes midiáticos fazem com que a moda difunda-se de forma globalizada. Barreiro (2004) argu-menta que, na sociedade moderna, isso se faz com maior rapidez em razão da dinâmica do mercado e das tecnologias de informação adotadas nos meios de comunicação.

Netto, Brei e Pereira (2010) apresentam uma pro-blemática relevante no que diz respeito às represen-tações sobre a infância desenvolvidas nas ações de marketing para o vestuário infantil, uma vez que elas contribuem para a “adultização” do consumidor mirim. A criança, consumidora de moda, vem pulando fases de seu desenvolvimento e acaba sendo maturada à força, além de ser levada a adotar hábitos de con-sumo nem sempre característicos de sua faixa etária.

Schor (2009) evidencia a responsabilidade de toda a sociedade e afirma que o mundo adulto e o infantil estão se mesclando e, se formos honestos e conscientes, devemos admitir que também os adultos sofrem as mesmas influências exercidas pela propa-ganda nas crianças.

Crianças e adolescentes, no dia a dia, convivem com grupos de referência e são submetidos à pres-são de seus pares; assim, fazem da aparência e do consumo meios para serem aceitos.

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TREINAMENTO? EDUCAÇÃO PARA CONSUMO
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UMA ANALISE DESSAS AÇÕES AO LONGO DO TEMPO. TB EXISTE UMA BANALIZAÇÃO DO CONCEITO DE MARKETING SEMPRE ASSOCIADO UNICAMENTE A COMUNICAÇÃO PUBLICITARIA QUANDO NA VERDADE A COMUNICACAO É APENAS UM DOS P' DO MARKETING
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ESSE CONSUMO DE MODA NÃO É SÓ MOTIVADO PELA PP, MAS DA FORMA COMO É COLOCADO PRIORIZA A PP
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PRESSÃO?

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Para Borges (2007), o público infantil é continua-mente submetido aos modelos de corpo e de sexu-alidade apresentados na televisão, no cinema e na publicidade. A percepção de corpo, nos pequenos, é mediada sob a forma de imagens, personagens e brinquedos. Essa autora destaca o fato de que os mo-delos de corpos, construídos pela mídia como ideais, têm desencadeado uma série de distúrbios psicoló-gicos entre adolescentes, recém-saídos da infância, e registra que a preocupação com a aparência do corpo estende-se, cada vez mais, às meninas, que procuram precocemente incorporar os modelos da última moda.

As meninas imitam o comportamento das mu-lheres adultas, independentes e modernas e isso não passa despercebido pela publicidade:

Tal empatia das meninas com o comportamento adul-to tem feito o mercado se aproveitar e criar modelos estereotipados, caso da boneca Barbie que, desde 1959, representou a venda de 1 bilhão de roupinhas. O manequim de magreza da Barbie revela um para-digma de beleza estética para as meninas, reforçado pelo próprio padrão consagrado nas passarelas, bou-tiques, novelas e propaganda. É também o referencial das meninas que sonham em ser modelos, artistas ou cantoras, já que a fama e o reconhecimento social pesa decisivamente em suas vidas. Barbie gosta de shopping, cuida demais de sua aparência, é anorexi-camente fina de cintura… Em suma, ela pode parecer um simulacro do que há de mais vazio e narcísico na modernidade tardia. (GIACOMINI FILHO, 2000, p. 10).

O público infantil tem sido exposto a problemas éticos nas campanhas publicitárias infantis, que contri-buem negativamente para a formação de seu cará-ter e personalidade. Como destacam Ribeiro e Ewald:

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Talvez a maioria das crianças realmente não consiga depreender para que serve a publicidade, mas é fato que, mesmo sem possuir esse entendimento, elas são influenciadas pelo explícito e pelo implícito e, acabam imitando o que veem nos comerciais. (2010, p. 72).

A tipologia adultizada nas representações sociais da criança protagonista de anúncios de moda vei-culados na revista Vogue kids Brasil

O conceito de representações sociais é ampla-mente discutido por diversos teóricos que se dedi-caram ao tema após Durkheim, sociólogo que nos trouxe a noção de que a vida coletiva é feita essen-cialmente de representações.

Moscovici (1978) desenvolve a premissa de que as representações produzem realidades a partir do senso comum e, ao serem compartilhadas e validadas socialmente, constituem uma realidade comum que possibilita o relacionamento e o processo de comu-nicação entre os indivíduos no grupo social e, coleti-vamente, expressam os conhecimentos, as crenças, os interesses e os sentimentos intrínsecos a esse grupo.

Raddatz e Morigi (2007, p. 101) entendem a re-presentação social “como um sistema de elaboração de novas informações sociais” e destacam que a mí-dia é uma das principais difusoras e propagadoras de novas representações que vão explicitar as afinidades dos grupos sociais. É nas representações sociais que a publicidade vai encontrar terreno fértil para inovar e renovar-se, criando novas referências para os sujeitos consumirem o que lhes é oferecido.

A imagem pode ser um dos componentes fun-damentais para referenciar a representação social. Nesse contexto, a indústria da mídia e a publicidade utilizam vários recursos para retratar a moda, sendo

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essenciais a fotografia e o vídeo. Barnard (2003) refor-ça que “a fotografia de moda é indubitavelmente um importante suprimento de imagens, e uma das mídias mais poderosas, em se tratando de criar e comunicar imagens de homens e mulheres”. De forma correlata, a criança tem suas representações registradas em fotos e vídeos, de forma que tais registros, ao compo-rem um anúncio publicitário, servem como referência daquilo que o anunciante de moda quer passar, seja para outras crianças, como influenciadoras ou con-sumidoras, seja para os adultos, como compradores ou decisores.

Perseguindo o objetivo deste trabalho, incorpo-ramos ao referencial teórico a obra de Osaki (2003), que analisa as representações e características sociais atribuídas à criança quando projetadas nos comer-ciais em que ela atua como protagonista.

Essa pesquisadora concebe a representação como uma atividade humana essencial para produzir comunicação: “A propaganda se utiliza de padrões tipológicos infantis com o propósito de identificar as representações sociais da criança perante os diversos públicos” (OSAKI, 2003, p. 153).

Essa autora identificou características que se co-locam como moldes, que padronizam comportamen-tos e aspirações sociais e, dentre eles, a tipologia da criança adultizada:

A criança adultizada possui comportamentos e atitu-des que traduzem a criança produzida pelos meios midiático ou familiar. Nesse sentido, a criança busca modelos, padrões e estereótipos do mundo adulto na tentativa de incorporá-los. Portanto, os meios produ-zem uma idiossincrasia porque apresentam a criança adultizada não como adultizada, mas como a criança inteligente que possui a rapidez de incorporar o outro,

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o novo, mas, na verdade, é o roubo da fase da vida da criança. Por outro lado, a relação da criança con-sumista com a adultizada é imediatamente evidente quando a atual sociedade do consumo e do simulacro tende muito mais a adultizar a criança pelo consumo, e em contrapartida, infantilizar os adultos quando estes se entregam aos jogos eletrônicos que são destinados às crianças, por exemplo. Essa transferência de valores indica que, no consumo, todos são iguais, podendo haver a redução do adulto ao universo da criança e da incorporação da criança ao mundo adulto. (OSAKI, 2003, p. 160).

Meurer (2002), ao analisar a criança a partir do programa de TV Gente inocente!?, veiculado pela Rede Globo de Televisão, destacou que as crianças assumem um “estilo”, e identificou a criança adul-tizada como a mais madura, aquela que mostra seriedade e provoca admiração nos adultos que a concebem como esperta.

Para verificar o fenômeno de adultização da criança nos anúncios que oferecem produtos de moda publicados na revista Vogue kids Brasil, este estudo valeu-se dos conceitos de Osaki (2003) e Meu-rer (2002), e fez algumas adaptações na descrição das tipologias para que se tenha abrangência sobre os anúncios impressos.

A revista Vogue kids Brasil atualmente é uma pu-blicação das Edições Globo Condé Nast S.A., de São Paulo, joint venture estabelecida em julho de 2010, e desde 2008 é distribuída no País como suplemento da revista Vogue1. Optou-se, como objeto amostral de análise, por anúncios veiculados nas duas edições de 2011, ano em que a revista manteve-se semes-tral. Trata-se de uma publicação voltada exclusiva-

1 Informações extraídas do Media Kit. Janeiro/2012.

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mente à divulgação de produtos de moda, com su-plemento dedicado à moda infantil concentrando anúncios neste segmento de mercado. Outros pes-quisadores, que também se utilizaram desse suporte midiático para suas análises, identificaram a Vogue como uma revista mundialmente privilegiada para os lançamentos de campanhas publicitárias, caso de Novelli (2009), que destaca informações sobre a publicação no Brasil, onde a revista é dirigida a leito-res pertencentes às classes sociais A e B, tipicamente considerados “formadores de opinião”. A revista Vo-gue kids Brasil tem foco principal em moda infantil, e até recentemente era veiculada semestralmente; no entanto, a partir de 2012, passou a ser publica-da trimestralmente. A revista traz marcas de moda nacionais e internacionais e seu editorial aborda as iniciativas e os eventos que têm crianças como seus principais protagonistas2.

A análise de conteúdo (BARDIN, 2004) dos anún-cios foi realizada por meio das imagens fotográficas nas quais as crianças apresentam-se com roupas, gestos e expressões, em cenários e ambientes cujo conjunto permite interpretar e enquadrar as tipolo-gias. Foram contabilizados, ao todo, 63 anúncios pu-blicitários sobre moda veiculados nas duas edições da revista Vogue kids Brasil publicadas no ano de 2011. Todos os anúncios que fossem protagonizados por crianças, oferecessem produtos de moda (roupas e calçados) e tivessem o formato de página inteira ou dupla compuseram a amostra para esta análise.

2 Informação veiculada na editoria “Carta da Editora”, escrita por Daniela Falcão, diretora de redação da revista Vogue kids Brasil, na edição nº 12, março de 2012.

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Publicidade de moda e a tiPologia adultizada da criança

Foi avaliado o conjunto das características para se determinar o enquadramento da representação da criança no anúncio, porém com ênfase à tipolo-gia adultizada. As crianças retratadas nos anúncios foram descritas segundo características aparentes de vestuário, gênero e nas faixas etárias estudadas por Bee (1996).

As cenas foram descritas a partir das crianças, do contexto e da interpretação diante dos elementos observados, que compreendem poses, gestos, acessó-rios, expressões corporais, objetos, indumentária, entre outros, de forma que foi possível extrair aspectos so-ciais, valores morais, qualidades humanas e caracte-rísticas pessoais que sugeriram o enquadramento na tipologia da criança.

Análise dos resultadosConsiderando-se os anúncios examinados na re-

vista Vogue kids Brasil, a criança adultizada figurou em 33% das peças analisadas. Em segundo lugar, des-tacaram-se as crianças do tipo consumista e típica, ambas apresentadas em 11% das ocorrências. Na se-quência foram identificadas as tipologias: sonhadora (10%), transgressiva (8%), inocente (7%), esperta (6%), travessa (6%) e erotizada (6%).

A criança adultizada foi representada em 36 oportunidades, de um total de 108 constatações de tipologias. Na maioria das vezes, as crianças são re-tratadas com expressões sérias, utilizando roupas e estampas sóbrias, características do universo adulto. Elementos que retratam a antiguidade, a exemplo de mobiliários, artigos de decoração e objetos que reme-tem à lembrança de décadas passadas são utilizados em abundância, contrastando com um padrão com-

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portamental comum. Em algumas situações, como forma de forçar uma aparência de maturidade, a criança é retratada em comportamentos que se as-semelham aos habitualmente praticados por adultos, tais como o uso de gravatas, mãos comportadamente colocadas no bolso, ou ainda pernas cruzadas ele-gantemente enquanto sentada.

Apenas para ilustrar o conteúdo analítico da criança adultizada, apontamos a descrição tipológi-ca de dois dos 36 anúncios encontrados.

Anúncio “casal em fuga”O casal de crianças está correndo e pulando,

o menino demonstrando, expressão facial séria, e a menina, um sorriso discreto. Não é mostrado o local onde estão e o que os leva a essa ação, possibilitan-do visualizá-los como independentes, quase como um casal em fuga. Tal liberdade é reforçada quando a foto registra-os no ar, cena esta que se assemelha à levitação. O elemento gráfico que se parece com um raio dá margem a várias interpretações, podendo ser, desde um simples recurso visual para dar infor-malidade à cena, como representar algo misterioso ou mágico relacionado às crianças ou ao produto. Suas roupas parecem com as utilizadas por pessoas com idade superior, caso das cores e estampas con-servadoras e sérias.

Anúncio “viagem”As duas crianças estão sobre uma mala antiga: a

menina em pé e o menino sentado sobre uma caixa de guardar chapéus/cartolas antigas. Estão inseridas em um cenário clássico, denotado pelo estilo da es-tampa da parede, do mobiliário e do telefone de

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gancho. Ambos posando com o olhar fixado na câ-mera. Malas associam-se à viagem, o que remete à ideia de independência e liberdade. O menino está bastante sério, enquanto a menina esboça um leve sorriso usando maquiagem. Suas roupas têm o estilo de adultos conservadores, embora haja um ursinho próximo a seus pés, conferindo certo ar infantil. As roupas possuem tons pastéis e sóbrios, além de um corte conservador próximo do mundo adulto. Assim, criou-se uma atmosfera de volta a um passado gla-moroso, típico do século XIX e início do século XX.

Considerações finaisA revista Vogue kids Brasil, com seu foco na

moda infantil, atrai anunciantes interessados no se-tor, fruto da expansão que esse mercado tem expe-rimentado. Tal relevância da moda infantil está liga-da ao significativo poder econômico e de consumo dos compradores adultos e da criança consumidora, pois encontram na indumentária e nos objetos de uso pessoal uma forma de representarem-se socialmente.

Os anúncios veiculados na revista parecem com-partilhar com a linha editorial e com uma identida-de múltipla da criança contemporânea, que pode assumir diversas representações, consoantes com a heterogeneidade de papéis que desempenha na so-ciedade atual.

A criança, ator central desta pesquisa, transfor-mou-se ao longo dos séculos de acordo com novos contextos sociais e familiares. Com grande inserção social e mercadológica, além de possuir certo do-mínio de novos aparatos de tecnologia da informa-ção, a criança adquiriu conhecimentos e certa vi-são crítica do mundo, fatores que podem implicar

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comportamentos híbridos com os característicos do mundo adulto, contexto que a indústria da moda e da publicidade não hesita em explorar.

A sociedade do consumo enaltece a jovialidade. Os jovens não só fazem parte do sistema de consumo, como servem de referência para outros segmentos etários; assim, a sociedade caminha no sentido de querer aparentar ser jovem. Enquanto a criança pa-rece desejar ser adulta rapidamente, o adulto busca a jovialidade, equiparando-se as gerações em um só modo de viver a contemporaneidade.

Os anúncios analisados pertencem à revista Vo-gue kids Brasil. Por tratar-se de um universo de pes-quisa limitado, não é possível generalizar ou fazer extensões dos resultados obtidos.

As representações sociais verificadas nos anún-cios de moda da revista Vogue kids Brasil oferecem modelos a seus leitores; contudo, fica a indagação se a adultização na infância contemporânea é retra-tada pela publicidade a partir do que se configura na realidade da sociedade moderna, ou é apenas uma artificialização do mundo da moda.

A publicidade contribuiria para aprofundar a re-presentação adultizada da criança no contexto so-cial? Esta indagação, dentre outras, poderá ser con-duzida por novos estudos, pois a esse tema demanda maior aprofundamento, inclusive o destinado a uma pesquisa de recepção com o objetivo de entender como as crianças processam o que lhes é apresen-tado pela propaganda de moda.

A atividade da comunicação publicitária mere-ce ampla reflexão crítica por parte dos profissionais envolvidos, indústria da mídia e anunciantes, sobre

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os efeitos dos valores transmitidos em seus anúncios protagonizados por crianças no mercado da moda.

A sociedade como um todo tem responsabilida-de total na formação da criança por ser considerada vulnerável. Deve voltar sua atenção também para os impactos impostos pelas representações sociais que são veiculadas e, com isso, diminuir ou evitar a promoção de valores infantis não legítimos, que possam provocar um amadurecimento precoce e, assim, descaracterizar a infância como fundamental degrau da cidadania.

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