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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO ESTUDO DAS LEIS DE APOIO E INCENTIVO A CULTURA COMO CUMPRIMENTO DA NORMA CONSTITUCIONAL CONSTANTE NO ART. 215 DA CRFB/88 THAYSE LAURÊNCIO DE SOUZA Itajaí, 25 de outubro de 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

ESTUDO DAS LEIS DE APOIO E INCENTIVO A CULTURA COMO CUMPRIMENTO DA NORMA CONSTITUCIONAL CONSTANTE NO

ART. 215 DA CRFB/88

THAYSE LAURÊNCIO DE SOUZA

Itajaí, 25 de outubro de 2007

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

ESTUDO DAS LEIS DE APOIO E INCENTIVO A CULTURA COMO CUMPRIMENTO DA NORMA CONSTITUCIONAL CONSTANTE NO ART. 215

DA CRFB/88

THAYSE LAURÊNCIO DE SOUZA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Msc Emerson de Morais Granado

Itajaí, 25 de outubro de 2007

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AGRADECIMENTO

Agradeço imensamente aos meus pais, Luciano e Rosângela, que me ensinaram minhas primeiras

palavras, e que souberam entender, com paciência, os momentos que não pude estar junto

deles durante o período da faculdade.

Também ao meu irmão Felipe que, por diversas vezes, me auxiliou na digitação dos trabalhos,

indo e voltando a biblioteca sem se queixar.

Ao pequeno Romeu que soube aguardar pacientemente, às vezes, a hora de poder usar o computador, enquanto a Mana fazia os trabalhos

da Faculdade.

As amigas de classe que deram o apoio para continuar na luta, especialmente a Daíra Andréa

de Jesus, Rosilene Augusta Fantoni, Aline Aldana e Fernanda de Souza Kretzer.

A Alexandre Martini, meu namorado, que tantas vezes me incentivou a persistir, a seguir em

frente, e que, por vezes, soube compreender minha ausência.

Aos meus amigos e familiares que me incentivaram durante o curso, e em toda minha

vida.

Ao coreógrafo Thurbo Braga, e sua esposa Mylla Braga, por darem a oportunidade de participar do

Grupo de Dança Millennium, e por serem hoje grandes amigos.

E ao mestre e orientador Emerson de Morais Granado, pela paciência e compreensão na

realização desta monografia.

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DEDICATÓRIA

Aos meus queridos e amados pais, Luciano de Souza, e Rosângela Maria Laurêncio, por terem

acreditado neste sonho, e por todo carinho e atenção durante toda minha vida.

Vocês são os amores da minha vida!

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí, 25 de outubro de 2007.

Thayse Laurêncio de Souza Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Thayse Laurêncio de Souza, sob o

título Estudos das leis de apoio e incentivo a cultura como cumprimento da norma

constitucional constante no art. 215 da CRFB/88, foi submetida em 22/11/2007 à

banca examinadora composta pelos seguintes professores: Prof. MSc. Emerson

de Morais Granado (presidente), Prof. MSc. José Everton da silva (examinador), e

Prof. Msc. Maria da Graça Mello Ferraciolli (examinadora), e aprovada com a nota

10 (dez).

Itajaí, 25 de outubro de 2007.

Prof. MSc. Emerson de Morais Granado Orientador e Presidente da Banca

Prof. MSc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

FEIC Fundo Estadual de Incentivo a Cultura

FICART Fundo de Investimento Cultural e Artístico

FNC Fundo Nacional de Cultura

MEIC Mecenato Estadual de incentivo a Cultura

FCC Fundação Catarinense de Cultura

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura

EXAC Executiva de Apoio à Cultura

SEIC Sistema Estadual de Incentivo à Cultura

CITAC Comissão Itajaiense de Avaliação de Projetos Culturais

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Bem cultural

(…) objetos culturais são coisas criadas pelo homem mediante projeção de

valores, “criadas” não apenas no sentido de produzidas, não só do mundo

construído, mas no sentido de vivência espiritual do objeto, consoante se dá em

face de uma paisagem natural de notável beleza, que, sem ser materialmente

construída ou produzida, se integra com a presença e participação do espírito

humano1.

Constituição

Lei fundamental de um Estado; sistema de normas jurídicas escritas ou costumeiras que regula a forma de Estado, a forma de Governo, o estabelecimento de seus órgãos e os limites de sua ação; conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado; é o nomen juris que se dá ao

complexo de regras que dispõe sobre a organização do Estado, a origem e o exercício do poder, a discriminação do Estado, a discriminação das competências estatais e a proclamação das liberdades públicas2.

Contribuinte

1) Estabelecimento inscrito no Cadastro de Contribuintes do ICMS do Estado

de Santa Catarina, que venha a apoiar financeiramente, através de

mecanismos de doação, patrocínio ou investimento, projetos culturais

previamente aprovados pela Fundação Catarinense de Cultura - FCC, ou

1 COSSIO, Carlos Apud SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. São Paulo: Malheiros Editores LTDA, 2001. p.26.

2 CAPEZ, Fernando. Direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Damásio de Jesus. 2005. p. 21.

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transferir recursos financeiros diretamente ao Fundo Estadual de Incentivo

à Cultura – FEIC3.

2) É a empresa ou profissional autônomo, inscrito no Cadastro de

Contribuintes do ISSQN - Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza,

no Município de Itajaí, que venha a apoiar financeiramente, através de

patrocínio, projetos culturais ou artísticos, previstos em Lei, na forma deste

Regulamento4.

Cultura

(…) a cultura como ordem simbólica por cujo intermédio homens determinados exprimem de maneira determinada suas relações com a natureza, entre si como poder, bem como a maneira pela qual interpretam essas relações5.

Doação

1) Transferência gratuita em caráter definitivo à pessoa física ou pessoa

jurídica de natureza cultural, sem fins lucrativos, numerário, bens ou

serviços para a realização de projetos culturais, vedado o uso de

publicidade paga para divulgação desse ato6.

2) Doação: transferência definitiva de bens e recursos, realizada sem qualquer proveito de promoção ou publicidade para o contribuinte7.

Eficácia

Eficaz é o ato idôneo para atingir a finalidade para qual foi gerado 8.

3 Decreto Estadual nº 3.604, de 23 de dezembro de 1998, art. 2º, IV.

4 Decreto Municipal nº 7.755, de 13 de dezembro de 2005, art. 2º, IV.

5 CHAUÍ, Marilena, e outros. Cultura e democracia. 11ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 2006. p. 55.

6 Decreto Federal nº 1.494, de 17 de maio de 1995, art. 3º, III.

7 Decreto Estadual n° 3.604/1998, art. 2º, V.

8 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. 6ª ed. rev., atual., e ampl. São Paulo: Editora Saraiva. 2004. p. 247.

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Incentivo fiscal

1) lançamento ou utilização, como crédito do recurso financeiro aplicado em

projetos culturais por contribuinte do Imposto sobre Operações Relativas à

Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte

Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS, a título de

compensação, para dedução dos valores devidos ao Estado, na forma e

nos limites estipulados em Lei9.

2) Utilização, como crédito do recurso financeiro aplicado em projetos

culturais por contribuinte do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza,

a título de renúncia, para transferência dos valores devidos ao Município,

na forma e nos limites estipulados em lei10.

Patrimônio cultural

1) Área de preservação de bens de relevância histórica, artística, arquitetônica, paisagística e arqueológica, entre outras11.

2) Conjunto de bens materiais e imateriais de interesse para a memória do

Brasil e de suas correntes culturais formadoras, abrangendo o patrimônio

arqueológico, arquitetônico, arquivístico, artístico, bibliográfico, científico,

ecológico, etnográfico, histórico museológico, paisagístico, paleontológico e

urbanístico, entre outros12.

Patrocínio

1) A transferência de numerário, com finalidade promocional ou a cobertura pelo contribuinte do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza, de gastos ou a utilização de bem móvel ou imóvel do seu patrimônio, sem a transferência de domínio, para a realização, por outra

9 Decreto Estadual n° 3.604/1998, art. 2º, II.

10 Decreto Municipal nº 7.755/2005, art. 2º II.

11 Decreto Estadual n° 3.604/1998, art. 2º, VII.

12 Decreto Federal nº 1.494/1995, art.3º, VIII.

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pessoa física ou jurídica de atividade cultural com ou sem finalidade lucrativa prevista no artigo 3º desta Lei13.

2) Despesas do contribuinte com promoção ou publicidadeem atividade

cultural, sem proveito patrimonial ou pecuniário direto14.

Projeto cultural

1) Os projetos culturais e artísticos submetidos às instâncias do Pronac, cuja

elaboração atenda ao disposto nos arts. 1º e 2º deste decreto15.

2) Proposta de realização de obra, ação ou evento específico ao

desenvolvimento artístico e/ou à preservação do patrimônio cultural de

Santa Catarina16.

3) Proposta de realização de obra, ação ou evento específico ao

desenvolvimento artístico-cultural e histórico-cultural17.

13 Lei Federal 8.313, de 23 de dezembro de 1991, art. 23, II.

14 Decreto Estadual nº 3.604/1998, art. 2º, VI.

15 Decreto Federal nº 1.494/1995, art.3º, XII.

16 Decreto Estadual n° 3.604/1998, art. 2º

17 Decreto Municipal nº 7.755/2005, art. 2º, I.

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SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................... XIII

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 4

EFICÁCIA DA NORMA CONSTITUCIONAL DE 1988 ....................... 4 1.1 ORIGEM DA CONSTIUIÇÃO ...........................................................................4 1.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA CONSTIUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988......................................................................8 1.3 APLICAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL .............................................12 1.3.1 NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA ABSOLUTA ...........................................14 1.3.2 NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA PLENA .................................................15 1.3.3 NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA CONTIDA ..............................................17 1.3.4 NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA LIMITADA .............................................20

1.3.4.1 Normas de princípio institutivo........................................................22 1.3.4.2 Normas de princípio programático..................................................23

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 26

CULTURA ........................................................................................ 26 2.1 CONCEITO DE CULTURA.............................................................................26 2.1.1 CONCEPÇÃO ANTROPOLÓGICA ........................................................................26 2.1.2 CONCEPÇÃO MORAL.......................................................................................27 2.1.3 CONCEPÇÃO RELIGIOSA .................................................................................29 2.1.4 CONCEPÇÃO FILOSÓFICA ................................................................................31 2.1.5 CONCEPÇÃO SEMIÓTICA .................................................................................34 2.2 BENS CULTURAIS ........................................................................................35 2.2.1 BENS CULTURAIS MUNDANAIS.........................................................................39 2.2.2 BENS CULTURAIS EGOLÓGICOS.......................................................................41 2.3 CULTURA BRASILEIRA................................................................................42

CAPÍTULO 3 .................................................................................... 47

ESTUDO DAS LEIS DE APOIO E INCENTIVO A CULTURA COMO CUMPRIMENTO DA NORMA CONSTITUCIONAL CONSTANTE NO ART 215 DA CRFB/88...................................................................... 47 3.1 A CULTURA NA CRFB/88 .............................................................................47 3.2 COMPETÊNCIAS ...........................................................................................48 3.2.1 COMPETÊNCIA COMUM ....................................................................................48 3.2.2 COMPETÊNCIA CONCORRENTE .........................................................................49 3.3 ÁREAS ABRANGIDAS PELAS LEIS DE INCENTIVO A CULTURA ............50 3.3.1 LEI FEDERAL ..................................................................................................50

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3.3.2.1 Mecenato........................................................................................53 3.3.2.2 Fundo Nacional de Cultura – FNC..................................................57 3.3.2.3 Fundo de Investimento Cultural e artístico (FICART) .....................58

3.3.3 LEI ESTADUAL – SC .......................................................................................60 3.3.4 LEI MUNICIPAL – ITAJAÍ/SC.............................................................................65 3.4 A RECEPTIVIDADE DAS LEGISLAÇÕES DE INCENTIVOS FISCAIS PARA PESSOAS QUE INVESTIREM EM CULTURA.....................................................68 3.5 AS LEGISLAÇÕES ORDINÁRIAS E A EFICÁCIA DO ART. 215 DA CRFB/88..............................................................................................................................73 3.6 A SOCIEDADE BRASILEIRA E A UTILIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO ORDINÁRIA QUE DÁ INCENTIVO A CULTURA.................................................75

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 77

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 79

ANEXOS........................................................................................... 82

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RESUMO

A presente pesquisa aborda a eficácia da norma jurídica,

para que se possa ter uma melhor compreensão da questão inserida na

aplicabilidade das leis infraconstitucionais que disciplinam sobre o incentivo a

cultura, dando ao texto constitucional do art. 215 a capacidade de produzir todos

os efeitos pretendidos. Também será enfatizada a questão da cultura,

conceituando-a, e verificando as inúmeras acepções que ela possui, dando maior

atenção à semiótica, que é a abordada pela constituição. Inclusive será levantada

uma definição de bem cultural, em abordagem breve e esclarecedora abrangendo

sua subdivisão, proposta por Calos Cossio em Mundanais e Egológicos. Na

análise realizada com as Leis: nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991 – Federal; nº

10.929, de 23 de setembro de 1998 - Estadual (SC); e a de nº 3.473, de 11 de

janeiro de 2000 - Municipal (Itajaí/SC) serão apresentadas às áreas culturais que

foram por elas abrangidas, seus mecanismos de incentivo e os benefícios que

podem trazer as pessoas que se dispõe a contribuir. O tema da presente é

oportuno, tendo em vista que a cultura é uma forma de inclusão social às pessoas

que sofrem com a discriminação, ou simplesmente pelo fato de manterem jovens

e crianças em ocupações saudáveis que venham a suprir suas necessidades

físicas e psicológicas, dependendo da atividade praticada, dando a eles uma

oportunidade paralela que possam exercer profissionalmente no futuro.

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INTRODUÇÃO

Sabe-se que hoje, no Brasil, há um descaso com a cultura,

faltando a esta um apoio e incentivo maior, para que as pessoas possam realizar

suas atividades culturais de forma digna. As leis existem, mas existe também um

receio por parte das pessoas que poderiam investir, ou mesmo o

desconhecimento de que estes incentivos podem trazer-lhes benefícios.

A presente Monografia tem como objeto o estudo das leis de

apoio e incentivo a cultura como cumprimento da norma constitucional constante

no art. 215 da CRFB/88.

Tem como finalidade a compreensão de que a Constituição

da República Federativa do Brasil de 1988 em seu art. 215, reconhecendo a

importância do desenvolvimento cultural no Brasil, por ser a cultura um serviço

específico, de valor imaterial e intangível, que necessita de investimentos

financeiros para seu crescimento, determinou ao Estado, a obrigação de apoiar e

incentivar a valorização e a difusão das manifestações culturais.

Para a concretização do apoio e incentivo mencionado no

texto da norma constitucional, foi que o Estado brasileiro editou normas

infraconstitucionais, e nelas estabeleceu incentivos fiscais, as pessoas que

investirem em cultura.

Nesse sentido, a pesquisa teve como enfoque a análise da

importância, legalidade e eficácia das normas que incentivam a desenvolvimento

cultural do povo brasileiro, como forma de manter viva suas tradições e

identidade.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando da eficácia

da norma constitucional de 1988, fazendo uma breve exposição da origem da

constituição, seguido com os aspectos históricos da CRFB/88, e mais

amplamente tratando da aplicação da norma constitucional, explicando os tipos

de eficácia (absoluta, plena contida e limitada) de tais normas.

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No Capítulo 2, tratando especificamente sobre cultura,

buscando o seu conceito dentro das acepções: antropológica, moral, religiosa,

filosófica e semiótica. Verificando qual delas é recepcionada pela CRFB/88 em

seu art. 215. Também examinando o conceito de bem cultural, e tratando da

cultura brasileira.

No Capítulo 3, tratando do estudo das leis de apoio e

incentivo a cultura, declinando a competência para legislar sobre o tema, de

acordo com a CRFB/88; verificando as áreas de abrangência de cada lei de

incentivo da esfera Federal, Estadual (SC), e Municipal (Itajaí/SC), conhecendo os

mecanismos utilizados para o cumprimento destas leis, e também examinando a

receptividade das legislações de incentivos fiscais para pessoas que investirem

em cultura.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre o estudo das leis de apoio e incentivo a cultura como cumprimento da

norma constitucional constante no art. 215 da CRFB/88.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

� Verificar quais são os mecanismos utilizados pelas leis de apoio e incentivo a cultura, tanto Federal, quanto Estadual (SC), e Municipal (Itajaí/SC);

� Identificar quais são as áreas que são abrangidas pelas leis de apoio e incentivo a cultura, nas três esferas, sendo elas a Federal, Estadual (SC), e Municipal (Itajaí/SC);

� Pesquisar projetos que sejam apoiados pelas leis de incentivo a cultura, e identificar quais os mecanismos utilizados para incentivá-los.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

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Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

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CAPÍTULO 1

EFICÁCIA DA NORMA CONSTITUCIONAL DE 1988

1.1 ORIGEM DA CONSTIUIÇÃO

Para tratar da eficácia da Constituição da República

Federativa do Brasil de 198818, se faz necessário primeiramente, entender o

significado de uma Constituição e sua origem, o que não é uma coisa simples.

Para Cruz19 o conceito de Constituição que é aceito amplamente pela maioria dos

doutrinadores é o de que esta é uma “norma fundamental”, entretanto, existem

várias formas de se interpretar o termo ‘Constituição’, especialmente por que ele

pode variar entre os países e inclusive dentro do próprio país.

Celso Ribeiro Bastos20 faz uma abordagem mais ampla a

cerca do tema do exposto, aduzindo:

Tentar oferecer um conceito de Constituição não é das tarefas mais fáceis de serem cumpridas, em razão de este termo ser equívoco, é dizer, prestar-se a mais de um sentido. Isso significa dizer que há diversos ângulos pelos quais a Constituição pode ser encarada, conforme seja a postura em que se coloque o sujeito, o objeto ganha outra dimensão. Seria como um poliedro que fosse examinado a partir de ângulos diferentes. Para cada posição na qual o observador se colocasse, facetas diferentes dessa figura geométrica seriam vistas, não lhe sendo possível examiná-la toda de uma só vez. Exatamente assim ocorre com a Constituição. Não se pode dar um conceito único, pois ela varia conforme a ótica a partir da qual se vai visualizá-la.

18 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que doravante será tratada de CRFB/88.

19 CRUZ, Paulo Marcio. Fundamentos do direito constitucional. 2. ed. Curitiba: Juruá. 2006. p.80.

20 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. São Paulo: Celso Bastos Editor. 2002. p. 57 e 58.

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A percepção que Celso Ribeiro Bastos tem ao comparar a

Constituição com poliedro21 demonstra claramente à dificuldade em se conceber

um conceito preciso, visto que se pode entendê-la de formas diversas.

Porém, apesar da dificuldade para encontrar um conceito da

categoria Constituição, Fernando Capez22 apresenta um que vem complementar a

idéia de Cruz, o qual se dá por esta ser uma:

Lei fundamental de um Estado; sistema de normas jurídicas escritas ou costumeiras que regula a forma de Estado, a forma de Governo, o estabelecimento de seus órgãos e os limites de sua ação; conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado; é o nomen juris que se dá ao complexo de regras que dispõe sobre a organização do Estado, a origem e o exercício do poder, a discriminação do Estado, a discriminação das competências estatais e a proclamação das liberdades públicas.

A idéia de constituição fundada em regras escritas ou

consuetudinárias faz parte de um conceito histórico. Esta acepção é utilizada, na

maioria das vezes, por historiadores, e sejam estas regras escritas ou

consuetudinárias, possuem “estruturas institucionais conformadoras de uma dada

ordem jurídico-política num determinado sistema social” 23.

E, neste norte, José Joaquim Gomes Canotilho

demonstrando que esta concepção histórica de Constituição é essencial para o

entendimento e fundamentação da Constituição moderna (ou ocidental), a qual

21 Poliedro é um sólido geométrico cuja superfície é composta por um número finito de faces, em que cada uma das faces é um polígono. Os seus elementos mais importantes são as faces, as arestas e os vértices. E um polígono é uma figura geométrica plana limitada por uma linha poligonal fechada, por exemplo o hexágono é um polígono de seis lados. A palavra "polígono" advém do grego e quer dizer muitos (poly) e ângulos (gon). A Piramede (tetraedro) é um exemplo de poliedro, ela é um poliedro regular convexo, sendo incluída no grupo dos sólidos platônicos, ela posui quatro faces, qua são polígonos triangulares. [in pt.wikipedia.org].

22 CAPEZ, Fernando. Direito constitucional. p. 21.

23 Deitmar Willoweitt apud CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito constitucional e teoria de constituição, 6ª ed. Coimbra – Portugal: Almeida, 2002. p.53.

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ocorre por um documento escrito, que se trata ainda, segundo José Joaquim

Gomes Canotilho24, de uma:

(…) ordenação sistemática e racional da comunidade política através de um documento escrito, no qual se declaram as liberdades e os direitos e se fixam os limites do poder político […] este conceito […] incorpora: (1) ordenação jurídico-política plasmada num documento escrito; (2) declaração, nesta carta escrita, de um conjunto de direitos fundamentais e do respectivo modo de garantia; (3) organização do poder político segundo esquemas tendentes a torná-lo um poder limitado e moderado25.

Contudo, este conceito é do tipo ideal, e não refletem

quaisquer dos modelos históricos. Dessa forma há uma grande necessidade de

se conhecer tais modelos, para ter pleno entendimento dos conceitos e categorias

atuais, afim de que não as confundam com as históricas 26.

Assim, tendo esclarecido o conceito de Constituição, passa-

se a explanar sobre a sua origem, o que é de extrema relevância, pois, dessa

forma pode-se compreender melhor a atual norma constitucional.

Moraes27 afirma que “A origem formal do constitucionalismo

está ligada às constituições escritas e rígidas”, tais como a dos Estados Unidos

da América (1787), que decorreu da Independência Estadunidense das 13

colônias, e a Francesa (1791), que surgiu após a Revolução Francesa (1789).

As constituições supracitadas tinham como intuito à defesa

da liberdade individual, podendo se verificar que houve uma limitação aos

poderes do Estado, através da instituição de direitos e garantias. Assim para

24 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria de constituição. p. 52.

25 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria de constituição. p. 52

26 Um exemplo, citado por Antonio Manuel Hespanha, é o conceito de soberania territorial, que segundo ele, não deve se confundir com o poder e território, categoria que pertence a Idade Média. [In CANOTILHO, J.J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. p.52].

27 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 21 ed. São Paulo: Atlas. 1999. p. 1.

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Moraes28 a cerca destas características que estão presentes nas Constituições

em comento, afirma serem duas, sendo a “organização do Estado e limitação do

poder estatal, por meio da previsão de direitos e garantias fundamentais”.

Contudo estes modelos são considerados, por Canotilho29,

como ‘individualista e estadualista’, que somente passaram a existir após o

chamado ‘modelo historicista’, da Inglaterra.

As principais características do modelo histórico

supramencionado são: a garantia dos direitos adquiridos, a estruturação de forma

corporativa dos direitos, que de início, pertenciam aos indivíduos que compunham

um estamento, e, por fim, a regulamentação destas características por meio de

‘contratos de domínio’.

Ocorre que, no ano de 1215, o rei da Inglaterra30 realizou

com os barões feudais um acordo que teve como conseqüência a Magna Charta

Libertatum31, com este documento nasceu “uma norma com ‘conteúdo

constitucional’”, conforme o ensinamento de Paulo Marcio Cruz32. Ela

desencadeou uma série de textos que contribuíram para a evolução das

constituições.

A Magna Charta Libertatum foi o ponto de partida para

outros textos que, da mesma maneira, foram grandes colaboradores para a

estruturação das constituições, tais como a Petition of Rights, o Habeas Corpus

Act e Bill of Rights, de 1628, 1679 e 1689, consecutivamente.

28 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. p. 1.

29 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria de constituição. p. 57

30 Conhecido como João Sem Terra [Nota da Autora].

31 É esta um tipo de contrato de domínio [Nota da Autora].

32 CRUZ, Paulo Marcio. Fundamentos do direito constitucional. p.80.

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As concretizações jurídico-constitucionais desse modelo

historicista incidiram, em relação à liberdade pessoal de todos e a segurança33,

num processo justo regulado por lei34, as leis do país35, e por fim a representação

e soberania parlamentar36, conforme o entendimento de J.J. Gomes Canotilho37.

1.2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA CONSTIUIÇÃO DA REPÚBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL DE 198838

Destaca-se a importância da história da atual norma

constitucional brasileira, dentro dos seus aspectos particulares, de extrema

relevância para seu entendimento e aplicação contemporânea.

A constituição que hoje vige no Brasil se origina por uma

série de acontecimentos, que, durante 20 anos fizeram amadurecer a idéia de que

o país precisava de um novo ordenamento jurídico39.

33 A liberdade foi consolidada de maneira objetiva nestas duas formas, e foram inclusive indicadas no art. 39 da Magna Charta Libertatum [In CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. p.55].

34 Este processo (due process of law) decorreu em face da liberdade e da segurança, com o intuito de criar regras que disciplinassem a privação da propriedade e da liberdade. [In CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. p.55 e 56].

35 Chamadas de laws of the land, são responsáveis por regular a tutela das liberdades já mencionadas, são interpretadas de forma dinâmica e dadas por juízes, que erguem a common law (direito comum). [In CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. p. 56]

36 Com base na Glorius Revolution (1688 – 1689), com a finalidade de compor um governo moderado, onde todos (reis, lordes e comuns do povo) estão representados no parlamento. [In CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. p.56].

37 CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. p.55.

38 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que doravante será tratada de CRFB/88.

39 BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História constitucional do Brasil. 5ª. ed. Brasília: OAB Editora. 2004. p. 455.

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Essa maturação fez com que a consciência da nação, de um

modo geral, pedisse o fim da chamada “revolução prolongada”, que teve início

com o golpe Militar de 1964, e radicou que sua decadência a partir do chamado

“pacote” em abril de 1977, onde o então presidente Ernesto Geisel efetuou o

fechamento do Congresso Nacional, na vigência do Ato institucional nº 540.

Paulo Bonavides e Paes Andrade41 em sua obra descrevem

sobre o assunto, e ressaltam que:

Determinou o chefe militar naquela ocasião o recesso do congresso, num ato de fechamento temporário, mas sobremaneira radical. Partira precisamente de quem, a seguir, com rígida inflexibilidade de propósitos, inauguraria breve a aplaudida política de refluxo à legitimidade e à restauração constitucional. Começou então um processo de transição, lento e gradualista, a chamada abertura, que durou cerca de dez anos.

Nessa época a sociedade civil, por meio de seus órgãos de

expressão, passou a erguer-se após longos anos de pesadelo por conta do

sistema que vigia naquela época.

Por estes motivos pode-se perceber que a atual norma

constitucional não teve como origem uma revolução ou um golpe de Estado, e

talvez seja este um dos aspectos históricos mais interessantes dela. Conforme o

entendimento de Bonavides e Andrade42

[…] foi ela a primeira Constituinte brasileira que não se originou de uma ruptura anterior das instituições; esta, portanto, a primeira constatação que a mais superficial análise histórica de nosso passado prontamente descobre.

Um fato de grande importância para a constituinte foi o

ocorrido em 08 de agosto de 1977, nesta data houve a leitura, pelo jurista

40 BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História constitucional do Brasil. p. 455.

41 BONAVIDES, P.; ANDRADE, P.. História constitucional do Brasil. p. 455.

42 BONAVIDES, P.; ANDRADE, P.. História constitucional do Brasil. p. 455.

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Goffredo Tales Júnior, da carta aos brasileiros43. Este documento é posterior a um

protesto realizado pela Ordem dos Advogados do Brasil44 em abril do mesmo ano,

e, possuia o mesmo enfoque, que era nada mais nada menos que, a convocação

de uma Assembléia Nacional Constituinte, para que se pudesse fazer uma

restauração nas instituições democráticas.

A Carta aos Brasileiros dava continuidade ao protesto de abril da Ordem dos Advogados do Brasil, que conclamara a Nação a procurar a única via legítima, com que restaurar as instituições democráticas despedaçadas – a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte45.

Num congresso realizado em Manaus (AM), pela OAB, de

18 a 22 de maio de 198046, foi mais uma vez, levantada à questão da

Constituinte, onde houve o comprometimento de busca para a realização desta.

Inclusive, em agosto do mesmo ano, José Paulo Sepúlveda Pertence proferiu a

palestra: "Estado de Direito Democrático e Constituinte", em Chapecó (SC), no

Encontro dos Advogados de Santa Catarina.

Em decorrência desses movimentos, várias campanhas

ocorreram, contudo, as que mais se destacaram foram: a da Constituinte, e o das

Diretas-Já47. Esta segunda campanha, como teve mais intensidade e adesão do

povo, acabou por atrasar a convocação da constituinte.

A expectativa era de que as eleições pelo voto direto – ou

Diretas-Já – acontecessem em 1985, porém isso não ocorreu, pois houve nesta

43 Este fato ocorreu na Faculdade de Direito das Arcadas, época em que Goffredo era professor [In BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História constitucional do Brasil. p.456].

44 Ordem dos Advogados do Brasil, que será tratada como OAB.

45 BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História constitucional do Brasil. p. 456

46 Informação constante no site www.stf.gov.br/institucional/presidentes/pr_republica_45.asp+congresso+oab+manaus+1980&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=2&gl=br

47 Teve início em janeiro de 1984, com um comício na Praça da Sé, em São Paulo, com aproximadamente 300 mil pessoas. [In BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História constitucional do Brasil. p.456].

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época o último colégio eleitoral, onde foi eleito Tancredo Neves, que não pode

tomar posse na data prevista48, tendo falecido logo em seguida, sendo que quem

tomou posse foi José Sarney, na qualidade de vice-presidente, desde a data

marcada para a posse.

José Sarney, em junho do ano de sua posse, encaminhou

ao Congresso Nacional uma mensagem propondo a convocação de uma

Assembléia Nacional Constituinte, o que resultou na Ementa Constitucional nº 26,

de 27 de novembro de 1985.

Esta emenda constitucional tratava do ato convocatório; em

seus primeiros artigos determinava que se reunissem os membros da Câmara

dos Deputados e do Senado Federal, em uma determinada data, com a finalidade

de constituir a Assembléia Nacional Constituinte, e ainda que esta fosse “livre e

soberana”.

Art. 1º Os Membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal reunir-se-ão, unicameralmente, em Assembléia Nacional Constituinte, livre e soberana, no dia 1º de fevereiro de 1987, na sede do Congresso Nacional.

Art. 2º. O Presidente do Supremo Tribunal Federal instalará a Assembléia Nacional Constituinte e dirigirá a sessão de eleição do seu Presidente.

Art. 3º A Constituição será promulgada depois da aprovação de seu texto, em dois turnos de discussão e votação, pela maioria absoluta dos Membros da Assembléia Nacional Constituinte.

O artigo 3º supramencionado prevê inclusive o modo de

entrada em vigor da constituição, sendo que esta deveria ser promulgada, ficando

dependente a sua promulgação de aprovação por “maioria absoluta” dos

Membros da Assembléia Nacional Constituinte, consistindo esta aprovação em

dois turnos, de discussão e votação.

48 15 de março de 1985. [In BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História constitucional do Brasil. p.457].

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Verifica-se, neste relato que, quanto à origem, a CRFB/88 é

classificada como promulgada, conforme o próprio dispositivo da emenda

constitucional dispõe49.

Tendo assimilado o exposto neste título, passa-se então a

explanar sobre a aplicação das normas constitucionais, tendo como referência a

sua eficácia.

1.3 APLICAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL

Fernando Capez50 ensina que: “Todas as normas

constitucionais são dotadas de eficácia”, e acrescenta ainda a classificação delas

em jurídicas e sociais, e somente jurídicas.

Fazendo uma análise científica dos atos jurídicos, pode-se

verificar que este é dotado de três planos que se diferenciam, sendo eles os

planos da existência, validade e eficácia51.

Brevemente a existência está intimamente ligada aos

elementos que constituem o ato jurídico, os quais normalmente se tratam do

agente, do objeto e da forma. Já com relação à validade pode-se dizer, de

maneira sucinta, que esta depende do preenchimento dos requisitos legais, e a

falta destes leva a invalidade do ato.

A eficácia, porém, deve ser tratada de forma mais

aprofundada, pois trata da aptidão para produzir os efeitos relacionados ao ato

jurídico. Dessa forma a eficácia está ligada à aplicação da norma jurídica. Luís

49 CAPEZ, Fernando. Direito constitucional.p. 23.

50 CAPEZ, Fernando. Direito constitucional. p. 67.

51 BARROSO, Luís Roberto.Interpretação e aplicação da constituição. p. 246.

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Roberto Barroso52 descreve que “Eficaz é o ato idôneo para atingir a finalidade

para qual foi gerado”.

No que toca a norma, a eficácia se mostra na qualidade de

produzir os seus efeitos, sejam eles em maior ou menor grau, para José Afonso

da Silva53 isso significa que todas as normas constitucionais contém, embora nem

todas de forma plena, algum tipo de eficácia:

O que se pode admitir é que a eficácia de certas normas constitucionais não se manifesta na plenitude dos efeitos jurídicos pretendidos pelo constituinte enquanto não se emitir uma normação jurídica ordinária ou complementar executória, prevista ou requerida.

A importância do estudo da eficácia da norma constitucional

é devida pelo fato de que todas estas produzem efeitos jurídicos, ou seja, são

dotadas de eficácia, como supramencionado, assim disciplina José Afonso da

Silva54:

Temos que partir, aqui, daquela premissa já tantas vezes enunciada: não há norma constitucional alguma destituída de eficácia. Todas elas irradiam efeitos jurídicos, importando sempre uma inovação da norma jurídica preexistente à entrada em vigor da constituição a que aderem e a nova ordenação instaurada.

Para tanto, é de extrema relevância que se compreendam as

formas de eficácia de uma norma constitucional, que se dividem em: absoluta,

plena contida e limitada.

52 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. p. 247.

53 SILVA José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3ª ed. São Paulo: Malheiros Editores. 1998. p. 81 e 82.

54 SILVA José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 81.

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Norma Constitucional de Eficácia Absoluta

Ocorre que a eficácia absoluta da norma constitucional é

obtida através da análise da intangibilidade e a produção dos efeitos visíveis, de

maneira que esta tem a impossibilidade de ser alterada, nem se quer por emenda

à Constituição.

Não se permite, para este tipo de eficácia, a regulamentação

normativa infraconstitucional, para evitar a criação de parâmetros na aplicação do

texto inserido na norma constitucional.

Alexandre de Morais55 cita o conceito dado por Maria Helena

Dinis sobre normas constitucionais de eficácia absoluta, como sendo:

(…) as intangíveis; contra elas nem mesmo há poder de emendar. Daí conterem uma força paralisante total de toda a legislação, que, explicita ou implicitamente, vier a contrariá-las. Distinguem-se, portanto, das normas de eficácia plena, que, apesar de incidirem imediatamente sem necessidade de legislação complementar posterior, são emendáveis.

Assim podem se verificar alguns artigos constitucionais que

tem esse tipo de eficácia, tais como o 1º que dispõe sobre a federação:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

Também temos o artigo 4º, tratando do sufrágio universal:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

Nos caso dos artigos supracitados demonstram algumas das

normas constitucionais de eficácia absoluta da CRFB/88.

55 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. p. 8.

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Norma Constitucional de Eficácia Plena

A norma constitucional de eficácia plena é a norma que não

depende de uma lei posterior para que se possa ser aplicada, ou seja, desde o

momento de sua criação esta norma tem sua aplicação imediata, de forma direta

e na sua integralidade, mas não está impedida de ser regulamentada, como a

norma constitucional de eficácia absoluta.

Fernando Capez56 tem este entendimento: “Normas

constitucionais de eficácia plena: são aquelas de aplicabilidade imediata, direta e

integral, independente de legislação posterior para sua inteira operatividade”.

Dessa maneira estas normas receberam do legislador

constituinte a normatividade necessária para que pudesse ser aplicada de forma

imediata, neste norte disciplina José Afonso da Silva57:

(…) incluem-se todas as normas que, desde a entrada em vigor da constituição, produzem todos os seus efeitos essenciais (ou têm a possibilidade de produzi-los), todos os objetivos visados pelo legislador constituinte, porque este criou, desde logo, uma normatividade para isso suficiente, incidindo direta e imediatamente sobre a matéria que lhes constitui objeto.

E continua:

Por isso, pode-se dizer que as normas de eficácia plena sejam de aplicabilidade direta, imediata e integral sobre os interesses objeto de sua regulamentação jurídica58.

Alexandre de Morais59 adota a compreensão de Maria

Helena Diniz, que descreve que estas normas têm eficácia plena por serem

56 CAPEZ, Fernando. Direito constitucional. p. 67

57 SILVA José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 82.

58 SILVA José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 83.

59 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. p. 8.

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possuidoras dos subsídios que são necessários para que produzam efeitos

imediatos:

(…) são plenas e eficazes…, desde sua entrada em vigor, para disciplinarem as relações jurídicas ou processo de sua efetivação, por conterem todos os elementos imprescindíveis para que haja a possibilidade da produção imediata dos efeitos previstos, já que, apesar de suscetíveis de emenda, não querem normação subconstitucional subseqüente. Podem ser imediatamente aplicadas.

Um exemplo de norma constitucional de eficácia plena é o

art. 2º da CRFB/88, que dispõe sobre a distribuição dos poderes à União: “Art. 2º

São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o

Executivo e o Judiciário”.

Também o art. 5º, § 1º do diploma constitucional:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

§ 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

Por resguardar os direitos e garantias fundamentais, o

próprio dispositivo já vem informar que esta norma possui eficácia plena.

Ainda sobre a questão da eficácia plena é de grande valia

que se compreendam quais são as suas principais características, para tanto se

valerá do entendimento de José Afonso da Silva60:

(…) são de eficácia plena as normas constitucionais que: a) contenham vedações ou proibições; b) confiram isenções, imunidades e prerrogativas; c) não designem órgãos ou autoridades especiais a que incubam especificamente sua execução; d) não indiquem processos especiais de sua execução;

60 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 101.

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e) não exijam a elaboração de novas normas legislativas que lhes completem o alcance do sentido, ou lhes fixem o conteúdo, porque já se apresentam suficientemente explícitos na definição dos interesses nela regulados.

Dessa forma, pode-se dizer que, as normas constitucionais

de eficácia plena têm aplicabilidade imediata apenas por serem normas jurídicas

que possuem todos os elementos necessários à sua execução imediata.

Norma Constitucional de Eficácia Contida

Ocorre que estas normas são da mesma forma que as

normas de eficácia plena, normas que possuem sua normatividade suficiente para

administrarem os interesses à que foram destinadas, de aplicabilidade imediata,

plena e integral.

Contudo há que se verificar que elas dispõem em seu corpo

normativo vias que as possibilitem serem aplicadas, afim de que sejam capazes

de gozar da eficácia, mas existe nestas normas uma abrangência redutível, ou,

restringível.

Insurge-se o conceito de normas constitucionais de eficácia

contida por José Afonso da Silva61:

Normas de eficácia contida, portanto, são aquelas em que o

legislador constituinte regulou suficientemente os interesses

relativos à determinada matéria, mas deixou margem à atuação

restritiva por parte da competência discricionária do Poder

Público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de

conceitos gerais nelas enunciados.

Essa classificação das normas constitucionais é feita por

José Afonso da Silva62, que cita a classificação de Crisafulli como equívoca, no

61 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 116.

62 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 103.

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sentido de que este classifica tais normas como inclusas nas de eficácia limitada

que não sendo programáticas e chamadas por Crisafulli de normas de legislação,

segue o entendimento de José Afonso da Silva:

Trata-se, a nosso ver de equivoco manifesto, porquanto o fato de remeterem a uma legislação futura não autoriza equipará-las a outras que exigem uma normatividade ulterior integrativa de eficácia. O contrário é que se verifica, pois, com relação a elas, a legislação futura, antes de completar-lhes a eficácia, virá impedir a expansão da integridade de seu comando jurídico.

Segundo Capez63 é também este tipo de eficácia normativa

denominada como redutível ou restringível, justamente pelo fato mencionado

acima de que estas são normas que realmente reduzem o alcance da norma pelo

legislador constitucional.

Alexandre de Moraes64 adota esta nomenclatura quando

adere o conceito de Maria Helena Diniz:

(…) às de eficácia contida de José Afonso da Silva, mas, aceitando a lição de Michel Temer, preferimos denominá-la normas constitucionais de eficácia redutível ou restringível, por serem de aplicabilidade imediata ou plena, embora sua eficácia possa ser reduzida, restringida nos casos e na forma que a lei estabelecer; têm, portanto, seu alcance reduzido pela atividade legislativa. São preceitos constitucionais que receberam do constituinte normatividade capaz de reger os interesses, mas contém, em seu bojo, a prescrição de meios normativos ou de conceitos que restringem a produção de seus efeitos. São normas passiveis de restrição.

Ainda Fernando Capez65 esclarece: “Ressalta-se que a

legislação restritiva (autorizada constitucionalmente) deve limitar-se ao conteúdo

mínimo, sob pena de sufocar o direito garantido constitucionalmente”.

63 CAPEZ, Fernando. Direito constitucional. p. 68.

64 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. p. 8.

65 CAPEZ, Fernando. Direito constitucional. p. 68.

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Isso significa que a legislação infraconstitucional não pode

exceder os limites impostos pela Constituição, especialmente nos casos de norma

constitucional de eficácia contida, pois dessa maneira estaria reduzindo,

sufocando, a própria norma constitucional.

Deve-se ter em mente algumas características destas

normas para que se possa identificá-las, José Afonso da Silva66 classifica-as em

cinco características principais, sendo elas:

A peculiaridade das normas de eficácia contida configura-se nos seguintes pontos:

I. São normas que, em regra, solicitam a intervenção do legislador ordinário, fazendo expressa remissão a uma legislação futura; mas o apelo ao legislador ordinário visa a restringir-lhe a plenitude da eficácia, regulamentando os direitos subjetivos que delas decorrem para os cidadãos, indivíduos ou grupos.

II. Enquanto o legislador ordinário não expedir a normação restritiva, sua eficácia será plena; nisso também diferem das normas de eficácia limitada, de vez que a interferência do legislador ordinário, em relação a estas, tem o escopo de lhes conferir plena eficácia e aplicabilidade concreta e positiva.

III. São de aplicabilidade direta e imediata, visto que o legislador constituinte deu normatividade suficiente aos interesses vinculados à matéria de que cogitam.

IV. Algumas dessas normas já contêm um conceito ético jurídico (bons costumes, ordem pública etc.), como valor societário ou político a preservar, que implica a limitação de sua eficácia.

V. Sua eficácia pode ainda ser afastada pela incidência de outras normas constitucionais, se ocorrem certos pressupostos de fato (estado de sítio, por exemplo).

Ainda vale ressaltar, com relação a estas normas, a questão

de sua aplicabilidade, por José Afonso da Silva67: 66 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 104.

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São elas normas de aplicabilidade imediata e direta. Tendo eficácia independente da interferência do legislador ordinário, sua aplicabilidade não fica condicionada a uma normação ulterior, mas fica dependente dos limites (daí eficácia contida) que ulteriormente se lhe estabeleçam mediante lei, ou de que as circunstâncias restritivas, constitucionalmente admitidas, ocorram (atuação do Poder Público para manter a ordem, a segurança pública, a defesa nacional, a integridade nacional etc., na forma permitida pelo direito objetivo).

Portanto, como se verificou a concepção dos autores

supramencionados estas normas possuem aplicabilidade imediata e direta, porém

são passiveis de restrições pelo legislador ordinário, previamente definidas pelo

legislador constitucional.

Norma Constitucional de Eficácia Limitada

As normas de eficácia limitada, ao contrario das anteriores,

não têm aplicabilidade imediata, integral, para que possam atingir a eficácia, estas

necessitam de regulamentação posterior, ou seja, por meio de uma lei ordinária

adquire a capacidade de atingir os efeitos pretendidos.

Assim sendo, os efeitos produzidos por estas normas são

mediatos, dessa maneira compreende Alexandre de Moraes68 (citando Maria

Helena Diniz):

Há preceitos constitucionais que têm aplicação mediata, por dependerem de norma posterior, ou seja, de lei complementar ou ordinária, que lhes desenvolva a eficácia, permitindo o exercício do direito ou do benefício consagrado. Sua possibilidade de produzir efeitos é mediata, pois, enquanto não for promulgada aquela lei complementar ou ordinária, não produzirão efeitos positivos, mas terão eficácia paralisante de efeitos de normas

67 SILVA José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 116.

68MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. p.8.

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precedentes incompatíveis e impeditivas de qualquer conduta contrária ao que estabelecerem.

Vale ressaltar que este tipo de eficácia normativa apresenta

aplicabilidade indireta, mediata e reduzida.

É o entendimento de BARROSO69:

Normas de eficácia limitada são as que não receberam do constituinte normatividade suficiente para a sua aplicação, o qual deixou ao legislador ordinário a tarefa de completar a regulamentação das matérias nelas traçadas em princípio ou esquema.

Existe ainda o entendimento de que estas normas possuem

uma subdivisão, sendo elas ‘normas de princípio institutivo e normas de princípio

programático’, segundo José Afonso da Silva70:

(…) preferimos denominar normas de princípio aquelas em que se subdividam as normas constitucionais de eficácia limitada, ou seja, aquelas que dependem de outras providências para que possam surtir efeitos essenciais colimados pelo legislador constituinte.

E continua:

(…) as normas constitucionais de eficácia limitada são de dois tipos: a) as definidoras de princípio institutivo ou organizado, que, por brevidade, temos chamado de normas constitucionais de princípio institutivo; b) as definidoras de princípio programático, ou, simplesmente, normas constitucionais de princípio programático.

A partir desta subdivisão faz-se uma breve explanação sobre

as normas de princípios institutivos e programáticos.

69 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da constituição. p. 250.

70 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. 3. ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 1998. p. 118.

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Normas de princípio institutivo

Com relação às normas de princípio institutivo, José Afonso

da Silva71 descreve que:

São, pois, normas constitucionais de princípio institutivo aquelas através das quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou institutos, para que o legislador ordinário os estruture em definitivo, mediante lei.

Como exemplo destas normas de princípio intuitivo tem-se o

art. 18, § 3° que segue:

Art. 18 - A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.

§ 3º - Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar.

Ainda, deve-se ter em mente uma característica peculiar a

este tipo de normas, que se dá pelo fato desta possuir, em seu corpo indicação de

legislação futura, como se percebe no artigo supramencionado.

Enfim, José Afonso da Silva72 faz uma divisão desta norma

de princípio institutivo em ‘impositivas’ e facultativas’, sendo elas:

Impositivas são as que determinam ao legislador, em termos peremptórios, a emissão de uma legislação integrativa (…). Facultativas ou permissivas, isto é não impõe uma obrigação;

71 SILVA, José Afonso. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 126

72 SILVA, José Afonso. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 126 e 127.

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limitam-se a dar ao legislador ordinário a possibilidade de instituir ou regular a situação nelas delineada.

Nesta divisão percebe-se que as normas impositivas são as

que determinam a emisão de legislação ulterior, e as facultativas se

caracterizam pela possibilidade que dá ao legislador para regulamentar a

situação, sem lhe impor obrigação.

Normas de princípio programático

Vale ressaltar que as normas de princípio pragmático traçam

princípios a serem seguidos pelo legislador ordinário, como é o entendimento de

José Afonso da Silva73:

“(...) podemos conceber, como programáticas, aquelas normas constitucionais, através das quais o constituinte, em vez de regular, direta e imediatamente, determinados interesses, limitou-se a traçar-lhes os princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos (legislativos, executivos, jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas atividades, visando à realização dos fins sociais do Estado”.

Ainda é de grande importância analisar a compreensão de

Pontes de Miranda74:

“(...) aquelas em que o legislador, constituinte ou não, em vez de editar regra jurídica de aplicação concreta, apenas traça linhas diretoras, pelas quais se hão de orientar os poderes públicos. A legislação e a própria justiça, ficam sujeitas a esses ditames, que são como programas dados à sua função”.

Para exemplificar a norma supracitada pode-se verificar o

art. 205 da CF:

73 SILVA, José Afonso. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 138.

74 MIRANDA, Pontes de apud BARROSO, Luis Roberto. O direito constitucional e a efetividade de suas normas: limites e possibilidades da constituição brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro : Renovar. 1996. p. 115.

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Art. 205 - A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Com relação às normas de princípio programático Alexandre

de Morais75, cita o entendimento de Jorge Miranda:

(…) são de aplicação diferida, e não de aplicação ou execução imediata; mais do que comandos-regras, explicitam comandos-valores; conferem elasticidade ao ordenamento constitucional; têm como destinatário primacial – embora não único – o legislador, a cuja opção fica a ponderação do tempo e dos meios em que vêm a ser revestidas de plena eficácia (e nisso consiste a discricionariedade); não consentem que os cidadãos ou quaisquer cidadãos as inovem já (ou imediatamente após a entrada em vigor da Constituição), pedindo aos tribunais o seu cumprimento só por si, pelo que pode haver quem afirme que os direitos que delas constam, máxime os direitos sociais, têm mais natureza de expectativas que de verdadeiros direitos subjetivos; aparecem muitas vezes, acompanhadas de conceitos indeterminados ou parcialmente indeterminados.

Acrescenta a estas normas, José Afonso da Silva76 que elas

funcionam como forma de esquemas genéricos:

Muitas normas são traduzidas no texto supremo apenas em

princípio, como esquemas genéricos, simples programas a serem desenvolvidos ulteriormente pela atividade dos legisladores ordinários. São estas que constituem as normas constitucionais de

princípio programático.

Fernando Capez77 apresenta o mesmo entendimento de Luís

Roberto Barroso, quando trata do conceito das normas constitucionais de eficácia

limitada, conforme segue:

75 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. p. 9.

76 SILVA, José Afonso. Aplicabilidade das normas constitucionais. p 137.

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(…) são aquelas que dependem da emissão de uma normatividade futura, em que o legislador ordinário, integrando-lhes a eficácia, mediante lei ordinária, lhes dê capacidade de execução, em termos de regulamentação daqueles interesses visados.

Segue ainda, Fernando Capez78, o mesmo raciocínio de

José Afonso da Silva, no que se refere à subdivisão destas normas em normas de

princípio intitutivo, e normas de princípio programático.

Após ter abordado a eficácia da norma constitucional no

sistema brasileiro, passa-se a levantar a questão da cultura, suas bases e como

ela acontece no Brasil, que será objeto de descrição no próximo capítulo.

77 CAPEZ, Fernando. Direito constitucional. p. 68.

78 CAPEZ, Fernando. Direito constitucional. p. 68.

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CAPÍTULO 2

CULTURA

2.1 CONCEITO DE CULTURA

Conceituar a cultura é um tanto complexo, uma vez que

existem várias concepções desta, sendo que estas são aceitas e utilizadas. A que

mais é propagada é a concepção antropológica, que é a mais ampla de todas;

contudo existem outras que tem uma visão mais restrita, ou parcial, como a

concepção religiosa e a concepção moral; outra ainda que trata da cultura como

valor, que é a chamada concepção filosófica; e ainda há a concepção semiótica,

que aborda a cultura como sistema de interpretação de signos.

Concepção Antropológica

Esta concepção tem por fundamento a construção de

utensílios pelo homem, bem como reúne seus conhecimentos, a arte, as crenças,

os hábitos e os costumes dos homens que convivem em sociedade. Como fica

claro nas palavras de Bronislaw Malinowski79, na obra “Uma Teoria Científica da

Cultura”:

Cultura (…) é o todo integral constituído por implementos e bens de consumo, por cartas constitucionais para os vários agrupamentos sociais por idéias e ofícios humanos, por crenças e costumes.

79 MALINOWSKI, Bronislaw. Uma teoria científica da cultura. 2ª ed. Tradução por José Auto. Rio de Janeiro: Zahar editores. 1970. p. 42.

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Ao fazer uma breve análise desta concepção, verifica-se que

é ela de grande amplitude, abrangendo todas as ações humanas, ainda sua

maneira de viver, e os objetos que constrói e dos quais se utiliza para viver.

Refere-se ainda a cultura, baseada no fator biológico como à

solução para os problemas de sobrevivência, que foram encontrados pela

sociedade.

Deve-se ainda considerar que, a concepção antropológica

não é a que é resguardada pela CRFB/88, pois nem tudo o que é construído pelo

homem, se enquadra na constituição, como patrimônio cultural a ser protegido,

mesmo sendo manifestações da cultura humana.

Esta visão é demonstrada por José Afonso da Silva80:

(…) a Constituição não ampara a cultura na sua concepção antropológica, (…) todo o construído, toda a obra humana, é cultura, nem tudo isso entra na compreensão constitucional como formas culturais constituintes do patrimônio cultural brasileiro digno de ser especialmente protegido.

Assim, mesmo sendo esta concepção a mais aceita, e a

mais ampla, não é a abrangida na CRFB/88 como forma de cultura merecedora

de proteção constitucional, visto que seria quase que impossível resguardar tudo

o que é considerado como cultura pela antropologia.

Concepção Moral

Pode-se considerar que esta concepção de cultura é parcial,

visto que a cultura não se restringe apenas a moral, mesmo não deixando de ter

tal conotação.

80 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 33.

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Fazendo uma breve comparação desta concepção com a

antropológica, percebe-se claramente que a moral é apenas um pequeno

elemento dentro da antropológica.

Existe uma obra datada dos anos 20 (vinte) de Albert

Schweitzer, citado por José Afonso da Silva81, que sustenta esta concepção moral

da cultura, diz que ela é uma obra filosófica, que na oportunidade teve uma ótima

recepção. Cita, ainda, texto de Albert Schweitzer, onde este indaga sobre o que é

cultura e afirma que até àquela época não fora solucionada tal indagação. Para

tanto Albert Schweitzer apresenta de maneira genérica a sua visão sobre a

cultura:

(…) cultura é progresso, progresso material e espiritual tanto dos indivíduos como das coletividades (…). A cultura é, pois, por natureza, de dupla manifestação. Ela se caracteriza pelo predomínio da razão sobre as forças da Natureza e pelo predomínio da razão sobre os próprios humanos.

Isso significa que para Albert Schweitzer82, a cultura era a

predominância da razão sobre todos os acontecimentos, apresentando-se estes,

tanto atos humanos, quanto eventos da natureza. Em outro ponto faz uma

explanação sobre como se apoiava, o movimento cultural, de formas equivalentes

em forças materiais e morais-espirituais, em uma determinada época que se

estendeu do Renascimento até o século XIX.

Em seguida faz menção a uma decadência da moral – isso

ocorreu após o período mencionado acima – onde se considerava a cultura, em

especial, as conquistas de natureza científica, técnica e artística. Essa informação

faz perceber que nesse período de tempo a moral foi um pouco esquecida, em se

tratando de cultura, passando a utilizar apenas a realidade para fundamentar a

idéia de cultura.

81 Apud SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 30.

82 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 30.

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Nas palavras Albert Schweitzer83, naquela ocasião:

(…) sobreveio o relaxamento das energias morais, e daí a convicção de que a cultura repousa principalmente em conquistas de natureza científica, técnica e artística, sem necessidade de moral, ou com um mínimo de moral; que esse afastamento da “concepção moral da cultura” levou “a moldar os ideais de acordo com a realidade existente, em vez de criar pelo esforço da razão princípio moral que pudesse influir sobre aquela”.

E ainda conclui:

(…) o futuro da cultura estaria a depender da circunstancia de ser ou não possível fazer com que a reflexão chegasse a uma concepção do mundo que encerrasse em si o otimismo, isto é, a afirmação do mundo e da vida, e a moral como bases mais firmes e seguras que aquelas que tiveram até o presente momento.

Observa-se que a concepção moral da cultura é incompleta,

por não possuir um grau maior de abrangência.

Concepção Religiosa

Há também nesta concepção a idéia de parcialidade, pois a

cultura não se limita somente à religião, muito embora, quando se forma uma

religião ao mesmo tempo se desenvolve uma cultura.

Compartilha dessa opinião T. S. Eliot84, ao emitir notas para

definição de Cultura: “(…) a formação de uma religião é também a formação de

uma cultura (…)”.

Apesar disso T. S. Eliot85 enfatiza que essa concepção de

cultura possui um ponto em comum com a concepção antropológica, visto que

83 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 30.

84 Apud SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 31.

85 Apud SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 31.

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considera: “(…) cultura (…), antes de tudo significa o mesmo que significa para os

antropólogos: o modo de vida de um povo particular que vive junto num lugar”.

Ao fazer uma breve análise destes dois relatos, talvez ocorra

a idéia de contradição, onde ora se diz que a concepção é parcial, e ora que é

assemelhada a concepção antropológica, que é a mais abrangente. Todavia, ao

examinar de forma mais profunda, fica claro que a concepção religiosa se

restringe às crenças religiosas, a visão de mundo, suas regras, etc. e mesmo se

limitando a religião, como se trata de um grupo de pessoas (uma sociedade), esta

concepção considera a cultura como estilo de vida de um determinado grupo de

pessoas convivem em numa mesma localidade.

A religião, em forma de cultura esteve em evidência, na

forma de arte, hábitos e crenças, entretanto a cultura não é unicamente a arte,

crenças, ou costumes, é mais que isso, é algo grandioso que une tudo isso, e

todas essas coisas e hábitos vão interagindo, entrelaçando-se de tal forma que só

é possível se entender uma entendendo as demais.

Nesse sentido elucida T. S. Eliot86:

(…) uma cultura é mais que uma reunião de suas artes, costumes e crenças religiosas, que essas coisas todas agem umas sobre as outras, e para entender plenamente uma se tem que entender todas.

Mas, não obstante, há que se considerar a religião como

uma forte influência para a formação cultural de muitos povos, porém seria

inconcebível a idéia de que a cultura constituísse sua viabilização única (de todos

os povos) na religião.

86 Apud José Afonso da Silva. Ordenação constitucional da cultura. p. 32.

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Concepção Filosófica

A cultura, nesta concepção, é cuidada como uma projeção

de valores espirituais, e estes valores têm a função de encher os objetos da

natureza de um significado, isso ocorre por que a filosofia tem a visão da cultura

como vida humana objetivada.

Nas palavras de José Afonso da Silva:

A concepção filosófica da cultura a vê como vida humana objetivada, ou seja, como projeção de valores espirituais que impregnam objetos da natureza de um sentido (…) a Filosofia é capaz de mostrar o sentido da natureza em face da cultura e da cultura em face da natureza.

Nesta relação entre a natureza e a cultura sugerida pela

filosofia, para que não se confunda o que é natureza e o que é cultura, Mezhùiev

citado por José Afonso da Silva87 faz uma definição de ambas:

Natureza é tudo que surgiu e existe por si mesmo, por via natural, independentemente da vontade e dos desejos dos homens; cultura é aquilo que foi criado, elaborado, aperfeiçoado pelo homem, acomodado por ele as suas necessidades e exigências.

Observando o significado de natureza e cultura entende-se

claramente que a ‘Cultura’ é o objeto de criação humana, ou do objeto da

natureza adaptado pelo homem para tornar-se mais apropriada a sua

necessidade e a natureza por sua vez não é elaborada pelo homem, ela existe de

maneira autônoma, ou seja, independente dele, é algo maior que existe por sua

própria essência.

Todavia, apesar de serem coisas diferentes a cultura e a

natureza são interligadas, como já mencionado anteriormente “a Filosofia é capaz

87 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 32.

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de mostrar o sentido da natureza em face da cultura e da cultura em face da

natureza”88, onde uma dá suporte à outra.

Nesse sentido Régis de Morais89 vem auxiliar: “(...) a

natureza funciona como suporte de valores projetados pela vida humana que

evidencia uma unidade essencial”.

A concepção filosófica defende a tese de que só existe um

animal que possui a capacidade de criar e de manter a sua própria cultura, ele é o

homem.

A obra “A natureza da cultura” de E. Adamson Hoebel,

citado por José Afonso da Silva90, esclarece: “É assim que se diz que o homem é

o único animal capaz de criar e manter sua cultura”.

Assim pode-se esclarecer a idéia própria da filosofia de que

o ser humano é o único animal que possui a capacidade de inventar e nutrir sua

cultura, visto que é também o único animal racional.

A visão filosófica mostra, ainda, que Cultura em seu

processo de construção tem por base, fundamentalmente, a transformação dos

fatos e fenômenos sociais ou naturais através da impregnação de valores.

Entretanto faz-se necessário elucidar a questão de que nem tudo o que é

transformado pelo homem, da natureza, é obrigatoriamente considerado como

criação da cultura, José Afonso da Silva91 mostra que no caso de ocorrer

degeneração da natureza, o valor se transforma em desvalor, e considerando que

a cultura é uma construção de engrandecimento da realidade, a desvalorização

da natureza não pode ser considerada como cultura.

88 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 32

89 MORAIS, Régis. Apud SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 32

90 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 32.

91 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 32

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Há uma divisão dos valores culturais considerados pela

filosofia, sugerida por José Afonso da Silva92, que os colocam em três categorias,

sendo elas as referentes aos ‘valores vitais’, ‘valores de utilidade’, e os ‘valores

espirituais’. E estes são subdivididos em estéticos, religiosos e éticos.

Para uma melhor compreensão das definições e subdivisões

deve-se observar o organograma abaixo que identifica estas definições e

subdivisões sugeridas por José Afonso da Silva93:

Organograma 1 - Definições dos Valores dos Objetos Culturais

92 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p.32.

93 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p.33.

CULTURA

Valores Vitais

Dão origem aos modos de viver e cultivar o corpo, o

bem-estar.

Dão origem a modos de criar e

fazer, surgindo daí os objetos culturais materiais: habitação vestuário, utensílios

(garfo, faca) etc.

Criam objetos culturais sacros.

Criam objetos culturais artísticos pela Pintura, Escultura, Arquitetura, Musica, Dança, ect.

Criam modos de comportamento e de

conduta necessários a convivência social (morais,

jurídicos).

Valores de Utilidade

Valores Espirituais

Estéticos Religiosos Éticos

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Deste modo verifica-se que os valores vitais tratam

especificamente da vida humana, do seu bem estar, conforme a definição

supracitada, da maneira em que se vive das atividades praticadas diariamente; já

os valores de utilidade, como nos mostram o organograma, são os objetos

materiais criados pelo próprio homem, ou por ele adaptados, com a finalidade de

obter um conforto; e por fim os espirituais, que pela análise feita dos conceitos

pode-se dizer que são as formas de expressão e elas foram divididas em

estéticos, religiosos, e éticas.

Concepção Semiótica

A palavra semiótica tem origem no grego e significa

semeiotiké ou "a arte dos sinais” 94, desta maneira pode-se observar que a

Cultura a partir desta concepção é tratada como uma rede de significados,

símbolos e signos que é feita pelo homem.

Há que se verificar que a cultura, pela visão semiótica, é

uma ciência interpretativa que procura significações. Com base em Max Weber, o

autor Cliford Geertz95, em sua obra “La Interpretción de las Culturas”, destaca

este entendimento, ainda afirma que a cultura não é uma ciência experimental,

enfatizando inclusive que:

(…) o homem é um animal amarrado em teias de significados que ele mesmo teceu; assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não uma ciência experimental em busca de leis, mas uma ciência interpretativa a procura do significado.

Analisando este conceito pode-se entender que a cultura é

construção humana, realizada através de símbolos urdidos pelo próprio homem,

94 http://pt.wikipedia.org/

95 GEERTZ, Cliford. A Interpretação das culturas. 2. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A, 1989. p. 15.

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que tem por base a interpretação destes mesmos signos que foram por ele

criados.

Cliford Geertz96 ainda propõe uma problemática quando

descreve que a conduta do ser humano ao ser observado como um ato

significativo, simbólico:

Uma vez que o comportamento humano é visto como ação simbólica (na maioria das vezes; há duas contrações) – uma ação que significa, como a fonação na fala, o pigmento na pintura, a linha na escrita ou a ressonância na música, - o problema se a cultura é uma conduta padronizada ou um estado da mente ou mesmo as duas coisas juntas, de alguma forma perde o sentido.

Existem ouros autores que concordam com este conceito,

tais como Régis de Morais97 quando afirma que: “Cultura, essa rede de signos

densos de significados, circula sentido”.

E também Marilena Chauí98 diz que:

(…) a cultura como ordem simbólica por cujo intermédio homens determinados exprimem de maneira determinada suas relações com a natureza, entre si como poder, bem como a maneira pela qual interpretam essas relações.

A presente concepção de cultura é a que melhor elucida na

compreensão constitucional desta, pois ela vem a enobrecer.

2.2 BENS CULTURAIS

Os bens culturais também são chamados de objetos

culturais, pois são produtos que, perante a projeção de valores, são criados pelo

96 GEERTZ, Cliford. A Interpretação das culturas. p. 20.

97 Apud SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura .p.33 e 34.

98 CHAUÍ, Marilena, e outros. Cultura e democracia. p. 55.

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ser humano, porém não somente no sentido material, mas inclusive, e

especialmente no sentido espiritual. Esta visão dos bens culturais tem como base

a concepção filosófica da cultura, por tratá-los na forma de valores99.

Com relação aos cenários da natureza, que possuem beleza

sublime, e que incontestavelmente não são produzidos pela mão humana,

também podem ser considerados como bens culturais, uma vez que nele se

encontre a presença do homem e a participação de seu espírito.

Estas acepções são mais bem esclarecidas pelo autor

Carlos Cossio100, em sua obra La Teoría Egológica del Derecho, que segue:

(…) objetos culturais são coisas criadas pelo homem mediante projeção de valores, “criadas” não apenas no sentido de produzidas, não só do mundo construído, mas no sentido de vivência espiritual do objeto, consoante se dá em face de uma paisagem natural de notável beleza, que, sem ser materialmente construída ou produzida, se integra com a presença e participação do espírito humano.

Os objetos culturais possuem uma essência que incide

numa construção onde, um determinado objeto material e certo valor – valor este

que lhe é depositado pelo homem – fazem uma junção, ou seja, uma conexão,

formando, dessa maneira, uma unidade objetiva, estabelecendo a este objeto um

sentido.

Assim ensina José Afonso da Silva: “A essência do bem

cultural consiste na sua peculiar estrutura, em que se fundem, numa unidade

objetiva, um objeto material e um valor que lhe dá sentido101”.

99 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p.26.

100 Apud SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. 26

101 SILVA José Afonso da. Ordenação Constitucional da Cultura. p. 26.

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Existem inúmeros autores que adotam esta acepção,

descrita de maneira diversa, contudo, possuindo a mesma essência. Um exemplo

é o de Miguel Reale102, em Filosofia do Direito quando relata que:

Os bens de cultura compreendem-se, não se explicam apenas. O explicar é condição do compreender, porque em todo objeto cultural existe um elemento que é o ‘suporte’. É necessária a interferência de um outro elemento, que é o valor, marcando a tomada de posição estimativa do homem perante o fato.

Também Carlos Cossio103 faz sua contribuição em se

tratando da essência do bem cultural:

(…) todo objeto cultural consiste en la unidad de un substrato material y de un sentido espiritual. Siempre hemos de toparnos con la exteriorización material de un sentido espiritual al que hay que llegar interpretando ese substrato externo. Y así comprendemos el substrato por un sentido y comprendemos el sentido en su substrato. Por lo demás, un sentido espiritual no podría constituirse sino por referencia a un valor, cualquiera fuere (utilidad, belleza, verdad, santidad, etc.). Sobre esta estructura es que verificamos que el ser de un objeto cultural es ser un sentido.

Em suma, verificou-se na citação supra que um objeto

cultural é dotado de um sentido, e nisso é que consiste o seu existir, sendo que

este objeto cultural possui um substrato material, que incide na exteriorização

deste sentido.

No que tange a definição de bem cultural, é de extrema

relevância ainda que se esclareça que existe uma Convenção sobre as Medidas

que Devem ser Adotadas para Impedir e Proibir a Importação, a Exportação e a

Transferência de Propriedades Ilícitas de Bens Culturais104, realizada pela

102 REALE, Miguel. Filosofia do direito. 20. ed. São Paulo: Saraiva. 2002. p. 251 e 253.

103 COSSIO, Carlos. Radiografia de lá teoría egológica del derecho. 2. ed. Buenos Aires:Abeledo Perot. p. 94.

104 Datada de 1970, sendo presidida por Atílio Dell’Oro Maini na Argentina. [in http://www.unesco.org.br]

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UNESCO105, que, em seu artigo 1º define como bens culturais (para seus fins) os

que, por razões religiosas ou profanas, são considerados por cada Estado como

tendo importância arqueológica, pré-histórica, histórica, literária, artística ou

científica e que pertencem às categorias que são relatadas em suas alíneas,

sendo elas:

a) Colecções e exemplares raros de zoologia, botânica, mineralogia e anatomia; objectos de interesse paleontológico;

b) Bens relacionados com a história, incluindo a história das ciências e das técnicas, a história militar e social, e com a vida dos governantes, pensadores, sábios e artistas nacionais ou ainda com os acontecimentos de importância nacional;

c) O produto de escavações (tanto as autorizadas como as clandestinas) ou de descobertas arqueológicas;

d) Os elementos provenientes do desmembramento de monumentos artísticos ou históricos e de lugares de interesse arqueológico;

e) Antiguidades que tenham mais de 100 anos, tais como inscrições, moedas e s elos gravados;

f) Material etnológico;

g) Bens de interesse artístico, tais como:

i. Quadros, pinturas e desenhos feitos inteiramente à mão, sobre qualquer suporte e em qualquer material (com exclusão dos desenhos industriais e dos artigos manufacturados decorados à mão);

ii. Produções originais de estatuária e de escultura em qualquer material;

iii. Gravuras, estampas e litografias originais;

105 United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, em português Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. [in http://www.unesco.org.br]

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iv. Conjuntos e montagens artísticas originais, em qualquer material;

h) Manuscritos raros e incunábulos, livros, documentos e publicações antigas de interesse especial (histórico, artístico, científico, literário, etc.), separados ou em colecções;

i) Selos de correio, selos fiscais e análogos, separados ou em colecções;

j) Arquivos, incluindo os fonográficos, fotográficos e cinematográficos;

k) Objectos de mobiliário que tenham mais de 100 anos e instrumentos de música antigos.

Esta convenção foi promulgada pelo Brasil no ano de 1973,

através do Decreto 72.312 do referido ano, por Emílio G. Médici, que a época era

o Presidente da República.

Os bens culturais ainda possuem duas qualificações onde

podem se distinguir em mundanais e egológicos, de acordo com a teoria de

Carlos Cossio106. Estas qualificações serão mais bem exemplificadas a seguir.

É de extrema relevância que se faça essa distinção, pois há

que se perceber que apenas um deles é resguardado pela CRFB/88.

Bens Culturais Mundanais

Esta categoria de objetos culturais tem sua essência nos

objetos compostos por determinada parte da natureza, onde o homem se viu

atraído por esta parte, seja apenas pelo interesse pessoal, quando faz referencia

a uma paisagem; ou de maneira ativa, quando vai mais afundo, e modifica a

106 COSSIO, Carlos. Radiografia de lá teoría egológica del derecho. 2. ed. Buenos Aires:Abeledo Perot. p. 95.

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natureza, dando-lhe formas diversas, como por exemplo, quando faz instrumentos

e utensílios. Nas palavras de Carlos Cossio107:

Se limitarmos nossa atenção ao substrato dos objetos culturais, num caso encontramo-lo constituído por um pedaço da Natureza. A vida do homem pôs sua atenção nesse pedaço da Natureza e pousou-se nele. Às vezes pousou-se nele só com seu interesse, como no exemplo do marco de referencia ou quando se fala de uma paisagem; outras vezes pousa-se mais ativamente, corroendo os contornos da Natureza, dando-lhe formas que ficam como pegadas de seu passo. Assim faz um machado, uma vasilha, uma melodia, um soneto, um livro, uma teoria científica ou filosófica cujo substrato se remete ao substrato físico das palavras.

Como a essência, ou substrato, destes objetos se encontram

na Natureza, pode-se dizer que esta essência não depende da existência do

homem por que ela se encontrar na natureza.

Contudo, quando é criado um objeto cultural – pelo homem –

a partir dessa essência, verifica-se que o bem que se tornou cultural,

anteriormente não se integrava ao universo humano, e passa a existir nele pelo

fato de fazer parte da conservação existencial do ser humano.

Cossio108 deixa clara essa idéia na obra, quando diz:

Estes substratos têm a mesma existência na Natureza, quer dizer, uma existência independente da do homem; e os objetos culturais que este cria neles passam a integrar o mundo humano no qual o homem está sendo por sua continuação existencial. […] Os objetos mundanais são, com este alcance, vida humana objetivada. Vida plenária, não vida biológica, mas vida plenária objetivada, enquanto se capta no substrato desses objetos a mesma intencionalidade da intuição da natureza.

107 Apud SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 28.

108 Apud SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 28.

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Assim estes objetos, por passarem a fazer parte da vivência

do homem, tornaram-se vida humana objetivada, como observa Cossio.

Bens Culturais Egológicos

Ao contrário dos objetos mundanais, que como essência tem

os objetos compostos por determinada parte da natureza, os egológicos se

referem às ações humanas, e as têm como seu substrato, sua essência.

Claramente se verifica que os objetos culturais egológicos

têm como base a conduta humana na forma de vida biográfica, isso fica evidente

nas palavras de Cossio109 quando descreve os bens culturais são egológicos por

que o:

(…) substrato es la propia acción o conducta humana (objetos egológicos). (…) no ha de tomarse como substrato el desnudo organismo biológico, que también es Naturaleza, sino la acción o conducta en cuanto que vida como vida biográfica.

Existe um exemplo que pode elucidar de maneira singela e

precisa este tipo de bem cultural, que consiste na idéia de que quando uma

pessoa sofre a amputação de um de seus membros, seu organismo fica debilitado

se fizer a análise através da biologia. Todavia o mesmo não ocorre com relação à

conduta deste ser humano, pois ele continua a gozar inteiramente a vida como

sujeito moral, por exemplo.

Assim sendo, ao fazer uma análise dos dois tipos de bens

culturais pode-se verificar que esta categoria de bem cultural não é a utilizada

pela constituição, quando dispõe em seu art. 215 que:

O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e

109 ., COSSIO, Carlos. Radiografia de lá teoría egológica del derecho. 2. ed. Buenos Aires: Abeledo Perot. P. 95.

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incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.

Ou ainda quando disciplina no art. 216, o que constitui

patrimônio cultural no Brasil:

Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira

Ambas as disposições caracterizam os bens culturais

chamados mundanais, uma vez que não constituem como substrato o

comportamento humano, e sim a vida humana objetivada, por tanto não se tratam

de objetos culturais egológicos.

2.3 CULTURA BRASILEIRA

O Brasil possui grande diversidade cultural, contudo não é

tarefa fácil descrever a cultura brasileira, nas palavras de Marcos Napolitano110,

em sua obra Cultura brasileira:

Falar de cultura brasileira é, antes de tudo, falar de um enigma que nos persegue desde que nos tornamos uma nação independente. A questão da cultura nacional está ligada à necessidade de respondermos para nós mesmos e para o mundo, “quem somos” e “o que queremos” para nosso país.

Deve-se considerar principalmente que, devido à

colonização, o Brasil teve inserido em suas manifestações culturais as culturas de

inúmeros paises, revelando-se assim a riqueza cultural deste país, que além de

ter a cultura dos nativos, agrega as mais diversas e diferenciadas cultura de

imigrantes, que notoriamente se percebe por manifestações como as festas de

110 NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massificação. São Paulo: Editora Contexto. 2006. p. 7.

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outubro em Santa Catarina (Oktoberfest, Marejada, FenaChopp, Fenareco, entre

outras), nas manifestações artísticas de grupo como, por exemplo, o grupo

Olodum.

Existem vários fatores que contribuem para a formação

cultural de uma sociedade, mas alguns se sobressaem, como descreve Fernando

de Azevedo111:

(…) entre os fatores que mais contribuem para a produção dos fenômenos de cultura, o desenvolvimento das cidades é uma dos mais importantes, na sua função de intensificar as energias coletivas e de levar ao mais alto grau de desenvolvimento possível as capacidades latentes e dispersadas na população.

Fernando de Azevedo112 ainda cita em sua obra o autor

“Jean Christophe”, onde este explicita que as manifestações artísticas, tais como

a música, a dança, a arquitetura, a decoração, são verdadeiramente a cultura de

um povo, pois desta maneira os homens pertencentes a uma determinada

sociedade podem exprimir seus pensamentos e sentimentos.

(…) a cultura característica e original de um povo: é na estatuária e na pintura, na arquitetura e nas artes decorativas, na música, nas artes maiores e menores que cada povo encontra como que uma linguagem, “uma escritura figurada”, ou um meio de expressão de seus pensamentos, de suas necessidades e aspirações.

Observando esse fator, o presente estudo ater-se-á a cultura

neste formato, sendo que este foco primordial para o esclarecimento do Capítulo

seguinte.

Fazendo uma análise generalista cultura brasileira da época

da descoberta do país pelos portugueses, pode-se verificar que os nativos que

111 AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. 6 ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ; Brasília: Editora UnB. 1996. p. 36.

112 AZEVEDO, Fernando de.A cultura brasileira. p. 426.

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aqui viviam tinham hábitos totalmente diversos dos hábitos dos colonizadores,

principalmente pelo fato de se tratar de um clima tropical.

Segundo Berta Ribeiro113, o primeiro contato que os

colonizadores tiveram com os nativos brasileiros se deu com o povo Tupiniquim,

que eram povos agricultores, entretanto deslocavam-se por um grande território, e

viviam na costa.

O povo que Cabral veio encontrar na costa da Bahia era chamado Tupiniquim, e pertencia à grande família Tupinambá, tronco tupi-guarani, que ocupava quase todo o litoral. Eram recém-chegados à costa, de onde expulsaram as tribos inimigas, com exceção de alguns grupos, encaminhando-as para o sertão.

Este povo teria transmitido aos portugueses as suas

tradições. Primeiramente foi passada a idéia de que os nativos eram divididos em

dois grupos, o tupi e o tapuia, aqueles falavam a mesma língua e praticavam os

mesmos costumes e viviam no litoral, enquanto estes eram totalmente contrários

àqueles em questões de língua e costumes, fazendo parte da família lingüística

jê, e geralmente viviam no sertão. 114.

Uma das grandes heranças culturais do nativo brasileiro

foram os cuidados para com a terra, na questão do cultivo das plantas, pois os

portugueses que chegaram ao Brasil no início do século XVI desconheciam o

modo de manejo, manipulação da terra, isso se deu especialmente pelo fator

clima que altera as condições da terra.

(…) apesar de toda a sua potência guerreira e técnica, os colonialistas tiveram de aprender com eles a viver nos trópicos, a cultivar os seus frutos, comer suas raízes e paulatinamente criar nichos que começaram a atuar sobre os índios em torno. A esse processo se chamou a tupinização do português no Brasil, por ser a etnia tupi a prevalecente no litoral, à época da descoberta.

113 RIBEIRO, Berta. O índio na história do Brasil. 8 ed. São Paulo: Global. 1997. p. 19.

114 RIBEIRO, Berta. O índio na história do Brasil. p.19 e 23.

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Outra herança que é de grande valia lembrar é o hábito do

banho diário como recorda Berta, e ainda a base da alimentação na farinha de

mandioca; artigos para a pesca como o puçá, a tarrafa, e inclusive a pesca com

linha e anzol (que era feito com fisga de osso); e utensílios como pilões, balaios,

peneiras e raladores.115 Dos caboclos tem-se instrumentos como o berimbau;

armadilhas de caça como as arapucas para caçar passarinho; e também

utensílios domésticos como a gamela, a cuia e a panela de barro.

Há ainda relacionados a estes povos, a culinária que marcou

fortemente cultura brasileira, tais como a tapioca, a bebida de guaraná (norte), o

beiju, a muqueca, o mingau, a erva-mate (sul), entre muitos outros quitutes. Há

que se resgatar a lembrança das plantas que eram usadas como tintas, fibras

têxteis e ervas medicinais, nos dizeres de Berta Ribeiro116:

(…) plantas tintoriais como o pau-brasil, o jenipapo, o urucu; diversas fibras têxteis como o caroá, o caraguatá, o tucum, o algodão; materiais de construção como o sapé, o cipó, as folhas e troncos de palmeiras; e um sem-número de ervas medicinais para a pajelança e “mezinhas”.

Há ainda inúmeras crenças destes povos, crenças estas que

devem ser perpetuadas pela sua importância cultural, tais como a do ‘boto’, ‘cobra

grande’, o ‘curupira’117.

Dessa variedade imensa de hábitos dos indígenas e dos

caboclos – e ainda os que não foram citadas neste estudo, mas não por isso

menos importante – não é valorizado ou até é esquecida, como se o povo

brasileiro renegasse suas origens.

Conhecendo então a cultura, seus diversos conceitos, e

verificando que o conceito aplicado a CRFB/88 é o semiótico, e também os

diversos aspectos da cultura brasileira, passa-se ao tema principal da presente 115 RIBEIRO, Berta. O índio na história do Brasil. p.89.

116 RIBEIRO, Berta. O índio na história do Brasil. p. 90.

117 RIBEIRO, Berta. O índio na história do Brasil. p. 101.

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pesquisa, que é o estudo das leis de apoio e incentivo a cultura como

cumprimento da norma constante no art. 215 da CRFB/88, que será objeto de

estudo do próximo capítulo.

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CAPÍTULO 3

ESTUDO DAS LEIS DE APOIO E INCENTIVO A CULTURA COMO CUMPRIMENTO DA NORMA CONSTITUCIONAL CONSTANTE NO

ART 215 DA CRFB/88

3.1 A CULTURA NA CRFB/88

A CRFB/88 trata da cultura em inúmeros artigos, o primeiro

deles é o art.5º, com os incisos XI, XXVII, XXVIII, e LXXIII, que tratam das

manifestações, sendo elas a individual, de liberdade e dos direitos autorais.

Os próximos artigos que mencionam a cultura dentro da

CRFB/88 revelam as regras de distribuição de competências, e ainda como objeto

de proteção através da ação popular, são os artigos 23, 24 e 30.

Ainda há na CRFB/88, os artigos 215 e 216 que dispõem a

Cultura como objeto do direito e como patrimônio brasileiro. O artigo 219, por sua

vez, trata do incentivo ao mercado interno, de maneira a viabilizar o

desenvolvimento cultural.

Em complemento ao artigo 5º, o art. 220, em seus §§ 2º e 3º,

também contempla a cultura como manifestação individual, de liberdade e dos

direitos autorais.

Por conseguinte o artigo 221 relata os princípios que devem

ser atendidos pelas emissoras de rádio e televisão para a sua produção e

programação. Já o artigo 227, a cultura é tratada como um direito da criança e do

adolescente.

No Capítulo VIII do Título VIII o artigo 231 reconhece aos

índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os

direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à

União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.

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3.2 COMPETÊNCIAS

A CRFB/88 trata da competência em matéria Cultural

apenas nas regras da competência comum e concorrente, estas são

contempladas nos artigos 23 e 24. Vale salientar que não existe na CRFB/88

menção a competência exclusiva.

Competência comum

O artigo 23 da CRFB/88 estabelece a competência comum

entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nos casos descritos

em seus incisos.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos;

IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural;

V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;

É de extrema importância que se esclareça que este tipo de

competência faz alusão à prática de atos relativos à determinada matéria, neste

caso trata-se da cultura, nas palavras de José Afonso da Silva118:

Competência comum […] refere-se à prática de atos relativamente à matéria de que se trata, ou, por outra forma, diz respeito à

118 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 43.

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prestação de serviço envolvendo a matéria – no caso, envolvendo a cultura.

Ainda com relação aos incisos do art. 23, há que se verificar

que os dois primeiros dizem respeito à defesa dos bens culturais, do patrimônio

brasileiro, enquanto o inciso V também nas palavras de Afonso da Silva119,

“constitui providência destinada a tornar eficaz a norma do art. 215, que determina

que o Estado garantirá o acesso as fontes da cultura nacional”.

E continua com a seguinte observação:

(…) cultura nacional não é expressão que se confronta com cultura estadual ou municipal, regional ou local, mas com a cultura de outros povos. Quer dizer que se garante o acesso a todas as formas da cultura brasileira.

Isso significa, em outras palavras, que a norma

constitucional, que consta no art. 23, III, IV e V, garantem a defesa dos bens

culturais de todo o Brasil, inclusive proporciona meios de acesso à cultura, desde

que esta seja nacional, visto que esta contempla a cultura de todo o país, até

mesmo das pequenas localidades, o que não se é contemplado são as culturas

de outros paises.

Competência concorrente

Vale informar que este tipo de competência faz referencia à

repartição de atribuições normativas sobre a matéria entre as entidades

federativas120.

A competência concorrente, relativa à Cultura, está inserida

na CRFB/88, em seu art. 24, VII, VIII e IX, conforme segue:

119 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 43.

120 SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. p. 43.

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Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:

VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IX - educação, cultura, ensino e desporto;

Esta competência, conforme descrito no artigo acima, é

apenas da União, dos Estados e do Distrito Federal, ou seja, o Município não

possui este tipo de competência. Assim disciplina Alexandre de Moraes121:

O art. 24 da Constituição Federal prevê as regras de competência concorrente entre União, Estados e Distrito Federal, estabelecendo quais as matérias que deverão ser regulamentadas de forma geral por aquela e específica por esses.

Contudo a própria CRFB/88 dispõe, em seu artigo 30, inciso

II, que aos Municípios compete legislar suplementarmente a legislação federal e a

estadual no que couber, e ainda continua no inciso IX, que os municípios devem

promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação

e a ação fiscalizadora federal e estadual.

3.3 ÁREAS ABRANGIDAS PELAS LEIS DE INCENTIVO A CULTURA

Lei Federal

Também chamada de Lei Rouanet, a lei federal de incentivo

a cultura – lei 8.313/91 – institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura

(PRONAC), com a finalidade de captar e canalizar recursos para o setor cultural,

121 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. p. 287.

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e possui algumas atribuições para a destinação destes recursos, que são

estabelecidas em seu artigo 1º, sendo elas:

Art. 1º omissis;

I - contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e o pleno exercício dos direitos culturais;

II - promover e estimular a regionalização da produção cultural e artística brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais;

III - apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus respectivos criadores;

IV - proteger as expressões culturais dos grupos formadores da sociedade brasileira e responsáveis pelo pluralismo da cultura nacional;

V - salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar, fazer e viver da sociedade brasileira;

VI - preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural e histórico brasileiro;

VII - desenvolver a consciência internacional e o respeito aos valores culturais de outros povos ou nações;

VIII - estimular a produção e difusão de bens culturais de valor universal formadores e informadores de conhecimento, cultura e memória;

3.3.1 IX - priorizar o produto cultural originário do País.

E, para que possa cumprir estas destinações a lei Rouanet

criou três mecanismos: o Fundo Nacional de Cultura (FNC), o Incentivo Fiscal

(Mecenato) e o Fundo de Investimento Cultural e Artístico (FICART). Estes

mecanismos visam à implementação do PRONAC.

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A Lei Federal, que instituiu o PRONAC, não pode ter os

recursos que arrecada utilizado para obras, produtos, eventos ou outros

decorrentes, destinados ou circunscritos a circuitos privados ou a coleções

particulares, conforme dispõe o parágrafo único do art. 2º desta lei. O mesmo

parágrafo dispõe que os recursos arrecadados por meio da lei em comento serão

concedidos a projetos culturais que visem à exibição, utilização e circulação

pública dos bens culturais deles resultantes.

Para que se possa ter o apoio a projetos culturais em

cumprimento do art. 1º da lei Rouanet, deve-se observar quais são os objetivos a

serem cumpridos, estes estão dispostos no art. 3º e seus incisos, da mesma lei,

conforme segue:

Aos os projetos relativos ao incentivo à formação artística e

cultural, se darão por meio da concessão de bolsas de estudo, pesquisa e

trabalho, no Brasil ou no exterior, a autores, artistas e técnicos brasileiros ou

estrangeiros residentes no Brasil; da concessão de prêmios a criadores, autores,

artistas, técnicos e suas obras, filmes, espetáculos musicais e de artes cênicas

em concursos e festivais realizados no Brasil; e, por fim, da instalação e

manutenção de cursos de caráter cultural ou artístico, destinados à formação,

especialização e aperfeiçoamento de pessoal da área da cultura, em

estabelecimentos de ensino sem fins lucrativos, conforme o disposto no inciso I

do art. 3º.

O inciso seguinte trata do fomento à produção cultural e

artística, este deve ocorrer mediante produção de discos, vídeos, filmes e outras

formas de reprodução fonovideográfica de caráter cultural; ainda por edição de

obras relativas às ciências humanas, às letras e às artes; pela realização de

exposições, festivais de arte, espetáculos de artes cênicas, de música e de

folclore; também para cobertura de despesas com transporte e seguro de objetos

de valor cultural destinados a exposições públicas no País e no exterior; e por fim

realização de exposições, festivais de arte e espetáculos de artes cênicas ou

congêneres.

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A difusão do patrimônio artístico, cultural e histórico bem

como a sua preservação é também contemplada por esta lei, incidindo sobre a

construção, formação, organização, manutenção, ampliação e equipamento de

museus, bibliotecas, arquivos e outras organizações culturais, bem como de suas

coleções e acervos; a conservação e restauração de prédios, monumentos,

logradouros, sítios e demais espaços, inclusive naturais, tombados pelos Poderes

Públicos; pela restauração de obras de arte e bens móveis e imóveis de

reconhecido valor cultural; e pela proteção do folclore, do artesanato e das

tradições populares nacionais (art.3º, III da lei Rouanet).

Ainda existe outro objetivo descrido no inciso IV, este

objetivo se dá pelo estímulo ao conhecimento dos bens e valores culturais,

através da distribuição gratuita e pública de ingressos para espetáculos culturais e

artísticos; também de levantamentos, estudos e pesquisas na área da cultura e da

arte e de seus vários segmentos; ainda pelo fornecimento de recursos para o

FNC e para as fundações culturais com fins específicos ou para museus,

bibliotecas, arquivos ou outras entidades de caráter cultural.

Por fim existe, além destes, há o apoio a outras atividades

culturais e artísticas, conforme disposto no inciso V, que ocorrem pela realização

de missões culturais no País e no exterior, inclusive através do fornecimento de

passagens; contratação de serviços para elaboração de projetos culturais; ações

não previstas nos incisos anteriores e consideradas relevantes pelo Ministro de

Estado da Cultura, consultada a Comissão Nacional de Apoio à Cultura.

Os mecanismos de implementação do PRONAC (FNC,

Mecenato e FICART), possuem objetivos próprios, além dos estipulados ao

PRONAC.

Mecenato

O mecenato, como supramencionado, é um mecanismo de

implementação do Programa Nacional de Apoio a Cultura, e funciona através de

incentivos fiscais, a projetos culturais devidamente aprovados pelo Ministério da

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cultura, sendo que estes projetos podem ser realizados por pessoas físicas e

empresas.122 Ao apoiador dos projetos é permitida a dedução do valor repassado

no imposto de renda.

O capítulo IV da Lei 8.313/91 dispõe sobre o apoio aos

projetos culturais, que poderão proceder através de doação e patrocínio, sendo

que o apoiador poderá deduzir do imposto de renda o valor dispensado a eles,

desde que atendam os objetivos do artigo 1º da Lei Rouanet. Os projetos que

receberão o incentivo deverão estar incluídos nos segmentos de: artes cênicas;

livros de valor artístico, literário ou humanístico; música erudita ou instrumental;

circulação de exposições de artes visuais; doações de acervos para bibliotecas

públicas, museus, arquivos públicos e cinematecas, bem como treinamento de

pessoal e aquisição de equipamentos para a manutenção desses acervos;

produção de obras cinematográficas e videofonográficas de curta e média

metragem e preservação e difusão do acervo audiovisual; preservação do

patrimônio cultural material e imaterial, conforme dispõe o §3º do art. 18, da

mesma Lei.

É importante salientar que as pessoas jurídicas tributadas

com base no lucro real não poderão deduzir o valor da doação e/ou do patrocínio

como despesa operacional, de acordo com o art. 18, §2º, da Lei Rouanet.

A Lei em comento dispõe ainda sobre o processamento do

projeto cultural, de como deve ser realizado, dos prazos a serem cumpridos.

Conforme dispõe a Lei 8.313/91, os projetos devem ter como

objetivos o desenvolvimento das formas de expressão, modos de criar e fazer,

entre outros, através de determinados seguimentos, tais como a dança, o teatro, a

música e o artesanato.

Art. 25. Os projetos a serem apresentados por pessoas físicas ou pessoas jurídicas, de natureza cultural para fins de incentivo, objetivarão desenvolver as formas de expressão, os modos de

122 http://www.cultura.gov.br/apoio_a_projetos/lei_rouanet/index.php?p=22696&more=1&c=1&pb=1

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criar e fazer, os processos de preservação e proteção do patrimônio cultural brasileiro, e os estudos e métodos de interpretação da realidade cultural, bem como contribuir para propiciar meios, à população em geral, que permitam o conhecimento dos bens e valores artísticos e culturais, compreendendo entre outros, os seguintes segmentos:

I - teatro, dança, circo, ópera, mímica e congêneres;

II - produção cinematográfica, videográfica, fotográfica, discográfica e congêneres;

III - literatura, inclusive obras de referência;

IV - música;

V - artes plásticas, artes gráficas, gravuras, cartazes, filatelia e outras congêneres;

VI - folclore e artesanato;

VII - patrimônio cultural, inclusive histórico, arquitetônico, arqueológico, bibliotecas, museus, arquivos e demais acervos;

VIII - humanidades; e

IX - rádio e televisão, educativas e culturais, de caráter não-comercial.

Parágrafo Único. Os projetos culturais relacionados com os segmentos do inciso II deste artigo deverão beneficiar exclusivamente as produções independentes, bem como as produções culturais-educativas de caráter não-comercial, realizadas por empresas de rádio e televisão.

Para que se tenha uma melhor compreensão do que é

patrocínio e doação deve-se observar o inciso II, do artigo 23, e o artigo 24 da Lei

nº 8.313/91, consequentemente, que assim dispõem:

Art. 23. Para os fins desta Lei, considera-se:

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II - patrocínio: a transferência de numerário, com finalidade promocional ou a cobertura pelo contribuinte do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza, de gastos ou a utilização de bem móvel ou imóvel do seu patrimônio, sem a transferência de domínio, para a realização, por outra pessoa física ou jurídica de atividade cultural com ou sem finalidade lucrativa prevista no artigo 3º desta Lei.

Art. 24. Para os fins deste Capítulo, equiparam-se a doações, nos termos do regulamento:

I - distribuições gratuitas de ingressos para eventos de caráter artístico-cultural por pessoas jurídicas a seus empregados e dependentes legais;

II - despesas efetuadas por pessoas físicas ou jurídicas com o objetivo de conservar, preservar ou restaurar bens de sua propriedade ou sob sua posse legítima, tombados pelo Governo Federal, desde que atendidas as seguintes disposições:

a) preliminar definição, pelo Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural - IBPC35, das normas e critérios técnicos que deverão reger os projetos e orçamentos de que trata este inciso;

b) aprovação prévia, pelo IBPC, dos projetos e respectivos orçamentos de execução das obras;

c) posterior certificação, pelo referido órgão, das despesas efetivamente realizadas e das circunstâncias de terem sido as obras executadas de acordo com os projetos aprovados.

É primordial que se observe que este tipo de incentivo não

poderá ser realizado por instituição ou pessoa física que tenha vinculação ao

proponente do projeto cultural. O artigo 27 da Lei 8.313/91 dispõe sobre quem se

pode considerar vinculado ao proponente, sendo eles:

Art. 27. A doação ou o patrocínio não poderá ser efetuada a pessoa ou instituição vinculada ao agente.

§ 1º Consideram-se vinculados ao doador ou patrocinador:

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a) a pessoa jurídica da qual o doador ou patrocinador seja titular, administrador, gerente, acionista ou sócio, na data da operação, ou nos doze meses anteriores;

b) o cônjuge, os parentes até terceiro grau, inclusive os afins, e os dependentes do doador ou patrocinador ou dos titulares, administradores, acionistas ou sócios de pessoa jurídica vinculada ao doador ou patrocinador, nos termos da alínea anterior;

c) outra pessoa jurídica da qual o doador ou patrocinador seja sócio.

Em suma estas são as áreas abrangidas pela Lei Rouanet,

por meio do Mecenato, ou seja, pelo incentivo fiscal. Passa-se a explanar agora

sobre outra forma de apoio à cultura, que é o Fundo Nacional de Cultura – FNC.

Fundo Nacional de Cultura – FNC

É de extrema necessidade evidenciar que este fundo foi

criado pela Lei 7.505/86, porém denominava-se como Fundo de Promoção

Cultural, a Lei 8.313/91 restabeleceu seus princípios, contudo não consta a

revogação expressa dessa Lei.123.

Além das finalidades que lhe são atribuídas pelo PRONAC,

existem outras que são atribuídas somente ao Fundo Nacional de Cultura, por

este se tratar de um empréstimo reembolsável e inclusive, de cessão a fundo

perdido124, sendo estas finalidades determinadas nos cinco incisos do art. 4º da

Lei Rouanet.

E para melhor compreensão dos objetivos, ou finalidades, do

FNC, faz-se uma breve análise de cada inciso do artigo supramencionado:

123 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7505.htm

124 http://www.cultura.gov.br/apoio_a_projetos/lei_rouanet/index.php?p=22580&more=1&c=1&pb=1

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O primeiro deles classifica a finalidade de “estimular a

distribuição regional eqüitativa dos recursos a serem aplicados na execução de

projetos culturais e artísticos”, ou seja, pode-se observar que o presente inciso

visa a não concentração de recursos numa determinada região, ou localidade.

Já o segundo, quer promover a interação entre os Estados

membros, dando ênfase há projetos que tenham como intuito o intercambio

cultural, quando tem como enfoque “favorecer a visão interestadual, estimulando

projetos que explorem propostas culturais conjuntas, de enfoque regional”.

“Apoiar projetos dotados de conteúdo cultural que enfatizem

o aperfeiçoamento profissional e artístico dos recursos humanos na área da

cultura, a criatividade e a diversidade cultural brasileira” é o constante no inciso III,

que visa o aprimoramento do profissional da área cultural, para que este

permaneça devidamente qualificado.

O inciso IV tem como finalidade “contribuir para a

preservação e proteção do patrimônio cultural e histórico brasileiro”, isso significa

que o Fundo em comento deverá apoiar projetos que tenham este enfoque.

O valor que pode ser financiado por este mecanismo chega

a 80% do total solicitado no projeto, ocorre que o restante fica no encargo do

proponente, conforme informação colhida no site do Ministério da Cultura, e

também consta no art.6º da Lei 8.313/91. É valido acrescentar que o mentante é

liberado apenas quando houver a contrapartida, ou seja, os 20% do valor devem

ser apresentados pelo proponente do projeto.

Fundo de Investimento Cultural e artístico (FICART)

Dispõe o art. 8º da Lei Rouanet que a formação deste fundo

se dá “sob a forma de condomínio, sem personalidade jurídica, caracterizando

comunhão de recursos destinados à aplicação em projetos culturais e artísticos”.

São determinados por Lei os projetos que podem ser

realizados através deste fundo, sendo que o Ministério da Cultura poderá indicar

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outros, que não esses. Os projetos culturais e artísticos para os fins deste fundo,

segundo a Lei 8.313/91, em seu art.9º, são:

Art. 9° São considerados projetos culturais e artísticos, para fins de aplicação de recursos do FICART, além de outros que venham a ser declarados pelo Ministério da Cultura:

I - a produção comercial de instrumentos musicais, bem como de discos, fitas, vídeos, filmes e outras formas de reprodução fonovideográficas;

II - a produção comercial de espetáculos teatrais, de dança, música, canto, circo e demais atividades congêneres;

III - a edição comercial de obras relativas às ciências, às letras e às artes, bem como de obras de referência e outras de cunho cultural;

IV - construção, restauração, reparação ou equipamento de salas e outros ambientes destinados a atividades com objetivos culturais, de propriedade de entidades com fins lucrativos;

V - outras atividades comerciais ou industriais, de interesse cultural, assim consideradas pelo Ministério da Cultura.

Há que se atentar para o fato de que não se encontra

disposto nesta lei o percentual a ser repassado ao proponente do projeto cultural

e artístico. E em informações colhidas no próprio site do Ministério da Cultura,

verifica-se a informação de que este fundo jamais foi utilizado desde a sua

criação.

Tendo esclarecido as áreas que são abrangidas pela Lei

Federal nº 8.313/91, passa-se a explanar sobre a Lei Estadual, mais

especificamente a do Estado de Santa Catarina.

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Lei Estadual – SC

A Lei Estadual nº 10.929/98 – que institui o Sistema Estadual

de Incentivo à Cultura, e adotam outras providências – já em seu art.1º, parágrafo

único, incisos I e II, estabelece que os mecanismos a serem utilizados para o

incentivo a cultura na esfera estadual serão o do Mecenato Estadual de Incentivo

à Cultura (MEIC), e o Fundo Estadual de Incentivo à Cultura (FEIC).

Estão estabelecidas pelo art.10º da Lei 10.929/98, as áreas

em que serão apoiados os projetos culturais na esfera estadual, sendo eles

elencados em dez incisos, assim dispostos:

Art. 10. Poderão ser beneficiados por esta Lei, projetos culturais nas áreas de:

I – artes cênicas;

II – artes gráficas;

III – artes plásticas;

IV – artesanato e folclore;

V – bibliotecas e arquivos;

VI – cinema e vídeo;

VII – literatura;

VIII – museus;

IX – música;

X – patrimônio cultural.

XI - cultura tradicionalista.

Esta lei é regulamentada pelo Decreto n° 3.604 de 23 de

dezembro do mesmo ano. E este expõe os conceitos e definições em um rol de

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categorias, sendo elas: projeto cultural, incentivo fiscal, produtor cultural,

contribuinte, doação, patrocínio, investimento, dirigente cultural, produto cultural,

evento, artes cênicas, artes plásticas, artes gráficas, artesanato, folclore,

biblioteca, arquivo, cinema e vídeo, literatura, museu, música e, por fim,

patrimônio cultural. Estas categorias são utilizadas no Decreto e na Lei, dessa

maneira é de extrema relevância que se tome conhecimento destas:

Art. 2. Para efeito deste Regulamento considera-se:

I - Projeto Cultural: proposta de realização de obra, ação ou evento específico ao desenvolvimento artístico e/ou à preservação do patrimônio cultural de Santa Catarina;

II - Incentivo Fiscal: lançamento ou utilização, como crédito do recurso financeiro aplicado em projetos culturais por contribuinte do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS, a título de compensação, para dedução dos valores devidos ao Estado, na forma e nos limites estipulados em Lei;

III - Produtor Cultural: pessoa física ou jurídica domiciliada há no mínimo 3 (três) anos no Estado de Santa Catarina, diretamente responsável pelo projeto cultural a ser beneficiado pelo incentivo fiscal;

IV - Contribuinte: estabelecimento inscrito no Cadastro de Contribuintes do ICMS do Estado de Santa Catarina, que venha a apoiar financeiramente, através de mecanismos de doação, patrocínio ou investimento, projetos culturais previamente aprovados pela Fundação Catarinense de Cultura - FCC, ou transferir recursos financeiros diretamente ao Fundo Estadual de Incentivo à Cultura - FEIC;

V - Doação: transferência definitiva de bens e recursos, realizada sem qualquer proveito de promoção ou publicidade para o contribuinte;

VI - Patrocínio: despesas do contribuinte com promoção ou publicidade em atividade cultural, sem proveito patrimonial ou pecuniário direto;

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VII - Investimento: aplicação de recursos financeiros em atividades culturais com proveito pecuniário ou patrimonial para o contribuinte;

VIII - Dirigente Cultural: profissional domiciliado no Estado de Santa Catarina, responsável ou atuante em setor de administração pública da área de cultura;

IX - Produto Cultural: artefato cultural fixado em suporte material de qualquer espécie, com possibilidades de reprodução, comercialização, ou distribuição gratuita;

X - Evento: acontecimento de caráter cultural de existência limitada a sua realização ou exibição;

XI - Artes Cênicas: linguagens artísticas relacionadas com os segmentos de teatro, dança, circo, ópera e congêneres;

XII - Artes Gráficas: linguagens artísticas relacionadas com a criação e/ou reprodução mediante o uso de meios artesanais, mecânicos ou cibernéticos de realização, ou seja, com a utilização de tipografia, off-set, computação e outros mecanismos;

XIII - Artes Plásticas: linguagens artísticas compreendendo a materialização de formas, linhas, movimentos, volumes e cores através de modalidades tradicionais, como desenho, gravura, pintura, escultura e fotografia, entre outras, e mídias contemporâneas, como instalação, objeto, vídeo-arte, performance e intervenção urbana, entre outras;

XIV - Artesanato: confecção de peças e objetos manufaturados em pequena escala, utilizando materiais e instrumentos simples, sem o auxílio de máquinas sofisticadas de produção em série;

XV - Folclore: conjunto de manifestações típicas, materiais e simbólicas, transmitidas de geração a geração, traduzindo conhecimentos, usos, costumes, crenças, ritos, mitos, lendas, adivinhações, provérbios, fantasias, alegorias, cantorias e folguedos populares, entre outras;

XVI - Biblioteca: instituição de acesso público destinada à promoção da leitura e difusão do conhecimento, congregando

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acervos de livros, periódicos e congêneres organizados para o estudo, pesquisa e consulta, nas modalidades de bibliotecas pública, escolar, universitária e especializada;

XVII - Arquivo: instituição de acesso público destinada à preservação da memória documental, de natureza histórica, administrativa, cartorial ou eclesiástica;

XVIII - Cinema e Vídeo: linguagens artísticas relacionadas, respectivamente, com a produção de filmes cinematográficos e videográficos, ou seja, de registro de sons e imagens em películas especiais, obedecendo a um roteiro ou script determinado;

XIX - Literatura: área de produção de conhecimento utilizando a arte de escrever em prosa ou verso nos gêneros de romance, poesia, conto, crônica e ensaio, entre outros;

XX - Museu: instituição de acesso público destinada à preservação e divulgação de acervos de bens representativos da história, das artes e das ciências, entre outros;

XXI - Música: linguagem artística que expressa harmonia, melodia e ritmo, em diferentes modalidades e gêneros;

XXII - Patrimônio Cultural: área de preservação de bens de relevância histórica, artística, arquitetônica, paisagística e arqueológica, entre outras.

O decreto de regulamentação da lei estadual no capítulo II,

demonstra que este tem como objetivo o apoio financeiro a projetos culturais,

através dos mecanismos estabelecidos, por ele.

Ocorre que no mesmo capítulo, porém na seção II, ainda

cria a Executiva de Apoio à Cultura - EXAC na estrutura administrativa da

Fundação Catarinense de Cultura - FCC, ou seja, a EXAC é subordinada, de

maneira direta a Diretoria da FCC, essa é formada como comissão gestora do

Sistema Estadual de Incentivo à Cultura - SEIC.

É mister salientar que os benefícios a que se refere à Lei

10.929/98 não serão concedidos a proponentes ou financiadores inadimplentes

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para com a Fazenda Pública Estadual, conforme dispõe o art. 15 desta lei,

contudo, disciplina o art. 8º sobre a quitação do crédito tributário com relação à

dívida ativa, desde que esta tenha ocorrido até 31 de dezembro de 1997:

Art. 8º O crédito tributário inscrito em dívida ativa até 31 de dezembro de 1997, poderá ser quitado com dedução de até 25% (vinte e cinco por cento), desde que o contribuinte, com o valor deduzido e nos limites estabelecidos nos incisos I a III do "caput" do artigo 7º desta Lei, apoie financeiramente projetos culturais na forma desta Lei.

§ 1º Para obter o benefício previsto neste artigo, o contribuinte incentivador apresentará requerimento à Secretaria de Estado da Fazenda e, no prazo de 5 (cinco) dias do seu deferimento, deverá:

I – efetuar o pagamento do crédito tributário com a dedução autorizada;

II – repassar diretamente ao proponente do projeto aprovado pelo Mecenato Estadual de Incentivo à Cultura – MEIC, ou recolher em favor do Fundo Estadual de Incentivo à Cultura – FEIC o valor correspondente a dedução.

§ 2º O Documento de Arrecadação – DAR, correspondente ao pagamento do crédito tributário, deverá conter a expressão "Sistema Estadual de Incentivo à Cultura", seguida do número e data desta Lei e, ainda, o montante deduzido, em algarismo e por extenso, cujo valor deverá ser subtraído do valor do crédito, e a diferença apurada corresponderá ao total do recolhimento.

§ 3º Na hipótese de recolhimento parcelado do crédito tributário, as deduções autorizadas serão realizadas por ocasião do pagamento de cada parcela.

§ 4º A apresentação do requerimento a que se refere o § 1º deste artigo importa na confissão do débito tributário.

§ 5º O disposto neste artigo não se aplica ao crédito inscrito em dívida ativa decorrente do ato praticado com evidência do dolo, fraude ou simulação pelo sujeito passivo.

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Importa ressaltar, ainda, que o FEIC financia apenas 80% do

projeto cultural, sendo que os 20% restantes devem ser oferecidos pelo

proponente deste, conforme o disposto no art.5º da Lei Estadual.

Após esta breve elucidação da lei estadual de Santa

Catarina, vale-se da lei municipal de Itajaí/SC, sendo que esta dispõe sobre os

incentivos fiscais para apoio à realização de projetos culturais, e dá outras

providências.

Lei Municipal – Itajaí/SC

A lei municipal que dispõe sobre incentivos fiscais para

apoio à realização de projetos culturais é a de nº 3.473 de 11 de janeiro de 2000.

Nela é instituído o incentivo fiscal, no âmbito municipal, a ser repassado, em

forma de apoio, aos projetos culturais, conforme está disposto em seu art. 1º:

Art. 1º - Fica instituído no âmbito do Município, incentivo fiscal a ser concedido em apoio à realização de projetos culturais que visam à produção e difusão de bens e valores culturais, como forma de garantir a preservação da cultura das tradições e dos costumes da sociedade itajaiense.

As áreas que são abrangidas por esta lei estão descritas em

seu artigo 2º, de modo que compreende um amplo leque de atividades a serem

apoiadas através desde incentivo cultural.

Art. 2º - Esta Lei abrangerá projetos nas seguintes áreas:

I - Música e dança;

II - Teatro e circo;

III - Cinema, fotografia e vídeo;

IV - Artes plásticas;

V - Literatura;

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VI - Preservação e restauração do acervo cultural e natural classificado pelos órgãos competentes;

VII - Museus, bibliotecas e centros culturais.

É de grande valia, neste momento ter consciência do

constante no art. 5º da mesma lei, que assim dispõe:

Art. 5º - Para gozar dos benefícios previstos nesta Lei, os projetos serão submetidos à Comissão, explicitando os objetivos, resultados esperados, recursos humanos e financeiros envolvidos, para fins de emissão do Certificado de Enquadramento, sem prejuízo de acompanhamento de sua execução.

Esta comissão, criada pela lei 3.473/2000, é a responsável

pela análise e enquadramento dos projetos que são encaminhados a Fundação

Cultural de Itajaí, conforme §2º do art.4º da lei em comento. É composta, a

Comissão Itajaiense de Avaliação de Projetos Culturais, de acordo com o art. 4º,

§1º, e incisos, por membros de quatro órgãos:

Art. 4º - Fica autorizada a criação da Comissão Itajaiense de Avaliação de Projetos Culturais (CITAC), a qual ficará incumbida do exame e da proposta de enquadramento dos projetos culturais apresentados.

§ 1º - Os componentes da Comissão serão escolhidos dentre pessoas de comprovada idoneidade e reconhecida notoriedade na área cultural, nomeados através de Decreto do Senhor Prefeito Municipal, após indicados pelos seguintes órgãos:

I - Conselho Municipal de Cultura;

II - Fundação Cultural de Itajaí;

III - Secretaria Municipal de Educação;

IV - Procuradoria Geral do Município;

V - Gabinete do Prefeito Municipal.

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Ainda existe, no âmbito municipal, o decreto que

regulamenta a Lei 3.473/2000, sendo o decreto de nº 6.079, de vinte de março, do

mesmo ano. Para que se compreendam as categorias elencadas na lei, o art. 2º

deste decreto, com alteração pelo Decreto nº7755, de 13 de dezembro de 2005:

Art. 2º - Para efeitos deste regulamento considera-se:

I. PROJETO CULTURAL: propostas de realização de obra, ação ou evento específico ao desenvolvimento artístico-cultural e histórico-cultural, nas seguintes áreas:

a) Música e Dança: oficina, curso, concerto, performance e espetáculo, show, gravação de CD e vídeo, exibição ao vivo, via Internet, Rádio e Televisão, gravação de DVD, e recursos materiais;

b) Teatro e Circo: construção, reforma e instalações, equipamentos, oficina, curso, apresentação, festival, performance, gravação de DVD, espetáculo, show, gravação de CD, vídeo, exibição ao vivo, via Internet, Rádio e Televisão, e recursos materiais;

c) Audiovisual: oficina, exposição, festival, radiodifusão, radionovela, curso, gravação de CD, vídeo e outros meios técnicos de difusão do produto artístico e/ou cultural, e recursos materiais;

d) Artes Visuais: seminários, oficina, curso, exposição individual ou coletiva, mostra e salão, e recursos materiais;

e) Literatura: curso, oficina, concurso literário, edição de livros e periódicos, impressos e virtuais, e recursos materiais;

f) Preservação e restauração do acervo cultural classificado pelos órgãos competentes: reforma, revitalização e restauração de prédios, peças, bens e obras histórico-culturais, evento, curso, concurso e exposição, e recursos materiais;

g) Museus, bibliotecas e centros culturais: construção, reforma, revitalização, restauração, recuperação e instalação de prédios,

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obras e acervos, evento, curso, oficina, show e festival e recursos materiais,

h) Arte Popular: oficinas, exposições, cursos, apresentações, espetáculos, seminários e recursos materiais.

II. INCENTIVO FISCAL: utilização, como crédito do recurso financeiro aplicado em projetos culturais por contribuinte do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, a título de renúncia, para transferência dos valores devidos ao Município, na forma e nos limites estipulados em Lei;

III. PRODUTOR: pessoa física ou jurídica residente há dois anos no Município, diretamente responsável pelo projeto cultural, a ser beneficiado pelo incentivo fiscal.

IV. CONTRIBUINTE: é a empresa ou profissional autônomo, inscrito no Cadastro de Contribuintes do ISSQN - Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza de Qualquer Natureza, no Município de Itajaí, que venha a apoiar financeiramente, através de patrocínio, projetos culturais ou artísticos, previstos em Lei, na forma deste Regulamento.

Assim sendo, elucidou-se, de maneira breve, as áreas

abrangidas pelas leis de incentivo a cultura, nos três âmbitos, consistindo eles no

Federal, Estadual (SC), e Municipal (Itajaí/SC).

Em seguida, far-se-á uma análise da receptividade das

legislações supramencionadas por parte das pessoas que investem em cultura.

3.4 A RECEPTIVIDADE DAS LEGISLAÇÕES DE INCENTIVOS FISCAIS

PARA PESSOAS QUE INVESTIREM EM CULTURA

O aspecto que mais atrai as pessoas, tanto físicas, quanto

jurídicas, a contribuírem com a cultura é o fato de poder deduzir do imposto de

renda os valores dos incentivos, que são previstos no corpo dos textos legais.

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Na Lei Federal nº 8.313/91 um artigo que dispõe sobre essa

dedução é o art. 26, que identifica no Incentivo a Projetos Culturais por doação ou

patrocínio:

Art. 26. O doador ou patrocinador poderá deduzir do imposto devido na declaração do Imposto sobre a Renda os valores efetivamente contribuídos em favor de projetos culturais aprovados de acordo com os dispositivos desta Lei, tendo como base os seguintes percentuais:

I - no caso das pessoas físicas, oitenta por cento das doações e sessenta por cento dos patrocínios;

II - no caso das pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, quarenta por cento das doações e trinta por cento dos patrocínios.

§ 1º A pessoa jurídica tributada com base no lucro real poderá abater as doações e patrocínios como despesa operacional.

§ 2º O valor máximo das deduções de que trata o "caput" deste artigo será fixado anualmente pelo Presidente da República, com base em um percentual da renda tributável das pessoas físicas e do imposto devido por pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real.

§ 3º Os benefícios de que trata este artigo não excluem ou reduzem outros benefícios, abatimentos e deduções em vigor, em especial as doações a entidades de utilidade pública efetuadas por pessoas físicas ou jurídicas.

§ 4º (vetado).

§ 5º O Poder Executivo estabelecerá mecanismo de preservação do valor real das contribuições em favor dos projetos culturais, relativamente a este Capítulo.

Este artigo dispõe das deduções relativas à pessoa físicas,

disciplinando que estas podem deduzir até 80% do valor destinado a doação, e

60% das verbas destinadas ao patrocínio; já as pessoas jurídicas tributadas com

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base no lucro real têm a possibilidade de deduzir 40% e 30% das doações e

patrocínios respectivamente.

Entretanto, deve-se observar com a devida atenção a lei

9.532 de 10 de dezembro de 1997, que altera a legislação tributária federal,

sendo que esta também faz menção à dedução do imposto de renda, inclusive ela

menciona o artigo supra em seu art.5º, conforme segue:

Art. 5º A dedução do imposto de renda relativa aos incentivos fiscais previstos no art. 1º da Lei nº 6.321, de 14 de abril de 1976, no art. 26 da Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, e no inciso I do art. 4º da Lei nº 8.661, de 1993, não poderá exceder, quando considerados isoladamente, a quatro por cento do imposto de renda devido, observado o disposto no § 4º do art. 3º da Lei nº 9.249, de 1995.

E ainda trata do tema no art. 6º:

Art. 6º Observados os limites específicos de cada incentivo e o disposto no § 4º do art. 3º da Lei nº 9.249, de 1995, o total das deduções de que tratam:

I - o art. 1º da Lei nº 6.321, de 1976 e o inciso I do art. 4º da Lei nº 8.661, de 1993, não poderá exceder a quatro por cento do imposto de renda devido;

II - o art. 260 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, com a redação do art. 10 da Lei nº 8.242, de 12 de outubro de 1991, o art. 26 da Lei nº 8.313, de 1991, e o art. 1º da Lei nº 8.685, de 20 de julho de 1993, não poderá exceder a quatro por cento do imposto de renda devido. (grifo meu)

Assim verifica-se que existem limitações a serem cumpridas,

não sendo possível deduzir o imposto por completo, visto que o artigo

supramencionado demonstra quais são as porcentagens máximas a serem

deduzidas do devido imposto.

No âmbito estadual, especificamente no Estado de Santa

Catarina, o art. 6º da Lei 10.929/98, dispõe sobre a dedução a quem financia

projetos culturais, desde que este seja contribuinte do Imposto sobre Operações

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Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de

Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação:

Art. 6º Aos contribuintes do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS que aplicarem recursos financeiros em projetos culturais aprovados pela Fundação Catarinense de Cultura será permitido, nas condições e na forma estabelecidas em Decreto, a título de compensação, o lançamento ou a utilização como crédito do valor aplicado para dedução de valores devidos aos Estados, nos critérios e limites desta Lei.

Parágrafo único. A aplicação em projetos culturais é caracterizada pela transferência de recursos financeiros por parte do contribuinte:

I – diretamente ao proponente do projeto aprovado pelo Mecenato Estadual de Incentivo à Cultura – MEIC;

II – em favor do Fundo Estadual de Incentivo à Cultura – FEIC.

Já o art.7º dispõe sobre a porcentagem que pode ser

deduzida, com relação aos tipos de incentivos, sendo eles por doação, patrocínio

e investimento.

Art. 7º A compensação de que trata o artigo anterior poderá corresponder a até 5% (cinco por cento) do saldo devedor do contribuinte a cada mês, respeitando-se os seguintes limites:

I – até 100% (cem por cento) do valor aplicado, no caso de doação;

II – até 80% (oitenta por cento) do valor aplicado, no caso de patrocínio;

III – até 50% (cinqüenta por cento) do valor aplicado, no caso de investimento.

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O § 2º do artigo supramencionado dispõe que a dedução

somente poderá ser iniciada pelo contribuinte 30 (trinta) dias após a efetiva

transferência dos recursos financeiros, na forma estabelecida nesta Lei.

Por fim na esfera municipal, especificamente na cidade de

Itajaí, verifica-se no art. 3º da Lei 3.473/2000 que a dedução poderá ser feita até

30% do valor devido ao Imposto Sobre Serviços:

Art. 3º - Os projetos culturais serão apresentados à Fundação Cultural de Itajaí pelos produtores culturais, capacitando-os a receber recursos de contribuintes do Imposto Sobre Serviços - ISS, até o limite de 30% (trinta por cento) do imposto devido, mediante emissão de Certificado de Enquadramento.

Tem-se, além disso, o regulamento desta lei, o Decreto

6.079/2000, que dispõe sobre a dedução:

Art. 6º - Aos contribuintes do ISSQN, que aplicarem recursos financeiros em projetos culturais devidamente aprovados e enquadrados pela CITAC será permitido, nas condições e na forma estabelecidas no presente Regulamento, a título de renúncia, a utilização como crédito do valor aplicado para dedução de valores devidos ao Município, nos critérios e limites fixados, mediante apresentação da Autorização de Transferência e da guia bancária de depósito.

Parágrafo único - O crédito de que trata este artigo, não poderá ultrapassar ao valor correspondente a 30% (trinta por cento) do ISSQN devido pelo contribuinte a cada mês.

Conforme o art. 25 deste regulamento, a dedução poderá

ser iniciada da data do depósito dos valores na conta do beneficiado, ou até o

limite de máximo de 180 dias:

Art. 25 - A dedução do ISSQN, na forma e nos limites estabelecidos neste Regulamento, poderá ser iniciada a partir da data em que o contribuinte depositar os valores constantes na Autorização de Transferência na conta do projeto beneficiado, podendo também fazê-lo até, no máximo 180 (cento e oitenta) dias a contar da data do referido depósito.

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Desta maneira puderam-se verificar as condições de

dedução que podem ser feitas pelos incentivadores de projetos culturais, em três

esferas, sendo elas: Federal, Estadual e Municipal. Passa-se então a análise da

eficácia da norma constitucional do art. 215.

3.5 AS LEGISLAÇÕES ORDINÁRIAS E A EFICÁCIA DO ART. 215 DA

CRFB/88

Verifica-se então o disposto no art. 215 da CRFB/88 para

que se possa analisar a sua eficácia:

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.

§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.

§ 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.

§ 3º - A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à integração das ações do poder público que conduzem à:

I defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;

II produção, promoção e difusão de bens culturais

III formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões;

IV democratização do acesso aos bens de cultura;

V valorização da diversidade étnica e regional. (grifo meu)

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A norma de que trata o artigo supra é norma constitucional

de eficácia limitada, de princípio programático, tendo em vista a idéia, já

mencionada no 1º capítulo deste trabalho, de que este tipo de norma tem a

necessidade de legislação ulterior para que possa produzir todos os seus efeitos

no mundo jurídico, e que o legislador constitucional não a constituiu de maneira

suficiente para que pudesse ter aplicação imediata, deixando ao legislador

ordinário este trabalho.

Este artigo é elencado por Alexandre de Moraes125 como

norma programática:

Maria Helena Diniz cita os artigos 21, IX, 23, 170, 205, 211, 215, 218, 226, §2º, da Constituição Federal de 1988 como exemplos de normas programáticas, por não regularem interesses ou direitos nelas consagrados, mas limitarem-se a traçar alguns preceitos a serem cumpridos pelo Poder Público, como “programas das

respectivas atividades, pretendendo unicamente a consecução

dos fins sociais pelo Estado”.

Ainda pode-se verificar que esta norma é de princípio

programático por José Afonso da Silva126:

Todo princípio inserto numa constituição rígida adquire dimensão jurídica, mesmo aqueles de caráter mais acentuadamente ideológico-programático, como (…) “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional” (art. 215).

E continua informando que a norma do art. 215 é

direcionada aos poderes públicos em geral:

Normas programáticas aos (…) Poderes Públicos em geral – 1) “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais” (art. 215); 2) “O Estado protegerá as manifestações das culturas populares,

125 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. p. 9.

126 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 80.

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indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional” (art. 215, § 1º).127

Chaga-se assim a conclusão de que o art. 215 da CRFB/88

realmente necessita de legislação futura, ulterior, para que possa produzir todos

os seus efeitos, o que pressupõe que as legislações que disciplinam o incentivo a

cultura são realmente de extrema necessidade, para que se possa dar a norma

constitucional sua eficácia.

3.6 A SOCIEDADE BRASILEIRA E A UTILIZAÇÃO DA LEGISLAÇÃO

ORDINÁRIA QUE DÁ INCENTIVO A CULTURA

Existem vários projetos culturais que são realizados através

das leis de apoio e incentivo a cultura, tanto em nível Federal, quanto Estadual e

Municipal. Estes tem diversas finalidades particulares, mas, de um modo geral

visão a promoção da cultura, para que todas as pessoas tenham acesso a elas.

Em nível Federal, pode-se destacar o programa de

intercâmbio e difusão cultural, que é mantido pelo FNC, e que disponibiliza verbas

para passagens, com a finalidade de custear despesas com transporte para

artistas, técnicos e estudiosos convidados a participar de eventos culturais

promovidos por instituições brasileiras ou estrangeiras durante períodos

específicos128.

Pode-se verificar que este programa visa a inclusão social,

tendo em vista que pessoas que não disponibilizem de recursos prórpios tenham

como participar de eventos, nacionais, ou até internacionais.

Na esfera Estadual pode-se encontrar uma listagem de

vários projetos, aprovados pelo MEIC e pelo FEIC, disponibilizados no site da

Fundação Catarinense de Cultura, tais como: VIII Festival Nacional de Teatro 127 SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais. p. 148 e 149.

128 www.cultura.gov.br

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Infantil (FEIC); Literatura para Todos – 2004 (FEIC); VII Festival de Música

Cidade de Itajaí (FEIC); X Festival Escolar de Dança(FEIC); Museu e Arquivo

Histórico do Vale do Itajaí Mirim (MEIC); Itajaí em Circuito (MEIC); Mafra Metal

Rock (MEIC); e, Semana da Ópera nas Escolas (MEIC)129.

Em Itajaí, existem também muitos projetos que visam a

inclusão social, como por exemplo o projeto dança é vida, que através da dança

revela um caminho saldavel de viver, e outros como Edição de Livro Poesia

"Cura"; Grupo Folclórico, Boi de Mamão e Dança Portuguesa; Misturando

Memórias: Contos e Crônicas de Itajaí e Pequenas feiras; III Feira internacional

de cultura e artesanato; feira mãos de minas - XIII feira nacional de artesanato e

visitação na artesanal 2007 - Hobyarte130.

Percebe-se assim, que mesmo havendo um pouco de

dificuldade na elaboração de projetos culturais, estes são muito utilizados pela

sociedade brasileira, especialmente com a finalidade de levar a todos a cultura

nacional.

129 http://www.fcc.sc.gov.br/projetos/projetos.htm

130 http://www.fundacaoculturaldeitajai.com.br/fr_entrafl.htm

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa conseguiu atingir sua finalidade visto

que se verificou a importância do art. 215 da CRFB/88, e das legislações

ordinárias, levando-se em consideração que estas fazem com que o artigo em

estudo torna-se eficaz, ou seja, passem a produzir todos os efeitos pretendidos.

Outro ponto importante foi verificado quando a norma

constitucional delegou poderes para legislar sobre as formas de incentivo e apoio

à cultura aos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), e

verificou-se que estes assim o fizeram (levando-se em consideração o Estado de

Santa Catarina e o Município de Itajaí).

Comprovou-se a forma de eficácia da norma constitucional

como sendo a limitada, justamente pelo fato desta necessitar de normatividade

futura pelo legislador ordinário.

Utilizou-se a legislação pertinente ao tema, e também

entendimentos doutrinários. Ambos com a finalidade de compreender a questão

da eficácia da norma constitucional, da cultura e das leis de apoio e incentivo

cultural.

As hipóteses levantadas a cerca do tema de estudo foram

analisadas e comprovadas. A primeira hipótese trata dos mecanismos a serem

utilizados através das leis de apoio e incentivo a cultura; primeiramente se

verificou que em esfera Federal os mecanismos utilizados foram o mecenato, o

FNC, e o FICART; em esfera Estadual (SC), um destes mecanismos não foi

encontrado, sendo ele o FICART, apenas é utilizado o mecenato, que é intitulado

Mecenato Estadual de Incetivo a Cultura (MEIC), e o Fundo Estadual de Cultura

(FEIC); já na esfera municipal, no que tange a cidade de Itajaí/SC, não foi

encontrada nenhum tipo de fundo reservado a cultura, o incentivo é realizado

apenas pelo incentivo fiscal, ou seja, o mecenato.

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A segunda hipótese, que engloba as áreas abrangidas pelas

leis de apoio e incentivo a cultura, foi tratada no terceiro título do Capítulo 3, e se

verificou que as áreas abrangidas são inúmeras, em todas as esferas, entre as

áreas que podem receber o subsídeo federal estão o teatro; a dança; o circo; a

ópera; a mímica; a produção cinematográfica, videográfica, fotográfica,

discográfica; a literatura, inclusive obras de referência; a música; as artes

plásticas e gráficas; as gravuras; os cartazes; a filatelia; o folclore e o artesanato;

entre outros.

Já na os projetos encaminhados ao Sistema Estadual de

Incentivo a Cultura do Estado de Santa Catarina, estes poderão ser das áreas

que se enquadram entre artes cênicas, gráficas e plásticas; artesanato e folclore;

bibliotecas e arquivos; cinema e vídeo; literatura; museus; música; patrimônio

cultural; e cultura tradicionalista.

E as áreas abrangidas pela lei municipal são a música e

dança; teatro e circo; cinema, fotografia e vídeo; artes plásticas; literatura;

preservação e restauração do acervo cultural e natural classificado pelos órgãos

competentes; e Museus, bibliotecas e centros culturais.

Finalizando, a terceira hipótese, que foi tratado no último

título do terceiro capítulo, que descreve sobre a sociedade brasileira e a utilização

da legislação ordinária que dá incentivo a cultura, foram destacados alguns

projetos que recebem verbas através das leis de apoio e incentivo a cultura nas

três esferas, levando-se em consideração que se utilizou como base o Estado de

Santa Catarina e o Município de Itajaí, no mesmo Estado.

Mostrou-se ser de grande valia o estudo que se realizou na

presente monografia, sendo este um tema atual, e ao mesmo tempo histórico (por

cultivar as raízes de um povo), e por ser pouco abordado por pesquisas

científicas.

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ANEXOS

1. Lei nº 8.313, dezembro de 1991 - Federal;

2. Decreto nº 1.494, de 17 de maio de 1995 - Federal;

3. Lei nº 10.929, de 23 de setembro de 1998 - Estadual;

4. Decreto nº 3.604, de 23 de dezembro de 1998 – Estadual;

5. Lei nº 3.473, de 11 de janeiro de 2000 - Municipal;

6. Decreto nº 7.755, de 13 de dezembro de 2005.

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LEI ROUANET LEI N° 8.313, DE 23 DE DEZEMBRO DE 1991

Restabelece princípios da Lei n° 7.505, de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) e dá outras providências.

(Alterada pelas LEI N° 9.312/96, LEI No 9.874/99 e Nº 9.999/2000 já inseridas no texto) O PRESIDENTE DA REPÚBLICA - Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei:

CAPÍTULO I Disposições Preliminares

Art. 1° Fica instituído o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), com a finalidade de captar e canalizar recursos para o setor de modo a: I - contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e o pleno exercício dos direitos culturais; II - promover e estimular a regionalização da produção cultural e artística brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais; III - apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus respectivos criadores; IV - proteger as expressões culturais dos grupos formadores da sociedade brasileira e responsáveis pelo pluralismo da cultura nacional; V - salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar, fazer e viver da sociedade brasileira; VI - preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural e histórico brasileiro; VII - desenvolver a consciência internacional e o respeito aos valores culturais de outros povos ou nações; VIII - estimular a produção e difusão de bens culturais de valor universal, formadores e informadores de conhecimento, cultura e memória; IX - priorizar o produto cultural originário do País. Art. 2° O Pronac será implementado através dos seguintes mecanismos: I - Fundo Nacional da Cultura (FNC); II - Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart); III - Incentivo a projetos culturais. Parágrafo único. Os incentivos criados pela presente lei somente serão concedidos a projetos culturais que visem a exibição, utilização e circulação públicas dos bens culturais deles resultantes, vedada a concessão de incentivo a obras, produtos, eventos ou outros decorrentes, destinados ou circunscritos a circuitos privados ou a coleções particulares. Art. 3° Para cumprimento das finalidades expressas no art. 1° desta lei, os projetos culturais em cujo favor serão captados e canalizados os recursos do Pronac atenderão, pelo menos, um dos seguintes objetivos: I - incentivo à formação artística e cultural, mediante: a) concessão de bolsas de estudo, pesquisa e trabalho, no Brasil ou no exterior, a autores, artistas e técnicos brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil; b) concessão de prêmios a criadores, autores, artistas, técnicos e suas obras, filmes, espetáculos musicais e de artes cênicas em concursos e festivais realizados no Brasil; c) instalação e manutenção de cursos de caráter cultural ou artístico, destinados à formação, especialização e aperfeiçoamento de pessoal da área da cultura, em estabelecimentos de ensino sem fins lucrativos; II - fomento à produção cultural e artística, mediante: a) produção de discos, vídeos, filmes e outras formas de reprodução fonovideográfica de caráter cultural;

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b) edição de obras relativas às ciências humanas, às letras e às artes; c) realização de exposições, festivais de arte, espetáculos de artes cênicas, de música e de folclore; d) cobertura de despesas com transporte e seguro de objetos de valor cultural destinados a exposições públicas no País e no exterior; e) realização de exposições, festivais de arte e espetáculos de artes cênicas ou congêneres; III - preservação e difusão do patrimônio artístico, cultural e histórico, mediante: a) construção, formação, organização, manutenção, ampliação e equipamento de museus, bibliotecas, arquivos e outras organizações culturais, bem como de suas coleções e acervos; b) conservação e restauração de prédios, monumentos, logradouros, sítios e demais espaços, inclusive naturais, tombados pelos Poderes Públicos; c) restauração de obras de artes e bens móveis e imóveis de reconhecido valor cultural; d) proteção do folclore, do artesanato e das tradições populares nacionais; IV - estímulo ao conhecimento dos bens e valores culturais, mediante: a) distribuição gratuita e pública de ingressos para espetáculos culturais e artísticos; b) levantamentos, estudos e pesquisas na área da cultura e da arte e de seus vários segmentos; c) fornecimento de recursos para o FNC e para fundações culturais com fins específicos ou para museus, bibliotecas, arquivos ou outras entidades de caráter cultural; V - apoio a outras atividades culturais e artísticas, mediante: a) realização de missões culturais no país e no exterior, inclusive através do fornecimento de passagens; b) contratação de serviços para elaboração de projetos culturais; c) ações não previstas nos incisos anteriores e consideradas relevantes pelo Ministro de Estado da Cultura, consultada a Comissão Nacional de Apoio à Cultura.(redação da LEI No

9.874, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1999) (redação original) - c) ações não previstas nos incisos anteriores e consideradas relevantes pela Secretaria

da Cultura da Presidência da República (SEC/PR), ouvida a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura

(CNIC) CAPÍTULO II

Do Fundo Nacional da Cultura (FNC) Art. 4° Fica ratificado o Fundo de Promoção Cultural, criado pela Lei n° 7.505, de 2 de julho de 1986, que passará a denominar-se Fundo Nacional da Cultura (FNC), com o objetivo de captar e destinar recursos para projetos culturais compatíveis com as finalidades do Pronac e de: I - estimular a distribuição regional eqüitativa dos recursos a serem aplicados na execução de projetos culturais e artísticos; II - favorecer a visão interestadual, estimulando projetos que explorem propostas culturais conjuntas, de enfoque regional; III - apoiar projetos dotados de conteúdo cultural que enfatizem o aperfeiçoamento profissional e artístico dos recursos humanos na área da cultura, a criatividade e a diversidade cultural brasileira; IV - contribuir para a preservação e proteção do patrimônio cultural e histórico brasileiro; V - favorecer projetos que atendam às necessidades da produção cultural e aos interesses da coletividade, aí considerados os níveis qualitativos e quantitativos de atendimentos às demandas culturais existentes, o caráter multiplicador dos projetos através de seus aspectos sócio-culturais e a priorização de projetos em áreas artísticas e culturais com menos possibilidade de desenvolvimento com recursos próprios.

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§ 1o O FNC será administrado pelo Ministério da Cultura e gerido por seu titular, para cumprimento do Programa de Trabalho Anual, segundo os princípios estabelecidos nos arts. 1o e 3o.(alterado pela LEI No 9.874, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1999) (redação original) -§ 1° O FNC será administrado pela Secretaria da Cultura da Presidência da República

(SEC/PR) e gerido por seu titular, assessorado por um comitê constituído dos diretores da SEC/PR e dos

presidentes das entidades supervisionadas, para cumprimento do Programa de Trabalho Anual aprovado

pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) de que trata o art. 32 desta lei, segundo os

princípios estabelecidos nos artigos 1° e 3° da mesma. § 2º - Os recursos do FNC somente serão aplicados em projetos culturais após aprovados, com parecer do órgão técnico competente, pelo Ministo de Estado da Cultura (alterado pela Lei nº 9.874, de 23 de novembro de 1999). (redação original) - § 2° Os recursos do FNC serão aplicados em projetos culturais submetidos com parecer

da entidade supervisionada competente na área do projeto, ao comitê assessor, na forma que dispuser o

regulamento. § 3° Os projetos aprovados serão acompanhados e avaliados tecnicamente pelas entidades supervisionadas, cabendo a execução financeira à SEC/PR. § 4° Sempre que necessário, as entidades supervisionadas utilizarão peritos para análise e parecer sobre os projetos, permitida a indenização de despesas com o deslocamento, quando houver, e respectivos pró-labore e ajuda de custos, conforme ficar definido no regulamento. § 5° O Secretário da Cultura da Presidência da República designará a unidade da estrutura básica da SEC/PR que funcionará como secretaria executiva do FNC. § 6o Os recursos do FNC não poderão ser utilizados para despesas de manutenção administrativa do Ministério da Cultura, exceto para a aquisição ou locação de equipamentos e bens necessários ao cumprimento das finalidades do Fundo.(alterado pela

LEI No 9.874, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1999) (redação original) - § 6° Os recursos do FNC não poderão ser utilizados para despesas de manutenção

administrativa da SEC/PR. § 7° Ao término do projeto, a SEC/PR efetuará uma avaliação final de forma a verificar a fiel aplicação dos recursos, observando as normas e procedimentos a serem definidos no regulamento desta lei, bem como a legislação em vigor. § 8° As instituições públicas ou privadas recebedoras de recursos do FNC e executoras de projetos culturais, cuja avaliação final não for aprovada pela SEC/PR, nos termos do parágrafo anterior, ficarão inabilitadas pelo prazo de três anos ao recebimento de novos recursos, ou enquanto a SEC/PR não proceder a reavaliação do parecer inicial. Art. 5° O FNC é um fundo de natureza contábil, com prazo indeterminado de duração, que funcionará sob as formas de apoio a fundo perdido ou de empréstimos reembolsáveis, conforme estabelecer o regulamento, e constituído dos seguintes recursos: I - recursos do Tesouro Nacional; II - doações, nos termos da legislação vigente; III - legados; IV - subvenções e auxílios de entidades de qualquer natureza, inclusive de organismos internacionais; V - saldos não utilizados na execução dos projetos a que se referem o Capítulo IV e o presente capítulo desta lei; VI - devolução de recursos de projetos previstos no Capítulo IV e no presente capítulo desta lei, e não iniciados ou interrompidos, com ou sem justa causa; VII - um por cento da arrecadação dos Fundos de Investimentos Regionais, a que se refere a Lei n° 8.167, de 16 de janeiro de 1991, obedecida na aplicação a respectiva origem geográfica regional;

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VIII - três por cento da arrecadação bruta dos concursos de progonóstico e loterias federais e similares cuja realização estiver sujeita a autorização federal, deduzindo-se este valor do motante destinado aos prêmios; ( (Redação da LEI Nº 9.999, DE 30 DE AGOSTO DE 2000)

(redação anterior) VIII - um por cento da arrecadação bruta dos concursos de prognósticos e loterias

federais e similares cuja realização estiver sujeita a autorização federal, deduzindo-se este valor do

montante destinado aos prêmios. (alterado pela Lei nº 9.312, de 05.11.96) (redação original) - VIII - um por cento da arrecadação bruta das loterias federais,

deduzindo-se este valor do montante destinado aos prêmios; IX - reembolso das operações de empréstimo realizadas através do fundo, a título de financiamento reembolsável, observados critérios de remuneração que, no mínimo, lhes preserve o valor real; X - resultado das aplicações em títulos públicos federais, obedecida a legislação vigente sobre a matéria; XI - conversão da dívida externa com entidades e órgãos estrangeiros, unicamente mediante doações, no limite a ser fixado pelo Ministro da Economia, Fazenda e Planejamento, observadas as normas e procedimentos do Banco Central do Brasil; XII - saldos de exercícios anteriores; XIII recursos de outras fontes. Art. 6° O FNC financiará até oitenta por cento do custo total de cada projeto, mediante comprovação, por parte do proponente, ainda que pessoa jurídica de direito público, da circunstância de dispor do montante remanescente ou estar habilitado à obtenção do respectivo financiamento, através de outra fonte devidamente identificada, exceto quanto aos recursos com destinação especificada na origem. § 1° (Vetado) § 2° Poderão ser considerados, para efeito de totalização do valor restante, bens e serviços oferecidos pelo proponente para implementação do projeto, a serem devidamente avaliados pela SEC/PR. Art. 7° A SEC/PR estimulará, através do FNC, a composição, por parte de instituições financeiras, de carteiras para financiamento de projetos culturais, que levem em conta o caráter social da iniciativa, mediante critérios, normas, garantias e taxas de juros especiais a serem aprovados pelo Banco Central do Brasil.

CAPÍTULO III Dos Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart)

Art. 8° Fica autorizada a constituição de Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart), sob a forma de condomínio, sem personalidade jurídica, caracterizando comunhão de recursos destinados à aplicação em projetos culturais e artísticos. Art. 9o São considerados projetos culturais e artísticos, para fins de aplicação de recursos do FICART, além de outros que venham a ser declarados pelo Ministério da Cultura: (alterado pela Lei nº 9.874, de 23.11.99) (redação original) - Art. 9° São considerados projetos culturais e artísticos, para fins de aplicação de

recursos dos Ficart, além de outros que assim venham a ser declarados pela CNIC: I - a produção comercial de instrumentos musicais, bem como de discos, fitas, vídeos, filmes e outras formas de reprodução fono-videográficas; II - a produção comercial de espetáculos teatrais, de dança, música, canto, circo e demais atividades congêneres; III - a edição comercial de obras relativas às ciências, às letras e às artes, bem como de obras de referência e outras de cunho cultural;

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IV - construção, restauração, reparação ou equipamento de salas e outros ambientes destinados a atividades com objetivos culturais, de propriedade de entidades com fins lucrativos; V - outras atividades comerciais ou industriais, de interesse cultural, assim consideradas pelo Ministério da Cultura." (alterado pela Lei No 9.874, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1999) (redação original) - V - outras atividades comerciais ou industriais, de interesse cultural, assim

consideradas pela SEC/PR, ouvida a CNIC . Art. 10. Compete à Comissão de Valores Mobiliários, ouvida a SEC/PR, disciplinar a constituição, o funcionamento e a administração dos Ficart, observadas as disposições desta lei e as normas gerais aplicáveis aos fundos de investimento. Art. 11. As quotas dos Ficart, emitidas sempre sob a forma nominativa ou escritural, constituem valores mobiliários sujeitos ao regime da Lei n° 6.385, de 7 de dezembro de 1976. Art. 12. O titular das quotas de Ficart: I - não poderá exercer qualquer direito real sobre os bens e direitos integrantes do patrimônio do fundo; II - não responde pessoalmente por qualquer obrigação legal ou contratual, relativamente aos empreendimentos do fundo ou da instituição administradora, salvo quanto à obrigação de pagamento do valor integral das quotas subscritas. Art. 13. A instituição administradora de Ficart compete: I - representá-lo ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente; II - responder pessoalmente pela evicção de direito, na eventualidade da liquidação deste. Art. 14. (Revogado pela LEI Nº 8.894, DE 21 DE JUNHO DE 1994) (redação original)- Art. 14 - Os rendimentos e ganhos de capital auferidos pelos Ficart ficam isentos do

imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, assim como do imposto sobre renda e proventos de

qualquer natureza. Art. 15. Os rendimentos e ganhos de capital distribuídos pelos Ficart, sob qualquer forma, sujeitam-se à incidência do imposto sobre a renda na fonte à alíquota de vinte e cinco por cento. Parágrafo único. Ficam excluídos da incidência na fonte de que trata este artigo, os rendimentos distribuídos a beneficiário pessoas jurídica tributada com base no lucro real, os quais deverão ser computados na declaração anual de rendimentos. Art. 16. Os ganhos de capital auferidos por pessoas físicas ou jurídicas não tributadas com base no lucro real, inclusive isentas, decorrentes da alienação ou resgate de quotas dos Ficart, sujeitam-se à incidência do imposto sobre a renda, à mesma alíquota prevista para a tributação de rendimentos obtidos na alienação ou resgate de quotas de fundos mútuos de ações. § 1° Considera-se ganho de capital a diferença positiva entre o valor de cessão ou resgate da quota e o custo médio atualizado da aplicação, observadas as datas de aplicação, resgate ou cessão, nos termos da legislação pertinente. § 2° O ganho de capital será apurado em relação a cada resgate ou cessão, sendo permitida a compensação do prejuízo havido em uma operação com o lucro obtido em outra, da mesma ou diferente espécie, desde que de renda variável, dentro do mesmo exercício fiscal. § 3° O imposto será pago até o último dia útil da primeira quinzena do mês subseqüente àquele em que o ganho de capital foi auferido. § 4° Os rendimentos e ganhos de capital a que se referem o caput deste artigo e o artigo anterior, quando auferidos por investidores residentes ou domiciliados no exterior,

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sujeitam-se à tributação pelo imposto sobre a renda, nos termos da legislação aplicável a esta classe de contribuintes. Art. 17. O tratamento fiscal previsto nos artigos precedentes somente incide sobre os rendimentos decorrentes de aplicações em Ficart que atendam a todos os requisitos previstos na presente lei e na respectiva regulamentação a ser baixada pela Comissão de Valores Mobiliários. Parágrafo único. Os rendimentos e ganhos de capital auferidos por Ficart, que deixem de atender aos requisitos específicos desse tipo de fundo, sujeitar-se-ão à tributação prevista no artigo 43 da Lei n° 7.713, de 22 de dezembro de 1988.

CAPÍTULO IV Do Incentivo a Projetos Culturais

Art. 18. Com o objetivo de incentivar as atividades culturais, a União facultará às pessoas físicas ou jurídicas a opção pela aplicação de parcelas do Imposto sobre a Renda, a título de doações ou patrocínios, tanto no apoio direto a projetos culturais apresentados por pessoas físicas ou por pessoas jurídicas de natureza cultural, como através de contribuições ao FNC, nos termos do art. 5o, inciso II, desta Lei, desde que os projetos atendam aos critérios estabelecidos no art. 1o desta Lei.(alterado pela Lei nº LEI No 9.874, DE 23 DE

NOVEMBRO DE 1999) (redação original) - Art. 18. Com o objetivo de incentivar as atividades culturais, a União facultará às

pessoas físicas ou jurídicas a opção pela aplicação de parcelas do imposto sobre a renda a título de doações

ou patrocínios, tanto no apoio direto a projetos culturais apresentados por pessoas físicas ou por pessoas

jurídicas de natureza cultural, de caráter privado, como através de contribuições ao FNC, nos termos do art.

5°, inciso II, desta lei, desde que os projetos atendam aos critérios estabelecidos no art. 1° desta lei, em

torno dos quais será dada prioridade de execução pela CNIC. § 1º - Os contribuintes poderão deduzir do imposto de renda devido as quantias efetivamente despendidas nos projetos elencados no § 3o, previamente aprovados pelo Ministério da Cultura, nos limites e nas condições estabelecidos na legislação do imposto de renda vigente, na forma de: a) doações; e b) patrocínios.(§§ inseridos pela Lei nº LEI No 9.874, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1999)

§ 2o As pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real não poderão deduzir o valor da doação ou do patrocínio referido no parágrafo anterior como despesa operacional.(§

inserido pela Lei nº LEI No 9.874, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1999)

§ 3o As doações e os patrocínios na produção cultural, a que se refere o § 1o, atenderão exclusivamente aos seguintes segmentos: a) artes cênicas; b) livros de valor artístico, literário ou humanístico; c) música erudita ou instrumental; d) circulação de exposições de artes plásticas; e) doações de acervos para bibliotecas públicas e para museus.(§ inseridos pela Lei nº LEI No

9.874, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1999) Art. 19 - Os projetos culturais previstos nesta Lei serão apresentados ao Ministério da Cultura, ou a quem este delegar atribuição, acompanhados do orçamento analítico, para aprovação de seu enquadramento nos objetivos do PRONAC.(alterado pela L EI No 9.874, DE

23 DE NOVEMBRO DE 1999) (redação original) - Art. 19. Os projetos culturais previstos nesta lei serão apresentados à SEC/PR, ou a

quem esta delegar a atribuição, acompanhados de planilha de custos, para aprovação de seu

enquadramento nos objetivos do Pronac e posterior encaminhamento à CNIC para decisão final.

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§ 1º - O proponente será notificado dos motivos da decisão que não tenha aprovado o projeto, no prazo máximo de cinco dias.(alterado pela L EI No 9.874, DE 23 DE NOVEMBRO DE

1999) (redação original) - § 1° No prazo máximo de noventa dias do seu recebimento poderá a SEC/PR notificar o

proponente do projeto de não fazer jus aos benefícios pretendidos, informando os motivos da decisão. § 2º - Da notificação a que se refere o parágrafo anterior, caberá pedido de reconsideração ao Ministro de Estado da Cultura, a ser decidido no prazo de sessenta dias. (redação original) - § 2° Da notificação a que se refere o parágrafo anterior, caberá recurso à CNIC, que

deverá decidir no prazo de sessenta dias. § 3° (Vetado) § 4° (Vetado) § 5° (Vetado) § 6° A aprovação somente terá eficácia após publicação de ato oficial contendo o título do projeto aprovado e a instituição por ele responsável, o valor autorizado para obtenção de doação ou patrocínio e o prazo de validade da autorização. § 7º - O Ministério da Cultura publicará anualmente, até 28 de fevereiro, o montante dos recursos autorizados pelo Ministério da Fazenda para a renúncia fiscal no exercício anterior, devidamente discriminados por beneficiário (alterado pela L EI No 9.874, DE 23 DE

NOVEMBRO DE 1999) (redação original) - § 7° A SEC/PR publicará anualmente, até 28 de fevereiro, o montante de recursos

autorizados no exercício anterior pela CNIC, nos termos do disposto nesta lei, devidamente discriminados

por beneficiário. § 8o Para a aprovação dos projetos será observado o princípio da não-concentração por segmento e por beneficiário, a ser aferido pelo montante de recursos, pela quantidade de projetos, pela respectiva capacidade executiva e pela disponibilidade do valor absoluto anual de renúncia fiscal.(inserido pela L EI No 9.874, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1999) Art. 20. Os projetos aprovados na forma do artigo anterior serão, durante sua execução, acompanhados e avaliados pela SEC/PR ou por quem receber a delegação destas atribuições. § 1° A SEC/PR, após o término da execução dos projetos previstos neste artigo, deverá, no prazo de seis meses, fazer uma avaliação final da aplicação correta dos recursos recebidos, podendo inabilitar seus responsáveis pelo prazo de até três anos. § 2º - Da decisão a que se refere o parágrafo anterior, caberá pedido de reconsideração ao Ministro de Estado da Cultura, a ser decidido no prazo de sessenta dias.(alterado pela L EI No

9.874, DE 23 DE NOVEMBRO DE 1999) (redação original) - § 2° Da decisão da SEC/PR caberá recurso à CNIC, que decidirá no prazo de sessenta

dias. § 3° O Tribunal de Contas da União incluirá em seu parecer prévio sobre as contas do Presidente da República análise relativa a avaliação de que trata este artigo. Art. 21. As entidades incentivadoras e captadoras de que trata este Capítulo deverão comunicar, na forma que venha a ser estipulada pelo Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento, e SEC/PR, os aportes financeiros realizados e recebidos, bem como as entidades captadoras efetuar a comprovação de sua aplicação. Art. 22. Os projetos enquadrados nos objetivos desta lei não poderão ser objeto de apreciação subjetiva quanto ao seu valor artístico ou cultural. Art. 23. Para os fins desta lei, considera-se: I - (Vetado) II - patrocínio: a transferência de numerário, com finalidade promocional ou a cobertura, pelo contribuinte do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, de gastos, ou a utilização de bem móvel ou imóvel do seu patrimônio, sem a transferência de domínio,

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para a realização, por outra pessoa física ou jurídica de atividade cultural com ou sem finalidade lucrativa prevista no art. 3° desta lei.

Art 24. Para os fins deste Capítulo, equiparam-se a doações, nos termos do regulamento:

I - distribuições gratuitas de ingressos para eventos de caráter artistico-cultural por pessoa jurídicas a seus empregados e dependentes legais;

II - despesas efetuadas por pessoas físicas ou jurídicas com o objetivo de conservar, preservar ou restaurar bens de suas propriedade ou sob sua posse legítima, tombados pelo Governo Federal, desde que atendidas as seguintes disposições:

a) preliminar definição, pelo Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural - IBPC, das normas e critérios técnicos que deverão reger os projetos e orçamentos de que trata este inciso;

b) aprovação prévia, IBPC, dos projetos e respectivos orçamentos de execução de obras:

c) posterior certificação, pelo referido órgão, das despesas efetivamente realizadas e das circunstancias de terem sido obras executadas de acordo com os projetos aprovados.

Art 25 Projetos a serem apresentados por pessoas físicas ou pessoas jurídicas, de natureza cultural para fins de incentivo, objetivarão desenvolver as formas de expressão, os modos de criar e fazer, os processos de preservação e proteção do patrimônio cultural brasileiro, e os estudos e métodos de interpretação da realidade cultural, bem como contribuir para propiciar meios, à população em geral, permitam o conhecimento dos bens e valores artísticos e culturais, compreendendo entre outros, os seguintes segmentos:

I - teatro,dança, circo,ópera, mímica e congêneres;

II - produção cinematográfica, videográfica, fotográfica, discográfica e congêneres;

III - literatura, inclusive obras de referência;

IV - música;

V - artes plásticas, artes gráficas, gravuras, cartazes, filatelia e outras congêneres;

VI - folclore e artesanato;

VII - patrimônio cultural inclusive histórico, arquitetônico, arqueológico, bibliotecas, museus, arquivos e demais acervos;

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VIII - humanidades; e

IX - rádio e televisão, educativas e culturais, de caráter não-comercial.

Parágrafo único - Os projetos culturais relacionados com os segmentos do inciso II deste artigo deverão beneficiar exclusivamente as produções independentes, bem como as produções culturais-educativas de caráter não comercial, realizadas por empresas de rádio e televisão.( inserido pela Lei nº 9.874, de 23.11.99)

(redação original) - Parágrafo único. Os projetos culturais relacionados com os segmentos culturais do inciso II deste artigo deverão beneficiar, única e exclusivamente, produções independentes conforme definir o regulamento desta Lei.

Art 26. O doador ou patrocinador poderá deduzir do imposto devido na declaração do Imposto sobre a Renda os valores efetivamente contribuídos em favor de projetos culturais aprovados de acordo com os dispositivos desta Lei, tendo como base os seguintes percentuais:

I - no caso das pessoas físicas, oitenta por cento das doações e sessenta por cento dos patrocínios;

II - no caso das pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, quarenta por cento das doações e trinta por cento dos patrocínios.

§ 1º. A pessoa jurídica tributada com base no lucro real poderá abater as doações e patrocínios como despesa operacional.

§ 2º. O valor máximo das deduções de que trata o " caput " deste artigo será fixado anualmente pelo Presidente da República, com base em um percentual da renda tributável das pessoas físicas e do imposto devido por pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real.

§ 3º. Os benefícios de que trata este artigo não excluem ou reduzem outros benefícios, abatimentos e deduções em vigor, em especial as doações a entidades de utilidade pública efetuadas por pessoas físicas ou jurídicas.

§ 4º. (Vetado)

§ 5º. O Poder Executivo estabelecerá mecanismo de prevenção do valor real das contribuições em favor de projetos culturais, relativamente a este Capítulo.

Art 27. A doação ou o patrocínio não poderá ser efetuada a pessoa ou instituição vinculada ao agente.

§ 1º. Consideram-se vinculados ao doador ou patrocinador:

a) a pessoa jurídica da qual o doador ou patrocinador seja titular, administrador, gerente, acionista ou sócio, na data da operação, ou nos doze meses anteriores;

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b) o cônjuge, os parentes até o terceiro grau, inclusive os afins, e os dependentes do doador ou patrocinador ou dos titulares, administradores, acionistas ou sócios de pessoa jurídica vinculada ao doador ou patrocinador, nos termos da alínea anterior;

c) outra pessoa jurídica da qual o doador ou patrocinador seja sócio. § 2o Não se consideram vinculadas as instituições culturais sem fins lucrativos, criadas pelo doador ou patrocinador, desde que devidamente constituídas e em funcionamento, na forma da legislação em vigor." ( inserido pela Lei nº 9.874, de 23.11.99)

(redação original) - § 2º. Não se consideram vinculadas as instituições culturais sem fins lucrativos, criadas pelo doador ou patrocinador, desde que, devidamente construídas e em funcionamento, na forma da legislação em vigor e aprovadas pela CNIC.

Art 28. Nenhuma aplicação dos recursos previstos nesta Lei poderá ser feita de qualquer tipo de intermediação. Parágrafo único. A contratação de serviços necessários à elaboração de projetos para a obtenção de doação, patrocínio ou investimento, bem como a captação de recursos ou a sua execução por pessoa jurídica de natureza cultural, não configura a intermediação referida neste artigo." ( inserido pela Lei nº 9.874, de 23.11.99)

(redação original) - Parágrafo único. A contratação de serviços necessários à elaboração de projetos para obtenção de doação, patrocínio ou investimentos não configura a intermediação referida neste artigo.

Art 29. Os recursos provenientes de doações ou patrocínios deverão ser depositados e movimentados, em conta bancária específica, em nome do beneficiário, e a respectiva prestação de contas deverá ser feita nos temos do regulamento da presente Lei.

Parágrafo único. Não serão consideradas, para fins de comprovação do incentivo, as contribuições, em relação às quais não se observe esta determinação.

Art 30. As infrações aos dispositivos deste Capítulo, sem prejuízo das sanções penais cabíveis, sujeitarão o doador ou patrocinador ao pagamento do valor atualizado do Imposto sobre a Renda devido em relação a cada exercício financeiro, além das penalidades e demais acréscimos previstos na legislação que rege a espécie. § 1o Para os efeitos deste artigo, considera-se solidariamente responsável por inadimplência ou irregularidade verificada a pessoa física ou jurídica propositora do projeto. (alterado pela Lei nº 9.874, de 23.11.99) § 2o A existência de pendências ou irregularidades na execução de projetos da proponente junto ao Ministério da Cultura suspenderá a análise ou concessão de novos incentivos, até a efetiva regularização. (incluído pela Lei nº 9.874, de 23.11.99)

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§ 3o Sem prejuízo do parágrafo anterior, aplica-se, no que couber, cumulativamente, o disposto nos arts. 38 e seguintes desta Lei." ( incluído pela Lei nº 9.874, de 23.11.99)

(redação original) - Parágrafo único. Para os efeitos deste artigo, considera-se solidariamente responsável por inadimplência ou irregularidade verificada a pessoa física ou jurídica propositora do projeto.

CAPÍTULO V Das disposições Gerais e Transitórias

Art 31. Com finalidade de garantir a participação comunitária, a representação de artistas e criadores no trato oficial dos assuntos da cultura e a organização nacional sistêmica da área, o Governo Federal estimulará a institucionalização de Conselhos de Cultura no Distrito Federal, nos Estados, e nos Municípios.

Art 32. Fica instituída a Comissão Nacional de Incentivos à Cultura - CNIC, com a seguinte composição:

I - o Secretário da Cultura da Presidência da República;

II - os Presidentes das entidades supervisionadas pela SEC/PR;

III - O Presidente da entidade nacional que congrega os Secretários de Cultura as Unidades Federadas;

IV - um representante do empresário brasileiro;

V - seis representantes de entidades associativas dos setores culturais e artístico de âmbito nacional.

§ 1º. A CNIC será presida pela autoridade referida no inciso I deste artigo que, para fins de desempate terá voto de qualidade.

§ 2º. Os mandatos, a indicação e a escolha dos representantes a que se referem os incisos IV e V deste artigo, assim como a competência da CNIC, serão estipulados e definidos pelo regulamento deste Lei.

Art 33. A SEC/PR, com a finalidade de estipular e valorizar a arte e a cultura, estabelecerá um sistema de premiação anual que reconheça as contribuições mais significativas para a área:

I - de artistas ou grupos de artistas brasileiros ou residentes no Brasil, pelo conjunto de sua obra por abras individuais;

II - de profissionais de área do patrimônio cultural;

III - de estudiosos e autores na interpretação crítica da cultura nacional, através de ensaios, estudos e pesquisas.

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Art 34. Fica instituída a Ordem do Mérito Cultural, cujo estatuto será aprovado por decreto do Poder Executivo, sendo que as distinções serão concedidas pelo Presidente da República, ato solene, as pessoas que, por sua atuação profissional ou como incentivadoras das artes e da cultura, merecem reconhecimento.

Art 35. Os recursos destinados ao então Fundo de Promoção Cultural, nos termos do artigo 1º, § 6º, da Lei nº 7.505, de 2 de julho de 1986, serão recolhidos ao tesouro Nacional para aplicação pelo FNC, observada a sua finalidade.

Art 36. O Departamento da Receita Federal, do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento, no exercício de suas atribuições específicas, fiscalizará a efetiva execução desta Lei, no que se refere à aplicação de incentivos fiscais nela previstos.

Art 37. O Poder Executivo afim de atender o disposto no artigo 26, § 2º desta Lei, adquando-o às disposições da Lei diretrizes Orçamentárias, enviará, no prazo de 30 dias, Mensagem ao Congresso Nacional, estabelecendo o total da renúncia fiscal e correspondente cancelamento de despesas orçamentárias.

Art 38. Na hipótese de dolo, fraude ou simulação, inclusive no caso de desvio de objeto, será aplicada, ao doador e ao beneficiário, a multa correspondente a duas vezes o valor da vantagem recebida indevidamente.

Art 39. Constitui crime, punível com a reclusão de dois a seis meses e multa de vinte por cento do valor do projeto, qualquer discriminação da natureza política que atende contra a liberdade de expressão, de atividade intelectual e artística, de consciência ou crença, no andamento dos projetos a que se referem esta Lei.

Art 40. Constitui crime, punível, com reclusão de dois a seis meses e multa de vinte por cento do valor do projeto, obter redução do Imposto sobre a Renda utilizando-se fraudulentamente de qualquer benefício desta Lei.

§ 1º. No caso de pessoa jurídica respondem pelo crime o acionista controlador e os administradores que para ele tenham concorrido.

§ 2º. Na mesma pena incorre aquele que, recebendo recursos, bens ou valores em função desta Lei, deixe de promover, sem justa causa, atividade cultural objeto do incentivo. Art. 41. O Poder Executivo, no prazo de sessenta dias, Regulamentará a presente lei. Art. 42. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 43. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 23 de dezembro de 1991; 170° da Independência e 103° da República. FERNANDO COLLOR

Jarbas Passarinho DEC Nº 5.761 \ 27.04.2006 . Regulamenta a Lei no 8.313, de 23 de dezembro de 1991, estabelece sistemática de execução do Programa Nacional de Apoio à Cultura - PRONAC e dá outras providências. DOU de 28.4.2006/

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DECRETO Nº 1.494, DE 17 DE MAIO DE 1995 Regulamenta a Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, estabelece a sistemática de

execução do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, DECRETA:

CAPÍTULO I Das Disposições Fundamentais

SEÇÃO I Da Execução do Pronac

Art. 1º O Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) desenvolver-se-á mediante projetos culturais que concretizem os princípios da Constituição, em especial nos seus arts. 215 e 216, e que atendam às finalidades previstas no art. 1º e a, pelo menos, um dos objetivos indicados no art. 3º da Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991. Art. 2º Os projetos de natureza cultural a que se refere os Capítulos II e IV deste decreto devem conter dados cadastrais do proponente, justificativa, objetivos, prazos, estratégias de ação, metas qualitativas e quantitativas, planilha de custos e cronograma físico-financeiro, de acordo com as instruções expedidas pelo Ministério da Cultura. § 1º A análise de projetos culturais é de responsabilidade do Ministério da Cultura, por intermédio de suas entidades supervisionadas, e de outras entidades oficiais que receberem delegação, na forma prevista no art. 39 deste decreto. § 2º A análise de que trata o parágrafo anterior será pautada por critérios de objetividade e de respeito à liberdade de expressão, visando a enquadrar os projetos culturais no disposto no art. 1º deste decreto. § 3º Respeitado o princípio da anualidade, poderá ser prevista execução plurianual, com fases delimitadas e resultados definidos, quando se tratar de projetos culturais de longa duração. § 4º Somente serão apoiados projetos culturais cujo proponente não seja vinculado, direta ou indiretamente, aos membros e suplentes do Comitê Assessor do Fundo Nacional da Cultura (FNC) e da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC). § 5º O Ministério da Cultura e suas entidades supervisionadas poderão fornecer, a pedido dos interessados, esclarecimentos técnicos necessários à elaboração dos projetos culturais e à escolha das estratégias de ação mais adequadas.

SEÇÃO II Das Definições Operacionais

Art. 3º Para efeito da execução do Pronac, consideram-se: I - beneficiários: as pessoas físicas ou jurídicas de natureza cultural que tiverem seus projetos devidamente aprovados; II - delegação: a transferência de responsabilidade na execução do Pronac aos Estados, ao

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Distrito Federal e aos Municípios; III - doação: transferência gratuita em caráter definitivo à pessoa física ou pessoa jurídica de natureza cultural, sem fins lucrativos, de numerário, bens ou serviços para a realização de projetos culturais, vedado o uso de publicidade paga para divulgação desse ato; IV - entidades supervisionadas: a) Fundação Biblioteca Nacional (FBN); b) Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB); c) Fundação Cultural Palmares (FCP); d) Fundação Nacional de Artes (FUNART); e) Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN); V - humanidades: línguas clássicas, língua e literatura vernáculas, principais línguas estrangeiras e respectivas culturas, história e filosofia; VI - incentivadores: os doares e patrocinadores; VII - mecenato: a proteção e o estímulo das atividades culturais e artísticas por parte de incentivadores; VIII - patrimônio cultural: conjunto de bens materiais e imateriais de interesse para a memória do Brasil e de suas correntes culturais formadoras, abrangendo o patrimônio arqueológico, arquitetônico, arquivístico, artístico, bibliográfico, científico, ecológico, etnográfico, histórico, museológico, paisagístico, paleontológico e urbanístico, entre outros; IX - patrocínio: a) transferência gratuita, em caráter definitivo, a pessoa física ou jurídica de natureza cultural, com ou sem fins lucrativos, de numerário para a realização de projetos culturais com finalidade promocional e institucional de publicidade; b) cobertura de gastos ou utilização de bens móveis ou imóveis, do patrimônio do patrocinador, sem a transferência de domínio, para realização de projetos culturais por pessoa física ou jurídica de natureza cultural, com ou sem fins lucrativos; X - pessoas físicas e pessoas jurídicas de natureza cultural: as pessoas naturais e as entidades em cujos estatutos se disponha expressamente sobre suas finalidades culturais; XI - produção cultural independente: aquela cujo produtor majoritário não seja empresa concessionária de serviço de radiodifusão e cabodifusão de som ou imagem, em qualquer tipo de transmissão, ou entidade a esta vinculada, e que: a) na área da produção audiovisual não detenha, cumulativamente, as funções de distribuição ou comercialização de obra audiovisual, bem como a de fabricação de qualquer material destinado à sua produção; b) na área de produção discográfica não detenha, cumulativamente, as funções de fabricação ou distribuição de qualquer suporte fonográfico; c) na área da produção fotográfica não detenha, cumulativamente, às funções de

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fabricação, distribuição ou comercialização de material destinado à fotografia e que não seja empresa jornalística ou editorial; XII - projetos culturais: os projetos culturais e artísticos submetidos às instâncias do Pronac, cuja elaboração atenda ao disposto nos arts. 1º e 2º deste decreto; XIII - segmentos culturais: a) teatro, dança, circo, ópera, mímica e congêneres; b) produção cinematográfica, videográfica, fotográfica, discográfica e congêneres; c) literatura, inclusive obras de referência; d) música; e) artes plásticas, artes gráficas, gravuras, cartazes, filatelia e congêneres; f) folclore e artesanato; g) patrimônio cultural; h) humanidade; i) rádio e televisão educativas e culturais de caráter não-comercial; j) cultura negra; l) cultura indígena.

CAPÍTULO II Do Fundo Nacional de Cultura (FNC)

SEÇÃO I Das Finalidades do FNC

Art. 4º Sem prejuízo de outras atividades compatíveis com os objetivos do Pronac, o FNC apoiará projetos destinados a: I - valorizar a produção cultural de caráter regional; II - estimular a expressão cultural dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira e responsáveis por sua pluralidade de cultural; III - desenvolver a preparação e o aperfeiçoamento dos recursos humanos para a cultura; IV - promover a preservação do patrimônio cultural brasileiro, enfatizando ações de identificação, documentação, promoção, proteção, restauração e devolução de bens culturais; V - incentivar projetos comunitários que tenham caráter exemplar e multiplicador e contribuam para facilitar o acesso aos bens culturais por parte de populações de baixa e média rendas; VI - fomentar atividades culturais e artísticas de caráter inovador ou experimental; VII - promover a difusão cultura, no exterior, em cooperação com o Ministério das Relações Exteriores. Parágrafo único. A CNIC aprovará anualmente o programa de trabalho do FNC, segundo os objetivos definidos no caput deste artigo.

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SEÇÃO II Das Formas de Apoio Financeiro

Art. 5º O FNC adotará as seguintes formas operacionais: I - a fundo perdido, em favor de projetos culturais de pessoas físicas ou de entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos, exigida a comprovação de seu bom e regular emprego, bem como dos resultados alcançados; II - por meio de empréstimos reembolsáveis em favor de projetos culturais de pessoas físicas, e de entidades privadas com ou sem fins lucrativos. § 1º A transferência financeira a fundo perdido do FNC para entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos, responsáveis pela execução de projetos culturais aprovados, dar-se-á sob a forma de subvenções, auxílios ou contribuições. § 2º Na operacionalização do financiamento reembolsável o agente financeiro será qualquer instituição financeira, de caráter oficial, devidamente credenciada pelo Ministério da Cultura. § 3º Para o financiamento, pelo FNC, reembolsável, o Ministério da Cultura estudará, com o agente financeiro, a taxa de administração, prazos de carência, juros limites, aval e formas de pagamento, atendendo à especificidade de cada segmento cultural, observado o disposto nos arts. 5º e 7º da Lei nº 8.313, de 1991, os quais serão fixados em instrução especifica.

SEÇÃO III Dos Projetos a Serem Financiados pelo FNC

Art. 6º O FNC poderá apoiar pessoas físicas ou jurídicas de natureza cultural, públicas ou privadas, que apresentem projetos culturais para análise e aprovação. § 1º O apoio financeiro, a fundo perdido, a projetos culturais de iniciativa de pessoas físicas restringir-se-á à concessão de bolsas, passagens e ajudas-de-custo. § 2º No caso de projetos culturais relativos a eventos, somente serão aprovados aqueles que explicitarem o processo de continuidade e desdobramento, bem como prevejam a participação da comunidade local, sob a forma de conferência, cursos, oficinas, debates e outras. § 3º O FNC não financiará exclusivamente a contratação de serviços para a elaboração de projetos culturais, ressalvados aqueles necessários a viabilizar as doações com destinação especificada pelo doador. § 4º Os beneficiários poderão executar mais de um projeto concomitantemente, considerada a respectiva capacidade operacional e as disponibilidades orçamentárias e financeiras do FNC. Art. 7º O percentual de financiamento do FNC para cada projeto e a contrapartida a ser oferecida pelo beneficiário obedecerão aos limites estabelecidas na legislação pertinente. § 1º Para integralizar a contrapartida, podem os proponentes comprometerem-se a assumir

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as despesas de manutenção administrativa e de pessoal vinculadas à execução do projeto, desde que devidamente especificadas na planilha de custo. § 2º Caberá à entidade supervisionada competente avaliar, por ocasião do parecer que emitir, a contrapartida oferecida na forma do parágrafo anterior, objetivando determinar se os respectivos montantes completam a co-participação exigida. § 3º A contrapartida prevista no caput desde artigo fica dispensada no caso de doações ao FNC com destinação especificada pelo incentivador.

SEÇÃO IV Da Aprovação dos Projetos

Art. 8º Os projetos culturais que contiverem pedido de utilização dos recursos do FNC, após parecer da entidade supervisionada competente na respectiva área, serão submetidos ao Comitê Assessor para fins de compatibilização e integração na programação global do Ministério da Cultura. § 1º A definição das entidades supervisionadas competentes nos diversos segmentos culturais será objeto de ato do Ministro de Estado da Cultura. § 2º O prazo final para apresentação de projetos ao FNC encerar-se-á em: a) 31 de maio de cada ano, para os projetos com cronograma para o segundo semestre; b) 30 de setembro de cada ano, para os projetos com cronograma para o primeiro semestre do ano seguinte. § 3º As deliberações do Comitê Assessor serão homologadas pelo Ministro de Estado da Cultura. § 4º Quando se tratar de projeto de iniciativa própria de entidade supervisionada, este será submetido diretamente ao Comitê Assessor, mediante proposta do respectivo presidente. § 5º A execução orçamentária e financeira dos projetos de que trata o parágrafo anterior observará os seguintes procedimentos: a) quando os projetos aprovados envolverem transferências financeiras a pessoas físicas ou jurídicas privadas, os recursos ser-lhes-ão repassados pelo Ministério da Cultura; b) quando os projetos aprovados representarem complementação ou reforço aos projetos internos das entidades supervisionadas, os recursos ser-lhes-ão transferidos diretamente pelo FNC. § 6º A contratação de peritos para a análise e parecer sobre os projetos será de responsabilidade de cada uma das entidades supervisionadas, cabendo-lhe a execução financeira mediante transferência de recursos do FNC. § 7º As entidades supervisionadas do Ministério da Cultura poderão descentralizar a análise dos projetos para as suas unidades administrativas. § 8º Quando o projeto cultural envolver difusão ou cooperação internacional, deverá ser ouvido o Ministério das Relações Exteriores.

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SEÇÃO V Do Acompanhamento e da Avaliação dos Projetos

Art. 9º Os projetos aprovados serão acompanhados e avaliados tecnicamente durante e ao término de sua execução pela entidade supervisionada que tenha emitido parecer sobre os mesmos. § 1º A avaliação referida neste artigo comparará os resultados esperados e atingidos, os objetivos previstos e alcançados, os custos estimados e reais e a repercussão da iniciativa na comunidade. § 2º A avaliação referida neste artigo, sob forma direta ou indireta, culminará com o laudo final do Ministério da Cultura, que verificará a fiel aplicação dos recursos, nos termos do § 7º, do art. 4º, da Lei nº 8.313, de 1991. § 3º No caso de não-aprovação da execução dos projetos, aplicar-se-á o disposto no art. 4º, § 8º, da Lei nº 8.313, de 1991. § 4º O responsável pelo projeto cuja prestação de contas for rejeitada pelo Ministério da Cultura terá direito ao acesso a toda a documentação que sustentou a decisão. § 5º A reavaliação do laudo final poderá efetivar-se mediante a interposição de recurso pelo beneficiário, acompanhado, se for o caso, de elementos não trazidos inicialmente à consideração do Ministério da Cultura. § 6º O desvirtuamento dos objetivos previstos e a inobservância das normas administrativas e financeiras específicas e gerais sujeitarão o infrator à pena de inabilitação a ser aplicada pelo Ministério da Cultura pelo prazo de três anos, nos termos do art. 4º, § 8º, da Lei nº 8.313, de 1991.

SEÇÃO VI Da Administração e do Funcionamento do FNC

Art. 10. O FNC será administrado pelo Ministério da Cultura e gerido pelo respectivo Ministro de Estado que, para esse fim contará com apoio de um Comitê Assessor, integrado pelos presidentes das entidades supervisionadas e dos titulares das seguintes Secretarias do Ministério da cultura: I - Secretaria-Executiva; II - Secretaria para o Desenvolvimento Audiovisual; III - Secretaria de Intercâmbio e Projetos Especiais; IV - Secretaria de Apoio à Cultura; V - Secretaria de Política Cultural. § 1º O Comitê Assessor definirá em ato próprio, mediante proposta aprovada pela maioria de seus integrantes e homologada pelo Ministro de Estado da Cultura, sobre sua organização e funcionamento. § 2º Não se consideram despesas de manutenção administrativa do Ministério da Cultura as estritamente necessárias à implantação e operação do Pronac, devidamente incluídas no programa de trabalho anual do FNC.

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§ 3º a Secretaria de Apoio à cultura funcionará como Secretaria-Executiva do FNC, à qual competirá a execução orçamentária, financeira e patrimonial, bem como as demais atividades administrativas necessárias ao seu funcionamento. Art. 11. O Ministério da Cultura estabelecerá, mediante instrução, os prazos, a tramitação interna dos projetos e a padronização de sua análise, que serão também observados no que se refere ao Capítulo IV deste decreto. Art. 12. Os recursos a que se refere os incisos VII e VIII do art. 5º da Lei nº 8.313, de 1991, serão transferidos ao FNC pelos órgãos responsáveis, até o décimo dia útil do mês subseqüente ao que ocorreu a arrecadação. Art. 13. A integralização das receitas do FNC de que trata o inciso XI do art. 5º da Lei nº 8.313, de 1991, obedecerá aos limites fixados pelo Ministro de Estado da Fazenda e os procedimentos e normas expedidos pelo Banco Central do Brasil.

CAPÍTULO III Dos Fundos de Investimentos culturais e Artísticos (Ficart)

SEÇÃO I Da Constituição, do funcionamento e da Administração

Art. 14. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), considerando o disposto no art. 10 da Lei nº 8.313, de 1991, e neste decreto, disciplinará, mediante instrução, a constituição, o funcionamento e a administração dos Fundos de Investimentos Culturais e Artísticos (Ficart). Parágrafo único. A CVM comunicará a constituição dos Ficart e seus respectivos agentes financeiros ao Ministério da Cultura, explicitando a área de atuação dos mesmos.

SEÇÃO II Das Finalidades

Art. 15. Os projetos culturais previstos para a aplicação dos recursos dos Ficart destinar-se-ão: I - á produção comercial de: a) instrumentos musicais, discos, fitas, vídeos, filmes e outras formas de reprodução fono-videográficas; b) espetáculos teatrais, de dança, de música, de canto, de circo e demais atividades congêneres; c) obras relativas às ciências, letras e artes, bem como obras de referência, e outras de cunho cultural; II - à construção, restauração, reforma ou equipamento de espaços destinados a atividades com objetivos culturais, de propriedade de entidades com fins lucrativos; III - a outras atividades comerciais de interesse cultural, assim consideradas pelo Ministério da Cultura, ouvida a CNIC.

SEÇÃO III Das Formas de Aplicação

Art. 16 A aplicação dos recursos dos Ficart em projetos culturais far-se-á, exclusivamente, por meio de:

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I - contratação de pessoas jurídicas de natureza cultural, com sede no território brasileiro, que tenham por objeto a execução dos mencionados projetos culturais; II - participação em projetos culturais, realizados por pessoas jurídicas de natureza cultural, com sede no território brasileiro; III - aquisição de direitos patrimoniais para exploração comercial de obras literárias, audiovisuais, fono-videográficas, de artes cênicas e de artes plásticas e visuais.

CAPÍTULO IV Do Mecenato sob a Forma de Incentivo a Projetos Culturais

SEÇÃO I Das Finalidades

Art. 17. a União facultará às pessoas físicas ou jurídicas a opção de aplicarem parcelas do imposto sobre a renda, com o objetivo de incentivar atividades culturais mediante projetos aprovados de acordo com as diretrizes do Pronac.

SEÇÃO II Das Formas de Aplicação

Art. 18 A faculdade de opção prevista no artigo anterior exercer-se-á: I - em favor do próprio contribuinte do imposto sobre a renda, desde que proprietário ou titular de posse legítima de imóveis tombados pela União; II - em favor de outros, em numerário, bens ou serviços, abrangendo: a) pessoas físicas ou jurídicas de natureza cultural, de caráter privado, não instituídas pelo Poder Público, sem fins lucrativos, sob a forma de doações; b) pessoas jurídicas de natureza cultural, com ou sem fins lucrativos, sob a forma de patrocínio; c) o Fundo Nacional de Cultura (FNC), com destinação prévia ou livre, a critério do contribuinte; d) empregados e seus dependentes legais, pela distribuição gratuita de ingressos para eventos de caráter cultural, sempre por intermédio das respectivas organizações de trabalhadores na empresa. § 1º No caso do inciso I, deverão ser cumpridas as seguintes exigências: a) prévia definição pelo Iphan das normas que deverão orientar a elaboração dos projetos e respectivos orçamentos; b) aprovação prévia pelo Iphan dos referidos projetos e orçamentos; c) atestado emitido pelo Iphan da realização das despesas e do cumprimento dos projetos e respectivo orçamentos. § 2º O Iphan poderá descentralizar as atividades previstas no parágrafo anterior, alíneas b e c, a órgãos equivalentes dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

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§ 3º O Iphan disporá sobre a aplicação disposto nos §§ 1º e 2º deste artigo. § 4º As obras conservadas, preservadas ou restauradas deverão ser abertas à visitação pública, conforme previsto na legislação específica do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. § 5º No caso do inciso II, alíneas a e b, do caput deste artigo, não poderão ser beneficiárias de doações ou patrocínios pessoas físicas ou jurídicas vinculadas ao incentivador, conforme o disposto no art. 27 da Lei nº 8.313, de 1991. § 6º Não se consideram vinculadas nos termos do art. 27, § 2º, da Lei nº 8.313, de 1991, as instituições culturais sem fins lucrativos, criadas pelo incentivador, devidamente constituídas, em funcionamento e portadoras do registro no Conselho Nacional de Assistência Social do Ministério da previdência e Assistência Social ou de declaração de utilidade pública, conforme o âmbito de atuação da entidade e reconhecidas pela CNIC. § 7º É permitida a inclusão de despesas com a contratação de serviços para a elaboração, difusão e divulgação do projeto cultural, visando tanto a sua aprovação junto ao Ministério da Cultura como a obtenção de apoio de patrocinadores, desde que explicitadas na planilha de custos do referido projeto. § 8º As despesas referidas no parágrafo anterior estarão sujeitas a exame técnico, para fins de aprovação pela CNIC. § 9º Para conhecimento e registro, os responsáveis pelos serviços previstos no § 7º deste artigo serão cadastrados nas entidades supervisionadas competentes na área do projeto, não podendo por elas serem executadas as tarefas de peritagem. § 10. As doações e os patrocínios que envolverem serviços, bens móveis ou imóveis, serão disciplinados na forma do art. 33 deste decreto.

SEÇÃO III Da Deduções e dos Abatimentos Fiscais

Art. 19. O incentivador, pessoa física, poderá deduzir do imposto devido na declaração de rendimentos os valores efetivamente contribuídos no período de apuração em favor de projetos culturais, devidamente aprovados, nos percentuais de: I - oitenta por cento do valor das doações; II - sessenta por cento do valor dos patrocínios. Parágrafo único. O limite máximo de deduções de que tratam os incisos I e II deste artigo é de dez por cento do imposto devido, na forma prevista no art. 16 da Lei nº 8.981, de 20 de janeiro de 1995. Art. 20. O incentivador pessoa jurídica poderá, obedecido o limite máximo fixado em lei, deduzir do imposto devido mensalmente ou na declaração de rendimentos os valores efetivamente contribuídos no período de apuração, em favor de projetos culturais devidamente aprovados, nos percentuais de: I - quarenta por cento do valor das doações;

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II - trinta por cento do valor dos patrocínios. Parágrafo único. A pessoa jurídica tributada com base no lucro real poderá também abater o total das doações e dos patrocínios como despesas operacional. Art. 21. Os incentivos fiscais de que tratam os arts. 19 e 20 deste decreto não excluem ou reduzem outros benefícios, abatimentos e deduções em vigor, especialmente as doações a entidades de utilidade pública, efetuadas por pessoa física ou jurídica. Art. 22. As transferências para a efetivação das doações e patrocínios não estão sujeitas ao recolhimento do imposto sobre a renda na fonte. Art. 23. Constitui infração aos dispositivos legais que regem o Pronac o recebimento pelo incentivador de qualquer vantagem financeira ou material, em decorrência da doação ou do patrocínio que efetuar. § 1º Não constitui vantagem material ou financeira o recebimento pelo patrocinador, de produtos ou direitos resultantes do projeto cultural, até o limite de 25%, desde que para distribuição ou cessão gratuitas com fins promocionais. § 2º Os direitos de que trata o parágrafo anterior não abrangem a transferência de direitos autorais. Art. 24. O valor absoluto da renúncia fiscal integrará o demonstrativo que acompanhar o projeto de lei orçamentária, e levará em consideração a realização da receita oriunda do imposto sobre a renda no triênio, a capacidade de absorção de recursos do Pronac no ano anterior ou a demanda residual não atendida.

SEÇÃO IV Da Análise dos projetos

Art. 25. Os projetos a serem analisados nos termos do art. 25 da Lei nº 8.313, de 1991, desenvolver-se-ão nos segmentos culturais de que trata o inciso XIII do art. 3º deste decreto. § 1º Os projetos na área da produção cinematográfica, videográficas, fotográficas, discográfica e congêneres somente beneficiarão produções independentes. § 2º Nas áreas da produção cinematográfica e videográfica, dar-se-á prioridade a curta-metragem e documentários de caráter científico e educacional. Art. 26. Os projetos culturais que contiverem pedido de utilização de recursos do mecenato, elaborados na forma prevista no art. 2º deste decreto, serão apresentados ao Ministério da Cultura para parecer de suas entidades supervisionadas ou, no caso de delegação, de entidades equivalentes nos Estados, Distrito Federal e Municípios, observados o prazo máximo de sessenta dias para a tramitação interna. § 1º No caso do inciso IX, letra b, do art. 3º deste decreto, os gastos previstos deverão ser devidamente quantificados na planilha de custos, inclusive no que se refere ao critério de custo de oportunidade, e avaliados no parecer de análise dos projetos. § 2º Os projetos que obtiverem pareceres favoráveis de enquadramento serão submetidos à

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CNIC, para decisão final no prazo de trinta dias. § 3º Na seleção dos projetos aprovados será observado o princípio da não-concentração por beneficiário, a ser aferido pelo montante de recursos, pela quantidade de projetos, pela respectiva capacidade executiva e pela disponibilidade do valor absoluto anual de renúncia fiscal. § 4º No caso de parecer desfavorável, será este comunicado à CNIC, que notificará o proponente no prazo de trinta dias, informando-o das razões e da possibilidade de recurso. § 5º Interposto o recurso, a CNIC decidirá no prazo de sessenta dias. Art. 27. Serão publicados no Diário Oficial da União: I - a aprovação do projeto, que conterá: a) o título; b) a instituição beneficiária de doação ou patrocínio; c) o valor máximo autorizado para captação; d) o prazo de validade da autorização; II - a consolidação, até 28 de fevereiro de cada ano, dos recursos autorizados no exercício anterior, discriminados por beneficiário. § 1º No caso de não-captação ou captação parcial dos recursos autorizados no prazo estabelecido, a requerimento devidamente fundamentado do beneficiário, com indicativos da permanência da viabilidade do projeto, a CNIC decidirá quanto à sua prorrogação, no prazo de trinta dias. § 2º Enquanto a CNIC não se manifestar, fica o beneficiário impedido de promover a captação de recursos. § 3º Encerrado o novo prazo de captação e tornado inviável o projeto cultural, os recursos a ele parcialmente destinados serão recolhidos pelo beneficiário ao FNC, no prazo de cinco dias úteis, contado da notificação da CNIC. Art. 28. Equiparam-se a projetos culturais os planos anuais de atividades: I - de sociedade civis, filantrópicas, de natureza cultural, cuja finalidade estatutária principal é dar apoio a instituições culturais oficiais da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios; II - de instituições culturais com serviços relevantes prestados à cultura nacional, assim reconhecidas, em cada caso, pela CNIC. § 1º O valor a ser incentivado terá como limite máximo a estimativa de recursos a serem captados a título de doações e patrocínios, conforme constar na previsão anual de receita e despesa da entidade.

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§ 2º Os planos anuais de atividades de que trata este artigo obedecerão à mesma tramitação prevista para os projetos a que se refere este capítulo, e serão detalhados de modo a permitir uma visão das ações a serem executadas. § 3º As entidades que trata o inciso I deste artigo não poderão destinar mais de quinze por cento para as despesas de administração no orçamento do planos anuais de atividades, exceto quando se trata de entidades criadas pelo patrocinador. § 4º Os planos anuais de atividades poderão ser apresentados a partir do quarto trimestre e deverão ser analisados e submetidos à deliberação no mesmo ano em que forem apresentados, ficando sua homologação condicionada à fixação do valor absoluto da renúncia fiscal a ser estabelecida para o exercício seguinte.

SEÇÃO V Do Acompanhamento e da Avaliação

Art. 29. Os projetos aprovados serão acompanhados e avaliados tecnicamente durante e ao término de sua execução pelo Ministério da Cultura, ou por intermédio de suas entidades supervisionadas ou entidades equivalentes que receberem delegação, nos termos previstos no Capítulo V deste decreto. § 1º A avaliação referida neste artigo comparará os resultados esperados e atingidos, os objetivos previstos e alcançados, os custos estimados e reais e a repercussão da iniciativa na comunidade. § 2º Com base na avaliação técnica, realizada diretamente ou por intermédio de suas entidades supervisionadas e entidades equivalentes que receberem delegação, o Ministério da Cultura emitirá laudo de avaliação final sobre a fiel aplicação dos recursos, observadas as instruções pertinentes. § 3º O laudo de avaliação final compreenderá, ainda, a verificação do cumprimento da legislação financeira aplicável, mediante o exame das prestações de contas, nos termos do art. 29 da Lei nº 8.313, de 1991, e instruções complementares. § 4º No caso de não-aplicação correta dos recursos, o Ministério da Cultura inabilitará o responsável pelo prazo de até três anos, na forma do art. 20 § 1º, da Lei nº 8.313, de 1991. § 5º A reavaliação do laudo final do Ministério da Cultura efetivar-se-á mediante interposição de pedido de reconsideração pelo beneficiário, acompanhado, se for o caso, de elementos não trazidos inicialmente à consideração, no prazo de trinta dias contados da notificação. § 6º Da decisão do Ministério da Cultura de manutenção do parecer inicial, caberá recurso à CNIC, no prazo de trinta dias, contados da notificação, que a julgará no prazo de sessenta dias. § 7º Enquanto não prolatada a decisão da CNIC, fica o recorrente inabilitado para recebimento de novos recursos. Art. 30. O controle do fluxo financeiro entre os incentivadores e seus beneficiários estabelecer-se-á por meio das informações prestadas ao Ministério da Cultura, por parte

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dos beneficiários. § 1º Os beneficiários comunicarão ao Ministério da Cultura os aportes financeiros recebidos, em cumprimento ao cronograma de desembolso aprovado, no prazo de cinco dias úteis após efetivada a operação. § 2º As transferências financeiras entre incentivadores e beneficiários serão efetuadas, direta e obrigatoriamente, por meio da rede bancária, mediante a utilização de conta bancária específica. Art. 31. A Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda fiscalizará a aplicação de recursos por parte de incentivadores, com vista à correta utilização dos benefícios fiscais previstos neste capítulo. Art. 32. A não-realização do projeto, sem justa causa, ou a incorreta utilização dos recursos do incentivo, sujeitarão o incentivador ou o beneficiário, ou ambos, às sanções penais e administrativas, nos termos do art. 30 da Lei nº 8.313, de 1991, e da legislação específica. Art. 33. O disposto nesta seção será disciplinado por intermédio de instrução normativa conjunta da Secretaria Executiva do Ministério da Cultura e da Secretaria da Receita Federal do Ministério da Fazenda.

CAPÍTULO V Das Disposições Gerais

SEÇÃO I Da Supervisão Geral do Pronac

Art. 34. Compete à CNIC. I - proferir decisão final quanto à aprovação do enquadramento dos projetos nas finalidades e objetivos do Pronac, no caso do Capítulo IV deste decreto, e funcionar como instância recursal na área administrativa; II - aprovar o programa de trabalho anual do FNC; III - definir as ações de que trata a alínea c do inciso V do art. 3º da Lei nº 8.313, de 1991; IV - definir os segmentos culturais não previstos expressamente nos Capítulos II e IV deste decreto; V - selecionar as instituições culturais que poderão apresentar planos anuais de atividades em substituição a projetos específicos, nos termos do art. 28 deste decreto; VI - julgar os recursos relacionados com prestação de contas não aprovadas pelo Ministério da Cultura, no que se refere à Seção V do Capítulo II deste decreto; VII - estabelecer as prioridades para financiamento dos projetos aprovados no caso de insuficiência de recursos para o atendimento de toda a demanda; VIII - avaliar permanentemente o Pronac, propondo medidas para seu aperfeiçoamento;

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IX - exercer outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Ministro de Estado da Cultura. Art. 35. São membros natos da CNIC: I -- o Ministro de Estado da Cultura, que a presidirá; II - os presidentes das entidades supervisionadas do Ministério da Cultura; III - o presidente da entidade nacional que congrega os Secretários de Cultura do Estados e do Distrito Federal. § 1º O Presidente da CNIC terá voto de qualidade, para fins de desempate das deliberações. § 2º Os membros natos referidos nos incisos II e III serão substituídos, em seus impedimentos legais e eventuais, conforme dispuserem seus estatutos ou regimento, respectivamente. Art. 36. São membro indicados para a CNIC, com mandato de dois anos, permitida uma recondução: I - um representante do empresariado nacional; II - seis representantes de entidades associativas de setores culturais e artísticos, de âmbito nacional. § 1º As entidades representativas do empresariado brasileiro, de âmbito nacional, indicarão, de comum acordo, o titular, o primeiro e o segundo suplentes que as representarão na CNIC, na forma e prazo estabelecidos no ato de convocação baixado pelo Ministro de Estado da Cultura. § 2º As entidades associativas de setores culturais e artísticos, de âmbito nacional, a fim de assegurar a participação dos diferentes segmentos, indicarão um titular, o primeiro e o segundo suplentes de cada uma das seguintes áreas: a) artes cênicas: teatro, dança, circo, ópera, mímica e congêneres; b) produção cinematográfica, videográfica, discográfica e rádio e televisão educativas e culturais de caráter não-comercial; c) música; d) artes plásticas, artes visuais, artes gráficas e filatelia; e) patrimônio cultural, cultura negra, cultura indígena, folclore e artesanato; f) humanidades, inclusive a literatura e obras de referência. § 3º As entidades associativas de setores culturais e artísticos de âmbito nacional, em funcionamento há pelo menos dois anos, interessadas em participar do processo de indicação de que trata o parágrafo anterior, deverão apresentar oficialmente ao Ministério da Cultura seu respectivo estatuto, quadro de associados e relatório das atividades relativas ao biênio anterior, no prazo e forma estabelecidos no ato de convocação. § 4º Decorrido o prazo estabelecido no ato de convocação, o Ministério da Cultura confirmará, mediante publicação no Diário Oficial da União, as entidades associativas de

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âmbito nacional que estarão habilitadas a indicar o titular e os suplentes de cada área. § 5º As entidades habilitadas em cada área, de comum acordo e mediante processo por elas estabelecido, indicarão o respectivo titular e suplentes no prazo de quinze dias contado da data da publicação da habilitação no Diário Oficial da União. § 6º À recondução aplica-se o disposto nos parágrafos anteriores. § 7º A entidade associativa nacional que represente mais de uma área poderá ser concomitantemente, habilitada pelo Ministério da Cultura, em cada uma delas. § 8º Em caso de não-indicação de titular ou suplentes, no prazo assinado no ato de convocação, a escolha caberá ao Ministro de Estado da Cultura. Art. 37. O funcionamento da CNIC será regido por normas internas aprovadas pela maioria de seus membros. Art. 38. Integrará a Tomada de Contas Anual do Ministério da Cultura, a ser encaminhada ao Tribunal de Contas da União, relatório relativo à avaliação dos projetos culturais previstos neste decreto.

SEÇÃO II Da Sistemática da Delegação

Art. 39. Nos termos do art. 19 da Lei nº 8.313, de 1991, resguardada a decisão final pela CNIC, a análise, a aprovação, o acompanhamento e a avaliação técnica dos projetos poderão ser delegados pelo Ministério da Cultura aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, mediante instrumento jurídico que defina direitos e deveres mútuos. Parágrafo único. A delegação prevista no caput deste artigo dependerá da existência de lei de incentivos fiscais para a cultura, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e de órgão colegiado, para análise e aprovação dos projetos, onde a sociedade tenha representação pelo menos paritária e as diversas áreas culturais e artísticas estejam representadas.

SEÇÃO III Da Divulgação do Pronac

Art. 40. Os produtos materiais e serviços resultantes do apoio do Pronac serão de exibição, utilização e circulação públicas, não podendo ser destinados ou restritos a circuitos privados ou a coleções particulares, exceto no que se refere ao Capítulo III deste decreto. § 1º Os beneficiários deverão entregar ao Ministério da Cultura pelo menos uma cópia dos livros, discos, fitas, filmes, fotografias, gravuras, cartazes, partituras, estudos, pesquisas, levantamentos e outros financiados pelo Pronac, que lhes dará a destinação apropriada. § 2º O disposto no parágrafo anterior não exime os beneficiários do cumprimento das obrigações previstas no Decreto nº 1.825, de 20 de dezembro de 1907, e no art. 25 da Lei nº 8.401, de 8 de janeiro de 1992, no que se refere a livros, partituras, vídeos e filmes. § 3º É obrigatório a menção Lei Federal de Incentivo à Cultura - Ministério da Cultura nos produtos materiais resultantes dos projetos, bem como nas atividades relacionadas à sua difusão, divulgação, promoção e distribuição, no padrão a ser definido pelo Ministério da

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Cultura, exceto no que se refere ao disposto no Capítulo III deste decreto. § 4º O Ministério da Cultura, por intermédio do FNC, providenciará a ampla divulgação do Pronac, sob a forma de vídeos, filmes, folhetos, manuais e outros instrumentos.

SEÇÃO IV Da Integração do Pronac no Sistema Nacional de Financiamentos da Cultura

Art. 41. Será estabelecido um sistema de intercâmbio de informações aos apoios culturais concedidos pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, com a finalidade de evitar paralelismo e duplicidade no apoio aos projetos. § 1º Não se considera duplicidade ou paralelismo a agregação de recursos nos diferentes níveis de governos para cobertura financeira do projeto, desde que as importâncias captadas nas várias esferas não ultrapasse o seu valor total. § 2º A agregação de recursos a que se refere o parágrafo anterior não exime o proponente da aprovação do projeto em cada nível de governo, nos termos das respectivas legislações. § 3º A omissão de informação relativa ao recebimento de apoio financeiro de quaisquer outras fontes sujeitará o beneficiário às sanções e penalidades previstas na legislação do Pronac e em legislação especial.

SEÇÃO V Das Disposições Finais e Transitórias

Art. 42. O Ministro de Estado da Cultura expedirá as instruções ao cumprimento do disposto neste decreto. Art. 43. Este decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 44. Revogam-se os Decretos nºs 455, de 26 de fevereiro de 1992, 1.234, de 31 de agosto de 1994, e 1.442, de 4 de abril de 1995.

Brasília, 17 de maio de 1995; 174º da Independência e 107º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Francisco Weffort

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LEI Nº 10.929, de 23 de setembro de 1998 Institui o Sistema Estadual de Incentivo à Cultura, e adota outras providências.

GOVERNADOR DO ESTADO DE SANTA CATARINA, Faço saber a todos os habitantes deste Estado que a Assembléia Legislativa decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Fica instituído, no âmbito do Estado de Santa Catarina, o Sistema Estadual de Incentivo à Cultura, com o objetivo de estimular o financiamento de projetos culturais especialmente por parte de contribuintes do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS, na forma e nos limites estabelecidos nesta Lei. Parágrafo único. O Sistema de Incentivo à Cultura compreenderá os seguintes mecanismos: I – Mecenato Estadual de Incentivo à Cultura – MEIC; II – Fundo Estadual de Incentivo à Cultura – FEIC. Art. 2º O Mecenato Estadual de Incentivo à Cultura – MEIC destina-se ao financiamento de projetos culturais apresentados pelos produtores ou agentes que se caracterizam como pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. Art. 3º O Fundo Estadual de Incentivo à Cultura – FEIC destina-se ao financiamento de projetos culturais apresentado pelos órgãos públicos de cultura das administrações municipais e estadual. § 1º Em caráter excepcional poderão também ser beneficiados projetos culturais apresentados por instituições de direito privado, sem fins lucrativos e de utilidade pública estadual, que prestem relevantes serviços ao desenvolvimento cultural do Estado. § 2º Os recursos destinados ao FEIC não poderão exceder a 30 % (trinta por cento) do montante global fixado anualmente pelo Chefe do Poder Executivo. Art. 4º Constituem recursos do Fundo Estadual de Incentivo à Cultura – FEIC: I – subvenções, auxílios e contribuições oriundas de organismos públicos e privados; II – doações de pessoas físicas e jurídicas, nacionais, estrangeiras e internacionais; III – transferências decorrentes de convênios e acordos; IV – outras receitas. Parágrafo único. Os recursos do FEIC serão recolhidos, diretamente, ao Banco do Estado de Santa Catarina – BESC, em conta vinculada à Fundação Catarinense de Cultura. Art. 5º O Fundo Estadual de Incentivo à Cultura – FEIC financiará, no máximo, 80% (oitenta por cento) do custo total de cada projeto, devendo o proponente oferecer contrapartida equivalente aos 20% (vinte por cento) restantes. § 1º Para efeito de contrapartida, poderá o proponente optar pela alocação de recursos financeiros ou pela oferta de bens e serviços componentes do custo do projeto, que deverão ser devidamente avaliados pela comissão gestora do FEIC. § 2º No caso de a contrapartida ser feita mediante a alocação de recursos financeiros, o proponente deverá comprovar a circunstância de dispor desses recursos ou estar habilitado à obtenção do respectivo financiamento por meio de fonte devidamente identificada. Art. 6º Aos contribuintes do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação – ICMS que aplicarem recursos financeiros em projetos culturais aprovados pela Fundação Catarinense de Cultura será permitido, nas condições e na forma estabelecidas em Decreto, a título de compensação, o lançamento ou a utilização como crédito do valor aplicado para dedução de valores devidos aos Estado, nos critérios e limites desta Lei. Parágrafo único. A aplicação em projetos culturais é caracterizada pela transferência de recursos financeiros por parte do contribuinte: I – diretamente ao proponente do projeto aprovado pelo Mecenato Estadual de Incentivo à Cultura – MEIC; II – em favor do Fundo Estadual de Incentivo à Cultura – FEIC. Art. 7º A compensação de que trata o artigo anterior poderá corresponder a até 5% (cinco por cento) do saldo devedor do contribuinte a cada mês, respeitando-se os seguintes limites: I – até 100% (cem por cento) do valor aplicado, no caso de doação; II – até 80% (oitenta por cento) do valor aplicado, no caso de patrocínio; III – até 50% (cinqüenta por cento) do valor aplicado, no caso de investimento. § 1º Para efeito do disposto neste artigo, considera-se: I – doação: a transferência definitiva de bens e recursos, realizada sem qualquer proveito para o contribuinte;

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II – patrocínio: as despesas do contribuinte com promoção ou publicidade em atividade cultural, sem proveito pecuniário ou patrimonial direto; III – investimento: a aplicação de recursos financeiros com proveito pecuniário ou patrimonial para o contribuinte. § 2º A dedução somente poderá ser iniciada pelo contribuinte 30 (trinta) dias após a efetiva transferência dos recursos financeiros, na forma estabelecida nesta Lei. Art. 8º O crédito tributário inscrito em dívida ativa até 341 de dezembro de 1997, poderá ser quitado com dedução de até 25% (vinte e cinco por cento), desde que o contribuinte, com o valor deduzido e nos limites estabelecidos nos incisos I a III do "caput" do artigo 7º desta Lei, apoie financeiramente projetos culturais na forma desta Lei. § 1º Para obter o benefício previsto neste artigo, o contribuinte incentivador apresentará requerimento à Secretaria de Estado da Fazenda e, no prazo de 5 (cinco) dias do seu deferimento, deverá: I – efetuar o pagamento do crédito tributário com a dedução autorizada; II – repassar diretamente ao proponente do projeto aprovado pelo Mecenato Estadual de Incentivo à Cultura – MEIC, ou recolher em favor do Fundo Estadual de Incentivo à Cultura – FEIC o valor correspondente a dedução. § 2º O Documento de Arrecadação – DAR, correspondente ao pagamento do crédito tributário, deverá conter a expressão "Sistema Estadual de Incentivo à Cultura", seguida do número e data desta Lei e, ainda, o montante deduzido, em algarismo e por extenso, cujo valor deverá ser subtraído do valor do crédito, e a diferença apurada corresponderá ao total do recolhimento. § 3º Na hipótese de recolhimento parcelado do crédito tributário, as deduções autorizadas serão realizadas por ocasião do pagamento de cada parcela. § 4º A apresentação do requerimento a que se refere o § 1º deste artigo importa na confissão do débito tributário. § 5º O disposto neste artigo não se aplica ao crédito inscrito em dívida ativa decorrente do ato praticado com evidência do dolo, fraude ou simulação pelo sujeito passivo. Art. 9º O montante global dos incentivos previstos nos artigos 3º, 6º e 8º será fixado anualmente pelo Chefe do Poder Executivo, devendo ser equivalente a no mínimo 0,3% (zero vírgula três por cento) da receita líquida anual. Art. 10. Poderão ser beneficiados por esta Lei, projeto culturais nas áreas de: I – artes cênicas; II – artes gráficas; III – artes plásticas; IV – artesanato e folclore; V – bibliotecas e arquivos; VI – cinema e vídeo; VII – literatura; VIII – museus; IX – música; X – patrimônio cultural. Art. 11. Os projetos culturais que pretendam obter incentivos deverão ser apresentados à Fundação Catarinense de Cultura, de acordo com o disposto pela regulamentação desta Lei. Art. 12. O Conselho Estadual de Cultura – CEC definirá, no prazo estabelecido em regulamento, dentre os proponentes habilitados na Secretaria de Estado da Fazenda, aqueles projetos considerados prioritários, aprovando-os a partir de pareceres por escrito, segundo critérios de relevância e oportunidade. Parágrafo único. As entidades de classe representativas dos diversos segmentos culturais terão acesso, em todos os níveis, à documentação referente aos projetos culturais beneficiados por esta Lei. Art. 13. Os projetos aprovados e seus respectivos orçamentos deverão constar em portaria expedida pela Fundação Catarinense de Cultura e publicada no Diário Oficial do Estado de Santa Catarina. § 1º A publicação da portaria prevista neste artigo autoriza o proponente a captar os recursos junto aos contribuintes, no caso de projetos encaminhados ao MEIC. § 2º A autorização para captação de recursos junto aos contribuintes terá validade de 1 (um) ano a contar da publicação da portaria. Art. 14. Fica vedada a aprovação de projetos que não sejam estritamente de caráter cultural.

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Art. 15. Os benefícios a que se refere esta Lei não serão concedidos a proponentes ou financiadores inadimplentes para com a Fazenda Pública Estadual, sem prejuízo do disposto no artigo 8º desta Lei. Art. 16. Fica vedada a utilização do benefício fiscal em relação a projetos de que sejam beneficiários o próprio contribuinte, substituto tributário, seus sócios ou titulares. Parágrafo único. A vedação prevista neste artigo estende-se aos ascendentes, descendentes até 2º grau, cônjuges ou companheiros dos titulares e sócios. Art. 17. Na divulgação dos projetos financiados nos termos desta Lei, deverá constar, obrigatoriamente, o apoio institucional do Governo do Estado de Santa Catarina, através da Fundação Catarinense de Cultura. Art. 18. A utilização indevida dos benefícios concedidos por esta Lei, mediante fraude, simulação ou conluio, sujeitará os responsáveis a: I – multa correspondente a 2 (duas) vezes o valor que deveria ter sido efetivamente aplicado no projeto, sem prejuízo de outras sanções civis, penais ou tributárias; II – pagamento do débito tributário de que trata o "caput" do artigo 3º desta Lei, acrescido dos encargos previsto em Lei. Art. 19. Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a promover as alterações orçamentárias necessárias à implementação desta Lei. Art. 20 esta Lei deverá ser regulamentada no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da data de sua publicação. Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário. Florianópolis, 23 de setembro de 1998 PAULO AFONSO EVANGELISTA VIEIRA Governador do Estado ADEMAR FREDERICO DUWE MAURÍCIO DA SILVA CLETO NAVAGIO DE OLIVEIRA MURILO SAMPAIO CANTO FRANCISCO RZATKI ENIO EMÍLIO SCHNEIDER NERI GARCIA ELIANE NEVES REBELLO ADRIANO MARCO AURELIO DE ANDRADE WILSON PAZINI CARLOS CLARIMUNDO DORNELLES SCHOELLER LÚCIA MARIA STEFANOVICH JOSÉ NOBERTO D’AGOSTINI CÉSAR DE BARROS PINTO AURIO VENDELINO WELTER

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Decreto n° 3.604 de 23 de dezembro de 1998.

Regulamenta a Lei n o 10.929, de 23 de setembro de 1998, que institui o Sistema Estadual de Incentivo à Cultura, e adota outras providências.

O Governador do Estado de Santa Catarina , no uso das atribuições que lhe confere o art. 71, incisos III e IV, da Constituição do Estado, e tendo em vista o disposto na Lei n o 10.929, de 23 de setembro de 1998, que institui o Sistema Estadual de Incentivo à Cultura e adota outras providências, D E C R E T A :

CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1 o O Sistema Estadual de Incentivo à Cultura - SEIC, instituído através da Lei n o

10.929, de 23 de setembro de 1998, obedecerá aos preceitos desta, bem como aos da presente Regulamentação. Art. 2 o Para efeito deste Regulamento considera-se: I - Projeto Cultural: proposta de realização de obra, ação ou evento específico ao desenvolvimento artístico e/ou à preservação do patrimônio cultural de Santa Catarina; II - Incentivo Fiscal: lançamento ou utilização, como crédito do recurso financeiro aplicado em projetos culturais por contribuinte do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS, a título de compensação, para dedução dos valores devidos ao Estado, na forma e nos limites estipulados em Lei; III - Produtor Cultural: pessoa física ou jurídica domiciliada há no mínimo 3 (três) anos no Estado de Santa Catarina, diretamente responsável pelo projeto cultural a ser beneficiado pelo incentivo fiscal; IV - Contribuinte: estabelecimento inscrito no Cadastro de Contribuintes do ICMS do Estado de Santa Catarina, que venha a apoiar financeiramente, através de mecanismos de doação, patrocínio ou investimento, projetos culturais previamente aprovados pela Fundação Catarinense de Cultura - FCC, ou transferir recursos financeiros diretamente ao Fundo Estadual de Incentivo à Cultura - FEIC; V - Doação: transferência definitiva de bens e recursos, realizada sem qualquer proveito de promoção ou publicidade para o contribuinte; VI - Patrocínio: despesas do contribuinte com promoção ou publicidade em atividade cultural, sem proveito patrimonial ou pecuniário direto; VII - Investimento: aplicação de recursos financeiros em atividades culturais com proveito pecuniário ou patrimonial para o contribuinte; VIII - Dirigente Cultural: profissional domiciliado no Estado de Santa Catarina, responsável ou atuante em setor de administração pública da área de cultura; IX - Produto Cultural: artefato cultural fixado em suporte material de qualquer espécie, com possibilidades de reprodução, comercialização, ou distribuição gratuita; X - Evento: acontecimento de caráter cultural de existência limitada a sua realização ou exibição; XI - Artes Cênicas: linguagens artísticas relacionadas com os segmentos de teatro, dança, circo, ópera e congêneres; XII - Artes Gráficas: linguagens artísticas relacionadas com a criação e/ou reprodução mediante o uso de meios artesanais, mecânicos ou cibernéticos de realização, ou seja, com a utilização de tipografia, off-set, computação e outros mecanismos; XIII - Artes Plásticas: linguagens artísticas compreendendo a materialização de formas, linhas, movimentos, volumes e cores através de modalidades tradicionais, como desenho, gravura, pintura, escultura e fotografia, entre outras, e mídias contemporâneas, como instalação, objeto, vídeo-arte, performance e intervenção urbana, entre outras; XIV - Artesanato: confecção de peças e objetos manufaturados em pequena escala, utilizando materiais e instrumentos simples, sem o auxílio de máquinas sofisticadas de produção em série; XV - Folclore: conjunto de manifestações típicas, materiais e simbólicas, transmitidas de geração a geração, traduzindo conhecimentos, usos, costumes, crenças, ritos, mitos, lendas, adivinhações, provérbios, fantasias, alegorias, cantorias e folguedos populares, entre outras; XVI - Biblioteca: instituição de acesso público destinada à promoção da leitura e difusão do conhecimento, congregando acervos de livros, periódicos e congêneres organizados para o

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estudo, pesquisa e consulta, nas modalidades de bibliotecas pública, escolar, universitária e especializada; XVII - Arquivo: instituição de acesso público destinada à preservação da memória documental, de natureza histórica, administrativa, cartorial ou eclesiástica; XVIII - Cinema e Vídeo: linguagens artísticas relacionadas, respectivamente, com a produção de filmes cinematográficos e videográficos, ou seja, de registro de sons e imagens em películas especiais, obedecendo a um roteiro ou script determinado; XIX - Literatura: área de produção de conhecimento utilizando a arte de escrever em prosa ou verso nos gêneros de romance, poesia, conto, crônica e ensaio, entre outros; XX - Museu: instituição de acesso público destinada à preservação e divulgação de acervos de bens representativos da história, das artes e das ciências, entre outros; XXI - Música: linguagem artística que expressa harmonia, melodia e ritmo, em diferentes modalidades e gêneros; XXII - Patrimônio Cultural: área de preservação de bens de relevância histórica, artística, arquitetônica, paisagística e arqueológica, entre outras.

CAPÍTULO II

DO SISTEMA ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA - SEIC

SEÇÃO I DOS OBJETIVOS

Art. 3 o O Sistema Estadual de Incentivo à Cultura – SEIC tem como objetivo o apoio financeiro a projetos culturais, através dos mecanismos estabelecidos nesta

Regulamentação.

SEÇÃO II DA EXECUTIVA DE APOIO À CULTURA - EXAC

Art. 4 o Fica criada a Executiva de Apoio à Cultura - EXAC na estrutura administrativa da Fundação Catarinense de Cultura - FCC, como comissão gestora do Sistema Estadual de Incentivo à Cultura - SEIC. § 1 o Subordinada diretamente à Direção Geral da FCC, a EXAC será formada por no mínimo 4 (quatro) servidores lotados na FCC e na Secretaria de Estado da Fazenda – SEF, observada a paridade. § 2 o Caberá à EXAC coordenar todos os trâmites administrativos necessários ao pleno funcionamento do SEIC, inclusive os relacionados à difusão da Lei e à orientação de produtores e dirigentes culturais e dos contribuintes do ICMS.

SEÇÃO III

DO INVESTIMENTO PELO ESTADO Art. 5 o O montante global do ICMS a ser utilizado em projetos culturais, equivalente a no mínimo 0,3% (zero vírgula três por cento) da receita líquida anual, será fixado anualmente, no mês de janeiro, através de ato do Chefe do Poder Executivo, tomando-se por base a arrecadação do ano anterior. Parágrafo único. O mesmo ato fixará o montante máximo a ser destinado ao Fundo Estadual de Incentivo à Cultura - FEIC, não podendo exceder a 30% (trinta por cento) do montante global anual, na forma da Lei. Art. 6 o Caberá à EXAC, sob supervisão da SEF, o controle de saldo do montante global anual de renúncia fiscal. Parágrafo único. Ao atingir o montante previsto a que se refere o art. 5 o , a FCC expedirá portaria adiando temporariamente o recebimento de projetos culturais, até o início do exercício financeiro subseqüente.

SEÇÃO IV

DO BENEFÍCIO AO CONTRIBUINTE Art. 7 o Aos contribuintes do ICMS, que aplicarem recursos financeiros em projetos culturais aprovados pela FCC, será permitido, nas condições e na forma estabelecidas no

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presente Regulamento, a título de compensação, o lançamento ou a utilização como crédito do valor aplicado para dedução de valores devidos ao Estado, nos critérios e limites da Lei. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica ao ICMS devido por responsabilidade, inclusive o decorrente de substituição tributária, e pelo diferencial de alíquota. Art. 8 o A compensação de que trata o artigo anterior poderá corresponder a até 5% (cinco por cento) do saldo devedor do contribuinte a cada mês, respeitando-se os seguintes limites: I - até 100% (cem por cento) do valor aplicado, no caso de doação; II - até 80% (oitenta por cento) do valor aplicado, no caso de patrocínio; III - até 50% (cinqüenta por cento) do valor aplicado, no caso de investimento. Art. 9 o O crédito tributário inscrito em dívida ativa até 31 de dezembro de 1997 poderá ser quitado com dedução de até 25% (vinte e cinco por cento), desde que o contribuinte, com o valor deduzido e nos limites estabelecidos no artigo anterior, apoie financeiramente projetos culturais na forma da Lei. Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica ao crédito inscrito em dívida ativa decorrente de ato praticado com evidência de dolo, fraude ou simulação pelo sujeito passivo. Art. 10. O apoio financeiro poderá ser repassado diretamente do contribuinte ao produtor cultural, através do mecanismo de Mecenato Estadual de Incentivo à Cultura - MEIC, ou em favor do Fundo Estadual de Incentivo à Cultura - FEIC. Art. 11. Fica vedado o benefício fiscal em relação a projetos de que sejam beneficiários o próprio contribuinte, substituto tributário, seus sócios ou titulares. Parágrafo único. A vedação prevista neste artigo estende-se aos ascendentes, descendentes até 2 o grau, cônjuges ou companheiros dos titulares e sócios.

SEÇÃO V

DO MECENATO ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA - MEIC Art. 12. O MEIC destina-se ao financiamento de projetos culturais apresentados por produtores que se caracterizem como pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. Art. 13. Terão prioridade, entre os projetos culturais beneficiados pelo MEIC, aqueles relacionados à elaboração de produtos culturais, à itinerância de espetáculos e mostras, bem como eventos comprometidos com a formação artístico-cultural.

SEÇÃO VI

DO FUNDO ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA - FEIC Art. 14. O FEIC destina-se ao financiamento de projetos culturais apresentados pelos

órgãos públicos de cultura das administrações municipais e estadual. Parágrafo único. Em caráter excepcional poderão também ser beneficiados projetos culturais apresentados por instituições culturais de direito privado, sem fins lucrativos e de utilidade pública estadual. Art. 15. A aprovação de projetos culturais destinados ao FEIC somente ocorrerá a partir da entrada efetiva de recursos financeiros correspondentes a, no mínimo, 10% (dez por cento) do montante global do ICMS fixado anualmente pelo Chefe do Poder Executivo. Art. 16. Constituem recursos do FEIC: I - subvenções, auxílios, deduções e contribuições oriundas de organismos públicos e privados; II - doações de pessoas físicas e jurídicas, nacionais, estrangeiras e internacionais; III - transferências decorrentes de convênios e acordos; IV - outras receitas. Parágrafo único. Os recursos serão recolhidos diretamente ao Banco do Estado de Santa Catarina - BESC, em conta específica vinculada à FCC, nominativa ao FEIC. Art. 17. O FEIC financiará, no máximo, 80% (oitenta por cento) do custo total de cada projeto cultural aprovado, devendo o proponente oferecer contrapartida equivalente aos 20% (vinte por cento) restantes. § 1 o Para efeito de contrapartida, poderá o proponente optar pela alocação de recursos financeiros ou pela oferta de bens e serviços componentes do orcamento detalhado do projeto cultural aprovado. § 2 o No caso de a contrapartida ser feita mediante a alocação de recursos financeiros, o proponente deverá comprovar a

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circunstância de dispor desses recursos ou estar habilitado à obtenção do respectivo financiamento por meio de fonte devidamente identificada. Art. 18. Terão prioridade, entre os projetos culturais beneficiados pelo FEIC, aqueles relacionados à preservação do patrimônio cultural, bem como aos de ampliação e restauração de acervos de museus, arquivos e bibliotecas.

CAPÍTULO III

DOS PROJETOS CULTURAIS SEÇÃO I

DAS CONDIÇÕES DE PARTICIPAÇÃO Art. 19. Somente poderão ser objeto de incentivo financeiro, através do benefício fiscal previsto em Lei, projetos culturais nas áreas de: I - artes cênicas; II - artes gráficas; III - artes plásticas; IV - artesanato e folclore; V - bibliotecas e arquivos; VI - cinema e vídeo; VII - literatura; VIII - museus; IX - música; X - patrimônio cultural. Art. 20. O projeto cultural incentivado deverá utilizar, total ou parcialmente, recursos humanos, materiais, técnicos e naturais disponíveis no Estado de Santa Catarina. Art. 21. O lançamento dos produtos, inaugurações, estréias ou aberturas dos eventos relacionados aos projetos incentivados deverão ser, obrigatoriamente, no Estado de Santa Catarina. Art. 22. Não poderão ser beneficiados projetos culturais cujos incentivos pleiteados ultrapassem a 5% (cinco por cento) do montante global do ICMS, fixado na forma do art. 5º Art. 23. Não serão concedidos os benefícios da Lei a produtores culturais inadimplentes para com a Fazenda Pública Estadual, sem prejuízo no disposto no art. 9 o deste Regulamento.

SEÇÃO II

DA TRAMITAÇÃO DOS PROJETOS Art. 24. Os projetos culturais que pretendam obter os incentivos previstos em Lei, deverão ser apresentados à EXAC, na estrutura administrativa da FCC.

SUBSEÇÃO I DO ENCAMINHAMENTO

Art. 25. O produtor cultural deverá preencher, em duas vias, o Formulário de Encaminhamento previsto no anexo I deste Regulamento, acompanhado da seguinte documentação: I - se pessoa jurídica de direito público:

a. cópia autenticada do cartão de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes - CGC;

b. cópia autenticada do registro de identidade e do Cadastro de Pessoas Físicas - CPF do representante legal da instituição;

c. cópia autenticada do termo de posse do representante legal da instituição; d. relatório de atividades culturais da instituição nos últimos 2 (dois) anos; e. cópia autenticada da Certidão Negativa de Débito para com a Fazenda Pública

Estadual; f. cópia autenticada de comprovante de domicílio no Estado de Santa Catarina há

mais de 3 (três) anos;

II - se pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos:

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a. cópia autenticada do cartão de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes - CGC;

b. cópia autenticada do registro de identidade e do Cadastro de Pessoas Físicas - CPF do representante legal da instituição;

c. cópia autenticada da ata de constituição da atual diretoria da instituição; d. cópia autenticada do estatuto e/ou regimento da instituição; e. cópia autenticada da Lei que declara a instituição como de Utilidade Pública

Estadual; f. relatório de atividades culturais da instituição nos últimos 2 (dois) anos; g. cópia autenticada da Certidão Negativa de Débito para com a Fazenda Pública

Estadual; h. cópia autenticada de comprovante de domicílio no Estado de Santa Catarina há

mais de 3 (três) anos;

III - se pessoa jurídica de direito privado com fins lucrativos:

a. cópia autenticada do cartão de inscrição no Cadastro Geral de Contribuintes - CGC;

b. cópia autenticada do registro de identidade e do Cadastro de Pessoas Físicas - CPF do representante legal da empresa;

c. cópia autenticada do contrato social da empresa; d. relatório de atividades culturais da empresa nos últimos 2 (dois) anos; e. cópia autenticada da Certidão Negativa de Débito para com a Fazenda Pública

Estadual; f. cópia autenticada de comprovante de domicílio no Estado de Santa Catarina há

mais de 3 (três) anos;

IV - se pessoa física:

a. cópia autenticada do registro de identidade e do Cadastro de Pessoas Físicas -CPF;

b. curriculum vitae que comprove a atuação no setor cultural; c. cópia autenticada da Certidão Negativa de Débito para com a Fazenda Pública

Estadual; d. cópia autenticada de comprovante de domicílio no Estado de Santa Catarina há

mais de 3 (três) anos.

SUBSEÇÃO II

DA TRAMITAÇÃO NA EXAC Art. 26. O projeto cultural encaminhado à EXAC, na estrutura administrativa da FCC, será imediatamente protocolizado, recebendo numeração de processo e numeração de ordem no SEIC. Art. 27. Ao dar entrada na EXAC, o projeto cultural será analisado em seu aspecto formal de preenchimento, compatibilidade de custos orçamentários com os valores de mercado, verificação de débitos do produtor para com a Fazenda Pública Estadual, bem como da legalidade e autenticidade dos documentos acostados. § 1 o Se apontada a necessidade de diligência, o produtor cultural será oficiado, devendo encaminhar posteriormente os documentos, informações complementares e/ou reparos apontados. § 2 o No caso do parágrafo anterior, o projeto cultural somente continuará tramitando após o atendimento, por parte do produtor, de todas as complementações e reparos solicitados. Art. 28. A EXAC encaminhará os projetos culturais à análise do Conselho Estadual de Cultura - CEC que, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, devolverá os mesmos acompanhados de seus respectivos pareceres, aprovados ou não em sessão plenária.

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Art. 29. Os projetos aprovados e seus respectivos orçamentos deverão constar em portaria expedida pela FCC e publicada no Diário Oficial do Estado de Santa Catarina. § 1 o No caso de projetos encaminhados ao MEIC, a publicação da portaria prevista neste artigo autoriza o produtor a captar os recursos junto aos contribuintes pelo período de 1 (um) ano. § 2 o No caso de projetos encaminhados ao FEIC, a publicação autoriza a celebração de convênio entre a FCC e a instituição beneficiada, ocorrendo o repasse dos recursos no prazo estipulado. Art. 30. A decisão sobre a análise do projeto cultural deverá ser comunicada por escrito ao produtor. § 1 o No caso de decisão positiva, a EXAC encaminhará, no prazo de 3 (três) dias úteis da publicação da portaria, cópia da mesma e orientação para captação de recursos ou viabilização de convênio. § 2 o No caso de decisão negativa, a EXAC deverá comunicar o produtor no prazo máximo de 3 (três) dias úteis da devolução do processo pelo CEC. § 3 o Da decisão negativa caberá recurso à EXAC no prazo de 10 (dez) dias, devendo esta decidir, após novo encaminhamento ao CEC, no prazo de 30 (trinta) dias. Art. 31. Toda a tramitação do projeto, entre sua entrada na EXAC até a publicação da portaria no Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, não poderá exceder a 60 (sessenta) dias, salvo se ocorrer necessidade de diligência, conforme o § 1 o do art. 27 deste Regulamento.

SUBSEÇÃO III

DA TRAMITAÇÃO NO CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA - CEC Art. 32. Ao dar entrada no CEC, o Presidente encaminhará os projetos culturais à análise das câmaras setoriais, distribuindo-os de acordo com a área específica de cada um. Art. 33. Nas câmaras setoriais, os projetos culturais serão analisados segundo critérios de relevância e oportunidade, considerando o disposto nos art. 13 e 18, devendo ser emitidos pareceres por escrito, no prazo de 20 (vinte) dias. § 1 o Cada parecer será redigido por um relator escolhido entre os membros de cada câmara setorial. § 2 o Um mesmo parecer poderá tratar da aprovação de um ou mais projetos culturais de uma mesma área específica. § 3 o Submetido à aprovação interna dos demais membros da câmara, o parecer deverá seguir à aprovação final em sessão plenária do CEC. Art. 34. Fica vedada a aprovação de projetos culturais de que o proponente ou seu beneficiário direto ou indireto seja membro do CEC. Parágrafo único. Na hipótese de existirem projetos em que o proponente seja uma das instituições representadas no CEC, o representante da mesma, durante o processo de análise e aprovação, não terá direito a voz e voto. Art. 35. Ordinariamente, o CEC deverá se reunir uma vez por mês, incluindo em sua ordem do dia as reuniões de câmaras para a análise de projetos culturais encaminhados ao SEIC, bem como a aprovação final dos pareceres de cada câmara. Parágrafo único. Havendo demanda, o presidente do CEC poderá convocar sessões extraordinárias específicas. Art. 36. As entidades de classe representativas dos diversos segmentos culturais, através de seus representantes no CEC, em conformidade com a Lei 10.308, de 26 de dezembro de 1996, poderão ter acesso, em todos os níveis, à toda documentação referente aos projetos culturais encaminhados ao SEIC.

CAPÍTULO IV DA CAPTAÇÃO E DA DEDUÇÃO

SEÇÃO I

DA CAPTAÇÃO JUNTO AO CONTRIBUINTE Art. 37. O produtor cultural, comunicado da decisão favorável ao projeto, deverá providenciar a abertura de conta corrente específica, no Banco do Estado de Santa Catarina - BESC, em nome do projeto aprovado.

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Art. 38. No caso do MEIC, o produtor cultural buscará captar recursos financeiros junto aos contribuintes do ICMS e, após obtê-los, passará, no prazo de 3 (três) dias úteis, na forma do anexo II deste Regulamento, recibo em 4 (quatro) vias com a seguinte destinação: I - 1a. via - Contribuinte; II - 2a. via - Produtor Cultural; III - 3a. e 4a. vias - EXAC, que remeterá a 4a. via à SEF. § 1 o Juntamente com o recibo, o produtor cultural deverá encaminhar duas cópias autenticadas da Certidão Negativa de Débito para com a Receita Pública Estadual, nominativa ao contribuinte incentivador, sem prejuízo ao disposto no art. 9 o do presente Regulamento. § 2 o A não apresentação do recibo e da certidão impossibilita o contribuinte a proceder a dedução. Art. 39. Os recursos captados deverão ser depositados em conta corrente, de acordo com o disposto no art. 37, e só poderão ser utilizados a partir da captação equivalente a 20% (vinte por cento) do orçamento total do projeto aprovado. § 1 o O produtor deverá comprovar a captação prevista neste artigo através da apresentação, junto à EXAC, do extrato bancário correspondente. § 2 o A EXAC emitirá, no prazo de 3 (três) dias úteis do recebimento do extrato, autorização para utilização dos recursos. § 3 o Na hipótese de não atingir o percentual previsto no presente artigo, e encerrado o prazo para a captação, o produtor deverá providenciar o depósito dos recursos captados junto ao FEIC, no prazo de 7 (sete) dias úteis. Art. 40. À FCC caberá captar, junto aos contribuintes do ICMS, recursos financeiros para o FEIC. Parágrafo único. Após obtê-los, a FCC deverá proceder em conformidade ao disposto no art. 39 deste Regulamento.

SEÇÃO II

DA DEDUÇÃO DO ICMS Art. 41. A dedução do ICMS, na forma e nos limites estabelecidos no presente Regulamento, somente poderá ser iniciada pelo contribuinte 30 (trinta) dias após a efetiva transferência dos recursos financeiros, com base na data do recibo fornecido pelo produtor cultural ou, no caso do FEIC, pela FCC. Parágrafo único. O Documento de Arrecadação - DAR, correspondente ao pagamento do crédito tributário inscrito em dívida ativa até 31 de dezembro de 1997, deverá conter a expressão "Sistema Estadual de Incentivo à Cultura - Lei n o . 10.929, de 23 de setembro de 1998" e, ainda, o montante deduzido, em algarismo e por extenso, cujo valor deverá ser subtraído do valor do crédito, e a diferença apurada corresponderá ao total do recolhimento, em conformidade com a Lei n o 10.297, de 26 de dezembro de 1996. Art. 42. Para obter o benefício previsto no art. 9 o , específico para a quitação da dívida ativa, o contribuinte deverá apresentar, na forma do Anexo III deste Regulamento, requerimento à Procuradoria Geral do Estado - PGE e, no prazo de 5 (cinco) dias do seu deferimento, deverá: I - efetuar o pagamento do crédito tributário com a dedução autorizada; II - repassar diretamente ao produtor ou ao FEIC o valor correspondente à dedução. § 1 o A PGE terá o prazo de 3 (três) dias úteis para deferir ou não o requerimento citado neste artigo. § 2 o A apresentação do requerimento a que se refere este artigo importa na confissão do débito. § 3 o O Documento de Arrecadação - DAR, correspondente ao pagamento do crédito tributário, deverá ser preenchido em conformidade ao disposto no parágrafo único do art. 41. § 4 o Na hipótese de recolhimento parcelado do crédito tributário, as deduções autorizadas serão realizadas por ocasião do pagamento de cada parcela.

CAPÍTULO V

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

SEÇÃO I DA DIVULGAÇÃO DO PROJETO

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Art. 43. Será obrigatória a inserção e veiculação do nome e símbolos oficiais do Governo do Estado de Santa Catarina, da FCC e da Lei Estadual de Incentivo à Cultura em todo o material de divulgação e promoção do projeto cultural incentivado.

SEÇÃO II DA PRESTAÇÃO DE CONTAS

Art. 44. O prazo para conclusão do projeto cultural não poderá ultrapassar 12 (doze) meses do recebimento da primeira parcela do incentivo, prorrogável por até 6 (seis) meses, havendo solicitação por escrito encaminhada à EXAC. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se também no caso da não execução do projeto. Art. 45. Ao término de 30 (trinta) dias da execução do projeto, o produtor cultural apresentará à EXAC, em duas vias, prestação de contas detalhada dos recursos recolhidos e dispendidos, comprovados através de faturas, notas fiscais, extratos bancários e recibos, dentre outros documentos exigidos, em conformidade com o Anexo IV. Parágrafo único. O não-atendimento ao prazo deste artigo, ou a ausência de justificativa devidamente aceita pela EXAC, impedirá o produtor de ter novos projetos aprovados pelo prazo de 2 (dois) anos. Art. 46. O produtor cultural se obriga a fornecer à EXAC todo o material publicitário e promocional relacionado ao projeto incentivado, que passará a fazer parte da memória deste. Art. 47. A EXAC poderá determinar vistorias, avaliações, perícias, análises e demais levantamentos que sejam necessários à perfeita observância deste Regulamento, em qualquer fase de realização do projeto cultural, comunicando à SEF ou à PGE, conforme o caso, qualquer irregularidade que envolva contribuintes do ICMS.

SEÇÃO III

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 48. O Diretor Geral da FCC, o Secretário de Estado da Fazenda e o Procurador Geral do Estado ficam autorizados, no âmbito das suas respectivas pastas, a baixar normas complementares, necessárias ao fiel cumprimento do disposto neste Regulamento. Parágrafo único. O Diretor Geral da FCC fica autorizado a expedir normas necessárias a alterações nos aAexos deste Regulamento. Art. 49. A utilização indevida dos benefícios concedidos pela Lei 10.929, de 23 de setembro de 1998, bem como pelas normas estabelecidas neste Regulamento, mediante fraude, simulação ou conluio, sujeitará os responsáveis a: I - multa correspondente a 2 (duas) vezes o valor que deveria ter sido efetivamente aplicado no projeto, sem prejuízo de outras sanções civis, penais ou tributárias; II - pagamento do débito tributário de que tratam os artigos 6 o e 7 o da Lei 10.929, acrescidos dos encargos previstos em Lei. Parágrafo único. Os recursos obtidos pelas multas e pagamentos previstos neste artigo, exceto os de natureza tributária, deverão ser creditados diretamente ao FEIC, para a aplicação em novos projetos culturais. Art. 50. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 51. Revogam-se as disposições em contrário. Florianópolis, 23 de dezembro de 1998.

PAULO AFONSO EVANGELISTA VIEIRA Governador do Estado

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e) relatório das atividades culturais da instituição nos últimos 2 (dois) anos; f) original da Certidão Negativa de Débito para com a Fazenda Municipal; g) cópias autenticadas de comprovante de residência no Município de Itajaí, sendo uma do ano de apresentação e outra comprovando residência na cidade de no mínimo 2 (dois) anos; anteriores a apresentação do Projeto, III. se pessoa jurídica de direito privado com fins lucrativos: a) cópia autenticada do cartão do CNPJ; b) cópia autenticada do documento de identidade e CPF do representante legal da empresa; c) cópia autenticada do contrato social da empresa, com as alterações nos últimos 2 (dois) anos; d) relatório das atividades culturais da empresa nos últimos 2 (dois) anos; e) original da Certidão Negativa de Débito para com a Fazenda Municipal; f) cópias autenticadas de comprovante de residência no Município de Itajaí, sendo uma do ano de apresentação e outra comprovando residência na cidade de no mínimo 2 (dois) anos; anteriores a apresentação do Projeto, IV. se pessoa física: a) cópia autenticada do documento de identidade e do CPF; b) curriculum vitae que comprove a atuação no setor cultural; c) original da Certidão Negativa de Débito para com a Fazenda Municipal; d) cópias autenticadas de comprovante de residência no Município de Itajaí, sendo uma do ano de apresentação e outra comprovando residência na cidade de no mínimo 2 (dois) anos; anteriores a apresentação do Projeto, PARÁGRAFO ÚNICO – Fica impedido da apresentação de Projetos , o produtor que não tiver prestado contas de projetos anteriormente aprovados pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura. CAPÍTULO III DA TRAMITAÇÃO NA CITAC Art. 13 - O projeto cultural encaminhado à CITAC, será protocolado na Assessoria

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Jurídica, da Fundação Cultural de Itajaí, recebendo numeração de processo e de ordem. Art. 14 - A CITAC, analisará o projeto em seu aspecto formal de preenchimento, compatibilidade de custos orçamentários com os valores de mercado, verificação de débitos do produtor para com a Fazenda Pública Municipal, bem como da legalidade e autenticidade dos documentos acostados. § 1º - Se apontada a necessidade de diligência, o produtor será oficiado, devendo encaminhar posteriormente os documentos, informações complementares e/ou reparos apontados. § 2º - No caso do parágrafo anterior, o projeto cultural somente continuará tramitando suprido, por parte do produtor, o que couber. Art. 15 - A CITAC obedecerá: I. a ordem protocolar; II. a importância do projeto para a produção, garantia e difusão da preservação da cultura e das tradições e dos costumes da sociedade itajaiense; III. REVOGADO IV. a verificação dos valores orçamentários e os de mercado, decidindo sobre o valor máximo. Parágrafo único – REVOGADO Art. 16 - Os projetos aprovados e seus orçamentos deverão constar em portaria expedida pela CITAC e publicada no Jornal Oficial do Município, e ao produtor será expedido um Certificado de Enquadramento. § 1º - Concomitante à publicação oficial, o produtor será comunicado no prazo de até 10 (dez) dias úteis, por escrito, mediante comprovação pessoal. § 2º - Em caso da não aprovação do projeto a CITAC comunicará o produtor na mesma forma e em igual prazo, mencionado no parágrafo anterior. Art. 17 - Da não aprovação do projeto caberá recurso à própria CITAC, no prazo de 5 (cinco) dias úteis, a contar da ciência da decisão, devendo esta decidir após nova análise, no prazo de 15 (quinze) dias úteis. Parágrafo único – REVOGADO Art. 18 - A tramitação do projeto, desde a data do protocolo até a publicação da portaria no Jornal Oficial do Município, não poderá exceder a 60 (sessenta) dias úteis, salvo justificada necessidade.

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Art. 19 - O Presidente da CITAC distribuirá, na ordem protocolar cronológica, aos seus membros, cada projeto para análise prévia e respectivo relatório. Art. 20 - É vedado a pessoa-membro da CITAC e aos funcionários da Fundação Cultural de Itajaí, apresentar projetos culturais durante seu mandato, e até 6 (seis) meses após seu término. Parágrafo único: Na hipótese de existirem projetos em que o proponente seja uma das instituições representadas na CITAC, o representante da mesma, durante o processo de análise e aprovação, não participará do processo. Art. 21- REVOGADO Art. 21 A - O Presidente poderá convocar sessões extraordinárias específicas para atender a demanda. Art. 22 - Todas as entidades de classe representativas dos diversos segmentos artísticos e culturais, inclusive as que tiverem seus representantes na CITAC terão acesso, em todos os níveis, à documentação inerente aos projetos pelas mesmas encaminhados. CAPÍTULO IV DA CAPTAÇÃO JUNTO AO CONTRIBUINTE Art. 23 - O produtor, comunicado da aprovação do projeto, deverá providenciar abertura de Conta Corrente específica, vinculada à Fundação Cultural de Itajaí, na agência central do Banco do Brasil S.A., de Itajaí, em nome do projeto aprovado. Art. 24 - A Conta mencionada no artigo retro destina-se a recebimento de depósitos de valores relativos ao projeto, e só poderão ser utilizados a partir da captação equivalente a 40% (quarenta por cento) do valor total do projeto aprovado. § 1º - O produtor deverá comprovar a captação prevista neste artigo, através da apresentação, junto a CITAC, dos respectivos extratos bancários. § 2º - Comprovada a captação dos recursos mínimos, prevista neste artigo, mediante apresentação de extratos bancários ou de comprovantes de depósitos bancários, a CITAC, no prazo de 3 (três) dias úteis, emitirá Autorização Para Utilização dos Recursos - APURE. § 3º - No caso de o produtor não conseguir captar , no prazo estipulado, o equivalente a 40% (quarenta por cento) do valor total para a realização de seu projeto, havendo ou não, prorrogação deste prazo, o produtor deverá providenciar o depósito dos valores captados em Conta Bancária da Fundação Cultural de Itajaí. Art. 25 - A dedução do ISSQN, na forma e nos limites estabelecidos neste Regulamento, poderá ser iniciada a partir da data em que o contribuinte depositar

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os valores constantes na Autorização de Transferência na conta do projeto beneficiado, podendo também fazê-lo até, no máximo 180 (cento e oitenta) dias a contar da data do referido depósito. Art. 26 - Uma via do Termo de Compromisso, que conterá dados do Contribuinte e do Produtor, após assinado por ambos, será encaminhada ao Secretário de Finanças que emitirá, Autorização de Transferência no percentual de até 30% (trinta por cento) do valor do ISSQN a ser recolhido a cada mês pelo Contribuinte, e repassado ao Produtor, obedecendo-se os procedimentos do art. 25 deste Regulamento, respeitado o limite máximo orçamentário fixado para cada projeto, e o teto fixado para o exercício financeiro. § 1º - O Termo de Compromisso referido no "caput" deste artigo, será preenchido em 4 (quatro) vias, assim identificadas: a) Primeira via - do Contribuinte; b) Segunda via - do Produtor; c) Terceira via - da Secretaria da Fazenda Municipal; e d) Quarta via - da CITAC, nos autos do processo. § 2º - A Secretaria de Fazenda, no momento em que receber a 3ª via do Termo de Compromisso, emitirá em favor do Projeto a Autorização de Transferência de Valores, entregando-a ao Produtor para que este possa providenciar a captação de recursos, na forma da legal. Art. 27 - O Certificado de Enquadramento referido no art. 5º da Lei, é o documento hábil que autoriza o produtor a iniciar a captação de recursos junto a contribuintes, para a execução de seu projeto aprovado. § 1º - A prova da captação de recursos será o depósito, pelo contribuinte, em conta corrente específica do projeto, com a juntada ao processo junto a CITAC, pelo produtor, da cópia de extrato bancário, ou de depósito bancário, devidamente autenticados. § 2º - Na hipótese de pagamento parcelado do débito tributário, as deduções autorizadas serão realizadas por ocasião do pagamento de cada parcela. DA CONTRAPARTIDA E DA PRESTAÇÃO DE CONTAS Art. 28 - Será obrigatória a vinculação na divulgação publicitária, gravada, ao vivo, impressa ou falada, ou por quaisquer outros meios, de todo projeto cultural a que se refere esta Lei, logomarca da Lei Municipal de Incentivo a Cultura, logomarca da Fundação Cultural de Itajaí, Brasão da Prefeitura de Itajaí e logomarca e do patrocínio do contribuinte, caso este não se oponha. § 1º – Como contrapartida os produtores aprovados deverão destinar à Fundação Cultural de Itajaí:

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I – no caso de espetáculos que permaneçam em temporada, 1 (uma)

apresentação; II – no caso de espetáculo de apresentação única, 10% (dez por cento) dos

ingressos disponibilizados; III – no caso de produção de CDs, DVDs, vídeos, livros, periódicos, 5%

(cinco por cento) do total produzido;

IV – no caso de Eventos, 10% (dez por cento) dos ingressos

disponibilizados

V – no caso de obras de artes plásticas, 1 (uma) obra para o acervo da

Fundação Cultural de Itajaí;

VI – no caso de Oficinas, cursos, workshpos, 10% (dez por cento) das

vagas.

§ 2º – Os casos omissos neste artigo serão resolvidos entre CITAC e o produtor. Art. 29 - O prazo para conclusão do projeto cultural não poderá ultrapassar doze (doze) meses do recebimento da primeira parcela do incentivo, prorrogável até 3 (três) meses, mediante solicitação por escrito encaminhada à CITAC. Parágrafo único: No caso de não conclusão do projeto, o produtor devolverá os valores captados, procedendo conforme o disposto no § 3º do art. 24 deste Regulamento. Art. 30 - Após 30 (trinta) dias do término da execução do projeto, o produtor apresentará à Secretaria de Fazenda, em 2 (duas) vias a prestação de contas detalhada dos recursos captados e despedidos, comprovados através de faturas, notas fiscais, extratos bancários, dentre outros documentos legais exigidos. Parágrafo único: O não atendimento do prazo e das exigências deste artigo, impedirá o produtor de propor novo projeto, e sujeito ação judicial cabível, promovida pelo Município. Art. 31- O produtor cultural obriga-se a fornecer à CITAC todo o material publicitário e promocional relacionado ao projeto incentivado, que passará a fazer parte da memória deste. Art. 32 - A CITAC poderá determinar vistorias, avaliações, perícias, análises e demais levantamentos que julgue necessários à perfeita observância deste Regulamento, em qualquer fase do projeto, tomando as providências que julgar necessárias. DAS DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 33 - A CITAC fica autorizada, a expedir normas e procedimentos necessários

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a alterações dos formulários a que se refere este Regulamento. Art. 34 - A utilização indevida dos benefícios concedidos pela Lei 3.473, de 11 de janeiro de 2000, bem como pelas normas deste Regulamento, mediante fraude, simulação ou conluio, por parte de produtor ou de contribuinte, sujeitará os responsáveis às penas da legislação civil, tributária, administrativa e penal vigentes, e multa correspondente a 2 (duas) vezes o valor total proposto para a execução do projeto. Parágrafo único - As receitas oriundas deste artigo serão depositadas em conta corrente da Fundação Cultural de Itajaí, e serão aplicados em projetos culturais a juízo desta. Art. 35 - Os projetos culturais que visem captação de recursos na forma deste Decreto deverão ser apresentados através de FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO DE PROJETOS NA ÁREA CULTURAL - FAPAC. Parágrafo único - Os demais formulários necessários à tramitação perante a CITAC são: a) Certificado de Enquadramento em 3 (três) vias; b) Termo de Compromisso em 4 (quatro) vias; c) Autorização para transferência de recursos em 3 (três) vias; d) Autorização para utilização de recursos em 3 (três) vias; . Art. 36 - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em contrário.