estudo da viabilidade de alguns reagentes na...
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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS
CURSO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS
GUILHERME JOSE DOS SANTOS
ESTUDO DA VIABILIDADE DE ALGUNS REAGENTES NA
REVELAÇÃO DA MICROESTRUTURA DE UMA LIGA NITINOL DE
CONCENTRAÇÃO EQUIATÔMICA POR MEIO DE ATAQUE
QUÍMICO E ELETROLÍTICO
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
LONDRINA
2016
GUILHERME JOSE DOS SANTOS
ESTUDO DA VIABILIDADE DE ALGUNS REAGENTES NA
REVELAÇÃO DA MICROESTRUTURA DE UMA LIGA NITINOL DE
CONCENTRAÇÃO EQUIATÔMICA POR MEIO DE ATAQUE
QUÍMICO E ELETROLÍTICO
Trabalho de conclusão de curso de graduação
apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de
Curso 2, do Curso Superior de Engenharia de
Materiais da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, Câmpus Londrina como avaliação para
obtenção do título de Bacharel em Engenharia de
Materiais
Orientador: Prof. Dr. Odney Carlos Brondino
LONDRINA
2016
Ministério da Educação
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Campus Londrina
Departamento Acadêmico de Engenharia de Materiais
Coordenação de Engenharia de Materiais
TERMO DE APROVAÇÃO
ESTUDO DA VIABILIDADE DE ALGUNS REAGENTES NA REVELAÇÃO DA
MICROESTRUTURA DE UMA LIGA NITINOL DE CONCENTRAÇÃO
EQUIATÔMICA POR MEIO DE ATAQUE QUÍMICO E ELETROLÍTICO
Por
GUILHERME JOSE DOS SANTOS
Monografia apresentada no dia 31 de outubro de 2016 ao Curso Superior de Engenharia de
Materiais da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Londrina. O candidato foi
arguido pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após
deliberação, a Banca Examinadora considerou o trabalho APROVADO.
____________________________________
Prof. Dr. Odney Carlos Brondino
(UTFPR - Departamento Acadêmico de Engenharia de Materiais - DAEMA-LD)
Orientador
____________________________________
Prof. Dr. Fabiano Moreno Peres
(UTFPR - Departamento Acadêmico de Engenharia de Materiais - DAEMA-LD)
____________________________________
Prof. Dra. Silvia Midori Higa
(UTFPR - Departamento Acadêmico de Engenharia de Materiais - DAEMA-LD)
_________________________________________
Prof. Dr. Odney Carlos Brondino
Responsável pelo TCC do Curso de Engenharia de Materiais
Obs.: A Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso de Engenharia de
Materiais
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
PR
What is not started today is never finished tomorrow
(GOETHE, Johann, n.d.).
RESUMO
DOS SANTOS, G. J. Estudo da viabilidade de alguns reagentes na revelação da
microestrutura de uma liga Nitinol de concentração equiatômica por meio de ataque
químico e eletrolítico. 2016. 63 f. Trabalho de Conclusão de Curso – Engenharia de Materiais,
Universidade Federal Tecnológica do Paraná. Londrina, 2016.
Ligas de Nitinol apresentam elevada resistência a corrosão devido a formação de uma camada
de passivação sobre o metal composta em grande parte por TiO2. Esta propriedade impõe certa
dificuldade em revelar a microestrutura desta liga. Atualmente, o reagente mais eficiente é o
reagente de Kroll que tem em sua composição ácido fluorídrico que é extremamente tóxico.
Este trabalho apresenta um estudo sobre a capacidade de alguns reagentes de revelar a
microestrutura da liga NiTi de composição equiatômica por meio de ataque químico e
eletrolítico. Corpos de prova foram preparados tanto por embutimento a quente (para ataque
químico) quanto por embutimento a frio com resina de poliéster (para ataque eletrolítico). Os
reagentes, que tiveram a capacidade de atacar ligas NiTi avaliada, tratam-se de reagentes
sugeridos pela norma ASTM E 407 - 07 para ataque de Níquel, Titânio e Nitinol. Nenhum dos
reagentes utilizados foi capaz de revelar os contornos de grão do material. Observou-se que
nenhum dos reagentes propostos teve um desempenho igual ou superior ao reagente de Kroll.
Notou-se que ambos os ataques químicos foram ineficientes, não revelando características de
interesse. Com os ataques eletrolíticos, em especial o ataque eletrolítico realizado com o
reagente 3 (5ml de H2SO4 e 50ml de água), foi possível observar características associadas ao
processo de trefilação ao qual o fio de Nitinol foi submetido.
Palavras-chave: Nitinol. Metalografia. Ácido fluorídrico.
ABSTRACT
DOS SANTOS, G. J. A study of the viability of a couple etchants in revealing the
microstructure of a NiTi alloy of equiatomic concentration by means of chemical and
electrolytic etching. 2016. 63 f. Undergraduate Thesis – Materials Engineering, Federal
Technological University of Paraná. Londrina, 2016.
NiTi alloys demonstrate high corrosion resistance due to the formation of a passive layer on the
surface of the alloy composed mainly of TiO2. This property imposes a barrier to reveal the
microstructure of Niti alloys. Currently, the most efficient etchant is Kroll’s etchant, which is
composed of a very toxic substance, hydrogen fluoride. This text presents a study of the
capability of a couple etchants to reveal the microstructure of a Nitinol alloy of equiatomic
composition by means of chemical and electrolytic etching. Samples were prepared by means
of hot mounting (specimens that have undergone chemical etching) and cold mounting
(specimens that have undergone electrolytic etching). The reactants that are appled in this paper
are recommended by the ASTM E 407 – 07 for the etching of nickel, titanium, and Nitinol
alloys. None of the applied reactants was capable of evidencing the grain boundaries of the
material. It was also noticed that the best results were accomplished by the Kroll’s reactants
(Kroll 1 and Kroll). It is observed that both chemical etchants were inefficient in revealing the
microstructure of the alloy. However, the electrolytic etchants, especially the reactant 3 ( 5ml -
H2SO4 and 50ml - water), were capable of evidencing features associated with the drawing
processing to which the NiTi wire has been submitted.
Keywords: Nitinol. Metallography. Hydrogen fluoride.
LISTA DE SÍMBOLOS
Af
As
Mf
Ms
Ni
NiTi
pH
Ti
Temperatura de término da transformação austenítica
Temperatura de início da transformação austenítica
Temperatura de término da transformação da martensítica
Temperatura de início da transformação da martensítica
Níquel
Nitinol
Potencial Hidrogeniônico
Titânio
LISTA DE ABREVIAÇÕES
DSC
EMF
NOL
SE
TM
TTT
ZTA
Differential Scanning Calorimetry
Efeito de Memória de Forma
Naval Ordnance Laboratory
Superelasticidade
Transformação Martensítica
Tempo, Temperatura e Transformação
Zona Termicamente Afetada
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Diagrama de equilíbrio de fases para a liga NiTi. ................................................... 18
Figura 2 - Diagrama tempo-temperatura-transformação (TTT) de uma liga NiTi 52at% Ni... 19
Figura 3 - Microestrutura de duas ligas NiTi com diferentes frações atômicas. Em (a) tem-se a
microestrutura de uma liga 50at%Ni, onde pode-se observar precipitados pequenos
distribuídos por toda a matriz. Em (b) tem-se a microestrutura de uma liga 52at%Ni,
onde nota-se a presença de precipitados mais grosseiro que os de (a) apresentando
uma má distribuição na matriz. ................................................................................ 19
Figura 4 - Micrografia de um fio de Nitinol (Ø1,26mm) de elevado teor de carbono. É possível
observar que precipitados (TiC) encontram se alinhados com o sentido de trefilação
do material, mas não exibem deformação. ............................................................... 20
Figura 5 - Microscopia eletrônica evidenciando a morfologia de precipitados de Ti2Ni em uma
amostra de Nitinol trefilada, obtida por: (a) elétrons secundários e (b) elétrons
retroespalhados. ....................................................................................................... 21
Figura 6 - Representação das mudanças de fase das ligas Nitinol ........................................... 22
Figura 7 - Temperatura de transformação martensítica medida por meio de ciclos térmicos em
DSC. ......................................................................................................................... 23
Figura 8 - Polarização anódica de (1) aço inox 304 e (2) NiTi ................................................ 24
Figura 9 - Polarização potenciaestática de liga NiTi em solução simulada de saliva à
temperatura de 37 ºC ............................................................................................. 24
Figura 10 - Polarização potenciodinâmica de uma liga NiTi em (1) solução simulada de saliva,
(2) solução simulada de saliva + 0,05M HCl e (3) solução simulada de saliva + 0,05
HF. ......................................................................................................................... 25
Figura 11 - Diagrama de Pourbaix teórico para o sistema NiTi - H2O. E (SHE) vs pH........... 27
Figura 12 - Condições de polimento e ataque eletrolítico. ....................................................... 31
Figura 13 - Amostra submetida a polimento eletrolítico em solução de ácido perclórico 5%,
glicerol 5% em álcool visualizada em microscópio de luz polarizada. ................. 32
Figura 14 - Amostra submetida a polimento mecânico 0,25µm e ataque químico com reagente
de Kroll. ................................................................................................................. 32
Figura 15 - Micrografia de liga NiTi atacada com solução de ácido fluorídrico, nítrico e acético.
............................................................................................................................... 33
Figura 16 - Micrografia de uma liga de Ni45%Ti de estrutura austenítica atacada com reagente
de composição 2mL HF, 5ml HNO3 e 30mL CH3COOH. .................................... 33
Figura 17 - Organograma das atividades realizadas ................................................................. 34
Figura 18 - Fluxograma da divisão das amostras. .................................................................... 35
Figura 19 - Esquema da disposição das amostras sobre o pistão da embutidora. .................... 35
Figura 20 - Esquema da preparação dos moldes para embutimento a frio ............................... 36
Figura 21 - Disposições dos fios de Nitinol dentro dos moldes para cura a frio. Na imagem à
esquerda o fio está disposto de forma a permitir a visualização da sua secção
transversal, enquanto que, na imagem à direita o fio apresenta-se em uma
configuração que permite visualizar a secção longitudinal após a preparação da
amostra. .................................................................................................................. 38
Figura 22 - Fio de Nitinol embutidos em resina de poliéster ................................................... 38
Figura 23 - Representação do esquema montado para realização do ataque eletrolítico. O fio
vermelho ligado à amostra está conectado ao terminal positivo da fonte de
alimentação. ........................................................................................................... 40
Figura 24 - Micrografias de uma amostra de NiTi polida mecanicamente com alumina 0,3 µm.
A imagem da esquerda apresenta um aumento de 100x enquanto a imagem à direita
possui um aumento de 200x. ................................................................................. 42
Figura 25 - Amostra apresentando riscos que se originam a partir de precipitados, evidenciando
o desprendimento dos mesmo durante o polimento mecânico. ............................. 43
Figura 26 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 3 segundos utilizando-se o reagente
de Kroll 1. As micrografias (a), (b), (c) e (d) apresentam magnificações de 100X,
200X, 500X e 1000X, respectivamente. ................................................................ 44
Figura 27 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 5 segundos utilizando-se o reagente
de Kroll 1. As micrografias (a), (b), (c) e (d) apresentam magnificações de 100X,
200X, 500X e 1000X, respectivamente. ................................................................ 44
Figura 28 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 10 segundos utilizando-se o reagente
de Kroll 1. As micrografias (a), (b), (c) e (d) apresentam magnificações de 100X,
200X, 500X e 1000X, respectivamente. ................................................................ 45
Figura 29 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 3 segundos utilizando-se o reagente
de Kroll 2. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X
e 500X, respectivamente. ....................................................................................... 46
Figura 30 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 5 segundos utilizando-se o reagente
de Kroll 2. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X
e 5000X, respectivamente. ..................................................................................... 47
Figura 31 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 10 segundos utilizando-se o reagente
de Kroll 2. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 200X, 500X
e 1000X, respectivamente. ..................................................................................... 47
Figura 32 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 30 segundos utilizando-se o Reagente
1. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X e 500X,
respectivamente ..................................................................................................... 49
Figura 33 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 120 segundos utilizando-se o
Reagente 1. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X
e 500X, respectivamente ........................................................................................ 49
Figura 34 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 240 segundos utilizando-se o
Reagente 1. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X
e 500X, respectivamente ........................................................................................ 50
Figura 35 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 10 segundos utilizando-se o Reagente
2. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X e 500X,
respectivamente ..................................................................................................... 51
Figura 36 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 30 segundos utilizando-se o Reagente
2. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X e 500X,
respectivamente. .................................................................................................... 51
Figura 37 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 60 segundos utilizando-se o Reagente
2. As micrografias (a), (b), (c) e (d) apresentam magnificações de 100X, 200X,
500X e 1000X, respectivamente ............................................................................ 52
Figura 38 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 6 V por 5
segundos utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (a) e (b)
apresentam magnificações de 100X e 200X, respectivamente. ............................. 53
Figura 39 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 8 V por 5
segundos utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (a), (b), (c), (d)
apresentam magnificações de 100X, 200X, 500X e 1000X, respectivamente. ..... 54
Figura 40 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 8 V por 5
segundos utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (a), (b) e (c)
apresentam magnificações de 100X, 200X e 500X respectivamente. ................... 54
Figura 41 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 6 V por 10
segundos utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (a), (b), (c), (d)
apresentam magnificações de 100X, 200X, 500X e 1000X, respectivamente. ..... 55
Figura 42 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 8 V por 10
segundos utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (b) e (c)
apresentam magnificações de 200X e 500X respectivamente. .............................. 55
Figura 43 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 9 V por 10
segundos utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (a), (b), (c), (d)
apresentam magnificações de 100X, 200X, 500X e 1000X, respectivamente. ..... 56
Figura 44 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 2,5 V por 5
segundos utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a) e (b)
apresentam magnificações de 100X e 200X, respectivamente. ............................. 56
Figura 45 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 2,7 V por 5
segundos utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a), (b) e (c)
apresentam magnificações de 100X, 200X e 500X respectivamente. ................... 57
Figura 46 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 3 V por 5
segundos utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a) e (b)
apresentam magnificações de 100X e 200X, respectivamente. ............................. 57
Figura 47 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 2,5 V por 10
segundos utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a) e (b)
apresentam magnificações de 100X e 200X, respectivamente. ............................. 58
Figura 48 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 2,7 V por 10
segundos utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a) e (b)
apresentam magnificações de 100X e 200X, respectivamente. ............................. 58
Figura 49 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 3 V por 10
segundos utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a) e (b)
apresentam magnificações de 100X e 200X, respectivamente. ............................. 58
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Comparação entre algumas propriedades das ligas NiTi e do aço inoxidável
austenítico ............................................................................................................ 14
Tabela 2 - Reagentes para ataque químico e eletrolítico sugeridos pela ASTM E407 - 07 ..... 30
Tabela 3 - Reagentes utilizados para os ataques químicos e eletrolíticos e suas respectivas rotas
............................................................................................................................. 39
Tabela 4 - Parâmetros de realização do ataque eletrolítico utilizando os reagentes 3 e 4 ........ 53
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 14
2. OBJETIVO ......................................................................................................................... 16
2.1. OBJETIVO GERAL ................................................................................................................. 16
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................................... 16
3. JUSTIFICATIVA .............................................................................................................. 17
4. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................ 18
4.1. ASPECTOS GERAIS DAS LIGAS DE NITINOL........................................................................... 18
4.2. RESISTÊNCIA À CORROSÃO DAS LIGAS DE NITINOL ............................................................. 23
4.3. TÉCNICAS METALOGRÁFICAS ............................................................................................. 28
5. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................. 34
5.1. ORGANOGRAMA DAS ATIVIDADES REALIZADAS ................................................................. 34
5.2. PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA ................................................................................. 35
5.3. PREPARAÇÃO DOS REAGENTES ........................................................................................... 38
5.4. ATAQUE ............................................................................................................................. 39
5.5. CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL .............................................................................. 40
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 41
6.1. O PROCESSO DE EMBUTIMENTO E AS CARACTERISTICAS DAS AMOSTRAS PRODUZIDAS POR
EMBUTIMENTO A QUENTE E A FRIO ............................................................................................ 41
6.2. CARACTERÍSTICAS DAS AMOSTRAS POLIDAS ...................................................................... 42
6.3. CARACTERÍSTICAS DAS AMOSTRAS ATACADAS COM O REAGENTE DE KROLL 1 E COM O
REAGENTE DE KROLL 2 .............................................................................................................. 43
6.4. CARACTERÍSTICAS DAS AMOSTRAS SUBMETIDAS A ATAQUE QUÍMICO COM REAGENTES
LIVRES DE ÁCIDO FLUORÍDRICO ................................................................................................. 48
6.5. CARACTERÍSTICAS DAS AMOSTRAS SUBMETIDAS A ATAQUE ELETROLÍTICO COM REAGENTES
LIVRES DE ÁCIDO FLUORÍDRICO ................................................................................................. 52
7. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 59
REFERÊNCIAS......................................................................................................................60
14
1. INTRODUÇÃO
Nitinol corresponde ao nome comercial dado ao conjunto de ligas de níquel-titânio
(NiTi) desenvolvido em 1962 por Willian Buehler no Naval Ordnance Laboratory (NOL) em
Silver Springs, Maryland – EUA, por este motivo o nome Nitinol (GALLARDO; GÜMPEL;
STRITTMATTER, 2002).
As ligas NiTi destacam-se por apresentarem efeito de memória de forma (EMF) e
superelasticidade (SE); além de uma elevada capacidade de amortecimento de vibrações
mecânicas, elevado limite de resistência à tração e resistência à corrosão.
Dentre as diversas formas de aplicação das ligas de NiTi, as que mais se destacam são
as aplicações nos campos médico (placas de fixação de ossos quebrados, próteses de
articulações e stents) e odontológico (implantes e fixadores dentários). Antes da popularização
das ligas NiTi, esses dispositivos eram feitos em aços inoxidáveis, porém, hoje, as ligas de NiTi
representam uma melhor alternativa devido a sua biocompatibilidade e biofuncionalidade
(DIAS, 2005). A Tabela 1 compara as propriedades das ligas NiTi com as dos aços inoxidáveis.
Tabela 1 - Comparação entre algumas propriedades das ligas NiTi e de um aço inoxidável austenítico
Propriedades NiTi Aço inoxidável
Deformação recuperável 8 % 0.8 %
Biocompatibilidade Excelente Boa
Módulo de elasticidade 48 GPa (Martensita)
83 GPa (Austenita) 193 GPa
Densidade 6450 kg/m³ 8030 kg/m³
Magnético Não Não
Limite de resistência 1240 MPa 760 MPa
Fonte: DIAS (2005).
Como mencionado, as ligas NiTi possuem excelente resistência à corrosão. Porém,
esta propriedade impõe dificuldades na aplicação de técnicas metalográficas à liga em questão,
pois a etapa de ataque não é efetiva devido à resistência à corrosão destas ligas. Em outras
palavras, existe uma dificuldade em se revelar a microestrutura das ligas NiTi devido à
resistência à corrosão que elas possuem.
15
O reagente atualmente utilizado no ataque das ligas de NiTi é o reagente de Kroll cuja
composição é 3ml de ácido fluorídrico, 6ml de ácido nítrico e 100ml de água (TRIVELLATO
et al., 2000). Poucas são as alternativas para o reagente de Kroll quando se trata de ligas de
NiTi. Os outros reagentes que existem são variações do reagente de Kroll como o reagente de
composição 30 ml de ácido acético, 2 ml de ácido fluorídrico e 5 ml de ácido nítrico
(VILLARINHO et al., 2010).
O problema da utilização destes reagentes está na toxicidade e restrições postas à
comercialização de um dos seus componentes, o ácido fluorídrico. Este ácido, de acordo com
o diagrama de Hommel, apresenta risco à saúde - nível quatro, inflamabilidade - nível zero, e
reatividade - nível dois, sendo que a classificação de Hommel vai de zero a quatro, com zero
implicando em baixo risco e quatro em elevadíssimo risco (SUPERQUÍMICA, 2011). Dessa
forma, a comercialização do ácido fluorídrico foi delegada exclusivamente ao Exército
Brasileiro, o que torna o processo de aquisição deste ácido burocrático e não prático.
Isto posto, a necessidade de se desenvolver reagentes e condições de ataque que
permitam revelar a microestrutura de ligas NiTi e que, além disso, sejam menos agressivos, de
fácil manipulação e aquisição torna-se evidente.
16
2. OBJETIVO
2.1. OBJETIVO GERAL
Este trabalho almeja avaliar a capacidade e viabilidade de alguns reagentes em revelar
a microestrutura da liga Ni50%at Ti50%at, comparando os procedimentos para realização do
ataque e as micrografias obtidas via rota alternativa aos procedimentos para a realização do
ataque e micrografias obtidas via reagente de Kroll.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
O cumprimento do objetivo geral dependerá do cumprimento dos seguintes objetivos
específicos:
Comparar as características do processo de preparação das amostras para o
ataque químico e eletrolítico;
Comparar a praticidade de se realizar os ataques químicos e eletrolíticos;
Comparar as micrografias obtidas por meio dos diferentes reagentes.
Comparar os resultados à literatura.
17
3. JUSTIFICATIVA
O desenvolvimento de formas mais seguras e práticas para se realizar ensaios
metalográficos em ligas de NiTi contribuiria na disseminação de pesquisas relacionadas à
microestrutura destas ligas que, no Brasil, ainda é bem restrito. Imagina-se que tal fenômeno
ocorreria, pois, os reagentes propostos neste trabalho quando comparados ao ácido fluorídrico
são de fácil acesso. Além disso, as técnicas propostas minimizariam os riscos associados à
realização da metalografia das ligas NiTi.
18
4. REFERENCIAL TEÓRICO
4.1. ASPECTOS GERAIS DAS LIGAS DE NITINOL
As ligas NiTi possuem composições aproximadamente equiatômicas com os
percentuais de níquel variando de 50% a 55%. No diagrama de equilíbrio de fases da liga níquel
– titânio (Figura 1), a região de formação da liga é caracterizada pela formação de uma solução
sólida denominada fase β. Porém, para temperaturas inferiores a 600ºC, embora não
demonstrado na Figura 1, a faixa de formação de solução sólida vai de 50 a 50,5% de níquel
em porcentagem atômica. Assim, devido a este pequeno range estequiométrico, muitas das
ligas NiTi apresentam, além da fase β, pequenos compostos intermetálicos estáveis como TiNi3
(DIAS, 2005).
Figura 1 - Diagrama de equilíbrio de fases para a liga NiTi.
Fonte: Adaptado de HORNBOGEN (2004).
Algumas ligas tratadas termicamente podem apresentar fases intermetálicas
metaestáveis (Ti3Ni4 e Ti2Ni3) como pode ser evidenciado na Figura 2, que apresenta o
diagrama TTT de uma liga NiTi 52%at Ni. Quando envelhecidas em temperaturas inferiores a
680ºC, a solução sólida supersaturada decompõe-se homogeneamente em fase β e Ti3Ni4. Os
precipitados de Ti3Ni4, que possuem estrutura romboédrica, são muito finos (não podem ser
resolvidos mesmo por meio de microscopia eletrônica de varredura) e coerentes com a matriz.
Fase β
Percentual Atômico de Níquel
Percentual mássico de Níquel
Tem
per
atura
ºC
19
A presença dos precipitados supracitados em ligas NiTi promovem melhorias nas propriedades
de memória de forma e superelasticidade. Quando prolongado, o envelhecimento favorece a
decomposição do precipitado metaestável em Ti2Ni3 e TiNi3 (SOMSEN et al., 1999).
Figura 2 - Diagrama tempo-temperatura-transformação (TTT) de
uma liga NiTi 52at% Ni
Fonte: SOMSEN et al. (1999)
Duerig, Melton e Stockel (2013) caracterizam a microestrutura das ligas de Nitinol de
concentração equimolar como essencialmente pequenas quantidades de precipitados
intermetálicos dispersos em uma matriz austenítica/martensítica (Figura 3a). Para ligas de
Figura 3 - Microestrutura de duas ligas NiTi com diferentes frações atômicas. Em (a) tem-se a microestrutura
de uma liga 50at%Ni, onde pode-se observar precipitados pequenos distribuídos por toda a
matriz. Em (b) tem-se a microestrutura de uma liga 52at%Ni, onde nota-se a presença de
precipitados mais grosseiro que os de (a) apresentando uma má distribuição na matriz.
Fonte: DUERING; MELTON; STÖCKEL (2013)
20
concentração não estequiométricas, os autores destacam a presença de precipitados maiores
dispersos de forma menos homogênea na matriz (Figura 3b).
A presença de oxigênio em ligas de Nitinol é inevitável devido à alta reatividade do
titânio com o oxigênio, especialmente quando a liga se encontra no estado fundido. Gallardo,
Gumpel e Strittmatter (2002) ressaltam que a presença de oxigênio na composição da liga de
Nitinol reduz a solubilidade do níquel no titânio, propiciando a formação da fase TiNi3 mesmo
em composições inesperadas, como em ligas de NiTi ricas em Ti. O oxigênio também é
responsável pela formação da fase Ti4Ni2O, denominada fase β2. Este óxido promove, durante
o envelhecimento, a nucleação heterogênea de precipitados ao redor dos óxidos.
Outro contaminante frequentemente encontrado em ligas de Nitinol é o carbono. Sousa
et al. (2009) evidenciam que quando o limite de solubilidade do carbono em ligas de Nitinol é
excedido, ocorre a formação de TiC. A formação deste precipitado enriquece a liga em níquel,
o que acarreta na redução na temperatura de transformação martensítica, e consequente,
favorecimento do comportamento superplástico.
Sousa et al. (2009) ainda observam que, apesar dos precipitados de TiC dificultarem a
trefilação de fios de Nitinol pois são duros e reduzem a conformabilidade do material, esses
precipitados tendem a se alinhar no sentido de trefilação minimizando as dificuldades trazidas
pela dureza dos precipitados, permitindo a continuidade da deformação. A Figura 4 apresenta
a micrografia de uma amostra de Nitinol trefilada cuja composição apresenta elevado teor de
carbono (0,110wt%).
Figura 4 - Micrografia de um fio de Nitinol (Ø1,26mm) de
elevado teor de carbono. É possível observar que
precipitados (TiC) encontram se alinhados com o
sentido de trefilação do material, mas não exibem
deformação.
Fonte: SOUSA et al. (2009)
21
Bhagyaraj et al. (2013) apontam que a formação da fase Ti2Ni durante a solidificação
de ligas NiTi - apesar de ser representada no diagrama de equilíbrio de fase da liga como uma
fase característica de ligas ricas em titânio - tem sido reportada também em ligas de composição
equimolar. Estas inclusões apresentam tamanhos variados (1 a 10 µm) na liga fundida. Em
materiais laminados, o precipitado demonstra-se mais alongado (com razão de aspecto
reduzido) devido ao seu alinhamento e à deformação no sentido de laminação. Para percentuais
de redução muito elevados ou para materiais trefilados, os precipitados podem apresentar-se
fragmentados e separados da matriz, como pode ser observado na Figura 5.
Figura 5 - Microscopia eletrônica evidenciando a morfologia de precipitados de Ti2Ni em uma amostra de
Nitinol trefilada, obtida por: (a) elétrons secundários e (b) elétrons retroespalhados.
Fonte: BHAGYARAJ et al (2013)
A fase NiTi (matriz das ligas de Nitinol) pode existir tanto como martensítica quanto
como austenítica, dependendo da temperatura de transformação martensítica (TM), que está
diretamente relacionado à composição da liga e ao histórico de processamento (REGO, 2013).
Gallardo, Gumpel e Strittmatter (2002) observam que desvios de 0,1 at% na concentração de
uma liga de Nitinol altera a temperatura de transformação martensítica em 10ºC. Similarmente,
Khalil (2009) observa uma redução na temperatura de transformação martensítica, em ligas
trabalhadas a frio, devido à grande quantidade de discordância produzidas por esse processo.
As discordâncias dão origem a um estado de tensão que suprime a fase martensítica, resultando
na queda da temperatura de transformação martensítica
Na Figura 6, Perkins et al. (1975) esquematizam a mudança de fase (transformação
martensítica) característica das ligas de Nitinol. É possível observar a presença de quatro
temperaturas características: início e fim da formação da martensita (Ms e Mf, respectivamente)
para o processo de resfriamento, e início e fim da formação da austenita (As e Af,
22
respectivamente) durante o aquecimento. Observa-se ainda na Figura 6 que As e Mf,, assim
como Af e Ms, não ocorrem na mesma temperatura, ou seja, a transformação apresenta histerese,
pois as curvas de aquecimento e resfriamento não se sobrepõem.
Figura 6 - Representação das mudanças de fase das ligas Nitinol
Fonte: PERKINS et al. (1975)
Dois fenômenos conhecidos sobre as ligas Nitinol podem ser observados nos extremos
da Figura 6, são eles: quasiplasticidade – que ocorre em temperaturas inferiores a Mf e possui
como principal característica grandes deformações residuais provenientes de reorientações
martensítica induzidas mecanicamente; e pseudoelasticidade / superelasticidade – que está
presente em temperaturas superiores a Af e caracteriza-se por apresentar recuperações de
deformação da ordem de 8% (REGO, 2013).
A temperatura de transformação martensítica de uma liga Nitinol pode ser medida por
meio de análise DSC (Differential Scanning Calorimetry). Firstov et al. (2004), submetendo
uma amostra de TiNi49,42Hf14,63 a diversos ciclos de análise DSC, conforme Figura 7,
identificaram que a temperatura de transformação martensítica desta liga está em torno de 425
K e, ainda, que a temperatura de transformação martensítica da liga em questão não sofre
mudanças radicais devido aos ciclos térmicos.
23
Figura 7 - Temperatura de transformação martensítica
medida por meio de ciclos térmicos em DSC.
Fonte: adaptado de FIRSTOV et al. (2004)
4.2. RESISTÊNCIA À CORROSÃO DAS LIGAS DE NITINOL
Como já mencionado, a resistência à corrosão das ligas NiTi é uma das principais
características deste material. Mirjalili et al. (2013), em seu trabalho sobre a resistência à
corrosão de fios odontológicos, comparam a resistência à corrosão de uma liga NiTi a do aço
inoxidável 304 em uma solução cuja composição assemelha-se à composição da saliva (pH da
solução é igual a 5,09). O resultado de seu experimento pode ser observado na Figura 8.
Apesar do potencial de corrosão superior e menor densidade de corrente de passivação,
que, a princípio, indica uma resistência à corrosão mais efetiva comparado à liga NiTi, o aço
inox 304 apresenta corrosão por pitting em potenciais muito inferiores, comparado à liga NiTi,
que se mantém passivada até polarizações anódicas elevadas.
O caráter de metal nobre adquirido pela liga NiTi pode, segundo Mirjalili et al. (2013),
ser relacionada à formação de uma camada de TiO2 na superfície da liga que, por ser pouco
reativa, insolúvel na maioria dos ácidos e coesa, atua de forma a mitigar a taxa de corrosão pela
imposição de um barreira física entre a liga e o meio.
Flu
xo d
e C
alo
r (W
/g)
Temperatura (K)
24
Figura 8 - Polarização anódica de (1) aço inox 304 e (2)
NiTi
Fonte: adaptado de MIRJALILI et al (2013)
Por meio do ensaio potencioestático (Figura 9), Mirjalili et al. (2013) demonstram que,
mesmo em potenciais anódicos de 550 mV acima do potencial de corrosão, o Nitinol apresenta
passivação, sendo isso observado pela queda na densidade de corrente com o tempo, indicando
a formação da camada de TiO2. Para este mesmo potencial, de acordo com a Figura 8, o aço
inoxidável 304 estaria sofrendo pitting, ou seja, a camada de passivação formada no aço inox
304 não mais seria efetiva, resultando em um aumento na densidade de corrente.
Mirjalili et al. (2013) observam, ainda, que o aumento da polarização anódica resulta
em correntes de passivação maiores, conforme curvas 1 e 2 da Figura 9. Porém, para potencial
anódico de 1000 mV acima do potencial de corrosão, a corrente aumenta gradualmente com o
tempo. Isso pode ser atribuído tanto à oxidação da água quanto à corrosão da liga NiTi.
Figura 9 - Polarização potenciaestática de liga NiTi em solução
simulada de saliva à temperatura de 37 ºC
Fonte: adaptado de MIRJALILI et al. (2013)
Densidade de Corrente (mA/cm²)
Po
ten
cia
l m
V (
SC
E)
Den
sid
ad
e d
e C
orr
ente
(µ
A/c
m²)
Tempo (min)
25
Alterações no meio corrosivo modificam completamente o comportamento de um
metal devido à reatividade da solução com o metal ou com a camada de passivação. Mirjalili et
al. (2013), por meio do ensaio de polarização potenciodinâmica, comparam o comportamento
de uma liga de Nitinol em três soluções distintas. Os resultados são explicitados na Figura 10.
Observa-se que a adição de cloreto e fluoreto à solução simulada de saliva - curvas 2 e 3,
respectivamente - reduz o potencial de corrosão e aumenta a densidade de corrente de corrosão
comparado à curva 1. Além disso, a adição de fluoreto aumenta significativamente a corrente
de passivação indicando uma despolarização causada pelo aumento na taxa de dissolução de
TiO2 (camada de passivação).
Figura 10 - Polarização potenciodinâmica de uma liga NiTi em (1)
solução simulada de saliva, (2) solução simulada de saliva
+ 0,05M HCl e (3) solução simulada de saliva + 0,05 HF.
Fonte: adaptado de MIRJALILI et al. (2013)
O aumento na taxa de dissolução do filme passivo devido à presença de fluoreto pode,
segundo Heravi, Moayed e Mokhber (2015), ser explicado de acordo com a Reação 1:
𝑇𝑖𝑂2 + 6𝐹− + 4𝐻+ → 𝑇𝑖𝐹62− + 2𝐻2𝑂 Reação 1
Por meio dessa reação, pode ser evidenciada a formação de um complexo solúvel que
resulta no aumento no número de defeitos na camada de passivação, e consequentemente, no
aumento na corrente de passivação.
Densidade de Corrente (mA/cm²)
Po
ten
cia
l m
V (
SC
E)
(1) Saliva simulada
(2) Saliva simulada + Cl-
(3) Saliva simulada + F-
26
Por fim, Mirjalili et al. (2013), ressaltam a queda no potencial de transpassivação nas
curvas 2 e 3, na Figura 10, cuja causa é similar à apresentada para a queda de potencial de
corrosão.
Observa-se assim que apesar da elevada resistência à corrosão, o Nitinol é passível de
ser corroído por ácidos redutores (como ácido clorídrico e fluorídrico, com destaque para o
segundo pois dá origem a complexos solúveis).
Outra forma de se observar os mecanismos de corrosão de um material é por meio dos
diagramas de Pourbaix. Estes diagramas demonstram as fases mais estáveis para um
determinado potencial de oxidação/redução a um certo pH, para um sistema metal - H2O
(ZIPPERIAN, 2011) (sistemas mais complexos, como metal - HCl, HF, NaCl, e Ligas – H2O,
também podem ser construídos).
A Figura 11 apresenta o diagrama teórico de Pourbaix para o sistema NiTi - H2O. É
possível observar algumas zonas distintas que delimitam as condições onde o Nitinol apresenta-
se: imune à corrosão (para altos potenciais negativos de corrosão em toda faixa de pH),
susceptível à corrosão (para potenciais negativos próximos a zero e pH entorno de -1, e para
elevados potenciais de corrosão em toda faixa de pH), passivado (zonas com a formação de
óxidos de titânio e/ou níquel) e zonas mistas onde mais de um dos comportamentos citados são
expressos, como uma zona onde o titânio sofre corrosão, mas o níquel encontra-se imune.
A Figura 11 evidencia que em algumas faixas de potencial e pH, nota-se a corrosão
da liga de Nitinol com a formação de íons solúveis mesmo na ausência de ácidos redutores, ou
seja, para algumas condições específicas de potencial e pH, a corrosão do NiTi ocorre sem que
haja a passivação da liga.
27
Figura 11 - Diagrama de Pourbaix teórico para o sistema NiTi - H2O. E (SHE) vs pH.
Fonte: adaptado de JAIN et al. (2013)
28
4.3. TÉCNICAS METALOGRÁFICAS
Metalografia corresponde ao estudo das estruturas microscópicas de metais e ligas por
meio de microscópio óptico, eletrônico ou qualquer equipamento que permita a realização de
análises da superfície do material (ZIPPERIAN, 2011). A metalografia visa relacionar a
microestrutura íntima do material com as suas propriedades físicas, processo de fabricação,
utilização do material, etc. Dessa forma, essa técnica é empregada durante o desenvolvimento
de materiais, inspeções, controle de produção, análise de falhas, e muitos outros processos
visando identificar a confiabilidade do produto, tratamento ou processo ao qual o produto foi
submetido (ROHDE, 2010).
Zipperian (2011) enfatiza que a metalografia permite a identificação de uma série de
características, dentre elas: tamanho de grão, porosidade, fases, crescimento dendrítico, trincas,
inclusões, ZTA (Zona termicamente afetada), tratamentos superficiais, entre outras.
A análise metalográfica exige que a amostra seja previamente preparada. O processo
de preparação de amostras divide-se em: corte, embutimento, lixamento, polimento e a ataque
(ROHDE, 2010).
O corte deve ser realizado pensando-se nas características da liga que será analisada.
Rohde (2010) aponta que processos como sangramento radial (tipo de torneamento que visa a
obtenção de um entalhe circular ou corte perpendicular ao eixo de rotação da peça), por
produzirem esforços na peça à qual estão sendo aplicados, podem introduzir alterações
microestruturais em ligas sensíveis a trabalho a frio como as ligas NiTi que pode apresentar
transformação martensítica causada por esforços mecânicos. Rego (2013), por outro lado,
conclui que a tensão oriunda do processo de sangramento radial não é suficiente para provocar
transição de fase em uma liga NiTi 57%at Ni.
A próxima etapa do processo de preparação da amostra para realização da metalografia
é o embutimento, onde a amostra é envolvida por uma resina que pode ser curada, tanto a
quente, como a Baquelite, quanto a frio, como as resinas de poliéster. A finalidade deste
processo é facilitar o lixamento, o polimento e a análise microscópica de peças pequenas. Por
vezes, a peça a ser analisada é pequena e apresenta cantos-vivos que podem ferir o analista
durante o lixamento e polimento, se não embutida. Amostras em forma de fios também, caso
não embutidas, apresentariam difícil lixamento pois não seria possível manter a face a ser polida
paralela à lixa, uma vez que a amostra flambaria. O embutimento também ajuda na microscopia
29
de amostras complexas de serem visualizadas (amostras desformes ou, ainda, amostras muito
esbeltas), pois dá origem a corpos de prova mais robustos.
Outra justificativa para se embutir as amostras durante a preparação é evitar a
danificação de lixas ou de panos de polimento (feltro) que são causadas por cantos na amostra.
O embutimento mitiga, também, o abaulamento que quando ocorre, dificulta enormemente a
visualização da superfície da amostra (ROHDE, 2010; ZIPPERIAN, 2011).
O lixamento visa eliminar marcas e riscos profundos da superfície da amostra. O
processo consiste em lixar a amostra – em geral com lixas de carbeto de silício –, partindo de
lixas com baixa granulometria (100) até lixas de granulometria alta (1200). Certos cuidados,
como realização de lixamento manual e periódico arrefecimento da amostra com água, devem
ser tomados quanto ao lixamento de ligas, como o Nitinol, que podem sofrer alterações
microestruturas uma vez que muitas desses ligas são envelhecidas e o aumento da temperatura
pode prosseguir com o envelhecimento, alterando a estrutura original do material. (BAPTÍSTA;
SOARES; NASCIMENTO, 2014).
Os dois tipos mais comuns de polimento são o polimento mecânico e o eletrolítico. O
objetivo do polimento é atribuir à amostra um acabamento superficial polido livre de marcas de
lixas.
O polimento mecânico, assim como o lixamento, pode ser realizado em politriz,
porém, utilizando como agente abrasivo pasta de diamante ou alumina. Já no polimento
eletrolítico, as áreas com densidade eletrônica diferencial (irregularidades na superfície) sofrem
dissolução anódica que suaviza os picos, dando origem a uma superfície bem-acabada
(ZIPPERIAN, 2011).
A última etapa do processo de preparação de amostra para a realização da metalografia
é o ataque, cujo propósito é atribuir contraste entre as diferentes características da
microestrutura presentes na amostra, como contornos de grãos, fases, precipitados, além de
outras características. Esta mudança de contraste ocorre devido ao ataque (corrosão) seletivo a
regiões com composição diferencial, microestrutura diferencial, deformação diferencial e
concentração eletrônica diferencial, ou seja, o ataque ocorre em regiões cuja energia superficial
difere das demais. As técnicas mais comumente utilizadas são: ataque químico e ataque
eletrolítico (ZIPPERIAN, 2011).
No ataque químico, o agente que promove a corrosão da superfície da amostra
geralmente é uma mistura de ácidos ou bases. A escolha do reagente é feita com o auxílio do
diagrama de Pourbaix (ZIPPERIAN, 2011).
30
A ASTM E407 – 07 (2005) - norma que padroniza as práticas metalográficas -
apresenta, além dos parâmetros de ensaio, uma lista dos reagentes que apresentam melhor
desempenho para diversos metais. Para o Nitinol, a ASTM E407 – 07 orienta que os melhores
resultados de ataque são obtidos por meio de ataque químico utilizando o reagente de Kroll
(Tabela 2), esfregando-o sobre a superfície da amostra por até dez segundos.
Como já mencionado, o ácido fluorídrico atua removendo a camada de TiO2 que
recobre o Nitinol, como exemplificado na Reação 1. A remoção deste óxido expõe a superfície
não oxidada do material ao ácido nítrico que é um forte ácido oxidante, fazendo com que o
material oxide, e então, seja novamente removido pelo ácido fluorídrico (CHEN et al. 2005).
O ataque eletrolítico é outra técnica bastante utilizada, especialmente em ligas que são
difíceis de atacar via rota química. Esta técnica consiste em inserir a amostra que se deseja
atacar em um eletrólito fazendo-a atuar como ânodo de uma célula eletrolítica. O cátodo, por
sua vez, pode ter a mesma composição da amostra que se deseja atacar, porém deve estar ligado
ao polo negativo da fonte de alimentação externa. O potencial da célula eletrolítica é controlado
por meio da variação da voltagem ou da corrente desta fonte. A ASTM E407 – 07 propõe, para
o ataque eletrolítico do Nitinol, a utilização de uma solução de 5 ml ácido acético, 10 ml de
ácido nítrico e 85 ml de água.
O conjunto de reagentes sugeridos pela ASTM E407 – 07 (2005), tanto para ataque
químico quando eletrolítico para Nitinol, níquel e titânio encontra-se na Tabela 2.
Tabela 2 - Reagentes para ataque químico e eletrolítico sugeridos pela ASTM E407 - 07
Metal Reagentes segundo
ASTM E407 – 07 Composição Tipo de ataque
Ni
133 50mL ác. Nítrico; 50mL ác. Acético Químico
134 70mL ác. Fosfórico; 30mL água Eletrolítico
135 80ml ác. Nítrico; 3ml de ác. Fluorídrico Químico
136 20mL ác. Fosfórico; 80mL água Eletrolítico
25 10g sulfato de cobre; 50ml ác. Clorídrico; 50 ml água Químico
108 10mL ác. Sulfúrico; 100ml água Eletrolítico
Ti 186 10mL ác. Fluorídrico; 5mL ác. Nítrico; 85ml água Químico
187 10mL ác. Fluorídrico; 30mL ác. Nítrico; 50ml água Químico
NiTi
192 - Kroll 2mL ác. Fluorídrico; 6mL ác. Nítrico; 92ml água Químico
151 10mL ác. Fluorídrico; 25mL ác. Nítrico; 150ml água Químico
50 5mL ác. ácetico; 10mL ác. Nítrico; 85ml água Eletrolítico
133 50mL ác. Nítrico; 50mL ác. Acético Químico
Fonte: ASTM E407 – 07 (2005)
31
A Figura 12 descreve o mecanismo por meio do qual ataque e polimento eletrolítico
ocorrem. O ataque ocorre na zona I com a dissolução do metal. Na zona II, inicia-se a formação
da camada de passivação. Com a completa passivação, observa-se um aumento na polarização
anódina sem aumento na densidade de corrente. Na zona III, a dissolução do metal ocorre
apenas por meio da sua difusão através da camada de passivação. A dissolução ocorre
preferencialmente em picos na superfície da amostra, caracterizando o processo de polimento.
Por fim, na zona IV o potencial de ruptura da camada de passivação é atingido e, assim, inicia-
se o processo de pitting.
A Figura 10 apresenta as 4 zonas para uma liga Nitinol em solução simulada de saliva
cujo pH é de aproximadamente 5.
Figura 12 - Condições de polimento e ataque eletrolítico.
Fonte: adaptado de ZIPPERIAN (2011)
Middleton, Kennon e Dunne (1985) verificam em seu trabalho que uma amostra de
NiTi submetida a polimento eletrolítico (solução de ácido perclórico 5%, glicerol 5% em álcool
etílico), Figura 13, apresenta uma microestrutura mais próxima à microestrutura esperada para
uma liga NiTi, onde é possível observar agulhas de martensita dispersas por toda amostra, do
que uma amostra submetida a ataque químico (reagente de Kroll), onde nota-se a revelação de
pequenas quantidades de martensita (Figura 14).
Den
sid
ad
e d
e C
orr
ente
(A
/cm
²)
Voltage (V)
32
Figura 13 – Amostra submetida a polimento eletrolítico em solução de
ácido perclórico 5%, glicerol 5% em álcool visualizada em
microscópio de luz polarizada.
Fonte: MIDDLETON; KENNON; DUNNE (1985)
Figura 14 - Amostra submetida a polimento mecânico 0,25µm e ataque
químico com reagente de Kroll.
Fonte : MIDDLETON; KENNON; DUNNE (1985)
Por outro lado, Zorko e Rudolf (2009) apresentam resultados satisfatórios, como pode-
se verificar na Figura 15 onde as agulhas de martensita encontram-se dispersas na matriz, ao
atacar uma liga Nitinol (composição não informada) com HF-HNO3-CH3COOH na proporção
de 2:5:5.
33
Figura 15 - Micrografia de liga NiTi atacada com solução de ácido
fluorídrico, nítrico e acético.
Fonte: ZORKO; RUDOLF (2009).
Geroldo (2009) obtém a microestrutura, demostrada na Figura 16, utilizando um
reagente com composição similar ao utilizado por Zorko e Rudolf (2009) em uma liga
Ni45%Ti, tratada termicamente por 15 minutos à 700ºC, onde evidencia-se algumas estruturas
que podem ser martensita além de uma série de precipitados.
Figura 16 - Micrografia de uma liga de Ni45%Ti de estrutura austenítica
atacada com reagente de composição 2mL HF, 5ml HNO3 e
30mL CH3COOH.
Fonte: GEROLDO (2009)
34
5. MATERIAIS E MÉTODOS
5.1. ORGANOGRAMA DAS ATIVIDADES REALIZADAS
Figura 17 - Organograma das atividades realizadas
Preparação das amostras
Corte EmbutimentoLixamento e polimento
à quente
à frio
Preparação dos reagentes
Reagentes para ataque químico
Reagentes para ataque
eletrolítico
Ataque Ataque químico Ataque
eletrolítico
Caracterização microestrutural
Análises dos corpos de
prova
Etapa 1
Etapa 2
Etapa 3
Etapa 4 Amostra visualizada retorna
para ser novamente polida
35
5.2. PREPARAÇÃO DOS CORPOS DE PROVA
A partir de uma amostra importada de Nitinol em forma de fio (diâmetro 0,7mm) de
composição 50% níquel e 50% titânio foram cortados, com o auxílio de uma cortadeira
eletrônica (Fortel - CF III), em trinta segmentos de fio de aproximadamente 5 centímetros. Estes
foram posteriormente divididos em dois grupos: amostras destinadas a embutimento a quente
(grupo 1 – 15 amostras), e amostras destinadas a embutimento a frio (grupo 2 – 15 amostras).
Os segmentos de fios pertencentes ao grupo 2 foram novamente divididos em: amostras para
ataque da secção transversal (7 amostras) e amostras para ataque da secção longitudinal (8
amostras) (Figura 18).
Figura 18 – Fluxograma da divisão das amostras.
Para o embutimento a quente, as 15 amostras foram agrupadas em três pares e dois
trios. Os grupos foram um a um dispostos sobre o pistão da embutidora (Arotec – 30Mi) de
forma que a face inferior da amostra após o embutimento possibilitasse a visualização da secção
transversal e longitudinal dos fios, conforme demostrado na Figura 19.
Figura 19 - Esquema da disposição das amostras sobre o pistão da embutidora.
Amostras de Nitinol
Amostras embutimento a quente
Amostras embutimento a frio
Amostras para ataque da secção transversal
Amostras para ataque da secção longitudinal
36
Para a realização do embutimento a frio, foram produzidos 12 moldes cortando-se com
uma serra fita (Fundisa - SFF-30) um cano de PVC de 3/4”. Os moldes foram presos a uma
morsa (Motomill) e perfurados na lateral com uma microretifica (Eccofer), conforme
exemplificado na Figura 20. O furo na parede do molde visa expor o fio de Nitinol para fora da
resina permitindo a realização do ataque eletrolítico.
Figura 20 - Esquema da preparação dos moldes
para embutimento a frio
Na sequência, as amostras destinadas ao embutimento a frio foram dobrados1 em duas
configurações. A primeira visava permitir a visualização da secção transversal do fio de Nitinol
(6 amostras) e a segunda, a secção longitudinal (6 amostras).
Ambas amostras foram posicionadas dentro dos moldes e fixadas com a ajuda de
massa de modelar. A Figura 21 apresenta as duas configurações das amostras dentro do molde.
1 A dobra do fio de Nitinol ocorreu de forma que o comprimento do fio exposto ao ataque fosse de
aproximadamente 15mm. Isto foi feito para garantir que todas as amostras na configuração longitudinal tivessem
uma secção longitudinal de aproximadamente 10,5 mm2
38
Figura 21 - Disposições dos fios de Nitinol dentro dos moldes para cura a frio. Na imagem à esquerda o
fio está disposto de forma a permitir a visualização da sua secção transversal, enquanto que,
na imagem à direita o fio apresenta-se em uma configuração que permite visualizar a secção
longitudinal após a preparação da amostra.
Os moldes, agora alocados sobre um filme plástico, foram circundados com a mesma
massa de modelar utilizada para fixar os fios (Figura 21 à esquerda), visando evitar o vazamento
da resina. Por fim, estes foram preenchidos com resina poliéster Arazyn 1.0#41 (Redelease) e
deixados em repouso por dois dias (Figura 22).
Figura 22 - Fio de Nitinol embutidos em resina de poliéster
Os dezoito corpos de prova produzidos foram lixados manualmente nas lixas de
granulometria 100, 220, 400, 600 e 12002. A passagem de uma lixa de menor granulometria
para uma de maior ocorreu ao se verificar que as marcas do lixamento anterior haviam sido
eliminadas. Por exemplo, as amostras só prosseguiram para a lixa 400 quando o lixamento na
lixa 220 havia eliminado completamente as marcas da lixa 80. Para melhor visualizar o
2As amostras embutidas a frio foram lixadas na politriz com uma lixa de granulometria 80 antes de serem
submetidas ao lixamento manual. Tal procedimento visou planificar as amostras uma vez que o método de
embutimento utilizado deu origem a amostras com superfícies irregulares.
38
desaparecimento das marcas de lixa, as amostras foram rotacionadas em 90º a cada avanço de
lixa.
É importante salientar que tanto as amostras quanto as lixas foram frequentemente
limpas com água corrente para que partículas duras fossem removidas da superfície evitando
que as amostras fossem riscadas.
O polimento foi realizado na politriz (Fortel - PFL), utilizando-se pasta de alumina 1
e 0,3µm. Sobre a politriz, as amostras foram rotacionadas no sentido oposto ao movimento do
prato, buscando um polimento homogêneo.
O fim da etapa de preparação dos corpos de prova foi marcado pela visualização das
amostras no microscópio óptico (Alltion) com aumestos de 100 e 200X para avaliação do
processo de preparação. As amostras que apresentaram risco retornaram para a etapa de
polimento.
5.3. PREPARAÇÃO DOS REAGENTES
Os reagentes utilizados para realização do ataque e suas respectivas composições estão
esquematizados na Tabela 3. A escolha dos reagentes foi baseada nos reagentes propostos na
norma ASTM E407 – 07 (2005) para o ataque de ligas de níquel, titânio e NiTi.
Os reagentes foram preparados a partir de ácido fluorídrico 40%, nítrico 65%,
clorídrico 37%, sulfúrico 95% e acético glacial.
Todos os reagentes foram manuseados com o auxílio de luvas (nitrílicas e vinílicas) e
dentro de uma capela. Especial cuidado foi tomado na preparação dos reagentes que contêm
ácido fluorídrico, devido ao alto risco associado à sua utilização, como já mencionado.
39
Tabela 3 - Reagentes utilizados para os ataques químicos e eletrolíticos e suas respectivas rotas
Reagente Composição Metodologia
Reagente de Kroll 1 3ml de HF, 6ml de HNO3 e 91ml
de água. Ataque químico por 3, 5 e 10 segundos
Reagente de Kroll 2
Solução de 30ml de CH3COOH,
2ml de HF e 5ml de HNO3, 6ml
água.
Ataque químico por 3, 5 e 10 segundos
1 25ml de HNO3, 25ml CH3COOH e
14ml de água Ataque químico por 30, 120 e 300 segundos
2 5ml de HNO3, 20ml de HCl e
37ml de água Ataque químico por 10, 30 e 60 segundos
3 5ml de H2SO4 e 50ml de água
Ataque eletrolítico a 6 V por 5 e 10
segundos; a 8V por 5 e 10 segundos; e 9 V
por 5 e 10 segundos
4 7,5ml de HNO3, 2,5ml de
CH3COOH e 40ml de água.
Ataque eletrolítico a 2,5 V por 5 e 10
segundos; a 2,7 V por 5 e 10 segundos; e 3 V
por 5 e 10 segundos.
Fonte : adaptado de ASTM E407 – 07 (2005)
5.4. ATAQUE
Os ataques químicos foram realizados esfregando-se um algodão, embebido em
reagente, na superfície da amostra polida. Os ataques químicos ocorreram segundo a
metodologia apresentada na Tabela 3, que tem como base a norma ASTM E407 – 07. Após o
ataque, as amostras foram lavadas com álcool etílico e secas utilizando-se um secador.
Os ataques eletrolíticos foram realizados ligando-se cada amostra, cuja estrutura
deseja-se revelar, ao cátodo da fonte de alimentação (Icel - OS 1500) - fazendo da amostra o
ânodo da célula eletrolítica - e um fio de NiTi ao ânodo da fonte de alimentação. Paralelamente,
uma porção do reagente (eletrólito) teve seu pH avaliado, utilizando o Phmetro. Posteriormente,
ajustou-se a diferença de potencial para valores especificados na Tabela 3 e, em seguida, as
amostras foram parcialmente submersas no reagente. Uma representação do que fora descrito
acima é demonstrado na Figura 23.
Todos os ataques foram realizados dentro de capelas certificadas para evitar a inalação
de gases que podem ser formados durante o ataque.
40
Figura 23 - Representação do esquema montado para
realização do ataque eletrolítico. O fio
vermelho ligado à amostra está conectado ao
terminal positivo da fonte de alimentação.
5.5. CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL
Por fim, cada amostra foi analisada no microscópio (Zeizz – Scope. A1) com o auxílio
de um analisador de imagens. Primeiramente, avaliou-se a microestrutura da amostra polida e,
posteriormente, de todas as outras amostras, utilizando-se as magnificações de 100x, 200x,
500x e 1000x.
Ao fim da etapa de caracterização, as amostras foram submetidas novamente ao
processo de polimento para que estas pudessem ser reutilizadas com outros reagentes ou outras
condições de ataque.
41
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1. O PROCESSO DE EMBUTIMENTO E AS CARACTERISTICAS DAS AMOSTRAS
PRODUZIDAS POR EMBUTIMENTO A QUENTE E A FRIO
O processo de embutimento das amostras produzidas com Baquelite foi rápido,
demandando cerca de 10 minutos por amostra. Ainda teve como vantagem a possibilidade de
se utilizar as amostras logo após o embutimento. A única dificuldade encontrada na realização
do embutimento a quente foi quanto ao posicionamento das amostras sobre o pistão da
embutidora, de forma que os fios de Nitinol permanecessem na posição desejada, como
demonstrado na Figura 19.
As amostras embutidas a quente possuíam ambas as superfícies planas graças à
configuração da embutidora. Tal característica garantiu que as etapas posteriores (lixamento e
polimento) se desenvolvessem facilmente.
Ainda quanto às amostras embutidas a quente, observou-se que a altura das amostras
não permitiria a visualização destas no microscópio ótico, uma vez que a altura do plano de
foco máximo do microscópio era menor que a altura da amostra, ou seja, o foco estava abaixo
da superfície da amostra. Dessa forma, optou-se por cortar as amostras para que estas pudessem
ser utilizadas no microscópio ótico
As amostras produzidas por embutimento a frio demandaram um tempo de preparação
muito maior, quando comparadas às amostras embutidas a quente, uma vez que os moldes de
PVC tiveram que ser cortados, os fios de Nitinol tiveram que ser dobrados e os moldes, por fim,
preenchidos com resina. As amostras não puderam ser utilizadas por dois dias após o
embutimento devido ao tempo de cura da resina.
As amostras produzidas com resina de poliéster apresentaram uma superfície irregular
(abaulada) devido ao grau de molhamento na resina sobre o cano de PVC. Essa característica
foi mitigada trabalhando-se as amostras na lixa de granulometria 80. Observou-se também que
algumas amostras embutidas a frio apresentavam bolhas mesmo após a cura completa da resina.
As bolhas foram inseridas na resina durante a mistura desta com o catalizador, embora a mistura
tenha sido realizada vagarosamente. Observou-se que a saída das bolhas foi dificultada pela alta
viscosidade da resina.
42
6.2. CARACTERÍSTICAS DAS AMOSTRAS POLIDAS
As micrografias realizadas em uma amostra polida estão dispostas na Figura 24, onde
pode-se observar que a amostra de NiTi exibe uma série de estruturas aparentemente esféricas
dispersas homogeneamente pela matriz. Essas estruturas apresentam tamanhos variados que,
baseando-se na escala, apresentam um tamanho máximo de aproximadamente 5µm de
diâmetro. A estrutura observada é muito similar à microestrutura descrita por Duerig, Melton e
Stockel (2013) para a liga de NiTi (apresentada na Figura 3), onde eles referem-se à liga de
Nitinol como uma série de precipitados finos dispersos em uma matriz.
Figura 24 - Micrografias de uma amostra de NiTi polida mecanicamente com alumina 0,3 µm. A imagem
da esquerda apresenta um aumento de 100x enquanto a imagem à direita possui um aumento
de 200x.
A confirmação de que as estruturas evidenciadas nas micrografias se tratam de
precipitados e não de poros, por exemplo, foi retirada da Figura 25. Observa-se que grande
parte dos riscos presentes na amostra iniciam-se em uma das estruturas esféricas. Este tipo de
comportamento é característico do desprendimento de fragmentos de precipitados da matriz
que, durante o polimento mecânico, podem acabar riscando a amostra. Esta característica é
ainda mais evidente em amostras trefiladas, uma vez que este processo promove a fratura local
da matriz e do precipitado, facilitando ainda mais o desprendimento de partículas.
As micrografias das amostras polidas não revelam características que permitam avaliar
aspectos microestruturas decorrentes do processamento do material e do tipo de precipitado
presente.
43
Figura 25 - Amostra apresentando riscos que se originam a partir
de precipitados, evidenciando o desprendimento dos
mesmo durante o polimento mecânico.
6.3. CARACTERÍSTICAS DAS AMOSTRAS ATACADAS COM O REAGENTE DE
KROLL 1 E COM O REAGENTE DE KROLL 2
De acordo com o mecanismo proposto por Heravi, Moayed e Mokhber (2015), o ácido
fluorídrico do reagente de Kroll 1, ao reagir com o óxido de titânio (camada de passivação)
presente na superfície da liga, promove a dissolução do filme passivo, expondo a porção não
oxidada da liga ao ácido nítrico que, por ser um forte oxidante, recompõe a camada de
passivação, reiniciando o ciclo (Reação 1). Para as amostras atacadas com o reagente de Kroll
1 por 3, 5 e 10 segundos, cujas micrografias estão dispostas em Figura 26, Figura 27 e Figura
28, respectivamente, observa-se que esse mecanismo atuou mais fortemente sobre as regiões
que continham os precipitados, expondo-os, como pode ser observado na Figura 26(d), Figura
27(d) e Figura 28(d). Evidencia-se também que o reagente de Kroll 1 foi capaz de revelar trincas
na matriz localizados próximas aos precipitados (Figura 26, Figura 27 e Figura 28). Estes
resultados corroboram com os resultados de Mirjalili et al. (2013), onde eles identificam que a
corrosão de fios trefilados de NiTi (0.4mm de diâmetro) inicia-se nas interfaces inclusão-matriz
em fendas presentes na matriz.
Nota-se que alguns precipitados se apresentam alongados e alinhados em um mesmo
sentido (Figura 27(d)). Outros precipitados possuem formato mais próximo ao esférico, porém
também exibem um certo alinhamento, isto é, diversos precipitados encontram-se sobre uma
mesma linha ao longo do material (Figura 26, Figura 27 e Figura 28).
44
(a) (b)
(c) (d) Figura 26 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 3 segundos utilizando-se o reagente de
Kroll 1. As micrografias (a), (b), (c) e (d) apresentam magnificações de 100X, 200X,
500X e 1000X, respectivamente.
(a) (b)
(c) (d) Figura 27 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 5 segundos utilizando-se o reagente de
Kroll 1. As micrografias (a), (b), (c) e (d) apresentam magnificações de 100X, 200X, 500X
e 1000X, respectivamente.
45
(a) (b)
(c) (d) Figura 28 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 10 segundos utilizando-se o reagente de
Kroll 1. As micrografias (a), (b), (c) e (d) apresentam magnificações de 100X, 200X,
500X e 1000X, respectivamente.
O conjunto de aspectos mencionados acima são características de fibramento
mecânico, que ocorre devido a processos de conformação mecânica como a laminação e/ou a
trefilação. Materiais que apresentam precipitados menos dúcteis que sua matriz, quando
submetidos a elevados percentuais de redução de área, podem causar a fratura localizada da
matriz que, apresenta-se alongada devido ao sentido de fluxo do material. Os precipitados, por
serem pouco dúcteis podem, ao atingir certo nível de deformação, se fraturar dando origem a
inclusões menores com formato quase esférico, alinhadas aos precipitados alongados.
É importante frisar que as trincas reveladas pelo reagente são menores do que
aparentam, uma vez que o reagente expande a trinca devido à corrosão.
As características presentes na microestrutura revelada pelo reagente de Kroll 1 são
semelhantes a essas obtida por Sousa et. al. (2009), utilizando um reagente de composição
similar no ataque de uma liga superelástica de composição equimolar (Figura 4). Em ambas as
microestruturas não foi possível observar claramente os contornos de grão do material.
Quanto ao tempo de ataque, percebe-se que existe uma diferença significativa no
aspecto das amostras atacadas por 3, 5 e 10 segundos. A amostra atacada por três segundos
(Figura 26) aparentemente exibe um número menor de precipitados atacados do que as demais
46
amostras. O prolongamento do ataque para tempos de 5 e 10 segundos acentuou a corrosão da
região dos precipitados e nas fraturas da matriz, expandindo ainda mais o tamanho das trincas.
Atentando-se às micrografias das amostras atacadas por 10 segundos (Figura 28), verifica-se a
presença de manchas causadas pelo tempo de exposição ao reagente.
Quanto às amostras atacadas pelo reagente de Kroll 2 (Figura 29, Figura 30 e Figura
31), em geral, as micrografias obtidas assemelham-se a essas obtidas com o reagente de Kroll
1, como pode ser observado na Figura 30 e Figura 31, que correspondem às amostras atacadas
por 5 e 10 segundos, respectivamente. Assim como para o ataque realizado com Kroll 1, o
reagente ataca preferencialmente a região dos precipitados e as regiões de trinca na matriz.
Observou-se na micrografia obtida com o ataque de 3 segundos (Figura 29) uma
estrutura que se assemelha a agulhas de martensita, porém atentando-se à escala, nota-se que as
estruturas possuem cerca de 200 µm, valor este muito superior ao encontrado na literatura para
agulhas de martensita em uma liga de Nitinol. Dessa forma, é válido afirmar que as
características visualizadas tratam-se na verdade de manchas (Figura 14 e Figura 15).
(a) (b)
(c) Figura 29 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 3 segundos utilizando-se o reagente de
Kroll 2. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X e 500X,
respectivamente.
47
(a) (b)
(c) Figura 30 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 5 segundos utilizando-se o reagente de
Kroll 2. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X e 5000X,
respectivamente.
(a) (b)
(c) Figura 31 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 10 segundos utilizando-se o reagente de
Kroll 2. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 200X, 500X e 1000X,
respectivamente.
48
Zorko e Rudolf (2009), utilizando um reagente composto das mesmas substâncias que
o reagente de Kroll 2, porém com proporções diferentes entre os ácidos, em um ataque químico
a uma liga de NiTi com memória de forma (Composição não informada), obtiveram a
micrografia apresentada na Figura 15, onde é possível observar contornos em formas de agulhas
característica de martensita. Por outro lado, Geroldo (2009) chega a micrografia apresentada na
Figura 16 para uma liga Ni45%atTi (superelástica), fazendo uso de um reagente cuja
composição é exatamente igual à composição do reagente de Kroll 2, onde não é possível a
visualização de estruturas em forma de agulha. Nota-se que os resultados atingidos por Geroldo
(2009) são similares aos obtidos com as amostras atacadas com reagente de Kroll 1 e Kroll 2.
Por fim, ressalta-se que, tanto no trabalho de Zorko e Rudolf (2009) quanto no trabalho Geroldo
(2009), não foi possível a visualização dos contornos de grão do material.
6.4. CARACTERÍSTICAS DAS AMOSTRAS SUBMETIDAS A ATAQUE QUÍMICO COM
REAGENTES LIVRES DE ÁCIDO FLUORÍDRICO
As micrografias das amostras atacadas com Reagente 1 por 30, 120 e 240 segundos
estão dispostas nas Figura 32, Figura 33 e Figura 34, respectivamente. As amostras atacadas
com este reagente não exibiram sinais de ataque (perda do brilho) em nenhum dos tempos de
ataque empregados. Observa-se que as micrografias dispostas na Figura 32 não diferem muito
destas para a liga polida (Figura 24). Alguns pontos de ataque passam a ser observados nas
Figura 33 e Figura 34, onde nota-se uma separação na interface matriz-precipitado, além de um
aumento no número aparente de precipitados.
As características apresentadas na amostra após o ataque com o reagente 1 não
permitem avaliar o sentido de laminação do material.
A não ocorrência do ataque está relacionado a ausência de íons fluoreto, pois, nesta
condição, a camada de passivação não é solubilizada e o ácido nítrico presente atua aumentando
a espessura da camada de passivação, assim a corrosão da liga não ocorre.
49
(a) (b)
(c) Figura 32 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 30 segundos utilizando-se o Reagente 1. As
micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X e 500X,
respectivamente
(a) (b)
(c)
Figura 33 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 120 segundos utilizando-se o Reagente 1.
As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X e 500X,
respectivamente
50
(a) (b)
(c) Figura 34 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 240 segundos utilizando-se o Reagente 1.
As micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X e 500X,
respectivamente
O mesmo resultado foi encontrado com o ataque promovido pelo reagente 2 por 10,
30 e 60 segundos, como pode ser observado na Figura 35, Figura 36 e Figura 37. Uma vez que
o ácido clorídrico não apresenta o mesmo comportamento que o ácido fluorídrico, ou seja, o
ácido clorídrico não reage com o TiO2, dando origem a um complexo solúvel, o fio de NiTi não
é despassivado e o ataque não ocorre.
Assim como para as amostras atacadas com reagente 1, pode-se visualizar também nas
microscopias das amostras atacadas com o reagente 2 o aparecimento de pequenos pontos
dispersos na matriz. Estas estruturas são provavelmente regiões de pequenos precipitados que,
como já mencionado, apresentam maior reatividade.
Nota-se, na Figura 36(a) e Figura 36(b), que o ataque causou em regiões com maior
densidade de precipitados algumas manchas, essas podem ter sido causadas pela secagem da
amostra uma vez que o reagente pode ter remanescido nas cavidades dos precipitados.
51
(a) (b)
(c) Figura 35 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 10 segundos utilizando-se o Reagente 2. As
micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X e 500X,
respectivamente
(a) (b)
(c)
Figura 36 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 30 segundos utilizando-se o Reagente 2. As
micrografias (a), (b) e (c) apresentam magnificações de 100X, 200X e 500X,
respectivamente.
52
(a) (b)
(c) (d)
Figura 37 - Microscopias da amostra de NiTi atacada por 60 segundos utilizando-se o Reagente 2. As
micrografias (a), (b), (c) e (d) apresentam magnificações de 100X, 200X, 500X e 1000X,
respectivamente
6.5. CARACTERÍSTICAS DAS AMOSTRAS SUBMETIDAS A ATAQUE
ELETROLÍTICO COM REAGENTES LIVRES DE ÁCIDO FLUORÍDRICO
As características dos sistemas construídos encontram-se na Tabela 4. Os valores de
pH encontrados para os reagentes 3 e 4 são favoráveis ao ataque eletrolítico, com demonstrado
no diagrama de Pourbaix3 para o Nitinol (Figura 11), uma vez que estes pHs apresentam em
uma região onde tanto níquel quanto titânio sofrem corrosão.
As características obtidas nas microscopias que foram realizadas nas amostras atacadas
via ataque eletrolítico com reagente 3 apresentaram significativa diferença com o aumento da
voltagem aplicada, como pode ser visto em Figura 38, Figura 39 e Figura 40, onde constam as
microscopias das amostras atacadas por 5 segundos a um potencial de 6, 8 e 9 Volts,
respectivamente. Embora para o ataque realizado a 6 V (voltagem sugerida pela norma) não se
3Ressalta-se que o diagrama de Pourbaix apresentado foi construído para um sistema tendo água como eletrólito.
O diagrama de Pourbaix para uma solução de ácido sulfúrico apresentaria suas particularidades.
53
observe sinais de ataque, as amostras atacadas a 8 e a 9 V apresentam características similares
às amostras atacadas com reagente de Kroll 1/Kroll 2. Nota-se novamente um ataque
preferencial das regiões que contêm as inclusões e das trincas na matriz (Figura 39(d)). Assim
como para o ataque com os reagentes que continham ácido fluorídrico, o ataque com o reagente
3 possibilitou a identificação do sentido de trefilação do material por meio da visualização do
alinhamento dos precipitados e trincas presentes na matriz, especialmente na amostra atacada a
9 volts. Por outro lado, o ataque eletrolítico a 9 V por 5 segundos aparenta ter sido demasiado,
uma vez que a corrosão das características de interesse foi excessiva. Apesar do ataque na região
dos precipitados e das trincas, não ocorreu ataque nos contornos de grão do material.
Tabela 4 - Parâmetros de realização do ataque eletrolítico utilizando os reagentes 3 e 4
Reagentes pH Voltagens Aplicada e Densidade de Corrente Associada
Reagente 3 -0,25 6 V 8 V 9 V
0,48 A/cm² 2,28 A/cm² 4,76 A/cm²
Reagente 4 -0,44 2,5 V 2,7 V 3 V
0 A/cm²* 0,09 A/cm² 0,38 A/cm²
* O valor de corrente encontrava-se fora do limite de detecção da fonte de alimentação utilizada que era
de 0.01 A
Apesar da ausência de íons fluoreto pôde-se observar que as amostras estão sobre
processo corrosivo, o que indica a existência de algum mecanismo responsável por transpor a
proteção gerada pela camada de passivação. Mirjalili et al. (2013), ao observarem estas
características em suas amostras após realização de ensaio potenciodinâmico tanto ácido nítrico
como eletrólito, concluíram que a corrosão ocorre por meio de pites que surgem em áreas onde
a camada de óxido de titânio é mais fina.
(a) (b) Figura 38 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 6 V por 5 segundos
utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (a) e (b) apresentam
magnificações de 100X e 200X, respectivamente.
54
(a) (b)
(c) (d) Figura 39 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 8 V por 5 segundos
utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (a), (b), (c), (d) apresentam
magnificações de 100X, 200X, 500X e 1000X, respectivamente.
(a) (b)
(c) Figura 40 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 8 V por 5 segundos
utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam
magnificações de 100X, 200X e 500X respectivamente.
55
O comportamento das amostras atacadas por 10 segundos (Figura 41, Figura 42 e
Figura 43) foi, como esperado, similar ao observado nas amostras atacadas por 5 segundos.
Pode-se evidenciar claramente em Figura 41(d) e Figura 43(d) como a área de maior reatividade
encontra-se junto aos precipitados.
(a) (b)
(c) (d) Figura 41 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 6 V por 10 segundos
utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (a), (b), (c), (d) apresentam
magnificações de 100X, 200X, 500X e 1000X, respectivamente.
(b) (c) Figura 42 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 8 V por 10 segundos
utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (b) e (c) apresentam
magnificações de 200X e 500X respectivamente.
56
(a) (b)
(c) (d) Figura 43 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 9 V por 10 segundos
utilizando o Reagente 3 como eletrólito. As micrografias (a), (b), (c), (d) apresentam
magnificações de 100X, 200X, 500X e 1000X, respectivamente.
Quanto ao ataque realizado com o reagente 4 (reagente sugerido pela norma ASTM
E407 - 07 para ataque de Nitinol) por 5 segundos, não se notou, nas micrografias das amostras
atacadas a 2,5, 2,7 e 3 V, dispostas respectivamente em Figura 44 e Figura 45, sinais de ataque.
Percebe-se que as amostras possuem um aspecto muito similar ao aspecto das amostras não
atacadas. Apenas a amostra atacada a 3 V por 5 segundos (Figura 46) possui algumas marcas
de corrosão próximas aos precipitados.
(a) (b) Figura 44 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 2,5 V por 5 segundos
utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a) e (b) apresentam
magnificações de 100X e 200X, respectivamente.
57
(a) (b) Figura 45 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 2,7 V por 5 segundos
utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a), (b) e (c) apresentam
magnificações de 100X, 200X e 500X respectivamente.
(a) (b) Figura 46 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 3 V por 5 segundos
utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a) e (b) apresentam
magnificações de 100X e 200X, respectivamente.
As amostras atacadas por 10 segundos com voltagem de 2,5, 2,7 e 3 segundos são
exibidas em Figura 47, Figura 48 e Figura 49. Novamente as amostras atacadas a 2,5 e 2,7 V
não apresentam sinais de ataque. Já a amostra atacada a 3 V apresenta sinais de queima da
amostra. Observa-se mais uma vez que a região atacada é a região de contorno dos precipitados.
Embora as marcas na Figura 49 sejam marcas de queima causadas pela elevada densidade de
corrente, elas permitem avaliar que os precipitados presentes nesta liga se apresentam
alinhados.
Os ataques eletrolíticos conduzidos com o reagente 4 não permitiu, em nenhuma das
configurações testadas, a visualização dos contornos de grão do material, e nem mesmo de
aspectos característicos do processo de trefilação.
58
(a) (b) Figura 47 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 2,5 V por 10
segundos utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a) e (b) apresentam
magnificações de 100X e 200X, respectivamente.
(a) (b) Figura 48 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 2,7 V por 10
segundos utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a) e (b) apresentam
magnificações de 100X e 200X, respectivamente.
(a) (b) Figura 49 - Microscopias da amostra de NiTi submetida a ataque eletrolítico à 3 V por 10 segundos
utilizando o Reagente 4 como eletrólito. As micrografias (a) e (b) apresentam
magnificações de 100X e 200X, respectivamente.
59
7. CONCLUSÃO
Ante o exposto, conclui-se que nenhum dos métodos alternativos de ataque para ligas
de Nitinol apresentados neste trabalho, corresponde a uma alternativa eficiente ao reagente de
Kroll e suas variações.
Tanto o reagente de Kroll 1 quanto o reagente de Krol 2, permitiram a visualização de
características associadas ao processo de trefilação ao qual o fio de Nitinol foi submetido, como
trincas e precipitados alongadas e alinhados no sentido longitudinal. Esta rota de ataque, porém,
não permitiu a visualização dos contornos de grão do material.
Os reagentes livres de ácido fluorídrico utilizados para ataque químico não permitiram
a visualização de nenhuma característica relacionada à microestrutura da liga ou aos processos
de conformação aos quais a liga foi submetida. Já os reagentes utilizados para ataque eletrolítico
permitiram a visualização de algumas características associadas ao processo de trefilação, como
o alinhamento dos fragmentos de precipitados (reagente 3 e 4) e a trincas de processamento
(reagente 3). Por outro lado, as micrografias obtidas via ataque eletrolítico não se equipararam
às obtidas com os reagentes de Kroll devido à excessiva corrosão que o ataque eletrolítico
produziu na região de precipitados, o que dificultou a visualização das micrografias.
Cabe ressaltar, por fim, que o processo de preparação das amostras para ataque
eletrolítico, além de não pratico, pois requer a preparação de moldes e longo tempo de cura da
resina, pode dar origem à amostra pouco plana que dificulta muito a realização de microscopia
na amostra.
60
REFERÊNCIAS
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Microetching Metals and Alloys. p. 1–21, 2005.
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