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ADRIANA DE AGUIAR PINTO DE SOUZA Estudo da microbiota anemófila presente nos diferentes ambientes do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte, MG DISSERTAÇÃO DE MESTRADO INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA IEP SANTA CASA DE BELO HORIZONTE Belo Horizonte, Minas Gerais. 2012

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c

ADRIANA DE AGUIAR PINTO DE SOUZA

Estudo da microbiota anemófila presente

nos diferentes ambientes do

Hospital Santa Casa de Belo Horizonte, MG

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

INSTITUTO DE ENSINO E PESQUISA – IEP

SANTA CASA DE BELO HORIZONTE

Belo Horizonte, Minas Gerais.

2012

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ADRIANA DE AGUIAR PINTO DE SOUZA

ESTUDO DA MICROBIOTA ANEMÓFILA PRESENTE

NOS DIFERENTES AMBIENTES DO

HOSPITAL SANTA CASA DE BELO HORIZONTE, MG

Dissertação apresentada ao Programa de Pós–Graduação e Pesquisa em Ciências da

Saúde do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo Horizonte, como

requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Medicina e Biomedicina.

ORIENTADOR:

Profa. Dra. Rachel Basques Caligiorne

CO-ORIENTADOR:

Prof. Dr. Luiz Ronaldo Alberti

Belo Horizonte, Minas Gerais.

2012

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FICHA CATALOGRÁFICA

Souza, Adriana de Aguiar Pinto de

Estudo da microbiota anemófila presente nos diferentes

ambientes do

Hospital Santa Casa de Belo Horizonte, MG.

Belo Horizonte: Hospital da Santa Casa de Belo Horizonte, 2012.

70f.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto-

Sensu do Instituto de Ensino e Pesquisa – IEP – Santa Casa de

Belo Horizonte para obtenção de grau de Mestre em Medicina e

Biomedicina.

Orientação: Profa. Dra. Rachel Basques Caligiorne

Co-orientação: Prof. Dr. Luiz Ronaldo Alberti

Microbiota in the air of environments in different units of Santa

Casa de Belo Horizonte Hospital, MG

1. Microbiota 2. Fungos 3. Unidade de Tratamento Intensivo

4. Infecção Hospitalar 5. Qualidade Interna do Ar

NLM:

CDU: 616.053.31//.32

II

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ESTUDO DA MICROBIOTA ANEMÓFILA PRESENTE

NOS DIFERENTES AMBIENTES DO

HOSPITAL SANTA CASA DE BELO HORIZONTE, MG

ADRIANA DE AGUIAR PINTO DE SOUZA

Nível: Mestrado

Data da defesa: 18/12/2012

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências da

Saúde: Medicina/Biomedicina do Instituto de Ensino e Pesquisa da Santa Casa de Belo

Horizonte.

Comissão Examinadora formada pelos Professores:

Profa. Dra. Rachel Basques Caligiorne – Orientadora

Prof. Dr. Luis Alberti – Co-orientador

Dr. César Lúcio Lopes de Faria Júnior

Dra. Samantha Ribeiro Béla

Belo Horizonte – MG.

2012

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Aos meus pais, Rossmary e Sebastião (in memoriam)

exemplos para minha vida e inspiração; eles me ensinaram a buscar meus objetivos com

dignidade e honestidade.

Ao meu marido Wander e minhas filhas Ana Luiza e Luana,

que souberam me apoiar, compreenderam minhas ausências, e cujo amor foi motivo

para eu persistir e concluir esta dissertação.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que sempre iluminou o meu caminho e foi minha força nos momentos difíceis.

Ao chefe e ao coordenador do programa de pós-graduação da Santa Casa de Belo

Horizonte, Dr. Francisco das Chagas Lima e Silva e Dr. José Augusto Nogueira

Machado.

À Profa. Dra. Rachel Basques Caligiorne, orientadora e, além de tudo, amiga, pela

inestimável colaboração, paciência, disponibilidade e oportunidade de avançar este

degrau na vida acadêmica e científica.

Ao Prof., Dr. Luiz Ronaldo Alberti, coorientador, pelo incentivo, apoio, amizade,

ensinamentos e otimismo, que me levou a completar esta etapa da minha vida.

A todos os professores e funcionários do Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP) da Santa

Casa de Belo Horizonte pelo carinho, apoio e possibilidade de aprendizado diário.

Aos colegas e funcionários do Laboratório de Micologia do Instituto de Ensino e

Pesquisa (IEP), em especial às companheiras amigas e incríveis profissionais Cláudia,

Cidiane, Thelma e Fabi, pela fundamental colaboração durante a fase do experimento e

pelo apoio nos momentos de desesperos.

Aos meus pais por todo amor, carinho e suporte durante toda a minha vida.

À minha irmã Andréa, por quem tenho profundo carinho, amizade e foram fonte

constante de apoio e incentivo.

Ao meu marido Wander, pelo amor, compreensão e por acreditar sempre na minha

capacidade.

Às minhas filhas, Ana Luiza e Luana fonte inesgotável da minha vida.

Ao grande e inesquecível amigo de sempre Odilon Garrilho Freitas. Pessoa de estima

inigualável. Sem sua ajuda jamais teria concluído este trabalho e vencido mais esta

etapa da vida. Meu muito obrigada.

A todos aqueles que de alguma forma contribuíram para o meu crescimento pessoal e

profissional.

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ÍNDICE DA TABELA

Tabela 1: Lista de reagentes utilizados ...........................................................................12

ÍNDICE DAS FIGURAS

Figura 1: Observação de um conidióforo típico de Aspergillus sp, aumento de 1000x

14

Figura 2: Observação microscópica de cocos bacterianos 17

Figura 3: Observação da conidiação típica de Cladosporium sp, aumento 1000x 19

Figura 4: Técnica de microcultivo em lamina 26

Figura 5: Placas de petri com o crescimento das colônias fúngicas e bacterianas 27

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ÍNDICE DOS GRÁFICOS

Gráfico 1:

Proporção dos gêneros dentre as 136 colônias isoladas nos diferentes ambientes do

Hospital Santa Casa de BHte ............... 28

Gráfico 2:.

Proporção dos gêneros dentre as 136 colônias isoladas 8º andar do Hospital Santa Casa

de BHte ...........................................29

Gráfico 3:.

Proporção dos gêneros dentre as 136 colônias isoladas 9º andar do Hospital Santa Casa

de BHte ...........................................30

Gráfico 4:.

Proporção dos gêneros dentre as 136 colônias isoladas no CTI adulto do Hospital Santa

Casa de BHte .................................31

Gráfico 5:.

Proporção dos gêneros dentre as 136 colônias isoladas na Unidade Coronariana do

Hospital Santa Casa de BHte .................32

Gráfico 6:.

Proporção dos gêneros dentre as 136 colônias isoladas na Enfermaria Pediátrica do

Hospital Santa Casa de BHte ................33

Gráfico 7:.

Proporção dos gêneros dentre as 136 colônias isoladas no CTI pediátrico do Hospital

Santa Casa de BHte ...........................34

Gráfico 8:.

Proporção dos gêneros dentre as 136 colônias isoladas no CTI neonatal do Hospital

Santa Casa de BHte ..............................35

Gráfico 9:.

Proporção dos gêneros dentre as 136 colônias isoladas no setor de oncologia do Hospital

Santa Casa de BHte .....................36

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LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS:

AC – Ar-condicionado

ASD – Ágar Sabouraud Dextrose

CC – Centro Cirúrgico

CTI – Centro de Tratamento Intensivo

CTN – Centro de Tratamento Intensivo Neonatal

IH – Infecção Hospitalar

LT – Limite de tolerância

m2 – Metro quadrado

m3 – Metro cúbico

ppm – Parte por Milhão

ppb – Parte por Bilhão

ppt – Parte por Trilhão

QAI – Qualidade do Ar Interno

RN – Recém-Nascido

UFC – Unidade Formadora de Colônia

BHte – Belo Horizonte

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1

RESUMO

O monitoramento da qualidade do ar em hospitais é de grande importância devido ao

fato de que inúmeras doenças são transmissíveis através dos bioaerossóis da microbiota

anemófila, formada por fungos, bactérias, algas e vírus. Vários estudos apontam as

infecções hospitalares (IH) como as mais frequentes complicações do tratamento em

unidades de terapia intensiva (UTI), além de serem consideradas um grave e complexo

problema de saúde pública. No Brasil, a infecção hospitalar acomete entre 5% e 15%

dos pacientes hospitalizados. Entre os pacientes internados em UTIs estes valores podem

aumentar, ficando entre 25% a 35%, tornando as infecções hospitalares a quarta causa

de mortalidade no país. Portanto, torna-se de extrema necessidade a determinação da

composição e concentração de microrganismos do ar nas áreas internas, externas e

críticas de hospitais. Os gêneros Cladosporium, Candida, Penicillium, Aspergillus,

Rhizopus, Fusarium, Rhodotorula, Aureobasidium, Curvularia, Helminthosporium e

Trichoderma são os fungos mais frequentes encontrados nas regiões brasileiras. Neste

estudo foram isoladas colônias de fungos e bactérias de diferentes ambientes do Hospital

Santa Casa de Belo Horizonte, sendo eles: oncologia; UTIs adulto, pediátrica e neo-

natal; enfermaria pediátrica e enfermarias do oitavo e nono andar. Foram abertas 150

placas, isolando ao todo 136 colônias de bactérias, fungos filamentos e leveduriformes. O

gênero Cladosporium foi o mais frequente, com 39 colônias (29%), seguido pelos gêneros

Chrysosporium, Cladophialophora, Aspergillus, todos com 16 colônias isoladas (12%);

Penicillium com 8 colônias (6%) e Candida sp, com apenas 5 colônias (4%). Dentre as

bactérias, foram isolados cocos gram-positivos (10%) e bastonetes gram-negativos (4%).

Os resultados apresentados demonstram que, apesar do hospital estar passando por um

período de reformas, a contagem de microrganismos da microbiota do ar nos diversos

setores não foi elevada em se comparando com outros estudos de ambientes hospitalares.

Entretanto, o estudo periódico da microbiota do ar se faz necessário, uma vez que o

monitoramento constante impede que muitas infecções hospitalares possam ocorrer,

além de fazer com que os profissionais da saúde possam ficar mais atentos às condutas

diárias de desinfecção das mãos e dos equipamentos.

Palavras chave: microbiota, fungos, Unidade de Tratamento Intensivo, infecção

hospitalar, qualidade interna do ar.

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2

ABSTRACT

The monitoring of air quality in hospitals is of great importance due to the fact that

several diseases are transmissible via bioaerosols of microbiota anemophilous, formed

by fungi, bacteri a, algae and viruses. Several studies show hospital infections (HI) as the

most frequent treatments complication in intensive care units (ICU) and are considered

a serious and complex public health problem. In Brazil, hospital infections affects

between 5% and 15% of hospitalized patients. Among ICU patients these values may

increase to 25% to 35%, making hospital infections the fourth leading cause of mortality

in the country. Therefore, it is of utmost necessity to determine the composition and

concentration of air microorganisms in internal, external and critical areas in hospitals.

The Cladosporium, Candida, Penicillium, Aspergillus, Rhizopus, Fusarium, Rhodotorula,

Aureobasidium, Curvularia, Helminthosporium and Trichoderma fungi are the most

frequently found in Brazilian regions. For this study were isolated colonies of fungi and

bacteria from different environments inside the Santa Casa de Belo Horizonte Hospital:

oncology; adult, pediatric and neo-natal ICU; pediatrics ward and wards of the eighth

and ninth floor. 150 plates were opened, isolating 136 colonies of bacteria, fungi

filaments and yeast. The Cladosporium genus was the most frequent, with 39 colonies

(29%), followed by the Chrysosporium, Cladophialophora and Aspergillus genus, all with

16 isolated colonies (12%), Penicillium with 8 colonies (6%) and Candida sp, with only 5

colonies (4%). Among the bacterias, were isolated Gram-positive cocci (10%) and gram-

negative rods (4%). The results show that although the hospital is going through a

period of reform, the number of microorganisms from the air microbiota in various

sectors was not high if compared to other studies of hospital environments. However, the

periodic study of air microbiota is necessary, since the constant monitoring prevents

many hospital infections as well as leads health professionals to be more attentive to

conduct daily disinfecting of hands and equipment.

Keywords: microbiota, fungi, Intensive Care Unit, hospital infection, indoor air quality.

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ÍNDICE GERAL

DEDICATÓRIA .............................................................................................................V

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................VI

ÍNDICE DAS TABELAS ...........................................................................................VII

ÍNDICE DAS FIGURAS ...........................................................................................VII

ÍNDICE DAS TABELAS ...........................................................................................VII

LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS .........................................VIII

RESUMO ..................................................................................................................... IX

ABSTRACT .................................................................................................................. X

1. INTRODUÇÃO .........................................................................................................1

2. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................2

2.1. Infecção Hospitalar (IH) .................................................................................... 2

2.2. Contextualização sócio-histórica das infecções hospitalares ............................ 3

2.3. História das infecções hospitalares e a legislação ............................................. 7

2.4. Infecções Hospitalares (IH) e o Ar Ambiente ................................................. 10

2.5. Os Fungos anemófilos ..................................................................................... 12

2.6. As Bactérias anemófilas .................................................................................. 14

2.7. O ar e sua microbiota Fúngica ........................................................................ 17

3. JUSTIFICTIVA .................................................................................................20

4. OBJETIVOS ......................................................................................................21

4.1. OBJETIVOS GERAIS .........................................................................................21

4.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...............................................................................21

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5. METODOLOGIA ...................................................................................... 22

5.1. Coleta de amostras ...............................................................................................23

5.2. Reagentes utilizados ........................................................................................... 23

5.3. Meios de cultura utilizados ................................................................................. 24

5.4. Observação macroscópica das colônias de fungos e bactérias ........................... 24

5.5. Técnica de Microcultivo pelo método de Ridell ................................................ 25

5.6. Identificação das espécies de fungos ................................................................. 26

5.7. Técnica de coloração pelo Gram para identificação das bactérias ..................... 26

6. RESULTADOS ................................................................................................... 27

7. DISCUSSÃO ...................................................................................................... 37

8. CONCLUSÃO ................................................................................................... 40

9. PROPOSIÇÕES ................................................................................................ 41

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 42

11. APÊNDICE I .................................................................................................. 47

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1. INTRODUÇÃO

O estudo da qualidade do ar é de grande importância devido ao fato de que inúmeras

doenças são transmissíveis através dos bioaerossóis da microbiota anemófila, formada por

fungos, bactérias, algas e vírus. Em muitas destas doenças a transmissão se dá pelas vias

aéreas, quando o indivíduo é contaminado pela inalação do agente microbiano e a sua

retenção no trato respiratório, local propício para o seu desenvolvimento. Estes organismos

anemófilos constituem uma flora potencialmente patogênica que, em vista do perfil

imunossuprimido dos pacientes e o uso prolongado de antimicrobianos (ATB), podem

ocasionar quadro irreversível (MARTINS-DINIZ et al., 2005).

Para avaliar a qualidade microbiológica do ar em ambientes climatizados, Nunes

(2005) realizou um estudo com o objetivo de isolar espécies dos gêneros Aspergillus,

Staphylococcus aureus, enterobactérias bem como Pseudomonas aeruginosas. Foi escolhido

o ambiente hospitalar para uma pesquisa qualitativa destes microrganismos, uma vez que o

acúmulo de umidade e material orgânico em bandejas de ar-condicionado pode torná-las

poderosas fontes dispersoras de bioaerossóis.

Segundo Kenny et al. (1999), uma sensibilização respiratória como (asma ou

alveolite) e efeitos toxicológicos no pulmão, como a febre de inalação ou síndrome da poeira

orgânica tóxica, podem ser causados pela exposição aos micro-organismos aéreos ou outros

bioaerosóis. E ainda, segundo Rosa & de Melo Lisboa (2005), a infectividade de um

microrganismo está relacionada à capacidade de suas partículas infectivas em penetrar no

organismo do hospedeiro.

Nos últimos anos, tem-se observado aumento das taxas de morbidade e mortalidade

devido às infecções fúngicas e bacterianas de origem hospitalar. As transmissões dessas

infecções podem ser através das mãos contaminadas dos colaboradores da área da saúde, dos

infusos contaminados ou da dispersão de seus esporos pelo ar. O principal efeito da

inadequada qualidade deste ar se dá no sistema respiratório humano. Assim, faz-se a

importância do monitoramento ambiental das UTI, isolando e quantificando bioaerossóis

fúngicos.

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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Infecção Hospitalar (IH)

Vários estudos apontam as infecções hospitalares (IH) como as mais frequentes

complicações do tratamento em UTI além de serem consideradas um grave e complexo

problema de saúde pública. São vários os fatores que desencadeiam as infecções, dentre eles,

a ampla utilização de procedimentos cada vez mais invasivos e a resistência microbiana

devido ao uso indiscriminado de antibióticos (STARLING, 2004; TURRIN, 2002).

O Ministério da Saúde define a IH como “[…] aquela adquirida após a admissão do

paciente e que se manifesta durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada

com a internação ou procedimentos hospitalares” (BRASIL, 1998a). Por ser a principal causa

de morbidade e mortalidade hospitalar, as IHs representam uma grande preocupação mundial,

pois prolongam o tempo de internação e consequentemente, elevam os custos da internação

além de reduzir a rotatividade dos leitos hospitalares (ANDRADE et al., 2000), o que

ocasiona um prejuízo tanto aos enfermos, aos seus familiares, aos hospitais e a própria

sociedade em geral.

Há uma variação de incidência das infecções entre os estabelecimentos hospitalares de

determinadas regiões para outras. Estas variantes dependem do tipo de hospital, suas

especialidades e características no tipo de atendimento, das tecnologias utilizadas, presença e

efetividade de uma vigilância epidemiológica no Controle de Infecção Hospitalar, bem como

a clientela que é atendida (PCIH). Por ser uma infecção que representa riscos à saúde de todas

as pessoas e que pode ocorrer tanto dentro quanto fora do ambiente hospitalar, o termo

infecção hospitalar vem sendo substituído por “Infecção Relacionada à Assistência à Saúde -

Iras” (ABRAMCZYK, 2006 a,b).

Um estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), no período de 1983-

1985 constatou uma variação de 3% a 21% na taxa de IH em quatorze países, apresentando

uma média de 8,7%. Inquérito nacional realizado em 1994, apontou uma taxa média de 15,5%

de IH entre hospitais públicos e privados (OPAS-OMS, 2000), o que quando comparadas aos

estudos da OMS revelou-se elevadas.

Por meio de utilização de determinadas medidas de prevenção e de controle, a IH é um

evento que pode e deve ser evitada, essa forma pode também ser chamada de evento sentinela

(ES). Esse evento refere-se à ocorrência de uma doença, invalidez ou morte que poderia ter

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7

sido evitada (PENNA, 2006). Para Palmeira (2000), o evento sentinela “[…] é um

acontecimento indicativo de uma situação que requer uma intervenção imediata”. Sendo

assim, consideramos a IH como um evento sentinela, uma vez que pode e deve ser evitado,

considerando que a sua ocorrência deve ser minimizada, através da utilização de ações

preventivas e de controle.

Algumas falhas reveladas pelo evento sentinela IH impedem um bom funcionamento

do serviço assistencial de saúde (PENNA, 2006). Há evidências de falhas operacionais e

consequentemente surge a necessidade de programar ações preventivas no controle da

infecção que permitam reduzir ou até mesmo impedir riscos às pessoas doentes dos serviços

de saúde. Tem se notado que o aparecimento de casos de IH é inversamente proporcional ao

nível da qualidade da assistência hospitalar, sendo pertinente afirmar que esta frequência

constitui riscos à saúde das pessoas doentes, em especial ao se tratar da assistência hospitalar.

Por mais que sejam empregadas as medidas necessárias, a ocorrência de IH representa

um desafio não só para as instituições hospitalares, mas também para os profissionais de

saúde, os doentes e para a própria comunidade em geral. É possível a redução das estatísticas

de infecções hospitalares e até mesmo dos agravos relacionados a elas com a implantação que

combinem tecnologia, recursos humanos e financeiros para atender a programas de prevenção

e controle de infecção (ANDRADE et al., 1999; TURRINI, 2002).

A assistência hospitalar se diferencia da atenção básica por disponibilizar atendimento

mais complexo, podendo oferecer uma variedade de recursos humanos, materiais e

tecnológicos. Essa assistência visa melhorar a condição de saúde das pessoas internadas que,

já se encontram fisicamente debilitadas, podendo desta forma contribuir para o surgimento de

eventos decorrentes dos processos assistenciais, como as IHs.

Algumas medidas simples como a lavagem das mãos, a utilização de materiais de

proteção individual, o cumprimentos das regras de assepsia e evidentemente, o processamento

adequado dos materiais e artigos assim como a limpeza adequada das superfícies, podem

reduzir a incidência e até mesmo evitar as IHs (PEREIRA et al., 2005).

2.2. Contextualização sócio-histórica das infecções hospitalares

Aproximadamente entre os anos 300 e 394 d.C., encontra-se citações na literatura

quanto ao aparecimento dos primeiros hospitais urbanos no Império Romano (RODRIGUES,

1997; COUTO et al., 2003; FERNANDES et al., 2000).

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Os cuidados às pessoas doentes na Idade Média (séculos XI e XII) eram direcionados

aos religiosos. No século XIII, iniciou a enfermagem nas instituições hospitalares, sobretudo

na pessoa das religiosas que pregavam a filosofia em amar o próximo (MELO, 1986). Os

hospitais surgem com a função de assegurar a vida e salvar a alma dos enfermos no momento

de sua morte. Com a Revolução Industrial e o crescimento urbano, houve a necessidade de

uma transformação na instituição hospitalar, na tentativa de anular os efeitos negativos

causados pelas desordens socioeconômicas, a manutenção de ociosos e ainda evitar a

disseminação de doenças de classe mais baixa para outras classes sociais. Desta forma, passa

a ser local de tratamento e recuperação de pessoas (FOUCAULT, 1994).

A concepção terapêutica surge com intuito de conscientização para que o hospital seja

um instrumento para atender à emergência capitalista, para que os cidadãos fossem

preservados saudáveis para o desenvolvimento das atividades de produção (FOUCAULT,

1994). A disciplinarização e a inserção de médicos marca o processo de reorganização e

reestruturação dessas instituições. No entanto, esses confinamentos de pessoas tornam-se

insalubres, favorecendo a transmissão de doenças infecciosas, devido às precárias condições

sanitárias. Portanto, esta reorganização das instituições marca o aparecimento das infecções

hospitalares e, evidentemente da necessidade de seu controle (LACERDA & EGRY, 1997).

Devido ao aumento da necessidade assistencial muitos hospitais foram criados, entre

eles o Hotel-Dieu na França, com capacidade de 1.200 leitos. Por serem precárias as

condições de funcionamento destas instituições e ainda ter uma excessiva clientela, os leitos

eram compartilhados por vários enfermos, o que propiciava a transmissão de doenças,

especialmente as de origem infecciosa (FERNANDES et al., 2000a).

Quando se tratava de pediatria, o número compartilhado de crianças no mesmo leito

era ainda maior. A água era algo incerto e os alimentos evidentemente, não recebiam cuidados

adequados para serem consumidos (COUTO et al., 2003b). Os hospitais eram similares a

albergues ou asilos, tinham a finalidade de recolher pobres e enfermos no intuito de proteger a

população de doenças ou até mesmo epidemias. Favorecidas pelas condições dentro das

instituições, as doenças se propagavam com muita facilidade, uma vez que os processos

infecciosos eram oriundos dos próprios serviços, sendo que as consequências aumentavam

ainda mais a gravidade até causavam a morte dos enfermos (FOUCAULT, 1992b).

Os espaços dos hospitais eram fontes inesgotáveis de doença e da própria morte dos

pobres. Esses eram assistidos material e espiritualmente, recebendo os cuidados e o último

sacramento. Pode-se perceber que os hospitais não eram destinados à cura e sim apresentavam

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um caráter social (FOUCAULT, 1992). Desde o período pré-cristianismo, na Roma Antiga e

na Idade Média, eram as religiosas, mulheres, prostitutas e outras pessoas sem qualificação e

remuneração que cuidavam da assistência aos enfermos e necessitados. Pois, desempenhar a

assistência aos necessitados significava uma realização de obras de caridade, servindo como

um meio para a remissão dos seus pecados e merecimento de indulgências (MELO, 1986).

O espaço hospitalar de conformação insalubre é enfatizado por Foucault (1994) em sua

obra “O Nascimento da Clínica”, como […] o hospital, como a civilização, é um lugar

artificial em que a doença, transplantada, corre o risco de perder seu aspecto essencial. Ela

logo encontra nele um tipo de complicação que os médicos chamam febres das prisões ou dos

hospitais (FOUCAULT, 1994). A institucionalização era para o autor, uma causa de

complicações para os doentes, já que as infecções hospitalares apareciam por consequência de

condições de assistência precárias na qual permitiam a disseminação de doenças entre as

pessoas atendidas.

A falta de higiene pública a contaminação dos rios e do ambiente acarretava

racionamentos de água e por muitas vezes, a água estava contaminada com excrementos,

tornando os índices de morbidade e mortalidade aumentados. Pelo descaso com a população e

principalmente com a saúde pública, surgiu a necessidade de uma política nacional na qual

tinha o objetivo de promover a saúde e o bem-estar da população. Assim, observou-se a

participação social nos sistemas de gestão, garantindo o exercício da cidadania

(FERNANDES, 2000). Os reis buscavam manter o poder sob seu controle para tornar um

Estado forte. Assim, foram criadas algumas medidas de organização e preconização

constituindo-se a polícia sanitária, na qual fazia o controle e fiscalização de aspectos

higiênicos, alimentares e jurídicos (FOUCAULT, 1992a; FERNANDES, 2000).

Com o objetivo de estabelecer um programa de reconstrução e reorganização dessas

instituições, foram realizadas, no final desse século, viagens inquéritos em hospitais de vários

países da Europa, sob outra a ótica que não mais de arquitetos e sim de médicos, com intuito

de corrigir os efeitos patológicos que causavam (FOUCAULT, 1992).

Outras concepções apareceram em relação aos fenômenos patológicos e espaciais,

como a separação de doentes de acordo com a nosologia, cuidados com os ambientes e

principalmente com as contaminações, de forma a evitar os fatos patológicos próprios dos

hospitais. Inicia-se aqui o período de constituição de um modelo clínico, já que a prática

médica, não possibilitava, até então, conhecimento para a organização de um saber voltado

para a medicina hospitalar (FOUCAULT, 1992b).

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A reestruturação hospitalar começa nos hospitais marítimos e militares, ainda no Sec.

XVIII, por motivos das regulamentações econômicas e a valorização dos homens enquanto

soldados devido aos altos investimentos para a sua formação. Desta forma, os soldados

doentes, passaram a ser vigiados para que se curassem, evitando a deserção e até mesmo sua

morte (FOUCAULT, 1992).

Várias regulamentações foram instituídas nesses hospitais com o objetivo de reordenar

o hospital. Dentre as regulamentações foram observados o combate ao tráfico de mercadorias

como objetos preciosos, especiarias contrabandeadas pelos traficantes que se faziam de

doentes para serem transferidos para os hospitais e a quarentena para evitar a propagação de

doenças epidêmicas. A introdução de medidas disciplinares nos hospitais permitiu investigar

melhor as necessidades econômicas para valorizar os corpos dos indivíduos e ao controle das

epidemias. (FOUCAULT, 1992).

A disciplinarização tornou-se médica, corroborou para promover a medicalização do

ambiente hospitalar, através de processos de transformação dos saberes e das práticas

médicas. A assistência caridosa fora substituída pela atividade de cura e terapêutica. A doença

passou a ser vista como um fenômeno natural em que há correlação da natureza sobre o

indivíduo, a água, o ar, o ambiente, e principalmente no tratamento efetuado pelo

conhecimento científico, em uma intervenção médica (FOUCAULT, 1992).

Para evitar a superlotação dos hospitais, somente os doentes com indicação médica são

admitidos. Com esse novo procedimento há uma individualização no trato dos enfermos e

consequentemente uma preocupação com a arquitetura do hospital favorecendo assim, a cura

dessas pessoas (FOUCAULT, 1992). O médico passa a ser o elemento essencial e principal

responsável pela organização do hospital (FOUCAULT, 1992b), delimitado aí o seu espaço

hegemônico e de poder, que se estabelece progressivamente na hierarquização da sua classe.

As transformações socioeconômicas provindas do capitalismo e do crescimento

desordenado das cidades, das doenças epidêmicas e da própria evolução social do trabalho,

fazem com que haja uma evolução no conhecimento da medicina e da organização dos

hospitais (LACERDA & EGRY, 1997). O médico cirurgião húngaro Ignaz Philipp

Semmelweis (1818 -1865), Viena, em meados do Séc. XIX (1847) observou altas taxas de

infecção puerperal nas mulheres que foram tratadas por médicos que realizavam necropsias,

isto fez com que fosse instituída a lavagem das mãos com solução clorada, rotineiramente.

Este ato tornou-se um marco nas IHs, pois conseguiu diminuir as taxas de infecção de 11,4%

para 1,3% em um curto período de tempo (FERNANDES et al., 2000).

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No final do Sec. XIX, na Inglaterra, surge Florence Nightingale personagem

importante no desenvolvimento da enfermagem. Ela instituiu medidas sanitárias e de controle

das IHs.; reorganizou os hospitais ingleses, demonstrando preocupação com os cuidados de

higienização; implantou o isolamento dos enfermos; o atendimento individual; a dieta

controlada. Tudo isso, através da instituição de medidas de organização, sistematização do

atendimento e treinamento de pessoal, com o objetivo de reduzir no ambiente hospitalar as

causas das infecções sobre os doentes internados (ANDRADE et al., 2000).

Com a implantação das práticas higiênico-sanitárias, reduziu-se significativamente as

taxas de mortalidade hospitalar da época (MELO, 1986; NIGHTINGALE, 1989; LACERDA

& EGRY, 1997). Provavelmente, a vigilância epidemiológica surgiu a partir das atividades

desenvolvidas por Florence Nightingale. A utilização das práticas hospitalares como

instrumento e elaboração de critérios apresentou melhoria na assistência prestada (COUTO &

PEDROSA, 2003a). Com os avanços no campo da bacteriologia no final do séc. XIX as

descobertas trouxeram possibilidades de terapêutica não somente aos sintomas, mas também

nas causas dos males (LACERDA & EGRY, 1997).

Assim, a preocupação com as infecções adquiridas pelas pessoas doentes instituiu

medidas voltadas para a prevenção e controle. O combate a IHs fez surgir a intervenção de

órgãos governamentais, cujas medidas normativas e legais, passaram a ser instituídas para a

prevenção e controle nas instituições hospitalares (ANDRADE et al., 2000).

2.3. História das infecções hospitalares e a legislação

Somente a partir da década de 50 surgiram os primeiros relatos no Brasil a respeito da

infecção hospitalar. O nome anteriormente utilizado era o da contaminação hospitalar, que

era um indicativo correlacionado à esterilização dos materiais hospitalares e até mesmo ao

abuso do uso de antibióticos (RODRIGUES, 1997).

A preocupação com medidas ambientais como o descarte do lixo, a contaminação do

ar, bem como a utilização de técnicas assépticas passou a ser fatos preocupantes.

Principalmente pelo fato de que as escolas médicas não se preocupavam muito com a temática

da infecção hospitalar, especialmente no uso das técnicas assépticas (RODRIGUES, 1997;

FERNANDES et al., 2000b).

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A partir da década de 60 surge no Rio Grande do Sul, no Hospital Ernesto Dornelles, a

primeira Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do país (RODRIGUES, 1997).

Com a criação dessa comissão, inicia-se nos anos 70 uma nova forma de comissão definida

como multidisciplinares. Estas foram criadas em hospitais públicos e privados e eram

vinculadas às instituições de ensino. Já em 1972, no Rio de Janeiro, ocorre o primeiro evento

científico específico sobre infecção hospitalar (RODRIGUES, 1997).

Em 1979, com o propósito de implantar no país ações de controle de infecção, o

Ministério da Saúde participa da primeira Conferência da Organização Pan-Americana de

Saúde/ Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS). A partir daí, estabeleceram algumas

metas e indicadores como o treinamento e a elaboração de uma educação continuada, criação

de núcleos centrais com definição das políticas nacionais para o controle das infecções

hospitalares, padronização de normas técnicas, procedimentos e principalmente um

diagnóstico situacional dos hospitais do país (FERNANDES et al., 2000b).

Os profissionais de saúde somente se conscientizaram para o controle das infecções, na

década de 80, quando foram realizadas várias reuniões entre os profissionais de saúde,

palestras e discussões referentes ao tema, o que alavancou o desenvolvimento no controle da

infecção hospitalar no país e a criação de várias CCIHs nos hospitais brasileiros

(RODRIGUES, 1997; FERNANDES et al., 2000b). O Ministério da saúde, por ser

pressionado pela imprensa por fatos ocorridos de infecções hospitalares, acaba expedindo

uma legislação, Portaria MS nº 196 (BRASIL, 1983) na qual recomendava aos hospitais

brasileiros a criação de CCIH e fornecia anexos com orientações práticas (RODRIGUES,

1997; FERNANDES et al., 2000b).

Dois anos mais tarde após a publicação da Portaria do MS nº 196 (BRASIL, 1983), o

primeiro Presidente da República eleito por voto direto, Tancredo de Almeida Neves, foi

vitima de uma septicemia decorrente de infecção hospitalar pós-cirúrgica, pouco antes de sua

posse, vindo a falecer dias depois, fato marcante que repercute na história da infecção

hospitalar no país. O I Congresso Brasileiro de Infecção Hospitalar realizou-se em São Paulo

em 1989, através da Associação Paulista em Controle de Infecção Hospitalar (RODRIGUES,

1997; FERNANDES et al., 2000b).

Em 1990, foi instituída pela Lei Orgânica da Saúde a política de descentralização das

ações de saúde, na qual provocou a dispersão dos profissionais do Ministério da Saúde na área

do controle de infecção, sendo drasticamente comprometido o funcionamento do Programa

pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 1990b). Com a descentralização formaram-se núcleos de

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profissionais com atuação no controle de infecção em vários estados, formando assim,

associações de profissionais em controle de infecção (FERNANDES et al., 2000). A emissão

da Lei Federal nº 9.431 (BRASIL, 1997) veio pelo não cumprimento de diversos hospitais

brasileiros da Portaria MS nº 930, que determinou a obrigatoriedade da manutenção dos

Programas de Controle de Infecção Hospitalar por todos os hospitais do país, objetivando uma

melhoria do quadro da maioria dos hospitais brasileiros.

Assim, a Portaria nº. 2.616 (BRASIL, 1998), emitida pelo Ministério da Saúde e em

vigor até então, mantém a obrigatoriedade da existência de um Programa de Controle de

Infecção Hospitalar (PCIH) em todos os hospitais do país. Esta Portaria trás sobre a

organização e competências da CCIH e do PCIH, estabelece ainda os conceitos e critérios

diagnósticos das Infecções Hospitalares, orienta quanto à vigilância epidemiológica das

infecções hospitalares juntamente com seus indicadores, e ainda recomenda algumas ações

como a lavagem das mãos, o uso de germicidas, a implantação de lavanderia e farmácia.

Em 1999, cria-se a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) com o

objetivo de centralizar, controlar medicamentos e alimentos, bem como produtos e serviços de

interesse da saúde como controle de infecção em nível federal, tendo suporte das Secretarias

Estaduais através do apoio técnico, capacitações, expedição de normas e legislações,

consolidação de informações e promoção da socialização das informações pertinentes

(BRASIL, 2006).

A ANVISA emitiu a Resolução RDC nº. 48 (BRASIL, 2000), com intuito de

estabelecer a sistemática para avaliação/inspeção dos Programas de Controle de Infecção

Hospitalar no Brasil. Esta instrumentalização de ações e fiscalização sanitária monitora a

forma mais efetiva de desenvolvimento das ações de Controle das Infecções nos

estabelecimentos hospitalares.

Devido à falta de indicadores, a ANVISA desenvolveu um Sistema de Informações

para o Controle de Infecção em Serviços de Saúde (SINAIS) (BRASIL, 2006). Este sistema

tem o objetivo de conhecer o perfil epidemiológico e principalmente as taxas de infecções dos

hospitais, para que haja uma corroboração na uniformização e padronização de indicadores

que possam ser acompanhados para uma orientação de implantação de ações para minimizar a

incidência e a gravidade das infecções hospitalares.

A infecção hospitalar no Brasil, aparece entre 5 e 15% dos pacientes hospitalizados. Os

internados em UTIs ficam entre 25 a 35% adquirem infecção hospitalar, o que compõe cerca

de 25% do setor responsável por todas as infecções hospitalares. Tornando a quarta causa de

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mortalidade no país (EGGIMANN & PITTET, 2001). Entretanto, a prevalência certa das

infecções hospitalares, declarada por órgãos oficiais ainda é desconhecida (TURRINI &

SANTO, 2002). Os dados disponíveis são apenas do inquérito nacional de 1994, que revelou

taxas de infecção hospitalar de 13% a 15% em hospitais públicos e privados brasileiros

(RODRIGUES, 1997; FERNANDES et al., 2000b).

São diversas as questões que relacionam às condições do funcionamento dos serviços,

as resistências e até mesmo as questões políticas relacionadas aos órgãos competentes

fiscalizadores que interferem no cumprimento das legislações e normas nos serviços

hospitalares (LACERDA & EGRY, 1997; SOUZA et al., 2002).

2.4. Infecções Hospitalares (IH) e o Ar Ambiente

Vários estudos comprovam que há propagação de microrganismos através do ar. As

infecções hospitalares mesmo sendo relacionadas com os métodos terapêuticos e diagnósticos,

elas podem se vincular ao ar e, portanto, devem ser consideradas (ADDINGTON, 2004;

PEREIRA et al., 2005; AFONSO et al., 2008). Alguns determinantes importantes a respeito

do grau de contaminação do ar interno são relacionados à quantidade de partículas, natureza,

taxa de ventilação, ocupação e grau de atividade exercida pelas pessoas que estejam em um

mesmo espaço físico (LUOMA & BATTERMAN, 2001).

A concentração de microrganismos dispersas no ar é muito diversificada, tendo em

vista que a contaminação microbiológica do ar de ambientes internos tenha como fontes o

meio externo e o próprio ambiente interno (BERNARDS et al., 1998). No entanto, caso

ocorra de encontrar outros gêneros em concentrações elevadas no ambiente interno

diferentemente das encontradas no ambiente externo, a fonte de amplitude deve ser

identificada e consequentemente, eliminada (JENSEN & SCHAFER, 2009).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) promoveu a redação da

Consulta Pública nº 109, de 11 de dezembro de 2003 (BRASIL, 2003). Através deste

documento foi possível classificar os ambientes hospitalares em níveis de ocorrência e

eventos adversos à saúde sendo estabelecidos limites para contagens totais de bactérias e

fungos. São de extrema necessidade uma determinação da composição e concentração de

microrganismos do ar nas áreas internas, externas e críticas de hospitais (ALBERTI et al.,

2001; DINIS et al., 2005). Relatos sobre a contaminação do ar por esporos de Aspergillus sp

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foram os primeiros como fonte de transmissão de agentes infecciosos no meio ambiente

hospitalar (PANNUTI, 1997).

A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) dentre os ambientes hospitalares, são as que

mais merecem destaque, uma vez que os doentes deste ambiente apresentam um risco

aumentado em adquirir uma infecção hospitalar por motivos de gravidade da doença, assim

como são expostos a vários procedimentos invasivos, como punção de cateteres venosos

centrais; passagem de cateterismo vesical; entubação traqueal com utilização de ventilação

mecânica; uso de antibióticos de amplo espectro; grande densidade populacional e

principalmente pelo tempo de internação que se torna muitas vezes, prolongada (GORBACH

et al., 2003; ABRAMCZYK, 2006a,b).

No Brasil, cresce a preocupação com as infecções hospitalares pelo aumento das taxas

de morbimortalidade (PFALLER, 1996; DE MORAES et al., 2000; COLOMBO et al., 2003)

Uma vez que o tratamento de pacientes com IH ficam extremamente caros em relação aos que

não tem IH. Ainda que tenha implantado a legislação o índice de IH permanecem elevados

cerca de 15,5% correspondendo 1,18 episódios de infecção por pacientes internados com IH.

(LEISER et al., 2007). Várias dessas infecções são causadas pela microbiota residente do

paciente, sendo conhecida como endógena, outras são exógenas, causadas pelas mãos dos

colaboradores da área de saúde, por materiais contaminados, pelo ar contaminado e até

mesmo fontes inanimadas ambientais (WENZEL, 1995).

A transmissão cruzada de patógenos continua sendo uma das principais causas para o

elevado número de pacientes com IH (GARDAM et al., 2007). Mas, observam-se, outros

fatores que também são contribuintes para o surgimento e a disseminação das infecções

hospitalares como na circulação constante de pessoas, enfermarias mal higienizadas, a

indiscriminada utilização de antibióticos e pelo uso de antissépticos muitas vezes impróprios

nas mãos das equipes de saúde (SIQUEIRA, 2000; RAMPLING et al., 2001; BERQUÓ et al.,

2004; HARAKEH et al., 2005).

Os dados sobre as infecções hospitalares são pouquíssimos divulgados no Brasil, por

não serem consolidados por muitos hospitais (TURRINI et al., 2002), o que torna difícil o

conhecimento da real dimensão do problema. Entretanto, estima-se que elas sejam

responsáveis por cerca de 45.000 óbitos e prejuízos na ordem de bilhões de reais anualmente

(MALUF et al., 2002).

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2.5. Os Fungos anemófilos

Os fungos incluem organismos eucariotos, unicelulares ou pluricelulares. O micélio

fúngico é o conjunto de filamentos, ou hifas, que compõem o corpo vegetativo dos fungos.

Por ser um sistema de filamentos ramificado, constitui às vezes, corpos morfologicamente

complexos. Vistos no microscópio óptico, as hifas são extremamente simples e de fácil

observação. Podem ser cenocíticas ou septadas (celulares). As septadas, ao microscópio

eletrônico, podem apresentar um septo completo, com poro simples ou poro doliporo - com

espessamento nas bordas (GUERREIRO & SILVEIRA, 2003; SIDRIM & ROCHA, 2004).

Os fungos são heterotróficos, capazes de obter energia da matéria orgânica em

decomposição. Eles se nutrem por absorção, diferentemente dos animais que o fazem por

ingestão (LACAZ et al., 2002). Quando a fonte de matéria orgânica está em decomposição, os

fungos são ditos sapróbios. Já quando desenvolve em matéria viva, chamamos de parasitas.

Temos ainda os grupos dos simbiontes como os liquens de fungos com algas, enquanto as

micorrízas são exemplos de associações com raízes de plantas terrestres (KENDRICK, 2008).

Encontramos estes organismos nos mais variados ambientes aquáticos e terrestres. Os

esporos resistentes são facilmente dispersos e encontrados no ar, formando a microbiota

anemófila. Ao abrirmos uma placa de Petri, preparada com meio de cultura esterilizado, por

alguns minutos em um ambiente, terá uma placa contaminada com certa facilidade pelos

fungos, isso comprova a grande ocorrência de seus esporos no ar (ALEXOPOULOS et al.,

1996).

David Hawksworth, renomado micologista inglês, chegou a uma estimativa de

aproximadamente 1,5 milhões de espécies de fungos presentes em todos os habitats de nosso

planeta. Até o momento existem cerca de 75.000 espécies catalogadas, ou seja, somente 5%

de toda a diversidade estimada é conhecida (HAWKSWORTH, 2001). Os homens, os animais

mamíferos e os insetos são responsáveis pela dispersão dos fungos, pois estes fazem parte da

microbiota indígena da pele, cabelo e mucosas dos animais. Os esporos fúngicos também

podem ser dispersos pelo ar (BERNARDI & NASCIMENTO, 2005).

Assim, como causadores de doenças em plantas, os fungos anemófilos também podem

causar micoses em humanos e animais. As micoses são infecções de origem fúngica que,

geralmente são crônicas e de longa duração. Estas infecções são classificadas como

superficiais, cutâneas, subcutâneas ou sistêmicas (BURTON & ENGELKIRK, 2005).

Entretanto, os fungos possuem baixa virulência e as micoses causadas pelos fungos aos

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humanos são ditas como oportunistas e está associada ao estado imunossuprimido do

indivíduo bem como sua alta exposição ambiental aos esporos fúngicos (WANKE et al.,

2000; TORTORA et al., 2005).

Segundo Martins-Diniz et al. (2005), os ambientes climatizados apresentam acúmulo

de umidade e depósito de material orgânico alojados nas bandejas de condicionadores de ar,

o que pode tornar uma poderosa fonte dispersora de microrganismos. Uma das complicações

mais frequentes dos doentes hospitalizados são as infecções hospitalares causadas por

microrganismos e por isso há uma preocupação específica com a qualidade do ar climatizado

de ambientes hospitalares, principalmente nas Unidades de Terapia Intensiva - UTIs

(MORBIM & SALMITO, 2006).

Em torno de 80% das infecções fúngicas de origem hospitalar provém das espécies

do gênero Cândida, sendo a quarta causa de infecção da corrente sanguínea, levando a óbito

de 25 a 38% dos pacientes que desenvolvem candidemia (ST-GERMAING et al., 2001). No

período neonatal, principalmente entre os recém-nascidos (RN) de baixo peso, a sepse fúngica

tornou-se frequente (BALEY & ELLIS, 2003). Algumas ocorrências de fungos dispersos no

ar aparecem em pesquisas realizadas em diversos estados do Brasil. Dentre eles os estudos

relacionados ao isolamento desses de fungos em unidade hospitalar do município de

Araraquara, São Paulo (DINIZ et al., 2005); sensibilização em indivíduos atópicos no Rio

Grande do Sul (MEZZARI et al., 2002); exposição alergênica e sintomas respiratórios em

ambientes climatizados em São Paulo (GAUDENZ et al., 2004); análise de um acidente

fúngico na Biblioteca Central de Manguinhos (STRAUZ, 2001); em um aeroporto do Rio de

Janeiro (SILVEIRA, 2001) e em ambiente climatizado artificialmente antes e após a

higienização no Estado de São Paulo (DUTRA, 2002).

Os gêneros Cladosporium, Cândida, Penicillium, Aspergillus, Rhizopus, Fusarium,

Rhodotorula, Aureobasidium, Curvularia, Helminthosporium e Trichoderma são os fungos

mais frequentes encontrados nas regiões brasileiras nos períodos do outono e inverno, cuja

frequência aumenta consideravelmente (LACAZ et al., 2002). Alguns estudos sugerem que a

quantidade e a variedade de fungos ocorrem de acordo com as regiões geográficas, sob

influência de fatores ambientais sazonais e climáticos (PEI-CHIN et al., 2000a; HUANG et

al., 2002). Pei-Chin et al. (2000), demonstraram alguns estudos em que a exposição de

fungos presentes no ar estão associadas ao desenvolvimento de diversas doenças respiratórias,

dentre elas a asma que detém uma relação íntima com a flora micótica do ar, outras patologias

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como pneumonite por hipersensibilidade, rinite, aspergilose e reações tóxicas e micoses com

variados graus de dificuldades de tratamento (REPONEN et al., 1996).

Alguns microrganismos se encontram dispersos no ar o que preocupa bastante a clínica

médica, uma vez que há fungos oportunistas como Penicillium sp., Aspergillus sp., Cândida

sp., Cladosporium sp. e Fusarium sp., que são responsáveis por doenças como otite, infecções

urinárias, micotoxicoses, infecções oculares, fungemias até onicomicoses (SIDRIM &

ROCHA, 2004; GRUMACH, 2001).

Figura 1: Observação de um conidióforo típico de Aspergillus sp, aumento de 1000x.

2.6. As Bactérias anemófilas

Existem várias espécies de bactérias anemófilas patogênicas, que colonizam o sistema

de ar condicionado e podem contaminar as pessoas que estão expostas ao ambiente

climatizado (TORTORA et al., 2005; JAWETZ et al., 2000). Assim como os fungos, as

bactérias podem causar uma infecção em um paciente hospitalizado por vias endógenas ou

exógenas. Dentre as espécies anemófilas está a mais importante, por estar presente em todas

as regiões e climas do mundo, que é a Mycobacterium tuberculosis. A tuberculose pulmonar é

uma doença infecciosa de grande importância. Estima-se que um terço da população do

mundo seja infectado anualmente por M. tuberculosis (MTb), uma bactéria fracamente gram-

positiva que faz parte do grupo dos actinomicetos (GWON et al. 2004; MADIGAN et al.,

2004; TORTORA et al., 2005). Entretanto, o número de casos diagnosticados de tuberculose

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em 2004 foi de apenas 8 milhões (GWON et al., 2004). Os aerossóis contendo células de

MTb apresentam-se nas dimensões que variam de 1 a 5 µm e podem se manter suspensos no

ar por um longo período de tempo. Estudos mostraram que a tuberculose pulmonar pode ser

transmitida de pessoa para pessoa pela inalação de gotículas que contém ao menos duas

células do bacilo de MTb. Os ambientes que possuem risco superior de tuberculose são

aqueles que possuem pessoas sintomáticas da doença e incluem hospitais, unidades

penitenciárias, abrigos para pessoas desabrigadas, centros de reabilitação, e asilos (GWON et

al., 2004).

A bactéria Klebsiella pneumoniae pode ocasionalmente causar pneumonia. Bactérias

do gênero Klebsiella são freqüentemente encontradas na água e no solo (MADIGAN et al.,

2004). As bactérias do gênero Legionella são bacilos gram-negativos aeróbios, causam uma

espécie de pneumonia conhecida como legionelose ou “doença dos legionários”. Os principais

sintomas são febre alta, dores de cabeça, fraqueza e dores musculares. Outro quadro causado

pela Legionella sp é a febre de Pontiac, uma doença febril sistêmica autolimitante, muito rara.

Também foi associada a casos de infecção do sítio cirúrgico (MANGRAM et al., 1999).

Indivíduos desse gênero habitam córregos e colonizam tipos de hábitat como linhas de água

quente, bandejas de condensação e torres de resfriamento em sistemas de ar-condicionado. A

habilidade de viver e se reproduzir dentro de amebas aquáticas torna sua erradicação difícil

em sistemas de água (GORBACH et al., 2003; TORTORA et al., 2005).

Outra bactéria que pode ser facilmente transmitida pelo ar é a Haemophilus influenzae.

Trata-se de um bacilo gram-negativo que provoca meningite, infecções do ouvido médio e,

mais raramente, pneumonia. Este patógeno oportunista também é responsável, juntamente

com Staphylococcus pneumoniae, pela sinusite e pela epiglotite, uma inflamação da epiglote

que pode resultar em morte dentro de poucas horas (GORBACH et al., 2003; TORTORA et

al., 2005).

As bactérias Gram-positivas com baixo conteúdo G + C3 (Índice G + C: Proporção de

base GC (guanina-citosina) no DNA), são de grande importância médica (MADIGAN et al.,

2004; TORTORA et al., 2005). A seguir são descritos dois gêneros de bactérias desse filo que

podem ser transmitidas por via aérea: Staphylococcus, Streptococcus. Os Staphylococcus são

micro-organismos anaeróbicos facultativos e crescem bem sob condições de alta pressão

osmótica e baixa umidade, o que explica parcialmente seu crescimento e sobrevivência nas

secreções nasais e na pele humana. Essas bactérias produzem várias toxinas que contribuem

para sua patogenicidade, sendo responsáveis por infecções comuns em cortes cirúrgicos. O S.

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aureus produz a toxina responsável pela síndrome do choque tóxico, uma infecção grave

caracterizada por febre alta e vômitos, algumas vezes ocasionando a morte. Esta bactéria

também pode causar infecções na pele, como furúnculos e acne, além de pneumonia,

meningite e artrite. Sua habilidade de adquirir rapidamente resistência aos antibióticos, como

penicilina, representa um perigo para pacientes em ambientes hospitalares (MADIGAN et al.,

2004; TORTORA et al., 2005).

As espécies do gênero Streptococcus crescem em arranjos de diplococos ou em cadeias

de vários indivíduos, apresentam cápsula e produzem uma reação Gram-positiva. Os

organismos do gênero Streptococcus são um grupo complexo, provavelmente responsável por

um maior número e diversidade de doenças do que qualquer outro grupo de bactérias. Entre as

doenças causadas por S. pyogenes, o principal patógeno deste gênero, estão a febre

escarlatina, a faringite e a laringite. Outra espécie patogênica de importância na qualidade do

ar é S. pneumoniae, também causadora de laringite, freqüentemente em combinação com

vírus e, provavelmente, a causa mais comum de pneumonia (pneumonia pneumocócica)

(GORBACH et al., 2003; MADIGAN et al., 2004; BURTON & ENGELKIRK, 2005;

TORTORA et al., 2005).

Os gêneros Streptomyces, Actinomyces e Nocardia apresentam filamentos abundantes

e freqüentemente ramificados e sua morfologia se assemelha à dos fungos filamentosos.

Entretanto, esses filamentos são formados por células procarióticas e com diâmetro muito

inferior ao dos fungos (MADIGAN et al., 2004; TORTORA et al., 2005). Grigorevski-Lima

et al. (2006) descrevem os esporos desses microorganismos como contaminantes importantes

do ar interno e externo. Estes mesmos autores coletaram amostras de ar interno e encontraram

actinomicetos em 90% das amostras.

As Actinomyces spp são anaeróbias facultativas, geralmente encontradas na boca e na

garganta de seres humanos e de animais. A espécie A. israelii causa a actinomicose, uma

doença que afeta, geralmente, a cabeça, pescoço e pulmões (TORTORA et al., 2005). As

espécies do gênero Nocardia assemelham-se às espécies do gênero Actinomyces, sendo,

entretanto, aeróbios obrigatórios. Bactérias deste gênero possuem filamentos de elementos

cocóides ou alongados, ocasionalmente produzindo esporos aéreos (MADIGAN et al., 2004).

Algumas espécies, como a N. asteroides, eventualmente causam uma infecção pulmonar de

difícil tratamento (TORTORA et al., 2005).

As espécies do gênero Mycoplasma são bactérias aeróbias facultativas, patogênicas em

sua maioria. Suas células são muito pequenas, apresentando apenas cerca de 5% do volume

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celular de um bacilo típico e suas colônias têm menos de 1 mm de diâmetro. Mycoplasma

pneumoniae é o patógeno humano mais significativo entre os micoplasmas. Esta espécie é

responsável por uma forma comum de pneumonia branda, ou atípica (GORBACH et al.,

2003; MADIGAN et al., 2004; BURTON & ENGELKIRK, 2005; TORTORA et al., 2005).

Bactérias do gênero Chlamydia pertencem ao filo de mesmo nome e são parasitas

obrigatórias. Há três espécies conhecidas entre as clamídias: C. psittaci, que causa a psitacose

através do contato por via respiratória com dejetos de aves; C. trachomatis, que causa o

tracoma (doença oftálmica extremamente contagiosa), conjuntivite de inclusão e outras

doenças nos seres humanos; e C. pneumoniae, causador de uma variedade de síndromes

respiratórias, como bronquite, pneumonia e sinusite (MADIGAN et al., 2004; BURTON &

ENGELKIRK, 2005).

Há uma grande variedade de espécies bacterianas que ronda o ambiente hospitalar,

tornando fundamental o monitoramento destes ambientes, evitando assim as infecções

hospitalares em pacientes recém-operados, internados nas UTIs e ainda, os pacientes

neutropênicos, em tratamento anti-cancer ou receptores de transplantes.

Figura 2: Observação microscópica de cocos bacterianos. Fonte: medicinageriatrica.com.br.

2.7. O ar e sua microbiota Fúngica

A importância das investigações da presença de fungos ambientais, principalmente aos

que compõe a microbiota anemófila hospitalar, é a prevenção das doenças alérgicas, assim

como as infecções hospitalares que são provocadas por esses patógenos ao homem

(GRUMACH, 2001).

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No ar atmosférico encontramos dispersos uma grande diversidade de espécies de

fungos anemófilos que podem causar patologias no ser humano. Devido à própria carência de

estudos mais especializados, principalmente no quesito da taxonomia fúngica, as publicações

em torno da composição da microbiota fúngica do ar não possuem identificação em nível de

espécie de fungos filamentosos. Isso se deve exatamente à dificuldade que apresenta no tempo

de crescimento das culturas e na escassez de estruturas reprodutivas que ajudam na

classificação taxonômica das espécies (JAWETS, 1998).

Nos Estados Unidos, bem como em outros países, a Infecção hospitalar causada por

fungos, constitui um crescente problema de saúde pública. Sendo que a prevalência de

infecções nos EUA passou de 6% para 10,4% em 10 anos. Segundo o Sistema Nacional de

Vigilância das Infecções Hospitalares, 80% destas infecções foram causadas por fungos

dentre elas as leveduras do gênero Cândida, sendo a terceira causa de infecções mais comum.

(TRICK et al., 2002; RODRIGUES et al., 2007; MALUCHE & SANTOS, 2008).

A identificação cada vez mais rápida e simples de leveduras, devido à grande

prevalência de espécies de Cândida envolvidas em infecções hospitalares, é de extrema

importância nos laboratórios microbiológicos (HSU et al., 2003; MALUCHE & SANTOS,

2008). Desta forma, os métodos moleculares de análises rápidas e com alta sensibilidade e

especificidade são utilizados para a identificação de marcadores espécie-específicos, que

geram informações com maior eficácia na detecção e identificação dos patógenos

(MCCULLOUGH et al., 1999; WAHYNINGSIH et al., 2000; MAHNSS et al., 2005).

Vários processos fisiopatológicos e traumáticos facilitam muito a colonização e a

infecção do hospedeiro por Cândida sp. A quimioterapia, a neutropenia e a desnutrição são as

causas mais comuns de imunossupressão (JARVIS & MILLER, 2005; PFALLER &

DIEKERNA, 2007). Outros fatores importantes que facilitam a penetração dos

microrganismos no hospedeiro são pacientes com queimaduras graves, grandes cirurgias

(VAZQUEZ et al., 1993; GODOY et al., 2003) e o uso prolongado de cateteres, associados à

antibioticoterapias, nos quais as leveduras se multiplicam no trato gastrointestinal ou na pele,

causando uma disseminação na corrente sanguínea do fungo, ocasionando a candidemia

(CANTÓN et al., 2001; COLOMBO & GUIMARÃES, 2000).

Humphrey (1998) e Eickhoff (1994) discutem a dificuldade em quantificar o risco que

o paciente apresenta em adquirir infecção hospitalar causada por patógenos suspensos no ar.

De acordo com Gambale et al. (1993) e Mezzari et al. (2002) a exposição aos propágulos

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fúngicos oportunistas desencadeiam manifestações nos indivíduos como a conjuntivite, a

rinite alérgica e até mesmo a asma brônquica.

Segundo Leenders et al. (1999) algumas precauções como a utilização de sistemas

eficientes no suprimento de ar, com uma quantidade mínima de bioaerossóis, além do

isolamento do ambiente interno em relação ao meio exterior do prédio são sugeridas para

limitar a exposição a fungos anemófilos patogênicos contribuindo para redução de infecções

fúngicas nos ambientes hospitalares. Entretanto, o monitoramento da qualidade do ar tem sido

a medida mais efetiva em diversos hospitais do Brasil, da Europa e dos Estados Unidos, uma

vez que possibilita acompanhar as modificações que possam ocorrer na qualidade do ar e

tomar as devidas providencias a tempo de evitar contaminações nos pacientes hospitalizados.

Figura 3: Observação da conidiação típica de Cladosporium sp, aumento 1000x.

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3. JUSTIFICATIVA

O monitoramento da qualidade do ar em ambiente hospitalar é de suma importância,

pois neste ambiente concentram-se grande variedade de microrganismos anemófilos, que

constituem uma flora potencialmente patogênica formada por fungos, bactérias, algas e vírus.

Além disso, os pacientes que circulam as diferentes alas dos hospitais, principalmente as UTIs

e a oncologia, normalmente apresentam um perfil imunossuprimido, com destacada

neutropenia, o que favorece a infecção grave pelos agentes oportunistas.

Ainda, o uso prolongado de medicamentos imunossupressores, como os

corticosteróides ou o uso de indiscriminado de antibacterianos, favorecem a infecção e

disseminação por fungos patogênicos, que podem estar presentes na microbiota indígena do

paciente, como o caso das candidemia, ou podem estar presentes no ar, como é o caso das

aspergilose. Ambas as doenças, tem sido importantes causas da mortalidade dos pacientes

internados em UTIs ou na oncologia por períodos prolongados. Assim, faz-se a importância

do monitoramento ambiental destas unidades, assim como em todo o hospital, isolando e

quantificando bioaerossóis fúngicos antes que se tornem uma forte ameaça aos pacientes

internados.

O presente estudo faz parte de um grande projeto pesquisa desenvolvido no laboratório

de Micologia do Núcleo de pós-graduação da Santa Casa de Belo Horizonte, denominado

PROTAX (Programa de Taxonomia). Este projeto é financiado pelo CNPq e tem como

objetivo formar jovens estudantes em taxonomia fúngica. Este projeto visa fortalecer a

presença de taxonomistas em micologia, dando ênfase aos fungos de interesse médico. Desta

forma, isolar e identificar os fungos anemófilos presentes nas diferentes alas do hospital Santa

Casa, foi um importante objeto de estudo e que consolidou esta pesquisa no Laboratório de

Micologia, pois toda a equipe pôde participar desta tarefa e crescer junto neste propósito,

juntamente da estudante de mestrado.

Outra motivação neste estudo foi o fato de que a Santa Casa estava passando por um

período de reformas, com a construção dos 1000 Leitos SUS. As UTIs estavam passando por

um grande tumulto e a grande quantidade de poeira foi uma constante preocupação dos

médicos e profissionais do hospital. A pesquisa realizada bem neste período foi oportuna, pois

trouxe um esclarecimento sobre a sobrecarga de microrganismos anemófilos neste período.

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4. OBJETIVOS

4.1 GERAL

Realizar levantamento da microbiota do ar presente nos diferentes ambientes do

Hospital Santa Casa de Belo Horizonte, Minas gerais.

4.2 ESPECÍFICOS

- Avaliar os níveis de contaminação fúngica do ar dos ambientes;

- Identificar os fungos isolados nestes ambientes;

-Indicar as espécies de fungos potencialmente patogênicas, toxicogênicas e alergizantes no ar;

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5. METODOLOGIA

5.1. Coleta de amostras

As coletas foram realizadas durante o período de 08 meses (dezembro de 2011 a

agosto de 2012), percorrendo diferentes áreas do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte. As

áreas em estudo, de onde foram coletadas as amostras, foram: 80 e 9

0 andar - alas A

e B; CTI

adulto; Unidade Coronariana; enfermaria pediátrica; CTI Neonatal; CTI Pediátrico e

Oncologia.

Para a coleta das amostras de fungos e bactérias do ambiente, foram abertas 02 placas

em cada local específico, contendo o meio Àgar-Sabouraud com e sem o antibiótico

Cloranfenicol a 0,05% (Sigma,USA). Ao todo, foram abertas 150 placas em todo o

experimento. As placas foram abertas por um período de 5 minutos em cada local.

Além da abertura das placas, foram coletados swabs de equipamentos que estavam

presentes nos setores, como ventiladores mecânicos, monitores, teclados de computador,

bombas de infusão, etc. Os swabs foram repicados nas placas de petri contendo o meio Àgar-

Sabouraud com e sem o antibiótico Cloranfenicol a 0,05% (Sigma,USA).

As placas que não continham o antibiótico Cloranfenicol foram incubadas a 370C a

fim de observar o crescimento de bactérias. As placas que continham o Cloranfenicol foram

incubadas a 270C, a fim de observar o crescimento de fungos. Após 5 dias incubadas, foram

anotados os resultados de crescimento de colônias de bactérias, de fungos leveduriformes e

filamentosos.

As colônias de bactérias foram imediatamente coradas pelo método de Gram (item

5.6), a fim de caracterizar as colônias como cocos, bastonetes ou cachos, gram positivos ou

negativos.

As diversas colônias de crescimento fúngico foram isoladas em novas placas de meio

Àgar-Sabouraud contendo Cloranfenicol a 0,05%, a fim de isolar uma cultura da outra,

evitando assim a contaminação entre elas. Novamente, após 5 dias de crescimento das

colônias isoladas, foi realizado o microcultivo, pelo método de Ridell (item 5.4) e incubadas

por 20 a 30 dias para observar o tipo de esporulação.

Para conservação das amostras de fungos e bactérias, todas foram mantidas a 4ºC em

tubos de ensaio, de 16x16mm, contendo o meio Àgar-Sabouraud com Cloranfenicol a 0,05%,

com repiques semestrais.

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5.2. Reagentes utilizados

Tabela 1. Lista de reagentes utilizados. REAGENTE MARCA ESPECIFICAÇÃO

Açúcares Difco e Reagen P.A.

Ágar-Ágar Difco P.A.

Alcool Etilico Difco P.A.

Corante Lactofenol Merck -

Etanol Sigma P.A.

Extrato de levedura Difco -

Filtro de Papel Reagen no. 40

Kit para colocaração pelo Gram Laborclin -

Peptona Difco P.A

PA – Pró-análise

5.3. Meios de cultura utilizados

Foram utilizados os seguintes meios de cultura:

Meio Ágar Sabouraud

Glicose 20,0 g

Peptona 10,0 g

Ágar-ágar 15,0 g

Água destilada q.s.p. 1000 mL pH- 5,0

Meio Ágar-batata

Extrato de batatas (livres de agro-químicos) 230 mL

(100 g de batatas descascadas cozidas em 300 mL de água destilada, e filtradas em papel de filtro)

Glicose 20,0 g

Ágar-ágar 20,0 g

Água destilada q.s.p. 1000 mL pH- 6,5

Meio Ágar-fubá

Fubá (livre de produtos agro-químicos) 12,50 g

Ágar-ágar 3,80 g

Água destilada q.s.p. 300 mL pH- 6,5

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5.4. Observação macroscópica das colônias de fungos e bactérias:

Após o período de incubação, foram descritos os morfotipos das colônias isoladas,

levando-se em consideração os seguintes aspectos taxonômicos:

- a) – Tamanho da colônia: as colônias leveduriformes apresentam crescimento

limitado, enquanto que as filamentosas apresentam crescimento invasor.

- b) - Textura da colônia: a colônia pode ser cremosa (ou butirosa), mucóide,

aveludada, granulosa, cotonosa (ou pulverulenta), membranosa (ou coriácea),

verrucosa (ou cerebriforme);

- c) - Verso e reverso da colônia: O reverso pode estar inalterado, ou seja, a cor do

meio não é diferente da observada no verso. Ex: colônia de cor bege com reverso bege

(reverso inalterado); colônia branca com reverso bege (reverso alterado).

5.5. Técnica de Microcultivo pelo método de Ridell

A técnica de Microcultivo foi realizada de acordo com Ridell, descrita em

CAMPBELL & STEWARD (1980), acompanhando os seguintes passos:

Material:

- Placas de microcultivo esterilizados: Placas de Petri contendo o suporte de lâminas,

lâminas e algodão hidrófilo (Figura 4);

- Lamínulas estéreis;

- Corante Lactofenol : Azul de algodão + ácido fênico + ácido lático;

- Água estéril.

Metodologia:

- Cortou os cubos de ágar-batata ou agar-fubá (Item 5.3) e colocou sobre uma

lâmina;

- Semeou 4 fragmentos da cultura fúngica em cada canto do ágar;

- Cobriu com uma lamínula estéril;

- Adicionou água estéril ao algodão;

- Fechou a placa e deixou incubar a 28oC por 4 semanas, lembrando de umedecer o

algodão a cada semana;

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- Após 4 semanas retirou a lamínula e colocou-a sobre uma lâmina contendo 2

gotas de lactofenol;

- Retirou o cubo de ágar, descartou-o e adicionou 2 gotas do corante Lactofenol

(Tabela 1) à lâmina e colocou uma nova lamínula sobre a lâmina;

- Examinou as duas lâminas ao microscópio ótico com objetiva de pequeno e médio

aumento;

O corante Lactofenol é composto pelo corante Azul de Algodão, que cora a parede

fúngica; o ácido fênico e o ácido Lático que ambos têm a função de matar o fungo assim que

entra em contato com o mesmo. Este corante é vendido comercialmente.

Figura 4: Técnica de microcultivo em lamina.

O gel de meio de cultura é colocado sobre uma lâmina, que fica sobre um suporte de arame,

dentro de uma placa de petri estéril, para que ocorra o crescimento do fungo e a liberação de seus

esporos típicos de cada espécie.

5.6. Identificação das espécies de fungos

Após o crescimento em microcultivo, as colônias foram observadas ao microscópio

ótico para observação das estruturas fúngicas típicas de cada espécie, utilizando o Atlas de

Micologia Clínica (de HOOG, 2000).

O tipo de esporulação e sua ontogenia são características taxonômicas importantes

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para a classificação das espécies. Desta forma, a partir da observação das estruturas fúngicas

em microscopia e as características das colônias, foi possível de identificar os gêneros de

fungos isolados nas coletas no Hospital Santa Casa de Belo Horizonte.

É importante anotar as estruturas observadas:

1. Tipo de hifa observado (larga, estreita, septada, não septada e presença de

ramificações e pigmentação);

2. Presença de microconídios ou macroconídios;

3. Presença de esporângios, basidiosporângios ou ascosporângios;

4. Presença de fiálides, cladosporios ou rinocladielas;

5. Presença de clamidósporos ou artrósporos;

6. Presença de blastosporos;

5.7. Técnica de coloração pelo Gram para identificação das bactérias

Para a coloração pelo método de Gram (KRIEG & HOLT, 1984), foi utilizado o Kit de

coloração pelo Gram vendido comercialmente pela empresa Laborclin (Paraná, Brasil). Para

tanto, seguiu-se os seguintes passos:

- Realização de esfregaço da cultura de bactéria em uma lâmina aquecida lentamente para

fixar o esfregaço na lâmina;

- Cobertura da lâmina com Cristal Violeta deixando-se corar por 50 segundos;

- Lavagem imediatamente com água corrente;

- Cobertura da lâmina com Lugol deixando-se corar por 60 segundos;

- Lavagem imediatamente com água corrente;

- Após escorrer e descorar rapidamente com solução de acetona (30%) e álcool (70%);

- Lavagem imediatamente com água corrente;

- Cobertura da lâmina com Safranina (solução em 2,5% no álcool a 95%) e deixou corar por

45 segundos;

- Escorrer e deixar secar à temperatura ambiente;

- Exame da lâmina em microscópio ótico, no aumento de 1000x, com auxilio do óleo de

imersão;

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6. RESULTADOS

Durante a realização deste estudo foram abertas 150 placas de petri contendo o meio

de cultura, de onde foram isoladas 136 colônias de fungos ou bactérias (Tabela 2). Dentre as

colônias isoladas, foram identificados 14 gêneros de fungos anemófilos. Estes gêneros foram

classificados segundo o sistema de classificação proposto por Alexopoulos et al. (1996).

Figura 5: Placas de petri com o crescimento das colônias fúngicas e bacterianas.

Entre as 136 colônias isoladas, o gênero Cladosporium foi o mais frequente com 39

colônias (29%), seguido pelos gêneros Chrysosporium, Cladophialophora, Aspergillus, todos

com 16 colônias isoladas (12%); Penicillium com 8 colônias (6%) e Cândida sp, com apenas

5 colônias (4%). Considerando as bactérias, foram isoladas 10% de cocos gram-positivos e

4% de bastonetes gram-negativos.

Dentre as espécies de fungos filamentosos, algumas são consideradas como

potencialmente patogênicas, sendo oportunistas em pacientes imunossuprimidos, internados

por longo período em UTIs ou Oncologia. Os gêneros Aspergillus spp e Cladosporium spp,

Penicilium spp e Cândida spp são os mais importantes devido ao alto numero de casos

relatados na bibliografia médica (de HOOG et al. 2000). Dentre as colônias isoladas nas

diferentes unidades do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte 106 (78%) são considerados

potencialmente patogênicas, apenas 30 (22%) não patogênicos. Algumas espécies são

alergizantes, como o Aspergillus spp e o Penicilium spp. Neste estudo foi isolado um total de

24 colônias destes gêneros de fungos (18%).

Pode-se considerar fungos toxicogêncios aqueles que produzem micotoxinas que

podem causar, em longo prazo, alguma lesão neuronal ou hepática. Neste estudo foram

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isolados apenas os gêneros Aspergillus spp e Penicillium spp., que são considerados fungos

toxigênicos.

Gráfico 1: Proporção dos gêneros dentre as 136 colônias isoladas nos diferentes ambientes

do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte.

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O gráfico 2 demonstra o isolamento das espécies de fungos no 80 andar. Não houve

isolamento de colônias bacterianas e nem leveduriforme. Houve isolamento de cinco colônias

de Cladosporium sp (50%), seguido de duas colônias de cada gênero Aspergillus sp e

Chrysosporium sp (20%).

Gráfico 2: Proporção dos gêneros dentre as 10 colônias isoladas 8º andar do Hospital

Santa Casa de Belo Horizonte.

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Assim como descrito no 80

andar, verificou-se crescimento de Cladosporium sp

permanece bem significante no 90 andar (47%), seguido do Penicilium sp (17%) (gráfico 3).

Gráfico 3: Proporção dos gêneros dentre as 17 colônias isoladas 9º andar do Hospital Santa

Casa de Belo Horizonte.

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No CTI adulto foi observado o crescimento de seis colônias de Aspergillus sp (19%),

seguido de cinco colônias Cladosporium sp (16%). Foram isoladas cinco colônias de cocos

gram-negativos e duas colônias de bastonetes gram-positivos, perfazendo um total de 22 %

das colônias isoladas neste ambiente (gráfico 4).

Gráfico 4: Proporção dos gêneros dentre as 32 colônias isoladas no CTI adulto

do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte.

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Com relação à Unidade Coronariana, foram isolados cinco colônias de cocos gram-

positivos (23%) e duas de bastonetes gram-negativos (9%), perfazendo um total de 32% das

colônias isoladas neste ambiente (gráfico 5).

Gráfico 5: Proporção dos gêneros dentre as 22 colônias isoladas na Unidade Coronariana

do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte.

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Na Enfermaria Pediátrica foram isoladas cinco colônias de Cladophialophora sp

(36%) e quatro colônias de Cladosporium sp (29%). Foi isolada uma colônia leveduriforme

de Candida sp e uma colônia de coco gram-positivo (gráfico 6).

Gráfico 6: Proporção dos gêneros dentre as 14 colônias isoladas na Enfermaria Pediátrica

do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte.

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No CTI pediátrico foram isoladas cinco colônias de Cladosporium sp (38%), seguido

de 3 colônias de Crysosporium sp (23%) e de duas colônias de Cladophialophora sp (15%).

Foi isolada uma colônia de bastonete gram-negativo e uma de coco gram-positivo. Não houve

crescimento na coleta do swab do monitor deste setor (gráfico 7).

Gráfico 7: Proporção dos gêneros dentre as 13 colônias isoladas no CTI pediátrico

do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte.

No CTI neonatal foram isoladas 5 colônias de Cladosporium (38%), seguido de duas

colônias de Cladophialophora sp e de Crysosporum sp (15%). Foi isolada uma colônia de

coco gram-positivo do swab do monitor do eletrocardiograma e uma colônia de bastonete

gram-negativo do ventilador do paciente (8%) (gráfico 8).

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Gráfico 8: Proporção dos gêneros dentre as 13 colônias isoladas no CTI neonatal

do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte.

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No setor de oncologia foram isoladas quatro colônias de Cladosporium sp (27%),

seguido de 3 colônias de Cladophialophora sp e de Aspergillus sp (20%). Foram isoladas

duas colônias leveduriformes de Cândida sp (13%). Não houve crescimento no swab da

bomba de infusão coletada no setor (gráfico 9).

Gráfico 9: Proporção dos gêneros dentre as 15 colônias isoladas no setor de oncologia

do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte.

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7. DISCUSSÃO

A partir das 150 exposições de placas realizadas nos ambientes de escolha da Santa

Casa de Belo Horizonte, foi possível observar o crescimento de 136 colônias fúngicas, como

ilustra a tabela 2 (apêndice 1). Os dados obtidos estão em conformidade com os dados

apresentados em algumas publicações. Em um estudo sobre a microbiota fúngica presente nos

setores de um hospital público em Campina Grande na Paraíba, Carmo e colaboradores

(2007) detectaram 218 colônias de fungos anemófilos a partir de uma exposição de 30 placas.

Em outro estudo, foram isolados 220 colônias em 50 exposições realizadas por Menezes e

colaboradores (2006) numa sala de periódicos da biblioteca de ciências da saúde da

Universidade Federal do Ceará.

Embora os achados demonstrem a presença de fungos potencialmente patogênicos,

isso não quer dizer que os pacientes sejam necessariamente infectados por estas espécies. O

estudo é apenas uma demonstração da existência desses microrganismos dentro de setores

importantes do hospital, que acomodam pacientes imunossuprimidos, comprometendo, assim

o tratamento dos mesmos. De acordo com Mc Donald et al. (1998), as placas expostas em

ambientes e contendo meio de cultura destinadas ao crescimento microbiano, servem tão

somente para um alerta microbiológico. Portanto, o monitoramento da qualidade do ar é de

suma importância dentro de um hospital devido ao fato de que inúmeras doenças são

transmissíveis através dos bioaerossóis da microbiota anemófila, formada principalmente

pelos fungos e bactérias. Estes organismos anemófilos constituem uma flora potencialmente

patogênica que, vindo de encontro com o perfil imunossuprimido do paciente pode ocasionar

em uma infecção oportunista fatal (ROSA & de MELO LISBOA, 2005).

Em nossos estudos, encontramos uma microbiota muito diversificada, formada por

bactérias gram-negativas, gram-positivas, fungos leveduriformes e filamentosos. Dentre as

colônias de fungos filamentosos identificadas, predominou o gênero Cladosporium sp. Alguns

estudos realizados em países temperados verificaram que os fungos dematiáceos, ou fungos

negros, como o gênero Cladosporium sp são predominantes na poeira e no ar dos ambientes

(SALOMON et al., 2006). A espécie Cladosporium bantianum é a principal espécie que

causa doenças graves em humanos como abscessos cerebrais em todo o mundo (DEB et al.,

2005). Já a espécie Cladosporium herbarum, isolada no ar da UTI causa cromoblastomicose e

as demais espécies deste gênero podem desencadear reações alérgicas em pessoas mais

sensíveis (PETERNEL et al., 2004).

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Dentre alguns estudos realizados por Beaumont et al. (1985) na Holanda; Halwagy

(1989) no Kuwait; Savino e Caretta (1992) em Yokohama no Japão; Dixit et al. (2000) no

Texas, demonstraram que dentre as espécies de maior ocorrência em pesquisas de

monitoramento de fungos anemófilos nos interiores predomina as espécies do gênero

Cladosporium.

Tanto o Penicillium quanto o Aspergillus causam infecções importantes nos seres

humanos como peniciliose e aspergilose, podendo lesionar e causar efeitos adversos no

organismo (JARVIS & MILLER, 2005; MURTONIEMI et al., 2005; BUSH et al., 2006;

JOHANNESSEN et al., 2007). O principal patógeno causador de aspergilose pulmonar é o

Aspergillus fumigatus (HOFFMAN et al., 1999; PERFECT et al., 2001). De acordo com os

autores supracitados, são fatores agravantes o diagnóstico insatisfatório e o tratamento tardio,

o que resulta em 50% de mortalidade. No entanto, Oren e colaboradores (2001) descreveu que

os pacientes submetidos a transplante de medula óssea, apresentaram uma taxa de 95% de

mortalidade.

Os fungos apresentam diferenciações em sua incidência, que pode variar com a estação

do ano, a umidade do ar, temperatura, hora do dia, velocidade e direção do vento e,

evidentemente pela presença humana e o tipo de climatização do ambiente (GAMBALE et

al., (1993); LACAZ et al. 2002; MEZZARI et al., 2002). O estudo da sazonalidade da

composição da microbiota do ar é de suma importância (MEDRELA-KUDER, 2003). Neste

estudo não foi possível observar nenhuma variação sazonal da microbiota anemófila do

Hospital Santa Casa, uma vez que não houve uma busca direcionada a repetir a coleta nos

mesmos ambientes em diferentes períodos do ano. A pesquisa por uma variação sazonal da

microbiota poderá ser uma proposta para estudos posteriores, envolvendo um monitoramento

mais ostensivo dentro do hospital.

Humphrey (1998) e Eickhoff (1994) questionaram a dificuldade de comprovar o risco

de infecção hospitalar causada por patógenos suspensos no ar que são inalados pelo paciente.

Gambale et al. (1993) e Mezzari et al. (2002) demonstraram que a exposição aos propágulos

fúngicos oportunistas podem desencadear manifestações como rinite alérgica, conjuntivite ou

ataques de asma brônquica em indivíduos suscetíveis a fungos alergênicos. Portanto, as

infecções sistêmicas, como a candidemia, podem ou não estar relacionadas à presença dos

fungos no ar. Muitos casos de candidemia podem estar relacionados aos procedimentos

invasivos mais que pela aspiração de esporos de Cândida spp (PFALLER, 1996). As

candidemias são altamente envolvidas no acometimento de infecções hospitalares, sendo a

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mais recorrente, seguida da aspergilose invasiva (ANG et al., 1993; ALVAREZ-LERMA et

al., 2003). Em nosso estudo, foi possível verificar o crescimento de leveduras em três dos

ambientes estudados, perfazendo (46%) das amostras. A maioria das coletas de onde foram

isoladas as Cândidas sp compreenderam os swabs de monitores e teclados, onde há o

manuseio pelos profissionais da saúde. Apenas duas colônias foram isoladas do ar.

A candidemia raramente afeta aos indivíduos normais, porém, diante dos enfermos

hospitalizados alguns fatores contribuem com um maior risco para o seu desenvolvimento

como: a idade, antibioticoterapia de amplo espectro, sexo feminino, o uso de corticosteróides

e imunossupressores, pós-operatório de cirurgias de grande porte e doenças malignas, diabetes

e sondagem vesical de demora (FANELLO et al., 2001; LUDSTROM & SOBEL,

2001;WEINBERGGER et al., 2003; KAUFFMAN, 2005).

Os resultados apresentados demonstram que, apesar do hospital estar passando por um

período de reformas, a microbiota do ar dos diversos setores não foi exuberante, concordando

com outros estudos de ambientes hospitalares (CARMO & PRADO, 1999; CARMO et al.,

2007; MENEZES et al., 2006). Martins-Diniz et al. (2005), quando monitorou fungos em

uma unidade hospitalar do Estado de São Paulo, Brasil, conseguiu isolar 30 gêneros

diferentes. Não temos parâmetros definidos para estabelecer quando uma microbiota torna-se

ostensiva a um paciente, por isso ainda necessitamos comparar os dados novos com estudos

anteriores. Entretanto, a análise qualitativa da microbiota do ar nos fornece informações

importante, uma vez quw3 e, com isso, gerar novos estudos, afim de que possamos criar uma

definição para estes parâmetros.

O crescimento bacteriano foi bastante moderado, com crescimento de poucas colônias

gram-positivas e gram-negativas. Este estudo teve como foco a identificação de bactérias

presentes no ar. Portanto, não houve uma busca direcionada para o isolamento de bactérias de

mãos ou objetos manipulados pelos profissionais de saúde. Isto indica que as bactérias

anemófilas não representavam um problema agravante para a infecção hospitalar dentro do

hospital no período em que foram realizadas as coletas.

O estudo periódico da microbiota do ar se faz necessário, uma vez que o

monitoramento constante impede que muitas infecções hospitalares possam ocorrer, além de

fazer com que os profissionais da saúde possam ficar mais atentos às suas condutas diárias. O

monitoramento do ar no hospital da Santa Casa de Belo Horizonte torna-se uma tarefa

primordial e deverá ser implantada pelos setores responsáveis do hospital, para que seja

realizado semestralmente.

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8. CONCLUSÕES

De acordo com os resultados obtidos neste estudo foi possível concluir que

A microbiota anemófila do Hospital Santa Casa de Belo Horizonte apresentou-se

bastante diversificada, com 14 gêneros de fungos identificados, além de cocos e bastonetes;

As espécies do gênero Cladosporium predominaram em todos os ambientes de onde

foram realizadas as coletas;

As espécies dos gêneros Aspergillus e Penicillium foram isoladas com maior

frequência na Unidade de Terapia Intensiva adulta. Este fato torna-se significativo para um

melhor acompanhamento no tratamento dos pacientes, uma vez que estes são mais

susceptíveis a uma infecção sistêmica por estes fungos que causam fungemias graves;

As espécies de Cladosporium, Penicillium e Aspergillus, consideradas pela literatura

especializada como patogênicas, toxicogênicas ou alergizantes ao homem, foram as que

predominaram nos ambientes estudados;

As colônias leveduriformes isoladas foram identificadas como Cândida sp, indicando

o predomínio deste gênero entre as espécies de leveduras do hospital. Este fato reforça outros

estudos que indicam a candidemia como a infecção fúngica hospitalar mais comum.

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9. PROPOSIÇÕES

De acordo com os dados levantados, pode-se observar que importantes espécies de

fungos patógenos humanos foram isolados em diferentes ambientes do hospital. Devido ao

fato de que o hospital Santa Casa atende inúmeros pacientes imunossuprimidos, como os

portadores do vírus HIV/AIDS, pacientes com câncer em tratamento com quimioterápicos,

pacientes diabéticos e aqueles transplantados, torna-se fundamental o monitoramento da

microbiota aerofila deste hospital. Este procedimento auxiliaria o controle da taxa de

microrganismos patógenos presentes no ar do hospital, evitando a contaminação do paciente

por um fungo patógeno.

Desta forma, a presente dissertação propõe que seja realizado um levantamento da

microbiota do ar a cada trimestre, observando as variações sazonais da composição da

microbiota anemófila e controlando efetivamente o índice de infecção hospitalar por

microrganismos potencialmente patogênicos.

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