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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DOUTORADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA ESTUDO DA CONSTRUÇÃO E UTILIZAÇÃO EM SALA DE AULA DO CURRÍCULO DE QUÍMICA DO ESTADO DE SÃO PAULO SOLANGE DE FÁTIMA AZEVEDO DIAS Orientadora: Profa. Dra. Carmem Lúcia Costa Amaral Tese apresentada ao Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em Ensino de Ciências e Matemática. SÃO PAULO 2014

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

DOUTORADO EM ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA

ESTUDO DA CONSTRUÇÃO E UTILIZAÇÃO EM SALA DE

AULA DO CURRÍCULO DE QUÍMICA DO ESTADO DE SÃO

PAULO

SOLANGE DE FÁTIMA AZEVEDO DIAS

Orientadora: Profa. Dra. Carmem Lúcia Costa Amaral

Tese apresentada ao Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em Ensino de Ciências e Matemática.

SÃO PAULO

2014

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

D531e

Dias, Solange de Fátima Azevedo. Estudo da construção e utilização em sala de aula do currículo

de química do estado de São Paulo / Solange de Fátima Azevedo Dias. -- São Paulo; SP: [s.n], 2014.

149 p. : il. ; 30 cm. Orientadora: Carmem Lúcia Costa Amaral. Tese (doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Ensino de

Ciências e Matemática, Universidade Cruzeiro do Sul. 1. Química - Currículo 2. Análise de conteúdo - Química 3.

Processo de ensino-aprendizagem 4. Formação de professores 5. Química – Ensino médio. I. Amaral, Carmem Lúcia Costa. II. Universidade Cruzeiro do Sul. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. III. Título.

CDU: 54:37.016(043.2)

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

ESTUDO DA CONSTRUÇÃO E UTILIZAÇÃO EM SALA DE

AULA DO CURRÍCULO DE QUÍMICA DO ESTADO DE SÃO

PAULO

SOLANGE DE FÁTIMA AZEVEDO DIAS

Tese de doutorado defendida e aprovada

pela Banca Examinadora em 25/02/2014.

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Carmem Lúcia Costa Amaral

Universidade Cruzeiro do Sul

Presidente

Profa. Dra. Rosemary Aparecida Santiago

Universidade Cruzeiro do Sul

Prof. Dr. Tomás Noel Herrera Vasconcelos

Universidade Cruzeiro do Sul

Profa. Dra. Denise Maria Fortes Villas Boas Saleh

Universidade Federal de São Paulo

Profa. Dra. Vera Maria Jarcovis Fernandes

Universidade Cidade de São Paulo

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À

Deus por ter me dado saúde e paz.

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AGRADECIMENTOS

À Profª. Carmem Lúcia do Amaral pela orientação, compreensão e paciência

dispensada para que este trabalho se concretizado.

À Secretaria da Pós-graduação, pelo apoio, e principalmente, pela forma gentil

demonstradas pelas secretárias e seus auxiliares.

À minha família, meu marido Luiz e filhos, Letícia e Humberto pela paciência

durante a escrita deste trabalho.

Aos meus eternos amigos, Lourdes e Antony, da Diretoria de Ensino da Região

de Santo André, pelo apoio incondicional durante esta jornada.

À jornalista Marília pela ajuda na leitura dos textos.

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DIAS, Solange de Fátima Azevedo. Estudo da construção e utilização em sala de aula do currículo de química do estado de São Paulo. 2014. 149 f. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática)-Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2014.

RESUMO

Esse trabalho descreve o processo de elaboração do Currículo de Química da

Secretaria de Estado da Educação de São Paulo (SEESP) e os materiais didáticos

para sua implantação na sala de aula, o Caderno do Professor (CP) e o Caderno do

Aluno (CA), que fazem parte do Currículo oficial paulista e a sua utilização em sala

de aula. A metodologia utilizada nessa pesquisa foi de caráter qualitativo e

quantitativo, tendo sido empregado um questionário aplicado aos professores de

Química no Ensino Médio, uma entrevista com parte da equipe que elaborou os

documentos, e uma análise comparativa de habilidades e competências de algumas

questões do ENEM-2011com o CA e CP. O documento produzido pela equipe

mostra que o ensino de Química deve enfatizar a compreensão dos processos

químicos e sua aproximação com aplicações tecnológicas, ambientais e sociais para

envolver o aluno no processo de construção de seu próprio conhecimento. Propõe

uma modificação na ordem tradicional dos conteúdos, bem como uma nova forma de

abordagem que podem trazer muitos benefícios à educação. Conclui-se também que

o conjunto de materiais elaborados pela SEESP (CQSP, CP e CA) apresenta os

conteúdos e atividades contextualizadas como os documentos oficiais assim exigem,

porém existe ainda, a necessidade de articulação entre o conhecimento científico de

todas as demais áreas do conhecimento. Os resultados do estudo demonstram que

alguns professores não sabem trabalhar com os materiais didáticos em sala de aula.

Ao analisar as competências e habilidades do Currículo de Química do Estado de

São Paulo e do Enem, percebe-se que apenas uma das questões, o aluno teria

todos os conhecimentos adequados para resolvê-la. Quanto as demais questões

percebe-se que da forma em que as atividades do CP e do CA são apresentadas

privilegia a construção de texto, a leitura e interpretação de gráficos e tabelas, porém

não contemplam, ainda, a resolução de problemas simples envolvendo alguns

conceitos e cálculo exigidos em algumas questões

Palavras-chave: Currículo, Materiais pedagógicos, Ensino aprendizagem.

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DIAS, Solange de Fátima Azevedo. Study of construction and use in the classroom of chemistry curriculum of the state of São Paulo. 2014. 149 f. Tese (Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática)-Universidade Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2014.

ABSTRACT

This paperwork describes the drafting process of the Chemistry Curriculum by the

State of São Paulo Education Secretariat (SEESP) and the courseware to enable its

implantation on the classroom, the Teacher Book (Caderno do Professor - CP) and

the Student Book (Caderno do Aluno - CA), part of the official curriculum and its use

inside the classroom. The methodology adopted for this research was the

quantitative and qualitative character by the use of a questionary directed to high

school Chemistry teachers, an interview with the team who elaborated the official

documents and a comparative analysis of habilities and skills based between ENEM-

2011 and CA/CP. The document produced by the team shows the Chemistry

teaching and how it should emphasize the chemical process comprehension and its

technological, environmental and social aplications to involve the student on the

process of construction of his own knowledge. It proposes a change on the traditional

order of the Chemistry content, as well a new way to approach the discipline that can

benefit the education on its whole. It also concludes that the courseware set made by

the SEESP (Currículo de Química do Estado de São Paulo, CP and CA) present the

contents and activities contextualized as the oficial document request, but the need

to articulate the scientific knowledge with other areas of knowledge still is

demanding. The results show the difficult of teachers to deal with the new

courseware inside the school. The analysis between the CSQP and Enem reveals

that only one question of the Enem test could be answered with the knowledge

acquired by the new courseware. The CP and CA activities privilege the text

construction, reading and interpretation skills, but fail to contemplate the use of

calculation and chemical concepts.

Keywords: Curriculum, Student book, Teacher book

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Foto do Material Didático jogado no lixo. .......................................... 12

Figura 2 Temas divididos nas séries (SÃO PAULO, 2009) .............................. 34

Figura 3 Caderno do professor (SÃO PAULO, 2009). ...................................... 35

Figura 5 Caderno do aluno (SÃO PAULO, 2009) .............................................. 37

Figura 6 (SÃO PAULO, 2009) .............................................................................. 38

Figura 7 (CA) (SÃO PAULO, 2009). .................................................................... 39

Figura 8 (SÃO PAULO, 2009) .............................................................................. 40

Figura 9 (SÃO PAULO, 2009) .............................................................................. 41

Quadro 1 Comparativo entre Currículos (fonte: autor). ..................................... 45

Quadro 2 Questionário enviado aos professores. ............................................. 81

Quadro 3 Categorias e questões da entrevista com alguns membros da

equipe de construção do Currículo. ................................................... 83

Quadro 4 As competências e habilidades do CQSP .......................................... 85

Quadro 5 A competência e as habilidades de Química do Enem. .................... 86

Quadro 6 Tabela dos questionários. ................................................................... 99

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LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

CA caderno do aluno

CENP Coordenadoria de Estudos e Normas

Pedagógicas (CENP)

CP Caderno do Professor

DERSA Diretoria de Ensino Região de Santo André

ENEM Exame Nacional do Ensino Médio

GEPEQ Grupo de Pesquisa em Ensino de Química

SEESP Secretaria de Estado da Educação de São Paulo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11

CAPÍTULO I REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................. 15

1.1 Os significados do currículo ..................................................................... 15

1.2 A busca por referenciais oficiais ............................................................... 20

1.3 Os envolvidos na construção do currículo .............................................. 29

1.4 O currículo oficial de química do estado de São Paulo .......................... 32

1.5 A organização dos conteúdos no currículo oficial .................................. 32

1.5.1 A metodologia de ensino-aprendizagem dos conteúdos básicos ......... 41

1.5.2 O que os alunos devem saber ao final de cada série .............................. 42

1.5.3 Sobre os subsídios para implantação ...................................................... 43

1.6 As reformas curriculares no Brasil ........................................................... 46

1.6.1 A Proposta Curricular do Estado do Rio Grande do Sul ......................... 51

1.6.2 A Proposta Curricular do Estado de Minas Gerais .................................. 52

1.7 Competências e habilidades ..................................................................... 56

1.7.1 Cotidiano e contextualização no Currículo escolar ................................. 58

1.7.2 Currículo e concepções sobre currículo e ação docente ....................... 63

1.7.3 O que pensam alguns professores sobre o trabalho docente ............... 69

1.7.4 O papel dos gestores no processo de implantação do currículo .......... 75

CAPÍTULO II METODOLOGIA ................................................................................. 77

2.1 Abordagem Metodológica .......................................................................... 77

2.2 Etapas da investigação .............................................................................. 78

2.2.1 A Diretoria de Ensino de Santo André ...................................................... 78

2.2.2 Instrumentos de Coleta de Dados ............................................................. 79

2.2.2.1 Questionário ............................................................................................... 79

2.2.2.2 Entrevista com alguns membros da Equipe que Elaborou o Currículo 82

2.2.2.3 Análise das competências e habilidades do CQSP ................................. 84

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CAPÍTULO III RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................... 99

3.1 Análise do questionário aplicado aos professores ................................. 99

3.2 Perfil dos Professores .............................................................................. 100

3.2.1 Concepções Sobre o Currículo ............................................................... 103

CAPÍTULO IV UTILIZAÇÃO DOS MATERIAIS CA E CP ...................................... 109

4.1 Responsabilidade de Orientação da Aplicação dos Materiais ............. 116

4.1.2 Entrevista com os membros da equipe que elaborou o Currículo de

Química do Estado de São Paulo ............................................................ 122

4.1.3 Elaboração do Currículo .......................................................................... 123

4.1.4 Elaboração do CP ..................................................................................... 128

4.1.5 Construção do CA .................................................................................... 132

CAPÍTULO V CONCLUSÕES ................................................................................ 133

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 143

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INTRODUÇÃO

A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a

vida, é a própria vida.

John Dewey

Acredito que a escola é viva, e porser viva ocorrem transformações a todo

instante. Já fui professora, coordenadora, vice e diretora de escola. Uma vez me

pediram para eu voltar a ser diretora de uma escola que já havia sido dois anos

antes. Eu respondi: a educação é um ser vivo em transformação, assim como eu.

Esta escola não é a mesma da época em que fui diretora e eu não sou mais a

mesma pessoa, sou viva como ela, portanto, estou me transformando a cada dia,

não conseguirei ser como já fui outrora.

Atualmente trabalho na Assessoria da Dirigente Regional de Ensino a qual

tem como uma das atribuições coordenar a implementação das políticas

educacionais da Secretaria de Estado da Educação (SEESP), entre elas, coordenar

a implantação do Currículo do Estado de São Paulo e seus materiais de apoio

(Caderno do Aluno e Caderno do Professor), em outubro de 2009 recebi um

comunicado do gabinete da SEESP solicitando que todo material dos diferentes

componentes curriculares (Currículos e materiais de apoio) que estivessem

sobrando nas Unidades Escolares (UE) deveriam ser armazenados nas

dependências das Diretorias de Ensino. Enviei a orientação, via internet, a oitenta e

sete (87) escolas pertencentes à Diretoria de Ensino Região de Santo André

(DERSA) solicitando que nos enviasse os referidos materiais. Até meados de

novembro do mesmo ano, os gestores das UEs trouxeram inúmeros pacotes

fechados do Caderno do Aluno (CA). Nós, funcionários da DERSA, após a contagem

dos materiais armazenamos tudo em um espaço destinado ao estacionamento de

carros oficiais. Ao final do prazo para a entrega dos materiais foi possível confirmar

que mais de 12 mil exemplares de CA foram devolvidos à DERSA. A SEESP se

responsabilizou pela logística de retirada de todo o material das dependências da

DE em dezembro do mesmo ano.

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Ao armazenar esse material, eu não entendia o porquê de tanto desperdício

de dinheiro público na sua compra e a não utilização deste nas escolas. No mesmo

período em que recebíamos os materiais, os jornais noticiavam que livros escolares

fornecidos pelo Estado eram achados em caçambas de lixo na cidade de Ribeirão

Preto1 (SP) em uma situação semelhante, ou seja, novos, sem terem sido usados

(Figura 1).

Figura 1- Foto do Material Didático jogado no lixo. Fonte: Jornal Folha de Ribeirão Preto de 27/09/2009.

Esses acontecimentos me levaram a desenvolver esta tese, pois precisava

entender as causas de tanto desperdício de verba pública, de logística de entrega e

de devolução dos materiais pedagógicos que fazem parte da Nova Proposta

Curricular do Estado de São Paulo. No decorrer do desenvolvimento dessa tese

percebi que para esse entendimento era necessário que eu investigasse também

como esses materiais foram construídos e como estavam estruturados.

Desta forma, este estudo tem como objetivos investigar:

(1) Verificar como está estruturado o novo Currículo de Química do Estado de

São Paulo.

1Disponível em: www.folha.uol.br, acesso em 27/10/2009.

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(2) Estudar os motivos pelos quais os Cadernos do Aluno (CA), produzidos

para a implantação da reforma curricular estavam sendo devolvidos á SEE

sem serem utilizados.

(3) Verificar quais são os responsáveis pela implementação dos materiais

pedagógicos: Currículo, Caderno do Professor (CP) e CA nas Unidades

Escolares.

Para realizar esse estudo e alcançar esses objetivos estruturamos essa tese

em quatro etapas:

1ª Etapa

Essa etapa compreende o período de busca por referenciais teóricos sobre

reformas educacionais e construção de materiais pedagógicos para o Ensino Médio

(EM). De maneira geral, o EM sempre foi marcado por uma tendência livresca e

essencialmente teórico, desde a década de 1930, ainda que, as sucessivas

legislações educacionais tenham proposto que devesse ser orientado pelos

preceitos do método experimental (SÃO PAULO, 2010, p. 126). Atualmente algumas

propostas pedagógicas se voltam para os pressupostos dos Planos Curriculares

Nacionais (PCN) e Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs).

É preciso considerar, logo no início, as contribuições de pesquisas sobre a

implantação de reformas educacionais. Muitas abordam a falta de diálogo e

participação dos sujeitos envolvidos nas mudanças impostas por estes projetos. Ao

insistir que os professores apenas consumam os produtos, ignorando seu

conhecimento acadêmico e profissional, criam-se rupturas na estrutura educacional.

Um exemplo é o envio às escolas do material didático em detrimento de um

programa de formação continuada do professor. O Estado tem o dever de garantir

condições dignas para que a educação desenvolva-se em sua totalidade, mas

constata-se que coube ao professor criar estas condições.

2ª Etapa

Nesta etapa da pesquisa, iniciaram a pesquisa com professores de Química

das escolas de Ensino Médio pertencentes a DERSA. Para atingir o objetivo foi

preparado um questionário de perguntas fechadas e abertas para um levantamento

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de dados que compreendeu: a) Perfil pessoal dos professores; b) Articulação entre a

experiência profissional do professor e c) a sua formação pedagógica; Concepções

dos professores quanto ao Currículo de Química e a utilização dos CA e CP.

3ª Etapa

Nesta fase da pesquisa foi realizada uma entrevista semiestruturada com a

coordenadora e outros membros da equipe que elaborou o Currículo oficial. Uma

vez que a mesma equipe elaborou o CA e o CP para auxiliar o professor e o aluno

na aplicação do Currículo, as questões dessa entrevista foram agrupadas em três

grupos: a) questões relacionadas a construção do currículo; b) questões

relacionadas a construção do CP; c) questões relacionadas a construção do CA.

4ª Etapa

Nesta etapa foi elaborado o processo de análise dos dados e conclusão que

procurou categorizar os elementos a partir do estabelecimento de inferências, em

busca da identificação de pontos comuns entre os dados obtidos nos documentos e

depoimentos. Esses dados possibilitaram a realização de uma análise de

perspectiva problematizadora, o que revelou aproximações satisfatórias às questões

levantadas nesta investigação.

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CAPÍTULO I – REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 Os significados do currículo

“Para se ler o mundo, o texto é um instrumento, é como se fosse o

interruptor, pois a lâmpada, cada um tem a sua.”

Agostinho Dias Carneiro

Os inúmeros significados do termo currículo nos levam a pensar que cada

profissional da educação, dependendo do interruptor, lhe dará um significado

teórico. De acordo com Silva (2005), a teoria é uma representação, um reflexo, um

signo de uma realidade que a procede, enquanto o currículo seria um objeto que

procederia a teoria. O autor destaca a contribuição das teorias do currículo, desde a

tradicional até a pós-crítica, nos estudos sobre currículo e na formação subjetiva na

identidade dos sujeitos.

De acordo com Silva (2005, p.16):

O currículo é sempre o resultado de uma seleção: de um universo mais amplo de conhecimento e saberes; seleciona-se aquela parte que vai constituir, precisamente, o currículo... Não se pode esquecer que o conhecimento que constitui o currículo está inextricavelmente, centralmente, vitalmente, envolvido naquilo que somos, naquilo que nos tornamos: nossa identidade, nossa subjetividade.

Na teoria tradicional é destacado o tecnicismo. Sob esse olhar, toda escola

deve funcionar como uma empresa e seus elementos principais – ensino,

aprendizagem, avaliação, metodologia, didática, organização, planejamento,

eficiência, objetivos – devem ser enfatizados como essenciais para o funcionamento

dessa empresa chamada escola que “vende/oferece” saberes por meio das

disciplinas e conteúdos. Depois da década de 1960, junto à ascensão dos

movimentos ideológicos do pós-guerra, manifestaram-se os pensamentos de

resistência ao sistema por meio de livros, ensaios e teorizações que questionavam a

estrutura tradicional da educação dando início a uma análise não de como se faz um

currículo, mas sim do que o currículo faz (SILVA, 2005).

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De acordo com o mesmo autor, essa mudança de paradigma na teoria do

currículo marcou a teoria crítica, que não colocava a disciplina como principal

característica, mas a ideologia. A partir daí, essa teoria passou a ser observada

como uma reprodução social e cultural do currículo, as relações de poder, o

currículo oculto, o capitalismo, a conscientização, emancipação e libertação e a

resistência:

Na visão da teoria crítica, o que se aprende no currículo oculto são, fundamentalmente, atitudes, comportamentos, valores e orientações que permitem que crianças e jovens se ajustem da forma mais convincente às estruturas e as pautas de funcionamento, consideradas injustas e antidemocráticas.

O currículo oculto leva ao conformismo, à obediência, ao individualismo. Em particular, as crianças das classes operárias aprendem atitudes próprias de seu papel de subordinação, enquanto as crianças de classes proprietárias aprendem os traços sociais apropriados ao seu papel de dominação (SILVA, 2005, p. 78-79)

Na perspectiva pós-critica, que visa a diferença e identidade, a ênfase é o

currículo multiculturalista, que se apresenta como uma possibilidade de abordagem

e inclusão dos grupos raciais e étnicos, representando assim um importante

instrumento de luta política.

Silva (2005) ressalta ainda que tal perspectiva, por estar associada ao

multiculturalismo, está dividida entre uma concepção pós-estruturalista e

materialista. Na primeira, a diferença se constitui num processo linguístico e

discursivo, pois ela é discursivamente produzida; na segunda, a materialista, a

diferença é produzida por meio das relações de desigualdade em que para obter

igualdade, é necessária uma mudança básica do currículo atual. Portanto, os

elementos principais que permeiam a teoria pós-crítica estão relacionados à

identidade, autoridade, diferença, subjetividade, significação e discurso, saber-

poder, representação, cultura, gênero, raça, etnia, sexualidade e multiculturalismo.

As transformações que ocorreram ao longo da formação do currículo, desde

as teorias tradicionais até as pós-críticas, nos mostram que ele é uma construção

social e a última perspectiva nos leva a pensar que a sua (trans) formação está

vinculada com as relações de poder de cada época.

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O Currículo é definido por Arroyo (2011) como o núcleo e o espaço central

mais estruturante da função escolar. Dada a sua importância é cercado de normas,

é o mais politizado, inovado e ressignificado no ambiente escolar. Ele é diferenciado

nos vários segmentos educacionais, ensino fundamental, médio, educação de

jovens e adultos (EJA), indígena, étnico racial, formação de professores e cursos

superiores.

Como descreve Moreira (2008) dada a sua importância e as constantes

reformulações que vêm sofrendo, o currículo é hoje alvo da atenção de autoridades,

de políticos, de professores e de especialistas.

As reformulações ocorrem, em alguns casos, após análise e avaliação dos

sistemas educacionais ou como políticas públicas. O indicador de centralidade

política do currículo está na avaliação do que os professores ensinam. De acordo

com Arroyo (2011) nunca tivemos como agora políticas oficiais que se interessam

tanto em como o currículo é tratado nas salas de aula. Todo esse interesse pode ser

justificado, porque a centralidade do currículo passou a ser um território de disputa

externa, não só de cada mestre ou coletivo escolar, como também das instâncias

superiores.

Essa disputa pode ser justificada pelo dinamismo e complexidade em que se

configura atualmente o campo do conhecimento, que se tornou uma disputa acirrada

pelo saber, pela ciência e tecnologia. Com toda essa complexidade, é muito difícil

estar na área educacional de forma pacífica e sem tensões.

Como descreve Arroyo (2011, p.14)

Quando o próprio campo do conhecimento está perpassado dessas tensões, ter saudade da paz no currículo escolar, na docência e nas salas de aula é ingenuidade. Defrontarmo-nos com essas tensões será uma postura mais consequente.

Como profissionais do conhecimento, não conseguimos ficar de fora, estamos no redemoinho dessas tensões. Esse é um dos motivos que nos obriga a refletir sobre o currículo como território de disputa.

O mesmo autor indica ainda mais três características dessa disputa. A

primeira, o campo do conhecimento e as disputas; a segunda é a produção e

apropriação do conhecimento sempre ter entrado nas disputas das relações sociais

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e políticas de dominação-subordinação. É histórica a dificuldade que a sociedade

passou e às vezes ainda passa para ter acesso ao conhecimento culto, que foi

renegado a algumas classes sociais. Com isso, chega-se a conclusão de que para

ter conhecimento é necessária uma luta entre as forças dominantes e a sociedade.

A terceira característica apontada é a estreita relação entre currículo e

trabalho docente. Para o autor, tantos cuidados e tanto peso normatizante sobre os

currículos podem ser vistos como normas, diretrizes do trabalho docente, revelando

todo o sentido político à disputa dos profissionais no território do currículo.

Nesse sentido, Forquin (1993) descreve que a oferta cultural escolar vive a

tensão permanente entre a cultura escolar e a cultura da vida cotidiana. Pela função

social da escola, que é a iniciação sistemática a instrumentos cognitivos essenciais

da atividade humana, a escola não é inimiga da novidade, mas não partilha o gosto

pelo efêmero e o culto das aparências.

O currículo é uma ferramenta que define o sucesso de professores e alunos.

Ambos são avaliados, aprovados ou reprovados, recebem bônus altos, baixos ou

não o recebem, dependendo dos resultados alcançados. Os diferentes mecanismos

de avaliação interna e externa nas redes de ensino levam a uma reorientação de

diretrizes que tornam o campo educacional um campo de batalha entre os

profissionais da educação.

A quarta e última característica enfoca as disputas políticas da sociedade, do

Estado e de suas instituições, como também de suas políticas e diretrizes. Como

ressalta o autor:

As políticas e as diretrizes curriculares também estão transpassadas por essas disputas entre manter estilos normatizantes ou optar por orientações mais políticas, por incorporar novos saberes e novas culturas produzidas nos movimentos sociais por flexibilizar grades, estruturas e ordenamentos(p.17).

Tanto os órgãos públicos como a sociedade tentam, cada um dentro do seu

limite, disputar os conteúdos e forma de execução dos currículos. O poder

institucionalizado de forma documental e por força de lei e a sociedade de forma

mais oculta e tímida tentam incluir nos currículos a riqueza de suas experiências

sociais e do conhecimento vivido. Segundo Silva (2007), as decisões e prescrições

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relativas ao currículo estão vinculadas estreitamente as estruturas de poder e de

dominação. Isso faz da educação formal um espaço político de embates

permanentes por autonomia intelectual e política, por igualdade, cidadania e por

solidariedade.

O letramento, a escolarização, a cultura e a educação ainda têm um peso

limitado nos processos de auto afirmação com os cidadãos de nossas elites. Para

Arroyo (2001, p.364):

A escolarização teve menos peso nos processos históricos. Passaram-se quase três décadas defendendo educação para a cidadania, cresceu a escolarização dos pobres, negros, indígenas, do campo e das periferias e seu reconhecimento como cidadãos plenos, de direitos está longe. Mais escolarizados, porém subcidadãos.

O autor ressalta que simplesmente escolarizar a população não significa

torná-los cidadão, é preciso ir além das paredes das escolas, é preciso que se

tornem cidadão de fato, com direitos adquiridos. Essa cidadania só será real quando

a escola cumprir seu papel de formar jovens e adultos críticos e atuantes na

sociedade.

Como todas as disputas que envolvem o currículo é preciso ir à busca de

respostas sobre como deve ser esse documento que interessa a todos e que causa

tanta inquietação. Para isso, buscam-se identificar os diversos meios de definição do

currículo.

Segundo Costa (2005), o currículo e seus componentes constituem um

conjunto articulado e normatizado de saberes regidos por uma determinada ordem

estabelecida em permanente debate. Desta forma, o currículo e seus componentes

definem, organizam e institucionalizam os saberes de forma determinada, porém

pode sofrer mudança, pois elegem e transmitem representações, narrativas e

significados sobre as coisas e os seres do mundo.

O currículo tem o poder de se constituir em um dos mecanismos sociais que

compõem o caminho capaz de tornar os sujeitos naquilo que são. De acordo com

Hamilton (1992, p.46) o termo currículo surgiu:

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como um artefato educacional cujo ponto de emergência situa-se no final do século XVI, nas principais universidades europeias e cujo objetivo maior foi imprimir uma coerência estrutural (na forma de disciplinas) e colocar uma determinada ordem (hierárquica e sequencial) em tudo o que deveria ser ensinado e aprendido naquelas instituições.

Infelizmente, ainda encontramos esta forma de currículo utilizada por

educadores, de forma sistemática obedecendo a uma sequência predeterminada.

Atualmente, no estado de São Paulo vem sendo adotado um currículo

centrado nos conceitos de habilidades e competências que tem como um dos

objetivos aproximar o aluno e sua comunidade de uma convivência escolar mais

digna. Entretanto, quando ocorre uma mudança na forma do ensino, deixando de

lado a exposição de conteúdos desinteressantes baseados apenas em

conhecimentos conceituais, essa nova forma de ensinar desenvolvendo

competências e habilidades deve ser trilhada por um novo caminho no processo

educacional.

A busca desse caminho resultou também na construção de alguns

documentos oficiais brasileiros, como por exemplo, os Parâmetros Nacionais

Curriculares para o Ensino Médio (PCNEM). Nesse documento, há a proposição de

um currículo que dirija o educando para o mundo do trabalho, mas também que

desenvolva habilidades e competências, propondo situações em que o aluno precisa

pensar, questionar e resolver problemas.

1.2 A busca por referenciais oficiais

O PCNEM trabalha com o conceito de competência, amplamente criticado,

em geral por ser sujeito aos interesses do mercado de trabalho, uma reprodução dos

interesses do mesmo, visando à formação de mão de obra. Como explicita:

Toda a escola e sua comunidade, não só o professor como também o sistema escolar, precisam se mobilizar e se envolver para produzir as novas condições de trabalho, de modo a promover a transformação educacional pretendida. A condução de um aprendizado com essas pretensões formativas, mais do que do conhecimento científico e pedagógico acumulado nas didáticas específicas de cada disciplina da área, depende do conjunto de práticas bem como de novas diretrizes estabelecidas no âmbito escolar, ou seja, de uma compreensão amplamente partilhada do sentido do processo educativo. O aprendizado dos alunos e dos professores e seu contínuo aperfeiçoamento devem ser construção coletiva, num espaço de diálogo propiciado pela escola, promovido pelo sistema escolar e com a participação da comunidade. Um dos pontos de partida para esse

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processo é tratar, como conteúdo do aprendizado matemático, científico e tecnológico, elementos do domínio vivencial dos educandos, da escola e de sua comunidade imediata. Isso não deve delimitar o alcance do conhecimento tratado, mas sim dar significado ao aprendizado, desde seu início, garantindo um diálogo efetivo (BRASIL, 1997, p.7).

A intenção do MEC é de que os PCNEM auxiliem as equipes escolares na

execução de seus trabalhos e que sirvam de estímulo e apoio à reflexão sobre a

prática diária, ao planejamento de aulas e, sobretudo ao desenvolvimento do

currículo da escola, contribuindo ainda para a atualização profissional. O processo

de ensino-aprendizagem passa por uma reconstrução, para redefinir seu papel

transformador da sociedade, para formar cidadãos capazes. O caráter dual do

anterior sistema, onde a população de classes mais baixas era preparada, com o

ensino técnico, para a mão de obra e a as classes mais altas eram preparadas por

meio do ensino acadêmico para o controle, é substituído por uma formação comum

nacional.

Em 1996, como previsto na Constituição de 1998, a LDBEN determinou o uso

de conteúdos comuns em todas as disciplinas, para assegurar uma formação básica

a todos, levando em consideração as condições de escolaridade de cada aluno. O

DCNEM assegura a flexibilidade curricular. São estabelecidos como princípios

pedagógicos estruturadores dos currículos a identidade, a diversidade e a autonomia

(BRASIL, 1998). O governo federal deve estabelecer, em colaboração com os

poderes estaduais e municipais, competências e diretrizes para os ensinos

Fundamental e Médio. O PCNEM cumpre essas exigências formativas.

Os PCNEM não podem ser vistos como uma proposta pedagógica fechada e padronizada, a ser simplesmente aplicada nas escolas, mas, enquanto parâmetros ou referências precisam ser objeto de necessários processos de discussão e ressignificação em âmbitos diversificados do meio educacional (ZANON; MALDANER et al., p. 214).

Apesar de sua importância, os PCNEM são pouco conhecidos e utilizados

pelos profissionais da educação; não foram todos os Estados que organizaram

processos de construção dos currículos escolares levando em consideração esse

documento, por meio de um processo abrangente. O PCNEM é visto como um plano

de ensino fechado e não como uma diretriz. A autonomia das unidades escolares de

contextualizar os conteúdos curriculares de acordo com as características regionais,

locais e da vida dos seus alunos em suas propostas pedagógicas está prevista nos

PCNEM.

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Cada disciplina deve observar a determinação do Art. 27 dos PCNEM, que

determina, além da aplicação dos conteúdos curriculares da educação básica, o

seguimento das diretrizes de formação identitária do aluno: difusão de valores

fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito

ao bem comum e à ordem democrática; consideração das condições dos alunos em

cada estabelecimento; orientação para o trabalho.

Os parâmetros não são a unificação escolar, mas sim um meio de se atingir

esses objetivos ao fim da Educação Básica. A multiculturalidade e as diferenças

regionais do Brasil são reforçadas pelo documento:

As diferenças regionais precisam ser respeitadas, bem como as expectativas sociais das comunidades em que estão os estudantes. De fato, a ideia de um currículo nacional, mesmo que seja para preservar uma cultura nacional comum, pode favorecer a cultura das classes dominantes e excluir aquelas que não a atingirem ou a negarem. Não se podem esperar desempenhos iguais – ainda mais para respostas e compreensões dadas a questões que vêm de uma única classe social – quando os pontos de partida são muito diversos (BRASIL, 1997, p.217).

Os professores, agentes dessa transformação, devem participar de processos

de especialização para a compreensão dos PCNEM: não é a linguagem do

documento que limita sua compreensão, mas a falta de investimento na formação

contínua e continuada desses profissionais. É de responsabilidade dos Estados e

Municípios a formação desses profissionais, assegurar a participação dos

professores na construção dos currículos, para que estes não sejam imposições.

O novo Ensino Médio deve ser contemporâneo, admitindo as rápidas

mudanças da sociedade, ampliando seu acesso, a formação dos professores,

compreendendo a nova tecnologia. O mundo atual é instável, logo, a educação

reflete os problemas sociais a que é exposta, como os altos índices de desemprego,

o progresso científico e tecnológico, a política. Neste contexto, a educação

permanece como utopia necessária indispensável à humanidade na sua construção

da paz, da liberdade e da justiça social (BRASIL, 1999, p.25). Propõe-se um

compromisso dual com a sociedade de trabalho e a formação do ser humano, a

formação crítica em detrimento da memorização.

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O conhecimento não é mais algo imutável, mas algo em constante

construção. Como demanda a Comissão Internacional sobre Educação para o

século XXI, a educação deve se estruturar em quatro alicerces: aprender a

conhecer, aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser. O ensino de Química

visa a contribuir para a formação da cidadania e, dessa forma, deve permitir o

desenvolvimento de conhecimentos e valores que possam servir de instrumentos

mediadores da interação do indivíduo com o mundo. Consegue-se isso mais

efetivamente ao se contextualizar o aprendizado, o que pode ser feito com exemplos

mais gerais, universais, ou com exemplos de relevância mais local, regional. E as

habilidades e competências a serem desenvolvidas são:

1. Representação e comunicação

Descrever as transformações químicas em linguagens discursivas.

Compreender os códigos e símbolos próprios da Química atual.

Traduzir a linguagem discursiva em linguagem simbólica da Química e vice-

versa.

Utilizar a representação simbólica das transformações químicas e reconhecer

suas modificações ao longo do tempo.

Traduzir a linguagem discursiva em outras linguagens usadas em Química:

gráficos, tabelas e relações matemáticas

Identificar fontes de informação e formas de obter informações relevantes para

o conhecimento da Química (livro, computador, jornais, manuais etc).

2. Investigação e compreensão

Compreender e utilizar conceitos químicos dentro de uma visão macroscópica

(lógico-empírica).

Compreender os fatos químicos dentro de uma visão macroscópica (lógico-

formal).

Compreender dados quantitativos, estimativa e medidas, compreender

relações proporcionais presentes na Química (raciocínio proporcional).

Reconhecer tendências e relações a partir de dados experimentais ou outros

(classificação, seriação e correspondência em Química).

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Selecionar e utilizar ideias e procedimentos científicos (leis, teorias, modelos)

para a

Resolução de problemas qualitativos e quantitativos em Química,

identificando e acompanhando as variáveis relevantes.

Reconhecer ou propor a investigação de um problema relacionado à Química,

selecionando procedimentos experimentais pertinentes.

Desenvolver conexões hipotético-lógicas que possibilitem previsões acerca

das transformações químicas.

3. Contextualização sociocultural

Reconhecer aspectos químicos relevantes na interação individual e coletiva

do ser humano com o ambiente.

Reconhecer os limites éticos e morais que podem estar envolvidos no

desenvolvimento da Química e da tecnologia.

Reconhecer o papel da Química no sistema produtivo, industrial e rural.

Reconhecer as relações entre o desenvolvimento científico e tecnológico da

Química e

aspectos sócio-político-culturais. (BRASIL, p.32)

Com base na Lei de Diretrizes e Bases Da Educação Nacional (LBDEN), o

Ensino Médio deve ser organizado em uma base nacional comum, três áreas do

conhecimento e uma diversificada. A base nacional propõe que uma educação geral,

competências básicas a todos os brasileiros, garantindo a democratização do

ensino. O currículo escolar deve privilegiar os processos interdisciplinares,

recomendando novas metodologias de ensino e a flexibilização dos conteúdos,

atendendo as necessidades da instituição. Os conteúdos específicos devem fazer

parte de um processo global com várias dimensões articuladas.

A área de “Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias”, é tratada

pelo PCNEM como diferente da abordada no Ensino Fundamental, deve destacar as

formas de pensamento mais abstratas, as quais os estudantes devem dominar. A

aprendizagem envolve concepções científicas atualizadas do mundo físico e natural,

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bem como o desenvolvimento de estratégias de trabalho centradas na solução de

problemas, valorizando a contextualização da disciplina.

A Química, por exemplo, é encarada pelos PCNEM como um instrumento de

formação humana, um meio de interpretação do mundo onde se está inserido e uma

forma de intervenção na realidade. É proposto pelo documento o reconhecimento e

a compreensão das transformações químicas em processos naturais e tecnológicos

nos diferentes contextos encontrados na atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera e

suas relações com os sistemas produtivo, industrial e agrícola. Os conteúdos devem

se desenvolver no alicerce: transformações químicas, materiais e suas propriedades

e modelos explicativos.

Os PCN+ (2002, p.93) estabelecem que:

a proposta de organização dos conteúdos apresentada (...) leva em consideração duas perspectivas para o ensino de Química presentes nos PCNEM: a que considera a vivência individual dos alunos – seus conhecimentos escolares, suas histórias pessoais, tradições culturais, relação com os fatos e fenômenos do cotidiano e informações veiculadas pela mídia; e a que considera a sociedade em sua interação com o mundo, evidenciando como os saberes científico e tecnológico vêm interferindo na produção, na cultura e no ambiente.

Assim, torna-se explícita a recomendação de que a Química não deve usar

exemplos artificiais de ilustração, mas partir da problemática atual em busca do

conhecimento para entender a disciplina e encontrar soluções. Apenas a

transmissão de informações, considerando o aluno um receptor sem conhecimento

prévio do mundo, sem capacidade de associar conceitos, não o transforma em

alguém capaz de elaborar ideias. O processo de ensino-aprendizagem deve partir

de atividades que contribuam com o crescimento do estudante, que permitam a ele

utilizar o conhecimento que possui e que vai adquirir, formar e construir.

Desta forma, Sacristán (2000), aponta que se deve observar, nos currículos: o

objetivo que se pretende atingir, o que ensinar, por que ensinar. Para quem são os

objetivos, quem possui o melhor acesso às formas legítimas de conhecimento, que

processos incidem e modificam as decisões até que se chegue à prática, como se

transmite a cultura escolar. E ainda, como os conteúdos podem ser inter-

relacionados, com quais recursos/materiais metodológicos, como organizar os

grupos de trabalho, o tempo e o espaço, como saber o sucesso ou não e as

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consequências sobre esse sucesso da avaliação dominante, e de que maneira é

possível modificar a prática escolar relacionada aos temas a serem desenvolvidos.

O currículo “é o ‘texto’ educativo que contém os ‘textos’ culturais da

reprodução” e o protótipo de currículo da modernidade pedagógica tem suas raízes

na concepção de paidéia ateniense que era elitista, porque a formação era para a

classe dominante. Depois, incorporou o legado do humanismo renascentista,

igualmente minoritário, destruído mais tarde pela orientação realista, própria do

desenvolvimento da ciência moderna, iniciada nos séculos XVII e XVIII.

Como descreve Sacristán (1998, p.16), o currículo só existe através de seu

conteúdo e das transformações que cria:

as funções que o currículo cumpre como expressão do projeto de cultura e socialização são realizadas através de seus conteúdos, de seu formato e das práticas que cria em torno de si. Tudo isso se produz ao mesmo tempo: conteúdos (culturais e intelectuais e formativos), códigos pedagógicos e ações práticas através dos quais se expressam e modelam conteúdos e formas.

Apple (2006) descreve o currículo como um mecanismo de controle social e

aponta que o mesmo não é neutro e nem aleatório. É necessário que

compreendamos quais são os interesses sociais que guiaram a seleção e

organização do currículo, porque esses interesses incorporavam compromissos para

com determinadas estruturas econômicas e políticas educacionais, as quais, quando

postas em prática, contribuíam para a desigualdade.

O controle social e econômico ocorre nas escolas sob a forma de disciplina,

regras, rotinas, currículo oculto e por meio das formas de significado que a escola

distribui. É preciso considerar todo o contexto externo à escola que interfere em

suas atividades e no currículo, pois o poder e a cultura estão dialeticamente

entrelaçados.

Para Apple (2006, p.105), é preciso levar em conta a vivência do aluno fora

da sala de aula e o que isso acrescenta em seu aprendizado:

Os conhecimentos formal e informal ensinados nas escolas e os procedimentos de avaliação precisam ser analisados em conexão com outros aspectos que envolvem o aluno nas práticas cotidianas de sua real significação. Essas práticas cotidianas da escola estão ligadas a estruturas

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econômicas, sociais e ideologias que se encontram fora dos prédios escolares.

Os PCNEM defendem o currículo integrado, pois apresenta relações menos

hierarquizadas, possibilitando maior diálogo e promovendo um ensino mais aberto e

flexível. Porém, esse currículo depende de diferentes fatores como a organização e

distribuição dos conhecimentos, a seleção dos conteúdos, bem como a

interdisciplinaridade e a contextualização no sentido sócio-histórico.

Há, portanto, uma supervalorização das tecnologias, à medida que o objetivo

maior dos PCNEM está voltado à formação de indivíduos capacitados e flexíveis

para as novas exigências do mercado de trabalho e não com vistas em um projeto

emancipador de educação (BRASIL, 1999).

Para colocar em prática esse currículo, especialmente o de Química, com

inversão dos conteúdos tradicionais, partindo do estudo do fenômeno, uma visão

macroscópica, para posteriormente uma compreensão microscópica, partindo dos

conhecimentos prévios dos alunos, é necessário, inserir meios para vincular os seus

conhecimentos com o cotidiano e trabalhar com a ideia de modelos, mas não como

verdades absolutas (ABREU, 2001).

O currículo, na verdade, deve ser flexível a ponto de o professor poder fazer

as alterações no momento que achar necessário (MORAES, 1989). O professor

deve ter a autonomia para decidir como, quando e como desenvolver o currículo.

Cabe ao professor encontrar os melhores meios de desenvolver sua aula, aguçando

a curiosidade do aluno, fazendo questionamentos e não dando soluções imediatas,

desenvolvendo no educando o ato de pensar. O desenvolvimento do currículo deve

permitir ao aluno ser capaz de relacionar o seu cotidiano com os conceitos

estudados desenvolvendo assim competências e habilidades que possam

assegurar-lhe os conhecimentos necessários à vida e ao trabalho.

Não será com um trabalho singular em sala de aula que essas mudanças

ocorrerão, é necessário um trabalho coletivo. A interdisciplinaridade é necessária

para o encontro de novas alternativas de encarar o conhecimento em cada

disciplina. Segundo Nunes e Nunes (2007), a solução é partir de suas áreas

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específicas de estudo, comunicando-se com as demais, sejam elas próximas ou

não.

Para Maldaner et al. (2007) essa organização só pode ocorrer quando se tem

um currículo flexível em que as diferentes disciplinas interajam entre si, propondo

atividades comuns entre áreas de forma contextualizada.

Ao se trabalhar com um currículo interdisciplinar e contextualizado leva-se a

um conhecimento do todo, completo, não fragmentado, aproximando os conceitos

científicos com a vida do jovem, gerando conhecimento significativo. Feldmann e

Masetto (2009, 2010) acrescentam ainda que o currículo deve ser considerado um

produto cultural, núcleo de relação entre educação, poder, identidade social e

construção da subjetividade, uma forma institucionalizada para a construção de

sujeitos, para a produção de identidades individuais e sociais. Para que o currículo

tenha seu amplo objetivo alcançado, é imprescindível a atuação de alunos e

professores, peças-chave do ambiente escolar.

O currículo pode também ser definido como síntese de elementos culturais

que estabelecem uma proposta político-educativa destinada a gerar significado e

sentido, ou seja, valores, costumes, crenças e conhecimentos de diversas áreas e

classes sociais (RIGAL, 2000).

Para que esse currículo se efetive, é necessária à articulação do

conhecimento com os elementos culturais para sair da repetição de informações e

avançar para a produção do conhecimento, isto é alcançado com a aproximação da

teoria pedagógica à prática docente em consonância com as mudanças da

sociedade (CANÁRIO, 2006).

Com as mudanças da sociedade em seu contexto histórico, político,

econômico e social, espera-se que o currículo seja flexível para manter-se adequado

e atender ás necessidades que os alunos apresentem. O currículo deve abranger

não apenas os saberes relacionados ás disciplinas escolares, mas também ao ser

humano, pois é função da escola formar cidadãos. Para isso, os professores devem

sair do ambiente da sala de aula, do espaço escolar e considerar o que está de fato

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acontecendo na sociedade como um todo, observar as necessidades da mesma e

incluí-las na construção do currículo.

1.3 Os envolvidos na construção do currículo

Os construtores do currículo têm a perspectiva de pensar uma nova educação

básica que corresponda aos anseios dos atuais e futuros estudantes, recriando

constantemente o conhecimento a ser propagado. Alguns pontos devem ser

observados na construção do currículo, pois é consenso entre vários autores como

Feldmann e Masetto (2012), Moreira, (1995), Sacristán (2000), Lopes (2004 e 2006),

Macedo (2004 e 2006), Apple (1994, 1995) e Young (2000).

a) Princípio da contextualização: o

currículo se realiza num contexto histórico e social da

sociedade e da instituição educativa, levando em

consideração as dimensões de tempo, espaço e

circunstâncias; responde às necessidades temporais e

históricas da educação e àquelas emergentes.

b) Princípio de aprendizagem: objetivos

educacionais são priorizados na formação dos alunos, ou

seja, tópicos que foram deixados de lado durante o

desenvolvimento das dimensões cognitivas; valorização dos

conhecimentos teóricos e adquiridos fora do ambiente

escolar; reorganização dos conteúdos; revisão da

metodologia de ensino e repensar o processo de avaliação.

c) Princípio epistemológico: a

transformação de um desenho curricular supõe que se

reveja o método de construção de conhecimento em nossas

escolas.

d) Corpo docente: os protagonistas de

uma transformação num desenho curricular são por

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excelência os professores e alunos. Seus papéis, atitudes e

performances também serão modificados para se

transformar um desenho curricular;

e) Corpo discente: o aluno assume um

papel de sujeito do seu processo de formação, participante

e pró-ativo, parceiro e corresponsável, coarticulador da

construção coletiva de sua educação.

f) Transformar um desenho curricular

vai exigir que sua operacionalização se realize por meio da

exploração da aula como espaço e tempo novos: a aula

sendo assumida como um tempo e espaço de estudos,

debates, pesquisas, discussões, contatos com

especialistas; descoberta de novos espaços de formação

para além dos espaços institucionais.

g) Gestão institucional: não se pode

pensar em se transformar um desenho curricular sem que

se trabalhe com a gestão institucional, para que ela assuma

a proposição em implantação de um redesenho curricular

com todas as suas consequências e necessárias

mudanças.

Na atual perspectiva, o conhecimento que se espera da escola ultrapassa os

limites impostos pelas disciplinas, integrando-se a outras áreas da sociedade e do

desenvolvimento humano. Nesse contexto, os professores assumem um papel de

extrema importância na propagação do novo currículo, agindo diretamente com os

alunos, os sujeitos do processo. A instituição escola precisa garantir que ambos

tenham condições favoráveis para realizarem suas ações.

O professor e sua capacidade de alterar o processo de formação do indivíduo

são de extrema importância quando se pensa em um novo currículo escolar. A

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mudança do currículo é aqui apresentada como um processo de melhoria do ser

humano, o acréscimo de novos valores aos antigos: “construção de possibilidades

de uma ação educativa efetiva que vislumbre um projeto coletivo articulador do

processo de ensinar e aprender que leve a cidadania” (FELDMANN; MASETTO,

2012).

Para Arroyo (2011, p.372):

Os vínculos entre educação, escola e cidadania trazem consequências seriíssimas para os desenhos curriculares que são pensados como saberes, competências para a cidadania, para o pertencimento e para a descondicionalização da cidadania condicionada.

...uma disputa posta no território dos currículos e de suas diretrizes. O que significa esse novo quadro para repensar dos currículos. Do material didático, da docência e das diretrizes e políticas?

As mudanças da sociedade transformam também o processo de formação de

professores, a reconstrução escolar. Antes o professor era o centro do saber, agora

deve passar a ser um articulador entre o saber e o aluno, também sujeito às

incertezas do mundo atual, às constantes transformações do saber, das

informações, dos métodos de comunicações, da cultura, valores e da sociedade da

qual faz parte.

A importância da construção do currículo está atrelada a valorização do

professor como profissional, de sua experiência pessoal e em sala de aula, e

deveconsiderar suas opiniões para a criação do material final. O papel do professor

deve ser constantemente revisado para adequar-se as necessidades da sociedade.

As relações de poder devem ser alteradas entre todos os participantes do processo,

deixando de ser uma hierarquia com posições definidas, para dar lugar á um

relacionamento equivalente entre as partes.

Para Rigal (2000), o currículo deve ser considerado um produto cultural,

núcleo de relações entre educação, poder, identidade social e construção da

subjetividade, algo institucionalizado de forma a criar a identidade do indivíduo. Ao

mesmo tempo em que o currículo é institucionalizado, ele precisa da participação

dos sujeitos, alunos e professores, para sobreviver e ser efetivo em sua

funcionalidade.

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1.4 O currículo oficial de química do estado de São Paulo

O Ensino Médio foi e, às vezes, ainda é essencialmente teórico, mas as

legislações educacionais tentam implantar o método experimental desde a década

de 1930. A Proposta Curricular de Química do Estado de São Paulo (1978) enfatiza

o uso do laboratório no ensino e destaca o processo científico como parte do

conteúdo a ser explorado.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (2002, p.87) definem a Química como:

A Química pode ser um instrumento de formação humana, que amplia os horizontes culturais e a autonomia, no exercício da cidadania, se o conhecimento químico for promovido como um dos meios de interpretar o mundo e intervir na realidade.

A orientação é que o Currículo adote um ensino de Química distante do

teórico, da memorização, mas que contextualize a disciplina para os alunos. A

aprendizagem de Química no Ensino Médio deve proporcionar ao aluno

“compreensão dos processos químicos em estreita relação com suas aplicações

tecnológicas, ambientais e sociais”, para que o mesmo possa compreendê-la e

assim, aplicá-la de modo responsável em seu cotidiano.

Os conceitos da disciplina devem ser entendidos de forma teórica e também

de forma prática, para se relacionarem ao cotidiano do aluno. É preciso envolver

efetivamente os estudantes no processo de construção de seus próprios

conhecimentos. Para tanto, o Currículo precisa alcançar a real compreensão,

afastando-se do ensino baseado apenas na transmissão de informações por parte

dos professores, sem a participação dos alunos.

1.5 A organização dos conteúdos no currículo oficial

O Currículo oficial foi construído de forma a levar o educando a pensar

criticamente e de desenvolver a ética. Ele foi elaborado considerando o

conhecimento químico os modelos explicativos foram através de estudos empíricos

da transformação química e das propriedades das substâncias (SÃO PAULO, 2010,

p. 127).

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A Química, como ciência, desenvolveu-se a partir de estudos e experiências;

a disciplina requer uma estruturação em três frentes, as quais o professor deve levar

em consideração para montar sua aula:

a. Transformações químicas

b. Materiais e suas propriedades

c. Modelos explicativos

Os conteúdos estão contextualizados na disciplina com o cotidiano, para que

conexões possam ser estabelecidas com os conhecimentos que os alunos já

possuem. Após isto, o conhecimento teórico deve ser introduzido, deixando-se claro

que não são permanentes e absolutas, mas sim provisórias e historicamente

construídas pelo ser humano.

Assim, evita-se a sequência comum de estudo de Química no Ensino Médio,

que logo no 1º ano apresenta os aspectos microscópios, modelos atômicos, tabela

periódica, ligações iônicas, covalentes, metálicas. Essa sequência requer do aluno

um alto nível de abstração, o que dificulta a aprendizagem, a deixa pouco

significativa. É preciso respeitar os conhecimentos do aluno, estimulá-lo e para isso

a proposta do Estado de São Paulo é iniciar a partir dos aspectos macroscópicos da

Química e depois avançar para a natureza dos fenômenos e da matéria. Neste

Currículo os temas abordados, como mostra a Figura 2 em cada série devem levar o

aluno tomar decisões de maneira responsável e crítica e emitir juízo de valor, em

nível individual e coletivo.

Nesta proposta, o professor não vai encontrar tópicos específicos de

nomenclatura ou classificações das reações químicas. As funções inorgânicas não

são apresentadas em um único bloco, mas sim distribuídas pelos diferentes

assuntos estudados, quando necessário (SÃO PAULO, 2010, p.128).

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Figura 2 - Temas divididos nas séries (SÃO PAULO, 2009)

Os alunos devem participar das aulas construtivamente, por meio de

atividades que favoreçam a formação crítica de indivíduos, demonstrado na Figura 3

do Caderno do Professor. Os conteúdos não podem apenas explorar os tópicos de

Química, mas suas relações e aplicações no contexto atual, e essa atividade propõe

um projeto indisciplinar. Para isso o aluno deve ser ouvido, e os professores

desenvolverem as atividades em conjunto para que o aluno consiga perceber que a

química e as demais matérias não são estantes, que existe conexão entre elas.

Como demonstra a atividade a seguir da Figura 4 (CA) “Lição de casa”, que

apresenta dados de profundidade, volume e águas oceânicas, esses assuntos

também podem ser trabalhado, conjuntamente, com professores de Geografia,

Física e Biologia.

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Figura 3 – Caderno do professor (SÃO PAULO, 2009).

O CP indica ao professor

as conclusões que

podem ser tiradas da

atividade proposta.

Outra proposta

de atividade. Proposta de projeto que

leve o aluno a perceber o

envolvimento do assunto

em diversas disciplinas.

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Figura 4 Caderno do aluno (SÃO PAULO, 2009).

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37

A figura 5, do CA, apresenta uma proposta de atividade que leva o aluno a

dar sua opinião a respeito do assunto “água”. Para isso ele deve ir à busca de

pesquisas que desenvolva a habilidade de ler, interpretar, questionar e decidir sobre

questões ambientais.

Nesta atividade do CA nota-se o incentivo de

diálogo entre professor e aluno e a busca por

outros materiais didáticos para a execução da

atividade proposta, e dá liberdade para fazer

alterações.

Figura 5 Caderno do aluno (SÃO PAULO, 2009)

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A figura 6 do CP apresenta de forma minusiosa todos os passos que o

professor deve seguir indicando o tempo previsto para o desenvolvimento da

atividade, as habilidades e competências a serem desenvolvidas, as estratégias e

recursos para atingir os objetivos, bem como as atividades de avaliação.

Figura 6 (SÃO PAULO, 2009)

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Na figura 7 “Questões para avaliação” pode-se observar que algumas

atividades são problemas de vestibular, propondo que alunos e professores tenham

contato com o formato de questões pertinentes ao assunto abordado.

Figura 7 (CA) (SÃO PAULO, 2009).

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Na figura 8 pode-se observar que o CA apresenta atividades “Desafio” que

podem proporcionar ao aluno o desenvolvimento de habilidades diversas e na

própria atividade há a indicação de onde procurar subsídios para a resolução do

problema.

Figura 8 (SÃO PAULO, 2009)

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A figura 9 do CP apresenta edereços eletrônicos para que professor e aluno possam

buscar contéudos para responder as dúvidas que podem surgir.

FIGURA 9 (SÃO PAULO, 2009)

1.5.1 A metodologia de ensino-aprendizagem dos conteúdos básicos

A metodologia a ser utilizada pelos professores deve permitir que os alunos

desenvolvam habilidades e competências de comunicação, expressão e

contextualização, se desenvolvam, assim como o pensamento formal; o ensino de

Química deve ajudar na formação de “indivíduos que saibam interagir de forma

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consciente e ética com o mundo em que vivem, ou seja, com a natureza e a

sociedade” (SÃO PAULO, 2010, p. 128-129). As estratégias de ensino

aprendizagem devem permitir que os alunos participem ativamente das aulas, por

meio de atividades que os desafiem a pensar e propor soluções para os problemas.

Os conteúdos a serem desenvolvidos devem ser pensados pelo professor como

elementos estruturadores da ação pedagógica, ou seja, não basta que se explicitem

os tópicos específicos de Química a serem ensinados; é necessário apontar,

também, as expectativas de aprendizagem para a cada em deles, suas inter-

relações e suas implicações para melhor compreensão de diferentes contextos.

(SÃO PAULO, 2010, p.129).

Nota-se que o professor precisar estar bem preparado para utilizar uma

metodologia de ensino que torne a aprendizagem significativa. E respeitar as

individualidades dos seus alunos de forma que o ensino aprendizagem seja eficaz á

todos. Diante do quadro o documento especifica a fim de alcançar plenamente os

objetivos que seria desejável que o professor:

permanecesse na escola não somente para dar aulas;

tivesse oportunidade e incentivos para investissem sua formação específica e

pedagógica;

participasse de grupos de estudos e pesquisas educacionais

participasse de cursos de atualização ou especialização

participasse de eventos culturais.( SÃO PAULO, 2010, p.129)

1.5.2 O que os alunos devem saber ao final de cada série

O aluno da 1ª série deve como mostrado na atividade “Lição de casa” (Figura

9), começa a estudar os conteúdos a partir do reconhecimento e do entendimento de

transformações que vivencia, conhece ou que são importantes para a sociedade. Ao

final da mesma o aluno poderá ter conhecimento sobre transformações e construído

seu próprio esquema de representação das transformações.

O aluno da 2ª série deve conhecer e entender as propriedades de materiais

que ele manuseia ou que estão presentes em sua vida diária e que são importantes

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para a sociedade. Ao final desta série o aluno poderá ter construído seus próprios

esquemas de representação das propriedades das substâncias em termos de alguns

aspectos fenomenológicos.

O aluno da 3ª série terá a oportunidade de retomar alguns conteúdos das

séries anteriores, bem como aprofundar outros aspectos referentes às

transformações químicas e ao final desta série deverá construir conhecimentos e

suas próprias representações sobre processos e obtenção de materiais a partir da

atmosfera.

1.5.3 Sobre os subsídios para implantação

Os Cadernos do Aluno e Professor foram concebidos de acordo com as

novas diretrizes curriculares e podem ser utilizados com diferentes livros didáticos

disponíveis nas escolas. O Currículo pode ser complementado com atividades

externas à escola, como visitas a museus e outros locais de interesse científico-

tecnológico, que apresentarão estímulos para o aprendizado e contextualização da

disciplina.

A proposta curricular tem como princípios uma educação a serviço do

desenvolvimento, que coincide com a construção da identidade, da autonomia e da

liberdade. Para se ter liberdade é preciso o direito de escolha; escolhas pressupõem

um repertório e um quadro de referências que só podem ser garantidos se houver

acesso a um amplo conhecimento.

A autonomia para gerenciar a própria aprendizagem, “aprender a aprender”, e

para transposição dessa aprendizagem, “aprender a fazer e a conviver”, deve ser à

base da educação das crianças, dos jovens e dos adultos.

Preparar os indivíduos para o diálogo constante com a produção cultural, com

entusiasmo no mundo contemporâneo é uma das funções da escola. O currículo que

dá sentido, significado e conteúdo à escola precisam levar em conta os princípios

centrais: a escola que aprende; o currículo como espaço de cultura; as

competências como eixo de aprendizagem; a prioridade da competência de leitura e

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de escrita; a articulação das competências para aprender; e a contextualização no

mundo do trabalho.

Nota-se que o Currículo apresenta de forma geral atendendo as orientações

educacionais complementares aos PCN (2002, p. 87): A Química pode ser um

instrumento da formação humana, que amplia os horizontes culturais e a autonomia,

no exercício da cidadania, se o conhecimento for promovido como um dos meios de

interpretar o mundo e intervir na realidade. Ele contrapõe a simples memorização de

nomes, fórmulas e nomenclaturas, o que ele pretende é fazer com que o aluno

possa reconhecer e compreender as transformações químicas que ocorrem em

processos naturais e nos tecnológicos. O novo currículo está estruturado para um

professor crítico-reflexivo e pesquisador, pois a cada atividade propõe situações que

levem aluno e professor a tirar conclusões, dar opiniões, tomar posicionamento e

propor intervenções como mostra o Quadro 1.

Os CP apresentam sugestão para atividades extraclasse e indicam sites para

pesquisa individual e em grupo. Introduz, caso a escola ou alunos não tenham a

disponibilidade da internet, algumas informações coletadas nos sites recomendados.

Eles apresentam também “questões para avaliação” com questões diversas,

inclusive do ENEM e vestibulares de universidades públicas. E ainda apresentam

sugestões de situação de aprendizagem de recuperação para os alunos que

precisem recuperar conhecimentos específicos, com perguntas e elaboração de

pequenos textos.

Ao final de cada caderno de cada bimestre apresenta “recursos para ampliar

a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão do tema” com

bibliografias utilizadas e sites complementares para aprofundamento dos assuntos

tratados.

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Quadro 1: Comparativo entre Currículos (fonte: autor).

O currículo anterior Com o novo Currículo Eixos do novo Currículo

Conteúdos divididos em Química Geral, Química Inorgânica e Química Orgânica.

Princípios para um currículo comprometido com o seu tempo. Os conteúdos não dividem a química.

Instituição que ensina.

Instituição que aprende a ensinar.

Uma escola que também aprende

Ação informadora. Ação formadora.

Decoreba.

Problematização e contextualização.

O professor era o dono do saber.

O professor faz parte do saber.

Trabalho individual.

O conhecimento coletivo é maior que a soma dos conhecimentos individuais.

Gestores fixos no trabalho administrativo.

Gestores como agentes formadores do ensino-aprendizagem.

Folclórico, lazer. Ferramenta para articulação da teoria e prática local e global. Desenvolvimento de projetos:

O currículo como espaço de cultura.

Extracurriculares. Faz parte do currículo.

Matérias estanques. Promove competências com o compromisso de articular as disciplinas e atividades escolares.

Competências como referências.

Tecnicista. Competências articuladas ás habilidades dos alunos.

Domínio do código linguístico. Desenvolvimento da competência linguística do aluno: ler, escrever, interpretar e redigir textos e textos contextualizados

Prioridade para a competência da leitura e da escrita.

Conteúdos isolados, preferência pela quantidade sobre a qualidade.

Educar para a vida e melhor qualidade de aprendizagem.

Articulação das competências para aprender.

Acadêmica tecnicista. Relação entre teoria e prática aplicados em contextos reais ou simulados.

Articulação com o mundo do trabalho.

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1.6 As reformas curriculares no Brasil

“Por meio de uma revolução poderá talvez levar-se a cabo a queda do despotismo pessoal e

da opressão gananciosa ou dominadora, mas nunca uma verdadeira reforma do modo de

pensar”.

Immanuel Kant

As reformas curriculares no Brasil se efetivam a partir da segunda metade da

década de 1990, num cotidiano escolar em que as relações de trabalho e suas

contradições têm acirrado a crise da identidade docente nos aspectos da função e

finalidade da escolarização e de uma aprendizagem significativa dos alunos. A

identidade e prática docente, nos dias atuais, têm levado alguns autores a

considerar uma proletarização do magistério que consequência direta de uma nova

divisão de trabalho na prática do professor, em que ocorre a transferência da lógica

da produção como a repetição de tarefas, devido à ampliação quantitativa da escola

pública no país, desde a década de 1970. Quanto se trata de reformas curriculares

no Brasil é importante enfatizar a influencia de políticas internacionais como a

Declaração da Conferência Mundial sobre Educação para Todos, o Relatório Delors

e do Banco Mundial.

A Declaração da Conferência Mundial sobre Educação para Todos foi

proclamada em 1990 durante uma conferência da Unesco (Organizações das

Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) em Jomtien, na Tailândia e teve

como objetivo reforçar as noções sobre o direito essencial de todos á educação

contidos na Declaração dos Direitos Humanos. Esse documento é uma reação às

mudanças sociais e econômicas que ocorreram durante a década de 1980 com

tendência a interferir nas relações entre países na década de 1990.

O documento possui dez artigos que sintetizam as necessidades do mundo

quanto á educação: satisfação das necessidades básicas de aprendizagem:

expansão do enfoque para a construção de um novo ensino; universalização do

acesso à educação e equiparação de oportunidades e qualidade; concentração da

atenção das autoridades na importância da educação para o desenvolvimento do

país; ampliação da educação básica; criação de condições básicas para a

aprendizagem, como saúde, nutrição, infraestrutura; fortalecimento das alianças

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entre os poderes municipais, estaduais e federais e entre países; desenvolvimento

de uma política internacional de apoio; mobilização dos recursos financeiros,

públicos, privados e humanos; solidariedade internacional, pois é uma

responsabilidade de todos a construção de uma educação em nível global.

A conferência ressalta que é tarefa de todas as nações agirem em conjunto

para solucionar conflitos e garantir o atendimento das necessidades básicas de

aprendizagem (UNESCO, 1990). Essa declaração se alia aos objetivos definidos

pelo Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Programa das

Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e sua concepção de que a

educação é responsabilidade do Estado e da comunidade e uma solução para o

combate a pobreza. Todas essas entidades ressaltam que existe a necessidade da

reforma do estado e consequentemente da Educação, priorizando a equidade, a

descentralização, a privatização e a solidariedade entre nações.

De acordo com Oliveira (2004), os 190 países presentes se comprometeram

com a implantação de uma reforma educacional que viabilizasse a expansão da

educação básica buscando a redução das desigualdades sociais. No Brasil, as

reformas na educação ficaram com as características de formação para o trabalho e

de gestão da pobreza.

O Banco Mundial interfere sistematicamente na educação com pacotes de

medidas organizados por economistas. Ele defende a melhoraria do acesso,

promover a equidade e garantir a qualidade dos sistemas escolares por meio de

reformas educacionais que devem possibilitar aos educandos as habilidades

requeridas pelo mundo do trabalho e erradicar a pobreza, porém, dentro da sua

política dominadora.

O Banco pauta seus investimentos em educação baseado nos seguintes

itens: elaboração do currículo de forma restrita pelo poder central; a educação como

um campo sem especificidade ou discussão pedagógica, no qual confluem e

interatuam insumos ao invés de pessoas, resultados ao invés de processos,

quantidade ao invés de qualidades, ou seja, o currículo determina os conteúdos,

define as matérias a serem ensinadas, apresentando um guia geral sobre os

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objetivos a serem alcançados, estratégias, métodos, materiais de ensino, critérios e

métodos de avaliação (TORRES 1998, p.134-135).

A partir da década de 1990, a educação brasileira passa por várias

modificações estruturais e organizacionais, transitando de um modelo tradicional,

caracterizado pela autonomia da organização escolar e por processos burocráticos

praticamente inexistentes, para um modelo técnico-burocrático, caracterizado pela

redução da autonomia do professor em relação ao ensino e à organização da escola

(HYPOLITO, 1991). A ausência de autonomia dos educadores se reflete nos

conteúdos e na transmissão dos mesmos, tornando o ensino uma forma de

dominação do poder.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira - 9394/96 é a primeira

grande mudança em relação á educação no país e estabelece as diretrizes e bases

da educação nacional, substituindo a Lei de Diretrizes e Bases 5692/71. A reforma

da política educacional brasileira vai de encontro com as propostas firmadas na

Conferência de Jomtien: a educação passa a ser responsabilidade da comunidade e

da família através das relações de parcerias entre governo e iniciativa privada.

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, art.2º).

Os PCNs também são elaborados em conformidade com a Conferência de

Jomtien, como revela sua introdução: Em 1990 o Brasil participou da Conferência

Mundial de Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, convocada pela

Unesco, Unicef, PNUD e Banco Mundial. Dessa conferência, assim como da

Declaração de Nova Delhi – assinada pelos nove países em desenvolvimento de

maior contingente populacional do mundo –, resultaram posições consensuais na

luta pela satisfação das necessidades básicas de aprendizagem para todos,

capazes de tornar universal a educação fundamental e de ampliar as oportunidades

de aprendizagem para crianças, jovens e adultos (BRASIL, 1997, p.14).

É clara a interferência dos organismos internacionais na reorganização da

educação brasileira, pois os principais documentos referentes à política educacional

apresentam alinhamento com as propostas internacionais. Não há uma simples

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adoção de ideias e determinações, mas a adaptação dessas ideias às condições do

país, feitas por meio de uma nova legislação e de documentos: LDB (1996) e PCN

(1997). As reformas não são impostas pelos organismos internacionais, mas

oferecidas mediante condições, geralmente econômicas, e aceitas pelos governos.

Em 1998, é elaborado para a Organização das Nações Unidas para a

Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO) o Relatório Delors, que disserta sobre a

educação para o Século XXI. Trata-se do aprendizado que a educação deve

transmitir de fato, de forma maciça e eficaz, cada vez mais saberes e saber

evolutivos, adaptados à civilização cognitiva (DELORS, 1998, p. 89).

A educação é encarada como algo indispensável para que a humanidade

possa progredir na consolidação dos ideais da paz, da liberdade e da justiça social.

Assim como a Conferência de Jomtien destaca a violência e os problemas sociais da

década de 1980 e solicita a cooperação internacional para a solidariedade e o fim

desses conflitos políticos e sociais na década seguinte. O Relatório Delors ressalta a

violência e o crescimento das desigualdades sociais e econômicas na década de

1990, propondo que o novo século seja de mudanças.

Este relatório é elaborado no momento em que a humanidade, diante de

tantos infortúnios causados por guerras, criminalidade e subdesenvolvimento, hesita

entre a aceleração do processo, sem ter a possibilidade de controlá-lo e a

resignação (DELORS, 1998, p.10).

A Comissão resultante no Relatório Delors pede a união dos países por um

esforço conjunto da educação, mas reconhece as limitações e fracassos das

tentativas anteriores de transmissão de tecnologia dos países mais favorecidos aos

menos favorecidos. Ressalta que apenas a educação pode diminuir o abismo

tecnológico que aumenta exponencialmente o abismo econômico e social: “a

imaginação humana deve adiantar-se aos avanços tecnológicos, se quisermos evitar

o aumento do desemprego e a exclusão social ou, ainda, as desigualdades em

relação ao desenvolvimento”.

Para a realização desse objetivo o Relatório enumera catalisadores: aprender

a conhecer, suscitado pelo progresso científico; aprender a fazer, preparando para o

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mercado de trabalho; e aprender a ser, remetendo ao relatório anterior, o Relatório

Faure (1972), pedindo o aumento da autonomia e exploração dos talentos humanos.

A Comissão relembra a utopia da sociedade educativa baseada na aquisição,

atualização e utilização dos conhecimentos, ou seja, as três funções relevantes no

processo educativo.

O Relatório Delors afirma que perante o desenvolvimento da sociedade da

informação e da multiplicação das possibilidades de acesso a dados e fatos, a

educação deve permitir que todos possam coletar, selecionar, ordenar, gerenciar e

utilizar esse volume de informações e servir-se dele. Neste sentido é importante a

criação da autonomia pessoal, possível apenas com a educação, que ainda não é

acessível a todos.

A educação deve, portanto, adaptar­se constantemente a essas mudanças da sociedade, sem negligenciar as vivências, os saberes básicos e os resultados da experiência humana (DELORS, 1998, p.14).

Nos dois estados, como em São Paulo, os fundamentos desses referenciais

expõem a necessidade de contextualização do currículo. A apropriação das ideias

construtivistas, no ensino da Química pode aproximar os professores de novas

proposições curriculares. Em geral, os currículos de Química têm sido voltados para

memorização, codificação e descodificação de fórmulas, símbolos, classificação,

nomenclaturas utilizando-se de regras que facilitam o processo de decorar. Esse é

um fato que decorre da forma com que o professor foi formado. Ele também não

sabe contextualizar os conceitos e acaba por tornar as aulas desinteressantes e

desconexas com a realidade do aluno. Aliados a esse fato, está também à ausência

de diálogo entre os professores das diferentes disciplinas e consequentemente, a

fragmentação do ensino, como observado por MOREIRA; CANDAU (2003, p.21):

No campo curricular é de grande importância se pensar nos aspectos culturais, sociais, ambientais e políticos. Frente às demandas dos PCNs, as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação se viram obrigada a promover movimentos de reorientação curricular para a construção de programas escolares em sintonia com as orientações dos documentos oficiais. Esses movimentos de reorientação curricular se justificam, pois uma educação de qualidade que atenda aos pressupostos contidos nos PCN, “requer a seleção de conhecimentos relevantes, que incentivem mudanças individuais e sociais, assim como formas de organização e de distribuição dos conhecimentos escolares que possibilitem sua apreensão e sua crítica.

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1.6.1 A Proposta Curricular do Estado do Rio Grande do Sul

Na proposta curricular do Rio Grande do Sul, é possível verificar que, embora

tenha como pressuposto dar maior subsídios aos professores, não há avanços na

forma de abordagem e organização dos conteúdos em relação às orientações

contidas nos PCN, aspecto evidenciado por Mackedanz et al. (2010). A

impossibilidade das escolas selecionarem os temas e os conteúdos a serem

trabalhados limita a autonomia docente à escolha metodológica. Os mesmos autores

ao analisarem referencial curricular de Física e os materiais de apoio distribuídos

nas escolas, sinalizam que prevalece a forma tradicional de estruturação do ensino,

pois os docentes têm dificuldade de alterar a organização curricular e desenvolver

as temáticas sugeridas.

O currículo de Química é organizado, nos três anos do ensino médio, a partir

das temáticas “Propriedades”, “Transformações” e “Constituição”. A proposta do

estado do Rio Grande do Sul foi construída por uma equipe de vinte e dois

especialistas, advindos de instituições de ensino superior do estado e das escolas

da rede estadual, contemplando as diferentes áreas do conhecimento.

Propriedades

Transformação Constituição

A equipe de especialistas elaborou o referencial curricular que foi entregue às

escolas para que as mesmas transformem o currículo em ação (RIO GRANDE DO

SUL, 2009). Os professores da rede gaúcha afirmam que a proposta é bem

elaborada, entretanto “a maneira com que a aplicação foi imposta dificultou tanto o

ensino quanto a aprendizagem” (MACKEDANZ et al., 2010, p. 9).

O ensino de química fica aprisionado em seus conceitos e fórmulas de forma

singular, sem que haja envolvimento com as demais áreas das Ciências da Natureza

e suas Tecnologias. Não ocorre o diálogo entre os professores e os respectivos

conteúdos de Química, Física e Biologia. A verdade é que, muitas vezes, nem o

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próprio professor de Química sabe qual é o currículo a ser desenvolvido com seus

alunos e os conteúdos para aplicá-los, muito menos o que existe de comum entre as

demais disciplinas que completam as ciências. Não existe um momento para que

essa integração ocorra, pois , nos chamados “Planejamentos ou Replanejamentos”,

não há espaço para tal integração. Não é somente por falta de espaço temporal, há

a necessidade também de um professor que seja o articulador dessa integração.

Alguém que conheça as diferenças e as particularidades das áreas e que possa

cumprir o papel de coordenar as ações para a integração das mesmas.

1.6.2 A Proposta Curricular do Estado de Minas Gerais

Desde 1998, a Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais, SEE-MG,

vem desenvolvendo iniciativas no campo do currículo, da capacitação de

professores – projetos Promédio e Profundamental – e de orientações didáticas. Em

diferentes momentos, adotaram-se estratégias variadas para possibilitar uma revisão

curricular e a instrumentalização docente para implantação dos currículos revisados.

No ano de 2004, o Programa de Desenvolvimento Profissional de

Educadores-PDP abrangeu 220 escolas do Estado de Minas Gerais de Ensino

Fundamental e Médio, participantes do Projeto Escolas Referência (programa de

identificação e apoio às escolas que se destacam nas comunidades escolares).

Propostas curriculares de oito disciplinas do Ensino Fundamental e dez do Ensino

Médio foram elaboradas por consultores e discutidas com mais de dez mil

professores dessas escolas, nos cerca de 700 Grupo de Desenvolvimento

Profissional-GDP.

No componente curricular de Química os conteúdos básicos comuns (CBC) e

os conteúdos curriculares (CC) estão organizados nos eixos “Materiais”, “Modelos” e

“Energia”. Há ainda sugestões de temas para o desenvolvimento de projetos, a

exemplo das temáticas: “Condições Básicas de Vida”, “Águas Usadas: Tratamento

de Esgotos”, “O Ambiente Modificado” e “Aprofundando o Conhecimento do

Planeta”. Para a seleção dos conteúdos a serem trabalhados na disciplina de

Química, foram considerados como critérios os focos de interesse do conhecimento

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químico no nível médio de ensino, buscando a articulação entre as propriedades, a

constituição e transformações dos materiais.

Focos conceituais:

Propriedades

Constituição Transformações

Fonte: Minas Gerais – SEEMG-1998

Além disso, foram consideradas as formas de abordagem do conhecimento

químico a partir de três aspectos: os fenômenos; as teorias e modelos explicativos; e

as representações. Os conteúdos selecionados podem ser trabalhados em

diferentes níveis de profundidade, relacionado com situações concretas da vida dos

estudantes e contemplando uma abordagem investigativa (MINAS GERAIS, 2006).

As formas de abordagens estão dispostas a seguir:

Fonte: Minas Gerais – SEEMG-1998

Fenômenos

Teorias Representações/Modelos

Substâncias

e materiais

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O PDP não tinha como objetivo ensinar conteúdos disciplinares e sim ser um

instrumento capaz de orientar novas práticas escolares, a partir da mudança de

cultura capaz de construir uma ambiência mais respeitosa e comprometida com o

magistério. O PDP deveria promover um desenvolvimento profissional para um bom

exercício da docência e da busca da excelência na escola pública. Em 2004, esteve

voltado para a proposição e discussão de um CBC (Currículo Básico Comum) capaz

de se constituir como direito básico de aprendizado de qualquer estudante das

escolas públicas estaduais. A proposição do CBC não se assenta num mínimo a ser

ensinado, mas no básico que, sendo direito de todos, nenhum estudante da escola

pública deve sair dela sem saber (LIMA; BARBOZA, 2005).

Ao contrário dos projetos anteriores, que tiveram ações presenciais e na

forma de módulos realizadas em Belo Horizonte MG, o PDP teve como referência

atividades de estudo e discussão com os docentes nas suas próprias localidades. O

desenho desse projeto foi inicialmente concebido pela Secretaria de Estado da

Educação e logo passou a contar com a participação de uma equipe de consultores,

em sua grande maioria, ligados à Universidade Federal de Minas Gerais. Havia

também um portal na Internet específico para o programa, onde foram criados

diversos recursos (barra de ferramentas) para auxiliar o professor (MINAS GERAIS,

2005a). Os encontros entre profissionais da educação tiveram dois momentos, o

presencial e o à distância.

A ferramenta tecnológica possibilitava ao usuário a inclusão de tarefas

realizadas, ler os comentários dos orientadores, acessar a biblioteca, ler mensagens

eletrônicas e entrar na sala de bate-papo. O coordenador tinha a sua disposição

uma barra de ferramentas e vários links que o direcionavam para o que ele estava

buscando. Os professores contaram também com cadernos impressos: Guia de

Estudo (MINAS GERAIS, 2004b) e Proposta Curricular (MINAS GERAIS, 2004c),

para todas as disciplinas do ensino fundamental e médio. A dinâmica de trabalho

com os professores decorreu na forma de leitura e discussão dos textos contidos na

Proposta Curricular da disciplina correspondente.

Os orientadores das disciplinas recebiam os produtos dessas discussões e

enviavam um retorno aos professores com novos questionamentos, sugestões de

outras leituras, críticas, e comentários gerais. Outro momento dos encontros foi

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dedicado às discussões entre tutores de disciplinas e coordenadores. Foi feito um

trabalho de modo que o coordenador interagisse não somente com o tutor do seu

GDP, mas também com tutores por disciplinas. Isso para que, ao voltarem para suas

escolas, pudessem mediar de modo qualificado as discussões dos CBC de cada

disciplina (LIMA; BARBOZA, 2005).

Os relatórios produzidos a partir de dados coletados com os docentes nas

atividades presenciais e À distância indicam que a iniciativa dessa modalidade de

intervenção permitiu concretizar uma participação mais ampliada dos professores

sem o inconveniente de se deslocarem quilômetros de distância. Criou-se assim um

espaço de maior identidade, confiança e significado para as propostas por estarem

discutindo-as entre pares e no próprio lócus de trabalho. Como os professores

utilizaram o computador em muitas atividades, elevou a vontade dos mesmos em

adquirir a máquina e possibilitou a reivindicação nas escolas para construir uma

base material de trabalho para eles a partir de recursos de multimídia. O resultado

desse conjunto de experiências está na constatação de que os participantes

desenvolveram uma maior familiaridade no uso das ferramentas de informática.

Segundo as autoras, os resultados do programa foram tão positivos que, em

2005, foram criados novamente mais de 600 grupos, com praticamente o mesmo

número de participantes dos cerca de 700 GDP de 2004, o que pode ser entendido

como uma reorganização interna dos GDP nas escolas.

Estudos realizados por Mendonça e Silva (2010) apontam que mesmo com

todo esse movimento e envolvimento dos Grupos de Referência na elaboração do

CBC, algumas limitações são sinalizadas em relação ao processo de elaboração e

implementação do currículo no referido estado: parece haver uma distância entre o

que é proposto e o que é possível de ser executado devido à realidade da escola, às

suas condições precárias e à percepção de que os docentes, figuras importantes

nos processos de mudanças, não se sentem construtores dessa proposta.

(MENDONÇA; SILVA, 2010).

E ainda salienta que vários professores têm encontrado dificuldades na

implementação do CBC, o que implica no esvaziamento dos conteúdos escolares e

na manutenção do currículo tradicional (MENDONÇA; SILVA, 2010). Essas

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colocações sugerem que a proposta curricular não foi amplamente discutida com os

professores, sendo apresentada por meio de cursos de capacitação. Dessa forma,

as dificuldades e limitações encontradas no processo de implementação e

desenvolvimento estão diretamente relacionadas à forma como as inovações

curriculares chegam aos professores da educação básica (HALMENSCHLAGER;

DELIZOICOV, 2012).

Conclui-se com esses exemplos de reformas e currículos onde não há

envolvimento de professores na construção do Currículo (Rio Grande do Sul) e onde

este envolvimento ocorre mesmo de forma parcial, os problemas de implantação

são parecidos. Parece que haverá sempre a necessidade de encontro, cursos,

orientações e capacitações para que as mudanças sejam significativas.

1.7 Competências e habilidades

“Na vida é preciso ter coragem para ser diferente e competência para fazer a

diferença”.

Angela G. A. Beirão

Para fazer a diferença não se pode acreditar que será um trabalho simples. É

preciso que a cada dia repensar as ações, traçar objetivos claros e exequíveis. É

preciso persegui-los de forma sistemática e agir de forma a atingir um bem maior,

formar cidadãos competentes e atuantes.

O termo competências, segundo Sacristán, têm mobilizado as reformas

educacionais dos últimos tempos, entretanto, existem algumas tendências na

definição do termo “educar por competências” que vai no sentido de contribuir para

uma vida exitosa e o bom funcionamento social.

Para o autor, existem três grupos diferentes de opiniões acerca das

competências, dois caminhos que se complementam, na direção de uma sociedade

mais democrática e inclusiva, com a formação de indivíduos preparados para a

atuação nessa realidade; e um caminho contrário, de crítica a esta nova percepção,

que ignoraria os aspectos da formação humana do indivíduo.

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1. Aqueles que acham que esse sistema nos conduziria a uma sociedade de indivíduos eficientes e competitivos, necessários nesta realidade global;

2. Aqueles que acham que desde esta ótica a educação se transformaria num adestramento que deixaria de lado os grandes objetivos humanos da mesma;

3. Aqueles que consideram a possibilidade de reestruturar os sistemas educacionais desde dentro, superando conteúdos antigos e criando uma sociedade não apenas eficiente, senão também justa, democrática e inclusiva (SACRISTÁN. 2008. p. 8).

As competências podem ser enxergadas como um nível superior aos

conhecimentos, às atitudes e habilidades que integram e dirigem os componentes

para a execução de desempenhos concretos. É necessário saber aplicá-las numa

situação concreta na qual o indivíduo precise delas. O indivíduo para ter

competência, deve integrar a melhor seleção de recursos possuídos por ele, na

tentativa de resolver um problema em determinado espaço (BLÁZQUEZ, 2011).

Porém, mesmo que o termo já tenha sido citado nos PCNs, muitos

professores ainda apresentam grandes dificuldades em trabalhar com esse conceito.

Segundo Sacristán (2008), outro problema seria a questão do “como”. O enfoque por

competências não define de forma clara as estratégias para lograr a concreção do

que propõe. Os caminhos a serem seguidos por parte do professor não são

explicitados de forma clara, e desta forma ocorrem falhas no desenvolvimento dos

conteúdos programáticos. O professor tem dificuldade de planejar e executar as

estratégias didáticas para o desenvolvimento das competências no aluno, o que

acarreta algumas lacunas metodológicas, que podem refletir também no resultado

da avaliação do mesmo.

Como existe uma forte tendência em culpar o professor pelo insucesso do

aluno, a própria profissão docente acaba sendo responsabilizada em relação à

prática pedagógica e à qualidade de ensino. Embora isso apenas reflita a realidade

de um sistema centrado na figura do professor como condutor visível da ação

educativa, compreende-se que isso não é verdade absoluta.

Além das competências e habilidades, esses currículos também estão

estruturados na contextualização e no cotidiano, os quais serão explicitados a

seguir.

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1.7.1 Cotidiano e contextualização no Currículo escolar

Na Proposta Curricular para o Ensino de Química 2º Grau (São Paulo, 1992),

nos trabalhos de Lutfi (1988) e em projetos como o de Ensino de Química para o 2º

grau (PROQUIM, 1982) e o Projeto Interações e Transformações (GEPEQ, 1993),

aparece o termo cotidiano no ensino de química (et al., 2005).

Sobre o tema “cotidiano”, pode-se demonstrar certo consenso entre os

professores do ensino médio de que o termo é amplamente conhecido de forma a

definir uma abordagem fácil de ser posta em prática. Porém,alguns trabalhos de

pesquisa apontam que não é como se fosse relacionar as situações corriqueiras

ligadas ao dia a dia das pessoas com conhecimentos científicos, ou seja, um ensino

de conteúdos relacionados a fenômenos que ocorrem na vida diária dos indivíduos

com vistas à aprendizagem de conceitos (SANTOS; MORTIMER, 1999).

Para Chassot (2001), o cotidiano vira uma espécie de modismo com simples

propósito de ensinar somente os conceitos científicos. Assim sendo, corre-se o risco

de utilizar os fatos da vida dos indivíduos, alunos e sociedade para ensinar

conteúdos científicos, podendo caracterizar o cotidiano em um papel secundário, ou

seja, utilizá-los apenas como exemplificação ou ilustração para ensinar

conhecimentos químicos de forma aparentemente mais simples.

Alguns livros didáticos como os dos autores Francisco Miragaia Peruzzo e

Eduardo Leite do Canto são muito conhecidos entre os professores e após ampla

divulgação, constantemente adotados nas escolas públicas. Em 1993, esse LD é um

dos precursores do termo “cotidiano” nas aulas de química. Após dez anos de

estudos a respeito da forma de abordagem, alguns pesquisadores concluem que o

termo não foi utilizado de forma adequada, chegando a no máximo traçar relações

superficiais de contextos e conhecimento científico.

A justificativa da conclusão de Wartha et al. pode ser baseada em recorte do

próprio Guia do Livro Didático (PNLD, 2012) que destaca que na coleção existem

livros com várias situações nas quais o conhecimento químico é vinculado ao

cotidiano do aluno; contudo, para permitir uma construção mais crítica da cidadania,

há a necessidade de problematizações mais profundas dos temas sociais. Essa

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afirmação denota uma preocupação dos especialistas e aponta um caminho a

seguir, indicando algumas alterações na abordagem do ensino aprendizagem,

garantindo assim minimizar o vácuo existente na utilização do termo cotidiano sem

as devidas problematizações e relações com os temas vividos pela sociedade.

O livro didático Interações e transformações I: elaborando conceitos sobre

transformações químicas do Grupo de Pesquisa em Educação Química (Gepeq,

1993), editado no mesmo ano do livro de Tito e Canto, trabalha com o termo

“cotidiano” numa abordagem de forma cognitivista e problematizadora. Neste

sentido, o professor que faz uso do LD usa uma abordagem metodológica que leva o

educando a refletir sobre as situações vividas, a formular e reformular hipóteses,

encaminhando-se a um saber enriquecido, proporcionar aprendizagem significativa.

Este livro trabalha com o conteúdo baseado na aprendizagem significativa de

Ausubel, em que demonstra a importância sequencial do conhecimento simples para

o mais complexo, como andaimes (grifo da autora), de um nível macroscópico para o

microscópico, ou seja, introduz os conteúdos de forma significativa para depois

surgirem os conceitos teóricos.

A análise do material elaborado por Schnetzler no projeto Proquim, no ano de

1982, o qual teve a participação de oito professores de SP e MG, tem como

finalidade a compreensão de que a química se insere em vários aspectos da vida do

indivíduo. Trata-se do primeiro projeto de ensino de química a contar com apoio da

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para sua

execução.

Em um contexto mais problematizador, destacam-se as propostas de

abordagem do cotidiano de Lutfi (1988), em que o autor aborda o estudo que

ultrapassa o limite conceitual e propõe possíveis implicações sociais, ambientais e

políticas. Em 1992, o autor alterou sua proposta dando um olhar diferenciado e não

reducionista sobre o cotidiano, procurando extrair dele suas características comuns,

corriqueiras para estudo mais complexo embasado em conhecimentos

sistematizados, elaborando um material que mostra as relações possíveis entre os

aditivos químicos adicionados aos alimentos e os conteúdos de química orgânica.

Em um segundo material,.que introduz os conceitos de eletrodeposição de metais,

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utilizando a problematização de uma indústria metalúrgica de galvanoplastia. Desta

forma, ele trabalha os conceitos relacionando-os aos problemas sociais, políticos e

ambientais contextualizados no cotidiano dos alunos além de tornar público à

realidade encontrada no interior de uma empresa metalúrgica.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), de

1999 trazem a necessidade de substituição do termo cotidiano por contextualização,

que não são sinônimos, mas podem ser aplicados para exemplificar a química na

sala de aula. O ato de formar contextos é fundamental para a criação de

significados, porque incorpora relações antes despercebidas. Wartha et al. (2013)

ressaltam que o termo contextualizar, embora amplamente divulgado, não existe e

que o correto é contextuar, que significa enraizar uma referência em um texto, de

onde fora extraída, e longe do qual perde parte substancial de seu significado.

A construção de significados, portanto, de conhecimentos, deriva do contexto

ou a situação onde se insere a contextuação. O PCNEM espera que os professores

possam fazer os alunos entenderem que existe uma relação entre o que aprendem

em sala de aula e o mundo exterior a escola, que contextualizem a aprendizagem: “o

tratamento contextualizado do conhecimento é o recurso que a escola tem para

retirar o aluno da condição de expectador passivo”. Mas o documento se refere à

contextualização como recurso pedagógico, o trata como uma ferramenta de ensino,

quando ele é a compreensão do significado a partir de experiências sociais,

políticas, históricas e culturais.

O Ministério da Educação (MEC) aplica o conceito de contextualização na

sala de aula baseando-se em currículos de diversas vertentes acadêmicas,

apoiando-se em diferentes ideias para definir como deve ser o ensino de Ciências

no país, criando ambiguidade. Esse fator dificulta a aplicação dos conceitos exigidos

pelo PCNEM na sala de aula.

Uma pesquisa elaborada por Silva e Marcondes (2010) com professores de

Química durante um curso de formação continuada no Estado de São Paulo revela

que poucos profissionais entendem a ideia de contextualização em sua totalidade,

que é de criar o conhecimento de Química e aliá-lo a realidade social. É possível

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verificar entre os docentes o uso de contextualização como um recurso a mais, uma

estratégia capaz de permitir a descrição científica de fatos e processos.

Santos e Mortimer (1999), ao analisarem a concepção de professores sobre

contextualização, identificaram três diferentes entendimentos:

1. Contextualização como estratégia para facilitar a aprendizagem;

2. Como descrição científica de fatos e processos do cotidiano do aluno;

3. Como desenvolvimento de atitudes e valores para a formação de um

cidadão crítico.

Os autores concluem, assim como Silva e Marcondes, que os docentes

entendem a contextualização como uma descrição científica de fatos e processos do

cotidiano do aluno, uma ferramenta a mais para trabalhar.

Um estudo elaborado por Wartha e Alário (2005), com livros didáticos de

química editados após os PCNEM, revela que a ideia de contextualização foi

introduzida no ensino para facilitar a aprendizagem.

Muitas vezes contexto e cotidiano são entendidos como sinônimos

aproximados pelo novo conceito de metodologia de ensino, que prega a

contextualização da matéria envolvendo fatos do cotidiano, como problema do uso

racional da água e os problemas sociais, econômicos e de saúde causados pelo uso

de drogas.

Existem ainda estudos que se referem à contextualização em uma concepção

mais próxima de uma educação transformadora, como proposta por Paulo Freire.

Neste cenário, o ensino seria estritamente ligado à problemática social, o professor

faria a mediação entre aprendizagem dentro da escola e aprendizagem fora dela.

Concordando com os autores, Feldmann e Masetto (2012) afirmam que a

construção de um currículo supõe que os professores saiam um pouco de dentro

das escolas para considerar: “o que está acontecendo na sociedade, às mudanças

que estão ocorrendo, as necessidades atuais da população, bem como as

representações e os contatos com a realidade”.

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Neste cenário, onde o currículo vai além das fronteiras da escola, o professor

tem que estar ciente dos acontecimentos relevantes da comunidade onde está

inserido e trazer essa problemática para ser trabalhada dentro da escola. Um

exemplo é a violência que permeia diversas camadas da sociedade; o uso

discriminado de drogas em todas as camadas sociais; o desemprego; a falta de

moradia; problemas relacionados à natureza, como o excesso de chuva ou a seca; a

falta de saneamento básico e o colapso do sistema de saúde, que falha em atender

as necessidades básicas da população. Como os alunos e professores vivenciam

esses problemas diariamente, é mais fácil associar o aprendizado á eles do que

utilizar-se apenas de termos teóricos e conceituais, aproximando-os da

aprendizagem significativa.

Seguindo neste caminho de aproximação da escola á vida cotidiana, para

contextualização, uma corrente de pensadores afirma que comportamentos da vida

cotidiana devem ser estudados, pois influenciam o modo de pensar e agir das

pessoas (HELLER, 1989). A repetição os faz agir sem refletir criticamente quanto

aos acontecimentos, seguindo padrões impostos pela sociedade e por experiências

adquiridas com suas vivências. Outra corrente exemplifica que o cotidiano ocorre na

tríade da esfera social, nos espaços vividos, percebidos e concebidos

diferentemente pelo indivíduo (LEFEBVRE, 2000).

Lutfi (1997) baseia-se na percepção de espaço concebido de Lefebvre para

falar sobre o uso de ideologia no discurso, alertando para a predominância do

discurso dominante, que aliena o indivíduo. Ele apoia-se na certeza de que apenas a

reflexão sobre o cotidiano, a contextualização do mesmo acabará com a alienação

social. Os fatos do cotidiano não ficam restritos a ele, se expandem e alcançam

todos os aspectos da vida.

A problemática de cotidiano e contextualização pode ser abordada pela

perspectiva pedagógica de Freire, a de problematização do conhecimento a partir de

situações reais; a organização pelo professor, que apresenta ao aluno ferramentas

que o capacitam para resolver o problema; e por fim a aplicação deste

conhecimento, que requer do aluno a habilidade de contextualização. Santos (2008)

propõe que referências aos problemas da sociedade sejam inseridas no currículo

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escolar de modo a ampliar os horizontes dos alunos, promovendo discussões a

cerca da ciência e sua relação com o cotidiano.

Assim, fica claro que a contextualização é imprescindível para o ensino,

porque cria uma rede de aprendizado mais coesa com as relações sociais que

ambos, professores e alunos vivenciam. É necessário abolir a visão limitada de

cotidiano e ampliá-la, para isso é necessário mais informações sobre o momento em

que se está inserido. O ensino de química teria benefícios da contextualização nas

escolas, mediante pesquisa e trabalho voltado para o social.

1.7.2 Currículo e concepções sobre currículo e ação docente

“A tarefa do professor é preparar motivações para atividades culturais, num ambiente

previamente organizado, e depois se abster de interferir.”

Maria Montessori

Para que o professor esteja preparado para a tarefa de motivador de alunos,

é preciso que ele tenha uma sólida formação do que é o ato de ensinar. A formação

de professores da educação básica no Brasil tem passado por várias reformulações

nos últimos anos. Tanto as políticas educacionais quanto os fundamentos legais,

quer seja em nível Nacional, Estadual e Municipal e em suas diferentes

modalidades, vem possibilitando um repensar dos cursos de formação e da prática

docente no que se refere ao conteúdo, concepção, estrutura, condições de trabalho,

alunos, formação, careira docente entre outros.

O modelo vigente parece não mais agradar os educadores e a sociedade civil,

tendo vista as frequentes discordâncias, críticas e reflexões que são feitas em torno

da função docente. Com todas essas discordâncias, críticas e reflexões, os

pesquisadores, os educadores, os professores, os alunos e os sistemas

educacionais têm buscado um novo enfoque para a formação inicial de professores

e um acompanhamento e tratamento mais de perto a respeito do exercício docente,

pois é importante a relação do processo de formação inicial com o exercício docente

e as formas que essa formação pode contribuir para o desenvolvimento profissional

destes na escola.

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No processo formativo, é preciso que haja uma inter-relação entre a formação

inicial, que segundo a perspectiva da profissionalização começa com o ingresso na

educação de nível superior, mas que necessariamente necessita de continuidade

Gauthier (1998). Essa continuidade pode ser considerada como um fio condutor que

após a formação inicial deve ou pode ser assumida pelas instituições de ensino

ligadas aos docentes, são os chamados cursos de reciclagem, de formação

continuada, de gestão de saberes, de atualização e outros.

A busca pelo novo contribui para que um professor melhore seu desempenho,

sempre buscando aprender mais, estudando, participando de cursos com natureza

diversa participando de constantes atualizações e capacitações. Objetivando ajudar

os seus alunos a descobrir, construir novos conhecimentos, sendo acima de tudo

uma pessoa capaz de aceitar críticas e contribuir para melhoria de seu próprio

desempenho e alcance de seus propósitos.

A preocupação em torno da questão do “saber-fazer”, ou seja, do como

realizar na prática a implantação de um processo de formação de professores, a

partir de um currículo capaz de estabelecer relação entre a formação inicial e

continuada de maneira objetiva e subjetiva, fazendo ligação com o contexto social

dos alunos, não é de fácil solução. Para ser um bom professor (ALARCÃO, 1998,

p.103), é preciso levar em consideração algumas dimensões do conhecimento

profissional, como a estrutura do conhecimento científico-pedagógico, o

conhecimento do conteúdo disciplinar que relaciona-se diretamente ao “domínio da

matéria de ensinar, no que diz respeito aos conceitos e temas que a constituem, às

estruturas que lhes conferem organização interna e ao grau de relevância de uns

relativamente aos outros”.

Portanto, o saber fazer depende da forma como os professores manifestam a

mais profunda segurança na forma de organizar e desenvolver suas atividades em

sala de aula atentando para as necessidades de seus alunos onde o conhecimento

do currículo e as formas de colocá-lo em prática sejam bem definidos. Para o

sucesso dessa difícil missão, é necessário que a formação docente inicial e/ou

continuada de qualidade seja uma condição de grande relevância no sentido de

instrumentalizar o profissional para que o processo de ensino aprendizagem atinja

os objetivos, ou seja, ele tem que ter competência pedagógica (BRZEZINSKI, 1995).

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Logo, a formação pedagógica necessária para a competência docente, deve ser a

aquela que pode estabelecer um caminho entre a realidade em que o aluno vive na

sociedade e o currículo a ser desenvolvido na escola que o leve a ser um indivíduo

completo e enxergue a escola como formadora para a vida e não só para teorias

desconectadas com a realidade.

Como o professor enxerga o currículo que, segundo Nascimento (2005), em

se tratando de mapas políticos culturais da sociedade, na atualidade, pressupõe que

o compreendamos na relação entre escola, cultura e sociedade, valorizando todos

os saberes nas diversas práticas cotidianas dos sujeitos educativos?

Nessa perspectiva, a compreensão sobre currículo é de um processo em

constante construção que ocorre dentro de certas condições concretas, que se

configura dentro de um mundo de interações sociais complexas, onde se

estabelecer um diálogo, entre agentes sociais, elementos técnicos, alunos,

professores e todas da escola (SACRISTÁN, 2000). O currículo representa o

contexto de uma prática ao mesmo tempo em que é contextualizado por ela, isto é,

caracteriza-se por desenvolver uma relação dialética e processual com o contexto

que lhe dá origem e o representa e por aquilo que é representado. Significa, pois,

que o currículo não pode ser entendido à margem do contexto no qual se configura,

tampouco distante das condições em que se desenvolve, ele tem que ser degustado

e saboreado para que faça sentido e esse sabor pode ser doce ou amargo quando

não se sabe o que fazer com ele.

A relação do professor com o currículo a ser praticado está relacionado com o

saber que está relacionado com a sua identidade, sua experiência de vida, com a

sua história profissional, com as suas relações com os alunos em sala de aula e com

os outros profissionais da escola. É um saber social porque é partilhado por todo um

grupo de agentes; porque seus próprios objetos são objetos sociais, isto é, práticas

sociais; mostram a histórias das disciplinas, pois o que os professores ensinam

evoluem com o tempo e as mudanças sociais, e por ser adquirido no contexto de

uma socialização profissional (TARDIF, 2002).

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Desta forma, o currículo que se manifesta na prática dos/as professore/as,

não parte de uma única prática, mas do cruzamento de práticas diversas e se revela

como prática pedagógica.

Como descreve Sacristán (2000, p.26):

Sendo a condensação ou expressão da função social e cultural da instituição escolar, é lógico que, por sua vez, impregne todo tipo de prática escolar. O currículo é o cruzamento de práticas diferentes e se converte em configurador de tudo o que podemos denominar como prática pedagógica nas aulas e nas escolas.

O mesmo autor ao defender o professor como um mediador entre o aluno e a

cultura, defende a importância de se considerar os saberes docentes, as condições

institucionais, o nível das experiências que, a princípio, o professor tem; os

significados que atribui ao currículo em geral e ao conhecimento, em particular.

O sentido do currículo no trabalho docente depende de como o professor

conhece, entende e acredita nos pressuposto do documento. Quando o mesmo faz

parte de propostas curriculares oficiais visa organizar um discurso legitimado e

legitimador de determinadas orientações curriculares, capaz de institucionalizar

determinadas relações de poder, bem como construir processos de controle ou de

regulação social; a disseminação desses discursos ocorre quanto mais estiverem

sintonizados com significados previamente aceitos nos diferentes grupos sociais

(LOPES, 2002). Segundo Moreira (1998), o currículo, ao se voltar para as relações

entre o conhecimento escolar e a estrutura de poder na sociedade mais ampla, sofre

de forma aguda as incertezas que marcam o campo.

Dependendo de como essa relação de poder se instaura, o professor assume

ou não o papel de interlocutor entre o documento e a prática pedagógica, tornando

um mediador e articulador das ideias inseridas no mesmo dentro da escola.

Sendo a escola o local por excelência de gestão e transmissão de saberes, a

questão do currículo como forma institucionalizada de estruturação e de

programação de conteúdos de ensino deve estar no centro de toda reflexão

sociológica sobre educação (FORQUIN, 1992). A prática docente é de suma

importância, pois o professor é que tem como ofício a arte de ensinar e que produz e

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utiliza saberes próprios de seu ofício no seu trabalho cotidiano nas escolas

(ARROYO, 2000).

O papel do professor no processo de implantação das reformas curriculares é

fundamental. Entretanto, a atuação do mesmo ainda se dá em uma perspectiva

secundária. Shulman (1997 apud Cruz, 2007) enfatiza a necessidade das reformas

educacionais considerarem os professores como aliados. Porém, não é fácil a tarefa

de aceitação de mudança. O autor ressalta, pelo menos, cinco aspectos em torno

dessa questão:

1. Os professores enfrentam um enorme desafio quando tentam ser profissionais responsáveis em meio ao turbilhão de encaminhamentos comuns ao período de implantação de uma reforma;

2. O magistério se constitui em uma profissão de alto nível de exigência intelectual, técnica e emocional;

3. Para que qualquer reforma funcione não só os alunos devem aprender, mas também os professores;

4. Formação prévia e formação em serviço precisam ser igualmente cuidadas na formação docente;

5. As reformas, tal como vêm sendo encaminhadas, dificultam a atuação do professor e, consequentemente, afetam o seu êxito.

Esses aspectos ressaltam a necessidade de se respeitar os saberes dos

profissionais da educação quando se incorporam mudanças. No entanto, o que se

observa é uma organização rígida, elaborada à distância e desconectada da prática

cotidiana da sala de aula, havendo uma distância significativa entre as propostas

oficiais e o dia-a-dia das escolas os dilemas que os professores enfrentam no

encaminhamento de seu trabalho (CANDAU, 1999).

O ato de ensinar requer muita responsabilidade e ensinar química não é

simplesmente repassar conteúdos aos alunos e esperar que eles, num passe de

mágica, entendam os conceitos e dominem a matéria. Gostar de ensinar e gostar de

aprender, tanto o professor como o aluno, são formas de construir um conhecimento

significativo. Não se pode esperar que todos os alunos gostem de todos os

conteúdos , porém, se o professor gostar de ensinar, pode encontrar mecanismos

para a melhoria do entendimento dos conteúdos pelos alunos. Para que o docente

encontre caminhos para ensinar, ele precisa estar bem formado para esse trajeto de

construção.

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A falta de identidade própria para o curso de formação de professores, uma

vez que funcionam como anexos do curso de bacharelado, aproveitando disciplinas

e professores comuns nos cursos de licenciatura, levam a má-formação docente. A

formação de professores deve ser realizada como um processo autônomo, numa

estrutura com identidade própria, distinta dos cursos de bacharelado.

Um professor bem formado, crítico e consciente encontrará mecanismos

favoráveis para as discussões de questões atuais em sala de aula, tornando o

ambiente escolar mais prazeroso, baseando em conceitos químicos, levando a

construção do conhecimento e formação de opiniões (ROSA; ROSSI, 2008).

Na interpretação do mundo através das ferramentas da Química, é essencial

que se explicite seu caráter dinâmico. Assim, o conhecimento químico não deve ser

entendido como um conjunto de conhecimentos isolados, prontos e acabados, mas

sim uma construção da mente humana, em contínua mudança (Brasil, 1999).

De acordo com o PCNEM (1999, p.30):

Deve-se considerar que a Química utiliza uma linguagem própria para a representação do real e as transformações químicas, através de símbolos, fórmulas, convenções e códigos. Assim, é necessário que o aluno desenvolva competências adequadas para reconhecer e saber utilizar tal linguagem, sendo capaz de entender e empregar, a partir das informações, a representação simbólica das transformações químicas. A memorização indiscriminada de símbolos, fórmulas e nomes de substâncias não contribui para o desenvolvimento de competências e habilidades desejáveis no Ensino Médio.

E para o professor estar em condições de exercer sua profissão de forma a

contemplar os desafios de um mundo em constantes mudanças, desenvolvendo as

habilidades e competências de seus alunos, é necessário que ele se prepare de

forma contínua, pois somente a formação acadêmica não lhe capacita para tão

grande desafio.

Como o currículo ou as propostas curriculares são normalmente impostas de

cima para baixo, os professores não se percebem nesse processo como

mediadores, e sim como técnicos (GIROUX, 1997), colocando em prática o que está

escrito, não fazendo parte desse contexto. Desta forma o saber docente (TARDIF,

2000) não se materializa, pois não é exclusivamente o domínio da disciplina que

caracteriza um professor e sim um conjunto de conhecimento, que não pode ser

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fechado e determinado por currículos pré-construídos. Existem alterações na

dinâmica curricular que agradam aos professores, por outro existem modificações

que não são bem aceitas, principalmente aquelas que interferem diretamente nas

suas rotinas de trabalho.

Nessa direção, ensinar hoje com tantas mudanças: ciclos em lugar de série;

avaliação continuada em lugar de aprovação ou reprovação; classes de aceleração

e/ou reorientação da aprendizagem buscando atacar a distorção série/idade;

dificuldades generalizadas de aprendizagem; o ensino por competências; o ensino

com temas transversais; o trabalho com projetos educativos, recuperação de ciclo,

recuperação continuada e de férias, cadernos de atividades no lugar de livros

didáticos, salas superlotadas, espaços físicos degradados, violência entre alunos e

alunos e professores, falta de gestão, ausência dos pais em casa e nas escolas de

seus filhos, torna o ensino um processo muito complexo.

Essa complexidade e distanciamento entre a concepção e o envolvimento do

professor acabam se constituindo em um elemento crucial para determinar o

sucesso ou fracasso de uma mudança curricular.

Que importa quem fala, disse alguém, que importa quem fala. (Samuel Beckett)

É preciso dar importância a quem fala, o professor; os currículos não podem

ser fechados. É necessário que haja autonomia do docente nos aspectos de sua

prática curricular, para a escolha de material didático, as opções político-

pedagógicas e o planejamento de aulas e atividades vinculadas à realidade social e

cognitiva de seu aluno. O ofício do professor implica um saber fazer que assegure a

aprendizagem da disciplina e a transmissão do que lhe é confiado pela via das

diretrizes curriculares e que, inevitavelmente, expressa uma determinada concepção

de mundo.

1.7.3 O que pensam alguns professores sobre o trabalho docente

“Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses”.

Rubem Alves

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Nós professores temos que estudar a cada dia para ter força para voar e

encontrar caminhos novos para o ensino e aprendizagem. Há aproximadamente 15

anos, reconheceram-se deficiências na formação dos professores de Química por

parte dos acadêmicos (ROSA; ROSSI, 2008). A má-formação de professores se

reflete em sala de aula, com profissionais que não tem domínio sobre o conteúdo.

Os resultados negativos em avaliações nacionais revelam o baixo valor que é dado

ao conhecimento científico (WERTHEIN; CUNHA, 2005).

A falta de investimento coloca a escola pública em crise, mas a instituição

continua a atualizar-se, adaptando-se as mudanças sociais, tecnológicas e culturais

(SILVA, 2007). A desorganização das escolas favorece a evasão escolar e prejudica

a aprendizagem, o interesse do aluno e o trabalho do professor.

Uma pesquisa feita por Borges e Silva com sete professores de Química do

Ensino Médio em três escolas na cidade de Formiga em Minas Gerais mostra que na

maioria das vezes o professor realiza seu trabalho desmotivado. Dois motivos são

apontados: a falta de condições de trabalho e o grande número de alunos na sala de

aula. Os professores se queixam que a carga horária da disciplina de Química é

pequena e a quantidade de conteúdo dificulta a programação das aulas.

Os docentes entrevistados ressaltam a má-formação nas universidades, que

não os preparam para a realidade das escolas; os torna despreparados para

enfrentar o ofício de ensinar. Sabe-se que o conceito químico é construído,

praticando e pensando sobre as transformações que observa, ou seja, é necessário

que o professor seja mediador entre a prática e a teoria. Quando o professor não

apresenta domínio sobre o conteúdo que deve ensinar aos alunos, ele não

apresentará domínio sobre o currículo, pois não entende de práticas pedagógicas.

Na concepção desses professores, quando afirmam que não foram preparados nos

cursos de licenciatura, observa-se que a docência é encarada como um

conhecimento a ser transmitido e não uma experiência a ser adquirida, algo a ser

construído, não acabado.

Em um estudo realizado por Santos Júnior, Souza e Marcondes (2011) com

152 professores da rede estadual de São Paulo,“Uma análise das concepções dos

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professores de Química sobre o atual currículo oficial do Estado de São Paulo”,

mostra que a maioria aprova o currículo.

A maioria dos docentes que participaram do estudo é formada em Química e

alguns apresentam formação em Física, Biologia ou Matemática. Esses professores

responderam a um questionário com 19 perguntas abertas disponibilizado na

internet. Foram analisadas as respostas referentes à aceitação do atual currículo de

Química; sugestões de alteração e o papel do currículo de Química na formação dos

estudantes.

O currículo recebeu críticas quanto a sua elaboração por especialistas na

área de Química e o não envolvimento dos professores (TAVARES, 2009). Apesar

desse fato, 60% dos entrevistados o consideraram adequado, 23% dos docentes

não acharam o currículo adequado, 12% responderam que o consideravam em parte

adequado em um total de 72% que aceita o currículo.

Os professores justificam a aceitação do atual currículo e sua manutenção por

se tratar de um documento uniformizador da prática e organizador de conteúdos. Os

pesquisadores observam que isso ocorre com a implantação de qualquer currículo.

No início do trabalho de implantação do currículo, existia a ideia de que ele limitaria

o trabalho docente. Os resultados da pesquisa mostram que essa noção foi

substituída pela ideia de algo que estrutura os conteúdos, facilitando a prática. Os

professores estão utilizando os conteúdos programáticos, mas não os referenciais

teóricos do currículo, que falam sobre habilidades, competência, contextualização e

interdisciplinaridade. Apenas 20% dos entrevistados valorizam a contextualização do

currículo.

Alguns professores, 10% do total, acreditam que o currículo deve ser

abandonado porque difere dos livros didáticos, dos vestibulares e do ENEM. Os

exames vestibulares influenciam de forma significativa o trabalho de alguns

professores, pois é uma avaliação do sistema, ainda que não oficial.

A maioria dos entrevistados, 77%, utiliza o caderno de Química em sala de

aula, contra 23% que afirma não utilizá-lo. Da parcela que utiliza o material, 40%

acredita que facilita o processo de ensino e aprendizagem; 28% o utiliza porque

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permite a combinação com outros materiais didáticos e 15% afirma ser obrigado a

usar o material.

Uma das questões feitas na pesquisa era quanto às sugestões por parte dos

professores em relação ao currículo, Caderno do Aluno e Caderno do Professor:

53% dos entrevistados fariam mudanças no material, percebe-se a influência dos

livros didáticos, do vestibular e do ENEM nessas mudanças.

Questionados sobre a importância da Química na formação dos estudantes,

20% dos professores acreditam que é para a entrada nas universidades,

contrariando a concepção de que a seleção de conteúdos deva levar ao

desenvolvimento do estudante (CARVALHO; GIL-PEREZ, 2006).

Vários professores, 44%, observam que o que é importante “relacionar a

Química com o cotidiano e os fenômenos da natureza”, como proposto pelo

currículo, demonstrando a preocupação crescente dos profissionais em tornar o

aprendizado de ciências mais significativo.

A pesquisa detectou incoerências em relação ao discurso dos professores,

que defendem a formação de uma cidadania crítica, a contextualização da Química,

mas ao mesmo tempo associam esses conceitos a memorização do conteúdo e o

uso de livros didáticos que preparam para o vestibular. Isto revela que os

professores não se apropriaram totalmente do currículo.

Os pesquisadores afirmam que os resultados deste questionário devem ser

encarados com cuidado, pois apontam uma contradição entre os professores.

Enquanto a maioria considera o currículo adequado, propõe mudanças que o

descaracterizaria. Isso revela que embora concordem com uma base de conteúdos

uniforme, discordam da seleção e estruturação dos mesmos. A maioria dos

professores que se opõem ao currículo ainda acredita no conceito de educação no

Ensino Médio voltada para o ingresso na universidade, que destoa da LDB/1996 e

dos PCNs/1999 e 2002.

Outro estudo, elaborado por Herber (2007), com cinco professores que

participaram de um grupo de estudo em um centro universitário, sobre as

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percepções dos professores sobre currículos e PCNs; planos de estudos,

interdisciplinaridade e ensino de Química; currículo de Química e o cotidiano.

Como resultado da pesquisa, a autora apresentou: os professores

apresentaram falta de conhecimento sobre o PCN e suas orientações, que

utilizavam pouco em seu trabalho pedagógico. Um dos argumentos para a falta de

aplicação do documento na prática é não saber trabalhar com ele, por não terem

recebido orientação adequada. Outra preocupação é a falta de tempo para repassar

ao aluno o conteúdo, o que dificulta mudanças nas estruturas das aulas. A

valorização do vestibular também é apontada como um dos motivos da preferência

por uma educação conteudista. É evidente que os professores desconhecem o PCN

e o conceito de desenvolvimento de habilidades e competências e de

contextualização da disciplina.

A integração com outras disciplinas foi abordada na pesquisa e os

professores reclamaram da falta de sincronia entre as disciplinas, principalmente

entre Química, Biologia e Física. Apenas um dos entrevistados afirma adotar aula

prática, os outros afirmam que nas escolas onde trabalham não existem reuniões

para atividade interdisciplinar. Os professores reclamam que os professores das

disciplinas “não se encontram” de forma a permitir uma integração.

Outro desafio para o professor é relacionar o conteúdo ao cotidiano do aluno.

Uma das professoras pesquisadas, afirma que “algumas vezes, o professor é visto

com maus olhos quando motiva seus alunos a procurarem a realidade da região”. A

contextualização ainda é uma iniciativa isolada por parte dos profissionais. Há

também a problemática dos conteúdos de Química abordados no Ensino

Fundamental II não integrados ao currículo do Ensino Médio, criando preconceito

nos alunos quanto á Química. Ao final dos encontros concluiu a autora, que os

professores concordam com uma escola voltada para a reflexão crítica e formação

social, como nos pressupostos do PCN, mas encontram dificuldades em aplicar a

teoria na prática, pois há a ausência de formação continuada para professores,

infraestrutura das escolas e formação pedagógica nas universidades (cursos de

licenciatura).

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As pesquisadoras Trevisan e Martins (2006) assistiram às aulas de Química

de três professores durante três meses. Elas somente observavam as aulas sem

intervir no processo ensino-aprendizagem. Elas apontaram um descompasso entre o

discurso e a prática dos professores. Alguns manifestaram o desejo de realizar uma

prática pedagógica ancorada em propostas metodológicas mais progressistas. As

observações mostram que esses professores desenvolveram suas práticas

centradas na transmissão de conteúdos, estabelecendo uma relação com o aluno

que é unidirecional.

Uma explicação para esse descompasso encontra-se na formação acadêmica

desses professores, distante muitas vezes da realidade na sala de aula. Outra

explicação pode ser dada pelo fato das disciplinas de formação da área específica

de Química se dar de forma desarticulada das disciplinas pedagógicas. O estudo

revela que os professores trabalham, em sala de aula, com crenças oriundas de sua

experiência enquanto estudantes e o currículo fica em segundo plano.

Um estudo feito por Santos, Almeida e Campos (2005) para avaliar como os

professores entendem o desenvolvimento de competências na escola, revela que

existe uma diferença entre o que eles pensam e o que os documentos oficiais

explicam. A pesquisa foi feita com seis professores do Estado de Pernambuco que

participaram de um grupo de discussões; anteriormente eles responderam a um

questionário com mais dez profissionais, em um total de 16 professores de

instituições particulares e públicas.

As pesquisadoras escolheram a definição de competência de Perrnoud (1999)

para basearam as discussões:

A competência é a faculdade de mobilizar e associar um conjunto de recursos ou esquemas mentais de caráter cognitivo, sócio-afetivo e psicomotor (saberes teóricos e da experiência e a afetividade) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações novas.

A discussão tinha como objetivo fazer os professores refletirem sobre as

bases teóricas que sustentam o conceito de competência nas escolas. Cinco dos

seis professores participantes, quando questionados “o que você entende por

competências?” deram como resposta o conceito de Perrenoud. Um professor

definiu “competência” como “atividade”, ou seja, algo capaz de ser observado, sem

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ação mental e cognitiva. Como mais de uma resposta para a mesma questão era

admitida, dois professores afirmam que competências são a capacidade de adquirir

e transmitir conhecimentos, uma visão tradicional de ensino que não funciona com a

pedagogia construtivista.

Outra questão proposta na discussão era qual o sentido que os PCNs

atribuem a competência no Ensino Médio e todos responderam que é o sentido de

“habilidades” com ênfase na aplicação de conhecimentos, valores e procedimentos

aprendidos na escola ou observados no cotidiano. Os PCNs não apresentam uma

definição teórica do conceito de habilidade e competência, mas quais devem ser

desenvolvidas no Ensino Médio segundo recomendação da LDB.

Quando questionados se é possível desenvolver competências na escola,

todos responderam que é uma responsabilidade da instituição. Três professores

completaram que também é o trabalho do docente e dois se referiram a mudanças

no currículo e á adoção da pedagogia construtiva. Todos os pesquisados acreditam

que é possível desenvolver na escola as competências determinadas pelos PCNs e

cinco professores usariam métodos de avaliação diferentes para avaliar os alunos

quanto às competências desenvolvidas pelo ensino da Química.

É possível perceber que os docentes têm concepções variadas acerca do

conceito de competências, revelando a fragilidade de um processo pedagógico nas

escolas voltado para o desenvolvimento de competências. Os modelos atuais não

correspondem às necessidades do professor em sala de aula, dificultando a adoção

de uma nova abordagem que transmita os conhecimentos referenciais de

competências e habilidades e permita seu desenvolvimento.

1.7.4 O papel dos gestores no processo de implantação do currículo

"Alvo tanto de amor quanto de ódio"

"... cujo papel acredito ser o mais relevante do ponto de vista da estratégia e da política

educacional de um sistema de ensino"

"... pela própria natureza integradora da sua função, o diretor ocupa um lugar especialmente

importante e imprescindível".

Prof. Antonio Joaquim Severino (PUC-SP)

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Entende-se por gestores na escola pública os diretores, professores

coordenadores, professores coordenadores da oficina pedagógica, supervisores e

demais educadores que não exercem a função docente no sistema de ensino.

Segundo diagnóstico da SEE, os conhecimentos genéricos sobre gestão escolar

precisam ser traduzidos em orientações e especificações técnicas, administrativas,

legais e motivacionais que sejam adequadas à implementação da nova Proposta

Curricular. A SEE acrescenta ainda:

A implantação desse novo currículo prevê assim um cuidado específico com a

educação continuada dos próprios gestores, com sua atuação formadora na relação

com os demais profissionais da escola, particularmente os professores.

... a atuação do gestor – a de aprendiz e de formador – sintetizam-se no principio da “escola que aprende”, entre os princípios norteadores da Proposta Curricular (SÃO PAULO, 2008, p.2).

Para que a proposta pedagógica tenha sucesso os gestores devem abraçar o

desafio de ir muito além da coordenação e assistência técnica, exerça a liderança,

entusiasmo e inspire as relações e práticas do coletivo escolar.

A gestão do currículo é a mediação entre os princípios norteadores da

proposta curricular e as situações de aprendizagem dos conteúdos específicos. O

objetivo final é fazer com que aqueles princípios ganhem vida nas ações de

professores e alunos. Para isso, a SEE tem como principio a formação em serviço

para colocar em prática a Proposta Curricular. Em alinhamento com a proposta, será

dada prioridade ao desenvolvimento, nos professores, da competência de leitura e

produção de textos, pois essa competência vai permear todo o currículo proposto,

com textos para leitura dos alunos em todas as disciplinas.

Para que a proposta atinja os objetivos será necessário:

a. Que gestores e professores as entendam e aceitem de fato como situações de ensino-aprendizagem para os professores.

b. Que a elas se apliquem exatamente os mesmos princípios e o mesmo tratamento didático proposto aos professores para aplicação com seus alunos.

c. Que as ações de formação sejam planejadas e vivenciadas como investimento na capacidade da escola como um todo e não em um professor em particular (SÃO PAULO, 2008, p. 2 á 5).

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CAPÍTULO II - METODOLOGIA

Nesse capítulo, apresentamos a abordagem metodológica que foi usada

nessa investigação. Inicialmente definimos a linha metodológica da pesquisa. A

seguir apresentamos uma descrição dos passos metodológicos adotados,

caracterizando a Diretoria de Ensino de Santo André, os professores pertencentes a

essa diretoria, os questionários aplicado a esses professores, a entrevista com

alguns membros da equipe que elaborou o Currículo e os materiais pedagógicos

(CA e CP), os procedimentos para o tratamento dos dados e, por fim, justificamos os

procedimentos adotados durante a pesquisa.

A entrevista é um instrumento de pesquisa comumente utilizado em estudos

científicos, sempre que existe a necessidade de obter dados que não podem ser

encontrados em registros e fontes documentais, podendo estes serem fornecidos

por determinadas pessoas (Ribeiro20, 2008). Neste caso em particular, era

necessário conhecer o processo de elaboração do material pedagógico com as

pessoas que participaram do mesmo. Como é uma técnica que permite ao

pesquisador a coleta de dados e informações de forma rápida e completa, (ROSA;

ARNOLDI11, 2006, p.17), a entrevista foi o recurso mais óbvio.

A opção por uma entrevista semiestruturada que combina perguntas abertas

e fechadas, onde os pesquisados têm a possibilidade de discorrer sobre o tema

proposto, foi a mais correta por permitir explanações sobre os temas.

2.1 Abordagem Metodológica

A abordagem metodológica adotada para conduzir essa investigação foi a de

uma pesquisa quantitativa e qualitativa do tipo estudo de caso descritivo, o qual tem

como objetivo analisar, segundo Lüdke e André (1986) intensivamente uma dada

unidade social. No nosso caso, os professores de química da rede estadual da

região de Santo André.

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De acordo com esses autores, o estudo de caso apresenta as seguintes

características: visam à descoberta; enfatizam a interpretação em contexto; buscam

retratar a realidade de forma completa e profunda; revelam experiência vicária e

permitem generalizações naturalísticas; procuram representar os diferentes e às

vezes conflitantes pontos de vista presentes numa situação social (p.17).

2.2 Etapas da investigação

2.2.1 A Diretoria de Ensino de Santo André

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo possui a maior rede de

ensino do Brasil, com 5,3 mil escolas, 230 mil professores, 59 mil servidores e mais

de quatro milhões de alunos. Em 2012 coma reestruturação de sua formação básica

passa a ter dois órgãos vinculados, sendo eles o Conselho Estadual de Educação

(CEE3) e a Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE4) e seis

Coordenadorias: Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores – “Paulo

Renato Costa Souza” (EFAP); Coordenadoria de Gestão da Educação Básica

(CGEB); Coordenadoria de Informação, Monitoramento e Avaliação Educacional

(CIMA); Coordenadoria de Infraestrutura e Serviços Escolares (CISE);

Coordenadoria de Gestão de Recursos Humanos (CGRH); Coordenadoria de

Orçamento e Finanças (COFI)5.

A estrutura organizacional da Secretaria da Educação está baseada em sua

Chefia de Gabinete, Coordenadorias e Órgãos Vinculados. O atual secretário da

Educação de São Paulo, Herman JacobusCornelisVoorwald, foi nomeado pelo

governador Geraldo Alckmin.

A Diretoria de Ensino da Região de Santo André6 é uma das 91 Diretorias de

ensino que existe em todo o estado. Está localizada em um bairro próximo ao centro

3 CEE- Órgão normativo, deliberativo e consultivo do sistema educacional público e privado.

4 FDE - Órgão responsável por construir, reformar, adequar e abastecer as escolas da rede.

5COFI – Órgão responsável pelas finanças da Secretaria de Educação

6 Disponível em http://www.educacao.sp.gov.br/central-

deatendimento/Relat_Escola.asp?ID_DIR=070&ID_MUN=626&ID_DIST=&NM_MUN=SANTO%20ANDRE&NM_DIST=&CD_ADM=2&Nova=1

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da cidade que conta com uma população segundo o IBGE-2012 de 680.496

habitantes. A cidade pertence a região metropolitana do estado.

O número de professores de educação básica que fazem parte da rede da

DERSA em 2012 era de 2072 (dois mil e setenta e dois) sendo que 1168 são

Professores de Educação Básica (PEB II), 09 (nove) são Professores Estáveis e 895

(oitocentos e noventa e cinco) são Professores categoria O (nomenclatura recente,

antigamente OFA – ocupante de função atividade (não efetivos)). Destes 98 são

professores de Química para o Ensino Médio.

A DERSA tem sobre sua responsabilidade administrativa e pedagógica 87

(oitenta e sete) escolas estaduais, sendo 26 (vinte e seis) do 1º ao 5º ano do Ensino

Fundamental, 06 (seis) somente de 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, 02 (duas)

somente de Ensino Médio e 51 (cinquenta e uma) de 6º ano do Ensino Fundamental

e Ensino Médio. A DERSA tem sob sua jurisdição 118 (cento e dezoito) escolas

particulares, 01 (uma) Escola Técnica Estadual e 01 (uma) escola para menores

infratores (Fundação Casa).

2.2.2 Instrumentos de Coleta de Dados

2.2.2.1 Questionário

O questionário foi enviado via internet durante o período de maio a junho de

2011. Nele investigamos o perfil dos professores, concepções sobre o Currículo e

formas de utilização dos Cadernos do Aluno e do Professor. Essas questões forma

categorizadas a priori e estão apresentadas.

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CATEGORIAS

QUESTÕES

Perfil

Idade (anos)

( ) até 24 ( ) 26 a 29 ( ) 29 a 30 ( ) 40 a 48 ( ) 50 a 64

1. A quanto tempo trabalha como professor (a) na rede pública? _____

É efetivo ou OFA _____________

2. Séries para as quais leciona no Ensino Fundamental? ____ e no Ensino

Médio?______

3. Qual é a sua jornada de aulas (semana)?________

4. Qual o graumáximo referente a sua escolaridade?________

5. Como descreve a relação entre a orientação obtida em sua graduação e a prática

de sua atuação como professor?

Concepções sobre o

currículo

6. Você participou de cursos de capacitação promovidos pela SEE em 2008 ou 2009,

época de implantação da propostaCurricular?

7. O que acha do novo Currículo da SEE?

Utilização do

Ca e CP

8. O que você acha do tipo de abordagem utilizada no Caderno do Professor e do

Caderno do Aluno?

9. Como você acha que ficou o seu trabalho após a implantação do novo Currículo?

a ( ) melhorou b ( ) ficou igual c ( ) piorou

d ( ) não sei responder

10. O você acha da sequência dos conteúdo do caderno? Qual a sua sugestão?

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Quadro 2: Questionário enviado aos professores.

Para sua distribuição solicitamos autorização da Dirigente Regional de Ensino

da Região de Santo André e encaminhamos uma proposta de trabalho para os

Diretores de Escolas das 53 Unidades de Ensino Fundamental e Médio.

O questionário preenchido retornou utilizando-se do mesmo instrumento de

envio. Inicialmente o prazo estabelecido para a devolução do questionário foi de

quinze dias, prorrogado por mais dez dias e posteriormente por mais dez, durante o

período de maio a junho de 2011.

A análise de conteúdo proposta por Moraes (1999) foi o mecanismo utilizado

em nossa pesquisa, pois valoriza sobremodo a objetividade e a quantificação, de

Responsabilidade em

orientar o professor

11. De quem é a responsabilidade ( na sua opinião ) de orientar sobre a utilização dos

Cadernos?

a ( )SEE b ( ) Supervisão c ( ) Professor Coordenador Pedagógico

d ( ) PCOP e ( ) Diretor

12. Qual (is) profissional (ais) da sua escola, questiona(m) a utilização ou não do

Currículo?

a ( ) Diretor b ( ) Supervisão

c ( ) Professor Coordenador Pedagógico d ( ) PCOP

13. Em que momentos do período letivo ocorre cobrança sobre a utilização do

Currículo?

a ( ) durante todo o ano b ( ) nos ATPCs c ( ) no Planejamento d ( ) nas

reuniões pedagógicas e ( ) não é cobrado

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análise de dados atingindo novas e mais desafiadoras possibilidades na medida em

que se integra cada vez mais na exploração qualitativa de mensagens e

informações. Procuramos explorar ao longo deste texto um conjunto de informações

sobre a natureza e as características da análise de conteúdo. A partir disto

focalizamos alguns dos procedimentos de que se utiliza no exame dos materiais.

Concluímos nossa discussão abordando algumas das estratégias e possibilidades

que se apresentam ao pesquisador interessado em utilizá-la.

2.2.2.2 Entrevista com alguns membros da Equipe que Elaborou o Currículo

Para verificar como se deu a construção do Currículo do Estado de São Paulo

foi realizada uma entrevista semi-estruturada com três pesquisadores (coordenadora

e dois membros da equipe) que participaram da equipe contratada pela Secretaria

de Educação de São Paulo para sua elaboração.

Uma vez que a mesma equipe elaborou os materiais pedagógicos (CA e CP)

para auxiliar o professor e o aluno na aplicação do Currículo, as questões dessa

entrevista foram agrupadas em três grupos: A) questões relacionadas a construção

do currículo; B) questões relacionadas a construção do CP; C) questões

relacionadas a construção do CA. Essas questões estão apresentadas no quadro 3.

A entrevista foi gravada em áudio e após a transcrição no caderno de campo

iniciamos a análise.

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GRUPOS

QUESTÕES

A. Construção do Currículo

A1.Como surgiu a proposta de elaboração do Currículo?

A2.Como foi composta a equipe?

A3.Quais foram as orientações da SEE para a elaboração do Currículo?

A4. Como a equipe idealizou a confecção do Currículo? A4a.Como ele foi

estruturado?

A5. Quais os pontos positivos do Currículo?

B. Construção do CP

B1.Depois que o Currículo ficou pronto, como surgiu a ideia de elaboração

do CP?

B2.Qual o tipo de formatação que vocês escolheram para o CP?

B3. Quais os pontos positivos dos CP?

C. Construção do CA

C1 .Como Surgiu a ideia da elaboração do CA?

C2.Qual o tipo de formatação que vocês escolheram para o CA?

C3. Com quais objetivos foi criado o CA?

C4.Quais os pontos positivos do CA?

Quadro 3: Categorias e questões da entrevista com alguns membros da equipe

de construção do Currículo.

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2.2.2.3 Análise das competências e habilidades do CQSP

Para verificarmos as competências e habilidades desenvolvidas nos alunos

utilizando os materiais pedagógicos, inicialmente realizou-se um levantamento das

competências e habilidades de Química descritas pelo CQSP com as competências

e habilidades do Enem/2011, as quais estão apresentadas nos quadros 4 e 5 ,

respectivamente.

A pesquisa teve caráter exploratório (GIL, 2000), em que os resultados a

partir de agora expostos, podem servir para estudos futuros, utilizando como técnica

a análise de conteúdo, segundo Lakatos e Marconi (1991) das questões do Enem e

o Currículo de química, na forma de cadernos. Na seção final deste trabalho,

demonstraremos quantitativamente o número de questões que poderiam ser

respondidas pelos alunos de escolas públicas.

Inicialmente comparamos as competências e habilidades de química descritas

pelo Enem com as competências e habilidades do Currículo. As competências de

química no Currículo (SÃO PAULO, 2008, p.128-129) estão expostas no quadro 4.

Os símbolos HC (habilidades do currículo) são indicações das autoras.

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As competências e habilidades do Currículo da SEE:

Quadro 4: As competências e habilidades do CQSP

O Enem apresenta apenas uma competência que é: apropriação de

conhecimentos da Química para, em situações problema interpretar, avaliar ou

planejar intervenções científico tecnológicas (quadro 5). Para essa competência, o

aluno deve desenvolver as seguintes habilidades:

1. Comunicação e expressão

HC1 - Para desenvolver essa competência o aluno devereconhecer e utilizar a

linguagem química; analisar e interpretar textos científicos; e saber buscar

informações, argumentar e posicionar-se criticamente.

2. Compreensão e investigação

HC2 - Para desenvolver essa competência o aluno deve desenvolver

habilidades como identificar variáveis relevantes e regularidades; saber

estabelecer relações; reconhecer o papel dos modelos explicativos na ciência,

saber interpretá-los e propô-los; e articular o conhecimento químico com

outras áreas do saber.

3. Contextualização e ação

HC3 - Para desenvolver essa competência, o aluno deve compreender a

ciência e a tecnologia como partes integrantes da cultura humana

contemporânea; reconhecer e avaliar o desenvolvimento da Química e suas

relações com as ciências, seu papel na vida humana, sua presença no mundo

cotidiano e seus impactos na vida social; reconhecer e avaliar o caráter ético

do conhecimento científico e tecnológico; e utilizar esses conhecimentos no

exercício da cidadania.

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Quadro 5: A competência e as habilidades de Química do Enem.

Após essa comparação, selecionamos 5 questões relacionadas com o ensino

de química do Enem 2011 e analisamos se o CP e as atividades propostas para os

alunos contemplam os conteúdos e as respectivas competências relacionados a

essas questões. Passaremos a utilizar a linguagem simbólica para facilitar o nosso

trabalho, como por exemplo: 1ª s, v 1, p.12, leia-se : 1ª série, volume 1, p.12 .

Questão 1:

Um dos problemas dos combustíveis que contêm carbono é que sua queima

produz dióxido de carbono. Portanto, uma característica importante, ao se escolher

um combustível, é analisar seu calor de combustão (∆HCº), definido como a energia

liberada na queima completa de um mol de combustível no estado padrão. O quadro

seguinte relaciona algumas substâncias que contém carbono e seu ∆HCº:

HABILIDADES SIMBOLOGIA

Utilizar códigos e nomenclatura da química para caracterizar

materiais, substâncias ou transformações químicas.

H1

Caracterizar materiais ou substâncias, identificando etapas,

rendimentos ou implicações biológicas, sociais, econômicas ou

ambientais de sua obtenção ou produção.

H2

Avaliar implicações sociais, ambientais e/ou econômicas na

produção ou no consumo de recursos energéticos ou minerais,

identificando transformações químicas ou de energia envolvidas

nesses processos.

H3

Avaliar propostas de intervenção no meio ambiente aplicando

conhecimentos químicos, observando riscos ou benefícios.

H4

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Substância Fórmula ∆H°c (kJ/mol

Benzeno C6H6(l) - 3 268

Etanol C2H5OH(l) - 1 368

glicose C6H12)6(s) - 2 808

metano CH4(g) - 890

octano C6H18(l) - 5 471

Neste contexto, qual dos combustíveis, quando queimado completamente,

libera mais dióxido de carbono no ambiente pela mesma quantidade de energia

produzida? (Q.50 Caderno C). Resposta correta, glicose.

Os conhecimentos necessários para que o aluno desenvolvesse todas as

competências, segundo o ENEM,e as habilidades H1 e H2 e H3 e as do Currículo

da SEE, 1HC1 e 2HC2 , pois o exercício exige que o aluno saiba ler, interpretar e

representar (H1e 1HC1) as equações químicas de combustão, balanceadas de

todas as substâncias do texto e relacionar (H2 e 2HC2) a quantidade de energia (H3)

envolvida por mol de CO2 formado. O aluno deveria chegar a conclusão que a

glicose quando queimada completamente, libera mais CO2 por mol, considerando a

mesma quantidade de energia produzida por cada uma das substâncias em

questão.

Analisando as competências e habilidades necessárias para resolver a

questão, com ambos os objetos de comparação, verifica-se que o aluno poderia

resolver esta questão diante dos objetivos propostos tanto pelo Currículo como pelo

ENEM.

COMPRATIVO CURRICULO ENEM

HABILIDADE E COMPETÊNCIA 1HC1 E 2HC2 H1, H2 E H3

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Vejamos a seguir se o CP e as atividades propostas para os alunos, também

contemplam a resolução da questão pelo aluno de escola pública:

No CP da 2ª série volume 2 (CP 2 v 2) p.54 o assunto que poderia levar o

aluno a resolver este exercício é a atividade 3.2:

... que se inicia com um texto explicativo de energia liberada na combustão,

com a reação a seguir:

CH4 (g) + 2 CO2 (g)→ 2 H2O (g) + CO2 (g)

Após a reação a atividade demonstra um modelo explicativo das ligações nos

reagentes e produtos da reação, indicando os valores de energia de ligação em

kJ/mol, através de diagramas de representação de energia exotérmica e

endotérmica.

Na p.59 do CP, é sugerido o uso “se o professor achar conveniente”, do termo

entalpia, utilizado para expressar variações de energia que acontecem à pressão

contante. O texto relata o calor de combustão do propano o a respectiva variação de

entalpia (∆H). Porém a ênfaze na problematização das reações endotérminas e

exotérmicas. Solicita também que os alunos elaborem um texto relacionando o

envolvimento de energia, quebra de ligação, significado de ∆H e calor de reação.

No CA, p. 43 um exercício desafio sugere uma síntese de idéias sobre o

assunto e apresenta questões de ordem teórica sobre o assunto energia envolvida

em transformações químicas e um experimento: comparação do poder calorífico

entre o querosene e etanol, em que é solicitado o cálculo de massa consumida por

diferentes combustíveis no aquecimento de ummesmo volume de água.

Na p. 46 do mesmo caderno, um exercício de decomposição do carbonato de

cálcio (CACO3), contendo os valores de decomposição e formação de CO2 (∆H) ,

porém os questionamentos são sobre os processos exo e endotérmico , sem propor

qualquer tipo de cálculo de quantidade de energia/mol produzida na formação do

CO2.

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Conclusão 1:

As competências e habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos descritas

no CP 2 v 2, p.58 , nessas atividades são o uso da linguagem química,

compreender , utilizar e saber construir gráficos de energia e elaboração de texto.

Essas competências estão de acordo com o proposto no CH1 e CH2 da SEE, e

H1,H2 e H3 do Enem, porém as atividades desenvolvidas pelos alunos no Ensino

Médio, não comtemplam, ao nosso ver, a resolução correta desta questão. Seria

necessário que o professor utilizasse outro material didático para exercitar como o

aluno,cálculos que envolvessem o raciocínio lógico, situação-problema envolvendo

conhecimentos numéricos e situação-problema envolvendo a variação de

grandezas, direta ou inversamente proporcionais. Concluímos que o aluno teria

grande dificuldade em resolver esta questão se as competências e habilidades

propostas fossem desenvolvidas, apenas, com os tipos de atividades contidas no CA

e CP, que nos parece serem voltadas para a leitura, escrita e construção e leitura de

diagramas e não prioriza a resolução de cálculos.

Questão 2:

Belém e cercada por 39 ilhas, e suas populações convivem com ameaças de

doenças. O motivo, apontado por especialistas, e a poluição da água do rio, principal

fonte de sobrevivência dos ribeirinhos. A diarreia é frequente nas crianças e ocorre

como consequência da falta de saneamento básico, já que a população não tem

acesso a água de boa qualidade. Como não ha água potável, a alternativa e

consumir a do rio. O procedimento adequado para tratar a água dos rios, a fim de

atenuar os problemas de saúde causado por microrganismos a essas populações

ribeirinhas á :A filtração; B cloração; C coagulação; D fluoretação; E decantação

COMPRATIVO CURRICULO ENEM

HABILIDADE E COMPETÊNCIA HC1, HC2 e HC3 H1, H2 E H4

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Observando o enunciado da questão verificamos que as habilidades e

competências HC1, HC2 e HC3, da SEE e H1, H2 e H4 do Enem, seriam necessárias

para que o candidato resolvesse a questão, pois envolve a leitura, interpretação do

texto, conhecer os processos de tratamento de água, etapas e tipo de substâncias

químicas utilizadas em cada uma delas, e finalmente relacionar que os

microorganismos causadores de problemas de saúde só podem ser extintos na

presença de hipoclorito de sódio, no processo de cloração, pois este é um agente

bactericida, capaz de eliminar estes agentes biológicos.

No CP, 2ª s,v.1, p.48-49, Tratamento da água – uma questão de

sobrevivência, propõe uma situação de aprendizagem, utilizando atividades

experimentais através da internet, levando o aluno a resolver esta questão com

facilidade. Na mesma página tem um esquema que demonstra claramente a

cloração da água no início e fim do processo de tratamento, esquema este que faz

parte do material disponibilizado no endereço eletrônico citado anteriormente.

Conclusão 2:

O aluno da escola pública que realizou as atividades propostas pelo

professor, teria habilidade e competência para a resolução correta desta questões,

sem grandes dificuladades.

Questão 3:

A pele humana, quando esta bem hidratada, adquire boa elasticidade e

aspecto macio e suave. Em contrapartida, quando esta ressecada, perde sua

elasticidade e se apresenta opaca e áspera. Para evitar o ressecamento da pele e

necessário, sempre que possível, utilizar hidratantes umectantes, feitos geralmente

a base de glicerina e polietilenoglicol:

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A retenção de água na superfície da pele promovida pelos hidratantes e

consequência da interação dos grupos hidroxila dos agentes umectantes com a

umidade contida no ambiente por meio de: A ligações iônicas; B forças de London; C

ligações covalentes; D forças dipolo-dipolo; E ligações de hidrogênio. Resposta

correta: forças dipolo-dipolo

Para o aluno responder de forma correta esta questão, seria necessário que

desenvolvesse todas as competências, segundo o ENEM, e as habilidades H1 e

H2 e e as habilidades, 1HC1 e 2HC2 , do Currículo da SEE, pois o exercício exige

que o aluno saiba ler, interpretar a ligação química em termos de atrações de

repulsões entre elétrons, e relacionar essas ligações com a solubilidade das

mesmas em água (H1e 1HC1) . A água é uma substância polar que estabelece

ligações de hidrogênio entre suas moléculas e outras moléculas que apresentem

átomos pequenos e bastante eletronegativos (flúor, oxigênio e nitrogênio) com par

de elétrons em disponibilidade. A glicerina o polietilenoglicol podem reter moléculas

de água por apresentar o grupo OH-, através de ligações de hidrogênio, e a ligação

de hidrogênio é uma força dipolo-dipolo.

O conceito de modelos sobre estrutura da matéria, iniciam-seno CP 2ª s, v2,

p.11, introduzindo os modelos de átomo de Dalton a Rutherford-Bohr para explicar o

comportamento da matéria, e demonstrando que as forças de atração e repulsão

COMPRATIVO

CURRICULO

ENEM

HABILIDADE E COMPETÊNCIA 1HC1 e 2HC2 H1 e H2

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elétrica estão relacionados com as propriedades das substâncias, nas ligações

químicas.

Na p.38, são demonstrados através de desenhos as forças de atração e

repulsão do hidrogênio (H), formando a molécula de gás hidrogênio (H2), definindo

que o compartilhamento entre os dois elétrons resultam em uma ligação molecular,

introduzindo a ideia de polaridade e de arranjo espacial entre elementos para formar

moléculas. É sugerido na p.39 que o professor solicite que os alunos discutam sobre

as forças de atração e repulsão existentes na molécula da água.

No 2ª s, v.3, p.16 a 29, são definidas e exemplificadas todos os tipos de

ligações químicas. As interações dipolo-dipolo, são representadas pelas ligações

entre duas moléculas de HCl (ácido clorídrico), modelo este que explica que este

tipo de ligação admite uma distribuição de elétrons de valência assimétrica, levando

á formação de um dipolo permanente na molécula (p.17). Porém, ainda, insuficiente

para que o aluno chegue a resposta correta.

A partir da p. 22 são propostas sugestões de trabalho para o aluno (CA,

Atividade 4) como segue: represente com um desenho a interação entre a molécula

de água (polar) e um sal, o NaCl (cloreto de sódio). Esta atividade deveria levar o

aluno a perceber, que no modelo de atração eletrostática, as interações se dão entre

cátions (carga +) e entre ânions ( cargas -) das moléculas de água (átomos de

oxigênio) e entre ânions .

Na p. 26 é sugerido que seja efetuada uma avaliação de aprendizagem, em

os alunos devem explicar, em termos das interações intermoleculares, a solubilidade

em água de substâncias como glicose e glicerina (lição de casa). E na página

seguinte sugere uma atividade extra, como ampliação de conhecimento, propondo

uma representação molecular entre a água e metanol, etanol e ácido fórmico e as

respectivas interações entre as moléculas, dipolo-dipolo.

Conclusão 3:

Percebe-se que da forma apresentada nos CP citadas acima, os conceitos

vão se formando de forma sistemática e gradativa, isso é grande importância para a

mudança da forma do conhecimento do aluno. Se os alunos elaborassem as

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atividades propostas e o professor fizesse a correção de forma comentada e

relacionando as forças dipolo-diplo com solubilidade de soluções, relembrando que a

água sendo polar, estabelecendo ligações de hidrogênio entre suas moléculas e

outras moléculas que apresentem grande eletronegatividade. Assim os alunos

considerando a presença do grupo OH (hidroxila)na superfície dos umectantes,

glicerina e o polietilenoglicol, poderiam, ao nosso ver, com dificuldade, concluir que

ocorre através de ligações entre hidrogênio.

Questão 4:

Certas ligas estanho-chumbocom composição específica formam um eutético

simples, o que significa que uma liga com essas características se comporta como

uma substância pura, com um ponto de fusão definido, no caso 183°C. Essa é uma

temperatura inferior mesmo que o ponto de fusão dos metais que compõem esta liga

(o estanho puro funde a 232°C e o chumbo puro de 320°C), o que justifica sua

ampla utilização na soldagem de componentes eletrônicos, em que o excesso de

aquecimento deve ser sempre evitado. De acordo com as normas internacionais, os

valores mínimo e máximo das densidades para essas ligas são de 8,74 g/ml e 8,82

g/ml, respectivamente. As densidades do estanho e do chumbo são 7,3 g/ml e 11,3

g/ml, respectivamente.

Um lote contendo 5 amostras de solda estanho-chumbo foi analisado por um

técnico, por meio da determinação de sua composição percentual em massa, cujos

resultados estão mostrados no quadro a seguir:

Amostra Porcentagem de estanho em

Sn (%)

Porcentagem de Pb (%)

I 60 40

II 62 38

III 65 35

IV 63 37

V 59 41

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Com base no texto e n análise realizada pelo técnico, as amostras que atendem às

normas internacionais são: A. I e II;B. I e III; C. II e IV; D. III e V; E. IV e V – correta:

alternativa C

dII = 62.7,3 + 38 . 11,3/ 100 = 8,82 g/mL

dIV = 63.7,3 + 37.11,3/100 = 8,78 g/mL

As Competências e habilidades necessárias para resolver a questão citada

são: empregar a linguagem química para expressar transformações químicas;

construir gráficos e interpretar tabelas e gráficos com dados de propriedades das

substâncias e resolução de problema. Todas as competências do segundo o

ENEM, e as habilidades H1 e H2 e H3 e as do Currículo da SEE, 1HC1 e 2HC2

No CP 1ª sV1, p. 39, o termo fusão é utilizado para definir a mudança de

estado físico para identificar uma substância pura.

De acordo com o CP 1ª série v1, p.42-43, é proposta uma atividade de

representação gráfica com a finalidade de mostrar que uma substância mantém a

temperatura constante durante a ebulição e fusão à pressão constante. Sugere ao

professor que amplie a interpretação gráfica de curvas de aquecimento de

temperaturas de fusão por meio de exercícios, utilizando um gráfico com elementos

entre eles o chumbo e o estanho, no estado sólido, e as respectivas temperaturas de

fusão, para permitir que o aluno entenda que, durante a fusão, a temperatura se

mantém constante para substâncias puras.

No mesmo caderno, p. 45, o conceito de densidade é definido, utilizando-se

da fórmula (d = m/V) e unidades (massa em g, ou kg e volume em cm3 ou dm3 ) e

sugere ao professor que utilize com seus alunos uma atividade experimental,

disponível nos arquivos da Rede do Saber.

COMPRATIVO

CURRICULO

ENEM

HABILIDADE E COMPETÊNCIA 1HC1 e 2HC2 H1 , H2 e H3

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Quanto ao acesso ao endereço eletrônico, em 15 tentativas, só conseguimos

conexão em 3 [email protected], contendo instruções para que

você possa obter uma nova senha.

Caso seu e-mail seja diferente do informado, entre em contato pelo telefone

(11) 3866-0500.

Resp. : Estão fazendo manutenção na página.

Na p. 55, são propostas duas questões para aplicação em avaliação, uma (1ª)

para que os alunos identifiquem os materiais indicados em tabelas e outra (2ª) para

avaliação de dados de uma tabela para análise de afirmações. A primeira tabela da

p. 55, apresenta cinco amostras sólidas, identificadas com letras de A à Ee suas

respectivas, massas( g). volume inicial (cm3),volume final (cm3) e intervalo de tempo

desde o aquecimento até a fusão e a temperatura (°C) na qual ocorreu a mudança

de estado. A segunda tabela, p. 56, apresenta uma coluna com o nome de oito

metais, entre eles o Pb e Sn, e as respectivas, densidades (g/cm3 ) e as

temperaturas e fusão (°C). Com os dados das referidas tabelas, é solicitado ao aluno

que elabore duas atividades, (a) uma tabela somente com três colunas, uma para os

sólidos, indicados por letras de A à E, a segunda com dados de densidades, e a

terceira com temperatura de fusão, respectivamente dos elementos. A atividade (b)

é para o aluno indicar, após leitura e interpretação dos dados das respectivas

densidades e ponto de fusão, quais são os metais correspondentes à estas.

A 2ª questão, p.56, apresenta um gráfico de curva de aquecimento [T (°C) e t

(s)] de uma substância pura sólida. O aluno deve analisar afirmações como curva de

aquecimento e relação com tempo de aquecimento, ponto de fusão e solidificação e

estado físicos das substâncias à uma temperatura abaixo da especificada na curva

de aquecimento.

No CP 1ªs v.3, p. 13, na atividade 2, Classificação periódica dos elementos,

os alunos devem agrupara elementos químicos utilizando o ponto de fusão como

critério. As competências e habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos

descritas neste caderno, são ler símbolos e compreender o significado dessa

simbologia.

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No CP 1ªs, v.3, p. 36 - 3, na atividade 1- metais no cotidiano, indica que a liga

Pb, Sn e Sb, com seus respectivos ponto de fusão, é muito utilizada em soldagem

devido as baixas temperaturas de fusão e consequentemente sua liga. Este é um

fato que poderia ser familiar ao aluno durante a resolução do problema. Porém não

demonstra nem sugere cálculos envolvendo o assunto.

Conclusão 4:

Como não consegui acessar, por enquanto a conclusão é: o fato de

apresentar os conteúdos em vários CP e CA, não garante que o aluno consiga

resolver a questão. A não utilização de cálculos em exercícios e atividades como

esta, implica em dificuldade do aluno em encontrar a resolução correta da mesma.

Questão 5:

O peróxido de hidrogênio é comumente utilizado como antisséptico e

alvejante. Também pode ser empregado em trabalhos de restauração de quadros

enegrecidos e no clareamento de dentes. Na presença de soluções ácidas de

oxidantes, como o permanganato de potássio, este óxido decompõem-se, conforme

a equação a seguir:

5 H2O2 (aq) + 2 KMnO4 (aq) + 3H2SO4 (aq) → 5 O2(g) + 2 MnSO4 (aq) + K2SO4

(aq)+ 8 H2O (l)

De acordo com a estequiometria da reação descrita, a quantidade de permanganato

de potássio necessária para reagir completamente com 20 ml de uma solução 0,1

mol/L de peróxido de hidrogênio é igual a

A.2,0.100 mol; B. 2,0.10-3 mol; C.8,0 . 10-1 mol; D. 8,0 .10-4 mol; E. 5,0 .10-3 mol.

Resolução:

M = n/V 0,1 = n/20.10-3 ---

= 2,0 .10 -3 mol

quantidade em mol de KMnO4

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5 H2O2 (aq) ------- 2 KMnO4 (aq)

5 mol 2 mol

2.10 -3----------------------X

x =0,8. 10 -3 mol 8.10-4 mol

COMPRATIVO CURRICULO ENEM

HABILIDADE E COMPETÊNCIA 1HC1 e 2HC2 H1 , H2 e H3

As competências e habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos

descritas são perceber a conservação da massa nas transformações químicas,

analisar dados de massas de reagentes e de produtos estabelecendo relação de

proporcionalidade entre eles, aplicar os conceitos de conservação e proporção em

massa na previsão de quantidades envolvidas nas transformações químicas.

No CP, 1ªs.V1, p.20 , é citada efervescência da água oxigenada, devido a

interação do peróxido com um catalisador, como enzimas presentes no sangue ou

na batata, exemplificando que o aluno deve percebe que não existe a necessidade

de mais de um reagente para que ocorra uma transformação química, e que as

substâncias envolvidas nesse caso , não são reagentes e sim participantes da

reação .

No CP 1ª s, v, desde a p. 31 até a p.36 é apresentado ao aluno atividades que

levem o mesmo a ler e interpretar dados de reações entre um ácido e um sal, e

calcular massa de reagentes e produtos, através de proporção entre regentes e

produtos(após um experimento sugerido), massa inicial e final de cada reagente e

produtos (massa inicial / massa final). Cabe citar que são trabalhados nestes

exercícios a Lei da Conservação da Massa – Lei de Lavoisier. Não sendo

introduzidos cálculos envolvendo n° de mol.

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No CP 1ªs, v.3, p. 26 na quantidade de partículas envolvidas em uma

transformação química, é introduzido o conceito de massa atômica e cálculos

envolvendo n° de partículas e as respectivas massas atômicas de reagentes e

produtos e balanceamento de equação química.

No CP 1ªs, v.4, p. 10 á p.31, são instituídos os conceitos de unidade mol e

quantidade de partícula, utilizando experimentos simples, como contagem de grãos,

chegando aos conceitos de massa molar (g/mol) e cálculo envolvendo relações de

proporcionalidade entre quantidade de matéria, massa e número de partícula. As

questões envolvem cálculos estequiométricos em massa, em mol e em número de

átomos ou moléculas nas transformações químicas.

No CP 2ª s, v 1 , p. Propriedades da água para consumo humano, da p.28 à

44, são propostas atividades envolvendo o conceito de concentração (g/L). A parti

da p.37 até a p.44, as atividades são sobre conceito de mol e concentração em

mol/L, na construção do conceito de concentração (g/mol), no mesmo caderno, p.

51-54, situação de aprendizagem 7- As quantidades em transformações que

ocorrem em solução, é introduzido uma atividade que envolve uma solução de

Al2(SO4)3 , sendo a concentração ( mol/L) e o volume de água (L). É solicitado ao

aluno que calcule a quantidade de matéria em g/mol e a relação com o volume (L)

de água.

Conclusão 5:

Se o aluno desenvolver todas as atividades citadas, e entender a relação

entre concentração molar e volume de solução, porém sem se utilizar de fórmulas

representativas, em tese, com dificuldade, ele poderia a questão de forma correta,

pois não é trabalhado em nenhum exercício o conceito de nº de mol, necessários

para iniciar a resolução.

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CAPÍTULO III - RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo apresentamos dados obtidos nos instrumentos de investigação

utilizados nesta tese, os quais foram: uma entrevista com três membros da equipe

que elaborou o Currículo de Química do Estado de São Paulo; questionário aplicado

aos professores, competências e habilidades do Currículo.

Analisaremos a entrevista realizada com os membros da equipe que

elaboraram o currículo e o questionário aplicado aos professores utilizando os

critérios de Lakatos e Marconi (1996).

3.1 Análise do questionário aplicado aos professores

Foram enviados noventa e oito questionários aos professores de Química

pertencentes a DESTA, sendo que apenas 54 deles responderam a todas as

questões. Dezesseis deles responderam todas as questões de múltipla escolha e

algumas descritivas, e seis responderam apenas de questões de múltipla escolha

como mostra o quadro 6.

Nº de questionários Enviados %

Enviados 98 100

Respondidos 54 55,1

De forma parcial 16 16,4

Incompletos 06 6,1

Total 76 77,55

Quadro 6: Tabela dos questionários.

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3.2 Perfil dos Professores

Dos setenta e seis (76) professores pesquisados, quatorze (14) deles têm

idade até 24 anos, 12 entre 25 e 29, 18 entre 30 e 39 anos, 16 entre 40 e 49 e 16

têm acima de 50 anos. Aqueles com idade até 24 anos, têm em média 2 anos de

magistério.

Questão 1. Dos que estão entre 25 e 29 anos, trabalham no magistério á pelo

menos 6 anos. Os com idade entre 30 e 39 anos, têm 15 anos de trabalho. Na faixa

compreendida entre 40 e 49 anos, 20 anos e os demais já atingiram os 25 anos de

tempo no magistério (gráfico 1).

Gráfico 1 – nº de professores, idade e tempo no magistério.

Dos quatorze (14) mais jovens, nove são professores e alunos de graduação.

Segundo a SEE, são alunos de curso de Licenciatura em Química de 4 º e 5º

semestre. Trinta e seis (36) são efetivos, os outros quarenta (40) são ocupante de

função atividade.

0 5 10 15 20 25 30

24

25 a 29

30 a 39

40 a 49

acima de 50

14

12

18

16

16

Faixa etária e tempo no magistério (anos)

TEMPO NO MAGISTÉRIO

nº idade

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Efetivos

OFA

36

X (sendo 09 estudantes)

40

X

Tabela 1: Faixa Etária dos Professores

Questão 2. Dezesseis (16) dos professores pesquisados só lecionam no

Ensino Fundamental, mesmo sendo Licenciados em Química. São professores com

mais de 40 anos e idade, que prestaram concurso público para Ciências Físicas e

Biológicas, pois na época, não havia cargos oferecidos pela SEE para a disciplina de

Química, devido a baixa demanda de cursos de Ensino Médio. Dezessete (17) deles

só lecionam no Ensino Médio e quarenta e três (43) lecionam nas duas

modalidades.

Nº de

professores

Ensino

Médio

Ensino

Fundamental

manhã

tarde

noite

Jornada

32 horas

17 ( 22,4%) x x x x

43 ( 56,6 %) x X x x x x

16 ( 21,0 %) X x x

Tabela 2: Jornada dos professores.

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A maioria tem somente o curso de Licenciatura Plena em Química e uma

pequena parcela tem curso de especialização. Apenas dois (2) deles têm curso de

Mestrado, um em Educação e outro em Química Ambiental, ambos lecionam apenas

Química (Tabela03) .

Tabela 3: Graduação dos professores

Sessenta deles atuam somente no Ensino Médio, no período da manhã e

noite e os demais também ministram aulas de Ciências Físicas e Biológicas no

período da tarde. A metade deles trabalha a mais de vinte (20) anos na rede e tem

jornada de trinta e duas (32) horas semanais. Como podemos observar temos dois

grupos de professores: de um lado encontramos professores experientes,

conhecedores de diferentes propostas metodológicas; de outro, encontramos

professores atuando há pouco tempo ou, quando não, ainda completando sua

graduação (Questão 3, Tabela 03 ).

Questão 5. A maioria (86%) dos professores respondeu que o curso de

graduação não os preparou para o exercício da docência, 12 % disseram que a

graduação deu base para o trabalho e 2 % não responderam. Nota-se que a maioria

tem mais tempo de magistério e consequentemente de cursos de licenciatura

anterior as reformas curriculares. Aqueles que responderam que sim são

professores graduados à no máximo 10 anos. E os demais, talvez não tenham

respondido por serem docentes novos sem alicerce acadêmico para responder.

Nº de professores

Licenciatura Plena

Especialização

Mestrado

66 ( 86,9%) X

08 (10,5 %) X x

02 (2,6 %) X x

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3.2.1 Concepções Sobre o Currículo

Questão 6. A resposta é quase unânime, 94 % do professores disseram que

não participaram de nenhum tipo de capacitação e 6 % responderam que sim.

Destes 3 % eram Professores Coordenadores no ano de 2009, os demais afirmaram

que participaram de capacitação na DERSA. Essas afirmações são confirmadas

pela Coordenadora da Oficina Pedagógica da Diretoria, justificando que nessa

época somente os Professores Coordenadores foram capacitados e deveriam ser os

multiplicadores das orientações recebidas nas suas respectivas unidades escolares.

Ao serem questionados sobre o que achavam do novo currículo (Questão 7)

da Secretaria Estadual de Educação, a maioria dos 70 (setenta) professores

apontou que o Currículo foi imposto pelo órgão central, que o acha ruim e que não o

utiliza (sessenta e três professores) totalmente, 6 (seis) deles disseram que utilizam

e que não foi imposto. Vejamos os depoimentos de quatro professores,

denominados de P1, P2, P3 e P4 descritos abaixo.

Este caderno do professor é totalmente fora da realidade do que precisamos no Estado, não

atende as particularidades e realidades de todas as escolas. Acho que tem muito conteúdo

fora de ordem. (P1)

Este Currículo (CP e CA)é ridículo, ele trata todos os alunos iguais, os do centro, dos

bairros, das favelas, da capital e do interior. O aluno da zona rural é igual o aluno da cidade

urbana? Não é, é? (P2)

Tô no estado há 15 anos, é mais uma que não vai pegar... Vou continuar usando o livro que

uso. Este Caderno do Aluno e do Professor não dá pra usar” (P3).

No caderno do aluno tem que trabalhar conteúdos que não tem no caderno do professor.

Não dá para trabalhar com estes cadernos”. (P4)

Observando esses depoimentos podemos perceber três aspectos: o currículo

escolar se forma a partir das necessidades de cada escola, a sequência dos

conteúdos é importante no currículo e que existe uma descrença no currículo

proposto pela SEE.

Quanto ao primeiro aspecto, ele nos leva a refletir sobre as duas grandes

tendências que influenciaram as práticas curriculares. Uma delas enxerga o currículo

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como um conjunto de conteúdos e a outra como um conjunto de experiências

vivenciadas na escola, ou seja, ele é construído no cotidiano escolar e nas

interações da sala de aula, como forma de organizar um conjunto de práticas e

saberes que refletem uma cultura, uma sociedade, um cenário histórico e cultural

(COSTA, 2007).

Como descreve Sacristán (2000) o currículo depende da cultura e dos

propósitos de cada sociedade e deve emergir de dentro da escola. Isso parece não

acontecer com o currículo de química do Estado de São Paulo de acordo com o

depoimento de P1 “o CP está fora da realidade do que precisamos no estado. Não

atende as particularidades e realidade de todas as escolas”.

Para Kelly (1981) ao planejar o currículo sem levar em consideração a

realidade da escola corre-se o risco de desconsiderar os sujeitos que atuam junto a

ela, entre eles, os professores, os quais deveriam participar da sua elaboração. Uma

vez que isso não ocorre, como descreve P1, outros níveis de currículo vão aparecer

na escola além do formal ou prescrito.

Esses outros são o real e o oculto: o formal resulta da geração de

documentos oficiais e estabelece a organização e a distribuição das disciplinas, com

seus objetivos, conteúdos programáticos, estratégias didáticas e procedimentos de

avaliação, ou seja, é construído para que o professor o execute da forma como veio

estruturado; o real é aquele que de fato acontece na escola, e o oculto é aquele que

não está explicitado nos planos e nas propostas, não sendo sempre, por isso,

claramente percebido pela comunidade escolar, mas, perpassa, o tempo todo, as

atividades escolares (MOREIRA, 2007).

Entretanto, mesmo o currículo sendo formal, o professor pode construir novas

alternativas curriculares para a sua prática docente, articulando-o com as

necessidades educativas próprias da escola e de seus alunos.

A forma como o currículo é compreendido pelo professor cria um abismo

entre o que é prescrito e o que é realizado no âmbito da sala de aula (KELLY, 1981).

Embora o currículo proposto pela SEE, indique os conteúdos a serem trabalhados e

como o professor deve atuar na sua implementação, o que se tem observado é que

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o material didático, principalmente os livros didáticos, são os mediadores entre esse

currículo e o professor na sala de aula, como pode ser observado no depoimento de

P3.

Como descreve Sacristán (2000) ao utilizar o livro didático como referencia

para suas aulas, os professores estão seguindo o que os editores acreditam ser

importante para o currículo.

De acordo com Santos e Schnetzler (1996), um dos objetivos básicos do

ensino de química na formação do cidadão é fornecer conhecimentos fundamentais

que permitam ao aluno participar da sociedade, tomando decisões com consciência.

Para isso é imprescindível o modo como o professor desenvolve o currículo em sala

de aula e conforme o currículo que desenvolve, a escola pode ou não exercer a

função de simples transmissora de valores culturais e econômicos, colocando-se a

serviço de uma classe social privilegiada.

Os depoimentos de alguns dos professores mostram uma preocupação com a

sequência dos conteúdos dentro do currículo. Mas, que sequencia é essa, ou seja,

como devem ser apresentados e ensinados os conteúdos de química para que eles

sejam aprendidos de forma significativa pelo nosso aluno?

Os currículos tradicionais de Química têm enfatizado esses conhecimentos

em três diferentes níveis de representação: microscópico, simbólico e macroscópico

(JOHNSTONE, 1993 apud SANTOS; GRECA, 2005). E, em geral, esses níveis de

representações são seguidos, nessa ordem, dentro da escolha dos conteúdos,

levando, muitas vezes, a um número excessivo de conceitos e definições cuja inter-

relação é dificilmente percebida pelos alunos, uma vez que ao abordarem apenas

aspectos conceituais da Química, têm-se como pressuposto que a aprendizagem de

estruturas conceituais antecede qualquer possibilidade de aplicação dos

conhecimentos químicos.

E aprender química é muito mais que saber seus conceitos e definições.

Como descreve Maldaner (1999), aprender química é compreendê-la como ciência

que recria a natureza, modifica-a e, com isso, o próprio homem faz parte dessa

modificação. Como atividade criativa humana, está inserida em um meio social,

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atende a determinados interesses de grupos sociais e se insere nas relações de

poder que perpassam a sociedade.

Segundo Mizukami, (1986, p.14), o ensino tradicional é “caracterizado pelo

verbalismo do mestre e pela memorização do aluno (...) os alunos são instruídos e

ensinados pelo professor”. Isso leva a um conhecimento desvinculado da sua

realidade social e ocorre devido, principalmente porque muitos professores

acreditam que para ensinar basta saber somente do conteúdo e que a função do

ensino é transmitir conhecimentos que deverão ser retidos pelos alunos.

Em geral, os professores de Química seguem uma sequência de conteúdos

que partem dos aspectos microscópicos, como os modelos atômicos de Dalton,

Rutherford, Bohr e o da teoria quântica, tabela periódica e as ligações químicas,

para o macroscópico, pois foi assim que eles aprenderam no seu curso de

graduação, ou seja, continuarão a desenvolver o ensino de química do jeito que o

vivenciaram e acreditam ter aprendido química, partindo do aspecto microscópico

para o simbólico e depois para o macroscópico.

Entretanto, o currículo de Química de São Paulo propõe aos professores

iniciarem seus conteúdos partindo do aspecto macroscópico, simbólico para

somente depois introduzirem os aspectos microscópicos. Os conteúdos de química

estão atrelados ao tripé transformações químicas/materiais e suas

propriedades/modelos explicativos (SÃO PAULO, 2008, p.127). Acreditamos que

isso leve ao que Sacristán (2000, p.95) descreve quando diz:

Ao professor se propõem, hoje, conteúdos para desenvolver nos currículos muito diferentes dos que ele estudou, sem que compreenda o significado social, educativo e epistemológico das novas propostas frente às anteriores.

Quando os professores pesquisados nessa investigação dizem: Tem muito

conteúdo fora de ordem (P1); Vou continuar usando o livro didático (P3); No caderno

do aluno tem que trabalhar conteúdos que não tem no caderno do professor (P4),

concluímos que por ter uma proposta diferente do que eles aprenderam no seu

curso de graduação e por estarem também diferentes dos livros didáticos, eles não

conseguem trabalhar com a proposta desse currículo.

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Quanto ao terceiro aspecto, descrença no currículo da SEE, iniciaremos sua

análise lembrando o que diz Hernández et al., (2000, p.27), “uma reforma pode

mudar a legislação, o vocabulário, os objetivos do ensino, mas talvez não consiga

introduzir uma mudança na prática diária da classe”. Concluímos que a mudança

depende da aceitação do professor, o qual, de acordo com Domingues, Toschi e

Oliveira (2000) tem sido tomado como recurso nas propostas e não como agentes,

mesmo quando supostamente ouvidos no processo de elaboração. Isto revela o

descompromisso social com a mudança.

Esse descompromisso do professor pelas reformas curriculares não é nova.

Por exemplo, Maldaner (2000 apud TAVARES, 2009) realizou um estudo com seis

professores de Química de uma Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus, de

Campinas (SP). Nessa pesquisa, o autor observou que todos os seis docentes se

basearam na Proposta Curricular para o Ensino de Química do Segundo Grau para

construírem seus planos de ensino. Entretanto, ao acompanhar as ações

pedagógicas desses docentes ele observou uma distância com os planos de ensino

escritos. Para Maldaner essa distância é resultado, normalmente, da falta de

oportunidade dos docentes discutirem e fazerem a produção de aulas de Química no

seu curso de graduação.

A concretização da reforma curricular pressupõe uma política de capacitação

docente diferenciada, ou seja, uma mudança de mentalidade para que os

argumentos pedagógicos não permaneçam na esfera do discurso. Nos cursos de

formação de professores é preciso que os mesmos substituam a lógica do saber,

muito pela possibilidade de se lidar crítica e significativamente com o conhecimento

(COLELLO, 1999).

O currículo proposto pela SEE/SP exige que o professor mude a organização

e a sequência de conteúdos que ele está acostumado a utilizar e que consiga

trabalhar de forma única grupos heterogêneos de alunos. No entanto, o professor

nunca aprendeu a trabalhar assim, não experimentou essa nova organização, nem

como aluno, e isso leva ao estranhamento e a rejeição.

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CAPÍTULO IV - UTILIZAÇÃO DOS MATERIAIS CA E CP

Sabendo-se que os exemplares dos CP foram distribuídos às Unidades

Escolares apenas em 2009, segundo a Diretoria de Ensino (DE) questionamos o que

eles achavam das formas de abordagem utilizadas nesse caderno (Questão 8). A

maioria (66 professores) escreveu que não sabiam trabalhar com os cadernos, pois

no CA não tinha teoria para o aluno responder as atividades e o CP não continha

toda a teoria necessária e que não dava tempo para colocar o conteúdo na lousa.

Quanto a não utilização do currículo, um professor justificou dizendo que:

[...]A abordagem é ruim. Não uso porque é muito complicado e difícil de trabalhar

Concluímos que esse professor está falando da linguagem utilizada nos

cadernos. Para esse professor o caderno não traz uma linguagem que ele está

acostumado a utilizar em suas aulas. A maioria está acostumada a utilizar o livro

didático, que contém um texto sobre o assunto a ser abordado, um exemplo a ser

seguido e exercícios. Ao utilizar o livro didático, muitas vezes, o aluno e/ou o

professor lê o texto, o professor explica os conceitos e solicita ao aluno a execução

do exercício.

De acordo com Saviani (1991) esta é uma forma sistematicamente tradicional

de aula onde se valoriza a memorização das "respostas corretas" e o professor não

considera o conhecimento "pré-existente" do aluno para mediar o processo de

construção do seu conhecimento. Desta forma, o papel do aluno no processo de

aprendizagem é de passividade.

Se considerarmos que o currículo proposto pela SEE, o qual é constituído no

CP, não deve ser trabalhado de forma individual e que é preciso uma ação coletiva

para se atingir os objetivos propostos, todos os envolvidos no processo ensino

aprendizagem, entre eles, diretores, professores coordenadores e professores,

necessitam conhecer e discutir esse documento para colocá-lo em prática na escola.

Quando questionamos esses professores sobre o que eles achavam das

formas de abordagem utilizadas no CA, 59 professores responderam que não

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sabiam trabalhar com os Cadernos. Um dos professores justificou a não utilização

dizendo:

[...] tem pouco conteúdo, o aluno não consegue responder as perguntas.

Novamente fica evidente que as atividades propostas no CA, não contemplam

a forma em que o professor está acostumado a utilizar. Nesses cadernos, as

atividades propostas solicitam que os alunos redijam pequenos textos para

representar um conceito e para isso é necessário o hábito de leitura e compreensão

de texto, hábito este que o aluno não está acostumado a executar nas aulas das

Ciências da Natureza e suas Tecnologias, e sim em Língua Portuguesa.

As linguagens utilizadas até então pelos professores de Química eram de

codificar e decodificar símbolos e o currículo propõe uma abordagem diferente de

estudar química. Com essa nova abordagem o professor sente dificuldade para

conduzir o desenvolvimento das atividades propostas no CA, justificando assim que

o aluno não consegue responder as perguntas por falta de conteúdo.

Se o aluno está acostumado a redigir texto em Língua Portuguesa é de se

esperar que o mesmo possa também redigir textos para a construção do

conhecimento de química. Contudo, o professor deve está preparado para auxiliá-lo.

O CA não apresentará conteúdo mesmo, segundo a equipe de elaboração do

material, seu objetivo é ter espaço para o aluno responder as atividades proposta,

evitando assim que o professor perdesse tempo em passar as questões na lousa.

Essa foi uma solicitação antigados professores que reclamavam da falta de recursos

para pagamento de cópias de atividades.

Quando se questionou sobre como ficou o trabalho do professor depois da

mudança do Currículo, 2 % disse que melhorou, 8 % não souberam responder e 86

% responderam que ficou mais difícil (questão 9).

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Gráfico 2

As afirmações dos professores : melhorou, pode ser explicada pelo fato

desses professores fazerem parte dos que se apresentam , como a pesquisa já

demonstrou, no início de carreira docente.

(P1)Eu começei a dar aula no ano passado e achei que melhorou de lá para cá.

Nessa fase nota-se que eles se sentem inseguros e isolados no exercício da

profissão. O professor iniciante vive em um sistema de isolamento. E esse

isolamento é causado pela inexistência de um trabalho coletivo nas escolas. A

solidão é um aspecto que emerge do sentimento de inexperiência e a insegurança

para iniciar a profissão, Mariano, (2009). No início da carreira o professor tem

dificuldade em lidar com a classe, não sabe como, qual e de que forma passará os

conteúdos, Veenman, (1988). Desta forma aceita mais facilmente o que lhe é

imposto. Assume o novo Currículo, pois desconhece o antigo, se é que o conheceu.

Ele é mais aberto a mudanças, e precisa de instrumento de guia para nortear seu

trabalho, que nesse momento é muito novo para ele. Com o Currículo, ele passa a

ter pelo menos uma orientação do como fazer com os conteúdos do livro didático e

quias devem ser dados.

Aqueles que não souberam responder pode ser explicado pelo

desconhecimento do material. Se o Currículo é a referência para ampliar, localizar e

contextualizar os conhecimentos que a humanidade acumulou ao longo do tempo

O trabalho do professor

melhorou

piorou

ficou mais difícil

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(SÃO PAULO, 2008, p. 13) e os professores pesquisados não o conhecem, significa

que os mesmos, ainda, estão utilizando somente os descritos nos livros didáticos,

que segundo Siril e Lourenço (2002), tem na linguagem uma forma específica de

conhecimento diversificado. São linguagens simbólicas, que às vezes, podem conter

valores morais e que podem apresentar as características dominantes do poder

vigente. Não que com o conhecimento e uso do Currículo também não se tenha,

também, essas características, pois de acordo com Moreira e Silva (2005), o

Currículo

nunca é apenas um conjunto neutro de conhecimentos, que de algum modo aparece nos textos e nas salas de aula de uma nação. Ele é sempre parte de uma tradição seletiva, resultando da seleção de alguém, da visão de algum grupo acerca do que seja conhecimento legítimo. É produto das tensões, conflitos e concessões culturais, políticas e econômicas que organizam um povo.

Ao usar o Currículo também se está a serviço do poder vigente, pois existe

toda uma ideologia contida nele, proveniente dos grupos que participaram de sua

elaboração e do momento político vivido no espaço temporal de sua implantação.

Porém o desconhecimento leva o professor a não apresentar argumentação positiva

ou negativa do material, o Currículo não pode simplesmente ser adotado ou não,

deve ser experimentado, avaliado, criticado e adaptado a partir das peculiaridades

que o mesmo contém dentro de suas inúmeras expressões sociais, políticas,

econômicas e culturais (CARNEIRO, 2010).

Para a grande parcela que diz que o trabalho ficou mais difícil pode ser

justificado como explica, Marcondes (2011), o Currículo que eles usavam era o livro

didático. Como o professor usava um livro didático escolhido por ele, o Currículo era

tudo que o mesmo apresentava. O uso do livros didáticos, torna o trabalho, na visão

do professor, mais fácil. Ele apresenta os conteúdos, de forma sistemática, com

exemplicações, exercícios resolvidos e atividades a serem aplicadas. Porém, o

professor utilizando esse tipo de material pedagógico como Curriculo em determina

dos momentos, pode sentir-se apenas um reprodutor das funções que querem lhe

impor,é como se não tivesse a capacidade de assumir a sua função com autonomia.

A dificuldade apresentada pelos professores pode ser atribuída, segundo

Saviani (2009) por alguns apresentarem resistência diante da implantação desse

Currículo, pois as políticas curriculares deixam os professores em segundo plano na

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tomada de decisões. Os professores, na maior parte das reformas implantadas, não

foram consultados, elas foram elaboradas por especialistas e após sua oficialização,

o documento chega às mãos dos docentes. Estudos realizados por Gomes, Higor,

Thiago, Feltrin e Rozales (2011), destacam também que ocorre uma precária

comunicação entre os profissionais da Educação, mesmo que no discurso oficial

exista um forte apelo sobre a autonomia da escola, na prática, continua a falta de

união entre os que estão inseridos na mesma e os que tomam as decisões. Não

existe um trabalho coletivo articulado com o “pensar fazer” na educação.

O professor se sente sozinho no seu fazer pedagógico e descreve que não

houve efetivamente um trabalho de orientação para o uso adequado do novo

Currículo.

Sanfelice (2010, aput Russo e Carvalho) discordando da forma de imposição

dos Currículos, indica alguns artigos da Constituição e da LDB, que podem provar

sua ilegitimidade:

o Artigo 206 da Constituição Federal quanto ao pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, bem como em relação à gestão democrática do ensino público. O mesmo acontece em relação à LDB 9.394/96 em seus Artigos 3º, 12º, 13º, 14º e 15º que versam sobre a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber, a incumbência dos estabelecimentos de ensino elaborarem e executarem suas propostas pedagógicas, a participação dos docentes na elaboração das propostas pedagógicas; a elaboração e cumprimento do plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino e assegurando às unidades escolares públicas de educação básica progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira.

Ao apontar os artigos conclui-se que a forma como foram construídos os

Currículos, podem ser considerados ilegais, porém deve-se observar, também, que

no Caderno do Professor, volume 1, de 2009, s/p.

O Caderno do Professor foi elaborado por competentes especialistas na área de Educação. Com o conteúdo organizado por disciplina, oferece orientação para o desenvolvimento das Situações de Aprendizagem propostas.

As orientações aqui contidas incorporaram as sugestões e ajustes sugeridos pelos professores, advindos da experiência e da implantação da nova proposta em sala de aula no ano passado.

Com relação ao trecho citado, vale ressaltar que segundo a SEE, vários

professores participaram, via online, colocando sugestões de conteúdos e atividades

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a serem incluídas nos CA e CP, desta forma legitima a participação de docentes na

elaboração dos mesmos.

O fato de a maioria ter dito que, o trabalho ficou mais difícil com o Currículo,

pode ser elucidado também, porque o professor não consegue contextualizar a

Química, como é um dos objetivo do documento oficial. Sabe-se que um dos

fatores responsáveis pelo alto nível de rejeição desta disciplina pelos estudantes,

com consequentes dificuldades para o processo de socialização das práticas da

comunidade científica e de suas formas ensino/aprendizagem é falta de

contextualização dos conteúdos (MORTIMER 1996).

Os alunos mudaram e a sociedade cada vez mais tecnológica (celular, tablet,

internet, sofwares e outros), carece de novas metodologias para chamar a atenção

dos estudantes para o ensino. Os professores têm dificuldades para ensinar com

metodologias que chamem a atenção do aluno, como por exemplos a prática de

experimentos.

De acordo com Lima et al. 2000, alguns professores utilizam aulas teóricas

em suas práticas pedagógicas e, quando introduzem aulas experimentais, as fazem

desconectados com o contexto. O aluno passa a seguir apenas o roteiro das

práticas experimentais, sem ver na atividade uma forma de ferramenta, muito

importante, para estimular o aprendizado e o raciocínio lógicos que nem sempre são

atingidos apenas com aulas teóricas.

Sabemos que muitas vezes a falta de material, local apropriado, falta de

profissional os para auxiliar na preparação da aula de laboratório e tempo para

preparar as atividades práticas, sugeridas no novo Currículo, são problemas

agravantes para aumentar as dificuldades em trabalhar com o Currículo. Porém

segundo Galiazzi & Gonçalves, 2004, esse problema pode ser minimizado se o

professor, mesmo utilizando uma sala de aula tradicional, ele mesmo faz o

experimento de forma demonstrativa, levando o aluno a observar os fenômenos e

registrar as mudanças ocorridas durante a execução dos experimentos. Essa forma

de aula experimental é mais atraente e às vezes consegue atingir melhores objetivos

do que as aulas em que o próprio aluno, no laboratório, executa o experimento.

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A respeito de aulas de experimentais, Chassot (2003) em concordância com

Maldaner (2003), ressalta que o experimento pelo experimento, sem validade

contextual, não tem validade e acrescenta que o espaço formal de laboratório, por si

só, não é condição necessária, para uma boa aula de química. Os professores

podem dar uma excelente aula até mesmo no pátio da escola.

Para verificarmos os motivos, segundo as concepções dos professores sobre

a dificuldade em trabalhar com o Currículo, indagamos o que eles achavam sobre a

sequência dos conteúdos apresentados no documento (Questão 10) . Dos que

conhecem o mesmo, 9 % diz que é boa. Outros 29 % não responderam e 63%

disseram ser ruim. Em seguida indagamos sobre sugestões para mudança (Questão

11), e obtivemos o já esperado, 79 % responderam que deveriam ser como os livros

didáticos e 21 % não responderam.

Gráfico 3

As sequências dos conteúdos, segundo parte da equipe que elaborou o

Currículo, não é como as usualmente encontrados no mercado gráfico, é segundo

eles uma sugestão de trabalho, que o professor não fosse apenas um “mero

executor da proposta”, o Currículo é o básico, contém os conteúdos mínimos a

serem trabalhados, e o professor teria a liberdade de acrescentar conteúdo,

modificá-lo e adequá-lo ao dia a dia de cada classe.

Porém não é desta forma que se apresenta o documento, já citamos

anteriormente que o Currículo torna-se oficial e como tal deve ser seguido por todos

Como deveria ser a abordagem

LD

não responderam

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116

os professores da rede estadual (SÃO PAULO, 2008). O professor estava

acostumado a trabalhar com os conteúdos, e a mesma sistemática dos livros

tradicionais em escolas públicas, seguindo uma lógica padronizada de conteúdos,

aprendida na época em que cursaram o “colegial” e que até agora tem se aprendido

na maioria dos cursos de Licenciatura cursados por eles.

A orientação teórica-metodológica centrada na transmissão de conteúdo leva

a prática de uma aula pouco dialogada, com características de aula tradicional. O

professor vai informando e conduzindo o aluno em direção aos seus objetivos. Esse

tipo de aulas descontextualizadas e sem inter-relações entre os conteúdos e as

situações vivenciadas pela sociedade (MALDANER, 2003) leva o aluno a se tornar

um mero decorador de conceitos soltos e sem significativo.

4.1 Responsabilidade de Orientação da Aplicação dos Materiais

Tendo em vista que a maioria dos professores respondeu que não utilizavam

os cadernos, questionamos de quem era a responsabilidade de orientar sobre a

utilização dos mesmos (questão 11).

Os resultados mostraram que 75 % dos professores que responderam

apontaram que é de responsabilidade da SEE, 19 % indicam que é de

responsabilidade da DE e 06 % responderam que era o Professor Coordenador.

Gráfico 4.

Esses dados nos levam a acreditar que a SEE, na opinião dos professores é

a maior responsável pelas orientações sobre a utilização do material. Desta forma,

Responsabilidade em orientar

SEE

DE

PC

Professor Coordenador SEE

Diretoria de Ensino

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117

fomos em busca das funções e atribuições de cada um dos envolvidos nas

respostas.

A origem da palavra “orientador” vem do grego e significa "aconselhar", e, da

raiz Indo Europeia que significa "pensar". Portanto, "Orientador" teria o significado de

"aconselhar o pensamento". E o papel do orientador é o de envolver o orientando,

utilizando um conjunto de estratégias com entusiasmo, e desta forma envolver o

orientando no caminho da formação.

A orientação vai além de simplesmente passar informação, ela pressupõe:

A indicação e monitoramento de uma série de atividades, tais como leituras, estudos dirigidos, estágios de pesquisa e atendimento a cursos ou disciplinas que possam ampliar ou completar conhecimentos do aluno na área específica de seu interesse.

E todas as etapas da investigação, análise crítica e discussão dos resultados (FERREIRA, 2009).

Portanto não basta apenas dar orientações sobre o material a ser usado, é

necessário que ocorram vários encontros, de forma sistemática e organizada. A

orientação de professores não pode ficar na linha apenas técnica. O professor

carece de instrumentos de aperfeiçoamento de metodologia didática e formação

para o ensino de conteúdos básicos.

De acordo com Imbernón (2006), a formação de professores “assume um

papel que vai além do ensino que pretende uma mera atualização científica,

pedagógica e didática e se transforma na possibilidade de criar espaços de

participação, reflexão e formação” (IMBERNÓN, 2006, p. 18). A formação de

professores, para o uso do material, parece-nos uma relação interdependente.

De um lado os currículos, que se não forem bem entendidos, e o professor

convencido de sua importância, não serão aceitos. Do outro lado a formação do

professor para a utilização deste material, que precisa ser potencializada de forma a

fazê-lo entender todo histórico de confecção. O professor precisa conhecer o

material, porque e de que forma ele foi criado e como pode ser utilizado.

Se a SEE tiver a disposição de investir, por acreditar, no material, Caderno

do Aluno e Caderno do Professor, acreditamos que esses currículos, atingiram as

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dimensões abrangentes que poderão favorecer o desenvolvimento profissional

docente.

Como os professores responderam que a SEE que deveria dar informações

sobre o uso do material, fizemos um levantamento sobre os mecanismos de

formação utilizados pela SEE.

A SEE em conjunto com Fundação Carlos Alberto Vanzolini, desenvolve e

implementa ferramentas que utilizam tecnologias de informação e comunicação para

criar processos educacionais inovadores. Dentre as mídias utilizadas estão a

teleconferência, a videoconferência, os vídeos de apoio, material didático impresso e

em CD, além de ambientes colaborativos na web (salas específicas para utilização

com profissionais em capacitação, nas Diretorias de ensino), (SÃO PAULO, 2011).

Quando o professor indica a Secretaria como a maior responsável,

acreditamos que ele confia que os profissionais da Escola de Formação sejam os

profissionais mais indicados para tal função. Para a capacitação dos PCs, forma

utilizados os materiais de multimídia fornecidos pela Fundação.

Sabe-se que durante a implantação dos materiais didáticos, ocorreram

algumas capacitações com os Professores Coordenadores e algumas ferramentas,

online, foram disponibilizadas pela Rede do Saber, aos professores. Entretanto

alguns PCs não conseguiram repassar as orientações a todos os seus professores,

de forma satisfatória. A Rede do Saber tem registro de inúmeros acessos de

profissionais de educação, via online, tanto com dúvidas sobre a utilização do

material como indicações de erros de grafia e conceitos em alguns cadernos.

Embora essas tecnologias estejam presentes em vários segmentos da nossa

vida, percebe-se ainda uma distância entre esses referenciais culturais e o seu uso

em contextos educacionais (MARTINSI, s/d).

O uso de tecnologias (multimídias) por si só não causa impacto na

educação. O que causa impacto é a maneira como se as utiliza. Não se pode

acreditar que somente por existirem as ferramentas e estarem à disposição dos

usuários (professores), elas serão utilizadas. As ferramentas tecnológicas não dão

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conta de todo o trabalho a ser realizado nas escolas para que o Currículo seja

implantado e implementado.

É nosso entendimento que é preciso que haja acompanhamento das

propostas curriculares organizadas pelos órgãos próprios da Secretaria da

Educação, através da DEs (Supervisão e Núcleos Pedagógicos) em ação conjunta

com os Professores Coordenadores/Gestores que venham a contemplar:

O planejamento das atividades de ensino das diferentes áreas e disciplinas

em cada bimestre;

A compreensão da proposta de organização dos conceitos curriculares

correspondentes a cada ano/semestre/bimestre;

A seleção de estratégias que favoreçam as situações de aprendizagem,

mediante a adoção de práticas docentes significativas e contextualizadas;

O monitoramento das avaliações bimestrais;

O monitoramento dos projetos de recuperação paralela e continua,

bimestralmente;

Após análise dos resultados de recuperações, definir ações, série por série,

para sanar os principais dificultadores do ensino aprendizagem dos alunos;

A cada final de ano letivo, avaliar o desempenho de cada série, apontando os

principais avanços e as metas para o ano seguinte;

Indicar as ações para o próximo ano, com o objetivo de continuidade no

processo de avanços educacionais.

Registrar em documentos próprios de cada escola, a Proposta Pedagógica

definida para o ano seguinte. Desta forma se houver mudança de gestores,

professores coordenadores e parte do corpo docente, a mudança não pode

causar grandes alterações nas ações previstas no ano anterior.

Sabe-se que o Diretor, o Professor Coordenador e parte do grupo docente,

podem mudar de escola durante o ano letivo. Essas mudanças ocorrem em qualquer

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época do ano, porém é mais intensa no início de cada ano, por isso se faz

necessário, um documento de registro com: objetivos, estratégias, ações, metas e

perspectivas, seja elaborado na escola para ser seguido pelos envolvidos na

proposta pedagógica, pois eles retratam as reais necessidades das mesmas.

Mesmo que as mudanças no corpo docente sejam significativas (por

remoção, aposentadoria, afastamento médico, afastamento para ocupar outras

funções) o corpo discente não se altera de forma significativa, portanto, o documento

deverá ser seguido pelo novo corpo docente e de gestão. Cabendo aos gestores,

supervisores de ensino e núcleo pedagógico as adequações necessárias para que a

Proposta Pedagógica seja seguida. Essas ações devem permear:

O apoio as ações de capacitação dos professores da unidade escola e aos

professores novos que adentrarem;

A observação da atuação do professor em sala de aula com a finalidade de

recolher subsídios para aprimorar o trabalho docente, com vistas ao avanço

da aprendizagem dos alunos;

A promoção de curso de capacitação, nos ATPCs;

O estimulo á abordagens multidisciplinares, por meio de projetos e/ou

temáticas transversais que atendam demandas e interesses dos

adolescentes;

O apoio à organizações estudantis que fortaleçam o exercício da cidadania e

ações/organizações que estimulem o intercâmbio cultural, de integração

participativa e de socialização;

A articulação do planejamento das séries finais do Ensino Fundamental com

o planejamento das séries iniciais do Ensino Médio.

Ao questionarmos os professores sobre a cobrança do uso do Currículo

(Questão 12) nas aulas, oitenta e nove (89%) por cento dos que responderam,

indicaram que o questionamento é feito pelo professor coordenador e onze (11%)

por cento responderam que é pelo diretor de escola.

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Gráfico 5.

Esse é um indicador que o papel do professor coordenador é fundamental

para a implantação de políticas públicas. Um estudo sobre sua atuação revela, que

Ele se sente muito importante no processo educacional, mas não sabe ao certo como agir na escola frente às demandas e mostra isso por meio de algumas contradições: ao mesmo tempo em que afirma que sua atuação pode contribuir para o aprendizado dos alunos e para a melhoria do trabalho dos professores, não percebe quanto isso faz diferença nos resultados finais da aprendizagem

7.

Esses resultados mostram que o PC exerce inúmeras funções como inspetor

de aluno e gestor de conflitos disciplinares (problemas disciplinares de alunos e

problemas familiares dos mesmos), cuidador de aluno (alunos que passam por

algum problema de saúde ou até alunos com necessidades especiais), dador de

aula (na ausência do professor), entregador e recebedor de materiais diversos (na

escola: livros, CA, jornais, materiais didáticos, uniformes, campanha publicitárias; na

DE: ofícios e demandas da escola, da DE e da SEE); atendentes de pais e

comunidade escolar; entregador de merenda; secretário de escola (elaboração de

documentos administrativos); participante de Conselho de Escola e APMs;

elaborador de questões para Provão e Simulados e quando sobra tempo: elaborador

de pautas de reuniões de aula de trabalho pedagógico coletivo (ATPC) (com textos

de reflexão e demandas da DE e SEE) análises de indicadores externos e indicador

de medidas ATPC (aula de (com textos de reflexão e demandas da DE e SEE)

análises de indicadores externos e indicador de medidas de correções.

7Coordenador pedagógico: um profissional em busca de identidade http://revistaescola.abril.com.br/gestao-

escolar/coordenador-pedagogico/coordenador-pedagogico-profissional-busca-identidade-632174.shtml?page=1

questionamento sobre a utilização

PC

Diretor

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Sabemos também que dependendo do perfil do PC, ele se deixa ocupara por

ações inerentes à função. Esse desvio de função, às vezes, é sua própria culpa, já

que não se sente capaz e seguro de atuar diretamente no fazer pedagógico.

Entretanto as inúmeras demandas das unidades escolares e a ausência de

capacitação de forma continuada também sacrificam sua ação pedagógica.

Para finalizar questionamos em que momentos essas cobranças sobre a

utilização do Currículo (Questão 13).

A 99 % dos professores respondeu que eram questionados somente durante

o planejamento e 1% disseram que não ocorre cobrança.

Com relação ao momento do questionamento ser no planejamento, deixa

claro a descontinuidade da ação pedagógica. O professor escreve seu plano de aula

de forma a contemplar o Currículo oficial. Esse documento é anexado ao plano de

gestão e fica arquivado na secretaria da escola. É meramente um documento de

gaveta. Não se verifica ao longo do ano letivo como esta sendo seguido, se o

professor está cumprindo na sala de aula o que foi planejado no início do ano, se é

necessário inserir adendos, modificações ou inclusões no decorrer do processo.

Conclui-se que não há controle do fazer pedagógico por nenhum dos

responsáveis pela proposta pedagógica. Cada um faz o que julga necessário e

suficiente para seus alunos.

4.1.2 Entrevista com os membros da equipe que elaborou o Currículo de

Química do Estado de São Paulo

A entrevista foi realizada com a Profa. Dra. Maria Eunice Marcondes e outros

dois membros da equipe que elaboram o Currículo Oficial de Química do Estado de

São Paulo, e durou cerca de duas horas. Foi realizada na sala de trabalho de um

dos membros da equipe no Instituto de Química da Universidade de São Paulo e

todos os entrevistados autorizaram a gravação em áudio e anotações em um

caderno de campo.

A seguir passaremos a discutir os resultados dessa entrevista de acordo com

as categorias pré-definidas.

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4.1.3Elaboração do Currículo

A proposta de elaboração do currículo e da formação da equipe de Química

surgiu, de acordo com a profa. Dra. Maria Eunice Ribeiro Marcondes, em 2007

quando a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) entrou em

contato com o prof. Dr. Luis Carlos de Menezes do Instituto de Física da USP e o

convidou para formar uma equipe de especialista em sua área com a finalidade de

elaborar um novo currículo para as escolas estaduais de São Paulo, (Questão A1).

O Prof. Dr. Menezes entrou em contato com a Profª. Maria Eunice repassando o

convite para formar uma equipe de especialistas na área de química.

A Profa. Dra. Maria Eunice ao aceitar o convite compôs uma equipe com

professores experientes em ensino, dentre eles, alguns eram participantes do

GEPEQ8 e também participaram da elaboração da proposta de formulação dos

Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM), ou seja, são

professores atuantes com experiência tanto nas áreas de ensino quanto de pesquisa

e na elaboração de propostas curriculares oficiais (Questão A2). Assim, a SEE

solicitou que tivesse como parâmetro os documentos oficiais (PCN, PCN+ e as

Diretrizes Curriculares Nacionais - DCN) (Questão A3).

Segundo Prado “os Currículos compreendem a expressão dos conhecimentos

e valores que uma sociedade considera que devem fazer parte do percurso

educativo de suas crianças e jovens”. Deste modo, acreditamos que eles devem

expressar os objetivos que se deseja atingir, os conteúdos considerados mais

adequados para promovê-los, as metodologias adotadas e as formas de avaliação a

ser incorporada no desenvolvimento do trabalho com os alunos.

Assim, para a elaboração de um Currículo, a equipe de especialistas deve-se

estar atenta às transformações na organização da produção e do trabalho e pela

conjuntura de redemocratização do país. Como já citamos, a meta de melhoria da

qualidade da educação impôs o enfrentamento da questão curricular que devem

nortear as ações das escolas, dando vida e significado ao seu projeto educativo,

sendo motivo para que a definição desses conhecimentos e valores tenha sido

8 GEPEQ - Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada, integra o Programa de Pós-Graduação da

Faculdade de Educação da UNICAMP.

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modificada nos últimos anos, pois a sociedade brasileira está em constante

mudança.

Tendo em vista as mudanças ocorridas na sociedade brasileira nos últimos

anos, e com a implementação dos PCN, PCN+ e as DCN, a SEESP solicitou a essa

equipe de especialistas em Química, que esses documentos fossem utilizados como

norteadores na construção do Currículo de São Paulo (CSP).

Deve-se considerar também que no quadro de diversidade da realidade

brasileira, existem grandes discrepâncias em relação à possibilidade de se ter

acesso aos centros de produção de conhecimento. Esse fato acaba tornando a

qualidade de ensino, muito diferenciada de uma região para outra nos diferentes

estados da federação. Entretanto, percebemos que ao produzir o CSP, a equipe não

considerou os pontos comuns do processo educativo em todas as regiões e as

diversidades regionais, culturais e políticas existentes como pode ser observado no

depoimento a seguir:

O documento oficial foi construído para atender as necessidades da rede, com os

conteúdos mínimos a serem trabalhados em todas as escolas estaduais,

independentemente da região onde se localizava a unidade escolar. (Questão A4)

Desta forma, sendo o CSP não só um norteador das políticas públicas, mas

também dos conteúdos mínimos a serem trabalhados em sala de aula, podemos

considerar que ao utilizar o professor tem a liberdade de incluir no seu trabalho

pedagógico os conteúdos necessários para aprendizagem dos seus alunos

respeitando as diversidades regionais.

Apesar de a equipe declarar que o CSP foi construído com os conteúdos

mínimos, durante a entrevista eles revelaram que o tempo necessário para a sua

elaboração foi de mais ou menos um ano, entre reuniões com a equipe da SEE e

entre os membros da equipe. Para escolha dos conteúdos mínimos, a equipe foi

subdividida em grupos menores de especialistas nas diferentes competências,

química geral, orgânica, inorgânica, analítica e físico-química, como descrito no

depoimento abaixo:

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A proposta do currículo foi muito bem pensada, estudada e discutida. A equipe foi

subdividida em duplas de especialista em cada área da química: química geral,

orgânica, inorgânica, físico-química e analítica para elaborar uma proposta de

mudança muito bem estruturada.

As discussões foram estendidas em inúmeros encontros e os resultados

apurados contribuíram para a reelaboração do documento. A equipe se reunia para

leitura, revisão e sugestões de mudanças.

Como pode ser observado, foi um trabalho muito bem estruturado e teve a

preocupação de atender as necessidades da rede estadual de ensino. O tempo para

a execução teve que ser negociado entre seus membros, pois todos tinham outras

ocupações profissionais além da produção do Currículo.

A montagem de um Currículo realmente demanda tempo, dedicação e muita

pesquisa, pois o material deve apresentar uma parte teórica, atividades

experimentais, exercícios e atualidades. De acordo com alguns pressupostos dos

PCN é necessário também que, durante e ao término da sua construção sejam

exploradas relações pedagógicas como metodologias; a construção de

argumentação capaz de controlar os resultados desse processo; o desenvolvimento

do espírito crítico capaz de favorecer a criatividade, a compreensão dos limites e

alcances lógicos das explicações propostas; a dinâmica de ensino que contribuía e

favoreça, além do descobrimento das potencialidades do trabalho individual,

também o trabalho coletivo e estimule à autonomia desenvolvendo as

potencialidades, habilidade e as competências dos mesmos para que possam

individual e coletivamente ser capazes de ter condições de viver de forma digna e

cidadã.

Ao analisarmos o CSP, acreditamos que a equipe considerou essas relações

pedagógicas, uma vez que contemplou os conteúdos que se configuram em

conceitos teóricos e práticos, focando especificamente o estudo de materiais, a

dimensão energética envolvida nas suas transformações, bem como os modelos

explicativos voltados para a dimensão microscópica da constituição da matéria. Tais

conteúdos, no que se refere à disciplina Química, estão amplamente assegurados

nos PCN e também nas Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. É

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126

uma proposta de inversão dos conteúdos tradicionais, partindo do estudo do

fenômeno (visão macroscópica) em direção a sua compreensão microscópica,

partindo da visão conhecimentos prévios dos alunos (Questão A4a). Assim, esse

currículo busca inserir meios para vincular os conhecimentos químicos com o

cotidiano e trabalhar com a ideia de modelos, mas não como verdades absolutas.11

Ainda de acordo com essa equipe, o CSP foi construído:

de forma a encontrar um contraponto ao que já existia. Afinal qual era o currículo

que o professor utilizava até aquele momento?

O livro didático e os conteúdos contemplados por ele, e em alguns casos, somente

isso.

O livro didático (LD) é um instrumento didático-pedagógico relevante no

processo ensino aprendizagem, pois sugere ao professor e ao aluno além de um

conteúdo teórico e exercícios, práticas que norteiam as atividades a serem

desenvolvidas em sala de aula, facilitando a relação dialógica docente/discente, e

servindo como um instrumento mediador e facilitador da aprendizagem dos

conceitos. O LD continua sendo o recurso mais utilizado no ensino de ciências e é

através dele que o professor organiza, desenvolve e avalia seu trabalho pedagógico

de sala de aula. Para o aluno, o livro é um dos elementos determinantes da sua

relação com a disciplina e as pesquisas sobre o LD são inúmeras devido a

importância dada por vários educadores, entre eles, á essa ferramenta. Dada a sua

importância são realizadas pesquisa sobre o uso do LD desde 1938, seja para

análise de seu formato, conteúdo, produção ou ideologia presentes em seu contexto

histórico.12

Vasconcelos e Souto14 ressaltaram que os LD de Ciências devem ser

capazes de promover a reflexão sobre vários aspectos da realidade atual além de

incentivar o sentimento de investigação dos alunos, porém poucos livros levam a

esse objetivo.

Retomando a questão sobre a formulação do Currículo, quando a equipe

respondeu, “encontrar um contraponto ao que já existia, ou seja, o livro didático”

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significa, para nós, propor uma mudança, alterar, variar, transformar, dar nova

opção, alternativa ou escolha ao sistema curricular de ensino paulista.

O papel crucial do Currículo é ser um espaço produtor de identidades e de

diferenças. É, portanto, um campo de lutas e de produção de sentidos identitários. E

a questão da construção das identidades é um campo de batalha, ou seja, para esse

autor “sempre que se ouvir essa palavra, pode-se estar certo de que está havendo

uma batalha”. Acreditamos que essa batalha foi travada pelos especialistas que

preparam o CSP para os diferentes paulistanos do estado inteiro. Um contraponto

ao LD que são (ou eram) utilizados como Currículo em quase todo o estado.

A SEESP acredita que esse documento leva o aluno a construir identidade,

agir com autonomia e incorporar a diversidade, uma vez que são as bases para a

construção de valores de pertencimento e responsabilidade, essenciais para a

inserção cidadã nas dimensões sociais e produtivas.

Ao analisar o CSP percebemos que este só poderá levar o aluno a construir

sua identidade de forma autônoma, se o professor tiver condições pedagógicas de

desenvolvê-lo em sala de aula. Para isso é necessário que ele acredite nesse

Currículo. Para nós, para acreditar, o professor necessita ir em busca de aprender,

aprimorar o conhecimento, ousar e experimentar o novo, para depois saber tirar

conclusões: é bom ou ruim? Quais os pontos positivos e negativos? Qual a diferença

entre o que eu uso e o novo? O que devo fazer agora para usá-lo?

Sem examinar o documento, não há como questioná-lo e como um Currículo

pode servir à formação humana, para a inclusão de todos no acesso aos bens

culturais e ao conhecimento, esse CSP pode levar à uma mudança nos saberes da

sociedade atual.13

Esse CSP é na nossa concepção uma opção que deve ser usada, na sua

totalidade e ou com adequações à realidade de cada escola, obedecendo aos

pressupostos da proposta pedagógica individual da unidade escolar, pois é o

documento oficial do estado e foi elaborado atendendo a legislação vigente.

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4.1.4 Elaboração do CP

Para a construção do CP a equipe esclareceu que:

Ao término da confecção do Currículo foi solicitado pela SEE que a equipe

elaborasse um Caderno de Orientação para auxiliar o professor na sua utilização.

Esse material foi intitulado Caderno do Professor (Questão B1).

Acreditamos que a SEE conhecendo a diversidade da sua rede, concluiu que

a mesma equipe deveria confeccionar um instrumento de unificação do CSP a ser

utilizado em cada unidade escolar pelo professor.

E conhecendo a grade curricular da rede estadual de ensino, que apresenta

no máximo duas aulas semanas de Química por série no Ensino Médio, ao construir

o CP, para facilitar o trabalho do professor, a equipe optou por elaborar cadernos por

bimestre diferentemente dos LD que não apresentam separações entre os

conteúdos.

O conteúdo do CP apresenta indicações, orientações e sugestões de textos e

bibliografias para que o professor tenha condições de buscar complementações para

a definição de conceitos. De acordo com a equipe o CP foi pensado de forma a:

dar ênfase às atividades de desenvolvimento dos conteúdos, em detrimento de

textos, conceitos e definições, tendo em vista o número de aulas de química por

semana (duas aulas semanais) e a carga horária ser pequena (100 minutos por

semana). Assim, achamos que seria melhor para o professor se elaborássemos um

caderno por bimestre (Questão B2).

Acreditamos que essa divisão de atividades por bimestre propicia uma

organização sistemática dos conteúdos para nortear o trabalho docente.

Ainda de acordo com essa equipe:

O CP não foi preparado para servir como um livro e sim como um guia de

orientação, que contempla conteúdos e atividades, não trabalhados pela maioria dos

professores, como equilíbrio químico, eletroquímica e cinética química, tratamento

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de esgoto, estrutura, ligação e outros. Ou seja, o CP é um material para auxiliar o

professor e não um livro didático (Questão B2).

Em um estudo realizado por Talamini14 sobre o uso do LD em sala de sala,

ela descreve que este é um objeto necessário para o conhecimento histórico do

professor que,com o livro, aprende o que necessita ensinar, sendo bastante

presente, mas que este não se constitui como o único elemento utilizado por ele,

que recorre também a outras fontes, sendo o computador, revistas e livros, no

entanto, esse autor conclui, que ele é também utilizado como um guia culturalmente

usado por professores sendo o principal organizador das ações dentro de sala de

aula.

Desta forma, podemos concluir que o LD, como descreve Talamini, é muito

usado como apoio e orientação aos professores para a apresentação dos

conteúdos. Porém, para que outro tipo de material didático, como o CP, tenha êxito

no auxílio ao professor é necessário que este seja capaz de usá-lo e aceite as

sugestões neles contidas, indo a busca de outros textos complementares para

melhorar a qualidade de sua aula.

Ao analisarmos o CP observamos que este foi elaborado com todos os

passos a serem seguidos pelos professores para facilitar a aplicação do currículo em

sala de aula, assim como as demais propostas elaboradas por órgãos centrais nos

últimos trinta anos.

Para sua elaboração a equipe adotou a utilização de situações de

aprendizagem, ou seja, situações onde os alunos podem transformar as informações

em conhecimento. Cada situação de aprendizagem é composta de título, tempo

previsto para seu estudo, conteúdos e temas, competências e habilidade,

estratégias de ensino, recursos e formas de avaliação. Ainda no final de cada

situação de aprendizagem há exercícios, bibliografia e atividades de recuperação.

Essas situações de aprendizagem poderão, desde que dentro do mesmo

tema e limite de aulas programadas, serem planejadas de forma a atender as

características da região em que a escola se encontra. Na afirmação de que o CP

não é um LD, o professor deve utilizar outras fontes de informações que auxiliem na

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aprendizagem dos conteúdos abordados, portanto, acreditamos que o CP cumpre

esse papel, pois foi elaborado para auxiliar o professor a desenvolver competências

e habilidades necessárias a aprendizagem dos alunos, como pode ser observado no

depoimento a seguir:

A ideia era que o CP fosse capaz de desenvolver no aluno as habilidades e

competências necessárias para aprender. Que as atividades propostas fossem

“andaimes” de aprendizagem, que o aluno fosse levado a pensar, passo a passo.

As habilidades e competências para cada situação de aprendizagem foram

organizadas por série/ano. Entre as competências mais centrais estão as que

qualificam o aluno para comunicar-se, expressar-se, investigar e intervir em

situações reais e estabelecer conexões e dar contexto. Essas competências são

manifestadas por meio de inúmeras habilidades, como por exemplo, ler e expressar-

se não só através de textos, mas também de gráficos, tabelas e fórmulas; registrar

medidas e observações; sistematizar dados; elaborar relatórios; elaborar e defender

argumentações e trabalhar em grupo.6

Guias têm servido como orientação às escolas estaduais de cada estado e

embora sejam oficiais, essas orientações não implicam num caráter de

obrigatoriedade, cabendo à escola alguma margem de autonomia em adoção e

interpretação.

O CP foi pensado como um material de auxílio ao trabalho do professor com

sugestões de como implantar o currículo na sala de aula, onde o professor tivesse

autonomia para decidir como desenvolver os conteúdos do currículo, como pode ser

observado no depoimento a seguir:

O Currículo é o básico, contém os conteúdos mínimos a serem trabalhados, e o

professor teria a liberdade de acrescentar conteúdo, modificá-lo e adequá-lo ao dia a

dia de cada classe.

Nosso objetivo maior era mostrar uma proposta mais coerente para o ensino de

química, que auxiliasse o professor em seu trabalho didático.

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De acordo com essa equipe o ensino de Química da forma que estava sendo

praticado nas escolas, não contribuía para a aprendizagem do aluno, pois era um

ensino conteudista, típico de uma relação do tipo “transmissão – recepção”, limitada

à reprodução do “saber de posse do professor”, que “repassa” os conteúdos

enciclopédicos.

Historicamente, os conteúdos de química ensinados nas escolas seguem a

sequência aprendida pelo professor em seu curso de graduação e é reforçado pelos

livros didáticos. Para mudar essa situação, a equipe elaborou o CP propondo outras

possibilidades tanto na sequência dos conteúdos como na atuação do professor com

o objetivo de auxiliá-lo na construção do conhecimento do seu aluno. Observando o

CP podemos notar que para a equipe uma das formas do professor auxiliar o aluno

é valorizar os conhecimentos que este traz em toda sua formação vivida no seu

cotidiano.

O CP também pode ser utilizado como um material de boa qualidade que

pode contribuir para qualificar as atividades docentes desenvolvidas em sala1, pois

como relatou um dos membros:

O CP não é um livro! É um material didático, que tem como um dos objetivos propor

o “como fazer” e não os conteúdos a serem dados.

Esse relato foi observado quando analisamos o CP, ou seja, percebemos que

a equipe se preocupou em elaborar uma sequência de conteúdos que levassem o

aluno a “pensar”, “a como fazer”, “a valorizar as transformações”, no aspecto

fenomológico, partindo do conhecimento macroscópico, das observações, das

ideias, da vivência do educando até chegar ao conhecimento microscópio (QB3). E

para isso houve um trabalho exaustivamente pensado e estudado como relata um

dos membros da equipe:

Foi necessário um ano para elaborar o CP, sendo utilizados vários sábados, domingo,

feriados e até altas horas da noite para terminar. Em agosto de 2008, todo o material estava

impresso.

Podemos perceber no depoimento acima que a construção do CP, assim

como a construção do Currículo, foi um trabalho bem esquematizado por essa

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equipe. Desta forma, acreditamos que é um material que pode ser trabalhado nas

escolas da rede com o objetivo de melhorar a qualidade de ensino para atender as

exigências atuais para o ensino de química descritos nos documentos oficiais (PCN,

PCN+, OCQ e LDB/96).

4.1.5 Construção do CA

Quanto à elaboração do CA, de acordo com a equipe, este também não fazia

parte da proposta inicial. Porém, em 2008 foi solicitado pela CENP (Questão C1).

Esse caderno foi construído com o mesmo formato e número de exemplares do CP,

além de conter atividades escritas, exercícios e atividades experimentais (Questão

C2) como descreve a equipe:

No caderno já tem espaço para responder as questões, produção de textos,

resultados de pesquisas, elaboração de gráficos e tabelas, evitando a perda de

tempo em colocar os exercícios na lousa.

O CA foi pensado de forma a propiciar espaço para o aluno executar as atividades

propostas e tem como principais vantagens, conter inúmeras atividades que não constam

nos livros didáticos; e o professor pode optar pela aplicabilidade ou não da atividade

proposta.

Para a confecção do CA, a equipe tentou atender a uma solicitação dos professores da

rede, que era ter um material didático com espaços para os alunos desenvolverem as

atividades propostas, sem precisarem trazer para a escola, outro tipo de material, como

cadernos ou fichários.

As atividades propostas no CA têm como objetivo levar o aluno a pensar, questionar

e tirar conclusões; e não apenas decorar; resolver exercícios de forma mecanizada e

não contextualizada.

Como pode ser observado nesses depoimentos e também analisando esses

cadernos, a equipe os elaborou com atividades variadas que levassem o aluno a

contextualização dos conceitos de química. Desta forma, as atividades foram criadas

para levar o aluno a: saber pensar, relacionar, tirar conclusões, reconhecer os dados

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e aplicá-los no contexto. O objetivo de sua elaboração foi também o de criar espaço

para o aluno resolver atividades proposta sem precisar copiá-las da lousa (QC3),

como pode ser observado no depoimento abaixo:

O CA amarra o professor, porém foi uma reivindicação dele que dizia que não havia

dinheiro para xerocar exercícios e perdia-se muito tempo para colocá-los na lousa.

Concordamos com a equipe de que o CA limita o professor no

desenvolvimento das atividades, entretanto, como o tempo de aula por semana é

muito curto (duas aulas por semana de no máximo cinquenta minutos cada), existe a

necessidade do aluno ter um material de apoio para resolver exercícios sem perder

tempo copiando da lousa. E não é justo que o professor custei o material didático de

apoio as atividades a serem desenvolvidas em sala de aula.

Ao finalizar a entrevista indagamos a essa equipe quais os pontos positivos

desses materiais (CSP, CP e CA) e segundo eles são (Questão A5; Questão B3 e

Questão C4):

É um material que pode ser revisar a cada ano;

Esse material desencadeou na rede um movimento de questionamento, que não

havia antes;

Houve um aumento de cursos de atualização, capacitação e vídeo conferências;

Com os cadernos ocorreu um acréscimo de conteúdo a ser ministrado e com ênfase

no conhecimento, pois com a sua utilização, ocorreu a contextualização,

experimentação e discute-se a história da química;

Houve uma oxigenação na rede, os professores estavam muito parados, sem pensar

no ensino, com a introdução dos cadernos, os professores começaram a discutir o

currículo

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CAPÍTULO V - CONCLUSÕES

Podemos concluir que o Currículo foi elaborado por profissionais qualificados

e com grande experiência em ensino de Química.

Observamos que o documento foi confeccionado atendendo a legislação

vigente e com conteúdos e atividades que deveriam levar os profissionais em

educação da rede estadual de São Paulo a um novo olhar na forma de implantação

e implementação do Currículo oficial, olhar esse que pode levar a tão sonhada

melhoria na qualidade de ensino, pois o formato do Currículo que estava sendo

utilizado até então não contemplou esse sonho.

O documento produzido pela equipe mostra que o ensino de Química deve

enfatizar a compreensão dos processos químicos e sua aproximação com

aplicações tecnológicas, ambientais e sociais para envolver o aluno no processo de

construção de seu próprio conhecimento. Propõe uma modificação na ordem

tradicional dos conteúdos, bem como uma nova forma de abordagem que podem

trazer muitos benefícios à educação. Cabe ressaltar que, a sua apropriação por

professores necessitará de um amplo trabalho entre os órgãos centrais e os

mesmos, pois na maioria das vezes, as reformas educacionais parecem ou são

sempre de cima para baixo, e acabam não se concretizando nas escolas.

Quanto às competências e habilidades desse currículo podemos concluir que

as questões do Enem eram contextualizadas (questões 2, 3 4 e 5) concordando com

as competências do CQSP (C3H3). Apesar das palavras “eutético” da questão 4 e

“peróxido de hidrogênio” da questão 5, inicialmente parecerem palavras

desconhecidas, ao final da leitura do enunciado o aluno conseguiria relacionar as

palavras ao contexto e entenderia o significado de ambas (C1H1). Quanto a questão

1, talvez, o aluno não relacionasse a “glicose” como combustível. Ele poderia ser

induzido a atribuir ao etanol (como resposta correta), pois o mesmo é comumente

conhecido como um combustível, e somente ao realizar os cálculos de produção de

CO2 chegaria a resposta correta.

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Quanto à competência e habilidade (C2H2) do CQSP estão presentes em

todas as questões, pois essas envolvem conceitos de Física, Biologia, Geografia e

os problemas Sociais e Ambientais

Ao analisar as competências e habilidades do CQSP e do Enem, percebe-se

que apenas uma das questões, a dos processos de cloração da água (questão 2), o

aluno teria todos os conhecimentos adequados para resolvê-la.

Quanto às demais questões, percebe-se que da forma em que as atividades

do CP e do CA são apresentadas privilegia a construção de texto, a leitura e

interpretação de gráficos e tabelas, porém não contemplam, ainda, a resolução de

problemas simples envolvendo alguns conceitos e cálculo exigidos em algumas

questões.

Conclui-se então que as questões do Enem são contextualizadas e

interdisciplinares, porém, apresentaram também questão com características

conceituais (questão3) e questões em que o aluno tem que fazer uso da análise e

interpretação de dados em diferentes contextos para resolver situações-problema

(questões 1, 4 e 5).

Acredita-se que o Enem de acordo com as intenções do MEC constitui um

catalisador para a reformulação curricular que se mostra presente no CQSP, pois os

conteúdos se correlacionam com as demais disciplinas e proporcionam aos alunos

uma melhor compreensão de fatos de seu cotidiano.No entanto, se algumas

questões de Química do Enem continuarem com características conceituais, os

alunos que praticam somente atividades como propostas no CP e CA terão algumas

dificuldades em resolvê-las.

Para que os alunos das escolas públicas estaduais tenham condições de

resolver todas as questões de Química do Enem selecionadas nesse trabalho,

utilizando somente as atividades propostas no CP e CA será necessário que os

professores desenvolvam atividades complementares e elaborem projetos

exequíveis de forma a contemplar as necessidades de seus alunos em busca de

seus objetivos, ou seja, que aprendam de forma significativa, contextualizada e

interdisciplinar.

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Conclui-se também que o conjunto de materiais elaborados pela SEESP

(CQSP, CP e CA) apresenta os conteúdos e atividades contextualizadas como os

documentos oficiais assim exigem, porém existe ainda, a necessidade de articulação

entre o conhecimento científico de todas as demais áreas do conhecimento para que

a Educação Básica alcance os pressupostos dos órgão pertinentes.

Constatamos que os CA devolvidos a DERSA não eram usadas pelos alunos,

pois os professores tinham dificuldade de colocá-los em prática e em vários casos

não aceitavam os materiais, desta forma, não entregavam aos alunos e continuavam

a usar os Livros Didáticos.

Sustentado pelo fato de que não existem verdades absolutas, este estudo não

pode ser finalizado, pois ele traz momentos vivenciados pelas autoras, mas a escola

é viva e como tal está em constante transformação. A preocupação com a melhoria

do ensino público estadual, com o desempenho dos alunos, com a preparação de

indivíduos conscientes e participativos dentro da sociedade é o que norteia este

estudo. As considerações que se seguem, após extensa pesquisa e estudo,

pretendem ampliar as discussões acerca do currículo e seu impacto na prática

docente.

Esta proposta investigativa surge em 2009, quando um currículo único é

implantado nas escolas estaduais de São Paulo. Isto repercutiu no cotidiano escolar,

principalmente entre os docentes, que ao receberem o novo material didático,

enfrentaram uma dificuldade pedagógica, um conflito com o que vinham fazendo até

então.

É preciso considerar, logo no inicio as contribuições de pesquisas sobre a

implantação de reformas educacionais. Muitas abordam a falta de diálogo e

participação dos sujeitos envolvidos nas mudanças impostas por estes projetos. Ao

insistir que os professores apenas consumam os produtos, ignorando seu

conhecimento acadêmico e profissional, criam-se rupturas na estrutura educacional.

Um exemplo é o envio às escolas do material didático em detrimento de um

programa de formação continuada do professor. O Estado tem o dever de garantir

condições dignas para que a educação desenvolva-se em sua totalidade, mas

constatou-se que coube ao professor criar estas condições.

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Assumir que o processo de mudança educacional se faz com a participação traz, como decorrência, a inclusão da formação contínua como um dos seus elementos constitutivos e não condição prévia da mudança ou como forma de garantir sua implementação (ALMEIDA apud DI GIORGI, 2004, p. 147).

Este questionamento traz o debate da jornada de trabalho do professor e o

tempo mínimo dedicado às atividades de planejamento de aulas e estudo. O fazer

pedagógico pressupõe um processo no qual o professor articule os seus saberes

disciplinares, curriculares, pedagógicos experienciais (TARDIF, 2008), privilegiando

o conteúdo que integra o currículo, objeto de sua aula, e o melhor jeito de ensiná-lo

de forma significativa. A aprendizagem significativa envolve diversos fatores, como

os conhecimentos gerais do aluno e a contextualização.

O processo educacional para possibilitar o acesso das novas gerações aos

elementos culturais, ou seja, ao saber sistematizado, metódico e científico

necessário para a formação do homem consciente, crítico e reflexivo (SAVIANI,

2008) tem implicações diretas no trabalho pedagógico. A intenção final do professor

é aproximar o seu conhecimento à sociedade.

O uso do currículo estimula o diálogo em relação ao processo de ensino, traz

novas perspectivas para o trabalho docente, transformando a sala de aula em um

espaço participativo, onde os alunos se percebem como sujeitos. O planejamento

valoriza o trabalho educativo, desenvolve a prática docente e ajuda na metodologia.

Muitas vezes sufocada pelo cotidiano, a prática docente não é estimulada pela

reflexão e análise de experiências. É preciso encontrar forma de reunir a equipe de

professores de uma mesma unidade escolar.

O grupo reunido possibilita maior predisposição para a troca de experiências,

em construir aulas com o uso de metodologias diversificadas e de tecnologia, de

refletir sobre concepções e teorias da aprendizagem, de avaliar a aplicação de

estratégias de ensino, enfim, de fortalecer o fazer diário compartilhando os saberes

próprios e necessários à docência.

A mobilização de saberes pedagógicos não interfere apenas na prática

docente. Um exemplo é a linguagem, parte do currículo de Língua Portuguesa,

precisa ser apropriado, constantemente revisitado e assimilado por todos,

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principalmente por professores das diferentes áreas do conhecimento, portanto, é

precisa estudar sempre.

O domínio da linguagem é importante para o trabalho pedagógico, para que a

capacidade de comunicação seja amplamente exercida por ambos educadores e

educandos, preparando a capacidade de argumentação, enunciação, a habilidade

de formar opiniões autônomas.

Muitas vezes ocorre a fragmentação dos conhecimentos sobre educação e

pedagogia durante as reuniões pedagógicas, perdendo-se a reflexão sobre o que se

faz em sala de aula. A prática diária da docência expressa os saberes conquistados;

o conhecimento isolado não auxilia no complexo trabalho pedagógico.

Ao se transformar a escola em um espaço que permita a organização da

comunidade, o aprendizado, a concretização de ações significativas, revela-se “um

espaço de vida em sua totalidade, um espaço reservado para a atividade vital do

homem singular em direção ao humano-genérico” (VIOTTO FILHO, 2009, p.5).

A impossibilidade de modificar a realidade, que impede a reflexão, leva à

alienação do indivíduo; isso ocorre, como observa Heller (2004), quando processos

de planejamento da prática docente se sobrepõem sobre o trabalho em si.

A formação de juízos provisórios, mantendo-se preso á um fragmento do real,

gera o preconceito, a generalização. Um exemplo é a rejeição ao currículo do

Estado de São Paulo pelos professores, que resulta na má-utilização do material

didático. O que elimina o preconceito é a ação consciente de se examinar o caso

singularmente, ou seja, o indivíduo se colocar por inteiro, se empenhar na resolução

de um problema.

É importante ressaltar a questão da alienação, pois um professor alienado

pode fazer o mesmo com seus alunos; ao reproduzir conteúdos automaticamente,

desestimula a reflexão. A ação transformadora, que supera a alienação cotidiana,

implica em planejamento de aulas, o conhecimento da realidade para que se possa

modificá-la. A prática docente analisada a partir dos pressupostos de Heller (1977,

2004), nos leva a identificar os fatores de alienação dos indivíduos e sugere meios

para superá-la, ao elevar-se acima da cotidianidade.

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Para estabelecer o não-cotidiano como passagem de pensamento acrítico

para a consciência, é preciso compreender o sentido político do processo da prática

social sem dissolver a especificidade do fenômeno educacional e garantir a

socialização do conhecimento .

A proposta de transmissão e assimilação do conhecimento sistematizado,

histórico e socialmente acumulado pela humanidade pedagogicamente, orienta os

docentes. Eles devem identificar o saber objetivo e converter em saber significativo.

Essa consideração corrobora a concepção de Freire (2009) de que “saber que

ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria

produção ou construção”. O professor deve dar aos alunos os meios para que eles

percebam que o saber não é algo finito, mas fonte de novos saberes, sempre de

acordo com a condição histórica e social.

Esta pesquisa destaca a consciência do trabalho educativo como prática

social que fundamenta a apropriação dos conhecimentos para que proporcionem a

condição do humano-genérico como fator decisivo para a humanização dos

indivíduos e como superação da sociedade alienada. Como um ato de criação, a

prática docente pressupõe conhecimentos, uma base teórica pautada na reflexão do

homem e do mundo. A concepção do trabalho pedagógico pressupõe a

compreensão de que a escola é capaz de promover a emancipação da sociedade.

A escola deve ser entendida como prática social, com a capacidade de formar

indivíduos participantes no processo civilizatório. O trabalho consciente de

professores e alunos, unidos, pode contribuir para a superação da alienação e para

a caminhada em direção á humanização.

Todos os professores, gestores, supervisores, assistentes técnicos

pedagógicos, Associação de Pais e Mestres, Grêmio estudantil e pais ou

responsáveis pelo aluno têm sua responsabilidade pedagógica e social com o

Currículo e com os materiais produzidos para sua implementação. Responsabilidade

social é um termo novo, criado em função da percepção e cada vez mais crescente

entre os povos, de que o humano não se traduz na solidão da individualidade. Só

tem sentido no corpo da sociedade. Por isso o vocábulo responsabilidade, que

significa qualidade do ser responsável, isto é, que responde pelos seus atos ou

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pelos de outros indivíduos ou, simplesmente, cumpre seus deveres e obrigações, é

atrelado ao termo social, atribuindo-lhe uma nova conotação: não basta ser

responsável individualmente: é preciso que cada um seja responsável também pela

sociedade, pelo coletivo.

Desta forma, a responsabilidade social diz respeito ao cumprimento dos

deveres e obrigações dos indivíduos para com a sociedade em geral. Esta nova

perspectiva da responsabilidade, não mais individual, mas coletiva, precisa ser

veiculada por intermédio dos processos educativos de que o corpo social dispõe,

para manter e preservar sua cultura.

Mantendo coerência entre seu discurso e suas práticas. Isto é possível em

todas as instâncias educacionais: família, escola, parceiros da escola, sindicatos e

partidos políticos. Se todos os agentes sociais compartilharem deste propósito,

educando as gerações para o exercício da cidadania, este processo, eminentemente

educativo, jamais se esgotará e todos estaremos construindo um mundo melhor,

sustentável, cooperativo, inclusivo, com igualdade de direitos e alcançando o sonho

de uma educação com qualidade para todos.

Em tempo, após a entrevista com a equipe que elaborou os materiais

pedagógicos, a meu convite a Coordenadora da equipe iniciou um trabalho de

orientação à 40 professores de Química da DERSA, durante todo o ano de 2013.

Essas orientações ocorrem aos sábados pela manhã em uma escola da região

central da cidade de Santo André. A coordenadora e outros três especialistas trazem

exemplos de experimentos indicados no CA para os professores participantes

praticarem e ensinam a utilizar o Currículo, o CP e o CA. Em 2014 o projeto

continuará.

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