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ESTUDO COMPARATIVO DO USO DE TRILHAS INTERPRETATIVAS NOS PARQUES NACIONAIS DE UBAJARA, CEARÁ, E SETE CIDADES, PIAUÍ Josângela da Silva Jesus¹ & Vanice Fragoso Selva² ¹ Graduanda do Curso de Turismo (UFPE); [email protected] ² Professora Dra. do Curso de Turismo (UFPE); [email protected] Eixo Temático: O Homem Introdução O uso de trilhas de interpretação ambiental em unidades de conservação tem se mostrado de grande importância tanto para o enriquecimento da experiência do visitante como também para a sensibilização deste para a conservação do ambiente. Desta forma a interpretação pode ser utilizada como uma ferramenta para o ecoturismo e para a educação ambiental, fazendo das trilhas não apenas o acesso aos atrativos do local, mas um espaço que pode ser completamente explorado através de interpretação dos recursos dispostos em seu percurso. A exploração de trilhas vem se tornando uma prática comum na atividade turística notadamente no ecoturismo e no turismo ecológico em unidades de conservação ambiental onde cada vez mais os elementos que compõem as trilhas passam a ser entendidos assim como as interações existentes entre estes. Essa prática tem como referência a Ecologia da Paisagem, que pode ser considerada como um mosaico heterogêneo formado por unidades interativas de vários habitats, onde a paisagem é vista como interação da sociedade com a natureza. Nesse sentido a interpretação da paisagem passa a representar um significativo ganho para o turismo nas suas diversas modalidades. O uso da paisagem pelo turismo vem transformando- a cada vez mais em produto de consumo representando uma novidade estética para o turista que passa a ampliar o seu conhecimento, a pensar a conservação ambiental, a respeitar as diferenças culturais e aos limites de tolerância dos ambientes, pois o ato de observar a paisagem é impregnado de conotações culturais, ideológicas; é uma forma de ver o mundo. É, portanto, no contexto da interpretação dos ambientes de trilhas que se buscou neste trabalho analisar de que forma está se dando a exploração de trilhas nos Parques Nacionais - PARNAS de Ubajara e de Sete Cidades.

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Page 1: ESTUDO COMPARATIVO DO USO DE TRILHAS INTERPRETATIVAS NOS PARQUES NACIONAIS DE UBAJARA, CEARÁ, E SETE CIDADES

ESTUDO COMPARATIVO DO USO DE TRILHAS INTERPRETATIVAS NOS PARQUES NACIONAIS DE UBAJARA, CEARÁ, E SETE CIDADES, PIAUÍ

Josângela da Silva Jesus¹ & Vanice Fragoso Selva²

¹ Graduanda do Curso de Turismo (UFPE); [email protected]

² Professora Dra. do Curso de Turismo (UFPE); [email protected]

Eixo Temático: O Homem

Introdução

O uso de trilhas de interpretação ambiental em unidades de conservação tem

se mostrado de grande importância tanto para o enriquecimento da experiência do

visitante como também para a sensibilização deste para a conservação do ambiente.

Desta forma a interpretação pode ser utilizada como uma ferramenta para o

ecoturismo e para a educação ambiental, fazendo das trilhas não apenas o acesso

aos atrativos do local, mas um espaço que pode ser completamente explorado através

de interpretação dos recursos dispostos em seu percurso.

A exploração de trilhas vem se tornando uma prática comum na atividade

turística notadamente no ecoturismo e no turismo ecológico em unidades de

conservação ambiental onde cada vez mais os elementos que compõem as trilhas

passam a ser entendidos assim como as interações existentes entre estes. Essa

prática tem como referência a Ecologia da Paisagem, que pode ser considerada como

um mosaico heterogêneo formado por unidades interativas de vários habitats, onde a

paisagem é vista como interação da sociedade com a natureza. Nesse sentido a

interpretação da paisagem passa a representar um significativo ganho para o turismo

nas suas diversas modalidades. O uso da paisagem pelo turismo vem transformando-

a cada vez mais em produto de consumo representando uma novidade estética para o

turista que passa a ampliar o seu conhecimento, a pensar a conservação ambiental, a

respeitar as diferenças culturais e aos limites de tolerância dos ambientes, pois o ato

de observar a paisagem é impregnado de conotações culturais, ideológicas; é uma

forma de ver o mundo.

É, portanto, no contexto da interpretação dos ambientes de trilhas que se

buscou neste trabalho analisar de que forma está se dando a exploração de trilhas nos

Parques Nacionais - PARNAS de Ubajara e de Sete Cidades.

Page 2: ESTUDO COMPARATIVO DO USO DE TRILHAS INTERPRETATIVAS NOS PARQUES NACIONAIS DE UBAJARA, CEARÁ, E SETE CIDADES

Objetivos Geral - Analisar a forma como tem se desenvolvido o uso de trilhas interpretativas nos

Parques Nacionais de Ubajara e de Sete Cidades

Específicos - Avaliar o aproveitamente do potencial interpretativo de trilhas nos PARNAs de

Ubajara, Ceará, e Sete Cidades, no Piauí;

- Analisar o desempenho dos condutores de trilhas na interpretação ambiental nas

trilhas

Metodologia

Para o desenvolvimento da pesquisa foi realizada uma pesquisa bibliográfica

sobre a temática e pesquisa de campo, no período de 01 a 07 de agosto de 2006

obtendo-se informações através de entrevistas com os gestores, conversa informal

com condutores das trilhas observando-se os aspectos bióticos e abióticos das trilhas,

o estado de conservação, infra-estrutura de visitação, assim como sinalização

indicativa e interpretativa. Também foi analisada a forma como os condutores

desenvolviam a apresentação das trilhas, de modo a verificar se esses condutores

estavam ou não desenvolvendo algum tipo de interpretação ambiental para os

visitantes. Para a coleta de dados, foi utilizada uma ficha de campo onde foram

analisados alguns pontos das trilhas no que se refere a estado físico e microhabitats,

fatores bióticos além de observações quanto ao uso dessas trilhas.

O trabalho é parte das atividades realizadas na pesquisa Ecoturismo em

Parques Nacionais desenvolvida na disciplina Ecoturismo do Curso de Turismo da

Universidade Federal de Pernambuco, onde buscou-se analisar o turismo nos

PARNAS Sete Cidades, no Piauí e, Ubajara e Jericoacoara no Ceará identificando

princípios do ecoturismo.

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Lazer, Prazer, Conhecimento e Educação: Elementos para compor a interpretação de trilhas no ecoturismo

O turismo, enquanto atividade econômica, vem se ampliando nos mais

diferentes ambientes e utilizando-se da grande diversidade de paisagens que os

ambientes oferecem. Por outro lado, há uma crescente busca de ambientes naturais

por parte dos turistas como um apelo ao contato com a natureza que vem sendo

distanciado com o crescimento das cidades e intensificação da urbanização e dos

problemas resultantes da degradação ambiental que tem interferido de forma negativa

na qualidade de vida.

Nesse contexto, “O lazer e, sobretudo, as viagens pintam manchas coloridas

na tela cinzenta da nossa existência. Elas devem reconstituir, recriar o homem, curar e

sustentar o corpo e a alma, proporcionar uma fonte de forças vitais e trazer um sentido

à vida.” (KRIPPENDORF, 2001, p. 36). Afirma RUSCHMANN (2003) que “uma das

maiores motivações das viagens dos turistas se manifesta pela fuga dos ambientes

urbanos e poluídos e pela busca do contato com a natureza (ou biodiversidade)

preservada”.

Atenção especial deve ser dada ao planejamento da atividade turística e em

especial às trilhas. Na sua expansão, a atividade turística vai se utilizando das

paisagens alterando-as de modo a oferecer amplas possibilidades de consumo pelos

turistas sem os devidos cuidados na forma de uso, na conservação do ambiente, na

capacidade que o ambiente tem para suportar as práticas realizadas, no trato com

aspectos das culturas das áreas receptoras subvertendo os lugares em lugares

turísticos. Ressalta SALVA (1996 apud MENEZES in BARRETO) que a

a turistificação das paisagens ou o processo de mudança de um lugar para adequá-la à função turística, na maioria das vezes, não consegue sincronizar o ritmo e o volume da exploração dos recursos com a capacidade que o meio oferece de suportar esta exploração.

Um olhar especial necessita ser lançado para as práticas turísticas; o

ecoturismo entendido como uma prática de turismo que se contrapõe ao turismo

tradicional seguindo princípios como a ênfase à natureza e à cultura autêntica,

conservação da natureza, envolvimento e benefícios à população local,

conscientização ecológica através da educação ambiental e menor impacto negativo.

O ecoturismo, como afirma DIAS (2003, p. 103), portanto “procura fomentar a

sustentabilidade e a preservação do meio ambiente natural” e complementa que tem como objetivo melhorar as condições de vida das populações receptoras, ao mesmo tempo que preserva os recursos e o meio

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ambiente, compatibilizando a capacidade de carga e a sensibilidade de um meio ambiente natural e cultural com a prática turística” (DIAS e AGUIAR, 2002 apud DIAS, 2003, p. 103)

Como seguimento de mercado o ecoturismo é considerado como

aquela modalidade turística ambientalmente responsável, que consiste em viajar a, ou visitar áreas naturais relativamente pouco perturbadas com o fim de desfrutar, apreciar e estudar os atrativos naturais (paisagem, flora e fauna silvestres) dessas áreas, assim como qualquer manifestação cultural (do presente ou do passado) que ali se possa encontrar, através de um processo que promove a conservação, tem baixo impacto negativo ambiental e cultural e propicia o envolvimento ativo e socioeconomicamente benéfico das populações locais. (CEBALLOS-LASCURÁIN, 1996 apud DIAS, 2003, p. 110).

Uma prática de ecoturismo fundamentada em princípios de sustentabilidade

promove uma permanente interação entre a educação ambiental e o ecoturismo pois

esta interação desempenha um relevante papel para desenvolvimento de uma nova

cultura ambiental nos lugares que são foco do turismo voltado para a natureza, como o

são as áreas naturais protegidas. A partir dessa interação O ecoturismo, por si só, é considerado como uma estratégia de educação ambiental, uma vez que valoriza excursões, passeios, trabalhos de campo onde as pessoas colocam-se em contato direto com experiências que geram um aprendizado importante relativo ao ambiente natural, estabelecem relações sociais com o ambiente e desenvolvem atitudes que tendem a ser responsáveis. (DIAS, 2003, p. 179)

A educação ambiental no ecoturismo deve ser trabalhada no contexto da

abordagem interpretativa e prazerosa do ambiente, notadamente em trilhas

ecológicas, em que o visitante seja estimulado a observar a paisagem, de forma

objetiva compreendendo os elementos que compõem a paisagem. A abordagem

interpretativa remete ao entendimento do ambiente a partir da ecologia das paisagens

que abrange a regularidade, o arranjo, a distribuição e o conteúdo do ecossistema em

uma área geográfica definida. NAVEH & LIEBERMANN (1994) consideram a ecologia

da paisagem como sendo a análise da estrutura da paisagem com a influência

humana e o uso da terra.

A abordagem interpretativa aponta para a necessidade do planejamento com

vista à compreensão do ambiente, de modo que o emissor (guia, placa, folheto) da

informação possa estimular o visitante. Destaca VASCONCELOS (2003) que a

abordagem interpretativa deve se caracterizar por quatro aspectos essenciais: ser

amena, de modo a entreter e manter a atenção do turista; ser pertinente, ou seja, ter

significado e despertar o interesse pessoal; ser organizada, com ordenamento lógico

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das idéias expostas e; ser temática, quer dizer, ter um tema explicitado que se

pretende comunicar.

As trilhas interpretativas oferecem aos visitantes a possibilidade de desfrutar do

ambiente enquanto lazer e da paisagem enquanto educação ambiental. Ressalta

SELVA & COUTINHO (2005, p. 12) que “as trilhas interpretativas se bem planejadas,

conservam o ambiente de impactos e asseguram ao visitante conforto e segurança; se

bem conduzidas por guias preparados para tal, permitem a compreensão dos sistemas

ecológicos”.

Um panorama dos Parques Nacionais de Ubajara e Sete Cidades

O turismo nos Parques de Ubajara e Sete Cidades não é algo recente. Desde a

criação dos mesmos que a prática da visitação vem acontecendo embora, com a

adoção da proposta do ecoturismo enquanto prática turística, a visitação cada vez

mais tem se estruturado para receber os turistas e tem sido pensada nos moldes dos

princípios do ecoturismo que orienta para a conservação ambiental, eficiência

econômica e inserção das comunidades do entrono.

A escolha destas localidades se deu pelo fato de ambos já possuírem planos

de manejo, onde se prevê a visitação com fins de recreação e ecoturismo, oferecendo

trilhas e outros atrativos acessíveis aos visitantes.

O Parque Nacional de Ubajara localiza-se no município de Ubajara, a 340 km

de Fortaleza, Ceará. A unidade de conservação foi criada pelo Decreto n° 45.954, de

30 de abril de 1959, entretanto, teve seus limites redefinidos pelo Decreto n° 72.144,

de 26 de abril de 1973, e hoje o Parque possui área total de 563 ha, sendo o menor

parque do Brasil. A área onde atualmente se localiza o Parque era constituída de

antigas fazendas de plantações de café e fortemente marcada pela retirada de

madeira para a marcenaria e carpintaria.

O Parque de Ubajara está inserido no bioma da Caatinga, mas pela sua

situação em altitudes superiores a 900m condiciona uma precipitação pluviométrica

média anual de 1.000mm possibilitando a ocorrência de floresta subperenifólia (Foto

1).

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Foto 1: Visão Geral do Parque Nacional de Ubajara

Autor: Márcia Araújo. Agosto, 2006.

O maior atrativo do Parque é a Gruta de Ubajara. Antes da criação do Parque

esta gruta era utilizada pela população para fins religiosos, e hoje ainda é possível

observar várias marcas da época, como piso em cimento, criação de altares etc. O

acesso à gruta é realizado através de um teleférico que liga a parte alta do Parque

Nacional de Ubajara com a mesma, entretanto, também é possível o acesso através

de uma trilha.

O Plano de Manejo do Parque Nacional de Ubajara foi feito no ano de 1981, e

em 2000 o documento foi atualizado e realizado uma avaliação do aproveitamento do

primeiro documento. Segundo a fase 2 do Plano de Manejo do Parque Nacional de

Ubajara, o Programa de Uso Público, com destaque para o Subprograma de Turismo,

foi o que mais avançou, tendo 100% das atividades planejadas na fase anterior do

Plano de Manejo implementadas. O Parque tem recebido em torno de 50.000

visitantes ao ano, o que mostra o quanto é importante que sejam desenvolvidas ações

para a minimização dos impactos causados pela visitação, e ao mesmo tempo para a

garantia da qualidade da experiência do visitante.

Já o Parque Nacional de Sete Cidades está inserido no bioma Cerrado,

apresentando elementos de Caatinga e de Florestas, com manchas de campos

inundáveis e de matas ciliares (Foto 2). O Parque, com uma área total de 6.331 ha fica

localizado nos municípios de Piracuruca e Piripiri, no estado do Piauí, a cerca de 200

km de Teresina.

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Foto 2: Visão geral do Parque Nacional de Sete Cidades

Autor: Sofia Oliveira. Agosto, 2006.

Criado pelo Decreto n° 50.744, de 8 de junho de 1961, só veio ter o Plano de

Manejo em 1978. Entretanto, este documento nunca foi atualizado, conforme prevê a

lei do Sistema Nacional e Unidades de Conservação - SNUC, Segundo gestor do

Parque, a unidade já está regularizada quanto às questões fundiárias, tendo as

comunidades vizinhas como parceiras do Parque.

O nome Sete Cidade é atribuído a sete diferentes associações de

afloramentos, que possuem formas curiosas, formadas a partir da ação pluvial e

eólica. Na área é possível encontrar vários sítios arqueológicos, com inscrições

rupestres que datam até 6000 anos.

Nas trilhas de Ubajara e Sete Cidades: comparações, usos e necessidades

Durante a visita de campo, verificou-se no Parque Nacional de Ubajara uma

boa organização da unidade de conservação, que possui uma infra-estrutura bem

montada com guaritas, centro de visitantes, sinalização, teleférico de acesso à Gruta

de Ubajara, principal atrativo do Parque, etc.

Na pesquisa foi analisada a Trilha da Samambaia, que possui 1,5 km de

extensão. Esta trilha, bem sinalizada, se destaca com um número considerável de

placas indicativas e interpretativas, com objetivos diversos. A trilha tem formato linear,

aonde o visitante vai e volta pelo mesmo local, embora dê acesso outras trilhas.

A trilha é de fácil acesso e no percurso existem algumas estruturas que dão

assistência aos visitantes, como área para descanso, com bancos e mesas, corrimãos,

pontes e passarelas para os trechos sujeitos a alagamentos e lixeiras. (Fotos 3 e 4). A

trilha apresenta um aspecto o mais próximo possível do natural, onde todas as

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estruturam produzidas em madeira buscam uma harmonia com o ambiente em que

estão inseridas. No ponto final desta trilha existe um mirante que oferece visão para as

cachoeiras do Parque e para o vale.

Foto 3: Passarela na Trilha da Samambaia

Autor: Josângela Jesus. Agosto, 2006.

Foto 4: Estrutura da Trilha da Samambaia

Autor: Vanice Selva. Março, 2006.

Na Trilha da Samambaia podem ser identificadas algumas espécies da flora

local, nativa ou não. Segundo estudo realizado para a revisão do Plano de Manejo

sobre a vegetação do Parque, existe ainda na área remanescente da primitiva floresta

tropical pluvial. Destaca-se nessa trilha o Jardim das Samambaias, que dá nome ao

local.

Na trilha estudada e também em outras existentes no Parque, existe um bom

sistema de sinalização, onde se pode encontrar painéis e placas indicativas e

interpretativas. (Foto 5). A trilha se inicia com um portal, contendo o seu nome e as

instituições responsáveis pela sua administração, além de outras indicando o caminho

a ser percorrido. (Foto 6). No decorrer da trilha também existem painéis com mapa do

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Parque e a localização da trilha neste, além de placas identificando algumas espécies

de plantas, como o exemplo da gameleira (Foto 7).

Foto 5: Placas e painéis interpretativos e indicativos

Autor: Josângela Jesus. Agosto, 2006.

Foto 6: Entrada da Trilha da Samambaia

Autor: Sofia Oliveira. Agosto, 2006.

Observa-se que o potencial interpretativo da trilha está sendo bem aproveitado

através de placas e painéis. É interessante porque, desta forma, é também possível o

desenvolvimento da trilha auto-guiada. Entende-se, entretanto, a necessidade de uma

melhor preparação dos condutores, no sentido de que durante as trilhas seu trabalho

não seja apenas informativo, mas que possa ser rico com participação efetiva dos

visitantes, em interação com o ambiente desta forma podendo conciliar os objetivos de

educação ambiental com a satisfação do visitante.

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Foto 7: Placa indicando vegetação na Trilha da Samambaia

Autor: Vanice Selva. Março, 2006. Além do rico patrimônio natural, é importante que o condutor também leve em

consideração a cultura local, que é marcada fortemente por manifestações religiosas e

por lendas. Desta forma, é possível levar mensagens da importância da conservação

do patrimônio natural e cultural do local, de forma que o visitante venha a ter maior

respeito pela comunidade local.

Durante a visita às trilhas do Parque Nacional de Sete Cidades, percebeu-se

uma diferença significante no que diz respeito ao desenvolvimento de atividades de

uso público na UC. Apesar de possuir muitas placas em todas as cidades do Parque,

elas são feitas de materiais desarmônicos com o ambiente, em metal, que são mais

vulneráveis às intempéries do tempo (Foto 8). Desta forma, foi fácil verificar muitas

destas placas e painéis deteriorados, dificultando a leitura das informações e a

visualização de imagens.

Foto 8: Placa Interpretativa no Circuito das Cidades

Autor: Fabiana Firmino. Agosto, 2006.

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No estudo foi analisada a trilha realizada no Circuito das Cidades, onde o

visitante pode percorrer os vários conjuntos de formações rochosas, onde existem

sítios arqueológicos (Foto 9). O Parque possui um grande potencial interpretativo,

onde se pode utilizar tanto os recursos naturais, constituídos pelas formações

geológicas e pela rica e diversa vegetação característica de cerrado, caatinga e

floresta, como o patrimônio histórico-cultural, representado pelos sítios arqueológicos

e artesanato. Entretanto, as placas existentes se limitam a apresentar indicações de

caminhos e informações sobre os atrativos maiores, sítios arqueológicos e formações

rochosas, quando poderiam também aproveitar a riqueza da vegetação no percurso da

trilha e não apenas nos pontos onde se concentram os monumentos (Foto 10 e 11).

Foto 9: Monumentos naturais no PARNA Sete Cidades

Autor: Fabiana Firmino. Agosto, 2006.

Foto 10: Placa indicando atrativos Autor: Vanice Selva. Agosto, 2006.

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Os atrativos, em sua maioria, possuem uma ampla área para a concentração

dos visitantes, o que é ponto positivo para o desenvolvimento de interpretação. Além

disso, existem mirantes que possibilitam visões e abordagens mais abrangentes do

Parque, podendo o condutor ressaltar a importância do Parque como um todo. As

trilhas são conduzidas por condutores que são moradores de cidades vizinhas ao

Parque e fazem parte da Associação de condutores por eles criada Ecoturismo do

Meio Norte do Piauí.

Foto 11: Trilha realizada no Circuito das Cidades

Autor Fabiana Firmino. Agosto, 2006.

Ainda durante a visita, os condutores se mostraram como meros informadores,

o que, de certa forma, desestimula a experiência do visitante, que busca uma maior

interação com o ambiente local e seus moradores, uma vez que estes conhecem bem

melhor a localidade.

A pesquisa mostrou que enquanto o Parque Nacional de Ubajara está mais

preparado quanto à infra-estrutura física e sinalização de suas trilhas, apesar de os

recursos existentes no local poderem ser melhor aproveitados pelos condutores, as

trilhas do Parque Nacional de Sete Cidades possuem estrutura de sinalização em

precário estado de conservação e pouco eficientes para a interpretação dos atrativos,

restringindo-se aos atrativos em si e à indicação de caminhos, não sendo explorado o

caminho das trilhas com seus inúmeros recursos.

Desta forma, entende-se que seja importante o desenvolvimento de planos

interpretativos em ambos os parques, com enfoque no trabalho desenvolvido pelos

condutores, buscando valorizar o patrimônio natural e histórico-cultural do local, de

forma que tanto os visitantes quanto os gestores e condutores das trilhas interajam

com o ambiente e compreendam a importância de sua conservação assim como um

maior preparo dos condutores.

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Referências BARRETO, M. Planejamento e Organização em Turismo. São Paulo: Papirus, 1996. BRASIL. Lei n° 9.985 de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1°, incisos I, II, III e VI, da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras providências. Coletânea de legislação de direito ambiental e constituição federal. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004. BRASÍLIA. Decreto 45.954, de 30 de abril de 1959. Cria o Parque Nacional de Ubajara, no Estado do Ceará. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/siucweb/mostraDocLegal.php?seq_uc=9&seq_tp_documento=3&seq_finaliddoc=20>. Acesso em: 29 jul. 2006. BRASÍLIA. Decreto 50.744, de 8 de junho de 1961. Cria o Parque Nacional de Sete Cidades, integrante da Seção de Parques e Florestas Nacionais do Serviço Florestal, do Ministério da Agricultura. Disponível em: <http://www.ibama.gov.br/siucweb/mostraDocLegal.php?seq_uc=20&seq_tp_documento=3&seq_finaliddoc=7>. Acesso em: 29 jul. 2006 DIAS, R. Turismo sustentável e meio ambiente. São Paulo: Atlas, 2003. KRIPPENDORF, J. Sociologia do turismo: para uma nova compreensão do lazer e das viagens. São Paulo: Aleph, 2001. NAVEH, Z; LIEBERMAN, A. Landscape ecology: teory and application. New York: Springer-Verlog, 1994. PLANO de Manejo do parque Nacional de Ubajara. Documento Técnico n.7, 145 p. Brasília. 1981. IBDF/FBCN. RUSCHMANN, D. Turismo e planejamento sustentável: a proteção do meio ambiente. 10 ed. Campinas, SP: Papirus, 1997. SELVA, V. F.; COUTINHO, S. F. S.. Ecoturismo na Área de Proteção Ambiental –APA de Guadalupe: elementos para a interpretação ambiental em trilhas ecológicas. Anais do I Encontro Interdisciplinar de Ecoturismo. Rio de Janeiro, UERJ, 2005. VASCONCELOS, J. M. Interpretação ambiental. In: MITRAUD, Sylvia (Org.) Manual de ecoturismo de base comunitária: ferramentas para um planejamento responsável. Brasília: WWF Brasil, 2003.