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O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 38 Estudo Cinco: Esmirna: Uma Igreja Sofredora [ Apocalipse 2.8-11 ] Nas Escrituras a provação está diretamente ligada à força espiritual. “Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações... sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes (Tiago 1.2-4). O apóstolo Pedro encorajou os cristãos que sofriam com a verdade de que “Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar” (1Pe 5.10). As mais puras das graças cristãs são aquelas forjadas na fornalha da adversidade. 54 Embora os membros da igreja de Esmirna sofressem privação e pobreza, os eles agarravam-se às suas riquezas espirituais imensuráveis. Apropriadamente, a igreja de Esmirna é uma das duas igrejas (junto com Filadélfia) que não receberam nenhuma repreensão em sua carta do Senhor Jesus Cristo. O exemplo da igreja de Esmirna instrui todas as igrejas sobre como responder corretamente quando as perseguições aparecerem. A carta se desdobra em seis fases sucessivas: o correspondente, a igreja, a cidade, o elogio, a ordem e o conselho. I. O Correspondente (Ap 2.8) 8 Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver: Como era costume nas cartas antigas, o escritor se identifica no início da carta, em vez de assinar seu nome no final. Cada uma das sete mensagens começa com uma descrição pessoal ou designação de Jesus Cristo proveniente da visão do Senhor apresentada em Apocalipse 1 (1.12-20; cf. 1.18). O Senhor Jesus se identifica a igreja de Esmirna de duas formas, observe: “Estas coisas diz o primeiro e o último” O primeiro e o último é um título do Antigo Testamento relacionado a Deus (Is 44.6; 48.12; cf. 41.4), e sua aplicação aqui (e em 22.13) a Cristo afirma sua igualdade da natureza com Deus. Ele é o Deus eterno e infinito, que já existia quando todas as coisas foram criadas, e que continuarão a existir mesmo depois de terem sido destruídos. Ou seja, Jesus Cristo transcende o tempo, espaço e criação. 55 “... que esteve morto e tornou a viver” – Esta designação de Cristo, certamente levou conforto aos crentes perseguidos de Esmirna. Ele é aquele que morreu na cruz 54 MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (68). Chicago: Moody Press. 55 MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (68). Chicago: Moody Press.

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Como era costume nas cartas antigas, o escritor se identifica no início da carta, em vez de assinar seu nome no final. Cada uma das sete mensagens começa com uma descrição pessoal ou designação de Jesus Cristo proveniente da visão do Senhor apresentada em Apocalipse 1 (1.12-20; cf. 1.18). O Senhor Jesus se identifica a igreja de Esmirna de duas formas, observe: 8 Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver:

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O Livro de Apocalipse – Rev. Jocarli A. G. Junior

Igreja Presbiteriana em Tabuazeiro – 2010/2011 38

Estudo Cinco:

Esmirna: Uma Igreja Sofredora [ Apocalipse 2.8-11 ]

Nas Escrituras a provação está diretamente ligada à força espiritual. “Meus

irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações... sabendo

que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a

perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada

deficientes (Tiago 1.2-4). O apóstolo Pedro encorajou os cristãos que sofriam com a verdade de que “Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna

glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar,

fortificar e fundamentar” (1Pe 5.10). As mais puras das graças cristãs são aquelas forjadas na fornalha da adversidade.54

Embora os membros da igreja de Esmirna sofressem privação e pobreza, os eles agarravam-se às suas riquezas espirituais imensuráveis. Apropriadamente, a igreja de Esmirna é uma das duas igrejas (junto com Filadélfia) que não receberam nenhuma repreensão em sua carta do Senhor Jesus Cristo. O exemplo da igreja de Esmirna instrui todas as igrejas sobre como responder corretamente quando as perseguições aparecerem. A carta se desdobra em seis fases sucessivas: o correspondente, a igreja, a cidade, o elogio, a ordem e o conselho.

I. O Correspondente (Ap 2.8)

8 Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último,

que esteve morto e tornou a viver:

Como era costume nas cartas antigas, o escritor se identifica no início da carta, em vez de assinar seu nome no final. Cada uma das sete mensagens começa com uma descrição pessoal ou designação de Jesus Cristo proveniente da visão do Senhor apresentada em Apocalipse 1 (1.12-20; cf. 1.18). O Senhor Jesus se identifica a igreja de Esmirna de duas formas, observe:

“Estas coisas diz o primeiro e o último” – O primeiro e o último é um título do

Antigo Testamento relacionado a Deus (Is 44.6; 48.12; cf. 41.4), e sua aplicação aqui (e em 22.13) a Cristo afirma sua igualdade da natureza com Deus. Ele é o Deus eterno e infinito, que já existia quando todas as coisas foram criadas, e que continuarão a existir mesmo depois de terem sido destruídos. Ou seja, Jesus Cristo transcende o tempo, espaço e criação.55

“... que esteve morto e tornou a viver” – Esta designação de Cristo, certamente

levou conforto aos crentes perseguidos de Esmirna. Ele é aquele que morreu na cruz

54

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (68). Chicago: Moody Press. 55

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (68). Chicago: Moody Press.

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do Calvário, venceu a morte e está vivo. Sabendo que eles estavam enfrentando tempos difíceis, Cristo estava recordando-lhes que Ele transcende questões temporais, e, através de sua união com Ele, então, os fiéis de Esmirna poderiam enfrentar a morte nas mãos de seus perseguidores, ao lado do Único que venceu a morte (Hebreus 2.14) e que prometeu: “Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim,

ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente.

Crês isto?” (João 11.25-26).

II. A Igreja (2.8a) 8 Ao anjo da igreja em Esmirna...

A Escritura não registra a fundação da igreja de Esmirna, nem mesmo a cidade é

mencionada no livro de Atos. Tudo o que é revelado sobre esta congregação está contido nessa carta. É possível que uma igreja tenha sido plantada em Esmirna durante o ministério de Paulo em Éfeso (Atos 19.10), quer pelo próprio Paulo, ou por seus convertidos.

Além disso, provável também, que alguns judeus devotos da província da Ásia que estiveram na festa de Pentecostes quando o Espírito Santo foi derramado (At 2.9), poderiam ter saído de Esmirna e na volta levado o evangelho a sua cidade natal.

No final do primeiro século, a vida era muito difícil e perigosa para a igreja de Esmirna. A cidade era aliada de Roma. Na realidade, Esmirna era um viveiro de adoração ao imperador. Sob o Imperador Domiciano, era considerado crime capital se recusar a oferecer o sacrifício anual ao imperador. Não surpreendentemente, muitos cristãos enfrentavam execuções. O mais famoso dos mártires foi um bispo chamado Policarpo, que foi executado que em 23 de fevereiro de 155 devido a sua recusa de negar o nome de Jesus.56

A palavra grega traduzida como “Esmirna” era usada na Septuaginta57 para traduzir a palavra hebraica “mirra”, uma substância resinosa utilizada como um perfume para os vivos (Mt 2.11) e para os mortos (João 19.39 ).58 Como a mirra, que era produzida por meio de esmagamento, a igreja de Esmirna, era esmagada pela perseguição, e assim exalava um aroma perfumado de fidelidade a Deus. Em Esmirna, os crentes amavam a Jesus e permaneceram fiéis a Ele mesmo em meio as mais terríveis provações. Ao contrário da igreja de Éfeso que houve um declínio no amor por Jesus Cristo.

56

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 164. 57

Versão do AT para o grego, feita entre 285 e 150 a.C. em Alexandria, no Egito, para os muitos judeus que ali moravam e que não conheciam o hebraico. O nome “Septuaginta” vem, segundo a lenda, dos setenta ou setenta e dois tradutores que a produziram. Sociedade Bíblica do Brasil. (2005). Bíblia de Estudo Nova Tradução na Linguagem de Hoje. 58

A palavra mirra (grego smyrna) aparece no Novo Testamento como um dos presentes preciosos que os homens sábios do Oriente levaram a Jesus e como um ingrediente usado no processo de embalsamamento que Nicodemos levou ao túmulo de Jesus (Mt 2.11; Jo 19.30; ver também Êx 30.23; Sl 45.8; Ct 5.5, 13).

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É confortante saber que enquanto os cristãos da igreja de Esmirna estavam experimentando a amargura do sofrimento, o seu testemunho fiel era como mirra, um perfume agradável a Deus.59

III. A Cidade (2.8b)

8 Ao anjo da igreja em Esmirna...

Esmirna era uma cidade antiga, cujas origens remontam a 3000 a.C. No entanto,

no fim do século VII, a cidade foi destruída pelos Lídios e permaneceu em ruínas durante mais de três séculos, até que dois sucessores de Alexandre, o Grande, reconstruíram a cidade em 290 a.C. 60

Era a cidade mais fiel a Roma – A cidade de Esmirna era uma aliada

incondicional de Roma. Já em 195 a.C., ela edificou um templo a Dea Roma, a deusa de Roma. Em 26 d.C., ela dedicou um templo ao imperador Tibério e se gabava de ser a principal no culto ao imperador. Essa jactância agradou aos administradores romanos, os quais fomentavam a paz e a unidade que caracterizavam o espírito de Roma por todo o império.61 E quando um terremoto destruiu a cidade no final do segundo século, o imperador Marcus Aurelius mandou reconstruí-la.

Era uma cidade rica – Esmirna tornou-se uma das cidades mais prósperas da Ásia

Menor. Era o porto natural da antiga rota de comércio através do vale Hermus, e seus arredores eram muito férteis.62

Embora Éfeso e Pérgamo se igualem ou superem em importância política e econômica, Esmirna era a cidade mais bela da Ásia. Sob o império, a idade tornou-se famosa por sua beleza e pela imponência dos seus edifícios públicos. É hoje conhecida como Izmir, a segunda maior cidade da Turquia asiática.63 Ela está localizada em um golfo do Mar Egeu e, ao contrário de Éfeso, possuía um excelente porto. Esmirna também lucrava com a sua localização no extremo oeste da estrada que percorria o rico vale do rio Hermus. Além da beleza natural ao seu entorno, a cidade em si foi bem desenhada. Ela se estendia desde a baía até as encostas dos Pagos, uma colina coberta de grandes templos e outros edifícios públicos. Em uma extremidade, o templo de Cibele, e no outro o templo de Zeus. Entre foram os templos de Apolo, Asclépio, e Afrodite.64

Era uma cidade que possuía o “trono de Satanás” – A população judaica de

Esmirna era de bom tamanho, pois são mencionados como uma força que se opunha

59

Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1983-c1985). The Bible knowledge

commentary : An exposition of the scriptures (2:934). Wheaton, IL: Victor Books. 60

Elwell, W. A., & Comfort, P. W. (2001). Tyndale Bible dictionary. Tyndale reference library (1207). Wheaton, Ill.: Tyndale House Publishers. 61

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 166. 62

Wood, D. R. W. (1996, c1982, c1962). New Bible Dictionary (1114). InterVarsity Press. 63

Wood, D. R. W. (1996, c1982, c1962). New Bible Dictionary (1114). InterVarsity Press. 64

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (70). Chicago: Moody Press.

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hostilmente à igreja local. Caluniavam os primeiros crentes, denominando-se judeus, mas na realidade pertenciam à sinagoga de Satanás, e moviam perseguição contra os seguidores de Cristo (v. 9, 10). Os judeus se consideravam o genuíno povo de Deus, os filhos da promessa, o povo da aliança, mas ao rejeitarem o Messias e perseguirem a igreja de Deus, transformaram-se em Sinagoga de Satanás (Rm 2.28-29).

Além disso, os judeus eram ricos e menosprezavam os pobres. Conforme Simon Kistemaker, enquanto os membros da igreja de Esmirna eram acossados pela pobreza, os judeus tinham riquezas. Segundo uma inscrição do segundo século, os judeus de uma só vez doaram a soma de dez mil denários65 para um projeto de embelezamento da cidade de Esmirna.66

IV. O Elogio (2.9)

9 Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que

a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás.

Nada escapa à visão do Senhor glorioso da igreja de Esmirna, que conhece cada

detalhe sobre as igrejas sob seu cuidado. Ele começou Seu louvor aos crentes, assegurando-lhes que Ele sabia de suas tribulações. A palavra tribulação (Thlipsis, em grego), literalmente significa “pressão”, e é uma palavra comum no Novo Testamento para perseguição ou tribulação. A igreja de Esmirna estava enfrentando intensa pressão por causa de sua fidelidade a Jesus Cristo. Há três razões para tal hostilidade, vejamos:

Primeiro, Esmirna havia sido fanaticamente dedicada a Roma por vários

séculos. Os cidadãos de Esmirna ofereceram voluntariamente a adoração ao imperador Domiciano que acabou exigindo de seus súditos em todos os lugares. Porém, os cristãos se recusaram a oferecer sacrifícios e adorá-lo. Tal recusa fez com que eles fossem reconhecidos como rebeldes e, assim, enfrentassem a ira do governo romano.

Em segundo lugar, os cristãos se recusaram a participar na religião pagã. Como

mencionado acima, Esmirna adorava uma eclética mistura de deuses, incluindo Zeus, Apolo, Afrodite, Asclépio, e, especialmente, Cibele. Os cristãos, ao rejeitarem o panteão pagão dos ídolos, juntamente com o seu culto a um Deus invisível, foram denunciados como ateus. Grande parte da vida social girava em torno dos cultos pagãos de Esmirna e os cristãos eram vistos como elitistas anti-sociais por se recusarem a participar.

Finalmente, os crentes em Esmirna enfrentaram blasfêmia dos que se dizem

judeus e não eram, mas era a sinagoga do grande blasfemador, Satanás. Essa chocante declaração que afirmava que os judeus que odiavam e rejeitaram a Jesus Cristo eram seguidores de Satanás como muitos adoradores de ídolos pagãos (cf. João

65

Moeda romana. Correspondia ao salário de um dia de trabalho. Mt 20.2; Mc 6.37; Jo 6.7. 66

Ramsay, Letters to the Seven Churches, pp. 272, 444 n. 3; William Barclay, The Revelation of John, 2ª ed. (Filadélfia: Westminster, 1960), 1.92.

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8.44). O uso do termo “blasfêmia” por Jesus, geralmente é reservado para palavras hostis contra Deus, indica calúnia, maldade, intensidade e gravidade.

Os judeus incrédulos comumente acusavam os cristãos de canibalismo (baseado no engano da Ceia do Senhor), de imoralidade (baseado em uma perversão do ósculo santo com o qual se cumprimentavam os fiéis; cf Rm 16.16; 1Coríntios 1.16.20; 2Coríntios 13.12 20; 1Ts 5.26), destruidores de lares (quando um dos cônjuges se tornava um cristão, muitas vezes causava conflitos, cf. Lucas 12.51-53), e rebelião (porque os cristãos se recusavam a oferecer os sacrifícios necessários para o imperador). Com a esperança de destruir a fé cristã, alguns de Esmirna eram ricos, influentes judeus relatavam estes blasfemos, com falsas acusações para os romanos. Estes inimigos do evangelho eram uma sinagoga de Satanás, ou seja, eles se reuniam para planejar seu ataque à igreja, fazendo assim a vontade de Satanás.67 Eles poderiam dizer que eram uma sinagoga de Deus, mas eles eram exatamente o oposto.

Mas, o Senhor não conhecia apenas a perseguição que a igreja de Esmirna

enfrentava, mas também conhecia a sua pobreza. Em contraste com seu sinônimo penēs, o que denota aqueles que lutam para

satisfazer suas necessidades básicas, (a pobreza), Jesus pronunciou a palavra ptocheia, mendigos, aqueles que não vivem por seu próprio trabalho, mas dependem das esmolas dos outros (cf. Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament [reprint; Grand Rapids: Eerdmans, 1983], 128–29). Muitos dos crentes em Esmirna eram escravos, a maioria era miserável. Aqueles poucos que tinham posses, sem dúvida, perderam na perseguição.

A igreja de Esmirna tinha todas as razões, humanamente falando, para entrar em colapso. Em vez disso, manteve-se fiel ao seu Senhor, nunca (ao contrário de Éfeso), permitiu que seu amor esfriasse. Por essa razão, Jesus disse: “tu és rico”. Aqueles cristãos eram ricos! Viviam em função dos valores eternos imutáveis, de riquezas que jamais poderiam lhes ser tirados. Eles tinham o que realmente importava, a salvação, santidade, graça, paz, comunhão, o Salvador e Consolador. A igreja de Esmirna foi a igreja materialmente pobre, mas rica espiritualmente, em contraste com a igreja de Laodicéia, que era materialmente rica, mas espiritualmente pobre (cf. 3.17).

V. A Ordem (2.10)

10

Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em

prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez

dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.

Depois de elogiá-los por sofrerem a perseguição fielmente, Jesus advertiu os

crentes sobre outras perseguições. Antes de especificar a sua natureza, ordenou-lhes que não temessem o que eles estavam prestes a sofrer. Ele lhes daria força para suportá-las. Como Ele disse a seus discípulos em João 16.33: “No mundo tereis aflições,

mas tenham bom ânimo, eu venci o mundo”. Assim, os crentes que sofrem nesse

67

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (72). Chicago: Moody Press.

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rebanho poderiam dizer com Davi, “neste Deus ponho a minha confiança e nada

temerei. Que me pode fazer o homem?” (Sl 56.11). Especificamente, o Senhor previu que o diabo estava prestes a lançar alguns

deles na prisão. O Propósito de Deus em permitir a prisão, era para que eles pudessem ser provados. O julgamento iria revelar a realidade de sua fé, iria fortalecê-los (cf. 2 Coríntios 12.9-10) e provar mais uma vez que Satanás não pode para destruir uma fé salvadora genuína.

Deus, o único que soberanamente controla todas as circunstâncias da vida, não

permitiria que Satanás atormentasse a igreja de Esmirna por muito tempo. Ele garante que conhece os planos de Satanás e está inteiramente no controle da situação. Alguns cristãos seriam presos e julgados como traidores de Roma. Contudo, sua tribulação não seria longa; na Bíblia, a expressão “dez dias” significa “por pouco tempo” ou “alguns dias” (Gn 24.55; At 25.6). No Apocalipse, o número dez comunica o significado de plenitude no sistema decimal. É um número simbólico para expressar a completude do período de sofrimento, o qual nem é longo nem curto, mas completo, pois seu término é certo.68

VI. O Conselho (2.11)

11 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de

nenhum modo sofrerá dano da segunda morte.

Como observado anteriormente, Cristo não censura os fiéis de Esmirna. Ele

termina a carta com palavras de encorajamento. Aqueles que comprovam a autenticidade da sua fé, permanecendo fiéis ao Senhor até a morte receberam como recompensa a coroa (stephanos; coroa do vencedor) da vida (cf. Tg 1.12). A coroa (a recompensa) de uma genuína fé salvadora é a vida eterna, e a perseverança comprova a autenticidade da sua fé em suportar o sofrimento. As Escrituras ensinam que os verdadeiros cristãos irão perseverar.69

Como mencionado anteriormente no estudo 4, a frase “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” fecha cada uma das sete cartas. Enfatiza mais uma vez a obra do Espírito Santo na comunicação da mensagem de Cristo às igrejas. É interessante observar que esta carta não é endereçada apenas à congregação de Esmirna, mas a todas as igrejas, de modo que a carta, juntamente com as outras, constitui uma mensagem universal.

Além disso, ao vencedor é dada a promessa de não ser afetado pela segunda morte. A primeira morte significa o falecimento físico; a segunda morte é a eterna separação de Deus (ver 20.6, 14; 21.8). Os santos podem sofrer morte física nas mãos dos perseguidores, mas nunca serão separados de Deus. À guisa de contraste, os

68

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 169. 69

MacArthur, J. (1999). Revelation 1-11 (78). Chicago: Moody Press.

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descrentes serão lançados no lago de fogo (20.14) e sofrerão morte eterna. Isso significa que não experimentarão aniquilamento, mas castigo que jamais terá fim.70

Conclusão: Ao final deste estudo é possível observar que não há qualquer palavra de

acusação contra a igreja de Esmirna! Os crentes daquela igreja não receberam a aprovação dos homens idólatras, mas receberam o louvor de Deus. Além do mais, o Senhor Jesus, lhes concede uma admoestação solene diante do sofrimento crescente: “Não temas!”

O Senhor reitera a promessa dada por Tiago (Tg 1.12) e garante a seu povo que não há motivo para medo. Uma vez que creram nele, eram vencedores - vitoriosos na corrida da fé (Hb 12.1-3) e, como vencedores, não precisavam temer coisa alguma. Mesmo martirizados, seriam levados à glória usando coroas! Estavam livres de uma vez por todas do julgamento terrível da segundo morte, o lago de fogo (Ap 20.14; 21:8).

Que consolo refulgente é saber que, embora o mundo diga que somos apenas “pobres cristãos”, aos olhos de Deus somos ricos. Louvado seja Deus!

70

KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento, Apocalipse. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 170.