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ESTRUTURA GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE Euterpe edulis MART. SUBMETIDAS À AÇÃO ANTRÓPICA UTILIZANDO MARCADORES ALOZÍMICOS E MICROSSATÉLITES RUDIMAR CONTE Tese apresentada à Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, para obtenção do título de Doutor em Agronomia, Área de Concentração: Genética e Melhoramento de Plantas. P I R A C I C A B A Estado de São Paulo – Brasil Fevereiro - 2004

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ESTRUTURA GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE Euterpeedulis MART. SUBMETIDAS À AÇÃO ANTRÓPICA

UTILIZANDO MARCADORES ALOZÍMICOS EMICROSSATÉLITES

RUDIMAR CONTE

Tese apresentada à Escola Superior de Agricultura“Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, paraobtenção do título de Doutor em Agronomia, Área deConcentração: Genética e Melhoramento de Plantas.

P I R A C I C A B AEstado de São Paulo – Brasil

Fevereiro - 2004

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ESTRUTURA GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE Euterpeedulis MART. SUBMETIDAS À AÇÃO ANTRÓPICA

UTILIZANDO MARCADORES ALOZÍMICOS EMICROSSATÉLITES

RUDIMAR CONTE

Engenheiro Agrônomo

Orientador: Prof. Dr. ROLAND VENCOVSKY

Tese apresentada à Escola Superior de Agricultura“Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, paraobtenção do título de Doutor em Agronomia, Área deConcentração: Genética e Melhoramento de Plantas.

P I R A C I C A B AEstado de São Paulo – Brasil

Fevereiro - 2004

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

DIVISÃO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO - ESALQ/USP

Conte, Rudimar Estrutura genética de populações de Euterpe edulis Mart. submetidas à ação

antrópica utilizando marcadores alozímicos e microssatélites / Rudimar Conte. - - Piracicaba, 2004.

124 p. : il.

Tese (doutorado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2004. Bibliografia.

1. Deriva genética 2. Endogamia 3. Exploração florestal 4. Marcador molecular 5.Melhoramento genético vegetal 6. Palmito (extração) 7. Populações vegetais 8. Seleção natural 9. Variação genética I. Título

CDD 634.6

“Permitida a cópia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte – O autor”

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À minha esposa Lourdes BernardeteAos nossos filhos que virão

Aos nossos pais e irmãos

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram nodesenvolvimento deste trabalho. Em especial:

Ao Prof. Dr. Roland Vencovsky, pela orientação, amizade e, sobretudo, pelahumildade no repasse de seus conhecimentos;

Ao Prof. Dr. Maurício Sedrez dos Reis, pela co-orientação, amizade e apoiofinanceiro na geração dos dados deste trabalho;

Ao Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento de Plantas,ESALQ/USP, pela oportunidade deste aperfeiçoamento;

Ao Laboratório de Fisiologia do Desenvolvimento e Genética Vegetal,CCA/UFSC, pela infraestrutura concedida ao desenvolvimento deste trabalho;

À CAPES, pela concessão da bolsa de doutorado;Aos colegas do Núcleo de Pesquisas em Florestas Tropicais, Juliano, Diogo,

Ricardo, Cristiano, Ângelo, Marcelo e Camila, pela ajuda nos trabalhos de campo;Aos estimados colegas da Esalq, Bira, Farias, Vanderlei, Rodrigo, Fernando,

Fred, Fábia, Eulália, Adalgisa, Clideana, Karina, Dyeme, Branco, Michel, Adriano,Ebert, Éder e Paulo pela grande amizade e convívio ao longo deste período;

Aos demais colegas de pós-graduação, professores e funcionários doDepartamento de Genética, pelos ensinamentos, convívio e amizade;

À minha esposa, Lourdes Bernardete, pelo apoio e paciência com a minhadisciplina no desenvolvimento deste trabalho;

Aos meus pais, Ricardo e Amélia, e irmãos, pelo apoio durante toda minhaformação pessoal e profissional;

Às demais pessoas que, de alguma forma, contribuíram neste trabalho.

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SUMÁRIOPágina

RESUMO......................................................................................................... viSUMMARY..................................................................................................... viii1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 12 REVISÃO DE LITERATURA.................................................................... 52.1 Características da espécie.......................................................................... 52.2 Exploração e manejo sustentável de Euterpe edulis.................................. 82.3 Sistema de reprodução em espécies vegetais............................................ 112.4 Variabilidade e estrutura genética de populações..................................... 142.5 Tamanho efetivo populacional, deriva e endogamia................................. 202.6 Marcadores genéticos................................................................................ 252.6.1 Marcadores alozímicos........................................................................... 272.6.2 Marcadores microssatélites..................................................................... 313 EFEITOS DO MANEJO NA ESTRUTURA GENÉTICA DEPOPULAÇÕES DE Euterpe edulis MART., COM BASE NAVARIABILIDADE DE LOCOS MICROSSATÉLITES................................ 35Resumo............................................................................................................ 35Summary.......................................................................................................... 363.1 Introdução.................................................................................................. 373.2 Material e métodos.................................................................................... 393.2.1 Populações, amostragem e extração de DNA......................................... 393.2.2 Amplificação dos locos SSR.................................................................. 423.2.3 Análise estatística................................................................................... 433.3 Resultados................................................................................................. 443.3.1 Variabilidade genética intrapopulacional............................................... 443.3.2 Estrutura genética................................................................................... 483.4 Discussão................................................................................................... 51

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v

3.5 Conclusões................................................................................................. 564 ESTRUTURA GENÉTICA E SISTEMA REPRODUTIVO DEPOPULAÇÕES DE Euterpe edulis MART. AVALIADOS COMMARCADORES MICROSSATÉLITES E ISOENZIMAS............................ 58Resumo............................................................................................................ 58Summary.......................................................................................................... 594.1 Introdução.................................................................................................. 604.2 Material e métodos.................................................................................... 634.2.1 Populações e sistema de amostragem..................................................... 634.2.2 Eletroforese de isoenzimas e amplificação dos locos microssatélites.... 644.2.3 Análise estatística................................................................................... 654.3 Resultados.................................................................................................. 674.3.1 Polimorfismo de marcadores.................................................................. 674.3.2 Variabilidade genética intrapopulacional............................................... 684.3.3 Estrutura genética................................................................................... 714.3.4 Sistema reprodutivo................................................................................ 734.4 Discussão................................................................................................... 774.5 Conclusões................................................................................................. 825 TAMANHO EFETIVO EM POPULAÇÕES DE Euterpe edulisMART.: CONSEQÜÊNCIAS DO MANEJO................................................. 84Resumo............................................................................................................ 84Summary.......................................................................................................... 855.1 Introdução.................................................................................................. 865.2 Material e métodos.................................................................................... 885.2.1 Locais de estudo e sistema de amostragem............................................ 885.2.2 Análise genética...................................................................................... 895.2.3 Análise estatística................................................................................... 905.3 Resultados.................................................................................................. 915.3.1 Polimorfismos e níveis de endogamia nas populações........................... 915.3.2 Tamanho efetivo populacional............................................................... 925.4 Discussão................................................................................................... 955.5 Conclusões................................................................................................. 986 CONCLUSÕES GERAIS............................................................................. 99REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 101

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ESTRUTURA GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE Euterpe edulis MART.

SUBMETIDAS À AÇÃO ANTRÓPICA UTILIZANDO MARCADORES

ALOZÍMICOS E MICROSSATÉLITES

Autor: RUDIMAR CONTE

Orientador: Prof. Dr. ROLAND VENCOVSKY

RESUMO

O palmiteiro (Euterpe edulis Mart.) é uma espécie nativa da Mata Atlântica

cujas populações naturais encontram-se degradadas pelo extrativismo. Considerando a

escassez de informações relativas às conseqüências genéticas da exploração de palmito,

o objetivo deste estudo foi avaliar o impacto do processo de exploração sobre os níveis

de diversidade, estrutura genética e tamanho efetivo de populações da espécie. Também

foram estudados aspectos genéticos do recrutamento de plantas e o sistema reprodutivo

da espécie. O estudo foi realizado em duas localidades do Estado de Santa Catarina, nos

municípios de São Pedro de Alcântara e Ibirama. Em cada localidade foram escolhidas

duas áreas de ocorrência natural de E. edulis, uma sem influência antrópica e outra que

sofreu exploração de palmito, totalizando quatro populações. Os sistemas de exploração

foram: (i) extrativismo - onde todos os indivíduos acima de 2 m de altura são cortados,

incluindo plantas reprodutivas; and (ii) manejo - onde somente indivíduos acima de 9 cm

de DAP são cortados, com a manutenção de 50 plantas reprodutivas por hectare. Em

cada população foram examinadas plântulas, jovens e adultos, usando oito locos

microssatélites e dez locos alozímicos. Os resultados revelaram que a espécie sereproduz por alogamia ( mt = 0,996 para microssatélites e mt = 1,000 para isoenzimas),

porém a ocorrência de cruzamentos entre indivíduos aparentados (até 5%) e cruzamentos

biparentais (10%) indica a ocorrência de cruzamentos não aleatórios. Em locos

alozímicos, observaram-se as seguintes amplitudes de variação das estimativas de

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diversidade entre as categorias: A : 3,05 a 3,15; eH : 0,416 a 0,431; oH : 0,378 a 0,403.

Em locos microssatélites, a variação observada foi a seguinte: A : 14,12 a 14,72; eH :

0,781 a 0,785; oH : 0,678 a 0,709. Nas populações não exploradas, houve um aumento

na freqüência de heterozigotos na direção do estádio adulto, o que sugere a ação da

seleção favorecendo o aumento de heterozigotos. Valores altos e significativos do índicede fixação ( f ) foram observados, especialmente nos marcadores microssatélites,

indicando desvios do equilíbrio de Hardy-Weinberg. De modo geral, ambos osmarcadores revelaram um aumento dos valores de f nas populações exploradas,especialmente entre as plântulas. As estimativas STG e STR não revelaram alterações na

estrutura genética das populações exploradas e demostraram uma divergência genética

inferior a 5% na maioria das comparações aos pares, em ambos os marcadores. Otamanho efetivo ( eN ) dos indivíduos adultos por hectare foi superior a 110 nas

populações não pertubadas, enquanto nas populações exploradas, o tamanho efetivo por

hectare foi reduzido para 45, sob manejo, e 14, sob extrativismo. Porém, o tamanho

efetivo total das populações exploradas ainda é elevado, o que explica a manutenção dos

altos níveis de diversidade nessas populações. Finalmente, a informação genética

conjunta desses marcadores demonstrou que os efeitos da exploração foram pouco

pronunciados até o momento em relação aos níveis de diversidade e estrutura genética

das populações de E. edulis. Entretanto, a redução da população de cruzamentos resultou

em alterações no comportamento reprodutivo dos indivíduos, promovendo um aumento

nos níveis de endogamia nas coortes mais jovens das populações exploradas. Contudo,

os resultados obtidos neste estudo indicaram questões adicionais a serem estudadas. Em

função do elevado nível de variabilidade dos locos microssatélites observado em E.

edulis, recomenda-se aumentar o tamanho das amostras visando otimizar a informação

genética proporcionada por esses marcadores. Além disso, novos estudos são

necessários sobre os efeitos do manejo tecnificado, uma vez que os resultados obtidos

podem ter sido influenciados por outros eventos de exploração ocorridos no passado e

pelas populações existentes nas proximidades devido ao elevado fluxo gênico da

espécie.

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GENETIC STRUCTURE OF Euterpe edulis MART. POPULATIONS

SUBMITTED TO HUMAN EXPLOITATION USING ALLOZYMIC AND

MICROSATELLITE MARKERS

Author: RUDIMAR CONTE

Adviser: Prof. Dr. ROLAND VENCOVSKY

SUMMARY

Heart-of-palm tree (Euterpe edulis Mart.; Arecaceae) is a native species of the

Atlantic forest whose natural populations are degraded by extractivism. Regarding the

relative scarcity of information on the genetic consequences of palm heart exploitation,

the aim of this study was to investigate the effects of two exploitation systems -

extractivism and management - on the levels of variability, genetic structure and

effective size of Euterpe edulis Mart. populations. We also investigated genetic aspects

of the plant recruitment and the reproductive system of the species. Four natural

populations of E. edulis with different histories of disturbance were surveyed in the

districts of São Pedro de Alcântara and Ibirama, Santa Catarina, Brazil. At both sites, we

sampled an undisturbed and an exploited population. The exploitation systems were: (i)

extractivism - where most individuals higher than 2 m are harvested, including

reproductive plants; and (ii) management - where only individuals with more than 9 cm

of DBH are harvested, with the maintainance of 50 reproductive plants per ha. Three

categories of plants, from seedlings to adults, were examined using eight microsatellite

loci and ten allozyme loci. Results demonstrated the preferentially allogamic behaviour

of the species ( mt = 0.996 for microsatellites and mt = 1.000 for allozymes), but the

occurrence of matings among related individuals (5%) and biparental matings (10%)

indicated the existence of non-random matings in this species. For allozymic loci, the

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following diversity estimates were obtained among the categories: A : 3.05 to 3.15; eH :

0.416 to 0.431; oH : 0.378 to 0.403. For microsatellites, the estimates were as follows:

A : 14.12 to 14.72; eH : 0.781 to 0.785; oH : 0.678 to 0.709. In undisturbed populations,

there was an increase in heterozygote frequency towards the adult stages, suggesting the

action of natural selection favouring such heterozygote increase. Highly significant

values of fixation index ( f ) were observed, mainly at microsatellite loci, indicating

departures from Hardy-Weinberg expectation. Both markers displayed an increase of f

values in the exploited populations, especially for seedlings. The estimates of

interpopulation genetic variation ( STG ; STR ) revealed that more than 95% of the

molecular genetic variability of the species is distributed within populations, and there

was no evidence of changes in genetic structure of the exploited populations. Effective

size ( eN ) per hectare of the adult individuals was higher than 110 in the two undisturbed

populations, while in the exploited populations the effective size per hectare was

reduced to 45 under management, and 14 under extractivism. However, the total

effective size of the exploited populations was still high, which explains the maintenance

of high diversity levels in these populations. Finally, the genetic information from both

markers displayed small pronounced effects of the exploitation process on variability

and population genetic structure of E. edulis, with the exception of an increase in the

inbreeding levels among seedlings and juveniles of the exploited populations. However,

our results raised further questions for study. Because of the hypervariability of

microssatellite loci used in this work, we would recommend an increase in the sample

size (>100) in order to optimize the genetic information provided by these markers.

Moreover, new investigations are necessary on the effects of management, since the

results from this study could have been influenced by other exploitation events that have

occurred in the past and by the existence, due to the high gene flow of the species, of

surrounding undisturbed populations.

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1 INTRODUÇÃO

O palmiteiro (Euterpe edulis Mart.) é uma palmeira nativa do Domínio da

Floresta Tropical Atlântica do Brasil. Considerando as principais referências (Klein,

1974; Pedrosa Macedo, 1973; Carvalho, 1993 e Reis et al., 2000a), sua área de

ocorrência se estende desde o Sul da Bahia (15° S) até o Norte do Rio Grande do Sul

(30° S) no litoral, adentrando, no Sul, até o Leste do Paraguai e Norte da Argentina (57°

W).

O palmito proveniente desta espécie, também conhecido por ençarova, juçara

ou içara, é um dos mais importantes produtos não madeiráveis explorados na Floresta

Atlântica. Originalmente o palmiteiro era extraído num processo com retorno a cada área

no médio ou longo prazo. Mas a pressão da produção industrial de palmito introduziu a

extração intensiva e em larga escala. A abundância de palmiteiros no subbosque da Mata

Atlântica, a forte demanda pelo produto, e a facilidade inicial da exploração e

processamento ofereceram suporte para a rápida proliferação de fábricas de palmito em

conserva, com conseqüente intensificação da exploração (Reis & Guerra, 1998).

Essa superexploração do palmiteiro, denunciada desde muito cedo,

comprometeu a sua regeneração natural a ponto de eliminar a espécie em vastas áreas do

Domínio da Mata Atlântica (Klein, 1974; Nodari & Guerra, 1986 e Batista et al., 2000).

Este fato, aliado ao processo de exploração madeireira e expansão das áreas agrícolas,

promoveu alterações significativas nas populações naturais desta espécie. Conforme

Reis et al. (2000a) a disponibilidade atual do palmiteiro no Brasil está restrita à

formação Ombrófila Densa, especialmente nas encostas da Serra do Mar, em reservas

(áreas privadas ou Unidades de Conservação públicas e privadas) localizadas nas regiões

de mais difícil acesso.

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As potencialidades e possibilidades de manejo sustentável para o palmiteiro têm

sido bastante estudadas pelo Núcleo de Pesquisas em Florestas Tropicais (NPFT) da

Universidade Federal de Santa Catarina (Nodari et al., 1987; Fantini et al., 1992, 1997;

Reis et al., 1989, 1994, 1998, 1999 e 2000c). Apesar dos aspectos biológicos,

tecnológicos e econômicos da realização de manejo sustentável de populações da

espécie estarem bem fundamentados, outros aspectos como a legislação, o fator preço e

a cultura do extrativismo ainda se mostram como entraves, (Reis, 2001). A produção

clandestina de palmito, que inclui a exploração excessiva e o roubo, e o seu posterior

processamento e comercialização ilegais, impõem fortes restrições à adoção de práticas

de manejo, colocando em risco os atuais remanescentes da espécie (Fantini et al., 2000).

A necessidade de conservação, manejo e recuperação de populações degradadas

requer uma abordagem que envolva não somente os aspectos demográficos e ecológicos,

mas também a genética de populações. O enfoque genético, através da caracterização da

estrutura genética e do tamanho efetivo, em populações com diferentes níveis de

intervenção antrópica, constitui uma ferramenta adequada para ser utilizada neste tipo de

estudo (Kageyama, 1987; Moran et al., 1989; Hall et al., 1996 e Nason et al., 1997).

Nas últimas décadas vêm-se intensificando os estudos genéticos em populações

de espécies arbóreas de florestas tropicais, com amostragens adequadas tanto de

populações como dentro das mesmas, além do uso de tecnologias genéticas adequadas

para quantificar essa diversidade. Esse acúmulo de dados vem apontando algumas

direções importantes para se tomar como referência para as ações de minimização dos

impactos ambientais nesses ecossistemas. Estudos genético-ecológicos em espécies

representativas, tanto em florestas não perturbadas como em matas secundárias, vêm

mostrando o efeito das ações antrópicas em suas populações, auxiliando na definição dos

parâmetros genéticos mais adequados para orientar e monitorar as ações nesses

ecossistemas (Kageyama et al., 1998).

Neste aspecto, os marcadores genéticos têm sido ferramentas bastante

adequadas no monitoramento e avaliação das conseqüências genéticas da exploração

florestal (Young et al., 1993; Ballal et al., 1994; Young & Merriam, 1994; Murawski et

al., 1994; Hall et al., 1996; Nason et al., 1997; Nason & Hamrick, 1997; Aldrich et al.,

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1998; Dayanandan et al., 1999; Sebbenn et al., 2000 e Collevatti et al., 2001a,b). Na

grande maioria desses trabalhos os marcadores empregados têm apontado perdas de

diversidade, aumento nos níveis de endogamia e alterações na estrutura genética das

populações exploradas.

Entre os diversos marcadores genéticos existentes, os marcadores alozímicos e

microssatélites possuem um mecanismo de herança mendeliana e apresentam expressão

codominante, o que permite identificar os genótipos heterozigóticos e homozigóticos dos

indivíduos analisados e constitui, em geral, na informação necessária para a estimativa

dos diversos parâmetros genéticos de interesse (Ferreira & Grattapaglia, 1998;

Grattapaglia, 2001 e Souza, 2001). A diferença mais importante entre as duas categorias

de marcadores refere-se aos seus respectivos níveis de polimorfismo. Os marcadores

microssatélites são muito mais polimórficos do que as isoenzimas em populações

naturais, com mais alelos, e heterozigosidades geralmente superiores a 0,5 (Estoup et al.,

1998). Em populações naturais, alguns estudos relataram resultados divergentes nas

comparações desses marcadores, embora os microssatélites tenham sido apontados como

mais informativos na estimação de parâmetros genéticos populacionais (Streiff et al.,

1998; Estoup et al., 1998 e Gao et al., 2002).

Neste contexto e, considerando a escassez de informações relativas às

conseqüências genéticas da exploração de palmito em populações naturais de Euterpe

edulis Mart., este trabalho teve como principais objetivos:

1. Quantificar os níveis de variabilidade genética em populações naturais da espécie

com diferentes níveis de ação antrópica, empregando marcadores alozímicos e

microssatélites;

2. Avaliar o impacto do processo de exploração (extrativismo x manejo) da espécie em

relação à variabilidade, estrutura genética e tamanho efetivo populacional;

3. Comparar a informação genética gerada pelos marcadores alozímicos e

microssatélites na estimação de parâmetros genéticos populacionais da espécie;

E, em uma outra perspectiva:

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4. Determinar o sistema de cruzamento em populações naturais da espécie, com base

em marcadores alozímicos e microssatélites;

5. Avaliar a existência de seleção que leve a aumento de heterozigotos no recrutamento

de plantas.

O estudo teve como base as seguintes hipóteses:

1. O processo de exploração florestal promove redução na variação genética, aumento

nos níveis de endogamia e conseqüente alteração na estrutura genética das

populações naturais da espécie;

2. Os marcadores microssatélites, devido ao seu alto nível de polimorfismo, são mais

informativos para estimação de parâmetros genéticos populacionais em relação aos

marcadores alozímicos;

3. Em determinados locos alozímicos, o processo de recrutamento resulta em um

aumento na freqüência de heterozigotos na direção dos indivíduos adultos, portanto,

os marcadores alozímicos são capazes de detectar efeitos de seleção.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Características da espécie

Euterpe edulis Mart. (Palmiteiro) é uma palmeira nativa da Mata Atlântica, cujo

porte adulto geralmente varia entre 10 e 20 m de altura, com estipe de 8 a 15 cm de DAP

e apresentando no ápice um agrupamento de 10 a 20 folhas pinadas (Reitz et al., 1978).

Seu principal habitat é a Floresta Ombrófila Densa da Encosta Atlântica, da Bahia ao

Rio Grande do Sul, onde é uma das espécies mais abundantes do estrato médio (Reis et

al., 1996; Henderson, 2000 e Reis et al., 2000a). Além disso, ela é considerada uma

espécie de sombra, necessitando desta condição para o seu desenvolvimento inicial

(Reitz et al., 1978 e Klein, 1980).

A demografia de populações naturais de E. edulis foi estudada tanto em estádio

de clímax (Nodari et al., 1987; Reis et al., 1991 e Reis et al., 1996) quanto em estádio

secundário de sucessão florestal (Reis et al., 1999; Conte et al., 2003). As populações

naturais apresentam uma estrutura demográfica em forma de pirâmide, com uma base

bastante ampla, constituída por indivíduos jovens (10.000 a 15.000 por hectare) e, no

topo, a existência de uma pequena proporção de indivíduos reprodutivos (50 a 150 por

hectare). Essa pequena proporção de indivíduos adultos é responsável pela manutenção

da estrutura demográfica, bem como da diversidade e estrutura genética das populações

da espécie. A estratégia reprodutiva típica da espécie envolve a manutenção de um

grande banco de plântulas, com média de 12.000 plântulas por hectare (Reis et al.,

1996).

A espécie é monóica, com flores unisexuadas (reunidas em tríades, sendo duas

flores masculinas e uma feminina), distribuídas em inflorescências do tipo panícula. A

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inflorescência apresenta uma acentuada protandria, onde as flores masculinas

permanecem abertas por aproximadamente sete dias, e após um período de dois a quatro

dias, as flores femininas abrem e permanecem abertas por sete dias (Mantovani &

Morellato, 2000). Esse padrão de florescimento assegura a alogamia para a espécie,

exceto nos casos quando duas ou mais inflorescências são produzidas na mesma planta.

Tal evento ocorre em 6,4% das plantas reprodutivas (Reis et al., 1993), quando flores

masculinas e femininas estão abertas ao mesmo tempo.

Uma grande variedade de insetos visita as inflorescências de E. edulis durante o

seu período de florescimento (Reis et al., 1993 e Mantovani & Morellato, 2000), atraídos

por uma abundante produção de pólen, néctar e outras partes da inflorescência. A

espécie mais abundante observada em flores de palmiteiro tem sido a pequena abelha

Trigona spinipes, a qual parece ser uma importante polinizadora desta palmeira (Reis et

al., 2000d).

A produção de frutos é bastante elevada (mais de 300.000 frutos.ha-1.ano-1),

servindo de alimento para a fauna (grandes pássaros e mamíferos) durante um período

de aproximadamente 6 meses ao ano (Reis, 1995; Mantovani & Morellato, 2000). Essa

fauna, por sua vez, é responsável pela dispersão dos frutos, implicando numa

contribuição imprescindível para manutenção da dinâmica demográfica e do fluxo

gênico da espécie (Reis & Kageyama, 2000).

Conte et al. (2000b), apontam que a mortalidade dos indivíduos de Euterpe

edulis é superior a 80%, sendo que a maior parte dessa mortalidade ocorre antes que as

plantas atinjam 10 cm de altura de inserção da folha mais jovem. Além disso, o

crescimento dos indivíduos nos primeiros estádios de desenvolvimento é lento, embora

alguns apresentem uma taxa de crescimento mais acentuada. Entretanto, a elevada

produção anual de frutos (Reis, 1995; Mantovani & Morellato, 2000) garante a

manutenção de um banco de plântulas e o conseqüente recrutamento das plantas na

direção dos estádios adultos.

Alguns estudos mostraram que o processo de recrutamento de E. edulis também

está relacionado com aspectos genéticos das plantas. As primeiras evidências foram

apontadas por Reis (1996a), empregando marcadores alozímicos, quando diferentes

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populações naturais do palmiteiro mostraram um excesso de heterozigotos na fase

adulta, o qual não foi observado nas progênies. Evidências adicionais foram encontradas

quando amostras recrutadas de coortes com idades conhecidas exibiram maiores níveis

de heterozigosidade em relação a amostras não recrutadas (Reis et al., 1998). Mais

recentemente, essas evidências foram confirmadas por Conte et al. (2003), através do

estudo de diferentes fases do ciclo de vida, acompanhadas durante um período de dez

anos. Esses estudos revelaram que o aumento nos níveis de heterozigosidade está

concentrado na passagem da fase de plântulas para as demais, sendo este comportamento

relacionado à alta taxa de mortalidade encontrada na primeira categoria. Além disso,

houve um aumento linear na frequência de certos alelos na direção dos indivíduos

adultos, indicando que o processo de recrutamento também está ligado à sobrevivência

diferencial de indivíduos que são portadores desses alelos.

Estudos referentes ao sistema reprodutivo, fluxo gênico, variabilidade e estrutura

genética, foram realizados em diferentes populações naturais do palmiteiro. A taxa de

cruzamento (tm; Ritland & Jain, 1981) estimada com marcadores alozímicos (Reis et al.,

1998) e microssatélites (Gaiotto et al. (2003) apresentou valores próximos de 1,00,

confirmando a alogamia predominante da espécie conforme sugerido previamente por

Reis et al. (1993). As estimativas de fluxo gênico (Nm), em média, foram de 3,37 em

locos microssatélites (Gaiotto et al., 2003) e 10,7 em locos alozímicos (Reis, 1996a), o

que caracteriza uma acentuada movimentação de alelos entre as populações da espécie.

Reis et al. (1998, 2000e) encontraram níveis elevados de diversidade gênica, utilizando

locos alozímicos polimórficos, tanto a partir das progênies ( eH = 0,436), quanto a partir

de indivíduos adultos ( eH = 0,452). Valores similares de diversidade foram encontrados

por Conte et al. (2003), variando de 0,415 a 0,452 para progênies e adultos,

respectivamente. Com locos microssatélites, Gaiotto et al. (2003) encontraram valores

ainda mais elevados de diversidade gênica ( eH = 0,749). Todos esses trabalhos

mostraram reduzidos níveis de divergência genética entre populações, o que está de

acordo com as características reprodutivas e com a elevada taxa de fluxo gênico da

espécie. Além disso, estimativas de tamanho de vizinhança obtidas por Reis (1996a) em

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média foram de 67 indivíduos, com cada deme panmítica ocupando uma área de 13.000

m2, ou seja, os grupos parentais que trocam genes são compostos por aproximadamente

67 indivíduos.

A avaliação de características de desenvolvimento em ensaios de procedência e

progênies, com seis anos de avaliação, revelou herdabilidades reduzidas para todas as

situações analisadas (Nodari et al., 1993). A avaliação dos ganhos esperados com

seleção precoce foi realizada, por Bovi & Godoy Jr. (1991), a partir do acompanhamento

de 177 indivíduos por 10 anos. Os resultados desse trabalho indicaram que o número de

folhas e o diâmetro do caule são as características de maior relação com a produção e

apresentam estimativas expressivas de ganho por seleção a partir do terceiro ano.

Outros trabalhos que procuraram caracterizar as relações entre diversas

características das plantas e o rendimento, visando seleção indireta e/ou manejo e

comercialização da espécie, indicaram que as maiores associações com o rendimento

referem-se ao diâmetro das plantas, o número de folhas e as variáveis relativas à cabeça

do palmito (Reis et al., 1987; Bovi et al., 1991; Fantini et al., 1992 e Fantini et al., 1997).

2.2 Exploração e Manejo Sustentável de Euterpe edulis

O produto comercial obtido desta espécie, o palmito, é um dos mais importantes

recursos não madeiráveis explorados na Floresta Atlântica. A exploração comercial de

palmito representa uma importante fonte de renda suplementar por parte dos

proprietários de florestas, especialmente os pequenos proprietários (Bovi et al., 1987;

Nodari et al., 1987; Pereira, 1994; Reis et al., 1996; Reis et al., 1998, Conte et al., 2000a

e Reis et al., 2000b). Embora um sistema de manejo sustentável para a espécie tenha

sido proposto (Reis et al., 1992; Ribeiro et al., 1994; Reis et al., 1998; Reis et al., 2000b

e Reis et al., 2000d), a opção pelo retorno econômico imediato prevalece, e E. edulis tem

sido alvo de uma intensiva exploração predatória, tanto em áreas públicas quanto

privadas.

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No sistema de exploração tradicional (extrativismo) todos os indivíduos

maiores de 2 m de altura são cortados, incluindo plantas reprodutivas. Em alguns casos,

somente os indivíduos mais produtivos, com DAP acima de 8 cm, são explorados, o que

inclui todos os indivíduos reprodutivos. De acordo com Reis et al. (1998), esse sistema

implica em uma expressiva erosão genética das populações e um colapso do sistema de

exploração. O declínio na densidade das populações dentro de áreas exploradas tem sido

observado em muitas regiões (Guerra et al., 1984) e, em casos extremos, a espécie tem

sido localmente eliminada (Batista et al., 2000).

Apesar do caráter predatório da exploração contribuir para a degradação da

Floresta Tropical Atlântica, E. edulis apresenta um grande potencial para utilização

como modelo para manejo de suas populações naturais de forma sustentável. Conforme

Reis et al. (2000d), a espécie apresenta algumas características favoráveis, a saber: (1) o

palmito é um produto de valor em um mercado bem estabelecido; (2) os ciclos de corte

são curtos em relação aos ciclos de espécies madeiráveis, contribuindo para o sucesso

econômico do seu manejo; (3) a alta densidade e a curva em J invertido em suas

populações naturais (Reis et al., 1996), permite a colheita periódica e a contínua

substituição das plantas extraídas em cada ciclo, desde que um certo número de matrizes

seja mantido na floresta; e (4) é uma espécie de sub-bosque tolerante à sombra,

requerendo a presença do ambiente florestal para o sucesso da regeneração e

crescimento inicial. Além disso, E. edulis é um importante recurso no ecossistema,

suprindo uma abundante quantidade de frutos durante um período de aproximadamente

seis meses ao ano (Reis, 1995).

O sistema de manejo proposto para E. edulis é baseado na autoecologia da

espécie (Fantini et al., 1992). O sistema propõe a retirada de um certo número de

indivíduos em cada ciclo de corte e sua substituição por indivíduos jovens, sendo esta

substituição promovida pelo próprio dinamismo da espécie. Neste modelo, é necessário

que a regeneração natural assegure a reposição dos indivíduos extraídos e haja um

contínuo suprimento de propágulos, o qual é dependente da permanência de um certo

número de indivíduos reprodutivos nas áreas sob manejo. Logo, a manutenção do

dinamismo demográfico da espécie é importante para a manutenção das expectativas de

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rendimento em cada ciclo. Além disso, o nível de variabilidade genética das plantas

reprodutivas remanescentes do manejo é importante para assegurar a continuidade da

regeneração que depende também das possibilidades de ocorrência de recombinantes nas

próximas gerações.

A estimativa de tamanho de vizinhança obtida por Reis (1996a), é um índice

particularmente importante para a implementação de estratégias de manejo.

Considerando que as demes panmíticas são compostas por 67 indivíduos, ocupando uma

área de aproximadamente 13.000 m2, significa a necessidade de manutenção de 50 a 60

indivíduos reprodutivos por hectare de maneira a garantir os níveis de diversidade e

estrutura genética existentes.

Os conhecimentos científicos gerados nos últimos anos resultaram em uma

tecnologia de manejo para populações naturais de E. edulis (Reis et al., 1998). Essa

tecnologia de manejo foi incorporada em regulamentações oficiais e normas para

exploração de populações naturais da espécie nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa

Catarina e São Paulo. Entre os critérios mínimos destacam-se: 1) a permanência de pelos

menos 50 indivíduos reprodutivos por hectare; 2) diâmetro limite de corte de 9 cm,

medido a 1,3 m do solo (DAP); e 3) a existência de um número mínimo de indivíduos

regenerantes menores de 1,3 m de estipe exposta, variando entre 5.000 e 10.000 plantas

por hectare, de acordo com as normas vigentes em cada Estado.

Algumas estimativas de rendimento de palmito foram realizadas com base na

correlação entre o diâmetro (DAP) das plantas e o rendimento em creme de palmito

(Fantini et al., 1992). A produtividade dos palmitais é muito variável, uma vez que está

relacionada com o estoque de indivíduos e o estádio de sucessão da floresta em que

ocorrem. Em uma área de Floresta Ombrófila Densa Montana (Blumenau, SC), de

formação primária, obteve-se uma estimativa de rendimento de 161 kg por hectare

(Nodari et al., 1987). Em uma floresta secundária em São Pedro de Alcântara, SC,

obteve-se uma estimativa de rendimento de 86,3 kg por hectare (Reis et al., 1999). Por

outro lado, em uma floresta secundária no município de Ibirama, SC, a estimativa de

rendimento foi de 147 kg por hectare (Conte et al., 2000a), o que, inclusive, demonstra o

potencial de rendimento da espécie sob manejo.

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2.3 Sistema de Reprodução em Espécies Vegetais

O modo de reprodução de uma espécie de planta determina como a informação

genética é transferida de uma geração para a outra (Wright, 1921), e implica na forma

como a variabilidade genética se organiza no espaço e no tempo (Robinson, 1998). Em

vista disso, e considerando que a efetivação de programas de conservação e

melhoramento genético depende do conhecimento da estrutura genética das populações

é importante obter-se informações acuradas do sistema de reprodução (Sebbenn, 2001).

O sistema de reprodução das espécies arbóreas pode ser caracterizado

basicamente por dois modelos: o modelo aleatório e o modelo misto de reprodução

(Sebbenn, 2001). No entanto, existem outros modelos como o de autofecundação efetiva

e o de cruzamentos biparentais (Schoen & Clegg, 1984), porém, de menor aplicação em

essências florestais.

O modelo de cruzamentos aleatórios é o modelo do Equilíbrio de Hardy-

Weinberg. Este modelo é o mais comum e abstrai o problema essencial da transmissão

das informações genéticas em populações, ou como a distribuição das freqüências

gênicas surge de uma geração para outra. Seu grande valor no estudo de populações é

que a pressuposição de cruzamentos aleatórios serve como padrão de referência,

permitindo a comparação com os cruzamentos observados (Clegg, 1980).

No modelo de reprodução mista, a taxa de cruzamento t pode ser estimada por

dois métodos: o primeiro baseado no Equilíbrio de Endogamia de Wright - EEW (Jain,

1979; Vencovsky, 1994 e Weir, 1996) e o segundo, baseado nos genótipos multilocos

observados em progênies de mães conhecidas (Brown & Allard, 1970 e Ritland & Jain,

1981). No primeiro método, as estimativas das taxas de cruzamento são obtidas a partir

da relação dada por Wright (1921),

( ) ( )fft ˆ1ˆ1ˆ +−=

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sendo f a estimativa da endogamia existente ao nível de indivíduo. A pressuposição de

EEW garante que toda endogamia observada pode ser atribuída ao sistema de

reprodução, ou seja, autofecundação e cruzamento entre aparentados.

Contudo, o emprego de modelos multilocos permite a obtenção de estimativas

mais adequadas da taxa de cruzamento, pois levam em consideração as combinações

genotípicas envolvendo todos os locos. O modelo proposto por Ritland & Jain (1981)

vem sendo o mais empregado nos trabalhos recentes. As estimativas são obtidas por

máxima verossimilhança, e admite que as populações se reproduzem por autofencudação

a uma taxa s e por cruzamentos aleatórios a uma taxa t. As pressuposições básicas para

sua aplicação são: (i) que o conjunto de pólen é homogêneo para os cruzamentos com

todos os genótipos maternos; (ii) que os alelos de diferentes locos segregam

independentemente; e (iii) que os locos não são afetados pela seleção ou mutação entre o

evento reprodutivo e a análise (Ritland & Jain, 1981 e Ritland, 1990). No entanto,

segundo Ritland & Jain (1981), violações da pressuposição de homogeneidade das

freqüências alélicas dos óvulos e do pólen têm pouco efeito sobre a estimativa da taxa de

cruzamento multilocos da população (tm) quando o número de locos empregados nas

estimativas for superior a quatro ou cinco locos.

O programa MLTR desenvolvido por Ritland (1990), baseado no modelo de

cruzamento misto de Ritland & Jain (1981), fornece estimativas dos seguintes

parâmetros: 1) a taxa de cruzamento multilocos da população (tm); 2) a taxa de

cruzamento média unilocos da população (ts); 3) a taxa de cruzamento entre aparentados

(tm - ts); 4) o coeficiente de endogamia dos genótipos maternos (f); 5) a freqüência gênica

do pólen (p) e dos óvulos (o); 6) a correlação da taxa de cruzamento dentro de progênies

ou a variação de t entre as plantas-mãe (rt) e; 7) a correlação de paternidade de

cruzamento entre dois irmãos, ou a proporção de irmãos completos entre irmãos de

cruzamento dentro das progênies (rp).

A diferença entre a média das estimativas de t feita com base na média unilocos

da população (ts) e a estimativa feita a partir dos vários locos (tm) indica a presença de

estrutura interna na população. Essa estrutura se deve aos cruzamentos não ao acaso e

não afeta cada loco da mesma forma. Os cruzamentos não ao acaso se devem à formação

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de vizinhanças genéticas e à heterogeneidade nas freqüências alélicas no pólen durante o

período de florescimento (resultantes da defasagem no florescimento ou das diferenças

em fecundidade entre as plantas). Os valores de st obtidos representam estimativas

independentes do valor de t . Para isso, os locos utilizados como marcadores precisam

segregar independentemente. A estimativa de tm baseia-se na distribuição da

probabilidade de se obterem os diferentes genótipos compostos. Como o número de

genótipos compostos possíveis é maior do que o número de genótipos formados,

tomando-se cada loco separadamente, os testes de significância para as estimativas de tm

proporcionam maior número de graus de liberdade, o que é desejável para sua maior

precisão estatística (Robinson, 1998).

Em ecossistemas tropicais, os primeiros estudos acerca da biologia reprodutiva

das árvores tropicais sugeriram que a auto-fertilização era o sistema de cruzamento

predominante, considerando a assincronia da abertura de flores entre plantas (Baker,

1959), ou a dificuldade de mobilidade dos polinizadores através da complexa estrutura

das florestas densas (Federov, 1966).

Somente após os estudos de fluxo de pólen a longas distâncias por Jansen

(1971), estudos de autoincompatibilidade e observações do comportamento dos

polinizadores (Ashton, 1969 e Bawa, 1974), seguidos de estudos com marcadores

alozímicos, levaram a descobertas de fortes barreiras à autofecundação e à conclusão de

que a maioria das espécies arbóreas tropicais se reproduzia preferencialmente por

fecundação cruzada (Bawa et al., 1985; Murawski & Hamrick, 1991 e Loveless, 1992).

Os estudos de Murawski (1995) mostraram que 90,9% das espécies arbóreas tropicais

que ocorrem no estrato superior (dossel), 75,0% das espécies do estrato intermediário e

34,2% das espécies de sub-bosque, apresentam algum mecanismo de

autoincompatibilidade. Além disso, estudos mais recentes empregando estimativas

multilocos com dados de isoenzimas e microssatélites têm revelado a preferência de

espécies tropicais pela fecundação cruzada (Alvarez-Buylla & Garay, 1994; Hall et al.,

1994; Reis, 1996a; Gandara, 1996; Souza, 1997, Seoane, 1998; Sebbenn et al., 2000;

Gaiotto et al., 2003; Collevatti et al., 2001a; Zucchi, 2002; Alves et al., 2003).

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2.4 Variabilidade e Estrutura Genética de Populações

O estudo da variação genética em populações naturais de uma espécie envolve

basicamente duas questões: (i) quantificar os níveis de variabilidade dentro das

populações e (ii) caracterizar o nível de estruturação genética entre populações

(Hamrick, 1983).

A variabilidade genética intrapopulacional tem sido quantificada em termos de

número de alelos por loco (A), percentagem de locos polimórficos (P), heterozigosidade

observada (Ho) e esperada (He) sob equilíbrio de Hardy-Weinberg e índice de fixação (f)

(Hamrick, 1983 e Robinson, 1998).

O número de alelos por loco e a percentagem de locos polimórficos têm sido

empregados como índices de diversidade em populações naturais, no sentido de

caracterizar e comparar os níveis de variação genética nestas populações.

Weir (1996) considera a freqüência de heterozigotos como um importante

indicador da diversidade genética, uma vez que cada heterozigoto carrega alelos

diferentes e, portanto, representa melhor a variação existente. Contudo, o autor considera

que a heterozigosidade esperada, ou diversidade gênica, como proposto por Nei (1973),

uma medida mais apropriada por representar a variação tanto em populações de espécies

autógamas, como em alógamas. Além disso, o índice de fixação tem sido utilizado como

uma medida de desvio do equilíbrio de Hardy-Weinberg dentro de cada população.

A segunda questão, de particular importância, refere-se a maneira pela qual a

variabilidade genética é partida entre e dentro de populações, ou seja, o nível de

estruturação genética das populações. A estrutura genética refere-se à distribuição

heterogênea (não aleatória) dos alelos e genótipos no espaço e no tempo resultante da

ação de forças evolutivas, tais como: mutação, migração, seleção e deriva genética que

atuam dentro do contexto de cada espécie e população (Hamrick, 1982).

Os processos microevolutivos que promovem mudanças nas freqüências

gênicas e genotípicas podem ser divididos em duas classes: os “sistemáticos” (mutação,

seleção e migração), que tendem a mudar a freqüência gênica de uma maneira que pode

ser predita, tanto em quantidade quanto em direção, e o “dispersivo” (deriva genética),

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que surge em pequenas populações pelos efeitos de amostragem, e pode ser predito em

quantidade, mas não em direção (Mettler & Gregg, 1973 e Mayr, 1977). Dentre estes

fatores, a migração e a mutação aumentam a variabilidade genética, enquanto que a

seleção e a deriva diminuem a variabilidade genética dentro das populações.

As populações de plantas não têm seus genótipos arranjados aleatoriamente,

mas sim estão estruturadas no espaço e no tempo. A estrutura espacial refere-se à

distribuição espacial dos indivíduos, sendo característica de cada espécie e determinada

principalmente pelo sistema de reprodução e pelos padrões de dispersão de pólen,

sementes ou outros propágulos. Já, a estrutura genética temporal refere-se à subdivisão

de gerações, por exemplo, entre pais e filhos, plântulas e jovens, jovens e adultos, ou

ainda, pode referir-se às diversas gerações contidas em um banco de sementes ou de

germoplasma (Brown, 1978; Loveless & Hamrick, 1984 e Hamrick, 1989).

A existência de estrutura espacial decorre principalmente das limitações físicas

no sentido de todos os indivíduos se cruzarem entre si, ou da ocorrência em maior

probabilidade de indivíduos próximos (Futuyma, 1992), formando demes panmíticas.

Isso produz uma tendência localizada no sentido da fixação de certos alelos (aumento da

freqüência de alguns e diminuição de outros), pois apenas uma amostra da população

estará trocando alelos ao acaso. Além disso, os efeitos de seleção irão favorecer alelos

com maior valor adaptativo local, ampliando ou reduzindo a divergência em função das

variações ambientais existentes.

A endogamia gerada por autofecundação ou o cruzamento entre aparentados

também tenderá a alterar a freqüência de certos alelos em relação ao total da população.

Assim, tanto por endogamia, deriva genética ou seleção poderá ocorrer formação de

grupos divergentes dentro das populações. No entanto, esta diferenciação pode ser

contraposta pelo fluxo gênico, conforme discutido por Wright (1931), sendo que

espécies com intenso movimento de pólen e sementes têm menor diferenciação do que

espécies com fluxo gênico restrito (Hamrick, 1989). Alguns estudos têm demonstrado

que somente uma pequena quantidade de fluxo gênico a longas distâncias é suficiente

para retardar a diferenciação da subpopulação para alelos neutros (Loveless & Hamrick,

1984 e Sork et al., 1999).

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Desta forma, fatores como tamanho da população, modo de reprodução

(assexual, sexual), sistema de reprodução (autofecundação, cruzamento, misto), fluxo

gênico e tipos de ambientes em que a espécie ocorre, influenciam na distribuição da

variação genética entre e dentro de populações. Espera-se que espécies com grandes

populações, sistema misto de reprodução, mecanismos eficientes de dispersão de

sementes e pólen, apresentem alta variação genética dentro das populações e baixa entre.

Já, para as espécies com pequenas populações, de autofecundação e/ou reprodução

vegetativa, com limitada dispersão de pólen e sementes, espera-se uma baixa

variabilidade dentro e alta entre as populações (Loveless & Hamrick, 1984; Hamrick &

Schnabel, 1985 e Hamrick & Loveless, 1986).

A caracterização da estrutura genética entre populações, a partir de dados de

marcadores genéticos codominantes, tem sido realizada por três metodologias básicas:

(i) estatísticas F de Wright (Wright, 1965 e Nei, 1977); (ii) análise da variância de

freqüências gênicas (Cockerham, 1969; Vencovsky, 1992 e Weir, 1996); e (iii) análise

da diversidade genética em populações subdivididas (Nei, 1973, 1977, 1987). As

estatísticas F fornecem os índices de fixação de alelos para o total das populações, média

dentro e entre populações, com base em medidas de probabilidade de identidade por

descendência (Wright, 1965, Nei, 1977). A análise da variância de freqüências gênicas

fornece a distribuição da variabilidade genética em diversos níveis hierárquicos,

considerando o processo amostral nas estimativas (Cockerham, 1969). Já, a diversidade

genética de Nei fornece, a partir de uma metodologia estatística simples, a proporção da

variabilidade genética contida entre e dentro das populações e os níveis de

heterosigosidade esperados para o total e média das populações (Nei, 1973). Conforme

Reis (1996b), mesmo com bases estatísticas diferentes, as três abordagens são

complementares em relação ao significado biológico das estimativas.

As estatísticas F foram inicialmente desenvolvidas para o caso de um loco com

dois alelos (Wright, 1965). Posteriormente, Nei (1977) adaptou esta metodologia para

locos multialélicos, contrastando um alelo p contra os outros alelos (1-p), através dos

conceitos de heterosigosidade observada e esperada. Esta estatística admite que todos os

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desvios de panmixia sejam exclusivamente devidos aos efeitos da deriva genética e do

sistema de reprodução.

Assim, conforme Wright (1965):

1 - FIT = (1 - FIS)(1 - FST)

onde,

FIT = índice de fixação ou coeficiente de endogamia para o conjunto das populações

(devido ao sistema reprodutivo e subdivisão),

FIS = índice de fixação ou coeficiente de endogamia intrapopulacional (devido ao

sistema reprodutivo),

FST = índice de fixação ou divergência genética entre populações (devido à subdivisão

populacional).

A análise de freqüências gênicas (Cockerham, 1969) foi desenvolvida baseada

na pressuposição de que as populações em estudo são oriundas de uma mesma

população ancestral, permitindo assim a estimativa do coeficiente de parentesco

(coancestralidade) e endogamia. Nesta metodologia, todos os desvios de panmixia

também são considerados devidos a deriva genética e ao sistema de reprodução.

Também neste caso, a análise de freqüências gênicas fornece os níveis de fixação

médios dentro das populações (f), do conjunto das populações (F) e a divergência

genética entre populações ou o coeficiente de parentesco entre dois indivíduos dentro de

populações (θP), parâmetros relacionados por:

f = (F - θP)/ (1 - θP)

A análise da diversidade genética em populações subdivididas foi desenvolvida

por Nei (1973), com o intuito de obter uma medida de estrutura de populações que

acomodasse locos multialélicos. Tal medida pode ser utilizada em qualquer população,

independente do número de alelos por loco, sistema de reprodução e da atuação de

forças evolutivas (seleção, migração, deriva e mutação). O grau de diferenciação entre

subpopulações é estimado, decompondo-se a heterozigosidade total (HT), referente ao

conjunto das populações, em seus componentes:

HT = HS + DST

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em que HS corresponde à média ponderada dos valores de H calculados para

subpopulações e representa a parte atribuída à variabilidade genética dentro de

populações. DST é o componente de variabilidade atribuível à diferenciação entre

subpopulações e é calculado como DST = HT - HS. A razão entre DST e HT expressa a

proporção da variabilidade total explicada por diferenças genéticas entre as subdivisões

da população:

GST = DST /HT

Sob modelo aleatório, pode-se considerar que as populações amostradas

representam a espécie tendo história evolutiva comum. Mesmo que as populações

tenham se diferenciado com o decorrer do tempo, a análise é construída sob a hipótese

de que há uma única população de referência. A análise da diferenciação em modelos

aleatórios é subordinada ao fato de que a amostragem genética faz com que os diferentes

alelos na população sejam dependentes ou relacionados (Weir, 1996).

Assim, quando o interesse está voltado ao quanto as populações se

diferenciaram dentro de uma espécie, no decorrer do tempo, o modelo aleatório torna-se

o mais adequado, uma vez que essas populações possuem uma origem comum onde o

processo de diferenciação ocorreu ao acaso. Neste caso, o emprego das abordagens das

estatísticas F de Wright ou das medidas análogas de Cockerhan é bastante adequado na

estimação dos parâmetros de diferenciação genética das populações (Weir, 1996).

No entanto, quando as populações sofreram algum tipo de perturbação, como

no caso da ação antrópica, e que desta forma não possuem uma história evolutiva

comum, as análises devem ser elaboradas sob modelo fixo. Neste caso, a abordagem da

análise da diversidade em populações subdivididas de Nei (1973) torna-se a mais

adequada, uma vez que esta abordagem independe das pressuposições das estatísticas de

Wright e Cockerham. Além disso, sob a abordagem de populações fixas, diferentes

populações da mesma espécie são comparadas simplesmente pela comparação de

frequências ou médias (Weir, 1996).

Hamrick & Godt (1990) analisaram vários estudos com isoenzimas em plantas,

utilizando a abordagem de Nei (1973). Os resultados mostraram como valores médios:

TH = 0,31; SH = 0,23 e STG = 0,224. Como em estudos anteriores (Hamrick et al.,

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19

1979 e Loveless & Hamrick, 1984), foi demonstrado que espécies perenes de ciclo

longo, com fecundação cruzada, de fase final de sucessão e polinizadas pelo vento,

apresentam maior variação dentro e menor entre populações, do que espécies com outras

combinações de categorias.

De fato, Hamrick et al. (1991), compilando informações a partir de 449 espécies,

concluíram que as espécies perenes, com ciclo de vida longo, reprodução sexuada por

fecundação cruzada predominante, distribuição geográfica ampla e típica de estádios

avançados de sucessão natural, são as que acumulam maior variabilidade genética dentro

de suas populações, com menor diferenciação entre populações.

Em espécies tropicais, os estudos realizados empregando marcadores

alozímicos têm mostrado uma alta variabilidade molecular dentro das populações e uma

reduzida divergência entre populações. Dados levantados por Sebbenn (2001),

envolvendo 16 espécies arbóreas tropicais revelaram que, em média, os valores de TH ,

SH e STG foram 0,335, 0,283 e 0,049, respectivamente. Em estudos onde foram

empregadas estimativas FST, a divergência média entre populações de espécies tropicais

foi de 0,042 (9 espécies). Outros trabalhos empregando a abordagem de Nei (1973), em

19 espécies tropicais, revelaram uma reduzida divergência ( STG = 0,075) entre

populações (Reis, 1996b). Em todos os casos, as espécies apresentavam um sistema

misto de reprodução com tendência para alogamia.

Considerando apenas os níveis de variabilidade genética molecular

intrapopulacionais, Hamrick et al. (1992), analisaram estudos com isoenzimas incluindo

655 espécies vegetais de 220 gêneros e concluíram que, em média, 51% dos locos foram

polimórficos e a diversidade gênica (He) foi de 0,15. Dentro de populações de plantas,

em média, 35% dos locos foram polimórficos e a diversidade gênica foi de 0,11. Os

mesmos autores mencionam que em geral os maiores índices foram associados a

espécies lenhosas perenes, de final de sucessão e polinizadas pelo vento, com destaque

para as gimnospermas que apresentaram os maiores valores médios.

Em espécies tropicais, Hamrick & Loveless (1986) analisaram 29 taxa da floresta

semidecídua do Panamá através de 20 sistemas enzimáticos, concluindo que as mesmas

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20

apresentavam uma diversidade gênica por espécie de 0,111 (variando de 0 a 0,216),

similar à reportada para as dicotiledôneas e menor que a encontrada para as coníferas,

que de maneira geral apresentam os maiores níveis de diversidade. Para outras 38

espécies tropicais, Hamrick et al. (1992) mencionam que a diversidade gênica foi de

0,191, com 57,9% de locos polimórficos.

Reis (1996a) apresenta valores de diversidade gênica para espécies tropicais de

acordo com diferentes aspectos ecológicos. O autor menciona que os valores de eH

ficaram sempre próximos da média geral: 0,174 (29 espécies arbóreas de dossel); 0,131

(16 espécies arbóreas de sub-bosque); 0,167 (8 espécies colonizadoras); 0,136 (38

espécies comuns, exceto colonizadoras); e 0,157 (20 espécies raras).

Para espécies da Floresta Tropical atlântica, os valores de diversidade gênica em

locos alozímicos variaram de 0,085 para Araucaria angustifolia (Auler et al., 2002) até

0,351 para Cryptocaria moscata (Moraes, 1997), sendo que a média de eH para 11

espécies foi de 0,198, com 51,73% de locos polimórficos.

Por outro lado, considerando somente locos alozímicos polimórficos, Reis

(1996a) destaca que para 18 espécies tropicais o valor médio de eH foi de 0,413,

variando para espécies arbóreas, de 0,288 em Cedrela fissilis (Gandara, 1996), até 0,518

em Joanesia princeps (Herrit, 1991). Para 3 espécies de palmeiras a diversidade gênica

foi de: 0,436 para Phoenix dactylifera (Argélia / Bennacer et al., 1991); 0,375 para

Acrocomea aculeata (Brasil-Cerrado / Lopes et al., 1992); e 0,490 para Astrocarium

mexicanum (México / Eguiarte et al., 1992).

2.5 Tamanho Efetivo Populacional, Deriva e Endogamia

Uma medida muito importante utilizada na conservação genética é o tamanho

efetivo de populações (Ne). O Ne representa o tamanho de uma população ou vizinhança

que apresenta a mesma redução na variabilidade genética pela endogamia ou deriva de

uma população de referência, panmítica, de tamanho finito N (Crow & Kimura, 1970 e

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Crossa & Vencovsky, 1999). Em outras palavras, relaciona-se com a representatividade

genética das populações (Vencovsky, 1987; Kageyama, 1987; Barret & Kohn, 1991;

Araújo, 1996 e Sebbenn et al., 2000). O tamanho efetivo de uma população depende do

número de indivíduos que efetivamente participam na reprodução e de suas

contribuições relativas para a geração seguinte (Crossa & Vencovsky, 1994 e Robinson,

1998).

O tamanho efetivo pode ser estimado para várias situações, como por exemplo,

para uma população de plantas adultas, uma população estruturada em progênies, várias

populações, populações em várias regiões, acessos de um banco de germoplasma e

assim por diante. O importante na estimativa do Ne é que a população de referência

esteja bem definida (Sebbenn, 2001).

A seguir são apresentados alguns exemplos para estimação do Ne, baseado em

Vencovsky (1997).

1. Estimativa do Ne para indivíduos adultos de uma simples população:

fnNe ˆ1

ˆ+

=

onde n é o tamanho físico da amostra e f a estimativa do índice de fixação. Para esta

estimativa é necessário admitir ausência de parentesco entre indivíduos amostrados (n) e

que os genes são correlacionados apenas dentro de indivíduos.

2. Estimativa do Ne para progênies maternas de uma simples população:

nF

nmC

Nf

f

e

2

ˆ111ˆ

5,0ˆ+

+

+=

θ

onde fθ é a coancestria entre indivíduos dentro de progênies ou a divergência genética

estimada entre progênies, m é o número de parentais ou de progênies avaliadas, n é o

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número total de indivíduos avaliados nas progênies (n=Σni), Cf é o quadrado do

coeficiente de variação do número de indivíduos (ni) avaliados nas progênies (i=

1,2,...,f) e F é estimativa do índice de fixação para o conjunto das progênies.

3. Estimativa do Ne para várias populações:

nF

nmC

NP

P

e

2

ˆ111ˆ

5,0ˆ+

+

−+

onde Pθ é a coancestria entre indivíduos dentro de populações ou divergência genética

estimada entre populações, m é o número de populações avaliadas, n é o número total de

indivíduos avaliados nas populações(n=Σni), CP é o quadrado do coeficiente de variação

de ni sobre as populações (i= 1,2,...,m) e F é a estimativa do índice de fixação para o

conjunto das populações.

Muitos trabalhos têm mostrado que o tamanho efetivo costuma ser inferior ao

tamanho senso, ou seja, ao número de plantas amostradas. O tamanho efetivo é

dependente dos níveis de endogamia e parentesco existentes nas amostras, sendo que

quanto maiores estes níveis, menor é a representatividade genética da amostra

(Vencovsky, 1987). O Ne é afetado pelo número desigual de indivíduos masculinos e

femininos, variação no tamanho das progênies, flutuações temporais no tamanho da

população, sobreposição de gerações, presença de estruturação e endogamia dentro das

populações e assincronismo no florescimento (Wright, 1969; Loveless & Hamrick, 1984

e Lande, 1988). Além desses fatores, a apomixia e a reprodução vegetativa também

influenciam o Ne (Sebbenn, 2001).

O conhecimento do tamanho efetivo é uma informação muito importante para o

estudo da estrutura genética das populações. As reduções esporádicas no tamanho de

uma população têm efeito sobre as gerações subseqüentes (Robinson, 1998). Uma

diminuição acentuada no tamanho efetivo populacional, ocasionada pela exploração

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florestal, por exemplo, ou mesmo por eventos estocásticos, tem sido denominada de

efeito de gargalo (Young et al., 1996). Isto porque após sua ocorrência é muito difícil

recuperar o tamanho efetivo original, a não ser que a redução do tamanho efetivo (Ne)

não seja muito acentuada (Vencovsky, 1987). Neste aspecto, uma geração ou algumas

gerações com menor número de indivíduos terá (terão) uma grande influência no valor

final do tamanho efetivo, uma vez que este será a média harmônica dos tamanhos

efetivos parciais (Crow & Kimura, 1970; Vencovsky, 1987; Falconer, 1989 e Araújo,

1996).

A manutenção de um tamanho efetivo populacional adequado diminui a

probabilidade de ocorrência das oscilações genéticas e da endogamia. Quanto maior o

tamanho efetivo menor será a magnitude da deriva genética. Isto significa que,

mantendo-se um tamanho efetivo adequado ao longo das gerações, maior é a

probabilidade de as freqüências alélicas permanecerem próximas da população de

origem (Templeton, 1990 e Ellstrand & Elam, 1993). Conforme Falconer (1989), as

flutuações nas freqüências alélicas podem resultar em aumento na diferenciação entre

subpopulações e na redução da variabilidade genética em populações pequenas.

Quando as populações permanecem pequenas por um longo período, os efeitos

da amostragem se tornam cumulativos. Isto dá origem a mudanças aleatórias na

freqüência gênica por causa da amostragem de gametas de geração para geração. Em

grandes populações, em média, somente pequenas mudanças aleatórias na freqüência

gênica ocorrem como resultado da deriva; entretanto, onde as populações são pequenas

(e.g. <100), as freqüências gênicas podem sofrer grandes flutuações em diferentes

gerações, levando a perda de alelos (Templeton, 1990; Barret & Kohn, 1991 e Ellstrand

& Elam, 1993). Os efeitos da redução no tamanho das populações foram investigados

em diferentes espécies vegetais, mostrando perdas de diversidade e alterações na

estrutura genética das populações (Ledig & Conkle, 1983; Hall et al., 1996; Nason et al.,

1997; Kageyama et al., 1998 e Sebbenn et al., 2000).

Da mesma forma, quanto maior o tamanho efetivo menor será o nível de

endogamia da população. O nível de endogamia (F) de uma população aumenta com o

tempo numa taxa dependente do tamanho efetivo populacional (Ne tal que ∆F = 1/2Ne),

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por geração (Wright, 1922, 1931 e Falconer, 1989). Neste sentido, populações se tornam

endogâmicas mais rapidamente quando apresentam pequenos tamanhos (Barret & Kohn,

1991). Além disso, alterações na estrutura espacial dos indivíduos de uma população

podem levar a mudanças na densidade e no comportamento dos polinizadores, gerando

alterações nos níveis de cruzamento, como o aumento da autofecundação e

conseqüentemente da endogamia (Bawa & Krugman, 1990 e Murawski, 1995).

Populações de cruzamento, historicamente grandes, que repentinamente declinam para

uns poucos indivíduos, geralmente reduzem a variabilidade e a fecundidade (Falconer &

Mackay, 1996). Conforme Nason et al. (1997), a redução no número de indivíduos

reprodutivos pode levar a rápidas mudanças na composição genética e essas mudanças

ocorrem em conjunto com a estrutura genética pré-existente.

O efeito da endogamia em uma população é denominado de “depressão por

endogamia”, e este efeito é tanto maior quanto mais elevado for o grau de dominância

do caráter, e é causado pela diminuição da freqüência dos heterozigotos, nos vários locos

e pela carga genética da população (Falconer, 1989; Murawski & Hamrick, 1991 e

Barret & Kohn, 1991). Na prática, a depressão endogâmica implica na redução da

performance reprodutiva da espécie, causando alterações na fertilidade, viabilidade das

sementes, vigor, adaptação e produtividade de maneira geral (Crow & Kimura, 1970;

Allard, 1971; Mettler & gregg, 1973; Falconer & Mackay, 1996 e Wickneswari et al.,

2000).

O aumento rápido da endogamia em pequenas populações produz aumento da

homozigosidade de alelos recessivos deletérios, que por sua vez, são mantidos como

raros em heterozigose pela seleção natural em grandes populações, e pela probabilidade

de que tais alelos venham a se fixar em pequenas populações por deriva genética

(Allard, 1971 e Falconer & Mackay, 1996). Isto significa que se uma população de

cruzamentos aleatórios que abrigue alelos recessivos deletérios tornar-se endogâmica,

haverá, de início, uma considerável depressão por endogamia, à medida que os alelos

são expostos em homozigose. Eventualmente, a população poderá reconquistar um

maior valor adaptativo à medida que a seleção natural expurgar da população os alelos

deletérios. No entanto, tal população terá menos variação genética do que outra

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praticando cruzamentos aleatórios e que não sofreu redução de tamanho (Futuyma,

1992).

2.6 Marcadores Genéticos

Marcadores genéticos são características qualitativas com herança mendeliana

simples, facilmente reconhecidas e cuja expressão não é influenciada pelo ambiente. Os

primeiros marcadores genéticos utilizados foram características morfológicas.

Entretanto, os marcadores morfológicos freqüentemente são controlados por genes

dominantes, não permitindo distinguir plantas heterozigotas. Marcadores morfológicos,

como a presença de pigmentos nas flores ou características de frutos e sementes, são

expressos somente na planta adulta, não sendo práticos quando se trabalha com espécies

de ciclo de vida longo. Esses marcadores podem ainda exercer influência sobre o valor

adaptativo da planta (Robinson, 1998). Além disso, o número de marcadores

morfológicos que se consegue é baixo, o que limita a sua aplicação e impossibilita a

estimativa de diversos parâmetros importantes para o estudo de populações naturais

(Ferreira & Grattapaglia, 1998).

A revolução neste quadro iniciou-se com o desenvolvimento de marcadores

bioquímicos na década de 1960 e dos marcadores moleculares a partir da década de

1970. Por definição, os marcadores genéticos bioquímicos são produtos da expressão de

genes (proteínas ou compostos secundários como os terpenóis). Marcadores genéticos

moleculares derivam da análise do polimorfismo presente no próprio DNA (Robinson,

1998).

A introdução da técnica de eletroforese de isoenzimas no início da década de

1960, além de iniciar a era dos marcadores moleculares, ampliou o número de

marcadores que poderiam ser utilizados. Os marcadores alozímicos podem ser obtidos

de uma maneira relativamente rápida, barata e são disponíveis para praticamente todas

as espécies de plantas. A utilização de isoenzimas permitiu a detecção de polimorfismo

entre plantas que não mostravam diferenças morfológicas. Assim, foi possível uma

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melhor visualização da informação genética presente nas populações (Torggler et al.,

1995). Os marcadores alozímicos, já na década de 1960, foram utilizados para

importantes estudos como o de Lewontin & Hubby (1966), de estrutura genética

populacional, o que permitiu desde então uma grande disseminação desta técnica.

Os avanços da biologia molecular abriram novas perspectivas para a pesquisa

em conservação de espécies e para os estudos de biologia populacional como um todo.

Pela primeira vez a variação encontrada em plantas ou animais pôde ser analisada ao

nível do DNA (Ferreira & Grattapaglia, 1998 e Haig, 1998). Uma série de marcadores

moleculares que detectam o polimorfismo ao nível do DNA foram desenvolvidos nas

três últimas décadas. O primeiro deles, denominado de RFLP (Restriction Fragment

Length Polymorphism), surgiu na década de 1970 e baseia-se em polimorfismos de

tamanho de fragmento, por meio do uso de enzimas de restrição (Grodzicker et al.,

1974). Na década de 1980 surgiram os marcadores minissatélites ou VNTR (Variable

Number of Tandem Repeats), que são regiões dispersas no genoma constituídas de um

número variável de seqüências idênticas repetidas lado a lado (tandem). Estas

seqüências repetitivas possuem de 15 a 100 pares de bases e, em cada loco hipervariável,

são repetidas até 50 vezes (Ferreira & Grattapaglia, 1998).

O surgimento da técnica da reação da polimerase em cadeia ("PCR -

Polymerase Chain Reaction") na década de 1980, desenvolvida por Mullis & Faloona

(1987), permitindo a síntese enzimática de milhões de cópias de um segmento específico

de DNA, provocou uma verdadeira revolução nas técnicas de biologia molecular,

facilitando muito o trabalho de laboratório. Assim, surgiram diversos marcadores, como:

RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA - Welsh & McClelland, 1990 e Williams

et al., 1990), o qual destaca-se pela sua simplicidade e tem como base a amplificação de

um segmento de DNA, delimitado por dois iniciadores (primers), comumente com 10

pares de bases, que são complementares a dois sítios de nucleotídeos, um em cada fita

do DNA, posicionados inversamente a uma distância geralmente não superior a 4kb;

AFLP (Amplified Fragment Length Polymorphism - Zabeau, 1993), resultante do uso

combimado de enzimas de restrição e da reação da polimerase em cadeia, apresenta alta

especificidade, resolução e poder de amostragem; microssatélites ou SSR (Simple

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Sequence Repeats - Hamada et al., 1982; Tautz & Renz, 1984 e Litt & Luty, 1989),

constituídos por pequenas seqüências curtas de DNA de até 6 pares de bases repetidas

várias vezes de maneira idêntica e adjacente (tandem), são atualmente considerados os

marcadores com o maior conteúdo de informação genética por loco (Grattapaglia, 2001).

Além desses, existem outros marcadores que, muitas vezes, apresentam apenas uma

pequena modificação em relação a algum desses mencionados. Entretanto, os quatro

tipos de marcadores citados anteriormente (RFLP, RAPD, AFLP e SSR) são os mais

utilizados atualmente no estudo do genoma de plantas e animais (Souza, 2001).

Marcadores bioquímicos e moleculares têm sido utilizados no sentido de se

avaliarem parâmetros populacionais e reprodutivos, o que permitiu o desenvolvimento

de estudos que antes se restringiam a poucas plantas cultivadas, sobre as quais se detinha

um certo conhecimento do mecanismo de herança de caracteres qualitativos e de

fenótipos facilmente identificáveis experimentalmente. Esses marcadores genéticos

possuem um mecanismo de herança mendeliana e apresentam normalmente expressão

codominante (exceção feita em geral aos marcadores RAPDs e AFLPs), o que permite

identificar os genótipos heterozigotos e homozigotos dos indivíduos analisados e

constitui, em geral, na informação necessária para a estimativa dos diversos parâmetros

genéticos de interesse (Ferreira & Grattapaglia, 1998; Grattapaglia, 2001 e Souza, 2001).

A seguir serão apresentados mais detalhes sobre marcadores alozímicos e

microssatélites, os quais foram empregados na caracterização genética das amostras no

presente trabalho.

2.6.1 Marcadores Alozímicos

As isoenzimas são diferentes formas moleculares de uma enzima catalisando a

mesma reação na célula. Quando as isoenzimas são controladas por alelos de um único

loco, elas são chamadas aloenzimas. Estas representam a conseqüência bioquímica da

substituição, deleção ou adição de um ou mais aminoácidos no polipeptídeo, afetando a

sua carga elétrica e, conseqüentemente, a sua mobilidade durante a eletroforese. A

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mobilidade da molécula através do gel depende também do seu peso molecular e da sua

conformação. Após a separação das isoenzimas por eletroforese, elas são identificadas

por meio de reações químicas baseadas em suas atividades catalíticas específicas

(Robinson, 1998).

A maioria das enzimas já reveladas em gel de amido tem mais de uma

isoenzima. Como conseqüência, uma grande quantidade de sistemas isoenzimáticos são

potencialmente informativos. A principal aplicação das isoenzimas é nos estudos de

diversidade genética e evolução. A eletroforese de isoenzimas tem proporcionado dados

úteis na abordagem de questões importantes em sistemática e evolução de plantas

(Crawford, 1989 e Doebley, 1989). Do ponto de vista da variação intraespecífica, as

isoenzimas têm contribuído para o estudo da organização da variabilidade genética e a

identificação de raças (Singh et al., 1991). Isoenzimas também vêm sendo usadas nos

procedimentos de estimativa de sistema de cruzamento por locos múltiplos (Ritland &

Jain, 1981, Torggler et al., 1995) e nos estudos do movimento gênico, monitorando o

transporte de pólen e de sementes (migração de genes por geração) (Barret & Husband,

1990). A literatura sobre estudos de isoenzimas em plantas é muito extensa, o que revela

sua utilidade em estudos de caracterização da diversidade e estrutura genética de

populações.

Esses marcadores apresentam uma série de características que são importantes

nos estudos de genética de populações, tais como: a) a expressão de muitas enzimas não

é afetada pelo ambiente; b) enzimas são ativas em diferentes estágios ontogenéticos ou

partes da planta (embrião, endosperma, cotilédones, folhas ou gemas de plantas adultas);

c) pequenas quantidades de tecido vivo são usualmente empregadas nos ensaios; d)

isoenzimas são geralmente codominantes, permitindo distinguir homozigotos de

heterozigotos; e) grandes quantidades de variabilidade isoenzimática têm sido

encontradas em espécies de plantas; f) a variabilidade em vários sistemas enzimáticos

pode ser examinada simultaneamente para cada amostra individual; g) os procedimentos

são simples, rápidos e relativamente baratos; h) a técnica pode ser rapidamente adaptada

para outras espécies (Bergmann, 1991; Hattemer, 1991; Ferreira & Grattapaglia, 1998 e

Finkeldey, 1998).

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No entanto, as isoenzimas também possuem algumas limitações, especialmente

no que se refere ao número total de locos que podem ser detectados no genoma e ao

número de alelos por loco, isto é, o nível de polimorfismo genético detectável em cada

loco. Mesmo considerando que o número total de locos alozímicos que pode ser

detectado seja superior a 100 (Murphy et al., 1990), somente um número limitado de

sistemas isoenzimáticos polimórficos, geralmente entre 10 e 20, é usualmente

visualizado em cada espécie (Ferreira & Grattapaglia, 1998). Além do número de locos

ser limitado, freqüentemente depara-se com o problema do baixo polimorfismo e da

ausência de polimorfismo genético para um ou vários locos isoenzimáticos disponíveis,

o que limita ainda mais o poder da técnica.

Outro aspecto a ser considerado nos marcadores alozímicos refere-se à

possibilidade de determinados locos não serem seletivamente neutros. A maioria dos

trabalhos empregando marcadores alozímicos na caracterização genética de populações

naturais tem se baseado no pressuposto da neutralidade desses marcadores. Por outro

lado, alguns trabalhos também têm apontado a existência de valor adaptativo associado

ao polimorfismo protéico (Hamrick, 1982; Bergmann & Ruetz, 1991; Gillespie, 1992;

Torggler et al., 1995; Eanes, 1999 e Conte et al., 2003). Esse fato tem gerado

controvérsias quanto à utilização desses marcadores em determinadas aplicações, pois

tem envolvido o componente seleção na manutenção da diversidade protéica, o que vai

de encontro com os pressupostos da teoria selecionista (Futuyma, 1992).

Para David (1998), a existência de valor adaptativo associado aos marcadores

alozímicos pode ter origem de duas maneiras. Primeiro, se os locos que promovem valor

adaptativo forem os próprios locos marcadores, então o polimorfismo enzimático

observado está sob direta seleção. Por outro lado, quando os locos marcadores não são

responsáveis diretamente pelo valor adaptativo dos indivíduos, o termo “associative

overdominance” (Ohta, 1971), ou sobredominância associada entre locos é

freqüentemente utilizada. Neste caso, os locos marcadores refletem o comportamento

dos outros locos do genoma, através de correlação genética associada ao desequilíbrio de

ligação.

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Segundo Robinson (1998), a validade da informação obtida por meio de

isoenzimas para análises de processos evolutivos baseia-se na suposição de que essas

sejam marcadores neutros, ou seja, as diversas formas de cada enzima conferem o

mesmo valor adaptativo aos indivíduos. Em favor da hipótese da neutralidade, Kimura

(1968) propôs que o polimorfismo em isoenzimas deve-se à fixação ao acaso de alelos

neutros. Por esta hipótese, se as isoenzimas não fossem seletivamente neutras, o alto

grau de variabilidade que apresentam na natureza implicaria a manutenção de grande

quantidade de alelos com valor adaptativo abaixo do ótimo, resultando em uma carga

deletéria excessiva para a espécie. Em outras palavras, não seria possível manter todo

esse polimorfismo sob seleção constante.

Pelo pressuposto da neutralidade, a utilização dos marcadores alozímicos

apresenta como principal vantagem a possibilidade de caracterização das forças

evolutivas (eventos determinantes da organização da variabilidade genética) sem a

influência da seleção, permitindo uma maior compreensão do comportamento das

populações naturais (Reis, 1996b). Por outro lado, a existência de valor adaptativo em

determinados locos teria algumas vantagens em estudos como associações entre fatores

de ambiente e as freqüências alélicas de marcadores alozímicos (Hamrick & Allard,

1972 e Clegg & Allard, 1972) ou mesmo em estudos de recrutamento de plantas em

populações naturais (Tonsor et al., 1993; Lee et al., 2000 e Conte et al., 2003).

No entanto, a controvérsia selecionista versus neutralista, atualmente, não

constitui uma divergência completa. Conforme Futuyma (1992), a idéia mais aceita é a

de que somente algumas das muitas variantes de enzimas reveladas por eletroforese são

fixadas por seleção e que o restante da variação deve ser neutra. Esta idéia também é

defendida por Bergmann & Ruetz (1991), que afirmam que apenas os locos envolvidos

em importantes rotas biossintéticas estariam mais sujeitos à seleção.

Embora o número de outros marcadores (marcadores de DNA) tenha

aumentado significativamente nos últimos anos, o interesse e a importância das

isoenzimas de plantas não tem diminuído. Elas continuam sendo intensivamente

utilizadas por geneticistas de populações (Chung & Epperson, 2000; Mariot et al., 2002;

Telles, 2000; Sebbenn, 2001; Auler et al., 2002; Mantovani, 2003; Ribas, 2003 e Conte

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31

et al., 2003). Apesar das limitações apresentadas, as isoenzimas continuam a responder

eficientemente questões particulares e, portanto, representam uma importante ferramenta

de estudo nas diversas áreas da genética.

2.6.2 Marcadores Microssatélites

Seqüências simples repetidas (SSRs), também denominadas microssatélites,

vêm se constituindo numa poderosa classe de marcadores moleculares com uma ampla

gama de aplicações no campo da genética. SSRs são pequenas seqüências de DNA,

consistindo de unidades repetidas de nucleotídeos (1-6 nucleotídeos, em tandem)

encontradas em todos os genomas de procariotos e eucariotos analisados até o momento

(Gupta et al., 1996; Souza, 2001 e Zane et al., 2002). Elas estão presentes tanto em

regiões codificadoras como não codificadoras e são geralmente muito polimórficas

devido ao alto nível de variação no número de repetições (Atherly et al., 1999).

Grande parte do conhecimento a respeito dos microssatélites foi obtido a partir

do reino animal, principalmente em mamíferos. Eles foram inicialmente estudados no

genoma humano, onde estão presentes em grande número de cópias, dispersas por todo o

genoma (Hamada et al., 1982). Em plantas, a presença das repetições (AC)n e (AG)n foi

descrita pela primeira vez por Condit & Hubbell (1991). No genoma de plantas

superiores a repetição (AC)n é geralmente menos freqüente do que em mamíferos, sendo

o motivo (AT)n o mais encontrado, seguido por (A)n e (AG)n. Repetições de

trinucleotídeos e tetranucleotídeos também foram encontrados nos genomas de plantas,

sendo os motivos mais freqüentes (AAT)n, (AAC)n, (AGC)n, (AAT)n, (AAG)n, (AATT)n

e (AAAT)n (Morgante & Olivieri, 1993; Wang et al., 1994; Akkaya et al., 1995 e Gupta

et al., 1996).

Enquanto o número de repetições em tandem de um microssatélite geralmente

varia, a seqüência de bases adjacente ao microssatélite pode ser única no genoma e

conservada (no mesmo loco) entre diferentes indivíduos da mesma espécie. Assim,

pode-se desenhar um oligonucleotídeo específico para as seqüências adjacentes a um

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dado microssatélite, de forma que, através de uma reação de PCR será possível

amplificar este loco em diferentes genótipos. Como o número de unidades repetidas em

tandem em um microssatélite pode ser variável entre diferentes genótipos, os produtos

de amplificação dos diferentes indivíduos mostrarão um polimorfismo no tamanho do

fragmento amplificado (Souza, 2001).

Entre as classes de marcadores moleculares existentes, os microssatélites são os

que mais se aproximam do marcador ideal para estudos populacionais (Rafalski et al.,

1996 e Chase et al., 1996). Isto deve-se ao fato de tais marcadores possuírem

características extremamente favoráveis para este fim, entre as quais destacam-se: (i) são

muito abundantes na maioria dos genomas e, geralmente, são uniformemente

distribuídos; (ii) são hipervariáveis e codominantes, portanto o conteúdo informativo é

bastante elevado, permitindo uma precisa discriminação mesmo de indivíduos

proximamente relacionados; (iii) SSRs são baseados em PCR, o que requer pouco DNA

para sua amplificação; (iv) todo loco SSR é definido por um único par de primers

(iniciadores), de forma que a troca de informação entre laboratórios é facilitada; (v) a

genotipagem pode ser semi-automatizada em ensaios multiplex (vários locos ao mesmo

tempo); (vi) marcadores microssatélites são transferíveis entre pedigrees, populações, e

freqüentemente entre espécies geneticamente relacionadas do mesmo gênero (Rafalski et

al., 1996, Chase et al., 1996, Ferreira & Grattapaglia, 1998; Souza, 2001 e Grattapaglia,

2001).

A principal limitação refere-se ao custo e ao esforço inicial requerido para

clonagem e seqüenciamento das regiões que flanqueiam a região microssatélite, para a

obtenção dos primers. Os métodos atuais para o descobrimento de marcadores baseados

em SSR tipicamente requerem a construção de uma biblioteca genômica, triagem de

uma biblioteca para elementos repetitivos, sequenciamento do DNA de clones positivos,

desenho dos primers, seleção dos locos informativos e caracterização da variação alélica

(Zane et al., 2002; Souza, 2001 e Grattapaglia, 2001). Porém, este custo é facilmente

compensado pela ampla gama de potencialidades de pesquisa e desenvolvimento que se

abrem ao se possuir tal tecnologia para uma determinada espécie (Grattapaglia, 2001).

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33

Além disso, uma vez desenvolvidos, o seu custo de utilização equivale ao de outros

marcadores baseados em DNA.

Como outras classes de DNA repetitivo, os microssatélites possuem altas taxas

de mutação, numa faixa entre 10-3 e 10-4 por loco por gameta por geração, portanto, uma

taxa de mutação superior em relação a outras regiões do genoma. Esta instabilidade

surge através de um mecanismo específico de mutação chamado deslizamento (slippage)

da DNA polimerase (Tautz & Schlötterer, 1994). Além disso, o crossing-over desigual,

causado pelo pareamento errôneo dessas seqüências durante o quiasma, também é um

dos responsáveis pela maior taxa de mutação em regiões microssatélites (Brown et al.,

1996 e Schlötterer et al., 1998). Esses dois fenômenos em conjunto são os responsáveis

pelas altas taxas de polimorfismo detectadas nestes marcadores.

Devido ao alto grau de polimorfismo, os microssatélites têm sido empregados

em diferentes situações da área vegetal. Tais marcadores foram empregados com

sucesso na discriminação entre acessos e cultivares de bancos de germoplasma,

detectando duplicações, mistura de sementes, deriva e cruzamentos não controlados

(Olufowote et al., 1997; Melo, 2000 e Souza, 2002). Também foram empregados na

determinação do grau de parentesco entre indivíduos (Yang et al., 1994 e Melo, 2000),

na determinação de origem parental por teste de paternidade (Kirst et al., 1998 e Gaiotto

et al., 2003), e na construção de mapas genéticos de ligação (Wu & Tanksley, 1993; Bell

& Ecker, 1994; Akkaya et al., 1995; Brondani, et al., 1998 e Cregan et al., 1999). Em

espécies arbóreas tropicais, os microssatélites foram descritos e empregados com

sucesso em estudos do sistema reprodutivo, fluxo gênico e estrutura genética de

populações, tais como: Pithecellobium elegans (Chase et al., 1996) Carapa guianensis

(Dayanandan et al., 1999), Caryocar brasiliense (Collevatti et al., 2001a, b), Euterpe

edulis (Gaiotto et al., 2003), Eugenia dysenterica (Zucchi et al., 2003), Theobroma

grandiflorum (Alves et al., 2003), entre outros.

Em genética de populações de plantas, o emprego de microssatélites teve uma

grande contribuição na melhoria das estimativas de parâmetros genéticos, especialmente

em populações com diversidade baixa ou não detectada por outros marcadores (Paetkau,

1995). Um aspecto geral dos estudos genéticos é que pouca informação pode ser obtida

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sobre a estrutura de populações caso os marcadores empregados não sejam

suficientemente polimórficos. Neste aspecto, estimativas de parâmetros genéticos

populacionais críticos, tais como a diferenciação genética e endogamia para algumas

espécies e medidas diretas de fluxo gênico e tamanho efetivo populacional para muitas

espécies, foram grandemente beneficiadas com o advento dos marcadores moleculares

altamente polimórficos (Chase et al., 1996).

Entretanto, a interpretação da significância da variação nesses locos dentro e

entre grupos deve ser cuidadosamente considerada. Hedrick (1999) demonstrou que o

nível de diferenciação e distância genética entre grupos é altamente influenciado pelo

nível de heterozigosidade desses locos altamente variáveis. Além disso, a conexão entre

a significância estatística e biológica pode às vezes ser pequena. Portanto, cuidados

devem ser tomados na interpretação dos dados de microssatélites, uma vez que a

informação que eles fornecem pode ser um pouco diferente daquelas obtidas com

marcadores tradicionalmente menos variáveis.

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3 EFEITOS DO MANEJO NA ESTRUTURA GENÉTICA DE POPULAÇÕESDE Euterpe edulis MART., COM BASE NA VARIABILIDADE DE LOCOSMICROSSATÉLITES

Resumo

Os efeitos da exploração tradicional e do manejo tecnificado sobre os níveis devariabilidade e estrutura genética de populações de Euterpe edulis (Arecaceae), foraminvestigados comparando-se duas populações não perturbadas com duas populaçõesexploradas, no sul do Brasil. Em cada população foram examinadas três categorias deplantas, usando oito locos microssatélites. Em média, as seguintes estimativas foramobtidas: A : 14,1, 14,5, 14,7; eH : 0,781, 0,785, 0,781; oH : 0,678, 0,709, 0,699; f :

0,133, 0,096, 0,105, para plântulas, jovens e adultos, respectivamente. A distribuição davariabilidade genética entre e dentro de populações ( STG ; STR ) revelou que mais de

95% da variabilidade genética molecular da espécie encontra-se distribuída dentro depopulações. A informação genética desses marcadores revelou que o processo deexploração, até o momento, não causou alterações nos níveis de diversidade e naestrutura genética das populações exploradas de E. edulis. Entretanto, houve umaumento nos níveis de endogamia nas coortes mais jovens das duas populaçõesexploradas. Embora os resultados da população manejada podem ter sido influenciadospor outros eventos de exploração ocorridos no passado, o aumento no coeficiente deendogamia das duas populações pode estar relacionado ao aumento na freqüência decruzamentos não aleatórios, uma vez que a autofecundação é um evento de ocorrênciamuito rara nesta espécie.

Palavras-chave: espécie tropical; extrativismo; manejo; microssatélites; diversidadegênica; endogamia.

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Effects of management on the genetic structure of Euterpe edulis Mart. populations

based on variability at microsatellite loci

Summary

We investigated the effects of two exploitation systems - extractivism and

management - on the levels of variability and genetic structure of Euterpe edulis Mart.

populations, by comparing two undisturbed populations with two exploited populations

in southern Brazil. Three categories of plants, from seedlings to adults, were examined

using eight microsatellite loci. The following average estimates were obtained: A : 14.1,

14.5, 14.7; eH : 0.781, 0.785, 0.781; oH : 0.678, 0.709, 0.699; f : 0.133, 0.096, 0.105

for seedlings, juveniles and adults, respectively. The estimates of interpopulation genetic

variation ( STG ; STR ) revealed that more than 95% of the molecular genetic variability of

the species was distributed within populations. Up to the time of the study, the

exploitation process had not caused changes in the levels of variability or in the genetic

structure of the disturbed populations of the species. However, according to the

information from eight microsatellite loci, there was an increase in the inbreeding

coefficients in the youngest cohorts of the two exploited populations. Although the

results of the managed population could have been influenced by other exploitation

events that have occurred in the past, the increase in the inbreeding coefficient of the

two exploited populations is probably due to an increase in the frequency of non-random

matings, since self-pollination is an event of rare occurrence in this species.

Keywords: tropical tree; extractivism; management; microsatellites; genetic variability;

inbreeding.

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3.1 Introdução

O palmiteiro (Euterpe edulis Mart.; Arecaceae) é uma espécie nativa da

Floresta Tropical Atlântica Brasileira. O produto comercial obtido desta espécie - o

palmito - é um dos mais importantes recursos não madeiráveis explorados na Floresta

Atlântica. Em populações naturais, a espécie apresenta uma alta densidade e uma

estrutura demográfica na forma de "J-invertido" (Reis et al., 1996). A espécie é monóica,

com acentuada protandria e polinizada por insetos (Mantovani & Morellato, 2000).

Devido à alta produção anual de frutos, a espécie é um importante recurso alimentar para

a fauna e portanto representa uma espécie-chave no ecossistema, considerando o

conceito de Terborgh (1986). Alguns estudos empregando marcadores alozímicos (Reis,

1996a; Reis et al., 1998, 2000e e Conte et al., 2003) e microssatélites (Gaiotto et al.,

2003) em populações naturais, revelaram que a espécie possui uma alta taxa de

fecundação cruzada, altos níveis variabilidade genética dentro das populações e baixa

divergência entre populações.

No entanto, a situação atual das populações naturais da espécie é de intensa

fragmentação e degradação com uma reduzida área de ocorrência (Reis et al., 2000a).

Embora um sistema de manejo tecnificado tenha sido proposto para a espécie (Reis et

al., 1992; Ribeiro et al., 1994; Reis et al., 1998; Reis et al., 2000b e Reis et al., 2000d), a

intensiva exploração realizada desde a década de 1960 resultou na eliminação de várias

populações e em sérias alterações das suas populações remanescentes (Galetti &

Fernandez, 1998; Reis & Guerra, 1998 e Batista et al., 2000). Esta situação das

populações da espécie também é um reflexo do estado de degradação em que se

encontra a floresta Atlântica e um forte indicador de áreas mais ou menos

comprometidas deste importante bioma.

As investigações sobre as conseqüências genéticas da exploração florestal têm

enfocado principalmente a redução no tamanho e o aumento do isolamento espacial dos

remanescentes florestais (Young et al., 1993; Ballal et al., 1994; Young & Merriam,

1994; Hall et al., 1996; Nason et al., 1997; Nason & Hamrick, 1997; Aldrich et al., 1998;

Dayanandan et al., 1999 e Scariot, 1999). A grande maioria desses trabalhos tem

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apontado perdas de diversidade, aumento nos níveis de endogamia e alterações na

estrutura genética das populações. Em geral, essas conseqüências são mais evidentes nas

coortes mais jovens das populações remanescentes (Murawski et al., 1994; Aldrich et

al., 1998 e Sebbenn et al., 2000). Entretanto, evidências a partir de estudos com espécies

temperadas e subtropicais sugerem que nem todos os eventos de fragmentação levam a

perdas genéticas, e também que diferentes tipos de variação genética (e.g. variação

alozímica e quantitativa) podem responder diferentemente (Young et al., 1996). Além

disso, em alguns casos a fragmentação pode até aumentar o fluxo gênico entre

populações remanescentes, quebrando a estrutura genética local (Foré et al., 1992 e

Ballal et al., 1994).

Embora a fragmentação e a exploração na forma de corte seletivo sejam

comuns em florestas tropicais, existe pouco conhecimento dos efeitos do segundo

processo sobre a diversidade e a estrutura genética das populações. A exploração na

forma de corte seletivo, tal como é realizada em E. edulis, envolve alterações no

tamanho populacional e nos padrões espaciais dos indivíduos dentro das populações,

conforme também observado em outras espécies (Bawa & Krugman, 1990 e Murawski,

1995). De acordo com a intensidade do manejo, tais alterações podem resultar em efeitos

negativos sobre a estrutura genética das populações de uma espécie, como a perda de

alelos raros, aumento da endogamia e redução na produtividade e adaptação das

gerações subseqüentes (Murawski et al., 1994 e Sebbenn et al., 2000). Uma redução

drástica no tamanho das populações, através do corte seletivo, pode levar à deriva

genética caracterizada pela perda e fixação aleatória de alelos, aumento do parentesco e

da endogamia dentro das populações (Mettler & Gregg, 1973; Futuyma, 1992; Ellstrand

& Elam, 1993; Alvarez-Buylla et al., 1996 e Falconer & Mackay, 1996), colocando em

risco a sustentabilidade do sistema de manejo. Segundo Reis et al. (1998), a base para a

sustentabilidade da floresta é a manutenção de seus componentes genéticos e ecológicos.

Desta forma, o manejo florestal deve ser realizado sob uma perspectiva

conservacionista, onde a dinâmica populacional, a estrutura genética das populações

naturais, bem como suas interações com as outras espécies do ambiente sejam

preservadas.

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Considerando a escassez de informações relativas às conseqüências genéticas

da exploração de palmito em populações naturais de Euterpe edulis Mart., o objetivo

deste estudo foi avaliar o impacto do processo de exploração da espécie em termos de

perda de diversidade e alteração da estrutura genética de populações. O estudo foi

baseado na hipótese de que o processo de exploração florestal promove redução na

variação genética, aumento nos níveis de endogamia e conseqüente alteração na

estrutura genética das populações naturais da espécie. Os dados genéticos foram gerados

usando marcadores microssatélites (seqüências simples repetidas; SSR), atualmente

considerados os marcadores moleculares mais informativos para estimativas de

parâmetros genéticos populacionais (Chase et al., 1996; Powell et al., 1996 e Souza,

2001).

3.2 Material e Métodos

3.2.1 Populações, Amostragem e Extração de DNA

O estudo foi realizado em duas localidades do Estado de Santa Catarina, Brasil,

sendo uma no Município de Ibirama, e outra no Município de São Pedro de Alcântara.

Em cada localidade foram escolhidas duas áreas de ocorrência natural de E. edulis, uma

sem influência antrópica (população natural) e outra onde foi realizada a extração de

palmito (população explorada), totalizando quatro populações (Tabela 1). Dois sistemas

de exploração foram considerados no presente estudo: (i) extrativismo (São Pedro), onde

a exploração é realizada através da extração da maioria dos indivíduos acima de 2 m de

altura, permanecendo poucos indivíduos reprodutivos na área; e (ii) manejo (Ibirama), o

qual caracteriza-se pela retirada apenas dos indivíduos acima de 9 cm de DAP,

respeitando-se a permanência de pelo menos 50 indivíduos reprodutivos por hectare,

sendo tais critérios definidos pela legislação florestal do Estado de Santa Catarina.

A cobertura vegetal das duas regiões é de Floresta Ombrófila Densa,

pertencente ao domínio da Mata Atlântica (IBGE, 1988). Apesar de a situação atual das

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populações da espécie ser de intensa fragmentação e degradação, existem muitos

fragmentos remanescentes em bom estado de conservação, como é o caso das duas

populações naturais amostradas neste estudo. Além disso, nas duas regiões estudadas os

fragmentos florestais apresentam uma certa conectividade em função da proximidade

entre os fragmentos e, portanto, populações degradadas podem sofrer a influência de

populações não degradadas do seu entorno. A história de exploração nas populações

estudadas é bastante diferente. Em São Pedro, a exploração foi realizada em diferentes

episódios, entre as décadas de 1970 e 1990, período em que a legislação apresentava

poucas restrições à exploração de palmito. Em Ibirama, embora a população possa ter

sofrido exploração no passado, o manejo foi realizado há três anos, com a retirada dos

indivíduos passíveis de corte, de acordo com os critérios técnicos mencionados

anteriormente. A distância geográfica entre as duas regiões é de aproximadamente 150

km. Na região de Ibirama, a distância entre as duas populações é de aproximadamente 2

km, enquanto em São Pedro essa distância é de 5 km.

Tabela 1. Algumas características das populações amostradas. Piracicaba-SP,Esalq/USP, 2004

CoordenadasPopulação Localidade Densidade(Adultos/ha)

Altitude(m) Latitude (S) Longitude (W)

Pop. 1: Extrativismo São Pedro 15 350 27°30' - 27°35' 48°45' - 48°50'Pop. 2: Manejo Ibirama 50 350 27°00' - 27°05' 49°25' - 49°30'Pop. 3: Natural Ib Ibirama 130 350 27°00' - 27°05' 49°25' - 49°30'Pop. 4: Natural SPA São Pedro 120 300 27°30' - 27°35' 48°45' - 48°50'

Para os estudos de variabilidade e estrutura genética, em cada população foram

coletadas amostras de plantas pertencentes a três categorias (Figura 1), de acordo com a

classificação de Reis et al. (1996), visando representar os indivíduos em diferentes fases

de desenvolvimento dentro de cada nível de ação antrópica. Assim, foram amostradas:

i) Plântulas - indivíduos com até 10 cm de altura de inserção da folha

flecha, representando os indivíduos da última frutificação;

ii) Jovem II - plantas entre 30 cm e um metro de altura de inserção, sem o

estipe exposto e com 4 a 5 folhas nitidamente pinadas;

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iii) Adultos - plantas em fase reprodutiva.

As coletas foram realizadas em três pontos distribuídos aleatoriamente em cada

população, onde foram amostrados cerca de 50 indivíduos por categoria. As amostras

foliares foram mantidas sobre gelo, transportadas para o laboratório e estocadas a uma

temperatura de 4°C. Na extração do DNA genômico, utilizou-se o método CTAB,

conforme as recomendações de Ferreira & Grattapaglia (1998).

Figura 1 - Categorias de plantas de E. edulis. A - Plântula; B - Jovem II; C - Adulto(Segundo Reis et al., 1996)

1 m

C

15 cm

B

2 cm

A

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3.2.2 Amplificação dos Locos SSR

Oito locos SSR previamente desenvolvidos e otimizados para E. edulis (Gaiotto

et al., 2001) foram usados na genotipagem de todos os indivíduos amostrados (Tabela

2). As reações de amplificação foram realizadas em termociclador modelo PTC 100 MJ

Research, através do seguinte protocolo: 94°C por 5 min; 30 ciclos de 94°C por 1 min,

temperatura de anelamento específica para cada par de “primers” por 1 min (Gaiotto et

al., 2001), 72°C por 1 min; e o último passo para extensão a 72°C por 7 min. Ao

coquetel da reação da polimerase em cadeia (PCR) foram adicionados os seguintes

componentes para um volume de 13µl: 3µl de DNA genômico (2,5ng/µl); 1,21µl de

água milli-Q autoclavada; 1,3µl de tampão PCR 10x (200mM Tris-HCl, 500mM KCl,

pH 8,4); 1,3µl de dNTPs (2,5mM); 1,3µl de DMSO 50%; 0,39µl de MgCl2 (50mM);

4,3µl de ”primer” (0,9µM); e 0,2µl de Taq DNA polimerase (5U/µl). Os fragmentos

amplificados foram separados por eletroforese em gel de poliacrilamida 4%, TBE 1x,

corrida a 60W/1300V/46mA por 1 hora, usando como marcador “ladder” 10 pb. Os géis

foram corados com nitrato de prata conforme descrito em Creste et al. (2001).

Tabela 2. Informações sobre os locos microssatélites de Euterpe edulis utilizados, comas respectivas amplitudes alélicas e temperatura de anelamento (Ta).Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Nome Número derepetições

Seqüências(5’-3’)

Amplitudealélica

Ta

(°C)N. de acesso

GenBank

EE3 (AG)11.(AG)16F: TTCgCgCACACTgAgAgR: ggTAgCgTTgAtTggTCC 194-210 56 AF328879

EE5 (AG)24F: gAgAACACATAAgCTgCR: gCtTCAgAATTAggACA 102-136 56 AF328882

EE8 (AG)20F: gTATTCCAATgTgCTCACAgR: gTgCAgTAggCTTCTAgTACC 110-132 58 AF328872

EE23 (A)14.(AG)23F: gTTCTgCgATTCATACTCCTgR: TACgAACCAAgATggAgCAA 100-132 58 AF328877

EE45 (AG)28F: AAAgAAATTggCgTgACATCR: AACCAgTCTTCTCCCTCTCg 70-154 56 AF328887

EE47 (AG)20F: CgAAATCAATggTTTCAgTgR: AATTATTgTTgTgggCAgC 214-246 56 AF328874

EE48 (AG)27F: CCTACCATTACgTACTgTCgR: CAATATCAAgCTCATCCATC 210-266 56 AF328875

EE52 (AG)22F:TTCTgTggAgAgTCAATCATCR: AATCTgACAAggCCTCAAC 230-260 56 AF328888

Adaptado de Gaiotto et al. (2001)

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3.2.3 Análise Estatística

A partir da interpretação do padrão de bandas nos géis foram obtidas as

freqüências alélicas e genotípicas de cada loco. Estas freqüências foram submetidas ao

teste exato de Fisher para verificar a aderência às proporções de Equilíbrio de Hardy-

Weinberg, conforme definido por Weir (1996), utilizando o programa TFPGA (Miller,

1997). Esse teste foi feito por meio do método convencional de Monte Carlo, utilizando

10 batches (grupos) com 1.000 permutações por batch.

A variabilidade genética molecular dentro das populações foi caracterizada pelo

número médio de alelos por loco (A) e pelas heterozigosidades observada (Ho) e

esperada (He) sob equilíbrio de Hardy-Weinberg para cada população (Nei, 1978),

utilizando o programa GDA (Lewis & Zaykin, 2000). Também foram obtidas as

estimativas do índice de fixação (f ou FIS de Wright) de cada população, através de

análise de variância, cuja significância foi testada pelo procedimento de reamostragem

sobre locos, utilizando 10.000 bootstraps, tendo em vista estimar a variação entre locos.

O índice de fixação também foi estimado mantendo-se o alelo mais freqüente e

agrupando-se os demais, uma vez que o alto nível de polimorfismo nos locos

microssatélites pode produzir desvios do equilíbrio de Hardy-Weinberg devido à baixa

freqüência de certos alelos em alguns locos (Weir, 1996).

A estrutura genética molecular entre populações foi investigada através da

análise da diversidade em populações subdivididas de Nei (Nei, 1973, 1977,1987), sob

modelo fixo para o efeito de populações, visto que algumas populações amostradas não

se enquadram no modelo aleatório por terem sofrido alterações pela ação antrópica. A

estimação dos parâmetros (HS, HT, DST, GST) foi realizada utilizando o programa FSTAT

(Goudet, 2001) e a significância testada pelo procedimento de reamostragem do tipo

bootstrap, utilizando 10.000 reamostragens sobre locos. A estruturação genética entre as

populações também foi quantificada através das estimativas das distâncias genéticas não

viesadas de Nei (1978). Os valores das distâncias foram utilizados na construção de

dendrogramas, empregando-se o método UPGMA de agrupamento conforme descrito

em Sneath & Sokal (1973), com auxílio do programa TFPGA (Miller, 1997).

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44

Como a maioria das mutações em locos microssatélites envolve a adição e a

subtração de um pequeno número de unidades repetidas, o processo mutacional não está

de acordo com o que se admite no modelo de alelos infinitos com baixa taxa de mutação.

Por essa razão, a estrutura genética molecular também foi quantificada pela estatística

RST (Slatkin, 1995), desenvolvida especificamente para dados de microssatélites. A

análise de variância do tamanho dos alelos foi baseada em Goodman (1997) utilizando o

programa FSTAT (Goudet, 2001).

3.3 Resultados

3.3.1 Variabilidade Genética Intrapopulacional

Todos os oito locos microssatélites apresentaram altos níveis de polimorfismo

entre categorias nas quatro populações (Figura 2), com o loco menos variável (EE5) e o

loco mais variável (EE47) mostrando, respectivamente, 13 e 26 alelos. Em média, foram

analisados 52 indivíduos por categoria por população, revelando um total de 161 alelos

nas amostras. Os valores médios das estimativas de parâmetros genéticos de diversidade

foram bastante altos e homogêneos entre as categorias (Tabela 3). O número de alelos

por loco ( A ) variou de 14,1 a 14,7, a diversidade gênica ( eH ) variou de 0,781 a 0,785, e

a heterozigosidade observada ( oH ) variou de 0,678 a 0,709. Ao nível de populações, o

número médio de alelos por loco das três categorias de plantas foi bastante homogêneo

entre as populações 1, 2 e 3, com um leve decréscimo na população 4. Esse mesmo

comportamento foi verificado para a diversidade gênica, uma vez que a sua magnitude é

dependente do número de alelos em cada população. Já a heterozigosidade observada

apresentou valores ligeiramente inferiores à diversidade gênica em todas as populações,

indicando excesso de homozigose, porém com exceção da população 4 (adultos), os

valores de oH tiveram uma pequena superioridade nas populações naturais sem

exploração (3 e 4) em relação às populações exploradas (1 e 2).

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45

Figura 2 – Polimorfismo de microssatélites no loco EE52 para 48 plantas de Euterpeedulis. Gel desnaturante de poliacrilamida corado com nitrato de prata;tamanho dos fragmentos em pares de bases (pb) indicado à esquerda.Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Tabela 3. Estimativas de parâmetros genéticos de diversidade de três categorias deplantas em quatro populações de Euterpe edulis, a partir de oito locosmicrossatélites, sendo N: número médio de indivíduos amostrados; A :número de alelos por loco; oH : heterozigosidade observada; eH :

heterozigosidade esperada sob equilíbrio de Hardy-Weinberg; f : índice defixação; IC: intervalo de confiança de f . Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Categoria/População N A eH oH f (a) IC95%

PlântulasPop. 1: Extrativismo 53,3 14,1 0,798 0,668 0,163 0,011 a 0,337Pop. 2: Manejo 51,1 14,2 0,787 0,662 0,159 0,035 a 0,262Pop. 3: Natural Ib 52,4 14,3 0,779 0,685 0,121 0,019 a 0,197Pop. 4: Natural SPA 52,5 13,7 0,760 0,695 0,085 ns -0,040 a 0,242

Média 52,3 14,1 0,781 0,678 0,133 0,013 a 0,254

JovensPop. 1: Extrativismo 50,7 14,0 0,797 0,722 0,095 ns -0,008 a 0,206Pop. 2: Manejo 52,1 15,2 0,792 0,644 0,188 0,051 a 0,331Pop. 3: Natural Ib 52,5 15,0 0,787 0,742 0,057 ns -0,039 a 0,162Pop. 4: Natural SPA 53,1 14,0 0,761 0,730 0,041 ns -0,089 a 0,168

Média 52,1 14,5 0,785 0,709 0,096 ns -0,010 a 0,211

AdultosPop. 1: Extrativismo 47,8 15,1 0,794 0,698 0,121 ns 0,000 a 0,230Pop. 2: Manejo 50,2 14,8 0,789 0,698 0,116 ns -0,043 a 0,300Pop. 3: Natural Ib 53,0 15,0 0,781 0,712 0,088 ns -0,008 a 0,184Pop. 4: Natural SPA 53,4 13,8 0,760 0,687 0,096 ns -0,028 a 0,224

Média 51,1 14,7 0,781 0,699 0,105 ns -0,007 a 0,222ns Não significativo (IC95%: 10.000 bootstraps); (a) ISFf ˆˆ =

230 pb

330 pb

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As diferenças encontradas entre as estimativas de He e Ho explicam o

aparecimento de endogamia nas populações (Tabela 3). Na média das populações, as

plântulas mostraram um valor significativo de f (0,133), enquanto os jovens e os

adultos apresentaram valores próximos entre si e não significativos (0,096 e 0,105,

respectivamente). Entretanto, considerando as populações individualmente, algumas

apresentaram valores altos e significativos nas três categorias estudadas. Nas plântulas,

as populações 1, 2 e 3 apresentaram valores significativos de f , sendo que os valores

mais expressivos foram encontrados nas duas populações exploradas (1 e 2). Entre os

jovens, a população 2 apresentou um valor de f significativo e, nos adultos, essa

significância não foi observada. Em geral, houve uma tendência de aumento nas

estimativas do índice de fixação na direção das populações exploradas, especialmente na

população 1 onde foi realizada exploração de forma extrativista.

Através do teste exato de Fisher (Tabela 4), verificou-se que algumas

populações não se encontram em equilíbrio de Hardy-Weinberg, para a maioria dos

locos estudados. A amostra de plântulas da população 1 e as amostras de jovens das

populações 2 e 3 acusaram significância no teste exato de Fisher em 5 dos 8 locos,

portanto, em 8 locos estudados 5 deles não se encontram no equilíbrio de Hardy-

Weinberg. Os locos EE48, EE8 e EE47 mostraram desvios significativos do equilíbrio

de HW em todas as categorias, sendo que esses mesmos locos apresentaram taxas

elevadas do índice de fixação, contribuindo significativamente para a manifestação de

endogamia nas populações. Entretanto, como o teste de EHW foi aplicado para

múltiplos locos, o nível de significância diminui quando a correção de Bonferroni é

considerada (Weir, 1996). Esta correção é particularmente importante para locos com

valores originais de p próximos de 0,05.

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47

Tabela 4. Probabilidade do Teste Exato de Fisher para aderência ao equilíbrio de Hardy-Weinberg, em três categorias de plantas com base em microssatélites.Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

LocosCategoria/PopulaçãoEE48 EE45 EE52 EE08 EE03 EE23 EE05 EE47

PlântulasPop. 1: Extrativismo 0,000 0,078 0,000 0,000 0,007 0,787 0,256 0,000Pop. 2: Manejo 0,000 0,449 0,000 0,000 0,376 0,304 0,154 0,000Pop. 3: Natural Ib 0,000 0,917 0,461 0,026 0,001 0,239 0,161 0,097Pop. 4: Natural SPA 0,099 0,662 0,082 0,000 0,164 0,309 0,029 0,002

JovensPop. 1: Extrativismo 0,012 0,498 0,000 0,000 0,625 0,080 1,000 0,013Pop. 2: Manejo 0,008 0,243 0,007 0,000 0,012 0,759 1,000 0,000Pop. 3: Natural Ib 0,002 0,131 0,019 0,000 0,009 0,924 1,000 0,037Pop. 4: Natural SPA 0,729 0,215 0,181 0,000 0,024 0,124 1,000 0,066

AdultosPop. 1: Extrativismo 0,000 0,094 0,001 0,000 0,662 0,542 0,336 0,062Pop. 2: Manejo 0,003 0,298 0,092 0,000 0,000 0,320 0,103 0,004Pop. 3: Natural Ib 0,000 0,521 0,626 0,000 0,041 0,207 1,000 0,000Pop. 4: Natural SPA 0,003 0,018 0,617 0,000 0,251 0,033 1,000 0,454

Uma análise das freqüências alélicas mostrou que todas as populações

estudadas apresentaram alelos exclusivos em quantidades expressivas nas três categorias

de plantas estudadas (Figura 3). No total, as três categorias apresentaram 25, 29 e 24

alelos exclusivos, respectivamente para plântulas, jovens e adultos, distribuídos nas

quatro populações. A população 3 apresentou valores elevados desses alelos nas três

categorias, enquanto a população 4 apresentou os menores valores em relação às demais.

Embora exista uma certa variação no número de alelos exclusivos entre populações, esta

variação parece estar mais relacionada às diferentes regiões do que propriamente

relacionada ao processo de exploração. Por outro lado, em função do elevado número de

alelos por loco, as freqüências alélicas podem ter sofrido o efeito da amostragem

estatística, uma vez que o tamanho das amostras empregado (~50) é limitado para

freqüências alélicas baixas. De qualquer maneira, a grande maioria desses alelos

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apresentou freqüências inferiores a 0,03, portanto, tiveram pouca contribuição nas

estimativas dos parâmetros genéticos populacionais.

Figura 3 - Número de alelos exclusivos por categoria de plantas, em um total de 161alelos microssatélites encontrados em quatro populações de Euterpe edulis.Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

3.3.2 Estrutura Genética

A estrutura genética, avaliada através da análise da diversidade em populações

subdivididas (Nei, 1973), mostrou que a maior parte da variabilidade genética molecular

está concentrada dentro das populações (Tabela 5). No conjunto das populações, foram

observados baixos valores de divergência genética ( STG = 0,024; 0,021; 0,028 para

plântulas, jovens e adultos, respectivamente). Nas comparações aos pares, foram

observados valores maiores de divergência entre populações de diferentes regiões e

menores valores entre populações dentro da mesma região. Apesar dos baixos valores

observados nas diferentes comparações, todas as estimativas foram significativamente

diferentes de zero. Esta significância pode ter ocorrido devido ao grande número de

alelos existentes nos locos microssatélites, o que torna o teste estatístico extremamente

sensível.

0

2

4

6

8

10

12

Pop 1 Pop 2 Pop 3 Pop 4Populações

Plântulas Jovens Adultos

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49

As estimativas de RST, apesar de mais elevadas, apresentaram um

comportamento similar ao GST. Entre as categorias de plantas as estimativas variaram de

0,033 a 0,048. Nas comparações aos pares, as estimativas variaram entre 0,004 a 0,091,

entretanto, manteve-se a tendência de uma maior divergência entre populações de

diferentes regiões. Com exceção da comparação 2 x 4, nos indivíduos adultos, todas as

demais estimativas foram significativamente diferentes de zero.

Tabela 5. Estimativas de parâmetros de estrutura genética populacional em Euterpeedulis com base em marcadores microssatélites, sendo: oH a heterozigosidade

observada, SH , TH e STD as diversidades genéticas dentro de populações,

total e entre populações, respectivamente. STG e STR : medidas de divergência

entre populações, tomadas aos pares. Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Categoria / Combinação(a)oH SH TH STD STG STR

PlântulasPop.1 x Pop.2 0,666 0,794 0,815 0,021 0,025* 0,044*Pop.1 x Pop.3 0,677 0,790 0,810 0,020 0,024* 0,031*Pop.1 x Pop.4 0,682 0,780 0,794 0,013 0,017* 0,016*Pop.2 x Pop.3 0,674 0,784 0,794 0,010 0,013* 0,016*Pop.2 x Pop.4 0,679 0,775 0,794 0,019 0,024* 0,039*Pop.3 x Pop.4 0,691 0,770 0,801 0,031 0,038* 0,057*

Conjunto 0,678 0,782 0,801 0,019 0,024* 0,033*

JovensPop.1 x Pop.2 0,683 0,796 0,811 0,015 0,018* 0,049*Pop.1 x Pop.3 0,732 0,793 0,813 0,019 0,024* 0,018*Pop.1 x Pop.4 0,726 0,780 0,790 0,010 0,013* 0,037*Pop.2 x Pop.3 0,694 0,791 0,805 0,014 0,017* 0,021*Pop.2 x Pop.4 0,687 0,778 0,800 0,022 0,027* 0,091*Pop.3 x Pop.4 0,737 0,775 0,794 0,019 0,024* 0,069*

Conjunto 0,710 0,786 0,802 0,017 0,021* 0,048*

AdultosPop.1 x Pop.2 0,699 0,793 0,822 0,029 0,035* 0,058*Pop.1 x Pop.3 0,706 0,788 0,812 0,023 0,029* 0,071*Pop.1 x Pop.4 0,693 0,778 0,791 0,013 0,017* 0,025*Pop.2 x Pop.3 0,706 0,786 0,805 0,019 0,024* 0,004ns

Pop.2 x Pop.4 0,693 0,776 0,799 0,023 0,029* 0,054*Pop.3 x Pop.4 0,700 0,771 0,797 0,025 0,032* 0,067*

Conjunto 0,699 0,782 0,804 0,022 0,028* 0,045*(a) Extrativismo (1); Manejo (2); Natural Ib (3); Natural SPA (4)* P<0,05 (IC95%: 10.000 bootstraps); ns Não significativo

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50

As distâncias genéticas de Nei (1978) calculadas entre as populações

apresentaram um comportamento similar às estatísticas GST e RST (Figura 4). Estas

variaram de 0,053 a 0,146 para as plântulas, 0,046 a 0,105 para os jovens e 0,063 a

0,154 para os adultos. A correlação cofenética dos agrupamentos UPGMA foi alta

(0,750, 0,820 e 0,823, respectivamente). Nas três categorias são observados dois

agrupamentos, o primeiro formado pelas populações oriundas de Ibirama (2 e 3) e o

segundo agrupamento formado pelas populações oriundas de São Pedro de Alcântara (1

e 4). Este comportamento demonstra que a exploração até o momento teve pouca

influência sobre o padrão de estruturação molecular, uma vez que os maiores níveis de

divergência foram encontrados entre populações de diferentes regiões.

Figura 4 - Dendrogramas UPGMA de quatro populações de E. edulis com diferentesníveis de ação antrópica usando a distância genética não viesada de Nei(1978). Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

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Figura 4 (cont.) - Dendrogramas UPGMA de quatro populações de E. edulis comdiferentes níveis de ação antrópica usando a distância genética não viesadade Nei (1978). Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

3.4 Discussão

Os oito locos microssatélites empregados neste estudo detectaram altos níveis

de variação genética molecular, confirmando o alto conteúdo de informação genética

desses marcadores para os estudos de parâmetros genéticos populacionais de Euterpe

edulis (Gaiotto et al., 2003). Esta bateria de marcadores microssatélites mostrou-se

altamente eficiente para explicar a diversidade gênica, pois detectou 84,4% da máxima

diversidade possível (0,931), tomando-se por base o número médio de alelos por loco

das três categorias, onde He máx.=(Ā-1)/Ā. Considerando a informação molecular como

um indicador da diversidade gênica nos demais locos, a alta diversidade encontrada na

espécie apresenta especial relevância pela possibilidade de formação de novos

recombinantes nas próximas gerações, o que implica na capacidade de adaptação a

novos microambientes e também na manutenção da dinâmica populacional da espécie,

conforme discutido em Barret & Kohn (1991) e Reis (1996a).

A análise das estimativas dos parâmetros de diversidade, tais como o número de

alelos por locos e a diversidade gênica, revelou que as populações naturais e exploradas

apresentaram níveis similares de diversidade nas três categorias de plantas estudadas. A

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manutenção dos níveis de heterozigosidade ao longo das gerações, na ausência de fluxo

gênico, é dependente do tamanho efetivo populacional (Ne), do número de gerações

transcorridas (t) e da heterozigosidade inicial (Ho), tal que Ht = (1 – 1/2Ne)tHo, para Ne

constante (Crow & Kimura, 1970). Assim, verifica-se que alterações significativas nos

níveis de heterozigosidade em algumas gerações somente são possíveis reduzindo-se

drasticamente o tamanho efetivo; ao contrário poucas alterações devem ser observadas.

Considerando que o tamanho efetivo das populações exploradas ainda seja elevado,

especialmente na população 2 (Ibirama), e que o número de gerações transcorridas

nessas populações é baixo (pelo menos 15 anos por geração), os níveis de diversidade

gênica até o momento não foram afetados pelo processo de exploração.

Young et al. (1993) estudou os efeitos da deriva genética em populações

remanescentes de Acer saccharum, comparando os níveis de variação alozímica entre

amostras similares de oito populações com tamanhos reduzidos e oito grandes

populações intactas da espécie. As populações remanescentes menores do que 96

árvores não mostraram sinais de redução na variação genética, sugerindo que o efeito da

deriva genética foi pequeno no período de 150-200 anos (2-3 gerações), desde a

ocorrência da fragmentação florestal. Por outro lado, em populações exploradas de

Tabebuia cassinoides, Sebbenn et al. (2000) observou perdas de alelos raros e uma

significativa redução na heterozigosidade observada e na diversidade gênica nas

primeiras gerações após a exploração. Conforme Young et al. (1996), as perdas de

variação genética são mais prováveis devido à formação de gargalos genéticos

decorrente da exploração e pela subseqüente endogamia em pequenas populações, do

que pelos efeitos da ação contínua da deriva genética aleatória.

No entanto, a ocorrência de fluxo gênico a partir de populações da vizinhança

pode ter um importante papel na manutenção dos níveis de diversidade nas populações

exploradas (Young et al., 1996 e Hall et al., 1996). Prober & Brown (1994) observaram

alguns efeitos do isolamento das populações sobre a variação genética. Pequenas

populações remanescentes (<500 indivíduos reprodutivos) de Eucaliptus albens que

estavam a menos de 250 m de uma grande população não exibiram redução na riqueza

alélica, enquanto os remanescentes mais isolados de tamanhos similares sofreram forte

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erosão genética. De fato, foi observada a presença de populações de E. edulis em bom

estado de conservação próximo das duas populações exploradas, o que deve ter

contribuído na manutenção dos níveis de diversidade dessas populações. Entretanto, é

possível que no decorrer de várias gerações esses níveis de diversidade venham a

diminuir, principalmente na população com exploração extrativista, onde o tamanho

efetivo dos indivíduos adultos teve a maior redução.

As estimativas dos índices de fixação ( f ) variaram consideravelmente entre os

locos dentro das populações e foram relativamente maiores do que outros trabalhos já

realizados com a espécie (Reis et al., 1998 e Gaiotto et al., 2003). O tamanho finito de

populações na natureza tem sido considerado como uma das causas para explicar a

variação existente entre os locos. Coelho & Vencovsky (2003) verificaram por análise

de simulação que, em populações de tamanho finito, assumindo locos em equilíbrio de

ligação, o coeficiente de endogamia tem um comportamento independente entre os locos

ao longo das gerações. Desta forma, em populações com baixo tamanho efetivo, uma

amostragem numa determinada geração pode resultar em uma variação acentuada das

estimativas entre os locos. Por outro lado, os valores de f em alguns locos podem ter

sido superestimados em decorrência da amostragem estatística ou da interpretação

errônea das bandas no gel. Em locos hipervariáveis o emprego de amostras pequenas

pode causar distorções nas freqüências genotípicas, uma vez que o número de indivíduos

genotipados pode ser insuficiente para que sejam encontrados indivíduos em todas as

classes genotípicas possíveis (Weir, 1996 e Collevatti et al., 2001b). Uma análise com

dados colapsados (alelo mais freqüente vs. demais alelos, Tabela 6) visando testar o

efeito do tamanho das amostras na estimativa do coeficiente de endogamia, revelou uma

redução nas estimativas de f das três categorias de plantas nas quatro populações

estudadas, mostrando que o tamanho da amostra empregado pode ter contribuído na

magnitude dessas estimativas. Entretanto, verificou-se que o erro associado a cada

estimativa teve um aumento significativo, o que prejudica a interpretação desses novos

resultados.

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54

Tabela 6. Estimativas dos coeficientes de endogamia de Wright ( f ) em locos

microssatélites de três categorias de plantas em quatro populações de E.edulis, agrupando os alelos, exceto o mais freqüente (dados colapsados).Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Plântulas Jovens AdultosPopulação f IC95% f IC95% f IC95%

Pop. 1: Extrativismo 0,091 ns -0,187 a 0,375 0,071 ns -0,152 a 0,321 0,040 ns -0,177 a 0,223Pop. 2: Manejo 0,053 ns -0,140 a 0,247 0,147 ns -0,078 a 0,419 0,079 ns -0,224 a 0,375Pop. 3: Natural Ib 0,054 ns -0,134 a 0,239 -0,013 ns -0,289 a 0,295 -0,002 ns -0,148 a 0,159Pop. 4: Natural SPA 0,085 ns -0,194 a 0,399 -0,118 ns -0,391 a 0,151 0,015 ns -0,268 a 0,294

Média 0,071 ns -0,158 a 0,273 0,024 ns -0,208 a 0,284 0,034 ns -0,188 a 0,248ns Não significativo (IC95%: 10.000 bootstraps)

O coeficiente de endogamia também pode ser influenciado pelo processo de

interpretação das bandas no gel. Conforme Aldrich et al. (1998), dois aspectos devem

ser observados no momento da interpretação. Primeiro, na presença de alelos nulos, a

quantidade de heterozigotos observada pode ser subestimada, elevando o coeficiente de

endogamia. Segundo, em locos hipervariáveis, o aumento do coeficiente de endogamia

pode ser o resultado da interpretação de homozigotos em lugar de heterozigotos quando

alelos possuem tamanhos muito próximos entre si e não podem ser distinguidos uns dos

outros, principalmente na presença de bandas duplicadas (stutter bands). Este fato pode

ter ocorrido com o loco EE08, o qual teve a maior contribuição para a elevação do

coeficiente de endogamia das populações. Da mesma forma, os desvios do equilíbrio de

Hardy-Weinberg observados nos locos EE8, EE48 e EE47, podem ter ocorrido em

função desses aspectos (alelos nulos, bandas duplicadas) ou também pela amostragem

estatística (Weir, 1996 e Collevatti et al., 2001b).

De qualquer maneira, os níveis de endogamia detectados pelo índice de fixação

( f ) foram ligeiramente superiores nas populações exploradas, principalmente entre as

categorias jovens. Uma das conseqüências da redução do número de indivíduos

reprodutivos em populações naturais é o aumento da autofecundação e dos cruzamentos

biparentais, levando ao aparecimento de endogamia nas gerações futuras (Bawa &

Krugman, 1990; Murawski, 1995 e Aldrich et al., 1998). Sebbenn et al. (2000),

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verificaram um aumento acentuado no nível de endogamia em uma população explorada

de Tabebuia cassinoides, ocasionado pelo aumento da taxa de autofecundação. Em um

estudo similar, comparando populações naturais e exploradas de Shorea megistophylla,

Murawski et al. (1994) encontraram diferenças nos níveis de endogamia entre as

populações com alterações no comportamento reprodutivo das populações exploradas,

como o aumento da autofecundação. Entretanto, a biologia reprodutiva de E. edulis

dificulta a ocorrência da autofecundação, pois a espécie apresenta protandria acentuada,

onde a abertura das flores femininas ocorre somente após o término da florada masculina

(Reis et al., 1993 e Mantovani & Morellato, 2000). Além disso, estudos empregando

marcadores alozímicos (Reis et al., 1998) e microssatélites (Gaiotto et al., 2003), têm

mostrado que a espécie se reproduz preferencialmente por fecundação cruzada e

apresenta elevadas taxas de fluxo gênico. Por outro lado, é possível que a exploração

cause alterações no comportamento dos polinizadores, aumentanto a probabilidade da

ocorrência de cruzamentos não aleatórios ou biparentais, o que aumenta a chance de

cruzamentos entre indivíduos relacionados (Aldrich & Hamrick, 1998 e Dayanandan et

al., 1999). Em E. edulis,os cruzamentos não aleatórios podem ser ainda mais acentuados

devido a diferença na densidade de floração no decorrer do período de florescimento da

espécie, que pode durar de quatro a cinco meses, além da variação na quantidade de

indivíduos que se reproduzem anualmente (Reis et al., 1993 e Mantovani & Morellato,

2000). Assim, o aumento do índice de fixação entre os indivíduos mais jovens das

populações exploradas pode ter sido causado por alterações no comportamento

reprodutivo dessas populações. Embora os resultados foram similares entre os dois

sistemas de exploração estudados, a endogamia observada entre os jovens da população

manejada em Ibirama pode ser o reflexo de outros episódios de exploração ocorridos no

passado, uma vez que essas plantas são oriundas de eventos reprodutivos anteriores ao

manejo. Este fato também pode ser o responsável pelo alto nível de endogamia

observado entre as plântulas dessa mesma população.

A distribuição da variabilidade genética molecular entre e dentro de populações

revelou que mais de 95% da variabilidade genética da espécie encontra-se distribuída

dentro de populações, com uma baixa divergência entre populações. Tais resultados são

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compatíveis com os de outras populações da espécie estudadas anteriormente (Reis,

1996a e Gaiotto et al., 2003). Além disso, esses resultados concordam com diferentes

estudos realizados com espécies tropicais, onde espécies que se reproduzem por

alogamia ou por sistema misto e que têm dispersão de sementes e pólen a longas

distâncias, mantêm a maior parte de sua variabilidade genética dentro das populações

(Hamrick & Godt, 1990). No entanto, a baixa diferenciação entre as populações naturais

e as exploradas indica que a intervenção, até este momento, não causou grandes

mudanças na estrutura genética das populações. Verificou-se que as maiores

divergências ocorreram entre as populações de diferentes regiões, principalmente entre

as duas populações naturais não exploradas, o que sugere ser o resultado da estrutura

genética pré-existente. Estes resultados reforçam o modelo de isolamento por distância

(Wright, 1943) para a espécie, pois indicam uma tendência de maior diferenciação com

distâncias maiores. Além disso, conforme Reis et al. (1998) a distribuição contínua e

abundante da espécie, originalmente, em toda a área do domínio da floresta Atlântica

produz uma expectativa que dá suporte a este modelo.

3.5 Conclusões

A informação genética obtida com oito locos microssatélites revelou que o

processo de exploração, até o momento, não causou alterações nos níveis de diversidade

e na estrutura genética das populações de E. edulis. Entretanto, a redução da população

de cruzamentos resultou em alterações no comportamento reprodutivo dos indivíduos,

promovendo um aumento nos níveis de endogamia nas coortes mais jovens das

populações exploradas. Embora os efeitos tenham sido pequenos, a persistência do

processo de exploração, especialmente o sistema extrativista de exploração, poderá

elevar ainda mais os níveis de endogamia e favorecer a ação da deriva genética. No

decorrer de várias gerações, esses efeitos poderão levar a espécie à depressão por

endogamia, perdas de diversidade e alteração da estrutura genética das populações.

Contudo, os resultados obtidos neste estudo indicaram questões adicionais a serem

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estudadas. Em função do elevado nível de variabilidade dos locos microssatélites

observado em E. edulis, recomenda-se aumentar o tamanho das amostras (>100) visando

otimizar a informação genética proporcionada por esses marcadores. Além disso, novos

estudos são necessários sobre os efeitos do manejo tecnificado, uma vez que os

resultados obtidos neste estudo podem ter sido influenciados por outros eventos de

exploração ocorridos no passado e pelas populações existentes nas proximidades devido

ao elevado fluxo gênico da espécie. Finalmente, tendo em vista as tendências observadas

neste estudo, recomenda-se o monitoramento de áreas críticas de exploração da espécie

em gerações futuras.

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4 ESTRUTURA GENÉTICA E SISTEMA REPRODUTIVO DE POPULAÇÕES

DE Euterpe edulis MART. AVALIADOS COM MARCADORES

MICROSSATÉLITES E ISOENZIMAS

Resumo

O objetivo deste estudo foi comparar a informação genética obtida commarcadores alozímicos e microssatélites em relação à estrutura genética e sistemareprodutivo de populações de Euterpe edulis com diferentes níveis de ação antrópica.Quatro populações naturais, sendo duas não perturbadas e duas exploradas, foramexaminadas usando oito locos microssatélites e dez locos alozímicos. Três categorias,envolvendo plântulas, jovens e adultos, foram amostradas em cada população. Nacomparação dos marcadores, os microssatélites revelaram um maior grau depolimorfismo em relação às isoenzimas, mas a análise do sistema reprodutivo ( mt = 0,99para microssatélites e mt = 1,00 para isoenzimas) e as medidas relativas de estrutura

genética como o coeficiente de endogamia de Wright (FIS) e o coeficiente dediferenciação genética de Nei (GST) foram da mesma ordem de magnitude para os doisconjuntos de marcadores. Alguns locos alozímicos foram afetados pela seleção,revelando um aumento significativo na freqüência de heterozigotos na direção do estádioadulto. A informação genética conjunta desses marcadores revelou que os efeitos daexploração foram pouco pronunciados até o momento, exceto um aumento nos níveis deendogamia entre os indivíduos jovens das populações exploradas. Portanto, ambos osmarcadores foram adequados no estudo da estrutura genética e sistema reprodutivoassim como no monitoramento das conseqüências genéticas da exploração da espécie.

Palavras-chave: espécie tropical; exploração florestal; microssatélites; isoenzimas;biologia reprodutiva; heterozigosidade; seleção; endogamia.

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Genetic structure and mating system of Euterpe edulis Mart. populations

investigated with microsatellite and allozymic markers

Summary

The aim of this study was to compare the genetic information obtained from

allozymic and microsatellite markers on the genetic structure and mating system in

undisturbed and exploited populations of Euterpe edulis Mart. Three categories of

plants, from seedlings to adults, sampled from two undisturbed and two exploited

populations, were examined using eight microsatellite loci and ten allozymic loci. As

expected, microsatellite markers showed a much higher degree of polymorphism than

allozymes, but relative measures of multilocus outcrossing rate ( mt = 0.99 for

microsatellites and mt = 1.00 for allozymes) as well as measures of genetic structure such

as Wright’s inbreeding coefficient (FIS) and Nei’s coefficient of genetic differentiation

(GST) were similar for the two sets of markers. Some allozymic loci indicated the action

of natural selection, showing a significant increase in the heterozygote frequency

towards the adult stages. Both markers displayed few pronounced effects of the

exploitation process on variability and genetic structure, with the exception of an

increase in the inbreeding levels among seedlings and juveniles of the exploited

populations. Therefore, both markers were appropriate for the study of population

genetic structure and mating system of E. edulis and also in the monitoring of the

genetic consequences of palm heart exploitation.

Keywords: tropical tree; forest exploitation; microsatellites; isozymes; mating system;

heterozygosity; selection; inbreeding.

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4.1 Introdução

Nas últimas décadas, os principais marcadores genéticos empregados nos

estudos de populações em várias espécies foram as isoenzimas (Lewontin, 1991 e

Hedrick, 1999). Embora o número de outros marcadores (marcadores de DNA) tenha

aumentado significativamente nos últimos anos, as isoenzimas continuam sendo as mais

utilizadas nos estudos de genética de populações (Hamrick et al., 1992; Torggler et al.,

1995; Bergmann & Hattemer, 1998; Sebbenn et al., 2000; Mariot et al., 2002; Auler et

al., 2002 e Conte et al., 2003). Um aspecto a ser considerado nos marcadores alozímicos

refere-se à neutralidade desses marcadores. Embora a maioria dos trabalhos empregando

marcadores alozímicos tenha se baseado no pressuposto da sua neutralidade, alguns

trabalhos têm apontado a existência de valor adaptativo associado ao polimorfismo

protéico (Hamrick, 1982; Bergmann & Ruetz, 1991; Gillespie, 1992; Torggler et al.,

1995; Eanes, 1999 e Conte et al., 2003). Esse fato tem gerado algumas controvérsias

quanto à utilização desses marcadores em genética populacional, pois tem envolvido a

seleção na manutenção da diversidade protéica. No entanto, essa controvérsia não

constitui uma divergência completa, pois a idéia mais aceita é a de que somente algumas

das muitas variantes de enzimas reveladas por eletroforese são fixadas por seleção e que

o restante da variação deve ser neutra (Futuyma, 1992).

O recente desenvolvimento de técnicas para o exame de regiões altamente

variáveis do genoma tem aumentado expressivamente o número de aplicações dos

marcadores genéticos (Jarne & Lagoda, 1996; Chase et al., 1996; Haig, 1998; Souza,

2001 e Grattapaglia, 2001). Entre eles, os marcadores microssatélites são atualmente

considerados como os que apresentam o maior conteúdo de informação genética por

loco, pois são altamente polimórficos quando comparados a outras classes de

marcadores (Rafalski et al., 1996; Chase et al., 1996 e Souza, 2001). Em função de que a

maioria das seqüências microssatélites estão localizadas em regiões não codificadoras e

nenhuma evidência exista em relação ao papel das seqüências simples repetidas em

genomas eucariotos, eles são provavelmente mais neutros do que marcadores funcionais

como as isoenzimas (Queller et al., 1993). O uso de microssatélites teve uma grande

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contribuição na melhoria das estimativas de parâmetros genéticos, especialmente em

espécies com diversidade baixa ou não detectada por outros marcadores (Paetkau, 1995).

Atualmente, esses marcadores têm sido altamente difundidos nos estudos de genética de

populações (Dayanandan et al., 1999; Collevatti et al., 2001b; Yamamoto et al., 2002;

Gao et al., 2002; Zucchi et al., 2003; Gaiotto et al., 2003 e Alves et al., 2003).

A diferença mais importante entre as duas categorias de marcadores refere-se

aos seus respectivos níveis de polimorfismo. Os marcadores microssatélites são muito

mais polimórficos do que as isoenzimas em populações naturais, com mais alelos, e

heterozigosidades geralmente superiores a 0,5 (Estoup et al., 1998). As taxas de mutação

em locos microssatélites foram estimadas na ordem de 10-5 a 10-2 (Amos et al., 1996),

que é duas a quatro ordens de magnitude superiores em relação às isoenzimas.

Particularmente, o alto nível de variação nos locos microssatélites sugere que eles sejam

mais sensíveis do que as isoenzimas em relação a mudanças no tamanho da população

de cruzamentos, estrutura e taxa de dispersão. Em populações naturais, alguns estudos

relataram resultados divergentes nas comparações desses marcadores, embora os

microssatélites tenham sido apontados como mais informativos (Streiff et al., 1998;

Estoup et al., 1998 e Gao et al., 2002). Entretanto, de acordo com Hedrick (1999),

devido ao alto nível de polimorfismo e à natureza mutacional, cuidados devem ser

tomados na interpretação dos dados de microssatélites, uma vez que a informação que

eles fornecem pode ser um pouco diferente daquelas obtidas com marcadores

tradicionalmente menos variáveis.

Euterpe edulis Mart. (Arecaceae) é uma espécie nativa com uma ampla

distribuição no subbosque da Floresta Tropical Atlântica Brasileira. A espécie é valiosa

economicamente por ser a principal fonte de extração de palmito na floresta Atlântica.

Em populações naturais, a espécie apresenta uma alta densidade e uma estrutura

demográfica na forma de "J reverso" (Reis et al., 1996). A inflorescência de E. edulis

apresenta flores unissexuadas, com acentuada protandria, e polinizadas por insetos (Reis

et al., 1993 e Mantovani & Morellato, 2000). Devido à alta produção anual de frutos, a

espécie é um importante recurso alimentar para a fauna e, de acordo com o conceito de

Terborgh (1986), pode ser considerada uma espécie-chave no ecossistema. Alguns

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estudos empregando marcadores alozímicos (Reis, 1996a; Reis et al., 1998 e Conte et

al., 2003) e microssatélites (Gaiotto et al., 2003) em populações naturais, revelaram que

a espécie possui uma alta taxa de fecundação cruzada, alta variabilidade genética dentro

das populações e baixa divergência entre populações. Entretanto, a situação atual das

populações naturais da espécie é de grande fragmentação e uma reduzida área de

ocorrência (Reis et al., 2000a). Embora um sistema de manejo tecnificado tenha sido

proposto para a espécie (Reis et al., 1992; Ribeiro et al., 1994; Reis et al., 1998; Reis et

al., 2000b e Reis et al., 2000d), a intensiva exploração realizada desde a década de 1960

resultou na eliminação de várias populações e em sérias alterações das populações

remanescentes (Galetti & Fernandez, 1998; Reis & Guerra, 1998 e Batista et al., 2000).

Segundo Reis et al. (1998), a base para a sustentabilidade de uma espécie sob manejo é a

manutenção de seus componentes genéticos e ecológicos. Dessa forma, o manejo deve

ser realizado sob uma perspectiva conservacionista, onde a dinâmica populacional, a

estrutura genética das populações naturais, bem como suas interações com as outras

espécies do ambiente sejam preservadas.

O objetivo deste estudo foi comparar a informação genética obtida com

marcadores alozímicos e microssatélites em relação à estrutura genética e o sistema

reprodutivo de populações de Euterpe edulis com diferentes níveis de ação antrópica. O

estudo foi baseado em duas hipóteses: (i) os marcadores microssatélites, devido ao seu

alto nível de polimorfismo, são mais informativos para estimação de parâmetros

genéticos em relação aos marcadores alozímicos; e (ii) em determinados locos

alozímicos, o processo de recrutamento de plantas jovens resulta em um aumento na

freqüência de heterozigotos na direção dos indivíduos adultos, portanto, os marcadores

alozímicos são capazes de detectar efeitos de seleção. A comparação da informação

genética realizada neste estudo deverá complementar o estudo prévio desenvolvido por

Conte et al. (2004), onde foram investigados, através de marcadores microssatélites, os

efeitos do manejo na estrutura genética de populações de E. edulis.

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4.2 Material e Métodos

4.2.1 Populações e Sistema de Amostragem

O estudo foi realizado em duas localidades do Estado de Santa Catarina, Brasil,

sendo uma no Município de Ibirama, e outra no Município de São Pedro de Alcântara.

Em cada localidade foram escolhidas duas áreas de ocorrência natural de E. edulis, uma

sem influência antrópica (população natural) e outra onde foi realizada a extração de

palmito (população explorada), totalizando quatro populações (Tabela 1). Dois sistemas

de exploração foram considerados no presente estudo: (i) extrativismo (São Pedro), onde

a exploração é realizada através da extração da maioria dos indivíduos acima de 2 m de

altura, permanecendo poucos indivíduos reprodutivos na área; e (ii) manejo (Ibirama), o

qual caracteriza-se pela retirada apenas dos indivíduos acima de 9 cm de DAP,

respeitando-se a permanência de pelo menos 50 indivíduos reprodutivos por hectare,

sendo tais critérios definidos pela legislação florestal do Estado de Santa Catarina.

A cobertura vegetal das duas regiões é de Floresta Ombrófila Densa,

pertencente ao domínio da Mata Atlântica (IBGE, 1988). Apesar de a situação atual das

populações da espécie ser de intensa fragmentação e degradação, existem muitos

fragmentos remanescentes em bom estado de conservação, como é o caso das duas

populações naturais amostradas neste estudo. Além disso, nas duas regiões estudadas os

fragmentos florestais apresentam uma certa conectividade em função da proximidade

entre os fragmentos e, portanto, populações degradadas podem sofrer a influência de

populações não degradadas do seu entorno. A história de exploração nas populações

estudadas é bastante diferente. Em São Pedro, a exploração foi realizada em diferentes

episódios, entre as décadas de 1970 e 1990, período em que a legislação apresentava

poucas restrições à exploração de palmito. Em Ibirama, embora a população possa ter

sofrido exploração no passado, o manejo foi realizado há três anos, com a retirada dos

indivíduos passíveis de corte, de acordo com os critérios técnicos mencionados acima. A

distância geográfica entre as duas regiões é de aproximadamente 150 km. Na região de

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Ibirama, a distância entre as duas populações é de aproximadamente 2 km, enquanto em

São Pedro essa distância é de 5 km.

Para os estudos de variabilidade e estrutura genética, em cada população foram

coletadas amostras de plantas pertencentes a três categorias (Figura 1), de acordo com a

classificação de Reis et al. (1996), visando representar os indivíduos em diferentes fases

de desenvolvimento dentro de cada nível de ação antrópica. Assim, foram amostradas:

i) Plântulas - indivíduos com até 10 cm de altura de inserção da folha

flecha, representando os indivíduos da última frutificação;

ii) Jovem II - plantas entre 30 cm e um metro de altura de inserção, sem o

estipe exposto e com 4 a 5 folhas nitidamente pinadas;

iii) Adultos - plantas em fase reprodutiva.

As coletas foram realizadas em três pontos distribuídos aleatoriamente em cada

população, onde foram amostrados cerca de 50 indivíduos por categoria. Para o estudo

do sistema reprodutivo, foram coletadas sementes de 13 plantas adultas distribuídas

aleatoriamente na população natural de São Pedro. As sementes foram germinadas em

casa de vegetação, sob condições ambientais controladas. Treze filhas de cada adulto

foram postas para crescer em viveiro com cobertura de sombrite. Estas progênies foram

utilizadas na estimação da taxa de cruzamento da população amostrada.

4.2.2 Eletroforese de Isoenzimas e Amplificação dos Locos Microssatélites

Os marcadores alozímicos foram revelados por eletroforese horizontal, usando

como meio suporte o gel de amido (penetrose 30), conforme as recomendações de

Kephart (1990) e Alfenas et al. (1998). A migração e separação das enzimas no gel foi

realizada em sistema contínuo de eletroforese, utilizando-se como sistemas de corridas

os tampões Tris Citrato (Alfenas et al.,1991) e Citrato Morfolina (Cheliack & Pittel,

1984). Um total de 10 sistemas enzimáticos foram usados a saber: α-esterase (α-EST,

EC 3.1.1.1), shiquimato desidrogenase (SKDH, EC 1.1.1.25), peroxidase (PRX, EC

1.11.1.7), 6-fosfogluconato desidrogenase (PGDH, EC 1.1.1.44), nicotinamida adenina

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dinucleotídeo desidrogenase (NADHDH, EC 1.6.99.3), malato desidrogenase (MDH, EC

1.1.1.37), fosfoglucoisomerase (PGI, EC 5.3.1.9), isocitrato desidrogenase (IDH, EC

1.1.1.42), fosfoglucomutase (PGM, EC 5.4.2.2), e glucose-6-fosfato desidrogenase

(G6PDH, EC 1.1.1.49). Os procedimentos de coloração bem como a nomenclatura dos

locos e alelos é idêntica aos estudos prévios realizados (Conte et al., 2003). Entre os 10

sistemas empregados, 16 zonas com atividade enzimática foram observadas, revelando

10 locos polimórficos. Cada zona que apresentasse um comportamento aparentemente

independente das outras e com segregação mendeliana foi considerada um loco

alozímico, levando em consideração a possível estrutura quaternária de cada enzima em

questão (Kephart, 1990).

A extração do DNA genômico seguiu o procedimento padrão CTAB (Ferreira

& Grattapaglia, 1998). Um total de oito locos microssatélites previamente desenvolvidos

e otimizados para E. edulis (Gaiotto et al., 2001) foram também usados na genotipagem

de todos os indivíduos amostrados (Tabela 2). As reações de polimerização em cadeia

(PCR) foram realizadas em condições específicas conforme descrito em Gaiotto et al.

(2001). Os fragmentos amplificados foram separados por eletroforese em gel

desnaturante de poliacrilamida 4%, TBE 1x, corrida a 60W/1300V/46mA por 1 hora,

usando como marcador “ladder” 10 pb. Os géis foram corados com nitrato de prata

conforme descrito em Creste et al. (2001).

4.2.3 Análise Estatística

A comparação entre os tipos de marcadores foi feita através de estimativas de

parâmetros genéticos. As freqüências genotípicas de cada loco foram submetidas ao

teste exato de Fisher para verificar a aderência às proporções de Equilíbrio de Hardy-

Weinberg, conforme definido por Weir (1996), utilizando o programa TFPGA (Miller,

1997). Este teste foi feito por meio do método convencional de Monte Carlo, utilizando

10 batches (grupos) com 1.000 permutações por batch.

A variabilidade genética molecular dentro das populações foi quantificada pelo

número médio de alelos por loco (A) e pelas heterozigosidades observada (Ho) e

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esperada (He) sob equilíbrio de Hardy-Weinberg para cada população (Nei, 1978),

utilizando o programa GDA (Lewis & Zaykin, 2000). O índice de fixação (f ou FIS de

Wright) de cada população foi estimado por análise de variância, cuja significância foi

testada pelo procedimento de reamostragem sobre locos, utilizando 10.000 bootstraps,

buscando quantificar a variação entre os locos. Para investigar possíveis efeitos de

seleção em locos alozímicos, foram comparadas as taxas de heterozigotos (Ho) entre as

categorias de plantas dentro das populações naturais. A significância dessas diferenças

foi testada por análise de permutação, utilizando o programa FSTAT (Goudet, 2001)

A estrutura genética molecular entre populações foi investigada através da

análise da diversidade em populações subdivididas de Nei (Nei, 1973, 1977,1987), sob

modelo fixo para o efeito de populações, visto que algumas populações amostradas não

se enquadram no modelo aleatório por terem sofrido alterações pela ação antrópica. A

estimação dos parâmetros (HS, HT, DST, GST) foi realizada utilizando o programa FSTAT

(Goudet, 2001) e a significância testada pelo procedimento de reamostragem do tipo

bootstrap, utilizando 10.000 reamostragens sobre locos.

O sistema de reprodução de Euterpe edulis foi analisado com base no modelo

de cruzamento misto de Ritland & Jain (1981), através do programa "Multilocos MLTR"

(Ritland, 1997). O modelo assume que as plântulas resultam de uma mistura de

cruzamentos aleatórios e autofecundação, cujas pressuposições básicas são: (i) que o

conjunto de pólen é homogêneo para os cruzamentos com todos os genótipos maternos;

(ii) que os alelos de diferentes locos segregam independentemente e; (iii) que os locos

não são afetados pela seleção ou mutação entre o evento reprodutivo e a análise (Ritland

& Jain, 1981 e Ritland, 1990). Foram estimados os seguintes parâmetros: 1) taxa de

cruzamento multilocos da população (tm); 2) taxa de cruzamento média unilocos da

população (ts); 3) taxa de cruzamento entre aparentados (tm - ts); 4) coeficiente de

endogamia dos genótipos maternos (f); 5) correlação de taxa de cruzamento dentro de

progênies ou a variação de t entre as plantas-mãe (rt); 6) correlação de paternidade de

cruzamento entre dois irmãos, ou a proporção de irmãos completos entre os irmãos de

cruzamento dentro das progênies (rp); e 7) freqüência gênica do pólen (p) e dos óvulos

(o). O erro padrão da média das estimativas foi obtido pelo procedimento de

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reamostragem do tipo bootstrap, utilizando 10.000 reamostragens sobre progênies, tendo

em vista a obtenção de estimativas de variação entre as progênies.

A taxa de cruzamento aparente (ta) foi obtida a partir das estimativas do

coeficiente de endogamia ou índice de fixação alélica (f ou FIS) de cada população,

sendo pressuposta a existência de equilíbrio de endogamia, através da relação entre ataxa de cruzamento e a endogamia, ou seja, )ˆ1()ˆ1(ˆ ffta +−= .

4.3 Resultados

4.3.1 Polimorfismo de Marcadores

Na análise de locos alozímicos, um total de 41 alelos foi identificado nas

amostras, envolvendo as três categorias de plantas e quatro populações. Entre os 16

locos analisados, seis foram monomórficos (α-Est-1, α-Est-2, Pgdh-1, Nadhdh-1, Mdh-

2, Idh-1) e 10 foram polimórficos (Skdh-1, Prx-2, Prx-3, Prx-4, Prx-5, Pgdh-2, Mdh-1,

Pgi-2, Pgm-1, G6pdh-1). O loco Prx-5 apresentou um baixo nível de polimorfismo, com

o alelo mais freqüente próximo da fixação em todas as categorias analisadas. Entretanto,

alguns locos mostraram um expressivo polimorfismo (Prx-3, Prx-4, Pgm-1, com quatro

alelos cada, e Pgdh-2, com cinco alelos, Figura 5). Todos os oito locos microssatélites

empregados neste estudo foram polimórficos. Um total de 161 alelos foi detectado nas

amostras. Os locos EE48 e EE47 (Figura 2) foram os mais polimórficos com 24 e 26

alelos, respectivamente, enquanto o loco menos polimórfico foi o EE5, com 13 alelos.

Entretanto, os demais locos também apresentaram alto polimorfismo, com um número

de alelos variando entre 17 e 24.

Figura 5 - Perfil de um gel de amido mostrando o elevado nível de polimorfismo no locoPghd-2 em Euterpe edulis. Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

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4.3.2 Variabilidade Genética Intrapopulacional

As medidas de variação genética dentro de populações foram computadas

separadamente para marcadores alozímicos e microssatélites (Tabela 7). Em média,

foram analisados 52 indivíduos por categoria por população. Conforme esperado, as

estatísticas (A, Ho, He) foram muito mais expressivas nos locos microssatélites do que

nos alozímicos. Em dez locos alozímicos polimórficos observaram-se as seguintes

amplitudes de variação das estimativas: número de alelos por loco: 3,05 a 3,15;

diversidade gênica: 0,416 a 0,431; e heterozigosidade observada: 0,378 a 0,403. Em oito

locos microssatélites, a variação observada foi a seguinte: número de alelos por loco:

14,12 a 14,72; diversidade gênica: 0,781 a 0,785; e heterozigosidade observada: 0,678 a

0,709. Em relação à máxima diversidade gênica possível (He máx.=(Ā-1)/Ā), tomando-se

por base o número médio de alelos por loco das três categorias de ambos os marcadores,

verificou-se que os marcadores alozímicos detectaram 62,5% dessa diversidade máxima

possível (0,678), enquanto os marcadores microssatélites detectaram 84,0% dessa

mesma diversidade máxima possível (0,931).

Embora os valores variaram entre populações, os padrões de diversidade

genética com locos alozímicos dentro delas são consistentes com os dos locos

microssatélites. Em quase todas as populações, ambos os marcadores demonstraram

haver uma certa deficiência de heterozigotos, visto que os valores de oH foram

ligeiramente inferiores aos de eH (Tabela 7). Valores altos e significativos do índice de

fixação ( f ) foram observados, especialmente nos marcadores microssatélites, indicando

desvios do equilíbrio de Hardy-Weinberg, portanto também de cruzamentos aleatórios.

De modo geral, ambos os marcadores revelaram uma tendência de redução dos valores

de f na direção das populações não exploradas (3 e 4). Nessas populações, os valores

de oH dos indivíduos adultos foram superiores em relação às categorias mais jovens. De

fato, uma análise de permutação (Goudet, 2001) revelou que o valor de oH dos

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69

indivíduos adultos da população 4 é significativamente diferente (P<0,05) do valor de

oH das plântulas.

Tabela 7. Estimativas de parâmetros genéticos de três categorias de plantas em quatropopulações de Euterpe edulis, obtidas com diferentes marcadores, sendo A :número de alelos por loco; oH : heterozigosidade observada; eH : diversidade

gênica; f : índice de fixação. Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Isoenzimas MicrossatélitesCategoria / População A eH oH f (a) A eH oH f (a)

PlântulasPop. 1: Extrativismo 3,10 0,428 0,379 0,114 ns

[-0,162 a 0,374]14,12 0,798 0,668 0,163

[0,011 a 0,337]Pop. 2: Manejo 3,00 0,441 0,397 0,100 ns

[-0,135 a 0,329]14,25 0,787 0,662 0,159

[0,035 a 0,262]Pop. 3: Natural Ib 3,00 0,377 0,351 0,067 ns

[-0,152 a 0,269]14,37 0,779 0,685 0,121

[0,019 a 0,197]Pop. 4: Natural SPA 3,10 0,419 0,385 0,081 ns

[-0,072 a 0,220]13,75 0,760 0,695 0,085 ns

[-0,040 a 0,242]Média 3,05 0,416 0,378 0,092 ns 14,12 0,781 0,678 0,133

[-0,121 a 0,292] [0,013 a 0,254]

JovensPop. 1: Extrativismo 3,20 0,437 0,380 0,131 ns

[-0,052 a 0,308]14,00 0,797 0,722 0,095 ns

[-0,008 a 0,206]Pop. 2: Manejo 3,10 0,430 0,387 0,099 ns

[-0,078 a 0,275]15,25 0,792 0,644 0,188

[0,051 a 0,331]Pop. 3: Natural Ib 3,00 0,401 0,357 0,109 ns

[-0,105 a 0,294]15,00 0,787 0,742 0,057 ns

[-0,039 a 0,162]Pop. 4: Natural SPA 3,30 0,454 0,414 0,087 ns

[-0,089 a 0,217]14,00 0,761 0,730 0,041 ns

[-0,089 a 0,168]Média 3,15 0,431 0,385 0,107 ns

[-0,070 a 0,264]14,56 0,785 0,709 0,096 ns

[-0,010 a 0,211]

AdultosPop. 1: Extrativismo 3,00 0,434 0,406 0,064 ns

[-0,113 a 0,244]15,12 0,794 0,698 0,121 ns

[0,000 a 0,230]Pop. 2: Manejo 3,10 0,402 0,374 0,069 ns

[-0,131 a 0,259]14,87 0,789 0,698 0,116 ns

[-0,043 a 0,300]Pop. 3: Natural Ib 3,00 0,410 0,376 0,084 ns

[-0,174 a 0,317]15,00 0,781 0,712 0,088 ns

[-0,008 a 0,184]Pop. 4: Natural SPA 3,40 0,452 0,457 -0,011ns

[-0,217 a 0,174]13,87 0,760 0,687 0,096 ns

[-0,028 a 0,224]Média 3,12 0,424 0,403 0,050 ns

[-0,145 a 0,227]14,72 0,781 0,699 0,105 ns

[-0,007 a 0,222]ns Não significativo (IC95%: 10.000 bootstraps)(a)

ISFf ˆˆ =

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70

Através do teste exato de Fisher (Tabela 8), verificou-se que os marcadores

microssatélites apresentaram uma maior quantidade de locos fora do equilíbrio de

Hardy-Weinberg (P<0,05), em relação aos marcadores alozímicos. Enquanto estes

últimos apresentaram em média 70% de locos em equilíbrio na maior parte das

populações, os marcadores microssatélites apresentaram em média 50% de locos em

equilíbrio; algumas populações no entanto apresentaram taxas ainda menores (37,5%)

dentro de algumas categorias. Deve-se ressaltar, entretanto, que o emprego da correção

de Bonferroni (Weir, 1996) para múltiplos testes tende a diminuir o número de

significâncias, especialmente nos locos com valores de p próximos de 0,05. De qualquer

maneira, esse comportamento dos locos microssatélites corrobora o aumento nos valores

dos índices de fixação nas populações genotipadas com este marcador.

Tabela 8. Percentagem de locos em equilíbrio de Hardy-Weinberg baseado no testeexato de Fisher, em quatro populações e três categorias de plantas, a partir de10 locos alozímicos e 8 locos microssatélites de Euterpe edulis. Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Isoenzimas (%) Microssatélites (%)População Plântulas Jovens Adultos Plântulas Jovens AdultosPop. 1: Extrativismo 70,0 70,0 70,0 37,5 50,0 62,5Pop. 2: Manejo 60,0 70,0 70,0 50,0 37,5 50,0Pop. 3: Natural Ib 70,0 60,0 70,0 62,5 37,5 50,0Pop. 4: Natural SPA 70,0 50,0 60,0 62,5 75,0 50,0

A análise das freqüências alélicas de locos microssatélites mostrou que todas as

populações estudadas apresentaram alelos exclusivos em quantidades expressivas nas

três categorias de plantas amostradas (Figura 6). Portanto, a variação encontrada entre

populações parece estar mais relacionada às diferentes regiões do que propriamente ao

processo de exploração. De fato, existe uma congruência entre os dois tipos de

marcadores, uma vez que os marcadores alozímicos também demonstraram um

comportamento similar entre populações. Entretanto, o número de alelos exclusivos

neste marcador é bastante inferior ao do primeiro, tendo-se observado um alelo entre as

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71

plântulas da população 1 (Prx-4, alelo 2), dois alelos entre os jovens da população 4

(Prx-4, alelo 3 e G6pd-1, alelo 3) e um alelo entre os adultos da população 4 (Prx-4,

alelo 2). Portanto, neste caso, foram encontrados alelos exclusivos apenas nas

populações de São Pedro, o que sugere de fato que a variação encontrada entre

populações é decorrente da estruturação espacial das mesmas.

Figura 6 - Número de alelos exclusivos em locos microssatélites (a) e locos alozímicos

(b), em quatro populações e três categorias de plantas de Euterpe edulis.

Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

4.3.3 Estrutura Genética

A análise da diversidade de Nei demonstrou grande concordância entre os dois

marcadores empregados, sendo encontrados baixos valores de divergência genética

molecular entre as populações (Tabela 9). No conjunto das populações, os locos

alozímicos apresentaram uma amplitude de variação de 0,011 a 0,023 nas estimativas de

GST entre as categorias, sendo o maior valor encontrado entre as plântulas e o menor

entre os adultos. Nos locos microssatélites, as estimativas de GST variaram de 0,021 a

0,028 entre as categorias, sendo o menor valor encontrado na categoria dos jovens. Nas

comparações aos pares, os valores estimados de GST nos locos microssatélites tiveram

0

0,5

1

1,5

2

Ale

los

excl

usiv

osPop 1 Pop 2 Pop 3 Pop 4

Populações

Plântulas Jovens Adultos

b

02468

1012

Ale

los

excl

usiv

os

Pop 1 Pop 2 Pop 3 Pop 4Populações

Plântulas Jovens Adultos

a

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72

uma variação de 0,013 a 0,038, acusando significância em todas as comparações. Já, nos

locos alozímicos foi observada uma variação um pouco mais expressiva de GST entre as

diferentes comparações (0,008 a 0,041), sendo que a maior parte dessas comparações foi

não significativa, especialmente entre populações da mesma região. A diferença

significativa encontrada entre plântulas das populações 1 e 4 poderia ser um indicativo

do efeito da exploração sobre a estrutura genética dessas populações, no entanto, esse

comportamento não foi observado nos marcadores microssatélites. Além disso, nos

marcadores alozímicos as estimativas de GST foram mais expressivas entre as populações

3 e 4 (populações não exploradas), pertencentes a diferentes regiões, tendo-se observado

esse mesmo comportamento nos locos microssatélites, sugerindo que a exploração até o

momento teve pouca influência sobre o padrão de estruturação das populações

estudadas.

Tabela 9. Estimativas da divergência genética ( STG ) em diferentes agrupamentos de

populações em três categorias de Euterpe edulis, utilizando diferentesmarcadores genéticos. Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Isoenzimas MicrossatélitesPopulações(a)Plântulas Jovens Adultos Plântulas Jovens Adultos

Pop.1 x Pop.2 0,018 ns 0,006* 0,000 ns 0,025* 0,018* 0,035*Pop.1 x Pop.3 0,009 ns 0,028* 0,010* 0,024* 0,024* 0,029*Pop.1 x Pop.4 0,031* 0,007 ns 0,005 ns 0,017* 0,013* 0,017*Pop.2 x Pop.3 0,008 ns 0,013 ns 0,000 ns 0,013* 0,017* 0,024*Pop.2 x Pop.4 0,031 ns 0,006 ns 0,022* 0,024* 0,027* 0,029*Pop.3 x Pop.4 0,041* 0,039* 0,027* 0,038* 0,024* 0,032*

Conjunto 0,023* 0,017* 0,011* 0,024* 0,021* 0,028*(a) Extrativismo (1); Manejo (2); Natural Ib (3); Natural SPA (4)* P<0,05 (IC95%: 10.000 bootstraps); ns Não significativo

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73

4.3.4 Sistema Reprodutivo

O erro padrão das freqüências alélicas dos óvulos e do pólen (Tabelas 10 e 11)

foi baixo na maioria dos locos, em ambos os marcadores, indicando suficiência amostral.

As diferenças nas freqüências alélicas entre pólen e óvulos foram na sua maioria não

significativas, se confrontadas com o erro padrão, tanto nos locos alozímicos como nos

locos microssatélites, evidenciando que o pólen foi homogêneo nos cruzamentos

individuais das árvores maternas. De qualquer forma, segundo Ritland & Jain (1981),

violações da pressuposição de homogeneidade das freqüências alélicas dos óvulos e do

pólen têm pouco efeito sobre a estimativa da taxa de cruzamento multilocos da

população (tm) quando o número de locos empregados nas estimativas for superior a

quatro ou cinco locos.

As estimativas de parâmetros do sistema reprodutivo mostraram bastante

congruência entre os dois marcadores empregados (Tabela 12). A taxa de cruzamento

multilocos foi de 0,996 (0,006) nos locos microssatélites e de 1,000 (0,000) nos locos

alozímicos, revelando que a espécie se reproduz por alogamia completa. As taxas de

cruzamento unilocos ( st ) foram menores que as estimativas multilocos ( mt ),

especialmente nos locos microssatélites. As taxas de cruzamentos entre aparentados ( mt -

st ), que auxilia no incremento da endogamia dentro das populações, apesar de baixas,

foram significativas em ambos os marcadores, de acordo com os respectivos erros-

padrão, variando de 0,013 (0,001) nos locos alozímicos a 0,067 (0,017) nos locos

microssatélites. O índice de fixação dos genótipos maternos ( f ) foi nulo em ambos os

marcadores, indicando a ausência de endogamia. A probabilidade de dois indivíduos

escolhidos ao acaso dentro de progênies serem irmãos germanos ( pr ) foi de 0,109

(0,000) em locos alozímicos e 0,103 (0,012) nos locos microssatélites, sugerindo a

ocorrência de cruzamentos preferenciais dentro da população estudada. A variação da

taxa de cruzamento entre as progênies ( tr ) foi baixa e não significativa em ambos os

marcadores, sendo concordante com a biologia floral da espécie, a qual é marcada por

uma acentuada protandria.

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74

Tabela 10. Estimativas das freqüências alélicas de pólen e óvulos em locos alozímicos

na população natural de Euterpe edulis em São Pedro de Alcântara, SC.

Asteriscos indicam diferenças significativas entre pólen e óvulos. Piracicaba-

SP, Esalq/USP, 2004

Loco Alelo Pólen Óvulo Loco Alelo Pólen ÓvuloSkdh-1 1 0,697 (0,033) 0,769 (0,067) Pgdh-1 1 0,308 (0,102) 0,444 (0,036)

2 0,303 (0,033) 0,231 (0,067) 2* 0,046 (0,011) 0,185 (0,078)3* 0,209 (0,037) 0,037 (0,026)

Prx-1 1 0,819 (0,027) 0,885 (0,048) 4 0,400 (0,076) 0,296 (0,062)2* 0,148 (0,023) 0,038 (0,026) 5 0,037 (0,017) 0,037 (0,001)3 0,033 (0,015) 0,077 (0,043)

Mdh-1 1* 0,650 (0,043) 0,778 (0,063)Prx-2 1 0,487 (0,045) 0,538 (0,098) 2* 0,160 (0,052) 0,037 (0,001)

2* 0,215 (0,037) 0,038 (0,026) 3 0,189 (0,031) 0,185 (0,063)3 0,154 (0,038) 0,269 (0,099)4 0,145 (0,031) 0,154 (0,061) Pgi-1 1 0,518 (0,041) 0,444 (0,079)

2 0,439 (0,042) 0,519 (0,078)Prx-3 1* 0,517 (0,034) 0,308 (0,085) 3 0,043 (0,021) 0,037 (0,001)

2* 0,236 (0,030) 0,385 (0,098)3 0,058 (0,018) 0,077 (0,045) Pgm-1 1 0,475 (0,054) 0,500 (0,093)4 0,189 (0,031) 0,231 (0,084) 2 0,201 (0,033) 0,192 (0,088)

3 0,324 (0,052) 0,308 (0,066)Prx-4 1 0,951 (0,018) 0,929 (0,008)

2* 0,006 (0,000) 0,036 (0,001) G6pd-1 1 0,948 (0,015) 0,962 (0,027)3 0,043 (0,018) 0,036 (0,001) 2 0,052 (0,015) 0,038 (0,027)

( ) Erro padrão estimado com 10.000 bootstraps

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75

Tabela 11. Estimativas das freqüências alélicas de pólen e óvulos em locos

microssatélites na população natural de E. edulis em São Pedro de Alcântara,

SC. Asteriscos indicam diferenças significativas entre pólen e óvulos.

Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Loco Alelo Pólen Óvulo Loco Alelo Pólen ÓvuloEE48 1 0,025 (0,013) 0,037 (0,001) EE03 1* 0,019 (0,009) 0,036 (0,001)

2 0,078 (0,028) 0,148 (0,076) 2 0,130 (0,035) 0,179 (0,078)3 0,179 (0,044) 0,259 (0,105) 3 0,198 (0,048) 0,214 (0,063)4 0,087 (0,038) 0,074 (0,042) 4 0,234 (0,042) 0,214 (0,062)5 0,210 (0,031) 0,148 (0,076) 5 0,112 (0,036) 0,179 (0,060)6 0,206 (0,052) 0,148 (0,058) 6 0,112 (0,037) 0,071 (0,040)7 0,126 (0,041) 0,074 (0,043) 7 0,094 (0,020) 0,071 (0,040)8 0,088 (0,032) 0,111 (0,069) 8* 0,101 (0,032) 0,036 (0,001)

EE45 1* 0,242 (0,036) 0,036 (0,023) EE23 1 0,072 (0,021) 0,074 (0,042)2 0,481 (0,067) 0,571 (0,049) 2 0,109 (0,037) 0,074 (0,040)3 0,082 (0,029) 0,107 (0,048) 3 0,140 (0,029) 0,074 (0,041)

4* 0,012 (0,007) 0,036 (0,001) 4 0,211 (0,050) 0,222 (0,081)5 0,139 (0,043) 0,143 (0,054) 5 0,238 (0,043) 0,259 (0,080)6 0,032 (0,014) 0,036 (0,022) 6 0,101 (0,020) 0,185 (0,079)

7* 0,006 (0,000) 0,036 (0,024) 7* 0,083 (0,029) 0,037 (0,001)8* 0,006 (0,004) 0,036 (0,001) 8 0,047 (0,025) 0,074 (0,041)

EE52 1 0,244 (0,053) 0,346 (0,078) EE05 1* 0,931 (0,026) 0,857 (0,034)2* 0,192 (0,040) 0,038 (0,024) 2 0,017 (0,004) 0,036 (0,023)3 0,222 (0,036) 0,192 (0,063) 3* 0,013 (0,007) 0,036 (0,001)4 0,169 (0,040) 0,154 (0,060) 4 0,033 (0,026) 0,036 (0,024)5 0,092 (0,035) 0,077 (0,042) 5* 0,006 (0,005) 0,036 (0,001)

6* 0,020 (0,012) 0,077 (0,043)7 0,031 (0,014) 0,038 (0,026)8 0,028 (0,016) 0,077 (0,043)

EE08 1 0,221 (0,041) 0,296 (0,091) EE47 1* 0,007 (0,004) 0,037 (0,025)2 0,055 (0,018) 0,074 (0,040) 2* 0,177 (0,040) 0,037 (0,001)

3* 0,007 (0,005) 0,037 (0,023) 3 0,068 (0,019) 0,074 (0,043)4 0,416 (0,051) 0,296 (0,093) 4 0,137 (0,038) 0,222 (0,080)

5* 0,064 (0,018) 0,037 (0,002) 5 0,110 (0,040) 0,111 (0,050)6 0,045 (0,025) 0,037 (0,026) 6 0,192 (0,028) 0,259 (0,084)7 0,047 (0,028) 0,074 (0,040) 7 0,258 (0,045) 0,185 (0,062)8 0,145 (0,028) 0,148 (0,057) 8 0,052 (0,027) 0,074 (0,041)

( ) Erro padrão estimado com 10.000 bootstraps

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76

Tabela 12. Estimativas de parâmetros do sistema reprodutivo a partir de dez locosalozímicos e oito locos microssatélites, sendo mt : taxa de cruzamentomultilocos; st : taxa de cruzamento baseado na média dos locos

individuais; f : endogamia dos genótipos maternos; pr : correlação depaternidade dentro de progênies resultantes de cruzamento e tr : correlação

da taxa de cruzamento dentro de famílias. Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Estimativa Isoenzimas Microssatélitesmt 1,000 (0,000) 0,996 (0,006)

st 0,987 (0,001) 0,929 (0,018)

mt - st 0,013 (0,001) 0,067 (0,017)f 0,002 (0,006) 0,008 (0,009)

pr 0,109 (0,000) 0,103 (0,012)

tr 0,008 (0,009) 0,027 (0,034)( ) Erro-padrão estimado com 10.000 bootstraps

As estimativas da taxa de cruzamento aparente ( at ) são apresentadas na Tabela

13. De modo geral, as estimativas de ta foram ligeiramente inferiores às obtidas para tm,

em ambos os marcadores, com variação entre 0,684 a 1,022. A estimativa mais alta foi

obtida com isoenzimas ( at =1,022) entre os indivíduos adultos da população 4, o que

concorda com a estimativa multilocos das progênies desta mesma população. No

entanto, esses baixos valores de at encontrados podem estar subestimados, uma vez que

os valores de f empregados nas estimativas foram na sua maioria não significativos,

especialmente entre os marcadores alozímicos

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77

Tabela 13. Taxa de cruzamento aparente ( at ) de quatro populações e três categorias de

plantas de Euterpe edulis, estimada a partir do índice de fixação de Wright( ISF ) com marcadores alozímicos e microssatélites. Piracicaba-SP,

Esalq/USP, 2004

Plântulas Jovens AdultosPopulação Isoenzimas SSR Isoenzimas SSR Isoenzimas SSRPop. 1: Extrativismo 0,795 0,720 0,768 0,826 0,880 0,784Pop. 2: Manejo 0,818 0,726 0,820 0,684 0,871 0,792Pop. 3: Natural Ib 0,874 0,784 0,802 0,892 0,845 0,838Pop. 4: Natural SPA 0,850 0,843 0,840 0,921 1,022 0,824

4.4 Discussão

Análises comparativas de marcadores alozímicos e microssatélites têm sido

realizadas em diversas espécies com o objetivo de comparar a informação genética

desses marcadores. Nos estudos com espécies de peixes, Shaw et al. (1999) verificaram

que para Clupea harengus os microssatélites foram mais adequados para explicar a

estrutura genética local, mas menos informativos numa escala mais ampla. Em

populações de Salmo trutta, Estoup et al. (1998) verificaram que o alto nível de

polimorfismo nos locos microssatélites resultou em um maior poder dos testes

estatísticos na detecção de diferenças entre populações, como no caso das distâncias

genéticas de Cavalli-Sforza e Edwards, mas as estimativas de FST não foram diferentes

entre os marcadores. No estudo de populações de plantas, Djè et al. (1999), trabalhando

com espécies selvagens de sorgo do noroeste de Marrocos, verificaram similaridades

entre os marcadores em relação às estimativas do coeficiente de endogamia de Wright

(FIS) e do coeficiente de diferenciação genética de Nei (GST). Da mesma forma, Zucchi

et al. (2004) verificaram similaridades entre os parâmetros populacionais obtidos com os

dois tipos de marcadores em populações naturais de Eugenia dysenterica do Cerrado

brasileiro, embora algumas discrepâncias tenham sido observadas como no caso das

estimativas de fluxo gênico, as quais foram mais elevadas com locos alozímicos. Por

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78

outro lado, Gao et al. (2002) mencionam que os marcadores microssatélites foram mais

informativos nas estimativas de diferentes parâmetros genéticos em populações de

Oryza rufipogon do sul da China. Em populações de carvalho, Streiff et al. (1998)

detectaram uma maior estruturação genética a partir de dados de microssatélites em

relação às isoenzimas, mas apontaram que a principal diferença entre os dois marcadores

reside na variação interlocos de FST, a qual foi mais expressiva nos locos alozímicos.

Entretanto, as estimativas FST com locos microssatélites em Elymus fibrosus (Poaceae)

foram menores em relação a locos alozímicos (Sun et al., 1998). Resultados similares

foram observados em Anhopheles gambiae (Lehmann et al., 1996). Embora os

resultados sejam um pouco conflitantes, todos esses trabalhos foram concordantes

quanto à superioridade dos marcadores microssatélites em relação ao nível de

polimorfismo.

Neste estudo, os dez locos alozímicos e os oito locos microssatélites usados nas

análises genéticas detectaram altos níveis de variação genética molecular e foram

congruentes com outros estudos realizados com populações de E. edulis. Reis et al.

(2000e) usando marcadores alozímicos encontraram valores médios de eH de 0,452 em

adultos e 0,436 em progênies de sete populações da Floresta Atlântica. De forma similar,

em uma população da Floresta Atlântica, Conte et al. (2003) obteve valores médios de

eH de 0,450 e 0,415 para adultos e progênies, respectivamente. Com locos

microssatélites, Gaiotto et al. (2003) detectaram valores médios de eH de 0,745 em

adultos e 0,775 em progênies em duas populações do Cerrado brasileiro. Pela

comparação dos dois marcadores, verificou-se no presente estudo que os marcadores

alozímicos detectaram 62,5% da diversidade máxima possível (0,678), enquanto os

marcadores microssatélites detectaram 84,0% dessa mesma diversidade máxima possível

(0,931).

O nível de variabilidade genética observado em E. edulis é esperado dada a alta

taxa de fecundação cruzada da espécie. A taxa de cruzamento multilocos (tm) desta

espécie foi previamente investigada, variando de 0,94 a 1,04 em locos alozímicos (Reis

et al., 1998), e 0,91 a 0,98 em locos microssatélites (Gaiotto et al., 2003). Esses

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resultados, juntamente com as estimativas obtidas no presente estudo ( mt =1,000 para

isoenzimas e mt =0,996 para microssatélites), corroboram que E. edulis é uma espécie

obrigatoriamente de fecundação cruzada. Embora as estimativas da taxa de cruzamento

aparente ( at ) tenham sido mais baixas do que a taxa de cruzamento multilocos ( mt ), as

estimativas mais corretas são as calculadas utilizando progênies, uma vez que a taxa

aparente (ta) é estimada a partir do índice de fixação (f ou FIS) intrapopulacional o que

torna a estimativa dependente da pressuposição do equilíbrio de Wright. As estimativas

de tm também são congruentes com os estudos previamente desenvolvidos de biologia

floral e ecologia da polinização da espécie. A inflorescência de E. edulis é formada por

conjuntos de flores em tríade, geralmente consistindo de duas flores masculinas e uma

feminina, com acentuada protandria, o que previne a autogamia. Uma grande variedade

de insetos visita a inflorescência, mas a espécie predominante tem sido a pequena abelha

Trigona spinipes, a qual parece ser um importante polinizador desta palmeira (Reis et

al., 1993 e Mantovani & Morellato, 2000).

Apesar da alta taxa de fecundação cruzada, cruzamentos não aleatórios foram

observados pelas diferenças nas estimativas das taxas multilocos ( mt ) e média unilocos

( st ) em ambos os marcadores, indicando que eventos de fecundação cruzada podem

ocorrer entre indivíduos aparentados. Cruzamentos não aleatórios também foram

observados na estimativa da correlação de paternidade dentro de progênies ( pr ),

revelando uma quantidade significativa de irmãos germanos provenientes de

cruzamentos biparentais. A fenologia da espécie é caracterizada por um amplo período

de floração, variando de quatro a cinco meses (Reis et al., 1993 e Mantovani &

Morellato, 2000). Durante este período, o número de indivíduos em floração não é

homogêneo, seguindo uma curva normal, com poucos indivíduos nos extremos da

distribuição e com um aumento gradativo até atingir o máximo da curva (Reis et al.,

1993 e Mantovani & Morellato, 2000). Além disso, existe uma certa variação em relação

à quantidade de indivíduos que se reproduzem anualmente, juntamente com uma

variação no número de inflorescências emitidas por planta ao longo dos anos

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80

(Mantovani & Morellato, 2000). Estes aspectos, aliados às características de

microambientes, favorecem a possibilidade de ocorrência de cruzamentos não aleatórios

entre os indivíduos, conforme já verificado em outros estudos desenvolvidos com a

espécie (Reis, 1996a e Gaiotto et al., 2003).

Entre as categorias de plantas analisadas, houve um aumento na frequência de

heterozigotos na direção dos indivíduos adultos, em locos alozímicos, com destaque para

os locos G6pdh-1, Pgdh-2, Prx-2 e Prx-3, o que sugere a ação da seleção favorecendo o

aumento de heterozigotos. As primeiras evidências a esse respeito foram apontadas por

Reis (1996a), empregando marcadores alozímicos, quando diferentes populações

naturais do palmiteiro mostraram um excesso de heterozigotos na fase adulta, o qual não

foi observado nas progênies. Evidências adicionais foram encontradas quando amostras

recrutadas de coortes com idades conhecidas exibiram maiores níveis de

heterozigosidade em relação a amostras não recrutadas (Reis et al., 1998). Mais

recentemente, essas evidências foram confirmadas por Conte et al. (2003), através do

estudo de diferentes fases do ciclo de vida de E. edulis, acompanhadas durante um

período de dez anos. Conforme também observado em outros estudos, o aumento nos

níveis de heterozigosidade está concentrado na passagem da fase de plântulas para as

demais. Esse comportamento pode estar relacionado a uma maior pressão de seleção na

fase de plântulas, uma vez que a taxa de mortalidade dos indivíduos dessa categoria é

superior a 80% (Conte et al., 2000b). O modo de ação da seleção e o processo de

recrutamento de E. edulis são discutidos com detalhes por Conte et al. (2003).

O estudo mostrou que os dados de isoenzimas e microssatélites não aderiram ao

equilíbrio de Hardy-Weinberg em alguns locos, principalmente em locos microssatélites.

Entretanto, uma parcela desses desvios pode estar relacionada à amostragem estatística

(Weir, 1996), uma vez que os locos microssatélites usados são altamente polimórficos –

muito acima dos locos alozímicos – e o número de indivíduos genotipados por

população (~50) é relativamente limitado para a amostragem de todos os genótipos

possíveis de cada loco. Além disso, conforme Aldrich et al. (1998), algumas distorções

nas freqüências genotípicas podem ser geradas na interpretação do padrão de bandas no

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81

gel devido à ocorrência de bandas duplicadas (stutter bands) ou à presença de alelos

nulos.

Os resultados de ambos os marcadores revelaram uma maior variação genética

dentro de populações do que entre populações. Esta observação corresponde exatamente

às informações obtidas previamente com marcadores alozímicos e microssatélites em

outras populações de E. edulis (Reis et al., 2000e, Conte et al., 2003 e Gaiotto et al.,

2003). A pequena quantidade de diferenciação genética populacional ( STG ) é também

consistente com a alta taxa de fecundação cruzada da espécie. Além disso, esses

resultados concordam com diferentes estudos realizados com espécies tropicais, em que

espécies que se reproduzem por alogamia ou por sistema misto e que têm dispersão de

sementes e pólen a longas distâncias, apresentam baixa diferenciação populacional,

mantendo a maior parte de sua variabilidade genética dentro das populações (Hamrick &

Godt, 1990). De fato, E. edulis apresenta fluxo gênico de longa distância, com valores de

Nm, em geral, superiores a 1,0 (Reis et al., 2000e e Gaiotto et al., 2003). Segundo

Wright (1951), quando Nm≥1, ou seja, quando um ou mais indivíduos migram por

geração, os efeitos da migração são suficientes para contrapor os efeitos da deriva e,

portanto, impedem a divergência entre populações por essa via.

Hedrick (1999) menciona que em função das elevadas taxas de

heterozigosidade nos locos microssatélites, a magnitude das medidas de diferenciação

genética entre populações tende a ser pequena. Porém, magnitudes semelhantes de

divergência genética também foram observadas empregando marcadores alozímicos, o

que demonstra a consistência das informações obtidas com os dois marcadores.

Conforme discutido por Conte et al. (2004), a baixa diferenciação entre as populações

exploradas e não exploradas indica que a intervenção, até este momento, não causou

grandes mudanças na estrutura genética das populações. As maiores divergências

ocorreram entre as populações de diferentes regiões, principalmente entre as duas

populações naturais sem exploração, o que sugere tratar-se do resultado da estrutura

genética pré-existente. Da mesma forma, a análise das estimativas dos parâmetros de

diversidade, tais como o número de alelos por locos e a diversidade gênica, revelou que

as populações exploradas e não exploradas apresentaram níveis similares de diversidade

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nas três categorias de plantas estudadas, indicando que os níveis de diversidade das

populações exploradas até o momento também não foram afetados pelo processo de

exploração.

Por outro lado, os dois marcadores foram capazes de detectar alterações no

comportamento reprodutivo das populações exploradas, representado por uma indicação

de aumento nos níveis de endogamia nas coortes mais jovens dessas populações. Uma

das conseqüências da redução do número de indivíduos reprodutivos em populações

naturais é o aumento da autofecundação e dos cruzamentos biparentais, levando ao

aparecimento de endogamia imediata ou nas próximas gerações (Bawa & Krugman,

1990; Murawski, 1995 e Aldrich et al., 1998). Considerando que os cruzamentos não

aleatórios são relativamente comuns em E. edulis (Reis, 1996a e Gaiotto et al., 2003,

juntamente com dados deste estudo), o aumento do índice de fixação entre os indivíduos

mais jovens das populações exploradas pode ter sido causado pelo aumento da

freqüência de cruzamentos não aleatórios ou biparentais. Embora os resultados tenham

sido similares entre os dois sistemas de exploração estudados, a endogamia observada

entre os jovens da população manejada tecnicamente em Ibirama pode ser o reflexo de

outros episódios de exploração ocorridos no passado, uma vez que essas plantas são

oriundas de eventos reprodutivos anteriores ao último manejo (Conte et al., 2004). Este

fato também pode ser o responsável pelo nível de endogamia observado entre as

plântulas dessa mesma população.

4.5 Conclusões

Os marcadores microssatélites revelaram um maior grau de polimorfismo em

relação às isoenzimas, mas a análise do sistema reprodutivo e as medidas relativas de

estrutura genética como o coeficiente de endogamia de Wright (FIS) e o coeficiente de

diferenciação genética de Nei (GST) foram da mesma ordem de magnitude para os dois

conjuntos de marcadores. Os marcadores alozímicos foram capazes de detectar efeitos

de seleção, confirmando os resultados obtidos em estudos prévios com esta espécie. A

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informação genética conjunta desses marcadores revelou que os efeitos da exploração

foram pouco pronunciados até o momento, exceto o aumento nos níveis de endogamia

entre os indivíduos jovens das populações exploradas. No entanto, novos estudos são

necessários sobre os efeitos do manejo tecnificado, uma vez que os resultados obtidos

neste estudo podem ter sido influenciados por outros eventos de exploração ocorridos no

passado.

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5 TAMANHO EFETIVO EM POPULAÇÕES DE Euterpe edulis MART.:

CONSEQÜÊNCIAS DO MANEJO

Resumo

O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto de dois sistemas de exploraçãosobre o tamanho efetivo de populações de Euterpe edulis Mart., no sul do Brasil. Foramamostradas duas populações não perturbadas e duas populações exploradas (extrativismoe manejo) da espécie. Em cada população foram examinadas plântulas, jovens e adultos,usando oito locos microssatélites e dez locos alozímicos. A representatividade genética( nNe /ˆ ) das amostras variou de 0,892 a 1,011 nas populações não perturbadas e 0,842 a

0,935 nas populações exploradas. Os menores valores da relação nNe /ˆ foram

observados nas categorias mais jovens das populações exploradas, como resultado doaumento nos níveis de endogamia nessas categorias. Entretanto, o número de indivíduosremanescentes, ao contrário do coeficiente de endogamia, teve a maior contribuição naredução do tamanho efetivo das populações exploradas. O tamanho efetivo ( eN ) dos

indivíduos adultos por hectare foi superior a 110 nas populações não pertubadas,enquanto nas populações exploradas, o tamanho efetivo por hectare foi reduzido para 45,sob manejo, e 14, sob extrativismo. Portanto, o impacto do sistema tradicional deexploração (extrativismo) sobre o tamanho efetivo das populações remanescentes daespécie é bastante acentuado e a sua persistência pode levar a uma forte erosão genéticanas gerações futuras.

Palavras-chave: Euterpe edulis; exploração florestal; microssatélites; isoenzimas;tamanho efetivo, endogamia.

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Effective size of Euterpe edulis Mart. populations: consequences of

exploitation systems

Summary

The aim of this study was to evaluate the impact of two exploitation systems -

extractivism and management - on the effective size of Euterpe edulis Mart. populations,

by comparing two undisturbed populations with two exploited populations in southern

Brazil. Three categories of plants, from seedlings to adults, were examined using eight

microsatellite loci and ten allozymic loci. The genetic representativeness ( nNe /ˆ ) of the

samples varied from 0.892 to 1.011 in undisturbed populations and from 0.842 to 0.935

in exploited populations. The lowest genetic representativeness was observed among

seedlings and juveniles from the exploited populations, resulting from an increase in the

inbreeding levels of such categories. However, the number of remaining individuals

rather than the inbreeding coefficient was the main component for the reduction of

effective size of the exploited populations. The effective size ( eN ) per hectare of the

adult individuals was higher than 110 in the two undisturbed populations, while in the

exploited populations the effective size per hectare was reduced to 45 under

management, and 14 under extractivism. Therefore, the impact of the traditional

exploitation system (extractivism) on the effective size of the remnant populations of the

species is quite expressive and its persistence can lead to strong genetic erosion in future

generations.

Keywords: Euterpe edulis; forest exploitation; microsatellites; isozymes; effective size;

inbreeding.

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86

5.1 Introdução

O manejo de populações naturais é um processo que promove modificações no

tamanho populacional e na estrutura espacial dos indivíduos dentro das populações

(Bawa & Krugman, 1990 e Murawski, 1995). Uma redução no tamanho das populações,

envolvendo a retirada de indivíduos reprodutivos, pode levar à deriva genética que

promove perda e fixação aleatória de alelos, e ao aumento do parentesco e da endogamia

dentro das populações (Futuyma, 1992; Alvarez-Buylla et al., 1996 e Falconer &

Mackay, 1996). Do ponto de vista da Genética de Populações, a perda de diversidade

genética e as medidas de controle para minimizar seus efeitos, podem ser enfocados sob

a ótica do tamanho efetivo populacional (Vencovsky, 1987). Esse conceito, introduzido

por Sewall Wright, há mais de 50 anos, relaciona-se intimamente com a questão da

representatividade genética das populações (Vencovsky, 1987; Kageyama, 1987; Barret

& Kohn, 1991; Araújo, 1996 e Vencovsky & Crossa, 1999).

O conhecimento do tamanho efetivo é uma informação muito importante para o

estudo da estrutura genética de populações sob manejo, uma vez que a redução no

tamanho de uma população têm efeitos sobre as gerações subseqüentes (Robinson,

1998). Uma diminuição acentuada no tamanho efetivo populacional, ocasionada pela

exploração florestal, por exemplo, ou mesmo por eventos estocásticos, tem sido

denominada de efeito de gargalo (Young et al., 1996). Isto porque após sua ocorrência é

muito difícil recuperar o tamanho efetivo original, a não ser que a redução do tamanho

efetivo não seja muito acentuada (Vencovsky, 1987). Neste aspecto, uma geração ou

algumas gerações com menor número de indivíduos terá uma grande influência no valor

final do tamanho efetivo, uma vez que este será a média harmônica dos tamanhos

efetivos parciais (Crow & Kimura, 1970; Vencovsky, 1987; Falconer, 1989 e Araújo,

1996).

A manutenção de um tamanho efetivo populacional adequado diminui a

probabilidade de ocorrência das oscilações genéticas e da endogamia. Quanto maior o

tamanho efetivo menor será a magnitude da deriva genética. Isto significa que,

mantendo-se um tamanho efetivo adequado ao longo das gerações, maior é a

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probabilidade de as freqüências alélicas permanecerem próximas da população de

origem (Templeton, 1990 e Ellstrand & Elam, 1993). Da mesma forma, quanto maior o

tamanho efetivo menor será o nível de endogamia da população. O nível de endogamia

(F) de uma população aumenta com o tempo numa taxa dependente do tamanho efetivo

populacional (Ne tal que ∆F = 1/2Ne), por geração (Wright, 1922, 1931 e Falconer,

1989). Neste sentido, as populações tornam-se endogâmicas mais rapidamente quando

elas apresentam pequenos tamanhos (Barret & Kohn, 1991). Além disso, alterações na

estrutura espacial dos indivíduos de uma população podem levar a mudanças na

densidade e no comportamento dos polinizadores, gerando alterações nos níveis de

cruzamento, como o aumento da autofecundação e conseqüentemente da endogamia

(Bawa & Krugman, 1990 e Murawski, 1995). Populações de cruzamento, historicamente

grandes, que repentinamente declinam para uns poucos indivíduos, geralmente reduzem

a variabilidade e a fecundidade (Falconer & Mackay, 1996). Conforme Nason et al.

(1997), a redução no número de indivíduos reprodutivos pode levar a rápidas mudanças

na composição genética e essas mudanças ocorrem em conjunto com a estrutura genética

pré-existente.

Euterpe edulis Mart. (Arecaceae) é uma espécie nativa muito abundante no

subbosque da Floresta Tropical Atlântica Brasileira. A espécie é valiosa

economicamente por ser a principal fonte de extração de palmito na floresta Atlântica. A

situação atual das populações naturais da espécie é de grande fragmentação e uma

reduzida área de ocorrência (Reis et al., 2000a). Embora um sistema de manejo

tecnificado tenha sido proposto para a espécie (Reis et al., 1992; Ribeiro et al., 1994;

Reis et al., 1998; Reis et al., 2000b e Reis et al., 2000d), a intensiva exploração realizada

desde a década de 1960 resultou na eliminação de várias populações e em sérias

alterações das populações remanescentes (Galetti & Fernandez, 1998; Reis & Guerra,

1998 e Batista et al., 2000). Alguns estudos empregando marcadores alozímicos (Reis,

1996a; Reis et al., 1998, 2000d e Conte et al., 2003) e microssatélites (Gaiotto et al.,

2003) em populações naturais, revelaram que a espécie possui uma alta taxa de

fecundação cruzada, alta variabilidade genética dentro das populações e baixa

divergência entre populações. Além disso, estimativas de tamanho de vizinhança, em

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média foram de 67 indivíduos, com cada deme panmítica ocupando uma área de

aproximadamente 13.000 m2 (Reis, 1996a).

Neste estudo, foram utilizados dados genéticos de marcadores alozímicos e

microssatélites para obtenção de estimativas do tamanho efetivo populacional (Ne) em

populações de Euterpe edulis Mart. com diferentes níveis de ação antrópica. O objetivo

foi avaliar o impacto de diferentes sistemas de exploração na redução do tamanho

efetivo de populações da espécie.

5.2 Material e Métodos

5.2.1 Locais de Estudo e Sistema de Amostragem

O estudo foi realizado em duas localidades do Estado de Santa Catarina, Brasil,

sendo uma no Município de Ibirama, e outra no Município de São Pedro de Alcântara.

Em cada localidade foram escolhidas duas áreas de ocorrência natural de E. edulis, uma

sem influência antrópica (população natural) e outra onde foi realizada a extração de

palmito (população explorada), totalizando quatro populações (Tabela 1). Dois sistemas

de exploração foram considerados no presente estudo: (i) extrativismo (São Pedro), onde

a exploração é realizada através da extração da maioria dos indivíduos acima de 2 m de

altura, permanecendo poucos indivíduos reprodutivos na área; e (ii) manejo (Ibirama), o

qual caracteriza-se pela retirada apenas dos indivíduos acima de 9 cm de DAP,

respeitando-se a permanência de pelo menos 50 indivíduos reprodutivos por hectare,

sendo tais critérios definidos pela legislação florestal do Estado de Santa Catarina.

A cobertura vegetal das duas regiões é de Floresta Ombrófila Densa,

pertencente ao domínio da Mata Atlântica (IBGE, 1988). Apesar de a situação atual das

populações da espécie ser de intensa fragmentação e degradação, existem muitos

fragmentos remanescentes em bom estado de conservação, como é o caso das duas

populações naturais amostradas neste estudo. Além disso, nas duas regiões estudadas os

fragmentos florestais apresentam uma certa conectividade em função da proximidade

entre os fragmentos e, portanto, populações degradadas podem sofrer a influência de

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populações não degradadas do seu entorno. A história de exploração nas populações

estudadas é bastante diferente. Em São Pedro, a exploração foi realizada em diferentes

episódios, entre as décadas de 1970 e 1990, período em que a legislação apresentava

poucas restrições à exploração de palmito. Em Ibirama, embora a população possa ter

sofrido exploração no passado, o manejo foi realizado há três anos, com a retirada dos

indivíduos passíveis de corte, de acordo com os critérios técnicos mencionados

anteriormente. A distância geográfica entre as duas regiões é de aproximadamente 150

km. Na região de Ibirama, a distância entre as duas populações é de aproximadamente 2

km, enquanto em São Pedro essa distância é de 5 km.

Para os estudos de variabilidade e estrutura genética, em cada população foram

coletadas amostras de plantas pertencentes a três categorias (Figura 1), de acordo com a

classificação de Reis et al. (1996), visando representar os indivíduos em diferentes fases

de desenvolvimento dentro de cada nível de ação antrópica. Assim, foram amostradas:

i) Plântulas - indivíduos com até 10 cm de altura de inserção da folha

flecha, representando os indivíduos da última frutificação;

ii) Jovem II - plantas entre 30 cm e um metro de altura de inserção, sem o

estipe exposto e com 4 a 5 folhas nitidamente pinadas;

iii) Adultos - plantas em fase reprodutiva.

As coletas foram realizadas em três pontos distribuídos aleatoriamente em cada

população, onde foram amostrados cerca de 50 indivíduos por categoria. A área de

coleta dentro de cada ponto variou de acordo com a densidade de indivíduos

reprodutivos presentes em cada população. As amostras foliares foram mantidas sobre

gelo, transportadas para o laboratório e estocadas a 4°C até a extração das proteínas e do

DNA.

5.2.2 Análise Genética

Dez sistemas enzimáticos foram revelados por eletroforese em gel de amido

(Conte et al., 2003). A migração e separação das enzimas no gel foi realizada em sistema

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90

contínuo de eletroforese, utilizando-se como sistemas de corridas os tampões Tris

Citrato (Alfenas et al.,1991) e Citrato Morfolina (Cheliack & Pittel, 1984). Os

procedimentos de coloração bem como a nomenclatura dos locos e alelos é idêntica aos

estudos prévios realizados (Conte et al., 2003). Entre os 10 sistemas empregados, 16

zonas com atividade enzimática foram detectadas, revelando 10 locos polimórficos, os

quais foram empregados nas análises.

A extração do DNA genômico seguiu o procedimento padrão CTAB (Ferreira

& Grattapaglia, 1998). Um total de oito locos microssatélites previamente desenvolvidos

e otimizados para E. edulis (Gaiotto et al., 2001) foram usados na genotipagem de todos

os indivíduos amostrados (Tabela 2). As reações de polimerização em cadeia (PCR)

foram realizadas em condições específicas conforme descrito em Gaiotto et al. (2001).

Os fragmentos amplificados foram separados por eletroforese em gel desnaturante de

poliacrilamida 4%, TBE 1X, corrida a 60W/1300V/46mA por 1 hora, usando como

marcador “ladder” 10 pb. Os géis foram corados com nitrato de prata conforme descrito

em Creste et al. (2001).

5.2.3 Análise Estatística

A partir da leitura dos dados nos géis foram obtidas as freqüências alélicas e

genotípicas em cada loco. A seguir foram calculadas medidas de variabilidade (Ho:

heterozigosidade observada; He: diversidade gênica) que possibilitaram a obtenção dos

níveis de endogamia das populações. O índice de fixação de Wright (f) não-viesado foi

estimado para cada população segundo Weir (1996) pela média entre locos, de acordo

com a seguinte expressão:

( )∑ ∑

∑∑ ∑−

+−=

one

onoe

HH

HHHf

ˆˆ

ˆˆˆˆ

21

21

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91

Para verificar a significância dos valores médios de f , estimou-se o intervalo

de confiança a 95% de probabilidade, pelo método de reamostragem tipo bootstrap,

utilizando-se 10.000 reamostragens sobre locos, através do programa GDA (Lewis &

Zaykin, 2000).

O tamanho efetivo de populações (Ne) foi estimado de acordo com Vencovsky

& Crossa (1999), considerando que o parentesco entre indivíduos é baixo em populações

naturais. Assim, a estimativa Ne foi obtida para cada população com base no número

físico de indivíduos (n), e no nível de endogamia (f) desses indivíduos, de maneira que o

limite superior do tamanho efetivo foi obtido pela expressão )ˆ1/(ˆ fnNe += . O nível de

endogamia aqui considerado é equivalente ao FIS de Wright, calculado para cada

população. A representatividade genética das amostras empregadas foi testada a partir da

relação nNe /ˆ e da estimativa do número de indivíduos que representam um tamanho

efetivo de 50 plantas de uma população panmítica ideal (população grande de

cruzamentos aleatórios). Além disso, estimou-se o tamanho efetivo dos indivíduos

adultos remanescentes do processo de exploração, o que permitiu relacionar essas

estimativas com o tamanho das demes panmíticas da espécie. O intervalo de confiança

de eN (95% de probabilidade) foi obtido do intervalo de confiança do f (Sebbenn et

al., 2000).

5.3 Resultados

5.3.1 Polimorfismos e Níveis de Endogamia nas Populações

Na análise dos locos alozímicos foram encontrados dez locos polimórficos

(Skdh-1, Prx-2, Prx-3, Prx-4, Prx-5, Pgdh-2, Mdh-1, Pgi-2, Pgm-1, G6pdh-1), onde

foram identificados 35 alelos nas amostras. O loco Prx-5 apresentou o mais baixo nível

de polimorfismo, com o alelo mais freqüente próximo da fixação em todas as categorias

analisadas. Entretanto, outros locos mostraram um expressivo polimorfismo (Prx-3, Prx-

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92

4, Pgm-1, com quatro alelos cada, e Pgdh-2, com cinco alelos). Todos os oito locos

microssatélites empregados neste estudo foram polimórficos. Um total de 161 alelos foi

detectado nas amostras. Os locos EE48 e EE47 foram os mais polimórficos com 24 e 26

alelos, respectivamente, enquanto o loco menos polimórfico foi EE5, com 13 alelos.

Algumas estimativas dos índices de fixação ( f ) foram altas e significativas,

especialmente nos marcadores microssatélites, indicando desvios do equilíbrio de

Hardy-Weinberg (Tabela 14). De modo geral, ambos os marcadores revelaram uma

tendência de redução nos valores de f na direção das populações naturais não

exploradas (3 e 4). Com locos microssatélites, os valores de f tiveram as seguintes

amplitudes de variação: 0,163 a 0,085 nas plântulas; 0,188 a 0,041 nos jovens; e 0,121 a

0,088 nos adultos. Com locos alozímicos, a variação observada foi a seguinte: 0,114 a

0,067 nas plântulas; 0,131 a 0,087 nos jovens; e 0,084 a -0,011 nos adultos. O maiores

valores de f observados nas populações exploradas, especialmente entre as plântulas,

podem ter sido causados pela redução do número de indivíduos reprodutivos decorrente

do processo de exploração.

5.3.2 Tamanho Efetivo Populacional

Os resultados evidenciaram altos valores de eN e da relação nNe /ˆ em ambos

os marcadores (Tabela 14). A representatividade genética ( nNe /ˆ ) das amostras foi

superior a 90% nas populações naturais em praticamente todas as categorias, chegando a

atingir 100% nos locos alozímicos dos indivíduos adultos da população 4. Em virtude do

comportamento dos valores de f , as menores representatividades genéticas foram

encontradas entre as populações exploradas, embora as diferenças em relação às

populações naturais não sejam significativas. De qualquer forma, a menor

representatividade genética observada nas populações exploradas, especialmente na

população 1, sugere um pequeno efeito do processo de exploração na redução do

tamanho efetivo populacional.

Page 104: ESTRUTURA GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE Euterpe edulis … · Estrutura genética de populações de Euterpe edulis Mart. submetidas à ação antrópica utilizando marcadores alozímicos

93

Tabela 14. Estimativas do coeficiente de endogamia de Wright ( f ), do tamanho efetivo( eN ) e da relação entre o tamanho efetivo e o tamanho amostral ( nNe /ˆ ) de

três categorias de plantas em quatro populações Euterpe edulis comdiferentes níveis de ação antrópica, utilizando marcadores microssatélites eisoenzimas. Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Microssatélites IsoenzimasCategoria /População n f eN nNe /ˆ n f eN nNe /ˆPlântulas

Pop. 1: Extrativismo 53 0,163* 45,6 ± 5,91 0,860 54 0,114 ns 48,5 ± 9,2 0,898Pop. 2: Manejo 51 0,159* 44,0 ± 3,6 0,863 51 0,100 ns 46,4 ± 8,0 0,909Pop. 3: Natural IB 52 0,121* 46,4 ± 2,9 0,892 54 0,067 ns 50,6 ± 8,0 0,937Pop. 4: Natural SPA 52 0,085 ns 47,9 ± 6,0 0,921 54 0,081 ns 49,9 ± 5,6 0,924

JovensPop. 1: Extrativismo 51 0,095 ns 46,6 ± 4,3 0,914 52 0,131 ns 46,0 ± 6,2 0,884Pop. 2: Manejo 52 0,188* 43,8 ± 4,7 0,842 52 0,099 ns 47,3 ± 6,5 0,910Pop. 3: Natural IB 52 0,057 ns 49,2 ± 4,4 0,946 54 0,110 ns 48,6 ± 6,9 0,900Pop. 4: Natural SPA 53 0,041 ns 50,9 ± 5,5 0,960 54 0,087 ns 49,7 ± 5,3 0,920

AdultosPop. 1: Extrativismo 48 0,121* 42,8 ± 3,8 0,892 50 0,064 ns 47,0 ± 6,8 0,940Pop. 2: Manejo 50 0,116 ns 44,8 ± 6,3 0,896 51 0,069 ns 47,7 ± 7,2 0,935Pop. 3: Natural IB 53 0,088 ns 48,7 ± 3,9 0,919 54 0,084 ns 49,8 ± 8,8 0,922Pop. 4: Natural SPA 53 0,096 ns 48,4 ± 5,1 0,913 54 -0,011ns 54,6 ± 8,6 1,011* P<0,05 (IC95%: 10.000 bootstraps); ns Não significativo1 Intervalo de confiança a 95% de probabilidade

As estimativas do Ne para 50 plantas mostraram pouca variação entre

populações em quase todas as categorias analisadas (Tabela 15). Com locos

microssatélites, variações mais expressivas foram observadas nas plântulas da população

1 (58,2 ± 8,6) e nos jovens da população 2 (59,4 ± 7,2). Com locos alozímicos, a maior

variação foi encontrada nos indivíduos adultos da população 4 (49,4 ± 9,3), como

reflexo do comportamento do índice de fixação. A grande amplitude no intervalo de

confiança das estimativas está associada ao intervalo de confiança de f das populações.

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94

Tabela 15. Número de indivíduos que representam um eN de 50 plantas de uma

população panmítica ideal, utilizando dois tipos de marcadores. Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Microssatélites IsoenzimasPopulação Plântulas Jovens Adultos Plântulas Jovens AdultosPop. 1: Extrativismo 58,2 ± 8,61 54,8 ± 5,5 56,0 ± 5,5 55,7 ± 13,0 56,6 ± 8,8 53,2 ± 9,0Pop. 2: Manejo 57,9 ± 5,2 59,4 ± 7,2 55,8 ± 9,2 55,0 ± 11,4 54,9 ± 8,8 53,4 ± 9,5Pop. 3: Natural IB 56,1 ± 3,7 52,8 ± 5,3 54,4 ± 4,8 53,4 ± 10,0 55,5 ± 9,2 54,2 ± 11,6Pop. 4: Natural SPA 54,2 ± 7,9 52,0 ± 6,4 54,8 ± 6,4 54,0 ± 6,9 54,4 ± 6,5 49,4 ± 9,3

1 Intervalo de confiança a 95% de probabilidade

Entretanto, as estimativas de Ne baseadas na densidade de indivíduos adultos

por hectare, revelaram uma expressiva variação entre as quatro populações estudadas

(Tabela 16). De acordo com o sistema de exploração empregado, o número de

indivíduos remanescentes por hectare foi bastante variável e isso teve implicações

diretas sobre o tamanho efetivo de cada população. Nas populações 3 e 4 o valor de eN

permaneceu alto em ambos os marcadores (119,48.ha-1 e 109,49.ha-1 para microssatélites

e 119,93.ha-1 e 121,33.ha-1 para isoenzimas, respectivamente). Entre as populações

exploradas, a população 2 manteve um valor de eN intermediário, tanto com base nos

locos microssatélites (44,80.ha-1) quanto nos alozímicos (46,67.ha-1). Por outro lado, a

população 1 sofreu a maior redução em relação ao número físico de indivíduos e

conseqüentemente ao tamanho efetivo populacional ( eN =13,38.ha-1 e eN =14,08.ha-1

para microssatélites e isoenzimas, respectivamente). Apesar de os valores de f serem

mais expressivos nas populações exploradas, verificou-se que o número físico de

indivíduos teve a maior contribuição na redução dos valores do eN das populações.

Além disso, os pequenos valores de f tiveram mais influência nas populações

exploradas, uma vez que sua contribuição reduziu ainda mais o tamanho efetivo dessas

populações.

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95

Tabela 16. Tamanho efetivo populacional ( eN ) baseado no número de indivíduos

adultos por hectare (N) e no coeficiente de endogamia de Wright ( f ) em

quatro populações de Euterpe edulis com diferentes níveis de ação antrópica,empregando-se dois tipos de marcadores. Piracicaba-SP, Esalq/USP, 2004

Microssatélites IsoenzimasPopulação N.ha-1

f eN .ha-1 f eN .ha-1

Pop. 1: Extrativismo 15 0,121 * 13,38 ± 1,21 0,064 ns 14,08 ± 2,0Pop. 2: Manejo 50 0,116 ns 44,80 ± 6,3 0,069 ns 46,77 ± 7,1Pop. 3: Natural IB 130 0,088 ns 119,48 ± 9,7 0,084 ns 119,93 ± 21,2Pop. 4: Natural SPA 120 0,096 ns 109,49 ± 11,4 -0,011 ns 121,33 ± 19,1

* P<0,05 (IC95%: 10.000 bootstraps); ns Não significativo1 Intervalo de confiança a 95% de probabilidade

5.4 Discussão

O tamanho efetivo populacional em populações naturais de E. edulis é

geralmente elevado e é responsável pelo alto nível de variabilidade genética das

populações da espécie (Reis, et al., 1998, 2000d; Conte et al., 2003 e Gaiotto et al.,

2003). Essa alta variabilidade é favorecida principalmente pelas características

demográficas, ecológicas e reprodutivas da espécie. E. edulis é uma das espécies mais

abundantes no estrato médio da Floresta Atlântica (Reis et al., 1996; Henderson, 2000 e

Reis et al., 2000a). A estratégia reprodutiva típica da espécie envolve a manutenção de

um grande banco de plântulas, com média de 12.000 plântulas por hectare (Reis et al.,

1996). A espécie é monóica, com flores unisexuadas distribuídas em inflorescências do

tipo panícula, a qual apresenta uma acentuada protandria, o que previne a autogamia

(Reis et al., 1993 e Mantovani & Morellato, 2000). Uma grande variedade de insetos

visita as inflorescências de E. edulis durante seu longo período de florescimento,

contribuindo para o fluxo de pólen desta palmeira (Reis et al., 2000d). Os frutos servem

de alimento para a fauna, a qual é responsável pela dispersão de sementes, implicando

em uma contribuição imprescindível para manutenção da dinâmica demográfica e do

fluxo gênico da espécie (Reis & Kageyama, 2000).

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96

A representatividade genética das amostras usadas neste estudo foi bastante

alta, especialmente nas populações não exploradas onde os valores foram superiores a

90%. Nas populações exploradas, a representatividade genética das amostras foi menor,

principalmente entre as plântulas. Em um estudo similar, Sebbenn et al. (2000)

verificaram uma representatividade genética de 74% e 84%, respectivamente, em

progênies de populações exploradas e não exploradas de Tabebuia cassinoides. Neste

caso, os efeitos da exploração foram bastante significativos na redução do tamanho

efetivo populacional. No caso de E. edulis, embora a diferença na representatividade

genética tenha sido menos expressiva, as diferenças encontradas entre os indivíduos

mais jovens, detectadas com marcadores microssatélites, reflete um possível efeito do

processo de exploração na redução do tamanho efetivo dessas categorias de plantas. Este

comportamento está relacionado aos maiores níveis de endogamia detectados nessas

categorias.

No entanto, as diferenças no tamanho efetivo por hectare foram mais

expressivas comparando-se as densidades dos indivíduos adultos entre as populações

naturais e a população explorada de forma extrativista. No sistema de exploração

tradicional (extrativismo) todos os indivíduos maiores de 2 m de altura são cortados,

incluindo plantas reprodutivas. Em alguns casos, somente os indivíduos mais produtivos,

com DAP acima de 8 cm, são explorados, o que inclui todos os indivíduos reprodutivos

(Reis et al., 1998). Esse sistema implica em uma expressiva redução da população

reprodutiva e um colapso do sistema de exploração. Por outro lado, o sistema de manejo

tecnificado proposto para E. edulis consiste na retirada de um certo número de

indivíduos em cada ciclo de corte e sua substituição por indivíduos jovens, sendo esta

substituição promovida pelo próprio dinamismo da espécie. Neste modelo, é necessário

que a regeneração natural assegure a reposição dos indivíduos extraídos e haja um

contínuo suprimento de propágulos, o qual é dependente da permanência de um certo

número de indivíduos reprodutivos nas áreas sob manejo (Reis et al., 1998).

Considerando que as demes panmíticas de E. edulis correspondem a

aproximadamente 67 indivíduos, ocupando uma área de 13.000 m2, segundo Reis

(1996a) a redução no número de indivíduos por hectare abaixo de 50, implicaria em um

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97

aumento da divergência entre as unidades panmíticas em decorrência do aumento

interno dos níveis de endogamia, alterando a estrutura genética das populações no médio

prazo. Além disso, os efeitos da deriva genética se acentuariam, levando, possivelmente,

a perda dos alelos de menor freqüência. Desta forma, a redução do tamanho efetivo

populacional traria conseqüências diretas sobre o dinamismo populacional da espécie.

Em um estudo prévio sobre os efeitos do manejo nos níveis de diversidade e

estrutura genética molecular das mesmas populações empregadas neste estudo, Conte et

al. (2004) não encontraram diferenças entre populações exploradas e não exploradas da

espécie. Porém, os efeitos da redução no tamanho das populações investigados em

diferentes espécies vegetais, mostraram perdas de diversidade e alterações na estrutura

genética das populações (Ledig & Conkle, 1983; Hall et al., 1996, Nason et al., 1997,

Kageyama et al., 1998 e Sebbenn et al., 2000). Quando as populações permanecem

pequenas por um longo período, os efeitos da amostragem tornam-se cumulativos. Isto

dá origem a mudanças aleatórias na freqüência gênica (deriva genética) por causa da

amostragem de gametas de geração para geração. Em grandes populações, em média,

somente pequenas mudanças aleatórias na freqüência gênica ocorrem como resultado da

deriva; entretanto, onde as populações são pequenas (e.g. <100), as freqüências gênicas

podem sofrer grandes flutuações em diferentes gerações, levando a perda de alelos

(Templeton, 1990; Barret & Kohn, 1991 e Ellstrand & Elam, 1993).

No entanto, Young et al. (1996) afirmam que as perdas de variação genética são

mais prováveis devido à formação de gargalos genéticos no momento da exploração e na

subseqüente endogamia das populações pequenas, do que aos efeitos da ação contínua

da deriva genética aleatória. Além disso, alterações na estrutura espacial dos indivíduos

de uma população podem levar a mudanças na densidade e no comportamento dos

polinizadores, gerando alterações nos níveis de cruzamento, como o aumento da

autofecundação e conseqüentemente da endogamia (Bawa & Krugman, 1990 e

Murawski, 1995). De fato, conforme observado no presente estudo, os maiores níveis de

endogamia detectados entre as plântulas e jovens das populações exploradas sugerem

que a redução da população de cruzamentos resultou na alteração do comportamento

reprodutivo dos indivíduos remanescentes. De acordo com Sebbenn et al. (2000), em

Page 109: ESTRUTURA GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE Euterpe edulis … · Estrutura genética de populações de Euterpe edulis Mart. submetidas à ação antrópica utilizando marcadores alozímicos

98

populações exploradas de Tabebuia cassinoides, que sofreram redução no tamanho

efetivo, houve um aumento nos níveis de endogamia devido ao aumento na taxa de

autofecudação dos indivíduos remanescentes. Entretanto, no caso de E. edulis a

autofecundação é um evento de ocorrência muito rara, devido às características

reprodutivas e ecológicas da espécie. Por outro lado, cruzamentos não aleatórios ou

biparentais de baixa freqüência ocorrem naturalmente em populações naturais de E.

edulis (Reis, 1996a; Gaiotto et al., 2003). Assim, as alterações na população reprodutiva,

causadas pela exploração podem ter contribuído para o aumento na freqüência de

cruzamentos não aleatórios, aumentando a chance de cruzamentos entre aparentados e,

assim, elevando os níveis de endogamia nas categorias mais jovens dessas populações.

5.5 Conclusões

Pela comparação das populações naturais exploradas e não exploradas,

verificou-se que o sistema extrativista de exploração resultou na maior redução no

tamanho efetivo dos indivíduos adultos por hectare. No entanto, considerando que o

tamanho efetivo é uma medida que envolve toda a população, as populações exploradas

de E. edulis ainda apresentam um bom tamanho efetivo populacional, uma vez que essas

populações apresentam áreas superiores a 20 hectares. Porém, a persistência do sistema

tradicional de exploração (extrativismo) poderá causar uma redução drástica no tamanho

efetivo, elevando os níveis de endogamia por deriva genética e cruzamento entre

aparentados. Conforme Falconer & Mackay (1997), o efeito da endogamia em uma

população é denominado de “depressão por endogamia”, a qual pode implicar na

redução da performance reprodutiva da espécie, causando alterações na fertilidade,

viabilidade das sementes, vigor, adaptação e produtividade de maneira geral. Assim, no

decorrer de várias gerações esses efeitos podem resultar em perdas de variabilidade e

alteração na estrutura genética, colocando em risco as populações remanescentes da

espécie.

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6 CONCLUSÕES GERAIS

Com base nos resultados obtidos e considerando as hipóteses levantadas e os

objetivos propostos, as principais conclusões deste trabalho foram:

As populações de Euterpe edulis, nas duas regiões estudadas, apresentaram uma

grande variabilidade genética molecular, detectada pelos marcadores alozímicos

e microssatélites.

Os marcadores microssatélites revelaram um maior grau de polimorfismo em

relação às isoenzimas, mas a análise do sistema reprodutivo e as medidas

relativas de estrutura genética como o coeficiente de endogamia de Wright (FIS)

e o coeficiente de diferenciação genética de Nei (GST) foram da mesma ordem de

magnitude para os dois conjuntos de marcadores.

A informação genética conjunta desses marcadores revelou que os efeitos da

exploração foram pouco pronunciados até o momento em relação aos níveis de

diversidade e estrutura genética molecular das populações de E. edulis.

Entretanto, a redução da população de cruzamentos resultou em alterações no

comportamento reprodutivo dos indivíduos, promovendo um aumento nos níveis

de endogamia nas coortes mais jovens das populações exploradas.

O sistema extrativista de exploração resultou em uma maior redução no tamanho

efetivo dos indivíduos adultos por hectare, porém, o tamanho efetivo total das

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100

populações exploradas ainda é elevado, o que explica a manutenção dos altos

níveis de diversidade observados neste estudo.

A análise do sistema reprodutivo corrobora os estudos anteriores de que a

espécie se reproduz por fecundação cruzada.

Os marcadores alozímicos foram capazes de detectar efeitos de seleção,

evidenciados por um aumento na taxa de heterozigotos na direção dos indivíduos

adultos e, portanto, confirmando os resultados obtidos em estudos prévios com

esta espécie.

Contudo, os resultados obtidos neste estudo indicaram questões adicionais a

serem estudadas:

Em função do elevado nível de variabilidade dos locos microssatélites observado

em E. edulis, recomenda-se aumentar o tamanho das amostras (>100) visando

otimizar a informação genética proporcionada por esses marcadores.

Novos estudos são necessários sobre os efeitos do manejo tecnificado, uma vez

que os resultados obtidos neste estudo podem ter sido influenciados por outros

eventos de exploração ocorridos no passado e pelas populações existentes nas

proximidades devido ao elevado fluxo gênico da espécie.

Finalmente, em virtude do baixo número de gerações transcorridas após a

exploração, recomenda-se o monitoramento das gerações futuras, principalmente

em áreas críticas de exploração da espécie, tendo em vista as tendências

observadas no presente estudo.

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/Submetido/