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II CONINTER Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013 ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DA MUDANÇA NO TEMPO DAS TRANSFORMAÇÕES DA CIDADE: PATRIMÔNIO E MEMÓRIA. GAMA, ALEXANDRE DE OLIVEIRA 1. Instituto Federal do Triângulo Mineiro Campus Paracatu Iftm.edu.br [email protected] RESUMO O tempo contemporâneo está indissociavelmente marcado pela ideia de mudança. O Iluminismo, a Revolução Industrial e Francesa no século XVIII foram responsáveis pela noção da ideia de progresso a se constituir um elemento essencial no campo experiencial das cidades contemporâneas. Essa noção difundida, intensificada pelo processo de globalização, estava voltada para uma transformação ativa deste mundo, no qual as rupturas e mudanças passaram a ser valorizadas em contraponto à valorização da continuidade do tempo tradicional. O patrimônio, nesse contexto, passa a ser utilizado como um meio para se gerir o conjunto de transformações daí decorrentes e também como uma maneira de se viver as rupturas, reconhecê-las e reduzi-las. O objetivo do estudo de caso apresentado na última parte do trabalho será mostrar como em Paracatu, cidade mineira a 240 km de Brasília, se geriu o conjunto de transformações pelos quais passou entre o final da década de 1950 e 1960, a partir da disseminação da ideia de progresso trazida a partir da construção da capital do País. Palavras-chave: Tempo das transformações. Gestão da mudança. Patrimônio. Paracatu. Brasília.

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II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades

Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DA MUDANÇA NO TEMPO DAS TRANSFORMAÇÕES DA CIDADE: PATRIMÔNIO E MEMÓRIA.

GAMA, ALEXANDRE DE OLIVEIRA

1. Instituto Federal do Triângulo Mineiro – Campus Paracatu

Iftm.edu.br [email protected]

RESUMO

O tempo contemporâneo está indissociavelmente marcado pela ideia de mudança. O Iluminismo, a Revolução Industrial e Francesa no século XVIII foram responsáveis pela noção da ideia de progresso a se constituir um elemento essencial no campo experiencial das cidades contemporâneas. Essa noção difundida, intensificada pelo processo de globalização, estava voltada para uma transformação ativa deste mundo, no qual as rupturas e mudanças passaram a ser valorizadas em contraponto à valorização da continuidade do tempo tradicional. O patrimônio, nesse contexto, passa a ser utilizado como um meio para se gerir o conjunto de transformações daí decorrentes e também como uma maneira de se viver as rupturas, reconhecê-las e reduzi-las. O objetivo do estudo de caso apresentado na última parte do trabalho será mostrar como em Paracatu, cidade mineira a 240 km de Brasília, se geriu o conjunto de transformações pelos quais passou entre o final da década de 1950 e 1960, a partir da disseminação da ideia de progresso trazida a partir da construção da capital do País.

Palavras-chave: Tempo das transformações. Gestão da mudança. Patrimônio. Paracatu. Brasília.

I. INTRODUÇÃO

O tempo contemporâneo está indissociavelmente marcado pela ideia e experiência da

mudança. Desde o Iluminismo, a Revolução Industrial e a Francesa em meados do século

XVIII, uma determinada noção de progresso passou a se constituir um elemento essencial

dentro do campo experiencial e do imaginário das civilizações europeias. Essa ideia, que

mexeu profundamente com a experiência temporal do europeu, não limitou sua influência

àquele continente. O Imperialismo na África e Ásia no século XIX e, mais tarde, o processo de

mundialização de valores e serviços denominado globalização contribuíram para expandir

essa noção de progresso e provocar uma mudança na percepção e experiência temporal de

cidadãos espalhados pelo planeta.

Aqueles três eventos foram, em grande medida, responsáveis por trazer a experiência

de se conviver com profundas transformações, para o dia a dia dos habitantes das cidades.

Foram nelas que as sociedades experimentaram muitas de suas principais consequências.

Nos períodos anteriores à Revolução Industrial, segundo Koselleck, as inovações técnicas

também existiam, mas “impunham-se com tamanha lentidão que não provocavam nada capaz

de promover uma ruptura na vida” (KOSELLECK, 2006, p. 314). O horizonte de expectativas

(o que se esperava como futuro) de um determinado grupo social, não era percebido como

diferente daquilo que os antepassados haviam experimentado e nem do que se

experimentava no presente, no espaço de experiência.

Entretanto, a partir de meados do século XVIII, as inovações tecnológicas e as

transformações do espaço urbano das mais variadas cidades passaram a provocar

modificações cada vez mais profundas no campo da experiência das camadas sociais. Esse

conjunto de transformações interferia na vida cotidiana das pessoas. Para o autor, a noção de

progresso difundida nessa época estava voltada para uma transformação ativa deste mundo,

e isto implicava em uma novidade.

Antes do século XVIII, passado e futuro não eram percebidos como categorias

distantes uma da outra nas experiências marcadas pela continuidade da tradição. Entretanto,

a partir de agora, essas duas categorias se distanciam profundamente. Para Koselleck é

justamente essa experiência temporal que se coloca como uma das marcas daquilo que

chamamos modernidade. As mudanças engendradas pelas transformações já mencionadas

anteriormente passam a ser valorizadas e desejadas.

Todas as transformações econômicas, sociais e culturais por que passam os

habitantes dos espaços urbanos neste momento fazem com que eles, segundo Octávio Paz,

passem a valorizar a mudança e não tentar minimizá-la, conforme comumente se fazia em

outras experiências de tempo, tais como no período medieval ou no imediatamente anterior ao

contemporâneo. Para ele, o foco desse tempo não é o passado nem mesmo a eternidade,

mas o futuro: “o princípio em que se fundamenta o nosso tempo não é uma verdade eterna,

mas a verdade da mudança” (PAZ, 1984, p. 47).

O que faremos aqui será tratar, de um modo geral, da repercussão e implicações

geradas pela assim chamada modernização (vinculada à ideia de progresso) e,

posteriormente, pela globalização, nas cidades, mas não somente isso, como também

analisar como o patrimônio será utilizado como uma maneira de se administrar, em alguns

momentos até mesmo conter, o conjunto de transformações daí decorrentes. Os dois

fenômenos, modernização e globalização, correspondem a processos que deflagram um

conjunto sem precedentes de mudanças no espaço da cidade e que, por isso mesmo, vão

levar seus gestores e grupos organizados a mobilizarem a memória como campo estratégico

para gestão dessas mudanças.

II. A MODERNIZAÇÃO E A GLOBALIZAÇÃO COMO INDUTORAS

DAS TRANSFORMAÇÕES NAS CIDADES E O PATRIMÔNIO

COMO ESTRATÉGIA DE GESTÃO DA MUDANÇA.

As exigências técnicas e sanitárias reivindicadas a partir da modernidade

contemporânea como políticas públicas tornam-se marcas de promoção das cidades

europeias durante o período que corresponde à belle époque, durante as duas últimas

décadas do século XIX e o início do XX. As transformações físicas do espaço urbano são mais

conhecidas e comumente divulgadas nos estudos urbanísticos e historiográficos, entretanto, o

que nos interessa são as consequências da luta entre progresso e tradição vivenciados

nesses espaços durante esse período.

“... a transformação da cidade desencadeia uma luta de representações entre o

progresso e a tradição: uma cidade moderna é aquela que destrói para construir,

arrasando para embelezar, realizando cirurgias urbanas para redesenhar o espaço

em função da técnica, da higiene, da estética. (...) Mas, destruir e remodelar a urbe

implica julgar aquilo que se deve preservar, aquilo que em termos de espaço

construído, é identificado como o ponto de ancoragem da memória, marco de

reconhecimento e propriedade coletiva. Lugares de Memória, políticas de patrimônio,

definições de identidades urbanas são algumas das vias temáticas que se abrem com

esse campo de pesquisa”. (PESAVENTO, 2008, p. 79).

Ao mesmo tempo em que se via um intenso compromisso dos agentes públicos com

aquilo que se chamava de progresso, também se assistia a uma ascensão das preocupações

preservacionistas, uma discussão em torno da questão de se eleger na cidade seus

patrimônios carentes de preservação.

“O crescimento urbano das cidades ou o conjunto de processos convencionalmente

nomeados de ‘modernização’ aparecem, nesse sentido, acompanhados de

investimentos materiais e simbólicos em torno da manutenção e restauração de

equipamentos, percebidos como expressão do patrimônio das cidades.” (BARREIRA,

2003, p. 314).

Esse processo de transformações pelo qual passaram as cidades prossegue pelo

século XX ganhando novo impulso no período subsequente aos conflitos mundiais, não

somente na Europa em franca recuperação, como também em países como o Brasil. O

aprofundamento do processo de globalização parece, conforme reflexões feitas por François

Hartog, intensificar o conjunto de transformações desencadeadas pelo processo de

modernização experimentado entre 1950 e 1960, uma vez que faz com que as tradições e

valores locais sejam profundamente afetados pela massificação promovida pelos valores

globais.

“De fato, a globalização tende a ocupar, hoje, um lugar análogo àquele da

modernização nos anos 1950-1960... Assim como não houve somente uma

modernização e uma modernidade única, não há uma só globalização tomando, por

assim dizer, de viés o mundo inteiro ao mesmo tempo.” (HARTOG, 2010, p. 14).

Hartog menciona que o século XX foi o que mais invocou o futuro, o que mais destruiu

e construiu em seu nome, entretanto, também foi o que mais invocou o presente, sobretudo

em seu último terço, dando extensão maior a esta última categoria temporal. Esse

envolvimento resultou em uma preocupação cada vez maior com a memória: “Mas, desde o

fim dos anos 1960, este presente se descobriu inquieto, em busca de raízes, obcecado com a

memória. À confiança no progresso se substituiu a preocupação de guardar e preservar:

preservar o quê e quem?” (HARTOG, 2006, 270-271).

Com o processo da globalização intensificando a promoção e massificação de valores,

produtos e serviços em escala mundial, influenciando cada vez mais os ritmos e os modos de

vida por todo lugar, aumenta-se a preocupação com a valorização e reconhecimento das

diferenças. Está aí o motivo dos investimentos e das mobilizações múltiplas em diferentes

lugares das palavras que marcaram os anos 1980: memória, identidade e patrimônio

(HARTOG, 2010).

É interessante notar que as transformações do espaço urbano próprios do início da

segunda metade do século XX, isto é, sua modernização (relacionada com a noção de

progresso), foram encampadas em grande medida pelos agentes políticos nas cidades e pela

própria sociedade. Entretanto, a preocupação com a preservação cresceu nesse mesmo

período, substituindo, em princípio, o ímpeto transformador anterior.

“Em meados dos anos 1970, outra fenda manifesta-se nesse presente. Ele começa a

se mostrar preocupado com a conservação (de monumentos, de objetos, de modos

de vida, de paisagens, de espécies animais)... Gradativamente, a conservação e a

renovação substituíram, nas políticas urbanas, o mero imperativo da modernização,

cuja brilhante e vital evidência não tinha sido questionada até então. Como se se

quisesse preservar, na verdade, reconstituir um passado já extinto ou prestes a

desaparecer para sempre.” (HARTOG, 2013, p. 151).

Todo esse processo descrito até aqui (o surgimento da noção moderna de progresso

no século XVIII, as experiências subsequentes de modernização e progresso experimentados

no espaço da cidade entre os séculos XIX e XX e as implicações da globalização no final do

século XX) se confunde com a construção da noção de patrimônio. A noção moderna de

patrimônio ganha delimitações mais específicas justamente no período em que a noção

moderna de progresso também se constitui. A ideia de patrimônio se desenvolve e se

expande no período em que a renovação, as transformações e a experiência da mudança se

tornam constitutivas do mundo contemporâneo.

A partir de reflexões feitas por Dominique Poulot, podemos simplificadamente ordenar

o desenvolvimento dos sentidos do termo patrimônio na seguinte sequência temporal: no final

do século XVIII, seu sentido moderno se constitui com a dessacralização da noção de

patrimônio a partir da Revolução Francesa; no século XIX e início do XX, se liga

essencialmente aos bens materiais edificados (muitas vezes à serviço da construção da

memória e identidade dos estados-nação) e a partir do último terço do século XX, ocorre uma

expansão da noção de patrimônio (POULOT, 2011). Neste último caso, essa “ampliação da

noção de patrimônio cultural pode ser considerada, portanto, mais um dos efeitos da chamada

‘globalização’” (LONDRES, 2001, p. 185).

Isso porque o processo de globalização desencadeia, ao mesmo tempo em que

carrega a ideia da massificação e uniformização dos valores, um interesse cada vez maior em

se preservar o que se tem de diferente em nível local, de maneira que, recentemente,

Françoise Choay em seu livro “Alegoria do patrimônio” menciona uma espécie de “inflação

patrimonial” que poderia ser tomada como uma das marcas de nossa contemporaneidade. E

não somente uma das marcas, mas também uma ‘estratégia política’! (CHOAY, 2008, p.

15-17).

Por que isso? A que podemos atribuir essa proliferação de bens patrimoniais? Porque

o patrimônio pode ser visto como uma estratégia política? Antes de responder a pergunta vale

ressaltar que, desde seus primeiros momentos, o patrimônio conviveu com tempos de

profundas transformações. Nesses pouco mais de dois séculos, as sociedades passaram por

diversos momentos de inflexão, de forma que a experiência de tempo, anteriormente marcada

pela tradição e continuidade, passa a conviver e valorizar as rupturas. Sendo assim, a que

devemos a proliferação de bens patrimoniais preservados e salvaguardados no domínio

social? Justamente à mudança, uma vez que o patrimônio deve ser entendido como uma

maneira de se vivê-la, isto é, uma estratégia para se gerir o conjunto e intensidade das

transformações por que passa uma dada sociedade.

“Do ponto de vista da relação ao tempo, de que esta proliferação patrimonial é sinal?

Ela é sinal de ruptura, seguramente, entre um presente e um passado, o sentimento

vivido da aceleração sendo uma forma de fazer a experiência: a mudança brusca de

um regime de memória para outro para um outro... O percurso da noção mostrou

indubitavelmente que o patrimônio jamais se nutriu da continuidade, mas, ao

contrário, de cortes e da problematização da ordem do tempo, com todos os jogos de

ausência e presença, do visível e do invisível, que marcaram e guiaram as

incessantes e sempre mutantes formas de produzir semióforos.” (HARTOG, 2006, p.

272).

Para François Hartog, diante das “catástrofes do século XX, as numerosas rupturas,

as fortes acelerações tão perceptíveis na experiência do tempo vivido, nem o surgimento da

memória nem o do patrimônio são surpreendentes”, uma vez que “o patrimônio é uma

maneira de viver as rupturas, de reconhecê-las e reduzí-las, referindo-se a elas, elegendo-as,

produzindo semióforos. O patrimônio é um recurso para o tempo de crise”. (HARTOG, 2006,

p. 272). Por isso, Choay se refere a ele como uma estratégia política, pois o monumento,

como patrimônio:

“é uma defesa contra o trauma da existência, um dispositivo de segurança. O

monumento assegura, sossega, tranquiliza, ao conjurar o ser do tempo. É garantia

das origens e acalma a inquietude que gera a incerteza dos princípios. Desafio à

entropia, à ação dissolvente que o tempo exerce sobre todas as coisas naturais e

artificiais, o monumento procura apaziguar a angústia da morte e da aniquilação.”

(CHOAY, 2008, p. 18).

As rupturas tão comuns, dentro da experiência temporal da modernização e da

globalização, podem ser traumáticas para a memória e identidade de um determinado grupo

social. Os laços tradicionais que mantem o vínculo entre esses indivíduos podem se

desmanchar diante da onda avassaladora decorrente desses processos mencionados. Sendo

assim, diante da perda da tradição, da identidade e da memória, a nomeação de um bem e

sua escolha como patrimônio seria uma maneira de se gerir esse conjunto de transformações,

tão recorrentes no mundo contemporâneo.

Neste caso, quando se fala de patrimônio, para além da origem jurídica do termo, “o

sentido evocado é o da permanência do passado, a necessidade de resguardar algo

significativo no campo das identidades, do desaparecimento... o patrimônio pode ser

compreendido como esse esforço constante de resguardar o passado no futuro.” (FERREIRA,

2006, p. 79).

O patrimônio se impõe como um lugar de resistência diante da aceleração da vida,

diante das mudanças provocadas na tradição. E, sendo um lugar de resistência, é também um

lugar de lutas. Ele não pode ser interpretado como um dado natural. Ele é construído pelos

discursos. O patrimônio somente passa a existir a partir do momento em que um determinado

grupo elege como tal aquilo que antes estava dado na história. O patrimônio é uma construção

cultural em que “o jogo de escolhas e o espaço do conflito são elementos inerentes ao

mesmo.” (FERREIRA, 2006, p. 80).

Foi neste sentido que Dominique Poulot afirmou que “a atenção dirigida aos manejos

políticos do passado e aos usos públicos da história revelou amplamente que o patrimônio era

resultante de reconstruções com base na classificação e na escolha, bem como de

esquecimentos seletivos e de comemorações voluntaristas.” (POULOT, 2011).

O patrimônio, assim como a memória, deve ser compreendido dentro da relação

temporal entre as três escalas de tempo: passado-presente-futuro, e não simplesmente como

uma intervenção do presente em algo ‘trazido’ do passado. Selecionar alguns lugares e ou

bens para salvaguardar ou preservar significa escolher aquilo que se quer, do passado,

preservar no presente e legá-lo ao futuro como sua parte constituinte. Os patrimônios culturais

“são estratégias por meio das quais grupos sociais e indivíduos narram sua memória e sua

identidade, buscando para elas um lugar público de reconhecimento, na medida mesmo em

que as transformam em patrimônio.” (GONÇALVES, 2002, p. 121).

Depois dessa reflexão fica mais fácil compreender por que, num período de profundas

transformações, onde a experiência cotidiana nas cidades se torna a da mudança, da

fragmentação, ao mesmo tempo em que se convive com a massificação, ocorre a inflação

patrimonial de que falava Françoise Choay, ou mesmo porque, segundo Hartog, as

palavras-chaves patrimônio, memória e identidade passaram a ser a marca do tempo

presente, sobretudo a partir da década de 1980.

Pelos motivos expostos, as cidades não devem ser percebidas exclusivamente do

ponto de vista arquitetônico e da organização e distribuição de seus serviços no espaço físico.

“Nossas cidades modernas encontram-se inversamente despidas de memórias não

represadas pela razão; seus mitos de fundação constituem elaborações históricas.

Nelas, se nos dispusermos a voltar a atenção para os traços de memória gestuais, de

comportamentos diversos, ou seja, de uma memória em ação, estaremos talvez a

olhar para as memórias como elementos arquiteturais, considerando-as também um

dos elementos estruturantes do meio urbano.” (BRESCIANI, 2002, p. 32)

A compreensão acerca da cidade neste trabalho leva em consideração, não como

característica pontual, mas como fundamento de sua percepção, seu papel como operadora

de memorização. Apesar da expansão conceitual da palavra patrimônio abranger o meio

ambiente, o gênero animal, as culturas tradicionais (muitas delas rurais) e até mesmo bens

aquáticos (FERREIRA, 2006, p. 83), compreendemos o patrimônio no seu aspecto de

fenômeno urbano com o qual esteve intimamente ligado nesse último século. A cidade e todos

os sentidos que a constitui e a torna inteligível somente pode ser significativamente

compreendida a partir do momento em que se considera sua relação com a memória.

“Há, porém, ainda outra ponta emergindo do novelo da questão sanitária/social,

elemento importante para a sociedade fundada no contrato social. Essa ponta

apresenta a cidade como operador de memorização, memórias contidas em suas

bibliotecas, monumentos, estabelecimentos de ensino, imprensa. A cidade coloca o

mundo na história e traz para o presente o legado das gerações mortas e de suas

heranças imortais. Os monumentos e o espaço público solicitam nossa inteligência e,

por vezes, complicados esquemas interpretativos apresentam-se como desafios e

pedagogias insubstituíveis.” (BRESCIANI, 2002, p. 29-30).

Depois dessa reflexão teórica acerca da relação entre as transformações

empreendidas no espaço urbano e a gestão das mudanças desencadeadas a partir do

processo contemporâneo da modernização (com sua noção de progresso) e da globalização

nessas últimas décadas, através da constituição e da ampliação dos campos do patrimônio

nas cidades, procedemos agora um estudo de caso. O objetivo será mostrar como em

Paracatu, cidade mineira a 240 km de Brasília, se usou o patrimônio e a fotografia, como

recursos da memória, para se administrar o conjunto de mudanças provocadas pela

construção de Brasília (1957-60) no espaço da cidade.

III. ESTUDO DE CASO: AS ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DA

MUDANÇA EM PARACATU A PARTIR DAS TRANSFORMAÇÕES

PROVOCADAS PELA INFLUÊNCIA DA CONSTRUÇÃO DE

BRASÍLIA.

Paracatu, cidade a 240 km de Brasília nasceu sob o ciclo do bandeirantismo na virada

do século XVI para o XVII, através do aprisionamento de indígenas por ocasião de sua

presença na região ocupada pelo rio Paracatu, afluente da margem esquerda do São

Francisco. Sob o ciclo do ouro no século XVIII, desenvolve-se a ponto de representar uma das

grandes economias da coroa na colônia. Vários caminhos que ligavam diversas regiões do

País (Maranhão, Pernambuco, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro além da mineira) a Goiás

fizeram do pequeno arraial uma encruzilhada do Brasil central. A cidade assistia

constantemente a esse movimento.

Entretanto, segundo o que se diz, por estar distante dos principais centros políticos

mineiros, a cidade teria sido esquecida, depois de seu declínio econômico, durante o período

do Império e a República. Por isso teria ela ficado conhecida como a Princesa das Distâncias.

O que se afirma aí é que essa tradição permanece até meados do século XX, quando a

construção de Brasília por Juscelino Kubitschek teria rompido com o ‘esquecimento’ da cidade

mineira.

É interessante como a memória coletiva parece confirmar Brasília como um marco, um

rasgo na história de longa duração, marcada pela permanência da tradição, do tempo lento e

de um estilo de vida pacato com aspectos rurais na cidade. Existe essa memória da “não

transformação” em Paracatu, como se o tempo fosse o mesmo durante o período que vai do

final do século XVIII a meados do XIX.

Em uma entrevista reproduzida em um de seus livros (“Minhas opiniões. E as suas?”),

o escritor, historiador e jornalista mais conhecido da região, com mais de 60 livros escritos

(mais da metade deles sobre a história, cultura e memória da cidade), Oliveira Mello reforça

essa memória da “não transformação”:

“Acompanho a cultura de Paracatu desde o início, porque não é uma manifestação

que nasceu da noite para o dia. Ela é marcante, bicentenária, tendo sofrido influência

dos portugueses, dos africanos, dos paulistas e dos nordestinos. Então temos uma

cultura onde estão mescladas influências do sul e do nordeste do Brasil, e também da

África e de Portugal. Trata-se de uma cultura que foi construída no isolamento,

permanecendo intocada por um longo tempo. Até 1960 (data da inauguração de

Brasília), Paracatu era um oásis de cultura no Noroeste de Minas Gerais.” (MELLO,

1998, p. 70).

Este longo tempo a que se refere Oliveira Mello em sua entrevista corresponde ao

tempo da tradição. Esse tempo é percebido como continuidade. O espaço de experiência

parece tão pouco suscetível à transformações que seu horizonte de espera, conforme

demonstrado por Koselleck, não nutria maiores expectativas do que aqueles que o cidadão

experimentava naquele momento. Álvaro Campos, importante personagem da vida pública da

cidade afirmou após 1980 que “a Paracatu de hoje está ligada ao mundo, através de Brasília,

mas há duas décadas atrás, ainda era aquela cidade que parecia a eterna prisioneira das

distâncias silenciosas de que nos fala Carlos Campos” (BARATA, s/d, p. 9). Em Paracatu do

Príncipe: minha terra, Mello novamente afirma aquilo que é muito comum na memória coletiva

da cidade: Brasília sendo vista como a ruptura, o motivo da chegada de um novo tempo.

“E com a vinda de Brasília, Paracatu ressurgiu. Criou vida. Era a chegada dos novos

bandeirantes. Dos bandeirantes do século XX. E não encontramos mais a Paracatu

sonolenta. Brasília fez com que ela acordasse. E denominaram-na até de ‘Trampolim

de Brasília’ e ‘Cartão de visita de Brasília.’” (MELLO, 1978, p.40).

O conjunto de transformações pelas quais passou a cidade entre 1950 e 1960 foram

significativos. Segundo Mello, entre eles se encontram o estabelecimento de infraestrutura de

água e esgoto, a construção da estação Rodoviária, de pontes sobre os rios Escuro, Batalha e

Santa Isabel, aquisição do primeiro trator e da primeira moto-niveladora pelo Município,

remodelamento da Praça da Matriz, início do serviço de asfaltamento da cidade, criação de

uma fábrica de manilhas e bloquetes, construção do esgoto pluvial, abertura de novas

estradas e inauguração da BR-040, que vincula a cidade à Brasília (MELLO, 1978, p. 45).

Sobre a BR-040, o jornalista chega a afirmar: “Já pensaram o que seria de Paracatu sem a

rodovia? Se nada mais houvesse realizado, somente isto e o abastecimento de água o

tornariam merecedor de toda a gratidão do povo paracatuense.” (BARATA, s/d, p. 44).

Foto 1: Asfaltamento da Rua d’Abadia (1960). Foto 2: Retirada das antigas pedras para colocação

de bloquetes. (Autor desconhecido)

Esse conjunto de mudanças significativas no campo do espaço de experiência dos

cidadãos faz com que determinados grupos projetassem um novo tempo para a cidade,

diferente do ‘atraso’, do esquecimento anterior. Fala-se aqui em progresso. A experiência do

tempo de grupos de paracatuenses se modifica na medida em que seu espaço de experiência

sofre diversas modificações sinalizando para um tempo que se fazia novo, diferente do

anterior, abrindo assim, um horizonte de expectativas cada vez mais amplo e distinto das

experiências passadas.

“É de todo imprescindível que os Srs. Juscelino Kubitscheck e Bias Fortes, tendo em

vista o ponto de parada obrigatória que a secular cidade do nordeste mineiro

proporciona a todos aqueles que demandam a Nova Capital, voltem seus olhos para o

grande município que até hoje viveu praticamente de esperanças não realizadas, mas

que agora começa a dar largos passos em direção a um futuro promissor. Sim,

Paracatu está despertando de seu sono antigo.” (BARATA, s/d, p. 55). (Grifo meu).

Nesse mesmo sentido, vários dos discursos dos parlamentares da Assembleia

Legislativa de Minas Gerais (que se reuniu simbolicamente na cidade em 23 de abril de 1960)

destacaram as possibilidades que se lançavam para o Município com a construção de Brasília

e a chegada do progresso, como o despontar de novos tempos.

“O orador seguinte, Deputado Teófilo Pires, em nome do PR, elogiou a decisão

tomada pelo Poder Legislativo de fazer realizar uma sessão em Paracatu.

Prosseguindo, disse: ‘Aqui estamos reunidos para dizer ao povo desta bela terra que

Minas tem motivo para se orgulhar desta comuna que, depois de viver isolada durante

dois séculos, desponta agora para uma nova aurora de progresso.’” (MELLO, 1978, p.

49). (Grifo meu).

Conforme mencionado anteriormente, segundo Pesavento, “uma cidade moderna é

aquela que destrói para construir, arrasando para embelezar, realizando cirurgias urbanas

para redesenhar o espaço em função da técnica, da higiene, da estética” (PESAVENTO,

2008, p. 79). Neste sentido, Paracatu também vivia esse momento de mudanças através da

destruição daquilo que passou a ser considerado antigo, ultrapassado, ligado ao tempo do

atraso. Segundo Mello, na década de 1960, aconteceu a maior derrubada do velho. “Uma

pressa descabida para adquirir uma feição do novo, que na realidade não veio. Os becos, em

sua maioria, quando não destruídos, foram fechados. Não houve nenhum projeto urbanístico

para não descaracterizar a fisionomia da cidade.” (MELLO, 2002, p. 131).

Edificações tradicionais, entenda-se coloniais, eram demolidas para dar lugar a

edificações modernistas, seguindo a referência do estilo arquitetônico moderno de Brasília,

uma de suas principais marcas. “Imaginada como emblema da modernidade, principalmente

pelo domínio da arquitetura modernista quando de sua construção, Brasília, por isso mesmo,

foi tombada como patrimônio cultural da humanidade pela UNESCO” (MAGALHÃES,

MATSUMOTO e NUNES, 2000, p. 93-94). O exemplo maior dessa influência é a construção

do Walsa Hotel no centro da cidade. Um conjunto de edificações coloniais foi demolido para

dar espaço à construção do hotel. Conforme se percebe na figura abaixo (Foto 3), os traços

modernistas da edificação se destacam diante dos conjuntos coloniais que o cercam.

Foto 3: Walsa Hotel. (Autor desconhecido)

A situação é tal que um articulista do jornal “A Tribuna de Paracatu” escreve na edição

de 20 de novembro de 1960:

“porque o prefeito está abandonando tanto esta parte velha e encantadora desta

cidade, quando devia ser justamente o contrário, pois o que Paracatu tem de mais

original e curioso está exatamente nas tradicionais construções que hoje já não se

repetem e que atestam pitorescamente uma época de nossa história. Administração

dinâmica e atualizada é aquela que sabe introduzir o novo e o moderno e conservar o

antigo de maneira nova, isto é, dentro de um planejamento bem estruturado,

obedecendo as boas técnicas de urbanização, conservando, é claro, alguns erros

oriundos do passado, na impossibilidade de transformá-los de repente, mas evitando

criá-los no presente para evitar dificuldades no futuro’.”1

Em todo esse contexto de mudanças e diante desses fragmentos discursivos,

percebemos os conflitos que se estabeleceram no espaço da cidade, mais propriamente no

campo da memória. É neste momento que a noção de patrimônio se torna estratégico para

aqueles grupos sociais, do qual o articulista K. D. ou o próprio Oliveira Mello fazem parte. Para

eles, o passado, materializado nas edificações tradicionais (indicativas dos modos de vida

tradicionais), devia ser preservado, uma vez que não era entendido como empecilho ao

progresso em seu ímpeto transformador (conforme se viu, um progresso que “destrói para

construir”).

As transformações do espaço urbano e o “tombamento dos antigos prédios

correspondem a esse fluxo dialético de transformação e preservação que caracteriza parte

1 K. D. No meio da rua tinha um buraco. In.: A tribuna de Paracatu. Paracatu, 8(30), 20 de Novembro de 1960, p. 1.

significativa das cidades brasileiras.” (BARREIRA, 2003, p. 321). Essa foi a experiência da

cidade nessa virada de 1950 para 1960. Em meio à onda de derrubada, de perda, de

renovação – dependendo do grupo social essa situação ganhava leituras e discursos distintos

– esse ‘fluxo dialético’ à que se refere Barreira gerou também, do outro lado, uma onda de

discursos que procuraram ‘patrimonializar’ algumas edificações tradicionais. Lembrando

Hartog: “o patrimônio é uma maneira de viver as rupturas, de reconhecê-las e reduzi-las,

referindo-se a elas, elegendo-as (...) sempre correlatos com tempos fortes de

questionamentos da ordem do tempo. O patrimônio é um recurso para o tempo de crise”

(HARTOG, 2006, p. 272). Essa é uma maneira de se gerir o conjunto de mudanças

experimentadas.

Em Paracatu, isso pôde ser percebido por meio de duas ações muito bem delimitadas,

porém concomitantes, envolvidas diretamente com o campo da memória. Por um lado, na

ação de agentes sociais e órgãos públicos na tomada do patrimônio como um claro recurso

para o tempo da mudança. Por outro lado, nas ações de fotógrafos, profissionais ou não, em

seu claro interesse em registrar os becos, ruas, edificações tradicionais, tomando a fotografia

como recurso para o que podemos chamar de “paralização do presente”.

No primeiro caso, percebe-se nos poucos fragmentos de discursos aqui reproduzidos

um certo mal-estar em relação à profunda valorização do progresso e das mudanças

desencadeadas com a construção de Brasília. Não é sem motivo que o Serviço de Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (hoje IPHAN) procedeu já em 1962 ao tombamento dos dois

bens materiais edificados mais antigos da cidade: a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos

Pretos Livres (edificada em 1744) e a Igreja Matriz de Santo Antônio da Manga (datada de

1746).

É interessante notar que as duas igrejas estão dentro de dois pontos estratégicos do

núcleo urbano, hoje denominado centro histórico. Ao proceder aos dois tombamentos, o

SPHAN delimitou duas grandes áreas de entorno (desse centro) que seriam preservadas a

partir do tombamento das igrejas. Assim, entendemos essa ação como uma forma de se

conter a velocidade das transformações empreendidas na cidade de Paracatu nessa época.

O outro fato mencionado diz respeito ao papel dos fotógrafos nesse contexto. Para

efeitos de esclarecimento, as fotografias não são aqui entendidas simplesmente como

reprodutoras da realidade. Muito ao contrário. Elas também são entendidas como discursos,

como formas por meio da qual se deu a ler aquele tempo e, não somente isso, mas também

como criadoras de uma ‘realidade’, e não mero reflexo dela.

Através das fotografias os “grupos humanos transmitiram e transmitem ideias, valores,

crenças, práticas culturais, enfim, transmitem conhecimentos sobre si e sua época” (CAIXETA

e BARBATO, 2000, p. 63). Por isso, a importância de compreendê-las dentro do campo da

estratégia da gestão da mudança, pois a “composição fotográfica é também uma construção

imaginária” (MARTINS, 2008, p. 11). Percepção reforçada pela concepção da historiadora

mexicana L. Flores: “tal comprensión permite abordar la práctica fotográfica como uma

representación simbólica del cuerpo social y no como un documento visual de éste” (FLORES,

2008, p. 24).

No tempo de ruptura, transformações, ‘perdas’ pelas quais vivia Paracatu na década

de 1960, a fotografia cumpria uma de suas principais funções, uma “das grandes e fundantes

ilusões da sociedade contemporânea, a da paralisação da vida e a ilusória contenção do

envelhecimento e da morte”, o que denomina ser a memória dos dilaceramentos, das

rupturas, memória desejada e indesejada (MARTINS, 2008, p. 29 e 45). Assim, creio estar

clara a função estratégica da fotografia naquele tempo.

É interessante notar a ‘evolução’, por décadas, dos temas e objetos das fotografias

que compõe o banco iconográfico do Arquivo Público Municipal da cidade. Um predomínio

dos eventos religiosos (procissões, missas, igrejas), cívicos, eventos de inauguração de

algum serviço público, momentos de lazer nas ‘praias’. Até 1960 não se encontram ali,

fotografias que revelem os conjuntos coloniais da cidade como único alvo das ‘lentes’, como

demonstra o exemplo que se segue (Foto 4). Entretanto, a partir dessa data, os conjuntos

coloniais se tornam o objeto absoluto dos fotógrafos.

Foto 4: Construções coloniais. (Autor Cláudio).

Nesse sentido, entendemos que essa proliferação desse tipo de fotografia acontece

porque ela, no fundo,

“é o recorte de um tempo de um mundo que deixa de ser, enquanto espelho do que se

torna inatingível, morto – ‘um fragmento, uma parte do objeto, para uma longa viagem

sem volta’... Neste sentido, a imagem... permanece como uma recuperação de um

tempo, uma presentificação da memória, um testemunho a ser olhado e interpretado

pelos mais variados repertórios culturais.” (CORRÊA, JESUS, 2011, p. 286).

Concluímos, a partir das reflexões feitas aqui, como o patrimônio e a fotografia, no

caso estudado, como expressões das lutas próprias da memória, foram utilizados de maneira

estratégica na gestão do conjunto de mudanças desencadeado em Paracatu pela construção

da Capital em 1960. As imagens expressas por esses patrimônios e pelas fotografias,

carregadas de um sentido próprio da memória de uma época, tem o efeito de colaborar com a

produção de uma dada memória coletiva do grupo.

O que se fez nesse estudo de caso foi analisar como o conjunto de mudanças geradas

a partir da construção de Brasília foi administrado, por assim dizer, pela memória na cidade,

expressa tanto na discriminação do patrimônio quanto nos discursos imagéticos do período.

Neste sentido, tanto o patrimônio quanto as imagens foram instrumentos estratégicos para se

viver aquele tempo de rupturas na tradição provocadas pela velocidade das transformações

empreendidas na cidade em nome do que se chamava ‘progresso’.

No caso do patrimônio, em especial, vimos o quanto desde sua origem esteve

associado aos períodos de transformações e mudanças profundas vividas pelas sociedades

europeias. Ainda hoje, ao que parece, continua sendo tomado em contraposição dialética a

esses fenômenos associados à mudança. O conjunto de transformações geradas a partir do

fenômeno da globalização talvez tenha sido a responsável pela tão criticada ‘inflação

patrimonial’.

IV. REFERÊNCIAS

- FONTES:

Banco Iconográfico do Arquivo Municipal Olympio Michael Gonzaga.

Hemeroteca do Arquivo Municipal Olympio Michael Gonzaga.

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