estratégia de modelagem middle-up-down para processos de negócios · 2017-03-13 · ii...

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Estratégia de Modelagem Middle-Up-Down para Processos de Negócios Autor: Gustavo Barroso Sathler Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso Rio de Janeiro Fevereiro de 2017

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Estratégia de Modelagem Middle-Up-Down para

Processos de Negócios

Autor: Gustavo Barroso Sathler

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia de Produção da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2017

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ESTRATÉGIA DE MODELAGEM MIDDLE-UP-DOWN PARA PROCESSOS DE

NEGÓCIOS

Gustavo Barroso Sathler

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO

DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinada por:

_____________________________________

Prof. Vinícius Carvalho Cardoso, D.Sc.

_____________________________________

Prof. Renato Flórido Cameira, D.Sc.

_____________________________________

Prof. Édison Renato Pereira da Silva, D.Sc.

RIO DE JANEIRO - RJ, BRASIL

FEVEREIRO de 2017

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Sathler, Gustavo Barroso

Estratégia de Modelagem, Middle-Up-Down para

Processos de Negócios/ Gustavo Barroso Sathler. ‒ Rio de

Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica, 2017.

vii, 60 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso

Projeto de Graduação ‒ UFRJ/Escola Politécnica/Curso

de Engenharia de Produção, 2017.

Referências Bibliográficas: p.50-57.

1.Modelagem de Processos 2.Qualidade em

Modelagem de Processos 3.Estratégia de Modelagem de

Processos. I.Cardoso, Vinícius Carvalho II.Universidade

Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Engenharia de Produção

III.Estratégia de Modelagem Middle-Up-Down para

Processos de Negócios.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de Produção.

Estratégia de Modelagem Middle-Up-Down para Processos de Negócios

Gustavo Barroso Sathler

Fevereiro/2017

Orientador: Vinícius Carvalho Cardoso

Curso: Engenharia de Produção

A modelagem de processos de negócios é uma atividade fundamental para o trabalho de

gestão de processos de negócios. Apesar da importância reconhecida, poucas

publicações são dedicadas ao estudo da prática de modelagem de processos. Contudo,

os esforços demandados para a obtenção de informações corretas sobre processos

podem ser vistos como barreiras para implantação e sustentação de iniciativas de

projetos por processos. Nesse contexto, o presente trabalho apresenta a proposta de

estratégia de modelagem de processos Middle-Up-Down (MUD). Essa estratégia baseia-

se no papel central da média gerência como provedora das informações iniciais sobre

processos em que ela está envolvida. Na MUD, a visão da média gerência é

transformada nos modelos de nível intermediário da hierarquia de processos, dos quais

os níveis superior e inferior devem ser desdobrados. A estratégia preza pela qualidade

da informação que a média gerência pode fornecer e pela economia de esforços em

modelagem e manutenção de modelos para uso em diversos projetos. Os pilares

principais da estratégia MUD são as qualidades de eficácia e eficiência em modelagem,

que superam as deficiências comuns às tradicionais práticas top-down e bottom-up.

Palavras-chave: Modelagem de Processos, Qualidade em Modelagem de Processos,

Estratégia de Modelagem de Processos.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Production Engineer.

Middle-Up-Down Business Process Modeling Strategy

Gustavo Barroso Sathler

February/2017

Advisor: Vinícius Carvalho Cardoso

Course: Production Engineering

Business process modeling is a fundamental activity in business process management.

In contrast of its acknowledged importance, few publications draw upon process

modeling practice studies. However, the enormous effort for obtaining and maintaining

up-to-date correct information can be seen as a barrier for implementing and sustaining

process-oriented initiatives. In this context, herein the Middle-Up-Down (MUD)

modeling strategy is proposed. This strategy is based on the central role of middle

managers as initial information providers about the processes they are involved in. In

MUD, middle managers vision is transformed in middle-level models of the process

hierarchy, from which high and low-level models shall be derived. The modeling

strategy values the information quality drawn from middle managers and the effort

economy in modeling and updating models for multiple uses. The main bases of MUD

strategy are the qualities of effectiveness and efficiency in modeling, which overwhelm

traditional top-down and bottom-up strategies basic deficiencies.

Keywords: Business Process Modeling, Business Process Modeling Quality, Business

Process Modeling Strategy.

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Sumário

1. Introdução ......................................................................................................................... 1

2. Método ............................................................................................................................. 3

3. Revisão da Literatura......................................................................................................... 6

2.1 Formação das Bases Teóricas..................................................................................... 6

2.1.1 Métodos da Gestão de Processos de Negócios .................................................... 6

2.1.2 Modelagem de Processos de Negócios ............................................................. 11

2.1.3 Média Gerência ................................................................................................ 19

2.2 Considerações iniciais da Modelagem Middle-Up-Down (MUD) ............................. 22

2.2.1 Conceito central ............................................................................................... 22

2.2.2 Busca bibliográfica .......................................................................................... 27

4. Estudo de Caso ................................................................................................................ 30

3.1 Protocolo ................................................................................................................. 30

3.1.1 Visão Geral do Projeto do Estudo de Caso........................................................ 30

3.1.2 Procedimentos de Campo ................................................................................. 32

3.1.3 Questões do Estudo de Caso ............................................................................. 33

3.1.4 Guia para o relatório do estudo de caso ............................................................ 35

3.2 Relatório do Estudo de Caso - Finep ........................................................................ 35

3.2.1 Questão Principal ............................................................................................. 35

3.2.2 Projeto Finep ................................................................................................... 36

3.2.3 Respostas às Questões do Estudo de Caso ........................................................ 39

3.3 Discussão sobre o Estudo de Caso e Considerações sobre a MUD ............................ 43

5. Conclusão ....................................................................................................................... 48

6. Referências Bibliográficas ............................................................................................... 50

7. APÊNDICE A - Resultados da pesquisa bibliográfica ...................................................... 58

8. APÊNDICE B - Informações sobre os entrevistados da Consultoria do Projeto Finep ...... 60

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Lista de Figuras

Figura 1: Etapas do trabalho: 1) Revisão da literatura; 2) Estudo de Caso; 3) Análise e

Conclusões ............................................................................................................................... 3

Figura 2: Relações entre a Média Gerência e os demais níveis da hierarquia organizacional .... 22

Figura 3: Processo da MUD: 1) Dividir processos em níveis hierárquicos; 2)Modelar os

processos intermediários com a visão da média gerência; 3)Construir um modelo de

macroprocesso a partir da visão intermediária; 4)Detalhar modelos prioritários. ...................... 23

Figura 4: Processo da Modelagem de Processos em um Projeto ............................................... 27

Figura 5: Mudança na percepção de transformação em processos pela MUD ........................... 48

Lista de Tabelas

Tabela 1: Resultado da busca no domínio da Média Gerência .................................................. 58

Tabela 2: Resultado da busca no periódico Business Process Management Journal ................. 58

Tabela 3: Resultado da busca em diversos periódicos .............................................................. 59

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1. Introdução

A gestão de processos de negócios tem grande impacto no ambiente competitivo e

dinâmico das organizações. HAMMER (2010) cita os seguintes benefícios operacionais

da gestão de processos de negócios: consistência, diminuição de custo e aumento da

velocidade e qualidade nos processos. Além disso, o autor considera relevante o

benefício estratégico de gerar uma visão ampla e coordenada das melhorias de

processos e de permitir responder rapidamente às mudanças necessárias nas operações.

HILL (2013) também enfatiza a necessidade das empresas anteciparem e responderem

prontamente às mudanças no mercado e demandas do consumidor através de melhorias

nos processos. A autora atenta para a necessidade cada vez mais crescente das empresas

saberem identificar os processos que precisam ser modificados.

HAMMER (2010) considera fundamental que as organizações disponham de modelos

de processos de negócios como ferramentas de gestão para auxiliar a tomada de decisão.

Segundo o autor, esses modelos oferecem descrições coerentes e compreensíveis das

operações da empresa, são essenciais para lidar com os impactos que projetos e

programas podem ter nos processos operacionais e podem permitir a automação e

integração de processos, com o auxílio de sistemas de informação. A Association of

Business Process Management Professionals (ABPMP) (2013) acrescenta que os

modelos de processos são os pontos iniciais centrais para que o entendimento coletivo e

consenso sobre os processos sejam estabelecidos entre diversos agentes. Entre outras

razões para a modelagem de processos, a ABPMP (2013) afirma que os modelos

ajudam as pessoas a ver como os elementos dos seus processos afetam a criação de

valor através de divisões e departamentos e que as decisões tomadas com a visão do

processo estão mais propensas a maximizar o valor através do processo, ao invés de

gerar apenas melhorias locais.

Porém a complexidade dos processos pode representar uma dificuldade para o

modelador de processos de negócios que queira compor uma base de modelos para gerir

todos os processos da organização. ROSEMANN (2006b) alerta para o problema do

detalhamento excessivo de modelos que consome muito tempo para o projeto, revisão e

manutenção dos processos e para a dificuldade de gerir inúmeros modelos, que podem

tornar-se obsoletos rapidamente.Segundo SCHEER (1999), o esforço necessário para

criar modelos deve ser contra-balanceado com a percepção de utilidade dos modelos e

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por quanto tempo aqueles modelos devem ser usados, além disso, os modelos devem ter

somente os elementos que são relevantes para o propósito do modelo. ROSEMANN

(2006b) também concorda, ao afirmar que modelos de processos não precisam ser

completos, mas sim relevantes e que é necessário definir níveis de detalhamento

necessários para atender aos objetivos dos modelos.

Uma questão que pode emergir desses princípios de relevância e de suficiência é como

construir uma base de modelos que atenda às demandas de informações requeridas dos

processos de forma econômica. Sobre abordagens de modelagem, a ABPMP (2013)

descreve duas ordens: a top-down e a bottom-up. A primeira visa atender aos objetivos

estratégicos da empresa e promover inovação e melhorias que sejam de larga escala,

interfuncionais e sistêmicas. Já a segunda é tradicionalmente destinada a melhoria de

processos curtos limitados a um departamento ou a uma operação, ou em casos que a

organização não tem os seus processos mapeados e uma abordagem direta é necessária

ou conveniente (ABPMP, 2013).

Porém, é provável que essas duas abordagens tradicionais não levem a um processo de

modelagem ótimo, de acordo com os pontos levantados por SCHEER (1999) e

ROSEMANN (2006b), para o desenvolvimento de uma base de modelos para a gestão

de processos. A top-down pode falhar ao negligenciar alguns processos que são

relevantes, pois é factível que a alta gerência não tenha conhecimento sobre alguns

processos. Já a bottom-up pode representar um esforço enorme de detalhamento e

consumir recursos para uma modelagem não relevante (ABPMP, 2013; RECKER,

2006).

Uma terceira abordagem pode surgir a partir do conhecimento central de parte dos

integrantes das organizações. A média gerência detém o conhecimento sobre a

estratégia da empresa (WOOLDRIDGE et al., 2008) e ao mesmo tempo mantém

contato com diversos atores de processos operacionais, o que permite uma visão

integrada de diferentes especialidades (NONAKA, 1988). Esse nível de gerentes

poderia ter uma visão suficientemente aderente à realidade para identificar processos

relevantes para a construção da base de modelos e não incorreria em detalhes

demasiados, pois haveria assim a proposição inicial de uma modelagem em um nível de

detalhamento intermediário entre a visão da alta gerência e do nível operacional.

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O presente trabalho tem como objetivo a apresentação de uma estratégia de modelagem

para a construção de uma base de modelos de processos de negócios, a partir da visão

inicial da média gerência. Essa visão, que é para um nível intermediário de abstração de

processos, serve como base para a construção de modelos de nível superior. Já os de

nível inferior são detalhados somente quando há demanda. O propósito ao qual se

destina tal estrutura de modelos é a implantação da gestão de processos de negócios

para uma organização, para a qual os modelos serão importantes em várias iniciativas.

A esta estratégia de modelagem deu-se o nome de Middle-Up-Down (MUD) e os

diferenciais dela frente às tradicionais top-down e bottom-up são ganhos em eficácia dos

modelos e eficiência do processo de modelagem. Este trabalho sobre a MUD é de

singular importância para a área de gestão de processos de negócios, porque propõe uma

melhoria substancial no trabalho de modelagem de processos, que é corriqueiro aos

Engenheiros de Produção. Contudo, este trabalho somente apresenta a ideia do conceito

e o ilustra em um estudo de caso, deixando clara a limitação do mesmo quanto a

validação das hipóteses que sustentariam a teoria da MUD.

2. Método

Figura 1: Etapas do trabalho: 1) Revisão da literatura; 2) Estudo de Caso; 3) Análise e Conclusões

Fonte: Elaboração própria

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Na etapa de Revisão da Literatura, primeiramente foi realizada uma pesquisa

bibliográfica a cerca dos três domínios que compõem a teoria deste trabalho ("Formação

das bases teóricas"): gestão de processos de negócios, modelagem de processos de

negócios e a média gerência. Sobre esses temas, foram procurados os tópicos relevantes

para a compreensão do contexto e teoria da modelagem Middle-Up-Down (MUD). O

objetivo foi o esclarecimento dos fundamentos teóricos da estratégia MUD e, assim

também, facilitar a busca mais direta sobre o estado da literatura em relação às

estratégias de modelagem. Entre as fontes de informação, foram usados três livros

principais: Handbook on Business Process Management - Introduction, Methods, and

Information Systems, de 2010, dos editores Jan vom Brocke e Michael Rosemann; The

Complete Business Process Handbook - Body of Knowledge from Process Modeling to

BPM, de 2015, dos editores Mark von Rosing, August-Wilhem Scheer e Henrik von

Scheel; e BPM CBOK - version 3.0, de 2013, da Association of Business Process

Management Professionals (ABPMP).

Além dos livros, houve uma busca orientada para as publicações de autores

selecionados, por serem referências importantes em cada domínio. Nessa pesquisa

estão: Paul Harmon e colaboradores de seu website BPTrends.com com análises,

pesquisas e opinões sobre temas da Gestão de Processos de Negócios; Michael Pidd,

com publicações sobre modelagem em geral; Michael Rosemann e Wasana Bandara do

grupo de pesquisa sobre Gestão de Processos de Negócios da Queensland University of

Technology (Austrália) com publicações sobre modelagem de processos; e Henry

Mintzberg e Ikujiro Nonaka com textos sobre estrutura organizacional e importância da

média gerência. Através das publicações desses autores, referências a outros autores

também foram buscadas, entre eles, os principais: Jan Recker (Queensland University of

Technology, Austrália), Jan Mendling (WU Vienna, Áustria), Jakob Pinggera

(University of Innsbruck, Áustria) e Pnina Soffer (University of Haifa, Israel) .

A busca por autores foi especialmente útil para o domínio da modelagem de processos,

que foi considerado o domínio de maior foco nas buscas devido à relevância para o

trabalho. Já para a pesquisa sobre a importância da média gerência, além da busca com

os autores citados, foi feita uma pesquisa em base de periódicos da CAPES e da

Universidade de Melbourne (Austrália), cujos resultados estão na Tabela 1 (Apêndice

A). Nessa pesquisa, foram encontradas publicações sobre características gerais do

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gerente, do trabalho dele e a importância do papel da média gerência na organização. A

seleção de artigos seguiu a lógica: leitura de todos os títulos e, caso o título parecesse

interessante, o resumo era lido.

Após a leitura dos livros e artigos selecionados, foi feita a declaração do princípio geral

de funcionamento da estratégia de modelagem Middle-Up-Down (MUD) e a descrição

da relação com os três domínios estudados. Com essa pesquisa inicial, foi possível ter

maior clareza sobre a localização do problema a ser estudado e, assim, buscou-se limitar

as palavras-chave e expressões que serviriam para uma busca mais direta do estado da

arte. A primeira busca por artigos foi feita no periódico Business Process Management

Journal (BPMJ). As expressões usadas na busca de artigos e a quantidade de artigos

achados estão na Tabela 2 (Apêndice A).

Uma segunda busca de artigos foi feita com diversos periódicos e com palavras e

expressões revisadas (Tabela 3 - Apêndice A). Dessas buscas, todos os títulos de artigos

foram lidos. Conforme o interesse, os resumos eram lidos e, caso houvesse maior

potencial, as conclusões e partes dos artigos eram lidas. Buscas pela ferramenta

Google.com também foram feitas para expressões consideradas importantes que tiveram

resultados insatisfatórios na busca por periódicos. Uma discussão sobre o resultado

dessas pesquisas foi feita logo em seguida. Com o resultado da busca por artigos sobre

estratégias de modelagem, foi necessária a revisão do conteúdo sobre os três domínios

com o acréscimo ou modificação de partes e o redirecionamento de buscas com novas

expressões-chave.

A segunda etapa do trabalho foi sobre o estudo de caso da Financiadora de Estudos e

Projetos (Finep). O primeiro passo foi a preparação de um protocolo com a definição da

visão geral do projeto, os procedimentos de campo, as questões do estudo e um guia

para o relatório do estudo de caso. Após a preparação do protocolo, houve a coleta de

informações através da leitura de documentos sobre a empresa e o projeto, e entrevistas

com pessoas que participaram do projeto. Na segunda parte, foi feito um resumo sobre o

projeto realizado e foram dadas as respostas às questões feitas no protocolo. A etapa

final do trabalho foi de análise e discussão dos dados coletados no estudo de caso e

considerações sobre a MUD, à luz dos resultados do estudo de caso. Por fim, a

conclusão resumiu o trabalho realizado e apontou os futuros desdobramentos

necessários em pesquisas sobre a MUD.

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3. Revisão da Literatura

A revisão da literatura está dividida nos três domínios que fornecem as bases teóricas do

método proposto: métodos da Gestão de Processos de Negócios (GPN), modelagem de

processos e média gerência. Sobre métodos da GPN, foram enfatizados os seguintes

tópicos: conceito de GPN; origem e métodos da GPN; abordagens top-down e bottom-

up de transformação de processos; e ciclo de vida de processos. Sobre a modelagem do

processos, foram pontuados: conceitos de modelo e modelagem; hierarquia de modelos

de processos; estratégias de modelagem; propósitos da modelagem; qualidade em

modelagem; e principais problemas em projetos de modelagem de processos. Por fim,

sobre a média gerência: estrutura organizacional; funções da média gerência; e

importância da média gerência no relacionamento entre diferentes níveis hierárquicos.

Após o esclarecimento das questões teóricas importantes, a proposta para a estratégia de

modelagem middle-up-down foi formulada a partir das informações pesquisadas sobre

os tópicos e foram apresentados os trabalhos já publicados que se assemelham à

proposta .

2.1 Formação das Bases Teóricas

2.1.1 Métodos da Gestão de Processos de Negócios

Conceito de GPN

SWENSON & VON ROSING (2015) definem Gestão de Processos de Negócios da

seguinte forma:

"Gestão de Processos de Negócios é a disciplina que envolve qualquer

combinação de modelagem, automação, execução, controle, medição e melhoria

de fluxos de atividades de negócio de forma que colabore com a realização dos

objetivos da organização, abrangendo fronteiras organizacionais e de sistemas de

informação, envolvendo empregados, consumidores e parceiros dentro e além dos

limites da organização." (SWENSON & VON ROSING, 2015, pág. 87)

Os autores enfatizam a necessidade de uma visão de processos como atividades de

negócios interrelacionadas que cooperam, de forma holística, para satisfazer um

objetivo do negócio. SWENSON & VON ROSING (2015) acrescentam que o objetivo

da GPN é prover responsabilidades sobre os processos, controlar e melhorará-los

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continuamente ao longo do tempo. Segundo os autores, a GPN é um meio pelo qual os

processos podem ser repetidos, modificados e melhorados sistematicamente. Além

disso, a ABPMP (2013) afirma que a GPN é composta de estratégias, objetivos, cultura,

estrutura organizacional, funções, políticas, metodologias e ferramentas de TI para

analisar, projetar, implementar, controlar e melhorar continuamente processos e para

estabelecer a governança de processos.

A ABPMP (2013) afirma que a GPN é algo a ser desenvolvido em organizações e as

empresas que atingiram o sucesso na implantação dispunham de processos, pessoas e

tecnologias para isso. ROSEMANN & VOM BROCKE (2010) também consideram a

GPN como uma capacidade organizacional desenvolvida ao longo de um tempo

passando por níveis de maturidade. Os autores identificam seis fatores essenciais para o

sucesso nesse desenvolvimento: alinhamento estratégico, governança, métodos,

tecnologia de informação, pessoas e cultura.

O alinhamento estratégico acontece quando os processos são projetados, executados,

geridos e medidos de acordo com as prioridades estratégicas. A governança permite a

definição transparente de funções, responsabilidades e permissões sobre os processos e

seus recursos. Os métodos são uma série de técnicas e ferramentas que auxiliam e

permitem que iniciativas sejam feitas no ciclo de vida dos processos e outras atividades

da GPN. Existem métodos para modelagem, análise de problemas, implementação,

execução, controle, melhorias e projetos relacionados aos processos. A tecnologia de

informação tem papel preponderante para a GPN, não só pelo apoio com softwares de

modelagem e controle, mas como incorporação dos próprios processos através de

códigos. As pessoas e grupos têm a função de melhorar continuamente os processos

através do conhecimento e habilidades nos processos e na gestão deles. Por fim, a

cultura, com valores e crenças, permite a criação de um ambiente favorável às ações que

visam processos e o comportamento em direção a melhoria de performance

(ROSEMANN & VOM BROCKE, 2010).

Origem da GPN

A GPN, como a definição deixa claro, é uma disciplina e, portanto, uma estrutura de

conhecimento constituída de princípios e boas práticas que guiam a gestão baseada em

processos, e não um conjunto de métodos prescritos e ferramentas (ABPMP, 2013). A

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origem dessa disciplina tem três vertentes ou tradições, segundo HARMON (2010):

simplificação do trabalho/qualidade, gestão de negócios e tecnologia da informação.

A vertente da simplificação do trabalho, que teve como expoentes Frederick Taylor e

Henry Ford, tem como característica a implementação de estudos e técnicas para obter a

melhor forma de executar tarefas de forma eficaz e eficiente. O movimento da

simplificação do trabalho mudou o foco para o controle de qualidade, como no sistema

de produção Lean e na técnica dos Seis Sigmas. Ambas são abordagens que tiveram

resultados expressivos na transformação de organizações através da visão inteiramente

por processos. Já a vertente da gestão de organizações se preocupa com a performance

geral da empresa, alinhamento da estratégia com os recursos necessários e a

organização e gestão de pessoas para o atingimento dos objetivos, como no framework

de performance de Rummler e Brache, na Cadeia de Valor de Michael Porter e no

Balanced Scorecard. Por fim a terceira tradição, a tecnologia da informação, envolve o

uso de computadores e softwares para a automação de processos. Os dois exemplos

mais notáveis dessa tradição foram a Reengenharia de Processos, que colocou a TI

como o principal recurso para a transformação dos processos, e os softwares tipo

Enterprise Resource Planning (HARMON, 2010).

Métodos de transformação de processos

HARMON (2007) refere-se à cada exemplo das tradições mencionadas como métodos

de processos, que, por sua vez, seriam abordagens e coleções de heurísticas específicas

para o redesign e melhoria de processos. HARMON (2009) distingue duas classes de

métodos de acordo com a amplitude da atuação sobre os processos: top-down e bottom-

up. Segundo o autor, a primeira começa com a formulação do que a organização tem

como objetivos, define a cadeia de valor de forma completa e amplia o detalhamento

dos processos para identificar problemas específicos. Essa abordagem, associada ao

redesign de processos, tende a ser mais exploratória, considerar variadas causas para

um problema e apresentar soluções de melhoria para o negócio como um todo. Por

outro lado, o bottom-up começa com a análise de um problema específico, geralmente

de baixa repercurssão na organização (HARMON, 2015), e trata de melhorar um

processo também específico e com escopo limitado. Portanto é associada, pelo autor, às

melhorias incrementais ou melhoria contínua (HARMON, 2009).

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HARMON (2012) traça uma associação direta entre as abordagens top-down/bottom-up

com as tradições que delinearam a evolução da GPN. A tradição da gestão de negócios,

como a de Porter, Kaplan e Norton e Hammer (pois a Reengenharia de Processos

também pode ser considerada como dessa tradição) é top-down, pois considera, em

primeiro lugar, a estratégia, os objetivos e os stakeholders da organização como

requisitos de avaliação e intervenção em processos de grandes extensões. Já a tradição

da simplificação do trabalho/qualidade é bottom-up, porque trata de estabelecer padrões

de como um trabalho específico deve ser feito ou como seus resultados devem ser

avaliados para realizar intervenções nos processos. O método Seis Sigma é bastante

ilustrativo da abordagem bottom-up, pois considera a análise dos resultados de tarefas

bem limitadas e a melhoria incremental de cada atividade (HARMON, 2015).

CAULLIRAUX & CAMEIRA (2000) acrescentam que a Qualidade Total não teve

preocupação com a visão transfuncional dos processos e criou uma visão intra-funcional

de processos, ao transformar processos curtos, em extensão. Segundo HARMON

(2012), a terceira tradição, a tecnologia da informação, pode ser top-down ou bottom-up

e frequentemente inicia por processos do meio da hierarquia de detalhamento dos

processos. A essência dessa tradição reside na identificação de processos que podem ser

totalmente ou parcialmente automatizados, na determinação de requisitos de sistema, no

desenvolvimento e na instalação do sistema e tem como exemplos os métodos de

desenvolvimento de software Rational Unified Process,IDEF e ARIS (HARMON,

2012,2011).

Segundo a pesquisa sobre GPN de HARMON (2016), hoje a maior parte (41%) das

empresas utiliza uma abordagem bottom-up de melhorias incrementais ao invés das

outras duas. Os métodos Lean, Seis Sigma e Lean-Seis Sigma são as mais adotadas.

HARMON (2015), contudo, alerta para a concepção do Lean como bottom-up é

equivocada, pois a percepção da importância dos processos, na Toyota, é grande desde o

nível mais alto da hierarquia e a empresa tem o fomento pela medição e melhoria

contínua dos processos permeadas por toda a organização. Além do fato dessas

inciativas terem sido construídas ao longo de décadas. O autor aponta para a adoção

simplificada (bottom-up) de algumas técnicas Lean em empresas pouco maduras em

GPN, que não conseguem grandes ganhos em performance.

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Similar à perspectiva bidirecional descrita, SANTOS (2002) descreve quatro

abordagens ou estratégias para o redesenho de processos. A abordagem radical, ou

revolucionária, de mudança em processos é mais bem representada pela Reengenharia

de Processos, que define os objetivos de cima para baixo, tem grande impacto sobre a

estrutura e cultura da organização, é ampla em escopo de processos e é mais arriscada.

Já a evolucionária, ou melhoria contínua, se concretiza em ações locais, sobre processos

já existentes, com objetivos definidos de baixo para cima, em curto tempo e com baixo

risco. Além das duas abordagens, há a possibilidade de uma estratégia híbrida com

mudanças radicais e incrementais acontecendo em momentos ou unidades diferentes. O

autor ainda relata uma melhoria discreto-contínua na situação em que a organização

precisa de aprovação de documentação de referência sobre certos processos quando são

modificados para aprimoramento contínuo.

Ciclo de vida dos processos

As visões da amplitude de atuação em processos descritas têm como objeto o ciclo de

vida dos processos, que promove as mudanças desejadas. VON ROSING et al. (2015a)

definem as fases desse ciclo como: análise, projeto, construção, implementação,

monitoramento e melhoria contínua de processos. Para ROSEMANN & VOM

BROCKE (2010), métodos em GPN ― como as referidas por Harmon― endereçam

uma ou mais fases do ciclo de vida dos processos, mas tendem a focar mais em uma

fase do que em outras.

O ciclo de vida dos processos começa com a fase de análise, que busca detectar e

documentar, geralmente através de modelos de processos de negócios, o conhecimento

implícito existente nos processos atuais (as-is), investigar possíveis problemas e

comparar o as-is com referências. O projeto é a formulação de novos processos (to-be)

que devem ser documentados, relacionados com os processos existentes, estrutura

organizacional e recursos necessários. A construção é a preparação da implementação

que envolve o aprofundamento do detalhamento do to-be e a análise de variações dos

processos novos. A fase de implementação tem planejamento da mudança,

acompanhamento, definição das métricas de avaliação dos processos e definição de

funções de governança dos processos. O monitoramento é a captura e documentação de

medições dos processos, análise dos resultados, proposição de melhorias e simulação e

testes. A última fase, de melhoria contínua, consiste em detalhar passos na

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implementação da melhoria, definir reponsabilidades, reavaliar objetivos e recursos do

processo, supervisionar e executar as mudanças (VON ROSING et al., 2015a).

A ABPMP (2013) afirma que organizações que fazem gestão de processos gerenciam

seus processos utilizando o ciclo de vida mencionado. Esse ciclo pode ser aplicado a um

único processo que seja definido, implementado e administrado independentemente de

outros. É dessa forma que iniciativas de melhorias em processos são realizadas em

organizações pouco maduras em GPN. Por outro lado, empresas já suficientemente

maduras aplicam o ciclo de vida de processos considerando as interrelações entre

inúmeros processos ao mesmo tempo, pois reconhecem que a melhoria e a coordenação

de processos de múltiplas funções organizacionais são geradores de valor para o cliente

final (ABPMP, 2013).

2.1.2 Modelagem de Processos de Negócios

Conceito de modelo e modelagem

PIDD (1998, pág. 25) define modelo como "uma representação explícita e externa de

parte da realidade vista pela pessoa que deseja usar aquele modelo para entender,

mudar, gerenciar e controlar parte daquela realidade". O autor afirma que modelos não

podem ser vistos como exatos, pois sempre serão simplificações e representações

aproximadas de um aspecto da realidade. Porém, para serem úteis, o modelador deve ser

capaz de coletar as visões mal-definidas e implícitas do mundo real e configurá-las de

uma forma suficientemente bem definida para que possam ser usadas por outras pessoas

(PIDD,1998).

As considerações de PIDD (1998) sobre modelo e modelagem são genéricas, portanto

com aplicação no contexto da GPN. A modelagem de processos é a série de atividades

envolvidas na criação de modelos de processos de negócios, podendo abranger uma

visão de parte ou de todos os processos de organizações (ABPMP, 2013). PINGGERA

(2014), ao basear-se no processo de programação de computadores, considera cinco

fases para o processo de modelagem de processos: entendimento do processo, que,

como em uma resolução de problema, consiste na absorção, interpretação das

informações provenientes de fontes externas e representação interna (mental) do

processo; identificação do método de contrução do modelo, que é a estruturação da

forma de representar processos através da modelagem; modelagem de processos, que é

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efetivamente a criação dos modelos; reconciliação, que consiste nos ajustes necessários

nos modelos para aperfeiçoá-los em termos de clareza; e a validação, que é a fase de

comparação entre a representação externa (modelo) e a interna para a identificação de

mudanças necessárias e possíveis problemas semânticos, assim como questões sintáticas

e práticas dos modelos. O autor enfatiza que os modeladores não conseguem entender

todos os requisitos do processo em uma só fase ou modelá-los por completo de uma

vez, sendo necessárias, portanto, várias interações entre as fases, que podem ou não

seguir a ordem descrita.

Hierarquia de Modelos

Devido a complexidade que é representar processos de uma organização e a diversidade

de propósitos que podem existir, é comum a construção de modelos em diversos níveis

de detalhe, variando do mais abstrato ao mais detalhado (ABPMP, 2013). AITKEN et

al. (2010) propõem uma estrutura de classificação de modelos de processos em níveis

hierárquicos que refletem uma categorização do comportamento organizacional. O nível

mais abstrato, o contextual, considera o ambiente externo (agentes e relações) no qual a

organização interage, porém sem considerar o comportamento interno da empresa. O

nível seguinte é o conceitual, que descreve os processos internos da organização que

começam e terminam com agentes externos, são controlados e restritos por contratos e

se limitam a expor "o que" é feito, e não "como" é feito. Já o nível lógico tem a

sequência de processos que compõem o nível superior com a especificação dos agentes

internos, recursos, operadores lógicos de decisão e fluxos alternativos. Por fim, os

autores consideram o nível físico, ou de implementação, que tem os modelos que

descrevem tarefas e etapas bastante detalhadas e os estados dos objetos e recursos que

são processados. A ideia da estrutura dos níveis conceitual, lógico e físico também está

presente na classificação de VON ROSING et al. (2015b) que separam os níveis em

grupo de processos (nível conceitual); processos e etapas (nível lógico); e atividades e

procedimentos (nível físico).

Planejamento da Modelagem

Antes da primeira fase do processo de modelagem de processos, que é o entendimento

do processo (PINGGERA, 2014), a organização há de identificar os processos (SHARP,

2009; DUMAS et al., 2013). SHARP (2009) recomenda a listagem dos processos, com

os respectivos escopos, sobre os quais há interesse no projeto no início do mesmo.

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DUMAS et al. (2013) consideram duas perguntas-chave nessa fase: quais são os

processos da organização? e em quais deve-se focar? Em relação a segunda pergunta,

DUMAS et al.(2013) apontam que os principais determinantes são a importância

estratégica dos processos, as disfunções dos processos e a viabilidade para futuras

iniciativas de projetos em relação aos processos. SHARP (2013), segundo a experiência

do autor, afirma que a tendência de quem se engaja em um projeto de mudanças em

processos é de imediatamente mapear e analisar os processos, sem a devida atenção à

questão inicial da identificação. Como consequências, pode haver discordância na

equipe de projeto em relação ao alcance e à completude das atividades posteriores de

modelagem, análise e redesign, assim como a ocorrência de subotimizações de

processos, porque foram fragmentados, fruto de falha na definição do escopo (SHARP,

2013).

A organização também deve traçar uma estratégia de modelagem que, de acordo com a

estrutura de níveis hierárquicos, pode ser dividida em três tipos: bottom-up, top-down e

middle-out (RECKER,2006). RECKER (2006) explica que a modelagem bottom-up

prevê que, primeiramente, sejam feitos modelos de processos específicos bastante

detalhados, para depois criar modelos mais gerais e abstratos. Tal forma de modelagem

pode ser realizada com critérios lógicos, como em técnicas de abstração de modelos de

processos por agregação de atividades e eliminação de detalhes (SMIRNOV et al.,

2012). A abordagem bottom-up geralmente é usada na melhoria de processos curtos

dentro de uma função organizacional e em organizações que não dispõem de processos

documentados, além disso, é recomendada para projetos focados em atividades

específicas, de implantação de workflows e SOA (ABPMP, 2013). Entre as

desvantagens, os problemas mais comuns são: o custo do detalhamento excessivo dos

modelo, a dificuldade em estabelecer conexões de processos muito detalhados com a

estratégia da organização e a dificuldade na construção de interfaces entre modelos

(RECKER, 2006).

Já a top-down envolve, primeiramente, a criação de modelos abrangentes que sintetizam

o funcionamento de toda a organização, portanto sem entrar em detalhes sobre "como"

as atividades específicas são feitas, e cria modelos detalhados em um segundo momento

(RECKER, 2006; SAP, 2016a). A modelagem top-down geralmente é usada em

projetos de melhoria e inovação de grande impacto sobre todos os processos, na gestão

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da performance desses processos, e é recomendada para projetos de grandes mudanças

(ABPMP, 2013). Além disso, RECKER (2006) argumenta que a abordagem top-down

facilita a comunicação da visão por processo dentro das organizações. Por outro lado, os

macroprocessos gerados nessa abordagem podem não fornecer informações sobre o

"comportamento" real dos subprocessos (RECKER, 2006; SAP, 2016a), o que geraria

retrabalho de modelagem (RECKER, 2006). Até como forma de amenizar essa

desvantagem, a ABPMP (2013) recomenda, após a seleção da estratégia top-down, o

uso alternado da estratégia bottom-up para a validação da modelagem.

A modelagem middle-out, ou inside-out (RECKER,2006; SAP, 2016b) parte da

identificação e modelagem de processos-chave na organização, para então

complementar com outros modelos a partir dos primeiros (SAP, 2016b). A modelagem

inicial acontece em um nível baixo de detalhamento e expande vertical e

horizontalmente em torno dos processos escolhidos, até a formação da visão geral dos

processos da organização (macroprocesso), portanto geralmente é complementada com

a abordagem bottom-up (RECKER, 2006). Essa abordagem tem como desvantagens as

dificuldades de identificar os processos-chave para começar a modelagem e decidir por

onde prosseguir com a modelagem (RECKER,2006; SAP, 2016b). Tais dificuldades

podem gerar um grande esforço de modelagem sem o retorno desejado para o projeto

(RECKER, 2006).

Propósitos da Modelagem

As abordagens bottom-up, top-down e middle-out de modelagem guardam clara

semelhança com a divisão proposta por HARMON (2009) nas formas de mudança em

processos, e isso reflete a necessidade da modelagem para a posterior intervenção

dentro do ciclo de vida dos processos. Porém, a modelagem tem vários propósitos, além

de ajudar a promover a transformação de processos de negócios. ROSEMANN (2003)

lista os principais propósitos: documentação da organização; redesenho de processos;

monitoramento e controle; obtenção da certificação ISO 9000; benchmarking; gestão do

conhecimento; seleção, customização e desenvolvimento de sistemas de informação;

implementação de sistemas de workflow; e simulação de processos. BANDARA et al.

(2007) acrescentam aplicações em custeio ABC, gestão da cadeia de suprimentos,

gestão da relação com o cliente e gestão da qualidade. ROSEMANN (2003) também

menciona a modelagem de múltiplas perspectivas, quando os modelos tem uso repetido

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e são destinados a vários usuários, propósitos diferentes ou com mesmos propósitos em

momentos diferentes (NOLTE et al., 2013).

ROSEMANN (2003) enfatiza que o objetivo da modelagem define as características dos

modelos em termos de conteúdo e forma de representação. PIDD (2008) também

endossa essa perspectiva ao afirmar que os modelos devem ser simplificados ao

máximo, porém ainda válidos aos seus objetivos de uso. SMIRNOV et al. (2012) e

CURTIS et al. (1992) acrescentam que os objetivos e necessidades de diferentes atores

também devem influenciar a decisão de quais níveis de abstração devem ser

representados nos modelos. Portanto os objetivos da modelagem influenciam a

identificação dos processos e a estratégia de modelagem (ABPMP, 2013).

Por exemplo, KIM & KIM (1998) propõem o começo da reengenharia de processos

pela análise do modelo de macroprocesso, identificação dos processos e detalhamento

dos modelos mais importantes para o redesign, pois uma abordagem top-down seria

mais coerente com a necessidade de mudanças amplas. CURTIS et al. (1992) cita o

projeto de desenvolvimento de software, cujas fases do ciclo de desenvolvimento

representam um processo bastante abstrato para ser útil como um guia de projeto e, por

isso, os processos deveriam ser decompostos e integrados em subprocessos mais

detalhados, como em uma abordagem top-down. Por outro lado, SAHL & MARTENS

(2015) propõem uma abordagem bottom-up para o desenvolvimento de sistemas e-

learning, pois haveria, de antemão, a necessidade do entendimento mais detalhado das

atividades do ator principal, que é o estudante, para definir todos os processos.

Qualidade em Modelagem

A diversidade de propósitos, a quantidade de modelos e o conhecimento sobre a técnica

e software de modelagem geram complexidade e demandam muitos recursos para a

modelagem. Portanto há necessidade de cuidado com a qualidade da construção de

modelos, para não haver perdas econômicas e de comunicação. Com o objetivo de

fornecer recomendações para melhorar a qualidade da modelagem, além das regras

sintáticas, BECKER et al. (2000) formularam seis princípios no Guidelines of

Modeling.

Segundo BECKER et al. (2000), há três princípios essenciais para a qualidade da

modelagem: aderência, relevância e eficiência econômica; e três princípios opcionais:

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clareza, comparabilidade e estrutura sistemática. A aderência é sintática quando os

modelos seguem regras de representação estabelecidas em um meta-modelo, e

semântica quando o modelo é consistente com a realidade que ele representa. O

princípio da relevância estabelece que devem ser selecionados os objetos que são

relevantes para o modelo, deve-se usar a técnica de modelagem relevante para o uso, e

deve-se desenvolver modelos mínimos (enxutos). O princípio da eficiência econômica,

ou restrição custo/benefício, tem relação direta com a demanda por recursos humanos e

técnicos (software, por exemplo) do projeto envolvido na iniciativa de modelagem. A

eficiência econômica é uma restrição para todos os outros princípios de modelagem. O

princípio da clareza postula que o modelo deve ser entendido pelo usuário do mesmo. O

princípio da comparabilidade refere-se à necessidade de consistência no uso de regras

para todos os modelos, de forma que eles possam ser comparados entre si. Por fim, o

princípio da estrutura sistemática estabelece que modelos de diferentes tipos (por

exemplo, processos, estrutura organizacional e sistemas de informação) e do mesmo

tipo estejam com informações integradas e relações bem definidas.

PIDD (1998) define alguns princípios comuns aos que foram expostos especificamente

para modelagem de processos de negócios. O autor recomenda a construção de modelos

simples, mas que traduzam a complexidade da realidade. Segundo o autor, os modelos

simples são mais transparentes e mais fáceis de serem usados, além disso, a

complicação só deve ser usada se os resultados obtidos por ela forem relevantes para a

situação. Isso pode ser aplicado tanto à construção de modelos pequenos e em pouca

quantidade, que devem ficar maiores e mais numerosos se houver necessidade; quanto à

quantidade de informação que cada modelo representa. Outro guia de modelagem, o

Seven Process Modeling Guidelines (7PMG) desenvolvido por MENDLING et al.

(2010) também concentra-se no aspecto da clareza, fruto da simplicidade e

economicidade na representação, como característica de qualidade.

MORENO-MONTES DE OCA et al. (2015), em uma recente revisão da literatura sobre

qualidade em modelagem de processos de negócios, afirmam que a maior parte das

publicações concentram-se na qualidade do modelo e não na qualidade do processo de

modelagem. Tal observação também é feita por PINGGERA et al. (2015) e SOFFER et

al. (2012). Dentre as publicações que propõem atributos de qualidade do processo, a

maioria menciona a eficiência em modelagem seguida por efetividade do reuso dos

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modelos. Há ainda as qualidades que foram relacionadas tanto com o produto (modelo)

quanto com o processo, como a sintática e a semântica. Das qualidades referentes aos

modelos, clareza, facilidade de manutenção e complexidade foram as mais citadas em

publicações (MORENO-MONTES DE OCA et al., 2015).

Em uma perspectiva mais abrangente que o processo de modelagem, BANDARA et al.

(2005) e BANDARA (2007) definem uma estrutura de fatores e medidas do sucesso em

projetos que envolvem modelagem de processos. Para os autores, o sucesso em projetos

de modelagem pode ser identificado quando há eficácia (cumprimento dos objetivos) e

eficiência (realização dentro do tempo e orçamento alocados). Os fatores de sucesso,

que são as variáveis independentes de sucesso, podem ser separados em específicos de

projeto e relacionados à modelagem. No primeiro grupo estão: suporte da alta

administração por financiamento e participação; gestão do projeto, como definição de

escopo, objetivos, gestão de conhecimento, tempo, comunicação, etc; conhecimento,

habilidades e experiência do modelador; participação dos interessados no processo; e a

existência de recursos de informação para a equipe do projeto. No segundo grupo, de

fatores relacionados à modelagem, estão presentes: ferramenta de modelagem;

linguagem de modelagem, ou regras sintáticas da técnica escolhida; e metodologias de

modelagem, como a definição da arquitetura de modelos (escopo), hierarquia de

modelos, procedimentos modelagem e padrões de modelos.

Já as medidas de sucesso, que são as variáveis dependentes, são: qualidade do modelo,

que pode ser medida pela consistência com os princípios de modelagem de BECKER et

al. (2000); satisfação do usuário com o modelo; impacto da modelagem nos

interessados no processo; impacto da modelagem nos processos que foram modelados; e

a eficiência de processo, que seria o potencial de maximizar os resultados obtidos em

relação aos investimentos em recursos na modelagem. Os autores ainda acrescentam as

variáveis "importância" da modelagem de processos no contexto do projeto e

"complexidade" dos modelos (diferentes elementos e relações nos modelos) como

mediadoras da transformação de variáveis independentes (fatores de sucesso) em

dependentes (medidas de sucesso) (BANDARA et al., 2005; BANDARA, 2007).

Problemas em Modelagem

BANDARA et al. (2006) realizaram uma pesquisa para o levantamento dos principais

problemas em grandes projetos de modelagem. Dentre eles, os problemas de nível

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estratégico foram: falta de suporte da alta administração; falta de governança, ou seja,

questões como falta de definição dos responsáveis pelos modelos, coordenação da

manutenção dos modelos e priorizações no projeto; e dúvida quanto ao valor de retorno

do projeto de modelagem por parte da alta administração, que pode resultar na falta de

investimento na compra de software e treinamento. Do ponto de vista das etapas de

modelagem, os principais problemas relatados foram: falta de guia ou procedimentos

para modelagem; falta de definição sobre os objetivos do projeto de modelagem; falta

de definição sobre regras de compartilhamento, reuso e manutenção de modelos; falta

de um padrão comum de modelagem; falta de infraestrutura de suporte, como software

de modelagem, banco de dados e direito de acesso à informação; falta de meios e

medidas para a avaliação de modelos; retrabalho para mudança de linguagem ou

software; esforço despendido na atualização de modelos e gestão de modelos de

variantes (cenários) de processos. Por fim, em relação aos recursos empregados na

modelagem, os principais problemas foram: inaptidão do modelador em extrair

informações relevantes e/ou conhecer o contexto do negócio; resistência do usuário na

adoção da modelagem; resistência dos entrevistados na colaboração para

compartilhamento de informação; dificuldade na utilização de ferramentas/linguagem

de modelagem por muitos usuários.

ROSEMANN (2006a, 2006b), baseado na experiência do autor no campo, também

aponta as principais falhas em projetos de modelagem de processos. Em dois artigos, o

autor separa os problemas em relacionados a estratégica, governança, de envolvimento

com os agentes interessados, ferramentas de modelagem, prática de modelagem,

redesenho de modelos, e avaliação da modelagem. Em relação à estratégia, governança

e relacionamento com agentes, os principais problemas são: falta de esclarecimento e

difusão de informação sobre as conexões entre a modelagem de processos e estratégia

corporativa; falta de governança, como insuficiência na definição de responsabilidades e

regras de decisões antes e durante do processo de modelagem e na manutenção de

modelos; falta de sinergia para o uso dos modelos de processos, gerando multiplicação

do trabalho de modelagem para diferentes propósitos; falta de habilidade do modelador;

falta de representantes para fornecer informação sobre os processos, orientações e ideias

sobre o projeto no qual a modelagem está inserida; e falha na comunicação visual dos

modelos para os usuários dos mesmos (ROSEMANN, 2006a).

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Sobre os problemas de ferramentas, prática, redesenho e avaliação de modelagem,

ROSEMANN (2006b) considera: subestimação da quantidade de modelos que são

necessários no médio-longo prazo, cuja consequência impacta em decisões sobre

ferramentas, metodologias, habilidades de modelagem, estratégias de comunicação, etc;

falha de compatibilidade entre ferramentas de modelagem existentes e métodos de

modelagem desejados, assim como os detalhes e funcionalidades desejados nos

modelos; "modelar só por modelar", quando a modelagem é vista como um fim nela

mesma e não como um processo para atingir um objetivo específico do projeto e a

equipe de modelagem se engaja em construir modelos completos e/ou muito

sofisticados, mas não necessariamente relevantes; falta de interação entre modeladores e

representantes do negócio durante o processo de modelagem; não definir o nível

adequado de detalhamento dos modelos para o propósito do projeto; dedicar-se

excessivamente à análise dos modelos atuais (as-is) e aos modelos de referência para o

redesenho de processos, quando há necessidade de inovar e/ou adquirir competências

para evoluir; e, por fim, falta de medições e avaliações de performance das atividades

de modelagem frente aos objetivos buscados no projeto.

2.1.3 Média Gerência

Estrutura organizacional

MINTZBERG (2003) considera que qualquer estrutura organizacional pode ser vista em

cinco partes: cúpula estratégica, núcleo operacional, linha intermediária, tecnoestrutura

e assessoria de apoio. Para a discussão no presente trabalho, somente as três primeiras

são relevantes e essas foram caracterizadas no intuito de esclarecer a importância da

média gerência para a definição de uma base de modelos de processos, segundo o

método proposto.

A cúpula estratégica, que é formada pelo presidente e outros dirigentes de alto nível, é

responsável por garantir que a organização cumpra a sua missão e por suprir as

necessidades daqueles que controlam ou que detém o poder sobre ela (MINTZBERG,

2003). O autor acrescenta que as principais obrigações da cúpula estratégica são:

supervisão direta, administração das relações com agentes externos e a formulação de

estratégias. Por outro lado, o núcleo operacional é formado pelos operadores que

realizam as atividades básicas de fabricação de um bem ou prestação de um serviço.

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Essas atividades estão relacionadas à logística, fabricação, venda, bem como todas que

existem para apoiá-las (MINTZBERG, 2003).

Características e Funções da média gerência

A linha intermediária é formada por gerentes que conectam a cúpula estratégica ao

núcleo operacional. Esses gerentes são responsáveis pela supervisão direta dos

operadores. A quantidade de pessoas nessa área varia de acordo com a necessidade de

amplitude de controle e, por consequência, em uma organização, há a formação de

várias unidades controladas pela média gerência. A linha intermediária tem obrigações

relacionadas ao fluxo de supervisão superior (vindo da cúpula estratégica) e inferior

(indo para o núcleo operacional). Informações sobre o desempenho da unidade,

propostas, problemas e decisões específicas são direcionados ao nível superior da

hierarquia. Já sobre o fluxo inferior, além da tomada de algumas decisões sobre sua

unidade, o gerente da linha intermediária deve alocar recursos, definir regras, planos e

projetos, gerenciar a interface de sua unidade com as demais e, por fim, formular a sua

estratégia, que deve ser focada na realidade do trabalho da sua unidade (MINTZBERG,

2003) e deve ser consistente com a estratégia corporativa (HAYES et al., 2008) .

Essa linha intermediária, ou os funcionários da média gerência, segundo o estudo de

HORNE & LUPTON (1965), empregam a maior parte dos seus tempos controlando,

coordenando e regulando atividades, com recursos materiais e humanos, para criar e

manter condições para que os objetivos do negócio sejam atingidos. Em contraste, o

estudo mostra pouca participação em atividades de decisão, planejamento e formulação

de políticas para a organização como um todo, exceto quando a média gerência está

mais próxima do topo hierárquico da organização. O estudo aponta que a média

gerência usa o seu tempo, principalmente, conversando e ouvindo outras pessoas face-a-

face ou informalmente com pequenos grupos e, mais especificamente, passando,

recebendo e procurando informações.

DELMESTRI & WALGENBACH (2005), em uma investigação sobre as

responsabilidades e atividades dos gerentes de nível médio da Alemanha, Itália e Grã-

Bretanha, concluíram que a média gerência tem a responsabilidade de liderar equipes

para resolver situações inusitadas e problemas inesperados e para atingir os objetivos de

suas divisões. Além disso, a média gerência têm a capacidade de manter um ambiente

social mais amigável, através da interferência em problemas inter e intra-departamentais

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e, até mesmo, em questões pessoais relacionadas aos subordinados. Para os autores, o

que distingue a média gerência do nível operacional é a capacidade de liderar pessoas e

manter um bom ambiente de trabalho. Em relação à alta administração, a média

gerência tem mais responsabilidade e, em alguns casos, mais conhecimento sobre

atividades técnicas e práticas.

WOOLDRIDGE et al. (2008) consideram quatro funções estratégicas da média

gerência: implementadores da estratégia, sintetizadores de informações para a cúpula

estratégica, patrocinadores de mudanças definidas pela alta administração e engajadores

de geração de ideias novas e experimentos. Na implementação da estratégia, a média

gerência age no sentido de integrar as atividades dos subordinados em torno da

estratégia. A média gerência pode ter, também, o papel de estruturar e promover uma

ideia ou projeto junto a alta gerência e, assim, influenciar a estratégia da organização.

No outro lado, a média gerência tem poder junto ao núcleo operacional, ao realizar um

processo de mudança organizacional de forma mais atenuada, pois considera as

necessidades da parte de baixo da hierarquia. Por fim, os autores destacam a habilidade

da média gerência em criar, integrar e liderar grupos de inovações e desenvolvimento de

novos produtos.

Importância da média gerência

A média gerência pode ter um papel relevante na organização se conseguir se relacionar

bem com a cúpula estratégica e o núcleo operacional. Afinal, a posição da média

gerência determina que ela seja controlada pela alta administração e controle o nível

operacional, e possa resistir ao controle da alta administração, ao mesmo tempo que

pode sofrer resistência do nível operacional (HARDING et al., 2014).

NONAKA & TAKEUCHI (1997) e MINTZBERG (1996) afirmam que os funcionários

da linha de frente (núcleo operacional) são os maiores especialistas na realidade do

negócio da empresa, têm a visão mais clara dos processos da empresa e estão imersos

nos detalhes do dia-a-da. Porém, segundo NONAKA & TAKEUCHI (1997), eles teriam

dificuldade em transformar informações em conhecimento útil e, uma das razões, seria a

visão do negócio limitada às suas funções. No outro lado, não se deve esperar que a alta

administração seja capaz de processar toda a informação vinda dos níveis mais baixos

sem ter sobrecarga (MINTZBERG, 2003) e, assim, resultando em visão incompleta da

organização e tomada de decisões ineficazes. Já a média gerência se destaca ao fazer a

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intermediação entre o conhecimento tácito dos operadores e a visão da empresa no

sentido de criar conhecimento (NONAKA & TAKEUCHI, 1997). Portanto, a média

gerência, por estar em contato constante com os níveis superior e inferior, é capaz de

articular as informações de todas as partes da hierarquia e construir uma visão sistêmica

da organização, que pode ser de grande impacto para tomada de decisões importantes e

resolução de conflitos. A importância da média gerência junto aos demais níveis

hierárquicos está representada na Figura 2.

Figura 2: Relações entre a Média Gerência e os demais níveis da hierarquia organizacional

Fonte: Elaboração própria

2.2 Considerações iniciais da Modelagem Middle-Up-Down (MUD)

2.2.1 Conceito central

A proposta da modelagem Middle-Up-Down (MUD) é de uma estratégia de modelagem

da situação atual dos processos (as-is) que prevê, na primeira etapa, modelagem de

processos do meio da hierarquia de processos, na segunda etapa, modelagem de

processos mais abstratos até a formação de um macroprocesso, e, na terceira etapa,

modelagem de processos mais detalhados (base da hierarquia de processos), para

propósitos específicos. As etapas da MUD estão ilustradas na Figura 3.

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Figura 3: Processo da MUD: 1) Dividir processos em níveis hierárquicos; 2)Modelar os processos

intermediários com a visão da média gerência; 3)Construir um modelo de macroprocesso a partir da visão intermediária; 4)Detalhar modelos prioritários.

Fonte: Elaboração própria

A média gerência tem um papel fundamental na configuração da estratégia de

modelagem na MUD. Por ser um locus de conhecimento da organização como um todo

de grande importância, a média gerência pode fornecer informações sobre os processos

de forma mais aderente à realidade do que a alta gerência. Portanto, seria evitado o

problema apontado por RECKER (2006), na abordagem top-down, de haver erros em

modelagem devidos a percepções distorcidas de como os processos realmente ocorrem.

O gerente de médio escalão é provido de um conhecimento apurado do processo sob o

seu domínio e, portanto, a reunião do conhecimento sobre os processos de vários

gerentes de diversas divisões organizacionais poderia fornecer uma base de informação

relevante para a modelagem de um nível intermediário de abstração de processos. Ao

usar uma camada intermediária de processos completa como ponto de partida para a

modelagem, os movimentos de abstração para um macroprocesso e decomposição para

níveis detalhados teriam menos riscos de ignorar processos importantes. Além disso, é

provável que a média gerência seja capaz de ajudar a construir um ponto de partida que

gere menos conflitos em termos de percepção da divisão dos processos para os demais

níveis da hierarquia de processos, pois conhece a visão da organização tanto por parte

da alta administração quanto pelo nível operacional. Dessa forma, a MUD seria eficaz

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porque prezaria pela aderência semântica, que é uma qualidade da modelagem

(BECKER et al., 2000; MORENO-MONTES DE OCA et al., 2015). Ao usar a visão da

média gerência como ponto inicial, a MUD também seria eficiente, pois amenizaria

conflitos de visões e diminuiria retrabalhos. Isso seria devido ao fato que a média

gerência evitaria o problema apontado por ROSEMANN (2006a) da ausência de

colaboradores com informações acuradas.

A MUD propõe a modelagem just-in-time, que é a postergação da modelagem dos

processos mais detalhados para quando houver necessidade de se conhecer mais sobre

eles, em contextos de projetos específicos (ROSEMANN, 2006b). Com tal abordagem,

poderia haver menos recursos necessários despendidos em modelagem e manutenção de

modelos, quando comparada à decisão de modelar todos os processos (ROSEMANN,

2006b). A justificativa é que haveria diminuição do número de modelos de processos

que tem mais informações explícitas e que estariam mais propensos a variações na

forma de operação. Portanto a modelagem just-in-time da MUD evitaria o problema

"modelar só por modelar" apontado por ROSEMANN (2006b) e o problema de

aumento da necessidade de atualização de modelos, apontado por BANDARA et al.

(2006). Isso aconteceria porque seria adotado o princípio da relevância (BECKER et al.,

2000; PIDD, 1998) na escolha de quais processos devem ser detalhados e, por

consequência, atualizados frenquentemente, para obter a maior eficiência (ou menor

custo/benefício), que é um sinal de qualidade do processo de modelagem (PIDD, 1998;

BECKER et al., 2000; BANDARA et al., 2005; MORENO-MONTES DE OCA et al.,

2015).

Em outro ponto, aparentemente, a modelagem just-in-time oferece vantagens sobre os

problemas encontrados na estratégia bottom-up, apontados por RECKER (2006).

Poderia haver menor risco de desalinhamento entre modelagem, análise do processo,

redesign e visão estratégica dos processos, pois os processos-chave de níveis

intermediário e superior já estariam bem documentados e serviriam como fonte de

informações para as demais fases do uso pretendido para o modelo. Além disso,

provavelmente haveria maior facilidade na identificação de interfaces e relacionamentos

entre processos detalhados, pois já haveria uma perspectiva mais abstrata para auxiliar

essa identificação. Logo, a MUD poderia evitar o problema colocado por ROSEMANN

(2006a) de falta de alinhamento entre estratégia e modelagem. Também, contribuiria

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para o estabelecimento de uma estrutura sistemática de modelos com mais facilidade,

pois a visão dos relacionamentos entre modelos de processos em um nível de abstração

intermediário ajudaria a ver as interfaces entre processos durante a modelagem mais

detalhada.

As vantagens da MUD frente às estratégias top-down e bottom-up são sobre as

qualidades do processo de modelagem. A MUD pode ser mais eficiente por minimizar o

retrabalho, a modelagem sem propósito, os custos com a manutenção e a dificuldade de

integrar modelos. Também pode ser mais eficaz, ao buscar a média gerência como fonte

de informação consistente para os modelos iniciais da base, e assim evitar a

repercurssão de erros por omissão e de divergências de visões sobre os processos.

Porém, a discussão sobre eficiência e eficácia é indissociável do propósito ao qual a

modelagem deve servir. Assim como nos métodos apontados por HARMON (2012)

como parte da origem da GPN, o propósito e o escopo de processos devem ser

determinantes para definição da estratégia de modelagem (ABPMP, 2013). Portanto,

deve-se situar a MUD no contexto dos objetivos da modelagem.

A MUD é recomendada para criar uma base de modelos de processos que suporta várias

iniciativas de GPN. Logo, é possível classificar os modelos e a modelagem em

múltiplas perspectivas (ROSEMANN, 2003) de propósitos que abrangem todos os

processos. A literatura existente sobre assunto pode ser encontrada sobre a característica

principal de uma base multi-propósitos, que é do uso repetido de modelos de processos

com finalidade de busca de informações relevantes para diferentes propósitos ou

diferentes momentos (NOLTE et al., 2013). NOLTE et al. (2013) ressaltam que o

comportamento de uso repetido dos modelos acontece quando há condições favoráveis

envolvendo usuários e modeladores, características dos modelos de processo, tecnologia

de modelagem e normas e cultura da organização. Portanto, a MUD poderia apenas

facilitar a construção de uma base assim, pois anteciparia a modelagem de uso mais

geral, com o intuito de torná-la reutilizável para diversos propósitos, e postergaria a

modelagem de modelos para usos particulares.

De acordo com as definições das estratégias de modelagem middle-out ou inside-out, a

MUD pode ser considerada um tipo particular desse conceito. A localização do início da

modelagem e a ordem dos movimentos de abstração e decomposição a tornam

específica. RECKER (2006) considera que a abordagem inside-out pode ser

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problemática, pois a identificação inicial de processos-chave e a definição dos processos

a seguir com a modelagem podem ser difíceis. Por isso, pode gerar perda de eficiência

em modelagem devido à modelagem sem utilidade e retrabalho. Em relação aos

problemas apontados, se a MUD for utilizada na situação de criação de uma base multi-

propósito de modelos de todos processos, esses problemas seriam descartados. Primeiro,

porque não haveria a preocupação de foco em processos-chave, pois esses processos

seriam endereçados naturalmente, pelo menos em níveis de abstração intermediário e

superior. Segundo, haveria uma orientação muito clara sobre como prosseguir a

modelagem. A recomendação é que assim que o nível intermediário de modelos estiver

completo, a abstração até um macroprocesso mais geral deve ser feita e, por fim, os

detalhamentos de modelos de processos devem ser empregados para propósitos

específicos.

A MUD é o resultado da decisão sobre a estratégia de modelagem a ser adotada que ,

segundo a ABPMP (2013), depende do propósito e do escopo do esfoço de modelagem.

Devido à escassez de publicações que tratam do processo de modelagem de processos

no contexto de um projeto de GPN, foi sugerida uma forma de explicitar onde a etapa

de decisão estaria inserida no projeto que envolve a modelagem (Figura 4), baseada em

POWER (2014), SHARP (2009), DUMAS et al. (2013), RECKER (2006) e

PINGGERA (2014).

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Figura 4: Processo da Modelagem de Processos em um Projeto

Fonte: Elaboração própria

As etapas de um projeto podem ser generalizadas em: definição de objetivos, requisitos,

tarefas e responsabilidades; planejamento de atividades, orçamento, recursos, riscos e

pessoal; execução; e entrega de produtos (POWER, 2014). Essas quatro etapas podem

ser representadas em um macroprocesso do projeto (nível mais abstrato). Os processos

de planejamento e execução no projeto envolvem inúmeras frentes, e uma delas é a de

planejamento da modelagem de processos e a execução da própria, que podem

representar o segundo nível de detalhamento. Por fim, no processo de planejamento da

modelagem de processos há também várias questões pertinentes a modelagem, porém,

para a presente discussão, interessa somente os subprocessos de identificação de

processos e a definição da estratégia de modelagem, que é o terceiro nível de

detalhamento. A identificação de processos, com a lista dos principais processos a

serem mapeados, é o ponto de partida para o descobrimento dos processos através da

modelagem. Já a definição da estratégia de modelagem é a decisão de como chegar no

objetivo final da modelagem.

2.2.2 Busca bibliográfica

A busca bibliográfica sobre estratégias de modelagem similares a MUD foi feita

primeiramente no periódico Business Process Management Journal, que é especializado

em publicações sobre GPN. Em uma segunda etapa, a pesquisa foi aberta para diversos

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periódicos. As palavras e expressões selecionadas para as buscas foram identificadas na

revisão bibliográfica sobre os três domínios teóricos da MUD e usadas na busca em

resumos dos artigos. As palavras, expressões usadas e os resultados obtidos estão na

Tabela 2, Apêndice A.

Os resultados para as pesquisas, além de poucos, foram bastante distantes do foco do

trabalho. Não foi possível selecionar nenhum artigo que tratasse diretamente do tema ou

que explorasse as estratégias de modelagem em seus conteúdos. Devido a semelhança

da MUD com a estratégia middle-out/inside-out, esperava-se que os termos "middle" e

"inside-out", como referência à estratégia, pudessem retornar algum conteúdo sobre o

envolvimento da média gerência na modelagem ou sobre a posição dos processos na

hierarquia, porém não houve sucesso nas buscas.

Uma frente de buscas procurava localizar a definição da estratégia de modelagem no

processo de modelagem de processos e, assim, esmiuçar os termos e expressões que

pudessem levar a uma maior assertividade na busca. Porém, a pesquisa sobre como

modelos de processo são criados é ainda recente (CLAES et al., 2015). CLAES et al.

(2015) e PINGGERA (2014) focam somente em questões cognitivas de parte do

processo de modelagem, sem considerar a complexidade do processo quando inserido

em um projeto maior. Logo, as discussões de processo da modelagem de processos

desses autores não foram suficientes para contribuir para o trabalho.

Não foi encontrada nenhuma discussão sobre o uso de diferentes estratégias de

modelagem, além de RECKER (2006), SAP (2016a,2016b) e ABPMP (2013). Em

muitos artigos, há o posicionamento a favor da abordagem top-down como solução

sistêmica para projetos de mudanças estruturais na organização, estabelecimento de

relações com a estratégia e necessidades dos clientes (como em MCCORMACK &

RAUSEO, 2005; CLEGG, 2006). Algumas publicações propõem métodos de

decomposição (ou top-down, ou modularização) de processos (por exemplo, em

REIJERS et al., 2011; DUMAS et al., 2013; JACKA & KELLER, 2009), porém não

discutem o por que e quando fazer isso no contexto mais amplo do projeto em que a

modelagem está inserida. O mesmo foi identificado para os métodos de abstração (ou

bottom-up) (por exemplo, em SMIRNOV et al., 2012).

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Do material que mais se assemelha à estratégia MUD, há de se destacar a estratégia

middle/inside-out descritas por RECKER (2006) e SAP(2016b). Ambas as publicações

não são acadêmicas, a primeira é um artigo para o site BPTrends e a segunda é um

conteúdo disponibilizado para mostrar como um software de modelagem de um

fornecedor pode atender a essa estratégia. Como já dito, a MUD pode ser vista como

uma forma específica de middle-out que considera o nível intermediário e superior

(abstrato) da hierarquia como fundamentais para a construção de uma base multi-

propósito e o nível inferior (detalhado) como necessário de acordo com a demanda.

SHARP (2009), ao comentar sua visão pessoal sobre a fase de identificação de

processos, considerou a preferência pela identificação de processos intermediários

primeiro, abstrair até chegar ao macroprocesso e, depois disso, fazer a decomposição

dos processos. O objetivo do autor é evitar a confusão, comum à estratégia top-down,

entre processos muito abstratos e divisões organizacionais e fazer com que os processos

sejam facilmente identificados pelos executores, em entrevistas (SHARP, 2009).

Embora essa lógica pareça muito com a middle-out e, mais especificamente com a

MUD, a aplicação é feita na fase de identificação dos processos, e não na modelagem,

porém, os pontos contra a abordagem top-down e a favor da middle-out também podem

ser pertinentes à modelagem.

Por fim, pode-se citar o estudo de caso de LIND & SEIGERROTH (2010) sobre a

empresa Intersport como iniciativa de modelagem similar à MUD. Na descrição do

caso, a empresa multinacional de produtos para esporte passava por uma mudança

estratégica importante ao assumir a responsabilidade sobre todas as operações da cadeia

de suprimentos que envolviam as vendas no varejo. Havia a necessidade de mudanças

estruturais na organização em várias frentes e o redesign dos processos para atender

essa nova direção estratégica era eminente. A equipe de modelagem optou por mapear o

as-is e projetar o to-be de processos intermediários na primeira fase do projeto. Uma

justificativa foi que tanto o nível inferior quanto o superior da hierarquia de processos

apresentariam dificuldades no mapeamento, análise e redesign, pois o primeiro causaria

confusão e paralisação frente à profusão de detalhes e o segundo foi considerado

abstrato demais para o trabalho. A segunda justificativa era que o nível intermediário,

assim que redesenhado, serviria como ponte no alinhamento estratégico do desenho das

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operações entre os níveis superior e inferior, que foram modelados e redesenhados em

paralelo de forma colaborativa (LIND & SEIGERROTH, 2010).

Embora o texto de LIND & SEIGERROTH (2010) não trate o método escolhido com

muitos detalhes e explicações, pois também não era o tema central, é possível identificar

o uso da modelagem, em um ciclo de vida de processos, que começa do meio

hierárquico (middle-out). Porém, diferente da MUD, o projeto previa a modelagem e

intervenção nos processos de nível superior e inferior ao mesmo tempo e não a criação

de uma base multi-propósito para possíveis intervenções no futuro. Além disso, assim

como as demais publicações referentes ao middle-out, não há menção ao papel da média

gerência no processo de modelagem de processos.

4. Estudo de Caso

O estudo de caso refere-se a um projeto realizado por uma consultoria na Financiadora

de Estudos e Projetos (Finep), em 2009. Além do projeto ter sido um caso

representativo de aplicação da estratégia de modelagem MUD, o caso Finep foi

escolhido devido à disponibilidade de registros escritos sobre das etapas de modelagem

e ao acesso aos principais participantes através de entrevistas. Tais características foram

de grande importância para a qualidade do estudo de caso descrito neste trabalho,

embora haja o reconhecimento da desatualização do caso (oito anos antes da publicação

do presente texto).

O objetivo deste estudo é somente descrever o caso e apontar os desdobramentos para

futuras pesquisas, sem o comprometimento com testes de hipóteses e formação de

teoria. Antes da descrição do estudo de caso, as regras para a coleta de dados foram

definidas no protocolo, de acordo com YIN (2015).

3.1 Protocolo

3.1.1 Visão Geral do Projeto do Estudo de Caso

A questão principal a ser estudada é se a MUD, como uma estratégia de modelagem

para a construção de uma base multi-propósito, é suficientemente eficaz e eficiente para

superar as deficiências das tradicionais top-down e bottom-up. Para entender como a

MUD poderia ser vantajosa nos pontos críticos das outras estratégias, foram formuladas

quatro hipóteses.

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A primeira hipótese é que a média gerência pode fornecer uma visão aderente e

completa da realidade para os processos intermediários na hierarquia. Por supervisionar

e controlar os processos de seus departamentos, a média gerência tem bastante

conhecimento sobre as atividades desempenhadas em um nível de abstração

intermediário. Ou seja, nem tão geral quanto em um macroprocesso que engloba toda a

organização, nem tão detalhado como em procedimentos de atividades. Essa visão do

meio serviria como ponto de partida para a abstração de modelos até a formação do

macroprocesso e para a decomposição em subprocessos.

A segunda hipótese é, com um modelo aderente e completo de nível intermediário, a

abstração em direção a um macroprocesso minimiza retrabalhos causados por omissão

ou erros semânticos. Tais problemas são possíveis de acontecer para o caminho inverso

de decomposição top-down até o nível intermediário (RECKER, 2006; ABPMP, 2013).

Com as informações corretas e completas sobre os processos do meio, o modelador,

durante a abstração dos modelos, teria menor probabilidade de incorrer em retrabalhos

causados pela não observância de processos que deveriam ser modelados, ou pela

comunicação equivocada sobre os processos.

A terceira hipótese é que a modelagem detalhada é eficiente quando é feita no

momento que houver necessidade de mapeamento de processos operacionais para

propósitos específicos (modelagem just-in-time). A quarta e última hipótese: a

modelagem de processos mais detalhados é eficaz e eficiente quando ocorre por

decomposição de modelos em uma base com os níveis superior e intermediário

consistentes com a realidade. Nas duas situações, a MUD estaria evitando problemas

das estratégias top-down e bottom-up. Na estratégia top-down, haveria maior risco de

retrabalhos ou erros devidos às prováveis distorções da visão da alta administração

sobre os processos. Além disso, estratégia top-down pode resultar em um passivo

grande de modelos de processos com necessidade de atualização, se for decido pela

modelagem de todos os processos ("modelagem just-in-case"), quando não há previsão

de uso de todos os modelos (ROSEMANN, 2006b). Já na estratégia bottom-up, haveria

um aumento expressivo da demanda por modelagem e manutenção, que consumiria

recursos sem necessariamente traduzi-los em informações úteis e completas.

Projetos de modelagem de processos são bem sucedidos se forem eficazes e eficientes

(BANDARA et al., 2005). Apesar dessa afirmação parecer óbvia, é possível observar

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que a estratégia de modelagem, que tem impacto na eficácia e eficiência de projetos de

modelagem, ainda não desperta comprometimento em muitas organizações (RECKER,

2006). Métodos e estratégias para uma modelagem mais efetiva são muito importantes,

pois discussões sobre custo e retorno da modelagem são recorrentes (TREGEAR, 2011;

BECKER et al., 2010; BERNHARD & RECKER, 2012; BECKER et al., 2000) e a

identificação do valor da modelagem de processos é apontado como um dos maiores

desafios atuais na área segundo praticantes, acadêmicos e vendedores de softwares

especializados (INDULSKA et al., 2009).

Os conteúdos que permitiram a formulação das quatro hipóteses estão presentes nas

publicações de diversos autores sobre os temas: média gerência, estratégias em

modelagem de processos e qualidade em modelagem de processos. Sobre a média

gerência, as principais publicações recomendadas são: MINTZBERG (2003),

NONAKA & TAKEUCHI (1997), HORNE & LUPTON (1965), DELMESTRI &

WALGENBACH (2005) e WOOLDRIDGE et al. (2008). Sobre as estratégias em

modelagem de processos: ABPMP (2013), RECKER (2006) e HARMON (2012). Sobre

qualidade em modelagem de processos: BECKER et al. (2000), BANDARA et al.

(2005), BANDARA et al. (2006), PIDD (1998), ROSEMANN (2006a, 2006b) e

MORENO-MONTES DE OCA et al. (2015).

3.1.2 Procedimentos de Campo

As informações foram obtidas através de análise de documentos fornecidos pela

consultoria, de descrições no website da Finep e de diversas entrevistas com

participantes do projeto por parte da consultoria (apresentação no Apêndice B) e por

parte da empresa. O professor Vinícius Carvalho Cardoso, que participou do projeto,

forneceu documentos da consultoria sobre os produtos das diversas etapas e forneceu os

contatos relevantes para as entrevistas. Os tópicos do estudo de caso e as respectivas

fontes são:

Informações gerais sobre a Finep (o que é e o que faz): website Finep.

Informações sobre o projeto (objetivo, atividades e resultados): documentos:

Relatório Final do Projeto, Proposta Técnica; entrevistas com: Vinícius Cardoso

(Pesquisador Sênior - Consultoria), Adriano Proença (Coordenador Geral -

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Consultoria), Raquel Flexa (Pesquisadora Sênior - Consultoria), Oswaldo

Cantini (Coordenador - Finep).

Dados levantados para as questões colocadas sobre o caso: documentos:

Relatório Final do Projeto, Proposta Técnica; entrevistas com: Vinícius Cardoso

(Pesquisador Sênior - Consultoria), Adriano Proença (Coordenador Geral -

Consultoria), Raquel Flexa (Pesquisadora Sênior - Consultoria), Oswaldo

Cantini (Coordenador - Finep).

3.1.3 Questões do Estudo de Caso

Uma série de questões foram elaboradas para ajudar na condução da investigação da

questão central do estudo de caso. Essas questões endereçam aspectos da eficácia e

eficiência da MUD e têm relação direta com a hipóteses do estudo. Os informações

adicionais sobre os entrevistados encontram-se no Apêndice B.

Qual era o propósito da modelagem, considerando os objetivos do projeto?

Fontes de informação: documentos: Relatório Final do Projeto, Proposta Técnica;

entrevistas com: Vinícius Cardoso (Pesquisador Sênior - Consultoria), Adriano Proença

(Coordenador Geral - Consultoria), Oswaldo Cantini (Coordenador - Finep).

Como obter informação: procurar os objetivos do projeto e as justificativas para a

iniciativa em modelagem; indagar os entrevistados sobre usos pré-determinados dos

modelos de processos e novas aplicações possíveis identificadas ao longo da

modelagem.

Como garantiram a aderência semântica e a abrangência completa da visão dos

processos intermediários?

Fontes de informação: documentos: Relatório Final do Projeto; entrevistas com: Raquel

Flexa (Pesquisadora Sênior - Consultoria), Oswaldo Cantini (Coordenador - Finep).

Como obter informação (perguntas): como selecionaram os entrevistados da

modelagem middle? Eram somente a média gerência? Quais foram critérios utilizados

na seleção? Houve validação da aderência e abrangência após a modelagem? Caso sim,

como foi essa validação? Quem participou dela? No geral, a média gerência soube

descrever seus processos? Houve muita divergência (quantas) entre a modelagem e a

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validação? Houve verificação de erros na descrição dos processos? Quais tipos de erros?

Caso sim, como foi feita essa verificação e quais foram as soluções?

A abstração dos processos intermediários atendeu à visão de macroprocesso da

alta administração?

Fontes de informação: documentos: Relatório Final do Projeto; entrevistas com: Raquel

Flexa (Pesquisadora Sênior - Consultoria), Oswaldo Cantini (Coordenador - Finep).

Como obter informação (perguntas): como foi feito o processo de abstração? Quais

foram as fontes de informação e como foram selecionadas? Houve validação dos

processos com os principais responsáveis? Houve divergência de visão da alta

administração em relação ao macroprocesso e aos processos intermediários? Caso sim,

quantas vezes, sobre que aspectos e como foi solucionada?

Houve clareza e precisão na identificação dos modelos que precisavam ser

detalhados a partir da base existente?

Fontes de informação: entrevistas com: Raquel Flexa (Pesquisadora Sênior -

Consultoria), Oswaldo Cantini (Coordenador - Finep).

Como obter informação (perguntas): a base existente permitiu a visão clara das relações

entre os processos? O nível de detalhamento foi suficiente para a definição dos modelos

que precisavam ser detalhados? Foi possível identificar problemas e/ou oportunidades

de melhorias a partir do modelos existentes? Como a base ajudou nessa identificação?

A necessidade de atualização dos modelos da base foi baixa?

Fontes de informação: Oswaldo Cantini (Coordenador - Finep).

Como obter informação (perguntas): havia revisão freqüente dos modelos

intermediários e superiores? Houve necessidade de modificação nos modelos de níveis

intermediários e superiores para atualização desde 2009 até hoje? Quantas vezes foram?

Quais foram as razões? Em relação aos modelos mais detalhados, houve revisão

freqüente? Houve necessidade de modificação nos modelos de níveis inferiores para

atualização desde 2009 até hoje? Quantas vezes foram? Quais foram as razões?

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3.1.4 Guia para o relatório do estudo de caso

O relatório do estudo de caso segue os seguintes tópicos:

1. Apresentação da questão principal a ser tratada no estudo de caso e hipóteses;

2. Projeto de modelagem de processos realizado na Finep em 2009: objetivos,

atividades e resultados;

3. Informações levantadas sobre as questões do estudo de caso.

3.2 Relatório do Estudo de Caso - Finep

3.2.1 Questão Principal

A estratégia de modelagem Middle-Up-Down (MUD) destina-se a modelagem as-is e

começa na modelagem de um nível intermediário (middle) de processos, faz a

modelagem em níveis mais abstratos (up) a partir dos modelos intermediários, e realiza

a modelagem detalhada de níveis inferiores da hierarquia de processos (down), quando

há demandas específicas.

A questão principal a ser verificada nesse estudo de caso é se a aplicação da estratégia

de modelagem MUD para construir uma base multi-propósito de modelos de processos

resultou em um processo de modelagem eficaz e eficiente, que pôde suplantar os

problemas comuns às estratégias top-down e bottom-up. As hipóteses que poderiam

sustentar o argumento sobre a eficácia e eficiência da MUD são:

1. A média gerência pode fornecer uma visão aderente e completa da realidade

para os processos intermediários da hierarquia;

2. A abstração em direção a um macroprocesso, a partir de modelos intermediários

consistentes, minimiza retrabalhos causados por omissão ou erros semânticos;

3. A modelagem just-in-time permite a economicidade do esforço em modelagem e

em manutenção de modelos de processo;

4. A modelagem de processos detalhados é objetiva e precisa quando têm, como

recursos de informação, modelos intermediários e superiores consistentes com a

realidade.

Um projeto realizado por uma consultoria para a empresa Finep, em 2009, foi escolhido

para esse estudo de caso único. Além do projeto apresentar um caso completo de

aplicação da estratégia de modelagem MUD, alguns dos participantes mais envolvidos

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no projeto puderam disponibilizar material e tempo para entrevistas, justificando a

escolha do projeto para o estudo.

3.2.2 Projeto Finep

A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) é uma empresa pública vinculada ao

Ministério da Ciência e Tecnologia (FINEP, 2016a). A Finep tem " tem por finalidade

apoiar estudos, projetos e programas de interesse para o desenvolvimento econômico,

social, científico e tecnológico do País, tendo em vista as metas e prioridades setoriais

estabelecidas nos planos do Governo Federal" (FINEP, 2016a, p.3). O apoio concedido

pela Finep acontece na forma financiamentos (reembolsáveis e não-reembolsáveis) à

inovação em empresas, financiamento não-reembolsável a Instituições Científicas e

Tecnológicas (ICT) nacionais, financiamento para a cooperação entre ICT e empresas

do setor produtivo, premiações, patrocínios, entre outros (FINEP, 2016b).

Em 2009, a Finep estava passando por um período de mudanças significativas em

termos de volume e escopo de operações, infra-estrutura e governança. Ao mesmo

tempo, apresentava problemas típicos de organizações funcionais, como o baixo

conhecimento sobre as informações trocadas interna e externamente e sobre os

processos internos. Havia a necessidade futura de implantação de novos sistemas de

informação, de alinhamento entre operações e estratégia, de um novo modelo de gestão

de pessoas e documentos normativos e ainda havia a intenção de obter a certificação

ISO 9001, que demanda documentação e padronização de processos. Portanto, a

empresa buscou uma consultoria externa e ambos chegaram a conclusão que a Finep

precisava implantar uma Gestão de Processos de Negócios como meio para superar as

dificuldades existentes e desafios futuros.

Os potenciais benefícios da GPN para a Finep eram expressivos. Haveria a explicitação

e uniformização do entendimento sobre as atribuições da Finep, que poderia facilitar a

comunicação sobre a missão da empresa. O conhecimento sobre os processos também

poderia auxiliar no planejamento e alocação de recursos e infra-estrutura; e permitir a

visualização das diferentes relações entre a empresa e agentes externos. Ainda sobre o

alinhamento das operações com a estratégia, também haveria a possibilidade de

estabelecer indicadores de desempenho e metas orientadas por processos. Em suma, a

Finep teria mais recursos de informação para detectar problemas e aperfeiçoar processos

e sistemas de informação.

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A atuação da consultoria focou na concepção e provimento de conhecimento à Finep

sobre o modelo de GPN que ela deveria desenvolver. Logo, o projeto não endereçou

diretamente as necessidades futuras apontadas, mas sim a base de conhecimento

necessário para a própria organização promover as iniciativas de melhorias. As duas

linhas de atuação do projeto foram: modelagem de processos e estruturação das

operações do Departamento de Processos Organizacionais (DEPO). A primeira

consistiu na modelagem de processos em dois níveis de abstração: intermediário e

superior (cadeia de valor). A modelagem de processos mais detalhados ficou a cargo da

própria Finep em momentos posteriores. A segunda linha do projeto foi dedicada à

definição das operações da DEPO e à capacitação do departamento e colaboradores para

que houvesse o constante aperfeiçoamento das práticas da GPN.

A primeira linha do projeto, que é o foco do estudo de caso, tinha como objetivo final

obter uma visão integrada dos processos da Finep nos níveis intermediário e superior de

abstração. Antes do início da modelagem propriamente dita, a equipe do projeto

examinou documentos internos da Finep para identificar os principais processos e criar

um esboço da arquitetura de processos. A equipe da consultoria também desenvolveu

um instrumento para a coleta de informações durante as entrevistas para modelagem,

chamado de template, que foi projetado para o registro de dados importantes no âmbito

da certificação ISO 9001. Nos templates, cada departamento deveria informar quais

eram os executores, sistemas utilizados, normas ou leis pertinentes, documentos, dados

de entrada e de saída de cada processo. O método de levantamento de informações que

se seguiu foi documentado e apresentado como um conceito de modelagem de

processos a ser replicado na organização.

A dinâmica de levantamento de informações sobre os processos foi feita por três tipos

de workshops. O primeiro tipo de workshop envolveu chefes de departamentos,

superintendentes e, em alguns casos, representantes da equipe de cada departamento.

Cada grupo preencheu o template com as informações referentes aos processos do

próprio departamento. Foram quinze workshops do tipo 1, no total, um para cada

departamento escolhido. Foram realizados em dias diferentes, envolvendo de seis a

treze participantes cada. Os objetivos desses workshops foram levantar as informações

relevantes sobre os processos em cada departamento e obter informações sobre os

relacionamentos entre processos de departamentos diferentes.

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Na etapa seguinte a equipe do projeto compilou as informações dos workshops de tipo 1

e criou um nível intermediário de modelos de processos, que abrangia toda a

organização e mostrava as relações entre os processos de diversos departamentos. Com

os modelos de nível interemediário prontos, o segundo tipo de workshop foi realizado

para a validação de alguns modelos de processos. Dessa vez, somente os processos que

apresentavam intensa troca de informações com outros e aqueles cujas informações

levantadas estavam inconsistentes foram examinados nos workshops para validação.

Foram realizados três workshops em dias distintos que reuniram de dois a três

departamentos cada, representados pelos respectivos chefes dos departamentos e

superintendentes. Os modelos de processos foram apresentados de forma que os

participantes puderam visualizar com clareza os fluxos representados em recortes de

cartolina e puderam interagir mudando a posição de atividades e ligações, acrescentando

e excluindo elementos.

Após os ajustes feitos nos modelos pela equipe do projeto, como resultado dos

workshops do tipo 2, o terceiro e último tipo de workshop foi implementado. Essa etapa,

dividida em três dias, tinha como objetivo validar todos os modelos de processos

mapeados. Para isso, foi selecionado um grupo de controle composto por pessoas de

notável conhecimento das atividades da Finep que pertenciam a diversas áreas e

posições hierárquicas, com o intuito de assegurar o caráter institucional da validação. Os

workshops do tipo 3 foram essenciais para conferir aderência semântica aos modelos

feitos pela equipe da consultoria e para prover homogenidade da visão dos processos da

Finep.

O passo seguinte foi fazer modificações nos modelos, como resultado dos workshops

tipo 3. Assim, a equipe do projeto pôde formar uma cadeia de valor, que consiste no

nível mais abstrato de representação dos processos internos. Os modelos do nível

intermediário foram agrupados em modelos mais abstratos e o resultado final da cadeia

de valor foi sumetida à validação pelo Departamento de Processos Organizacionais

(DEPO), da Finep. Após os ajustes nos modelos propostos pela DEPO, a equipe buscou

novamente a validação, que foi concedida pela DEPO.

Os resultados de modelagem de processos foram considerados satisfatórios pela Finep.

Como já dito, o projeto previu que os resultados mais significativos fossem obtidos no

futuro. Logo após o término da modelagem dos processos havia necessidade de tempo

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para o aprendizado da organização e ainda havia limitações técnicas a serem superadas,

como a ausência de software de modelagem. Nos anos posteriores, até 2011, já com um

software de modelagem, a Finep pôde desenvolver projetos de melhorias de processos,

principalmente sobre os convênios não-reembolsáveis e prestação de contas. Os focos

de iniciativas sobre os processos seguiram uma pauta proposta pela diretoria e pela

média gerência, através das informações coletadas nos workshops. Em 2010, a Finep

implantou um novo sistema de informação, para o qual a base de modelos de processos

existente foi essencial.

3.2.3 Respostas às Questões do Estudo de Caso

As questões apresentadas a seguir foram feitas com o objetivo de verificar se a

estratégia de modelagem MUD aplicado no projeto Finep teve os resultados esperados

em termos de eficácia e eficiência. Mais especificamente, as respostas às questões

revelam a posição do caso frente as hipóteses principais da estratégia, indicando a

necessidade de futuros experimentos para testar as quatro hipóteses colocadas como

potenciais pilares da MUD.

Qual era o propósito da modelagem, considerando os objetivos do projeto?

O objetivo principal do projeto era criar uma base de conhecimento na Finep para que a

GPN pudesse ser desenvolvida e ajudasse a organização a resolver desafios da época e

futuros. A documentação dos processos atuais, através de modelos, representa o

conjunto de informações básicas sobre a situação atual dos processos, cujo

conhecimento é o primeiro passo de qualquer iniciativa feita por processos. Portanto, a

modelagem dos processos da Finep foi primordial para que a organização começasse a

se orientar por processos. Há de se ressaltar que a ajuda da consultoria no processo de

modelagem foi fundamental por uma questão de disponibilidade de recursos humanos

para as entrevistas, construção e validação de modelos e para a transmissão do

conhecimento sobre os procedimentos envolvidos no processo de modelagem de

processos.

Várias iniciativas desejadas em GPN foram indicadas desde o início do projeto, como

especificação de requisitos de sistemas por processos; gestão de competências por

processos; alinhamento entre operações e estratégia através da boa comunicação de

atividades-fim para a organização, do planejamento de recursos e infra-estrutura por

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processos, da implantação de indicadores e metas por processos e do aperfeiçoamento

dos processos onde há trocas com organizações externas; melhorias em processos

internos; e obtenção da certificação ISO 9001. Portanto, devido à diversidade de

objetivos que os modelos de processos poderiam atender, é possível afirmar que a base

de modelos de processos construída foi multi-propósito.

Como garantiram a aderência semântica e a abrangência completa da visão dos

processos intermediários?

As informações sobre os modelos de processos intermediários foram colhidas

primeiramente nos workshops tipo 1, com superintendentes, chefes de departamento e

alguns representantes dos departamentos. Os chefes de departamentos e

superintendentes fazem parte da chamada média gerência e foram escolhidos pela

equipe do projeto e pelo DEPO através da análise do organonagrama da Finep. Foi

relatado que a média gerência da empresa tinha bastante conhecimento técnico sobre o

trabalho que supervisionava. Nos encontros, os processos de cada departamento eram

debatidos pelos grupos e descritos nos templates.

O uso desses workshops no levantamento de informações para modelagem levanta a

dúvida sobre a importância da média gerência, já que houve um processo colaborativo

com representantes subalternos. De fato, publicações indicam que a modelagem

colaborativa pode melhorar a acurácia do modelo (SCHOLTZ et al., 2014) e aumentar o

consenso, a aceitação e o comprometimento entre os envolvidos no processo com o

modelo final (STIRNA et al., 2007). Contudo, como a MUD não propõem

necessariamente a utilização da colaboração na modelagem, a participação somente da

média gerência nos workshops deve ser examinada. Desse ponto de vista, o número de

pessoas que não eram da média gerência era reduzido e a participação dessas pessoas

funcionou apenas como apoio às informações mais detalhadas solicitadas no documento

template. Essa ajuda da participação dos representantes aconteceu quando a DEPO

verificava que a média gerência poderia não ter o conhecimento completo dos

processos, por questão de experiência nos departamentos. Portanto, não se pode afirmar

que os que não pertenciam a média gerência foram imprencindíveis no entendimento

geral dos processos.

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Os workshops de tipo 2 e tipo 3 foram destinados à validação dos modelos de processos

intermediários. A validação é uma etapa de grande importância no processo de

modelagem de processos, pois procura identificar e consertar falhas de qualidade do

modelo, seja ela sintática, semântica ou pragmática (PINGGERA, 2014). Para a questão

colocada, a validação representa um reforço da garantia de qualidade dos modelos

intermediários. Há, no entanto, de ser fazer uma distinção, nos workshops de tipo 2 a

validação era específica para processos que tinham um intenso fluxo de informação

entre departamentos e aqueles cujas informações não ficaram claras para a equipe até

então. Já no workshop tipo 3, a validação era para todos os modelos de nível

intermediário. Outra diferença importante era a composição de pessoas que fizeram a

validação: nos workshops tipo 2 eram chefes de departamento e superintendentes dos

processos cujos modelos estavam sendo discutidos, já nos workshops tipo 3, havia

pessoas de diversos níveis hierárquicos e departamentos, porém com conhecimento

sobre todos os processos, para validar todos os modelos.

Portanto, a validação dos wokshops tipo 2 foi feita de acordo com a perspectiva dos

atores de processos específicos que participaram dos workshops tipo 1, já a validação do

tipo 3 foi uma averiguação de pessoas externas aos processos, sobre todos os modelos.

A validação dos workshops tipo 2 foi importante para garantir que a interpretação do

modelador estivesse condizente com a visão da média gerência em processos mais

confusos. Mas a perspectiva dos workshops tipo 3 é tão importante quanto por se

observar as contradições de visões de processos, que podem indicar falhas de aderência

semântica e completude oriundas de vieses das visões individuais. Porém, de acordo

com os relatos dos entrevistados, a descrição dos processos pela média gerência teve

pouca controvérsia e as modificações necessárias verificadas nos workshops tipo 3

tiveram como origem erros de interpretação do modelador. Tais percalços já são

esperados em qualquer tipo de modelagem.

A abstração dos processos intermediários atendeu à visão de macroprocesso da

alta administração?

A cadeia de valor foi montada pela equipe da consultoria depois dos ajustes decorrentes

dos workshops tipo 3. A validação do nível superior foi feita com o Departamento de

Processos Organizacionais (DEPO). Porém, como a visão da cadeia de valor pode ser

considerada a mais abstrata do nível conceitual (AITKEN et al., 2010), seus processos

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demandam uma visão geral da empresa para serem delineados. Nesse ponto, é razoável

questionar se o DEPO tinha essa visão geral desejável para validar o macroprocesso,

que é normalmente associada à alta administração (VON ROSING et al., 2015a).

O DEPO é um departamento diretamente ligado à presidência e à diretoria executiva,

que tinha como funções representar processos e procedimentos, comunicar e aperfeiçoá-

los. Apesar de não ter havido validação por parte da alta administração, a DEPO

manteve constante a comunicação com o topo hieráquico e os resultados parciais do

projeto foram apresentados no decorrer do projeto. A DEPO teve patrocínio para a

condução dessa iniciativa e o resultado final foi aprovado pela alta administração. Além

disso, a alta administração apoiou os projetos de aperfeiçoamento de processos

identificados como necessários durante a modelagem. Porém, aparentemente não houve

atuação direta da cúpula estratégica na formação da visão da cadeia de valor.

Houve clareza e precisão na identificação dos modelos que precisavam ser

detalhados a partir da base existente?

A modelagem do nível intermediário foi bastante útil para o levantamento de

necessidades de mudanças nos processos. Ao discutirem seus processos nos workshops,

os grupos deixaram claros alguns problemas e oportunidades de melhoria. Apesar de

nem sempre aparecer nos modelos de forma explícita, os relatos de dificuldades e ideias

de melhorias foram documentados em todos os workshops.

Por exemplo, foi percebido que, em certos processos, havia uma carga de atividades

burocráticas muito grande que subutilizava a competência técnica dos funcionários.

Outra oportunidade de melhoria foi verificada no processo de acompanhamento da área

de planejamento que acompanhava e avaliava os programas da Finep sem uma visão

crítica da efetividade dos resultados das iniciativas para a sociedade. Além disso, o

mapeamento dos documentos normativos referentes a cada processo foi facilitado pela

modelagem de processos do nível intermediário, o que permitiu a avaliação da

adequação das operações às normas e melhoria na gestão do conhecimento. Por fim, no

ano seguinte a Finep iniciou um projeto de especificação e implantação de um novo

sistema de informação que utilizou bastante a base de informações dos processos para

definir os requisitos de software.

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Dessa forma, modelos de alto nível de detalhamento não precisaram ser construídos

para o propósito de identificação desses problemas, o que de fato economizou esforço

da equipe. Junto aos modelos existentes, essas informações foram importantes para a

identificação dos processos que precisavam ser detalhados e, por consequência, das

raízes de problemas e de pontos de alavancagem para melhorias, pois proporcionaram

uma visão sistêmica das causas e consequências através dos processos.

A necessidade de atualização dos modelos da base foi baixa?

Ao final do projeto, a Finep contava com uma base de modelos de processos grande e

pouco pessoal para realizar novos projetos e mantê-la atualizada. Por causa disso, a

diretoria executiva definiu prioridades para projetos de aperfeiçoamento de processos.

Os projetos foram sempre limitados à análise e à interferência em processos específicos,

detalhados e somente quando eram modificados é que havia as atualizações dos

modelos correspondentes. A atualização da cadeia de valor, considerada uma atividade

que consumiria muitos recursos, foi feita para o projeto de especificação do novo

sistema de informação, com a ajuda da empresa fornecedora do sistema. Por conta dos

projetos de aperfeiçoamento de processos ao longo do tempo, havia pequenas

modificações no nível intermediário dos processos que demandavam atualizações da

base de modelos. Porém, a não atualização dos modelos de níveis superiores não

representou uma dificuldade para que as informações sobre os processos existentes na

base fossem utilizadas para projetos de melhorias de menor escopo.

3.3 Discussão sobre o Estudo de Caso e Considerações sobre a MUD

O projeto Finep utilizou a estratégia de modelagem MUD para formar uma base multi-

propósitos, com o objetivo final de estabelecer e desenvolver a Gestão de Processos de

Negócios na empresa. A empresa teve uma experiência bem sucedida principalmente de

2009 a 2011, quando utilizou a base de modelos de processos para identificar problemas

e oportunidades de melhorias nos processos. Além de melhorias nos processos, como os

de prestação de contas e convênios não-reembolsáveis, a Finep pôde identificar os

processos que deviam ser normatizados e utilizou a base de modelos como insumo para

a especificação de um novo sistema de informação.

O projeto mostrou que a percepção dos processos de nível intermediário pela média

gerência pode ser bastante rica. Na Finep, chefes de departamentos e superintendentes

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tinham a visão geral dos processos dos seus departamentos, pois forneceram as

informações completas e corretas sobre eles sem entrar em detalhes demasiados. Isso foi

percebido pela equipe do projeto nos workshops tipo 1 e confirmado nas validações dos

workshops tipos 2 e 3. Uma característica importante dessa média gerência foi o alto

conhecimento técnico, que pode ter ajudado na capacidade de descrição dos processos

dos departamentos.

Há, porém, a necessidade de validar a hipótese de que a média gerência possa fornecer

uma visão aderente dos processos intermediários. Outra questão que deve ser

investigada é se a média gerência é a melhor unidade organizacional para prover

informações sobre os processos intermediários, comparando-a com a alta administração

e o nível operacional. Entende-se pela melhor aquela que pode fornecer as informações

mais precisas para o nível desejado de agregação de processo. E, por fim, deve-se

procurar entender as características que a média gerência deve apresentar para que seja

considerada uma boa fonte da informação.

Em relação à segunda hipótese colocada, sobre a abstração dos modelos intermediários

e o ganho de qualidade dos modelos de nível superior, os dados do estudo de caso não

são claros. A confusão é devida, sobretudo, à falta de participação na coleta de dados de

processos e validação dos modelos mais abstratos por parte de quem realmente tem a

visão mais ampla do negócio, ou seja, a alta administração. O que se esperava observar

era se o movimento do meio para cima, baseado na visão da média gerência sobre os

processos intermediários, geraria modelos mais completos e corretos no nível superior.

Assim sendo, apresentaria vantagem frente à estratégia top-down, que pode ser

inconsistente ao construir uma visão do nível superior e intermediário, por consequência

da decomposição, idealizada por alguns indivíduos da alta administração (RECKER,

2006; SAP, 2016a) ou predominantemente funcional (SHARP, 2009).

Ainda sobre o movimento middle-up, há a necessidade de testar a hipótese sobre a

efetividade de se usar as informações contidas no nível intermediário, construído com o

auxílio da média gerência, para a abstração até um macroprocesso. Invariavelmente, a

visão da alta administração deve ser levada em conta, para que os modelos de processos

do nível superior sejam aceitos de forma institucional. Sugere-se também uma

comparação entre as estratégias top-down e MUD, em termos de eficiência, para a

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construção dos níveis intermediário e superior, onde o retrabalho, o número de

contradições, omissões e erros semânticos na modelagem sejam observados.

A modelagem dos processos da Finep demandou bastante esforço devido ao tamanho da

empresa, mas parte desse trabalho foi dividido com a consultoria. Mesmo assim, a

aplicação da estratégia MUD pareceu mais adequada, pois a modelagem detalhada de

todos os processos consumiria muito mais esforço em pessoal e horas de trabalho. De

acordo com as visões intermediária e superior, a Finep pôde priorizar processos a serem

investigados e alocar recursos para a modelagem mais detalhada de forma mais

eficiente. A modelagem just-in-time também funcionou bem para a atualização dos

modelos, que era feita somente quando havia a necessidade de uso dos mesmos. Por

fim, a empresa conseguiu manter ao mínimo a quantidade de modelos detalhados e

modelos de níveis intermediário e superior com defasagens insignificantes até a

necessidade de alteração de maior escopo, com a implantação de um novo sistema de

infomação.

Mesmo assim, há de se frisar a necessidade de testar a hipótese sobre a eficiência da

MUD para modelagem as-is e manutenção de modelos. Pode-se realizar a medição do

esforço necessário para modelagem e manutenção e a comparação do esforço medido

com a MUD, a top-down e a bottom-up. Sobre a atualização de modelos, também é

interessante investigar como os ciclos de manutenção preventiva de modelos e

processos devem se relacionar com a importância estratégica dos processos e a

granularidade dos níveis hierárquicos de processos, de modo que o esforço final seja

minimizado.

As sessões de workshops para modelagem e validação do nível intermediário foram

úteis para levantar problemas e oportunidades de melhorias, que precisariam de análises

mais detalhadas dos processos para identificação de causas e pontos de alavancagem.

Isso foi devido, em parte, à profundidade de conhecimento técnico apresentado pela

média gerência. As informações coletadas facilitaram as discussões sobre possíveis

intervenções futuras sem a obrigatoriedade de modelar os níveis mais detalhados antes,

o que poupou esforço.

Dessa maneira, enfatiza-se a necessidade de investigação se o conhecimento das

informações contidas em modelos de processo dos níveis intermediário e superior torna

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a modelagem detalhada de processos mais objetiva e precisa. Porém, é importante

considerar que a base existente seja construída com a estratégia MUD, pois assim

estaria assegurada maior aderência e completude de informação contida nos níveis

intermediário e superior. De outra forma, falhas por omissão e erro de visão de

processo, mais prováveis na estratégia top-down (RECKER, 2006; ABPMP, 2013),

poderiam interferir negativamente na efetividade da modelagem detalhada. Outra

investigação interessante nesse âmbito é o grau de influência do perfil da média

gerência (mais ou menos técnica, por exemplo) na percepção sobre os problemas e

oportunidades de melhorias nos processos dos departamentos.

A decisão sobre a estratégia de modelagem, como a MUD, é uma das etapas do que foi

chamado de Planejamento da Modelagem de Processos. Como foi verificado na revisão

da literatura, uma falta importante nesta pesquisa é de publicação destinada à própria

formalização do processo de modelagem de processos. Na busca realizada, somente

PINGGERA (2014) se propõe a este estudo, porém o faz em uma contextualização

limitada das atividades. O autor desconsidera a identificação inicial de processos, a

decisão sobre a estratégia de modelagem, a elicitação de informações, entre outras

atividades comuns aos projetos que envolvem modelagem de processos. Portanto, há de

se frisar a necessidade de mais estudos sobre o processo da modelagem de processos e

as principais práticas de cada atividade.

As questões da MUD colocadas neste estudo de caso foram fundamentadas nas quatro

hipóteses que, se confirmadas, conferem consistência às qualidades da estratégia. Por

sua vez, qualidade em modelagem foi resumida em eficácia dos modelos e eficiência do

processo. Porém, há de se reconhecer que pesquisas sobre qualidade em processo de

modelagem de processos são escassas (MORENO-MONTES DE OCA et al., 2015;

PINGGERA et al., 2015; SOFFER et al., 2012). Estudos nessa área seriam de grande

importância, como já dito, devido à atual preocupação com o retorno sobre o

investimento em modelagem de processos e com a comunicação sobre o valor

adicionado às empresas gerado pela modelagem.

A MUD é um método do processo de modelagem. Segundo BANDARA et al. (2005), a

existência de métodos em modelagem é apenas um dos fatores de sucesso para projetos

dessa natureza. Portanto, como o sucesso em projetos de modelagem― que podem ser

vistos em ganhos de eficácia e eficiência― tem vários fatores determinantes

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(BANDARA et al., 2005), não é de se esperar que a MUD seja a panaceia para os

projetos de modelagem. Até porque a MUD, assim como as estratégias top-down e

bottom-up, não atende a vários aspectos relevantes do processo de modelagem, como

por exemplo a forma de levantamento de informações (entrevistas individuais,

observação direta, workshops, etc.), a seleção de modeladores e colaboradores, os

padrões de modelagem, entre inúmeros outros.

A estratégia MUD deve ser vista como uma proposta de orientação de ordem de

modelagem, em diferentes níveis de hierarquia de processos, para o objetivo de

construção de uma base multi-propósitos. A lógica dessa orientação tem base em

hipóteses que tomam como centrais as qualidades de eficácia dos modelos e eficiência

do processo de modelagem. Mais do que isso, a MUD, ao adotar a necessidade de criar

uma base multi-propósitos de forma eficaz e eficiente, fornece uma outra perspectiva

para a estratégia de modelagem. Diferente das tradicionais top-down e bottom-up, que

tinham o escopo de intervenção e o propósito da modelagem como guias de decisão

entre uma ou outra (HARMON, 2012; ABPMP, 2013), a MUD adota o escopo de visão

sobre os processos e o multi-propósito dos modelos como os principais diferenciais

(Figura 5).

O escopo de visão é obtido pela representação aderente de todos os processos

intermediários e superiores, de forma que a organização possa extrair as informações

desejadas da base de modelos, delimitar com objetividade e precisão os processos que

devem ser detalhados e fazer intervenções embasadas em uma visão sistêmica dos

processos e suas inter-relações. Portanto, essa característica pode tornar a organização

mais eficaz e eficiente em seus projetos. Já o multi-propósito dos modelos permite um

outro ganho de eficiência, pois baseia-se no uso repetido, ou sinergia no uso

(ROSEMANN, 2006b), de modelos. Além do mais, construir uma base multi-propósito

representa um compromisso com a adoção de iniciativas futuras em GPN, que são

importantes para elevar o nível de maturidade da organização em GPN.

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Figura 5: Mudança na percepção de transformação em processos pela MUD

Fonte: Elaboração própria

5. Conclusão

O trabalho realizado apresentou uma estratégia de modelagem de processos de negócios

diferente, a Middle-Up-Down (MUD). Essa abordagem é fundamentada nas teorias

sobre gestão de processos de negócios (GPN), modelagem de processos e teoria das

organizações para a criação de uma base de modelos que serve para diversas iniciativas

em GPN. Nesta abordagem, a média gerência teria o papel fundamental de fornecer uma

visão aderente e completa de processos, que seriam o ponto de partida para a

modelagem. Os modelos de níveis superior e inferior seriam construídos, nessa ordem,

com o auxílio da visão intermediária dos processos. Acredita-se que dessa forma, junto

ao conceito de modelagem just-in-time dos processos mais operacionais, a estratégia

MUD apresente vantagens em termos de eficácia e eficiência quando comparada às

tradicionais top-down e bottom-up.

Um estudo de caso foi feito sobre um projeto realizado para a empresa Finep, em 2009.

Esse estudo mostrou a aplicação da estratégia MUD que, pelos resultados obtidos,

mostrou-se bastante satisfatória. A média gerência foi capaz de fornecer uma visão

correta e completa dos processos intermediários; as informações levantadas nos

workshops e os modelos de processo nos níveis intermediário e superior foram

suficientes para a identificação de problemas e oportunidades de melhoria; e a

modelagem just-in-time dos processos de nível inferior permitiu uma importante

economia de recursos para as atividades de modelagem e atualização de modelos, sem

prejudicar o valor das informações sobre os processos, em geral. Por outro lado, o

estudo de caso não deixou claro como a construção de um nível superior de modelos de

processo a partir de um nível intermediário, quando obtido com a ajuda da média

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gerência, pode ser mais eficaz e eficiente. Também deve-se citar que nem todas as

informações relevantes para as questões do estudo de caso foram possíveis de serem

obtidas, em parte devido à falta de registro de variáveis específicas durante o projeto.

Foram verificadas algumas lacunas teóricas importantes durante a revisão da literatura

sobre o tema. Há poucos estudos publicados sobre: o processo formal de modelagem de

processos, sobre qualidade no processo de modelagem e sobre as aplicações de

diferentes estratégias de modelagem. Portanto, acredita-se que o conhecimento sobre

esses temas é um pré-requisito para o aperfeiçoamento das estratégias de modelagem.

Por outro lado, o trabalho aqui publicado indica uma forma promissora de modelagem,

diante do conhecimento atual sobre modelagem de processos de negócios. Por focar em

ganhos de eficácia dos modelos e eficiência de processo de modelagem, a MUD se

destaca em um dos pontos mais críticos da modelagem hoje, a proposição de valor para

quem a usa.

Além da necessidade de avanço científico nos três tópicos mencionados, as hipóteses da

MUD devem ser testadas. Outras questões sobre como aumentar a eficência do processo

de modelagem podem ser agregadas a MUD e torná-la mais robusta. O contexto de

aplicação dessa estratégia também pode ser questionado, afinal manter uma base multi-

propósito para diversas ações em GPN é potencialmente benéfico, mas tem custos que

as empresas podem não conseguir arcar.

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7. APÊNDICE A - Resultados da pesquisa bibliográfica

Tabela 1: Resultado da busca no domínio da Média Gerência

Palavras-Chave Filtros Aplicados Número de

Artigos

Número de artigos

selecionados para

análise

middle manager Língua: Inglês 19 1

middle

management Língua: Inglês 265 3

middle manage*

Lingua: Inglês; Tema: Gerentes

de Nível Médio; Gestão; Ciência

da Gestão

40 6

middle manage*

Lingua: Inglês; Tema: Média

Gerência; Gerentes de Nível

Médio

38 4

Fonte: Elaboração própria

Tabela 2: Resultado da busca no periódico Business Process Management Journal

Palavras nos Resumos dos

Artigos Número de Artigos

middle;

model/modeling/modelling 2

inside-out;

model/modeling/modelling 0

top-down;

model/modeling/modelling 5

bottom-up;

model/modeling/modelling 2

strateg*;modeling/modelling 48

approach; process

modeling/modelling 51

process of process modeling 0

decomposition; model* 3

modularity/modularization;

model* 6

abstraction; model* 21

Fonte: Elaboração própria

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Tabela 3: Resultado da busca em diversos periódicos

Palavras nos

Resumos dos

Artigos

Filtros Aplicados Número de

Artigos

approach; business

process; modeling

Lingua: Inglês; Tema: Modelagem de

Processos de Negócios 38

middle; business

process; modeling Lingua: Inglês 1

inside-out; business

process; modeling Lingua: Inglês 0

strateg*; business

process; modeling

Lingua: Inglês; Tema: Gestão de

Processos de Negócios; Modelagem de

Processos de Negócios; Modelos de

Processos de Negócios

25

design; business

process; modeling

Lingua: Inglês; Tema: Modelagem de

Processos de Negócios; Modelagem de

Processos

33

plan; business

process; modeling Lingua: Inglês 10

phases; business

process; modeling

Lingua: Inglês; Tema: Modelagem de

Processos de Negócios; Modelagem 7

process modeling;

business process

Lingua: Inglês; Tema: Modelagem de

Processos de Negócios; Modelagem de

Processos

122

top-down; business

process; modeling Lingua: Inglês 13

bottom-up; business

process; modeling Lingua: Inglês 10

decomposition;

business process;

modeling

Lingua: Inglês; Tema: Modelagem de

Processos de Negócios; Modelagem de

Processos

24

abstraction;

business process;

modeling

Lingua: Inglês; Tema: Modelagem de

Processos de Negócios; Modelagem de

Processos

26

Fonte: Elaboração própria

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8. APÊNDICE B - Informações sobre os entrevistados da Consultoria do Projeto Finep

Adriano Proença: coordenador geral do projeto Finep; engenheiro de Produção pela

Universidade Federal do Rio de Janeiro com especialização em Automação Industrial

pela Ecole Nationale d'Ingenieurs de Tarbes (ENIT/França, 1987); mestrado em

Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1987) e

doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

(1994), com doutorado-sanduíche na Warwick University (UK, 1991-92); professor

associado do Departamento de Engenharia Industrial da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e colaborador do Programa de

Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ; tem experiência na área de Engenharia de

Produção, com ênfase em Gerência de Produção, atuando principalmente nos seguintes

temas: Estratégia Empresarial & Organizações, Gestão Estratégica, Estratégia de

Operações, Gestão Estratégica da Tecnologia e da Inovação.

Raquel Flexa: pesquisadora sênior no projeto Finep; possui graduação em Engenharia

de Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2003) e mestrado em

Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ (2005); professora assistente de Magistério

Superior do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca no

Departamento de Engenharia de Produção e doutorando no Programa de Engenharia de

Produção e Sistemas do CEFET-RJ; tem experiência na área de Gestão Pública, Gestão

de Operações em Saúde e Gestão de Operações.

Vinícius Carvalho Cardoso: pesquisador sênior no projeto Finep; professor associado

do Departamento de Engenharia Industrial da Universidade Federal do Rio de Janeiro;

graduado em Engenharia de Produção pela Escola Politécnica da Universidade Federal

do Rio de Janeiro; possui mestrado e doutorado pelo Programa de Engenharia de

Produção da COPPE/UFRJ; pesquisador do Grupo de Produção Integrada (Poli e

COPPE/UFRJ) com experiência em dezenas de projetos de pesquisa e extensão

tecnológica nas áreas de Estratégia e Gerência de Operações, Engenharia de Processos,

Gestão do Conhecimento, Projeto Organizacional e Planejamento Tecnológico.