estimativas de correntes oceÂnicas...

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INPE-9583-TDI/839 ESTIMATIVAS DE CORRENTES OCEÂNICAS SUPERFICIAIS PELO MÉTODO DA MÁXIMA CORRELAÇÃO CRUZADA Eduardo Negri de Oliveira Dissertação de Mestrado em Sensoriamento Remoto, orientada pelos Drs. João Antônio Lorenzzetti e José Luiz Stech, aprovada em 12 de dezembro de 2001. INPE São José dos Campos 2003

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INPE-9583-TDI/839

ESTIMATIVAS DE CORRENTES OCEÂNICAS SUPERFICIAIS PELO MÉTODO DA MÁXIMA CORRELAÇÃO CRUZADA

Eduardo Negri de Oliveira

Dissertação de Mestrado em Sensoriamento Remoto, orientada pelos Drs. João Antônio Lorenzzetti e José Luiz Stech, aprovada em 12 de dezembro de 2001.

INPE São José dos Campos

2003

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528.711.7 : 551.46 OLIVEIRA, E. N. Estimativas de correntes oceânicas superficiais pelo mé- todo da máxima correlação cruzada / E. N. Oliveira. – São José dos Campos: INPE, 2001. 102p. (INPE-9583-TDI/839). 1Sensoriamento remoto. 2.Análise de imagens. 3.circu- lação. 4.reconhecimento. 5.Temperatura da superfície. 6.cor- rentes oceânicas. I.Título.

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Quem quer que sejas: deixa tua alcova,

da qual já sabes tudo que desejas;

teu lar na tarde, longe, se renova,

quem quer que sejas...

... e tens já pronto o mundo: estranho assim

como palavra que amadurece

no silêncio, e que teu olhar esquece

quando lhe captas o sentido, enfim...

(Rainer M. Rilke)

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AGRADECIMENTOS

Aos Drs. José Luiz Stech e João Antonio Lorenzzetti, pela credibilidade a mim depositada e

pela oportunidade de vivenciar experiências profissionais e pessoais com entusiasmo e

dedicação.

À minha Mãe e a meus Irmãos, Maristela, Heraldo, Marisa, por terem compreendido a

ausência e apoiado em todos os momentos; com muito carinho. A meu Pai, onde quer que

esteja.

À minha querida Juliana pelo companheirismo, compreensão e indescritível apoio que me

ajudou a seguir em frente nas horas mais dúbias.

Agradeço aos meus grandes amigos Rodrigo (Borena) e Leila pela amizade de longa data e

pelas conversas sempre encorajadouras.

Agradeço aos amigos Edson, Constantino, Daniela, Marcelo, Fred, Marcos, Rosely, Jane,

Estelio, Mariana, Milton, Silvana, Lubia, Regina, Raquel, Paulino. Pessoas que fazem

diferença.

Aos funcionários e amigos da Divisão de Sensoriamento Remoto Sidnea Maluf, pela

organização das imagens, Camilo pelos esclarecimentos sobre o IDL, Carlos Eduardo pelas

dicas sobre erdas e mascaramento de nuvens, Arcilan, Douglas e Milton pelas sugestões

sempre úteis, Olga e Paulo pelas conversas esclarecedoras.

À Etel e ao Dr. Formaggio pela dedicação dispensada aos mestrandos em Sensoriamento

Remoto.

Ao CNPq pelo fomento de bolsa de estudo, sem a qual não seria possível o

desenvolvimento desta Dissertação e ao INPE.

E a Deus.

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RESUMO

Neste trabalho é aplicada a técnica de Máxima Correlação Cruzada (MCC) em seqüências

de imagens AVHRR/NOAA, para se estimar o campo de velocidade advectivo de

superfície, através das feições termais superficiais do oceano. As imagens são divididas em

janelas de moldura e de busca. Calcula-se a máxima correlação cruzada entre as janelas

selecionadas, obtendo, dessa forma, o vetor deslocamento da feição presente nas janelas.

Para que a eficiência do método seja explorada da melhor forma possível, é necessário que

o par de imagens esteja perfeitamente sobreposto; desvios de até dois pixels são tolerados.

Como requisito básico para a aplicação do método assume-se que as feições termais são

deslocadas por processos advectivos. Assume-se que processos de rotações ou deformações

nas feições, sejam suficientemente pequenos para serem desprezados. Esta hipótese é

considerada válida para intervalos de tempo menores que 24 horas entre duas imagens

consecutivas usadas nos cálculos. Para a determinação da confiabilidade estatística dos

valores de correlação cruzada, foram aplicados os testes de Emery et al.(1986) e Wu et al.

(1992). O filtro mediana vetorial (VMF) é aplicado para a remoção de vetores espúrios.

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OCEAN SURFACE CIRCULATION ESTIMATED BY THE MAXIMUM CROSS-CORRELATION TECHNIQUE

ABSTRACT

The Maximum Cross Correlation Method (MCC) is applied to AVHRR/NOAA thermal

image pairs to estimate the surface advective velocity fields derived from oceanic thermal

features. The images are divided into template and search windows. The maximum cross-

correlation between these windows is calculated to obtain the displacement vector of the

tracked features in the windows. In order to achieve the best results, it is necessary that both

images are accurately registered; a maximum of two pixels of mismatch is allowed. The

basic assumption of the MCC method is that the thermal features are displaced by advective

processes. Rotational and deformation processes are considered small enough to be

neglected. This hypothesis is considered valid for time intervals of less than 24 hours

between two images used in the method. The statistical confidence for the cross-correlation

coefficient is determined using the Emery et al.(1986) and Wu et al. (1992) methodologies.

The technique of Vector Median Filter has been applied to remove spurious velocity

vectors.

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SUMÁRIO

Pág.

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE TABELAS

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO.............................................................................. 21 1.1 – Aspectos gerais.................................................................................................... 21

1.2 – Objetivos.............................................................................................................. 24

1.2.1 – Objetivo geral................................................................................................... 24

1.2.2 – Objetivos específicos........................................................................................ 24

1.3 – Área de aplicação................................................................................................ 25

CAPÍTULO 2 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................. 29 2.1 – Circulação oceânica............................................................................................. 29

2.2 – Métodos para medidas diretas de correntes oceânicas........................................ 30

2.3 – Temperatura Bulk e temperatura superfície do mar (TSM)................................. 31

2.4 – Influência dos processos difusivos e convectivos na conservação do calor........ 33 CAPÍTULO 3 – MATERIAIS................................................................................... 37 3.1 – Os satélites NOAA............................................................................................... 37

3.1.1 – Aspectos gerais................................................................................................. 37

3.1.2 – Sensor AVHRR e parâmetros orbitais do satélite............................................ 38

3.2 – Imagens AVHRR/NOAA e aplicativos................................................................ 41

3.3 – O sistema Argos e o derivador de baixo custo................................................... 42

3.3.1 – O sistema Argos................................................................................................ 42

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3.3.2 – O derivador de baixo custo............................................................................... 43

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA........................................................................... 47 4.1 – Introdução............................................................................................................. 47

4.2 – O método da máxima correlação cruzada (MCC)................................................ 47

4.3 – Determinação do tamanho das janelas................................................................. 50

4.4 – Teste de significância do coeficiente de correlação............................................. 51

4.4.1 – O teste de Emery.............................................................................................. 51

4.4.2 – O teste DCA....................................................................................................... 53

4.5 –Limitações do método MCC.................................................................................. 58

4.6 – Filtragem do campo de corrente vetorial resultante.............................................. 58

4.7 – Processamento do dado AVHRR.......................................................................... 60

4.7.1 – Correção geométrica......................................................................................... 60

4.7.2 – Precisão do georeferenciamento........................................................................ 60

4.7.3 – Algoritmo para detecção de nuvens................................................................... 61

CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES................................................... 65 5.1 – Introdução.............................................................................................................. 65

5.2 – Teste de deslocamento da imagem....................................................................... 67

5.3 – Nível de significância........................................................................................... 68

5.4 – Filtragem do campo vetorial estimado................................................................. 71

5.5 – Diferença entre os teste de Emery e DCA.............................................................. 72

5.6 – Comparação do campo vetorial com dados do derivador..................................... 78

5.7 – Campos de velocidade advectiva estimados.......................................................... 81

5.7.1 – Primavera............................................................................................................ 82

5.7.2 – Verão................................................................................................................... 86

5.7.3 – Outono................................................................................................................. 89

5.7.4 – Inverno................................................................................................................. 91

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CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES...................................... 95 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 97

APÊNDICE A ............................................................................................................. 102

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LISTA DE FIGURAS

Pág. 1.1 – Área de aplicação do método MCC. Compreendida entre os paralelos 22º e 34º S, e entre os meridianos 53º e 40º W.............................................................. 26 3.1 – Tamanhos de "pixels" selecionados ao longo de uma linha AVHRR quando projetados na Terra............................................................................................... 40 3.2 – Bóia de deriva acoplada à vela de arrasto............................................................. 44 4.1 – (a) janela de moldura selecionada da imagem 1; (b) janela de busca selecionada da imagem 2; (c) o ponto central da janela de busca coincidente com o ponto central da janela de moldura; (d) deslocamento, pmax e qmax, que corresponde à região onde a correlação é máxima....................................................................... 49 4.2 – Exemplo de média de superfície de autocorrelação............................................. 53 4.3 – Exemplo de matriz de autocorrelação para uma janela de moldura..................... 56 4.4 – Exemplo da nova área central de autocorrelação para uma janela de moldura, delimitada pelos valores superiores a δ. A DCA é ¼ dos pixels desta área......... 57 4.5 – Imagem de 24/03/2001 após aplicar o operador gradiente................................... 61 4.6 – Histogramas de freqüência dos deslocamentos residuais em linha (x) e em colunas (y), assim como a magnitude das velocidades residuais (cm/s)............... 62 5.1 – Campo vetorial estimado a partir de um par de imagens, com uma delas deslocada 10 pixels para a direita e 15 pixels para cima em relação à outra........ 67 5.2 – Campo vetorial estimado considerando-se o nível de significância de 5%.......... 69 5.3 – Campo vetorial estimado considerando o nível de significância de 1%............... 70 5.4 – Campo vetorial sem a filtragem............................................................................ 71 5.5 – Campo vetorial filtrado......................................................................................... 72 5.6 – Teste de Emery. Data imagem: 24/03/01.............................................................. 73

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5.7 – Teste DCA. Data imagem: 24/03/01..................................................................... 74 5.8 – Teste de Emery. Data imagem: 17/11/00.............................................................. 75 5.9 – Teste DCA. Data imagem: 17/11/00..................................................................... 76 5.10 – Campo vetorial de corrente oceânica superficial estimado pelo método MCC juntamente com a trajetória do derivador 32431................................................. 78 5.11 – Campo vetorial de corrente oceânica superficial estimado pelo método MCC juntamente com a trajetória do derivador 32431. Na origem de cada vetor é apresentado o valor da velocidade do mesmo em cm/s...................................... 80 5.12 – Imagem do dia 30 de Outubro de 2000, 20:44 GMT......................................... 82 5.13 – Imagem do dia 31 de Outubro de 2000, 07:55 GMT......................................... 83 5.14 – Imagem do dia 17 de Novembro de 2000, 08:05 GMT..................................... 84 5.15 – Imagem do dia 17 de Novembro de 2000, 20:31 GMT..................................... 85 5.16 – Imagem do dia 17 de Dezembro de 2000, 20:26 GMT..................................... 86 5.17 – Imagem do dia 18 de Dezembro de 2000, 07:42 GMT..................................... 87 5.18 – Imagem do dia 26 de Fevereiro de 2001, 07:17 GMT...................................... 88 5.19 – Imagem do dia 26 de Fevereiro de 2001, 19:49 GMT...................................... 88 5.20 – Imagem do dia 23 de Maio de 2001, 20:17 GMT............................................. 89 5.21 – Imagem do dia 24 de Maio de 2001, 07:28 GMT............................................. 90 5.22 – Imagem do dia 06 de Julho de 2000, 18:57 GMT............................................. 91 5.23 – Imagem do dia 07 de Julho de 2000, 06:14 GMT............................................. 92 5.24 – Imagem do dia 15 de Julho de 2001, 20:37 GMT............................................. 93 5.25 – Imagem do dia 16 de Julho de 2001, 07:53 GMT............................................. 94

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LISTA DE TABELAS Pág. 3.1 – Canais do Sensor AVHRR (NOAA-12/14)........................................................... 39 3.2 – Variações mensuradas no tamanho do pixel como conseqüência do processo de aquisição das imagens AVHRR/NOAA................................................................ 40 5.1 – Pares de imagens nas quais o MCC foi aplicado................................................... 66 5.2 – Velocidade média diária do derivador 32431........................................................ 79

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SIGLAS E/OU ABREVIATURAS AC - Água Costeira

ACAS - Água Central do Atlântico Sul

ATN - Advanced TIROS-N

AVHRR - Advanced Very High Resolution Radiometer

CB - Corrente do Brasil

CM - Corrente das Malvinas

CNES - Centre d'Études Spatiales

CST - Convergência Subtropical

DCA - Decorrelation Area (Área de Decorrelação)

GL - Graus de Liberdade

GPC - Centros Globais de Processamento Argos

HRPT - High Resolution Picture Transmission

IDL - Interactive Data Language

IFOV - Campo Instantâneo de Visada

LCD - Low Cost Drifter

MCC - Máxima Correlação Cruzada

NASA - National Aeronautics and Space Agency

NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration

PCD - Plataformas de Coletas de Dados

PCS - Plataforma continental Sul

PCSE - Plataforma Continental Sudeste

PTT - Terminal de Transmissão da Plataforma

RRS - Estações de Recepção Regionais

SLCD - Sistema de Localização e Coleta de Dados

TIROS-N - Television Infrared Observation Satellite-N

TSM - Temperatura da Superfície do Mar

VMF - Vector Median Filter

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21

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1.1 – ASPECTOS GERAIS

O objetivo básico dos estudos oceanográficos é chegar a uma descrição clara e sistemática

dos oceanos, suficientemente quantitativa para permitir prever o seu comportamento futuro

com alguma certeza. Embora já se possa fazer certos prognósticos, em termos bem amplos,

para algumas características e em algumas regiões, muito longe de se poder prever com

confiança as variabilidades fenomenológicas associadas aos processos físico-químicos.

Existem muitas razões para a busca de conhecimentos dos oceanos; entre estas podemos

citar: a necessidade de compreender a influência dos oceanos na variabilidade do clima nas

diversas escalas espaciais e temporais; a formação e o comportamento de feições

oceanográficas de meso-escala e suas relações com os recursos pesqueiros; o auxílio à

navegação e à pesca; o controle ambiental dos oceanos etc. A imensa capacidade térmica

dos oceanos exerce considerável influência sobre o clima e o movimento das ondas e

correntes é fator a ser considerado nos processos de erosão costeira e em projetos de

quebra-mares, portos ou qualquer atividade marítima. Para essas aplicações e muitas outras,

conhecer a circulação oceânica é indispensável. O ideal da oceanografia física é conseguir

uma descrição quantitativa sistemática da natureza das águas oceânicas e de seus

movimentos.

Medições in situ de correntes oceânicas de superfície (ou em profundidade) em oceano

aberto não são facilmente realizáveis. Isto se deve, em primeiro lugar, pelo altíssimo custo

operacional; em segundo lugar, pela mão de obra necessária para realização dessa tarefa em

extensas regiões. Também se deve atentar ao fato de que medidas in situ estão associadas à

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problemas práticos de difícil solução quando se almeja uma representação sinótica dos

campos amostrados.

Com o avanço da tecnologia espacial foi possível o desenvolvimento de novas

metodologias para coleta de dados na superfície dos oceanos. Os derivadores Lagrangianos,

ou bóias de deriva rastreadas por satélite fazem parte dessas novas tecnologias, oferecendo

recursos que possibilitam o acompanhamento das correntes oceânicas superficiais. Através

da trajetória seguida pelo derivador tem-se o acompanhamento da corrente superficial, com

baixo custo e margem de erro reduzida, o que já é um avanço significativo se comparado

com os métodos tradicionais de medidas das correntes.

Apesar da eficiência dos derivadores, é desejável não apenas uma trajetória, que está

diretamente relacionada com a corrente superficial local, mas sim um campo de estimativa

espacialmente mais amplo. Outro problema freqüentemente encontrado com a estimativa

do campo de velocidade através de derivadores é a tendência que estes dispositivos exibem

de se afastar de áreas de divergência no escoamento e de se concentrar em regiões de

frentes ou convergências. Se isto não for levado em conta, estimativas tendenciosas

poderão ser obtidas.

Outra maneira de se obter uma estimativa das correntes de superfície é o uso de seqüências

de imagens de satélite. Normalmente realizadas com o uso de dados coletados na faixa do

infravermelho termal pelo sensor Advanced Very High Resolution Radiometer (AVHRR),

estas novas metodologias fornecem uma estimativa do campo de velocidade advectiva

superficial.

Basicamente são dois os métodos pelos quais as correntes superficiais têm sido estimadas

por satélite: Acompanhamento de Feições e Máxima Correlação Cruzada (MCC). O

primeiro método está baseado na identificação visual de uma feição térmica ao longo de

uma série de imagens seqüenciais de satélite, a partir da qual é inferido, subjetivamente, o

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deslocamento do padrão de temperatura superficial (La Violette, 1984). Este método

apresenta certas limitações, pois, tanto a seleção como o acompanhamento das feições é

dependente do operador. O segundo método também usa seqüências de imagens para

computar as velocidades superficiais, mas, ao contrário do primeiro, é um procedimento

computacional objetivo e independente do operador (Emery et al., 1986).

O método MCC, desenvolvido inicialmente para detectar o movimento de nuvens (Leese et

al., 1971), foi adaptado por Ninnis et al. (1986) para detectar o movimento do gelo marinho

entre imagens sucessivas. No mesmo ano, Emery et al. (1986) utilizaram a mesma

metodologia para estimar o campo de velocidades oceânicas superficiais. Com essa técnica

é possível estimar campos de velocidade superficial em meso e grande escala com custo

extremamente reduzido, viabilizando identificações dos fluxos e quantificando suas

intensidades.

Embora o método MCC tenha um desempenho acima das expectativas se comparado com

os outros, ele também apresenta algumas limitações. Na forma originalmente idealizada, o

método é incapaz de detectar movimentos rotacionais e/ou de deformação, estando apto

somente a reconhecer o movimento de translação do gradiente térmico identificado.

Kamachi (1989) afirma que, para curtos intervalos de tempo entre as imagens, de 4 a 5

horas, o movimento rotacional se aproxima localmente a uma translação, mas que, para

longos intervalos de tempo, cerca de um dia, o método pode não fornecer vetores de

velocidades corretos. Emery et al. (1986) salientam a inabilidade do método para avaliar

modificações no padrão térmico superficial devido aos mecanismos não advectivos, tais

como: difusão, aquecimento e resfriamento superficial. Entretanto, para intervalos de tempo

entre as imagens menores que 24 horas, Wahl e Simpson (1990) mostram que a difusão,

geralmente, não afeta a validade da estimativa.

Apesar das limitações, o método MCC tem sido amplamente utilizado. A possibilidade de

se estimar o campo de velocidade superficial de uma determinada região utilizando

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24

imagens, além de seu baixo custo, pode em muitos casos ser a única alternativa. As

limitações do método devem ser levadas em conta, mas os resultados obtidos podem ser

melhorados por métodos estatísticos e de processamento mais sofisticados que reduzem a

margem de erro a um limiar aceitável e controlado.

1.2 – OBJETIVOS 1.2.1 – Objetivo Geral

O objetivo geral do trabalho é o desenvolvimento de um sistema computacional capaz de

estimar o campo de correntes oceânicas de superfície, através do processamento digital de

dados de temperatura da superfície do mar (TSM) obtidos por satélite.

1.2.2 – Objetivos Específicos

• Testar as eficácias dos métodos MCC propostos por Emery et al. (1986) e Wu et al.

(1992).

• Testar e implementar técnicas de filtragem do campo vetorial estimado pelo método

MCC, para eliminação de dados espúrios.

• Confrontar os dados de velocidade obtidos pelas trajetórias dos derivadores

lagrangeanos com o campo de velocidade de correntes de superfície estimado pelo

método MCC.

• Implementar algoritmo para detecção de nuvens.

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1.3 – ÁREA DE APLICAÇÃO

A área escolhida para o desenvolvimento deste trabalho abrange a região oceânica

compreendida entre os paralelos 22º e 34º S, e entre os meridianos 40º e 53º W (Figura

1.1). A orientação geral da linha de costa é NE-SW, com exceção para as regiões situadas

imediatamente ao sul de Cabo Frio (23°S), onde a orientação é E-W, e logo ao norte do

cabo de Santa Marta (28°40'S), onde a orientação é N-S. Esses dois cabos delimitam uma

das principais porções da plataforma continental brasileira: a Plataforma Continental

Sudeste (PCSE). Já a área ao sul do Cabo de Santa Marta é denominada Plataforma

continental Sul (PCS). A plataforma continental Sudeste e Sul, inserida neste contexto

regional contêm os maiores e mais importantes portos do país, as principais bacias

petrolíferas, além de possuir o maior fluxo de embarcações.

A borda leste do Continente Sul-Americano caracteriza-se por uma plataforma continental

bem extensa e sofre a influência de fluxos relativamente intensos típicos das correntes de

contorno oeste (Stommel, 1948). Essas correntes são caracterizadas pelo transporte

meridional intensificado de momento, calor e outras propriedades físicas e químicas (Olson

et. al., 1988).

A água da PCSE é caracterizada pela presença de ressurgência costeira na região de Cabo

Frio, além da ocorrência contínua de largos meandros e vórtices que conferem uma

dinâmica superficial altamente variável. A água da PCS, na altura da costa do Rio Grande

do Sul, está sob a influência da Convergência Subtropical (CST), uma área de variabilidade

espaço-temporal intensa (Godoi e Stevenson, 1984). Esta é uma região de grande

complexidade em termos de massas de água, apresentando fortes correntes baroclínicas e

barotrópicas (Gordon, 1989), e numerosos meandros e vórtices ciclônicos e anticiclônicos

formados na frente de convergência, e observados tanto na margem sul da Corrente do

Brasil (CB) quanto ao longo da margem norte da Corrente das Malvinas (CM). A CB

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domina a margem oeste do giro subtropical superficial do Atlântico Sul. À medida que flui

para sul, a CB resfria-se e torna-se menos salina, refletindo tanto as trocas do oceano com a

atmosfera quanto a mudança da composição de suas águas, devido à mistura com outras

águas adjacentes.

FIGURA 1.1 – Área de aplicação do método MCC. Compreendida entre os paralelos 22º e

34º S, e entre os meridianos 53º e 40º W.

A Água Tropical (AT) é a constituinte básica da Corrente do Brasil desde a sua origem até

a região de Cabo Frio (23°S), onde o transporte de calor começa a aumentar. A partir desta

região, em direção a sul, tanto a Água Costeira (AC) quanto a Água Central do Atlântico

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Sul (ACAS), contribuem para este aumento de transporte. Por volta de 30°S a AT torna-se

uma constituinte minoritária da CB. Estimativas de transporte da CB apontam que sua

frente está situada dentro da isóbata de 200 m, indicando que o fluxo em direção ao sul

ocorre sobre os dois terços externos da plataforma continental. Dados de satélite e

amostragens da estrutura vertical da CB indicam que a CB é uma feição contínua e regular

ao longo da costa sul-sudeste brasileira (Garfield, 1990).

Estudos de modelagem realizados por Semtner e Chervin (1992) validaram a hipótese de

Stommel (1965), segundo a qual o transporte da CB é menos intenso do que o esperado

devido ao efeito contrário da circulação termohalina, onde estimativas de velocidade

superficial da CB ficaram em torno de 20 a 60 cm/s. Garfield (1990) verificou, através de

medidas correntométricas, obtidas em 24°S e 42°W, que a CB é bastante variável em

direção. As maiores magnitudes de velocidades e variações de direção foram das camadas

mais superficiais, em torno de 70 cm/s para sudoeste.

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CAPÍTULO 2

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 – CIRCULAÇÃO OCEÂNICA

O vento é, basicamente, o principal forçante do campo de correntes oceânicas superficiais.

Mudanças em direção, velocidade e extensão das correntes oceânicas são conseqüências

diretas de mudanças no campo de vento. Além do vento, existem outros fenômenos que

determinam as circulações superficiais, contribuindo, por exemplo, com padrões de

meandramentos e vórtices que estão inseridos dentro de um contexto mais amplo de

circulação, onde processos de instabilidade dinâmica do escoamento passam a ter influência

cada vez mais determinantes.

Quanto maior a velocidade do vento, maior a força de fricção que atua na superfície do

mar. Essa força de fricção, resultante do campo de vento na superfície do mar, é conhecida

como cisalhamento do vento. Este, usualmente designado pelo símbolo τ, tem demonstrado

experimentalmente ser proporcional à velocidade do vento (W) ao quadrado, ou seja: τ =

cW2, onde o coeficiente c depende das condições atmosféricas prevalecentes. (Open

University Course Team, 1991).

O efeito do cisalhamento na superfície do mar é transmitido para as camadas inferiores

adjacentes como resultado da fricção interna entre elas. Isto não se dá simplesmente como

movimento de um fluído viscoso com escoamento laminar (viscosidade molecular), mas

sim como resultado de interações turbulentas entres as camadas (viscosidade turbulenta) .

Genericamente, o padrão de circulação do vento em grande escala induz a modelos de

circulação similares para cada oceano. Em cada caso, a circulação forçada pelo vento é

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dividida em grandes giros que se estendem sobre os oceanos: os giros subtropicais

estendem-se desde o sistema de correntes equatoriais até a latitude aproximada de 50° e os

giros sub-polares que se estendem desta latitude até as regiões polares. A circulação forçada

pelo vento alcança profundidades de penetração que dependem da estratificação da coluna

d’água. Para regiões com forte estratificação, tal como nos trópicos, as correntes

superficiais estendem não mais que centenas de metros; nas regiões polares, onde a

estratificação não ocorre de maneira acentuada, a circulação forçada pelo vento atinge toda

a coluna d’água, ou seja, até o fundo do oceano (Mann e Lazier, 1996).

Por outro lado, diferenças entre o calor ganho e perdido pela superfície do oceano,

juntamente com mudanças de salinidade, devido principalmente à diferença entre

evaporação e precipitação e também a misturas, leva ao desenvolvimento de correntes

termohalinas e a formação de tipos de águas características em diferentes regiões.

As correntes termohalinas e as ocasionadas pelo vento não são completamente

independentes, já que as trocas de calor e de momento são dependentes da velocidade do

vento. A circulação forçada pelo vento é mais vigorosa e determina os grandes giros que

dominam as regiões oceânicas superficiais. A circulação termohalina é mais lenta, porém

seu fluxo se estende nas camadas mais profundas e formam modelos de circulação que

envolvem todos os oceanos (Peterson e Stramma, 1991). As correntes oceânicas são assim,

a resultante do efeito combinado dos movimentos termohalinos e daqueles gerados pelo

vento. Os primeiros dominam nas águas profundas, os segundos, nas camadas superficiais.

Em ambos os casos, o movimento prossegue muito além da região de origem.

2.2 – MÉTODOS PARA MEDIDAS DIRETAS DE CORRENTES OCEÂNICAS

As maneiras de descrever um fluxo fluido são, basicamente, duas: o método Euleriano, que

dá a direção e a velocidade do fluido em cada ponto do espaço, e o método Lagrangeano,

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que descreve a trajetória de cada partícula do fluído em função do tempo. Em ambos os

casos o espaço é referido a um sistema de eixos estacionário em relação à Terra.

Nas medidas Eulerianas de correntes utilizam-se instrumentos estacionários, os quais

respondem à passagem de água por um rotor ou sensor equivalente, o que permite aferições

sobre velocidade e direção das correntes; os correntômetros fundeados são enquadrados

nesta categoria. E para medidas Lagrangeanas utilizam-se instrumentos ou materiais

flutuantes que se movem com a água e são observados durante um período de tempo,

tendo-se como referencial um sistema de coordenadas; os derivadores são enquadrados

nesta categoria (Stevenson 1966 apud Assireu 1998). Este método tem a vantagem de

oferecer, com menor quantidade de instrumentos, uma maior cobertura bidimensional

(eixos x,y) em espaço, sendo muito útil na descrição em meso e grande escala das correntes

dos oceanos (Assireu, 1998).

2.3 – TEMPERATURA BULK E TEMPERATURA SUPERFÍCIE DO MAR (TSM)

O mapeamento da TSM através dos satélites de sensoriamento remoto é uma das mais úteis

aplicações oceanográficas. Enquanto os satélites, com sensores infravermelhos, medem a

radiação proveniente somente da lâmina superficial dos oceanos, muitos pesquisadores

estão interessados em medidas mais representativas da TSM, ou seja, medidas que

forneçam a temperatura um pouco mais abaixo da lâmina superficial, onde a água encontra-

se usualmente misturada, freqüentemente referida como temperatura bulk.

A existência de uma lâmina d'água superficial nos oceanos foi primeiramente postulada por

Bruck (1940) e Woodcock (1941) e posteriormente verificada por observações (Woodcock

e Stommel, 1947). A primeira medida da temperatura da lâmina superficial foi obtida com

um pequeno termômetro de mercúrio que, apesar do seu tamanho relativamente diminuto,

não era suficientemente pequeno em comparação com a subcamada molecular,

impossibilitando uma perfeita averiguação dos valores reais de TSM. Atualmente os

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sensores infravermelhos termais que atuam na janela atmosférica compreendida entre 8 e

12 µm, conseguem amostragens de TSM da ordem de 100 µm de espessura (Kraus e

Businger, 1994).

A TSM pode diferir de alguns décimos de grau da temperatura -bulk, sendo que a micro

camada superficial freqüentemente possui espessura menor que um milímetro, embora

possa variar dependendo do fluxo de energia local, através da superfície do oceano devido

ao transporte molecular. O gradiente de temperatura, característico da subcamada

molecular, persiste com ventos de até aproximadamente 10m/s, sendo destruído caso supere

este valor.

A existência da camada superficial tem sido explicada por modelos teóricos e empíricos

que demonstram que ela é necessária para regular o fluxo de energia radioativa nos

comprimentos de onda longos, como também o fluxo turbulento de calor sensível e latente

através da superfície do mar.

A espessura e o gradiente de temperatura da camada superficial do oceano são

determinados pelos mesmos processos de troca de calor. A temperatura da camada

superficial responde rapidamente a processos de irradiância para os comprimentos de onda

longos. A água tem alta emissividade no infravermelho termal e a radiação de comprimento

de onda longo é emitida do topo do oceano, a alguns micrometros de espessura, resfriando

ou esquentando a camada superficial. Sendo esta, justamente, a faixa espectral de aquisição

dos sensores que medem a TSM a bordo dos satélites de sensoriamento remoto.

A diferença entre a temperatura -bulk, medida a alguns metros abaixo da superfície do mar,

e a temperatura da camada superficial pode variar de –1.0 a 1.0 °C. Embora essa diferença

de temperatura pareça ser pequena, é significante sua contribuição para o estudo do clima

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global quando os dados são adquiridos por sensores remotos a bordo dos satélites de

aquisição da TSM (Schluessel et. al., 1990).

2.4 – INFLUÊNCIA DOS PROCESSOS DIFUSIVOS E CONVECTIVOS NA CONSERVAÇÃO DO CALOR Embora na maior parte dos oceanos e durante quase todo ano, as intensidades dos ventos

sejam geralmente menores que 10 m/s (Hellerman, 1967), o cisalhamento na superfície se

constitui num dos principais forçantes responsáveis pela mistura e destruição dos gradientes

térmicos. Com velocidades do vento superiores a 20m/s, pode ocorrer uma intensa mistura

vertical destruindo os padrões térmicos espaciais, o que acabaria por inviabilizar a

estimativa da velocidade através do rastreamento da feição térmica superficial. Entretanto,

com ventos inferiores a 10 m/s, Simpson e Dickey (1981) mostraram que a temperatura da

superfície do mar é amplamente determinada pela difusão e pela troca de calor entre o

oceano e a atmosfera. Fisicamente, os processos responsáveis pelo seu condicionamento

estão englobados nos termos descritos na equação (2.1) da conservação do calor:

DT/Dt = KH∇H2T + KZ (∂2T /∂Z2) + ∑ (1/cρ)Qi (2.1)

onde o termo da esquerda é a derivada material da temperatura T pelo tempo. KH e KZ são

os coeficientes de difusão turbulenta horizontal e vertical, respectivamente, assumidos

constantes. Qi é qualquer fonte de aquecimento ou resfriamento térmico por unidade de

volume, c é a capacidade calorífica e ρ é a massa específica da água.

A derivada material da temperatura é definida por:

DT/Dt = (∂T /∂t) + ū .∇T (2.2)

onde u=(u,v,w) é a velocidade do fluido.

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Associando-se a equação 2.1 à equação 2.2, obtém-se:

∂T /∂t = - ū .∇T + KH ∇K2T + KZ (∂2T /∂Z2) + ∑ (1/cρ)Qi (2.3)

a b c d

A equação acima descreve a variação temporal da temperatura como função da advecção,

difusão horizontal, o entrainment e as trocas de calor com a atmosfera, respectivamente os

termos da direita da equação. Sendo que a) é o Transporte Advectivo de Calor; b) é o

Transporte Difusivo Horizontal de Calor; c) o Transporte Difusivo Vertical de Calor e d) é

a Troca de Calor Sensível e Latente.

O ultimo termo da equação 2.3 (d), é o fator mais importante na determinação da estrutura

termal na superfície do oceano, sendo composto pelos fluxos de calor latente, sensível,

radiação de onda longa e fluxo solar incidente, afetados ou não pela cobertura de nuvens.

Valores médios de fluxo de calor estimados por Ghisolfi et. al. (1991) no oceano adjacente

à costa do Rio Grande do Sul estiveram de acordo com aqueles descritos por outros autores

em regiões semelhantes. Estes valores foram utilizados para estimar a variação na

temperatura superficial em função do entrainment e das trocas de calor com a atmosfera

(item c, d – equação 2.3). Verificou-se que estes fatores podem ser desprezados frente à

variação decorrente da advecção horizontal, para escalas de tempo diurnas, tornando

plausível desprezar esses dois efeitos.

A nível molecular, a difusão pode ser entendida como um movimento randômico através do

qual ocorre a transferência de energia de uma molécula para outra. Embora aparentemente

não tenha importância, devido a sua pequena escala espaço-temporal, a difusão é

responsável, em última instância, pela dissipação de energia continuamente injetada no

sistema de maior escala.

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Ao modelar o papel da difusão na conservação do calor, Ghisolfi e Garcia (1996),

constataram que a difusão isoladamente é um processo que pouco influencia a estimativa da

velocidade quando se utiliza o método MCC. O MCC começa a sofrer a influência da

difusão quando o intervalo temporal entre o par de imagens for superior a 36 horas, para

um coeficiente de difusão turbulento KH = 10 m2 s-1. Resultados semelhantes foram obtidos

por Wahl e Simpson (1990). Esses autores salientaram que para valores de KH superiores a

100 m2s-1, a difusão torna-se significante, fazendo com que ocorra uma diminuição

considerável no valor do coeficiente de correlação cruzada. Segundo o diagrama de difusão

oceânico apresentado por Okubo (1974), a maior parte das estimativas de coeficientes de

difusão situou-se abaixo dos 10 m2 s-1.

Ghisolfi e Garcia (1996) ao modelar o processo de advecção concluíram que o método

MCC fornece bons resultados e representa corretamente o processo físico modelado. Tal

resposta já era esperada, uma vez que a hipótese básica do método MCC assume a

advecção como o único mecanismo responsável pelo deslocamento das feições térmicas.

Por último, os autores acima citados, modelaram os processos difusivos e advectivos

agindo simultaneamente. Esta é a situação mais importante, pois no oceano real estes

processos ocorrem em conjunto. Pode-se dizer que coeficientes de difusão da ordem de 10

m2s-1 constituem-se em limites superiores para a obtenção de boas estimativas de

velocidades através do método MCC, da mesma forma que para a difusão isoladamente. Ao

mesmo tempo, em regiões onde os coeficientes de difusão são superiores a estes, é possível

ainda obter resultados de velocidade advectiva se as imagens consecutivas possuírem

pequenos intervalos de tempo entre si e existirem fortes gradientes térmicos.

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CAPÍTULO 3

MATERIAIS

3.1 – OS SATÉLITES NOAA

3.1.1 – ASPECTOS GERAIS

Os primeiros sensores utilizados para aplicações oceanográficas que voaram a bordo dos

satélites meteorológicos geoestacionários (Meteosat, GOES, GMS, INSAT), apresentavam

apenas dois canais: um no visível e outro no infravermelho termal, centrado em 11 µm.

Este último canal se localizava na "janela atmosférica" de 8 a 14 µm, região do espectro

onde a atmosfera apresenta transmitância relativamente alta. A resolução espacial máxima

destes sensores não ultrapassava 5km x 5km.

Os satélites da série National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA)

começaram a operar em 1970 com o lançamento do satélite NOAA-1. De 1970 a 1976 os

satélites NOAA 1, 2, 3, 4 e 5 carregavam dois radiômetros distintos de dois canais: o

radiômetro de varredura (SR) e o radiômetro de resolução muito alta (VHRR). Estes

sensores também foram utilizados nas primeiras medidas de TSM.

A partir de outubro de 1978 os satélites da série Television Infrared Observation Satellite

(TIROS-N) começaram a operar, onde o símbolo N foi usado para representar a próxima

geração (Next generation) de satélites. No período de outubro de 1978 a julho de 1981

foram lançados os satélites NOAA 6 e 7. O primeiro satélite da série TIROS-N, lançado em

1978, carregava a bordo o primeiro sensor AVHRR que era um radiômetro de quatro

canais. Posteriormente este sensor passou a operar com cinco canais (AVHRR 2) a bordo

do satélite NOAA 7, lançado em 1981.

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Em março de 1983 foi lançado o satélite NOAA 8, fisicamente mais robusto e com mais

potência para acomodar maior número de equipamentos do que os predecessores. A

configuração atual conta com o NOAA 14, lançado em dezembro de 1994, o NOAA 15,

lançado em maio de 1998 e o NOAA 16, lançado em setembro de 2000. O NOAA 15 é o

primeiro de uma série de cinco satélites, com capacidade de imageamento e sondagem

acrescidos (NOAA, 2000).

3.1.2 – SENSOR AVHRR E PARÂMETROS ORBITAIS DO SATÉLITE

As imagens AVHRR são obtidas a partir dos satélites da série NOAA do tipo Advanced

TIROS-N (ATN) que transitam em órbitas heliossíncronas quase circulares com altitudes

nominais da ordem de 833 km e 98,89° de inclinação (quase polar), período de

aproximadamente 102 minutos. Devido a essa periodicidade, o satélite realiza 14,1

circunvoluções na Terra por dia (Kidwell, 1993).

O sensor AVHRR é um radiômetro de cinco canais que possui um ângulo de visada de

54,4° para cada lado do nadir, com uma cobertura total de varredura no terreno de

aproximadamente 2700Km. O ângulo médio de visada instantâneo é de 1,4 mrads,

conferindo uma resolução espacial no terreno da ordem de 1,1x1,1 Km no nadir e de

2,4x6,9 Km para ângulos máximos de varredura (USGS EROS Data Center, 2000). Os

cinco canais do sensor são distribuídos do visível ao infravermelho termal, de acordo com a

tabela 3.1.

Os canais 1 e 2 medem a luz refletida nas regiões do visível e infravermelho próximo

respectivamente, enquanto que os canais 3, 4 e 5 são dominados pela radiação emitida pela

superfície. Os dados coletados no canal 3 possuem a vantagem de serem pouco afetados

pelo vapor d'água atmosférico, entretanto, possuem uma parcela substancial de radiação

solar refletida, sendo, portanto, utilizados somente à noite. Os dados dos canais 4 e 5 são

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mais afetados pelo vapor d'água, não sendo, entretanto, contaminados pela radiação solar

refletida.

TABELA 3.1 – Canais do sensor avhrr (noaa-12/14).

Canal Resolução

Espectral (µm)

IFOV

(mrads)

Característica

1 0.58 - 0.68 1.39 Luz solar refletida no visível

2 0.72 - 1.10 1.41 Luz solar refletida IR próximo

3 3.55 - 3.93 1.51 IR solar refletido e IR emitido

4 10.30 - 11.30 1.41 IR termal emitido

5 11.50 - 12.50 1.30 IR termal emitido

O campo instantâneo de visada (IFOV) do sensor AVHRR faz com que os "pixels" ao

longo da linha de varredura tornem-se maiores à medida em que se afastam do nadir.

Assim, o formato do "pixels" muda de circular no nadir para elíptico nas extremidades do

ângulo de visada (Flannigan e Haar 1986 apud Fernandes 1998). A figura 2.1 mostra as

variações em tamanhos dos "pixels" em direção às bordas da imagem.

Frulla et. all (1995) através da análise geométrica no processo de aquisição das imagens

AVHRR/NOAA, mensuraram as variações ocasionadas no tamanho do pixel à medida que

o ângulo de visada aumenta. Dessa forma foram calculados: porcentagem relativa de

acréscimo no tamanho do pixel, definida como P%(x)=[(x(P)-x(Pc))/x(Pc)]x100, onde Pc é o

píxel central (nadir); e número de pixels compreendidos nas variações à medida que se

desloca para a extremidade da imagem, definido como N(x)=x(P)/x(Pc). Com isso

obtiveram as magnitudes das variações no tamanho do pixel em relação ao pixel central,

conforme Tabela 3.2.

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FIGURA. 3.1 – Tamanhos de "pixels" selecionados ao longo de uma linha AVHRR quando

projetados na Terra. Fonte: Flannigan e Haar, 1986.

TABELA 3.2 – Variações mensuradas no tamanho do pixel como conseqüência do

processo de aquisição das imagens avhrr/noaa. comprimento do

pixel: x=l (corresponde à variação perpendicular ao deslocamento do

sensor); lagura do pixel: x=w (corresponde à variação ao longo do

deslocamento do sensor).

Pixels

(Pc,P)

(1,250)

(1,500)

(1, 750)

(1,920)

(1,1000)

(1,1024)

P%(l)

N(l)

7

1.07

33

1.33

106

2.06

247

3.47

411

5.11

496

5.96

P%(w)

N(w)

3

1.03

14

1.14

39

1.39

73

1.73

101

2.01

113

2.13

Fonte: Frulla et. all (1995).

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3.2 – IMAGENS AVHRR/NOAA E APLICATIVOS

Devido às vantagens de proporcionar uma visão sinóptica, ou seja, maior abrangência

espacial simultânea, facilidade de obtenção de imagens diárias e custo baixo em

comparação a outras imagens digitais de sensoriamento remoto, as imagens

AVHRR/NOAA têm permitido o monitoramento regional e global até então impraticável.

Desde Maio de 2000, dados do sensor AVHRR/NOAA vêm sendo coletados diariamente

pela estação de recepção High Resolution Picture Transmission (HRPT), instalada no

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), São José dos Campos/SP, Divisão de

Sensoriamento Remoto. A recepção automática dos dados é feita por meio do software

SMARTRACK e as imagens adquiridas são avaliadas e posteriormente armazenadas em

CD's. Os dados coletados pela estação de recepção constituem-se em "imagens brutas", que

devem ser tratadas para se adequarem às finalidades do trabalho. O mascaramento de

nuvens e a correção geométrica das imagens são efetuados com a utilização do software

ERDAS IMAGERY.

As imagens utilizadas neste trabalho correspondem às bandas 3, 4 e 5 cujas características

estão descritas na tabela 2.1. Os canais 4 e 5 são utilizados para calcular a TSM, que por

sua vez, juntamente com os demais canais acima citados, são utilizados para detecção e

mascaramento de nuvens. O canal 4 é utilizado para se aplicar o MCC.

O programa implementado para a estimativa de correntes oceânicas superficiais foi escrito

em linguagem de programação Interactive Data Language (IDL). O programa

desenvolvido opera tanto em ambiente Unix como no sistema operacional Windows da

Microsoft.

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3.3 – O SISTEMA ARGOS E O DERIVADOR DE BAIXO CUSTO

3.3.1 – O SISTEMA ARGOS

O ARGOS é um sistema derivado de um projeto cooperativo entre a NOAA, National

Aeronautics and Space Agency (NASA) e o Centre d'Études Spatiales (CNES),

amplamente usado para fornecer dados de posicionamento de derivadores no mar. Ele é um

sistema operacional de coleta de dados global, que utiliza os satélites da série TIROS-N

(NOAA-AVHRR), equipados com o Sistema de Localização e Coleta de Dados (SLCD)

para recepção e retransmissão dos dados para as estações de terra (Silva Jr., 1989).

Cada satélite vê simultaneamente todas as Plataformas de Coletas de Dados (PCD's)

derivadores dentro de uma área de visada correspondente a um círculo de 5000 km de

diâmetro a cada instante, para um ângulo de elevação mínimo de 5° (ângulo entre o

horizonte e a linha de visada da PCD). A faixa de sobreposição do traçado de duas órbitas

sucessivas de cada satélite NOAA e o número de passagens diárias do satélite aumenta com

a latitude, variando de 7 a 28, do Equador aos pólos.

Os dados recebidos pelos satélites são descarregados sobre uma das estações terrestres,

Wallops Island (Virgínia, USA), Fairbanks (Alaska, USA) e Lannion (França), a que

estiver mais ao alcance para aquela órbita do satélite. Estas estações retransmitem os dados

de forma direta ou indireta para os Centros Globais de Processamento Argos (GPCs),

situados em Landover (Maryland, USA) e Toulouse (França). Os equipamentos a bordo do

satélite possibilitam também que os dados sejam retransmitidos em tempo real. Os dados

transmitidos pelo satélite em tempo real são recebidos pelas Estações de Recepção

Regionais (RRSs) por meio de sinais em VHF ou banda-S. Nesta modalidade, tanto a

plataforma quanto a estação regional devem estar dentro do campo de visada do satélite

para que a recepção seja possível. Existem estações de cobertura regional espalhadas pelo

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mundo todo, em várias universidades e centros de pesquisas, inclusive no INPE (Assireu,

1998).

A localização da bóia obtida pelo sistema ARGOS provém da medida do efeito Doppler

sobre a média das freqüências recebidas pelo satélite durante a passagem sobre uma

determinada PCD. Esta média de freqüência é calculada através da correlação linear

simples, e é aceita pelo sistema ARGOS como sendo a freqüência nominal de transmissão

da PCD durante uma determinada passagem (Souza, 1992).

O sistema de processamento ARGOS calcula a posição das plataformas para as quais no

mínimo quatro mensagens tenham sido coletadas, para que a média das freqüências possam

ser calculadas, e que tenha um intervalo mínimo de 240 segundos entre a primeira e a

última mensagem. Dependendo do número de mensagens coletadas, do intervalo mínimo

entre a primeira e última mensagens recebidas e da estabilidade do transmissor a bordo do

derivador, obtém-se a posição da plataforma com uma acurácia de localização entre 150

metros e 1Km (Assireu, 1998).

3.3.2 – O DERIVADOR DE BAIXO CUSTO

Os derivadores de baixo custo (Low Cost Drifter – LCD) são assim chamados por

apresentarem preços que correspondem em média 1/3 do valor de uma bóia convencional,

podendo serem lançados a partir de navios ou aeronaves. Após o lançamento, estes seguem

as correntes superficiais e coletam, através de seus sensores, parâmetros físicos da água.

Eles são rastreados por satélites e transmitem, através destes, dados coletados in situ

durante um longo período de tempo. A figura 3.2 mostra a bóia de deriva juntamente com a

vela de arrasto.

Na superfície, acima da lâmina d'água, quando a bóia está à deriva, temos o flutuador que

consiste de uma esfera de aproximadamente 35 cm de diâmetro, feita de fibra de vidro e

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que contém em seu interior a Terminal de Transmissão da Plataforma (TTP), baterias e uma

antena, através da qual os dados são transmitidos para o satélite. Um outro instrumento

bastante importante é a vela submersa, do tipo meia-furada, a qual possui 7m de

comprimento e se mantém aproximadamente a 15m de profundidade (Assireu, 1998). As

bóias são programadas para coletar dados de temperatura e de posicionamento, sendo

adotado o sistema ARGOS para recepção e processamento dos dados (Stech e Lorenzzetti,

1994).

FIGURA 3.2 – Bóia de deriva acoplada à vela de arrasto

Fonte: Assireu (1998)

A vela submersa tem a função de manter o derivador acoplado à corrente e minimizar o

efeito do vento e outros fatores sobre a trajetória da bóia. Do tipo meia-furada, esta vela

oferece a vantagem, devido a sua estrutura de construção, de atenuar, também, os efeitos da

turbulência sobre o deslocamento do derivador.

A TTP é outro instrumento muito importante, é responsável pelo envio por telemetria dos

dados coletados in situ pelos sensores que integram o derivador: termistor (medida da

TSM) e sensor de submersão. A freqüência de transmissão deve estar situada entre 401,646

a 401,654 Mhz. A freqüência recebida pelo instrumento a bordo do satélite é medida, o que

permite que se determine o deslocamento Doppler (o efeito Doppler é a mudança observada

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na freqüência de uma onda devido ao movimento da fonte em relação ao observador, ou

vice-versa), estimando-se, dessa forma, a posição do derivador (Assireu, 1998).

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CAPÍTULO 4

METODOLOGIA

4.1 – INTRODUÇÃO

Tradicionalmente, os estudos de circulação à bordo de navios científicos, embora muito

utilizados até o presente, constituem-se em procedimentos de alto dispêndio econômico,

além de difícil realização. E o tempo gasto para cobrir largas áreas no oceano resulta em

um conjunto de dados não sinóticos. Dessa forma, existe a necessidade de se estudar os

padrões de circulação sobre grandes áreas em pequenos intervalos de tempo, de modo a

obter-se uma visão abrangente da dinâmica superficial oceânica. O método aqui proposto

visa esse objetivo.

4.2 – O MÉTODO DA MÁXIMA CORRELAÇÃO CRUZADA (MCC)

O método computacional para estimativas de campos de velocidades superficiais advectivas

consiste, essencialmente, na identificação da máxima correlação cruzada entre matrizes que

definem sub-áreas de um par de imagens seqüenciais. Da primeira imagem extrai-se a sub-

área que define a janela de moldura (template window), cujo tamanho pode variar de acordo

com a área de estudo. Na segunda imagem, uma sub-área mais ampla é selecionada e

definida como janela de busca (search window), cujo ponto central inicial coincide com o

da janela de moldura (Figura 4.1 a, b, c). Então podemos adquirir uma janela de moldura,

na imagem 1, que pode ser representada matricialmente por A(x,y). A matriz

correspondente na imagem 2, com deslocamento espacial nulo em relação à matriz da

janela de moldura, será representada por B(x,y). Para o caso em que ocorra deslocamento

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em relação à janela de moldura, a matriz será representada por B(x + p, y + q). Os valores

máximos e mínimos de p e q definem o tamanho da janela de busca. Dessa forma, a

correlação cruzada entre as matrizes A e B, para um deslocamento (p, q), é definida como:

1 r(p,q) = ∑∑ {[A(x,y) – Am(x,y)] [B(x+p, y+q) – Bm(x+p, y+q)]} (4.1) σA σB onde σA e σB correspondem ao desvio padrão para as matrizes A e B, respectivamente. O

somatório é feito sobre todos os valores de x e y compreendidos na matriz A. Am (x,y) e

Bm(x+p, y+q) são os valores médios para cada matriz. E, finalmente, r(p,q) corresponde à

correlação cruzada obtida num deslocamento relativo (p, q).

O deslocamento relativo (p, q) entre a janela de moldura e de busca para o qual a correlação

é máxima, determina o vetor de velocidade advectiva (figura 4.1 d), como segue:

c = [(pmax ∆x)2 + (qmax ∆y)2]1/2 / ∆T (4.2)

onde c é a velocidade; ∆x e ∆y são os intervalos espaciais (resolução espacial do pixel,

com ∆x = ∆y); pmax e qmax são os deslocamentos espaciais onde a correlação foi máxima; e

∆T é o intervalo de tempo entre as imagens.

A direção do movimento, θ, é dada por: θ = arctan (qmax∆y / pmax ∆x). Quando ∆x = ∆y,

tem-se: θ = arctan (qmax / pmax) (Garcia e Robinson, 1989).

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FIGURA 4.1 – (a) janela de moldura selecionada da imagem 1; (b) janela de busca

selecionada da imagem 2; (c) o ponto central da janela de busca

coincidente com o ponto central da janela de moldura; (d) deslocamento,

pmax e qmax, que corresponde à região onde a correlação é máxima.

As feições contidas no interior das sub-imagens permitem a determinação da velocidade

advectiva. O método assume que a feição, delineada a partir do gradiente termal, sofre

apenas o processo físico de advecção, sem alterações do padrão termal durante o intervalo

de tempo em que a seqüência de imagens está compreendida.

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A hipótese mais básica do método, diz respeito ao fato de que os deslocamentos da feição

termal do gradiente de temperatura podem ser rastreados somente se o formato desta for

invariante. Essa hipótese seria rigorosamente verdadeira se a correlação cruzada máxima

entre as janelas das imagens fosse igual a 1 para cada par. Infelizmente, essa condição

praticamente nunca é satisfeita. Dessa forma, faz-se necessário determinar um valor

mínimo aceitável para o coeficiente de correlação, ou seja, um limiar de corte. Se o valor de

corte for muito alto, ou seja, a exigência de um coeficiente de correlação próximo de 1,

poucos serão os vetores de velocidade superficial a serem estimados; por outro lado, se o

valor de corte do coeficiente de correlação for baixo, muitos vetores aparecerão, entretanto,

a confiabilidade estatística neles será prejudicada. Este aspecto será abordado com mais

detalhe no item que trata da determinação da correlação de corte.

Há a possibilidade de aplicação do modelo MCC em situações onde os processos

advectivos apresentam maiores ou menores taxas de deslocamento das feições. Dessa

forma, as janelas (de moldura e busca) devem ser adequadamente dimensionadas para o

caso em estudo. A dinâmica no tamanho da janela de moldura possibilita a incorporação de

conhecimentos do tamanho da escala da feição termal dentro do processo de busca.

4.3 – DETERMINAÇÃO DO TAMANHO DAS JANELAS

O tamanho das janelas é importante na determinação da resolução espacial do campo de

velocidade advectiva. O tamanho da janela de moldura deve ser amplo o suficiente para que

as feições térmicas de interesse sejam incluídas no processo de procura. Se a janela de

moldura for muito pequena, ela conterá poucas feições térmicas passíveis de serem

amostradas, comprometendo o rastreamento dessas feições. Por outro lado, com janelas

muito grandes, uma área de alta correlação é bem definida, mas algumas estruturas do

campo de velocidade poderão ser perdidas (Emery et al., 1992).

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A escolha do tamanho da janela de busca é também função do máximo valor de velocidade

esperado. Ela é determinada pela soma da janela menor (de moldura) mais o deslocamento

da feição, tendo como base o intervalo de tempo entre as imagens seqüenciais.

Fica claro, tendo em vista o exposto acima, que o tamanho das janelas é específico para

cada área na qual o método é aplicado. Na literatura, encontram-se janelas de moldura que

variam de 10 até 40 pixels para imagens AVHRR.

4.4 – TESTE DE SIGNIFICÂNCIA DO COEFICIENTE DE CORRELAÇÃO

A circulação e o campo de temperatura de superfície no oceano apresentam uma dinâmica

bastante complexa , de tal forma que em determinadas áreas o padrão de distribuição de

temperatura é único. Um campo de velocidade advectiva derivado pelo método MCC, sobre

o qual nenhum teste de significância foi aplicado, apresenta inúmeros vetores errôneos,

distribuídos aleatoriamente por toda a imagem (devido à limitação do método da MCC em

capturar todas as feições termais existentes, independentemente do aspecto físico que as

tenha gerado). Somente a magnitude do coeficiente de correlação, a partir de um ponto de

vista estatístico, não indica o nível de significância esperado. Existem métodos estatísticos

para se testar a significância do coeficiente de correlação e conseqüentemente sua

validação. A seguir é apresentado o teste proposto por Emery et al (1986), de agora em

diante denominado teste de Emery, e o proposto por Wu et al. (1992), denominado de Área

de Decorrelação (Decorrelation Area - DCA).

4.4.1 – O TESTE DE EMERY

Para um coeficiente de correlação estimado r, existe um t tal que:

t = r{N/(1-r2)}1/2 (4.3)

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onde N é o número de Graus de Liberdade (GL) do sistema e r o coeficiente de correlação

(-1 ≤ r ≤1). O parâmetro t corresponde a uma variável randômica que tem uma distribuição

t-student com N graus de liberdade, o qual pode ser estimado em função dos dados

amostrados (Chatterjee e Price, 1977). Para aplicar o teste de significância, escolhe-se

primeiramente o nível de significância desejado, denotado por α (α = 1%, 5%, 10% etc).

Para uma população correlacionada é possível estipular o GL do sistema, o qual será

utilizado para se calcular t, cujo conceito de determinação está vinculado ao processo de

decorrelação. Emery et al. (1986) procederam a análise da escala de decorrelação da

seguinte forma; previamente determinaram o GL analisando-se a média das matrizes de

autocorrelação para todas as janelas de moldura da área que estava sendo estudada (com a

janela de moldura deslocando-se sobre ela mesma. A autocorrelação média em função dos

deslocamentos obtidos na direção x+p e y+q, resulta que o pico de autocorrelação será

máximo igual a 1 quando p=q=0), como ilustrado na figura 4.2.

Determina-se as distâncias Lx e Ly, conforme a figura 4.2 (onde o contorno é delimitado no

momento em que o coeficiente de correlação é zero sobre os eixos x e y). Então se computa

o comprimento médio de decorrelação, L = (Lx+Ly)/2. Onde L é a medida da escala de

decorrelação para o caso bidimensional em estudo. Em seguida determina-se o grau de

liberdade médio para todas as janelas de moldura como

N = (número total de pixels na janela de moldura) / L (4.4)

Este grau de liberdade é então utilizado para se estipular o valor de t para que se possa,

dentro do nível de significância escolhido, avaliar se o coeficiente de correlação será aceito

ou rejeitado.

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FIGURA 4.2 – Exemplo de média de superfície de autocorrelação. x e y variam de [-P,+P]

e [-Q,+Q], respectivamente. Lx e Ly representam as distâncias x e y onde a

função a autocorrelação é zero.

4.4.2 – O TESTE DCA

O método aqui explanado, proposto por Wu et al. (1992), difere do método proposto por

Emery et. al (1986) no que diz respeito à análise da matriz de autocorrelação. O Teste DCA

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é efetuado calculando-se a matriz de autocorrelação para cada janela de moldura, de tal

forma que cada matriz de autocorrelação é submetida a uma análise individual para se

verificar o grau de liberdade para a feição presente na janela de moldura, resultando graus

de liberdade diferentes para cada janela de moldura. No Teste de Emery, ao contrário, todas

as matrizes de autocorrelação, oriundas de cada janela de moldura, contribuem para se

calcular uma matriz de autocorrelação média. Em seguida á efetuado o cálculo do grau de

liberdade médio, que será único e aplicado a todas as janelas de moldura para se validar o

coeficiente de correlação cruzada.

O Teste DCA fornece, também uma medida alternativa que possibilita avaliar a

compatibilidade da feição termal presente na janela de moldura com o tamanho da janela de

moldura. Há situações onde o tamanho da feição termal é maior que a tamanho da janela de

moldura, de tal forma que há somente uma pequena variação de temperatura dentro da

janela de moldura. Nesse caso, a variação de temperatura se deve basicamente a presença

de ruídos, conseqüentemente, a área de decorrelação (DCA), descrita logo abaixo, tende a

ser bastante pequena pois ruídos não são espacialmente correlacionados (Wu et. al, 1992).

Outro fator complicador diz respeito ao fato de que as áreas onde os campos de correntes

superficiais e temperatura são muito complexos podem conter feições termais que

impossibilitem o rastreamento destas por uma simples translação, tal qual realizadas no

método MCC. Também nessas regiões a DCA tende a ser bastante pequena

O seguinte procedimento é usado para se determinar essa medida alternativa para avaliar a

compatibilidade da feição termal presente na janela de moldura com o tamanho da janela de

moldura. Todos os valores da matriz de autocorrelação que estiverem acima de 0.5 são

mantidos. Dessa forma, uma área central de autocorrelação para cada janela de moldura é

determinada (figura 4.3).

Se a área compreendida nesse delineamento for superior a um determinado número de

pixels (esse número de pixels, definido como d0, é obtido através da análise dos

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histogramas das áreas delineadas para cada janela de moldura), a janela é dita compatível

com a feição termal presente, caso contrário é descartada. O valor de d0, para o presente

trabalho, variou de 4 a 6 pixels, valores próximos do utilizado por Wu et al. (1992) que foi

de 3 pixel. Dessa forma evita-se o cálculo da correlação cruzada para janelas de moldura

que apresentam feições termais incompatíveis.

Se a feição termal é compatível com a janela de moldura, passa-se para a segunda etapa do

método DCA, que é a estimativa da área de decorrelação propriamente dita. Wu et al.

(1992) propuseram uma medida estatística, denominada Área de Decorrelação

(Decorrelation Area - DCA), definida como sendo ¼ da área cujo centro contém o pico de

autocorrelação, e dentro da qual a magnitude da função de autocorrelação está acima de um

valor prescrito, determinado, para cada janela de moldura, da seguinte forma: assume-se

que os valores fora da área do pico central da matriz de autocorrelação determinados pela

linha de magnitude zero são randomicamente distribuídos e com média zero.

O nível de flutuação da função de autocorrelação após a linha de zero, é estimado através

dos valores negativos da matriz. Na prática, aproxima-se o desvio padrão destes valores

por:

S δ = ( ∑ Ri

2 / S)1/2 (4.5) i=1 onde, Ri são os valores negativos e S é o número total de valores negativos presentes na

matriz de autocorrelação. δ é então utilizado como sendo um limiar de corte na matriz de

autocorrelação, de tal maneira que todos os valores dentro da área central da matriz que

forem menores ou iguais a δ serão substituídos por 0 (figura 4.4). Portanto, a nova área

central de autocorrelação, que tem valores acima do nível de flutuação, pode ser isolada por

meio dos valores de correlação acima da nova linha de zero. Assim, a área de decorrelação

é determinada como ¼ desta nova área.

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FIGURA 4.3 – Exemplo de matriz de autocorrelação para uma janela de moldura. A área

central de autocorrelação está definida pela curva pontilhada dentro da qual

os valores de autocorrelação estão acima de 0.5.

O número de graus de liberdade, nesse caso, é estimado como:

N = (número total de pixels presentes na janela de moldura)/d, (4.6)

onde d é a magnitude da DCA em número de pixels.

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Dessa forma, duas etapas são realizadas para o Teste DCA. A primeira etapa envolve uma

avaliação do histograma de distribuição do pico central de autocorrelação a fim de se

determinar um limiar d0 para se testar a compatibilidade do tamanho da janela de

moldura com feição termal presente nesta. A segunda etapa consiste em se calcular os GL's

das DCA's que passaram pela primeira etapa, prosseguindo com o teste de significância

para o coeficiente de correlação cruzada. Dessa forma, cada janela de moldura tem seu GL

calculado a partir de sua DCA a fim de se verificar se, dentro do nível de significância

escolhido, o coeficiente de correlação cruzada obtido para aquela janela será aceito ou não.

FIGURA 4.4 – Exemplo da nova área central de autocorrelação para uma janela de

moldura, delimitada pelos valores superiores a δ. A DCA é ¼ dos pixels desta

área.

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4.5 –LIMITAÇÕES DO MÉTODO MCC

Embora o MCC tenha um desempenho satisfatório, como os demais métodos de estimativa

de velocidade de correntes de superfície, também apresenta algumas limitações. Por

exemplo, na forma originalmente idealizada, o método é incapaz de detectar movimentos

puramente rotacionais e/ou de deformação, estando apto somente a reconhecer o

movimento advectivo de translação do gradiente térmico identificado. Para curtos

intervalos de tempo entre as imagens, de 4 a 5 horas, Kamachi (1989) afirma que o

movimento rotacional aproxima-se a uma translação. Para longos intervalos de tempo,

cerca de um dia ou mais, o método pode não fornecer vetores de velocidades corretos.

Emery et al. (1986) salientam a inabilidade do método para detectar o movimento ao longo

de frentes térmicas superficiais, principalmente quando tais frentes estão associadas com

correntes geostróficas sub-superficiais que se deslocam ao longo da frente, ortogonais ao

gradiente térmico e, sem variação de temperatura entre duas imagens. Outro aspecto

importante, salientado por estes autores, refere-se aos mecanismos não-advectivos, tais

como: difusão, aquecimento e resfriamento superficial. A difusão geralmente não afeta a

validade da estimativa, pelo menos num intervalo de tempo entre as imagens menor de 24

horas (Wahl e Simpson, 1990).

4.6 – FILTRAGEM DO CAMPO DE CORRENTE VETORIAL RESULTANTE

Mesmo com o uso dos critérios estatísticos acima descritos, o método MCC pode gerar

alguns vetores de corrente não coerentes com os demais em seu entorno. Estes vetores

devem, portanto, ser removidos por um processo adequado de filtragem. Para esta filtragem

utilizou-se o método sugerido por Simpson e Gobat (1994), conhecido como Vector

Median Filter (VMF), originalmente proposto por Astola et. al. (1990). A seguir temos a

descrição analítica do filtro.

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Seja a norma de um vetor x, bidimensional, definida como:

2

x = ( ∑ xi2)1/2 i=1 de tal forma que para todo j = 1 .... N, temos que: N N

∑ xvm - xi ≤ ∑ xj - xi i=1 i=1

onde N é o número de vetores presente na janela de filtragem, xj é um elemento de vetor presente em { x1, ...., xN }, e xvm é o vetor mediano também pertencente a { x1, ...., xN }. Dessa forma, a filtragem dar-se-á como: 1) para cada vetor { x1, ...., xN } calcula-se e soma-se as distâncias em relação a todos os outros vetores presentes na janela de filtragem. N

Si = ∑ xi – xj i = 1 ... N j=1

2) Encontra-se o mínimo Si, Smin, tal que Smin pertence a { S1, ... , SN }. 3) Resultando xvm = xmin, onde xmin pertence a { x1, ... , xN } resultante de Smin. O VMF tem a performance de um filtro vetorial, sendo que o resultado de saída do filtro é

sempre, por definição, um dos elementos de entrada presentes na janela de filtragem.

Portanto, dependendo do campo vetorial que se deseja filtrar, o resultado de saída pode ser

idêntico ao campo vetorial original. Outra característica importante é que o filtro preserva

as bordas e faz com que as direções predominantes sejam mantidas, eliminando vetores

espúrios que não condizem com a direção preferencial dos vetores pertencentes à janela de

filtragem.

A janela de filtragem é uma matriz quadrada onde o número de linhas e colunas é ímpar, e

cujo vetor central dessa matriz é o vetor a ser substituído pelo vetor mediano (xvm).

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4.7 – PROCESSAMENTO DO DADO AVHRR

4.7.1 – CORREÇÃO GEOMÉTRICA

As imagens brutas geradas por sensores remotos estão sujeitas a distorções espaciais, não

possuindo exatidão cartográfica quanto ao posicionamento dos objetos nelas representados.

Para que essas imagens tenham precisão cartográfica é necessário que sejam corrigidas

segundo algum sistema de coordenadas. O processo de transformação no qual as imagens

adquirem as propriedades de escala e de projeção de um mapa é conhecido por correção

geométrica. As principais fontes de distorções geométricas são: curvatura e rotação da

Terra durante a aquisição da imagem; extenso campo de visada do sensor; e variação da

altitude e altitude da plataforma do satélite. Estes parâmetros definem a geometria de

aquisição da imagem no processo de imageamento.

A correção geométrica da imagem NOAA-AVHRR é feita por um ajuste polinomial dos

seus pontos de controle orbitais, objetivando a maior acurácia possível. Este processo é

realizado com a finalidade de regularizar o tamanho dos pixels, eliminando as distorções

decorrentes da geometria de aquisição da imagem. Para o sensor AVHRR a imagem é

reamostrada com resolução espacial de 1100 x 1100 metros e georeferenciada num mapa de

projeção geográfica, em termos de latitude e longitude. Para as imagens utilizadas neste

trabalho, utilizou-se o Geóide South American 1969 e o Datum SAD69-Brazil.

4.7.2 – PRECISÃO DO GEOREFERENCIAMENTO

A fim de se avaliar a correção geométrica, o MCC foi aplicado sobre a linha de costa para

cada par de imagens (canal 4), conforme descrito por Garcia e Robinson (1989). Antes,

porém, as imagens foram submetidas ao operador gradiente (figura 4.5) para que as bordas

pudessem ser realçadas. Com isso, evita-se aplicar o MCC sobre pontos da linha de costa

que não estão bem definidos em ambas as imagens. Teoricamente, se as duas imagens a

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serem analisadas estiverem perfeitamente corrigidas geometricamente, a máxima

correlação entre elas para a linha da costa deve ocorrer para o lag zero.

FIGURA 4.5 – Imagem de 24/03/2001 após aplicar o operador gradiente. Também são

mostradas as janelas, sobre a linha de costa, para as quais foi aplicado o

MCC.

Deslocamentos entre os pares de imagens de até ± 2 pixels são aceitos como uma correção

geométrica satisfatória; para os pares de imagens onde este limiar foi superado, o método

MCC não foi aplicado. Fisicamente este desajuste geométrico entre as duas imagens resulta

em velocidades residuais, cuja magnitude é variável e dependente da defasagem temporal

entre as imagens e da resolução espacial do pixel (figura 4.6).

4.7.3 – ALGORITMO PARA DETECÇÃO DE NUVENS

Um inadequado mascaramento do continente, ilhas ou nuvens é fator que pode limitar, ou

mesmo inviabilizar, a obtenção do campo de velocidade superficial utilizando-se o MCC.

De uma maneira geral, as nuvens são caracterizadas por elevados albedos e baixos valores

de temperatura, de tal forma que o processo de detecção de nuvens sobre o oceano está

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baseado em quatro características: a) as nuvens apresentam usualmente níveis de cinza mais

altos que a superfície do oceano; b) as nuvens são freqüentemente mais frias que a

superfície do oceano; c) a presença de nuvens quase sempre aumenta a variabilidade

espacial dos níveis digitais sobre a superfície do oceano; d) a resposta espectral das nuvens

é, de maneira genérica, diferente da resposta espectral da superfície do oceano isenta de

nuvens (Pollard e Muller, 1996).

FIGURA 4.6 – Histogramas de freqüência dos deslocamentos residuais em linha (x) e em

colunas (y), assim como a magnitude das velocidades residuais (cm/s),

relativos ao par de imagens do dia 24/03/2001 (resolução espacial de

1100x1100 m e defasagem temporal de 12:26hs).

Existem muitas formas pelas quais as nuvens podem ser detectadas nas imagens. Se elas

formam uma massa densa, há o impedimento efetivo de que o sinal do oceano seja

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reconhecido. Elas ainda podem ser densas, porém espalhadas permitindo que as feições

oceânicas sejam visíveis entre as mesmas. Nestes casos, em função de sua baixa

temperatura em relação ao oceano, elas podem ser facilmente distinguíveis e marcadas. No

entanto, se a nuvem for baixa e fina, ou então o seu tamanho menor que a resolução do

sensor (nuvens de subpixel), a distinção das feições térmicas superficiais é muito difícil ou

mesmo impossível (Gallegos et al., 1993).

Para se eliminar os pixels contendo nuvens de subpixel das imagens, são utilizados os

chamados testes de uniformidades. Esses testes baseiam-se no fato de que sobre o oceano,

mesmo nas regiões de acentuados gradientes horizontais superficiais, as variações

esperadas entre pixels adjacentes são pequenas em condições de céu aberto, tanto no canal

visível quanto nos canais infravermelhos. Desta forma, são ajustados valores limites para

estas variações num janelamento especificado (Araujo, 1997).

O método aplicado neste trabalho para detecção de nuvens necessita da temperatura da

superfície do mar, do desvio padrão calculado sobre o canal 4 (teste de uniformidade

espacial) e da diferença entre o canal 3 e o canal 5. Primeiramente testa-se a temperatura da

superfície do mar para cada pixel, caso esta esteja abaixo de um determinado valor, que

pode variar conforme a época do ano e a localização da área, o pixel é classificado como

nuvem. Tendo o pixel passado pela condição acima, passa-se para a etapa seguinte, que

verifica a distribuição espacial através da análise do desvio padrão de um janelamento 3x3,

cujo pixel central é aquele analisado. Se o pixel analisado contiver um valor de desvio

padrão acima de um limiar, calculado a partir da análise da imagem desvio padrão, é

classificado como nuvem. Caso contrário, é avaliada a diferença entre o nível de radiância

do canal 3 e do canal 5; se esta diferença for maior que o limiar canal 3 – canal 5 (calculado

a partir do próprio par de imagens analisado), o pixel é classificado como nuvem; caso

nenhuma das condições acima for satisfeita, aceita-se o valor do pixel analisado como

sendo o valor da Temperatura da Superfície do Mar (Araujo, 1997). A seguir é apresentado

o algoritmo utilizado para o mascaramento de nuvens.

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Este algoritmo tem uma eficiência estimada de aproximadamente 80% no processo de

detecção de nuvens. As maiores dificuldades na detecção referem-se às nuvens baixas que

de maneira genérica não são detectadas pelo método aplicado no processo de

mascaramento.

Quando se calcula o coeficiente da correlação cruzada, o que interessa são as anomalias de

temperatura e não seu valor absoluto (Wu et. al. 1992). Dessa forma, para cada janela de

moldura calcula-se o valor médio excluindo-se os pixels que foram classificados como

nuvem, esses pixels são, posteriormente, substituídos pela média calculada sobre a janela

em evidência. O mesmo processo é utilizado em cada janela de busca. Se a porcentagem de

nuvem for acima de um limiar mínimo, o correspondente vetor velocidade não é computado

para a região compreendida no janelamento.

Imagem AVHRR

Temperatura da Superfície do Mar < Limiar Temperatura

Sim Nuvem

Desvio Padrão do Canal 4 > Limiar Desvio Padrão Sim Nuvem

Canal 3 – Canal 5 > Limiar C3 – C5 Sim Nuvem

Aceita o valor como Temperatura da Superfície do

Mar

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CAPÍTULO 5

RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 – INTRODUÇÃO

A fim de se obter o campo de velocidade superficial, a técnica do MCC foi aplicada a um

conjunto de imagens termais (7 pares), coletadas pelo sensor AVHRR/2, para o período de

2000 e 2001. A tabela 5.1 relaciona a data de cada imagem, o satélite imageador, o

intervalo de tempo entre as imagens de cada par e a estação do ano correspondente, sendo a

resolução espacial do pixel para todos os pares de 1100 metros. É importante salientar que

os padrões de circulação de superfície obtidos estão relacionados com os movimentos

advectivos das feições referentes ao intervalo de tempo de cada par de imagens utilizado.

Os termos primavera, verão, outono e inverno (presentes na tabela 5.1) são usados apenas

como um referencial da estação do ano, onde se inserem as datas de aquisição das imagens

seqüenciais. No entanto, nada impede que estes resultados possam refletir comportamentos

caracteristicamente sazonais.

Garcia e Robinson (1989) e Emery et. al. (1992) relataram que muitas feições térmicas

presentes nos dados de radiância ou temperatura de brilho do canal 4 do AVHRR podem

desaparecer quando a temperatura da superfície do mar é estimada por aplicação de

algoritmos multicanais. Provavelmente, este fato pode estar relacionado aos algoritmos

utilizados, que aparentemente devem suavizar os padrões térmicos, necessários para uma

boa correlação no MCC. Por este motivo, utilizou-se as imagens processadas referentes ao

canal 4 para a aplicação do método.

As imagens utilizadas neste trabalho foram obtidas pela estação de recepção do INPE, São

José dos Campos (SP). A seleção prévia dos pares foi realizada a partir da análise de um

conjunto de imagens mantidas em arquivo, referentes ao ano de 2000 e 2001, sendo

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escolhidas aquelas que apresentaram a mínima cobertura de nuvens, condição fundamental

para a aplicação do método MCC.

O presente capítulo está estruturado em seis seções, onde são apresentados os resultados

obtidos com a aplicação do método MCC, bem como as discussões destes resultados. Na

primeira seção é apresentado o teste de deslocamento de uma imagem a fim de se verificar

a confiança do cálculo das estimativas pelo programa computacional desenvolvido para o

cálculo da máxima correlação cruzada. Na segunda seção avalia-se o campo vetorial

estimado em função do nível de significância estatístico escolhido para validar o coeficiente

de correlação cruzada obtido com a aplicação do método MCC. Na terceira seção é

apresentada a filtragem do campo vetorial da corrente superficial oceânica. Na quarta seção

é feita a comparação entre os dois testes, de Emery e DCA, objetivando o melhor critério

para se estimar o grau de liberdade, que juntamente com o nível de significância escolhido

determinam se um vetor estimado pelo método MCC será aceito ou rejeitado. Na seção 5 é

feita a comparação entre o campo vetorial de corrente oceânica superficial e a trajetória de

um derivador e finalmente, na seção 6, é apresentado o campo vetorial de corrente oceânica

superficial estimado pelo método MCC nos pares de imagens selecionadas de acordo com

as estações do ano conforme Tabela 5.1.

TABELA 5.1 – Pares de imagens nas quais o mcc foi aplicado.

Data 1 Satélite Data 2 Satélite Intervalo

Tempo (horas)

Estação do Ano

17/11/00 NOAA-12 17/11/00 NOAA-12 12:26

30/10/00 NOAA-12 31/10/00 NOAA-12 11:11

PRIMAVERA

17/12/00 NOAA-14 18/12/00 NOAA-14 11:16

26/02/01 NOAA-14 26/02/01 NOAA-14 12:32

VERÃO

23/05/01 NOAA-12 24/05/01 NOAA-12 11:11 OUTONO

06/07/00 NOAA-14 07/07/00 NOAA-14 11:17

15/07/01 NOAA-14 16/07/01 NOAA-14 11:16

INVERNO

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5.2 – TESTE DE DESLOCAMENTO DA IMAGEM

Esse primeiro teste foi realizado a fim de se verificar se os cálculos dos movimentos de

translação, a partir do programa desenvolvido para se calcular a máxima correlação

cruzada, estavam sendo efetuados corretamente. A partir de uma única imagem gerou-se

uma segunda imagem, imagem sintética, deslocada 10 pixels para a direita e 15 pixels para

cima em relação à primeira imagem. O par de imagens dessa forma obtido possui uma

resolução espacial de 1100 x 1100 metros e uma defasagem temporal de 10 horas. Portanto,

a velocidade calculada, deve ser de aproximadamente 55 cm/s, concordante com os valores

obtidos pelo programa (fig. 5.1). Os tamanhos das janelas de moldura e de busca,

arbitrariamente escolhidos, foram 15 x 15 pixels e 65 x 65 pixels respectivamente. Todos os

coeficientes de máxima correlação obtidos foram iguais a 1. Os resultados obtidos refletem

corretamente o padrão de correntes esperado, validando o código numérico.

FIGURA 5.1 – Campo vetorial estimado a partir de um par de imagens, com uma delas

deslocada 10 pixels para a direita e 15 pixels para cima em relação à outra.

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5.3 – NÍVEL DE SIGNIFICÂNCIA

Ao se aplicar o programa desenvolvido para calcular a máxima correlação cruzada entre

pares de imagens, gera-se o campo vetorial de corrente oceânica superficial. Como

apresentado do capítulo 4, o vetor gerado é aquele associado ao máximo valor de

correlação cruzada, r. Dessa forma, cada vetor calculado possui o seu valor de correlação

cruzada, que pode ser concordante com a dinâmica superficial do oceano ou não. Somente

o valor de r não é suficiente para se validar o vetor estimado. A fim de se obter um critério

para aceitar ou rejeitar este vetor, é aplicado sobre o campo vetorial estimado um limiar de

significância conforme apresentado no capítulo 4, seção 4.4. Ressalta-se que os campos

vetoriais aqui apresentados são resultados obtidos através do teste DCA mencionado

também no capítulo 4, seção 4.4.2.

Para um nível de significância de 15%, consequentemente uma confiança de 85% de que o

vetor estimado seja estatisticamente significativo, poucos serão os vetores rejeitados e

maior o número de vetores errôneos que compõe o campo vetorial estimado. Diminuindo-

se o nível de significância para 5%, espera-se que os resultados tenham uma coerência

maior com a dinâmica do campo de corrente oceânica superficial. Vetores não

concordantes com essa dinâmica podem ainda permanecer no campo vetorial estimado,

desde que estes possuam valores de correlação cruzada suficientemente altos para que

estejam dentro da região de aceitação. A figura 5.2 apresenta um campo vetorial de corrente

oceânica superficial estimado com nível de significância de 5%. As setas azuis representam

os vetores rejeitados, as amarelas os vetores aceitos.

Em alguns casos faz-se necessário tornar a estimativa do campo vetorial mais criteriosa,

diminuindo o nível de significância para 1%. Com isso, o número de vetores rejeitados será

ainda maior que aquele rejeitado pelo nível de significância de 5%. A figura 5.3 apresenta

um campo vetorial estimado de corrente oceânica superficial com nível de significância de

1%. As setas azuis representam os vetores rejeitados, as vermelhas os vetores aceitos.

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FIGURA 5.2 – Campo vetorial estimado considerando-se o nível de significância de 5%.

As setas azuis são os vetores rejeitados, as amarelas os vetores aceitos.

É interessante notar, através de uma análise qualitativa do campo vetorial de corrente

oceânica superficial, que uma parcela significativa dos vetores rejeitados encontra-se

próximo à frentes termais e nas regiões muito homogêneas, como no centro de vórtices;

regiões que limitam a aplicação do método da máxima correlação cruzada.

Comparando-se as figuras 5.2 e 5.3 é possível identificar vetores rejeitados que,

aparentemente, concordam com a dinâmica da corrente superficial do oceano, embora a

maioria dos vetores rejeitados não está de acordo com esta dinâmica superficial. Este fato

indica que nem sempre o nível de significância mais baixo é o mais adequado, uma vez que

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tornando a estimativa muito rigorosa podemos estar limitando por demais o campo vetorial

estimado.

FIGURA 5.3 – Campo vetorial estimado considerando o nível de significância de 1%. As

setas azuis são os vetores rejeitados, as vermelhas os vetores aceitos.

O nível de significância escolhido para a estimativa do campo de corrente oceânica

superficial foi de 5% para a maior parte dos pares de imagens selecionados, entretanto

houve casos em que o nível de significância escolhido foi de 1% em virtude da

nebulosidade e da complexa dinâmica superficial que caracterizava a região.

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5.4 – FILTRAGEM DO CAMPO VETORIAL ESTIMADO

Embora o nível de significância escolhido auxilie na eliminação de vetores espúrios, o

campo vetorial estimado apresenta ainda uma quantia significativa de vetores não

coerentes. Com o objetivo de eliminar estes vetores é aplicada sobre o campo vetorial a

filtragem Vector Median Filter (VMF) descrita na seção 4.6.

FIGURA 5.4 – Campo vetorial sem a filtragem. Data imagem: 24/05/2001

As figuras 5.4 e 5.5 mostram o campo vetorial de corrente oceânica superficial sem e com a

filtragem, respectivamente. O filtro VMF tem como característica principal o fato de

preservar as bordas e fazer com que as direções predominantes sejam mantidas, eliminando

vetores espúrios que não estão de acordo com a direção preferencial dos vetores

pertencentes à janela de filtragem (Simpson e Gobat, 1994).

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FIGURA 5.5 – Campo vetorial filtrado. Data imagem: 24/05/2001

Uma das características básica do VMF é que ele não introduz vetores que não estejam

presentes na janela de filtragem de entrada. Dessa forma os vetores resultantes da filtragem

pertencem ao campo vetorial originalmente estimado. Sendo assim, é possível aplicar o

filtro VMF várias vezes sem que o campo vetorial perca suas características predominantes.

Também a filtragem é capaz de evidenciar determinados comportamentos de larga escala

que possivelmente não seriam tão óbvios no campo vetorial original.

5.5 – DIFERENÇA ENTRE OS TESTES DE EMERY E DCA

Nessa seção discute-se os resultados obtidos com a aplicação dos dois testes, de Emery e

DCA, para obtenção do grau de liberdade que, juntamente com o nível de significância

escolhido, avaliam, através das análises estatísticas mencionadas na seção 4.4, se o vetor

calculado pelo método MCC será aceito ou rejeitado. Deve ser lembrado que o método

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MCC por si só não garante a confiabilidade do vetor estimado, daí a necessidade de se

definir a melhor maneira para se testar o campo vetorial gerado pelo método.

FIGURA 5.6 – Teste de Emery. Vetores vermelhos passaram pelo teste ns=1%; vetores

amarelos pelo teste, ns=5%. Os vetores azuis, não passaram pelo teste

ns=10%; Data imagem: 24/03/01.

Os campos vetoriais de correntes oceânicas superficiais foram gerados para dois pares de

imagens com características distintas. O primeiro par de imagens refere-se ao dia

24/03/2001 e abrange a região sudeste do Brasil, mais precisamente a plataforma

continental sudeste próxima ao Estado do Rio de Janeiro, com uma diferença temporal

entre as imagens de 12:26 horas (figura 5.6 e figura 5.7). O segundo par de imagens refere-

se ao dia 17/11/2000 e abrange a região sul, mais especificamente a plataforma continental

sul próxima ao Estado do Rio Grande do Sul, com uma diferença temporal entre as imagens

de 12:26 horas (figura 5.8 e figura 5.9). Os testes de Emery e DCA foram aplicados para

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cada par a fim de se verificar o campo vetorial resultante em função das variações dos

parâmetros estatísticos, grau de liberdade e nível de significância.

FIGURA 5.7 – Teste DCA. Vetores vermelhos passaram pelo teste ns=1%; vetores

amarelos pelo teste, ns=5%; vetores verdes pelo teste, ns=10%. Os

vetores azuis, não passaram pelo teste ns=10%. Data imagem: 24/03/01.

Através de uma análise qualitativa da figura 5.6 é possível verificar que o teste de Emery é

pouco susceptível ao decréscimo do nível de significância. Mesmo com um nível de

significância de 1% poucos foram os vetores eliminados. Por gerar um grau de liberdade

único através da média das matrizes de autocorrelação, calculada para cada janela de

moldura, o teste de Emery não se mostrou muito eficiente, pois tende a generalizar o

comportamento das feições termais presentes nas janelas de moldura (Wu et. al., 1992).

Na prática, as feições termais presentes em cada janela de moldura têm parâmetros

estatísticos diferentes, já que os padrões termais variam de região para região.

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Consequentemente a escala de decorrelação, princípio este aplicado no cálculo da área de

decorrelação, difere para cada janela de moldura capturada da imagem. Dessa forma, é

razoável admitir que cada janela de moldura possua um grau de liberdade específico que

está vinculado ao comportamento estatístico nela presente. Este é o critério que norteia o

teste DCA.

FIGURA 5.8 – Teste de Emery. Vetores vermelhos passaram pelo teste ns=1%. Mesmo

com ns=1% nenhum vetor foi eliminado. Data imagem: 17/11/00.

Os resultados da aplicação do teste DCA, mostam um progressivo rigor na aceitação do

campo vetorial com a redução do nível de significância escolhido. Com o nível de

significância de 10%, foram eliminados 7 vetores (as setas em azul) que nitidamente não

possuem relação alguma com a dinâmica da corrente oceânica superficial da região.

Conforme o decréscimo do nível de significância outros vetores são removidos. É

interessante notar que para o nível de significância de 1% restaram apenas aqueles vetores

situados nas regiões onde o gradiente termal é significativo. Regiões que apresentam uma

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homogeneidade termal, acentuada pela nebulosidade que recobre a área, como no caso da

figura 5.7, acabam por não satisfazer os critérios de compatibilidade entre a janela de

moldura e a feição termal coberta por esta.

São apresentados os campos vetoriais para o par de imagens do dia 17/11/2000 que cobre a

região sul, figuras 5.8 e 5.9. Esta região é caracterizada por contrastes térmicos acentuados.

FIGURA 5.9 – Teste DCA. Vetores vermelhos passaram pelo teste ns=1%; vetores

amarelos pelo teste, ns=5%; vetores verdes pelo teste, ns=10%. Os

vetores azuis, não passaram pelo teste ns=10%. Data imagem: 17/11/00.

Analisando a figura 5.8 constata-se que mesmo com o nível de significância de 1% nenhum

vetor foi removido, ou seja, o campo vetorial originalmente gerado pelo método MCC

permaneceu o mesmo após a aplicação do teste de Emery. Isso evidencia que em alguns

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casos o teste de Emery pode se mostrar ineficiente na avaliação do grau de liberdade e

compatibilidade da feição termal com a respectiva janela de moldura que a incorpora.

Por outro lado, o teste DCA, por avaliar o padrão termal presente em cada janela de

moldura, consegue filtrar o campo vetorial em função da variação do nível de significância,

conforme figura 5.9. Dessa forma é permitida a obtenção de campos vetoriais onde uma

parcela significativa dos vetores espúrios seja removida. Observa-se na figura 5.9, que além

dos vetores espúrios, alguns outros que apresentam uma coerência com os vizinhos e com a

dinâmica superficial, foram removidos conforme a variação do nível de significância. Isso

pode ser explicado pelo valor do coeficiente de correlação cruzada, r, e pela

compatibilidade da feição termal com a janela de moldura que a incorpora. Embora o teste

DCA apresente resultados mais satisfatórios que o teste Emery, ele ainda apresenta algumas

limitações que não estão relacionadas diretamente ao teste, mas sim à dimensão da janela

de moldura. Quando se escolhe a janela de moldura, busca-se otimizar a dimensão da

mesma com as feições termais presentes na região de aplicação do método. No entanto,

nem sempre é possível definir uma janela de moldura que incorpore de maneira satisfatória

todas as feições presentes na área, consequentemente há uma perda de eficiência no

rastreamento de algumas feições que não estão bem representadas na janela de moldura

(Kelly e Strub, 1992). Nestes casos, obtêm-se um coeficiente de máxima correlação

cruzada não elevado o suficiente para passar pelos sucessivos testes de níveis de

significância.

Outro aspecto, diz respeito a picos duplos de correlação com valores significativos, que

podem ser encontrados em lados opostos na matriz de correlação cruzada (gerada com o

deslocamento da janela de moldura sobre a janela de busca). Isso significa que as feições

termais presentes na janela de moldura têm forte correlação com as feições termais

presentes em lados opostos da janela de busca. Também aqui pode haver um

comprometimento de certos vetores estimados pelo método MCC.

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5.6 – COMPARAÇÃO DO CAMPO VETORIAL COM DADOS DO DERIVADOR

Os resultados das estimativas obtidas pelo método MCC, com a aplicação do teste DCA

foram comparados com medidas in situ, por meio da sobreposição da trajetória de um

derivador ao campo vetorial de corrente oceânica superficial estimado. A fim de

demonstrar a correspondência entre as duas medidas, o deslocamento do derivador e o

campo vetorial estimado foram sobrepostos à segunda imagem do par correlacionado

(figura 5.10). As imagens referentes ao par são do dia 23 e 24/06/2000, e têm uma

defasagem temporal de 23:36 horas. A trajetória do derivador, definida como o

deslocamento lagrangeano descrito pela bóia durante o intervalo de tempo em

consideração, está compreendida entre os dias 21 e 25/06/2000.

FIGURA 5.10 – Campo vetorial de corrente oceânica superficial estimado pelo método

MCC juntamente com a trajetória do derivador 32431 (traço contínuo).

Data da imagem: 24/06/2000. O intervalo entre o par de imagens é de

23:36hs.

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Com o intuito de comparação, os dados do derivador foram processados para que se

pudesse obter médias diárias de velocidades, a partir de um conjunto de velocidades diárias

(Apêndice A). Dessa forma as velocidades médias diárias do derivador foram obtidas

(tabela 5.2).

TABELA 5.2 – Velocidade média diária do derivador 32431

Dia Velocidade Média (cm/s)

21/06/00 28.4 22/06/00 31.9 23/06/00 27.7 24/06/00 26.0 25/06/00 38.5

Pela figura 5.10 é possível verificar uma estreita relação entre a trajetória do derivador e a

do campo vetorial obtido pelo método MCC. O derivador move-se em direção à Corrente

do Brasil, caracterizada por águas mais quentes, margeando esta em direção

predominantemente sudoeste. Uma comparação entre dados de velocidade estimada pelo

MCC e medidas in situ a partir de derivadores, foi realizada anteriormente por Emery et. al.

(1986). Os resultados obtidos naquele trabalho mostraram-se bem correlacionados com os

de derivadores. Kelly e Strub (1992) compararam os deslocamento de derivadores com os

movimentos das feições termais na superfície do oceano em regiões que apresentavam

jatos. Estas análises mostraram que os derivadores tendem, nestes casos, a apresentar um

módulo maior de velocidade.

A figura 5.11 a seguir, corresponde à mesma figura 5.10, porém com o valor da velocidade

de cada vetor indicado na sua origem, facilitando uma comparação quantitativa da

velocidade vetorial estimada e da velocidade do derivador.

Infelizmente, os dois primeiros dias da trajetória do derivador, cores amarela e laranja

claro, correspondem a uma região na imagem de intensa nebulosidade, o que impossibilitou

a estimativa do campo vetorial para essa área. No entanto as velocidades médias dos

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derivadores durante os dias, 21 e 22, possibilitam identificar a velocidade superficial

oceânica nesse local. As velocidades do derivador foram de aproximadamente 28 cm/s e 31

cm/s no primeiro e segundo dia respectivamente, conforme tabela 5.2.

Para os dias 23 e 24, correspondentes ao período de aquisição do par de imagens, o

derivador apresentou uma velocidade média de aproximadamente 27 e 26 cm/s

respectivamente. Estas velocidades estão discriminadas no meio da trajetória do derivador

pelas cores amarelo e verde. Observando as velocidades estimadas pelo método MCC nas

proximidades dessa região, verifica-se que os vetores gerados possuem velocidades que

variam de 28 a 38 cm/s. E, finalmente, no dia 25 o derivador atingiu uma velocidade média

de aproximadamente 38 cm/s.

FIGURA 5.11 – Campo vetorial de corrente oceânica superficial estimado pelo método

MCC juntamente com a trajetória do derivador 32431. Na origem de cada

vetor é apresentado o valor da velocidade do mesmo em cm/s. Data da

imagem: 24/06/2000. O intervalo entre o par de imagens é de 23:36hs.

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Tokmakian et. al. (1990), comparando, a partir de um conjunto de imagens, resultados

obtidos utilizando-se o método MCC com dados in situ, salientam que erros (rms) em

magnitude da ordem de 10 a 20 cm/s podem ocorrer quando a defasagem temporal entre o

par de imagens for da ordem de 12:00 horas; podendo aumentar para 25 cm/s ou mais caso

a defasagem temporal entre as imagens for superior a 18:00 horas. No entanto a

estabilidade da região onde o método está sendo aplicado juntamente com um gradiente

termal acentuado podem minimizar as discrepâncias.

5.7 – CAMPOS DE VELOCIDADE ADVECTIVA ESTIMADOS

Nessa seção são apresentados os resultados das estimativas de correntes oceânicas

superficiais obtidos das imagens relacionadas na tabela 5.1. A defasagem temporal entre as

imagens de um mesmo par foi de aproximadamente 12 horas.

Antes de serem sobrepostos à segunda imagem de cada par, os vetores de velocidade foram

submetidos a três etapas de filtragem com o objetivo de excluir aqueles potencialmente

incorretos. Num primeiro estágio, a fim de se evitar áreas muito contaminadas, o nível de

tolerância para se calcular o vetor de velocidade pelo método MCC foi determinado da

seguinte maneira: calculou-se a porcentagem de nuvem e terra que cobriam a janela de

moldura e sua correspondente janela de busca, denotados por p1 e p2, respectivamente. Se

p1+p2 > 25% o vetor velocidade correspondente não foi calculado. Não existiu um critério

estatístico que justificasse este número, estando simplesmente baseado em experimentos

empíricos (Wu et. al., 1992). O objetivo deste procedimento foi assegurar que um mínimo

de feições térmicas estivesse presente em cada um dos cálculos do MCC.

A segunda etapa da filtragem consistiu na eliminação, através da aplicação do teste DCA,

de todas as estimativas de velocidades cujo coeficiente de correlação não passasse pelo

teste estatístico ao nível de significância escolhido. E finalmente, o campo vetorial

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estimado foi submetido à filtragem VMF. Com isso obteve-se a estimativa final do campo

vetorial de corrente oceânica superficial.

A seguir são apresentados os campos vetoriais de velocidades advectivas estimadas pelo

método MCC. Também é apresentado um breve comentário de cada campo vetorial

estimado. Além da segunda imagem de cada par, onde o campo vetorial é plotado, também

é apresentado a primeira imagem a fim de possibilitar a análise conjunta e a determinação

qualitativa do deslocamento das feições térmicas ocorrido entre imageamentos

subseqüentes.

5.7.1 – PRIMAVERA

Par 1 (30/10/00 20:44 GMT; 31/10/00 07:55 GMT)

FIGURA 5.12 – Imagem do dia 30 de Outubro de 2000, 20:44 GMT.

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FIGURA 5.13 – Imagem do dia 31 de Outubro de 2000, 07:55 GMT.

A figura 5.13 mostra um padrão de velocidade que parece bastante coerente com o campo

térmico superficial. Por exemplo, na porção sobre a plataforma continental, aonde se

observa uma intrusão de águas mais frias, oriundas do sul, o padrão de corrente derivado se

mostra de sul para norte, em direção à região sudeste. As velocidades obtidas são da ordem

de 10 a 50 cm/s. Assireu et al. (2001), analisando velocidades médias de derivadores para a

mesma região compreendida na figura 5.13, encontraram valores de velocidades, na direção

norte-sul, variando de aproximadamente 10 a 44 cm/s, e de aproximadamente 12 cm/s na

direção sul-norte.

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Par 2 (17/11/00 08:05 GMT; 17/11/00 20:31 GMT)

FIGURA 5.14 – Imagem do dia 17 de Novembro de 2000, 08:05 GMT.

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FIGURA 5.15 – Imagem do dia 17 de Novembro de 2000, 20:31 GMT.

O primeiro fato que chama a atenção nesse par de imagens, Figura 5.14 e 5.15, é a presença

de inúmeras e diversificadas estruturas oceanográficas presentes nos padrões térmicos

superficiais. A região da confluência Malvinas-CB está caracterizada por feições

filamentosas e meandrantes. Apesar da presença de diversos vetores espacialmente

incorretos, é possível notar um comportamento geral dos vetores condizente com a

circulação sugerida pelo campo termal. Ao longo do talude continental, a Corrente do

Brasil (CB) dirige-se para sul com velocidades variando em torno de 20 cm/s a 65 cm/s,

condizentes com valores estimados por Ghisolfi (1995), Vigan et. al (2000) e Domingues

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et. al. (2000). O método MCC não conseguiu, entretanto, representar adequadamente o

campo vetorial associado aos pequenos vórtices.

5.7.2 – VERÃO

Par 1 (17/12/00 20:26 GMT; 18/12/00 07:42 GMT)

FIGURA 5.16 – Imagem do dia 17 de Dezembro de 2000, 20:26 GMT.

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FIGURA 5.17 – Imagem do dia 18 de Dezembro de 2000, 07:42 GMT.

As figuras 5.16 e 5.17 evidenciam, na região sul, um contraste térmico acentuado entre a

CB e águas adjacentes. Nesse par também é possível verificar uma boa concordância entre

os padrões vetoriais de velocidade advectiva estimados e o térmico superficial, com os

vetores indicando um redirecionamento de boa parte da água quente superficial que estava

fluindo para o sul junto ao talude, com uma recirculação para leste. A velocidade da CB

atingiu valores de aproximadamente 65 cm/s, semelhantes aos valores estimados por

Ghisolfi (1995), Vigan et. al (2000) e Domingues et. al. (2000).

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Par 2 (26/02/01 07:17 GMT; 26/02/01 19:49 GMT)

FIGURA 5.18 – Imagem do dia 26 de Fevereiro de 2001, 07:17 GMT.

FIGURA 5.19 – Imagem do dia 26 de Fevereiro de 2001, 19:49 GMT.

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No campo de velocidade obtido na figura 5.19, região sudoeste próxima ao estado do Rio

de Janeiro, não foi possível identificar nenhum padrão significativo, quer pela ausência de

gradientes térmicos ou então, pela forte nebulosidade visível nessa imagem.

5.7.3 – OUTONO

Par 1 (23/05/01 20:17 GMT; 24/05/01 07:28 GMT)

FIGURA 5.20 – Imagem do dia 23 de Maio de 2001, 20:17 GMT.

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FIGURA 5.21 – Imagem do dia 24 de Maio de 2001, 07:28 GMT.

O padrão vetorial de circulação advectiva da figura 5.21 mostra águas num deslocamento

mais intenso na região central da CB com velocidades da ordem 20 a 50 cm/s. Há uma leve

tendência de deslocamento superficial das águas sobre a plataforma continental em direção

à região costeira. Os vetores que apontam para a costa e que se localizam próximo da

mesma, evidentemente não podem estar corretos pois fisicamente não satisfazem a

condição de contorno de fluxo normal zero.

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5.7.4 – INVERNO

Par 1 (06/07/00 18:57 GMT; 07/07/00 06:14 GMT)

FIGURA 5.22 – Imagem do dia 06 de Julho de 2000, 18:57 GMT.

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FIGURA 5.23 – Imagem do dia 07 de Julho de 2000, 06:14 GMT.

Apesar da cobertura de nuvens presentes no par de imagens (figura 5.22, figura 5.23), o

campo vetorial de corrente oceânica superficial estimado apresenta um comportamento

aparentemente coerente com o campo de corrente sugerido intuitivamente pelo campo

termal.

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Par 2 (15/07/01 20:37 GMT; 16/07/01 07:53 GMT)

FIGURA 5.24 – Imagem do dia 15 de Julho de 2001, 20:37 GMT.

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FIGURA 5.25 – Imagem do dia 16 de Julho de 2001, 07:53 GMT.

O campo vetorial estimado, para o par de imagens referentes às figuras 5.24 e 5.25,

apresenta uma velocidade máxima da ordem de 45 cm/s. É possível notar a presença de um

vórtice no centro da imagem. Nesse ponto há um refluxo de águas mais quentes que se

desloca para o norte, apresentando alguns vetores acompanhando a feição.

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CAPÍTULO 6

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O presente trabalho teve como objetivo principal desenvolver um pacote de programas para

estimar o campo de correntes oceânicas superficiais a partir de seqüências de imagens

termais e do método MCC. O MCC é uma técnica rápida, econômica e extremamente útil

para se estimar velocidades advectivas superficiais, principalmente em regiões onde as

medidas diretas são escassas ou inexistentes.

A aplicação do nível de significância juntamente com a filtragem VMF do campo vetorial

estimado fez com que a grande maioria dos vetores espúrios fosse eliminada. O teste DCA

mostrou-se mais eficiente na aplicação do nível de significância, conseguindo incorporar de

maneira mais satisfatória o padrão termal presente em cada região.

Estimativas de velocidades realizadas em regiões oceânicas da imagem na borda de nuvens

ou entre o oceano e a costa, podem apresentar vetores que não representam o

comportamento da dinâmica superficial daquelas áreas.

Embora apenas dados de um derivador tenham sido utilizados para se efetuar a comparação

com os vetores estimados por satélite, uma razoável concordância de magnitude e direção

foi verificada. Devido à extensa cobertura de nuvens, não foi possível a comparação com

um maior número de derivadores presentes em várias imagens. Em alguns casos, o

derivador estava presente em região sem cobertura de nuvens em apenas uma das duas

imagens do par, não sendo então possível o cálculo da velocidade por satélite. Em outros

casos, o derivador esteve em região sem cobertura de nuvens em ambos as imagens, porém

devido à forte distorção geométrica em uma das imagens na posição do derivador, também

não foi possível aplicar o método MCC.

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Intervalos temporais acima de 24 horas, entre as imagens de um par, aumentam a

probabilidade de se obter campos vetoriais incoerentes, quer em decorrência de uma ação

mais efetiva dos mecanismos não advectivos (difusão, aquecimento ou resfriamento etc.),

ou deslocamento das feições superficiais superior ao tamanho das janelas especificadas.

A presença de nuvens é um dos fortes limitantes para aplicação do método. Foi possível

observar que em alguns casos, o algoritmo utilizado não foi capaz de realizar o

mascaramento necessário. Dessa forma, este algoritmo precisa ser aprimorado para

minimizar os erros das estimativas de corrente em regiões com cobertura de nuvens.

Os tamanhos das janelas de moldura e busca influenciam diretamente a estimativa do

campo de corrente oceânica. Com um janelamento bem reduzido pode-se conseguir um

campo vetorial mais detalhado, correndo-se o risco, entretanto, de que as feições

incorporadas pelas janelas não possuam representatividade suficiente para que sejam

rastreadas no processo de busca. Por outro lado, com um janelamento excessivo é possível

se obter uma melhor representatividade dos padrões termais, porém o campo vetorial

estimado pode perder o detalhamento necessário para uma compreensão mais precisa do

campo de corrente superficial.

Uma das sugestão para trabalhos futuros é a implementação do MCC que incorpore,

automaticamente ou sob supervisão do operador, a escolha de janelas de tamanho variável

conforme a exigência do padrão térmico superficial.

Movimentos rotacionais ou com deformação apreciável não são bem resolvidos pelo

método MCC. Algumas tentativas recentes de solução deste problema, tem apresentado

resultados satisfatórios, à custa de uma grande complexidade computacional e operacional.

Sugere-se que esforços sejam realizados no Brasil para incorporar estes novos avanços com

maior facilidade de aplicação prática.

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APÊNDICE A

TABELA 1 – VELOCIDADES DIÁRIAS DO DERIVADOR 32431

Dia Velocidade (cm/s)

Velocidade Média (cm/s)

21/06/00 18.5 34.4 26.8 23.7 33.7 49.9 11.8

28.4

22/06/00 22.5 21.7 33.7 31.0 32.4 33.6 48.5

31.9

23/06/00 38.5 7.3 63.0 23.7 11.2 21.7 28.5

27.7

24/06/00 20.3 36.2 4.5 43.5 25.3

25.9

25/06/00 31.6 33.5 45.9 42.8

38.5