estado e desenvolvimento econômico no brasil contemporâneo · criticamente o rigor e a...

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Estado e Desenvolvimento Econômico no Brasil Contemporâneo DAESHR005- 13SB/DBESHR005- 13SB/NAESHR005- 13SB (4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI [email protected] UFABC – 2017.II (Ano 2 do Golpe) Aula 13 3ª-feira, 18 de julho

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Estado e Desenvolvimento Econômico

no Brasil ContemporâneoDAESHR005- 13SB/DBESHR005- 13SB/NAESHR005- 13SB

(4-0-4)

Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI

[email protected]

UFABC – 2017.II

(Ano 2 do Golpe)

Aula 13

3ª-feira, 18 de julho

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Aula 14 (3ª-feira, 18 de julho): O “Milagre Econômico”, 1969-1973.

Textos obrigatórios:

CAMARGO, J. M. (in: Pires 2010) “Do ‘milagre econômico’ à ‘marcha forçada’”, p. 193-206.

Texto complementar:

SOUZA, N. A. (2008) “Capítulo 4: O novo modelo econômico e o ‘Milagre Brasileiro’”, p. 76-89.

EVANS, Peter (1980) “O Estado e as multinacionais”, p. 189-234.

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O

“Milagre Econômico”, 1969-1973

O “Milagre Econômico”, 1969-1973

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• Castello Branco foi sucedido pelos generais Artur daCosta e Silva (1967-1969) e Emílio Garrastazu Médici(1969-1974), tendo como ministro o chamado “czar daeconomia”, Antonio Delfim Netto.

• O “milagre econômico” caracterizou-se pelas maiorestaxas de crescimento do PIB na história do país, comrelativa estabilidade de preços. Uma média acima de10% a.a. E os preços oscilando entre 15% e 20% deinflação ao ano.

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• Novo governo Costa e Silva (1967-1969) trouxemudanças significativas na condução da políticaeconômica.

• Delfim Netto, novo ministro da Fazenda, avalioucriticamente o rigor e a orientação do ajuste promovidodurante o governo Castello.

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• Um dos marcos políticos do período foi o AtoInstitucional n. 5 de 13 de dezembro de 1968, que deujuridicidade para uma escalada repressiva.

• Alguns analistas o consideram o "golpe dentro dogolpe". Outros dizem que foi um recurso derecrudescimento por parte de um regime militar parareequilibrar a correlação de forças dos protestospopulares.

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• Para Delfim, a política econômica entre 1964 e início de1967 falhou em combater a inflação (que permaneceualta), tendo além disso causado forte declínio daprodução e do emprego.

• O erro ocorreu no diagnóstico de uma inflaçãoexclusivamente de demanda. Para Delfim, inflação dedemanda e inflação de custo se alternavam.

• O maior problema do diagnóstico do PAEG era que apolítica macroeconômica impedia a retomada dosinvestimentos e do desenvolvimento.

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• Com a mudança de diagnóstico, as políticas decontenção da demanda ficaram mais frouxas no quetange a política monetária, fiscal e creditícia.

• A política salarial continuou apertada, com base namesma fórmula, mas agora considerada parte doscustos; em 1969 o salário mínimo atingiu o seu menornível na década em termos reais.

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• Com o novo governo Médici (1969-1974), Delfim Nettopermaneceu no Ministério da Fazenda, mas passou a defendernova reorientação expansiva da política econômica.

• Meta passou a ser uma taxa de crescimento de 9% a.a. napróxima década. Estratégia voltou-se ao incentivo à agriculturae às exportações.

• Defendeu-se a continuidade da substituição de importações,mas criticava-se a exclusiva dependência da indústria.Agricultura e exportações (em geral) vistas como formas dedinamizar mercado interno e crescimento.

• Em 1972 foi lançado o I Plano Nacional de Desenvolvimento(vigente até 1974).

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• A busca do crescimento deveria se dar com investimento emsetores diversificados e com menor participação do Estado.

• As principais fontes de crescimento foram:

i. Retomada de investimentos público em infraestrutura e dasempresas estatais;

ii. Demanda por bens duráveis via expansão de crédito aoconsumidor;

iii. Construção civil – aumento dos investimentos públicos epela expansão do crédito do SFH;

iv. Crescimento das exportações – expansão do comérciomundial e melhoria dos termos de troca e incentivos fiscais;

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• Quanto aos demais setores econômicos, o desempenho foi maismodesto:

i. Bens de consumo e agricultura – desempenhos maismodestos;

ii. Setor de bens de capitais passou por duas fases:

• 1ª até 1970 – com menor crescimento e ocupação dacapacidade ociosa;

• 2ª: 1971/1973 – a formação Bruta de Capital Fixo superaos 20% do PIB.

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• Tanto no setor de bens de capital, como no de bensintermediários, o crescimento gerava pressão sobre asimportações.

• Essa pressão poderia levar à necessidade de recursosexternos, para cobrir o balanço de pagamentos.

• Além da política cambial (minidesvalorizações) e comercial(incentivos fiscais e monetários), as exportações forambeneficiadas pelo crescimento do comércio mundialdecorrente do excesso de liquidez no mercado internacional(fruto da expansão monetária dos déficits públicosamericano).

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• Apesar da boa performance do setor externo o país seendividou externamente. Havia um sobre-endividamento noperíodo. Porque?

– Explicação oficial: necessidade de recursos.

– Explicação factual: reforma financeira, ampla liquidezinternacional e ausência de mecanismos definanciamento de longo prazo na economia brasileira,exceto os mecanismos oficiais e... altas taxas de jurosinternas, o que tornava o país atrativo para o capitalestrangeiro.

• Não há consenso, porém!

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• Olhando mais detidamente para o sobre-endividamento:

– Diversos autores ressaltam que o rápido crescimentoliderado pelo setor de bens duráveis trouxe acentuadosdesequilíbrios setoriais;

– Os gargalos na oferta foram superados com a captaçãode capital externo por intermédio da instrução 289 daSUMOC e resoluções nº 63 e 64, do Bacen (autorizavabancos comerciais e de investimento a captar no exteriore repassar internamente);

– A alta do investimento externo direto foi outra peçafundamental do quebra-cabeça.

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• O que significou o endividamento no período do Milagre?

– Aprofundamento da estratégia do desenvolvimentoassociado. Brasil continuou importando tecnologia ebens de capital. Manteve seu papel na divisãointernacional do trabalho inalterado.

– Crescentes aumentos de remessa de lucros, juros edividendos mostra uma economia muito dependente docapital estrangeiro (multinacionais).

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• O que significou o endividamento no período do Milagre?

– Em 1969 das 10 mais lucrativas empresas, 7 erammultinacionais e 3 estatais;

– 9 de 17 dos setores mais dinâmicos da economia eramajoritariamente de capital estrangeiro;

– Atuavam geralmente em setores de bens de produção(material elétrico, transporte e máquinas), o que explicacrescente déficit na conta de serviços.

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• Apesar do objetivo de elevar a participação do setor privado,o Estado ainda manteve grande participação e intervençãona economia, pois:

– O Estado controlava os principais preços da economia –câmbio, salário, juros e tarifas.

– O Estado respondia pela maior parte das decisões deinvestimento, quer por meio dos investimentos daadministração pública e das empresas estatais, quer pormeio da captação de poupança, quer por incentivosfiscais e subsídios.

O esgotamento do “Milagre Econômico”, 1969-1973

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• Exacerbação da inflação por conta dos desequilíbriossetoriais associada à...

• Crise internacional de 1974, caracterizada pela elevação dospreços do petróleo ( de US$ 3 para 12) associada à...

• Sobreacumulação de capital - crescimento puxado pelo setorde duráveis que não era capaz de alargar continuamente seupróprio mercado;

• Limites da capacidade de endividamento das famílias.

• Para Singer (1977) a inflação era sinal de pontos deestrangulamento, barreiras físicas de produção, etc.

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• A maior abertura da economia brasileira tornou o país maissensível à alta de preços de produtos primários.

• Desequilíbrios setoriais afetaram negativamente a balançacomercial.

• E a política econômica restritiva (adotada a partir de 1974),somada à alta inflação e ao arrocho salarial atingiu em cheioas industrias de bens de consumo duráveis (45% daprodução industrial).

• Bens de consumo duráveis acompanharam essa quedareduzindo os investimentos privados.

• Saída: recessão forçada ou marcha forçada?

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• Modernização Agrícola:

– Estimular o desenvolvimento do setor, evitandopressões sobre o balanço de pagamentos.

– Modernizar e fazer crescer a produtividade no setor.

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• Destaques:

i. Sistema Nacional de Crédito Rural – SNCR: que buscoupropiciar aos agricultores linhas de crédito baratas e acessíveis;

ii. Criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –Embrapa.

iii. As políticas de garantias de preços mínimos (PGPM) com doismecanismos básicos:

– AGF (Aquisição do Governo Federal) são compras feitas pelogoverno de produtos com preços pre-fixados, visava estocare vender o produto no mercado em períodos de escassez doproduto no mercado;

– EGF (Empréstimo do Governo Federal) que financiava aestocagem do produto pelo agricultor.

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• Características gerais da modernização agrícola brasileira:

– Aumento do grau de mecanização e quimificação dasfazendas, o que promoveu ganhos de produtividadeno setor;

– Aumento da produção de bens exportáveis (soja elaranja) e para o mercado interno (cana-de-açucar);

– Expansão da fronteira agrícola em direção ao Centro-Oeste. A área cultivada passou de 29 milhões de háem 1960 para 50 milhões de alqueiras em 1980;

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• Características gerais da modernização agrícola brasileira:

– Crescimento da agroindústria: maior interligaçãoentre o setor agrícola, seus fornecedores econsumidores;

– Aumento da concentração fundiária e da utilizaçãoda mão-de-obra temporária (bóia fria): modernizaçãocom aumento da exploração do trabalho e dadesigualdade.

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Camargo (in: Pires 2010)

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• “As reformas instituídas durante o Governo CastelloBranco e os incentivos criados para o capital privadoprepararam o terreno para um nova fase de crescimentoa partir de 1968. Em primeiro lugar, as reformas tinhamcomo objetivo criar um novo esquema não inflacionáriode financiamento da acumulação de capital. (...) Emsegundo lugar, a nova política salarial adotada a partir de1965, ao subestimar sistematicamente o chamadoresíduo inflacionário, arrochou os salários, constituindo-se em um dos elementos centrais da política de combateà inflação”. (Camargo, in: Pires 2010: 193-194)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “Ao subestimar as médias salariais, assim como osíndices da inflação futura, em um contexto políticodesfavorável aos trabalhadores, o governo militar abriuespaço para a redução dos salários nos anos seguintes àimplementação da política salarial e para um aumentoda concentração de renda, inclusive durante o chamadomilagre econômico”. (Camargo, in: Pires 2010: 193-194)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “A política salarial implementada, incluindo a do saláriomínimo, conjugada ao cerceamento das atividades sindicais epolíticas, resultaram não apenas em uma perda dos saláriosna renda, mas também na abertura do que ficou conhecidocomo ‘leque salarial’. Ou seja, ocorreu uma dispersãocrescente entre as próprias rendas do trabalho, com umacompressão dos salários mais baixos, representados em geralpelos trabalhadores menos qualificados e ligados àsatividades produtivas nas empresas, e reajustes maisfavoráveis ao pessoal ocupado nas atividades administrativas,com maior grau de qualificação, como técnicos de nível médioou superior, gerentes, administradores etc.”. (Camargo, in:Pires 2010: 194)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “Ademais, como aponta Singer (1977), a correlação deforças amplamente desfavorável aos trabalhadores tambémpossibilitou às empresas elevar a intensidade do trabalho,impondo longas jornadas e maior disciplina da força detrabalho. Essa prática propiciou ganhos de produtividadeque não foram repassados aos salários, elevando as taxasde exploração e as taxas de lucros dos capitalistas, o queamenizou a crise para muitas empresas”. (Camargo, in:Pires 2010: 195)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “Portanto, não constitui surpresa que a conjugação dapolítica salarial e da política trabalhista, que levou a umacompressão da remuneração dos trabalhadores, tenharesultado em uma impressionante concentração de rendaentre 1960 e 1970”. (Camargo, in: Pires 2010: 195, grifosmeus)

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Camargo (in: Pires 2010)

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• “Assim, a política salarial vigente, ao preservar ou elevar opoder aquisitivo das camadas mais altas de renda,reduzindo, ao menos em termos relativos, a renda dossegmentos de renda mais baixa, tornou não apenas o perfilda distribuição de renda mais regressivo como tambéemintroduziu mudanças importantes na estrutura dademanda, como enfatiza Singer (1977). Ocorreu umaexpansão mais intensa dos bens de consumo duráveis e dedeterminados tipos de serviços consumidos pelas classesmais altas, enquanto os bens de consumo não duráveis,como alimentos, vestuário e tecidos, tiveram umcomportamento menos dinâmico”. (Camargo, in: Pires2010: 196)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “A retomada do crescimento econômico começou a delinear-se ainda no final de 1967, mas foi no ano seguinte que aeconomia brasileira voltou a crescer de forma consistente”.(Camargo, in: Pires 2010: 196)

• “Cabe destacar que a retomada foi liderada pelo setorprodutor de bens de consumo duráveis, que acabou puxandoos demais setores da economia, além de consolidar suaposição como o setor mais dinâmico da economia, o quehavia sido apenas esboçado no período do Plano de Metas.Dessa forma a grande expansão desse período não significouuma mudança na estrutura econômica, mas, sim, umaprofundamento das tendências manifestadasanteriormente”. (Camargo, in: Pires 2010: 198)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “Outra característica importante desse período foi oaprofundamento do processo de abertura da economiabrasileira, iniciado com o Plano de Metas. (...) As reformasintroduzidas no comércio exterior e o contextointernacional favorável permitiram recorrer às importações,particularmente de bens de produção, na medida em que orápido crescimento da economia brasileira, a partir de1968, tendia a ocupar paulatinamente a capacidade ociosaexistente. (...) A ampliação das importações só foi possíveldevido ao incremento acentuado das exportações e aosfluxos de financiamento e investimentos externos, quecresceram a partir de 1968”. (Camargo, in: Pires 2010: 199)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “Outro aspecto importante foi a diversificação dasexportações, especialmente com o crescimento paulatinodas exportações de produtos industrializados”. (Camargo,in: Pires 2010: 199)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “A maior abertura da economia brasileira não pode ser vistade forma isolada da conjuntura internacional naquelemomento. O chamado ‘milagre econômico’ coincidiu comuma fase de grande expansão da economia mundial,embora essa mesma expansão gerasse contradições queabririam, posteriormente, uma profunda criseinternacional, a qual seria um dos fatores determinantespara o esgotamento da fase de crescimento acelerado daeconomia brasileira. (...) Sem dúvida, a expansão aceleradada economia mundial também foi fundamental para essedesempenho, particularmente a larga especulação comcommodities, que caracterizou os anos iniciais da década de1970”. (Camargo, in: Pires 2010: 199-200)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “A política de estimular a abertura da economia brasileira,seguida a partir de 1964, representava o aprofundamentoda estratégia de desenvolvimento associado esboçado ainano Estado Novo, mas que tinha ganho outra dimensão naépoca do Governo JK. Essa estratégia visava, segundoSinger (1977), inserir o Brasil na divisão internacional dotrabalho como produtor de bens primários, bens deconsumo e máquinas e equipamentos leves. O Brasilcontinuaria importando tecnologia e uma grande gama debens de capital”. (Camargo, in: Pires 2010: 201)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “Essa estratégia sancionava a estrutura vigente naeconomia naquele momento. Nesse ponto, diferia doprojeto de desenvolvimento de Vargas, que almejavacentrar o desenvolvimento brasileiro na constituição dodepartamento produtor de bens de produção, emboracontasse, para isso, com ampla participação do capitalestrangeiro. Ao seguir essa estratégia, o governo militarestava abrindo mão da possibilidade de outra forma dedesenvolvimento, de um capitalismo plenamentedesenvolvido, em que a dependência tecnológica efinanceira poderia ser bem menor. A maior abertura daeconomia brasileira favoreceu a ampliação do papel dasempresas multinacionais”. (Camargo, in: Pires 2010: 201)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “Muitos autores, entre eles Singer (1977), Oliveira (1984),Serra (1984) e Mello e Beluzzo (1984), ressaltam que orápido crescimento liderado pelo setor de bens de consumoduráveis ocasionou acentuados desequilíbrios setoriais naeconomia brasileira. Esses desequilíbrios geraram pontosde estrangulamento em setores importantes. (...) Asindústrias de bens de capital e intermediários nãoconseguiram satisfazer as necessidades ampliadas demáquinas, equipamentos e insumos básicos dos demaissetores da economia”. (Camargo, in: Pires 2010: 202)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “O crescimento acelerado das importações, em decorrênciadas altas taxas de acumulação e da atrofia relativa do setorprodutor de bens de produção, acarretou desequilíbrios nobalanço de pagamentos. O crescimento das exportaçõesverificado no período não foi suficiente para cobrir asimportações, pagar os juros da dívida externa e fazer frentea outros tipos de remessas. Vários autores, como é o casode Singer (1977), consideram que o aumento doendividamento externo, nesse período, foi necessário paracobrir as importações imprescindíveis à continuidade daexánsão econômica, ao pagamento da dívida externa e àsremessas de lucro”. (Camargo, in: Pires 2010: 203)

Camargo (in: Pires 2010)

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• “O esgotamento do chamado ‘milagre econômico’ estáintimamente associado a esses desequilíbrios setoriais, queforam se agravando ao longo da fase de expansão. A irrupçãoda crise internacional, em 1974, também contribuiu para acrise do ‘milagre’, mas a fase de expansão já dava nítidossinais de esgotamento bem antes da crise internacional. (...) Oauge do ciclo expansivo da economia brasileira ocorreu em1973, quando o crescimento do Produto Interno Brutoatingiu 14%. Mas, já no fim daquele ano, a crise do petróleoviria a piorar o cenário internacional, levando a economiamundial a um longo período de recessão cujos impactos naeconomia brasileira seriam sentidos no ciclo seguinte, da‘marcha forçada”. (Camargo, in: Pires 2010: 203)

Para pensar...

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1. Segundo Camargo (in: Pires 2010), o ‘milagreeconômico’ teria aprofundado a concentração derenda no Brasil. Esse foi um resultado acidental, ouele foi política e economicamente buscado? Quaisforam os fatores que levaram a esse resultado?

2. Quais os motivos internos e externos que resultaram,segundo Camargo (in: Pires 2010), no esgotamentodo ‘milagre econômico’?