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Medidas simples e produtos ainda não utilizados fazem parte da solução de um dos maiores problemas do agricultor: o armazenamento. Nas duas matérias a seguir são dadas informações pouco conhecidas sobre resistência de insetos a alguns produtos químicos, dicas de manejo e possibilidades do uso de produtos naturais. A primeira é sobre o controle biológico, elaborada pelo pesquisador da Embrapa Trigo, Irineu Lorini. A outra trata do uso de produtos naturais contra pragas e foi escrita pelos pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo, Hélio P rates e Jamilton Santos. Alternativas no Armazenamento Quando o inseto continua vivo O controle biológico é um método eficiente de controle de muitas pra- gas em nível de campo, mas pouco adequa- do ao ambiente de armazenagem. O controle de pragas que ocorrem em armazéns é feito principalmente pelo uso de químicos e, pelo fato de que os grãos devem ser mantidos isentos de insetos tanto quan- to possível, não haverá disponibilidade de hospedeiros para manter a população de pre- dadores e parasitóides na massa de grãos. Também, pelo uso desses químicos, ha- verá pouca chance de sobrevivência de ini- migos naturais nesse ambiente, a menos que Entenda por que está havendo casos de resistência de insetos aos produtos tradicionalmente usados em armazéns e como minimizar o problema Quando o inseto continua vivo eles possam tolerar os produtos químicos. Nesse particular, existem trabalhos que de- monstram a tolerância de inimigos naturais de pragas aos inseticidas usados para con- trole. Uso de parasitóides Como exemplo, o parasitóide Theocolax elegans (Westwood) (Hymenoptera: Ptero- malidae), proveniente de populações de R. Para difusão dessa tecnologia, a Embrapa Trigo já realizou treina- mento formal em nove cursos de 16 horas para responsáveis técnicos de unidades armazenadoras de grãos, com a participação de cerca de 270 pessoas. Foram produzidos um folder e uma publicação técnica distri- buída ao público interessado e aos participantes dos cursos. A Embrapa Trigo fez a demonstração do MIP Grãos em um dia de campo na unidade armazenadora de Cornélio Procópio, PR, na Cooperativa Integrada do Paraná, além de implantar Unidades de Observação/Demonstração e dia de campo de armazenagem de propriedade rural no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ações da Embrapa Trigo no MIP grãos dominica resistentes ao inseticida deltame- thrin, também apresentou elevada tolerân- cia a esse inseticida. Esse inseto também pode tolerar o tratamento de grãos com dióxido de carbono, conforme comprovado por Banks e Sharp (1979). Essas características são altamente desejáveis para uso de con- trole biológico nesses ambientes onde o in- seticida químico estará presente. Na litera- tura, verifica-se uma variedade de inimigos naturais de pragas de grãos armazenados. Porém, as citações limitam-se à identifica- ção do agente e à capacidade de predação ou parasitismo em laboratório. Teretriosoma nigrescens (Coleoptera: His- teridae) é mencionado como predador im- portante de Prostephanus truncatus, o qual também pode reduzir populações de Dino- derus minutus e de R. dominica. O ácaro Aca- rophenax lacunatus (Acari: Acarophenaci- dae) tem sido encontrado predando ovos de R. dominica e chega a reduzir em até 90 % a população da praga. O parasitóide T. elegans é comumente encontrado parasitando estádios imaturos de S. oryzae, embora não seja eficiente em re- duzir a população da praga e é menos com- petitivo que outro parasitóide, Anisopteroma- lus calandrae, tanto em milho quanto em tri- go. Controle biológico O controle biológico deve ser estudado e entendido como estratégia de controle de pragas durante o armazenamento de grãos. A liberação de parasitóides em grandes quan- tidades em armazéns, para redução de pra- gas, sem prejudicar a qualidade do produto final, deve ser investigada, uma vez que existe a necessidade de se manter uma população mínima do hospedeiro no ambiente. Porém, é um método de controle que deve ser considerado por ocasião do manejo integrado de pragas e sua real contribuição na redução de pragas deve ser medida. Pragas que resistem A resistência em pragas de produtos ar- mazenados a inseticidas, no Brasil, tem as- sumido grande importância nos últimos anos. Para as principais pragas de grãos armazena- dos, como R. dominica, S. oryzae, S. zeamais, T. castaneum e C. ferrugineus, já foram de- tectadas raças resistentes, no Brasil, aos in- seticidas químicos usados para controle. Isso evidencia a necessidade urgente de adotar o manejo integrado de pragas no ar- mazenamento para que esses inseticidas se- jam preservados pelo maior tempo possível, devido à grande dificuldade de substituição desses produtos. Por isso, o manejo da resis- tência de pragas aos inseticidas no ambiente de armazenagem de grãos é uma prática es- sencial, pois é muito difícil controlar uma praga depois dela tornar-se resistente a um produto químico. O manejo adequado pode reduzir o nú- mero de espécies resistentes ou, no mínimo, retardar o aparecimento do problema da re- sistência. Por outro lado, a resistência de pa- rasitóides de pragas de produtos armazena- dos a inseticidas poderá ser empregada como estratégia de controle de pragas, complemen- tar ao controle químico convencional. Evolução das espécies A resistência de pragas a inseticidas é um exemplo de evolução das espécies e demons- tra como podem sobreviver e mudar fisiolo- gicamente sob pressão dos químicos que se- lecionam geneticamente. Como exemplo, a resistência da praga de grãos armazenados R. dominica ao inseticida piretróide deltame- thrin e a resistência cruzada da mesma pra- ga aos inseticidas pirimiphos-methyl, chlor- pyrifos-methyl e permethrin resultaram da associação dos mecanismos de resistência metabólicos e redução da sensibilidade do sistema nervoso. Devido a falhas de controle da formula- ção comercial de deltamethrin, os diferen- tes insetos coletados em diversas unidades armazenadoras de grãos foram submetidos ao teste de resistência, que inicialmente apresentou fator de resistência de 874 ve- zes. Após nove gerações de seleção em labo- ratório com esse inseticida, o fator de resis- tência aumentou para 9.036 vezes, entre os mais suscetíveis e os resistentes. Essa resis- tência é explicada parte pelo mecanismo metabólico, pelo uso dos bloqueadores enzi- máticos butóxido de piperonila e DEF, parte pela mudança no comportamento das raças Hélio Prates

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Page 1: Especial - Embrapaainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/58127/1/Quando-inseto.pdfPara difusão dessa tecnologia, a Embrapa Trigo já realizou treina-mento formal em nove cursos

EspecialEspecialEspecialEspecialEspecialMedidas simples e produtos ainda não utilizados fazemparte da solução de um dos maiores problemas doagricultor: o armazenamento. Nas duas matérias a seguirsão dadas informações pouco conhecidas sobreresistência de insetos a alguns produtos químicos, dicasde manejo e possibilidades do uso de produtos naturais.A primeira é sobre o controle biológico, elaborada pelopesquisador da Embrapa Trigo, Irineu Lorini.A outra trata do uso de produtos naturais contra pragase foi escrita pelos pesquisadores da Embrapa Milho eSorgo, Hélio Prates e Jamilton Santos.

Alternativas noArmazenamento

Quando o insetocontinua vivo

O controle biológico é um métodoeficiente de controle de muitas pra-

gas em nível de campo, mas pouco adequa-do ao ambiente de armazenagem.

O controle de pragas que ocorrem emarmazéns é feito principalmente pelo uso dequímicos e, pelo fato de que os grãos devemser mantidos isentos de insetos tanto quan-to possível, não haverá disponibilidade dehospedeiros para manter a população de pre-dadores e parasitóides na massa de grãos.

Também, pelo uso desses químicos, ha-verá pouca chance de sobrevivência de ini-migos naturais nesse ambiente, a menos que

Entenda por que estáhavendo casos deresistência de insetos aosprodutos tradicionalmenteusados em armazéns ecomo minimizar oproblema

Quando o insetocontinua vivo

eles possam tolerar os produtos químicos.Nesse particular, existem trabalhos que de-monstram a tolerância de inimigos naturaisde pragas aos inseticidas usados para con-trole.

Uso deparasitóidesComo exemplo, o parasitóide Theocolax

elegans (Westwood) (Hymenoptera: Ptero-malidae), proveniente de populações de R.

Para difusão dessa tecnologia, a Embrapa Trigo já realizou treina-mento formal em nove cursos de 16 horas para responsáveis técnicos deunidades armazenadoras de grãos, com a participação de cerca de 270pessoas. Foram produzidos um folder e uma publicação técnica distri-buída ao público interessado e aos participantes dos cursos. A EmbrapaTrigo fez a demonstração do MIP Grãos em um dia de campo na unidadearmazenadora de Cornélio Procópio, PR, na Cooperativa Integrada doParaná, além de implantar Unidades de Observação/Demonstração edia de campo de armazenagem de propriedade rural no Rio Grande doSul e Santa Catarina.

Ações da EmbrapaTrigo no MIP grãos

dominica resistentes ao inseticida deltame-thrin, também apresentou elevada tolerân-cia a esse inseticida. Esse inseto também podetolerar o tratamento de grãos com dióxidode carbono, conforme comprovado porBanks e Sharp (1979). Essas característicassão altamente desejáveis para uso de con-trole biológico nesses ambientes onde o in-seticida químico estará presente. Na litera-tura, verifica-se uma variedade de inimigosnaturais de pragas de grãos armazenados.

Porém, as citações limitam-se à identifica-ção do agente e à capacidade de predaçãoou parasitismo em laboratório.

Teretriosoma nigrescens (Coleoptera: His-teridae) é mencionado como predador im-portante de Prostephanus truncatus, o qualtambém pode reduzir populações de Dino-

derus minutus e de R. dominica. O ácaro Aca-

rophenax lacunatus (Acari: Acarophenaci-dae) tem sido encontrado predando ovos deR. dominica e chega a reduzir em até 90 % apopulação da praga.

O parasitóide T. elegans é comumenteencontrado parasitando estádios imaturos deS. oryzae, embora não seja eficiente em re-duzir a população da praga e é menos com-petitivo que outro parasitóide, Anisopteroma-

lus calandrae, tanto em milho quanto em tri-go.

ControlebiológicoO controle biológico deve ser estudado

e entendido como estratégia de controle depragas durante o armazenamento de grãos.A liberação de parasitóides em grandes quan-tidades em armazéns, para redução de pra-gas, sem prejudicar a qualidade do produtofinal, deve ser investigada, uma vez que existea necessidade de se manter uma populaçãomínima do hospedeiro no ambiente.

Porém, é um método de controle quedeve ser considerado por ocasião do manejointegrado de pragas e sua real contribuiçãona redução de pragas deve ser medida.

Pragasque resistemA resistência em pragas de produtos ar-

mazenados a inseticidas, no Brasil, tem as-sumido grande importância nos últimos anos.Para as principais pragas de grãos armazena-dos, como R. dominica, S. oryzae, S. zeamais,T. castaneum e C. ferrugineus, já foram de-

tectadas raças resistentes, no Brasil, aos in-seticidas químicos usados para controle.

Isso evidencia a necessidade urgente deadotar o manejo integrado de pragas no ar-mazenamento para que esses inseticidas se-jam preservados pelo maior tempo possível,devido à grande dificuldade de substituiçãodesses produtos. Por isso, o manejo da resis-tência de pragas aos inseticidas no ambientede armazenagem de grãos é uma prática es-sencial, pois é muito difícil controlar umapraga depois dela tornar-se resistente a umproduto químico.

O manejo adequado pode reduzir o nú-mero de espécies resistentes ou, no mínimo,retardar o aparecimento do problema da re-sistência. Por outro lado, a resistência de pa-rasitóides de pragas de produtos armazena-dos a inseticidas poderá ser empregada comoestratégia de controle de pragas, complemen-tar ao controle químico convencional.

Evoluçãodas espéciesA resistência de pragas a inseticidas é um

exemplo de evolução das espécies e demons-

tra como podem sobreviver e mudar fisiolo-gicamente sob pressão dos químicos que se-lecionam geneticamente. Como exemplo, aresistência da praga de grãos armazenadosR. dominica ao inseticida piretróide deltame-thrin e a resistência cruzada da mesma pra-ga aos inseticidas pirimiphos-methyl, chlor-pyrifos-methyl e permethrin resultaram daassociação dos mecanismos de resistênciametabólicos e redução da sensibilidade dosistema nervoso.

Devido a falhas de controle da formula-ção comercial de deltamethrin, os diferen-tes insetos coletados em diversas unidadesarmazenadoras de grãos foram submetidosao teste de resistência, que inicialmenteapresentou fator de resistência de 874 ve-zes.

Após nove gerações de seleção em labo-ratório com esse inseticida, o fator de resis-tência aumentou para 9.036 vezes, entre osmais suscetíveis e os resistentes. Essa resis-tência é explicada parte pelo mecanismometabólico, pelo uso dos bloqueadores enzi-máticos butóxido de piperonila e DEF, partepela mudança no comportamento das raças

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Page 2: Especial - Embrapaainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/58127/1/Quando-inseto.pdfPara difusão dessa tecnologia, a Embrapa Trigo já realizou treina-mento formal em nove cursos

O maior conhecimento das estru-turas químicas dos produtos na-

turais, bem como da sua função nas inte-rações das plantas com os insetos, tornapossível abordagens biorracionais no de-senvolvimento de novos agentes biocidas.

Os produtos naturais provenientes deplantas podem ser de potencial interesseno combate a insetos, pois o conhecimen-to sobre a sua atividade biológica pode le-var à sua aplicação no manejo de pragas.Esta aplicação pode ser do próprio produ-to natural, diretamente, ou de seus análo-gos resultantes de modificações estruturais.

A ecologia química é um ramo da ci-ência em crescimento, onde as relaçõesplanta/inseto, planta/planta, dentre outras,são examinadas em termos do efeito desubstâncias sobre as funções biológicas. Elaestabelece que essas substâncias são fre-qüentemente metabólitos secundários, osquais se constituem em verdadeiros sinaisquímicos nessas interações.

ContrainsetosDentre esses metabólitos encontram-

se os terpenos, especialmente os monoter-penos e seus análogos, que são componen-

Irineu Lorini,Embrapa Trigo

e parte pela redução da sensibilidade do sis-tema nervoso do inseto, devido à provávelmudança na permeabilidade da membranado canal de sódio.

Monitoramentodos grãosO sistema de acompanhamento de pra-

gas que ocorrem na massa de grãos armaze-nados é de fundamental importância, poisvisa detectar o início de qualquer infestaçãoque poderá alterar a qualidade final do grão.

O sistema de monitoramento instaladodeve contemplar um método eficiente deamostragem de insetos, de medição da tem-peratura e da umidade do grão e de detec-ção da presença de fungos.

Para insetos que vivem no interior damassa de grãos, existem dois métodos efici-entes: o método tradicional, que consiste emcoletar amostras de grãos em vários pontosdo armazém e passá-los por uma peneira de20 cm x 20 cm, malha de 2 mm, dotada deum coletor, onde ficam retidas as pragas paraposterior identificação e quantificação.

Outro método é o uso de armadilhas deplástico, tipo �Burkholder Grain Probe�, queconsistem em tubos de plástico de 2,5 cm dediâmetro e 36 cm de comprimento, perfura-dos na metade superior.

Essas armadilhas são introduzidas namassa de grãos, onde permanecem por de-terminado tempo, 15 dias por exemplo. Pelodeslocamento dos insetos na massa de grãos,estes caem nas perfurações da armadilha,que, internamente, possui um coletor queimpede a saída dos insetos. Após um perío-do variável de 15 a 30 dias, essas armadilhassão retiradas, e as pragas identificadas equantificadas. Podem ser usados feromôni-os específicos para atrair insetos para o inte-rior das armadilhas.

A vantagem da armadilha de plástico éa coleta de insetos vivos na massa de grãos,uma vez que há necessidade destes se deslo-carem para que sejam capturados pela ar-madilha. No método da peneira, recolhem-se insetos vivos e mortos. Além disso, a per-manência da armadilha na massa de grãospode extrair, com maior exatidão, informa-ções sobre a população da praga e auxiliarna tomada de decisão para controle.

Outras espéciesoutras armadilhasPara traças e outras espécies que atacam

apenas a superfície da massa de grãos, exis-

tem armadilhas adesivas que determinama densidade de insetos que estão voandono interior da unidade armazenadora. Elessão monitorados periodicamente pela con-tagem de indivíduos, permitindo a previ-são de infestação e auxiliando na tomadade decisão.

O monitoramento está baseado em efi-ciente sistema de amostragem de pragas,por qualquer método empregado, e na me-dição de diversas variáveis que influem naconservação do grão armazenado. Dessaforma, com o método eficaz e com o acom-panhamento contínuo, chega-se à deter-minação de todos os fatores que podeminterferir na conservação de grãos.

ControleintegradoA integração de diferentes métodos de

controle é uma prática essencial para seobter sucesso na supressão de pragas degrãos armazenados. A resistência de pra-gas a inseticidas, crescente no Brasil, exi-ge o uso integrado de outros métodos quenão somente os químicos.

Os métodos físicos, que antecederamos químicos no controle de pragas no pas-sado, devem ser retomados e adequadosao uso presente e futuro. Também o con-trole biológico precisa ser definido quantoà sua parcela de contribuição na reduçãodas populações de pragas; quando empre-gado com um método não-químico, po-derá ter melhor performance.

O controle químico, adotado na mai-oria das unidades armazenadoras pela fa-cilidade e simplicidade de uso, tem apre-sentado limitações de emprego, pelo au-mento da resistência de pragas a esses in-seticidas ou pela contaminação de alimen-tos através do resíduo deixado no grão.

A solução para reduzir o efeito de pra-gas em grãos não é simples e exige compe-tência técnica para ser executada. Exige aintegração dos métodos possíveis de seremexecutados em cada unidade armazenado-ra e por um eficiente sistema de monito-ramento, os quais, associados às medidaspreventivas e curativas de controle de pra-gas, permitirão ao armazenador manter ogrão isento de insetos, evitando perdasquantitativas e mantendo a qualidade decomercialização e de consumo do produ-to.

Você já pensou emutilizar produtosnaturais para combaterpragas dearmazenamento? Numsistema de agriculturamoderno, sob aorientação de umprofissional habilitado eem conjunto comprodutos tradicionais,esses meios alternativospodem ajudar muito

tes abundantes de óleos essenciais de mui-tas plantas superiores. Eles são compostostipicamente lipofílicos tendo, portanto, umalto potencial para interferências tóxicascom funções bioquímicas básicas, fisioló-gicas e comportamentais contra insetos.Muitas dessas substâncias exibem propri-edades tóxicas, repelentes, ou mesmo atra-tivas em numerosas espécies de insetos.

Além disso, um grande número de óle-os essenciais podem reduzir a produtivi-dade de vários insetos de produtos arma-zenados e afetar negativamente o cresci-mento, desenvolvimento e reprodução dealguns insetos herbívoros.

Piretro emdestaqueDestaque deve ser dado ao piretro ex-

traído da planta Chrysantemum cinerariae-folium, que teve seu uso como inseticida ini-ciado em 1850. A importância quanto aouso do piretro está no seu efeito rápido con-tra insetos voadores combinado com suabaixa toxicidade a mamíferos.

Entretanto, o uso do piretro na agricul-tura é limitado devido à sua instabilidadeem presença de ar e luz. Este fato levou aodesenvolvimento de novos inseticidas, sur-gindo assim várias gerações de derivados co-nhecidos como piretróides sintéticos.

Avaliação desubstânciasNa Embrapa Milho e Sorgo, Sete La-

goas (MG), os estudos na área de ecologiaquímica estão voltados para a avaliação daatividade inseticida de substâncias de ori-gem vegetal contra insetos nocivos às cul-turas de milho e sorgo.

Os trabalhos foram iniciados com tes-tes de evaporação, efeito fumigante e açãopor contato ou ingestão dos monoterpe-nos sobre os insetos Sitophilus zeamais, Si-tophilus oryzae, Rhyzopertha dominica e Tri-

bolium castaneum que são pragas importan-tes de grãos armazenados.

Na seqüência, avaliou-se o potencialinseticida dos óleos essenciais de três es-pécies de eucalipto: Eucalyptus camaldu-lensis, Eucalyptus cameronii e Eucalyptus

globulus os quais apresentam o monoter-peno 1,8-cineol, como constituinte prin-cipal. Os óleos foram obtidos por arrastecom vapor das folhas, por colaboração daEmbrapa Alimentos, Rio de Janeiro.

Além destes e, em decorrência do le-vantamento de plantas que apresentamatividade inseticida disponíveis na florabrasileira, foram testadas como plantas depotencial interesse: Carqueja (Baccharisgenistelloides), Angico (Piptadenia colubri-na), Araticum (Annona crassiflora) e Nim

(Azadirachta indica, esta introduzida daÍndia), através do monitoramento dos seusextratos em relação ao potencial biológi-cos contra pragas de grãos armazenados.A metodologia utilizada nos testes é se-melhante àquela descrita para testar re-sistência de insetos a inseticida (FAO,1974), com pequenas modificações.

Os insetos utilizados nos testes foramcriados artificialmente em laboratório, sen-do os gorgulhos (Sitophilus) alimentadoscom milho integral, o Rhyzopertha com tri-go e o Tribolium com farinha de trigo, emcondições de aproximadamente 26±1 °Ce umidade relativa de 70%. Os insetos usa-dos nos testes apresentavam idade varian-do de 2 a 4 semanas e foram mantidos emjejum por 3 horas antes dos testes.

Testes defumigaçãoEssas substâncias apresentam diferen-

tes taxas de evaporação, as quais forammedidas em ambiente fechado como pre-paração para os testes de fumigação, vi-sando o controle de pragas de grãos arma-zenados.

O teste consistiu na utilização de umfrasco com capacidade de 2L tampado evedado com folha de alumínio, contendono seu interior um suporte em arame de

Produtos naturaisajudam o agricultorProdutos naturaisajudam o agricultor

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aço que sustenta um vidro de relógio com pesoconhecido. Sobre o vidro de relógio foi colo-cada a substância previamente pesada (3 go-tas) e deixada para evaporar em ambiente,cujo ar foi homogeneizado através de agita-ção com barra magnética/agitador magnéti-co.

Finalmente, a quantidade de substânciarestante foi pesada e anotado o tempo gasto,quando menor que 24 horas. Os resultados,mostrados na tabela, indicam que as substân-

cias (+)-a-pineno, 1,8-cineol, (-)-b-pineno elimoneno apresentam maiores possibilidadespara o teste de fumigação devido à evapora-ção total (100%) em menor tempo.

Entretanto, não se invalida o teste comas outras substâncias de evaporação mais len-ta, uma vez que não se conhece os seus efei-tos sobre as pragas de milho e sorgo. Os inse-ticidas mais eficientes apresentam ação porcontato e/ou ingestão e ação fumigante, e, nes-se caso, a pressão de vapor (taxa de evapora-

ção) é um fator importante.

AçãofumiganteInicialmente, avaliou-se a

ação fumigante de monoterpe-nos sobre o Sitophilus zeamais.Essencialmente, avaliou-se apressão de vapor ou o efeito dassubstâncias voláteis sobre o in-seto, seguindo procedimentodescrito por Karr e Coats(1988).

O teste consistiu na utiliza-ção de um frasco de vidro comcapacidade de 2 litros vedadocom folha de alumínio e comtampa rosqueável. No interiordo frasco foi colocado um su-porte de arame de aço para sus-tentar um vidro de relógio compeso conhecido. Sobre o vidrode relógio foi colocada a subs-tância previamente pesada (3gotas) e deixada para evapora-ção à temperatura ambiente ematmosfera homogeneizada atra-vés de agitação com barra mag-nética/agitador magnético.Logo acima do vidro de relógiofoi suspensa uma gaiola de ara-me contendo 20 insetos adul-tos. Finalmente, após um perí-odo de 24 horas, o frasco foiaberto e avaliada a mortalida-de. Pela análise de variância ob-servou-se diferença significati-va entre os tratamentos.

Os resultados da ação fumi-gante de terpenos sobre o ca-runcho - do - milho, S. zeamais,avaliada com base na mortali-dade são mostrados na tabela.As médias dos produtos men-tol, a-terpineol e citronelol emrelação às demais substânciasforam significativamente meno-

res de acordo com o teste de Duncan ao ní-vel de 5% de probabilidade. Com base nosresultados obtidos com o S. zeamais com asvárias substâncias, o produto cineol e limo-neno foram selecionados e testados em rela-ção ao S. zeamais (novamente) e ao S. oryzae,

R. dominica e T. castaneum (tabela).

Fontesde cineolComo fontes naturais do cineol foram tes-

tadas as três espécies de Eucalipto: E. camal-

dulensis, E. cameronii e E. globulus. Os testesforam efetuados com três repetições, acom-panhado por testemunhas. Após um períodode 24 horas os frascos foram abertos e os re-sultados estão mostrados na tabela.

Os resultados observados com R. domini-

ca revelaram efeito fumigante causando mor-talidade sobre 100% dos insetos quando seutilizou tanto o E. camaldulensis quanto o E.

cameronii. Destaca-se também a eficiência de87 e 90 %, respectivamente, quando se usouo E. camaldulensis contra S. zeamais e S. oryzae.O E. globulus foi o mais estável para todos osinsetos, sendo que a eficiência variou de 87 a98 %.

Ação decontatoInicialmente foram realizados testes das

substâncias 1,8 Cineol e R-(+)-Limonenosobre as pragas S. zeamais, S. oryzae, R. domi-

nica e T. castaneum em contato sobre papelde filtro.

Os testes consistiram em aplicar homo-geneamente as substâncias puras e em dilui-ções em acetona sobre papel de filtro. Apósum minuto para evaporação da acetona fo-ram colocados em contato com o papel defiltro 20 insetos de cada espécie em teste.

Os insetos ficaram confinados em anel devidro (5 cm de diâmetro x 2,5 cm altura),impregnado com talco (caulin) em sua super-fície interna para forçá-los a permaneceremsobre o papel, sendo o anel coberto com telade tecido vual, fina, presa por um elástico,para impedir que os insetos escapassem vo-ando. Cada teste foi realizado com três repe-tições.

Os insetos permaneceram em contatocom o papel de filtro tratado por 24 horas,quando foram observados quanto à mortali-dade. Foi também avaliado o óleo essencialda espécie de E. camaldulensis sobre os mes-mos insetos, seguindo a mesma metodologiado ensaio anterior, porém com pequena alte-ração no período de contacto e forma de ava-

liar o efeito sobre os insetos. Eles permanece-ram em contacto com o papel de filtro por 48horas quando foram observados quanto a efei-to �knock down�, isto é, efeito de choque ca-racterizado pela incapacidade de caminhar ecom evolução para a morte. Os resultadosestão mostrados na tabela.

Teste comS. oryzaePara o S. oryzae no teste por contato em

papel de filtro o óleo essencial foi eficientepara cerca de 90% dos insetos na dose com168 mg, atingindo 98% com o óleo essencialpuro. Entretanto, para o S. zeamais o teste decontato em papel de filtro foi eficiente paracerca de 93% dos insetos na dose com 84 mg,chegando a 100% na dose com 168 mg.

Para R. dominica o resultado observadomostrou eficiência de 100% na dose com 84mg ou acima. Para T. castaneum obteve-se100% de eficiência somente com o óleo es-sencial puro. Para R. dominica o resultado ob-servado mostrou eficiência de 100% na dose84 mg.

Contato ouingestãoInicialmente foram realizados testes por

ingestão ou contato com grãos utilizando-seas mesmas pragas e as mesmas concentraçõesde cineol e limoneno. Neste caso as pragasforam confinadas, juntamente com grãos detrigo impregnados com a substância pura eem diferentes diluições em frasco de vidro comcapacidade de 30 mL tampado com tela fina.

Anotações da mortalidade foram realiza-das 24 horas após o contato dos insetos comos grãos. Os resultados (efeito �knock down�),estão mostrados na tabela para o Cineol e parao Limoneno.

Quanto ao teste de ação por ingestão oucontato com o óleo essencial do E. camaldu-lensis os resultados observados revelaram quepara o S. oryzae o óleo foi eficiente causando100 % de mortalidade nos insetos até na dosecom 42 mg (óleo essencial: acetona).

Para o S. zeamais o óleo essencial foi efici-ente para em torno de 89,8% dos insetos nadose com 42 mg, atingindo 10 % na dose com84 mg ou acima. Para R. dominica o resultadoobservado mostrou eficiência de 100% até adose com 21 mg, enquanto que para T. casta-neum 100% até a dose com 84 mg. (tabela)

Extratosde plantasEste ensaio foi realizado com os extratos

de plantas não solúveis em ace-tona. A solução do extrato tes-tada foi preparada a 20000 mgmL-1 na mistura EtOH:H2O:TRITON (0,6:0,3:0,05) paraavaliação inicial da atividadeinseticida Nessa concentraçãoforam aplicados 2 mL em 10grãos, utilizando-se micropipe-tas de 20 mL. Os grãos e os in-setos foram confinados em tu-bos de ensaio de 14 mL cobertocom tela de malha fina para evi-tar que os insetos escapassemvoando.

Os experimentos forammontados com S. zeamais, utili-zando-se os seguintes extratos:a) extrato aquoso de folhas deNim (A. indica); b) extrato bru-to de angico (P. colubrina); c) ex-trato bruto e fracionado de ara-ticum (A. crassiflora); d) extra-to bruto de carqueja (B. geniste-

lloides), obtidos de diferentesformas. Anotações quanto àmortalidade foram realizadas 48horas após o contacto e calcu-lada a eficiência, conforme mos-tra a tabela.

A figura mostra a monta-gem utlizada para avaliação:(A) fumigação, (B) contato e(C) contato e/ou ingestão.

Finalmente, foi avaliado oefeito repelente do óleo essen-cial e da folha de E. citriodorasobre o S. zeamais. O teste foirealizado utilizando-se de umacaixa de madeira com60x40x5cm de dimensões, comtampa corrediça de vidro. Deum lado da caixa colocaram-se os grãos demilho misturado com fragmentos de folha ouimpregnado com o óleo essencial . Os resul-tados das várias alternativas comparadas es-tão na tabela e mostram que os insetos prefe-riram se alimentar nos grãos livres da presen-ça do eucalipto.

Conclusõesdos estudosCom base nos resultados observados nes-

te trabalho se pode concluir que:a) O monoterpeno cineol, componente

de óleo essencial de Eucaliptus camaldulensis,E. cameronii e E. globulus e o limoneno da cascade Citrus auratium, possuem grande ação in-

seticida em relação a importantes pragas degrãos armazenados;

b) Estas substâncias são tóxicas atravésda penetração no corpo do inseto por via sis-tema respiratório (efeito fumigante), atravésda cutícula (efeito de contacto) e pelo apare-lho digestivo (efeito de ingestão);

c) O teste de contato dos insetos comgrãos foi mais sensível do que com papel defiltro. Extratos brutos de plantas silvestres en-contradas na flora brasileira também possu-em ação inseticida.

Hélio T. Prates eJamilton P. Santos,Embrapa Milho e Sorgo