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22 A influência do agronegócio contribuiu para que a região Centro-Oeste expandisse sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) nacional entre 2010 e 2011. Segundo a pesquisa de Contas Regionais do Brasil, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Es- tatística (IBGE) em novembro de 2013, a participação do Centro-Oeste cresceu de 9,3% para 9,6% em apenas um ano. Confirmando sua atual posição de celeiro nacional, conforme apontam dados Com características bastante diversas, Centro-Oeste e Minas Gerais proporcionam um leque de oportunidades Thaís Carapiá Perspectiva de grandes negócios da Companhia Nacional de Abastecimen- to (Conab), os estados da região foram detentores do maior volume de produção, 77,6 milhões de toneladas de produtos, e da maior área de cultivo, 20,6 mil hectares cultivados, na última safra recorde de grãos de 2012/2013. O volume representa 38,6% da área cultivada e 41% do total produzido pelo agronegócio no Brasil. A posição de liderança em área cultivada e produção era ocupada, de 1976 até 2011, pela região Sul. Apresentando o oitavo PIB entre es- tados brasileiros, o Mato Grosso responde sozinho por quase 25% da produção nacional, enquanto Goiás e Mato Grosso do Sul contribuem, respectivamente, com 9% e 7%. O Distrito Federal contribui ainda com 4% dos produtos. O fortalecimento do agronegócio e da economia da região Centro-Oeste se reflete também nos indicadores sociais definidos pelo Índice de Desenvolvimen- to Humano (IDH). Entre 1991 e 2010, os quatro estados da região registraram crescimento médio de 49% no IDH, avançando no ranking nacional. Apenas o especial Centro-Oeste e MG panorama

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A influência do agronegócio contribuiu para que a região Centro-Oeste expandisse sua participação no Produto

Interno Bruto (PIB) nacional entre 2010 e 2011. Segundo a pesquisa de Contas Regionais do Brasil, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Es-tatística (IBGE) em novembro de 2013, a participação do Centro-Oeste cresceu de 9,3% para 9,6% em apenas um ano.

Confirmando sua atual posição de celeiro nacional, conforme apontam dados

Com características bastante diversas, Centro-Oeste e Minas Gerais proporcionam um leque de oportunidades

Thaís Carapiá

Perspectiva de grandes negócios

da Companhia Nacional de Abastecimen-to (Conab), os estados da região foram detentores do maior volume de produção, 77,6 milhões de toneladas de produtos, e da maior área de cultivo, 20,6 mil hectares cultivados, na última safra recorde de grãos de 2012/2013. O volume representa 38,6% da área cultivada e 41% do total produzido pelo agronegócio no Brasil. A posição de liderança em área cultivada e produção era ocupada, de 1976 até 2011, pela região Sul.

Apresentando o oitavo PIB entre es-tados brasileiros, o Mato Grosso responde

sozinho por quase 25% da produção nacional, enquanto Goiás e Mato Grosso do Sul contribuem, respectivamente, com 9% e 7%. O Distrito Federal contribui ainda com 4% dos produtos.

O fortalecimento do agronegócio e da economia da região Centro-Oeste se reflete também nos indicadores sociais definidos pelo Índice de Desenvolvimen-to Humano (IDH). Entre 1991 e 2010, os quatro estados da região registraram crescimento médio de 49% no IDH, avançando no ranking nacional. Apenas o

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Mato Grosso do Sul caiu da 8ª colocação para a 10ª, enquanto o Distrito Federal manteve a liderança, seguido por Goiás (8ª) e Mato Grosso (11ª).

Segundo levantamento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), os municípios produtores de soja, além de obterem IDH superior aos não produtores, apresen-taram crescimento relativamente maior entre 1991 e 2010.

Diante deste cenário, o mercado de seguros também cresce em todos os esta-dos da região. “Estamos vivendo um mo-mento de crescimento dos prêmios, uma conscientização do público em relação à importância de se proteger o patrimônio, acompanhada de um crescimento em Vida”, afirma Dorival Alves de Sousa, presidente do Sincor-DF.

Para José Antonio de Oliveira Junior, presidente interino do Sincor-GO, o mer-

cado de seguros no estado se encontra aquecido, com destaque para os seguros agropecuários, que ainda são pouco co-mercializados, porém apresentam grande potencial.

Mato Grosso do Sul tem recebido novas seguradoras. “Estão vindo mais companhias e mais produtos, obtendo maior diversificação. A expectativa do mercado é muito boa”, ressalta Pedro Bonacina, presidente do Sincor-MS.

Destaca-se o mercado de seguros do estado do Mato Grosso, principalmente ao seu crescimento econômico, compa-rável a alguns países asiáticos, como a China, que vem se destacando na econo-mia mundial. Esse quadro de expansão se registra, especialmente, pela força do agronegócio, que representa algo em tor-no de 85% da economia mato-grossense, refletindo um considerável giro de capital que repercute em várias áreas, como a de seguros. Direta ou indiretamente, essa situação positiva da economia também

está relacionada com setores aquecidos, como o da construção civil, em expansão há vários anos.

Mais recentemente, Cuiabá, devido ao fato de ser uma das cidades sede da Copa do Mundo, também foi contempla-da com uma série de obras estruturais e de mobilidade urbana. A solidez do mercado da construção civil e as obras da Copa são fatores que impulsionam o mercado de seguros no estado. E, na linha de frente do mercado segurador, está a figura do corretor de seguros que, em 2014, além de se beneficiar com o mercado aquecido, também comemora os 25 anos da criação do Sindicato dos Corretores e Empresas Corretoras no estado (Sincor-MT), assim como a inau-guração de sua sede própria.

“A atuação do Sincor-MT torna-se importante no contexto do mercado dos seguros, especialmente considerando a grande extensão territorial do Mato Gros-so. A atuação sindical tem desenvolvido

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ações de capacitação e qualificação dos profissionais, buscando a formação de corretores preparados e lhes oferecendo constantemente oportunidades de reciclar e aprimorar seus conhecimentos. Nessa escalada, que significa a força e a expan-são do mercado dos seguros, as ações sindicais têm encontrado bastante apoio de muitas seguradoras, além da tradicio-nal parceria com a Escola Nacional de Seguros”, declara José Cristóvão Martins, presidente do Sincor-MT.

Como acontece em praticamente todo o Brasil, a carteira de seguros mais aquecida é a dos automóveis no Centro-Oeste. “Estamos cada vez mais procurando nos especializarmos para oferecer produtos diferenciados”, lembra o presidente do Sincor-DF.

Segundo Bonacina, como o estado do Mato Grosso do Sul apresenta poucas indústrias, o seguro agropecuário está se fortalecendo.

“Nos últimos três anos, registra-se o crescimento do seguro garantia, que está relacionado com a grande quantidade de obras que estão acontecendo em Mato Grosso, notadamente na capital do estado. E claro, o seguro de agronegócio, grande fator de aquecimento da economia mato-grossense”, destaca Célio Roberto Freitas Souza, representante regional da Sindseg no Mato Grosso.

Sousa destaca o aumento de corre-tores especializados em licitações no Distrito Federal, além da maior procura

por seguros de transporte e patrimonial. Ele ressalta ainda que, de acordo com o perfil da cidade de Brasília, há uma forte procura por seguros residenciais e de condomínios residenciais, e vê, como diferencial, os seguros garantia, seja para construções, contratos ou fiança locatícia.

“O agronegócio gera um crescente capital que aquece o setor de seguros, destinando recursos a seguros de equi-pamentos e implementos agrícolas, la-vouras, benfeitorias, armazéns, galpões, equipamentos etc. As seguradoras e corretoras estão sabendo direcionar suas ações para suprir a demanda necessária, com o mercado se tornando bastante competitivo”, explica o representante regional da Sindseg no Mato Grosso.

“Para seguradoras e corretoras que têm atuação destacada nos seguros de transportes, o seguro do transporte viário de produção agrícola é um grande filão do agronegócio. São produtos transportados in natura ou beneficiados que saem de Mato Grosso, enquanto insumos, fertili-zantes, agrotóxicos etc, estão chegando. Um incessante ir e vir, sempre com a segurança garantida por bons produtos oferecidos pelas seguradoras e vendidos pelos corretores. O transporte viário de produção agrícola no estado, atualmente, representa algo em torno de 80% dos seguros de transportes”, salienta Tadeu Vieira, diretor regional da Mapfre no Mato Grosso.

Segundo dados do IBGE, o estado de Minas Gerais manteve sua participação no PIB em 9,3% entre 2011 e 2002, o que o faz ocupar a posição de terceira maior economia entre as 27 unidades da Federação Brasileira, atrás de São Paulo e Rio de Janeiro.

A mineração, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), ainda é uma das atividades mais importantes de Minas Gerais, tendo 57 das 200 maiores minas em operação do País. O estado participa com 53% da extração de metais metálicos e 29% da produção de minérios do Brasil. De acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Minas alcançou com a atividade, em 2011, R$ 144,8 bilhões, o equivalente a 4,1% do PIB daquele ano.

❙❙ Pedro Bonacina, do Sincor-MS

❙❙ Jose Antônio de Oliveira Júnior, ❙❙ do Sincor-GO

❙❙ José Cristóvão Martins, do Sincor-MT

❙❙Dorival Alves de Sousa, do Sincor-DF

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No dia 19 de maio, o Governo Federal divulgou as novas regras do Programa de Sub-venção ao Prêmio do Seguro

Rural (PSR), que oferece ao agricultor a oportunidade de segurar sua produção, por meio de auxílio financeiro que reduz os custos de contratação do seguro.

Segundo o Secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Seneri Paludo, serão destinados R$ 700 milhões para este fim, para a safra 2014/2015. Apesar do valor ser o mes-

A mudança da forma de pagamento do subsídio ao prêmio do seguro rural traz uma nova oportunidade para as empresas que atuam no setor, que agora vêem uma distribuição mais uniforme do subsídio

Kelly Lubiato

Governo muda regras e mercado vê novas oportunidades

mo do período anterior, foi alterada a forma de distribuição dos recursos do PSR entre as seguradoras que operam nesta carteira. Antes, as seguradoras que tinham a maior produção ficavam com a maior fatia do bolo, o que desestimulava as ações e investimentos das seguradoras com menor atuação.

“Utilizávamos a base histórica da seguradora para distribuir os recursos: se ela havia feito R$ 50 milhões no ano anterior, receberia o mesmo valor na safra seguinte”, explica Paludo. Entretanto, de acordo com especialistas ouvidos pela revista Apólice, este modelo não permitia que as seguradoras interessadas realizas-sem novos investimentos.

“Agora, separamos um determinado valor para as culturas prioritárias. Para soja, por exemplo, vamos destinar R$ 200 milhões. Verificamos todas as segurado-ras que operam com esta cultura e divi-dimos o valor quinzenalmente entre as atuantes. O recurso que não for utilizado volta para o fundo, que será redistribuído. Isso precisa ser feito de forma extrema-mente transparente e rápida. É isso que estamos buscando”, esclarece Paludo.

Segundo o secretário, alguns crité-rios desta distribuição ainda estão sendo discutidos, como os níveis de cobertura.

“Temos que oferecer a mesma condição de custo benefício para o produtor”, de-clara. O maior risco ainda é o climático e é para ele que os recursos são dirigidos.

O seguro rural é um produto para mitigar riscos catastróficos. Com as mudanças climáticas, é cada vez mais comum ocorrerem eventos de seca ou alagamento, por exemplo, com frequência e intensidade maiores. “As taxas deste produto são altas por conta da probabili-dade de ocorrências e pela concentração do risco”, explica Luiz Carlos Meleiro, diretor de Grandes Riscos da Allianz Seguros, que presidiu a Comissão de Seguros Rurais da CNseg.

O subsídio ao prêmio do seguro rural existe desde 2005, quando o Governo decidiu contribuir com a mitigação dos riscos do produtor rural, transferindo parte deste risco para o setor privado, através do seguro. Em 2013 foram aten-didos mais de 65 mil produtores, com cobertura para mais de 9 milhões de hec-tares. A importância seguradora em 2013 ficou na casa dos R$ 16,8 bilhões, com subvenção no valor de R$ 557 milhões, com predominância da soja na liderança do ranking de culturas.

Meleiro explica que em 2012 as segu-radoras pediram ao Governo uma revisão

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na forma de distribuição dos recursos, para que as companhias pudessem inves-tir na carteira. “O TCU (Tribunal de Con-tas da União) fez um trabalho importante para entender a desmotivação das segu-radoras, porque elas não podiam investir em tecnologia e serviços, por exemplo”, explica Meleiro. Outra sugestão acatada pelo Ministério da Agricultura, mas que ainda não foi operacionalizada, é que o subsídio seja pago ao produtor rural que, desta forma, fica com maior poder de escolha e negociação do seguro. É preciso que haja transparência em todo o processo de distribuição do subsídio e que também seja estabelecido um fundo de catástrofe, que já existe na lei, mas que ainda não foi regulamentado.

Meleiro informa que o TCU determi-nou também que o pagamento do subsídio às seguradoras não pode atrasar. “A regra é que após a assinatura do contrato com a seguradora, com emissão de apólice e pagamento da primeira parcela pelo

segurado, o Governo tem 30 dias para depositar a sua parte. Isso é uma grande evolução, mas não é o ideal”, lamenta. Há casos em que a seguradora chega a inde-nizar sinistros sem ter recebido o valor correspondente à parcela do subsídio.

Na safra 2013/2104, os recursos só foram liberados a partir do mês de de-zembro. Por isso, a operação neste setor depende muito do apetite e das regras de compliance de cada seguradora. Para este ano, o PSR começa a valer a partir de 1º de julho, com uma verba de R$ 140 milhões para a safra de verão.

O seguro é a ferramenta utilizada para manter a estabilidade econômica. “E no caso da agricultura, estamos falando de impacto em escala em outros setores da economia. O subsídio é o instrumento do governo que viabiliza o acesso a esta ferramenta que é de extrema importância. Quando o governo estimula a contratação do seguro, ele reduz a necessidade de rolar dívidas deste setor, que acarretam

maiores custos, e sustenta o crescimento do mesmo”, avalia Bruno Valentim, diretor de Agronegócios da Austral Re.

Uma coisa é certa: para o consumidor final é sempre bom que haja concorrência. Assim, as seguradoras e resseguradoras

❙❙ Seneri Paludo, do MAPA

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especial Centro-Oeste e MG rural

teriam taxas melhores, serviços e assis-tência ao produtor.

Região Centro-Oeste / Minas Gerais e o seguro de receita

A avaliação climática da região Cen-tro-Oeste do Brasil mostra que ela é me-nos volátil. Mas, respeitando o princípio do mutualismo, o seguro tem uma taxa que leva em consideração todo o País. Os produtores rurais da região solicitam novos produtos às seguradoras, conside-rando as condições regionais. Entretanto, faltam dados mais sólidos e volume para que isso possa ser desenvolvido.

O principal seguro comercializado no Centro-Oeste é o seguro de multirris-co para os grãos, que cobre praticamente

todos os riscos climáticos a que as plan-tações estão sujeitas.

O seguro tradicional cobre todos os riscos climáticos. Utilizando o exemplo da soja, o produtor consegue colher 50 sacas por hectare, em sua média histórica. A seguradora, normalmente, cobre 70% da safra. Caso haja uma seca e ele perca 50% de sua produção, irá colher apenas 25 sacas por hectare. O seguro tradicional irá pagar o valor equivalente às 10 sacas que completam a importância segurada.

O seguro receita coloca mais uma variável nesta conta: o preço (dependendo do produto, pode conter riscos de câmbio também). Os riscos do produtor são nome-ados. Nas mesmas condições do exemplo acima, no momento da contratação é verificado o preço futuro da commodity (na bolsa de Chigaco, no produto da Swiss Re). Se a saca for avaliada na elaboração do contrato com preço de R$ 10 a saca, são R$ 350 de cobertura. Caso haja quebra de safra, seja verificado o preço de fechamen-to da bolsa (Chicago). Se o produtor colheu as mesmas 25 sacas e se houve queda nos preços para R$ 5 reais, por exemplo, o seguro pagará o valor complementar de R$ 225,00 de indenização.

José Cullen, diretor de seguros rurais da Swiss Re Corporate Solutions para a

América do Sul, disse que a empresa fez um estudo sobre a região Centro-Oeste em 2009 e verificou que, após o risco climático, o preço das commodities era a maior ameaça. “Como temos experiência nos seguros de receita nos Estados Uni-dos, trouxemos o produto para o Brasil em 2010. Lá, cerca de 80% da produção possui esta cobertura. Por aqui, o seguro ainda não alcançou tamanho sucesso”.

Segundo o executivo, na região Centro-Oeste os produtores não têm o hábito de fazer seguro, de nenhuma espé-

❙❙ Luiz Carlos Meleiro, da Allianz ❙❙ Bruno Valentim, da Austral Re

❙❙ José Cullen, da Swiss Re

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cie. “Com variações climáticas menores e margens apertadas, é preciso realizar um trabalho forte de convencimento e da importância de comprar seguro”, pondera Cullen.

Neste produto de seguro de receita, o custo administrativo é um pouco maior. Enquanto no seguro tradicional é feita uma inspeção prévia e outra apenas em caso de sinistro, neste produto são necessárias as vistorias prévias e no momento da colhei-ta, para determinar a produtividade real. “Por isso, todas as informações passadas pelo produtor são de fundamental impor-tância”, ressalta Cullen.

Toda a formatação do seguro de re-ceita veio de outros países. “Contratamos consultorias que nos ajudam a adaptar as diferenças dos produtos e as nossas pecu-liaridades e visitamos clientes que nos aju-dam a avaliar os prós e contras dos nossos produtos”, conta Valentim, da Austral Re.

A comercialização dos produtos é feita de diversas formas: bancos, coope-rativas e corretores de seguros atuam em busca dos clientes.

A gerente comercial de Agro e Ali-mentos da JLT Brasil, Julia Guerra, diz que a empresa trabalha com produtos

diferenciados, vendo a necessidade do cliente e desenhando o produto de acordo com a necessidade deles. “A volatilidade climática é um dos maiores desafios”, ressalta. Ela conta que este produto foi oferecido primeiramente a empresas que atuavam nas culturas de soja do Paraná. Depois, foi apresentado ao mercado como um todo. “Quando conseguimos estrutu-rar uma carteira e pulverizamos o risco, as taxas ficam mais baixas e o seguro, mais atraente”, pontua Julia.

Em países com estrutura de seguro rural mais desenvolvidas, como Estados Unidos, China e Espanha, o desenvolvi-mento do setor somente aconteceu com a participação do Governo Federal. “Não há modelo de seguro rural no mundo que não passe por isso”, sentencia Bruno Kelly, sócio da Correcta Seguros e pro-fessor da Escola Nacional de Seguros.

A subvenção é apenas uma das ma-neiras de participação. A criação de um

Fundo de Catástrofe (que já foi aprova-do pelo Congresso Nacional e aguarda a regulamentação do Ministério da Agricultura) deve contribuir para atrair novos atores. “Há pontos fundamentais que necessitam de transparência, como a definição do que é catástrofe. Outro ponto importante é que o novo Fundo acaba com o Fundo de Estabilidade do Seguro Rural, que enfrenta problemas porque seu financiamento é feito por operações do próprio mercado”, explica Kelly.

O corretor de seguros acrescenta que o Fundo de Catástrofe terá um apor-te inicial do Governo de R$ 4 bilhões (R$ 2 milhões em dinheiro e mais R$ 2 milhões em títulos). A partir deste ponto ele buscará parceiros no mercado para se retroalimentar. “É crucial, entretanto, que a gestão deste Fundo seja técnica”. Assim, é possível atrair novas seguradoras e melhorar as condições de aquisição para os produtores rurais.

❙❙ Bruno Kelly, da Correcta

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A grande produção de grãos e de produtos pecuários pode ser prejudicada com a falta de condições das estradas e perigos como roubo e furto de mercadorias

Amanda Cruz

Seguro de Carga precisa de infraestrutura

A produção agrícola no Brasil é responsável por cerca de 30% do PIB e tem na soja uma de suas principais fontes de

rendimentos e na região Centro-Oeste a concentração de plantações. O que limita que o País alcance uma capacidade maior de exportação desses grãos, tornando-o menos competitivo, é a questão do esco-amento desta e de outros tipos de cargas que saem dessa região. O transporte rodoviário é o principal meio utilizado para que a produção chegue até os portos, pela BR 163 e BR 364. Os destinos, são

principalmente, portos das regiões Sul e Sudeste.

A principal queixa feita em relação à modalidade de transportes é a falta de infraestrutura das estradas, refletida no aumento dos custos logísticos do País que, segundo divulgado no “Dossiê Brasil Rural” – realizado pela Univer-sidade de São Paulo (USP) – chegam a ser 83% superiores aos dos EUA e 94% superiores aos da Argentina, principais concorrentes do Brasil na exportação de soja, valores que têm reflexo direto nos custos das apólices de seguro para

garantir tanto as cargas como os cascos dos veículos que fazem o transporte.

Iramil Bueno de Araujo, gerente ge-ral da área de Economia e Transportes e Gerenciamento de Riscos da Rodobens, endossa a importância dos grãos nos transportes dessa região, e inclui outros: “O nosso seguro de cargas é mais forte no Mato-Grosso. Entre os tipos de cargas estão aquelas de frigoríficos, por exem-plo”, explica. Também há muitas cargas saindo do estado de Minas Gerais, com ênfase no triângulo mineiro, que tem os setores sucroalcoleiro, agropecuária, ali-mentícios, biotecnologia e de fertilizantes como principais destaques.

Para a Zurich, conforme destaca o diretor de Transportes da companhia, Paulo Alves, os principais ramos atingidos são “soja, álcool, carne in natura, motores, peças automotivas, máquinas agrícolas e alimentícios”. Essa diversidade de produ-tos destaca a expansão industrial da região.

especial Centro-Oeste e MG transporte

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bém influenciam na contratação da apólice de seguro. “Os principais obstáculos são a qualidade das estradas e infraestrutura para os transportadores promoverem as paradas programadas para descanso, conforme a lei 12.619 que trata a questão da jornada de trabalho do motorista, e o roubo de carga”, observa Alves.

É certo que alguns tipos de carga, como cigarro e combustíveis, têm preci-ficação diferenciada por seus diferentes índices de sinistralidade, mas roubos e furtos que acontecem nas estradas são preocupantes. “As estradas são de baixa qualidade e sem infraestrutura necessária para um bom planejamento. As viagens são longas, principalmente aquelas que têm o exterior como destino. Os transportadores, além de enfrenta-rem os perigos dos acidentes e roubos durante a viagem, ainda estão sujeitos às burocracias portuárias, notadamente chamadas de gargalos logísticos”, aponta o executivo da Zurich.

A maneira mais eficaz para combater esses prejuízos, conforme afirma Araujo é um bom gerenciamento de riscos. “É importante reforçar o gerenciamento desses riscos. A companhia precisa estar atenta desde o momento da contratação da apólice. O momento da venda é muito importante para que tudo seja muito bem

O modal rodoviário parece ser mais indicado para o transporte de cargas entre distâncias curtas, trajetos de até 300 km. Há outros meios de transporte, como a hidrovia Tietê-Paraná, porém ela ainda é subutilizada, aumentando a demanda por transporte rodoviário.

O mercado de seguros é um grande aliado de produtores e transportadoras, pois são oferecidas apólices de proteção, incluindo a responsabilidade civil, co-brando prejuízos causados à mercadoria. O seguro de RC é contratação obrigatória para o transportador, pois é essa modali-dade de seguro que garante que a carga seja recebida pelo destinatário.

Ameaças iminentesO Seguro de Transportes, especial-

mente em relação às cargas, é crucial por-que os índices de roubos e de problemas nas estradas é constantemente citado pelos executivos do mercado como obstáculos para os transportadores, fatores que tam-

❙❙ Iramil Bueno de Araujo, da Rodobens

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entendido”, opina o executivo. Ele ressalta ainda que o gerenciamento dos riscos co-meça a partir do fechamento da apólice, quando a transportadora e a companhia de seguro deverá levar em conta tudo que é transportado.

As transportadoras e seguradoras também atuam em conjunto com a tecnologia. Após um caminhão ser co-locado na estrada, a responsabilidade aumenta e ter o controle do que é feito durante o percurso até os destinos pode evitar grandes perdas. Rastreadores são um método eficiente, pois a central de monitoramento desses equipamentos tem todo o histórico, a quantidade de carga, o tipo, podendo até mesmo ser notificada quando há alguma paralisação na estrada (que pode indicar um assalto

O transporte de cargas não abrange somente os limites das fronteiras brasi-leiras. Grande parte das cargas que saem da região Centro-Oeste é direcionada para a exportação, como mostrado no mapa

Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

Portos SecosTambém chamados de Estação

Aduaneira Interior (EAI) é um terminal intermodal, ou seja, nele são arma-zenadas as mercadorias que passam entre do modo rodoviário para o ferroviário ou hidroviário.

Na Região Centro-Oeste, são encontrados portos nas seguintes cidades:

• Brasília (DF)• Anápolis (GO)• Cuiabá (MT)• Corumbá (MS)

❙❙ Paulo Alves, da Zurich

ou outra situação de perigo); também é possível a comunicação com o motorista em tempo real.

“Gerenciamento de riscos é uma necessidade. A tecnologia auxilia em ter informações úteis e precisas. Ainda é preciso conscientização, tanto para a seguradora quanto para a transportadora, mas é claro que isso engloba também a corretora”, alerta Araujo.

Só o rastreador não é suficiente. A solução de logística precisa ser abrangente,

incluindo as características das cargas, perfis de clientes, como será o trajeto e outros fatores de conhecimento das partes. As aplicações dessas práticas têm sido um fator representativo na diminuição dos roubos que acontecem nas estradas.

“Para atuarmos nessa região, pre-cisamos de um conjunto de ações para facilitar a manutenção. Há bastante de-manda, mas há um trabalho prévio que precisa ser feito”, ressalta o gerenciador de riscos da Rodobens.

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