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X2 Especial SÁBADO, 22 DE SETEMBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO 1990 José Carlos Derísio Engenheiro da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) “O Rio Tietê nasce limpo, chega morto em São Paulo e depois se regenera.” 1990 Jorge Wilheim Então secretário estadual do Meio Ambiente “Colocamos anúncios no exterior à procura de tecnologias e de pesquisadores que possam nos ajudar a encontrar uma solução.” (Ao anunciar um acordo do governo do Estado com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp, para despoluir o rio.) 1990 Aziz Ab’Sáber Geógrafo da USP (morto em março deste ano) “O Tietê limpo vai recuperar espaços, valorizar terras e pedir a reintrodução de espécies de plantas nativas nas suas margens.” A Bacia do Rio Tietê percorre apenas municípios paulistas. Nasce na cidade de Salesópolis, com 100% de coleta e tratamento, e deságua no Rio Paraná, na fronteira com Mato Grosso do Sul BACIA ATRAVESSA O ESTADO INFOGRÁFICO/AE FONTE: SABESP MG RJ MS PR OCEANO ATLÂNTICO São Paulo Salesópolis (nascente) BAIXO TIETÊ TIETÊ - BATALHA TIETÊ - JACARÉ PIRACICABA - JUNDIAÍ MÉDIO TIETÊ ALTO TIETÊ Tratar esgoto é maior desafio para despoluir o Tietê Situação é mais crítica em dez municípios da Região Metropolitana, que até 2011 não tinham tratamento de dejetos, segundo a Cetesb Bruno Deiro Um estudo com os 176 municí- pios que fazem parte da Bacia do Rio Tietê revela que menos de 30% têm sistema de coleta e tra- tamento total de esgoto. Outros 31 (quase 20%), boa parte na re- gião da Grande São Paulo, não realizam nenhum tipo de proces- samento nos dejetos que lançam no complexo hidrográfico. Os números estão no Relató- rio de Qualidade das Águas Su- perficiais no Estado de São Pau- lo, da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), divulgado neste ano, com dados de 2011. O ponto mais crítico está em dez cidades da Re- gião Metropolitana, ao norte e oeste da capital, que até o ano passado não tratavam o esgoto. “Cidades como Barueri e Osas- co são as que vamos atacar na ter- ceira fase do Projeto Tietê”, expli- ca Carlos Eduardo Carrela, supe- rintendente de projetos especiais da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). “Até 2015, o projeto pre- vê que nenhum desses municí- pios tenha menos de 50% de cole- ta e 60% tratamento.” Carrela diz que em alguns o porcentual de tratamento já su- biu – Barueri, por exemplo, está com 30%. Em outros, no extre- mo norte, haverá um projeto es- pecial. “Em Francisco Morato e Franco da Rocha será feito um sistema isolado, pois o esgoto não chega às cinco estações exis- tentes na região metropolitana.” No interior, a maioria dos mu- nicípios sem sistema de trata- mento está em áreas próximas a Araraquara e Bauru. “As cidades recebem investimentos em pro- porção diferente. Não há muitos projetos integrados, cada muni- cípio lida com a questão confor- me a vontade do prefeito”, diz Édison Carlos, presidente do Ins- tituto Trata Brasil. Ele lembra que, muitas vezes, o plano de saneamento de uma cidade da Bacia do Rio Tietê é pre- judicado pela falta de investimen- tos do município vizinho. “Co- PROJETO TIETÊ FRASES Crescimento da população 2000 1990 1980 1970 1960 1950 1940 0 2 4 6 8 10 12 EM MILHÕES DE HABITANTES Retificação A retificação encolheu o rio – de 46 quilômetros de extensão entre Osasco, na Grande SP, e a Penha, ele passou a ter 26 km Assoreamento Com a retificação, uma área de 33 milhões de m2 que eram inundáveis foi urbanizada. A várzea tinha a função de transbordamento; a ocupação dela resultou no aumento da poluição e na piora nas inundações. A saúde do rio foi deixada de lado e a retificação causou problemas urbanos e ambientais A expansão urbana desordenada ocorrida nas décadas de 1940 a 1970 afetou seus principais afluentes, como os Rios Tamanduateí e Aricanduva VILA MARIA TATUAPÉ PENHA COMO ERA O RIO ENTRE A VILA MARIA E A PENHA PANORAMA DA POLUIÇÃO FONTES: CETESB E SABESP O RIO HOJE O TRAJETO DO RIO TIETÊ ANTES DA RETIFICAÇÃO 21 anos Barra Bonita. Trecho do rio na cidade voltou a ter peixes

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%HermesFileInfo:X-2:20120922:

X2 Especial SÁBADO, 22 DE SETEMBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

1990José Carlos DerísioEngenheiro da CompanhiaAmbiental do Estado deSão Paulo (Cetesb)“O Rio Tietê nasce limpo,chega morto em São Pauloe depois se regenera.”

1990Jorge WilheimEntão secretário estadualdo Meio Ambiente“Colocamos anúnciosno exterior à procura detecnologias e de pesquisadoresque possam nos ajudar aencontrar uma solução.”(Ao anunciar um acordo do governo doEstado com a Federação das Indústriasdo Estado de São Paulo, a Fiesp,para despoluir o rio.)

1990Aziz Ab’SáberGeógrafo da USP(morto em marçodeste ano)“O Tietê limpo vairecuperar espaços,valorizar terras e pedir areintrodução de espéciesde plantas nativas nassuas margens.”

● A Bacia do Rio Tietê percorre apenas municípios paulistas. Nasce na cidade de Salesópolis, com 100% de coleta e tratamento, e deságua no Rio Paraná, na fronteira com Mato Grosso do Sul

BACIA ATRAVESSA O ESTADO

INFOGRÁFICO/AEFONTE: SABESP

MG

RJ

MS

PROCEANO

ATLÂNTICO

São Paulo

Salesópolis(nascente)

BAIXO TIETÊ

TIETÊ - BATALHA

TIETÊ - JACARÉ

PIRACICABA - JUNDIAÍ

MÉDIO TIETÊ

ALTO TIETÊ

Tratar esgoto émaior desafio paradespoluir o TietêSituação é mais crítica em dez municípios da Região Metropolitana,que até 2011 não tinham tratamento de dejetos, segundo a Cetesb

Bruno Deiro

Um estudo com os 176 municí-pios que fazem parte da Bacia doRio Tietê revela que menos de30% têm sistema de coleta e tra-tamento total de esgoto. Outros31 (quase 20%), boa parte na re-gião da Grande São Paulo, nãorealizam nenhum tipo de proces-samento nos dejetos que lançamno complexo hidrográfico.

Os números estão no Relató-

rio de Qualidade das Águas Su-perficiais no Estado de São Pau-lo, da Companhia de Tecnologiade Saneamento Ambiental(Cetesb), divulgado neste ano,com dados de 2011. O ponto maiscrítico está em dez cidades da Re-gião Metropolitana, ao norte eoeste da capital, que até o anopassado não tratavam o esgoto.

“Cidades como Barueri e Osas-co são as que vamos atacar na ter-ceirafase do ProjetoTietê”, expli-

ca Carlos Eduardo Carrela, supe-rintendente de projetos especiaisda Companhia de SaneamentoBásico do Estado de São Paulo(Sabesp).“Até2015,oprojetopre-vê que nenhum desses municí-pios tenha menos de 50% de cole-ta e 60% tratamento.”

Carrela diz que em alguns oporcentual de tratamento já su-biu – Barueri, por exemplo, estácom 30%. Em outros, no extre-mo norte, haverá um projeto es-

pecial. “Em Francisco Morato eFranco da Rocha será feito umsistema isolado, pois o esgotonão chega às cinco estações exis-tentes na região metropolitana.”

No interior, a maioria dos mu-nicípios sem sistema de trata-

mento está em áreas próximas aAraraquara e Bauru. “As cidadesrecebem investimentos em pro-porção diferente. Não há muitosprojetos integrados, cada muni-cípio lida com a questão confor-me a vontade do prefeito”, diz

Édison Carlos, presidente do Ins-tituto Trata Brasil.

Ele lembra que, muitas vezes,o plano de saneamento de umacidade da Bacia do Rio Tietê épre-judicadopela falta de investimen-tos do município vizinho. “Co-

PROJETO TIETÊ

FRASES

Crescimento da população

2000199019801970196019501940

0

2

4

6

8

10

12

EM MILHÕES DE HABITANTES

RetificaçãoA retificação encolheu o rio – de 46 quilômetros de extensão entre Osasco, na Grande SP, e a Penha, ele passou a ter 26 km

AssoreamentoCom a retificação, uma área de 33 milhões de m2 que eram inundáveis foi urbanizada. A várzea tinha a função de transbordamento; a ocupação dela resultou no aumento da poluição e na piora nas inundações. A saúde do rio foi deixada de lado e a retificação causou problemas urbanos e ambientais

A expansão urbana desordenada ocorrida nas décadas de 1940 a 1970 afetou seus principais afluentes, como os Rios Tamanduateí e Aricanduva

VILA MARIA

TATUAPÉ

PENHA

COMO ERA O RIO ENTRE A VILA MARIA E A PENHA

PANORAMA DA POLUIÇÃO

FONTES: CETESB E SABESP

O RIO HOJE

O TRAJETO DO RIO TIETÊ ANTES DA RETIFICAÇÃO

21 anos

Barra Bonita.Trecho do rio nacidade voltou ater peixes

%HermesFileInfo:X-3:20120922:

O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 22 DE SETEMBRO DE 2012 Especial X3

3 PERGUNTAS PARA...

José Luiz Fares, presidente do Departamento de Água e Esgoto de Araçatuba (Daea)

1 Qual o fator decisivo paraatingir 100% na coleta etratamento do esgoto?Araçatuba foi uma das

primeiras cidades do Estado afazer concessão dos serviçosde tratamento, há 12 anos,quando a empresa Saneamentode Araçatuba (Sanear) assumiu80% do esgoto produzido nomunicípio. Em 2015, a conces-sionária vai entregar de voltapara a cidade a administraçãodeste serviço.

2 Como é feito hoje omanejo do esgotoproduzido pela cidade?Temos uma moderna

estação de tratamento que utili-za a técnica do lodo ativado egarante eficiência de 95% em80% do esgoto tratado, quetem seu efluente jogado depoisno Ribeirão Baguaçu e percorrecerca de 12 km para desaguarno Tietê. As estações mais anti-gas são de lagoas de decanta-ção e representam os 20% res-tantes. Mesmo sem a mesmaeficiência, 1 mil m³ por mêssão despejados depois no Cór-rego Lafond, que também desá-gua no Tietê. O custo para apopulação é de 80% do que écobrado pela água. A cidadetem uma das menores taxas deágua e esgoto do Estado.

3 Quais os projetos parao futuro?Araçatuba optou, noano passado, por fa-

zer o Plano Municipal de Sa-neamento Básico. Um dos prin-cipais problemas detectadosfoi de que o município não ti-nha dinheiro para investir nasobras necessárias. Durante aelaboração do plano, que prevêações e investimentos para ospróximos 30 anos, foi sugeridaa concessão dos serviços públi-cos de tratamento de água eesgotamento sanitário. No anopassado, foi feita a licitação,escolhido o grupo vencedor eestamos em fase de transição.

1990Mauro AlvesEx-atleta do ClubeRegatas Tietê; na épocaele tinha 77 anos“Eu vim para o remo porque eraum menino doente, precisavapraticar esportes. O Tietê meajudou a me transformar numhomem saudável.”

1991Fernando CollorEntão presidente do Brasil“Vamos devolver a vida aoTietê. Isso significa queestamos trabalhando juntosem um desafio fundamental,pois não se trata de umasimples obra, mas de umacausa.”

2012Geraldo AlckminGovernador de São Paulo“Hoje, o odor é muito forte.Em 2015, já estaremos semodor. E aí a gente pode terum bateau mouche, pode terturismo, pode ter barco, e empoucos anos. O rio não estaráoxigenado, mas já estarásem odor. Um bateau moucheno bom sentido, claro.”

mo o meio ambiente não temfronteira, a poluição percorre vá-rios pontos da bacia e os resulta-dos acabam sendo pequenos,Não adianta uma cidade tratar100% se a outra não trata nada.Grandes municípios como Gua-

rulhos, por exemplo, têm níveisde tratamento muito baixos.”

Historicamente apontada co-mo umas das cidades menoscompromissadas com a questãodo saneamento, Guarulhos des-pejava todo o esgoto de seu 1,2

milhão de moradores direto noRio Tietê. Há pouco mais de doisanos, porém, conseguiu pôr emprática o projeto de uma décadae saltou para 35% de tratamento.

“Em abril, fechamos acordopara a construção da terceira es-

tação de tratamento. Em umano, pretendemos tratar 50% doesgoto da cidade”, diz Afrânio dePaula Sobrinho, superintenden-te do Serviço Autônomo de Águae Esgoto (Saae), empresa respon-sável pelo saneamento do muni-cípio. Segundo o engenheiro,mesmo fora do Projeto Tietê,Guarulhos tem a meta de chegara 80% de tratamento até 2016.

100%. Na Região Metropolita-na, os únicos municípios quetêm 100% de coleta e tratamen-to de esgoto são Salesópolis, on-de fica a nascente do Rio Tietê, eSão Caetano do Sul. No total, 51cidades da bacia têm esse status– a maioria fica em regiões próxi-mas a Jaú e Araçatuba. Esta últi-ma, por sinal, é a mais populosada lista, com pouco mais de 180mil habitantes. Os dois córregosda cidade, Ribeirão Baguaçu eCórrego Lafon, estão preserva-dos. “A cidade não tem proble-mas com a destinação do esgoto,a não ser em casos pontuais devazamentos, que são logo resol-vidos”, diz José Luiz Fares, presi-dente do Departamento de Águae Esgoto de Araçatuba (Daea). /

COLABOROU RODRIGO BURGARELLI

PROJETO TIETÊ

INFOGRÁFICO/AE

RankingAs 10 maiores cidades com 100% de tratamento

Barueri

Itapevi

Francisco Morato

Itapecerica da Serra

Franco da Rocha

Santana de Parnaíba

Birigui

Jandira

Caieiras

São Roque

909

162

693

819

278

492

384

131

253

213

Araçatuba

São Caetano do Sul

Jaú

Penápolis

Novo Horizonte

Promissão

José Bonifácio

Bariri

Guararapes

Pereira Barreto

CIDADES

COLETA

POPULAÇÃO(EM NÚMERO)

RESÍDUOS PÓS TRATAMENTODO ESGOTO (EM KG DBO*/DIA)

CIDADES POPULAÇÃO(EM NÚMERO)

RESÍDUOS PÓS TRATAMENTODO ESGOTO (EM KG DBO*/DIA)

182.525

*Demanda bioquímica de oxigênio. OBS.: os dados são de 2011

13.135

11.000

8.410

8.268

6.636

6.017

5.754

5.919

4.619

3.906

243.241

As 10 maiores cidades sem tratamento

149.962

132.493

58.807

36.912

36.025

33.074

31.852

30.732

24.957

203.712

156.063

154.374

133.406

111.422

109.835

109.613

87.704

79.756

Região MetropolitanaMaiores cidades que jogam dejetos no rio

TRATA

61%

São Paulo

Guarulhos

São Bernardo do Campo

Osasco

28%

97%71%

84%3%

80%35%

31 24,2 1,27CIDADES ENTRE OS 176 MUNICÍPIOS PAULISTAS QUE COMPÕEM A BACIA DO RIO TIETÊ NÃO TRATAM NADA DO SEU ESGOTO

MILHÕES DE PESSOAS VIVEM NAS CIDADES QUE FORMAM A BACIA

MILHÃO DE KG DBO*/DIA É A CARGA POLUIDORA TOTAL DESPEJADA NO RIO

Giovana Girardi

Mesmo se todo o Projeto Tietêfor cumprido – cuja meta máxi-ma é chegar a 2020 com a univer-salização do tratamento de esgo-to –, o rio pode não estar limpoao final da década. O alerta foifeito por Carlos Eduardo Carre-la, superintendente de projetosespeciais da Sabesp e responsá-vel pelo Projeto Tietê.

O programa de despoluição,iniciado em 1992, já teve concluí-das duas etapas, que consumi-ram US$ 1,6 bilhão e aumenta-ram o número de estações de tra-tamento de duas para cinco e acoleta de esgoto em 300%. Já ovolume de tratamento passoude 26% para 70% em 2008.

A terceira etapa, que começouem 2009, deve contar com maisUS$ 1,8 bilhão e ser concluída em2015. A previsão é de que o trata-mento salte para 84% na RegiãoMetropolitana de São Paulo, che-gando a 100% em 2020. O gover-no Geraldo Alckmin prometeu,nesta semana, que daqui a trêsanos não haverá mais o tradicio-nal mau cheiro e o rio abrigará otrânsito de barcos de turismo.

O problema é que nem todas

as cidades da Região Metropoli-tana estão filiadas à Sabesp e, as-sim, não participam do plano demetas (mais informações na pági-na ao lado). Além disso, o esgo-to só representa uma parte da po-luição – apesar de ser a maior.

Há uma contribuição conside-rável também da poluição difu-sa, dejetos que são carregados pe-la chuva, como lixo, garrafasPET, a fuligem dos carros quepassam pelas marginais. “Háuma tendência de que isso sejacada vez maior. Ainda não existeuma solução definitiva”, diz.

“Quando falamos em univer-salização, não quer dizer que orio vai ficar todo despoluído aofinal da década. É executar todasas ações possíveis para o esgotonão chegar ao rio. É colocar redede coleta onde é possível ter”,diz. “Mas o problema do lixo temde melhorar muito. Outros mu-nicípios têm de entrar. Ter umrio limpo depende do projeto,mas não só dele.”

Sinais de melhora. Carrela pon-dera que, apesar de os avançosserem pouco perceptíveis na ca-pital – a aparência e o cheiro con-tinuam ruins –, há sinais de me-lhora em outros pontos da bacia.

O rio, que nasce em Salesópo-lis, corre para o interior, na dire-ção do Rio Paraná. Quando passapor aqui, carrega a contamina-ção.Após 20 anos de programa naBacia do Alto Tietê, o impacto es-tásendo observado nas outrasba-cias, diz. “Vemos resultados porexemplo, em Barra Bonita, ondejánão tinhamais vidaaquática co-mo antigamente e agora voltou ater. Famílias que dependiam dapesca voltaram a pescar.”

Mesmo para São Paulo, ele ar-risca dizer que a situação pode-ria ser muito pior se não tivesseocorrido um aumento do esgototratado. “Hoje não sei se a genteconseguiria andar nas beiras dosrios se não fosse isso. Mas a car-ga de esgoto ainda é grande.”

Limpeza pode nãoestar completa atéo final da década

24%do volume do Tietê eramtratados em 1992

70%do volume do rio passaram a sertratados em 2008; a meta é dechegar a 100% em 2020

● Tratamento crescente

Ação. Canteiro de obras perto do Parque Ecológico do Tietê

HÉLVIO ROMERO/AE–4/4/2012

Para responsávelpelo Projeto Tietê,universalização dotratamento até 2020não garante rio limpo

FRASES

MILTON MICHIDA/AE–15/11/2000

21 anos

%HermesFileInfo:X-4:20120922:

X4 Especial SÁBADO, 22 DE SETEMBRO DE 2012 O ESTADO DE S. PAULO

EM 1970, O TIETÊ CHEGOU A TER O NÍVEL DE OXIGÊNIO DE SUAS ÁGUAS BAIXADO PARA ZERO – OU SEJA, ‘MORTO’

ERAM DAS MARGENS DO RIO QUE SAÍAM AS MATÉRIAS-PRIMAS PARA AS OBRAS. AREIA E TERRA ERAM USADAS NA CONSTRUÇÃO DA CIDADE

ALAGAMENTOSO ASSOREAMENTO COMPROMETE A DRENAGEM E O RIO TRANSBORDA – CENA VISTA NOS VERÕES PAULISTANOS

DEPOIS DESSE TRECHO, ELE COMEÇA A RECEBER POLUENTES AGRÍCOLAS E O ESGOTO DA CIDADE

MATÉRIA-PRIMA

MOGI DASCRUZES

SÃO PAULO

GUARULHOS

SUZANO

Onde fica

MONALISA LINS/AE-20/06/2005

O Rio Tietê nasce na Serra do Mar, na cidade de Salesópolis. Durante o trajeto, ele recebe a água de:

149 RIOS E CÓRREGOS

Nascente

PROJETO TIETÊ

1628Primeira expediçãoFoi oficialmente documentadapor d. Luiz de Céspedes Xeria,que, em 1628, partiu de NossaSenhora de Atocha (atual cida-de de Porto Feliz), com destinoao município Real de Guaíra, noParaná, em busca de ouro.

1899Fundação do ClubeEsperiaEm 1.º de novembro,membros da colônia italianafundaram o clube àsmargens do Rio Tietê. Oprincipal esporte praticado

pelos frequentadoresdo local era o remo.

1900Transporte

Com o aumento dademanda de energiapara movimentar o parque

industrial, o rio passou aser usado apenas para

transportar esgoto e comofonte de produção de energia.

1953ProjetosO governo de São Pauloencomenda, pela primeira vez,um estudo de despoluição do

CRONOLOGIA

Rio tambémé marcadopelasenchentesSolo impermeável nas redondezas do Tietêprovoca cheias e transtornos para população

O Rio Tietê – o mais importantedo Estado de São Paulo, com1.136 km de extensão – sofreu inú-meras modificações desde o iní-cio do século passado.

A várzea localizada entre Osas-co, na Grande São Paulo, e a Pe-nha, foi urbanizada, alterando otraçado do rio e reduzindo seupercurso de 46 para 26 km.

Além do encolhimento, o rioviveu fases de intensa degrada-ção ambiental, provocadas pelaindustrialização da cidade e a ex-pansão urbana, principalmenteentre os anos 1940 e 1970.

Até as décadas de 1920 e 1930,o Tietê era bastante procuradopara a pesca e atividades esporti-vas e de lazer. Nesses anos foramcriados o Clube de Regatas Tietêe o Clube Esperia, em funciona-mento até hoje.

É difícil imaginar, mas até os

anos 1960 era possível encontrarpeixes em trechos do rio que atra-vessam a capital paulista.

O Tietê, além da sujeira e docheiro ruim, é conhecido pelasinundações e as consequentesenchentes, que ocorrem nos pe-ríodos de chuva intensa, comono verão. Desde 2009, as gran-des chuvas provocaram o alaga-mento do rio, mas não seu trans-bordamento.

Além da urbanização de áreaspróximas e da poluição, o rio pos-sui, em suas redondezas, um so-lo bastante impermeável, que di-ficulta que água o penetre.

Além de afetarem a popula-ção que mora perto ou usa a Mar-ginal do Tietê para se deslocarpela metrópole, as enchentesainda causam grandes prejuí-zos econômicos à cidade e aosseus moradores.

FOTOS ARQUIVO/AE

21 anos

anos 301978

O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 22 DE SETEMBRO DE 2012 Especial X5

1990 2000 2010 2020

1992 2007

2004

2012 2015

2010

EM 1992, O GOVERNADOR LUIZ ANTÔNIO FLEURY FILHO DECLAROU QUE O TIETÊ

ESTARIA LIMPO EM 15 ANOS

EM 2004, O SECRETÁRIO MAURO ARCE DISSE QUE O TIETÊ PODERIA VOLTAR A TER PEIXES NO TRECHO QUE CORTA SÃO PAULO ATÉ 2010

1998 2018EM 1998, NO FIM DA 1ª ETAPA, A PROMESSA ERA QUE O TIETÊ ESTARIA LIMPO NA CAPITAL EM 2018

DUAS DÉCADAS DE ESPERANÇA

CURIOSIDADES

As obras da primeira e da segunda fase do programa de despoluição do Rio Tietê já custaram US$ 1,6 bilhão ao governo do Estado desde 1992. A terceira etapa do programa custará mais US$ 1,8 bilhão, totalizando um investimento de US$ 3,4 bilhões até 2015

E 62 MUNICÍPIOS

SÃO PAULO

PIRAPORA DE BOM JESUS

PORTOFELIZ

BARRA BONITA

1.136 kmFozO Tietê desemboca no Rio Paraná, na cidade de Itapura. Depois de percorrer:

SALTO

NILTON FUKUDA/AE-20/09/2011

120MM DE CHUVA POR DIA É A CAPACIDADE DAS CALHAS DO RIO TIETÊ

3,3MILHÕES DE METROS CÚBICOS DE SEDIMENTOS FORAM RETIRADOS DO RIO POR 61 MÁQUINAS EM 2011

15MIL PNEUS FORAM RETIRADOS DE DENTRO DO RIO DESDE O INÍCIO DE 2011 O GOVERNADOR GERALDO ALCKMIN ANUNCIA QUE, EM 2015,

O RIO NÃO TERÁ MAIS CHEIRO RUIM E SERÁ POSSÍVEL FAZER PASSEIOS DE BARCO, COMO ACONTECE EM PARIS

BARRA BONITAO RIO VOLTA A FICAR LIMPO, REAPARECEM OS PRIMEIROS PEIXES – O QUE ATRAI FAMÍLIAS DE PESCADORES PARA A REGIÃO

PROJETO TIETÊ

rio. Até 1976 foram encomenda-dos outros cinco projetos.

1972Fim dos esportesCom a construção das viasmarginais, que se estendeu doinício dos anos 1940 até o finaldos anos 1960, o nível de polui-ção do rio fez com que a práticaesportiva fosse proibida emsuas margens a partir de 1972.

1990TombamentoEm 21 de fevereiro, a nascentedo Rio Tietê foi tombada peloConselho de Defesa do Patrimô-

nio, Histórico, Artístico,Arqueológico e Turístico doEstado de São Paulo.

1990JacaréNo dia 15 de agosto, um jacaréde 1 metro de comprimento foiachado nadando entre as Pon-tes Vila Guilherme e Vila Maria.Bombeiros e Polícia Florestaltentaram resgatá-lo por mais dequatro horas, mas ele escapou.O jacaré mobilizou a campanhapela despoluição do rio.

1991Tratamento do esgoto

Segundo a Companhia deTecnologia de SaneamentoAmbiental de São Paulo(Cetesb), apenas 16% do esgotodespejado no rio era tratado.

1991Campanha pela despoluiçãoA Rádio Eldorado, em parceriacom seus ouvintes, coleta1,2 milhão de assinaturas parapedir a limpeza do rio. Nasce acampanha pela despoluição doTietê.

1992Projeto de despoluiçãoEm parceria com o Banco Inte-

ramericano de Desenvolvimen-to (BID), a Sabesp lança o proje-to de despoluição do Tietê. Naprimeira etapa, entre 1995 e1998, são construídas três esta-ções de tratamento de esgoto(São Miguel, Parque Novo Mun-do e ABC).

2000Segunda etapaComeça a segunda fase dedespoluição do rio. Em 2002, ofoco são as obras na bacia doRio Pinheiros e no entorno daRepresa Billings, visando a suarecuperação para abastecer aregião.

2009Terceira etapaCom previsão de término em2015, essa fase prevê a constru-ção de 1.250 km de redes coleto-ras. A meta é aumentar a coletade 84% para 87% e o tratamentode 70% para 84%.

2012Sem cheiroEm 18 de setembro, o governa-dor de São Paulo, Geraldo Alck-min, diz que até 2015 as águasdo Tietê estarão sem odor, te-rão vida aquática e poderão serusadas para passeios de barco,como no Rio Sena, em Paris.

21 anos

JB

NE

TO

/AE

2012