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Terça-feira, 28 de fevereiro de 2012 | F1 Especial Zona Franca de Manaus Fator de incentivo Região busca incorporar novos segmentos da economia, sobretudo os que explorem o imenso patrimônio da floresta. Por Marlene Jaggi e Luiz Maciel, para o Valor, de Manaus A os 45 anos de vida, a Zo- na Franca de Manaus, criada para estimular empreendimentos comerciais, industriais e agropecuários na região mais isolada do país, exi- be hoje um novo perfil, mais maduro e focado na produção de bens com alto valor agrega- do, cujos resultados vêm baten- do sucessivos recordes. Seu de- safio, agora, é equilibrar o peso dos vitoriosos setores da indús- tria eletrônica e de motocicletas, responsáveis por mais da meta- de da riqueza produzida nesse polo com regime especial de im- postos, incorporando outros segmentos da economia, sobre- tudo aqueles capazes de explo- rar o imenso patrimônio bioló- gico da floresta amazônica. A estimativa é que as cerca de 550 empresas do Polo Industrial de Manaus (PIM) tenham fechado 2011 com faturamento de US$ 40,6 bilhões, valor quatro vezes maior do que o registrado há dez anos, e um total de 120 mil em- pregos diretos. Com um investi- mento consolidado que saltou de US$ 2,8 bilhões em 2002 para US$ 10,8 bilhões em 2011, os empre- sários instalados no PIM enfati- zam um dado que acreditam ser vital para a nova imagem da re- gião: recolheram aos cofres públi- cos R$ 21,10 bilhões somente em 2011, mais da metade deles relati- vos a impostos federais. “Existem muitos mitos a respei- to da Zona Franca de Manaus que precisam ser derrubados”, afirma o secretário-executivo do Minis- tério do Desenvolvimento, Indús- tria e Comércio Exterior, Alessan- dro Teixeira. Ele se refere à crença de que a região não contribui pa- ra os cofres públicos. Presidente do Conselho de Administração da Superintendência da Zona Franca de Manaus, Teixeira participa dos encontros bimestrais que anali- sam, por vez, cerca de 40 novos projetos para a região. Segundo ele, esse interesse das empresas em implantar novas indústrias, ampliar ou diversificar plantas já existentes é uma prova de que a Zona Franca é um modelo de ati- vidade econômica que impulsio- na os negócios e ajuda uma re- gião inteira a se desenvolver. Com 1,8 milhão de habitantes, pouco mais da metade da popu- lação do Estado, Manaus é res- ponsável por um PIB de R$ 40,4 bilhões, que representa 81% do PIB do Estado (de R$ 49,6 bi- lhões). É o sexto munícipio que mais arrecada no país, atrás de São Paulo, Rio, Brasília, Curitiba e Belo Horizonte. O motor dessa pujança é a Zona Franca. “O Amazonas é o maior Esta- do brasileiro, com 1,5 milhão de km 2 , mas concentra mais de 80% da atividade no Polo Industrial de Manaus, que ocupa apenas 10 mil km 2 ”, compara o superin- tendente da Zona Franca de Ma- naus (Suframa), Thomaz No- gueira. Há apenas dois meses no cargo, ele substitui Flávia Gros- so, que pediu exoneração em outubro, em meio a suspeitas de improbidade administrativa. O maior atrativo são os incenti- vos fiscais. Quem lá se instala po- de comprar insumos no exterior com isenção do Imposto de Im- portação (II), IPI, PIS/Cofins. Se comprar de outros Estados, não paga IPI, nem PIS/Cofins. Na hora de vender produtos para outros Estados, usufrui de uma redução de 88% no II, tem isenção de IPI e paga uma alíquota diferenciada de PIS/Cofins (0,65% e 3,0%, res- pectivamente). Se a produção for para o exterior, a isenção é total. Inicialmente foi esse modelo que atraiu para a região gigantes internacionais como Honda, Gil- lette, Nokia, Coca-Cola, Siemens, Samsung e empresas nacionais e regionais centradas nos recursos da biodiversidade e na produção de tecnologias de software e tele- comunicações como Agrorisa, Pharmakos, Fabriq, Cupuama e Amazon IT. “O foco agora é mais amplo”, diz Nogueira, referindo-se à insta- lação de uma cadeia produtiva ca- da vez mais sólida em vários polos e à vigência, desde 1992, do Pro- cesso Produtivo Básico (PPB), que substituiu o Índice de Nacionali- zação e criou outros critérios para a aprovação de projetos para a ZFM. Todos devem atender a nor- mas da ISO 9000 em até 30 meses, gerar empregos na região e ofere- cer benefícios aos funcionários, além de entregar anualmente um laudo técnico de auditoria inde- pendente e informar investimen- to em P&D. Cada produto, porém, tem seu próprio PPB, com dife- rentes etapas a serem cumpridas. De forma geral, o PPB estabele- ce que os investidores obtenham níveis crescentes de produtivida- de e de competitividade; apli- quem lucros na região; invistam na capacitação de recursos huma- nos para o desenvolvimento cien- tífico e tecnológico e, principal- mente, aumentem gradativa- mente a participação de fornece- dores nacionais de insumos. Esse avanço da cadeia produti- va local acontece de fato no polo de duas rodas, o segundo maior faturamento do PIM — US$ 7,6 bi- lhões, resultado da venda de 2,1 milhões de motocicletas. As em- presas lá instaladas alcançaram um índice de nacionalização e re- gionalização de insumos de 75%, bem maior que a média geral do PIM. No maior polo, o de eletroe- letrônicos, que inclui bens de in- formática e foi responsável por 35,6% do faturamento do PIM no ano passado, a situação é inversa: na média, em 2011, 73,8% dos in- sumos utilizados foram compra- dos no exterior. Mas a quantidade de bens produzidos nesse seg- mento, e sua frenética atualiza- ção tecnológica, cumpre à risca um dos principais objetivos da ZFM: a substituição de importa- ções de produtos acabados. Tais movimentos observados nesses setores indicam uma nova tendência, a da especialização do PIM em produtos eletroeletrôni- cos, de duas rodas e químicos, ob- serva Alessandro Teixeira, do MDIC. Na terceira categoria, além de extratos para bebidas, ele in- clui cosméticos, fitoterápicos e outros produtos à base de recur- sos naturais — uma evidente vo- cação local, que pode ser acelera- da com a extensão da ZFM para os demais municípios da Região Metropolitana de Manaus e com a ampliação do prazo de vigência do modelo para até 2073, defen- dida na Proposta de Emenda Constitucional (PEC) recente- mente enviada pela presidente Dilma ao Congresso. “Não é algo para o curto prazo, mas segura- mente vai estimular o desenvolvi- mento da região”, diz Teixeira. Na lista de oportunidades identificadas pela Suframa há po- tencial ainda para negócios rela- cionados aos setores naval, ma- deireiro, papel, vestuário e calça- dos; produtos alimentícios, edi- torial e gráfico, têxtil, de minerais não metálicos; de mobiliário; be- neficiamento de borracha; ótico e de brinquedos. O volume atual de produção no PIM mostra bem o peso que a área tem no mercado nacional, grande destino dos bens lá pro- duzidos. Do total faturado, as ex- portações não chegam a US$ 1 bi- lhão. Segundo a Suframa, todos os televisores e aparelhos de áu- dio fabricados no país são produ- zidos em Manaus. Mais de um ter- ço dos celulares utilizados pela população brasileira e 40% dos produtos de informática também são feitos no PIM. Com a recuperação do movi- mento ao nível de 2008, pré-crise, a ZFM entra no seu 46 o ano com a expectativa de superar em pelo menos dois pontos percentuais o crescimento nacional. Poderia avançar mais, se não esbarrasse ainda em problemas estruturais de transporte e energia. Um con- têiner pode levar duas semanas para ir de Manaus para São Paulo, fazendo parte da viagem em na- vio e parte em carreta — no senti- do inverso, o desembaraço de in- sumos importados pode atrasar ainda mais a entrega. E, no segun- do caso, basta lembrar que cerca de 80% da eletricidade de Manaus vem de custosos geradores a die- sel – o restante é suprido pela usi- na de Balbina. “O esperado novo porto de Ma- naus já está licitado e deverá en- trar em operação no segundo se- mestre de 2014, dobrando a ca- pacidade atual dos dois terminais privados que existem na cidade, que é de 400 mil cônteineres por ano”, informa o secretário de pla- nejamento do Amazonas, Airton Claudino. A obra, orçada em R$ 400 milhões, se juntará à refor- ma do porto público de Manaus, prometida para antes da Copa do Mundo, ao custo de R$ 90 mi- lhões. Já as mudanças na matriz energética vêm sendo feitas gra- dualmente, com a substituição do diesel pelo gás que vem de Coari nas usinas termelétricas, e a chegada do linhão de Tucuruí, prevista para o ano que vem. Fonte: Sistema de Indicadores da Suframa. * Corresponde à média mensal de empresas informantes do Sistema de Indicadores Industriais, com projetos aprovados pelo Conselho de Administração da Suframa. Indicadores do Polo Industrial de Manaus Faturamento Em US$ bilhões 2002 2011 0 10 20 30 40 50 9,10 41,06 Exportações Em US$ bilhões 2002 2011 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 1,06 0,914 Empregos (média mensal) no PIM 2002 2011 40 60 80 100 120 57.812 119.445 Empresas Média mensal* 2002 2011 320 340 360 380 400 420 440 460 346 440 Investimentos produtivos consolidados - Em US$ bilhões 2002 2011 2 4 6 8 10 12 2,08 10,7 Tributos totais arrecadados Em R$ bilhões 2002 2011 5 10 15 20 25 5,67 21,10 SERGIO OLIVEIRA/DIVULGAÇÃO Vista do Porto Chibatão, em Manaus: 550 empresas do Polo Industrial faturam US$ 40,6 bilhões, valor quatro vezes superior ao registrado há dez anos, e empregam 120 mil pessoas; investimento consolidado em 2011 foi de US$ 10,8 bilhões

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Page 1: ESPECIAIS - pib.socioambiental.org · lette, Nokia, Coca-Cola, Siemens, Samsung e empresas nacionais e regionais centradas nos recursos da biodiversidade e na produção de tecnologias

Jornal Valor --- Página 1 da edição "28/02/2012 1a CAD F" ---- Impressa por lmmorresi às 27/02/2012@15:54:12

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 28/2/2012 (15:54) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Terça-feira, 28 de fevereiro de 2012 | F1

Es p e c i a lZona Franca de Manaus

Fato rde incentivoRegião buscaincorporar novossegmentos daeconomia,sobretudo os queexplorem o imensopatrimônio dafloresta. PorMarlene Jaggi eLuiz Maciel, parao Valor, de Manaus

A os 45 anos de vida, a Zo-na Franca de Manaus,criada para estimular

empreendimentos comerciais,industriais e agropecuários naregião mais isolada do país, exi-be hoje um novo perfil, maismaduro e focado na produçãode bens com alto valor agrega-do, cujos resultados vêm baten-do sucessivos recordes. Seu de-safio, agora, é equilibrar o pesodos vitoriosos setores da indús-tria eletrônica e de motocicletas,responsáveis por mais da meta-de da riqueza produzida nessepolo com regime especial de im-postos, incorporando outrossegmentos da economia, sobre-tudo aqueles capazes de explo-rar o imenso patrimônio bioló-gico da floresta amazônica.

A estimativa é que as cerca de550 empresas do Polo Industrialde Manaus (PIM) tenham fechado2011 com faturamento de US$40,6 bilhões, valor quatro vezesmaior do que o registrado há dezanos, e um total de 120 mil em-pregos diretos. Com um investi-mento consolidado que saltou deUS$ 2,8 bilhões em 2002 para US$10,8 bilhões em 2011, os empre-sários instalados no PIM enfati-zam um dado que acreditam servital para a nova imagem da re-gião: recolheram aos cofres públi-cos R$ 21,10 bilhões somente em2011, mais da metade deles relati-vos a impostos federais.

“Existem muitos mitos a respei-to da Zona Franca de Manaus queprecisam ser derrubados”, afirmao secretário-executivo do Minis-tério do Desenvolvimento, Indús-tria e Comércio Exterior, Alessan-dro Teixeira. Ele se refere à crençade que a região não contribui pa-ra os cofres públicos. Presidentedo Conselho de Administração daSuperintendência da Zona Francade Manaus, Teixeira participa dosencontros bimestrais que anali-sam, por vez, cerca de 40 novosprojetos para a região. Segundoele, esse interesse das empresas

em implantar novas indústrias,ampliar ou diversificar plantas jáexistentes é uma prova de que aZona Franca é um modelo de ati-vidade econômica que impulsio-na os negócios e ajuda uma re-gião inteira a se desenvolver.

Com 1,8 milhão de habitantes,pouco mais da metade da popu-lação do Estado, Manaus é res-ponsável por um PIB de R$ 40,4bilhões, que representa 81% doPIB do Estado (de R$ 49,6 bi-lhões). É o sexto munícipio quemais arrecada no país, atrás deSão Paulo, Rio, Brasília, Curitiba eBelo Horizonte. O motor dessapujança é a Zona Franca.

“O Amazonas é o maior Esta-do brasileiro, com 1,5 milhão dekm2, mas concentra mais de 80%da atividade no Polo Industrialde Manaus, que ocupa apenas10 mil km2”, compara o superin-tendente da Zona Franca de Ma-naus (Suframa), Thomaz No-gueira. Há apenas dois meses nocargo, ele substitui Flávia Gros-so, que pediu exoneração emoutubro, em meio a suspeitas deimprobidade administrativa.

O maior atrativo são os incenti-

vos fiscais. Quem lá se instala po-de comprar insumos no exteriorcom isenção do Imposto de Im-portação (II), IPI, PIS/Cofins. Secomprar de outros Estados, nãopaga IPI, nem PIS/Cofins. Na horade vender produtos para outrosEstados, usufrui de uma reduçãode 88% no II, tem isenção de IPI epaga uma alíquota diferenciadade PIS/Cofins (0,65% e 3,0%, res-pectivamente). Se a produção forpara o exterior, a isenção é total.

Inicialmente foi esse modeloque atraiu para a região gigantesinternacionais como Honda, Gil -lette, Nokia, Coca-Cola, Siemens,Samsung e empresas nacionais eregionais centradas nos recursosda biodiversidade e na produçãode tecnologias de software e tele-comunicações como Agrorisa,Pharmakos, Fa b r i q , Cupuama eAmazon IT.

“O foco agora é mais amplo”,diz Nogueira, referindo-se à insta-lação de uma cadeia produtiva ca-da vez mais sólida em vários polose à vigência, desde 1992, do Pro-cesso Produtivo Básico (PPB), quesubstituiu o Índice de Nacionali-zação e criou outros critérios paraa aprovação de projetos para aZFM. Todos devem atender a nor-mas da ISO 9000 em até 30 meses,gerar empregos na região e ofere-cer benefícios aos funcionários,além de entregar anualmente umlaudo técnico de auditoria inde-pendente e informar investimen-to em P&D. Cada produto, porém,tem seu próprio PPB, com dife-rentes etapas a serem cumpridas.

De forma geral, o PPB estabele-ce que os investidores obtenhamníveis crescentes de produtivida-de e de competitividade; apli-quem lucros na região; invistamna capacitação de recursos huma-nos para o desenvolvimento cien-tífico e tecnológico e, principal-mente, aumentem gradativa-mente a participação de fornece-dores nacionais de insumos.

Esse avanço da cadeia produti-va local acontece de fato no polo

de duas rodas, o segundo maiorfaturamento do PIM — US$ 7,6 bi-lhões, resultado da venda de 2,1milhões de motocicletas. As em-presas lá instaladas alcançaramum índice de nacionalização e re-gionalização de insumos de 75%,bem maior que a média geral doPIM. No maior polo, o de eletroe-letrônicos, que inclui bens de in-formática e foi responsável por35,6% do faturamento do PIM noano passado, a situação é inversa:na média, em 2011, 73,8% dos in-sumos utilizados foram compra-dos no exterior. Mas a quantidadede bens produzidos nesse seg-mento, e sua frenética atualiza-ção tecnológica, cumpre à riscaum dos principais objetivos daZFM: a substituição de importa-ções de produtos acabados.

Tais movimentos observadosnesses setores indicam uma novatendência, a da especialização doPIM em produtos eletroeletrôni-cos, de duas rodas e químicos, ob-serva Alessandro Teixeira, doMDIC. Na terceira categoria, alémde extratos para bebidas, ele in-clui cosméticos, fitoterápicos eoutros produtos à base de recur-sos naturais — uma evidente vo-cação local, que pode ser acelera-da com a extensão da ZFM para osdemais municípios da RegiãoMetropolitana de Manaus e coma ampliação do prazo de vigênciado modelo para até 2073, defen-dida na Proposta de EmendaConstitucional (PEC) recente-mente enviada pela presidenteDilma ao Congresso. “Não é algopara o curto prazo, mas segura-mente vai estimular o desenvolvi-mento da região”, diz Teixeira.

Na lista de oportunidadesidentificadas pela Suframa há po-tencial ainda para negócios rela-cionados aos setores naval, ma-deireiro, papel, vestuário e calça-dos; produtos alimentícios, edi-torial e gráfico, têxtil, de mineraisnão metálicos; de mobiliário; be-neficiamento de borracha; ótico ede brinquedos.

O volume atual de produçãono PIM mostra bem o peso que aárea tem no mercado nacional,grande destino dos bens lá pro-duzidos. Do total faturado, as ex-portações não chegam a US$ 1 bi-lhão. Segundo a Suframa, todosos televisores e aparelhos de áu-dio fabricados no país são produ-zidos em Manaus. Mais de um ter-ço dos celulares utilizados pelapopulação brasileira e 40% dosprodutos de informática tambémsão feitos no PIM.

Com a recuperação do movi-mento ao nível de 2008, pré-crise,a ZFM entra no seu 46o ano com aexpectativa de superar em pelomenos dois pontos percentuais ocrescimento nacional. Poderiaavançar mais, se não esbarrasseainda em problemas estruturaisde transporte e energia. Um con-têiner pode levar duas semanaspara ir de Manaus para São Paulo,fazendo parte da viagem em na-vio e parte em carreta — no senti-do inverso, o desembaraço de in-sumos importados pode atrasarainda mais a entrega. E, no segun-do caso, basta lembrar que cercade 80% da eletricidade de Manausvem de custosos geradores a die-sel – o restante é suprido pela usi-na de Balbina.

“O esperado novo porto de Ma-naus já está licitado e deverá en-trar em operação no segundo se-mestre de 2014, dobrando a ca-pacidade atual dos dois terminaisprivados que existem na cidade,que é de 400 mil cônteineres pora n o”, informa o secretário de pla-nejamento do Amazonas, AirtonClaudino. A obra, orçada emR$ 400 milhões, se juntará à refor-ma do porto público de Manaus,prometida para antes da Copa doMundo, ao custo de R$ 90 mi-lhões. Já as mudanças na matrizenergética vêm sendo feitas gra-dualmente, com a substituiçãodo diesel pelo gás que vem deCoari nas usinas termelétricas, e achegada do linhão de Tucuruí,prevista para o ano que vem.

Fonte: Sistema de Indicadores da Suframa. * Corresponde à média mensal de empresas informantes do Sistema de Indicadores Industriais, com projetos aprovados pelo Conselho de Administração da Suframa.

Indicadores do Polo Industrial de Manaus

FaturamentoEm US$ bilhões

2002 2011

0

10

20

30

40

50

9,10

41,06

ExportaçõesEm US$ bilhões

2002 2011

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

1,060,914

Empregos (média mensal) no PIM

2002 2011

40

60

80

100

120

57.812

119.445

EmpresasMédia mensal*

2002 2011

320

340

360

380

400

420

440

460

346

440

Investimentos produtivos consolidados - Em US$ bilhões

2002 2011

2

4

6

8

10

12

2,08

10,7

Tributos totais arrecadadosEm R$ bilhões

2002 2011

5

10

15

20

25

5,67

21,10

SERGIO OLIVEIRA/DIVULGAÇÃO

Vista do Porto Chibatão, em Manaus: 550 empresas do Polo Industrial faturam US$ 40,6 bilhões, valor quatro vezes superior ao registrado há dez anos, e empregam 120 mil pessoas; investimento consolidado em 2011 foi de US$ 10,8 bilhões

Page 2: ESPECIAIS - pib.socioambiental.org · lette, Nokia, Coca-Cola, Siemens, Samsung e empresas nacionais e regionais centradas nos recursos da biodiversidade e na produção de tecnologias

Jornal Valor --- Página 2 da edição "28/02/2012 1a CAD F" ---- Impressa por lmmorresi às 27/02/2012@15:59:21

F2 | Valor | Terça-feira, 28 de fevereiro de 20 1 2

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 28/2/2012 (15:59) - Página 2- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Esforços para superar osgargalos de infraestrutura

Especial | Zona Franca de Manaus

Japão

30,07

5,62

EUA

México

3,05

2,70

1,56

1,58

2,55Chile

Argentina

Paraguai

Peru

Colômbia

Venezuela

Alemanha

EUA11,59

México

14,99

Coreiado Sul

32,90China

1,59

Tailândia4,07

HongKong

ManausMalásia

2,57

Alemanha

10,85

5,11

4,79

9,5411,35

Equador 4,26

Taiwan (Formosa)

6,15

Vai e vemComposição das exportações e importações da ZFM - por país, em %

Destino das exportações

Origem das importações

Fonte: Sistema de indicadores da Suframa, MDIC e Sistema Alice - até dez/2011.

.

Mudança de perfilocorre a partir de 1975De Manaus

Um século atrás, Manaus sofriatodos os males do declínio do cicloda borracha. Com 100 mil habi-tantes e 2,5 mil casas, quase su-cumbiu à epidemia da gripe espa-nhola, que matou cerca de 6 milpessoas. Vulnerável, durante déca-das, só mereceu atenção em 1957,durante o governo Juscelino Ku-bitschek, quando a Lei 3.173 crioua Zona Franca de Manaus (ZFM). Aintenção era geopolítica: preten-dia-se povoar e integrar a Amazô-nia ao cenário nacional. Foram ne-cessários, porém, mais dez anospara que a ZFM ganhasse fôlego.

O grande passo veio com De-creto Lei 288, de 28 de fevereirode 1967, que regulamentou a leianterior e definiu a ZFM como“área de livre comércio de impor-tação, exportação e de incentivosfiscais especiais”, com o objetivode criar no interior da Amazônia“um centro industrial, comercial e

Polo vai organizar a indústria navalDe Manaus

Ao mesmo tempo em que pro-cura fortalecer o PIM e resguardarsuas empresas da guerra fiscal comoutros Estados, o Amazonas arti-cula um novo centro de negóciosem Manaus. Trata-se do Polo Naval,cujo projeto deve ser concluído emjunho e foi assumido como priori-dade pelo governo estadual. “Já en-contramos o local ideal para im-plantá-lo e não queremos perder

Luiz MacielPara o Va l o r , de Manaus

Nenhuma capital brasileira ex-perimentou um surto de cresci-mento tão intenso quanto Manausnos últimos 45 anos. Em 1967, anode criação da Zona Franca, a cida-de possuía 250 mil habitantes,uma universidade, 173 pequenasindústrias e 828 veículos — eramtão poucos que podiam ser conta-dos com exatidão. Hoje, a popula-ção local é sete vezes maior, as uni-versidades já são 13, o Polo Indus-trial de Manaus abriga 600 empre-sas — algumas delas as maiores dopaís em seus segmentos — e a frotade automóveis passa dos 400 mil,gerando congestionamentos diá-rios no fim do dia.

Esse salto só foi possível graçasao regime especial de tributaçãoda Zona Franca de Manaus (ZFM),que primeiro atraiu para a cidadeo comércio de artigos importados,depois fábricas com baixos índicesde nacionalização e finalmente in-dústrias com verticalização cres-cente. No meio do caminho, o pro-jeto para estimular o desenvolvi-mento em uma região tão isoladaenfrentou crises e sofreu constan-tes correções de rumo – mas nuncadeixou de colecionar bons resulta-dos. Não fosse a precária infraes-trutura local, sobretudo na área detransportes e energia, imagina-seque a ZFM teria crescido mais.

São seis os principais gargalosque emperram os negócios do Po-lo Industrial de Manaus (PIM), se-gundo estudo recém-concluídopela Secretaria do Planejamentodo Amazonas: o aeroporto aca-nhado, os portos insuficientes, asestradas praticamente inexisten-tes, a matriz energética dependen-te do diesel, a falta de cobertura te-lefônica e a formação profissionaldeficiente. “De uma forma ou deoutra, esses problemas estão sen-do enfrentados pelos governos fe-deral e estadual e pela iniciativaprivada. Mas exigem tempo e, decerta forma, são agravados pelopróprio dinamismo do Polo In-dustrial, que continua se expan-d i n d o”, afirma o secretário do pla-nejamento Aírton Claudino.

Ele reconhece que algumasações servirão apenas para aliviaras dificuldades de momento. Aampliação do Aeroporto Interna-cional Eduardo Gomes, porexemplo, com investimentos deR$ 415 milhões e conclusão pre-vista para dezembro de 2013, nãoinclui a construção de uma se-gunda pista e terá a capacidadeaumentada apenas para 5 mi-lhões de passageiros ao ano, mo-vimento que deverá ser alcança-do já em 2015. O aeroporto operaacima da sua capacidade de carga(144 mil toneladas/ano) desde2010, e estourou o limite de 2,5milhões de operações de embar-

Negócios Em 2011, foram aprovados 231 projetosde novas indústrias ou ampliação das já existentes

Cresce o interessedas empresas eminvestir na regiãoMarlene JaggiPara o Va l o r , de Manaus

O aumento do Imposto de Im-portação dos aparelhos de ar con-dicionado de 20% para 35%,anunciado em setembro, e a pers-pectiva de elevação do Impostosobre Produtos Industrializados(IPI), também de 20% para 35%,vão inviabilizar a compra dessasmáquinas no exterior. Em seismeses, a carga tributária sobre oimportado passará de 70% para110%. Por isso, a Ko m e c o decidiucruzar o Brasil de Sul a Norte. Aempresa catarinense, que traba-lha com climatização e pisos etambém tem serviços de impor-tação, começa a produzir em ju-nho aparelhos de ar-condiciona-do na Zona Franca de Manaus.

A mudança prevê um investi-mento total de R$ 30 milhões namontagem de uma linha de pro-dução com capacidade inicial de10 mil aparelhos e a contrataçãode 200 empregados. “A meta é do-brar esse volume em um ano e, nu-ma outra etapa, fabricar tambémaquecedores a gás e outros eletro-domésticos com a marca Komeco”,diz o presidente da empresa, De-nisson Freitas.

A partir de setembro, 70% dosaparelhos disponíveis na rede na-cional de distribuição da empresaserão produzidos em Manaus, comum índice de nacionalização de40%, em lugar dos produtos queaté agora comprava de quatro di-ferentes fornecedores chineses. Naetapa inicial, serão mantidas asimportações dos aparelhos maispotentes, que a partir do segundosemestre de 2013 também devemcomeçar a ser feitos na Zona Fran-ca. Os demais negócios do grupo,

que e desembarque em 2011. É oterceiro principal aeroporto dopaís em movimentação de carga,atrás de Guarulhos e Viracopos.

No caso dos portos, o alívio sóchegará a partir de meados de2014, quando Manaus deverá ter-minar a construção de um termi-nal público de carga, ao custo deR$ 400 milhões, a ser operado pormeio de concessão a empresa pri-vada. Ele irá se juntar aos dois queexistem hoje, o Chibatão e o Super-terminais, que são privados, do-brando a capacidade atual de mo-vimentação de 400 mil TEUs (con-têineres no padrão de 20 pés). Fazparte do pacote de investimentospara a Copa do Mundo também arecuperação do antigo porto pú-blico da cidade, para passageiros ecargas, orçado em R$ 90 milhões.

Na área da energia a linha detransmissão que vem rasgando afloresta desde a usina de Tucuruí,no Pará, deverá chegar a Manausno ano que vem, integrando fi-nalmente o Amazonas ao SistemaInterligado Nacional (SIN). Ao ca-bo de nove anos de obras e inves-timentos da ordem de R$ 4 bi-lhões, o linhão entregará ao Esta-do 1.500 MW, acima do pico deconsumo de Manaus, que foi de1.160 MW em 2010. Enquanto es-se reforço não chega, Manaus se-gue substituindo o óleo combus-tível usado nas suas termelétricaspelo gás que chega de Coari.

ALBERTO CESAR ARAUJO/VALOR

Aírton Claudino, secretário do planejamento: faltam estradas e a matriz energética é dependente do diesel

que emprega mil pessoas e tem re-ceita anual de R$ 500 milhões, con-tinuam em Santa Catarina.

Projetos como os da Komecochegam com frequência à Sufra-ma, que só no ano passado apro-vou 231, o que representa sinalverde para investimentos próxi-mos de R$ 3 bilhões na implanta-ção de novas indústrias, ampliaçãoou diversificação das já existentes.

Pleiteiam autorização para im-plantação no Polo Industrial deManaus (PIM) empresas de diver-sos portes e atividades, como a Im -pram Gráfica, para fabricação demanuais técnicos impressos ou aFerro Rebelo, para a produção deestruturas de ferro e aço para cons-trução civil, cujos investimentossomados alcançam US$ 6 bilhões,e gigantes internacionais como aRed Bull, cujo projeto de instalarem Manaus sua segunda unidadede produção mundial foi aprova-da em dezembro de 2011 peloConselho de Desenvolvimento doEstado do Amazonas, o Codam.

A fabricante de energéticos vaiinvestir R$ 194 milhões na implan-tação de uma linha de produção eR$ 273 milhões em capital de gironos primeiros três anos. Seu planoé produzir 64 milhões de litros (ou256 milhões de latas de 250 ml) noprimeiro ano e 85 milhões de litros(340 milhões de latas) no terceiro,empregando 200 trabalhadoresdiretos e indiretos. “Poderá haveralgum excedente para exportação,mas a prioridade é atender ao mer-cado brasileiro, que está crescendomuito rápido e consumiu 190 mi-lhões de latinhas em 2011”, diz oconsultor Roderick Castello Bran-co, que assessorou a empresa naconcessão do PPB, o Processo deProdução Básico que autoriza a

agropecuário dotado de condi-ções econômicas que permitamseu desenvolvimento, em face dosfatores locais e da grande distân-cia a que se encontram os centrosconsumidores de seus produtos”.

O decreto reformulou o mode-lo, estabeleceu incentivos fiscaispor 30 anos, criou a Superinten-dência da Zona Franca de Manaus(Suframa) para administrar o mo-delo e demarcou a ZFM à margemesquerda dos rios Negro e Amazo-nas. Um ano depois, o decreto 356estendeu parte dos benefícios paraa Amazônia Ocidental, (Amazo-nas, Acre, Rondônia, e Roraima).

Até 1975, a ZFM teve atuaçãoessencialmente comercial. Asgrandes mudanças começaramem 1975, com a adoção dos Índi-ces Mínimos de Nacionalização,para produtos feitos em Manausvendidos em outras regiões bra-sileiras, e de limites máximosglobais anuais de importação.

Os anos 90 também serão lem-

brados pela primeira grande criseda ZFM, deflagrada pela aberturacomercial e redução do Impostode Importação nas demais regiõesdo país. O comércio perdeu força eo modelo passou por uma série demodificações. A principal delas foia substituição do Índice Mínimo

de Nacionalização pelo ProcessoProdutivo Básico (PPB), utilizadoaté hoje e considerado o grandeimpulsionador da formação da ca-deia produtiva local.

Entre 1997 e 2002, enquanto omercado brasileiro se adaptava oao processo de globalização e às

mudanças decorrentes do PlanoReal, o Polo Industrial de Manauspassou a desenvolver uma caracte-rística mais exportadora, buscan-do produção com tecnologia ecompetitividade. Na última déca-da, Suframa e os integrantes doPIM passaram a olhar com mais

atenção a tecnologia, questão hojeconsiderada tão prioritária quan-to a busca de soluções para a pre-cária infraestrutura regional. Háprojetos para construção de aero-portos, estradas, estruturas turísti-cas, projetos pilotos de produção ecapacitação de mão de obra. (LM)

mais tempo”, diz o secretário deplanejamento, Aírton Claudino,para quem a reunião dos estaleirosem um trecho da orla é essencialpara retirar o setor da informalida-de e oferecer condições de cresci-mento sustentado.

Hoje, os construtores navais es-tão espalhados em vários pontosdos rios próximos a Manaus e nãosofrem nenhum controle no des-carte de resíduos. “No Polo Naval,serão organizados e obedecerão a

exigências ambientais, além de terà disposição um trecho de 10,5 kmde frente por 3,8 km de fundos, àbeira do rio Amazonas, onde aprofundidade é de nível oceânico,variando de 30 a 90 metros.”

Para o presidente do Sindicatodos Construtores Navais do Ama-zonas, Matheus Araújo, o empre-endimento será indutor de negó-cios e deve consolidar-se comouma matriz econômica do portedo PIM, dentro de dez anos. (LM)

instalação no PIM.São constantes as visitas recebi-

das pela Suframa de players inter-nacionais. No início do ano, foi avez do presidente mundial daSamsumg SDI, Sangjin Park, inte-ressado em produzir no PIM bate-rias de Lithium Ion (íons de lítio)para celulares e notebooks. A son-dagem desta divisão da Samsungmundial ainda não presente noBrasil (o grupo opera em Manauscom Samsung Eletronics) vem aoencontro de um grande desafio daregião: promover o adensamentode cadeias produtivas na ZFM.

É o que a Levorin Pneus (Neo -tec), conseguirá fazer com seu pro-jeto de produção de 100 mil pneuspara motos e 700 mil para bicicle-tas, dois dos principais produtosdo PIM. De acordo com a Suframa,os pneus serão feitos com borra-cha beneficiada na própria ZFM,mediante um investimento de R$120 milhões e a geração de 800empregos. A atividade vai utilizar amão de obra tradicional das famí-lias de seringueiros.

Outro dado que mostra o dina-mismo do PIM é o volume crescen-te de pedidos de diversificação eampliação de atividades por partede empresas que estão na região.Foi assim que a V i d e o l a r, que atuanas áreas de mídia digital e petro-química, lançou nova linha de mí-dias Blu-ray e passou a produzirtampas para garrafas PET, uma es-tratégia para ampliar sua atuaçãona área de transformação de plás-ticos. Na lista de pedidos de diver-sificação estão a Magnum, dispos-ta a investir US$ 27 milhões na fa-bricação de relógios de pulso, e aPhitronics, que calcula em US$ 187milhões o aporte necessário para afabricação de unidades acionado-ras de discos magnéticos rígidos.Na área de produção de tablets, aSuframa aprovou projetos da Sam -sung, Evadin, P r o c o m p, Po s i t i v oInformática, Companhia Brasilei-ra de Tecnologia Digital (CBTD),Digibras e Greenworld.

Segundo o presidente da Fede-ração das Indústrias do Estado doAmazonas (Fieam), Antonio Silva,a atração de novos investimentosdepende da segurança jurídica. “Sefor aprovada a prorrogação doprazo de existência da ZFM, e a am-pliação de sua área para toda a re-gião metropolitana, teremos maiscondição de atrair novos e diversi-ficados empreendimentos”. Elelembra que o impacto dessas con-quistas será nulo se não houveruma política industrial que asse-gure vantagens competitivas paraos produtos feitos em Manaus.Antônio Silva, presidente da Fieam: preocupação com a segurança jurídica

ALBERTO CESAR ARAUJO/VALOR

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Jornal Valor --- Página 3 da edição "28/02/2012 1a CAD F" ---- Impressa por lmmorresi às 27/02/2012@15:54:31

Terça-feira, 28 de fevereiro de 2012 | Valor | F3

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 28/2/2012 (15:54) - Página 3- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

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Jornal Valor --- Página 4 da edição "28/02/2012 1a CAD F" ---- Impressa por lmmorresi às 27/02/2012@15:55:32

F4 | Valor | Terça-feira, 28 de fevereiro de 20 1 2

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 28/2/2012 (15:55) - Página 4- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Especial | Zona Franca de Manaus

Fonte: Sistema de Indicadores da Suframa. *Incluindo bens de informática. ** Dados parciais

Divisão de negóciosPeso dos polos no faturamento da ZFM

Participação por segmento

Faturamento dos polos - em US$ bilhões

2006

2007

2008

2009

2010

2011**

Eletroeletrônico* Duas rodas Químico Metalúrgico Termoplástico

1,61%

Relojoeiro

3,57%

Outros

1,82%

Descartáveis

3,71%

Mecânico

4,80%

Termoplástico

9,87%

Bens de informática

21,20%

Duas Rodas

34,53%

Eletroeletrônico

7,06%

Metalúrgico

11,83%

Químico

12,16

11,91

12,99

11,42

15,82

18,18

4,18

5,94

7,63

5,27

6,96

8,66

2,01

2,64

2,99

3,19

4,19

4,99

1,06

1,50

2,11

1,89

2,47

2,83

1,27

1,42

1,67

1,54

1,81

1,96

D e s e nvo l v i m e n to Setor tem 45%da receita e 38% dos empregos

Elet rônicosfortalecemos negóciosMarlene JaggiPara o Va l o r , de Manaus

Maior estrela do universo da Zo-na Franca de Manaus, o segmentoeletroeletrônico é o grande con-centrador de negócios da região:contribui com quase 45% do fatu-ramento do Polo Industrial de Ma-naus (PIM) e com 38% dos empre-gos da região. No ano passado, issorepresentou receita de US$ 18,1 bi-lhões, 15% superior à de 2010 e umtime de quase 46 mil funcionários,26% a mais do que no ano anterior.

Essa pujança é resultado da for-ça adquirida pelo segmento desdea criação da zona franca. O modeloatraiu os maiores produtores deartigos eletroeletrônicos e de in-formática no mundo, tais comoSamsung, LG, Nokia, S o n y, Philips,Whirpool, o que rendeu ao polo afama de ser o maior centro de fa-bricação desses produtos da Amé-rica do Sul. De lá saíram no anopassado, por exemplo, mais de 10milhões de televisores de tela LCDe mais de 23 milhões de celulares.

Uma das mais expressivas fabri-cantes de celulares locais, a Nokiatem em Manaus uma fábrica comdois mil colaboradores, um insti-tuto de tecnologia, um projetoeducacional de destaque e vai ago-ra produzir o Lumia 710, um dosprimeiros smartphones com oWindows Phone que é pilar im-portante de sua estratégia para ga-nhar mais mercado no mundo.

Da fábrica local sai 90% do que aempresa produz no Brasil, país querepresenta o terceiro maior merca-do para o grupo. “Quando decidi-mos instalar nossa fábrica em Ma-naus, há 14 anos, sabíamos que,além dos benefícios fiscais, estáva-mos assumindo todas as responsa-bilidades que essa decisão envol-via. Tínhamos um enorme desafiopela frente e um compromissocom o desenvolvimento econômi-co, social e ambiental da região”,diz Almir Luiz Narcizo, presidenteda Nokia Brasil.

Segundo os cálculos do gerentede relações governamentais daNokia, Felipe Cunha, desde sua ins-

talação, a Nokia investiu na regiãomais de US$ 500 milhões. Ele sequeixa das dificuldades geradaspela falta de infraestrutura para acompra de insumos, que pesamnuma atividade que importa 65%dos componentes. O avanço da ca-deia produtiva local, porém, aliviadificuldades e custos. Nas duaspontas (compra do insumo e es-coamento da produção), a compa-nhia utiliza o transporte aéreo edisputa com os demais clientes ummodal que na região oferece baixafrequência de voos e poucas ori-gens e destinos.

A presença cada vez maior defornecedores locais deverá reduziro ainda alto índice médio de im-portação de insumos (73%). “Mashá casos em que isso é impossível”,diz Benjamin Sicsú, vice-presiden-te de negócios da Samsung Eletro-

nics. A indústria de painéis, porexemplo, concentra-se em quatropaíses por causa dos incentivos.

Com 5.500 colaboradores, aSamsung está no topo do ran-king de faturamento do setor noPIM, produzindo metade da re-ceita do grupo no Brasil – US$ 2bilhões. É a maior fábrica da em-presa fora da Coreia, com 130mil m2. Na unidade, são produ-zidos televisores, DVDs e Blu-rayplayers, home theaters, players,mini systems, câmeras digitais,discos rígidos e condicionado-res. A unidade também voltou afabricar celulares, cuja linha ti-nha sido deslocada para SãoPaulo em razão de incentivos fis-cais. Manaus é ainda sede de umdos três centros de P&D da Sam-sung e de um dos seus dois cen-tros de distribuição.

Outra antiga integrante do PIMé a Whirlpool Latin America. Atraí-da pelos incentivos fiscais, a fabri-cante de eletroeletrônicos foi paraManaus em 1992 para fabricar for-nos de micro-ondas e aparelhos dear condicionado. Vinte anos de-pois, a Whirlpool tornou-se a pri-meira empresa a ter projeto apro-vado pela Suframa para a produ-ção de máquinas de lavar louças,eletrodoméstico que até agora sóchegava aos lares brasileiros pormeio de importações. A iniciativaexigiu um investimento de R$ 277milhões e em 2011 colocou nomercado 80 mil unidades .

Considerado um dos mais com-plexos, o Processo Produtivo Bási-co (PPB) para a lava-louças estabe-lece 12 etapas mínimas de fabrica-ção a serem cumpridas na ZFM. “Aideia é investir em um produto que

tem um potencial enorme de cres-c i m e n t o”, explica Evandro Cavalie-ri, gerente geral de manufatura daWhirlpool Latin America.

Com 1.400 colaboradores, afábrica deverá produzir este ano2,5 milhões de peças. De acordocom Cavalieri, isso significa o do-bro do que foi fabricado em2011, ano em que a unidade jáquadruplicou sua produção.

Junto com essa arrancada,crescem os negócios dos fornece-dores da empresa. Segundo oexecutivo, 84% dos componentesda lava-louças são nacionais. “Te -mos 35 empresas parceiras.” Nocaso dos fornos de micro-ondas,a compra dos componentes ain-da representa 60% do custo doproduto, algo que, na opiniãodele, é difícil mudar por causa daconcorrência chinesa.

.

Linha de motos atrai fornecedoresLuiz MacielPara o Va l o r , de Manaus

A presença cada vez maior demotocicletas na paisagem urbanabrasileira se deve, em larga medi-da, a um casamento que parecia omais improvável de todos nos anos1970: o das montadoras de veícu-los de duas rodas com a selva ama-zônica. Apadrinhado pela Sufra-ma, a Superintendência da ZonaFranca de Manaus, e abençoadopela isenção ou drástica reduçãodos principais tributos federais eestaduais, esse casamento é res-ponsável hoje pela produção de2,14 milhões de motos no Brasil,todas saídas das linhas de monta-gem de empresas estabelecidas noPolo Industrial de Manaus (PIM).

Deu tão certo que a frota nacio-nal de motocicletas decolou de 4milhões de unidades em 2000 pa-ra 18,1 milhões em 2011, tornan-do-se a quarta do mundo, atrás daChina, Indonésia e Índia. Em2011, o setor de duas rodas movi-mentou cerca de US$ 7,6 bilhões,consolidando-se como o segundode maior participação no fatura-mento global do PIM, que foi deUS$ 40,6 bilhões, quase duas ve-zes o PIB boliviano.

A Honda foi a primeira do setora se instalar, em 1976, e desde en-tão administra uma folgada dian-teira sobre os concorrentes no país

– com 1,65 milhão de motos fabri-cadas em 2011, é dona de 78% domercado nacional. Para sustentaressa liderança, a empresa cresceu aponto de transformar a unidadede Manaus na maior fábrica demotocicletas do mundo, com11.400 funcionários diretos, 3.600prestadores de serviço e uma ca-deia de fornecedores locais queemprega outros 25.000 trabalha-dores. “O índice de nacionalizaçãode nossas motos é superior a 75%, e45% dos componentes são produ-zidos pela própria Honda e entre30% e 35% vêm de parceiros comer-ciais locais e regionais”, ressaltaMario Okubo, gerente de relaçõesinstitucionais em Manaus.

Ironicamente, um item aindanão atendido pelos fornecedo-res que estão na órbita de Ma-naus são os pneus, cuja matéria-prima foi revelada ao mundojustamente pela Amazônia – elesvêm para a Honda da fábrica daPirelli, em Gravataí (RS), e levamduas semanas para chegar numamaratona que combina trans-porte rodoviário com fluvial.

Impulsionada pelo regime es-pecial da Zona Franca, e por ummodelo de 125 cilindradas – o CG125 – que caiu no gosto popular evirou campeão de vendas, a Hondatratou de convencer seus princi-pais fornecedores a também mi-grar para Manaus, procurando re-

duzir ao máximo o tempo perdidono transporte, que até hoje é ogrande desafio das empresas doPIM. A Ko s t a l , fabricante de inter-ruptores de freio e embreagem pa-ra motos, é uma que acaba detransferir sua linha de montagemde São Bernardo do Campo (SP)para Manaus. “Com isso vamos evi-tar um frete desgastante e podere-mos atender melhor os nossosclientes”, diz Ângelo Castiglia, di-retor industrial da empresa, quevai empregar 200 pessoas.

O sucesso da Honda tambématraiu concorrentes, a começar pe-la tradicional rival Yamaha, quechegou em 1983 e hoje detém 11%do mercado – o restante do bolo édividido por empresas que finali-zam em Manaus a montagem demodelos com a maior parte das pe-ças importadas, como Ka s i n s k i ,Dafra, Suzuki, Traxx e Kaw a s a k i . Háainda mais de uma dezena demontadoras de motos com proje-tos aprovados pela Suframa parase estabelecer na Zona Franca, masque ainda não o fizeram.

Com investimentos acumula-dos de US$ 530 milhões para o de-senvolvimento de sua linha 2012, aHonda tem capacidade para pro-duzir 2 milhões de motos por ano,e se prepara para ir além. “O mer-cado ainda tem potencial paracrescer ”, afirma Mario Okubo.

A Yamaha, que a partir de julho

terá de aumentar o índice de na-cionalização de suas motos, anun-cia investimentos de US$ 100 mi-lhões na melhoria das linhas deprodução e no desenvolvimentode produtos. A Kasinski, adquiridaem 2009 pela chinesa CRZongshen, tomou o terceiro lugarno ranking da brasileira Dafra noano passado, com 58.300 unida-des produzidas. Está preparadapara fabricar o dobro. E a Dafra,que produz motos populares deorigem chinesa, taiwanesa e india-na, e também exemplares sofisti-cados das cultuadas Harley-David -son e B M W, vive um momento deretomada depois do baque sofridopela crise no final de 2008.

Estreando no mercado justa-mente naquele ano, a Dafra foiobrigada a reduzir a produção de119.000 motos iniciais para menosda metade, e a cortar 800 dos seus1.400 postos de trabalho. Ao con-trário do setor como um todo, ain-da não recuperou o patamar doano pré-crise e continua empaca-da na marca de 50.000 motos aoano – marasmo que quer espantarcom o recente lançamento de trêsnovos modelos de baixa cilindradae preço competitivo. “O que maisnos atrapalha agora é a restriçãoao crédito para o consumidor, queaumentou muito nos últimos me-ses”, queixa-se o diretor industrialJosé Francisco Lemos.

Química é umadas áreas maisp r o m i s s o ra sDe Manaus

Terceiro setor em faturamentodo Polo Industrial de Manaus(PIM), a indústria química tem co-mo carro-chefe a produção de ex-tratos e bebidas não-alcoólicas (asalcoólicas, assim como armas, ci-garros e carros de passeio são pro-dutos banidos da Zona Franca deManaus). A primeira a marcar pre-sença foi a Coca-Cola, justamente amaior produtora mundial de bebi-da, que prepara em Manaus o ex-trato de fórmula exclusiva que asmais de 40 fábricas da marca, espa-lhadas por todo o país, transfor-mam em refrigerante. Parte daprodução é exportada para a Amé-rica do Sul, mas a prioridade é oabastecimento interno, já que oBrasil é o quarto consumidor dessabebida no mundo, atrás apenasdos EUA, México e China.

Outra fábrica de porte, e aindamais emblemática por usar umproduto local, é a do concentradodo guaraná Antarctica, da A m b e v,que segue a mesma estratégia dedistribuição para o resto do país,exportando algum excedente parao Japão e Portugal. A matéria-pri-ma vem da Fazenda Santa Helena,em Maués, no Sudeste do Amazo-nas, perto da divisa com o Pará.

No PIM, o polo químico apareceentre os mais promissores, comoportunidades ligadas aos recur-sos naturais locais, mas tambémpara negócios ligados à área deprodutos para limpeza , filmes epapéis fotográficos e cimento. Ou-tros polos, como o relojoeiro, mos-tram trajetórias diferentes.

O polo relojoeiro já foi um dosgrandes redutos de negócios doPolo Industrial de Manaus. Hoje,contribui com modestos 1,61% pa-ra seu faturamento, mas dá mos-tras de uma retomada importante.Até novembro, o setor investiu US$104,5 milhões, o que representamais do que a soma dos aportesrealizados em 2009 e 2010 (US$44,8 milhões e US$ 53,7 milhões,respectivamente).

O avanço também aparece novolume de produção, que saltoude 5,4 milhões de unidades de pul-so e de bolso entre janeiro e no-vembro de 2009 para 8,2 milhõesno mesmo período de 2010 e para11,2 milhões em 2011, ano em que

o faturamento foi de US$ 613 mi-lhões, 21% superior ao de 2010. De-sempenho semelhante pode serobservado na geração de empre-go: com 1.372 colaboradores em2006, fechou o ano com 2.425,34,5% a mais do que em 2010. Oque não mudou foram os índicesde nacionalização e regionaliza-ção do componentes. No ano pas-sado, 94,71% dos insumos do setorforam comprados no exterior.

Nelson Azevedo, presidente doSindicato das Indústrias de Relo-joaria e Ourivesaria de Manaus,atribui essa retomada à ascensãodas classes com maior poder decompra. “Apesar da concorrênciados importados, nossos custos sãomenores e cabem no orçamentodos brasileiros”, diz. Fontes do se-tor acreditam que 40 a 45% dos re-lógios comprados no Brasil sãomontados em Manaus. O restanteé importado, ou contrabando e pi-rataria, explica Azevedo.

Entre os nove fabricantes do po-lo relojoeiro de Manaus estão em-presas como a Orient, Te c h n o s eDumont, que trabalham com umíndice de importação superior a90%. A mais nova fábrica da regiãoé a da rede de franquias To u c hWa t c h e s , que investiu R$ 10 mi-lhões para produzir parte de seumix em Manaus.

Longe do distrito industrial,que concentra os grandes fabri-cantes de eletroeletrônicos, ou-tro polo com vocação completa-mente diversa também experi-menta uma reação. É o distritoagropecuário, que abriga na zo-na rural de Manaus e no municí-pio de Rio Preto da Eva cerca de400 empreendimentos, a maio-ria voltada à agricultura familiar.A despeito de ter sido um dosgrandes objetivos na criação daZFM, o polo não decolou: geracerca de 1.200 empregos e fatu-rou em 2010 em torno deR$ 18, 4 milhões – valor parecidoao estimado para 2011.

Embora baixa em relação aosbilhões dólares movimentadosno distrito industrial, a receita étrês vezes maior do que a de 2007(R$ 6 milhões). As atividadesagrícolas que mais faturam são afruticultura, citricultura, horti-cultura, beneficiamento de ma-deira e piscicultura. (MJ)

ALBERTO CESAR ARAUJO/VALOR

Mario Okubo, da Honda: “O índice de nacionalização de nossas motos é superior a 75%, e 45% dos componentes são produzidos pela própria Honda”

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Jornal Valor --- Página 5 da edição "28/02/2012 1a CAD F" ---- Impressa por lmmorresi às 27/02/2012@15:57:23

Terça-feira, 28 de fevereiro de 2012 | Valor | F5

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 28/2/2012 (15:57) - Página 5- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Especial | Zona Franca de Manaus

Fonte: Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA). * R$ milhões orçados

Marcha lentaLiberação de recursos para o CBA - em R$ milhões

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012*0

3

6

9

12

15

12,63 12,86

9,88

2,86 2,26

5,25

0,5

3,22,03

I n ova ç ã o Investimento de R$ 91 milhões feito em2002 não passou, até agora, da fase de implantação

“Elefante branco”da floresta tentaconseguir atenção

ALBERTO CESAR ARAUJO/VALOR

João Augusto Cabral, coordenador da área de produtos naturais do CBA: “Não conseguimos sequer emitir cheque”

Marlene JaggiPara o Va l o r , de Manaus

Comum na Amazônia, a co-paíba é um exemplo do imensopotencial da biodiversidade lo-cal que poderia, mas não vemsendo explorado. Cascas e óleoda árvore são bastante utiliza-dos pela medicina popular, porsua eficácia no tratamento de in-flamações, mas até agora o paísnão conseguiu agregar valor àsua utilização. Entre 1999 e2009, o Brasil era o país commais publicações sobre copaíba(76), mas sequer aparecia na lis-ta dos que depositaram patentessobre o insumo. No mesmo pe-ríodo, os EUA tinham registro de17 patentes.

Essa contradição é um dos mui-tos argumentos utilizados peloscientistas e pesquisadores do Cen-tro de Biotecnologia do Amazonas(CBA) para atrair olhares para oquadro da instituição, cuja missãoé promover o desenvolvimentosustentável da Amazônia, pormeio da inovação tecnológica .

Com 12 mil m2 de construção,25 laboratórios bem equipados euma qualificada equipe de cientis-tas e pesquisadores, o prédio é, hádez anos, o “elefante branco” dafloresta. Sem definição de um mo-delo de gestão, o investimento deR$ 91 milhões feito em 2002 não

passou, até agora, de sua fase deimplantação. “Não conseguimossequer emitir um cheque porquenão temos CNPJ”, diz João Augustoda Silva Cabral, coordenador daárea de produtos naturais do CBAe responsável por quatro laborató-rios criados para estudar espéciesvegetais de interesse econômico.

Cabral é um dos 70 cientistasdos laboratórios que resistem, tra-balhando como bolsista no CBA.Segundo ele, embora engessada, ainstituição está preparada para co-letar e receber amostras da biodi-versidade, preparar, produzir, ana-lisar e testá-las mediante demandados setores bioindustrial, agroin-dustrial, farmacêutico e cosméti-co. Mas não consegue avançar porfalta de definição do modus ope-

randi e por depender de fluxos ir-regulares de recursos.

O secretário-executivo do Mi-nistério do Desenvolvimento, In-dústria e Comércio Exterior(MDIC), Alessandro Teixeira, asse-gura que a situação do CBA vai mu-dar. “Temos orientação expressada presidenta Dilma para dar prio-ridade ao centro, que é vital parapotencializar novos polos na re-g i ã o”, diz. De fato, a instituição foicriada para atuar em áreas poucoexploradas na Zona Franca de Ma-naus: cosméticos, bioterápicos(uso humano e animal), alimentosfuncionais e nutracêuticos, ener-gias alternativas e novos materiais,em parceria com os governos fede-ral e estadual, institutos de pesqui-sa, universidades e empresas.

Atualmente, o CBA adminis-tra alguns projetos em parceriacom empresas, estuda a utiliza-ção de insumos naturais e iden-tifica oportunidades de utiliza-ção em produtos finais, como“Derris, Ryania e Quassia” naprodução de inseticidas natu-rais, e de frutos com funções es-peciais (fenóis, polifenóis, pro-biótico) na fabricação de ali-mentos naturais. “Po d e r í a m o sfazer muito mais e mais rápido”,diz Maria Luiza Ricart, coorde-nadora do núcleo de produçãode extratos, das unidades pré-pi-lotos, que simulam a manipula-ção de cosméticos, medicamen-tos e alimentos funcionais, e daplanta de processos industriais.

Uma das áreas do CBA que vem

conseguindo responder à deman-da interna e externa é a CentralAnalítica, formada por laborató-rios de química analítica, espec-troscopia, ressonância magnética,preparação de amostras e proteí-nas. As unidades realizaram noano passado 1.452 análises, umnúmero expressivo, mas que vemcaindo desde 2008, ano em que onúmero de análises passou de2.000, informa o coordenador daárea, Massayoshi Yoshida.

Os integrantes do comitê inter-ministerial responsável pela defi-nição do modelo de gestão já fo-ram designados, mas até agora omodelo não foi definido. A maisrecente conquista do CBA, em2011, foi a autorização do Conse-lho de Gestão do Patrimônio Ge-

nético de acesso ao patrimôniogenético da Amazônia “com a fi-nalidade de constituir e integrarcoleção que visa a atividades compotencial de uso econômico, co-mo a bioprospecção ou desenvol-vimento tecnológico.”

Enquanto essa estrutura não de-cola, projetos de empresas de TIganham espaço. É o caso do Insti-tuto Nokia de Tecnologia (INT), si-tuado ao lado da fábrica da Nokia,em Manaus. Cerca de 300 pessoastrabalham no INT para desenvol-ver aplicações de serviços em tele-fonia móvel no Brasil. “O foco foina área de pesquisa em mecânica”,conta André Erthal ,diretor técnicodo INT. O instituto também se des-taca no desenvolvimento de apli-cativos para celulares.

Enxerto

Sexta-feira e fim de semana, 25, 26 e 27 de fevereiro de 2011 | F1

Es p e c i a lOperações financeiras

Ademiro Vian, da Febraban:período é propício àrevisão dosfinanciamentos F4

Juro alto é pontual e não inibe investimentosDe São Paulo

O aumento da taxa Selic de10,75% para 11,25%, na primeirareunião do Comitê de PolíticaMonetária (Copom), e as previ-sões de que ela voltará a subir aolongo de 2011 não trouxerampreocupação nem diminuíram ootimismo de analistas do merca-do. Mesmo considerando inevi-tável um aumento nos juros, es-pecialistas avaliam o fato como“conjuntural”, que não deve seestender por mais de um ano. Éesperado que os investimentostenham um pequeno recuo, maso forte crescimento de 2010, agrande geração de emprego e anecessidade de investimento eminfraestrutura reduzirão os efei-tos do aumento da Selic. Setoresde bens duráveis serão os mais

atingidos, por necessitarem de fi-nanciamentos de longo prazo,mas ainda assim de forma poucosignificativa. Parte das grandesempresas está capitalizada e comdinheiro suficiente para prosse-guir seus investimentos.

“As ações do Banco Central edo Conselho Monetário Nacio-nal sobre a redução da liquideztêm o objetivo de melhorar asaúde do sistema financeiro na-cional com relação ao crédito”,afirma Alex Agostini, economis-ta chefe da consultoria Au s t i nRating. Segundo ele, é inevitávelque a taxa de juros continue su-bindo em 2011, porque a econo-mia cresceu muito em 2010, ossalários foram reajustados aci-ma da inflação e 2,5 milhões deempregos foram criados.

“Tudo isso acabou sancionando

a alta da inflação, que deve fechar2011 na casa dos 5,4%, mas não sig-nifica que haverá uma redução im-portante nos investimentos”, diz.O analista da Austin estima que ataxa de juros deve subir para12,75% ao longo de 2011, o quesignifica 0,17 ponto percentual aomês. “Quem toma um financia-mento e paga 6% , vai passar a pa-gar 6,17%, o que não significa umfator inibidor relevante para aquestão do consumo”, observa.

O aumento, a seu ver, afetamais as empresas que precisammuito de capital de giro, além domercado de bens duráveis, quedepende de crédito de maior lon-go prazo. “Já as principais empre-sas listadas na Bovespa tiveramgeração de lucro muito grande eestão com caixa robusto para no-vos investimentos”, diz Agostini.

Mesmo que seja menor em2011, o crescimento econômico,segundo o consultor, deverá serconsistente e se prolongar pormais tempo. O primeiro semestre,a seu ver, será mais duro, com ajus-tes na taxa de juros e reflexos naprodução e no consumo. O segun-do semestre será um período de re-fazer as estratégias dos próximosanos, que serão decisivos para osinvestimentos em infraestrutura emobilidade urbana, em função daCopa e da Olimpíada de 2016.

O analista Ilnort Rueda Saldí-var, diretor da A.T. Kearney, en-tende que os investimentos ne-cessários para o país estão alémda capacidade do Banco Nacio-nal de Desenvolvimento Econô-mico e Social (BNDES). “Significaque será preciso criar um merca-do de investimentos de médio e

longo prazo e isto depende, entreoutras coisas, de as taxas caírem.O mercado terá de se prepararpara isso, e as taxas de juros sópoderão se reduzidas gradual-mente para não pôr em risco o ci-clo inflacionário”, conclui.

No curto prazo, segundo o su-perintentende institucional daAssociação Comercial de SãoPaulo (ACSP), Marcelo Solimeo, oaumento da taxa Selic deve redu-zir a atividade do varejo, dimi-nuindo o ritmo de criação de em-pregos. Sua preocupação é com ataxa de inadimplência, que devevoltar a crescer em 2011, ficandoacima dos 6% de 2008. Para Agos-tini, da Austin Rating, no entan-to, esse aumento não deve fugirdo padrão histórico nem com-prometer o dinamismo no co-mércio e na indústria. (R .C.)

Demanda maiordas empresas porcrédito de longoprazo faz com queos bancosampliem o lequede serviços. PorRo s a n g e l aCapozoli, para oVa l o r , deSão Paulo

Atributo por muitotempo ausente do ce-nário econômico bra-sileiro, a previsibilida-

de está abrindo as portas paraum relacionamento mais evo-luído entre o sistema financeiroe o setor produtivo. A procurapor recursos de longo prazo enovos instrumentos de crédito —como resultado da necessidadede investir por parte das em-presas — estimulam os bancos alançar novas ferramentas e ser-viços para atender a crescentedemanda da clientela corpora-tiva. Do acesso on-line a tran-sações, estabelecendo um canalde autoatendimento no internetbanking e no celular (mobilebanking), a sistemas de acom-panhamento de recebíveis e ope-rações sofisticadas, as institui-ções financeiras empenham-seem criar instrumentos capazesde atrair e reter clientes.

O B r a d e s c o, por exemplo, re-forçou a estrutura de suportepara pequenas e médias em-presas com a contratação de 515profissionais. “Esse grupo de no-vos gerentes irá cuidar apenas deorientação de negócios para esses e g m e n t o”, diz Octávio de LazariJúnior, diretor de departamentode empresas e financiamento.

Desde 2003, o banco faz o tra-balho em parceria com o Serviçode Apoio às Pequenas e MédiasEmpresas (Sebrae) para treina-mento de gerentes. “Oito milprofissionais já participaram atéa g o r a”, informa.

O Itaú Unibanco, por sua vez,colocou em seu website (Itaú 30Horas) uma série de ferramentaspara gestão do fluxo financeiro econtratação de novos produtos.Uma delas é a consulta ao re-cebimento líquido de cartões,com a qual o empresário podeconsultar, por bandeira, os va-lores creditados na conta cor-rente referente às vendas comcartões. “Essa ferramenta tem semostrado muito útil para as em-presas depois da abertura domercado de cartões em julho”,diz Carlos Eduardo Maccariello,diretor da área de empresas.

Outra novidade é a rede socialaberta para as empresas clientesdo Itaú trocarem boas práticas,pedir conselhos, colocar suas di-ficuldades, dar dicas e até abrircaminho para a realização de ne-gócios. Para Maccariello, o am-biente colaborativo auxilia os em-presários, sobretudo os micro epequenos, a criar canais alterna-tivos para alavancar os negócios.

O grau de exigência dos clientes

aumentou. “Temos percebido quemesmo as empresas menores têmse sofisticado, demandando aten-dimento exclusivo, operações decrédito e serviços bancários di-ferenciados”, diz Sandro KohlerMarcondes, diretor da área co-mercial do Banco do Brasil. Se-gundo ele, muitas soluções já fo-ram criadas ou estão no forno,entre elas as operações de an-tecipação de fornecedores, vendorrural, soluções de cash customi-zadas, DDA, entre outras.”

O Banco S a n t a n d e r, por suavez, decidiu manter a estratégiaadotada em 2009 e expandir osbenefícios para ganhar mais em-presas como clientes. “Em 2009,o total de crédito disponibilizadofoi de R$ 40 bilhões. Em 2010,somou R$ 58 bilhões e, apenasem capital de giro, nossa ofertafoi de R$ 23,2 bilhões, ou seja,10% a mais em relação ao anoanterior ”, diz Ramón Camino, di-retor de pequenas e médias em-presas. “Isso sem contar a contagarantida, descontos e financia-mentos do BNDES”, completa.

Os maiores pedidos de linhasde crédito nas grandes institui-ções bancárias partem das áreasde agronegócio, óleo e gás, mi-neração, siderurgia, transportes,indústria de alimentos e varejo.

A expectativa da retomada gra-dual pós-crise, com crescimentoeconômico mundial a partir de2011, indica uma tendência demaior competitividade na in-dústria financeira, bem como oaumento da regulação. “Espe -ra-se um aumento da captaçãode recursos no mercado de ca-pitais pelas empresas do seg-mento corporate e a interna-cionalização dos bancos brasi-leiros”, diz Marcondes, do BB.

Marcelo Aleixo, superinten-dente-executivo do HSBC Em -presas, observa que as compa-nhias estão mais dispostas a in-vestir em seus próprios negóciosporque aumentou a confiançados empresários no país. “Vol -tamos ao mesmo nível de 2008,recuperamos os prazos de ope-ração de até 36 meses porqueaumentou o interesse dos em-presários por linhas de longoprazo para financiar suas ati-vidades”, afirma. “A tendência éque esse aquecimento se man-tenha em 2011”, prevê.

O ano de 2010 fechou com umacréscimo de 20% no volume definanciamentos destinado aosegmento corporativo do Bra-desco. O banco registra entre asgrandes empresas uma forte de-manda por emissão de debên-

tures, como instrumento de cré-dito, ao lado das operações se-curitizadas. Segundo Andre Pra-do, diretor do Bradesco Corpo-rate, a novidade é a busca dereservas de crédito pelas em-presas que decidiram centralizaro caixa. “Tivemos várias opera-ções relacionadas a financia-mento de aquisições”, diz.

Para Maccariello, do Itaú Uni-banco, outro indicador impor-tante é a gradativa queda nainadimplência, desde 2009, re-sultado do crescimento e da es-tabilidade econômica. O econo-mista-chefe da Federação Bra-sileira de Bancos (Febraban), Ru-bens Sardenberg, no entanto,prevê uma redução no ritmo decrescimento das operações decrédito em 2011.

A queda, segundo ele, é con-sequência das medidas restriti-vas anunciadas pelo Banco Cen-tral e do aperto na política fiscal.O mês de janeiro já apontou umaredução nos empréstimos para oconsumo das famílias. De acordocom o BC, prazos mais curtos ejuros mais altos explicam a fortedesaceleração no período. Em re-lação a dezembro de 2010, amédia diária das novas conces-sões caiu de R$ 708 milhões, paraR$ 571 milhões .

Saldo do setorhabitacional -pessoa físicaEm R$ bilhões

2006

2007

2008

2009

2010*

35,7

45,9

63,3

91,9

133,5

Fusões e aquisiçõesEm R$ bilhões

2006

2007

2008

2009

2010*

132,3

136,5

125,9

119,0

144,8

30,436

70,113

34,255

45,983

149,24

Emissão de açõesEm R$ bilhões

2006

2007

2008

2009

2010

Fontes: BM&Bovespa, Ambima, Banco Central.Elaboração: Valor Data. * Até o 3º trimestre

Base del a n ç a m e n to

Enxerto

Quinta-feira, 15 de setembro de 2011 | F1

Es p e c i a lE n e rg i a

CPFL Energia investeem soluções de smartgrid, informa PauloBombassaro F11

Brasil2.400 kWhpor ano

Chile3.300 kWhpor ano

EUA15.000 kWhpor ano

Forte potencialConsumo per capita anual Mundo

2.900 kWhpor ano

Hidráulica

Lenha e carvão vegetal

Gás natural

Outras renováveis

Urânio

Matriz mais limpaOferta interna de energia

Carvão mineral

Fonte: Mercado, PDE e EPE

Petróleo e derivados

2010 2019

2010 2019

2010 2019

2010 2019

2010 2019

2010 2019

2010 2019

2010 2019

Derivados de cana-de-açúcar

35%

31%

14,0%

12,7%

10,8%

9,9%

9,8%12,2%

7,4%

5,5%

20,3%

1,5%

1,4%

3,2%

3,7%

21,5%

Pr ó x i m o sleilões jáestão naagenda

O governo já prepara a licitaçãode novas usinas hidrelétricas. Nes-te semestre, deve ir a leilão a usinade São Manoel (MT), de 700 MW decapacidade. A expectativa é de queno fim de 2012 ou início de 2013saia o leilão da hidrelétrica de SãoLuiz dos Tapajós, no rio Tapajós(PA), com 6.133 MW, um dosmaiores projetos do setor para ospróximos anos. Para reduzir o im-pacto sobre o ambiente, sua cons-trução deve utilizar um modeloinédito no setor: as usinas plata-formas, conceito inspirado nasplataformas de petróleo, em queos operários são deslocados paralongos turnos de trabalho em mo-radias temporárias.

As previsões também dão contade um crescimento expressivo nomercado de gás natural. Segundoo Plano Decenal 2020, a oferta na-cional deve sair do patamar atualde 58 milhões de m3 por dia para142 milhões de m3 em 2020. Comas importações — 30 milhões dem3 de gás boliviano e 21 milhõesde m3 diários de Gás Natural Li-quefeito (GNL) —, a oferta totalquase dobrará, passando de 109milhões de m3 por dia em 2011 pa-ra 193 milhões de m3 diários em2020. “O Brasil tem diversas fontespara continuar expandindo o sis-t e m a”, assegura o presidente daEPE, Mauricio Tolmasquim.

O sistema de transmissão teráde acompanhar a expansão da ge-ração. Como as grandes hidrelétri-cas — Jirau, Santo Antônio e BeloMonte — serão erguidas na regiãoNorte, boa parte do crescimentoserá dada na interligação da Ama-zônia com o resto do país, aumen-tando a segurança do sistema. Esti-ma-se que sejam construídos 42mil quilômetros de linhas detransmissão, que deverão chegar a142 mil quilômetros de extensãoem 2020. Essa ampliação, que serárealizada em dez anos, representaquase metade do sistema hojeexistente. Estima-se que até 2020sejam aplicados R$ 46,4 bilhões,dos quais R$ 30 bilhões em linhasde transmissão e R$ 16,4 bilhõesem subestações, incluindo as ins-talações de fronteira.

O setor de distribuição tambémterá de investir, tanto no reforço darede, quanto na implementaçãode novas tecnologias. As redes in-teligentes, chamadas de “smartgrids”, terão impacto sobre a efi-ciência do uso de energia. (R .R .)

GanhosCrescimento darenda e dapopulação expõea necessidade deampliar a oferta,mantendo amatriz limpa. PorRo b e r toRo c k m a n n ,para o Valor,de São Paulo

de eficiênciaC

om uma matriz deenergia elétrica basea-da em fontes renová-veis, com destaque para

as hidrelétricas, que respondempor cerca de 80% da geração deenergia no país, o Brasil terá desuperar vários desafios ao longodesta década para expandir acapacidade do sistema e atenderà crescente demanda previstapara os próximos anos. A médiado consumo nacional é de 2.400kWh por ano, abaixo do patamarmédio mundial de 2.900 kWh,dos 3.300 kWh no Chile e Ar-gentina e bem abaixo dos 12 milkWh dos Estados Unidos. A ten-dência é que esse número cresçade forma paralela ao aumentode renda dos brasileiros.

Para atender à demanda e fa-zer com que a capacidade dosistema passe de 110 mil MWpara 171 mil MW no fim década,serão investidos R$ 190 bilhõesem projetos, dos quais boa partejá foi contratada por meio deleilões. O montante a ser in-vestido em novas usinas — aindanão contratadas ou autorizadas— é de cerca de R$ 100 bilhões,sendo 55% em hidrelétricas e45% no conjunto de outras fon-tes renováveis, de acordo com oPlano Decenal 2020. O docu-mento ressalta que, se as licençasambientais para esses projetosnão forem obtidas a tempo, ogoverno terá de dar prioridadeàs usinas térmicas a gás.

Nos últimos oito anos, mais de30 milhões de pessoas ascen-deram de classe social no Brasil.Essa migração fará com que, aolongo dos anos, muitos brasi-leiros deixem o guarda-chuvadas tarifas subsidiadas e tenhamde desembolsar mais pela contade luz, o que coloca outro de-safio: reduzir o peso de encargose tributos, que respondem pormetade da conta e também de-sestimulam a indústria. A as-censão social também expõe anecessidade cada vez maior deinvestimentos em racionalizaçãode energia. “O Brasil terá deadotar políticas amplas de efi-ciência energética porque podehaver grande elevação do con-sumo de aparelhos mais baratose menos eficientes”, afirma oex-presidente da Eletrobrás e daLight, José Luiz Alquéres.

A pressão de demanda nãoserá sentida apenas nesta década.Segundo estimativas do diretordo Instituto de Eletrotécnica daUniversidade de São Paulo (USP),Ildo Sauer, até a década de 2040,a população brasileira deve atin-gir 220 milhões de pessoas e oconsumo per capita de energiachegará a 5 mil kWh por ano,mais que o dobro do patamaratual. Trata-se de um padrãocomparável ao de Itália e Es-panha. “O Brasil tem grande po-tencial hidrelétrico e eólico paraatender a esse desafio e manter amatriz limpa”, analisa Sauer.

O país tem cerca de 90% de sua

matriz elétrica — que exclui pe-tróleo e derivados e etanol — ba -seada em fontes renováveis, con-siderando hidrelétricas, usinas debiomassa e eólica. Nas estimativasda Empresa de Pesquisas Ener-géticas (EPE), estatal responsávelpelo planejamento do setor, entre2011 e 2020, a demanda de ener-gia elétrica deve ter alta de 4,8% aoano, enquanto a capacidade degeração irá passar de 110 mil MWpara 171 mil MW em 2020.

Até o fim da década, a par-ticipação das hidrelétricas cairá de80% para 67% na matriz, mas ageração de fontes alternativas, co-mo a de usinas eólicas, de térmicasà biomassa e de PCHs, vai dobrarem dez anos, de 8% para 16%. Ageração eólica será destaque, au-mentando de 1% para 7%. “Mesmocom o pré-sal, o Brasil continuará,tanto na matriz elétrica quantoenergética, tendo grande parti-cipação das fontes renováveis,porque o etanol, as hidrelétricas,biomassa e eólicas continuarãotendo destaque”, diz o presidenteda EPE, Mauricio Tolmasquim.

Manter a matriz elétrica limpaexigirá conciliar interesses di-versos. Hoje cerca de 70% dopotencial hidrelétrico está na re-gião Amazônica. Essa energiatem um dos mais baixos custosde produção do mundo, o quefavoreceria seu uso, mas cons-truir empreendimentos na re-gião Norte implicará avançar emáreas florestais, o que tem dei-xado ambientalistas do mundointeiro com o pé atrás.

O avanço das hidrelétricas naregião Amazônica incorpora umoutro conceito: o das usinas a fiod’água, que, por aproveitarem avazão do rio, dispensam a cons-trução de grandes reservatórioscomo se fazia antigamente, per-mitindo assim a diminuição daárea alagada.

Mas reduzir o tamanho doreservatório significa tambémdiminuir a energia armazenada,uma vez que no período de chu-vas os grandes reservatórios acu-mulam água para geração pos-terior. Em períodos de estiagem,o trabalho é inverso, o que exigeo acionamento de outras fontespara dar segurança ao sistema.

“Como o governo tem um pla-

nejamento hidrotérmico, essa es-colha exige uma energia de se-gurança térmica, já que sem águaessas hidrelétricas param de fun-cionar ”, afirmou Augusto Rodri-gues, diretor de comunicação em-presarial da CPFL Energia, em re-cente seminário. Em 2006 e 2007,por conta de atraso na obtençãode licenças ambientais para hi-drelétricas, o governo federal fezleilões contratando térmicas a gásnatural e a óleo diesel, mais caras emais poluentes que os empreen-dimentos de fonte hídrica. “Houveum aumento da energia térmica,que em 2001 mal representava 4%da matriz e hoje responde pormais de 10%, por conta do atrasonas hidrelétricas”, diz Alquéres.

Em paralelo, ampliar aindamais o uso da energia eólica,que deve pular de 1 mil MW pa-ra 7 mil MW em 2015, tambémexigirá esforços. Boa parte dosempreendimentos fica no litoralda região Nordeste, que tem noturismo uma importante fontede receita local. “Será que os pre-feitos dessas cidades vão querercontinuar expandindo e insta-lando centenas de usinas comestruturas grandes ao longo dacosta, com ventiladores poluin-do a visão da orla?”, questionaum especialista.

Apesar dos muitos questiona-mentos, o balanço entre oferta edemanda no setor elétrico nospróximos quatro anos é de tran-quilidade, segundo a EPE e asempresas. Nas contas de Tolmas-quim, haverá uma folga de até5.000 MW médios no período,sendo que 70% da expansão decapacidade até 2020 já está con-tratada. “Podemos crescer semsobressaltos no setor elétrico”,afirma. Para um executivo deuma distribuidora, com o recru-descimento da crise mundial, oexcedente de energia elétricadeve superar 1% em 2011, umafolga pequena por conta dosatrasos da entrada em operaçãode algumas usinas térmicas agás. Mas a entrada gradual dasusinas do rio Madeira fará o ex-cedente chegar a 4,5% em 2012 ea 8% em 2014, o que sinalizariabaixo risco de déficit no abaste-cimento à rede nesse período.

Um dos grandes desafios quese impõem diante de tantos no-vos projetos de energia elétrica,sem contar a exploração gradualdo pré-sal, e que exige a gestãode uma ampla rede de forne-cedores, está no financiamento.Para equacionar esse problema eaumentar os recursos disponí-veis em infraestrutura, no fim dedezembro, o Ministério da Fa-zenda anunciou um conjunto demedidas para buscar aumentar aparticipação do mercado de ca-pitais na infraestrutura. Hojegrande parte da carteira de cré-dito ao setor com vencimentosuperior a cinco anos está con-centrada em três bancos: BNDES(60%), Caixa Econômica Federal(15%) e Banco do Brasil (12%).

Enxerto

Quinta-feira, 28 de julho de 2011 | F1

Es p e c i a lComputação em nuvem

O grande desafio datecnologia é fazer asdiversas aplicações“c o nve r s a re m ” F8

Fonte: IDC, Pesquisa Aceco

das médias e grandes empresas brasileiras utilizam hoje alguma

aplicação de computação em nuvem

das médias e grandes companhias nacionais

vão colocar aplicações em nuvem

até 2013

Serviços de nuvens públicasExpansão dos gastos mundiaisEm US$ bilhões

Projetos de nuvens públicasFaturamento de provedores brasileirosEm R$ milhões

de servidores para nuvens públicas

serão vendidos no mundo até 2015

1,2milhão

18% 35%

2010 2011 2015

2010

2011

2015

74 89

17750

80

320

O concorrido mercado brasileiro está na mira das múltis

C o n ex ã o

Ac o m p a n h a n d ote n d ê n c i ainternacional, a“cloudc o m p u t i n g” abreoportunidades denegócios noBrasil. PorGenilson Cezar,para o Valor, deSão Paulo

virtualO

aumento gradativo dointeresse das empresasbrasileiras pela com-putação em nuvem

(“cloud computing”), que per-mite sua contratação como ser-viço segundo as necessidades e opagamento conforme o uso, am-plia as oportunidades de ne-gócio para a indústria de tec-nologia da informação (TI). Umaforte indicação é a corrida ace-lerada das companhias brasilei-ras para investir na construção eampliação dos data centers, in-fraestruturas de servidores,software, armazenamento de da-dos e serviços que dão suporte aoprocessamento das aplicações.

Apenas a Aceco TI, companhiabrasileira especializada no pro-jeto, design e construção de datacenters, prevê chegar ao finaldeste ano a um total de 120centros de processamento de da-dos implantados em empresasprivadas, públicas e em prove-dores terceirizados de serviçosde TI. O faturamento da Aceco

deve passar de R$ 305 milhõesem 2010 para R$ 400 milhões em2011, informa Jorge Nitzan, pre-sidente da companhia.

O avanço não é sem razão. Osdata centers são hoje o ambientemais adequado para suportar oprocessamento das aplicaçõescorporativas no conceito decomputação em nuvem. “O cres-cimento significativo de ofertasrelacionadas com plataformasorientadas ao modelo de ‘cloud

computing’ certamente estãoimpulsionando os projetos deconstrução e reforma dos datacenters atuais”, comenta.

Junto com a consultoria IDC, aAceco realizou uma pesquisacom 185 companhias na Amé-rica do Sul, das quais 105 ins-taladas no Brasil, sobre inves-timentos, construção, terceiriza-ção, infraestrutura e serviços re-lativos à operação e utilização dedata centers. Segundo o levan-tamento, 48% delas preveem am-pliação da capacidade instaladados seus data centers nos pró-ximos três anos.

O cenário brasileiro segue ten-dências internacionais. Proje-ções do G a r t n e r, instituto de pes-quisas de tecnologia, indicamque os gastos mundiais com ser-viços de nuvem pública para esteano devem chegar a US$ 89 bi-lhões, acima dos US$ 74 bilhõesde 2010. Até 2015, este númerodeve bater em US$ 177 bilhões.Hoje, as despesas com serviçosde nuvem pública representam

2% dos dispêndios gerais com TI(US$ 3,4 bilhões), devendo apro-ximar-se de 5% até 2015. A con-sultoria IDC estima que os gastoscom as aplicações em “cloud”privada, neste ano, deverão che-gar a US$ 10 bilhões.

No Brasil, a expectativa é de osinvestimentos em nuvem públi-ca crescerem quase sete vezes até2014. Atualmente, apenas 18%das médias e grandes empresasutilizam alguma aplicação decomputação em nuvem. Porém,o número deve saltar para algoentre 30% e 35% em 2013, deacordo com a IDC. O fatura-mento dos principais provedo-res deve passar dos R$ 80 mi-lhões este ano para R$ 320 mi-lhões em 2014, informa Ander-son Baldin Figueiredo, gerentede pesquisa e consultoria en-terprise da IDC Brasil.

A aposta dos principais prove-dores de serviços terceirizadosde data centers vai na direção deuma expansão mais aceleradados projetos de “cloud compu-

ting”. A Ativas, empresa de TI dogrupo mineiro Asamar e da Ce -m i g Te l e c o m , por exemplo, in-vestiu US$ 50 milhões na monta-gem de um sofisticado empre-endimento de 11 mil m2 de áreatotal, com a expectativa de gerarum faturamento superior a R$200 milhões por ano a partir dede 2014.

“Começamos a operação emjaneiro e já temos 22 clientesdos segmentos de indústria, saú-de e mineração em processo demigração para nosso data cen-ter. Os serviços de ‘cloud compu-ting’ devem responder por umareceita de R$ 2,4 milhões até o fi-nal do ano”, conta Antonio Phe-lipe, CTO (chief technical offi-cer) da Ativas.

Empresa do grupo Votoran -tim, a Tivit investiu R$ 2 milhõespara desenvolver uma oferta devirtualização baseada em in-fraestrutura de nuvem privada,batizada de Virtual Services, naexpectativa de, depois de um pe-ríodo de maturação, a demanda

das empresas brasileiras se ace-lerar. “Iniciamos no ano passadoos negócios com nossa solução ea aceitação foi muito positiva”,destaca Armando Lins Neto, vi-ce-presidente de terceirizaçãode infraestrutura de TI da Tivit.

O potencial de negócios dacomputação em nuvem atraicompetidores internacionais. Se-gundo analistas do mercado, aAmazon, maior varejista eletrô-nica do mundo, estaria prontapara se instalar em Campinas(SP). Em fevereiro, a Equinity e ofundo de investimento em par-ticipações Riverwood Capital ad-quiriram 90% do capital da bra-sileira Alog DataCenter para ex-pandir sua atuação. “Temos umabase de 1,3 mil clientes, dosquais 200 empresas médias egrandes que já utilizam os ser-viços de computação em nuvem.Nossa meta é chegar, em doisanos, a 50% da nossa base uti-lizando essa tecnologia”, diz Vic-tor Arnaud, diretor de marke-ting e processos da Alog.

Fornecedores internacionais desistemas e serviços de tecnologiada informação (TI) se preparampara disputar mais decisivamenteo mercado brasileiro de “cloudcomputing”. A NEC, provedora desoluções de rede de comunicação eTI, há dois anos “bate na tecla docloud”, segundo Herberto Herber-to Yamamuro, presidente da subsi-diária brasileira.

A empresa tem três modelos denegócios: venda de servidores, sis-temas de segurança, de armazena-mento e de gerenciamento; datacenters; e prestação de serviços ge-renciados de redes de segurança.“A tendência é termos, em três aquatro anos, uma parcela signifi-cativa de nossos clientes em ‘cloud’p ú b l i c a”, diz Yamamuro.

Os interesses são os mais varia-dos. A Intel, maior fabricantemundial de chips para computa-dores, atua ativamente em váriasfrentes para operacionalizar a“cloud computing”, desde a cria-ção de processadores e chipsetsotimizados para o novo ambien-te de computação até a definiçãode padrões abertos de hardwarepara garantir a interoperabilida-de entre diferentes fabricantes.

A estratégia da HP é oferecer to-dos os componentes para soluçõesde nuvens públicas e privadas. Aproposta tem por objetivo otimi-zar a utilização do hardware e trazcaracterísticas essenciais a esse ti-po de ambiente, como a virtualiza-ção dos recursos de computação,armazenamento e rede.

Segundo Alexandre Kazumi,responsável pela área de produtosde marketing de servidores, a com-panhia enxerga na computaçãoem nuvem uma plataforma im-portante e em crescimento para asempresas. “A HP entende que a me-lhor solução para o mundo corpo-rativo é uma plataforma híbrida,de ‘cloud’ privada e pública. Deve-remos ter um crescimento bastan-te rápido de adoção da tecnologia,com novas oportunidades de ne-gócios para os fornecedores”, diz.

Na área de software, os fabri-cantes oferecem novos produtosque possibilitam às empresas acriação rápida de nuvens públi-cas e privadas, escaláveis e de altadisponibilidade, para ofertar ser-viços diferenciados. É o caso do

software AppLogic, da CA Tech-nologies, uma solução para im-plementar complexas aplicaçõescorporativas para nuvens privati-vas e públicas por meio da utili-zação de uma interface gráfica.“Essa aplicação vem sendo utili-zada por provedores como a Al -g a r, Gemelo e Ativas para cons-truir um ambiente de ‘cloudcomputing’ ou incorporar novosrecursos computacionais, comoservidores, memória e disco, deforma imediata, por meio de umportal na web”, explica LaércioAlbuquerque, presidente da em-presa no Brasil.

A Siemens Enterprise Commu-nications é fornecedora de servi-ços de ‘cloud communications’,que permite às empresas hospedar

seus recursos de comunicação emum provedor de serviços e acessá-los pela internet a qualquer mo-mento. “A ideia é que o ramal cor-porativo do funcionário ou umaaplicação possam ser acessados dequalquer lugar”, explica JulianoMenegazzo, vice-presidente demarketing, soluções e serviços pa-ra a América Latina. “Nossa expec-tativa é que a computação em nu-vem colabore para fazer os negó-cios de comunicações corporativasresponderem por 20% das receitasdo mercado empresarial, que de-vem atingir US$ 800 milhões em2012”, diz Menegazzo.

Uma das maiores empresas dosetor de armazenamento de da-dos, a EMC marcou sua estratégiacom uma parceria com a V M Wa r e

e a C i s c o. O objetivo é desenvolveruma infraestrutura de computa-ção convergente, integrando os di-versos componentes de rede, ar-mazenamento, computação e vir-tualização em kits pré-moldadoschamados "VBlocks", destinados àconstrução de data centers.

“É um hardware Cisco, um siste-ma de armazenamento da EMC euma camada de software de vir-tualização. O benefício é a padro-nização da infraestrutura de TI”,diz Welson Barbosa, especialistaem virtualização da EMC Brasil. Se-gundo ele, a meta da empresa é seposicionar como um dos grandesplayers de infraestrutura do mer-cado de “cloud”. Porém, a compa-nhia ainda não tem metas finan-ceiras definidas. (G.C.)

>

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 22/3/2011 (16:41) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Terça-feira, 22 de março 2011 | F1

Es p e c i a lÁgua

Universalizar o

saneamento é a meta

da Sabesp, afirma

Dilma Pena F3

População urbana

(em milhões de pessoas)

Demanda (metros cúbicos/segundo)

Fonte: Atlas Regiões Metropolitanas/ANA 2009

R$ 11,2

bilhõessão necessários para

atender as regiões

metropolitanas até 2015

47,6 54,1 58,5

Sudeste

196,1

214,9

232,02025

2015

2005

20252015

2005

11,1 13,0 14,2

Sul

40,02005

46,42015

50,42025

2005 2015 2025

17,7 20,4 22,5

Nordeste

70,82005

81,52015

90,02025

2005 2015 2025

5,3 6,9 8,6

Norte

25,72005

30,12015

36,42025

2005 2015 2025

6,8 8,4 9,4

Centro-Oeste

23,32005

27,92015

31,42025

2005 2015 2025

S e g u ra n ç ana fonte

e esgoto até 2018 nos 365 municí-

pios atendidos. Nesse contexto,

uma das principais iniciativas é o

projeto Tietê, que está na terceira

etapa e vai consumir US$ 1,05 bi-

lhão em investimentos para elevar

a coleta de esgoto de 85% para 87%

na Região Metropolitana de São

Paulo e aumentar de 72% para 84%

o índice de tratamento de esgoto

até 2015.O monitoramento e tratamento

de bacias, lençóis freáticos e rios

para assegurar água potável ou seu

uso industrial ganham espaço na

agenda de governos, concessioná-

rias e empresas que têm no insu-

mo uma de suas principais maté-

rias-primas. Em Minas Gerais, a ba-

cia do rio das Velhas se tornou uma

das ações estruturantes do gover-

no estadual há sete anos. Entre

2003 e 2010, foi aplicado R$ 1,2 bi-

lhão em obras para melhorar a

qualidade da água no rio. Em

1999, menos de 2% do esgoto cole-

tado na região da bacia do rio das

Velhas era tratado. Em 2009, o vo-

lume tratado chegou a 68%. A re-

cuperação da qualidade das águas

do rio, próximo à região metropo-

litana de Minas, permitiu a volta

dos peixes, dado constatado pelo

sistema de biomonitoramento

realizado pela Universidade Fede-

ral de Minas Gerais (UFMG).

Brasil ainda está atrasado no tratamento de esgotos

De São Paulo

Em pleno século XXI, ter acesso

à rede de saneamento básico ainda

é um sonho distante para milhões

de brasileiros pelos quatro cantos

do país, que está muito longe de

chegar à universalização dos servi-

ços de coleta e tratamento de esgo-

to. Mais da metade da população

continua sem acesso à rede de co-

leta de dejetos, 8 milhões não têm

sequer banheiro em suas residên-

cias. Apenas 30% das residências

dispõem de sistemas de tratamen-

to de resíduos, pelos dados do IB-

GE. “Esgoto a céu aberto é doença

na certa”, diz Édison Carlos, presi-

dente do Instituto Trata Brasil, que

realizou um estudo sobre o reflexo

das más condições de saneamento

básico sobre a saúde pública de 81

municípios brasileiros com mais

de 300 mil habitantes.

Divulgado no início do ano, o

estudo aponta que as diarreias

respondem por mais de metade

das doenças relacionadas ao sa-

neamento básico inadequado,

sendo que as crianças de até cinco

anos são as mais afetadas pela re-

de insuficiente de esgoto. Em

2008, foram internadas 67,3 mil

crianças dessa faixa etária por

diarreias, número que represen-

tou 61% de todas essas hospitali-

zações nas 81 cidades analisadas.

Além do reflexo sobre a saúde pú-

blica, o esgoto a céu aberto tem

impacto ambiental, poluindo

rios de regiões metropolitanas e

tornando o tratamento da água

mais elevado. “A situação brasilei-

ra é vergonhosa”, diz o consultor

e diretor do portal Tratamento de

Água, Eduardo Pacheco.

A situação é ainda mais dra-

mática nas regiões Norte e Nor-

deste. Se no Sudeste o percentual

de municípios com rede coletora

de esgoto chega a 95%, no Nor-

deste está em 45,7% e no Norte é

ainda menor: 13,4%. Os números

refletem o baixo volume de re-

cursos aplicados no setor, que,

embora estejam em crescimento

nos últimos anos, estão bem

abaixo das necessidades.

Entre 1995 a 2002, os investi-

mentos em saneamento chega-

ram à média anual de R$ 6,1 bi-

lhões, enquanto entre 2003 e

2009 ficaram em R$ 5,4 bilhões

por ano. Mantido o atual ritmo

de recursos, a universalização

dos serviços de água seria reali-

zada em 2039 – daqui a 28 anos

– e a rede coletora de esgotos

abrangeria todos os brasileiros

apenas em 2060, ou seja, demo-

raria ainda 49 anos para ser con-

cretizada. Estima-se que mais de

R$ 250 bilhões teriam de ser in-

vestidos para que esgoto a céu

aberto nas cidades fosse visto

apenas em no cinema.

Se o retrato do saneamento bá-

sico no Brasil é ruim, despontam

alguns exemplos de investimen-

tos em novas tecnologias e na

maior eficiência da rede coletora

de esgoto. No interior de São Pau-

lo, a Sanasa, companhia que atua

em Campinas, está investindo em

um projeto pioneiro no Brasil

que contempla um inovador pro-

cesso de membranas filtrantes,

polímeros que conseguem remo-

ver partículas sólidas, bactérias,

vírus, sais e até mesmo metais pe-

sados da água. A água provenien-

te do tratamento sairá com um

grau de pureza de 99,5%, compa-

tível com a qualidade necessária

do líquido para uso industrial.

Com o projeto, a empresa está de

olho em vender essa água de reú-

so para o abastecimento do polo

petroquímico de Paulínia. “O tra-

tamento de esgoto pode se trans-

formar em uma receita adicio-

nal”, afirma Pacheco. (R .R .)

Investimentos em

coleta e tratamento

de esgoto e na

gestão para

combate às perdas

ganham espaço na

agenda das

empresas e dos

governos. Por

Ro b e r to

Ro c k m a n n , para o

Va l o r , de São Paulo

plexo petroquímico, estudam-se

alternativas para ampliar o abaste-

cimento hídrico nos próximos

anos. “A obra deve atrair milhares

de pessoas e será preciso atender a

essa demanda futura.”

O problema de escassez não está

localizado apenas no Sudeste. Na

Bahia, o quadro não é diferente.

“Cada vez mais temos de buscar

água em locais mais distantes”, diz

Abelardo de Oliveira Filho, presi-

dente da Embasa, companhia esta-

dual baiana. Os mananciais de

Guanambi, no sudoeste do Estado,

estão perto do limite, o que fez a

empresa investir em um projeto de

R$ 100 milhões para construir

pouco mais de 230 quilômetros de

adutoras para buscar água no rio

São Francisco. Em Salvador, a água

é suprida por vários mananciais.

“Em um dos principais sistemas

para a região metropolitana, o cus-

to de captação por meio de 89 qui-

lômetros de adutoras chegou a R$

15 milhões em 2010 e está sendo

c r e s c e n t e”, afirma.

Nesse contexto, ganham espaço

na agenda das empresas e dos go-

vernos os investimentos em coleta

e tratamento de esgoto e no com-

bate às perdas. “Está cada vez mais

difícil obter novas fontes de água,

que está sendo captada em centros

distantes, o que encarece os custos.

O foco tem de ser na melhoria de

gestão, que tem um custo muito

mais baixo”, diz o consultor Airton

Sampaio Gomes, que faz trabalhos

para o Banco Mundial e concessio-

nárias da área de saneamento bási-

co. Segundo suas estimativas, as

perdas no sistema no Brasil che-

gam a R$ 7,4 bilhões em um ano.

“Mas a metodologia é conserva-

dora e o número pode ser maior”,

afirma. O índice de desperdício

nas empresas brasileiras está na

média em 39%, enquanto na Euro-

pa e nos EUA fica na casa dos 10% a

15%. No Japão, referência mundial,

o indicador está em 4%. No Norte

do país, as perdas chegam a mais

de 60%, por vazamentos e mau ge-

renciamento da rede. “Em alguns

Estados do Norte e Nordeste, cerca

de 85% das perdas são reais e 15%

são aparentes”, diz Gomes.

No jargão do setor, as perdas

reais correspondem ao volume de

água produzido que não chega ao

consumidor final e podem ocorrer

por vazamentos nas adutoras, re-

des de distribuição e reservatórios.

Já as perdas aparentes correspon-

dem ao volume de água produzi-

do que não é contabilizado pela

companhia de saneamento e de-

correm de erros na medição, frau-

des, ligações clandestinas e falhas

no cadastro comercial.

No Brasil, o menor índice de

perdas está na rede de distribuição

da S a b e s p, referência nacional e

que atende 365 municípios do Es-

tado de São Paulo. O indicador,

que há três anos estava em cerca de

30%, está em 26%, mas a meta é re-

duzi-lo até o fim da década, para

que chegue a 13%. “Esse é um esfor-

ço contínuo nosso”, diz a presiden-

te da empresa, Dilma Pena. Além

de investimentos na adoção de tec-

nologias inovadoras, a empresa

tem um acordo de cooperação téc-

nica com o Japão.

Em 2010, a Sabesp fechou acor-

do com a Companhia de Sanea-

mento de Alagoas (Casal), para

apoiar a redução de perdas em Ma-

ceió, capital do Estado. O índice de

desperdício de água da Casal, que

estava em 60% antes do acordo,

caiu para perto de 55% no fim de

2010. Este ano, a expectativa é de

que chegue a 45%, o que aumenta-

rá, por sua vez, o caixa da conces-

sionária estadual alagoana.

Empresas e Estados procuram

investir mais na rede de esgoto,

uma forma de reduzir o lançamen-

to de dejetos nos rios e assegurar

no futuro melhores fontes hídri-

cas. Em São Paulo, a Sabesp traba-

lha em um dos maiores projetos

do país. A meta da concessionária

é universalizar os serviços de água

Privilegiado por possuir

pouco mais de 10% da

água doce encontrada

no planeta, o Brasil não

está livre de enfrentar desafios

para assegurar o abastecimento

contínuo do insumo nos próxi-

mos anos. Grande parte das re-

servas disponíveis de água está

concentrada na Bacia Amazônia,

enquanto em regiões metropoli-

tanas do Sudeste e Nordeste al-

gumas áreas apresentam escas-

sez do insumo. O tema desperta

cada vez mais atenção de empre-

sas e governos em relação à ges-

tão dos recursos hídricos.

Segunda maior economia do

Brasil, o Rio de Janeiro atua com fo-

co na proteção e recuperação dos

mananciais, para buscar assegurar

o abastecimento futuro. Também

tem trabalhado na cobrança do

uso de água, que resultou, em

2010, na arrecadação de R$ 33 mi-

lhões, sendo que parte do dinheiro

é usada em obras de tratamento de

esgoto. Em algumas regiões flumi-

nenses, já há escassez.

“Cerca de 20% da disponibilida-

de do Estado convive com situação

de estresse”, diz a presidente do

Instituto Estadual do Ambiente

(Inea), Marilene Ramos. No entor-

no da cidade de Itaboraí, onde a

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Jornal Valor --- Página 6 da edição "28/02/2012 1a CAD F" ---- Impressa por lmmorresi às 27/02/2012@15:58:16

F6 | Valor | Terça-feira, 28 de fevereiro de 20 1 2

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 28/2/2012 (15:58) - Página 6- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Especial | Zona Franca de Manaus

D e s e nvo l v i m e n to Expansão de incentivos para cidades da região metropolitana deve ter resultados lentos

Municípios enfrentam o isolamentoMarlene JaggiPara o Va l o r , de Manaus

De hora em hora uma voadeiradeixa o porto do Ceasa, em Ma-naus, rumo a Careiro da Várzea.Único meio de transporte entreos dois municípios da região me-tropolitana da capital do Amazo-nas, vai e volta lotada de morado-res que vivem do outro lado dorio. Cerca de 30 minutos depoisde “voar ” sobre o rio Negro e cru-zar o Encontro das Águas, a em-barcação chega ao porto de Ca-reiro, às margens do rio Soli-mões. Apesar da curta distância,o que se vê é um retrato da Ama-zônia profunda, majestosa, mascarente de infraestrutura básica.Além de transporte, faltam trata-mento de água, rede de esgoto,coleta de resíduos e uma rede dec o m u n i c a ç ã o.

Como a maior parte dos mu-nicípios amazônicos, Careiro daVárzea também é vulnerável àação das águas: 95% de seus2.631,128 km2 são compostospor várzea, e somente os 5% deterra firme escapam das inunda-ções, habituais entre novembroe junho. Nem mesmo a pequenaVila do Careiro, erguida à beira

rio, em área mais elevada, resisteà invasão das águas. Por isso, amaioria das casas do municípiode 23.963 habitantes (dos quaisapenas mil vivem em área urba-na) foi construída em madeirasobre uma base elevada do solo.

Careiro da Várzea é um dos oi-to municípios da Região Metro-politana de Manaus (RMM), quedeverá oferecer a investidores osmesmos benefícios fiscais da Zo-na Franca de Manaus (ZFM).

É também exemplo claro dasenormes diferenças físicas, eco-nômicas e sociais existentes en-tre os municípios da região, queafastam empresas como as quese estabeleceram no Polo Indus-trial de Manaus e lá movimen-tam bilhões de dólares.

As atividades econômicas deCareiro da Várzea, porém, indi-cam que o município pode res-ponder bem aos objetivos elen-cados pelo governo para explicara extensão dos benefícios fiscaisaos demais municípios da RMM:descentralizar a Zona Franca e di-versificar as atividades econômi-cas regionais. Com um rebanhosuperior a 60 mil cabeças, o ter-ceiro do Estado, Careiro da Vár-zea tem sua economia centrada

na pecuária leiteira, sustentadapor produtores que vendem lei-te, queijo e manteiga diretamen-te à população local e de Manause também à pequena Cooperati-va Laticínio da Várzea.

Tudo floresce, é claro, fora daépoca das cheias. Nessa ocasião,o gado precisa ser confinado emmarombas (bases sobre toras demadeira que flutuam) ou entãodeslocado para terras mais altasdos municípios vizinhos, e aprodução de queijo despenca.“Há contratempos geográficos,climáticos, operacionais, gover-namentais, produtivos e logísti-cos, mas o município e a coope-rativa têm potencial de cresci-mento sustentável, que poderáse transformar em desenvolvi-m e n t o”, resume o professorEvandro Brandão Barbosa, asses-sor técnico da Suframa e organi-zador do livro “Socioeconomiado Careiro da Várzea nas Águasda Região Metropolitana de Ma-naus” — um estudo conduzidopor alunos dos cursos superiorestecnológicos do Centro Univer-sitário Luterano de Manaus.

“Há também espaço para aprodução de hortaliças, culturasagrícolas de ciclo curto, como a

do milho, frutas regionais e o de-senvolvimento da piscicultura”,acrescenta Ofir Hage, gerente daunidade local do Instituto de De-senvolvimento Agropecuário eFlorestal Sustentável do Estadodo Amazonas (Idam).

O desafio, concordam Barbo-sa e Hage, são as cheias, épocaem que os empreendimentosagroindustriais que consideramviáveis em Careiro estarão àmercê da ação da natureza. “OPolo Industrial de Manaus tam-bém nasceu modesto, num pe-queno galpão improvisado nomeio da floresta, em 1967, e ho-je é responsável pela quase tota-lidade do PIB do Estado”, argu-menta o presidente da Suframa,Thomaz Nogueira.

Segundo ele, a expansão dosbenefícios fiscais para os demaismunicípios terá resultados a lon-go prazo. “Antes da Zona Franca,Manaus tinha 254 mil habitantese hoje, 1,8 milhão”, compara acoordenadora-geral de estudoseconômicos e empresariais daSuframa, Ana Maria Souza, dian-te de uma vasta lista de avançossociais e econômicos em todas asáreas, em Manaus e no Estado,nos 45 anos de Zona Franca.

Como Careiro da Várzea, osdemais municípios da RMM têmuma população enxuta. Presi-dente Figueiredo e Rio Preto daEva abrigam, respectivamente,27 mil e 25 mil habitantes. NovoAirão é ainda menor, com 14mil. Itacoatiara e Manacapurusão os maiores, com 86 mil e 85mil habitantes. Os outros cincomunicípios (Manaquiri, Itapi-ranga, Autazes, Silves e CareiroCastanho) agregados à RMM noano passado exibem contingen-tes que variam de 10 mil e 40mil moradores.

Nesses municípios, o anúncioda presidente Dilma Rousseff,em outubro, de assinatura deuma proposta de emenda à cons-tituição (PEC), que prorroga a vi-gência da ZFM até 2073 e estendeos benefícios fiscais para a RMM,é motivo de constantes discus-sões. Há esperança e descrença. Éconsenso, porém, que nadaacontecerá sem investimentospesados em infraestrutura, ogrande desafio da região. E ideiaspara desatar esse nó não faltam.

O Plano de DesenvolvimentoSustentável Integrado da RegiãoMetropolitana de Manaus, apre-sentado pelo governo estadual

no fim de 2010, reúne uma sériede propostas de ações necessáriaspara impulsionar as vocaçõeseconômicas de cada município.

Para Careiro da Várzea umadas sugestões é transferir os nú-cleos urbanos situados em re-giões de várzea para terras firmesdo município. Com a requalifica-ção urbana, o plano sugere o de-senvolvimento de um polo frigo-rífico para o beneficiamento decarne de gado e de peixe e indus-trialização de leite para agregarvalor e competitividade à produ-ção local. Além disso, recomendaa capacitação de mão de obra e acriação de um terminal de abas-tecimento e distribuição e de ou-tro para passageiros.

Para Manacapuru, o planopropõe um polo pesqueiro e pa-ra Itacoatiara, já conhecida peloseu porto graneleiro, a criaçãode um polo moveleiro.

As vocações dos demais muni-cípios seriam o ponto de partidapara o desenvolvimento de ativi-dades como exploração de mi-nério em Presidente Figueiredo;do turismo e da indústria navalem Novo Airão e Manaus e aprodução de tijolos, blocos e te-lhas em Iranduba.

ALBERTO CESAR ARAUJO/VALOR

Região de Careiro da Várzea, às margens do Solimões: retrato da Amazônia profunda, majestosa e carente de infraestrutura de transportes e comunicação

ALBERTO CESAR ARAUJO/VALOR

Rebanho bovino superior a 60 mil cabeças é o terceiro maior do Estado

.

Nova ponte e benefícios fiscaisdevem agitar a pequena Iranduba

ALBERTO CESAR ARAUJO/VALOR

Polo reúne 32 produtoras de cerâmica que empregam 10 mil pessoas

De Manaus

Depois de vencer os 3,5 quilô-metros da Ponte Rio Negro, queliga Manaus a Iranduba, é precisopercorrer outros 20 para chegarao centro de Iranduba. As chami-nés características do município,no entanto, aparecem logo de-pois da ponte, e podem ser vistasaté a vizinha Manacapuru.

Nos dois municípios, inte-grantes da Região Metropolitanade Manaus (RMM), funcionam32 empresas produtoras de cerâ-mica. Juntas, empregam cerca de10 mil pessoas e produzem ao re-dor de 20 milhões de peças (te-lhas, tijolos e blocos) por mês,que abastecem a cidade de Ma-naus. A maioria (20) dessas in-dústrias está sediada em Irandu-ba, cidade que já mudou com ainauguração da ponte, no anopassado, e deve passar por mui-tas outras transformações com aextensão dos benefícios fiscaispara todos os municípios da Re-gião Metropolitana de Manaus.

Segundo Hyrlene Batalha Fer-reira, presidente do Sindicato daIndústria de Olaria do Estado doAmazonas, as indústrias de cerâ-mica, que estão há mais de 40anos na região, cresceram e semodernizaram na última déca-da. “Mas ainda há muito espaçopara aumentar e diversificar aprodução, acrescentando ao mixprodutos mais nobres, da cerâ-mica branca”, exemplifica a em-presária, que também comandaa Cerâmica Rio Solimões instala -da há 12 anos em Cacau Pirêra,vila do município de Iranduba.

Para produzir mais e com sus-tentabilidade, porém, as empre-sas têm de vencer os problemasambientais gerados pela escas-sez de material de queima – amadeira certificada.

Uma solução seria o gás que jáchega ao distrito industrial deManaus, pelo gasoduto que co-meça em Coari. “Trata-se porémde um investimento pesado, quenão atrai a iniciativa privada edepende do aval do governo es-

tadual”, afirma Hyrlene Ferreira.Além do impasse quanto ao

insumo para a queima das peçasde cerâmica, Iranduba anda àsvoltas com uma questão econô-mica: verificar até que ponto aextensão dos benefícios fiscaisda Zona Franca de Manaus para omunicípio é vantajosa. “Já temosisenção de 17% no ICMS, que per-deremos com a adoção do mode-lo fiscal da ZFM”, explica a execu-tiva. Ela avalia junto a outros re-presentantes do setor de que ma-neira as empresas seriam benefi-ciadas com as isenções fiscais.

O que não causa nenhumadúvida é o avanço logístico noescoamento da produção do po-lo obtido após a inauguração daponte. Quando o transporte erafeito por balsa, os clientes nãoconseguiam mandar mais doque um caminhão por dia pararetirar as peças. Hoje, enviam oquanto precisam, já que a tra-vessia do rio pela ponte levapoucos minutos.

A mesma ponte facilita o

transporte para as empresas. Po-rém, provoca outro fenômenoconsiderado negativo pela popu-lação: a corrida imobiliária. “Omunicípio já tem canteiros deobras de condomínios, mas nãorecebeu nenhum investimentode infraestrutura depois da inau-guração da ponte”, diz Hyrlene.

Segundo a representante dosindicato, a cidade sofre com afalta de rede de esgoto, só tempoços artesianos e uma estrutu-ra precária de comunicações.

Com 2.215 km 2 e 40. 735 ha-bitantes, Iranduba já era em2010 o 11o município mais po-puloso do Estado. Com a ponte ea perspectiva de passar a ofere-cer os benefícios fiscais da ZonaFranca de Manaus, deverá cres-cer ainda mais, impulsionadopelo interesse das empresas, dapopulação interessada em sairda concentração urbana de Ma-naus e dos turistas em visita aoshotéis de selva e sítios arqueoló-gicos – outra marca registradada cidade. (MJ)