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ESPAÇO SOCIALISTA Organização Marxista Revolucionária N° 59 15 de junho a 14 de julho de 2013 Contribuição: R$ 1,00 A ADAPTAÇÃO DA BUROCRACIA SINDICAL AO ESTADO E AO CAPITAL GOVERNO DILMA E O AGRONEGÓCIO CONTRA OS ÍNDIOS GOVERNO DILMA AINDA MAIS PRÓXIMO DA DIREITA NA BOLÍVIA, PROLETARIADO FAZ EXPERIÊNCIA COM EVO MORALES HADDAD GOVERNA PARA A BURGUESIA A CRISE DO COMPLEXO SUCROALCOOLEIRO DE A LAGOAS

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ESPAÇOSOCIALISTA Organização Marxista RevolucionáriaN° 59 15 de junho a 14 de julho de 2013

Contribuição: R$ 1,00

A ADAPTAÇÃO DA BUROCRACIASINDICAL AO ESTADO E AO CAPITAL

GOVERNO DILMA E O AGRONEGÓCIOCONTRA OS ÍNDIOS

GOVERNO DILMA AINDA MAISPRÓXIMO DA DIREITA

NA BOLÍVIA, PROLETARIADO FAZEXPERIÊNCIA COM EVO MORALES

HADDAD GOVERNA PARA ABURGUESIA

A CRISE DO COMPLEXOSUCROALCOOLEIRO DE ALAGOAS

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No final de maio saíram os dadosda economia brasileira sobre o primeirotrimestre de 2013. Como já havíamosapontado, cada vez mais, afloram ascontradições de uma economia que temcomo seu combustível uma vultosasoma de dinheiro público paraalimentar as grandes empresas. Mesmocom cerca de 40 programas de“incentivo” (leia-se destinação dedinheiro público), o resultado está bemabaixo daquilo que é necessário paracolocar o país na “rota de crescimentosustentável”.

E os problemas devem continuar,já que como país exportador decommodities conta, no cenário, com asvárias restrições do mercado mundialcomo a desaceleração da economiachinesa, tradicional importadora devários produtos brasileiros.

A perda da estabilidade econômicarepresenta um grande perigo para ogoverno, tanto pela possibilidade deaumentarem as lutas quanto pelaimpossibilidade de o governo conseguirconvencer a patronal de que sua políticaeconômica é capaz de garantir uma boalucratividade.

Os problemas que a economiaenfrenta atualmente derivambasicamente do esgotamento de umapolí tica econômica que tem noconsumo o ponto principal. Essemodelo já mostra sinais claros deesgotamento, reconhecido pelo própriogoverno com o direcionamento eaprofundamento de concessões devários bens e serviços públicos comoaeroportos, portos, petróleo emineração, que está na lista . Jámovimentaram próximo de R$ 490bilhões.

Identificar uma mudança deprioridade do governo não émeramente um exercício escolástico,tem influência direta na polí ticarevolucionária. Ao se concentrar noinvestimento, boa parte dos recursospúblicos estará destinada a estimular asempresas e não os serviços públicos,que serão disputados entre asnecessidades da população e a ânsia debanqueiros e grandes empresários.

A diminuição do ritmo decrescimento do consumo das famílias,registrado em apenas 0,1% conformeIBGE nesse primeiro trimestre 2013(comparado aos últimos três meses de2012) e o aumento do endividamentodas famílias (segundo pesquisa daConfederação Nacional do Comérciode bens, em maio de 2013, 64,3%estavam endividadas com cheque pré-datado, cartão de crédito, chequeespecial, carnê de loja, empréstimopessoal, prestação de carro e seguro,aumento de quase 10% em relação aoano de 2012) são ao mesmo tempouma expressão de esgotamento de umciclo anterior e também aimpossibilidade de ter no consumo aprincipal base de funcionamento daeconomia.

As medidas para a expansão docrédito também encontram obstáculosque se mostram, neste momento, quaseinstransponíveis. As dificuldades para ocrédito seguem esse caminho, pois háuma imensa quantidade de dinheiroemprestado (R$ 2,4 trilhões, segundoBanco Central – O Globo), queinfluenciam diretamente na política decrédito.

A burguesia e também o PT ao seumodo buscam implantar outro modelo,

que é o crescimento pela via dacompetitividade e do aumento dasexportações. E com a desoneração dafolha de pagamento mais as concessõesde rodovias e portos e ofinanciamento da safra agrícola parao agronegócio buscam reduzir o custoda força de trabalho e melhorar ascondições de lucro da patronal.

Isso tudo é o que o governo

Dilma chama de buscar o crescimentobaseado em investimentos. Assim,dentro do papel da economia brasileirano mundo, o país pode se tornar umfornecedor “mais qualificado” dematérias-primas e produtos agrícolascom menor custo para o capital. IssoMarx já analisava como forma dereduzir custos gerais do capital em crisee, dessa forma, aumentar o valor dataxa de lucro global.

O REGIME DEMOCRÁTICO BURGUÊS,DITADURA DE CLASSE

A democracia burguesa mostra-secomo a forma preferida da burguesiapara garantir a dominação, pois possuivárias possibilidades para fazer valeraquilo que realmente importa para si.Se o parlamento não faz valer a suaposição, tem o judiciário para suprir essacarência; se o judiciário não temlegitimidade, a burguesia utiliza outrosmecanismos ideológicos (como atelevisão), os ministros de estado ou atéa presidência da república. Em últimocaso, se todos esses “métodosdemocráticos” falharem, há ainda aforça policial que vai garantir a lei e aordem, que sempre agem “legalmente”.Enfim, são várias as possibilidades quea burguesia tem para tentar enrolar ostrabalhadores.

Essa caracterização é importantepara contextualizar uma declaração deJoaquim Barbosa, Presidente do STF,de que o Congresso Nacional se“notabiliza pela ineficiência”. Muitosconcordaram com ele. Mas, pensemosum pouco:

Nos últimos anos, o congressovotou várias leis e emendas àConstituição. A maioria dessas leis foicontra os trabalhadores e eram parafavorecer os vários setores do capital.Os cortes de verbas, o pagamento dadívida, a (contra)reforma da Previdênciaimpondo restrições à aposentadoria, aprivatização (que o PT chama deconcessão) dos aeroportos e portos dopaís, os pacotes de ajuda fiscal àsgrandes empresas, a flexibilização daslicitações para as obras da Copa, a

GOVERNO DILMA AINDA MAIS PRÓXIMODA DIREITA

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criação do FUNPRESP (Previdênciaprivada para o funcionalismo públicofederal), o Código Florestal legalizandoa grilagem e o desmatamento dasflorestas brasileiras e tantas outrasmedidas atentam contra os interessesdos trabalhadores.

Ora, somos obrigados a dizer queesse Congresso funciona sim e muitobem. No capitalismo o parlamentofunciona exatamente para isso, favorecera burguesia enquanto classe dominante.Não há como ser diferente, pois estátotalmente sob controle dos grandesgrupos capitalistas. Portanto, quando opresidente do STF (nunca é demaislembrar que o judiciário também está aserviço da dominação da burguesia) dizque o Congresso é ineficiente, naverdade, está cobrando que outras leisque atacam os nossos direitos sejamvotadas, aliás, como vários setores daburguesia ficam cobrando.

O judiciário também é conhecidocomo lento. Para quem? Somente paraos trabalhadores. Um processo quandoé de interesse dos capitalistas seguemuito rapidamente. Alguns exemplos:No Mato Grosso do Sul a populaçãoindígena (kaiowas, terenas, etc.), fazmuito tempo, luta no judiciário para terreconhecido o seu direito histórico àsterras, mas o processo não sai do lugar.Mas, quando os fazendeiros pedemreintegração de posse, de uma área járeconhecida como dos índios, a decisãoé imediata e o cumprimento éinstantâneo e violento.

Quando um trabalhador tem seusdireitos usurpados em uma empresa, oseu processo dura pelo menos doisanos, isso quando não tentam enfiargoela abaixo um miserável acordo. Narecente campanha salarial dosmetroviários de São Paulo o TRTconcedeu no mesmo dia uma liminarafrontando o direito de greve, poisdeterminava que 100% dos trensdeveriam funcionar, quando nem em

situações normais isso acontece.Não podemos nos iludir: as

instituições do regime não funcionam.Não acreditar nisso nos desarma parao combate cotidiano que devemostravar contra essas instituições. Os quereclamam de sua ineficiência, comoJoaquim Barbosa, querem que nosataquem mais ou nutrem ilusão nasinstituições do regime burguês.

FELICIANO, UMA PARTE DO PROBLEMAMesmo com tantos protestos

Feliciano continua como presidente daComissão de Direitos Humanos daCâmara. Uma explicação é o fato deque suas posições expressamabertamente as mesmas da maior partedos deputados e senadores. A outra éque, como parte da base governista,ocupa o cargo por negociação, inclusive,com o PT e demais partidos da basedo governo.

Somos entusiastas defensores deque Feliciano deve sair imediatamentedessa comissão. Mas, tambémcolocamos uma reflexão: e se Felicianoestivesse fora dessa Comissão, o queteria mudado? Muita pouca coisa.

O problema central não é apresença de Feliciano na Comissão,mesmo porque em outras Comissõeshá parlamentares com o mesmo perfilreacionário (como a do MeioAmbiente no Senado, que é ocupada porBlairo Maggi, conhecido desmatador eganhador do prêmio motosserraelétrica). A luta contra essesparlamentares não pode nos fazeresquecer que o problema é o próprioCongresso Nacional, instituição voltadapara os interesses da classe dominante.É contra essa instituição que devemosvoltar as nossas armas, denunciando opapel que cumpre na divisão de tarefasna dominação do capital.

O Congresso Nacional é um dosprincipais entraves para garantir direitospara negros e homossexuais, durante o

período em que Feliciano ocupar ounão a presidência dessa Comissão. É a própria essência do parlamento.Como já dissemos acima, oparlamento na sociedade capitalistavisa tão somente dar legitimidade aexploração da burguesia sobre ostrabalhadores.

Com Feliciano os direitoshumanos não serão atendidos e tem

deixado claro isso. Mas, pelo fato deque não têm como se realizarem sobuma sociedade capitalista e, menos ainda,no parlamento burguês. Na verdade,nem mesmo o direito poderá realizaralgo que represente os direitos quetodos os humanos deveriam ter, comomoradia, Educação, liberdade paratodos, etc. As relações jurídicas trazemem si a manutenção de toda umaordem que lhe é natural, a diferenciaçãoentre as pessoas a partir da cor, dogênero ou da orientação sexual.

Assim, além de derrubar Feliciano,a nós revolucionários, cabe continuar aluta contra os racistas e homofóbicos.Essa luta deve nos conduzir ao fim daprópria lógica que permite o surgimentode Felicianos a cada dia. Não cabe aosrevolucionários a busca por moralizaro Congresso Nacional, mas sim paramostrarmos os seu papel. Essa é umaquestão de princípio, pois mesmoquando um revolucionário se elege afunção é demonstrar para ostrabalhadores que não se pode confiarnos mecanismos de representação daburguesia.

Não partilhamos da caracterizaçãode crise no regime que algumasorganizações fazem por conta dasdiscussões públicas entre membros doSTF e do Congresso Nacional.  Nãohá paralisia dessas instituições, pelocontrário, continuam funcionandoplenamente e dando uma fachada legalpara tudo aquilo que é interesse docapital.

Isso não quer dizer que nãodevemos fazer reivindicações aoparlamento. A depender do estágio daluta de classes, não poucas vezes, há quepressionar o parlamento. A questão énão inverter as coisas de modo quefaçamos as pessoas acreditarem que asconquistas podem vir de dentro doparlamento. Ao contrário, todas asconquistas vêm das ruas, dasmobi lizações e os obrigam areconhecer os nossos direitos.

TRABALHADORES REAGEM E AS GREVESVOLTAM

Com os problemas para alucratividade da patronal, conquistar 2%ou 3% de aumento acima da inflaçãotem exigido dos trabalhadores mais luta.Em 2012 o número de grevesaumentou 58%, em relação a 2011, e

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em boa parte as vitórias salariais forampouco acima da inflação. Cenárioimportante e diferente do períodoanterior, em que o governo e a patronalaplicavam a sua política com poucaresistência da classe trabalhadora.

O caráter sindical e econômicodessas lutas não tira a importância quetêm no cenário nacional e é a expressãodo aumento da consciência dostrabalhadores em relação às medidas dogoverno. Também destacamos que háuma tendência geral de radicalização daslutas e de sua vanguarda. Greves comduração maior (Construção civil deCubatão, professores São Paulo, etc.),enfrentamento com as direções sindicaistraidoras (como em professores contraa presidente da APEOESP, que nãorespeitou a decisão da assembleia pelacontinuidade da greve) e com a polícia

Na desocupação da fazenda Buriti(localizada em Sidrolândia – MS)território indígena, o índio Oziel Gabrielfoi assassinado e no dia seguinte outrofoi atingido pelas costas, com risco deficar tetraplégico. Junto com PolíciaMilitar participou também a PolíciaFederal, ou seja, força subordinadadiretamente ao governo PT. Como senão bastasse, o ministro da Defesaafirmou que foi correta a ação para ocumprimento da decisão judicial, pois“no Brasil todos cumprem a lei”, isto é,buscou, no cumprimento da decisãojudicial, a legitimação para a morte deOziel.

Sabemos muito bem que oJudiciário e as leis estão a serviço doscapi talistas. As poucas leis queresguardam direi tos mínimos dostrabalhadores (como a CLT) nemsempre são cumpridas. Este caso é bemsingular para explicar como o Judiciáriofunciona. A fazenda é parte dos 17.200hectares que já foram declarados peloMinistério da Justiça como territóriotradicional do Povo Terena e há dezanos está em processo dedemarcação, ou seja, a “propriedade”

(luta contra o aumento das passagens).As lutas da classe trabalhadora têm essepoder de possibilitar a aceleração doprocesso de experiência com o governo,criando a possibilidade de amadurecerum polo de oposição pela esquerda aogoverno Dilma.

No segundo semestre serão ascampanhas salariais de categoriasimportantes como petrolei ros,bancários, metalúrgicos do ABC eCorreios que enfrentarão a resistência dapatronal e do governo. A partir dasdificuldades na economia, a tendência éque a patronal e o governo endureçamainda mais. Para enfrentarmos essasituação é fundamental garantirmos aunidade da luta dos trabalhadores emcampanhas salariais. Essa é a únicamaneira de fortalecermos a luta dostrabalhadores.

Com essas categorias em campanhasalarial e com o enfrentamento a umamaior resistência da patronalnecessitamos da construção de um dianacional de mobil ização, comparalisações, atos em unidade com aspossíveis greves.

A retomada das lutas coloca nohorizonte a possibilidade deconstruirmos um projeto de esquerda,que passe pela constituição de ummovimento político dos trabalhadorescom um programa que responda aosproblemas que nos atingem. A CSP-Conlutas deve se colocar na vanguardadesse processo.

É necessário nos opor radicalmenteao projeto do capital que sacrifica otrabalhador, apoia as investidas da direitae legitima o assassinato da populaçãoindígena!

já foi reconhecida como dosíndios Terena pelo Estado. Aocupação visa pressionar ogoverno para realizar ahomologação da área . Ai entra a“imparcial” Justiça concedendo ordensjudiciais contra a ocupação da fazendopelos seus verdadeiros (e históricos)donos. Entre os índios e os fazendeiros,a Justiça não tem dúvida: está do ladodos latifundiários. É essa Justiça que ogoverno diz obedecer.

Até a nota do MPF apontou queos problemas de posse na região têmpor origem “a ação e a omissão doEstado brasileiro”, ou seja, o governoage em nome de seus amos. Mas, aomissão (na verdade, a posição contraos índios) do governo tem explicação.Por conta do peso do agronegócio naeconomia brasileira, especialmente noMato Grosso do Sul, e a dependênciadas exportações desses produtos Dilmae o PT têm feito grandes concessões àburguesia agrária. O código florestal foisó uma delas.

Não é coincidência que em 31 demaio a arquirreacionária ConfederaçãoNacional da Agricultura e da Pesca tenha

pedido a suspensão das demarcações deterras indígenas em 03 de junho ogoverno tenha anunciado medidas que,na prática, vão inviabilizar a demarcaçãodas terras indígenas. Pela proposta dogoverno a Embrapa e Ministério daAgricultura (controlados peloagronegócio) vão ter que ser ouvidosno processo de demarcação. No iníciode mês de maio a Casa Civil já tinhapedido a suspensão das demarcações dasterras indígenas no Paraná, estado ondeo agronegócio tem grande peso políticoe econômico.

Ressa ltamos dois absurdos:primeiro que esses órgãos não têmcompetência constitucional e depois queem seus quadros sequer existemfuncionários com conhecimento técnico– como antropólogos – para fazeremessa avaliação. É como se colocasse araposa para tomar conta de todo ogalinheiro.

O governo Dilma é responsávelpor mais essa morte dos que lutam pelaterra. O governo já escolheu o seu lado:

GOVERNO DILMA E OAGRONEGÓCIO CONTRA

OS ÍNDIOS

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A ADAPTAÇÃO DA BUROCRACIA SINDICALAO ESTADO E À GESTÃO DO CAPITAL

ORIGEM DOS SINDICATOSOs sindicatos surgiram no século

XIX, como uma forma espontânea dedefesa dos trabalhadores contra osabusos da classe patronal. Na época, asjornadas de trabalho diárias chegavama 14 horas, os salários eram de fome,mulheres e crianças trabalhavam comoos homens e eram submetidas a todotipo de abuso, não havia seguro contraacidentes de trabalho, doenças ouinvalidez, não havia aposentadoria, etc.Os trabalhadores se revoltavam contraessas condições abusivas e paravam aprodução, obrigando os patrões anegociar. Essa união dos trabalhadorespara a luta coletiva é o que deu origemaos sindicatos (em inglês os sindicatosse chamam “unions”).

Entretanto, ainda no século XIXKarl Marx havia apontado o carátercontraditório dos sindicatos. De umlado, são um instrumento importanteda luta dos trabalhadores, pois surgiramde sua organização espontânea e pelasua força tiveram que ser reconhecidospelos patrões e pelo Estado. De outrolado, porém, a luta sindical acaba tendocomo limite a luta por maiores saláriose melhores condições de trabalho, o quesignifica na prática a conquista de umpreço melhor para a venda da força detrabalho, e assim, a manutenção darelação de trabalho assalariado.Segundo Marx, a verdadeiraemancipação dos trabalhadores seria, naverdade, o fim do trabalho assalariado.

Isso só seria possível com umarevolução que pusesse fim aocapitalismo e levasse à construção dosocialismo – um tipo de sociedadeem que os trabalhadores teriam ocontrole total sobre a produção, e opoder de decidir coletivamente o queproduzir, como produzir, em quequantidade, etc. A sociedade daria acada um segundo a sua necessidade,e pediria de cada um conforme a

sua capacidade. A participação dosmilitantes marxistas nos sindicatossomente se justifica, então, como umaforma de fazer os trabalhadores iremalém da luta meramente sindical(salarial) e avançarem na luta pelosocialismo.

OS SINDICATOS NO BRASILOs primeiros sindicatos no Brasil

foram fundados entre fins do séculoXIX e início do XX por trabalhadoresimigrantes espanhóis e italianos, trazidospara as primeiras indústrias. Isso porqueos industriais da época não contratavamtrabalhadores negros, nordestinos ebrasileiros pobres, que tinham suaprópria e longa história de resistência eluta. Esses militantes estrangeiros, queconstruíram os primeiros sindicatos,eram em sua maioria anarquistas.Rejeitavam a negociação com o Estadoe buscavam fazer com que ostrabalhadores fossem completamenteindependentes. Além de organizar asgreves e demais lutas, criavam caixas deassistência para os doentes, inválidos eidosos, publicavam jornais, montavambibliotecas e associações culturais, etc.

Essa fase do sindicalismo classistae independente terminou na década de1930, quando o governo Vargasreprimiu as lutas operárias e perseguiuos militantes. Além disso, editaram-seleis criando a estrutura sindical quevigora até hoje no país. Os sindicatossão obrigados a se registrar no ministériodo trabalho para serem reconhecidos

nas negociações salariais. Cria-se a lei degreve, que obriga os sindicatos anotificar os patrões com antecedência,para que a greve seja julgada legal naJustiça do Trabalho, também criadanessa época. Proíbe-se a existência demais de um sindicato da mesmacategoria num mesmo município(unicidade sindical). O governo passa acobrar o imposto sindical, que édescontado de todos os trabalhadoresdo país, independentemente de seremsindicalizados ou não, e cujo valor érepassado para os sindicatos, o que dámargem para a existência de umacamada de burocratas sindicais que sesustentam no comando de entidades,mesmo sem fazer nenhum tipo deorganização entre os trabalhadores.

Nas décadas de 1950 e 60, mesmocom essa estrutura sindical engessadapelo Estado, desenvolveram-seimportantes lutas, como a greve geralde 1963, que resultou na conquista do13º salário. Esse ciclo de lutas foibarrado pelo golpe militar de 1964, quecassou os mandatos dos dirigentessindicais (em sua maioria ligados aoantigo PCB) e instalou em seu lugardirigentes nomeados pelos militares, queganharam o apelido de “pelegos”.Somente em fins da década de 1970, omovimento sindical voltaria a seorganizar, com uma nova geração deoperários e de militantes que lideraramuma importante onda de greves. Asgreves do ABC paulista entre 1978 e1980, juntamente com as lutas de vários

outros movimentos sociais,colaboraram para dar fim àditadura. Esse ciclo de lutas fez comque novos dirigentes combativosfossem eleitos para a direção dossindicatos, expulsando os pelegos. Omarco desse movimento deretomada dos sindicatos foi afundação da Central Única dosTrabalhadores – CUT – em 1983,

atender aos latifundiários e o agronegócio. É parte de umapolítica mais geral de direitização do governo e do PT (emacordo com Sarney, Renan, com sustentação de Feliciano, etc.).

Por isso é fundamental incorporarmos a “questãoindígena” nas nossas lutas, pois também o que está em jogo

é a produção de alimentos para os trabalhadores.  O caráterdestrutivo (agrotóxico, pesticida, poluição dos rios, etc.) daprodução do agronegócio coloca em risco a existência dospovos indígenas e da nossa saúde. Fora o agronegócio e olatifúndio. Pelo reconhecimento das terras indígenas!

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que reunia os sindicatos maiscombativos do país e alcançou granderepresentatividade.

A DÉCADA DE 1990 E O“SINDICALISMO CIDADÃO”

O ciclo de lutas e greves que seestendeu ao longo de toda a década de1980 obteve importantes conquistassalariais e sociais, mas não conseguiufazer questionamentos mais profundosà ordem social. Mesmo com toda a suacombatividade, a CUT da década de1980 não chegou a incorporar em seuprograma a luta pela superação docapitalismo, no sentido entendido pelosmarxistas. Nem sequer foi derrubada aestrutura que vinha da era Vargas(imposto sindical, unicidade sindical,judicialização das greves, etc.).

Na década de 1990, as quedas domuro de Berlim e da URSS trouxeramimportantes mudanças para as lutas dostrabalhadores. Aqueles países não eramsocialistas, mas o seu desmantelamentodeu oportunidade para que a classeempresarial atacasse várias conquistasdos trabalhadores, com o discurso de“fim do socialismo”, “fim da história”,“ideologias pós modernas”, etc. Foi omomento da implantação das políticasneoliberais, da chamada “globalização”,da formação de um mercado mundialde força de trabalho, da reestruturaçãoprodutiva, das terceirizações,privatizações, etc.

Nesse período, a CUT, dirigidapelo PT, abandonou o sindicalismocombativo das suas origens em trocado “sindica lismo cidadão”, queprivilegia as negociações. Os sindicalistasda CUT passam a participar de fóruns“tripartites”, com a presença do Estadoe de empresários. Foi o caso daschamadas “câmaras setoriais” – queelaboram políticas para cada segmentoda economia, como o setorautomotivo, eletrodomésticos, etc. Aoinvés da defesa intransigente dosinteresses dos trabalhadores, ossindicalistas do PT-CUT incorporaramo discurso da patronal de que não háalternativa ao capitalismo, e, sendoassim, para garantir seus empregos esalários, os trabalhadores devemcolaborar com os empresários e ogoverno. Ao invés da luta de classes,colaboração de classe.

Nessa linha, os sindicatos devem

deixar de fazer greves, ou fazermovimentos cada vez mais“comportados” (nada de greve geral,ocupações de fábrica, etc.). Em algunscasos, os trabalhadores devem concordarem ceder aos patrões, aceitando saláriosmenores, mais horas de trabalho e outrossacrifícios, pois supõe-se que somentecom o sucesso das empresas, ostrabalhadores podem voltar a ter ganhosno futuro. Acontece que as perdas, umavez aceitas, são definitivas, e os supostosganhos futuros ficam só na suposição.Os únicos que conseguem lucrosgarantidos são os empresários, com acolaboração dos sindicatos.

OS GOVERNOS DO PTCom esse tipo de sindicalismo e

essa relação com os empresários, o PTse credenciou a chegar ao governofederal, com a eleição de Lula em 2002,e Dilma em 2010. Com a chegada doPT ao governo, a CUT avançou em suaincorporação à gestão do capital. Ascentrais sindicais passaram a ter direitoa uma parte da verba do impostosindical, o que levou a um “festival” denovas centrais sindicais, como CTB,UGT, NCST, etc. Saídas da CUT eForça Sindical, todas já nasceram semnenhuma relação com a luta (como foia criação da CUT nos anos 1980),interessadas apenas em levar uma fatiadas verbas do imposto para seuspartidos e camarilhas dirigentes.

Torna-se cada vez mais nítido queo projeto das principais burocraciassindicais é chegar ao tipo de sindicalismopraticado na Europa e nos EstadosUnidos. Nesses países, assumiu-se de talforma a colaboração de classes, que ossindicatos se tornaram uma espécie deanexo ao departamento de recursoshumanos das empresas. Em algumascategorias, os sindicatos sãoresponsáveis pelas contratações edemissões (o que impede a existênciade qualquer tipo de oposição àdiretoria). Em outras, são responsáveispela gestão do fundo de pensão(aposentadoria) dos trabalhadores. Ocaso mais escandaloso foi o da GM,em 2009. A empresa foi à falência, epara receber um empréstimo dogoverno estadunidense e serressuscitada, os trabalhadores teriam queaceitar demissões, redução de salários ebenefícios. O sindicato dos metalúrgicos

dos Estados Unidos conseguiu que ostrabalhadores aprovassem esse plano.Em troca, o sindicato ganhou ações daempresa...

EXEMPLOS RECENTES DA DEGENERAÇÃO

DOS SINDICATOS NAS MÃOS DA

BUROCRACIA

Esse modelo de sindicalismo deempresa não está tão distante assim doBrasil . Vejamos alguns exemplosrecentes, retirados dos principaissindicatos da CUT.

O Sindicato dos Metalúrgicos deSão Bernardo lançou a proposta doAcordo Coletivo Especial – ACE. Seesse tipo de acordo for aprovado, serápossível aos sindicatos assinar acordosinferiores à CLT (suspendendoconquistas históricas, como férias, 13º,jornada de 8 horas, licença maternidade,etc.) sem sequer passar por assembleias.Esse acordo dará poder à patronal parapassar um rolo compressor sobre asconquistas históricas da classetrabalhadora e fazer o Brasil retrocederàs condições da Revolução Industrialdo século XIX. Por isso, a luta paraimpedir a aprovação do ACE é umadas principais tarefas do atual momento.

Na greve dos professores da redeestadual de São Paulo em 2013, adiretoria da APEOESP (Articulação,setor que representa a CUT) decretouo fim da greve, quando a imensamaioria da assembleia, com milhares detrabalhadores, havia votado pelacontinuidade. A revolta dos professoresfoi tanta, que a direção do sindicato teveque sair do local da assembleia escoltadapela polícia, que providencialmenteestava presente em grande número. Essemétodo de “tratorar” assembleias játinha sido visto em outros momentos,mas nunca de maneira tão escancarada,numa categoria tão importante, detamanha visibilidade e numa assembleiade tão grandes proporções.

Bebel, presidente da Apeoesp, sai escoltada depois depassar por cima da decisão de assembleia

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O sindicato dos bancários de SãoPaulo, Osasco e Região, o maior do paíse principal da categoria, realizou emmaio uma assembleia para alteração doestatuto, a pretexto das eleições de 2014.Além de tornar mais difícil a montagemde uma chapa de oposição e outrasmedidas que tornam o sindicato maisburocrático e distante da base, um dosartigos alterados é o que legalizou aincorporação pelo sindicato de rendasprovindas de entidades coligadas. Entreessas entidades coligadas, temos aBancoop (cooperativa habitacional quefrequentou as páginas policiais emescândalo de desvio de dinheiro dasobras), Bancredi (cooperativa decrédito que faz empréstimos parabancários, o que representa no mínimoum sério conflito de interesse para umaentidade que deveria ter como objetivolutar por aumento de salário), Bangraf,faculdade (que dá cursos comomatemática financeira, ajudando aformar mão de obra para os banqueiros,ao invés de dar cursos sobre a históriada luta dos trabalhadores), projetoTravessia (ONG que faz trabalhoassistencial), Rede Brasil Atual (ponta delança de um projeto de comunicaçõesque visa formar uma opinião públicafavorável ao PT).

A Articulação-CUT-PT jácontrolava essas rendas, mas aaprovação em estatuto facilita muitomais a contabilização. Com isso, osindicato se torna financeiramenteindependente da s ituação dostrabalhadores. O fato é que umaentidade que deveria servir para a lutade uma categoria, se transformou emum conglomerado empresarial.

A LUTA POR UMA ALTERNATIVA PARA

A ORGANIZAÇÃO DOS TRABALHADORES

Como dissemos acima, a traiçãoexpl ícita da CUT a várias lutasimportantes levou os militantescombativos a buscar novas alternativasde organização, ainda nos primeirosanos do governo Lula. Foi assim quesurgiram a Conlutas e a Intersindical, queem sua origem disputavam a direçãodos sindicatos contra as correntescutistas, com um programa de luta ede oposição ao governo do PT.Entretanto, a política dos partidos quedirigem essas centrais, o PSTU e oPSOL, respectivamente, ficou muitoaquém do que seria necessário para aconstrução das alternativas que a classetrabalhadora precisa.

Vivemos há algumas décadas umacrise estrutural do sistema do capital, oque significa que as crises são cada vezmais agudas e os períodos derecuperação da economia são maislimitados. Não há mais margem paraque a classe dominante ofereçaconcessões aos trabalhadores, e pelocontrário, está retomando as anteriores.Isso significa que as lutas não podemmais ser limitadas às questões imediatas.É preciso cada vez mais retomar aofensiva contra o capitalismo e seusgestores, como o PT e demais partidosda situação e da oposição. É precisofazer uma ampla denúncia dessegoverno e de suas políticas pró-patronais, antioperárias e antipopulares.É preciso superar a crise da alternativasocialista, que se instalou na consciênciada classe trabalhadora desde a décadade 1990, quando a ideia de umaalternativa ao capitalismo foi afastada.

Nem Conlutas nem Intersindical

têm estado à altura dessas tarefas, poruma política deliberada de suas direções.Ao invés de construir a consciência e aindependência política dostrabalhadores, limitam-se a uma políticade exigências ao governo Dilma, comose o governo do PT fosse, em algummomento, mudar sua orientação pró-patronal. Ao invés de preparar para aslutas , essas centrais priorizam aconstituição de chapas para as eleiçõessindicais com setores da CUT ou daCTB, sacrificando a consciência e aorganização da classe a interessesaparatistas imediatos.

Por discordar da linha da direçãomajoritária da Conlutas – o PSTU –,nós do Espaço Socialista, em conjuntocom o Movimento Revolucionário,lançamos em 2012 o Bloco Classista,Anticapitalista e de Base, com oobjetivo de lutar para resgatar o projetoda central. Defendemos:

oposição ao governo Dilma-PT eàs correntes governistas no movimentodos trabalhadores; oposição à CUT edemais centrais governistas; contra aschapas e alianças com setores cutistas egovernistas no movimento;

organização de oposições sindicaisque se tornem espaços de resistência dostrabalhadores, a partir dos locais detrabalho, em direção à retomada dossindicatos;

luta pela democratização dossindicatos, pelo respeito às assembleiase fóruns de base;

contra a burocratização dossindicatos, rodízio dos dirigentes elimitação do número de mandatos;

campanhas de denúncias docapitalismo e da necessidade da suasuperação..

Na esteira de Marx e Mészáros,entendemos que a crise é inerente aosistema do capita l. Enquantomanifestação das distintas formas deconfiguração do processo de produçãode mercadoria e de constituição dasmanifestações particulares da existênciado capital, a crise consiste num elementoinerente ao setor sucroalcooleiro. A criseda produção sucroalcooleira nacional

tem sua primeira manifestação após aexpulsão dos holandeses, quando estespassam a desenvolver a produçãoaçucareira nas ilhas Canárias e em Cuba;posteriormente, a crise ressurge noperíodo de modernização do processoprodutivo, o que contribui para odesaparecimento de mais de milengenhos somente na região da Zonada Mata alagoana, entre 1930-1960. A

constituição do IAA (Instituto doAçúcar e do Álcool), em 1933, e daAsplana (Associação dos Plantadores deCana-de-Açúcar), em 1942, acelerou afalência dos engenhos concentrouintegralmente a produtividade nas mãosde determinados grupos econômicos,integrantes da oligarquia local.

As crises precedentes serviram paradinamizar e revitalizar a economia

A CRISE DO COMPLEXO SUCROALCOOLEIROALAGOANO ARTUR BISPO DOS SANTOS NETO- ALAGOAS

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sucroalcooleira. Observa-se que,enquanto a classe trabalhadora passavapor um processo de brutal recessãoeconômica no começo da década de 60do século passado, os usineiros erambeneficiados pelo embargo comercialpromovido pelo governo norte-americano à produção canavieira cubana.A preferência norte-americana pelaprodução nacional implicou um saltoqualitativo das exportações brasileiras, quepassaram de 12 mil toneladas métricasem 1960 para 717 mil toneladas em 1963,estreitando os laços golpistas daembaixada norte-americana no Brasilcom a representação política dos usineiros.

Daí os usineiros terem seconstituído como base fundamental naregião nordestina do processo queculminou no golpe militar de 1964, oque lhes concedeu um significativoaporte de recursos públicos para oprocesso de modernização de suaprodução e para inviabilizar qualquerpossibilidade de reforma agrária nessaregião. É desse período histórico aconstituição de programas efinanciamentos estatais que servirampara expandir e consolidar o poder dumrestrito grupo de usineiros no Estadode Alagoas. Entre eles merece destaqueo Fundo de Recursos da AgroindústriaCanavieira, o Fundo de Racionalizaçãoda Agroindústria Canavieira doNordeste, o Fundo Especia l deExportação (1965), o Programa deRacionalização da AgroindústriaCanavieira (1971), o Programa Nacionalde Melhoramento da Cana-de-Açúcar(1971) e o Programa Nacional do Álcool(1975). Somente pela mediação destesúltimos programas (1971-1975), ogoverno federal investiu mais de 3bilhões de dólares na modernização eampliação do complexo açucareirobrasileiro. A justificativa para odescomunal investimento foi propiciadapela triplicação do valor do açúcar e doálcool no mercado internacional,resultante da crise do petróleo que afetouo desenvolvimento do capitalismomundial. A elevação do valor do barrildo ouro negro, de 3 dólares para 28,7dólares em menos de uma década,serviu de estímulo para a constituiçãodo Proálcool (Programa Nacional doÁlcool); neste, somente em Alagoasforam subsidiadas 19 destilarias, anexasàs trinta usinas existentes, bem como

foram construídas nove destilariasautônomas.

É possível observar que odesenvolvimento dos complexosagroindustria is esteve na base defundamentação da propagaçãoideológica do denominado “milagrebrasileiro”, que não passou de umcrescimento econômico propiciado peloendividamento do Estado mediante odesenvolvimento da política derecorrência a empréstimos no exterior.A sa ída posta em curso estavaplenamente moldada à financeirização daeconomia mundial, em que o processode concessões de empréstimosvolumosos aos países do terceiro mundoendividaria completamente a classetrabalhadora, que efetivamente financiao Estado burguês.

Além do financiamento dodesenvolvimento econômico das usinas,o regime militar beneficiouexpressivamente o processo deacumulação de capitais deste setorprodutivo mediante sua constelação demedidas repressivas que impediam o livreflorescimento das organizaçõestrabalhistas e a melhoria das condiçõesde trabalho. Dessa maneira, criou-se naregião açucareira uma cultura avessa aqualquer possibilidade de organizaçãoautônoma dos trabalhadores; quandomuito as organizações sindicais gozavamtão somente das políticas assistencialistascomplementares à atuação do Estado.Nesse contexto, o desmantelamento daspossibilidades de existência dos sindicatoscombativos e atuantes se fazia presentepelo instrumento repressivo do Estadoburguês e das milícias repressivasconstituídas pela iniciativa dos própriosagentes econômicos em discussão.

O período de pleno crescimentoeconômico deste setor implicou umaprofundamento descomunal da misériae da pobreza em toda a regiãoda Zona da Mata alagoana. Nãohá um dos 57 municípios queconstituem a região açucareiraque tenha índice dedesenvolvimento humanoposi tivo; todos acumulamíndices negativos e combaixíssima expectativa de vida,altíssimas estáticas de violênciaurbana e acentuado número deanalfabetos e mortalidadeinfantil. A alta renda per capita de

Alagoas é tão somente expressão de queo complexo sucroalcooleiro continuaem processo de crescimentoeconômico, em detrimento do baixoÍndice de Desenvolvimento Humano(IDH).

No entanto, o aguçamento da criseestrutural do capital revela claramenteseus reflexos sobre o desenvolvimentometeórico do referido setor, quando oendividamento do Estado brasileiroprecisou ser controlado com a adoçãode políticas neoliberais. Estasimpuseram a necessidade da diminuiçãoda presença do Estado no processo derefinanciamento da produçãosucroalcooleira. Além disso, a matrizenergética petroleira passou por umprocesso de recuperação da crise sofridana década anterior, tornando inócua aintensificação do financiamento doálcool como nova matriz energética. Issoresultou na extinção do IAA (Institutodo Açúcar e do Álcool) em 1991 e nocomeço duma crise no complexoaçucareiro alagoano, tendo seu pontoculminante na falência do Banco doEstado de Alagoas (Produban) e nofechamento de várias unidades doreferido complexo.

Apesar da anistia fiscal (ICMS) e dareedição de distintas medidas de auxílioao complexo açucareiro, a concorrênciaexistente no complexo sucroalcooleiroaguçou a crise e impôs a necessidadeduma nova reestruturação produtiva.Nesse contexto assiste-se à intensificaçãoda concentração da produção destecomplexo em torno de sete gruposempresariais (Carlos Lyra, João Lyra,Tércio Wanderley, Maranhão, OlivalTenório, Toledo e Andrade Bezerra) e afalências de usinas como Alegria,Bititinga, Ouricuri, São Simeão, TerraNova, Alegria e Conceição do Peixe,bem como de destilarias autônomas

Ocupação da fazenda de João Lyra em março deste ano

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GOVERNAR PARA A BURGUESIA EM SÃOPAULO É MAIS CARO...

Asembleia professores da cidade de Sao Paulo

Na capital paulista, o governoHaddad/PT impõe um custo de vidaainda mais caro para quem precisa demoradia decente, depende deeducação e transporte público.

E como o serviço público édirecionado para quem trabalha – enão recebe salário suficiente para pagarescola, convênio médico e passagemcara – o governo municipal, além denão se preocupar com a boa qualidade,entrega para a burguesia “gerenciar”,isto é, ganhar muito dinheiro com, o queé público. Assim, busca se livrar de umaobrigação sem criar alardes e ao mesmotempo contribui com a lucratividade dosempresários de diversos ramos.

Isso não é diferente do que ocorreno estado, com Geraldo Alckmin, e nopaís, com Dilma Rousseff. Dessa forma,sentimos rapidamente, na cidadebrasileira com o maior PIB, a retiradada riqueza que produzimos e asconsequências de termos governos, emtodas as esferas, a serviço da classeproprietária.

Com a falta de investimento nacidade e com o abandono dos serviçospúblicos, São Paulo, com orçamentoanual de 42 bilhões e dívida com a Uniãoem torno de 62 bilhões (G1 21/mai/13) possui: 1) um déficit habitacional de400 mil moradias (70% com renda de 0a 3 salários mínimos – FLM abr/13); 2)mais de 111 mil crianças aguardandovaga em creche (abr/13); 3) transportecoletivo apontado como o 5º maiorproblema entre os paulistanos; lotado,com longo tempo de espera, semconforto e com tarifas elevadas.

PARA GARANTIR A EXPLORAÇÃO EMANTER O LUCRO...

E para o empresariado do setorimobiliário ditar a alta dos preços,nenhum país do mundo viu preços deimóveis subirem tanto como no Brasil.A cidade de São Paulo está no topo dalista com 12,2% de alta no último ano(G1 03/abr/13). Com taxa recorde decrescimento, somente nesse primeirotrimestre, o aumento foi de 27,1% (G117/mai/13), na capital paulista.

Para não ferir as regras daespeculação imobiliária e continuaratendendo aos interesses de empreiteirase ramo imobiliário, o governo Haddad,tal qual o de Alckmin, insiste na falta demoradia para uns muitos e naconcentração de lucro nas mãos de unspoucos. Além de ter como secretário deHabitação uma indicação do PP (partidode Maluf), em parceria com o governodo estado, assina convênio que institui aParceria Público-Privada da habitação,em que não respeita a lei de zoneamentoda cidade, não considera o déficithabitacional existente e a situação de

moradia na região central, não barraos despejos e transfere para asempreiteiras todo o gerenciamento,preocupado em atender uma parcelada população que precisa ser deslocadaou melhor apresentada em períodosde copa do mundo.

Na Educação a situação não édiferente. Tanto Haddad, comoAlckmin, buscam transferir para ainiciativa privada todo o controle sobrea Educação.  No Ensino Infantil, o

controle vai desde o aluguel ouconstrução de imóvel até a formação eaplicação do currículo pedagógico (IG15/mar/13). As ONGs de empresas járecebem boa parte dos recursospúblicos. Para cumprir a obrigação(CLT) do auxílio creche ou da vaga paraos filhos de seus funcionários, asempresas usam dinheiro público e aindafuram a fila de espera. Assim, apopulação em geral fica sem vaga.

Agora, com todo esse controle, pararesponder ao déficit de vagas (prefeituraestá obrigada pela Justiça a matricular maisde 7 mil crianças) e favorecer oempresariado ainda mais, Haddad criauma fórmula para aplicação da ParceriaPúblico-Privada em que repassará paraessas creches 458,33/mês por alunomatriculado, valor superior ao repasse doFUNDEB (cerca de 270,00/mês).

Enquanto isso, nas creches e escolaspúblicas, desrespeita os projetospedagógicos, a autonomia e impõe asuperlotação das salas de aula. Ao aplicara mesma polí tica educacional dogoverno estadual, com o aumento daexploração, reduz os gastos. Tentou

GOVERNO HADDAD

como Maciape, Massagueira e Roteiro.O que restou da crise desse complexona década passada sofre, entretanto, aameaça deflagrada pelos novos padrõesde competitividade, que marcam seuuniverso produtivo na primeira décadado século XXI.

O principal reflexo da crise queabala a economia mundial apresenta-seno Estado de Alagoas com a falênciado seu segundo maior empreendimentoempresarial, o Grupo João Lyra. O

referido grupo contabiliza uma dívidano montante de R$ 2 bilhões, naprimeira década deste século,configurando-se como inadimplenteperante três instituições estrangeiras (umbanco francês, um belga e um inglês),além do Banco do Nordeste, Bradesco,BNDES (Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social),e ainda dos fornecedores de adubosCalyon e Natixis. O Tribunal de Justiçade Alagoas decretou, em outubro de

2012, a falência das usinas Laginha(União dos Palmares/AL), Guaxuma(Coruripe/AL), Uruba (Atalaia/AL),Triálcool (Canápolis/MG) e Vale doParanaíba (Capinópolis/MG). Nesteperíodo, os funcionários das usinasderam início a protestos e fecharamrodovias na região, exigindo opagamento de salários atrasados.Intensificaram suas ações nos últimosmeses, ocupando as fazendas que fazemparte da massa falida da empresa.

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aprovar o aumento do tempo deserviço para a aposentadoria especialdo magistério de 25 para 28 anos. E,com a greve dos professores, somenteincorporou abonos e gratificações aossalários, o que não causa nenhumimpacto financeiro nos vencimentos damaioria e nem nos cofres públicos.

Sem nos aprofundarmos nospreparativos da Copa de 2014, em quemunicípio, estado e união terão gastosadicionais para que a iniciativa privadaesteja melhor organizada e garanta lucroscompatíveis com o porte do evento,enquanto aos trabalhadores é reservadoum maior nível de exploração e o direitode assistir de longe o movimento que aburguesia realiza.

E, como se não bastasse tudo issopara os trabalhadores, a mobilidadeurbana também tem sido encaradacomo um problema individual e nãocomo uma obrigação do poder públicoem garantir a qualidade e democratizaro acesso ao transporte público. Para nós,aplica-se o aumento da tarifa já para asempresas de ônibus, trem e metrô hádesoneração da folha de pagamento ea redução de impostos.

O aumento da passagem representaum corte direto no nosso salário, nessecaso de 6,7%. É algo que não tem comopagar depois ou transferir a dívida.Significa que vamos deixar de compraralgo para continuar indo ao trabalho,faculdade, escola, etc. É uma forma fácilde transferir a renda do trabalhador parao proprietário, especialmente emperíodos em que o aumento real dossalários não acompanha o disparo dosíndices de inflação.

É assim que os governos doPT, PSDB e a burguesia vãogarantindo à gestão pública a lógicaprivada, o que possibilita a garantiade faturamento seguro para asempresas durante anos, mesmo emépoca de crise, a aplicação deregimes precários de contratação defuncionários que vão colocando fimà estabilidade e aos direitostrabalhistas, além de intensificar otrabalho. Também garantem que naesfera estatal se tenha como referência alógica do mercado capitalista deatendimento à demanda de acordo comas margens de lucro e não com anecessidade da população.

Estes mesmos governos nãoapenas contaram com altas doações deempreiteiras na campanha eleitoral, mastambém estão comprometidos emgarantir a lucratividade do capital etentam esconder as contradições, comose não sentíssemos diretamente no nossobolso as consequências disso tudo como aumento de nossas dívidas, adiminuição do nosso poder de comprae da nossa capacidade de desfrutar decultura e lazer.

MAS “AMANHÃ SERÁ MAIOR”E mesmo com certa crença

publicizada de que o país está emcrescimento, de que ainda não está emcrise e de que os governos podem fazeralgo favorável ao trabalhador têm sidoconstantes as manifestações contra aspolíticas dos governos e da burguesia.

Entre abril e maio ocorreram váriasmanifestações por moradia e uma fortegreve dos professores na cidade de São

Paulo. Junho iniciou com vários atoscontra o aumento da passagem, porpasse livre para estudantes edesempregados.

O forte aparato repressivo, quesustenta essa ordem, encontra umaintensa disposição de resistência.Sabemos que estamos precisando lutarmais e conseguindo menos. Sob gritos“se a tarifa não baixar, São Paulo vaiparar”, a cidade pára com a força e acriatividade jovem.

Trem, metrô e ônibus a “3,20 é umassalto” e levam a manifestações queextrapolam os modelos de atosburocratizados e únicos. Contam com oapoio de quem paga passagem e sãoduramente criticadas pela imprensa, quesustenta essa ordem. Fortalecer essa lutaé obrigação de qualquer militante! A CSP-Conlutas e Intersindical devem assumira luta contra o aumento da passagemjunto aos demais trabalhadores emempresas, sindicatos e demais entidadese “resistir até a tarifa cair”!

Trabalhadores, estudantes,desempregados e movimentospopulares juntos no combate àexploração! Pela unidade da classetrabalhadora!

GREVE GERAL NA BOLÍVIA: OPROLETARIADO ENFRENTA EVO MORALES E

A BURGUESIAA greve geral de 15 dias na Bolívia

(06 a 21 de maio) trouxe elementos deuma nova situação no país. Setoresimportantes do proletariado, com osmineiros à frente, entram na arena comsuas formas de luta, organização eprograma, afetando a polarização entreo governo Morales e os setores daburguesia reacionária e pró-imperialista,mostrando que no fundo essa

polarização é parcial, e que inclusive ogoverno e a burguesia se unem contrao trabalho quando este se põe emmovimento e questiona, ainda queparcialmente e sem total consciência,os aspectos mais estruturais dofuncionamento do capital na Bolívia.

Após 13 dias, a greve geral foisuspensa pela COB (Central OperáriaBoliviana) e passou a um “estado de

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emergência por 30 dias”, período emque seguem as negociações com ogoverno sobre os artigos da Lei dePensões (aposentadorias).

A suspensão da greve é objeto depolêmicas, pois ainda estava forte. Aprincipal reivindicação, a aposentadoriano valor integral dos salários (100%), nãofoi atendida. O governo chegou ao valorde 70% para as pensões de todos eredução da idade de aposentadoria dosmineiros de 55 para 50 anos, o que nãoé muito, pois a expectativa de vida dosmineiros é de 55 anos.

Mas o resultado da greve se nãopode medir apenas em termosimediatos e econômicos. Há ganhos deconsciência, políticos e de organizaçãofundamentais, como veremos abaixo.

LUTA EM TORNO DA APOSENTADORIAREVELA OS LIMITES E PRIORIDADES DO

PROJETO DE MORALESEm 2010, a partir de lutas dos

trabalhadores e ainda como reflexo dacorrelação de forças aberta com arebelião social que conduziu EvoMorales à presidência, a idade daaposentadoria foi diminuída de 65 anospara 58 (homens), e de 62 para 55 anos(mulheres). Os mineiros, pelo trabalhoinsalubre, se aposentavam antes, com 55anos (homens) e 52 (mulheres). (http://resistir.info/). Agora, com a alta dospreços dos alimentos e remédios, agreve teve como ponto central areivindicação de aposentadorias integraispara os trabalhadores (100% do valordos salários).

O ministro do Trabalho, DanielSantalla, respondeu que “estamos abertosao diálogo, mas o problema é dinheiro”.Ora, a Bolívia vem experimentandoíndices de crescimento médios de 5% noúltimos anos e de 5,2% previstos para2013. Esse é o mesmo argumento dosvários governos que impõem a“austeridade” para os trabalhadores,enquanto direcionam o dinheiro públicopara os interesses do capital!

O PROJETO NACIONALISTA-BURGUÊS DEEVO MORALES E SUAS CONTRADIÇÕES

Caracterizamos o governo de EvoMorales como nacionalista-burguês,apoiado nos setores médios dasociedade, como a burocracia de estado,forças armadas, os pequenoscamponeses e setores mais frágeis da

burguesia boliviana.A partir dos interesses combinados

desses setores, o governo implementa umprojeto de país que visa investir na criaçãode uma rede de infraestrutura e deindústrias de base, e de serviços sociaismínimos que possam atrair empresas parase instalarem na Bolívia em condiçõesestáveis e de parceria, embora sobcontrole do estado, e que deixem naBolívia parte mais ou menos importantede seus lucros na forma de impostos parao estado para, assim, manter e aumentara posição privilegiada e os rendimentosdessa burocracia e dos setores adaptadosda burguesia boliviana. As ações e asprioridades de gastos, portanto, estãoorientadas nesse sentido.

O proletariado e os demais setorespopulares não participam das decisõese nem dos ganhos. Ao contrário, devemser mantidos em posição de dominação,para que trabalhem para sustentar oprojeto geral e não se rebelem.

As nacionalizações – nenhuma delasintegral e todas com indenização àburguesia –, a permissão para entradade transnacionais, uma reforma agráriaque não tocou no grande latifúndio etambém em nível menor que Chaves,são reformas que não alteram a essênciacapitalista da Bolívia. A participação noMercoSul expressa esse projeto maior.

Apesar do aumento substancial darenda do país pelas nacionalizações eoutras medidas, ass im como dosinvestimentos do estado e de setores daburguesia de dentro e de fora da Bolívia,não houve mudança estrutural no quadrogeral de pobreza da população e do país.

Pelas nacionalizações teremocorrido com indenização àstransnacionais, e todas elas de formaparcial, via de regra essas empresaspermanecem como “parceiras”, ou seja,se apropriando ainda de parteimportante da renda dos ramos maislucrativos – gás, mineração, agricultura.

Outra parte nada desprezível darenda nacional fica nas mãos daburocracia do estado – que continuasendo burguês –, pois nenhuma de suasinstituições deixou de existir, muitomenos sua função maior que continuasendo a de proteger a propriedadeprivada e/ou estatal, sob controle sejada burguesia ou da burocracia de estadoprivilegiada.

Isso tudo limita o progresso geraldo país, diminuindo sua capacidade deprodução e investimento, e impedindoo salto necessário para superar séculosde dominação e pobreza.

Passados 7 anos da primeira possede Evo Morales, ainda que a Bolíviatenha avançado em algumas medidassociais mínimas, sua estrutura econômicae social continua sendo de semicolônia,dependente do mercado mundial no quetoca à exportação de commoditi es,principalmente de gás, outros minerais(estanho, agora o lítio) e produtosagrícolas.

A administração desse projetoacima citado não é tarefa fácil. Trata-sede contemplar interesses crescentementecontraditórios entre as classes e setoresde classe. O equilíbrio é sempreprovisório. As crises, enfrentamentos epossibilidades de golpes marcam ahistória recente da Bolívia.

A CRISE ABERTA EM 2008 ACIRRA ASCONTRADIÇÕES E TRAZ O

PROLETARIADO À CENA POLÍTICAA temperatura desse caldeirão de

contradições aumentou a partir do novomomento – aberto em 2008 – deagravamento da crise estrutural docapital. A estagnação e queda relativa dovalor das matérias primas diminuíramas margens de manobra do governoEvo Morales.

Essa nova realidade explica apostura mais intransigente e repressivado governo perante as reivindicaçõesdos trabalhadores, não apenas nessagreve geral, mas em todas as lutas decategorias no último período, como deprofessores, demais funcionáriospúblicos e outras.

Para o governo Morales, éfundamental conter, desviar e derrotaras lutas para que não haja ameaças aoprojeto em curso. O proletariado é aúnica classe que pode, não apenas fazerruir o projeto como um todo, mastambém apontar outro projeto deeconomia e sociedade realmentealternativo – socialista. Um projeto emque o controle e apropriação daprodução da riqueza social (o quê, como,e para quem produzir) sejam exercidospelos próprios trabalhadores, numarelação equilibrada com o ambiente.

Daí que esses governos, não apenaso de Morales, mas todos os surgidos na

EXPEDIENTEEste jornal é editado mensalmente sob responsabilidade da coordenação do EspaçoSocialista. Os textos assinados não necessariamente expressam a opinião da organização.

Contatos: www.espacosocialista.org [email protected]

esteira do Chavismo, sejam inimigos damobil ização e organizaçãoindependentes do proletariado.

Assim, a luta pelo valor dasaposentadorias revela e se interliga a umaluta maior das classes sociais pela rendado país. Quais devem ser as prioridades:o investimento do estado para garantiro projeto do capital e o lucro (mesmocontrolado) das empresas, juntamentecom os privilégios da burocracia... ou ascondições de trabalho e de vida dostrabalhadores e do povo pobre em geral?

UMA LUTA QUE MARCA UMA NOVASITUAÇÃO

Professores, mineiros, funcionáriosde fábricas, servidores da saúde eoutros trabalhadores, realizaram maisde 35 bloqueios de estradas e pontosde interrupção em toda a Bolívia.Marchas numerosas chegaram a reunirentre 15.000 e 20.000 trabalhadores quetomaram La Paz, a capital. Mas houvemobilizações também em Santa Cruz,Tarija, Oruro, Potosí, Chuquisaca e Beni.

Entre os grevistas, a vanguardaforam os cinco mil trabalhadores daprincipal mina de estanho da Bolívia -Huanuni- e uma das maiores do país,localizada em um planalto, nodepartamento de Oruro a 250quilômetros ao sul de La Paz. Paraentender a força econômica desse setor:a greve de 18 dias levou a uma perdana produção de pelo menos 8 milhõesde dólares!

Reuniões diárias de negociaçãoterminavam sem acordo, mostrando oendurecimento do governo. Governoe burguesia , através da mídia,apresentavam a luta por aposentadoriaintegral dos trabalhadores, como umaluta de privilegiados.

Em resposta, os trabalhadoresresolveram radicalizar. As manifestaçõesconvergiram para La Paz, que ficouparalisada. Embora os transportespúblicos e os comércios continuassemfuncionando, houve múltiplasinterrupções de ruas e avenidas. Todasas capitais departamentais e dezenas deestradas rurais foram bloqueadas,inclusive com explosões de dinamites.

O governo Morales não hesitouem reprimir. Em La Paz, a políciautilizou gás, protegendo o acesso à PraçaMurillo, em torno da qual estão as sedesdos órgãos Executivo e Legislativo. Ali

também ficava o carroNetuno, que utiliza jatosd’água contra ostrabalhadores, molhando,congelando, ferindo. Seupapel de preservar a ordemde dominação foi posto àsclaras.

O governo chegou aameaçar os trabalhadores daEducação com a demissão,se não voltassem“imediatamente aotrabalho”. Chegou-se a falar emcontratação de novos professores se agreve continuasse. Os trabalhadoresreceberam de Evo Morales – governodito “progressista” - o mesmotratamento de qualquer estado egoverno burguês.

Aproveitando-se desse momento,a polícia boliviana ameaçou se rebelarpelo cumprimento de uma série deacordos que beneficiariam osuniformizados.

Morales aproveitou-se então dasituação, acusando os trabalhadores deestarem desestabilizando a “ordemdemocrática”. Chamou os camponesese demais setores mais pauperizados,dependentes das políticas sociais, “adefenderem a democracia e o processode mudança que ocorre”, com oobjetivo de jogá-los contra ostrabalhadores em greve.

POVOS INDÍGENAS TAMBÉM ENFRENTAMMORALES E SEU PROJETO

Os povos indígenas também fazemsua experiência de luta contra o governoMorales, enfrentando a construção deuma rodovia que deve atravessar todoo território indígena do ParqueNacional Isiboro Secure (Tipnis),na Bolívia.

Financiada pelo BNDES econstruída pela empreiteira OAS doBrasil, a estrada, que vai custar U$ 415milhões, pretende ligar a Bolívia aoPacífico. Obviamente isso está a serviçodo escoamento das riquezas naturaispara o mercado mundial. Mas vaiprovocar a destruição imediata e futura

do ambiente e a invasão das terras porfazendeiros e jagunços, destruindo ospovos que lá vivem e trabalham.

Em 2011, a luta das váriascomunidades indígenas (duramentereprimida pela polícia de Morales) fezo governo suspender a construção.Entretanto, mostrando que essa rodoviafaz parte de seu projeto de governopara o capital, Evo quer retomar aconstrução da estrada, o que certamentevai provocar novas lutas. A tendência éque também os povos indígenasvenham a se somar à luta dostrabalhadores urbanos.

AVANÇAR NA CONSTRUÇÃO DE UMASAÍDA POLÍTICA DOS TRABALHADORES !

Assim, essa Greve Geral expressa aretomada, unificação e aprofundamento,não apenas das experiências e formas deorganização dos trabalhadores mastambém ajudando a avançar umaexpressão política desse processo.

A formação do PT (Partido dosTrabalhadores) – não confundir com oPT daqui –, por mais limites que tenha,representa a primeira tentativa nosúltimos anos de os trabalhadoresbolivianos se organizarem politicamente,por fora do controle tanto do MAS(partido do governo Morales) como daburguesia. Isso representa um passomuito importante no sentido de que omovimento se descole de uma vez dainfluência do governo e comece a trilharum caminho em base a um projetopróprio, que não seja apenas mais umaforma de administração da crise docapitalismo, mas que vá para além dele.